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Procurar discriminar as características tradicionais patrimoniais
presentes no campo político, em nossas relações sociais, familiares e
também em atividades educacionais e culturais. Em termos históricos
e conceituais, vários estudos, sublinham as características
patrimonialistas e autoritárias que persistem no sistema político e na
vida social brasileiros. Vale destacar, pelo acima exposto, que essas
características não se confundem. O neopatrimonialismo tem sido
identificado, por estudos históricos, pela utilização de recursos e
poderes públicos para fins particulares, pela participação política por
meio da cooptação, ao invés da representação de interesses, pela
personalização do poder e pelo exercício da justiça como uma
prerrogativa daquele que detém o poder, de acordo com indivíduos e
situações concretas, seguindo o modelo do pai de família (GANDINI,
2006, p. 13).
Esta autora, prosseguindo em seu estudo, refere-se a Bobbio,
(1980), a propósito de governos de tipo paternalista:
Não é sem razão que a crítica definitiva da concepção paternalista do
poder provenha de um pensador como Kant, ao qual devemos uma
das mais completas e coerentes teorias do estado de direito: para
Kant “um governo fundado sobre o princípio da benevolência para
com o povo, tal como o governo de um pai para com os filhos, isto é,
um governo paternalista (imperium paternale) (...), é o pior
despotismo que se possa imaginar (BOBBIO, 1980, apud GANDINI,
2006, p.10).
A mesma autora apresenta os trabalhos de diversos estudiosos que
buscam compreender a realidade latino-americana e o Estado brasileiro.
Segundo ela, algumas características da política brasileira têm permeado o
nosso país desde o século XIX até o presente momento. Entre elas podemos
observar a prática do “domínio pessoal” contrapondo-se à dominação racional-
legal, o clientelismo ou patrimonialismo e a corrupção. Gandini cita um artigo
de José de Souza Martins, publicado em 1999, intitulado “Clientelismo e
corrupção no Brasil Contemporâneo” no qual o autor destaca o fato de que o
clientelismo tenha sido identificado, finalmente, como corrupção, pois se trata
de uma prática de longa data no Brasil, e tem sido fundamento do Estado
brasileiro: “A política do favor, base e fundamento do Estado brasileiro, não
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