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Durante os primeiros trezentos anos de presença européia — entenda-se,
expansão e (e)migração para o Novo Mundo — a componente judaica no
Brasil, particularmente durante o período colonial (1500-1822), era
constituída por Sefaraditas, sobretudo Conversos, outrora alcunhados de
Cristão-novos, Criptojudeus ou, pejorativamente, Marranos. Mais tarde,
assinaladamente, já a partir de 1822 e da conseqüente proclamação do
reino (quase) independente do Brasil, seguida pela implantação da
República Brasileira em 1889, os descendentes destes judeus dos
primórdios finalmente tiveram a oportunidade de poder pública e
abertamente declarar a sua identidade Sefardita sem medo de represálias
político-religiosas. Em outras palavras, judeus e cristão-novos de origem
Sefardita não podiam ser perseguidos nem pela sua (alegada) adesão
religiosa nem pelas suas origens étnicas (semitas). (LEVI, 2004, p. 221).
Os judeus Sefaraditas habitavam a Península Ibérica há cerca de quinze
séculos e possuíam nomes e sobrenomes
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espanhóis e portugueses, como
Cardoso, Mendes, Lopez, Pereira, Seixas, Vidal, Brandão, Castro e outros muitos.
Estes judeus Sefaraditas tiveram que abandonar a Península Ibérica para outros
lugares mais tolerantes, e muitos deles optaram pelo Novo Mundo, trazendo consigo
sua cultura, comida, canções, religiosidade e tradições. Além de perderem suas
posses, os judeus Sefaraditas também tiveram que aprender a se adaptar aos
hábitos e costumes dos novos lugares que os acolheram. Assim, trouxeram com
eles também o idioma ladino, que usavam dentro de suas casas e nas sinagogas.
Além do idioma, os judeus Sefaraditas conseguiram manter seus hábitos
alimentares, sua música, dança, folclore, e seus ditos e provérbios, que resistiram ao
tempo e chegaram até o século XXI. Grande porcentagem da população brasileira
hoje descende dos cristão-novos, apesar de não terem esta consciência.
O Brasil foi o país que recebeu o maior número de imigrantes
portugueses marranos. No estado em que se encontram as pesquisas
e os estudos demográficos realizados sobre vários estados do Brasil,
podemos afirmar que aproximadamente 25 a 30% da população
branca nacional era constituída de marranos. Essa média se aplica a
Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraíba. Sobre Pernambuco,
Goiás e São Paulo, os estudos estão em andamento. Mas devemos
lembrar que essa porcentagem não inclui os cristão-novos que
lograram diluir-se em meio às elites locais, que fugiram ou se
embrenharam pelas selvas brasileiras, mas apenas os que ficaram
registrados nos livros inquisitoriais. (NOVINSKY, 2001, p. 2).
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Ver anexo I com a lista de sobrenomes marranos.