que ela tentou passar para mim — nossa conversa foi, como quase todas as que tive no campo,
uma aula. E Rosângela começou:
— Achei muito interessante a história, das pessoas que vieram morar aqui na América, de como é
que essas pessoas vieram parar aqui. Como é que a pessoa consegue fazer um barco daquele tipo, né?
Ele não era nenhum navegante, nada, como é que ele conseguiu construir, vir para cá, trazer a família
dele... Aí depois eu comecei a entender. Eu pensei: “faz sentido”, porque como é que já tinha índios
aqui, morando aqui, se era tudo cercado de água? De onde é que esse povo saiu? Brotou da terra?
Impossível, né? Daí vem toda aquela explicação que veio a família de Leí para aqui, eles povoaram
essas Américas daqui, e muitos se distanciavam das pessoas das cidades e iam para as matas e se
tornavam, assim, mais selvagens, porque eles perdiam totalmente a civilização, né? Os filhos dos filhos
dos filhos de Leí. Aí eu falei: é, os índios podem muito bem ser lamanitas porque, até mesmo o tom
da pele, né? Eles receberam um sinal e a pele deles ficou avermelhada. Ficaram bem diferentes, porque
os outros eram muito brancos. Para diferenciar, o Senhor colocou uma cor diferente neles e eles ficaram
diferentes. Foi muito interessante. Aí eu falei: “ah, agora tá aí, agora eu sei que eles não brotaram da
terra, os índios, assim do nada.” Os índios vieram dos lamanitas, que foram os que se distanciaram
realmente da civilização. E os nefitas não; os nefitas, eles realmente continuavam, assim, cultivando a
origem deles...
— Mas a guerra foi entre os nefitas... — interrompi.
— E os lamanitas...
— ... que são os antepassados dos índios.
— É. Eles não são maus, mas também não são civilizados. Por exemplo: se você caísse numa tribo
daquelas, eles poderiam comer você, como os índios logo no princípio, né? Hoje em dia não, eles são
mais civilizados; mas, logo quando descobriram o Brasil e coisa e tal, os índios comiam gente, algumas
tribos.
— E os negros?
— Os negros... é engraçado, eu não sabia, aí eu descobri... Os negros, eles são descendentes de Caim.
Porque quando Caim matou Abel, o Senhor também colocou na pele dele uma marca, que foi
exatamente a cor. Ele era branco, como os irmãos dele, e ficou negro, para diferenciar. E o Senhor
deu uma ordem, que não era para ninguém matar Caim, que era para ele viver o resto da vida dele
com o pesar de que ele matou o irmão dele. Para ele pensar no que ele fez, né? E Caim, é engraçado,
porque ele casou, ele teve filhos, e os filhos dele também eram iguais a ele, negros também.
63
Interessante, né?
— Muito.
— E Noé, um dos filhos de Noé, casou com uma das filhas de Caim. Por isso, continuaram a ter
filhos negros também.
— Mas é verdade que os negros não podiam fazer parte da Igreja?
— Exatamente por isso. Por causa dessa marca que o Senhor colocou. Mas depois o Senhor deu uma
revelação que eles já poderiam fazer parte, né? Então isso foi abolido. Você vê, né?
— Hoje tem vários negros na Igreja.
— [Naquela época] eles poderiam entrar para a Igreja. Eles não podiam era receber o sacerdócio. É
diferente. (...) Depois que veio a revelação de que essa lei deveria ser abolida, que eles poderiam receber
o sacerdócio. Aí todos receberam o sacerdócio. (...) Então, tudo isso começa a fazer sentido, é uma
coisa bem organizada. Você vê que desde Caim, desde os nefitas... (silêncio)
— E os japoneses?
— Eles são da tribo de, de... dos lamanitas.
— Mas eles saíram daqui para lá?
63
No Gênesis, quando Caim é expulso do Jardim do Éden, por haver matado seu irmão Abel, Deus o marca para
que ele não seja morto em seu caminho. Existem diversas especulações sobre o que exatamente representa a marca
de Caim, que vão desde a ausência de pêlos no rosto (que faria com que os índios americanos fossem seus
descendentes) até a cor negra da pele (como no caso da IJCSUD). Transcrevo a seguir o trecho da Bíblia que trata da
marca de Caim: “(...) o Senhor, porém, disse-lhe: Portanto qualquer um que matar a Caim, sete vezes será castigado.
E pôs o Senhor um sinal em Caim, para que não o ferisse quem quer que o achasse”. (Gênesis 4.15)