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MICHELY JABALA MAMEDE VOGEL
A noção de estrutura lingüística e de processo de
estruturação e sua influência no conceito e na
elaboração de linguagens documentárias
Dissertação de Mestrado
São Paulo
2007
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MICHELY JABALA MAMEDE VOGEL
A noção de estrutura lingüística e de processo de
estruturação e sua influência no conceito e na
elaboração de linguagens documentárias
Dissertação apresentada à Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Ciência da
Informação, Área de Concentração: Cultura e
Informação.
Orientadora: Profª. Drª. Marilda Lopes Ginez
de Lara
São Paulo
2007
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Autorizo:
[X] divulgação do texto completo em bases de dados especializadas.
[X] reprodução total ou parcial, por processos fotocopiadores, exclusivamente para fins
acadêmicos e científicos.
Assinatura:
Data: 07/05/2007
Vogel, Michely Jabala Mamede
A noção de estrutura lingüística e de processo de estruturação e sua influência no
conceito e na elaboração de linguagens documentárias / Michely Jabala Mamede Vogel. –
São Paulo : M . J. M. Vogel, 2007.
124 p. : il.
Dissertação (mestrado) – Escola de Comunicações e Artes/USP, 2007.
Bibliografia
O exemplar 1 não pode ser emprestado
Linguagens Documentárias
Estruturalismo
Teses
t
Termos de Aprovação
Nome do Autor: ___________________________________________________________
Título da Dissertação/Tese: _________________________________________________
________________________________________________________________________
Presidente da Banca: Prof. Dr. _______________________________________________
Banca Examinadora:
Prof. Dr. ____________________________ Instituição: ___________________________
Prof. Dr. ____________________________ Instituição: ___________________________
Prof. Dr. ____________________________ Instituição: ___________________________
Aprovada em:
_____/_____/______
Existe entre cada um de nós e qualquer outra pessoa o muro de uma língua estranha.
(M. Proust. Em busca do tempo perdido, v.3, p.468).
Dedico esta dissertação a meus pais – meu porto seguro sempre!
Agradecimentos
À Profª. Marilda Lopes Ginez de Lara pela orientação prestada no desenvolvimento deste
trabalho, e também por sua paciência e rigor ao longo destes anos;
Às Prof
as
. Nair Yumiko Kobashi e Anna Maria Marques Cintra, pela preciosas orientações
no exame de qualificação;
À Profª. Maria de Fátima G. M. Tálamo, pelas dicas valiosas, dadas até nos momentos
mais inusitados;
A todos os colegas e amigos pelo apoio e incentivo constantes;
A meus pais, pelo constante estímulo, apoio e força durante todos estes momentos. Sem
vocês esta dissertação não teria acontecido;
Enfim, a todos aqueles que me ajudaram, de uma forma ou outra, a realizar uma travessia
como esta,
Muito Obrigada!!!
Sumário
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FIGURAS
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 1
2. AS LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS............................................................................. 4
2.1. O
CAMPO DE ESTUDOS DA
L
INGUAGEM
D
OCUMENTÁRIA
................................................. 4
2.2.
E
VOLUÇÃO DO
C
ONCEITO DE
L
INGUAGEM
D
OCUMENTÁRIA
............................................ 8
2.2.1. A linha européia.......................................................................................................... 9
2.2.2. A linha brasileira ...................................................................................................... 19
2.3. Q
UADRO
C
OMPARATIVO SOBRE OS
C
ONCEITOS DE
L
INGUAGEM
D
OCUMENTÁRIA
........ 33
3. A LINGÜÍSTICA ESTRUTURALISTA E A NOÇÃO DE ESTRUTURA ..................... 35
3.1. A L
INGÜÍSTICA
E
STRUTURALISTA
................................................................................... 35
3.2. A
NOÇÃO DE ESTRUTURA
................................................................................................. 40
3.3. A
S
D
ICOTOMIAS DE
S
AUSSURE
........................................................................................ 44
3.4. A
INTRODUÇÃO DO SUJEITO NA TEORIA ESTRUTURAL
..................................................... 50
3.5. A
PROPRIAÇÃO DA
L
INGÜÍSTICA PELA
D
OCUMENTAÇÃO
................................................. 55
3.5.1. O termo linguagem na Documentação...................................................................... 55
3.5.2. Linguagem Natural versus Linguagem Documentária ............................................. 62
4. A TERMINOLOGIA E AS LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS ................................. 73
4.1. D
EFINIÇÃO E
H
ISTÓRICO
.................................................................................................. 73
4.2. T
ERMINOLOGIA E
L
INGUAGENS
D
OCUMENTÁRIAS
.......................................................... 76
5. ANÁLISE DE LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS........................................................ 85
5.1. V
OCABULÁRIOS
C
ONTROLADOS
...................................................................................... 85
5.2. E
SQUEMAS DE
C
LASSIFICAÇÃO
........................................................................................ 88
5.3. O SYNTOL ...................................................................................................................... 90
5.4. T
ESAUROS
........................................................................................................................ 91
5.4.1. O Tesauro Funcional ................................................................................................ 99
5.4.2. O Tesauro Terminológico ....................................................................................... 101
5.5. T
AXONOMIAS
................................................................................................................. 103
5.6. O
NTOLOGIAS
.................................................................................................................. 107
5.7. T
OPIC
M
APS
.................................................................................................................... 110
5.8. M
APAS
C
ONCEITUAIS
..................................................................................................... 111
5.9. A L
INGUAGEM
E
PISTEMOGRÁFICA DE
GARCÍA GUTIÉRREZ.................................... 111
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 116
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 118
VOGEL, Michely Jabala Mamede. A noção de estrutura lingüística e de processo de
estruturação e sua influência no conceito e na elaboração de linguagens documentárias.
São Paulo, 2007. 127p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Escola de
Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
Resumo:
Estudo apoiado em revisão bibliográfica sobre a evolução das Linguagens Documentárias
tendo como foco a apropriação da noção de estrutura da Lingüística Estrutural pela
Documentação. A revisão compreende parte das pesquisas desenvolvidas na Europa,
notadamente por Jean-Claude Gardin, García Gutiérrez e Hutchins, e no Brasil, pelo
Grupo Temma. A partir da análise das reflexões apresentadas, propõe-se um quadro das
principais características das Linguagens Documentárias. Para referendar a observação
concreta das Linguagens Documentárias, explora-se o conceito de estrutura lingüística e
das propostas iniciais de seu desenvolvimento, realizando um breve apanhado sobre a
apropriação da Lingüística pela Documentação. Discute-se o significado do termo
linguagem na Documentação e estabelece-se o cotejamento entre as características da
Linguagem Documentária, da linguagem artificial e da linguagem natural. Em seguida, a
partir da constatação de que a Terminologia opera com a noção de estrutura e de
estruturação, procura-se verificar como se concretiza esse apoio para efeito de
organização sistêmica das Linguagens Documentárias e, finalmente, a partir dos
conceitos e reflexões reunidas anteriormente, realiza-se um exercício para verificar se, e
como, os conceitos lingüísticos são integrados às Linguagens Documentárias e
instrumentos semelhantes. Conclui-se que todos os instrumentos utilizam, de um modo ou
outro, a noção de estrutura, variando em rigor como a integram, mas nem tanto a de
estruturação. A atualização das estruturas inicialmente propostas, via estruturação e
reestruturação contínuas, é que se apresenta como problema.
Palavras-chave:
Linguagem Documentária ; Lingüística Estrutural ; Noção de Estrutura; Processo de
estruturação ; Terminologia
VOGEL, Michely Jabala Mamede. The notion of linguistic structure and of structuration
process and the influence of both on the concept and on the development of documentary
languages. São Paulo, 2007. 127p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) -
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
Abstract:
It is a bibliographic review study on the evolution of Documentary Languages that focuses
on the appropriation of the structure notion of the Structural Linguistics by the
Documentation. The review contains part of the developed researches in Europe, notably
by Jean-Claude Gardin, García Gutiérrez e Hutchins, e in Brazil, by Grupo Temma.
Bystander analysis of the presented reflections, it is proposed a framework of the main
characteristics of the Documentary Languages. To support the concrete observation of the
Documentary Languages, it is explored the concept of linguistic structure and of the initial
ideas of its development, making a brief survey on the appropriation of Linguistics by
Documentation. It is discussed the meaning of the term ‘language’ in the Documentation
and it is established the differences and similarities of the characteristics of the
Documentary Language, the artificial languages and the natural language. Subsequently,
bystander the statement that Terminology operates with the notion of structure and of
making structure, it searches to verify how this support can be concrete to the systemic
organization of the Documentary Languages, and finally, bystander concepts and
reflections reunited previously, it is done an exercise to verify if, and how, the linguistics
concepts are integrated to the Documentary Languages and similar tools. It is concluded
that all the tools use, in a hand or another, the structure notion, varying the form and the
rigor of how it is applied. But they do not apply as well the notion of making structure. The
actualization of the structures initially proposed, by means of making continuous structure
an re-structure, still presents as a problem.
Key-words:
Documentary Language ; Structural Linguistics ; Structure Notion ; Structure Process ;
Terminology.
Lista de Quadros
Q
UADRO
1 - L
INHA
E
UROPÉIA
: D
ENOMINAÇÕES PARA AS
L
INGUAGENS
D
OCUMENTÁRIAS
.......................18
Q
UADRO
2 - L
INHA
E
UROPÉIA
: F
UNÇÕES DAS
L
INGUAGENS
D
OCUMENTÁRIAS
.........................................19
Q
UADRO
3 - L
INHA
B
RASILEIRA
: D
ENOMINAÇÕES DAS
L
INGUAGENS
D
OCUMENTÁRIAS
...........................32
Q
UADRO
4 - L
INHA
B
RASILEIRA
: F
UNÇÕES DAS
L
INGUAGENS
D
OCUMENTÁRIAS
......................................32
Q
UADRO
5 - E
STRUTURA
, C
ARACTERÍSTICAS E
F
UNÇÕES DAS
L
INGUAGENS
D
OCUMENTÁRIAS
.................33
Q
UADRO
6 - T
RAÇOS DA
N
OÇÃO DE
E
STRUTURA
.......................................................................................44
Q
UADRO
7 - L
ÍNGUA E
F
ALA
.......................................................................................................................45
Q
UADRO
8 - C
ARACTERÍSTICAS DO
S
IGNO
..................................................................................................46
Q
UADRO
9 - D
IACRONIA E
S
INCRONIA
........................................................................................................47
Q
UADRO
10 - F
ORMA E
S
UBSTÂNCIA
..........................................................................................................47
Q
UADRO
11- P
ARADIGMA E
S
INTAGMA
......................................................................................................49
Q
UADRO
12 - C
OMPARAÇÃO ENTRE
L
INGUAGEM
N
ATURAL E
L
INGUAGEM
D
OCUMENTÁRIA
....................64
Q
UADRO
13 - D
IFERENÇAS ENTRE
L
INGUAGEM
N
ATURAL
, A
RTIFICIAL E
D
OCUMENTÁRIA
.......................66
Q
UADRO
14 - C
OMPARAÇÃO ENTRE
L
INGUAGEM
N
ATURAL E
L
INGUAGEM
D
OCUMENTÁRIA
. ...................67
Q
UADRO
15 - C
ATEGORIAS DO
E
STRUTURALISMO NAS
L
INGUAGENS
D
OCUMENTÁRIAS
............................69
Q
UADRO
16 - S
IGNO NAS LINGUAGENS NATURAL E DOCUMENTÁRIA
..........................................................70
Q
UADRO
17 - C
OMPARAÇÃO ENTRE
L
INGUAGEM
D
OCUMENTÁRIA E
T
ERMINOLOGIA
................................83
Q
UADRO
18 - C
ARACTERÍSTICAS GERAIS DOS VOCABULÁRIOS CONTROLADOS
...........................................87
Lista de Figuras
F
IGURA
1 - GARDIN, 1966
P
.174. .............................................................................................................58
F
IGURA
2 - GARDIN, 1966,
P
.178 .............................................................................................................60
F
IGURA
3 - E
SQUEMA DE
C
LASSIFICAÇÃO DE
N
EGÓCIOS
..........................................................................100
F
IGURA
4 - E
STRUTURA DO
T
ESAURO
.......................................................................................................100
1. Introdução
A Ciência da Informação preocupa-se com a organização e recuperação da
informação e, para isso, propõe metodologias e instrumentos, como os vocabulários
controlados que, com o tempo, se sofisticaram na forma de Linguagens
Documentárias para otimizar a indexação e a busca da informação. O conceito de
Linguagem Documentária foi se refinando com o passar dos anos. E
conseqüentemente, a metodologia de construção de Linguagens Documentárias foi
também sendo aprimorada. Da simples identificação de ocorrência e freqüência dos
termos na literatura, passou-se a propor o arranjo organizacional dos termos que tem,
na noção de estrutura lingüística uma de suas referências principais.
Estudar a influência do conceito de estrutura na organização de Linguagens
Documentárias, e por conseqüência, a própria organização da informação, permite
que se sistematize aquilo que a área já elaborou. Além disso, a reflexão sobre o tema
permite subsidiar a atualização desse conjunto de conhecimentos, importantes para
influir na otimização dos instrumentos de acesso à informação, sua circulação e
comunicação. Só deste modo é possível avaliar o estado da arte das metodologias de
elaboração de Linguagens Documentárias, verificando seus avanços e problemas.
Neste trabalho pretendemos observar como a noção de estrutura, originalmente
proposta por Saussure, como seu desenvolvimento, se faz presente nas Linguagens
Documentárias. Pretendemos verificar se e como ela é observada nas diferentes
contribuições da área de Ciência da Informação ao longo do tempo.
O tema de nossa pesquisa se justifica pela oportunidade de refletir sobre as formas
de organização utilizadas nas Linguagens Documentárias. A área de Ciência da
Informação carece de discussões sobre a elaboração e aplicação desses
instrumentos, e a compreensão das metodologias, conceitos e teorias que influenciam
2
sua construção, bem como os seus desenvolvimentos, é fundamental para o seu
contínuo aperfeiçoamento.
O objetivo principal desta pesquisa é o de observar a organização das Linguagens
Documentárias para identificar suas semelhanças, diferenças, bem como a maior ou
menor proximidade ao uso do conceito de estrutura lingüística, tal como definida por
Saussure. Pretendemos verificar como o conceito de estrutura foi - e vem sendo -
utilizado ao longo do tempo e em que medida ele é efetivamente apropriado pela
Ciência da Informação, e principalmente, quais as vantagens que sua aplicação na
elaboração de Linguagens Documentárias traz para o tratamento de informações.
A metodologia a ser utilizada parte da discussão da noção de estrutura, tal como
proposta inicialmente pela Lingüística de Saussure, considerando seus
desenvolvimentos contemporâneos. O encaminhamento da discussão prevê a
exploração da noção de estrutura nas Linguagens Documentárias, a partir da pesquisa
na literatura sobre Documentação, Lingüística Estruturalista e seus desenvolvimentos,
e Terminologia.
No presente capítulo, introduzimos o tema elucidando os objetivos do trabalho, a
motivação e a metodologia a ser utilizada. No segundo capítulo introduziremos o tema
das Linguagens Documentárias, localizando-o na área da Lingüística Documentária,
sub-campo que se preocupa com os fundamentos teóricos e metodológicos da
Linguagem Documentária.
Procuraremos traçar a evolução do conceito de Linguagem Documentária a partir da
linha européia (França, principalmente) e da linha brasileira (Grupo Temma),
examinando, ao menos em parte, a literatura específica produzida por representantes
3
da vertente originada com Jean-Claude GARDIN, a fim de propor um quadro com as
principais características.
Em seguida, no terceiro capítulo, abordaremos o estruturalismo lingüístico e a noção
de estrutura, referindo-nos às dicotomias propostas por Saussure, em seu Curso de
Lingüística Geral. Introduziremos brevemente a atualização da idéia de estrutura com
a introdução do sujeito nos processos de organização da estrutura lingüística.
Discutiremos também os principais trabalhos da Documentação que seguem as
propostas do estruturalismo lingüístico, procurando identificar, nas Linguagens
Documentárias, suas influências e modos de aplicação. É neste capítulo que
procuraremos verificar o quanto as Linguagens Documentárias integram os conceitos
de língua e de sua estruturação, sistematizando as principais características que a
diferenciam da linguagem natural, no que concerne à Documentação.
No quarto capítulo procuraremos mostrar as relações da Lingüística Documentária
com a Terminologia, visando verificar como as contribuições da literatura terminológica
podem beneficiar o desenvolvimento das Linguagens Documentárias.
No quinto capítulo, apresentaremos as principais Linguagens Documentárias,
analisando nelas a presença dos conceitos estruturais e terminológicos, bem como
ressaltando seus contextos de uso.
Nas considerações finais, faremos a sistematização das contribuições analisadas.
4
2. As Linguagens Documentárias
2.1. O campo de estudos da Linguagem Documentária
O campo que estuda a Linguagem Documentária tem sido progressivamente
delineado. Observa-se que, inicialmente, não se distingue especificamente uma área
exclusiva que trate desses instrumentos, remetendo-se seu estudo à Documentação
de modo genérico. Com GARDIN, as Linguagens Documentárias são incluídas no
campo da Análise Documentária e é com GARCÍA GUTIÉRREZ que começa a tomar
forma um sub-campo particular denominado Lingüística Documentária. Como é natural
numa área em formação ou transformação, há flutuação de denominações, não se
podendo identificar claramente quando as distinções efetivamente passam a ganhar
corpo. Para efeito deste trabalho, procuraremos percorrer os textos da literatura sobre
o tema com a finalidade de confirmar esse desenvolvimento, utilizando a terminologia
encontrada nos diversos tempos. Neste percurso deveremos identificar, também, as
características atribuídas ao termo 'Linguagem Documentária'.
Pela afirmação de GARCÍA GUTIÉRREZ, em 1996, verifica-se que, dentro da Ciência
da Informação, a área que produz as Linguagens Documentárias é a Documentação,
que se preocupa com o “conjunto de procedimentos que se ocupam da organização e
circulação do conhecimento e da cultura de massas” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1996,
p.6). A Documentação também é referida por CINTRA e outras em 1994 (CINTRA e
outras, 1994), como na edição de 2002 e 2005 (CINTRA e outras, 2002; 2005).
Confirma-se o que foi dito quando as autoras afirmam que ela tem sido “responsável
pela triagem, organização e conservação da informação, bem como pela viabilização a
seu acesso” (CINTRA e outras, 2002, p.21). A Documentação se encarregaria de dar
conta das necessidades de informação que variam de domínio para domínio, o que
5
tornaria necessário um trabalho sistemático, começando pela coleta de dados,
operações de controle e registro do material, descrição bibliográfica, até a descrição
de conteúdo (idem, p.24-25). Para as autoras, a Documentação conta com
instrumentos conhecidos como Linguagens Documentárias ou LDs (CINTRA e outros,
2002, p.33), lembrando que:
“nas décadas de 1950 e 1960, com o crescimento do conhecimento
científico e tecnológico, houve dificuldades para armazenar e
recuperar informações. A solução foi encontrada com uma mudança
do enfoque e da conceituação da recuperação da informação. Com
efeito, foi abandonada a perspectiva preferencial de recuperação
bibliográfica e normalização classificatória e descritiva, buscando-se a
construção de linguagens próprias”.
Embora sem uma delimitação clara do campo, reconhece-se uma área de estudos (ou
sub-campo) que se volta especificamente às Linguagens Documentárias. De acordo
com DODEBEI (2002, p.12), a partir dos anos quarenta as Linguagens Documentárias:
“passam a ser objeto de estudo, não só dos bibliotecários, como de
lingüistas e outros profissionais preocupados com a representação de
conteúdos informativos para fins de recuperação e disseminação da
informação, tradução automática, análise de conteúdo, análises
literárias, semióticas e lingüísticas, realizadas manualmente ou de
forma automática”.
Num primeiro momento, as Linguagens Documentárias integravam o processo de
Análise Documentária. A Análise Documentária, termo criado por GARDIN (1973,
p.144-6), parte de três pressupostos principais:
1. Análise Documentária é a extração de sentidos de texto, o que implica em
algo que é “tirado” do texto e designado por um símbolo – que não está
necessariamente no texto, Esse processo gera uma metalinguagem. Por
6
isso, GARDIN (1973, p.144) afirma que “Análise Documentária impõe o
uso de uma (meta-) linguagem artificial (...) diferente da linguagem natural”.
2. Independentemente do campo ou dos objetivos da metalinguagem, os
procedimentos para seu desenvolvimento são similares, em três aspectos:
a. Nos procedimentos usados para definir a unidade de análise;
b. No levantamento das relações analíticas oferecendo uma
organização semântica à metalinguagem;
c. No fornecimento de relações sintáticas, dando uma estrutura lógica
à metalinguagem.
3. Para fins práticos se faz uma distinção entre relações analíticas (ou
semânticas) e sintáticas (ou lógicas):
a. Assim, é preciso apreender o que são essas relações;
b. É preciso relacionar as duas relações;
c. É preciso tornar a conversão ente linguagem natural e a
metalinguagem fácil e simples.
Ou seja, para GARDIN (1973, p.146), a Análise Documentária envolveria o
desenvolvimento de metalinguagens que precisam ser elaboradas de forma
independente, por campos separados, mas que exibem similaridades estruturais.
Posteriormente, percebeu-se que apesar da Análise Documentária fazer uso de
Linguagens Documentárias, o desenvolvimento destas não é um procedimento da
7
Análise Documentária propriamente dita. De acordo com GARCÍA GUTIÉRREZ, a
“Documentação apresenta dois corpus que se imbricam com a lingüística: a Análise
Documentária e a Lingüística Documentária” (1990, p.24-25), mas que não formam
uma mesma área.
Verifica-se, portanto, que a Análise Documentária utiliza as Linguagens
Documentárias, contudo não é responsável por sua elaboração. De fato, reconhece-se
o papel das Linguagens Documentárias nos procedimentos de Análise Documentária.
Uma Linguagem Documentária responde “pela análise de tratamento da informação
com o objetivo de recuperá-la e disseminá-la” (LARA, 1993b, p.4).
A partir desse reconhecimento, GARCÍA GUTIÉRREZ (1990) propôs a criação de um
sub-campo da Documentação que denominou Lingüística Documentária, que
compreenderia o estudo dos meios de representação da informação, com foco nas
linguagens de processamento e produção para fins de circulação do conteúdo
informacional.
Como afirmam LARA e TÁLAMO (2006),
"O termo Lingüística Documentária foi inicialmente utilizado por
GARCÍA GUTIÉRREZ em 1990 (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990) para
sugerir uma disciplina que, partindo do reconhecimento de que os
problemas relacionados à informação são problemas de linguagem,
busca seus fundamentos nas ciências da linguagem de um modo
geral. Recorre, portanto, à lingüística, à semântica, à gramática
aplicada à gestão da informação, como aos campos afins, como a
análise do discurso, a análise do conteúdo e, de modo geral, as
ciências cognitivas (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1998)".
Verifica-se que as autoras adotam o termo ao afirmarem que a Lingüística
Documentária é que responde pelo desenvolvimento de parâmetros para a elaboração
8
das Linguagens Documentárias, apoiando-se para isso, na Lingüística Estrutural, na
Semiótica, na Terminologia e na Lógica Formal (TÁLAMO e LARA, 2006, p.207). O
artigo em questão - "
O campo da Lingüística Documentária" -
permite confirmar a
aceitação do termo proposto por GARCÍA GUTIÉRREZ, como a delimitação do sub-
campo:
“O reconhecimento explícito que o tratamento e a disseminação da
informação não consistem na formulação de verbalizações, mas na
elaboração de seqüências organizadas em linguagem construída,
exige de forma crescente a composição de um sub-domínio na
Ciência da Informação para agregar os problemas decorrentes dos
processos simbólicos do tratamento e da recuperação da informação,
pesquisá-los e buscar soluções que minimizem a distância entre os
estoques e o uso informação” (idem).
Feita essa introdução à delimitação do sub-campo de estudos hoje reconhecido,
focalizaremos especificamente o conceito de Linguagem Documentária, já que é a
partir dela que o sub-campo se organiza.
2.2. Evolução do Conceito de Linguagem Documentária
A fim de entender o conceito da Linguagem Documentária, veremos sua evolução
enquanto conceito para, então, apresentaremos um quadro com suas características e
funções.
O que hoje conhecemos por Linguagem Documentária recebeu diversas
denominações no decorrer do tempo, de acordo com entendimento do conceito e de
suas características. Neste trabalho, restringiremo-nos à exploração de algumas
contribuições da vertente européia, principalmente a linha francesa e seus
desenvolvimentos, na Espanha, por GARCÍA GUTIÉRREZ, e as considerações de
HUTCHINS (Inglaterra); posteriormente, trataremos da vertente brasileira que teve
9
nessa vertente sua origem. Reconhecemos, no entanto, que as diferentes vertentes
atribuem diferentes denominações a esse instrumento de comutação, conforme os
aspectos colocados em destaque.
