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Sistêmico-Funcional (EGGINS, 1994, 2004; EGGINS e MARTIN, 1997;
HALLIDAY, 1978, 1985, 1994; HALLIDAY e MATTHIESSEN, 2004; MARTIN e
ROSE, 2003), em cujo cerne de análise a linguagem é fator preponderante,
sobretudo o sistema de transitividade, para a construção representacional das
personagens gays do corpus de estudo desta tese. Dentro dessa perspectiva, tentei
desenvolver um trabalho que contribuísse para pesquisas dos Estudos da Tradução,
nos contextos nacional e internacional, que utilizam a LSF como base teórica de
suas investigações. É fato, pois, que a temática aqui tratada, na interface dos
Estudos da Tradução no Brasil e a LSF, revela-se original, uma vez que, até o
presente momento, eu desconheço pesquisas nacionais que utilizam a LSF para a
investigação dessas questões.
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Durante o exame de qualificação desta tese, os Ilmos. Professores Doutores Sônia Pimenta e Carlos
Gohn questionaram-me por que eu não havia utilizado a Análise Crítica do Discurso (ACD) como teoria e
método para investigar o tema desta pesquisa. Diante desse questionamento, creio ser pertinente esta
nota de pé de página explicando, mesmo que sucintamente, o motivo de minha escolha pela LSF.
Primeiramente, a ACD, sobretudo os trabalhos de Norman Fairclough (CHOULIARAKI e
FAIRCLOUGH, 1999; FAIRCLOUGH, 2003), tem como base a LSF para suas análises discursivas. No
entanto, além da investigação da linguagem como um dos elementos constitutivos das práticas sociais,
Chouliaraki e Fairclough (1999) apresentam outras questões de fundamental interesse da ACD, quais
sejam, (i) os problemas sociais circunscritos à vida enquanto sistema aberto a mudanças; (ii) relações de
poder e hierarquias; (iii) sociedade e cultura como resultados de práticas discursivas; (iv) o discurso
enquanto ideologia; (v) a historicidade do discurso; e, sobretudo, (vi) o discurso como prática social e
agente de mudanças. Uma pesquisa que abrangesse todos esses aspectos deveria, sem dúvida, limitar-se
a um corpus muito mais resumido do que o utilizado nesta pesquisa de doutorado, uma vez que o(a)
pesquisador(a) necessitaria lançar mão de teorias sociais e culturais para a investigação de elementos
discursivos presentes (e também velados) em seus dados que apontassem essas questões. Fairclough
(2001: 230) se posiciona a esse respeito esclarecendo que se o diálogo entre as teorias da linguagem e as
teorias sociais e culturais pretende ser relevante, há que se adotar uma perspectiva transdisciplinar, e
não apenas interdisciplinar. Desta forma, Fairclough (2001) situa a análise lingüística e semiótica em um
plano cuja relevância depende do(s) problema(s) sociais eleitos pelo(a) analista para investigação.
Segundo, Fairclough (2001, 2003) esclarece que os interesses analíticos da ACD partem de um
problema social para, então, verificar suas formações discursivas, usando, para tal, teorias sociais e
culturais sobre ideologia, interdiscursividade, poder, hegemonia e identidade. No caso desta tese, eu não
parti de um problema social, mas, especificamente, do propósito de investigar como personagens gays
são representadas nos dados aqui analisados. Assim, meu enfoque é eminentemente discursivo.
Em virtude dessas ponderações, a LSF revelou-se teoria pertinente aos meus propósitos de
pesquisa, por ser uma teoria de investigação da linguagem que leva em conta os aspectos sociais
peculiares ao discurso e aos sujeitos (gays) representados por intermédio dele.