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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Programa Integrado de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
ASPECTOS ANATÔMICOS E ETNOFARMACOLÓGICOS DO CAULE
E RAIZ DE Maytenus guyanensis Klotzsch ex Reissek
(CELASTRACEAE)
RESSILIANE RIBEIRO PRATA
Manaus - Amazonas
Junho 2007
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ii
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Programa Integrado de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
ASPECTOS ANATÔMICOS E ETNOFARMACOLÓGICOS DO CAULE
E RAIZ DE Maytenus guyanensis Klotzsch ex Reissek
(CELASTRACEAE)
RESSILIANE RIBEIRO PRATA
Orientadora: Dra. Maria Silvia de Mendonça
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia Tropical e Recursos
Naturais do convênio INPA/UFAM, como
parte dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, área de
concentração em BOTÂNICA.
Manaus - Amazonas
Junho 2007
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iii
Sinopse:
O trabalho descreve a anatomia do caule e raiz de Maytenus guyanensis Klotzsch
ex Reissek, enfatizando a localização dos princípios ativos e fornecendo dados
relativos ao uso e venda da espécie medicinal pela população de Manaus, AM.
Palavras chave: chichuá, anatomia vegetal, plantas medicinais, etnofarmacologia.
P 912 Prata, Ressiliane Ribeiro
Aspectos anatômicos e etnofarmacológicos do caule e raiz de
Maytenus guyanensis Klotzsch ex Reissek (Celastraceae) / Ressiliane
Ribeiro Prata . --- Manaus : [s.n.], 2007.
75 p.
Dissertação (mestrado)-- INPA/UFAM, Manaus, 2007
Orientador : Mendonça, Maria Sílvia de
Área de concentração : Botânica
1. Plantas medicinais. 2. Maytenus guyanensis. 3. Chichuá. 4.
Anatomia vegetal. 5. Etnofarmacologia. I. Título.
CDD 581.634
iv
Aos meus pais, Niles Celso Prata e Ambrosina Ribeiro Campos e minhas
irmãs Regina, Tânia, Kátia e Heloísa, pelo incentivo fornecido durante toda
minha vida.
À Deus, cuja sua força e luz me impulsionam todos os dias.
DEDICO.
v
Agradecimentos
A Deus, por todos os acontecimentos de minha vida e fortalecimento diário.
Aos meus queridos pais Niles Celso Prata e Ambrosina Ribeiro Campos, em
especial à minha irmã Regina Prata, pelo apoio e palavras de otimismo.
Ao programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do
Convênio INPA/UFAM, pela realização deste trabalho.
Ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) pela concessão da Bolsa de estudo.
À Prof. Dra. Maria Sílvia de Mendonça, pelo apoio, orientação e principalmente
pela confiança em meus trabalhos.
A todos os funcionários e professores do Curso de Mestrado em Botânica, por todo
auxílio.
À MSc. Rogério Añez pela amizade e apoio literário.
À minha eterna amiga Eva Stadtler, pela amizade e sinceridade com quem venho
contando durante todo o curso.
A meu querido amigo Robson Rodrigues, pela amizade, confiança, paciência e
cooperação ao longo destes dois anos.
À minha querida companheira de lar, Welma, obrigada por ser tão paciente e
sincera.
Às minhas queridas amigas Lili e Bebel pelos domingos de almoço e amizade.
Aos demais amigos do mestrado e doutorado da turma de 2005 e 2006.
Aos Prof. Drs. Germano Guarim Neto (UFMT), Maria Gracimar Pacheco Araújo
(UNINORTE), Maria Rosa Lozano Borras (UFAM) e Débora Teixeira Ohana (UFAM),
pelas valiosas sugestões e avaliação na Aula de Qualificação.
À Prof. Dra. Renata Maria Strozi Alves Meira (UFV), pelo apoio e sugestões para a
realização do trabalho e recepção no Laboratório de Anatomia Vegetal da Universidade
Federal de Viçosa.
Aos professores Oscar e Duncan do Laboratório de Citologia do Departamento de
Morfologia da Universidade Federal do Amazonas por disponibilizar tempo e paciência
para realização das fotos do trabalho.
vi
Aos técnicos Manoel, do Laboratório de Botânica Agroflorestal (LABAF) da
Universidade Federal do Amazonas e Vânia, do Laboratório Anatomia Vegetal da
Universidade Federal de Viçosa.
A querida Andréa Barroncas e sua mãe Socorro pelo apoio quando eu cheguei à
Manaus.
vii
ASPECTOS ANATÔMICOS E ETNOFARMACOLÓGICOS DO CAULE E
RAIZ DE Maytenus guyanensis Klotzsch ex Reissek (CELASTRACEAE)
Por
Ressiliane Ribeiro Prata
Resumo
Maytenus guyanensis, conhecida popularmente por chichuá, possui ações analgésicas,
antiinflamatórias, afrodisíacas e antireumáticas. Sendo assim foram estudados seus aspectos
anatômicos e etnofarmacológicos a fim de se localizar sítios ou locais de produção da droga
através dos testes microquímicos e traçar o perfil dos usuários e feirantes de produtos naturais
nas feiras e mercados de Manaus-AM. Para análise anatômica do material coletado na
Reserva Florestal Adolpho Ducke, foram selecionados 3 indivíduos e de cada um deles foram
retirados fragmentos do caule e raiz de 1cm
3
. Fragmentos do caule foram incluídos em resina
metacrilato para obtenção de cortes em micrótomo rotativo, os quais foram corados com azul
de toluidina e montados em resina sintética. Seções do caule em crescimento secundário e da
raiz foram obtidas com o auxílio de micrótomo de deslize e coradas com azul de astra e
safranina. Os cortes histológicos do caule e raiz foram submetidos a testes microquímicos
visando identificar a natureza química das substâncias secretadas. A investigação
etnobotânica nas feiras e mercados foi realizada através de entrevistas, usando questionários
com perguntas abertas e semi-estruturadas. A análise estrutural do caule e da raiz revelou-se
de acordo com o registrado pela literatura para o gênero Maytenus. A periderme do caule
origina-se na subepiderme, lenticelas estão presentes. A casca do caule secundário apresenta
periderme desenvolvida constituída por felema espesso, seqüencialmente são observados o
felogênio e feloderme. Córtex internamente rodeado por dois anéis esclerenquimáticos,
sempre contínuo e composto por fibras e inúmeras células pétreas. Cilindro vascular com
floema externo ao xilema, tecido floemático e xilemático entremeado com inúmeras fibras. O
xilema secundário da raiz e do caule apresenta parênquima axial apotraqueal, raios
multisseriados, heterogêneos, vasos solitários, de distribuição difusa, uniforme, seção circular,
com parede delgada, pontoações intervasculares alternas e areoladas. O sistema floemático
percorrido por grupos de células pétreas, células em processo de esclerificação, fibras e raios
parenquimáticos. Medula homogênea formada de células parenquimáticas isodiamétricas e
células pétreas. As estruturas do caule e da raiz apresentaram inúmeras células-pétreas e
células em processo de esclerificação as quais possuem um lúmen denso que reagiu ao teste
de alcalóides. Os testes microquímicos também revelaram a presença de amido, pectina e
proteínas (somente no caule). Monocristais prismáticos estão presentes no parênquima radial
da raiz e do caule. A pesquisa permitiu avaliar o perfil dos feirantes e usuários de plantas
medicinais de Manaus-AM demonstrando que o comércio de fitoterápicos tem crescido nos
últimos 10 anos através do aumento da procura de plantas medicinais. A abordagem
etnofarmacológica realizada revelou que a espécie M. guyanensis não é comercializada e
utilizada pelos feirantes, e sim uma outra espécie com o mesmo nome vulgar de chichuá,
Salacia impressifolia. Contudo os informantes que conhecem as duas espécies afirmam que
elas apresentam o mesmo uso terapêutico (relaxante muscular, reumatismo, impotência sexual
e frigidez). O presente estudo vem enfatizar a importância da anatomia e da etnofarmacologia
para o conhecimento das plantas medicinais.
viii
ASPECTS ANATOMICAL AND ETHNOPHARMACOLOGICAL OF STEM
AND ROOT OF Maytenus guyanensis Klotzsch ex Reissek
(CELASTRACEAE)
By
Ressiliane Ribeiro Prata
Abstract
Maytenus guyanensis, known popularly for chichuá, possess analgesic, anti-inflammatory,
aphrodisiac and anti-rheumatic actions. Here, its anatomical and ethnopharmacological
aspects had been studied through the microchemical tests in order to locate the small farms
where the drug is produced, and to trace the profile of the users and traders of natural products
in the fairs and markets in Manaus-AM. Anatomical analysis of the material collected in the
Forest Reserve Adolpho Ducke where conducted for 3 selected individuals, from which
fragments of stem and root of 1cm
3
had been removed. Fragments from stems were embedded
in methacrylate resin for sectioning in a rotating microtome, stained with toluidine blue and
mounted with synthetic resin. Sections from the stem in secondary growth and root were cut
with slide microtome, and stained with astra blue and safranina. The histological cuts of stem
and root were submitted to microchemical tests aiming the identification of the chemical
properties of the secreted substances. The ethnobotanical aspects were studied through
interviews carried in the fairs and markets of Manaus-AM, based on questionnaires with open
and semi-structuralized questions. The structural analysis of stems and roots were in
accordance with those showed in the literature available for the Maytenus genus. Periderm of
stem arising in the sub-epidermis, lenticels is gifts. The bark of stem presented periderm
developed constituted by a thick phellem, and subsequently to which the phellogen and
phelloderm were observed. Vascular cylinder with phloem external to xylem, weaved
phloematic and xylematic larded with innumerable staple fibres. The secondary xylem of the
root and stem presented parenchyma axial apotracheal, multiseriates, heterogeneous rays,
solitary vessels, of diffuse distribution, uniform, circular section, with thin wall, bordered and
alternate intervascular pits. Cortex internally bounded by two sclerenchymatic rings, almost
continuous and composed of fibers and innumerable stone cells. The phloem system has a
group of stone cells, cells in process of sclerification, fibers and parenchyma rays.
Homogeneous pith formed of isodiametric parenchyma cells and stone cells. Staple fibers and
rays of the structures in stems and the root presented innumerable stone cells and cells in
sclerification process, possessing a dense lumen reactive to alkaloids test. The microchemical
tests also disclosed presence of starch, pectin and proteins (only in stem). Prismatic
monocrystals were present in the radial parenchyma of roots and stems. The research on the
profile of traders and users of medicinal plants in Manaus-AM revealed that the commerce of
phytotherapics has grown in last the 10 years because of increasing search of medicinal
plants. M. guyanensis is neither commercialized nor used for the traders, but instead another
species bearing the same vulgar name of chichuá, Salacia impressifolia. Nevertheless,
informers knowing both species affirmed that they are used in similar therapeutical treatments
use (rheumatism, sexual impotence and frigidity). The present research emphasizes the
importance of anatomical and ethnopharmacological aspects for the knowledge of medicinal
plants.
ix
Lista de Figuras
Figura 1Maytenus guyanensis em seu habita natural 14
Figura 2 – Mapa da Reserva Florestal Adolpho Ducke 15
Figura 3 – Exsicata de Maytenus guyanensis 16
Figura 4 – Seções da raiz de Maytenus guyanensis 22
Figura 5 – Seções transversais do caule de Maytenus guyanensis 24
Figura 6 – Estrutura do caule de Maytenus guyanensis 26
Figura 7 – Estrutura do caule de Maytenus guyanensis 27
Figura 8 – Estrutura do caule de Maytenus guyanensis em luz polarizada 28
Figura 9 – Seções transversais do floema de Maytenus guyanensis 29
Figura 10 – Seções transversais do floema de Maytenus guyanensis 30
Figura 11 – Estrutura do caule de Maytenus guyanensis 33
Figura 12 – Estrutura do caule de Maytenus guyanensis 35
Figura 13 Seções transversais do caule de Maytenus guyanensis submetidos ao
teste de vermelho de rutênio
37
Figura 14 – Seção transversal do floema de Maytenus guyanensis 39
Figura 15 – Faixa etária e sexo dos feirantes 41
Figura 16 – Comerciante de plantas medicinais 41
Figura 17 Comerciante de plantas medicinais assinando o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido
42
Figura 18 – Tempo que os feirantes trabalham nas feiras 43
Figura 19 - Tempo que os feirantes trabalham com plantas medicinais 44
Figura 20 – Plantas medicinais mais vendidas pelos feirantes 46
Figura 21 – Origem dos produtos comercializados 46
Figura 22 – Perfil dos usuários de plantas medicinais 47
Figura 23 – Faixa etária dos usuários de plantas medicinais segundo os feirantes 47
Figura 24 – Classificação dos informantes por sexo e faixa etária 48
Figura 25 – Tempo que os informantes utilizam plantas medicinais 49
Figura 26 – Uso terápico de chichuá 50
x
Figura 27– Casca de Maytenus guyanensis e caule de Salacia impressifolia 51
Figura 28 Embalagem de xixuá (Salacia impressifolia) comercializada em uma
das feiras
52
xi
Sumário
AGRADECIMENTOS .............................................................................................V
RESUMO...............................................................................................................VII
ABSTRACT..........................................................................................................VIII
LISTA DE FIGURAS..............................................................................................IX
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................1
2. OBJETIVOS..........................................................................................................3
2.1
G
ERAL
................................................................................................................3
2.2
E
SPECÍFICOS
.......................................................................................................3
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..............................................................................4
3.1
A
S
P
LANTAS
M
EDICINAIS E A
E
TNOBOTÂNICA
....................................................4
3.2
F
AMÍLIA
C
ELASTRACEAE
....................................................................................6
3.2.1 Descrição botânica......................................................................................6
3.2.2 Estudos anatômicos da família Celastraceae...............................................7
3.2.3 Maytenus .....................................................................................................8
3.2.4 Maytenus guyanensis Klotzsch ex. Reissek.................................................10
3.3
S
UBSTÂNCIAS ERGÁSTICAS E ESTRUTURAS SECRETORAS ENCONTRADAS NAS
ESPÉCIES VEGETAIS
.................................................................................................11
4. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................14
4.1
Á
REA DE COLETA
..............................................................................................14
4.2
I
DENTIFICAÇÃO DO MATERIAL
..........................................................................15
4.3
E
STUDO
L
ABORATORIAL
...................................................................................16
4.3.1 Técnicas microscópicas .............................................................................16
4.3.2 Montagem de lâminas semi-permanentes de macerado do caule................17
4.3.4 Testes microquímicos.................................................................................17
4.3.5 Fotomicrografias e medições.....................................................................18
4.4
E
STUDO
E
TNOFARMACOLÓGICO
.......................................................................18
4.4.1 Seleção da Área de estudo .........................................................................18
4.4.2 Escolha dos informantes............................................................................19
4.4.3 Metodologia Qualitativa............................................................................19
4.4.4 Metodologia Quantitativa..........................................................................20
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO .........................................................................21
I.