Para dar uma idéia do problema, citamos DODEBEI (2002, p.40), que se reporta à
dissertação de Wanderley (1973) que apresenta um levantamento das denominações
que as Linguagens Documentárias receberam ao longo do tempo. Elas foram
chamadas de 'linguagens de indexação', por Melton, de 'linguagens descritoras', por
Vickery, de 'codificações documentárias', por Grolier, de 'linguagens de informação',
por Soergel, de 'vocabulários controlados', por Lancaster, de 'lista de assuntos
autorizados', por Montgomery, e também de 'linguagens de recuperação da
informação' ou 'linguagens de descrição de informação' (WANDERLEY, 1973, p.173
citado por DODEBEI, 2002, p.40).
As denominações acima põem em destaque diferentes traços: os instrumentos para
realizar o processo (Melton), a função de descrição (Vickery), a artificialização (Grolier,
Lancaster, Montgomery), o propósito (Soergel) e a função de recuperação. Mas é a
denominação da linha européia que enfatiza os aspecto da linguagem nessas
ferramentas.
2.2.1. A linha européia
A linha européia é representada por autores como GARDIN, COYAUD, CHAUMIER,
GARCÍA GUTIÉRREZ e HUTCHINS. GARCÍA GUTIÉRREZ ressalta que: “Usava-se o
termo ’linguagem’ para denominar instrumentos classificadores desprovidos de
essência lingüística. Isso até o aparecimento das linguagens combinatórias que
10
inspiraram, despertaram um maior interesse pela lingüística”
1
(GARCÍA
GUTIÉRREZ, 1990, p.76).
Jean-Claude GARDIN é um dos primeiros autores a reconhecer que a atividade de
representação documentária se desenvolve no universo da linguagem. Como já
apontamos, ele é o responsável pela introdução do termo “Análise Documentária” na
literatura da Documentação, e tornou-se uma das principais referências na pesquisa
sobre representação documentária. Uma de suas grandes contribuições foi utilizar os
parâmetros lingüísticos para propor a organização de Linguagens Documentárias,
(LARA, 1999, p.52-4), o que mostra seu pioneirismo.
GARDIN, em um artigo de 1966, apresenta a idéia do que viria a ser conhecido como
Linguagem Documentária. O termo inicialmente usado por ele foi Léxico
Documentário, que o autor define como “uma lista de termos, organizados ou não,
quer servem à indexação documentária”, ou ainda, como um inventário das
correspondências entre os termos dessas listas e as palavras ou frases em linguagem
natural que eles representam (GARDIN, 1966, p.175).
No mesmo ano, COYAUD (1966) usa em seu livro o termo Linguagem Documentária,
que define como “um sistema de signos” que permite a comunicação entre usuário e
documentalista quando o primeiro busca um documento ou referência (1966, p.5).
Para ele:
“Uma linguagem documentária é uma ferramenta de comunicação
mediata, que serve para a comunicação entre seres humanos e
outros humanos autores de documentos. Dito de outra forma, a
1
Todas as traduções dos textos em idiomas estrangeiros constituem tradução livre da autora.
11
linguagem documentária é aquela que o homem emprega para acessar certos
documentos localizados entre outros documentos, em um certo local,
diversamente definido” (idem, p.16).
Pode-se afirmar que COYAUD foi um dos primeiros autores da área de Documentação
a associar a Linguagem Documentária à comunicação.
Para GARDIN a metalinguagem utilizada para representação constitui
“(...) o conjunto dos símbolos através dos quais serão expressas as
equivalências e as diferenciações introduzidas na fraseologia de um
corpus LN dado, para que apareçam as aproximações desejadas
entre as palavras, grupos de palavras, preposições, etc” (GARDIN
2
,
1970, p.633, citado por LARA, 1993b, p.16).
Alguns anos mais tarde, em artigo sobre Análise Documentária e Lingüística, GARDIN
utiliza o termo 'Linguagem Informacional', que seria usado para as classificações e
Linguagens de Indexação, cobrindo tanto listas de termos de índice ou descritores
(GARDIN, 1973 p.141). No mesmo texto, o autor também volta a se referir ao termo
metalinguagem, que agora define como:
“sistema de símbolos usado para expressar conteúdos, (...) tanto
externos à linguagem-objeto na qual o documento sob análise foi
escrito, como com a intenção de facilitar a manipulação destes
documentos em várias formas e para vários objetivos (ex.:
recuperação, classificação, individualização etc. de informação
científica, estudos folclóricos, exegeses, etc)” (idem, p.144).
2
GARDIN, J.C. Procédures d’analyse sémantique dans les sciences humaines. In: POUILLON,
J.; MARANDA, P. (orgs.). Échanges et communications: mélanges offerts à Claude Lévi-
Strauss à l’occasion de son 60ème anniversaire (Tiraje à part). Paris: Mounton, 1970, p.628-
657.
12
CROSS e outros (1968, p.26), em pesquisa coordenada por GARDIN, já adotam o
termo Linguagem Documentária em seu trabalho. Os autores afirmam que Linguagem
Documentária é “todo conjunto de termos, e em alguns casos de procedimentos
sintáticos convencionais, utilizados para representar um certo conteúdo de
documentos científicos, para fins de classificação ou de pesquisa retrospectiva de
informação”.
Os autores acima acreditam que usamos as Linguagens Documentárias, pois
precisamos 'condensar' o conteúdo de textos científicos, a fim de acelerar a consulta,
ao preço admitido de uma certa perda de informação; precisamos normalizar a
expressão desse conteúdo para que noções ou temas análogos sejam sempre
designados pelos mesmos termos ou grupos de termos. Os termos desse vocabulário,
segundo os autores, precisam ser organizados em classes semânticas (CROSS e
outros, 1968, p.27-38). Assim, os autores (idem, p.29-30) continuam:
“A pesquisa automatizada de informações na literatura científica
impõe como evidência a elaboração e o emprego de um sistema de
correspondências entre os elementos lingüísticos próprios dessa
literatura (palavras, construções gramaticais, frases, etc) e as
informações que exprimem – um sistema de correspondência, diriam
os lingüistas, entre “significantes” e “significados”. A linguagem
documentária não é nada mais que esse sistema, desenvolvido
diversamente, contudo, de forma que se compõe somente de um
léxico e/ou de uma sintaxe convencionais, limpos de certas
impropriedades de vocabulários e gramáticas naturais, ou que
compreende também as tabelas e regras de correspondência de uma
linguagem natural versus uma linguagem documentária dada”.
Verifica-se, acima, a idéia de sistema que se desenvolve à parte da linguagem natural,
mas que apresenta relações com os termos dela oriundos. Nota-se, também, que os
13
autores corroboram a idéia de que a linguagem natural é 'impura', contrariamente ao
que deveria acontecer com a linguagem científica.
Um pouco mais tarde, GARDIN ainda trabalha com o conceito de metalinguagem, que
define agora como um sistema simbólico que faz a mediação entre textos e sua
representação (GARDIN
3
, 1974, citado por KOBASHI, 1989, p.48). A menção à
metalinguagem, neste texto, tem a finalidade de fazer ressaltar o caráter simbólico do
vocabulário organizado para gerar as representações de textos.
Nota-se que o termo 'metalinguagem' não é utilizado para substituir o termo
Linguagem Documentária, mas para ressaltar uma de suas características.
No mesmo ano, CHAUMIER (1974) trabalha com as linguagens documentais,
classificando-as em dois grupos: linguagens combinatórias (léxicos) e linguagens de
estrutura hierárquica (classificações). Para o autor:
“As linguagens documentais clássicas, quer sejam de estrutura
hierárquica ou de estrutura combinatória, são linguagens que têm um
grande desenvolvimento lexical e podem possuir uma rede de
relações semânticas. Mas não possuem relações sintáticas, são
linguagens sem gramática. A representação de um documento faz-se
unicamente por meio de uma seqüência de palavras, sempre
tomadas numa única forma” (CHAUMIER, 1974, p.74).
No entanto, o mesmo autor ressalta a superioridade das linguagens de estrutura
combinatória: “as linguagens de estrutura combinatória possuem grande maleabilidade
e riqueza devido à multiplicidade das noções que podem ser expressas por
combinação dos termos do vocabulário utilizado num dado sistema” (CHAUMIER,
3
GARDIN, J.C. Les analyses de discours. Neuchâtel, Delachaux et Niestlé, 1974.
14
1969, p.63). O aspecto a salientar aqui é a importância conferida aos mecanismos
de articulação da Linguagem Documentária, à semelhança do que ocorre na
linguagem natural. São esses mecanismos que fazem uma linguagem no seu sentido
mais verdadeiro.
CHAUMIER
4
(1978, p.17, citado por TÁLAMO, 2001, p.145) destaca, em texto
posterior, que “embora a noção de linguagem documentária seja tão antiga quanto os
primeiros sistemas documentários, sua utilização nem sempre foi acompanhada do
rigor necessário”.
HUTCHINS, autor inglês que também emprega o termo, considera que as Linguagens
Documentárias são os meios de comunicação em sistemas de informação
(HUTCHINS, 1975, p.3) entre documentos e leitores potenciais (idem, p.9). O autor
considera que linguagens como os sistemas de classificação decimal são Linguagens
Classificatórias, enquanto que linguagens como os tesauros são Linguagens de
Indexação. Em nota de rodapé, ele reafirma que o termo Linguagem Documentária é
mais abrangente (idem, p.9). Ao fazê-lo, HUTCHINS demonstra a necessidade de
caracterizar os instrumentos que apresentam um espectro mais amplo de relações
entre seus termos como sendo mais característicos de uma 'linguagem' em seu
sentido efetivo. Para o autor, “as propriedades estruturais características das
Linguagens Documentárias são largamente determinadas pelos seus requisitos
funcionais particulares” (idem, p.11).
Outros teóricos falam, também, de Linguagem Documentária. Em 1987, os espanhóis
GARCÍA GUTIÉRREZ e LUCAS FERNÁNDEZ utilizam o termo Linguagem
4
CHAUMIER, J. Les langages documentaires. Paris, EME: 1978.
15
Documentária
5
, definindo-as como linguagens que “oferecem normas para indexar
univocamente os documentos e as demandas estabelecidas pelos usuários com o fim
de produzir míninos índices de ruído e silêncio documentário” (GARCÍA GUTIÉRREZ e
LUCAS FERNÁNDEZ, 1987, p.67). Os autores também enfatizam suas funções de
organização ou classificação dos dados de um campo científico, técnico ou
especializado e a unificação dos critérios de análise da informação na fase de entrada
do sistema, com os da recuperação da informação, na fase da saída.
Para GARCÍA GUTIÉRREZ, a Linguagem Documentária é um sistema híbrido “com
estrutura e funções próximas (...) aos sistemas naturais” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990,
p.33). O autor continua (idem, p.35):
“(...) a linguagem documentária, segundo o método estruturalista,
seria um sistema organizado de elementos dotados de significação
determinada pelas relações que mantêm entre estas baseadas na
oposição. Neste caso, tanto a estrutura como seus elementos são
artificiais e o principal condicionante do significado é o uso”.
Pode-se observar que GARCÍA GUTIÉRREZ ressalta a noção estrutural que subjaz à
Linguagem Documentária, uma vez que afirma a significação como resultado de
relações opcionais, noção fundante do conceito de estrutura como se verá em capítulo
posterior.
No entanto, o autor não vê a Linguagem Documentária como uma metalinguagem,
pois:
5
No espanhol, utiliza-se “Lenguaje Documental”, mas convencionou-se traduzir o termo para o
português como “Linguagem Documentária”, tal como os franceses. As traduções portuguesas
adotam o termo 'linguagem documental'.
16
“As lds flutuam no nível pragmático e não no teórico e sua aproximação
crescente à estrutura da linguagem natural elimina a acepção
metalingüística usada para denominar listas de meros elementos
simbólicos como efetivamente são muitas classificações” (idem,
p.28).
DUCROT e TODOROV, em 1973, e DUCROT e SCHAEFFER, em 1995, seguem a
definição de Hjelmslev, e propõem a seguinte definição de ‘metalíngua’ em seus
dicionários: “Quando o plano do conteúdo é, por si mesmo, uma linguagem,
encontramo-nos perante uma metalíngua (exemplo: a língua técnica utilizada para a
descrição das línguas naturais)” (DUCROT e TODOROV, 1973, p.41; DUCROT e
SCHAEFFER, 1995, p.47). Para LARA, esse não é exatamente o caso da Linguagem
Documentária, pois como lembra a autora (1993b, p.128), “ela não é um instrumento
para “descrever” a linguagem-objeto, mas para representá-la documentariamente”.
Para a autora, as “LDs são desnaturalizadas porque são construídas buscando a
normalização. Metalinguagem e linguagem desnaturalizadas são essencialmente
diferentes” (idem). Porém, uma vez que uma Linguagem Documentária possa servir
como um instrumento com a função, ainda que secundária, de reconhecer a
significação de uma dada área através sua linguagem, aí sim se poderia falar em
Linguagem Documentária como metalinguagem. CUNHA e KOBASHI (1991, p.48)
dizem que “Em Documentação, “representar” é traduzir um conteúdo por meio de uma
metalinguagem”, e teríamos entre os produtos dessa representação as Linguagens
Documentárias.
GARCÍA GUTIÉRREZ pensa a Linguagem Documentária como um instrumento
comutador e referencial do sistema (1990, p.79), cuja função é estritamente
informativa (idem, p.70), e que intervém como mediadora nos processos de Análise
Documentária (idem, p.71).
17
No dicionário francês organizado por CACALY (1997, p.370-2) temos que:
“Uma linguagem documentária é uma linguagem artificial, uma
metalinguagem, constituída de noções e de relações entre essas
noções. Sua finalidade é de formalizar as noções contidas nos
documentos e na expressão de solicitações de informações. É um
sistema de representação sintético do conteúdo de textos. As
linguagens documentárias constituem uma ponte entre a formulação
de informações escritas no documento e a linguagem própria do
solicitador de informações. De fato, elas servem para indexação e
pesquisa documentária. (...) Enfim, são chamadas de “controladas”
porque as palavras que as compõem devem ser utilizadas de forma
idênticas na análise documentária e na pesquisa”.
A definição acima sistematiza, de certo modo, grande parte das afirmações dos
autores anteriormente citados.
Em 1998, GARCÍA GUTIÉRREZ volta a definir Linguagem Documentária, agora como
“dispositivo léxico construído artificialmente para a análise e a recuperação de um
sistema de informação” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1998, p.90). Neste trabalho, o autor
afirma que as Linguagens Documentárias em geral ignoram o comportamento
enunciativo (idem, p.13), e sugere trabalhar a Linguagem Documentária como uma
linguagem associativa, baseada em estruturas de organização horizontal, criada a
partir de cenários que reproduzem construções discursivas em uma área do
conhecimento. Este novo instrumento o autor denomina Linguagem Epistemográfica
(idem). No quinto capítulo apresentaremos as características dessa linguagem de
forma mais detalhada.
18
Pode-se afirmar que, a partir dos anos 80, de acordo com os textos pesquisados
6
,
portanto, todos os autores aqui citados passam a trabalhar com o termo Linguagem
Documentária, que engloba características já levantadas desde os anos 60, e que
foram sucessivamente refinadas e enriquecidas. Assim, poderíamos dizer que:
Em relação à sua denominação, as Linguagens Documentárias foram chamadas de
Léxico Documentário, Linguagem Informacional, Metalinguagem, Linguagem de
Indexação, Linguagem Documental, Linguagem Classificatória, Linguagem Artificial, e
Linguagem Controlada. Acreditamos que as Linguagens Documentárias trazem um
pouco de cada um desses conceitos, e de certa forma conseguem abrangê-los; para
demonstrar isso, propomos o seguinte quadro:
Denominação Abragência
Léxico Documentário Constituído por um léxico;
Tem regras de combinação;
É utilizado para o tratamento de documentos.
Linguagem Informacional Sistema para levar informação dos documentos aos
usuários, Meio de comunicação.
Linguagem de Indexação Indexação de informações.
Linguagem Classificatória Classificação de informações.
Linguagem Documental Termo adotado pelos autores espanhóis, e portugueses,
contrariamente ao que se adota no Brasil que é mais
próximo do uso francês.
Linguagem Artificial Linguagem construída, não natural.
Linguagem Controlada Seus termos e sua organização são normalizados.
Metalinguagem Descrevem a linguagem natural.
Quadro 1 - Linha Européia: Denominações para as Linguagens Documentárias
Quanto às suas funções, os autores concordam sobre o caráter organizador das
Linguagens Documentárias, como também sobre seu papel de intermediação entre
6
Os trabalhos da Espanha sobre o tema não foram objeto desta pesquisa, observando-se que
muitos deles remetem à mesma matriz teórica inicial, Jean-Claude Gardin, com maiores ou
menores ênfases às questões da linguagem.
19
informação (do sistema) e usuário. São expressões que denotam as funções
documentárias as relacionadas abaixo:
Funções
Termos para indexação
Recuperação de informação
Classificação da informação
Normalização da expressão
Sistema simbólico para mediação
Meio de Comunicação
Descrição da Linguagem Natural
Quadro 2 - Linha Européia: Funções das Linguagens Documentárias
As Linguagens Documentárias também vão sendo refinadas quanto à proposição de
suas características formais. De uma lista de termos, vão a léxico, passam a
incorporar a necessidade de procedimentos sintáticos, até serem reconhecidas
formalmente como estruturas com significação dada pelo uso. Ou seja, mais do que
um instrumento com a função de indexar, as Linguagens Documentárias passam a ser
reconhecidas como um tipo de linguagem.
Pelo exposto, nota-se que houve crescimento teórico na formulação das
características que identificam uma linguagem para fins de indexação, fato que
contribui enormemente para superar a noção de uma lista de termos usados para
representar conteúdos de documentos. A noção de arranjo é progressivamente
construída.
2.2.2. A linha brasileira
A linha brasileira, representada por integrantes do Grupo Temma, apresenta muito em
comum com a linha européia. De fato, a linha nacional se institui e se firmou a partir do
conhecimento teórico dos autores europeus, em particular, de Jean-Claude GARDIN.
20
No Brasil, a questão das Linguagens Documentárias tem sido fortemente
pesquisada por esse Grupo. Formado em 1986, o Grupo Temma é composto, em sua
maioria, por pesquisadores e professores do Departamento de Biblioteconomia e
Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, e
integra, também, alguns pesquisadores da UNESP-Marília. Sua preocupação principal
se dirige à construção de conhecimentos relacionados à organização da informação
7
.
Nota-se que o Grupo, inicialmente organizado em torno da noção de Análise
Documentária, vai progressivamente alterando seu vocabulário para aproximá-lo das
questões gerais de organização da informação. Antes, porém, de abordar esse
aspecto, faremos uma retrospectiva do uso do termo Linguagem Documentária no
Grupo.
Em 1983, CINTRA afirma que as Linguagens Documentárias “possuem uma gramática
que corresponde a um conjunto de regras ou instruções (relações booleanas,
indicadores de funções, etc)” (1983, p.5).
VALE (1987, p.14) trabalha com o conceito de Linguagem Documentária aproximando-
o da linguagem de indexação, e diz que “A escolha de uma linguagem de indexação é
fator essencial para a eficácia de um sistema de recuperação de informação”.
No mesmo livro, CUNHA (1987, p.41) refere-se ao termo Linguagem Documentária
apresentando-o como gênero de léxico que serve para a “conversão entre conceitos
7
Mais informações sobre o Grupo Temma podem ser obtidas no Diretório dos Grupos de
Pesquisa no Brasil, CNPq.
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/resultbusca.jsp?campo=grupo&uf=branco&instituicao=bran
co&grandearea=branco&area=branco&regini=0&setor=branco&texto=Grupo+Temma&tipo=AN
D [Acesso em: 14.12.2006].
21
apresentados de forma independente nas diversas linguagens, e conceitos de
leitura “universal” definidos pela própria Análise Documentária”.
Em sua dissertação de mestrado, GUIMARÃES (1988, p.5) utiliza o termo linguagem
de indexação para discutir a questão da recuperação de informações. Ele também a
adota a divisão feita por CHAUMIER
8
(citado por GUIMARÃES, 1988, p.86), de
linguagens de estrutura hierárquica, que abrangem os sistemas de classificação, e
linguagens de estrutura alfabética ou combinatória, como os índices e tesauros.
Para GUIMARÃES, as Linguagens Documentárias são linguagens artificiais ou
linguagens de indexação, que visam “ao controle do vocabulário e à padronização da
linguagem no processo de busca” (1988, p.89), e preocupam-se com a transmissão do
conteúdo dos documentos. Os termos dessas linguagens não teriam “em primeiro
plano, o compromisso de serem fiéis ao vocabulário do usuário” (idem, p.103), mas
uma fidelidade com o vocabulário especializado (idem, p.103).
No mesmo ano, FUJITA usa a expressão linguagem de indexação, cujo objetivo seria
“representar o significado e o conteúdo dos documentos a serem recuperados através
do índice” (FUJITA, 1988, p.24-25).
Em 1990, CUNHA define a Linguagem Documentária como uma “gramática, sintaxe
construída a partir de um campo semântico previamente determinado” (1991, p.65). A
autora propõe uma diferenciação quanto ao termo Linguagem Documentária, no
singular, como sistema geral, e Linguagens Documentárias, no plural, como os
8
CHAUMIER, J. Travail et méthode du/de la documentaliste: connaissance du problème.
Paris: ESF / Libr. Techniques, 1980.
22
“processos diversificados capazes de traduzir conteúdos de documentos em
informações” (idem, p.19).
Em sua tese de doutorado, FUJITA (1992, p.17) trabalha com conceitos de VAN
SLYPE
9
para Linguagem Documentária ou linguagem de indexação, afirmando que é
“um sistema de representação do conteúdo dos documentos e das perguntas, tendo
como finalidade a recuperação dos documentos. Para isso é dotada de estrutura
própria, controlada, padronizada e hierarquizada” e tem como objetivo “assegurar o
controle do vocabulário para assuntos gerais e específicos”. A autora considera o
tesauro como a Linguagem Documentária mais característica.
TÁLAMO e outras (1992, p.197) introduzem no tratamento do tema Linguagem
Documentária, as questões terminológicas:
“As Linguagens Documentárias são tradicionalmente consideradas
instrumentos de controle terminológico que atuam em dois níveis: a)
na representação da informação obtida pela análise e síntese de
textos; b) na formulação de equações de busca da informação”.
De acordo com LARA, “As LDs são tradicionalmente denominadas instrumentos
comutadores ou de conversão, uma vez que permitem representar a informação
presente numa determinada forma lingüística em outra forma, dita documentária”
(LARA, 1993b, p.4 – nota de rodapé 2). A autora, em sua dissertação de mestrado,
propõe observar outros aspectos das Linguagens Documentárias, como destacamos a
seguir: a identificação das Linguagens Documentárias com “sistemas de significação,
9
VAN SLYPE, G. Linguagem documentária e lingüística. Trad. Cordélia R. Cavalcanti.
Brasília: UNB; Departamento de Biblioteconomia, 1983.
23
com a função de normalizar os conceitos de área, controlar seu uso e viabilizar a
interface documentação-usuário” (idem, p.66).
O texto de LARA propõe afinar as distinções entre a Linguagem Documentária e
instrumentos que têm características parecidas. Para a autora as Linguagens
Documentárias “não são taxionomia ou nomenclatura, não podendo pressupor,
portanto, biunivocidade da relação significado-significante” (1993b, p.78). LARA
propõe distinguir as Linguagens Documentárias dos léxicos, dos vocabulários, das
nomenclaturas e das terminologias, como também das metalinguagens (idem, p.70-
71). Os léxicos seriam “conjunto das unidades que formam a língua de uma
comunidade, atividades humana etc” (DUBOIS e outros, 1988, citado por LARA,
1993b, p.70); os vocabulários, “conjunto das ocorrências que integram um
determinado corpus discursivo, como uma lista de unidade da fala” (DUBOIS e outros,
1973, citado por LARA, 1993b, p.70); a nomenclatura, um instrumento que pressupõe
“biunivocidade da relação significante-significado” (DUBOIS e outros, citado por LARA,
1993b, p.70); as terminologias, “conjunto de termos de uma área, definidos
rigorosamente para designar as noções que lhes são úteis” (DUBOIS e outros, citado
por LARA, 1993b, p.70), e a metalinguagem ,“uma semiótica cujo plano de conteúdo é,
ele próprio, uma semiótica (HJELMSLEV, 1975, citado por LARA, 1993b, p.71). LARA
afirma que as Linguagens Documentárias deveriam ser metalinguagens, “já que seu
conteúdo pretende ser uma semiótica: um sistema de signos (e de significação) que se
reporta a outro sistema de signos (e de significação)” (LARA, 1993b, p.71). Questiona,
no entanto, como já afirmamos, a pertinência da equivalência, baseada na
artificialidade da Linguagem Documentária e de seu caráter redutor. Ao afirmar que
somente através da construção e uso rigorosos de instrumentos mediadores
convenientes como as Linguagens Documentárias é que são geradas mensagens
24
documentárias consistentes, LARA enfatiza a importância de uma característica
comunicativa, tal como COYAUD havia feito antes.
