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A História Social tem sido, ao longo das últimas décadas, um campo de
pesquisa muito valorizado, contemplando em seus estudos a estrutura social e suas
transformações, que se ligam ao econômico, político e cultural.
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Apesar dessa ponte
com outras estruturas e uma aparente maleabilidade, a História Social, a partir da
década de 80 do século XX, foi alvo de críticas de alguns intelectuais como
mantenedora de um aspecto duro.
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Aos poucos, a História cultural alertava para o fato de que as
representações nem sempre correspondem ao objeto o qual representa. A partir
dessa questão levantada, a análise das fontes históricas passou a ser estudada
visando novas abordagens, considerando-as como inesgotáveis. Assim, pessoas
diferentes poderiam ver o mesmo objeto a partir de perspectivas diferentes. Além
disso, outra contribuição da História sócio-cultural seria a idéia de apresentar o
passado a partir do ponto de vista das pessoas comuns.
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Nesse sentido, a narrativa
não estaria ligada apenas aos acontecimentos, mas sim à dedicação às pessoas e
às maneiras como elas se relacionam.
Seguindo essa perspectiva teórica, escolhemos para o nosso estudo um
grupo social específico
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, os “paulistas”, utilizados pela Coroa portuguesa como
instrumento de repressão e controle social durante os séculos XVII e XVIII. Temos
como objetivo principal, compreender sua participação na conquista do sertão das
capitanias do Norte do Estado do Brasil,
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durante e após a chamada “Guerra dos
bárbaros”
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, especificamente nos territórios da capitania do Rio Grande
7
. Além disso,
1
HOBSBAWN, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Ver capítulo Da
história social à História da sociedade.
2
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. p. 101.
3
Sobre pessoas comuns, ver BURKE. Idem p. 100.
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Segundo Eric Hobsbawn, grupo social seria o conjunto de condições sociais de existência
compartilhada por um grupo de personagens, não estando ligado ao processo de produção, uma vez
que o conceito empregado para isso seria o de classe, mas a um sistema de relações, tanto verticais
quanto horizontais. Cf. HOBSBAWN. Op. Cit. p. 99.
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Capitanias do Norte, Estados do Norte, ou Norte eram formas usadas para designar o que hoje seria
o Nordeste (no sentido proposto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) no período
colonial. O Nordeste como conhecemos só aparecerá nas primeiras décadas do século XX a partir de
uma construção ideológica patrocinada pelas elites regionais. Cf. ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz
de.
A invenção do Nordeste e outras artes. Recife: FJN/Massangana. São Paulo: Cortez, 1999.
6
A “Guerra dos Bárbaros” foi um conjunto de batalhas ocorridas no sertão e que se dividiu em dois
momentos: Guerras do Recôncavo (1651-1679) realizadas no Recôncavo Baiano, e Guerra do Açu
(1687-1704), abrangendo os sertões de Rodelas, Piauí e Paraíba, e as ribeiras dos rios Açu e
Jaguaribe, ou seja, dentro da jurisdição da capitania de Pernambuco e Capitanias Anexas. PUNTONI,
Pedro.
A Guerra dos Bárbaros: Povos Indígenas e a Colonização do Sertão Nordeste do Brasil,
1650-1720. São Paulo: Hucitec: Editora da Edusp, 2002. p. 13.