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UNIVERSIDADEDECAXIASDOSUL
PRÓREITORIADEPÓSGRADU ÇÃOEPESQUISA
PROGRAMADEMESTRADOACADÊMICOEMTURISMO
AEDUCÃOPATRIMONIALEOTURISMO:OcasodaAulano
MuseudoMuseuMunicipaldeCaxiasdoSul/RS.
FabianadeL imaSales
CaxiasdoSul/RS
2006
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2
UNIVERSIDADEDECAXIASDOSUL
PRÓREITORIADEPÓSGRADU ÇÃOEPESQUISA
PROGRAMADEMESTRADOACADÊMICOEMTURISMO
AEDUCÃOPATRIMONIALEOTURISMO:OcasodoProgramadeEducação
PatrimonialdoMuseuMunicipaldeCaxiasdoSul/RS.
FabianadeL imaSales
Dissertação de Mestrado apresentada ao Mestrado
AcadêmicoemTur ismodaUniversidadedeCaxias
doSul,comopartedo srequisitosparaobtençãodo
título de Mestre em Turismo. Área de
concentração:DesenvolvimentodoTurismo.Linha
de Pesquisa: Turismo, Meio Ambiente, Cultura e
Sociedade.
Orientação:Prof.aDr.aSusanadeAraújoGastal
CaxiasdoSul/RS
2006
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3
4
Aosmeuspa is,Rinaldo eSocorro,eaminhairmãJoanaPaula,
peloapoio irrestritoeamorincond icional.
5
AGRADECIMENTOS
· ADeus,por,alémdemepropor cio naraoport unidadede cursaromestrado,t erme
permitidosobreviveraoclimadeCaxiasdoSul;
· ÀPr of.aDra.SusanaGastal,pelaor ientaçãoevaliosasco ntribuiçõesacadêmicas;
· Ao Prof. Dr. Rafael José dos Santos e à Prof.a Dra. Marustchka Moesch, pelas
contribuiçõesdadasdentrodesuasrespectivasáreas;
· ÀequipedoProgramad eEducaçãoPatrimonialdoMuseuMunicipaldeCaxiasdo
Sul,especialmenteàMariaInêsVergani, CharleneVasato,MauriemGauereKátia
Noemi Campagnolo pela paciência, receptividade e cola boração, de valor
inestimáve l,emtodososmomentosemqueforamsolicitadas;
· À Professora Fátima Fagundes, da Escola Santa Corona, pela colaboração e
amizad
· Ao amigo Ivo Rafael da Costa, pelo auxílio no trabalho com o programa Open
OfficeCalc.;
· À turma IV do Mestrado, pelo crescimento oportunizado e companheirismo,
especialment eàamigaElzaMaria,eàsamigasdaturmaV,pelaforçanatrajetória
final;
· ÀsamigasLauraRudzewiczeJo sianePetryFaria,portodososbonsmo mentose
crescimentoqueanossaconvinciaoportunizou.
6
Seaeducaçãosozinhanãotransformaasociedade,
semelatampoucoasociedademuda.
PauloFreire.
7
RESUMO
Apresentepesquisa,caract erizadacomoumestudoexploratório,decortequalitativo,tem
por objetivo realizar um estudo sobre a teoria e a prática da Educação Patrimonial, no
intuitodebuscarassociaçõesentreesteprocessoeofenômenoturístico.Paratanto,fazse
umresgate teórico das co ncepções de Educação como processo de formação do sujeito
históricoede aspect osinerent esaoTurismoCultural,enquantoumapráticasocialapoiada
nosbens patrimoniaisda localidade. Oconfronto entre ateoria e aprática da Educação
Patrimonial se dá através do estudo de caso do Programa de Educação Patrimonial do
MuseuMunicipalde Caxiasdo  Sul,especificamente,do Projeto Aula no Museu.Tendo
comobaseospressupostosdapesquisaetnográfica,participante,acompanhaseaAu lano
Museu, registrando seu desenvolvimento; entrevistase profissionais envolvidos no
planejamento e execução do projeto e aplica mse questionários a estudantes com
participação na Aula no Museu e a  outros em vias de fazêlo , a fim de apreender se a
experiêncianoMuseualterasignificativamenteapercepçãodosseusparticipantesquanto
ao patrimônio cultura l representado pelo acervo do Museu. Como resultados,  têmse a
observaçãodosaportesteóricometodológicosdaEducaçãoPatrimonialnaexperiênciado
MuseuMu nicipaldeCaxiasdoSul,aconstataçãodequeatemáticadaimigraçãoitalianaé
vivenciada na rede de ensino formal de modo que a Aula no Museu apenas
complementariaosconhecimentosadquiridosnaescola,assimcomoseverifica,ainda,que
apropostadoreferidoProgramadeEducaç ãoPatrimonialutilizacomorecursodidático,
sobretudo,o legado  cu ltural do imigrante italiano, o que contribui no fortalecimento do
imagináriodeitalianidadeapropriadopeloturismoem CaxiasdoSul.
Palavraschave:Turismo–TurismoCultural–EducaçãoPatrimonial–MuseuMunicipal
deCaxiasdoSul –AulanoMuseu–Caxiasdo Sul/RS.
8
ABSTRACT
Thisresearc h,characterizedasanexploratoryandqualitativestudy, aimstoreachanstudy
aboutthetheoryandthepr acticeofherit ageeduca tioninordertogetassociationsbetween
this process and the tour istic phenomeno n. In this sense, it rescues the theoretical
conceptionsofeducationasaprocessthatconstitutesthecitizen,aswellastheinherent
aspectsoftheculturaltourismwhile asocialpractice suppo rtedbycommunity'scultural
heritage.Thecomparisonbetweenthetheoryandthepracticeofheritageeducationo ccurs
throught the case study of the Heritage Education Program ofthe Museu Municipal de
Caxias do Sul, specifically the Aula no Museu Project. Based on the etnographic,
participativeresearchmetho ds, theAu lanoMuseuiscloselyfollowedandit s development
registered; professionals involved on the planning and execution of the project are
inter viewedandquestionnairesareappliedto studentswho have beenthrought Aula no
Museuandotherswhohaven't,inordertocatchwhethertheexperienceatthe Museum
modifies significant ly the perception of its participants about the cultural heritag e
representedbymuseum'scollection.Asresults, it isobservedthepresenceofthetheory
and metodology of heritage education at the experience of Caxias do Sul Municipal
Museum,itisnoticedthatthesubjectoftheit alianimmigrationisexperiencedinformal
education,sothatthe AulanoMuseuwould only suplement theknowledgeachieved in
school, as well as it is noticed that the proposal of the mentioned heritage education
program uses as didactic resource only the cultura l heritage of the italian immigrants,
whichcontributesto fortifytheitalinityimageryusedbytourisminCaxiasdoSul.
Keywor ds: Tourism – Cultural Tourism – Her itage E ducation – Museu Municipal de
CaxiasdoSul –Aulano Museu–CaxiasdoSul/RS.
9
LISTADEILUSTRÕES
Figura1:FachadadoMuseuMunicipaldeCaxiasdoSul 58
Figura2:CaixadeMemórias 62
Figura3:CaixadeMemórias–conteúdo 62
Figura4:Vídeo s paraempréstimoProjetoOlhoaOlho 64
Figura5:AulanoMuseu–ambientedaViagem 69
Figura6:AulanoMuseu– ambientedoQuartodasfamílias 72
Figura7:SaladeExposiçõesTemporárias 74
Figura8:PátiodoMuseu–intervalodolanche 75
Figura9:Saladevídeo 76
Figura10:Saladevídeo–jogo'Quemsoueu'? 77
Figura11:AulanoMuseu–professorasempéaoredordascrianças 79
Figura12:Monitoramanipulandopeçadoacervo 84
Figura13:Alunoaguardandooportunidadeparafalar 87
10
LISTADEQUADROS
Quadro1:EtapasmetodológicasdaEducaçãoPatrimonial. 49
Quadro2:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdossujeitos
sobrehavervisitadooMuseuMunicipalantesdaAulanoMuseu. 96
Quadro3:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagenssobreosexodossujeitos.  96
Quadro4:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdossujeitosquantoàfaixa
etária. 97
Quadro5:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdossujeitosquantoà
ascendência italiana. 97
Quadro6:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdossujeitosquandoao
quefoiapreendidonaAulano Museu,arespeitodavidadosprimeiros
imigrantes. 99
Quadro7:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdossujeitos
quantoaograudesatisfaçãocomaAulanoMuseu. 102
Quadro8:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdossujeitos
sobrehavervisitadooMuseuMunicipalantesdaAulanoMuseu. 103
Quadro9:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagenssobreosexodossujeitos 103
Quadro10:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdossujeitosquantoà
faixaetária. 104
Quadro11:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdossujeitosquantoà
ascendência italiana. 104
Quadro12:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdossujeitos
quantoaoseuconhecimentoarespeitodavidadosprimeirosimigrantes
italianos. 105
Quadro13:Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdesujeitosqueobtiveram
6ou7acertos. 106
Quadro14:Distribuiçãodonúmerodeturmasealunosnos anosde2002,2003e
2004,aparticipardaVisitaMonitor ada,VisitaMonitoradacomVídeo
eAulanoMuseu. 107
11
LISTADEABREVIATURASESIGLAS
CEHC–Centro deEstudosHistóricoseArtísticos,Funda çãoJoãoPinheiro.
CIEE CentrodeIntegraçãoEmpresaEscola
EJA –EducaçãodeJovenseAdultos.
FAPERGS–FundaçãodeAmparoàPesquisadoRioGrandedoSul.
ICOM–ConselhoInternacional deMuseus
ICOMOS–ConselhoInternacionaldeMonumentoseSítios.
IEPHA –InstitutoEstadualdoPatrimônio HistóricoeArt ísticodeMinasGerais.
IPHAN–InstitutodoPatrimônioHisricoeArtísticoNac ional.
OMT–OrganizaçãoMundialdoTurismo.
PREP– ProgramaRegionaldeEducaçãoPatrimonialdaQuartaColônia.
SEE –SecretariaEstadualdeEducaçãodeMinasGerais.
UCS–UniversidadedeCaxiasdoSul. 
UNESCO–Organização dasNaçõesUnidasparaa Educação,aCiênciaea
Cultura.
UFSM–UniversidadedeSantaMaria.
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 14
1.EDUCÃOEOPROCESSODEFORMÃODOSUJEITO
HISTÓRICO 18
1.1PauloFreireeaeducaçãolibertadora 19
1.2EdgarMorineacomplexidade 27
1.3EducaçãoPatrimonial 30
1.3.1EducaçãoPatrimonialesuasconceituações 37
1.3.2EducaçãoPatrimonialesuasconseqüênciassociais 40
1.3.3EducaçãoPatrimonial:algumasexperiências 43
2. METODOLOGIA 46
2.1Metodo logiada EducaçãoPatrimonial 47
2.2Metodo logiade Pesquisa 51
2.2.1EstudodeCaso 52
2.3OMuseuMunicipaldeCaxiasdoSul 56
2.4OProgramadeEducaçãoPatrimo nialdoMuseuMunicipaldeCa xiasdoSul 59
2.4.1ProjetoCaixasdeMemória 61
2.4.2ProjetoOlhoaOlho 63
2.4.3ProjetoExtramuros 64
2.4.4ProjetoConcertosaoEntardecer 64
2.4.5ProjetoDepalavraempalavra 65
2.4.6ProjetoAula noMuseu
65
3.AAULANOMUSEU 67
3.1Objetodaobservaçãoparticipante:AAulanoMuseu 67
3.2AparticipaçãodasprofessorasnaAulanoMuseu 78
13
3.3ObservaçãodasetapasmetodológicasdaEducaçãoPatrimonial 83
3.4AnálisedasentrevistasfeitasàequipedoMuseu 88
3.5AnálisedosresultadosdoGrupoExperimental 96
3.6AnálisedosresultadosdoGrupodeControle 103
4.TURISMOCULTURAL 109
4.1Oturistacidadão 116
4.2Omuseu:espaçopedagógico, recursoculturaleatrativoturístico 121
CONSIDERÕESFINAIS 126
REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS 137
APÊNDICES 142
ANEXOS 149
14
INTRODUÇÃO
O fenômeno turístico necessita do apoio da co munidade local para que se
desenvolva de forma harmoniosa e atenda aos interesses de todos os segmentos nele
envolvidos, especialmente o turismo voltado para os atrativos culturais da lo calidade.
Logo,darprioridadeaodesenvolvimentoculturaldacomunidade,oqueimplicanabusca
dapreservaçãodamemóriahistóricaesocialenofo rtalecimentoconstantedaidentidade
dos povos pode potencialmente beneficiar o Turismo. Caso tal processo não ocorra de
forma tácitaporpartedaco munidade,fazsenecessáriodesenvolverpoticaseaçõesneste
sentido. Em termos de Turismo Cultural, essas ações configuram uma premissa para a
consolidação do poder de atração das localidades, caso seu principal atrativo seja o
PatrimônioCu ltural.
Desta forma, o engajamento da comunidade na proposta do Turismo Cultural é
condição imprescindível para que o fenômeno se sustente a longo prazo, visto  que o
patrimônio cultural,  objeto do turismo cultural "(...) compat ível e comprometido com o
fortalecimento  da identidade, a preservação da memória e do patrimônio cultural em
lugaresdedestinaçãoturística"(FREIRE;PEREIRA,2002,p.127),precisaencontrarna
comunidadeoseuprincipalsujeitodevalorização.
Nos últimos anos, temse observado a ocorrência, em diversos municípios
brasileiros(aexemplodeCaxiasdoSul/RS,SãoJosédosCampos/SP,RibeirãoPreto/SP,
Petró polis/RJ, Ouro Preto/MG e outras cidades históricas nest e último Estado), do
processo denominado Educação Patrimonial, o qual toma o Patrimônio Cultural como
fonte primáriade conhecimentoe cujoobjetivoé fortalecerarelação de identific açãoe
valorizaçãodacomunidadecomseusbenspatrimoniaisnumprocessoquepodeabarcar
diferentesfaixaset áriasesociais.
AEducaçãoPatrimonialapresentasecomoumapropostametodológicadetrabalho
comoPatrimônioCulturalque,deacordocomasnecessidadesepossibilidadeslocais,tem
se apresentado sob o formato de projetos, a exemplo do Projeto Regionalde Educação
PatrimonialdaQuartaColônia,emSilveiraMartins/RS,oucomoProgramas,nocasodo
ProgramadeEducaçãoPatrimonialdo MuseuMunicipaldeCaxiasdoSul/RS.Acreditase,
todavia, que ações isoladas, com menos visibilidade e registros, estejam sendo
15
desenvolvidassoboco nceitodaEducaçãoPatrimonialemoutraslocalidadesnoEstadoe
nopaís.
Tendo em vista a constatação de que os dois processos, a atividade turística e a
Educação Patrimonial, m como mola propulsora o Patrimônio  Cultural, e ambos
processos estão atrelados à relação entre tal patrimônio e a comunidade que o envolve,
pretendesecomestapesquisaavaliarseosresultadosbuscadospelaEducaçãoPatrimonial
contribuem para o  desenvolvimento do Turismo Cultura l e, de que forma se daria esse
processo.Consideraseaqu i,comohipótesequeacompanhat odoodesenvolvimentodesta
pesquisa,a iiadequea valorizaçãodoPat rinioCulturalpromovidopelaEducação
Patrimonial beneficia o turismo, à medida que aproxima a comu nidade local do seu
patrimôniocultural.
O processo de Educação Patrimonial reforça a idéia de que épreciso difundir o
acessoao(re)co nhecimentodacomunidadeàque lesbensemanifestaçõesqueconstituema
culturalocal,comsuascaracterística súnicasepeculiares,assimcomoàconscientização
sobrea importânciademanterepreservaraquiloqueremontaaopassadohistóricodo
grupo, como sítios e monumentos, obras de arte, objetos, documentos e fazeres
relacionados à memória social coletiva, elevando, dessa forma, não só o sentimento de
identidadeindividualedegrupo comotambémodecidadania.
No intuito de elucidar de que forma se desenvolve a proposta da Educação
Patrimonial, contextualizase este pr ocesso apresentando algumas reflexões sobre a
educaçãoformadoradoindivíduocapazdeler,refletireintervirnasuarealidadehistórica
esociocultural,utilizando,paratanto,osaportesdePauloFre ireeEdgarMorin.Oestudo
avança, num r esgate teórico que abo rda conceitos subjacentes à Educação Patrimonial,
comocult ura,patrimônioculturalemuseu,defo rmaaoferecersubsídiosquepermitamo
melhor entendimento  da conceituação da Educação Patrimonial e aplicação da sua
metodologia, a qual, por sua vez, verificase em várias etapas. São pontuadas, a inda,
algumasconseqüênciassociaisdecor rentesecircundantesàEducaçãoPatrimonial,assim
comoalgunst rabalhosjáefetivadosnestecamponoRioGrandedoSul,cujosrelatosestão
disponíveisemregistrosbibliográficos.
Apropostameto dológicaempregadanapresentepesquisaapresentasesobaforma
deumestudodecaso, noqual,pormeiodaobservaçãoparticipanteedaleituraco nduzida
16
pelospressupostosetnográficosdeimersãonogrupoestudado,apesquisadoraacompanha
odesenvolvimento dotrabalhodeEducaçãoPatr imonialrealizadonoMuseu Municipalde
CaxiasdoSul.Estemomentodapesquisa,conta,ainda,comosuportedaMetodologiada
EducaçãoPatrimonialsugeridaporHorta
etal
(1999).Naseqüência,descrevesecomose
dáoplanejamentoeexecução,lançandoalgumashipótesessobreospossíveisresultados
do processo observado,  em atenção ao acompanhamento da Aula no  Museu e aos
resultadosobtidosatravésdosinstrument osdecoletadedadosselecionados.
Porfim,fazseumresgateteóricodosconceitosqueligamofenômenoturísticoà
cultura, numa relação quenão se limita a ser um mero diferencial mercado lógico, mas,
sim, uma relação que merece planejamento e ocorre de fo rma inevitável. Para isso,
resgatamse as leituras de Margarita Barretto (2000), Mário Jorge Pires (2002), Bob
MckerchereHilaryDu Cros (2002)sobreaconceituaçãodoturismoculturale opapel
desempenhadopelaculturaness econtexto.SusanaGastal(2002)trazsuasreflexõ esacerca
dolugardememó ria,enquantoNestorGarciaCanclini(2003)eStuartHall(2003)dãoa
sua colaboração com reflexões relativas à construção da identidade cultural e Dean
Maccannell(2002)fazsuascríticasquantoaousoindiscriminadodaculturapeloturismo.
MarutschkaMoesch(2005)complementaadiscu ssãocomoconceitodeturistacidadãoe,
finalmente, Margarit a Barretto (2005), DanieleGiraudy e HenriBou ilhet(1990),Nestor
GarciaCanclini(2003),UlpianoBezerradeMeneses( 2000)eJohnUrry(2001)encerram
ocapítulocomadescriçãodoqueseriaummuseuintegradoàsociedade,deacordocomos
novosparadigmasmuseoló gicos.
Tendo em vista a forma como algumas cidades turísticas vêem os seus recursos
culturais reduzidosaobjetodeconsumo,subordinadosaosinteressesdomercadoturístico,
é inegável a necessidade de inserção da Educação Patrimonial dentro do planejamento
turísticodequalquer localidadeque seproponhaesse fim.Valeressaltar,todavia,quea
EducaçãoPatrimonialtrazga nhossociaisàcomunidadecomoumtodo,estejaelaounão
atreladaàatividadeturística.
O turismo, por se tratar de um fenômeno social e eminente mente inter e
multidisciplinar,permiteaaliançacomasmaisdiversasáreasdoconhecimentohumano.A
EducaçãoPatrimonialéumca mpodeestudoquepodeatenderàsnecessidadesdoturismo,
enquanto fortalece o patrimônio e a organização social daqueles que sentem mais
17
intensa menteasconseqüê nciasnegat ivasdepr ocessosdedesenvolvimentosemodevido
planejamentoepreocupaçãosocial,ouseja,acomunidadereceptora.Logo,constituiuma
temáticacujarelevânciasocialimpõeaomeioacadêmicoanecessidadedepesquisadentro
deumaabordagemcientífica,oferecendocomoprodutoumconhecimentocujariquezae
benefíciospossamserdisseminadosparatodaasociedade.
18
CAPÍTULO1:
AEDUCÃOEOPROCESSODEFORMAÇÃODOSUJEITOHISTÓRICO
Ninguémeducaninguém,ninguémeducaasimesmo,os
homensseeducamentresi,mediatizadospelomundo.
PauloFreire.
Nestecapítu lobuscaserealizarumare flexão sobr eaEducação,deformaquese
possavisualizarum quadrodereferê ncia maior,no qual aEducação Patrimonial,objeto
deste estudo, se insere. Partindo do pressuposto de que a Educação Patrimonial est á
alocadanopatamardaeducaçãonãoformal,suaspropostas,mesmoassim,estãopresentes
naspráticaseducativasdetodososníveisdoensino formal, incluindo,também,pessoas
quejáoconcluíramousequerterminaramoprimeirovel(ensinobásico),demodoquea
mesmapodesercompr eendidadentrodeumprocesso contínuodeeducação.
No contexto da Educação Patrimonial, aprofundase, então, a relação existente
entreculturaeeducaçãocomo premissadoatoeducacional.Paraavançarnareflexãosobre
estaimportanterelaçãodaculturacomaeducação ,utilizarseáosaportesdePauloFreire
paraexplicarocontextohistóricoesócioculturaldoeducandocomoobjetocognoscente
(deondeseaprende),revelandoaeducaçãocomoumprocessodeapropriação pelosujeito
da sua realidade histórica e cultural, e situando, ainda, a perspectiva dialógica como
condição imprescindível para o desenvolvimento da pessoa tanto no plano educacional
quantocultural,eadialét icapessoamundocomotraçofundamentaldoatoeducativo.
No intuito de ilustrar o panorama geral da educação formal nos países em
desenvolvimento
1
, ascontribuiçõesde pensadorescomoPauloFreiree PedroDemosão
importantesenquantocríticasàforteor ientaçãoideológicapermeadoradoensinoformale
suasimplicaçõesparaaformaçãodoindivíduoaunomo.Outroteóricoimportant eparaa
presentereflexãoéEdgarMorin,quandoencaminhaumarealidademultidimensional, na
qualnãoexistiriamfronteirasentreoglobaleolocal,eapessoaconstituiriaumaunidade
complexa, integrante de um sistema igualmente complexo. As pessoas devem estar
1
UtilizaseaquiadesignaçãopresentenocontextodateorizaçãodePauloFreireePedroDemo.
19
preparadas para a compreensão das relações que se dão neste contexto, elas mesmas,
inevitavelmentetambémcomplexas.
Etimologicamenteotermoeducarsignificariaretirardedentro,o que,naprática,
equivaler iaadesenvo lveraspotencialidadesdoeducando(DEMO,1980).Deacordocom
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação  Nacional (MINISTÉRIO DA E DUCAÇÃO,
2006),nº.9.394/96,aeducaçãotemporfinalidadeoplenodesenvolvimentodoeducando,
seupreparoparaoexercíciodacidadaniaesuaqualificaçãoparaotr abalho.
A seguir, são apresentadas as leitura s que Paulo Freir e eEdgar Morin fazem da
educação e do seuobjeto: arelação pessoamundo. Ambos os autorestrabalham com a
perspectivadialógicacomosendoocernedoatoeducacionalepart emdoprincípiodeque
oserhumanoest ásempreaprendendoeretirandoamatériadestaaprendizagemdomundo
em que vive. Os aportes dos citados autores neste estudo são justificados pelo
entendimento que os mesmos têm da educação como sendo um processo contínuo que
ultrapassaoslimitesdasaladeau la,critériosque,porsuavez,viriamasubsidiarpropostas
nocampodaEducaçãoPatrimonial,imp lícitaouexplicitamente. 
1.1PauloFreireeaeducaçãolibertadora
Não se pode desvencilhar a educação da cultura, tanto quanto do meio  social e
históricodoqualfazparteoeducando(FREIRE,2002).ACulturaéentendida,segundo
PauloFreire,comotudoaquiloquefoiconstruídopelaspessoasemsuasdimensõesfísicas
ouimateriais,aculturacomooacrescenta mentoqueohomemfazaomundoque nãofez”
(FREIRE,2000,p.117).Omeiosocioculturalehistóricodoeducandoapresentasecomo
oobjetocognoscentequeirámediatizaroprocessodeeducação,oqual,porsuavez,não
podeignoraraexistênciade “umtroncocomumindistintoentreconhecimento,culturae
sociedade”(MORIN,1998, p.25).
Nestes termos, não existiria educação fora das sociedades humanas e aspesso as
seriam seres cujas raízes encontramse fixadas em um espaço e em um tempo
20
determinados. Saberse portador detais raízes é o que fariadas pessoas seres humanos
conscientes(FREIRE,1979).
Pensaraeducaçãoencerraimplicitamenteaidéiadequeossereshu manosseriam
incompletos desdesuaprópria natureza. Na mesma linha de reflexão, Carlos Rodrigues
Brandão (1981) registra que o propósito da educação está ligado, desde a Antiidade
Clássica, à incorporação da cultura na pes soa do cid adão. Para os gregos, o homem
educadoseriaaqueleaptoaviveremumgruposocial,partilhardosinteressesdessegrupo,
conscientedoseupapelnasociedade.
Ao se considerar, contudo, a configuração social dos países latinoamericano s
(realidade conhecida pelo teórico e sobre a qual se debr uça), Paulo  Freire as considera
altamente estratificadas, fruto de uma colonização exploradora voltada para o
enriquecimento das metrópoles, portanto, sem comprometimento com as regiões
colonizadas.Desdobramentodestapolítica,hojeasociedadelatinoamericanaapresentar
seiasobaformadeumaminoriades frutandodealtopoderaquisitivoequa lidadedevida,
e uma maioria em estado de pobreza e miséria. Freire (2002) entende que a educação
tradicionalestáaserviçodamanutençãodessaestruturasocial–àqualo autorserefere
freqüentementeatravésdadualidadeopressoresversusopr imidos–e,porisso,aeducação
nãopoderiaserentendidacomoumprocessodeadaptaçãodoindivíduoàsociedade,esim,
ummecanismo atravésdoqualapessoasetornacapazdeler,interpretaretransformaresta
sociedade,emvezdeacomodarseaela.
Freire (2002, p. 18) entende, por exemplo, o analfabetismo brasileiro como um
problema po lítico, uma das e xpressões concretas de uma realidade social in justa”, e
defendeque,noprocessodealfabetizaçãoeeducação,oseducandosdevemserent endidos
comosujeitosdaação,emvezdeobjetos.Ademais,arealidadedoseducandosdeveser
observadapara,por meiodela,fazeranecessária ligaçãoentr eateoriaea prática. Essa
unidadeentret eoriaepráticadarálugaraumaalfabetizaçãovoltadaparaalibertaçãoenão
para a domesticação, na sua contribuição para a constituição de sujeitos conscientes. A
alfabetização não podeestar separadadoatodeconscientização,àqual Freire (2002,p.
110)sere ferecomooprocessopeloqualossereshumanosseinseremcriticament e na
açãotransformadora”.
21
Freire(2002)criticaaalfabetização–e,nela,subentendidoopro cessodeeducação
–decarátermecanicista,quereduziriaoprocessoamerodepósitodepalavras,sílabase
letras nos alfabetizandos, estes, por sua vez, tomados no processo co mo objetos. Esta
posturaéreferidacomovisãonut ricio nistadaeducação.Freire(1987)tambémdeuorigem
ao termo educação bancária, comparando o ato educacional ao simples depósito  dos
conteúdostradicionaisnoseducandos–reprodutoresdeumasituaçãodedominação–,por
sua vez considerados totalmente desprovidos de conhecimento, daí serem equiparados a
recipientes, prontos para o recebimento e acomodação ao s conteúdos transmitidos pelo
educador. Dentro desta concepção de E ducação, o educando não t eria participação no
processodeconstruçãodosaber,cabendolheatarefadeabsorver,memorizarerepetiras
informaçõesdepositadaspeloeducador,esteoelementomaior,únicoeverdadeirosujeito
noprocesso deeducação.
Na concepção bancária, um educador que restringe os educandos a um plano
pessoalimpedeosdecriar.Muitosachamqueoalunodeverepetiroqueoprofessordizna
classe.Istosignificatomarosujeitocomoinstr umento”(FREIRE,1987,p.32).Oteórico
acusaascartilhas trad icionaisde serem instrumentosdomesticadores,aoservirem co mo
ferramentaatravésdaqualpalavrasetextospréestabelecidostornamser eprodutoresda
ideologiadasclassesdominantes,interessadasnaperpetuaçãodeumsistemaexcludentee
monopolista, sem nenhuma ligação com a realidade sociocultural e hist órica dos
educandos. Tal forma de encarar o processo de alfabetização negaria ao educando a
possibilidadedeexplorarseusconhecimentosprévios,frutosdesuaexperiênciadevidae
doseuexistirnomundo.
“Alfabetizaçãoémaisqueosimp lesdomíniomecânicodetécnicasparaescrevere
ler.Comefeito,elaéodomíniodessast écnicasemtermosco nscientes.Éentenderoque
se lê eescrever o queseentende.Écomunicarse graficamente”(FREIRE,  1979, p.72).
Desta forma, estaria se praticando uma educação para a libertação, que se oporia
diretamenteàpráticadaeducaçãoparaadomesticação,amencionadaeducaçãobancária,
representantedaestruturasocialvigente.
DeacordocomFreire (2002), oprocesso dealfabetizaçãopode ser entend ido
comoumatodeconhecimentoquandoeducadoreseeducandosdese nvolvemumarelação
dialógica, sendo ambos sujeitos no processo de busca e construção do conhecimento,
processo que, por seuturno, seria concebido dentro de contextos dialéticos: no diálogo
22
educador/educando,oeducadorrepresentariaocontextoteóricoearealidadesocia ldos
alfabetizandos,ocontextoconcreto,prático.
SegundoaleituraqueIzabelCristinaPetraglia(1995)fazdeEdgar Morin,teóricoa
seranalisadoadiante,oser'su jeito'podeserentendidocomoaquelequeafirmao'eu'frente
aomundoeaoespaçoqueocupanestemundo.Anoçãodesujeitoestariarelac ionadaao
queFreirechamadeserhumanoconsciente.ParaPetraglia(1995),aidéiadesujeitoseria
inerenteao ser vivo que busca a autoorganização, identificandoseemumdeterminado
tempo,espaço,espéciee gruposocial.Aautora,contudo,lembraqueosujeito(o'eu')não
existesemarelaçãocomo'tu'equeambosfazempartedomundo.
Seoambienteeducacionalforcentralizado nafiguradoprofe ssor,cujafunçãoseria
transmitir a maior quantidade possível de informações ao aluno, este, por sua vez,
entendido como um 'receptáculo vazio', não existiria comunicação entre os conteúdos
didáticosearealidadesó cioculturaldoaluno,nemarelaçãoeu/tu.
A respeit o do paradig ma no qual deve ser compreendido o ato educacional, os
aportesdeLevSemenovichV igotsky(
apud
REGO,1995)podemcontribuirparaelucidar
oambientedeensinoeaprendizagemreclamadoporFreire.ParaVigotsky(
apud
REGO,
1995), a ação educativa deveria partir de uma abordagem sóciointeracio nista. Este
paradigmanascedosprincípio sdomateria lismodialético,paraoqualodesenvolvimento
da pessoa se dá como processo de apropriação de sua experiência histórica e cultural.
Dentro desta concepção,  a pessoa se constrói com base nas suas interações sociais,
transformando e sendo transformado pelos processos ocorridos em seu grupo sócio
cultural. O desenvolvimento do indivíduo não  se estabeleceria pela somatória ou
cruzamentodeaspectosbiológicosouadquiridoscomoambiente;eleaconteceriaatravés
de uma interação dialética entre o ser humano e o seu meio ciocultural, daí a
importânciadasinteraçõessociaisnocontextodaeducação:
Essas passam a ser entendidas como condição necessáriaparaa produção de
conh ecimentos por partedos alunos, particularmente aquelas que permitam o
diálogo,a cooperaçãoetrocadeinformaçõesmútuas,oconfrontodepontosde
vistadivergentesequeimplicamnadivisãodetarefasondecadaumtemuma
responsabilidade que, somadas resultarão no alcance de um objetivo comum
(REGO,1995,p. 110).
23
Dentro do paradigma sóciointeracio nista de Vygotsky (apud REGO, 1995), ao
professorcabeopapeldemediadore,aomesmotempo ,possibilitadordosintercâmbios
entreosaluno s eentreesteseoobjetodeconhecimento.Arespeitodafiguradoprofessor, 
Demo(2000,p.88)lheatribuiumpapeldedestaquenaformaçãoescolar,afirmandoque
aqueleéapedradetoquedaqualidadeeducativa”.Oprofesso rdeveser,acimadet udo,
bem formado e mo tivado, fatores possíveis através de uma potica de valo rização
profissionalecompetênciatécnica,estandoambasatreladasumaaoutra.
Retomando a educ ação bancária, a inflexibilidade presente na relação educador
educando negariaaexistência dodiálo go assim como o entendimentoda educaçãoe do
conhecimento como processo depermanente busca,à med idaqueoeducando cumprea
contentoseupapelcomo recipiente,fortalecesuaparticipaçãocomoobjetoeseafastado
despertar de suaconsciênciacr ítica,através da qualpoderia interpretare intervir nasu a
realidadehistórica,social ecultural.
Daí a necessidade [...] de uma educação que levasse o homem a uma nova
posturadiantedosproblema s deseutempoedeseuespaço.A daintimidade
comeles.Adapesquisaaoinsdamera,perigosaeenfadonharepetiçãode
trechos e de afirmações desconectadas das suas condições mesmas de vida
(FREIRE,2000,p.101).
Nessenovoprisma,teríamo sumaeducaçãoproblematizadora,aquelaquebuscaa
libertação dos educandos por meio de uma postura dialógica,  baseada na reflexão  do
mundo dos educandos, caracterizada como um “constante ato de desvelamento da
realidade” (FREIRE, 1987, p. 70). A prática da educação problematizadora nasce e se
desenvolvecombasenadialogicidadepermeadoradarelaçãoeducadoreducando ,sendo
ambos sujeitos do processo. Freire (1987) enumera alguns requisitos sem os quais não
existirá diálogo: amor, fé, humildade e confiança nas pessoas. É preciso estar
comprometido com as pessoas, acreditar em suas capacidades, no seu poder de fazer e
criar, reconhecer estes poderes e permitir o surgimento de uma conseqüente relação de
confiançaentreo educadoreducando.
A dialógica cultural vai ao  encontro das necessidades requeridas pela educação
problematizadora, à medida que se pode considerála um dos pontos que permitem o
enfraquecimento dos paradigmas, doutr inas e estereótipos vigentes, o que Morin (1998)
chamade
imprinting
cultural.Est e,porseuturno,temcomocondiçãoprimeiraorespeitoà
24
pluralidade/diversidadedospontosdevista:“adialógicaculturalsupõeocomérciocultural
constituídodetrocasmúltiplasde informações,idéias,opiniões,teorias.Ocomérciodas
idéiasét antomaisestimuladoquantomaisserealizarcomidéiasdeoutrasculturasedo
passado”(MORIN,1998,p.39).
Freire(2002)propõe,comometodologiadetrabalho,queaobservaçãodarealidade
dos educandosseinicieatravésdacomposiçãodeumuniversovocabularmínimotiradodo
cotidiano dos mesmos, do qual deverão surgir as palavras geradoras, que, numa etapa
posterior, servirão como eixo de significação e, uma vez que fazem parte do universo
diário dos educandos, se apresenta m a estes com uma significação pragmática. Como
metodologiadoprocessodealfabetizaçãopelaconscient ização,Freire(1979)enumeraas
seguintesetapas: levant amento  do universo vocabular;a seleçãodaspalavrasgeradoras;
criação de situações sociológicas; o uso de fichas auxiliares; e a ampliação (ou
decodificação deumas ituaçãoproblema),chamandoaatençãosempreparaacapacitação
adequadadoscoordenadores/educador es.
Nos Círculos de Cult ura, unidades propostas por Paulo Freire em substituição à
escola,noseusentidotradicional, oseducandos,aoparticiparemdeformalivreecrítica
dasatividades,passamasereconhecercomofaz edoresdecultura,aomesmotempoem
que“seengajamnaprática dateoriade suaprática.  Eé pensandosobresuapr áticaem
termo s cada vez mais críticos, que os educandos vão substit uindo a visão focalista da
realidadeporoutra,global”(FREIRE,2002,p.63).
Aausênciadeumaeducaçãolibertadoragerariaaculturadosilêncio,criadapela
situação de dominação dentro da qual não é dada às pessoas a oportunidade de
manifestação (FREIRE, 2002). Dentro da cultura do silêncio, típica das sociedades
fechadas, caracterizadas pela conservação do
status quo
e privilégios e por possuir um
sistema educacional que consolide tal situação, uma das formas de silenciar as pessoas
seriaoassistencialismo,quenegariaaoindivíduoapossibilidadedaresponsabilidade:“O
grandeperigodoassistencialismo estánaviolênciadoseuantidiálogo,que,impondoao
homem mutismo e passividade, não lhe oferece condições especiais para o
desenvolvimento oua'abertura'desuaconsciênciaque,nasdemocraciasautênticas,háde
sercadavezmaiscrítica”(FREIRE,2000,p.65).
