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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
A DIACONIA DE MARTA E DE FEBE:
Um estudo de Lc 10, 38-42 e Rm 16, 1-2
MARIA OLIVEIRA PAULO
GOIÂNIA
2007
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2
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA
MESTRADO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
A DIACONIA DE MARTA E DE FEBE:
Um estudo de Lc 10,38-42 e Rm 16,1-2
MARIA OLIVEIRA PAULO
Dissertação apresentada ao
Programa de Mestrado em Ciências
da Religião da Universidade
Católica de Goiás para obtenção do
grau de Mestre.
Orientadora: Profa. Dra. Ivoni
Richter Reimer.
GOIÂNIA
2007
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3
P331d Paulo, Maria Oliveira.
A diaconia de Marta e de Febe : um estudo de Lc 10, 38-42 e
Rm 16, 1-2 / Maria Oliveira Paulo. – 2007.
127 f.
Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Goiás,
Mestrado em Ciências da Religião, 2007.
“Orientadora: Profa. Dra. Ivoni Richter Reimer”.
1. Mulher – diaconia. 2. Marta – Bíblia. 3. Febe – Bíblia. 4.
Diaconia. 5. Bíblia - exegese. 6. Mulher – Bíblia I. Título.
CDU: 22.07(043)
262.15-055.2:22(043)
4
5
Dedico este trabalho aos meus pais, João
Pereira dos Santos e Francisca Ribeiro de
Oliveira (in memoriam), grandes incentivadores
de minha vida.
A Dom Antônio Ribeiro de Oliveira, o
conselheiro, o amigo que acreditou em minha
busca de saber.
Aos meus filhos Érika Francisca, Liliane e Pedro.
Aos meus netos Isabela e Victor Hugo.
E a todas as mulheres que foram esquecidas em
sua diaconia.
6
Agradeço à Universidade Católica de Goiás
(UCG) na pessoa do Magnífico Reitor Prof.
Wolmir Therezio Amado;
à Coordenação deste Mestrado, Prof. Dr. Alberto
da Silva Moreira e à Secretária, Geyza Pereira,
pelo carinho em me atender;
aos professores e às professoras que me
auxiliaram neste projeto, especialmente à minha
orientadora Profa. Dra. Ivoni Richter Reimer, que
me orientou com paciência e carinho;
ao Prof Dr. Valmor da Silva, que não mediu
esforços para me auxiliar em minhas dúvidas;
à Tereza Cristina de Oliveira Borba, que me
apoiou nas traduções;
a Deus, por me carregar quando a terra me
faltou aos pés e me senti frágil.
7
RESUMO
PAULO, Maria Oliveira. A diaconia de Marta e de Febe: um estudo de
Lc 10,38-42 e Rm 16,1-2. Dissertação (Mestrado em Ciências da
Religião) Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2007.
Nesta pesquisa temos como objetivo investigar textos do Novo
Testamento que abordam a diaconia de mulheres. Pretendemos
investigar Lc 10,38-42 e Rm 16,1-2 destacando Marta e Febe no
ministério diaconal. O intuito é resgatar a história da diaconia de
mulheres no contexto sóciopolítico do século primeiro, por volta do ano
30 d.C.; como é o caso de Marta no movimento de Jesus. Dividimos a
dissertação em quatro capítulos. Abarcamos Febe e o ministério
diaconal, por volta dos anos 56-57, data da carta à comunidade
judaico-cristã em Roma. Acreditamos que essas mulheres exerceram a
mesma atividade diaconal em épocas diversas nos cristianismos
originários. Febe não seguiu, nem serviu a Jesus e nem mesmo foi
curada por Ele, pois Jesus atuou por volta do ano 30 d.C.; enquanto
Febe foi diácona das comunidades paulinas. Esperamos que o assunto
pesquisado possa abrir novas perspectivas para futuras investigações.
Palavras-chave: diaconia, mulheres, ministério diaconal, Marta, Febe,
movimento de Jesus, século primeiro.
8
ABSTRACT
PAULO, Maria Oliveira. The diakonia of Marta and Febe: an study of Lc
10,38-42 and Rm 16,1-2. Dissertation (Master in Religion Sciences)
Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2007.
The objectives of this study was the investigation of texts from the New
Testament that concern the womens diakonia. We intend to investigate
Lc 10,38-42 and Rm16,1-2, emphasizing Marta and Febe at the deacon
minister. The reason was to recover the history of womens deacon in
the socio-politics context of the first century, around the year 30 B.C.,
as Marta at the Jesus movement. The dissertation was subdivided in
four chapters. We discuss Febe and the deacon minister around the
years 56-57, date of the letter to the Jewish- Christian in Rome. We
believe that these women played the same deacon activities in diverse
time at the original Christianity. Febe did not follow, served Jesus and
has not been healed by Him, because Jesus acted around the year 30
B.C. However, Febe was a deacon at the Paulinas Communities. We
hope that the subject under study may bring new perspectives for future
researches.
Key-words: Deacon, women, deacon minister, Marta, Febe, Jesus
movement, first century.
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Vocábulos escolhidos pelas Versões Bíblicas 90
Quadro 2: Vocábulos escolhidos pelas Versões Bíblicas 106
10
SUMÁRIO
RESUMO 5
ABSTRACT 6
LISTA DE QUADROS 7
1 INTRODUÇÃO 11
2 CAPÍTULO I ANÁLISE SEMÂNTICA 21
2.1 O OBJETIVO DA ANÁLISE SEMÂNTICA 21
2.1.1 Diakoneo, servir no mundo greco-romano 21
2.1.2 Diakoneo no mundo judaico-cristão 22
2.1.2.1 Diakoneo no evangelho de Marcos 23
2.1.2.2 Diakoneo no evangelho de Mateus 27
2.1.2.3 Diakoneo em Lucas 31
2.1.2.4 Diakoneo em contexto de cura 33
2.1.3 Sustentação cristológica do serviço 35
2.2 SIGNIFICADO PRIMÁRIO DE DIÁKONOS 37
2.2.1 Diakonos e Doulos 39
2.2.1.1 Diakonos em Mateus e Marcos 42
2.2.2 Diakonos para Schillebeeckx e Hobbes 44
2.3 DIAKONIA EM TEXTOS DO NOVO TESTAMENTO 46
3 CAPÍTULO II MULHERES DIÁCONAS 51
3.1 A DIACONIA DE MARTA 51
11
3.2 CONVITE ÀS MULHERES 58
3.2.1 Mulheres no contexto sociopolítico 58
3.2.2 A prática de Jesus subverte valores de dominação 60
3.3 O MOVIMENTO DE JESUS NA PALESTINA 62
3.3.1 As mulheres no movimento de Jesus e que o serviam 66
3.4 A MULHER NA TRADIÇÃO LUCANA 71
4 CAPÍTULO III METODOLOGIA EXEGÉTICA 78
4.1 EXEGESE DE Lc 10,38-42 79
4.1.1 Texto grego de Lc 10,38-42 81
4.1.2 Tradução de Lc 10,38-42 82
4.1.3 Versões em Português 82
4.1.4 Bíblia de Jerusalém 82
4.1.5 A Bíblia Sagrada (Sociedade Bíblica do Brasil) 83
4.1.6 Bíblia Sagrada (Ave Maria) 83
4.1.7 Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas 84
4.2 COMPARAÇÃO DAS TRADUÇÕES 84
4.2.1 A Bíblia de Jerusalém Lc 10,38-42 84
4.2.2 A Bíblia Sagrada (Sociedade Bíblica do Brasil) Lc 10,38-42 86
4.2.3 Bíblia Sagrada (Ave Maria) Lc 10,38-42 87
4.2.4 Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas 88
4.3 AVALIAÇÃO DAS TRADUÇÕES 89
4.4 ANÁLISE CRÍTICO-LITERÁRIA 92
4.5 DELIMITAÇÃO DO TEXTO Lc 10,38-42 93
4.6 ESTRUTURA DE Lc 10,38-42 93
12
4.7 COMENTÁRIOS DE Lc 10,38-42 95
5 CAPÍTULO IV EXEGESE DE Rm 16,1-2: FEBE E O MINISTÉRIO
DIACONAL 101
5.1 TEXTO GREGO DE Rm 16,1-2 102
5.1.1 Tradução de Richter Reimer (Rm 16,1-2) 103
5.2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO DE Rm 16, 1-2 103
5.3 VERSÕES EM PORTUGUÊS 103
5.3.1 Bíblia de Jerusalém (Rm 16,1-2) 104
5.3.2 A Bíblia Sagrada (Rm 16,1-2) (Sociedade Bíblica do Brasil) 104
5.3.3 Bíblia Sagrada(Ave Maria) 104
5.3.4 Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas 105
5.3.5 Avaliação das Traduções 105
5.4 ANÁLISE CRÍTICO-LITERÁRIA 106
5.5 ESTRUTURA DE Rm 16,1-2 (WEGNER) 107
5.5.1 Comentários de Rm 16,1-2 108
6 CONCLUSÃO 115
NOTAS 121
REFERÊNCIAS 122
11
1 INTRODUÇÃO
Nessa pesquisa investigaremos textos do Novo Testamento
referentes à diaconia de mulheres, onde abarcaremos, na narrativa de
Lc 10,38-42, a diaconia de Marta e em Rm 16,1-2, Febe e o ministério
diaconal dentro do tema; a diaconia de Marta e de Febe; com um
estudo de Lc 10,38-42 e Rm 16,1-2. Investigaremos a diaconia de
Marta, enquanto participante do movimento de Jesus e no trabalho
realizado em sua casa igreja, com os doentes e empobrecidos como
líder daquela comunidade.
Utilizaremos a hermenêutica feminista e exegese de Lc 10,38-42
e Rm 16,1-2; ramos interpretativos que constituem parte da Teologia
como ciência.
Segundo Schüssler Fiorenza (1992, p. 26) a formulação de uma
hermenêutica histórica feminista deve não só traçar a mudança cultural
geral de um paradigma androcêntrico para um paradigma feminista de
construção e mudança da realidade, mas também discutir os modelos
teóricos da hermenêutica bíblica e suas implicações para o paradigma
cultural feminista.
De acordo com Matos (2004, p. 34) existem várias hermenêuticas
bíblico-feministas com abordagens diversificadas. As principais são:
Radical, que não aceita completamente a autoridade da Bíblia; Néo-
Ortodoxa, aceita a Bíblia como profecia, na medida em que toma
partido pelos oprimidos e pela mulher; Crítica, utiliza uma metodologia
sutil e busca redescobrir a posição e o papel da mulher no movimento
de Jesus e nas primeiras igrejas.
12
Adotaremos a hermenêutica feminista em nossa pesquisa por se
referir à investigação histórico-científica de fontes, feita sob
perspectivas feministas que proporcionem libertação a pessoas
oprimidas. Como se trata de um método histórico-social é também
histórico-crítico e considera o contexto social de textos, reconhece as
diferenças sociais construídas ao longo do tempo, entre homens e
mulheres como produto de dominação. Isso é relevante para nossa
pesquisa porque se trata de uma abordagem teológica libertadora.
Portanto, a utilização da abordagem feminista será sempre como uma
porta aberta, para a libertação de pessoas oprimidas, principalmente de
mulheres.
Buscaremos autoras de interpretação bíblica, que apresentam
trabalhos como alternativas libertadoras de mulheres, em especial, as
empobrecidas e marginalizadas, nos esquemas teológicos com os quais
convivemos no cristianismo. Dentre outras autoras teremos em
especial, Ivoni Richter Reimer, autora de vários livros e artigos
publicados em revistas, todos integrados no contexto bíblico vivenciado
pelas mulheres. Em seu livro Grava-me como selo sobre teu coração,
a autora aborda também a metodologia e a hermenêutica, que
certamente nortearão nossa pesquisa. Além disso, pesquisaremos
textos de Ivone Gebara, Elsa Tamez e muitas outras.
Nas leituras bíblicas feministas descobriremos a existência de
vozes femininas que desafiaram o contexto social do primeiro século,
para mostrar a sua coragem e a sua participação na divulgação da Boa
Nova, independentemente de raça e idade, mesmo que a historiografia
dominante e textos daquela época, não tenham percebido a presença
13
feminina; as mulheres estavam lá, no movimento de Jesus ou no
movimento cristão, no cristianismo primitivo. Por isso, é importante que
hoje, ao descortinarmos a história de mulheres, vislumbremos o som de
vozes que ao longo dos séculos foram silenciadas pelo sistema
opressor do primeiro século; e ouvindo-as estaremos recuperando a
nossa história, a história das mulheres.
Segundo Gebara (1998, p. 19) a hermenêutica feminista vem
quebrando a hegemonia masculina do saber bíblico na medida em que
apresenta outra interpretação dos textos e na medida em que faz
aparecer ambigüidades do poder masculino na própria interpretação
dos textos... Pouco a pouco isto influi na cultura e criam-se novas
formas de pensar entre os humanos, numa perspectiva histórica
igualitária. Isso também permite e contempla uma nova compreensão
de Deus.
Schüssler Fiorenza (1992) busca reconstruir a história cristã em
suas origens, especialmente histórias de protagonismos de mulheres
que foram iniciadoras do movimento cristão tanto quanto os homens.
Para a autora acima citada, uma tradução historicamente
adequada, deve levar em conta as implicações interpretativas de
linguagem androcêntrica, que funcionou como linguagem inclusiva na
cultura patriarcal. Segundo ela, essa linguagem inclusiva androcêntrica
menciona as mulheres, somente quando sua presença se tornou um
problema ou quando elas são excepcionais (p. 69), mas não as
menciona nas assim chamadas situações normais. Essa linguagem é
inclusiva das mulheres, mas não as menciona explicitamente. Assim,
essa linguagem inclusiva androcêntrica funciona nos textos bíblicos da
mesma forma que funciona hoje.
14
Richter Reimer (2000, p. 15-19) considera importante a leitura da
Bíblia, como um exercício constante. É nesse exercício que nos
aprofundaremos nas histórias vividas por mulheres, que deixaram o eco
de suas vozes que foram silenciadas, como testemunhos de fé. Daí a
necessidade de estarmos em contato com essas vozes, para
refletirmos, em nosso cotidiano, toda a história de sofrimento de
mulheres, homens e crianças, que conseguiram ao longo do tempo
superar ou não, a opressão.
Uma das grandes novidades desde a década de 70 em pleno
século XX é a leitura da Bíblia em dinâmicas feministas, desenvolvida
no seio da Teologia da Libertação, que é também nossa. Assumimos as
grandes e principais tradições bíblicas do êxodo, do deserto, da cruz e
da ressurreição. Com isso, busca-se recuperar a memória protagonista
de mulheres como Maria Madalena, Júnia, Trifena, Trifosa, Febe,
Marta, Maria, Tecla e outras tantas mulheres na história que foram
silenciadas. Vamos recuperar a história de mulheres e isso fará com
que nossa dignidade seja afirmada. A autora assegura, que nas nossas
leituras em grupo de mulheres, procuramos por histórias de mulheres
numa perspectiva libertadora, por imagens alternativas de Deus,
solidarizando em meio a situações de sofrimento e de perseguição. É
importante verificar nessa leitura, como os textos se refletem nas
histórias de vida das mulheres hoje (RICHTER REIMER, 2000, p. 16).
Para Richter Reimer (2000, p. 17-19), uma hermenêutica
feminista busca em primeiro plano sempre
Questionar sempre de novo pelos efeitos históricos das
histórias e de suas interpretações. Como uma história
15
influenciará na vida de mulheres? O que essa história tem
de conteúdo libertador ou de opressão?
Nas leituras, em grupos de mulheres, procurar histórias de
mulheres com perspectiva libertadora, para resgatar
memórias marcadas por mecanismos opressores e de
morte.
Denunciar as relações sociais discriminadoras que oprimem
e marginalizam as mulheres.
Visibilizar as mulheres da história bíblica.
Interrelacionar outras disciplinas em nossas leituras, para
melhor compreensão textual.
Desconstruir textos para reconstruir a história de libertação
de mulheres.
Reconhecer as dinâmicas das relações de poder para a
compreensão das atribuições e características dada a
mulheres e homens.
Reconstruir histórias valendo-se da intratextualidade,
intertextualidade e extratextualidade para se compreender
a realidade sociocultural e religiosa da época em que foi
escrito o texto.
Para Richter Reimer (2005, p. 37), o material escrito disponível
foi transmitido por homens, numa perspectiva androcêntrica. E a
interpretação dos textos tem sido feita, durante séculos, nessa mesma
16
perspectiva patriarcal de dominação das mulheres. Somente há
algumas décadas as mulheres e alguns homens realizam uma (re)
leitura crítica e feminista desses textos, o que marca avanços
significativos. Esse novo modo de abordagem metodológica e
hermenêutica tem favorecido um processo de visibilização de mulheres,
crianças e homens empobrecidos em suas múltiplas relações.
A hermenêutica feminista resgata a presença de mulheres nos
textos. Elas foram presenteadas com o dom do anúncio pascal, e
também oram juntamente com os homens após a ascensão do
ressurreto (At 1,12-14). Recebem o Espírito Santo, participam dos dons
proféticos e da diaconia diária (At 2,1-4; 17-18; 6,1). Juntamente com
os homens, sofrem a primeira perseguição em Jerusalém e são
dispersas pelas regiões da Judéia e Samaria, sendo também ali
perseguidas por Saulo (At 8,1-3; 9,1-2). O próprio Paulo confirma,
utilizando-se da palavraigreja para caracterizar as pessoas por ele
perseguidas (1 Cor 15,9; Fp 3,6; Gl 1,13 e 23). (...) na narração de
Lucas em At 8,4: reporta-se às mulheres e aos homens dispersos e diz
que em todos os lugares pelos quais iam passando pregavam a
Palavra/evangelizavam (RICHTER REIMER, 2000, p. 73).
Segundo Richter Reimer (2003, p. 1079-92), Paulo saúda e cita
nomes de cooperadoras, companheiras e também cooperadores,
envolvidos no trabalho missionário daquela época. A autora ressalta
que Paulo, em Rm 16,1-16, menciona três grupos:
Febe, Priscila, Maria, Trifena, Trifosa, Júnia, Olimpias,
Pérside, no primeiro grupo.
Ele menciona outras duas mulheres anônimas: a mãe de
Rufo (considerada também mãe de Paulo e a irmã de
Nereu).
17
Ele destaca um grupo maior que se reúne em torno dessas
lideranças: a igreja que se reúne na casa de Priscila e
Áquila (v. 5); as pessoas que pertencem à casa de
Aristóbulo (v.10); as pessoas cristãs da casa de Narciso
(v.11); as irmãs e irmãos da casa de Asíncrito (v.14): as
pessoas que se reúnem com Filólogo (v.15).
Neste pequeno texto, Paulo dá informações precisas sobre o
nome de pessoas e comunidades reunidas em Roma, detalhe
importante para a reconstrução da história das origens das
comunidades cristãs na capital do Império Romano.
Buscaremos a participação de mulheres e sua diaconia partindo
de estudos de textos que nortearão nossa pesquisa.
É nossa intenção fazer um resgate da história de mulheres que ao
longo dos tempos realizaram serviços (diaconia) significativos, nos
cristianismos originários.
É relevante dizer, que nossa pesquisa abarcará outras mulheres
diáconas como a sogra de Pedro (Mc 1,30-31; Lc 4, 38-39; Mt 8,14-15).
É ainda nossa pretensão nomear em (Lc 8,3; Mc 15,40; 15,41; e Mt
27,55-56) as mulheres que diekónoun (que serviam) a Jesus e os
apóstolos no movimento de Jesus. Portanto, procuramos as mulheres
diáconas. Elas também são nosso objeto de estudo.
De acordo com Cea-Naharro (2002/5, p. 86) as mulheres se
incorporam plenamente ao movimento de Jesus e fazem parte do
discipulado de iguais, onde ocupam um lugar central e não meramente
periférico. Como inicialmente reconhece Schüssler Fiorenza, a
presença e protagonismo de mulheres nesse movimento são de maior
18
importância para a práxis da solidariedade a partir de baixo, que é o
horizonte do projeto libertador de Jesus de Nazaré.
Cea-Naharro (2002/5, p. 89) continua a dizer que no cristianismo
primitivo o carisma não discriminava por razões de gêneros, mas
igualava mulheres e homens em direitos e deveres.
Richter Reimer (2000, p. 21) diz que a utilização de uma leitura
bíblica feminista libertadora, possibilita perceber a dinâmica das
relações de poder entre os diversos personagens e grupos
mencionados no texto para entender que as atribuições e
características dadas a homens e mulheres fazem parte de uma
construção sócio-cultural.
Ler textos bíblicos numa perspectiva feminista é questionar
profundamente as concepções androcêntricas e patriarcais que
perpassam nossas milenares experiências, seus textos e suas
interpretações (RICHTER REIMER, 2005, p. 34)
Para compreendermos a Bíblia, teremos que considerar fatores
intratextuais, intertextuais e extratextuais, que nos revelarão quais são
as intenções, as experiências, as funções de mulheres nos
cristianismos originários. É a hermenêutica feminista histórico-crítica,
que considera a análise de gênero, que nos dá condições de
desconstruir e reconstruir textos como o de Lc 10,38-42, para
resgatarmos a história da diaconia de Marta no primeiro século.
Nossa dissertação é dividida em quatro capítulos: a introdução
abre nossa pesquisa, apresentando toda a estrutura que ela contém.
