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ÁGUEDA BUENO DO NASCIMENTO
A RETEXTUALIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE
MANIPULAÇÃO NO DISCURSO JURÍDICO PENAL
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2007
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ÁGUEDA BUENO DO NASCIMENTO
A RETEXTUALIZAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE
MANIPULAÇÃO NO DISCURSO JURÍDICO PENAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Estudos Lingüísticos, da Faculdade
de Letras da UFMG, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Lingüística.
Área de Concentração: Lingüística do Texto e do
Discurso.
Linha de Pesquisa: Lingüística dos Gêneros e
Tipos Textuais
Orientadora: Profa. Dra. Maria Beatriz Nascimento
Decat.
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2007
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Dissertação defendida e aprovada em ____ de ____________________ de 2007,
pela Banca Examinadora constituída pelos Professores Doutores
Profa. Dra. Maria Beatriz Nascimento Decat – UFMG
Orientadora
________________________________________________________________
________________________________________________________________
A todos aqueles que, de alguma forma,
despertaram-me para o fascínio do poder da
linguagem, de que o homem “pensa” ser
detentor, mas que, de fato, é a expressão mais
fiel da essência humana.
AGRADECIMENTOS
À bela BEATRIZ toda bela. Bela em seus trajes e sapatos, belas mãos, bela em
suas madeixas loiras, bela em sua sempre aconchegante casa, bela com seu belo marido, bela
em seus vastos conhecimentos, bela professora, bela amiga, belo coração, bela, belíssima,
eternamente bela BEATRIZ ORIENTADORA. Sua beleza desfila pelos corredores da
FALE/UFMG e se eterniza nas nossas vidas. Seus conselhos ultrapassaram sempre a seara do
conhecimento científico. Ensinou-me, com a paciência e o rigor de mãe, as palavras e os
passos a serem encetados. Generosa, transferiu-me um pouco da beleza de seu amor à
linguagem e à docência. vejo o mundo mais belo, pois tenho um pouco de sua beleza. A
mais bela beleza é sua, BEATRIZ! Gratidão não faz jus à beleza. Encantamento, talvez.
Aproxima-se mais ao fascínio. Minha mais completa fascinação a você, Bela Beatriz, que
tornou a minha vida mais bela!
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos
POSLIN/UFMG, por fazerem emergir, de forma definitiva, minha identificação com o
universo das Letras.
Ao Curso de Letras do Centro Universitário de Patos de Minas UNIPAM-, em
especial aos professores Geovane Fernandes Caixeta e Sueli Maria Coelho, que me
forneceram suporte e inspiração para o desenvolvimento deste e de outros trabalhos.
Ao mundo jurídico, de onde venho, por me dar sustentação para o
desenvolvimento deste trabalho.
Aos meus colegas e superiores da Delegacia Regional de Polícia Civil de Patos de
Minas, pela compreensão e pelo auxílio prestimoso, sem o que, jamais, este estudo seria
realizado.
Aos profissionais do Direito, de forma especial ao Dr. Tenório Silva Santos, Juiz
de Direito na Comarca de Patos de Minas, que me emprestaram suas falas e permitiram a
gravação dos depoimentos que compõem este trabalho.
Aos colegas do POSLIN/UFMG, companheiros das dores, mas, sobretudo, dos
sabores de se estudar a linguagem.
Aos meus pais, que sempre me ensinaram a importância da linguagem,
despertando em mim a paixão pelo mundo das letras.
5
A toda a minha família, pela cumplicidade silenciosa e determinante para a
conclusão desta caminhada.
Ao Marcos e à Paula, irmãos carinhosos que, gentilmente, acolheram-me em sua
casa, durante estes dois anos de estudo.
Ao meu lindo filho, que, desde tenra idade, comprova-me como, por meio da
linguagem, é possível explicitar gênese e caráter, abastecendo-me de coragem, de amor e de
ousadia para concretizar meus sonhos.
Aos meus amigos, presentes ou não, que sorriram, choraram, ouviram, sofreram,
auxiliaram-me e venceram comigo.
Aos eternamente queridos Daniel e Raquel, sem os quais não teria conseguido
formatar este trabalho a contento, comprovando-me, com suas atitudes, a existência de
solidariedade e cumplicidade pelos amigos.
RESUMO
Este trabalho apresenta uma análise, na perspectiva da Lingüística Textual, do fenômeno da retextualização,
focalizando as transformações ocorridas durante a construção do Gênero Depoimento prestado pelo acusado/réu
ao Delegado de Polícia/Juiz, tanto em Delegacias de Polícia quanto em Fóruns. As atividades de retextualização
analisadas são as que ocorrem durante as audiências oficiais, em que a passagem do texto oral dialogado,
construído pelo operador do Direito e por quem é por ele interrogado, para um segundo texto oral monologado,
produzido também oralmente pelo operador do Direito, de forma exclusiva, que o dita on line para o Escrivão e
este, por sua vez, o consigna, sem interferências, no denominado “Termo de Depoimento” (depoimento escrito
que instruirá os autos do Inquérito/Processo). Os fenômenos lingüísticos analisados neste estudo, que surgiram
durante a transformação da fala para a escrita, evidenciam que o Interrogatório Policial/Judicial constitui um
tipo de “interação assimétrica”, em que o operador do Direito dirige, comanda a fala do outro. Dessa forma, este
trabalho pretende demonstrar que o discurso jurídico penal, construído durante o processo de retextualização nas
Tomadas de Depoimento do acusado/réu na esfera criminal, por vezes pode vir a servir como instrumento de
manipulação na e pela linguagem e, até mesmo, de condenação do acusado/réu.
PALAVRAS-CHAVE: Retextualização. Gênero depoimento. Fala. Escrita. Discurso jurídico penal.
ABSTRACT
This work shows an analysis of a transformation phenomenon of a text into another (re-textualization) from the
Textual Linguistics perspective. It focuses on the transformations occurred during the "Testimony” gender
building testified by various suspects/defendants to Police Officers/Judges, both in Police Stations and Tribunals.
The re-textualization activities analyzed are the ones that occur during official audiences, where a dialogical oral
text - built by the law professional and the person by him interrogated, is converted into an oral monological text,
produced exclusively by the law professional, who dictates it online to the notary who, in turn, consigns it,
without interferences, in the "Testimony" (written statement that will instruct the court’s Inquiry/Process
records). The linguistic phenomena analyzed in this study, which emerged during the transformation of speech
into writing, make it clear that the Police/Judicial Inquiry constitutes a kind of "asymmetric interaction", in
which the law professional directs, commands the other's speech. Thus, this work aims at demonstrating that the
criminal judicial speech, built by the transformation phenomenon of an oral into a written text during a
suspect/defendant's "Oral Testimony", may sometimes come to serve as a manipulation instrument in and by
language, and, even, as a condemnation instrument of the suspect/defendant.
KEYWORDS: Transformation phenomenon of a text into another (re-textualization).Testimony gender. Speech.
Writing; Criminal judicial speech.
LISTA DE FIGURAS E QUADROS
Figura 1 - Triângulo Interlocutivo............................................................................................12
Figura 2 - Representação do contínuo dos gêneros textuais na fala e na escrita......................55
Figura 3 - Representação da interlocução na Tomada de Depoimento....................................78
Quadro 1- Normas para transcrição.........................................................................................20
Quadro 2- Organização textual................................................................................................33
Quadro 3- Análise textual do depoimento judicial n˚2 da espécie interrogatório..................38
Quadro 4- Análise textual do depoimento policial n˚6 (cf. anexo) da espécie interrogatório
(inserido no corpo de um Auto de Prisão em Flagrante Delito)...............................................48
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................10
Natureza e delimitação do problema........................................................................................10
O evento “Tomada de Depoimento” ........................................................................................11
Justificativa...............................................................................................................................14
Objetivos e procedimentos metodológicos...............................................................................16
Estrutura do trabalho ................................................................................................................21
CAPÍTULO I - LINGÜÍSTICA TEXTUAL E OS GÊNEROS: alguns pressupostos
teóricos.....................................................................................................................................23
1.1 A Lingüística Textual.........................................................................................................23
1.2 Teoria interacionista da linguagem ....................................................................................25
1.3 Estudos sobre os gêneros textuais ......................................................................................28
1.4 A construção do gênero Depoimento Policial/Judicial na esfera criminal.........................31
1.5 A Retextualização...............................................................................................................54
1.5.1 As relações entre fala e escrita ........................................................................................54
1.5.2 Atividades de retextualização..........................................................................................56
CAPÍTULO II - A LINGUAGEM JURÍDICA....................................................................59
2.1 Especificidades...................................................................................................................59
2.2 Princípios gerais do Direito Processual Penal....................................................................65
2.3 Os estudos de Alves (1992) e de Jönsson & Linell (1991) ................................................70
CAPÍTULO III - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ....................................75
3.1 Análise dos dados e resultados obtidos ..............................................................................79
3.1.1 Depoimentos Judiciais....................................................................................................79
3.1.2 Depoimentos Policiais.....................................................................................................92
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................103
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................................................106
ANEXO..................................................................................................................................109
INTRODUÇÃO
Natureza e delimitação do problema
Por ser a linguagem inerente ao homem, ela sempre o fascinou e ele, por sua vez,
sempre quis dominá-la. Encontram-se já nas comunidades primitivas registros da preocupação
do homem para com a linguagem, tentando analisá-la para adquirir o poder conferido a quem
a domina
1
. É remota a crença na existência de uma linguagem inocente, utilizada apenas
como instrumento de comunicação social. Com o advento dos estudos lingüísticos e o
surgimento das teorias sobre o discurso, a linguagem passa a ser concebida numa perspectiva
de interação, utilizada para atingir o interlocutor, mostrando-se o lugar privilegiado para a
manifestação da ideologia.
A Linguagem Jurídica, eminentemente persuasiva e argumentativa, constitui-se
como o instrumento de trabalho dos profissionais do Direito, nesta pesquisa também
denominados de “operadores do direito”. Esses têm na linguagem persuasiva seu principal
instrumento de trabalho, que se valem do caráter perlocutório da língua para construírem
sua retórica e, conseqüentemente, conseguirem a vitória nos tribunais.
O discurso jurídico é um ato comunicativo que utiliza a linguagem natural para
convencer, persuadir (ou pelo menos assim deveria ser). Não obstante, o discurso jurídico, por
vezes, vem ultrapassando a esfera da persuasão, chegando a figurar como elemento de
manipulação e até mesmo dominação do outro (o leigo).
É certo que o Direito é uma ciência e, como tal, possui uma linguagem técnica.
Entretanto, o tecnicismo pode, por vezes, levar o cidadão a não ter compreensão do mundo
jurídico. Por outro lado, o distanciamento do mundo jurídico em relação aos outros mundos é
ressaltado pela insistência na manutenção de uma linguagem arcaica e rebuscada que, ao
contrário de elucidar, pode confundir, não os leigos, mas, inclusive, os outros profissionais
da área.
Entende-se, pois, que tal tecnicismo e mesmo a manutenção da linguagem
tradicional devem ser dosados com o fito de que, não se perdendo o caráter científico próprio
1
O conhecido episódio da Torre de Babel endossa essa afirmativa.
11
do mundo jurídico, esse possa, efetivamente, integrar-se na sociedade, promovendo interação
e harmonia, através do acesso eficaz do cidadão comum ao mundo jurídico, por meio de uma
linguagem adequada.
Este trabalho irá se circunscrever a análise da linguagem utilizada durante as
audiências policiais e judiciais em que o operador do Direito interroga alguém que está sendo
acusado da prática de algum delito. Durante as audiências, ocorrem as denominadas
"Tomadas de Depoimento”, eventos nos quais os acusados, testemunhas e vítimas relatarão ou
esclarecerão fatos aooperador do Direito.
O evento “Tomada de Depoimento
O evento “Tomada de Depoimento” se circunscreve, pois, aos relatos das pessoas
que são chamadas à Delegacia ou ao Fórum para prestarem informações sobre fatos de que
tenham tomado conhecimento ou de que tenham tomado parte.
Este estudo propõe-se a analisar aspectos lingüísticos recorrentes nas Tomadas
de Depoimentos” da esfera penal ocorridas tanto em Delegacia de Polícia como em Fórum.
Limitou-se também aos “depoimentos” prestados pelos acusados/réus
2
perante
Delegados/Juízes em relação à acusação de alguma prática criminal a eles imputada.
Os depoimentos prestados pelos acusados/réus são denominados de
“Interrogatório Policial ou Judicial”. O acusado/réu é chamado, via mandado, a comparecer,
em dia e hora para isso designados, em uma Delegacia de Polícia ou em um Fórum e prestar
suas informações.
O “Interrogatório” também pode se dar quando o acusado é preso em flagrante
delito e lhe são tomadas as informações durante a lavratura do Auto de Prisão em Flagrante
Delito.
A “Tomada de Depoimento/Interrogatório” acontece, assim, entre o acusado/réu e
o Delegado/Juiz. Constitui-se em uma entrevista oral em que o operador do Direito dirige
perguntas orais ao réu que as reponde também oralmente. O operador do Direito constrói um
novo texto num processo on line e, simultaneamente, o dita ao Escrivão. O Escrivão, em
2
Em Direito, “acusado” é a denominação que se dá àquele que está sofrendo uma acusação, mas que, contra ele,
ainda não foi oferecida uma denúncia e não foi instaurado, portanto, um processo penal. “Réu” é a denominação
que se àquele contra quem foi instaurado um processo penal. Quando alguém é interrogado na Delegacia,
deve ser chamado de “acusado”, pois ainda não foi instaurado contra ele um processo penal; e quando
interrogado por um juiz de direito, recebe a denominação de “réu”, mesmo que, posteriormente, seja absolvido.
Neste trabalho também constam a transcrição e a retextualização de um depoimento judicial prestado por um
menor de 18 anos que praticou um ato ilícito. Nesse caso, o menor é denominado, juridicamente, de “menor
infrator” .
12
regra, não interfere na interlocução empreendida entre o operador do Direito e o acusado/réu.
Seu papel é de apenas consignar no Termo as palavras que lhe são ditadas pelo operador do
Direito.
Estabelece-se, dessa forma, uma conversa entre o acusado/réu e o operador do
Direito e esse, por sua vez, reconstrói a fala do acusado/réu, ditando para o Escrivão um texto
“reelaborado”. O Escrivão, portanto, conforme acima exposto, apenas recebe o texto pronto e
o consigna graficamente, sem produzir nele qualquer alteração. Tanto o é que, não raramente,
o Delegado e o Juiz ditam a pontuação a ser inserida no texto escrito, que está sendo digitado
pelo Escrivão.
Abaixo encontra-se uma representação gráfica da interlocução existente na
construção de um texto depoimento policial/judicial.
Representação do que ora se denomina de TRIÂNGULO INTERLOCUTIVO
3
DELEGADO/JUIZ
ACUSADO/RÉU ESCRIVÃO
Figura 1 - Triângulo Interlocutivo
Em face do exposto, o desenvolvimento do estudo proposto procura analisar
textos pertencentes ao discurso jurídico penal, produzidos no evento Tomada de
Depoimento” do acusado/réu, visando a demonstrar que o uso excessivo da linguagem técnica
e rebuscada e a recorrência a arcaísmos lingüísticos prejudicam a interação e contribuem para
a manipulação e para a dominação pelos profissionais do Direito, especialmente quando
realizam a retextualização durante a “Tomada de Depoimento” da linguagem dos leigos.
3
Essa é a representação gráfica da interlocução entre o acusado/réu e o Delegado/Juiz que retextualiza a fala do
interrogando, ditando-a ao Escrivão que a consigna em Termo próprio. Há, portanto, uma seta bidirecional que
aponta tanto para o operador do Direito quanto para o leigo, pois troca conversacional entre eles, enquanto
uma seta unidirecional apontando do operador do Direito para o Escrivão, pois este, em regra, apenas recebe o
texto retextualizado, sem trocas conversacionais.
13
Marcuschi (2001, p. 46) ao tratar da retextualização, ensina:
A retextualização, tal como tratada nesse ensaio, não é um processo mecânico,
que a passagem da fala para a escrita não se naturalmente no plano dos processos
de textualização. Trata-se de um processo que envolve operações complexas que
interferem tanto no código como no sentido e evidenciam uma série de aspectos nem
sempre bem-compreendidos na relação oralidade-escrita.
A descrição do evento feita acima já suscita algumas considerações. A Linguagem
Jurídica deve visar à produção colaborativa do sentido. Não obstante, conforme já apontado, o
tecnicismo exacerbado e as interferências realizadas nos processos de retextualização podem
influenciar as tomadas de decisão. O profissional do Direito, possuindo conhecimento técnico,
inclusive e principalmente lingüístico, ao inquirir as partes e testemunhas, manipula a
linguagem do outro, retextualizando sua fala, modificando-a, até semanticamente, e, pois,
dominando e decidindo. Assim, no mundo jurídico, por meio de interferências lingüísticas,
tanto as relativas à estrutura/gramática, quanto às de cunho semântico, instauram-se o poder e
a manipulação sobre o outro. Dessa forma, seria, por vezes, perceptível o fato de a Linguagem
Jurídica não vir cumprindo o papel precípuo da Linguagem como um todo, que é a interação.
O problema reside não na especificidade dessa linguagem, mas nas transformações
gramaticais e nas inserções lexicais praticadas por seus usuários, que implicam o
desvirtuamento semântico. Ao retextualizar, o profissional do Direito transforma estruturas
gramaticais produzindo, muitas vezes, outro sentido que não o pretendido pelo primeiro texto.
Essa postura do retextualizador jurídico pode, portanto, constituir-se em uma tentativa de
dominação do outro. O material lingüístico serve como recurso para o profissional do Direito
na interação, em certas ocasiões, acabar manipulando e tomando uma decisão lingüística que
não corresponde à vontade de seu interlocutor.
Ocorre, diante disso, o distanciamento entre a Linguagem Jurídica e seu objetivo,
que é a construção colaborativa do sentido, nem informando os leigos e nem convencendo os
técnicos. O tecnicismo não elucidativo existente na Linguagem Jurídica pode ser facilmente
exemplificado por meio do tratamento dispensado ao vocábulo “sanção” que, mesmo na
Linguagem Jurídica, embora possua a mesma grafia, possuirá dois sentidos diversos: um
primeiro relacionado à aprovação de um ato legal; e outro relativo à punição (desaprovação)
de um ato praticado contra a lei. Trata-se, pois, de uma polissemia que tende ao
distanciamento do “homem comum”, o que é bastante recorrente no cotidiano jurídico. Não é
diferente quando se trata do vocábulo “defeso”, que significa “ser proibido” na Linguagem
14
Jurídica, enquanto, normalmente, evoca-se uma ligação de tal termo à permissibilidade, pois
se relaciona cognatamente ao vocábulo “defesa”.
A “reestruturação” de textos orais realizada por profissionais do Direito,
especialmente em audiências judiciais e policiais, implica, invariavelmente, a reestruturação
também de aspectos gramaticais e sintáticos do primeiro texto. Analisando essas operações, é
possível detectar, pelas marcas lingüísticas existentes nos textos (oral do leigo; e oral e escrito
do profissional do Direito), um novo sentido construído, que pode vir a ser tendencioso e, em
certas situações, até mesmo propiciador de injustiça.
Justificativa
Justifica-se a pesquisa em face da hipótese de que, muitas vezes, não ocorre a
construção conjunta do sentido do operador do Direito e do leigo durante a Tomada de
Depoimento policial/judicial, podendo haver, contrariamente, por meio de recursos
lingüísticos, a dominação do acusado/réu pelo jurista que manipula a fala daquele, o que pode
vir a resultar na condenação do acusado/réu.
Permite-se chegar a essa assertiva, por meio de conhecimentos angariados, pela
autora do presente trabalho, durante o curso de graduação em Direito, pela UFMG (conclusão
em 1993), durante o Curso de Letras pelo UNIPAM/Patos de Minas (conclusão em 2004) e da
utilização cotidiana da Linguagem Jurídica, ao presidir a Tomada de Depoimentos policiais
em Delegacia de Polícia, mais de oito anos, e ao verificar os desvios que essa linguagem
“sofre” ou “provoca”.
Encontrando-se em um dos pólos das relações jurídicas, como Delegada de
Polícia, é possível perceber as manipulações lingüísticas que são realizadas pelos
profissionais do Direito para atingirem seus objetivos e, não necessariamente, esclarecer os
fatos, ou promover justiça. Note-se que a autora, ao pesquisar, passou a analisar seu próprio
comportamento lingüístico, enquanto profissional do Direito, eis que é, nesse contexto, um
dos agentes da “dominação lingüística”.
Numa abordagem funcional da linguagem, e, ainda, no que se refere à língua
falada, propõe-se, aqui, a análise das marcas lingüísticas que permitem afirmar haver, em
muitas passagens, uma “interação parcial” entre o operador do Direito e o leigo durante as
Tomadas de Depoimento do acusado/réu, vez que os interlocutores não constroem, em
cooperação, o discurso jurídico penal, sendo esse construído, unicamente, pelo operador do
15
Direito que transmite, ao Escrivão, a fala do acusado/réu, procurando atribuir-lhe a
responsabilidade pela falta cometida.
O discurso construído durante o evento “Tomada de Depoimento” é produto da
interação entre o operador do Direito e o acusado/réu. Não obstante, o discurso jurídico que se
manifesta no “Termo de Interrogatório”, pós retextualização, embora resultado de um
processo interativo inicial entre o operador do Direito e o acusado/réu, acaba surgindo como
resultante de uma enunciação monológica, que o operador do Direito, em muitos casos, se
afasta do sentido pronunciado pelo leigo, inserindo, tão somente, o sentido pretendido apenas
por ele sobre os fatos em questão.
Em Marxismo e filosofia da linguagem, Bakhtin (1929) afirma que a verdadeira
substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas lingüísticas, nem
pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo
fenômeno social da interação verbal, construída durante a enunciação. Nessa perspectiva, na
Tomada de Depoimento do acusado/réu, a Linguagem Jurídica e a postura do operador que
compõem a interação servem como instrumentos que podem vir a gerar a dominação do outro.
O argumento de que a retextualização da fala do leigo teria como objeto precípuo
adequar tal linguagem à técnica jurídica mostra-se, no mínimo, inadmissível, pois o
tecnicismo a que se subordina a Linguagem Jurídica pode propiciar o distanciamento entre os
participantes do processo interlocutivo. Sabe-se que a especificidade de linguagem é inerente
a todas as ciências. Todavia, os arcaísmos e a obsolescência da Linguagem Jurídica vêm
sendo utilizados, recorrentemente, como recursos que objetivam manter o acusado/réu
ignorante (desconhecedor) e construir a verdade desejada unicamente pelo operador do
Direito. A Linguagem Jurídica exorbita a técnica, prevalecendo-se do tecnicismo como
instrumento de dominação.
No que tange à proposição de que a retextualização na Tomada de Depoimento
policial/judicial seria o instrumento organizador da fala do leigo, tal alegação é, hoje,
exaustivamente refutada por todos os estudos de língua falada que afirmam possuir a fala sua
própria organização e estrutura, não estando, em nenhum sentido, subordinada à escrita. Na
verdade, fala e escrita configuram-se como duas modalidades de um mesmo sistema
lingüístico, cada qual com suas especificidade e organização peculiares.
Justificou-se, assim, a realização deste estudo pela análise mais aprofundada das
marcas lingüísticas encontradas nos textos jurídicos que demonstram, muitas vezes, a não
proficiência da Linguagem Jurídica, tal como hoje é exercida. A partir da análise das
estruturas gramaticais e argumentativas do corpus coletado (textos jurídicos orais e escritos),
16
é possível verificar a ocorrência da manipulação e do domínio que, por vezes, se exerce no
campo do Direito, através de determinados recursos lingüísticos a serem apontados e
analisados devidamente no corpo deste estudo.
Objetivos e procedimentos metodológicos
Objetivos
Objetivando verificar se as estratégias lingüísticas utilizadas nos processos de
retextualização, procedimento legal inerente ao Direito Penal Brasileiro, visam à manipulação
e ao domínio do outro, optou-se por um modelo de abordagem funcionalista da linguagem, no
qual se procura explicar o uso interativo da língua, analisando, principalmente, as condições
discursivas que envolvem as estruturas lingüísticas utilizadas durante as Tomadas de
Depoimentos e seus contextos e fins específicos.
Assim, vários objetivos específicos deste trabalho delineiam-se:
Análise de textos produzidos (oralmente) pelos depoentes, confrontando-os com os
retextualizados pelos profissionais do Direito, verificando a existência, ou não, de
manipulação ou distorção para um determinado fim;
Verificação de que tipos de estratégias lingüísticas são utilizados pelos operadores do
Direito, na atividade de retextualização dos textos obtidos dos depoentes;
Verificação do grau em que o uso dessas estratégias configura-se como um mecanismo de
manipulação da fala do outro;
Estudo e análise de textos pertencentes ao domínio jurídico, buscando apontar as
conseqüências do uso excessivo do tecnicismo, da linguagem arcaica, rebuscada, prolixa,
por vezes ininteligível, no discurso jurídico penal.
Fornecimento de subsídios para o uso adequado da linguagem em contexto jurídico,
destacando-se a necessidade da clareza, da objetividade e do entendimento entre os
interlocutores, alertando os profissionais e pesquisadores tanto do Direto, quanto da
Linguagem, que esta é, sobretudo, elemento de harmonização social.
17
Procedimentos metodológicos
Por meio da análise de quatorze depoimentos, sete prestados em Delegacias de
Polícia e sete prestados em Juízo, corpus deste estudo, constataram-se as inúmeras
interferências lingüísticas realizadas pelo operador do Direito, durante a denominada
Tomada de Depoimento”, que, em Lingüística, configuram-se como processos de
retextualização do oral para o oral e, posteriormente, para o escrito.
O início do desenvolvimento desta pesquisa partiu de um estudo bibliográfico
aprofundado sobre o tema.
Dentro da perspectiva da Lingüística Textual, foram enfatizados os estudos
funcionalistas da linguagem, privilegiando sempre o uso da língua.
Tendo-se em vista que o depoimento policial/judicial configura-se como um
gênero textual, tornou-se imprescindível a abordagem atualizada sobre os gêneros, adotando-
se não a premissa preconizada por Bakhtin (1929), que os caracterizou como sendo
enunciados de natureza histórica, sócio-interacional, ideológica e lingüística “relativamente
estáveis”, como também apresentando os vários estudos de Marcuschi (2000, 2001, 2002,
2003 e 2005) sobre gêneros textuais, entre outros estudiosos do tema.
A oralidade é abordada especialmente por meio de referência à obra de Marcuschi
(1995 e 2001) e de Chafe (1982), enfatizando que a língua falada possui sua própria
organização e não é hierarquicamente subordinada ou inferior à língua escrita, apresentando
suas especificidades e contextos em que é mais recorrente/necessária.
Os processos de retextualização realizados tiveram como norte, além das obras
citadas relativas à língua falada, também as operações e metodologias utilizadas para
transcrição de textos orais, conforme apresentadas no PROJETO NURC/SP (apud
CASTILHO, 1999, p 34-5).
Além de várias outras obras sobre as teorias lingüísticas que respaldaram este
trabalho, de modo especial Bakhtin (1929), Bathia (1997), Bentes (2005), Bronckart (2003),
Castilho (1999), Citteli (1991), Fávero & Koch (2005), Jönsson &Linell (1991), Koch (1990,
1997, 2003 e 2004), Mascuschi (2000, 2001, 2002, 2003 e 2005), sustentam também esta
pesquisa obras pertinentes à Linguagem Jurídica, como as dos autores Barreto (1998), Bittar
(2001), Damião & Henriques (1995), Marquesi (1996) e Xavier (1990), e, ainda, a legislação
processual penal e obras relativas ao Direito Processual Penal, especialmente no que tange aos
princípios dessa ciência, tais como Marques (2003), Mirabete (2006) e Tourinho Filho (2003).
18
Este trabalho enquadra-se nos estudos sobre gêneros e tipos textuais, na medida
em que se propõe à analise de textos jurídicos, especificamente textos falados e escritos
referentes aos depoimentos prestados por réus/acusados, tanto perante o Juízo Criminal,
quanto prestados em Delegacias de Polícia.
Os vestígios das transformações lingüísticas impressos nos depoimentos
policiais/judiciais oficiais possibilitaram a análise comparativa entre o texto falado e o escrito,
detectando-se, destarte, reiteradas vezes, uma interação não harmônica nesse acontecimento,
que se configura, ao mesmo tempo, como lingüístico e jurídico.
Dessa forma, as seguintes questões nortearam a pesquisa:
(a) a Linguagem Jurídica cumpre a função dialógica, proposta por Bakhtin (1929)?;
(b) até que ponto a retextualização compromete a interação que deveria ter sido construída
pelos interlocutores?;
(c) o tecnicismo e a obsolescência inerentes à Linguagem Jurídica utilizada nos processos de
retextualização comprometem a interação entre os interlocutores?;
(d) a escolha dos itens lexicais, as inversões, a topicalização e outros recursos lingüísticos
utilizados pelo operador do Direito interferem no processo interativo?;
(e) a retextualização do oral para o escrito, procedimento legal de inquirição em Tomada de
Depoimentos policiais/judiciais, constitui, como recurso argumentativo, um instrumento
de manipulação que visa a favorecer uma das partes?
O tema do estudo incide no processo de retextualização utilizado,
recorrentemente, no mundo jurídico. As implicações do uso da retextualização como
procedimento legal, na Tomada de Depoimento policial/judicial, geram, invariavelmente, uma
desarmonia entre o que o leigo pretende dizer e o que consta no documento oficial, seja no
termo de depoimento judicial
4
a ser juntado nos autos do processo penal, seja no termo de
depoimento policial
5
a ser juntado nos autos do inquérito policial.
Ao retextualizar a fala do leigo, o operador do Direito Penal (Juiz Criminal ou
Delegado de Polícia) realiza várias operações de transformações lingüísticas/discursivas. As
alterações estruturais e gramaticais, além das mudanças dos itens lexicais, refletem a opção do
operador do Direito pelo uso, por vezes, de uma linguagem excessivamente técnica e, ainda,
4
Depoimento judicial é o nome genérico que se ao relato oral prestado em Juízo, perante um Juiz de Direito,
sobre algum fato juridicamente relevante posto em lide, retextualizado para o escrito pelo operador do Direito,
no caso o Juiz, podendo ser prestado por testemunhas, réus, vítimas ou quaisquer outras pessoas.
5
Depoimento policial é o nome genérico que se ao relato oral prestado em delegacia de polícia, perante um
Delegado de Polícia, sobre algum fato delituoso, retextualizado para o escrito pelo operador do Direito, no caso
o Delegado de Polícia, podendo ser prestado por testemunhas, acusados, vítimas ou quaisquer outras pessoas.
19
por alterar o sentido primeiro pretendido pelo leigo, o que pode contribuir para a condenação
do réu.
O cerne deste estudo incide sobre o uso da Linguagem Jurídica nas peças
instrumentais pertinentes ao Direito Penal, que pode gerar dominação e não a interação social
profícua a que se devia propor como ciência social. A Ciência do Direito, assim como a
Ciência da Linguagem, é uma ramificação das Ciências Humanas e Sociais; deve, pois,
promover a harmonização das relações humanas.
Não obstante, muitas das vezes, o operador do Direito Penal opta, conforme se
demonstra neste estudo, por estruturas obsoletas, nas quais se detecta a transformação da
estrutura gramatical e do léxico de forma tal que pode contribuir para a condenação do réu,
mesmo que esse tenha informado algo que, a princípio, teria, como pretensão, escusar a ação
ou minorar sua punição.
A análise aqui empreendida circunscreve-se ao estudo das operações utilizadas
durante os processos de retextualização realizados na Tomada de Depoimento policial/judicial
de acusados/réus (e dos resultados que tais operações podem gerar), de acordo com as
premissas do Direito Processual Penal Brasileiro.
de se observar que os depoimentos policiais/judiciais, denominados
“declarações”, cujo Termo se denomina “Interrogatório Policial”, prestados pelo acusado na
Delegacia de Polícia, muitas vezes irão adquirir um tom menos formal, quando comparados
ao tom imprimido ao interrogatório do réu, prestado em Juízo.
