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Rômulo Francisco de Souza
AVALIAÇÃO DE SOFTWARES
PARA O ENSINO DE LÍNGUAS:
FOCO NA COMPREENSÃO ORAL
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Rômulo Francisco de Souza
AVALIAÇÃO DE SOFTWARES
PARA O ENSINO DE LÍNGUAS:
FOCO NA COMPREENSÃO ORAL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Letras – Estudos
Lingüísticos como requisito Parcial para a
obtenção do título de mestre em Lingüística.
Área de Concentração: Lingüística Aplicada.
Orientadora: Profa. Dra. Vera Lúcia
Menezes de Oliveira e Paiva
Co-Orientador: Prof. Dr. Clarindo Isaías
Pereira da Silva e Pádua
Belo Horizonte
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Letras
2007
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RESUMO
Esta dissertação tem como objetivo apresentar os resultados de uma avaliação
somativa de softwares destinados ao ensino de italiano, a saber: Q-express,
Talk to me: italiano, Dentro L´italiano e Italicon. O foco da avaliação está nos
aspectos relativos ao ensino da compreensão oral. Tenta-se responder se
esses softwares apresentam condições para auxiliar o aluno no aprendizado de
italiano, de modo que consiga se inserir em interações face a face, como
prometido em seus títulos ou descritivos. Parte-se do princípio de que a
compreensão oral é condição sine qua non para o sucesso nesse tipo de
interação. Para a avaliação dos softwares, propõe-se uma lista de checagem
que poderá ser utilizada tanto em avaliações somativas, quanto formativas.
Espera-se, com isso, instrumentalizar lingüistas, ou professores de línguas, que
se propõem ao trabalho de consultoria pedagógica em processos de
desenvolvimento de softwares destinados ao ensino de línguas.
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to present the outcomes of a summative valuation
on software dedicated to the Italian teaching, namely: Q-express, Talk to me:
italiano, Dentro L´italiano e Italicon. The focus of the evaluation is on the
aspects related to the teaching of oral comprehension. There is an attempt in
order to answer if these courses are helping the student in the Italian learning
process, in a way that he/she may be able to engage in face to face interaction,
as promised in their titles or descriptives. We consider the principle that the oral
comprehension is a sine qua non condition for the success in this kind of
interaction. For the software evaluation, we propose a check list that could be
used as much in summative valuations as in the formative ones. We hope that
this research can help linguists or language teachers that are involved in the job
of pedagogical consultancy related to the process of software development for
the teaching of languages.
“Não sois máquina,
homem é que sois.”
Charles Chaplin
AGRADECIMENTOS
Às professoras Carla Coscarelli e Delaine Cafiero, cuja simplicidade, sabedoria,
confiança, postura de inclusão e coragem de ensinar, “sem marras”, tornaram
possível este trabalho.
À professora Vera Menezes, cuja competência, disponibilidade e humanidade
seguirão sempre comigo em meu ser e fazer professor; pela motivação e pela
coragem da orientação.
Ao professor Clarindo Isaías, cuja competência, tranqüilidade, acessibilidade,
receptividade e paciência são para mim modelo de vida pessoal e acadêmica,
por ter me guiado nos caminhos da informática.
À Lourdes da Silva, sem a qual este texto não teria saído com cara de
dissertação, pelo carinho, disponibilidade e simplicidade de sempre.
Aos meus pais, Maria Silva e Paulo Eustáquio de Souza, pela sustentação.
Ao Tempo Rei, que relativiza as verdades e faz aflorar a alma das coisas.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO 1
Compreensão Oral 15
1.1 A natureza da CO 15
1.2 Dificuldades na CO em língua estrangeira 22
1.3 Habilidades 29
1.4 Ensino de compreensão oral 31
1.5 Atividades de pré-escuta, escuta e pós-escuta 35
1.6 Feedbacks: genérico, situado e estratégico. 38
CAPÍTULO 2
Metodologia de pesquisa 41
2.1 Metodologia 41
2.2 Lista de checagem 41
2.3 Critérios de escolha dos softwares
CAPÍTULO 3
Descrição e avaliação dos softwares 45
3.1 Descrição dos softwares 45
3.2 Resultados da avaliação 75
CONCLUSÕES 91
R
EFERÊNCIAS 103
APÊNDICE A: LISTA DE CHECAGEM PREENCHIDA PARTE A 105
A
PÊNDICE B: LISTA DE CHECAGEM PREENCHIDA PARTE B 109
APÊNDICE C: ATIVIDADE I DIRITTI DI TUTTI: TRANSCRIÇÃO DO TEXTO BASE 111
APÊNDICE D: ATIVIDADE LE PROFESSIONI: TRANSCRIÇÃO DO TEXTO BASE 112
8
INTRODUÇÃO
Durante minha prática como professor de língua italiana, bem como de
estudante de italiano, observei que muitos softwares destinados ao ensino de
italiano para autodidatas poderiam oferecer recursos mais adequados no
sentido de auxiliar o aprendiz no desenvolvimento das habilidades necessárias
para a inserção em interações face a face em linguagem oral. Muitos desses
softwares não correspondiam minimamente a uma proposta de base
comunicativa, ou seja, que visasse ao desenvolvimento de competências
comunicativas, mesmo que, às vezes, anunciassem como objetivo o
aprendizado de uma língua estrangeira para a comunicação.
Nossa pesquisa partiu da constatação dessa demanda por materiais
didáticos informatizados mais adequados ao ensino de línguas para a
comunicação. De fato, em termos gerais, ela se caracteriza como uma tentativa
de checar a veracidade e a qualidade dessa demanda. Em termos específicos,
o objetivo foi avaliar softwares de auto-aprendizado de língua italiana como
língua estrangeira, tendo por foco de avaliação as técnicas
1
disponibilizadas
para o ensino da compreensão oral (CO). Essas técnicas, informatizadas nos
softwares que formaram o corpus da pesquisa, foram avaliadas a partir de uma
lista de checagem cujos itens apontam características que julgamos serem
necessárias a um software que tem como objetivo ensinar a compreensão de
textos orais em situações de interação face a face. Para a concepção da
pesquisa, partimos do pressuposto de que softwares que se propõem a ensinar
uma língua estrangeira para autodidatas deveriam fornecer subsídios
suficientes para que o aprendiz desenvolvesse as habilidades necessárias para
conseguir se inserir em uma interação oral face a face, ou seja, em uma
conversa nessa língua. Focalizamos nossas atenções na compreensão oral, já
que tal habilidade é condição sine qua non para que um indivíduo participe com
sucesso em uma conversa em linguagem oral (ROST, 1994).
A pesquisa que empreendemos teve, portanto, como meta geral, avaliar
as técnicas de ensino de compreensão oral – automatizadas em softwares para
1
Brown (2001) define o termo técnica como qualquer exercício, atividade ou tarefa usada em
sala de aula de línguas com o intuito de realizar objetivos pedagógicos.
9
o auto-aprendizado de italiano como língua estrangeira – no que tange à
oportunidade de desenvolvimento das habilidades necessárias para a
compreensão de textos orais em interações face a face. Visando a
operacionalidade da pesquisa, essa meta geral foi segmentada nas seguintes
etapas:
Identificação das técnicas relativas a CO disponibilizadas nos softwares
do nosso corpus.
Análise e avaliação das técnicas relativas ao ensino de CO
disponibilizadas nos softwares de nosso corpus de acordo com a lista de
checagem proposta no capítulo 5 desta dissertação.
Sugestão (quando necessário) de adaptações às técnicas de CO
disponibilizadas nos softwares – que visem contemplar o
desenvolvimento dessa habilidade de maneira mais eficaz, tendo como
referência os itens da lista de checagem.
Além dessas etapas de trabalho, tentamos responder se os softwares
que compõem o nosso corpus apresentavam oportunidades para que o
aprendiz desenvolvesse habilidades relativas à CO, necessárias para que
possa se inserir em uma interação face a face/conversa na língua alvo. Em
termos específicos, as perguntas que nos orientaram foram:
1) Quais técnicas de ensino relativas à CO estão disponibilizadas no
software?
2) As atividades de CO são especificas ou estão integradas em outras
atividades?
3) Os itens da lista de checagem estão contemplados? Se sim, quais? Em
que medida?
4) Considerando os itens da lista de checagem, podem ser sugeridas
modificações? Quais?
Em termo práticos, nossos produtos de pesquisa - a saber: nossa lista
de checagem e os resultados de nossa análise de produtos concorrentes -
podem ser aplicados em processos de desenvolvimento de softwares
10
educacionais dedicados ao ensino de línguas estrangeiras
2
(S.E.D.E.L.E).
Essa demanda de ordem prática, ligada ao desenvolvimento de softwares,
apresenta-se também como justificativa para nossos esforços de pesquisa.
Para uma melhor compreensão dessa aplicação prática, gostaríamos de
discorrer, em linhas gerais, nos parágrafos seguintes, sobre alguns conceitos e
procedimentos básico da engenharia de software, a saber: processo; requisito;
e subprocesso de determinação de requisitos
3
.
Softwares são desenvolvidos através de processos. Em linhas gerais,
segundo Paula Filho (2003), um processo pode ser definido como “um conjunto
de passos parcialmente ordenados, constituídos por atividades, métodos,
práticas e transformações, usado para atingir uma meta” (PAULA FILHO, 2003,
p. 11). Ainda segundo o autor, essa meta geralmente está associada a um ou
mais resultados concretos, que seriam o produto do processo.
A partir de uma visão mais ampla, ou seja, do ciclo de vida de um
software, Paula Filho (2003, p. 11) lembra que “processos podem ser definidos
para atividades como desenvolvimento, manutenção, aquisição e contratação
de software”. Gostaríamos de ressaltar que, dentre essas possibilidades, nossa
pesquisa se apresenta como uma tentativa de apoio ao primeiro item citado por
esse autor, ou seja, os processos de desenvolvimento.
Um fator determinante em processos é a utilização de insumos
(documentos, especificações, listas de diretrizes etc), e, segundo Paula Filho
(2003, p. 11) “um processo é definido quando tem documentação que detalha:
o que é feito (produto), quando (passos), por quem (agentes), as coisas que
usa (insumos) e as coisas que produz”. A partir dessa constatação, podemos
definir, em termos práticos, o papel de nossa pesquisa em processos de
desenvolvimento de S.E.D.E.L.E. De fato, nossa lista de checagem constitui-se
como conjunto de diretrizes que poderão ser utilizadas em determinados
momentos do processo de desenvolvimento de S.E.D.E.L.E, ou seja, podemos
considerá-la como insumo para tais processos. Como será visto mais adiante,
as diretrizes podem ser potencialmente utilizadas, por exemplo, na fase de
2
“O software educacional é todo aquele que pode ser usado para algum objetivo educacional,
por docentes ou alunos, qualquer que seja a natureza ou finalidade para a qual tenha sido
criado” (GARCIA, 2001, p. 18 apud ATHAYDE, 2003, p. 15).
3
Processos podem ser divididos em subprocessos de determinação de requisitos, análise,
desenho, implementação e testes (PAULA FILHO, 2003). Interessa-nos, nesse momento,
apenas o subprocesso de determinação de requisitos.
11
levantamento de requisitos do software. Os resultados da análise apresentados
nesta dissertação configuram também um importante documento referencial
para a fase de levantamento de requisitos, que podem ser concebidos, por sua
vez, como o resultado de uma análise de produtos concorrentes. Ressaltamos
que esse tipo de análise é também bastante comum no processo de
desenvolvimento de softwares. Pádua (2005), por exemplo, disserta sobre a
importância da análise de produtos concorrentes para a engenharia de
usabilidade do software e explica que tal análise tem como objetivo observar os
pontos positivos e negativos de softwares congêneres, no que diz respeito à
usabilidade, com o intuito de implementar melhorias no novo produto,
exatamente em termos de usabilidade. Analogamente, os resultados de nossa
análise, poderão servir como fonte de consulta para desenvolvedores e
consultores que buscam melhorias no aspecto pedagógico do software que
estiverem desenvolvendo.
Segundo Paula Filho (2003), requisitos são características, funções,
restrições, ou outras propriedades que precisam ser fornecidas, atendidas ou
encontradas no software para que as necessidades do usuário sejam
satisfeitas (FIORINI et al.
4
1999 apud MALHEIROS JÚNIOR, [s.d.]). Os
requisitos, portanto, são características que definem os critérios de aceitação
do produto (PAULA FILHO, 2003).
No que diz respeito a softwares, os requisitos podem ser divididos em
requisitos funcionais e não-funcionais (PAULA FILHO 2003). Os requisitos, ou
características funcionais seriam as funções ou comportamentos que um
software deve ser capaz de executar (PAULA FILHO, 2003; MALHEIROS
JÚNIOR, [s.d.]). Os requisitos não-funcionais, segundo Paula Filho (2003), são
aqueles que quantificam determinados aspectos desse comportamento. Os
requisitos não-funcionais estão relacionados com as características de
qualidade, como confiabilidade, usabilidade, eficiência, manutenibilidade e
portabilidade (ISO 9126). A partir dessa concepção de requisito, consideramos
nossa lista de checagem como uma possível fonte de requisitos para o
desenvolvimento de S.E.D.E.L.E, mais especificadamente, consideramos a
4
FIORINI, Soeli T et al. Engenharia de Software com CMM. 1.ed. Rio de Janeiro: Brasport, 1998 .
12
mesma uma fonte de requisitos especializada no apoio ao desenvolvimento do
aspecto relativo à compreensão oral (CO) do software.
O levantamento de requisitos é uma etapa fundamental do processo de
desenvolvimento de um software. É nessa etapa que o desenvolvedor busca
compreender quais as necessidades que o software deverá contemplar. Nesse
momento é imprescindível entender bem o negócio cujas atividades o
programa vai automatizar. Acreditamos que quanto mais informações a equipe
de desenvolvimento tiver a respeito do negócio, mais oportunidades essa
equipe terá de fazer um levantamento de requisitos eficiente, ou seja, que
corresponda às necessidades do cliente.
5
Na etapa de levantamento de requisitos, os desenvolvedores podem
contar com o auxílio de consultores especialistas no domínio do negócio que o
software irá informatizar. Ao desenvolver um programa para atender a um
escritório de contabilidade, por exemplo, o desenvolvedor poderá ter a
colaboração de um contador para auxiliá-lo no levantamento das necessidades
e características do negócio de contabilidade. Da mesma forma, um lingüista
poderá auxiliar no levantamento de requisitos para um programa especializado
no ensino de línguas.
Como acenado anteriormente, é também comum a utilização de
documentos como fonte de levantamento de requisitos. Documentos que
prescrevem um formato padrão para impressão de relatórios ou notas fiscais
de uma empresa, por exemplo, deverão ser considerados no momento de se
levantar requisitos de um software para esta empresa. Nesse caso, as regras
descritas nesses documentos serão os próprios requisitos para o sistema em
desenvolvimento.
A partir dessa visão geral sobre a tarefa de levantamento de requisitos,
podemos discutir de que maneira diretrizes de cunho pedagógico (como a lista
de checagem que apresentamos) poderão ser utilizadas na tentativa de
identificar requisitos ligados ao aspecto pedagógico do software e,
conseqüentemente, na tentativa de conferir qualidade pedagógica a esse
produto. Essa utilização pode ser vista pelo prisma de vários atores envolvidos
5
Vale ressaltar que o nosso negócio é o ensino de línguas estrangeiras e que consideramos
clientes, aqui, aqueles cuja necessidade é a de desenvolver softwares para o ensino de línguas
estrangeiras visando a comunicação
13
no processo. Interessa-nos, nesse momento, considerar apenas dois deles: o
consultor (lingüista aplicado) e o desenvolvedor (leigo na área de ensino de
línguas).
O lingüista aplicado, ao auxiliar no levantamento de requisitos, poderá
lançar mão de diretrizes pedagógicas como uma forma de guiar o seu trabalho,
ou até mesmo seus estudos para a consultoria que irá fornecer. O
desenvolvedor, por sua vez, terá a sua disposição um documento introdutório a
respeito do negócio de ensino de línguas. Esse documento lhe poderá ser útil
pelo menos em dois aspectos: familiaridade com o negócio e previsão de
requisitos funcionais. Ora, por um lado o desenvolvedor poderá se familiarizar
com o assunto, tendo uma prévia dos requisitos pedagógicos com os quais irá
trabalhar. Por outro lado, a partir da lista, ele poderá detectar também a
necessidade de requisitos funcionais. Ele poderá, por exemplo, observar a
importância da utilização de multimedia, ou seja, o seu papel central nesse tipo
de atividade, e, a partir daí, estabelecer valores ou requisitos funcionais ligados
a sua execução.
Em suma, consideramos nossos produtos de pesquisa como insumo
para o levantamento de requisitos pedagógicos durante o desenvolvimento de
S.E.D.E.L.E para a comunicação.
A presente dissertação está dividida em três capítulos. No primeiro
capítulo, discorremos sobre a natureza da CO, dificuldades na CO em língua
estrangeira, e também alguns aspectos relativos ao ensino de CO. Concluímos
que a CO é um processo ativo, complexo, de natureza interativa e construtiva.
Vimos que as dificuldades enfrentadas na tentativa de CO em língua
estrangeira podem ser de natureza variável e que estas não afetam todos os
aprendizes com a mesma intensidade, sendo papel do material didático –
assim como de todo o esforço pedagógico – auxiliar o aprendiz a tomar
consciência de suas próprias dificuldades e aprender a superá-las. Discutimos
o conceito de habilidade e apresentamos uma lista de micro-habilidades que,
segundo Brown (2001), são necessárias para o sucesso na CO Com base em
Coscarelli (2002), apud Souza (2005), vimos que habilidades são as demandas
físicas e cognitivas que uma atividade exige do indivíduo. Esse conceito está
relacionado ao saber “fazer algo”. Baseados em Underwood (1994),
discorremos sobre a organização da atividade de CO em pré-escuta, escuta e
14
pós-escuta. Além disso, de acordo com o pensamento de Brown (2001) e
Capra (2005), discutimos algumas características que, segundo os autores,
devem ser observadas na elaboração de atividades de CO Por fim, conforme
Leffa (2003) e Paiva (2005), debatemos sobre a importância do uso de
feedback e, sobretudo, do uso do feedback diversificado em materiais
informatizados, destinados ao ensino de línguas. Vimos que o feedback
diversificado é constituído por feedback do tipo genérico, situado e estratégico.
No segundo capítulo, falamos sobre nossa metodologia de pesquisa,
focalizando sobretudo na apresentação da nossa proposta de lista de
checagem.
Finalmente, no terceiro capítulo, apresentamos o nosso corpus e os
resultados de nossa avaliação sobre ele.
15
CAPÍTULO 1
Compreensão oral
1.1 A natureza da compreensão oral
Na presente seção, será discutida a noção de compreensão oral (CO)
que baliza tanto as análises quanto as propostas de materiais pedagógicos
apresentados nesta dissertação.
Acreditamos que só faz sentido pensar em CO, se a mesma for atrelada
a situações comunicativas. É importante salientar que a própria CO pode e
deve ser vista como elemento chave para que haja comunicação verbal. De
fato, não é possível ao ser humano interagir por meio oral se o mesmo não
tiver a capacidade de compreender o que está ouvindo. Essa habilidade é parte
integrante da oralidade (ROST, 1994).
