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Kelly Cristina Cazzadore
Estudo do Comportamento Alimentar e de Forrageio de um
Grupo de Macacos-Prego (Cebus apella) no Parque Estadual
Matas do Segredo, Campo Grande, MS
Universidade Católica Dom Bosco
Mestrado em Psicologia
Campo Grande, MS
2007
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Kelly Cristina Cazzadore
Estudo do Comportamento Alimentar e de Forrageio de um
Grupo de Macacos-Prego (Cebus apella) no Parque Estadual
Matas do Segredo, Campo Grande, MS
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Psicologia da Universidade
Católica Dom Bosco, como exigência para
obtenção do título de Mestre em Psicologia,
área de concentração Psicologia da Saúde, sob
a orientação do Prof. Dr. Reinier Johannes
Antonius Rozestraten.
Universidade Católica Dom Bosco
Mestrado em Psicologia
Campo Grande, MS
2007
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Ficha catalográfica
Cazzadore, Kelly Cristina
C386e Estudo do comportamento alimentar e de forrageiro de um grupo de
macacos-prego (Cebus apella) no Parque Estadual Matas do Segredo, Campo
Grande, MS / Kelly Cristina Cazzadore; orientação Reinier Johannes Antonius
Rozestraten. 2007
76 f. + apêndices
Dissertação (mestrado) Universidade Católica Dom Bosco, Campo
Grande, Mestrado em Psicologia, 2007.
Inclui bibliografia
1. Macaco-prego Comportamento alimentar 2. Psicologia da saúde
Dissertação. I. Rozestrate, Reinier Johannes Antonius. II. Título
CDD-519.51
Bibliotecária responsável: Clélia T. Nakahata Bezerra CRB 1/757
Dissertação apresentada por KELLY CRISTINA CAZZADORE, intitulada “Estudo do
Comportamento Alimentar e de Forrageio de um grupo de Macacos-Prego (Cebus
apella) no Parque Estadual Matas Do Segredo, Campo Grande, MS”, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre em PSICOLOGIA à Banca Examinadora da
Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), foi .......................................................
Banca Examinadora
Prof. Dr. Reinier Johannes Antonius Rozestraten. Orientador/ UCDB
Prof
a
Dr
a
Élcia Esnarriaga de Arruda - UFMS
Prof
a
Dr
a
Sonia Grubits UCDB
Prof
a
Dr
a
Heloisa Bruna Grubits Freire - UCDB
Campo Grande,......................................de 2007
Aos meus pais Laerte e Cristina por todo amor, respeito
apoio e ensinamentos concebidos a mim durante toda
minha vida.
Ao meu amigo e companheiro Amadeu por todo
amor e paciência durante minha caminhada
acadêmica.
A Prof. Dra. Adriana Odália Rímoli pelo respeito e
fidelidade profissional durante os anos de pesquisa
em conjunto.
A todos os animais que representam ao ecossistema
uma riqueza incondicional e que trazem amor e
alegria a todos os que gostam de estar em sua
companhia.
Agradecimentos
A Prof. Dra. Adriana Odália Rímoli pelos conhecimentos passados durante
todos os anos de trabalho em conjunto e pela fidelidade aos seus alunos e à pesquisa.
Obrigada por sua amizade, companheirismo e paciência, e parabéns por sua força de
vontade e amor à pesquisa.
Aos companheiros e amigos de campo Oscar Fernandes Jr e Mariana Coelho
Mirault Pinto pelos momentos agradáveis de coleta. Mesmo nos momentos mais
difíceis a gente brincava e ria bastante tornando àquelas horas momentos de muita
alegria e descontração. Obrigada pela amizade sincera e por todo companheirismo, não
somente em campo, mas também na vida pessoal.
Ao meu orientador Dr. Reinier Johannes Antonius Rozestraten por ter me
aceitado, me recebido muito bem como sua orientanda e pelas dicas na pesquisa que
foram muito valiosas.
Ao Prof. Dr. José Rímoli, pelas valiosas dicas sobre o estudo do macaco-prego.
Admiro muito sua forma de trabalho e seu grandioso conhecimento sobre o estudo da
vida.
A Secretaria Estadual de Meio Ambiente SEMA e aos funcionários do
Parque Estadual Matas do Segredo pela permissão em realizar a pesquisa na área e pelo
apoio durante os treze meses de coleta.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade
Católica Dom Bosco pelo grande apoio.
À Universidade Católica Dom Bosco pela bolsa de mestrado concedida.
Aos meus pais, irmãos, vó, Amadeu e meus animais de estimação por tornar
minha vida tão especial.
Aos animais do grupo de estudo que trouxeram à sociedade científica
informações tão relevantes sobre seu comportamento e que sem a permissão deles essa
pesquisa seria impossível.
Kelly Cristina Cazzadore. Estudo do Comportamento Alimentar e de Forrageio de
um grupo de Macacos-Prego (Cebus apella) no Parque Estadual Matas Do
Segredo, Campo Grande, MS. Dissertação de Mestrado. Universidade Católica Dom
Bosco. Programa de Pós-Graduação em Psicologia.
Resumo
O comportamento alimentar dos primatas está diretamente relacionado com o ambiente
que ele ocupa, sendo dessa forma, de extrema importância seu estudo para se buscar
novas contribuições no entendimento da ecologia comportamental desses animais.
Desse modo, objetivando estudar o comportamento alimentar e de forrageio verificando
diferenças sazonais e mensais na quantificação dos itens alimentares, substratos
forrageados e uso do espaço vertical, um grupo de macacos-prego (Cebus apella) foi
estudado no período de janeiro de 2005 a janeiro de 2006 totalizando 67 dias de
observação com 1881 varreduras instantâneas e 5136 registros comportamentais,
correspondendo a 470,25 hs de observação direta dos animais. Na coleta de dados sobre
o comportamento alimentar e de forrageio utilizou-se o método de varredura instantânea
com duração de cinco e intervalo de dez minutos. Em relação à alimentação, foram
coletados 1114 registros representando 21,69% das atividades totais desempenhadas
pelos animais. Os alimentos consumidos pelo grupo foram frutos e sementes (70,61%,
n=723), hastes foliares (14,45%, n=148), néctar (6,64%, n=68), mel (1,46%, n=15),
invertebrados (5,27%, n=54) e vertebrados (0,88%, n=9), os frutos e sementes foram
significativamente mais consumidos durante todo o período de pesquisa quando
comparado aos outros itens, entretanto a análise sazonal mostrou que houve diferença
significativa somente no consumo de invertebrados. Em relação ao comportamento de
forrageio, os substratos em que os animais estudados mais procuraram itens alimentares
de origem animal foram classificados em troncos, frutos, folhas e solo, apresentando
respectivamente as seguintes freqüências: 44,22% n=830), 5,54% (n=46), 28,92%
(n=240) e 21,33% (n=177). Quando analisado o espaço vertical em que os
comportamentos aqui analisados foram mais desempenhados, encontramos que nas
alturas 0,10
a 5,99 m e 6 a 10,99 m os animais forragearam e se alimentaram mais. Os
resultados dessa dissertação proporcionaram parâmetros comparativos para o
entendimento do comportamento alimentar e de forrageio do macaco-prego (Cebus
apella) em um fragmento de Cerrado que contribuirão para a conservação tanto da
espécie estudada quanto desse ameaçado ecossistema.
Palavras-chave: Comportamento alimentar, forrageamento, Cebus apella
Kelly Cristina Cazzadore. Study about the Eating and the Forage Behavior in a
group of Capuchim Monkeys (Cebus apella) at Mata do Segredo State Park,
Campo Grande, MS. Master’s dissertation. Dom Bosco Catholic University.
Psycology Pos graduation Program.
Abstract
The eating behavior of the primates is directly related to the enviromenment which they
are in, so it is extremely important their study to search new contribuitions to
understand the ecological behavior of this animals. In the way, with the objective of
studying the eating and the forage behavior verifying the different during the seasons
and the months to quantify the items eaten, forage substrata and the use of verticak
space, a group pf Capuchin Monkeys (Cebus apella) was studied during the period of
January 2006 to January 2007, considering a total of 67 observation days with 1881
scan sampling and 5136 behavior registers, it corresponds to 470,25 hs of direct
observation of the animals. During the collect os data about the eating behavior and the
forage it was used the method of scan sampling during five breaks of ten minutes.
Considering the eating habit, 1114 registers were collected, it represents 21,69 % of all
activities done by the animals. The food eaten by group were fruit and seeds (70,61%,
n=723), foliages connecting rods (14,45%, n 148), nectar (6,64%, n=68), honey (1,46%,
n 15), invertebrates (5,27%, n=54) and vertebrates ( 0,88%, n=9), the fruit and seeds
were mor eaten during the whole research period comparing with the other items,
however the season period analyses showed that there were a strong difference only in
the invertebrate consumption and foliages connecting rods. Relating to the forage
behavior, the animals studied look more for trunks, fruit and soil, presenting the
following frequencies: 44,22% (n=830), 5,54% (n= 46), 28,92% (n= 240), and 21,33%
(n= 177). When it was analyzed the vertical space where the behavior analyzed was
more presented, we found the highs of 0,10 to 5,99 meters and 6 to 10,99 meters where
the animals forage and at more. The results of this research will provide comparative
perspectives on capuchim monkeys (Cebus apella) eating and the forage behavior in
fragment of Scrub, and will contribute to the development of conservation for this
species and yours endangered ecosystem.
Key-works: eating behavior, foraging, Cebus apella.
Lista de Gráficos
Gráfico 1:
Pluviosidade e variação de temperatura registrada na cidade de Campo Grande,
MS, durante os meses de janeiro de 2006 a janeiro de 2007. (Fonte: Embrapa de
Campo Grande, MS)..............................................................................................
39
Gráfico 2:
Orçamento geral de atividades de um grupo de Cebus apella no Parque
Estadual Matas do Segredo, Campo Grande, MS, entre os meses de fevereiro
de 2005 a janeiro de 2006......................................................................................
46
Gráfico 3:
Variação sazonal do orçamento geral de atividades apresentado pelo grupo de
Cebus apella no Parque Estadual Matas do Segredo, Campo Grande, MS..........
48
Gráfico 4:
Variação Mensal nos comportamentos de alimentação e de forrageio
encontrados em um grupo de macacos-prego (Cebus apella), Campo Grande,
MS.........................................................................................................................
49
Gráfico 5:
Itens alimentares consumidos pelo grupo de estudo durante o período de
fevereiro de 2005 a janeiro de 2006......................................................................
51
Gráfico 6
Diferenças sazonais nos itens alimentares consumidos pelo grupo de estudo.......
52
Gráfico 7
Variação mensal no comportamento alimentar de um grupo de C. apella no
Parque Estadual Matas do Segredo........................................................................
53
Gráfico 8
Itens forrageados pelo grupo de estudo durante todo o período de pesquisa.........
55
Gráfico 9
Variação sazonal nos itens forrageados pelo grupo de C. apella durante os
meses de estudo......................................................................................................
56
Gráfico 10
Diferenças mensais nos itens forrageados por um grupo de C. apella..................
57
Gráfico 11
Diferenças na altura do substrato utilizado pelo grupo de estudo durante os
comportamentos aqui analisados (alimentar e de forrageio)..................................
58
Lista de Tabelas
Tabela 1:
Dias completos de amostra observacional sobre o comportamento alimentar e
de forrageio de C. apella no Parque Estadual Matas do Segredo. ...................
41
Tabela 2:
Metodologias utilizadas por diversos autores em estudos sobre o
comportamento alimentar ou de forrageio com espécies do gênero Cebus.
Adaptado de Rímoli, 2001.................................................................................
42
Tabela 3: Categorias comportamentais utilizadas para o estudo de Cebus apella.
43
Tabela 4:
Mês, número de dias, varreduras e registros comportamentais obtidos durante
todo o período de coleta.....................................................................................
45
Tabela 5:
Orçamento geral de atividades de algumas espécies do gênero Cebus.
Adaptado de Rimoli (2001)................................................................................
60
Lista de Figuras
Figura 1
Imagem aérea do Parque Estadual Matas do Segredo. Fonte:
Sema/MS.................................................................................................................
37
Figura 2
Imagem de um indivíduo de Cebus apella.............................................................
40
Sumário
1. Introdução.............................................................................................................
13
2. Fundamentação Teórica.......................................................................................
16
2.1. Etologia.........................................................................................................
17
2.2. Estudos Comportamentais com Primatas......................................................
20
2.2 Cebus apella...................................................................................................
22
2.3. Comportamento Alimentar........................................................................... 24
2.3. Comportamento de Forrageio.......................................................................
28
2.4. Cerrado..........................................................................................................
31
3. Objetivos...............................................................................................................
35
3.1. Geral..............................................................................................................
35
3.2. Específico......................................................................................................
35
4. Material e Métodos...............................................................................................
36
4.1. Área de Estudo..............................................................................................