D
ESCRIÇÃO ANATÔMICA
.....................................................................................21
1. Estrutura da raiz de crescimento secundário..................................................21
2. Estrutura do caule..........................................................................................23
II.
A
SPECTOS FARMACOGNÓSTICOS DE
M.
GUYANENSIS
...........................................33
III.
A
SPECTOS ETNOFARMACOLÓGICOS
...................................................................39
1. Perfil do comércio e comerciantes de plantas medicinais...............................39
2. Perfil do usuário do chichuá...........................................................................48
xii
3. Chichuá não Chichuá .....................................................................................50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................54
7. ANEXOS..............................................................................................................60
1
1. Introdução
A utilização das plantas como medicamento talvez seja tão antiga quanto o próprio
homem, tornando-se difícil delimitar com exatidão as numerosas etapas que marcaram a
evolução do uso destas plantas, já que a medicina esteve, por anos, associada às práticas
mágicas, místicas e ritualísticas (Martins, et al., 1995).
Silva (1995) afirma que hoje a flora mundial conta com milhares de espécies com uso
terapêutico, sendo o Brasil um dos maiores fornecedores dessa matéria prima.
Considerada uma das maiores florestas tropicais do planeta, a Amazônia es
associada a uma rica e múltipla tradição folclórica no uso das plantas medicinais (Silva,
1995).
A ocupação crescente da floresta amazônica tem um efeito direto sobre o que hoje se
denomina de mudanças globais, evidenciadas pelas alterações climáticas e perda da
biodiversidade. Mas a colonização por povos culturalmente estranhos à floresta dizimou
inúmeros grupos étnicos. Com isto, perdeu-se o conhecimento adquirido ao longo do processo
de ocupação do espaço amazônico com significativa diminuição da diversidade cultural da
humanidade e perda irrecuperável do saber tradicional (Salati et al., 1998).
Desta forma assegurar a conservação e evolução do saber tradicional é um princípio
ético. E no centro do processo de desenvolvimento futuro da humanidade está o direito de
sobrevivência e liberdade de estilo de vida às comunidades locais (Salati et al., 1998).
A riqueza do conhecimento popular acerca do uso medicinal das plantas se origina
tanto da necessidade de uma terapêutica alternativa pelo baixo poder aquisitivo e pelo difícil
acesso à assistência médica como pela grande influência das comunidades indígenas da região
(Di Stasi & Hiruma-Lima, 2002).
No estado da Amazonas o isolamento do caboclo no interior e o sistema de saúde que
não atende a população, principalmente de baixa renda, favorecem o surgimento da prática do
uso das plantas medicinais (Borrás, 2003).
A medicina popular, consagrada pelo uso e costumes, continua resistindo às pressões
dos produtos das poderosas indústrias químicas farmacêuticas. A resistência da medicina
popular predomina nas localidades mais distantes dos centros urbanos, onde o progresso da
2
ciência e da tecnologia ainda não alcançou a intensa penetração verificada nas grandes
cidades dos países desenvolvidos e dos periféricos (Silva, 1995).
A carência de estudos sobre a vegetação brasileira leva a necessidade de se pesquisar
as espécies vegetais da Amazônia dando enfoque ao estudo das plantas medicinais, sua
importância, composição química, utilização e preservação.
Produtos originários de plantas medicinais estão ocupando um lugar cada vez maior na
terapêutica, uma vez que os efeitos colaterais são minimizados e estes possuem a mesma
eficácia que drogas sintéticas. No entanto, o uso desenfreado pode levar a graves
conseqüências, como a utilização de uma espécie que não possua o princípio ativo necessário
ou que o tenha valor terapêutico preconizado, mas que possui o mesmo nome popular,
havendo a necessidade de uma identificação segura das plantas, feita por botânicos
morfologistas, sistematas ou taxonomistas (Correa Júnior et al.,1994).
A indústria farmacêutica tem aproveitado bastante da etnociência dos índios em
relação às propriedades farmacológicas das plantas amazônicas. A descoberta de princípios
ativos, base para o desenvolvimento de novos medicamentos, advém de enquetes e pesquisas
feitas com indivíduos que conhecem o poder curativo da flora regional (Salati et al., 1998).
Como contribuição aos estudos farmacognósticos e anatômicos realizados com plantas
medicinais na região Amazônica se fez necessária a pesquisa com Maytenus guyanensis
que trabalhos nesta área se restringem a estudos anatomia de forma geral com o gênero em
trabalhos realizados por Solereder (1908) e Metcalfe & Chalk (1957), Duarte & Debur
(2005); Gomes et al. (2005) e Joffily & Vieira (2005). O trabalho serve como subsídio às
pesquisas fitoquímicas realizadas com a casca de M. guyanensis que pode-se localizar,
através da anatomia vegetal, o local de produção da droga.
Tendo em vista fornecer um melhor entendimento acerca da importância do estudo das
plantas medicinais e para um maior conhecimento da utilização e comércio dessas plantas nos
Mercados e Feiras de Manaus-AM, realizou-se o estudo anatômico do caule e raiz de M.
guyanensis, destacando a localização do princípio ativo e suas propriedades terapêuticas.
3
2. Objetivos
2.1 Geral
- Descrever aspectos anatômicos do caule e raiz de M. guyanensis Klotzsch ex Reissek
(CELASTRACEAE) e identificar seu uso terapêutico na cidade de Manaus-AM.
2.2 Específicos
- Caracterização anatômica e localização dos constituintes fitoquímicos através dos
testes microquímicos;
- Listar os usos mais comuns de M. guyanensis associado aos dados farmacológicos
obtidos na literatura;
- Descrever o perfil dos feirantes e usuários de M. guyanensis em Manaus-AM;
- Analisar o comércio de M. guyanensis nos mercados e feiras de Manaus-AM em
relação aos seus aspectos sócio-econômicos e culturais.
4
3. Revisão Bibliográfica
3.1 As Plantas Medicinais e a Etnobotânica
Toda sociedade humana acumula um acervo de informações sobre o ambiente que a
cerca, possibilitando interagir com ele para prover suas necessidades de sobrevivência. Neste
acervo, inscreve-se o conhecimento relativo ao mundo vegetal com o qual estas sociedades
estão em contato (Amorozo, 1996).
A flora medicinal constitui um arsenal terapêutico de enorme importância. Já há vários
séculos as plantas vêm sendo consideradas fontes medicamentosas, empregadas tanto em
preparações tradicionais (chás, sucos, xapores, cataplasmas, tinturas, ungüentos) quanto, mais
recentemente, na forma de princípios ativos puros (Corrêa et al., 1998).
De acordo com Borrás (2003) o povo da Amazônia manteve viva a tradição do uso das
plantas medicinais. A medicina tradicional é considerada em muitas regiões como a única
forma de atendimento, sendo importante que este conhecimento difuso não se perca,
mantendo assim a herança cultural adquirida através de métodos de “ensaio-e-erro”.
A utilização ponderada e racional das plantas medicinais como suporte terapêutico
pode ser considerada uma forma simples, de baixo custo e bastante eficaz de promover a
saúde. Indubitavelmente, estes três fatores devem ser prioridade em qualquer sistema de
saúde. Assim, as ervas têm extrema importância no contexto terapêutico mundial, mas
especialmente em países com poucos recursos econômicos como o Brasil (Corrêa et al., 1998)
A falta de acesso e, algumas vezes, de confiança em uma medicina curativa eficaz e a
alta taxa de toxicidade dos medicamentos alopáticos, associadas ao alto custo dos mesmos,
faz com que as pessoas, independente de renda ou classe social, voltem para o uso de
“receitas” à base de plantas recebidas de gerações anteriores, muitas vezes com o auxílio de
curandeiros, sem que as mesmas tenham sido testadas de forma científica (Jorge & Morais,
2003).
A inter-relação direta entre pessoas de culturas viventes e as plantas do seu meio é
estudada por uma disciplina denominada etnobotânica (Albuquerque, 2002).
Harshberger (1896) apud Albuquerque (2002) considera que a etnobotânica pode
auxiliar na elucidação da posição cultural das tribos que usam plantas para alimentação,
5
abrigo ou vestuário, e que tais investigações podem aclarar o problema da distribuição de
plantas no passado.
Amorozo (1996) define a etnobotânica como sendo o estudo do conhecimento e das
conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vegetal, englobando
tanto a maneira como o grupo social classifica as plantas, como os usos que dá a elas.
Segundo Albuquerque (2002), a etnobotânica inicialmente era entendida como o uso
de plantas por aborígines e implicava numa complexidade e diversidade de pesquisas. A partir
de meados do século XX a etnobotânica começou a ser compreendida como o estudo das
inter-relações entre povos primitivos e plantas, envolvendo o fator cultural e sua interpretação
(Jorge & Morais, 2003).
Atualmente, com base nos trabalhos já realizados, pode-se entender a etnobotânica
como sendo o estudo das inter-relações (materiais ou simbólicas) entre o ser humano e as
plantas, devendo-se somar os fatores ambientais e culturais, bem como a relação das plantas e
dos usos que se faz delas (Jorge & Morais, 2003).
Nesse contexto o entendimento atual ampliou a definição da etnobotânica estendendo
seu campo tanto para o estudo das populações tradicionais quanto das sociedades industriais,
no relacionamento expresso na inter-relação populações humanas/ambiente botânico
(Albuquerque, 2002).
Albuquerque (2002) afirma que um dos grandes objetivos da etnobotânica é investigar
e estudar o uso das plantas com finalidades medicinais com o firme propósito de oferecer
elementos práticos para outros investigadores nas áreas de fitoquímica e farmacologia,
favorecendo a descoberta de novos medicamentos.
A etnobotânica aplicada ao estudo de plantas medicinais, como vem sendo praticada
modernamente, trabalha em estreita cumplicidade com outras disciplinas correlatas, como, por
exemplo, a etnofarmacologia (Amorozo, 1996).
Berlin (1992) apud Elisabetsky & Souza (2004) afirma que a etnofarmacologia está
inserida no contexto da etnobiologia, e esta é entendida como uma disciplina devotada ao
estudo, no mais amplo dos sentidos, do complexo conjunto de relações de plantas e animais
com sociedades humanas do presente e do passado. Mais especificamente, a etnofarmacologia
é o ramo que trata de práticas médicas, especialmente remédios, usados em sistemas
tradicionais de medicina.
De acordo com Elisabetsky & Shanley (1994), distingui-se investigações
etnofarmacológicas de estudos etnobotânicos pelo grau e profundidade o qual as plantas
medicinais o estudadas. Estudos etnobotânicos são tratados como esses que incluem plantas
6
medicinais somente como um parte do amplo foco de pesquisas em plantas econômicas em
geral (fibras, frutos, madeiras, óleos). Investigações etnofarmacológicas focam
especificamente o uso das plantas medicinais e trazem com elas o desafio de vencer e unir a
extensa corporação de campos divergentes tais como botânica, química, farmacologia e
antropologia.
No Brasil 84% de todas as drogas são importadas. Além disso, 60% de todas as drogas
processadas são consumidas por 23% da população, deixando a maioria do povo brasileiro
com remédios caseiros baseados em plantas como a principal fonte de medicina (Elisabetsky
& Shanley, 1994). As autoras afirmam ainda que esta figura inoportuna não é única no Brasil,
pois 80% da população mundial conta diretamente com as plantas da natureza como sua
principal fonte de cuidados com a saúde.
Segundo Elisabetsky & Shanley (1994), a pressão evolutiva tem selecionado plantas
com caminhos metabólicos que geram compostos com valor adaptativo. Esses compostos
podem proteger as plantas de fungos, vírus, insetos e herbívoros predadores, ou ajudá-las a se
reproduzirem pela atração dos polinizadores. A diversidade de espécies de plantas neste
contexto pode ser vista como uma inestimável reposição de compostos químicos incomuns,
dando metabólitos secundários, que são como impressão digital química das espécies. Esta é a
base científica que explica a presença de compostos bioativos em plantas, eventualmente
terapêuticos.
Como estratégia para investigação de plantas medicinais, a abordagem
etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto a comunidades que
fazem uso da flora medicinal com estudos químico-farmacológicos realizados em laboratórios
especializados (Elizabetsky & Souza, 2004).
3.2 Família Celastraceae
3.2.1 Descrição botânica
A ordem Celastrales inclui oito famílias botânicas, e apenas uma delas, a família
Celastraceae, representa importante fonte de espécies medicinais, com inúmeras atividades
farmacológicas já descritas (Di Stasi & Hiruma-Lima, 2002).
