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JUSTINO ALVES LIMA
COMUNIDADES CARENTES, LUGARES DA NÃO-INFORMAÇÃO
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação, Área de
Concentração: Cultura e Informação, Linha de
Pesquisa: Acesso à Informação, da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção do
Título de Doutor em Ciência da Informação, sob
a orientação do Prof. Dr. Waldomiro de Castro
Santos Vergueiro.
São Paulo
2006
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1
JUSTINO ALVES LIMA
COMUNIDADES CARENTES, LUGARES DA NÃO-INFORMAÇÃO
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Informação, Área de
Concentração: Cultura e Informação, Linha de
Pesquisa: Acesso à Informação, da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo, como exigência parcial para obtenção do
Título de Doutor em Ciência da Informação, sob
a orientação do Prof. Dr. Waldomiro de Castro
Santos Vergueiro.
São Paulo
2006
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JUSTINO ALVES LIMA
COMUNIDADES CARENTES, LUGARES DA NÃO-INFORMAÇÃO
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da
Informação, Área de Concentração: Cultura e Informação, Linha de Pesquisa:
Acesso à Informação, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de
São Paulo, como exigência parcial para obtenção do Título de Doutor em Ciência
da Informação, sob a orientação do Prof. Dr. Waldomiro de Castro Santos
Vergueiro.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________
1º Examinador
_____________________________________________________________
2º Examinador
____________________________________________________________
3º Examinador
_____________________________________________________________
4º Examinador
_____________________________________________________________
5º Examinador
São Paulo, ____de _______________ de ________
3
A Waldomiro de Castro Santos Vergueiro,
pelo compromisso no nobre exercício da orientação.
4
AGRADECIMENTOS
A todos que indiretamente participaram deste trabalho com manifestações
de apoio e incentivo, e diretamente com informações e documentos.
Aos líderes comunitários da região do Grande Rosa Elze.
Aos moradores das comunidades do Grande Rosa Elze
5
“[...] o que nos constitui é o que nos falta,
o que nos constitui é a carência”.
Martín-Barbero
6
RESUMO
Este trabalho analisa as necessidades de informação em comunidades
carentes. Conduziu-se a investigação junto a 11 comunidades que integram a
região denominada de Grande Rosa Elze, situada no município de São Cristóvão,
em Sergipe. Os dados analisados foram obtidos tomando-se a opinião de 75
informantes, destes 68 responderam questionários e sete foram entrevistados. A
pesquisa teve como objeto de estudo a análise de como comunidades carentes,
sem a presença de órgãos públicos de informação, obtém informações que
respondam as suas necessidades. Nesse sentido, observou-se o atendimento das
necessidades de informação, verificaram-se as práticas de obtenção, avaliaram-se
as demandas criadas e as buscas realizadas e identificaram-se as necessidades
de informação. Os resultados mostram que: as comunidades carentes do Grande
Rosa Elze têm carências de informação; os residentes das comunidades não têm
um órgão público a que possam recorrer quando necessitam de informação; a
circulação da informação é frágil, pois depende, exclusivamente, de fontes
midiáticas; a região é tecnologicamente atrasada, portanto distante da inclusão
digital. Conclui-se que a região do Grande Rosa Elze é um lugar onde a
informação não acontece, situação resultante da ausência de uma política pública
de informação; e que é necessário à existência de um órgão público, para o
atendimento da necessidade de informação da comunidade, integrando os
processos tradicionais da informação impressa, e os modernos da informação
virtual.
PALAVRAS CHAVE
Informação. Comunidades carentes. Necessidade de informação. Biblioteca
pública. Comunicação.
7
ABSTRACT
This work analyzes the need for information in poor communities.The
investigation was conducted in the eleven communities that integrate Rosa Elze
region, located at São Cristóvão municipality, in Sergipe state. The analyzed data
was based on the opinion of seventy-five people, from which, 68 answered
questionnaires and 7 were interviewed. The research aimed at showing how poor
communities obtain information they need without having public facilities that
provide information located near them. Having this in mind, not only was the
fulfilment of the information´need observed but the way they were obtained was
also verified.After that, the created demands were evaluated and the need for
information was identified.The results of this research showed that: the poor
communities at Grande Rosa Elze region are in need of information; the
communities dwellers don´t have a public facility where they can require
information when they need; The flow of information is poor as it only depends on
social communication means and the region is technologically out-of-date, far from
the digital era.In conlusion, we notice that Grande Rosa Elze region is a place
where there is no flow of information due to the abscense of an information public
policy.Therefore, it is imperative to set a public facility that provides not only some
traditional printed information as well as some modern virtual one.
KEY WORDS
Information. Poor communities. Need of information. Public library.
Communication.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Lista de mapas:
Mapa 1 Restituição Carta-Digital Grande Rosa Elze ................................... 21
Mapa 2 Grande Rosa Elze: localização das comunidades .......................... 42
Lista de gráficos:
Gráfico 1 Evolução da renda apropriada pelos diversos segmentos sociais . 11
Gráfico 2 Faixa de idade dos moradores do Grande Rosa ........................... 107
Gráfico 3 Escolaridade dos moradores do Grande Rosa Elze....................... 108
Gráfico 4 Ocupação funcional dos moradores do Grande Rosa Elze ........... 109
Gráfico 5 Lugar em que o morador encontrou informação. Primeira opção... 112
Gráfico 6 Lugar em que o morador encontrou informação. Somatório
das opções ................................................................................... 113
Gráfico 7 Principais dificuldades encontradas na busca de informação.
Primeira opção ............................................................................ 115
Gráfico 8 Principais dificuldades encontradas na busca de informação.
Somatório de todas as opções ..................................................... 116
Gráfico 9 Tipo de informação necessária. Primeira opção .......................... 117
Gráfico 10 Tipo de informação necessária. Somatório de todas as opções 118
Gráfico 11 Importância do local em que podem ser encontradas informações
....................................................................................................... 121
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 10
2 AMBIENTE DA PESQUISA
......................................................................... 17
3 PERCURSO METODOLÓGICO................................................................... 33
4
CONCEITOS E DIREITOS EM INFORMAÇÃO
.......................................... 43
5 COMUNICAÇÃO DE INFORMAÇÃO .......................................................... 52
6 COMUNIDADES DE INFORMAÇÃO
......................................................... 56
7 COMUNIDADES CARENTES E A NÃO-INFORMAÇÃO .......................... 71
8 NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO ........................................................... 81
9 UM LUGAR ONDE NADA ACONTECE....................................................... 93
9.1 Análise da entrevista realizada com as lideranças das comunidades
que integram a região do Grande Rosa Elze .............................................. 93
9.2 Análise dos questionários aplicados aos moradores
das comunidades que integram a região do Grande Rosa Elze ............. 106
10 CONCLUSÂO .......................................................................................... 124
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 131
APÊNDICE A - Roteiro da entrevista realizada com os líderes
Comunitários do Grande Rosa Elze ......................................................... 137
APÊNDICE B - Questionário aplicado junto à comunidade do Grande
Rosa Elze .................................................................................................... 138
APÊNDICE C - Transcrição das fitas do grupo de foco realizado com os
líderes comunitários do Grande Rosa Elze .................................................... 145
APÊNDICE D – Tabulação dos dados do questionário aplicado
junto à comunidade do Grande Rosa Elze ................................................ 161
10
1 INTRODUÇÃO
O Brasil ostenta uma colocação privilegiada no ranking mundial de nações
economicamente ricas: é a décima segunda economia do mundo. Apesar disso
tem uma marca negativa que é a da desigualdade social com um grande
contingente de pessoas vivendo em situação de pobreza em contraste com a
declarada riqueza da nação. Barros e Carvalho (2004, p.435) mostram essa
contradição ao afirmarem que “a renda per capita no país é seis vezes maior do
que o montante requerido para a satisfação das necessidades nutricionais de uma
pessoa, e três vezes maior do que o requerido para a satisfação de todas as suas
necessidades básicas”.
Ao longo da década de 1990, o Brasil avançou no aspecto social, a ponto
de ser um dos que mais reduziu seu nível de extrema pobreza na América Latina,
com maior participação do gasto social total sobre seu produto interno bruto
(20,9%). Mudanças ocorridas, principalmente, no campo da saúde e da
educação. Na área específica da educação, situa-se em sexto lugar, e na área da
saúde ocupa o quinto lugar (GANUZA; LÉÓN; SAUMA, 1999). Numa análise de
gastos sociais em serviços públicos para a redução da pobreza na América Latina
e Caribe, Ganuza, Leon e Sauma verificam a redução no acesso à saúde e à
educação públicas, o que está diretamente correlacionado com o poder aquisitivo
per capita do indivíduo (1999, p. 205-208).
No período, o Brasil reduziu o grau de extrema pobreza em cerca de 10,5
pontos, um desempenho superior entre os países latino-americanos, segundo
informações da CEPAL, citada por Barros e Carvalho (2004). (Gráfico 1).
11
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1990 1992 1993 1995 1997 1998 1999 2001
50% mais pobres
40% seguintes
9% seguintes
1% mais rico
Gráfico 1 – Evolução da renda apropriada pelos diversos segmentos sociais.
Fonte: Barros e Carvalho, 2004, p.438.
A avaliação dos gastos nas áreas sociais é um instrumento importante para
determinar a condução da política social de um país, e leva em conta algumas
questões. Uma delas diz respeito ao que se entende por gasto social, pois o
conceito
varía conforme a las necesidades más apremiantes de la población
de un país dado, y esse conjunto de necesidades se altera a lo
largo del tiempo. En este sentido se definió como gasto social todo
gasto social todo gasto orientado al mejoramiento – a corto o a
largo plazo – de las condiciones de vida de la población en
general...( GANUZA; LEÓN; SAUMA, 1999, p. 186-187).
Mas, no caso da informação, que, em que pese ser importante, não é
apontada como necessidade básica, como verificar as mudanças ocorridas? Pelo
número de bibliotecas públicas nas comunidades carentes? Pelo número de
aparelhos de TV e rádio por domicílios? Pela assinatura de jornais, revistas e
televisões a cabo?
As necessidades existem. Assim, comunidades, quaisquer que sejam,
carentes ou abastadas, consomem algo por terem necessidades. As carências,
entretanto, clamam por necessidades não no ambiente do consumo, mas no de
demandas exigidas. Discute-se a necessidade de combate à pobreza com
geração de empregos, mais e melhores postos de saúde e hospitais, mais escolas
e mais vagas no ensino fundamental e médio, saneamento básico, habitação, etc.
12
As necessidades na área social são amplas e complexas e o panorama não é do
mais promissor. Neste panorama encontramos mais uma necessidade na esfera
social: a de informação.
Uma entrevista concedida por Francisco Weffort, quando Ministro da
Cultura (1995-2002), chamou atenção para uma questão: a necessidade de
informação.
Para não falar dos outros, falo de mim: eu só vim a saber que
existe a cavalhada de Pirenópolis depois que cheguei a ministro
[...] Poderia lhe dar dezenas de exemplos desse tipo, coisas do
Brasil de caráter popular. Ou coisas mais elaboradas, mais
sofisticadas, das quais não tinha informação
. Se de fato queremos
– e a verdade é que, sim, queremos – valorizar a diversidade
cultural do País, essa extraordinária riqueza cultural que o País
tem em toda parte, temos que criar e fortalecer mecanismos, que
nem precisam ser de Estado apenas, de difusão da cultura
.
(WEFFORT, 2002, p.64, grifos nosso).
Weffort, à época Ministro da Cultura, e na vida professor de sociologia, fala
em informação e disseminação, ou melhor, na ausência destas como bem público.
Quando assume que não tinha a informação de determinado aspecto cultural,
pode-se fazer uma leitura de que se trata de um fato isolado, de alguém que não
tinha interesse no assunto. Entretanto, pode-se, também, fazer uma leitura de que
se trata de um problema a ser equacionado: a necessidade de informação.
Problema reforçado quando o ministro admite que os mecanismos de difusão
estão flácidos, necessitando, portanto, ‘fortalecê-los’.
Os mecanismos sugeridos não ficam claros a partir da afirmação de que
não precisam ser do Estado. Mas informação e disseminação, no tocante à
inquietação do Ministro, são objetos de trabalho, de estudo, de ação e de filosofia,
especificamente, de um equipamento público de cultura: a biblioteca pública.
Mas o que fazer quando determinadas comunidades não contam com a
presença do poder público, justamente com tal equipamento público que são as
bibliotecas? Como a comunidade resolve as suas necessidades informacionais?
Onde buscar a informação necessária e quais são essas necessidades? Este é o
aspecto que se pretende desenvolver nesta pesquisa: como resolver a
necessidade de informação sem a presença funcional do poder público; como
13
resolver a questão da informação quando não existe um órgão público que a
disponibilize?
É possível analisar as questões acima no conjunto de comunidades
denominado de Grande Rosa Elze, a região escolhida para observação,
estabelecida no entorno da Universidade Federal de Sergipe. O Grande Rosa Elze
faz parte do município de São Cristóvão, onde está instalado o Campus
Universitário “José Aloísio de Campos”. Foi estabelecido a partir de dois núcleos
habitacionais, os bairros Rosa Maria e Rosa Elze, com este último sendo o mais
conhecido e denominando toda a região. Mais núcleos populacionais surgiram
criando um centro urbano. Hoje, são onze comunidades, algumas permeadas,
sem fronteiras, e com o mesmo problema: a ausência administrativa do poder
público.
A região denominada de Grande Rosa Elze (GRE), assim como a
Universidade Federal de Sergipe (UFS), localiza-se no município de São
Cristóvão, no Estado de Sergipe, e integra a região metropolitana denominada de
Grande Aracaju, a capital do Estado. No entanto, devido a sua proximidade física
com a UFS, totalmente vinculada à capital, e por estar mais próxima desta, recebe
pouca atenção da sede municipal de São Cristóvão, e não pode receber
assistência de Aracaju. Resultado: uma região mergulhada em carências de
ordem social.
Essas carências são reveladas pela pequena presença do poder público,
com políticas públicas, e aprofundadas pela diversidade humana lá instalada,
resultado da criação do Rosa Elze numa perspectiva para
desafogar o centro da cidade de Aracaju, e para atender a
demanda de moradia, pois em virtude do constante êxodo da
população do interior para a capital em busca de emprego e
estudo, aqueles mais pobres se aglomeravam em vilas que
aumentavam a cada dia [...] a área do Rosa Elze foi escolhida em
virtude da grande extensão de terras planas e influenciado pela
construção da Universidade Federal de Sergipe (LIMA, 2003,
p.10).
A área envolve aglomerados de caráter urbano e alguns de caráter rural e
revela: ausência de saneamento básico e de políticas de saúde e segurança
14
pública; precariedade da iluminação pública; inexistência de áreas de lazer;
deficiência do ensino público; existência de terrenos baldios e lixeiras a céu aberto
(FERREIRA; SANTOS, 2002, p.13).
Embora a informação seja considerada importante para o desenvolvimento
social, e que poderia ajudar a combater problemas sociais como os presentes no
Grande Rosa Elze, as administrações públicas, tanto de São Cristóvão, como a do
Estado de Sergipe, têm demonstrado pouca preocupação para com a informação.
Não é sem motivo que as instituições culturais pertencentes ao Estado, existentes
em São Cristóvão, os museus históricos, e o de responsabilidade do Município, o
museu sacro, órgãos responsáveis por um tipo de informação publica
especializada, não recebem a atenção necessária de ordem administrativa, e
muito menos de ordem financeira.
Na ausência de órgãos públicos que possam fornecer informação, uma vez
que não existe na região, objeto desta pesquisa, biblioteca pública, centro de
documentação, arquivo público, museu, centro de cultura, o cidadão tem como
fontes de informação os instrumentos privados, acessados na sua residência,
como a TV e o rádio, principalmente, mais os suportes impressos, jornais e
revistas. Estes últimos, tanto podem ser de uso privado quanto público,
acessados em entidades existentes na região, algumas Organizações Não
Governamentais (ONGs) que desenvolvem atividades nas comunidades e que se
constituem em espaços de informação.
No entanto, quando a TV e o rádio de Aracaju, captados na região do
Grande Rosa Elze, mostram preocupação com as questões das comunidades,
isso acontece por meio de jornalismo e fica restrito à prestação de serviços. Os
problemas locais, como coleta de lixo, insuficiência de transporte público, mau
atendimento e ausência de medicamentos nos postos de saúde, mostrados nos
telejornais e discutidos nos programas de rádio, não são veiculação de informação
e sim de comunicação. Eles, os canais midiáticos, não resolvem as necessidades
dos cidadãos. Estes têm a oportunidade de, a partir de informações comunicadas
pelos canais de comunicação, fazerem suas reclamações, e até de debaterem
com as autoridades, mas sempre sobre os problemas locais pautados pelos
15
programas. Ou seja, as necessidades de informação não se encaixam nesses
momentos. Há um formato jornalístico que engessa o programa com prestação de
serviços e utilidade pública - leia-se oferta de empregos e defesa do consumidor -
o que é justificado como informações à cidadania. “Em jornalismo, 90% do que se
divulga só servem para conversa durante o jantar, não modificam a vida das
pessoas em nada” (JORNAL..., 2004, p.288). Em tese, os cidadãos precisariam
de informações para o conhecimento, para fazer frente as suas necessidades.
1.1 Hipótese de trabalho
Diante do que foi exposto este trabalho investiga a seguinte hipótese:
Comunidades carentes que não contam com a presença de um órgão público de
informação (biblioteca, centro de documentação ou afim) têm dificuldades no
atendimento das suas necessidades de informação e têm como fontes de
informação para a satisfação dessas necessidades os processos midiáticos,
principalmente o rádio e a TV.
1.2 Objetivos da pesquisa
1.2.1 Objetivo geral
Este trabalho tem como objetivo geral:
- Analisar como comunidades carentes, sem a presença de orgãos públicos
de informação, obtêm informações que respondam a suas necessidades.
16
1.2.2 Objetivos específicos
São objetivos específicos:
- Observar como a comunidade do Grande Rosa Elze, localizada no
município de São Cristóvão, em Sergipe, está tendo as suas necessidades de
informação atendidas;
- Verificar as práticas de obtenção de informação da comunidade, na
ausência de políticas específicas;
- Avaliar se os membros da comunidade criam demandas de informação
específicas;
- Verificar se fazem e como são feitas as buscas de informação;
- Identificar necessidades de informação e como elas são atendidas.
17
2 AMBIENTE DA PESQUISA
O ano de 1980, em Sergipe, é marcado por um acontecimento que ficará
para a história: a inauguração da Cidade Universitária “José Aloísio de Campos”
da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Até então, a UFS criada em 1968,
funcionou em um conjunto de faculdades isoladas, dispostas em prédios
espalhados pela cidade de Aracaju – capital do Estado de Sergipe. A novidade,
então, foi a área escolhida para a construção do Campus, uma área rural do
município de São Cristóvão, vizinho à Capital.
O Campus foi instalado em uma área rural proveniente de vários sítios
comprados a uma empresa de empreendimentos imobiliários. Um fato digno de
registro é que a empresa, na época da negociação com a Universidade, doou uma
parte do terreno em que seria construído o Campus, com o compromisso de que o
Estado construísse um colégio para a comunidade. Compromisso cumprido, tanto
que existe na área da Cidade Universitária um colégio público estadual, o Armindo
Guaraná.
A área em que está instalado o Campus da UFS faz limite com Aracaju,
situando-se próxima da Capital e distante da sede do Município. Era propriedade
de um só dono, que em um determinado momento resolveu desfazer-se das
terras. Uma empresa imobiliária comprou a área batizado-a de Rosa Elze,
procedendo à venda de loteamentos para transformar a área rural em urbana. A
Universidade Federal de Sergipe adquiriu à empresa uma parte das terras e,
posteriormente, alguns lotes de proprietários particulares para integralizar a área
do Campus.
2.1 O município de São Cristóvão
Localizado no litoral sul do Estado de Sergipe, o município de São
Cristóvão tem uma área de 430 km
2
, e faz limite ao leste com a Capital do Estado,
a cidade de Aracaju.
18
Considerada uma das mais antigas cidades do Brasil, a quarta a ter o título
de cidade, “somente a antecedem a cidade do Salvador, a de São Sebastião do
Rio de Janeiro e Filipéia de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa”
(BOLETIM DO CONSELHO FEDERAL DE CULTURA, 1967, p.95). Primeira
capital de Sergipe Del Rey até 17 de março de 1855 quando houve a transferência
para Aracaju. A sua conexão com a Capital se dá por duas rodovias: uma federal,
a BR 101, e uma estadual, a João Bebe Água. Fundada em 1590, o seu
desenvolvimento seguiu o “modelo português de cidade em dois planos: cidade
alta com a sede do poder civil e religioso; e cidade baixa com o porto, fábricas e a
população de baixa renda” (SÃO CRISTOVÃO.., 1989, p.13).
A transferência da sede administrativa para Aracaju, que aconteceu em
1855, seria o fator determinante para a sua decadência. A mudança da capital se
deu em um clima de revolta popular sendo comandada por João Nepomuceno
Borges, conhecido popularmente como João Bebe Água, homenageado com a
sua alcunha denominando a rodovia que liga os dois Municípios. Hoje,
considerada uma cidade dormitório, a maioria da população inserida na economia
formal trabalha na Capital. Na sede do Município existem duas opções: o
funcionalismo municipal e o comércio local. Com forte vocação turística, alguns
têm no comércio do artesanato uma fonte de renda.
A cidade consolidou-se como uma paisagem urbana composta por um
conjunto arquitetônico de arte colonial com os casarões seculares, as imponentes
igrejas e seus majestosos conventos. Abriga alguns dos museus mais famosos de
Sergipe, como o Museu Histórico (instalado no Palácio Provincial) e o Museu de
Arte Sacra (instalado no conjunto arquitetônico Franciscano). São Cristóvão é
elevada a monumento histórico estadual através do Decreto-Lei n
o
94, de 22 de
junho de 1938. No ano de 1967 é registrada como Patrimônio Histórico Nacional
pelo seu conjunto arquitetônico e urbanístico, sendo erigida à monumento nacional
através da Lei 7.489, de 11 de junho de 1986 . O turismo cultural, no entanto,
pouco explorado não garante para o Município o volume de recursos necessários
para o seu desenvolvimento.
19
Segundo o Censo Demográfico 2000 (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2001), o último realizado, o Município tem uma
população de 64.647 residentes. Essa população está concentrada
majoritariamente na zona urbana, são 63.116 pessoas contra apenas 1.531
residindo na zona rural. O seu colégio eleitoral é da ordem de 43.675 eleitores
aptos a votarem, que representam 3,36% do eleitorado sergipano.
Alguns dados relacionados a infra-estrutura do Município, considerando-se
os 15.830 domicílios particulares permanentes, contabilizados no Censo 2000:
13.162 domicílios contam com abastecimento de água, ligados à rede geral;
14.254 têm banheiro ou sanitário;
3.490 casas estão ligadas ao esgotamento sanitário;
a coleta do lixo é feita em 10.802 domicílios;
5.028 residências não têm assistência quanto ao destino do lixo.
Alguns dados sócio-econômicos:
existem 42 escolas públicas municipais;
24.067 (30,8% da população) pessoas estão inseridas no sistema escolar
de ensino, das quais: 4.145 na alfabetização; 15.910 no ensino
fundamental; e 3.201 no ensino médio;
dos economicamente ativos 24.688 não tinham rendimento;
11.051 percebem até l salário mínimo e 7.010 de 1 a 2 salários mínimos;
a média mensal de salário dos homens é de R$ 393,59 e R$ 245,94 das
mulheres;
13.845 domicílios possuem TV;
13.472 possuem rádio;
3.595 possuem vídeo;
375 residências têm microcomputador.
20
2.2 A comunidade Grande Rosa Elze
O Grande Rosa Elze, assim conhecido por reunir um conjunto de onze
comunidades, é a região mais povoada do município de São Cristóvão e situa-se
na fronteira dos municípios de Aracaju e São Cristóvão, integrante da região
metropolitana denominada de Grande Aracaju. Tem uma população estimada em
torno de 50.000 habitantes. O mapa do município de São Cristóvão (Mapa 1,
p.22) revela uma grande concentração populacional na região do Grande Rosa
Elze.
O Grande Rosa Elze, campo de pesquisa deste trabalho, é uma área
residencial, que ainda conta com uma pequena área rural, e que,
progressivamente, vem cedendo lugar aos lotes residenciais, está situado no
extremo norte do município de São Cristóvão e faz limite com a cidade de Aracaju.
É composto por onze núcleos residenciais: Rosa Maria, Rosa Elze, Eduardo
Gomes, Jardim Universitário, Tijuquinha, Madre Paulina, Luis Alves, Lafaiete
Coutinho, Maria do Carmo, Rosa do Oeste e Vila de São Cristóvão.
A pequena área rural, citada no parágrafo acima, trata-se da comunidade
do Rosa Maria, justamente a primeira surgida na região. O início do Rosa Maria se
dá em 1968, originalmente um loteamento de chácaras. Naquela época seria difícil
imaginar que ia chegar a ser um núcleo residencial. Segundo depoimento colhido
junto a um líder comunitário, só ia lá quem tinha interesse, o acesso de Aracaju
para a região era difícil. Era uma estrada de terra, que em período de chuva era
impossível passar carro. A travessia do Rio Poxim, que faz limite entre os
municípios de Aracaju e São Cristóvão, era feita por uma ponte de madeira, que,
dependendo das chuvas, era preciso deixar o carro e seguir a pé. Foi neste
quadro que foi implantado o Campus da Universidade Federal de Sergipe.
21
MAPA 1
VER CD ANEXO
22
Com a chegada da Universidade, um outro núcleo habitacional começou a
ser formado: o Jardim Rosa Elze; nome que viria se impor e que, posteriormente,
designaria toda a região. O nome do Rosa Elze batizando a região, em detrimento
do Rosa Maria, o primeiro a ser criado, deve-se a ter sido o Rosa Elze construído
a partir de lotes residenciais, enquanto que o anterior ter sido construído como
área rural, em tarefas onde as pessoas faziam chácaras e a terra não tinha valor.
Quando a área do Rosa Elze foi loteada, por volta de 1973, como lotes
residenciais, teve sua expansão facilitada porque algum tempo depois, em 1980, a
Universidade foi instalada. A UFS havia comprado o terreno para sua instalação
já nos primeiros anos da década de 1970, o que possibilita concluir que todo o
empreendimento de loteamento da região foi programado pensando-se na
transformação da área rural em área urbana.
A presença da Instituição de Ensino Superior vai modificar o traçado do
mapa da região, avançando duas ruas na área do Jardim Rosa Elze, com a
desapropriação de lotes de particulares. A avenida que passa ao lado do Campus,
deveria seguir e passar pelo meio dos dois núcleos habitacionais, no entanto, para
acomodar as instalações da Universidade foi feito um novo traçado com a avenida
circulando os dois núcleos e colocando-a ao lado do Rosa Elze. Assim, de um
lado tem-se o Campus Universitário e do outro separado por uma rodovia (a João
Bebe Água) o Jardim Rosa Elze, o primeiro núcleo residencial do Grande Rosa
Elze, do ponto de vista geográfico.
A instalação da Cidade Universitária em área afastada do centro de Aracaju
(onde estavam as faculdades isoladas) atendeu a uma proposta de
metropolização vigente á época, que consistia na construção de conjuntos
habitacionais para diminuir o déficit habitacional, ao mesmo tempo em que
diminuía a população dos centros das capitais.
Em compensação, a instalação da UFS numa região distante do centro
também vai servir de atrativo para as imobiliárias, pois passa a ter nos estudantes
universitários um público potencialmente consumidor, além dos “contingentes
populacionais migrados do interior do Estado, em busca de inserção no mercado
de trabalho” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 2005, p.6) na Capital.
23
Com o passar do tempo a região vira realidade, mas começa a crescer sem a
atenção devida do setor público.
No início, antes da presença da UFS, surgiram o Rosa Maria e o Rosa
Elze, para depois, junto com a implantação da Universidade, vir o Eduardo
Gomes, um núcleo residencial com 3.500 unidades habitacionais, já com uma
infra-estrutura, com ruas pavimentadas, esgotamento sanitário, água e energia.
Consolida-se, o Eduardo Gomes, como grande chamariz da região. É a partir
dele, independente da existência dos outros dois, o Rosa Maria e o Rosa Elze,
que houve a expansão habitacional.
Os problemas decorrentes dessa expansão vão acontecer por ausência do
poder público municipal, por considerar o Grande Rosa Elze mais aracajuano que
sancristovense (justamente por ter sido pensada como área metropolitana). Os
limites geográficos definem a sua posição metropolitana, próximo da Capital do
Estado e afastado da sede do seu município. A região foi crescendo, acumulando
problemas infra-estruturais e não tendo quem assumisse a resolução dos
problemas.
O mapa do município de São Cristóvão (ver p.22) aponta para uma
população majoritariamente urbana, com predominância de concentração em uma
região que aparece no entorno da UFS, no limite da cidade de Aracaju, e longe da
sede administrativa do município. Tal situação geográfica expõe a região a uma
relação entre o esquecimento do município sede, pela distância entre eles,
inconsequëntemente alimentado pela distância da sede e pela proximidade com a
Capital, e a indiferença desta pela ausência de autonomia administrativa para
cuidar da área, embora esteja dentro do perímetro denominado de Grande
Aracaju, onde o transporte, para citar um dos exemplos, é administrado por uma
empresa municipal da Prefeitura de Aracaju.
2.3 Diferenças entre as comunidades
A diferença entre os núcleos residenciais criados sem o beneplácito do
governo, como os Rosa Elze e Rosa Maria, os primeiros da região, surgidos a
24
partir de loteamentos particulares e o núcleo residencial criado pelo governo, o
Eduardo Gomes, com esgotamento sanitário, com ruas pavimentadas, água e
energia elétrica em todas as unidades, reside no planejamento prévio. Enquanto
no Eduardo Gomes tudo foi pronto e entregue para moradia, com a infra-estrutura
necessária, nos outros núcleos, o desenvolvimento tem acontecido de forma lenta.
O Rosa Elze tem tido um desenvolvimento também diferenciado, sendo
considerado o segundo melhor estruturado na região, com um povoamento
ordenado, feito sob controle, com loteamentos aprovados na Prefeitura. Isso, no
entanto, não garantiu sua infra-estrutura, e as melhorias vêm acontecendo a partir
dos últimos oito anos.
O mesmo não acontece com o Rosa Maria, pois, como um loteamento rural,
vem com o tempo aglutinando problemas estruturais. Com a urbanização da área
e a valorização da terra, justificada pelo loteamento urbano do Rosa Elze e a
implantação do Eduardo Gomes, os donos dos lotes rurais do Rosa Maria,
vislumbrando uma forma de ganhar dinheiro, dividiram as suas chácaras em lotes
para construção de residências. Isso provocou um crescimento populacional
desordenado, sem o controle administrativo. Pequenas unidades vendidas sob o
contrato de recibo, que se configuram em ocupação irregular. No restante da
região pode-se dizer que se tratou de uma ocupação ordenada; entretanto, isso
não garantiu a atenção da Prefeitura do Município.
Este é o lado positivo: o controle da região, embora longe da sede do
município. Foi um crescimento ordenado, embora falte infra-estrutura na maioria
dos núcleos que integram a área. É uma região valorizada, nos padrões de classe
média baixa, inclusive por causa do ordenamento. Por se tratar de uma região
periférica o normal seria ser alvo de invasões, o que não aconteceu. Por ficar
longe da sede do município e próxima de Aracaju, tem pouca atenção da
administração municipal; por outro lado sendo próxima de Aracaju, mas não
podendo receber atenção desta, então fica desassistida pelos dois lados.
Essa distância da região com a sede administrativa existe no Plano
Urbanístico do Município, o que determina que a área em questão seja tratada
como área rural. Quando feito o zoneamento urbano, o Código de Urbanismo
25
previu, para efeito da lei, três zonas: uma urbana, abrangendo a sede municipal;
uma reservada para expansão urbana, considerando-se uma faixa de 1.5 km
envolvendo a zona urbana; e a zona rural abrangendo os núcleos rurais (os
povoados). (PLANO..., 2005).
Durante quase 20 anos aconteceu o abandono, isso porque sempre foi uma
área de investimento do Estado, que investiu em rede de água e energia, e o
poder público municipal ficou fora desses investimentos. Por exemplo, a sede do
município tem abastecimento de água de competência municipal, e no GRE o
abastecimento é de competência estadual. Então, à época, ficou isolada por
causa dos impasses administrativos. A prefeitura da cidade de São Cristóvão a
tratou como uma área metropolitana, portanto a competência de beneficiamentos
seria de Aracaju. Acontece que Sergipe legalmente não tem área metropolitana,
não sendo competência de Aracaju cuidar do Grande Rosa Elze.
1
Independente da discussão da metropolização, os prefeitos dos últimos dois
mandatos passaram a ter mais decisão, e, portanto, a ter um controle maior da
região. Hoje, na região, existe uma subprefeitura, unidades de saúde, escolas do
Município, serviços municipais, que antes eram todos de responsabilidade do
Estado.
O Rosa Maria é um dos núcleos mais carentes; no entanto, por ser uma
área rural, no entorno de uma área urbana, foi lá que se instalaram algumas
empresas. Esse retrato econômico passou a ter um reflexo político e as lideranças
da região, associadas a políticos não alinhados com os políticos de São Cristóvão,
começaram a discutir a emancipação do Grande Rosa Elze. Justificaram que,
justamente, por não chegar benefícios para a região oriundos de São Cristóvão, e
sendo o principal arrecadador do Município, deveria ter os recursos alocados na
própria região para o seu desenvolvimento.