Faremos no capítulo um, uma análise semântica, sobre diakoneo e
19
seus derivados: diakonia e diakonos. Destacaremos a importância que
eles têm dentro do contexto do primeiro século, principalmente na
perícope de Lc 10,38-42, onde buscaremos aprofundar nosso estudo
sobre a diaconia de Marta. Nesse capítulo, citaremos conceitos de
alguns autores, sobre diakoneo servir, na sociedade greco-romana,
no judaísmo tardio, nas comunidades cristãs, nos evangelhos sinóticos,
como também enfocaremos os significados de diakonia e diakonos.
Apresentaremos também, a sustentação cristológica do serviço. O
conceito de servir foi reinterpretado por Jesus e tornou-se norma para
a vida das discípulas e dos discípulos.
No capítulo dois enfocaremos mulheres diáconas. Nele,
apresentaremos a diaconia de Marta, dentro do contexto sociopolítico
do primeiro século e ainda abordaremos a mulher na tradição lucana,
com fundamentação teórica de autoras e autores, como Richter Reimer,
Schüssler Fiorenza, Navia Velasco, Tepedino, Schottroff (...), Vaz,
Stegemann, Arns, Pixley (...).
O que nos interessa e chama a atenção, no texto de Lc 10,38-42,
não é o conflito de relações entre mulheres, pelo poder dentro da
igreja, mas a atividade pastoral, o serviço prestado (diaconia) como
ministério diaconal de Marta, dentro do cristianismo originário. Pois,
essa é uma atividade pastoral dignificante que deve ser reconhecida.
No capítulo três teremos uma exposição sobre exegese de Lc
10,38-42, com a metodologia exegética embasada em Wegner.
Apresentaremos no capítulo quatro, a Exegese de Rm 16,1-2:
Febe e o ministério diaconal, com comentários de várias autoras e
vários autores.
20
Na exegese, de Lc 10,38-42 e de Rm 16,1-2, apresentaremos
versões gregas para ambos os textos.
Nosso desejo e objetivo é que a pesquisa venha também
contribuir para a realização de trabalhos acadêmicos sobre a diaconia
de Marta, de Febe, e de outras mulheres também hoje...
21
2 CAPÍTULO I - ANÁLISE SEMÂNTICA
2.1 O OBJETIVO DA ANÁLISE SEMÂNTICA
A análise semântica tem por objetivo estudar o sentido de um
texto, de suas palavras, expressões e frases (WEGNER, 2002, p. 250).
Segundo Egger (1994, p. 90) essa análise dá prioridade ao
entendimento do conteúdo do que está escrito:
A semântica é a ciência que estuda o significado dos signos
lingüísticos, ou seja, da relação entre forma e conteúdo, entre
significante e significado, e isso nas palavras, nas frases e
nos textos. A análise semântica de um texto procura
responder à pergunta de que um determinado texto quer dizer
e que coisa se quer dar a entender com determinadas
expressões e frases utilizadas num texto.
2.1.1 Diakoneo, servir no mundo greco-romano
O termo servir diakoneo, quando utilizado, dá a entender o
trabalho realizado para outra pessoa. Pois, a atividade de servir é de
dependência e de opressão, tornando-se impedido de se realizar como
pessoa livre.
Diakoneo e seus derivados, conforme sugere a etimologia,
empregam-se principalmente para a ajuda pessoal aos outros
(COENEN, BROWN, 1981, p. 448).
No grego profano, diakoneo significa:
a) servir à mesa (que envolve sujeição pessoal que era considerada
indigna e desonrosa para um homem livre).
22
b) ganhar o sustento (passagem para o conceito genérico de:
serviço).
c) servir para o bem da comunidade em Platão, em conexão com a
pólis, ou a um deus. Como tal, é honra e uma ocupação digna para
um homem livre (COENEN, BROWN, 1981, p. 449).
Para Beyer (apud GAEDE NETO, 2001, p. 73) o conceito diaconia
tem, para os gregos, um sentido negativo. Para quem busca a
felicidade na grandeza, na sabedoria, na nobreza, no senhorio, na
dominação, a função de um escravo ou de uma mulher é indigna.
Notamos que a entrega voluntária de si mesmo ao serviço do seu
próximo não faz parte do pensamento grego. Por um lado, o alvo mais
elevado e sublime para o homem era o desenvolvimento da sua própria
personalidade. Por outro lado, a palavra servir, conduz ao conceito de
serviço e que costuma despertar nas pessoas uma aversão pela
desvalorização que pesa nele, que corresponde a atitude de humildade,
demonstrada por Jesus no servir.
2.1.2 Diakoneo no mundo judaico-cristão
Ainda que o Antigo Testamento conceitue o serviço e contenha o
mandamento do amor ao próximo (cf. Lv 19,18), e que Israel assim
como todo o Oriente conhecesse atos caridosos, na LXX
1
, não se
encontra o termo diakoneo. As sete instâncias de diakonos são usadas
para servos da corte e verdugos. São utilizados os grupos de
palavras
2
douleuõ, escravo, latreuõ e leitourgeõ nos contextos rituais
(COENEN, BROWN, 1981, p. 448).
23
No judaísmo havia uma compreensão muito mais profunda do
serviço. O pensamento oriental não o considera indigno. Israel tem a
herança do mandamento do amor, incluindo o serviço em favor próximo.
No judaísmo tardio, porém, a idéia do amor incondicional foi
obscurecida e se tornou gradativamente obra meritória perante Deus.
Foi imposto também a idéia da indignidade do servir, especialmente o
servir a mesa (GAEDE NETO, 2001, p. 74).
Ainda no judaísmo tardio o termo diakoneo é usado tanto em Filo
3
como em Josefo
4
, sendo que este último usa-o em conexão com os
essênios que nem se casam com esposas, nem desejam ter
servos...mas, sim, ministram uns aos outros. Na diáspora, as
sinagogas estabeleciam uma comissão de sete para seu serviço. O
título parnásim, de parnés, alimentar, indica o serviço à mesa e em
geral (COENEN, BROWN, 1981, p. 449).
Tanto nos Evangelhos Sinóticos quanto em Paulo, diakoneo é
encontrado com freqüência. Ao contrário, diakonia não se encontra nos
evangelhos com exceção de Lc 10,40, tendo porém muito significado
em Paulo e Atos (COENEN, BROWN, 1981, P. 450).
2.1.2.1 Diakoneo no evangelho de Marcos
1) ...onde permaneceu quarenta dias, sendo tentado por Satanás;
estava com as feras, mas os anjos o serviam (Mc 1,13).
2) Então, aproximando-se, tomou-a pela mão; e a febre a deixou,
passando ela a servi-los (Mc 1,31).
3) Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por muitos. (Mc 10,45).
24
4) ... as quais, quando Jesus estava na Galiléia o acompanhavam e
serviam; e, além destas, muitas outras que haviam subido com ele
para Jerusalém (Mc 15,41).
Encontramos diakoneo, com o significado de servir à mesa, em
(Mc 1,13.31). A interpretação do verbo, em Mc 10,45, é referido do
próprio Jesus, de sua humilhação e entrega de si mesmo em prol dos
outros. Em Mc 15,41 diakoneo é compreendido no sentido decuidar
de, assistir as pessoas (COENEN, BROWN, 1981, p. 450)
Segundo Schüssler Fiorenza (apud E. Stegemann, 2004, p. 224),
Mc 15,41 tem em mente sentido de liderança como serviço. Schottroff
(apud E. STEGEMANN, 2004, p. 224) entende o verbo servir em Mc
15,41, por causa do significado fundamental de Mc 10,42-45 e
paralelos ou (Jo 13) como uma designação de seguimento.
Na leitura de Marcos 1,13, a tentação no deserto é mencionada
de maneira sucinta. São ignoradas as tentações sofridas por Jesus, em
número de três, através de satanás. Ao aludir às feras, Marcos faz
evocação do ideal messiânico, anunciado pelos profetas. Quanto ao
serviço dos anjos, o autor exprime a proteção divina (cf. Sl 91,11-13).
Stegemann (apud SCHOTTROFF, 1995, p. 56) chama a atenção
para o uso do tempo verbal (1,13,31; 15,41), que é utilizado no
imperfeito, e esta simples escolha do tempo, nos impede de restringir a
interpretação ao serviço de mesa. Assim diakonein não se restringe
apenas ao serviço de mesa, mas diakonia sintetiza todo o ministério de
Jesus.
25
Os textos de Mc 1,31 par. e Mc 15,40s par. não podem ser
atribuídos sem mais nem menos ao trabalho das mulheres na casa,
uma vez que essas afirmações devem ser relacionadas ao seguimento
de Jesus. Na tradição exegética, no entanto, essas passagens foram na
maioria das vezes, entendidas sem muita reflexão como trabalho
doméstico de mulheres.
O emprego do verbo servir no Evangelho de Marcos abrange
este espectro: ele é empregado claramente no sentido de servir à mesa
em Mc 1,13,31. Mas um serviço no sentido mais amplo é circunscrito
com diakonein em Mc 10,45 (cf. diakonos em Mc 9,35; 10,43).
Na passagem de Mc 10,45, fala-se do Filho do Homem, que não
veio para ser servido, mas para servir e dar a vida para a redenção de
muitos. O Filho do Homem é aquele que serve sofrendo, o Servo de
Deus que serve no sofrimento e consuma o servir mediante sua morte.
(WENDLAND, 2003, p. 222-3).
A diaconia, para Marcos 10,45, caracteriza a situação de alguém
que está no degrau mais baixo da hierarquia social (oposição entre
primeiro/grande em relação a o último de todos/ajudador,
diácono/escravo). No seguimento de Jesus não se busca subir e
dominar sobre outros e outras, mas procura-se o orientar-se para
baixo. Ser servidor e escravo de todos é, pois, um lado importante de
todo e qualquer seguimento de Jesus. Na comunidade não pode haver
domínio de pessoas. Em Marcos, a diaconia descreve o relacionamento
dos discípulos para com Jesus e de Jesus para com as pessoas
(SCHOTTROFF, 1995, p. 55-6).
26
Percebemos que diakonein em Mc 10,45 é a expressão da
humilhação do próprio Jesus, a entrega de si mesmo pela humanidade,
no sofrimento de morte. Tepedino (1990, p. 38) diz que servir é uma
exigência que emerge da realização de um sacrifício completo, o dom
da vida de Jesus que serviu e deu sua vida em resgate por muitos(Mt
20,28; Mc 10,45).
Marcos 15,41 evidencia quais eram as mulheres junto à cruz de
Jesus. Ele não quer esclarecer a função de mulheres que
acompanhavam Jesus na Galiléia e no caminho a Jerusalém. Ele dá a
perceber que até agora usara a linguagem patriarcal, compartilha esse
uso acrítico com todos os evangelistas neotestamentários. Marcos
menciona as mulheres junto à cruz, porque só elas estavam lá; os
homens haviam fugido no momento em que Jesus foi preso
(SCHOTTROFF, 1995, p. 41-4).
Se em Mc 15,41 é mencionada especialmente a diaconia das
mulheres em relação a Jesus, então esse conceito é sinônimo de
akoloutein/seguir. As mulheres também servem a Jesus no momento
em que elas querem honrá-lo através do ato da unção, quando ele está
no sepulcro. Em Mc 15,41, percebemos que a tão difundida
diferenciação entre serviço de mulheres e cargo de homens não tem
sua origem no próprio Novo Testamento, mas muito antes numa pré-
compreensão dos exegetas (SCHOTTROFF, 1995, p. 57).
No evangelho de Marcos ele menciona o seguimento de mulheres
na Galiléia (15,40-41) que o serviam e além desta, ele menciona outras
que haviam subido rumo a Jerusalém, rumo à Paixão e Ressurreição.
Anabáinein,subir caracteriza, ao lado de diakonein, o caminho das
27
discípulas e dos discípulos no seguimento de Jesus (SCHOTTROFF,
1995, p. 59).
Percebemos que, embora Marcos não tenha a pretensão de
aumentar o círculo de mulheres citadas (15,40) e aquelas que seguiam
a Jesus a partir de outras regiões fora da Galiléia, subir com inclui
as mulheres galiléias pois, são elas quem estão paradas sob a cruz de
Jesus.
Marcos separa o seguimento dentro da Galiléia e o subir a
Jerusalém. Nem Mateus (27,55), nem Lucas (23,49), seguiram Marcos.
Para Marcos, subir em direção à cruz tem significado central para o
seguimento de Jesus.
2.1.2.2 Diakoneo no evangelho de Mateus
1) Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram anjos, e o serviram
(4,11)
2) Mas Jesus tomou-a pela mão e a febre a deixou. Ela se levantou e
passou a servi-lo (M 8,15)
3) Tal como o Filho do homem, que não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mt 20,28).
4) E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome,
com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso, e não te servimos? (Mt
25,44)
5) Estavam ali muitas mulheres observando de longe, eram as que
vinham seguindo a Jesus desde a Galiléia, para o servirem (Mt
27,55).
28
Diakoneo (COENEN, BROWN, 1981, p. 450) é encontrado com o
significado de cuidar de, assistir às pessoas, em Mt 4,11; 25,44 e
27,55. No sentido de servir à mesa, em Mt 8,15; e como referência a
Jesus, como expressão da sua humilhação e entrega de si mesmo em
prol dos outros através do sofrimento e da morte, em Mt 20,28 par. Mc
10,45.
Mateus vê presente já na história da tentação (4,11) a
consciência messiânica de Jesus e, em conseqüência, também a
obediência incondicional à vontade de Deus em relação a humildade,
que vai em direção à cruz; Jesus estaria aqui renunciando ao caminho
da glória e à autopromoção propostos por Satanás (GAEDE NETO,
2001, p.64).
De acordo com o relato de Mateus (4,11 par de Mc 1,12-13), o
próprio Jesus foi tentado justamente em relação a essa tendência
humana diabólica de querer o poder e a glória para si egoisticamente;
resistindo à tentação, renunciou o querer ser igual a Deus, a essência
do pecado (GAEDE NETO, 2001, p. 68).
No texto de Mateus 8,15, diakoneo tem o significado de servir a
mesa. Stegemann (2004, p. 427) assevera que a narrativa sobre a
cura da sogra de Pedro está associada ao âmbito tipicamente feminino
da casa e à atividade do servir à mesa. De resto, ela é identificada
por seu parentesco com um homem, fato que igualmente evidencia a
perspectiva androcêntrica convencional.
29
Discordamos da visão de E. Stegemann, porque a sogra de
Pedro, assim como outras tantas mulheres que seguiam e serviam a
Jesus são também discípulas.
Mateus explicita o ministério de Jesus, onde ele manifesta o seu
poder sobre a doença. A cura faz parte da narrativa dos milagres de
Jesus e de seu ministério diaconal. Em Mt 8,16, depreendemos que
Jesus expelia os espíritos e curava todos os que estavam doentes.
Este texto é uma complementação do poder curativo de Jesus (8,15).
A sogra de Pedro faz o que Jesus queria e o que as mulheres já
estavam sendo e realizando... (GAEDE NETO, 2001, p. 78).
Segundo Arns (2004, p. 126) muitos são os que acreditam que a
sogra de Pedro tornou-se discípula de Jesus.
Em Mateus 20,28, o significado de diakoneo é derivado da pessoa
de Jesus e do seu evangelho. Fica sendo um termo que denota a ação
amorosa em prol do irmão e do vizinho, que por sua vez, é derivada do
amor divino e descreve a operação da Koinonia comunhão e designa
também a humilhação de Jesus e entrega pelos demais na paixão e
morte (COENEN, BROWN, 1981, p. 450-451).
Diakoneo, servir à mesa, passa a ser uma atitude de
discipulado, reinterpretado por Jesus, no Novo Testamento. O serviço é
uma diakonia.
Gaede Neto (2001, p. 80) assevera que Jesus entende o seu
envio a este mundo como serviço (diaconia): Eu não vim para ser
servido, mas para servir (Mc 10,45). Em suas atitudes e atividade,
Jesus demonstrou sua diaconia em relação aos últimos. Portanto,
Jesus entende também sua morte como serviço (diaconia), como gesto
extremo de doação em favor dos últimos.
30
No Evangelho de Mateus 25,31-46, as obras de misericórdia
(saciar famintos, dar de beber a sedentos, abrigar estrangeiros, vestir
nus, visitar enfermos, cuidar de prisioneiros na cadeia) são
sinteticamente designadas (Mt 25,44) como trabalho de suprimento
(diakonein) (SCHOTTROFF, 2003, p. 92). O trabalho de suprimento no
sistema doméstico patriarcal e as obras de misericórdia judaicas são
considerados pelos membros das igrejas cristãs como tarefa de todos e
todas: trabalho de suprimento para a Igreja e para as pessoas do lado
de fora que passam necessidade. Funções de direção não eximem
desse trabalho. Homens livres não têm um papel diferente das
mulheres e de escravas e escravos. As igrejas cristãs na época do
cristianismo primitivo eram domésticas, Nelas, o sistema doméstico
patriarcal foi transformado fundamentalmente em sua estrutura. Todas
as cristãs e cristãos se consideravam servidoras e servidores dos
santos (SCHOTTROFF, 2003, p. 98).
Em Mt 27,55, as mulheres galiléias que seguiram a Jesus no
caminho para Jerusalém ao lado de homens galileus serviam a Jesus
(diekonoun auto), aqui diakonein aparece como termo paralelo a
akolouthein (segui-lo) (SCHOTTROFF, 2003, p. 101)
No tocante ao serviço das mulheres, lembrado junto à cruz, todos
os evangelhos são unânimes em atestar retrospectivamente a
caminhada das mulheres junto a Jesus: elas o seguiam desde a
Galiléia, já na Galiléia, vieram com ele a Jerusalém (Mc 15,41; Mt
27,55; Lc 23,49,55). A conclusão lógica de tal afirmação é que elas
estavam junto com ele sempre, durante todo seu ministério profético,
31
durante toda a sua trajetória de alegria e dores, até à cruz, sepultura e
ressurreição.
2.1.2.3 Diakoneo, em Lucas
1) Inclinando-se ele para ela, repreende a febre, e esta a deixou; e
logo se levantou passando a servi-los (Lc 4,39) = Mc.
2) ...e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e
várias outras, que o serviam com seus bens (Lc 8,3) = Mc.
3) Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse:
Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a
fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude (Lc 10,40)
4) Felizes os servos que o senhor à sua chegada encontrar vigilantes.
Em verdade vos digo, ele se cingirá e os porá à mesa e, passando
de um a outro, os servirá (Lc 12,37).
5) Ou, ao contrário, não lhe dirá: Prepara-me o jantar, cinge-te, e
serve-me, até que eu tenha comido e bebido; depois comerás e
beberás por tua vez? (Lc 17,8)
6) Quanto a vós, não deverá ser assim; pelo contrário, o maior dentre
vós torne-se como o mais jovem e o que governa como aquele que
serve (Lc 22,26).
7) Pois, qual é o maior: o que está à mesa, ou aquele que serve? Não
é aquele que está à mesa? (Lc 22,27).
8) Eu porém, estou no meio de vós como aquele que serve! (Lc
22,27).
32
Percebemos que o uso do termo diakoneo servir ocorreu em
todos os evangelhos sinóticos. Contudo, o evangelista que mais utilizou
esse termo em suas narrativas foi Lucas, tendo citado o verbo diakoneo
servir por oito vezes, o dobro de Marcos.
Observamos que diakoneo, em Lc 4,39 e 10,40 é encontrado com
o significado de servir à mesa, assim, como em Lc 17,8.
Encontramos ainda, diakoneo, no sentido decuidar de, em Lc
8,3. Em Lc 22,26-7, diakoneo, representa a voluntária auto-humilhação
do discípulo e a humildade de Jesus e torna norma para os discípulos.
Já o dito escatológico em Lc 12,37, indica uma mudança nos valores
previamente sustentados.
Segundo Petry (1995, p. 22) a referência às mulheres em Lc 8,1-3
é uma informação sobre o ministério público de Jesus, na Galiléia.
Jesus, ao iniciar sua pregação do Reino, não chamou a si somente os
discípulos varões. Os evangelhos constatam que as mulheres são
discípulas, seguem a Jesus, participam de suas andanças e pregações
e o servem com seus bens. Desde a Galiléia, há mulheres no grupo de
Jesus. Elas se identificam com a proposta de Reino. Também Jesus
exerce o diaconato, quando proclama e anuncia o Reino e cura as
mulheres (Lc 8,1-3).
Em geral, Lc 8,1-3 é interpretado de tal forma que a diakonia das
mulheres consiste na assistência financeira a Jesus ou a movimento de
Jesus, como bem alerta SCHOTTROFF (2003, p.101-2). Quanto à
interpretação adotada por alguns autores, cabe a indagação se Lc 8,3
ek ton hiparchonton autais, não deveria ser traduzido por: de acordo
com as possibilidades de que dispunham, e não por: com seus bens
33
(financeiros), como, de modo geral, se interpreta atualmente. A
expressão ek ton hiparchonton autais não está limitada em termos
lingüísticos, ao significado de com os seus bens no sentido financeiro
(SCHIRMER apud SCHOTTROFF, 2003, Nota (24,25, p. 95).
Em Lc 10,40, Marta se preocupa com oserviço (a diaconia) e
reclama a Jesus de que sua irmã a deixa sozinha com essa tarefa.
Em 22,27, quem realiza o trabalho de servir à mesa encontra-se
em evidente contraste com aquele que, reclinado à mesa, se deixa
servir.