A família Celastraceae compreende 55 gêneros e aproximadamente 855 espécies (Judd
et al., 2002). Predominantemente tropical e subtropical dos dois hemisférios e pouco
7
representada nas zonas temperadas (Ribeiro et al. 1999, Judd et al., 2002). Sendo muito bem
representada na América Central e Antilhas da América do Sul, exceto para o grande gênero
Maytenus (Gentry, 1993).
As folhas de muitas plantas de Celastraceae são usadas na medicina tradicional como
analgésico, antiinflamatório e antiulcerogênico dentre outras utilizações (Corrêa, 1984).
Segundo Judd et al. (2002), Maytenus, Euonymus, Salacia e Hippocratea o
considerados os maiores gêneros. Contendo, respectivamente 200, 200, 170 e 100 espécies.
Os principais gêneros dessa família, que possuem espécies medicinais, são Celastrus e
Trypterygium, ambos contendo espécies amplamente estudadas, com atividade antifertilidade
masculina; Salacia e Cassine são também muito usadas; Austroplenkia, que inclui uma
importante espécie vegetal do cerrado brasileiro, e Maytenus, gênero de grande valor
medicinal (Di Stasi &Hiruma-Lima, 2002).
Os representantes da família são árvores, arbusto ou lianas (Judd et al., 2002). Na
América Central muitas Celastraceae tem folhas opostas, mas na América do Sul quase todas
são alternas, simples, com estípulas caducas (Gentry, 1993; Ribeiro et al., 1999).
A inflorescência é terminal ou axilar, geralmente cimosa, também racemosa, raro
flores solitárias. As flores são hermafroditas, esverdeadas ou brancas, com 4-5 sépalas
imbricadas ou raramente valvadas, livres ou conadas na base ou acima do meio; com 4-5
pétalas livres, imbricadas, raramente convolutas ou valvadas. Têm 4-5 estames, usualmente
em séries, alternos com as pétalas, comumente presos no disco nectarífero ou abaixo da
margem dele. O ovário é súpero ou quase ínfero, com 2-5 carpelos unidos; com estilete curto,
espesso ou o, e estigma inteiro ou 2-5 lobulado. Tem um ou mais óvulos. O fruto é
capsular, drupáceo, samaróide ou bacáceo. A semente é, em geral, com arilo de colorido vivo,
com ou sem endosperma carnoso (Ribeiro et al., 1999; Judd et al., 2002).
3.2.2 Estudos anatômicos da família Celastraceae
Trabalhos anatômicos de Celastraceae e para o gênero Maytenus se restringem aos
estudos realizados por Solereder (1908), Metcalfe & Chalk (1957), Duarte & Debur (2005),
Gomes et al. (2005) e Joffily & Vieira (2005).
É importante salientar, nos trabalhos dos autores supracitados, a ocorrência de sacos
secretores ou canais preenchidos com material granular, que é afirmado parecer-se com
8
borracha, no floema do caule assim como nos feixes vasculares das nervuras da folha em
certos gêneros característicos.
No caule jovem o córtex frequentemente aparece contendo lulas taniníferas,
notavelmente em espécies de Cassine, Catha, Celastrus, Elaeodendron, Gymnosporia,
Microtropis. lulas solitárias estão presentes no córtex de espécies de Cassine,
Elaeodendron, Maytenus, Microtropis (Metcalfe & Chalk, 1957).
Medula geralmente homogênea, mas frequentemente heterogênea em Gymnosporia,
Lophopetalum, Microtropis, Perrottetia, Polycardia e Pterocelastrus, às vezes contêm células
pétreas em Kokkona e Maytenus; lulas taniníferas em espécies de Cassine, Catha,
Celastrus, Elaeodendron, Microtropis, e Tripterygium. Células secretoras alongadas às vezes
ocorrem no floema de espécies de Catha, Celastrus, Elaeodendron e Microtropis (Solereder,
1908; Metcalfe & Chalk, 1957).
Nos raios do caule adulto ocorrem cristais solitários nas células comuns na maioria das
espécies e grandes cristais ocorrem em Siphonodon celastrineus Griff.; depósitos escuros
também estão presentes no caule de algumas espécies (Metcalfe & Chalk, 1957).
Apesar dos dados anatômicos das espécies de Maytenus se restringirem aos trabalhos
de Solereder (1908) e Metcalfe & Chalk (1957), Duarte & Debur (2005) realizaram um
recente trabalho morfoanatômico com a folha e caule de M. ilicifolia. Destaca-se neste
trabalho a presença de amiloplastos e compostos fenólicos no parênquima cortical, células
pétreas presentes no anel esclerenquimático na camada interna do córtex. Nos raios medulares
parenquimáticos podem aparecer amiloplastos e compostos fenólicos. Cristais prismáticos de
oxalato de cálcio são vistos no córtex e na medula.
Segundo Duarte & Debur (2005), a morfoanatomia do caule de M. ilicifolia em
crescimento secundário corresponde ao modelo caulinar relatado para a família e o gênero
Maytenus por Metcalfe & Chalk (1957).
3.2.3 Maytenus
O gênero Maytenus Molina consiste de árvores e arbustos (Joly, 1993),
freqüentemente utilizado na medicina tradicional e investigado principalmente por propósitos
fitoquímicos e farmacológicos (Duarte & Debur, 2005).
Usualmente apresenta folhas alternas coriáceas e com a base do pecíolo mais ou
menos decorrente e ângulo-estriado. Enormes folhagens das espécies de planalto com folhas
9
inteiras tendem a ter a nervura secundária inconspícua (Gentry, 1993; Ribeiro et al., 1999). O
tronco tem aspecto cilíndrico e base acanalada (Ribeiro et al., 1999). A inflorescência é axilar
ou ramificada abaixo das folhas, usualmente fasciculadas, mas às vezes um pouco ramificada.
O fruto tipicamente obovóide e quando separado pela metade, mostra a semente vermelho-
arilada (Gentry, 1993).
O gênero Maytenus apresenta alcalóides espermidínicos e sesquiterpênicos, auronas,
chalconas, cumarinas, ácidos fixos, catequinas, fenóis simples, saponinas, quinonas e
triterpenos (Revilla, 2000; Revilla, 2002b).
González et al. (2001) apontaram em seu trabalho a existência de inúmeros compostos
químicos nas espécies de Maytenus acentuando a presença de três novos dímeros triterpênicos
que foram analisados para atividades antimicrobiana e citotóxica.
Chávez et al. (1997) conseguiram isolar os primeiros modelos de triterpenos
dammarano em M. macrocarpa. A atividade biológica destes dammarano tem ainda que ser
avaliada, mas outros triterpenos semelhantes mostraram atividade fitohormonal e citotóxica.
Chávez et al. (1998), em um trabalho posterior, isolaram outros triterpenóides friedelano de
exsudato da casca de M. macrocarpa.
As atividades dos compostos de M. aquifolium o são ainda conhecidas, contudo a
presença de flavonóides, triterpenos e taninos pode ser estimada como uma possível atividade
dos compostos sobre lesões gástricas pelo aumento de fatores protetores ou atividade
antioxidante. Estes dados suportam o uso e a comercialização desta planta como
antiulcerogênica e analgésica (Gonzalez et al., 2001).
Pullen et al. (2003) em suas análises químicas com três espécies de Maytenus não
detectaram a presença de maitenosídeos, contudo outros trabalhos teriam confirmado sua
presença em espécies do gênero, como M. ilicifolia. Muitos maitenisoides são altamente
citotóxicos e têm sido usados em experiências clínicas assim como em sistemas experimentais
designados a explorar sua potente atividade antitumoral.
Em suas análises, Nuñez et al. (2005) identificaram cinco novos lupanos triterpênicos
em M. cuzcoina e M. chiapensis, que mostraram atividade antimicrobiana e citotóxica.
Jorge et al. (2004) salientaram de acordo com outros trabalhos que a presença de
metabólitos fenólicos, assim como taninos condensados, flavonóides e triterpenos, podem
justificar o uso de algumas espécies de Maytenus como remédios antiinflamatórios e
antiulcerogênicos.
Sousa et al. (1986) isolaram um novo alcalóide sesquiterpeno, nomeado de maiteína
na raiz de M. guyanensis. Um mesmo composto encontrado por Sousa et al. (1986) foi
10
detectado por Macari et al. (2004) isolado do tronco e da raiz de M. guyanensis, o flavonóide
4-metilepigalocatequina.
E ainda determinou-se na espécie M. guyanensis a presença de maitenina (inibidor de
tumores), evoniato (isoflavonoides que tem atividades hormonais) e ácido tilendiamino tetra-
acético (Revilla, 2000; Revilla, 2002a).
Borrás (2003) afirma que a presença de fenoldienonas, uma catequina e
proantocianidinas na espécie estudada, corroboram as atividades biológicas atribuídas aos
extratos da planta, principalmente como antiinflamatório.
3.2.4 Maytenus guyanensis Klotzsch ex. Reissek
A espécie é originada da Amazônia e é conhecida como Chichuá, Xixuá, Chuchahuasi,
Chucchu Huashu, Chuchuasi, Chuchasha e Tonipulmon (Ducke & Vasquez, 1994; Revilla,
2000; Revilla, 2002a; Revilla, 2002b; Borrás, 2003). Seus representantes são árvores de altura
média (20-30 m), de terra firme (Revilla, 2000; Revilla, 2002a; Revilla, 2002b; Borrás, 2003).
As folhas são oblongas lanceoladas ou elípticas, inteiras, acuminadas, coriáceas e
lustrosas na face superior, de 10 a 20 cm de comprimento, 3 a 4 cm de largura, cartácea, veia
central proeminente em ambas as faces, secundárias inconspícuas; ápice acuminado a
cuspidado com pecíolo de 4 mm de largura, inflorescência axilar, flores numerosas,
pentâmeras, diminutas, cálice colorido com dentes decíduos e pétalas obovadas de cor branca,
o fruto é em forma de cápsula ovóide, sementes oblongas com arilo branco (Revilla, 2000;
Revilla, 2002a; Revilla, 2002b). O tronco é cilíndrico com base acanalada. Ritidoma sulcado
marrom-amarelado; desprendimento em placas papiráceas. (Ribeiro et al., 1999).
M. guyanensis é utilizada como analgésico, antiinflamatório, afrodisíaco, para artrite,
impotência, reumatismo e tumores (pele) (Borrás, 2003). Também é utilizada como relaxante
muscular, contra resfriado, no pós-parto, antidiarréica, e para gripe, bronquite, hemorróidas,
verminoses, lumbago, úlceras externas e usos ginecológicos. Como cosmético é utilizado
contra erupções cutâneas e previne o câncer de pele (Revilla, 2002a).
Na forma de tintura utiliza-se como relaxante muscular, para artrite e reumatismo; em
decocção usa-se uma parte da casca de cerca de 5 cm em 2 litros de água. Para artrite e
reumatismo, foi documentado o uso de uma xícara (café) 3 vezes ao dia, por uma semana
(Borrás, 2003). A decocção dos galhos é considerada segundo Ducke & Vasquez (1994) como
estimulante e tônico.
11
3.3 Substâncias ergásticas e estruturas secretoras encontradas nas espécies vegetais
Substâncias ergásticas são produtos do metabolismo das plantas. Estas substâncias
podem aparecer e desaparecer em diferentes tempos na vida da célula. Elas são reservas ou
produtos resultantes das atividades celulares e são usualmente mais simples em estrutura que
o corpo protoplasmático. Algumas das mais conhecidas substâncias ergásticas são
carboidratos, celulose e amido; corpos protéicos; gorduras; e materiais minerais em forma de
cristais. Elas incluem também muitas outras substâncias orgânicas, tal como taninos, resinas,
gomas, borracha, e alcalóides, cuja natureza ou função ou ambos são imperfeitamente
conhecidos. Substâncias ergásticas ocorrem nos vacúolos e nas paredes das células, e podem
ser associadas com componentes protoplasmáticos das células (Esau, 1965).
Carboidratos. O amido é uma substância de reserva constituída por moléculas de
glicose, para formar um polímero linear com baixo grau de ramificação (amilose) ou de
configuração helicoidal formando amilopectina, altamente ramificada (Poser, 2004).
A celulose é encontrada ligada fortemente a outros constituintes da parede celular,
sendo o principal constituinte das plantas (Mello & Filho, 2000; Bruneton, 1993 apud Poser,
2004). É a mais importante matéria prima farmacêutica, sendo empregada desde a confecção
de compressas até derivados quimicamente modificados, como adjuvante na obtenção das
mais variadas formas farmacêuticas. Pode ser ingerida através das frutas e verduras, sendo
usada como laxante (Mello & Filho, 2000).
Gomas são substâncias constituídas dos polissacarídeos heterogêneos que formam,
com a água, soluções viscosas. Estão presentes em muitas plantas e é preciso perfurar partes
da planta para que o produto exsude. São usadas como emulsificantes e estabilizantes (Mello
& Filho, 2000).
As mucilagens são polissacarídeos acídicos. São substâncias amorfas que colocadas na
água dão soluções com alto teor de viscosidade. A ação terapêutica mais importante das
mucilagens é a antiinflamatória das mucosas. São também emolientes e têm ação laxativa
(Mello & Filho, 2000).
Pectinas são macromoléculas glicídicas, constituintes da lamela média das paredes
celulares do vegetal. São utilizadas especialmente como reguladoras de sistema gastrintestinal
e, na indústria alimentícia, como estabilizante e gelificante, além de demonstrar eficácia no
controle de glicemia, colesterolemia e na prevenção de doenças cardiovasculares (Poser,
2004).