No processo da transcrição procurou-se interferir de forma mínima, objetivando
representar graficamente o que foi dito oralmente. Durante tal operação, prestou-se atenção às
peculiaridades da conversação, em geral filtradas pelo ouvido humano e das quais se tem uma
consciência escassa: alongamentos vocálicos e consonantais, pausas, hesitações,
truncamentos, mudanças de tessitura, superposições de vozes etc.
Metodologicamente, foram seguidas as normas específicas de transcrição, tal
como realizadas pelo PROJETO NURC/SP (apud CASTILHO, 1999, p 34-35). A seguir se
transcreve o quadro de “normas para transcrição”
6
apresentadas pelo autor e que foram
seguidas nas transcrições que formam ocorpus deste trabalho:
6
O quadro de normas para transcrição retiradas de Castilho (1999) apresenta as ocorrências inseridas na primeira
coluna e os sinais respectivos na segunda coluna, havendo uma terceira coluna, com a exemplificação das
ocorrências e sinais pertinentes.
20
Quadro 1 - Normas para transcrição
OCORRÊNCIAS SINAIS EXEMPLIFICAÇÃO
Incompreensão de palavras ou
segmentos
( )
do nível de renda... ( ) nível de
renda nominal
Hipótese do que se ouviu
(hipótese)
(estou) meio preocupado (com o
gravador)
Truncamento / e comé/ e reinicia
Entoação enfática Maiúsculas porque as pessoas reTÊM moeda
Alongamento de vogal ou
consoante s, r
:: ou :::
ao emprestarem os... éh:: o
dinheiro
Silabação - por motivo tran-sa-ção
Interrogação
?
o Banco Central... certo?
Qualquer pausa ... são três motivos... ou três razões
Comentários descritivos
((minúsculas))
((tossiu))
Comentários do locutor que
quebram a seqüência temática:
desvio temático
_ _
a demanda da moeda vamos dar
essa notação demanda de moeda
por motivo
Superposição, simultaneidade de
vozes
[
Ligando linhas
A. na casa da sua irmã?
[
sexta-feira?
Citações literais, reprodução de
discurso direto ou leitura de
textos
Pedro Lima... ah escreve na
ocasião... “O cinema falado em
língua estrangeira não precisa de
nenhuma baRREIra entre nós”...
Seguindo os preceitos interacionistas, foram, em tais ocasiões, também
observadas as condições de produção dos discursos do acusado/réu e do operador do Direito,
especialmente o contexto histórico social do evento comunicativo.
Na retextualização, as interferências durante a passagem de um texto para outro
são intensas, tanto no que se refere ao código como no sentido. Neste estudo, houve a
gravação de depoimentos orais que foram transcritos pela pesquisadora para, depois,
confrontá-los com o texto rextextualizado pelo operador do Direito.
Mister ressaltar, mais uma vez, que este estudo está afeto à seara dos gêneros
textuais e, assim, possui, por escopo, a análise do gênero textual depoimento
policial/judicial, tanto na sua modalidade falada, quanto na sua modalidade escrita, vez que
este é o produto da retextualização daquele.
21
Propõe-se neste trabalho, mais adiante, detalhadamente, a existência do gênero
textual depoimento policial/judicial e dos subgêneros depoimento oral e termo de depoimento
(depoimento escrito).
Estrutura do trabalho
A primeira grande dificuldade ao desenvolver este estudo foi a da pesquisadora,
em sendo também operadora do Direito, realizar uma análise crítica do discurso jurídico.
No entanto, este trabalho se pautou nas indeléveis marcas lingüísticas e nos
estudos funcionalistas da linguagem, que permitiram comprovar a tese de que o operador do
Direito, muitas vezes, usa a linguagem de forma tal que esse uso demonstra certo “domínio”
sobre o leigo. Essa tese teve como embrião pesquisa realizada ainda na graduação
7
.
Esta dissertação três capítulos, sendo iniciada por uma parte introdutória em que
constam a apresentação do tema e as teorias em que esse estará embasado, ressaltando,
conforme exposto, os estudos funcionalistas da linguagem.
Ainda na parte introdutória, descreve-se o evento Tomada de Depoimento”, que
constitui o corpus deste trabalho. Também na Introdução, encontram-se a Justificativa, os
Objetivos e Procedimentos Metodológicos e a Estrutura de todo o estudo.
O primeiro capítulo refere-se à Lingüística Textual, enfatizando-se a Teoria
Interacionista da Linguagem, o estudo sobre os Gêneros Textuais, focalizando também a
construção do gênero “Depoimento Policial/Judicial”. Aborda-se também, nesse capítulo, a
retextualização, a relação entre “fala e escrita”, bem como as atividades de retextualização
propriamente ditas.
No segundo capítulo, a exposição das Especificidades da Linguagem Jurídica e
de alguns princípios gerais do Direito Processual Penal, bem como de uma apresentação dos
estudos propostos por Alves (1992) e por Jönsson & Linell (1991) sobre a linguagem
produzida duranteTomada de Depoimentos.
O terceiro capítulo contém a Apresentação e a Análise dos Dados, coletados a
partir da pesquisa de campo realizada em Delegacia de Polícia e em Juízo Criminal, no qual
7
Este trabalho teve como germe uma Pesquisa Científica elaborada pela própria pesquisadora durante o curso de
graduação em Letras, da qual resultou o Artigo Científico: O tecnicismo e a retextualizaçao como instrumentos
de manipulação no discurso jurídico penal, de ASHIKAWA, Águeda Bueno Nascimento & COELHO, Sueli
Maria, publicado em Perquirere, mar. 2004. Disponível em <http:// www.unipam.edu.br/perquirere.htm>.
Acesso em: 15 set. 2004.
22
também será exposta a metodologia empregada na coleta e análise dos dados e os resultados
obtidos após sua análise detida.
Finalmente, são apresentadas as considerações finais do trabalho, seguidas das
referências bibliográficas e do Anexo. O Anexo, conforme exposto, contém os quatorze
depoimentos que constituem o corpus de análise do trabalho. Os depoimentos foram
separados em judiciais e policiais. Assim, foram anexados sete depoimentos judiciais na
primeira parte e sete depoimentos policiais na segunda parte. Foram transcritos, de acordo
com as regras utilizadas pelo Projeto NURC, todos os quatorze depoimentos colhidos em
Fórum e em Delegacia. Seguidamente a cada Extrato de Depoimento Transcrito, foi anexado
o seu correspondente retextualizado. Portanto, na primeira parte do Anexo encontram-se sete
depoimentos judiciais, cada qual em sua modalidade falada (texto falado pelo réu, que foi
transcrito) e em sua modalidade escrita (texto retextualizado pelo operador do Direito que se
consubstancia no depoimento oficial que foi inserido nos autos do processo). Na segunda
parte do Anexo, igualmente à primeira parte, encontram-se os sete depoimentos policiais,
cada qual em sua modalidade falada (texto falado pelo acusado, que foi transcrito) e em sua
modalidade escrita (texto retextualizado pelo operador do Direito que se consubstancia no
depoimento oficial que foi inserido nos autos do inquérito policial).
CAPÍTULO I
LINGÜÍSTICA TEXTUAL E OS GÊNEROS: alguns pressupostos teóricos
1.1 A Lingüística Textual
A Lingüística Textual constitui um ramo ainda considerado novo da lingüística,
que começou a se desenvolver na Europa, na década de 60. Ampliou o seu objeto de análise,
ultrapassando a palavra e a frase, focando-se no texto.
Um dos motivos dos estudos voltarem-se para o texto foi a lacuna das gramáticas
de frase no tratamento de fenômenos tais como a correferência, a pronominalização, a seleção
dos artigos (definido ou indefinido), a ordem das palavras no enunciado, a relação tópico-
comentário, a entonação, as relações entre sentenças não ligadas por conjunções, a
concordância dos tempos verbais e vários outros fatores que podem ser devidamente
explicados ao se analisarem o texto e o seu contexto.
A partir da década de 90, além da ênfase dada aos processos de organização
global dos textos, ganham importância questões de ordem sócio-cognitiva, como a
referenciação, a inferenciação, o conhecimento prévio, bem como a relação oralidade/escrita e
ainda os estudos dos gêneros textuais sob a perspectiva bakhtiniana.
Passam a figurar nos estudos da Lingüística Textual o sujeito e a situação de
comunicação, excluídos das pesquisas sobre a linguagem, pela perspectiva da lingüística
estrutural que compreendia a língua como sistema e como código, com função puramente
informativa.
Assim sendo, desde seu aparecimento até hoje, a Lingüística Textual tem
evoluído bastante. Partindo de uma análise transfrástica, passando pela pragmático-discursiva,
transformou-se em uma disciplina com forte tendência sociocognitivista e interacional,
primando pelas análises dos processos de enunciação e seu contexto histórico-social, dando
ênfase tanto aos textos escritos como falados.
24
Nesse sentido, importante ressaltar os estudos da língua falada que se
aprofundaram no Brasil por meio, principalmente, dos ensinamentos de Marcuschi e ainda
dos vários relatos orais de linguagem urbana coletados durante a realização do Projeto NURC.
Portanto, a moderna Lingüística Textual é ciência apta a descrever e analisar os
acontecimentos lingüísticos e os fenômenos deles decorrentes, que surgem durante uma
Tomada de Depoimento policial/judicial (texto oral e escrito), razão pela qual, este trabalho
nela está inserido.
Torna-se, pois, a Lingüística Textual o ramo da Lingüística que viabiliza, na
atualidade, também o estudo do texto jurídico construído durante as audiências judiciais e
policiais. É possível, por meio da aplicação dos estudos lingüísticos, verificar a ocorrência ou
não de cooperação entre os interlocutores na construção do sentido durante as Tomadas de
Depoimentos dos acusados/réus, viabilizando ainda, pela análise dos elementos lingüísticos
utilizados pelos interlocutores, pontuar marcas que possam contribuir para a condenação do
réu. O interrogatório do acusado ou do réu é um evento textual, permeado por
retextualizações múltiplas. O Delegado/Juiz pergunta ao acusado/réu, este responde e, sua
resposta é retextualizada pelo operador do Direito que dita um ‘novo’ texto para o Escrivão. A
cada nova pergunta surge um novo texto que é sempre retextualizado.
A Lingüística Textual evoluiu principalmente no que tange à conceituação de
texto, inserindo os conceitos de sentido e interlocução. Costa Val (2004, p. 113), tratando de
texto verbal, assim o conceitua: “Falando apenas de texto verbal, pode-se definir texto, hoje,
como qualquer produção lingüística, falada ou escrita, de qualquer tamanho, que possa fazer
sentido numa situação de comunicação humana, isto é, numa situação de interlocução”.
Para Costa Val, assim como para outros estudiosos da Lingüística Textual, o
sentido não está no texto, não é dado pelo texto, mas é produzido durante a interação, pelos
interlocutores, locutor e alocutário, a cada acontecimento de uso da língua.
O texto jurídico produzido durante a Tomada de Depoimento é, pois, considerado
um texto, na medida em que faz sentido e se constitui como uma produção lingüística falada e
posteriormente escrita, construído numa situação de comunicação humana.
Interessa, assim, à lingüística textual o texto jurídico, que é produzido numa
situação de interlocução e que adquire características próprias, pois, muitas vezes, seu sentido
não é produzido pelos interlocutores de modo equânime. Por vezes, a tendência de o
sentido do texto ser construído, embora numa situação formal de comunicação e interlocução,
por apenas um dos interlocutores, invariavelmente o detentor do saber” jurídico. Esse
25
sentido construído unilateralmente pode vir, até mesmo, a prejudicar o outro interlocutor, cuja
fala foi desconsiderada.
O texto jurídico, construído durante uma Tomada de Depoimento, possui
contornos específicos, constituindo-se como produto da interação entre as partes (operador do
Direito e acusado/réu), mesmo quando a construção do sentido seja monopolizada por um dos
interlocutores, normalmente, o profissional do Direito. E é sobre essa especificidade que este
trabalho, alicerçado nos estudos da Lingüística Textual, procura discorrer, apontando
caminhos a serem percorridos para a construção sempre conjunta do sentido imprimido
8
pelos
interlocutores em uma audiência policial/judicial, ao produzirem suas falas.
1.2 Teoria interacionista da linguagem
Segundo Bronckart (2003, p. 21), “interacionismo social designa uma posição
epistemológica geral, na qual podem ser reconhecidas diversas correntes da filosofia e das
ciências humanas”. Para esse autor, as condutas humanas são resultado de um processo
histórico de socialização, possibilitado, de forma especial, pelo desenvolvimento dos
instrumentos semióticos.
O interacionismo pressupõe um funcionamento dialógico da linguagem. As ações
verbais, de acordo com a visão interacionista da linguagem, são sempre ações de uso
conjunto, já que usar a linguagem é sempre engajar-se em alguma ação em que ela é o próprio
lugar onde a ação acontece, necessariamente em coordenação com os outros. Segundo Koch
& Cunha-Lima (2004, p. 285),
essas ações, contudo, não são realizações autônomas de sujeitos livres e iguais. São
ações que se desenrolam em contextos sociais, com finalidades sociais e com papéis
distribuídos socialmente. Os rituais, os gêneros e as formas verbais disponíveis não
são em nada neutros quanto a este contexto social e histórico.
A partir da noção de interação, a cognição desassocia-se de um processo
exclusivamente mental e do indivíduo enquanto ser único. Cognição passa a ser definida
como um conjunto de várias formas de conhecimento, não totalizado por linguagem, mas de
sua responsabilidade.
8
Busca-se no Direito Processual Penal, durante a instrução do processo e do inquérito policial, a obtenção da
verdade real, conforme se detalhará em capítulo seguinte deste trabalho. Assim sendo, se a construção do sentido
se der conjuntamente, muito mais se cumprirá tal princípio que norteia o Processo Penal, mencionando também
o princípio da igualdade das partes, da presunção de inocência, dentre tantos outros.
26
Koch (2004, p. 32) ensina:
(...) os processos cognitivos, dependentes, como linguagem, da significação, não são
tomados como comportamentos previsíveis ou aprioristicamente concebidos, à
margem das rotinas significativas da vida em sociedade. O tipo de relação que se
estabelece entre linguagem e cognição é estreito, interno de mútua constitutividade,
na medida em que supõe que não possibilidades integrais de pensamento ou
domínios cognitivos fora da linguagem, nem possibilidades de linguagem fora de
processos interativos humanos. A linguagem é tida como o principal mediador da
interação entre as referências do mundo biológico e as referências do mundo
sociocultural.
Uma perspectiva interacionista da linguagem, hoje predominante, é a concebida
por Vygotsky, apud Morato (2004, p. 324), que imbricadas a cognição, a linguagem e a
interação, tendo sido o precursor da teoria sociointeracionista da linguagem ou do também
denominado interacionismo sociocultural. Vygotsky, apud Morato, 2004, amplia a lente do
estudo sobre cognição e linguagem, até então reduzida ao sistema lingüístico strictu sensu,
situando-a em meio às atividades socioculturais.
O viés filosófico ou sociológico da interação na(pela) linguagem é
definitivamente trazida à baila por meio da influência e do prestígio da obra de Bakhtin,
conforme citado por Morato (2004). Os estudos de Bakhtin introduzem uma concepção
histórico-discursiva de sujeito e a afirmação de uma nova ordem social na qual se inscreve a
linguagem, vista a partir de uma perspectiva dialógica.
Morato (2004, p. 330-331), referindo-se às postulações de Bakhtin (1980),
comenta:
Diferentemente da perspectiva comunicacional ou psicológica de interação, Bakhtin
vincula as interações verbais às interações sociais mais amplas, relacionando a
noção não apenas com as situações face a face, mas às situações enunciativas, aos
processos dialógicos, aos gêneros discursivos, à dimensão estilística dos gêneros. Na
perspectiva bakhtiniana, a interação verbal é a “realidade fundamental da língua” e o
discurso o modo pelo qual os sujeitos produzem essa interação, um modo de
produção social da língua. (...) Bakhtin indica o lugar da interação em uma teoria
social da enunciação, formulando uma perspectiva discursiva de signo e de sujeito,
afirmando que o enunciado é o produto de uma interação entre interlocutores, e,
de maneira mais ampla, o produto de toda conjuntura social complexa na qual ele
nasceu”..
Dessa forma, para Bakhtin, a enunciação é produto da interação social e a
interação verbal seria o lugar da linguagem e da constituição dos sujeitos.
O dialogismo bakhtiniano ultrapassa a interação face a face, pressupondo como
construto teórico o dialogismo discursivo. A fala do outro inserida em um monólogo seria o
exemplo clássico desse dialogismo presente na construção da (pela) linguagem. Além disso, a
27
fala orientada pela imagem que o falante possui de seu receptor seria outra forma de
dialogismo, ainda que não esteja em uma situação de interlocução face a face.
Portanto, Bakhtin, em sua teoria prevê situações várias a serem paliçadas em
diversos ramos da lingüística, especialmente no que tange à lingüística do texto, que, para
se compreender o texto, necessários se fazem o contexto e as orientações dialógicas que o
produziram.
Na concepção interacional (dialógica) da língua, o texto passa a ser considerado o
próprio lugar da interação e os interlocutores sujeitos ativos que nele se constroem e por ele
são construídos. A produção de linguagem constitui atividade interativa que requer a
reconstrução do saber enciclopédico (de mundo) que os falantes detêm e a deles próprios no
momento da interação.
Segundo Mondada (apud Mussalin & Bentes (2004, p. 337)), “não basta trabalhar
com dados surgidos da transcrição de interações orais para fazer lingüística interacional”. Tal
assertiva reforça a proposta bakthiniana de que a dialogia não é construída exclusivamente na
(pela) relação face a face, mas sim em (por) toda construção da linguagem pelo sujeito, na
medida em que pressupõe o receptor, ainda que não presencial. Os estudos interacionistas da
linguagem pressupõem a construção da linguagem sempre tendo como suporte a interação do
sujeito com o outro e com o mundo.
No que diz respeito à construção da linguagem no texto jurídico durante as
Tomadas de Depoimento, a interação torna-se elemento essencial, na medida em que se faz
necessária a relação face a face entre os interlocutores. A interlocução e o diálogo presencial
dos sujeitos são requisitos legais para o acontecimento das audiências judiciais/policiais.
Entretanto, seguindo as premissas bakhtinianas, não se devem analisar as
Tomadas de Depoimento apenas levando-se em conta a interação face a face. É preciso
entender que as falas, tanto do acusado/réu, quanto do operador do Direito, estão permeadas
da fala do outro, de seus conhecimentos prévios de mundo e da preservação de suas faces,
além de pressuporem, a todo o tempo, o que o outro deve/quer ouvir. Assim, durante uma
Tomada de Depoimento, a interação é parte integrante da construção da linguagem e do
discurso dos interlocutores que, ao mesmo tempo, vão se constituindo como sujeitos por meio
dessa linguagem.
28
1.3 Estudos sobre os gêneros textuais
O presente trabalho versa sobre o estudo de textos jurídicos, construídos durante a
Tomada de Depoimentos em Delegacias de Polícia e Varas Criminais de Fóruns. Se o estudo
está focado em textos, obviamente, o estudo do gênero desses textos é fundamental para a
compreensão dos mesmos.
Há, modernamente, na lingüística textual, um vasto estudo sobre gêneros textuais
e tipos textuais. Como este trabalho está arregimentado nos estudos bakthinianos
9
, adota-se,
aqui, a sua definição de gênero discursivo.
A teoria dos gêneros do discurso, herança bakhtiniana, centra-se no estudo das
situações de produção dos enunciados ou textos e em seus aspectos sócio-históricos. A
célebre definição de gênero de Bakhtin
10
, como tipos relativamente estáveis, é ainda
largamente utilizada. Para ele, cada campo de utilização da língua elabora seus tipos
relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso
(BAKHTIN, 2003, p. 262).
Se o autor conceitua gêneros como tipos relativamente estáveis de enunciados,
para entender tal conceito, necessária se faz a compreensão do que sejam enunciados.
Enunciado é o produto da enunciação, a unidade concreta e real da comunicação discursiva,
uma vez que o discurso pode existir na forma de enunciados concretos e singulares,
pertencentes aos sujeitos discursivos. Cada enunciado constitui-se como um novo
acontecimento, resultado da enunciação. Representa apenas um elo na cadeia complexa e
contínua da comunicação discursiva, mantendo relações dialógicas com os outros enunciados.
Ele nasce como resposta a outros enunciados e como antecessor dos enunciados que o
seguem, mantendo, com eles, sempre uma relação de diálogo.
Os gêneros, assim, se constituem historicamente a partir de novas situações de
interação verbal da vida social que vão (relativamente) se estabilizando no interior das
diferentes esferas sociais. Os gêneros estariam vinculados à situação social de interação e, por
isso, como enunciados individuais, são constituídos de duas partes inseparáveis, a sua
dimensão lingüístico-textual e a sua dimensão social: cada gênero está vinculado a uma
9
Os estudos desenvolvidos durante o denominado Círculo de Bakhtin (1919 a 1974) somente foram,
efetivamente, divulgados, a partir do final da década de 1960.
10
Para efeito deste estudo, há de se considerar, como muitos autores, indistintamente, os termos gênero textual e
gênero discursivo, ambos se referindo a tipos de enunciados relativamente estáveis, que estão vinculados a
situações de comunicação social. Assim, a definição de Bakhtin para gêneros discursivos é também válida para
gêneros textuais.
29
situação social de interação típica, dentro de uma esfera social; tem sua finalidade discursiva,
sua própria concepção de autor e de destinatário.
A proposta de Bronckart (2003, p.137), ao perceber o texto como uma atividade
de linguagem, não se distancia da proposta de Bakhtin em relação ao contexto interacionista e
sócio-histórico dogênero textual, posicionando-se da seguinte forma:
na escala sócio-histórica, os textos são produtos da atividade de linguagem em
funcionamento permanente nas formações sociais: em função de seus objetivos,
interesses e questões específicas, essas formações elaboram diferentes espécies de
textos, que apresentam características relativamente estáveis (justificando-se que
sejam chamadas de gêneros de texto) e que ficam disponíveis no intertexto como
modelos indexados, para os contemporâneos e para as gerações posteriores.
A Análise do Discurso também não se distancia dos posicionamentos
expendidos. Maingueneau (2001, p. 45) reflete, ao tratar dos gêneros do discurso, que não é
mais permitido considerar os lugares independentemente das falas que elas autorizam
(redução sociológica), e nem mesmo as falas independentemente dos lugares dos quais são
partes constitutivas (redução lingüística):
a categoria gênero de discurso é mais comumente definida a partir de critérios
situacionais: ela designa, de fato, dispositivos de comunicação sócio-históricamente
definidos e elaborados, de modo geral, com a ajuda de metáforas tais como as de
“contrato”, “ritual”, ou “jogo” (...). Os gêneros em questão são, assim, normalmente
caracterizados por parâmetros tais como os papéis dos participantes, suas
finalidades, seu medium, seu enquadramento espaço-temporal, o tipo de organização
textual que eles implicam, etc.
Marcuschi (2003, p.19-20), seguindo a perspectiva bakhtiniana, argumenta sobre
a definição de gêneros:
se tornou trivial a idéia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos,
profundamente vinculados à vida cultural e social. Fruto de trabalho coletivo, os
gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-
dia. São entidades sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis em
qualquer situação comunicativa (...) Surgem emparelhados a necessidades e
atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas, o que
é facilmente perceptível ao se considerar a quantidade de gêneros textuais hoje
existentes em relação a sociedades anteriores à comunicação escrita. Caracterizam-
se muito mais por suas funções comunicativas, cognitivas, institucionais do que por
suas peculiaridades lingüísticas e estruturais. São de difícil definição formal,
devendo ser contemplados em seus usos e condicionamentos sócio-pragmáticos
caracterizados como práticas sócio-discursivas. Quase inúmeros em diversidades de
formas, obtêm denominações nem sempre unívocas e, assim como surgem, podem
desaparecer.
30
Marcuschi (2003) adere aos estudos existentes, mencionando que os gêneros
são fenômenos históricos, vinculados à vida cultural e social. Para esse autor, os gêneros
contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. Nesse ponto,
insere-se a discussão sobre o gênero depoimento policial/judicial, vez que esse, embora se
constitua como gênero textual, muitas vezes, não ordena e nem estabiliza as atividades
comunicativas, mas, sim, contraria a função da interlocução dos agentes, que seria o encontro
da verdade.
Retornando às definições propostas pelos estudiosos quanto ao gênero textual,
Marcuschi (2003, p. 20) refere-se à inserção cultural do tema:
os gêneros textuais surgem, situam-se e integram-se funcionalmente nas culturas em
que se desenvolvem. Caracterizam-se muito mais por suas funções comunicativas,
cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades lingüísticas e estruturais.
São de difícil definição formal, devendo ser contemplados em seus usos e
condicionamentos sócio-pragmáticos caracterizados como práticas sócio-
discursivas.
O gênero depoimento judicial possui uma forma e um conteúdo estáveis, não por
convenção, mas, sim, por determinação legal. Não obstante, as variações em face de sua
circulação intensa e das diferentes pessoas que os produzem são inevitáveis. Ao mesmo
tempo em que uma estabilidade regida por lei, a sua variabilidade ocorre em função da
subjetividade e do contexto sócio-cultural em que o gênero se insere.
É possível, sob esse aspecto, citar Bathia (1997, p. 630), com relação a seu estudo
sobre a teoria dos gêneros, apontando o autor alguns traços mais importantes que caracterizam
os gêneros:
o primeiro é a ênfase no conhecimento convencionado, que confere a cada gênero
sua integridade. (...) O segundo é a versatilidade da descrição dos gêneros e, o
terceiro, embora possa parecer contraditório ao primeiro, é a tendência para a
inovação, advinda da natureza essencialmente dinâmica do gênero.
uma convenção do que seja um depoimento policial/judicial, ou seja, uma
“entrevista” que acontece entre o Juiz de Direito/Delegado de Polícia e o acusado/réu, em um
Fórum/Delegacia de Polícia, sobre algum crime que tenha acontecido, etc. A versatilidade
sobre a descrição de um depoimento policial/judicial reside nos usos de cada cultura e na
postura dos interlocutores, especificamente no propósito do operador do Direito. Quanto à
inovação dos interrogatórios, embora sejam eles institucionalizados e legalizados, não se pode
esquecer de que o Direito é uma ciência social, construída por homens e, por isso, é
31
intrinsecamente dinâmica, vez que os costumes são fontes inequívocas das leis e, portanto, ao
se mudarem os costumes, a lei tende também a mudar.
Interessante ainda seria pontuar a distinção neste trabalho entre gênero e tipo.
Seguindo orientação de vários autores, Marcuschi (2003, 22-23) apresenta uma breve
definição dessas duas noções, acrescentando uma terceira que também é pertinente a este
estudo:
(a)Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de seqüência
teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição {aspectos
lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais
abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração,
argumentação, exposição, descrição, injunção.
(b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga para
referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária que
apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são
apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. (...)
(c) Usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou instância de
produção discursiva ou de atividade humana. Esses domínios não são textos nem
discursos, mas propiciam o surgimento de discursos bastante específicos. Do ponto
de vista dos domínios, falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso
religioso etc., que as atividades jurídica, jornalística ou religiosa não abrangem
um gênero em particular, mas dão origem a vários deles. Constituem práticas
discursivas dentro das quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais
que, às vezes, lhe são próprios (em certos casos exclusivos como práticas ou rotinas
comunicativas institucionalizadas).
É, pois, possível perceber que os estudiosos do texto, ao se aterem a análise do
gênero textual, são uníssonos em conceituá-lo como atividade de linguagem determinada por
seus usos e condicionamentos sócio-históricos. E, sendo o depoimento policial/judicial um
gênero textual, também está inserido nessa esfera sócio-comunicativa-discursiva. Interessa,
sobretudo, neste estudo, a análise da funcionalidade do depoimento policial/judicial e se este
vem cumprindo sua função a princípio considerada, que seria a de apurar a verdade.
1.4 A construção do gênero Depoimento Policial/Judicial na esfera criminal
O Direito Brasileiro, embora se configure por ser uma ciência social,
desempenhando papel político e função social e possuindo como características fundamentais
a generalidade e a alteridade traz, historicamente, uma linguagem inadequada e desprovida de
comunicação e interação.
O Código de Processo Penal (CPP) prescreve a forma e o conteúdo de um
depoimento judicial a ser prestado na esfera criminal. Especificamente, no que tange ao
32
interrogatório do réu, os artigos 185 a 196 do CPP determinam as diretrizes a serem tomadas
pelo operador do Direito, no caso, o Juiz de Direito, ao interrogar o réu.
É importante observar que o inciso VII do artigo 188 do CPP prevê que o réu deve
ser perguntado, além das questões estabelecidas pelos incisos anteriores a esse, sobre todos os
fatos e pormenores que conduzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da
infração. Depreende-se disso a menção da lei de que o fim, ou seja, a função precípua da
Tomada de Depoimento policial/judicial é a apuração dos fatos. Além do mais, esse mesmo
inciso franqueia ao operador do Direito tornar o depoimento policial/judicial um texto aberto,
que possibilitará variações, de acordo não com o fato sob investigação, mas também de
acordo com a situação sócio-histórica dos acontecimentos e de seus interlocutores. Desse
modo, a própria lei prevê a versatilidade e a dinamicidade desse gênero textual.
Observe-se, todavia, que, embora a estrutura e, até mesmo, o conteúdo do
depoimento judicial, interrogatório, siga a prescrição legal, a construção desse gênero não
vem condizendo com a função para ele estabelecida em lei. O interrogatório é tecido, muitas
vezes, não com o fim de apurar a verdade, mas, em face das inserções e supressões de
material lingüístico, com o fim de se obter, antes mesmo de uma elucidação dos fatos, uma
condenação do acusado/réu. Assim, a tessitura desse gênero é realizada para uma função
distinta daquela que, em tese e a princípio, foi prevista para ele. Como será demonstrado
adiante neste trabalho, por meio da análise do corpus coletado, as marcas lingüísticas
evidenciam, não raramente, no processo de retextualização do oral para o escrito, durante a
Tomada de Depoimento do acusado/réu, a construção do sentido que, muitas vezes, indica a
condenação do acusado/réu.
Para ilustrar o problema exposto, em seguida transcrever-se-áo um depoimento
judicial oral prestado em Juízo, e um depoimento policial prestado em Delegacia de Polícia,
bem como suas retextualizações pelos operadores do Direito, no caso, o Delegado de Polícia e
o Juiz de Direito que ditam a fala do acusado/réu(a) às escrivãs.
Os depoimentos policial/judicial em análise foram retirados do corpus constante
desta pesquisa e aconteceram em uma Comarca do interior de Minas Gerais. O réu é um
homem de meia idade, classe pobre, com pouca escolarização e a acusada é uma mulher com
trinta anos de idade, classe pobre, com escolarização média (ensino médio).
Os textos pertencem ao gênero que se denomina depoimento, da espécie
interrogatório. O réu, interrogado em Juízo, trata-se de um homem acusado de haver matado
seu irmão com golpes de faca. A acusada, interrogada na Delegacia de Polícia, trata-se de
33
uma mulher que foi presa em flagrante delito por prática do delito de tráfico de drogas (venda
da substância entorpecente conhecida como “crack”).
Faz-se a análise textual somente de dois depoimentos, um prestado em Delegacia
e outro em Juízo, pelo fato de servirem como exemplares de seus gêneros, mesmo porque suas
estruturas não se diferenciam grandemente, o que tornaria enfadonha e desnecessária a análise
dos quatorze depoimentos que constam no corpus.
São apresentadas as transcrições dos depoimentos, suas retextualizações (Termos
de Depoimentos que constam no processo/inquérito) e, posteriormente esses Termos de
Depoimento, denominados tecnicamente de “Interrogatórios”são exibidos em um quadro.