Percebemos que a presença do termo diakoneo e seus derivados
são constantes não só nos Evangelhos Sinóticos, mas em todo o Novo
Testamento. Deparamos nesta leitura que a ordem fundamental para a
comunidade cristã está construída sobre o conceito servir (diakonein),
esse mesmo conceito que é adotado por Jesus para caracterizar a sua
vinda como Messias a este mundo.
A presença de diakoneo nos evangelhos e nos Atos dos Apóstolos
vem demonstrar a dimensão do diaconato no Novo Testamento, como
também a presença de mulheres na liderança cristã no primeiro século.
2.1.2.4 Diakoneo em contexto de cura
No contexto helenístico das primeiras comunidades cristãs,
especificamente na Palestina, oferecia-se no mercado religioso, cura
para todos os tipos de doenças. O exercício da medicina não era
específico de médicos, mas também pertencia à cultura popular que
buscava a cura para suas enfermidades inclusive em diversos deuses
34
(gregos), magias, curandeiros. Portanto, a prática de curanderismo por
meio da ação de divindades, seres humanos e objetos consagrados a
algum culto específico faz-se presente nas mais diversas expressões
em todas as religiões (AGUIAR, 2005, p.14).
No tempo de Jesus, nas curas que realizava, percebe-se
constantemente a ação do diálogo. Antes de curar, Jesus pergunta à
pessoa: Que queres que eu faça? e a pessoa (no caso de Mt 20, 32-
33) o cego responde:que eu veja. É no diálogo que pode iniciar o
processo de cura, de vida vivenciado pelo poder da fé (MOURÃO, 2005,
p. 59).
Segundo Schiavo e Silva (2000, p.79), há fortes indícios de que
em toda história de Israel, os curandeiros foram figuras altamente
importantes, como é o caso de Noé, que passou a ser visto, na história
posterior como um curandeiro.
Por um lado, no contexto de cura na Palestina, o que se
questiona em primeiro lugar é: o que é a cura no contexto do Novo
Testamento? O que Jesus curava?
Por outro lado, quem nos responde é Lc 4,40, dizendo que Jesus
curava doente de toda espécie e em Lc 4,41, ele nos diz que
demônios também saíam. Isso, porque Lucas considerava os
possessos também doentes (cf.v.39;11,14;13,11; At 10,38;19,12).
No Novo Testamento são vários os relatos sobre cura. Os
evangelistas afirmam que Jesus curava todas as doenças,
enfermidades e tormentos (Lc 8,2; Mc 3,10; Mt 4,23,24; 8,16-7; 9,35;
15,30).
35
Segundo Richter Reimer (2002, p.1239) os evangelhos sinóticos
nos transmitem algumas histórias de mulheres doentes que entram num
processo de cura com Jesus e que algumas resultam em diaconia (Lc
8,1-3 e Mt 8,14-15).
As curas abrem novo espaço de vida. Surgem novos paradigmas
de inclusão, solidariedade, igualdade no discipulado. Quem
experimenta uma cura pode saborear o gosto do Reino de Deus e
compartilhá-lo através do serviço diaconal (RICHTER REIMER, 2002,
p.1251).
Gaede Neto (2001, p. 157) assegura que os milagres de Jesus,
como serviço a pessoas necessitadas e como luta contra os poderes
escravizadores, enquadram-se, na dimensão prática da ordem
fundamental que Jesus deixou às pessoas que o seguem (Mc 10,35-
45).
Percebemos que Jesus é um diácono, a favor do serviço às
pessoas que estão em último lugar. E as curas realizadas não são
ações isoladas, mas fazem parte do conjunto de sinais da presença do
reino de Deus, que quer o bem de todos (GAEDE NETO, 2001, p.162).
2.1.3 Sustentação cristológica do serviço
Quando os evangelhos acolhem o termo diakoneo para a
formulação da ordem fundamental para a comunidade de seguidoras e
seguidores de Jesus e o adotam para descrever o sentido de seu envio
messiânico, eles apontam para o fato de Jesus inverter o sentido de
36
servir à mesa como algo desprezível, indigno, opressivo e o serviço
passa a ser a atitude da discípula e do discípulo. O que é pouco
honroso diante dos homens é precisamente o que foi valorizado por
Jesus. Ele fala da sua prática como quem serve à mesa (Lc 22,26). A
atitude de Jesus em relação à dignidade do servir é revolucionária,
enquanto faz uma mudança na moral entre servir e fazer-se servir
(TEPEDINO, 1990, p. 38). Jesus propõs um contra-modelo à sociedade
quando serviu aos seus discípulos e suas discípulas, demonstrando o
amor de Deus e da humanidade do tipo desejado por Deus. No meio
de vós, eu sou como quem serve (Lc 22,27; Jo 13,1-15); o Filho do
Homem não veio para ser servido, mas para servir (Mt 20,28). O
caminho mostrado por Jesus para se chegar ao Pai é o serviço, onde
o próprio Jesus se faz servo. Jesus coloca contra o exercício do poder
o serviço, a renúncia ao poder e ao direito, para que também o outro
chegue ao seu direito, que Deus lhe reservou (GAEDE NETO, 2001, p.
72).
Gaede Neto (2001, p. 72) evidencia que não se trata de eliminar o
poder, Jesus não diz isso para suas seguidoras e seguidores. Cada
pessoa, onde quer que ela esteja, também na comunidade cristã,
possui poder. Só que o poder não poderá ser assumido como
dominação, como aconteceu na história da igreja cristã. Podemos
controlar o poder, pois o princípio fundamental exige de nós esse
controle é o que diz Marc Edward Kohler (apud GAEDE NETO, 2001,
p. 72). Servir é o papel de quem lidera na comunidade. O servir e não o
dominar é a tarefa que Jesus espera de suas seguidoras e de seus
37
seguidores. É este servir que fundamenta uma práxis da comunidade,
(RUHFUS, apud GAEDE NETO, 2001, p. 72):
A afirmação de que Jesus veio para servir não é uma
expressão cristólógica que existe para si mesma, mas ela
fundamenta uma determinada práxis da comunidade
fundamenta uma nova ordem social, que se contrapõe à
vigente. A sociedade escravista foi contraposta a livre relação
de irmãos e irmãs como nova forma de vida.
O conceito de servir foi reinterpretado por Jesus e tornou-se
norma para a vida das discípulas e dos discípulos. Assim, o serviço
que as mulheres prestaram a Jesus (Lc 7,44) não será esquecido (Mc
14,9). Esta conclamação ao serviço torna-se obrigatória, porque por
detrás dela há o sacrifício de Jesus, quenão veio para ser servido,
mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10,45
par).
2.2 SIGNIFICADO PRIMÁRIO DE DIAKONOS
Destacamos que o termo diakonos não aparece no evangelho de
Lucas, no entanto, vamos analisá-lo em Mateus e Marcos, para melhor
compreender a função de Marta e Febe...
Aquele que serve à mesa (Mt 22,13, onde há uma nota
escatológica; Jo 2,5,9).
Um servo em um sentido mais amplo em Mt 20,26 par. Mc 10,43; cf
Lc 18,26; Mt 23,11 e um ajudante em Ef 6,21; Cl 4,7.
Em Paulo, a palavra recebe um sentido especificamente cristão; um
ministro da nova aliança (2Cor 3,6);
38
Um ministro da justiça (2Cor 11,15);
Um ministro de Cristo (2Cor 11,23; Cl 1,7; 1Tm 4,6);
Um ministro do evangelho (Ef 3,7; Cl 1,23; cf. 1Cor 3,5);
Um ministro da Igreja (Cl 1,25);
O próprio Cristo é chamado um diakonos em Rm 15,8 (de Israel) e
Gl 2,17 (do pecado, no sentido paradoxal).
Em Rm 13,4, a autoridade secular é chamada ministro de Deus.
Em Fp 1,1 e 1Tm 3,8-13, diakonos é usado para um homem que
detém o cargo de diácono na igreja;
O mesmo título é aplicado a uma mulher, Febe, em Rm 16,1; este
cargo talvez seja aludido em 1Tm 3,11.
Diakonos às vezes é substituído por hipèretés (COENEN, BROWN,
1981, p. 450)
ministro da palavra Lc 1,2;
At 26,16; 1Cor 4,1 ministro de Cristo.
Em outros lugares no Novo Testamento significava o servo
(armado) de uma pessoa de autoridade, um oficial do tribunal da
justiça (Jo 18,3,12,18,22) (COENEN, BROWN, 1981, p. 450).
Percebemos que todas as variedades de funções realizadas na
igreja eram denominadas serviço ou ministérios (1Co 12,5). Aqueles
que desempenhavam tais cargos (apóstolo, profeta, etc., cf. Ef 4,11-
12), eram servos, diakonoi, da igreja (cf. 1Cor 3,5). Aos poucos,
porém, o conceito foi estreitado para o cuidado material da igreja, que
era intimamente ligado com o cargo do bispo (1Tm 3,1-7; 8,13; 1Clem
42,1-2 (COENEN, BROW N, 1981, p. 452).
39
Para o servo que sempre tinha uma função para o espírito e o
corpo expressado por seu papel no culto público, junto aos pobres, era
uma unidade, uma comunhão onde todos participavam. Porém, o
conceito se desgastou pelo crescimento de uma hierarquia graduada,
desaparecendo assim, a primeira geração carismática. O diakonos na
Igreja Ortodoxa, foi conservado, mas nas Igrejas Católicas e
Episcopais, o diaconato ficou sendo meramente uma etapa evolutiva de
transição para o ofício sacerdotal. (COENEN, BROWN, 1981, p. 452).
2.2.1 Diakonos e doulos
Encontramos o termo diakonos, usado para um homem que detém
o cargo na igreja (Fp 1,1 e 1Tm 3,8-13) e para uma mulher, Febe, em
Rm 16,1.
A partir de 2Cor 3,6 o termo diakonos adquire o sentido de
servidor da Nova Aliança. O diácono é sempre um servidor de Cristo e
se preocupa com a salvação de mulheres e de homens (TEPEDINO,
1990, p. 40).
A diferença entre diakonos e doulos (escravo) é importante para o
entendimento de diakonos: doulos ressalta quase sujeição completa do
cristão ao Senhor; diakonos diz respeito ao seu serviço em favor da
igreja, dos irmãos e do seu próximo, quer seja servir à mesa ou não.
Diakonos é aquele que serve sempre em nome de Cristo. (COENEN,
BROW N, 1981, p. 452).
O termo diakonos era utilizado para mencionar as funções de
mulheres e de homens.
40
O substantivo derivado diakonia expressa as ocupações
subentendidas pelo verbo e significa serviço, cargo. O segundo
substantivo derivado diakonos denota a pessoa que leva a efeito a
tarefa. Logo o significado primário no grego secular era um garçom, e
assim é usado mais tarde com referência às refeições rituais
(COENEN, BROWN, 1981, p. 449).
Diakonos também é conceito predominantemente paulino. A
palavra diakonos é achada 29 vezes no Novo Testamento.
Diakonos diz respeito ao seu serviço em prol da igreja, dos seus
irmãos e do seu próximo, em prol da comunhão, quer o serviço se
realize ao servir à mesa, com a palavra ou de alguma outra maneira. O
diakonos sempre é aquele que serve em nome de Cristo e que continua
o serviço de Cristo para o homem exterior e interior: preocupa-se com
a salvação dos homens. Logo, Paulo pode ver-se como servo do
evangelho (Ef 3,7; Cl 1,23), um servo através de quem os cristãos em
Corinto vieram à fé (1 Cor 3,5), um servo da Nova Aliança (2 Cor 3,6),
um servo da igreja (Cl 1,25). Esta preocupação inclui o corpo e o
espírito. Paulo estava preocupado tanto com a coleta quanto com o
evangelho (2 Cor 8,4; 9,1; 12-13); pois a proclamação e a ajuda
através de ações se complementam (COENEM, BROWN, 1981, p. 449).
Os companheiros e ajudantes de Paulo, que permaneceram firmes
ao lado dele na obra da proclamação, são chamados diakonoi por ele,
mais freqüentemente, synergoi, cooperadores (Rm 16,3,9,21; 2Cor
8,23).
O trabalho de um diácono se transformou em cargo especial. A
atividade desenvolvida na história da igreja foi padronizada, embora o
41
Novo Testamento não deixe clara sua forma exata. Os seus membros
passaram a ser designados como diáconos (Fp 1,1; 1Tm 3,8-13).
Para Schüssler Fiorenza (1992, p. 204) o uso de diakonos
também em Rm 16,1 não é idêntico ao seu uso em Fl 1,1, onde
nenhuma pessoa nomeada recebe este título, pois santos, inspetores e
ministros (diákonoi) são adscrições de toda a comunidade. O termo não
é usado de maneira formal, titular e oficial. O diakonos, à semelhança
do synergos, é pois um missionário ou missionária a quem se confiou
pregar e cuidar de igrejas. O termo é usado também em fontes
extrabíblicas para se referir a pregar e ensinar, parece claro que os
diakonoi da missão paulina serviam na capacidade reconhecida e
oficial de pregadores e mestres missionários.
Marcos 9,35 chama a atenção sobre o servir em termos de um
comportamento exemplar dos discípulos que não têm Jesus como
destinatário, mas o círculo dos discípulos (Mc 9,35; servo de todos;
Mc 10,43: vosso servo). A inversão da hierarquia convencional no
círculo de discípulos decorre explicitamente do contexto de Mc 9,35 e
10,43, não pode estar sendo intencionada na formulação de Mc 15,41:
as quais, quando ele estava na Galiléia, seguiam-no e o serviam.
Portanto, a referência a Jesus como destinatário do servir exclui aqui a
idéia de uma inversão da hierarquia.
A regra da comunidade de Mc 10,43-45, foi desenvolvida a partir
da regra da humildade, mais antiga, registrada em Mc 9,35: Se
alguém quer ser o primeiro, será o último e diakonos de todos.
Paul Philippi (apud GAEDE NETO, 2001, p. 52) ao referir-se à
versão de Marcos dessa regra comunitária, chama a atenção para a
ênfase que esse evangelista dá (em 9,35), ao mesmo tempo em que
42
Jesus passa a ensiná-la a seus discípulos e anuncia: Se alguém quer
ser o primeiro, será o último e diakonos de todos.
Todos os relatos evangélicos referentes ao princípio da renúncia
à imposição dos interesses próprios da disposição de negar-se a si
mesmo, de tornar-se o último, representam um princípio fundamental à
ordem e estrutura comunitária. É significativo que esses traços,
freqüentes nos evangelhos sinóticos, desemboquem na palavra
diakonos (GAEDE NETO, 2001, p. 52).
2.2.1.1 Diakonos em Mateus e Marcos
- Grande entre vós, será esse o que vos sirva (Mt 20,26).
- Ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de (Mt 22,13).
- Mas o maior dentre vós será vosso servo (Mt 23,11).
- Grande entre vós, será esse o que vos sirva (Mc 10,43).
Josef Ernst (apud GAEDE NETO, 2001, p. 51) está convencido de
que a ênfase dada pelos evangelhos a ditos de Jesus sobre os atos de
dominar e servir (Mc 10,42-45; Mt 20,25-28; Lc 22,24-27), ou à
renúncia a títulos autoritários (Mt 23,8-11), significa que pelo menos
um dos empregos do conceito diaconia no Novo Testamento se refere à
organização básica interna da vida comunitária.
Em Mateus 22,13, diakonos tem significado primário, éaquele
que serve à mesa.
Os diakonoi têm de amarrar e expulsar os convidados não bem-
vindos ao banquete (SCHOTTROFF, 2003, p. 88).
Diakonos significa um servo em um sentido mais amplo em Mt
20,26 par. Mc 10,43; cf. Lc 18,26; Mt 23,11, e um ajudante em Ef
43
6,21; Cl 4,7. Especificamente em Paulo, a palavra recebe um sentido
cristão (COENEM, BROWN, 1981, p. 450).
O líder entre eles devia ser como aquele que serve (Lc 22,26; cf.
Mt 20,26 par. Mc 10,43; Mt 23,11).
Mateus está preocupado com o poder e dominação dentro da
comunidade e portanto, a ordem fundamental no trabalho missionário é
seguir o exemplo de Jesus, que renunciou ao poder-dominação;
preferindo morrer fraco e despojado. O serviço é diaconia, não
dominação.
Assim, Diakonos é encontrado com o significado de um servo
em um sentido mais amplo (20,26par. Mc 10,43; cf. Lc 18,26). Em um
desafio para os discípulos, Jesus diz que o líder entre eles devia ser
como aquele que serve (Lc 22,26; cf. Mt 20,26 par. Mc 10,43; Mt
23,11).
Percebemos neste estudo a trajetória do conceito, da presença e
da utilização do termo diakonos, como também o seu significado e a
quem é de direito tomar esse título, dentro dos evangelhos sinóticos,
em Rm 16,1 e nas igrejas cristãs do primeiro século. Ficou evidenciado
que a inversão do sentido de serviço, por Jesus, o que era opressor,
humilhante desonra, passou a ser a valorização tornando a expressão
máxima, a regra fundante das comunidades, com a diaconia única de
Jesus, no amor a Deus e aos irmãos e irmãs, como forma de liberdade.
Também percebemos que nos evangelhos sinóticos
freqüentemente é usada a palavra diakonos de acordo com o seu
significado original, não técnico, de servo (Mt 22,13; 23,11). Só mais
tarde a palavra passou a designar um cargo da igreja (Fp 1,1; 1Tm
3,8).
44
2.2.2 Diakonos para Schillebeeckx e Hobbes
A mudança que surge na primeira metade do século II não é tanto
transição de uma direção antes carismática e depois institucional,
quanto consolidação e fortalecimento da direção local que se apropriou
da autoridade doutrinal dos profetas e dos doutores anteriores. A
questão era a mesma de antes: quem tem autoridade na Igreja. No final
do século I, o conflito entre as autoridades nas comunidades foi
decidido a favor de crentes que tinham o título de presbítero e diácono.
A tendência de reservar toda a autoridade exclusivamente a eles torna-
se clara (SCHILLEBEECKX, 1989, p. 90).
Mais tarde, a legitimação teológica se torna mais forte, em Inácio
da Antioquia. O episkopos nas cartas de Inácio da Antioquia é o centro
de toda a unidade da igreja, representa Deus; os diáconos são o
próprio Cristo e os presbíteros são os apóstolos. O autor ressalta que
nas comunidades domésticas não havia diferença entre oserviço da
palavra e o serviço da fração do pão (comer e beber juntos com uma
conclusão eucarística). Mais tarde, os dois ministérios foram separados
e confiados a pessoas diferentes: os que trabalham no ministério da
palavra e da instrução (1Tm 5,17) e os que exercem o diaconato (a
fração do pão) (SCHILLEBEECKX, 1989, p. 96).
Em todo o Novo Testamento a direção é sempre um serviço, uma
diakonia (1Cor 16,15s; 12,28; 2Cor 3,7-9; 4,1; 5,18; 6,3; 2Tm 4,5; Ef
4,11s e Cl 4,17). Isto vale também depois da acentuação do ministério
presbiterial de direção: Exorto os presbíteros que estão entre vós (...):
45
Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, cuidando dele, não
como por coação, mas de livre vontade, como Deus o quer, nem por
torpe ganância, mas por devoção, nem como senhores daqueles que
vos couberam por sorte, mas antes como modelos do rebanho (1Pd
5,1-3).
Hobbes (1974, p. 317) assevera que a palavra ministro, no
original diakonos significa alguém que faz voluntariamente o trabalho
de outrem. Os ministros fazem apenas o que eles empreenderam e não
são obrigados a mais que isso. De modo que tanto aqueles que
ensinam a palavra de Deus como os que administram os negócios da
Igreja são ministros. Conforme o autor, os pastores da Igreja,
chamados osministros da palavra (At 6,4), são ministros de Cristo,
pois é dele essa palavra. Mas o ministério de um diácono, a que se
chama serviço de altar (At 6,2), é um serviço feito à Igreja ou
congregação. Portanto, ninguém pode, nem sequer a igreja inteira,
dizer de seu pastor que ele é um ministro. Mas um diácono, quer seu
cargo seja o servir o altar, ou de distribuir sustento aos cristãos, a esse
diácono a congregação pode chamar seu ministro; porque sua função
de diácono era servir a congregação, embora não deixasse de pregar o
Evangelho, ou de pregar e batizar, como fazia Filipe. Pois esse Filipe
que pregava o Evangelho em Samaria (At 8,5) e batizou o eunuco (At
8,38) era Filipe, o diácono, não Filipe, o apóstolo. Portanto, era
necessário que fosse conferido ao eunuco e a todos que fossem
batizados por Filipe (diácono) o Espírito Santo, pois seu batismo foi
ministrado por um ministro da palavra e não por um ministro da igreja.
Assim, foram enviados à Samaria Pedro e João, que estavam em
46
Jerusalém, para a confirmação do batismo, aos que apenas tinham sido
batizados por Filipe, o diácono, as graças que eram os sinais do
Espírito Santo.
Percebemos na leitura destes dois autores, Schillebeeckx e
Hobbes, que existe uma diferença em suas abordagens. Schillebeeckx
faz uma avaliação crítica sobre a ordem hierárquica entre a Igreja
(ekklesia) e a autoridade na direção, fala ainda da presença de conflito
entre as autoridades, pela questão de sempre, onde se discutia para
saber quem detinha a autoridade autêntica nas comunidades. Hobbes
aborda também a ordem hierárquica mas, entre Cristo e o ministério
diaconal. Tanto aqueles que ensinam a palavra de Deus como os que
administram os negócios da igreja são ministros.