36
4.2. Clima.............................................................................................................
38
4.3 Grupo de Estudo............................................................................................ 39
4.4. Método de Coleta de Dados Comportamentais.............................................
40
4.5. Análise dos Dados.........................................................................................
44
5. Resultados.............................................................................................................
45
5.1. Orçamento Geral de Atividades....................................................................
45
5.2. Variação Sazonal no Orçamento de Atividades........................................... 47
5.3. Variação Mensal nos Comportamentos de Alimentação e de forrageio......
49
5.4. Análise da Dieta............................................................................................
50
5.5. Variação Sazonal no Comportamento Alimentar......................................... 51
5.6. Análise Mensal da dieta................................................................................
52
5.7. Locais Forrageados.......................................................................................
54
5.8. Variação sazonal nos diferentes locais forrageados......................................
55
5.9. Variação Mensal nos locais forrageados.......................................................
56
5.10. Diferenças na altura do substrato nos comportamentos alimentar e de forrageio..
57
6. Discussão.............................................................................................................. 59
7. Conclusões e Considerações Finais......................................................................
68
Referências Bibliográficas........................................................................................
70
Apêndice...................................................................................................................
77
13
1. Introdução
Na ordem Primates, incluem-se desde formas primitivas como os lêmures,
galagos, lóris e tarsis (que estão agrupados na subordem dos prossímios), até as espécies
mais evoluídas que são representadas pelos primatas neotropicais pertencentes à
subordem dos platirrinos (animais com narinas dirigidas lateralmente e septo nasal
largo) e pelos símios do Velho Mundo, antropóides e o ser humano, incluídos na
subordem dos catarrinos (primatas de narinas dirigidas para baixo e septo nasal estreito)
(COIMBRA-FILHO, 1982).
Com raras exceções, os primatas são animais tropicais que habitam lugares
quentes, distribuídos pelo Novo e Velho Mundo (COIMBRA-FILHO, 1982, OATES,
1987). De acordo com a distribuição desses animais pelo planeta, o Brasil é o país que
possui o maior número de primatas em todo o mundo que se encontram distribuídos ao
longo de todo o território brasileiro.
Entretanto, a caça predatória e o desmatamento das florestas têm ocasionado
um rápido processo de diminuição dessas espécies em seu ambiente de vida natural,
representando uma perda significativa a todo ecossistema. Nesse sentido, no Brasil, a
defesa dos primatas não-humanos é prevista na Lei de Proteção à Fauna de n° 5.197,
que teoricamente, assegura todo amparo à fauna selvagem. Mas, na realidade nos
defrontamos com a inobservância da legislação e com a larga falta de mentalidade
conservacionista de grandes setores da população o que dificulta grandemente a
conservação de nossa fauna (COIMBRA-FILHO, 1982).
A indiscutível importância dos primatas se deve primeiramente, ao
incondicional papel ecológico que esses animais representam a todo ecossistema e,
segundo ao seu aproximado parentesco com a espécie humana contribuindo desse
14
modo, com uma variável quantidade de pesquisas que trazem informações
importantíssimas sobre vários aspectos do processo evolucionário dos humanos.
Formada em Ciências Biológicas a autora desta pesquisa sempre esteve
trabalhando com o comportamento desses animais durante sua jornada acadêmica tendo
interesse em continuar estudando a fim de especializar melhor sobre o assunto e poder
contribuir de alguma forma com informações importantes sobre o comportamento
desses animais.
O objetivo desta pesquisa é estudar o comportamento alimentar e de forrageio
(procura por alimento) de um grupo de macacos-prego (Cebus apella), analisando qual
foi o tempo gasto pelo grupo estudado na realização dos comportamentos aqui
analisados (alimentação e forrageio); verificar a influência sazonal nos comportamentos
de forrageio e alimentar e; analisar quais foram os itens consumidos pelos animais
estudados e o tipo de comportamento de forrageio apresentado em relação às
características sazonais, a altura e o tipo de substrato utilizado.
Para tal fim este estudo foi ordenado de acordo com as normas da pesquisa
científica estando o mesmo dividido em fundamentação teórica, objetivos, metodologia,
resultados, discussão e considerações finais.
Primariamente, a fundamentação teórica ressalta e descreve sobre algumas
pesquisas científicas realizadas principalmente com primatas do gênero Cebus, sua
taxonomia, localização, definição de comportamento alimentar e de forrageio e
descrição do cerrado e sua importância como bioma dentro da biosfera.
Em seguida foram esclarecidos os objetivos estando logo em seguida descritos
os resultados obtidos com a coleta dos dados.
Na discussão foram relacionados os resultados desta pesquisa com os
resultados de trabalhos com primatas do mesmo gênero averiguando a importância de se
15
estudar o comportamento desses animais na obtenção de informações relevantes que
ajudam a esclarecer melhor a plasticidade alimentar desses primatas que os permitem
sobreviver em diferenciados ambientes e a alta capacidade manipulativa no
comportamento de forrageio que os possibilitam obter alimentos que outros animais não
conseguem acessar.
As informações que serão apresentadas nesse estudo são importantes para a
sociedade científica e para a região onde o estudo foi realizado para que se obtenha
informações sobre o comportamento do macaco-prego (Cebus apella) que possam
futuramente contribuir para a conservação tanto da espécie estudada quanto do Cerrado,
uma vez que, o comportamento do animal está diretamente relacionado com o ambiente
em que ele ocupa.
Nesse sentido, é importante salientar, que o estudo em questão também trás
informações que auxiliam na conservação da qualidade de vida do ser humano, uma vez
que, nós como animais, dependemos direta e indiretamente da conservação do equilíbrio
do ecossistema e necessitamos que a natureza esteja em harmonia para que toda a
humanidade possa sobreviver com saúde física e mental.
16
2. Fundamentação Teórica
Os animais da ordem primata constituem cerca de 200 a 230 espécies em todo
o mundo (COWLISHAW; DUNBAR, 2000). Divididos em dois grandes grupos
caracterizados como primatas do Velho Mundo (Catarrhini) e do Novo Mundo
(Platyrrhini), esses animais exibem características próprias como: uma história de vida
que envolve um extenso período de desenvolvimento, um alto investimento materno e
um longo período de socialização; um cérebro relativamente grande; um focinho curto
que corresponde à redução do senso olfatório e um aumento na dependência da visão,
que os distinguem dos outros mamíferos e os colocam, dentro da cadeia evolutiva,
próximos dos seres humanos (COWLISHAW; DUNBAR, 2000; STRIER, 1999).
De acordo com sua história evolutiva os primatas eram muito parecidos com os
musaranhos, viviam em árvores e sua dentição indica que comiam insetos. Entre 65 e 50
milhões de anos atrás, muitas espécies existiam ao redor do mundo exibindo
características que os distinguia dos outros mamíferos como mãos capazes de agarrar,
pés e juntas dos ombros móveis (para viver em árvores), face lisa, olhos voltados para
frente e um cérebro relativamente grande. Entretanto, há cerca de 40 milhões de anos á
medida que as florestas foram dando lugar aos campos gramados os primatas tiveram
que se adaptar ou desaparecer, eles desapareceram da América do Norte e
posteriormente se restringiram em grande parte aos ambientes de floresta tropical em
regiões equatoriais (WARD, 1997).
Atualmente, caracterizados como animais tropicais, a grande maioria das
espécies habita uma variedade de ecossistemas em regiões tropicais e subtropicais que
incluem florestas, savanas e desertos (COWLISHAW; DUNBAR, 2000; OATES,
1987).
17
Distribuídos ao longo das Américas do Sul e Central, os primatas do Novo
Mundo são agrupados em duas grandes famílias denominadas de Callitrichidae e
Cebidae, enquanto os primatas do Velho Mundo são amplamente distribuídos na África,
Ásia e Arquipélago Japonês, os mesmos são divididos em três grandes famílias
caracterizadas como Cercopithecidae, Hylobatidae e Hominidae/Pongidae
(COWLISHAW; DUNBAR, 2000).
Os animais do gênero Cebus pertencem à família Cebidae e juntamente com o
mico-de-cheiro (Saimiri sp) estão agrupados na sub-família Cebinae (RYLANDS;
SCHENEIDER; LANGGUTH; MITTERMEIER; GROVES, 2000).
2.1. Etologia
O inspirador inicial da etologia foi o filósofo francês René Descartes (1641) ao
conceber o mecanismo do reflexo como uma explicação do comportamento animal e,
até do comportamento humano desde que não houvesse a intervenção da razão
(CUNHA,1983).
Como se sabe, a psicologia, sempre concentrou seu interesse no homem e na
medida que se interessou pelos animais, o fez, como uma forma de esclarecer problemas
humanos que não podiam, por alguma razão, ser estudados diretamente no homem
(CUNHA,1983).
Dos inspiradores da etologia Darwin foi sem dúvida um dos mais importantes
nos estudos biológicos do comportamento animal, bem como da psicologia comparada,
ao formular princípios da evolução orgânica e ao incluir o comportamento entre os
testemunhos do processo seletivo (HARO, 1983; CUNHA,1983; ARCHER, 1992).
18
Durante cinco anos a bordo de um navio como naturalista recolhendo materiais
da fauna e flora e coletando dados das regiões por onde passava, Darwin conseguiu
acumular informações que mais tarde foram imprescindíveis para a formulação de sua
teoria da evolução (DESMOND; MOORE, 2000), além de recolher dados suficientes
que deram origem mais tarde a inúmeras publicações sobre o comportamento de várias
espécies.
Em seu livro “A Expressão e Emoção nos Homens e animais” Darwin através
de observações faz muitas comparações sobre as expressões tanto faciais quanto
corporais apresentadas por ambos que se assemelham, dando ênfase, desse modo, à sua
teoria da evolução (DARWIN, 1872).
Fundada por Konrad Lorenz e Nikolas Tinbergen por volta de 1930 a Etologia
é tida como uma área de conhecimento relativamente nova, que dá ênfase às
peculiaridades de cada espécie considerando o contexto ecológico dos indivíduos
(VIEIRA, 2000), além de complementar o conhecimento do mundo animal
considerando a sua totalidade evolutiva e filogenética (HARO, 1983). Para Chauvin,
(1977) os estudiosos do comportamento observam os animais dentro da natureza, porém
armados com todas a sutilizas da reflexão científica moderna.
Como ciência, a etologia tem demonstrado em estudos sobre o comportamento
animal resultados tão satisfatórios que permitem sua aplicação no estudo da espécie
humana. Através de sua metodologia aplicada ao estudo do comportamento humano, a
etologia vem mostrando os caracteres compartilhados com os primatas e outros
mamíferos, além também, de citar caracteres exclusivos da espécie, permitindo situar o
homem na escala zoológica (HARO, 1983).
Dentro da psicologia, Bowlby em 1950 aplicou conceitos da etologia em
estudos sobre a afeição humana e mais tarde, em meados de 1960 uma variedade de
19
etologistas usou os métodos de observação para estudar crianças, além de que, foram
utilizados teorias do processo evolucionário em trabalhos sobre o desenvolvimento da
criança (ARCHER, 1992).
Bowlby (1997, p.45) relatando a importância do estudo etológico salienta que:
Aí estava uma comunidade de biólogos dedicados ao estudo do
comportamento de animais em seu habitat natural, que não só usavam
conceitos como os de instinto, conflito e mecanismos de defesa
extraordinariamente semelhantes aos que são empregados em nosso
trabalho clínico do dia-a-dia, como faziam descrições
maravilhosamente detalhadas do comportamento e haviam criado
uma técnica experimental para submeter suas hipóteses e provas.
Bussab (2002) quando cita o complexo parental formulado por Keller (1998),
faz comparações entre a espécie humana e outros animais, principalmente os primatas
quando relaciona o sistema de cuidado primário que envolve a alimentação, abrigo e
higiene, sistema de contato corporal como o carregar, sistemas de estimulação (toques e
movimentos) e sistema face a face caracterizado por contato de olhar e uso da
linguagem.
Dentro da psicanálise Freud (1915 apud BOWLBY, 1997) discute que para que
haja uma compreensão mais profunda do instinto, a psicologia precisaria da ajuda da
biologia. Desse modo fica evidente a importância que a etologia representa para a
sociedade científica, não somente para os biólogos, mas também para uma vasta área de
profissionais como psicólogos, psiquiatras, sociólogos, veterinários e fisiologistas que
tenham interesse em entender o complexo comportamento humano através da teoria da
evolução.
20
2.2. Estudos Comportamentais com Primatas
Tentando demonstrar a valiosa contribuição que o estudo sobre os primatas
representa para a sociedade científica, Coimbra-Filho discute que: “A importância
científica dos primatas não-humanos é indiscutível e eles representam valioso
patrimônio, cujas potencialidades são facilmente percebidas através de múltiplas
investigações científicas...” (COIMBRA-FILHO, 2004, p.13).