Assim, as seqüências do texto escrito, pertencente ao domínio discurso jurídico,
cujo gênero denomina-se depoimento policial/judicial, da espécie interrogatório do
acusado/réu, foram detidamente analisadas. Os depoimentos policial/judicial inseridos em um
quadro em que constam cinco colunas, tendo a quarta coluna sido divida em duas, (texto
consta da primeira coluna) foram divididos em seqüências tipológicas (segunda coluna)
descritivas, narrativas, expositivas, argumentativas e injuntivas, para as quais houve uma
classificação quanto ao gênero (terceira coluna). Posteriormente, na coluna seguinte (quarta
coluna), detectaram-se as marcas lingüísticas que caracterizaram tanto as seqüências
tipológicas, quanto o gênero textual. A última coluna (quinta coluna) é relativa à função de
cada seqüência.
O texto depoimento foi, portanto, organizado da seguinte forma, em que são
mostradas as seqüências, quanto ao gênero, os tipos textuais e a função que cada seqüência
exerce
11
:
Quadro 2 - Organização textual
MARCAS LINGÜÍSTICAS
GÊNERO
TEXTUAL:
DEPOIMENTO
JUDICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
A seguir, exemplificam-se as considerações tecidas, inserindo a transcrição
completa e a retextualização, bem como a análise textual dos dois depoimentos mencionados.
11
O quadro 2 foi confeccionado a partir das postulações apresentadas por Marcuschi (2003).
34
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL JUDICIAL N˚2 (cf. ANEXO) PRESTADO
EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA COMARCA DE SÃO GOTARDO, EM
23/10/02, RESPONDENDO O RÉU A ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO QUALIFICADO
CONTRA SEU IRMÃO.
Interlocutores: Juiz de Direito, Escrivã e Réu.
Após a leitura da denúncia oferecida pelo Ministério Público, oJuiz de Direito pergunta ao acusado:
Juiz: este fato é verdadeiro... é falso?
Réu: NÃO... é falso
Juiz: não tem nada aqui que é verdadeiro... que eu cheguei a lê pro senhô:::
Réu: não... tudo /é totalmente diferente
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia... ((dirigindo-se aoRéu))
me conta comé que se passaram os fatos
Réu: o causo foi antes da meia-noite ... o causo eu tava no fundo...
Juiz : /comé que é? começa por favor
Réu: o causo foi antes da meia-noite ... (incompreensível) Ô:: eu tava no fundo “cu cumeçando” a comer um
churrasco
Juiz: /pois é... mas éh::: começa então... vão:: vão pro início... o senhô senhô tava sem falar com seu irmão
realmente?
Réu: o:: início seguinte... não se falava com ele mais de um ano... porque um ano atrás... eu:: eu fui num lixo
levar um lixo pra jogar lá... ele passou... como ele tava meio tonto... eu fechei a cara...
ele me jogou um estilete...
Juiz: /tá/... ((dirigindo-se à escrivã)) que há um ano não falava com seu irmão
porque:::
Réu: /um estilete com::: com elástico
Juiz: ((ditando para a escrivã)) ... tiveram uma briga
Réu: /NÃO tivemo uma briga
Juiz: /não foi uma briga não? foi o quê? uma discussã::o ...
Réu: ((gaguejando)) eu eu fechei a cara e e::le me jogou de longe um... um estilete com elástico
Juiz: /ahn:::
Réu: ((incompreensível)) atingiu o nariz deu três pontos... isto tem na justiça provado isso aí
Juiz: /então foi e::le que agrediu o senhô... foi isso?
Réu: ELE que me agrediu
Juiz: ((ditando para a escrivã)) porque este o agredira há tempos atrás ((questionando ao réu)) cumé que foi essa
reaproximação? (incompreensível) daí num num falava com ele... encontrou ele em que condições... para
voltar a ter esse contato?
Réu: não
Juiz: (que levou) a fazer churrasco?
Réu: daí... ele passava (por) mim... ele falava comigo... mais num falava com e::le eu num convidei ele prá i::r na
minha casa... ele foi... chegou ficou em pé do lado de fora oiando eu lá
Juiz: /pois é... mas an antes do churrasco? o senhor tinha encontrado com ele falado ó vamo fazê as pazes,
vamo vamo::
Réu:/não não não
Juiz: não tinha tido nenhum contato com ele em um ba:r... ou coisa do tipo não?
Réu: ele sempre falava comigo... mas eu não respondia
Juiz: ahn
Réu: ele falava (eu largava pra lá)... cê entendeu cumé que é o negócio?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): (incompreensível) ((dirigindo-se ao réu)) aqui consto::u o depoimento que o
sinhô prestô na delegacia foi o seguinte: que alguns dias atrás é.. o declarante e seu irmão voltaram a se falar
quando se encontraram num bar... éh:: o senhor realmente encontrou ele num bar e:: voltaram a falar e:::?
Réu: /ele passou num bar uns dias atrais... mais ((gaguejando)) e:le falou comigo mais eu nun fa falei co ele
num falei co’ele
Juiz: /unh...
Réu: eu geralmente em qualquer lugar que ele chegava ele falava
Juiz: /ele puxou papo e u senhô não deu papo:: num é isso?
Réu: eu saía né (...) eu saía...
Juiz: e aconteceu isso de novo... nesse dia do bar?
35
Réu: não não... não esse dia eu tava em casa
Juiz: /não é no dia do churrasco não... éh: nesse dia do bar aqui que o senhor falô que teria encontrado com ele
em poucos dias
Réu: não e::le sempre... eu passava por ele na estrada o::u na rua... qualquer lugar... e::le conversava... eu... num
respondia... eu num respondia
Juiz: ((ditando para a escrivã)): quando o seu irmão o encontrava... puxa-va assun-to... mas o declarante na-da
respondia...((dirigindo-se ao o réu)) então vamo lá pro dia agora dos fatos... como é que aconteceu?
Réu: eu tava eu tava cu cumeçando um churrasco
Juiz: /sozinho?
Réu: sozinho
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que no dia dos fatos estava... ((dirigindo-se ao réu)) na sua casa?
Réu : na minha casa
Juiz: ((dirigindo-se à esrivã)): estava na sua casa começando... um churrasco... sendo que estava sozinho
(dirigindo-se ao réu) não tinha mais ninguém? AMIGO... parente...
Réu: /mai ninguém... mai ninguém
Juiz: ninguém? certinho... então vamo lá... e aí? aí ele chegou
Réu: aí ele chegou ficou em pé mais a muié a ... o nome dela éh::... acho que é Jovita...
Juiz: unh
Réu: daí a pouco chegou um gato
Juiz: unh...
Réu: o que ele fêz... ele pegou o gato... ela segurou e ele matou ele co a faca
Juiz: unh... pois éh... mas é::: o churrasco que o senhô tava fazendo então era sem gato
Réu: /não... nã não tem gato não... não tinha gato
Juíz: /era de carne mesmo NÉ
Réu: era de carne mesmo a carne tava lá prá assar
((risos discretos))
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que:: seu irmão... que momentos depois... seu irmão... chegou ao local...
juntamente com sua mulher ((dirigindo-se ao réu) aí... o senhor convidou ele para entrar? ou ele foi entrando?
Réu: não ele veio pelos fundos né... (eu) tava nos fundos da casa da...da::
Juiz: /pois éh... mais aí e::le pediu permissão du senhor pra entrar já (que o senhor não ...incompreensível...)
Réu: /não ele num falou na::da e chegou e
falo (nóis veio comê) churrasco... tem churrasco foi o que ê falô
Juiz: / FOI? e aí u senhor não falou nada? deixô
Réu: /eu falei nada... fiquei só oiando
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): juntamente com sua mulher... vírgula... entrando pelos fundos... dizendo... é::
((dirigindo-se ao réu)) que ele falou o quê... tava tendo churrasco?... eu vou ficar?
Réu: não ê só falo que ia comê churrasco... eu num respondi nada não
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) dizendo que (ia) para o churrasco... sendo que... o declarante nada
respondeu... que passou... um gato pelo local... (incompreensível) e o declarante é:: o matou... ((dirigindo-se ao
réu)) e aí depois disso?
Réu: ((gaguejando)) a aí a a muié dele jogou o gato no chão... a muié saiu... eu também peguei saí... por dento da
casa... cê entendeu?
Juiz: uhn::
Réu : eu fui o telefone... cheguei não consegui telefonar... (que eu falei) ês arrumaram uma coisa aqui em
cima de mim... né... daí quando eu voltei... e:u... (a parte) na frente tem uma garage... na garage... quando eu
cheguei... eu tomei uma facada na ponta do braço... e deu muito sangue
Juiz: /i não teve nem conversa?
Réu: não não eu dexei::
Juiz: / u senhor...(incompreensível) nada
Réu: / nada nada
Juiz: /então vamo tentar... bem bem especificadamente... é:: ta tamo na hora que que u gato morreu... depois
disso quê que o senhor fez?
Réu: ((gaguejando muito)) o... a a muié:: passou prá trais e eu: saí pe pela pela ca:sa
saí pra fora de casa e fui no telefone éh... (incompreensível) ...
Juiz: saiu prá fora de casa o senhor (incompreensível)
Réu: /...e ê ficô lá... oiando o churrasco lá...
Juiz: uhn:: (dirigindo-se à escrivã) que após isso o declarante saiu de casa para dar um telefonema... sendo que a
mulher... de seu irmão... também saiu ((Juiz dirigindo-se ao réu)) ela saiu pra quê? ... o senhor sabe?
Réu: num sei... não sei qual a intenção
36
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): também saiu não sabendo qual motivo... vírgula... sendo que seu irmão ficou
na casa olhando o churrasco... e aí?
Réu: aí quando eu voltei eu tomei uma facada na na garage lá lá ( incompreensível)
Juiz: /o senhor voltou sem ela? ela num tava na hora não?
Réu: /não e::u fui só eu::
Juiz: /aí quando o senhor voltou ela não tava não... a mulher?
Réu: ((gaguejando muito)) fu fui du duas quadra prá baixo... pá pá pá ligar lá...
Juiz: e::la num tava mais na casa não... quando o senhor saiu... só tava o senhor e o irmão?
Réu: não... isso aí eu não sei porque
Juiz: /o senhor não deu pa pa::
Réu: /ela saiu pra um lado eu saí pro outro
Juiz: tá... ((dirigindo-se à escrivã)) que... quando voltou... ((dirigindo-se ao réu)) cumé... agora me explica... e:ssa
questão da facada... cumé que ocorreu... aonde... cumé que foi:?
Réu: e:u tomei uma facada depois que eu entrei no portão de dentro da garage no (incompreensível).
Juiz: /logo depois... que o senhor passou pela garage?
Réu: quan quando eu voltei do telefone
Juiz: /ahn... u senhô entrou na garagem...
Réu: eu entrei na garage... tomei a facada
Juiz: /pois é:: mas ê ele veio de frente pru senhô... veio de costas... veio de lado...
Réu: não... e::u
Juiz: /ele tava escondido... cumé que foi?
Réu: não... deixa eu te falá... daí quando eu chego lá dentro... ele já tava morto lá dentro...
Juiz: ah:: ele já tava morto lá dentro
Réu: /aí aí o que eu fiz... eu fui lá dentro... lavei a ponta do braço... que tava dando sangue
Juiz: /então não foi ele que deu a facada no senhor não?
Réu: não não... foi nã::o
Juiz: /foi uma pessoa que tava saindo lá de dentro...?
Réu: foi uma pessoa que tava saindo...
Juiz: uhn...
Réu: daí eu fui lá dentro lavei... quando eu voltei... eu ((murmúrios do réu incompreensíveis)) tenho que dar um
jeito da dar providência... eu: eu cheguei de fora já: encontrei com a polícia
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): quando retornou à casa)... logo que... entrou na
garagem... veio uma pessoa e... lhe deu facada... ((dirigindo-se ao réu)) aonde que ele deu essa facada no
senhor?
Réu: na ponta do braço aqui ó::... o senhor tá vendo?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): e lhe deu uma facada na ponta do braço
Juiz: e:: essa pessoa saiu correndo de casa?
Réu: saiu correndo... eu vi só o (rojo)
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /saindo correndo...sendo que... (incompreensível) não podendo reconhecê-la
((dirigindo-se ao réu)): aí u senhô foi pra dentro de casa?
Réu: aí eu fui lá lavei...
Juiz: /seu irmão já tava caído? foi isso?
Réu: já já tava morto lá no arpendre...
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /que entrou para casa... e viu seu irmão morto... caído no alpendre ... ((
questionando o réu)) e aí?
Réu: aí eu eu lavei a ponta do braço... lavei o sangue que espirrou ni mim... e e e moiei um pouquim do cabelo e
voltei... quando eu voltei a a polícia tava chegando... assim::
Juiz: /o senhor não chamou a polícia não?
Réu: não eu... quando eu ia chamá de novo... tentá de novo... ês já tava chegando...
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que lavou seus ferimentos... que foi LAVAR seus ferimentos... para depois...
chamar a polícia... sendo que... nesse instante ela chegou... antes é::... de fazer o contato... ((questionando o
réu)): Jovita é a: mulher dele?
Réu: a Jovita: é muié da... dum dum rapaz que... ele ela segurou ele pr prá ele sangrar o marido dela uma vez que
ele tomou a muié dele... por esse motivo
Juiz: é: Jovita Pedroso... e:la é irmã do do seu irmão? do Arcendino? é: mulher do seu irmão... do Arcendino?
Réu: /não... ela tá com ele... mais porque ele tomou de outro...
Juiz: ah tá...
Réu: ((gaguejando)) o outro o outro o outro foi embora pros Tiros porque ele tomou ela dele... tem o: motivo... ê:
a muié segurou ele e ele sangrou o marido dela... assim ele tomou dela a muié... dele
37
Juiz: o senhor chegou a: beber junto co:m seu irmão
Réu: /não não não... eu tinha tomado só uma cerveja mais cedo...
num tava bebendo
Juiz: /JUNTO...num chegaram a beber não?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que no dia dos fatos tinha tomado apenas uma cerveja... sendo que não chegou a
beber... junto com seu irmão
Juiz: u u senhor conhece as as provas já de desse processo? que existem... ou não?
Réu: como assim...
Juiz: prova em geral... inquérito... depoimentos que foram prestados... as testemunhas que tão arroladas aqui...
Réu: não não conheço
Juiz: /NÃO? ((dirigindo-se à escrivã)): que não conhece as provas do processo... ((dirigindo-se ao réu)) u senhô
u senhô conhece alguma dessas testemunhas aqui... a Jovita... u senhô falou que conhece né? u Gaspar dos Reis...
que é policial militar... Valter Rodrigues... policial militar... e José Maria dos Santos... algum desses o senhor
conhece?
Réu: ô:: ela eu vejo ela com ele né... a tal muié né?
Juiz: /conhece de vista né:::
Réu: /eles eu eu num sei se num posso afirmar se conheço eles né?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que das testemunhas... ((dirigindo-se a o réu)) José Maria dos Santos também
não?
Réu: por nome eu:: num... num posso falá pro cê...
Juiz: não?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): só conhece Jovita
Juiz: u senhô já foi preso ou processado alguma vez?
Réu: não
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que nunca foi preso ou processado
Juiz: u senhô tem advogado?... constituído já nesse processo? quem que é?
Réu: tenho... tenho... doutô Gabriel
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) advogado...
Cumpriram-se as demais formalidades de encerramento de uma audiência de interrogatório de um réu,
sem mais questionamentos.
RETEXTUALIZAÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL JUDICIAL N ˚2 (cf. ANEXO)
PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA COMARCA DE SÃO
GOTARDO, EM 23/10/02, RESPONDENDO O RÉU A ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO
QUALIFICADO CONTRA SEU IRMÃO.
TERMO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO
12
Aos vinte e três (23) dias do mês de Outubro de 2001, às 14:00 horas, nesta cidade de São
Gotardo, no Fórum local, onde se achava o Dr. (nome do Juiz), MM. Juiz de Direito da Vara Criminal desta
comarca, comigo escrevente ao final nomeada e assinada, compareceu, em virtude da citação retrocertificada, o
(a) acusado (a) a quem o MM. Juiz passou a qualificar do modo seguinte: o (a) acusado (a), livre de qualquer
coação, respondeu chamar-se, (nome do réu), nascido em (nome da cidade), em (data de nascimento), solteiro,
pedreiro, filho de (nomes dos pais do réu), residente (endereço completo do réu, atualmente recolhido na Cadeia
Pública de (nome da cidade). Disse que sabe ler e escrever. Nomeação de Curador: não. Em seguida o MM. Juiz,
depois de cientificar a (o) (u) da acusação constante destes autos e do dispositivo no art. 186 do CPP, c/c art.
5º LXIII, da CF, passou a interrogá-lo (a) na forma legal, e, às suas perguntas, respondeu-lhe o (a) acusado (a) do
modo seguinte: que não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia; que há um ano não falava com seu irmão
porque este o agredira há tempos atrás; que desde então, quando seu irmão o encontrava, puxava assunto, mas o
declarante não respondia; que no dia dos fatos estava em sua casa, começando um churrasco, sendo que estava
sozinho; que momentos depois, seu irmão chegou ao local juntamente com sua mulher, entrando pelos fundos,
dizendo que tinha ido para o churrasco, sendo que o declarante nada respondeu; que passou um gato pelo local e
12
O depoimento judicial oficial consta como ANEXO em: ASHIKAWA, Águeda Bueno Nascimento;
COELHO, Sueli Maria. O tecnicismo e a retextualização como instrumentos de manipulação no discurso
jurídico penal. Perquirere, mar. 2004. Disponível em <http: //www.unipam.edu.br/perquirere.htm>. Acesso em
15 set.2004.
38
o irmão do declarante o matou; que após isto o declarante saiu de casa para dar um telefonema, sendo que a
mulher de seu irmão também saiu, não sabendo por qual motivo, sendo que seu irmão ficou na casa olhando o
churrasco; que quando voltou à casa, logo que entrou na garagem, veio uma pessoa que lhe deu uma facada na
ponta do braço, saindo correndo, sendo que só viu seu vulto, não podendo reconhecê-la; que entrou para a casa e
viu seu irmão morto, caído no alpendre; que foi lavar seus ferimentos para depois chamar a polícia, sendo que
nesse instante ela chegou antes de fazer o contato; que no dia dos fatos tinha tomado apenas uma cerveja, sendo
que não chegou a beber junto com seu irmão; que não conhece as provas do processo; que das testemunhas
arroladas na denúncia, só conhece (nome da testemunha); que nunca foi preso ou processado; que tem Advogado
na pessoa do Dr. (nome do advogado). TERMO DE DELIBERAÇÃO: Após o interrogatório, o MM. Juiz
proferiu o seguinte despacho: “Intime-se o Advogado do réu a apresentar defesa prévia e arrolar testemunhas no
prazo de três dias. Desde já, designo audiência para oitiva das testemunhas, inclusive da defesa, para o dia
22.11.2002, às 13:00 horas. Intimem-se as testemunhas arroladas, expedindo-se carta precatória, com prazo de
vinte dias, acaso necessário.” Nada mais havendo, mandou o MM. Juiz encerrar o presente.
MM.JUIZ :
RPM :
INTERROGADO:
Quadro 3 - Análise textual do depoimento judicial n˚2 da espécie interrogatório
13
(Também denominado na Justiça de TERMO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO)
MARCAS LINGUÍSTICASGÊNERO
TEXTUAL:
DEPOIMENTO
JUDICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
Aos vinte e três
(23) dias do mês de
Outubro de 2001,
às 14:00 horas,
nesta cidade de São
Gotardo, no Fórum
local, onde se
achava o Dr. (nome
do Juiz), MM. Juiz
de Direito da Vara
Criminal desta
comarca, comigo
escrevente ao final
nomeada e
assinada,
Descritiva
Depoimento
judicial
(Cabeçalho)
uma
seqüência
descritiva da cena
em que se passa o
depoimento,
utilizando-se
verbo no pretérito
imperfeito.
Seleção de
vocabulário
próprio para
introdução de
textos formais,
especificamente
depoimentos.
Introduzir e
documentar o
local, data e
Juízo em que
o documento
ocorre.
compareceu, em
virtude da citação
retrocertificada, o
(a) acusado (a) a
quem o MM. Juiz
passou a qualificar
do modo seguinte:
o (a) acusado (a),
livre de qualquer
coação, respondeu
chamar-se, (nome
do réu),
Narrativa
Depoimento
judicial
(cabeçalho)
Seqüência
temporal, com
verbos no
pretérito perfeito,
indicando as
ações ocorridas.
Presença de
estruturas
formulaicas,
próprias de
textos oficiais
(depoimentos).
Continuação
da introdução.
Nascido em (nome
da cidade), em
(data de
nascimento),
Descritiva
Depoimento
judicial
(Qualificação)
Presença de
adjetivos que
descrevem as
características do
A qualificação
do depoente está
presente na parte
introdutória de
Identificação
do réu para
fins judiciais.
13
Quadro de análise textual de um Termo de Depoimento Judicial, organizado em seqüências tipológicas, e as
funções exercidas por elas, mencionando ainda o gênero e ressaltando suas marcas lingüísticas.
39
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO
TEXTUAL:
DEPOIMENTO
JUDICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
solteiro, pedreiro,
filho de (nomes dos
pais do réu),
residente (endereço
completo do réu,
atualmente
recolhido na Cadeia
Pública de (nome
da cidade).
réu. um depoimento.
Disse que sabe ler e
escrever.
Narrativa
Depoimento
judicial
(Qualificação)
O verbo
“discendi” é
indicativo da
narrativa.
A qualificação
do depoente está
presente na parte
introdutória de
um depoimento.
Identificar as
aptidões do
réu.
Nomeação de
Curador: não.
Narrativa Despacho
Embora não haja
a presença de
verbo
explicitamente, é
possível inferir
que o relato de
acontecimento,
ou seja: não
houve a
nomeação de
curador.
Embora não haja
presença do
verbo nomear, há
o substantivo
“nomeação”, que
substitui o verbo.
Tal seleção
vocabular, por si
só, indica o
gênero.
Atender a
prescrição
legal de se
nomear um
curador ao
réu, quando
necessário
para validar o
depoimento.
Em seguida o MM.
Juiz, depois de
cientificar a (o)
(u) da acusação
constante destes
autos e do
dispositivo no art.
186 do CPP, c/c art.
5º LXIII, da CF,
passou a interrogá-
lo (a) na forma
legal, e, às suas
perguntas,
respondeu-lhe o
(a) acusado (a) do
modo seguinte:
Narrativa
Depoimento
judicial
(Advertência
prevista em lei)
Presença de
verbos no
pretérito perfeito
que indicam
ações que
aconteceram.
Presença,
inclusive, do
advérbio de
tempo “depois”.
A cientificação
do depoente
sobre o que está
disposto na lei é
requisito
essencial ao
depoimento e o
caracteriza como
gênero textual.
Atender a
prescrição
legal para
regularização
do
depoimento.
que não são
verdadeiros os
fatos narrados na
denúncia;
Argumentativa
Depoimento
judicial
(declaração de
inocência/defesa)
A negativa é um
dos recursos
argumentativos
do réu que,
normalmente,
quer provar ser
inocente.
O depoimento do
réu é
caracterizado por
ter que responder
se a denúncia é
ou não
verdadeira.
Tentativa do
réu de
defender-se
das
acusações.
que há um ano
não falava com seu
irmão porque este
o agredira
tempos atrás; que
desde então,
quando seu irmão
Narrativa/
Expositiva/
Argumentativa
Depoimento
judicial
Narrativa:
seqüências
temporais que se
sucedem; verbos
no pretérito
perfeito e
imperfeito e
A escolha
vocabular, o
relato organizado
em orações
subordinadas
substantivas
objetivas diretas,
Relatar a
versão do réu
sobre os fatos
em questão
(homicídio do
irmão do réu),
expondo
40
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO
TEXTUAL:
DEPOIMENTO
JUDICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
o encontrava,
puxava assunto,
mas o declarante
não respondia;
que no dia dos
fatos estava em
sua casa,
começando um
churrasco, sendo
que estava
sozinho; que
momentos depois,
seu irmão chegou
ao local
juntamente com
sua mulher,
entrando pelos
fundos, dizendo
que tinha ido para
o churrasco, sendo
que o declarante
nada respondeu;
que passou um
gato pelo local e o
irmão do
declarante o
matou; que após
isto o declarante
saiu de casa para
dar um
telefonema, sendo
que a mulher de
seu irmão também
saiu, não sabendo
por qual motivo,
sendo que seu
irmão ficou na
casa olhando o
churrasco; que
quando voltou à
casa, logo que
entrou na
garagem, veio uma
pessoa que lhe deu
uma facada na
ponta do braço,
saindo correndo,
sendo que só viu
seu vulto, não
podendo
reconhecê-la; que
entrou para a casa
e viu seu irmão
morto, caído no
alpendre; que foi
mais-que-
perfeito; presença
de advérbios de
tempo;
Expositiva: a
presença de
conectores como
porque, sendo
que, da
preposição para
que indicam
claramente
seqüências
explicativas;
Argumentativa:
Presença de
orações
subordinadas
adverbiais, de
orações
adversativas
(introduzidas pelo
conector “mas”,
p.ex.; presença de
advérbios de
intensidade,
atribuindo valores
à fala, etc.).
introduzidas pela
conjunção “que”,
entre outras
circunstâncias,
caracterizam o
gênero
depoimento
judicial no
Brasil,
cumprindo a
praxe forense.
argumentos
que
indicassem
sua inocência
(do réu).
41
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO
TEXTUAL:
DEPOIMENTO
JUDICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
lavar seus
ferimentos para
depois chamar a
polícia, sendo que
nesse instante ela
chegou antes de
fazer o contato;
que no dia dos
fatos tinha tomado
apenas uma
cerveja, sendo que
não chegou a
beber junto com
seu irmão;
que não conhece
as provas do
processo; que das
testemunhas
arroladas na
denúncia, só
conhece (nome da
testemunha); que
nunca foi preso ou
processado; que
tem Advogado na
pessoa do Dr.
(nome do
advogado).
Argumentativa/
Narrativa
Depoimento
judicial
(Defesa)
Argumentativa:
presença de
advérbios de
negação e
intensidade que
atribuem valor à
fala.
Narrativa:
presença de verbo
no pretérito
perfeito que
indica ação
terminada.
A escolha lexical
indica tratar-se
do gênero
depoimento, na
medida em que
em todo
depoimento, o
depoente/réu
responde a essas
questões.
Cumprir a
prescrição
legal,
oportunidade
em que o réu
também pode,
com suas
respostas,
tentar se
defender.
TERMO DE
DELIBERAÇÃO:
Após o
interrogatório, o
MM. Juizproferiu
o seguinte
despacho: “Intime-
se o Advogado do
réu a apresentar
defesa prévia e
arrolar
testemunhas no
prazo de três
dias”.
Injuntiva
Decisão judicial:
Termo de
liberação do réu
Os verbos no
modo imperativo
indicam a
tipologia
injuntiva.
A escolha do
léxico indica o
gênero Termo de
Liberação, que é
inserido no
Termo de
Depoimento do
réu, sendo que
tal liberação é
realizada
mediante
despacho.
Cumprir a
prescrição
legal,
fornecendo ao
réu o direito à
ampla defesa,
incluindo o
direito de ser
assistido por
um advogado
e de arrolar
testemunhas
no um
processo.
Desde já, designo
audiência para
oitiva das
testemunhas,
inclusive da
defesa, para o dia
22.11.2002, às
13:00 horas.
Intimem-se as
testemunhas
arroladas,
expedindo-se carta
precatória, com
Injuntiva
Despacho de
designação de
audiência
Os verbos no
modo imperativo
indicam a
tipologia
injuntiva.
É inserido no
Depoimento do
Réu o Despacho
de Designação
de Audiência,
conforme se
depreende da
escolha lexical.
Cumprir
prescrição
legal,
designando
audiência e
intimando
testemunhas,
conforme
prevê o
Código de
Processo
Penal
Brasileiro.
42
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO
TEXTUAL:
DEPOIMENTO
JUDICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
prazo de vinte
dias, acaso
necessário.”
Nada mais
havendo, mandou o
MM. Juiz encerrar
o presente.
Injuntiva
Despacho de
encerramento
Presença de
verbo no modo
imperativo
(mandou).
A escolha lexical
e novamente a
presença da fala
do Juiz que se
manifesta por
meio de
despacho,
caracterizam o
gênero despacho
inserido no
gênero
depoimento do
réu.
Encerrar o
Depoimento.
MM. JUIZ :
RMP :
INTERROGADO: Descritiva Assinaturas
Não presença
de verbos, apenas
a descrição de
quem deve
assinar e onde.
A estrutura
gráfica indica o
gênero
“assinaturas” que
também deve
estar inserido em
depoimento para
lhe conferir
validade.
Tornar formal
e legal o
depoimento.
TRANSCRIÇÃO DE DEPOIMENTO POLICIAL ORAL N˚6 (cf. ANEXO) PRESTADO
EM DELEGACIA DE POLÍCIA (DARCCPTE/10ª DRPC PATOS DE MINAS) EM
30/08/06, RESPONDENDO A ACUSADA A ACUSAÇÃO DE TRÁFICO DE DROGAS.
Interlocutores: Delegado, escrivã e acusada houve conversas paralelas
QUALIFICAÇÃO DA ACUSADA: ((realizada somente pela escrivã))
((interferências de conversas de outros policiais com o Delegado, sobre outros assuntos, enquanto a escrivã
procedia à qualificação da Acusada))
Delegado: (( primeiramente houve conversas entre a escrivã e o Delegado)) (...) como é que é seu nome?
Acusada: A...
Delegado: anh?
Acusada: A
Delegado: A? seu nome verdadeiro é A? te chamam ocê de P tamém? o quê que aco
nteceu procê vim presa A?
Acusada: (eles foram lá na minha casa lá e acharam droga)
Delegado:/ quê?
Acusada : (incompreensível)
((barulho de telefone tocando, sendo atendido pelo Delegado que passa a travar conversa sobre outro assunto,
enquanto a acusada esperava para ser ouvida))
Delegado: ((retomando o interrogatório após cerca de nove minutos)) oh... esqueci o quê que eu tava falando
com a moça aqui oh... pro ce vê moça como é que é minha vida né... pior que a sua ... tem hora... o trem é triste...
ocê é de SALVADOR? ... o quê que ocê fazendo aqui moça? o Nereu certo... tinha que tê ficado ... terra
boa ... bonita... um MAR maravilhoso... um POVO maravilhoso... mai vamo lá... que ocê veio pra ... PATOS
ou Paris... aí te pegaram com a droga dentro da sua casa? foi isso? quantas pedras de crack tinha lá?
Acusada: que eles pegaram comigo?
Delegado: é... quantas que ês pegaram com ocê?
Acusada: (eu to pensando aqui) ... tinha trinta parece
43
Delegado: /mas ocê sabe ué... mas ocê sabe quantas dogras ocê tinha lá uai
Acusada: agora... que ês (incompreensível)
Delegado: é... quanto que apreendeu lá? trinta pedras?
Acusada: hum rum
Delegado: /o dinheiro que tava com ocê lá era da venda da droga?
Acusada: não... isso aí eu/eu tinha juntado (no ano passado) pra eu pagá o aluguel
Delegado: /tá... mais ôcê tem /ocê tinha vendido droga pra esse pessoal já hoje?
Acusada: não eu tava dormindo... e / e o policial prendeu ele na rua ... foi lá
Delegado: / ele sempre compra droga docê lá?
Acusada: quem?
Delegado: esse menino?
Acusada: não ... conheço ele assim não (esse menino)
Delegado: ocê mora sozinha?
Acusada: eu moro sozinha na minha casa... eu moro sozinha
Delegado: /quanto tempo ocê tá morando lá?
Acusada: acho que vai fazê dois meses que eu mudei pra lá
Delegado: e aquela moça que tava lá... ((nome da moça em tom alto)) o quê que ela faz lá?
Acusada: não num tem nada a vê
Delegado: ahn?...
Acusada: ela foi durmir comigo essa noite porque eu tava sozinha
Delegado: /num foi isso que ela falou aqui não
Acusada: ela num mora comigo não
Delegado: anh? o quê que é sua casa? é uma casa de encontro?
Acusada: na::o
Delegado: /é uma casa onde as pessoas vão procê podê:: arrumá os clientes pra elas?
Acusada: não... eu num mexo com esse negócio de prostituição
Delegado: anh? não mexe?
Acusada: não
Delegado: /com nada?