Não se está ignorando, com isso, o fato de que a CO depende da
percepção material dos sons e do processamento cognitivo desse insumo
material (UNDERWOOD, 1994; ANDERSON e LYNCH, 1988; BROWN, 2001;
MATLIN, 2004). Nem tampouco se está restringindo a tarefa da CO ao canal
auditivo. A tentativa de comunicação falada se da também por expressões
faciais, movimentos do corpo e das mãos etc. (WIDDOWSON, 1991). Dessa
maneira, o canal visual aparece como um meio complementar da comunicação
oral e, portanto, da CO Faz-se, aqui, aceno à CO enquanto processo de
natureza multimodal, ou seja, que envolve mais de uma modalidade perceptual
(MESKIL, 1996).
A CO envolve processos sociais e cognitivos. Está ligada à forma com
que o ouvinte se relaciona com as pessoas e como ele organiza seu
conhecimento interno (ROST, 1994). Trata-se de um processo ativo (ROST,
1994; UNDERWOOD, 1994; ANDERSON e LYNCH, 1988; NOBLITT, [s.d.];
MESKILL, 1996; SADIGHI e ZARE, 2006; MATLIN, 2004), de natureza
interativa (BROWN, 2001) e interpretativa, em que o ouvinte constrói o
significado do texto oral com o qual está interagindo (UNDERWOOD, 1994;
ANDERSON e LYNCH, 1988; SADIGHI e ZARE, 2006; MATLIN, 2004).
16
Para Anderson e Lynch (1998), a compreensão de um texto oral consiste
na “interpretação coerente”, ou construção de um modelo mental da mensagem
sonora ouvida. Os autores explicam que o ouvinte constrói a sua própria versão
do que ouviu, daí a utilização do termo “interpretação”. Essa interpretação tem
que ser coerente com o que ele acredita ter sido falado, com o que ele sabe
sobre o falante, sobre o contexto e sobre o mundo. Por isso a utilização do
termo “coerente”. Underwood (1994), em consonância com Anderson e Lynch
(1998), ressalta que o significado construído pelo ouvinte pode ou não
corresponder ao significado pretendido pelo falante. Essa constatação justifica
a natureza interpretativa atribuída à CO
A construção do sentido, por parte do ouvinte, se da a partir de
processos cognitivos denominados interativos, ou seja, que associam a
atuação de processamentos ascendentes (bottom-up) e descendentes (top-
down) (KLEIMAN, 2002 apud EIRAS, 2004; MATLIN, 2004). Dessa forma, para
obter sucesso na construção do sentido dos textos orais com os quais interage,
o ouvinte combinará informações, ou pistas extraídas do texto-alvo com o seu
conhecimento de mundo, suas experiências prévias e com o contexto
(UNDERWOOD, 1994; ANDERSON e LYNCH, 1988; MATLIN, 2004).
Underwood (1994) enfatiza que o ouvinte somente conseguirá construir
significado se conseguir contextualizar o que está ouvindo. Baseando-se em
Widdowson (1983), a autora explica ainda que o conhecimento de mundo –
conhecimento prévio, ou anterior – utilizado na construção do significado por
parte do ouvinte constitui-se do conhecimento sistêmico e do conhecimento
esquemático. O conhecimento sistêmico, ou lingüístico, consiste nos
conhecimentos semânticos, sintáticos e fonológicos do sistema lingüístico. O
conhecimento esquemático, ou não-lingüístico, por sua vez, constitui-se do
conhecimento anterior – que seria um conhecimento de tipo factual e
sociocultural – e do conhecimento procedimental – ou seja, o conhecimento de
como a língua é utilizada no discurso.
Sadighi e Zare (2006) também fazem referência ao papel fundamental
da schemata no processamento de linguagem. Eles lembram que pesquisas
em leitura sustentam a idéia de que a ativação de conhecimento prévio e sua
posterior aplicação ao novo insumo facilita sensivelmente o seu processamento
e compreensão (CHRISTEN e MURPHY, 1991; GRAVES e COOK, 1980;
17
HAYES e TIERNEY, 1982; STEVENS, 1982 apud SADIGHI e ZARE, 2006). Os
autores não hesitam em dizer que “a ativação do conhecimento sobre o mundo
claramente apóia o processamento de língua falada” (SADIGHI e ZARE, 2006,
p. 112).
Matlin (2004) define os esquemas como o conhecimento generalizado
sobre uma situação ou evento e explica que eles têm a função de guiar o
indivíduo na compreensão de novos eventos, formando expectativas sobre o
que deveria ocorrer. Citando Markman (1999) e Shoben (1988), a autora
lembra que os esquemas são usados para explicar como as pessoas
processam situações e eventos complexos. A compreensão de linguagem oral
seria um exemplo de evento complexo. Nesse sentido, Brown e Yule (1983),
concordando com Matlin (2004), definem schemata como “o conhecimento
anterior organizado que nos leva a esperar ou predizer aspectos de nossa
interpretação do discurso” (BROWN e YULE, 1983 apud SADIGHI e ZARE,
2006, p. 112). Para eles o conhecimento do ouvinte predispõe a construção de
expectativas em termos de sete áreas: o falante, o ouvinte, o lugar, o tempo, o
gênero, o tópico e o co-texto. Para relacionar as informações novas e os seus
conhecimentos prévios, os ouvintes se utilizam de dois princípios: o princípio
da analogia – as coisas serão como elas eram antes – e o princípio da
mudança mínima – as coisas são o máximo possível como elas eram antes
(BROWN e YULE, 1983 apud SADIGHI e ZARE, 2006).
Dessa forma, além de se coadunar com a idéia da construção do
significado pelo ouvinte, tentando explicar como ele se beneficia de seus
conhecimentos prévios durante essa tarefa, acreditamos que os conceitos de
Brown e Yule (1983) também podem ser utilizados para explicar como o
ouvinte supera alguns problemas, ligados à compreensão, que poderiam ser
causados devido à natureza incompleta do discurso oral em contextos de
interação face a face. Um bom exemplo seria a utilização da schemata como
base de inferência para cobrir falhas ou buracos (sons, palavras ou frases não
escutadas) no discurso do falante, causados por ruídos de fundo, por exemplo,
os quais poderiam ser causa de não compreensão, se o ouvinte não pudesse
lançar mão desse recurso. Sabe-se que o discurso oral é caracterizado por
falsos começos, palavras reduzidas, sotaques diferentes etc. Mais uma vez os
conhecimentos prévios do ouvinte – dentre outros elementos – podem servir
18
como base para que ele construa as inferências necessárias para construir um
significado plausível, superando suas vacilações. Nesse sentido, Nobblit
([s.d.]), referindo-se ao aspecto sonoro da linguagem, lembra que “longe de ser
uma habilidade passiva, a compreensão oral requer a criação ativa de
mensagens (entenda-se: significado) plausíveis a partir, às vezes, de insumo
acusticamente incompleto” (NOBBLIT, [s.d.], p. 2). O autor atribui a
possibilidade de lidar com esse tipo de problema ao contexto do evento de fala,
ao conhecimento compartilhado pelos falantes nativos e à capacidade do ser
humano em realizar o que ele, baseado em Clark e Clark (1977), chama de
“análise pela síntese”. Segundo Nobblit ([s.d.]) “termo se refere à estratégia de
geração interna ou ‘sombreamento’ do que as pessoas dizem – ou fazem”
(NOBBLIT, [s.d.], p. 2). Dessa forma –- explica o autor – o ser humano
consegue facilmente predizer o próximo passo ou ao menos reduzir as
possibilidades a serem consideradas.
A interatividade característica à CO é atribuída por Brown (2001) a dois
momentos do processo. O primeiro seria a interação entre ouvinte e falante, em
situações de interação face a face. O segundo seria a interação entre o cérebro
e os sinais nervosos que chegam até ele carregando as informações sonoras
captadas pelo ouvido. Ao chegar ao cérebro, os sinais seriam tratados através
de interações com diferentes mecanismos cognitivos e afetivos. Essa interação
cérebro/impulsos nervosos, que nos parece conotar também a natureza ativa
do processo de compreensão oral, pode ser melhor compreendida face aos
processamentos que, segundo Brown (2001), estariam envolvidos na
compreensão de textos orais. A primeira fase do processo, segundo o autor, é
de natureza psicomotora. Ela consiste na transformação das ondas sonoras
que chegam aos ouvidos em impulsos nervosos. Esses por sua vez, são
transmitidos ao cérebro. Brown (2001), baseando-se em Clark e Clark (1977) e
Richards (1983), estabelece uma série de processamentos (Quadro 1) que,
segundo ele, estão envolvidos no processo de compreensão oral. Vale
ressaltar que, ainda segundo Brown (2001), exceto para o primeiro e o último
processamentos citados, não há uma seqüência. Eles ocorrem
simultaneamente ou sucessivamente em grande velocidade. Em termos
neurológicos o tempo deve ser dimensionado em termos de microssegundos.
19
QUADRO 1
Processos envolvidos na CO
1) O ouvinte processa o “discurso bruto” e mantém uma imagem dele na memória
de curto prazo. Essas imagens consistem em: frases, orações, sentenças,
marcadores coesivos, entonação, padrões de acento.
2) O ouvinte determina o tipo de evento de fala que esta sendo processado (uma
conversa, um discurso, uma propaganda de rádio etc.) e então “colore”
apropriadamente a interpretação da mensagem percebida.
3) O ouvinte infere os objetivos do falante considerando o tipo de evento de fala, o
contexto e o conteúdo. Ele determina, por exemplo, se o falante tem a intenção
de persuadir, pedir, afirmar, negar, informar e assim por diante. Ou seja, a
função da mensagem é inferida.
4) O ouvinte acessa seus conhecimentos prévios (schemata) relevantes para um
determinado contexto ou assunto. Uma grande quantidade de experiências e
conhecimentos são utilizados para fazer associações cognitivas com o intuito
de dar uma interpretação plausível para a mensagem.
5) O ouvinte atribui um sentido literal para a sentença. Essa atribuição envolve um
conjunto de interpretações semânticas das strings superficiais que o ouvido
percebeu.
6) O ouvinte atribui um sentido conotativo para a sentença.
7) O ouvinte determina se a informação deve ser retida na memória de longo ou
curto prazo
Fonte: Brown (2001), adaptado.
Widdowson (1991) aprofunda-se na questão da compreensão oral
baseando-se na distinção entre forma e uso (comunicativo) da linguagem. Em
situações de interação face a face, a compreensão oral é identificada como o
ato de ouvir, em detrimento de escutar, e configura-se como o aspecto
receptivo da ação de conversar.
A oposição entre forma e uso (comunicativo) da linguagem define a
oposição entre fala e conversa, respectivamente. O autor define fala como “a
manifestação da linguagem enquanto sistemas de formas”; e a conversa como
“a realização da linguagem enquanto uso na interação falada” (WIDDOWSON,
1991, p. 86). Dessa maneira, para que uma interação seja considerada uma
20
conversa, os participantes devem lidar com a sua dimensão comunicativa. Um
dos elementos definidores dessa dimensão seria, exatamente, o foco na
identificação e produção de frases considerando-se, mais do que sua forma, a
sua força comunicativa. Isso implica, por exemplo, a capacidade de inserir uma
frase de maneira que sua força comunicativa seja coesa e coerente com o
discurso que está sendo realizado naquele momento.
A conversa é uma ação ao mesmo tempo produtiva e receptiva que se
dá através do meio auditivo e visual. O ato de dizer é o aspecto produtivo da
conversa e o ato de ouvir, como dito anteriormente, constitui o seu aspecto
receptivo.
É importante ressaltar a utilização do meio visual como uma fonte
importante de informações que ajudarão o participante da interação a construir
sentido. Como dito anteriormente, gestos, expressões, movimentos do corpo
são utilizados, juntamente com a fala, na tentativa de se dizer algo. Daí se
considerar tanto o meio auditivo quanto o meio visual como canais para a
realização da conversa. De maneira complementar, é válido lembrar que
também a CO (ouvir) depende não exclusivamente do canal auditivo, mas
também está associada ao canal visual.
Ouvir significa, em ultima instância, reconhecer a função comunicativa,
ou seja, a força comunicativa que cada frase assume em um dado discurso.
Dizer significa produzir frases em meio a um discurso, considerando-se essa
mesma força comunicativa.
Enquanto ouvir e dizer estão associados ao uso comunicativo, falar e
escutar se relacionam com a produção material da linguagem. Falar está
estritamente ligado ao meio auditivo; significa produzir frases sem que se
considere sua força comunicativa. Escutar é a “atividade de reconhecer que
sinais enviados pelo meio auditivo constituem frases que têm uma dada
significação” (WIDDOWSON, 1991, p. 87). Falar e escutar são atividades
distintas e independentes, enquanto dizer e ouvir são aspectos de uma única
atividade (a de conversar). Dizer implica necessariamente falar. Ouvir implica
necessariamente escutar. O contrário não é verdade. Ora, para que a intenção
comunicativa seja identificada pelo participante de uma interação, é necessário
que esse participante reconheça a materialidade da língua. A dimensão
comunicativa da língua depende dessa materialidade.
21
A CO não se resume, portanto, a um mero exercício de decodificação da
língua enquanto código (SADIGHI e ZARE, 2006). Não se trata de um exercício
de identificação plena de cada som e significado de cada palavra, fonema, ou
outra unidade constituinte do texto alvo.
Anderson e Lynch (1988) apresentam um contra-exemplo bastante
elucidativo a respeito da natureza da CO Trata-se de uma concepção em que o
ouvinte seria comparado a um gravador. Essa analogia sugere que se o
insumo for suficientemente alto para ser gravado e não exceder a capacidade
disponível da fita, a mensagem será gravada e armazenada, e poderá ser
acessada novamente mais tarde. Ela está, portanto, mais associada à
habilidade de recall do ouvinte. Ou seja, de ele se lembrar do que ouviu,
palavra por palavra.
O paradigma do ouvinte como gravador, segundo ainda Anderson e
Lynch (1988), poderia explicar as diferentes maneiras com que os ouvintes se
comportam e tratam as mensagens ouvidas, da seguinte forma:
1. Falha na compreensão de mensagens longas: poderia ser explicada
pelo fato do gravador mental não ter espaço suficiente para fazer a
gravação;
2. Perda ou distorção da mensagem: em condições não ideais de escuta, o
gravador mental poderia não ter sido capaz de fazer gravações claras;
3. A fita – conseqüentemente a mensagem – poderia se deteriorar após um
longo período entre a gravação e o acesso à mesma;
4. Diferenças individuais entre ouvintes: ouvinte estrangeiro poderia ser
considerado como um gravador de baixa qualidade, o qual funcionaria
bem somente sob condições ideais de escuta/gravação – mesmo assim
a gravação seria distorcida na execução. O oposto seria o ouvinte nativo
adulto.
A analogia com o gravador, porém, não explica todas as características
relevantes da compreensão, como discutido anteriormente na presente seção.
Anderson e Lynch (1988) lembram que compreender não implica
necessariamente em se lembrar do que foi dito. Pode-se lembrar da mensagem
inteira, sem tê-la compreendido. Da mesma forma, pode-se entender uma
22
mensagem oral e não se lembrar exatamente de como ele foi dita. Mesmo em
língua materna.
O fato de um estrangeiro, por exemplo, conseguir montar uma tomada
em um sistema inglês a partir de instruções orais comprova que ele entendeu
tais instruções. A sua habilidade de recontar as instruções, por outro lado, não
comprova a sua compreensão. A diferença entre uso de uma informação
compreendida e da repetição está no fato de que, para usar uma informação,
“o ouvinte normalmente tem que interpretar o que foi dito e relacionar isso com
o ambiente não lingüístico” (ANDERSON e LYNCH, 1988, p.10). Isso envolve
algum tipo de processamento ativo do insumo. O fato de repetir o que foi dito
não envolve tal tipo de processamento. Os autores lembram que mesmo
situações de CO que requerem recall normalmente envolvem algum tipo de
processamento do insumo.
Acreditamos ter apresentado, nesta seção, uma discussão
suficientemente clara sobre a natureza da CO que justifique a necessidade de
se pensar em práticas pedagógicas que a pressuponham como um processo
complexo (MESKILL, 1996) e central na comunicação oral.
1.2 Dificuldades na CO em língua estrangeira
Nesta seção serão apresentados e discutidos alguns problemas, ou
dificuldades, que os aprendizes podem enfrentar ao enveredarem na tentativa
de uma CO em língua estrangeira. Apesar de serem muitos e de variada
natureza, esses problemas não afetam a todos os aprendizes com a mesma
intensidade (UNDERWOOD, 1994). De fato, alguns aspectos da CO são mais
fáceis para um aprendiz estrangeiro do que outros (UR, 1994). Sabe-se, por
exemplo, que estudantes cuja formação foi marcada por uma intensa tradição
oral – como a presença maciça de contação de estórias e comunicação oral –
têm mais facilidade na tarefa de CO do que aprendizes cuja formação foi
baseada em elementos de cultura escrita (UNDERWOOD, 1994). Aprendizes
cuja língua nativa apresenta ritmos e entonações semelhantes às da língua
alvo também tendem a ter mais facilidade para compreendê-la (UNDERWOOD,
1994).
23
O reconhecimento das dificuldades enfrentadas pelos aprendizes
durante a tentativa de CO em língua estrangeira deverá ser levado em conta na
preparação das aulas e na produção de material didático, no intuito de utilizá-
los para que o aprendiz possa desenvolver essa habilidade (HASAN, 2000).
Hasan (2000) ressalta a importância da tomada de consciência, por
parte do aprendiz, no que diz respeito aos seus problemas (dificuldades)
perante a tentativa de CO, suas estratégias para abordar uma tarefa de CO (ou
o próprio texto oral) – e suas atitudes. O autor defende a idéia de que quando
os aprendizes têm consciência desses três aspectos, eles podem melhorar sua
prática de CO e, dessa maneira, tornarem-se melhores ouvintes. Underwood
(1994) compartilha desse ponto de vista ao dizer que, mesmo não tendo
acesso ao que acontece precisamente no cérebro dos aprendizes durante o
processo de compreensão oral, é possível oferecer oportunidades para que os
estudantes considerem os problemas que eles encontram e para que sejam
apoiados em suas tentativas de solucioná-los. Segundo a autora, tal ação
provavelmente os tornará melhores ouvintes.
Concordamos que ao ter consciência das próprias dificuldades
enfrentadas durante a tentativa de compreensão oral, o aprendiz poderá, ele
próprio, ter condições de resolver tais problemas, lançando mão, por exemplo,
de estratégias eficientes e adequadas à dificuldade enfrentada – desde que
tenha também consciência de tais estratégias, ou seja, que saiba da sua
existência, de sua eficácia em determinadas situações, e que tenha o hábito de
utilizá-las. A esse respeito, Hasan (2000) lembra que o conhecimento de
estratégias pode afetar tanto positivamente quanto negativamente a tarefa de
CO No primeiro caso, ele faz referência ao uso de estratégias eficientes ao se
abordar um texto oral. No segundo caso, no entanto, o autor se refere ao uso
equivocado de estratégias ineficientes por parte do aprendiz, o qual o faz
acreditando estar utilizando uma estratégia eficiente. Ele cita como exemplo de
uma estratégia ineficiente a tentativa de construir a idéia principal do texto a
partir da busca da compreensão de cada palavra e cada detalhe do texto – o
que, realmente, não seria a estratégia mais eficiente frente ao objetivo. Para o
autor, portanto, cabe aos professores e aos materiais didáticos focalizar suas
ações no ensino de estratégias eficientes e buscar meios para ajudar o
aprendiz a perceber e a aprender a superar suas dificuldades.