Nesse sentido, o estudo da evolução dos primatas permite estabelecer
correlações que muito tem colaborado na solução de problemas relativos à formação da
própria espécie humana. A proximidade filogenética das formas não-humanas com a
nossa espécie propicia um valioso auxílio para o estudo da antropologia e muitas outras
investigações em diferentes campos científicos (COIMBRA-FILHO, 1982).
Dessa forma, trabalhos em campo e em cativeiro no Brasil e em todo o mundo
em diversas áreas como a biologia, antropologia e psicologia têm sido realizados de
acordo com os mais variados temas. Alguns pesquisadores trabalham mapeando os
locais de quebra de cocos e quantificam as freqüências desses episódios (MANNU,
2002), estudam a área de uso utilizada por grupos de primatas (DI BITETTI, 2001),
introduzem objetos no hábitat a fim de se verificar a natureza do comportamento social
(ADES, et, al., 2001) ou separam grupos sociais para averiguar se há transferência de
alimento entre os indivíduos (WESTERGAARD et al., 1999).
Visando analisar a constituição alimentar dos primatas e se as diferenças
encontradas em sua dieta estão diretamente relacionada com o ambiente e/ou com o
aprendizado dos mais jovens com os adultos, alguns estudos são realizados em
diferentes ecossistemas. Chapman e Fedigan (1990) analisando diferenças na dieta de
três grupos vizinhos de Cebus capucinus encontraram que as diferenças quanto à
21
composição na dieta não está somente relacionada à abundância de alimento e sim,
provavelmente, a diferentes técnicas de forrageio observadas em cada grupo, uma vez
que a “tradição cultural” na procura por alimento está relacionada com a alimentação.
Por outro lado, Brown e Zunino (1990), discutem que a variabilidade alimentar
encontrada em grupos de Cebus apella que habitam ambientes extremos está
intimamente relacionada com os diferentes itens encontrados em cada habitat, sugerindo
que a grande capacidade dos primatas do gênero Cebus em explorar recursos que muitas
vezes são inacessíveis a outros animais possa explicar a grande distribuição geográfica
do gênero e sua grande adaptabilidade a ambientes com diferentes características
estruturais e fenológicas.
Quanto aos comportamentos de forrageio, estudos sobre o tamanho da área e a
flexibilidade nas estratégias na procura do alimento em Cebus capucinus demonstram
que os animais usualmente forrageiam sozinhos em áreas pequenas e simultaneamente
em grandes áreas, demonstrando desse modo, que esses animais apresentam estratégias
no comportamento de forrageio mudando o molde do grupo em resposta ao tamanho da
área e distribuição dos alimentos como uma resposta de redução à competição intra-
grupo (PHILLIPS, 1995).
Dessa forma, tentando demonstrar a importância que o estudo etológico, não
somente dos primatas, mas de todas as espécies animais, representam para a ciência,
Galvão, Barros, Rocha, Mendonça e Goulart (2002, p.03) salientam que:
A ciência do comportamento se preocupa em entender como os
indivíduos interagem com seu ambiente imediato para conseguir
alimento, água, ar, condições adequadas de temperatura, pressão e
umidade; como interagem com os indivíduos de sua espécie nas mais
diversas fases da vida e com os indivíduos das inúmeras espécies que
convivem no mesmo lugar.
Diante do exposto, fica evidente a importância de se estudar as diversas
características do comportamento dos primatas, não somente pela sua proximidade
22
dentro da cadeia evolutiva com o ser humano, mas principalmente, devido à sua imensa
responsabilidade na conservação ambiental dentro da biosfera.
2.3. Cebus apella
Pertencentes à ordem Primates, família Cebidae e subfamília Cebinae, os
primatas do gênero Cebus são animais diurnos, arbóreos e onívoros com o corpo um
tanto robusto e cauda semi-prênsil podendo os animais chegar a pesar cerca de 2,5 a 4
kg (ROBINSON; JANSON, 1987; FREESE; OPPENHEIMER, 1981).
O tamanho do grupo social pode variar de 2 a 50 indivíduos, sendo que, a
média oscila de 6 e 30 animais (FREESE; OPPENHEIMER, 1981) possuindo uma
estrutura social denominada de multi-machos e multi-fêmeas (ROBINSON; JANSON,
1987). Os machos adultos são ligeiramente maiores que as fêmeas e muitas vezes os
padrões de pelagem facial, forma da cabeça e proporções corpóreas diferenciam os
sexos (FREESE; OPPENHEIMER, 1981).
Em muitas espécies de primatas, a hierarquia de dominância envolve a
presença de um macho dominante geralmente determinada pela idade e tamanho do
indivíduo que tem acesso às principais fontes alimentares e exige que ele seja mais
atuante na defesa do grupo contra predadores (IZAR, 1994). Em Cebus capucinus os
machos adultos gastam mais tempo no comportamento de vigilância do que de forrageio
e também são mais atuantes na defesa contra predadores e outros grupos (FEDIGAN,
1993).
No gênero Cebus, existem dois grupos: os com tufo (Cebus apella) e os sem
tufo (C. capucinus; C. albifrons; e C. nigrivittatus) que são diferenciados, dentre outras
características, através da cor da pelagem que varia em tom marrom (Freese;
23
Oppenheimer, 1981). Dentre as subspécies com tufo encontramos Cebus apella apella;
Cebus apella libidinosus que provavelmente inclui C. apella cay e C. apella
paraguayanus; Cebus apella robustus e Cebus apella xanthostermos. As sub espécies
que não apresentam tufo são caracterizadas como Cebus albifrons albifrons; Cebus
albifrons adustus, Cebus albifrons aequatoralis; Cebus albifrons cesarae; Cebus
albifrons cuscinus; Cebus albifrons hypoleucus; Cebus apella leucocephalus, Cebus
albifrons malitiosus, Cebus albifrons pleei; Cebus albifrons trinitatis; Cebus albifrons
unicolor; Cebus albifrons versicolor; Cebus albifrons versicolor; Cebus albifrons
yuracus (MITTERMEIER, RYLANDS; COIMBRA-FILHO,1988).
Distribuídos ao longo da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica,
Equador, Guiana Francesa, Guiana, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname,
Trinidad e Tobago e, Venezuela, os primatas do gênero Cebus apresentam uma ampla
distribuição entre os biomas desses países: Caatinga, Cerrado, Chaco Ùmido, Foresta
Amazônica, Floresta Atlântica Centro Americana, Floresta da Costa Pacífica, Floresta
das Guianas, Floresta Úmida Norte-Andina, Floresta Úmida Sul-Andina, Floresta
Montanhosa Úmida Centro-Americana, Lianos Venezuelanos, Mata Arbustiva Xérica
da Costa, Mata Atlântica, Savana Montanhosa e Floresta Tropical Úmida (HIRCH;
DIAS; MARTINS; CAMPOS; REZENDE; LANDAU, 2002).
Entre os primatas do Novo Mundo, os animais pertencentes à espécie aqui
estudada são os indivíduos de maior distribuição geográfica, estando presente no
extremo norte da América do Sul, Amazônia, Florestas do Costa do Brasil, no Sul da
Argentina (FREESE; OPPENHEIMER, 1981) e Cerrado.
24
2.4. Comportamento Alimentar
Para que todas as espécies viventes no planeta sobrevivam, sejam elas animais
ou vegetais, as mesmas necessitam de um suprimento alimentar que forneça energia
para que atividades básicas sejam realizadas durante todo o seu período de vida,
contribuindo dessa forma, para sua sobrevivência e sucesso reprodutivo.
Entre os animais, diversos são os itens consumidos nos mais variados
ambientes, dos quais obtêm carboidratos, lipídios, proteínas, aminoácidos, minerais e
água, necessários para sua sobrevivência e reprodução. A dieta desses animais é
geralmente classificada de acordo com o item alimentar mais consumido dentro da
espécie. Se o animal passa a maior parte do tempo consumindo inseto, ele é classificado
como insetívoro, se ao contrário, consome mais fruto, é denominado de frugívoro e se
consome mais folha é chamado de folívoro. Entretanto, se passam grande parte de seu
tempo consumindo insetos e frutos são chamados de insetívoros-frugívoros e assim por
diante (RICKLEFS, 2003).
Segundo Garber (1987) o tamanho do corpo, a morfologia dos dentes e o
volume e anatomia do trato digestório são fortes componentes para se prognosticar o
comportamento alimentar dos primatas, sendo assim, Oates (1987) complementa que a
variação na dieta desses animais é, em parte, resultado da variação espacial e temporal e
em parte da variação filogenética e anatômica entre as espécies de primatas.
Coimbra-Filho (1982) discute que a morfologia dos primatas é muito variada,
sendo também extremamente diversificados os nichos ecológicos que cada espécie
ocupa, existindo desde formas que se alimentam quase exclusivamente de folhas até
espécies predadoras de animais, principalmente invertebrados e vertebrados.
25
Sendo assim, os primatas em geral consomem vários itens encontrados em seu
ambiente de vida que contribuem para aumentar o suprimento energético e nutricional
de sua dieta. Flores, folhas, néctar, frutos, raiz, casca, sementes, invertebrados,
vertebrados (como pequenos pássaros e ovos de pássaros, lagartos e rãs) e gomas são
consumidos pelos animais (GARBER, 1987; OATES, 1987; TEMERIN, WHEATLEY;
RODMAN, 1984), relembrando desse modo, a grande flexibilidade alimentar como
uma característica ecológica dos primatas (COWLISHAW; DUMBAR, 2000).
De acordo com o modelo evolutivo do sistema social dos primatas, o estudo da
dieta desses animais é de extrema importância, uma vez que, a distribuição e
abundância de alimentos no tempo e espaço influenciam de forma direta a organização
social de muitas espécies (STRIER, 1999; KAPPELER; VAN SCHAIK, 2002). Desse
modo, os mesmos autores discutem que o tamanho, a composição e a coesão dos grupos
mantêm o relacionamento social inter e intragrupos, sendo que, os primeiros são
afetados pela distribuição dos recursos alimentares no tempo e no espaço.
De um modo geral, a alimentação dos animais do gênero Cebus é constituída
de frutas, presas animais, brotos, folhas e haste, podendo sua alimentação variar de
acordo com o ambiente em que o grupo habita (ROBINSON; JANSON, 1987;
FRAGASZY, VISALBERGHI; ROBINSON, 1990).
Na reserva de Santa Genebra em Campinas, SP, os animais pertencentes a um
grupo de Cebus apella consumiram durante todo o período de pesquisa itens como:
polpa de frutos (53,9%), sementes (16%), flores (11,1%), folhas e brotos (6,3%), raiz
(1,5%) e milho (13,9%) da plantação adjacente à reserva onde a pesquisa foi realizada
(GALETI; PEDRONI, 1994). Já em Caratinga, MG, Rímoli (2001) em sua tese de
doutorado, averiguou que os animais consumiram frutos e sementes (20,27%), presas
animais (23,50%), material vegetal diverso (36,07%) e cana-de-açúcar (20,16%),
26
também encontrada em grande proporção na área vizinha à Estação Biológica de
Caratinga.
Tentando demonstrar a grande flexibilidade alimentar do gênero em questão,
Brow e Zunino (1990) encontraram o consumo de uma grande proporção de base foliar
de bromélias (72,3%) na dieta de um grupo de C. apella em El Rey, Argentina,
enquanto que um grupo do Parque Nacional do Iguazú consumiu uma grande proporção
de frutos de palmeiras (18,4%). Para os autores, as diferenças alimentares evidenciam a
adaptabilidade do gênero a diversos ambientes de acordo com as características
fenológicas encontradas e em relação às variações sazonais e disponibilidade dos
recursos.
Entretanto, como discutido anteriormente, no trabalho conduzido por Chapman
e Fedigan (1990) sobre o comportamento alimentar de três grupos vizinhos de Cebus
capucinus os autores encontraram diferenças na composição alimentar dos grupos sem
que, entretanto houvesse diferenças relacionadas com a disponibilidade dos alimentos,
sugerindo dessa forma que, as diferenças na dieta não são relatadas somente pela
medida de abundância de alimento, podendo essa variabilidade estar ligada a tradições
locais no consumo dos itens ou ao aproveitamento do alimento.
Na Amazônia Central, Spironelo (2001) verificou que em 82% das observações
dedicadas à alimentação, os animais consumiram itens de origem vegetal que consistem
de frutos maduros, flores e sementes e em 18% dedicados ao consumo de invertebrados.
Em outro trabalho também na Amazônia, os animais estudados (Cebus apella apella)
consumiram durante todo o período de pesquisa itens como folhas, pecíolos, palmito,
cerne de folha de palmito e câmbio vascular de galhos finos que representaram 5,64%
da alimentação, frutos e sementes que corresponderam a 44,90%, 32,14% para
27
artrópodes, 16,92% para partes estruturais de plantas e 0,40% para vertebrados
(SAMPAIO, 2004).