Outras instâncias a cont ribuir para a cult ura do silêncio seriam a tecnologia e a
orient ação dos grandes veículos de comunicação, de forma que, cada vez menos, as
25
pessoas percebem a manipulação a que são submetidas, ou a sua transformação, de
indivíduo crítico, em massa. “Um dos grandes, se não a maior tragédia do homem
moderno,estáemqueéhojedominadopelaforçadosmitosecomandadopelapublicidade
organizada,ideo lógicaounão,eporissovemrenunciandocadavezmais,semosaber,à
suacapacidadededecidir”(FREIRE,2000,p.51).Oautorreiteraqueatecnologiadeve
estaraserviçodaspessoasenão ocontrário:“atecnologiadeixadeserpercebidacomo um
dasgrandesexpressõesdacriatividadehumanaepassaasertomadacomoumaespéciede
novadivindadeaquesecultua”(FREIRE,2002,p.98).
Isto posto, entendese que, na visão notadame nte potica de Paulo Freire, a
educaçãoéumabuscaconstantedemudança.osepode,noentanto,perderofocoda
educaçãoems eusentidomaisabrangente:“aeducação,porserumapráticadeintervenção
narealidadesocial,éumfemenomu ltifacetadocompostoporumconjunt ocomplexode
perspectivas e enfo ques” (REGO, 1995, p. 124). Sem esquecer, todavia, que uma das
finalidadesdaeducaçãoseriaodesenvolviment ointelectualdoserhumano.
Arespeitododesenvolvimentoplenodapessoa,Vygotsky(
apud
REGO,1995)diz
que este está relacionado ao aprendizado adquirido em um determinado gr upo social, a
partir das trocas estabelecidas entre indiv íduos da mes ma espécie, e da apropriação do
legadoculturaldoseugrupo.Aprendizado,aquientendidocomotodoaspectonecessário
euniversal,umaespéciedegarantiadodesenvolvimentodascaracterísticaspsicológicas
especificamentehu manaseculturalmenteo rganizadas”(REGO,1995p.71) .Aindasobre
desenvolvimento  humano, Morin (2002) também menciona o sentimento de pertencer a
umadeterminadaespécie,alémdodesenvolvimentoconjuntodasautonomiasefaculdades
individuaisedasparticipaçõescomu nitárias. 
Toma ndocomopontodeobservaçãoarea lidadedospaísesemdesenvolvimento,
da mesma forma que o faz Freire, Pedro Demo (1980) chama a atenção para as reais
possibilidades da educação enquanto componente de uma política social voltada para o
bemestarcomumeareduçãodapobreza.Demo(1980)éenfáticoaoafirmarque,num
paísemdesenvolvimento ,aeducaçãonãopodeserencaradacomoinstrume ntocapazde
promoveraascensãosocial,umavezqueelanãoseencontrariaaoalcancedetodos,ou
nãoseencontrariadentrodeumparâmetroqualitativoquepermitadefatoamobilidade
socialdoindivíduo.Arespeitodaeducação,Demo(1980,p.12)coloca:“Émuito maisum
26
processo de seleção e de reprodução dos privilégios do que de democratização de
oportunidades.Nãoestudaquemprecisa,masquem pode”.
A dimensão específica da educação formal consistiria na trans missão d e
conhecimentos, informação e cultura e de processo geral de so cialização. No entanto,
enquanto processo de soc ialização, a educação formal serviria à manutenção de uma
determinadaestrut urasocial,jáqueelaoutorgaria normas,valores,sanções,reproduz indo
privilégiosedistúrbiossociais.Daíaimportânciaqueseatribuiàeducaçãoemgovernos
(tantocapitalistaquanto so cialista)porentendêlauminst rumentoparaalegitimaçãodo
sistema(DEMO,1980).
Demo(1980)alegaqueaeducaçãofo rmal,sozinha,nãocriariapostosdetrabalho,
deformaqueapopulaçãopobre,aindaque escolarizada,possaserintegradaaosistema.
Nesta linha depensamento, denadaadiantariaum indiv íduoeducado,po rémalijado da
estruturaprodutivadopaís.Issoiriadeencontroaumaidéia,muitasvezesrepetida,deque
aeducaçãoseriaumprocessodepreparaçãodemãodeobracapazdepromoveraascensão
doindivíduonapimidesocial.
Todavia,serianecessáriodaradevidaimportânciaàformaçãoparaotrabalho,já
que um dos indicadores de pobreza é a inserção deficiente nesse mercado. Isto posto,
entendese que uma melhoria na qu alificação profissional deveria acompanhar um
movimentoeconômicocapazdeabsorverestesprofissionaisqualificados.
Preparar mãodeobra é importante, mas não é menos importante forçar a
estruturaprodutivaaseadaptaràsnecessidadesbásicasdapopulaçãodebaixa
renda.Nãohásociedadecapit alistaaceitávelsempelomenosdoiscomponentes
fundamentaisdapolíticasocial:salár ioeparticipação.Estáforadedúvidaquea
educaçãoémaisdecisivacomocondiçãodeparticipaçãodoquecomocondição
deacesso àrenda(DE MO,1980,p.113).
Demo(1980)condenaaeducaçãovoltadaaoadest ramentodepessoas(aeducação
domesticadora, t ambém criticada por Freire) e defende que este processo sirva como
condiçãodeacesso àpart icipação,preparaçãoparaacidadania,àmedidaqueestimuleuma
culturacriativaeparticipativa.Paraoautor,aportaparaaaberturademocrática,nae sfera
social, é sobretudo a educação: O valor principal da educão está mais na promo ção
participativa do que na caract erística de preparação de mãodeobra, de transmissora de
27
conhecimentosedeinstânciasocializadora.Ditodeoutramaneira:aeducaçãoéu mbem
socialdeprimeiraordemcomoculturademocrática”(DEMO,1980,p.83.Grifodoautor).
1.2EdgarMorineacomplexidade
AssimcomoPauloFreire(2002)entend equeaeducaçãodevetercomoseuobjeto
reveladoasrelaçõesdossereshumanos comomundo,Edgar Morinpro vocaare flexão da
educação considerando a complexidade e a necessidade da compreensão da teia de
relaçõesexistentesentretodasascoisas.
No paradigma da complexid ade, o pensamento complexo seria aquele capaz de
considerar as influências internas e externas na ampliação do  saber.  Para Mor in, se o
pensamento orienta as ações r umo ao conhecimento, isso não pode ser feito de forma
fragmentada e reducionista (buscando a simp lificação dos fenômenos), pois as ações
decorrentes deste pensamento serão simplistas e simplificadoras (MORIN,1986) . Esta
situação de parcelamento e dispersão do saber foi um legado do século XIX, quando o
desenvolvimento técnicoecientíficoerapriorizadoeaespecializaçãovistacomocaminho
paraoprogresso,oquesacrificariaaunidadeeopensamentocomplexo.
Morin (1998) afirma que, inerente ao pensamento complexo, está a iia de
sistemas,umavezquetudoanossavoltapodeserconsideradoumsistema,umarelação
dialéticatodopart es,poisseconstituiriaapartirdareuniãodediferenteselementos,como
por exemplo, o sol, a Terra, a biosfera, o automóvel, etc. É o chamado princípio
hologramático:“apartenãoestásomentenotodo.Oprópriotodo está,decert ama neira,
presentenaparte”(MORIN,2000,p.106),deformaqueoindivíduonãoestásomente
dentrodasociedade,asociedadeenquantotodoestátambémnoindivíduo,condicionando
oesendoporelecondicionada.
Aeducaçãodofuturodeverá prepararoindiv íduopara acompreensãodocontexto,
doglobal,do multidimensional,doco mplexo,mesmoporqueoserhumanoeasociedade
seriam unidades  complexas, multidimensionais: o ser humano é ao mesmo tempo
bioló gico, psíquico, social, afetivo e racional. A sociedade comporta as dimenes
histórica, econômica, sociológica, relig iosa [...]” (MORIN, 2002, p. 38). Por isso, a
educação deveria superar a quest ão da supremacia do conhecimento fragmentado em
28
diferentesdisciplinas,oquenãopermitiriaaarticulaçãoentreotodoeaspartes,deformaa
apontar na direção de um conheciment o capaz de apreender os fenômenos em seu
conjunto, em sua complexidade. “A front eira disciplinar, com sua linguagem e com os
conceitosque lhe são próprios, isolaa disciplina em relação àsoutraseemrelação aos
problemasqueultrapassamasdisciplinas”(MORIN,2002a,p.38).Eoautorvaiadiante:
o ensino realizado por meio das disciplinas fechadas nelas mesmas atrofia a atitude
natura ldoesritoparasituarecontextualizar”(MORIN,2002a,p.85).
Morin(2000)entendehaverdistinçãoentr easpráticasinteretransdisciplinar.De
acordo com o teórico, na interdisciplinaridade as disciplinas se comu nicar iam e
colaborariam entre si, contudo, suas especificidades e limitações seriam mantidas. Na
transdisciplinaridade, por sua vez, ocorreria uma superação das fronteiras que inibem e
fragmentam o conhecimento, mantendoo em terr itórios isolados. Por meio  da
transdisciplinaridadehaveriaaconstruçãodeumnovosaber, possibilitadopeloencontroe
intercâmbioentreduasoumaisdisciplinas. Atransdiscip linaridadetemdeserentendida
dentro do  paradigma da complexidade, fundamentada por uma epistemologia da
complexidade.
Morin(1986) insistequeoparadigmadacomplexidade influiriasobremaneirana
educação, abrangendo todas as áreas do conhecimento, e sugere a transdisciplinar idade
como a maneira de se romper os limites entre as discip linas. O autor afirma que o
conhecimentofazpartedaexistênciahumana,estandopresentedeformasimultânea nas
açõesbiológicas,cerebrais,espirituais,culturais,lingüísticas,sociais,poticasehistóricas,
demodoque'ser'e'conhecer'condicionamsemutuamente.Todavia,oteóricoacreditana
incompletude de todo e qualquer conhecimento: na vida e na ciência não há certezas
absolutas.
ParaMor in(2002),umadasgrandesquestõesimpostasàeducaçãoéa necessidade
de promover o conhecimento de forma que a pessoa seja capaz de apreender questões
globaisefundamentais,para,apartirdeentão,trabalharcomosconhecimentosparciais,
regionalmente localizados.Oferecendosubsídios paraaleit uradasre laçõeseinflncias
mútuas entre as partes e o todo, dentro da perspectiva da comp lexidade, estaria se
construindooconhecimentopertinente,diferentedasimplesjustaposiçãodeinformações
que,sobalógicadamodernidade,atropelariam oindivíduo.
29
No entanto, a articulação e organização dos conhecimentos, assim como a
compreensãodosproblemasemseusaspectosmultid imensionais,pedemumareformado
pensamento.Asmentalidadesfechadas,limitadas,incapazesdeinseririnformaçõesdentro
deumcontextoquelhesimprimaumsentido,nãoconseguiriama lcançaraamplitudedo
pensamentocomplexo,nãoconseguiriamdiscerniroconhecimentopertinente.Areforma
do pensamento, a passagem do paradigma disciplinar para o t ransdisciplinar, implica a
adoção de um pensamento que religue e articule os conhecimentos especializados, não
comunicantes:“amissãoprimordialdoensino,implicamuitomaisemaprenderare ligar
doqueapenasaseparar,oque,aliás,foifeitoatéo presente.Simulta neamente,épreciso
aprenderaproblematizar”(MORIN,2002a,p.85).Caberiaàeducaçãodoterceiromilênio
operarestabuscapelareformadasment alidades,oqueporsuavez,nãoselimitaaseruma
simplesreformadeconteúdos,masummudançadeparadigmascujaresponsabilidadecabe
aoprofessor.
A educação  teria, ainda, uma outra funç ão a desempenhar, a saber: ensinar a
compreensão (que é ao mesmo t empo  meio e fim da comunicação  humana) entre as
pessoascomogarantiadasolidariedadeintelectualemoraldahumanidade.Diferentemente
doatodeeducarparaamatemáticaououtramatéria,educarparaacompr eensãoestá,no
entendimentodeMorin(2002),nocentro damissãodaeducação.
Quando fala em era planetária
2
como o momento em que a humanidade se
encontraria,  Morin (2002)  afirma que tudo precisa ser situado dentro de um cont exto
planetário,global,ecolocaqueumdosgrandesdesafiosparaaspes soasdonovomilênio
seria odecomoorganizarearticulartodas as infor maçõessobreo mundo aquese tem
acessonomomento,umavezqueoconhecimentodomundocomomundoénecessidade
ao mesmo tempo  intelectual e vit al” (MORIN, 2002, p. 35). Paralelamente, o teórico
chamaaatençãoparaodescompassoexistenteentreadivis ãodisciplinardossabereseas
realidadeseproblemascadavezmaismultidisciplinares,transversais,multidimensionaise
globais.
Aeducaçãodeveriafacilitaracapacidadenaturaldamentehumanaemelaborare
resolver problemasessenciaise,da mesmaforma,estimularouso doqueele chamade
2
ParaMorin,aeraplanetáriateriaseiniciadoapartirdoséculo XVI,comacomunicaçãoentretodosos
continenteseteriasedesenvolvido nosséculosseguintescom a colonizaçãoedominaçãodomundopelo
Ocidente. Hoje, a era planetária viveria uma etapa tecnoec onômica, chamada de mundialização: a
generalizaçãodaeconomialiberal.
30
inteligência geral. A intelig ência geral, por seu turno, seria aquela apta a trabalhar
conforme o pensamento complexo . A ativação da inteligência geral pede o livre
desenvolvimento  da curiosidade, faculd ade muito presente nos períodos de infância e
adolescência humana (MORIN, 2002). Morin (2002) faz, ainda, uma interessante
aproximaçãoentredesenvolvimentodainteligênciaeomundodaafetividade,aoponderar
que,namedidacerta,talligaçãopodeserbenéficaaoindivíduo:
Há estreita relação entre inteligência e afetividade: a faculdade deraciocinar
pode ser diminuída, ou mesmo destruída, pelo déficit de emoção; o
enfraquecimentoda capacidadedereagiremocionalmentepodem esmoestar na
raizdecomportamentosirracionais(MORIN,2002,p.20).
Estaafetividade,noentanto,nãoremeteexclusivamenteàshabilidadescognitivas
presentesnoindivíduo.Eladeveestarpresentetambémnafiguraetrabalhodoprofessor.
Morin (2002a) cita Platão para lembrar que o educador precisa ter amor à matéria que
ensina,assim comoaoseducandos.
CombasenospostuladosdeEdgarMorin,caberiaentãopensaraeducaçãocomo
umprocessonoqualexisteespaçoparaodiálogo,adúvida,oquestionamento;comoum
momento de transposição de barreiras disciplinares e construção de novos sa beres, de
modo a gerar um indivíduo capaz de ler e interpretar questões complexas,
multidimensionais e apto a refletir sobre e int ervir nos problemas regionalment e
localizados.
1.3EducaçãoPatrimonial
O patrimônio cultural brasileiro, não raro, é apontado como em condições de
apresentarse como um diferencial frente à oferta turística internacional, haja vista as
campanhas institucionais veiculadas no país e no exterior. No entanto , o mau uso deste
patrimônio tem ocasionado perdas para a comunidade local, em especial no tocante ao
patrimôniomateria l,devidoàneglincia,mauuso,preservaçãoinadequada,processosde
urbanização e utilização t urística desordenada, entre outras intervenções humanas. O
31
patrimônioimaterial(ossaberesefazerestradicionais),porsuavez,temsidoengolidopor
modosdevidaepráticasurbanas(FUNDAÇÃOJOÃOPINHEIRO,2001).
Ações visando a proteção do patrimônio natural vêm sendo alvo de campanhas
nacionaise internacionaisdesdeosanos1970,comdestaqueparaapráticadaeducação
ambiental,partedeumapro postamaisabrang ente,adedesenvolvimentosustentável.
Noqueserefereaopatrimôniocultural,asaçõesdeproteçãosãomaisantigas.O
conceito de monu mento e monumento histórico e os instrumentos de preservação a e le
associados,comomuseus,inventários,tombamentoereutilização,aparecempelaprimeira
veznaFrança,nocontextodaRevoluçãoFrancesa,em1790,aindaqueotermosóvenhaa
ser incluído nos dicionários franceses a partir de 1850. A consagração do monumento
históricoeaidéiadepreservaçãonelecontida,aparecem,todavia,vinculadaaoadventoda
industrialização, co mo uma reação a ela, tendo a maior parte dos países europeus
consolidado o monu mento histórico na segunda metade do século XIX, época em que
nascenaGrãBretanhaoco nceitodepat rimôniourbanohistóricoseguidodeumprojeto
efet ivodeconservação(CHOAY,2001).
NoBrasil,aSecretariadoPatrimônioHistóricoeArtísticoNacionalfoicriadapelo
Decretolein.º25de30denovembrode1937,comoobjetivo deidentificar,documentar,
fiscalizar,preservarepromoveropatrimônioculturalbrasileiro,sobaresponsabilidadede
Rodrigo Melo Franco de Andrade. Depois de passar por várias mudanças em sua
nomenclatura,o órgão tornaseo Instituto do Patrimônio Histó rico e Artístico Nacional
(IPHAN)e m1970,mant endo,contudo,desdeasuacrião,umapolíticadepreservação
quepriorizavaaproteçãodopatrimônioculturalatre ladoàculturadosgruposabastadosda
sociedade,distanciandosedasproduçõesemanifestaçõesoriundasdagrandemaioriada
população( CERR GONÇALVES,2002).
Em conseqüênciado consensosobreanecessidadedeconservação epreservação
dopatrimônio culturalaquechegaasociedadecontemporânea,surgempropostasvisando
a inserção destaiiana mentalidadeda comunidadecomoum todo.Umdos exemplos
práticosdotrabalhodebuscadestanovamentalidadeéaEducaçãoPatrimonial.
NoBrasil,adiscussãoacercadote mapodeparecerrecente,hajavistaolançamento
do Guia sicodeEducaçãoPatrimonialpelo IPHAN somenteem1999. Noentanto,a
preservaçãodo patrimônioculturalconstacomoumdos itens daLeinº.4.024de 20 de
setembrode1961,quediscorresobreasfinalidadesdaeducaçãonacional,dentrodeum
32
contextodeliberdadeesolidariedadehumana.Contudo,õesnesseca mpopassamaser
realizadasapartirde1983( HORTA
etal
,1999),levandováriosmunicípiosbrasileirosa
despertar para os benefícios que o  processo de educação patrimonial pode trazer à
comunidade.Algunsexemplossãoas cidadesdePetrópolis/RJ,OuroPreto/MG,Caxiasdo
Sul/RSeoutrascidadesnesteúltimoEstado.Demaneirageral,asaçõespartemdaseguint e
interrogação: de que forma a comunidade pode desenvolver laços de identidade e
afet ividade para com o seu patrimônio cultural? A resposta a esta pergunta é uma das
propostas da educação patrimo nial, to mando  tal questionamento como uma de suas
finalidades.
Entendese,nesteestudo,a EducaçãoPatrimo nialinseridanocontextodaeducação
nãoformal,complementandoaeducaçãoformal,sem,contudo,competircomela,dentro
dasconcepçõesdeFreireeMorin,segundoasquaisomundoéagrandefontedebuscae
construçãodoconhecimento.Parafinsdemaioresclarecimento,entendeseserpertinente
a colocação de alguns conceitos subjacent es à Educação Patrimonial, tais como cultura,
patrimônioculturalemuseu.
Cultura pode ser entendida como “um processo eminentemente dinâmico,
transmitidodegeraçãoemgeração, queseaprendecomosa ncestraisesecriaerecriano
cotidianodopresenteenaso luçãodospeque nosegrandesproblemasquecada sociedade
ou ind ivíduo enfrentam” (HORTA
et al
, 1999, p. 7). Em Morin (2002) encontramse
aspectosdaculturacitadosporHorta
etal
,porém,eleavançaquandoafirmaque acultura
balizaavidaemsociedade.Paraoreferidoautor, existeumarelaçãodereciprocidadeent re
asinteraçõesproduzidaspeloindivíduo emsociedadeeosurgimentodaculturacomsua
retroaçãoso breosindivíduos:
A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas,
proibições, estratégias, cr enças, idéias, valores, mitos, que se transmite de
geração emgeração, sereproduz em cadaindivíduo, controla aexistênciada
sociedade e mantém a complexidade psicológica e social . Não há sociedade
humana,arcaicaoumoderna,desprovidadecultura, mascadacultur aésingular
(MORIN,2002,p.56).
A importância da cultura para o indivíduo vai muito além da riqueza do legado
materialdeixadoparaasgeraçõesfuturas.Vygotsky(
apud
REGO,1995)atribuiàcultura
ofornecimentodofuncionamentomental,pormeiodamediaçãosimbólica(oinstrumento
33
e o  sig no), enquanto Morin (2002) diz que, apesar do desenvolviment o do seu aparato
bioló gico, sem cu ltura, o indivíduo  poderia ser comparado a um primata. Roque Barros
Laraia(1997)associa,ainda,culturaa outrosaspectostaiscomoaprendizagemcontínua,
ligação a eventos históricos e criação de um co njunto de normas e símbolos
compartilhadospelogrupo.
Intimamente ligado ao conceito de cultura está o de identidade, uma vez que a
culturaéoquecaracterizaexpressõesdeumdeterminadogr uposociale, atravésdestas,o
indivíduo const ruiria sua identidade, a qual, por seu turno, tem sua matériapr ima
“subtraída da História, da memória coletiva, das relações de produção e de poder
estabelecidasnotempo enoespaço”(MACHADO;DALBÓ,2000,p.262).Arespeitoda
formacomoétratadapelasCiênciasSociais,a identidadecultura lfoire ferendadacomo
uma condição anterior ao indivíduo, “como uma condição imanente, queo definiria de
maneiraestáveledef initiva,comoum dadoqueo marcar iade maneiraquase indelével,
comouma'segundanatureza'recebidacomoherançaedaqualnãoseriapossívelescapar”
(CUCHE,
apud
NAGEL,2000,p.288).Retomaseadiscussãosobreidentidadecultural,
noâmbitodoturismo,noterceirocapítulodestapesquisa.
Parabuscaraorigemdaexpressãopatrimônioculturaléprecisorecuarnahistória
buscandoosentidodost ermosmonumentoemonumentohistórico. Apalavramonumento,
derivada do latim
monere
, significaria trazer à lembrança e estaria carregada de uma
função  memor ial, cuja essênciaresid iria na naturezaa fetivaqueenvolveriadeterminada
construção.Omonumentoestáfortementerelacionadocomopassadovividoeamemória,
contribuindo,dessa forma, para apreservação da identidade deumacomunidadeétnica,
relig iosa, tribal,  nacional. Apesar dos formatos d iversos, o monumento se encontra em
todososlugares,emtodasassociedades.Doisfator escola boraramparaadecadênciada
função memo rialdomonumento:aimportânciacrescentequesedeuaocaráterestéticoe
artístico das const rões; e o  surgimento e difusão de me mórias artificiais, como a
imprensa e a fotografia, a qual, por sua vez,  cumpriria a missão de transformar o
monumentonumsignodirigido àssociedadescontemporâneas(CHOAY,2001).
Omonumentohistórico ,poroutrolado,teriarecebidodasociedadecontemporânea
o entusiasmo que antes era dispensado ao mo numento com fins de rememoração, e, ao
contrário do caráter universal que aquele ocupou no tempo e no espaço, o monumento
históricoseriaumainvençãonotadamenteocidental,cujaexpansãoparaforadaEuropase
34
difundiu progressivamente a partir de 1850. O monumento hisrico se constituiu em
objetodosaber,tendoseuvalorcognitivoressaltado(oquedeterminavaotempoaoquala
construção remetia), ou poderia ser contemplado unicamente por seu caráter artístico,
fazendoparte,assim,dotempovivido,semligação,portanto,coma memóriaoucoma
história (CHOAY, 2001). O monumento histórico vai exercer também um p apel
importantenaimaginaçãodascomunidadesnacionais(PRATS,1998).
AomencionaropatrimônioculturalbrasileiroHortaetal(1999,p.7)acrescentaaos
objetoshistóricoseartísticos,monumentosecentroshistór icos,aquiloqueeladeno mina
patrimôniovivo”dasociedadebrasileira:“artesanatos,ma neirasdepescar,caçar,plantar,
cultivarecolher,deutilizarplantascomoalimentoseremédios,deconstruirmoradias,a
culinária,asdançase músicas,osmodosdevestirefalar,osrituaise festasreligiosase
populares, as relações sociais e familiares”. Gimenez e Caracoche (2003), contudo,
enfat izamarelaçãoobservadaentreo patrimôniocultural(tangíveleintangível)eacidade,
chamandooprimeirode “matériaprima”,passível de constante ressiginificação, a partir
doqueasociedadeconstiseuimaginário:
Opatrimônioéa síntesesimbólica dosvaloresidentitários deuma sociedade
queosreconhececomopróprios.Eleimplicaumprocessodereconhecimento,
geralmenteentregerações,dealgunselementos(desdeoterritórioatéaruína)
comopa rteda bagagem culturalesua vin cula çãoaum sentimento degrupo.
Reconhecidanopatrimônio, acomunidadeseapresentaaoutros
3
(GIMENEZe
CARACOCHE,2003).
Opatrimôniocultural éumainvençãoeumaconstruçãosocial,deacordocomPr ats
(1998). Invenção à medida que o patrimônio alimenta discurso s e, desta forma, está
relacionado ao poder. E, construção social enquanto processo de assimilação de
legitimação daqueles discursos. Pr ats (1998) apresenta três critérios que abarcam os
elementos que podem potencialmente ser co nsiderados patrimônio cult ural: a natureza
(preferencialmente a natureza selvagem), a história (o passado  com seus feitos e
personagens) e a genialidade (inspiração criativa, a individualidade que transcende as
regrasecapacidadesapliveisamaioriadaspessoascomuns).Estescritériosteriamsido
3
ElPatrimonioeslasíntesissimbólicadelosvaloresidentitarios deunasociedadquelosreconocecomo
propios.Elloimplicaunprocesodereconocimiento,generalmenteintergeneracional,deunoselementos
(desdeelterritorioalaruina)comopartedelbagajeculturalysuvin culaciónaunsentimientodegrupo.
Reconocidaenél,lacomunidadsepresentaaotr os.Traduçãonossa.
35
consolidados durante o romantismo e se encontrariam além dos limites da cultura e do
controlesocial.
O teórico propõe a observação do patrimônio cult ural po r meio de três lentes
distintas:opatrimônioculturalcomoconstruçãopolítica, querepresentaousimbolizaas
identidadespoticasloca is,regionaisounacionais;opatrimônio comopr oduto,aserviço
de interessescomerciais,atendendo e mespecial osmeios decomunicaçãode massae à
demanda turística; e, por fim, o patrimônio como construção científica, no qua l o
conhecimento é entendido como o verdadeiro patrimônio que pode efetivamente ser
preservado, cabendo  à ciência, assim como a outras fo rmas de conhecimento, a
sistematizaçãodoconhecimento acercadeumadeterminadacultura.
Meneses(
apud
YAZIGI,2003)atribuiaopatrimôniocult uralurbanoosseguintes
valores:(a)cognitivos,quandoassociadosàinformaçãoveiculadapeloobjeto;(b)formais,
quando associados a suas virtudes de forma e estética; (c) afetivos, à medida que
incluíssemasrelaçõ essubjetivasdo indivíduoemsociedade; e,(d)pragmáticos,quando
relativosaopoderdeusoqualificado,aoqualopatrimôniosepresta.
AConstitu içãode1988,aprimeiraamencionarexplicitamenteaculturaeosbens
culturais, apresenta a seguinte definiç ão de Patrimônio Cultural: os bens de natureza
materialeimaterial,to madosindividualmenteouemconjunto,portadoresdereferênciaà
identidade, àação,àmemóriadosdiferentesgruposformadoresdasociedadebrasileira”.
Os bens cultura is a que se re fere o texto constitucional se dividem em bens imóveis:
núcleos urbanos, tios de valor histórico, artíst ico, arqueológ ico e paisagíst ico, bens
individuais;e,bensmó veis:coleçõesarqueológicas,acervosmuseológicos,do cumentais,
arquivísticos, bibliográficos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. Aos bens
culturais materiais, somamse os imateriais que, de acordo com o Decreto n.º 3.551 de
agostode2000,jápossuemlivrosderegistr opróprios,aexemplodoslivrosdeTombo,
criadosdesde1937emrelaçãoaosbensmateriais(MINISTÉRIO DACULTURA,2005).
Aidéiademuseu,derivado grego
musêion
,quesignificatemp lodasmusasondese
praticariam as artes, poesias, etc. Sua função seria servir à instrução da sociedade,
especialment e os valores nacionais, e nsinando civismo, história, artes e técnicas e teria
sido antecipada pela coleção de obras de arte antigas, já no fim do século III antes de
Cristo. O museu recebe sua denominação aproximadamente na mesma época que o
monumento histórico, na última década do século XVIII. Sua institucionalização vai
36
consolidaraconservaçãomaterialdaspinturas,escu lturaseobjetosdearteantigoseabrir
oprecedenteparaasalvaguardadosmonumentosarquitetônicos(CHOAY,2001).
O museu, como o conhecemos hoje, nasce no bojo da idéia de cidadania da
RevoluçãoFrancesa,quandoosbensdoclero,daCoroaedosemigradossãotransferidos
para a nação, visando a ressignificação da ideologia neles representada através da sua
integração à totalidade do patrimônio nacional, de modo que a noção de coleção seria
substitdapeladepatrimônio.OMuseudoLouvre,emParis,hojeconhecidocomoum
dos maiores atrativos turísticos do mundo, foi concebido como um espaço onde se
depositavam a maioria das riquezas artísticas conquistadas no período da Revolução
(CHOAY,2001;GIRAUDYeBOUILHET,1990).
Observando o patrimônio cultural como co nstrução política, a serviço do
fortalecimento dosideaisnacionais,omuseuvai,então,servircomosuaprincipalvitrine,
sendo com freqüência um testemunho de dominão e não um relato de processos e
conflitossociais ehistóricos:
Seopat rimônioéinterpretadocomoreperriofixodetradições,condensadas
emobjetos,eleprecisade um palcodepósito que o contenha eoproteja,um
palcovitrineparaexibi lo.Omuseuéasedecerimonialdopatrimônio,olugar
emqueéguardadoecelebrado,ondesereproduzor egimesemióticocomque
os grupos hegemônicos o organizaram. Entrar em um museu o é
simplesmentea dentrarumedifícioeolharobras,mastambémpenetraremum
sistemaritualizadodeaçãosocial(CANCLINI,2003,p.169).
Três fatores têm atuado de forma preponderante na configuração do processo
culturalbrasileiro,e,consequent emente,naatenção dadaaopatrimôniocultura lnacional,
osquaisseriam:aherançada colonizaçãoeuropéiaqueperpetuaasu bmissãoaospadrões
culturais das culturas dominantes (ocidentais); a vinculação da idéia de progr esso e
civilizaçãoatudoaquiloproduzidonospaísesde culturadominant e(a indaresquíciosdo
processodecolonização);porfim,oesforçodamíd iaemeiosdecomunicaçãodemassa,
propagando novos valores simbólicos e padrões compo rtamentais, pr incipalmente, de
consumo(HORTA,2000).
37
1.3. 1 EducaçãoPatrimonialesuasconceituações:
OGuiaBásicodeE ducaçãoPatrimonial(1999)elaboradopeloIPHAN–Instituto
doPatrimônioHistóricoeArtísticoNac ional–eMuseuImperial,RiodeJaneiro,veioao
encontroda necessidadedeumtextoqueservissedeorientaçãoparaapráticadaEducação
Patrimonial,a lémdeatenderademandaportextosquepudessemservircomoreferencia l
teóricosobreestecampo,quandosuaspráticascomeçaramasegeneralizarpelopaís.
Duarte (1994) já registrava, em 1994, a necessidade de um quadro teórico
metodológico que pudesse subsidiar as õ es no campo da educação patrimonial em
Portugal.Aautorachamavaatençãoparaofatodequetalquadrodeveriaa bordartécnicas
de animação, educação pela arte e programas de evocação histór ica a partir de
monumentos,aosquaisseatribuemvaloreminentementeeducativo.
SegundoHorta
etal
(1999),ostrabalhosde senvolvidosnoMuseuImperial,sobo
conceito da Educação Patrimonial, têm como fonte originária o trabalho pedagógico
desenvolvido naInglaterrasobotermo
heritageeducation
4
,queapontariaumatécnicade
ensinareaprenderhistóriaecultura,utilizandoinfo rmação disponívelnaculturamateriale
no meio  ambiente humano e construído, como fonte de instr ução primária. A mesma
autoradáoconceitodeEducaçãoPatrimonial:
Tratase de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional
centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e
enriquecimentoindividualecoletivo.Apar tirdaexperiênciaedocontatodireto
com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos
aspectos, sentidos e signi ficados, o trabalho da Educação Patrimonial busca
levar criançase adultos a um pr ocesso ativo de conhecimento,apropriação e
valorizaçãode sua herança cultural, capacitandoos para um m elhor usufruto
destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos,
numprocessocontínuodecriaçãocultural(HORTAetal,1999,p.6).
Vale ressaltar alguns elementos presentes na definição de Horta, uma vez que a
mesmavemsendoadotadanamaiorpartedostrabalhosnestecampo:
4
Dispovelem: http://www.ericdigests.org/pre929/heri tage.
38
1. Sendo um processo permanente e sistemático, o trabalho de Educação Patrimonial
requer planejamento e não pode ser tomado como uma ação isolada, fragmentada (à
semelhançadopropostoporPauloFreireeEdgarMo rin);
2. O patrimônio cultural de sempenha uma fu nção primordial no processo de educação
patrimonial,sendopormeiodomesmoqueoconhecimentoéconstruído;
3. OtrabalhodeEducaçãoPatrimonialvisaatingircrianças eadultos, não elegendo um
público específico e permitindo a todas as faixas etárias a participação no processo de
formaativa,ouseja,participativa,emvezdesimp lesobservadores.
No processo de Educação Patrimonial, o pat rimônio cultural é tido como um
recurso educacional, que ao invés de estar em conflito co m as outras disciplinas
curriculares, lhes complementa, agregando conhecimento às disciplinas tradicionais,
enquanto extrapolaria o conteúdo uniformizante do livro didático, conforme as
possibilidadesdeproblematizaçãodoobjetocultural.Horta
etal
(1999,p.6)afirmaainda
queaEducaçãoPatrimonialseriauminstrumentodea lfabetizaçãocultural,àmedidaque
possibilitariaqueosujeitoenvolvidofaçaumaleituradiferenciadadomeioemquevive,
suarealidadesociocu lturalehistórica,entendendome lhorsuatrajetória(comomembrode
uma comunidade) passada e presente. Esse processo teria reflexos na auto estima do
indivíduo e da comunidade, que por sua vez, vai atribuir um outro significado ao seu
patrimôniocultural.
Ao estender a conceituação de Educação Patrimonial, Hort a et al (1999) utiliza
ainda as palavras 'diálogo', 'comunicação' e 'interação' para ressaltar que a permanente
tro ca de conhecimentos por part e da comunidade e dos agentes responveis pela
salvaguardadopatrimônioe estudo dosbens culturais levaau maproteção mais efetiva
dosmesmos, deformaqueoconhecimentovaisendoconstruídodentrodeumperspectiva
dialógica,apartirdarealidadelocal,conformedefendeFreire.
A metodologia da Educação Patrimonial ser ia aplivel a qualquer traço ou
manifestaçãodacultura(HORTA
etal
,1999),sejaumobjetotomadoisoladamente,ouum
conjunto de bens, em seus aspe ctos materiais ou imateria is, desde que resultantes da
relaçãoqueseestabeleceent reapessoaeoseumeio .Aeducaçãopatrimonialpodeser
entendidacomo,alé mdeumapropostametodológ ica,umaaçãosocialquebuscariaativar
a memória socialpor meiosdos bensculturais,buscando recuperarrelaçõesesquecidas,
39
assimcomoaapropriaçãodaherançaculturalpelacomunidade,promovendooresgateou
fortalecimento desuaautoestima(HORTA,2000).
Horta(2000)salient aarelaçãoexistenteentreoníveldea fetividadepresentenas
experiências vivenciadas pelos indivíduose sua interferência no processo cognitivo dos
mesmos: “A maneira como  vivenciamosuma experiênciaemseus aspect os emocionais,
afet ivos, vai determinar a intensidade ou a dificuldade do registro dos dados
experimentadosemnossamemória,emuitasvezesvaidificultarsuarecuperaçãono atode
memor izaçãoousuarelaçãoeconexãocomoutrosdados”(HORTA,2000,p.28).