2.3 DIAKONIA EM TEXTOS DO NOVO TESTAMENTO
a) Marta estava ocupada em muita diaconia. Parando, por fim, disse:
Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a
fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude (Lc 10,40) objeto da
tese;
b) ... porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério
(At 1,17);
c) ...para preencher a vaga neste ministério vaga e apostolado, do
qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar (At 1,25);
d) Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos,
houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as
viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária (At
6,1);
47
e) ...e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da
palavra (At 6,4);
f) Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram
enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia (At 12,29);
g) Barnabé e Saulo, cumprida a sua missão, voltaram de Jerusalém,
levando também consigo a João, apelidado Marcos (At 12,25);
h) Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo,
contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do
Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus (At
20,24);
i) E, tendo-os saudado, contou minuciosamente o que Deus fizera
entre os gentios por seu ministério (At 21,19);
j) Dirijo-me a vós outros, que sois gentios! Visto pois, que, eu sou
apóstolo dos gentios, glorifico o meu ministério (Rm 11,13);
k) ...se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina
esmere-se no fazê-lo (Rm 12,7).
l) ... para que eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judéia, e
que este meu serviço em Jerusalém seja bem aceito pelos santos
(Rm 15,31);
m) Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diácona da Igreja de Cencréia,
para que a recebais no Senhor de modo digno, como convém a
santos, e a assistais em tudo o que ela de vós precisar porque
também ela ajudou a muitos, a mim inclusive. (Rm 16, 1-2) Objeto
da tese.
48
Constatamos ainda, a presença de diakonia, em outros textos do
Novo Testamento, porém, a nossa investigação abarca apenas os
evangelhos sinóticos, que aqui acima estão representados por Lc 10,40
e Rm 16, 1-2.
O termo diaconia tem sido tradicionalmente associado a uma
atividade secundária da Igreja. A missão da Igreja seria a proclamação
do Evangelho. Essa tarefa principal teria um cunho espiritual e poderia
ser cumprida, simplesmente, através do discurso. Portanto, a tendência
à espiritualização da missão da Igreja relegou o ministério da prática a
um segundo plano (GAEDE NETO, 2001, p. 9).
O termo diaconia presente em Rm 16,1-2, está ligado a ekklesia
como colégio ou livre associação no mundo greco-romano, onde as
pessoas faziam atos de culto, tomavam suas refeições juntos. O texto
relata que a associação dependia, na maioria dos casos, de patronos,
homens ou mulheres, tutores masculinos ou femininos que ajudavam
financeiramente, como é o caso de uma mulher patrona, Febe (Rm 16,
1-2) e Estéfanas (1Cor 16,15-18) (SCHILLEBEECKX, 1989, p. 68-9).
Quanto à verticalidade, a diaconia tem a sua ação primeira de
Deus: salvação divina da criação (...) construção de seu reino
divino...) diaconia de Deus Ekkehard (apud GAEDE NETO, 2001, p.
32).
Segundo Nordstokke (1995, p. 16) a igreja parte da mensagem
central do evangelho: a graça é para todas as pessoas, aproximando o
Deus criador de todas as coisas da realidade humana.
Na visão do mesmo autor citado acima, a ação diaconal emerge
do amor e se ramifica através de uma caminhada que visa buscar a
49
alegria e o prazer de um viver comunitário, que dá espaço para a
diferença e que tem a sua identidade em Jesus Cristo. O que
concretiza a ação diaconal é que sempre deve partir do amor, amor que
inclui, que acolhe e que busca comunidade koinonia.
Percebemos que a diakonia é ação salvífica que Deus que motiva,
a partir da fé, uma ação em benefício de pessoas que se encontram em
situação de sofrimento, pobreza e injustiça. Portanto, esta ação se dá
através da nossa intervenção, visando o bem estar e a justiça das
pessoas.A diakonia se concretiza ali onde o sofrimento e a miséria
tomam forma e corpo (NORDSTOKKE, 1995, p. 28).
Paulo expandiu ainda mais o conceito de diakonia. Via a
totalidade da salvação, a diakonia de Deus em Cristo pelos homens e
entre eles, expressada na diakonia dos apóstolos. Já havia no Antigo
Testamento uma diakonia divina, mas era expressa na lei e, portanto,
na morte e na condenação (2Cor 3,7,9), e foi confiada ao apóstolo. O
termo diakonia pode ser usado como termo técnico para a obra de
proclamar o evangelho (Rm 11,13; 2Cor 4,1; cf. 2Tm 4,5).
Constatamos que o termo diakonia ocorre 34 vezes no Novo
Testamento. Tem o significado de:
- serviço, cargo, ajuda, sustento, distribuição, (de esmolas,
etc.);
- O substantivo derivado diakonia expressa as ocupações
subentendidas pelo verbo e significa serviço, cargo;
- Significa serviço à mesa (Lc 10:40; At 6,1);
- É usado em um sentido geral para serviço amoroso em 1Co 16,15
e Ap 2,19;
50
- Para o serviço amoroso mediante o levantamento de uma coleta
em At 11, 29;8, 12,25;
- Para a proclamação da palavra e a missão cristã em 2 Tm 4,11; At
6,4; 20, 24; 21,13; 2Cor 11,8;
- Para todos os serviços na comunidade cristã em Ef 4,12;
- Para o serviço mediante anjos em Hb 1,14;
- Para o cargo carismático em At 1,17; Rm 11,13; 2 Cor 3, 7-8; 4,1;
5,18; 6,3; Cl 4,17; 2 Tm 4,5. Cada serviço e cada cargo, no
entanto, acha seu significado na unidade orgânica do corpo de
Cristo (1Cor 12,5; Rm 12,7). A glória da diakonia do Novo
Testamento desenvolve-se disto (2 Cor 2, 8-9)(COENEN,
BROWN, 1981, p. 450).
Coenen, Brown (1981, p. 451) abordam que a comunhão da
refeição em comum que envolvia o servir à mesa (At 6,1) permanece
básica para a compreensão da diakonia no Novo Testamento. Temos de
pensar no partir do pão onde os ricos cuidavam dos pobres (1 Cor 11,
17-34) e nas igrejas, nos lares, como a casa de Estéfana que se
dedicava a diakonia (1 Cor 16,15); Marta de Betânia (Lc 10,40); Febe
de Cencréia (Rm 16, 1-2). O serviço, em que as forças e as posses
eram empregadas em prol dos outros, pode ser visto como o elemento
principal e sustentador da comunhão (2 Cor 9,13; At 5,4; 2 Cor 9,7).
Este serviço se estendia da igreja local para outras igrejas (At 11,29;
12, 25; etc). A diakonia espiritual e física de dar e receber ocorre como
reconhecimento do sacrifício de Cristo ( 2 Cor 8,9; 9, 12-15).
Percebemos o valor da diakonia no Novo Testamento e na
propagação da Boa Nova no Cristianismo originário.
51
3 CAPÍTULO II - MULHERES DIÁCONAS
3.1 A DIACONIA DE MARTA
Richter Reimer (2000, p. 24) ressalta que o texto de Lc 10,38-42
diz: Marta, porém, preocupava-se com a muita diaconia. E aproximou-
se e disse (para Jesus):senhor, não te importas que a minha irmã
tenha me deixado servir (diaconein) sozinha? Diga-lhe, pois, que
coopere (synantilambáno = estar lado a lado com alguém para dividir o
peso) comigo! O senhor então lhe respondeu: Marta, Marta! Andas
ansiosa (no sentido de cuidar de muitas coisas) e te perturbas por
causa de muitas coisas.
Para essa autora (2000, p. 24-5) o texto nada diz a respeito de
que Marta estivesse servindo ou preparando comida para Jesus, como
é interpretado. Marta se sente sozinha na diaconia e Maria não está
participando das tarefas com ela. A autora não vê nenhuma
recriminação na fala de Jesus. No contexto, Marta é líder da igreja,
responsável pela vivência do Evangelho.
O texto, nas palavras de Jesus apresentadas por Lucas,
discrimina a função de Marta, quando afirma que o discipulado de
Maria é a boa parte (p. 25). Percebe-se aqui, uma das tendências e
expressões teológicas típicas de Lucas: ele prioriza o Ministério da
Palavra, e deixa outros ministérios como secundários ou subjacentes.
Embora Lucas afirme que Maria é discípula de Jesus, o texto não a
coloca como protagonista na transmissão desse evangelho. Mesmo que
o texto afirme que a boa parte não será tirada de Maria, ela não
52
aparece de forma ativa na narrativa. Marta, sim! (RICHTER REIMER,
2000, p.25).
A diaconia envolvia tanto o anúncio quanto a vivência do
Evangelho. O trabalho diaconal e o trabalho da palavra estavam
unidos. Richter Reimer (2000, p. 25) tem dúvidas em relação ao conflito
de relações na divisão das funções entre Marta e Maria, se na sua
origem com Jesus já existia esse conflito ou se foi criado e alimentado
no processo de transmissão, escrita e interpretação das experiências
para legitimar a supremacia do ministério da Palavra que ficou restrito
a homens. É um processo que se inicia ainda no primeiro século.
Apesar de Jesus agraciar o ministério da Palavra a Maria, este foi
negado às Marias por milênios... (RICHTER REIMER, 2000, p. 25)
Não é nossa pretensão recorrer apenas ao texto lucano (10,38-
42) Marta e Maria, para este estudo sobre a diaconia de Marta. Ao
contrário, aprofundaremos na busca de outras interpretações que nos
dêem uma nova visão sobre a diaconia de Marta dentro do contexto do
movimento de Jesus, no primeiro século. Embora nos sinóticos e em
Paulo diakoneo é encontrado com freqüência, mas com a exceção de
Lc 10,40, diakonia não é achada nos Evangelhos (COENEN, BROWN,
1981, p. 450).
Para Richter Reimer (2000, p. 240) é possível entender a diaconia
de Marta no seu sentido original e mais amplo, utilizado no cotidiano do
contexto histórico-social da época: Marta tinha uma casa na qual
hospeda Jesus. Essa casa também servia como espaço para a igreja,
da qual Marta era liderança. Marta deve ter sido uma mulher muito
procurada em sua casa-igreja para prestar serviços diaconais, anunciar
53
e testemunhar o Evangelho. Por causa dessa sua diaconia é que estava
tão preocupada e ansiosa.
Por um lado é de nosso conhecimento que apenas Lucas faz esta
narrativa e, portanto, existem várias interpretações e comentários
sobre Lc 10, 38-42, que são de nosso interesse, para enriquecimento
de nossa pesquisa.
Por outro lado, Lucas dá muita atenção às mulheres, quando
relata que Jesus não só acolhe as mulheres, mas, que as cura de seus
males, perdoa-lhes os pecados e se deixa tocar, ungir, por elas,
enquanto elas o seguem: É Lucas o evangelista que mais inclui a
mulher em suas narrativas, enquanto os outros evangelistas silenciam
(ZABATIERO, 1995, p. 16).
Para Schüssler Fiorenza (1992, p. 197), o interesse de Lucas em
subordinar um ministério ao outro manifesta-se na narrativa sobre
Marta e Maria em Lc 10,38-42, onde Marta é caracterizada como
servindo à mesa (p. 197), ao passo que Maria ouve, como discípula a
palavra de Jesus. Em outras palavras, servir a mesa não significa
administração de fundos, mas serviço à mesa numa refeição. Segundo
1Cor 10,21, a Mesa do Senhor é a mesa eucarística. O ministério à
mesa incluía preparação de uma refeição, compra e distribuição de
alimento, servir realmente durante a refeição e provavelmente fazer a
limpeza depois.
Vaz (2006, p. 34-5) assegura que Jesus continua a viagem para
Jerusalém, mas que não está sozinho como no início do seu ministério
público em Nazaré. E quem está com ele, são os Doze, seus discípulos
e muitas mulheres (Lc 8,1-3; 9,51-56). Provavelmente algumas crianças
54
e alguns da multidão também o acompanhavam. É uma mulher de nome
Marta que o recebe em sua casa.
Para esse autor citado acima, Marta se encontra muito atarefada
procurando servir o senhor. A diaconia (serviço) de Marta pode ser
comparada como serviço (diaconia) realizado pela sogra de Pedro (Lc
4,39): que depois de curada por Jesus, de sua febre, começou a
prestar serviços a ele e aos que estavam em sua casa, como faziam
muitas outras mulheres que seguiam Jesus, servindo-o (Lc 8,3).
Segundo Arns (2004, p. 160) Marta é lembrada pelo serviço
(diaconia) que prestava nas comunidades cristãs (Lc 10,38-42);
enquanto que Maria se destacou como uma das discípulas mais
próximas a Jesus.
Pela leitura do texto de Lucas 10,38-42, a casa de Marta é uma
das comunidades de apoio a Jesus e a seus discípulos (NAVIA
VELASCO, 1998, p. 104).
Segundo Navia Velasco (1998, p. 105) os estudos modernos
sobre o Novo Testamento estão de acordo em propor que a estrutura
inicial do movimento de Jesus e da Igreja nascente contou, para seu
sustento e expansão, com a combinação do radicalismo itinerante e
com as pequenas comunidades locais, estáveis, de apoio. Para essa
autora, o grupo de mulheres que seguiam e serviam com seus bens a
Jesus é o que converte Marta e Maria em discípulas, libertando-as e
as capacitando para uma relação de igual para igual com o mestre e
com seus seguidores e seguidoras.
Para Tepedino (1990, p. 118) muitas mulheres se identificam com
Marta do relato de Lc 10,38-42, aquela dona-de-casa que recebeu
55
Jesus em sua casa e trabalhava na cozinha enquanto sua irmã Maria
escutava as palavras dele sentada aos seus pés (uma imagem negativa
de Marta).
Entretanto, o quarto evangelho (cf. Jo 11,10-44) apresenta Marta
como uma discípula de fé forte e não faz oposição como Lc 10,38-42,
entre as duas irmãs, ao contrário, ambas revelam atitudes de
discípulas no ministério (TEPEDINO, 1990, p. 119).
Segundo Schottroff (1995, p. 145-6) nos evangelhos, a história de
Maria e de Marta é a única tentativa de refletir sobre o problema da
modificação da função de mulheres no seguimento de Jesus, mas,
mesmo assim, ela suscita em nós sentimentos mistos. Maria escolheu a
boa parte. Ela é discípula de Jesus. Ela não é jogada contra Marta.
Marta é para tornar-se discípula e seguidora de Jesus. A palavra de
Jesus: uma coisa é necessária... é um desafio, um convite dirigido a
Marta.
Uma concepção de diaconia é mais evidente em (Mc 10,42-45 e
9,35). Aqui, a diaconia caracteriza a situação de alguém que está no
degrau mais baixo da hierarquia social. No seguimento de Jesus, não
se busca subir e dominar sobre outros e outras, mas procura-se o
orientar-se para baixo. A diaconia tem um sentido mais amplo do que o
serviço de mesa: ela descreve o relacionamento dos discípulos entre si
e deles para com Jesus, e o relacionamento de Jesus para com as
pessoas. Schottroff (1995, p. 57) assegura que, se em Mc 15,41, é
mencionada especialmente a diaconia das mulheres em relação a
Jesus, então esse conceito é sinônimo de akolutein/seguir. As
56
mulheres também servem a Jesus no momento em que elas querem
honrá-lo através do ato da unção, quando ele está no sepulcro.
Stegemann (2004, p. 447) se refere ao texto de Lc 10,38-42 como
expressivo da situação de mulheres crentes em Cristo na época após o
ano 70 d.C. Em princípio, segundo o autor, é correta a interpretação
dessa história como reflexo da tensão entre o papel tradicional de
mulheres (servir à mesa: Marta) e sua equiparação ao papel masculino
comoaluna (Maria). Maria assenta-se aos pés de Jesus e o escuta
(10,39), assim como Paulo diz sobre si mesmo em At 22,3, que ele se
assentava, como aluno, aos pés de Gamaliel. Marta, em contrapartida,
preocupa-se com o servir à mesa e se queixa a Jesus de que sua irmã
a deixa sozinha com essa tarefa (10,40). Mas a história de modo algum
pretende contrapor o trabalho de dona-de-casa de Marta ao papel de
Maria, mas também Marta é exortada a aprender.
Percebemos que no Novo Testamento, existem outros versículos
que utilizam o verbo diakoneo para se referir ao serviço (diakonia)
prestado por mulheres e por homens, na propagação da Boa Nova no
primeiro século. Porém, o nosso interesse é a diaconia de Marta que no
movimento de Jesus em nossa concepção, tinha função ministerial
entre os discípulos e ela agia como uma diácona.
Consideramos que na narrativa de Lc 10, 38-42 (objeto de nossa
tese), a palavra que melhor expressa o serviço prestado por Marta em
sua casa é diakonia, que deriva conforme sugere a etmologia, de
diakoneo servir.
Percebemos que Lucas dá mais atenção às mulheres porque as
incluem em suas narrativas mais que os outros evangelistas. Mas, o
57
interesse de Lucas em subordinar um ministério ao outro está evidente
na narrativa de Marta e Maria, onde Maria é a discípula que ouve a
palavra de Jesus, enquanto que Marta fica condicionada à servir à
mesa (SCHÜSLER FIORENZA, 1992, p. 197).
Richter Reimer (2000, p. 25) que o discipulado de Maria é a boa
parte, mas no contexto, quem é a liderança da igreja é Marta. Como
podemos superar as dicotomias, de Marta a dona de casa à beira do
fogão e da Maria contemplativa aos pés de Jesus, com a boa parte?
Será esta a única imagem bíblica de Marta? Na verdade, no
cristianismo de libertação, existem experiências de interação de fé e
vida, contemplação e ação que superam situações conflitivas sem fazer
oposições como Lucas (10, 38-42). Temos ainda, o retrato de Marta,
que nos pinta o quarto evangelho (cf. Jo 11, 10-44) é extremamente
positivo, ela é uma discípula de fé forte. A família de Betânia
apresentada no quarto evangelho faz a vontade do Pai (cf. Mc 10, 28-
30), são discípulos de Jesus, e seus amigos.
Tepedino (1990, p. 119-21) traça o perfil de Marta como diákonos
(cf. Jo, 12,1), apresentando-a como uma mulher decidida, positiva,
confiante, participativa e cheia de esperança. Ela se tornou o centro do
texto lucano, quando este deveria se tratar da ressurreição de Lázaro
(p. 121) e apresenta Marta como a primeira teóloga que escuta a
revelação, responde com sua fé e parte para servir a comunidade.
Conclamamos à todas as mulheres para uma reflexão feminista
que chame a subverter, as regras sexistas masculinas. Hoje não é tão
diferente de algumas regras do primeiro século: a sobrecarga de
58
trabalhos domésticos e trabalhos educativos nos ombros das mulheres,
numa classificação de privado, numa inferiorização e numa
invisibilidade, que marginaliza a ação de mulheres na sociedade. É
preciso voltar de baixo para cima e visibilizar-nos.
3.2 CONVITE ÀS MULHERES
3.2.1 Mulheres no contexto sociopolítico
Definir a diaconia de mulheres na Palestina implica a necessidade
de conhecer alguns fatos do contexto sócio-histórico-político, bem
como os valores e as experiências vivenciadas pelas mulheres e
também sua posição e como eram tratadas naquela sociedade e no
movimento de Jesus. A história da Palestina está ligada à história de
Roma, onde o povo judeu, o povo de Jesus, vivia como tantos outros
povos, sob o domínio do Império Romano, implantado com guerras de
conquista, marcadas por violências e dominações.
O contexto histórico-social e cultural das comunidades judaico-
cristãs no Império Romano do primeiro século era marcado pelo
sistema da pax romana, elucidado por Tácito, que em seu livro
Agrícola, descreve a forma como esse sistema de dominação vai se
expandindo em torno do Mar Mediterrâneo (RICHTER REIMER, 2004, p.
115). Partindo da perspectiva de povos ocupados, Tácito narra a
história:
59
[...]. Saquear, matar, roubar isto é o que os romanos
falsamente chamam de domínio, e ali onde, através da guerra,
criam um deserto, isto eles chamam de paz [...]. Mulheres,
quando conseguem escapar das mãos dos inimigos, são
violentadas por aqueles que se dizem amigos e hóspedes [que
são os romanos após estarem instalados em território
ocupado] (TACITUS, apud RICHTER REIMER, 2004, p. 115).
Para essa autora anteriormente citada (p. 116), no sistema de
dominação romana, as dimensões de classe, etnia, gênero e faixa
etária estão intrinsecamente vinculadas, tanto na forma de dominar
quanto na forma de ser dominado(a): eram homens da elite romana,
cidadãos proprietários e seus aliados (reis vassalos), que dominavam a
maioria escrava, liberta e empobrecida, as pessoas não-cidadãs e
outros povos.
Segundo Richter Reimer (2000, p. 29-30) após a conquista
estabilizava-se a dominação. Era então imposta a pax romana aos
povos subjugados; realizando alianças com a classe política do povo
dominado; distribuindo privilégios particulares, políticos e econômicos,
para sustentação do sistema. A carga de impostos era pesada e o
trabalho escravo era explorado. Os dominados eram compostos, na sua
maioria, de mulheres e crianças. Nesta política de expansão, as
mulheres eram dominadas, submetidas à tortura e à cruz, da mesma
forma que os homens, e além disto, eram violentadas e exploradas
sexualmente.