Quanto ao consumo de vertebrados, vários são os trabalhos que descrevem a
ingestão desse tipo de alimento por animais do gênero Cebus: esquilos, lagartos, ovos
de pássaros e indivíduos adultos de pássaros, lagartos, filhotes de primatas (Callicebus
moloch), coatis, morcegos, roedores e rãs (CHAPMAN; FEDIGAN, 1990, SAMPAIO,
2004, FRAGASZY; BOINSKI, 1995, ROSE, 1997, RESENDE; GRECO; OTTONI;
IZAR, 2003, FREESE; OPPENHEIMER 1981).
Nesse sentido, tentando explicar a relação entre a ampla ocorrência geográfica
do Cebus apella com a sua marcante adaptabilidade alimentar Mannu (2002, p.13)
discute que:
Ao ocupar diversos ambientes com características totalmente
diferentes em relação ao estrato arbóreo, disponibilidade alimentar,
clima, pluviosidade (caatinga, cerrado, mangue, floresta tropical
úmida e subtropical) o macaco-prego necessita ter uma grande
variabilidade comportamental para povoar e utilizar estes diferentes
biomas. Isto faz com que esta espécie alimente-se de vários itens que
outras não consomem e provavelmente, no passado, permitiu-a
explorar ambientes distintos, aumentando gradativamente sua
distribuição geográfica ao longo do tempo.
Dessa forma, muitos são os trabalhos que discutem a dieta de diversas espécies
de primatas sobre vários aspectos ecológicos e/ou comportamentais: Cebus apella
(BROWN; CHALUKIAN; MAIMIERCA; COLILLAS, 1986; BROWN; ZUNINO,
1990; GALETTI; PEDRONI, 1994; ZHANG, 1995; SIEMERS, 2000; SPIRONELO,
2001; RESENDE; GRECO; OTONI; IZAR; 2003) Cebus capucinus (CHAPMAN;
FEDIGAN, 1990; ROSE, 1994; ROSE, 1997) Cebus apella nigritus (JANSON; DI
BITETTI, 1997; IZAR, 2004) Cebus olivaceus (FRAGASZY; BOINSKI, 1995)
Leontopithecus chrysopygus (PASSOS; ALHO, 2001) Callithrix geoffroyi
(PASSAMANI; RYLANDS, 2000) Alouata caraya ( BICA-MARQUES; CALEGARO-
MARQUES, 1994, BRAVO; ZUNINO, 1998) Lagothrix lagothricha (DEFLER;
28
DEFLER, 1996) Ateles geoffroyi ( LASKA; SALAZAR; LUNA, 2000) Saimiri sciureus
(SOUZA; FERRARI; PINA, 1997) Hylobates agilis (GITTINS, 1982) Erythrocebus
patas pyrrhonotus (ISBELL, 1998) Pan troglodytes verus (MCGREW; BALDWIN;
TUTIN, 1988).
2.5. Comportamento de Forrageio
Para Garber (1987), a seleção natural afeta a dieta dos primatas do mesmo
modo que afeta diferentes aspectos do comportamento e da morfologia, desse modo, o
molde do comportamento de forrageio (procura por alimento) tem que apresentar uma
serie de soluções particulares, para tentar resolver problemas ecológicos e
evolucionários quanto à dieta.
Segundo Schoener (1971) apud Milton (1980) a estratégia de forrageamento é
definida como aspectos do comportamento e morfologia do animal que envolve a
procura e utilização do alimento. Desse modo, selecionar um item alimentar aumenta o
custo na procura e o risco se expondo aos predadores.
Os animais em geral empregam uma diversidade de métodos na obtenção de
um item alimentar, resultando dessa forma, em uma dieta que provavelmente é moldada
pela competição entre diferentes membros de sua própria espécie e de diferentes
espécies.
Durante a procura do alimento, os animais enfrentam questões que são
importantes para seu sucesso alimentar, como a decisão de qual alimento comer e qual
deixar passar, em que tipo de habitat forragear e qual evitar, ou quando abandonar um
sitio de alimentação (POST, 1984).
29
Além disso, como os animais vivem em ambientes variantes, eles estão
constantemente forçados a tomar decisões sobre como se comportar, sendo que, muitas
dessas decisões se referem ao alimento: onde forragear, por quanto tempo se alimentar
numa certa parte do hábitat, que tipos de alimento comer e assim por diante. Espera-se
que os animais selecionem o comportamento que produza o maior benefício, dessa
forma, o custo pode ser medido em termos de tempo e energia gastos, mas o benefício é
bem mais julgado em termos de ajustamento evolutivo (RICKLEFS, 2003).
Quando estão forrageando, os animais gastam tempo e energia em atividades
que envolvem a colheita de um item e o deslocamento entre as áreas de alimentação,
dessa forma, quando o alimento é encontrado, seus nutrientes têm que ter energia
suficiente para suprir os custos envolvidos na procura do item e destinar mais energia a
outras atividades (TEMERIN et al., 1984).
As florestas tropicais geralmente mostram uma considerável variação sazonal
no que diz respeito ao molde fenológico, desse modo, para explorar as plantas os
animais necessitam enfrentar uma trajetória no tempo e no espaço em busca de
nutrientes. Nesse sentido, tempo e energia são gastos na procura desses itens que estão
distribuídos de forma desigual, necessitando os animais, procurarem otimizar sua
procura para que os custos no forrageio não excedam os benefícios.
De acordo com Milton (1980) a eficiência no forrageamento é maximizado
pela seleção natural e postulada pela teoria do forrageamento ótimo, que mostra que
características do comportamento e da morfologia têm como função minimizar o custo
na procura do item.
Dessa forma, Dawkins (1989) salienta que de acordo com a teoria do
forrageamento ótimo, os animais devem otimizar a quantidade líquida de energia obtida
em certo tempo, ou seja, é mais vantajoso gastar uma considerável energia na procura
30
de um item alimentar que irá posteriormente suprir o gasto na procura e ainda
armazenar nutrientes no organismo durante um certo tempo que possibilite o animal
forragear novamente.
Nesse sentido, a capacidade de armazenar e processar informações da
distribuição espacial, molde fenológico e produtividade dos sítios de alimentação
significam uma redução no custo e um aumento no sucesso do forrageio (GARBER,
1987).
Claro que não podemos deixar de salientar os diferentes tipos de adaptações
existentes em cada espécie animal. Assim, de acordo com seu tipo de alimentação,
fisiologia e metabolismo, cada um possui um tipo de forrageamento que se adapta
melhor a sua condição evolutiva.
Considerados como excelentes forrageadores, os primatas do gênero Cebus
podem passar cerca de 70 a 80% do tempo forrageando e/ou se deslocando por sítios de
forrageio (ROBINSON; JANSON, 1987), além de que, possuem uma habilidade
manipulativa que os permitem forragear vários tipos de objetos e obter alimentos que
outros animais não conseguem acessar (FRAGASZY; VISALBERGHI;
ROBINSON,1990; MANNU, 2002).
Cinqüenta anos atrás se pensava que espécie humana era o único ser capaz de
produzir e utilizar ferramentas até que no fim da década de 1950 Jane Goodall começou
a estudar chimpanzés selvagens em Gombe, na Tanzânia e descreveu que esses animais
arrancavam as folhas de ramos e utilizavam para capturar formigas e cupins. Hoje se
sabe que esses animais também utilizam essas ferramentas para pegar mel, remover a
semente de castanhas quebradas, retirar pedaços de cérebros de dentro de carcaças de
crânios e extrair o material dos globos oculares e utilizam martelos e bigornas para
quebrar castanhas (MITHEN, 1998).
31
Os chimpanzés e os Macacos-prego são descritos em alguns trabalhos que
apresentam as similaridades dos dois gêneros quanto aos comportamentos de produção
de ferramentas para obter alimento, dessa forma, muitos estudos têm sido realizados na
caracterização de uso de ferramentas na obtenção de itens alimentares em muitos grupos
de primatas do gênero Cebus (SILVA; OTTONI, 2005; FALÓPIO; OTTONI, 2005;
MANNU; OTTONI, 2005; MENDONÇA-FURTADO; OTTONI, 2005).
Ainda com relação ao comportamento de forrageio, o estudo realizado por
Phillips (1995) mostra que os animais de um grupo de Cebus capucinus ajustam o
padrão do molde de seu grupo em relação ao tamanho da área e distribuição dos
alimentos como resposta a redução na competição intra-grupo, reforçando o que foi
postulado por Garber (1987) que discute que em muitas espécies de primatas há
evidências de que o tamanho e a distribuição das áreas de alimentação tem influência
direta no tamanho e coesão dos grupos de forrageio.
Neste contexto, Zhang (1995) relata que um grupo de Cebus apella reduz a
extensão diária de seu percurso para menos de 2 km focando as áreas onde tenha maior
abundância de frutos em períodos de escassez de alimento, além de que, aumentam o
consumo de folhagens e caules e forrageiam por mais insetos, entretanto quando os
frutos são abundantes, sua extensão diária aumenta para 2.8 km e o consumo de
folhagens e caules diminui.
2.6. Cerrado
O Brasil há muito tempo vem sofrendo constantes desmatamentos de suas
florestas para dar lugar a ocupações humanas, ocasionando um processo de
32
desequilíbrio ambiental trazendo prejuízos ecológicos irreparáveis a curto e longo prazo
a todo ecossistema incluindo a espécie humana.
Comunidades biológicas que levaram milhões de anos para se desenvolver vêm
sendo devastadas pelo ser humano, inúmeras espécies diminuíram rapidamente, em
conseqüência da caça predatória, destruição do habitat e da ação de novos predadores e
competidores (PRIMACK; RODRIGUES, 2002).
No Brasil pode-se considerar a ocorrência de seis grandes biomas: o Cerrado,
os Campos e Florestas Meridionais, a Floresta Atlântica, a Caatinga, a Floresta
Amazônica e o Pantanal (RIBEIRO; TELES WALTER, 1998) que são identificados
como unidades ambientais constituídas a partir da combinação de variáveis formando os
macro-sistemas sazonais (LE BOURLEGAT, 2003).
A região Centro-Oeste está sob predomínio do Cerrado e das faixas de
transição de domínio Amazônico e da Mata Atlântica (LE BOURLEGAT, 2003).
Conhecido internacionalmente como Savanas o Cerrado é constituído por
árvores baixas (até vinte metros), esparsas, disseminadas em meio a arbustos,
subarbustos e uma vegetação baixa constituída em geral por gramíneas (IBAMA, 2004),
ocupa 204 milhões de hectares ou 25% da superfície do território brasileiro e è
caracterizado por quatro tipos de fitofisionomias denominadas de cerradão, cerrado,
campo limpo e campo cerrado, distribuídos nos Estados de Goiás, Minas Gerais,
Tocantins, Bahia, Maranhão, Piauí, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ceará,
Rondônia, Amapá, Pará e São Paulo, tendo sua maior concentração na região Centro-
Oeste (77%) com 150 milhões de hectares (RIZZINI, 1997; ARAÚJO; SOUZA, 2003).
No domínio Cerrado, aparecem de forma predominante os terrenos com solos
mais ácidos e pobres em nutrientes o que não exclui a existência de manchas com solos
ricos em nutrientes, como a terra rocha (LE BOURLEGAT, 2003).
33
Dentro do Bioma Cerrado, no Estado de Mato Grosso do Sul podemos
encontrar sete tipos de florestas, sendo elas: Floresta Estacional Decidual (Florestas de
terras baixas e submontana); Floresta Estacional Semidecidual (aluvial e de terras
baixas); Floresta Mesófila; Floresta Ripária (mata de galeria, mata ciliar, mata
inundável, mata de vereda); Formações pioneiras (Carandazal); Savana Florestada
(Cerradão) e Savana Estépica Arborizada (Mata de Chaco) (POTT; POTT, 2003).
A partir de 1960, com a interiorizarão do país e a abertura de uma nova rede
ferroviária, o Bioma Cerrado deu lugar à pecuária e à agricultura. Durante as décadas de
1970 e 1980, 67% de sua área foi altamente modificada, restando atualmente apenas
20% de toda área em estado conservado (IBAMA, 2004).
Não muito diferente, o Estado de Mato Grosso do Sul, apresenta 60% de suas
áreas rurais com diversos níveis de degradação e fragmentação da vegetação decorrente
de atividades agrícolas, pecuárias, urbanizações, hidrelétricas e minerações (BRITO DA
COSTA; SCARIOT, 2003; IBAMA, 2004), diminuindo as populações de espécies de
plantas e animais mais vulneráveis (LE BOURLEGAT 2003).