Amesmaautorachamaaatençãoparaacomplexidadequeenvolveotrabalhocom
o patrimônio cultural, necessariamente presente no desenvolvimento  da Educação
Patrimonial:
Trabalhar educacionalmente com  o patrimônio cultural não pode ser apenas
umatarefadepassagemdeinformações ediscursopréfabricados...maslevaro
alunoouoaprendiz,noprocessodeconhecimento,aidentificaros‘signos’eos
significadosatribuídosàscoisasporumadeterminadacultura,amergulharno
universodesen tidosecorrelaçõesqueelasoferecemàdescober ta,aprocurar
entendera ‘linguagemcultural’específicautilizadanaquelasmanifestações e,
finalmente, a envolverse afetivamente com elas, a través de vivências e
experimentações,de modoasercapazdeapropriarsedesses‘signos’e‘textos’
culturais, incorporandoos ao sistema de sua ‘enciclopédia’ mental (HORTA,
2000,p.30).
Fica clara, dessa forma, a importância atribuída à pessoa que vai mediar esse
processo,o quenãoseria,deformaalguma,s imples.Portanto,entendesesernecessário
mais do que compromisso com o cumprimento  de uma tare fa. Trabalhar o patrimônio
cultural dentro da concepção elaborada por Horta requer a ultrapassagem das barreir as
forma is de ensino, requer a incorporação da exploração , reflexão e análise do objeto
culturaldeformaqueoresultadofinalconduzaaalgobemmaiscomplexoqueasimples
memor izaçãodeconteúdo :arelaçãoafetivaentreoserhumanoeoobjetocultural. 
AEducaçãoPatrimonial,comoqualqueroutroprocessodeaprendizagem,precisa
ser avaliada tanto pelo educador quanto pelo educando, a fim de que a metodologia
utilizada possa ser constant emente aperfeiçoada. Percebese que a f igura do educador/
monitor/ mediador exerce desempenho crucial para que o processo da Educação
Patrimonialatinjaosresultadospretendidos.
40
PesquisarealizadapeloGovernodoE stadodeMinasGerais
5
em2001,atravésdo
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico  (IEPHA), Secret aria Estadual de
Educação(SEE),eaFundaçãoJoãoPinheiro–pormeiodoCentrodeEstudosHistóricose
Artísticos (CEHC) , junto a professores do ensino médio da rede estadual, teve como
propósito de identificar, entre outro s,  arelação que o citado corpo docentetinha com a
temáticadopatrimôniocultural(suaexperiência,conhecimentoeinteressepelotema),de
forma quetaisinformaçõespudessemsubsidiaraelaboraçãode umapropostaeducativade
EducaçãoPatrimonial,aserdirecionadaaoensino médiodaredepública.
Umdospontosmaisr elevantesda pesquisaéaqueleque mostrao conhecimento
dos docentesdaredepúblicaquantoàno çãodepatrimôniocult ural,quandoumquartodos
professores da amostra apresentou conceitos 'satisfatório ' e 'médio' (de acor do com os
crit ériosdeavaliação adotadospelospesquisadores),enquanto75% dasrespo stas foram
classificadas como 'simples' e 'regulares', além de 93,7% da amostra reconhecer que se
sente 'insuficientemente informado e gostaria de se informara respeito' da temática em
questão,oquecolocaacapacitaçãodosprofessorescomoprioridadeparaaelabo raçãode
umprogramadeEducaçãoPatrimo nial.
Outro ponto dedestaquenoresultado dacitadapesquisaé a necessidadede uma
metodologiaqueextrapoleoformatotradicionaldasaulas,sendoenriquecidocomoutros
recursos didáticoscomo materiais audiovisuaiseatividades e xtraclasseforadoterritório
escolar,comoexcursões,visitasorientadaseoutrospasseiosculturaiselúdicos.
1.3. 2EducaçãoPatrimonialesuasconseqüênciassociais
Horta
etal
(1999)lembraquemuitosexemplare sdopatrimôniocult ural material
brasileiro estão tombados, ou seja, protegidos legalmente pelo IPHAN e outros órgãos
estadua is e municipais, por sua grande repres entatividade histórica ou artística para a
localidadeouatémesmoparaopaís.Noentanto,parafinsdeestudosobaperspectivada
Educação Patrimonial, a casa, a escola, a rua, a estrada, também compõem o meio
ambiente histórico (espaço criado e transformado pela atividade humana ao longo do
tempo e da história) e, dessa forma, podem ser utilizados como objeto da educação
5
Dispovelem http://www.fjp.gov.br.Últimoacessoem10/12/2005.
41
patrimonial,atravésdaexploração dosvalorescognitivos,formais,pr agmáticosea fetivos
quefazemdaqueleselementoslugaresdememória.
Oprocesso deEducação Patrimonialtem se mostrado um mecanismo necessário
principalmente na visibilidade e decorrente preservação de sítios de valor arqueológico,
quegeralmenteestãolocalizadosemáreasdeocupaçãohumana.Nestescasos,apopulação
pode tanto serfavo rávelà preservação dos tios– tendo em mente seuvalo r potencial
comoatrativoturísticoesuasconseqüênciaseconô micasesociaisdegeraçãodeempregoe
renda–,comosercont ráriaasuamanutenção,casoalocalizaçãodosítioimpeçaqueobras
de infraest rutura sejam construídas no local, constituindose em suposto entrave ao
'desenvolvimento '.Assimsendo, oIPHANestabeleceuatr avésdaPortarian.º230de2002,
que o s trabalhos de escavações e pesquisas arqueológicas sejam acompanhados por um
ProgramadeEducaçãoPatrimonial,paraquedestaformaaosarqueólogoscaibatambéma
responsabilidade de envolver a comunidade no processo de gestão do patrimônio loca l,
alémdoexercíciodassuasfunçõestradicionais(PIOLLIeDIAS, 2003).
Valeressaltar,ainda,queapossibilidadedousoturísticodo ssítiosarqueológicos
brasileiros já vem sendo, se não o principal, um dos mais fortes argumentos para a
preservação e valorização de tais sítios, semque haja necessariamente uma apropriação
afet ivadopatrimôniopelacomunidadelocal. Nogueira( 2003)defendeaopiniãodequeao
patrimôniosedeveatribu irumavaloraçãodecaráterafetivo,umadaschavesdoprocesso
de Educação Patrimonial. A autora parte do pr incípio de que é possível preser var,
valorizar, respeitaraquiloquese conhece e, dandooportunidadeàspessoasdeestar em
contato com o seu passado, história e raízes, estarseia oportunizando que as mesmas
construamre laçõesafetivascom seulegadocultural.
Outra conseqüência da aplicação da Educação Pat rimonial junt o a crianças em
idadeescolarseriaaconstruçãodacidadania,àmedidaquetaissujeito sestariamaindaa
realizar a construção de sentido de sua bagagem simbólica e os valores morais que
possivelmenteserãoincorporadosaoindivíduoadult o.Pormeiodeumprocessoe mquea
Educação Patrimonial desenvolvase de forma continuada, o futuro cidadão const ruiria
para si um sentimento preservacionista e um sentimento de identidade para com o seu
patrimônio cultura l. A cidadania oriunda desse  processo teria, então, como ponto de
partida,aleiturademundodosujeitopermitidapelaexploraçãodoseupatrimôniocultural,
42
conformeospostuladosdeFreir e,oqueconduziriaau mcomportamentocríticofrentea
atoslesivosao pat rimônioeaumaconseqüenteatitudepreservacionista.
Aeducaçãopatrimo nialpodeseconstituiremferramentaimportantenaconstrução
da cidadania também por ser uma prática pedagógica na qual o educando desempenha
papel ativo no processo de construção do conhecimento/aprendizageme o faz de forma
consciente. A proposta da educação patrimonial é diretamente co ntrária à educação
bancária, reto mando a categorização de Paulo Freire. Uma vez atuant e no processo de
construçãodoco nhecimento,aosujeitocognoscentecaberiaapossibilidadedoexercício
crítico, do questionamento da realidade apropriada por meio da problematização do
patrimôniocultural.
Despertaropoderdecríticanoeducando,mesmoqueaindacriança,seriainserir
neste ser a semente de uma postura cidadã,  o que significaria dizer que este adulto
provavelmentequestionaráomeiosocialemquevive,nãoselimitandoaser“habitanteda
cidade,indivíduonogozodosdireitosc ivisepoticosdeumestado” conformeoconceito
tradicionaldecidadania(MACHADO,2003,p.85).
A educação deve estar comprometida com a transformação  social e para tanto
precisacriarcidadãosdefato,capazesdeler,interpretar,questionareintervirnoseumeio
sociocultural e político: “levando os estudantes, fundamentalmente as crianças, a
conhecere ma história da suacidade de umaformaparticipativa,[...], podeseconseguir
umainserçãonacomunidadequetransformaamemóriahistóricaemconsciênciasocial”
(BARRETTO, 1992, p. 43, grifo do autor). O exercício da cidadania, com consciência
social, o que vale dizer com participação crítica, pode ser considerada, segundo Santos
(2000),umadascaracterística sda contemporaneidade.Assimsendo,o 'sersujeito' seria,
emnossosdias,umareclamaçãodasociedade.
Caberia, aqui, retomar mais uma vez o posicio namento de Paulo Freire e Edgar
Morin,segundoosquaisaeducaçãoteriadeestarassociada aummovimentodemudança,
ondeo sujeito cognoscentese apropriada sua realidadee, nesse sentido, adquire meios
paramod ificála,oque,porseuturno,ocorrequandoestesu jeitoconseguecompreendero
contextonoqualestáinserido;quandosepodeleraprópriarealidadecomolhoscríticos
quealcançamecompreendemacomplexidadeinerenteaoseuentornosocial.
43
1.3. 3 EducaçãoPatrimonial:algumasexperiências
OestadodoRioGrandedoSul,cuja históriaelegadoculturalforamconstruídos
comaparticipaçãodeimigrantesdediversasetnias,alémdapopulaçãoafrodescende ntee
dedistinto s grupos indígenas,  tem semostrado comprometido coma valorizaçãodoseu
patrimônioculturalepreservaçãoparafuturasgerações.Odesenvolvimentodeestudose
propostasvoltadasparaatemáticadopatrimônioculturaltemsido, nasúltimasdécadas,
um indicativo da preocupação com o patrinio cultural por parte do Poder Público,
acadêmicosedasociedadecomoumtodo.NocampodaEducaçãoPatrimonialpontuam
se,aseguir,duasexperiênciassignificativasrealizadasnaregiãocentr aldoEstado:emSão
MartinhodaSerraenaQuartaColônia.
No primeiro caso, no ano da emancipação do Município, 1992, a Universidade
FederaldeSantaMaria(UFSM),emparceriacomaPrefeituraeacomunidade,iniciouo
projet opiloto Resgate Histórico Cult ural de o Martinho da Serra”, cujo objetivo era
reconstruira história do município  (de importânciadestacada na história missioneira do
Estado), a fim de que tal fato fortalecesse a consolidação do processo de emancipação
política, so cial e econômica da cidade. Para tanto, inicialmente foram desenvolvidas
atividadesno campodaArqueologiaque,posteriormente,deramlugaraumacombinação
entreatividadesarqueológicase museológicas.
DentrodoprojetodeEducaçãoPatrimonialforamrealizadaspalestraseexpo sições
de objetosarqueológicos encontrados no Município. As açõesde Educação  Patrimonial
foramimplementadasjuntoaescolasdaredeblica atravésdeumprojet odeEnsinoe
ExtensãodaUniversidade, orientadoparaacapacitaçãodeeducadoresdaredemunicipal
entreoutrosorganismos,taiscomoasSecretariasdeCultura,TurismoeMeioAmbiente.
Em São Martinho da Serra, os frutos resultantes do trabalho de E ducação
Patrimonialforamfacilment epercebidos.Houveasensibilizaçãoeconscient izaçãonãosó
deeducadores,educandoseórgãosadministr ativos,comotambémhouvesolicitaçãopor
parte daPrefeituradeumlivroquecompilasseahistóriadomunicípio,alémdasolicitação
por parte dos educadores de um caderno de atividades que orientasse a inserção da
Educação Patrimonial nos currículos escolaresdassér ies iniciais, pormeiode propostas
lúdicas(MACHADO
etal
,2003).
44
AexperiêncianaQuartaColô nia,emSilveiraMartins,nasceucomoumae xtensão
do projeto piloto “Identidade” elaborado pela Prefeitura, integrando os município s de
Dona Francisca, Ivorá, Pinhal Grande, Nova Palma, São João do Polêsine, Faxinal do
Soturno,RestingaSecaeAgudo.
O Projeto Regional de Educação Patrimonial ( PREP) foi concebido  como uma
proposta para enfrentar a situação encontrada em Silveira Martins de “inadequação da
educaçãoforma lfrenteànecessidadedeumdesenvolvimentolocalquelevasseemcont aa
cultura popular do município” (VILLAGRÁN, 2000, p. 253), o que cola borava com a
baixa autoestima dos moradores, especialmente os mais jove ns, os quais não
identificavam os tros culturais locaise terminavam por migr ar para outr as c idadesdo
estado.
OProjetoRegionaldeEducaçãoPatrimo nialdaQuartaColôniadoRioGrandedo
Sul
6
envolveu290professores,120escola s, 2.985alunos,alémdepaisemembrosdessas
comunidadesetevecomoobjetivopromoverumamaiorcompree nsãodarealidadeatravés
da identificação,registro, estudo, valorização, preservaçãoeprojeção, nosseusaspectos
dinâmicoseoperativos,do patrimônio–naturalehistórico–domunicípioeregião.Itaqui
(1998) salient a que no referido projeto, o professor desempenhou papel fundament al,
funcionandocomomediadorentreosaberescolareosabercomunitário.
OProjetoRegionaldeEducaçãoPatrimonialsedeuatravésdo desenvolviment ode
oitoprogramasdeanimaçãosociocultural(comseismesesdeduraçãocada,iniciadosno
segundo semestre de 1993 e terminados no segundo se mestre de 1997), integrados às
atividadescurricularesdasescolasdaredemu nicipal.Ospr ogramasrealizadosforamos
seguintes:( 1)Aca sa,espaçosemobílias;(2)Documentosfamiliares;(3)I nstrumentosde
trabalhoetécnicasdeuso;(4)Cultivosealimentação;(5)FloraNat iva;(6)FaunaNativa;
(7) Água I; (8)  Água II. Osprogramas foram materializados e formatados por meio de
semináriosdeavaliaçãoeplanejamento, expo sições,documentação (foto gráficaevídeo),
bancosdedados,lugaresdememóriaeinventários(ITAQUIeVILLAGRÁN,1998).
Antecipando a temática que será explorada no quarto capítulo desta pesquisa,
sugereseaquiareflexãosobreofenômenoturísticoenquantoumprocessodeeducação
queteriasidocultura lmenteincorporadoaosujeitocontemporâneo,aocidadãodomundo .
O contato com outras culturas, outras formas de vida e de organização social
6
ProjetovencedordoPrêmioRodrigo MeloFrancodeAndrade,1997– categoriaEducaçãoPatrimonial.
45
experienciados durante a viagem turística ensinaria ao sujeito sobre o outro e, num
processode retroação,sobreelemesmo.Daí,oentendimentodoturismocomoumaprática
social que complementaria a formação do ser humano, mesmo que outras perspectivas,
como a do lazer e a da recompo sição sicae mentalque a viagem proporciona, sejam
comumentemaislembradas.
46
CAPÍTULO2:
METODOLOGIA
Quandoagentegosta,éclaroqueagentecuida.
CaetanoVeloso.
A Educação Patrimonial, por ser uma proposta metodológica que utiliza o
PatrimônioCulturalcomorecursoeducac ional,estimulaacomunidadeaadotaratitudesde
valorização e preservação dos seus bens patrimoniais. Dessa forma, pode ser ent endida
comoumapropostaquepodeviraotimizaraparticipaçãodacomunidadenoprocessode
gestãodosseusbenspatrimoniais,àmedidaemqueamesmapassaaatuarcomoguardiã
doseuPatrimônioCultural,enquantoumaprátic asocialquetemcomoinsu moacultura
local, representada neste patrimônio e nas relações estabelecidas entre o mes mo e a
comunidadequelheservedealicerce.
AutilizaçãodoPatrimônioCulturaldeformaapreservarsuaintegridade, evitarsua
descaracterização e contribuir para sua preservação é uma questão recorr ente nas
discussõesdomeioacadêmico doTurismo(BARRETTO,2000;MACKERCHEReDU
CROS, 2002; PIRES, 2002; MURTA, 1995). A inserção do  Patrimônio Cultural nas
práticas cotidianas faz com que os bens patrimoniais sejam constitu ídos de valor pela
comunidade,encaminhando, na mesma,umapostura deidentificaçãoe valorização. Isto
posto, entendese como favorável ao Turismo Cultural o desenvolvimento de propostas
que, como a Educação Patrimonial, utilizem o Patrimônio  Cultural como um elemento
constituintedadinâmicaculturaldacomunidade,cujafunção(oufunções)sejaverificad a
no cotidiano viv ido. Assim,  tomase como problema de pesquisa o seguinte
questiona mento:
A valorização do Patrimônio Cultural promovido pela Educação
Patrimonial pode beneficiar o turismo, enquanto processo que aumenta o grau de
preservação do patrimônio pela comunidade local?,
que teria como objetivo geral a
realização deumestudosobreateoriaeapráticadaEducaçãoPatrimonial,nointuitode
buscarassociaçõesentreesteprocesso eofenômenoturístico.
47
Paralelamente, outras questões que se most raram necessárias para a construção
destapesquisaexploratória,decortequalitativo,foramaidentificaçãodapossívelrelação
entreasformascomoaatividadeturísticaeaEducaçãoPatrimonialutilizamopatrimônio
cultural;e,areflexãoemtornodasconcepçõesdaeducaçãocomo processodeformação
dosujeito histórico,deformaacontextualizarateorizaçãodaEducaçãoPatrimonialesua
relaçãocomopatrimôniocultura l.Ainda,oconfrontamentoentreapráticarealizadapelo
Programa de Educação Patrimonialdo MuseuMunicipalde CaxiasdoSule a teoriad a
EducaçãoPatrimonialtambémserevelouimportanteparaoentendimentodoprocessode
EducaçãoPat rimonial,assimcomoolevantamento,porme iodarevisãobibliográfica,de
aspectos inerentes ao Turismo Cultural,  enquanto uma prática social apoiada no s bens
patrimoniaisdalocalidade.
2.1Metodo logiada EducaçãoPatrimonial
ApráticadaEducaçãoPatrimonialconsisteemcriarsituaçõesdeaprendizagemem
torno  do patrimô nio cultural, levando os participantes a relacionálo com sua vida
cotidiana, dentro de uma cont extualização possibilitada pela problematização do objeto
cultural, utilizando a surpresa para despertar a curiosidade e interesse pelo tema no
educando, tanto em propostasde educação formal, como na informal. O objetivo de se
tomar um objeto ou bem cultural como fonte primária de conhecimento res ide na
decomposiçãodaredederelaçõessociaiseocontextohistóricosocialdesuaprodução,a
queseatribuiuvalor.Logo,oobjetivodaEducaçãoPatrimonialées miuçar,apartirdeum
(ouumconjuntode)objeto,todaumaformadevidadaspessoasnopassadoenopresente,
dentro da perspectiva d e continuidade e transformação. Para atingir esses objetivos, no
casodaeducaçãoformal,osprofessorespodemtrazerosobjetosparaasaladeaula,ou
levarosalunosaoencontrodosobjetosculturais,paraquese jamobservadosevivenciados
emseuambient enaturalounoambientemuseológico,funcionandocomopeçachavepara
aconstrução doconhecimento(HORTA
etal
,1999).
Duarte(1994)pontuaosobjetivosdaEducaçãoPatrimonial,asaber:
48
a)Desenvolver atitudesdepreservaçãoeanimação dopat rimônio;
b)Conheceropatrimôniodazonaemqueaescolaestáinserida;
c)Incentivar ogostopeladescoberta;
d)CompreenderaHistóriaLocalapartirdaHistóriaNacional.
O foco de trabalho da referida autora est á no processo deEducação Patrimonial
desenvolvido  pelo Serviço E ducativo dosMuseusqueseencontra dispo nívelem muitos
museus de Portugal, cuja função  é estabelecer um vínculo entre a instituição e a
comunidade. Para Duarte, o museu precisa ser “vivo”, ao passo que o visitant e deve
estabelecercomascoleçõesdomuseuumar elãodefruição,emvezdaabsorçãopassiva
deinformaçõestransmitid asaolongodeumasimplesvisitaguiada:“avisitaguiada,cheia
dedatasenomes,reportanosàfamíliataletal,aorei,àrainha,nuncaaopovoanônimo,à
comunidade,aoimagináriocoletivo”(DUARTE,1994,p.8).Duarte(1994)nosensinaque
a relação escolacomunidademuseu ocorre por força de três funções que se
complementam: “troca de recursos e esforços humano s,  potenciais incomensuráveis de
forma ção,criaçãoartísticaeconservaçãointegradadopatrimô nio”(DUARTE,1994,p.9).
Segundo Horta
et al
(1999), a investigação acerca de um objeto cultural deve
começar com indagações quanto a aspectos físicomateriais, desenho/forma, função/uso,
construção/processo, valor/significado,queservirãodebaseparaasdiscussõeseanálises
queemsuasconclusõeslevarãoao conhecimentodoobjetoestudadoemsetratandodeu m
objetotangível. Deacordo com oGuiaBásicode Educação Patrimonial(HORTA
etal
,
1999,p.11),talprocessodeveserdesenvolvidoobservandoseasseguintesetapas:
49
Quadro1–EtapasmetodológicasdaEducaçãoPatrimonial
Etapas Recursos/ Atividades Objetivos
1)Observação Exercícios de percepção
visual/sensorial, por meio de
perguntas manipulação,
experimentação, medição, anotações,
comparação, deducão, jogos de
detetive...
Identificação do
objeto/função/significado;
desenvolvimentodapercepçãovisuale
simbólica.
2)Registro Desenhos,descriçãoverbalouescrita,
gráficos,fotografias,maquetes,mapas
eplantasbaixas.
Fixação do conhecimento perceb ido,
aprofundamento da observação e
análisecrítica;
desenvolvimento da memória,
pensamento lógico, intuitivo e
operacional.
3)Exploração Análisedoproblema, levantamentode
hipóteses, discussão, questionamento,
avaliação, pes quisa em outras fontes
como bibliotecas, arquivos,cartórios,
instituições,jornais,entrevistas.
Desenvolvimento das capacidades de
análise e julgamento crítico,
interpretação das evidências e
significados.
4)Apropriação Recriação, releitura, dramatização,
interpretação em diferentes meios de
expressão como pinturas, escultura,
drama, dança , música, poesia, texto
filmeevídeo.
Envolvimento a fetivo, internalização,
desenvolvimento da capacidade de
autoexpressão, apropriação,
participação criativa, valorização do
bemcultural.
Fonte:HORTA
etal
,1999,p.11.
Horta
etal
(1999)chamaaat ençãoaindaparaasistematizaçãodoprocessocom
definição  dos objetivos e resultados pretendidos, quais as habilidades, conceitos e
conhecimentos se pretende construir ao longo do processo. Toda a interação entre os
participantes do processo de Educação  Patrimonial e o patrimônio (se ja um tio,
monumento,etc.)nasceapartirdequestõesdecaráterinvestigatóriotaiscomo :ondeele
estásituado,comoe leseinserenapaisagemnatural,quantasestr uturasexistiam,deque
eramfeitas,paraqueserviam,quantaspessoasviviamali,cujasr espostasdadasnuncao
com certezas, apenas com probabilidades,  devido a análise da evidência material
disponível e de pesqu isa e m fontes secundárias como  do cumentos, livros, cartas, etc.
Entendese,portanto,haveracaracterísticadecomplementaridadepresentenasfontesque
subsidiamotrabalhodaEducaçãoPat rimonial,sejamelasoraisouescritas,monumentos
oufont esmuseológicas,entreoutras.
ParaVillagrán(2000,p.256) “aformulaçãodeumaperguntasobreoobjetoéjáo
estabelecimentodeumvínculo,éumapropostadetrabalho,éaincip ientecolocaçãodeum
50
problema de pesquisa, o passo inicial de uma aproprião”. Permitir ao educando a
liberdadedapergunta,doquestionamento,exige,todavia,arenúnciadaspráticasdeensino
tradicionais, burocráticas, pautadas na centralização do conhecimento na figura do
professor. Tal posicionamento exigiria, sobretudo, “renunciar às certezas, à enganosa
onipotência de saber tudo o que não foi perguntado. Renu nciar também a pautar a
sensibilidade do aluno, masdarlhe os instrumentos para desenvolver essa sensibilidade
semlimitála”(VILLAGRÁN,2000,p.256).
A respeito das evincias materiais, Nogueira (2003, p. 103) chama especial
atençãoaosmuseus:
Osartefatossãonãosóelementosdepreservaçãodacomunidade–mantendo
destaformaamemóriasocialdessemesmogrupo–,comotambémelementos
dereconstrução deidentidades. E osmuseuscomo espaços vivos,espaçosde
interpretaçãodoreal,espaçoscontadoresdehistóriasdo“Eu”edo “Outro”,são
por conseguinte lugares privilegiados e evocativos da diversidade cultural
humana.
Duarte (1994), ao compartilhar a visão de Nogueira, defende que o sentido de
museunãopodesermaisaqueledeépocaspassadas,quandoomuseueraconsid eradoum
túmulodamemória”.Acontemporaneidadepedequeomuseusejaumainstituiçãoviva,
espaço polivalentedeanimação,recursoinevitáveldaescolaepo nteentreopassadoeo
presentedascomunidades.Valesalientar,quedentreoutras,areferidaautoraatribuiuma
perspectivalúdicaaopatrimônio.
O enfoque interdisciplinar é outra característica do processo de Educação
Patrimonial,à medidaquepermitiria a observação deum bem cultural sobo prismade
diversas disciplinas: história (desenvolvimento e organização dos antepassados),
matemática (estudo das formas geométricas encont radas nos edifícios, medição de sua
altura,área,etc.),geografia(elaboraçãodemapaseplantas,registrospopulacionais,et c.)
dentreváriasoutras.Aidéiaéqueosbensculturaistransformadosemobjetosdeestudo
possam ser vinculados aos conteúdos programáticos das disciplinas curriculares,
extrapolandoas,todavia,mesmoporquetodaleituradisciplinarsemostrainsuficientepara
explicaroobjetoestudadoemsuacomplexidade.
51
2.2Metodo logiade pesquisa
Para aconstrução da presente pesqu isa, utilizouse os pressupostos da Educação
Patrimonialeaquelesconsagradospelapesquisaetnográfica,contextualizadanocorpodo
presentetrabalhosoboolhardePauloFreireeEdgarMorin.Apropost aincluiumestudo
decasocomoformadeaproximaçãoeproblematizaçãomútuadateoriapelapr áticaeda
práticapelateoria.
Paraampliarasposs ibilidades metodológicasdaEducaçãoPatrimonial,aetnogr afia
significa uma contribuição importante, à medida que permite, a partir da observação
participante,queseestabeleçamrelaçõeseconsideraçõesarespeitododesenvolvimentoe
aplicação das categoriasde análise Patrimônio Cult ural e Educação Patrimonial, no que
concerneoestudodecasodapresentepesquisa.
ParaGeertz(1989),apesquisaetnográficaconsistenumadescriçãodensa,realizada
a partir das construções feitas pelo pesquisador, que toma como ba se, po r sua vez, as
construçõesdossu jeitosdasaçõesouprocesso s observados.
Segundoaopiniãodoslivrostextos,praticaraetnografiaéestabelecerrelações,
selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear
campos, manter um diário, e,assim por diante. Mas não são essas coisas, as
técnicas e os processos det erminados que definem oempreendimento. O que
defineéotipodeesforçoin telectualqueelerepresenta:umriscoelaboradopara
uma'descriçãodensa'(GEERTZ,1989,p.4).
Aetno grafia,porsuavez, poderiaserclassificadacomoumaexperiênciade
imersãonogrupoestudado:
(...)nãoconsisteemcoletar,atravésdeummétodoestritamenteindutivo,uma
grande quantidade de informa ções, mas em empregnarse dos temas
obsessionaisdeumasociedade,deseusideais,desuasangústias.Oetnógrafoé
aquelequedevesercapazdevivernelemesmoatennciaprincipaldacultura
queestuda(LAPLANTINE,2003,p.149).
52
2.2. 1EstudodeCaso:
No intuito de apreender a realidade e dinâmica do processo de Educação
Patrimonial, como fundamental para a consc ientização da comunidade quanto à
valorizaçãodoseupatrimônioculturalesuasconseqüênciasparaamesmaenquantogrupo
social, tomase como objeto de estudo o Programa de Educação Patrimo nial do Museu
Municipa l de Caxias do Sul, instituição vinculada ao Departamento de Memór ia e
PatrimônioCultural,órgãosubordinadoàSecretariadeCulturadaPrefeituraMunicipal de
Caxiasdo Sul,de modo aconfrontaroqueserealiza na práticae a teoriadaEducação
Patrimonial.
A importância do estudo de caso, segundo Triviños (1987, p. 11) é “fornecer o
conhecimento aprofundado de uma realidade delimitada de forma  que os resultados
atingidos podem permitir e formular hipóteses para o encaminhamento de outras
pesquisas”. Considerase esta proposta metodológica apropriada ao estudo em questão,
tendoemvistaumaaproximaçãocrít icaàteoria e metodologiadaeducaçãopatrimonial,
avaliandosuapossívelcontribuiçãoaoturismo,alémdaincipienteproduçãobibliográfica
disponível atualmente no que diz respeito à relação ent re essas duas temáticas. Esta
proposta de investigação caracterizase, conforme classificação de Bogdam (
apud
TRIVIÑOS,1987), comou mestudodecaso observacional,ondeatécnicade coleta de
informaçõesmaisimportanteéaobservaçãoparticipante.
SegundoDemo(1999),apesquisaparticipanteécaracterísticaàspesquisassociais
comprometidas com o processo educativo. Pretendese, por meio do confronto entr e a
objetividade presente na teoria e a subjetividade que envolveos atores sociais nas suas
práticas, captar a realidade concret a das atividades do Museu Municipal ligadas ao
Programa de Educação Patrimonial, tendo como perspectiva que tanto o pesquisador
quanto o grupo estudado o sujeitos cognoscentes que busc am desvelar a realidade
concreta(FREIRE,1999).ParaFreire:
arealidadeconcretaéalgomaisquefatosoudadostomadosmaisoumenosem
simesmos.Elaétodosessesfatosetodosessesdadosemaisapercepçãoque
delesestejatendoapopulaçãonelesenvolvida.Assim,arealidadeconcretase
dáamimnarelaçãodialéticaentreobjetividadeesubjetividade (FREIRE,1999,
p.35).
53
Ascategoriasdeanálise,pormeiodasquaisseconfrontaráateoriaeapráticada
EducaçãoPatrimonialsãoasetapasmetodológicasdesteprocessoformuladasporHorta
et
al
(1999):observação,registro,exploraçãoeapropriação,conformeconstanoInstrume nto
depesquisa1(ApêndiceA).
Aobservaçãoserácentradanos seguintespontos:
 Naformacomoopatrimônioéutilizadodentrodoprograma ;
 Nocontatoestabelecidoentreobemculturaleosujeito cognoscente;
 Nograudeparticipaçãoeenvolvimentodossujeitos cognoscentesduranteoprocesso
(relaçãodialógica);
 Naposturadomonitor/educador/mediadorduranteoprocesso;
 Nasistematizaçãodoprocesso;
 Naperspectivalúd icadas atividadesrealizadas;
 Naaproximãoentreobemculturalearealidadedoeducando.
O Programa de Educação Patrimonial em estudo subdividese em oito projet os,
conformeinformaçãodisponibilizadanositedaPrefeituraMunicipaldeCaxiasdoSul
7
:
 AulanoMuseu;
 CaixasdeMemória;
 Ext ramuros;
 Olhoaolho;
 Depalavraempalavra;
 Concertosaoentardecer;
 Emsinto nia;
 Casasdememória.
Dentreoscitadosprojetos,somenteaqueleemrealizaçãodentrodoespaço sicodo
MuseuMu nicipalserátomadocomoobjetodeobservação,ouseja,aAulanoMuseu,tanto
pelofatodoMuseuseremsuanaturezaumespaçoeducativo,comopor setratardeuma
institu içãoque,namaioriadascidades,temforteapeloturístico.
7
Dispovelemhttp://www.caxias.rs.gov.br.Úl timoacessoem07/10/2005.
54
Aobservaçãoparticipanteteveacomplementação dosseguintesinstrumentosde
coletadedados:
a) Entrevista semiestr uturada: Foram entrevistadas três monitoras, duas professoras do
Programa(ascincofuncionáriasdiretamenteligadaseresponveispelodesenvolvimento
daAulanoMuseu)eaDiretoradoMuseu,cujasentrevistastiveramseufocovoltadopara
oentendimentoqueasmesmastêmemrelaçãoascategoriasemanálise,ouseja,Turismo,
Patrimônio Cultural e Educação Patrimonial, facilidades, problemas e resultados
percebidosquantoàrealizaçãodoprojetodoProgramaemanálise,conformeInstrumento
dePesquisa2(ApêndiceB). OutrapessoaaserentrevistadafoiaProf.aMs.MariaBeatriz
PinheiroMac hado,quetrabalhounaconceãoeinstrumentalizaçãodoProgramadur ante
agestão municipalde20002004.
b) Aplicação do Instrumento dePesquisa 3 (Apêndice C) junto  a dois grupos distintos:
participantesdaAulano Museu,tambémchamadosdeGrupoExperimental,eoutrosque
nãotiverampassagempeloprojeto,oGrupodeControle,afimdeaveriguarseaAulano
Museu altera efetivamente a percepção dos seus participantes quanto ao patrimônio
cultural represent ado pelo acervo deste espaço cultural. O questionário aplicado é uma
adaptaçãodaqueleformu ladoeutilizado porMagaliHelenadeQuadrosemsuadissertação
deMestradoemTurismodefendidaem2003,naUniversidadedeCaxiasdoSul,intitulada
“A encenação teatral em Mu seu Histórico co mo fator de compreensão da identidade
cultural”(QUADROS,2003).Oobjetivodocitadoinstrumentodepesquisaeracaptarse
umaencenaçãoteatralpoderiaalterarpositivamenteoníveldecompreensão,porpartede
turistas que visitaram o Museu de Ambiência Casa de Pedra, acerca do cotidiano dos
primeirosimigrantesitaliano s, elevandoporconseqüênciaograudesatisfaçãoemrelação
àquela experiência turística. Tendo em vista que o Museu Municipalcomo o Museude
AmbiênciaC asadePedratemcomoobjetoocotidianodosprimeirosimigrantesitalianos
dareg ião,optouseporutilizardeformaadapt adaomesmoinstrumento,umavezqueo
mesmojáhaviasidotestadoevalidadoenquantoinstrume ntodepesquisacientífica.Foram
aplicadosquestionárioscomdozeperguntasfechadaseumaperguntaabertaaalunosde
terceira,quarta,sétimaeoitavaséries,numtotalde72estudantes,oGrupoExperimental.
Ast urmasforamescolhidasa leatoriamenteconformeagendamentonoMuseu,observando
55
se apenas a não repetição de turmas, a fim de atingir sujeitos com diferente vivência
escolar. Também responderam ao questionário alunos das mesmas séries acima citadas,
antesdarealizaçãodaAulanoMuseu,numtotalde74estudantes,afimdeutilizarsuas
respostascomogrupodecontrole,paraquesepudessevalidaravisitapeloacervocomo
um elemento que po ssibilita ou facilita a aquisição de novos conhecimentos. Todos os
sujeitos(146)queresponderamosquestionários,tantoosdogrupoexperimental,quantoos
do grupo de co ntrole residem em Caxias do Sul.  As escolas que tiveram turmas
representadas naamostradestapesquisasãoaEscolaMunicipaldeEnsinoFundamental
FioravanteWebber,EscolaEstadualdeEnsinoMédioProf.ApolinárioAlvesdosSant os,
EscolaMu nicipaldeEnsinoSantaCoronaeColégioEstadualImigrante.Osquestionários
foram respondidos na Sala de deo do Museu, com o acompanhamento e instrução da
pesquisadora e auxílio das mo nitoras, tendo em vista que, devido ao tempo disponível
pelasturmas,seriainviávelcolherasrespostascomosestudantesumaum.
c)Anotõesdecampo:r egistrosdeobservaçõesereflexõesdapesquisadoraaolongodo
trabalhodecampo,queresultaramemdoiscadernosdeanotações.
d) Reg istro fotográfico das atividades observadas, utiliza ndo, para tanto, mera digital
SonycybershotDSCP43,4.1megapixels.
No estudo de caso da present e pesquisa, pro põese, através da observação
participante,realizarumaimersãonogrupoeprocessoestudados,demodoacompree nder
alémdaformacomooprocessoserealiza,o porquêdasuarealização,quaisseusobjetivos
epossíveisresultadosapresentadospelossu jeitosqueneletomampart e.Naprática,isto
equivaleàrealizaçãodeváriasvisitasao MuseuMunicipal,aprincípio,parafamiliarização
com o espaço e com aqueles que nele vivemseu diaadia, e,  posteriormente, a fim de
atenderasetapasmetodológicasestabelecidasparaapresentepesquisa. 
Apartirdoolharetnográfico,acompanharamseturmas,desdeomomentodesua
chegadaaoMuseuatésuasaída,rea lizaramseentrevistasgravadascomosprofissionais
diretamente ligados ao planejamento e execução da Aula no Museu, além de infinitas
conversaisinformais,tãoenriquecedorasquantoàquelasquepuderamserdocumentadas.A
56
experiência foi enriquecida pelo contato direto vivenciado com os estudantes durante a
realização  da Aula noMuseu,da mesmaforma quejunto  àsprofessorasdas escolas,as
quaistambémtiveramimportantepapelnaconstruçãodadescriçãodensadaAulaedas
reflexõesqueseapresentamnocapítuloseguintedapresentepesquisa.
