199
coleção por parte de vocês que são os detentores dos objetos e também, da administração
pública que deveria cuidar dessa parte educativa e dessa parte de manutenção dos objetos.
P – A relação do acervo para com a cidade é a mesma desde o dia em que ela veio pra cá.
Então, foi firmado um acordo onde a gente entraria com o acervo e a Prefeitura entraria com o
prédio, a manutenção do prédio, a limpeza do acervo e a segurança do acervo. Acredito que
no início, digamos no primeiro pavilhão, logo lá em 1968, quando foi inaugurado e nos anos
seguintes, 1972, 1974 é isso, foi preservado. Isso foi muito bem cuidado e existia um orgulho
por parte da Prefeitura, um cuidado para com o Museu. Ao longo dos prefeitos e dos anos, o
prédio que foi se deteriorando. As atitudes necessárias para a conservação não foram feitas e
desinteresse com relação à história, ao acervo e a importância de um museu, foi se acentuando
cada vez mais. Então eu acho que embora Bebedouro, hoje, quando a gente fale em ir embora
daqui se mobilize pra não tirar o Museu, ao mesmo tempo não fazem nada pra que ele fique.
Então hoje, a gente se coloca numa situação onde há um prédio, extremamente inadequado
para a instalação de qualquer acervo, não seria só. Não é um Museu, pra mim é um barracão
onde se colocam os carros.
Um descaso muito grande da Prefeitura que não acha, não entende isso como uma raridade ou
como um privilégio de ter uma coisa tão diversificada, dentro de uma cidade tão pequena e
nós, tendo passado por duas calamidades que foram as duas enchentes, que foram em 1983 e
início de 2006, que prejudicaram 70% do acervo. Hoje, o acervo é um acervo bastante
danificado, o valor para restaurar isso é altíssimo. A gente hoje, não tem condições, a gente
vai lá devagarzinho arrumando uma coisa, arrumando outra, mas assim, a gente está
descobrindo danos em motores, depois dessa última enchente. Quer dizer, por mais que a
gente tenha tirado, lavado e posto mecânicos, tem muito carro que eu fui mexer agora, tão
travados, é! Então, a gente começa a descobrir problemas internos e que isso é muito mais
caro até que uma lataria e assim a gente não tem apoio, nem ajuda financeira de ninguém. A
manutenção do acervo, até por questão de uma opção da família, mas assim, a família não
optou em o acervo ser estragado e ter que ser duas vezes restaurado. Quer dizer, enquanto era,
a gente gosta de restaurar. A gente compra um carro velho, restaura e põe lá e investe nisso.
Isso é a proposta da família, mas ter que pôr, ter que arrumar, e arrumar, e arrumar dez vezes,
essa nunca foi a nossa proposta e nem nós temos dinheiro pra isso. Deixa de ser um hobby pra
ser um peso financeiro. Então, nossa relação com a Prefeitura é essa. É de um descaso
absoluto e eu chego à conclusão que há anos e anos não existe a noção do que é o Museu, da
importância do Museu e do que o Museu pode trazer pra cidade. Tanto que nas propagandas,
nos discursos que a gente escuta ou da Prefeitura para com a cidade, a gente sempre escuta
falar que Bebedouro é a capital da laranja, que Bebedouro vai ter um horto florestal e por
último, Bebedouro tem um Museu de carros. A prova disso é que não tem placa do Museu na
entrada da cidade, indicando o caminho. Quer dizer a Prefeitura não entende do quão isso
poderia ser inclusive lucrativo pra cidade, o quanto a gente poderia atrair de turismo e esse
tipo de coisa.
M – Você tem conhecimento se a Prefeitura encara o Museu como parte do planejamento da
área cultural? Algum planejamento que envolva o Museu, na parte educativa ou na parte do
desenvolvimento cultural da cidade? Em alguma gestão?
P – Eu acho que não. Agora sim, tem esse Departamento de Cultura, inclusive o Rogério
tentou trabalhar com a gente e tal, mas não existe planejamento, não existe. Existe assim, o
que eu sinto é isto: se eu entregasse o Museu pra eles. Mesmo assim, talvez eles cuidassem
melhor, mas não como sendo um acervo particular. Eu acho que essa coisa do acervo ser
particular mexe muito com a cidade. É uma guerra de poder assim mesmo, sabe... assim... mas