Ainda em relação às Linguagens Documentárias como metalinguagens, LARA afirmar
que “uma LD só seria uma metalinguagem se ela se consubstanciasse, de fato, como
elemento da própria análise, ou seja, se ela funcionasse como instrumento de
conhecimento” (LARA, 1993b, p.126). Essa afirmação aproxima a autora da visão de
GARCÍA GUTIÉRREZ que, conforme se viu anteriormente, questiona a aplicabilidade
do termo.
Mas é ao utilizar as referências à linguagem científica, feitas por GRANGER, que
LARA propõe observar melhor a proximidade da Linguagem Documentária do sistema
de significação das ciências (1993b, p.72), associando, a partir daí, as Linguagens
Documentárias às terminologias. LARA afirma que uma Linguagem Documentária
deve remeter ao simbolismo das ciências, “e não valer-se de sua incidência texto a
texto”. Assim, as Linguagens Documentárias não deveriam ser vistas apenas como
denominações, mas a partir do conceito de representação, permitindo a separação do
processo de elaboração das Linguagens Documentárias do processo de análise de
textos com fins documentários (idem).
Pode-se identificar nessa passagem, uma preocupação que se tornará
progressivamente mais clara em outros textos, em afirmar uma separação de
procedimentos de Análise Documentária e de construção de Linguagens
Documentárias.
O referencial terminológico, em LARA, é associado, também, à “enciclopédia como
conceito”, que “evidencia a necessidade de remissão à especialidade da área”. A
Terminologia como referencial enciclopédico contrapõe-se ao referencial do dicionário.
25
Segundo a autora, o dicionário fornece meios para a interpretação da codificação
lingüística, mas não permite recuperar a referência que é inerente ao texto (1993b,
p.77). “Nesse sentido, a utilização da noção de enciclopédia como “hipótese
reguladora”, pode viabilizar a restituição de referências, se não dos textos
propriamente ditos, pelo menos das significações conforme conceptualizadas pelas
Ciências” (idem, p.78). E a Terminologia permite fornecer elementos “para a restituição
de competências semânticas pertinentes, aumentando, dessa forma, a possibilidade
de recuperação da informação e o desenvolvimento da semiosis” (idem, p.79). Assim:
“A partir dessas premissas, poderemos afirmar que se uma LD quiser
funcionar como uma linguagem instrucional – e se quiser referir – ela
não pode ser construída a partir de palavras do léxico, devendo,
portanto, buscar referência na Terminologia. A Terminologia, ao
referir-se a objetos concretos – ela sim se reporta aos discursos –
refere-se às palavras em funcionamento vinculadas a determinados
contextos, o que lhe possibilita exercer a função referencial de
designação” (idem, p.83).
Em 1994, GUIMARÃES afirma que as Linguagens Documentárias são “os
instrumentos (ferramentas) para que se efetue a tradução de conceitos anteriormente
identificados e selecionados no documento” (1995, p.229). Para o autor, é possível
dizer que “as estratégias de análise monitoram a utilização das linguagens de
indexação e não vice-versa” (idem, p.5), e as linguagens de indexação seriam, então,
uma decorrência desse processo, refletindo “um conjunto documentário em uma
determinada realidade de busca informacional” (idem, p.9). A afirmação de
GUIMARÃES difere, nesse sentido, da de LARA no que diz respeito à autonomia do
processo de construção da Linguagem Documentária.
Em apostila de 1995, KOBASHI fala em Linguagens Documentárias e linguagens
construídas. As primeiras seriam os sistemas de classificação e serviriam para
26
classificação, enquanto que as outras seriam tesauros que serviriam para indexação
(KOBASHI, 1995, p.7). Para a autora, as Linguagens Documentárias seriam formadas
por um léxico reduzido e uma sintaxe precária (idem, p.41).
De modo retrospectivo, TÁLAMO (1997, p.2) afirma que somente por volta de 1970 o
termo Linguagem Documentária afirmou-se na literatura, junto com a difusão do
tesauro documentário, que é um tipo de Linguagem Documentária. Para ela, a
atividade documentária não objetiva a organização como um fim em si mesma, mas
como forma de tornar acessível e possibilitar a circulação efetiva da informação. Neste
ponto nota-se que TÁLAMO retoma a divisão proposta na linha européia, onde o
desenvolvimento das Linguagens Documentárias não é função da Análise
Documentária, e sim um instrumento de organização:
“De fato, problemas relativos à comunicação passam a integrar o
quadro de discussões da área no momento em que se tornar clara a
importância da noção de linguagem. Evidencia-se que operar com o
universo da linguagem não se confunde com a verbalização de
denominações de classes pré-determinadas. Mais uma vez, o recurso
à terminologia da área exemplifica suficientemente esse aspecto: a
utilização do termo lista indica um instrumento de tratamento que se
resume a uma sucessão de palavras, à uma forma de verbalização
distante da noção de arranjo característica de uma linguagem. Já
através dos termos, vocabulário, linguagem documentária e tesauro,
reconhece-se a existência de um sistema que é simultaneamente um
modo de organização de uma foram de comunicação da informação”
(TÁLAMO, 1997, p.3).
A noção de Linguagem Documentária é aperfeiçoada quando TÁLAMO propõe vê-la
como construção feita a partir de hipóteses sobre a organização do conhecimento que
dêem conta de determinada demanda de informação, tendo por variáveis a instituição,
a área de conhecimento, o tipo de atividade, e os segmentos sociais envolvidos
(TÁLAMO, 1997, p.12).
27
A autora ressalta, entretanto, que para que tal linguagem funcione efetivamente, ela
deve ser construída de forma a garantir a presença de um sistema de relações que
permita que ela se apresente como estrutura. Só dessa maneira é possível afirmar que
suas unidades tenham significado e possam ser utilizadas como referência na
representação dos textos que são objetos de sistemas documentários (idem, p.4). Vê-
se, aqui, a importância que a autora confere à noção de estrutura (Discutiremos esta
noção no terceiro capítulo).
Contrariamente à LARA, TÁLAMO fala da Linguagem Documentária como
metalinguagem. TÁLAMO afirma que, em relação ao conhecimento registrado, a LD é
uma metalinguagem que o reelabora como informação. Pode-se afirmar que a autora
recupera a abordagem de GARDIN tornando-a mais clara, conferindo à Linguagem
Documentária algo que não foi reconhecido por GARCÍA GUTIÉRREZ e LARA em
relação à identificação de Linguagem Documentária e metalinguagem. Verifica-se que,
do mesmo modo, que a autora enfatiza a noção de estruturação como sistema de
relacionamento interno à própria Linguagem Documentária, quando afirma que, assim
como a relação entre a linguagem natural e a realidade, a Linguagem Documentária
não se define em relação a acervos, mas "por força das relações que respondem pela
organização da hipótese de representação do conhecimento" (TÁLAMO, 1997, p.10-
12). A autora dá o seguinte exemplo (idem, p.6):
“uma lista de palavras cuja organização se resume à ordenação
alfabética de seus elementos nada representa (...) porque nada
significa. Podemos sim interpretá-la, mas ao fazê-lo, recorremos a
algum sistema de significação, o que equivale a dizer quer tal lista
poderá ter tantos significados quanto forem os sistemas
considerados, segundo os utilizadores envolvidos”.
28
A definição mais formal de Linguagem Documentária proposta por TÁLAMO (idem,
p.10) é a que segue:
"De maneira geral, define-se linguagem documentária (LD) como uma
linguagem construída, oposta à natural, portanto, que tem como
objetivo específico tratar a informação para fins de recuperação.
Atualmente as questões relativas à sua construção são tratadas pela
Lingüística Documentária e aquelas relativas ao seu uso encontram-
se integradas às questões mais amplas relativas ao tratamento e à
recuperação da informação, discutidas no âmbito da Análise
Documentária (AD)".
A questão das hipóteses de organização é reiterada por LARA (1999, p.60), que
afirma que as Linguagens Documentárias são instrumentos de representação
documentária que servem para promover a circulação de informações. As
representações só podem ser reconhecidas a partir de hipóteses de organização da
informação. Assim, LARA afirma que as Linguagens Documentárias, para se
constituírem em instrumento de comunicação devem: “funcionar como código
inteligível, caracterizar-se como metalinguagem, funcionar como fonte para
interpretação de sentido, e incorporar o usuário como integrante do processo” (idem,
p.108).
TÁLAMO (2001, p.145-6) afirma que se acredita “que a linguagem documentária tem a
sua origem na elaboração dos enunciados condensados que acompanhavam as
formas mais primitivas de registro”.
LARA, em 2002, novamente comenta o fato da Linguagem Documentária ser uma
maneira de organizar a informação para mapear uma área e transferi-la a
determinados grupos que apresentam objetivos específicos. Para a autora, “a
29
linguagem documentária configura-se como instrumento facilitador da comunicação
em contextos documentários específicos” (LARA, 2002b).
No mesmo trabalho, a autora complementa a discussão (LARA, 2002b):
“Aliados a princípios de organização lógica, o uso de parâmetros
lingüísticos levou à compreensão de que uma linguagem
documentária deve ser formulada pelo relacionamento entre suas
unidades e não simplesmente pela mera presença dos termos
oriundos de processos de extração. Tal rede de relacionamentos leva
à estruturação do conjunto dos termos a partir de relações do tipo
hierárquico, associativo e de equivalência, o que permite que ela
funcione, mais propriamente, como instrumento de mediação entre
sistema e usuário, ou melhor, entre a linguagem do sistema e a
linguagem do usuário”.
Para CINTRA e outras (2002, p.15), “com os limites próprios de uma linguagem
construída, as linguagens documentárias – LDs – se valem de quase todos os
conceitos apresentados para a LN [linguagem natural], constituem sistemas onde as
unidades se organizam em relações de dependência”. Para as autoras, “compete às
LDs transformar estoques de conhecimento em informações adequadas aos diferentes
segmentos sociais (idem, p.16-7).
CINTRA e outras (idem, p.33) afirmam que as Linguagens Documentárias são
“construídas para indexação, armazenamento e recuperação da informação e
correspondem a sistemas de símbolos destinados a ‘traduzir’ os conteúdos dos
documentos”.
Em outro trabalho (LARA, 2003), em comentário a HUTCHINS (1975) que afirma que
as unidades da Linguagem Documentária são signos que estabelecem relações entre
a forma física dos descritores e o conteúdo informacional representado (seus
30
referentes), LARA observa que não há uma relação biunívoca entre o que é
representado e a forma da representação, já que a Linguagem Documentária é, em si,
um sistema de significação construído a partir de uma hipótese de significação, o que
significa dizer que ela é, também, um signo particular.
A autora reafirma, também, o caráter estrutural das Linguagens Documentárias:
“Uma linguagem documentária só poderá ser propriamente linguagem
se tiver características estruturais que a permitam funcionar como tal.
É por essa razão que as linguagens documentárias mais modernas,
como os tesauros, apresentam-se como estruturas, que
compreendem relações de natureza lógica, ontológica, associativa e
de equivalência. O léxico de uma linguagem documentária se
organiza como uma rede paradigmática e dispõe de regras de
combinação (rede sintagmática), que a despeito das diferenças
relativamente à potencialidade de produzir enunciados como os de
língua, permite a formação de sintagmas, combinação de conceitos
que podem expressar temas informacionais”.
Como lembram BOCCATO e FUJITA (2006, p.28) “a linguagem documentária,
enquanto veículo de comunicação, deve representar os campos conceituais
respeitando a cultura da comunidade à qual a linguagem serve”.
Portanto, podemos verificar ao longo dos anos, a afirmação do termo Linguagem
Documentária como um conceito enriquecido, agregando àquele apresentado pela
vertente européia, outras características que enfatizam seu caráter de 'linguagem'.
A breve revisão permite ver que prevaleceu o termo Linguagem Documentária sobre o
termo linguagem de indexação nas linhas européia e brasileira (esta última, ao menos
no âmbito do Grupo Temma), o que permite afirmar que seu desenvolvimento
31
corrobora uma visão mais abrangente do instrumento de indexação ao ressaltar os
aspectos que reforçam as características de linguagem.
Reconhece-se a função de metalinguagem da Linguagem Documentária, e se propõe
incorporar à sua elaboração hipóteses de organização do conhecimento, que devem
respeitar os interesses e necessidades de variáveis como os usuários, a instituição
que gera e organiza a informação, a área de conhecimento ou atividade, entre outros.
De um léxico reduzido e sintaxe precária, ela passou a ser elaborada seguindo
parâmetros lingüísticos sendo, portanto, compreendida como uma estrutura cujos
termos devem necessariamente estar relacionados para que possam significar de
modo determinado.
Fora do Grupo Temma, a questão da Linguagem Documentária também é observada
por DODEBEI, em seu livro 'Tesauro'. A autora afirma que as Linguagens
Documentárias são metarrepresentações ou representações documentárias
(DODEBEI, 2002, p.39), e são consideradas:
“metacódigos ou metalinguagens, pois são construções artificiais ou
convenções criadas para facilitar o conhecimento de um domínio,
regidas por regras de utilização. (...) As LD são construídas a partir da
LN, quer dizer, tomam como modelo as relações paradigmáticas e as
relações sintagmáticas existentes entre as palavras (idem, p.53).
Para a autora, entre as funções da Linguagem Documentária estão: a função de
organizar um campo conceitual, a função de servir como instrumento para a
distribuição de documentos, e a função de controlar dispersões léxicas nos processos
de análise documentária (idem, p.57).
32
Na linha brasileira, identificamos um aproveitamento e aprofundamento das
questões levantadas pela linha européia. Para continuar as sistematizações, podemos
propor o quadro que co-relaciona denominações à abrangência de aplicação dos
termos:
Denominação Abragência
Linguagem de Indexação Indexação de informações
Recuperação de Informações
Controle do vocabulário
Tradução de conceitos
Uso de Tesauros e Índices
Léxico Reduzido
Regra de Uso
Linguagem Classificatória Classificação de informações
Uso de Esquemas de Classificação
Linguagem Artificial Linguagem construída, não natural
Metalinguagem Reelaboração do conhecimento como informação
Linguagem Construída Oposta a Natural
Recuperação de Informação
Tratamento da Informação
Quadro 3 - Linha Brasileira: Denominações das Linguagens Documentárias
Quanto às funções, observamos a ênfase na questão de significação das Linguagens
Documentárias, preocupação ligada à necessidade de circulação de informações:
Funções
Conversão de conceitos
Recuperação de informação
Classificação da informação
Controle do vocabulário
Controle Terminológico
Transmissão de conteúdo
Sistema simbólico para mediação
Meio de Comunicação
Descrição da Linguagem Natural
Representação das perguntas ao sistema
Sistemas de Significação
Construção feita a partir de hipóteses sobre a organização do conhecimento
Propiciar a circulação de informação
Quadro 4 - Linha Brasileira: Funções das Linguagens Documentárias
33
Atualmente, observa-se, no Grupo Temma, que determinados autores têm investido
nos estudos das relações entre a Linguagem Documentária e a Terminologia.
Postergaremos a discussão para centrarmo-nos nos aspectos comparativos que
permitem falar das principais características da Linguagem Documentária analisadas
até agora neste trabalho.
2.3. Quadro Comparativo sobre os Conceitos de Linguagem
Documentária
A partir do levantamento feito anteriormente, podemos propor uma sistematização dos
conceitos de Linguagem Documentária. Reunimos, nos quadros a seguir, aspectos
das Linguagens Documentárias relativos à sua estrutura, características e funções.
Estrutura Características Funções
- Léxico de noções ou
conjunto de termos;
- Sistema estrutural de
relações;
- Conjunto de regras e
símbolos;
- Hipótese para a
organização dos termos
(organização da
informação);
- Parâmetros lingüísticos e
terminológicos como base
da organização dos
termos
- Linguagem construída,
Metalinguagem;
- Sistema de representação
sintético para representar
o conteúdo de
documentos;
- Ponte entre os
documentos e os
usuários.
- Organização ou
classificação dos dados de
um campo científico;
- Indexação,
armazenamento,
recuperação de
informação;
- Tradução de documentos
e solicitações;
- Controle terminológico;
- Condensação dos
conteúdos;
- Normalização da
expressão;
- Organização dos termos
em classes semânticas;
- Instrumento de
representação de
conhecimento;
- Visualização do mapa de
conhecimento de uma
área;
- Reelaboração do
conhecimento como
informação
Quadro 5 - Estrutura, Características e Funções das Linguagens Documentárias
34
As Linguagens Documentárias, portanto, funcionam como Instrumento de
comunicação para contextos específicos, como uma construção que atende,
simultaneamente, aos objetivos e necessidades de seus usuários, da instituição que
produz e organiza o conhecimento, das atividades, etc.
Pelo exposto, verifica-se que as Linguagens Documentárias utilizam, em sua
elaboração, referências a parâmetros lingüísticos, principalmente os da lingüística
estruturalista. Para que essa observação se torne mais clara, procuraremos explorar
melhor a noção de estrutura no quadro da Lingüística Estruturalista, verificando,
depois, suas influências na Documentação via Lingüística Documentária.
35
3. A Lingüística Estruturalista e a Noção de Estrutura
A Lingüística Estruturalista foi desenvolvida por Saussure, sendo divulgada em 1916,
quando do lançamento do Curso de Lingüística Geral (CLG), publicado por seus
alunos de acordo com anotações de aula. O foco do Cours é a língua como sistema
(PAVEAU e SARFATI, 2006, p.63). De fato, o termo 'estrutura' está ausente do Cours -
Saussure falava em 'sistema' -, mas foi utilizado pelos seus seguidores. A partir de
então, a noção de estrutura passou a permear diversas áreas de conhecimento além
da Lingüística, como a Psicanálise, a Semiologia, entre outras (LEPARGNEUR, 1972),
e também a Ciência da Informação.
Procuraremos, a seguir, verificar, o que se entende por Lingüística Estruturalista e
compreender a noção de estrutura. As dicotomias propostas por Saussure, que
sempre remetem à noção de sistema ou estrutura, também serão explicitadas
tomando como fonte a literatura da Lingüística Estruturalista.
É preciso ressaltar que o conceito de estrutura, assim como a teoria estruturalista
estrita, tem sido objeto de inúmeros desenvolvimentos desde a publicação do Cours.
Permanece, no entanto, sua importância como base para os futuros
desenvolvimentos.
3.1. A Lingüística Estruturalista
A lingüística ocidental tem origem greco-romana, mas os gregos a estudavam como
um objeto da filosofia, em vez de pesquisar seu funcionamento. Na Idade Média, a
linguagem era tida como simples reflexo das coisas. De acordo com DOSSE (1993), o
termo ‘estrutura’, que remetia ao âmbito da arquitetura e da construção, remetia
somente à idéia de algo físico, como um prédio, em construção. Entre os séculos XVII
36
e XVIII, o sentido do termo ampliou-se e passa a envolver os seres vivos: o corpo e
a língua passaram a ser vistos como estrutura; entendia-se estrutura como “descrição
da maneira como as partes integrantes de um ser concreto organizam-se numa
totalidade” (1993, p.15). Já na Idade Clássica, percebeu-se que a ciência se articulava
em torno de nomenclaturas; e no século XIX veio a noção de que a linguagem
ultrapassa a palavra, tendo suas raízes no pensamento humano (LEPARGNEUR,
1972, p.82-3).
Em 1916, com Saussure, surge uma nova noção da lingüística, salientando-se a
importância do estudo dos seus elementos formais. Reconheceu-se que toda língua,
escrita ou não, é interessante. A língua forma uma estrutura, um arranjo sistemático de
partes criando numerosas combinações. O significado das palavras é resultado das
relações de oposição determinadas no interior do sistema (BENVENISTE, 1991, p.19-
32; LOPES, 1987, p.15-71). Para DOSSE, é entre 1900 e 1926 que a noção de
estrutura dá origem ao ‘estruturalismo’, nas áreas da ciência humanas. Mas apenas
afirma-se de fato, em sua acepção moderna, com a evolução lingüística:
“A estrutura da então origem ao que o Vocabulaire de André Lalande
qualifica de neologismo: o estruturalismo, entre 1900 e 1926. O
estruturalismo nasce nos psicólogos, para opor-se à psicologia
funcional no começo do século, mas o verdadeiro ponto de partida do
método em sua acepção moderna, na escala de todas as ciências
humanas, provém da evolução lingüística. Se Saussure emprega
apenas em três ocasiões o termo “estrutura” no Curso de Lingüística
Geral, é sobretudo a Escola de Praga (Troubetzkoy e Jakobson) que
vai definir o uso dos termos estrutura e estruturalismo. A referência
ao termo estruturalismo como programa fundador, tendência
especificada por seu método de abordagem, é reivindicada pelo
lingüista dinamarquês Hjelmslev, que funda em 1939 a revista Acta
Linguistica, cujo primeiro artigo trata de “lingüística estrutural”. A partir
desse núcleo lingüístico, o termo vai provocar uma verdadeira
37
revolução de todas as ciências humanas em pleno século XX. Elas vão pensar
que adquiriram aí a sua ata de batismo científico” (DOSSE, 1993,
p.15-16).
Mais precisamente, segundo BENVENISTE (1976, p.20-22), a lingüística desenvolveu-
se em três fases:
1ª fase: Gregos e o interesse filosófico: “Raciocinavam sobre sua condição
original [da língua] – a linguagem é natural ou convencional? – muito mais do
que lhe estudavam o funcionamento”;
2ª fase: Língua e a abordagem histórica: língua objeto de especulação e não
de observação. Até o século XVIII. A partir do século XIX estudo de línguas
indo-européias, genética, evolução das línguas;
3ª fase: 1916: CLG de Saussure e abordagem descritiva: “estudar e descrever
por meio de uma técnica adequada a realidade lingüística atual” sem
pressupostos teórico ou histórico. Estuda-se uma realidade intrínseca da
língua: “em que consiste e como funciona uma língua”.
Assim, não foi Saussure quem denominou sua lingüística de estruturalista, mas seus
seguidores, mais notadamente os pesquisadores da Escola de Praga e Hjelmslev.
Para HJELMSLEV
10
(1944, citado por BENVENISTE, 1971, p.30):
“Entende-se por lingüística estrutural um conjunto de investigações
baseadas numa hipótese segundo a qual é cientificamente legítimo
descrever a linguagem como uma entidade essencialmente autônoma
de dependências internas ou, numa palavra uma estrutura... A análise
desta entidade permite separar constantemente as partes que se
condicionam reciprocamente, cada uma das quais depende de certas
10
In: Revista Acta linguistica, IV, fascículo. 3, p.V.
38
outras e não seriam concebíveis nem definíveis sem essas outras partes. Ela
reduz seu objeto a uma rede de dependências, ao considerar os fatos
lingüísticos como função uns dos outros”
A língua é, para Saussure, essencialmente, um instrumento de comunicação (LOPES,
1987). É através da linguagem que se realiza a comunicação entre os homens. É ela
que permite, entre outras coisas, a troca de informações. A comunicação só é possível
através da linguagem.
“As idéias de Saussure que deram início à lingüística contemporânea
destacam a questão do valor relacional dos elementos lingüísticos, da
auto-suficiência do sistema, da necessidade de dissociar uma
lingüística de estado (sincrônica) da lingüística evolutiva (diacrônica),
da natureza do signo e da distinção langue/parole” (idem, p.73).
Tais princípios constituem a proposição de leis gerais do funcionamento de uma língua
(LEPARGNEUR, 1972, p.6).
Observa-se que:
“O funcionamento da linguagem não é, segundo Saussure, um fator
anárquico, que coloque em perigo seu caráter organizado. De uma
forma positiva, agora, Saussure mostra que a linguagem, a todo o
momento de sua existência, deve apresentar-se como uma
organização. Essa organização inerente a toda língua, Saussure
chama de sistema (seus sucessores falam muito de estrutura). A
nuança particular que os saussurianos introduziram nesses termos (e
que se soma a idéia geral de ordem e de regularidade), é que os
elementos lingüísticos não preexistem ao relatos que eles mantém no
interior da organização do conjunto da língua. Esta não se sobrepõe
àquelas, mas as constitui, os termos não tendo realidade lingüística a
não ser por suas relações mútuas. Um “sistema” ou “estrutura” é
assim uma organização cujos elementos não têm nenhuma
característica própria independentemente de suas relações mútuas
no interior do todo” (DUCROT e SCHAEFFER, 1995, p.36-7).