24
Por concordar com Hasan (2000), tomamos as suas reflexões sobre o
papel do professor e do material didático como elementos que devem ser
observados ao avaliar o aspecto ligado ao ensino de CO em um software para
o ensino de línguas.
Seguindo Hasan (2000) e Underwood (1994), acreditamos que será um
dos papéis do material didático – e de todo esforço pedagógico – auxiliar o
aprendiz a se conscientizar de suas dificuldades e a aprender a superá-las.
Parece-nos ser bastante plausível sugerir que tal conscientização seja feita,
sobretudo, a partir da atuação de feedbacks estratégicos (LEFFA, 2003),
associados às tarefas. A função desses feedbacks seria, exatamente, a de
ajudar o aluno a ter consciência de suas dificuldades, bem como das
estratégias para superá-las, a partir do seu próprio comportamento como
aprendizes durante a resolução das atividades. Lembramos que regular a
apresentação desses tipos de feedbacks de acordo com as reações dos
aprendizes possibilitará um certo grau de individualização na atuação do
software, o que é extremamente importante, já que, como visto anteriormente,
as dificuldades podem variar de aprendiz para aprendiz. Vale ainda lembrar
que esse tipo de comportamento requer do software algum poder de análise, o
que aponta para a necessidade de torná-lo inteligente. Ou seja, de alguma
maneira, torná-lo capaz de interpretar os dados que recebe e, a partir de sua
análise, dar as respostas mais adequadas no intuito de conscientizar os alunos
de suas próprias dificuldades e de como superá-las. Acreditamos que não seja
trabalho exclusivo do feedback software-aluno ajudar o aprendiz a solucionar
suas dificuldades perante a CO Uma vez tendo consciência de suas
dificuldades, o aprendiz poderá aprender a solucioná-las através de várias
outras fontes, como por exemplo – concordando com Paiva (2003) – pelo
feedback de colegas ou de agentes que não estão necessariamente presentes
no ambiente de aprendizado.
As dificuldades enfrentadas por aprendizes estrangeiros durante a CO
podem advir de várias fontes. O Quadro 2 mostra uma variedade dessas
fontes, estabelecidas a partir do resultado de pesquisas feitas por alguns
autores. É possível observar, por exemplo, que as dificuldades enfrentadas
pelos aprendizes não se restringem a questões ligadas à complexidade da
língua alvo. Rubin (1994) e Yagang (1994), por exemplo, observam que as
25
dificuldades podem derivar de aspectos ligados aos ouvintes, ao interlocutor ou
ainda aos objetivos do ouvinte (a sua tarefa).
QUADRO 2
Diferentes fontes de problemas na CO em língua estrangeira
Yagang (1994) Higging (1995) Rubin (1994)
Ouvinte;
Falante;
Mensagem;
Configurações físicas.
Velocidade de fala;
Vocabulário;
Pronúncia.
Características:
do texto;
do interlocutor;
da tarefa;
do ouvinte;
do processo.
Fonte: Hasan (2000), adaptado.
Como visto na seção sobre a natureza da CO, o conhecimento da
materialidade da língua – seus sistemas fonológicos, fonético, morfológico,
sintáticos etc. – não garante o sucesso na CO e, conseqüentemente, na
comunicação oral. Dentre outras coisas, para que possa haver a possibilidade
de compreensão, é necessário que os indivíduos envolvidos compartilhem de
certas informações culturais (ANDERSON e LYNCH, 1988), tais como
conceitos, significados de expressões faciais, gestos etc. A falta desse
conhecimento, que pode ser organizado na mente do indivíduo em termos de
esquemas e scripts, conseqüentemente causará obstáculo para o sucesso da
compreensão. Ouvintes que não estão familiarizados com esses fatores, como
estrangeiros, por exemplo, podem ter grandes dificuldades de interpretação,
mesmo que entendam superficialmente o código (ANDERSON e LYNCH, 1988;
UNDERWOOD, 1994).
Underwood (1994) atesta alguns problemas ligados à estrutura da língua
alvo, bem como à gerência desse insumo por parte do aprendiz. Alguns desses
fatores seriam a falta de controle sobre a velocidade com que o interlocutor
fala, o vocabulário limitado do aprendiz e a impossibilidade de pedir para que o
interlocutor repita algo.
26
Segundo a autora, a falta de controle sobre a velocidade de fala do
interlocutor pode ser contrastada, exatamente, com a possibilidade desse
controle em situações de leitura. Ela explica que textos escritos permitem que o
leitor reveja as linhas anteriores, caso as mesmas tenham passado
despercebidas, podendo imprimir a velocidade de leitura que desejar. O
ouvinte, ao contrário, não pode controlar a velocidade com que o seu
interlocutor fala. Para o aprendiz, essa situação é bastante complicada, já que
ele pode ter, segundo ainda Underwood (1994), grandes dificuldades de
processar as informações com agilidade, principalmente no início do
aprendizado.
O vocabulário limitado do aprendiz pode se tornar um fator problemático
para a CO na medida em que, em uma situação de CO, a escolha desse
vocabulário está nas mãos do interlocutor. O ouvinte tem que se esforçar para
entender ou pode, em determinadas situações, pedir esclarecimentos, ou ainda
inferir o significado das palavras desconhecidas pelo contexto (UNDERWOOD,
1994). A autora aponta, ainda, um terceiro problema: esse ouvinte, no entanto,
nem sempre está em condições para pedir que o falante repita alguma
colocação – tanto por causa de problemas ligados ao vocabulário quanto à
velocidade de fala do interlocutor. Isso acontece, por exemplo, no calor de uma
conversa fora da sala de aula ou ao ouvir rádio ou ao assistir TV.
(UNDERWOOD, 1994). Lembramos que cabe então ao ouvinte lançar mão de
outras estratégias que poderiam auxiliá-lo a superar tais dificuldades.
Todas essas dificuldades ligadas à gerência do insumo por parte de um
ouvinte aprendiz estrangeiro no momento da CO podem causar uma outra
dificuldade: se o aprendiz se concentrar em uma dada unidade de sentido
perdida para tentar compreendê-la, seja por não conhecer o significado de uma
palavra, seja por não conseguir processá-la a tempo – ou por qualquer outro
motivo –, ele fatalmente não conseguirá acompanhar o interlocutor, pois
perderá as colocações seguintes. E se assim o fizer, ele falhará na
compreensão. A determinação de compreender o que está ouvindo, ao invés
de parar no primeiro problema e duelar com ele, é a saída para superar esse
problema e garantir a compreensão (UNDERWOOD, 1994). Para suprir esses
vazios de significado ou incompreensão e garantir a construção do significado
como um todo, o ouvinte poderá inferir o que foi perdido, lançando mão do
27
contexto, do seu conhecimento de mundo, do seu conhecimento sobre o
assunto ou sobre o interlocutor. Dependendo da situação de conversação, esse
ouvinte terá várias outras oportunidades para rever ou reavaliar o que foi
perdido. Isso acontece, por exemplo, em uma situação de conversação face a
face, já que o interlocutor provavelmente repetirá várias informações durante
sua fala e também já que, durante a conversação, as informações podem
ecoar, sendo repetidas por outros participantes da conversa (UNDERWOOD,
1994). Essa repetição de informações, palavras, idéias, ou seja, traços de
redundância (UR, 1994), é característica comum da linguagem oral informal
face a face.
Acredita-se que essa tendência de parar no primeiro problema e,
conseqüentemente, interromper a compreensão, freqüentemente aconteça com
aprendizes cujo processo de aprendizado dava mais importância à acurácia e à
gerência de formas e estruturas em detrimento da fluência e uso da língua
(UNDERWOOD, 1994). Essa questão deflagra uma outra dificuldade apontada
pela autora: a dificuldade dos aprendizes em lidar com a CO devido ao
estabelecimento prévio de seus hábitos de aprendizado.
Outros problemas que os aprendizes podem enfrentar durante a CO
seriam a falha no reconhecimento de sinais, a inabilidade de concentração e o
medo de se arriscar (UNDERWOOD, 1994).
Durante a realização de um discurso, há muitas formas através das
quais o interlocutor pode indicar que está repetindo um tópico, dando um
exemplo ou mudando de assunto. Ele pode fazer isso utilizando, por exemplo,
conectivos; marcadores de discurso; pausas; gestos ou até mesmo mudanças
de tom de fala (UNDERWOOD, 1994). A identificação desses sinais por parte
do ouvinte é de grande valia para que o mesmo tenha sucesso na
compreensão. Para um aprendiz de uma língua estrangeira, no entanto, uma
dificuldade se apresenta, já que esses sinais não são imediatamente evidentes
para ele, além de poderem ser facilmente esquecidos. Os aprendizes, então,
têm que aprender a ouvir e ver (se o falante é visível) os sinais do interlocutor
de modo a poderem conectar o discurso e, a partir daí, construir sentido
(UNDERWOOD, 1994).
A concentração é também um fator importante para o sucesso da
compreensão (ROST, 1994). Um pequeno lapso de atenção pode comprometer
28
seriamente essa tarefa. Textos cujo assunto é de interesse do ouvinte podem
incentivar a sua concentração (HASAN, 2000; UNDERWOOD, 1994) Porém,
mesmo com um tópico interessante, a tentativa de CO pode se tornar cansativa
se o ouvinte tentar compreender palavra por palavra do texto. Esse cansaço
pode causar um lapso de atenção (UNDERWOOD, 1994).
Segundo Underwood (1994), o sucesso na CO fora de sala de aula
exige que o ouvinte aprenda a se arriscar e que não se desanime ou se
assuste mediante alguma falha na compreensão. A autora lembra que apesar
de ser importante, essa atitude pode ser difícil para alguns aprendizes,
principalmente aqueles cujo hábito de estudo não permitia lidar com esse tipo
de indefinição.
Tradicionalmente, professores acostumaram a fazer com que seus
alunos entendessem cada parte de sua lição, falando mais lentamente,
repetindo palavras etc. (UNDERWOOD, 1994). Por isso, lembra a autora, os
aprendizes submetidos a esse tipo de processo de aprendizado ficam
assustados quando falham em compreender uma frase ou palavra particular
durante a CO Esse gênero de insucesso pode desencorajá-los
(UNDERWOOD, 1994). Somente encorajando os aprendizes a superarem as
barreiras e a se arriscarem é que eles poderão ser preparados para lidar com a
CO fora de sala de aula.
Nosso objetivo nesta seção foi o de discutir sobre as dificuldades
enfrentadas pelos aprendizes estrangeiros durante a tentativa de CO da língua
alvo, bem como acenar para algumas implicações dessa questão na
elaboração de material didático. Esperamos ter mostrado com clareza que tais
dificuldades são de natureza variável e que não afetam a todos os aprendizes
com a mesma intensidade. Discutimos que cabe ao material didático, assim
como a todo o esforço pedagógico, auxiliar o aprendiz a tomar consciência de
suas próprias dificuldades e a aprender a superá-las. Esse raciocínio foi
considerado durante a elaboração da lista de checagem utilizada na pesquisa
que originou a presente dissertação. A lista apresenta itens que se propõem
exatamente a checar se os softwares de seu corpus, de alguma maneira, estão
cumprindo esse papel.
29
1.3 Habilidades
Esta seção tem como objetivo apresentar e discutir o conceito de
habilidade utilizado em nossa pesquisa, bem como apresentar algumas micro-
habilidades que, em consonância com Brown (2001), acreditamos serem
necessárias para que um ouvinte consiga compreender textos orais.
O conceito de habilidade, de uma maneira geral, está relacionado ao
saber “fazer algo”. Seriam as demandas físicas ou cognitivas que uma
atividade exige do indivíduo (COSCARELLI, 2002 apud SOUZA, 2005). Dessa
forma, para conseguir ler um livro, por exemplo, o leitor precisa saber
manusear o livro, ser capaz de reconhecer os vocábulos e com eles construir
estruturas sintáticas, construir sentidos prováveis, perceber o tema central ou
enredo do que está lendo, fazer inferências de diversos tipos etc.
(COSCARELLI, 2002 apud SOUZA, 2005). Da mesma maneira, o ouvinte
também precisará apresentar certas habilidades para conseguir compreender
textos orais.
Brown (2001) apresenta uma lista (Quadro 3) de micro-habilidades –
adaptada de Richards (1983) e outras fontes – que o ouvinte deve apresentar
para que possa compreender textos orais. Essas 17 micro-habilidades são
aplicadas a situações de interação face a face. O autor comenta que formas
menos interativas como a escuta de monólogos – palestras acadêmicas, por
exemplo – devem incluir também outras habilidades específicas.
Ainda segundo Brown (2001), essa lista: 1) dá uma idéia do que as
técnicas de ensino empregadas (em uma aula, por exemplo) devem cobrir no
domínio da CO; 2) ajuda a focalizar objetivos claramente conceitualizados
durante o planejamento de uma técnica específica ou módulo dedicado à CO;
3) pode se tornar critério de avaliação para testes de CO
Para a presente pesquisa, expandimos essa utilização apontada por
Brown (2001) e tomamos a lista como uma das referências para avaliação das
técnicas informatizadas em softwares dedicado ao ensino de italiano como
língua estrangeira. Dessa maneira, inserimos alguns de seus itens na lista de
checagem proposta para avaliação de nosso corpus.
Como dito anteriormente, espera-se que um software de auto-
aprendizado de idiomas, que tenha como objetivo o ensino de uma língua
30
estrangeira, contemplando as quatro habilidades básicas, forneça subsídios
suficientes para que o aprendiz desenvolva tais habilidades. Espera-se ainda
que esse software dê subsídios para que o aprendiz consiga desenvolver a
competência necessária para se inserir em uma interação oral face a
face/conversa nessa língua. Um desses recursos seria, exatamente, a
oportunidade de desenvolver as micro-habilidades, que segundo Brown (2001),
são necessárias para compreensão oral.
QUADRO 3
Micro-habilidades necessárias para a compreensão oral
1) Reter unidades de diferentes extensões na memória de curta-duração
2) Discriminar os sons da língua alvo;
3) Reconhecer os padrões de acento; palavras em posição acentuada e não
acentuada; estrutura rítmica; contornos intonacionais; e os seus papéis na
veiculação da informação;
4) Reconhecer formas reduzidas de palavras;
5) Distinguir fronteiras de palavras, reconhecer o núcleo das palavras e
interpretar padrões de ordem de palavras e os seus significados;
6) Processar falas em diferentes velocidades;
7) Processar discursos que apresentam pausas, erros, correções e outras
variáveis de performance;
8) Reconhecer classes gramaticais de palavras (substantivos, verbos etc.),
sistemas (tempos, concordâncias, pluralização etc.), padrões, regras e formas
elípticas;
9) Detectar constituintes da frase e distinguir entre constituintes principais e
secundários;
10) Reconhecer que um sentido particular pode ser expresso através de formas
gramaticais diferentes;
11) Reconhecer dispositivos coesivos do discurso falado;
12) Reconhecer as funções comunicativas de sentenças, de acordo com
situações, participantes e objetivos;
13) Inferir situações, participantes e objetivos usando conhecimento do mundo
real – ou seja, inferir informações pragmáticas;
14) (...) inferir conexões entre eventos, deduzir causas e efeitos, e detectar
31
algumas relações como a idéia principal, informação nova e informação dada,
generalização e exemplificação;
15) Distinguir entre sentido literal e implícito;
16) Usar linguagem facial, cinestésica e corporal e outros elementos não verbais
para decifrar sentido;
17) Desenvolver e usar uma série de estratégias de compreensão oral, tais
como: detectar palavras-chave, adivinhar o significado de palavras pelo
contexto, pedir ajuda e indicar sucesso ou insucesso na compreensão.
Fonte: Brown (2001. p. 256).
1.4 Ensino de compreensão oral
Esta seção, juntamente com as seções 1.5 e 1.6, tem como objetivo
discutir aspectos ligados a técnicas de ensino de CO Acreditamos que o
conhecimento e as reflexões sobre as características dessas técnicas, ou seja,
sobre quais qualidades devem apresentar as atividades de CO, são de crucial
importância na tentativa de compreender esse construto, seja com o intuito de
avaliá-lo (como é o foco desta pesquisa), seja com o intuito de produzi-lo.
Trata-se, portanto, de reflexões sobre como as atividades devem ser
formatadas, ou caracterizadas, visando ampliar ou aprimorar seu potencial
pedagógico. Em suma, acreditamos que o conhecimento desses aspectos
servirão como instrumental para abordar o objeto de estudos desta pesquisa:
atividades de CO
Na próxima seção, comentaremos o framework proposto por Underwood
(1994), que organiza uma atividade de compreensão oral em três etapas (a
saber, pré-escuta, escuta e pós-escuta). Antes, porém, servirá como introdução
a observação de algumas características gerais que, segundo Capra (2005) e
Brown (2001), devem ser observadas na elaboração de atividades de CO
Acreditamos que tais aspectos devam ser preservados em atividades de CO
automatizadas em softwares para o ensino de línguas.
As características que Capra (2005) considera positivas em atividades
de CO consonantes com a abordagem comunicativa são apresentadas no
Quadro 4 . No Quadro 5, são abordados os seis princípios propostos em Brown
(2001). Segundo o autor, esses princípios são resultado de anos de pesquisa e
prática de ensino de CO
32
Na seção 1.6, por fim, ampliaremos o foco da discussão sobre o ensino
da CO Discorreremos sobre o conceito de feedback adotado nesta pesquisa.
Consideramos essa discussão necessária, já que se trata de um recurso
fundamental para o ensino dessa habilidade, sendo, portanto, imprescindível o
seu conhecimento para o desenvolvimento de atividades informatizadas para o
ensino de CO
33
QUADRO 4
Características positivas de uma atividade de CO
1) Favorecer o self-acces, portanto:
a) Estimular o interesse;
b) Fornecer suporte e guia;
c) Favorecer a sintonia inicial com introduções apropriadas, em papel ou
áudio; d) Fornecer explicações ou ilustrações de vocábulos ou expressões
pouco usuais;
e) Utilizar instruções que sejam simples, claras e precisas;
f) Ser subdividido em módulos gerenciáveis pelo aprendiz, seja com relação
ao tempo, seja com relação à complexidade;
2) Concentrar as atenções no uso de uma estrutura lingüística enquanto função
comunicativa e não em sua aplicação gramatical (seguindo a distinção entre
use vs. usage propostas por Widdowson). Consequentemente:
a) Os aprendizes devem ouvir para identificar o significado, não escutar e
depois procurar o significado.
b) O próprio material deveria encorajar o estudante a usar a sua inteligência
para compreender (ouvir com a mente, e não apenas escutar com as
orelhas);
3) Ser adequado ao nível dos estudantes:
Regulando a dificuldade da tarefa pedida e a quantidade de ajuda fornecida,
ao invés de simplificar o material escutado.
4) Propor atividades as mais naturais possíveis (ex: escutar anúncios
ferroviários para anotar horários).
5) Ser intelectualmente estimulante:
a) Portanto, alcançar o conhecimento de mundo – a chamada “enciclopédia”
– o bom senso, os interesses e a fantasia dos estudantes.
6) Ser motivante:
a) Portanto, ressaltar as capacidades dos estudantes, e não os insucessos;
b) Oferecer redundância e repetições, em áudio ou em papel, e entre áudio e
papel, para tornar menos prováveis os insucessos.
Fonte: Capra (2005, p. 64).
