espelho, me olhei, uma verruguinha. Não dei nem nada. No outro dia,
olhei de novo, outra verruguinha. Uma semana, uma couve-flor, uma
verrugada. Entrei em pane. Falei com ele: “meu bem, tenho um
probleminha”. Mostrei pra ele. Ele disse: “vai num médico”. Doutor
Tetsuko, rei da família, dono da cidade, disse “crista de galo”. Crista do
quê? Doutor, como isso pega? Na relação, meu bem, no intercurso. Crista
de galo. Mas eu sou virgem, doutor, como é que pode? Galo cantando.
Mocinha virgem, meu anjo, também arranja, basta um roça-roça com
jeito, tua genitália com outra genitália contaminada. Pronto e mais nada.
Mas como, doutor, sou uma quase santa, uma quase noiva, ele é filho do
prefeito, me trata como rainha? Fez um silêncio. No sabadão, depois da
boate, no La Cave, puxei assunto, foi duro, meu gato disse: “sua puta, sua
puta”. Chorei. Disse: “amor”. Ele: “sua puta”. Eu: “amor”. Ele: “puta”.
Será que você não, por acaso, não, andou, por aí, com alguma, sei lá,
alguma outra, alguma outra mulher? Ele disse: “lógico”. Eu: “como
assim?”. Ele: “você ouviu?”. Eu: “Lógico”. Lógico. “Com umas putas,
assim como você, umas putas, com elas gozo, gozozo, me satisfaço, não
fica clima, essa coisa pudica e babaca…” Fiquei em pane, panaca, parada.
Ele: “Mas sempre trepei com moça limpa, de camisinha, e não tenho
nada, Doutor Tetsuko, o rei da cocada, sempre me examina, essa coisa
sua, essa coisa sua, repito, é coisa de puta, puta arrombada.” E foi
embora. Nem pagou a conta do La Cave. Fui vadiando pela beira da
estrada. O mar de cana. Cricri de grilo. A madrugada. Liguei pra ele.
Caixa postal, deixei recado, meu bem, me liga, te amo tanto, isso não é
nada, a gente se acerta, amor. Caiu a linha. Nem deu retorno. Chorei e
muito. E a coceira, a verrugada me incomodava. Era uma lava que me
queimava. “Tem que tirar, pode dar câncer.” Disse o Tetsuko. “Aí tem
que tirar o útero todo”. Eu disse” “Então eu não vou poder mais ter
filhos?”. Pigarro fundo: “Podofilina”. Uma melequinha, da homeopatia,