Segundo o IBAMA (2004), o Bioma Cerrado apresenta a maior riqueza em
biodiversidade do mundo, sua flora abrange mais de 10.000 espécies de plantas e sua
fauna compreende 837 espécies de aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo 61
espécies sendo 19 endêmicas; 150 espécies de anfíbios, das quais 45 endêmicas; 120
espécies de répteis, das quais 45 são endêmicas. Dentre os animais encontrados
podemos citar a onça pintada, capivara, onça parda, teiú, arara-azul, sagüi, macaco-
prego, bugio, dentre outros.
Diversos setores organizados da sociedade discutem uma forma de conservar o
que sobrou do Cerrado, com a finalidade de buscar tecnologias que possibilitem o uso
adequado dos recursos hídricos, a extração de produtos vegetais nativos, criadouros de
34
animais silvestres, o ecoturismo e outras formas que possibilitem o desenvolvimento
sustentável e justo (IBAMA, 2004). Dessa forma, sendo grandes áreas de beleza natural,
os Parques Nacionais tem sido criados visando à conservação do ambiente e são
mantidos com o propósito de dar proteção a um ou mais ecossistemas, para os usos
científicos, educacionais e recreativos (PRIMACK; RODRIGUES, 2002). Neste
sentido, em Mato Grosso do Sul podemos citar o Parque Nacional da Serra da
Bodoquena, Parque Estadual de Ivinhema, Parque Estadual do Taquari, Parque Estadual
da Serra da Sonora (POTT; POTT, 2003) e Parque Estadual Matas do Segredo, que são
Unidades de Conservação que contemplam flora e fauna locais.
35
3. Objetivos
3.1 Geral
O objetivo geral desta pesquisa foi estudar o comportamento alimentar e de
forrageio de um grupo de macacos-prego (Cebus apella) no Parque Estadual Matas do
Segredo, Campo Grande/MS.
3.2 Específicos
1. Analisar qual foi o tempo gasto pelo grupo estudado na realização dos
comportamentos aqui analisados (alimentação e forrageio);
2. Verificar a influência sazonal nos comportamentos de forrageio e alimentar;
3. Analisar quais foram os itens consumidos pelos animais estudados e o tipo de
comportamento de forrageio apresentado em relação às características sazonais, a altura
e substrato utilizado.
36
4. Material e Métodos
4.1 Área de estudo
O presente estudo foi realizado no Parque Estadual Matas do Segredo, situado
em Campo Grande, Estado de Mato Grosso do Sul. Com 542 metros de altitude, Campo
Grande limita-se ao norte com os municípios de Jaguari e Rochedo, a leste com Ribas
do Rio Pardo, ao sul com Terenos e Sidrolândia. Está sob coordenadas geográficas 20°
26’ 39” S de latitude 54° 38’ 19” W de longitude. (SOUZA, 1978).
Antes Jardim Botânico de Campo Grande, o Parque Estadual Matas do Segredo
(Figura 1) foi criado 05 de junho de 2000, através do Decreto Estadual n° 9.935 pelo
então governador do Estado, Sr. José Orcírio Miranda dos Santos permanecendo
fechado para visitação (PALMA, 2004). Localizado no perímetro urbano da cidade à
nascente do córrego Segredo o parque possui uma área de 177,58 hectares e apresenta
coordenadas 20° 23’ 52,5” S/ 54° 35’ 09,6” W (GOMES, 2001).
O parque abriga em seu interior um dos principais mananciais de água do
município, onde nascem pequenos riachos formando o córrego segredo que corta a
cidade de norte a sul, onde próximo ao Horto Florestal se encontra com o Prosa
formando o córrego Anhanduizinho.
A região próxima à nascente do córrego Segredo possui uma estrutura urbana
marcada por uso tradicionalmente rural com chácaras de recreio ou de produção de
hortifrutigranjeiros, destinados ao comércio local (PALMA, 2004).
Sendo um fragmento de vegetação natural, o Parque Estadual Matas do
Segredo tem por objetivo representar amostras de cerrado da região, proteger as
37
nascentes do córrego segredo e promover atividades educativas e recreativas (PALMA,
op. cit.).
Figura 1: Imagem aérea do Parque Estadual Matas do Segredo, Campo Grande/MS, mostrando
a localização das trilhas existentes na área (pontos amarelos). Fonte: Sema/MS.
38
4.2. Clima
O clima da cidade de Campo Grande sofre poucas variações, cerca de 75% das
chuvas ocorrem entre os meses de outubro e abril, quando a temperatura média oscila
em torno de 24°C (MARINHO; COELHO NETO, 1999). A precipitação média anual
no Estado de Mato Grosso do Sul é de 1000 a 1200 mm na região norte e oeste e de
1200 a 1400 mm na região nordeste, sendo que ocorrem grandes variações na
precipitação média mensal podendo ser registradas 200 a 300 mm em janeiro enquanto
que em agosto pode haver uma variação de 10 a 30 mm, mostrando de forma evidente a
variação entre os períodos chuvoso e seco (ASAD, 1994). Os meses de menor
precipitação são junho, julho e setembro, quando a temperatura média atinge 20°C
(MARINHO; COELHO NETO, 1999).
Durante o período de coleta a precipitação total em Campo Grande foi de
1794,9 mm (Gráfico 1) e os meses que obtiveram maior nível de chuva foram janeiro,
novembro e dezembro de 2005 e os que apresentaram menor foram julho e agosto. A
temperatura média variou entre 17,6°C (maio) e 30,9°C (dezembro).
39
0
5
10
15
20
25
30
35
jan/05
fev/05
mar/05
ab/05
mai/05
jun/05
jul/05
ag/05
set/05
out/05
nov/05
dez/05
meses
temperatura média (°C)
0
50
100
150
200
250
300
precipitação (mm)
temp.mim (média)
temp.máx (média)
precipitação
Gráfico 1: Pluviosidade e variação de temperatura registrada na cidade de Campo Grande, MS,
durante os meses de janeiro de 2005 a janeiro de 2006. (Fonte: Embrapa de Campo Grande,
MS).
4.3. Grupo de Estudo
Os indivíduos estudados faziam parte de um grupo de macacos- prego (Cebus
apella) que habitava o Parque Estadual Matas do Segredo e era constituído por cerca de
20 animais que nunca tinham sido acompanhados sistematicamente por pesquisadores
(Figura 2). Os animais eram identificados através de sua faixa-etária e sua identidade
sexual era reconhecida apenas nos adultos.
Dentro da mesma área, havia mais duas espécies de primatas, sendo elas:
Callithrix penicillata e Alouata caraya, dos quais nunca foi observada nenhuma
interação entre as espécies.
40
Figura 2: Cebus apella. Fonte: www.cenp.org.br/img_macacos/cebus_apella.gif
4.4. Método de Coleta de Dados Comportamentais
O presente estudo compreendeu os meses de janeiro de 2005 a janeiro de 2006,
sendo que, durante o primeiro mês as idas a campo foram exclusivamente designadas à
habituação dos animais, reconhecimento da área e teste da metodologia utilizada para a
coleta dos dados comportamentais. A tabela 1 apresenta os meses posteriores (fevereiro
de 2005 a janeiro de 2006), sendo que as coletas foram realizadas mensalmente das 5:00
às 17:00 hs, tendo como esforço conseguir completar cinco dias inteiros de observação
(com mais de oito horas de acompanhamento). Entretanto, devido à dificuldade em
muitas vezes acompanhar os animais, seja pelo comportamento arredio ou pela
dificuldade da área de cerrado, somente um mês (dezembro) pôde ser completo quanto
às horas diárias de observação que se almejava. Apesar disso, os dias com carga horária
parcial (de cinco a sete horas de coleta), puderam contribuir para que o estudo em
41
questão pudesse ter uma maior confiabilidade quanto ao número de registros coletados
durante a pesquisa.
Tabela 1: Dias completos de amostra observacional sobre o comportamento alimentar e de
forrageio de C. apella no Parque Estadual Matas do Segredo.
Meses Número de dias completos
dezembro 5
novembro 4
Abril, junho, setembro, janeiro, março 3
Maio, agosto, outubro 2
Julho, fevereiro 1
A coleta de dados sobre o comportamento alimentar e de forrageio de C. apella
foi fundamentada no método de varredura instantânea ou esquadrinhamento
(ALTMANN, 1974; MARTIN; BATESON, 1993), com duração de cinco minutos e
intervalo de dez.
Também chamado de “método pontual” e utilizada em vários estudos com
primatas (Tabela 2), a varredura instantânea consiste no “registro instantâneo da
atividade realizada por cada indivíduo do grupo, a intervalos de tempo pré-
estabelecidos” (SETZ, 1991) e tem como objetivo primário estudar a quantidade ou a
porcentagem do tempo gasto pelo grupo em uma determinada atividade (ALTMANN,
1974).
A varredura instantânea quando utilizada para o estudo do comportamento de
animais pequenos em que as atividades dos indivíduos do grupo podem ser vistas em
poucos segundos ou minutos, o intervalo entre as amostragens pode ser menor,
entretanto, no caso da observação ser realizada com grupos grandes ou dispersos, pode-
se pré-estabelecer um grande tempo (ex: cinco ou dez minutos) para o registro de todos
os indivíduos que o observador consiga anotar (SETZ, 1991).
42
Tabela 2: Metodologias utilizadas por diversos autores em estudos sobre o comportamento
alimentar ou de forrageio com espécies do gênero Cebus. Adaptado de Rímoli, 2001.
Espécie Sítio de Estudo Método de amostragem Referências
Cebus apella Mata Atlântica Varredura instantânea com
cinco minutos de intervalo
Izar, 2004
Cebus
capucinus
Parque Nacional
de Santa Rosa
Animal focal com sessões
de dez minutos
Chapman &
Fedigan, 1990
Cebus apella P. N. El Rey, P. N.
Baritú e P. N.
Iguazú
Varredura instantânea com
dez minutos de intervalo
Brow &
Zunido, 1990
Cebus apella Parque Nacional
El Rey
Varredura instantânea com
dez minutos de intervalo
Brow,
Chalukian,
Malmierca &
Colollas, 1986
Cebus apella Estação Ecológica
Mata Santa Teresa
Varredura instantânea com
cinco minutos de intervalo
Siemers, 2000
Cebus apella Parque Ecológico
Tietê
Todas as ocorrências Ottoni &
Mannu, 2001
Cebus apella
nigritus
Estação Biológica
de Caratinga
Varredura instantânea com
dez minutos de intervalo
Rímoli, 2001
Cebus apella Usina Hidrelétrica
de Tucuruí
Varredura instantânea com
dez minutos de intervalo
Sampaio, 2004
As observações foram feitas com o auxílio de um binóculo Nikon 9x30 e os
dados coletados eram anotados em cadernetas nas quais para cada animal do grupo
avistado durante as varreduras, eram anotadas as seguintes informações: i) a hora; ii) a
identidade do indivíduo (quando possível); iii) a atividade do indivíduo (apêncide 1);
iv) altura do estrato arbóreo em relação ao solo; v) o diâmetro do substrato utilizado
pelo animal observado e, vi) os vizinhos encontrados a uma distância de um raio de três
metros do indivíduo no qual estava sendo realizada a varredura (ver apêndice 2).
Os comportamentos observados em campo foram agrupados em: forragear,
alimentação, descansar, deslocar, observar o ambiente, interação social e outros
comportamentos (Tabela 3). Nesta última categoria foram consideradas as atividades
como balançar e/ou morder galhos sem estar inserido no contexto de forrageio. A
alimentação foi considerada quando havia a ingestão efetiva de algum item alimentar.
43
Nestes momentos, eram anotados os itens consumidos que foram classificados
em: frutos e sementes; invertebrados; haste; néctar; mel; e vertebrados. Quanto ao
comportamento de forragear, os locais onde essa atividade foi efetuada, foram
agrupados em forragear troncos (galhos e troncos), frutos, folhas e solo.
Para as comparações sobre o comportamento alimentar e de forrageio, os
dados aqui analisados foram agrupados em períodos climáticos (chuva e seca) e meses,
sendo que, as análises sazonais foram realizadas agrupando os meses de maio, junho e
julho de 2005 (seca) e novembro, dezembro de 2005 e janeiro de 2006 (chuva), com a
finalidade de analisar somente os meses centrais dos períodos climáticos, estando
fevereiro, março, abril, setembro e outubro caracterizados como meses de transição.
Tabela 3: Categorias comportamentais utilizadas para o estudo de Cebus apella.
Deslocamento Animal caminhando no momento do registro, não
acompanhado por qualquer outra atividade.
Forrageamento Animais manipulando com mãos e/ou boca substratos como
folhas, troncos e frutos, à procura de itens alimentares.
Alimentação Ingestão de itens de origem animal ou vegetal.
Descanso Animal parado, sentado ou deitado sem a realização de
qualquer outra atividade aparente.