39
Para GARCÍA GUTIÉRREZ, o estruturalismo lingüístico é “conjunto de teorias e
métodos que se acumularam em torno da posição saussureana” (GARCÍA
GUTIÉRREZ, 1990, P.34-35).
O estruturalismo lingüístico ou a lingüística estrutural acaba por questionar "a tese da
degradação das línguas partindo do princípio de que a língua é fundamentalmente, e
não por acidente, um instrumento de comunicação, um modo de vida social"
(TÁLAMO,1997, p.4). Essa alteração significa o rompimento com uma lingüística
diacrônica para uma lingüística sincrônica, onde a noção de valor relacional assume
uma função de extrema importância. Através dela é possível observar a língua em si
mesma, tal como se apresenta enquanto sistema de relações entre partes.
A noção estrutural é, de fato, a responsável pela nova proposta. Conforme afirmam
RADFORD e RADFORD (2005, p.61) “O coração da lingüística de Saussure é a
seguinte proposição: uma linguagem é um sistema no qual todos os elementos se
encaixam, e o valor de qualquer elemento depende da coexistência simultânea de
todos os outros”.
Para MERLEAU-PONTY
11
(1960, p.49, citado por DOSSE, 1993, p.60) ”O que
aprendemos em Saussure é que os signos, um por um, nada significam, que cada um
deles exprime menos um sentido que assinala uma diferença de sentido entre ele
próprio e os outros”.
DOSSE afirma que o essencial no Cours de Saussure consiste em “fundamentar o
arbitrário do signo, em mostrar que a língua é um sistema de valores constituído não
11
MERLEAU-PONTY, M. Signes. Paris: Gallimard, 1960.
40
por conteúdos ou produtos de uma vivência, mas por suas diferenças puras” (1993,
p.65).
Para ECO (1997, p.269),
“O que o estruturalismo lingüístico tornou evidente, já vimos, não foi o
fato de uma estrutura ser um sistema de partes solidárias e
interdependentes, mas o fato de que essa estrutura possa ser
expressa em termos de oposições e diferenças, independentemente
dos elementos que passam a colmar as valências constituídas pelos
pólos oposicionais e diferenciais. Em decorrência, a metodologia
estruturalista mostra-se capaz de analisar unidades relacionadas e
organizadas”.
3.2. A noção de estrutura
A principal contribuição do estruturalismo, para LARA, é a “possibilidade de entender
que o continuum da realidade estrutura-se na descontinuidade das línguas. Os
distintos códigos são estruturados e desestruturados a partir de infinitas
possibilidades” (LARA, 1999, p.85).
De acordo com PAVEAU e SARFATI, Saussure, no Cours de Linguistique General -
CLG, discutia a questão de sistema, que pode ser entendido como “um conjunto que
constitui um todo orgânico” (PAVEAU e SARFATI, 2006, p.89). Esse todo orgânico se
organiza por meio de relações entre os elementos, de modo que cada elemento
interfere no outro, formando um sistema ou uma estrutura.
Pode-se dizer, de acordo com DODEBEI, que “na atualidade, um sistema é visto como
um conjunto de elementos, propriedades e relações, podendo ser definido como um
conjunto de elementos em interação, que realizam determinadas funções para
determinados propósitos” (2002, p.22).
41
DUCROT (1968, citado por PAVEAU e SARFATI, 2006, p.89-90) afirma que o
entendimento de estrutura como uma organização regular sempre fez parte dos
estudos das línguas, e que a grande novidade do estruturalismo foi a de dar uma nova
significação ao termo.
Mas o que vem a ser a estrutura, do ponto de vista lingüístico? Para LEPARGNEUR
(1972, p.4-5), “uma estrutura é um conjunto de elementos entre os quais existem
relações de forma", de modo que: "toda modificação de um elemento acarreta
modificações dos outros elementos e relações. A estrutura é a concretização de certas
leis que procuram e mantêm certo equilíbrio num conjunto que, na perspectiva em
questão, pode ter sido considerado fechado” (idem).
Como bem observa BENVENISTE (citado por LOPES, 1997, p.97), “A noção de
estrutura está intimamente ligada à noção de relação no interior de um sistema”,
constituindo, para HJELMSLEV (citado por LOPES, 1987, p.39), "um modelo, ou seja,
uma construção mental que serve de hipótese de trabalho". A estrutura não se
compõe de coisas, mas de relações.
Para GREIMAS e COURTÉS (1979, p.162), "sendo definida como uma rede
relacional, estrutura remete ao conceito de relação e pressupõe, para ser eficaz em
semiótica, uma tipologia das relações".
É de responsabilidade de GREIMAS a proposição de um modo de ver a estrutura
mínima da significação.
GREIMAS põe em relevo que a língua é feita de oposições. Para o autor, enfocar o
problema da significação requer "afirmar a existência de descontinuidades, no plano
da percepção, e dos espaços diferenciais (...) criadores de significação, sem se
42
preocupar com a natureza das diferenças percebidas” (LOPES, 1987, p.313).
Derivam daí duas concepções que se complementam:
1a. Concepção de estrutura: "O mundo toma forma diante de nós porque percebemos
diferenças".
Perceber diferenças quer dizer:
a) captar ao menos dois termos-objeto como simultaneamente presentes;
b) captar a relação entre os termos, ligá-los de um ou de outro modo.
Decorre daí uma primeira definição de estrutura que remete à presença de dois termos
e da relação entre eles. Conseqüentemente, um só termo-objeto não comporta
significação. Do mesmo modo, a significação pressupõe a existência da relação: é o
aparecimento da relação entre os termos que é a condição necessária da significação.
2
a
. Concepção de estrutura: O aprofundamento da noção de estrutura, para
GREIMAS, remete às noções de conjunção e disjunção, associadas à de relação, de
forma que:
"1) Para que dois termos possam ser captados juntos é preciso que tenham algo em
comum (semelhança, identidade)", ou seja, conjunção;
2) Para que dois termos possam ser distinguidos, é preciso que sejam diferentes,
qualquer que seja a forma (problema da diferença e da não identidade)", ou seja,
disjunção.
GREIMAS sintetiza tais idéias afirmando que a relação é ao mesmo tempo disjuntiva e
conjuntiva e denomina de estrutura elementar um tal tipo de relação. "Já que os
termos-objetos não comportam, isoladamente, nenhuma significação, é ao nível
43
dessas estruturas e não ao nível dos termos-objetos (os elementos dela) que devem
ser procuradas as unidades significativas elementares (...) A língua não é um sistema
de signos, mas uma reunião de estruturas de significação” (LOPES 1987, p.313)
Na visão de LEPARGNEUR (1972, p.26),
“O que interessa à análise estrutural de um sistema são as diferenças
entre um termo e outro. O que interessa num sintagma é a
coordenação dos termos: o sentido de cada um vem de seu
relacionamento como outros elementos do mesmo conjunto.”
Portanto, o método estruturalista consiste em manipular diferenças e relações.
Verifica-se que, desde Saussure, a noção central é a de valor. Como afirma DASCAL,
"Quem diz 'sistema, com efeito, diz que os elementos se equilibram reciprocamente
segundo regras determinadas'. É, portanto, o conjunto de suas oposições ou
diferenças que conta para determinar sua natureza. É nesse sentido que se pode
afirmar que as unidades de um sistema semiológico são de natureza puramente
diferencial. É uma outra maneira de dizer que a noção de valor recobre aquelas de
unidade, de entidade concreta e de realidade, ou ainda que a noção de identidade se
confunde com aquela de valor e reciprocamente"
12
(DASCAL, 1978).
Das idéias acima repertoriadas, pode-se propor uma sistematização. A noção de
estrutura é identificada pela presença dos seguintes traços:
12
Tradução livre para uso didático, M.L.G.Lara (1998).
44
Traços Características
Sistema, Conjunto É uma idéia que remete a um conjunto de elementos que se
relacionam mutuamente;
Relações entre
elementos
Seus elementos não têm características próprias
isoladamente, mas sim em relação uns com os outros;
Construção É uma construção que serve de hipótese de trabalho;
Noção de valor É apoiada na noção de valor, que co-relaciona termos;
Diferenças Remete a um método que trabalha com diferenças e relações;
Significação via
relação
Permite ver a significação como uma estrutura elementar que
coloca em jogo dois termos vinculados por uma relação.
Quadro 6 - Traços da Noção de Estrutura
3.3. As Dicotomias de Saussure
Associada à idéia de sistema ou estrutura, no seu Curso de Lingüística Geral - CLG,
Saussure introduz dicotomias fundamentais para a discussão da lingüística. São elas:
língua/fala (langue/parole), significado/significante, diacronia/sincronia,
forma/substância, paradigma/sintagma. Apresentaremos brevemente todas elas,
destacando por último a questão dos paradigmas e sintagmas, que é a que mais nos
interessa observar para este trabalho (LOPES, 1987, 1997).
A) Língua e Fala (Langue e Parole):
A língua (langue) é um sistema de regras que determina o emprego das formas
coletivas convencionais necessárias para a comunicação. A língua é fruto de um pacto
social, uma espécie de modo de ver a realidade, construída por toda a comunidade e
que nenhum falante em particular tem a autoridade para alterar. É, sobretudo, um
conceito social que se concretiza no discurso (parole), que é a utilização local e
ocorrencial de uma língua. Como a língua (langue) é um sistema de possibilidades, e
um sistema de relações no qual cada termo assume seu valor somente em relação a
um outro termo, a norma aparece como o conjunto de realizações dessas
possibilidades. A norma precisa ser comprovada concretamente, seguida dentro de
45
um grupo, e implica na eliminação de tudo que na parole é inédito como, por
exemplo, as variantes individuais. A langue é o código de falantes desse idioma.
Acionada pela enunciação própria a cada ato concreto de comunicação, a língua
propicia uma liberdade de combinações, tornando sua utilização diferencial e sempre
parcial. A linguagem, além de ser o resultado da soma da língua com o discurso é,
também, um sistema de valores, pois cada um de seus elementos define-se somente
em relação aos outros com os quais forma o sistema.
Assim, podemos resumir as características de língua e fala no seguinte quadro:
Língua (langue) Fala (parole)
Sistema de regras Uso local e ocorrencial de uma língua
Sistema supra-individual Enunciação concreta
Pacto social, convencional Liberdade de combinações
Material – léxico e gramatical –
estocado
Uso parcial, diferencial, realizador e
atualizador
Quadro 7 - Língua e Fala
B) Significado e Significante
As unidades da língua são os signos lingüísticos que são organizados por uma relação
entre significado (conceito, plano de conteúdo) e significante (imagem acústica, plano
de expressão). O signo lingüístico é arbitrário, ou seja, não há nenhum tipo de relação
intrínseca ou de casualidade entre diferentes significantes e o significado a que se
unem, e nem o significado é escolhido pelo falante. O que se tem, na verdade, é um
vínculo natural com o conteúdo. O signo é arbitrário absoluto, quando tomado
isoladamente, mas é arbitrário relativo, quando no elemento componente de uma
estrutura lingüística (GREIMAS, 1976, p.27-41; LOPES, 1987, p.72-96; LOPES, 1997,
p.91-110).
46
No entanto, como lembra ECO, é um grande equívoco
“considerar, por exemplo, um termo como a união de determinado
som com determinado significado, porque isso significaria isolá-lo do
contexto de que faz parte e acreditar que se possa começar pelos
termos para construir o sistema fazendo-lhes a soma, ao invés de
partir do todo solidário para chegar, mediante análise, aos elementos
que encerra” (ECO, 1997, p.259).
O signo apresenta, resumidamente, as seguintes características:
Traços Características
Unidade Dupla Presença e ausência, cuja relação denomina-se significação
Institucional Existe apenas para um grupo definido de utilizadores
Imotivado Não há relação intrínseca entre significante e significado
Significação não é
Representação
A linguagem representa algo, isto é, por força da significação ela
se propõe no lugar de algo, o substitui. Uma lista de palavras em
ordem alfabética nada representa, pois nada significa. Para
interpretá-la recorremos a um sistema de significação.
Quadro 8 - Características do Signo
C) Diacronia e Sincronia
A possibilidade de falar em valor relacional dos elementos lingüísticos decorre do fato
de Saussure propor ver a língua como um sistema auto-suficiente considerado em si
mesmo. É a noção de sincronia que permite remeter à análise do sistema, ou à
linguagem em si; a diacronia, por seu lado, permite se referir às mudanças sofridas
pelos elementos desse sistema ao longo do tempo. Não existe, porém, sincronia pura,
uma vez que no interior de qualquer sistema coexistem estágios de sistemas
anteriores, e nele formam-se estágios posteriores.
Dessa forma, temos, resumidamente, a seguinte comparação entre diacronia e
sincronia:
47
Diacronia Sincronia
Evolução Simultaneidade, coexistência
Dois estados sucessivos Mesmo estado
Quadro 9 - Diacronia e Sincronia
D) Forma e Substância
Saussure afirma que a língua é um sistema de formas e regras e não de substâncias.
Isso porque cada elemento de uma língua qualquer só pode ser definido em relação
aos seus demais elementos e por sua função dentro do sistema, nunca por suas
propriedades físicas, que seriam as substâncias (LOPES, 1987, p.79-80).
De acordo com ECO, “A mensagem como forma significante surge como uma forma
vazia a que se podem atribuir os mais diferentes significados” (1997, p.46).
No processo de tradução de um idioma a outro, observamos essa dicotomia: não há
diferença na significação do ponto de vista semântico, uma vez que uma língua pode
ser traduzida em outra. A diferença encontra-se na forma em que a significação se
apresenta em cada uma dessas línguas (TÁLAMO, 1997, p.7). Assim, a língua é
forma, e não substância (SAUSSURE, 1972, p.151, citado por LOPES, 1997, p.99). E
através dessa forma propormos construções de relações que geram significação.
Resumidamente, temos as seguintes características:
Forma Substância
Expressão Conteúdo
Significante Significado
Som
Designatum
Quadro 10 - Forma e Substância
48
E) Paradigma e Sintagma
LOPES (1987, p.88) afirma que
“A dependência que existe entre dois elementos seqüenciais de uma
mesma cadeia chama-se relação (dependência, função) sintagmática
(de sintagma: conjugado de duas unidades consecutivas onde o valor
de cada uma se define por relação ao valor da outra)”.
Em outro trabalho, o autor complementa (idem, p.108):
“A cadeia significante se constrói pela combinação seqüencial de dois
elementos sucessivos que contrastam funcionalmente entre si (como
subordinante/subordinado, na ordem sintática; como
determinante/determinado, na ordem semântica) na qualidade de
elementos in praesentia, efetivamente realizados no enunciado: são
esses elementos sucessivos, explicitados e contrastantes na cadeia
que constituem o eixo sintagmático da parole”.
Para o autor (idem, p.90), “o sintagma se constrói com base na contigüidade e na
irreversibilidade: seus elementos estão dotados de uma distribuição característica,
funcional”.
Assim, LOPES (idem, p.89) afirma que “o discurso sintagmático dispõe-se sobre um
eixo cujo suporte segmental é a extensão linear dos significantes e cuja propriedade
básica é a construir-se através de combinação de unidades contrastantes”.
Os signos, dentro do sistema, estabelecem relações de identidade e diferença com os
outros signos. Quando se trata da relação de substituição virtual entre os signos temos
a relação paradigmática. Ao se optar por um signo, dispensa-se o uso de todos os
outros possíveis. Quando se trata da combinação entre signos, em uma cadeia ou
frase, temos a relação sintagmática, uma relação de coexistência entre signos
(TÁLAMO, 1997, p.7).
49
O eixo paradigmático é o “eixo das substituições e comutações possíveis
empregado para a formulação das macro-estruturas conceituais”, e o eixo
sintagmático é o “eixo das associações e combinações realizadas, empregado para a
formação da gramática enunciativa” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1998, p.12).
HUTCHINS ressalta que no eixo paradigmático a organização é determinada pelo
compartilhamento de características dos elementos, o que permite sua substituição,
um pelo outro. Já a combinação de elementos ocorre no eixo sintagmático. Para o
autor:
“Pode-se olhar o eixo paradigmático como analítico e o eixo
sintagmático como sintético. As relações paradigmáticas são ‘fixadas’
pela estrutura do sistema lingüístico, enquanto as sintagmáticas são
‘selecionadas’ durante a enunciação de mensagens particulares – a
primeira, a priori, enquanto a última, a posteriori” (HUTCHINS, 1975,
p.6).
Portanto, se é a relação que oferece significação, a proposição de sintagmas nos
parece fundamental para uma Linguagem Documentária.
Assim, resumidamente, temos as seguintes características:
Paradigma (associação) Sintagma (combinação)
Escolhas Regras gramaticais
Língua Fala
Possibilidades Seqüência
Correlação – função ou dependência
entre os termos
Relação – função existente entre os
constituintes
Oposição Contraste
Quadro 11- Paradigma e Sintagma
50
3.4. A introdução do sujeito na teoria estrutural
O programa estruturalista não incluía explicitamente o sujeito, o que foi inaugurado
pela introdução da questão da enunciação. “A lingüística só tem acesso ao estágio de
ciência, para Saussure, na condição de delimitar muito bem o seu objeto específico: a
língua; e deve, portanto, desembaraçar-se dos resíduos da fala, do sujeito, da
psicologia” (DOSSE, 1993, p.73). Saussure (p.30, citado por DOSSE, 1993, p.73),
afirma que
”a língua não constitui, pois, uma função do falante: é o produto que o
indivíduo registra passivamente /.../. A língua, distinta da fala, é um
objeto que se pode estudar separadamente. Não falamos mais as
línguas mortas, mas podemos perfeitamente assimilar-lhes o
organismo lingüístico”.
No entanto, BENVENISTE e seus seguidores, entre os quais DUCROT, viram na
enunciação um fator importante para o desenvolvimento dos estudos lingüísticos.
Dessa forma, o sujeito passou a ser integrado na lingüística (DOSSE, 1994, p.25).
Isso porque, como afirma CINTRA, “os métodos estruturais, excessivamente presos à
uma visão positivista de só operar com dados, não permitia a formulação de questões
perturbadoras, como as que se faziam sobre a criatividade da linguagem (1983, p.18).
Este pensamento levou em consideração os estudos de Chomsky que “desdobra a
criatividade em dois tipos, que classifica sucessivamente de criatividade que muda as
regras e de criatividade governada pelas regras. O primeiro tipo depende do
desempenho e o segundo da competência da língua” (DOSSE, 1994, p.25).
Chomsky deu início à vertente lingüística denominada gerativismo ou gerativo-
transformacional, que se seguiu ao apogeu do estruturalismo nos anos 60, a partir da
“progressão de uma lingüística da enunciação que tinha sido até então rechaçada”
51
(DOSSE,1994, p.61). Chomsky e sua teoria buscam “um conjunto finito de regras
que responda pela produção dos enunciados, ou dito de outra forma, é um conjunto de
regras que faculta ligar o sentido à forma pela qual os enunciados se expressam”
(CINTRA, 1983, p.19).
Após a revolução de maio de 68 na França
,
afirma DOSSE que ocorre o “nascimento e
desenvolvimento espetacular de uma “sociolingüística”, que permite reintroduzir o
referente no campo de estudo da lingüística” (idem, p.143). Para o autor (idem, p.159):
“Tudo o que importunava interiormente o estruturalismo antes de
1968 para lhe assegurar o desenvolvimento, seja o gerativismo, as
teorias da enunciação, a intertextualidade, a crítica do logocentrismo:
é o triunfo de tudo isso que maio de 68 assegura, ao acelerar o
processo de extravasamento a que Manfred Frank chamou de o “neo-
estruturalismo”.
BENVENISTE
13
(1985, p.45, citado por DOSSE, 1994, p.222) afirma à época – 1969 –
que “é preciso que todo signo seja inserido e compreendido num sistema de signos. Aí
está a condição da significância”. Passa a considerar, então, as diversas situações
interlocutivas.
É somente nos anos oitenta, entretanto, que a teoria da enunciação de BENVENISTE
ganha impulso. “Ela devolve ao sujeito um lugar destacado na reflexão lingüística”
(DOSSE, 1994, p.364).
De acordo com ORLANDI, “Os recortes e exclusões feitos por Saussure e por
Chomsky deixam de lado a situação real de uso (a fala, em um, e o desempenho, no
13
BENVENISTE, E. Sémiologie de la langue. Mouton, 1969, reproduzido em Problèmes de
linguistique general, v2, 1985.
52
outro) para ficar com o que é virtual e abstrato (a língua e a competência)” (2003,
p.48). Para a autora, é através da pragmática “que se inclui, ao lado da relação entre
signos (sintaxe) e do estudo das relações entre os signos e o mundo (semântica), o
estudo das relações entre os signos e seus usuários” (idem, p.55)
Sobre as pesquisas em pragmática, BARANOW (1983, p.27) comenta que:
“Nessas novas áreas de pesquisa que se vêm delineando na
Lingüística, a linguagem é analisada no seu contexto comunicativo ou
seja, numa dimensão funcional. Retoma-se com isto uma tradição da
Lingüística européia de uma temática, que as escolas estruturalistas
e pós-estruturalistas americanas (com algumas exceções) haviam
deixado de lado”.
O autor prossegue afirmando que “as preocupações dos lingüistas com os aspectos
pragmáticos da linguagem nasceram da constatação de que a comunicação em
linguagem natural depende de condições que vão além da linguagem propriamente
dita” (BARANOW, 1983, p.28).
Atualmente, e desde de os anos sessenta, pode-se falar no início de um pós-
estruturalismo, que de acordo com PETERS (2000), seria uma resposta ao
estruturalismo de Lévi-Strauss na antropologia, Althusser no marxismo, Lacan na
psicanálise, e de Barthes na literatura. O pós-estruturalismo é representado por
diversos pensadores, entre outros, Derrida, Kristeva, Bathes, Deleuze, Guattari,
Foucault e Baudrillard. Seus estudos atingem diversos campos do conhecimento, tal
como fazia o estruturalismo (HARLAND, 1987, p.1-3). Para PETERS (2000):
“Os pensadores pós-estruturalistas desenvolveram formas peculiares
e originais de análise (gramatologia, desconstrução, arqueologia,
genealogia, semioanálise), com freqüência dirigidas para a crítica de
instituições específicas (como a família, o Estado, a prisão, a clínica,
53
a escola, a fábrica, as forças armadas, a universidade e até mesmo a própria
filosofia) e para a teorização de uma ampla gama de diferentes meios
(a "leitura", a "escrita", o ensino, a televisão, as artes visuais, as artes
plásticas, o cinema, a comunicação eletrônica).”
Confirma-se, assim, o que configurara o pós-estruturalismo: a inclusão do sujeito, a
enunciação, e a participação do indivíduo nos processos de estruturação.
De acordo com HARLAND (1987, p.91):
“O problema dos lingüistas estruturais é que, uma vez que
começaram a explicar a linguagem hermeticamente, eles não
encontraram motivo para parar. Não há limite claramente visível onde
o tipo de explicação deles termine. Então, uma decisão metodológica
original de excluir o mundo exterior (explícito em Benveniste e
Hjelmslev) gradualmente torna-se um princípio filosófico geral de
escopo ilimitado”.
O pós-estruturalismo, ao trazer a enunciação e o sujeito para suas análises e
discussões, dá ênfase à prática mais do que à linguagem (HARLAND, 1987, p.155).
Para RADFORD e RADFORD (2005, p.61):
“O pós-estruturalismo não apenas questiona, mas também continua o
projeto central do estruturalismo – investigação dos princípios de
organização de um sistema de linguagem. Entretanto, enquanto o
estruturalismo afirma que o sistema de linguagem pode ser descrito
de um modo objetivo e científico, o pós-estruturalismo sugere que tais
descrições são em si altamente contextuais. Enquanto o
estruturalismo de Saussure estava confiante de que os princípios
pelos quais a linguagem é organizada podem ser totalmente
determinados e descritos, o pós-estruturalismo põe em questão todas
essas afirmações e sugere que tais conclusões são sempre frágeis e
abertas à subversão”.
Assim, os autores afirmam que:
54
“O pós-estruturalismo repudia a noção de que existam verdades duradouras
que podem ser invocadas com certeza no processo de significação.