Embora os recursos continuem chegando com dificuldade, a questão da
emancipação perdeu a sua força quando o Governo Federal começou a bloquear
iniciativas desse tipo. Imaginava-se ser viável a emancipação pelo número de
1
Na região Nordeste, apenas três Estados possuem área metropolitana legalizada: Bahia,
Ceará e Pernambuco. Fonte: IBGE.
26
habitantes da área e pela projeção de arrecadação de impostos das empresas
estabelecidas na área, além da expressão territorial. Como Aracaju não fazia
benefícios porque não era de sua competência, e São Cristóvão não os fazia
porque não tinha condições, então ficava o lugar como “uma ilha sem nenhum
benefício”, conforme afirmação de Antônio José, líder comunitário do Jardim Rosa
Maria.
Embora o Jardim Rosa Maria tenha a vantagem do fator econômico pelas
empresas instaladas no bairro, é também um dos mais prejudicados em termos de
atenção, de retorno do poder público municipal.
2
Acontece que os benefícios não
chegam para a região como um todo, mas para o Rosa Elze que é o mais
conhecido. Assim, os projetos que deveriam atingir a todos levam o nome do
Rosa Elze como proponente por ser mais conhecido, tornando-se assim mais fácil
de aprovação. Essa imagem se deve à presença da UFS, que embora não tenha
trazido benefício direto, fez com que o bairro se desenvolvesse justamente pela
sua proximidade.
2.3.1 Infra-estrutura
Quando o assunto é saneamento básico, apenas um núcleo habitacional, o
conjunto Eduardo Gomes, é atendido. Este núcleo habitacional é um diferencial
na região, uma vez que foi projetado e construído pelo governo federal, já com
uma infra-estrutura básica. Atualmente, o Rosa Elze conta com a rede de esgoto
em via de ser concretizada. Os outros núcleos não contam com um serviço
essencial para a saúde, como esgotamento sanitário.
O bairro Rosa Elze tem uma boa estrutura de saneamento básico, com
muitas ruas com rede de drenagem e pavimentação. Esses serviços públicos
infra-estruturais não atingem ao Grande Rosa Elze, como um todo, e beneficiam
quase sempre o Jardim Rosa Elze.
2
Pode-se considerar o Rosa Maria e o Jardim Universitário (comunidades com
características rurais), mais o Madre Paulina, Rosa do Oeste, Lafaiete Coutinho e Maria
do Carmo como as comunidades mais carentes. O Conjunto Luís Alves e o Vila de São
Cristóvão em que pesem terem sido projetados, não possuem infra-estrutura.
27
2.3.2 Situação econômica
Algumas empresas instalaram-se na região, e escolheram o Rosa Maria
para suas operações; provavelmente, pela composição mista de área urbana com
uma área rural. São dois postos de gasolina, sendo um recém-inaugurado no
Rosa Elze, dois motéis, casas de materiais de construção (as de maior porte no
Rosa Maria), dois supermercados na região, um em expansão – está sendo
projetado um hipermercado. Algumas empresas como: uma detentora do
mercado de Sergipe em frango (que ameaçou sair da região por falta de infra-
estrutura para a circulação dos seus caminhões); uma fábrica de pré-moldados,
uma madeireira, uma empresa na área de equipamentos de eletrificação (postes,
cabos, fios), e uma empresa que presta serviços à Petrobras em equipamentos de
sonda. No entanto, isso não trouxe benefícios. O sentimento geral é que, sendo o
grande arrecadador da região e favorecendo financeiramente à Prefeitura, a
região deveria ter maior atenção da sede administrativa do Município,
estabelecendo serviços públicos efetivos para a comunidade.
As empresas instaladas, entretanto, não garantiram emprego para a
comunidade. Há casos como o da empresa que presta serviços para a Petrobras,
a Marlon, que já se instalou com uma mão de obra própria, por ser especializada.
A empresa detentora do mercado de frango, a Frangaço, reservou parte das
vagas para a comunidade, mas não se sabe o percentual. O comércio,
normalmente, emprega pessoas das comunidades. É o caso dos supermercados,
um da maior rede local, o G. Barbosa, e um outro de menor porte, o Prudente
Filhos.
2.3.3 Transporte
O transporte na região é considerado deficitário; e se não chega à
precariedade, é por conta da presença da Universidade. Um benefício indireto,
uma vez que um grande contingente de estudantes depende de transporte.
Então, os ônibus fazem o percurso Aracaju - Campus Universitário; a partir do
28
terminal rodoviário do Campus, os ônibus circulam pelos conjuntos, mas apenas
em duas ruas principais.
Durante muito tempo funcionou um terminal no Conjunto Eduardo Gomes,
sendo seu funcionamento considerado ilegal. Atualmente existe um terminal
rodoviário no Campus Universitário, responsável pela conexão de um transporte
integrado. O usuário sai da sede do município ou dos bairros metropolitanos, o
caso das comunidades do GRE, e paga uma só passagem. Além do terminal
rodoviário do Campus, existem dois pequenos terminais, um no Conjunto Eduardo
Gomes e outro no Conjunto Luís Alves, um outro conjunto planejado, mas que tem
carências como os demais. São apenas três linhas de ônibus, justamente partindo
dos terminais acima citados e uma outra partindo do Tijuquinha, um dos onze
núcleos habitacionais.
Essas linhas de ônibus não conseguem atingir a meta estabelecida como
ideal para qualquer sistema de transporte que é o de 600 metros de deslocamento
do usuário do sistema de transporte coletivo entre dois pontos.
3
Então é um
sistema que sacrifica o usuário, já que não estabelecendo a correlação exata entre
os dois pontos, o usuário tem que andar mais entre os pontos. O outro problema
é que os ônibus passam apenas nas principais avenidas (uma na rodovia
estadual, a João Bebe Água, que liga Aracaju a São Cristóvão, e outra no centro
dos conjuntos Rosa Elze e Rosa Maria) o que determina sacrifícios para os
moradores das periferias. Existe, ainda, um sistema de transporte coletivo por
táxi-lotação, um sistema cooperativo que faz o percurso do GRE até o centro de
Aracaju, auxiliando as linhas de ônibus, que são insuficientes.
2.3.4 Saúde
A situação da saúde é de preocupar. O sistema de marcação de consultas
e exames pela internet é precário. Com a municipalização da saúde, os postos de
saúde trabalham com agendamento, um funcionamento precário, levando a
3
Informação oral do Sr. Edílio, diretor de Planejamento Urbanístico da Secretaria Municipal de
Planejamento de São Cristóvão.
29
reclamações constantes. Marca-se o dia para marcar a consulta, e no dia não se
consegue marcar a consulta, normalmente por problemas no sistema. Refaz-se a
marcação para dois, três meses depois.
Existem duas unidades de tratamento psicológico.
4
A região conta com os
serviços de dois postos de saúde: um no Eduardo Gomes, o de atendimento geral,
com funcionamento de 24 horas, e um no Rosa Elze. Além destes, existe um
posto de dimensão reduzida tanto no espaço físico quanto no atendimento,
localizado no bairro Tijuquinha.
2.3.5 Educação
Sete escolas compõem o sistema municipal de educação e estão
localizadas nas seguintes comunidades: Conjunto Universitário, Eduardo Gomes,
Tijuquinha, Rosa Elze, Rosa Maria, Luis Alves e Rosa do Oeste. Conta-se ainda
com mais quatro escolas públicas estaduais, sendo três no Eduardo Gomes e uma
no Rosa Elze. Não existe biblioteca pública, museu, arquivo, centro cultural, como
também nenhum espaço público que tenha computador à disposição da
comunidade. Existe um espaço privado que disponibiliza o serviço de internet,
uma LanHouse recém estabelecida no Rosa Elze.
2.3.6 Sistema político
A região do Grande Rosa Elze possui um colégio eleitoral composto por
21.526 eleitores aptos. Uma contradição, considerando-se os 50.000 habitantes
da região em relação aos 64.647. A população residente do GRE representa
74,6% do total do município de São Cristóvão; já em relação a população eleitoral,
4
O Censo Demográfico 2002 aponta que em São Cristóvão existem 973 deficientes
mentais permanentes
.
30
esse percentual cai para 48,8. A explicação para tal fato diz respeito à migração
para o trabalho na Capital e à permanência dos domicílios eleitorais.
5
Atualmente a região possui três dos nove vereadores da Câmara Municipal
de São Cristóvão. E o município de São Cristóvão tem dois deputados na
Assembléia Legislativa do Estado de Sergipe.
2.4 Presença da Universidade Federal de Sergipe no Grande Rosa Elze
A Universidade Federal de Sergipe, por meio da Pró-Reitoria de Extensão e
Assuntos Comunitários, vem desenvolvendo ações de promoção social na região
do Grande Rosa Elze. A região foi institucionalmente definida como um local de
práticas acadêmicas e para tal foi estabelecido, em 2002, pela Portaria no. 395, o
Campus Aproximado Grande Rosa Elze, tomando-se como base “a posição
estratégica em que se situa a região do Grande Rosa Elze entre a Capital e a
cidade sede do município de São Cristóvão, no qual se inserem todas as mazelas
que ocorrem em áreas periféricas” e considerando-se que as comunidades com
uma “população em torno de 50.000 habitantes têm em comum indivíduos que em
sua maioria vivem abaixo da linha de pobreza e sem o mínimo atendimento pelas
políticas públicas” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 2005, p.6-8).
O programa instituído (Programa Promoção Social) para ser aplicado no
Campus Aproximado Grande Rosa Elze, foi pensado a partir de questões que
promovessem igualdade social, buscando-se a melhoria de índices sociais por
meio de ações de inclusão social. O Programa privilegia ações voltadas para o
empreendedorismo solidário, a alfabetização de jovens e adultos, a educação
permanente de professores, a agricultura urbana, a educação ambiental e uma
linha de trabalho voltada para a atenção integral à família, à criança e ao idoso, e
5
O conceito de domicílio eleitoral advém da concepção civil de domicílio e classifica-se
como "domicílio legal" por estar determinado no art. 42, parágrafo único, do Código
Eleitoral - Lei n. 4.737, de 15.7.1965, que, ao tratar em sua terceira parte do alistamento
eleitoral, assim dispõe: "Para efeito da inscrição é domicílio eleitoral o lugar de residência
ou moradia do requerente e verificando ter o alistando mais de uma, considerar-se-á
domicílio qualquer delas".
31
é aplicado com moradores dos bairros formados no entorno da cidade
universitária, beneficiando 3.000 pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos.
As ações programáticas são levadas a efeito e apresentadas no Fórum de
Discussão, criado especificamente para dar conhecimento ao poder municipal
(Secretarias da Saúde, Educação, Administração, Ação Social e Sub-Prefeitura),
às organizações sociais (Associações de Moradores e Conselho Tutelar), e a
Organizações Não-Governamentais (Lions Club). Os programas são coordenados
e executados pela UFS, com as organizações sociais sendo responsáveis pela
participação da comunidade, e o poder municipal responsável pelos espaços para
operacionalização dos programas.
As intervenções aqui citadas dizem respeito a um Programa pensado
com o Campus em adiantado estágio de funcionamento. No entanto, além desses
compromissos a UFS já tinha uma presença anterior, marcada por uma atuação
operacional de implantação do Campus. As intervenções anteriores puderam ser
sentidas na década de 1980, quando da chegada da Universidade. Pode-se
creditar à Universidade a promoção do acesso à região e ter levado a cabo o fim
das enchentes em áreas adjacentes de Aracaju, como sua primeira grande
intervenção.
Quando a Cidade Universitária foi construída, o acesso à região era feito de
forma precária por uma estrada de terra e uma ponte de madeira. A construção
da rodovia estadual (João Bebe Água) e de uma ponte de concreto, foram as
providências tomadas junto ao Estado para solução do problema. Além do acesso
difícil, existia o problema das enchentes, provocada pela reunião das águas numa
área de bacia hidrográfica contígua ao Campus, e propriedade deste. Foi
executado um projeto do Departamento de Estradas e Rodagens do Estado de
Sergipe (DER/SE), que fez uma ponte barragem, uma providência para acabar
com as enchentes provocadas em épocas de chuva.
A segunda grande intervenção foi a construção da rodovia João Bebe Água
ligando Aracaju à sede do município de São Cristóvão. Esse foi um ato de suma
importância, pois anteriormente a conexão era feita pela BR 101, reduzindo pela
32
metade a quilometragem a ser percorrida. A rodovia valorizou a região, beneficiou
a comunidade, e como decorrência vieram os terminais.
No entanto, juntamente com o crescimento urbano, vieram os problemas
infra-estruturais. Além das enchentes provocadas pelas chuvas, que interditavam
o acesso ao Campus, com a construção deste as águas das chuvas sem
escoamento passaram a ocupar as áreas urbanas do Rosa Elze. O setor de
engenharia do Campus foi envolvido e a região foi dotada de estrutura para a
drenagem. Tratando-se de infra-estrutura, essa foi a única intervenção na área
nestes 36 anos.
Com a abertura da rodovia João Bebe Água, vieram os outros núcleos
habitacionais surgidos à margem desta. A população aumentou
consideravelmente, e a região passou a ser mais observada pela Prefeitura de
São Cristóvão.
Uma das medidas foi a instalação da Subprefeitura da GRE, localizada no
Eduardo Gomes, como local de representação do poder público na região e a
aproximação da população com a sede administrativa, um bureau onde as
pessoas podem reclamar, podem cobrar melhores serviços públicos municipais.
33
3 PERCURSO METODOLÓGICO
Tendo em vista o estudo das populações de onze núcleos habitacionais no
Município de São Cristóvão, no Estado de Sergipe, que formam a região
metropolitana denominada de Grande Rosa Elze, este trabalho tem como enfoque
a necessidade de informação, verificando as demandas, as buscas, e o uso que
se faz da informação em comunidades carentes. Para atingir esse objetivo, foi
necessário dar procedimento a alguns levantamentos importantes para a
pesquisa:
a) levantamento de possíveis necessidades junto aos comunitários:
- foram consultadas 68 pessoas, por meio de questionários, escolhidas
aleatoriamente entre os residentes do Grande Rosa Elze;
b) levantamento de possíveis necessidades da informação, a partir da
opinião de líderes comunitários:
- foram consultadas sete pessoas, por meio de procedimento de entrevista.
Para o processo de verificação das necessidades de informação da
comunidade, realizou-se uma investigação junto aos habitantes das comunidades
objeto da pesquisa. Esse estudo investigativo teve como técnica o uso de
questionários e entrevistas. Foram aplicados métodos formais de pesquisa para
levantamento de dados da comunidade do Grande Rosa Elze, para que, através
da análise, fosse possível compor o perfil da comunidade e compreender as suas
necessidades em termos de informação.
Diferente do modelo tradicional da concepção necessidade-usuário que
pressupõe a existência de um órgão do qual se faz uso, neste trabalho não se
vincula a necessidade a um órgão específico responsável por demandas; portanto,
a investigação não se insere na área de estudos de usuários. Não se tem como
objeto o usuário, aquele que busca a informação em um determinado local oficial,
mas o indivíduo que recebe informação de canais variados, sem a necessária
interferência estatal, para suprir uma determinada necessidade.
Portanto, partindo-se do princípio de que informação é fundamental, e não
existindo na região um órgão público, é de se supor que a própria comunidade
34
termina por resolver as suas necessidades de informação. Assim sendo, como
procurar a informação? Quais as estratégias usadas? Quais os canais de
comunicação usados? Quais são essas necessidades? Estas questões que
nortearam este trabalho de pesquisa.
3.1 Delimitação da pesquisa.
A pesquisa teve como campo de ação as comunidades integrantes do
complexo de bairros denominado de Grande Rosa Elze, pertencente ao município
de São Cristóvão, no Estado de Sergipe.
Embora existam ações incidindo sobre a comunidade objeto desta
pesquisa, não existe um acervo sistematizado de informações, ou seja, não
existem estudos exploratórios sobre a mesma. As diversas ações de trabalho
implantadas pela Universidade Federal de Sergipe, por meio da Pró-Reitoria de
Extensão (PROEX), não têm contribuído para a formação desse acervo, pois que
não foram publicados resultados sobre as atividades da Instituição no local.
3.2 Fontes de pesquisa
A pesquisa ora proposta foi baseada em dados de fontes primárias e
secundárias que se constituem em fonte oral e documental.
2.2.1 Fontes orais
As fontes orais referem-se às informações obtidas junto aos habitantes da
área objeto de estudo, sendo colhidas junto a comunitários e líderes das
comunidades por meio de questionários e entrevista semi-estruturada,
respectivamente.
As informações que se obtiveram foram provenientes de dois momentos: a
realização de uma entrevista semi-estruturada coletiva, um procedimento
metodológico denominado grupo focal, e a aplicação de um modelo de
35
questionário. A entrevista foi realizada junto aos líderes comunitários e a
aplicação dos questionários aconteceu junto aos comunitários.
A decisão pela entrevista como grupo de foco atendeu a uma sugestão da
banca de qualificação e se deu em função de, além de permitir ser trabalhada a
partir de um número determinado de perguntas abertas, como semi-estruturada, o
que permite maior profundidade na investigação, também permite um papel mais
ativo do entrevistado, a partir do momento em que é ouvido ao tempo em que
também pode conduzir o processo.
3.2.1.1 Amostragem
Para efeito de levantamento de informações em relação aos líderes, foram
entrevistados sete líderes, número dentro do intervalo para o procedimento do
grupo de foco, que permite o mínimo de seis integrantes e o máximo de 12
membros (TARACENA, 1996). Em relação à aplicação dos questionários junto aos
residentes, foi adotada a regra de Amostragem Probabilística, que define
percentuais de ordem científica de amostragem estatística para pesquisas.
A Amostragem Probabilística é uma amostragem científica que pode ser
aplicada tomando-se como base a amostragem equiprovável ou acidentalmente
simples. Foi utilizada na amostragem um nível de confiança de 90% (que varia de
90% a 99%). O nível de confiança é uma medida estatística que traduz a
probabilidade de ocorrência na obtenção dos resultados da pesquisa. Quanto
maior o nível de confiança adotado, maior a probabilidade de acerto nas
estimativas dos parâmetros populacionais. A margem de erro situa-se então em
10%.
A amostra foi dimensionada tomando-se como informação os 50.000
habitantes da região pesquisada, o que caracteriza uma população finita.
Portanto, para o cálculo estatístico da amostra aplica-se a seguinte fórmula:
n = ___Z
2
. P . Q . N____
E
2
(N-1) + Z
2
. P . Q
onde:
36
n = amostra da pesquisa;
Z = nível de confiança (1.65);
E = erro da amostra (0,1);
N = número do universo da pesquisa;
P = probabilidade de ocorrência de determinada característica (0,5);
Q = percentagem complementar.
Os números correspondentes ao nível de confiança e erro da amostra são
formatados em tabelas ao serem definidos os percentuais de 90% para a
confiabilidade na pesquisa e 10% para a margem de erro. Como não existiam
informações prévias sobre o número de ocorrência de determinadas
características da população (freqüência de leitura, assinatura de jornais, número
de TVs a cabo, preferência por determinado programa de TV e rádio, como
exemplos) utilizou-se um valor para P = 50%, isto é P = 0,5 e Q = 0,5.
Os dados da fonte primária foram fornecidos por 75 indivíduos, tendo como
procedimento a realização de entrevista em uma parte do total existente, e a
aplicação de questionário por amostragem. A primeira parte foi composta por
líderes comunitários em entrevista coletiva, o grupo focal. Foi proposto um grupo
de foco com 12 integrantes, sendo onze presidentes das associações de
moradores e o presidente da Federação das Associações de Moradores. No
entanto, a realização do procedimento se deu com sete membros. A segunda
parte, a seletiva, constituiu-se por uma amostra aleatória construída com 68
residentes das comunidades pesquisadas.
3.2.1.2 Instrumentos de pesquisa
A metodologia aplicada por meio do grupo de foco e a aplicação de
questionários, permitiu uma análise das manifestações (opiniões, observações,
críticas e sugestões). Pretendeu-se saber: como a comunidade faz para
conseguir informação; se os cidadãos se reportam à TV, e ao rádio; se as
informações que buscam ajudam a melhorar o cotidiano na comunidade; quais os
meios utilizados para conseguir informação.
37
Por se tratar de um conglomerado de comunidades tidas como carentes, as
dificuldades interpostas para a consecução da informação revelam-se na questão
da escolaridade e do poder aquisitivo. Assim, por dedução, a informação
registrada cede lugar para a informação oral e visual. Como os modelos e canais
de informação são por demais tradicionais e potencializam a informação impressa,
é fácil concluir que os habitantes do GRE situam-se naquele nível que Polke
(1982, p.131) considera penalizado: “A obtenção da informação é tanto mais difícil
e penosa quanto mais baixo o nível socioeconômico do indivíduo que a busca”.
Assim, os instrumentos de pesquisa adotados (entrevista e questionário)
buscam captar junto aos habitantes do Grande Rosa Elze o significado da
informação dentro da realidade das comunidades quase sempre expostas ao
processo de comunicação midiática, principalmente rádio e TV, a partir da
ausência de uma biblioteca pública, ou órgão similar, na área da pesquisa.
2.2.1.2.1 Sobre o questionário.
O questionário, aplicado junto a 68 moradores da região pesquisada, foi
dividido em dois campos. O primeiro diz respeito aos dados pessoais dos
respondentes, firmando-se nome e endereço. O segundo campo contém 16
questões que verificam a relação das comunidades com a biblioteca pública, com
a TV e com o rádio. Neste contexto, analisa os lugares procurados para atender
as necessidades de informação, quais essas necessidades e as dificuldades para
o atendimento.
A aplicação do questionário, junto aos moradores do Grande Rosa Elze, foi
realizada após o procedimento do grupo focal com os líderes das comunidades do
Grande Rosa Elze. O número de questionários a ser aplicado em cada núcleo
residencial foi estabelecido em reunião, de acordo com os presidentes das
associações e o presidente da Federação, tomando-se como base a população
estimada de cada comunidade. Assim, foi estabelecida a aplicação de oito
questionários em cada uma das comunidades do Rosa Elze, Rosa Maria e
Eduardo Gomes; seis questionários no Tijuquinha, em Madre Paulina, no Lafaiete
38
Coutinho e no Jardim Universitário; e de cinco questionários em cada uma das
unidades do Rosa do Oeste, Vila de São Cristóvão, Maria do Carmo e Luiz Alves,
num total de 68 questionários.
Tomaram-se aleatoriamente ruas a serem visitadas, no mesmo número dos
questionários (68), de forma que em uma mesma rua não fossem submetidos dois
questionários.
2.2.1.2.2 Sobre o grupo de foco.
A natureza da pesquisa com abordagens quantitativa e qualitativa faz parte
da metodologia adotada, decidindo-se, no campo da entrevista, pela técnica do
grupo de foco. Essa técnica, calcada na preocupação com o contexto em que se
inserem os atores da pesquisa, tende a desvendar as necessidades existentes,
pois que Leitão (2005, p.50), citando Wilson, afirma que “as análises qualitativas
são especialmente indicadas para pesquisas a respeito da informação: como as
pessoas a obtém (sic), o que fazem com ela e que sentido agrega em suas vidas”.
Afirma ainda que
somente com base em dados e explicações dessa categoria,
bibliotecários e os demais profissionais dos campos das Ciências
Humanas e Sociais poderão desenhar serviços de informação
mais eficazes, voltados para um uso mais coerente e adequado
(LEITÃO, 2005, p.51).
A decisão pelo método do grupo de foco atendeu a uma sugestão da banca
de qualificação, tendo em vista a isenção que o método proporciona e a
oportunidade que a pesquisa permite aos entrevistados de serem os condutores
do processo. Como afirma Leitão (2005, p.132), “a utilização do grupo de foco
também reitera e possibilita atender a uma das expectativas mais elementares do
ser humano: ser ouvido, na medida em que destaca e habilita pessoas a
conduzirem esse processo”.
Embora utilizada pela primeira vez na Ciência da Informação nos anos
1980, a técnica de entrevista por grupo de foco não tem sido utilizada com
freqüência na área. Isso talvez por ser um instrumento de análise qualitativa, uma
39
vez que a área tem tendência extrema para pesquisa quantitativa. A técnica
revela-se então um modelo efetivo para “identificar sentimentos e convicções
sobre situações, produtos e serviços, bem como a forma como esses sentimentos
e convicções moldam o comportamento das pessoas” (LEITÃO; VERGUEIRO,
1999, p.97).
Com a adoção da técnica de grupo de foco na presente pesquisa, reforça-
se a questão qualitativa, de conformidade com o que Wilson, citado por Leitão
(2005, p.50), aponta como aspectos que caracterizam a necessidade do uso de
pesquisa qualitativa:
1 para cobrir fatos do dia-a-dia das pessoas pesquisadas;
2 para melhor compreensão dos anseios e sentimentos dos pesquisados;
3 para desvendar necessidades.
Neste trabalho, para o grupo de foco foram convidadas 12 pessoas, o
número máximo permitido pela metodologia, sendo 11 presidentes de associações
de moradores, exatamente o número de comunidades existentes na região,
conforme já citado, e mais o presidente da Federação que engloba as entidades
que representam as comunidades. O objetivo foi analisar como o cidadão
responsável por uma entidade (associação de moradores) em uma das
comunidades do GRE convive com a questão da informação que tem contorno
social. A idéia foi contextualizar a sua opinião e a sua atitude à frente de uma
associação, que envolve vários comunitários, portanto vários perfis, no que diz
respeito à necessidade de informação no seu cotidiano. Observe-se que o grupo
de foco foi efetivado junto a um grupo de presidentes de Associações de
Moradores que inevitavelmente, no seu dia-a-dia, fica exposto a uma seqüência
de fatos que lhe exigem respostas, o que pressupõe que ele tenha informações
para que os fatos sejam resolvidos.
A decisão pela entrevista com líderes comunitários específicos de
associações de moradores levou em consideração o tratamento de assuntos de
forma geral; assim, um líder comunitário incumbe-se de informações de ordem de
mobilização social, enquanto que a um líder de uma organização religiosa, por
exemplo, cabe o repasse de informação de valores ideológicos.
40
As informações obtidas com os líderes a partir da interação do grupo de
foco proporcionam confiabilidade, vez que “os grupos focais trabalham com
questões abertas e na sua lógica não há lugar para respostas incorretas”
(TARACENA, 1996, p.79). Esses grupos visam ainda, na avaliação de Taracena,
a obtenção de respostas mais elaboradas, que podem “explicar e interpretar
assuntos, para gerar idéias, para a realização de análises simbólicas e para
montagens de cenários, visando identificar as redes de significados que elaboram
os diversos grupos sociais [...]” (1996, p.80).
Como o objetivo foi a coleta de informações mais profundas sobre o
assunto, observando-se as percepções e perspectivas dos participantes, estes
foram determinados utilizando-se o critério da representação de função dentro da
classe social que co-habitam os responsáveis pela entidades acima citadas,
respeitando-se um dos pressupostos da técnica da pesquisa, ou seja, tratando-se
a estrutura do grupo de forma homogênea, com os membros do mesmo nível
socioeconômico.
Embora o grupo seja formado de forma homogênea, a realização do grupo
de foco tem por finalidade reunir sobre o mesmo assunto discursos diferentes;
como observam Lopes, Borelli e Resende, citando Alasuutari, “o grupo de
discussão é uma técnica de coleta de dados muito útil, na medida em que o
assunto em foco é coberto de diferentes ângulos e a discussão produz diversos
tipos de discursos sobre o mesmo assunto” (LOPES; BORELLI; RESENDE, 2002,
p.62).
Para a prospecção das informações utilizou-se o seguinte roteiro de
entrevista:
- qual o papel/importância de uma biblioteca pública no dia-a-dia da
comunidade;
- qual o papel da TV e do rádio no dia-a-dia da comunidade;
- de que tipo de informação a comunidade precisa;
- necessidade de existência na comunidade de um órgão público (biblioteca
ou outro) que disponibilize ou facilite a informação para os cidadãos.
41
Na condução do processo, como moderador, esteve o autor da pesquisa.
Como observadora esteve a jornalista Nadja Araújo, ex-jornalista de movimentos
sindicais e atual Assessora de Comunicação da Secretaria de Saúde do Município
de Aracaju.
2.2.2 Fontes documentais
As fontes documentais referem-se às informações obtidas mediante
consulta a documentos existentes em arquivos e bibliotecas, estadual e municipal,
e na biblioteca universitária (Universidade Federal de Sergipe).
2.3 Ambiente da pesquisa
Na delimitação da pesquisa foi determinada a região do Grande Rosa Elze
como objeto de estudo. Assim, as comunidades que integram a citada região
formam o referencial desta pesquisa. Rosa Maria, Rosa Elze, Jardim
Universitário, Vila de São Cristóvão, Eduardo Gomes, Lafaiete Coutinho, Rosa do
Oeste, Tijuquinha, Madre Paulina, Maria do Carmo e Luiz Alves, são as
comunidades que integram a região do Grande Rosa Elze (Mapa 2, p.43).
Somam aproximadamente 50 mil habitantes, segundo dados do Projeto Campus
Aproximado do GRE, desenvolvido pela PROEX/UFS em 2004.
Todas as comunidades têm associação de moradores, sendo as mais
conhecidas: a Associação de Moradores e Amigos do Bairro Jardim Rosa Maria, a
Associação dos Amigos do Rosa Elze e a Associação dos Moradores do Eduardo
Gomes. Algumas são assistidas por organizações não governamentais. Algumas,
também, recebem assistência de projetos da Universidade Federal de Sergipe,
dentro de uma proposta de desenvolvimento regional.
42
MAPA 2
VER CD ANEXO
43
4 CONCEITOS E DIREITOS EM INFORMAÇÃO
“Informação é fundamental para o dia-a-dia do cidadão”. Este é um bordão
cada dia mais freqüente nas propagandas dos meios de comunicação. Assim,
pode-se considerar que a informação, a partir do momento em que é tida como
fundamental no exercício diário do cidadão, é uma necessidade social.
Especificamente com tal configuração, a literatura da área, embora escassa, já
traz algumas referências, como a de Couto (1988, p.66), que afirma que a
informação, de tão importante na atividade humana, “é identificada como uma
necessidade social”.
Pode-se dizer que essa necessidade de informação associada ao social diz
respeito às perspectivas de desenvolvimento social a partir do momento em que a
informação passou a ser condição básica para o planejamento. Mas como definir
algo tão abstrato quanto necessidade de informação, quando se entende que a
própria necessidade social é campo vago para conceituação?
A literatura da área mostra-se escassa, existe pouco registro sobre
definição do termo informação. Parece apenas que existe a informação dentro de
um complexo, dentro de um sistema, que é a Ciência da Informação.
Contraditoriamente, o termo Ciência da Informação é recente, posto como campo
científico preocupado com a sistematização dos processos de produção e
consumo (coleta e armazenamento – produção, e recuperação e disseminação -
consumo).
Informar tem significado simples e direto: vem do latim informare que quer
dizer colocar em forma, informar o fato (BOUCHE citado por GALVÃO, 1993,
p.103; BRIGGS; BURKE, 2004). Mas embora se frise a simplicidade do
significado da palavra informar, é impossível não registrar a multiplicidade de
significados que a mesma encerra, uma vez que vai desde o registro de dados,
passando pelo conteúdo textual, até à preservação do conhecimento na mente
humana. Assim, informação requer conhecimento de dados e a apropriação
destes, como sugere Lima (1986, p. 98): “Informação: não é só o conteúdo, mas
44
também a essência de todo o conhecimento, de todos os dados estruturados,
qualquer que seja a sua forma e o suporte material em que esteja registrada...”.
No sentido geral, informação “es la noticia que se proporciona de um hecho,
persona o cosa”. No sentido específico, informação do ponto de vista científico diz
respeito à “datos, elementos doctrinarios, fuentes de conocimiento, etc., sobre una
materia dada, que se proporcionan al investigador para su debido
aprovechamiento em la obra de creación intelectual” (BUONOCORE, 1976,
p.259).
Já necessidade é definida como “o que um indivíduo deve ter para o seu
trabalho, pesquisa, instrução, recreação” e que “o conceito da necessidade é
inseparável dos valores da sociedade” uma vez que “uma necessidade é uma
demanda em potencial”, ou seja, aquilo que um indivíduo pede, ou mais
precisamente um pedido para um item de informação desejado (LINE, citado por
BETTIOL, 1990, p.62).
Martin, citado por Bettiol (1990, p.63), vê dificuldade na definição do termo e
diz que “... mesmo se pudéssemos definir, seria difícil identificar, porque muitas
pessoas não param para refletir nas suas necessidades...”. Wilson, ainda citação
de Bettiol (1990, p.66) reconhece que as necessidades existem porque um
indivíduo desempenha um papel na sociedade, ele tem vida social, portanto os
aspectos do meio ambiente sócio-cultural e físico devem ser destacados.
Quando se aborda a questão necessidade de informação, os estudos se
referem sempre a área de estudos de usuários, que por sua vez têm tido espaços
em revisões de literatura. Os estudos de necessidade de informação quase
sempre acontecem em comunidades universitárias e estão associados à
informação em ciência e tecnologia. Mas há o outro lado: as comunidades sociais,
as comunidades civis não acadêmicas, nas quais existem necessidades de
informação, que “deverão estar associadas com outras necessidades básicas
humanas” (BETTIOL, 1990, p.59).
