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políticas e conseqüente fatalismo, acabando com a falta de civismo e
naturalização das injustiças, fatos esses que caracterizariam a não cidadania de
parte expressiva da população. Mas para que sua proposta seja válida, essa
educação deve contemplar o humano em suas três dimensões: a de indivíduo,
cidadão e sujeito, assim como as instituições que o abrigam: família, escola,
igreja, e comunidades, assim como os meios de comunicação.
As três dimensões que a educação deveria abordar estão relacionadas ao
tema da cidadania e, embora se interliguem, apresentam características próprias.
No que tange ao indivíduo, a educação cívica deve ensiná-lo desde cedo que ele
não é não é um mero “complexo biopsíquico (genes, DNA, memória), em suas
dimensões cognitivas (neurocerebral), de subjetividade (sentimento, emoção, dor,
paixão, etc.), como produtor e reprodutor. Uma síntese entre exterioridade e
interioridade (o eu subjetivo e a mim objetivo)” (WANDERLEY, 2000, p. 161). Mas
sim um ser capaz, por meio de suas ações de transformar o mundo a sua volta.
No que diz respeito à dimensão de cidadania, esta se constituirá quando o
indivíduo ao saber da sua capacidade de transformação começa a participar da
vida sociopolítica de um Estado-Nação, uma vez que passa a ser:
“dotado de direitos (que tem por objeto uma intervenção, uma ação positiva,
uma prestação do Estado ou de particulares, diferentemente da noção de
liberdade, que é a não interferência de outrem nas esferas individuais próprias)
e obrigações (cumprimento das normas constitucionais, legais e outras”
(WANDERLEY, 2000, p. 162).
A terceira e última dimensão, a de sujeito, nos remete ao fato de que,
mesmo condicionado pelo meio, pelas estruturas, pelos processos sociais, pela
ação de outros indivíduos-cidadãos, o ser humano consegue criar uma história
pessoal, unindo subjetividade e objetividade, dando um sentido ao conjunto de
experiências da sua vida, combatendo os poderes e domínios que o afetam,
integrando o vivido, o percebido e o imaginado. Em outras palavras, sujeito é
“alguém dotado de autonomia e liberdade, com capacidade de fazer escolhas”
(WANDERLEY, 2000, p. 162).
Para Wanderley, o caminho para um novo projeto de humanidade passa
por uma educação cívica capaz de contemplar essas três dimensões que se