Todas as verdades são totalmente contextuais e o resultado da
relação entre signos incluindo as principais proposições do
estruturalismo! Essas proposições não podem ser consideradas
verdadeiras ou falsas. Elas apenas podem vir a “fazer sentido” no
contexto de outras proposições e signos” (RADFORD e RADFORD,
2005, p.69).
Para DUCROT (1968, p.60-112, citado por PAVEAU e SARFATI, 2006 p.90), é
possível falar em três etapas fundamentais sobre a apreensão do conceito de
estrutura. As duas primeiras desembocam no estruturalismo e a terceira etapa, ao
considerar desenvolvimentos mais recentes da lingüística como a teoria da
enunciação e a pragmática, remetem ao pós-estruturalismo. A primeira etapa consiste
no reconhecimento de cada língua tem uma organização que lhe é própria e que não
remete ao seu exterior. A segunda etapa, com Saussure, traz a essa organização uma
realidade, entendendo-se a língua como um instrumento de comunicação, um sistema
arbitrário. Por fim, a terceira etapa considera que a organização depende da
distribuição dos papéis no jogo social, ou seja, leva em conta o contexto e as relações
intersubjetivas do diálogo.
Identificando tais etapas, DUCROT enfatiza a transformação da idéia de estrutura. Tal
noção foi primeiramente utilizada para estudar a língua como uma organização de
elementos e, com a introdução dos estudos de enunciação, vê-se a idéia da
estruturação como um processo contínuo que solicita a participação dos indivíduos
que usam a língua. Como afirma DUCROT, "a combinatória semântica é
constantemente explorada pelos sujeitos falantes para organizar as relações
intersubjetivas no diálogo. (...) Sua estrutura manifestar-se-ia, então, como uma nova
distribuição dos papéis no jogo social" (DUCROT, citado por PAVEAU e SARFATI,
2006, p.90). Isso quer dizer que se deve conjugar a idéia de estrutura com a do
processo de estruturação na qual os usuários da língua têm participação efetiva.
55
A consideração dos elementos pragmáticos (enunciação, situação de uso), não
descarta, portanto, a noção da importância das relações estruturais, mas conjuga-a
aos processos efetivos de uso da linguagem.
Essa perspectiva deverá balizar a análise das Linguagens Documentárias a ser
realizada mais à frente, quando nos referiremos à noção de estrutura, mas também ao
processo que prevê a participação dos sujeitos na enunciação dos discursos.
3.5. Apropriação da Lingüística pela Documentação
3.5.1. O termo linguagem na Documentação
A Documentação é uma disciplina que se propõe a tratar a informação para fins de
recuperação – garantir o acesso do usuário aos conteúdos informacionais no menor
tempo e custo possíveis, transformando estoques em fluxos informacionais. A
Documentação reconhece que as Linguagens Documentárias utilizam os parâmetros
lingüísticos para sua elaboração. Como se afirmou anteriormente, no interior do campo
da Documentação/Ciência da Informação, desenvolveu-se, a partir das contribuições
européias, o sub-campo da Lingüística Documentária, que observa mais
detalhadamente o processo de natureza lingüística envolvido no tratamento da
informação.
Para GARCÍA GUTIÉRREZ (1990, p.76), o termo "linguagem" era utilizado para
"denominar instrumento classificatórios desprovidos de essência lingüística". Isso só
foi mudar com o aparecimento das linguagens combinatórias que despertaram um
interesse pela lingüística.
De acordo com GARCÍA GUTIÉRREZ (1998, p.16):
56
"As linguagens documentárias, como a dramaturgia neoclássica, os contos
russos, os textos científicos ou as notícias ajustam-se a
superestruturas que regem, desde o maior nível de abstração, os
comportamentos do conjunto de termos, regras e operadores no nível
da superfície as interações entre esses elementos. Os cânones
estruturais permitem reconhecer as linguagens e construi-las".
A Lingüística Documentária reconhece a natureza simbólica da comunicação
documentária e afirma a necessidade de composição de quadros de referência para a
análise, avaliação e construção dessa modalidade de linguagem construída (TÁLAMO,
2001, p.142).
Da Lingüística Estruturalista, a Lingüística Documentária utiliza vários conceitos para o
desenvolvimento das Linguagens Documentárias. Antes mesmo da proposta do sub-
campo específico da Lingüística Documentária, GARDIN, atento às contribuições da
Lingüística para os desenvolvimentos das Linguagens Documentárias, busca entender
e aplicá-las de maneira a otimizar seu papel na organização, recuperação e
transferência de informações (GARDIN,1973). Isso pode ser visto em seus trabalhos
desde a década de sessenta (1966, 1968) e com mais evidência em seu artigo sobre
Lingüística e Documentação (1973).
A comunicação da informação só é possível através de uma linguagem em que haja
significação para os envolvidos. Dar acesso à informação e promover sua circulação
são ações que fazem necessário o uso de uma linguagem que a represente baseada
em uma hipótese de organização que permita a construção de significação – a
Linguagem Documentária. Dessa forma, a elaboração dessa linguagem requer
metodologias que tenham como referência conceitos lingüísticos e também
terminológicos.
57
Como lembra GARCÍA GUTIÉRREZ, (1990, p.11), “os métodos de descrição da
língua são úteis para a formulação de modelos de construção de linguagens
documentárias”.
Já em 1966, GARDIN elaborou um modelo para o entendimento dos léxicos
documentários e das classificações em geral. Para ele, os léxicos documentários
apresentam grande variedade de formas: glossários, tesauros, listas de palavras-
chave, códigos semânticos, classificações, etc. (1966, p.172). Para o autor, um léxico
documentário do tipo classificação seria “todo conjunto organizado de termos
destinados à indexação documentária, qualquer que seja o procedimento utilizado
para expressar a organização em questão” (idem).
GARDIN propõe, conforme a figura a seguir, uma tipologia geral de léxicos
documentários (1966, p.173-77). Com essa tipologia, GARDIN passa a caracterizar
esses léxicos de acordo com reconhecimento de traços de linguagem natural e
linguagem construída para fins documentários. Isto possibilita comparar a influência da
lingüística na elaboração desses instrumentos:
58
Figura 1 - GARDIN, 1966 p.174.
O autor compreende os tipos acima conforme segue:
1. Lexicografia natural: visa somente observar certos fatos relacionados com as
ocorrências de palavras em uma dada língua, através de um corpus particular.
2. Glossários: todo conjunto de termos naturais presentes em uma ordem não-
significante. Pode conter definições, mas não relações entre os termos;
3. Tesauros LN: conjunto de termos naturais em ordem significante (semântica).
Pode conter definições;
4. Lexicografia documentária: listas finitas de termos, que servem à formulação de
representações indexadas, mais curtas e estereotipadas que as expressões
naturais correspondentes;
5. Tesauros LD: tipo de dicionário bilíngüe (ou multilíngüe) com termos ou
expressões de uma ou mais linguagens naturais e sem equivalentes canônicos do
léxico documentário adotado;
59
6. Léxico documentário com correspondências explícitas: não apresenta as
formas em LN;
7. Listas Alfabéticas: listas de termos naturais, não de todo o vocabulário do
domínio, mas de uma seleção dele;
8. Positivas: listas de palavras ou termos dignos de serem retidos no enunciado
natural de um documento, para representar seu conteúdo;
9. Negativas: listas de termos excluídos, que servem para controlar a extração no
enunciado;
10. Classificações: listas positivas de palavras-chave em ordem alfabética
acompanhadas de remissivas.
Na seqüência, GARDIN organiza as classificações de acordo com seus traços
estruturais, isto é, segundo o número de relações analíticas (1966, p.177-81).
Estrutura pressupõe um princípio de ordem, uma organização, de acordo com critérios
determinados, pontos de vista sobre a realidade. Ao reconhecer que as classificações
são léxicos organizados, GARDIN também reconhece que tais léxicos possuem uma
estrutura que pode ser entendida do ponto de vista lingüístico:
60
Figura 2 - GARDIN, 1966, p.178
Tais classificações são definidas conforme segue:
1. Unidimensionais: têm apenas um tipo de relação analítica;
2. Unidimensionais reais: classificações onde a relação constitutiva é
efetivamente única, em todos os níveis e para todos os grupos da classificação;
3. Unidimensionais aparentes: apresentam mais de um tipo de relação analítica,
mas afirmam ter apenas um;
4. Pluridimensionais: onde cada termo pode ser relacionado a várias classes, em
virtude de diferentes dimensões;
5. Pluridimensionais semânticas: ordem de termos que seja o reflexo de um
conjunto de definições admitidas, em um dado grupo humano;
6. Pluridimensionais sintáticas: uma ordem de termos fundada não mais sobre a
essência das entidades que eles designam, mas sobre sua função particular, em
um campo determinado de observação [facetas];
61
7. Mistas: onde pontos de vista essenciais e funcionais são alternados como
combinados. São as classificações analítico-semânticas;
8. Unívocas X Multívocas: Unívocas, onde um termo ocupa um e somente um
lugar, e multívocas, onde há repetições.
A proposta da lexicografia documentária acima põe em destaque relações estruturais:
primeiro, na comparação entre os vários tipos de léxicos, observando não só as
diferenças entre eles, como as correspondências que apresentam em relação à
linguagem natural; segundo, na abordagem das dimensões das relações no interior de
cada léxico, relações essas que se distribuem segundo o número de vértices a partir
dos quais são feitas as conjunções e disjunções, como outras associações.
Pode-se afirmar que, mesmo sem mencionar o termo estrutura na análise dos léxicos
feita por GARDIN, a tipologia proposta e a abordagem sobre o grau de complexidade
das relações que apresentam os variados tipos, revela o princípio básico estrutural.
GARDIN, portanto, reconhece que as características lingüísticas fazem parte das
Linguagens Documentárias. De modo concreto, a noção é utilizada quando ele
coordena um grupo de pesquisa para o desenvolvimento de uma Linguagem
Documentária que contemple os parâmetros lingüísticos. Trata-se do SYNTOL
(Syntagmatic Organization Language), que será discutido mais adiante. A análise dos
léxicos e a proposta de sua tipologia já enunciam, de fato, a possibilidade do uso
formal dos princípios lingüísticos. Note-se, todavia, que o autor não via na Lingüística
de sua época uma referência explícita para a Documentação, preferindo falar da
Lógica (LARA, 1999). Reconhece-se, no entanto, que tais parâmetros sempre
estiveram na base de sua proposta.
62
3.5.2. Linguagem Natural versus Linguagem Documentária
As Linguagens Documentárias foram construídas tendo como base a linguagem
natural. De forma mais, ou menos, explícita, esse princípio subjaz a todas elas.
Há grandes diferenças, entretanto, entre a linguagem natural e a Linguagem
Documentária, como também semelhanças.
A linguagem natural é um sistema de relações virtuais, uma linguagem articulada. Seu
uso não pressupõe o conhecimento explícito das regras que a comandam na sua
utilização.
A Linguagem Documentária, por seu lado, é um sistema de relações construído,
organizado segundo uma hipótese sobre um universo temático selecionado, ou seja,
adota um arranjo que privilegia determinados aspectos em detrimento de outros,
representando uma escolha, uma opção.
O conhecimento de suas regras é obrigatório, e sua significação ocorre de acordo com
as definições dadas a seus elementos que se articulam pelo modo de relacionamento
entre os termos. É uma linguagem intermediária, que apresenta características e
termos da linguagem natural e da linguagem de especialidade do campo que se
propõe a traduzir, representar.
Quando optamos pela utilização de uma Linguagem Documentária para representação
das informações de um sistema, desejamos, entre outras coisas, reduzir a
redundância, as ambigüidades, polissemias, variações de seus elementos, ou seja,
buscamos univocidade interpretativa via controle do vocabulário: escolhemos quais
termos serão as unidades preferenciais, explicitamos ou indicamos a correspondência
unidades/conceitos, e procuramos controlar a sinonímia. Dessa forma, também
63
estabelecemos um controle sobre a significação, como um modo de orientar a
busca de informações.
Por ter como objetivo a comunicação, a Linguagem Documentária é construída sob
forma de linguagem. No entanto, não basta uma estrutura e relações para que a
Linguagem Documentária seja bem sucedida; é preciso que, durante sua elaboração,
seja estabelecido um princípio de classificação que se desenha de acordo com os
usuários e área do conhecimento ou atividade selecionada. Do mesmo modo, é
necessário que se considere os objetivos da instituição ou comunidade que fará uso
dessa Linguagem Documentária. A elaboração deve levar em conta os conceitos
utilizados nesse âmbito. Ao contrário da linguagem natural, a Linguagem
Documentária propõe economia de vocabulário de modo a concentrar a busca e limitar
a atribuição de significados a um significante. Como uma via de acesso, uma
Linguagem Documentária deve propor vários pontos para entrada no sistema de
informações, isto é, repertoriar as diversas formas de expressão utilizadas por uma
comunidade, identificando sinônimos e quase-sinônimos existentes para um mesmo
termo dentro de uma área determinada.
Observe-se que diferentemente do que ocorre com a linguagem natural, a função
comunicativa das Linguagens Documentárias “é restrita a contextos documentários, ou
seja, as LDs devem tornar possível a interação usuário-sistema” (CINTRA e outras,
2002, p.34).
HUTCHINS compara o processo comunicacional da linguagem natural e das
Linguagens Documentárias da seguinte forma (HUTCHINS, 1975, p.3-4):
64
Elementos LN LD
Signo Sons físicos ou escritos Formas físicas da LD
Intérpretes Falantes e ouvintes Indexadores e usuários
Designata
Relações entre as formas
físicas dos signos e os
objetos físicos a que se
referem
Relações entre as formas
físicas dos signos da LD e
seu conteúdo informacional
Referentes Objetos físicos Conteúdo informacional
Efeitos Mudanças nos intérpretes Reações dos usuários
Contextos Ambientes textuais e
situacionais
Organização física do
índice e o ambiente geral
do centro de informações
Quadro 12 - Comparação entre Linguagem Natural e Linguagem Documentária
Para HUTCHINS, outra diferença entre linguagem natural e Linguagem Documentária
se dá em relação à finalidade e às funções que devem desempenhar. Enquanto a
linguagem natural pode ter função descritiva ou factual, conativa, valorativa,
prescritiva, expressiva, evocativa ou estética, fática ou social, e de metalinguagem, a
Linguagem Documentária apresenta apenas função descritiva. Enquanto a linguagem
natural serve para diversos fins, a Linguagem Documentária é construída para um fim
específico (1975, p.8).
No contexto das Linguagens Documentárias, encontram-se algumas funções
específicas, sendo a função de comunicação entre leitores e documentos a principal.
No eixo sintagmático, pode-se falar em função de indexação e função de busca, que
variam conforme os recursos combinatórios; no eixo paradigmático existem funções
adicionais como a de guiar indexadores na escolha de descritores para os
documentos, e a de guiar usuários na seleção de descritores para a busca. Na
construção de uma Linguagem Documentária, deve-se estabelecer como e em que
nível serão desempenhas tais funções, para que sua estrutura seja clara, uma vez que
esta é a condição necessária para que se descreva como funciona a linguagem.
Portanto, estrutura e função são interdependentes (HUTCHINS, 1975, p10-11).
65
Podemos estabelecer dois níveis para diferenciação entre linguagem natural e
Linguagem Documentária: o nível formal e o nível semântico. No nível formal da
linguagem natural, as formas escritas são secundárias em relação às formas vocais e
normalmente derivadas delas. Nas Linguagens Documentárias, as formas escritas são
básicas, e correspondem aos sintagmas de símbolos notacionais, como números,
letras, pontuação. No nível semântico, a ocorrência de sinonímia e homonímia
demonstra não existir correspondência um a um entre suas palavras. Nas Linguagens
Documentárias, temos os descritores ou sintagmas de componentes semânticos, que
buscam a univocidade (HUTCHINS, 1975).
Para LARA (2006, p.24) a linguagem natural “é, por excelência, o lugar dos jogos
interpretativos que se desenvolvem através de cadeias e associações de
interpretantes”. Já nas linguagens artificiais há a remissão “via sua simbologia, a
significados unívocos que, paradoxalmente, dependem, na comunicação, do
conhecimento de regras próprias e explícitas” (idem, p.24) A Linguagem Documentária
estaria num nível intermediário entre a linguagem natural e a linguagem artificial, não
apenas por “funcionar como ponte entre sistema documentário e usuário, mas porque
conjuga elementos de ambos os tipos de linguagem, constituindo uma terceira de
natureza complexa”, ora remetendo à linguagem natural, ora à linguagem artificial
(idem, p.24). Além disso:
“Os três tipos de linguagem também diferem quanto aos seus
objetivos: a LA e a LD desempenham principalmente as funções
informativa, ou referencial, e a função prescritiva; a LN não tem
função específica e funciona em distintos contextos. Nela, a função
referencial ou informativa é a menos importante” (LARA, 2006, p.25).
66
LARA, a partir de diferentes fontes, propõe sistematizar as principais semelhanças e
diferenças entre linguagem natural, a Linguagem Documentária e a linguagem
artificial, formulando o quadro adiante:
a) Diferenças Principais
Linguagem Natural Linguagem Artificial Linguagem Documentária
Formas escritas
secundárias em relação às
formas orais
Formas escritas
fundamentais
Formas escritas
fundamentais
Os lexemas [palavras] não
têm significação unívoca
Os significados são
altamente padronizados.
Univocidade de significação.
Os significados devem ser
fixados, mas o uso de
palavras da LN impede a
univocidade de
interpretação.
Dinâmica Estáticas Estáticas
Usa-se a língua para falar
dela mesma.
Necessário usar a LN para
falar da LA.
Necessário usar a LN para
falar da LD.
Tem regras de fato. Não é
necessário conhecer as
regras da língua para usa-
la.
Tem regras de jure.
Fundamental obedecer às
regras. Linguagem
altamente simbólica.
Tem regras de jure.
Fundamental obedecer às
regras, embora reconheça-
se, nas LDs, as palavras, a
partir de suas semelhanças
com àquelas das LN.
Não tem uma função
específica, mas funciona em
muitos contextos e para
diferentes objetivos.
Elaborada para
desempenhar funções
específicas.
Elaborada para
desempenhar uma função
particular: representar e
transferir informação.
Tem inúmeras funções:
função expressiva
(estética), descritiva
(informativa, referencial),
valorativa, prescritiva.
Desempenha
principalmente a função
descritiva (informativa,
referencial) e a função
prescritiva.
Desempenha principalmente
a função descritiva
(informativa, referencial) e a
função prescritiva.
Tem produtividade. Não tem produtividade. Não tem produtividade.
Pouco formalizada. Altamente formalizada. Relativamente formalizada.
Alto poder combinatório. Médio poder combinatório Baixo poder combinatório.
Quadro 13 - Diferenças entre Linguagem Natural, Artificial e Documentária
FONTE: LARA, 2000. Quadro comparativo LN, LA, LD, com base em CINTRA, 1983;
HUTCHINS, 1975.
67
b) Semelhanças
Linguagem Natural Linguagem Artificial Linguagem Documentária
Lexemas têm forma e
significado.
Símbolos têm forma e
significado.
Descritores têm forma e
significado.
Estrutura paradigmática e
sintagmática
Estrutura paradigmática e
sintagmática
Estrutura paradigmática e
sintagmática
Quadro 14 - Semelhanças entre Linguagens Natural, Documentária e Artificial
FONTE: LARA, 2000. Quadro comparativo LN, LA, LD, com base em CINTRA, 1983; e
HUTCHINS, 1975
NAVARRO propôs o seguinte quadro:
Linguagem Natural Linguagem Documentária
São gerais São especializadas
São estabelecidas e adaptadas através de
longos períodos de tempo e por milhares
de pessoas
São estabelecidas em poucos anos por
um número reduzido de pessoas
São naturalmente aceitas e adquiridas
pelos usuários
Devem ser aceitas pelos usuários
São naturais São artificiais
Têm sua própria estrutura Sua estrutura baseia-se na estrutura da
linguagem natural sobre a qual elas são
formadas
São menos eficientes que as Linguagens
Documentárias nas operações de
recuperação de informação
São mais eficientes que a linguagem
natural nas operações de recuperação de
informação
São sensíveis a mudanças culturais São sensíveis a mudanças culturais
Caracterizam-se pela dupla articulação Não abrangem o conceito de dupla
articulação
Têm sua própria teoria Baseiam-se na teoria das ciências, da
ciência da informação e da lingüística
Compreendem a noção de morfema e
lexema
Compreendem a noção de informema
Não têm funções específicas [podem ter
várias]
Têm um propósito específico e um nível
de funções
Necessitam respeitar uma hierarquia de
traços para evitar malformações
gramaticais ou atenuá-las
Necessitam de hierarquias semânticas e
sintáticas para evitar malformações
As funções conativa, emotiva, fática e
poética (entre outras já mencionadas) são
próprias da linguagem natural
Não são dotadas das funções conativa
(imperativa), emotiva (interjeição), fática
(mensagem que serve para estabelecer,
prolongar ou interromper a comunicação)
e poética
Os monemas autônomos e funcionais
assim como as modalidades, são
elementos da linguagem natural
Não comportam pronomes nem
modalidades como o artigo, o número, o
tempo e pessoa nem categorias como o
advérbio e adjetivos
Quadro 14 - Comparação entre Linguagem Natural e Linguagem Documentária. FONTE:
NAVARRO, 1998, p.54-55.
68
Como se vê, é possível identificar na construção das Linguagens Documentárias
inúmeros conceitos lingüísticos estruturalistas.
CINTRA (1983, p.7) afirma que a Linguagem Documentária é uma linguagem
“exatamente porque concretiza a capacidade simbólica do homem, através da
organização de seus termos e regras em sistema próprio”.
Para GARCÍA GUTIÉRREZ, a aplicação do método estruturalista serve para criar uma
“estrutura de representação e síntese de uma área determinada do conhecimento”
(1990, p.35). Dessa forma, “a linguagem documentária, segundo o método
estruturalista, é um sistema organizado de elementos dotados de significação
determinada pelas relações que mantêm entre eles baseadas na oposição. (...) e o
principal condicionante do significado é o uso” (idem). Para o autor:
“Em uma LD deve haver mais significados referenciados que
significantes em presença, quer dizer, deve-se tender à construção
de todos os conteúdos possíveis a partir de uns poucos termos em
combinação potencial (...) Esta nova concepção das LD faz
necessária a sintaxe, o contexto permanente e a redistribuição do
conteúdo das facetas nas LD clássicas: não somente os traços
significativos ou substantivos participam na faceta, mas também os
sentido, os valores e as perspectivas” (idem, p.137).
Para LARA, “a noção fundamental para a construção de uma linguagem documentária
é a de estrutura lingüística” (LARA, 1999, p.60). A partir daí, a autora sugere que
algumas categorias teóricas do estruturalismo sejam assimiladas pela Documentação,
como parâmetros para organização das Linguagens Documentárias (idem, p.63-66).:
69
Categorias Lingüística LD
Relatividade Identidade e diferença,
nenhum elemento existe
sozinho numa mensagem
Rede de relações segundo
uma hipótese de
organização, propósitos;
significado dado pela
organização interna da LD
Funcionalidade Utilidade local de um
elemento dentro de um
conjunto; a noção de
função se identifica à noção
de estrutura
Significado de um termo via
rede estrutural de relações
Unidade Estrutura como universo
constituído de partes
constituintes
complementares
Eixo semântico da LD
definido pela oposição
inicial que determina a
leitura
Totalidade Coesão sintática e
semântica
LD como um todo
significante, um sistema de
significação
Transformabilidade Estrutura mutante Sentido incompleto dos
descritores
Auto-regulatividade Reacomodação interna das
regras
Rearranjo a partir de regras
determinadas
Quadro 15 - Categorias do Estruturalismo nas Linguagens Documentárias
Para LARA, podemos afirmar que as Linguagens Documentárias constituem um
sistema de significação graças à noção de estrutura (idem, p.156).
Na linguagem natural, os signos são considerados arbitrários. De acordo com CINTRA
(1983, p.8) “nas linguagens documentárias, os signos são também arbitrários a priori,
na medida em que são utilizados significados da linguagem verbal e fixados, ou
arbitrados seus significados no sistema construído”.
De acordo com a autora (CINTRA, 1983, p.9), os descritores das Linguagens
Documentárias correspondem a unidades portadoras de forma e significado.
70
Linguagem Natural Linguagem Documentária
Cada signo lingüístico se opõe a todos os
outros da língua
Cada signo documentário se opõe a todos
os outros do sistema no qual se inscreve
Todo signo está inscrito numa rede
semântica e os trechos mais compactos
forma famílias semânticas
Cada signo está inscrito numa rede
semântica que permite ordenar os termos
em organizações do tipo tesauros
Só o contexto permite dominar e precisar
o significado de um signo lingüístico
O significado de cada signo está
previamente delimitado e assume precisão
na relação que estabelece com todos os
outros do sistema
Toda troca de vocabulário implica em
troca de semema e esse processo
acarreta alteração na comunicação, pela
perda de alguns semas e/ou pela
introdução de outros
A troca de um termo não necessariamente
implica em alteração no resultado
comunicativo, quer pela utilização de
sinônimos, quer pela inclusão de
antônimos
Quadro 16 - Signo nas linguagens natural e documentária.