34
QUADRO 5
Princípios para a elaboração de atividades de compreensão oral
Princípio Justificativa
1) Em um currículo interativo,
baseado nas 4 habilidades,
certifique-se de não estar
ignorando a importância de
técnicas para o desenvolvimento
específico da competência em CO
O insumo apresentado em sala de aula nem sempre vira
intake. Por isso, não basta apenas deixar que os aprendizes
entrem em contato com o insumo. São necessárias a criação
e a aplicação de técnicas efetivas de CO, a partir do estudo
atencioso dos princípios ligados à CO
2) Faça atividades que são
intrinsecamente motivantes.
Considere os interesses, objetivos, experiências e habilidades
dos aprendizes.
3) Utilize linguagem e contextos
autênticos.
Linguagem autêntica e tarefas que correspondem ao mundo
real possibilitam que o aluno veja a relevância das atividades
com relação a seus objetivos comunicativos posteriores, ou
seja, em situações reais. Além disso, os alunos se
interessarão mais pela atividade.
4) Considere cuidadosamente as
formas de respostas dos
aprendizes.
É importante construir atividades de modo que as respostas
dos alunos indiquem se a CO foi correta ou não. Não é
possível observar externamente a CO, por isso, somente a
partir das respostas/reações dos aprendizes será possível
inferir se houve ou não compreensão.
Lund (1990), citado em Brown (2001), apresenta nove formas
para tentar checar a compreensão dos aprendizes:
Fazendo: o ouvinte responde fisicamente a um comando;
Escolhendo: o ouvinte seleciona fotos, objetos ou textos;
Transferindo: o ouvinte faz um desenho do que ouviu;
Respondendo: o ouvinte responde questões sobre a
mensagem;
Condensando: o ouvinte resume ou toma nota de uma aula;
Estendendo: o aluno cria um fim para uma história;
Duplicando: o ouvinte traduz a mensagem para sua língua;
Modelando: o ouvinte faz um pedido em um restaurante, por
exemplo, após ter ouvido um modelo de pedido;
35
Conversando: o ouvinte se insere em uma conversação que
indica que a informação foi processada apropriadamente.
5) Estimule o desenvolvimento de
estratégias de CO
Muitos estudantes simplesmente não têm consciência sobre
como compreender textos orais. Portanto, deve-se equipar os
alunos com estratégias de CO que vão além da sala de aula.
Brown (2001) sugere as seguintes estratégias:
Procurar por palavras-chave;
Procurar por dicas não verbais;
Predizer os propósitos do falante pelo contexto e pelo
discurso falado;
Associar informações com estruturas cognitivas já existentes;
Inferir significado;
Pedir esclarecimentos;
Ouvir para estabelecer o sentido geral do texto.
6) Inclua atividades ascendentes e
descendentes
É importante que os aprendizes operem nas duas direções, já
que ambos os processamentos fazer parte do processo de
CO, e já que ambos podem oferecer elementos para a
compreensão. Atividades ascendentes tipicamente trabalham
com sons, palavras, entonação, estruturas gramaticais e
outros componentes da língua. Atividades descendentes são
mais relacionadas com a ativação de esquemas, com a
compreensão global e com a interpretação do texto.
1.5 Atividades de pré-escuta, escuta e pós-escuta
Underwood (1994) propõe que uma atividade de CO seja organizada em
3 estágios: a pré-escuta, a escuta e a pós-escuta. Para sugerir tal divisão, a
autora se baseia na noção de que a CO consiste em um processo complexo,
de natureza interativa e construtiva, conforme discutido na seção 1.1. Além
disso, ela parte da idéia de que uma atividade de CO deve oferecer ao aluno a
oportunidade para que ele utilize a sua habilidade natural de CO, ou seja, da
mesma maneira que ele deverá usar em situações reais. Capra (2005), ao
discutir esse mesmo framework, ressalta a contribuição fundamental de
36
Underwood para a evolução da didática da CO Em harmonia com Capra
(2005), concordamos com os pontos de vista da autora e, por isso, adotamos
esse framework como referência para a estruturação de atividades de CO
A etapa de pré-escuta, como o próprio nome indica, é composta por
atividade(s) executada(s) antes do contato com o texto oral alvo. Seu objetivo é
o de ativar ou fornecer conhecimentos sobre esse texto, antecipando
informações referentes ao tema, aos participantes, a aspectos culturais e,
também, antecipando vocabulário e elementos de sintaxe. Essa etapa tornará a
experiência de CO, proposta na atividade, mais próxima de uma experiência
real, na medida em que dará suporte para que o ouvinte consiga utilizar
habilidades que normalmente utiliza em situações de CO em sua língua
materna. Segundo a autora, muito raramente o ouvinte confronta um texto oral
sem ter expectativas sobre o que vai ouvir. Vale lembrar que tais expectativas
serão comparadas pelo ouvinte com as informações novas advindas do texto.
Essa estratégia o ajudará na tarefa de construir sentido a partir daquele texto.
A etapa da escuta contém atividades que serão desenvolvidas,
exatamente, durante a escuta do texto alvo. O seu objetivo é, mais uma vez, o
de ajudar o aprendiz não nativo a aprender a aplicar as habilidades utilizadas
na CO, ou seja, aquelas que ele já tem e usa quando ouve em língua materna.
A autora lembra que o intuito é o de guiar o aluno pelo texto, auxiliá-lo no
desenvolvimento de suas habilidades em construir sentido a partir da língua
falada, e não submetê-lo a testes de compreensão oral.
Em suas explicações sobre a etapa de escuta, Underwood (1994)
focaliza como habilidades necessárias para a CO —, e que, portanto, merecem
ser praticadas nas atividades feitas durante a escuta — apenas a predição
(micro), a comparação (de informação nova e expectativas) e a interpretação. A
autora explica que, durante a escuta do texto, o ouvinte, simultaneamente, faz
microprevisões – ou seja, prevê quais palavras ou idéias seguirão
imediatamente ao que acaba de ouvir –; faz comparações entre o que acaba
de ouvir e com o que havia previsto; e faz interpretações das informações
novas que está ouvindo, o que gera novas expectativas.
Acreditamos ser plausível agregar a essas habilidades as micro-
habilidades propostas por Brown (2001) (Quadro 3). Isso acarreta considerar
que as atividades de escuta deveriam oferecer, para o aprendiz, a
37
oportunidade de praticar, também, tais micro-habilidades e não somente
contemplar aquelas anunciadas em Underwood (1994). Essa será, justamente,
uma das qualidades observadas nas atividades que compõem o corpus desta
pesquisa.
Enfim, a etapa de pós-escuta é realizada depois das atividades feitas
durante a escuta. Seus objetivos são os de checar a compreensão dos
estudantes; levantar, repetir e explicar os pontos problemáticos do texto (ou
seja, que tenham prejudicado a compreensão dos aprendizes e que, por isso,
não tenham ficado claros para eles); dar aos aprendizes a oportunidade de
reverem o comportamento e as atitudes dos participantes do texto oral; além de
lhes dar a oportunidade de se colocarem em relação ao texto, ou seja, de
expressarem sua opinião.
Buscando uma melhor compreensão do perfil das atividades de cada
etapa, reunimos, no Quadro 6, algumas sugestões de atividades que, de
acordo com Underwood (1994), poderiam ser utilizadas nos estágios de pré-
escuta, escuta e pós-escuta.
QUADRO 6
Atividades de pré-escuta, escuta e pós-escuta
Pré-escuta Escuta Pós-escuta
Observar imagens;
Ler um texto introdutivo;
Ler perguntas de um
questionário (que serão
respondidas enquanto se
escuta o texto);
Levantar listas de itens,
pensamentos, idéias,
sugestões etc.;
Etiquetar desenhos
ou parágrafos com títulos ou
termos;
Completar um gráfico;
Formular previsões ou
hipóteses;
Introduzir ou checar itens em
imagens;
Identificar imagens;
Escolher as imagens que
indicam a seqüência certa de
uma história;
Colocar imagens em ordem;
Desenhar;
Cumprir ações;
Seguir ou traçar uma rota;
Completar gráficos, tabelas ou
formulários;
Marcar como verdadeiro ou
falso;
Role-play;
Trabalhos escritos:
resumos, respostas
escritas;
Preenchimento de
formulários;
Jigsaw;
A
tividades de
problem-solving e
decision-making;
Estabelecimento
do modo, atitude e
comportamento
dos interlocutores
do texto;
Identificação da
38
Prever a linguagem que será
ouvida no texto;
Debater informalmente em
grupo.
Dentre outras.
Etiquetar desenhos ou
parágrafos com títulos ou
termos;
Completar espaços;
Dentre outras
relação entre os
interlocutores do
texto;
Dentre outras.
Fonte: Underwood (1994), adaptado.
1.6 Feedbacks genérico, situado e estratégico
Nesta seção, será discutido o conceito de feedback adotado na presente
pesquisa. Serão também caracterizados alguns tipos de feedback referentes à
interação software-aprendiz.
Paiva (2003), a partir da análise de uma série de definições de feedback,
infere que o termo tem sido identificado tradicionalmente como resposta do
professor (tutor, computador) a um aprendiz motivada por alguma ação ligada à
aprendizagem deste (PAIVA, 2003) Referindo-se, porém, a contextos de
interação on-line, a autora sugere que o termo feedback seja definido como
uma
reação à presença ou ausência de alguma ação com o objetivo de
avaliar ou pedir avaliação sobre o desempenho no processo de
ensino-aprendizagem e de refletir sobre a interação de forma a
estimulá-la, controlá-la, ou avaliá-la (PAIVA, 2003).
Segundo ela, tal definição não inclui os termos aprendiz, aluno,
professor ou computador, pois o feedback pode ser também fornecido por um
colega ou por alguém que não esteja inserido no ambiente de aprendizado.
Concordamos com Paiva (2003) na medida em que considera não
somente a possibilidade de interação entre aprendiz e software, ou aprendiz e
professor, mas propõe uma definição que inclui também a interação entre
alunos. Tal posicionamento se dá por acreditarmos que um software de auto-
aprendizado de línguas não deva se limitar a oferecer interação aprendiz-
software, mas deva também disponibilizar ferramentas através das quais o
aluno poderá se comunicar com outros aprendizes autodidatas, que, por
ventura, estejam também utilizando o mesmo software.
39
Leffa (2003), em uma discussão sobre feedbacks automáticos – ou seja,
focalizando na interação software aprendiz – apresenta e comenta três tipos de
feedbacks cuja ação conjunta foi por ele chamada de feedback diversificado.
São eles: o feedback genérico, o situado e o estratégico.
O feedback genérico é o mais simples dos três, pois apenas avalia a
resposta do aluno e indica se está errada ou certa. “O aluno acertou, o sistema
escreve `muito bem´; o aluno errou, o sistema escreve `tente novamente´
(LEFFA, 2003, p. 37).
O feedback situado é “um comentário específico feito em cima de um
segmento que aparece na resposta do aluno, simulando, com mais riqueza, o
que pode acontecer numa interação face a face” (LEFFA, 2003, p. 37). Ainda
segundo o autor, esse feedback pode ser do tipo corretivo ou repetitivo. O
primeiro ocorre quando a resposta está errada e o segundo quando a resposta
está certa. O Quadro 7 apresenta um exemplo de uma ação do feedback
situado do tipo corretivo:
QUADRO 7
Exemplo de feedback situado do tipo corretivo
Sistema: De que trata o texto ao lado?
Aluno: Trata do capitalismo.
Sistema: Realmente o texto fala sobre o capitalismo, mas ainda está faltando alguma
coisa na sua resposta.
Fonte: LEFFA (2003. p. 37).
Enfim, o feedback estratégico não dá uma resposta ao aluno, mas indica
maneiras (estratégias) para que ele chegue à resposta correta. Segundo o
autor, o feedback estratégico pode ser dado ao aluno “não só no exato
momento em que ele demonstra necessidade de aplicar a estratégia, mas
também na quantidade exata” (LEFFA, 2003, p. 38), pois pode oferecer uma
sucessão de pistas até que o aluno chegue à resposta correta. Em último caso,
ainda segundo Leffa (2003), na falha de todas as alternativas, a resposta é
segmentada e mostrada ao aluno. O Quadro 8 apresenta um exemplo de
feedback estratégico.
40
QUADRO 8
Exemplo de feedback estratégico
Sistema: De que trata o texto ao lado?
Aluno: Trata do capitalismo.
Sistema: Realmente o texto fala sobre capitalismo, mas ainda está faltando alguma
coisa na sua resposta.
Aluno: É sobre o capitalismo selvagem.
Sistema: Não é bem isso ainda. Veja o que diz o primeiro parágrafo, pense um
pouco e tente novamente.
Fonte: Leffa (2003, p. 38).
41
CAPÍTULO 2
Metodologia de pesquisa
2.1 Metodologia
Em nossa pesquisa, identificamos, descrevemos e avaliamos as
técnicas relativas à compreensão oral, disponibilizadas nos softwares que
compõem o nosso corpus. Utilizamos como instrumento de avaliação uma lista
de checagem, de nossa autoria, cujos itens apontam para características que
consideramos essenciais em materiais informatizados que se preocupam com
o ensino de CO visando a comunicação. A lista de checagem será apresentada
na próxima seção.
2.2 Lista de checagem
Nesta seção, apresentamos nossa proposta de lista de checagem. A
lista está dividida em duas partes. A primeira parte (Parte A) é composta por
vinte e dois itens. Ela focaliza a qualidade do material dedicado a CO, como um
todo. A segunda parte (Parte B), por sua vez, é composta por onze itens. Seu
objetivo é avaliar atividades de CO que apresentam contextos típicos de
interação face a face.
A lista de checagem, composta pelas partes A e B (Quadro 9 e Quadro
10), é construída por itens relativos à C.O, os quais, do nosso ponto de vista,
devem ser contemplados em softwares que têm como objetivo o ensino de
línguas para a comunicação.
Gostaríamos de deixar claro que não pretendemos esgotar as
possibilidades de avaliação a respeito da CO Estamos cientes de que outros
aspectos poderiam ser incluídos. Decidimos inserir os aspectos que
consideramos essenciais para uma avaliação dessa natureza e assim o
fizemos com a pretensão de dar continuidade a esse trabalho em um futuro
bem próximo. Esperamos também que, a partir daqui, outros pesquisadores
42
possam repensar nossas escolhas e, quem sabe, propor novas perspectivas,
novos itens e novas organizações de itens.
QUADRO 9
Lista de checagem – Parte A
1. O material oferece atividades específicas de CO?
2. As atividades são estruturadas em pré-escuta, escuta e pós escuta?
3. Se presentes, as atividades de pré-escuta visam ativar esquemas e/ou
antecipar elementos do texto relacionados ao texto alvo (aspectos
culturais, tema, participantes, estruturas ou funções lingüísticas)?
4. Se presentes, as atividades de escuta visam guiar o aluno na
compreensão do texto, ao invés de testar a sua compreensão?
5. Se presentes, as atividades de pós-escuta visam checar a compreensão
dos estudantes, levantar, repetir e explicar os pontos problemáticos do
texto e/ou ampliar conhecimentos sobre elementos da língua alvo?
6. O material oferece atividades que tentam refletir objetivos de CO do mundo
real?
7. As atividades apresentam instruções simples, claras e precisas?
8. Qual tipo de feedback automático as atividades fornecem durante a
atividade de CO (genérico, situado, estratégico)?
9. O material apresenta atividades que trabalham estratégias de CO?
10. O material apresenta atividades que informam, de alguma maneira, o
aprendiz sobre as possíveis dificuldades de CO em língua estrangeira?
11. O material apresenta atividades que identificam, ressaltam e informam, de
alguma maneira, as dificuldades de CO do aprendiz, de modo a
conscientizá-lo das mesmas?
12. A atividade informa o aprendiz sobre – ou o incentiva a buscar em fontes
externas –as estratégias que ele poderia utilizar para suprir suas próprias
dificuldades de CO?
13. O material apresenta atividades de CO que utilizam vídeo?
14. Em caso de utilização de vídeo, as imagens condizem com o texto? As
expressões faciais e corporais dos interlocutores condizem com o que está
sendo dito?
15. Em caso de utilização de vídeo, o aluno é incentivado ou guiado a lançar
mão das imagens e/ou expressões corporais e faciais dos interlocutores
para construir sentido?
16. O material apresenta atividades de CO que ajudam o aprendiz a
reconhecer funções comunicativas de sentenças, de acordo com
situações, participantes e objetivos?
17. O material oferece redundância de informações de elementos dos textos
orais de base?
18. O material oferece atividades de CO que ajudam o aprendiz a reconhecer
formas, dispositivos coesivos, padrões de acento, estrutura rítmica,
contornos entonacionais da língua alvo e os seus papéis na veiculação da
informação?
19. O material oferece atividades de CO que ajudam o aprendiz a reconhecer
sentido literal e implícito?
20. O material apresenta textos orais diversificados?
21. Qual tipo de atividades de CO o material apresenta: ascendente,
descendente ou interativa?
22. O material oferece atividades que estimulam o aprendiz a buscar
conhecimentos sobre a língua alvo fora do software?
43
QUADRO 10
Lista de checagem – Parte B
1) O material oferece atividades de CO que exploram situações de interação
face a face?
2) As atividades são estruturadas em pré-escuta, escuta e pós-escuta?
3) As atividades apresentam objetivos típicos desse contexto de interação
face a face?
4) Nas atividades, são trabalhadas estratégias de CO?
5) Nas atividades, são trabalhadas possíveis dificuldades de CO especificas
desse tipo de interação?
6) Os textos apresentados nas atividades reproduzem características típicas
de discursos orais em interação face a face (velocidade típica, falsos
começos, repetições, hesitações etc.)?
7) Nas atividades, o aprendiz é incentivado e auxiliado a reconhecer funções
comunicativas de sentenças, de acordo com situações, participantes e
objetivos?
8) Nas atividades, o aprendiz é incentivado e auxiliado a reconhecer sentido
literal e implícito?
9) As atividades ajudam o aprendiz a reconhecer formas, dispositivos
coesivos, padrões de acento, estrutura rítmica, contornos entonacionais do
discurso oral em interações face a face e os seus papeis na veiculação da
informação?
10) As atividades utilizam vídeo? As expressões corporais e faciais dos
interlocutores condizem com o que está sendo dito?
11) Nas atividades, o aprendiz é incentivado a lançar mão das expressões
corporais e faciais dos interlocutores para construir sentido?
2.3 Critérios de escolha dos softwares
Escolhemos para análise, softwares cujo objetivo fosse o de ensinar
italiano como língua estrangeira em um regime de estudo autônomo, ou seja,
para autodidatas. Decidimos, também, que os cursos deveriam ter como
objetivo, explícito ou implícito, o ensino de língua para a comunicação. Esse
objetivo podia ser declarado (escrito ou indicado em alguma parte do produto)
ou ser implícito. Levamos também em consideração a facilidade de acesso ao
conteúdo dos cursos. Dessa forma, procuramos escolher cursos facilmente
encontrados no mercado brasileiro e cursos cujos produtores permitissem
acesso on-line e gratuito, mesmo que em regime demonstrativo.
Consideramos como fonte de objetivos implícitos os títulos, os
descritivos dos cursos ou suas imagens ilustrativas. Pressupomos que
softwares com títulos do tipo: “fale italiano”, “aprenda italiano” ou “curso de
italiano” podem deixar a entender que, com o seu auxílio, o aprendiz será
44
capaz de desenvolver uma competência tal que lhe dará condições de se
inserir em uma interação face a face/conversa em italiano. O mesmo pode ser
dito com relação a imagens ilustrativas que conotam comunicação oral face a
face e com relação a descritivos dos cursos. Toma-se como exemplo trechos
do descritivo do curso Q-express: italiano, que anuncia que o curso, dentre
outras coisas, visa ao desenvolvimento das habilidades de comunicação típicas
de um idioma e sua cultura.