Podeseafirmar que a pesquisadora foi, ela própria, um sujeito cognoscente, em
buscadaconstruçãodoconhecimentopossibilitadopelaobservação participantedaAula
no Museu, ainda que o conheciment o pretendido pela me sma não fosse aque le
intencionadoparaopúblicoestudantil.
Desde o pont o de vist a temporal,  o trabalho de campo, iniciouse no mês de
fevereirode2005,quandoforamfeitasasprimeirasvisit asparacoletadedadossobreo
Museu Municipal, complementadas, por sua vez, po r informações obtidas junto à
Professora Maria Beatr iz Pinheiro Machado, importante figura na elaboração e
instrumentalização do Programa em análise, dur ante a gestão municipal anterior. Esta
primeira etapa de coleta de dados visou a e labo ração do Projeto de Qualificação,
apresentadoemmaiode2005.EntrefevereiroemarçoforamfeitastrêsvisitasaoMu seue
umaaoArquivoHistóricoJoãoSpadariAdami.AprimeiraAulanoMuseuacompanhada
pela pesquisadora ocorreu no dia 10 de junho de 2005, mas, ainda, sem atenção a u ma
proposta metodológ ica definida. Entre os meses de julho e novembro de 2005 teriam
ocorridocercadequ inzevisitasaoMuseu,pormotivosdiversos:paraoacompa nhamento
dasAulasnoMuseu(atendendo,então,aoscritériosmetodoló gicosestabelecidos),paraa
realização dee ntrevistasjuntoàequipeligadaao ProgramadeEducaçãoPatrimonial,ou
aindaparaconsultadedocumentosoumaterialbibliográfico.
2.3OMuseuMunicipaldeCaxiasdoSul.
O Museu Municipal de Caxias do Sul caracterizase como um museu histórico.
Nele, numa det erminada época do passado e uma definida sociedade podem ser
identificadas e compreendidas através de d iversos testemunhos. Estes testemunhos nada
maissãoqueobjetosdeusopesso al,instrumentoseferramentasdetrabalho,ornamentos
decorativo s,  imagensreligiosas,brinquedos,documentos,enfim,objetosproduzidospelo
homemeporeleutilizados, pararelac ionarseecriarseumundo.
57
OMuseuMunicipalde CaxiasdoSulfoicriadoem3deoutubrode1947,pelo
entãoprefeitoDemétr ioNiederauer.Dasuacriãoaté1967,permaneceuemumprédio
próximo à Praça Dante Alighieri, de onde foi transferido para a sede do Centro de
Tradições Gaúchas,RincãodaLea ldade.Emmarçode 1975,duranteascomemoraçõesdo
centenário da Imigração Italiana no RS, o Museu Municipal foi reinaugurado em seu
endereço atual (Rua Visconde de Pelotas, 586, centro de Caxias do Sul). O prédio foi
construídoem1884,paramo radiadafaliaMorand iOtolini.Maistarde,oprédioserviu
comosededaIntendênciaMunicipal,e,posteriormente,daPrefeitura.Nelefuncionaram
váriosserviçosedepartamentosdaadminist ração,entreelesoFórum,aCadeiablica,a
Sede da Guarda Mu nicipal e a Escola Normal Duque de Caxias. Ao longo dos anos, o
prédiosofreualgu masreformaseacréscimo s, conservando,desuaarquiteturaoriginal,a
fachadaemestilocolonialportuguês.
Amuseografiaretrataatrajetóriadositalianoseseusdesce ndentesestabelecidosna
antiga Colônia Caxias,  desd e 1875. Como imigrantes, integravam o contingente de
trabalhadoresexcedentesduranteafasedeexpansãodocapitalismo  naItália.Entreeles,
estavamagricultores, marceneiros, carpinteiros, professores, pastores,tecelões, ferreiros,
entendidos na fabricação  de vinho s e laticínios,  etc. Junto com suas famílias, tomariam
possedasnovasterraserealizariamosonhodesetornarempatesdes imesmos. 
OacervopermanentedoMuseuMunicipaldescrevevisualmentea formadevida
dos imigrantes, seus descendentes e as relaçõ es estabelecidas com as demais etnias
presentesnaregiãoeo pr ocessodeocupaçãoeapropriaçãodoespaço.SegundoDale
Machado(2000),amuseografiaimplementadateveporpreocupação“disporosobjetosem
uma seqüência lógica que fizesse sentido para todo s os visitantes e não para
especialistas,produzindoumdiscursomuseológ icointeligívelatravésdaproduçãomaterial
ali exposta”. Assim, segundo os autores a idealização  da nova terra, as incertezas da
viagem são retratadas na primeira sala. A seguir, vêemse os objetos e utensílios que
ajudavam os imigrantes a superar as condições impostas pelo meio e a tristeza da
separação, criando condições para construir uma nova vida. As habilidades e t écnicas
traduzemsenosespaçosdedicadosaolinho,dressa,taquara,cievime.Aquitambémse
visualizaariquezadareg ião,traduzidanosinstrumentosutilizadosnaproduçãovinícola.
Ascaracterísticasdoespaçourbanosãoconfiguradasnaterceirasala,seguidada artesacra
que,atravésdasimagensr ústicasdesantosenaprofusãodeparamentosealfa ias,traduza
58
relig iosidade dos imigrant es. O baratilho e a reprodução do interior de uma funilaria
destacamo significadodo comércioeda indúst rianaregião. Aúltimasalaapresentaas
diferentes formas de lazer e, daí, podese chegar ao pátio externo, que abriga peças de
ferro,bronze,pedraebarro.
De fo rmasuscinta,podeseapresentar osambientesquecomemocircuito de
visit açãopeloacervodoMuseuMunicipal:aviagem,otrabalho,acozinha,amarcenaria,
o tropeiro (o comércio), o artesanato,o  vinho (a vitivinicultura), a saúde, o quarto das
famílias,aartereligio sa,aartecemiterial,omercado(abodega),aindústria(aEberle),o
divertimento(osbrinquedo s).Porfim,asaladeexposiçõesitinerantes.
O Museu Municipal teve sua inscrição no Livro do Tombo de Caxias do Sul
realizadaem28denovembrode2001.
Figura1:FachadadoMuseuMunicipaldeCaxiasdoSul
Fonte:www.caxias.rs.gov.br
59
2.4OProgramadeEducaçãoPatrimo nialdoMuseuMunicipaldeCa xiasdoSul
As informações que se seguem foram ext rdas da entrevista realizada com a
ProfessoraMariaBeatrizP.Machadoedeumartigo
8
redigidopelamesmaepeloPro fessor
JuventinoDalBó,noqualsãodescritosapropostageraleosprojetosquecomemo
ProgramadeEducaçãoPatrimonialdoMuseuMunicipaldeCaxiasdo Sul.
Em 1996, às vésperas de uma eleição municipal, foi iniciado um diagnóstico
preliminardasituaçãodopatrimônioculturaldac idadedeCaxiasdoSul,comoprimeira
etapadaelaboraçãodeumapropostadegovernoaserdesenvolvidanaáreacultural,pelo
entãocandidatoaPrefeito.Essediagnóstico foir ealizadoporumgrupodepessoasque,em
suas discussõese análises, concordavamcom a necessidade dese empreender ações no
campo da Educação Patr imonial. To davia, essas açõ es ainda não se configuravam no
formatodeumprograma.
Passada a eleição, em 1997 (com a vitória do candidato em questão), a equipe
partiudodiag nósticopreliminarparaumaaveriguaçãomaispormenorizadadascondições
do patrimônio cultural da cidade, deparandose, então, com uma situação inesperada:
prédios que não ofereciam segurança ao s seus usuários (Arquivo Histórico); outros em
estado de interdição (reserva técnica do Museu Municipal); assim como edificações
tomadas por problemas, como veget ação por toda a parte, sujeira, material de limpeza
espalhados no interior dos ambientes, infiltrações, problemas com fiação elétrica, entre
outro s (Casa de Pedra, Monu mento Nacio nal ao Imigrante), além de todo um acervo
museológicoearquivísticoacomodadodemaneirainadequada,chegandomesmoatersua
conservaçãocomprometida.
Face a este quadro, decidiuse pensar um programa de Educação Patrimonial,
dividido em vários projetos, cuja primeira fase seria a de arrumar a casa”
9
ou seja,
empreenderas reformas,restauraçõeserevitalizaçõesqueosprédios quecompunhamo
patrimônioculturaldacidade,sobatuteladaAdministraçãoPública,necessitavam.Fezse,
8
DALBÓ,J.;MACHADO,M.B.P.Memória,educaçãoecidadania.RevistaCiên cia seLetras.Porto
Alegre;n.27,jan/jun2000,p.259276.
9
Aexpressãoarrumara casaéempregadanafaladaProfessoraMachadodurantesuaentrevista,assimcomo
constaaexpressãocasaarrumadanoartigopublicado emrevistacientíficaredigidopelamesmaprofessora.
60
então, uma reforma na Casa de Pedra; reconstruiuse  o prédio interditado do Museu;
organizouse o acervo museoló gico deste último dentro de uma nova concepção
museográfica;interferiusenoMonumentoNacionalaoImigrante;reformouseoprédio do
Arquivo Histórico, com a organização e classificação dos seu s documentos, agora,
obedecendoacritériosdetratamentoepreservaçãodedocumentação.Valedestacarque,
namedidadopossível,acomunidadefoiconvidada afazerpartedestemovimentoemprol
da recuperação  dos lugares de memó ria. Exemplo disso são os artesãos que foram
convidadosarecuperaromobiliáriodanificadodoacervodoMuseu,eoClubedasMães,
queatravésda colaboraçãodealgumasde suas associad as, deu umoutrosignificado às
cortinasqueenfeitamasparedesdoMuseu,cadaumadelasdecoradacomumabarrade
crochêdiferentedasdemais.Aidéiadeengajaracomu nidadenarecuperaçãodoacervo
cultural da cidade já era entendida dentro de uma filosofia de Educação Patrimonial, à
medidaque modificava a idéiacorrente dequecabe exclusivamente ao Poder Públicoa
responsabilidadepelasalvaguardaepreservaçãodopatrimôniocu lturalcoletivo.
Em 1998,estandoco ma“casaarrumada”foram,então,delineadosos oitoprojetos
quecomporiam oprogramadeeducaçãopatrimonial,todosinterligadosecomplementares,
apesardesuascaracterísticasdiversas.Istoposto,foilançadaoficialmenteasegundafase
do Programa de Educação Patrimonial, com o intuito de qualificar o profissional da
educação, assim como a população escolar e a comunidade em geral a trabalhar com o
patrimôniocultural.
A elaboração e concretização desses projetos levaram em consideração as
discussões atuais sobre a conceituação de patrimônio cultural co nsiderado como toda a
produçãohumana,deordeme mocional,intelectualematerial,independ entedesuaorigem
e época ou aspecto formal, bem como a natureza, que propiciem o conhecimento e a
consciência do homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o rodeia (DAL BÓ;
MACHADO,2000,p.270).
Observasequeacriaçãodo programadeEducaçãoPatrimonial,emquestão,nasc e
da observão de uma realidade dada e do desejo de mudança da situação observada,
tomando como base, contudo, referenciais teóricos que subsidiaram as ações a ser
desenvolvidas.
61
Osprojetosquecomemoprogramadeeducaçãopatrimonialqueseenco ntram
ainda em atividade (alguns dentre os projetos listados no site oficial do Programa não
teriam sua continuidade observada atualmente) são os segu intes: Caixas de Memórias,
Olho a Olho, Extramuros, Concertos ao Entardecer, De Palavra em Palavra e Aula no
Museu(objetodeobservaçãodestapesquisa).
2.4. 1ProjetoCaixasdeMemória
A essência do projeto ‘Caixas de Memória’ está na exploração de um kit de
materialteóricoeprático,oferecidopeloMuseuparaqueoprofesso rleveparaasalade
aula.Afilosofiada‘CaixadeMemória’ébaseadanapedago giaciointerac ionista,que
pressupõeaconstruçãodoconhecimentopelacriançaenquantooeducadorparticipacomo
mediador. Logo, o bom aproveitamento dos materiais contidos na ‘Caixa’ depende
fundamentalmente da capacidade do educador na exploração destes materiais. Por este
motivo, o projeto prevê assessoria às escolas interessadas em trabalhar com a ‘Caixa’
atravésdeoficinas,palestraseencontros.Okitécompostopordoistiposdemateriais:um
conjuntodestinadoàexploraçãopeloeducando,mediadopeloeducador,eoutrovoltado
para a instr umentalização do educador. O conjunto destinado à observação, registro,
exploração e apropriação
10
é formado por documentos arquivísticos: escrituras, cartas,
bilhetes,jornais,convites,receitas,entreoutros;edocumentosmuseológicos:exemplares
de trabalhos manuais (bordados,tri, flores de papel, bonecas de pano, etc.) e objetos
comolampiões,talheres,lousa,estatriadesantoseoutros(MACHADO,2002).
OMuseuelaborou‘CaixasdeMemória’comperspectivasdistintasdeabordage m:
a ‘Caixa’ dos Indígenas do Rio Grande do Sul tem um enfoque mais vo ltado para a
ludicidade, sendo composta, além de subsídio teórico, po r brinquedos e instrumentos
musica is,entreoutrositens.A‘Caixa’dosAlemães,porsuavez,est ámaiscomprometida
comapesquisa,comficháriossobreoimigrantealemãoesuaparticipaçãonaRevolução
Farroupilha, por exemplo . No total o Museu oferece seis 'Caixas de Memória': duas
centradanatemáticadosimigrantesItalianos;duasnadosgrupament osIndígenas;eduas
nadosimigrantesAlemães.
10
Seguese aquiasetapasrecomendadasporHorta
etal
(1999).
62
Okitpodeser,ainda,complementadopordeosemconsonânciacomoo bjetivo
dotrabalho, produzidospeloDepartamento de Memória ePatrimônioCultural, que,por
seuturno,constituemoprojeto‘OlhoaOlho’.
Figura2:CaixadeMemórias
Fonte:FabianaSales
Figura3:CaixadeMemórias(conteúdo)
Fonte:FabianaSales
63
2.4. 2ProjetoOlhoaOlho.
Este projeto disponibiliza vídeos produzidos pelo Departamento de Memória e
PatrimônioCulturalparaprofessoresecomunidadeemgeral.Essesvídeossãoresultados
depesquisasfeitassobreosacervosarquivísticosemuseológicodoArquivo Históricoe
MuseuMunicipal,respectivamente.Va ledestacarque,aocontráriodoqueseimagina,a
Coordenação do Programa estimula a multiplicação  das pia s dos vídeos pelos
professoresecomunidade,com ointuitode disseminar e tornarcadavez mais acessível
esseinstr umentoquepodeauxiliarnaconstruçãodoconhecimentoemtornodoPatrimônio
Cultural dacidade.
Osvídeosproduzidosedisponibilizadostêmossegu intestít ulos:
AzaresdaSorte– OjogonavidadosmoradoresdeCaxiasdoSulearredores.
OFiodaHistória–MemóriasdeCaxiasdoSulesuagente.
OsItalianosnoRioGrandedoSul
OutrasMulheres– OuniversodotrabalhofemininoemCaxiasdoSul
Sementes–VidaepoesiadeÍtaloJoãoBalem
EstaçãodoVinho
MúltiplosPerfis–ApaisagemeohomemdointeriordeCaxiasdoSul
ImagensdaCidade–Ocinemacomofontedahistória
PoesianoTempo
PontoaPonto–Amulhereostrabalhosmanuais
OEspíritodasCasas
64
Figura4:VídeosparaempréstimodoProjeto OlhoaOlho.
Fonte:FabianaSales
2.4. 3ProjetoExtramuros
O projeto Extramuros tem por finalidade dinamizar a utilização do Museu
Municipa l,pormeiodeu mespaçodestinado aabrigarexposiçõestemporárias,deforma
que os docume ntos expostos estejam sendo constantemente renovados. No entanto, este
projet o visa, também, permitir que tais exposições tornemse itinerantes, podendo ser
emprestadas a escolas, empresas e associações e, assim, atingir um blico maior que
aquele que visita o Museu. O projeto dispõe de mais de 40 exposições compostas por
fotografias,
banners,
pôsteres,colagens,quadros,desenhosetextos.
2.4. 4 ProjetoConcertosaoEntardecer
OsConcertosao Entardeceroco rrem no último domingodecada mês– nãopor
acaso odiadopasselivreno sônibu sdacidade–desdesuaprimeiraediçãoem1993.Seu
objetivo é permitir ao público a oportunidade de conhecer e apreciar a música erud ita.
Argumentase que os Concertos possuam caráter didático, uma vez que as peças são
sempre antecedidas por uma breve contextualização da obra e autor apresentados. Ao
65
longo dos anos, os Concertos têm tido um blico fiel, e atualmente são realizados no
CentroMunicipaldeCult uraHenriqueOrdovásFilho.
2.4. 5ProjetoDePalavraemPalavra
OMuseu Municipaleo Arquivo Históricopossuem, há maisde vinte anos,  três
publicaçõesdidáticasvoltadasparaavidadeCaxiasdoSuleseusmoradores:‘Memória’,
referente àhistória dacidade; ‘Ocorrências’, voltada paraas exposiçõesdoMuseu e do
Arquivo, privilegiando a história oral; e, Cenas’, que trabalha a partir da produção
fotográficaocorridanaregião.Aessasduasacrescentaramseo‘Mirante’,quedivulgaa
história dos prédios, parquese praças de Ca xias do Sul e Caleidoscópio’, que abrange
assuntosdiversos.
2.4. 6ProjetoAulanoMuseu
OobjetivodaAulanoMuseuéodeutilizarasevidênciasmateriaisdisponíveisno
acervo museológico para a construção do conhecimento dentro da perspectiva de
interd isciplinaridadequealeituradoobjetopermite.Aaçãosecentralizanatransposição
doobjetoenquantotestemunho para oobjeto quedá vazãoaodiálogo, quepossibilitaa
reflexão sobre o momento presente através da exploração dos objetos do passado.  A
problematização do objeto cultural, tendo como ponto de partida a visão de mundo do
educando,sintetizaaessênciadaAulanoMuseu.
A observação, descrição, comparação, ar gumentação, compreensão,
interpretação,análise,ntese,sãoalgumasdashabilidadesdepensamentoque
sãotrabalhadasduranteopercurso,atendendoasespecificidadesdecadaturma,
objetivos estabelecidos pelo professor e conceitos fundamentais das áreas
envolvidas(DALBÓ;MACHADO,2000,p.271).
A exigência básica para o agendamento da Aula no Museu é o planejamento
conjuntoentreprofessoreosmonitoresdoMuseu,acercadosprocedimentosetemáticasa
seremdese nvolvidasantes,duranteeapósavisita.Aoperacionalizaçãodoprojet oconta
66
com a participação de estagiários, alunos do curso de graduação de História da
UniversidadedeCaxiasdoSul,que executamtarefaseatendemprofessoresealunossoba
orient açãodaCoordenaçãodoPrograma.
67
CAPÍTULO3:
AAULANOMUSEU
Estecapítulo visaapresentareanalisarosresultadosobtidoscomaaplicaçãodos
instrumentosutilizadosnapresentepesquisa.OdesenvolvimentodaAulanoMuseu,assim
comoaparticipaçãodasprofessorasdasescolas,são descritosbaseadosemobservações
feitas pelapesquisadoradur ante oacompanha mento dosgrupos.Em seguida,fazseum
confrontoentreametodologiasugeridapelateoriadaeducaçãopatrimonialearealidade
observada na Aula no Museu. Uma síntese das entrevistas realizadas com a equipe
responsável pe lo desenvolvimento da Aula, desde o planejamento até sua execução, é
apresentadanointuitodeforneceroentendimentoqueamesmatememrelaçãoaaspect os
fundamentais notrabalhocomeducaçãopatrimonial.Po rfim,osresultadosapresentados
nosquestionáriosrespondidosporestudantesqueparticiparamda Aulaeporout rosque
nãoo fizeram, mostramse aparticipação na AulanoMuseualterasignificativamente o
conhecimento que aqueles têm quanto a aspectos simples do diaadia dos primeiros
imigrantesitalianosaseinst alarnacidade,oquevemaserotemacentraldoacervodo
Museu Municipal.
3.1Objetodaobservaçãoparticipante:AAulanoMuseu
OpercursopeloacervopermanentedoMuseucomeçanasalaquesesegueàsubida
das escadas (piso superior). Nesta sala, encontramse os o bjetos relacionados ao
deslocamentodosimigrantesea lgunsutensíliosutilizadosnot rabalhonocampo.Passando
porumcorredorondeseencontram objetosdo inter iordacasa,especialmenteutensíliosda
cozinha,nofundodasalaestãoositensligadosaoartesanatoeàproduçãovinícola.Esse
percursoteriaoformatodeumaletraCinvertida.Apróximasalatraztambémobjetosdo
inter iordacasadosimigrantes,mas,descreveespecificamenteoquartodasfamílias.Na
terceira sala,têmsediversostiposdeobjetosquetraduzemareligiosidadedosimigrantes.
Descendoasescadas,reproduzseumestabelecimentocomercial,seguidodeumasalaque
68
representaafunilaria.Apr óximaeúltimasalaapresent abrinquedoseoutrosobjetosque
remetem ao lazer dos imigrantes italianos. Esta sa la dá acesso, à direita, ao pátio do
Museu,e,emfrente,àSaladeExposiçõesTemporárias.Opercursodestetrajetodurano
mínimoumahoraetrintaminutos,chegandoaduashoras,nocasodamonitoraseexceder
nasuaexplanação.
ApósachegadadogrupoaoMuseu,ondesãorecebidosporumadasmonitoras,as
atividadessãoiniciadasgeralmentecomaacomodaçãodosalunosnaSaladeVídeopara
apresentaçãodamonito raqueacompanharáogrupoedostrabalhosqueserãorealizados
durantea Aula no Museu. A entrada dosalunos é bastante barulhe nta,elesestão muito
inquietosecuriososporsaberoqueseráfeit o.Acuriosidadepelos objetos encontr adosno
trajetoentreaentr adaeaSaladeV ídeo(quetammpossuiseuprópr ioacervo)écomum
atodos. 
Normalmente,amonitoraperguntaao gruposealgmjáconheciaoMuseuequais
são os seus bairros de procedência, antes de introduzir a questão das várias etnias que
contribuíram para a construção de Caxias do Sul. É neste momento , também, que a
monitoradáascoordenadasdecomoogrupodevesecomportarquandoemcontatocomo
acervo:nãopodemportaralimentosnembebidas,devemmantersesemprejuntosenão
devemtocarnosobjetosexpostos.
De acordo com a faixa etária dos alunos, eles vão ao Museu mais ou menos
uniformizado s.  As turmas de terceira e quarta série, por exemplo, obedecem em maior
proporçãoaouniformeescolar,acrescentandoapenasalguns acessóriosdeescolhapessoal,
enquanto dentre os ado lescentes da sétima e oitava séries, a maioria vestese da forma
comodeseja.
Aaulapodeser iniciadacomaexibiçãodeum vídeoescolhidodeacordocom a
temáticaqueserátrabalhadaduranteocircuitopeloMuseu( ProjetoOlhoaOlho ),ouesta
atividadepodeficarpara ofinaldotrajetopeloacervo,conformeplanejamentopréviocom
aprofessoraresponsávelpelaturma,oquevemaser,porsinal,aprincipa lcondiçãopara
oagendamentodaAulanoMuseu:aida daprofessora daEscolaatéoMuseu,para acertar
com as monitorasas temáticas que serão abor dadasdurante a Au la, conforme conteúdo
curriculartrabalhadoemsaladeaula.
A Aula no Museu propriamente dita começa com a condução  e acomodação do
grupono pisosuperio rdo Museu,oprimeiroambientecomposto pelaspeçasdoacervo
69
(ambientedaViagem).Umavezqueo grupoestásentadonochãoemtornodamonitora,
esta começa a sua fala geralmente questionando os alunos sobre quais teriam sido os
motivosquelevaramos imigrantesadeixaremsuaterraesedeslocarematéoBrasil. O
gruponormalmentelançaváriasrespostas,algumas,porvezes,emtomdebrincadeira.O
grupoépermanent ementequestionadoelevadoàreflexãocombasenasperguntasqueo
acervopossibilita,como,porexemplo,oqueosimigrant esteriamtrazidonaquelasmalas
alidispostas(algumasdasquaisservem,inclusive,deencostoparaalgunsalunos).
Figura5:AulanoMuseu–ambientedaViagem
Fonte:FabianaSales
Em determinado momento da Aula no Museu, a monitora coloca que as
informaçõesqueelaestápassandofora mobtidaspormeiodepesquisaemdocumentação
disponívelnoArquivoHistórico .Ogrupoéacompanhado,namaioriadasvezes,porduas
professorasdaEscola,umaresponsávelpelaturmaeo utraqueapenasacompanhaogrupo,
possivelmenteparaajudaramantêloreunido,ouparaplanejaraidadasuaprópriaturma,
ou, ainda, porque se abordará durante a Aula assunto s relativos às disciplinas das dua s
70
professoras,ocupandohoráriosdeauladasduasdisciplinas,porexemplo,históriaeensino
relig ioso (isso, no caso, de turmas a partir da quarta série, quando as disciplinas são
divididasent reváriasprofessorasenãolecionadasporapenasumadelas,comoocorreaté
aquartasér ie).Écomum,ainda,queuma segundamonitoradoMuseuacompanheogrupo
como espectadora, caso não haja outra atividade a desempenhar naquele moment o. Ao
conduziru mgrupodefaixaetáriamaisavançada ,amonitorainiciasuafaladizendoque
quempossuidiplomas sãoasprofessorasdaEscola,queelaestáali paraaprenderjunto
comogrupoequeelesdevemconstruiraAulanoMuseue mparceria.
Dependendo da faixa etária, o comportamento do gr upo pode ser bastante
dispers ivo, o queexigequea monitora ( comousemaajudadaprofessoraresponsável)
esteja boa parte do tempo chamando a atenção quanto às conversas e brincadeiras
paralelas.Mas,viaderegra,agrandemaioriadosalunossedispersaumpoucoprestando
atençãonaquelesobjetos quelheestãomaispr óximos. Aoperceber que algumaluno se
destacaemrelaçãoàsconversasebrincadeiras,eventualment e,amonitoraacompanhaesse
aluno,tomandoopelamãoedirecionandosuaatençãoparaaexplicaçãofocadanoacervo.
A monito ra, sempre que possível, faz colocações engraçadas, em tom de
brincadeira,provocandoorisodosalunos,alémdeelogiosàc idade,co mo,porexemplo,
quandoperguntaaosalunos:“Caxiastábonitahoje,nãotá?”,paraexplicarcomoasoutras
etnias,enãoapenasaita liana,contr ibuíra mnesseprocesso.
A monitorasempre contextua liza determinada informação utilizando maisde um
objeto disponível no acervo, por exemp lo, quando explica a utilização de determinado
objetoexpostoee mseguidaapontaparaumafotografiaampliadanumquadronaparede,
ondeocitadoobjetoestavaefetivamentesendoutilizado.
Eventualmente, a monitora faz perguntas ao grupo deduzindo que eles já viram
determinados assuntos na Escola. Ocorre, muitas vezes, no entanto, de os alunos não
saberem responderouterem dúvidasquanto àsindagações, aopasso que a monitora os
incentivaarespondermesmoquenãoestejamcertosdaresposta.
AAulasedesenvolveessencialment eemcimadosquestionamentoslançadospela
monitora,oqueincitaogrupoàreflexão.Grandepartedogrupoparticipaseriamentedas
atividades, enquanto alguns se limitam a dar respostasou fazer comentários engraçados
quando lhesparecepossível.Apesardesemprepedirsilêncio enquantofala,a monitora
reclamaquandoaturmaésilenciosademaiseadeixafalandosozinha.Se,poru mlado,a
71
monitorapodeviraadotarumaposturaenérgicaquandoprecisadesilêncioeatenção,o
mesmo ocorre quando os alunos não respondem, nem perguntam nada durante sua
explanação. Tanto o excesso de conversa e dispersão, quanto a apatia percebida em
algumasturmas(normalmenteturmasdeadolescentes),sãocomportamentosindesejáveisà
Aula no Museu, de modo que a mesma insistência empregadapela monitora para pedir
silênc io,éo bservadaparaped irqueosalunosparticipemativamentedaAula.
A mo nitora está sempre fazendo menção, por meio do acervo, a atividades do
cotidianodogrupo,explicando,por exemplo,como,comosrecursosdisponíveisnaépoca,
os primeiros imigrantes levavam em média uma hora para fazer a famosa po lenta. A
monitoraressalta,ainda,comoadiferençad eclassessociaispodeserobservadapormeio
dos utensíliosdomésticosutilizados pelasfamíliasdeimigrantes.NoambientedaCozinha,
através de panelas de ferro e panelas de material esmaltado , a monitora classifica as
famíliasentrericasepobres.
Eventualmente,ocorredealgumalunoassociaralgumobjetoexpostoaumoutro
quejáviuempropr iedadesdesuafamília.Umdosalunosdeumaturmadequartasérie,
porexemplo,aoouviradescriçãodecomoeraacasadosimigranteseverumapinturaque
mostrava os dois prédios que compunham aquele tipo de habitação (uma servia para
dormir e a outra para cozinhar, manter o fogo aceso e espantar o s animais), disse à
monitoraquenacasadasuabisavóaindaera"daquelejeito". Ouvindoessedepoiment o,a
monitorapediuqueoaluno(sentadonochãocomoosdemais)selevantasseeexplicasse
aogrupocomoeranacasada suabisavó,aoquefoiatendidapeloatenciosoaluno.
Normalmente,aochegaraoambientequerepresentaoartesanatodosimigrantes,o
grupo co meça a demonstrar os primeiros sinais de cansaço. Ao ver que alguns alu nos
espontaneamente se acomodam no chão, é comum que a monit ora dê essa sugestão ao
restantedogr upo.Osalunosse ntem semaisàvont adeparaperguntarsobrealgumobjeto
emespecífico,quandooassociamaalgoquelhespareçafamiliar.Porexemplo,aoverum
objetoutilizadoparamarcarotempodepassagemdovinhodeumrecipienteparaoutro,
cujoformatoseassemelhaaodeumrelógiodeparede,umdosalunosperguntaamonitora
como se via a hora naquele relógio, já que ele não po ssui ponteiros... No ambient e da
Mercearia(abodega),porexemplo,écomumalg unsalunosafirmaremqueexistemíte ns
expostosqueaindapodemserencontradosemalgumasbodegasdacidade.
72
Vezporoutra,amonitorapedeparaqueogrupotenhacuidadocomaspeçasdo
acervo,alegandoqueelasnãoapenaspertencemaogrupo,mas,sim,atodaacomunidade
e por isso tem de ser preservados. É possível, no caso de haver uma segunda monit ora
acompanhandoo grupotodootempo ,queelasse revezemnasexplicaçõesao longo do
trajeto pelo acervo,  o que diminui o desgaste físico das monitoras e dá uma ma ior
dinamicidadeao processo.Àmedidaquemaisalunossequeixamdecansaço,amonitora
pede,jánãoma issugere,quetodossesentemnochão(oquetambémserveparareunir
aquelesmaisd ispersos).
Na altura do ambient e do Quarto das famílias (já pela metade do percurso), é
possívelque ogrupo comecea sequeixarde fome,alémdecansaçoe, quando jáestão
nesteestágio,mantêlosatentostornasemaisdifícil.Pom,algunstemasdefác ilrelação
ecomparaçãocomarealidadevividapelogrupo,temo poderdeatrairsuaatenção.Isso
ocorre, por exemplo, quando a monitora conta, no ambiente do  Quarto ou da Arte
Religiosa,queasmoçasdoiníciodoséculopassadoco stumavamsecasarporvoltados
doze ou treze anos de idade, ou quando diz que as moças 'gordinhas' eram as mais
procuradasparaomatrimônio.
Figura6:AulanoMuseu–ambientedoQuartodasfamílias
Fonte:FabianaSales
73
Na medida do possível, a monitora tenta, por meio do acervo, levantar questões
polêmicaseaomesmotempoatuaiscomo,porexemplo,quemtrabalhariamais,ohomem
ouamulherimigrant e.Quandofaladaproduçãodovinho,amonitorasesurpree ndecoma
quantidadedecrianças(deumgrupodeterceirasérie)querespondepositivamenteasua
perguntasobret erexperiment adocachaça.Emseguida,amonitoraexplicaporqueoálcool
éumabebidaquenãopodeserconsumidaporcrianças.Situaçãosimilarocorrequandoa
monitoracomparaonamoronasfamíliasdosprimeirosimigranteseonamoronosdiasde
hoje,perguntando qualdosdoistiposseriaome lhor.Mas,dandopoucachancederesposta
ao grupo, a monit ora seguedizendo que naqueles tempos ido s não existia o número de
adolescent es grávidas ou contaminadas por doenças sexualmente transmissíveis que se
encontramhojenanossasociedade.
Da me sma forma queocorre com turma de crianças (turmas de 3ªou 4ª séries),
mais ou menos pela metade do trajet o pelo acervo, o vel de dispersão é
consideravelmentealtoepouco s sãoaquele s queatendemaoschamadosdamonitora.Com
turmasmaisadiantadas,maisdifíceisdecont rolar,amonitorachegaaserríspidaaopedir
aatençãodogrupo.Apartirdomomentoemquepercebequeninguémmaisrespondeaos
seusquestionamentos,amonitorachegaaficarvisivelmenteaborrecida.
Ocasionalmente, algum dos alunos associa algum dos o bjetos do acervo a u m
marcodacidade, quando,porexemplo,umaalunacertavezreconheceuaminiaturadeum
bustodeAbramoEberle
11
comosendoumdaquelesdispostosnapraçacentr aldacidade.
Quando chegam na parte dos Brinquedos ltimo ambiente do trajeto pelo acervo
permanente), a monit ora fala da lenda do menino Sanguanel (existe um boneco em
tamanho quase natural que o representa no acervo), que fazia crianças travessas
desaparecerem,semafirmartratarseounãodeumalenda,ouseerarealidade.Umaoutra
versãocostumaseracrescidaàsturmasdeadolescentes,deacordocomaqual,alendado
famoso meninoerausadaparaenganarasesposasquandoos maridospassavamtrêsou
quatronoit esforadecasa.
Pode ocorrer da monitora dispender mais tempo que o previsto no trajeto pelo
acervo,demodoquedepoisdesedarcontadotempopassado,todoorestodocircu itoé
11
Herdeiro de uma funilaria, foi responsável pelo desenvolvimento da metalúrgica E berle, umas das
indústrias que mais impulsionou o desenvolvimento industrial na região, que viria, posteriormente, a se
tornarumgrandelometalmecâni conopaís.
74
feito deformaapressadaese madevidaproblematizaçãoecontextualizaçãodoobjeto.Isso
sereflete,obviamente,nogrupoquejánãoseatémmaisaoqueexplicaamonitora.Ou,
ainda, a partir do momento em que a professora anuncia que o motorista do ônibus já
esperaasaídadogrupo,odesempenhodamonitoraficavisivelmentealterado,passandoa
sermaisenérgicacomogrupoparaquepossadarandament oeconcluirasatividadesmais
rapidamente.
OtrajetopeloacervonormalmenteterminanaSaladeExposiçõesTemporárias,por
ondeogrupopassarapidamente,poisjáéquaseimpossívelcontrolarsuaansiedadepelo
inter valo dolanche.Aoameaçardeixarascriançassemlanche,podeseescutaratémesmo
um“
Ah,tia,tenhapiedade!
”.
Figura7:Saladeexposiçõestemporárias
Fonte:FabianaSales
As crianças se dirigem, então, para a Sala de Vídeo, onde haviam deixado suas
mochilasouo seu material,e, em seguida,parao  pátio do Museuondefinalmente(!!!)
poderão lanchar.Divid idosespontaneamenteem pequenosgrupos,elescomemo lanche
trazidodecasa,ouorganizadopelasprofessorasdaEscola,algunsfazendomuitabagunça
75
(meninos, na sua maioria) e outros fazendo reclamações à profes sora. O intervalo do
lanchedura,e mmédia,quinzeminutos.Apósesseperíodo,elesretornamàSaladeVídeo,
ondeterãocontinuidadeasatividadesprogramadas.
Figura8:PátiodoMuseu–Intervalodolanche
Fonte:FabianaSales
Omomentodeexibiçãodovídeo(comointroduçãooucomplementaçãoaoqueserá
ou foi explanado dur ante o trajeto pelo acervo) apresenta alguns problemas.
Primeiramente, o  local onde o deo é exibido acomoda um acer vo próprio, como, por
exemplo,dezenasdeplacasderuasdacidadeexpostasemumadasparedes,oque,porsi
só,atraiaatençãodogrupo,distraindoodovídeoemexibição.