Sobre o assunto, Barreto (1994), coloca a informação como instrumento de
mudança a serviço do homem, quando este se movimenta pelo ambiente social,
atendendo as suas necessidades básicas. Assim, as pessoas procuram satisfazer
45
as suas necessidades básicas de alimentação, habitação, vestuário, saúde,
educação, sendo que o seu comportamento seria fundamentalmente o de
perseguir e satisfazer estas necessidades, que representam a segurança de existir
em um determinado espaço (BARRETO, 1994).
Os autores citados, Bettiol e Barreto, associam a necessidade de
informação às necessidades básicas dos seres humanos. Ao pesquisar-se sobre o
tema proposto, “necessidade de informação”, verificou-se, então, a dificuldade na
exploração do conceito específico. Foi preciso considerar a pesquisa colocando a
necessidade de informação dentro de um contexto mais amplo da própria
informação e pensar no conceito de informação pública.
Em que pese o Estado brasileiro possuir os seus próprios meios de
comunicação, este vem “atuando predominantemente como veículo de informação
pública, sem interferir na esfera do lazer ou da informação utilitária” (MELO, 1986,
p.27). Ao analisar-se tal afirmativa, depara-se então com uma questão: o que é
informação pública e por que não contempla a informação utilitária ou a
informação popular?
O conceito de informação pública é amplo, pois compreende toda
informação direcionada ao conjunto da sociedade (ALMEIDA JÚNIOR, 2004).
Justamente, esta amplitude é o que vai dificultar o atendimento das necessidades
de informação do público. Diferentemente do que ocorre com a informação
científica e tecnológica, segmentos nos quais os usuários têm suas necessidades
atendidas, por serem específicas e direcionadas a um público localizado.
Almeida Júnior (2004) ao conceituar informação pública, observa que é um
assunto ainda pouco analisado, provavelmente, pela dificuldade que existe na
conceituação do termo, uma vez que toda informação é pública.
O conceito de informação pública esassociado a espaços estatais de
atuação, principalmente. Conceituação, que, paradoxalmente, levou profissionais
a criar outras formas de atuação como a informação utilitária e a informação
popular. Assim, como a informação pública é dirigida a todo o público, a
informação utilitária é útil, e configura-se como informação pública. Já a
informação popular, tem um caráter ideológico, resultado da necessidade de
46
atendimento aos movimentos sociais, diretamente envolvidos com a luta pela
democracia (DEFINIÇÃO ..., 1981).
Ao enfocar a informação utilitária e a popular, depara-se com o campo da
informação alternativa, justamente para fazer frente à informação pública, por
causa do seu caráter estatal. A organicidade dos meios de comunicação,
prevalente na área pública, mas como forma privada, inviabilizando o que se
pressupõe por informação pública de caráter comunitário, fez com que organismos
sociais que combatiam o Estado autoritário pensassem a informação como um
processo alternativo que chegasse às comunidades.
A esse respeito, Almeida Júnior (1997), analisa e faz questionamentos
sobre o assunto, concluindo que as propostas inovadoras de serviços de
informações alternativas “não criam um novo tipo de biblioteca, mas apresentam
caminhos e propostas alternativas para a atuação da biblioteca pública. Não
seriam bibliotecas alternativas à biblioteca pública, mas propostas alternativas
para sua atuação” (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p.137).
A informação alternativa foi relegada a um tratamento entre a dúvida, pela
situação política do regime autoritário, àquela época, e o despreparo dos próprios
gestores da informação, principalmente os bibliotecários. Jornalistas e advogados,
principalmente, assumiram a gestão da informação tocando tais projetos e
inserindo a informação como instrumento útil na participação popular (LIMA,
1986),
Provavelmente o período, os anos 1980, foi profícuo para estabelecer as
bases para uma informação verdadeiramente pública, em que a comunidade
pudesse estabelecer as bases do que era a informação necessária para o coletivo.
Nesse contexto, as alternativas de informação utilitária e popular, entendidas
como informação social, foram a base da atual informação pública, necessária no
atendimento das necessidades de informação das comunidades carentes. Assim,
pode-se dizer que, informação pública, implica em uma forma de mobilização
social e política não partidária, a ser submetida às comunidades carentes. É, em
uma das bases modernas, sobre as quais se assentam as decisões básicas que
47
norteiam as sociedades. Caracteriza-se pela existência de que um fato analisado
será transformado em dado.
O importante é que o termo informação esteja contextualizado, dando-lhe
definições que o especifiquem dentro das discussões que surgem nas
nomenclaturas da informação, que circulam na literatura: sociedade da
informação, sociedade em rede, mercado da informação. Termos que são
adequados ao período dos anos 2000, em que a Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC) pode melhorar a relação da informação pública com as
necessidades do público.
A partir dessas constatações, vê-se que definir informação não é tarefa das
mais simples. Informação estaria no campo científico dos dados e conhecimento.
Seria então, segundo Peter Drucker, citado por Davenport (1998, p.19), “dados
dotados de relevância e propósito”. Para Davenport (1998, p.19), os dados são
“observações sobre o estado do mundo” que, percebido em um contexto, dotado
de significado, de interpretação, passa a ser conhecimento.
Enquanto se discute a informação pública numa sociedade globalizada,
comunidades se defrontam com todo tipo de carência, entre elas a informação.
Para aproximar-se desta sociedade é preciso que indivíduos e instituições tenham
acesso a informações básicas que os integre harmonicamente e os façam vencer
etapas que levem ao pleno exercício da cidadania. Ou seja, que permitam o
direito à informação. Para Carvalho (1991, p. 1177) “o direito à informação
antecede a prática de direitos humanos, e precisa-se garantir que as aspirações
sociais sejam exercidas com liberdade”.
A relação necessária entre comunidade e informação se apóia no
pressuposto do exercício da cidadania. Marshall, citado por Carvalho (1991, p.
1173), articula tal exercício em três categorizações: civil, político e social. O civil
responde pelos direitos individuais de liberdade e propriedade. O político é a
possibilidade de eleger representantes com o fim de formular políticas públicas e
legislação. Quanto ao social, busca-se o “bem-estar social e para tanto, as
facilidades de acesso aos serviços de comunicação e de informação...”
(CARVALHO, 1991, p. 1174).
48
Entretanto, por mais que se queira moderno, o Estado não pensa na
questão da informação como nos outros setores sociais; há um interesse, é
inegável, em solucionar as áreas de saúde e educação, para citar apenas as mais
pontuais. No entanto, com políticas públicas sempre em dívida para com a
prestação de serviços, fica cada vez mais distante se ver a informação como
necessidade básica. O setor informação é cristalizado no setor privado, via
comunicação, e de pouca intervenção estatal (REIS, 2004).
Esse processo de informação fica então mais difícil de ser encontrado em
comunidades excluídas, desfavorecidas por políticas públicas, o que termina por
aprofundar o estado de pobreza que Lewis, citado por Menou e Mchombu (2004,
p.129), denuncia: “A cura fundamental para pobreza não é dinheiro, mas
conhecimento”. Se se considerar como fundamental essa citação de William
Arthur Lewis, precisa-se então entender o processo de conhecimento como
resultado do processo de informação. Não existindo presença do Estado, não
existem recursos e estruturas adequadas para gerenciamento da informação que
culmine no conhecimento.
A esse respeito, Milanesi (1991, p. 182) afirma que “enquanto o país não
tomar como prioridade a batalha do conhecimento, não haverá como superar
todas as feridas e seqüelas que a ignorância propicia”. Essa ignorância é
resultado do desequilíbrio social patrocinado por um Estado que concede
privilégios a quem não precisa e deixa de lado quem necessita. Menor
desigualdade social vai implicar em maior acesso às informações. Isso implicará
num equilíbrio que por certo diminuirá a extrema pobreza do país, quer pela
inserção no processo educacional, quer pela geração de empregos e discussão da
distribuição de renda.
No entanto, as justificativas para o entendimento de supostas demandas
não ofertadas como privilégio (para o poder público há necessidades mais
urgentes), revela a face preconceituosa de uma elite governamental para com
uma sociedade pobre, que tem no serviço público o último recurso para suas
necessidades.
49
Para que a comunidade passe a ter suas necessidades atendidas, é preciso
então que se mude a trajetória tradicional de serviços institucionais. A questão é
como fazer tal mudança. A literatura mostra alguns exemplos de tentativas
(MILANESI, 1990; ALMEIDA JÚNIOR, 1997), mas os exemplos citados, mesmo
que insistindo na mudança dos serviços, não promovem o que se persegue: a
democratização dos serviços informacionais, configurada na resposta das
instituições aos anseios de informação.
Então o problema está posto: o atendimento das necessidades de
informação de determinadas comunidades. Observe-se, entretanto, que as
necessidades referem-se a perspectivas por demais conhecidas: necessidades
socias localizadas. Fica difícil, no entanto, pensar necessidade de informação
para o desenvolvimento (social, econômico) sem pensar no poder público que
possibilite a inserção de informação no cotidiano da comunidade.
A Constituição da República Federativa do Brasil, 1988, traz no seu bojo
argumentações a respeito do direito do cidadão brasileiro, no que diz respeito às
informações que sejam necessárias na vida de um cidadão. No art.5º, que fala
dos direitos e deveres individuais e coletivos, em que preconiza que “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza...”, o parágrafo XIV diz
que “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte,
quando necessário ao exercício profissional”. Já no inciso XXXIII, é reconhecido
no texto que
todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de
seu interesse particular, ou de interesse coletivo geral, que serão
prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado (BRASIL, 1988, p.8).
No entanto, em que pese esse direito à informação, uma leitura atenta
colocará a informação, como um serviço prestado ao público, longe de qualquer
direito que se queira previsto. Informação, ou o acesso a ela, é tido ora como
pressuposto de Estado, pois que é ‘resguardado o sigilo da fonte, quando
necessário ao exercício profissional’, ora como interesse midiático, se buscados
mais argumentos constitucionais, posto que o art. 220 refere-se à informação
50
como objeto de veículos de comunicação social, enquanto o art. 221 indica que se
trata da produção e programação das emissoras de rádio e televisão (BRASIL,
1988, p. 144).
Tal como se coloca atualmente a situação da informação não permite a
intervenção do cidadão, seja nos órgãos públicos, seja nas programações de rádio
e TV, embora a Constituição pregue o contrário (Art. 220, II). Isso faz com que o
cidadão fique ausente do processo de informação, seja para o seu acesso, seja
para a sua necessidade, o que confirma a prática da demanda oficializada.
Consome-se o que está posto, sem a influência das comunidades. Não existe a
igualdade perante a lei.
O poder público, conhecido por sua ausência em alguns setores do serviço
público, incluindo a questão ora pesquisada, revela a sua falha para com as
necessidades de informação dos seus cidadãos. Muito embora, diga-se
assegurado por lei, o que se configura é o não cumprimento do direito à
informação. Embora a informação seja assegurada por lei, alguns setores da
sociedade continuam sem serem atendidos. È o que afirma Novaes:
[...] hoje um 60 por cento dos brasileiros, carentes de quase tudo,
não têm igualmente direito à informação. Não apenas porque não
têm nenhuma garantia do seu direito de serem informados
corretamente – não há legislação que os proteja -, como também
porque não têm possibilidade de emitir informação, para que seja
recebida pelo conjunto da sociedade e se transforme em objeto de
decisão. (NOVAES, 1994, p. 86).
Melo (1986) situa o direito à informação como um dos direitos básicos; o
outro é o direito à educação. No entanto, enquanto se pode afirmar que a
educação é um direito constitucional, o mesmo não se pode dizer da informação.
Observa-se que a informação, como um procedimento discutido na área de
Ciências da Informação, está longe de ser um direito. A informação que está
explícita na Constituição é uma outra atividade, pois diz respeito a processos de
Estado, segurança principalmente. É preciso atentar para o fato de que a
Constituição foi feita em um período de transição política, e que se reservavam
certas deferências a determinados conteúdos. É fácil supor que informação foi um
51
desses conteúdos. Sendo assim, privilegiou-se a informação como processo de
segurança, o que veio a ocasionar transtornos durante algum tempo (décadas de
1980 e 1990 do século 20) para quem trabalhava no entorno da informação em
órgãos públicos de cultura, como bibliotecas e arquivos.
Garantir o direito à informação pressupõe etapas sociais anteriores,
históricas e políticas ao mesmo tempo: uma educação que atente para um
conjunto social em constante evolução e uma comunicação que atenda uma
sociedade democrática com questionamentos à igualdade estabelecida.
São condições que se somam para garantir o direito. O Estado, por um
lado, tomando a iniciativa de aplicar recursos na educação pública, estabelecendo
regras que disciplinem o uso da mídia, e os cidadãos, por outro, incorporando-se à
rotina das comunidades, participando com questionamentos e sugestões para
formatação de uma prioridade esquecida, a informação. O direito à informação
ainda é um problema a ser equacionado, posto que, na Constituição ele não tenha
vida própria. Os artigos que revelam a questão, quase sempre estão associados
ao direito à comunicação (arts. 220 e 221). Melo (1986, p.73) corrobora tal
afirmação, ao destacar que “o Relatório MacBrice, da Unesco, situa o direito à
informação como componente do direito à comunicação”.
52
5 COMUNICAÇÃO DE INFORMAÇÃO
Quando se fala em meios alternativos como proposta para solução da
questão da informação, fica evidente a presença do rádio e da TV como suportes
mediadores da perspectiva de levar informações às comunidades. No entanto,
tais instrumentos de comunicação da informação estão longe de solucionarem os
problemas das comunidades. Há um consenso de que a TV não funciona como
redenção para soluções individuais, ou de caráter de solução para inclusão social.
Quando do surgimento da TV a cabo, esta foi tratada como um instrumento
promissor e saudada como um ambiente de comunicações, em que o público seria
tratado com dignidade e não como uma massa indecisa (BRIGGS; BURKE, 2004,
p.277). Mas não foi isso o que se viu. O historiador Brian Winston, citado por
Briggs e Burke (2004, p.277), faz um comentário em sentido oposto: “os canais a
cabo falharam quase totalmente em alterar de modo significativo os gêneros
estabelecidos e as formas de transmissão de televisão, nada acrescentando”.
A televisão a cabo (CATV) surge na década de 1960, tendo sua tecnologia
sido desenvolvida na década seguinte. Na verdade, toda a tecnologia colocada à
disposição do público tem um preço inacessível, diga-se de passagem, para
comunidades carentes, objeto deste estudo. As inovações situam-se na esfera
capitalista, celebrando-se o auge da revolução do consumo, um paraíso do
comprador, como afirma Bill Gates sobre o e-comércio, que fará com que “todas
as mercadorias do mundo [possam] estar disponíveis para serem examinadas,
comparadas, e, muitas vezes, feitas sob medida”. (BRIGGS; BURKE, 2004,
p.315).
É também na década de 1970 que se lança o aprendizado à distância, no
Canadá, na Austrália e na Nova Zelândia. As inovações tecnológicas, no entanto,
não significam acesso à informação, pois entra em cena a questão econômica
terminando não atingindo as comunidades carentes.
Há um mundo globalizado, muito mais pela intermediação midiática do que
por crescimento econômico e desenvolvimento social. Assim, os índices globais
podem contrastar com os locais, como as comunidades apresentadas nesta
53
pesquisa. Adicione-se, nesse contraste, o desenvolvimento tecnológico. Os
instrumentos de comunicação da informação disponíveis para as comunidades
(televisão e rádio) permitem aos cidadãos permear-se com a informação, mas não
criam a liberdade de informação, pois tais instrumentos convivem e realçam o
sistema econômico e político.
A modernidade envolve a idéia de risco, e “o capitalismo é impensável e
impraticável sem ele” (GIDDENS, 2000, p.36); assim, as comunidades carentes
sentem os reflexos da modernidade mesmo sem terem mergulhado nela pelos
efeitos do capital. Os reflexos são os efeitos da ausência da modernidade, uma
vez que não podem dar provimento aos recursos da Tecnologia da Informação e
Comunicação. Assim, os recursos como a instalação de uma TV a cabo, ou a
Internet por banda larga ficam inviáveis. Tem-se, então, uma parcela social
afastada do processo científico e tecnológico, cada dia mais presente no cotidiano
da sociedade.
Segundo Giddens, “cada vez que uma pessoa decide o que comer, o que
tomar no café da manhã, se café descafeinado ou comum, ela toma uma decisão
no contexto de informações científicas e tecnológicas conflitantes e mutáveis”
(2000, p.41). Isso mostra como a contextualização informacional tende para o
científico e o tecnológico, e a informação pública anuncia resultados técnicos,
quase sempre não contextualizados no entorno dos grupos carentes. Café
descafeinado é o exemplo. Como poderiam ser os radicais livres.
A informação faz parte de um sistema social, não existe sozinha, ou para
contemplação individual. Assim, depende da comunicação, está atrelada,
indubitavelmente, a esta para a sua leitura. A informação necessita, então, de um
suporte que a comunique, que a leve até o indivíduo e a coletivize.
Castells (2003), em artigo intitulado “Internet e sociedade em rede”, expõe o
que ele considera o tecido da vida: a importância da rede global de computadores
na agilidade e facilidade da comunicação. Isto ocorre, bem verdade, pelas
facilidades ofertadas, não pelas oportunidades distribuídas, posto que a rede é
material e portanto impõe custos. Fica claro, então, que as comunidades carentes
estão excluídas dessa rede, que é “um meio de comunicação, de interação e de
54
organização social” (CASTELLS, 2003, p.255). É o que o próprio Castells
reconhece, quando observa que os usuários da Internet estão e estarão, por um
longo espaço de tempo, em núcleos resolvidos seja econômica, política e
culturalmente, o que dificulta a solução dos problemas de desigualdade social.
Harvey (1992) mostra a evolução do transporte no espaço e no tempo,
quando fala do encolhimento do mapa mundial. O encolhimento do mapa facilitou
a divulgação de informações, visto que mais transportes ligavam o mundo em
menos tempo, o que garantia informação mais rápida chegando aos lugares.
Mesmo assim, chegar a todos os lugares seria impossível e isso só pôde ser
alcançado na evolução da sociedade quando se passou da etapa da fase
industrial para a fase eletrônica. As novas tecnologias, como a comunicação via
satélite, televisão a cabo, videotexto, teletexto, mudaram a sociedade
proporcionando informações ainda mais rápidas, superando espaço e tempo, mas
não conseguiram unificar a sociedade na rede que se preconiza.
O encolhimento do mundo, no entanto, deixou de fora alguns lugares.
Foram as comunidades carentes, que excluídas das ações da rede social global,
não contam com as facilidades oportunizadas pela tecnologia da informação.
Servem-se dos meios de comunicação de massa para fazer frente ao processo de
informação necessária.
Mas a realidade dos meios de comunicação social mostra que os meios
massivos oscilam, tão somente, entre “a hegemonia da televisão e a pluralização
funcionalizada do rádio” (Martín-Barbero, 2001, p. 261). São estes meios que
estão ao alcance das comunidades carentes. Rádio e TV são meios que povoam
as comunidades naquela profusão em que Martín-Barbero (2001, p. 261) revela: “
o dial dos aparelhos de rádio ficará saturado de emissoras mesmo em cidades
sem água corrente e os bairros de posseiros serão povoados por antenas de
televisão”.
São o rádio e a TV que levam informação às comunidades carentes. A
tecnologia da informação, com seus satélites, não populariza outros meios. São
meios que podem produzir mudanças. São tidos como motores do
desenvolvimento, “daí a importância estratégica que assume uma escola capaz,
55
hoje, de um uso criativo e crítico dos meios audiovisuais e das tecnologias
informáticas” (MARTÍN- BARBERO, 2003, p. 62).
Para Bucci é inegável o crescimento do setor da indústria televisiva e os
reflexos na população, mas não significa que isto ajude no desenvolvimento; pelo
contrário, ele acredita num processo inverso: “a importância da televisão numa
sociedade, atualmente, é diretamente proporcional às taxas de analfabetismo e de
subdesenvolvimento. A influência do veículo tende a ser maior na pobreza do que
na riqueza...” (BUCCI, 2000, p.15).
A televisão impõe, então, uma marca oficial e organiza a sociedade de
forma autoritária. Para Canclini, citado por Bucci (2000, p.36), “como posso me
informar” é uma das tantas perguntas que integram a realidade dos cidadãos; no
entanto, a resposta pode não satisfazer às necessidades, pois, acontece, mais por
intermédio dos meios de comunicação de massa, do que pela participação coletiva
em espaços públicos.
56
6 COMUNIDADES DE INFORMAÇÃO
Em Sergipe são raras as bibliotecas públicas, sejam, do Estado ou
municipais, como rara também é a presença do Estado nas escolas públicas
enquanto gestor da informação. A comunidade, de modo geral, conta com uma
pequena biblioteca municipal, quando o município insere-se na exceção, ou com
alguma biblioteca escolar, que mais se assemelha a uma sala de leitura, lugar
comum na oficialidade estatal da informação pública.
Assim, como senso comum, é a realidade das comunidades que,
organizadas no entorno da Universidade Federal de Sergipe, formam um
complexo de comunidades denominado de Grande Rosa Elze (GRE). Espremida
numa faixa territorial entre Aracaju, capital do Estado, e São Cristóvão, cidade que
faz parte do chamado Grande Aracaju, não dispõe de uma biblioteca pública, e a
disponibilidade dos recursos informacionais existe na presença da Biblioteca
Central da Universidade Federal de Sergipe (UFS), com perfil acadêmico e
científico. Além desta biblioteca de origem federal, a comunidade do GRE conta
com uma biblioteca escolar, pertencente à escola mais conhecida da região, a
Escola de 1º. Grau Armindo Guaraná, situada em terreno da Universidade, e não
em território comunitário.
A biblioteca escolar, citada acima, embora dada como realidade pela
comunidade, não passa de uma sala de leitura, que sequer vence as demandas
dos seus escolares. O que é fácil concluir que os comunitários, de modo geral,
aquele público heterogêneo, público específico de biblioteca pública, não dispõe
de um órgão público, seja estadual ou municipal, que lhe forneça informação.
As crianças e os jovens procuram o espaço da Universidade Federal de
Sergipe para usar a Biblioteca Central, sendo encaminhados ao setor de
referência, em busca de enciclopédias para as tradicionais pesquisas, e ao setor
específico da memória sergipana, para a realização de trabalhos escolares ligados
a cultura sergipana, com suas festas, folguedos e folclores. Configura-se a
procura pela Biblioteca Central da Universidade para suprir a ausência da
biblioteca escolar. Normalmente, o encargo de substituir a biblioteca escolar cabe
57
a biblioteca pública, na ausência desta, na região, este papel termina sendo
desempenhado pela biblioteca universitária. Já os adultos, sem a necessidade de
informação para o cumprimento de tarefas escolares, não precisam utilizar a
biblioteca da Universidade, e, por outro lado, ficam sem espaço de informação que
possam utilizar.
Vencer esta exclusão da demanda por informações em comunidades
carentes requer discutir a questão de forma abrangente: ver as concepções de
bibliotecas que, em princípio, são responsáveis por tais demandas e os conceitos
que se coadunam com tal tipo de informação.
Das bibliotecas, tem-se, em princípio, a noção do funcionamento tradicional,
com papéis sociais de preservação e difusão, sem considerar os papéis sociais da
seleção e da disseminação. Da informação, tem-se, em princípio, a noção da
comunicação formal, através da difusão das práticas biblioteconômicas. Aqui
repousa, então, a perspectiva da confirmação do conceito de informação e o
ensejo de um ponto de referência para disponibilização de tal informação: um
ambiente público propício à disseminação coletiva de informação para aqueles
que convivem em comunidades carentes, e, portanto, à margem de vários
benefícios da sociedade capitalista globalizada.
Embora cada época tenha contribuído para a evolução da Instituição, é
inegável que, independente de tempo e espaço, ela convive com os paradigmas
da conservação como princípio maior. Isso pode ser visto considerando-se a
Instituição desde o seu início até o tempo moderno, em que não faltaram
tentativas de alternativas para vencer o modelo conservacionista.
Muito embora a difusão tenha ocorrido a partir de determinado momento da
história do conhecimento, ocorre que até hoje, início do século 21, a instituição
biblioteca ainda não conseguiu atingir a eficiência na disseminação, tanto que se
tem perseguido alguns modelos de bibliotecas alternativas aos modelos existentes
(ALMEIDA JÚNIOR, 1997; MILANESI, 1990,1991,1997; OBATA, 1999). Ação
cultural, popular, comunitária ou interativa, todas as tentativas de quebra de
paradigmas buscam estabelecer um órgão público que tenha autonomia e
eficiência na difusão da informação.
58
Há que se observar que a evolução do modelo de biblioteca que saiu do
paradigma da conservação para o paradigma da difusão colaborou com a
estrutura da produção livreira, permitindo a reprodutibilidade dos materiais
impressos, e conseqüentemente a revelação de um novo público de leitores. No
entanto, foram pequenas as alterações no sentido de propiciar ao público o
conhecimento, visto que os modelos tradicionais continuam a se preocupar com a
preservação e a disseminação de materiais impressos de forma
predominantemente didática.
Mesmo se admitindo a idéia de que as bibliotecas existem para o público,
há uma segmentação que canaliza diferentes públicos para diferentes tipos de
bibliotecas. Assim, algumas bibliotecas farão uma mediação muito mais
satisfatória para os seus usuários, caso, principalmente das especializadas e
universitárias. Não se pode dizer a mesma coisa quando da mediação da
informação em uma biblioteca pública. Assim, elas existem para o público, mas
não necessariamente com a informação necessitada pelo usuário.
Busca-se, então, uma nova concepção de biblioteca que cubra uma parcela
importante da sociedade, aquela que, não tendo acesso à demanda de serviços
essenciais, é excluída da vida social. Observa-se, também, que embora alguns
autores teorizem sobre espaços alternativos (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, 2004;
MILANESI, 1990, 1991, 1997; OBATA, 1999), todos eles orientam seus modelos
alternativos tendo como base acervos constituídos. A diferença para os modelos
tradicionais é que ampliam a visão de direcionamento, já que buscam a
diversidade cultural e usos múltiplos.
Nesta pesquisa, a despeito de se discutir a necessidade de informação na
comunidade, não se discute a concepção de uma biblioteca com tendência para o
exercício da cidadania como se quis em determinado momento, com as
bibliotecas de grande poder de interação entre os espaços e a comunidade, mas a
concepção de um espaço estatal que permita a contemplação das necessidades
de informação dos comunitários, tratando, sim, do exercício de cidadania, mas
sem os dogmas tão propagados na segunda metade dos anos 1980 e na primeira
metade dos anos 1990 do século 20.
59
Ao poder público cabe promover os meios de inclusão social que
possibilitem a superação de desigualdades e a promoção do bem estar. Essa
postura política, concretizando-se, possibilitará uma nova situação para
comunidades carentes, uma população periférica, com reflexos no
desenvolvimento social que passa por uma concepção de conhecimento e
educação.
Esta inclusão consiste em garantir que o avanço das tecnologias de
informação e comunicação, resultante em grande número de aplicações, como o
ensino à distância, possa melhorar significativamente a qualidade de vida dos
cidadãos. Cabe ao poder público aproximá-las dos cidadãos para que se cumpra
o que é preconizado no Programa Sociedade da Informação no Brasil
(TAKAHASHI, 2000), caso contrário esse significado fica restrito aos cidadãos que
podem pagar bens e serviços das empresas que ganharam competitividade. É a
informação sendo dominada pelo mercado, que a vende aos cidadãos que têm
poder de compra.
A confirmação dessa dominação do mercado, cria um conjunto de
circunstâncias, com o qual teóricos e analistas do desenvolvimento social se
preocupam, ou seja, a de que as tecnologias da informação e comunicação, tanto
podem significar “oportunidade de redução de disparidades” quanto “risco de
agravamento da situação atual” (TAKAHASHI, 2000, p. 9). Assim, “ao sabor do
mercado, sem uma política que proporcione igualdade de oportunidades de
acesso a essas tecnologias, haverá concentração ainda maior da utilização dos
novos meios nas grandes empresas e segmentos sociais de renda mais elevada,
nos centros urbanos mais populosos” (TAKAHASHI, 2000, p. 9).
A Sociedade da Informação no Brasil, no seu programa, considera que “As
bibliotecas públicas, em particular, devido ao seu número, distribuição pelo País e
perfil de freqüência, são pontos especialmente importantes a considerar em uma
estratégia nacional” (TAKAHASHI, 2000, p. 64).
Quando da divulgação do documento sobre a Sociedade da Informação no
Brasil, no ano 2000, o País contava com 3.500 bibliotecas públicas em 3.288
municípios, com uma freqüência média de 750 visitas/mês por bibliotecas,
60
excluindo-se as das metrópoles com 1.500 visitas/dia. O documento Livro Verde
6
registra ainda a aquisição de livros na ordem de 1.460.000 no ano de 1997. Como
se reconhece, no documento, a freqüência às bibliotecas públicas é basicamente
de estudantes, o que reforça o que relata a literatura da área, que elas se
configuram como grandes bibliotecas escolares. E cria um viés de que esses
1.460.000 adquiridos, no ano de 1997
7
são em sua grande maioria didáticos.
Os números são extremamente modestos em termos de recursos para um
País que quer integrar uma Sociedade de Informação Mundial e que tem como
objetivo democratizar o acesso às tecnologias da informação e comunicação. Na
segunda metade da década de 1990 do século 20 foi estabelecido junto ao
Ministério da Cultura (MINC) o programa “Uma biblioteca em cada município”, ao
custo unitário de R$ 30 mil. Em quatro anos foram implantadas 687 bibliotecas,
uma média de 171 bibliotecas/ano, e um gasto um pouco acima dos R$ 5 milhões
por ano para algo cuja pretensão é tornar possível a prática do conhecimento.
Essas bibliotecas públicas, dotadas de conexão telefônica, são os pontos focais
para a capilarização do acesso às informações globais e a criação de conteúdos
locais.
Observa-se que os investimentos são mínimos para a proposta da
Sociedade da Informação no Brasil, principalmente quando se propõe criar
“mecanismos para a produção de conteúdos por parte da comunidade” e
promover “a igualdade de oportunidades de acesso às novas tecnologias”
(TAKAHASHI, 2000, p. 65). Esses dois aspectos são fundamentais para a
promoção do bem estar social, uma vez que as áreas carentes seriam
contempladas, numa tentativa de redução das desigualdades sociais, tanto no
acesso à informação, quanto na possibilidade de produção de conteúdos da
própria realidade.
6
Sob a responsabilidade do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), contém as metas
de implementação do Programa Sociedade da Informação e foi elaborado pelo Grupo de
Implantação do Programa sob a responsabilidade de Tadao Takahashi.
7
Considerando-se as 3.500 bibliotecas públicas funcionando, e admitindo-se a
distribuição eqüitativa, isso permite a incorporação de 417 livros/ano, ou 34 livros/mês em
cada biblioteca. Esse número torna-se volátil se for considerado o número de habitantes
do País, na casa de 170.000.000 (2000).
61
Há locais que simplesmente são esquecidos pelas forças dominantes,
excluindo pessoas e territórios, relegando-os a uma irrelevância estrutural; assim,
núcleos habitacionais vão surgindo e fazendo o seu próprio caminho. Um recorte
interessante para ser olhado quanto ao descuido governamental é na educação:
quantos têm níveis suficientes de leitura? Quantos fizeram o ensino formal?
A Era da Informação, que determina uma nova correlação de forças no
mundo globalizado, é indiretamente responsável por uma nova geografia política,
no momento em que a tecnologia provocou um novo modelo de capital. Para
Castells (2000, p. 194) “o que costumava ser chamado de Segundo Mundo (o
universo estatista) desintegrou-se, demonstrando-se incapaz de dominar as forças
da Era da Informação”. É simbólico o que relata o filme “Adeus Lênin”, de
Wolfganger Becker, 2003. Além de mostrar o controle da informação pelas
autoridades políticas que impediam o contato com o Ocidente; mostra um drama
particular em que a televisão é o principal veículo de informação. Quando a Sra.
Kenner desperta de um coma, o seu filho, Alexander Kenner, teme dar-lhe a
notícia da queda do muro de Berlim. Os problemas surgem quando ela pede para
por uma televisão no quarto em que está confinada.
Segundo CASTELLS (2000, p. 386) duas macro tendências caracterizam a
Era da Informação: uma é a globalização da economia, da tecnologia e da
comunicação, e a outra é a afirmação paralela da identidade enquanto fonte de
significado. Cria uma nova hierarquia social que tem como base a cultura como
fonte de poder e o poder como fonte de capital.
CASTELLS (2000, p. 427) advoga a tese de que a nova estrutura social é
uma sociedade em rede, onde a produção e o poder constituídos em rede
constroem “a cultura da virtualidade nos fluxos globais”. A ciência e a tecnologia,
cada vez mais inevitavelmente superiores, terminam por provocar situações de
descontrole social. No filme “Por um fio”, de Joel Schumacher, 2002, vê-se um
exemplo do descontrole da tecnologia, quando um cidadão é exposto e fica
indefensável frente aos avanços tecnológicos, perdendo totalmente a sua
individualidade. Ao atender a um telefone em uma cabine pública, Stu (Colin
Farrel) é vítima de chantagem. De dentro de uma cabine telefônica, ele vê sua
62
vida ruir a partir de suas ligações do celular. A sua vida invadida por um estranho
é resultado dos avanços da Tecnologia da Informação e da Comunicação.