Acusada: não eu não
Delegado: eles já deram uma batida lá na sua casa já? pra vê esse negócio de prostituição?
Acusada: não
Delegado: e na outra casa que ocê morava?
Acusada: que outra casa?
Delegado: uai o primeiro lugar que ocê mora aqui em Patos é lá?
Acusada: não eu nunca mixi com (ramo de ) prostituição eu num mixi com casa... eu
aluguei casa (incompreensível)
Delegado: /então por que que ocê falou que é garota de programa?
Acusada: eu fazia programa ... porque eu tava no Paulistano
Delegado: /mais lá é no Paulistano não é não?
Acusada: ficá eu fazi/ ficá/ fazi /ficava lá... o cliente me ligava ... eu trabaei numa casa na frente
Delegado: anh ... na frente onde ocê foi presa hoje?
Acusada: não...
Delegado: de onde ocê mora?
Acusada: não... eu ficava na numa boate na frente
Delegado: /tá
Acusada: eu ficava ali na frente ... o cliente passava... (depois) ia pro hotel...
Delegado: lá na sua casa ocê num num tem quarto pra prostituição nem nada disso não?
Acusada: não... lá não
Delegado: e essa M não é garota de programa não?
Acusada: ela é mais na minha casa ela não... eu /só chamei ela pra ela ir dormir comigo... o/essa noite
(incompreensível)
Delegado: / ocês são amigas?
Acusada: não
Delegado: então por que você chamou uma pessoa que não é sua amiga pra dormir na sua casa?
Acusada: eu conheço ela (incompreensível) conheço ela
Delegado: /ah... ocê é conhecida dela... ocê é colega dela então?
Acusada: mais ou menos
Delegado: uai é uai... ocê tem que ter um relacionamento com ela senão ocê num ia chamá ela pra durmir na sua
casa
44
Acusada: eu chamei porque eu to sem programa... ela (incompreensível) a gente conversava muito ... na
casa que eu tava não... nunca que
Delegado: /ela também ... ocê vende droga há quanto tempo?
Acusada: uns dois meses mais ou menos
Delegado: desde que ocê mudou pra essa casa lá?
Acusada: hum rum
Delegado: quanto que ocê vende a droga... pedra? quanto?
Acusada: dez reais
Delegado: dez cada uma? é? só pedra ou se vende maconha também?
Acusada: não
Delegado: só pedra?
Acusada: é
Delegado: /é? ocê arruma isso aonde?
Acusada: ... eu só falo em juízo agora
Delegado: hum?
Acusada: num vô falá mais nada
Delegado: num vai falá mais nada?
Acusada: (só falo em juízo)
Delegado: ocê num qué falá nada não... ou isso que ocê falou eu posso constá aqui?
Acusada: pode pode
Delegado: até aí pode?... ocê num qué me falá então de quem que ocê compra? ... isso ocê num vai falá não?...
Acusada: /só vou falá em juízo
Delegado: ta jóia ... beleza... então esses fatos outros aqui eu posso constá aqui que ocê vai assinar? ...
isso que ocê me falo até agora?
Acusada: (vô sim)
Delegado: hum rum... ocê já tem passagem pela polícia já?
Acusada: não... primeira vez
Delegado: a primeira vez? nem lá em Salvador?
Acusada: não
Delegado: nunca foi presa?
Acusada: não... se o senhô quisé pode olhá
Delegado: não nós já olhamo
Acusada: /então tá bom
Delegado: /só tô te perguntando pra podê confirmar o que eu tenho ali...
Acusada: se eu tivesse / se eu tivesse mentindo não tava olhando nos seus olhos não ...
Delegado: não necessariamente
Acusada: se eu tivesse mentindo...
Delegado: eu já vi muita gente menti olhando nos meus olhos... pode ter certeza
Acusada: /eu não to mentindo... eu tô falando a verdade...
lá na minha casa eu trabalhava com isso... a M eu pedi pra ela ir dormir comigo... eu tava sozinha ... não sou
amiga dela ... quando eu trabalhava na outra casa... ficava lá eu ela ... outras meninas ... lá na casa que eu aluguei
não mexia com isso
Delegado: hum rum ... que horas que os policias chegaram lá ... mais ou menos?
Acusada: ah eu não sei ... não olhei lá
Delegado: /na manhã... de manhã ainda ainda?
Acusada: tava ce::do
Delegado: na parte da manhã?
Acusada: foi... hum rum ... acordei com eles batendo na janela...
Delegado: te pedindo a droga?
Acusada: não o rapaz
Delegado: /o rapaz que tava com eles pediu a droga?
Acusada: o rapaz tava já já algemado... já chegou com o rapaz algemado
Delegado: /então ele pediu
Acusada: deve tê pulado o meu muro... eu num sei como é que ele entrou lá
Delegado: ele pediu a droga e ocê já /foi pra / vendê pra ele com a pedra na mão? Acusada: não num passei num
cheguei a passá
Delegado: então na hora que o policial te prendeu lá... ocê tava com a pedra na mão?
Acusada: não... não estava
Delegado: tava sem nenhuma droga?
Acusada: tava
45
Delegado: eles acharam a droga foi dentro da sua casa?
Acusada: tava guardada... dentro das minhas coisas
Delegado: ... hum rum ... tá bom... então vamo ((ditando para a escrivã))... é::... que na
data de hoje... no período da manhã... vírgula ... a declarante estava na sua casa ... quando ouviu o barulho de
alguém bater na porta
Acusada: /na janela
Delegado: ((ditando para a escrivã)) na janela ((dirigindo-se à acusada)) aí ocê foi até à janela atender.... foi
Acusada: (incompreensível)
Delegado: hum rum ... ((ditando para a escrivã)) que se deslocou ((dirigindo-se à acusada)) ocê tava durmindo?
Acusada: tava
Delegado: ((dirigindo-se à acusada)) que se deslocou ... até a janela ((dirigindo-se à acusada)) a pessoa falou
que queria comprar uma droga?
Acusada: é... me pediu a dolinha... aí eu falei assim não (incompreensível)
Delegado: hum rum ... ele pediu antes de ocê vê quem
que era... com a janela fechada ainda ele te pediu
Acusada: oi? ...eu abri janela
Delegado:/aí ele pediu
Acusada: ele pediu ... (falei com ele doutor) DEIXE EU DURMIR cansada... eu fiquei fazeno hora
quando a polícia chegou... e me autuou
Delegado: /tá.... ((ditando para a escrivã)) que se deslocou até a janela ... e quando a abriu ... deparou-se com
uma pessoa que lhe pediu ... uma dolinha ... ((dirigindo-se à acusada)) é isso? dolinha? de crack né? crack?
((dirigindo-se à escrivã)) uma dolinha de crack... ((dirigindo-se à acusada)) aí o quê que ocê falou pra ele?
Acusada: foi pra ele que eu estava dormindo... que não era pra ele me incomodá... e eu ia fechá a janela
quando a polícia chegou (a gente já tava)
Delegado: ocê conhece o rapaz?
Acusada: não num conheço
Delegado: não conhece?
Acusada: não ... só depois que (incompreensível)
Delegado: ocê coloca em vez de pessoa ocê coloca assim que um rapaz desconhecido que lhe pediu... lhe pediu
uma dolinha de crack((dirigindo-se à escrivã)) ... enquanto ocê tava atendendo ele então a polícia pulou
dentro... pulou nocê ... foi isso?
Acusada: não ... eu tava conversando com ele... falei que eu tava durmindo que não ia atendê
Delegado:/tá...((ditando para a escrivã)) que enquanto conversava com... tal indivíduo vírgula... foi abordada por
policiais militares ... estes que prenderam a declarante pelo fato da mesma estar ((dirigindo-se à acusada)) ... te
prenderem porque eles falaram que ocê tava vendendo droga ... é isso né? ((ditando para a escrivã)) da mesma
estar vendendo droga... ((dirigindo-se à acusada)) a hora que eles pularam nôcê então ocê num tava com
nenhuma droga na mão não? nada?
Acusada: ((barulho com os lábios indicando negação))
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que ao ser abordada ... vírgula ... a declarante não estava de posse de
nenhuma substância entorpecente ... vírgula no entanto vírgula ((dirigindo-se à acusada)) ... es/eles
procederam à vistoria na casa e acharam quantas pedras de crack?
Acusada: ... (incompreensível) falou trinta
Delegado: / trinta onde essas pedras tavam?
Acusada: tava escondidas no meus pertences
Delegado: ((ditando para a escrivã)) no entanto... ao procederem a uma vistoria na casa da declarante... os
policiais encontraram escondidos em seus ... escondidas em seus pertences trinta pedras da substância
comumente conhecida por crack ((conversa paralela com a escrivã a respeito do acionamento do perito)) ((
retomando o interrogatório e relendo o que havia ditado para a escrivã)) trinta pedras da substância conhecida
por crack ((conversa paralela da escrivã no telefone inclusive do Delegado e de outros policiais sobre a
realização de perícia))
Delegado: ((retomando o interrogatório e relendo o que havia ditado)) ... hum:: trinta pedras da substância
comumente conhecida por crack ((ditando para a escrivã)) que afirma ... estar vendendo droga ((dirigindo-se à
acusada)) ocê vende na sua casa mesmo? é?
Acusada: sim
Delegado: ((ditando para escrivã)) em sua residência... aproximadamente dois meses ((dirigindo-se à
acusada)) desde que ocê mudou pra lá?
Acusada: hum rum
Delegado: é?
Acusada: é
46
Delegado: ... ((ditando para a escrivã)) em sua residência aproximadamente dois meses... que vende pra qual/
assim num tem pessoa/ a pessoa vai lá ... procura ocê vende...
Acusada: é
Delegado: /dez reais cada dolinha né?
Acusada: é
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula... cobrando dez reais por porção vendida ((dirigindo-se à acusada))
ocê vende só crack?
Acusada: ((balançando a cabeça afirmativamente))
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que seu comércio é destinado à venda de crack... vírgula... não trabalhando
com outro tipo de droga
((interferência de outro policial que começa a travar um diálogo sobre outro assunto com o Delegado, havendo
também a interferência de outros policiais e da escrivã)
Delegado: ((retomando o interrogatório, relendo parte do que havia ditado)) que afirma estar vendendo droga
aproximadamente dois meses em sua residência ... cobrando dez reais por porção vendida... que seu o
comércio é destinado à venda de crack... não trabalhando com outro tipo de droga... perguntado à declarante ...
perguntado à declarante de quem adquire a substância entorpecente que vende ... vírgula... respondeu que ...
somente prestará declarações nesse sentido em juízo... que afirma que sua moradia não é destinada à prática de
encontros amorosos ou prostituição ((dirigindo-se à acusada)) ocê mora sozinha? só ocê ... mais ninguém?
Acusada: moro ... / ((barulho negativo com a boca))
Delegado: ((ditando par a escirvã)) residindo vírgula residindo sozinha... sozinha residindo sozinha na casa...
que quanto à pessoa de M... ((dirigindo-se à acusada)) a M tava com você quando os policiais chegaram num
tava?
Acusada: (não ela tava durmindo num outro quarto)
Delegado: /então ela tava na sua casa... isso é que eu to perguntando
Acusada: anh
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que quanto à pessoa de M que estava em sua residência quando da
abordagem policial... alega ser somente sua conhecida... ((dirigindo-se à acusada)) ocê pediu pra ela dormir
essa noite né?
Acusada: hum rum
Delegado: quê que foi mesmo que ocê pediu pra ela dormir lá?
Acusada: que (acabou) que ta com a luz cortada né e eu fiquei com medo de dormir no escuro
Delegado: /anh ran ... ((ditando para a escrivã))
alega ser somente sua conhecida... tendo vírgula... tendo pedido a mesma que dormisse consigo no dia de hoje
((comentário da escrivã incompreensível)) ((continua ditando para a escrivã)) esta noite ... esta noite vírgula
dormido consigo ... esta noite pelo fato da energia de sua residência estar cortada... vírgula... tendo ficado com
medo de pernoitar sozinha.... ((dirigindo-se à acusada)) atualmente ocê ganha a vida então fazendo programa?
Acusada: oi?
Delegado: atualmente ocê ganha a vida fazendo programas? ... é?
Acusada: hum rum
Delegado: ocê num trabalha assim em outro trabalho não né? só faz programa e vende essas drogas pro povo?
Acusada: é
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que atualmente a declarante ganha a vida vendendo substância entorpecente
e fazendo programas sexuais ((dirigindo-se à acusada)) faz na sua casa mesmo?
Acusada: /NÃO
Delegado: ocê só encontra com o cliente lá?
Acusada: não eles me ligam eu saio.. lá não pode (incompreensível)
Delegado: /tá... na casa ocê num faz nada então?
Acusada: não... lá emcasa não
Delegado: hum rum ((ditando para a escrivã)) e fazendo programa sexual vírgula ... sendo que os clientes ligam
em seu celulá/ ((dirigindo-se à acusada)) celular que ocê tem?
Acusada: ((pronuncia algo afirmativo))
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ligam em seu celular e combinam de encontrar com a declarante fora de sua
residência... ((dirigindo-se à acusada)) isso né?
Acusada: é
Delegado: a M então também é garota de programa? a M ...que tava lá?
Acusada: (incompreensível) só que em outra casa
Delegado: anh ran ((ditando para a escrivã)) ... que M ... também é garota de programa ((dirigindo-se à acusada))
ocê conheceu ela quando ocê trabalha em uma outra/em uma outra casa de prostituição?
Acusada: ficava lá na esquina lá
47
Delegado: /hum rum ((ditando para a escrivã)) tendo conhecido a mesma ... quando realizava programas em uma
casa de prostituição próxima ao local onde mora ... ((dirigindo-se à acusada)) ... então jamais sua casa foi
utilizada aí pra pra prostituição né?
Acusada: não
Delegado: nem pra:: só servir de ponto de encontro?
Acusada:/não
Delegado: os clientes iam mas não faziam o programa lá.. mas iam lá:: e pegavam as mulheres e depois
saíam...
Acusada: nada nada lá:: nunca (incompreensível) lá que eu/eu moro sozinha
Delegado: /tá mais por exemplo assim por exemplo num é um local/ não é um local onde os clientes vão e
encontram com as suas amigas com seus colegas assim e depois saem lá ...e depois vão fazê o programa?
Acusada: /lá não ((barulho com a boca
negativo)) ... lá é minha casa
Delegado: (incompreensível) ocê falou que ocê nunca foi presa e nem processada né? nunca ... nem aqui nem
lá na Bahia?
Acusada: não ... não
Delegado: é isso que eu ditei pra ela? certo? tá? ocê qué fala é isso? é? mais alguma coisa que ocê qué fala?
sobre esses fatos aí?
Acusada: não (barulho negativo com a boca) não
Delegado: ((dirigindo-se à escrivã)) nada mais... nada MAIS
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
RETEXTUALIZAÇÃO DO DEPOIMENTO POLICIAL ORAL N˚6 (cf. ANEXO) DE
(NOME DA ACUSADA) PRESTADO EM DELEGACIA DE POLÍCIA (DARCCPTE/10ª
DRPC PATOS DE MINAS) EM 30/08/06, RESPONDENDO A ACUSADA A
ACUSAÇÃO DE TRÁFICO DE DROGAS.
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
10ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL
Pçª Juquinha Caixeta, 153 – Centro Patos de Minas/MG – CEP:38700-130 – Fone (34)3821.2086
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO
Aos trinta dias do mês de agosto do ano de dois mil e seis (30/08/06), às 15:45h, nesta cidade de Patos de
Minas/MG, na Delegacia Adjunta de Repr. a C/ C/ o Patrimônio e Tóxicos/Entorpecentes - 10 ª DRSP, presente
o Bel. (nome), Delegado de Polícia, comigo, (nome), Escrivão de Polícia de seu cargo, ao final assinado, passou
a Autoridade a interrogar a CONDUZIDA que disse chamar-se AST, alcunha “P”, brasileira, natural de
Salvador/BA, filha de ALT e VLS, exercendo a profissão de promotora de vendas, local de trabalho
desempregada, nascida aos (data) (30 anos), solteira, documento de identidade não portava, residente à R.
(nome), (número), (nome do bairro)/Patos de Minas-MG, escolaridade 2˚grau. Cientificada pela autoridade
policial que tem o direito de permanecer calada, assistência de advogado e familiares, conforme determina o Art.
5˚, incisos LXII, LXIII e LXIV da Constituição Federal, desejando que sua prisão seja comunicada a sua
advogada MCD, militante nesta comarca; Foi ainda cientificada que o responsável legal por sua prisão é o
condutor deste auto e que a autoridade responsável por seu interrogatório é o presidente deste auto.
INTERROGADA, RESPONDEU: Que na data de hoje, no período da manhã, a declarante estava em sua casa,
quando ouviu o barulho de alguém bater na janela; QUE se deslocou até a janela e quando abriu deparou-se com
um rapaz desconhecido que lhe pediu ma “dolinha de crack”; QUE enquanto conversava com tal indivíduo, foi
abordada por policiais militares, estes que prenderam a declarante pelo fato da mesma estar vendendo droga;
QUE ao ser abordada, a declarante não estava de posse de nenhuma substância entorpecente, no entanto, ao
procederem a uma vistoria na casa da declarante, os policiais encontraram escondidas em seus pertences 30
(trinta) porções da substância comumente conhecida por “crack”; QUE afirma estar vendendo droga em sua
residência aproximadamente dois meses, cobrando dez reais por porção vendida; QUE seu comércio é
destinado a venda de “crack”, não trabalhando com outro tipo de droga; PERGUNTADA a declarante de quem
48
adquire a substância entorpecente que vende, RESPONDEU que “somente prestará declarações nesse sentido
“em juízo”; QUE afirma que sua moradia não é destinada a prática de encontros amorosos ou prostituição,
residindo sozinha na casa; QUE quanto a pessoa de M que estava em sua residência quando da abordagem
policial, alega ser somente sua conhecida, tendo pedido a mesma que dormisse consigo nessa noite pelo fato da
energia de sua residência estar cortada, tendo ficado com medo de pernoitar sozinha; QUE atualmente a
declarante ganha a vida vendendo substância entorpecente e fazendo programa sexual, sendo que os clientes
ligam em seu celular e combinam de encontrar com a declarante fora de sua residência; QUE M também é garota
de programa, tendo conhecido a mesma quando realizavam programas em uma casa de prostituição próxima a
casa onde moram; QUE nunca foi presa e nem processada. Nada mais disse e nem lhe foi perguntado. Mandou a
autoridade encerrar o presente termo, que depois de lido e achado conforme, segue devidamente assinado, e fica
fazendo parte do auto de prisão em flagrante delito epigrafado.
AUTORIDADE:
CONDUZIDA:
ESCRIVÃ:
Quadro 4 - Análise textual do depoimento policial n˚6 (cf. anexo) da espécie interrogatório
(inserido no corpo de um Auto de Prisão em Flagrante Delito)
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO TEXTUAL:
DEPOIMENTO
POLICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
Aos trinta dias do mês
de agosto do ano de
dois mil e seis
(30/08/06), às 15:45h,
nesta cidade de Patos
de Minas/MG, na
Delegacia Adjunta de
Repr. a C/ C/ o
Patrimônio e
Tóxicos/Entorpecentes
- 10 ª DRSP, presente
o Bel. (nome),
Delegado de Polícia,
comigo, (nome),
Escrivão de Polícia de
seu cargo, ao final
assinado.
Descritiva
Depoimento
policial
(Cabeçalho)
uma
seqüência
descritiva da
cena em que se
passa o
depoimento,
utilizando-se
verbo no
presente do
indicativo.
Seleção de
vocabulário
próprio para
introdução de
textos formais,
especificamente
depoimentos.
Introduzir e
documentar o
local, data e
Unidade
Policial em que
a formatação
do documento
ocorre.
Passou a Autoridade a
interrogar a
CONDUZIDA que
disse chamar-se AST,
Narrativa
Depoimento
policial
(cabeçalho)
Seqüência
temporal, com
verbos no
pretérito perfeito,
indicando as
ações ocorridas.
O verbo
“discendi” é
indicativo da
narrativa.
Presença de
estruturas
formulaicas,
próprias de
textos oficiais
(depoimentos).
Continuação da
introdução.
alcunha “P”, brasileira,
natural de
Salvador/BA, filha de
ALT e VLS,
exercendo a profissão
de promotora de
Descritiva
Depoimento
judicial
(Qualificação)
Presença de
adjetivos que
descrevem as
características da
acusada.
A qualificação
do depoente está
presente na
parte
introdutória de
um depoimento.
Identificação
da acusada
para fins
policiais e, até
mesmo
processuais
49
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO TEXTUAL:
DEPOIMENTO
POLICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
vendas, local de
trabalho
desempregada, nascida
aos (data) (30 anos),
solteira, documento de
identidade não
portava, residente à R.
(nome), (número),
(nome do bairro)/Patos
de Minas-MG,
escolaridade 2˚grau.
(caso o crime
seja apenado
com multa essa
qualificação
pode servir de
subsídio para
sua valoração.
Cientificada pela
autoridade policial que
tem o direito de
permanecer calada,
assistência de
advogado e familiares,
conforme determina o
Art. 5˚, incisos LXII,
LXIII e LXIV da
Constituição Federal,
desejando que sua
prisão seja
comunicada a sua
advogada MCD,
militante nesta
comarca; Foi ainda
cientificada que o
responsável legal por
sua prisão é o
condutor deste auto e
que a autoridade
responsável por seu
interrogatório é o
presidente deste auto.
Expositiva/
Injuntiva
Advertência
(própria do
depoimento
elaborado
durante a
lavratura de
APFD)
Expositiva: a
seqüência foi
iniciada com um
sujeito seguido
do verbo ter e o
complemento
com um grupo
nominal,
estrutura típica
da exposição /
explicação.
Injuntiva: a
advertência
utiliza-se de uma
linguagem
injuntiva.
Embora o verbo
não esteja no
imperativo, a
seqüência
demonstra que a
depoente está
sendo
cientificada,
admoestada.
O acusado, ao
ser interrogado,
durante a
lavratura do
Auto de Prisão
em Flagrante
Delito, deve ser
informado (ou
cientificado) de
seus direitos
previstos na
Constituição
Federal, antes de
prestar qualquer
declaração.
Informar e
advertir a
acusada,
cumprindo-se
os preceitos
legais e
constitucionais
para, dessa
forma, não
ocorrer
qualquer
nulidade.
INTERROGADA,
RESPONDEU: Que
na data de hoje, no
período da manhã, a
declarante estava em
sua casa, quando
ouviu o barulho de
alguém bater na
janela;
Narrativa/
Descritiva
Depoimento
policial
Narração:
presença de
verbo no
pretérito perfeito,
próprio da
narração,
introduzido em
uma seqüência
temporal, o que
indica a
narração;
Descrição:
presença do
verbo no
pretérito
imperfeito,
próprio da
descrição, que se
refere ao lugar
em que a
A escolha
vocabular, o
relato
organizado em
orações
subordinadas
substantivas
objetivas
diretas,
introduzidas
pela conjunção
“que”, entre
outras
circunstâncias
temporais e que
se sucedem,
caracterizam o
nero
depoimento
policial no
Expor a versão
da acusada
sobre os fatos
que motivaram
sua prisão.
50
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO TEXTUAL:
DEPOIMENTO
POLICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
depoente se
encontrava.
Brasil,
cumprindo a
praxe policial.
QUE se deslocou até a
janela e quando abriu
deparou-se com um
rapaz desconhecido
que lhe pediu uma
“dolinha de crack”;
QUE enquanto
conversava com tal
indivíduo, foi
abordada por policiais
militares, estes que
prenderam a
declarante pelo fato da
mesma estar vendendo
droga;
Narrativa/
Expositiva
Depoimento
policial
Narrativa:
presença de
verbos no
pretérito perfeito
que indicam
ações que
aconteceram e
presença,
inclusive, da
conjunção
“enquanto”,
indicando a
seqüência de
acontecimentos;
Exposição: a
acusada explica,
explicitamente, o
motivo pelo qual
foi presa.
A escolha
vocabular, o
relato
organizado em
orações
subordinadas
substantivas
objetivas
diretas,
introduzidas
pela conjunção
“que”, entre
outras
circunstâncias
temporais e que
se sucedem,
caracterizam o
gênero
depoimento
policial.
Expor a versão
da acusada
sobre os fatos
que motivaram
sua prisão.
QUE ao ser abordada,
a declarante não estava
de posse de nenhuma
substância
entorpecente,
Descritiva
Depoimento
policial
Verbo no
pretérito
imperfeito,
demonstrando a
circunstância em
que a acusada foi
encontrada.
A caracterização
de que forma e
em quais
circunstâncias a
acusada foi
encontrada é
inerente ao
depoimento
prestado pro ela
na Delegacia de
Polícia.
Tentativa da
acusada de
esclarecer as
circunstâncias
dos fatos com
o fim de ser,
obviamente,
beneficiada
pelas
informações
que presta.
no entanto, ao
procederem a uma
vistoria na casa da
declarante, os policiais
encontraram
escondidas em seus
pertences 30 (trinta)
porções da substância
comumente conhecida
por “crack”;
Argumentativa/
Narrativa
Depoimento
policial
Argumentativa:
Presença de
seqüência
constrativa
explícita
(introduzida pelo
conector “no
entanto”.
Narrativa:
seqüências
temporais que se
sucedem; verbos
no pretérito
perfeito.
A argumentação
e a exposição
seqüencial dos
fatos pela
acusada são
formadores do
gênero
depoimento que,
nada mais é que
o relato do
acusado sobre
os fatos
relativos à
acusação que
paira sobre ele.
Relatar a
versão da
acusada sobre
os fatos em
questão (a
argumentação
introduzida
pelo no entanto
é contrária a
sua defesa).
QUE afirma estar
vendendo droga em
sua residência há
aproximadamente dois
meses, cobrando dez
Argumentativa/
Expositiva
Depoimento
policial
Argumentativa:
presença de
advérbios de
negação que
atribuem valor à
A escolha
lexical indica
tratar-se do
gênero
depoimento, na
Tentativa da
acusada de
esclarecer as
circunstâncias
dos fatos com
51
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO TEXTUAL:
DEPOIMENTO
POLICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
reais por porção
vendida; QUE seu
comércio é destinado a
venda de “crack”, não
trabalhando com outro
tipo de droga;
fala.
Expositiva:
presença de
verbo ser e um
complemento
com um grupo
nominal.
medida em que
a acusada
responde,
argumenta e
explica os fatos
(estrutura
constituinte de
todo
depoimento).
o fim de ser,
obviamente,
beneficiada
pelas
informações
que presta
PERGUNTADA a
declarante de quem
adquire a substância
entorpecente que
vende, RESPONDEU
que “somente prestará
declarações nesse
sentido “em juízo”;
Argumentativa
Depoimento
policial
O par pergunta e
resposta,
introduzida pelo
advérbio e
posteriormente a
negação
constitui-se
como uma
estrutura típica
da
argumentação.
A estrutura de
um depoimento
é sempre
organizada pelo
para pergunta e
resposta, o que,
neste trecho está
explicitado,
caracterizando o
gênero.
Argumenta /
nega com o fim
de se
beneficiar.
QUE afirma que sua
moradia não é
destinada a prática de
encontros amorosos ou
prostituição, residindo
sozinha na casa; QUE
quanto a pessoa de M
que estava em sua
residência quando da
abordagem policial,
alega ser somente sua
conhecida, tendo
pedido a mesma que
dormisse consigo
nessa noite pelo fato
da energia de sua
residência estar
cortada, tendo ficado
com medo de pernoitar
sozinha; QUE
atualmente a
declarante ganha a
vida vendendo
substância
entorpecente e fazendo
programa sexual,
sendo que os clientes
ligam em seu celular e
combinam de
encontrar com a
declarante fora de sua
residência; QUE M
também é garota de
programa, tendo
conhecido a mesma
quando realizavam
Expositiva/
Descritiva/
Argumentativa
Depoimento
policial
Expositiva:
presença do
verbo ser e de
um complemento
com um grupo
nominal no
tempo presente
além de haver
seqüências
explicitamente
explicativas;
Descritiva:
verbo no
presente
indicando
circunstâncias de
lugares e/ou
pessoas;
Argumentativa:
presença de
advérbios, com
atribuição de
valores e
qualidades.
Tentativa da
acusada de
esclarecer as
circunstâncias
dos fatos com
o fim de ser,
obviamente,
beneficiada
pelas
informações
que presta, pois
se percebe que
o operador do
Direito tenta
imprimir-lhe a
prática de um
segundo crime
(Manter Casa
de
Prostituição).
52
MARCAS LINGUÍSTICAS
GÊNERO TEXTUAL:
DEPOIMENTO
POLICIAL
SEQÜÊNCIA
TIPOLÓGICA
GÊNEROS
(outros)
SEQÜÊNCIAS
TIPOLÓGICAS
GÊNERO
FUNÇÃO
programas em uma
casa de prostituição
próxima a casa onde
moram; QUE nunca
foi presa e nem
processada.
Nada mais disse e nem
lhe foi perguntado.
Mandou a autoridade
encerrar o presente
termo, que depois de
lido e achado
conforme, segue
devidamente assinado,
e fica fazendo parte do
auto de prisão em
flagrante delito
epigrafado.
Narrativa/
Injuntiva
Encerramento
com o
Despacho de
encerramento
Narrativa:
presença de
verbos no
pretérito perfeito,
indicando ações
ocorridas e a
Injuntiva:
presença de
verbo no modo
imperativo
(mandou).
A escolha
lexical e
novamente a
presença da fala
do Delegado
que se manifesta
por meio de
despacho,
caracterizam o
gênero despacho
inserido no
gênero
depoimento
(interrogatório
do acusado).
Encerrar o
Depoimento.
AUTORIDADE:
CONDUZIDA:
ESCRIVÃ:
Descritiva Assinaturas
Não presença
de verbos,
apenas a
descrição de
quem deve
assinar e onde.
A estrutura
gráfica indica o
gênero
“assinaturas”
que também
deve estar
inserido em
depoimento para
lhe conferir
validade.
Tornar formal
e legal o
depoimento.
Essas análises demonstram que a tessitura do texto final, pertencente ao discurso
jurídico, cujo gênero pode ser caracterizado como “Depoimento Policial/judicial” tem como
resultante, por vezes, a construção do sentido pretendido apenas pelo operador do Direito. É
importante ressaltar que o gênero determina a própria forma do depoimento (entrevista oral
entre um operador do Direito e um acusado/réu) e o texto, por sua vez, reflete o gênero. É a
construção do texto que gera, resulta o próprio gênero.
O depoimento policial/judicial, conforme se demonstrou, possui vários tipos
textuais, fragmentando-se em seqüências narrativas, descritivas e injuntivas. Tal
fragmentação, não obstante, não o desvirtua do gênero textual, tal como classificado, ou seja,
depoimento.
Imperioso ainda denotar que o depoimento segue as regras previstas na legislação
ao consignar as respostas do acusado/réu sobre o fato e sobre sua pessoa. O gênero também é
53
construído a partir do momento em que se seguem os procedimentos legais e esses, por sua
vez, constituem-se como requisitos para a construção do texto depoimento.
Note-se, contudo, que os depoimentos foram construídos dentro da perspectiva de
seu gênero e cumprindo o disposto em lei e, de acordo com as marcas lingüísticas que serão
destacadas no capítulo da análise do corpus, verificar-se-á que, muitas vezes, a construção do
sentido pode indicar a condenação do acusado/réu, ao invés de circunscrever à elucidação dos
fatos em apuração.
Esses textos depoimentos policial/judicial, tal como foram construídos por seu(s)
interlocutor(es,)constituem-se em fator facilitador para a condenação efetiva. Conforme se
expôs, o gênero atendeu às regras relativamente estipuladas. Resta a dúvida se a linguagem
construída pelos interactantes corresponde, efetivamente, à construção dos próprios sujeitos.
O réu, certamente, não pretendeu sua condenação, muito menos a acusada o fez, mesmo
porque estava sendo presa naquele momento. No entanto, durante a interlocução e
especialmente na retextualização, parece que lhes foram construídos os papéis de acusado/réu
e de, sobretudo, culpados.