45
CAPÍTULO 3
Descrição e avaliação dos softwares
3.1 Descrição dos softwares
Em consonância com o primeiro item de nossa proposta de metodologia,
relativa à identificação das técnicas de CO informatizadas nos softwares do
nosso corpus, nesta seção será apresentada uma descrição sucinta de cada
um dos quatro softwares analisados em nossa pesquisa. Tentaremos explicitar
os objetivos dos cursos, seu público alvo e a sua dinâmica interna.
Consideramos, em especial, o funcionamento das atividades de CO, o seu papel
e importância em relação aos outros aspectos oferecidos pelo software a que
pertence. Essa descrição, bem como os aspectos focalizados servirão de base
para uma melhor compreensão dos resultados de nossa análise, já que
contextualiza a mesma.
O corpus de nossa pesquisa é constituído de quatro softwares
dedicados ao ensino de língua italiana para estrangeiros. São eles: Q-express:
italiano; Dentro l´italiano 4.0; Talk to me: italiano; e Italicon: corso di italiano per
stranieri.
Q-express: italiano
Segundo anunciado na embalagem do produto, trata-se de um curso
multimídia que visa aprimorar rapidamente as habilidades do usuário no
aprendizado de idiomas. Consta ainda, em sua embalagem, que o curso foi
especialmente desenvolvido para autodidatas que procuram desenvolver seu
conhecimento em línguas. Não há qualquer menção sobre o nível de
proficiência em língua italiana recomendada para sua utilização.
O curso é dividido em vinte unidades e cinco vídeos com atividades de
compreensão oral. Os vídeos são independentes das unidades, ou seja, não
46
estão aninhados nas mesmas. Os usuários podem acessá-los
independentemente.
Todas as vinte unidades são estruturadas da mesma maneira. Há um
texto base da unidade, em forma de diálogo; exercícios relacionados ao texto e
a seus elementos constitutivos, e atividades extras. As unidades são iniciadas
com um pequeno texto, em português, sobre o tema da unidade –
conseqüentemente do texto base. A Figura 1 apresenta o texto introdutório da
unidade 1 e o Quadro 11 reproduz o texto. Ressaltamos que esse texto só
aparece uma vez, na primeira tela da unidade (FIG. 1). Os três botões, à
esquerda, dão acesso, de cima pra baixo: ao texto base da unidade, aos
exercícios relacionados ao texto e às atividades extras. Nota-se que não há
qualquer instrução sobre o que o aluno deve fazer.
FIGURA 1 – Texto introdutório da unidade 1
QUADRO 11
Texto introdutório da unidade 1 – Q-express: italiano
Buone vacanze! Boas férias! A sensação de férias é despertada no momento em que
vemos o mar e a praia. Quem não sonha com férias na praia, com o sol e, claro, com o
47
devido conforto! A família Winkler alugou um apartamento de férias em um villaggio
turistico (villa turistica), ao sul da Itália.
Fonte: Q-express: italiano
Ao acessar a janela que contem o texto base (FIG. 2), não há também
qualquer tipo de instrução. Inferimos que se espera que o aluno descubra ou
decida o que fazer primeiro. A transcrição do texto base aparece
constantemente. Além de ouvir o texto, o usuário tem a opção de acessar
explicações lexicais, gramaticais e culturais, consecutivamente, através dos
botões Vocaboli; Grammatica, e Civiltà na parte de cima da tela. Ao escolher
um desses tópicos, clicando nos botões correspondentes, palavras do texto
são marcadas com links, os quais dão acesso às explicações. A Figura 3
mostra o botão Vocaboli acionado e os links no texto.
FIGURA 2 - Texto base da unidade 1
48
FIGURA 3 – Botão Vocaboli acionado
Os tipos de exercícios apresentados em cada unidade (acessadas pelo
botão do meio, à esquerda) são variados. Há uma média de dez a doze
exercícios em cada uma delas que abordam tópicos gramaticais, CO,
compreensão escrita, entonação e algumas práticas de diálogo em situações
comunicativas, sendo todos esses itens correlacionados com o texto base. Os
exercícios de CO, por sua vez, são de dois tipos: preenchimento de lacunas e
múltipla escolha. Às vezes, trata-se de uma reprodução de parte do texto base.
Às vezes trata-se de textos que, apesar de dialogar com a temática do texto
base, são diferentes dele ou são adaptações de suas partes . As figuras 4 e 5.
mostram os dois tipos de exercícios de preenchimento de lacunas presentes no
software. A Figura 6 mostra uma atividade de múltipla escolha.
49
FIGURA 4 - Q-express: exercícios de preenchimento de lacunas
FIGURA 5 - Q-express: exercícios de preenchimento de lacunas 2
50
FIGURA 6 – Q-express: exercício de CO de múltipla escolha
As atividades extras (ultimo botão à esquerda) visam a trabalhar
vocabulário. Elas o fazem através de palavras cruzadas.
Os vídeos são acompanhados de duas atividades de compreensão oral.
Constituem-se de duas ou três perguntas (múltipla escolha ou falso e
verdadeiro) sobre o texto, que podem ser feitas enquanto se assiste o vídeo.
Permite-se que o usuário também, simultaneamente à execução do vídeo, leia
a sua transcrição em italiano ou em português, se assim o desejar. Permite-se
ainda que o aprendiz tenha autonomia no controle da execução dos vídeos. Ele
pode avançar e retroceder quadros, parar e recomeçar o vídeo assim que
desejar. A Figura 7 mostra a tela de exibição do vídeo 1. Ela é composta de um
espaço para o vídeo, a esquerda em cima, e, logo abaixo dela, os botões de
controle e o espaço para as transcrições. Ao seu lado, uma das atividades de
compreensão oral.
51
FIGURA 7 – Q-express: Tela do vídeo 1
O curso disponibiliza ainda um teste, que visa checar apenas os tópicos
gramaticais vistos no curso; todo o léxico (imprimível); a gramática e os itens
culturais vistos nas unidades, reunidos de maneira que possam ser acessados
fora delas.
O Quadro 12 mostra, resumidamente, o que o software oferece,
segundo consta no próprio produto.
52
QUADRO 12
Recursos do software Q-express
Vídeos – recursos para gravação e reprodução;
Léxico bilíngüe;
Livro de gramática com opção de impressão;
Notas culturais;
Diversos tipos de exercício;
Avaliação de cada unidade para monitorar o progresso do aluno;
Palavras cruzadas para a prática do vocabulário;
Registros do aluno;
Ajuda on-line no idioma do aluno;
Manual do usuário com notas sobre gramática e cultura.
Fonte: Q-express: italiano
Dentro l’italiano 4.0
O curso Dentro L´italiano 4.0, segundo os próprios autores, apresenta
uma abordagem comunicativa e está de acordo com os padrões do Quadro
Europeu Comum de Referência para as Línguas. O seu objetivo, como
anunciado na sua apresentação, seria o de proporcionar ao aprendiz o
desenvolvimento de sua autonomia lingüística oral e escrita e também a
segurança no uso das estruturas básicas e avançadas do italiano.
O curso é dividido em quatro níveis: principiante, básico, intermediário e
avançado. Esses quatro níveis são descritos pelos autores da seguinte
maneira: o nível principiante tem como objetivo conduzir gradualmente o
aprendiz principiante absoluto na descoberta dos elementos lingüísticos de
base para que possa confrontar as situações comunicativas mais simples; o
nível básico retoma os primeiros elementos lingüísticos objetivando uma
autonomia comunicativa nas situações cotidianas mais freqüentes; o nível
intermediário continua apresentando a vida e a cultura italiana e introduz o
estudo de estruturas lingüísticas mais complexas; o nível avançado é destinado
53
àqueles que querem aperfeiçoar o seu italiano de modo a sentirem-se seguros
em situações mais freqüentes da vida profissional e social. Para a nossa
pesquisa, analisamos somente o material do nível básico, já que a empresa
responsável pela criação do curso disponibiliza acesso gratuito apenas a esse
nível. Vale ainda ressaltar que tomamos para análise o curso on-line. Essa
especificação se faz necessária na medida em que o curso pode ser adquirido
em quatro tipos de suporte: on-line, CD-ROM, LMS e LAN/INTRANET.
O curso oferece uma ampla possibilidade de escolhas de configuração.
Já na primeira tela, o usuário deve selecionar, dentre quatorze opções, a língua
de sua preferência para a interface (FIG. 8). Na segunda tela (FIG. 9), ele
deverá selecionar o estilo de sua preferência, o nível desejado (principiante,
básico, intermediário ou avançado) e a organização das unidades. O estilo diz
respeito ao tipo de imagem ilustrativa da unidade, podendo ser fotos humanas
ou desenhos. As unidades, por sua vez, podem ser organizadas por situações,
funções lingüísticas ou narrativas, possuindo sempre o mesmo conteúdo.
Ressaltamos que na primeira tela, além da escolha do idioma da interface, o
usuário poderá também fazer uma visita guiada. Essa visita é composta de
sete páginas e consiste em um passeio pelas seções do curso, com
explicações sobre o seu funcionamento.
54
FIGURA 8 – Dentro L´italiano:Tela de configuração: língua da interface e acesso à
visita guiada
FIGURA 9 – Dentro L´italiano:Tela de configuração: estilo, nível e percurso
55
As vinte e cinco unidades do nível básico apresentam a mesma
estrutura. A Figura 10 mostra uma parte da tela de acesso às unidades.
FIGURA 10 – Dentro L´italiano: Tela de acesso às unidades
Ao se acessar uma unidade, abre-se a tela principal, composta de três
menus, um espaço para o texto em sua versão escrita e uma imagem
ilustrativa do texto – imagem cambiável – (FIG. 11). O primeiro menu, em cima
à direita do usuário, apresenta botões de navegação e de ajuda: voltar para a
página principal, subir um nível, voltar a página de percursos e ajuda. O
segundo menu apresenta botões que dão acesso às outras seções didáticas da
unidade: exercícios, gramática, fonética, glossário, dicionário automático,
dicionário visual, dicionário fraseológico e aprofundamentos. Finalmente, o
terceiro menu, logo abaixo do segundo, apresenta botões de controle de
execução do texto: botão retrocesso, botão play/pause, botão stop e também
um botão que permite a visualização da versão escrita do texto. Não há uma
indicação in loco, ou seja, nessa tela, sobre o que o aluno deve fazer. Ao se
iniciar a unidade, o texto oral inicia-se, automaticamente. Fica a cargo do
aprendiz decidir o que quer fazer posteriormente – ou concomitantemente – à
56
audição do texto. A partir da leitura das explicações relativas a esta tela inicial,
encontradas na visita guiada, podemos perceber que, de fato, trata-se de uma
escolha consciente por parte dos autores: eles permitem que o usuário utilize
os recursos disponíveis na tela da maneira que melhor lhe convier. O Quadro
13 apresenta, na íntegra, as explicações encontradas na visita guiada sobre o
funcionamento da tela inicial das lições. Não há uma atividade específica de
CO relativa a esse texto
FIGURA 11 – Tela principal: unidade il Tram
57
QUADRO 13
Visita guiada: funcionamento da tela inicial das lições
Esta é a página inicial de cada lição. O utilizador pode escutar completamente
o diálogo, com a possibilidade de visualizar e escoder o texto. Após ter
visualizado o texto, o utilizador pode escutar a pronúncia de cada palabra ou
frase. O diálogo é acompanhado por uma immagem/slide show que representa
a situação em questão. Clicando em Glossàrio
,obtém-se o acesso ao glossário
do curso com os termos traduzidos na língua seleccionada. Clicando em
Gramàtica
, podem ser consultadas as tabelas gramaticais na língua
seleccionada. Clicando no botão Fonética escuta-se a pronúncia do alfabeto
italiano e dos grupos vocálicos e consoantes, etc. No que diz respeito à
navegação, o utilizador poderá retornar à página na qual efectuar a selecção
dos percursos, retornar ao índice do percurso seleccionado, ou passar
directamente para os exercícios relativos à lição. Finalmente será possível
entrar na Ajuda, um verdadeiro auxílio para compreender a navegação no
interior do curso.
Fonte: Dentro l´italiano 4.0
Dentre as seções disponibilizadas em cada unidade, gostaríamos de
destacar a de exercícios. Ela contém elementos de nosso interesse, ou seja,
atividades de CO Cada unidade disponibiliza uma média de quatro exercícios.
Tais exercícios, como anunciado no parágrafo anterior, de uma maneira geral,
além da CO, visam ao desenvolvimento de funções comunicativas, estruturas
do italiano, compreensão escrita, gramática e vocabulário.
As atividades de compreensão oral, distribuídas pelas unidades,
apresentam exercícios do tipo ditado, reconstrução do texto a partir do
preenchimento de lacunas, questões de múltipla escolha e reorganização de
palavras de acordo com o texto. Em alguns dos exercícios, é utilizado o mesmo
texto inicial da unidade. Em outros, utilizam-se textos diferentes.
Os exercícios do tipo ditado podem ser de duas maneiras. Na primeira, o
aluno deve ouvir um texto e transcrevê-lo à medida que o ouve. Na segunda,
pede-se que o aluno ouça algumas palavras isoladas e reconstrua a mesma a
partir de suas letras embaralhadas. As unidades Al mercato e Ad una festa
apresentam, respectivamente, os dois tipos de ditado (FIG. 12 e 13).
Na tela da atividade de ditado presente na unidade Al mercato, há um
botão play, utilizado para que o aluno inicie o texto (há possibilidade de pausa);
um espaço para que o aluno digite o texto que está ouvindo; e também as
58
instruções da atividade. Nas instruções, fica claro para o aluno que tem à sua
disposição três tentativas de audição. Sugere-se que ele escute todo o texto
uma vez e, nas outras duas vezes, que o faça frase por frase, transcrevendo-o
no espaço indicado. Aconselha-se ainda, nas instruções, que o aluno utilize a
segunda audição para transcrever o texto, deixando a terceira para corrigi-lo.
O segundo tipo de atividade de ditado (FIG. 13) pode ser encontrado na
unidade Ad una festa. Ele consiste na tentativa de formar uma palavra a partir
da escuta da mesma. Ao aprendiz são disponibilizadas, embaralhadas, as
letras da palavra. Ele, então, tem que ouvir a palavra e tentar montá-la,
arrastando as letras de modo que fiquem na ordem correta.
Figura 12 - Dentro L´italiano: ditado da unidade Al mercato
59
FIGURA 13 – Dentro L´italiano: ditado da unidade Ad una festa
Os exercícios que propõem o preenchimento de espaços podem ser
representados por uma atividade encontrada na unidade La giornata di Luca
(FIG. 14). Pede-se que o aluno, em primeiro lugar, preencha as lacunas
utilizando-se de palavras sugeridas no fim da página. Em segundo lugar, que
ele inicie o vídeo e, com o seu auxílio, cheque o preenchimento.
60
FIGURA 14 – Dentro L´italiano: Atividade de preenchimento de lacunas
A unidade Programmi TV apresenta um exercício do tipo múltipla
escolha (FIG. 15). Em sua tela, há a possibilidade de iniciar, parar, pausar e
voltar ao início do vídeo. Há também uma instrução; algumas perguntas sobre
o texto e as alternativas de respostas em caixas de menu pop-up. Não há uma
instrução clara a respeito de como o aluno deve cumprir sua tarefa. Ele deve
ler as perguntas, ouvir o texto e, a partir dessa escuta, escolher as alternativas
corretas.
61
FIGURA 15 – Dentro L´italiano: Exercício de múltipla escolha
O último tipo de exercício de CO, disponibilizado pelo curso, seria aquele
em que o aprendiz deve reorganizar uma frase, a partir de suas palavras,
embaralhadas, e também com o auxilio de um vídeo. A unidade Cercasi
appartamento (FIG. 16) apresenta um exercício desse tipo. Há, nessa tela,
botões para o controle do vídeo e as sugestões de palavras que compõem a
frase que deverá ser reorganizada. Ao contrário da atividade de preenchimento
de lacunas descrita acima, e mostrada na Figura 14, a instrução in loco dessa
atividade pede, simplesmente, para que o aluno recomponha o texto do
anúncio (trata-se mesmo de um anúncio). Inferimos que se espera que o aluno,
instintivamente, assista ao vídeo e tente reorganizar a frase. Vale lembrar que
a frase aparece integralmente no texto em um determinado momento, cabendo
ao aprendiz apenas reconhecer a frase enquanto ouve o texto.
62
FIGURA 16 – Dentro L´italiano: Exercício de ordenação de frases
Talk to me: italiano
A partir da leitura do descritivo do curso Talk to me: italiano, encontrado
em seu site oficial
6
e reproduzido no Quadro 14, podemos perceber que o
software tem como objetivo auxiliar o aprendiz no desenvolvimento de sua
capacidade de compreender e ser compreendido em uma língua estrangeira,
sendo que a compreensão em questão parece estar ligada ao falar.
Considerando a importância dada aos recursos de áudio/vídeo e tecnologia de
reconhecimento vocal, bem como aos resultados esperados pela sua utilização
(a saber: adquirir segurança na oralidade), inferimos que os autores associam
o termo falar, no contexto de “falar uma língua estrangeira”, às habilidades de
compreensão e produção oral. No entanto, uma análise superficial do curso,
mostrou-nos que o ele apresenta atividades que visam ao desenvolvimento das
quatro habilidades básicas: compreensão oral e escrita e produção oral e
escrita. Segundo anunciado pelos autores, trata-se de um curso ideal para a
6
<http://www.auralog.com/it/Retail_talktome.htm.>
63
prática da conversação. Em sua embalagem, consta que o curso é ideal para a
preparação para exames, viagens ao exterior, reuniões de trabalho ou
simplesmente por prazer particular.
QUADRO 14
Descritivo do curso Talk to me: italiano
Talk to me é a solução para quem quer entender e ser entendido em uma
língua estrangeira. A melhor maneira de aprender a falar uma língua é imergir-
se em situações da vida cotidiana: Talk to Me propõe vídeos e diálogos
interativos sobre temáticas da vida de todos os dias. Os vídeos e diálogos são
baseados na tecnologia de reconhecimento vocal desenvolvida pela Auralog e
permitem que o estudante adquira segurança na oralidade.
7
Fonte: <http://www.auralog.com/it/Retail_talktome.htm>
A partir das informações sobre o curso, encontradas tanto em seu site
oficial quanto em sua embalagem, podemos inferir que se destina a pessoas
que queiram aprender o italiano para a conversação, podendo atuar em
diversos contextos de comunicação: profissional ou cotidiano. Outro item
relevante para a definição do público alvo seria o seu nível de proficiência
esperado. O curso apresenta dois níveis: principiante-intermediário e o
intermediário-avançado. Segundo os autores, o nível principiante-intermediário
tem como objetivo auxiliar o aprendiz a conhecer as bases da língua e ser
compreendido em situações simples. Já o nível intermediário-avançado tem
como meta auxiliar o aprendiz a se aperfeiçoar na língua e a se comunicar com
facilidade em um país estrangeiro. O curso avaliado nessa pesquisa
compreende os dois níveis de proficiência.
O curso Talk to me: italiano oferece dois tipos de percurso didático (FIG.
17). O primeiro deles é o percurso guiado. O segundo é o percurso livre. No
percurso guiado, o aprendiz programa o seu curso a partir das habilidades que
7
“Talk to Me è la soluzione per chi vuole capire e farsi capire in una lingua straniera. Il miglior
modo per imparare a parlare una lingua è quello di immergersi nelle situazioni della vita
quotidiana: Talk to Me propone filmati e dialoghi interattivi su tematiche della vita di tutti i
giorni. Filmati e dialoghi si basano sulla tecnologia del riconoscimento vocale sviluppata da
Auralog e permettono allo studente di acquisire sicurezza all'orale.”