Richter Reimer (2000, p. 30) afirma que:
A sociedade romana, ideologicamente também sustentada por
sua filosofia aristo(télico-)crática, estava dividida claramente
em duas partes. Trata-se de uma divisão vertical entre em
cima e embaixo:
60
governantes-súdit os,
poderosos-dominados,
ricos-pobres,
minoria-maioria.
De acordo com a autora esta divisão vertical da sociedade em
duas classes apresenta apenas um lado da realidade histórico-social.
Também é importante o corte horizontal que perpassava a vida greco-
romana e também judaica. Trata-se dos limites existente de impostos,
mais uma vez ideologicamente legitimados, entre:
pessoas livres e escravas,
nações e raças,
homens e mulheres,
adultos e crianças.
Richter Reimer (2000, p. 30) afirma que esta divisão horizontal
não relativiza a vertical. Torna-se um sustentáculo daquela. A casa
romana, por exemplo, com sua hierarquia de poder exercido pelo pater
famílias sobre mulher, escravos e filhos(...) Firmando-se a casa
patriarcal perpetuava-se o sistema.
3.2.2 A prática de Jesus subverte valores de dominação
Dentro deste contexto de dominação, nosso objetivo é aguçar o
olhar para os textos do Novo Testamento que relatam sobre mulheres
que entraram em contato com Jesus e o seguiram.
É preciso observar como as mulheres eram tratadas junto ao
grupo de Jesus, como era o ensinamento de Jesus e como ele se
reporta à vida cotidiana de mulheres e de crianças, avaliando os textos
61
a partir de uma ótica de mulheres comprometidas com a vida no mundo
e com o Reino de Deus.
Richter Reimer (2000, p. 30-1) explicita que a prática de Jesus
subverte os valores vigentes naquela sociedade. Os últimos tornam-se
primeiros. Entre eles encontram-se prostitutas (Mt 21,31s.; Lc 7,36ss.),
viúvas geralmente empobrecidas (Lc 7,11ss.; 21,1ss.), estrangeiras (Mt
15,21ss.), mulheres com problemas ginecológicos (Mt 9, 20ss.),
crianças (Mt 18,3ss.; 19,13ss.), doentes (Lc 8,41ss.; 13,10ss.). No seu
discurso, Jesus eleva as pessoas empobrecidas e despossuídas,
prometendo-lhes a terra e o Reino de Deus (Mt 5,1ss.). Na plasticidade
de sua práxis e de seu discurso, ele honra e manda honrar a mulher
que o ungiu, reconhecendo-o como Messias (Mc 14,3-9); conversa e
discute com a samaritana que o confessa como Messias e o proclama
na cidade (Jo 4,1ss.); aceita e convida mulheres ao aprendizado numa
postura de discípulas (Lc 10,38ss.). Jesus deixa que as mulheres o
toquem, o unjam, discutam e aprendam com ele, e inclusive que o
convertam de sua decisão, como é o caso da mulher cananéia (Mt 15,
21-28). Na prática de Jesus, elas, que na vida sócio-religiosa estão
entre os últimos, tornam-se primeiras, recobram a dignidade humana.
Os evangelhos mostram Jesus sem preconceitos em relação à
mulher, ele não a despreza, ao contrário, chega a defendê-la, quando
querem apedrejá-la (Jo 8,1-11)
Jesus não segrega as mulheres e não demonstra nenhum
desprezo em relação a elas, tratando-as com naturalidade. Algumas
mulheres acompanham Jesus e a seus discípulos desde a Galiléia até
Jerusalém. Conforme Mc 15, 40-41, Jesus teve discípulas mulheres que
62
o seguiam e o serviam até a morte na cruz: entre elas estavam Maria
de Magdala, Maria, mãe de Tiago, o Menor e de Joset, e Salomé. Além
destas, havia muitas outras que tinham subido com ele para
Jerusalém.
Apesar da evidência desta prática libertária, Schottroff (1995)
alerta para o fato de que muitas vezes textos do Novo Testamento
foram mal interpretados e mal-usados. Esta história interpretativa
repercutiu na história das mulheres de forma negativa, contra a
libertação das mulheres.
3.3 O MOVIMENTO DE JESUS NA PALESTINA
O movimento de Jesus no primeiro século tinha como função a
renovação profética alternativa dentro de Israel. O movimento de Jesus
podia apelar à tradição de Israel como sua tradição religiosa muito
própria sobre e contra certas práticas dentro de Israel (SCHÜSSLER
FIORENZA, 1992, p. 128).
O mundo e a visão sociais do movimento de Jesus, enquanto
movimento de renovação judaica, estão refletidos nos relatos
evangélicos sobre Jesus de Nazaré. Os evangelhos se centram na
práxis da vida de Jesus e citam as mulheres apenas de passagem. Os
evangelhos são, pois, lembranças paradigmáticas e não relatos
abrangentes do Jesus histórico, mas expressões das comunidades e
indivíduos que tentaram dizer que significado tinha Jesus para suas
situações (SCHÜSSLER FIORENZA, 1992, p. 130-31).
63
A autora, citada acima, assevera que a teologia cristã feminista
deve, portanto, entender criticamente todas as lembranças dos que
através da história cristã entraram no discipulado de iguais, iniciado
por Jesus e que se chamaram a si mesmos de seguidores de Jesus no
contexto de suas próprias situações e problemas histórico-sociais.
Seguir Jesus jamais é mera repetição ou imitação, mas um
engajamento nas perspectivas da fé cristã primitiva.
Para Mesters e Orofino (1995, p. 35), o movimento de Jesus, ou o
movimento da Boa Nova do Reino, foi iniciado por Jesus na Galiléia e
teve mais ou menos dez anos de duração. Começou após a prisão de
João Batista (Mc 1,14) e com a ordem dada aos discípulos de
recomeçar na Galiléia depois da ressurreição (Mc 14,28; 16,7; Mt
28,10). Pode-se dizer que esse movimento tinha como característica a
renovação profética alternativa dentro de Israel, principalmente nas
áreas rurais. Esses autores ressaltam que as primeiras comunidades,
antes e depois da morte de Jesus, eram sustentadas e animadas por
missionárias e missionários ambulantes. Estas e estes, diferentemente
dos missionários judeus, não levavam nada no caminho, nem sacola,
nem dinheiro, mas confiavam na solidariedade do povo. Na primeira
casa em que eram recebidos, ali permaneciam vivendo a vida do povo,
partilhando comida, trabalho e salário e se dedicando com atenção
especial às pessoas excluídas (Mt 10,8; Lc 10,9). O objetivo da
pregação de Jesus e das missionárias e missionários, não era em
primeiro lugar, anunciar uma nova doutrina, era renovar as
comunidades existentes a partir da Boa Notícia de que o Reino já
estava presente no meio delas (Mt 10,7; Lc 10,9).
64
Segundo Tonini (2000, p. 18), o movimento de Jesus precisa ser
entendido como um movimento judaico que faz parte da história judaica
do primeiro século. Portanto, precisamos nos deter em alguns sinais
que são imprescindíveis para sua compreensão histórica: reconstruir o
movimento de Jesus como movimento judaico, dentro de suas
estruturas culturais e religiosas. Jesus segue a tradição judaica,
profética que resgata a memória do Êxodo, dos profetas antigos e toda
a experiência tribal.
Nos estudos de Richter Reimer (2000, p. 62-72), ela explicita que
falar de origem deste movimento significa, além de ver diferentes
lugares e personagens, captar o conteúdo central anunciado e vivido,
observando que este conteúdo Jesus Cristo é Senhor e Salvador é
a origem primeira de todas as outras origens.
A autora ressalta que existem algumas origens desse movimento
libertário judaico e cristão junto às mulheres, e a partir delas, percebe-
se que elas foram testemunhas e não foram apenas ouvintes do
Evangelho, mas também praticantes.
As mulheres continuaram o trabalho pela Boa Nova, pelo Senhor.
Mulheres e homens vivenciaram os sinais do Reino de Deus, com uma
proposta democrática, trabalhando pelo bem da comunidade,
superando todos os riscos, pela propagação do Reino de Deus, do
Evangelho.
Havia muitas mulheres nos movimentos do primeiro século, que
trabalhavam juntamente com os homens, lado a lado, numa função
pastoral, missionária, mas foram invisibilizadas pelo sistema
androcêntrico e apenas algumas se destacaram. E mesmo sem
65
aparecer, foram participantes da história, como Marta, que recebe
Jesus em sua casa e também Febe, da igreja de Cencréia, que lidera e
cuida do rebanho de Jesus com função pastoral, na comunidade
paulina.
Richter Reimer (2000, p. 64) diz que no início do século II, as
mulheres ainda assumem lideranças comunitárias, o que é testificado
por Plínio o Jovem, que menciona as duas diáconas (ministrae =
diáconoi) escravas na província de Bitínia. Junto com Rm 16,1, onde
Paulo cita a diácona Febe, esse testemunho extrabíblico nos ajuda a
compreender que quando o Novo Testamento faz referência a diáconói,
estão inseridos aí, tanto homens quanto mulheres (1Tm 3,8-13)!
Portanto, a passagem de Plínio Jovem é elucidativa para a análise
sócio-histórica do cristianismo primitivo, quando cita as duas diáconas,
cujo nome não se sabe, são escravas e na igreja são lideranças do
serviço comunitário.
Segundo Pixley (2002, p. 128) por volta do ano 30 d. C., surgiu
na Galiléia um movimento em torno de um mestre de Nazaré chamado
Jesus. O autor destaca vários elementos no movimento de Jesus:
primeiro e antes de tudo, viu o templo de Jerusalém e os mestres
fariseus da Galiléia como o antagonismo principal ao Reino de Deus.
Em segundo lugar, a estratégia do movimento de Jesus foi atacar no
plano ideológico, buscando deslegitimar um domínio sustentado acima
da lei de Deus. O Sábado foi feito para o homem, e não o homem para
o Sábado (p. 128). Em terceiro lugar, Jesus busca desde já criar uma
pequena comunidade que se organiza segundo as relações de
irmandade que caracterizarão o Reino de Deus.
66
Horsley (2004, p. 134-8) assegura que esse programa de Jesus
de renovação de Israel (expandido) em oposição aos governadores
dependentes romanos poderia bem ter sido ameaçador à ordem
imperial. Um dos poucos episódios nas narrativas da paixão é a prisão
de Jesus por traição, isso sugere que Jesus e o seu movimento haviam
chamado a atenção dos chefes sacerdotais de Jerusalém e/ou do
governador romano, que decidiram eliminá-lo. O ponto de partida é sem
dúvida a acusação pela qual Jesus foi crucificado, declarada na
inscrição sobre a cruz: rei dos judeus. É importante ressaltar que
alguns ramos do movimento que iniciaram com Jesus e os seus
primeiros seguidores na Galiléia continuaram a opor-se à ordem
imperial romana e a formar comunidades alternativas que encarnavam
valores e relações sociais muito diferentes, inclusive, com a
participação de mulheres.
Percebemos que dentro do contexto do movimento de Jesus, é
possível dizer alguma coisa sobre Jesus e esse movimento, referente à
participação das mulheres, não apenas na função de familiares, mas
como discípulas, diáconas.
3.3.1 As mulheres no movimento de Jesus e que o serviam
Segundo Tomita (1991, p. 47), Jesus teve discípulas mulheres
que o seguiam e serviam, da Galiléia até a morte de cruz. São citadas
algumas mulheres e além destas, havia muitas outras que tinham
subido com ele para Jerusalém. Esta notícia é narrada no relato da
67
paixão de Jesus, relatada de maneira concisa que, precisamos reler
várias vezes o texto para perceber o profundo significado de tal
afirmação:
1
º
) que Jesus teve seguidoras discípulas (o verbo akolouteo
= seguir, tem o sentido de discipulado);
2
º
) que essas mulheres foram constantes e fiéis a Jesus desde
a Galiléia até a morte de cruz;
3
º
) que, embora os discípulos homens (e até mesmo os Doze)
ante o perigo tenham abandonado a Jesus, elas não o
abandonam e o seguiram, até o fim (cf. Mt 27,55-56; Mc
15,40,41,47; Lc 23,49,55,56; Jo 19,25).
4
º
) por não o terem abandonado, são elas as primeiras a
testemunhar a ressurreição de Jesus e a ser enviadas (verbo
apostello = enviar; apóstolos = enviado) na missão da Boa-
Nova (cf. Mc 16,1-10; Lc 24,1-11; Mt 28,1-10; Jo 20,1,2,11-18)
(TOMITA, 1991, p. 47).
Schottroff (1995, p. 22) destaca que as mulheres foram corajosas
e solidárias para com Jesus, quando ele foi executado. Marcos conta
em seu Evangelho, que Jesus partiu com um grupo de discípulas e
discípulos, da Galiléia rumo a Jerusalém. Mesmo sabendo que estaria
arriscando a se confrontar com as autoridades judaicas e com o poder
romano que ocupava Jerusalém ele tinha que fazer isso. Pois fazia
parte do projeto de Deus e Jesus predissera a suas discípulas e
discípulos que também eles corriam perigo de vida. Marcos relata que,
ao ser crucificado, Jesus estava sozinho no local da crucificação. No
entanto, no relato sobre a crucificação de Jesus termina com um rasgo
de esperança. Ele fala da solidariedade das mulheres para com Jesus:
Ali, no entanto, estavam mulheres, as quais observavam de
longe; entre elas estavam Maria Madalena, Maria, a (mãe) de
Tiago, o menor, a mãe e Joset e Salomé. Elas, quando Jesus
(ainda) estava na G aliléia, o seguiam e o serviam. (Além
disso, ali ainda estavam) muitas outras mulheres, as que
haviam subido com ele para Jerusalém (Mc 15, 40-1).
68
Schottroff (1995, p. 23) diz que a hora do nascimento do
cristianismo foi o fato de que o trabalho de Jesus, que era promoção da
vida, não acabou com a sua morte. As mulheres vivenciaram a
ressurreição como a proximidade viva, corporal de Jesus. Ele lhes deu
nova missão, lhes deu força e poder.
A autora ainda esclarece que a práxis do movimento de Jesus era
diferente da teoria no momento em que homens começaram a fixar uma
ética cristã para mulheres, crianças, pessoas escravas e para si
mesmos. Durante muitas gerações cristãs, a práxis do movimento de
Jesus e das comunidades cristãs era bem diferente. No início, havia
muitas mulheres que, além dos homens, se engajavam, em nome de
Deus, pela nova vida. Assim como os homens, as mulheres falavam
publicamente, curavam doentes, eram apóstolas, ainda hoje, são
conhecidos os nomes de muitas mulheres que se dedicaram ao
Evangelho, como: Maria e Marta, de Betânia, a profetisa Ana em
Jerusalém, Maria e Isabel as mães de Jesus e de João Batista, Febe da
comunidade paulina e muitas outras mulheres.
Vamos transcrever Lc 8,3 em versão da Bíblia de Jerusalém:
Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes, Suzana e
várias outras, que o serviam com seus bens.
Temos aqui representando o discipulado de mulheres que
diekónoun a Jesus, seguiam e serviam a Jesus.
Lucas relata a diaconia realizada em favor de Jesus e seus
discípulos por parte de algumas mulheres que, ao mesmo tempo, eram
suas seguidoras. Eram algumas mulheres que haviam sido curadas de
69
espíritos malignos e de enfermidades: Maria Madalena, Joana, mulher
de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras (p. 173). O
motivo dessa diaconia era mencionado:Andava Jesus de cidade em
cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do
reino de Deus, e os doze iam com ele, (p. 173). Quem cuidava da
subsistência desse grupo? De onde provinham os recursos? Eis a
resposta no mesmo relato: (...) as quais lhe prestavam assistência
(diekónoun) com os seus bens (Lc 8,1-3) (GAEDE NETO, 2001, p.
173).
Não concordamos com a interpretação de Gaede Neto, sobre Lc
8,1-3 e apresentamos a interpretação de Guizzo, que tem outra visão
do texto (2005, p. 63-5). Ela aborda a cura, como reintegração do ser
humano em todos os aspectos, na sociedade. É da cura que nasce a
ação, a diaconia das mulheres, que ao serem curadas, seguem e
servem a Jesus. Portanto, a diaconia (serviço) é conseqüência da cura.
A autora assegura, que também ao ser curada, a sogra de Pedro, se
colocou ao serviço de Jesus. É o que explicita (Mt 8,15; Mc 1,31; Lc
4,39).
Segundo Tepedino (1990, p. 81-3) os modernos estudos sobre o
movimento de Jesus colocam-no como um movimento de renovação
dentro do judaísmo. Esse era um movimento carismático itinerante
onde mulheres e homens eram admitidos em igualdade de condições.
Nesse movimento considerado como revolucionário, Jesus levava a
sério as mulheres judias (fossem ou não pecadoras) que a sociedade
de seu tempo marginalizava de toda vida social ou religiosa pública.
70
A autora acima assevera que Jesus quebra o preconceito contra a
impureza legal e se solidariza com todas e com todos que sofrem e
desafia as proibições existentes entrando em casa de mulheres como
hóspede (Lc 10, 38-42).
De acordo com Richter Reimer (2005, p. 107-8) é possível
perceber que o movimento de Jesus acolhia e compromissava
mulheres, homens e crianças a viver uma vida liberta e solidária,
redimensionando as prioridades pessoais e rompendo as delimitações
sociais, reorientando-as. Jesus questiona a família célula patriarcal,
ampliando seu significado (Mt 12,46-0). Nesse contexto podemos
perceber e entender o fato de que mulheres casadas chegavam a
abandonar seus maridos, para se colocar a serviço do projeto de Jesus,
seguindo-o como discípulas fiéis, como é o caso de Joana, mulher de
Cuza, o administrador de Herodes (Lc 8,1-3). A ruptura com Cuza era,
sem dúvida, inevitável, visto ser inimaginável uma mulher casada, da
classe dirigente, sair peregrinando com um grupo considerado
subversivo e perigoso para a corte de Herodes, onde todos lhes deviam
fidelidade (p. 108).
Segundo Schottroff (1995, p. 56), em Mc 1,31 não é demonstrada
a cura da sogra de Pedro, mas é expresso o seguimento da mulher
curada; o seguimento aparece como uma conseqüência da cura. A esse
seguimento pertence, para Marcos, também o fato de que as pessoas
curadas anunciam as práticas de Jesus (1,45; 5,20; 10,52). Sem
dúvida: diaconia pode significar inclusive serviço de mesa, mas com
isso, estão ligados simultaneamente outros aspectos que são o da
renúncia ao querer ser grande e ao dominar. Esse aspecto pode
71
concretizar-se também em outras ações: no acolhimento de uma
criança (9,36 em conexão com 9,35) e na morte de Jesus (10,45).
Segundo Schottroff (1995, p. 41), as mulheres já seguiam Jesus
desde a Galiléia. É isso que depreendemos de Mc 15,41. Até então,
elas não tinham sido mencionadas. Agora, motivado pela importância
dos fatos junto ao sepulcro de Jesus, o texto complementa que elas
sempre participavam do movimento de Jesus. A complementação de
15,41 quer evidenciar quem eram as mulheres junto à cruz de Jesus.
Apenas duas mulheres observavam a cena, quando o corpo do
crucificado é deitado no sepulcro (15,47). São elas que vão ao sepulcro
na manhã da páscoa (16,1). Nessa cena, as mulheres representam o
discipulado global e o seguimento na cruz. Este é o centro da
mensagem de Marcos.
Percebemos interpretações diferenciadas, como também as
traduções de Mateus, Marcos e Lucas. Vimos que os tradutores
escolheram verbos e expressões que têm o significado de ajudar, servir
ou ministrar, quando se referiam a diakoneo.
Portanto, cabe a nós, aprofundarmos em nossa pesquisa e
resgatar mais conhecimento acerca da diaconia de mulheres, no
primeiro século.
3.4 A MULHER NA TRADIÇÃO LUCANA
Segundo Petry (1995, p. 15) é crescente a investigação sobre o
papel das mulheres nas comunidades cristãs primitivas. Busca-se
encontrar as razões para justificar as restrições feitas às mulheres ao
72
longo da História da Igreja como também reconstruir a História do
cristianismo primitivo a partir da mulher (p. 15).
Na visão desta autora citada, Lucas é considerado o evangelista
das mulheres (p. 15), por ser ele quem mais cita a mulher; como
também quem melhor apresenta a figura de Maria, Isabel, dentre tantas
outras.
Nas narrativas de Lucas a mulher é ora exaltada, ora diminuída...
além disso, Lucas expõe as fraquezas da mulher: são pecadoras,
doentes, possessas, viúvas e estéreis. Mas, é em Lucas, que Jesus
aparece dando grande atenção às mulheres. Jesus sai diversas vezes
em defesa da mulher, curando, perdoando, deixando-se tocar, beijar,
ungir. As mulheres o seguem, o bendizem, o amam, o escutam e o
servem. Lucas é o evangelista que mais relata episódios sobre as
mulheres e só ele narra a anunciação feita a Maria (Lc 1,26-56);
também é Lucas quem compõe as narrativas da Infância (p. 16),
sobre o protagonismo de mulheres. Maria é cheia de graça (1,28), é
bendita entre as mulheres (1,42), é a escolhida (p. 16) para ser a
Mãe do Salvador. É Lucas quem nos faz saber da existência da
profetisa Ana (2,36-38). Além das narrativas sobre as mulheres, Lucas
inclui a mulher em narrativas e discursos onde os demais evangelistas
silenciam. Ele acrescenta o vocábulo gyné, mulher, em diversas
passagens (14,26; 18,29; 22,57); ao todo, são quarenta e uma vezes no
Evangelho, enquanto Mateus o faz trinta e duas vezes, Marcos doze
vezes e João vinte duas vezes (gyné significa mulher ou noiva (p.