Varredura do ambiente Animal em posição de quadrupedalismo ou sentado em
intensa observação visual do ambiente
Interação social Atividades que envolvam interações pacíficas (catação,
brincadeira, toques) ou agonísticas (agressões) entre dois ou
mais indivíduos.
Outros Atividades que não se encaixava a nenhuma das categorias
acima mencionadas. Ex: balançar e/ou morder galhos e auto-
catação.
44
4.5. Análise dos Dados
Os dados coletados foram transcritos para a planilha Microsoft Excel, e as
análises estatísticas foram realizadas através do teste não paramétrico Wilcoxon
utilizando-se o programa Bioestat 2.0 (AYRES et al., 2000). De forma a quantificar e
qualificar de modo mais adequado os comportamentos observados, as atividades
realizadas foram calculadas com base nos totais de registros das varreduras
instantâneas.
As análises de freqüência absoluta e relativa foram realizadas em relação: ao
padrão geral de atividade; às diferenças mensais nos comportamentos de forrageio e
alimentar e de acordo com a sazonalidade; aos itens consumidos pelos animais durante
todo o período de pesquisa; à altura do animal com relação ao solo durante a realização
dos comportamentos aqui analisados.
45
5. Resultados
Com um total de 67 dias de observação, obteve-se 1881 varreduras
instantâneas e 5136 registros comportamentais (Tabela 4) totalizando 470,25 horas com
os animais estudados.
Tabela 4: Mês, número de dias, varreduras e registros comportamentais obtidos durante todo o
período de coleta.
Mês Dias de coleta Varreduras Registros
Fevereiro/2005 4 98 260
Março/2005 5 145 373
Abril/2005 7 194 510
Maio/2005 6 152 445
Junho/2005 5 137 305
Julho/2005 7 208 424
Agosto/2005 7 163 371
Setembro/2005 6 161 434
Outubro/2005 5 117 355
Novembro/2005 5 178 588
Dezembro/2005 6 195 652
Janeiro/2006 4 133 420
Total 67 1881 5136
5.1. Orçamento Geral de Atividades
Dentre os comportamentos desempenhados pelos animais, os que se
apresentaram em maior proporção foram deslocar (43,75%, n=2247), alimentação
(21,69%, n=1114) e forragear (16,74%, n=860) (Gráfico 2).
O comportamento de varredura que é o ato de observar o ambiente
também se apresentou com uma expressiva porcentagem (11,35%, N=583), isso pode
estar associado à vigilância do grupo em questão, uma vez que, em grupos sociais o ato
de vigiar é de extrema importância na proteção do grupo contra possíveis predadores.
46
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
forragear alimentação descansar deslocar varr. do amb. inter. social outros comp.
Comportamentos observados
% dos registros
Gráfico 2: Orçamento geral de atividades de um grupo de Cebus apella no Parque Estadual
Matas do Segredo, Campo Grande, MS, entre os meses de fevereiro de 2005 a janeiro de 2006.
A interação social apesar de ser um comportamento de extrema importância
para os grupos sociais porque ajuda a manter a coesão entre os indivíduos, apresentou-
se com uma pequena porcentagem no cômputo geral (3,70%, N=190), como observado
em outras espécies de primatas.
O descansar e outros comportamentos caracterizados como aqueles que
não se enquadravam em nenhuma das categorias antes descritas, como balançar galho,
morder galho, brincadeira solitária e interação com outras espécies, se apresentaram
também com uma pequena porcentagem: 2,26% (N=116) e 0,51% (N= 26),
respectivamente.
47
5.2. Variação Sazonal no Orçamento de Atividades
Além da quantificação geral, o orçamento de atividades também foi
comparado quanto a sazonalidade (Gráfico 3). No período seco (maio, junho e julho)
foram coletados 1170 registros contra 1658 na chuvosa (novembro e dezembro de 2005
a janeiro de 2006).
Os comportamentos que apresentaram diferença estatística quando relacionado
a sazonalidade foram: forragear (Z= -2.7830; p=0,0054), deslocar (Z= -2.9534;
p=0,0031) varredura do ambiente (Z= -2.7262; p= 0,0064) e interação social (Z= -
3.0594; p=0,0022) que se apresentaram com maior freqüência na época chuvosa. Com
relação a esse último comportamento, o fato ter se apresentado maior na época chuvosa,
talvez possa ser explicado por uma suposta maior disponibilidade de frutos nesse
período, item esse que se apresenta com um valor nutricional e energético muito
elevado, possibilitando os animais do grupo, principalmente os filhotes a terem tempo
disponível para comportamentos como a brincadeira e a catação, imprescindíveis para
ajudar a manter a coesão entre os indivíduos do grupo e, também possibilita um
aumento em comportamentos agressivos por parte de alguns indivíduos que estariam
protegendo fontes alimentares escassas e altamente nutricionais contra a disputa de
outros indivíduos.
48
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
forragear alimentação descansar deslocar varr.ambiente compor.social outros
Comportamentos socias
% dos registros
chuva
seca
Gráfico 3: Variação sazonal do orçamento geral de atividades apresentado pelo grupo de Cebus
apella no Parque Estadual Matas do Segredo, Campo Grande, MS.
O comportamento de forrageio também foi maior na estação chuvosa (17,55%,
n=465) quando relacionado com a seca (15,88%, n=395), talvez pelo fato de os animais
passarem grande parte de seu tempo destinado a esse comportamento à procura de
invertebrados que supostamente estão mais disponíveis nesse período.
O deslocamento e a varredura do ambiente também se apresentaram com uma
maior proporção na época de chuva que supostamente possa estar relacionado a uma
procura mais intensa por sítios de alimentação.
49
5.3. Variação Mensal nos Comportamentos de Alimentação e de Forrageio
Quando analisados mensalmente, os comportamentos de alimentação e
forrageio se distribuem ao longo do ano com uma variação (Gráfico 4).
Os meses em que o comportamento de forragear foram mais intensos estão
concentrados em março (25,20%) e abril (26,27%) e a alimentação teve seu pico em
julho (42,69%), sendo que, em março quando os animais forragearam bastante eles
comeram menos (9,65%), ocorrendo o contrário em julho e janeiro de 2006, sendo que
em novembro e dezembro eles comeram e forragearam quase que na mesma proporção.
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
fev.05 mar.05 abr.05 ma.05 jun.05 jul.05 ag.05 set.05 out.05 nov.05 dez.05 jan.06
Meses
forragear
comer
Gráfico 4: Variação Mensal nos comportamentos de alimentação e de forrageio encontrados
em um grupo de macacos-prego (Cebus apella), Campo Grande, MS.
O fato da alimentação ter sido um pouco maior nos meses de período seco,
talvez possa ser explicada por uma exclusiva disponibilidade de néctar nesse período,
maior consumo de haste na seca, exclusivo consumo de mel e início de frutificação de
50
um item exótico (Amora; Morus nigra), localizado em uma residência vizinha do
Parque, a partir de setembro (observação pessoal).
5.4. Análise da Dieta
Os itens consumidos pelos indivíduos do grupo estudado foram ao longo da
pesquisa agrupados em: frutos e sementes; haste; invertebrados; mel; néctar; outros; e
vertebrados.
Quando analisamos o Gráfico 5, podemos constatar que durante todo o período
de estudo o item mais consumido pelos animais foi frutos e sementes representando
70,61% (N=723; 71,51±22,15) do total de registros para a categoria alimentar, seguido
de haste que representou no cômputo geral desta categoria 14,45% (N=148;
14,29±21,22).
Analisando estatisticamente as diferenças encontradas no consumo de diferentes
itens, verificamos que o consumo de frutos e sementes foi significativamente maior que
o consumo dos outros itens analisados nesse estudo (Z= -2.5887; p = 0.0096 (haste), Z
= -3.0594; p = 0.0022 (invertebrados), Z = -3.0594; p = 0.0022 (mel), Z = -3.0594; p =
0.0022 (néctar), Z = -3.0594; p = 0.0022 (vertebrados), Z = -3.0594; p = 0.0022
(outros)).
Quanto à análise relacionada aos outros itens, encontramos diferenças
estatísticas no consumo de haste e mel (Z = -2.9341; p = 0.0033), haste e outros (Z = -
2.8031; p = 0.0051), haste e vertebrados (Z= -2.6673; p = 0076), invertebrados e outros
(Z= -2.9341; p= 0.0033) e invertebrados e vertebrados (Z= -2.9341; p= 0.0033).
Na categoria “outros” estão inseridos itens como broto e raízes que foram visto
sendo consumidos esporadicamente durante todo o período de estudo.
51
-20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
frutos e
sementes
haste invertabrados mel néctar outros vertebrados
itens ingeridos
% dos registros
Gráfico 5: Itens alimentares consumidos pelo grupo de estudo durante o período de fevereiro
de 2005 a janeiro de 2006.
5.5. Variação Sazonal no Comportamento Alimentar
As análises sazonais feitas nesse trabalho foram realizadas agrupando os meses
de maio, junho e julho de 2005 (seca) e novembro, dezembro de 2006 e janeiro de 2006
(chuva), com a finalidade de analisar somente os meses centrais das respectivas épocas
climáticas, estando setembro, outubro, fevereiro, março e abril caracterizados como
meses de transição.
Apesar de haver uma relativa diferença nas porcentagens apresentadas no
consumo dos diferentes itens alimentares pelos animais do grupo de estudo durante os
meses analisados (Gráfico 6), o único item que se apresentou com diferença
significativa foi invertebrados (Z= -2.4450; p=0,0145) que se mostrou maior na época
chuvosa.
52
-20%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
frutos e
sementes
haste invert mel néctar outros s/ide. vert.
Itens ingeridos
% dos registros
chuva
seca
Gráfico 6: Diferenças sazonais nos itens alimentares consumidos pelo grupo de estudo
5.6. Análise Mensal da dieta
Quando analisada mensalmente, verificamos que o consumo de frutos e
sementes foi um pouco menor somente nos meses de abril, maio e junho. Este fato pode
demonstrar a importância desse tipo de alimento para o grupo em questão, uma vez que
poderia estar disponível no ambiente durante todo o ano, além de ser uma fonte rica de
nutrientes e energia (Gráfico 7).
Nos meses em que a ingestão de frutos diminui um pouco, o consumo de haste
se eleva (abril e maio) e nos próximos meses (junho e julho), temos uma parcela
considerável de consumo de néctar (Mabea fistulifera), recurso amplamente encontrado
no ambiente nos meses em que se inicia a época seca (abril e maio).
53
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
fev.05 mar.05 abr.05 mai.05 junh.05 julh.05 ago.05 set.05 out.05 nov.05 dez.05 jan.06
Meses analisados
% dos registros
frutos e sementes haste invertabrados mel néctar outros vertebrados
Gráfico 7: Variação mensal no comportamento alimentar de um grupo de C. apella no Parque
Estadual Matas do Segredo.
Somente durante os meses de agosto, setembro e novembro houve a ingestão
de vertebrados como ovos de pássaros e ratos. Quando os animais detectavam ninhos de
pássaros, os mesmos expulsavam o indivíduo adulto do ninho e atacavam e consumiam
em seguida os ovos, algumas vezes com o animal já em avançada formação
embrionária. O consumo de rato foi observado somente uma vez por um macho adulto
próximo a nascente da área de estudo.
O consumo de invertebrados apesar de se apresentar baixo durante todo o
período de pesquisa foi um item de consumo constante entre os meses, estando excluído
somente em maio.
54
5.7. Locais Forrageados
Os locais forrageados pelos animais aqui estudados foram agrupados em:
troncos ou galhos, folhas, frutos e solo. Esses itens eram manipulados com a mão e/ou
boca na maioria das vezes à procura de invertebrados. No caso de troncos e frutos os
animais muitas vezes batiam os mesmos contra outro objeto (troncos) na expectativa de
encontrar um item de consumo, comportamento caracterizado como uso de pró-
instrumento. O forrageio no solo foi caracterizado como a procura manipulativa no chão
à procura de invertebrados e/ou castanhas de cumbarú.
No período chuvoso os animais desciam ao solo para procurar as castanhas que
ficavam úmidas de baixo das folhagens e conseqüentemente tinham as cascas mais
moles, fáceis de quebrar com os dentes e assim consumir um alimento rico em energia.
A procura de alimento nos troncos se apresentou com uma maior porcentagem
(44%, N=367; 47,35 ± 13,96), seguido de folhas (29%, N=240; 27,99 ± 15,25) solo
(21%, N=177; 17,01± 21,98) e frutos (6%, N=46; 7,65 ± 10,24) (Gráfico 8). Quando
analisados estatisticamente durante todo o período de estudo, os itens que apresentaram
diferenças foram folhas e frutos (Z= -2.5887; p=0,0096), troncos e folhas (Z= -2.1181;
p= 0.0342), troncos e frutos (Z= -2.9341; p=0.0033). Os itens troncos e solo apesar de
não apresentar diferença significativa quanto à quantificação, mostraram tendência à
diferença estatística (Z= -1.8827; p= 0.0597).
