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composição, foram substituídas por aulas de teoria da forma e teoria da
informação, de economia e de sociologia, em uma contraposição às idéias de
inspiração e criatividade, em cujo lugar foi feita a defesa de um conhecimento que
habilitaria a excelência técnica e a eficiência.
A estética adotada em Ulm foi a “estética da informação”
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formulada por
Max Bense ao longo dos anos em que lecionou na escola
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. Trata-se de uma
estética científica com ênfase utilitária, constatável pela pesquisa e pelo
experimento e, portanto, passível de revisão e de constante renovação,
incorporando a idéia de novidade e superação típicas da modernidade. Tomando
como modelo a teoria da ciência, supõe que a estética seria um campo aberto do
conhecimento, sujeito ao aperfeiçoamento promovido pela investigação. Pela
adoção do método científico, recorrendo ao processo de tentativa e erro e à
confrontação permanente entre hipótese e experimento, pretendia que a estética
produção da escola nessa época ter servido de modelo para o que veio a ser conhecido como o
Estilo Internacional dos anos 1950. No entanto, é possível identificarem-se pelo menos três
períodos de orientações distintas dentro da escola. No primeiro, em que Gropius a dirigiu em
Weimar (1919-1923), predominou um expressionismo tardio, sob influência predominante de
professores artistas, como Paul Klee, Wassiliy Kandinsky e, principalmente, Johannes Itten. Este
último, teórico da cor, foi professor importante no “ciclo básico”, e defendia a expressão
individual do artista acima de aspectos técnicos ou funcionais. Artistas como Klee e Kandinsky,
por sua vez, viam na Bauhaus uma oportunidade de levar a arte à vida cotidiana. O segundo
período é o mais conhecido, e corresponde à direção de Gropius em Dessau (1923-1927), no qual
predominou uma orientação estético-formalista. Foi um período sensível às vanguardas artísticas
do princípio do século XX, principalmente ao movimento De Stijl e ao construtivismo russo,
graças, sobretudo, à atuação dos professores Theo Van Doesburg e László Moholy-Nagy.
Procurou-se estabelecer uma linguagem universal, coletiva, que privilegiasse o ângulo reto, as
formas básicas e as três cores primárias. Acreditavam, assim, poder eliminar os estilos pessoais,
construindo protótipos mais adequados à indústria. Doesburg ficou por pouco tempo na escola,
mas a sua influência foi grande. O repertório limitado acabou por criar um “Estilo Bauhaus”,
quando o que se pretendia eram universalidade e neutralidade, uma suposta ausência de estilo,
sendo a principal razão de muitas críticas feitas à escola. Ainda em Dessau, a Bauhaus teve mais
um diretor: Hannes Mayer, que a assumiu em 1927, início do período funcionalista e
técnico/produtivista. Defendia como meta a criação de modelos que se adaptassem às necessidades
do proletariado, priorizando-as sobre critérios estético-formais. Havia a preocupação em se
estabelecer um standard, e a forma era produto da assimilação de resultados da pesquisa
sistemática. Uma citação de Mayer, de 1926, ilustra como a sua orientação era distinta daquela de
Gropius: “sem pretensões clássicas e sem a confusão dos conceitos artísticos, sem a infiltração
das artes aplicadas, surgem os testemunhos de uma nova época: feiras de amostras, silos, music-
halls, aeroportos, mercadorias estandardizadas. Todas essas coisas são produtos da fórmula:
função-economia. Não são obras de arte. A arte é composição, o objetivo é função. A idéia de
composição de um porto nos parece absurda e o que dizer sobre a composição de um plano
urbanístico ou de um apartamento? Construir é um processo técnico, não estético, a idéia de
funcionalidade de uma casa se opõe à composição artística” (citado em SOUZA, 2001:48). Nesse
pensamento, que se desenvolve dentro da própria Bauhaus, está a origem das diretrizes adotadas
na escola de Ulm. (Cf. DROSTE, 1994 e SOUZA, 2001).
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Informationstheoretische äesthetik.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410535/CA