12
Estudos de Poser (2004), em relação a outros trabalhos, afirmam que os
polissacarídeos de origem vegetal emergiram como uma importante classe de produtos
naturais bioativos nas últimas décadas. Atividades antitumoral, imunoestimulante,
anticomplemento, antiinflamatória, anticoagulante, antiviral, hipoglicêmica e
hipocolesterolemiante têm sido relatadas para uma grande variedade de polissacarídeos
(Poser, 2004).
Gorduras e substâncias relacionadas. Gorduras e óleos são extremamente distribuídos
no corpo da planta, e eles provavelmente ocorrem em pequenas quantidades em todas as
células das plantas (Esau, 1965).
Mono e sesquiterpenos são as principais substâncias que compõem as misturas
chamadas de óleos voláteis. Os triterpenos originam-se da ciclização do esqualeno, enquanto
os esteróides podem ser considerados metabólicos dos triterpenos, uma vez que originam-se
do cicloarteno, com a perda de três grupos metila. Dentre os triterpenos e esteróides de origem
vegetal de importância estão as saponinas (Santos, 2004).
Saponinas são substâncias orgânicas vegetais, de natureza glicosídica, com
característica de ter forte ão tensoativa. Com a água, formam soluções espumógenas e
diminuem a tensão superficial da água. As ações terapêuticas são de expectorante e facilitação
da absorção de outras substâncias ativas, pelo organismo (Mello & Filho, 2000). Esse grupo
de substâncias sempre tem sido de interesse farmacêutico, seja como adjuvante em
formulações, componentes ativos em drogas vegetais, ou ainda, como matéria-prima para a
síntese de esteróides (Schenkel et al., 2004). Possuem ação flavorizante, estomacal,
carminativa anti-séptica, analgésica, antireumática, antiinflamatória (Mello & Filho, 2000).
Os óleos voláteis são líquidos oleosos, voláteis, que dão aroma característico às
plantas, distinguindo-se dos óleos fixos por sua volatilidade e por serem solúveis no álcool
(Almeida, 1993). De forma geral, são misturas complexas de substâncias voláteis, lipofílicas,
geralmente odoríferas e líquidas (Simões & Spitzer, 2004).
Taninos. Os taninos o substâncias de origem vegetal, não nitrogenadas, solúveis em
água e álcool, e que formam precipitados com sais metálicos, proteínas e alcalóides.
Quimicamente são derivados fenólicos unidos em geral a uma glicose, mas não podem ser
considerados estritamente glicosídeos, pois a união entre o açúcar e o derivado fenólico tem a
natureza de éster e não de um éter (Almeida, 1993). Segundo Mello & Filho (2000), os
taninos possuem ações adstringentes, antiinflamatórias e hemostáticas.
Cristais. Os depósitos inorgânicos nas plantas consistem principalmente de sais de
cálcio e de anidridos de sílica. Entre os sais de cálcio o mais comum é o oxalato de cálcio, que
13
é encontrado na maioria das plantas. Oxalato de cálcio ocorre como sais mono- e trihidratado
em muitas formas cristalinas. A ocorrência dos chamados cristais de areia resultam na
formação de muitos pequenos cristais em uma célula (Esau, 1965).
Alcalóides. São compostos nitrogenados farmacologicamente ativos e são encontrados
predominantemente nas angiospermas (Henriques et al. 2004). Pelletier (1988) apud
Henriques et al. (2004) define alcalóide como sendo uma substância orgânica, de origem
natural, cíclica, contendo um nitrogênio em um estado de oxidação negativo e cuja
distribuição é limitada entre os organismos vivos. São compostos que produzem intensa
atividade fisiológica e, em dosagens terapêuticas, agem sobre o sistema nervoso central ou
periférico (Mello & Filho, 2000).
As células da plantas produzem muitas substâncias que parecem ser produtos não
utilizáveis do metabolismo e que se tornam mais ou menos isolados do protoplasma vivo ou
são totalmente removidas do corpo da planta. Exemplos de algumas substâncias são terpenos
e compostos relacionados, taninos, e diferentes tipos de cristais. Representantes dos terpenos
hidrocarbonatos de vários graus de polimerização são os terpenos inferiores, como os óleos
essenciais, e os terpenos superiores, os carotenóides, saponinas, e borracha (Esau, 1965).
Estruturas secretoras externas. As substâncias secretadas podem permanecer no
interior de células, cavidades internas ou canais; ou ainda, emergir das células secretoras
superficiais à parte externa da planta. As estruturas secretoras externas apresentam vários
formatos. Parte da própria epiderme é, às vezes, secretora ou existem apêndices secretores
epidérmicos de vários graus de complexidade, ou ainda esses apêndices podem ser derivados
tanto da epiderme, quanto das camadas epidérmicas. As estruturas secretoras relativamente
diferenciadas formadas de muitas células são denominadas glândulas (Esau, 1976).
Estruturas secretoras internas. As células secretoras são mais ou menos bem
diferenciadas das células do parênquima fundamental e contém uma variedade de substâncias:
bálsamos, resinas, óleos, taninos, mucilagens, gomas, cristais. Elas são chamadas de
idioblastos secretores quando se diferenciam conspicuamente das células vizinhas no meio
que eles estão dispersos (Esau, 1965). As células secretoras internas possuem grande
variedade de conteúdos. As células secretoras, bem como canais e cavidades secretores, o
úteis para fins de diagnóstico nos estudos taxonômicos (Esau, 1976).
14
4. Materiais e Métodos
4.1 Área de coleta
Foram coletadas aleatoriamente amostras do caule adulto e raízes de 3 indivíduos de
M. guyanensis (Figura 1) na Reserva Florestal Adolpho Ducke, localizada no km 26 da
Estrada Manaus-Itacoatiara (AM-010) coordenadas 02
o
53' S e 59
o
58' W (Figura 2).
Figura 1Maytenus guyanensis em seu hábitat natural.
RESERVA
DUCKE
15
Figura 2 – Localização da Reserva Florestal Adolpho Ducke, na proximidade da cidade de
Manaus-AM.
4.2 Identificação do material
O material coletado foi identificado por comparação no acervo do Herbário do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA.
A exsicata de M. guyanensis, número 3739 identificada por S. Barrier, foi consultada
no Herbário Parisiense do Museu Nacional de História Natural, em Paris-França (Figura 3).
RESERVA
DUCKE
16
Figura 3 – Exsicata de Maytenus guyanensis.
4.3 Estudo Laboratorial
4.3.1 Técnicas microscópicas
Amostras do caule e raiz foram fixadas em formaldeído-ácido acético-álcool etílico
50% (FAA
50
)
por 24 horas e estocadas em etanol 70% (Johansen, 1940). Posteriormente as
amostras foram colocadas em solução de etilenodiamina a 10% por 15 dias para
amolecimento. Partes de fragmentos mais amolecidos do caule foram desidratadas em etanol
85 % e 95% (2 horas em cada solução).
As amostras foram submetidas a uma solução de pré-infiltração (etanol 95% e resina
pura; 1v:1v), por um período de 4 horas, utilizando-se bomba de vácuo (Feder & O’brien,
1968).
A infiltração do material foi feita em resina pura por mais ou menos 4 horas ou over
night, também com auxílio de uma bomba de vácuo. A infiltração ficou completa quando o
material apresentou-se levemente translúcido e afundou dentro da solução (Feder & O’Brien,
1968).
De acordo com o fabricante a resina foi misturada com um polimerizador e as amostras
foram emblocadas em fôrmas plásticas. Foram obtidos cortes de 5-8 µm de espessura feitos
17
em micrótomo rotativo Leica RM2145, com navalha descartável. Em seguida os cortes em
lâminas foram estendidas em chapa pré-aquecida a 20
o
C, corados com azul de toluidina por
10 minutos (Vidal, 1977) e montados em Permount.
Das amostras do caule e raiz foram retirados corpos de prova com dimensão de 2 cm
3
,
devidamente orientados, retirados de discos de diferentes tamanhos. Os corpos de prova,
amolecidos por 15 dias em etilenodiamina 30%, foram submetidos a cortes em micrótomo de
deslizamento, variando em espessura de 18 a 25 µm. Os cortes foram clarificados,
desidratados em rie etílica, corados com safranina e azul de astra (somente seções da raiz)
para a montagem de lâminas permanentes.
4.3.2 Montagem de lâminas semi-permanentes de macerado do caule
Partes da casca e fragmentos do caule foram submetidas ao processo de maceração
pelo método de Jeffrey a base de ácido crômico 10% e ácido nítrico 10% (1:1). Os fragmentos
obtidos foram imersos na solução até as células se soltarem facilmente uma das outras, ao
serem manipuladas com um pincel ou estilete. Os fragmentos foram então lavados com água
destilada até que cessassem de liberar a solução de Jeffrey (Johansen, 1940).
No preparo das lâminas histológicas semi-permanentes os fragmentos do caule
tratados com solução de Jeffrey foram corados com safranina e as partes da casca com azul de
astra e posteriormente lavados com água destilada. O material corado foi então montado em
gelatina glicerinada e procedeu-se a maceração dos fragmentos com um bastão de vidro,
depois cobriu-se com lamínula (Johansen, 1940).
4.3.4 Testes microquímicos
Os cortes do caule e da raiz foram submetidos a diferentes métodos de microquímica.
Para detecção de radicais aniônicos e metacromasia, os cortes foram submetidos à coloração
com azul de toluidina 0,025% de acordo com a metodologia de Vidal (1977). Para detecção
de radicais catiônicos protéicos, os cortes foram submetidos à coloração com xylidine
ponceau seguindo os métodos propostos por Berlyn & Miksche (1976). Para a detecção de
substâncias pécticas, foram submetidos à coloração com vermelho de rutênio por 10 minutos
e logo após, lavados em água destilada, desidratados em série etílica/xilólica e montadas em
18
Permout (Johansen, 1940). O cloreto de ferro III 10% foi utilizado para detecção de
compostos fenólicos. Os cortes foram submetidos a este reagente durante 15 a 30 minutos e
depois lavados rapidamente em água destilada e em seguida fez-se a montagem das lâminas
com glicerina (Johansen, 1940). Para detectar a presença de lipídeo os cortes foram tratados
com uma solução de sudam III durante 30 minutos à temperatura ambiente ou a 60ºC, depois
se procedeu a uma lavagem com etanol 80% e água destilada (Pearse, 1980). O reagente lugol
foi aplicado para detectar a presença de amido, com a aplicação do reagente por 5 minutos nas
lâminas e lavagem posterior com água destilada (Kraus & Arduin, 1997). Para a detecção de
alcalóides foi aplicado o reagente de Wagner diretamente nos cortes histológicos do caule e
da raiz, de acordo com a metodologia de Ascensão (2004).
4.3.5 Fotomicrografias e medições
As minas obtidas foram fotografadas com o auxílio de microscópio Olympus CX40,
e quina fotográfica digital Lumix, Panasonic, do Laboratório de Citologia, Departamento
de Morfologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). E também com o auxílio do
fotomicroscópio Olympus AX70 do Laboratório de Anatomia Vegetal do Departamento de
Biologia Vegetal da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
As medidas de espessura de parede, diâmetro e comprimento de elemento de vaso
foram alcançadas com o auxílio do Programa SigmaScan Image Analysis, Versão 3.0.
4.4 Estudo Etnofarmacológico
4.4.1 Seleção da Área de estudo
Os Mercados e as Feiras de Manaus AM foram objetos de estudo de vários
trabalhos na área de plantas medicinais (Borrás, 2003; Silva, 2004), desta forma estes locais
podem contribuir na pesquisa etnofarmacológica, uma vez que há uso e comércio das plantas
pela população local. As áreas existentes na cidade foram selecionadas de acordo com a
relevância estabelecidas pela Secretaria Municipal de Abastecimento, Mercados e Feiras, que
foram então divididas por Zonas:
- Zona Sul: Feira da Panair, Mercado Municipal Adolpho Lisboa;
19
- Zona Leste: Feira do Produtor Zona Leste; Feira do Japiim
- Zona Oeste: Mercado Modelo da Compensa;
- Zona Centro-Sul: Feira Parque Dez.
4.4.2 Escolha dos informantes
O estudo constou de dois tipos de informantes: os feirantes que comercializam o
chichuá e os usuários da espécie. Os critérios estabelecidos para a escolha desses informantes
foram: ter conhecimento de plantas que são utilizadas como recurso medicinal, serem
residentes na cidade, terem disponibilidade em participar da pesquisa e ser adulto, segundo
pressupostos metodológicos (Amorozo, 1996).
4.4.3 Metodologia Qualitativa
Há vários métodos e técnicas que podem ser utilizadas em uma abordagem qualitativa,
sendo importante a utilização de um roteiro, que serve como facilitador e orientador em uma
conversa. Pode-se fazer uso de pré-testes, questionários e entrevistas, dependendo do
propósito do entrevistador. É importante salientar que o material da investigação qualitativa é
a palavra que se expressa na fala, revelando condições históricas, sócio-econômicas e
culturais específicas de cada grupo estudado (Jorge & Morais, 2003).
As entrevistas foram realizadas com o uso de roteiros na forma de questionários do
tipo semi-estruturados com perguntas abertas e fechadas relativas aos dados pessoais dos
informantes e o conhecimento das plantas medicinais, de como usar, quais as partes
farmacógenas, que doença se cura com a planta (Anexo 1, 2 e 3) (Martin, 1995; Leitzke,
2003).