Importante frisar que o acusado/réu não participa da consignação da fala no
depoimento oficial. O seu relato oral é retextualizado pelo operador do Direito que dita ao
Escrivão aquilo que “compreendeu” da explanação do acusado/réu. É nesse sentido que é
possível questionar a fidelidade do depoimento oficial retextualizado com o depoimento oral
prestado pelo acusado/réu. Também é em relação a esse tópico que se afiguram as
interferências lingüísticas do operador do Direito. Tais interferências, muitas vezes, acabam
por construir um sentido direcionado à condenação, distanciando o evento Tomada de
Depoimento, realizada em uma audiência penal, de sua função precípua que é a de esclarecer
os fatos, conforme, inclusive, prescrição legal.
De acordo com a lei, a entrevista oral se dá, necessariamente, entre Delegado de
Polícia e o acusado e entre o Juiz e o réu. O Escrivão, conforme mencionado quando da
descrição do evento “Tomada de Depoimento”, tão somente consigna no termo o texto a ele
ditado pelo Delegado ou pelo Juiz. A legislação brasileira prevê que, em regra, não
necessidade do acusado, no primeiro momento (Delegacia de Polícia), sequer, acompanhar-se
de advogado, pois também não há, no interrogatório policial, a possibilidade legal de
interferência deste advogado. Também em Juízo, não haverá a possibilidade da interferência
do advogado, na confecção de perguntas. Somente ao fim do interrogatório judicial, o Juiz
54
dará ao advogado
14
a chance de tecer considerações, mas jamais elaborará perguntas
diretamente ao réu.
Não é comum haver qualquer manifestação do Escrivão. Todavia, ao consignar no
termo o que lhe é ditado pelo operador do Direito, muitas vezes o Escrivão realiza
questionamentos a este, até mesmo por não entender o que lhe foi ditado. nos “Termos de
Depoimentos” ocorridos em Delegacia de Polícia, portanto na fase de Inquérito Policial, até
mesmo por serem mais informais, uma maior maleabilidade, quando é possível perceber
interlocução não entre o Escrivão e o operador do Direito, mas também entre aquele e o
acusado. Exemplo da interlocução estabelecida entre Escrivão de Polícia e o operador do
Direito nas Transcrições dos Depoimentos 1 e 2 ocorridos na Delegacia de Polícia de São
Gotardo.
1.5 A Retextualização
1.5.1 As relações entre fala e escrita
As relações entre fala e escrita se situaram em um campo dicotômico. Hoje,
entretanto, seguindo a orientação de autores como Chafe (1982) e, especialmente, Marcuschi
(2001), fala e escrita encontram-se dentro de um contínuo tipológico ou da realidade cognitiva
e social.
Em seu livro Da fala para a escrita, Marcuschi (2001, p. 41) propõe um gráfico
da representação do contínuo dos gêneros textuais na fala e na escrita, que ora se transcreve:
14
Embora não haja previsão legal para a interferência do advogado e do Escrivão nos interrogatórios prestados
em delegacia e em juízo, conforme se depura mesmo dos depoimentos constantes do corpus deste trabalho e de
outros observados durante a pesquisa, casos em que ocorrem tais interferências. Esse fenômeno não causa
nulidade ou desconfigura o texto em relação ao seu gênero. O interrogatório do
acusado/réu, mesmo quando a interferência do advogado, continua possuindo características da categoria ou
constelação (expressão utilizada por Marcuschi) entrevista oral, da espécie depoimento. Ainda, o depoimento
não fica eivado de qualquer nulidade, mesmo porque de ser aplicado o princípio processual da
instrumentalidade das formas que prevê ser o ato válido quando cumprir sua finalidade, ainda que não tenha sido
realizado, estritamente, de acordo com os requisitos previstos em lei, desde que não ocorra prejuízo.
55
Figura 2 - Representação do contínuo dos gêneros textuais na fala e na escrita
15
Segundo Marcuschi (2001, p. 25),
a fala seria uma forma de produção textual-discursiva para fins comunicativos na
modalidade oral (situa-se no plano da oralidade, portanto), sem a necessidade de
uma tecnologia além do aparato disponível pelo próprio ser humano. Caracteriza-se
pelo uso da língua na sua forma de sons sistematicamente articulados e
significativos, bem como os aspecto prosódicos, envolvendo, ainda, uma série de
recursos expressivos de outra ordem, tal como a gestualidade, os movimentos do
corpo e a mímica.
A língua, seja na modalidade falada ou escrita, reflete a organização da sociedade.
Não existe qualquer supremacia entre uma e outra modalidade. São modos de representação
cognitiva e social que revelam práticas sociais específicas.
Do ponto de vista dos usos da língua, constata-se que a oralidade e a escrita não
são responsáveis por domínios estanques e dicotômicos. práticas preferencialmente
mediadas pela escrita e outras pela tradição oral. domínios que se utilizam das duas
modalidades, como é o caso da prática jurídica. É, novamente, Marcuschi (2001, p. 37) que
menciona a prática jurídica como um domínio das duas modalidades:
15
Figura número 5 em que se apresenta o quadro proposto por Marcuschi (2001) com a representação do
contínuo dos gêneros textuais na fala e na escrita.
56
Tomemos o caso típico da área jurídica. Ali é intenso e rígido o uso da escrita,
que a Lei deve ser tomada ao da letra. Contudo, precisamente a área jurídica faz
um uso intenso e extenso das práticas orais nos tribunais, o que comprova que numa
mesma área discursiva e numa mesma comunidade de práticas convivem duas
tradições diversas, ambas fortemente marcadas. Isso sugere ser inadequado
distinguir entre sociedades letradas e iletradas de forma dicotômica. Oralidade e
escrita são duas práticas sociais e não duas propriedades de sociedades diversas.
A abordagem sobre a oralidade torna-se essencial neste estudo, na medida em que
ele se centra nas Tomadas de Depoimentos que, conforme exposto, são permeados tanto pela
língua falada, como pela língua escrita, ressaltando-se que, cada uma, cumpre uma função e é
organizada de acordo com as especificidades de cada subgênero textual.
As Tomadas de Depoimento são acontecimentos que, inicialmente, ocorrem
oralmente e posteriormente, são escritos. Constituem-se, pois, em um gênero textual marcado
pela oralidade e, ao mesmo tempo, pela escrita. Em sendo assim, pode-se caracterizar o
depoimento como um gênero, que se subdivide em dois sub-gêneros: o subgênero depoimento
oral e o subgênero termo de depoimento (escrito).
A linguagem humana, seja ela escrita, seja falada é fundamentalmente dialógica.
Na língua falada os usuários estão em presença e a construção do enunciado se caracteriza de
maneira acentuada pela interação que se desencadeia. Uma das conseqüências óbvias é que
na língua escrita é necessário explicitar as coordenadas espaço-temporais em que se movem
as personagens, ao passo que na língua falada tais coordenadas estão dadas pela própria
situação de fala.
1.5.2 Atividades de retextualização
A retextualização é uma atividade que envolve a passagem de um texto para
outro. Somente é possível falar em retextualização quando material lingüístico. Não
retextualização de uma pintura para uma poesia, pois, nesse caso, houve mudança do código,
o que não ocorre na atividade de retextualização. Haverá, pois, retextualização, quando se
passar do oral para o oral, do escrito para o escrito, do escrito para o oral e do oral para o
escrito. Esta última modalidade é a que vai, especialmente, interessar a este trabalho.
Marcuschi (2001, p. 45) em pé de página, explica que a expressão retextualização
foi empregada por Neusa Travaglia (1993) em sua tese de doutorado sobre a tradução de um
língua para outra. O autor, então, apropria-se do termo, utilizando-o para explicitar a
“tradução” realizada de uma modalidade lingüística para outra, embora permanecendo em
uma mesma língua.
57
Em seus estudos, Marcuschi (2001, p.45-46) utiliza o termo enfatizando a
tradução da fala para a escrita. Para ele, a retextualização é uma atividade que envolve
operações complexas que interferem tanto no código como no sentido e evidenciam uma série
de aspectos nem sempre bem compreendidos da relação oralidade-escrita. Como é possível
notar, o autor aborda, nesse aspecto, a retextualização do ponto de vista da fala para a escrita.
Ressalta a importância de que a retextualização do texto falado para o escrito é a passagem de
uma ordem para outra ordem. De forma alguma se pode pretender que seja a passagem de um
texto supostamente “descontrolado e caótico” (fala) para outro “controlado e bem-formado”
(escrita). Segundo ainda Marcuschi (2001), o texto oral, assim, como o escrito, está em ordem
na sua formulação e no geral não apresenta problemas para a compreensão. Sua passagem
para a escrita vai receber interferências mais ou menos acentuadas a depender do que se tem
em vista. Disso é possível depreender que tanto a língua oral quanto a escrita possuem sua
gramática, suas regras e estão organizadas de forma a cumprir o seu objetivo. No plano oral,
quando se pretende enfatizar um ou outro ponto, repetições deles, topicalizações e outros
tantos mecanismos próprios da fala. Na escrita, as repetições são cortadas e as topicalizações
aparecem como recursos recorrentes para enfatização do tema.
Ocorre nas atividades de retextualização uma atividade cognitiva denominada de
compreensão. Para se dizer de outro modo, em outra modalidade, ou em outro gênero o que
foi dito ou escrito por alguém, deve-se compreender o que esse alguém disse ou quis dizer. A
retextualização de qualquer texto pode ser a fonte de muitos problemas no plano da coerência.
Atividades de retextualização são rotinas usuais automatizadas, mas não
mecânicas, que se apresentam como ações, aparentemente, não problemáticas, uma vez que as
pessoas lidam com elas o tempo todo nas sucessivas reformulações dos mesmos textos numa
intricada variação de registros, gêneros textuais, níveis lingüísticos e estilos. Toda vez que se
repete ou se relata o que alguém falou ou escreveu, está-se transformando, reformulando,
recriando e modificando um texto em outro.
Transcrever a fala é passar um texto de sua forma sonora para a forma gráfica,
com base numa série de procedimentos convencionalizados. Obviamente, durante esse
processo ocorrerão mudanças inevitáveis. No entanto, tais mudanças não devem interferir na
linguagem e no conteúdo do discurso produzido.
Marcuschi (2001, p. 75-88) propõe nove operações recorrentes quando se traduz a
fala para a escrita. Alerta o autor, no entanto, que tais operações são apenas um modelo
heurístico e intuitivo, com o qual não se pretende chegar a resultados rigorosos. Poderiam,
segundo ele, ser agrupadas em dois grandes conjuntos:
58
1- operações que seguem regras de regularização e idealização (fundam-se nas
estratégias de eliminação e inserção);
2- operações que seguem regras de transformação (fundam-se em estratégias de
substituição, acréscimo, reordenação e condensação).
A seguir transcrevem-se as nove operações propostas pelo autor:
1ª- Eliminação de marcas estritamente interacionais, hesitações e partes de
palavras (estratégia de eliminação baseada na idealização lingüística).
2ª- Introdução da pontuação com base na intuição fornecida pela entoação das
falas (estratégia da inserção em que a primeira tentativa segue a sugestão da
prosódia).
3ª- Retirada de repetições, reduplicações, redundâncias, paráfrases e pronomes
egóticos (estratégia de eliminação para uma condensação lingüística).
4ª- Introdução da paragrafação e pontuação detalhada sem modificação dos
tópicos discursivos (estratégia de inserção).
5ª- Introdução de marcas metalingüísticas para referenciação de ações e
verbalização de contextos expressos por dêiticos (estratégia de reformulação
objetivando explicitude).
6ª- Reconstrução de estruturas truncadas, concordância, reordenação sintática,
encadeamentos (estratégia de reconstrução em função da norma escrita).
7ª- Tratamento estilístico com seleção de novas estruturas sintáticas e novas
opções léxicas (estratégia de substituição visando a uma maior formalidade).
8ª- Reordenação tópica do texto e reorganização da seqüência argumentativa
(estratégia de estruturação argumentativa).
9ª- Agrupamento de argumentos condensando as idéias (estratégia de
condensação).
É possível detectar, conforme se exporá detalhadamente no capítulo em que se
analisarão os dados detidamente, que, durante o processo de retextualização empregado no
evento “Tomada de Depoimento”, o operador do Direito, ao retextualizar a fala do
interrogando, utiliza as operações elencadas por Marcuschi (2001). Tais operações
demonstrarão, inequivocamente, que o processo de retextualização empregado nos
“Interrogatórios”, sejam eles policiais ou judiciais, acaba por modificar o primeiro sentido
imprimido pelo leigo em sua versão dos fatos e, com isso, pode vir a contribuir para a
condenação do acusado/réu.
CAPÍTULO II
A LINGUAGEM JURÍDICA
2.1 Especificidades
Há obras instrumentais pertencentes ao mundo jurídico que também se preocupam
com o uso da linguagem e suas conseqüências. Damião & Henriques (2000, p. 26) na obra
Curso de Português Jurídico, em relação à Linguagem Jurídica, expõem:
A linguagem representa o pensamento e funciona como instrumento mediador das
relações sociais. As variações socioculturais contribuem para diversificações da
linguagem, não sendo mais graves as dificuldades em razão do esforço social de
uma linguagem comum, controlada por normas lingüísticas. (...) No confronto de
posições, a linguagem torna-se mais persuasiva por perseguir o convencimento do
julgador que, por sua vez, resguarda-se da reforma de sua decisão, explicando, na
motivação da sentença, os mecanismos racionais pelos que decide. O ato
comunicativo jurídico não se faz, pois, apenas como linguagem enquanto língua,
mas também, e essencialmente, como discurso. (...) O ato comunicativo jurídico,
conclui-se, exige a construção de um discurso que possa convencer o julgador da
veracidade do “real”que pretende provar.
A Linguagem Jurídica pode ser definida, para fins deste estudo, como aquela
afeta ao mundo ou à ciência jurídica. Seria, pois, o “instrumento” por meio do qual o jurista se
comunica. Toda vez que se aborda o termo Linguagem Jurídica, pressupõe-se a alteridade e a
generalidade. As leis a todos alcançam e as relações jurídicas sempre possuem dois pólos e
ambos devem compreender seus direitos e deveres.
É a Linguagem Jurídica, indubitavelmente, técnica. Possui características
próprias, sendo considerada a “palavra” a grande ferramenta do cientista jurídico. O Direito é
uma ciência antiga que procura reger os povos de forma organizada e harmônica. O Direito
brasileiro descende, diretamente, do Direito Romano. A doutrina jurídica brasileira herdou,
dessa forma, uma inesgotável fonte de expressões latinas, que até a atualidade são utilizadas,
em larga escala, pelos profissionais do Direito. Assim, tem-se uma Ciência Jurídica atual (mas
antiga), que se utiliza da linguagem para tentar estabelecer harmonia e interação entre os
seres. No entanto, o Direito Brasileiro, embora se configure como uma ciência social,
60
desempenhando papel político e função social e possuindo como características fundamentais
a generalidade e a alteridade traz, historicamente, uma linguagem inadequada e desprovida da
cumplicidade entre seus interlocutores e, portanto, da harmonização pretendida.
É com escora no tecnicismo e na retórica persuasiva que os profissionais do
Direito utilizam uma linguagem inacessível aos seres comuns. Explica-se: seres comuns
seriam os leigos, ou seja, aqueles que não possuem formação jurídica. É por estar amparada
em um rigor excessivamente técnico, em termos arcaicos e ainda na insistência da utilização
da língua latina, que a Linguagem Jurídica não cumpre, muitas vezes, seu papel precípuo, que
é a interação social.
A Linguagem Jurídica possui como característica o sentido denotativo, objetivo.
Não devem ser utilizados recursos estilísticos ou poéticos. Entretanto, o texto jurídico reveste-
se de caráter persuasório (atos de linguagem perlocutórios); dirige-se, especificamente, ao
receptor; dele se aproxima para convencê-lo a mudar de comportamento, para alterar condutas
estabelecidas, suscitando estímulos, impulsos para provocar determinadas reações no
receptor, ou ainda, para prescrever certos tipos de condutas. Assim, a Linguagem Jurídica
adquire a denominada função conativa, aquela que possui por objeto suscitar, provocar
estímulos, utilizando, para tanto, os mencionados atos de fala (ou de linguagem)
perlocutórios, de acordo com o proposto por Austin (1965),apud Koch (1998, p. 20).
O mundo jurídico prestigia um vocabulário especializado, possuindo, assim, uma
linguagem própria e distinta da linguagem coloquial. O cerne da questão se posiciona. Não
pretende este estudo converter a Linguagem Jurídica em linguagem coloquial e até vulgar.
Respeita-se o tecnicismo que é inerente ao mundo jurídico. A crítica que se faz, entretanto, é
referente ao uso desvirtuado da Linguagem Jurídica. houve, neste mesmo trabalho,
referência ao fato de que o Direto é uma ciência social. Se a Linguagem Jurídica reveste-se de
caráter restritivo, não atinge, obviamente, toda a sociedade, como, de fato, deveria fazê-lo. Ao
excluir pela (na) linguagem, o Direito não cumpre sua função precípua de propiciar eqüidade
social.
O discurso jurídico, além de possuir uma linguagem inacessível, excessivamente
técnica, por vezes rebuscada e prolixa, distancia-se enormemente do fim a que se deve propor,
isto é, o de informar os leigos e convencer os técnicos. A questão da diferenciação entre
“dolo” e “culpa”, existente no Direito Penal Brasileiro, é bastante suficiente para exemplificar
o tecnicismo exacerbado existente na área jurídica. A definição de “dolo” resume-se à culpa
para os leigos, ou seja, quando o agente possui intenção de agir, enquanto a “culpa” refere-se
61
à falta de intenção do agente ao praticar uma ação. Ainda, como exemplo, cita-se o vocábulo
“defeso”, que significa ser proibido, na Linguagem Jurídica, enquanto normalmente, evoca-se
uma ligação de tal termo à permissibilidade, pois se relaciona cognatamente ao vocábulo
“defesa”. Não é diferente o tratamento dispensado ao vocábulo “sanção”, que, mesmo na
Linguagem Jurídica, embora possua a mesma grafia e o mesmo som, possui dois sentidos
diversos. Um primeiro relacionado à aprovação de um ato legal, e outro relativo à punição
(desaprovação) de um ato praticado contra a lei. Trata-se, pois, de uma polissemia que se
distancia do “homem comum”, mas bastante recorrente no cotidiano jurídico.
O ato comunicativo jurídico não se faz, pois, apenas como linguagem enquanto
língua (conjunto de probabilidades lingüísticas postas à disposição do usuário), mas também,
e essencialmente, como discurso. O conceito de discurso ultrapassa a linguagem pura e
simples. Nele estão inseridos a ideologia, o contexto histórico-social do sujeito. Orlandi
(2001, p. 16) analisa a conceituação de discurso dentro da perspectiva histórica e sócio-
ideológica que ele possui:
[...]os estudos discursivos visam pensar o sentido dimensionado no tempo e no
espaço das práticas do homem, descentrando a noção de sujeito e relativizando a
autonomia do objeto da Lingüística. Em conseqüência, não se trabalha, como na
Lingüística, com a língua fechada nela mesma, mas com o discursivo, que é um
objeto sócio-histórico em que o lingüístico intervém como pressuposto. Nem se
trabalha, por outro lado, com a história e a sociedade como se elas fossem
independentes do fato de que elas significam. Nessa confluência, a Análise do
Discurso critica a prática das Ciências Sociais e a da Lingüística, refletindo sobre a
maneira como a linguagem está materializada na ideologia e como a ideologia se
manifesta na língua.
Conforme exposto, o texto jurídico consubstancia-se por ser essencialmente
persuasivo. Ao se utilizarem da palavra, os profissionais do Direito objetivam convencer,
transformar o estado das coisas. É interessante observar, todavia, que seu discurso é próprio
do lugar que ocupa e do que lhe é permitido dizer (respectivamente formação ideológica e
formação discursiva
16
) e, mais apropriadamente, indicado dizer para se chegar ao objetivo
desejado. O outro interlocutor do discurso jurídico (de forma especial o acusado/réu, citado
neste estudo) não é, na grande maioria das vezes, proficiente na Linguagem Jurídica e, assim,
o uso da Linguagem Jurídica, detida por apenas um dos pólos da interlocução, prejudica a
16
Formação Discursiva é aquilo que, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórica, determina
o que pode e deve ser dito, enquanto a Formação Ideológica considera como constitutivo da fala do sujeito, o
lugar de onde ele diz (ORLANDI, 2001).
62
compreensão
17
e a comunicação entre os interlocutores. Além disso, ocorrerá,
inequivocamente, a dominação de um interlocutor sobre o outro.
Aquele que é proficiente na Linguagem Jurídica se utilizará dela para manipular e
produzir o sentido à revelia do outro.
A dialética jurídica atual chega a ser, por vezes, bastante ineficiente, havendo o
esquecimento de que sua linguagem deve ser adequada e persuasiva (jamais manipuladora, ou
dominadora). A exemplo do final do século XIX, o mundo jurídico atual ainda se atém à idéia
de uma retórica vazia, mas prioritariamente suntuosa. Resta o questionamento se essa
ausência é fruto apenas da preocupação excessiva com o embelezamento, com o preciosismo,
ou se é fruto da incapacidade profissional, ou, ainda, se é artifício de um discurso
manipulador articulado exatamente para não ser entendido. De qualquer forma, a Linguagem
Jurídica deveria promover, especialmente, o convencimento de seu receptor; e a não
interação (falta de consenso) entre os interlocutores somente pode ser considerada danosa ao
processo de harmonização da sociedade, fim primordial da Ciência do Direito e da Ciência da
Linguagem.
Ainda se atendo ao caráter restritivo da Linguagem Jurídica, denota-se que esta,
muitas vezes, não é utilizada como produto da compreensão dos sentidos expressos durante a
interação, chegando a ser possível inferir desse uso indícios de uma dominação. O exercício
do poder via palavra no mundo jurídico evidencia-se na medida em que não há compreensão e
o discurso não é formado colaborativamente pelos sujeitos da fala, mas apenas pelo detentor
do poder jurídico. O discurso jurídico se forma e é formador de/em um gueto profissional e
social. O mundo jurídico e sua linguagem são únicos e não se misturam. Com o
distanciamento lingüístico, muitas vezes, os operadores do Direito acabam dominando. Em
face disso, os outros mundos tornam-se “capengas” diante da ausência da interação com o
mundo jurídico, que é, obviamente, essencial, se não determinante à composição social.
Quanto ao distanciamento provocado, inclusive pelo uso da língua, entre o mundo
jurídico e a sociedade, importante trazer à baila os estudos de Chafe (1982) sobre o
distanciamento evidenciado na língua escrita. Para o autor, a língua escrita possui
características que demonstram distanciamento entre o evento e a linguagem, por meio de
várias estratégias, enquanto na língua falada o falante se envolve e a linguagem está mais
próxima do evento retratado.
17
Para Orlandi (2001, p. 26), “compreender é saber como um objeto simbólico (enunciado, texto, pintura,
música etc.) produz sentidos. É saber como as interpretações funcionam.(...) A compreensão procura a
explicitação dos processos de significação presentes no texto e permite que se possam “escutar”outros sentidos
que ali estão, compreendendo como eles se constituem.”
63
Ensina Chafe (1982, p.45 e 48):
The detached quality of written language is manifested in devices wich serve to
distance the language from specific concrete states and events. Such a device in
English is the passive voice, wich suppresses the direct involvement of an agent in
an action. (...) whereas written language fosters the kind of detachment evidenced in
the use of passives and nominalizations, spoken language shows a varitey of
manifestations of the involvement are references to the speaker, references to the
speaker’s mental process, devices for monitoring the flow of information, the use of
emphatic particles, fuzziness, and the use of direct quotes.
(A qualidade distanciadora da linguagem escrita é manifestada em mecanismos que
servem para o distanciamento da linguagem de eventos e estados específicos
concretos. Assim, uma estratégia em inglês é a voz passiva, com supressão do
envolvimento direto de um agente em uma ação (...) ao passo que a linguagem
escrita promove o tipo de distanciamento evidenciado no uso de passivas e
nominalizações, a linguagem falada mostra que uma variedade de manifestações do
envolvimento são referências ao falante, referências ao processo mental do falante,
estratégias para o monitoramento do fluxo da informação, o uso de partículas
enfáticas, desfocalizações e o uso de citações diretas.)
[Tradução de minha responsabilidade]
O operador do Direito, ao retextualizar a fala do acusado/réu, produzindo um
texto escrito, evidencia, por meio de certas estratégias lingüísticas, o referido distanciamento
mencionado por Chafe (1982), procurando não se envolver, como o faz o acusado/réu.
Conforme se irá demonstrar por meio da análise detida de algumas estruturas lingüísticas
constantes no corpus da pesquisa, o operador do Direito recorre, não raras vezes, a estratégias
que irão provocar seu distanciamento ou, pelo menos, a tentativa de não se envolver, como
faz o leigo.
A Linguagem Jurídica, mesmo quando não é fruto da retextualização, como no
caso de leis, doutrinas, sentenças e quaisquer outras peças originariamente escritas, também
apresenta, como característica, o distanciamento.
As leis e outros documentos emanados pelo mundo jurídico destinam-se a dirigir
comportamentos humanos para que atuem de forma socialmente desejada. A clareza e a
integração numa estrutura estável são essenciais. A lei nem é verdadeira, nem falsa,
ultrapassando ainda a questão do justo ou injusto, mas a direção. Assim, deve ser
compreensível a todos, aplicável com rapidez e eficiência. Não obstante, o que se
comumente é o contrário.
As leis feitas “pelo povo e para o povo”, quando divulgadas, são ininteligíveis ao
“homem médio”. Importante esclarecer que o “homem médio”, expressão própria da
Linguagem Jurídica, não se refere ao tamanho do homem que não é muito alto, ou muito
baixo, mas ao homem comum, tomado como padrão em uma análise jurídica. Ainda se faz
64
necessário, neste estudo, constar que a divulgação das leis brasileiras é realizada em órgãos
oficiais, através de impressos de nenhuma circulação em meio à população. Ressalte-se, mais
uma vez, que os receptores da legislação são toda a população. A divulgação pelos órgãos de
imprensa comuns é quase inexistente e, quando o é, a imprensa divulga leis realizando
recortes e interpretações equivocadas, atendendo a interesses de alguns grupos e,
conseqüentemente, não produzindo a compreensão almejada. Relativamente aos vocábulos
inseridos nos textos legais e naqueles que os interpretam, um excesso de linguagem
técnica, contradições, arcaísmos que prejudicam o intercâmbio entre os mundos. A legislação,
assim elaborada e mal difundida, em muitos casos, não é compreendida e, portanto, é, em
larga escala, descumprida, produzindo desarmonia.
No Direito Penal, que regulamenta as condutas consideradas crimes, aplica-se um
princípio básico do Direito que menciona ser inescusável o desconhecimento da lei para se
deixar de cumpri-la. Assim, se um indivíduo pratica uma conduta prevista por lei como crime,
mesmo que alegue o mero desconhecimento deste dispositivo legal, será ele responsabilizado
pelo delito praticado. Ora, se as leis brasileiras são divulgadas, em geral, apenas por órgãos do
governo, inacessíveis à população, possuindo em seus textos palavras ininteligíveis, como
pode o profissional do direito presumir o conhecimento da lei e ainda punir o cidadão comum,
mesmo quando esse alega desconhecer o dispositivo legal infringido? É impossível ao
“homem médio” conhecer todos os dispositivos legais vigentes no país. Primeiro, porque são
inúmeros. A todo dia são publicados novos textos legais. Além disso, como se delineou, não
uma publicação que realmente publicidade adequada aos atos legais. E como se tudo
isso não bastasse, a linguagem utilizada, por vezes, é inadequada, que inacessível à
maioria da população.
Muitos profissionais do Direito, quando consultados por leigos que necessitam de
esclarecimentos a respeito de questiúnculas’ jurídicas, insistem em utilizar dessa
mencionada linguagem inadequada, não produzindo, assim, qualquer comunicação, ou
conhecimento. Não co-autoria colaborativa na construção do discurso. No mundo jurídico,
os únicos sujeitos do discurso que possuem ‘voz’ são os que detêm conhecimento jurídico. A
linguagem é o grande portão que impede o homem comum de transitar por um mundo que
não lhe pertence. Caso haja a ousadia, será esse homem, muitas vezes dominado, pois seu
saber lingüístico é insuficiente para lhe propiciar conhecimento e contribuir na construção do
discurso.
Aliado a tudo isso, o mundo jurídico ainda se vale das expressões latinas para
evidenciar seu já não pequeno afastamento da realidade comum. Não menosprezando a língua
65
latina, que, sabe-se, é extremamente importante no estudo diacrônico da linguagem, é ela uma
língua morta, que, entretanto, sobrevive, com todo vigor, no mundo jurídico.
Os brocardos latinos entremeados às expressões arcaicas e pedantes formam um
verdadeiro museu lingüístico, que muitos profissionais do direito insistem em utilizar como
adereço de suas retóricas vazias, desprovidas de persuasão. Parece ser exatamente quando se
carece de argumentação legal ou jurídica que mais se vale dos preciosismos que, na maioria
das vezes, não se prestam à argumentação jurídica pertinente à causa e nem mesmo à
construção colaborativa do sentido durante a interlocução realizada entre o leigo e o operador
do Direito.
Data venia
18
, um uso indiscriminado e pernicioso de repetidas expressões
como: data venia (com a devida permissão para discordar), de cujus (o falecido), ex officio
(em função, em decorrência do ofício), ad hoc (para caso específico, determinado), ab initio
(desde o início, a partir do início), erga omnes (para com todos, em relação a todos, de caráter
geral), in loco (no próprio local), mutatis mutandis (mudado o que deve ser mudado), ex vi
(por efeito, em decorrência da força), status quo (no estado em que se acha uma questão), sine
die (sem data estabelecida, sem dia definido), sine qua non (indispensável, obrigatória), sub
judice espera de julgamento), e uma infinidade de outras, que muito pouco acrescentam de
conteúdo aos textos jurídicos, funcionando tão somente como preciosismo, retratando, em
muitos casos, o arcaísmo e a inadequação que revestem a Linguagem Jurídica.
2.2 Princípios gerais do Direito Processual Penal
Ainda neste capítulo que destaca a Linguagem Jurídica, cabe a exposição sobre os
princípios gerais do Direito Processual Penal, que subjazem ao uso da Linguagem Jurídica
durante os atos do inquérito policial ou do processo penal propriamente dito.
O Direito Processual Penal é um ramo do Direito Público que, segundo Marques
(2000, p. 16), pode ser definido como “o conjunto de princípios e normas que regulam a
aplicação jurisdicional do Direito Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia
Judiciária, e a estruturação dos órgãos da função jurisdicional e respectivos auxiliares.”
Tourinho Filho (2003, p. 13), em seu Manual de Processo Penal, reafirma a
definição de Marques, acrescentando que a persecução penal está também regulamentada
pelos princípios e normas que formam o Direito Processual Penal.
18
Insere-se, no contexto, como marcador discursivo, o data venia, como exemplo recorrente de uso na
linguagem jurídica.
66
No Processo Penal, de um lado, um dos sujeitos é o Estado soberano, representado
pelo operador do Direito (no caso desta pesquisa, o Delegado de Polícia ou o Juiz de Direito),
titular do interesse coletivo e que se situa numa relação de subordinação (pelo menos
sociocultural e lingüística) do particular (no caso desta pesquisa o acusado ou réu).
Processualmente, alegação de que não subordinação jurídica entre as partes
do processo; no caso do processo penal, o Juiz, o Ministério Público e o Réu. No entanto,
durante a Tomada de Depoimento de um réu ou acusado fica patente a subordinação cultural e
lingüística do inquiridor sobre seu inquirido.
Ressalte-se ainda que, como ciência, princípios que norteiam as normas e
princípios que regulamentam a aplicação do Direito Penal, ou seja, princípios que regem o
Direito Processual Penal. Dessa forma, os princípios não serão aplicados aleatoriamente.
Como qualquer outro Direito, o Processo Penal está adstrito às normas constitucionais. Além
disso, há preceitos que irão regê-lo.
Mirabete (2006), reconhecido processualista da área penal do Direito Brasileiro,
enumera, em sua obra, Processo Penal, vários desses princípios.