A questão das liberdades individuais, segundo Bauman (1998, p. 251) se vê
comprometida pelo processo global que aprofunda a divisão entre as classes
sociais. Para ele a pobreza relativa dos excluídos está crescendo, e estes se
desesperam ao constatarem o aprofundamento da exclusão. A ausência do
Estado nas comunidades é o toque de Midas ao contrário. Uma outra ótica da
economia, com a substituição do emprego estabelecido pelos serviços
terceirizados e o corte nas despesas sociais, cresce inevitavelmente. Agravam-se
os problemas para fazer frente a serviços necessários como educação e saúde e
os seus inevitáveis desdobramentos em materiais e medicamentos. Os já
excluídos vão se isolando cada vez mais num sistema globalizante que aprofunda
a exclusão em detrimento da inclusão e os semi-excluídos são tangidos num novo
panorama, mais desesperador.
A constatação da situação de carência a que estão submetidas as
comunidades pesquisadas afastam os benefícios do processo de globalização
econômica. Mesmo se vivendo o impacto de uma sociedade tecnológica, o que
isto tem favorecido à vida prática das comunidades nessa época de
desenvolvimento tão proclamado?
Encontramos em “Mundo em descontrole: o que a globalização está
fazendo por nós” de Anthony Giddens (2000) argumentos para dizer que a
globalização nada está fazendo por nós. A hipótese de Karl Marx, de que o
mundo se tornaria mais estável e ordenado a partir do desenvolvimento e da
tecnologia, não se concretizou (GIDDENS, 2000, p. 14). Como os meios de
comunicação podem atuar para passar informações que ajudem as comunidades
carentes a entenderem os processos globalizados a que estão sujeitos?
A mídia, em particular a televisão, tem uma dupla relação com a
democracia. Por um lado [...] a emergência de uma sociedade
global da informação é uma poderosa força democratizante. Por
outro, a televisão e os outros meios de comunicação tendem a
destruir o próprio espaço público que abrem mediante uma
incansável banalização e personalização das questões políticas
(GIDDENS, 2000, p. 88).
63
Dois termos se tornariam conhecidos a partir dos anos 1970 do século 20:
sociedade da informação e tecnologia da informação. Briggs e Burke (2004, p.
193) relatam que bem antes, no século 17 e 18, a informação era geralmente
descrita como inteligência, e que o termo, derivado do latim, além de “relatar os
fatos”, significava “formar a mente”. Para os autores, entretanto, essa importância
(associação com a inteligência) ficava restrita a alguns círculos como os políticos e
científicos. Trinta e cinco anos depois, em pleno século 21, a realidade dessa
nova sociedade (Sociedade da Informação) não provocou mudanças tão
significativas em comunidades como as aqui apresentadas.
A informação é um processo essencial e necessário na vida de qualquer
comunidade. A ausência de condições mínimas de infra-estrutura coletiva sempre
foi um fator de enfrentamento. Nesse procedimento onde a comunidade
instrumenta-se para buscar soluções? Na biblioteca pública da comunidade? E
este órgão, formatado tradicionalmente, responde a essa demanda de
informação?
E quando este órgão público (biblioteca ou similar) não existe, como o
indivíduo terá suas necessidades atendidas? Sem a existência de um ponto
público de apoio, não terá respostas para suas questões, as informações não
passarão pelo fluxo informacional; não sendo selecionadas, irão se perder nos
canais informais, não serão indexadas e conseqüentemente não serão analisadas.
Como trabalhar as necessidades de informação sem a existência de uma
entidade que sirva como referência? Existe a necessidade de um ponto público
que atenda as demandas, as buscas por informação. Assim como o Estado
trabalha o registro e a preservação das suas decisões, o indivíduo necessita de
um órgão que sirva como apoio para seus atos.
O surgimento de uma biblioteca em uma borracharia na periferia de São
Paulo, que empresta livros para a comunidade, ou o caso da criação de uma
biblioteca em uma favela no Rio de Janeiro, formada por um pedreiro a partir de
livros que iriam para o lixo, são fatos que ensejam uma reflexão sobre a
importância e a necessidade da instituição de informação junto às comunidades.
Outras iniciativas do gênero têm acontecido como a “bibliojegue”, uma biblioteca
64
móvel em Alto Alegre do Pindaré, no Maranhão, ou as “bibliotecas em albergues”,
levando livros aos moradores de rua em São Paulo (DIMENSTEIN, 2006), ou,
ainda, como a “biblioteca da Ocupação Prestes Maia”, no centro de São Paulo
(PRÉDIO..., 2006).
A biblioteca pública, inicialmente tida como instituição voltada para eruditos,
intelectuais e literatos, consolidou-se como órgão voltado para um público maior
cumprindo funções de educação, instrução, formação, lazer e cultura para todos.
Convencionou-se, modernamente, que a ela compete oferecer oportunidades para
a melhoria de vida dos cidadãos, através dos seus acervos. Viu-se na
necessidade de reformular-se e buscar novas funções e com elas novos clientes.
A necessidade de reformulação passou pela criação de atendimento das
necessidades desses novos clientes.
O papel de organismo importante para a sociedade veio com o advento da
imprensa e o crescimento bibliográfico. Mais bibliotecas públicas surgiram. Vistas
como órgãos que contribuíram para a democratização das oportunidades sociais,
por meio dos instrumentos formais de educação e cultura, suas funções vêm se
ampliando. O conceito de órgão moderno está associado ao avanço tecnológico.
Há transformações em curso nas bibliotecas públicas. A própria evolução
social propõe transformações: por um lado, mudanças de ordem de conteúdo,
bibliotecas com informação social, subsidiando as práticas do cotidiano; por outro
lado, mudanças de ordem tecnológica, bibliotecas com informação especializada,
possibilitando a conexão com o mundo globalizado. No entanto, tais
transformações continuam distantes de vários segmentos da sociedade, e não
configuram efetivamente a mudança.
Tais mudanças implicam em oferecer oportunidades para melhoria de vida,
ou seja, ofertar informações que possibilitem ao cidadão a construção de um
padrão sócio-econômico melhor. Tal consideração se insere no princípio do
fundamento informador da biblioteca; isso, a partir da consideração de que a
informação é base para o desenvolvimento social.
Essas mudanças, com a perspectiva de integração social, pressupõe que a
informação seja contemplada em novos suportes documentais. Assim, o mais
65
famoso deles, o livro, ganha concorrentes. Para Henri-Jean Martim, citado por
Chartier (1994, p. 95), “o livro não exerce mais o poder que teve; ele não é mais o
mestre de nossos raciocínios ou de nossos sentimentos em face dos novos meios
de informação e de comunicação dos quais a partir de agora dispomos”. Estavam
em curso, à época, as mudanças de suporte da produção, transmissão e recepção
da informação, superando, mas não enterrando, os suportes tradicionais, o livro e
o periódico. A eletrônica assume o processo de mudança, e a biblioteca pública
não foi inserida na ação. Estava aquém, muito aquém de poder participar desse
processo .
A este respeito, Milanesi (1991), diz que as mudanças são lentas e
acontecem nas regiões mais desenvolvidas do País. No entanto, observe-se que
as mudanças a que ele se reporta são “algumas atividades pouco ortodoxas [...]
integradas na rotina de bibliotecas públicas – como ‘a hora do conto’ que
engendra até dramatizações com o público infantil. Exposições também são
freqüentes, bem como palestras” (MILANESI, 1991, p.169). Tais atividades não
revelam mudanças nas atitudes em relação ao usuário, mas oferecimento
diferenciado de serviços. O tempo e a ação dos bibliotecários dentro de uma nova
preparação acadêmica é que conduziram a tais posturas, da mesma forma como
a modernidade tecnológica levou para dentro das bibliotecas os novos suportes
documentais de informação (vídeo, DVD, PC, CDROM, etc.).
Esses novos suportes documentais abrem a perspectiva de novos
horizontes na biblioteca para o público usuário, como afirma Milanesi:
Como ponto fundamental, deve ser destacado que nela o público
não é um receptor passivo: ele pelo menos escolhe aquilo que
deseja ter entre centenas, milhares de possibilidades. A biblioteca
é um espaço informativo e deve ser sempre entendida assim
(MILANESI, 1986, p. 171).
Esses novos suportes vão criar milhares de possibilidades de informação, e
a biblioteca como espaço informativo tem um desafio, uma vez que “a informação
se desdobra ao infinito: novas ligações são descobertas e novidades são
anunciadas com uma freqüência e volume que praticamente nenhuma biblioteca
66
tem condições de cobrir” (MILANESI, 1986, p. 174). É com essa informação
infinita que deve se preocupar a biblioteca. Os estudantes, bem ou mal, têm sido
atendidos pela biblioteca pública; no entanto, o público potencial (aquele que pode
usar, mas não o faz) vê-se diminuído na transposição para público real, uma vez
que este último é assumido pelo perfil estudantil. Não por culpa do estudante,
mas de todo um processo em que a biblioteca pública não ocupou o seu espaço
como deveria.
É comum na literatura a representação da biblioteca pública como um órgão
leniente, apático, que se destina apenas à preservação dos documentos. Essa foi
a tônica da sua construção através dos tempos. Coletar, catalogar, classificar e
armazenar foram formas verbais assimiladas e difundidas durante longo tempo.
Selecionar e disseminar serão conjugados mais tardiamente (MILANESI, 1986).
O ato de informar, vinculado às bibliotecas, está diretamente ligado a
acervos que são disseminados ao público. A ótica da biblioteca: atender
demandas, disseminando documentos, que por sua vez contêm as informações.
Mas esses documentos contêm, de verdade, as necessidades de informação do
público? Essa é a questão que se coloca. Administrar o fluxo de informação seria
ir mais além do que a demarcação de conhecimento do acervo existente. Para
isso seria preciso estabelecer qual o objetivo de informar da biblioteca para com a
sua comunidade. Hoje, em essência, as bibliotecas não passam “na maioria, de
amontoados de livros velhos para uso de escolares obrigados a fazer aquilo que
se convencionou chamar pesquisa” (MILANESI, 1990, p. 74).
As bibliotecas, sujeitas à burocracia estatal, ficam presas a políticas
públicas que não contemplam as necessidades informacionais das áreas da
educação e da cultura. E as bibliotecas, as prestadoras de serviços de informação,
funcionam mais como repartições públicas e menos como instituições culturais.
Não é sem propósito que Milanesi (1990, p. 97) observa que “antes de juntar um
acervo com preocupações mais numéricas do que qualitativas, é necessário
averiguar quem estará entre os livros e o público e, inclusive, qual é a
necessidade que esse público tem de informação” .
67
É justamente a partir dos serviços e acervos que as mudanças podem ser
concretizadas. Os vários exemplos de bibliotecas comunitárias, ou alternativas, as
que trabalham especificamente com livros, como as da borracharia e dos
albergues, e do prédio ocupado, em São Paulo, a da favela, no Rio de Janeiro, ou
a móvel, no Maranhão, mostram essa necessidade de encontrar formas de
atuação que possam garantir a participação da comunidade, que possam contar
com a presença do público. Assim, quanto aos
serviços: existe a necessidade de ações que contextualizem a informação
além do conhecimento formal exposto em documentos;
acervos: existe a necessidade de refletir de forma crítica as aspirações da
comunidade, estabelecendo uma relação de compreensão entre as
instituições e o usuário.
Essas mudanças não acontecerão sozinhas, mas acompanhadas de uma
política de informação valorizando o usuário e não o suporte informacional. As
transformações de ordem social, ocorridas nas décadas de 1980 e 1990 do século
20, valorizaram os canais de difusão com conteúdos sociais, sem, no entanto,
exibir a mesma valorização dos usuários de tais canais. Isso se evidencia a partir
das experiências com as bibliotecas alternativas, quando algumas práticas,
embora dedicadas aos seus usuários, na verdade, priorizavam os processos da
preservação documental (ALMEIDA JÚNIOR, 1997). Mais adiante, o processo
tecnológico, que inicialmente encantou a todos, não deixou espaço para atitudes
que tornassem o usuário um ator dos procedimentos, e este continuou como
usuário espectador dentro do processo de uma biblioteca tradicional.
É conhecida a dificuldade que o publico/usuário tem em conseguir a
informação desejada na biblioteca pública. Imaginar que a biblioteca tenha
sempre a informação desejada é supor privilégios em uma sociedade que tem
dificuldade em entender os problemas dos órgãos públicos, ou os aspectos da sua
necessidade cultural (leitura, informação, comunicação) que deveria ser atendida
pelo Estado.
68
Hoje “a informação é elemento essencial estratégico para produzir e
aprofundar o conhecimento sobre problemas e adequar intervenções visando a
sua solução” (DRUMOND JÚNIOR, 2002, p.7). Dessa forma, pode-se pensar na
importância da informação para o conhecimento da realidade na sociedade. A
esse respeito, Drumond Júnior afirma que:
Ninguém mais, de boa fé, discute a necessidade delas. Há, é
verdade, muita confusão, muita idéia falsa, muito conceito errado.
Tudo isso é normal. A própria noção da utilidade das bibliotecas
progrediu muito devagar através dos tempos” [...] o que
precisamos é criar e organizar bibliotecas modernas, equipadas
para atender não somente ao povo ou às elites, mas a todo
cidadão.” [...] “Como esperar que elas sejam utilizadas se estão
instaladas sem o menor conforto para os leitores; se não possuem
catálogos modernos, que facilitem a procura dos livros; se não têm
dinheiro para a compra do que aparece; se não dispõem de
pessoal habilitado, capaz de orientar o consulente; se nada fazem
para atrair o público?” (DRUMOND JÚNIOR, 2002, p.15, 17, 28).
Numa época em que se preconiza a ‘Sociedade da Informação’, em que a
gestão do conhecimento torna-se a norma, a escola como fundamento é o padrão
que exige acessórios cada vez maiores. A escola é uma passagem que
descortina o mundo. Assim, cada vez mais, faz-se necessário o desenvolvimento
de outras capacidades como conhecimento de mundo, em que a biblioteca pública
terá um papel importante.
Na verdade, a acepção do termo conhecimento foi se distendendo à medida
que novos suportes documentais foram surgindo. Assim, o conhecimento
tradicionalmente buscado em livros passou a ter outros suportes complementares
(diapositivos, slides, filmes, etc.). Os conceitos de informação em biblioteca,
então, passaram a ser revistos e sofrer mudanças.
Contudo, no geral, a maioria das atividades desenvolvidas é tradicional,
cumprindo funções da informação impressa. A informação disponível cristaliza-se
no acervo livreiro, o caminho mais curto e previsível do atendimento ao usuário.
Se a biblioteca não tem a informação que o usuário necessita, deve, então,
indicar-lhe caminhos, indicar lugares em que o usuário possa satisfazer tal
necessidade. Para isso precisaria dispor de recursos tecnológicos que
69
permitissem, por meio de equipamentos, consultas on line a outros órgãos
públicos e privados. É um outro tipo de biblioteca ou um órgão similar, um órgão
oficial gestor de informação pública, um centro de informação que atenda
demandas requeridas e discuta a comunicação das informações.
É inegável o papel que a informação tem desempenhado na sociedade em
termos econômico, social e cultural. O mundo em mudança tem provocado
desenvolvimento de diferentes países em suas economias e modos de vida social.
Essas mudanças têm exigido um processo qualificado de informações, criando-se
assim uma sociedade globalizada em informação: a sociedade da informação
(MOORE, 1999).
Tal sociedade tem se configurado baseada em três características: a
informação como recurso econômico; a ampliação do número de usuários em
informação; e a satisfação da demanda de meios e serviços de informação
(MOORE, 1999).
Ao preconizar que a sociedade passou a viver uma nova era a Era da
Informação, a comunidade científica e os meios de comunicação criaram uma
nova sociedade, a Sociedade da Informação. No entanto, o que se preconiza para
essa Sociedade não a atinge igualitariamente, posto que o conjunto de ações
ocorre com o pensamento no mercado, na tecnologia da informação. Com isso,
posterga-se o princípio maior que deveria estar associado a essa nova Era:
informar. No momento em que a revolução se processa dentro de um conjunto
tecnológico com a informação custando caro, pelos custos de investimento em
novas tecnologias, diminuem as oportunidades para que a sociedade, como um
todo, possa beneficiar-se.
Ao pensar-se numa sociedade informacional, com características de
informatizada, pensou-se no mundo dos negócios. Entretanto, é preciso que se
pense nas realidades sociais de uma globalização tão desigual. Como adverte
Davenport (1998, p. 12), é preciso levar em consideração o ambiente da
informação como um todo, levar em conta “os valores e as crenças empresariais
(cultura); como as pessoas realmente usam a informação e o que fazem com ela
(comportamento e processos de trabalho)...”. Mais que isso, é preciso considerar
70
os valores e as crenças comunitárias, também, uma preocupação com a cultura.
O comportamento e os processos de trabalho, preocupação de Davenport, são os
equacionadores da situação, posto que só a abordagem administrativa com a
perspectiva de negócios não determinará a Sociedade da Informação, quando
muito o mundo dos negócios da Informação.
A parafernália tecnológica, surgida e implantada em nossa época,
como fruto da maior e mais veloz revolução técnico-científica, não
veio exatamente nos ajudar a decifrar os enigmas e a explorar
nossos potenciais de criatividade e lucidez. Veio, bem mais, nos
entreter, amansar, resignar, enquadrar, simplificar, amesquinhar,
entulhando-nos de mesmice, mau gosto, brutalidade,
mediocridade, pobreza intelectual, incapacidade de pensar o
abstrato, emoções e instintos primitivos, num avassalador
supermercado de desumanidades e enganosas quinquilharias”
(MONSERRAT FILHO, 1994, p .97).
Neste sentido, os discursos e as práticas da informação no contexto da
modernidade, vislumbram uma divisão de classes operada no poder econômico.
Assim, os que possuem capital têm acesso à cultura oficial, e os que não têm
capital, os excluídos, não possuem os meios e os canais de expressões e
disseminação das suas concepções de mundo (MARTELETO, 1994).
Para Marteleto, a informação possui um caráter normativo, um valor de
referência cultural, sendo assim,
[...] a informação representa o elemento mediador das práticas,
das representações e das relações entre os agentes sociais, por
um lado. Por outro lado, ela constitui hoje mais uma maneira de
lidar com a realidade, do que propriamente um elemento estanque,
ou registro da tradição (MARTELETO, 1994, p. 133).
A expansão do capitalismo, a organização mínima de Estado e o progresso
científico e tecnológico vão criar uma idéia de informação que assume um caráter
público. Entretanto, o que se esperava do avanço tecnológico (através da
modernização e da aplicação da racionalidade instrumental) e do nivelamento da
informação (pela abrangência do setor educacional, modernização e ampliação
dos meios de comunicação – sobretudo a imprensa), responsáveis pelo progresso
e pela paz, não se realiza (MARTELETO, 1994).
71
7 COMUNIDADES CARENTES E A NÃO-INFORMAÇÃO
As diferenças sociais estão postas. Basta percorrer as ruas de terra batida
(na sua maioria) e mal iluminadas do Grande Rosa Elze, para perceber que elas
estão presentes. Presentes como um todo, em toda a região, e mais
acentuadamente de modo específico em algumas localidades da região. Assim se
processam as diferenças, as diferenças entre os iguais. Para Bauman (1998, p.
193) “as diferenças nascem quando a razão não está inteiramente desperta ou
voltou a adormecer”.
A análise de Bauman se sustenta na perspectiva de existência das
comunidades desde sempre e se dá em torno das comunidades sociais das
minorias, dos grupos de iguais. Entretanto, o discurso pode ser associado
também ao conjunto, ao coletivo, independente das comunidades das escolhas
individuais. Assim, como estas (as comunidades de escolhas individuais) as
outras (as comunidades coletivas de excluídos socialmente) precisam ser
defendidas para sobreviver (BAUMAN, 1998).
Segundo Girard, citado por Bauman (1998, p. 223), “o nascimento da
comunidade é antes e acima de tudo um ato de separação”. O texto de Bauman
trata de comunidades minoritárias e se centra nas questões de gênero e das
etnias. No entanto, trazendo para o corpus deste trabalho e apropriando-se da
teoria ensaiada, as comunidades, a exemplo das analisadas neste trabalho, são
minorias segregadas do urbano. A instalação do Campus da Universidade
Federal de Sergipe em área rural, que terminou se transformando em área urbana,
e posteriormente em grande aglomerado populacional denominado de Grande
Rosa Elze, é a separação do urbano civilizado, quando se pensou na
metropolização de Aracaju para desafogar o seu centro.
Assim, como as comunidades étnicas ficam à mercê de estranhos, na falta
de “fundamentos institucionais confiáveis”, as comunidades urbanas, dentro da
sua diversidade, enfrentam dificuldades pela participação na comunidade não ser
predeterminada ou institucionalizada (BAUMAN, 1998, p. 224). As comunidades
urbanas, tipo Grande Rosa Elze, são segregadas, separadas pela ordem
72
financeira, diferentemente das analisadas por Bauman, que são minorias de
gênero e raça ou etnias.
O que as comunidades precisam acompanhar para inserirem-se na
Sociedade da Informação diz respeito ao desenvolvimento econômico e à
mudança tecnológica. Há uma mudança na forma de pensar a economia, e o
setor terciário tem avançado no mundo como um todo, orientado pela forma com
que a informação está sendo tratada e disseminada devido às tecnologias da
informação e das comunicações.
Essas tecnologias da informação e das comunicações terminam por criar
redes de conexão com a perspectiva de integração social. Essas redes estão
espalhadas globalmente seja geográfica, política ou economicamente o que
constitui uma nova morfologia social das sociedades em que vivemos
(CASTELLS, 1999, p. 497). Com o ritmo globalizado a economia se processa de
forma informacional, ou seja, instituições e governos dependem da capacidade
que cada um tem de “gerar, processar e aplicar de forma eficiente a informação
baseada em conhecimentos” (CASTELLS, 1999, p. 87).
Ainda de acordo com Castells (1999, p. 497) a difusão das redes modifica
“de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de
experiência, poder e cultura”. Então, em qualquer comunidade tais pressupostos,
em princípio, são validados tomando-se como premissa que esse novo modelo (a
nova morfologia social) “fornece a base material para sua expansão penetrante
em toda a estrutura social” (CASTELLS, 1999, p. 497).
Essa nova forma de vida social, explorando as diferenças locais, com o
global interferindo no local, cria novas identificações globais e novas identificações
locais, mexendo na questão da identidade que está presente nas questões
comunitárias como uma discussão do indivíduo moderno (HALL, 1997;
CASTELLS, 2000; BAUMAN, 1999). Os autores mencionados identificam o
surgimento de novas identidades acompanhando um mundo também novo,
moderno, globalizado. Estabelece-se uma crise de identidade desestabilizando as
estruturas até então estáveis no mundo. Existe um deslocamento do indivíduo do
seu lugar no mundo social e cultural que constitui esta crise (HALL, 1997).
73
Stuart Hall estabelece uma concepção de identidade que parte do sujeito do
iluminismo (voltado para si mesmo) passando pelo sujeito sociológico (que se
relaciona com outros), chegando ao sujeito pós-moderno (fragmentado, composto
de várias identidades que compõem a nova sociedade). Uma sociedade de
mudança constante, rápida, abrangente, contínua, que tem, segundo Giddens,
citado por Hall (1997, p.16) as práticas “constantemente examinadas e reformadas
à luz das informações recebidas sobre aquelas próprias práticas, alterando assim,
constitutivamente, seu caráter”. (grifo nosso).
A identidade nacional não nasce com o sujeito, mas forma-se com ele, e
transforma-se no interior de representações. A representação diz respeito ao
conjunto de significados da cultura nacional. As comunidades, assim como a
Nação, são simbólicas, o que explica o “poder para gerar um sentimento de
identidade e lealdade” (SCHWARZ citado por HALL, 1997, p. 53). A identidade e
lealdade estão simbolicamente representadas nas entidades sociais, que lutam no
cotidiano comunitário, que são as associações de moradores de bairros.
E como é construída essa identidade nacional? Para Hall (1977, p. 56-60),
a partir da inclusão de cinco elementos principais:
1 - pela narrativa da ação: representação das experiências partilhadas
(estórias, imagens, cenários, eventos históricos, símbolos e rituais) – ênfase na
continuidade (tradição e herança);
2 - ênfase nas origens, na continuidade, na tradição e na intemporalidade;
3 -invenção da tradição: conjunto de práticas (ritual ou simbólica) que
buscam inculcar certos valores e normas de comportamentos através da
repetição;
4 - mito fundacional: origem da nação, do povo e de seu caráter nacional
num passado distante;
5 - a idéia de um povo puro, original.
O discurso da cultura nacional constrói identidades de modo ambíguo, entre
o passado e o futuro. É o equilíbrio entre glórias passadas e o avanço em direção
à modernidade (HALL, 1997, p. 61). A questão é saber se a cultura e a identidade
74
nacionais são realmente unificadas. Hall (1997, p. 63) citando Renan, diz que, se
unificadas, então fazem a “comunidade imaginada”, sustentada em três conceitos:
1º - as memórias do passado;
2º - o desejo por viver em conjunto;
3º - a perpetuação da herança.
Hall (1997, p. 71), citando McGrew, refere-se à globalização como
“processos atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais,
integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de
espaço-tempo, tornando o mundo em realidade e em experiência, mais
interconectado”, mas adverte que “as identidades nacionais e outras identidades
locais ou particularistas estão sendo reforçadas pela resistência à globalização”
(Hall, 1997, p. 73).
Considerando-se a comunidade do Grande Rosa Elze, o sonho da
sociedade em rede da tecnologia da informação e das comunicações ainda não se
concretizou, pois a interconexão não é realidade. Sujeita ao processo de
comunicação de massa, ela tem sua cultura moldada por uma lógica de redes
que, segundo Castells, “modifica de forma substancial a operação e os resultados
dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura” (1999, p. 497). É o
processo de comunicação que molda a cultura, que não deixa ver a realidade
como ela é, mas do ponto de vista das linguagens, que são mídias que constituem
metáforas que criam o conteúdo da cultura (CASTELLS, 1999).
Essa interferência na cultura das comunidades, deslocando-as para uma
cultura globalizada, pode ser originada no que Castells (1999, p. 356) denomina
de “a síndrome do menor esforço que poderá explicar a penetrabilidade da
comunicação pela TV no cenário mundial”. Esse esforço mínimo se consolida
“porque a TV apela à mente associativa/lírica não envolvendo o esforço
psicológico da recuperação e análise da informação...” (CASTELLS, 1999, p. 357).
Para Postman, citado por Castells (1999, p. 357) a “TV é mais adequada para
conversações casuais”, diferente da mídia impressa que sistematiza as
informações:
75
Possivelmente, a tipografia tem a tendência mais forte para a
elucidação: capacidade sofisticada de pensar de maneira
conceitual, dedutiva e seqüencial; alta valorização da razão e
ordem; aversão à contradição; grande capacidade de
desligamento e objetividade; e tolerância à resposta atrasada
(Postman, apud CASTELLS, 1999, p.357).
É evidente que a tecnologia desenvolvida e aplicada na televisão a cabo
não alcançou as comunidades carentes similares às aqui apresentadas neste
estudo; não houve uma segmentação de público conforme se desejou, e a
audiência televisiva continua massificada em rede aberta. Uma confirmação disso
se dá na pesquisa aplicada no Grande Rosa Elze, quando as 68 pessoas que
responderam ao questionário disseram ter aparelho de televisão, enquanto que só
uma deles informou ter TV a cabo. Embora não exista levantamento oficial da
recepção de TV a cabo no município de São Cristóvão, dos 15.830 domicílios
existentes, 13.845 possuem aparelho de televisão (INSTITTUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2001).
A lógica de que a TV de longo alcance, antenas parabólicas e TV a cabo,
permitindo novas opções de informação possibilitaria uma nova forma de
audiência, aproximando-se dos excluídos, é contraditória com a lógica de
mercado, com o qual cada vez mais a televisão como um todo se vê envolvida.
Castells (1999, p. 365) mostra como os investimentos se tornaram “generosos no
campo das comunicações com a formação de megagrupos e alianças estratégicas
para conseguir fatias de um mercado em completa transformação”. A formação
desses megagrupos impôs derrota ao setor público com ganhos visíveis da
iniciativa privada: na França o TF1 foi privatizado; na Espanha a TV privada
passou a dominar o mercado, assim como na Rússia; no Japão as redes privadas
fazem frente à rede pública; e no Reino Unido a BBC começa a privatizar parte de
seu negócio público. A televisão torna-se mais comercial e mais oligopolista
globalmente (CASTELLS, 1999, p. 365).
Isso faz com que as redes discutam a globalização pensando nos
interesses de mercado. Enquanto isso, as comunidades carentes continuam
excluídas do processo de globalização, uma vez que não participam das
oportunidades possibilitadas pela comunicação eletrônica. Essa via tecnológica,
76
mundialmente articulada, é uma ferramenta de poder incrustada nos meios
econômicos e sociais mais desenvolvidos.
Desse modo, as comunidades carentes, excluídas desse mundo eletrônico
globalizado, ficam dependentes da atuação do Estado com a iniciativa de políticas
públicas, que manifestem apoio à importância da informação nas comunidades
carentes.
Definindo-se comunidade a partir de uma célula da nação e tomando o
conceito de nação exposto por Castells (2000b, p. 69), tem-se, então, que a
comunidade é construída a partir de um coletivo de pessoas em busca de
pressupostos de igualdade social. Busca-se, com a formação de comunidades e
suas representações de moradores, discutir um projeto social fundamentado na
nova Era da Informação em que direitos de igualdade se sobressaem na esfera
global. Na verdade se constituem em células locais, que com suas características
culturais específicas almejam o compartilhamento político independente de
partidos. No entanto, a prática, inevitavelmente, leva ao atrelamento político,
como acontece com as comunidades do Grande Rosa Elze, conforme
depoimentos de líderes das associações comunitárias (APÊNDICE C, p.158).
Nas comunidades estão os grupos articulados em associações de
comunitários sujeitos ao conjunto de metas que Castells (2000b) sugere para os
movimentos urbanos, que são as necessidades urbanas de condições de vida e
consumo coletivo, a afirmação da identidade cultural local e a participação na
qualidade de cidadãos. Exclui-se a conquista da autonomia política, pois isto não
é objetivo a ser alcançado pelas comunidades de moradores. Na verdade, existe
a sujeição a partidos políticos, e, portanto, a necessidade de autonomia desse
processo de apêndice, mas não de autonomia política. As comunidades, ao
ressentirem-se da ausência de políticas públicas, vêem nas associações a solução
de suas necessidades.
Para Castells (2000) a desigualdade está presente na sociedade quando
renda e bens são apropriados de forma a estabelecer diferencial entre indivíduos e
grupos sociais que interagem entre si. Têm-se, então, as comunidades
mergulhadas na pobreza, que Castells (2000, p. 96) conceitua como o conjunto
77
que vive com recursos que não permitem atingir um padrão de vida mínimo para a
sociedade.
A exclusão social por sua vez não quer dizer que atinja a miséria – pobreza
extrema. Ela está associada à “tendência comum de se excluir permanentemente
determinados segmentos da população dos mercados de trabalho formais”
(CASTELLS, 2000, p. 97). Além disso, a exclusão social é resultado de políticas
públicas que apenas criam condições mínimas de serviços, de forma que não
conseguem suprir o que a diferenciação na distribuição de renda provoca ao
cidadão excluído.
A presença do Estado em áreas excluídas pela diferenciação na
distribuição da riqueza oportunizaria fluxos de informação através da infra-
estrutura tecnológica básica que permite a comunicação na Era da Informação.
Essa comunicação se revela fundamental nos processos de produção e consumo
atuais, e, portanto, não existindo, “resulta em uma geografia extremamente
irregular de exclusão e inclusão territorial/social, que desabilita grandes
segmentos da população...” (CASTELLS, 2000, p. 99).
Castells, em sua análise sobre o sistema de exclusão social (tomando como
exemplo os guetos dos centros de cidades norte-americanas) culpa o Estado por
sua crise que ele denomina de crise do “Estado do bem-estar-social”, que seria a
responsável pela inclusão dessas minorias, sustentando programas sociais
urbanos e políticos de condições sociais, econômicas e habitacionais. Não há
como negar que o Estado vem reduzindo os seus quadros de funcionalismo
público dentro de uma proposta de Estado mínimo, e, por conseguinte, tem-se o
encolhimento da oferta de serviços sociais e de empregos no setor público.
Nessa rotina da exclusão, as comunidades, mesmo presentes no mercado
de trabalho, ocupam postos cada vez mais terceirizados. Além disso, migram
para o campo da informalidade. Para Castells (2000, p. 421) tal situação gera
“crises profundas na vida familiar: perda temporária de emprego, crises pessoais,
doença, vícios em drogas/álcool, perda de empregabilidade, perda de bens, perda
de crédito”.
78
Então, quais os possíveis recursos, quais os meios (de informação) que as
pessoas possuem para enfrentar a realidade do cotidiano de comunidades
carentes? Associa-se sempre essa contribuição com a essencialidade do
processo de informação de rompimento com a exclusão e na busca de um
equilíbrio econômico e social. Alguns estudos demonstram que a informação é
importante para superar a marginalização sócio-econômica. É o caso específico
de um “Projeto de cidadania do povo negro” que tem necessidade de informação
para uso em práticas sociais e pelo resgate da cidadania. Para os autores do
projeto “o acesso à informação é um pré-requisito para o alcance da cidadania”
(PIMENTA,1991, p. 1108).