As entrevistas abertas são as conversações ocasionais entre o entrevistador e o
informante que pode revelar histórias de vida detalhadas. E a entrevista semi-estruturada
possui muito mais flexibilidade que a entrevista formal estruturada, e são baseadas em torno
de uma lista com tópicos ou questões que o investigador deseja saber (Cotton, 1996). Segundo
De La Cruz Mota (1997) na entrevista direta semi-estruturada o entrevistado pode discorrer
livremente sobre o tema proposto pelo pesquisador.
20
A entrevista serve como base de coleta de dados etnobotânicos, além de ser uma
ferramenta de investigação (Alexiades, 1996). Para a realização das entrevistas os
entrevistados assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 4). Trata-se
de documento pelo quais os sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus
representantes legais manifestam a anuência de participação na pesquisa.
Segundo Posey (1987) quanto mais aberta for a pergunta no questionário, maior é a
liberdade do informante em responder segundo sua própria lógica e saber.
A entrevista segundo Alexiades (1996) depende do contexto local e habilidades do
entrevistador sendo assim deve ser realizada com respeito e sensibilidade. Além disso, um
período de tempo deve ser estipulado para que haja uma confiança mútua resultando em
melhores e maiores informações. As perguntas deverão ser simples, não muito curtas ou
ambíguas.
Conforme as Resoluções da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa envolvendo
seres humanos (CONEP), do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, o projeto foi
submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (CEP-INPA) credenciado pela CONEP.
4.4.4 Metodologia Quantitativa
A abordagem quantitativa de acordo com Minayo & Sanches (1993) apud Jorge &
Morais (2003) atua em níveis de realidade, abarcando grandes aglomerados de dados,
classificando-os e tornando-os inteligíveis através das variáveis. Isto é, avalia e analisa os
dados primários recolhidos. No que se refere às plantas medicinais, esta análise tenta aferir o
grau de importância que certas plantas têm pela freqüência e consistência de seu uso. No
presente trabalho a aplicação de técnicas quantitativas permitiu avaliar dados como o perfil
desses feirantes, homens/ mulheres, por que e quanto tempo trabalham com plantas
medicinais.
Os dados obtidos foram analisados através de freqüência absoluta e relativa. As
tabelas e gráficos foram produzidas no programa Microsoft Office Excel.
21
5. Resultados e discussão
I. Descrição anatômica
1. Estrutura da raiz de crescimento secundário
A espécie apresenta camadas de crescimento distintas, delimitadas por faixas de
parênquima marginal, distribuindo-se em intervalos regulares (Figura 4A).
Vasos de distribuição difusa, uniforme, secção circular, com parede delgada; em
média 2,44 µm de espessura, poros solitários, diâmetro tangencial de 20-29 µm (Figuras 4A e
4B). Embora Metcalfe & Chalk (1957) mencionem que os vasos das raízes para a família
Celastraceae frequentemente contêm tilose, eles o foram observados nos vasos da raiz de
M. guyanensis.
Constatou-se a presença de elementos de vaso com e sem apêndices e esses quando
presentes encontram-se em ambas as extremidades. As pontoações intervasculares o
alternas e areoladas.
O parênquima axial apotraqueal em seção transversal apresenta-se em faixas (Figura
4A).
Os raios são multisseriados, com margens unisseriadas do mesmo comprimento ou
mais longa que a parte multisseriada. Heterogêneos, compostos por células eretas marginais e
centrais procumbentes, de 3 a 5 células de largura, predominando os de 3 células; altura
variando de 12 a 23 células, predominando os de 22 células (Figuras 4B e 4C). Apresentam
aproximadamente 259,61µm de altura e 56 células em média. Fibras libriformes longas
(Figura 4B).
Conforme Esau (1976), quando se compara raízes e caules velhos de árvores, constata-
se que eles se assemelham muito. Existem, no entanto, diferenças quantitativas na maioria dos
casos, expressas pela grande proporção de elementos com paredes secundárias lignificadas na
casca e no lenho do caule, ou em outras palavras, as raízes apresentam maior volume relativo
de tecido parenquimático. De tal modo Fahn (1974) afirma que nas raízes com espessamento
secundário as reservas de substâncias são estocadas como no caule, isto é, nas células
parenquimáticas e fibras dos tecidos secundários, explicando assim a razão da raiz possuir
mais tecido parenquimático do que o caule, sabendo que a raiz é uma estrutura de sustentação
e reserva. Estas observações podem ser comprovadas pela quantidade de células
parenquimáticas do raio em secção tangencial, que possui um número quase duas vezes maior
22
de células na raiz (56 células) (Figura 4B) em relação ao número de lulas do caule (30
células) (Figura 14A e 14B).
Figura 4
Seções da raiz em crescimento secundário de Maytenus guyanensis.
A. Seção transversal. Camadas de crescimento (seta). Porosidade difusa. Vasos
solitários. B. Seção tangencial. Raios heterogêneos multisseriados. C. Seção
radial. Raios heterogêneos. Células eretas e procumbentes.Va- vaso.
23
2. Estrutura do caule
A periderme das espécies da família Celastraceae origina-se nas camadas
subepidérmicas (Metcalfe & Chalk,1957). Deste ponto em diante as células da camada
subepidérmica sofrem divisões periclinais, produzindo células do felogênio em direção à
periferia e feloderme em direção ao interior (Figura 5B). Estas observações corroboram as
informações de Solereder (1908) e Metcalfe & Chalk (1957) para o gênero Maytenus.
As lenticelas apresentam tecido de preenchimento formado por cerca de 20 camadas
de células justapostas (Figuras 5A e 6A). Lenticelas são extensões limitadas caracterizadas
pelo aumento de espaços intercelulares e compostas pelo felogênio da lenticela, pelo tecido de
enchimento e pela feloderme da lenticela (Figura 5A) (Apezzatto-da-Glória & Carmello-
Guerreiro, 2006). De acordo com Fahn (1974), por causa desta continuidade dos espaços
intercelulares e daqueles tecidos internos do órgão axial, supõe-se que a função das lenticelas
está relacionada com a troca de gases.
A periderme desenvolvida é constituída por felema relativamente, espesso formado
por cerca de 30 camadas de células tabulares, coloridas naturalmente de dois padrões de
cores: marrom avermelhado e marrom escuro. Seqüencialmente, são observados o felogênio e
uma feloderme com 4 fileiras de células com coloração natural castanha amarelada (Figuras
5C e 5D).
Como descrito por Appezzato-da-Glória & Carmello-Guerreiro (2006), as células do
felema, normalmente, são desprovidas de conteúdo visível, porém em alguns casos é possível
observar acúmulo de conteúdo resinoso ou de compostos fenólicos. Em seção transversal, as
células do felogênio apresentam-se com formato retangular, achatadas radialmente e arranjo
compacto. O que pode ser observado em M. guyanensis. A feloderme consiste de células
parenquimáticas ativas, semelhantes ao parênquima cortical e pode se distinguir das demais
células pelo seu alinhamento com as células do felogênio (Figura 5D).
O córtex apresenta lulas com formato arredondado (Figura 6A e 7C), internamente
rodeado por fibras e inúmeras células pétreas. (Figuras 6A, 6B, 7A e 7B).
24
Esclereídes com distinção entre paredes primárias foram evidenciadas pela luz
polarizada (Figura 8C) e são usualmente encontrados no floema e no córtex. Pode ser
observado que a parede secundária destas células é muito espessa, e numerosas camadas
concêntricas e seqüência de pontoações podem ser usualmente distinguidas. De acordo com
Esau (1976) a celulose é uma substância cristalina que reflete luz, podendo ser considerada
anisótropa, encontrada nas paredes primárias e secundárias da célula, desta forma elas
aparecem brilhantes em luz polarizada, já as substâncias pécticas são isótropas (não
modificam a luz).
No cilindro vascular as camadas de tecido floemático secundário são entremeadas com
inúmeras fibras, células pétreas e raio parenquimático (Figura 6C e 7B). Células em processo
de esclerificação com conteúdo também são observadas (Figura 7A e 8C). O xilema
secundário mostra-se com uma a duas camadas de raios parenquimáticos medulares, fibras e
elementos de vaso (Figura 6C e 7B). Duarte & Debur (2005) encontraram para M. ilicifolia as
10µm
20µm
A
B
Fe
Fo
Fl
Pe
Fe
Fo
50µm
50µm
C
D
Figura 5
Maytenus guyanensis. Seção transversal caulinar. A. Lenticela
apresentando tecido de enchimento e felogênio (seta). B. Periderme. Camadas de
felema (Fe), felogênio (Fl) e feloderme (Fo). C e D. Visão geral da periderme (Pe)
em um estágio mais desenvolvido, camadas espessas de felema, felogênio (seta) e
feloderme.
25
mesmas características anatômicas aqui descritas para o córtex, presença de células pétreas e
cilindro vascular.
Em um estágio mais avançado de desenvolvimento o sistema floemático possui grupos
de lulas pétreas, células esclerificadas, fibras e raios parenquimáticos (Figuras 9A, 9B, 10A
e 10B). Pode ser visualizada uma camada mais interna do tecido floemático representada por
elementos de tubo crivado não diferenciados, o que seria o floema funcional, grupos de
células pétreas e poucas fibras de pequeno lúmen. A segunda camada consiste de muitas
fibras, elementos de tudo crivado não colapsados, floema não funcional, e grupos de células
pétreas (Figuras 9A e 10B).
No floema externo ocorre dilatação dos raios, apresentando de 2 a 5 camadas de
células, que sofrem gradativamente, em direção à periferia, divisão e expansão das células. Os
raios dilatados confundem-se com as lulas parenquimáticas axiais também dilatadas,
formando um tecido de arranjo desordenado. Este tecido de dilatação é formado por tecido
parenquimático depositado pelos raios nos espaços criados com o crescimento em diâmetro
(Figuras 10A e 11A). Algumas células radiais possuem uma coloração natural castanha
avermelhada (Figura 5A). Monocristais prismáticos também foram observados (Figura 10B).
26
A
Le
Co
AE
B
CP
Fi
100µm
30µm
C
20µm
Va
F
RX
Fi
RF
Figura 6
Estrutura do caule de Maytenus guyanensis. A. Seção transversal. B.
Detalhe do anel descontínuo esclerenquimático, composto de fibras (Fi) elulas
pétreas (CP). C. Detalhe do sistema vascular. AE- anel esclerenquimático; Co-
córtex; F- floema; Fi- fibra; Le- lenticela; RF- raio do floema; RX- raio do
xilema; Va- vaso.
27
Figura
7
Estrutura do caule de Maytenus guyanensis. A. Seção longitudinal
tangencial. Células esclerificadas (CE). B. Visão geral do caule. C. Células
parenquimáticas do córtex (Co). AE- anel esclerenquimático; Am- amiloplastos;
Lu- lúmen.
28
100µm
C
CE
B
Fi
Fi
50µm
30µm
A
Ra
100µm
Figura
8
Estrutura do caule de Maytenus guyanensis em luz polarizada. A.
Seção longitudinal radial. Visão geral mostrando os raios (Ra) e fibras (Fi). B.
Seção longitudinal tangencial. Monocristais prismáticos (setas) e fibras. C. Seção
transversal. Detalhe de algumas esclerificadas (CE).
29
FF
FNF
CE
Fi
CP
Figura
9
Seções transversais da casca de Maytenus guyanensis. A. Floema
funcional (FF) e floema não funcional (FNF). B. Parte de um raio dilatado
contendo células esclerificadas (CE), algumas dessas células estão preenchidas
com conteúdo denso. CP- células pétreas.
30
Ra
CP
F
50µm
10µm
ETC
B
A
Figura 1
0
Seção transversal da casca de Maytenus guyanensis. A. No floema
(F) ocorrem grupos dispersos de células pétreas (CP). Na porção mais externa os
raios (Ra) estão dilatados. B. Detalhe do floema com cristais (setas) e elementos
de tudo crivado (ETC).
31
Próximas às lulas-pétreas aparecem células em processo de esclerificação, algumas
das quais estão preenchidas com conteúdo (Figura 9B). Soffiatti & Angyalossy-Alfonso
(1999) observaram em Eugenia uniflora uma esclerificação dos raios parenquimáticos que
atravessam ou o adjacentes às esclereídes, já em E. cerasiflora esse fenômeno não foi
observado, provavelmente porque a quantidade de esclerênquima é muito menor do que em E.
uniflora.
Para Esau (1965) o esclerênquima está entre os tecidos mais comumente encontrados
no floema secundário, as esclereídes diferenciam-se a partir de células parenquimáticas e são
de fácil reconhecimento, podendo se apresentar de várias formas: geralmente são células
curtas, com paredes muito espessadas e polilameladas.
As fibras floemáticas apresentam-se em pequenos grupos, tendo paredes espessas e
lume reduzido (Figura 9B).
As observações da casca de M guyanensis são similares à anatomia da casca de M.
chuchuasha descrita por Metcalfe & Chalk (1957).
Em uma fase mais desenvolvida o xilema secundário de M. guyanensis apresenta
camadas de crescimento distintas, delimitadas por faixas de parênquima marginal,
distribuindo-se em intervalos regulares (Figura 11A).
Os vasos solitários são predominantes, com arranjo difuso uniforme (Figura 11A).
Segundo Alves & Angyalossy-Alfonso (2000), entre as angiospermas tropicais, este tipo de
arranjo é o mais freqüente, porém as autoras não encontraram evidências estatísticas que
permitam relacionar esta característica com parâmetros ambientais. Contudo, afirmam que na
região norte do Brasil, o clima tende a ser mais homogêneo, especialmente com respeito a
temperatura, o sendo encontrados nas espécies vegetais desse ambiente vasos múltiplos, o
que ao contrário ocorreria na região sudeste do Brasil, que possui inverno frio a
moderadamente frio e seco, verão quente e chuvoso, possuindo mais oscilações climáticas e
as espécies apresentando vasos múltiplos.
