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O ofício de ferreiro situa-se, dentre os ofícios ligados à transformação dos metais,
como “o mais significativo quanto à importância e à ambivalência dos símbolos que
implica” (Chevalier; Gueerbrant, 1991, p.423). Por ser ferreiro, Hefestos tem provável
participação na obra cosmogônica; vivia num vulcão, habitando as sombras e em relação
com as entranhas da terra, de onde extraia o metal, e com o fogo subterrâneo, com o
qual forjava armas maravilhosas para deuses e heróis e jóias para deusas e belas
mortais, entre outros objetos e artefatos incríveis.
“(...) às vezes, os ferreiros são monstros, ou identificam-se com os guardiões dos tesouros
ocultos. Possuem, portanto, um aspecto temível, propriamente infernal; sua atividade
aparenta-se à magia e à feitiçaria. E é por essa razão que, muitas vezes, os ferreiros eram
mais ou menos excluídos da sociedade; e, na maioria dos casos, seu trabalho era rodeado
de ritos de purificação, de proibições sexuais e de exorcismos. (...) Hefestos é apresentado
como um demiurgo, criatura intermediária entre a natureza divina e a humana, sendo
descrito por Homero como disforme e claudicante, ‘monstro esbaforido e manco, cujas
pernas débeis vacilam sob o peso do corpo’” (Chevalier; Gueerbrant, 1991, p. 424, 485).
Segundo Chevalier e Gueerbrant, “toda deformidade é sinal de mistério, seja
maléfico, seja benéfico”, e a deformidade de Hefestos inscreve-se na ausência de
integridade corporal, como um elemento de desqualificação e de assimetria, o que
elimina a paridade humana e “remete ao uno, esquerdo ou direito malditos” (1991, p.
328).
Pode-se ressaltar alguns aspectos interessantes no mito do deus Hefestos,
apontados por Ligia Amaral (1991). Primeiramente, na gênese do mito, encontramos a
rejeição e a punição, com conseqüente exclusão do Olimpo para as entranhas da terra.
Segundo, a descrição de seu aspecto físico, diferente de outros deuses, trazendo
adjetivos como ‘feio, desgrenhado, monstro esbaforido, manco e de pernas débeis’. Suas