64
ele mesmo espera, quer ou precisa desenvolver. Após essa escolha, o
software elabora um programa de curso para esse aprendiz, disponibilizando
um percurso que corresponda às suas necessidades e fazendo uma previsão
temporal para a conclusão. No percurso livre, o aprendiz pode explorar o curso
da maneira que melhor lhe convier.
FIGURA 17 – Talk to me: Escolha do percurso didático
O curso divide-se em seis unidades. Cada unidade é composta pelos
itens vídeo, pronúncia, diálogos, exercícios. Há também a possibilidade de se
acessar um relatório que contem os resultados da unidade, ou seja, um resumo
dos erros e acertos do usuário em cada uma das quatro possibilidades de
atividades da unidade. Além das seções vídeo, pronúncia, diálogos e
exercícios, cujo conteúdo muda segundo a unidade escolhida, o software
disponibiliza para o usuário as seções biblioteca e opções. A seção biblioteca
apresenta itens como gramática e vocabulário. Já a seção opções permite que
o aprendiz configure o áudio, o vídeo e o reconhecimento vocal. A FIG. 18
65
mostra as seis unidades, no centro da tela, e, na parte inferior, os botões que
acionam cada uma das seções que compõem cada uma delas.
FIGURA 18 – Talk to me: unidades e suas seções.
As unidades não apresentam um texto base. Cada uma apresenta um
tema. Na modalidade livre, não há qualquer instrução sobre o que o aprendiz
deve fazer primeiro, cabendo-lhe explorar os recursos da unidade da maneira
que achar melhor.
A seção vídeo apresenta um filme relacionado ao tema da unidade. Na
tela em que o filme é reproduzido (FIG. 19), são disponibilizados ainda botões
que permitem ao aprendiz assistir o vídeo em tela cheia, acessar os exercícios
de compreensão sobre o texto, e acessar outras seções do curso (ex.
gramática, exercícios etc.) que estejam relacionadas ao vídeo. Há também uma
barra para o controle do andamento do vídeo, logo abaixo dos três botões
citados. Essa barra permite que o usuário avance, retroceda, pare e reinicie o
vídeo. Não há qualquer instrução in loco sobre o que o usuário deve fazer. Ao
66
abrir a tela principal, o vídeo começa automaticamente. Após a sua execução,
inicia-se, também automaticamente, o questionário de compreensão do vídeo.
Dessa maneira o software conduz o andamento da atividade, se o usuário não
interferir. O questionário é composto por dez perguntas de múltipla escolha
sobre o vídeo.
FIGURA 19 – Talk to me: seção vídeo
A seção pronúncia visa fazer com que o aprendiz perceba e pratique a
pronúncia do idioma. A seção oferece uma lista de frases ou palavras. O
usuário escolhe uma delas, ouve a pronúncia correta, acompanha graficamente
essa pronúncia, e em seguida tenta imitá-la, gravando sua tentativa. O software
então compara as duas pronúncias e avalia a pronúncia do aprendiz.
A seção diálogos apresenta uma série de atividades que consistem na
escuta de uma frase e na sua apropriada pronúncia por parte do aprendiz. A
tarefa do aluno é, portanto, escutar a frase e praticar sua pronúncia. Às vezes o
programa pede apenas que o usuário repita em voz alta. Às vezes, porém, ele
dá acesso à gravação e verificação da pronúncia, da mesma maneira que
ocorre na seção pronúncia. Na tela do diálogo estão presentes ainda uma
67
imagem que ilustra a atividade, um botão de links para atividades
correlacionadas e também uma barra de controle, através da qual o usuário
pode pausar o texto, reiniciá-lo, passar para atividade anterior ou posterior. A
Figura 20 apresenta a tela padrão da seção diálogos.
FIGURA 20 – Talk to me: seção diálogo
A seção exercícios disponibiliza exercícios de pronúncia, CO,
vocabulário, prática com estruturas da língua, gramática e produção escrita. As
atividades de CO consistem em cruzadinhas e ditados. Vale ressaltar que, na
cruzadinha, as palavras são ditadas aos aprendizes. As figuras 21 e 22
mostram os dois tipos de exercícios de CO, ditado e cruzadinha,
respectivamente.
68
FIGURA 21 - Talk to me: atividade de ditado
FIGURA 22 – Talk to me: atividade de cruzadinha
69
Italicon: corso di lingua italiana per stranieri
O curso de italiano para estrangeiros, Italicon, é dividido em três níveis:
principiante, intermediário e avançado. O curso para principiantes é composto
de quinze módulos didáticos, cento e vinte horas de auto-aprendizado e
tutorado a distância. O curso tem como objetivo auxiliar o aprendiz no
desenvolvimento das competências lingüísticas e comunicativas de base, de
modo que o mesmo possa adquirir autonomia comunicativa nas situações
cotidianas (apresentar alguém ou se apresentar, descrever, perguntar/fornecer
informações, comprar etc.). O curso intermediário é composto de quatorze
módulos didáticos, cento e vinte horas de auto-aprendizado e tutorado a
distância. Segundo os autores, o objetivo do curso é auxiliar o aluno no
desenvolvimento das competências lingüísticas e comunicativas necessárias
para a compreensão de notícias, transmissões e conversas informais; a
participação em debates e diálogos com falantes nativos; a escrita de cartas,
textos e relatórios variados. Enfim, o curso avançado é composto de seis
módulos didáticos, construídos com base em textos autênticos orais e escritos,
cento e trinta horas de auto-aprendizado e tutoria a distância. O objetivo do
curso é a aquisição das competências lingüísticas e comunicativas
necessárias: a compreensão de textos falados e escritos provenientes de
gêneros e situações comunicativas variadas e até complexas; e a produção de
textos (falados e escritos) mesmo complexos e abstratos. A partir de agora,
vamos descrever apenas o curso avançado, pois somente ele compõe nosso
corpus.
O curso avançado, como dito anteriormente, é dividido em seis módulos
didáticos: leitura, CO, gramática, exercícios, fonologia e testes, como mostra a
Figura 23. A versão demonstrativa do curso consiste na permissão de acesso a
determinadas unidades de cada módulo. Esse acesso é limitado, sendo que
algumas de suas funções, como a correção dos exercícios, aparecem
desativadas. Para ser mais exato, permite-se o acesso a apenas uma unidade
dos seguintes módulos: leitura, CO e exercícios. Em nossa descrição, vamos
focalizar apenas o módulo CO, já que se trata de nosso foco de pesquisa e já
que, na seção exercícios não há qualquer tentativa de desenvolvimento da
70
habilidade de CO Portanto, a seguir, vamos descrever uma das unidades do
módulo didático CO
FIGURA 23– Italicon: módulos didáticos do curso avançado
Segundo anunciado no material (FIG. 23), o módulo CO tem como
objetivo desenvolver no aluno as habilidades e competências de CO e a
compreensão de textos falados em italiano contemporâneo. Ainda segundo
consta no material, estão presentes textos de gêneros e assuntos variados e
exercícios e atividades didáticas com correção automática.
A primeira unidade do módulo CO é formada por sete telas. Uma tela
introdutória (FIG. 24 ) informa o aluno sobre o gênero e a temática do texto oral
base que será trabalhado naquela unidade. Nela o usuário pode iniciar a
unidade, através do botão Inicia (INIZIA), ou rever as atividades já feitas,
clicando no botão Memória dos Exercícios (MEMORIA ESERCIZI). A primeira
tela apresenta uma atividade de pré-escuta. A segunda apresenta o texto e
atividades de escuta. As telas três e quatro apresentam ainda atividades de
71
escuta. As telas quatro, cinco, seis e sete apresentam exercícios de
aprofundamento gramatical baseados no texto. As telas de um a sete podem
ser acessadas através de links encontrados na parte superior das sete telas, a
partir da tela um (FIG. 24).
FIGURA 24 – Italicon: tela introdutória do módulo de CO
As atividades de pré-escuta são compostas de quatro exercícios de
mesma natureza. Em cada uma delas, pede-se que o aprendiz ordene os
fragmentos de um texto cujo tema é o mesmo do texto oral base da unidade.
Vale ressaltar que se trata de textos autênticos e que os autores, apesar de
não manterem os seus formatos originais, informam ao usuário o tipo de texto
com o qual eles vão trabalhar. A Figura 25 mostra uma parte da atividade de
pré-escuta. No exercício, pede-se que o aprendiz reconstrua o texto retirado de
um panfleto.
72
FIGURA 25 - Italicon: atividade de pré-escuta
O texto oral base da unidade é apresentado na tela dois. Além do texto,
é sugerido um questionário formado por quatro questões de múltipla escolha
sobre o texto. Pede-se que, em cada pergunta, o aluno ouça um excerto do
texto e, a partir dele, escolha uma resposta. Esses fragmentos do texto são
acessíveis através de um botão que se encontra em cada questão. O aluno
pode ouvi-lo quantos vezes quiser. Ressaltamos que, nessa mesma tela, os
autores informam o gênero e a fonte do texto base. A Figura 26 mostra a parte
inicial da tela dois. Estão presentes as informações relativas ao gênero e à
fonte do texto, o botão de acesso ao texto e o início da primeira questão,
juntamente com o botão que dá acesso ao excerto correspondente. A Figura 27
mostra a mesma tela, porém rolada para baixo. Nela estão presentes as outras
questões relativas ao texto.
73
FIGURA 26 – Italicon: tela 2: parte inicial da atividade de escuta
FIGURA 27 – Italicon: tela 2: parte final da atividade de escuta
74
A tela número três, como mostra a Figura 28 , apresenta uma atividade
em que o aprendiz deve escutar novamente o texto base da lição e completar
as lacunas. A atividade, portanto, focaliza na compreensão, ou
reconhecimento, dos elementos formais do texto. Ao contrário da atividade
anterior, que dirige a atenção do aluno para a sua significação. A tela quatro
apresenta ainda um exercício que trabalha com as formas do texto. Pede-se,
mais uma vez, que o aluno complete os espaços em branco a partir da escuta
do texto. Porém, dessa vez, ao texto foram introduzidas algumas palavras ou
expressões antônimas aquelas do texto. A tarefa do aluno é, exatamente,
corrigir esse erro.
FIGURA 28 – Italicon: tela 3: atividade de escuta
75
Como dito anteriormente, as telas quatro, cinco seis e sete apresentam
atividades de aprofundamento gramatical. Portanto, não serão discutidas aqui.
Esperamos, com essas descrições, ter dado uma visão geral sobre os
cursos que compõe nosso corpus e, principalmente, sobre o funcionamento
das seções que dizem respeito ao desenvolvimento da CO
3.2 Resultados da avaliação
Na presente seção, serão apresentados os resultados de nossa
avaliação relativa à qualidade das atividades de CO, disponibilizados nos
softwares de nosso corpus. Trata-se, como já discutido anteriormente, da
apresentação dos resultados de uma análise de produtos concorrentes, em que
softwares congêneres foram submetidos a uma avaliação somativa
8
.
Essa
avaliação observou a qualidade do material dedicado ao desenvolvimento da
CO, informatizado nesses softwares. Isso quer dizer, em termos práticos, que
tais resultados podem servir como ponto de partida, ou como referência para o
desenho de atividades de CO em softwares dedicados ao ensino de línguas
estrangeiras para a comunicação. Para realizar nossa avaliação, utilizamos
como instrumento de pesquisa as duas partes de nossa lista de checagem
(apêndices A e B)
Gostaríamos de ressaltar que analisamos apenas a unidade 1 do módulo
de CO do curso Italicon, nível avançado. Não tivemos acesso às demais partes
do módulo, pois não estavam disponíveis para demonstração. No entanto,
tomamos a unidade 1 como unidade representativa das demais unidades
dedicadas à compreensão oral do curso Italicon, porque, nos outros cursos que
compõem nosso corpus, percebemos que cada unidade é também representativa
no que diz respeito ao resto do material dos seus respectivos cursos.
A seguir, serão apresentados os resultados obtidos com nossa
avaliação. Vamos explicitar, em primeiro lugar, os resultados relativos à parte A
da lista de checagem. Em seguida, vamos apresentar os resultados da análise
feita com o auxílio da parte B da lista de checagem. Gostaríamos de lembrar
8
Uma avaliação é chamada de somativa quando é feita próximo do final do processo de
desenvolvimento de um software, ou após o seu término. Essa avaliação será chamada de
formativa quando for feita durante o processo de desenvolvimento do software.
76
que a parte A tem como objetivo avaliar todo o material, no que diz respeito à
qualidade do ensino de CO A parte B, por sua vez, visa detectar e avaliar
apenas as atividades que apresentam situações de interação face a face.
3.3.1 Resultados relativos à Parte A
1) Da atenção específica à Compreensão Oral
Em nossa análise, constatamos que todos os quatro softwares
apresentam atividades específicas de CO Como visto com maiores detalhes na
descrição dos cursos, os softwares Q-express e Talk to me: italiano
concentram seus esforços de desenvolvimento da habilidade de CO em suas
seções de exercícios – ou seja, dentre os exercícios das unidades,
disponibilizam exercícios específicos de compreensão oral – e de vídeo. O
curso Dentro L´italiano disponibiliza exercícios de CO, a exemplo dos dois
primeiros, na seção dedicada aos exercícios. O curso Italicon, por sua vez,
dedica um inteiro módulo à compreensão oral. No curso avançado, por
exemplo, o módulo chamado ASCOLTO (escuta) apresenta vinte unidades –
como mostra a Figura 23 – sendo que, todas elas, são dedicadas à
compreensão oral.
2) Da estruturação da atividade de CO em pré-escuta, escuta e pós-escuta
e da qualidade das seções
O curso Italicon é o único que organiza suas atividades de CO em pré-
escuta, escuta e pós-escuta, como pode ser visto na seção 3.1, “Descrição dos
softwares”. E todas elas cumprem os seus papéis característicos, como
discutido na seção 1.5.
A atividade de pré-escuta do módulo ASCOLTO do curso Italicon
cumpre o seu papel de pré-escuta na medida em que antecipa, claramente, o
tema do texto alvo. Ela apresenta quatro textos sobre a questão da doação de
sangue. De fato, esse é o tema do texto base da unidade. Os textos dos
exercícios são apresentados fora de ordem. Cada texto pertence a um
77
exercício. A tarefa do aluno é reorganizá-los. A Figura 25 mostra uma parte de
um desses exercícios.
Ainda sobre a atividade de pré-escuta, notamos que os autores não
mantiveram os traços visuais que caracterizam o gênero dos textos escolhidos
para a atividade de pré-escuta. Trata-se de textos tirados de panfletos. Como
mostra a Figura 25, os textos foram reformatados.
A atividade de escuta, ainda do módulo ASCOLTO do curso Italicon,
também cumpre com o seu papel de atividade de audição. Ela é composta de
três exercícios, que demonstram uma tentativa de guiar o aluno na
compreensão do texto, ao invés de apenas tentar testá-la. O primeiro exercício
(FIG. 26) tem como objetivo a escuta do texto e a resposta a questões de
múltipla escolha sobre esse texto. O cuidado em tentar guiar o aprendiz na
compreensão do texto pode ser verificado no fato de que, a cada pergunta do
questionário, estão associadas apenas as partes do texto em que as respostas
poderão ser encontradas. Os respectivos trechos são acessíveis pelos botões
ASCOLTA que se encontram ao lado de cada questão (FIG. 27). O segundo
exercício propõe um preenchimento de lacunas a partir da reescuta do texto.
Como podemos ver na Figura 28, não há um padrão de escolha para as
palavras que devem ser preenchidas. A atividade tem como foco o
reconhecimento de formas do italiano, presentes no texto. Ele também não se
restringe a apenas testar se o aluno compreendeu ou não as formas. Esse
cuidado em não apenas testar a compreensão do aluno está do fato de ele
poder ouvir o texto quantas vezes precisar para cumprir a atividade. Notamos
que na própria instrução da atividade, o aluno é conscientizado sobre essa
possibilidade. Na Figura 28 podemos observar a frase exata da instrução:
“você pode escutar o texto quantas vezes quiser”.
9
O exercício 3 caracteriza-se
também como um exercício de preenchimento de lacunas. O seu foco, no
entanto, é o reconhecimento das formas do imperativo, presentes no texto
(FIG. 29). Mais uma vez, vemos o botão ASCOLTA, que permite acesso
irrestrito ao texto oral, e marca, segundo nossa análise, uma preocupação em
guiar o aluno na compreensão, e não em apenas testá-la.
9
“puoi riascoltare il brano tutte le volte che vuoi”.
78
FIGURA 29 - Italicon: atividade de escuta: preenchimento de lacunas 2
Enfim, as atividades de pós-escuta, do módulo ASCOLTA do curso
Italicon, também cumprem com o seu papel característico de pós-escuta. As
atividades têm como objetivo expandir os conhecimentos do aprendiz a
respeito da língua. Elas tratam do imperativo, tempo gramatical que aparece
em abundância no texto base. A Figura 30 mostra a primeira das atividades de
pós-escuta. Trata-se de um exercício em que o aprendiz deve completar as
frases com os verbos que aparecem no quadro, conjugando-os no imperativo e
acrescentando os pronomes necessários.
79
FIGURA 30 – Italicon: atividade de pós-escuta
3) Dos objetivos de escuta propostos pelas atividades de CO
Não há, em nenhum dos softwares, uma preocupação em oferecer
atividades que proponham tarefas típicas de CO em situações reais. Dentre os
softwares observados há uma predominância de atividades de preenchimento
de lacunas e de múltipla escolha. Essas, de fato, são centradas apenas no
texto. Elas ignoram as situações reais de conversação que poderiam permeá-
las. Vejamos, como exemplo, a atividade de CO do curso Q-express,
apresentada na Figura 4. Ela pede para que o aprendiz ouça uma frase e
complete a lacuna com a palavra faltante. Não há nenhum contexto que
caracterize esse preenchimento de lacunas como uma tarefa típica da vida
real.
80
4) Das instruções das atividades de CO
Apenas o curso Q-express não apresenta instruções simples para suas
atividades de CO Podemos tomar, como exemplo, as instruções de três
atividades pertencentes às unidades 1, 2 e 4, transcritas no Quadro 15. A sua
análise revela alguns elementos que conjugados, do nosso ponto de vista,
tornam as atividades mais complexas do que deveriam ser. Esses elementos
vão desde a escolha da língua em que foi escrita a instrução até a forma com
que elas foram elaboradas, passando pela escolha do vocabulário – dentre
outros fatores.
QUADRO 15
Q-express: italiano: exemplos de instruções unidades 1, 2 e 4
Localização da atividade Instrução
unidade 1: Al villaggio turistico
Ascoltate la frase e inserite tutte le
parole macanti nello spazio apposito
unidade 2: Che bella villetta!
Ascoltate la frase e cercate di inserire
le parole mancanti nello spazio
apposito
unidade 4: In spiaggia
Ascoltate il seguente brano e cercate
di completare le frasi com le parole
mancanti nel mentre che leggete il
testo. La registrazione e la verifica
verranno attivate usando i tasti
appositi.
As instruções dos exercícios de CO, seguindo o padrão do curso, foram
todas escritas em italiano, o que, de fato, pode conferir-lhes uma dificuldade
maior de compreensão. Outro fator importante nesse sentido foi a escolha dos
tempos verbais e do vocabulário. Ao observar o Quadro 15, percebemos que
os autores decidiram conjugar os verbos das instruções no imperativo de
segunda pessoa do plural ao invés de conjugá-los na segunda do singular.
