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Exemplo de uso dessa estratégia, de expressar e divulgar anseios de auto-
representações por meio de ações ritualizadas como representação simbólica da
própria identidade, foi dado pelos habitantes de Caxias do Sul, no Rio Grande do
Sul, ao “inventarem” a Festa da Uva, no ano de 1931, segundo Ribeiro (1998).
Porém, há também controvérsias nas falas dos sujeitos, pois retratam a não
permanência do sentido da Festa como elemento fundador da hospitalidade na
cidade, ou seja, algo que é somente pensado e praticado no período da Festa e que
antigamente era mais forte:
“A Festa da Uva teve um papel muito importante na divulgação de Caxias.
Hoje eu acho que o Juventude divulga mais. Eu não saberia te dizer, teria
que medir isso. Acho que ela teve um papel, ela ajudou, agora se essa
hospitalidade ela educou pra uma hospitalidade permanente, básica, como
um hábito de cultura, eu não sei, eu tenho dúvidas. Ela educou mais pra
um caráter comercial de uns anos para cá, as pessoas se deram conta da
importância da festa, que seriam um meio de conseguirem algo[...] quando
tem uma festa e vejo ainda na Festa da Uva, tem caxienses que ainda não
se integram com a Festa da Uva, tanto no passado quanto hoje. Não sei se
é orgulho, se é mentalidade atrasada, criticam, é sempre a mesma coisa, é
um pouco essa inveja que todo mundo fala que é um dos elementos
importantes de nossa cultura, é uma inveja ligada à ambição, ao poder,
quando algumas pessoas se destacam, aparecem, então elas desprezam
essas pessoas, eu não saberia te dizer em dados quantos por cento, mas
que há uma parte da população é assim é, também, não sei te dizer se isso
não é uma coisa comum em todas as comunidades, mas eu acho que há
uma parte que não se integra, que não quer se integrar, tem uma certa
aversão às coisas que são feitas pelos outros, uma dificuldade de aceitar
os outros. Então minha resposta seria que ela educou para a hospitalidade,
mas não é uma educação tão universal, no sentido de abranger todas as
pessoas e nem é tão profunda, ela é um pouco superficial”. (Sujeito B).
É importante ressaltar o fato de que os rituais de celebração da Festa da Uva
tiveram um papel essencial no interior da própria sociedade local: a necessidade
compartilhada – do colono viticultor, ao intelectual; do comerciante ao Prefeito, dos
operários à emergente classe média –, de realizar a celebração festiva como
recurso para dar a conhecer “quem somos e que fazemos”, conforme Ribeiro
(1998).
.
“Eu acho que na época toda aquela intenção do José Lisboa, de organizar
a feira, de abrir a cidade para o mundo, de mostrar o potencial de Caxias, a
Festa da Uva teve de positivo. Só que a Festa da Uva trabalha só o evento
isolado do contexto da cidade, então ela poderia trabalhar diferente, de ter
espaço, de ter memória e eu acho que ela não conseguiu fazer isso. Então
ao mesmo tempo em que é positivo nesse sentido de abrir a cidade para o
mundo e muita gente conhece a Festa da Uva no país, fora do país, mas
ela não soube explorar isso para ser um elemento de integração dela com