Ana Mae (trecho de aula) Comentários
“Colocando a teoria em prática,
nossa primeira tarefa consistiu em
despertar a percepção relacionada
com o fenômeno do movimento, que
é um agente capaz de produzir e
modificar imagens. Procuramos
enfatizar o aspecto dinâmico do
objeto, levando as crianças ao
Jockey Clube de São Paulo, onde
tiveram oportunidade de observar
cavalos em movimento, correndo,
treinando, comendo, etc. A
concentração em um objeto —
cavalo — fez com que fosse
ressaltada a sua diversidade de
ação. O ponto de apoio do
observante deslocou-se para a ação,
para o movimento, ao invés de se
deter apenas nas qualidades do
objeto. A fluência foi a habilidade
mental que se pretendeu
desenvolver, exercitando o
pensamento visual no sentido de
captar o maior número possível de
diferentes categorias de ação”.
Despertar a percepção está colocado no sentido de
gerar, construir novos perceptos, tendo como foco
atencional o movimento dos cavalos. Quando
focamos nossa atenção voluntariamente, estamos
acionando determinadas áreas encefálicas e
aumentando nestas a quantidade de potenciais de
ação, intensificando a comunicação neuronal que
ali se estabelece. Desta atividade neuronal,
conforme sua intensidade e continuidade, é
possível a formação de memória de longa duração,
crescimento de dendritos e modificação anatômica.
A ênfase no movimento aciona os neurônios de MT
(medial temporal) ou V5 localizados na via dorsal,
que terão sua atividade potencializada. Produzir e
modificar imagens significa realizar uma atividade
intensa em todas as vias do sistema visual com a
participação efetiva do córtex frontal. Ao observar o
movimento também o sistema motor se coloca em
alerta, basta lembrar da função dos neurônios-
espelho. Se a atividade proposta fosse apenas o
desenho de observação, a área encefálica mais
intensamente ativada seria na via ventral, que é
especializada no reconhecimento da cor e da forma
dos objetos, determinando o que é que estamos
olhando. Nesta atividade, perceptos também se
formam, mas a atividade encefálica é mais
localizada e envolve menor número de vias.
“Outra preocupação foi explorar o
objeto em diferentes contextos e
observar as modificações em sua
aparência, embora suas qualidades
permanecessem as mesmas. Nesse
sentido, organizamos uma visita a
duas lojas de objetos variados —
roupas, sapatos, flores, carros,
brinquedos, bicicletas etc. — e
depois a um jardim público, próximo
a ruas bem movimentadas, onde as
crianças puderam observar os
mesmos objetos em outro contexto:
em uso e em ação, no caso de
roupas, automóveis, etc.; e em seu
ambiente natural, no caso das flores
e folhagens. O objetivo era expô-las
a diferentes aspectos de uma mesma
realidade, enfatizando a fluência
perceptiva.”
O sistema nervoso tem uma maneira própria de
trabalhar. Conhecer como este sistema opera
possibilita potencializar o seu desempenho. As
Teorias da Gestalt, propostas por psicólogos
experimentais, muito contribuíram para o
entendimento de como a percepção se processa.
(ver anexo Gestalt). Na descrição da atividade
acima foram vivenciadas as constantes das forças
de organização que os gestaltistas chamam de leis
de organização da forma perceptual. São esses
princípios que explicam porque vemos as coisas de
determinada maneira e não de outra. O ato de
observar e comparar nas diversas cenas cotidianas,
o texto e o contexto; a figura e o fundo; direciona o
sistema atencional que procede uma busca por
varredura. Além disso, ao manter a concentração
no tema proposto, o sistema nervoso tem
possibilidade de gerar perceptos reforçados, uma
vez que serão gerados com a ativação neuronal
sincronizada de uma maior variedade de vias.