O primeiro deles seria o princípio da presunção de inocência, ou seja, até que
haja uma sentença condenatória transitada em julgado, ninguém pode ser considerado
culpado.
Um segundo princípio é o do contraditório, segundo o qual o acusado goza do
direito de defesa, sem restrições, num processo em que deve ser assegurada a igualdade das
partes. Assim, tem-se também o princípio denominado devido processo legal. Due process
of law, princípio oriundo da Constituição Americana, consiste no direito de a pessoa não ser
privada da liberdade e de seus bens, sem a garantia que supõe a tramitação de um processo
desenvolvido na forma que estabelece a lei
Um terceiro princípio que instrui o Processo Penal é o da verdade real, pelo qual
se deve procurar a averiguação e o descobrimento da verdade real, da verdade material com
fundamento na sentença. Não se pretende a transação ou o atendimento a interesses
particulares, mas sim o bem da coletividade, a consideração dos interesses indisponíveis.
Deriva-se disso um outro princípio que é o do livre convencimento, de acordo como qual o
Juiz, para julgar, deve se convencer com base no que foi trazido aos autos, usando de
racionalidade, evitando-se, destarte, os julgamentos parciais.
Um quarto princípio enumerado por Mirabete (2006, p. 25) é o da oralidade.
Segundo o autor, as declarações perante os juízes e tribunais possuem eficácia quando
formuladas através da palavra oral. Por meio desse princípio, é possível detectar a importância
67
da oralidade, do diálogo durante o processo penal. Outro corolário da oralidade é a
imediatiedade (ou imediação), consistente na obrigação de o Juiz ficar em contato direto com
as partes. É pois, obrigação do Juiz, pessoalmente, interrogar o réu.
A oralidade é princípio de extrema importância no Processo Penal. A entrevista
entre o acusado e o Delegado e entre o réu e o Juiz, denominada de depoimento, é
imprescindível, tornando o processo nulo se inexistir
19
. O diálogo a ser empreendido entre
Juiz da causa e o réu do processo é tão importante que o julgador pode, não residindo o réu na
comarca, determinar que o réu compareça à sua presença a fim de interrogá-lo. Demonstra-se,
dessa forma, a importância que se à oralidade, ao diálogo, à interlocução presente entre o
operador do Direito e o réu no Processo Penal.
Note-se, não obstante, que o diálogo estabelecido entre o operador do Direito e o
acusado/réu é assimétrico, isto é, um dos interlocutores detém o controle da conversa. É tão
assimétrico que o acusado/réu deve apenas se manifestar quando lhe for permitido pelo
operador do Direito. O poder do operador do Direito se dá, portanto, também por meio da
forma em que o diálogo se estabelece. Produzindo uma ilação, é possível dizer que o poder do
Delegado de Polícia e do Juiz de Direito durante o interrogatório do acusado/réu se pela
forma (interação assimétrica) e pela matéria (uso de recursos lingüísticos).
Alves (1992), em sua dissertação A decisão interpretativa da fala em
depoimentos judiciais, estabelece a assimetria do evento Tomada de Depoimento, quando o
caracteriza como diálogo coercitivo e/ou controlado pela autoridade institucionalizada.
Dispõe a autora (1992, p. 77):
Diante das características do evento é fácil concluir que a assimetria é o traço
discursivo mais saliente da TD. É a autoridade institucionalizada, ou coercitividade,
que a caracteriza. O exercício do controle social formal assegura ao magistrado o
poder. Os seus direitos extrapolam os limites discursivos e as normas interacionais
usuais. que a quebra das leis do discurso é sistemática, dá-se o surgimento da
interação institucionalizada.
O quinto princípio enumerado é o da publicidade dos atos processuais,
profundamente ligado à humanização do processo penal, que se contrapõe ao procedimento
secreto, característica do sistema inquisitório.
A regra dos atos processuais é que todos eles sejam públicos, a não ser que haja
algo que impeça a publicação deles, o que seria, portanto, uma exceção à regra. Assim, com
19
Não se fala em Inquérito Policial nulo. Não obstante, impossível pensar em um Inquérito Policial eficaz se não
existir, quando possível e em sendo o acusado encontrado, o depoimento deste. O depoimento do acusado/réu
constitui-se, inclusive, como uma das provas sobre a qual pode se fundamentar a decisão judicial absolutória ou
condenatória.
68
base nesse princípio torna-se mais fácil o acesso aos tribunais e às delegacias para gravação
de depoimentos prestados por réus/acusados, já que tal procedimento é público.
O sexto princípio é o da obrigatoriedade, ou da legalidade; é aquele que obriga o
Estado a tomar providências diante da ocorrência de um fato criminoso. Assim, é obrigação
do Delegado de Polícia instaurar o inquérito policial e do promotor de justiça promover a ação
penal, diante de uma prática criminosa.
O sétimo princípio é o da oficialidade, segundo o qual somente os órgão oficiais
possuem o ônus da pretensão punitiva.
O oitavo princípio é o da indisponibilidade do processo. De acordo com esse
princípio, uma vez instaurado o processo penal e o inquérito policial, esses não mais podem
ser arquivados.
O nono princípio é o do Juiz natural, ou do Juiz constitucional, ou seja, de que o
autor do ilícito possa ser julgado perante o órgão previamente criado para tal, por
autoridade competente. Vedam-se, assim, os tribunais de exceção.
O décimo princípio surge dividido em dois: iniciativa das partes e impulso
oficial. Sendo o direito de ação penal o de invocar a tutela jurisdicional-penal do estado, é
evidente que deve caber à parte ofendida a iniciativa de propô-la, não se devendo conceder ao
Juiz a possibilidade de deduzir a pretensão punitiva perante si próprio. Mas, uma vez proposta
a ação, o processo se desenvolve, seguindo a ordem do procedimento, até sua conclusão, o
que se denomina deimpulso oficial.
Há ainda outros princípios enumerados por outros processualistas, como o da
imparcialidade do Juiz, segundo o qual o Juiz não pode pender para nenhum dos lados. É
inadmissível o Juiz parcial. No caso do processo penal, o Juiz deve, pois, apurar a verdade
real e prolatar uma decisão justa, que não beneficie nem prejudique o réu, apenas que seja
justa.
No caso específico desse princípio deve-se retomar os estudos de Chafe (1982),
quando se refere ao envolvimento/distanciamento. Visando à imparcialidade, o Juiz deve se
distanciar das questões fáticas e emocionais, mantendo sua visão estritamente jurídica sobre a
lide. Dessa forma, o seu não envolvimento traduz-se no distanciamento que se evidencia na
linguagem, especialmente no resultado das atividades de retextualização empreendidas
durante asTomadas de Depoimento.
O princípio do duplo grau de jurisdição visa a que as decisões proferidas nas
instâncias inferiores sejam apreciadas novamente por um órgão colegiado. Esse princípio
69
pressupõe a fragilidade humana e insere um artifício para se corrigir o que se tenha,
porventura, equivocado.
Um outro princípio que se afigura é o da igualdade das partes. De acordo com
tal princípio, os pólos da relação jurídica são opostos, mas as condições em que litigam
devem ser as mesmas. Uma preocupação que se levanta é se as condições sociais/lingüísticas
são tratadas igualmente durante o interrogatório do réu. É certo que, durante o interrogatório,
não a participação da outra parte, que é o Ministério Público. Mas a vítima, quando
inquirida, passaria pelas mesmas “coerções” (pelo menos lingüísticas) que o réu?... Esse
aspecto seria uma discussão para um outro trabalho bem mais aprofundado, mesmo porque
depoimentos prestados por vítimas não fazem parte do corpus desta pesquisa. Entretanto,
deve-se levar em conta um outro princípio de muita força que norteia o Processo Penal
Brasileiro que é o princípio do favor rei (benefício do réu). Este princípio é o primeiro a
nortear a legislação penal de um Estado e sua vida política, que está alicerçado em um
critério superior de liberdade. É com base nesse princípio que todas as interpretações em um
processo penal devem se dar em favor do réu. Desse modo, esse princípio torna-se muito útil
quando se forem analisar os discursos/linguagens construídos durante as Tomadas de
Depoimento.
Foram referidos alguns princípios embasadores do Direito Processual Penal.
Obviamente, não se pretendeu o exaurimento do tema e, muito menos, uma discussão
profunda a respeito de tais princípios. Todavia, é imperioso mencionar que, embora não se
trate este estudo de um aprofundamento no campo das ciências processuais penais, os
princípios ora enumerados não são taxativos e absolutos. Cabem, contra eles, várias exceções
que, de certo modo, proporcionarão nuances interessantes nesse campo, merecedoras,
inclusive, de estudos vastos. Assim é o que acontece, por exemplo, quando não provas
contundentes sobre um fato, mas todos os indícios e demais circunstâncias levam à suposição
de que alguém haja cometido um crime e esse alguém vem a ser condenado pela prática desse
crime. Definitivamente, o princípio do favor rei foi mitigado em face da verdade real e de se
pretender atender o interesse da coletividade.
Conforme se delineou, este trabalho não se constitui como uma teorização
profunda a respeito do Processo Penal. Está, inequivocamente, afeto aos estudos lingüísticos,
apenas transitando pela esfera processual penal, uma vez que são analisados os
procedimentos, especialmente os lingüísticos, que ocorrem durante as Tomadas de
Depoimentos de réus/acusados em delegacias e fóruns. Não obstante, retomando
oportunamente o disposto na legislação, o artigo 188 do CPP prescreve:
70
Art. 188. O réu será perguntado sobre seu nome, naturalidade, estado, idade,
filiação, residência, meios de vida ou profissão, onde exerce a sua atividade e se
sabe ler e escrever, e, depois de cientificado da acusação, será interrogado sobre:
I- onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta;
II- as provas contra ele já apuradas;
III- se conhece a vítima e as testemunhas inquiridas ou por inquirir, e desde
quando, e se tem o que alegar contra elas;
IV- se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer dos
objeto que com esta se relacione e tenha sido apreendido;
V- se verdadeira a imputação que lhe é feita;
VI- se, não sendo verdadeira a imputação, tem algum motivo particular a que
atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a que deva ser imputada a prática do
crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou
depois dela;
VII- todos os demais fatos e pormenores, que conduzem à elucidação dos
antecedentes e circunstâncias da infração;
VIII- sua vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, no
caso afirmativo, qual o juízo do processo, qual a pena imposta e se a cumpriu.
Parágrafo único. Se o acusado negar a imputação no todo ou em parte, será
convidado a indicar as provas da verdade de suas declarações.
Após a formalização das partes introdutórias do depoimento judicial (formulaicos
linguagem descritiva), cumprindo-se o procedimento legal (especialmente o artigo 188 do
CPP), o réu passa a relatar os fatos (narrativa). É importante observar que as perguntas são
feitas pelo Delegado de Polícia e pelo Juiz de Direito tentores do saber jurídico o
acusado/réu modo geral leigo e humilde sem intervenção de qualquer das partes:
advogado de defesa e promotor de justiça (acusação). O relato oral do acusado/réu é
retextualizado pelo Juiz de Direito que dita para a escrivã o texto formalizado, de acordo com
o seu “saber e entendimento” e, principalmente, de acordo com seu objetivo.
Durante o relato do acusado/réu, este tenta, invariavelmente, se defender,
alegando na maioria das vezes, sua inocência e, se não esta, pelo menos atenuantes que
possam minorar sua pena. Todavia, é possível denotar que a construção do texto jurídico,
embora se atenha ao procedimento previsto no artigo 188 do CP, especialmente por meio das
operações de retextualização tendentes ao distanciamento proposto por Chafe (1982), pode,
não raras vezes, conduzir à condenação do acusado/réu e não se circunscrever ao
esclarecimento dos fatos.
2.3 Os estudos de Alves (1992) e de Jönsson & Linell (1991)
Tanto Alves (1992) quanto Jönsson & Linell (1991), em seus trabalhos,
apresentam análises das transformações da fala para a escrita em situações formais. O
71
primeiro trabalho analisa depoimentos prestados na Justiça Brasileira, enquanto o segundo
trabalho apresenta uma perspectiva de depoimentos prestados perante a Polícia.
A análise apresentada por Alves (1992) baseia-se em dois critérios: uma descrição
etnográfica das condições de produção do evento Tomada de Depoimento e uma descrição
dos aspectos lingüísticos desse mesmo evento.
Alves (1992) não se refere, em seu trabalho, à passagem de um texto para outro
como “retextualização”, termo criado mais tarde por Travaglia (1993), conforme mencionado
anteriormente e adotado por todos, a partir de então.
Alves (1992) menciona a passagem da fala para a escrita nos depoimentos
judiciais como uma “tradução intralingual” ou “reformulação” de um texto para outro que não
corresponde a uma simples paráfrase, que, em decorrência das interferências do operador
do Direito e da assimetria das condições de produção do evento, ocorre uma decisão
interpretativa da fala daquele que está prestando o depoimento, construindo, destarte, o
operador do Direito o sentido do texto-documento de forma intuitiva. Dessa forma descreve,
em suas reflexões finais, a autora:
A tese de que decisão interpretativa da fala na consignação de depoimentos
judiciais é comprovada a partir de evidências textuais. O autor do texto-documento é
o mediador. A afirmação pode ser aferida no cotejo dos dois textos. A densidade
informacional, a organização da argumentação e a unidade de sentido obtida pelo
texto-documento decorrem das transformações processadas pelo mediador.
(ALVES, 1992, p. 190)
Tal estudo baseou-se em seis depoimentos prestados em audiências de instrução e
julgamento do Tribunal do Júri. Note-se que, se se trata de audiências de instrução e
julgamento, hão de ser inquiridas testemunhas que prestam o compromisso de dizer a verdade,
sob pena de responderem pela prática do Delito de Falso Testemunho, passível até de prisão.
Por outro lado, esses eventos são tidos como de grande relevância, que tais audiências
dizem respeito aos rituais de julgamento dos crimes dolosos contra a vida.
Assim como nas inquirições dos acusados/réus, às quais este estudo se
circunscreve, nos textos-documentos relativos aos depoimentos de testemunhas tratados por
Alves (1992) também o apagamento das perguntas que o operador do Direito faz ao
depoente, o que, a princípio, poderia implicar a descaracterização do evento como inquérito e
a omissão de uma das condições de enunciação. Tais condições, conforme afirmado pela
autora, dificultam a investigação, principalmente das marcas lingüísticas do evento, pois
somente se tem acesso aos textos escritos, ou seja, aos Termos de Depoimentos.
72
Com a gravação do oral e sua transcrição respectiva que é confrontada com o
texto escrito, é possível encontrar as marcas da enunciação evidenciadas pela substância
lingüística e, dessa forma, constatar as modificações, inclusive de conteúdo que ocorrem
durante o processo. Nesse sentido, novamente é preciso citar Alves (1992, p. 187):
As informações e episódios narrados recebem tratamento, por parte do mediador (o
Juiz), que os distancia de seus conteúdos proposicionais originários. As
transformações são processadas em decorrência da rotulação, especificação e
classificação dos ‘fatos’ a partir de critérios inerentes à ideologia subjacente à
instituição jurídica. (...) A mediação requer momentos criativos e decisivos,
prevalece o texto do mediador como mostram as evidências textuais da análise.
Trata-se da transformação crucial da fala em escrita, um procedimento delicado e até
traiçoeiro.
As condições de produção existentes durante tais Tomadas de Depoimentos”,
inclusive com a coerção lingüística exercida durante a inquirição, geram obstáculos à co-
construção do sentido no ambiente jurídico, perfazendo-se como obstáculos durante a
interlocução decorrentes da diversidade sócio-cultural dos interlocutores.
Alves (1992) conclui seu trabalho com o alerta aos estudiosos do funcionamento
discursivo na instituição jurídica de que há, na interlocução estabelecida nas audiências de
instrução e julgamento do Tribunal do Júri, uma decisão interpretativa e intuitiva da fala do
depoente.
Jönsson & Linell (1991) apresentam um estudo sobre interrogatórios policiais, em
que aduzem duas versões dos fatos existentes nesses eventos. Uma primeira, em que o
interrogando relata, oralmente, sua versão dos fatos ao policial; e uma segunda, que se passa
on line, em que o policial escreve a versão relatada a ele. Assim, também no estudo de
Jönsson & Linell (1991) haverá o confronto entre a língua oral e a escrita, em um mesmo
evento formal, que é o interrogatório policial.
Necessário, não obstante, delinear algumas diferenças, até mesmo etnográficas,
entre o evento descrito por nsson & Linell (1991) e o evento Tomada de Depoimento
(Interrogatório Policial) apresentado no presente estudo. Nas Delegacias de Polícia do Brasil,
conforme já exposto, o Delegado de Polícia procede ao interrogatório do acusado, nos moldes
judiciais, realizando perguntas orais, que são respondidas oralmente e, posteriormente, ditadas
ao Escrivão de Polícia que, por sua vez, apenas as consigna em termo próprio.
Jönsson & Linell (1991) apresentam outra forma de interrogatório em que o Chefe
de Polícia, ao interrogar o acusado, ele mesmo escreve, concomitantemente, o que lhe foi
relatado, ressaltando que os interrogatórios aludidos por esses autores ocorrem em uma sala,
onde se encontram apenas o interrogando e o policial.
73
Os estudos de Jönsson & Linell (1991) baseiam-se em 30 interrogatórios de
suspeitos de terem praticado algum crime não relevante contra o patrimônio. a descrição
etnográfica dos eventos e a transcrição do que foi chamado “Police interrogation case number
20”, em relação ao qual houve detida análise.
Os autores apontam as transformações existentes na passagem do oral para o
escrito durante o evento de interrogatório do suspeito pelo policial. Dando ênfase para o fato
de que o texto oral é dialógico, enquanto o escrito é monológico, os autores propõem que o
“relatório em prosa do policial” (texto escrito produzido em prosa durante a entrevista do
policial e do suspeito anotações do policial) possui uma estrutura narrativa claramente
elaborada e uma perspectiva legal relevante. Além disso, ainda asseveram que as
transformações da fala para a escrita envolvem mudanças que indicam a transformação do
vago para o preciso, de uma relativa incoerência para uma coerência
20
e uma cronologia clara.
Jönsson & Linell (1991), como resultado de seu estudo, registram que o relatório
escrito do policial é quase três vezes menor que a transcrição do diálogo estabelecido entre
esse e o suspeito, quanto ao fato criminoso, ressaltando, no entanto, que, embora o texto
escrito seja menor, possui um nível de informação mais alto, no que tange a conteúdo. Além
disso, os turnos conversacionais produzidos pelo suspeito possuem mais interrupções e
incompletudes, utilizando mais frequentemente de estruturas coordenadas, por meio do
conector and, enquanto o policial produz orações subordinadas utilizando conectores como
when, and, that, who, which.
Os resultados sobre as “diferenças lingüísticas” ainda apontam para o uso no
relatório escrito do policial de frases nominais, bem como para as mudanças lexicais e
morfológicas que ocorrem na passagem do oral para o escrito. Entre outros tantos aspectos,
Jönsson & Linell (1991) citam vários exemplos em que o relato oral produzido durante a
interação demonstra um tom emocional, enquanto o relato escrito do policial busca sempre
um tom neutro. Os autores chegam a mencionar que, de acordo com o estilo lingüístico do
relatório escrito, o que é vago na oralidade ‘deve ser eliminado’ na escrita. Sob essa
perspectiva, os autores comentam uma passagem do relato oral para o escrito do caso número
20 em que, no oral, a descrição emocional do fato criminoso e, no escrito, a descrição
racional, conforme se vê:
20
Importante ressaltar que a transformação de uma certa incoerência na fala para uma coerência na escrita deve
se restringir à organização da própria escrita, pois a linguagem oral possui sua própria estrutura, com hesitações,
truncamentos, gaguejos, o que não pode ser entendido como incoerência e como sendo a oralidade incoerente.
74
The report provides another account of the causalities involved in the story told. The
suspect tells his story of how the two, more or less suddenly and unintentionally, it
seems, ended up in a situation which came to have some unfortunate consequences
for them. Somehow, they were the victims of circumstances; something befell them.
By contrast, the police report tells a story of rational and controlled actions based
on clear decisions: ‘then they estabilished that..., they decided to try to
appropriate...’etc.
(O relato estabelece outra descrição de causalidades implicadas na história contada.
O suspeito conta sua história de como os dois, mais ou menos de repente e não
intencionalmente, parece, acabaram em uma situação que veio a ter alguma
conseqüência infeliz para eles. Por alguma razão, eles foram as vítimas das
circunstâncias; alguma coisa aconteceu a eles. Ao contrário, o relatório do policial
conta uma história de ações racionais e controladas baseadas em decisões claras:
‘então eles estabeleceram que..., eles decidiram tentar apropriar... etc’.)
[Tradução de minha responsabilidade]
Assim, os dados coletados por Jönsson & Linell (1991) apontam algumas
diferenças resultantes da passagem do relato oral produzido durante uma situação de interação
formal entre um policial e o suspeito e o relato escrito do policial relativo à entrevista. Tais
diferenças ou mudanças revelam, em linhas gerais, que há uma redução de material lingüístico
natural, própria da organização da escrita, mas, sobretudo, um distanciamento do policial em
relação aos fatos, conforme proposto por Chafe (1982).
O relato oral interlocutivo é entremeado de estruturas coordenadas, não havendo
condensação de idéias e o envolvimento também mencionado por Chafe (1982) é recorrente.
o relato escrito possui a organização e o enxugamento próprios da escrita e a perspectiva
legal, inexistentes no relato oral.
Conforme se verá no capítulo 3 deste trabalho Apresentação e análise dos
dados embora os dados aqui coletados tenham uma ocorrência diversa, que o evento
Tomada de Depoimento” nas Delegacias de Polícia brasileiras desenrola-se de maneira
diferente conforme descrição do Triângulo Interlocutivo (Figura 1) semelhanças nas
mudanças que ocorrem na passagem do oral para o escrito, como o envolvimento e o
distanciamento citados por Chafe (1982) e agora por Jönsson & Linell (1991). Importante
ainda evidenciar o proposto no trabalho de Jönsson & Linell (1991) sobre a lógica legal
imprimida no relato escrito, que também se evidenciará na análise dos dados constantes do
corpus deste estudo.
CAPÍTULO III
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
Assim como na análise efetuada por Alves (1992) A decisão interpretativa da
fala em depoimentos judiciais o propósito básico também neste estudo é descrever o que as
pessoas fazem quando interagem durante uma Tomada de Depoimento; e como isso se
apresenta no produto final e com qual objetivo as pessoas optam por certas construções
lingüísticas.
Conforme exposto no item 2.2 Princípios gerais do Direito Processual
Penal os atos processuais penais são, em regra, públicos. Assim, também as audiências
relativas aos processos penais, assim como os interrogatórios ocorridos em Delegacias de
Polícia são públicos e, portanto, podem ser observados e até gravados por qualquer
interessado. Isso se justifica porque, quando acontece um crime, houve lesão à ordem
estabelecida pelo Estado e o processo respectivo, portanto, visa a proteger o interesse do
Estado e da coletividade, razão pela qual se justificam os atos acontecerem sempre de portas
abertas, pois são, pelo menos em tese, do interesse de todos.
Não obstante o fato de as audiências serem públicas, necessário esclarecer que a
pesquisadora fez contato, primeiramente, com dois juízes de comarcas diferentes e em épocas
diferentes, pedindo-lhes permissão para a gravação dos interrogatórios, explicando a natureza
da pesquisa em andamento. Também solicitou, aos colegas de Delegacia de Polícia,
autorização para gravação dos sete interrogatórios policiais
21
.
Esclarece-se que os dados que se apresentarão em seguida, retirados dos quatorze
interrogatórios, sete dos quais em sede de Delegacia de Polícia e sete transcorridos em
Fóruns, são autênticos, acontecidos em tempo real e de acordo com as regras do processo
penal. Os termos de depoimentos (escritos) instruem os seus Inquéritos Policiais e Processos
Judiciais respectivos.
21
É importante frisar que a regra do processo penal é a publicidade. Portanto, totalmente desnecessárias tais
autorizações. Caso houvesse qualquer óbice quanto ao acesso de tais dados, isso deveria constar no processo
e/ou no inquérito policial e oDelegado/Juiz inviabilizaria o acesso aos dados.
76
Em nenhum momento, houve qualquer modificação do evento em face da
gravação das falas. Assim, os dados pertencentes à língua falada e de sua retextualização para
a modalidade escrita do gênero depoimento estão, pelo menos nesse sentido, isentos de
artificialidade ou de preparação de seus interlocutores, como geralmente ocorre quando as
pessoas percebem que suas falas estão sendo gravadas e tentam “melhorar” a fala,
objetivando, invariavelmente, aproximá-la do registro culto.
No evento Tomada de Depoimento policial e judicial, o acusado/réu não se
preocupa se sua fala está ou não sendo gravada e o profissional do Direito também não se
preocupa com isso, pois ambos estão atentos ao Processo e/ou ao Inquérito, um exercendo seu
munus público e o outro intimado legalmente a prestar suas declarações. Muitas vezes, o
gravador, sequer, é percebido pelos interlocutores.
Mesmo diante da publicidade das audiências mencionadas, em nome da ética
procurou-se, nos dados, omitir nomes dos envolvidos e outros dados de identificação,
omitindo-se, até mesmo, os nomes dos operadores do Direito que participaram do evento. Os
locais e as datas dos eventos, bem como os números dos processos foram mantidos para se
comprovar, mais uma vez, a autenticidade dos dados.
Não se pretende, conforme exposto, fazer deste trabalho uma observação
etnográfica dos acontecimentos denominados Tomadas de Depoimento” e de seus atores. No
entanto, é preciso esclarecer como as audiências acontecem, de que forma são construídos os
interrogatórios a fim de que a análise das produções lingüísticas ali transcorridas não se
distancie do caráter sócio-histórico do qual, definitivamente, estão revestidas.
Assim, retomando o item Procedimentos Metodológicos deste estudo, é
inegável a maior formalidade imprimida aos depoimentos judiciais. Nas Tomadas de
Depoimentos que ocorrem em Delegacias de Polícia, além da proximidade temporal com a
prática do evento delituoso, também parece haver uma proximidade maior entre ooperador do
Direito e o acusado.
Conforme exposto nos Procedimentos Metodológicos, as transcrições dos
depoimentos orais e suas retextualizações respectivas, estas últimas constituindo os termos de
depoimentos, formam o Anexo deste trabalho. Somente alguns trechos dos quatorze
depoimentos serão analisados no corpo da pesquisa. Isso se deve ao fato de que seria inviável
efetuar a análise de quatorze depoimentos na íntegra num trabalho de dissertação de mestrado.
Além de desnecessário ao objetivo a que se propõe, já que as estruturas lingüísticas, conforme
mencionado, tornam-se bastante parecidas, o exíguo tempo seria insuficiente para tanto,
além da repetição tornar a leitura bastante enfadonha.
77
Dessa forma, detalhando o que foi especificado nos procedimentos
metodológicos, parte introdutória deste trabalho, os depoimentos constantes do Anexo foram
organizados em ordem cronológica. Primeiramente são apresentados os depoimentos
judiciais: cada transcrição seguida de sua retextualização e, posteriormente, os depoimentos
policiais, da mesma forma.
A gravação dos depoimentos foi digitalizada e encontra-se em poder da
pesquisadora.
Conforme exposto, ao se transcreverem os dados, adotaram-se as normas
específicas de transcrição, tal como realizadas pelo PROJETO NURC/SP (apud CASTILHO,
1999, p 34-35).
De posse dos dados transcritos, esses passam a ser comparados com os
retextualizados pelo operador do Direito. O operador do Direito, durante as Tomadas de
Depoimento, assume a posição de retextualizador da fala. Quando ele passa do oral para o
escrito interfere no código e no sentido. Geralmente não importando, sequer, o gênero o
retextualizador, num processo natural de idealização da escrita, elimina, completa, substitui e
reordena a fala do outro. Não é diferente com o operador do Direito. Ele também elimina,
completa, substitui, reordena a fala de seu interlocutor, um leigo no que diz respeito à técnica
jurídica. Conforme se delineará, o profissional do Direito realiza todas essas operações,
quando interroga o acusado/réu; muitas vezes, o resultado disso possibilitará sua condenação.
Tanto o Delegado como o Juiz de Direito aproveitam-se da técnica (tanto no que tange ao
procedimento legal quanto à construção lingüística) e, muitas vezes, o resultado da
retextualização indica a imputação ao acusado/réu da autoria daconduta delitiva.
As operações utilizadas durante as atividades de retextualização são largamente
utilizadas pelo profissional do Direito quando dita a fala do acusado/réu ao Escrivão,
conforme se nota nos exemplos que se seguem.
Importante observar que, durante a Tomada de Depoimento, o operador do
Direito, seja o Delegado de Polícia ou o Juiz, retextualiza oralmente o texto do réu e, ao
mesmo tempo, on line, no mesmo evento, dita o texto retextualizado oralmente para o
Escrivão que, por sua vez, consigna a retextualização oral feita pelo Juiz graficamente,
tornando-a um texto escrito. Assim, o veículo de divulgação torna-se o texto escrito, o que vai
valer para o processo. É, pois, como se o Juiz “pensasse por escrito” ou “escrevesse
oralmente”. Sob esse aspecto, poder-se ia falar que na Tomada de Depoimento do acusado/réu
ocorre a retextualização do oral (relato do acusado/réu) para o oral (texto que o Delegado/Juiz
78
dita para o Escrivão), sendo esse consignado graficamente pelo Escrivão que, via de regra,
não interfere no texto a ele ditado pelo operador do Direito.
É possível, desse modo, representar o evento Tomada de Depoimento:
ORAL(1) ESCRITA
(acusado/réu) (escrivão)
ORAL(2)
(Delegado/Juiz)
Figura 3 - Representação da interlocução na Tomada de Depoimento
A Figura 3 acima representa o processo “da fala para a escrita” no evento
Tomada de Depoimento”, em que o interrogando produz oralmente o primeiro texto, ao ser
interpelado pelo operador do Direito e esse, por sua vez, retextualiza também oralmente a fala
do interrogando, produzindo, assim, a segunda versão do fato, por meio de um texto também
oral, num processo on line, ditando-o ao Escrivão que o representa graficamente no Termo de
Depoimento (processo de digitação).
Note-se também que as operações ganham contornos semânticos específicos, visto
que, muitas vezes, acabam implicando a condenação, propósito esse que não está respaldado
legalmente. A Tomada de Depoimento não pode ter, como fim preestabelecido, a
culpabilidade do interrogando. Seu objetivo é o de apurar a verdade e não de incutir a alguém
a culpa, ou fazer esse alguém assumi-la.
Este trabalho se propõe, então, a demonstrar, por meio da análise de fragmentos
retirados de cada depoimento coletado, que, com a utilização das operações de retextualização
durante os interrogatórios
22
do acusado/réu, evidenciam-se marcas lingüísticas que vão influir
na condenação do interrogando.
Essas estratégias utilizadas de forma a não promover a interação harmônica
efetiva entre os seres na e pela linguagem, conforme proposto por Bakhtin (1999), ferem
também o proposto pela legislação penal.
22
Com o fim de delimitar o corpus e demonstrar a ascendência do operador do direito sobre o leigo a ser
interrogado, esta pesquisa circunscreveu-se somente à analise de depoimentos prestados por acusados/réus, os
denominados interrogatórios.
79
3.1 Análise dos dados e resultados obtidos
Com o fim de comprovar a tese de que os operadores do direito utilizam-se das
denominadas operações de retextualização com o fim de construir um sentido por vezes
comprometendo o texto retextualizado, o que pode indicar uma manipulação do resultado e
uma conseqüente dominação do acusado/réu passa-se, neste momento, ao ponto crucial
deste trabalho: o resultado da análise do confronto entre os depoimentos orais transcritos e os
depoimentos retextualizados.
Os exemplos a seguir demonstram o ora alegado, ou seja, a utilização de
operações durante as atividades de retextualização que traduzem manipulação e uma possível
condenação do acusado/réu. Primeiramente, serão analisados trechos dos depoimentos
judiciais e, em seguida, dos depoimentos policiais.
3.1.1 Depoimentos Judiciais
Seguem-se as análises de trechos dos sete depoimentos coletados em Juízo:
Exemplo retirado do Depoimento Judicial 1 – 23/10/2003:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
-Juiz: /a arma tava sem munição?