Quandoovídeoéexibidodepoisdopercursopeloacervo,reteraatençãodogrupo
ficaaindamaisdifícil.Elesjáconheceramoacervo,jálancharam,jábrincaram,ejánão
estãomaistão  dispostosacolaborar e sema nterquietos numa atividadepassivaeque,
paraalguns,podeserconsideradaentendiante,comoassistiraumvídeo.Co moresultado,
os aluno s mo stramse pouco ou nada int eressados no vídeo,  as conversas paralelas são
inevitáveiseamonitoraprecisapedirsilêncioeatençãotodootempo.Osvídeosduramem
médiadequinzeavinteminutos.
76
Figura9:Saladevídeo
Fonte:FabianaSales
Em conversacomasmonitor as,constatousequeelasconcordamqueovídeodeve
ser exib ido no momento da chegada do grupo, podendo servir até mesmo como um
mecanismoparaaplacaraeuforiainicialdogrupo,apóssuachegadaaoMuseu.Ficando
para depois do trajeto pelo acervo, a exibição do deo não atingiria os seusobjetivos,
servindo apenas como uma ocupação do tempo. As monitoras entendem, ainda, que
assistindo ao vídeo como uma introdução à Aula no Museu, os alunos conseguiriam
associar o que vêem e ouvem, durante o trajeto pelo acervo, ao que viram no vídeo, 
conformeconstatadopelasmesmasnasrespostasdo s alunos aosseusquestionamentos.
Asatividadesslanchetambémobedecematemáticaprincipalestabelecidapara
o trabalho do  grupo. Quando  a temática é, por exemplo, a diversidade das etnias
encontradas em Caxias do Sul (questão que, ao menos de for ma tangencial, sempre se
abordanaAulanoMuseu),podesefazerumaatividade comfichasplastificadascontendo
adescriçãodeváriascaracterísticasétnicas( religiãoehábitosalimentares)o bservadasna
cidade, e cadeiras para mentadas com roupas e ornamentos representando cada grupo
étnico.Asetniasrepresent adassãoaindígena,aportuguesa,aalemã,aafricana,aitaliana
e a gaúcha. De acordo com o tempo disponível para as atividades, o grupo pode ainda
77
realizarváriosjogos,como,porexemplo,oBingo,ondecadaalunorecebeumcart elacom
seisdesenhosde brinquedosutilizadosporimigrantesitalianos,quer etratam,contudo,a
influê nciadeoutrasetniasnaculturaitaliana,ouojogoQuemsoueu?,noqualogrupo
recebeumcartãocontendoonomede umobjetoexpostonoacervo.Amonitoradescreveo
objetoesuafunçãoe,emseguida,mostraumdesenhodoreferidoobjeto.Ogrupotemque
associaradescriçãoeodesenhodoobjetoaonomequecadaumtememseucartão.
Figura10:Saladevídeo Jogoqu emsoueu?
Fonte:FabianaSa les
Duranteosjogos,ogruposemantématentoeconcentrado,aome nosatéquesua
cart eladoBingosejacompletadaouqueseuobjetosejachamadonoQuemsoueu?.Ao
finaldasatividades,amonitoraagradeceavisita,pedeaogrupoqueretornecomamigo se
familiares,oucasoprecisemdemaioresinformaçõesparaarealizaçãodealgumtrabalho
escolarsobre oacervo,equedeixemsugestõesparaamelhoriadaAulano Museu.AAula
no Museu, com todas as atividades descritas, tem duração média de duas horase trinta
minutos,tantonoperíododamanhã,quantodatarde.
78
3.2AparticipaçãodasprofessorasnaAulanoMuseu.
O acompanhamento das professoras das E scolas,  responsáveis pelo planejamento
da Aula e o deslocamento dos alunos até o Museu, tem apresentado comportamentos
bastantediversos.Normalmenteestãoemduasprofessoras,devidoàresponsabilidadede
cuidar do grupo, pensando na sua  organização e segurança, segundo depoimento das
monitoras.Existemprofessorasqueselimitamaacompanharogrupodealunos,comose
apenasmaisumdelesfosse.Empé,aoladodogrupoousentadas(quandoosalunosestão
sentados), seu acompanhamento se dá de forma passiva, limitado à observação da
explanação da monitora. Em alguns casos, a professora que apresenta esse tipo de
comportamentosequerajudaamonitoraamanterogrupocoesoeemsilêncio(atéonde
essesilêncioépossíveledesejável).Existemcasos,porém,ondeaprofessoratambémestá
elaprópria,efetivamente,entrandoemcontato comaquelemundodesveladopelaspeças
museológicaspelaprimeiravez,deformaqueparaelatudoaquiloénovidade,conforme
comentário feito,àpartedo grupo,poruma professorade origemalemãàpesquisadora
durante uma das Aulas observadas. Ao término das atividades planejadas, esta mesma
professoradisseaogrupoquehaviaaprendidomuitocomaAulano Museuequeesperava
queosalunosalipresentescontassemaexperiênciavividanoMuseuaquelescolegasque
nãopuderamir.
79
Figura11:AulanoMuseuProfessorasempéaoredordogrupo
Fonte:FabianaSales
Professorascomumper filmaisdinâmico(ouinteressado),noentanto,costumam
participar de forma ativa na Aula no Museu. Elas se inserem no meio do grupo,
participando dos questionamentos e das respostas t al como o aluno mais atencioso e
participativo. Muitas vezes chegam a comp lementar as informa ções passadas pela
monitora ou aproximam temporalmente o uso do objeto do acervo, dando depoimento
próprio:
A'prof'.  utilizouesseobjeto para tomarbanho até osseisanos de idade
”.As
professorasque têmessapostur a pr eocupamse em manter o grupo reunido  e incitao a
participar,pedindosilêncioechamandoaatençãoindividualmentededeterminadosalunos
(ostumultuadores,porassimdizer)quandosefaznecessário.
Contudo, acompanharamse turmas o nde a segunda professora, além de não
acompanhar a explanação da monitora, contribuía para a dispersão do grupo, ficando
sempre para trás, dando aatenção àqueles alunos que se a fastavam do grupo  maior, de
modoquechegavamesmoafortaleceradivisãodosalunos.
Porfim,asprofessorassãosolicitadasadeixarsuaavaliaçãoemrelaçãoàAulano
PlanodeTrabalho,documentoondeconstaoplanejamentodaAulanoMuseu(Anexos1e
2),porelaselaboradojuntoàsprofessorasdoPrograma.ForamanalisadostrezePlano sde
80
Trabalho (de turmas observadas e não o bservadas) a fim de identificar os pontos mais
citadospelasprofessorasdasEscolasnassuasavaliações.Oscomentáriosmaisrepetidos
fazemelogio sàsmonitoras,aoseupreparo,linguagemutilizadaetatocomosalunos,e
dizemrespeitoaoatendimentodosobjetivosestabelecidos paraaAula.Muitasmencionam
o fato  da Aula ter sido interessante e atraente, mantendo os alunos atentos. Algumas
professoras elogiam os materiais utilizado s na Aula, como o vídeo e os jogos, e
mencionamamádistribuiçãodotempocomooúnicopontonegativodaAulanoMuseu.A
muitos Planos de Trabalho encontramse anexados os textosorganizados pela monitora
para preparo próprio acerca do conteúdo a ser abo rdados nas respectivas Aulas. A
avaliação das professoras também teria outra importante função a cumprir: servir como
estímulo ao bom trabalho r ealizado  pe las monitoras (dentro dascondiçõesque lhes s ão
oferecidas),alémdepassarumpontodevistaexternodotrabalhoqueestásendofeitopara
adiretoriadoMuseu.
Por ter sido, de acordo com as avaliações, o único po nto negativo da Aula no
Museu a ser citado, chamou a atenção da pesquisadora o fato de algumas professoras
lamentarem a falta de tempo para a realização de todas as atividades que haviam sido
programadas, o que apresenta u ma aparente contradição: as professo ras não teriam
planejado todas as atividades, inclusive em ter mos de tempo disponível, junto às
professoras do Museu, que têm largo co nhecimento do tempo requerido para o
desenvolvimento dasatividadespropo stas?Oquepoderiajustificaressaavaliação?
Transcrevemse, a seguir, duas avaliações feitas por  professoras participantes da
Aula no Museu, conforme consta em seus respectivos Planos de Trabalho . O primeiro
depoimentoédeumaprofesso rade7ªsériedeumaescolamunicipal:
Otrabalhofoiótimo.Osobjetivospropostosforamatingidos.Penaque
faltou tempo para os jogos e o vídeo. Agradeço a dis posição das
professorasquecolaboraramparaotrabalho.
Acreditasequeaoagradeceracolaboraçãodas'professoras',aprofessoradepoente
sereferiaàsmonitorasdoprojeto.Aseguir,temseaavaliaçãodeumaprofessorade4ª
série,deumaescolaestadual:
81
É,aaulafoiatraenteeinteressante.Ahistóriafoicontadadeformaque
osalunosmostraramseatentosatéofim.Talvez,commaistempo,no
finalarespostadosalunosfossemais significativa.
AlgumasinformaçõeseobservaçõescoletadasjuntoàsmonitorasdaAulaajudam
no entendimento deste desencontro. O primeiro problema reside no fato de que a
professoradaEscolanãoconhece,elaprópria,oacervo.Deacordocomdepoimentodas
monitoras, 99% das professoras participam das Aulas como se tudo para elas fosse
novidade,damesmamaneiraqueoéparaosalunos.Dessaforma,elaindicariaquaissão
os pontosquedesejaquesejamdesenvolvidosco mosalu nosno PlanodeTrabalho,mas,à
medida que a Au la transcorre, ela se depara com objetos inesperados, cuja exploração
enriqueceria mais a Aula para os alunos, de modo que, ao longo da aula, ela pede ou
pergunta por tópicos fora do planejamento inicialmente elaborado, pedindo que se fale
mais,po rexemplo,sobreovinho,areligiosidadeouso breaspectosrelativosaotrabalho
dos imigrantes.
Um o utro ponto diz respeito ao fato de a temática da imigração italiana ser
conteúdocurricularapenasda3ªsérie.Assim,alunosdeturmasmaisadiantadasestariam
despreparados para este assunto (ou não se lembrariam mais dele), o que gera a
necessidade de as monit oras se demorarem mais na sua explanação, oferecendo uma
espécie de introdução a todo o processo da imigração italiana (desde o processo de
Unificação da Itália) para que os alunos possam melhor contextualizar as condições
socioculturais e econômicas da sociedade que produziu todo o acervo ali presente. Isto
posto,pressupõemsequeafaltadeconhecimentopréviodosalunosemrelaçãoàhistória
da imigração faz com que a monitora precise d espender mais tempo que o previsto na
problematizaçãodoobjetocultural.
Porfim,oagendamentodaAulano Museuestariasendorealizadoemduasetapas:
umprimeiro contato, portelefone, no qual a professora da Escola daria as coordenadas
maisgeraisdaAulaquedeseja;eumsegundocontato,realizadopessoa lmentenoMuseu,
noqual a profes soradaEscola eumaprofessorado ProgramadeEducação  Patrimonial
organizariamosdetalhes menoresrelativosàAula,passando,posteriormente,essePlano
deTrabalhoàmonitor aresponsávelpeloacompanhamentodogrupo.Ofatodeapessoa
82
quetrabalhajunto comaprofesso radaEscolanaelaboraçãodoPlanodeTrabalhonãoser
a mesma a acompanhar o grupo seria uma das possíveis causas desse conflito  entre as
atividadesplanejadaseotemponecessárioparasuaexecuç ão.
EmentrevistacomumadasprofessorasdoPrograma,responsá velpelaelaboração
doPlanodeTrabalho,afaltadetempoparaaexecuçãodetodasasatividadespassíveisde
planejamento na Aula no Museu seria um problema de difícil solução,  uma vez que a
mesmaentendequeaAula,comtodasasatividadespossíveis,necessitariademaistempo.
Esta professora chega a enfatizar a importância do momento dos jogos como sendo
necessárioatémesmoparaseavaliaroresultadodaAula.Quandoperguntadasobreasua
avaliação em r elação ao resultado apresentado pelos aluno s e aos objetivo s pretendidos
comaAulanoMuseu,areferidaprofessoradeuaseguinteresposta:
Bom, eu acho que eu só poderia falar isso aí, assim, com uma
consistência,vamosdizerassim,apartirdomomentoqueeupudesseter
realizado osjogos,queéumfeedback, né?.Então,poucasvezeseupude
participardeAulasondeosjogos foramconcluídos...eupeguei,falei,
concluí mesmo, como foi planejado. Agora, pela avaliação das
professorasqueagentepegasempre,sabe,ondemuitasvezes,porelas
teremassimumobjetivo umpoucodiferente...Elasoaqueleconteúdo
na aula, e elas vêm assim pra uma complementação, um aumento de
conteúdo, novos conhecimentos... aí, fecha. Tanto que a maioria dos
Planos,tujápegounossosplanos?Tuvêqueeladiz:'atendemosnossos
objetivosetal'.Elasreclamaédotempo,né?.Então,euachoqueelas
pensam, assi m, ó, eu imagino: ' ah, eu falei aquilo, aqui eles tiveram
maisinformaçãosobreaquilo,ficoulegaletal'.Agora, seeupensa rno
planejamento que a gente fez, a gente o sabe quanto que o aluno
levouexatamenteporaqueletrabalhinhoali(PROFESSORAA).
No entanto, mesmo tendo salientado o papel que os jogos desempenha m no
contextogeraldaAulanoMuseu,segundoaprofessora,nãoseriaviáveldiminuirotempo
gastonotrajetopeloacervo,sobpenadesacrificarinformaçõesre levantesparaosgrupos.
Asprofessorasmostr amsee ntusiasmadascomaoportunidadedadaaosseusalunos
departiciparemdeumapesqu isademestradopormeiodoinstrumentodecoletadedados
utilizadoparacaptaracompreensãodogrupoacercadasinformaçõespassadasduranteo
trajeto pelo acervo. Sempr e que solicitadas quanto à aplicação  dosquestionários, todas,
semexceção,mostraramseinteressadasecolaboraramparaasuarealização.Acreditase
queparaessasprofessorassejainteressantequeosalunospassemporesteexercício,ainda
que não tenha caráter curricular ou avaliativo, mas que pode, contudo, reforçar o
83
conhecimentoadquiridoduranteavisita,deformaquemuitassemostraramagradecidasà
pesquisadora,numasituaçãodesatisfaçãomútua.
3.3ObservaçãodasetapasmetodológicasdaEducaçãoPatrimonial
Adotouse, neste estudo, a tabela de etapas metodológicas da Educação
Patrimonial, proposto por Horta
et al
(1999) no Guia sico de Educação Patrimonial,
como instrumento de observação do processo acompanhado no Museu Municipal de
CaxiasdoSul.Autilizaçãodesseinstrumentoobjetivouidentificarcomoseverificava,na
práticadoMuseu,ositenssugeridosnareferidatabela(conformeInst rument odepesquisa
1, Apêndice 1) . Procurouse observar especif icamente os aspectos relativos aos
recursos/atividadespropostos,umavezqueosresultadosesperados,apontadosnacolu na
objetivos, mesmo que atingidos, não poderiam ser mensurados no transcurso da Aula,
vindo po sterio rment e como uma conseqüência natural do processo  de aprendizagem
estabelecido.
A primeira etapa proposta por Horta
et al
(1999) , o bservação, cor responde a
exercícios de percepção visual/sensorial, por meio de perguntas, manipulação,
experimentação,medição,anotações,comparação,dedução,jogosdedetetives.NasAulas
no Museu, verificouse que a observação ocorre apenas de forma visual e po r meio  de
perguntas.Osgruposnãomanipulam,nemfazemanotõessobreosobjetosdoacervoa
menosqueissosejaespecificamentesolicit adopeloprofessor,conformerelatodeumadas
monitoras.Aorientaçãodadapelasmonitoras,ereforçadapelasprofessoras,éexatamente
paraqueosalunosnãotoquemnosobjetosexpo stos,visandosuapreservação.Apenasos
objetosmaiores,feitosdemateriais comomadeira,bronzeoumetalsãotocadosporalunos
maiscuriosos,queofazemporcontaprópria.Objetosmenorespodemsermanipulados,no
entanto,pelasmonitorasno momentodesuasfalas.
84
Figura12:Monitoramanipulandopeçadoacervo
Fonte:FabianaSales
A etapa seguinte, do registro, contém desenhos, descrição verbal ou escrita,
gráficos,fotografias,maquetes,mapaseplantasbaixas.Duranteotrajetopeloacervo,não
foram verificadasatividadescorrespondentesa esta etapa.Nasatividadesslanche,no
jogo“quemsoueu?”,porexemplo,ocorreadescr içãoverbaldosobjetosvisualizado s e
problematizadosduranteocircuitopeloacervo,feitapelamonitor a,earelãoentr easua
descriçãoeidentificaçãoporme iodedese nho,peloaluno.
A terceira etapa, a exploração , referese à análise do problema, levantamento de
hipóteses, discussão, questionamento, avaliação, pesquisa e m outras fontes como
bibliotecas, arquivos, cartórios, instituições, jornais e entrevistas. Observouse que, nas
atividadesdoMuseu,apesquisaéfeitapelasmonitorasemavançoaodesenvolviment oda
Aula. Noentanto, é comumqueosalunos retornem aoMuseuprocurando as monitoras
paraqueosajudemnostrabalhossolicitadospelaprofessoraemsa ladeaula,apósterem
participado da Aula,de forma queos alunos sãoeles mesmos levadosàexploração dos
objetos e a pesquisas em font es documentais dispoveis, além do auxílio fornecido
pessoalmentepe lasmonitoras.Asatividadesdediscussão,questionamento,levantamento
dehipótesesocorretodootempoduranteaAula,sendomesmo oseucerne.Contudo,esta
etapa, que deve ser permanentemente r ealizada de forma dialógica, é desenvolvida a
contentodeacordocomoníveldeparticipaçãoeinteresseprópr iosdasturmas.
85
Osseguintesdepoimentosdasmonitorasilustramsituaçõesnasquaistantoaet apa
doregistro,quantodaexploração,podemvirasedesdobrarnaescola,apósasatividades
doMuseu:
Daíelesvoltaram,queelastavamtrabalhandoemsaladeaula,eeles
vieramaquiprasecertificar,praentregarotrabalhocerto.Entãoera
umtrabalhoque elestavamfazendoemgrupo.Outrosvieramaquipara
fazerumdesenhodeumapeçadoacervo,doqueelaerafeita,praque
que ela servia, que ano ela foi produzida várias perguntas em cima
disso. Então eles vieram com a folha, era feito em sala de aula
(MONITORAA).
TeveumaturmadeSãoPauloqueaprofessoraparouavisita,pediupra
nós parar, pros alunos darem uma olhada por onde a gente tinha
passado,daartesacrapratrás,eanotarnomededezobjetosepraque
serviam, do que era feito.... Então, eu e a Mari a gente ficou atenta,
ajudando eles a anotar... depois em sala de aula eles iam fazer um
trabalho(MONITORA B).
A última etapa proposta por Horta
et al
(1999), a apropriação , diz respeito às
atividades de recrião, releitura, dramatização, interpretação em diferentes meio s de
expressãoco mopinturas,escultura,drama,dança,música,poesia,texto,filmeevídeo.As
atividades relativas a esta etapa não foram observadas durante o acompanhamento de
nenhumadasaulasobservadas, nemse teveconhecimentodequetivessemocorrido em
outro  momento,foradoMuseu.Acreditase,todavia, apartirdosrelatos das monitoras,
queasturmas,especialmentedecrianças,estejamatingindoestaúltimaemaisimportante
etapa da metodologiaproposta porHo rta
etal
, queseriaadaapro priação, por meioda
inter nalizaçãodobemculturalnacr iança.Issoseriaobservadono retornodosalunosao
Museu, nos fins de semana, trazendo  amigos e familiares, conforme depoimento que
segue:
Amaioriadascriançasquevemaqui.Issoeunoteitambém.Sábadoe
domingooquêqueagenterecebe?Ascriançasquevieramdurantea
semanatrazerospaispraveroacervo.Edaíelasqueremexplicar. ..
elas explicam, elas pedem ajuda da gente e elas vão explicando.. é
assim...quandoécriançapequenaéapaixonantedever.Masamaioria
dasvisitasqueagenterecebe,queosejadefora,nofinaldesemana
écriançasquevieramduranteasemanacomaescolatrazendoospais,
osamigosefamiliares(MONITORA A).
86
Considerando os pressupostos teóricos da E ducação Patrimonial, observaramse,
em paralelo à aplicação da metodologia proposta por Horta
et al
, alguns critérios que
pontuariam a eficiência ou ineficiência do traba lho desenvolvido pelo Programa de
EducaçãoPatrimonialdoMuseuMunicipal.
No quesito utilização do patrimônio cultural, no quadro da Aula no Museu,
constatousequeopatrimôniorepresentadopelaspeçasdoacervoéutilizadosobremaneira
comoumrecursoeducac ional,eixoeelementoprincipaldo des envolvimentodaAula.As
peçasdoacervofuncionamcomoelementosemcimadosquaisasmonitorasconstroema
sua fala e contextualizam os aspecto s constituintes da organização social dos primeiros
imigrantesachegaredesenvolveracidade.
Ocontatoentreobemcult uraleoeducandoocorre,como já foi mencionado,de
formavisuale,esporadicamente,pormeiodotoque,nocasodegrandesobjetosfeitosde
materialcomgrandedurabilidadeeres istência.Ocontatoéfeitodeformadireta,masnão
se observa exploração sensorial do objeto pelo educando, tal como acontece em outros
projet osdoPrograma emanálisecomo, porexemp lo, aCaixa deMemórias, no qualos
objetos disponibilizados no interior daCaixa são confeccionadoscom materialde baixo
custo, visando exatament e sua fácil reposição face ao desgaste decorrente do constante
manuseiodosmesmospeloseducandos.
Oníveldeparticipaçãodoseducandosnoprocessoévariadodeacordocomoperfil
einteresseprópriodaturmapelavisita.Observousequeturmasmenores,de3ªe4ªséries,
com idade média de 10 anos, têm uma participação mais efetiva na Aula, tanto nas
perguntasquantonasr espostas.Apesarde,como osgruposcommaio ridade,apresentarem
certoníveldedispersãoetambémcansaçodentrodeumtempomaiscurto,sãogruposque,
uma vez atentos às explicações das monit oras, participam,  de fato, de forma dialógica,
construindoaAulaemparceriascomaquelas.
87
Figura13:AulanoMuseu–Alunoaguardandooportunidadepara falar
Fonte:FabianaSales.
Deacordocomodepoimento  de umadasprofessorasdo Programade Educação
PatrimonialdoMuseu,ecombaseemsuaexperiênciacomoprofessoradaredemunicipal
de ensino , o desinteresse em participar ativamente na construção do conhecimento
apresentadoporalunosadolescentesna AulanoMuseutambémseapresentanasalade
aula.
A postura da monitora tem importância fundamental para o bom andamento da
AulanoMuseu.Tantoemter mosdeconhecimentoedomíniodaspeçasdoacervo,quanto
emrelaçãoaot ratocomosgrupos, sejaelecompostoporcrianças,adolescenteso uadultos
(nocaso,em visitas monitor adas),odese mpenho dasmonitorasinterferediretamenteno
nível de aproveitamento da experiência pelos participantes, principalmente no que diz
respeito a aspectos com manter o grupo atento e concentrado e no estímulo à sua
participação. Esse fato é mencionado constantement e nas avaliações deixadas pelas
professoras nos Pla nos de Trabalho. Como as professoras muito pouco participam do
desenvolvimento daAula,cabequasequeexclusivamenteàsmonitorasatarefadeincit aro
grupoaperguntareresponder,deixandooàvontadeparacolocarsuasinquietações,sem
medodenãoterasrespostascorretas.
AperspectivalúdicadasatividadesrealizadasnoMuseutambémestáparcialmente
associada ao desempenho e perfil da monitora. Tendo a sensibilidade necessária, as
monitorasconseguemperceberomomentoprocioàinserçãodecoment áriosengraçados
88
emmeioàssuasexplanaçõesearesponderdeformatambémengraçadaàsbrincadeirasde
algunsalunos,dandoumclimadescontraídoàAula noMuseu,emcontrasteaoambiente
cotidianodasaladeaula.AsatividadespóslanchecomplementamocaráterlúdicodaAula
comjogosdediversos tiposvoltadosparaaexploraçãodasinformaçõespassadasduranteo
trajeto peloacervo, além de serum momentoondeas professorase as monitorastêm o
retornodapartedosalunosemrelaçãoaquiloquefoiapreendido.Omomentodosjogos,
além do caráter lúdico, que lhe é inerente, representa, naprática, atividades próprias da
etapaderegistro sugeridopelatabeladeHorta
etal
(1999).
Asistematizaçãodoprocessoseobservaapartir doplanejamentoresu midono,já
mencionado,PlanodeTrabalhodaAulanoMuseu.Estedocumentoestabelecedadosde
identificaçãodaturmacomonomedaescola,série,númerodealunos,disciplina,odiaea
hora da Aula, a temática a ser trabalhada, o objetivo da Aula, as habilidades a serem
desenvolvidas, os conhecimentos a serem construídos,  a programação das atividades a
serem realizadas (acervo, deo , jogos), o material a ser utilizado pelos alunos e deixa
aindaumespaçoparaqueaprofessorafaçaasuaavaliaçãodaAula.Contudo,apesardo
planejamento prévio, é possível que a Aula não se desenvolva dentro do tempo  pré
estabelecido e algumas atividades, como os jogos (normalmente as últimas atividades
programadas), porexemp lo, nãopossam serconcluídas.Est a questãojá foidiscutida no
item quefaladapart icipaçãodasprofessorasnaAula.
A aproximação entre o bem cult ural e a r ealidade do educando se observa no
transcursoda Aula,em meioàproblematização doo bjeto pela monito ra.Àmedidaque
explora e contextualiza o objeto do acervo, a monitora sempre que possível traz a
utilização do objeto (ou de seus derivado s atualmente conhecidos e utilizados) para o
contextodavivênciado s grupos.
3.4AnálisedasentrevistasfeitasàequipedoMuseu
Com o objetivo de apreender a operacionalização da Aula no Museu, dentro do
Programa de Educação Patrimonial do Museu Municipal, foram entrevistadas seis
funcionárias,cincovinculadasdiretamenteàAula,alémdaDiretoradoMuseu.
89
Em relação às monitoras,todas são acadêmicas do cur so superior de História da
UniversidadedeCaxiasdoSul( UCS)eestãovinculadasaoMuseuMunicipalatravésde
estágio r emunerado,intermediadopeloCentrodeIntegraçãoEmpresaEscola(CIEE).Das
três, a mais antiga no Museu, trabalha há oito  meses, e todas tiveram no Museu sua
primeiraexperiênciacomautilizaçãodopatrimôniocult uralcomorecursodidático.Uma
das professoras do programa tem formação em Música e especialização em Estética e
Filosofia da Arte e,a segunda, tem Licenciatura Plena em História e especialização e m
SupervisãoEscolar.AsprofessorastêmcercadedezmesesdetrabalhonoMuseu,ambas
têmvínculofuncionalcomaSecretariadeEducaçãoeforamcedidasparaaSecretariade
CulturaparaotrabalhocomoProgramadeEducaçãoPatrimonial. AdiretoradoMuseu
tem formaç ão em História, com especialização em História da Cultura, e vem
desempenhandoafunçãodeDireçãodoMuseuMunicipa ledoArquivoHistóricodesde
janeirode2005.
Quantoaoentendimento doconceitodeEducaçãoPatrimonial,todasasmonitoraso
associaram à questão da preservação do patrimônio, ao despertar da consciência da
comunidadeparaoentendimentoevalorizaçãodesuasorigensedesuacultura.Somente
umamonitoramencionouofatodautilizaçãodoacervocomorecursoaserexplorado, mas
estasereferiaespecificamenteaoProgramadeE ducaçãoPatrimonialdoMuseuenãoao
conceito da educação patrimonial de fo rma ampla, de mo do que o uso do patrimônio
cultural como recurso educacional não apareceu relacionado ao conceito de educação
patrimonialemnenhumdosdepoimentos.
UmprogramadeEducaçãoPatrimonialsignifica receberasescolas,né.
Proporcionaraosalunosqueelestenhamumcontatocomoacervo,com
o que o acervo expõe. Ele fala de imigração italiana, né. É o foco
principaldoMuseu.Aíagentefala praprofessoravirplanejar,vero
queelaquercolocareaeducaçãopatrimonialvaifazeroquêcomos
alunos,vaifazerelesperceberem,né, aquelemundoquenaverdadeque
...quea gentevênaspeças opessoasdequeviveramumdiaadia
diferentequeodeles(...).(MONITORAC).
Eu acredito que é uma integração da sociedade em geral, seja nas
escolas,ouocidaoemsicom aculturadaregião,né,especificamente
deCaxias,aimigraçãoitaliana.Acreditoqueépassarcomofoicriadaa
cidade,  né, as bases, né, dessa cultura e passar isso pro cidao
(MONITORAB).
90
Em acréscimo ao depoimento das monitoras, as professoras relacionaram a
conscientizaçãosobreaprópriaculturaeseusvaloresàquestãodacidadania.Apenasuma
dasprofessorasteveexperiência,anterioraoMuseu,comautilizaçãodopatrimôniocomo
recursodidático,devidoaoseutrabalhocomaEscoladeJovenseAdultos
12
(EJA),noqual
apropostadeensinosedesenvolveapartirdaseleçãodostemasgeradores,retiradosdo
cotidianodoseducandos.Sobreoconceitodeeducaçãopatrimonial,umadasprofessoras
responde:
Tá,aeducaçãopatrimonial,então,éassim,ó...aprimeiracoisaédara
idéiaproaluno,praquemtiverenvolvidonaeducaçãopatrimonialdo
que quê que é patrimônio histórico. Eno, no caso do Museu, o
patrimônio,,étodoesseconjuntodeobjetos,éoacervopropriamente
dito. Etambémexisteapartedopatrimônioanível dedocumentação
histórica que é oque tem no Arquivo HistóricodeCaxias doSul, né.
Porquêqueéimportanteisso?Porqueatravésdoestudodessesobjetos
edessesdocumentos,né,setemconhecimentodosnossosantepassados.
No caso, a história de Caxias do Sul, a história dos nossos
antepassados,né.Eéimportantíssimoqueseconserveisso,né,porque
todapessoatemqueteridéiadeondeelavem,qualéasuaorigem,né.
E, tendo consciência da sua origem, ela também vai se sentir mais 
cida, mais completa, mais inserida na sociedade que ela vive. Em
resumo, , nós temos que preservar o nosso patrimônio para assim
sempretermos conhecimentos epassar esse conhecimentoda história,
danossahistória(PROFESSORAB).
AdiretoradoMuseu,porsuavez,entendeaeducaçãopatrimo nialcomoumaforma
delevaràcomunidadeosconceit osdepatrimôniodeumaformae laborada,organizadae
sistematizada,commetodologiaprópria,afimdequeaspessoasentendamqueexisteum
patrimônioqueécomumatodoseque,porisso, precisaserpreservado.Assim,aeducação
patrimonialtrabalharianosentidodeeducaroolhar,a sensibilidadedacomunidade paraa
memór ia. Antes de ocupar o cargo de direção do Museu, esta entrevistada, já havia
trabalhado com a utilização do patrimônio cultural para fins pedagógicos, quando
participou, entre outras coisas, da elaboração de uma cartilha
13
que explicava o que é
patrimôniohistórico eporqueestedeveserpreservado.
12
PropostadePauloFreire.
13
PatrimônioHistóri co:umcasodevidaoumorte.MuseuMunicipaleArquivoHistórico.Semanode
edição.
91
Todasasmonitorasrelataramnãoterrecebidonenhumapr eparaçãoespecíficapara
desenvolver a Au la no Museu. Segundo seus depoimentos, elas foram adquirindo na
práticaexperiênciaeconhecimentosobreamelhorformadeutilizaroacervoereceberos
grupos(de crianças,adolescentes,adultos,e atémesmogrupo de professores),uma vez
quenenhumadastrêsmonitorastiveravivêncianomagistérioantesdotrabalhonoMuseu.
Asmonitorasrecebem,contudo,estímu lopara estarconstantementelendoe seatualiza ndo,
alémdetercontatocomlivrosepesqu isasdisponíveisnoacervodoMuseu.Somenteuma
das entrevistadas afirmou t er sentido insegura nça, no início do trabalho na s Aulas, por
estarnoiníciodocursoepelafaltadeexperiêncianaconduçãodegrupos,problemaque
foi superado com a prática, mas que poderia ter sido evit ado com algum tipo de
treinamentoantesdocontatodiretocomasturmasduranteasAulasnoMuseu.
Deinícioa gentesentia,eusentia , particularmente,insegurança, né,
porqueninguémnuncalidoucomumaturmadealunos,então...né...tu
senteumainsegurança,comoéquetuvaicolocarpracrianças,né,de
uma maneira simples e elas entenderem. Mas agora, ... mais
tranqüilo mesmo. A gente sabe mais ou menos como
levar(MONITORAC).
As professoras confirmam depoimento  das monitoras quanto a não haver
preparação específicapara aquelesque vãotrabalharcomos gruposnaAu la no Museu.
Comojáhavia sidomencionadoporumadasmonitoras,umadasprofessorasressaltouque
só teveumavisita monitorada, que lhe mostrouco moconduzir umvisitante, conduzida
peloprofessorJuventinoDal,responvelpelaorganizaçãodoacervodoMuseu.No
queconcerneasdificuldadespercebidasparaobomdesenvolvimentodaAula,estaúltima
professoramencionouaquestãodopoucotempodisponívelparaarealizaçãodetodasas
atividadesqueumaAulapodecomportar.Jáasegundaprofessoracitouarotatividadedos
monitoresqueacompanhamosgruposcomoumaquestãoqueprecisaserresolvidacom
urgência,alémdafaltadeumpreparoespecíficodestinadoaquelesque vãotrabalharna
Aula no Museu. Para esta última professora, tal problema poderia ser sanado com um
quadrofixodeprofissionaisconcursados,osquaispassariamporcursosdepreparaçãoe
seriam devidamente habilitado s ao desenvolvimento dos trabalhos na área da educação
patrimonial.
92
Com relação à avaliação dos objetivos e os resultados apresentado s pelos
participantesdaAu lanoMuseu,asmonitorasafirmamserumapropostaválida,enquanto
formadeaproximaçãodasEscolasaopatrimônioculturallocal(oportunid adequeumadas
monitoraslamentanãotertidoduranteseuperíodoescolar),alémdofatodoretornodas
crianças com os pais, nos fins de semana, ser encarado com um indicativo do bom
aproveitamentodaAulanoMuseu.
Aquestãodoresultadoéoretornopramim,euacho queassim...éuma
coisaválidaquetáacontecendoporquepeloqueeutinha. ..vamosdizer,
euvoucolocarassim'eu'...Aminhaconsciênciadepatrimônioassim..
pramim...claro,existiaoMuseu,exis tiaoCentrodeCultura,eram
coisasassimmuitodistantesdemim,entende?Eagoraqueeutouaqu,
que eu tou trabalhando, eu digo 'eu nunca tive essa oportunidade de
chegaratéoMuseuealguémmedarumaaula, meexplicar'....oqueeu
toupodendofazer pelascrianças hoje.Euachoque seeutivessetido
essa oportunidade, eu teria visto também o patrimônio de uma outra
forma.Ehojeeutoutendoessaoportunidadedefazer.Euachoqueé
válido,euachoquetásendoumapropostasuperboa,sótemque,claro,
cadavezaperfeiçoarmaisprairprafrente(MONITORAA).
Umadasprofessoras,noentanto,afirmaqueesteresu ltadoestácondicionadopelo
preparopréviodoaluno,realizadonaescola,emrelaçãoaoquevaiservistonoMuseu.
Dependendodoconhec imentoqueoalunotrazconsigoparaaAulanoMuseu,estaseria
maiso umenospr oveitosa.Deacordocomaoutraprofessora,sóseriapossívelfazeressa
avaliação,deformaconsistent e,nocasodet urmasquetenhamconsegu idocumprirtodoo
planejamento da Aula, finalizando a etapa dos jogos que seria justamente o r etorno do
conteúdo apreendido pelo aluno para as professoras. Todavia, a julgar pelas avaliações
deixadasnosPla nos deTrabalho ,asAulasestariamatingindooseuobjetivo,naopiniãoda
últimaprofessora.
A diretor a do Museu concorda com as professoras em relação ao problema da
rotatividadedosmonitoreseàsatisfaçãodasprofessorasemsuasavaliaçõ essobreaaula,
no sentido de avaliação dos objetivos propostos, porém, a mesma admite que alguns
fatores precisam ser melho rados, desdeque haja, paratanto, uma outraestrutura parao
Programa,especialmenteno quedizrespeitoaosprofissionaisligadosàárea.
Notocanteàimportânciadopatr imôniocult urale detemas como preservação e
memór iaparaacomunidade,asmonitorasaassociaramanecessidadededesenvolvimento
93
daprópriacultura;aofatodequeopatrimô nioajudaacontarahistóriadacidadeparaas
futuras gerações e a relembrar momentos vividos para as gerações passadas. Uma das
monitoras salientou especificamente a questão da necessidade de identificação do
patrimônio pela comunidade para que possa haver uma mudança de mentalidade que
conduzaàpreservaçãoevalorizaçãoefetivadopatrimôniocultural.