Os vasos apresentam parede delgada, em média 2,51 µm de espessura, diâmetro
tangencial de 26-29 µm, vazios. Elementos de vaso longos, com dia de 494,5 µm de
comprimento são encontrados. As observações corroboram o trabalho de Metcalfe & Chalk
(1957), para o gênero Maytenus, pois os autores afirmam ocorrerem vasos pequenos,
solitários, uniformes, não excedendo 33 µm de diâmetro.
Constatou-se a presença de elementos de vaso com apêndices e esses se encontram em
ambas as extremidades (Figura 11D). As pontoações intervasculares são alternas e placas de
perfuração simples (Figura 11D). Alves & Angyalossy-Alfonso (2000) registraram, para a
32
flora brasileira, que 95% das espécies estudadas apresentaram placa de perfuração simples,
relacionando este tipo de placa a ambientes secos e quentes.
A espécie apresenta parênquima apotraqueal difuso, com parênquima axial em faixas
marginais com mais de 4 células de largura (Figura 11A).
Os raios o predominantemente multisseriados e variam de 2 a 3 células de largura,
predominado os de 2 células, sua altura variando de 15 a 28 células, predominado os de 17 e
25 células. Os raios unisseriados são raros, de 8 a 12 células de altura. Os heterogêneos
possuem células retas nas margens e centrais procumbentes (Figuras 11B e 11C). Os
monocristais prismáticos estão presentes em células do parênquima radial (Figura 11C).
Fibras libriformes de comprimento médio a moderadamente longo (Figuras 11D).
No centro do caule, circundada pelo xilema, está a medula homogênea, formada por
células parenquimáticas isodiamétricas e células pétreas. Estas descrições o concordantes
com as observações de Solereder (1908) para o gênero Maytenus.
Nos cortes longitudinais foi possível detectar a presença de monocristais prismáticos,
de oxalato de cálcio, no parênquima radial (Figura 11C). Segundo Fahn (1974) o parênquima
do xilema serve para estocar materiais, assim como amido e gorduras. Taninos, cristais e
outras substâncias também são frequentemente encontradas em muitas destas células.
Esau (1965) afirma que o oxalato de cálcio é o mais proeminente representante entre
cristais nas plantas. Sendo assim, a formação de cristais de oxalato de cálcio é uma das
maneiras de acumular cálcio nos tecidos das plantas. Além de possuírem a função de
armazenar íon cálcio, eles podem evitar acumulação de oxalato tóxico, contribuir para o
suporte mecânico e proteção contra animais herbívoros (Franceschi & Horner, 1980 apud
Duarte & Debur, 2005).
33
Cr
C
Cr
50µm
B
100µm
A
100µm
Fi
50µm
D
II. Aspectos farmacognósticos de M. guyanensis
O conteúdo celular das lulas próximas às fibras xilemáticas da raiz possui grande
quantidade de substâncias pécticas, evidenciadas pelo teste de vermelho de rutênio. O
reagente de Wagner detectou a presença de alcalóides nas células parenquimáticas do raio.
Também foram encontrados cristais de oxalato de cálcio no parênquima radial da raiz, do tipo
monocristais prismáticos. Tanino é citado como abundante nas raízes em espécies de
Celastraceae, conforme trabalho de Metcalfe & Chalk (1957), contudo não foi detectada a
presença de compostos fenólicos na raiz de M. guyanensis.
Figura 11
Estrutura do caule de Maytenus guyanensis. A. Seção transversal.
Camadas de crescimento (seta) demarcadas por faixa de parênquima marginal.
Porosidade difusa. Parênquima axial difuso. Vasos solitários. B. Seção radial.
Raio multisseriado heterogêneo, células eretas e células procumbentes. C. Seção
tangencial. Monocristais prismáticos (Cr) no parênquima radial. D. Células
dissociadas. Fibras (Fi) e elementos de vaso com apêndices e placas de
perfuração simples (setas).
34
No caule foi evidenciada a presença de amido na medula, células parenquimáticas do
raio xilemático e no córtex (Figuras 12A, 12B e 12C). De acordo com Esau (1976) o amido é
uma substância ergástica que ocorre no parênquima do córtex e da medula, nas células
parenquimáticas dos tecidos vasculares, no parênquima das folhas crassas (escamas de
bulbos), nos rizomas, tubérculos, frutos, cotilédones e no endosperma das sementes. Duarte &
Debur (2004) trabalhando com M. ilicifolia encontraram amiloplastos no córtex.
O amido é usado em farmácia para pulverizações e como veículo, neste caso usado
como ligante e desintegrante em comprimidos. Além disso, tem muitos empregos comerciais,
servindo de goma na fabricação de papéis e tecidos em lavanderia. Serve de matéria-prima
para fabricação de xaropes, dextrose, dextrinas e adoçantes com alto teor de frutose (Robbers
et al.,1997) além de estarem presentes na alimentação humana.
Nas últimas décadas, polissacarídeos de origem vegetal emergiram como uma
importante classe de produtos naturais bioativos. O emprego do amido na área farmacêutica,
tanto na forma natural, como após modificações químicas e físicas, está limitado às formas
farmacêuticas sólidas, como aglutinante, diluente ou material de carga e enchimento.
Apesar de Jorge et al. (2004) confirmarem a presença de metabólitos fenólicos para
algumas espécies de Maytenus e Duarte & Debur (2005) encontrarem em M. ilicifolia
compostos fenólicos nos raios parenquimáticos e parênquima cortical, o teste de cloreto
rrico não evidenciou a presença destes compostos no caule de M. guyanensis. Contudo o
material fresco apresenta uma coloração natural acastanhada em algumas células do
parênquima cortical.
Duarte & Zaneti (2002) trabalhando com uma espécie de Crassulaceae, observaram
numerosas células exibindo a mesma coloração apresentada por M. guyanensis, as quais
reagiram ao teste de cloreto férrico, sugerindo que o conteúdo fenólico é de natureza tânica e
comentam que, de acordo com Esau (1965) os compostos tânicos presentes no interior de
idioblastos se oxidam tornando-se de coloração marrom a marrom-avermelhada.
35
Em adição, Sant’Anna-Santos et al. (2006) afirmam que embora alguns testes para a
detecção de fenóis em luz visível tenham resultados negativos, não se pode concluir, de modo
absoluto, que esses compostos não existem. Os testes para compostos fenólicos são,
geralmente, pouco específicos, havendo compostos como os flavonóides que, devido à sua
grande labilidade, não são, na maioria das vezes, detectáveis senão em microscopia de
fluorescência em luz ultravioleta.
Figura 1
2
Estrutura do caule de Maytenus guyanensis. A. Raio (Ra) com amiloplastos. B.
Células do parênquima medular (Pm) com grãos de amido. C. Detalhe de células do parênquima
cortical (Pc) evidenciando os amiloplastos. D. lulas com proteínas (seta) identificadas pelo
teste xylidine ponceau.
36
Substâncias pécticas foram encontradas na parede celular das células parenquimáticas
do córtex e nos raios floemáticos do caule M. guyanensis (Figura 13A e 13B). Pectina são
macromoléculas glicídicas, constituintes da lamela média das paredes celulares do vegetal,
abundantes em frutos, principalmente cítricos (Poser, 2004). Pode ser classificada como
agente protetor e suspensor, e está presente em muitas fórmulas antidiarréicas. Como solução
coloidal, tem a propriedade de conjugar toxinas e de intensificar as funções fisiológicas do
tubo digestivo através de suas propriedades físicas e químicas. A eficácia da pectina no tubo
digestivo deve-se em grande parte à sua ação coloidal (Robbers et al.,1997).
Além destas funções na área farmacêutica as pectinas são utilizadas especialmente
como regulares do sistema gastrintestinal e, na indústria alimentícia, como estabilizante e
gelificante. A utilização regular de pectinas tem mostrado sua eficácia no controle de glicemia
e colesterolemia e na prevenção de doenças cardiovasculares (Poser, 2004).
O teste xylidine ponceau realizado nos tecido do caule identificou proteínas no lúmen
das células pétreas presentes no córtex (Figura 12D). De acordo com Esau (1976, 1965)
proteínas sólidas podem estar presentes como substâncias ergásticas se acumulando em
vacúolos. Os vacúolos podem ser compartimentos de armazenagem dinâmicos, no qual íons,
proteínas e outros metabólitos são acumulados e mobilizados posteriormente. As proteínas
acumuladas como forma de reserva geralmente apresentam-se em concentrações reduzidas
nos vacúolos de células maduras, entretanto, em células do endosperma de leguminosas e de
gramíneas seus níveis tendem a aumentar (Appezzato-da-Glória & Carmello-Carneiro, 2006).
Alcalóides foram detectados no parênquima radial do caule e da raiz. E também nas
células esclerificadas presentes no tecido floemático secundário do caule (Figura 14). Este
resultado positivo era esperado que Sousa et al., 1986; Pullen et al., 2003 e Macari et al.,
2004 mencionam a presença deste grupo de metabólito secundário para o gênero Maytenus.
37
Figura 1
3
Seção tran
sversal do caule de
Maytenus guyanensis
submetidos ao
teste de vermelho de rutênio. A. Paredes celulares péctico-celulósicas das células
parenquimáticas do córtex (seta preta). B. Raios floemáticos com paredes
celulares péctico-celulósica (seta branca)
38
Os alcalóides são particularmente abundantes em fungos e plantas superiores, insetos,
anfíbios e menos comum em mamíferos. Estão presentes em cerca de 4.000 espécies de
plantas, sendo mais freqüentes em dicotiledôneas e menos em monocotiledôneas e
gimnospermas (Castro et al., 2004). Estes compostos podem ocorrer em vários órgãos
vegetais como sementes, caules subterrâneos, raízes, rizomas e casca. Eles são capazes de
exercer uma gama de atividades fisiológicas Robbers et al.(1997).
É importante ressaltar que o acúmulo de alcalóides nos vegetais ocorre em vários tipos
de tecidos como: tecidos com crescimento ativo (tecido parenquimático), células epidérmicas
e hipodérmicas, bainhas vasculares e laticíferos (Henriques et al., 2004). Em M. guyanensis
os alcalóides foram detectados nas células parenquimáticas do raio.
A presença de alcalóides pode ser assinalada em uma gama de atividades biológicas
investigadas. Pode-se citar amebicida e emético, anticolnérgicos, anti-hipertensivos,
antimalárico, antitumorais, antitussígenos, analgésico, depressor cardíaco, estimulante do
sistema nervoso central (SNC), diurético, miorrelaxante, antiviral entre muitos outros. O uso
de extratos vegetais contendo alcalóides como medicamentos, venenos e em poções gicas
pode ser traçado desde os primórdios da civilização (Robbers et al.,1997; Henriques et al.,
2004).
O trabalho de Elizabetsky (1992) apud Elizabetsky & Shanley (1994) demonstrou que
de 73 gêneros identificados na literatura como “afrodisíacos” mais de 35% são conhecidos por
conter alcalóides que podem ser responsáveis por efeitos no sistema nervoso central. Esta
informação corrobora os dados da literatura já que a espécie em estudo é utilizada como
afrodisíaca.
As plantas normalmente desenvolvem uma série de metabólitos com funções
complementares na defesa contra pragas e doenças. Muitos desses compostos, quando
utilizados em doses adequadas convertem-se em medicamentos. Desse modo, produtos
secundários envolvidos na defesa através da atividade citotóxica contra patógenos podem ser
úteis como agentes antimicrobianos na medicina. Além disso, aqueles envolvidos na defesa
contra herbivoria através de atividade neurotóxica podem ter efeitos benéficos no homem
atuando como antidepressivos, sedativos, relaxantes musculares ou anestésicos (Briskin,
2000).
39
Atualmente a função natural de muitos metabólitos secundários tem sido reavaliada,
reconhecendo-se que estes são, de fato, essenciais para a existência dos vegetais. Os
alcalóides devido a seu amargor e toxicidade atuam como repelentes de herbívoros. Porém
não se pode afirmar que as plantas produzam tais substâncias apenas para sua proteção, pois
se esse fosse o caso, plantas que não produzissem alcalóides teriam sido extintas. Outras
hipóteses têm sido levantadas para tentar explicar a produção desses metabólitos (Henriques,
et al., 2004).
Compostos como polissacarídeos, proteínas e alcalóides foram encontrados em M.
guyanensis. Esses compostos são encontrados em células esclerificadas e são
farmacologicamente ativos o que pode vir a justificar o uso terapêutico da espécie.
III. Aspectos etnofarmacológicos
1. Perfil do comércio e comerciantes de plantas medicinais
Diferentes culturas humanas vêm absorvendo uma variedade de conhecimento e
costumes adquiridos de sua relação com o ambiente. O uso de produtos naturais é o caso mais
representativo desta variedade de conhecimento que provém de povos tradicionais como
índios e populações ribeirinhas (Pinto & Maduro, 2003). Na Amazônia as plantas medicinais
50µm
F
igura 1
4
Seção transversal da casca de
Maytenus guyanensis
.
Células secretoras esclerificadas com alcalóides (seta).
40
servem como umas das principais formas de cuidados com a saúde para a maioria da
população, em parte por causa de uma preferência cultural e também por causa do alto custo
dos produtos farmacêuticos (Shanley & Luz, 2003).
Como mencionado por Amorozo (2002) muitas sociedades tradicionais ou autóctones
possuem uma vasta farmacopéia natural, em boa parte proveniente dos recursos vegetais
encontrados nos ambientes naturais ocupados por estas populações, ou cultivados em
ambientes antropicamente alterados.
Em Manaus esta farmacopéia é comercializada nas inúmeras feiras e mercados,
podendo-se reconhecer que os povos tradicionais e vendedores oferecem muitas informações
etnofarmacológicas sobre as espécies medicinais (Figuras 16 e 17).