-Réu : sem munição
-Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que a arma estava desmuniciada
-Réu: /não temos nenhum intuito com a arma não... era comercial... tava muito
barato
-Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que não tinha ciência de que a arma era roubada
-Réu: /posso fazer uma ressalva?
-Juiz: pode
-Réu: é: ocê notou que: foi a arma foi roubada no::: um dia antes... e:: eu adquiri
logo um dia de manhã a CIDADE ainda não sabia do fato dessas armas terem sido
roubadas... eu adquiri logo... poucas horas depois
-Juiz: /u senhor recorda o dia que foi isso?
-Réu: foi num DOMINGO que eu que eu adquiri a arma... num domingo DE
MANHÃ... aproximadamente oito horas da manhã
-Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) (volta pro início do depoimento) que num domingo
de manhã... vírgula... estava passando e continua... quando uma pessoa
(incompreensível) ((questionando o réu)) o senhor não desconfiou do preço não... u
senhor mesmo falou que tava muito barato?
-Réu: desconfiei do preço
-Juiz: /mas ainda assim resolveu?
-Réu: /ainda assim::
-Juiz: /chegou a perguntar pra ele?
-Réu: nã::o
-Juiz: /por que que ele tava vendendo essa ar::ma, esse tipo de coisa?
80
-Réu: /não... não cheguei a perguntar não... principalmente porque ele tava com mais
de uma
-Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) é:: que achou o preço da arma... ((questionando o
réu)): mas chegou a desconfiar então da (incompreensível)?
-Réu: cheguei a desconfiar... assim... ele tava com duas armas
-Juiz: / desconfiar do quê? vamos dizer assim
-Réu: ele tava com duas armas... eu notei que ele tava querendo vender pra se
livrar logo daquela daquelas armas... por isso que tava num preço mais barato
-Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que achou o preço barato... desconfiou da
procedência porque a pessoa parecia querer se livrar das armas que esta::va ((Juiz
questionando o réu)) eram dois revólveres?
-Réu: dois revólveres
-Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que estava com dois revólveres... mas mesmo
assim... resolveu fechar o negócio... seu intuito sempre foi o de comê/ comercializar
a arma com com terceiros...
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
- ... que a arma estava desmuniciada; que não tinha ciência de que a arma era
roubada; que achou o preço barato e desconfiou da procedência, porque a pessoa
parecia querer se livrar das armas, que estava com dois revólveres, mas ainda
assim resolveu fechar o negócio;...”
Observa-se, através desse exemplo de um texto falado e, posteriormente,
retextualizado por um Juiz, operador do Direito, a existência de operações todas elas citadas
por Marcuschi (2001).que visam:
à seleção de novas estruturas sintáticas, de forma especial, as orações subordinadas
objetivas diretas, cumprindo, inclusive, a praxe forense, introduzidas pelo conector
“que”: “... que a arma estava desmuniciada...”
à seleção de novas opções lexicais, objetivando maior formalidade, como no exemplo em
que o operador do Direito troca a expressão “sem munição” para “desmuniciada”.
à reordenação tópica, que se evidencia na medida em que o Juiz simplesmente não insere
informações constantes no relato oral, topicalizando, ou seja, priorizando os assuntos:
arma desmuniciada; ciência de que a arma era roubada, preço barato, não seguindo,
sequer, a ordem cronológica estabelecida na fala do réu.
à reorganização da seqüência argumentativa (utilizando a estratégia de estruturação
argumentativa) ao inserir, de forma especial, os operadores argumentativos “mas”,
“porque”, “já que”, conforme se nas seqüências textuais: mas ainda assim resolveu
fechar o negócio; porque a pessoa parecia querer se livrar das armas, já que estava com
dois revólveres.
Por meio da retextualização do depoimento judicial oral, é possível observar que o
Juiz opta por outras estruturas sintáticas (oração subordinada) e lexicais (desmuniciada,
81
ciência) e reorganiza a seqüência argumentativa (já que, mas ainda, porque) com o fim de
demonstrar, através de conteúdo lingüístico, que o réu possuía conhecimento, ainda que
presumido, sobre a origem ilícita da arma. O Juiz induz o réu a, praticamente, confessar que
praticou o Delito de Receptação, pois realizou questionamentos no sentido de obter dele
informações de que adquirira, de pessoa desconhecida, uma arma de fogo, por um preço
barato. A retextualização efetuada pelo profissional do Direito Penal, inclusive por meio de
inserções lexicais de caráter sobretudo argumentativo, como “mas ainda assim” - ressaltada
acima -, acabou por comprovar que o réu praticou o crime de que estava sendo acusado.
É possível notar o distanciamento do Juiz, especialmente quando esse recorta do
termo de depoimento a referência na primeira pessoa utilizada pelo réu, retirando também as
marcas lingüísticas que demonstram os processos mentais da enunciação como “não temos
nenhum intuito com a arma não”. O distanciamento é exibido pelo texto mais formal,
desconsiderando muitas falas do réu, propiciando, desse modo, uma possível condenação,
com base nessa prova aquilatada: termo de interrogatório.
Exemplo retirado do Depoimento Judicial 2 – 23/10/2003:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
-Juiz: /pois é... mas éh::: começa então... vão:: vão pro início... o senhô senhô tava
sem falar com seu irmão realmente?
-Réu: o:: início seguinte... não se falava com ele há mais de um ano... porque um ano
atrás... eu:: eu fui num lixo levar um lixo pra jogá lá... ele passou... como ele tava
meio tonto... eu fechei a cara... ele me jogou um estilete...
-Juiz: /tá/... ((dirigindo-se à escrivã)) que
um ano não falava com seu irmão porque:::
-Réu: /um estilete com::: com elástico
-Juiz: ((ditando para a escrivã)) ... tiveram uma briga
-Réu: /NÃO tivemo uma briga
-Juiz: /não foi uma briga não? foi o quê? uma discussã::o ...
-Réu: ((gaguejando)) eu eu fechei a cara e e::le me jogou de longe um... um estilete
com elástico
-Juiz: /ahn:::
-Réu: ((incompreensível)) atingiu o nariz deu três pontos... isto tem na justiça
provado ... isso
-Juiz: /então foi e::le que agrediu o senhô... foi isso?
-Réu: ELE que me agrediu
-Juiz: ((ditando para a escrivã)) porque este o agredira há tempos atrás...
(...)
-Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): juntamente com sua mulher... vírgula... entrando
pelos fundos... dizendo... é:: ((dirigindo-se ao réu)) que ele falou o quê... tava tendo
churrasco... eu vou ficá?
82
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
... que há um ano não falava com seu irmão porque este o agredira há tempos atrás...
(...)
... que momentos depois, seu irmão chegou ao local juntamente com sua mulher,
entrando pelos fundos, dizendo que tinha ido para o churrasco, ...
Notem-se, pelo exemplo, quantas marcas interacionais o:: - no final da frase, isso
aí.... - ahn::” e repetições eu eu – um um” foram retiradas do trecho, a fim de “organizá-lo”
e “enxugá-lo”; isto é, de acordo com a idealização da escrita, houve uma reestruturação do
texto (introdução da subordinada, seguindo a praxe forense), bem como sua condensação (o
que equivale à idéia de integração de Chafe (1982), conjugando frases em um único bloco). O
Juiz retira fatos que “julga” desnecessários à sua convicção como, por exemplo, “o estilete”
mencionado pelo réu. O que está em julgamento é a ação do réu e não a da vítima. Assim, o
Juiz desconsidera, elimina tal fala do réu, condensando idéias, objetivando atingir a
denominada idealização da escrita. Constata-se, desde já, a manipulação do discurso, a
construção do sentido de forma unilateral, por meio de supressão lexical (há a supressão,
dentre outros, do vocábulo “estilete” e de toda a idéia que permeia tal passagem). O Juiz dita
para o Escrivão até mesmo a vírgula, delineando-se a função metalingüística do discurso e
ainda confirmando seu poder não apenas sobre o texto do réu, mas também sobre o do
Escrivão.
Exemplo retirado do Depoimento Judicial 3 – 12/09/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Juiz: /hum... ele pescô?
Réu: ele pescô ... na terça-feira ele veio trazê os peixe...
Juiz: hum ... anh ...anh
Réu: que ele tratô essa pesca com o C
Juiz: /certo... hum
Réu: e o C me chamô pra cozinhá e (rematá) não... inclusive foi só isso que eu fiz...
cozinhei pra eles
Juiz: /mais foi isso aqui que o senhor falô na delegacia?
Réu: foi
Juiz: e por que o senhor falou que o /que o V num pescô?
Réu: não... ela num me perguntou se ele não pescô não senhor
Juiz: não? .... hum... que falando aqui/ que o
senhor tá falando que ele não pescô
Réu: /lá ela num me perguntô...
Juiz: /então ele pescô... né?
Réu: ele pescô... ele veio embora na terça-feira..trouxe os peixe que ele pegô...
Juiz: /hum rum... ((ditando para a escrivã)) que confirma parcialmente... as
declarações que... prestou perante a autoridade policial... e que consta de folhas oito
dos autos da precatória... e que consta de folhas outo/oito da precatória... vírgula...
83
dizendo que... a ele não foi perguntado... se V teria... pescado ou não... e que...
esclarece... agora... que V teria realmente pescado na terça-feira
Réu: /ele pescou de segunda e na terça ele veio pra Patos trazê o peixe... e largô nóis
Juiz: anh... pegou/então ele pescô na segunda?
Réu: éh... segunda e terça
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
(...) confirma parcialmente as declarações que prestou perante a autoridade policial,
que consta de fls. 08 dos autos da precatória, dizendo que a ele não foi perguntado se
V teria realmente pescado na segunda-feira e retornado para Patos de Minas na
terça-feira; informa mais o interrogando que é amasiado e que tem um filho (...)
Por este exemplo detecta-se como o Juiz desconsidera a fala do réu, pois essa não
é de interesse para o processo, pelo menos de acordo com a compreensão do operador do
Direito. No entanto, o réu não possui, obviamente, consciência disso. Note-se também que a
operação de condensação lingüística e até mesmo de supressão de material lingüístico
compromete a construção dialógica do discurso, vez que a voz do outro é, no mínimo,
despercebida. O réu diz expressamente: e o C me chamô pra cozinhá e (remata) não...
inclusive foi isso que eu fiz... cozinhei pra eles”. No entanto, o Juiz suprime essa fala,
reorganiza a estrutura tópica e argumentativa, introduzindo a pergunta seguinte com uma
conjunção adversativa “mas” com o objetivo de reafirmar o que o réu falara na Delegacia de
Polícia. A argumentação judicial distancia a fala do réu da produção do discurso que este
tentava construir. O réu tenta negar haver pescado, alegando que esteve no local da pesca e
que fora contratado para apenas cozinhar e finalizar os procedimentos de pesca.
A condensação imprimida ao texto chega ao extremo de transformar o
depoimento do réu prestado durante uma audiência (Anexo Depoimento Oral 03) em texto
escrito com menos de seis linhas (Termo de Depoimento 3). Obviamente isso demonstra o
uso de operações de transformação da fala em escrita, especialmente as supressões lexicais
(não constam no termo de depoimento as alegações do réu de que fora contratado para
cozinhar...). No dizer de Chafe (1982), presente também a idéia de integração, inclusive por
meio de particípios como perguntado, pescado, amasiado”, substituindo verbos respectivos.
Há, dessa forma, a desconsideração da fala do réu, inserindo apenas fatos que comprovam
haver o mesmo pescado (fato criminoso), conseqüentemente gerando, com a retextualização,
a viabilização de condenação do réu.
Ressalte-se que, nesse depoimento de número 3, houve uma peculiaridade jurídica
em que o réu aceitou uma espécie de “acordo” com o promotor de justiça e, naquela mesma
84
oportunidade, o Juiz proferiu despacho determinando a suspensão do processo, aplicando-lhe
certasrestrições de direito. (conf. Termo de Depoimento Judicial 3 – Anexo).
Exemplo retirado do Depoimento Judicial 4 – 12/09/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Juiz: /o V pescou? chegou a pescá então?
Réu: /pescou ... junto cum nóis lá
Juiz: junto com ocêis
Réu: pescou
Juiz: /os apetrechos era dele?
Réu: tudo dele ... canoa... rede... caxa...
Juiz: tudo dele .... /na noite... na noite de segunda feira...
ocês... todos três pescaram?
Réu: pescamos
Juiz: então todo mundo pescou?
Réu: todo mundo... incrusive/ incrusive ele me chutô aqui na
rua
Juiz: /hum
Réu: o V
Juiz: /chutou como?
Réu: me ameaçou
Juiz: ah ameaçou
Réu: me ameaçou ... e o tenente de lá::
Juiz: /hum
Juiz: /por que que ameaçou o senhor? por que que ele ameaçou o senhor?
Réu: porque:: porque EU que contei sobre o material
Juiz: ah... o materi/ o material era dele
Réu: é dele
Juiz: hum
Réu: e a polícia lá... então eles me / fez pressão ... eu num vou negá pro senhor
não...
Juiz: hum sei
Réu: fui pressionado... eles andaram muito lá comigo... eh:: de madrugada
lá::
Juiz: hum hum
Réu: me / me fazendo assim... ameaça queren / falando que ia me leva pra uma...
Juiz: / hum rum
Réu: /pra uma casa lá... sabe
Juiz: hum rum
Réu: que eles num ia vê eu mais
Juiz: /sei ((ditando para a escrivã)) INFORMA... INFORMA... o interrogando que...
Réu: /éh... (incompreensível) é porque
Juiz: ((ditando para a escrivã)) por insistência... por insistência do acusado V...
vírgula.. foi passar com ele... e F M... duas noites de pescaria... na represa de Nova
Ponte... vírgula... dizendo mais... que todo... o material de pesca... inclusive as
redes... vírgula
Réu: / eu que entreguei
Juiz: ((ditando para a escrivã)) inclu... ((interrogando o réu)) /as redes era dele
também?
Réu: éh eu que entreguei
Juiz: a canoa também?
Réu: também eu que entreguei a canoa...
Juiz: ((ditando para a escrivã)) / inclusive redes e canoa eram de propriedade de V...
85
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
(...) dizendo que por insistência do acusado (nome), foi passar com ele e (nome de
outro acusado), duas noites de pescaria na represa de Nova Ponte, dizendo mais que
todo material de pesca, inclusive as redes e canoas eram de propriedade de V, (...)
Com esse exemplo, assim como nos demais ora apresentados, nota-se que, ao
retextualizar a fala, durante uma Tomada de Depoimento, o operador do Direito elimina
totalmente os turnos da conversação, construindo um texto sem as alternâncias expressas.
Neste exemplo, mais uma vez, o Juiz desconsidera a fala do réu, suprimindo
material lingüístico (todo o relato de que o réu teria sido ameaçado por um dos co-réus e
coagido por policiais militares é suprimido, pois isso não interessa à configuração da figura
típica da pesca ilegal). O réu, insistentemente, constrói seu discurso, alegando que fora
ameaçado por um de seus companheiros de pesca e que fora constrangido por policiais. No
texto retextualizado, o operador do Direito suprime essa fala por “julgar” não ser pertinente
aos autos. No entanto, torna-se claro que o réu constrói, com tais acusações, uma suposta tese
de defesa, que, simplesmente, é ignorada.
Por esse trecho ainda é possível perceber a reordenação tópica do texto o Juiz
inverte a ordem do relato oral do réu, inserindo, primeiramente, o fato de o réu ter ido passar
duas noites pescando em uma represa e, posteriormente, constando a propriedade do material
de pesca; enquanto, no relato oral, o réu primeiramente menciona a quem pertencem os
objetos de pesca e depois é que relata o motivo de ter ido pescar e a reorganização da
seqüência argumentativa, ocasião em que o Juiz organiza as sentenças e prioriza aquilo que,
para os autos, julga ser mais importante, ou seja que o acusado foi passar duas noites na
represa e mais que todo o material de pesca pertencia a V”. Para Chafe (1982), a
condensação lingüística por meio de seqüências de frases. O operador do Direito, no caso
acima especificado, ao utilizar o aditivo mais” insere uma idéia a outra existente,
condensando-as no texto escrito. Assim, o Juiz alia outra situação ilícita a uma primeira
também a ser considerada ilícita.
Ainda importante destacar, nesse exemplo, o envolvimento do réu com o fato,
quando reflete o processamento mental da enunciação, por meio da expressão eu num vou
nega pro senhor não...”, numa tentativa óbvia de conquistar a credibilidade do Juiz,
implicando, em contrapartida, o distanciamento do Juiz que simplesmente desconsidera a
argumentação do réu.
86
Exemplo retirado do Depoimento Judicial 5 – 21/09/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Juiz: /a droga dava pra fazê quantos pito de maconha?
Réu: um pito
Juiz: só um pito?
Réu: tinha mais era semente porque o cara levou o resto (num tinha condições mais
não)
Juiz: /hum rum ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula ... que... realmente a
substância entorpecente tratava-se de maconha... e a quantidade... dava pra fazê
somente um cigarro... e que o quê... mais tinha era semente / sementes ...
((interrogando o réu)) o senhor usa droga há quanto tempo?
Réu: eu usava... num tô usando mais não
Juiz: num tá usando mais não? usava há quanto tempo? usou quanto tempo?
Réu: ah::
Juiz: /hem?
Réu: dois anos
Juiz: dois anos? ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que... o interrogando até
aquela data... fazia uso de droga por cerca de... dois anos e que atualmente está livre
do uso de droga
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
e a quantidade dava para fazer somente um cigarro e que mais tinha eram sementes;
que o interrogando até aquela data fazia uso de droga por cerca de dois anos e que
atualmente está livre do uso de drogas;
Esse trecho serve como exemplo das várias operações utilizadas pelo operador do
Direito ao retextualizar a fala do leigo. A eliminação de marcas estritamente interacionais
hum rum; ah::; hem”, a eliminação das hesitações como no trecho eu usava.... num to...”
são, invariavelmente, realizadas num processo de retextualização, assim como a introdução da
pontuação, a retirada de repetições, redundância etc. Note-se, por meio desse mesmo
exemplo, que o Juiz detém, sempre, também o poder lingüístico, que dita para o Escrivão a
fala do interrogando e ainda a pontuação que deve organizar essa fala, conforme se depreende
da transcrição da fala do réu.
O que parece mais interessante nesse exemplo é o questionamento do profissional
do direito que induz a resposta do interrogando. Quando o operador do Direito pergunta “/a
droga dava pra fazê quantos pito de maconha?”, obviamente já está induzindo o interrogando
a responder que a droga era suficiente para fazer cigarros com ela. O menor infrator tenta
culpar-se minimamente, alegando que dava pra fazer um pito. Não obstante, afirma que a
droga era suficiente para um cigarro, o que confirma que estava portando droga para uso
87
próprio, ou seja, praticando a infração de Uso de Drogas (possuir substância entorpecente para
uso próprio).
Em seguida, o operador do Direito novamente emprega a mesma estratégia
perguntando ao menor infrator “o senhor usa droga quanto tempo?”, objetivando,
novamente, induzir uma resposta afirmativa. Dessa vez, o menor refuta a afirmação,
confessando que usava e que não mais faz uso. No entanto, confirma ter usado a droga e,
portanto, praticado a infração, conforme se demonstra na passagem:
Juiz: (...) o senhor usa droga há quanto tempo?
Réu: eu usava... num to usando mais não
O processo de retextualização durante as Tomadas de Depoimento permite esse
tipo de estratégia, pois, no texto escrito, na maioria das vezes, não constam as perguntas,
somente as repostas que, sendo obtidas por meio de perguntas dirigidas pelo operador do
Direito, normalmente acabam por “ajudar” o acusado/réu a assumir a culpa daquilo que lhe é
imputado.
A pergunta é sempre realizada pelo operador do Direito ao acusado/réu. Somente
a resposta é consignada, por meio da figura do Escrivão. O Juiz dita ao Escrivão somente a
resposta; de forma, portanto, indireta, esta é consignada no Termo de Depoimento.
Note-se ainda que a inserção no texto escrito da expressão “atualmente está livre
do uso de drogas” respalda o argumento de que o uso de drogas era algo que “prendia” o réu,
que cerceava sua liberdade, algo que lhe foi pernicioso, errado.
Seguindo as idéias de Chafe (1982), a integração constante no Termo de
Depoimento está demonstrada pela idéia única inserida na seqüência de frases, introduzidas
por orações subordinadas substantivas objetivas diretas : “e a quantidade dava para fazer
somente um cigarro e que mais tinha eram sementes; que o interrogando até aquela data
fazia uso de droga por cerca de dois anos e que atualmente está livre do uso de drogas”.
Exemplo retirado do Depoimento Judicial 6 – 04/10/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Réu: não... queria só que:: depois que igual eu fui preso né... no mesmo dia eles
queriam retirar a queixa
Juiz: / no mesmo dia?
Réu: no mesmo dia... o pai dela é que num aceitou
Juiz: sei ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... informa também o
interrogando... que no mesmo dia... ((interrogando o réu)) foi dia primeiro então?
88
Réu: não... queria só que:: depois que igual eu fui preso né... no mesmo dia eles
queriam retirar a queixa
Juiz: / no mesmo dia?
Réu: no mesmo dia... o pai dela é que num aceitou
Juiz: sei ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... informa também o
interrogando... que no mesmo dia... ((interrogando o réu)) foi dia primeiro então?
Réu: no mesmo dia / à noite
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que no mesmo dia... primeiro de janeiro vírgula... à
noite vírgula... a sua/ a vítima... queria retirar a queixa... vírgula... mas o pai... dela
não teria permitido... ((interrogando o réu)) só?
Réu: bom/aí logo assim quando eu saí da prisão / da cadeia...
Juiz: /anh...
Réu: ela me procurou... ela me pediu desculpas (por eu ter ficado preso)
Juiz: /hum
Réu: /por causa do pai dela... pressão
Juiz: anh
Réu: aí a gente voltou
Juiz: /no dia seguinte? no dia dois?
Réu: no dia seguinte
Juiz: ocê foi preso e solto no dia seguinte?
Réu: éh::
Juiz: no dia dois então?
Réu: éh
Juiz: ((ditando para a escrivã)) disse também o acusado... que no dia dois de
janeiro... vírgula... quando foi liberado da prisão... vírgula a K lhe teria procurado...
pessoalmente... vírgula ... lhe teria procurado pessoalmente... vírgula lhe pedido
perdão pelo que fez e dito que fez aquilo... por... pressão do pai... ((interrogando o
réu)) só?
Réu: e até:: no:: eu queria acrescentar que:: o:: pai dela... quando tava no:: chá de
bebê... aí ele me ameaçou né... não assim (pessoalmente) comentou né... ele
comentava pro povo da rua e pro meu pai mesmo ele me ameaçou falou que ia me
matar
Juiz: isso depois desses fatos?
Réu: depois não antes dos fatos antes (incompreensível) com a K
Juiz: /antes dos fatos?
Réu: quando o bebê nascesse... ele ia me matar
Juiz: /hum ... ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula...
diz mais o depoente... diz mais o interrogando... que ... na festa de chá do bebê...
vírgula... o pai da K... o pai da K teria falado para as pessoas... presentes... que...
depois do nascimento do neto... vírgula... iria matar o acusado... ((interrogando o
réu)) isso?
Réu: isso
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
informa também o interrogando que no mesmo dia 1 de janeiro, à noite, a vítima
queria retirar a queixa, mas o pai dela não teria permitido; diz também o acusado
que no dia 02 de janeiro, quando foi liberado da prisão, a K lhe teria procurado
pessoalmente, lhe pedido perdão pelo que fez e dito que fez aquilo por pressão do
pai; diz mais o interrogando que na festa de berço do bebê, o pai de K teria falado
para as pessoas presentes que depois do nascimento do neto, iria matar o acusado;
Novamente presentes as operações mencionadas por Marcuschi (2001, p.75),
como:
89
1. eliminação de marcas estritamente interacionais eh:: hum:: anh”;
2. introdução de pontuação ... que no mesmo dia 1 de janeiro, à noite, a vítima (...)”;
3. retirada de repetições o réu repete por mais de três vezes a expressão no mesmo dia”,
tendo isso sido retirado pelo operador do Direito;
4. introdução de paragrafação de acordo com o sub-gênero Termo de Depoimento, esse é
construído por meio de orações subordinadas, separadas por ponto e vírgula;
5. introdução de marcas metalingüísticas para explicitação de contextos expressos por
dêiticos a expressão mesmo dia” é referenciada e explicitada pelo Juiz da seguinte
forma: “que no mesmo dia 1 de janeiro à noite”;
6. reconstrução de estruturas truncadas houve a substituição da fala do réu não... queria
que:: depois que igual eu fui preso né... no mesmo dia eles queriam retirar a queixa”
pela idealização da escrita “que no mesmo dia 1 de janeiro, à noite, a vítima queria retirar
a queixa”;
7. tratamento estilístico com seleção de novas opções lexicais e gramaticais
23
o réu utiliza
a expressão saí da cadeia”, enquanto o Juiz opta, no texto escrito, por foi liberado da
prisão”;
8. reorganização da seqüência argumentativa enquanto na fala aduziu o réu não... queria
que:: depois que igual eu fui preso né... no mesmo dia eles queriam retirar a queixa
(...) no mesmo dia... o pai dela é que num aceitou”, o Juiz a reorganiza, inserindo uma
conjunção adversativa a vítima queria retirar a queixa, mas o pai dela não teria
permitido”;
9. agrupamento de argumentos condensando as idéias no texto falado consta:
“Réu: e até:: no:: eu queria acrescentar que:: o:: pai dela... quando tava no:: chá
de bebê... aí ele me ameaçou né... não assim (pessoalmente) comentou né... ele
comentava pro povo da rua e pro meu pai mesmo ele me ameaçou falou que ia me
matar
Juiz: isso depois desses fatos?
Réu: depois não antes dos fatos antes (incompreensível) com a K
Juiz: /antes dos fatos?
Réu: quando o bebê nascesse... ele ia me matar”;
na versão escrita, o Juiz condensa a idéia, retextualizando a fala da seguinte
forma que na festa de berço do bebê, o pai de K teria falado para as pessoas presentes que
depois do nascimento do neto, iria matar o acusado”.
23
Sob este aspecto é possível citar também a alteração da voz ativa constante do texto oral do interrogando para
a voz passiva constante no texto escrito alteração da expressão saí da prisão” para ele foi liberado, o que
redunda, segundo Chafe (1982), no distanciamento do juiz em relação ao fato, operação que, para o autor, é
sempre recorrente na escrita.
90
Há ainda, no texto escrito, a evidência de ter o Juiz de Direito substituído o tempo
verbal utilizado pelo réu. A narrativa do réu é realizada com o verbo no pretérito-perfeito,
indicando uma ação acontecida e acabada. O discurso do réu pretende, pois, narrar algo que,
para ele, realmente aconteceu, imprimindo ao texto um tom de verdade. Não obstante, ao
retextualizar a fala do réu, o Juiz introduz o tempo verbal no futuro do pretérito para exprimir
a incerteza, a dúvida sobre o fato narrado. Assim, quando o réu diz o pai dela é que num
aceitou” e o Juiz retextualiza para “o pai dela não teria permitido”, ele (o Juiz) insere no
texto formal, que instruirá o processo, a dúvida sobre a influência do pai na conduta da moça.
No mesmo sentido, o Juiz retextualiza a fala do réu “ela me procurou...” introduzindo o
tempo composto no futuro do pretérito para, mais uma vez, exprimir a dúvida “lhe teria
procurado pessoalmente”.
O operador do Direito ainda utiliza a mesma estratégia acima, modificando o
tempo verbal e ainda reorganizando as estruturas sintáticas e semânticas, suprimindo
informações prestadas pelo réu, (e, talvez, relevantes para ele) como no trecho que se segue,
em que o réu aduz: “que:: o:: pai dela... quando tava no:: chá de bebê... ele me ameaçou
né... não assim (pessoalmente) comentou né... ele comentava pro povo da rua e pro meu pai
mesmo ele me ameaçou falou que ia me matar”, que, retextualizado pelo Juiz, transformou-se
em: “que na festa de berço do bebê, o pai de K teria falado para as pessoas presentes que
depois do nascimento do neto, iria matar o acusado”.
Pelos exemplos retirados do trecho extraído do Termo de Depoimento Judicial 6,
percebe-se a intenção do operador do Direito em colocar em dúvida a fala do réu e, por
conseqüência, os fatos que, segundo ele, aconteceram. O profissional do Direito, ao
retextualizar, presume a fala do réu inverossímil, o que se evidencia pelas marcas lingüísticas
mencionadas. Ressalte-se também que a falta de credibilidade do réu, muitas vezes, pode
levar à sua condenação antecipada.
Exemplo retirado do Depoimento Judicial 7 – 04/10/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Juiz: (...) ((interrogando o réu)) o senhor portava essa arma aí sem autorização? sem
porte legal?
Réu: isso
Juiz: há quanto tempo o senhor portava essa arma?
Réu: uns dois meses
Juiz: tinha dois meses ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... diz mais o o
interrogando que... já portava a arma sem autorização... sem autorização
administrativa... pelo tempo aproximado de dois meses... ((interrogando o réu)) e
91
por quê que o senhor comprou essa arma? começou a usar?...por quê que o senhor
usava essa arma?...
Réu: não / na verdade ela... ela era duma... tipo de uma:: uma galerazinha...
entendeu?
Juiz: /ah de uma galera
Réu: isso
Juiz: anh
Réu: aí eu fui pra mim no dia (eles tinha me pedindo eu peguei aceitei né) aí eu fui
pra mim vendê ela... aí eu cheguei lá num encontrei as pessoas do Goiás...
Juiz: /hum
Réu: aí foi... eu fui pra essa... pra essa boate... entrei armado... acho que alguma
pessoa me viu e:: chamou a polícia
Juiz: hum / éh ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula disse também o declarante
que... a arma não era... de sua propriedade exclusiva... ((interrogando o réu)) né num
era só sua não né?
Réu: ((permaneceu em silêncio ))
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
diz mais o interrogando que portava a arma, sem autorização administrativa, pelo
tempo aproximado de dois meses; diz também o declarante que a arma não era de
sua propriedade exclusiva, mas pertencia a uma “galerinha”,
Esse exemplo de trecho retirado do último depoimento judicial constante no
corpus desta pesquisa reforça a tese de que o retextualizador (profissional do direito) no
processo penal tende, ao utilizar as várias operações de retextualização, a inserir, suprimir,
substituir, reorganizar elementos e estruturas lingüísticas, o que acaba por imputar, muitas
vezes, responsabilidade do ato criminoso ao réu. Nesse sétimo exemplo, não foi diferente.
Houve reorganização da fala de acordo com a idealização da escrita e, obviamente, seguindo
os parâmetros do sub-gênero textual Termo de Depoimento Judicial; também por isso, a
eliminação dos turnos da conversação.
O que se pode destacar nesse trecho é o tratamento estilístico emprestado à fala do
réu. O Juiz muda o sentido pretendido pelo réu ao retextualizar a fala desse. O réu afirma:
“não / na verdade ela... ela era duma... tipo de uma:: uma galerazinha... entendeu?”. No
entanto, o Juiz insere, no texto oficial, o seguinte “diz também o declarante que a arma não
era de sua propriedade exclusiva, mas pertencia a uma ‘galerinha’ ”. O operador do Direito
insere a palavra “exclusiva”, em nenhum momento dita pelo réu. Esse afirmou
categoricamente que a arma pertencia a uma “galerinha”; mas no Termo de Depoimento, em
razão da interferência do Juiz, constou que a arma pertencia também a ele, inferindo que ele,
réu, era um dos membros da “galera”. O Juiz retoma o questionamento no final do trecho,
afirmando que a arma não era do réu, tendo este permanecido calado, o que confirma
também o poder lingüístico do Juiz de Direito, além do jurídico, social etc.