Embora o parágrafo acima seja o recorte de uso de informação em uma
comunidade específica, a formação de uma comunidade acontece, quase sempre,
dependente da existência de dificuldades infra-estruturais; portanto, ela se faz com
a luta para diminuir dificuldades associadas a fatores sociais e econômicos,
principalmente. A diversidade da população que se estabelece com grupos
heterogêneos e diferença de caracterizações cria conflitos e necessidades que
precisam ser equacionados, inicialmente associados a questões elementares
como saúde, saneamento, habitação, educação, entre outras. No entanto, um tipo
de necessidade se sobrepõe aos outros: a de informação.
Supõe-se habitualmente que a informação disponível, a ofertada, constrói o
conhecimento. De fato, essa é a condição para qual existem os acervos formados
a partir de aquisições com base no mercado editorial. Milanesi (1986, p. 236)
questiona: se uma biblioteca pública mostra bons serviços, a população passa a
servir-se dela como uma necessidade? Sim, mas para satisfazer necessidades
que ela não criou, responde. Então, quais necessidades devem ser criadas? A
discussão passa a centrar-se na construção da informação antes da construção
do conhecimento.
Não se pode falar em demanda de informação numa comunidade que não
tem um órgão público que trabalhe a informação como serviço. Assim, para que
aconteça a demanda há que existir a oferta. Deve haver um fluxo de informação,
onde acontece o consumo. Então, o correto é a necessidade de informação num
79
contexto onde a circulação da informação e/ou a transferência de informação
assume o papel mais importante.
Constatada a importância, a informação passou a ser vista e analisada
dentro de modelos nem sempre úteis à comunidade. A produção da informação
com seus ciclos sempre estáveis - coleta de dados, armazenamento/recuperação
de dados, processamento de dados, interpretação ou produção da informação e
finalmente a decodificação - não parece servir de modelo para disseminar
informações em uma comunidade que não tem como objetivo da informação o
desenvolvimento de pesquisas e trabalhos práticos. As necessidades por
informação processam-se, quer parecer, de outro modo, atendendo outro objetivo.
Esse modelo, que é tradicional da comunicação, segundo José Teixeira
Coelho Neto (1978, p. 29), “é um fracasso total em virtude de uma natureza
paternalista”. Mas a produção de informação tal qual proposta e executada, que
vai da coleta de dados à disseminação, da fonte ao receptor, acontece quando
existe um órgão público que permite a concretização do modelo. Para Coelho
Neto, as reais necessidades (de informação) das pessoas devem ser atendidas
num processo de comunicação em que o receptor busca a fonte e não se sujeita a
ela.
Há que se entender, entretanto, que os serviços públicos de informação,
quando existem, não são alcançados por boa parte da população em virtude dos
índices de analfabetismo e baixa escolaridade. Os serviços de informação são,
geralmente, preparados para letrados, se não atentarmos ainda para outro fato
excludente que é a questão dos suportes – mormente a comunidade excluída não
ter conhecimento de equipamentos muitas vezes demasiadamente sofisticados. A
presença do Estado se dá através de investimento em infra-estrutura (água,
energia, esgoto, telefonia, entre outros) bem como serviços de informação.
Sempre carentes, os serviços de expansão do setor público não diferenciam os
serviços tradicionais dos mais modernos, como a informação – mesmo sendo
considerada como atividade essencial da sociedade informatizada.
O período é de incertezas. Mudanças rápidas e profundas têm acontecido
no mundo. O desenvolvimento social busca soluções. Informação passa a ser
80
negócio. O desenvolvimento industrial acelera-se e o social não o acompanha.
Vive-se uma realidade em que surge “uma nueva revolución cultural, económica y
social, caracterizada por câmbios violentos, adelantos científicos-tecnológicos, y
uma competitiva economia mundial” (MORALES, 1990, p. 230).
Os técnicos que trabalham com a informação dão-se conta de que os
sistemas devem ser cada vez mais apropriados para essa nova realidade. Pensa-
se em informação no nicho de sistema para enfrentar a globalização. No entanto,
não permeiam o assunto informação com análises de problemáticas de ordem
social. Estruturas técnico-científica e industrial, tendo como base a informação
tratada no bojo da transferência, não são equilibradas com estruturas de natureza
de informação e cultura, levando-se em conta as necessidades de informação
para vencer as contradições do desenvolvimento impostas pela globalização.
Nesse sentido, é importante a presença institucional pública para
disseminação da informação. Assim, a existência de um órgão público em
comunidades carentes cumpre a função social de propor produtos e serviços em
informação. Isto porque a necessidade de informação não é estanque e apresenta
diversidade numa mesma comunidade; são públicos diferentes que buscam
informações diferentes, de áreas de conhecimento diferentes, com dados,
aspectos e particularidades diferentes. À medida que as necessidades vão
surgindo, o cidadão se vê na situação de procurar formas de atender tais
demandas. A população estaria interessada em reivindicar as condições mínimas
de infra-estrutura coletiva: água, luz, transporte, posto de saúde, escola. A
biblioteca pública, por essência a responsável por informação pública, não faz
parte dessa essencialidade. O setor público, por sua vez, estaria interessado em
responder às demandas exigidas, normalmente às de infra-estrutura.
81
8 NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO
No ano de 1988 a Universidade Federal de Sergipe incluiu na sua proposta
para o desenvolvimento do Campus a criação de uma biblioteca comunitária. O
projeto previa a construção de uma biblioteca que atendesse as necessidades de
informação das comunidades circunvizinhas. No entanto, quando construída, a
biblioteca, embora denominada Biblioteca Comunitária (BICOM), revelou-se uma
biblioteca escolar dentro do Colégio de Aplicação (CODAP). É de uso restrito aos
alunos do Colégio.
A UFS pretendia resolver a situação da informação na região, detectada já
no início da década de 1980, quando da chegada da Instituição, pela presença
constante de escolares pesquisando na Biblioteca Central. À necessidade de
informação acadêmica para a produção de conhecimento vem somar-se outra
necessidade a de cunho social para a subsistência.
Ao abordar-se a questão da necessidade de informação do ponto de vista
teórico sente-se a ausência do Estado como responsável pelo serviço público de
informação. Oficialmente tal serviço se processa num órgão cultural, que é a
biblioteca pública. Diante da constatação, faz-se necessário que se proceda a
uma análise do ponto de vista da prática atual das bibliotecas responsáveis pelas
demandas públicas e como atendem as necessidades de informação das
comunidades.
É de se supor que, ao serem construídas, as bibliotecas públicas atendem a
uma necessidade social. Não fosse assim, não deveriam os governos gastar
dinheiro com uma construção inútil. Então, o que se imagina é que, à época, ao
serem criadas, as bibliotecas públicas têm importância para a sociedade, à luz da
decisão para as autoridades do Estado. Em princípio é uma decisão tomada
como uma medida de apoio educacional, mas integrando um projeto maior que
seria elevar o padrão cultural da sociedade, ora servindo como apêndice da rede
de educação, ora funcionando como um pilar da cultura do povo.
Observando-se as funções da biblioteca pública, constata-se o caráter
educativo da mesma: desenvolvimento da educação formal através do apoio às
82
atividades educacionais e a satisfação das necessidades educacionais se revela
como a função maior da biblioteca pública. A confusão na prestação de serviços
estaria na própria essência da sustentabilidade financeira de origem
governamental e, portanto não excludente de segmentos. Iguíniz, citado por
Litton, assim define biblioteca pública: “Instituição de caráter popular e livre,
destinada aos habitantes de uma localidade, distrito ou região, e sustentada por
verbas do governo ou da comunidade”. (LITTON, 1975, p. 58).
Embora continuando a ter o estudante como cliente potencial, a biblioteca
pública começou a se preocupar com um atendimento diferenciado, pensando na
totalidade da comunidade. Novas prioridades e novos serviços foram se
estabelecendo. Venceu-se a etapa estática da perspectiva educacional e buscou-
se acoplar a esta o social. Era preciso estabelecer um público maior que o de
estudantes. Crianças, donas de casas, operários, aposentados, entre outros,
passaram a ser objetos de atenção. Fazia-se necessário construir uma nova
imagem. Mais do que uma instituição educativa, era preciso consolidar-se como
uma instituição cultural que valorizasse um coletivo social.
Apesar disso, os bibliotecários continuam elegendo como preocupação
primeira o funcionamento da biblioteca e o atendimento das demandas quase
sempre ligadas à área educacional. Atendimento que precisa ser ampliado por
uma preocupação formal com a questão sócio-cultural e por complemento com a
informação para as necessidades do cidadão. Esta questão tem forte
relacionamento com a existência de bibliotecas públicas. Em tese, são
responsáveis por informações que podem ajudar no processo de construção de
uma sociedade fortalecida pela complexa estrutura burocrática.
Nesse processo sobressai-se um produto: informação, que está a
disposição dos usuários. Com o produto disponível estabelece-se o problema: a
biblioteca pública trabalha atendendo demanda ou criando demanda? A primeira
alternativa diz respeito ao que lá está posto e não satisfez o usuário; a segunda
não é realidade, mas ao se concretizar, poderá satisfazer o usuário.
A primeira concepção de serviço (atendimento da demanda) é fácil, no
entendimento de Milanesi (1997, p. 228), pois “ela é pequena e, quase sempre,
83
não ultrapassa as condições de serviço em oferta”. Em contrapartida, não há uma
necessidade latente, e a biblioteca pública não é vista como um órgão para suprir
necessidade de informação. “O público adulto, quase sempre, também busca a
biblioteca compulsoriamente: há uma tarefa e não uma necessidade pessoal”
(MILANESI, 1997, p. 229).
A esse respeito, Almeida Júnior (1997, p. 12) vê com dificuldade a solução
do problema, mesmo porque para ele não existe uma referência sobre o assunto,
seja ela de ordem teórica ou prática:
Qual ou quais, na verdade, dentro dos trabalhos das bibliotecas
populares, são as contribuições para uma melhor adequação
entre as necessidades informacionais da população e a atuação
das bibliotecas atuais? Quase nada pode ser encontrado na
literatura biblioteconômica que, clara e diretamente, responda a
essa indagação”. (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p.12).
Trata-se, então, da análise de uma biblioteca tradicional que, inserida num
determinado contexto social, tenta entender qual o modelo de atendimento que
possa suprir as necessidades de informação da comunidade, tendo-se em vista
que alguns tipos de bibliotecas tentaram preencher essa lacuna e não
conseguiram.
Para Figueiredo (1979, p. 74) os estudos que tentam estabelecer o uso da
biblioteca, quem a usa e para que, já estão esgotados. A se pensar em estudar o
não uso da biblioteca, ou seja, a demanda reprimida, depara-se com a escassez
de literatura na área, está tudo por fazer. Como avalia Figueiredo, a questão não
é quanto uso é feito, mas quem são os usuários, que uso é feito, que informação o
cidadão encontra na biblioteca pública que não encontra em nenhum outro lugar?
Os estudos exploratórios sobre a necessidade de informação estão
localizados nas bibliotecas de caráter científico, ou seja, nas universitárias e
especializadas. Existem estudos que tentam resolver a questão do atendimento
das necessidades da comunidade científica. São análises por grupos específicos,
estudando-se os seus comportamentos com aspectos particulares, o que de certa
forma torna a exploração mais suscetível de sucesso.
No caso da análise da necessidade de informação em biblioteca pública a
exploração torna-se mais complexa por ser potencialmente utilizada por toda a
84
comunidade. Até por isso, ser a biblioteca pública é a mais complexa e completa
das bibliotecas.
A esse respeito, Milanesi (2002, p. 34) apresenta um quadro comparativo
das áreas de atuação em relação ao público que tem acesso, ao tipo de
informação que circula, ao tipo de demanda e ao grau de complexidade. Afirma
que é a biblioteca pública a única que tem um público grande e heterogêneo; que
reúne todos os temas do conhecimento humano; a única que tem como
prerrogativa criar demandas e atender demandas, na ordem exposta; enfim, é
uma instituição de altíssima complexidade.
Ainda para Figueiredo (1979, p. 47) “a questão é saber-se o que é a
comunidade, e qual é o público a quem a biblioteca pública moderna deve servir.
É uma questão que perdura na literatura por 25 anos. Inúmeros estudos têm
tentado examinar a relação entre a missão ou os objetivos aceitos pela biblioteca
pública, como preceitua a convenção biblioteconômica, e as realidades do meio
ambiente da biblioteca”.
A verdadeira função dos serviços da biblioteca pública, em consonância
com as ciências sociais, seria responder às necessidades dos cidadãos à margem
da sociedade. Assim, além de um público tradicional formado pela massa escolar,
uma preocupação maior deveria nortear a direção da entidade voltando-se para a
comunidade como um todo: desempregados, analfabetos, semi-alfabetizados,
aposentados, donas de casa, e idosos entre outros.
Alguns autores, como Almeida Júnior (1997) estabelecem outros tipos de
bibliotecas como alternativas, que, no entanto, não podem ser pensadas como
alternativa à necessidade de informação, pois não existe ainda um estudo que
atribua tal status para esse tipo de informação. O papel que uma biblioteca
pública representa em uma comunidade passa pela compreensão da necessidade
do seu comunitário. Uma biblioteca pública atinge uma diversidade de públicos
com quadros sociais diferentes.
Não há como negar o caráter social da biblioteca pública (BASTOS;
NEGRÃO, 1982; ALMEIDA JÚNIOR, 1997), no entanto, como auferir o resultado
desse caráter? Pela importância da mesma na comunidade em que está inserida?
85
Pela necessidade dos usuários? Mas que necessidade? A do aluno da escola
pública que não tem biblioteca escolar à sua disposição; a do analfabeto que não
sabe locomover-se pelas placas de endereçamento do bairro; do desempregado
que não tem como comprar o jornal para ler os anúncios classificados; ou da
pessoa comum da sociedade em busca da cidadania? Para Almeida Júnior, a
celebração desse caráter social se daria estreitando-se as relações com
associações, sindicatos, comunidades eclesiais de base, movimentos
organizados, “oferecendo-lhes informações, espaço, promovendo eventos em
conjunto” (ALMEIDA JÚNIOR, 1997, p. 80).
Sempre se pensou na evolução dos serviços da biblioteca pública de forma
técnica, modificando-a para implantação de novos suportes. Pensou-se na
reestruturação física para desenvolvimento tecnológico, tendo como base a
acomodação do volume de informações produzida pelo homem em progressão
geométrica. Contudo, o comportamento de atuação profissional continuou,
também, sempre o mesmo, e a biblioteca continuou a atuar tradicionalmente.
Embora a literatura da área mostre que o segmento não tem funcionado a
contento, as tentativas de adaptação para reorganizar os serviços também não
surtiram efeito, e se o tiveram foram efêmeros (ALMEIDA JÚNIOR, 1997).
Dedicando-se ao estudo de bibliotecas públicas, Milanesi (1983, p.49)
afirma que “[...] a biblioteca é mais do que livros, é informação, seja de que tipo
for”, entretanto, não tem sido esta a prática, como o próprio autor analisa, num
exercício de ficção, ao criar uma biblioteca cujo modelo ele próprio atesta não
existir no Brasil (MILANESI, 1983, p. 7-10). Passaram-se mais de vinte anos
desde então, mas o quadro continua o mesmo em termos de Brasil. Pode ser que
a utopia tenha vencido a realidade e contrariado o texto, mas caso isso seja
positivo ficará circunscrito a algumas localidades, onde o desenvolvimento
econômico e social já atingiu patamares mais avançados no quadro geral.
Já em 1951, bibliotecários reunidos em São Paulo, durante um Congresso
promovido pela Unesco, discutiram os objetivos da biblioteca pública, defendendo
uma postura mais agressiva junto à sociedade (MARTINS, 1996, p. 326).
Entendiam ser a biblioteca pública produto da democracia e posicionada na
86
vanguarda social, e para tanto deveriam cumprir um dos objetivos que seria
“Fornecer ao público informações, livros, material e facilidades diversas em vista
de melhor servir seus interesses e de satisfazer às suas necessidades
intelectuais”. Para alcançar este objetivo seria necessário “Possuir material
cuidadosamente escolhido e classificado em função das necessidades locais”.
Ao analisar o papel que cabe à biblioteca pública, Milanesi (1986, p. 20)
indaga “qual é a função da biblioteca pública, hoje?”. Há uma certeza: a referida
instituição tem assumido o papel de biblioteca escolar. Não tendo biblioteca na
escola, e havendo o exercício da pesquisa, encomendada pelos professores,
busca-se uma saída: procurar uma biblioteca pública. Estas existem, podem ser
precárias, podem atender mal, podem estar na periferia da informação, mas
existem.
Embora tenha havido avanço nos serviços prestados pelas bibliotecas
públicas, principalmente nos atos culturais e de informação para a cidadania, isso
não tem concorrido para uma conscientização institucional coletiva, não tem
concorrido para manifestações praticadas em maior número de bibliotecas pelo
país, como iniciativa de uma política de informação. As estruturas de formação de
acervos e serviços continuam as mesmas como observa Milanesi (1986). Seja
porque as bibliotecas não estão preparadas para este tipo de abordagem, seja
porque os profissionais da biblioteconomia não têm como fazer a abordagem.
Assim, como a biblioteconomia perdeu etapas na evolução dos procedimentos de
informação, e tem demorado a se adaptar aos processos hipermídia, os
bibliotecários perderam etapas na comunicação produtiva com o seu público real,
deixando de lado os mecanismos das necessidades do público consumidor.
Almeida Júnior (1997) faz um estudo sobre a relação biblioteca-
comunidade, procurando relatos de experiências de serviços alternativos à
biblioteca pública tradicional. Na verdade, o pesquisador busca encontrar a
necessidade de informação da comunidade sendo atendida por bibliotecas
alternativas, espécie de bibliotecas comuns nas décadas de 1970 e 1980, surgidas
para dar respostas aos anseios populares durante o regime de exceção.
87
Concretamente, elas serviram mais para dar suporte às entidades que defendiam
os anseios populares contra o regime.
Já na década de 1940, Rubens Borba de Moraes alertava para a
predominância da prática bibliotecária que terminaria por engessar a
biblioteconomia. Não que fosse possível inexistir, mas não precisava ser
exclusivista (MORAES, 1983, p. 22). Era preciso uma ação mais equilibrada, que
pusesse a biblioteconomia como importante instrumento social.
Duas questões são levantadas a partir dessa constatação:
1ª - como fazer isso através dos acervos?
2ª - qual o material necessário a ser fornecido para oportunizar a
informação necessária em uma sociedade de demandas sociais cada vez
maiores?
Não são os temas que compõem o acervo de uma biblioteca pública,
selecionados a partir da ótica de um bibliotecário, que por sua vez o fez tomando
como espelho catálogos de editoras, que vão formar o conjunto de informações
necessárias para a comunidade. No entanto, pela seleção dos documentos, pelo
conjunto do conteúdo, pelo que é tradicionalmente colocado ao público, existe
uma trajetória de serviços que não deixa margem à criação de um novo tipo de
serviço. É preciso investir uma nova visão de linguagem de comunicação com o
público usuário, ofertando um novo serviço; um serviço onde o público possa
selecionar e propor a composição de um acervo, ou parte dele.
E como seria esse novo acervo? Não estaria, de certa forma, atrelado a
condicionamentos ideológicos, tanto quanto os acervos tradicionais? Não estaria,
também, condenado à tentativa de análise que contariam uma outra história,
parcial e superficial esquecendo uma outra?
Os acervos hoje constituídos, em sua maioria, são didáticos para atender a
solicitação de uso dos estudantes com suas pesquisas escolares. Os interesses
comunitários ficam por conta do acesso aos livros. A preocupação, então, se
localiza na solução de problemas tipo pesquisa escolar da rede de ensino e o
empréstimo de livros para os comunitários. Isso configura o papel de atuação
tradicional da biblioteca pública.
88
Pode-se entender em relação às necessidade locais que não há
preocupação com o acervo constituído, mas a ser alimentado. Pode-se entender
como análise de uma questão real: a demanda por informação não disponível no
órgão. Não se trata de criar contradição quanto a demandas, mas da análise de
complementaridade entre estas.
Na biblioteca estão as imagens/o imaginário de toda a sociedade. É no
acervo que isto está representado, incluindo comportamentos, atitudes e ações
humanas. E o cidadão presente em todas as estantes como a pesquisar o seu
passado e inventariar o seu futuro. Podemos então pensar que estes sejam
aspectos a serem considerados que “... enfatizam a necessidade de uma
participação mais efetiva da comunidade nas decisões da biblioteca, de forma que
os trabalhos e serviços prestados por esta sejam adequados e, principalmente,
considerem e atentem para os valores e o modo de vida daquela” como preconiza
Almeida Júnior (1997, p. 11).
Discutir a questão da informação do ponto de vista da necessidade das
comunidades não-usuárias de sistemas de informação via órgãos públicos, é
repassar a questão da informação como está gestada, ou seja, sem uma linha
específica que a identifique. No caso das comunidades aqui analisadas, as do
Grande Rosa Elze, com seus 50.000 habitantes, dentro do quadro social
implantado pelo município de São Cristóvão, não existe uma definição para a
solução da questão, que é a inexistência de um órgão público de informação.
Se por um lado as bibliotecas especializadas disponibilizam as informações
necessárias para os seus usuários, que são informações de cunho profissional e
funcional, as universitárias disponibilizam para o seu público as informações
acadêmicas e científicas, e as bibliotecas escolares, com o seu público discente
em busca de suas pesquisas enciclopédicas, mas todas identificadas com
informações de um mundo específico, por outro lado as bibliotecas públicas com
um público diferenciado, com questões profissionais e funcionais à parte,
premidas por um contingente de deficiências e pela necessidade de sobrevivência,
precisa da mercadoria informação de forma diferenciada dos outros usuários.
89
À biblioteca pública não cabe uma linha específica de cessão da
informação, mas várias linhas de informação abrangendo público diferenciado. Por
mínimo que possa ser a sua atuação, ela não existindo, deixa às populações
carentes, como acontece com o Grande Rosa Elze, tão somente a possibilidade
do rádio e da TV. A este respeito, Melo assim se posiciona:
A periferia dos grandes centros urbanos, as zonas de produção
agropecuária, os núcleos populacionais do litoral não
metropolitano, encontram-se marginalizadas da ação estatal ou do
mecenato empresarial no campo da cultura. Às populações
majoritárias que vivem nos sertões, nas favelas, nos cortiços, nas
vilas operárias, nos conjuntos do BNH, resta como único e factível
canal de consumo da cultura industrializada a engrenagem da
comunicação eletrônica: rádio e televisão (MELO, 1986, p. 50,51).
O rádio e a televisão assumem, então, o papel mais importante na cessão
da informação junto às comunidades carentes, motivado pela ausência do poder
público. Assim, as necessidades de informação dessas comunidades ficam
sujeitas ao processo eletrônico. Para fugir a esse processo de dependência, que
Melo (1986) denomina de marginalização estatal, é preciso que para o
atendimento de uma necessidade de informação de um cidadão exista um espaço
físico para o atendimento. Tradicionalmente, quando existe a necessidade de se
informar o usuário busca um sistema de informação. Esse sistema é representado
fisicamente nas universidades pelas bibliotecas universitárias, nos institutos de
pesquisas e empresas pelas bibliotecas especializadas, nas escolas pelas
bibliotecas escolares, e nas comunidades pelas bibliotecas públicas ou
comunitárias.
A necessidade de informação de usuários tradicionalmente é vista sob o
aspecto acadêmico e científico. As bibliotecas universitárias, atentas às
necessidades dos pesquisadores, desenvolveram, em determinado momento o
que se denominou de Disseminação Seletiva da Informação (DSI). O serviço de
DSI resolve as necessidades de informação científica e tecnológica da Instituição.
Uma necessidade fácil de ser resolvida, pois existe a partir de análises feitas no
campo do ensino superior, especificamente em bibliotecas universitárias e
90
especializadas. Nestas comunidades dá-se um processo de intermediação em
que o usuário, a partir do acesso, quase sempre disponível, sabe avaliar a
qualidade das informações recebidas como respostas às suas necessidades, a
partir de um serviço minimamente eficiente (FIGUEIREDO, 1979).
Estabelece-se aí o diferencial do atendimento entre as necessidades dos
não-usuários das comunidades carentes, sem serviços de informação
disponibilizados pelo poder público, e as necessidades dos usuários que contam
com a estrutura de órgãos públicos.
Um atendimento que não deve ser entendido apenas no sentido do cidadão
ser informado corretamente, mas também no sentido de “produzir informação e ter
a possibilidade de divulgá-la adequadamente, para que seja objeto da atenção da
sociedade e tenha chance de ser tratada devidamente – inclusive para propiciar
soluções, quando for o caso” (NOVAES, 1994, p.82).
Soluções que se apresentam na forma de informação transformada em
conhecimento, o que confirma a necessidade de informação por parte de
indivíduos, grupos, organizações ou culturas. Pressupõe-se, então, que as
pessoas participem, ou tenham às suas disposição um sistema de informação.
Acontece que as comunidades carentes, como as do Grande Rosa Elze,
que se ressentem de sistemas de informação, são formadas por pessoas que
formam um contingente de não-usuários, ou seja, de pessoas que jamais
utilizaram um sistema de informação. O que, segundo Le Coadic (1996, p.40)
“não quer dizer que não necessitem de informação”.
Para Le Coadic, a necessidade de informação poderia estar na categoria
das necessidades humanas básicas, no entanto, por não ser algo requerido por
todos isto pode ser questionado (1996, p.40). A questão colocada é se a
necessidade de informação é física ou derivada? Compreende-se como
necessidade física aquela fundamental para o ser humano. E como necessidade
de informação derivada àquela que vai servir à realização de outros tipos de
necessidades.
A hierarquia das necessidades humanas mapeada por Maslow é adaptada
por Barreto (1994), para relacionar demanda e oferta de informação na sua
91
estrutura básica. Neste sentido, Barreto, em sua “Pirâmide das Necessidades”,
afirma que cada usuário apresenta um comportamento associado a uma
necessidade. Assim,
um comportamento de segurança é uma necessidade básica, portanto
dependente de uma informação utilitária;
a participação social, ou o pertencimento a uma comunidade, é uma
necessidade de participação, portanto demanda uma informação
contextual;
a realização profissional e pessoal é necessidade de auto realização,
portanto demanda uma informação seletiva.
O comportamento de segurança a que Barreto se refere, localiza-se na
base da pirâmide, onde está o maior número de pessoas a necessitarem de
informação, diz respeito a segurança como satisfação de necessidades básicas
como saúde, educação, transporte, alimentação, entre outras.
Segundo Le Coadic (1996), o estudo de necessidades preconiza a melhoria
do desempenho do sistema. O que se expõe é a perspectiva acadêmica em que
existe o sistema. O que se propõe é a análise das necessidades onde não existe
o sistema. Esta observação foi feita na Universidade Federal de Sergipe na época
da implantação do Campus no Rosa Elze, quando se pensou na construção de
uma biblioteca comunitária, cujo objetivo seria atender as necessidades de
informação dos moradores do Rosa Elze, àquela época motivo de atenção da
própria Universidade.
As necessidades aqui reportadas dizem respeito as necessidades de
informação e repercutem na exclusão social que incorpora uma realidade
moderna, a realidade de uma civilização dependente da Tecnologia da Informação
e Comunicação (TIC).
Ao analisar-se a importância da informação configurada na modernidade e
nas possibilidades da Tecnologia da Informação e Comunicação, característica
deste tempo em que se vive, imagina-se que a globalização alcançou a todos.
92
Mas, contrariamente ao que se imagina, a globalização da informação
experimenta extremos que não permite comemoração.
A imagem de construção da globalização é ambígua. Enquanto empresas
e organizações de países desenvolvidos aparentam uma situação de eficiência e
eficácia, os países em desenvolvimento impressionam pela lentidão em promover
a globalização entre os cidadãos. O caráter globalizado da informação não confere
tal referência para as massas.
Assim, a informação, identificada com a organização dos seres humanos,
tem a conotação da essencialidade para as comunidades carentes, ao assumir um
papel importante na luta pela inclusão social, se apresentando como parceira na
busca do atendimento das necessidades essenciais, as necessidades básicas, as
necessidades da sobrevivência (BETTIOL, 1990; LE COADIC, 1996; BARROS;
CARVALHO, 2004; BARRETO, 1994).
93
9 UM LUGAR ONDE NADA ACONTECE
Este capítulo trata da análise das informações prestadas pelas lideranças
das comunidades pesquisadas, sob a forma de grupo de foco, e das informações
concedidas pelos comunitários ao responderem aos questionários aplicados.
9.1 Análise da entrevista realizada com as lideranças das comunidades que
integram a região do Grande Rosa Elze
Ao analisar o resultado do grupo de foco realizado com os líderes
comunitários do Grande Rosa Elze constata-se a convicção, por parte dos
mesmos, de que à TV e ao rádio, os meios de comunicação de massa, cabem
informar à sociedade. Os presidentes das associações de moradores no contato
diário com os as suas comunidades, sempre necessitando de informação para o
atendimento de reivindicações, têm a noção exata de que os veículos TV e rádio
são instrumentos de comunicação da informação. Cabe à TV informar com
exatidão, criando oportunidades de educação, oportunizando conhecimento, bem
como proporcionando entretenimento e diversão. Ao rádio, cabem as mesmas
prerrogativas, com a perspectiva de que este pode ser interativo, diferentemente
da televisão.
A facilidade que o cidadão encontra para interagir com o rádio, por meio de
programas informativos calcados no apelo pessoal do apresentador, os talk
shows, não existe quando se trata da televisão. Isso faz com que associem o
rádio com a democracia, o que não acontece com a TV.
O rádio permite a participação ao vivo, o que agrada ao cidadão. A forma
de comunicação da TV não permite a contrapartida da informação, que é o debate
com a comunidade. Isso leva a comunidade a uma postura crítica em relação à
TV, acusando-a de não ser democrática.
A afirmação de Luzia, Presidente da Associação de Moradores do
Tijuquinha, de que “ter uma televisão em casa é a melhor coisa do mundo”
94
(APÊNDICE C, p. 146)
8
, reforça a opinião de que à televisão cabe um papel
importante no cotidiano do cidadão.
9
No entanto, não é esta a visão da líder
comunitária. É de reserva, de ceticismo quanto a esse valor, essa importância da
TV enquanto veículo informativo. Acontece que o formato televisivo dos canais
abertos prioriza o entretenimento e o lazer. As grades de programação reservam
pouco espaço para a educação e o conhecimento. Sobressai o jornalismo, que
informa sobre acontecimentos, dando a conhecer ao público os fatos globalizados.
A programação leva os líderes comunitários a uma postura crítica em
relação à TV, acusando-a de não ser democrática. Criticam o poder de persuasão
do veículo de comunicação e a sua postura em relação ao público. Para Luzia,
Presidente da Associação dos Moradores do Tijuquinha, a TV é negativa, pois
distorce as informações comunicadas, sendo decisiva em relação à opinião
pública, pois “a gente só conhece mais as coisas é pela informação da televisão”
(APÊNDICE C, p.146).
10
A visão que os líderes têm do rádio é melhor que aquela que têm da
televisão, pois entendem que ele funciona como um instrumento de mediação
entre os acontecimentos e o público, entre o radialista que tem o papel de informar
e o ouvinte que tem necessidade da informação. A Presidente da Associação do
Tijuquinha considera o rádio democrático porque o pobre tem acesso a ele. Essa
democracia se revela no que considera importante no papel do rádio, ao permitir a
participação dos ouvintes, que é “pra denunciar, pra entrar em contato com a
pessoa que tá falando dentro do programa. É mais fácil pra pessoas da
comunidade ter como entrar em contato com essas pessoas” (APÊNDICE C,
p.146).
Essas pessoas a que Luzia se refere são as autoridades dos poderes
públicos, quase sempre, em programas radiofônicos, atendendo a pautas de
8
APÊNDICE C: Transcrição das fitas do grupo de foco realizado com os líderes de
associações de moradores das comunidades do Grande Rosa Elze.
9
Na ausência de equipamentos públicos que proporcionem cultura e lazer na
comunidade, a TV passa a ser o grande parceiro na questão diversão e lazer. Segundo a
presidente da Associação do Tijuquinha, o futebol é a única forma de lazer existente.
10
Na transcrição da fala dos líderes comunitários (APÊNDICE C) manteve-se o
coloquialismo das manifestações, de forma a se manter a fidelidade das expressões dos
entrevistados.
95
prestação de contas de serviços públicos. Existe uma proliferação de programas
do tipo nas emissoras de rádio de Aracaju.
11
A opinião de Luzia é recorrente. Neste sentido, Murilo, da Vila de São
Cristóvão, expressa sua opinião dizendo que o “o rádio tem um espaço aberto e a
TV não, ela tem apenas uma programação” e afirma que
A comunidade acompanha e varia de comunidade para
comunidade o programa preferido. Os que não escutam é
porque não gostam é porque não têm tempo para escutar
naquele horário do trabalho, mas que ele tem um espaço
aberto para participar a comunidade tem (APÊNDICE C,
p.147)
12
.
Concordando com as opiniões anteriores Antônio José do Rosa Maria
assim se manifesta:
O rádio com toda essa coisa de liberdade, de poder falar,
então o rádio diferente de ter interesse ele ta presente. [...]