81
Notamos, também, a escolha de palavras e expressões que poderiam causar
dificuldade na compreensão. Tomemos como exemplo as palavras apposito e a
expressão nel mentre che, respectivamente utilizadas em exercícios de CO da
unidade 1 e 4. Ambas, do nosso ponto de vista, por não serem cognatas, com
relação ao português, podem se tornar um elemento dificultador para o
aprendiz iniciante. Ainda na instrução da atividade relativa à unidade 4, vemos
o verbo venire, que é irregular, conjugado no futuro simples, sendo expresso
pela forma verranno. Se observarmos, no Quadro 15, as instruções dos
exercícios relativos à unidade 1 e unidade 2, vamos notar que, apesar de se
tratar do mesmo tipo de atividade (FIG. 31 e 32 ), houve uma mudança – a
nosso ver, desnecessária – aparentemente sem justificativa, na elaboração da
instrução. Na instrução do exercício da unidade 2, notamos a introdução da
expressão cercare di, o que pode contribuir com um aumento na dificuldade de
compreensão da mesma Consideramos, portanto, que todas essas escolhas
tornam as instruções menos simples do que poderiam ser. Instruções mais
simples, baseadas, por exemplo, em cognatos, exigiriam menos esforço
cognitivo do aprendiz, sobretudo iniciante, que poderia se concentrar mais nas
demandas do próprio exercício de CO
FIGURA 31 – Q-express: unidade 1: Al villaggio turístico: exercício de C.O
82
FIGURA 32 - Q-express: unidade 2: Che bella villetta!: exercício de CO
5) Do tipo de feedback automático fornecido nas atividades
Com relação às respostas automáticas, os softwares disponibilizam
apenas feedbacks do tipo genérico. Isso significa que todos eles se limitam a
informar se o aluno errou ou acertou, fornecendo-lhe o gabarito, ainda que
automaticamente.
6) Da conscientização sobre as dificuldades de CO em língua estrangeira
e do ensino de estratégias
Nenhum dos softwares analisados tem a preocupação de conscientizar o
aprendiz sobre possíveis dificuldades na CO em língua estrangeira. Nem
tampouco se preocupam em identificar as dificuldades individuais de cada
aprendiz, conscientizá-lo a respeitos delas e, posteriormente, auxiliá-lo na
busca de soluções. De fato, não são trabalhadas, em nenhum software,
estratégias de CO
83
7) Da utilização de vídeo nas atividades de CO
Os cursos Q-express, Dentro l´italiano e Talk to me: italiano apresentam
atividades de CO baseadas em vídeo. Em todos os materiais, os vídeos
condizem com o texto. No entanto, em nenhum deles há uma preocupação em
incentivar o aluno a utilizar, conscientemente, as imagens para construir
sentido do texto oral alvo. Tomemos, como exemplo, uma atividade do curso
Q-express.
Como demonstrado na seção 3.1, o curso Q-express apresenta cinco
atividades de vídeo, sendo que todas mantêm as imagens e textos em uma
relação condizente. As figuras 33 e 34 mostram as telas da unidade 2 da seção
de vídeo do curso Q-express. Observamos que, de forma semelhante às
demais, não há qualquer instrução ou elemento de desenho que incentive o
aluno a utilizar as imagens para a construção do sentido do texto. A atividade
1, na primeira tela da unidade (FIG. 33) pede apenas para que o usuário decida
se as duas afirmações sobre o texto são verdadeiras ou falsas. A atividade 2,
na segunda tela (FIG. 34), pede somente que o aprendiz preencha as lacunas
de um excerto do texto, escolhendo as palavras reunidas logo abaixo do
excerto. Com relação ao desenho, observamos que está presente apenas o
vídeo, o espaço para o texto em sua versão escrita, os seus botões de
controle, o menu de saída e ajuda, o menu de acesso às correções e às
atividades de CO, como já visto na seção 3.1, “Descrição dos softwares”. Não
há, de fato, nenhum elemento de desenho que guie o aluno para utilizar
conscientemente as imagens.
84
FIGURA 33 – Q-express: unidade de vídeo 2: tela 1
FIGURA 34 – Q-express: unidade de vídeo 2: tela 2
85
8) Do auxílio no reconhecimento de funções comunicativas de acordo
com situações, participantes e objetivos
Nenhum dos softwares analisados apresentam atividades que auxiliam o
aprendiz a reconhecer funções comunicativas a partir de situações,
participantes e objetivos de comunicação.
9) Da redundância de informações
Todos os softwares analisados apresentam alguma redundância com
relação aos textos orais base das atividades de CO disponibilizadas. Os cursos
Q-express, Dentro l´italiano e Talk to me: italiano, por exemplo, têm os vídeos
como elemento visual que contém informações que também estão presentes
nos respectivos textos. O curso Dentro l´italiano propõe várias atividades de
CO que contêm elementos que repetem as informações contidas no texto alvo
e, ao mesmo tempo, auxiliam o aprendiz em suas respostas. Um exemplo
dessa utilização seria a atividade disponibilizada na unidade La giornata di
Luca, na Figura 35. Nela, vemos que, além do vídeo, há um banco de verbos
que deverão ser utilizados no exercício e que aparecem também no texto alvo.
Eles se configuram como informações redundantes, mesmo que sejam
apresentados no exercício em sua forma infinitiva. O curso Italicon apresenta
elementos redundantes, ou seja, que também aparecerão no texto alvo, ao
anunciar o título do texto alvo, “Non dimentichiamoci di donare il sengue” (FIG.
24 e 26). Ele cria também essa redundância nas atividades de pré-escuta. A
Figura 25 mostra um trecho das atividades. Notamos que, como se trata de um
texto cujo assunto é o mesmo do texto oral de base, há algumas palavras que
aparecem em ambos, tais como sangue ou donare, também no título.
86
FIGURA 35 – Dentro L´italiano: la giornata de Luca: atividade de CO
10) Do auxílio para o reconhecimento de formas, dispositivos coesivos,
padrões de acento, estrutura rítmica, contornos entonacionais da
língua alvo e dos seus papéis de veiculação de informação
Os trabalhos de auxiliar o aprendiz a reconhecer elementos constitutivos
da língua alvo e o seu papel na veiculação de informações não são feitos nos
softwares analisados.
.
11) Do auxílio para o reconhecimento de sentido literal e implícito
Os softwares do nosso corpus não demonstram tentativas de auxiliar o
aluno no reconhecimento de sentidos literal e implícito.
12) Da diversidade dos textos orais
O curso Talk to me: italiano é o único que disponibiliza apenas um tipo
de texto oral. Trata-se de um misto de narrativa com descrição, característica
dos três vídeos que o software apresenta.
87
13) Da presença de atividades interativas
Os softwares do nosso corpus apresentam apenas atividades do tipo
ascendentes e descendentes.
14) Do estímulo à busca de informações e insumo fora do software
Os cursos Talk to me: italiano, Dentro l´italiano e Italicon apresentam
serviço de tutoria a distância. Porém, somente o curso Dentro L´italiano
apresenta atividades que estimulam a interação do aprendiz com fontes
externas. Todas as suas atividades de ditado disponibilizam um botão através
do qual o aprendiz pode enviar suas respostas ao tutor. A Figura 36 apresenta
uma atividade de ditado disponibilizada na unidade Informazioni Telefoniche. O
último botão, à esquerda, embaixo, disponibiliza essa interação.
FIGURA 36 – Dentro L´italiano: Informazioni Telefoniche: exercício de CO
88
3.3.2 Resultados relativos à Parte B
1) Da oferta de atividades que exploram interações face a face
Dentre os softwares de nosso corpus, encontramos apenas duas
atividades com esse perfil. As atividades são disponibilizadas nas unidades In
Albergo e Cercasi Appartamento (FIG. 37 e 38), pertencentes ao curso Dentro
L´italiano.
FIGURA 37 – Dentro L´italiano: unidade In Albergo: atividade de CO
89
FIGURA 38 – Dentro L´italiano: unidade Cercasi appartamento: atividade de CO
2) Dos objetivos de escuta propostos pelas tarefas
A primeira atividade (FIG. 37) da unidade In Albergo, disponibiliza para o
aprendiz um vídeo em que um cliente negocia sua hospedagem com um
recepcionista de um hotel. A cena acontece na recepção. A tarefa do aluno é a
de completar as lacunas presentes na transcrição do diálogo.
A segunda atividade (FIG. 38), pertencente à unidade Cercasi
Appartamento, disponibiliza para o aprendiz um vídeo em que um homem e
uma mulher procuram um apartamento nos classificados de um jornal. O aluno
tem como objetivo de escuta montar um trecho do texto que se encontra
embaralhado na parte de baixo da tela. As atividades, portanto, não
apresentam objetivos coincidentes com demandas de situações de escuta do
mundo real.
90
3) Da qualidade dos textos orais das atividades
Nenhuma das duas atividades apresentam textos orais que reproduzem
características típicas da oralidade em situações de interação face a face. Não
há, por exemplo, repetições, falsos começos ou hesitações, dentre outras
características. O único aspecto que consideramos se aproximar do que
poderia ser considerado como típico da oralidade seria a velocidade de fala dos
personagens do diálogo. De fato, não há uma tentativa de diminuir demais as
suas velocidades de fala.
4) Da utilização de vídeo e da qualidade dessa utilização
As duas atividades utilizam vídeo. Em ambas, as expressões faciais e
corporais dos interlocutores condizem com o que está sendo dito no texto. No
entanto, constatamos que nenhuma delas incentiva a utilização das imagens
para a construção de sentido, nem sequer conscientiza o aprendiz sobre essa
utilização.
5) Dos itens 2, 4, 5, 7, 8 e 9, da lista de checagem B
Esses itens não foram contemplados em nenhuma das duas atividades.
91
CONCLUSÕES
Constatamos em nossa análise, que todos os softwares disponibilizam
atividades específicas de CO Isso reflete uma preocupação com o
desenvolvimento, também específico, dessa habilidade. Consideramos esse
aspecto positivo, já que partimos do pressuposto de que é necessário que um
material didático, destinado ao ensino de línguas para a comunicação, ofereça
oportunidades de aprendizado de CO que vão além do simples contato com o
insumo.
A organização das atividades de CO em pré-escuta, escuta e pós-escuta
mostra uma preocupação em oferecer ao aprendiz uma oportunidade de
experienciar a CO de uma maneira mais condizente com a CO em situações
reais; incluindo situações de interação face a face. Ao mesmo tempo, essa
configuração considera a natureza interativa da CO De fato, as atividades de
pré-escuta têm como meta principal acionar os esquemas do leitor, relativos ao
texto alvo, e fixar os objetivos de CO para a escuta do texto. Sabemos que em
situações reais de CO, o ouvinte constrói o significado do texto que escuta, não
só a partir das informações ali presentes, mas também a partir do seu
conhecimento anterior. Esse ouvinte, além disso, dificilmente se aventura na
empreitada da compreensão de um texto oral sem ter uma meta ou objetivo
relacionado à escuta daquele texto. Dessa maneira, durante uma conversação,
por exemplo, o ouvinte poderá considerar apenas as informações que lhe
interessam para cumprir seus objetivos de escuta. Cabe às atividades de
escuta oferecer ao aluno meios para aprender a explorar o texto oral com o
qual está lidando, e para que tenha sucesso na compreensão. Não é, portanto,
tarefa da atividade de escuta testar a compreensão do aprendiz, mas, sim,
ensiná-lo a compreender textos orais. As atividades de pós-escuta, por sua
vez, têm como meta principal, rever os pontos mais problemáticos do texto
escutado, conscientizando o aprendiz sobre tais pontos, e oferecer-lhe meios
para expandir seus conhecimentos sobre a língua alvo.
Gostaríamos de avaliar, portanto, como positivo, o fato da unidade de
CO do curso que analisamos – Italicon – organizar suas atividades de CO em
pré-escuta, escuta e pós-escuta. Acreditamos que tal escolha corrobora o
desenvolvimento da habilidade de CO em interações face a face na medida em
92
que guia o aluno em uma prática que lhe permitirá o desenvolvimento de uma
habilidade que será usada em qualquer situação real de escuta, inclusive nas
próprias interações face a face.
A explicação das atividades a serem cumpridas durante a escuta – o que
fornece objetivos de escuta para o aprendiz – poderiam ser feitas, no módulo
de CO do curso Italicon, durante a pré-escuta, mas isso não acontece. As suas
atividades de pré-escuta trabalham a antecipação dos assuntos do texto, o
que, de fato, estimula a ativação dos esquemas do aprendiz sobre ele.
Observamos, também, que a atividade de pré-escuta não estimula o aluno na
criação consciente de hipóteses sobre o texto. Acreditamos que a atividade de
pré-escuta seria mais rica, se cumprisse também essas duas tarefas, tanto a
de fornecer com clareza, ao aluno, seus objetivos de escuta, quanto a de
exercitar a criação consciente de hipóteses sobre o texto alvo.
A respeito da criação consciente de hipóteses, sugerimos a adaptação
de técnicas que consideramos tradicionais, com o cuidado de não desperdiçar
os recursos que o meio informatizado disponibiliza. A Figura 39 mostra uma
sugestão de atividade de pré-escuta que apresenta elementos cujo foco é
auxiliar o aluno no levantamento consciente de hipóteses sobre o texto que
deverá ser ouvido a posteriori, ou seja, o texto alvo da unidade.
10
Utilizamos a
técnica de fazer perguntas abertas ao aluno sobre temas relacionados ao texto
(Apêndice C), de modo a acionar seus schemata, sendo que uma delas
contextualiza o texto e pergunta diretamente ao aluno o que ele espera ouvir. O
texto alvo, intitulado I diritti di tutti
11
, consiste em um diálogo em que Monica
conta para Dario sobre a sua experiência em se deslocar em uma cidade
turística italiana acompanhando um amigo portador de deficiência física que
precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Durante o diálogo, ela
10
Foram apresentadas neste trabalho duas propostas de atividades (FIG. 39 e 40). Ambas são
protótipos e têm como objetivo representar duas soluções de problemas específicos de cunho
pedagógico – a saber: a necessidade de uma atividade de pré-escuta que auxilie o aprendiz a
levantar hipóteses conscientes sobre o texto alvo, e a demanda de atividades interativas. Isso
quer dizer que não apresentamos, através delas, soluções finais de desenho, tampouco outras
soluções pedagógicas além daquelas aqui anunciadas. Em termos práticos, elas não estão
prontas para codificação. Sua natureza prototípica, de fato, caracteriza-as como próprias de
etapas iniciais de processos de desenvolvimento de softwares, quando avaliações (incluindo
pedagógicas) e eventuais alterações devem ser feitas, gerando um menor impacto financeiro,
ou seja, menos horas de trabalho empenhado.)
11
Elaboramos as atividades (FIG. 39 e 40) a partir dos textos I diritti di tutti e Le professioni
disponizilizados no livro Attività d´Ascolto.
93
aponta as dificuldades pelas quais passou, e ambos colocam suas opiniões
sobre a questão da adaptação das cidades para esse tipo de demanda, ou
seja, para a facilitação da locomoção de deficientes. As perguntas 1 e 2
12
(Quadro 16) têm com objetivo principal estimular os conhecimentos prévios dos
aprendizes sobre o assunto. A pergunta 3 tem como objetivo incentivar o aluno
a levantar hipóteses diretas sobre o texto. Juntamente com as perguntas 1 e 3,
estão disponibilizados 2 botões. O botão SALVAR, colocado também na
pergunta 2, permite que o aprendiz grave suas respostas. O botão DICAS
permite que o aprendiz tenha acesso aleatoriamente a respostas de outros
aprendizes. O objetivo da função acionada pelo botão DICAS é permitir que o
aluno entre em contato com o insumo produzido por outros aprendizes – ou
seja, suas respostas às mesmas perguntas – tendo como resultado a
possibilidade de aquisição de vocabulário, estruturas, elementos relacionados
ao tema em discussão, dentre outras vantagens. Com isso, nossa meta foi
incentivar a ativação de conhecimentos prévios do aprendiz, com as perguntas,
e ampliar ou formar, com a função dicas, seus schemata, através da interação
assíncrona com outros aprendizes. Consideramos que essa ampliação ou
formação de schemata deverá auxiliar o aprendiz não só na compreensão do
texto alvo da unidade, mas também lhe será útil quando se deparar com textos
orais em situações reais que tratarem do mesmo assunto.
12
A pergunta 1 foi reproduzida na íntegra e consta no livro Attivitá di Ascolto, porém incluímos a
pergunta “Dove abiti?” (Onde você mora?). Nossa intenção foi contextualizar as respostas,
pensando nos outros aprendizes que porventura as lessem.
94
FIGURA 39 - sugestão de atividade de pré-escuta (protótipo)
QUADRO 16
Perguntas da sugestão de atividade 1
1) Onde você mora? Na sua cidade é fácil para um portador de necessidades
especiais se locomover? Há muitas barreiras arquitetônicas?
2) Na sua opinião, as cidades italianas estão preparadas para a circulação de
portadores de necessidades especiais?
3) No diálogo que você vai escutar, Monica conta para Dario a sua experiência de
ter acompanhado em uma cidade turística italiana um portador de
necessidades especiais que se locomove em uma cadeira de rodas. Na sua
opinião, como foi a experiência? Eles tiveram dificuldades? Quais? Descreva
pelo menos três.
Com relação ainda à atividade de pré-escuta do módulo de CO do curso
Italicon, consideramos negativa a falta dos traços visuais do gênero panfleto a
que pertencem os textos ali presentes A nosso ver, essas características
poderiam, por exemplo, ser utilizadas como elemento base para discussões
sobre a noção de gênero; e poderia ainda ser expandida para os textos orais.
95
Conscientes dessa noção, os aprendizes poderiam ter mais argumentos para
se basearem, por exemplo, na descoberta e utilização de estratégias de CO,
em qualquer tipo de contexto.
Consideramos negativa, nos softwares de nosso corpus, a ausência de
atividades de CO que envolvam o aprendiz em situações cujo objetivo de
escuta seja típico de situações do mundo real. Pedir para que o aprendiz ouça
uma entrevista de emprego e anote, em um formulário específico, os dados do
candidato, seria um bom exemplo de uma atividade que considera situações e
objetivos de CO do mundo real. Para um software que pretende ensinar uma
língua para interação face a face e, portanto, a CO correspondente para esse
tipo de interação, é de fundamental importância apresentar atividades cujo
objetivo de escuta reflita demandas típicas do contexto de interação face a
face. Na atividade disponibilizada na unidade In Albergo (FIG. 37), por
exemplo, em que é mostrada a interação entre um cliente e um recepcionista
de um hotel, poderia ser pedido para que o aprendiz ouvisse o diálogo e
completasse uma ficha de cadastro do cliente. Dessa forma ele estaria
desempenhando um papel possível para o recepcionista. Com relação à
atividade disponibilizada na unidade Cercasi Appartamento (FIG. 38), poderia
ser disponibilizada uma série de anúncios classificados, imitando o formato de
um jornal. Ao aluno, caberia ouvir o diálogo entre o casal do vídeo e, a partir da
audição, selecionar o anúncio que foi escolhido. Vale ressaltar que atividades
desse tipo oferecem ainda uma boa oportunidade para que sejam trabalhadas
as dificuldades de CO em língua estrangeira e estratégias de CO Essa
oportunidade será ainda mais palpável se o texto oral escolhido mantiver suas
características reais. Tomemos como exemplo a utilização de textos que,
sendo uma amostra de interação face a face, apresentam características como
repetições de palavras e tópicos, falsos começos, velocidade normal de fala,
hesitações etc.