16). (PETRY, 1995; p. 15-6).
73
As informações dadas por Lucas no seu evangelho descortinam
as histórias vividas por mulheres no movimento de Jesus. Ele coloca as
mulheres em suas narrativas, também em Atos.
Lucas não só incluiu mulheres na sua história das comunidades
da primeira igreja, como também cuidou em mostrar que as mulheres
compartilhavam dos dons espirituais da igreja.
Desde o início do Evangelho de Lucas, as mulheres aparecem
com toda força: Maria, a mãe de Jesus; Isabel, repleta do Espírito
Santo; e Ana, a profetisa no templo. No anúncio, rompendo o
patriarcalismo, o anjo Gabriel, mensageiro de Deus, aparece a Maria
(Lc 1,28-0) e não a José, como diz Mateus (1,20-1) (PETRY, 1995, p.
16).
Para Richter Reimer (2005, p. 67), Maria é a expressão máxima
da teofania. Ela se dispõe a participar da história da salvação,
gestando e criando o Novo há tanto tempo esperado (Lc 1,26-2,21). É
nela que começa a se manifestar o mistério do Deus encarnado. É nela
que ele habita por primeiro. É ela também que está junto de Jesus,
motivando-o para seu primeiro milagre (Jo 2,1-12), e participa do grupo
de discípulas e discípulos de Jesus (Jo 19,25) e do grupo que organiza
a Igreja originária em Jerusalém (At 1,14). Por tudo isso, Maria é
lembrada e bem-aventurada, como ela própria profetizou em seu
cântico (Lc 1,46-55).
A autora acima citada (p. 67-8) afirma que assim como Maria, a
maioria das mulheres das quais falam os escritos do Segundo
Testamento é judia ou convertida ao judaísmo, chamada temente a
Deus (p. 68) ou prosélita. Essas mulheres fazem parte do movimento
74
de Jesus, de renovação dentro do judaísmo, inserido num contexto
político-social e religioso mais amplo.
Saulnier e Rolland (1983, p. 65) afirmam que não é fácil
determinar a condição da mulher na época de Jesus: é que muitas
informações nos são transmitidas por textos rabínicos posteriores. Para
esses autores, o lugar da mulher é em casa, ocupando-se dos filhos e
da casa e fiando a lã, na Judéia, ou o linho, na Galiléia: os textos
prevêem a quantidade mínima que ela deve fiar ou tecer por semana,
quantidade esta que é reduzida se ela amamenta um filho de menos de
dois anos. A mulher nada tem a fazer fora de casa e se for obrigada a
sair, deve usar um véu.
A mulher ainda deve aceitar que seu marido divida sua afeição
entre ela e outras mulheres, quer sejam esposas como ela, quer sejam
concubinas, ou até mesmo escravas. Notemos que a poligamia é muito
rara e isso em primeiro lugar por razões econômicas (SAULNIER E
ROLLAND, 1983, p. 65).
Mas a mulher é também filha de Israel, o que lhe confere direitos.
Ela tem direito a um mínimo vital: seu marido é obrigado a lhe dar o
necessário em alimentos, vestes e dinheiro para uso próprio, sem o que
ela pode se queixar num tribunal que, após inquérito, obrigará o marido
a se divorciar (SAULNIER E ROLLAND, 1983, p. 66).
Em relação à filha, entre 12 anos e 12 e meio, é uma adolescente
que o pai tem o dever absoluto de entregar a um noivo, pois após essa
data ela se torna maior e pode aceitar ou não os projetos do pai. Se o
pai lhe deu um noivo ou um marido antes de seus doze anos, ela pode
dizer, no dia em que atinge essa idade: Considero-me como vendida
75
em escravidão e portanto me liberto hoje. E ela se torna livre
(SAULNIER E ROLLAND, 1983, p. 70). As mulheres foram tratadas por
Jesus como um indivíduo por direito nato. Ele não deixou nenhum
ensinamento relativo às mulheres como uma classe de pessoas. Essa
atitude de Jesus e a sua mensagem libertadora deram fundamentação
para os papéis das mulheres na primeira igreja.
Segundo Jeremias (1983, p. 473) a mulher não participava da
vida pública no Oriente, assim também acontecia no judaísmo do tempo
de Jesus nas famílias judaicas fiéis à Lei. Para sair de casa, a mulher
tinha de esconder o rosto com um manto que se dividia em duas partes,
uma cobria-lhe a cabeça, a outra cobria a fronte e caía até o queixo, de
forma que o rosto da mulher não podia ser reconhecido.
Apesar da rigidez e preservação de usos e costumes, no tempo
de Jesus, havia exceções quanto à atuação de mulheres dos meios
populares, elas não tinham como levar uma vida reclusa, pois
precisavam de trabalhar como comerciantes, tecelãs e confeccionando
túnicas e mantos para seus familiares que também eram vendidas,
como forma de ajuda. Richter Reimer (1995, p. 58) cita Tábita que
compartilhou com outras mulheres o fruto de seu trabalho (como tecelã)
com as viúvas que estavam com ela. Também fala sobre o trabalho de
Lídia (p. 73-6), na extração de púrpura (tinta para tingir as roupas).
Richter Reimer (1995, p. 89-98), diz que assim como Tábita e
Lídia, muitas mulheres trabalhavam, produziam, confeccionavam e
vendiam seus produtos. A autora lembra do trabalho de artesã,
realizado por Priscila, juntamente com Áquila, seu marido, na
fabricação de tendas. Várias são as mulheres que trabalhavam além
76
destas, para o sustento da família e para o sustento do reino, nas
comunidades originárias.
No contexto do judaísmo da época, Jesus surge como um
reformador único e até radical das atitudes generalizadas sobre as
mulheres e seu papel na sociedade. Mas a libertação das mulheres no
evangelho se destaca somente quando se examina o ministério de
Jesus e a primeira comunidade cristã à luz das restrições que
prevaleciam contra as mulheres do Oriente Próximo na antigüidade. Da
Galiléia até Roma, a mensagem de Jesus transformou o mundo do
primeiro século (GRENZ, 1998, p. 78).
A posição das mulheres em quase toda sociedade mediterrânea
antiga era medíocre. Os gregos acreditavam que as mulheres só
existiam para dar filhos a seus maridos ou lhes fornecer o prazer
sexual como cortesãs (GRENZ, 1998, p. 78).
Na cultura mediterrânea tradicional, a ordem patriarcal refletia a
dicotomia existente entre a vida pública e a privada. Os homens
envolviam-se no comércio e na política e se sociabilizavam. Em
contraste, as mulheres pertenciam à esfera privada. Essa prática de
separação era portanto, uma forma pela qual se protegia os padrões da
pureza sexual (GRENZ, 1998, p. 78-9).
Para essa autora citada acima, as mulheres romanas eram mais
visíveis em público e exerciam mais influência no comércio e na
política do que suas irmãs nas cidades gregas. Mesmo com esta maior
emancipação, tais mulheres permaneciam sujeitas ao ideal cultural da
mulher doméstica. Elas eram lembradas de sua principal
responsabilidade para com a casa. Na sociedade judaica, as mulheres
77
gozavam de uma posição similar um pouco superior. O papel
subordinado que as mulheres haviam desempenhado na sociedade
patriarcal mais antiga se solidificara até se tornar uma posição inferior
(p. 79).
Segundo Kroeber (apud Laraia, 1989, p. 46) o homem é o
resultado do meio cultural em que foi socializado, Ele é um herdeiro de
um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a
experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam.
Percebemos que a leitura dos textos sobre a presença e diaconia
de mulheres no contexto do primeiro século, nos cristianismos
originários, confirmam que existe uma cultura que rege uma sociedade.
Cada povo tem a sua cultura, a sua forma de perceber o mundo,
levando em consideração seu conhecimento, suas crenças, suas leis,
costumes e todos os atributos adquiridos no contexto vivenciado.
A cultura é portanto, uma construção histórica como concepção
ou como processo social. É produto coletivo da vida humana.
Quando lemos o evangelho lucano, escrito provavelmente entre
quarenta e sete e cinqüenta e dois anos depois da morte de Jesus,
entre os anos 80 e 90 E. C., percebemos que o autor permeia em seu
evangelho, a vida, ações e ensinamentos de Jesus ao longo do
caminho da Galiléia até Jerusalém, onde cita que a presença de
mulheres e a sua participação eram marcantes no serviço (diaconia),
no seguimento a Jesus. Lucas não exclui as mulheres e as tornam
visíveis em suas ações.
78
4 CAPÍTULO III - METODOLOGIA EXEGÉTICA
Wegner (2002, p. 11-3) define o termo exegese como trabalho
de explicação e interpretação de textos bíblicos. A exegese distingue-
se de outras interpretações bíblicas, pelo seu caráter mais científico,
detalhado e aprofundado. Ela ajuda a compreender os textos bíblicos,
escritos em outras épocas, pois o papel da exegese é descrever e
redescobrir o passado bíblico de forma que este seja compreendido e
refletido hoje em toda sua essência.
Os métodos de leitura bíblica mais conhecidos são o histórico-
crítico e o estruturalista. Cada um tem seus pontos positivos e suas
deficiências (WEGNER, 2002, p. 18-9):.
a) O método estruturalista só é entendido de modo
particularmente diferente por vários de seus aspectos,
sendo empregado como método de análise sincrônica da
Bíblia. Este método é considerado ainda de difícil
assimilação.
b) O método histórico-crítico é o método mais usado em
análises diacrônica da Bíblia. Denomina-se de método
histórico-crítico, porque lida com fontes históricas, que,
no caso da Bíblia, datam de milênios anteriores a nossa
era, e porque necessita emitir uma série de juízos sobre as
fontes que tem por objeto de estudo. Atualmente, o método
caracteriza-se, sobretudo, por ser eminentemente racional
e questionador.
79
Fundamentar-nos-emos nessa metodologia exegética histórico-
crítica para a análise de Lc 10,38-42 e de Rm 16,1-2. Faremos uma
tradução literal dos textos em sua versão original, delimitando-os e
apresentando possíveis variantes. Utilizaremos outras versões em
português, para apresentação de diferenças. Abordaremos o aspecto
sócio-cultural e a hermenêutica feminista no cotidiano de mulheres e
homens empobrecidos, para que sobressaiam dos textos onde foram
ocultos e nos dêem o seu testemunho sobre o ministério diaconal do
primeiro século.
É importante ressaltar que, no método histórico-crítico para
análise, necessitaremos identificar o eixo do texto; interpretar seus
dados partindo da realidade contextual da época de Jesus e trazer à
tona, qual a intenção do texto proposto.
O eixo do texto de Lucas 10,38-42 é a diaconia de Marta no
movimento de Jesus. Sendo mulher, ela estava inserida naquele
movimento.
4.1 EXEGESE DE Lc 10,38-42
Pretendemos fazer neste estudo uma exegese de Lc 10,38-42
sobre a diaconia de Marta no movimento de Jesus no primeiro século.
No Novo Testamento existem outros textos que relatam não só a
presença, mas a diaconia, o seguimento e o discipulado de mulheres
no movimento de Jesus no primeiro século.
80
A exegese nos aproximará da fonte que produziu o texto e nos
indicará qual foi a influência causada pelo mesmo, naquele contexto.
Pretendemos estudar Lc 10,38-42 para destacar a diaconia de
Marta e de outras mulheres no primeiro século.
81
4.1.1 Texto grego de Lc 10, 38-42
_____________
Fonte: Novo Testamento Trilingüe Vida Nova (1998)
82
4.1.2 Tradução de Lc 10,38-42
38
Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa
mulher, chamada Marta, hospedou-o em sua casa.
39
Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se
assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.
40
Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muita
diakonia. Então, se aproximou e disse: Senhor, não te importas de que
minha irmã tenha deixado que eu fique a servir (diakoneo) sozinha?
Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.
41
Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te
preocupas com muitas coisas.
42
Entretanto, uma só coisa: Maria, pois, escolheu a boa parte, e
esta não lhe será tirada.
4.1.3 Versões em português
Consideramos pertinente avaliar algumas versões portuguesas
dessa perícope para observarmos as traduções bíblicas.
4.1.4 Bíblia de Jerusalém
38
Estando em viagem, entrou num povoado, e certa mulher,
chamada Marta, recebeu-o em casa.
39
Sua irmã, chamada Maria, ficou
sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra.
40
Marta estava
ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: Senhor, a ti não
83
importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço?
Dize-lhe pois, que me ajude.
41
O Senhor, porém, respondeu:Marta,
Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas;
42
no entanto, pouca
coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a
melhor parte, que não lhe será tirada.
4.1.5 A Bíblia Sagrada (Sociedade Bíblica do Brasil)
38
Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa
mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa.
39
Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se
assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.
40
Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos
serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te
importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir
sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.
41
Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te
preocupas com muitas cousas.
42
Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só cousa; Maria,
pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.
4.1.6 Bíblia Sagrada (Ave Maria)
38
Estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma
mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa.
84
39
Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés
do Senhor para ouvi-lo falar.
40
Marta, toda preocupada na lida da casa,
veio a Jesus e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me
deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude.
41
Respondeu-lhe o Senhor:
Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas;
42
no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte,
que lhe não será tirada.
4.1.7 Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas
-
38
Ao prosseguirem então no caminho, êle entrou em certa
aldeia. Ali, certa mulher, de nome Marta, recebeu-o como hóspede em
sua casa.
39
Esta mulher tinha também uma irmã, chamada Maria, a
qual, porém, se assentava aos pés do Senhor e escutava a palavra
dele.
40
Marta, por outro lado, estava desatenta por cuidar de muitos
deveres. Ela chegou assim perto e disse: Senhor, não te importa que
minha irmã me deixou sozinha para cuidar das coisas? Dize-lhe,
portanto, que venha ajudar-me.
41
Em resposta, o Senhor disse-lhe:
Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas.
42
Poucas
coisas, porém, são necessárias, ou apenas uma. Maria, por sua parte,
escolheu a boa porção, e esta não lhe será tirada.
4.2 COMPARAÇÃO DAS TRADUÇÕES
4.2.1 Bíblia de Jerusalém (Lc 10,38-42):
Na Bíblia de Jerusalém, temos como título Marta e Maria. Na
nota de rodapé (p. 1808), as duas irmãs reaparecem com os mesmos
traços característicos no relato da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44).
85
v.40:Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por
fim, disse: Senhor, a ti não importa que minha irmã me
deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois,
que me ajude.
v.41:O Senhor, porém, respondeu: Marta, Marta, tu te
inquietas e te agitas por muitas coisas;...
v.40:Versão da Bíblia de Jerusalém
substitui porém, preocupava-se com a muita diaconia por
estava ocupada pelo muito serviço;
omite e aproximou-se e disse (para Jesus:); por parando,
por fim, disse:
traduz o verbo da voz passiva tenha me deixado por me
deixe e acrescenta a fazer o serviço?
omite diga-lhe, pois que por dize-lhe, pois que
acrescenta o pronome me.
Substitui coopere por ajude;
v. 41:
substitui então por porém
omite o pronome lhe
substitui andas ansiosa por tu te inquietas e te
perturbas por te agitas.
Omite causa de
86
4.2.2 A Bíblia Sagrada (Sociedade Bíblica do Brasil) (Lc 10,38-42)
v.40:Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em
muitos serviços. Então se aproximou de Jesus e disse:
Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado
que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que
venha ajudar-me.
v.41:Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e
te preocupas com muitas causas.
v.40:Versão: A Bíblia Sagrada (Sociedade Bíblica do Brasil)
substitui porém, preocupava-se com a muita diaconia por
agitava-se de um lado para outro;
omite com a muita diaconia;
acrescenta ocupada em muitos serviços;
substitui e aproximou-se e disse por então se aproximou
de;
acrescenta que eu fique a
substitui diga-lhe por ordena-lhe que coopere por
venha ajudar-me.
v. 41:
substitui a ordem da frase o Senhor então lhes respondeu
por respondeu-lhe o Senhor;
omite então;
87
substitui andas ansiosa por andas inquieta
substitui te perturbas por te preocupas;
omite por causa de muitas coisas por com muitas
cousas;
4.2.3 Bíblia Sagrada (Ave Maria) Lc 10,38-42
v.40:Marta, toda preocupada na lida da casa, veio até Jesus e
disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe
só a servir? Dize-lhe que me ajude.
v.41:Respondeu-lhe o Senhor: Marta, andas muito inquieta e
te preocupas com muitas coisas;...
v.40:Versão da Bíblia Claretiana.
substituiporém preocupava-se com a muita diaconia por
toda preocupada na lida da casa;
omite e aproximou-se e por veio até Jesus e;
substitui que a minha irmã tenha me deixado servir
(diakonein) sozinha? porque minha irmã me deixe só a
servir?;
substitui diga-lhe, pois, que coopere por dize-lhe que me
ajude;
v.41:
inverte a posição da frase. No original éo Senhor então
lhe respondeu: por respondeu-lhe o Senhor;
88
substituiu andas ansiosa por andas muito inquieta;
omite por causa de por com;
4.2.4 Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas
v.40:Marta, por outro lado, estava desatenta por cuidar de
muitos deveres. Ela chegou assim perto e disse: Senhor,
não te importa que minha irmã me deixou sozinha para
cuidar das coisas? Dize-lhe, portanto, que venha ajudar-
me.
v.41:Em resposta, o Senhor disse-lhe: Marta, Marta, estás
ansiosa e perturbada com muitas coisas;...
v.40:Versão da tradução do Novo Mundo das Escrituras
Sagradas
substitui e acrescenta porém, preocupava-se com a muita
diaconia por por outro lado, estava desatenta por cuidar
de muitos deveres.
Omite e aproximou-se e disse por ela chegou assim perto
e disse
Substitui me deixado servir por me deixou sozinha para
cuidar;
Substitui diga-lhe, pois, que coopere por dize-lhe,
portanto, que venha ajudar-me;
89
v.41:Substitui o Senhor então lhe respondeu por em
resposta, o Senhor disse-lhe;
substitui andas ansiosa por estás ansiosa;
substitui te perturbas por perturbada
omite por causa de por com muitas coisas;
4.3 AVALIAÇÃO DAS TRADUÇÕES
Nas quatro versões portuguesas que pesquisamos existem
grandes divergências entre elas na tradução. Percebemos a existência
de discriminação em relação à diaconia de Marta, no vocabulário
utilizado nas quatro versões.
Tanto a versão da Bíblia de Jerusalém quanto as outras três
versões, utilizam a forma composta do verbo, para dizer como estava
Marta: estava ocupada, agitava-se; toda preocupada e estava
desatenta (v.40), atitude negativa acentuada para a diaconia de Marta.
Quanto a muita diaconia a versão da Bíblia de Jerusalém e das
outras três Bíblias, não são condizentes entre si muito serviço
(diaconia); muitos serviços; lida da casa e muitos deveres (uso de
palavras sinônimas) (v.40), diferença total.
Percebemos o uso do imperativo nas quatro versões, quando
Marta pede que o Senhor intervenha perante sua irmã Maria. dize-lhe;
ordena-lhe; dize-lhe e dize-lhe (v.40), diferem entre si.
No versículo 41, quando Jesus respondeu a Marta, as três
versões pesquisadas são harmônicas, havendo apenas o uso de
90
sinônimo na última versão para: tu te inquietas; andas inquieta;
andas muito inquieta e estás ansiosa; para demonstrar o estado de
espírito em que se encontrava a anfitriã.
Notamos também que Jesus no versículo 41, nas quatro versões
pesquisadas, chama Marta por duas vezes.
O texto lucano não diz o nome do local onde a casa das irmãs
Marta e Maria se encontra. Nas quatro versões pesquisadas sabe-se
apenas que era:num povoado;num povoado;numa aldeia e em
certa aldeia.
Quadro 1: Vocábulos escolhidos pelas versões Bíblicas
Jerusalém
A Bíb
lia Sagrada
(S.B.B)
Bíblia Sagrada
Ave Maria
N.M. Escrituras
Sagradas
estava ocupada agitava-se toda preocupada estava desatenta
muito serviço muitos serviços lida da casa muitos deveres
diz-lhe ordena-lhe dize-lhe dize-lhe
tu te inquietas andas inquieta
andas muito
inquieta
estás ansiosa
te agitas te preocupas te preocupas Perturbada
num povoado num povoado numa aldeia certa aldeia
Na Bíblia de Jerusalém, consta como título Marta e Maria. Na
nota de rodapé assinala que as duas irmãs reaparecem com os mesmos
traços características no relato da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44).
Na variante no entanto, uma só coisa é necessária, no entanto,
pouca coisa é necessária, leituras que mutilam o texto e alteram o
91
sentido, - Jesus passa da perspectiva da refeição (pouca coisa é
necessária) à do único necessário.
A Bíblia Sagrada (S.B.B.) tem o mesmo título que a de Jerusalém
Marta e Maria não possui nota de rodapé. Este texto é o que mais se
assemelha ao original grego.
