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casos, a um só, que é o de 32 compassos com coro em três partes, consistindo em
uma melodia de oito compassos (o carro chefe), repetido, o release, a ponte, o canal
ou apenas a parte intermediária, e a repetição do início. Isso reduz o elemento
humano de invenção a dezesseis compassos, (...) O resto é mecânico. O inventor da
canção que só precisa ser capaz de assobiá-la, a entrega ao harmonizador, e este, por
sua vez, àquela pessoa cada vez mais importante em todo esse processo, o
orquestrador, que faz o “arranjo”, ou seja, realmente decide como a música ira
soar.
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Os músicos de jazz dos anos trinta fizeram um largo uso das canções da
Broadway e de Hollywood.
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As versões instrumentais traziam uma liberdade na
interpretação das melodias
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e não tardou para que se começasse a criar novas melodias
sobre a forma e a harmonia das originais. Este procedimento, denominado anatole por
Bellest, também é conhecido como paráfrase e foi largamente utilizado pelos músicos do
bebop, já entrando na década de quarenta. Alguns standards foram objeto de uma
verdadeira recriação, e sobre as suas formas e harmonias foram construídos novos temas.
É o caso, entre outros, de Hot House (What is this thing called love), Salt peanuts (I got
a rhythm), Groovin’ high (Whispering), Ko-Ko ou Warming up a riff (Cherokee),
Ornitology (How high the moon), Donna Lee (Indiana), Scrapple from the apple
(Honeysuckle Rose), Little Willie leaps ou Suburban eyes (All God’s chillum got
rhythm). Ainda hoje esse procedimento é utilizado como em All the Things That...
composição de David Liebman
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, que é uma paráfrase de All The Things You Are ou Re-
Re de Bob Mintzer (1953)
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(Indiana).
Um exemplo de canção que migrou dos musicais para o repertório jazzístico é
Body and Soul, com música de Johnny Green (1908-1989), esta balada foi composta
dentro de um padrão que ilustra com clareza a forma canção no jazz.
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Eric HOBSBAWN. História social do jazz, p. 180/1.
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“A preferência do mainstream recaiu sobre os standards canções extraídas de filmes, de comédias
musicais, da“massa” música popular. A solidez da construção harmônica de certos standards dava aos
músicos a oportunidade de recriá-los em linguagens múltiplas e sem paralelo”. Christian BELLEST. Jazz,
p.75.
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Cabe uma distinção neste ponto entre melodia e tema, feita por Arnold Schoenberg. O autor coloca que
“A melodia tende a estabelecer o equilíbrio pelo caminho mais direto. Ela evita a intensificação do
conflito (...) Ela se amplia, antes pela continuação do que pela elaboração ou pelo desenvolvimento (...)
Um tema assemelha-se, mais propriamente, a uma hipótese cientifica que não convence, sem que haja um
número de testes, sem que haja a apresentação de uma prova.” (1996, p.130) Apenas comparando com a
distinção feita por Schoenberg no contexto da música erudita, os músicos do bebop, transformaram as
canções populares em temas para improvisar.
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Gravada no álbum trio+one. 1988.
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Gravada no álbum Hymn. 1990.