FONTE: CINTRA, 1983, p.14.
Em relação aos signos nas Linguagens Documentárias LARA afirma que os
“descritores não são etiquetas, mas o resultado de uma construção julgada pertinente
para a significação” (1999, p.66). Assim, funcionam como signos atualizáveis pelos
usuários do sistema.
Além disso, a relação significante/significado:
“passa a ser motivada, ou seja, tem uma referência concreta no sub-
código lingüístico relativo ao modelo de especialidade (...) na sua
função de representar documentariamente (e de constituir
informalmente), o signo documentário reporta-se àquilo que
transforma o conceito da área de especialidade em informação”
(LARA, 1999, p.67).
Nas Linguagens Documentárias a escrita é fundamental, ao passo que é secundária
na linguagem natural (CINTRA, 1983, p.9).
Verifica-se, assim, que a Linguagem Documentária é um sistema normalizado que
utiliza a linguagem natural, mas coloca seus elementos em um outro contexto,
71
procurando atribuir um significado a somente um significante – visando conferir
referência à interpretação dos termos numa área de especialidade. Quando dois ou
mais significantes concorrem para o mesmo conceito, eles têm sua distribuição
equivalente, e são criadas relações remissivas, fazendo com que se chegue de fato ao
conceito desejado. As distribuições de equivalência parcial representam as relações
hierárquicas, de termo genérico e termo específico, onde este tem as mesmas
características do primeiro, acrescida de uma diferença. A norma tem papel
fundamental: dos termos recolhidos da língua, escolhe apenas os pertinentes ao
contexto trabalhado, eliminando-se variáveis. Transforma o tesauro em um subcódigo
que representa a realidade de uma área (CINTRA e outras, 1994). De fato, é a partir
de uma constatação desse tipo que se faz a aproximação à Terminologia, como
veremos mais à frente.
Também no campo da Documentação, GREEN (1995, p.366) lembra que: “relações
paradigmáticas são baseadas em padrões construídos dentro do sistema da
linguagem. (...) Relações sintagmáticas, ao contrário, ocorrem entre elementos
lingüísticos de uma forma construída”. Para a autora (idem, p.66-7), as relações
paradigmáticas formam o esqueleto da estrutura léxica, e as relações sintagmáticas
têm uma função comunicativa forte na construção de significado. Porém,
“apesar de sua presença constante e da importância de sua função
comunicativa, relações sintagmáticas receberam muito menos
atenção no desenvolvimento e estudo de linguagens documentárias
do que as relações paradigmáticas”.
GARCÍA GUTIÉRREZ concorda, afirmando que as Linguagens Documentárias “não
potenciam a gestão de suas bases léxicas mediante operadores booleanos ou outras
gramáticas mais complexas nem desenvolvem satisfatoriamente o eixo sintagmático
de seus universos cognitivos, insuficiência que as alija do lingüístico” (GARCÍA
72
GUTIÉRREZ, 1998, p.13). O autor lembra que o pensamento não se produz por
hierarquizações paradigmáticas, e que supõe a sintagmatização (idem, p.34). Assim,
“a construção de uma estrutura gramatical”, como o eixo sintagmático, “em uma LD é
tão importante como a existência da própria LD e uma justificativa imprescindível para
a conservação da mesma denominação” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990, p.38).
O autor afirma que o estabelecimento dos eixos sintagmático e paradigmático é
anterior ao estabelecimento das relações (idem, p.87). Para ele:
“As relações paradigmáticas se estabelecem por inclusão, se faz
patente a classe ou categoria (lobo implica animal) e por oposição se
fazem patente oir ausência (lobo exclui cachorro). As relações
sintagmáticas se materializam através da participação (raposa evoca
pele) e da associação (raposa evoca astúcia)” (idem, p.92).
Assim, para GARCÍA GUTIÉRREZ (1996, p.28-31) teremos a seguinte situação:
1. Eixo Paradigmático – seleções possíveis: substituição dos sinônimos por
termos preferidos.
2. Eixo Sintagmático – seleções realizadas: eliminação de polissemias e
substituição por termos mais relevantes
LARA lembra que a precariedade da sintagmatização nas Linguagens Documentárias
deve-se à ausência de produtividade, que é característica da linguagem natural, mas
não da linguagem construída (LARA, 1999, p.100-106).
Veremos, a seguir, como a Terminologia pode contribuir para o desenvolvimento de
Linguagens Documentárias.
73
4. A Terminologia e as Linguagens Documentárias
A relação da Terminologia com a noção de estrutura e com as Linguagens
documentárias diz respeito à possibilidade de operacionalizar a organização sistêmica.
A referência às terminologias concretas é, para uma Linguagem Documentária,
fundamental para o desenho de sua macro-organização. Já a Terminologia
14
teórico-
metodológica dá apoio à organização estrutural das Linguagens Documentárias.
Para introduzir a questão da Terminologia, começaremos por verificar o que ela é e
quais são seus princípios fundamentais. Em seguida, procuraremos ressaltar as
relações entre a Terminologia e a documentação para verificar como são assimiladas
as noções terminológicas, particularmente na elaboração das Linguagens
Documentárias.
4.1. Definição e Histórico
A Terminologia preocupa-se com conceitos, definições e denominações, com a
compilação, descrição, apresentação, criação e normalização de termos de campos
especializados, para fins de comunicação entre especialistas e profissionais. É uma
disciplina que permite identificar, de forma sistemática, o vocabulário de uma
determinada especialidade e analisá-lo.
De acordo com VALIO e OLIVEIRA (2003, p.116), a Terminologia:
14
Utilizaremos Terminologia com T maiúsculo para nos referirmos à disciplina; terminologia,
com t minúsculo, para os produtos concretos.
74
“estuda os termos de uma área do conhecimento e, portanto, estabelece as
características discursivas de cada uma das disciplinas, ou seja,
descreve os usos terminológicos oriundos de um sistema de
discursos daquela área”.
Por suas características, a Terminologia é um campo interdisciplinar que se relaciona
com disciplinas como a Lingüística, Lógica, Ontologia, Ciência da Informação, campos
de especialidade, Semântica, Filosofia, Psicologia e Lexicologia.
A Terminologia é associada à produção de dicionários e glossários (os produtos
terminológicos), mas tem também como função, o planejamento lingüístico e
construção de novos vocabulários técnicos, sendo uma ferramenta de comunicação e
um elemento de intercâmbio. Além disso, preocupa-se com o estabelecimento de
redes de equivalências e correspondências entre línguas, respeitando a integridade de
cada uma, a garantia da expressão e comunicação dos usuários de uma área de
conhecimento ou atividade, tendo como perspectiva as disciplinas, os usuários, as
temáticas trabalhadas e suas finalidades (SAGER, 1991; CABRÉ, 1999; DUBUC,
1999).
De acordo com DUBUC (1977, p.6 citado por LARA, 1999, p.112), a Terminologia “é a
arte de identificar, analisar, com o objetivo de criar o vocabulário para uma técnica
dada, numa situação concreta de funcionamento, de maneira a responder aos
objetivos de expressão do usuário”. Isso demonstra, que a língua é “insuficiente para
garantir uma comunicação unívoca” (LARA, 1999, p.112).
Seus métodos de trabalho são a coleta ou compilação de termos para identificação
das unidades terminológicas; análise, tratamento, processamento e descrição dos
termos; apresentação dos termos; criação de termos (neologismo), e normalização.
Para isso requer o conhecimento profundo da língua comum, um conhecimento sobre
75
a especialidade a ser trabalhada e a identificação de vocabulário conceituais e
funcionais. Para a formalização desses processos, a Terminologia utiliza fichas
terminológicas, instrumento que reúne elementos que validam a informação (fonte,
data, contexto) e mostra a correspondência entre termos. As fichas podem ser
apresentadas em banco de dados formadas por vocabulários (repertório de termos
acompanhados de definição) ou por léxicos (repertório sem definição dos termos), ou
ainda uma mistura dos dois tipos (SAGER, 1991; CABRÉ, 1999; DUBUC, 1999).
Por todas essas características, a Terminologia é uma área que oferece subsídios
importantes para o trabalho documentário, ao enriquecer as Linguagens
Documentárias com definições fechadas de acordo com a área trabalhada, encurtando
o processo que leva à garantia literária.
O trabalho ou a prática terminológica é antigo: já no século XVIII Mendeliev cria a
tabela periódica dos elementos da Química, fortemente difundida pelos trabalhos de
Lavoisier e Berthold, e em 1735 Linné cria a Classificação Geral dos Seres Vivos, a
serviço da Botânica e da Zoologia, a fim de denominar conceitos científicos para
atender às necessidades de especialistas de suas áreas. (SAGER, 1990; CABRÉ,
1993).
Com os colóquios internacionais cada vez mais recorrentes a partir do século XIX, a
Terminologia começou a aparecer de maneira mais sistemática, devido à necessidade
de padronização para a internacionalização das ciências (SAGER, 1990; CABRÉ,
1993).
No século XX são os técnicos que passam a demonstrar a necessidade de dominar
novos conceitos e harmonizar suas denominações, necessidades essas ligadas ao
intenso desenvolvimento científico e tecnológico. É neste contexto que o engenheiro
76
austríaco Wüster e o russo Lotte começam a mostrar seus trabalhos. O alto
desenvolvimento da ciência e da técnica, a tecnologia cada vez mais próxima da
sociedade, o aumento das relações internacionais, a massificação da produção em
ciência e tecnologia, transferência e intercâmbio cultural, científico, técnico e
comercial, a informação vista como poder, e o crescimento do impacto dos meios de
comunicação de massa, foram as molas propulsoras para o rápido desenvolvimento
da terminologia, que passou a atrair a atenção não só de engenheiros, técnicos e
cientistas, mas de outros profissionais e pesquisadores como lingüistas, filósofos,
cientistas da informação, entre outros (SAGER, 1990; CABRÉ, 1993).
4.2. Terminologia e Linguagens Documentárias
Em função do aperfeiçoamento da Linguagem Documentária para a indexação, houve
um grande investimento nas metodologias para que esse instrumento incorporasse as
funções de controle terminológico, de modo a garantir um tratamento da informação
mais consistente, como também a otimização de seu funcionamento na comunicação.
Por ser um instrumento de controle do vocabulário, a Linguagem Documentária
deveria apresentar definições precisas das propriedades dos termos por meio de
acesso a um vocabulário terminológico. No entanto, isso nem sempre é possível, o
que solicita, muitas vezes, o uso de procedimentos terminológicos que assegurem a
referência nas áreas trabalhadas e, conseqüentemente, o arranjo estrutural dos
termos.
A definição das unidades terminológicas, os termos, é feita a partir do discurso e não
da língua. É o discurso das áreas de atividade e dos domínios do saber que conferem
o contexto necessário para a delimitação e interpretação do termo. Os discursos dão a
base para o levantamento de repertórios ou listas de termos especializados de um
77
domínio particular, inferindo-se daí, por um processo descritivo, suas definições.
Nos discursos os termos ganham referência, conforme o que afirma LE GUERN
(1989).
As Linguagens Documentárias são formadas por descritores que são unidades
preferenciais. O critério para dizer o que é uma unidade preferencial é, ainda, pouco
claro, mas se afirma genericamente que os termos utilizados são mais conhecidos
dos usuários. Associar a terminologia aos descritores permite incorporar referências
do conhecimento produzido numa área, às unidades que funcionam como referências
para a informação. A Terminologia exerce uma função comunicativa porque trabalha
com unidades do conhecimento, enquanto que a Linguagem Documentária exerce
prioritariamente a função referencial, informativa, funcionando como intermediária
entre documentos e usuários e, principalmente, entre linguagens: a linguagem dos
discursos de especialidade (via terminologia) e a linguagem do sistema de
informações.
A Terminologia, conforme LARA (1993b, p.79), “pode fornecer elementos para a
restituição de competências semânticas pertinentes, aumentando, dessa forma, a
possibilidade de recuperação da informação o desenvolvimento da semiose”.
Para compreender melhor o estatuto dos termos, distinguem-se, na Terminologia,
palavra e termo. Palavras, para LE GUERN (1989), são independentes das coisas e
os termos se referem às coisas, localizando-as em áreas do conhecimento. Para o
autor, as palavras têm significado, mas não têm referência e representam
propriedades e qualidades de um objeto e não o objeto. Uma palavra passa a ser um
termo quando remete a uma classe que foi atribuída a um objeto dentro de um
universo determinado. É por essa razão que uma palavra de uma língua não pode ser
78
traduzida numa palavra de outra língua, pois os léxicos não recuperam os contextos
de uso dos termos. Os termos são ligados uns aos outros através de relações, o que
permite que se formem classes de objetos em dado universo, algo que não acontece
com as palavras do léxico. O significado é do âmbito do léxico e o conceito pertence
ao âmbito da Terminologia. Os termos, portanto, são os veículos dos conceitos.
A melhor forma de compreender o que foi dito acima é pela comparação entre um
dicionário de língua e um dicionário especializado. No primeiro, as palavras têm
inúmeros significados; no segundo, têm o significado que se localiza numa área de
especialidade, correspondendo, portanto, ao conceito.
Considerando o exposto, quando se pensa na organização de conteúdos
informacionais por meio de descritores, são os conceitos sua referência, não as
palavras.
A Terminologia deve ser vista como uma aliada da Documentação e, mais
especificamente, da Lingüística Documentária, quando da elaboração de instrumentos
de controle de vocabulário para a indexação e para a recuperação de informações. Ao
fornecer os termos de uma área de conhecimento ou atividade, ela também facilita a
construção dos mapas de navegação para áreas temáticas específicas e confere
consistência ao trabalho documentário na utilização de descritores, o que também
facilita o usuário, quer na localização da informação desejada, quer na compreensão
do significado do termo veiculado.
As referências principais para o trabalho terminológico estão expressas em normas
terminológicas internacionais. Tais normas terminológicas fornecem procedimentos
para identificar conceitos e suas relações, analisar e modelar sistemas de conceitos,
estabelecer representação desses sistemas através de diagramas, definir os
79
conceitos, atribuir termos aos conceitos (designação) em uma ou mais linguagens,
apresentar e registrar dados terminológicos (ISO 704, 2000).
Para a Terminologia, um termo é um elemento constitutivo de qualquer sistema
conceitual relacionado a uma língua de especialidade. Um termo existe somente em
seu próprio campo de aplicação, isto é, dentro do contexto de uma língua de
especialidade, na qual seu significado adquire certa particularidade e assume uma
carga semântica própria. Por isso, um mesmo termo não pode pertencer a várias
áreas temáticas, mesmo que sua forma de expressão seja idêntica: em cada uma
delas ele apresentará um significado, remetendo a um conceito particular.
De acordo com suas necessidades, os usuários da língua de especialidade ampliam,
restringem ou modificam o significado das palavras da língua geral. Novos significados
também podem ser criados para suas próprias necessidades (DUBUC, 1999, p.55-63).
Esse procedimento, porém, só aos poucos ganha autoridade, uma vez que o
reconhecimento dos processos de re-semantização precisam ser confirmados pelas
comunidades que o utilizam.
O termo expressa um conceito pela presença e reunião de traços característicos e
significativos do objeto designado, e que supõe, portanto, uma referência à realidade
consubstanciada através de discursos de áreas de especialidade.
Segundo as teorias clássicas, dentro de uma especialidade, a um termo deve
corresponder somente um conceito, ou seja, deve haver univocidade, meio de garantir
uma comunicação mais rigorosa do que a língua geral. A polissemia pode representar
sérios inconvenientes, como o risco de conflito entre os significados no interior de uma
mesma especialidade ou dentro de suas subáreas. Se a polissemia não puder ser
eliminada, será necessário delimitar a área semântica de cada termo. Deve-se
80
também eliminar qualquer excesso de sinônimos para preservar a eficácia da
comunicação, ou pelo menos, explicitar o alcance real de cada sinônimo. As teorias
contemporâneas da Terminologia não ignoram a polissemia, sendo mais tolerantes à
variação.
A relação entre termo e conceito pode ser determinada segundo o conteúdo semântico
de cada conceito, por meio de relações lógicas de gênero/espécie, causa/efeito, ou
pelas relações associativas abstrato/concreto, parte/todo, objetivo/meio e relações de
oposição. As relações do segundo tipo servem mais para explicar os conceitos do que
para classificá-los. Aqui fica evidente a importância de um sistema de conceitos bem
delimitado com a explicitação dos termos que, dentro da língua de especialidade se
relacionam. Fica evidente, também, a presença da noção de estrutura, como sistema
de relações mútuas entre os conceitos, garantia de sua significação.
Por meio do trabalho terminológico de construção do sistema relacional de conceitos,
é possível formar um mapa da área estudada e entender o que cada termo significa
em relação ao campo em que se localiza. Os procedimentos terminológicos tornam
mais clara a razão dos sistemas de relacionamentos propostos pelas diretrizes de
elaboração de tesauro, porque simulam, a seu modo, a definição.
A Terminologia é imprescindível para traduzir a linguagem técnica e científica numa
linguagem sistêmica, como vemos em SAGER:
“A terminologia constitui para os especialistas o vocabulário
essencial para uma comunicação eficaz. Para o grande público não é
mais do que um modo dos especialistas enganarem, confundirem ou
impressionarem com conhecimentos superiores ou com uma
linguagem arcana que protege os mistérios do saber. Para alguns
poucos, é uma das chaves do progresso que permite acessar o
81
mundo das ciências e técnicas” (SAGER, 1993, p.11, citado por LEAL, 1998,
p.31).
O grande avanço no campo das metodologias de análise e síntese deu-se pelo
reconhecimento da importância das terminologias e do reconhecimento das estruturas
textuais para análise da informação. Porém, pouco se avançou nas propostas de
novos produtos documentários ou de novos processos de transferência efetiva de
informação. É preciso evoluir no desenvolvimento de interfaces entre a terminologia e
a lingüística documentária, estabelecendo uma relação complementar entre dois
pontos de vista, o do codificador e do consumidor da informação (TÁLAMO, 2001).
Para CABRÉ (1999), a relação entre Terminologia e Documentação se dá pelos dois
lados: uma precisa da outra para seus processos de trabalho. Uma vez que o objetivo
fundamental do trabalho documentário é facilitar a recuperação de informações, a
Documentação necessita de descrições explícitas de cada documento de forma a
permitir sua identificação completa e de uma estrutura organizada de assuntos dentro
da área em que se situa. A descrição do documento é realizada para a explicitar os
elementos mais representativos da informação a ser transmitida. A indexação,
portanto, pode ser vista como uma operação também terminológica, uma vez que
detecta a terminologia mais indicativa do conteúdo documentário.
No trabalho documentário, além da Terminologia ser utilizada como um instrumento de
descrição e indexação de informação, também é utilizada como um instrumento de
recuperação. Segundo CABRÉ, para adaptar-se a estes dois procedimentos, a
Documentação necessita de uma Terminologia descritiva e normativa. Isto, ao mesmo
tempo em que favorece a recuperação de informações pela sistematização dos
conteúdos, acaba por forçar a naturalidade expressiva do usuário. Tornam-se
necessárias, portanto, discussões e apresentação de trabalhos conjuntos entre
82
documentalistas e terminólogos, no sentido de potencializar a capacidade
comunicativa e de intermediação das Linguagens Documentárias subsidiadas por
terminologias, os tesauros terminológicos (idem, 1999).
Na ótica da Documentação, porém, verifica-se que o entendimento que CABRÉ (1999)
tem da área não é completo. A autora confunde os processos de indexação e de
construção de vocabulário, não compreendendo que a função da Terminologia se
relaciona ao segundo processo, não ao primeiro.
As pesquisas sobre construção de vocabulários têm hoje, na Terminologia, uma
referência fundamental para o estabelecimento de redes relacionais que permitam
conferir aos descritores significados interpretáveis em determinadas áreas de
especialidade. Isso facilita o processo posterior de indexação, já que o controle
terminológico está feito anteriormente,.
Uma Linguagem Documentária pode representar uma espécie de mapa temático com
os conceitos de uma área, e não apenas de textos tomados na sua individualidade,
como é o caso do resumo (CINTRA e outras, 1994). Uma das principais contribuições
da Terminologia para a elaboração das Linguagens Documentárias está na ênfase da
noção de relação explorada pela área. Essa noção, que se manifesta na linguagem,
como vimos anteriormente, também é fundante na Terminologia, uma vez que ela
torna possível a compreensão dos elementos envolvidos na formulação de classes.
É preciso dizer que a Terminologia tem diferentes vertentes de pensamento. No que
diz respeito às linhas, CABRÉ (1999) ressalta o desenvolvimento de três abordagens
terminológicas: Terminologia orientada ao sistema lingüístico (corrente lingüístico-
terminológica), encabeçada por Wüster, e com grande preocupação normalizadora; a
Terminologia orientada à tradução (corrente traducional), que surgiu em regiões
83
francofônicas em organismos internacionais, que propõem a criação de bancos de
dados terminológicos; e a Terminologia orientada à planificação lingüista (corrente
normalizadora), que se preocupa com a recuperação de línguas minoritárias, por meio
de intervenção sistemática e legal. Segundo sua opinião, no caso da documentação, é
a primeira linha que interessa. Essa não é, entretanto, uma opinião compartilhada por
grande parte dos documentalistas que reconhecem o benefício de outras tendências
de estudos da Terminologia. O principal deles é o que se relaciona à comunicação e
que não vê a função da linguagem apenas como meio de designação posterior à
formação do conceito (LARA, 2006).
Em uma comparação simplificada entre Linguagem Documentária e Terminologia
(instrumento), temos:
Aspectos LD Terminologia
Unidade - Descritor Preferencial - Termo
Universo de Trabalho - Linguagem dos usuários
- Textos sob indexação
- Linguagem especializada
Forma - Mapa conceitual
- Grade interpretativa
- Equivalência entre
linguagens
- Guia de definições
Métodos e Operações - Hipótese de organização
- Rede de relações
- Prioritariamente, processo
onomasiológico (do conceito
ao nome)
- Identificação, análise, criação
- Processo semasiológico (do
nome ao conceito) e
onomasiológico (do conceito
ao nome)
Função - Representação da
Informação
- Recuperação de informação
- Controle do vocabulário
- Comunicação de conceitos
- Normalização/prescrição (na
Terminologia clássica)
- Descrição (na Terminologia
contemporânea)
Propósito - Consulta por indexadores e
usuários das informações
- Consulta por especialistas
Unidade Descritor /unidade preferencial - Termo
Instrumento - Tesauro - Repertórios terminológicos
- Dicionários terminológicos
- Glossários
- Bancos terminológicos
Quadro 17 - Comparação entre Linguagem Documentária e Terminologia
84
Uma Linguagem Documentária é um objeto cultural que registra e representa a
informação segundo parâmetros estáveis do conhecimento. São instrumentos que
manifestam as relações entre os termos forma de redes de relações. A escolha dos
descritores e do seu modo de organização determina as formas e o conteúdo das
operações de indexação.
A Terminologia é, portanto, fundamental para subsidiar a elaboração de Linguagens
Documentárias, pois é através delas que é possível identificar as referências para a
seleção dos termos e a apreensão dos conceitos relacionados. Sem o apoio da
Terminologia (teórica) e as terminologias concretas, qualquer operação de seleção e
organização das estruturas relacionais são desprovidas de fundamento nas áreas de
conhecimento ou de atividade que são seu foco. Confirma-se, pelo exposto, que as
noções de estrutura lingüística estão na base, também, das terminologias. A expansão
da noção de estruturação se encontra na forma como as terminologias são validadas:
elas não partem de conceitos formulados de modo abstrato, mas da observação dos
discursos efetivamente realizados, além de compartilhados pelas comunidades de
uso, seja em nível científico ou técnico.
85
5. Análise de Linguagens Documentárias
A reunião dos conceitos feita anteriormente permite uma verificação mais detalhada
dos vários tipos de instrumentos utilizados na Documentação. Para tanto,
procuraremos agora proceder à análise de Linguagens Documentárias mais usadas
atualmente, bem como outros instrumentos que se assemelham, ao menos em parte,
a elas. A finalidade desse exercício é a de verificar como integram os conceitos
lingüísticos e terminológicos, mais especificamente, se e como aplicam de fato a
noção de estrutura em sua organização.