A pesquisa realizada com 16 feirantes evidencia que as pessoas na cidade de Manaus
procuram a cura utilizando plantas medicinais, através de chás, garrafadas, xarope entre
outros.
A média da faixa etária dos comerciantes das feiras e mercados corresponde a 45 anos,
tendo uma variação entre 22 a 65 anos. Conforme a Tabela 1 e Figura 15, a faixa etária dos
informantes que apresentou maior representatividade abrange de 56 a 61 anos, com 4
informantes (25%). A faixa etária com menor freqüência corresponde também a três
categorias, 32 a 37 anos, 44 a 49 e 50 a 55 anos, tendo 1 informante cada categoria (6%).
Do total das 16 entrevistas, 56% ocorreram entre o sexo feminino (9) e 44% ocorreram
entre o sexo masculino (7), não havendo grande diferença entre os sexos. (Tabela 1 e Figura
18).
Tabela 1 – Faixa etária e sexo dos feirantes.
Faixa etária
Sexo fem Sexo masc
F f
20-25 2 0 2 13%
26-31 1 1 2 13%
32-37 0 1 1 6%
38-43 3 0 3 19%
44-49 1 0 1 6%
50-55 0 1 1 6%
56-61 2 2 4 25%
62-67 0 2 2 13%
Total 9 7 16 100%
41
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
No. de informantes
20-25 26-31 32-37 38-43 44-49 50-55 56-61 62-67
Faixa eria
Homens
Mulheres
Figura 15 – Faixa etária e sexo dos feirantes.
Figura 16Comerciante de plantas medicinais, próximo ao Mercado Adolpho Lisboa.
42
Figura 17Comerciante de plantas medicinais, no Mercado Adolpho Lisboa, assinando o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
A Tabela 2 e Figura 18 evidenciam que 56% dos entrevistados trabalham nas feiras
11 a 20 anos, enquanto que 6% trabalham menos de um ano e 6% 31 a 40 anos. Estes
dados comprovam a importância das feiras e mercados de Manaus porque mostra que estas
feiras existem mais de 11 anos. E mesmo que 6% seja a menor taxa encontrada, ela
representa que pelo menos uma pessoa e uma das feiras de Manaus existe há mais de 31 anos.
Tabela 2 – Tempo que os feirantes trabalham nas feiras.
Tempo
(anos) F f
<1 1 6%
1 – 10 3 19%
11 – 20
9 56%
21 – 30
2 13%
31 – 40
1 6%
Total 16 100%
43
0
10
20
30
40
50
60
Porcentagem
<1 1_10 11_20 21_30 31_40
Tempo (anos)
Freq. Rel.
Figura 18 – Tempo que os feirantes trabalham nas feiras
A Tabela 3 e Figura 19 mostram que o tempo que os feirantes trabalham nas feiras
com plantas medicinais varia entre menos de 1 ano a 40 anos. Apesar desta grande variação,
56% das pessoas trabalham com plantas medicinais nas feiras durante um tempo que varia
entre 1 a 10 anos. Assim, de acordo com esses dados a comercialização de plantas medicinais
cresceu 10 anos, e continua crescendo no último ano que aproximadamente 20% dos
feirantes trabalham com plantas medicinais há menos de 1 ano.
Embora 20% dos feirantes comercializem plantas medicinais há menos de 1 ano,
pode-se concluir que a população de Manaus utiliza esse recurso vegetal como forma
terapêutica mais tempo. Os informantes indicaram que decidiram trabalhar com plantas
medicinais por causa da grande procura por essa forma alternativa de medicina. Fato também
evidenciado pela maioria dos feirantes que trabalham mais tempo no local, cerca de 11 a
20 anos, comercializando outros materiais, enquanto trabalham com plantas medicinais há 1 a
10 anos, conforme as Tabelas 2 e 3 e Figuras 18 e 19.
Tabela 3 – Tempo que os feirantes trabalham nas feiras com plantas medicinais.
Tempo que vendem
plantas medicinais
(anos) F f
<1 3 19%
1 – 10 9 56%
11 – 20 2 13%
21 – 30 1 6%
31 – 40 1 6%
Total 16 100%
44
0
10
20
30
40
50
60
Porcentagem
<1 1_10 11_20 21_30 31_40
Tempo (anos)
Freq. Rel.
Figura 19 – Tempo que os feirantes trabalham com plantas medicinais.
À medida que o conhecimento tradicional se difunde e sofre interferência quando
exposto a sociedade ocidental, cria-se uma nova visão de que estes conhecimentos podem
então ser utilizados de forma lucrativa ou capitalista. No presente trabalho observa-se esta
difusão através dos dados que apontam que os feirantes que trabalham há menos de 1 ano com
plantas medicinais escolheram este ramo em virtude da grande demanda por estes produtos, e
não a partir de um conhecimento que é passado de geração a geração.
Dos entrevistados, 31% adquiriram o conhecimento com plantas medicinais através de
parentes próximos, principalmente pais e avós. Para Amorozo (1996) em sociedades
tradicionais, a transmissão oral é o principal modo pelo qual o conhecimento é perpetuado. O
conhecimento é transmitido em situações, o que faz que a transmissão entre gerações requeira
contato intenso e prolongado dos membros mais velhos com os mais novos. Ocorrerá um
acúmulo de conhecimento à medida que os anos passam, de forma que os mais velhos tendem
saber mais sobre assuntos de interesse vital para a comunidade e são considerados pelo seu
saber.
Os demais (69%) comercializam plantas medicinais sem reter o conhecimento e lêem
no “rótulo” quando os usuários querem uma determinada espécie, não conhecendo o uso de
cada uma das plantas. Contudo, alguns comerciantes têm um conhecimento embasado em
fontes externas à cultura local, que pode ser adquirida através de livros e cursos. Amorozo
(1996) alega que situações deste tipo proporcionam boa oportunidade para se estudar a
difusão e a fixação de um novo conhecimento na comunidade.
45
Em um trabalho realizado no Estado de Roraima em feiras livres e bancas de rua,
Pinto & Maduro (2003) concluíram que a cada dia mais pessoas estão adentrando neste ramo
de comercialização levando a um rio questionamento sobre a saúde humana e os cuidados
na oferta destes produtos de ordem popular, devido a algumas propriedades químicas ainda
pouco conhecidas dos mesmos. Embora se tratando de produtos naturais, os ditos “remédios
do mato” também necessitam ser analisados cientificamente para ser corretamente utilizado.
Os produtos medicinais de origem popular podem se tornar uma alternativa ao
desenvolvimento sustentado se conduzido de forma responsável e beneficiando,
principalmente, as populações tradicionais que detêm a maior parte do conhecimento
adquirido.
Para Elisabetsky (2003) a perda da biodiversidade e o acelerado processo de mudança
cultural acrescentam um senso de urgência no registro desse saber tradicional. E ainda afirma
que “o Brasil não é apenas rico em diversidade de recursos genéticos; é um país rico em
culturas, em gentes diferentes que tiveram e têm que tirar a vida com a mão. Ao fazer isso,
manejam seu meio ambiente, conhecendo-o em detalhes e no todo de suas conexões e inter-
relações”. Então o respeito a essas relações e conhecimentos do homem com o meio que o
cerca é fundamental para a manutenção cultural dos povos tradicionais.
A Tabela 4 e a Figura 20 apontam as plantas medicinais mais vendidas nas feiras e
mercados de Manaus, sendo que a unha-de-gato (Echinocloa colonum (L.) Link.), utilizada
para inflamações uterinas, miomas e outros “males femininos” é planta citada mais vezes
(32%) pelos feirantes e segundo eles, a mais procuradas pelos usuários. Em segundo está a
uixi-amarelo (26%), procurada pelos mesmos usos que a unha-de-gato, e para outras
inflamações.
Tabela 4 – Plantas medicinais mais vendidas pelos feirantes.
Plantas medicinais vendidas F f
carapanaúba (Aspidosperma carapanauba Pichon.) 6 18%
uixi-amarelo (Endopleura uchi Cuatrec) 9 26%
unha-de-gato (Echinocloa colonum (L.) Link.) 11 32%
sara-tudo (Justicia sp. L.) 6 18%
cipó-tuíra (Calycobolus ferrugineus (Choisy)House) 2 13%
Total 34 100
46
Figura 20Plantas medicinais mais vendidas pelos feirantes.
A Figura 21 informa que a maioria dos feirantes não sabe a origem dos seus produtos que
são comercializados (62%), isso ocorre porque eles compram os produtos de terceiros.
Conforme os feirantes, as pessoas não reclamam dos preços e nenhum informante
declarou haver problemas com produtos falsificados ou existir qualquer variação dos produtos
comercializados.
o sabem
62%
Matas da
Região
6%
Outros
estados
13%
Presidente
Figueredo-AM
19%
Figura 21 – Origem dos produtos comercializados.
Plantas medicinais como a Copaíba, Cumaru e Cabacinha foram os únicos produtos
citados como aqueles que não existem mais ou que são difíceis de serem encontrados, o
sabendo em geral os feirantes a razão disto ter acontecido.
carapanaúba
18%
uixi-amarelo
26%
unha-de-gato
32%
sara-tudo
18%
cipó-tuíra
6%
47
Das observações feitas, as mulheres usam mais plantas medicinais que os homens
(Figura 22). Este fato pode estar expressado pela planta mais vendida pelos feirantes (Figura
20), utilizada para “males femininos”.
Para Amorozo (1996) existem parâmetros que podem separar plantas medicinais e
seus usos através dos usuários e dentro deste parâmetro diferentes domínios cognitivos a
serem ocupados por um sexo ou outro. Assim, por exemplo, o conhecimento sobre remédios
destinados a tratar problemas específicos do sexo feminino, ou de crianças, tenderá a ser mais
profundo entre as mulheres do grupo.
De acordo com os feirantes, os usuários que procuram mais plantas medicinais são os
de faixa etária menor que 40 anos (Figura 23). No entanto 13% afirmam não ter variação entre
idade dos usuários.
homens
19%
mulheres
43%
não varia
38%
Figura 22 – Perfil dos usuários de plantas medicinais.
40>
62%
40<
25%
não varia
13%
Figura 23Faixa etária dos usuários de plantas medicinais segundo os feirantes.
48
2. Perfil do usuário do chichuá
Dos 15 informantes entrevistados todos conhecem ou usam alguma planta para fazer
remédio. A maioria tem o conhecimento e faz uso dessas plantas porque aprenderam com os
pais, avós ou parentes e poucos são os que conhecem através de meios de comunicação como
jornais, internet e televisão. Dos entrevistados, 5 eram do sexo masculino e 10 feminino
(Tabela 5 e Figura 24).
A idade dos informantes variou de 20 a 70 anos, sendo que a faixa etária predominante
foi de 41 a 50 anos (33%) (Tabela 5 e Figura 24). As informações do presente trabalho estão
de acordo com as informações relatadas no trabalho de Silva (2004) no qual a abordagem
etnofarmacológica revelou que a faixa etária mais representativa foi de 40 a 49 anos,
pertencente ao sexo feminino.
Tabela 5 – Classificação dos informantes por sexo e faixa etária.
Faixa etária
Sexo fem Sexo masc
Freq. Abs. Freq. Rel.
20-30 2 0 2 13
31-40 2 1 3 20
41-50 3 2 5 33
51-60 1 1 2 13
61-70 2 1 3 20
Total 10 5 15 100
0
1
2
3
4
5
No. de Informantes
20-30 31-40 41-50 51-60 61-70
Faixa Eria
Sexo e idade dos informantes
Homens
Mulheres
Figura 24- Classificação dos informantes por sexo e faixa etária.
49
De acordo com a Figura 25 a maioria dos entrevistados (40%) enquadra-se na classe
que utiliza plantas medicinais de 11
a 20 anos, sendo que apenas 7% utilizam plantas para fins
fitoterápicos a menos de 10 anos.
7%
40%
27%
13%
13%
1_10
11_20
21_30
31_40
41_50
Figura 25 – Tempo que os informantes utilizam plantas medicinais.
Mais da metade dos informantes (60%) conhece o chichuá, mas alguns nunca o
utilizaram. Os entrevistados que fazem uso da planta adquirem nas bancas das feiras e
mercados. Entretanto a pesquisa etnofarmacológica com os comerciantes do chichuá revelou
ser outra espécie comercializada e não M. guyanensis. Dessa forma os usuários entrevistados
fazem o uso da outra espécie Salacia impressifolia (Miers) A. C. Sm. (Hippocrateaceae).
Dos usuários, 40% (Figura 26) empregam a planta para reumatismo e 27% como
afrodisíaco, sendo que a dosagem, método de aplicação, tipo de preparação, quantidade
utilizada e quantidade de solventes usados são aqueles indicados na embalagem do produto
comercializado.
Apenas um usuário mencionou usar o chichuá misturado com outras plantas. E todos
alegaram não haver efeitos colaterais. Yunes et al. (2001) afirmam que os fitoterápicos
possuem menores riscos de efeitos colaterais considerando que os compostos ativos se
apresentam em concentrações reduzidas nas plantas e são muito menores os riscos de efeitos
secundários não desejáveis. Entretanto, esta opinião é polêmica, pois alguns pesquisadores
opinam que a afirmação sobre menores efeitos colaterais não tem embasamento científico,
porque a correlação dose-tempo, não a dose-efeito, não está delineada.
50
13%
20%
27%
40%
analgésico
antiinflamatório
afrodisíaco
reumatismo
Figura 26 – Uso terápico do chichuá.