Programa de rádio, dentro desses programas que é aberto à
comunidade, com certeza eles têm ibope na comunidade,
porque cada vez mais dão voz àquelas pessoas que
representam a comunidade. Tanto as emissoras AM quanto
FM têm programas que permitem a participação da
comunidade (APÊNDICE C, p.147).
Há um sentimento generalizado do poder que o rádio confere ao povo, ao
permitir que possa falar com os políticos e com as autoridades responsáveis pelos
órgãos públicos. Reside em tal atitude a noção da democracia do rádio. No
entanto, ao interferir em programas de rádio, a comunidade não percebe que está
num jogo de informações, via comunicação, que nem sempre ela é a interessada,
como analisa Novaes
11
Não existe emissora de rádio no município de São Cristóvão, portanto, os programas
ouvidos são os das emissoras sediadas em Aracaju. Existem hoje sete programas
matutinos que têm o mesmo formato: denúncia, prestação de serviços e debates com
autoridades constituídas. Esses debates não ficam restritos ao estúdio e contam com a
participação popular. Os programas são verdadeiras trincheiras políticas e os políticos
circulam cotidianamente pelas emissoras de rádio.
12
Os programa que são apresentados diariamente são os seguintes:Comando Geral com
Augusto Júnior, na Rádio Jornal AM; Fala Sergipe com Fábio Henrique, na Rádio Atalaia
AM e Atalaia FM; No Giro da Notícia com Jairo Alves, na Rádio Cultura AM; Sem Censura
com Messias Carvalho, na Rádio Liberdade FM; Jogo Aberto com Gilmar Carvalho, na FM
Sergipe e Jornal da Ilha com Eduardo Abreu, na Ilha FM.
96
[...] a sociedade vê a comunicação de formas bastante
diferentes daquelas que povoam a cabeça dos
comunicadores, dos jornalistas. Muito freqüentemente,
aquilo que parecia da maior importância para os jornalistas
era considerado secundário ou até supérfluo pelos
representantes da sociedade. Da mesma forma que
assuntos aparentemente irrelevantes para os jornalistas
eram tidos como vitais pelos seus interlocutores (NOVAES,
1994, p.84).
A afirmação de Novaes é reforçada na manifestação de alguns líderes
como Cláudio do Jardim Universitário que demonstra inconformismo com a
programação do rádio, pois “a comunidade está desassistida totalmente do rádio
do ponto de vista da programação educativa. [...] Não vou ser radical tem algum
programa ainda que ainda dá pra educação” (APÊNDICE C, p. 149).
13
Roberto,
da comunidade Madre Paulina, observa que “hoje você tem uns tipos de programa
que você vê que é para bater no adversário político, ai você deixa de dar
informação para a comunidade”. (APÊNDICE C, p. 149).
Neste sentido, Luzia, do Tijuquinha, afirma que
A TV e o rádio pensa muito mais neles do que na
comunidade. O próprio locutor pensa em si próprio do que
na comunidade. A maioria dos radialistas é tudo político.
Então eles pensam em si próprio. E aqueles que está mais
prá o povo pobre, carente, melhoraria muito, mas enquanto
eles só pensa neles próprios (APÊNDICE C, p. 149).
O presidente da Associação dos Moradores de Vila de São Cristóvão,
Murilo, refere-se à postura comercial entre o rádio e a TV para justificar a
diferença de atitude democrática. Acredita que o rádio tem mais flexibilidade na
programação, coisa impossível na televisão, com uma grade de programação
sempre rígida. Ambos existem comercialmente, mas o rádio formatou uma prática
diferente. Ele abre o microfone para a participação popular, tem “uma prática,
vamos dizer assim, de uma certa visão de poder voltar atrás em alguma notícia.
Quando faz uma matéria na comunidade, assim, e a gente êpa, peraí, não é assim
não, e no outro dia ele [o rádio] se retrata” (APÊNDICE C, p.146).
13
O líder comunitário refere-se à programação da rádio Aperipê, a emissora educativa do
Estado de Sergipe.
97
Essa convicção da parceria do rádio com a comunidade não está
dissociada de uma reflexão sobre o próprio rádio, que geralmente é propriedade
de um político, e quase sempre o radialista ou é político ou é candidato a uma
vaga no legislativo. No entanto, mesmo com a consciência de que ambos têm
interesses pessoais, motivo pelo qual promovem a abertura do microfone ao povo,
permitem a participação popular, o rádio está solidificado junto à comunidade
justamente por explorar tal modelo e abrir a possibilidade de solucionar problemas
emergentes do cotidiano.
Martin-Barbero (2003, p.65) reporta “a existência crescente de emissoras
de rádio e televisão programadas e administradas pelas próprias comunidades” e
são esses canais comunitários que conectam esses “bairros urbanos na busca de
uma informação e de uma comunicação que responda a suas demandas de
justiça social e de reconhecimento político e cultural” (MARTIM-BARBERO, 2003,
p.73).
A importância de tais canais revela-se “quando os movimentos sociais de
bairro ou locais encontram, em um espaço público como aquele que uma rádio
abre, a possibilidade de não serem representados, mas de serem reconhecidos:
de fazer ouvir a própria voz, de poder dizer-se com suas linguagens e relatos”
(MARTIN-BARBERO, 2003, p.74).
A este respeito, Antônio José, Presidente da Associação dos Moradores do
Rosa Elze, considera que o rádio está sempre presente na comunidade, enquanto
que a presença da televisão está sujeita aos índices de audiência. Avalia ainda
que o jornal possa ser outro parceiro na disseminação de informação junto aos
comunitários. No entanto, a mídia impressa está associada a algumas situações
que não permitem ser alternativa na busca de informações. A competência do ato
de ler é uma delas. A televisão leva vantagem em relação à leitura porque “há
uma falta de educação de ler. Então na televisão tá ali a notícia, então ele já sabe
de tudo sem precisar ler. Para ler ele precisaria se deslocar, comprar o jornal, uma
série de coisas. Então na TV tá tudo ali” (APÊNDICE C, p.147-148).
O suporte jornal, citado acima, traz à discussão a conveniência que a TV
proporciona em relação à leitura. Alguns fatores podem ser destacados neste
98
procedimento, como: 1) o índice de escolaridade, pois são comunidades com
grande número de alfabetizados, mas sem seqüência escolar; e 2) e o fator
econômico, por tratar-se de um número elevado de subempregados e
desempregados. Fatores que podem indicar porque não existe nenhuma livraria e
apenas duas bancas de revistas e jornais no Grande Rosa Elze.
Considerando-se, além das mídias falada, escrita e televisada, a
possibilidade da informação existir em outros equipamentos como os órgãos
culturais, constata-se a ausência total desses espaços. Não existe no Grande
Rosa Elze nenhuma sala de cinema, teatro, galeria, museu, centro cultural, nem
concha acústica. Na ausência de tais espaços, sejam atuando como
disseminadores de informação, ou proporcionando entretenimento, as mídias
falada e televisada são os meios possíveis para minimizar as necessidades de
informação.
Assim, programas educativos, como regra geral, deveriam existir. É um
recurso que já existe nas emissoras educativas; no entanto, como canais de
pouco apelo popular, são vistos por uma minoria.
14
Uma provável solução, para
as necessidades de informação, é a criação de uma emissora de rádio
comunitária.
Os líderes reconhecem no rádio a força necessária para que possam mudar
a situação de regiões esquecidas pelo poder público, pela força da denúncia. Na
verdade, o rádio vai possibilitar a mediação do popular com as instâncias
constituídas, num processo tecnodiscursivo, “a partir de um entrelaçamento
privilegiado da modernizadora racionalidade informativo-institucional com a
mentalidade expressivo-simbólica do mundo popular” (MARTÍN-BARBERO, 2001,
p.263).
Nessa proposta de criação de uma emissora comunitária para orientação
dos moradores, os presidentes das associações revelam uma grande
preocupação: informação para a saúde. É unanimidade que a maior procura por
14
A TV Aperipê é o canal público em Sergipe. Integra a Rede Pública de Televisão e
retransmite as emissoras TVE, sediada no Rio de Janeiro, e a TV Cultura, sediada em
São Paulo. Mas na sua grade de programação constam diversos programas de produção
local.
99
informações nas associações diz respeito aos procedimentos ligados à saúde.
Dois líderes, Jairo, da Associação Comunitária Loteamento Rosa do Oeste, e
Mário Jorge, da Federação das Associações Comunitárias de São Cristóvão,
relatam o caso da doença de Calazar (transmitida por cães) que atingiu a região, e
que, na ocasião, ao procurarem a Secretaria de Saúde do Município de São
Cristóvão em busca de informação para orientação da comunidade, não
receberam apoio.
Quando o rádio e a televisão não conseguem suprir as necessidades de
informação, como no caso específico relatado acima, e com a indiferença da
Secretaria de Saúde do Município quando acionada, a ausência de uma biblioteca
pública, ou um órgão público que dissemine informação (centro de informação,
centro de documentação, qualquer que seja o titulo que tenha) amplia esse lugar
comum da não-informação.
Mesmo não existindo biblioteca pública no GRE, os líderes comunitários
avaliam a importância do órgão. Como não existe uma biblioteca na comunidade,
as pessoas, quando necessitam, usam a Biblioteca Central da Universidade
Federal de Sergipe, ou as bibliotecas públicas de Aracaju (a Estadual Epifânio
Dórea, e as municipais Clodomir Silva e Ivone Menezes). Normalmente, tal uso é
feito por pessoas diferenciadas dentro da comunidade. É o que relata Murilo,
Presidente da Associação de Moradores de Vila de São Cristóvão:
Na minha comunidade tem pessoas que consultam a biblioteca da
Universidade. São professores. Então, na minha comunidade, ela
[a biblioteca] é importante para aquelas pessoas que são
formadas, que têm instrução. Agora para o povão que não tem
nenhuma ligação com a educação, não tem acesso, não tem
condições de deslocamento para uma biblioteca que ele possa
ter.(APÊNDICE C, p.150).
Luzia, do Tijuquinha, chama a atenção para as dificuldades que os
estudantes da sua comunidade têm para fazer as pesquisas escolares. Revela
que, não contando com bibliotecas nas escolas, dirigem-se à Associação em
busca de livros: “acho que eles não sabem nem o que é biblioteca. A comunidade
de lá não tem nem como [saber]”. (APÊNDICE C, p.150).
100
Para Mário Jorge, da Federação das Associações, “a biblioteca pública é
uma obrigação do governo”; ele reclama que, “em função de não ter nenhuma
informação, então, consultar biblioteca só se morar em Aracaju”. Para ele, “a
associação tem que se movimentar para ter pelo menos um local através de
doação. [...] A comunidade não tem uma biblioteca, mas é uma necessidade”
(APÊNDICE C, p.151).
Cláudio, do Jardim Universitário, considera que “em virtude da pobreza da
comunidade que não tem onde se valer na região” a biblioteca é uma
necessidade. E Antônio José, da Associação do Rosa Maria, aponta as
“dificuldades [principalmente financeiras] das pessoas se deslocarem até Aracaju
para consultar a Biblioteca Pública Epifânio Dórea”. (APÊNDICE C, p. 151).
Observa-se que instados a se manifestarem sobre a importância da
biblioteca pública no cotidiano da comunidade, as manifestações, todas, são
associadas ao ensino e à pesquisa. Papel prioritariamente a ser desempenhado
por outras bibliotecas: a escolar e a universitária. Ou seja, os líderes comunitários
consideram necessário existir uma biblioteca pública na comunidade, mas fazem
uma abordagem formal, uma abordagem da educação escolar para essa
necessidade. Delineia-se, então, uma segunda necessidade de informação na
região: informação para a educação.
Essa é a imagem que existe da biblioteca pública: uma biblioteca como
outra qualquer, que existe para atender aos estudantes, ajudando-os,
principalmente, nas pesquisas escolares. No entanto, para os estudantes deve
existir a biblioteca escolar, cabendo à biblioteca pública ter outros objetivos, como
as atividades de leitura, reclamadas como uma necessidade para fazer frente à
programação televisiva, e as atividades de lazer, com uma programação cultural
diferente do lazer oferecido pelas emissoras de TV, ocupando o lugar não
preenchido por espaços culturais.
Há o sentimento que, com a inexistência da biblioteca pública na
comunidade, criou-se o distanciamento do público com este tipo de Instituição.
Algumas opiniões revelam isto:
101
O povo não tem educação para de uma hora para outra o povo
chegar lá de uma forma acadêmica e de agora em diante esse
prédio aqui vai ser uma biblioteca. Tem que começar um trabalho
de conscientização, senão ninguém vai (Murilo, APÊNDICE C, p.
152).
Infelizmente a própria sociedade tem interesse para continuar
nessa sociedade menos esclarecida, é chegar no rádio xingar,
difamar, passar uma hora falando no programa e no final você vê
que não era nada que lhe interessava, era problema político. Na
biblioteca você vai atrás da informação que lhe interessa.
Pergunte alguma coisa sobre São Cristóvão, nós não sabemos
(Antônio José, APÊNDICE C, p. 152).
Existe um desestimulo com relação à questão de se ir a uma
biblioteca pública, e ao mesmo tempo é negado pela falta de
existência dela. [...] E como viu o efeito da TV, que para ele é
produtivo, seria o caso da biblioteca, se você tem uma biblioteca
no município, você tem que implantar um programa de orientação,
de divulgação baseada no ato, no interesse do povo, então eu
acredito que o povo não faz isso [freqüentar biblioteca] seja pela
oportunidade que não tem (Mário Jorge, APÊNDICE C, p. 153).
A relação que a comunidade tem com o rádio e a TV, expressa na visão
dos líderes comunitários, fica impossibilitada de comparação com a biblioteca. O
rádio e a TV, na medida em que são aparelhos receptores instalados na casa do
usuário, criam a facilidade do acesso e a fidelidade de uso. Portanto,
considerando-se a relação da comunidade com a mídia de comunicação de
massa, e diante da inexistência de biblioteca, o líder comunitário precisa encontrar
formas de atender às demandas de informação dos comunitários. Essas
demandas dizem respeito às cobranças dos moradores feitas às Associações,
sempre em busca de diminuir os problemas do cotidiano.
Esse atendimento deve acontecer em duas perspectivas, trabalhando as
questões estruturais da região que culminem na melhoria social (saúde, infra-
estrutura, transporte) e no crescimento pessoal (cursos profissionalizantes,
emprego). Então, revela-se que as informações trabalhadas no dia-a-dia
inscrevem-se nas necessidades sócio-econômicas.
Embora exista a concepção do que é necessário, não existem as condições
para a concretização das necessidades. Há uma carência de informação e de
suportes informacionais. As associações, quando têm as informações
102
necessitadas, enfrentam o problema de como disseminá-las junto à comunidade.
Duas propostas tomam forma nas discussões das associações: a criação de uma
emissora de rádio comunitária e de um jornal da comunidade. Trabalha-se
prioritariamente com a idéia do primeiro veículo, e com possibilidades remotas
para o segundo. A rádio comunitária conta com a simpatia de toda a liderança da
região. Por sua vez, o jornal já não empolga como a emissora de rádio, e esbarra
no que aqui já foi abordado, que é a questão dos índices de competência de
leitura.
A emissora de rádio e o jornal são buscas para solucionar a veiculação, a
disseminação das informações necessárias para a comunidade. As associações
defrontam-se com dois problemas: 1) espaço para reuniões para repasse das
informações (essa é a forma atual); e 2) como trabalhar informações específicas,
ou seja como esclarecer tais informações.
A esse respeito, alguns depoimentos:
O problema é que não tem palestra específica. A gente tem que
trabalhar, dar primeiro informação, trazer pessoas. Falar da
importância do ensino. Agora, nós vamos ter que ir atrás de
espaço [físico] para isso. Aqui, não temos espaço específico para
isso, o único espaço que temos [em todo o GRE] é o salão
paroquial que cabe uma média de 200 pessoas. A gente precisa
primeiro mostrar as pessoas que é importante a informação, mas
também abrir o setor público para a sociedade como um todo
(Cláudio, APÊNDICE C, p. 155).
Eu precisei de um espaço para realizar um encontro de jovens.
Primeiro seria aqui, procurei a Escola Armindo Guaraná (pública
estadual) que fica dentro do terreno da Universidade e me
negaram dizendo que naquele domingo já estava cedido para a
Universidade. Eu sabia que era mentira. Então, para conseguir
um espaço para um encontro de estudantes da comunidade vejam
a dificuldade que existe para conseguir um espaço público. Se um
presidente de uma Associação passa por tudo isso para marcar
uma palestra para estudante, se isso acontece com a liderança
imagine como é difícil para um estudante [ou seja, para um
comunitário] (Mário Jorge,
APÊNDICE C, p. 155).
Eles se referem à necessidade de encontrar um modelo para trabalhar as
informações específicas, como levar de forma precisa as informações
necessárias. A proposta é trabalhar as necessidades esclarecendo e orientando,
como observa Cláudio líder comunitário do Jardim Universitário:
103
Eu vou dizer as informações que a gente precisa. Primeiro as
mães e os pais tenham consciência de que os filhos precisam ser
educados na escola, que têm que estudar. [...] A gente tinha que ir
buscar esse tipo de informação pra que os pais tivessem
consciência da importância dos filhos na escola (APÊNDICE C,
p.156).
Para Antônio José líder comunitário do Jardim Rosa Maria, além da
educação, há uma preocupação com as atividades de formação e a presença de
atividades de lazer.
As carências constituídas na comunidade do GRE, como os procedimentos
de saúde, educação, formação profissional mostra como as associações não têm
ainda noção de organização social e política. Essa é uma carência a ser
trabalhada imediatamente, fazendo-se uma reflexão sobre a necessidade de
informação para a organização associativa, para poder atuar de forma efetiva na
comunidade. As direções das associações quase sempre estão ligadas a projetos
pessoais como possibilidades de escalada social, a postulação de cargo
comissionado na Prefeitura, ou junto a vereadores e deputados.
Nesse contexto surge outra necessidade: informação para liderança
comunitária. Necessidade que vai juntar-se às três anteriormente detectadas:
saúde, educação formal e formação para mercado de trabalho
Necessidades informacionais amplas precisam de recursos humanos e
estruturais para sua concretização. No entanto, a comunidade, em que pese ter
sido criada há mais de 30 anos, e ampliada consideravelmente nos últimos 20,
não conta com uma biblioteca pública ou outro órgão público que possibilite ou
que trabalhe a disseminação de informações na comunidade. Mesmo diante do
exponencial crescimento da região, com uma concentração populacional maior
que muitos municípios sergipanos, nenhum dos líderes tem conhecimento de
qualquer projeto municipal, estadual ou federal que beneficie a região no trato da
informação.
A análise do grupo de foco realizado com líderes comunitários do Grande
Rosa Elze, aqui realizada, revela a carência de suportes e equipamentos de
informação na região, carência que determina impedimentos para a ação na
104
prestação de informações que podem provocar mudanças no cotidiano dos
comunitários.
À mercê do poder público que não dá atenção à área, os líderes
comunitários tornam-se co-autores da manutenção de um lugar onde nada
acontece e pensam como provocar mudanças e despertar a atenção do poder
público. A proposta de criação de uma rádio comunitária, como foi citada em
determinado momento da entrevista, permite: 1) buscar informações fora da
comunidade para atender as demandas internas; e 2) atuar criando a própria
informação. Uma postura positiva, a considerar-se o que Melo escreve a respeito
do assunto:
[...] os cidadãos se limitam a consumir as poucas informações que
circulam no seu ambiente comunitário e que são indispensáveis
para as suas decisões cotidianas, sentindo-se desmotivados para
buscar outras informações [...] É esse tipo de comportamento
passivo, acrítico, que imobiliza grande parte da nossa sociedade,
fazendo com que a relação dos cidadãos com os meios massivos
de informação se reduza ao consumo puro e simples das
mensagens facilmente digeríveis (MELO, 1986, p.75).
Passividade que preocupa os líderes comunitários. A procura por um
modelo para levar informações aos comunitários inclui justamente isso:
mobilização. Embora reclamem da inexistência de espaços para a promoção de
ações, como faz Cláudio, líder do Jardim Universitário, ao lamentar que o maior
espaço existente é o do Salão paroquial com capacidade para 200 pessoas, reunir
100 pessoas é motivo de elogios. Essa preocupação com mobilização social tem
ainda que ser reforçada com um enfrentamento de ordem política, uma vez que os
comportamentos de políticos levam a desmobilização da comunidade, como se
queixa Mário Jorge da Federação das Associações de Moradores de São
Cristóvão: “quando o político bate na lata ali, ou é pra ele sair correndo atrás do
trio elétrico ou pra dar dinheiro na calada da noite. Então, o presidente da
associação fica sem sustentação, sem base pra trabalhar” (APÊNDICE C, p. 157).
A este respeito José Honório Rodrigues, citado por Melo, analisando tal
situação conclui que “é uma pequena minoria do povo que se associa às lutas
políticas; a grande maioria do povo, inculto, inconsciente, só compartilha dos
festejos populares, cívicos, religiosos ou esportivos” (1986, p.66).
105
Fica evidente na fala do presidente da Federação das Associações de
Moradores, ao reclamar da interferência dos políticos que estes atuam justamente
por conhecerem as necessidades que existem nas regiões carentes. Há um
quadro de pobreza que facilita o trabalho do político na submissão do cidadão às
suas especulações políticas. É a existência da pobreza que “submete os homens
ao império absoluto da necessidade como todos os homens a conhecem a partir
de sua experiência mais íntima independente de todas as especulações”
(ARENDT, 1988, p.48).
O quadro de pobreza aprofunda as carências sociais concorrendo para “a
abdicação da liberdade em face dos ditames da necessidade” (ARENDT, 1988,
p.49). Abdicação que provoca desmobilização, como pode ser visto na afirmação
de Melo (1986, p.68) para quem “um povo que não participa, não fala, atua como
ator coadjuvante no cenário da política nacional, é um povo desprovido dos
direitos civis mais elementares [...] fica impossibilitado de defender os direitos
fundamentais da pessoa humana: o direito à vida, ao trabalho, à segurança, ao
bem estar.”
É possível que os índices de escolaridade desfavoráveis e a situação
financeira dos cidadãos do Grande Rosa Elze, possam contribuir para a ausência
de participação na vida comunitária e provoquem a não mobilização de luta por
melhores condições e a conseqüente dependência política. Atitudes
compreensíveis, considerando-se que o cotidiano dessas pessoas acontece num
contexto de exclusão do processo educativo e cultural, portanto, distante da
inserção no desenvolvimento social. Longe dos processos formais de acesso à
informação, o cotidiano das pessoas da comunidade do Grande Rosa Elze é
baseado nos meios de comunicação, fazendo interação com o rádio. A TV e o
rádio são os meios existentes e possibilitam “o acesso a outras visões e a outros
costumes” (MARTIN-BARBERO, 2003, p.71), contribuindo assim para modelar a
informação possível. A informação que circula não será a necessária, mas a
possível.
106
9.2 Análise dos questionários aplicados aos moradores das comunidades
que integram a região do Grande Rosa Elze
Foram aplicados 68 questionários aos moradores de 11 comunidades que
integram a região do Grande Rosa Elze. O questionário consta de duas partes,
sendo a primeira destinada a informações sobre os respondentes, como sexo,
idade, escolaridade e ocupação funcional. A segunda parte destina-se ao
levantamento de informações sobre o objeto da pesquisa e contém dados sobre
uso e necessidades de informação.
15
1 Sobre o perfil dos respondentes.
1.1 Sexo.
68 pessoas responderam aos questionários, sendo:
- 29 do sexo masculino;
- 39 do sexo feminino.
Esta representação maior do gênero feminino guarda relação com os
índices relativos à questão no município de São Cristóvão, quando da realização
do último Censo, em 2000. Na ocasião foi apontada uma maioria feminina, com
um índice na ordem de 51,17% (33.083 mulheres), contra 48,82% masculino
(31.564 homens), do total de 64.647 residentes.
1.2 Faixa etária.
Os moradores pesquisados estão situados nas faixas etárias constantes do
gráfico a seguir (Gráfico 2). Os estratos do eixo das idades, considerando-se o
intervalo de dez anos, são baseados na forma usada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) quando mostra dados por grupo de idade.
15
O modelo do questionário aplicado junto a comunidade do Grande Rosa Elze está
disponibilizado como Apêndice (APÊNDICE B
-
Questionário aplicado junto a comunidade
do Grande Rosa Elze).
107
14
27
18
9
0
5
10
15
20
25
30
20 - 29 anos 30 - 39 anos 40 - 49 anos acima de 50
anos
Quantidade
Gráfico 2 – Faixa de idade dos moradores do Grande Rosa Elze.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
Dentro do intervalo mostrado, a maior concentração de idade dos
respondentes corresponde à faixa dos 30 aos 39 anos, com 27 residentes
(44,11%). No entanto, essa mesma faixa em relação aos dados do IBGE aparece
em terceiro lugar como 14,16% da população. A maior faixa apresentada no
Censo 2000, cabe aos residentes entre 10 e 19 anos, uma população de 14.924
pessoas, que representa 23,08% da população de São Cristóvão, vindo em
seguida às pessoas entre os 20 e os 29 anos, com 18,56%. O somatório desses
percentuais aponta uma população de 55,8%, com menos de 40 anos, o que
caracteriza uma população adulta jovem. Dado confirmado no GRE
considerando-se o somatório das duas faixas com menos de 40 anos, que indica
uma população de 60,2% com menos de 40 anos.
1.3 Escolaridade.
Os números correspondentes à escolaridade dos moradores do Grande
Rosa Elze estão demonstrados no Gráfico que segue (Gráfico 3).
108
25
6
9
20
3
5
0
5
10
15
20
25
30
Grau
Incompleto
Grau
Completo
Grau
Incompleto
Grau
Completo
Superior
Incompleto
Superior
Completo
Quantidade
Gráfico 3: Escolaridade dos moradores do Grande Rosa Elze.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
O gráfico mostra um universo de escolarizados, uma vez que todos os 68
comunitários têm algum nível de instrução. A escolarização, por mínima que
fosse, foi estabelecida como premissa da pesquisa para que o respondente
tivesse entendimento do questionário, e assim pudesse responder.
Percentualmente, os dados revelam que 36,76% dos cidadãos que
integram as comunidades do Grande Rosa não chegaram a completar o primeiro
grau. No outro extremo estão os 7,35% que completaram o último grau do nível
formal da educação.
Considerando-se as 50.161 pessoas acima de 10 anos, 41.431 pessoas do
município de São Cristóvão são alfabetizadas, um coeficiente de 82,6%. Dessas
41.431 pessoas, 24.067 (58,08%) freqüentam escola, sendo que 15.910 (66,10%)
estão no ensino fundamental. Os dados revelam, então, que nem todos chegam
ao final do ensino fundamental.
109
1.4 Ocupação funcional.
Os números relativos à ocupação funcional revelam que os homens,
embora sejam minoria populacional, são maioria quando se trata de mercado de
trabalho. Os dados do IBGE apontam que no município de São Cristóvão, a
ocupação de cargos de trabalho é da ordem de 56,51% por homens e 43,48% por
mulheres. Além de ocupar o maior número de postos de trabalho, os homens,
também, são melhores remunerados. A média mensal de rendimento para os
homens é de 2,6 salários mínimos, e de 1,6 salários mínimos para as mulheres.
5
16
17
30
0
5
10
15
20
25
30
35
Aposentados Autônomos Desempregados Empregados
Quantidade
Gráfico 4: Ocupação funcional dos moradores do Grande Rosa Elze.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
Dos 30 com emprego fixo 13 são funcionários públicos, dos quais seis são
professores. Os outros sete são agentes de saúde, auxiliares de enfermagem e
policiais. No quadro dos servidores na área privada aparecem prioritariamente
pessoas ligadas á área de segurança, oficinas mecânicas e serviços
administrativos.
Percentualmente 51,47% dos moradores da região têm renda mensal fixa
(empregados e aposentados), enquanto que 48,52% não possuem renda fixa,
110
como é o caso dos autônomos (23,52%) e das donas de casa e desempregados
(25%).
Os dados acima compõem o perfil da comunidade inserida no mercado de
trabalho: uma população entre 30 e 50 anos (66,17%), com escolaridade de
ensino médio, uma vez que 20 residentes disseram ter concluído o segundo grau,
um percentual de 29,41% dos respondentes.
Somente 8,82% têm o primeiro grau completo, e, por razões de
necessidades de sobrevivência, precisaram trabalhar, não prosseguiram nos
estudos. Somados estes 8,82% aos 36,76%, que não concluíram o primeiro grau,
têm-se um percentual de 45,58% de comunitários que não passaram do ensino
fundamental. Na faixa do ensino médio, tem-se um percentual de 42,64% -
somando os concludentes (29,41%) e os não concludentes (13,23%). Os
comunitários de nível superior situam-se na faixa de dos 11,76% (7,35% que
concluíram tal nível de estudo, contra os 4,41% que não chegaram a concluir).
Pouco mais da metade da população pesquisada tem emprego fixo,
perfazendo um percentual de 51,47%. Uma parte, 23,52%, tem rendimento
variável, uma vez que se insere em um de mercado de trabalho flutuante; e 25%
da população do Grande Rosa Elze não tem emprego.
2 Sobre o uso e necessidades de informação.
2.1 Procurou-se saber da existência de bibliotecas nas comunidades sendo
afirmado que não existe biblioteca em nenhuma das onze comunidades
pesquisadas configurando-se assim a inexistência de biblioteca pública no Grande
Rosa Elze.
2.2 Perguntados se, diante da ausência de biblioteca pública nas comunidades do
Grande Rosa Elze, freqüentam alguma biblioteca, a ausência desta não determina
a procura por outra fora das comunidades. É o que atestam 51 informantes (75%)
ao dizerem que não freqüentam qualquer biblioteca. Os outros 17 informantes
(25%) disseram freqüentar bibliotecas fora das comunidades. No entanto, só seis
111
usuários (8,82%) terminam se locomovendo para as bibliotecas públicas que
existem em Aracaju, uma vez que 11 (16,17%) usam a Biblioteca Central da
Universidade Federal de Sergipe, justificada pela facilidade de locomoção, uma
vez que a Universidade fica situada no bairro Rosa Elze, que dá nome a região
Grande Rosa Elze.
Em relação às visitas efetuadas às bibliotecas públicas em Aracaju, quatro
usuários (5,88%) referem-se à Biblioteca Pública Epifânio Dória, integrante da
Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe, e os outros dois usuários (2,94%)
referem-se à Biblioteca Pública Municipal Clodomir Silva, da Fundação de Cultura
de Aracaju.
Não existe, no entanto, uma freqüência sistemática às bibliotecas acima
citadas, pois 15 usuários (88,23%) dos que disseram ter tal atitude (17 usuários
que representam 25%) admitem fazer uso de forma ocasional. Apenas dois
(11,76%) dos 17 que usam uma biblioteca fora da comunidade registraram ter
freqüência semanal. Esse percentual corresponde a respondentes que têm o
ensino médio completo. Considerando-se o uso semanal de bibliotecas fora das
comunidades dentro do universo da pesquisa, a representação é da ordem de
2,94%.
2.3 Em relação à satisfação das necessidades de informação, ou seja, de ter sido
atendido quanto ao que desejava, considerando-se os 17 respondentes (25% do
universo da pesquisa), 64,7% (11) consideraram-se satisfeitos, e a insatisfação
representa 17% (apenas três informantes), enquanto outros 17% (três
informantes) não tiveram opinião, por se tratar de freqüência ocasional.
2.4 Sobre lugares possíveis de encontrar informação.
Perguntou-se ao residente do Grande Rosa Elze em que lugar ele
encontrou informação. Considerando-se que ele tenha precisado, a que lugar ele
recorreu. Foi listada uma série de locais, como associação de moradores,
biblioteca, escola, igreja, jornal, rádio, sindicato e televisão, equipamentos públicos
112
e midiáticos, que podem proporcionar informação aos comunitários. Foi permitido,
ainda, que o respondente pudesse informar qualquer outro lugar.
Solicitou-se que o respondente numerasse de acordo com a prioridade
dada ao lugar em que encontrou a informação. Solicitou-se ainda numerar a partir
do número um como o mais importante na prioridade de busca.
Em relação ao local em que encontraram as informações, a TV é o veículo
mais citado, com 25% de indicações; o jornal, com 17,64% de indicações, é o
segundo veículo mais procurado.
16
Escola, biblioteca e associação de moradores
aparecem juntas em terceiro lugar, com 13,25% das prioridades; rádio e igreja
aparecem com 5,88%. A Sub-Prefeitura instalada na Região foi citada apenas por
2,94%, enquanto que os sindicatos e o posto de saúde, indicado na categoria de
outro local, aparecem com 1,47%. (Gráfico 5).
999
4
12
4
1
17
3
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Asso cião
de
Moradores
Biblioteca Escola Igreja Jornal dio Sindicato Televisão Outros
Gráfico 5: Lugar em que o morador encontrou informação. Primeira opção.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
16
Credita-se ao encarte dos classificados dos jornais a indicação que confere aos jornais
uma segunda posição. Quando da aplicação do questionário alguns respondentes
disseram ter acesso a jornais, mas para consultar os classificados em busca de emprego.
Uma pergunta que se fez presente foi se os jornais de sindicatos e igrejas poderiam ser
citados.