Para efeito de análise, tomaremos a síntese da noção de Linguagem Documentária: o
sistema de relações entre os descritores e o respaldo no uso, via referências nas
terminologias utilizadas pelas comunidades discursivas específicas.
5.1. Vocabulários Controlados
Vocabulários controlados são listas organizadas de palavras e frases utilizadas para
nomear conteúdos e recuperar a informação. Auxiliam na categorização de conteúdo e
sua análise, servindo à indexação de textos e no estabelecimento da navegação de
páginas eletrônicas (sites), com o objetivo de diminuir a ambigüidade que pode surgir
na relação entre usuários e sistemas de informação.
Para GOMES (1990, p.15) um vocabulário controlado “contém apenas relações
sinonímicas, quase sinonímicas, bem como controle de polissemia, além de não
diferenciar rigorosamente “termo” de “palavra”. E também não apresenta relações
estruturais entre os elemento”.
86
De acordo com GREIMAS e COURTÉS (1979, p.492), vocabulário é “a lista
exaustiva das palavras de um corpus (ou de um texto) por oposição ao léxico,
entendido com inventário de todas as lexias de um estado de língua natural”.
O glossário da ALA – American Library Association, define vocabulário como “número
limitado de palavras, expressões ou códigos a disposição de uma pessoa, uma
máquina ou um sistema” (YOUNG, 1988, p.366).
DUBOIS e outros (1973, citado por CINTRA e outras, 2002, p.37) afirmam que
vocabulário “refere-se ao conjunto de ocorrências que integram um determinado
corpus discursivo, como uma lista de unidades da fala”.
A Norma ISO 1087-1 define vocabulário como ”dicionário terminológico que contém
designações e definições de um ou mais campos de conhecimento” e que pode ser
monolíngüe, bilíngüe ou multilíngüe (2000, p.12). Ressalte-se que esta definição
ocorre no contexto da Terminologia, o que confere características particulares ao
termo 'vocabulário'. Não se pode interpretar, do mesmo modo, o conceito de
vocabulário utilizado na Documentação.
Os vocabulários, para GARDIN (1966), são léxicos documentários, que podem ou não
ser organizados. Podemos, a seguir, registrar, em um quadro, algumas das de
características gerais dos vocabulários controlados apontadas acima:
87
Características
Controle de vocabulário e de sua ambigüidade
Listas organizadas de expressões
Função de recuperação de informação
Função de Indexação
Número limitado de palavras
Ordem alfabética de apresentação de suas expressões
Pode apresentar definições de suas expressões
Pode ser monolíngüe, bilíngüe ou multilíngüe
Aborda um ou mais campos de conhecimento
Quadro 18 - Características gerais dos vocabulários controlados
O modo como os vocabulários realizam o 'controle', no entanto, é seu aspecto
problemático. Dentre todas os requisitos que são utilizados para o controle do
vocabulário em uma Linguagem Documentária, os denominados 'vocabulários
controlados' têm alguma das características, mas nem todas. LARA afirma que:
“Controlar o vocabulário não significa apenas padronizar as formas de
entrada (significantes) ou registrar a sinonímia: significa operar sobre
a significação (significante/significado) dos termos, o que depende
inteiramente de delimitações de sentido conferidas pela rede de
relações lógico-semânticas amparadas por definições” (2001b, p.4).
Além do mais, falta a esses vocabulários, geralmente, relações de natureza
associativa - como os TR dos tesauros - relação essa fundamental para reforçar a
carga semântica de um termo.
Pelas suas características, não se pode afirmar que os vocabulários controlados
integrem todas as características da noção de estrutura, seja como sistema de
relações autônomo - que dá forma global à Linguagem Documentária - seja como
modo de estruturação que se apóia no uso.
88
5.2. Esquemas de Classificação
Os planos de classificação foram construídos tendo como referência o conhecimento
universal ou áreas especializadas do conhecimento. De acordo com CINTRA e outras
(2002, p.40-1):
“Os primeiros sistemas de classificação bibliográfica conhecidos são
os de natureza enciclopédica, como a CDD – Dewey Decimal
Classification, a CDU – Classificação Decimal Universal e a LC
Library of Congress, e visam cobrir todo o espectro do conhecimento.
Sistemas posteriores como as classificações facetadas desenvolvidas
a partir do CRG – Classification Research Group, com base na Colon
Classification, de Ranganathan, visam a domínios particulares. Os
tesauros, por seu lado, originaram-se de classificações facetadas
com uma preocupação adicional: a do controle do vocabulário”.
Os esquemas de classificação, tanto os de propósitos universalistas, como os de
classificação especializada, acabam por se tornar rígidos e acompanham com
dificuldade a dinâmica da linguagem e do conhecimento a ser representado, uma vez
que não se caracterizam pelo contexto da organização e dos usuários a quem servem
– são pré-formatados, sendo utilizados com os mesmos termos e relações sejam quais
forem as aplicações.
Por pretenderem a organização física de documentos, os sistemas de classificação
geralmente limitam a representação de conteúdo a classes disciplinares, impedindo
uma adequada classificação de temas que são produto de cruzamento entre elas.
Apesar de serem excessivamente hierárquicos, alguns sistemas de classificação
bibliográfica também dispõem de operadores de relação entre os termos que não são
89
de inclusão. Segundo afirmação de LARA (2000)
15
, esquemas de classificação
como a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e Classificação Decimal Universal
(CDU) apresentam dois recursos de sintagmatização:
“primeiro, através da construção de notações que agregam a notação
relativa ao assunto principal – que corresponderia ao tema – às
notações relativas a aspectos complementares (onde, como, em que
língua, sob que ponto de vista,); segundo através da combinação de
notações de assuntos principais para formar um novo assunto
(mecanismo identificado como síntese notacional” (idem).
A CDU conta ainda com recursos adicionais para a combinação livre de quaisquer
assuntos, sem especificar, porém, a natureza da relação ou qual o assunto
predominante (idem).
De acordo com LARA (2001a, p.4), “os sistemas de classificação pressupõem a
existência de uma visão de mundo homogênea, estável e, de certo modo, imutável”.
O conteúdo de suas classes é organizado e de modo dedutivo, o que reforça a noção
de conhecimento como acúmulo (idem, p.4). Assim, “a CDD e CDU são mais aptas
antes a prover uma base para a formação de estoques e para a reprodução do
conhecimento do que promover a circulação de informação” (idem, p.4), ou seja, são
esquemas mais adequados para “a preservação de acervos (e de pontos de vista
fixados) do que à transferência da informação” e falham quanto à função de prover
processos de comunicação (idem, p.8). Além disso, os sistemas de classificação não
apresentam preocupação como o controle de vocabulário (idem, p.9).
15
Anotações da disciplina Linguagens Documentárias, do segundo semestre de 2000,
ministrada por Marilda Lopes Ginez de Lara.
90
Da noção de estrutura, os sistemas de classificação utilizam principalmente a
relação hierárquica de inclusão. As associações não-hierárquicas previstas são
reduzidas: previstas no sistema (CDD) e abertas pelas possibilidades de uso dos
operadores de relação (CDU). A hierarquia, no entanto, prevalece sobre as relações
de associação.
5.3. O SYNTOL
Dentre inúmeras Linguagens Documentárias já analisadas em outros trabalhos
(WANDERLEY citado por DODOBEI, 2002; LARA; DODEBEI; CHAUMIER, etc), o
SYNTOL é uma Linguagem Documentária que utiliza fortemente os conceitos da
lingüística estruturalista.
De acordo com CROSS e outros (1968, p.39), o SYNTOL é “um conjunto de regras
lógico-semânticas sobre diferentes maneiras de representar as informações trazidas
na documentação científica”.
A grande inovação do SYNTOL é conjugar organização semântica e organização
sintática, a fim representar o máximo de informação possível em sistema de
informação virtualmente aberto. Para isso GARDIN e sua equipe passaram a
considerar explicitamente a aplicação de relações sintagmáticas. A análise destas
permite “exprimir as relações que unem as palavras de uma cadeia escrita, quaisquer
que sejam essas palavras” (CROSS e outros, 1968, p.44). Procura-se, no SYNTOL,
assegurar a univocidade das reduções sintáticas, da linguagem natural à Linguagem
Documentária, e garantir a maleabilidade das expressões finais, isto é, permitir a
redução ou ampliação do grau de precisão da análise (idem).
91
A organização semântica é feita com um sistema de regras de construção dos
sintagmas e com uma indicação temática que eventualmente salienta em um sintagma
ou grupo de sintagmas a o seu foco. A indicação temática é considerada pelos autores
cmo procedimento sintático. Entretanto, GRANGER observa que este procedimento
também pode ser considerado de natureza semântica: “a razão que o vincula à sintaxe
é que ele tem por função levantar certas ambigüidades não resolvidas pelas regras
sintagmáticas” (1974, p.212).
GRANGER considera o SYNTOL como uma Linguagem Documentária
“pragmaticamente válida” e também como uma imagem simplificada da linguagem
natural (idem, p.215).
De acordo com LARA (2001b, p.5), o SYNTOL é um “modelo de linguagem aplicável
teoricamente a quaisquer universos de textos, cuja ênfase está na identificação de
relações de natureza paradigmática e sintagmática entre os termos”. È um trabalho
considerado de grande atualidade e que influenciou e influencia as pesquisas
subseqüentes.
5.4. Tesauros
O tesauro é uma Linguagem Documentária, um objeto cultural que registra e
representa o conhecimento segundo parâmetros estáveis, previamente determinados
e manifestos sob a forma de redes de relações entre descritores que determinam o
seu modo de organização, a disseminação da informação e a análise dos documentos.
O termo tesauro é de origem greco-latina, e o Oxford English Dictionary (citado por
GILCHRIST, 2003, p.7) o define como:
92
“um “tesouro” ou “depósito” de conhecimento, como um dicionário, uma
enciclopédia ou similar. Uma coleção de conceitos ou palavras
ordenadas de acordo com o sentido; também um dicionário de
sinônimos ou antônimos”.
Enquanto produto documentário, o tesauro tem sua origem no século XIX, mais
precisamente em 1805, com o aparecimento da primeira lista de palavras classificadas
de acordo com o seu significado, graças à iniciativa de Peter Mark Roget
(CAVALCANTI, 1978, p.27).
The Roget’s Thesaurus
16
ficou conhecido como o primeiro trabalho desta natureza e
congregava uma relação de palavras e combinações idiomáticas organizadas não em
ordem alfabética, como em um dicionário, mas de acordo com as idéias que
expressavam. Mesmo assim, GILCHRIST (2003, p.8), cita os trabalhos de SPARCK
JONES (1972)
17
e MCARTHUR (1986)
18
, que fizeram uma ligação entre o tesauro de
ROGET com o Essay towards a Real Character and a Philosophical Language de
WILKINS (1668)
19
. WILKINS pretendia construir uma nova linguagem que substituísse
o latim, de forma a reduzir as ambigüidades na comunicação científica universal e,
desse modo, promover o avanço da ciência.
O termo tesauro permaneceu pouco utilizado até meados do século XX, quando foi
retomado de forma discreta, mas relacionado à tradução automática ou mecânica
(CAVALCANTI, 1978, p.27).
16
ROGET, P.M. Thesaurus of English Words and Phrases. London; Harlow: Longman,
1852.
17
SPARCK JONES, K. Some thesauric history. Aslib Proceedings, v.24, n.7, July, p.400-11,
1972.
18
MCARTHUR, T. Worlds of Reference. Cambridge: Cambridge University Press, 1986.
19
WILKINS, J. An Essay towards a Real Character and a Philosophical Language. London,
1668.
93
Para LARA (1993b, p.102-3), no âmbito da Biblioteconomia,
“a origem dos tesauros se reporta à Colon Classification – CC, de
Ranganathan e às experiências posteriores desenvolvidas pelo
Classification Research Group – CRG, referentes à estruturação das
áreas do conhecimento a partir da noção de “faceta”, ou seja, do
privilégio de determinados pontos de vista sobre o arranjo dos
domínios e subdomínios”.
Com o crescimento de sua utilização, o tesauro passou a designar uma lista de
descritores ou termos de indexação – unidades utilizadas para representar e recuperar
informação –, e ganhou a função de representar conceitos e especificar relações entre
os termos.
De acordo com LARA (2001b, p.5), nos tesauros “a ênfase não se dirige mais às
classes de assuntos e as disciplinas convencionais”, mas às relações associativas
entre os termos. São instrumentos “voltados para o objeto, ou mais precisamente, para
os conceitos orientados ao objeto”. Assim, são elaborados a partir de necessidades
específicas, podendo haver dentro de uma mesma área ou domínio, diversos tesauros
contemplando, cada um, um aspecto do campo tratado (idem, p.5).
Os tesauros, diferentemente dos esquemas de classificação e dos vocabulários
controlados, contam com diretrizes e normas para sua elaboração. De acordo com as
diretrizes para tesauros monolíngües, um tesauro é “uma linguagem documentária
dinâmica que contém termos relacionados semântica e logicamente, cobrindo de
modo compreensivo um domínio do conhecimento” (GOMES, 1990, p.16).
O tesauro é uma Linguagem Documentária que se apóia (ou deveria se apoiar) na
linguagem de especialidade. A linguagem de especialidade identifica a linguagem que
é utilizada em domínios do conhecimento ou em áreas de atividade, e que tem parte
94
'especializada', e parte da linguagem natural. Ao se apoiar na linguagem de
especialidade, o tesauro especifica o seu contexto temático de aplicação e uso, de
modo a permitir que a relação significado/significante seja interpretada nesses
ambientes. Garante-se, desse modo, maior univocidade dos termos.
Pode-se dizer que, nos tesauros, o significado de 'controle' é mais amplo, porque
utilizam um sistema mais completo de relações, apoiando-se, em alguns casos, em
definições terminológicas, que têm em sua gênese relações estruturais. Para LARA
(2001b, p.6),
“os tesauros constituem o primeiro instrumento documentários de
representação que trabalha com a noção de controle do vocabulário.
(...) O controle é aqui entendido não sob a perspectiva da
padronização, mas como o mecanismo através do qual busca-se
estabelecer a interação dos sistemas com os seus público”.
As relações no tesauro compreendem um rol mais sofisticado que os sistemas de
classificação e os vocabulários controlados em geral. No tesauro, os relacionamentos
procuram reproduzir o sistema da língua, e “as redes lógico-semânticas entre os
descritores permitem estabelecer um sistema de significação que corresponde a uma
hipótese de organização relativa a um domínio” (LARA, 2001b, p.6).
Segundo as metodologias de tesauro, como as diretrizes comentadas por GOMES
(1990), as relações que o caracterizam são:
a) Relação de equivalência: relação entre o termo preferido e o não-preferido. É o
caso de sinônimos ou quase-sinônimos. Opta-se por um termo que será o
preferido.
95
b) Relação hierárquica: é a relação que distingue um tesauro sistemático de
uma lista de termos não estruturada, por exemplo, um glossário. Baseia-se na
superordenação e subordinação dos termos e cobre três situações:
a. Relação genérica – Indica vínculo entre a classe ou categoria e seus
membros e espécies
b. Relação hierárquica todo-parte – Aplica-se em situações onde o nome
de uma parte implica o nome de seu possuidor.
c. Relação de Exemplo – Ligação entre uma categoria geral de objetos ou
evento e um exemplo individual.
c) Relação associativa: cobre a relações entre pares de termos que não são
membros de um conjunto de equivalência nem podem ser organizados em uma
hierarquia onde um termo se subordina o outro. Entretanto são mentalmente
associados de tal maneira que a conexão entre eles deve ser feita
explicitamente no tesauro.
Além disso, o tesauro utiliza operadores de sentido para indicar as relações entre suas
unidades:
TG – Termo genérico: indica termo de maior abrangência;
TE – Termo específico: indica termo de maior especificidade;
TR – Termo relacionado: indica relação associativa, não hierárquica;
UP – Usado Para: indica sinônimo ou quase-sinônimo, equivalência;
USE – Use: indica o termo preferido;
NE ou NA: Nota Explicativa ou Nota de Aplicação: indicam definições ou
explicações para o uso do termo.
96
A rede de relações do tesauro se baseia num esquema de equivalências. Quando
dois ou mais significantes concorrem para o mesmo conceito, eles têm sua distribuição
equivalente, e são criadas relações remissivas, fazendo com que se chegue de fato ao
conceito desejado. As distribuições de equivalência parcial representam as relações
hierárquicas, de termo genérico e termo específico, onde este tem as mesmas
características do primeiro, acrescida de uma diferença. A norma tem papel
fundamental: dos termos recolhidos da língua, escolhe-se apenas os pertinentes ao
contexto trabalhado, eliminando-se variáveis. Transforma-se o tesauro em um
subcódigo que representa uma leitura possível da realidade de uma área.
Procura-se compatibilizar os diversos termos usados na linguagem natural com um
termo que defina mais apropriadamente o conceito que se deseja representar ou
acessar dentro de um determinado sistema de informação. Para que a cada termo
preferido do tesauro corresponda a somente um conceito ou noção, é necessário um
controle do vocabulário. Esse controle é obtido por dois meios principais:
a) A cada termo do tesauro corresponde apenas um significado, que é o mais
adequado às necessidades do sistema de indexação – univocidade -, ao
contrário dos termos de um dicionário que podem estar acompanhados de
várias definições. Caso o significado do termo não estiver expresso
suficientemente, acrescenta-se uma definição ou nota explicativa. Esta forma
também é chamada de normalização semântica.
b) Quando um mesmo termo puder ser expresso por dois ou mais sinônimos ou
quase-sinônimos, escolhe-se um destes como o termo preferido, isto é, termo
que será utilizado na indexação. Os outros termos servirão como pontos de
acesso, ao levar ao termo preferido.
97
Desse modo, o tesauro operacionaliza, mais do que os sistemas de classificação e
os vocabulários controlados, a noção de estrutura como rede de relacionamentos
entre os termos.
As finalidades do tesauro são, de acordo com FUJITA (1992, p.9), o controle dos
termos de indexação e recuperação da informação, assegurar uniformidade entre os
indexadores, e servir como auxílio para estratégias de busca.
O tesauro é, portanto, um instrumento de controle do vocabulário que possibilita a
indexação da informação, a recuperação desta com qualidade e a redução das
ambigüidades oriundas da linguagem natural.
De acordo coma LARA (2000)
20
, “somente as relações lógico-semânticas são objeto
do tesauro. As relações sintáticas não fazem parte do tesauro, mas são constituídas a
partir dele”. As primeiras são relações fixadas a priori no tesauro, no eixo
paradigmático, e as outras são relações de combinação dos termos na saída do
sistema – estas são relações sintagmáticas.
As relações do tesauro determinadas a priori, dão a ele a sua armação, como uma
analogia à estrutura do domínio a ser trabalhado. As relações a posteriori , permitem
que se criem novos sintagmas documentários a partir da combinação de descritores
definidos a priori, o que responde pela dinamicidade do tesauro. As relações a
posteriori, no entanto, dependem muito do repertório de descritores existentes
originalmente, o que é um problema, já que não se garante, efetivamente, que a noção
de estruturação contínua seja alcançada.O tesauro é um instrumento que adquiriu
20
Anotações de aula.
98
estabilidade, mas esta tem sido comprometida pelo surgimento relativamente rápido
da busca em texto integral (full-text) e também pela internet, ainda que sem levar em
conta as características semânticas dos conteúdos da rede. A partir desse quadro,
aparece o “tesauro de busca”, que seria uma fusão de tesauros, cuja principal
característica é o agrupamento de sinônimos (COCHRANE, 1992
21
, citado por
GILCHRIST, 2003, p.9).
De acordo com MILSTEAD
22
(1995, citado por GILCHRIST, 2003, p.10) “o tesauro
pode se tornar invisível para a maioria dos usuários”, o que leva à questão das
taxonomias, discutidas mais adiante. Além disso, para MILSTEAD,
“não há um motivo intrínseco para que um tesauro convencional não
possa ser ampliado e elaborado para incluir, por exemplo, definição
de termos, notas de uso, e definição mais explícita dos
relacionamentos, (...) e tal enriquecimento do tesauro permite que a
rede semântica seja manipulada mais facilmente por um motor de
inferência”.
Neste ponto, o tesauro converge para as ontologias (GILCHRIST, 2003, p.10), que
também serão referidas adiante.
Pelo exposto, pode-se afirmar que, dentre os instrumentos vistos até agora, é o
tesauro que mais utiliza a noção de estrutura como rede relacional. No entanto, ele
ainda se caracteriza como uma ferramenta pré-construída, que impede a realização de
21
COCHRANE, P.A. Indexing and searching thesauri, the Janus or Proteus of information
retrieval. In: WILLIAMSON, N.J.; HUDON, M. (Eds), Classification Research for Knowledge
Representation and Organization. Amsterdam: Elsevier Science Publishers, 1992.
22
MILSTEAD, J. Invisible thesauri: the year 2000, Online & CDROM Review, v.19, n.2, p.93-4,
1995.
99
uma reestruturação com o uso. São necessárias novas edições para que esta
condição seja atendida, mas, assim feita, ela se cristaliza.
5.4.1. O Tesauro Funcional
O tesauro funcional foi desenvolvido para dar conta da indexação de documentos de
arquivos administrativos correntes. Foi uma iniciativa do Arquivo Nacional da Austrália,
e é definido, conforme o NATIONAL ARCHIVES OF AUSTRALIA (2000) como:
“uma lista alfabética de todas as funções autorizadas e os termos
descritores de atividades derivam de um plano de classificação de
negócios. Define-se os termos usando notas de escopo e
especificando as relações hierárquicas entre eles”.
Assim como o tesauro documentário, um vocabulário controlado – como o tesauro
funcional – , na ótica arquivística, deve (SMIT e KOBASHI, 2001, p.14-5):
Hierarquizar as atividades pelas funções, ao possibilitar tanto a visualização do
universo coberto, como a orientação para o arranjo das séries documentais.
Contemplar a sinonímia, ao orientar tanto a nomeação dos documentos como
as buscas.
Relacionar termos presentes em diferentes categorias, caso seja necessário.
Preocupar-se com a conceituação dos termos, através de notas explicativas –
as notas de escopo.
O tesauro funcional deve representar, no topo de sua hierarquia as funções de
negócios gerais, no segundo nível, representar as atividades que constituem tais
100
funções e, no terceiro nível e nos subseqüentes, representar os grupos de
transações que se sucedem e que tomam lugar dentro dessas atividades. Veja na
figura seguir:
Figura 3 - Esquema de Classificação de Negócios
FONTE: ARCHIVES AUTHORITY OF NEW SOUTH WALES, 1998
Seguindo a mesma ordem, a estrutura do tesauro funcional apresenta-se da seguinte
forma:
Figura 4 - Estrutura do Tesauro
FONTE: ARCHIVES AUTHORITY OF NEW SOUTH WALES, 1998
101
Assim, tem-se:
Palavras-chave que representam funções gerais de negócios de uma agência;
Descritores de atividade que descrevem atividades mais específicas que
tomam lugar entre aquelas funções, e
Descritores de conteúdo colocados como um meio de descrever conteúdos ou
tópicos mais específicos relacionados com o assunto a ser documentado
dentro de uma atividade.
As palavras-chave e os descritores são fornecidos pelo tesauro e podem ser
acrescidos de algum texto livre, isto é, palavras não derivadas do tesauro, como o
nome de uma organização, de um indivíduo ou de um projeto. Portanto, a
documentação de um arquivo é construída ao alocar-se uma palavra-chave, seguida
de um descritor de atividade, seguido de um descritor de conteúdo e/ou algum texto
livre. Além disso, ao aplicar-se o tesauro funcional baseado nas funções de negócios,
os registros podem ser indexados e documentados e pode-se determinar como eles
devem ser mantidos, armazenados e quem deve acessá-los (ARCHIVES AUTHORITY
OF NEW SOUTH WALES, 1998). A palavra-chave, neste contexto, pode ser entendida
como a categoria nos tesauro conceituais. Seu uso não ocorre para a indexação em si,
mas para um mapeamento da função representada.
O tesauro funcional é, portanto, mais flexível, permitindo a representação de estruturas
nocionais na dependência dos aspectos a serem observados na documentação
analisada.
102
5.4.2. O Tesauro Terminológico
No trabalho documentário, a Terminologia pode ser utilizada como um instrumento de
descrição e indexação de informação, e também como um instrumento de
recuperação das mesmas. Para adaptar-se a estes dois procedimentos, a
documentação necessita de uma Terminologia descritiva e normativa. Isto, ao mesmo
tempo em que favorece a recuperação de informações pela sistematização dos
conteúdos, acaba por forçar a naturalidade expressiva do usuário. Tornam-se
necessárias, portanto, discussões e apresentação de trabalhos conjuntos entre
documentalistas e terminólogos, no sentido de potencializar a capacidade
comunicativa e de intermediação das LDs subsidiadas por terminologias, os tesauros
terminológicos.