55
29%
6%
21%
44%
folhas
fruto
solo
troncos
Gráfico 8: Locais forrageados pelo grupo de estudo durante todo o período de pesquisa.
5.8. Variação sazonal nos diferentes Locais forrageados
Quando analisados sazonalmente, percebemos uma expressiva diferença nos
locais de forrageio somente com relação às folhas (Z= -2.4483, p=0,0144) que foram
maior na chuva e solo (Z= -3,0250; p=0,0025) que se mostraram superior na época seca
(Gráfico 9).
Os frutos não apresentaram oscilações entre as diferentes estações e o solo
apesar de também não apresentar diferença significativa, se mostrou um pouco maior na
seca.
56
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
folhas fruto solo troncos
Itens Forrageados
% dos registros
chuvosa
seca
Gráfico 9: Variação sazonal nos itens forrageados pelo grupo de C. apella durante os meses de
estudo.
5.9. Variação Mensal nos Locais forrageados
Quando analisados mensalmente, averiguamos que as diferenças mensais nos
itens forrageados pelos animais estudados se mostrou com uma relativa oscilação
(Gráfico 10). As folhas e troncos se destacaram durante todo o ano de pesquisa com
porcentagens estáveis, com exceção dos meses de novembro e dezembro que se
apresentaram bem abaixo dos outros meses de pesquisa. O forrageio de frutos e solo se
apresentou durante todo o estudo com uma relativa oscilação, se mostrando bem maior,
no caso do solo, também nos meses de novembro e dezembro e no caso dos frutos com
uma porcentagem maior do que os outros meses em agosto.
57
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
fev.05 mar.05 abr.05 ma.05 jun.05 jul.05 ag.05 set.05 out.05 nov.05 dez.05 jan.06
Meses
% dos registros
folhas fruto solo troncos
Gráfico 10: Diferenças mensais nos itens forrageados por um grupo de C. apella.
5.10. Diferenças na altura do substrato nos comportamentos alimentar e de
forrageio
Para que as análises das diferentes alturas dos substratos utilizados pelo grupo
de estudo quando desempenhados os comportamentos de forrageio e de alimentação
fossem realizadas, foram agrupadas as alturas de acordo com a seguinte forma: H0
solo; H1=0,10 a 5,99 m; H2=6 a 10,99 m; H3=11 a 15,99 m e; H4=16 a 20 metros ou
mais.
58
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
0 h1 h2 h3 h4
Altura Agrupada
% dos registros
comer
forragear
Gráfico 11: Diferenças na altura do substrato utilizado pelo grupo de estudo durante os
comportamentos aqui analisados (alimentar e de forrageio).
Como mostra o Gráfico 11, tanto o comportamento de forrageio quanto o de
alimentação, foram desempenhados mais nas alturas h1 e h2. Quando relacionadas
estatisticamente as alturas para ambos os comportamentos, encontramos diferenças
significativas em quase todas as alturas (h0xh1 Z= -3.0594, p=0,0022; h0xh2 Z= -
2.9025, p=0,0037; h0xh4 Z= -3.0594, p=0,0022; h1xh2 Z= -2.1339, p= 0,0329;
h1xh4 Z= -3.0594, p=0,0022; h2xh3 Z= -2.9341, p= 0,0033; h2xh4 Z= -3.0594,
p=0,0022 e; h3xh4 Z= -2.6656, p=0,0077), com exceção somente em h0xh1 e h1xh3.
Quando analisado se há diferença significativa entre os comportamentos de
forragear e comer de acordo com a altura, encontramos que há diferença somente no
solo (h0), sendo que, nesse substrato os animais estudados forragearam mais do que
comeram (Z= -2.8007; p=0.0051).
59
6. Discussão
Os resultados apresentados nesse trabalho mostram informações relevantes
sobre o comportamento alimentar e de forrageio de um grupo de macacos-prego (Cebus
apella) que habitam o Parque Estadual Matas do Segredo, situado em Campo Grande,
MS.
O orçamento geral de atividades observados neste estudo é consistente com os
resultados obtidos em alguns trabalhos realizados com primatas do mesmo gênero.
No presente estudo, a categoria comportamental mais freqüentemente
registrada foi o deslocamento (43,75%), seguido pela alimentação (21,69%) e forrageio
(16,74%). O fato de terem dedicado tanto tempo ao deslocamento talvez possa estar
relacionado à alimentação, uma vez que os indivíduos em grande parte de seu tempo
estariam se deslocando à procura de alimento. Tal fato pode ser corroborado pelas altas
taxas de alimentação e de forrageio apresentados nesse estudo.
Sampaio (2004) em seu trabalho na Amazônia com Cebus apella também
observou que os animais despenderam grande parte das observações se deslocando
(39,79%) e valores similares representados pelos outros comportamentos também foram
encontrados em ambos os trabalhos. Entretanto, Rímoli (2001) na Mata Atlântica com
Cebus apella nigritus encontrou valores diferentes aos apresentados nesse trabalho para
as categorias deslocamento (26,12%), alimentação (37,99%) e forrageio (9,94%).
Desse modo, é importante ressaltar que a variabilidade nos comportamentos
encontrados nas diferentes espécies do gênero Cebus possa estar ligada a diferenças
encontradas no ambiente de vida, uma vez que o gênero em questão seja capaz de
habitar diversos tipos de habitats, demonstrando dessa forma, a alta capacidade
60
adaptativa, manipulativa e cognitiva do gênero em questão. A tabela 5 apresenta uma
comparação entre as várias espécies.
Tabela 5: Orçamento geral de atividades de algumas espécies do gênero Cebus. Adaptado de
Rimoli (2001).
Espécie Comer Deslocar Forragear
Descansar
Varredura
Social Fonte
C. apella 21,69 43,75 16,74 2,26 11,35 3,70 Esta dissertação
C. a. nigritus
37,99 26,14 9,94 4,85 15,99 3,59 Rímoli, 2001
C. apella 22,03 39,79 30,04 3,66 ____ 2077 Sampaio, 2004
C. ollivaceus
34 15 24 25 ____ 2 Miller, 1997, 1998
Fonte - Miller, 1997, 1998 apud Rímoli 2001.
De um modo geral, os primatas consomem itens como flores, folhas, néctar,
frutos, raiz, casca, sementes, invertebrados, vertebrados e gomas que são encontrados
em seu ambiente de vida (GARBER, 1987; OATES, 1987; TEMERIN, WHEATLEY;
RODMAN, 1984), relembrando a importância da flexibilidade alimentar como uma
característica ecológica dos primatas (COWLISHAW; DUMBAR, 2000).
Sendo considerados como animais onívoros, ou seja, alimentam-se de
diferenciados itens alimentares, a dieta do gênero Cebus, de um modo geral, é
constituída de frutas, presas animais, brotos, folhas e haste podendo sua alimentação
variar de acordo com o ambiente em que o grupo habita (ROBINSON; JANSON, 1987;
FRAGASZY, VISALBERGHI; ROBINSON, 1990).
Desse modo, vários são os trabalhos que tentam averiguar a constituição
alimentar dos animais desse gênero. Brown, Chalukian, Malmierca e Colillas (1986)
encontraram que em um grupo de Cebus apella na Argentina os animais consumiram
em 72,26% das observações bases de bromélias, 24,87% invertebrados e 2,87% frutos e
sementes. Galetti e Pedroni (1994) também em um estudo com Cebus apella em um
61
fragmento de floresta averiguou que os indivíduos se alimentaram de 53,9% das
observações de polpa de frutos, 16% de sementes, 11,1% de flores, 6,3% de folhas e
novos brotos, 1,5% de raiz e 13,9% de milho de uma plantação que circundava a área de
estudo. Em outro trabalho também com a mesma espécie na Amazônia, os animais
consumiram 82% de itens de origem vegetal (fruto maduro sementes e flores) e 18% de
matéria animal (SPIRONELO, 2001). Por outro lado, na Mata Atlântica, um grupo de
Cebus apella nigritus consumiu durante o período de estudo 20,27% frutos e sementes,
23,50% presas animais, 36,07% material vegetal diverso (cascas de árvores, pecíolos e
partes vegetais não reprodutivas) e 20,16% cana-de-açúcar como material exótico
(RÍMOLI, 2001). Na Amazônia, Sampaio (2004) averiguou que o consumo alimentar de
um grupo de Cebus apella apella consistiu basicamente de partes não reprodutivas de
plantas (folhas, pecíolos, palmito, cerne de folha de palmito e o câmbio vascular de
galhos finos) que representaram 5,64%, frutos e sementes que corresponderam com
44,90% das observações dedicadas à alimentação, 32,14% para artrópodes, 16,92% para
partes estruturais de plantas e 0,40% para vertebrados.
No presente trabalho, diversos itens alimentares como frutos e sementes
(70,61%), hastes foliares (14,45%), invertebrados (5,27%), mel (1,46%), néctar
(6,64%), e vertebrados (0,88%) foram consumidos pelo grupo de estudo durante o
período de pesquisa.
A diferença significativa no consumo de frutos quando relacionado com os
outros itens demonstra a grande importância que esse tipo de alimento representa para
os primatas, nesse caso, especificamente os do gênero Cebus. De acordo com Strier
(1999), os frutos são recursos altamente energéticos que contem consideráveis
quantidades de água, carboidratos, lipídios, fibras e proteínas, além de vitaminas e
minerais. Grandes quantidades no consumo de frutos pelos animais do gênero Cebus
62
também foram encontrados por Galetti e Pedroni (1994), Spironelo (2001), Sampaio
(2004), Brown e Zunino (1990), Fragaszy e Boinski (1995), Chapman e Fedigan (1990)
e Zhang (1995).
Como citado em alguns trabalhos (RÍMOLI, 2001, GALETTI; PEDRONI,
1994, BROWN et al., 1986 e BROWN; ZUNINO, 1990), os primatas do gênero Cebus
complementam sua alimentação com itens exóticos (cana-de-açúcar, milho e folhas e
bromélias) que são encontrados no seu ambiente de vida. Neste estudo, os animais
também consumiram grandes quantidades de alimentos exótico (amora - Morus nigra)
que era encontrado em abundância em uma residência vizinha ao parque. A habilidade
do gênero Cebus em explorar recursos que não são acessíveis a outras espécies de
primatas é uma das razões para a ampla distribuição geográfica e existência desses
animais em ecossistemas marginais (BROWN et al., 1986)
Para Brown e Zunino (1990), a diferença encontrada na dieta dos animais em
diferentes habitats está ligada à disponibilidade sazonal dos itens consumidos pelos
indivíduos, uma vez que, diferentes recursos são utilizados durante períodos de escassez
(seca). Segundo os autores, em El Rey (Argentina) onde existe uma grande variação
sazonal na disponibilidade dos frutos, os animais tendem a consumir uma grande
quantidade (72,3%) de folhas de bromélias, enquanto que no Parque Nacional do
Iguazú, os primatas exibem um comportamento similar ao que é encontrado em áreas
tropicais.
Entretanto, Chapman e Fedigan (1990) em seu estudo com três grupos vizinhos
de Cebus capucinus no Parque Nacional de Santa Rosa, Costa Rica, apesar de encontrar
diferenças nas porcentagens dos itens consumidos pelos animais de estudo, os autores
não encontraram através de análises, diferenças na disponibilidade dos recursos no
ambiente, dessa forma, os autores sugerem que as diferenças nas dietas não são
63
determinadas simplesmente pela medida da abundância de alimento, podendo essa
variabilidade estar ligada a tradições locais dos indivíduos no consumo dos itens ou
aproveitamento do alimento.
No presente trabalho apesar de haver um maior consumo de frutos e sementes
no período chuvoso, diferenças sazonais significativas foram encontradas para o grupo
estudado quanto à ingestão somente de invertebrados que foi maior no período chuvoso
corroborando com Spironelo (2001) que também encontrou resultado similar quanto à
ingestão de invertebrados. Entretanto, Rímoli (2001) estudando C. nigritus constatou
que os animais consumiram significativamente mais invertebrados no período seco,
contrastando com suas análises que apresentam uma maior disponibilidade de
artrópodes no período chuvoso. Por outro lado, com relação ao mesmo autor, valores
similares foram encontrados em relação a sazonalidade quanto ao consumo de partes
vegetais não reprodutivas (hastes foliares). Nessa pesquisa, apesar de não haver
diferença significativa, houve uma maior proporção no consumo desse tipo de alimento
no período seco (24,23%) corroborando Rímoli que também encontrou maior proporção
no consumo de partes não reprodutivas nesse período (33,96% - seca 1 e 47,86 seca
2).