113
Como segunda opção de preferência para procurar um lugar em que
pudesse ter atendida uma necessidade de informação, foram obtidos os seguintes
dados:
O rádio é o veículo mais importante para os cidadãos, com 23 indicações
(33,82%). Em segundo lugar aparece a TV, com onze citações (16,17%); a escola
é o terceiro local indicado, com nove votos (13,23%), seguida pela biblioteca e
pelo jornal, cada um com cinco indicações (7,35%); a associação de moradores
teve três citações (4,41%), postos de saúde e Internet foram citadas uma vez cada
(2,94%), enquanto que sindicato não foi citado e seis informantes (8,82%) não
fizeram uso da segunda opção, marcando apenas um único local em que
encontrou o que necessitou.
Quando se verifica o resultado tomando-se todas as opções de busca,
somando-se o total das nove opções, de forma linear, o resultado mostra que a TV
é o lugar preferido por 72,05%, vindo logo em seguida o rádio com 66,17%. Isso
significa que a TV e o rádio aparecem com os maiores índices de citações nas
duas primeiras opções. (Gráfico 6).
31
28
43
26
39
45
23
49
9
0
10
20
30
40
50
60
Associação
de
Moradores
Biblioteca Escola Igreja Jornal Rádio Sindicato Televisão Outros
Total
Gráfico 6: Lugar em que o morador encontrou informação. Somatório das opções.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
114
Os dados confirmam a realidade das possibilidades de disseminação de
informação na Região por meio da TV e do rádio, uma vez que os dois aparelhos
domésticos são os mais presentes nos domicílios de São Cristóvão. São 13.845
aparelhos de TV e 13.472 aparelhos de rádio nos 15.830 domicílios de São
Cristóvão; ou seja, 87,46% dos domicílios têm aparelhos de TV e 85,1 têm
aparelhos de rádio. Números maiores que o de geladeiras, que estão presentes
em 12.934 (81,7%) domicílios. Em compensação só 375 domicílios têm
microcomputadores, isso significa que somente 2,36% de residências em São
Cristóvão pode estabelecer contato com uma possibilidade de informação fora dos
canais formais de comunicação.
O número de rádios no GRE é de 94,11% e de TV é de 100%. Números
maiores que o de São Cristóvão no seu conjunto. Já a presença de computadores
em domicílios de São Cristóvão, é semelhante ao número de computadores
usados por residentes (número unitário de pessoas) do Grande Rosa Elze que é
de 10,29%, um pouco maior que o número de pessoas que acessam a Internet,
8,82%. O número de acesso à Internet está próximo do percentual de acesso
brasileiro que é de 11,66%, considerando-se os 21 milhões de acessos hoje feitos
no país.
2.5 Dificuldades encontradas quando precisou de informação.
Foram perguntadas quais as principais dificuldades encontradas quando o
cidadão precisou de informação. Foi solicitado que a resposta indicasse
prioridade das dificuldades porventura encontradas. Foram apresentadas
algumas situações possíveis de dificuldades como: acesso ao órgão,
desconhecimento de um local para consulta, distância de locomoção, falta de
documentos para consulta e ausência de pessoal para informar.
Os resultados da questão estão nos dois gráficos seguintes (Gráfico 7 e
Gráfico 8), que apresentam, respectivamente, os dados relativos à primeira
manifestação, e ao resultado transversal das dificuldades encontradas.
115
10
15
11
8
19
0
5
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
Acesso Local Locomão Documento Pessoal Outros Nenhuma
Gráfico 7: Principais dificuldades encontradas na busca de informação. Primeira
opção.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
A maior dificuldade encontrada quando pessoas das comunidades buscam
informação diz respeito à falta de pessoal para informar. Esse item foi apontado
por 26,8% dos pesquisados. Ou seja, eles não têm a quem recorrer para solicitar
ajuda, para ter a indicação sobre onde poderão encontrar a informação
necessitada. Este item está associado ao segundo mais apontado, que é o
desconhecimento de um local onde encontrar a informação que precisam (22,3%).
Somados estes dois itens, eles apontam 49,1% do que é visto como dificuldade
quando os moradores do Grande Rosa Elze precisam de informação.
A terceira dificuldade citada é conseqüência das duas primeiras, uma vez
que diz respeito à locomoção entre a moradia e um órgão a ser visitado (16,4%),
pois, não existindo a possibilidade de solução da informação na região, é preciso
ultrapassar fronteiras, é preciso se locomover até Aracaju.
Como pode ser observado quando questionados sobre a freqüência a
bibliotecas fora das Comunidades (ver 2.2) em que 25% disseram fazer uso de tal
expediente, registra-se que apenas 9% terminaram se locomovendo, pois os
outros 16% se detiveram na biblioteca universitária que fica no entorno da região.
Neste ponto reside uma questão que diz respeito ao valor do transporte público.
116
A dificuldade da locomoção é seguida pelo problema de acesso a um órgão
(14,9%): para serem acessados, é preciso vencer certa distância física, caso das
bibliotecas públicas de Aracaju, ou é preciso vencer a dificuldade de linguagem,
caso da Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe.
A informação propriamente dita, na forma do documento necessitado, é a
última dificuldade apontada. Entende-se, com essa posição, que a existência de
informação não é a etapa maior a ser vencida, e sim a existência de pessoal para
informar, um local para usar e um acesso possível.
Como segunda opção de dificuldade encontrada quando precisou de
informação, a locomoção foi a mais citada (17,9%), seguida da reclamação de
pessoal para informar (16,4%). O documento, ou seja, a informação propriamente
dita, assume uma posição intermediária, aparecendo em terceiro posto de
dificuldade (14,9%), seguido pelo local e acesso, ambos com (11,9%).
30
43
42
31
47
1
5
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Acesso Local Locomão Documento Pessoal Outros Nenhuma
Total
Gráfico 8:
Principais dificuldades encontradas na busca de informação. Somatório
de todas as opções.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
Considerando-se os números transversais, possíveis pela computação de
todas as opções, ou seja, tabulando-se todas as opções de cada um dos
respondentes, a ausência de pessoal para informar tem 47 indicações, 70,1%, o
117
que confirma a informação da primeira opção. 64,1% é a indicação das
dificuldades encontradas quanto a um local para buscar informação, e 62,6%
colocam no impedimento de locomoção as dificuldades para satisfação das
necessidades de informação.
2.6 Informação necessária no cotidiano.
Perguntou-se qual o tipo de informação necessária no cotidiano do
comunitário. Foi solicitado que numerasse as colunas de acordo com
necessidade, a partir do número um como a maior prioridade. Foi apresentada
uma relação de assuntos relativos ao dia-a-dia dos moradores: estudos, cultura,
moradia, negócios, saúde, trabalho e transporte. Foi dada a possibilidade ao
respondente acrescentar outra(s) atividade(s).
No tópico principal da pesquisa, que se refere ao levantamento de dados
quanto à informação necessária por parte dos comunitários, a pesquisa aponta
que a principal necessidade diz respeito à informação para educação (33,3%),
seguida de informação sobre saúde (30,3%) e sobre trabalho (12,1%). (Gráfico 9).
23
1
6
3
20
10
4
1
0
5
10
15
20
25
Estudos Cultura Moradia Negócios Saúde Trabalho Transporte Outros
Gráfico 9:
Tipo de informação necessária. Primeira opção.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
118
No conjunto das opções, a saúde aparece como o tipo de informação mais
necessitada pelos moradores do Grande Rosa Elze. São 77,94% de indicações
de necessidades desse tipo de informação. Em seguida, vêm as necessidades
referentes a questões ligadas a trabalho (72,05%), aparecendo em terceiro lugar
as necessidades de informações para estudos (educação formal e informal) com
64,7% de indicações. (Gráfico 10).
44
36
30
33
53
49
34
1
0
10
20
30
40
50
60
Estudos Moradia Saúde Transporte
Total
Gráfico 10:
Tipo de informação necessária. Somatório de todas as opções.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
Esses dados, relativos às necessidades de informações das 11
comunidades que integram a região do Grande Rosa Elze, reforçam as
manifestações dos líderes comunitários, durante a realização do grupo de foco,
quando colocaram como prioridade a necessidade de informação sobre saúde.
Saúde, trabalho e educação, são as necessidades de informação reclamadas
pelos moradores que responderam aos questionários.
O que chama a atenção no resultado transversal é o aparecimento das
informações culturais como quarta indicação no conjunto, quando como primeira
prioridade foi a última com apenas 1,47, junto à questão política, citada como
outra atividade por um morador. Esse dado pode ser justificado ao ser
relacionado o processo cultural ao educacional. Nesse sentido, era constante, ao
119
responder ao questionário, fazer-se o comentário de que não existe nada de
cultura na Região, mas que cultura era importante.
Essa posição reforça a preocupação dos líderes comunitários, ao dizerem
que lá não existia nada em relação à cultura como entretenimento e diversão,
como cinema, teatro, museu, galeria, concha acústica, e que a única possibilidade
de diversão era o futebol (Luzia, APÊNDICE C, p. 149).
2.7 Acesso às informações necessitadas.
A seguir, procurou-se saber quais os canais ou as fontes usadas para
conseguir tais informações. Para isso procurou-se saber sobre o uso de suportes
impressos e midiáticos, por parte da comunidade.
2.7.1 Sobre o uso de periódicos, fica demonstrado que tal recurso não está ao
alcance dos comunitários, pois apenas três disseram assinar periódicos. A
questão da assinatura reveste-se de necessidade de trabalho, já que dois são
professores e usam as revistas Nova Escola e TV Escola como instrumentos de
trabalho, o que reforça o item anterior quanto à informação necessária para
estudos. (Registre-se que, dos 30 moradores com rendimento fixo no mercado de
trabalho, oito são professores.) O outro depoente, um funcionário de empresa
estatal aposentado, assina revistas semanais de informação geral.
2.7.3 Contrário ao quesito da informação impressa, a informação midiática é
absoluta na preferência dos comunitários. Quando perguntados se possuíam
aparelho radiofônico, apenas quatro disseram não tê-lo em casa. Dos 64 que
possuem, 48 fazem uso diário do aparelho. Os programas noticiosos
sensacionalistas numa linha editorial própria, misturando política e polícia,
alicerçados na denúncia e pouca ou nenhuma informação, são os campeões de
audiência, com 40 opções dos 48 considerados, inclusive os que não usam o rádio
diariamente. Os programas de entretenimento (musicais, horóscopos, etc.)
aparecem em segundo lugar, seguidos pelos programas evangélicos.
120
2.7.4 Na questão TV, todos os que responderam aos questionários têm o
receptor de imagens em casa, e 59 deles (86,76%) assistem a programação
diariamente. Os jornais televisivos são os programas preferidos por 52 pessoas
(76,47%), sendo seguido pelas telenovelas com 21 citações (30,88%).
Em contrapartida, a questão da democratização da informação via televisão
pode ser questionada pelo fato de que, mesmo tendo o aparelho de televisão e
com 86,76% (59 informantes) ligando-a diariamente, estas pessoas estão
desligadas da tecnologia da informação de ponta, ou do acesso que esta permite,
pois somente um morador pesquisado tem TV a cabo.
Esse perfil desconectado de uma realidade que se diz global fica patente
quando as pessoas são instadas a responder sobre o uso de computador.
Apenas sete (10,29%) têm computador em casa, nove (13,23%) têm acesso no
trabalho e 52 (76,47%) nunca usaram um computador.
Esses números se assemelham à questão que diz respeito ao acesso à
Internet. Dos sete que têm computador em casa, seis utilizam a rede mundial de
computadores. Cinco disseram poder acessar no trabalho, e 55 apontaram que
nunca tiveram contato com a Internet. Dois respondentes que optaram por
responder que não acessam a Internet disseram já ter usado em uma ocasião em
uma LAN House.
17
Observe-se, entretanto, que não existe LAN House nas
comunidades pesquisadas.
Os acessos, em sua maioria, são por linha discada, o que dificulta a
freqüência mesmo dos que acessam. Dos onze, apenas um usa a Internet
diariamente. A maioria (sete) acessa semanalmente (sem precisar o número de
vezes), e os outros por um espaço superior a duas semanas, em média.
2.8 Importância do local que possui informação.
17
LAN (Local Area Network). LAN House, casa em que se colocam à disposição do
público computadores em rede.
121
Buscou-se saber qual a importância de alguns locais possíveis de se
encontrar informação quando existe necessidade. Apresentou-se uma relação de
locais: associação de moradores, biblioteca, escola, espaço cultural, igreja, jornal,
rádio, revista e televisão. Para responder a questão, solicitou-se usar a escala
que vai de muito importante a sem importância.
0
10
20
30
40
50
60
Assoc ia ç ão
de
Moradores
Biblioteca Escola Espaço
Cult ural
Igreja Jornal Rádio Revist a Televisão
Muito importante
Importante
Pouco importante
Sem importância
Gráfico 11: Importância do local em que podem ser encontradas informações.
Fonte: Elaboração própria com base nos dados da pesquisa.
As respostas apresentadas no gráfico acima, em relação à importância que
as pessoas das comunidades dão ao local em que podem encontrar informação,
levam à seguinte classificação:
1˚ – Escola, com 80,88%;
2˚– Biblioteca, com 69,11%;
3˚ – Jornal, com 58,82%;
4˚– Igreja, com 55,88%;
5˚ – Televisão, com 52,94%;
6˚ – Rádio, com 51,47%;
7˚ – Associação de moradores, com 42,64%;
8˚ – Revista, com 22,05%;
9˚ – Espaço cultural, 17,64%.
122
Essa classificação guarda uma lógica, pois, a comunidade, convivendo
rotineiramente com problemas sociais, entende:
a) a escola como um lugar em que as informações podem ajudar a
melhorar as questões sociais por meio da educação, residindo, nesse
contexto, a preocupação com o mercado de trabalho;
b) a biblioteca é associada à escola, é como ela é conhecida;
c) o jornal está associado às entidades sindicais, e aos classificados em
busca de emprego;
d) a igreja tem a recorrência da necessidade de expressão da fé, muito
presente na atual sociedade.
2.9 Importância da biblioteca, TV e rádio como fontes de informação, diversão e
lazer.
Procurou-se saber como a instituição biblioteca e as empresas de
comunicação da informação são vistas em relação a importância que cada uma
delas têm como fonte de informação e diversão para a comunidade. O resultado é
o seguinte:
a biblioteca pública é considerada fonte de informação muito importante por
63 dos respondentes (92,64%), enquanto que, a diversão e o lazer como
atividades foram considerados muito importantes por apenas oito
comunitários (11,76%);
o rádio é considerado por 73,52% (50 pessoas) como muito importante
fonte de informação, e por 22,05 (15) como muito importante como fonte de
diversão e lazer;
a TV é considerada muito importante como fonte de informação por 59
informantes (86,76%), e como fonte de diversão e lazer por 18 (26,47%).
123
Os números acima revelam o aspecto primordial de como o rádio é usado
na região, transformando-se em instrumento de comunicação de informações,
dentro dos programas interativos, normalmente matutinos.
2.10 Importância da TV e rádio no atendimento das necessidades de informação.
Perguntados como vêem a TV comercial e a TV pública em relação ao
atendimento das suas necessidades de informação e diversão, os informantes
assim se manifestaram:
a TV comercial é muito importante no atendimento das necessidades de
informação para 33 informantes (48,52%), e é muito importante no
atendimento das necessidades de diversão e lazer para 28 residentes
(41,17%);
a TV pública, a rede educativa de televisão, como fonte de informação é
considerada muito importante no atendimento das necessidades por 25
pessoas (36,76%), e muito importante no atendimento das
necessidades de diversão e lazer por 21 informantes (30,88%).
124
10 CONCLUSÃO
No dia 22 de outubro de 2006, às 8h54min, foi endereçado um e-mail a um
dos colunistas da Página www.ofaj.com.br
, por meio de contato por visitante. O
visitante JBSB, após ler na página um comentário sobre o filme Diários da
motocicleta, e precisando de informações para escrever um trabalho sobre o filme,
ao qual deveria assistir, resolveu escrever para o colunista solicitando ajuda.
Necessitando de informação sobre o assunto, utilizou a Internet por puro
acaso. Morando no interior, em um lugar onde não existe biblioteca, um colega fez
a indicação da página, para leitura da coluna específica sobre a informação
necessitada, e permitiu que ele usasse o computador em busca das informações.
Como na Internet não existe fronteira geográfica, e a privacidade do
internauta está respeitada, não é possível saber de que lugar do Brasil foi
originada a mensagem. A Página www.ofaj.com.br
, hospedada em provedor
situado em Londrina, no Paraná, pode ser lida em qualquer lugar do Brasil e do
Mundo que tenha conexão com a rede mundial de computadores. O leitor, e
visitante, do sítio mencionado está no Brasil, posto que, no endereço eletrônico é
possível identificar o registro .br
. Mas não se sabe em que lugar do Brasil. Tanto
pode ser no interior do Paraná, quanto no interior de Sergipe. Pode estar em
qualquer comunidade carente de qualquer estado brasileiro.
Nesse contexto, o visitante da página, acima citada, aproxima-se do
morador do Grande Rosa Elze pela carência de informação. No seu núcleo
habitacional, não existe uma biblioteca pública para consulta, bem como não
existe um lugar público para acessar a Internet. Mas, com certeza, existe a TV e o
rádio, integrados à paisagem globalizada da informação, por meio das
transmissões de longo alcance, como os canais disponíveis pelo sistema de
antenas parabólicas e os de TV a cabo. O lugar em que mora JBSB (iniciais do
visitante, respeitando a sua identidade) é semelhante ao Grande Rosa Elze, onde
a informação não acontece, um lugar carente de informação. Semelhança que
confirma a sentença de Martim-Barbero (2001, p.206) de que “[...] o que nos
constitui é o que nos falta, o que nos constitui é a carência”.
125
Necessitando de informação (para a educação formal, por tratar-se de um
trabalho escolar), provavelmente, por não contar com uma biblioteca escolar, deve
ter recorrido a uma biblioteca pública, com a qual também não pôde contar, e
posteriormente, considerando o mundo globalizado em que vive, deveria ter
recorrido a um lugar público onde pudesse usar um computador, e assim,
conectado à rede mundial de computadores, enfim, fazer a sua pesquisa. Mas,
nesse lugar do interior do Brasil, em que mora JBSB, não existe um órgão público
que proporcione aos seus cidadãos o acesso à informação, via Internet. Assim, a
sua busca para suprir uma necessidade de informação foi contemplada por uma
iniciativa particular, a permissão de uso de um computador privado.
No Brasil as tecnologias da informação e da comunicação – satélites,
informática, televisão - presentes em espaços múltiplos, globais, não se fazem
presentes com tal intensidade nas comunidades, muito menos nas regiões
periféricas, quase sempre carentes. A televisão e o rádio são as presenças mais
firmes e constantes. Mas a informática e os satélites, os meios tecnológicos
possíveis de provocar mudanças de comportamento, para quem ainda tem
necessidades a serem contempladas, não fazem parte do cotidiano dessas
comunidades.
A pesquisa realizada nas comunidades Rosa Elze, Rosa Maria, Eduardo
Gomes, Jardim Universitário, Vila de São Cristóvão, Madre Paulina, Luiz Alves,
Tijuquinha, Lafaiete Coutinho, Rosa do Oeste e Maria do Carmo, que reunidas
formam a região metropolitana denominada de Grande Rosa Elze, em
determinado momento evidencia que nada acontece na região. É quando, durante
o grupo de foco, os líderes comunitários atestam que, além da inexistência de
biblioteca pública, tampouco existe qualquer outro equipamento público que
viabilize informação e cultura.
Configura-se assim, a ausência de outros meios de acesso à informação.
Então, além da inexistência de biblioteca, e, conseqüentemente, de livros, não
existem computadores colocados à disposição pública, o que impossibilita o
acesso à Internet, o meio de acesso à informação mais difundido modernamente.
126
Isolada do mundo globalizado, no quesito tecnologia da informação, a
comunidade tem na TV e no rádio os comunicadores de informações, e o
processo interativo proporcionado pelo rádio pressupõe a solução dos problemas
do cotidiano. No entanto, as soluções, embora pontuais, restringem-se às
reclamações em relação a assuntos que demandam solução imediata. Este tipo
de interação não cria vínculo de desenvolvimento, de mudança de comportamento
para procurar fazer as coisas ainda melhores.
Isso revela que uma área tão próxima do mundo científico, separada
apenas por uma cerca e uma rua, de uma área em que se desenvolve a prática
científica e tecnológica, o Campus da Universidade Federal de Sergipe, não conte
com o apoio deste mesmo mundo, ao não inserir o local em que se desenrola a
vida cotidiana na sua prática acadêmica e científica. A tecnologia existente no
Campus esbarra numa cerca e não consegue atravessar uma rua. Configura-se a
exclusão social provocada pela tecnologia da informação.
Neste sentido, excluída do mundo globalizado, como viabilizar a produção e
a divulgação de informação? A rádio comunitária é uma saída, conforme a
colocação de vários líderes, que vêem numa emissora de rádio a concretização da
comunicação da informação. É pertinente lembrar que a produção de informação
impressa é cara, além da questão do público mais reduzido por causa dos índices
de competência de leitura.
A respeito do assunto leitura, observa-se que o Programa Campus
Aproximado, citado no início deste trabalho (capítulo 1: Introdução), não trata de
informação, conhecimento e leitura em suas ações, em que pese ser a área do
Grande Rosa Elze definida, formalmente, como de práticas acadêmicas, e
reconhecer que os contingentes populacionais existentes na área, não possuem o
domínio da leitura e da escrita.
A realidade a que está exposta à comunidade do Grande Rosa Elze, em
relação às suas necessidades de informação, diz respeito ao convívio com o rádio
e a TV, como pode ser visto quando perguntados em que local encontram as
informações (capítulo 9: Análise dos dados). No entanto, tal realidade não se
coaduna com os anseios, pois, quando perguntados sobre a importância que dão
127
a determinados locais, o rádio e a TV passam a ocupar o quinto e o sexto lugares,
respectivamente. O que comprova a hipótese defendida neste trabalho, de que
não tendo acesso a algum órgão público que dissemine a informação, os
residentes dos núcleos habitacionais da Região se conformam com as
informações proporcionadas pelos veículos de comunicação de massa.
Por outro lado, a escola e a biblioteca se apresentam como os dois locais
mais importantes para a comunidade, o que revela uma preocupação social. Neste
sentido, conclui-se pela importância da existência de uma biblioteca pública no
Grande Rosa Elze, posto que, ao considerar a escola e a biblioteca como os locais
mais importantes onde se pode encontrar a informação, a comunidade, mesmo
não sendo algo consciente do ponto de vista acadêmico, mas consciente do ponto
de vista social, insere a informação nos procedimentos de informação para o
conhecimento.
As necessidades, então, se configuram em dois aspectos:
1º – as necessidades para a educação formal, escolar, quando as famílias
concretamente precisam suprir as deficiências de pesquisa para a confecção de
trabalhos escolares, uma vez que não solucionam tal problema nas escolas;
2º – as necessidades para a melhoria do padrão de vida, quando precisam
de informação para a saúde, como procedimento familiar, para a educação
profissionalizante, como forma de inserção no mercado de trabalho, e para o
transporte e moradia, como a melhoria do bem estar social.
Ao término da pesquisa, algumas questões foram respondidas: o tipo de
informação necessária; quem necessita de informação, e porque precisam dela:
a informação necessária, tanto para os líderes comunitários, quanto para os
comunitários, diz respeito a questões de saúde, educação e de trabalho;
a informação é necessitada, principalmente, pelos que estão no mercado
de trabalho e na escola. Em ambos os casos a necessidade se prende ao
fator social do conhecimento para provocar ação de mudança pessoal;
precisam, individualmente, para tentar ascender na vida profissional, e
coletivamente, para o desenvolvimento social da comunidade.
128
Voltando à questão da necessidade de informação sobre saúde, ela é
unanimidade entre as lideranças comunitárias. Essa é a grande dificuldade
encontrada pelas lideranças, a questão da informação para a orientação no
atendimento da saúde, já que no GRE não existe tal tipo de informação, a
considerar o que dizem os líderes comunitários (capítulo 9: Análise dos dados).
Existem as necessidades de informação, que não podem ser satisfeitas, pois não
existem órgãos públicos dedicados à questão.
Neste sentido, a biblioteca pública, tradicionalmente responsável pela
circulação da informação, desde a captação à disponibilização, não estando
presente em uma região, com uma população estimada em 50.000 habitantes,
distribuídas em 11 núcleos habitacionais, abre uma lacuna em um tipo de serviço
público necessário para satisfação das necessidades básicas, lacuna essa
ocupada pelos veículos de comunicação de massa, que terminam criando um
sentimento dúbio em relação aos dois principais veículos de comunicação: a TV e
o rádio. Embora vaga, existe uma noção, por parte dos líderes comunitários,
embora vaga, e sem sustentação científica, de que a TV manipula a informação,
de que aquilo a que o telespectador tem acesso não é verdade (capítulo 9: Análise
de dados). Essa noção não existe em relação ao rádio, já que este permite a
interação entre ouvinte e apresentador e trata de temas específicos de interesses
do dia-a-dia.
Assim, sendo o rádio o principal veículo de comunicação da informação,
apresentando-se como um canal possível de dar voz ao povo, estabelecendo-se
como o veículo de comunicação mais democrático, vislumbra-se para os líderes
comunitários a solução dos problemas de informação nas comunidades: a criação
de uma emissora de rádio comunitária.
Mesmo tendo essa noção em relação ao rádio, os líderes comunitários
consideram que a existência de uma biblioteca pública é primordial e tem um
papel importante a ser desempenhado na comunidade. A biblioteca enseja a
possibilidade da circulação de livros e informação, tomando-se como pressuposto
que as pessoas não compram livros ou jornais pela questão econômica. É
evidente que, embora o problema financeiro exista, não é o único fator de
129
impedimento, pois se deve também considerar o fato de que as pessoas não têm
o hábito da leitura.
Diante da ausência de um órgão público dedicando-se à prestação de
serviços em informação, como as lideranças comunitárias podem conseguir
informações e fazer chegar aos moradores? Esta é a questão que eles tentam
equacionar. Argumentam que estão abandonados pelo setor público: não existe
biblioteca pública, nem qualquer outro órgão similar que possa ceder informação
ao público. A TV e o rádio, veículos a que recorrem, estão presos a suas
programações entre a diversão e a informação de notícias.
Como capilares de uma rede de moradores, que convivem com
necessidades que vão das básicas às derivadas, alegam, os líderes comunitários,
que, se eles encontram dificuldades na busca de informação, então, essa busca é
muito mais difícil para o morador comum. São pessoas que não têm acesso aos
órgãos públicos em busca de resultado para suas demandas, e portando não têm
as suas necessidades de informação atendidas.
Existem necessidades de informação em saúde, trabalho, educação e
cultura; prioritariamente, no entanto, tendo em vista as dificuldades de serem
atendidas, as comunidades se conformam com as informações possíveis. As
demandas, direcionadas aos canais possíveis (a informação buscada nos canais
de comunicação), encontram as respostas possíveis, nos rádio e TV, e não
contam com o apoio do poder público.
Este trabalho trata de informação, mas tendo em vista a Biblioteca como
órgão público, que dá suporte à informação, que comporta todos os suportes
impressos e midiáticos. Assim, em que pese argüir-se que, hoje, a Internet é
muito mais disseminada (quantitativamente), que há muito mais gente conectada à
internet do que indo à biblioteca, a internet não é equipamento público, é um
instrumento de pesquisa, não é um órgão; portanto, a internet não está de portas
abertas ao público, ela não está disponível para quem lá quer entrar, ela está
disponível em órgãos, sejam públicos ou privados.
Considerando-se que, na Região, não existe um serviço de informação
prestado pelo poder público, este trabalho conclui pela necessidade da presença
130
de uma biblioteca, órgão público responsável por serviço de informação. A
biblioteca pública, como órgão público, atinge a todos, indistintamente, o que
permite, teoricamente, que possa, alcançar o maior número possível de
comunitários.
Embora ainda se veja a biblioteca como o local de livros, na verdade ela
pode e deve ser vista como um local de informação. A correlação com o suporte
livro, mais que a própria relação histórica, diz respeito aos acervos e à questão
básica para o seu uso: a leitura. Acervos atualizados e bibliotecas equipadas já
dimensionam uma nova ordem de uso e possibilitam o acesso às informações
mais que o livro. A biblioteca pública, existindo, pode contemplar o acesso à
internet, e trabalhar para a inclusão digital.
Recomendação:
A Universidade Federal de Sergipe, como aglutinadora dos núcleos
habitacionais que resultaram no Grande Rosa Elze, deve ter uma atuação maior
na região, incluindo no Programa Campus Aproximado, visando o trato da
informação, conhecimento e leitura em suas ações. Um exemplo: considerando-
se a questão do lixo, já que existem bolsões a céu aberto e a Prefeitura tem o
serviço de coleta, o papel da Universidade seria o de informação para a educação
ambiental e uma proposta de reciclagem de lixo na área. Além disso, trabalhar em
um programa que contemple um projeto de inclusão digital.
131
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137
APÊNDICE A - ROTEIRO DA ENTREVISTA REALIZADA COM OS LÍDERES
COMUNITÁRIOS DO GRANDE ROSA ELZE
Este roteiro de entrevista tem como objetivo verificar o entendimento dos
líderes comunitários da região do Grande Rosa Elze no que diz respeito à
informação, quais as demandas e as necessidades existentes, e como resolvem
os problemas do dia-a-dia a partir das informações que necessitam.
1) Para o Sr(a) qual o papel de uma biblioteca pública no dia-a-dia da
comunidade?
- Qual a importância que o Sr(a) dá a informação existente em uma biblioteca
pública?
2) Na sua visão qual o papel da TV e do rádio no dia-a-dia da comunidade?
- Que importância o Sr(a) dá a informação vinculada na TV e no rádio?
- A televisão e o rádio aumentam a participação da comunidade como cidadãos
na sociedade?
- Quais os aspectos que podem ser trabalhados no cotidiano da comunidade?
- Os sistemas de comunicação de massa, tipo TV e Rádio, ajudam a melhorar
as condições de vida das comunidades? De que forma?
3) De que tipo de informação o Sr(a). precisa?
- Quais as dificuldades encontradas quando precisa de informação?
- Consegue atender as suas necessidades de informação?
- Quais os meios utilizados pelo Sr(a). para conseguir a informação desejada?
4) Existe na comunidade um órgão público (biblioteca ou outro) que disponibilize
ou facilite a informação para os cidadãos?
- Na sua comunidade existem projetos que a beneficiem em relação à questão
da informação?
138
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO APLICADO JUNTO À COMUNIDADE DO
GRANDE ROSA ELZE
Este questionário tem como objetivo verificar as necessidades de
informação existentes nas comunidades do Grande Rosa Elze, e como, e onde, os
comunitários buscam as informações necessárias. Está dividido em dois campos:
o primeiro diz respeito aos dados pessoais do respondente; o segundo às
questões ligadas ao uso e necessidade da informação. Faz parte do processo
metodológico, quanto ao levantamento de informações sobre as comunidades
pesquisadas, referente a Tese de Doutoramento em Comunicação junto a Escola
de Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo
Comunidade em que mora: ___________________________________________
I – Dados pessoais.
Nome: ____________________________________________________________
Endereço: ________________________________________________________
Idade:_________________Sexo____________ Estado civil: _________________
Escolaridade: ______________________________________________________
Ocupação funcional: _________________________________________________
II – Uso e necessidades de informação.
1Existe uma Biblioteca Pública na sua comunidade?
(Atenção: não considerar a Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe)
Sim ( ) Não ( )
Se respondeu Sim, responda agora aos itens 1.1 e 1.2
1.1 O Sr.(a) a freqüenta ?
Sim ( ) Não ( )
1.2 Com que freqüência ?:
Diária ( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal ( ) Ocasional ( )
139
2 O Sr(a) freqüenta alguma Biblioteca fora da sua comunidade?
Sim ( ) Não ( )
2.1 Caso freqüente, diga qual: _________________________________________
2.2 Com que freqüência ?
Diária ( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal ( ) Ocasional ( )
3 O Sr(a) considera a Biblioteca Pública, caso freqüente, um local que satisfaz as
suas necessidades de informação?
Sim ( ) Não ( )
4 Quando o(a) Sr(a) precisou de informação encontrou em que lugar? Numere de
acordo com a prioridade dada pelo(a) Sr(a), a partir do número 1 como o mais
importante na sua prioridade.
Atenção: é importante que o Sr(a) numere as colunas, portanto não coloque x.
Associação de Moradores ( )
Biblioteca ( )
Escola ( )
Igreja ( )
Jornal ( )
Rádio ( )
Sindicato ( )
Televisão ( )
Outro(s) lugar(es): ( )
__________________________________________________
5 Quais as principais dificuldades encontradas quando o Sr(a) precisou de
informação? Numere de acordo com a prioridade dada pelo(a) Sr(a). ), a partir do
número 1 como o mais importante na sua prioridade.
Atenção: é importante que o Sr(a) numere as colunas, portanto não coloque
x.
140
Acesso ao órgão ( )
Desconhecimento de um local para consulta ( )
Distância de locomoção ( )
Falta de documentos para consulta ( )
Ausência de pessoal para informar ( )
6 Qual o tipo de Informação que o Sr(a) necessita no seu dia-a-dia? Numere de
acordo com a sua necessidade. ), a partir do número 1 como o mais importante na
sua prioridade.