A Bíblia Sagrada (Ave Maria), consta também como título Marta
e Maria, assim como a Jerusalém e a Bíblia Sagrada (S.B.B.). Na nota
de rodapé da Ave Maria, consta no versículo 38, que na aldeia Betânia,
moravam Marta e Maria.
Na Bíblia Tradução do Novo Mundo das Escrituras
Sagradas, não consta o título do capítulo. Vem apenas a identificação
no alto da página como:Bom Samaritano. Nesta Bíblia não contém
nota de rodapé.
Percebemos a presença de discriminação à diaconia de Marta nas
quatro versões pesquisadas. Quando apresentam Marta ao receber
Jesus dizem que: ela estava ocupada,agitada, toda preocupada e
ainda por cima, desatenta. São estas nuances que reforçam as
tendências discriminatórias, a exegese tradicional que coloca Marta
como presa aoserviço doméstico e repreendida por Jesus, e ainda
continua o conflito de relações entre as mulheres para legitimar a
supremacia do ministério da Palavra, restringido a homens. Precisamos
refletir criticamente sobre as colocações discriminatórias encontradas
nos textos sobre a diaconia de Marta, para que o século XXI conheça a
verdadeira história: a diaconia de Marta e Febe.
92
4.4 ANÁLISE CRÍTICO-LITERÁRIA
Neste tópico, nos ocupamos com o gênero literário de Lc 10,38-
42, visto que os gêneros literários estão estreitamente ligados às
necessidades e tarefas das comunidades primitivas (DIBELIUS, apud
WEGNER, 2002, p. 169). Assim, por exemplo, a tarefa da pregação
induziu a criação do gênero dos paradigmas, ou seja, narrativas breves
e sucintas. Para Gunkel (apud WEGNER, 2002, p. 174), existem quatro
perguntas norteadoras para determinar o lugar vivencial de um gênero:
Quem é a pessoa que fala? Quem são os ouvintes? Que atmosfera é
determinante na situação? Que reação é intencionada?
A perícope de Lc 10,38-42 é um texto narrativo sucinto, cujo
gênero literário é denominado paradigma. O objetivo do texto é a
pregação, o anúncio do Reino de Deus. Paradigmas são pequenas
histórias que se concentram em torno de uma ou mais palavras de
Jesus (DIBELIUS apud Wegner, 2002, p. 184)..
Wegner (2002, p. 171) diz que o lugar vivencial é uma
expressão que procura reproduzir as palavras alemãs (Sitz im Leben.
Sitz significa lugar/assento e im Leben quer dizer na vida.
O lugar vivencial desta perícope é o ensino/catequese, pregação
na igreja, que lembra a diaconia/lugar de mulheres junto ao Ministério
de Jesus.
93
4.5 Delimitação do texto de Lc 10,38-42
Segundo Wegner (2002, p. 84) a necessidade de delimitar os
textos advém do fato de que, originalmente, os livros
neotestamentários foram redigidos em escrita contínua, sem espaço
entre as palavras e sem subdivisões de versículos, perícopes e
capítulos.
A perícope de Lc 10,38-42 tem seu início dentro do capítulo 10
(dez) no versículo 38. Ao prosseguirem então no caminho, ele entrou
em certa aldeia... A perícope termina no versículo 42.
A perícope em questão (10,38-42) se diferencia da anterior e
posterior, constituindo um conteúdo específico autônomo, com
mensagem própria e distinta dos textos apresentados. São constituintes
dessa delimitação a parábola do bom samaritano, onde se discute o
mandamento do amor maior. O samaritano (Lc 10,25-37) se torna
exemplo desse mandamento, quando socorreu um inimigo, um israelita.
A delimitação inferior é o texto de Lc 11,1-4, que se refere à oração do
Pai Nosso. Ela é um momento forte na vida dos discípulos de Jesus.
4.6 Estrutura de Lc 10,38-42 (WEGNER, 2002)
A seção que vai de Lc 10,38-42, se refere à hospedagem de
Jesus, em casa de Marta, num povoado e trata da diaconia de Marta.
94
Esta estrutura se baseia em Irene Foulkes (1Cor 15, 24-28) (cf. I.
FOULKES, 1996, p. 399).
A
38
Indo de caminho, entrou Jesus num povoado. Certa
mulher, chamada Marta, hospedou-o em sua casa.
39
Ela tinha uma
irmã, Maria, esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a
ouvir-lhe os ensinamentos.
B
40
Marta agitava-se de um lado para outro,
ocupada em muitos serviços.
B
40
Então se aproximou de Jesus e disse:
Senhor, não te importas de que eu fique a servir sozinha?
Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.
A
41
Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas
inquieta e te preocupas com muitas coisas..
42
Entretanto, pouco é
necessário ou mesmo uma só coisa: Maria, pois, escolheu a boa
parte, e esta não lhe será tirada.
A estruturação dos textos procura familiarizar-nos com a
disposição externa do seu conteúdo (WEGNER, 2002, p. 88).
Na primeira parte temos os v. 38-39 apresentando o cenário, a
parte geográfica onde Marta é encontrada por Jesus. Os três verbos
(prosseguir, entrar e receber), descrevem essa situação. No v. 39 é
95
introduzida outra personagem na narrativa. Maria é a irmã da
anfitriã(A).
Na segunda parte o v. 40 é a parte central do texto, onde vemos
a diaconia, oserviço de Marta. O versículo também traz em si, um
conflito de relações entre mulheres, por causa da divisão de funções(B
e B).
Na terceira parte são v. 41-42 versículos que apresentam a fala
de Jesus em resposta à interrogativa de Marta. Jesus fala direto com
Marta. Ele se torna o mediador de Marta e Maria (A).
4.7 Comentários de Lc 10,38-42
Clifton J. (1983, p. 119-20) enumera que Lucas não participou
dos acontecimentos descritos no terceiro evangelho, ele precisou de
fontes, para obter as informações das narrativas a respeito do
nascimento e vida de Jesus. O autor assegura que, só nesta história
(Lc 10,38-42) se faz referências a Marta e Maria, nos Evangelhos
Sinóticos. Lucas diz que Marta tinha uma casa em uma aldeia. João diz
que elas viviam em Betânia, pequena vila a dois km a leste de
Jerusalém. O fato de Jesus estar em Betânia não se enquadra no
padrão requerido por uma viagem a Jerusalém, pois Jesus nem entra
na Judéia antes de 18,35ss; A cena é visualizada. Jesus é o Rabi
cercado pelos discípulos e Maria também estava ali, sentada aos pés
do Senhor. Isso eqüivale aestudar sob a direção de alguém (cf At
22,3); ela é retratada como aluna.
96
Para Clifton, Marta apela para Jesus sobre o comportamento de
Maria. A interpretação da resposta de Jesus à queixa de Marta é
complicada por problemas textuais. Há cinco variações na crítica
textual: (1) poucas (coisas) são necessárias ou mesmo uma só; (2)
poucas coisas são necessárias; (3) poucas coisas são necessárias ou
apenas uma (4); D omite 42a; (5) outros textos ocidentais omitem tudo,
menos Marta, Marta e Maria (41b e 42a). Do ponto de vista da
evidência textual se dá mais peso à terceira, porque ela tem apoio dos
grandes Unciais. Se este é original, a resposta de Jesus seria
entendida desta forma:poucas coisas são necessárias na verdade
apenas uma (p. 120).
Segundo Champlin (1995, p. 111-12), a história de Marta e Maria
é peculiar ao evangelho de Lucas e representa a fonte informativa L
(de Lucas).
No evangelho de Lucas, a aldeia onde esse incidente teve lugar
não é definida pelo nome, mas o evangelho de João informa-nos que
Marta e Maria residiam em Betânia (Jo 11,1 e 12,1-3), e mostra que a
mulher que ungiu a Jesus, para o seu sepultamento, era Maria. Elas
também são identificadas como irmãs de Lázaro. Alguns estudiosos têm
identificado essa Maria com a mulher pecadora de Lc 7,36-50,
porquanto ali se encontra a narração de uma unção similar. Mas acerca
dessa identificação não se tem qualquer evidência, para o autor.
Alguns outros identificam Maria Madalena com Maria de Betânia (e
outros, ainda, fazem todas as três pessoas serem uma só a saber, a
mulher pecadora, Maria Madalena e Maria de Betânia. Porém, a
simples observação de que uma das Marias é de Betânia e que a outra
97
é de Magdala (de onde lhe provém o apodo Madalena), arruina todo o
argumento.
Champlin ainda nos diz que Marta era considerada a dona da
casa, por ser, provavelmente, a irmã mais idosa. A conjectura de que
ela era esposa de Simão, o leproso, não goza de qualquer evidência
sólida. Marta estava ocupada, um verbo que literalmente significa puxar
ao redor isto é distraída. (motivos internos e externos).
Lucas não deu atenção à cronologia e narrou um incidente
ocorrido fora da Galiléia, em algum tempo não-especificado, talvez
ocorrido durante uma das muitas viagens de Jesus para fora da
Galiléia, que não foi datada. A cidade natal de Marta era Betânia,
embora a posição da história lucana dê a impressão de que se tratava
de algum lugar na Galiléia (CHAMPLIN, 1995, p. 111).
Rius-Camps (1995, p. 201-04) nos diz que na narrativa do texto
de Lc 10,38-42, uma certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua
casa (10,38). Conforme o autor, Marta é personagem representativa
(certa) e real (chamada Marta). A diferença dos samaritanos, que
não receberam a Jesus porque os discípulos os tinham indisposto
contra Jesus, Marta o recebe como discípula que é. Em sua casa:
sendo casa uma expressão para designar a família, Marta domina
como senhora (Marta significa em aramaico senhora) a comunidade
ou família que representa, conjuntamente com Maria (duas mínima
expressão comunitária e irmãs relações de intimidade e
afetividade). Por isso Lucas não fez entrar os discípulos (representação
masculina) neste povoado para descrever o grupo de Jesus partindo da
vertente feminina.
98
O autor continua a nos dizer que Marta, porém, não tem somente
uma casa ou família de modo abstrato (p. 202). Tem também uma irmã,
chamada Maria (10,39a). De Maria se precisa que ficou sentada aos
pés do Senhor, escutando-lhe a palavra (10,39b): sentada como um
discípulo diante do mestre.
Liefeld (1996, p. 162-63) assegura que a preeminência das
mulheres na vida e no ministério de Jesus salienta-se fazendo
tremendo contraste em sua cultura. Textos bíblicos deixam claro que
havia outras mulheres que ministravam a Jesus e com Jesus (Mt 27,55,
Lc 8,1-3).
Segundo Foh (1996, p. 93) Jesus desafiou o estereótipo do
primeiro século e do século vinte, segundo o qual o lugar da mulher é
na cozinha ou na sala de aula (Maria e Marta, Lc 10,38-42). Jesus
chamou a atenção para a fé de uma mulher (Lc 7,36-40; Mc 12,41-44).
Em Lc 13,10-17, Jesus dirige-se a uma mulher como sendo uma filha
de Abraão, título de grande honra. Seus contemporâneos rabínicos
teriam visto isso como séria contradição de termos. Pois, para os
rabinos, a mulher não passava de uma fonte de tentação (sexual) e
alguém incapaz de aprender. Em seu ministério público, Jesus utilizou
ilustrações didáticas em que empregou ambos os sexos (Mt 13,33; Lc
15,8-10; Mt 25,1-13; Lc 18,1-8). As mulheres receberam a maior
atenção de Jesus desde o começo até o fim de seu ministério (Lc 8,1-4;
Mt 27,55-56; Mc 15,40-41). Isto aconteceu numa época em que as
mulheres apareciam em público só quando absolutamente necessário.
Sem dúvida, Jesus tratava as mulheres como deveriam ser tratadas,
como pessoas de valor; feitas à imagem de Deus.
99
Richter Reimer (2000, p. 24-5) comenta que é necessário a
utilização da categoria de gênero, como instrumental de análise nas
leituras, pois, isso nos ajudará a entender melhor os textos bíblicos,
escritos numa linguagem androcêntrica patriarcal, centrada nos
homens, invisibilizando a atuação de mulheres. Agindo desta forma,
podemos descontruir os textos com o auxílio de elementos
hermenêuticos e assim reconstruir a verdadeira história de mulheres.
A visão de Gaede Neto (2001, p. 170-71) é que na narrativa de
Marta e Maria, Lucas 10,38-42 coloca em discussão, por um lado, o
papel restrito ao mundo doméstico, que a sociedade impõe à mulher, e
por outro, o direito de sentar-se aos pés do Senhor e ouvir-lhe os
ensinamentos, privilégio reservado aos homens. Em questionamento
não está o gesto hospitaleiro de Marta, que é registrado como
diakonein, mas a imposição de um papel discriminador à mulher. Frente
a essa imposição, a opção de Maria representa o momento novo que
irrompe com o reino de Deus, de transposição de barreiras que
restringem a dignidade humana.
Conforme Schottroff (2003, p. 89-0) na tradição exegética,
passagens como as de Mc 1,31 e Mc 15,40s, foram, na grande maioria
das vezes, entendidas sem muita reflexão como trabalho doméstico de
mulheres. Mas em Lc 10,38-42 Marta faz o trabalho doméstico
necessário para receber um visitante. Jesus (assim como Lucas o
retrata) espera, como todos os homens no patriarcado, que o trabalho
doméstico seja realizado silenciosa e invisivelmente, embora conforme
Lc 10,38-42 e 11,27s, as mulheres não devam ser vinculadas ou
limitadas a esse papel. A história, porém, espelha que nas igrejas as
100
mulheres que precisavam fazer o serviço doméstico (diakonein) nem
sempre ficavam caladas, ainda que o protesto de Marta se volte contra
Maria, e não contra Jesus. A distribuição de papéis entre Marta e Maria
gera menos conflito em Jo 12,1-8: Marta dá conta do trabalho
doméstico para o banquete, e Maria unge os pés do convidado...
Para esta autora (p. 102) o trabalho de suprimento da anfitriã
Marta (Lc 10,38-42; Jo 12,1-8) não deve ter sido considerado, no
contexto do cristianismo incipiente de mulheres e homens, como
execução do trabalho da mulher na casa, usual na sociedade, mas sim
como serviço aos santos, o qual requer mulheres e homens como
anfitriões, mas que não visa limitar as mulheres ao trabalho de
suprimento.
Tepedino (1990, p. 121) assevera que o quarto evangelho
apresenta Marta como diakonos (cf. Jo 12,1) e para alguns exegetas
a diaconia era a única função na comunidade joanina.
Percebemos no texto acima (p. 121) que Marta era uma diácona e
que sua função era a diaconia na comunidade. Ela é apresentada no
exercício deste ministério preocupada com o bem estar das pessoas.
Como o trabalho diaconal e o trabalho da palavra estavam
unidos (RICHTER REIMER, 2000, p. 25), a diaconia de Marta abarca
todas as funções diaconais daquela comunidade, inclusive a catequese
e pregação.
101
5. CAPÍTULO IV - EXEGESE DE Rm 16,1-2: FEBE E O MINISTÉRIO
DIACONAL
O texto de Rm 16,1-2 é parte integrante da perícope 16,1-16.
Importante é destacar que a carta aos romanos é a última escrita por
Paulo (RICHTER REIMER, 2003, p. 1079), sendo bem elaborada,
teológica e eclesiologicamente paradigmática para comunidades cristãs
que optaram por viver sua fé como resposta ao amor e à graça
salvíficos de Deus, onde a doutrina da justificação pela graça e a
teologia da cruz estão bem elaboradas e dando sustentação até hoje às
teologias eclesiais (p. 1079).
Segundo esta autora (p. 1079), nesta carta, é o único lugar em
que Paulo explicita o nome de muitas mulheres e de homens que
trabalharam com ele, como ele e antes dele na missão da igreja.
Estes versículos (Rm 16,1-2) nos interessam assim como Lc
10,38-42, porque fazem parte da história de mulheres nos cristianismos
originários, nas comunidades cristãs e no ministério diaconal.
Embora as pesquisas apontem para a atuação de mulheres em
ministérios pastorais, presentes nos textos bíblicos, nossa pesquisa
abarca como objeto de estudo, a diaconia e o ministério diaconal, como
serviço de diáconas (mulheres) no primeiro século.
102
5.1 TEXTO GREGO DE Rm 16,1-2
____________
Fonte: Novo Testamento Trilingüe Vida Nova(1998)
103
5.1.1 Tradução de Richter Reimer (Rm 16,1-2)
1Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é diácona da igreja em
Cencréia,
2
para que a recebais no Senhor como é digno receber a pessoas santas
e para que a apoiem em tudo quanto de vós necessitar no trabalho;
pois também ela se tornou prostatis de muitas pessoas, inclusive de
mim (RICHTER REIMER, 2003, p. 1080).
5.2 DELIMITAÇÃO DO TEXTO Rm 16,1-2
O texto Rm 16,1-2 é parte integrante de um conjunto maior que é
a recomendação de Paulo a Febe, que tem início em Rm 16,1 indo até
o versículo 16 das saudações pessoais. No entanto, apenas os
versículos 1 e 2 fazem referências à Febe que, ao que tudo indica, foi
encarregada por Paulo de levar a carta a Roma e são esses versículos
que nos interessam dessa perícope porque tratam da diácona Febe.
5.3 VERSÕES EM PORTUGUÊS
Avaliaremos algumas versões portuguesas dessa perícope para
que possamos observar como são as traduções bíblicas das mesmas.
104
5.3.1 Bíblia de Jerusalém (Rm 16,1-2)
1Recomendo-vos Febe, nossa irmã, diaconisa da Igreja de
Cencréia,
2
para que a recebais no Senhor de modo digno, como
convém a santos, e a assistais em tudo o que ela de vós precisar,
porque também ela ajudou a muitos, a mim inclusive.
5.3.2 A Bíblia Sagrada (Rm 16,1-2) (Sociedade Bíblica do Brasil)
1
Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que está servindo à igreja de
Cencréia,
2
para que a recebais no Senhor como convém aos santos e ajudeis em
tudo que de vós vier a precisar; porque tem sido protetora de muitos e
de mim inclusive.
5.3.3 Bíblia Sagrada (Ave Maria)
1
Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é diaconisa da igreja de
Cêncris (Porto da cidade de Corinto),
2
para que a recebais no Senhor,
dum modo digno dos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós
venha a precisar; porque ela tem ajudado a muitos e também a mim.
105
5.3.4 Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas
1
Recomendo-vos Febe, nossa irmã que é ministro da congregação
que está em Cencréia,
2
a fim de que a acolhais no Senhor dum modo
digno dos santos, e para que a auxilieis em qualquer assunto em que
possa necessitar de vós, pois ela mesma também se mostrou defensora
de muitos, sim, de mim mesmo.
5.3.5 Avaliação das traduções
Nas versões pesquisadas, percebemos que não há grandes
divergências de tradução.
Notamos que houve opções de vocabulário entre as versões. Na
Bíblia de Jerusalém e na Bíblia Sagrada (Ave Maria), Febe é
denominadadiaconisa e não diácona. No entanto, a Bíblia Sagrada
(Sociedade Bíblica do Brasil) e a tradução do Novo Mundo das
escrituras sagradas, Febe é lembrada como: que está servindo...(para
aquela) e que é ministro, para esta.
Em todas as versões, Paulo faz a recomendação de Febe, ora
apresentando-a como diaconisa, ora como quem está servindo, e
também a apresenta como ministro. Também, em todas as quatro
versões, ele pede que os cristãos de Roma, dêem assistência de modo
digno, comoconvém a santos, pois, Febe ajudou a muitos e a ele
inclusive.
106
Quadro 2: Vocábulos escolhidos pelas Versões Bíblicas
Jerusalém
A bíblia sagrada
(S.B.B)
Bíblia Sagrada
Ave Maria
N.M. Escrituras
Sagradas
Diaconisa
Que está
servindo
diaconisa ministro
a recebais a recebais a recebais a acolheis
assistais em tudo
a ajudeis a ajudeis auxilieis
ela ajudou sido protetora venha a precisar defensora
5.4 ANÁLISE CRÍTICO-LITERÁRIA
Os versículos de Rm 16,1-2 formam um texto discursivo, cujo
gênero literário maior é denominado epístola (p. 182). O lugar vivencial
desta perícope é a admoestação (p. 175). Ela é um texto de Paulo à
comunidade cristã de Roma, que recomenda Febe e saúda a todos os
cristãos daquela comunidade, mulheres e homens.
107
5.5 ESTRUTURA DE Rm16,1-2 (WEGNER)
A seção que vai de Rm 16,1 a 16,2, se refere à parte de
recomendação e apresentação da diácona Febe, da igreja de Cencréia,
à comunidade cristã de Roma. Esta estrutura se baseia em Irene
Fulkes (1Cor 15,24-28).
V.1 A Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que é diácona da
igreja em Cencréia,
V.2a B para que a recebais no Senhor como é digno
receber a pessoas santas.
V. 2b B
para que a apóiem em tudo quanto de vós
necessita no trabalho;
V. 2c A pois também ela se tornou prostatis de muitas
pessoas, inclusive de mim.
Percebemos que a estrutura de Rm 16,1-2 trata de uma breve
recomendação aos cristãos de Roma, para que recebam Febe com uma
acolhida digna de uma representante da igreja. A função dela
108
(diakonos, prostatis e nossa irmã), não é dada a nenhuma outra
mulher, em todo o Novo Testamento.