O curso Q-express não define claramente o nível de proficiência em
língua italiana indicado para sua utilização. Como se trata de um software de
prateleira, o aprendiz iniciante poderia comprá-lo com o intuito de estudar
italiano. Ao utilizar o software, no entanto, esse aprendiz iniciante se depararia
com instruções pouco claras para ele, como vimos nos resultados de nossa
avaliação. Deveríamos insistir em uma reformulação dessas instruções, mesmo
96
considerando que se trata de atividades simples e bem conhecidas, como
completar lacunas ou escolher uma resposta em uma lista de múltipla escolha.
Consideramos que o simples fato de as instruções serem na língua alvo pode
dificultar a compreensão, sobretudo por parte do aluno iniciante. Essa
dificuldade está no fato de que se exige mais esforço cognitivo do aluno neste
nível, que terá que inferir mais, por não conhecer ainda as formas da língua
alvo. Esse trabalho cognitivo extra pode não ser bem vindo, já que o mesmo
poderia desviar os esforços cognitivos do aluno do foco da atividade, ou seja,
da tarefa de CO do seu texto alvo. Gostaríamos de sugerir que as instruções
dirigidas ao público iniciante fossem elaboradas de maneira mais simples e
direta, com frases curtas e em ordem canônica, e que fosse privilegiado o uso
de cognatos. Outra solução, a nosso ver, seria a disponibilizaçao de um botão
que permitisse ao usuário ter acesso a uma versão da instrução traduzida em
sua língua materna.
Acreditamos que equipar o curso apenas com feedback genérico seja
uma escolha muito pobre. Do nosso ponto de vista, ao simplificar os tipos de
feedback dessa maneira, abre-se mão de aproveitar o grande potencial desse
tipo de ferramenta. Perde-se, por exemplo, um excelente canal para se
trabalhar, com o aluno, questões que dizem respeito à conscientização das
dificuldades de CO em língua estrangeira e, também, sobre estratégias de CO
Avaliamos, portanto, que os softwares de nosso corpus apresentam uma
carência de recursos no que diz respeito ao feedback automático, já que só
apresentam feedback do tipo genérico.
Outra carência, percebida na avaliação dos softwares, diz respeito,
exatamente, ao trabalho com as dificuldades de CO em língua estrangeira e
com as estratégias de CO Como demonstrado em nossa análise, nenhum dos
softwares se preocupa com essas questões. Avaliamos essa carência como
negativa no que diz respeito ao ensino de CO para comunicação. Partimos do
pressuposto de que, inevitavelmente, ouvintes que se inserem em interações
face a face em uma língua estrangeira vão se deparar com problemas ou
dificuldades de CO durante a sua empreitada. Eles terão também, mais cedo
ou mais tarde, que lançar mão de estratégias de CO para ter sucesso na
compreensão. Cabe ao software, portanto, disponibilizar atividades que
97
trabalhem esses fatores, ou seja, que auxiliem o desenvolvimento desses dois
aspectos.
Consideramos muito importante, para o desenvolvimento da sua
habilidade de CO, que um aprendiz tome consciência de suas próprias
dificuldades. Seria, portanto, extremamente positivo se os softwares que
pretendem auxiliar o desenvolvimento da habilidade de CO fossem
desenvolvidos de maneira tal que conseguissem empreender essa
conscientização. Gostaríamos de sugerir uma solução informatizada que
conjuga o trabalho de conscientização sobre as dificuldades de CO do próprio
aprendiz, estratégias de CO e a utilização de feedback estratégico. Atividades
inteligentes e, portanto, sensíveis às respostas e reações do aprendiz,
poderiam determinar de alguma maneira as dificuldades desse aprendiz. A
partir de sua análise, elas poderiam conscientizar o aluno a seu respeito e
sobre as estratégias que poderiam auxiliá-lo a superá-la. O feedback
estratégico seria um bom meio para tal interação entre software e aprendiz.
A utilização de vídeos em atividades de CO é de fundamental
importância, já que a partir deles é possível ampliar a gama de informações a
respeito do texto oral a ser escutado. Através do vídeo o aprendiz terá acesso
a imagens, contextos e a expressões faciais e corporais dos locutores e
interlocutores. Partimos do pressuposto de que a CO é de natureza multimodal
para dizer que, dessa maneira, o aprendiz terá mais material para compreender
o texto que escuta. Ele lançará mão exatamente das informações visuais a que
terá acesso. Para que a informação contida nos vídeos possa ser utilizada, é
necessário que seja condizente com os textos a que se refere. Ao contrário, o
vídeo não passará de um mero enfeite.
Os softwares que analisamos apresentam atividades de CO com vídeos.
Todos os vídeos condizem com os respectivos textos. No entanto, nenhum
deles apresentou uma tentativa de guiar o aluno na exploração das imagens
com o objetivo de criar sentido, ou ainda, de serem conscientizados sobre essa
possibilidade. Do nosso ponto de vista, essa omissão indica que os softwares
não exploram os vídeos da maneira que poderiam, com o intuito de ensinar CO
para a comunicação.
O reconhecimento de funções comunicativas é também uma habilidade
necessária para o indivíduo que se propõe a compreender um texto oral. A
98
compreensão de funções comunicativas está estritamente ligada à sua
situação de ocorrência, aos participantes e aos objetivos do interlocutor.
Consideramos que cabe ao software que se propõe a ensinar línguas para a
comunicação, auxiliar o aprendiz a perceber tais funções, sempre associando-
as aos fatores a que estão ligadas. Avaliamos os softwares como deficitários
com relação a esse item, pois não apresentam atividades de CO que auxiliem
os alunos nesse reconhecimento.
Em situações reais, o ouvinte terá à sua disposição uma redundância de
pistas que poderão ser utilizadas na CO Essa redundância se apresenta, por
exemplo, como repetições características em interações face a face, ou ainda
como informações que aparecem tanto na dimensão oral-auditiva quanto na
visual. Nesse sentido, podemos lembrar de uma situação de escuta em uma
estação ferroviária, rodoviária etc., em que o ouvinte poderá contar com os
avisos sonoros, mas também com placas como fonte de informação. Mais uma
vez, acenamos para a característica multimodal da compreensão oral. Esse
item é contemplado por todos os softwares em análise.
Uma língua natural é composta por vários elementos constitutivos, tais
como formas, dispositivos coesivos, padrões de acento, estrutura rítmica,
contornos entonacionais etc. Cada um desses elementos, ou aspectos,
carregam informações que serão utilizadas para veicular informações durante a
comunicação. Um ouvinte de sucesso terá, portanto, a habilidade de
reconhecer e de fazer uso dessas informações para construir sentido durante a
escuta. Os softwares de nosso corpus não contribuem para auxiliar o
desenvolvimento dessa habilidade em seu aprendiz. Eles sequer mencionam
essa possibilidade. Consideramos que, ao não contemplar esse item, os
softwares, mais uma vez, demostram não cumprir o seu objetivo de ensinar CO
para a comunicação e, conseqüentemente, aquele de ensinar línguas para a
comunicação.
O reconhecimento de sentido literal e implícito é também uma habilidade
necessária para um ouvinte de sucesso, seja em língua materna, seja em
língua estrangeira. Essa necessidade vem do fato de que os textos orais em
escuta podem vir carregados de sentidos implícitos. Cabe, então, ao aprendiz,
aprender a reconhecer também sentidos implícitos. Os softwares do nosso
corpus falham nesse item. Não apresentam nenhuma atividade que explore
99
essa questão. Mais uma vez eles não cumprem, do nosso ponto de vista, com
o seu objetivo de ensinar CO para a comunicação.
Atividades interativas têm como característica demandar esforços
cognitivos tanto de natureza ascendente quanto descendente. Para construir
sentido durante a escuta, o ouvinte irá fazê-lo a partir desses dois processos,
por isso, eles são importantes para o desenvolvimento da habilidade de CO Os
softwares do nosso corpus, segundo nossa avaliação, poderiam ser
complementados por atividades que previssem ambos os esforços cognitivos,
ou seja, interativas, já que somente apresentam atividades ascendentes e
atividades descendentes, como visto na seção resultados da análise.
Aproveitamos a oportunidade para sugerir uma atividade que
consideramos do tipo interativa (FIG. 40), pois para concluí-la com êxito, o
aprendiz teria que lançar mão tanto de processos ascendentes quanto
descendentes. A atividade de pré-escuta apresenta o relato de três pessoas
sobre os seus respectivos trabalhos. Ao aluno é proposta a leitura dos três
relatos e a tentativa de inferir qual seria a profissão de cada personagem, o que
não é dito durante os relatos. A esse esforço cognitivo do tipo descendente, é
agregado também um esforço do tipo ascendente, já que, na questão seguinte
(questão C) pedimos que o aprendiz ouça o texto e confirme suas expectativas,
ou seja, confirme se ele adivinhou ou não a profissão dos personagens. Para
conferir suas hipóteses, de fato, o aprendiz terá que encontrar pistas no texto
alvo, nas quais ele poderá se basear. Trata-se, portanto, de um exercício que
demanda esforços do tipo ascendente. Vale ressaltar que o texto alvo, além de
apresentar os trechos já lidos pelos aprendizes, apresenta uma entrevista na
qual os mesmos personagens são perguntados sobre as características
positivas e negativas de suas respectivas ocupações (Apêndice D). O Quadro
17 apresenta as questões da atividade. Inserimos também nele os botões
SALVAR e DICAS. O seu funcionamento é explicado acima, na descrição da
sugestão da atividade de pré-escuta, I Diritti di tutti (FIG. 39).
13
13
No caso da atividade de pré-escuta interativa Le professioni, os respectivos botões DICAS
dão acesso somente às respostas relativas à questão B.
100
FIGURA 40 – Sugestão de atividade de pré-escuta interativa – protótipo
QUADRO 17
Perguntas da sugestão de atividade 2
1) Nos trechos seguintes, Andrea, Simona e Mario falam sobre os seus trabalhos.
Leia-os com atenção e responda as questões.
a) Na sua opinião, qual a profissão deles?
b) Quais são, na sua opinião, os aspectos positivos e negativos das
profissões deles? (Faça um brainstorm)
c) Escute o diálogo e confirme suas hipóteses.
Consideramos que o material disponibilizado em um softwares para
ensino de línguas seja bastante limitado, ainda que apresentem material
variado. É necessário, portanto, incentivar o aprendiz a buscar mais materiais
fora do software. Avaliamos os softwares de nosso corpus como deficitários, no
que diz respeito a esse item. Nenhum deles apresenta atividades de
compreensão oral que estimulem essa busca externa.
Avaliamos os softwares de nosso corpus como deficitários também no
que diz respeito à disponibilização de atividades que exploram interações face
101
a face, tanto com relação à sua quantidade, quanto à sua qualidade. No que
diz respeito à quantidade, de fato, são disponibilizadas apenas duas atividades
com essas características, sendo que ambas pertencem somente a um dos
cursos – a saber, o curso Dentro L´italiano. No que diz respeito à qualidade,
consideramos bastante comprometedor o fato de os textos das atividades
apresentarem somente a velocidade de fala como uma das possíveis
características desse tipo de interação no mundo real. Consideramos também
comprometedor o fato de os vídeos apresentados nas atividades não serem
explorados apropriadamente. Gostaríamos de sugerir, portanto, a utilização de
textos cujas características se aproximem do mundo real, em situações de
interação face a face, e de sugerir o desenho de atividades que guiem os
aprendizes na utilização das imagens dos vídeos para a construção de sentido.
Enfim, consideramos também bastante deficitário o fato de essas duas
atividades não corresponderem minimamente às demandas relacionadas aos
itens 2, 4, 5, 7, 8 e 9, da lista de checagem B (apêndice B).
Em uma análise final, concluímos que os softwares de nosso corpus não
apresentam material necessário para o apoio no aprendizado da língua italiana
em interações face a face. Considerando a CO como elemento-chave para
esse tipo de interação, a carência que apontamos é real, já que não há material
suficiente para o desenvolvimento da CO Apesar de os softwares
demonstrarem uma preocupação com o desenvolvimento específico da CO,
eles não o fazem com a qualidade necessária. De fato, podemos constatar a
carência completa de atividades que tentam refletir objetivos do mundo real; de
feedback automáticos do tipo situado e estratégico; de atividades que visam a
conscientização do aprendiz a respeito das dificuldades na CO em língua
estrangeira; de atividades que visam o ensino de estratégias de CO; de
atividades de vídeo que conscientizam o aprendiz a respeito da utilização de
seus aspectos visuais na construção de sentido; de atividades que auxiliam o
aprendiz a reconhecer funções comunicativas, associando-as com situações,
participantes e objetivos; de atividades que ajudam aprendiz a reconhecer
componentes da língua alvo (formas, dispositivos coesivos, padrões de acento,
estrutura rítmica, contornos entonacionais etc.) e os seus respectivos papéis na
veiculação da informação; de atividades que visam a auxiliar o aprendiz a
102
reconhecer sentidos implícitos; de atividades do tipo interativa; e, finalmente,
de atividades que estimulam o aprendiz a procurar recursos fora do software.
Além desses aspectos, constatamos uma escassez de atividades que
apresentam interações face a face, o que corrobora ainda mais a nossa
conclusão de que os softwares de nosso corpus não estão adequados à
proposta de desenvolvimento da CO para esse tipo de interação. Notamos que
apenas duas atividades com esse perfil são oferecidas pelos softwares, sendo
que ambas pelo curso Dentro L´italiano. Notamos também que essas
atividades são deficitárias no que diz respeito à sua qualidade e não
apresentam textos orais cujas características correspondam aquelas do mundo
real – salvo a velocidade de fala – e nem exploram como poderiam o aspecto
imagético dos vídeos que disponibilizam. As atividades, por fim, não
apresentam a menor inclinação em corresponder às demandas apontadas nos
itens 2, 4, 5, 7, 8 e 9, da lista de checagem B (Apêndice B).
103
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105
APÊNDICE A
Lista de checagem preenchida – Parte A
Q-
express
D.
l´italiano
Talk to
me
Italicon
1. O material
oferece atividades
específicas de CO?
sim sim sim sim
2. As atividades são
estruturadas em
pré-escuta, escuta e
pós escuta?
não não não sim
3. Se presentes, as
atividades de pré-
escuta visam ativar
esquemas e/ou
antecipar elementos
do texto
relacionados ao
texto alvo (aspectos
culturais, tema,
participantes,
estruturas ou
funções
lingüísticas)?
---- ---- ---- sim
4. Se presentes, as
atividades de
escuta visam guiar
o aluno na
compreensão do
texto, ao invés de
testar a sua
compreensão?
---- ---- ---- sim
5. Se presentes, as
atividades de pós-
escuta visam
checar a
compreensão dos
estudantes,
levantar, repetir e
explicar os pontos
problemáticos do
texto e/ou ampliar
conhecimentos
sobre elementos da
língua alvo?
---- ---- ---- sim
6. O material
oferece atividades
que tentam refletir
objetivos de CO do
mundo real?
não não não não
7. As atividades
apresentam
instruções simples,
claras e precisas?
não sim sim sim
8. Qual tipo de
feedback
genérico genérico genérico genérico
106
automático as
atividades fornecem
durante a atividade
de CO (genérico,
situado,
estratégico)?
9. O material
apresenta
atividades que
trabalham
estratégias de CO?
não não não não
10. O material
apresenta
atividades que
informam, de
alguma maneira, o
aprendiz sobre as
possíveis
dificuldades de CO
em língua
estrangeira?
não não não não
11. O material
apresenta
atividades que
identificam,
ressaltam e
informam, de
alguma maneira, as
dificuldades de CO
do aprendiz de
modo a
conscientizá-lo das
mesmas?
não não não não
12. A atividade
informa o aprendiz
sobre – ou o
incentiva a buscar
em fontes externas
– as estratégias que
ele poderia utilizar
para suprir suas
próprias
dificuldades de CO?
não não não não
13. O material
apresenta
atividades de CO
que utilizam vídeo?
sim sim sim não
14. Em caso de
utilização de vídeo,
as imagens
condizem com o
texto? As
expressões faciais e
corporais dos
interlocutores
condizem com o
que está sendo
dito?
sim sim sim -------
15. Em caso de
utilização de vídeo,
não não não -------
107
o aluno é
incentivado ou
guiado a lançar mão
das imagens e/ou
expressões
corporais e faciais
dos interlocutores
para construir
sentido?
16. O material
apresenta
atividades de CO
que ajudam o
aprendiz a
reconhecer funções
comunicativas de
sentenças, de
acordo com
situações,
participantes e
objetivos?
não não Não não
17. O material
oferece
redundância de
informações de
elementos dos
textos orais de
base?
sim sim Sim sim
18. O material
oferece atividades
de CO que ajudam
o aprendiz a
reconhecer formas,
dispositivos
coesivos, padrões
de acento, estrutura
rítmica, contornos
entonacionais da
língua alvo e os
seus papéis na
veiculação da
informação?
não não não não
19. O material
oferece atividades
de CO que ajudam
o aprendiz a
reconhecer sentido
literal e implícito?
não não não não
20. O material
apresenta textos
orais diversificados?
sim sim não sim
21. Qual tipo de
atividades de CO o
material apresenta:
ascendente,
descendente ou
interativa?
Asc. e
desc.
Asc. e
desc.
Asc. e
desc.
Asc. e
desc.
22. O material
oferece atividades
que estimulam o
não sim não não
108
aprendiz a buscar
conhecimentos
sobre a língua alvo
fora do software?
109
APÊNDICE B
Lista de checagem preenchida – Parte B
Q-
express
D.
l´italiano
Talk to
me
Italicon
1. O material
oferece atividades
de CO que
exploram situações
de interação face a
face?
não sim não não
2. As atividades são
estruturadas em
pré-escuta, escuta
e pós-escuta?
não
3. As atividades
apresentam
objetivos típicos
desse contexto de
interação? Face a
face
não
4. Nas atividades,
são trabalhadas
estratégias de CO?
não
5. Nas atividades,
são trabalhadas
possíveis
dificuldades de CO
especificas desse
tipo de interação?
não
6. Os textos
apresentados nas
atividades
reproduzem
características
típicas de discursos
orais em interação
face a face
(velocidade típica,
falsos começos,
repetições,
hesitações etc)?
não
7. Nas atividades, o
aprendiz é
incentivado e
auxiliado a
reconhecer funções
comunicativas de
sentenças, de
acordo com
situações,
participantes e
objetivos?
------
não
------ ------
110
8. Nas atividades, o
aprendiz é
incentivado e
auxiliado a
reconhecer sentido
literal e implícito?
não
9. As atividades
ajudam o aprendiz
a reconhecer
formas, dispositivos
coesivos, padrões
de acento, estrutura
rítmica, contornos
entonacionais do
discurso oral em
interações face a
face e os seus
papeis na
veiculação da
informação?
não
10. As atividades
utilizam vídeo? As
expressões
corporais e faciais
dos interlocutores
condizem com o
que está sendo
dito?
sim
11. Nas atividades,
o aprendiz é
incentivado a lançar
mão das
expressões
corporais e faciais
dos interlocutores
para construir
sentido?
não
111
APÊNDICE C - Atividade I diritti di tutti: Transcrição do texto base
112
APÊNDICE D - Atividade Le
professioni: Transcrição do texto
base.
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