Atenção: é importante que o Sr(a) numere as colunas, portanto não coloque x.
Estudos ( )
Cultura ( )
Moradia ( )
Negócios ( )
Saúde ( )
Trabalho ( )
Transporte ( )
Outra(s) atividade(s) ( )
________________________________________________
7 Assina algum jornal e/ou revista?
Sim ( ) Não ( )
Se assina, cite qual(ais):__________________________________________
7.1 Tem rádio?
Sim ( ) Não ( )
7.2 Se tem, ouve com que freqüência:
Diária ( ) Semanal ( ) Ocasional ( )
7.3 Quais os programas preferidos?
Cite-os:___________________________________________ _______________
141
8 Tem TV?
Sim ( ) o ( )
8.1 Se tem, assiste com que freqüência:
Diária ( ) Semanal ( ) Ocasional ( )
8.2 Quais os programas preferidos?
Cite-os:____________________________________________________________
9 Tem assinatura de TV a cabo ?
Sim ( ) Não ( )
9.1 Se tem, quais os programas preferidos?
Cite-os:____________________________________________________________
10 Usa computador?
Em casa ( ) No trabalho ( ) Não usa ( )
10.1 Acessa a Internet?
Em casa ( ) No trabalho ( ) Não acessa ( )
10.2 Se acessa, diga com que freqüência:
Diária ( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal ( )
Para responder as questões a seguir, use a seguinte escala:
Muito importante Importante Pouco importante Sem importância
4 3 2 1
11 Qual a importância que o Sr(a) dá a esses locais onde você pode conseguir
informação:
Atenção: é importante que o Sr(a) responda a todos os itens.
142
Ass.
Moradores
4 3 2 1
Biblioteca 4 3 2 1
Escola 4 3 2 1
Espaço
cultural
4 3 2 1
Igreja 4 3 2 1
Jornal 4 3 2 1
Rádio 4 3 2 1
Revista 4 3 2 1
TV 4 3 2 1
12 Para você uma biblioteca pública é fonte de:
Informação 4 3 2 1
Diversão e lazer 4 3 2 1
13 A TV é fonte de:
Informação 4 3 2 1
Diversão e lazer 4 3 2 1
14 O rádio é fonte de:
Informação 4 3 2 1
Diversão e lazer 4 3 2 1
Para responder as questões a seguir use a seguinte escala:
Muito Pouco Muito pouco Nenhuma
4 3 2 1
143
15 Considerando a questão do acesso à TV, o Sr(a) considera que a TV comercial
(Globo, SBT, e outras) atende alguma das suas necessidades de:
Informação para o dia-a dia 4 3 2 1
Diversão e lazer 4 3 2 1
16 A TV Pública (TV Aperipê) atende alguma das suas necessidades de:
Informação para o dia-a-dia 4 3 2 1
Diversão e lazer 4 3 2 1
144
APÊNDICE C – TRANSCRIÇÃO DAS FITAS DO GRUPO DE FOCO
REALIZADO COM OS LÍDERES COMUNITÁRIOS DO GRANDE ROSA ELZE
Em 13 de dezembro de 2005; das 16h30m às 18h.
Local: sala Audiovisual 1 da Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe
_________
Participantes:
Antônio José – Associação dos Moradores do Conjunto Rosa Maria.
Cláudio – Conselho Comunitário do Jardim Universitário.
Jairo – Associação Comunitária Loteamento Rosa do Oeste.
Luzia – Associação dos Moradores do Tijuquinha.
Mario Jorge – Federação das Associações Comunitárias de São Cristóvão.
Murilo – Associação dos Moradores de Vila de São Cristóvão.
Roberto – Associação dos Moradores de Madre Paulina.
1ª questão: Qual o papel da televisão e do rádio no dia-a-dia da sua comunidade?
Que importância os Srs. E Sras. Dão a informação veiculada na TV e no rádio?
Roberto – Informar a sociedade.
M.Jorge – É veículo de informações. Informar com opinião, educação,
entretenimento, diversão. Buscar o que ocorre no Brasil e no mundo com
aprofundamento.
Murilo – A televisão tem muito a desejar, ela tem muito sensacionalismo, mostra
tudo distorcido e não diz a verdade. É uma programação de matéria paga, e leva
a comunidade a acreditar em algo que vai, vai e termina aceitando, se acomoda.
145
A. José – A informação, de modo geral a televisão tem o personalismo, tem a
informação que leva as piores conseqüências, e não tem a contrapartida da
informação que é o próprio debate para a comunidade.
M.Jorge – A televisão não faz com que a comunidade aumente a participação,
pois ela não é democrática. A TV tem o poder de concentrar a mente das
pessoas, fazer com que essas pessoas acreditem no que ela propôs. Quanto a
isso que é que nós podemos fazer para melhorar isso, eu acredito que muito
pouco no sentido dela ouvir a sociedade, mas valeria a pena ver como seria
através de programas como esse (se referindo ao grupo de foco). Se nós
levarmos em conta determinados programas de má qualidade para nossos filhos
isso poderia mudar através de estudos da Universidade.
Luzia – Sobre a Televisão, acho que ela informa muita coisa, mas ao mesmo
tempo mostra muita violência, ela vê a desgraça muito mais do que a informação.
Ela não ajuda no cotidiano da comunidade. Só faz atrapalhar. A miséria, do povo,
a gente que mora na comunidade, a gente sabe o que tá passando. Cada vez
mais pior do que já anda. Eu tiro pelo meu trabalho. Agora quando é tempo de
eleição, chega todo mundo, tem isso, tem aquilo outro. Mas na realidade para
chegar junto, para ajudar a comunidade é nada.
Moderador – Há um dado posto. Segundo sua colocação a TV tem duas posturas:
no dia-a-dia e no período de eleição.
Luzia – A televisão tem uma participação decisiva na eleição, e nesse lado acho
que é negativa. Mostra coisa que não é nada disso, não.
Moderador – Mas você está se referindo ao programa eleitoral...
Luzia – Não, não falo de programa eleitoral não. É de informação. Porque fala
isso e aquilo, mas na realidade se for analisar e ver não é nada daquilo do que
146
fala. De informação, não de programa eleitoral. Porque vão pra televisão e falam
aquelas coisas toda. E a gente só conhece mais as coisas é pela informação da
televisão. A televisão é que ensina mesmo.E a comunidade, na comunidade ter
uma televisão em casa é a melhor coisa do mundo.
Observador – Tem alguma outra fonte de informação das coisas que acontecem
no mundo, que não rádio e televisão?
M. Jorge – O jornal. Mas alguns de nós líderes comunitários. A comunidade não.
Não tem acesso a jornais.
Moderador – E o rádio? Como fica na comunidade?
Luzia – O rádio, acho que o pobre tem mais acesso que a televisão. Pra
denunciar, pra entrar em contato com a pessoa que ta falando dentro do
programa. É mais fácil pra pessoas da comunidade ter como entrar em contato
com essas pessoas (radialistas e políticos). Mas televisão mesmo é vago.
Moderador – Embora a TV seja o veículo mais visto, tenha uma penetração maior,
o rádio é o veículo que pode proporcionar a participação da comunidade no
cotidiano?
Murilo – É que o rádio tem um espaço aberto, e a TV não, ela tem apenas uma
programação. Ela vende o que ela quer vender. E o rádio apesar de também ter
isso, de vender o que quer vender. E o rádio apesar de também ter isso, de
vender o que quer vender, mas abre aquele espaço. Uma prática, vamos dizer
assim, de uma certa visão de poder voltar atrás em alguma notícia. Quando faz
uma matéria na comunidade, assim, assim, assim, e a gente êpa, peraí, não é
assim não, e no outro dia ele (o rádio) se retrata, a TV não, ela não tem condições
de se retratar, de fazer outra matéria no outro dia. Ela não abre espaço para a
comunidade.
147
Observadora – O rádio é mais democrático, mas apesar disso a televisão é mais
influente.
Murilo – O rádio é mais democrático.
Observadora – Aracaju tem sete programas de rádio matutino.
Murilo – A comunidade acompanha e varia de comunidade para comunidade o
programa preferido. Os que não escutam não é porque não gostam é porque não
têm tempo para escutar naquele horário do trabalho, mas que ele tem um espaço
aberto para participar, a comunidade tem.
Moderador – O rádio ajuda a comunidade a participar da sociedade?
Murilo – Ajuda! (todos concordam). O rádio é mais participativo para a
comunidade.
Observadora – Mas o dono do rádio é um político, e o apresentador, muitas vezes,
é outro político, que tem seus interesses. Então, a comunidade, vocês das
associações têm consciência de que quando vão para o rádio, muitas vezes que
além do interesse de vocês existe outro interesse?
A. José – Sem dúvida. O político só tem interesse. Assim, como a TV tem toda
essa consciência de que não ela não é liberal, ela é contrária, de que ela é restrita
à participação da comunidade, ou seja, ela só trabalha o que dá Ibope. Então, se
for uma coisa que tenha Ibope ela vai. O rádio, com toda essa coisa de liberdade,
de poder falar, então o rádio diferente de ter interesse ele ta presente. O jornal
seria o que mais se aproximaria. Mas há uma falta de educação de ler, uma crise
de ler. Então na televisão tá ali a notícia, então ele já sabe de tudo sem precisar
ler. Para ler ele precisaria se deslocar, comprar o jornal, uma série de coisas.
148
Então na TV tá tudo ali. Programa de rádio, dentro desses programas que é
aberto à comunidade, com certeza eles têm Ibope na comunidade, por que cada
vez mais dão voz aquelas pessoas que representam a comunidade. Tanto as
emissoras AM quanto FM tem programas que permitem a participação da
comunidade.
Moderador – Vocês associam a questão de que a TV quando se reporta á
informação isso está ligado ao noticiário, então o papel da TV na comunidade é
passar o noticiário, não existe informação na programação como um todo; outra
fonte citada foi o jornal, mas tem o agravante de que as pessoas não querem ler,
pela facilidade da TV. Não tem um outro componente, que é o índice de
alfabetização nas comunidades carentes, ou seja as pessoas não estão
preparadas, educadas para isso...
A. José – A prova disso é que só tem duas bancas de revistas e jornais na
comunidade.
Moderador – Apenas duas bancas em todo o Grande Rosa Elze, é um dado que
permite ver a dimensão do papel da TV e do rádio na comunidade.
Observadora – Que diversão a comunidade tem que não seja a TV?
Luzia – Futebol.
Moderador – Tem cinema, teatro, galeria, museu?
Observadora - Concha acústica?
Todos – Não.
M. Jorge – Não há espaço de entretenimento nas comunidades. Não existe isso
aqui.
149
Moderador – Para fechar esta questão: de que forma a TV e o rádio poderiam
atuar para melhorar as condições da comunidade. Vamos pensar em termos de
informação. Que informação a TV e o rádio poderiam dar para melhorar a vida da
comunidade?
Murilo – Programas de prevenção, palestras para a pessoa se defender de
germes, bactérias. Porque o que eu vejo é na área de saúde, precisa de
informação de saúde. A área de saúde é terrível. O pessoal chega a procurar a
Associação para procurar ajuda na área de saúde.
Luzia – A TV e o rádio pensa muito mais neles do que na comunidade. O próprio
locutor pensa em si próprio do que na comunidade. A maioria dos radialistas é
tudo político. Então eles pensam em si próprio. E aqueles que está mais prá o
povo pobre, carente, melhoraria muito, mas enquanto eles só pensa neles
próprios.
Cláudio – A comunidade está desassistida totalmente do rádio do ponto de vista
da programação educativa. Pensar na formação, nós temos a rádio e a TV
Aperipê que acabou agora com esse governo. Não vou ser radical tem algum
programa ainda que ainda dá pra educação. Agora, eu sugeria uma rádio
comunitária. Seria muito bom se a gente pudesse instalar uma rádio comunitária e
fazer uns tipos de programas educativos. Fazer educação, citar informação
orientar mesmo (referindo-se a ações de higiene).
Roberto – Hoje você tem uns tipos de programa que você vê que é para bater no
adversário político, ai você deixa de dar informação para a comunidade.
Jairo e M. Jorge – ( A discussão sai do foco e se instala na questão da doença do
Calazar que atingiu a região. Jairo disse da necessidade de a comunidade
precisar de informação sobre a doença, de a Associação ter procurado a
150
Secretaria de Município da Saúde e não ter tido retorno. M. Jorge acusou o
município de não ter tido responsabilidade sobre o assunto). – Se configura a
necessidade de informação em saúde.
Moderador – Passemos a segunda questão. Nesse bloco saímos da TV e do
rádio e vamos para a Biblioteca. Basicamente a mesma questão: qual o papel,
qual a importância da Biblioteca Pública no dia-a-dia da comunidade? Que
importância a informação veiculada por uma biblioteca pública tem para suas
comunidades?
Cláudio – Então automaticamente a Biblioteca da Federal está fora porque ela não
é pública.
Luzia e outros. Não tem. (Não tem biblioteca em nenhuma das comunidades.)
Moderador – Não existe biblioteca pública no Grande Rosa Elze, então vamos
conversar sobre o que vocês pensam, o que vocês acham, porque vocês não têm
na comunidade, mas digamos que consultem uma outra biblioteca pública. Que
idéia que fazem, então podem falar sobre a informação.
Murilo – Na minha comunidade tem pessoas que consultam a biblioteca da
Universidade. São professores. Então para minha comunidade ela é importante
para aquelas pessoas que são formadas, que têm instrução. Agora, para o povão
que não tem nenhuma ligação com a educação, não tem acesso, não tem
condições de deslocamento para uma biblioteca que ele possa ter.
Luzia – Na minha comunidade pesquisa que eles fazem, procuram livros, vão é na
escola, vão na associação, mas acho que eles não sabem nem o que é biblioteca.
A comunidade de lá não tem nem como.
151
M. Jorge – A biblioteca pública é uma obrigação do governo. Em Sergipe há
necessidade de biblioteca e informação do cidadão é primordial. Política de
informação, grande parte das informações das pessoas não conseguindo
evidentemente o documento das informões acadêmicas em função de não ter
nenhuma informação, então consultar biblioteca só se morar em Aracaju, se morar
em uma grande cidade como Itabaiana, Lagarto, ou se tiver recursos próprios pra
manter uma biblioteca particular. Porque o efetivo público, o cidadão, é obrigado
ter uma biblioteca pública, porque a Constituição Federal obriga, e a lei não está
sendo cumprida. Uma biblioteca é primordial numa comunidade. E a associação
tem que se movimentar para ter pelo menos um local através de doação, de nível
da universidade, de nível profissional. A comunidade não tem uma biblioteca, mas
é uma necessidade.
Cláudio – (Fala da necessidade que é muito grande em virtude da pobreza da
comunidade que não tem onde se valer na região. Fala das informações até
políticas que eles poderiam ter, mas que infelizmente como já falou Mário Jorge a
lei não é cumprida).
Antônio José – (Fala da necessidade de emprestar livros e jornais que poderiam
ser lidos, inclusive de outros países, e das dificuldades das pessoas se
deslocarem até Aracaju, para consultar a Biblioteca Pública Epifâneo Dórea).
Moderador – (Alerta sobre a discussão biblioteca pública até então falada pelas
lideranças que abordam a questão do ponto de vista formal, a educação, os
trabalhos de pesquisa, e lembra dos outros o povo em geral. O estudante tem a
biblioteca escolar, e a biblioteca pública deve conter atividades de lazer, de
literatura, e onde o povo pode ir buscar a informação para o dia-a-dia. Então quer
saber, na compreensão das lideranças, qual a importância desse ponto, da
existência dessa informação).
152
- Vocês compreendem e colocam muito bem a questão da informação na
televisão e no rádio, e na biblioteca pública vocês têm a compreensão de que
existe uma informação desses processos da comunidade?
M.Jorge – A biblioteca não é só um lugar para estudante ir. A biblioteca, a
sociedade como um todo.
Murilo – É educar. É que aquilo ali vai ser construído, aquilo ali para que o povo
vá ali. O povo não tem educação para de uma hora para a outra, o povo chegar lá
de uma forma acadêmica e de agora em diante esse prédio aqui vai ser uma
biblioteca. Tem que começar um trabalho de conscientização, senão ninguém vai.
A. José – Para a comunidade a biblioteca passa a ser uma coisa secundária,
porque se fizer uma biblioteca realmente como deve ser, no início ela até pode dar
satisfação, mas depois ela passa a ser uma coisa secundária, porque nós não
fomos educados para isso, nós fomos sim, a gente era forçado a fazer trabalhos lá
na Epifâneo Dórea. Então para pesquisar, tinha que ir lá mesmo. Nós éramos
obrigados a ir. E usávamos. Então uma biblioteca na comunidade, uma biblioteca
comunitária, porque não tem jeito, porque a partir do momento que se cria uma
coisa que não tem expectativa as pessoas são mais difíceis de serem informadas,
vão ser mais controladas, vão ser mais educadas nessa questão. Infelizmente, a
própria sociedade tem interesse para continuar nessa sociedade menos
esclarecida é chegar no rádio xingar, difamar, passar uma hora falando no
programa e no final você vê que não era nada que lhe interessava, era problema
político. Na biblioteca você vai atrás da informação que lhe interessa. Pergunte
alguma coisa sobre São Cristóvão, nós não sabemos.
Cláudio – É aí, Tonho, que eu acho que a intervenção, que a biblioteca é decisão
do partido. É do prefeito mesmo. Agora mesmo nós estamos procurando os
limites do GRE, e nós não temos aonde buscar. Então uma biblioteca como essa,
era buscar no setor de que forma e detalhada e de que forma é que está lá.
153
M.Jorge – Existe um desistímulo com relação a questão de se ir a uma biblioteca
pública, e ao mesmo tempo é negado pela falta de existência dela. Então se
houver programas comunitários conveniados com a Universidade ou com
entidades que tenham expressão pública, o povo é algo dirigível. Tudo o que você
faz, que você inventa, a tendência é que o povo vá compreender, seja para o bem
ou para o mal. E como viu o efeito da TV, que para ele é produtivo, seria o caso
da biblioteca, se você tem uma biblioteca no município, você tem que implantar
um programa de orientação, de divulgação baseado no ato, no interesse do povo,
então eu acredito que o povo não faz isso, seja pela oportunidade que não tem.
Essa questão do povo usar ou não usar dependeria de uma formação comunitária,
de divulgação.
Moderador – Ficou uma questão meio lacuna devido a inexistência de uma
biblioteca pública na comunidade. Então, tudo aquilo que falamos sobre (a
relação da) TV e rádio com a comunidade fica impossibilitado de falar sobre
biblioteca pública porque ela não existe. Mas, uma nova questão, sobre
necessidade de informação, no dia-a-dia da comunidade, qual informação o líder
comunitário vai buscar para a atender a comunidade. O que precisam de
informação? Quais as necessidades?
Roberto – O líder comunitário precisa de informação, porque ele precisa passar
para o povo. O povo tem acesso ao líder comunitário. Ele não tem acesso ao
jornalista, por exemplo. Então, a gente (líder comunitário) precisa se atualizar
bem.
A. José – Na comunidade o que se tem que fazer é com alguma via com órgãos
maiores para uma rádio comunitária, que tem um papel fundamental na
comunidade porque ela leva alguém para esclarecer alguma coisa, isso seria
interessante. Outra coisa que a comunidade poderia fazer é ter um informativo,
um jornalzinho, mas no todo a informação e o resultado, porque o que mais se
154
pede na comunidade é resultado. Aí a comunidade se estressa, se encolhe,
passa reclamar, não acredita mais em ninguém, e o tempo vai passando e as
coisas ficam como está. A comunidade precisa de resultado. O povo reclama de
saneamento básico. Enquanto não fizer isso aí, você pode fazer o que for. Faz
de um jeito, mas a comunidade critica de outro. Não tem sustentação.
Jairo – A informação, a liderança tem que sair na frente, porque se trata de lidar
com a comunidade, ele tem que tá bem informado. Ele não pode ficar parado
cuidando de outros assuntos que não tem nada a ver com a comunidade. Levar a
informação para a comunidade, como representante, isso é bom.
Luzia – Mas você faz uma reunião, diz olhe vai ter uma palestra de qualquer coisa
de interesse da comunidade, poucas pessoas vão.
Jairo – Cícera, do Centro Social Menino Jesus, consegue botar 100 pessoas. Ela
diz reunião do seu interesse.
Grupo - (Vários disseram tratar-se de uma estratégia dela. Ela não diz o assunto
e as pessoas vão interessadas em algo, pensando o assunto do seu interesse ser
algo que vá receber).
Jairo – Mas ela passa as informações que ela quer: é o curso profissionalizante, é
o primeiro emprego, que é importante, coisa que as associações até agora não
fizeram.
Moderador – Pelo que o Sr. está colocando, as informações que vocês trabalham
no dia-a-dia têm todo esse caráter econômico? O Sr. falou em primeiro emprego,
curso profissionalizante, é sempre assim o dia-a-dia das associações, a
informação que vocês trabalham é nesse nível?
155
Jairo – A Federação trouxe vários cursos para a comunidade. É esse o trabalho, é
essa a informação que a comunidade precisa.
Cláudio – O problema é que não tem palestra específica. A gente tem que
trabalhar, dar primeiro informação, trazer pessoas. Falar da importância do
ensino. Agora, nós vamos ter que ir atrás de espaço (físico) para isso. Aqui, não
temos espaço específico para isso, o único espaço que temos (em todo o GRE) é
o salão paroquial que cabe uma média de 200 pessoas. A gente precisa primeiro
mostrar as pessoas que é importante a informação, mas também abrir o setor
público para a sociedade como um todo.
M. Jorge – Um exemplo prático. Tenho um grupo de jovens, que reúno,
orientando os que têm interesse em ler, e outras coisas. Eu precisei de um
espaço para realizar um encontro de jovens. Primeiro seria aqui, procurei a
Escola Armindo Guaraná (pública estadual) que fica dentro do terreno da
Universidade e me negaram dizendo que naquele domingo já estava cedido para
a Universidade. Eu sabia que era mentira. Então, para conseguir um espaço para
um encontro de estudantes da comunidade vejam a dificuldade que existe para
conseguir um espaço público. Se um presidente de uma Associação passa por
tudo isso para marcar uma palestra para estudante, se isso acontece com a
liderança imagine como é difícil para um estudante (ou seja, para um comunitário).
Cláudio – Eu acho que a Universidade, e não sei se ela está aberta para isso, ela
devia ter um espaço (físico) para que a gente, não só líder, mas qualquer pessoa
pudesse levar um palestrante para a comunidade. Que ela ajudasse não só com
o espaço físico, mas também com a pessoa, para trazer o palestrante.
Moderador – Quando vocês estão colocando as informações que vocês precisam
no dia-a-dia, então ...
156
Cláudio – Eu vou dizer as informações que a gente precisa. Primeiro as mães e
os pais tenham consciência de que os filhos precisam ser educados na escola,
que têm que estudar. As mães botam os filhos nas creches, primeiro as
condições de serviço, pra se livrar das crianças, não pra estudar, pra ser educado.
Isso é péssimo. A gente tinha que ir buscar esse tipo de informação pra que os
pais tivessem consciência da importância dos filhos na escola. Esse é um fato
fundamental.
Moderador – Já que o Sr. identifica um tipo de informação que tem necessidade,
que tem que trabalhar relativa à educação, porque o Sr. não faz isso enquanto
líder comunitário, qual a dificuldade que tem que enfrentar?
Cláudio – Isso que a gente falou. Espaço físico a gente não tem e também aquela
dificuldade das pessoas, um filósofo, um sociólogo, uma pessoa que conheça
bastante a educação, a área de informação e também a psicológica.
Moderador – Podemos dizer, então, que toda a necessidade de informação dos
Srs. passa pela questão de informação para formar a comunidade. È isso?
A. José – Na verdade, a liderança é parte disso, qual o princípio de se criar uma
liderança na comunidade. Ou no interesse pessoal, particular, ou então quando a
pessoa que sofre, que tem pena daquela comunidade, pensa na educação e se
sente na obrigação de correr atrás. E pra isso tem dificuldades enormes de
manter contato, daí a gente depara com uma série de problemas, de dentro da
própria comunidade. A minha comunidade, eu diria assim, tanto eu quanto
qualquer outro que venha a assumir a comunidade seria:
- diversões e uma série de atividades de formação na comunidade, porque
aí não teria como prender jovem dessa associação, se tivesse uma linha mais
exigente, uma série de atividade nessa comunidade. Por exemplo, aqui na Proex
(Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UFS) tem uma série de
atividades na comunidade, vários cursos na comunidade, vários trabalhos daqui
157
pra lá e de lá pra cá via comunidade, ocupando espaço de maneira possível.
Teve uma administração que lutou para construir uma sede para a associação.
Seria uma coisa inédita. Infelizmente a questão política não deixou que
acontecesse. Tínhamos o terreno, a UFS entrou com o projeto. Isso que
acontece, a gente se sente impedido. Agora quando chega o período político,
todo mundo procura a associação, a presidência. Quando passa esse momento,
que tem que trabalhar pra comunidade, e você quer juntar a comunidade você tem
dificuldade. É preciso mudar o conceito de liderança, deixar de ser pessoal.
M. Jorge – Isso mostra que as associações não têm ainda noção de organização
social e política. Ele (o comunitário) acha que está contribuindo com algo que não
o beneficia, sem ele conhecer daquela realidade que existe com o seu povo, com
a sua índole. Como a maioria dos líderes comunitários são pessoas que não tem
renda, basicamente vivem de contribuição de associados que é de importância
pequena, leva à dependência política, os líderes comunitários passam a ficar
vinculados a prefeitos, vereadores, deputados, não sei o que. Essa é uma das
dificuldades que faz com que esses espaços desapareçam. Porque não é de
interesse deles que as associações tenham cooperativa, cujos profissionais, de
qualquer outra coisa, que tal associação tenha uma padaria industrial, que outra
tenha um projeto agrícola de desenvolvimento de horta comunitária, ou algo que o
valha, que outra comunidade no fundo da Universidade, paupérrima, região de
uma carência, o sacrifico daquelas pessoas tudo isso vem da condição financeira.
Porque aquele pobre que já passa dificuldade ainda vai ter que contribuir com a
associação? Quando o político bate na lata ali, ou é pra ele sair correndo atrás do
trio elétrico ou pra dar dinheiro na calada da noite. Então, o presidente da
associação fica sem sustentação, sem base pra trabalhar. É exatamente isso que
vai terminar acontecendo aqui se a Universidade não abrir uma porta para criar
uma parceria, não pra dar dinheiro, mas para criar, viabilizar uma condição
administrativa, através de seus laboratórios, de seus técnicos, seus professores,
seja o que for.
158
Observadora – (A partir da fala de Mário Jorge, tece comentários a respeito das
dificuldades econômicas atuais das pessoas e a dificuldade de se manter
funcionando alguma entidade a partir de contribuições, principalmente as de
caráter cultural e recreativo).
- O reflexo nas associações comunitárias eu não sei, mas primeiro, a
dificuldade financeira da comunidade, e segundo, na maioria as pessoas (as
direções) se utilizam delas (das organizações) para escalada socialmente,
conseguir um cargo comissionado com o prefeito ou com um deputado.
- Então, vocês precisam de informação além de como trabalhar com saúde,
com educação, mas informação de:
- como eu me organizo;
- como eu me preparo para fazer projeto;
- quais são os meus direitos enquanto cidadão, esse tipo de informação que
é muito difícil, ninguém sabe nem que direito tem, com exceção para o direito do
consumidor.
A. José – Deixo uma proposta pra que se promova um fórum de liderança no
sentido de discutir informação para a liderança, o que pode se fazer para tornar
uma associação..., então, discutir a questão da informação para a liderança.
Cláudio – Primeiro formar o líder. Qual a necessidade básica, a informação básica
que o líder tem que saber:
- primeiro a política, a política partidária, para saber quando for discutir com
o prefeito saber o direito que você tem, o direito da política partidária;
- depois formar o líder pra a política social;
- depois o direito: o direito do cidadão, o direito do povo, o direito das coisas
para ir buscar as coisas. Não digo que tudo tem que ser formado, mas ter no
mínimo uma noção. É uma grande necessidade.
Moderador – Como última questão gostaria de saber dos Srs. e Sra. se existe na
comunidade algum órgão público que trabalhe informação para os comunitários?
159
Todos - Não, não existe.
Moderador – E algum projeto que beneficie a região, isso em termos de
informação, pode ser um projeto da Prefeitura, do Estado, ou até Federal?
Luzia – Se existe ninguém conhece. (Todos concordam).
- (Diante da negativa às duas últimas indagações do último
questionamento, demos por encerrada a entrevista. 18 horas.).
Fizemos um sumário para os líderes do que apontamos inicialmente a partir
daquele contato:
1ª questão – Fica claro que do ponto de vista das lideranças, a TV e o rádio
teriam a contribuir com uma programação educativa;
2ª questão – Embora não exista biblioteca pública na comunidade, as
lideranças consideram que seria importante a existência de uma na comunidade;
3ª questão – Ficou patente que a informação que os líderes gostariam de
ter na comunidade seria a informação para o desenvolvimento sócio-econômico;
4ª questão – Não existe nem órgão nem projeto algum a respeito de
informação na região.
160
APÊNDICE D - TABULAÇÃO DOS DADOS
Campo 1: Dados pessoais dos informantes:
Sexo: Masculino - 29
Feminino - 39
As idades:
- 14 - entre 20 e 29 anos
- 27 - entre 30 e 39,anos
- 18 - entre 40 e 49 anos
- 9 - acima de 50 anos
Nível de escolaridade:
Primeiro grau incompleto – 25
Primeiro grau completo - 6
Segundo grau incompleto - 9
Segundo grau completo - 20
Curso superior incompleto -3
Curso superior completo - 5
Ocupação funcional:
Emprego fixo - 30
Autônomos - 16
Aposentados - 5
Desempregados - 11
2 Campo 2: Uso e necessidades de informação.
2.1 Biblioteca pública nas comunidade - zero
161
2.2 Freqüência à bibliotecas fora das comunidades:
Freqüentar bibliotecas fora das comunidades - 17
Não freqüentam biblioteca - 51
2.3 Bibliotecas visitadas:
- Biblioteca Central da Universidade Federal de Sergipe - 11 pessoas;
- A Biblioteca Pública Estadual Epifânio Dória - quatro pessoas;
- A biblioteca Pública Municipal Clodomir Silva - duas pessoas.
2.4 Freqüência de utilização:
Freqüências ocasionais - 15
Freqüências semanais -2
2.5 Satisfação:
Satisfeitos, ou seja, têm as necessidades atendidas - 11
Insatisfeitos, ou seja, não se sentirem atendidos - 3
Não opinaram - 3
2.6 Local em que encontrou informação
Local 1º 2º 3º 4º 8º 9º Total
Associação de
moradores
9 3 1 4 2 5 4 3 - 31
Biblioteca 9 5 - 4 4 1 3 2 - 28
Escola 9 9 11 4 4 4 3 - - 43
Igreja 4 3 1 6 6 2 2 2 - 26
Jornal 12 5 11 5 4 2 1 - - 39
Rádio 4 24 8 4 2 2 2 - - 45
Sindicato 1 - 4 7 - 3 1 5 1 23
Televisão 17 11 12 5 4 1 - - - 49
Outros 3 2 1 - - - 2 - 1 9
Total 68 62 49 39 26 20 17 12 2 293
162
2.7 Principais dificuldades encontradas
1º 2º 3º 4º Total
Acesso 10 8 5 3 4 30
Local 15 9 5 5 5 43
Locomoção 11 12 14 2 4 42
Documento 8 10 9 9 1 31
Pessoal 19 11 6 7 5 47
Outros - 1 - - - 1
Nenhuma 5 - - - - 5
Total 68 49 39 25 19 199
2.8 Tipo de informação necessária
1º 2º 3º 4º 5º Total
Estudos 23 5 4 5 3 2 1 - 43
Cultura 1 10 6 11 6 2 1 - 36
Moradia 6 4 6 1 8 4 2 - 30
Negócios 3 10 6 7 3 2 2 - 33
Saúde 20 16 9 7 1 1 - - 53
Trabalho 9 18 11 4 3 5 1 - 49
Transporte 4 3 8 7 3 3 7 - 34
Outros 1 - - - - - - - 1
Total 67 65 50 42 27 19 14 -
2.9 Importância que dá ao local
Local 4 3 2 1 Total
Associação de
moradores
29 25 7 8 69
Biblioteca 47 16 3 2 68
Escola 55 12 1 - 68
Espaço cultural 17 33 12 6 68
Igreja 38 25 3 3 68
Jornal 41 22 6 - 64
Rádio 35 29 3 1 68
Revista 15 22 22 9 68
Televisão 36 26 5 1 68
Total 313 210 62 30 609
163
2.10 Biblioteca pública é fonte de
4 3 2 1 Total
Informação 63 4 1 - 68
Diversão 8 37 17 5 67
2.11 A TV é fonte de
4 3 2 1 Total
Informação 49 18 1 - 68
Diversão 18 33 24 2 67
2.12 O rádio é fonte de
4 3 2 1 Total
Informação 50 16 1 1 68
Diversão 15 31 16 6 68
2.13 TV Comercial e atendimento das necessidades
4 3 2 1 Total
Informação 33 31 4 - 68
Diversão 27 22 12 6 67
2.14 TV Pública e atendimento das necessidades
4 3 2 1 Total
Informação 35 27 18 3 68
Diversão 21 23 15 9 68
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