3. Chichuá não Chichuá
A pesquisa etnofarmacológica revelou que a espécie comercializada nas feiras e
mercados de Manaus não é M. guyanensis, conhecida como chichuá, e sim uma outra espécie
S. impressifolia, que possui o mesmo nome popular da espécie em estudo.
A família Hippocrateaceae hoje é incluída em Celastraceae como subfamília. A
inclusão de Hippocrateoideae como subfamília de Celastraceae é reconhecida por todos os
sistemas de classificação de angiospermas propostos nos últimos anos (Takhtajan, 1997; Judd
et al., 2002; APG, 2003). Gomes et al. (2005) adotaram em seu trabalho, propostas atuais que
reconhecem o grupo como subfamília Hippocrateoideae de Celastraceae.
S. impressifolia é uma liana lenhosa, possui ramos jovens lisos, angulosos,
lenticelados, lenticelas elípticas, com um sulco central, escassas. Ocorre em vertente e
campinarana, no México, América Central e Norte da América do Sul (Ribeiro et al. 1999).
Alguns feirantes conseguem distinguir M. guyanensis de S. impressifolia através de
seus hábitos, árvore e liana, respectivamente. Outros não fazem nenhuma distinção das
espécies, não reconhecendo diferenças porque adquirem o produto de terceiros ou porque não
conhecem M. guyanensis.
As espécies apresentam algumas semelhanças morfológicas como a presença de uma
cor laranja forte na casca (Figura 27). Os feirantes que conhecem as duas espécies afirmam
51
que elas possuem as mesmas indicações terapêuticas, como tônico fortificante, relaxante
muscular, reumatismo, impotência sexual, fraqueza, nervosismo, frigidez, bursite e dor nos
ossos.
Figura 27 – A. Casca de Maytenus guyanensis. B. Caule de Salacia impressifolia.
Nomes populares, comuns, vulgares ou vernaculares são regionais e não recebem
importância, de modo geral, nos trabalhos acadêmicos-científicos. Por outro lado, eles são
úteis e importantes em trabalhos etnobotânicos podendo dar indícios sobre a utilização
popular de uma espécie (Mentz & Bordignon, 2004) e muitas vezes revelar problemas do uso
de espécies erradas por pessoas que não detém conhecimento cultural local das espécies
nativas.
Países tropicais, por exemplo, a Tanzânia ou a Colômbia, com cerca de 10000 e 30000
espécies, respectivamente, têm considerável número desconhecido pela ciência. Identificar
todas as espécies de uma área é tarefa praticamente impossível. Em tais casos, o nome
vernacular pode ser usado como referência, para depois ser substituído pelo nome científico.
É então extremamente importante estar ciente do fato de que o mesmo nome vernacular é
aplicado às vezes à espécie diferente. O mesmo nome popular pode ser dado a espécies de
famílias relativamente distantes (Hedberg, 1993). Esse problema é ainda mais agravante na
Amazônia não só pela sua megadiversidade mas também pelo contato direto que as diversas
comunidades locais mantêm com a floresta fazendo com que exista uma gama de nomes
vernaculares.
A
B
52
Durante as entrevistas, um dos feirantes comercializava o chichuá como M.
guyanensis, no entanto o hábito cidescrito na embalagem do produto induziu a reconhecer
que era a espécie S. impressifolia que estava sendo comercializada (Figura 28). Este tipo de
problema de identificação botânica surgiu a partir da intensidade do comércio de plantas
medicinais, gerando problemas de ordem cultural e da saúde, que as pessoas nem sempre
conhecem a planta que vendem podendo confundir espécies aparentemente semelhantes,
porém botanicamente diferentes, ocorrendo com freqüência que uma mesma planta seja
conhecida por vários nomes vulgares, ou que um mesmo nome popular seja dado a várias
espécies botânicas diferentes (Borrás, 2003).
Diante disto vê-se a importância dos estudos etnofarmacológicos, para esclarecer,
alertar e averiguar o conhecimento local sobre determinada espécie vegetal. Sugere-se que
estudos posteriores anatômicos e microquímicos sejam realizados em S. impressifolia para
que haja como complementação deste trabalho, uma comparação do uso e um destaque
etnotaxonômico para espécies com nomes populares idênticos.
Figura 28 – Embalagem de xixuá (S. impressifolia) comercializada em uma das feiras.
53
6. Conclusões
A análise estrutural do caule e da raiz revelou-se de acordo com o registrado pela
literatura para o gênero Maytenus. A periderme do caule origina-se na camada subepidérmica
com lenticelas presentes. Córtex internamente rodeado por fibras e inúmeras células pétreas.
Cilindro vascular com floema externo ao xilema, tecido floemático e xilemático entremeado
com inúmeras fibras. A casca do caule secundário apresenta periderme desenvolvida
constituída por felema espesso, seqüencialmente são observados o felogênio e feloderme. O
xilema secundário da raiz e do caule apresenta parênquima axial apotraqueal, raios
multisseriados, heterogêneos, vasos solitários, de distribuição difusa, uniforme, seção circular,
com parede delgada, pontoações intervasculares alternas e areoladas. Medula homogênea
formada de células parenquimáticas isodiamétricas e células pétreas. O sistema floemático é
percorrido por grupos de células pétreas, células em processo de esclerificação, fibras e raios
parenquimáticos.
A análise estrutural e microquímica da raiz e caule de M. guyanensis revelaram
compostos biologicamente ativos como alcalóides, que são armazenados em células
esclerificadas, polissacarídeos e proteínas. Em virtude da presença desses metabólitos
possivelmente assegura-se o valor terapêutico da espécie.
A abordagem etnofarmacológica revela que a venda de plantas medicinais se faz
presente nas feiras e mercados de Manaus e caracteriza-se por uma situação de crescimento
que tem se intensificado nos últimos 10 anos já que o número de feirantes que trabalham com
plantas com fins terapêuticos aumentou nesse período. Verificou-se que o conhecimento dos
feirantes relativo a plantas medicinais é adquirido em proporções maiores através da
oportunidade financeira e da demanda dessas plantas do que a partir de um conhecimento
acumulado de gerações.
Existem duas espécies diferentes com o mesmo nome vernacular de “chichuá”: M.
guyanensis e S. impressifolia. M. guyanensis que apesar de ser conhecida por alguns feirantes
e usuários, não é comercializada nas feiras e mercados onde foi realizada a pesquisa. No
entanto os informantes que conhecem as duas espécies alegam que elas possuem o mesmo uso
terapêutico, principalmente utilizadas para reumatismo e como afrodisíaca.
54
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58
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Limited. p. 441-1055.
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comercializados na cidade de Boa Vista, Roraima. Acta Amazonica, 33(2): 281-290.
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desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitoquímicos no Brasil. Química Nova,
24(1): 147-152.
60
7. Anexos
Anexo 1 Roteiro de entrevista para obtenção dos dados relativos à planta a partir dos
feirantes de Manaus-AM. (Modificado Añez, 1999)
Informações gerais:
Local da entrevista:............................................................................................................Data:....../....../......
Entrevistado:.................................................................................................................Idade:........................
Tempo que conhece e utiliza a planta:............................................................................................................
Utilização da planta:
Parte usada:....................................................................................................................................................
Usa: seca ( ) fresca ( )
Para que usa? ................................................................................................................................................
Como prepara?..............................................................................................................................................
Quantidade da planta: ....................................................................................................................................
Quantidade de água ou outro líquido: ............................................................................................................
Tempo de fervura: .............................infusão: ...............................maceração: ............................................
Usa esta planta junto com outras? Sim ( ) o ( )
Qual(is)? ........................................................................................................................................................
Usa adoçar? Sim ( ) Não ( )
Adoçante? ........................................................................ quantidade: ..........................................................
Usa: frio ( ) quente ( ) morno ( )
Dosagem (quantas vezes ao dia).....................................................................................................................
Quantos dias de uso?.......................................................................................................................................
De que forma usa? oral ( ) tópica: pele ( ) emplastro ( ) mucosa ( ) cataplasma ( ) outros ( )
Usa para que idade? Criança ( ) Adulto ( ) Homem ( ) Mulher ( )
Mistura esta planta com medicamento de farmácia? Sim ( ) Não ( )
Esta planta provoca efeitos colaterais? Sim ( ) Não ( )
Quais? ............................................................................................................................................................
Contra-indicações?.........................................................................................................................................
Informações botânicas e ecológicas:
Nome vulgar:...............................................................................Habitat:......................................................
Período e estágio de desenvolvimento preferido pelo coletor:.......................................................................
Características botânicas (altura, ramificação, odor, presença de látex):.......................................................
61
Anexo 2 Roteiro de entrevistas para obtenção de dados relativos a comercialização de
plantas medicinais a partir dos feirantes de Manaus-AM.
Local da entrevista:.............................................................................Data:........................
Entrevistado:......................................................................Idade:............Sexo:( )M ( ) F
Situação atual:
Por que vende plantas medicinais?......................................................................................
quantos anos trabalho no local?.....................................................................................
quantos anos trabalha com plantas medicinais?............................................................
Qual planta vende mais?.....................................................................................................
Para qual uso ela é vendida?...............................................................................................
Tem algum produto que era vendido e que não tem mais?.................................................
Você saberia a razão disto ter acontecido?.........................................................................
As pessoas reclamam dos preços?......................................................................................
Comercialização do chichuá:
Em geral, qual a origem do produto?..................................................................................
Provém de terceiros? Por quê?............................................................................................
Como é extraído?.................................................................................................................
Existe variação na qualidade do produto?...........................................................................
Existe produto falsificado?.................................................................................................
Como distinguí-lo de outros produtos?...............................................................................
Qual quantidade de chichuá você vende por mês/ Kg?......................................................
Qual o preço/ Kg?...............................................................................................................
Perfil dos compradores de chichuá:
Quem compra mais? Homens ou mulheres?.......................................................................
Qual faixa.etária?................................................................................................................
62
Anexo 3 Roteiro de entrevista para obtenção de dados relativos a utilização da planta a
partir dos consumidores de Manaus-AM (Modificado Leitzke, 2003).
Informações gerais:
Local da entrevista:......................................................................................Data:........................
Entrevistado:..........................................................................Idade:...............Sexo: ( )F ( )M
Usa ou conhece alguma planta para fazer remédio? ( ) Sim ( ) Não
Com quem aprendeu sobre as plantas medicinais?......................................................................
Ensina o que sabe sobre plantas medicinais?................................................................................
Como repassa o conhecimento e para quem?...............................................................................
A quanto tempo utiliza plantas medicinais?.................................................................................
Você já utilizou o chichuá? ( ) Sim ( ) Não
Onde esta planta é encontrada?.....................................................................................................
Como você obteve informações sobre a utilidade da planta?.......................................................
Parte utilizada da planta:...............................................................................................................
Como você reconhece a planta?....................................................................................................
Uso terápico:
( )analgésico ( )antiinflamatório ( ) afrodisíaco ( ) artrite ( ) reumatismo ( ) Outros..............
Dosagem (quantas vezes ao dia):..................................................................................................
Duração do tratamento (Tempo/dias):..........................................................................................
Via de administração e método de aplicação:...............................................................................
( ) Cataplasma ( ) Mucosa ( ) Tópica ( ) Emplastro ( ) Banho ( ) Oral ( ) Outros...............
Contra-
indicações:.....................................................................................................................................
Tipo de preparação:.......................................................................................................................
Quantidade de planta utilizada:.....................................................................................................
Quantidade de solvente:................................................................................................................
Tempo de fervura:.........................................................................................................................
Usa a planta junto com outras? Sim ( ) Não ( ) Qual (ais):........................................................
Forma de armazenamento do medicamento natural:....................................................................
Conhece alguém que se curou usando chichuá?...........................................................................
Quais propriedades são observadas nas plantas?
Aroma ( ) Sabor ( ) Som ( ) Textura ( ) Outro ( ).................................................
63
Anexo 4 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Título do Projeto: ASPECTOS ANATÔMICOS E ETNOFARMACOLÓGICOS DO
CAULE E RAIZ DE Maytenus guyanensis Klotzsch ex Reissek (CELASTRACEAE).
Você (entrevistado) está sendo convidado para participar da pesquisa de
plantas medicinais que trata de um estudo de Maytenus guyanensis (chichuá) que pretende
resgatar o conhecimento popular quanto aos principais usos medicinais desta espécie.
Este trabalho será realizado através de entrevistas. Você foi selecionado, por
trabalhar (usar) esta planta e sua participação não é obrigatória. A qualquer momento você
pode desistir de participar e retirar seu conhecimento. Sua recusa o trará nenhum prejuízo
em sua relação como pesquisador ou com a instituição.
O objetivo deste estudo é resgatar o conhecimento popular sobre o chichuá,
sendo assim de suma importância para a sociedade, pois carência de informações úteis a
população.
Sua participação nesta pesquisa consistiem fornecer informações sobre o
chichuá no que se refere a utilização na medicina popular e se dispor a ser fotografado.
O risco relacionado com sua participação é apenas o desconforto de ser
entrevistado e fotografado. O benefício relacionado com a sua participação é que você estará
contribuindo com informações que poderão ser úteis na pesquisa sobre esta planta. As
informações obtidas através dessa pesquisa serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre a
sua participação.
Os dados não serão divulgados de forma a possibilitar sua identificação
(informar, de acordo com o método utilizado na pesquisa, como o pesquisador protegerá e
assegurará a privacidade). Você receberá um cópia deste termo onde consta o telefone do
pesquisador principal, podendo tirar dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a
qualquer momento.
____________________________________________
Ressiliane Ribeiro Prata ([email protected])
INPA/UFAM (LABAF) 3647-4251
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e
concordo participar.
Assinatura do Participante
Voluntário
DATA Impressão
Dactiloscópica
(p/ analfabeto)
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