De acordo com LARA (2001b, p.8):
“Contemporaneamente, as linguagens documentárias tendem a se
apresentar sob a forma de tesauros terminológicos, acoplando, no
mesmo instrumento, uma rede de termos preferenciais (selecionados
a partir da terminologia concreta e das referências de uso) e um
glossário: além das notas de escopo, que são notas explicativas
quanto às possibilidades e restrições de uso de um descritor, os
tesauros terminológicos incorporam definições”.
Os tesauros terminológicos, dessa forma, são “instrumentos que usam
simultaneamente princípios de organização de tesauros e de organização de sistemas
de conceitos” (LARA, 2002a, p.134). Assim, contam com todas as características de
um tesauro convencional, acrescentando-se uma rigorosa seleção de termos que já
foram delimitados no seu domínio.
103
De acordo com CINTRA e outras, a ausência de definições e a presença escassa
de Notas de Escopo, fazem com que as Linguagens Documentárias não funcionem
efetivamente como meio para uma interpretação consistente (1994, p.78-79).
“A não fixação do sentido compromete a credibilidade do instrumento lingüístico-
documentário para o tratamento e a recuperação da informação” (CINTRA e outras,
1994, p.81). Para resolver esta questão, é necessário estabelecer o universo
referencial das Linguagens Documentárias, por meio das terminologias de áreas. Isso
porque, de acordo com as autoras (1994, p.79), “na Terminologia, uma palavra
designa um determinado objeto, porque trabalha com traços de substância e remete a
determinados universos de valores consubstanciados nos discursos de especialidade”.
O capítulo sobre Terminologia, neste trabalho, confirma o que foi dito acima. Seria um
tesauro terminológico um instrumento mais refinado, já que conjuga um sistema de
relações com as definições que lhe dão sustentação, além de facilitar a compreensão
dos termos. Como também já foi dito, um instrumento desse gênero utiliza, mais
plenamente, a noção de estrutura: ela fundamenta as relações e apresenta as
informações que validam seu uso.
5.5. Taxonomias
Para a ENCYCLOPEDIA OF LIBRARY AND INFORMATION SCIENCE (1997, p.17)
“uma taxonomia é um método para determinar classes de coisas reais através do
estabelecimento de graus de semelhanças e diferenças”.
A taxonomia (ou taxionomia, ou ainda taxinomia) vem de tax(i)(o) que significa arranjo,
classificação, ordenação, mais nom(o)(ia), dar nomes, e pode ser traduzida como
104
ciência da classificação. A taxonomia mais conhecida é “Classificação Geral do
Seres Vivos”, criada em 1735 pelo cientista sueco Karl von Linné (MELO, 1967, p.57).
Em 1958, o psicopedagogo americano Benjamin BLOOM elaborou um esquema de
organização dos objetivos educacionais, com o objetivo de facilitar a comunicação
entre os pesquisadores que se encontravam nos congressos da área de educação.
Para ele:
“Uma taxonomia dever ser construída de forma que a ordem dos
termos corresponda a certa ordem real entre os fenômenos
representados por estes termos. (...) A validade de uma taxonomia
depende da demonstração de sua compatibilidade com conclusões
resultantes de dados de pesquisa no campo que busca ordenar (...)
Precisamos de um método para ordenar os fenômenos que permita o
esclarecimento das propriedades essenciais e das inter-relações dos
próprios fenômenos” (BLOOM e outros, 1974, p.15).
O termo taxonomia tem sido utilizado com freqüência cada vez maior, normalmente
acompanhada do termo ontologia, e relacionado a assuntos como recuperação de
informação, indexação, busca e navegação, intranets e portais, e também, gestão do
conhecimento (GILCHRIST, 2003, p.8).
Da observação da prática de trabalho em empresa de consultoria na área de gestão
do conhecimento, pode-se perceber a estreita relação (e às vezes, confusão) entre o
que se chama no mercado de taxonomia e as Linguagens Documentárias,
especialmente o tesauro. GARSHOL (2004, p.381) afirma que “o termo taxonomia tem
sido amplamente usado e abusado a ponto de quando se refere a algo como
taxonomia, esse algo pode ser qualquer coisa, apesar de que normalmente vai
significar algum tipo de estrutura abstrata”.
105
Esse fato é confirmado por GILCHRIST (2003), quando afirma que as taxonomias
atuais surgem como algo que pretende substituir os tesauros para a organização da
informação. Para GILCHRIST (2003, p.10-1), os principais motivos que levaram a esse
questionamento dos tesauros foram:
A sobrecarga de informação espalhada nas redes eletrônicas e em massas
documentais acumuladas;
A alfabetização em informação, que se relaciona ao despreparo de muitos
usuários para a busca de informação;
A terminologia das organizações, que não aparecia representada nos seus
tesauros e classificações de informação da própria empresa;
A desestruturação das organizações, momento em que empresas com
linguagens diferentes agrupam-se ou dividem-se, gerando problemas na
recuperação da informação.
A partir disso, propõe que a taxonomia seja considerada uma classificação facetada,
elaborada na forma de tesauro, com ênfase no relacionamento entre os termos, redes
de sinônimos e esquemas gráficos de apresentação. No entanto, a taxonomia é
menos completa que o tesauro, como podemos ver em GARSHOL (2004, p.382):
“tesauros basicamente tomam as taxonomias (...) e as ampliam para torná-las mais
capazes de descrever o mundo não apenas ao permitir que os assuntos sejam
organizados em uma hierarquia, mas também ao permitir que outras afirmações sejam
feitas sobre os assuntos”. Estas são possíveis a partir da tipologia de relações que o
tesauro aplica: termo específico, termo genérico, usado para, use, termo relacionado,
e notas de escopo.
106
GILCHRIST aponta pelo menos cinco tipos de taxonomia, caracterizadas em
pesquisa realizada por ele e KIBBY (2000)
23
, na qual se reconheceu que a taxonomia
é “um termo genérico e cobre várias técnicas e aplicações” (2003, p.11-3). Os tipos
levantados são:
1. Diretórios para web. Como na página Yahoo!Brasil
24
, um menu de termos
gerais é oferecido ao usuário, que pode navegá-lo por diversos níveis,
chegando a informações, referências ou à possibilidade de usar o último termo
clicado em motores de busca. Aqui, não há necessidade de hierarquias entre
os níveis.
2. Taxonomias para indexação automática. Menu de dois níveis, com a taxonomia
invisível ao usuário. Nela cada termo “carrega um algoritmo que contém listas
de palavras e frases, sinônimos e variações sintáticas, pesos e instruções”, que
permite a extração automática de termos das informações. São utilizadas
quando a massa de informação acumulada é tão grande que inviabiliza o
trabalho manual. Aqui, “classificação e a taxonomia são construídas
manualmente, e a taxonomia deve ser encarada como um tesauro
enriquecido”.
3. Taxonomias geradas por categorização automática. Programas que se
dispõem a analisar automaticamente textos, baseados na análise estatística de
ocorrência e co-ocorrência de termos. Dessa análise, são geradas categorias
23
GILCHRIST, A.; KIBBY, P. Taxonomies for Business: Access and Connectivity in a Wired
World. London: TFPL, 2000.
24
http://www.yahoo.com.br [Acesso em: 10.12.2004].
107
que classificam os documentos, também automaticamente. Os produtos
são diretórios e/ou mapas gráficos bidimensionais.
4. Filtros de entrada. “A taxonomia é criada ou importada e utilizada para a
formulação de perguntas”, e procura-se reduzir as ambigüidades e
proporcionar a busca via navegação pelas hierarquias. “Esta taxonomia é um
tesauro formatado para permitir navegação fácil”.
5. Taxonomias corporativas. Trazem um pouco de cada elemento citado
anteriormente. Podem ser encaradas como um híbrido de tesauro e ontologia,
são feitas manualmente e geram um mapa capaz de guiar funcionários pelo
conhecimento da organização. Funcionam como um megatesauro, com vários
tesauros oriundos de áreas diversas relacionados, e podem trazem
informações sobre a empresa, seus colaboradores, e sobre seu conteúdo.
Auxiliam motores de busca e oferecem modelos de indexação. Podem ser
vistas “como um esquema mestre, de onde uma série de ferramentas, como
um tesauro, pode ser derivada”.
Em relação à noção de estrutura, pode-se afirmar que, apesar deste instrumento
apresentar algumas relações, por ser uma estrutura rígida, não permite que se
absorvam as alterações que a dinâmica do campo de conhecimento e de seus
usuários traz no seu uso. Dessa forma, em pouco tempo sua função comunicativa fica
prejudicada, deixando de apresentar-se como um sistema de significação que faça
sentido à comunidade que atende.
5.6. Ontologias
A palavra ontologia vem do grego, onde ontos significa ser ou existência e logos
significa dar sentido, dar razão.
108
Para GRUBER
25
(citado por GILCHRIST, 2003, p.13), “uma ontologia pode ser
definida como especificação explícita, formal de uma conceitualização compartilhada”.
De acordo com KENT (2003, p.189), “ontologia é um ramo da metafísica que se
preocupa com a natureza e as relações dos seres e a estrutura categórica da
realidade”. Estas são o objeto de estudo fundamental das ontologias. Ainda de acordo
com o autor (p.190):
“O uso de ontologias para a organização de conhecimento é tanto
antigo como novo. Aristóteles efetivamente usava idéias ontológicas
no seu estudo da predicação e no seu sistema de classificação (suas
categorias). No passado mais recente, Ranganathan utilizou
princípios de organização de dinâmica ontológica (agora entendidos
como idéia de organização de conhecimento conceito e relacional) no
desenvolvimento do seu sistema de classificação facetada (a Colon
Classification) para a organização de grandes bibliotecas
acadêmicas”.
As ontologias têm sido promovidas para aplicativos de tradução automática,
modelagem empresarial, reuso de conhecimento e recuperação da informação,
principalmente nas áreas de gestão do conhecimento e websemântica. Nesse
contexto, BENJAMINS e outros
26
(citados por GILCHRIST, 2003, p.15) citam três tipos
de ontologias:
Organizacional, que descreve a estrutura e o formato das informações.
De Domínio, que descreve o conteúdo da fonte de informação.
25
GRUBER, T. What is an ontology? Standford, s.d. Disponível em: http://www-
ksl.Stanford.edu/kst/what-is-an-ontology.html
26
BENJAMINS, V.R. et al. (KA)2: building ontologies for the Internet: a mid term report.
International Journal of Human- Computer Sudies, v.51, n.3, sept. 1999, p.687-712.
109
Empresarial, que descreve e modela as necessidades de informação para
os processos de negócio.
BERNERS-LEE, HENDLER e LASSILA
27
(2004, citados por GILCHRIST, 2003, p.14)
afirmam que “O tipo de ontologia mais comum para a web tem uma taxonomia e um
grupo de regras de inferência”.
MUSTAFA-ELHADI (2003, p.136) também comenta as características das ontologias:
“As ontologias emergiram como um dos meios mais populares para
modelar o conhecimento de um domínio. Elas podem funcionar como
um índice da memória de uma organização e facilitar as buscas
semânticas e a recuperação do conhecimento da memória
corporativa uma vez que são incorporadas em documentos e outros
arquivos (...) Ontologias podem ser vistas como tesauros
enriquecidos desde que incluam definições e relações semânticas.
Seu papel é reduzir ambigüidades conceituais e terminológicas por
meio da identificação e particularmente da definição de um grupo de
conceitos relevantes que caracterizam um domínio”.
No entanto, o que se observa na literatura da Ciência da Informação é ainda confuso.
As características defendidas para as ontologias são muito similares às dos tesauros.
O ganho pode estar na exploração de outras classes sintáticas de termos como
verbos, advérbios, ao invés de somente o uso de substantivos. Entretanto, isto já foi
proposto aos tesauros em 1998 por GARCÍA GUTIÉRREZ, como veremos a seguir.
De qualquer modo, é possível afirmar que a ontologia realiza mais a noção de
estrutura e o processo de estruturação do que os instrumentos anteriores, pois integra
27
BERNERS-LEE, T., HENDLER, J.; LASSILA, O. The SemanticWeb. 2001. Disponível em:
http://www.sciam.com/article.cfm?articleID=00048144-10D2-1C70-
84A9809EC588EF21&catID=2
110
maior número de características da linguagem natural, não se restringindo ao
substantivo.
5.7. Topic Maps
De acordo com GARSHOL (2004, p.384-385) “A origem dos topic maps está no
trabalho sobre a fusão de índices eletrônicos apresentando, portanto, uma técnica de
classificação baseada em assunto. De fato, topic maps são organizados ao redor de
tópicos, e cada tópico é usado para representar alguma coisa do mundo real”. Nestes
instrumentos, os tópicos representam conceitos, que são chamados de assuntos que,
de acordo com a norma (norma ISO/IEC 13250) para topic maps, podem ser “qualquer
coisa” (idem).
Para MOREIRO GONZÁLEZ e outros (2004, p.12) “Os topic maps propõem-se a
modelar redes semânticas”. PEPPER (2000, p.19) afirma que os topic maps surgiram
como uma forma de representar as estruturas de conhecimento inerentes à tradição
dos índices de livro, a fim de resolver os problemas de gestão da informação
envolvidos na criação, manutenção e processamento de índices para documentação
complexa. Com a evolução do modelo, seu escopo foi ampliado para abranger outros
tipos de auxílio para navegação, como glossários, tesauros e referências cruzadas.
De acordo com MOREIRO GONZÁLEZ e outros (2004, p.3), a finalidade “dos topic
maps consiste em proporcionar acesso à informação existente em diferentes redes
semânticas, como podem ser os próprios tesauros”.
Para GARSHOL (2004, p.390), o uso dos topic maps para representar metadados e
classificação baseada em assunto possibilita a reutilização de classificações
existentes e técnicas de classificação.
111
A diferença dos instrumentos anteriores, um topic map conjuga redes relacionais e
os próprios documentos relacionados aos termos que compõem essa rede. Agregam
mais instrumentos de relação de natureza sintática, o que permite dizer que, como as
ontologias, são tesauros enriquecidos.
5.8. Mapas Conceituais
De acordo com MOREIRO GONZÁLEZ e outros, “os mapas conceituais são uma
técnica para representar o conhecimento em gráficos”. O conhecimento é apresentado
através de redes de conceitos, compostas por nós e links, que representam,
respectivamente, conceitos e as relações entre os conceitos (2004, p.2).
O mapa conceitual utiliza-se de diagramas para complementar a função comunicativa
do conhecimento mediante diferentes linguagens visuais para representar os conceitos
e as relações entre eles. É uma ferramenta útil para a organização de nova informação
e para sua integração ao conhecimento existente (MOREIRO GONZÁLEZ e outros,
2004, p.3).
Em geral, os mapas conceituais são usados para infometrias, desde que a indexação
por detrás desse instrumento seja confiável. Por permitir a apresentação de maior
número de ligações entre os termos constantes em seus nós, se aproximam mais das
noções de estrutura e de estruturação.
5.9. A Linguagem Epistemográfica de GARCÍA GUTIÉRREZ
GARCÍA GUTIÉRREZ, em 1998, lançou um trabalho com o objetivo de desenvolver
uma metodologia de construção de uma linguagem associativa peculiar a partir do
Tesauro de Patrimônio Histórico Andaluz – TPHA – “de modo que cada proposição, as
112
categorias léxicas do vocabulário, as categorias da estrutura, as regras e macro-
regras também fossem verificadas em um universo de referência real” (1998, p.7).
Insatisfeito com os resultados obtidos até então com uso de tesauros e com a
aplicação da norma ISO 2788, de 1986, “Diretrizes para o estabelecimento e
desenvolvimento de tesauros monolíngües”, GARCÍA GUTIÉRREZ pensou em novas
ferramentas lógico-semânticas baseadas em novas hipóteses de trabalho.
Resumidamente, a idéia consiste em uma Linguagem Documentária substituta do
tesauro, mas que o utilize como referência teórica e empírica para sua elaboração. As
novas linguagens potencializariam o nível sintagmático ao preço de modificações nos
componentes lexicais, nos operadores e nas regras de representação e recuperação,
e simulariam enunciados, atuando como representações pragmáticas de mapas
cognitivos. Em sua proposta, o mais interessante é perda do papel dominante da
hierarquia e a valorização das relações horizontais (KOBASHI, 2000, p.132-133).
Essa nova linguagem foi chamada de linguagem epistemográfica, onde “linguagem
significa sistema sígnico sujeito a convenções estruturais, funcionais e pragmáticas” e
“epistemografia supõe a representação formalizada, em uma base de conhecimento
com fins documentários (de recuperação de informação), de um construto cognitivo”
(GARCÍA GUTIÉRREZ, 1998, p.15).
Ao usar uma linguagem associativa, o autor destaca as estruturas de organização
horizontais da linguagem e, dessa forma, atribui menor importância à estrutura
hierárquica ou vertical. Entretanto, “superar a arborização como procedimento não
supõe negar-la como relação” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1998, p.34), lembra o autor.
Dessa forma, ganha força o TR, termo relacionado, mas não do modo como vem sido
usado nos tesauros tradicionais. De acordo com GARCÍA GUTIÉRREZ (1998, p.32),
113
“o operador de associação – TR – dos tesauros convencionais se inclina ao
eixo paradigmático alijando-se, e alijando os tesauros, de seus fins
teóricos. Quando um usuário localiza /cinematografia/ e, mediante
TR, se remete a /cinemas/ ou /filmes/, normalmente um descritor pelo
outro, não os conserva no nível enunciativo, requisito que dá
cumprimento à função sintagmática”
O autor sugere que termos relacionados podem ocorrer sob dois tipos: o primeiro,
como relação intercategorial associativa ou atributiva, e o segundo, como relação
intracategoria coordenativa (idem, p.37). A relação associativa ou atributiva seria
aquela que adjetiva um conceito ou esclarece alguma de suas propriedades, quando
da união dos descritores envolvidos na relação. A relação coordenativa representaria a
união de conceitos que formariam um outro, mas sem adjetivação ou descrição de
propriedades.
GARCÍA GUTIÉRREZ, já em 1990, afirmava que “a construção de uma estrutura
gramatical [eixo sintagmático, por exemplo] em uma ld
28
é tão importante como a
existência da própria ld e uma justificativa imprescindível para a conservação da
mesma denominação “ (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990, p.38).
Na proposta mais atual, GARCÍA GUTIÉRREZ (1998, p.26-27) propõe o uso, além dos
substantivos e expressões nominais, de:
Adjetivos: como descritores qualificadores da linguagem, em espera de
construção de um enunciado (mediante união morfológica) por parte do usuário
antes de acessar o sistema de informação;
28
GARCÍA GUTIÉRREZ emprega “ld” para abreviar Linguagem Documentária, ao invés de
“LD”, como os demais autores pesquisados. Para GARCÍA GUTIÉRREZ, “LD” refere-se á
Lingüística Documentaría.
114
Verbos: gerúndios para expressar ações e particípios para expressar
estados;
Prefixos: formantes de termo, que deveriam ser listados separadamente e
chamados se necessário;
Advérbios: modo, lugar, tempo;
Nomes próprios.
O autor somente não considera as preposições e os artigos que, de acordo com
LAMÍQUIZ
29
(1974, citado por GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990, p.257), são isentos de
significação própria.
GARCÍA GUTIÉRREZ afirma que as Linguagens Documentárias “não potenciam a
gestão de suas bases léxicas mediante operadores booleanos ou outras gramáticas
mais complexas, nem desenvolvem satisfatoriamente o eixo sintagmático de seus
universos cognitivos, insuficiência que as alija do lingüístico” e ignoram o
comportamento enunciativo da linguagem natural (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1998, p.13).
O autor considera que “para conseguir um entorno “amigável” nas linguagens de
representação, a transformação não só deve dar-se em termos de vocabulários mas
também de estrutura e discurso” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1998, p.18).
De acordo com GARCÍA GUTIÉRREZ (1990, p.79), na construção de uma linguagem
são as relações introduzidas que determinam sua estrutura, e conseqüentemente,
29
LAMÍQUEZ, V. Lingüística española. 2.ed. Sevilla: Universidad de Sevilla, 1974.
115
também sua significação. Por isso a crítica à estrutura hierárquica, que para o
autor, nada mais é do que uma forma de descrição da linguagem. Para o autor,
“a estrutura explícita de uma ld deve fundamenta-se mais sobre
indicadores sintagmáticos, com alguma exceção, e extralingüísticos.
À maneira da língua, mas sem a vocação de inter-relacionar palavras,
mas conceitos, as relações paradigmáticas das ld devem aparecer
tacitamente e, em conseqüência, emanar da própria estrutura
utilizando a menor quantidade possível de indicadores físicos”
(GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990, p.118).
GARCÍA GUTIÉRREZ defende o princípio da entropia, pelo qual propõe que nas
Linguagens Documentárias existam mais significados do que significantes, ou seja,
“deve-se tender à construção de todos os conteúdos possíveis a partir de uns poucos
termos em combinação potencial” (GARCÍA GUTIÉRREZ, 1990, P.137). Para isso, é
necessária a sintaxe, indicação de contexto, e facetas nas Linguagens Documentárias.
A vertente inaugurada por GARCÍA GUTIÉRREZ merece maior investigação. Ao
destacar a função sintagmática, ressaltar a possibilidade de usar os TR não apenas
como relação atributiva ou adjetiva, mas coordenativa, GARCÍA GUTIÉRREZ
reivindica, efetivamente, a sintagmatização. De fato, nos tesauros convencionais os
TR tendem ao eixo paradigmático, à medida que se cristalizam no interior do
instrumento e que não dão oportunidade efetiva à combinação.
A sintagmatização, mais do que a característica epistemográfica (que de qualquer
modo se aproxima do uso das referências de uso proporcionadas pela Terminologia),
é o aspecto que ressalta na aproximação desse instrumento à noção de estrutura e de
estruturação. É ela que abre o tesauro às ocorrências. Mas sua viabilidade tem de ser
ainda pesquisada.
116
6. Considerações finais
Mesmo que retirada de um documento tratado “uma palavra usada ao acaso, sem
obedecer a um rigor contextual, pode transformar a idéia original do autor do
documento e produzir outra” (FUJITA, 1989, p.121).
É possível observar uma progressão de idéias ao longo das descrições feitas acima,
como também, conforme lembra GILCHRIST (2003, p.15), uma sobreposição de
detalhes e confusão em relação aos papéis de cada forma de organizar ou comunicar
informações.
Em maior ou menor nível, todas as formas citadas lidam com a linguagem natural e
preocupam-se com a circulação e compreensão da informação. Lidam, portanto, com
a noção de estrutura, mas nem tanto com o processo de estruturação que permitiria
renovar e reorganizar continuamente o instrumento de organização de informações e
de indexação.
Pode-se perceber que, gradativamente, os distintos instrumentos se organizam para
contemplar um maior número de características da linguagem em funcionamento. Não
se pode afirmar, no entanto, que tenham êxito. Ao simular as características da
linguagem natural, sempre estamos no circuito da artificialização. A incorporação de
todas as características da linguagem significaria a própria negação das iniciativas. Ao
final, voltaríamos à linguagem natural ?...
Trata-se, pois, de verificar, dada a necessidade de filtrar a informação como requisito
para facilitar o acesso, a possibilidade de conjugar recursos: o tesauro documentário,
o tesauro terminológico, as ontologias e suas formas de apresentação, os topic maps.
Trata-se, também, de propor o aprofundamento dos estudos sobre o Tesauro
117
Epistemográfico pela proposta que oferece de aumentar as possibilidades de
sintagmatização. Ao menos teoricamente, tal proposta enuncia a possibilidade de
incorporar os avanços da Lingüística Estrutural por meio da otimização dos processos
de sintagmatização. Cada um dos instrumentos analisados tem seus pontos positivos
e negativos. Uns lidam melhor com as bases que sustentam a interpretação dos
elementos que os compõem. Outros, com a apresentação visual dos termos e de suas
relações. Outros, ainda, permitem vincular representações e documentos.
Uns são mais apropriados à indexação; outros, à organização de informações em site;
outros, ainda, exercem função pedagógica por meio da visualização das relações
entre termos e de sua exemplificação.
Ao final desse trabalho, temos a sensação da necessidade de continuar os
investimentos. Às soluções apresentadas e aperfeiçoadas ao longo do tempo, nem
sempre na ordem cronológica, outras certamente se agregarão.
Resta dizer que, apesar das variações observadas entre os instrumentos, a noção de
organização estrutural sempre está presente. A atualização das estruturas inicialmente
colocadas - pela estruturação contínua - é que se apresenta como problema.
118
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