comendo [...] a coxa de galinha [...] na frente da televisão” e “uma casa, com uma. white fence”
se apresentam como bons indícios para essa nossa especulação.
Assim como Júlia, Bete também não é “muito fã dos norte-americanos” (Q, 29/05/06). A
seu ver, trata-se de um povo exageradamente nacionalista, alienado, cabeça “muito fechada” (E,
30/05/06), obediente ao presidente e não questionador.
A professora justifica suas crenças por ter um contato muito próximo com norte-americanos,
um amigo que visitou Nova York, uma prima e amiga que moram nos Estados Unidos, bem como
pelos filmes e documentários a que assiste na televisão e pelas pesquisas que realiza na internet para
preparar suas aulas ou desenvolver trabalhos das disciplinas do curso de Letras.
As crenças de Bete em relação aos norte-americanos, assim como suas justificativas, podem
ser constatadas no excerto abaixo:
B: [...] Eu tenho um amigo que passou o Réveillon em Nova York. Na Times Square e ele
[...] achou um “saco” porque toda hora que tocava música era alguma música de
nacionalismo exagerado. Era alguma coisa, tipo, ah, God bless America e tudo era God
bless America, tudo era uma coisa muito exagerada. Ele falou que ele chegou a ficar.
entediado porque aqui no Brasil o máximo que a gente faz é tocar o hino, né? [...] Lá,
não. Lá é uma coisa, assim, é brain wash, mesmo! Eles repetem, repetem, repetem,
repetem, repetem até o cara sair de lá, God bless America! God bless America! God bless
George Bush! Sabe, essa coisa! [...] E tudo muito ligado ao presidente porque o
presidente tem que manter aquela imagem que ele que manda, que a decisão que ele toma
é a melhor decisão pro país, esse tipo de coisa, sabe? Eu tenho uma prima nos Estados
Unidos […] tenho amigos que vão pra lá, eu tenho uma amiga que mora lá, eu tenho um
contato muito próximo com o povo americano. Filme, né, que eu vejo, muita coisa na
televisão que eu vejo. Eu acho que é muito brain wash, mesmo. Eu não simpatizo
justamente por causa disso. [...] Lá é totalmente isso. É tocar só música nacionalista e
aqui no Brasil, não.
P: Sem questionar, né?
B: É. Não tem questionamento e muita coisa que eu vejo também, em filme,
documentário. Eu acho que eu não sou muito fã justamente por causa disso. Tem gente lá
que é anti-americano. Tem gente lá que vê [...] O absurdo que é esse tipo de coisa. E,
assim, até quem vê o absurdo que é, às vezes, fica até com medo de falar alguma coisa
porque quem é, quem tem essa coisa forte, nacionalista, disso de God bless America,
intimida demais. E é muita gente [...] E quem é, é muito exagerado. Então, eu não me
identifico, eu não sou fã não. Eu não sou fã por causa disso. Pode ser também porque é
uma coisa do governo Bush, não sei se vier algum outro, mas eu acho que o negócio
quando tá impregnado é difícil.
P: Entendi.
B: Então, assim, eu vejo muita, muita coisa na internet. (E, 30/05/06).
alguns dos estereótipos de ambas as professoras: Júlia – “[...] todos os ingleses que conheci encaixam naquele padrão
frio e indiferente” (Q, 16/05/06) e “comentário da professora: os britânicos são finos (está se referindo ao chá das 5).
Ela disse isto em um tom irônico porque logo após esta afirmativa afirmou que eles são’nojentos’ no sentido de
esnobes” (NC, 27/04/06). Bete – “Eles são muito fechados [...] o britânico é muito organizado, aquela pontualidade
britânica, todos esses estereótipos, assim” (E, 30/05/06). Vale mencionar ainda que, em relação à participante Bete, em
uma de nossas inúmeras conversas informais, foi possível perceber que também no tocante à cultura inglesa suas
crenças parecem estar alicerçadas em estereótipos, já que, conforme afirmou, a associa ao chá das cinco, à Rainha e à
comidas ditas típicas.