Segundo Schottroff (1995, p. 87) existe uma diferença
interpretativa de prostatis para o feminino (usado como se
significasse) assistente, auxiliadora. Porém, para o masculino tem
outro significado protetor, patrono, dirigente.
Para Schüssler Fiorenza (1992, p. 217) a posição de Febe como
ministro na igreja de Cencréia é sublinhada pelo título prostatis,
comumente traduzido por ajudante ou patrona, embora na literatura
da época o termo tenha conotação de oficial líder, presidente,
governador ou superintendente. Febe representava a igreja, ela estava
à frente da comunidade de Cencréia e Corinto.
Richter Reimer (2003, p. 1089) assevera que prostatis deve ser
traduzido como protetora, e também significa estar à frente de um
trabalho numa comunidade.
5.5.1 Comentários de Rm 16,1-2
Schüssler Fiorenza (1992, p.72) aponta para a interpretação
androcêntrica encontrada com freqüência em relação a Rm 16,1-2.
Nesta passagem, Febe é chamada de diákonos e próstatis da igreja de
Cencréia, o porto marítimo de Corinto. Sempre que Paulo chama-se a
si mesmo, a Apolo, a Timóteo ou Titico de diákonos, os estudiosos
traduzem o termo por diácono, mas, quando a expressão se refere a
mulher, os exegetas traduzem por serva, ajudante ou diaconisa.
109
Segundo Orígenes (apud SHÜSSLER FIORENZA, 1992, p. 73)
Febe era uma assistente e serva de Paulo. Ele concluiu que mulheres
que fazem boas obras podem ser indicadas como diaconisas.
Schüssler Fiorenza (1992, p. 73-4) diz que o texto não permite
semelhante estereotipificação feminina de Febe. Uma vez que Febe é
chamada de diákonos da igreja de Cencréia, ela recebe este título
porque seu serviço (diaconia) e função foram influentes na
comunidade. Que Febe pudesse reclamar grande autoridade dentro do
esforço missionário primitivo cristão é sublinhado pelo segundo título
prostatis/patrona. Quando Febe é chamada de patrona por Paulo,
caracteriza-a em analogia com aquelas pessoas que têm posições
influentes como protetoras e mestres nas associações religiosas
helenistas. Textos como Rm 16,1-2 e 16,7 sugerem que mulheres
líderes no movimento missionário primitivo cristão não deviam sua
posição a Paulo. É mais verossímil que Paulo não tenha tido escolha
que cooperar com estas mulheres, reconhecendo sua autoridade nas
comunidades, como é o caso de Febe.
Segundo Schüssler Fiorenza (1992, p. 203), Febe é a única
pessoa na literatura paulina a receber uma carta oficial de
recomendação e ainda que se lhe dêem três títulos substantivos-irmã,
diakonos, prostatis-, o seu significado para missão cristã primitiva está
longe de ser reconhecido. Há exegetas (Lietzmann e Michel), que
tentam encobrir esses títulos de Febe, ou interpretá-los diferentemente.
Isso ocorre, quando Paulo usa o título de diakonos para referir-se a si
mesmo ou a um líder varão, os exegetas o traduzem por ministro,
missionário ou servidor. Mas, no caso de Febe, comumente
110
traduzem por diaconisa. Depois de caracterizar Febe como uma
senhora evidentemente rica e filantrópica. Contudo, o ofício de Febe
na Igreja de Cencréia não está limitado por papéis sexuais prescritos.
Ela não é uma diaconisa das mulheres, mas é um ministro da Igreja
inteira (SCHÜSSLER FIORENZA, 1992, p. 203-04).
Segundo Branick (1994, p.65), na carta aos Romanos Paulo
escreve uma linha de recomendação para Febe, que estava indo para
Roma, presumivelmente levando a carta e que necessitava de
hospitalidade (Rm 16,1-2). Paulo descreve Febe como nossa irmã
diakonos da igreja de Cencréia (Rm 16,1). Paulo diz aos Romanos que
a recebam com hospitalidade, dando-lhe assistência em tudo o que ela
precisar por ela ter sido prostatis a muitos e também a mim.
Para esse autor (p.66), a palavra prostatis é encontrada na
literatura grega e quer dizer patrona ou protetora.
O nome de Febe provém da mitologia. Tais nomes eram dados
comumente aos escravos. Febe pode ser mulher livre. Sua capacidade
de fazer uma longa viagem a Roma com ajuda para transportar a
pesada bagagem contendo a carta de Paulo, demonstra portanto status
econômico dela como patrona da igreja (BRANICK, 1994, p. 66)
Em relação a Rm 16,2, Schottroff (1995, p. 87) diz que o título de
diakonos, o qual Paulo aplica para Febe indica que ela exercia uma
função diretiva. Febe, igual a Paulo, anuncia o Evangelho, organiza e
cria comunidades. Quando o grupo de palavras diakonein, diakono
servir, servidor se refere a mulheres, a pesquisa científica
neotestamentária realiza uma mudança sexista do significado dessas
mesmas palavras. Pensa-se em assistência aos doentes, em prover
alimentação.
111
Ao receber o título de prostatis, Febe exercia função diretiva e de
muita importância para o trabalho missionário e por isso, havia muitas
pessoas que eram subordinadas a ela, inclusive Paulo (SCHOTTROFF,
1995, p. 87).
Para Mickelsen (1996, p. 231), Febe é mencionada como
diaconisa (diakonos) da igreja de Cencréia (Rm 16,1). Dos 27 nomes
da lista de Rm 16 ela é a única a quem esse cargo é aplicado.
Segundo Jensen (1997, p. 114-7) nas comunidades antigas,
mulheres e homens desempenharam as mesmas funções, independente
de seu status social. Ele afirma (p. 115) que os bispos eram assistidos
por presbíteros e diáconos. Cabia aos presbíteros a função de
anunciar os cultos na comunidade e aos diáconos o desempenho de
tarefas catequéticas, cuidar dos bens materiais e dos pobres. Na igreja
primitiva, as diáconas tinham as mesmas tarefas dos diáconos.
Segundo Jensen (1997, p. 115-6), as diáconas tinham como
obrigações, preparar as pessoas para o batismo. Os ritos do batismo
eram realizados por elas, as mulheres que deveriam ungir seus corpos
nus com óleo. Aos bispos, só restava a unção da testa e providenciar a
fórmula batismal. Com o aumento das igrejas, diminui o batismo dos
adultos e coube às diáconas apenas os cuidados com os enfermos.
Grenz (1998, p. 96) afirma que, quando Paulo coloca o ministério
de Febe numa congregação específica, diakonos da igreja de
Cencréia, ele faz a única ocorrência da palavra no Novo Testamento,
seguida de uma construção genitiva, ligando o serviço (diaconia) da
pessoa a uma igreja local.
112
O texto que melhor explicita o trabalho de mulheres lado a lado
com Paulo é Rm 16,1-2. Neste relato, Febe é citada como diakonos da
igreja de Cencréia. Mas, com o passar do tempo, Febe foi rebaixada
pelos copistas e tradutores de diácona para diaconisa e de patrona
(prostatis) para ajudante (ELLIOTT, 1998, p. 42).
Richter Reimer (2000, p,17) diz que precisamos resgatar
memórias de libertação dentro de um contexto extremamente marcado
por mecanismos de opressão e de morte. Para isso, temos que
aprender a ler a todas as histórias, também aquelas de terror e de
opressão contra mulheres, crianças e empobrecidos.
Essa autora demonstra (2000, p. 15-20) que a literatura bíblica
nos apresenta uma grande variedade de histórias de vida de mulheres
que do ponto de vista histórico, muitas vezes foram silenciadas, no
primeiro século, pela interpretação androcêntrica da bíblia.
Richter Reimer (2000, p.74) diz que várias mulheres se
destacaram no primeiro século nas comunidades cristãs, como é
demonstrado em Rm 16,1-16. Nesse texto, Paulo faz saudações a 27
pessoas, e dessas, 8 são mulheres e 19, homens. Paulo explicita os
nomes de mulheres e de homens que atuaram juntamente com ele pela
causa do Evangelho. Nessa carta, a mulher é visibilizada, como
também as suas ações dentro do ministério diaconal do primeiro
século, na capital do Império Romano.
Segundo Mattos (2002,p.56) o grego diakonos significa servo ou
ministro; no Novo Testamento essa expressão foi usada para homens e
uma vez, para mulher, Febe da igreja de Cencréia, em Rm 16,1. Se
essa palavra diakonos, para homens, significava atividade ministerial e
113
estava ligada à pregação e ao ensino da palavra, o mesmo termo
aplicado a Febe, também deveria ter o mesmo significado e não outro...
Segundo Richter Reimer (2003, p.1084) a fé judaico-cristã chegou
a Roma certamente antes do ano 49, por intermédio de mulheres e de
homens que circulavam pelas cidades do Império Romano, por causa
de suas profissões ou mesmo como mensageiras das novas
comunidades, como é o caso de Febe.
Richter Reimer (2003, p. 1088-9) aborda o trabalho diaconal de
Febe. Paulo a nomeia como diácona:nossa irmã, sendo diácona da
igreja de Cencréia... cidade portuária em Corinto. Esse local tinha
muita pobreza, sujeira e escravidão. Porém, era lá que Febe realizava
seu trabalho diaconal. Diákonos, era o termo utilizado tanto para
mulheres e homens.
A autora nos diz (2005, p,29) que para percebermos a
profundidade, fencundidade ou esterilidade das afirmações de um
texto, devemos expô-lo a um outro elemento decisivo na análise, que é
a tentativa de desconstruir e reconstruir o texto.
Percebemos nestas leituras que as mulheres foram excluídas,
invisibilizadas, marginalizadas, oprimidas, na história da Bíblia, por
esta ser escrita por homens, numa linguagem androcêntrica comum
naquela época, que procurava invisibilizar as mulheres e a sua
diaconia (serviço) na fundação da igreja e na propagação da Boa Nova.
As mulheres participaram juntamente com os homens, na
formação das comunidades, na pregação da Boa Nova do Reino de
Deus, a todas e a todos, nas cidades, nas casas, sempre como
verdadeiras diáconas, e tornando-se as primeiras a dar testemunho da
114
ressurreição de Cristo. São fatos narrados na história dos cristianismos
originários.
Percebemos nas leituras e comentários que Paulo ao se referir a
Febe em Rm 16,1-2, usou a terminologia diakonos, aquela que toma a
frente de uma comunidade. Esse termo era usado sem distinção para
mulheres e homens. Febe também recebeu de Paulo o título prostatis
que significa líder, governo, presidente.
Nas passagens neotestamentárias, o termo prostatis é indicado
para quem governa, lidera. Então, Febe representava essa liderança na
igreja, onde o trabalho de mulheres teve grande importância na ação
evangelizadora e Febe tanto quanto Paulo, anunciava o Evangelho,
organizava e criava comunidades (cf. 1Cor 3,5-9).
115
6 CONCLUSÃO
Nos textos pesquisados o termo diakonia expressa serviço. Quem
presta serviço (diaconia) é diakonos, que serve em nome de Cristo
(COENEN, BROWN, 1981, p. 452).
Diakonos diz respeito ao serviço em prol da igreja, do próximo, da
catequese, da comunidade, da pregação da palavra, da comunhão. E
Marta se preocupava com a muita diaconia (Lc 10,38-42).
Era comum naquela época, usar o termo diaconia, para mulheres
e para homens que prestavam serviços diaconais à igreja e à
propagação da Boa Nova do Reino de Deus. O conceito servir foi
reinterpretado por Jesus e tornou-se norma de vida para todas as
seguidoras e para os seguidores do mestre.
Por um lado, Marta (Lc 10,38-42) participou do movimento de
Jesus, acolhendo o Mestre e seus discípulos e discípulas, praticando
a diaconia (serviço).
Por outro lado, todas as vezes que Jesus ia a Jerusalém, visitava
a casa de Marta, Maria e de Lázaro, pois ele os amava (cf. Jo 11,5).
Ressaltamos que tanto Marta (Lc 10,38-42) por volta do ano 30
d.C., no movimento de Jesus, quanto Febe (Rm 16,1-2) da igreja de
Cencréia, comunidade paulina (anos 56-57), foram diáconas e
praticavam a diaconia e ambas, evangelizavam, serviam e propagavam
a Boa Nova do Reino de Deus. No entanto, apenas Febe teve
explicitada a sua diaconia, ao ser apresentada, recomendada e
denominada diácona e prostatis, da igreja de Cencréia. Nessa carta em
sua totalidade (cf. Rm 16,1-16), mostra Paulo compartilhando conosco
116
parte daquilo que consistia em conteúdo e pedagogia ministeriais nas
comunidades (judaico-) cristãs originárias. Mulheres e homens,
indistintamente, participavam da administração, organização e
liderança missionário-evangelísticas (RICHTER REIMER, 2003, p.
1089).
Encontramos nos textos histórias de mulheres, não muitas.
Schottroff (1995, p. 85) explicita, que apesar da linguagem
androcêntrica, as cartas paulinas são uma fonte muito rica para a
história de mulheres cristãs. Evidenciamos que as mulheres exerceram
sua diaconia no movimento de Jesus como diáconas e da mesma
forma, nas comunidades paulinas. Mulheres que foram curadas por
Jesus, que o seguiam e o serviam, também são consideradas diáconas,
como Marta e Febe. Febe não conheceu a Jesus, não o seguiu e não
foi curada por ele, no entanto é uma diácona.
Segundo Schottroff (1995, p. 56) a diaconia descreve o
relacionamento dos discípulos para com Jesus e de Jesus para com as
pessoas. Por um lado, a diaconia também é a tarefa da pregação da
palavra ou o serviço da mensagem (2Tm 4,11; At 6,4; 20,21,19; 2Cor
11,8).
Diaconia (serviço) em sua origem (grega), não tinha nenhuma
conotação religiosa. Indicava o trabalho de servir à mesa, considerado
um serviço humilde, de escravas e escravos.
Notamos que no Novo Testamento, diaconia passou a caracterizar
a participação de mulheres e de homens (seguidoras e seguidores de
Jesus), na propagação do Evangelho, da Boa Nova, do Reino de Deus.
117
Schottroff (1995, p. 112) afirma que para reconstruirmos a
história de mulheres e de sua diaconia, considerando apenas as cartas
paulinas, isso só não basta. É necessário conhecer a fundo as histórias
dessas mulheres nas comunidades do Império Romano e para isso,
teremos que levar em consideração a continuidade entre Jesus e Paulo
e não considerar somente o que causa opressão de mulheres na Igreja
com fundamento em cartas paulinas.
De acordo com Schüssler Fiorenza (2002, p. 174) mulheres
galiléias não só foram decisivas para estender o movimento de Jesus
aos gentios, mas também para a própria continuação deste movimento
depois da prisão e execução de Jesus. Mulheres galiléias discípulas de
Jesus não fugiram depois de sua prisão, mas ficaram em Jerusalém
para sua execução e seu sepultamento. Essas mulheres galiléias foram
também as primeiras a articular sua experiência da bondade poderosa
de Deus que não deixou o Jesus crucificado na sepultura, mas o
ressuscitou dentre os mortos.
Foi possível observar na pesquisa, que Jesus inverteu o sentido
de servir à mesa, e o serviço se tornou a atitude da discípula e do
discípulo, no ministério de Jesus, onde Marta também era uma diácona.
Percebemos que o androcentrismo da cultura ocidental é bem
evidente. É norma a masculinidade enquanto que a feminilidade é um
desvio sempre marginal da norma. No século XXI, ainda é possível
observar, que mulheres são incluídas no contexto social
(androcentrismo camuflado), mas não são mencionadas explicitamente,
assim como era a linguagem androcêntrica do primeiro século, que
incluía as mulheres na Bíblia, mas não as mencionava explicitamente.
118
Apesar do editamento patriarcal existem materiais disponíveis
sobre mulheres e sua diaconia no primeiro século, nos textos bíblicos e
extra-bíblicos. Então, cabe-nos fazer uma leitura bíblica feminista
libertadora, que tem por objetivo questionar, interpretar, visibilizar as
histórias de mulheres e de pessoas oprimidas nos textos bíblicos, para
que o século XXI conheça a verdadeira história e diaconia de mulheres,
que será lida como texto sagrado.
Reportemo-nos aos comentários sobre Lc 10,38-42, na visão de
alguns autores onde a diaconia de Marta não é colocada como eixo
principal da narrativa, mas, o discipulado de Maria. Clifton J. (p. 58-9),
desta pesquisa; Champlin (p. 59-0); Rius-Camps; Liefeld (p. 62); Gaede
Neto (p. 65)... Não concordamos com esses autores, porque eles não
centralizam o serviço, a diaconia de Marta, vendo como
questionamento, apenas o discipulado de Maria; (p. 58-9); (p. 71).
Entretanto, concordamos com Schüssler Fiorenza, Richter
Reimer, Schottroff (...), porque buscam reconstruir a história cristã em
suas origens, especialmente histórias de protagonismos de mulheres.
Falamos da hermenêutica feminista, que resgata a presença de
mulheres nos textos bíblicos, como é o caso de Marta e de sua
diaconia (Lc 10,38-42), e de Febe, e o ministério diaconal (Rm 16,1-2).
Notamos que ainda hoje, no século XXI, persistem problemas
relacionados ao primeiro século, quando se trata da diaconia de
mulheres, nas igrejas cristãs, pois cada igreja ou movimento tendem a
fazer a sua hermenêutica de acordo com o pensamento do líder e não
de acordo com a exegese bíblica, numa perspectiva histórico-crítica.
119
Isso traz confusão na conceituação de valores éticos, morais,
doutrinários...
Ao concluirmos nossa pesquisa, temos convicção de que, Marta
(Lc 10,38-42), mesmo não sendo explicitada como diácona, como foi o
caso de Febe (Rm 16,1-2), ela também é uma diácona, assim como
todas as mulheres que seguiram, serviram a Jesus, que testemunharam
e que participaram do movimento de Jesus no cristianismo primitivo.
Portanto, quando Jesus faz a inversão do sentido de servir à
mesa, o serviço, a diaconia se torna a atitude da discípula e do
discípulo. O que era desonra, foi valorizado por Jesus. Isso significa,
que mulheres e homens que participaram do serviço da diaconia, se
tornaram diáconas e diáconos, simultaneamente; comprovando que na
perícope de Lc 10,38-42, Marta é uma diácona, assim como Febe (Rm
16,1-2). Ela é uma líder de sua comunidade. Ela fazia o serviço
pastoral em sua casa, como tantas outras mulheres.
Esta pesquisa mostra como era a vida de mulheres nos textos
bíblicos e como poderemos ler a história delas numa perspectiva
libertadora.
Concluímos na leitura dos textos que as diversidades vivenciadas
pelas mulheres como Marta, no movimento de Jesus, e Febe, nas
comunidades paulinas, no contexto do primeiro século; as
discriminações sofridas, os conflitos e também a resistência dos
vencidos, diante do poder dos dominadores, fazem parte da história de
mulheres. Percebemos a exclusão gradativa de mulheres e de homens
empobrecidos que juntos buscaram a libertação através da força
contida na fé e na esperança pela pregação da Boa Nova, do Reino de
Deus.
120
Ressaltamos que as percepções do mundo mediterrâneo do
primeiro século e os valores contidos naquele contexto não se
encaixam com os valores do mundo contemporâneo, mas fazem parte
da história e da diaconia de mulheres e, por isso, devem ser lembradas
hoje no século XXI. Pois, segundo Tamez (1995, p. 74) o texto sagrado
cristão contém várias vidas de mulheres; não muitas, porque o texto foi
produzido numa cultura patriarcal androcêntrica, onde a mulher é
considerada inferior ao homem. Porém, graças ao texto, que a vida de
algumas mulheres foi eternizada através dos séculos.
Embora hoje exista um grande número de escritos sobre a
história de mulheres, cada autor apresenta uma perspectiva exclusiva e
com uma visão diferente sobre a vida de mulheres, e a diaconia
(serviço) que elas prestaram a Jesus e em nome de Jesus nos
cristianismos originários.
Procuramos nesta pesquisa desconstruir textos criticamente
para reconstruir histórias libertadoras (RICHTER REIMER, 2000, p.
18), porque acreditamos que a história de Marta e de Febe é uma das
histórias de mulheres diáconas, que o século XXI precisa conhecer.
121
NOTAS
1
LXX. Versão grega do AT ou Septuaginta
2
Palavras gregas:douleuõ em quase todos os lugares traduz ãbad, servir, que é
traduzido na LXX por douleuõ (escravo) bem como latreuõ, sendo que este último é
usado onde ãbad tem uma referência religiosa. Na LXX latreuõ está perto de
leitourgeõ, que significa o serviço do sacerdote e latreuõ, que significa o serviço
do sacerdote e latreuõ, que significa o serviço prestado a Deus pelo povo e pelo
indivíduo. (Latreia, substantivo que significa trabalhos forçados). Na LXX
leitourgeõ e leitourgia, são serviços de sacerdotes. Existem outras traduções,
porém estas são as que nos interessam (COENEN, BROWN, 1981, p. 453-54).
3
Fílon de Alexandria, judeu erudito, faz parte de literatura apócrifa, exegeta da
Bíblia, cita basicamente os livros de Torá. Nascido por volta de 25 a. C.
4
Flávio Josefo nasceu por volta de 37 d. C., filho de sacerdote em Jerusalém, faz
parte da literatura apócrifa. Viveu na Diáspora. Escreveu Antiguidades Judaicas e
a Guerra dos Judeus.
122
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