O consumo de néctar esteve relacionado a uma única espécie (Mabea
fistulifera) e exclusivamente ao período seco (junho e julho), demonstrando que o
consumo desse tipo de alimento segundo Zhang (1995) não depende do número de
espécies que estejam florindo, uma vez que, os animais selecionam altamente esse tipo
de recurso. Outros trabalhos também relacionam o consumo de néctar (RÍMOLI, 2001,
SAMPAIO, 2004, BROWN; ZUNINO, 1990, CHAPAMN; FEDIGAN, 1990,
SPIRONELO, 2001, GALETTI; PEDRONI, 1994, ZHANG, 1995) indiretamente na
64
ingestão de flores, enquanto que na presente pesquisa os animais consumiam o néctar
diretamente não havendo a observação em nenhum momento da ingestão de flores.
Para Zhang (1995), as mudanças no molde alimentar dos primatas é uma
resposta à disponibilidade e distribuição dos recursos sazonais encontrados no ambiente.
Em seu trabalho com Cebus apella, quando os frutos estavam escassos os animais
consumiam mais folhas/caule para compensar a baixa frutificação e reduziam a
extensão de área percorrida por dia e forrageavam mais por matéria animal.
Quanto ao consumo de vertebrados, apesar de se apresentar com uma baixa
proporção durante todo o período de pesquisa com relação aos outros itens (0,88%)
parece ser um alimento muito importante, uma vez que, ajuda na complementação de
proteínas na dieta dos animais. Nessa pesquisa, os animais consumiram ovos de
pássaros, filhotes de pássaros em já avançado estágio embrionário e ratos. Em outros
trabalhos, vários são os animais vertebrados consumidos pelos Cebus: esquilos,
lagartos, ovos de pássaros e indivíduos adultos de pássaros, lagartos, filhotes de
primatas (Callicebus moloch), coatis, morcegos, roedores e rãs (CHAPMAN;
FEDIGAN, 1990, SAMPAIO, 2004, FRAGASZY; BOINSKI, 1995, ROSE, 1997,
RESENDE; GRECO; OTTONI; IZAR, 2003, FREESE; OPPENHEIMER, 1981).
Rose (1997) discutindo sobre a importância no consumo de vertebrados na
dieta dos primatas, salienta que, os animais do gênero Cebus e Pan apresentam uma
grande semelhança na dieta e estilo de forrageio demonstrando uma ampla flexibilidade
alimentar, habilidades manipulativa e cognitiva e estratégias oportunísticas de forrageio
incluindo em sua dieta um sistemático consumo de vertebrados.
Apesar do consumo de vertebrados estar relacionado nessa pesquisa somente
no período chuvoso, quando analisamos mensalmente averiguamos que existe o
consumo desse tipo de alimento nos meses de agosto e setembro que foram aqui
65
considerados como sendo meses de transição entre seca e chuva. Rose (1997) relaciona
em seu trabalho um maior consumo de vertebrados na estação seca quando a
abundância de frutos é tipicamente baixa e os animais passam grande parte do tempo
forrageando por itens animais (vertebrados e invertebrados).
Quanto ao ato de procurar o alimento (forragear), os animais enfrentam
questões que são importantes para seu sucesso alimentar, como a decisão de qual
alimento comer e qual deixar passar, em que tipo de habitat forragear e qual evitar, ou
quando abandonar um sitio de alimentação (POST, 1984). Desse modo, quando estão
forrageando, os animais gastam tempo e energia em atividades que envolvem a colheita
de um item e o deslocamento entre as áreas de alimentação e quando o alimento é
encontrado, seus nutrientes têm que ter energia suficiente para suprir os custos
envolvidos na procura e destinar mais energia a outras atividades (TEMERIN et al.,
1984).
Considerados como excelentes forrageadores, os primatas do gênero Cebus
podem passar cerca de 70 a 80% do tempo forrageando e/ou se deslocando por sítios de
forrageio (ROBINSON; JANSON, 1987), além de que, possuem uma habilidade
manipulativa que os permitem forragear vários tipos de objetos e obter alimentos que
outros animais não conseguem acessar (FRAGASZY et al.,1990; MANNU, 2002).
No presente estudo, os animais foram vistos forrageando em substratos que
foram aqui caracterizados como folhas, frutos, solo e troncos representando 16,74% de
todas as atividades realizadas e sendo significativamente maior que todos os outros
comportamentos, exceto o alimentar. Durante esses episódios os animais manipulavam
com boca e/ou mãos os locais onde havia a procura de alimento e batiam frutos e
troncos contra substratos na tentativa de achar algum item. Quando relacionado
sazonalmente, as folhas e solo foram os únicos itens que apresentaram diferenças
66
significativas. Possivelmente a maior proporção de forrageio nas folhas no período seco
esteja relacionada à procura de invertebrados frente à possível escassez desse tipo de
recurso nessa época e como citado anteriormente, o maior forrageio no solo na época
chuvosa seja devido ao maior consumo de castanhas encontradas no solo, uma vez que
esse item esteja mais acessível durante o período chuvoso
Dentre o padrão geral de atividades, Sampaio (2004) verificou que os animais
do grupo gastaram 30,04% das observações forrageando e observou dois tipos de
comportamento de forrageio: manipulativo e observacional e encontrou que ao longo da
pesquisa os animais gastaram 59,7% do tempo de forrageio a atividades manipulativas-
destrutivas e 38,1% ao observacional, demonstrando que os animais dedicaram mais
tempo aquele comportamento frente à aparente escassez de invertebrados. Enquanto que
no grupo estudado por Rímoli (2001) os animais forragearam em 9,94% das
observações sendo que em 15,99% do total o forrageio foi observacional e 11,80%
manipulativo.
Mannu (2002), ressalta que alta capacidade manipulativa do macaco-prego se
deva em parte da necessidade de extrair alimentos de locais que obrigatoriamente
devam ser modificados para que os primatas consigam acessa-los.
Dessa forma, muitos estudos tem sido realizados na caracterização de uso de
ferramentas na obtenção de itens alimentares em muitos grupos de primatas do gênero
Cebus. Esses animais tem sido observados desempenhando tal comportamento durante
o forrageamento e a aquisição do item alimentar, dando ênfase, dessa forma, a vários
estudos em campo e cativeiro para se averiguar em quais contextos sociais e ecológicos
esse comportamento é desempenhado (SILVA; OTTONI, 2005; FALÓPIO; OTTONI,
2005; MANNU; OTONI, 2005; MENDONÇA-FURTADO; OTTONI, 2005).
67
Quanto à altura do substrato em que os animais foram vistos desempenhando
atividades de alimentação e forrageio, no presente trabalho, para ambas as categorias, as
alturas h1 (0,10 a 5,99m) e h2 (6 a 10,99m) foram as mais utilizadas e, o solo (h0) foi
significativamente mais representativo para o forrageio do que para a alimentação, fato
que pode ser explicado pela grande procura de castanhas de Cumbarú nesse local, uma
vez que, debaixo das folhagens a casca da castanha estaria mais úmida e
conseqüentemente mais fácil para abrir com a ajuda dos dentes, tendo dessa forma, um
componente rico em energia que complementaria de sua dieta. De fato, os animais desse
estudo consumiram mais castanhas nesses momentos em que estariam forrageando ao
solo na procura desse item quando relacionado ao componente ainda na árvore
(observação pessoal).
Diante do exposto, é possível observar que o animais aqui estudados
apresentam similaridades quanto ao padrão geral encontrado para outros primatas do
mesmo gênero, demonstrando a importância desse estudo para que se obtenha
informações relevantes sobre o comportamento alimentar e de forrageio de Cebus
apella no Parque Estadual Matas do Segredo, uma vez que habilidades cognitivas,
manipulativas e comportamentais sejam característica marcantes da flexibilidade
comportamental desses indivíduos.
68
7. Conclusão e Considerações Finais
Dentre o padrão geral de atividades do grupo de macacos-prego (Cebus apella)
no Parque Estadual Matas do Segredo, os comportamentos mais observados pelo grupo
estudado no período de fevereiro de 2005 a janeiro de 2006, destaca-se deslocar
(43,75%), comer (21,69%) e forragear (16,74%).
Quando o padrão geral de atividades é analisado sazonalmente, o único
comportamento que se destaca com uma diferença significativa é o social que se
apresentou maior na época chuvosa.
Analisando mensalmente as diferenças encontradas nos comportamentos de
alimentação e forrageio, encontramos que no mês de julho comer foi bem superior ao
forragear, possivelmente devido ao grande consumo de néctar nesse período.
A dieta do grupo estudado consistiu de itens como frutos e sementes, hastes
foliares, invertebrados, mel, néctar e vertebrados. Dentre os itens encontrados no seu
ambiente de vida, os animais também consumiram uma espécie exótica - Amora (Morus
nigra).
Nas comparações sazonais o único item alimentar que apresentou diferença
significativa foi invertebrados que teve seu maior consumo associado à época chuvosa.
Apesar de na seca os frutos ainda estarem em maior proporção de consumo. Néctar e
mel foram itens que se encontraram disponíveis somente nos meses de período seco.
Os locais forrageados pelo grupo de estudo foram agrupados em: solo (21%),
frutos (6%), troncos (44%) e folhas (29%) e quando analisados sazonalmente, apesar de
haver uma maior porcentagem de forrageio do solo no período chuvoso e folhas na seca,
o único substrato que se destacou com uma diferença significativa foi folhas. Entretanto,
é importante salientar que o alto forrageio de solo na estação chuvosa esteja associado
69
ao consumo de castanha de cumbarú, uma vez que, os animais pegavam as castanhas
que estavam debaixo das folhagens com bastante umidade, tendo dessa forma, uma
maior facilidade para abrir sua casca e consumir um alimento altamente energético.
Os substratos mais utilizados nos comportamentos de forrageio e alimentação
foram h1 e h2, sendo que, quando analisados estatisticamente se houve diferença nos
comportamentos aqui analisados quanto aos diferentes substratos, foram encontradas
diferenças no solo que se apresentou com uma maior porcentagem para o forrageio.
As informações aqui apresentadas são importantes para a região onde o estudo
foi realizado com a finalidade de se obter informações sobre o comportamento do
macaco-prego (Cebus apella) que futuramente possam contribuir para a conservação
tanto da espécie estudada quanto desse ameaçado ecossistema, uma vez que, o
comportamento do animal está diretamente relacionado com o ambiente em que ele
ocupa.
Nesse sentido, quando se pensa em saúde humana, indiretamente não podemos
deixar de relembrar a importância que a conservação do ambiente representa para a
humanidade. Nós como animais, dependemos diretamente do ciclo e do equilíbrio da
natureza e, sem dúvida alguma, necessitamos conservar o que ainda sobrou do
ecossistema para que o ser humano possa viver e se reproduzir com saúde física e
mental.
Desse modo, estudos que trazem informações que auxiliam nesse processo são
de extrema importância por fornecer dados que ajudam na complementação de
estratégias para a conservação do ambiente e conseqüentemente na qualidade de vida do
ser humano.
70
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77
APÊNDICE
78
Apêndice 1. Etograma
Categorias comportamentais:
3) Forragear: procurar ou manipular locais onde por ventura pudessem estar inseridos
alimentos de origem animal e/ou vegetal.
4) Comer: ato de mastigar e ingerir qualquer item alimentar de origem animal ou
vegetal.
4a) invertebrados;
4b) frutos ou sementes;
4c) haste;
4d) mel
4e) néctar
4f) vertebrados
4l) outros: caracterizados como beber água, mamar, raiz entre outros;
5) Descansar: sentado ou deitado descansando ou dormindo sem o uso de qualquer
outra atividade adicional;
6) Deslocar: deslocamento sobre troncos, galhos e chão em velocidade reduzida ou
acelerada em posição de quadrupedalismo;
7) Interação Social: comportamentos direcionados a outros indivíduos do mesmo
grupo caracterizados como brincadeiras, catação, agonismo, solicitação de contato,
solicitar alimento ou olhar outro indivíduo se alimentando.
8) Outros comportamentos: caracterizados como comportamentos que não se
enquadravam em nenhuma das categorias antes descritas. EX: balançando galho,
mordendo galho, brincadeira solitária, interação com outras sp.
79
Apêndice 2. Exemplo de ficha de coleta de dados sistemáticos.
Dia Horário
Indivíduo
Atividade
Altura
Substrato
Postura
Vizinho Localização
24/09
07:05 Madalena
6 H6 G1 P5 _____ Cerrado
filhote 6 H6 G1 P5 _____ Cerrado
24/09
07:20 jovem 4b H5 G1 P5 _____ Cerrado
Napoleão
7 H6 G2 P6 _____ Cerrado
Rogério 6 H6 G2 P5 _____ Cerrado
Jovem 3b H5 G2 P5 Madalena
Cerrado
Madalena
4a H6 G1 P5 Jovem Cerrado
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