Síntese das Entrevistas - Sujeito 2 - Sexo masculino, 16 anos e 8 meses, 2ª série do Ensino Médio
? Com o adolescente: O sujeito diz que sempre morou com a avó, que faleceu quando ele tinha 13 anos. Os pais
tiveram um namoro e nunca conviveram maritalmente. A mãe casou-se e foi viver com o atual padrasto, deixando-o com a
avó materna. Sua convivência maior foi com a avó e as tias maternas, que ajudaram a criá-lo. Sobre a avó diz que era viúva
há 28 anos e tinha 22 netos.. “... todo mundo tinha uma impressão estranha dela, ela tinha uma problema na perna e era
gritona, xingava na rua” (sic), mas era boa para ele, a quem era muito apegada. Sua vida mudou muito após a morte da avó.
Passou dois meses com a tia, mas quis voltar para casa. Também não se adaptou na casa da mãe, que, a princípio, não queria
deixá-lo morando sozinho. Até passa algumas horas na casa materna, mas na hora de dormir tem que voltar para a casa em
que morava com a avó, “... pois algo me prende lá, não consigo ficar em outro lugar” (sic). Diz que sempre teve medo de
escuro, mas após a morte da avó, não se incomoda mais com isso. “Sentia muita tristeza e foi difícil fazer as provas de final
de ano” (sic). A família materna, que até então se dava bem, passou a brigar após a morte da avó. Tem um primo de 27 anos,
que também morava com a avó, que “... é como um irmão mais velho” (sic). Atualmente o sujeito mora com um primo de 20
anos na casa em que viveu com a avó materna, mas convive diariamente com a mãe, padrasto, duas irmãs, de 13, 11 e um
irmão de 7 anos de idade, fazendo as refeições na casa materna, que é próxima a sua moradia. Sobre o padrasto, refere que o
admira, “... pois ele é o 2° pai da mãe, está criando ela de novo... ela faz coisas sem pensar e ele ensina, aconselha.. Comigo
ele se envolve, dá conselhos... Era difícil a questão da liberdade de sair.” (sic). O pai inicialmente trabalhava como pintor,
“... mas depois a bebida tomou conta” (sic). Os contatos com o pai e a família paterna ocorreram somente após os 8 anos de
idade, mantendo atualmente contatos esporádicos. Diz ter o mesmo jeito do pai “... mais quieto e tímido” (sic) Quanto aos
irmãos, se dá melhor com a mais velha, de 13 anos, também fruto de um relacionamento passageiro da mãe, anterior à
convivência com o padrasto. Sempre teve boas condições de saúde e alimentação; o sono é instável, às vezes dorme mal e
quando criança tinha pesadelos. Sempre teve um bom rendimento na escola, mas neste ano “... tenho seis notas vermelhas,
pois estou mais relaxado” (sic). Tem bom relacionamento com os colegas e professores. Veio participar do projeto social “...
para buscar aprendizado, já que em casa eu não tenho” (sic) Mas ali fica mais inibido e se dá melhor com as meninas.
Conversa pouco e evita “... cair na zoeira” (sic). Já namorou uma vez, mas nunca gostou muito de alguém. Evita se envolver
“... para não sofrer logo cedo” (sic). Quanto ao futuro, “..não tenho nada em mente...não gosto de estudar”(sic). Quer casar
“... mas não muito cedo, tem que ser algo bem pensado” (sic). Ao final do ano letivo o sujeito refere que a participação no
projeto social “... foi um atraso na minha vida. Não tive o rendimento que esperava.... esperava muita coisa. Não souberam
escolher os alunos, os professores não têm comando e autoridade e o ambiente é muito bagunçado. Quando estava
engrenando com um professor, ele sai.” (sic). Lamenta a saída de dois professores (Espanhol e Informática) dos quais
gostava muito. Freqüentou as aulas até o final do ano “..porque me propus”(sic). Considera que seus planos quando
ingressou no projeto foram perdidos, pois não aprendeu muita coisa. Pretende trabalhar como “embalador” no próximo ano.