Euachoquepracomunidadeémuitoimportante,né...tupreservaresse
patrimônio,tupreservaressacultura,né..porquesem,comodizopovo,
semhistória,né..Éoquê,né?Então,euachoqueteressaconsciência
... masnãoadianta tudizerissoaquiéopatrimôniocultural,tutemque
fazer as pessoas terem essa identificação, né. O quê que é um
patrimôniocultural,oquêqueaconteceuali,porquequeissoencaixa
naprópriahistóriadela,né?Échegarporexemploedizeresseprédio
aqui tombado, mas... sim, né tombado porquê, o que fizeram?
Então tu tem que procurar, né, fazer a pessoa ter essa identificação,
entenderoqueaconteceu,né.Entãotambémessapreservaçãojuntoà
comunidade,né...tuopodesódizeréimportantepreservar,cuidar,
né... o ter um abandono, né. Porque muitas vezes houve
depredação no Monumento ao Imigrante, né, pixamo Museu..porque
aquiloaliosignificanadaprapessoa,né.Apartirdomomentoque
tudá...quetufazumamudançanamentalidadenela,quetuexplica,que
tufazelacompreenderoporqueaquilotemqueserpreservadoouo,
elavaipassarpelooutrocomportamento,né(MONITORAC).
O depoimento  das professoras e da diretora reitera aquele das monitoras,
acrescendo,apenas,queavalorizaçãodoespaço,daso rigensedacidade,comoumtodo,
constitui um estímu lo à cidadania, ao comprometimento das pessoas para com a sua
sociedade,alémdepossibilitaraleituradacidadeedesuaconstrução,atravésdostraços
representadospelo patrimônio. O seguinte depoimento responde sobre a importância do
patrimônio,preservaçãoememória:
Eu acredito que é fundamental. Porque no momento em que a
comunidadeaceita,ouconhece,oupesquisa,oudescobresuasraízes,
oporquêqueelaéassim,oporquêqueelafazascoisasassimenãode
outra forma, eu acredito que ela coma a valorizar o seu espaço,
valorizaroseueu, valorizarsuasraízes,valorizarsuadescendência.E
comissovaivalorizarasuacidadee,dasuacidade,vaivalorizaroseu
país.Euachoqueissoéumaformadecidadaniasemdizerqueestamos
fazendoumaeducaçãodecidadania.Euachoqueestamoseducandoo
serpraeleseencontraresebuscaresedizer“ eusou,eupertençoaum
lugar(PROFESSORAA).
94
QuandoperguntadassobreaimportânciadoMuseuMunicipalparaoturismoem
Caxias do Sul, todas responderam que o  Museu é, sim, importante, uma vez que serve
comovitrinedodesenvolvimentodacidade,atravé sda históriacontadapelas monitoras,
queaconstroem,porsuavez,com basenaimigraçãoitalianarepresentadanaspeça sdo
acervo.UmadasmonitoraschegouadestacaraimportânciadoMuseucomoum espaço
que mostraa culturadacidade, aquiloqueadiferenciaria de outroslugarese paisagens
encontradosnoBrasil,afirmandotambémqueavisitamonitoradaparavisitantesext ernos
é focada naimigração italiana, o quenãonecessariamente ocorrer ia na AulanoMuseu,
quando, ainda queapenasde forma verbal, se mencionea importânciaqueoutrasetnias
tiveramparaodesenvolvimentodacidade.
Odepoimentodasprofessorasendossaaqueledas monitoras,enquanto a diretora
acredit a que o Museu Municipal, até por estar situado no centro da cidade, é uma
importantereferêncianãosóparaoturista,quantoparaoprópriomoradordacidadeepara
os outros museusda região, ainda que preciseestar mais destacado dentro da paisagem
urbana.PerguntadaseoMuseuMunicipalseriaimpo rtanteparaoturismodacidade,uma
dasprofessorasresponde:
Sim,muito.Porqueomuseupreservaeconta,decertaforma,oinícioe
aformaçãodessacidade.Então,oMuseuexplicaparaaspessoasque
visit am ou para as pessoas que moram nessa cidade, oporquêque a
cidade é feita assim, por que que a cidade é uma cidade industrial,
porquequeacidadeéumacidadeotãoenfeitada,masmais,decerta
forma,prática,pensandonautilidadedascoisas...Vaidescobrircomo
se o sabe o porquê? Então, o Museu conta a dificuldade que os
primeiros imigrantes tiveram, o sucesso, os insucessos, e entende por
queacidadeécomoé,eamaessacidadeassim.Oimigranteprecisou
trabalharemuitoduro.Não...todososimigrantesporqueCaxiastem
uma matriz italiana que foi preservada pela própria cultura que se
gerou na cidade, mas existem, desde o início, outras etnias que
contribuíram, os índios, os negros, os alemães, ospoloneses e muitas
outras...opessoaldosCamposdeCimadaSerra,olusobrasileiro,o
espanhol,quantasetnias....atéosprópriosbandeirantesquevinhamde
SãoPaulofizerampartedaformação,dessamaneiradeserdacidadee
dopovo.Então,issoéimportantecomovalorizaçãoda formadeserede
viverdaprópriacidade(PROFESSORA A).
Naquestãoquedizrespeito àpossibilidadedoProgramadeEducaçãoPatrimonial
beneficiardealgumaformaoturismodacidade,asmonitorasrelataramqueessebenefício
pode ocorrer de forma indireta, a longo prazo, como conseqüência da interação
95
estabelecida entreacomunidadeeo seupatrimônio.Os seguintesdepoimentos ilustram
melhoresteentendimento :
Claroquepode, euachoqueeuofizentendero queeuquisdizer.
Porqueassim,umacriançaque hojevemaqui,quetemessaconsciência
daeducaçãopatrimonial,elavai. ..digamosqueela vaisemudarpra
SãoPaulo,elachegandoemSãoPaulo,elavaidizer Olha,temum
trabalhoassim,assim,quandovocêsforem,vãovisitar.Elasvão
fazendoapropagandadaqui.Porquesetuofizernada,elaovai
saber... Eu, por exemplo, o tive essa experiência de educação
patrimonialquandoeuerajovem,entãoseeufossepraSãoPaulo,se
fosseprumoutrolugarcomofui,eujamaisiadizerpraeles'Vai,
vaivisitarumMuseu,vaivisitarnossacidadequeébonita'.Nãotinha
essaconsciência.Agoraelas,eu tenhocertezaqueelassaemdaquicom
essaconsciência(MONITORAA).
Eu acredito que a longo prazo, porque é um projeto legal, né,
interessante. Eno de repente isso possa dar resultado. Não
imediatamenteligadoaoturismo,maseuacreditoquemaissejacoma
nossa sociedade mesmo. uma integração maior socialmente, né,
ligadaaessaculturadaimigração.E,claroqueissovaiserefletir,né.
As pessoas mais informadas têm mais condições de receber o turista
(MONITORAB).
Umadasprofessorasent endequeoProgramadeEducaçãoPatrimonialeoturismo
nãosãodependentesumdooutro,masestão interligados,àmedidaqueavalorizaçãodo
patrimôniopelacomunidadeatraioolhardoturist a.Asegundaprofessora,porseuturno,
associouo  turista à visita monitoradaoferecida peloMuseu,afirmando que oPrograma
beneficia o turismo de acordo  com o perfil e objetivo deste turista. O depoimento da
DiretoradoMuseureiteraoquefoicolocadoanteriormente,resumindoqueaeducação
patrimonialformaumacidademaisculta,nosentidodevalorizaçãodoseupatrimônio.
96
3.5AnálisedosresultadosdoGrupoExperimental
Apresentamse aqui os resultados apresentados pelos estudantes acompanhados
durante a Aula no Museu, de turmas de terceira, quarta, sétima e oitava séries. Os
questionáriosforamrespondidosnaSaladeVídeo, apósointervalodo lanche, antesda
retomadadasatividadesprogramadas.
Emrelaçãoàpr imeiraperguntadoquestionário,“VocêjávisitouoMuseuantesda
Aula no Museu?”, 100% dos alunos da terce ira série responderam que não, da mesma
formaque 94,4%daquarta,77,7% datimae 60%da oitava série.Podesededuzir,  a
partirdestesdados,que,comoavançodonívelescolar,avançatambémocontatoqueo
alunotemcomoMuseu.
Quantoaosexodossujeitos,naterceirasérie,amaioria(62,5%)eracompo stapelo
sexofemininoe37,5%pelosexomasculino.Situaçãoopostaocorrenaquartasériecom
61,1% do  grupo composto por menino s e 38,8% por meninas, e na sétima série, com
77,7%compostoporadolescentesdo sexomasculinoe22,2% dosexofeminino.Aoitava
sériefoiaúnicaturmaaapresentarnúmerosiguaisentreadolescentesdosexomasculinoe
feminino,com50%cada.
Quadro3–Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagenssobreosexodossujeitos
Informação Séries
Ocorrências
Masculino % Feminino % Total %
Sexo
3ª 6 37,5 10 62,5 16 100
4ª 11 61,1 7 38,8 18 99,9
7ª 14 77,7 4 22,2 18 99,9
8ª 10 50 10 50 20 100
Quadro2Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdos
sujeitossobrehavervisitadooMuseuMunicipalantesda AulanoMuseu
Informação Séries
Ocorrências
Sim % Não % Total %
Vis itouoMuseu 3ª 0 0 16 100 16 100
antesdavisita 4ª 1 5,55 17 94,4 18 99,9
comaescola 7ª 4 22,2 14 77,7 18 99,9
8ª 8 40 12 60 20 100
97
Naperguntasobreaidadedossujeitos,verificouseque, naterceirasérie,87,5% 
das crianças tinham até 9 anos e 12,5% de 10 a 18 anos. Na quarta série, o corre o
contrário:94,4%situamsenafaixaentre10a18anos,enquanto5,5%tematé9anosde
idade.Tantonasétimaquanto naoitavaséries,100% dossujeitosresponderamestar na
faixa entre 10 e 18 anos, com idade média de 15 anos, segundo depoimento de uma
professoraescolar.
Aquarta pergunta doquestionár io,“Descendentedeimigrantesitaliano s?”,revelou
que a maioria dos sujeitos não tem a scenncia italiana. Na terceira série, 56,25% dos
sujeitos responderam que não são descendentes de italianos,  enquanto na quarta série,
61,1% respondeuque não éounão sabe seédescendentede italianos. Nasétimasérie,
55,4%respondeuquenãoéounãosabesedescendedeimigrantesitalianos enaoitava,
esseíndicefoide75%.Essesresultadosapont amofatodequeacidadedeCaxiasdoSul
possui uma matriz italiana emsua for mação, que jánão maisprevalece sobreas outras
etnias,aindaque setrabalhe(aomenosparafinsturísticos)umaimagemdeitalianidadeda
cidade.Esse fatoéconfirmadoporumadasmonitorasdoPrograma,quandoestaafirma
queavisitamonitor adaoferecidaparavisitantesexternoséfocadanaimigraçãoit aliana.
Apesar dos esforços feitos no sentido de encontrar uma fonte documental que
discriminasse a atual configuração étnica de Caxias do Sul, de forma a respaldar o
Quadro4–Distribuiçãodeocornciaseporcentagens dossujeitosquantoàfaixaetária
Informação Séries
Ocorrências
Até9a nos % 10a18anos % Total %
Faixaeria
3ª 14 87,5 2 12,5 16 100
4ª 1 5,5 17 94,4 18 99,9
7ª 0 0 18 100 18 100
8ª 0 0 20 100 20 100
Quadro5–Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdossujeitosquantoà
ascendênciaitaliana
Informação Séries
Ocorrências
Sim % Não % osabe % Total %
Descendente 3ª 7 43,75 9 56,25 0 0 16 100
de imigrantes 4ª 7 38,8 2 11,1 9 50 18 99,9
italianos 7ª 8 44,4 7 38,8 3 16,6 18 99,9
8ª 5 25 8 40 7 35 20 100
98
percentualdedescendentesdeitalianosverificadonaamostradesteestudo,taldocumento
nãofoiencontrado.Acreditasequeissosedeveaofatodequesórecenteme nteoPoder
Público estaria considerando a formação multiétnica da cidade. Segundo a tabela
Populaçãoresidenteporcorouraça,segundoasregiõesmetropolitanaseosMunicípios–
RioGrandedo Sul”,doCensoDemográficode2000,apopulaçãodeCaxiasdoSulteria
na sua composição 320.540 pessoas declaradas 'brancas', 6.748 declarada s 'pretas', 350
declaradas'amarelas',28.619declaradas'pardas',865sedeclararam'indígenas'e1.308não
teriafeitodeclaração decorou raça,deumaamostratotalde360.419entrevistados(IBGE,
2005).Estesresultados,como sepodeobservar,nãoespecificamoqueseriamosgrupos
étnicosassociadosàsreferidas'coresouraças'.
99
As afirmativas apresentadas no instrumento de pesqu isa 3 foram retiradas e
adaptadas do instrumento ela borado por Quadros (2003) em sua, já mencionada,
dissertação de mest rado. Originalmente, o instrumento apresentava as seguintes
afirmativassobreavidadosprimeirosimigrantes italianos:
1.Elestrabalhavammuito.
Quadro6Distribuiçãodeocorrê nciaseporcentagensdeindicõesdos
sujeitosquantoaoquefoiapreendido,naAulanoMuseu,arespeitodavida
dosprimeirosimigrantesitalianos
Informação Série s
Ocorrências
Sim % Não % osabe % Total %
3ª 15 93,75 1 6,25 0 0 16 100
1.Elestrabalhavam 4ª 17 94,4 0 0 1 5,55 18 99,9
muito 7ª 18 100 0 0 0 0 18 100
8ª 20 100 0 0 0 0 20 100
2.Assuastarefas 3ª 0 0 16 100 0 0 16 100
domésticas 4ª 1 5,55 15 93,3 2 11,1 18 99,9
eramleves 7ª 2 11,1 14 77,7 2 11,1 18 99,9
8ª 2 10 17 85 1 5 20 100
3ª 15 93,75 1 6,25 0 0 16 100
3.Elestinham 4ª 17 94,4 1 5,55 0 0 18 99,9
umavidadicil 7ª 17 94,4 0 0 1 5,55 18 99,9
8ª 19 95 0 0 1 5 20 100
3ª 14 87,5 2 12,5 0 0 16 100
4.Eleserammuito 4ª 16 88,8 2 11,1 0 0 18 99,9
religiosos 7ª 17 94,4 0 0 1 5,55 18 99,9
8ª 18 90 1 5 1 5 20 100
5.Suascasas 3ª 2 12,5 13 81,25 1 6,25 16 100
possuíam 4ª 0 0 18 100 0 0 18 100
águaencanada 7ª 0 0 17 94,4 1 5,55 18 99,9
8ª 1 5 18 90 1 5 20 100
6.Ohomem 3ª 1 6,25 15 93,75 0 0 16 100
trabalhavamais 4ª 0 0 18 100 0 0 18 100
queamulher 7ª 2 11,1 16 88,8 0 0 18 99,9
8ª 15 75 1 5 4 20 20 100
7.Osimigrantes 3ª 4 25 8 50 4 25 16 100
encontraramna 4ª  1 5,5 17 94,4 0 0 18 99,9
terranovatudo 7ª  2 11,1 15 83,3 1 5,5 18 99,9
aquiloqueesperavam 8ª 5 25 14 70 1 5 20 100
100
2.Suas atividadesdomésticaseramleves.
3.Elestinhamumavidadifícil.
4.Elesera mmuitoreligiosos.
5.Suas casaspossuíamáguaencanada.
6.Asuaa limentaçãobásicaseconstituíadearroz,feijãoepeixe.
7.Poucosdelessededicaram aocultivodauva.
8.Suas casasnãopossuíamluzelétrica.
NoInstrumentodePesquisaoriginalnãoconstacomoasafirmativasacimateriam
sidoelaboradas,contudo,emconsultaàequipedaAulanoMuseu(umamonitoraeduas
professoras ligadasaoprograma)decidiusesuprimir asafirmativasque mencionavam a
alimentação e o cultivo da uva, por causa dos termos alimentação básica” e poucos
deles”quepoderiamgerardúvidasnasrespostas,tendoemvistaqueogrupoexperimental
écompostoessencialmenteporcriançaseadolescentes,demodoqueasafirmativasforam
substitdaspor“Ohomemtrabalhavamaisqueamulher”e“Osimigrantesencontraram
naterranovatudoaquiloqueesperavam”.Levouseemconsideraçãoqueastemáticasdas
últimasafirmativassãoenfatizadasduranteaexploraçãodoacervo.Aafirmativa“Suas
casas nãopossuíam luz elétrica” foi suprimidaao longodotrabalhodecoletade dados,
quando se observou,  com o auxílio de uma professora responsável pela turma, que a
palavra“não”estavacausandoconfusãoquantoaoqueseriaarespostacorreta.Comoduas
turmasjáhaviamr espondido aoinstrumento,aafirmativafoi,apartirdeentão,suprimida
enasturmasjáacompanhadas,aafirmativafoianulada.
Oquadro6mostraoíndicedeerroseacerto sdosestudantesquantoaafirmativas
simples,so breavidadoimigrante italiano,todasmencionadaspelamonitoracommaior
oumeno rênfaseduranteotrajetopeloacervo.Emrelaçãoàprimeiraafirmativa,todasas
turmasapresentaramelevadoíndicedeacerto,respondendo“Sim”:93,75%,terceirasérie,
94,4%, quarta série e 100% sétima e oitava ries. A situação se repete na segunda
afirmativa, quando a grande maioria dos sujeitos em todas as turmas responde “Não”:
101
100%naterceirasérie,93,3%naquarta,77,7%nasétimae85%naoitavasérie.Omesmo
índicedeacertossemantémnastrêsafirmativasseguint es.
Naterceiraafirmativa,93,75%daterceirasérie,94,4%daquartaedasétimaséries
e95%daoitavarespondemSim”sobreavidado imigranteitalianoserd ifícil.Naquarta
afirmativa,sobreareligiosidadedoimigr ante,87,5%daterceira,88,8%daquarta,94,4%
da sétima e 90%  da oitava sérierespondemcorretamente a questão ( “Sim”). Na quinta
afirmativa, 81,25% da terceira, 100% da quarta, 94,4% da tima e 90% da oitava
respondem“Não”,sobreapresençadesaneamentobásiconaresidência doimigr ante.Nas
duasúltimasafirmativa s, os índicesdeacertosealteramumpouco.
Na sexta afirmativa, a t erceira, quarta e sétima séries respondem corretamente
(“Não”)com93,7%,100%e88,8%deacertos,respect ivament e,enquantonaoitavasérie,
75%respondeSim”e25%dossujeitosrespondem“Não”ouNãosei”sobreaquestão
Ohomemtrabalhavamaisqueamulher”.Estesnúmerospermitemdeduzirqueaturma
commaisidadetemmaisarraigadaàsuaculturaeeducaçãoconcepçõesmachistasnoseu
entendimentodemundo,aindaqueaturmaestejadivididaequitativamenteentremoçase
rapazes. No acompanhamento das Aulas, constatouse que este pico part icularmente
costumaserbastanteenfatizadonodiscursodasmonitorasqueelevamaimpo rtânciaeo
papeldamu lhernaformaçãodasociedade.
Naúltimaafirmativa,pergunt adosse“Osimigrantesencontraramnanovat erra
tudoaquiloqueesperavam”,aporcent agemdeacertoémenor,mas,ainda,configuraa
maior iadasrespostasdadas.Naterceirasérie,50%dosalunosrespondemcorretamente
(“Não”),enquanto orestant esedivideentre“Sim”e“Nãosei”.Naquarta,timaeoitava
séries,94,4%,83,3%e70%dossujeitosacertam,respect ivamente,respondendo“Não”.
102
O quadro 7 mostra o grau de satisfação dos estudantes em relação à Aula no
Museu,por meiodeumapont uaçãode 1 a 5. Na terceira série,97,5%dos sujeitos deu
pontuação5,enquanto12,5%deupontuação4àexperiênciano Museu.Naquartasérie,
66,6%dascriançasmarcou5,27,7%deupont uação4eapenas5,5% deupontuação3.Na
sétimasérie,osvalores3e4têmnúmeroigualdeocorrências,22,2%,enquanto55,5%dos
sujeitospontuouàAulacomvalo r5.Naoitavasérie,45%dosadolescentesdeuvalor5,
50% pontuou 4 e 5% marcou o valor 3 para a Aula no Museu. Perce bese, com esses
dados, índice maior de pontuação 4 e 5 nas séries menores, o que permite inferir que
estudantescom idademenortem maiorgraudesatisfaçãocoma AulanoMuseu,talvez
porque o desenvolvimento da Aula conte mple mais efetivamente o universo lúdico de
crianças,sendoumaexperiênciamenosadequadaàfaixaetáriadeadolescent es.
Sobre a pergunta aberta que coisas no vas você ficou sabendo a respeito dos
imigrantes italianos desta região, na visita ao Museu?”, as respostas mais mencionadas
pelos estudantesdaterceirasérieforam:“queamulhertrabalhavamaisqueohomem”e“a
doençadapelagra”.Jáaquartasériecito ucommaisfreqüê ncia“alendadoSanguanel”e
comoeraonamorodosimigrantes”.Asétimas érie,porsuavez,mencionoucommaior
númerodeocorrências“omododevidaetrabalhodosimigra ntes”e“asdificuldadesda
viagem até o Brasil”, enquanto na oitava série as respostas mais recorrentes foram os
costumesetrabalhosdosimigrantes”equeosimigranteserammuitoreligiosos”.
Quadro7Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdossujeitosquantoao
graudesatisfaçãocomaAulanoMuseu
Informa ção Séries
Ocorrências
1 % 2 % 3 % 4 % 5 % Total %
Graude 3ª 0 0 0 0 0 0 2 12,5 14 87,5 16 100
satisfação 4ª 0 0 0 0 1 5,5 5 27,7 12 66,6 18 99,8
comaAula 7ª 0 0 0 0 4 22,2 4 22,2 10 55,5 18 99,9
noMuseu 8ª 0 0 0 0 1 5 10 50 9 45 20 100
103
3.6AnálisedosresultadosdoGrupodeControle.
A exemplo do subtítulo anterior, apresentamse aqui os resultados obtidos por
estudantesqueestavamemviasdeparticipardaAulanoMuseu.Assériesescolaresdeste
gruposãoidênticasasdoprimeiro.Estegrupo,todavia,respondeuaoquestionáriotãologo
chegouaoMuseueseacomodounaSaladeVídeo,antesderealizarotrajetopeloacervo. 
A análise dos questio nários respondidos pelo grupo de controle (alunos que não
participaram da Aula no Museu) revelou  que, sobre ter visitado previamente o Museu,
dentreosalunosdaterceirasérie,100%nuncahaviavisitadooMuseu, enquantonaquarta
série, este índice foi de93,3%,na sétima, 75% e naoitava série,  88,8%respondeu que
nuncatinhaidoaoMuseu.Esteresultadomostraque,assimcomonogrupoanteriormente
analisado,asturmasmenorestêmmenoscontatocomoMuseu.
Emrelaçãoaosexodossujeitos,asterceir aequartasériesdogrupodecontroletêm
igual distribuição de sexo entre as crianças: 60% são meninos e 40% são meninas. Na
sétimaeoitavaséries, adiferençatambémépequena;56,25%e55, 5%deadolescentessão
dosexofeminino,respectivamente.
Quadro8Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdos
sujeitossobrehavervisitadooMuseuMunicipal
Informação Séries
Ocorrências
Sim % Não % Total %
3ª 0 0 25 100 25 100
Vis itouoMuseu 4ª 1 6,6 14 93,3 15 99,9
Anteriormente 7ª 4 25 12 75 16 100
8ª 2 11,1 16 88,8 18 99,9
Quadro9–Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagenssobreosexodossujeitos
Informação Séries
Ocorrências
Masculino % Feminino % Total %
Sexo
3ª 15 60 10 40 25 100
4ª 9 60 6 40 15 100
7ª 7 43,75 9 56,25 16 100
8ª 8 44,4 10 55,5 18 99,9
104
No quadro que distribui a faixa etária do grupo de controle, a terceira série
apresenta64%dascriançassituadasnafaixaetáriaaté9anose36%,entre10e18anos.
Naquartasérie,porsuavez,amaioriaseencontranafaixaentre10e18anos,86,6%,co m
apenas13,3%dentrodafaixaaté9anos.Natimaeoitavaséries,100%dosadolescentes
têmentre10e18anos.
A pergunta que diz respeito à ascendência italiana do grupo de controle mostr a
númeromenordeestudantesdescendentesdeimigrantesitalianos.Naterceirasérie,68%
responderam que não é ou não sabe se descende de imigrantes. Na quarta série, esse
mesmo índice é  de 80%, enquanto na sétima e oitava séries é de 87,5% e 72,1%,
respectivamente, fortalecendo a iiade que a etnia italiana não é majoritáriadentr e os
habitantesdeCaxiasdoSul.
Quadro11–Dis tribuiçãodeocornciaseporcentagensdos sujeitosquantoà
ascendênciaitaliana
Informação ries
Ocorrências
Sim % o % osabe % Total %
Descendente 3ª 8 32 8 32 9 36 25 100
de imigrantes 4ª 3 20 3 20 9 60 15 100
italianos 7ª 2 12,5 8 50 6 37,5 16 100
8ª 5 27,7 8 44,4 5 27,7 18 99,8
Quadro10Distribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdossujeitosquantoàfaixaeria
Informação Séries
Ocorrências
Até9a nos % 10a18anos % Total %
Faixaeria
3ª 16 64 9 36 25 100
4ª 2 13,3 13 86,6 15 99,9
7ª 0 0 16 100 16 100
8ª 0 0 18 100 18 100
105
Quanto ao  índice de err os e acertos em relação às afirmativas sobre a vida dos
primeiros imigrantes italianos, os índices de acerto, na primeira afirmativa, sobre a
quantidadedetrabalhodosprimeirosimigrantes,foramde80%naterceirasérie,93,3%na
quarta,18,7%datima e94,4%naoitava. Comexceção dasétimasérie,onúmero  de
acertosfo iconsideravelmentealto,mesmoquemenordoqueoobtidopelossujeitosque
participaramdaAulanoMuseu.
Com relação à segu nda afirmativa, perguntados sobre as tarefas domésticas dos
imigrantes,oíndicedeacertoéacimade50% emtodasasséries,comexceção dasétima:
Quadro12–Dis tribuiçãodeocorrênciaseporcentagensdeindicaçõesdossujeitos
Quantoaoseuconhecimentoarespeitodavidadosprimeirosimigrantesitalianos
Informação r ies
Ocorrências
Sim % Não % osabe % Total %
3ª 20 80 3 12 2 8 25 100
1.Elestrabalhavam 4ª 14 93,3 0 0 1 6,6 15 99,9
muito 7ª 3 18,75 1 6,25 12 75 16 100
8ª 17 94,4 0 0 1 5,5 18 99,9
2.Assuastarefas 3ª 2 8 18 72 5 20 25 100
domésticas 4ª 1 6,6 10 66,6 4 26,6 15 99,8
eramleves 7ª 3 18,75 4 25 9 56,25 16 100
8ª 0 0 16 88,8 2 11,1 18 99,9
3ª 22 88 3 12 0 0 25 100
3.Elestinham 4ª 12 80 1 6,6 2 13,3 15 99,9
umavidadicil 7ª 6 37,5 1 6,25 9 56,25 16 100
8ª 14 77,7 0 0 4 22,2 18 99,9
3ª 21 84 1 4 3 12 25 100
4.Eleserammuito 4ª 3 20 5 33,3 7 46,6 15 99,9
religiosos 7ª 2 12,5 2 12,5 12 75 16 100
8ª 9 50 0 0 9 50 18 100
5.Suascasas 3ª 2 8 18 72 5 20 25 100
possuíam 4ª 0 0 13 86,6 2 13,3 15 99,9
águaencanada 7ª 0 0 5 31,25 11 68,75 16 100
8ª 0 0 16 88,8 2 11,1 18 99,9
6.Ohomem 3ª 7 28 13 52 5 20 25 100
trabalhavamais 4ª 10 66,6 2 13,3 3 20 15 99,9
queamulher 7ª 5 31,25 2 12,5 9 56,25 16 100
8ª 9 50 6 33,3 3 16,6 18 99,9
7.Osimigrantes 3ª 7 28 14 56 4 16 25 100
encontraramna 4ª 2 13,3 9 60 4 26,6 15 99,9
terranovatudo 7ª 1 6,25 4 25 11 68,75 16 100
aquiloqueespera vam 8ª 1 5,5 11 61,1 6 33,3 18 99,9
106
72% na terceira, 66,6% na quarta, 25% na sétima e 88,8% na oitava série. A situação
anteriorserepetenaterceiraafirmativa:88%daterceira,80%daquart ae77%daoitava
sérieresponderamcorretamente(Sim”).Apenasasétimasérieapresentoubaixoíndicede
acerto:37,5%.
Naquartaafirmat iva,asituaçãosealteraquando84%dos sujeitosdaterceira,20% 
daquart a,12,5%dasétimae50%daoitavarespondemcorretamenteàafirmativa(“Sim”),
revelandoumpequenonúmerodeacertos.
Na quinta afirmativa, sobre a presença de saneamento básico na resincia dos
primeirosimigrantes,maisumavezapenasasétimasérieapres entabaixoíndicedeacerto
com31,25%,enquantoaterceira, quartaeaoitava,acertam com72%, 86,6%e88,8%,
respectivamente. Na penúltima afirmativa, o número de acertos decresce
consideravelmente em relação aos resultados dos estudantes do primeiro grupo: apenas
52% da terceir a, 13,3% da quarta, 12,5% da sét ima e 33,3% da oit ava responderam
corretamenteàafirmativa(“Não”).
Porfim,naúltimaafirmativa,sobreoqueosimigrantesteriamencontradonanova
terrae suas expectativas,o índicedeacertosdiminuium poucoemrelação aoprimeiro
grupo, mas a maioria dos estudantes segue respondendo corretamente, com exceção da
sétimasér ie:56%daterceira,60%daquarta,25%dasétimae61,1%daoitavarespondem
Não”àafirmativa.
Observandoseoquadroacima,percebesequeexisteumadiferençapequenaentre
onúmerodesujeitosqueacertaram6o u7afirmativasnaterceirasérie(16,7%).Naquarta
série, não houvesujeitosque acertassem7 afirmativas, ficando  os índicesmaisaltos de
acertos com 6,66% de sujeito s que acertaram 6 afirmativas, 46,6% que acertaram 5 e
6,66% que acertaram 4. Apesar deste resultado estar aquém daquele apresentado pelo
Quadro13Distribuiçãodeocorncias eporcenta gensdes ujeitosqueobtiveram6ou7acertos
Informação Séries
Grupoexperimental Grupode controle
N.º % Total % N.º % Total %
Númerode 3ª 11 68,75 16 100 13 52 25 100
s ujeitosque 4ª 16 88,8 18 100   15 100
obtiveram 7ª 14 77,7 18 100   16 100
6ou7acertos 8ª 10 50 20 100 9 50 18 100
107
grupo experimental, deve ser considerado o fato de que, somados estes três subgrupos,
contabilizam 59,9% de sujeito s a acertar ma is de 50% do total de afirmativas do
instrumento de pesquisa, o que revela que a Aula no Museu pode servir como um
mecanismoquesolidificaeaumentaoentendimen tocomum, jáexistente,acercadealguns
aspectosdaculturaeorganizaçãosocialdosprimeirosimigrantesdaregião .Asétimasérie,
noentanto,apresentadiferençaconsiderávelno veldeacertosentreosdoisgrupos.No
grupo de controle, o índice máximo de acertos foi de 12,5% dos sujeitos acertando 5
afirmativas, 18,75% acertando 4 e 12,5% obtendo apenas 3 afirmativas corretas. As
turmasdasoitavassériesdosdoisgruposapresentamigualporcentagemdesujeitoscom6
ou7afirmativasacertadas:50%.EstefatopodevirafortaleceraidéiadequeaAulano
Museu cumpre seu papel enquanto propost a de atividade didática ext raclasse que
complementa e re força a construção e sedimentação do discurso sobre a vida dos
imigrantes italianos vigente nas escolas da rede de ensino formal e apropriada pelo
cotidianodasociedade.
Quadro14–Distribuiçãodonúmerodeturmasealunosnosanosde2002,2003e 2004,a
participardaVisitaMonitorada,VisitaMonitoradacomvídeoeAulanoMuseu.
Ano
Modalidadeda Númerode turmas Númerode alunos
visitaaomuseu E.P.* E.M.** E.E.*** E.P.* E.M.** E.E.***
2002
Aulanomuseu 14 25 13 382 672 356
Vis itamonitorada 27 22 32 686 554 939
Visitamonitoradacomdeo     
Total 43 47 45 1068 1226 1295
2003
Aulanomuseu 16 44 9 410 1150 185
Vis itamonitorada 39 29 42 1179 810 1189
Visitamonitoradacomdeo 9 34 15 248 884 424
Total 64 107 66 1837 2884 1798
2004
Aulanomuseu 17 19 14 384 494 363
Vis itamonitorada 51 37 32 931 870 972
Visitamonitoradacomdeo 8 19 23 199 454 543
Total 76 75 69 1514 1818 1878
*EscolaParticular
**EscolaMunicipal
***Escola Estadual
108
Oquadro 14
14
apresentaonúmerodet urmasealunos,dastrêsredesdeensino,a
participardoProgramadeEducaçãoPatrimonial.Considerasequeasvisitasmonitoradas
estãoligadasaoPrograma,apartir domomentoemqueseentendequeaAulanoMuseu
seriaumavisitamonitorada maiselaborada,queatendeobjetivospreviamente
estabelecidos,alémdequeodeoutilizadonasvisitas,assimcomonasAulas,sãoobjeto
doprojetoOlhoaOlhoquetambémfazpartedo ProgramadeEducaçãoPatrimonialdo
Museu.Segundoos númerosdoquadro,vêsequetemhavidoumademandadasescolas
significativae crescenteaolongodostrêsanos.Comexceçãodaprocuraobservadapo r
partedasescolasmunicipaisnoanode2003,quefoiconsideravelmentesuperior adas
escolasestaduaiseparticulares,constatasehaverumequilíbrioemtermosdeserviços
prestadosato dasasr edesdeensino.
Destacase,contudo,quedentreas58turmasquerealizaramavisitamo nitorada
comdeoem2003e50,em2004,42e47turmasrespectivamente,assistiramaodeoo u
lâminasintituladosOsitalianosnoRioGrandedoSul,oquereforçaaiiadequeogrupo
étnicoquetemsidoproblematizadonaexploraçãodopatrimôniocultura ldacidadeéo
grupoitaliano.
14
OquadrofoiconstruídocomnúmerosretiradosdosRelatóriosdeAtividadesdoDepartamentode
MemóriaePatrimônioCultural,dosanosde2002,2003e2004.
109
CAPÍTULO4:
TURISMOCULTURAL
No hayculturasinturismo,nohayturismosincultura.
ArthurHaulot.
Asociedadecontemporânea,comtodooavançotecnológiconostransportesena
comunicaçãoqueacaracteriza,abraçouolazere,dentresuasopçõesdemaiordestaqueo
turismo ,assumido scomoumanecessidadepessoalecoletiva,nãomaisumprivilégioao
alcancedepoucos,commaiorpoderaquisitivo.Infelizmenteounão,oturismo,talcomo é
entendidohoje,éumaatividadepossibilitadapelo modelodeproduçãocapitalista,ecomo
talnãoraro,visaexclusivamenteareproduçãodocapital,justificandosesobestepr isma
econômico.Assim,oturismoganhouespaçonamídia,naspautasdosprojetosdegovernos
edeorganizaçõesinternacionais, graçasaovolumefinanceirodedinheiroqueseria capaz
demovimentareconcentrarnoseusistemadeproduçãoecomercialização.
Se,numaépocadedesenvolvimento industrialassociadoàmodernidade,aspessoas
viajavambusca ndonassuasfériasrecuperarsedafadigacausadapeloperíododetr abalho,
na smodernidade, trabalhase para acumular a renda que permitirá ao indivíduo
contemporâneo viajar. Viagem que, agora, não mais se justificaria na procura pelo
descansoeoisolamentonosespaçosjuntoànatureza,mas,nocontato comoutrasculturas,
comoutrasformasdee ntenderomundo,emespecialnoâmbitodascidades(GASTAL,
2001).Aindaquenãoseja consideradoomotivoprincipaldaviagem,váriosautorescomo
Barretto(2000),Pires(2002)eoutrosmencionadosnestetexto,concordamqueoturismo
ésempreumatocultural,independentedesuaclassificação,àmedidaque“oato deviajar
ésempreentrarnumuniversoqueédooutro ”(PIRES,2002,p.69).
Isto posto, entendese que o deslocamento de milhões de pessoas por lazer em
fériasjánãopossui,atualmente,aconotaçãoromântica,emesmopoética,quelheatribuiu
anosatrásautorescomoArthurHaulot(1991,p.7273):
Odescobrimentoda s belezas domundo, daalma dascoisasedoselement os,
está aqui o que sem dúvida constitui o móvel mais poderoso do turismo tal
comooentendemos.Aeledevemosunirmediantelaçoscadavezmaisfortes,
110
esteextraordinár iomovimentodemilhõesdehomens,quesãodesign adospelo
mesmovocábulo.Emnadadiminuiremosoalcanceeconômicodasoperações
materiaisdoturismo,masevitaremosqueelesevejaprivadodoqueconstitui
suafonteprimeiraesuamaisaltajustificação
15
.