? Com a mãe: A mãe comparece ao primeiro chamado e a entrevista ocorre na presença do sujeito. Salienta que
apesar de ter deixado o filho morando com a avó, nos primeiros anos de vida estava presente e era a responsável pelos
cuidados com ele. Neste período, teve uma segunda filha de um relacionamento com um homem casado. Quando o filho
estava com quatro anos, casou-se e saiu da casa da mãe. Queria tê-lo levado consigo, mas sua mãe não deixou, pois gostava
muito do neto e dizia que ele era filho dela. Depois que se casou e saiu da casa da mãe, ficou encarregada de levar o filho ao
médico e à escola. Acha que ele era mais apegado a ela enquanto estavam juntos. “Até hoje noto algo nele; ele faz cobranças
e diz que eu não o criei” (sic). Tentou levá-lo para morar consigo várias vezes, mas ele nunca aceitou, nem mesmo quando a
avó faleceu. “Ele é muito quieto e não fala a não ser quando é chamado. Com a avó era mais alegre. É muito apegado à tia
materna, que morava no mesmo pátio e ajudou a cuidá-lo..... ela é ouro para ele” (sic). Acha que ele não deixa a casa da
avó, “... porque é apegado às coisas materiais, não quer deixar a casa” (sic). Salienta que ele é quem cuida da casa onde
mora e é muito caprichoso. Comenta que o filho nasceu de uma “aventura passageira” (sic) e que o pai assumiu a
paternidade após um ano, quando foi comprovada a paternidade através de exame. O pai cumpriu o dever de pagar pensão
alimentícia até o momento em que o filho estava com 14 anos, mas depois de um acidente virou alcoólatra, parou de trabalhar
e vendeu tudo o que tinha, não ajudando em mais nada. O filho não queria ver o pai quando criança, mas atualmente tem
estado com ele e a família paterna. Sobre o desenvolvimento do filho, a gravidez foi boa, pois teve o apoio da mãe e amigos.
O parto foi de cesárea, aos nove meses de gravidez, pois não tinha dilatação. Amamentou-o por um ano, e o desmame foi
difícil, ele não queria deixar o seio e não aceitava chupeta ou mamadeira. Dormia e se alimentava bem; “... nunca deu
trabalho, como as irmãs” (sic). O controle esfincteriano ocorreu aos 12 meses. Sempre gozou de boa saúde, “... mas quando
pequeno era tão gordo que ninguém conseguia carregá-lo” (sic). Nos primeiros 6 meses na escola, estranhava o ambiente,
não queria fazer as lições, mas a avó insistia para que estudasse e depois não teve mais problemas escolares. Sempre teve
bom relacionamento com amigos, colegas e professores. “Nunca foi briguento” (sic). O relacionamento com o filho é bom,
e embora ele seja calado, às vezes é brincalhão. “... comigo ele se abre mais, mas às vezes discutimos” (sic). Refere ter tido
dificuldades no relacionamento conjugal nos últimos anos; o casal separou-se algumas vezes há 5 anos, mas atualmente se
entendem melhor. “Nos unimos por causa dos filhos”(sic). Sobre as condições sócio-econômicas da família a casa onde o
sujeito reside é de alvenaria, de propriedade da família materna, possui um dormitório, energia elétrica e rede de água e
esgoto. É sustentado pela mãe e o padrasto, cujos rendimentos provem do salário deste como motorista. Segundo a mãe, a
situação sócio-econômica é difícil, pois pagam aluguel e sustentam os 4 filhos menores.
? Contatos com os representantes da ONG: O coordenador do Projeto, que fez a indicação do sujeito, diz: “Sei que
ele morava com a avó, pois foi abandonado pelos pais. É muito fechado, retraído, e por isso é motivo de chacota e é
perseguido pelos colegas daqui. Mas é prestativo e aplicado aqui e na escola.” O professor de Matemática diz que ele “...
não faz bagunça como os outros meninos da classe, que implicam muito com ele” (sic). Senta no fundo e apesar de não
participar verbalmente das aulas, mantém-se atento. Tem um rendimento razoável nas diversas matérias.