Haulot (1991) ressalta que a atividade turística não pode ser desvencilhada da
cultura, uma vez que esta se encontra no centro das mot ivações que levam ao
deslocamentodemilesdepessoasesemaqualhaveriaapenasumacaricaturaenãoum
turismo verdadeiro.Poroutrolado,aculturajánãopoderiatambémserconcebidasemo
turismo ,àmedidaqueesteteriaseconvertidoe mumelementoessencialnaformaçãoda
sociedadecontemporânea.
BobMckerchereHilaryDuCros(2002)ressaltamadificuldadededefinirturismo
cultural,hajavistoonúmerodeaspectoserecursosqueaatividadeutiliza.Todavia,os
autores ponderam que as definições estariam centradas basicamente nos aspectos
motivacionais do viajante; voltadas para a sua experiência; centradas nas questões
operacionaisdaviagem;ouderivadasdedefiniçõesdopróprioturismo.Asmaisvariadas
definições de turismo cultural abarcariam de forma central ou tangencial os elementos
destacados a seguir: a decisão por fazer turismo cultural sucede a decisão por fazer (1)
turismo ,portanto,oturismoculturalnãopodeserentendido comoumaformademane jo
do(2)patrimôniocultural,aindaqueot enhacomomolapropulso ra.Comotodaformade
turismo ,oturismoculturalincluio(3)consumodeprodutoseexperiências,havendoa
distinção  entre bem cult ural, identificado pelo valor que possui para a comunidade e
produto  turístico cultural que seria o bem cultural modificado para o consumo do (4)
turista, que como todo consumidor necessita  ter suas necessidades e expectativas
devidamenteatendidas.
Adefinição de turismocultural incluiria,também, oresultadodo encontro entre
anfitriões e visit antes, dado que a dinamicidade inerente às interações culturais leva ao
surgimento de formas híbridas de relações sociais, que, por sua vez caracterizam o
fenômeno turístico. Alfredo Ascanio (2003) defende que a relação entre comunidade
15
Eldescubrimientodelasbellezasdelmundo,delalmadelascosasydeloselementos, heaquíloquesin
dudaconstituyeelmóvilmáspoderosodelturismotalycomoloentendemos.Aellodebem osunirmediante
lazoscadavezsfuertes,esteextraordinariomovim ientodemil lon esdehombres,quesondesignadospor
elmismovocablo.Ennadadisminuiremoselalcanceeconomicodelasoperacionaiesmaterialesdelturismo,
pero evitaremos que se vea privado de lo que constituye su fuente primera y su s alta justificación
(Traduçãonossa).
111
receptoraevisitantesproduzumasinergiaquesetornouoverdadeirovalo ragregadodo
turismo cultural.
Oturism oculturaléabifur caçãodeidentidadesculturaisdeordemdistintaem
queseconcretizaaunidadeeadiversidade,aqualtemporbasearelaçãoen tre
oqueprovémdeoutrosentornoscom olocaleasnovas formashíbridasque
podemsurgirequesãopartedodesenvolvimentosocial
16
(ASCANIO,2003,p.
34).
Oautorlembra,contudo,quemesmoquenão sepossanegaralgumasinterferências
negativas do turismo nas localidades receptoras, é difícil limitar as mudanças ocorridas
devido ao desenvolvimento do turismo e aquelas decorrentes de outros processos de
modernização, principalmentedadifusão dosmeiosdecomunicação.Tais int erferências
negativas já se faziam sentir quando do Seminário Internacional de Turismo
Contemporâneo e Humanismo, realizado em Bruxelas pelo Conselho Internacional de
MonumentoseSítios(ICOMOS),em1976,queoriginoua CartadeTurismoCultural:
Qualquerquesejasuamotivaçãoeosbenefíciosquepossui,oturismocultural
nãopodeserdesligadodosefeitosnegativos,nocivosedestrutivosqueacarreta
o uso massivo e descontrolado dos monumentos e sítios. O respeito a estes,
aindaquesetratedodesejo elementar demantêlosnumestadode aparência
quelhespermitadesempenharseupapelcomoelementodeatraçãoturísticaede
educação cultural,levaconsigoa definição, odesenvolvimentode regrasque
mantenhamníveisaceitáveis(MINISTÉRIODACULTURA,2005).
O citado docume nto chama a atenção para a necessidade de uso equilibrado do
patrimônioculturalparafinsturísticos,ressaltandoqueo respeitoaopatrimôniomundial
culturalenaturaldeveserpriorizadofrenteaosargumento s sociais,poticoseeconômicos
quecostumamser enfatizados nadefesado desenvolvimentodaatividadeturística(mas
que nem sempre se o bservam), e, ainda, associa a necessid ade de mudança de
comportamentodopúblico,emreferênciaaoturismomassivo,aodesenvolvimentodeuma
consciência universal em relação ao patrimônio, desenvolvida na formação escolar e
fortalecidapelosmeio s decomunicação:
16
Elturismoculturaleslabifurcacióndeidentidadesculturalesdedistintoordenemloqueseconcretala
unidadyladiversidade,locualtieneporbaselarelaciónentreloqueprovienedeotrosen torn oscomlolocal
yl asnuevasformasbr idasquepuedansurgiryquesonpartedeldesarrollosocial(Traduçãonossa).
112
[...] desejam que, desde a idade escol ar, as crianças e os adolescentes sejam
educados em conhecimento e em respeito pelos monumentos e sítios e o
patrimôniocultural,equetodososmeiosdecomunicaçãoescrita,faladaouvisual
exponhamaopúblicooscomponentesdesteproblemacomoqualcontribuamde
umaformaefet ivaàformaçãodeumaconsciênciauniversal”(MINISTÉRIODA
CULTURA,2005).
TedSilberbeg(apudPIRES,2002,p.67)apresentaaseguintedefiniçãodeturismo
cultural:“visitadepessoasdeforadacomunidadereceptoramotivadascompletamenteou
em parte por interesses na oferta histórica, artística, científica ou no estilo de vida,
tradiçõesdacomunidade,relig ião,grupoouinstituição”.Lo go,nãoénecessário,quehaja
interesse específico em algum aspecto cultural da lo calidade para que o visitante fa
turismo cultura l:dura nteumaviagem,normalmentesedesejafazertantascoisasquantoo
tempo permitir e houver facilidades para isso, ou seja, os turistas podem terminar por
visit aratraçõesculturais,casotaisatrativossejamoferecidosdeformafacilitada(PIRES,
2002;DUCROSeMCKERCHER, 2002).
Os estudiosos eplanejadores doturismo cultural, especialmente no que t ange os
atrativos t urísticos históricos, devem priorizar a organicidade existente entre tais bens.
Valedizerque,paraousoturístico,orespeitoaod iálogopresentenasedificaçõeseentre
estaseosrespectivoslogradourospermiteumavisãodeconjuntodosatrativosedaforma
como eles se articulam levando a um melhor aproveita mento turístico. O produto do
turismo culturaldeveconhecersuademand a,inclusiveasofertasdelazerqueconcorrem
pelaatençãodoconsumidorcontemporâneo(PIRES,2002).
Susana Gastal (2002) considera pertinente a reflexão sobre o lugar de memória
dentro do produto do turismo cultural quando se enxerga neste segmento mais que um
mero diferencial mercadológico. O lugar de memória fazse importante tanto para o
estudioso,quanto para oprofissionaldo turismo à medidaque representa umarua,u ma
casa,umestabelecimentocomercialoumesmoumobjetoconstituintedaidentidadelocal,
com o qual a comunid ade possua laços de afetividade, ainda qu e esses não possuam
característicasquepermitamclassificáloscomobenscultura ispassíveisdeproteçãolegal,
nostermosestritosdalei.
Nemsempreumprédioouumobjetoprecisaser'excepcional'parafazerparte
dasrecordaçõesdeumgruposocial,poisasvivênciasdascomunida desnãosão
113
significativasporconstaremdosregistrosqueahistóriaoficialguardououque
omercadofinanceirovalorize,masporumasériedeliamesafetivos(GASTAL,
2002,p.73).
A justificativa para o o lhar diferenciado sobre o lugar de memória residiria na
qualidadedaexperiênciadesejadapelo viajantecontemporâneoquebuscaumcontatomais
próximo e autêntico ao cotidiano das localidades visitadas, a elementos que contenham
valores cognitivos, formais, afetivos e pragmáticos
17
de modo que “o lugarde memória
carregaems iessapresençanacomunidade”(GASTAL,2002,p.78).
De acordo com Sergio  Molina
18
, a função desempenhada pela comunidade no
turismo  cultural, nasmodernidade, passaporuma mudançaem virtude de uma nova
concepção de consumo turístico, agora mais ligado à experiência. Dentro desse novo
paradigma,acomunidadelocalsurgecomoumnovoator,passandoaexercerimportant e
papelnoprocessodeto madadedecisõesrelativasaodesenvolvimentodoturismononív el
local,sobretudo,noquedizrespeitoaoquesitoidentidadeculturallocal,atémesmodentro
de gr andescomplexos competitivos como  são os clusters turísticos. Para este autor , é a
identidade cultural que faz o grande diferencial de um destino ou produto turístico,
cabendo aoespecialista mostraràcomunidadequaiscaminhospodemser trilhadoscom
base nos digos próprios da comu nidade. Dessa forma, o desenvolvimento doturismo
sustentávelnecessitacomo condiçãoessencialdaparticipaçãodacomunidadelocal.
Para Mário Jorge Pires (2002,  p. 102), identidade cultural seria “o conjunto de
caracteres próprios e exclusivos de um corpo de conhecimentos, seus elementos
individualizadoreseidentificadores;enfim,oconjuntodostraçospsicológicos, omodode
ser,desentiredeagirdeumgrupo,queserefletenasaçõesenaculturamaterial”,eesta,
porsuavez,estariadireta menterelacionadaàformacomo oindivíduointeragecoma sua
cidadeeopatriniocoletivo,assimcomocomosproblemasqueatingemàcomunidade.
Aidéiadeidentidadee staria,ainda,tradicionalmenteassociadaàocupaçãodeumterririo
eafo rmaçãodecoleções:
Terumaidentidadeseria,antesdemaisnada,terumpaís,umacidadeouum
bairro,umaentidadeemquetudooque écompartilhadopelosquehabitamesse
lugarsetornasseidênticooui ntercambiável.Nessesterritórios,aidentidadeé
17
AdescriçãodestesvaloreséfeitanoitemEducaçãoPatrimonial,capítulo1.
18
EmsuafalaapresentadanoIIISeminárioInternacionaldeTurismodoMercosul,realizadoemagostode
2005naUniversidadedeCaxiasdoSul(UCS).
114
postaemcena,celebradanasfestasedramatizadatambémnosrituaiscotidianos
(CANCLINI,2003,p.190, grifosdoautor).
Néstor Canclini (2003, p. 190), a partir do seu entendimento de identidade,
classifica também o outro, dando as prerrogativas daqu ilo que caracteriza o olhar do
turista:aquelesquenãocompartilhamconst antementeesseterririo,nemohabitam,nem
têm,portanto,osmesmosobjetosembolos,osmesmosrituaisecostumessãoosoutros,
os diferentes.Osquetêmout rocenárioeumapeçadiferentepararepresentar”.
SegundoStuartHall(2003),aidentidadeé,todavia,umprocessoempermanente
construção,nãoumdadoacabadoeimutável,especialmenteemsetratandodosujeit opós
moderno,deformaquesepodeent enderqueoturismo,oumelhor,oimagináriodolugare
seupovo,alimentadospelaatividadet urística,fortalecemosentimentodeidentidade:
Assim,emvezdefalardaidentidadecomoumacoisaacabada,deveríamosfalar
deidentificação,evêlacomoumprocessoemandamento.Aidentidadesurge 
nãotantodaplenitudedaidentidadequejáestádentrodenóscomoindivíduos,
mas de uma falta de i nteireza que é “preenchida” a partir de nosso exterior,
pelasformas atravésdasquaisnósimaginamosservistos por outros(HALL,
2003,p.39.Grifosdoautor ).
Avançando nasuareflexãosobreidentidad e,Hall(2003)chamaaatençãoparaas
culturas nacionais que, na modernidade era m uma das principais fontes de identidade
cultural, hoje perdem espaço para a s manifestões étnicas, com seus símbolo s e
representaçõ es próprias. Isso ocorre no momento em que se entende que as nações são
híbridos culturais, formados por diversos grupos étnicos, que em um dado momento da
históriativeramdesersilenciadosemnomedaconstruçãodeumasupremacianacionale
agoravo ltamasemanifestaredefendersuasdiferenças,numprocessoquevaideencontro
àtemidahomogeneizaçãoculturaldecorrentedoprocessodeglobalização.Aidentidade,
teria, ainda, um forte ponto de referência no entendimento de lugar, em opos ição ao
espaço .Olugarseriaconhecido,familiar,ondeocorremaspr áticassociaisqueformamo
indivíduo,suaidentidadeeondeseencontramsuas rzes.
Retomandoaidéiadoturismocult ural,autilização dacu lturaparafinsturísticos,
todavia,temsemo stradoumaquestãodelicadadadaafragilidadedamesmaumavezpo sta
aserviçodeinteressesmeramentecomerciaisoueconômicos.Oturismopodesemostrar
um fator decisivo na recuperação de espaços urbanos degradados, recuperando sua
115
importância arquitetônica e funcional e revitalizando espaços que, muitas vezes, serão
reint egrados à vida social da comunidade local tanto quanto serão utilizados pelos
visit antes. Por  outro lado, a de manda turística e o aporte da estrutura queela necessita
podemrepresentarumaameaçaasítioseatr ativoshistóricosfisicamentefrágeis,damesma
formaquepode mmod ificarcostumes,tradiçõeseritos,umavezqueestaspassemaser
oferecidas como produto turístico. Exemplo marcante desta segunda situação é a
mencionadaporDeanMaccannell(2002,p.384):“oritualcomcrocodilosencenadospara
turistaspelacomunidadeIatmuldareg iãoSepiknaNovaGuinéfoiencurtadodetrêsdiasa
menosdequarentaecincominutos,eencenadosnãoanualmente,masquandodachegada
denavioscruzeiros”.
Maccannellé fortecríticodacomodificaçãodaculturaedaho mogeneizaçãodos
produto sculturais,considerandooturis moograndeagentepromotor dessepro cesso,que
chegaria mesmo a destruir as culturas locais à medida que as utilizaria como
entretenimento paraosturistas: “emqualquer lugar onde se encontram turistas, há uma
emergent e cultura do turismo feita de fragmentos das culturais loca is que o turismo
destruiu(MACCANNELL,2002,p.384).Oautorentendeaculturacomoinsumoparaa
atividadeturísticae,assimsendo,invariavelmente,elaadquiririavalordemercadoria.
PensandonaconservaçãodopatrimônioculturalKerr(
apud
MACKERCHEReDU
CROS, 2002, p. 12) concorda co m a existência de conflito entre conservação e uso
turístico:oqueébomparaaconservaçãonãoénecessariamentebo mparaoturismoeo
queébomparaoturismo,raramenteébo mparaaconservação”
19
. Contudo,autorescomo
Canclini (2003) ponderam a d inamicidade que acompanha todo processo cultural,
questiona ndoanecessidadedebuscaevalorizaçãodochamadoessencialmenteautêntico:
A política cultural e de pesquisa relacionada ao patrimôn io não tem por que
reduzirsuatarefaaoresgatedosobjetos'autênticos'deumasociedade.Parece
quedevemimportarnosmaisosprocessosqueosobjetos, enãosuacapacidade
de permanecer 'puros', iguais a si mesmo, mas por sua representatividade
sociocultural(CANCLINI,2003,p.202,Grifosdoautor).
Paraalgunsestudiososdofenô meno turístico,ocontatocomadiversidadecultural,
desejado pelos turistasapresenta algumas particularidades. Os turistas estariam indo em
19
Whatisgoodforconservation isnotnecessarilygoodfortourismandwhatisgoodfortourismisrarely
goodforconservation. Traduçãonossa.
116
busca daquilo que eles aprenderam como  sendo o autêntico de determinado lugar ou
cultura,atravésdosmeiosdecomunicaçãoedomarketingturístico;estariamviajandoao
encontrodasidealizaçõesconstruídasmuita s vezesemcimadeimagensestereotipadase
distorcidas: “turistas querem autenticidade, mas não necessariamente realidade (...)
autenticidade é um construto social determinado em parte pelo próprio indivíduo e seu
quadrodereferência”(M ACKERCHEReDUCROS,2002,p.40).Ou,ainda,o sturistas
estariamà procura de uma diversidadereproduzida,artificial, apenas umasimulação da
situação real: o esforço de r eproduzir o passado, natureza e outras culturas parece ser
motivado por um ilimitado apetite por divers idade, mas uma diversidade sob controle,
confortável,umadiversidadedomesticada”(MACCANNELL,2002,p.386).
Diante do exposto, a discussão so bre o vínculo que se estabelece,
contemporaneamente, entre o turismo cultural e o que constitui o seu produto leva à
reflexãosobreaconstruçãodeumarelaçãoentreturis moeculturaemvezdeumturismo
cultural(GASTAL,2002),nosentidodequeaculturacaracterizariacadavezmenosum
segmento, dentro do complexo  fenômeno turístico e suas múltip las c lassificações,
assumindo cada vez mais o papel de suporte fundament al para o entendimento e
planejamentodaatividade.
4.1Oturistacidadão
Segundo Richards (apud G ASTAL, 2001), o consumo  de produtos culturais e o
consumoturísticoconvergemnumamesmaofertaqueseapresentaavisit antesassimcomo
amoradores.Esteautorelencaosprodutosculturaismaisutilizadospeloturismo:(1)sítios
arqueológ icos e museus; (2) arquit etura e ruínas; (3) artes visuais, artes plásticas,
artesanato, galer ias, festivais e evento ( 4) música e dança clássica, fo lclór ica e
contemporânea; (5) artesdramáticas; (6) ngua e lit eratura (cursos,  seminários e outros
eventos); (7) festivais religiosos e peregrinações; (8) cultura popular e folclórica,
subculturasurbanas,manifestaçõesétnicaseparquestemáticos.Segundo Silberbeg(1995),
117
o apoio eenvolvimentoda comunidade éum dentre oito pontos queservemcomouma
espéciedechecklistparaauxílionaavaliaçãodosprodutosculturais
20
.
Algumasadministraçõespúblicasjátrabalhamsuaspropostasdedesenvolvimento
turístico pensando em ambos, turistas e residentes. A administração t urística de Porto
Alegre, por exemplo, em seu Plano de Ação de 1999, considera turistas os próprios
residentes da cidade, desde que saiam de suas rotinas espaciais e temporais, no
entendimentodequeumacidadecomoPortoAlegrepossuiumespaçourbanoepráticas
culturais que, por sua complexidade, podem ser desconhecidos pelos portoalegrenses
(GASTAL,2001).
Tratase, assim, do conceito de turista cidadão, o habitante que desenvolve um
relacionamentodiferenciadocomolocalondemoranoseutempodelazer,quebrandoo
modelo existencial da sociedade industr ial criticado por Jost Krippendorf (trabalho –
moradia–lazer–viagem),deacordocomoqualolazer,aspr áticassociaiscapazesde
restabelecer o equilíbrio físico e emocional dos sujeito s cont emporâneos, só seriam
possíveisemlugare s distantesdaprópriaresidência.
Oturistacidadãoéaquelemoradordalocalidadequevivenciapráticassociais,
no seu temporotineiro, dentro de sua cidade,de forma nãorotineira, onde é
provadoemrelaçãoàcidade.Turistacidadãoéaquelequeresgataaculturada
suacida defazendousodoestranhamentodamesma.Esteestranhamentoinicia
nomomentoemqueoindivíduodescobrenoespaçocotidianooutrasculturas,
outrasformasétnicaseoutra soportunidadesdelazereentr etenimento.Quando
se encontra na situação de turista cidadão este sujeito aprende a utilizar os
espaços ambientais, culturais,históricos, comerciais e de entretenimento com
umapercepção diferenciadadoseucotidiano(MOESCH,2005).
OconceitodeturistacidadãovaiaoencontrodoqueKrippendorf(2003)chamade
humanizaçãodocotidiano ,deformaqueaviagemnãosejaoúnicomeiodedescansoe
lazer:“Descobriraprópriacidade,queemgeralosestrangeirosconhecemmelhordoque
nós. Partir para a descoberta da cidade vizinha, da aldeia ao lado. Utilizar as piscinas
cobert as e ao ar livre, os caminhos para passear pelos parques, visitar os museus e os
monumentoshistóricos”(KRIPPENDORF,2003,p.171).
20
Osoutrossetepontosaserobservadosnoprodutoseriamosseguintes:aqualidadeper cebidadoproduto,o
conh ecimento,a sustentabilidade,aatitudedeserviçoaoc liente,a  extensãodoprodutoemser percebido
comoúnicoouespecial,acon veniência,acapacidadeeengajamentodaadministra ção(SILBERBEG,1995,
p.362).
118
Ocitadoautorlançaahipótesedequefériasbe maproveitadas,vivenciadasnolocal
daprópriares idência,podemexercermaisemelho rinfluê ncianocotidianodoqueuma
curtapermanêncianumuniversodesconhecido.Paralelamente,osujeitoquepossuilaços
profundoscomlugarondevive(eissosesolidificase,nestelugar,eledesenvolvepráticas
sociaisdelazererecreação) deixadeserummerousuárioepassaaser,defato,habitante
dolugar,passando, comisto,avalo rizareprotegeroseupatrimôniocultura lea mbiental,
numprocessosimultâneodeaprendizage mecidadania:“Seriainjustoexigirdoturistaque
transformeasfériasnumprocessodeaprendizagem.Eledevepermanecerlivreparafazer
o que bem entender de suas férias. É antes de tudo em casa que se deve desenrolar o
processodeaprendizagem”(KRIPPENDORF,2003,p. 180).
ParaMoesch(2005),aexper iênciadoturistacidadão,carregadadesubjetividade,
seexpressa,porém,objetivamentenas vivências ocorridasduranteo tempode lazer, no
consumodepráticasdeentretenimento,culturaemeioambiente.Esteprocessoocorreria
por meio do estranhamento da própria cidade, especialmente na percepção estética da
paisagemurbanapelohabitant e.
Deacordocom Lucrécia Ferrara (1998), a imagemdacidadeconstituirseia um
texto nãoverbal, que, por ser habitual, apresentase de forma homogênea e ilegível ao
olharcotidiano.Ostextosnãoverbaisdispõemseàobservaçãopormeiodaleitura,cuja
linguagem é o uso feito pelo usuário que, por sua vez, é o  elemento que aciona este
contexto.
A leiturada cidade(do seutextonão verbal) nãosedá de forma simples,sendo
preciso, paratanto, queo habitante/usuário do lugar se disponha a sair do seuuniverso
espaço temporalrotineiro:
Aleituradonãoverbalentendeum aestratégiadedestruição,nacidade,doseu
sistema de ordem, (...), capaz de produzir um afastamen to da cidade como
espaçoquotidianorotineiroeaoqualestamoshabituados.Nãoépossívellero
quenãoconseguimosestranhar.Essadistânciaestratégicaentreousuárioleitor
eseuespaçodiárionacidadepermitelheler,veredescobrir(FERRARA, 1998,
p.15.Grifonosso).
Logo, o conceito de turista cidadão encont ra apoio na teo ria do estranhamento
citada por Ferrara ( 1998, p. 25): reconhecer, não identificar, mas superar a rotina,
119
conheceroutravez”.Ainda,co nsiderandoque“aleituradonãoverbalnãocorrespo ndea
um método, mas é antes uma atividade didática capaz de desenvolver a tendência, a
capacidade do pensa mento e trabalhar por asso ciações” (FERRARA, 1998, p. 31),
entendeseque oprocesso deeducaçãopatrimo nial, enquantometodolog iaqueutilizao
patrimônioculturalcomrecursoeducacional( conformeexpostonocapítulo1),trabalhaa
partir da leitura nãoverbal, cau sando surpresa nos participantes, provocando o
estranhamento, a fim de alcançar o reconhecimento e, assim, uma novo relacionamento
entreohabitanteeoseuentorno.
Estudaraorganizaçãodooverbal,amudançafuncionaldesuasart iculações,
a circulação de seus signos, compreender o papel dos seus usuários ou
receptores,suarelaçãocomoprocessoinstitucionalouculturalon deseinsere,
sua contextualização ou descontextualização, sua semantização ou
ressemantizaçãosígnicaé,aomesmotempo, estudaroespaçocomolinguagem,
comorepresenta çãoda práticaculturalquelheéinerente.Est udaroespaçocom
página on de se emite e se recebe um texto nãoverbal supõe estudálocomo
extensão daquela mesma prática r epresentativa, ou seja, nele se escreve a
história sucessiva de um modo de pensar, desejar, desprezar, escolher,
relacionaresentir(FERRARA,1998,p.11).
Umapráticaquevemsendoutilizadacomsucessonousoegestãodopatrimônio
cultural como atrativo turístico, e ao mesmo tempo, utiliza e beneficiase da leitura do
patrimônio urbano e seu texto nãoverbal, é a interpretação  patr imonial: um processo
contínuoqueenvolveacomunidadeafimdepromoverouapresentarumtioouc idade
como atrativo para visitantes e residentes. De acordo com Stela Maris Murta e Brian
Goodey(1995,p.19),“ainterpretaçãoéumprocessodeadicionarvaloràexperiênciade
umlugarpormeiodaprovisãodeinformaçõeserepresentaçõesquerealcemsuahistóriae
suascaracterísticasculturaiseambientais”. 
Osargumentosparaaimplantaçãodeplanosdeinterpretaçãopatrimonialvãodesde
a conservação e gerenciamento do uso do patrimônio de forma a orientar o fluxo de
visit antes,pensandota mbémnaproteçãodoobjetodavisita, quantoàinstrumentalizaçãoe
capacitação de quadros técnicos locais, através do envolvimento da comunidade na
elaboraçãoepráticadainterpretação,especialmentequandoaresponsabilidadepelagestão
do patrimônio natural e cultura l é transferida para a esfera mu nicipal (MURTA e
GOODEY,1995).
120
Osprincípiosbásicosinerentesaosplanosdeinterpretaçãodopatrimônioseriam:a
atençãoparaoestímulodossentidosdosvisitant es;aut ilizaçãodevariadasart esvisuaise
deanimação;aprovo caçãodacuriosidadedovisitante,incita ndooaquererdescobrirpor
conta própr ia; a acessibilidade a um público amplo; o destaque à diversidade e a
pluralidadeculturais;e, principalmente, a r ealizaçãoda interpretação em parceriacom a
comunidade,estimulandoatrocadeconhecimentoserecursos.Osplanosinterpretativos
devemcontemplaroplanejamentodetrilhaseroteiros,museuslocais,cent rosculturaise
deinformação,demodoqueascaracterísticasnaturaiseurbanaslo cais serevelemtanto
para visit antes quanto para a comunidade, contribuindo para e educação ambiental e
patrimonial desta última e desenvolvendo u m sentido de lugar (MURTA e GOODEY,
1995).
Paraosautoresreferidos,oplanointerpretativodeveserconstituídodetrêsetapas:
(1)oregistro:ondeéfeitoolevantamentoexaustivoderecursos,temasemercados;(2)o
desenhoemontagem:queenglobaaescolhadosmeiosdeinterpretaçãomaisadequadosao
objetoousítio(tomandocomobaseasinformaçõesgeradasnaetapaanterior),podendoser
textos e publicações, interpretação ao vivo e com base no design; e, por fim, (3) a
publicidade egestão:que devepromover o tio ouobjeto interpretado,alémde indicar
alternativasdegestãodemodoasustentarpadrõesaceitáveisdequalidadeparaovisitante.
Cabe aqui lembrar a crítica de Maccannell (2002)  em relação aos verdadeiros
motivos da viagem, na sociedade contemporânea. Para o  autor, esta so ciedade estaria
movidamaispeloconsumismoemenospe lodesejodeco nhecerooutroe,assimsendoe
emsetratandoaomenosdehabitantesdegrandescidades,cadaloca lvisitado,lembraria
cadavezmaisqualqueroutrolugar,que,porsuavez,cadavez maisseassemelhar iaao
localdeorigemdoviajante.Ditodeoutraforma,osujeitocontemporâneoestariaviajando
em buscadaquilo queencont raem seulocalde residência,de modo que omot ivopara
empreender uma viagem tornarseia tão somente uma questão de vaidade: Viajase
apenasparaseterviajado”
21
(MACCANNELL,2002,p.387).
Podese deduz ir, de acordo como o pensamento de Maccannell e as teses para
humanizaçãodocotidia nodeKrippendorf,sem, aomesmotempo,desmerecerasmúltiplas
possibilidades de aprendizagem proporcionadas pela viagem, que um espaço urbano
21
Onetravelsonlytohavetraveled(Traduçãonossa).
121
cotidiano bem explorado pode render momentos de lazer e entretenimento tão
enriquecedoresquantoaquelesexperienciadospeloindivíduodurantesuasviagens.
4.2Omuseu:espaçopedagógico, recursoculturaleatrativoturístico.
A chamada Nova Museolo gia surge como resultado do período pósrevolão
culturalde1968,quandoaHistóriaOficial,ahistóriadosgruposvencedores,do sgrandes
feito s egrandespersonagens,dá lugaraHistóriaSocial,  que lança seuolhar nãoparaa
culturae olegado dasclassesprivilegiadas, masparao conjunto detodos osutensílios,
hábitos,usosecostumes,crençase fo rmasde vidacotidianadetodosossegmentosque
compuseram e comem a sociedade. “Após ter sido coleção de prestígio social ou
político,instrume ntodeeducaçãoecultura,localdeconservaçãodopatrimônio nacional
ou regional, o museu tornase hoje o lugar de expressão da sociedad e e, colocandose
finalmenteaseuserviço,passaaexpressála”(GIRAUDYeBOUILHET,1990,p.35).
Dentro desse novo entendimento, os museus buscam incor porar os temas do
cotidiano das minorias que até então vinham sendo silenciadas, adotando uma face
pluralista,ondetodoso s segmentosdasociedadepossamserrepresentados,deacordocom
umaperspectivadeacessibilidadeediálogocomopúblico:“osmuseusprocurammostrar
osobjetosdaculturadeformacríticae,dentrodopossível,permitiro'diálogo'dopúblico
com um objeto contextualizado que ele compreenda” (BARRETTO,  2000, p. 64). Para
Canclini(2003),osmu seuspodemdesempenharpape lrelevantenamudançadoco nceito
deculturaenasuademocratização.
Atualmente,osmuseussãoentendidoscomolugaresdememóriaeidentidade,cuja
função  social se voltaria sobre maneira para a educação, orientada para os aspectos
fundamentaisqueconstituemasociedadeenquantoumorganismovivo,no presenteouno
passado.Omuseu,segundoUlpianoBezerradeMeneses(2000),deveestarcomprometido
com a formação crítica, tratando como objeto e, não como objetivo, as questões de
identidadeehistória:“a mim, meparecequeum museuquesetransformanoarautode
identidadesememórias,concretas,ahist óricas,reificadas,étudomenoseducador”(2000,
p.94).
122
Meneses (2000) aponta algumas das funções atr ibuídas ao s museus: fruição
estética,relacio namentoafetivo,devaneio,sonho,evasão, no stalgia,alémdainformação.
Esteteóricoenxergacomcautelaasupremaciapr etendidapelainformaçãonomuseu,na
medidaemqueelanãoconduziria,necessariamente,àformaçãocrítica.Aocontemplara
forma çãocrítica,omuseuestariamaiscompr ometidocomaformulaçãodeperguntasdo
que com respostas dadas, uma vez que um objeto pode dizer muito se soubermos
interrogálo”(GIRAUDYeBOUILHET,1990,p.59).
Para possibilitar a produção de conhecimento, o museu teria de fornecer
instrumental para o questionamento, para a leitur a crítica do visitante, seja ele local ou
externo,enãoselimitaraserummerorepassadordeinfo rmações,atr avésdareprodução
deumdiscursoreificado,transmitidocomoinformação.Informaçãoeconhecimentonão
seriam sinônimos e quanto maior a distância entre museu e conhecimento, maior a
distânc ia entre museu e educação. O referido autor destaca, ainda, a especificidade do
museu como campo simbólico: ele permite o enfrentamento do universo das coisas
materiais;espaçoque,porserdomíniodacu lturamaterialenãodapalavra(principalmente
escrita), apresentasecomoespaçoinigualávelparaapráticadaeducação.
O conceito de museu, hoje aceito principalmente pelos especialistas da área, foi
elaboradopeloConselhoI nternacionaldeMuseus(ICOM),nadécadade1970,deacordo
comoqualsedestacam, comoatividadesinerentesaoMuseu,afunçãodeacervo,pesquisa
edivulgação:
Omuseuéumainstituiçãopermanente,abertaaopúblico,semfinslucrativos,a
serviçodasociedadeedeseudesenvolvimento,queadquire,conserva,pesquisa,
expõeedivulgaasevidên ciasmateriaiseosbensrepresentati vosdohomemeda
natureza, com a finalidade de promover o conhecimento, a educação e o lazer
(MINISTÉRIODACULTURA,2005).
De acordo com Giraudy e Bouilhet (1990) não existiria um modelo ideal de
arquit eturaparaosmuseus,umavezqueestadeveapenasestaradequadaàsnecessidadese
característicasdoacervoqueabriga.Noentanto,algunsitenspodemserapontadoscomo
elementosbásicos:espaçosparaexpos içõespermanentesetemporárias,ouumcircu itode
expos ição principal e outro secundário; reserva técnica adequada aosobjetos guardados
(comatençãoparaaspecto scomoiluminaçãoetemperatura);laboratórioderestauraçãoe
123
ou preparaçãodosobjetos;salasparaaadministração;auditório; salasde pesquisa ede
atividadesdeext ensãocomopúblico.
Retomandoaidéiadelugardememórianacontemporaneidade,omuseuprecisaria,
para se manter vivo, ser pensado dentro de uma concepção de espaço integrado à
comunidade,quetenhaseuvalordeusoefetivamenteobservado,adotandonovasposturas
a fim de aumentar sua utilização e consolidar especia lmente uma de suas funções
primordiais:serumespaçoeducativoextraclasse,ondeoconhecimentoseconstróidentro
deumaperspectivapedagógicae,aomesmot empo,lúdica.Nestecontexto,muitosmuseus
passam a dispensar a formulação do ICOM, e podem se constituir  não como espaço
exclusivodeconservaçãoereproduçãodamemória,sejaeladogr upohegemônicooude
grupoperiféricos,masespaçosqueprivilegiamfórunsondeamemó rialocalserápactuada
e,portanto,construídaealimentada.
Atravésdoredimensionamentodasuafunçãopedagógicaesocial,propõeseuma
rupturaco moparadigmatradicionalde museu– aquele queperpetuou aidéia de queo
museuéumlugarchato, cheiodecoisasvelhas–eumaintensificaçãodasrelaçõescomo
públicotantolocal,quantoaqueleformadoporvisitantes(BARRET TO,2000),no sentido
deque omuseuseja entendido maiscomoumpro cesso e meno s como uma instituição,
conformedefendeDeVarine(2000,p.25),referindoseaomus eucomopartedotecido
social:Nãoéumilhotedecultura,encerradosobreseustesouro s. Viveemorredavidae
damortedesuacomunidade”.
Para Pires (2002), caberia ao museu contemporâneo um papel que vai além da
integração com a comunidade, pom aliada à esta, que é a de funcionar como um
importanteatrativoturísticolocal,espelhodamemóriaeidentidade:
Anovapostura,que,aliás,nemnovadeveriaserpelosnumer ososanosemque
écomumemmuitospaíses,étornaromuseuoucasahistóricanãoapenasum
centro de estudos específicos de uma determinada área, divulgador de
conh ecimentos por intermédio de cursos, seminários, palestras e exposições,
mas, sobretudo, um lugar atraente do ponto de vista da visitação turística
(PIRES,2002,p.42).
MárioJorgePirescertament eserefereaofatodeque,naEuropa,osmuseuseo
patrimônio emg eral são oatrativo/recursoturísticopo rexcelência.Canclini(2003), por
124
suavez,afirmaqueotrabalhointegradoentremuseus,osmeiosdecomu nicaçãodemassa
e o  turismo o bteve mais êxito na difusão cultural do que o trabalho isolado de artistas
tentandolevarart eàsruas.
Os acervos expost os nos museus são organizados em função de um siste ma
conceitualquepodepriorizar,porexemplo,aspectosestéticosouhistóricos,conformeos
crit ériosestabelecidos.  De qualquer forma, esseacervo tem decont ar uma história, para
tanto,temqueconsiderar seupú blico visitante: todaoperação  científicaoupedagógica
sobreopatrimônioéumametalinguagem,nãofazcomqueas coisasfalem,masfaladelas
esobreelas”(CANCLINI, 2003, p.202). A função  socialdos museustemde levarem
contaosinteressesdeseusvisitantes,queseria,namaioriadasvezes,educação,cultura,
entretenimentooudivertimento,demodoqueanovamuseologiaprivilegiaasmo tivações
dovisitante,maisdoqueasvirtudesdascoleções(BARRETTO,2000).
Urry (2001) afirma que o museu s moderno perdeu a sua aura, reflexo do
antielistismo característico  à smodernidade, dando lugar à nost algia (uma vez que o
passadopassouasera ltamentevalorizadocomoenvelhecimentodasociedadeocidental),
mas uma nostalgia t ransmitida por meio de imagens que se movem, rádio , televisão,
fotografia,cinema,entreváriosoutrosrecursostecnológicos.Omuseudeixo udeseruma
coleção dest inada ao uso acadêmico e passou a ser entendido como  um meio de
comunicação, que, por seu turno, ocorre nos dois sentidos, permitindo a resposta do
visit ante:
Já não se espera mais que os visitantes fiquem boquiabertos diante das
exposições. Agor a dáse mais ênfase a seu grau de participação nelas. Os
museus'vivos'substituemosmuseus'mortos',osmuseusaoarlivresubstituem
os museus fechados, o som substitui murmúrios impostos pelo silêncio e os
visitantes não estão mais separados por diviri as de vidro daquilo que é
exposto(URRY,2001,p.176.Grifosdoautor).
Diantedoexposto,encerraseestareflexãoacercadarelaçãoentreturismoecultura
acentuandoopapeldesempenhadopelacomunidadeloca lsejaemt ermosdevalorizaçãoe
usodoseupatrimôniocult ural,sejanofortalecimentodaid entidadeculturallocal,que,a
princípioseriaaquiloqueatraioolharcuriosodoturista.Turistaeste,que,porsua vez,
apresenta perfis diferenciados, buscando desde uma autenticidade fabricada, até um
contato mais próximo e significativo com a cultura visitada, de modo a direcionar seu
125
interesse para aquelas práticas efetivamente significativas  para a comunidade.  Mas es se
visit ante, submetido ao estranhamento, pode perfeitamente ser o próprio morador
travestidodeturistacidadão.
Mas,comodespertarnocidadãocomumointeresseparacomaspossibilidadesde
lazer eent retenimentoque oferece seupróprio  localdere sidência,ou para situaçõesde
aprend izagem e entend imento da própria cultura possibilitado pelo vivenciar do seu
patrimônio cultural? Através de método s ou técnicas que  se utilizem do  recurso do
estranhamentoesejamcapazesdeconduziroolhardohabit antelocal,ensinandoo alero
texto nãoverbal representado na sua cidade: em suas praças, ruas, edificações,
monumentos, lugaresde memória,etc.,comoofazem, por exemplo, a int erpret açãoe a
educaçãopatrimonial.Ditodeoutraforma,os profissionaisdoturismodevemestimularou
oferecermeiosparaqueocidadãocomu msetransformenoturistacidadão,numindivíduo
que po ssua laços de identidade e a fetividade com a sua cidade e o patrimônio cultur al
local,deformaahumanizaroseucotidiano.
Por fim, o museu aparece, de acordo com essa perspectiva, como um espaço
privilegiadodeformãodoindivíduoedeentretenimentoumavezqueestejainseridono
cotidiano da comunidade, não como uma mera instituição detentor a de uma 'coleção'
(enquantoumconjuntodepeçascatalo gadasesemcomunicaçãoentresi),mascomoparte
importantedadinâmicasocialeculturaldolugar.Omuseupodeedeveoferecervaliosa
contribuiçãoparaarededeensinoenquantoumespaçopedagó gicocomasposs ibilidades
de aprendizagem oferecidas pelo patrimônio cultural e, assim, com a representatividade
socialnecessáriaparasetornaremequipamentocapazdeenriqueceraexperiênciatur ística
conforme requer o viajant e contemporâneo interessado em apreender (tanto quanto
possível)aculturadooutro,próximooudistant e.
126
CONSIDERÕESFINAIS
AbordaraEducaçãoPatrimonialapart irdeteoriasnocampodaeducaçãopermite
relacionareaprofundarpontosconvergent esqueamp liamareflexãoemtornodasuateor ia
e das suas práticas. Constatase que a educação, na visão dos teóricos arrolados pela
presentepesquisa,temcomoumdeseuspontosimportantesaperspectivadainterligação,
açãoeretroação doscontextoslocal/global(Freire)eglobal/local(Morin),semaqualo
conhecimentonãopode sedaranãoserdeformafragmentadaereducionista.AEducação
Patrimonial, na conceituação de Horta et al (1999), é entendida como uma forma de
alfabetizaçãocultural, termoemqueFreire,refereumamaneiradealfabetizarapartirda
leitura de mu ndo do sujeito cognoscente, capacitandoo a compreender seu universo
sociocultural e fazendoo reco nhecerse membro de um grupo social. Neste contexto, a
alfabetizaçãoto rnaseumconceitoamplo,avançandoparaalémdaintroduçãoàsprimeiras
letras,ecaracterizando secomoumprocessoquepossibilitaaparticipaçãonasociedade
atual,queservedebaseparaaformaçãodocidadão.
Aeducação deveser umprocesso oriundodarelaçãodialó gicaentreeducadore
educando,de modoqueambosdesempenhempapeldesujeito naconstruçãoebuscado
conhecimento, ao  passo que a relão dialética pessoa/mundo vai servir de objeto
cognoscente, mediatizando o desenvolviment o do saber, sendo a se mente da árvore
chamada co nhecimento. Dito  de outra forma, a educação requer a problematização das
mais diversas situações. No caso da educação patrimonial, temos a problematização do
bemcultural,naqualasperguntasprevalecemsobreasrespostas,dentrodeum contextode
diálogo, comunicação  e int eração. Acrescentamos, todavia, que a relação dialética
pessoa/mundoseriaintermediada,naeducaçãopatrimonial,pelaculturamaterial,tomada
comorecursoeducacional,demodoaconfigurarainterligaçãopessoa/objeto/mundo.
Aeducaçãoprecisa,ainda,deumparadigmaqueorienteasuperação doisolamento
disciplinar,eencaminheacriaçãodenovosconhecimentos,frutosdoencontroeinteração
dasdisciplinas tradicionalmentecompartimentadas,tambémparaalémdaeducaçãoformal
eda saladeaulatradic ional,o queamplia, ainda,opapeldo educador. Noprocesso de
educaçãopatrimonial,umdospontosdedestaqueéamultiplicidadedeolharespossíveis
sobre o bem cultural, de forma que a interdisciplinaridade constitui u ma de suas
127
característicasprincipais,desde queosprofissionaisenvolvidosestejam preparadospara
exploraresteolhard iferenciado.
Osprofissionaisenvolvidosnesteprocesso,aoestaremlidandocomsereshumanos,
em todas as dimensões que esta expressão encerra, precisam,  assim como nas demais
atividadeshumanasquealmejamoêxito,teramorecomprometimentotantocoma matéria
(precisam ser responsabilizados pelo conteúdo que ensinam) quanto com os sujeitos
cognoscentes.Estarhabilitadoparaapráticadoensinonãoésuficiente.Éprecisobuscara
realização pesso alnaaprendizagemecrescimentodooutro.
Ainda que a bibliografia disponível sobre educação patrimonial seja enfocada
dentroumaperspectivaeminentementevoltadaàssuaspráticas(grandepartesãorelatosde
experiências), esses trabalho s já revelam a validade da proposta seja no campo
educacional/pedagógico seja como uma forma de inserção da comunidade dentro do
processodegestãodopatrimônioculturallocal.
Ainserçãodocotid ianodascomunidadeséum doselementoschavenostrabalhos
de educação patrimonial. Aqui, como em vários outros campos de atuação social, o
interesse e comprometimento do po der público para com a proposta e cont inuidade do
processo também têm um papel destacado, especialmente se os projetos de educação
patrimonial forem desenvolvidos junto a escolas mantidas pelo E stadoou Município. A
educaçãopatrimonialdeveservistanasescolascomoumpr ocessocontínuo,mesmoque
não seja parte das disciplinas curriculares fo rmais. Outro elemento que merece se r
apontado como importante para o sucesso de projetos de educação patrimonial é a
participação da Universidade na elaboração e acompanhamento de tais projetos,
observandoasnecess idadesdeconteúdopeculiaresacadaproposta.
Em relação ao problema que norteou esta pesquisa, po dese concluir que a
valorizaçãodopatrimônioculturalpromo vidopelaeducaçãopatrimonialpodebeneficiaro
desenvolvimento doturismoporserumprocessoqueaproximaedinamizaarelaçãoentre
acomunidadelocaleoseupatrimôniopormeiodeumdosmaisimportantesprocessosque
sedesenvolvemaolongodavidadoindivíduoqueéaeducação.Apartirdomomentoem
queopatrimônioculturaléutilizadocomofontedeconhecimento,e lepassaaterseuvalor
deusoefetivamenteobservadoepode,potencialmente,proporcionarodesenvolvimentodo
valorafetivoporpartedaquelequedeleseapropria.
128
Oturismo,porsuavez,podeserbeneficiadonesteprocessodeformasecundária,à
medida que a educação patrimonial seja capaz de, pelos motivos expostos, conduzir a
forma çãodeumamentalidadeco nscientedanecessidaded evalorizaçãoepreservaçãodo
patrimônio cultural local. Uma vez enraizada no seio da comunidade, esta mentalidade
pode facilitar a proteção ao patrimônio cultural e sua utilização para fins t urísticos, de
forma que a comunidade local seja part e interessada tant o na proteção do patrimônio
quantonoseuusocomoatrativo.
Ressaltase,dessaforma,anecessidadedo splanejadoresturísticosougestoresde
atrativos turísticos culturais, junta mente com pessoal habilitado na área de educação,
desenvolverempr opostasdeeducaçãopatrimonialjuntoàscomunidades(quetêmnoseu
patrimônioculturalumatrativo turísticorealoupotencial),deformaquepossamfortale cer
oudespertaraconsciênciadaimportânciadeconhecerepreservartodososelement osque
compõem seu universo cultural passado e presente, até mesmo para que possam
compreenderepar ticiparativamentedavidasocial,ereconhecersecidadãos.
NoquedizrespeitoaoProgramadeEducaçãoPatrimonialdo MuseuMunicipalde
Caxias do Sul/ RS, constatase que, frente à falta de familiaridade das professoras das
escolas face à utilização didática do patrimônio cultural, conforme evidenciado no
acompanhamentodasAulasno MuseueementrevistasàsmonitorasdoMuseu,acred itase
que deveriam ter sido feitos investimentos na capacitação do educador com mais
sistematicidade. Esse investimento, porém, não se limita às atividades promovidas pelo
MuseuoupelaSecretariadaCultura.ASecretariadeEducaçãopoderiatersidoengajada
na proposta do Programa de Educação Patrimonial desde o seu início, e disciplinas
voltadaspara apr eservaçãoeexploração didática dopatrimônio culturalpoderiamestar
incluídas nos currículos dos cursos de magistério e licenciaturas, por exemplo, daí a
necessidadedoengajamento do Poder Público (no caso,municipal)uma vezquese faz
necessáriootrabalhoconjuntoentreasSecret ariasdeCu lturaeEducação.
OsucessodasaçõesempreendidaspeloProgramadeEducaçãoPatrimonialatéo
anode2004podeserevidenciadonaprocuraporinformaçõessobreopatrimônioesobre
osprojetosdoProgramaporpartedeprofessores,demodoquenãofoiprecisod ivulgaro
Programa em 2003 e 2004, devido  à procura espontânea observada, entendida como
resultadodostrabalhosrealizadosem anosanteriores,quandoosprofissionaisdeensino
129
transformaramseemagentesdivulgadoresdoPrograma,segundoconstanosRelatóriosde
Atividadesdosano s 2003e2004.
No ano de 2002, a Coordenação do Programa de Educação Patrimonial teve
aprovado um projeto submetido  a avaliação pela FAPERGS (Fundação de Amparo à
PesquisadoRioGrandedo  Sul),nointuitodeobter financiamento paraumprojeto que
visava “qualificar as ações que vinham se desenvolvendo no Programa de Educação
Patrimonial do Museu Mu nicipal de Caxias do Sul, consolidando a potica cultural de
preservação do patrimônio”, conforme r edação do Relatório de atividades/2002,
documentoelaboradoanualmentepe loDepartamentodeMemóriaePatrimônioCult ural.
Oreferidoprojeto,quetinhaumaduraçãoprevistadedoisanos,desenvo lveuaçõesem
váriosprojetosdoPrograma:foramelaboradasas'CaixasdeMemória'dosIndígenasedos
Alemães;foielaboradoodeo'Oe spíritodascasas'dentrodoprojeto'OlhoaO lho';as
publicaçõesdoMuseu edoArquivoHistóricopassaramporumprocessodequalificaçãoe
reformatação, além da edição de novos números. O projeto aprovado pela FAPERGS
culminou na elaboração, em 2004, do livro “Educação Patrimonial: orientações para
professoresdoensinofundamentalemédio”,ummanualilustrado,redigidoemlinguagem
fácileacessível,destinadoainstrumentalizarosprofissionaisdeensinonapreparaçãode
atividadesbaseadas nosconceitosemetodologiada educação patrimonial(MACHADO,
2004).
De acordo com a pr ofessora Maria Beatriz Machado, um ponto de destaque na
avaliaçãodoProgramaéaformacomoocidadãocomumpassouasecomunicarcomo
Museupormeiodedoações,sugestõese,principalmente,nopedidodeorientaçãofaceà
situaçãodealgumasedificaçõesdacidade,comasquaisaquelescidadãossepreocupavam
equeriamsabercomoprocederparapreserválas.
Diante de todo o mat erial pesquisado para a elaboração da presente pesquisa,
entendesequeotrabalhocomopatrimônioésempreumaconstruçãoeseusefeitossão
sentidosalongopr azo,deformaqueseacreditaqueforamdadoso sprimeirospassosno
sentidodesensibilizaracomunidadedeCaxiasdoSulparaapreservaçãoepossibilidade
deutilizaçãodidáticado seuP atrimônioCu ltural.
Tratando, agora, especificament e do Projeto Aula no Museu, acreditase que,
visando um melhor desenvolvimento do projeto, deve haver um melhor preparo para
130
aqueles que vão conduzir a Aula, recebendo  diretamente os grupos. Mesmo que essa
função  venha sendo desenvolvida a contento, constatouse junto à equipe do Museu, a
carênciadeumperíodonoqualasmonitoraspossamaprimorarseusconhecimentosso bre
oacervo,assim comosertreinadasnastécnicas deconduçãodegrupo,oquerequerum
preparoespecial,principalment eporqueoMuseurecebegruposdetodasasfaixasetárias,
com perfis diversos, como turistas e professores, por exemplo, o que pede por sua vez
habilidadese linguagemdiferenciadas.
Aalt arotatividadeobservadanoquadro dasmonitoras,porest aremvinculadasao
Museucomoestagiárias–seuestág iopodedurarde6 mesesa2anos–éumproblema
existente e reconhecido pela diretoria do Museu. Dado que as monitoras ficam poucos
meses no Museu, tornase difícil consolidar uma equip e dedicada, empenhada em
desenvolverumtrabalhodelongoprazo,quenecessitademu itapesquisaecompromisso
(semdiminuirocomprometimento observadonasatuaismonitoras).
Detectouse que a Au la no Museu apresent a um problema no que tange o seu
planejamento. Muitas vezes, os grupos não conseguem cumprir todas as atividades
programadas no Plano de T rabalho, devido ao tempo gera lmente despendido no trajeto
peloacervo,quesacrificaumaetapa importantedaAulaqueéomomentodedicadoaos
jogos, quando os estudantes têm a oportunidade de fixar melhor os conheciment os
adquiridoscomavisitaequecorresponde,exatamente,àetapalúdicadaAulanoMuseu,
valedizer,asbrincade iras.Acreditasequeumaformade minimizaresseproblemaseriaa
conduçãodaprofesso raresponsávelpelaturmapeloacervo,nomomentodaelaboraçãodo
PlanodeTrabalho,demodoqueocircuitopelaspeçassejafeitodeformapontualeem
menos tempo.Estaalteraçãopossivelmentetambémrepercutirianadisposiçãoeatenção
observadanosestudantes,quecostumamdemonstrarcansa çopelametadedotrajeto.
AAulanoMuseuatingesatisfatoriamentetodososcritériosretiradosdateor iada
EducaçãoPatrimonialparaconfrontamentocomapráticaobservadanoMuseu,deixandoa
desejarsomenteaexploraçãodoobjetopeloaluno,queocorreapenasdefo rmavisuale
não envolve os outros sentidos, além da sistematização do processo que, conforme já
exposto, nem sempre cumpre t odas as atividades programadas.  No que diz respeito à
metodologia sugerida por Horta
et al
(1999), verificouse que as etapas podem ser
observadas na Aula no Museu, mas não na seqüência sugerida pela autora e de forma
131
condicionadapelopreparoeinteressedaprofe ssoraresponsávelpelat urma,umavezque,
segundodepoimentodasmonitoras,algumasatividadessãorealizadasforadoMuseu,em
continuidadeaoquefoivistoduranteaAula.
Grunberg(2000),aodiscutir a metodologiadaeducação patrimo nialadivide em
três momentos: identificação, registro, valor ização e resgate. A autor a afirma que essa
divisão é feita para fins de melhor explanar a idéia de uma metodologia de trabalho,
porém,admiteque, naprática,asetapasnãoseapresentariamdeformatãodelimitadae
distinta como na teoria, de forma  que se pode observar mais de uma etapa ocorrendo
simultaneamente sem prejuízo ao  objetivo do trabalho. Entendese que esta situação da
qualfalaGrunberg(2000)seaplicaaocasodaAulanoMuseu.
De acordo com os aportes teóricos da educação patrimonial, este processo se
apresentaviávelatodasasfaixasetárias,nãoestandoatreladaaumpúblicoespecífico.No
estudodecasodapresentepesquisa,verificouseaaplicaçãodametodologiadaeducação
patrimonial junto aos públicos infantil (terceira e quarta séries) e adolescente (sétima e
oitava séries). Considerandose a avaliação feita pelos próprio s sujeitos da pesquisa, as
turmasdecriançasforamaquelasque,emporcentage m,pontuarammaisaAulacomnota
5.OacompanhamentodosgruposnodesenvolvimentodaAulanoMuseupermiteafirmar
que as turmas de terceira e quarta séries têm uma participação mais expressiva na
construção daAula.Emgeral, ascriançassão maiscuriosas, maisquestionadorase têm
uma postura mais ativa no desenvolvimento das atividades, em opos ição ao
comportamento passivo percebido nas turmas de adolescentes. Estas queses, aliadas,
permiteminferirqueaAulanoMuseu,naformacomoérealizada,mostraseumaprática
maisinteressanteparaestudantesdentrodafaixaescolaratéaquartasérie,umavezquese
observaumaparticipaçãomaisinteressadanessesgrupos,provavelmentedevidoaofatoda
Aulaser,paraesses estudantes,maislúdicae,assim,maisprazerosa.
No momento de análise dos dados, ficaram evidenc iados dois problemas
concernentesàelaboraçãodoinstrumentodepesquisa3,oquevisao bterapercepçãodos
sujeitosquantoaograude conhecimentosapreendidosousedimentadosapósaexperiência
daAulanoMuseu.Primeiramente,apergunta“VocêjávisitouoMuseuantes?permitiaa
resposta“Sim”ouNão”,mas nãopossibilitavaaosujeit oinfor marse,nocasodejáhaver
visit ado o Museu, a visita teria o corrido na companhia de amigos ou familiares, ou da
132
própriaescola.Aausênciadessainformaçãofoisentidanomome ntodareflexãosobrea
possível continuidade das atividades, ligadas ao Museu, por parte das escolas, uma
informaçãoimpo rtantepar aaanálisefinaldestapesquisa.
Aperguntaquepedequeossujeitosmarquemsuafaixaetáriata mbémsemostrou
inadequada,devendoasfaixasselecionadasestarmaisdeacordocomassériesescolares,
demodoquesepudesseobterumaapro ximação maiordaidadedosentrevistados,dado
que“entre10e18anos”éumintervalogrande,noqualcabemestudantesdeváriasséries
escolares.Tendoemvistaesta falhanaelaboraçãodoinstrumento–quenadatemaver
comoinstrumentodepesquisaelaboradopor Magali(2003)quecontemplousujeitos
maioresde18anos– tentouseamenizaroproblemaconsultandoumapro fessoradesétima
e o itava séries da rede municipal, a qual, por sua vez, afirmou que os alunos, da rede
municipal,nassériesacimatêmemmédia15anos.
Fazse aqui esta autocrítica como uma reflexão sobre o processo de pesquisa e
construçãodoconhecimento,quando ,comoemout rasáreasdeatuação,apráxismostr ase
omelhor caminho paraaaprendizagemeamadurecimentodopesqu isador. 
A aplicação do instrument o de pesquisa 3, contudo, mostrou grande validade no
sentidodeevidenciarqueahistóriadosimigrantesitalianosvemsendotratadanasredes
de ensino, de forma que a experiência observada no Museu Municipal reforça
conhecimentos prévios, servindo, então para agregar novos conhecimentos e solidificar
aquelesjáexist entes,pormeio dautilizaçãodolegadoculturalitalianorepresentadonas
peças do acervo. Isto fica evidenciado quando se analisa a pequena diferença na
porcentagem de acertos dos resultados apresentados nos questionários do grupo
experimentaledogrupodecontrole,umavezqueoprimeirojáhaviaparticipadodaAula
no Museu e o segundo estava em vias de fazêlo. Este fat o permite afirmar que a
experiência no Museu seria uma complementação ao que é estudado em sala de aula,
conforme sugere o planejamento da Aula no Museu, indo de encontro a algumas
informaçõesobtidas juntoàequipedoMuseu.
Considerando, ainda,que as afirmativassobre a r eligiosidadedos imigrantes e a
comparação entre a quantidade de trabalho do homem e da mulher imigrante são as
afirmativas que apresentam uma d iferença mais expressiva na porcentagem de acertos
entre o grupo experimental e de controle, deduzse que estes picos sejam, dentre as
133
questões apresentadas no instrumento de pesquisa, os mais enfatizados pelas monitoras
duranteaproblematizaçãodo acervo,oqueencaminhaaseguintereflexão:osresultados
obtidosseriamosmesmoscasoosmonitoresfossemhome ns?
Toma ndo como referência a leitura de Paulo Freire sobre a educação como um
processoquedeveconduziroindivíduoàformaçãodosujeitohistórico,valedizer,sobrea
educaçãolibertadora,podeseafirmarqueaperspectivadialógicaquedevepermeartodoo
processoeducativoéfacilmenteobservadano dese nvolvimento daAu lano Museu, uma
vez que é por meio do questionament o das monitoras (que, por seu turno, estão
constantemente estimulando o grupo a questionar) que a Aula se constrói. No entanto,
observasetambé m que oacervo doMuseué composto por peçasque narramapenasa
trajetóriado sprimeirosimigrantesitaliano saseestabelecer naregião,e,salvoemcasos
nos quais a contribuição de outras etnias para o desenvolvimento da cidade é o tema
centraldaAulanoMuseu,aexploração datemáticacitadaéfeitaapenasverbalmentepelas
monitoras.Aindaassim,essaexploraçãoépequena,secomparadacomtodaadiscussão
voltadaparaatrajetóriadoimigranteita liano,enãocontacomoapoiodaproblematização
daspeçasdispostasnoacervo. Assimse ndo,valequestionaratéquepontoossujeitosque
participam da Aula no Museu estão inseridos num processo de apropriação da sua
realidade histórica e cu ltural, haja vista que, de acordo com as respostas obtidas no
instrumento de pesquisa3, somente30,8% dossujeitos(deum totalde146 estudantes)
afirmaram ter ascendência italiana. Cabe, então, a reflexão acerca do fortalecimento do
discursodeumait alianidadequesupostamenteprevalecerianapopulaçãocaxiense,oque
porsuavezéoimaginárioapropriadopeloturismo, paramarcarosprodutoslocais.
Além de estar inserida no Roteiro Regional da Uva e do V inho, Caxias do Sul
também desenvolve roteiros internos
22
focados no legado cultural do imigrante italiano
como,porexemplo,osroteirosCaminhosdaColônia,ValeTrent ino,E stradadoImigrante
eTrilhasUrbanas( noqualosprincipa isat rativossãooMonumentoNacionalaoImigrante,
oMuseudeAmbiênciaCasadePedra,oespetáculoSomeLuzdoPa vilhãodaFestada
UvaeoMuseuMunicipal).
22
InformaçõesretiradasdomaterialinstitucionaldedivulgaçãoturísticadeCaxias doSuladquiridonoPosto
deInformaçõesTurísticaslocalizadonaPraçaDanteAlighieri.
134
Temse,com isso, a situação de fortalecimentodaidentidadecultural a partir do
olhardooutro, conforme as palavras de Hall (2003), quando esse olhar sevolta para o
patrimônio culturaldo imigrante italiano, que vem a sero fo co davisita monito radado
Museuavisita ntesexternos(conformesalient ouumadasmonitoras), mesmoqueestaetnia
nãocaracterizemaisamaiorpartedocontingentepopulacionaldac idade.
Dessa forma, podese apro ximar a prática da educação patrimonial observada no
MuseuMu nicipaldeCaxiasdoSulaofenômenoturísticosobdoisaspectos:
a)Odesenvolvimentoda Aula noMuseucontribuiparaa solidificação,entre opúblico
estudantil, do entendimento de que o  desenvolvimento e legado histórico e cultural da
cidadeestãoatreladosàfigurado imigra nteitaliano,emdetrimentodeoutrasetniasque
tambémtiveramsuacontribuição no processodeconstrução dacidadeeque não estão
contempladasnoacervodoMuseuMunicipal,emboraasfalasdasmonitorasatéressaltem
aconstituiçãomultiétnicacontemporâneadacidade;
b)ArealizaçãodeumProgramadeEducaçãoPatrimonial,quetemumdeseusprojetos
executadosintegralmentenoMuseuMunicipaldacidade,d inamizaesteespaço,inserindo
o no cotidiano dos citadinos, funcionando como um important e espaço extraclasse de
construção do conhecimento. O destaque à função pedagógica e social do Museu
Municipa locolocadeacordocomosnovosparadigmasmuseológicos,segundoosquaiso
museuépartedotecidosocialvoltandoaserumespaçopedagógico,masantesdetudo,
umespaço vivo e assim, tornasepotencialmente um atrativo turístico para aqueles que
buscamumaaproximaçãoentreturismoecultura,deformaaconfirmarumadashipóteses
consideradasnapresentepesquisa.
Além do exposto acima, o Museu Municipal possui um circuit o de exposições
permanentes e uma sala para expos içõestemporárias(visando a renovação do público),
reservatécnica,laborariopararestauraçãoepreparaçãodosobjetos,salasparaasfunções
administrativas, um sala para exibição de vídeos e realização de atividades
complementares,umasalaparapesquisaeatividadesdeextensãocomopúblico,alémde
umpátioque,nocasodaAulanoMuseu,servecomolocalparalanchedosest udantes,de
modo que oMuseuobedeceàsprincipaisrecomendaçõesde Giraudye Bou ilhet(1990)
quantoaoqueseria mosespaçosbásicosdentrodaestruturafísicadeummuseufechado.
135
Todavia,seoMuseuMunicipalestáintegradoàsociedadeatr avésdasuainserção
nocotidianodosestudantes,por outrolado,elepode serentendidocomoopalcovitrinedo
qual fa laCanclini(2003) aosereferir aos museus como um espaçoondesereproduzo
discursoqueperpetuaaidentidadedogrupoétnicoquecaracterizaaelitedominantelocal,
nocaso,aetniaitaliana.Sendoassim,oMuseuM unicipalnãopossuiriaacaracterísticade
ser um espaço onde as várias identidades locais seriam pactuadas e igualitariamente
representadas, mas um espaço onde prevalece e se reforça a identidade de um grupo
hegemônico.
Temse,então,umasituaçãonaqualseobservaaapropriaçãode umateoriavoltada
paraaformaçãodocidadão,dosujeitoquequestionaeintervémnasuarealidadehistórica
ecultural,masque,naprática,éutilizadademodoaconsagrarumaconstruçãoideológica
que beneficia a elite dominant e local, o que certamente não estaria de acordo com os
postuladosdePaulo Freire,queporsuavez,servemdebaseparaotrabalhodaeducação
patrimonial.
Istoposto,fazemsepertinent esosseguintesquestionamentos:aapatiaobservada
nosestudantesadolescentesseriaapenaspassividadeparacom asatividadesda Aula no
Museuouseriaindíciodeumapossívelresistênciaàimposiçãodeumconteúdocultural
que não lhesdiriarespeito (pelo meno s,  não à maioriadeles)? Olhando, agora, desdeo
ponto de vista do turismo, e considerandose principalmente o turista cidadão, este
processonãoestariatambém sendo utilizado comou m meiopara reforçar ou incutir na
comunidade este discurso de identidade construído no legado italiano, que representa e
beneficiaumgrupodo minante?
Encerrase a presente pesquisa com os questionamentos acima, no intuito de
promoverumareflexãosobreo processodeapropriaçãodeumateoriaeousoquesefaz
dela,naprática.Utilizandose,paratanto,ocasodoMuseuMunicipalde CaxiasdoSul
como um exemplo de propo sta que, mesmo atendendo os princípios filoficos e
metodológicosdeumconceitovoltadoparaarepresentaçãoeexpressãodasociedadeem
suas múltiplas faces culturais, e para a formação do cidadão a partir da leitura desses
legadosmúltiplos numaperspectivadialógicaedialética,emseusresultados,limitasea
legitimarumdiscursoideológicoquebeneficiaogrupodominantelo cal,emdetrimentode
outro s segmentos identitários que, tanto quanto o  gr upo hegemônico (italiano),  são
136
responsáveis pelo cresciment o e desenvolvimento da cidade e pe la forma como ela se
apresentahojearesidenteset uristas.
137
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142
APÊNDICEA:
INSTRUMENTODEPESQUISA1
ObservaçãodasetapasmetodológicasdaAulanoMuseu
143
UNIVERSIDADEDECAXIASDOSUL
MESTRADOACADÊMICOEMTURISMO
Instrumentodepesquisa1
ObservaçãodasetapasmetodológicasdaEducaçãoPatrimonialnaAulanoMuseu
NomedaEscola:_______________________________________________________
N.ºdealu nos:_______ Série:________
Data:____/____/_____
Iníciodasatividades:________hs Términodasatividades:_______hs
Etapas Recursos/Atividades Objetivos
1)Observação Exercíciosdepercepção
visual/sensorial,pormeiode
perguntasmanipulação,
experimentação,medição,
anotões,comparação,deducão,
j
ogosdedetetive...
Identificaçãodo
objeto/função/significado;
desenvolvimento dapercepção
visualesimbólica.
2)Registro Desenhos,descriçãoverbalou
escrita,gráficos,fotografias,
maquetes,mapaseplantasbaixas.
Fixaçãodoconhecimento
percebido,aprofundamentoda
observaçãoeanálisecr ítica;
desenvolvimento damemória,
pensamentológico,intuitivoe
operacional.
3)Exploração Análisedoproblema,
levantament odehiteses,
discussão,questionamento,
avaliação,pesquisaemoutras
fontescomo bibliotecas,arquivos,
cartó rios,instituições,jornais,
entrevistas.
Desenvo lvimentodascapacidades
deanáliseeju lgamentocrítico,
interpretaçãodasevinciase
significados.
4)Apropriação Recriação,releitura,dramatização,
interpretaçãoemdiferentesmeios
deexpressãocomopinturas,
escultura,drama,dança,música,
poesia,textofilmeevídeo.
Envolvimentoafetivo,
inter nalização,desenvolvimento
dacapacidadedeautoexpressão,
apropriação,participaçãocriativa,
valorizaçãodobemcultural.
Fonte:Hort a,1999,p.11.
AobservaçãoseráfeitaseguindooníveldefidelidadeàsetapaspropostasporHorta,
adotadascomocategoriasdeanálisenareferidapesquisa,variandonumaescalanumérica
doInsuficiente[1]aoSuficiente[5].
Etapas Recursos/Atividades Objetivos
1)Observação [1][2][3][4 ][5] [1][2][3][4][5]
2)Registro [1][2][3][4 ][5] [1][2][3][4][5]
3)Exploração [1][2][3][4 ][5] [1][2][3][4][5]
4)Apropriação [1][2][3][4 ][5] [1][2][3][4][5]
144
APÊNDICEB:
INSTRUMENTODEPESQUISA2
Roteirodeent revistaàequipedoMuseuligadadiretamenteàAulanoMuseu
145
UNIVERSIDADEDECAXIASDOSUL
MESTRADOACADÊMICOEMTURISMO
InstrumentodePesquisa2
Roteirodeent revistaàequipedoMuseuligadadiretamenteàAulanoMuseu
1. Qualoseunomecompleto,asuaformaçãoevínculoinstitucionalcomoMuseu?
2. OquevocêentendeporEducaçãoPatrimonial?
3. HáquantotempovocêtrabalhanoMuseu?
4. Vocêtevealgumaexperiênciapréviacom autilizaçãodopatrimônioculturalcomo
umrecursodidático?
5. HouvepreparaçãoparaodesenvolvimentodasatividadesdaAulanoMuseu?Esse
preparofoiconsideradosuficiente?
6. Qualad ificuldadeencontrada,casoelaexista,paraodesenvolvimentodaAulano
Museu?Oque,nasuaopinião,poderiaserfeitoparamin imizarousolucionaro
problema?
7. Qual aavaliaçãoemrelaçãoaosresultadosapresentadospelosalunoseaoobjetivo
daAulanoMuseu?
8. Nasuaopinião,qualaimportânciadopatrimôniocultural,edetemascomo
preservaçãoememória,paraacomunidade?
9. VocêachaqueoMuseuéimportant eparaoTur ismodeCaxiasdoSul?
10. VocêachaqueoProgramadeEducaçãoPatrimonialpode,dealgumaforma,
beneficiaroturismonacidade?
146
APÊNDICEC:
INSTRUMENTODEPESQUISA3
QuestionárioaosalunosqueparticiparamdaAulanoMuseueaoGrupodeControle
147
UNIVERSIDADEDECAXIASDOSUL
MESTRADOACADÊMICOEMTURISMO
IntrumentodePesquisa3
Escola:___________________________________________________Série:__________
Data:_________Hora:____________
VocêjávisitouoMuseuantesdeparticipardaAulanoMuseu?S[]N[]
Por favor,vocêpoderiaresponderalgumaspergunt asparaumapesquisadoMestradoem
Turismoda UniversidadeFederaldeCaxiasdoSul?
Sexo:F[]M[]
Idade: Até9[]10a18[]19a25[]26a35[] 36a55[] 56 emdiante[]
Municípioondereside:_____________________Estado:_____________
Descendentedeimigrantesitalianos?S[]N[]Nãosei[]
Euvouleralgumasafirmativasepeçoquevocê respondaSim[S]casoaalternativa
estejacertaouNão[N],casoestejaerrada.Vamosassinalaro“nãosei”[NS]apenas
paraaque lasafirmativasquevocêrealmentenãotenhacondiçõesdejulgar.
NavisitaaoMuseu,vocêapreendeu,sobreavidadosprimeirosimigrantesita lianosdesta
região,que:
Nº Afirmativa S N NS
1 Elestrabalhavammuito.
2 Assuastarefasdomésticaseramleves.
3 Elestinhamumavidadifícil.
4 Eleserammuitoreligiosos.
5 Suascasaspossuíamáguaencanada.
6 Ohomemtr abalhavamaisqueamulher.
7 Osimigrantesencontraramnat erranovatudoaquiloqueesperavam.
Quecoisasnovas vocêficousabendoarespeitodosimigrantes italianosdestaregião,na
visit aaoMuseu?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
____
Casovocêtenhapart icipadodaAulanoMuseu,indiqueograudesatisfaçãocomavisita
aoMuseu.
Insatisfeito[1][2][3][4][5]Muitosatisfeito
148
UNIVERSIDADEDECAXIASDOSUL
MESTRADOACADÊMICOEMTURISMO
IntrumentodePesquisa3–Grupodecontrole
Escola:___________________________________________________Série:__________
Data:_________ Hora:____________
VocêjávisitouoMuseuantes?S []N[]
Por favor,vocêpoderiaresponderalgumaspergunt asparaumapesquisadoMestradoem
Turismoda UniversidadeFederaldeCaxiasdoSul?
Sexo:F[]M[]
Idade: Até9[ ]10a18[]19a25[]26a35[] 36a 55[] 56emdiante[]
Municípioondereside:_____________________Estado:_____________
Descendentedeimigrantesitalianos?S[]N[]Nãosei[]
Euvouleralgumasafirmativasepeçoquevocê respondaSim[S]casoaalternativa
estejacertaouNão[N],casoestejaerrada.Vamosassinalaro“nãosei”[NS]apenas
paraaque lasafirmativasquevocêrealmentenãotenhacondiçõesdejulgar.
NavisitaaoMuseu,vocêapreendeu,sobreavidadosprimeirosimigrantesita lianosdesta
região,que:
Nº Afirmativa S N NS
1 Elestrabalhavammuito.
2 Assuastarefasdomésticaseramleves.
3 Elestinhamumavidadifícil.
4 Eleserammuitoreligiosos.
5 Suascasaspossuíamáguaencanada.
6 Ohomemtr abalhavamaisqueamulher.
7 Osimigrantesencontraramnat erranovatudoaquiloqueesperavam.
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ANEXOS:
PlanosdeTrabalhodaAulanoMuseu
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