92
As relações de poder, indubitavelmente, também se expressam na e pela
linguagem. A Análise do Discurso dispõe que as condições de produção dos discursos
funcionam de acordo com certos fatores, entre eles, as relações de força. Obviamente, neste
contexto estão inseridas as interações assimétricas empreendidas entre Delegado/Juiz e
acusado/réu. Ooperador do Direito produz seu discurso do lugar que ocupa e de acordo com o
que “sua posição” lhe permite dizer. O Delegado e/ou o Juiz ocupam o lugar do poder,
especialmente quando interrogam o acusado/réu, razão pela qual se estabelece uma relação de
força. Assim, as palavras do operador do Direito possuem também mais força que as do
interrogando, já que são fruto de um lado que exerce o poder. Em outras palavras, o Delegado
de Polícia/Juiz de Direito comanda a “conversação”. A relação entre Delegado/Juiz com o
acusado/réu possui a mesma conotação que a do professor e o aluno. Ambas constituem-se
como relação de força. A respeito de tais relações assimétricas esclarece Orlandi (2001, 39):
Finalmente, temos a chamada relação de forças. Segundo essa noção, podemos dizer
que o lugar a partir do qual fala o sujeito é constitutivo do que ele diz. Assim, se o
sujeito fala a partir do lugar de professor, suas palavras significam de modo
diferente do que se falasse do lugar de aluno. O padre fala de um lugar em que suas
palavras têm uma autoridade determinada junto aos fiéis. Como nossa sociedade é
constituída por relações hierarquizadas, são relações de força, sustentadas no poder
desses diferentes lugares, que se fazem valer na “comunicação”. A fala do professor
vale (significa) mais do que a do aluno.
Assim, é possível perceber que o lugar do operador do Direito, durante um
interrogatório contra quem está sendo imputada uma acusação de um crime, é privilegiada,
pois suas palavras, partindo da posição que ocupam, adquirirão também maior importância. É
sob esse aspecto que o poder se estabelece, inclusive por meio da linguagem.
3.1.2 Depoimentos Policiais
Os exemplos que se seguem foram retirados de depoimentos prestados em
Delegacia de Polícia. Da mesma forma que o Juiz de Direito, o Delegado de Polícia questiona
o acusado sobre o fato que constitui, em tese, crime, cuja autoria é a ele imputada. As
estruturas dos depoimentos são, praticamente, idênticas. Nos depoimentos prestados no
momento da prisão, ou seja, aqueles que fazem corpo do Auto de Prisão em Flagrante Delito
(APFD), é possível perceber uma maior emotividade
24
dos interlocutores na construção do
24
Chafe (1982) denomina essa emotividade como envolvimento que está mais presente na fala, que, numa
situação de interlocução face a face, os falantes se envolvem mais, contendo o texto oral, dessa forma, partículas
enfáticas, monitoramento do fluxo, entre outras estratégias de envolvimento.
93
discurso, mesmo porque os fatos que deram origem aos depoimentos aconteceram minutos ou
horas antes.
Tanto nos depoimentos judiciais como nos policiais analisados não ocorreu a
introdução de paragrafação em sua escrita. O depoimento possui uma organização seguindo a
práxis jurídica, sendo escrito em um parágrafo, utilizando apenas de ponto e vírgula para a
separação dos assuntos.
Apresentam-se, assim, também sete trechos extraídos dos sete depoimentos
policiais constantes do corpus desta pesquisa (cf. Anexo), nos quais se percebem, de igual
forma, atividades de retextualização cujos resultados podem contribuir para a condenação do
acusado/réu.
Exemplo retirado do Depoimento Policial 1 – 16/04/2003:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Acusado: não peguei o receptor e vim embora... porque o rapaz falô que
queria comprar ele...
Delegado : /uhn...
Delegado : /por que qui ocê num pegô mais coisa?
Acusado: /não porquê o rapaz falou qui queria comprar o receptô...
Delegado: ah:: ocê já tinha u::m cliente?
Acusado: /é
Delegado: /então tá certo... o negócio aqui tá to:do arrumado... né D...
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
QUE quando o declarante furtou o referido receptor na casa da (nome), sabia que
o venderia para o (nome), pois foi o próprio (nome) que o encomendou para o
declarante;
Conforme se depura por este trecho extraído do primeiro depoimento policial
trazido ao corpus deste trabalho, o operador do Direito na Delegacia de Polícia age como o
Juiz, incutindo ao acusado a prática do delito em apuração. Também o Delegado, ao
retextualizar a fala do leigo, realiza as muitas operações mencionadas por Marcuschi (2001, p.
75), num processo não de idealização da escrita, como também de construção de um
discurso que promoverá a condenação do acusado.
No trecho em análise, o operador do Direito não transcreve a modalização
impressa pelo acusado ao construir o seu discurso, através do uso de “só”: peguei o
receptor”. Apenas insere no texto oficial escrito a expressão “o declarante furtou o referido
94
receptor”, inserindo o advérbio de tempo já”, demonstrando que houve planejamento do
crime e que havia um receptador para receber o produto do delito.
Note-se que o resultado da retextualização, no caso, ultrapassou até mesmo uma
possível tendência à condenação do acusado, indicando, inclusive, possíveis agravantes e
aumentos de pena que ao acusado poderão ser imputados. Obviamente, o sentido desse
discurso é construído com base em uma relação de força estabelecida ((in)consciente) pelo
operador do Direito, dentro de uma situação de interação passiva, pois o acusado sequer
percebe as estratégias lingüísticas e jurídicas de seu interlocutor.
É, pois, possível dizer que há, na Tomada de Depoimento, interação e que o
discurso é construído dialogicamente. No entanto, um dos interlocutores desconhece o sentido
construído no discurso, vez que é manipulado pelo detentor do saber jurídico e ainda do poder
não só jurídico, mas também social.
Exemplo retirado do Depoimento Policial 2 – 16/04/2003:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Delegado: ((ditando para a escrivã)): /que o declarante desceu... do caminhão
((questionando o autor)): /é caminhão ou ônibus?
Acusado: não... é camioneta
Delegado: desceu da camioné/ camioneta do próprio S? quem tava conduz
indo?
Acusado: é... /não é do: gerente...
é do M
Delegado: do M ((prossegue ditando para a escrivã)) desceu da camionete
conduzida por M... gerente do S... às dezenove e trinta... vírgula... em frente ao
Posto B... e de lá... e de vírgula... rumou diretamente para sua casa... vírgula...
onde permaneceu... até o dia seguinte... quando novamente acordou e dirigiu-se para
o trabalho... (incompreensível) ((questionando o acusado)) até:... vou ter que
escrever isso mesmo D?
Acusado: me::mo
Escrivã: ocê levantou no dia seguinte... seis e meia ... foi
trabalhar
Acusado: /fui trabaiá:... trabaiá
Delegado: /é:: que bele::za... vão lá: ((prosseguindo ditando para a escrivã)) até o dia
seguinte
Escrivã: ((lendo o que ia digitando)) /quando novamente saiu de casa às seis
horas... (incompreensível)
Delegado: ((ditando para a escrivã)) para
trabalhar::
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
Que o declarante desceu da camionete conduzida por M, gerente do S, às 19;30 hs.
(sic), em frente ao Posto B e de lá, rumou diretamente para sua casa, onde
permaneceu até o dia seguinte, quando novamente saiu de casa às 06:30 hs. (sic), se
dirigindo para o trabalho;
95
Esse depoimento apresenta certa particularidade, quando o Escrivão toma parte do
denominado Triângulo Interlocutivo, o que é incomum. No entanto, se ressaltou neste
trabalho que os depoimentos ocorridos em Delegacia de Polícia se revestem de menor
formalidade e, portanto, tal interferência não gera qualquer irregularidade. Os
questionamentos do Escrivão servem apenas para esclarecimento ou retificação, não
interferindo nos demais aspectos do evento.
Nesse trecho houve a introdução de marcas metalingüísticas (quando se explicitou
o contexto de tempo existente na conversação) para referenciação de ações e verbalização de
contextos expressos por dêiticos (estratégia de reformulação objetivando explicitude – no caso
o horário “cedo”); reconstrução de estruturas truncadas e de concordâncias, reordenação
sintática como por exemplo “fui trabaiá:... fui trabaiá” substituído no texto escrito pela
nominalização dirigindo para o trabalho”, visando à condensação e ao encadeamento da
norma escrita, inclusive no sentido do distanciamento proposto por Chafe (1982).
No depoimento analisado, o Delegado procurou explicitar o horário em que o
acusado chegara e saíra de casa. Tal estratégia serviria, posteriormente, se fosse necessário,
para demonstrar uma possível “fantasia” do acusado. Os dêiticos relativos a horário são
sempre importantes na configuração do contexto. A interferência ocorrida na retextualização
pode ser o instrumento de prova contra o provável autor do delito, exatamente contrário ao
discurso por esse último construído. É desnecessário dizer que tornar a fala do acusado
desacreditada é um dos elementos que, posteriormente, servirão para condená-lo.
Exemplo retirado do Depoimento Policial 3 – 29/08/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Delegado: ((ditando para a escrivã)) arrombaram a porta do veículo... ((dirigindo-se
ao acusado)) que carro que era?
Acusado:: acho que era um celta
Delegado: celta ou CORSA?
Acusado:: celta
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ... parecido com celta eh... vírgula ...
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
(...) em um veículo parecido com Celta,
96
O pequeno trecho acima, retirado do Depoimento Policial 3 do Anexo constante
desta pesquisa, demonstra a inserção do adjetivo “parecido” pelo operador do Direito ao
retextualizar a fala do leigo com o fim óbvio de não haver distanciamento da verdade real e
não se confundir a prova dos autos. Necessário esclarecer que o veículo arrombado tratava-se
de um corsa e não de um celta, conforme afirmado, de forma contundente, pelo acusado.
Assim, o Delegado, ao retextualizar a fala do acusado, insere o adjetivo parecido” e o
resultado da retextualização preserva os elementos probatórios da prática da infração
imputada ao acusado, qual seja a de Furto qualificado mediante arrombamento em um veículo
celta. Portanto, a operação de inserção de novo item lexical pode indicar a formação de prova
contra o réu, tendo como conseqüência, uma possível condenação desse.
A retextualização, assim, permite a inserção de vocábulos que, de acordo com o
olhar e a intenção do operador do Direito, auxiliem na construção de um discurso de
condenação do acusado.
Exemplo retirado do Depoimento Policial 4 – 29/08/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Delegado: /éh? e ele fala onde é que ele consegue essas roupas?
Acusada: não... num fala
(...)
Delegado: éh?... e ele vendeu as sete calças pra senhora e a senhora não sabia de
onde que que
Acusada: /não... não... uai Deus se seu soubesse a ((afinando a voz)) a primeira
coisa... eu juro por Deus e pela Virgem Maria que a primeira coisa
(incompreensível)
Delegado: /e a senhora num sabe... e a senhora num sabe o nome dele não?
Acusada: não... meu sobrinho é até Delegado ((gaguejando e afinando a voz))lá lá
no no no no no ...São Gotardo
(...)
Delegado: a senhora não pergunta de onde que é aquela roupa?
Acusada: não... porque eu tô acostumada a comprá ali óh... procê vê... eu tô
acostumada a comprá ali oh... do DR. W ali óh né... que é um dentista... que eu
compro dele... eu tô acostumada a compra dos meninos que trabalha no banco... eu
tô acostumada a comprá de de de advogado... do do cunhado do A V... que ocê
pergunta ele...
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
sendo que a declarante nunca lhe (ao menino que lhe vendeu as roupas furtadas)
perguntou sobre a procedência de tais bens.
97
Antes de proceder a análise lingüística propriamente dita desse trecho extraído do
Depoimento Policial 4, é interessante esclarecer que a depoente é uma idosa de sessenta e
quatro anos de idade, proprietária de uma loja de roupas usadas, sem escolaridade, sabendo
apenas assinar o nome.
Os gaguejos e as redundâncias da acusada, assim como as repetições e inserções
de textos que não são pertinentes aos fatos, são uma constante no depoimento. Percebe-se que
o Delegado, em certos momentos, chega a perder a calma com a depoente e utiliza as
operações de enxugamento para os vários murmúrios incompreensíveis da acusada e suas
tentativas de desvirtuar o assunto.
inúmeras vezes em que o Delegado retira material lingüístico proferido pela
depoente, que, em tese, é desnecessário ao discurso jurídico. O mais interessante a ser
destacado neste texto é o questionamento, por três vezes, se a acusada sabia da procedência
ilícita dos objetos adquiridos por ela, tendo ela respondido que não, utilizando, conforme
foi dito, até mesmo de recurso de autoridade
25
(citando entes religiosos).
O Operador do Direito, mesmo diante da insistência da acusada em se explicar,
simplesmente insere no texto oficial que a declarante nunca lhe perguntou sobre venda de
tais bens”. Importante observar que o profissional do direito insere argumentativamente a
partícula negativa “nunca” para a reposta de não, advérbio esse que enfatiza de forma mais
contundente a conduta criminosa da autora, demonstrando que essa mostra ser, por costume,
desatenta quanto aos objetos que adquire para comercializar. Sua condenação, com tais
nuanças, não tende a ser menor, obviamente.
Quando o Delegado questiona a acusada sobre a procedência da roupa que expõe
à venda, essa se utiliza, dentre outros, do recurso de autoridade de sticos, como no caso da
“Virgem Maria” e de “Deus”, argumentos esses que, obviamente, seguindo registro
apropriado ao gênero, não são inseridos no texto escrito.
É interessante observar que a configuração do Delito de Receptação ocorre
quando alguém adquire produto de origem ilícita, no caso furtado, e o expõe à venda. O que o
Delegado procura caracterizar no interrogatório é o fato de a acusada ter adquirido produtos
sem NUNCA questionar sua origem e, portanto, assumindo, no mínimo, o risco de produzir
o resultado: comprar e vender coisas ilícitas, infringindo, destarte, o disposto no artigo 180 do
CPB.
25
Segundo Perelman, apud Koch, (2004, p. 146), o mais característico dos argumentos de prestígio é o
argumento de autoridade, que utiliza os atos ou julgamentos de uma pessoa ou de um grupo de pessoas como
meio de prova em favor de uma tese.
98
Raciocinando por dois lados, primeiramente tem-se que é inadmissível que uma
pessoa que tanto tempo lida com o comércio não conheça minimante as regras fiscais ou
penais respectivas, ou seja, que é vedada a comercialização de qualquer mercadoria sem nota
fiscal respectiva. Por uma segunda perspectiva, denota-se que a humildade e o pouco estudo
da acusada talvez realmente a impedissem de conhecer o sistema legal brasileiro, que esse
possui divulgação e circulação precárias.
Não se pretende aqui escusar a responsabilidade da acusada que alega, em última
instância, o desconhecimento da lei para a prática do crime; o que se sabe é que as operações
de retextualização suprimiram o relatado pela acusada, refletindo um texto escrito formal,
com material lingüístico suficiente para a condenação da acusada, pois, segundo o texto
retextualizado, a acusada assumiu o risco de adquirir produtos furtados, sem qualquer
questionamento, o que a coloca na condição de autora do crime de receptação.
Exemplo retirado do Depoimento Policial 5 – 29/08/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Delegado: ((comentários alheios com a escrivã)) ((perguntando ao acusado)) ocê
sabia que num podia comprar arma num bar né? ocê tem consciência disso? que
num pode comprar arma num bar de quem te oferece assim?
Acusado: tenho
Delegado: tem num tem? onde que a gente compra uma arma?
Acusado: ... a gente tem que compra:: numa casa de arma
Delegado: na casa de arma né... então ocê sabia que tava fazendo uma coisa que
num era certa num sabia?
Acusado: é... (incompreensível) mai na hora foi que falô né eu também que falo lá
assim que sustentá meu menino ... num sei o quê aí
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado)
QUE tem pleno conhecimento de que não é correto comprar arma de fogo de
terceiros em um bar, tendo ciência de que arma de fogo somente deve ser adquirida
em casas autorizadas para revenda de tais objetos;
O trecho exposto serve para demonstrar que o operador do Direito, ao perguntar
ao acusado ocê sabia que num podia comprar arma num bar né?”, afirma a sua resposta,
impondo-lhe algo afirmativo sobre o que pergunta. Mais uma vez, demonstra-se a indução da
pergunta no tocante à resposta. É inegável que a aquisição de arma de fogo em um bar
reveste-se de ilegalidade. Deve haver licença autorizativa para tanto. Não obstante, o
Delegado faz questão de inserir tal questionamento e, sobretudo, a reposta do acusado no
depoimento, a fim de que se constate a natureza ilícita da ação do acusado. Importante ainda
99
frisar que o Delegado, ao perguntar, insere, no final da pergunta, o marcador discursivo fático
“né”, que reforça a afirmação feita no discurso imediatamente precedente, induzindo o réu a
responder afirmativamente. Interessante ressaltar que o Delegado é figura que demonstra
poder na cultura brasileira e para negar sua afirmação, o réu terá que fazê-lo corajosa e até
audaciosamente. Assim, uma pergunta que afirma torna-se bem mais difícil de ser negada.
Portanto, trata-se de uma pergunta retórica. Essa também parece ser uma das estratégias para
fazer com que o acusado acabe confessando o crime cometido e, por conseqüência, seja
condenando.
O uso de “perguntas retóricas” para conseguir o assentimento do acusado é
estratégia recorrente na atividade de retextualização realizada durante as Tomadas de
Depoimento de acusados/réus.
Exemplo retirado do Depoimento Policial 6 – 30/08/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Delegado: ocê mora sozinha?
Acusada: eu moro sozinha na minha casa... eu moro sozinha
Delegado: /quanto tempo ocê tá morando lá?
Acusada: acho que vai fazê dois meses que eu mudei pra lá
Delegado: e aquela moça que tava lá... ((nome da moça em tom alto)) o quê que ela
faz lá?
Acusada: não num tem nada a vê
Delegado: ahn?...
Acusada: ela foi durmir comigo essa noite porque eu tava sozinha
Delegado: /num foi isso que ela falou aqui não
Acusada: ela num mora comigo não
Delegado: anh? o quê que é sua casa? é uma casa de encontro?
Acusada: na::o
Delegado: /é uma casa onde as pessoas vão procê podê:: arrumá os clientes pra elas?
Acusada: não... eu num mexo com esse negócio de prostituição
Delegado: anh? não mexe?
Acusada: não
Delegado: /com nada?
Acusada: não eu não
Delegado: eles deram uma batida na sua casa já? pra esse negócio de
prostituição?
Acusada: não
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
QUE afirma que sua moradia não é destinada a prática de encontros amorosos ou
prostituição, residindo sozinha na casa; QUE quanto a pessoa de M que estava em
sua residência quando da abordagem policial, alega ser somente sua conhecida,
tendo pedido a mesma que dormisse consigo nessa noite pelo fato da energia de sua
residência estar cortada, tendo ficado com medo de pernoitar sozinha;
100
Observe-se que, por esse exemplo, o Delegado de Polícia acusa a depoente de,
além de vender drogas em sua casa, fazer de sua residência um local de prostituição; e que a
pessoa que ali se encontrava era prostituta. Tais fatos são negados pela depoente que, a todo
tempo, afirma morar sozinha e que, apesar das evidências, a pessoa que se encontrava em sua
casa era apenas uma conhecida sua. Os dêiticos lá; ocê; dois meses; lá; aqui; esse negócio”
entre outros, assim como no exemplo do Depoimento Policial 2 (Anexo), são utilizados nos
processos de retextualização. As demais operações de eliminações de marcas estritamente
interacionais, como o marcador conversacional “ahn”, também estão presentes nesse
exemplo. A resposta da acusada sobre a presença da moça em sua residência demonstra uma
argumentação contrária a uma acusação implícita “não num tem nada a vê”. A acusada
percebe que o Delegado, ao perguntar “e aquela moça que tava lá... ((nome da moça em tom
alto) o que que ela faz lá?, tentava atribuir a ela, moça, a condição de prostituta e de que
estaria ali também para vender drogas ou para se prostituir. As inversões e reordenações
sintáticas, como o exemplo que se segue não... eu num mexo com esse negócio de
prostituição” retextualizado em que afirma que sua moradia não é destinada à prática de
encontros amorosos ou prostituição”, em que o operador do Direito nominaliza, passa o
trecho para o discurso indireto, por meio de verbo discendi demonstra, mais uma vez, o
distanciamento do texto escrito em contraposição com o envolvimento do oral. A
retextualização, mais uma vez, com esse exemplo, nas Tomadas de Depoimento do
acusado/réu, perfaz-se como elemento que contribui para incutir culpa ao interrogando, como
no caso em tela, em que se gera a dúvida (inclusive com a introdução de verbo discendi) sobre
a negativa da acusada de que não praticara os delitos de tráfico de drogas e de manter casa de
prostituição.
Exemplo retirado do Depoimento Policial 7 – 12/09/2006:
EXTRATO DE DEPOIMENTO TRANSCRITO:
Juiz: ((interrogando o acusado)) eles pediram procê parar e ocê parou?
Acusado: saí correndo
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula... estes que... pediram ao declarante...
que ficasse parado... vírgula... oportunidade em que não obedeceu à ordem dos
militares
Delegado: ((interrogando o acusado)) aí ocê saiu correndo?
Acusado: correndo não
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ao aviso dos militares... e saiu correndo
((interrogando o acusado)) em direção daquela/do matagal também?
Acusado: não... foi pra cima / morro acima... em estado livre
101
EXTRATO DE TERMO DE DEPOIMENTO (retextualizado):
abordado por Policiais Militares, este que não obedeceu a ordem dos militares e saiu
correndo morro acima;
Pelo exemplo do trecho sete é possível notar que o discurso do Delegado de
Polícia é construído no sentido de demonstrar a personalidade arredia do acusado. Ao lhe
perguntar se havia corrido quando lhe foi determinado pelos policiais que parasse, respondeu
que correndo não”, ao passo que no depoimento oficial o operador do Direito insere que o
acusado, mesmo diante da ordem de parada dos policiais militares, continua correndo morro
acima. Ora, além do furto que se pretende configurar durante a oitiva do acusado, o operador
do Direito também demonstra que o acusado é pessoa arredia que não cumpre com as ordens
que lhe são proferidas. Essa situação pode interferir não só no que tange à medida da pena que
lhe era aplicada, bem como na prática de até mesmo outro delito, que é o de desobediência a
funcionário público que emana ordem legal (artigo 330 do CPB – Crime de Desobediência)
Mais uma vez, comprova-se que a atividade de retextualização no processo penal
pode vir a servir como instrumento de condenação do acusado/réu.
Conforme se demonstrou pelos exemplos acima enumerados, ocorrem várias
mudanças na passagem do oral para o escrito, durante as atividades de retextualização nos
eventos Tomadas de Depoimento”, ocorridos durante as audiências tanto em Delegacias de
Polícia como em Fóruns.
É possível denotar que as operações de retextualização implicam, assim como
proposto por Chafe (1982) e Jönsson & Linell (1991), certo distanciamento do operador do
Direito em relação aos fatos alegados pelos acusados/réus. Esses, por sua vez, demonstram,
durante seus relatos, inequivocamente, bastante envolvimento, mesmo porque estão sendo
acusados da prática de um ilícito penal e podem, até mesmo, vir a ter sua liberdade cerceada
em razão do que lhes está sendo imputado.
Cabe ressaltar que as marcas lingüísticas evidenciadas neste capítulo comprovam
as transformações ocorridas durante o evento Tomada de Depoimento”, que podem levar à
mudança sintática, morfológica e até semântica que, por sua vez, pode determinar a
condenação do acusado/réu.
Os aspectos legal e técnico imprimidos nos textos escritos “Termos de
Depoimentos” constituem-se em estratégias recorrentes durante a passagem do oral para o
escrito. Com isso, muitas vezes, conforme argumentado por Alves (1992), o operador do
102
Direito não preserva o conteúdo do texto-depoimento e o registro do depoimento torna-se,
efetivamente, fruto de uma decisão interpretativa desse profissional.
Note-se, no entanto, que Alves (1992) referia-se, tão somente, ao depoimento
prestado por testemunhas durante audiências de instrução e julgamento de crimes da
competência do Tribunal do Júri. No caso deste estudo, foram analisados depoimentos
prestados por acusados/réus em Delegacias e em Fóruns. Assim, de uma forma muito mais
contundente, foi possível detectar que, durante os interrogatórios, o operador do Direito utiliza
largamente tais estratégias na retextualização do oral para o escrito.
Como resultado das atividades de retextualização, a construção de um texto
escrito, ora denominado de “Termo de Depoimento”, imbuído de decisões interpretativas e de
conteúdo, por vezes, tão diferente do construído durante a interlocução, que se torna possível,
exatamente com base nessas alterações, a condenação do acusado/réu.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho ora desenvolvido poderá ser utilizado como mais um instrumento
contra o uso (in)adequado e (in)eficiente da linguagem técnica, apontando caminhos a serem
percorridos, a fim de que a Linguagem Jurídica possa ser exercida como elemento propiciador
de eqüidade nas relações jurídicas e sociais.
A Linguagem Jurídica, em sendo um tipo de linguagem, deve promover interação
social e harmonia dos sentidos produzidos em qualquer situação de interlocução.
Obviamente, o que se pretendeu dizer quando se disse que a Linguagem Jurídica
não é interativa é que, durante a Tomada de Depoimento, embora construída num processo
dialógico entre dois interlocutores, seu sentido é determinado, na maioria das vezes, ou nos
pontos determinantes, pelo operador do direito, utilizando um discurso jurídico penal prévio
de condenação.
O confronto entre os textos transcritos e os textos orais apontou para a
confirmação da existência da manipulação no discurso jurídico penal, obtida, principalmente,
pela retextualização.
Não se pretendeu com este trabalho realizar uma apologia da linguagem coloquial
em detrimento da formalidade que a Ciência do Direito requer. O que se combate é o exagero
da interferência do operador do direito e das mudanças que provoca que podem dar causa à
dominação e a uma condenação. Objetivou-se tão-somente evidenciar a importância do uso
adequado da linguagem e a produção do sentido por parte de todos os interlocutores de um
contexto jurídico. Deve-se realizar a interação efetiva e a produção conjunta do sentido entre
os seres; e, ainda, deve-se procurar alcançar uma tomada de decisão que seja decorrente de
todos os discursos construídos, conquistando, destarte, a tão almejada justiça.
É de se salientar que o processo penal, cujos dispositivos neste estudo foram
inseridos, com os seus procedimentos, pretende não a condenação do acusado/réu. Na
verdade, visa à elucidação dos fatos, ao esclarecimento se o crime aconteceu ou não e se o
acusado/réu é, ou não, seu autor. É isso claramente o que dispõe o artigo 188 do CPP,
conforme já mencionado neste estudo.
104
Não obstante, ao se defrontar com as regras do Direito Processual Penal, fica
patente o temor que os interrogandos possuem ao se depararem com os profissionais do
Direito e com a ritualística imposta. Normalmente trata-se de pessoas pobres, sem grande
letramento e que, facilmente, são manipuláveis pelo operador do direito. Talvez uma sugestão
que pudesse surtir algum efeito para uma maior eqüidade durante as Tomadas de Depoimento
dos réus/acusados seria a gravação dessas; e que também houvesse alteração legal a fim de
que, a todo tempo, pudessem ser os acusados/réus acompanhados de um profissional do
direito, isto é, de um advogado, bem como os próprios acusados/réus pudessem “ditar” ao
escrivão “suas falas”.
A sugestão para alterar o procedimento processual penal corrobora os princípios
constitucionais vigentes que garantem a ampla defesa ao acusado. Essa ampla defesa,
certamente, não se restringe ao saber lingüístico, mesmo porque não se duvida que todo
falante o detenha. Refere-se, especificamente, ao saber jurídico circunscrito ao operador do
Direito, o que pode acabar causando injustiças dentro da Ciência do Direito que, ao contrário,
possui como único objetivo a promoção, em sentido contrário, da justiça.
Este estudo, conforme se antecipou, não possui caráter de hermenêutica
jurídica. Todavia, ao se constatarem as inúmeras interferências que o operador do Direito
realizou durante as Tomadas de Depoimento do acusado/réu, produzindo sentidos outros que
não o construído no discurso único do leigo, parece claro que a processualística penal deve ser
alterada com o fim de propiciar, no mínimo, maior justiça.
É inegável que o processo, por si só, é uma tortura. Quando alguém não
detentor de qualquer proficiência jurídica senta-se em frente ao Juiz ou ao Delegado para
responder-lhes fatos, inclusive da vida pessoal, isso é, no mínimo, constrangedor. A
desigualdade é não só cultural e social, mas especialmente lingüística e jurídica.
Dessa forma, não se concebe a linguagem, que é o próprio homem, podendo ser
instrumento de manipulação e de dominação.
Pela análise do discurso jurídico construído em (pelos) documentos reais, tanto
existentes na Justiça quanto na Delegacia, que comprovaram, por vezes, ocorrer a
manipulação por meio da linguagem, este trabalho aponta para o incentivo ao bom uso da
Linguagem Jurídica, privilegiando a clareza, a objetividade e o entendimento entre os seus
interlocutores, alertando os profissionais e pesquisadores, tanto da linguagem, como
principalmente da Ciência Jurídica, de que essa é, sobretudo, elemento de harmonização
social.
105
Em sendo assim, se houver o uso adequado de uma Linguagem Jurídica
proficiente (que produza interação e harmonização), utilizando-se, para tanto, de menos
preciosismos (tecnicismo exacerbado e estratégias lingüísticas e jurídicas de condenação) e
realizando a Tomada de Depoimentos sem interferências manipuladoras que levam à tomada
de decisão baseada apenas na voz discursiva jurídica, será possível vislumbrar um mundo
jurídico integrado aos demais, iniciando, pela linguagem destituída de demonstração de poder,
a construção de uma sociedade mais justa.
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XAVIER, Ronaldo Caldeira. Português no Direito. Rio de Janeiro: Forense, 1990.
ANEXO
DEPOIMENTOS JUDICIAIS
1) DEPOIMENTO DE (NOME DO RÉU) PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA
COMARCA DE SÃO GOTARDO, EM 23/10/02, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE RECEPTAÇÃO
DE ARMA DE FOGO FURTADA NA DELEGACIA DE POLÍCIA DE SÃO GOTARDO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Juiz de Direito, da Escrivã Judicial e do Réu)
Após a leitura da denúncia oferecida pelo Ministério Público, oJuiz de Direito pergunta ao acusado:
Juiz: estes fatos são verdadeiros... são falsos ou são parcialmente verdadeiros?
Réu: são parcialmente verdadeiros
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que são parcialmente verdadeiros os fatos narrados na denúncia... ((Juiz
questionando o réu)): me conta o quê que foi? ...cumé que foi o seu envolvimento?
Réu: não... a única imparcia/ a única coisa que não é::: cem por cento correta é que nós não sabíamos... tanto eu
como o W... que cê citou... que era produto de crime
Juiz: /pois é... o G veio te vender a arma mesmo?
Réu: /NÃO foi o G que veio me vendê
Juiz: /cumé que foi então? quando u senhor veio a adquirir a arma... cumé que se passaram os fatos::?
Réu: /O FATO:: da aquisição da arma se ocorreu da seguinte maneira: ... eu vinha me dirigindo por uma rua... do
Bairro São Geraldo... próximo à minha ca::sa
Juiz: /uhn
Réu: /e um BA:R
Juiz: /uhn::
Réu: /um outro uma outra pessoa me ofereceu a arma
Juiz: /quem que foi?
Réu: ê esse cara tava junto com... um dos dois que entraram na delegacia... eu não conheço essa pessoa
Juiz : /u senhô não conhecia essa pessoa nã::o
Réu : /não... ele me chamou... tava passando mas tava
Juiz: ((para a escrivã)) /estava passando próximo a um bar
Réu: /próximo a um bar
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /quando uma pesso:a
Réu: /quando uma pessoa DESCONHECIDA
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /que não conhecia... o chamou... ((questionando o réu)) prá oferecer uma arma...
foi isso?
Réu: isso... por porque ô: ...eu sou conhecido... muito conhecido lá... nesse nesse bairro... tanto nas cidades
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) para lhe oferecer uma arma de fogo... que é muito... que o depoente é:: muito
conhecido... que o declarante é:: muito conhecido na: região
Réu: /ele me ofereceu... pedindo... pela arma o valor de setenta reais
Juiz: /mostrou a arma pro senhô na hora mesmo?
Réu: não... ele falou ó:... eu tenho uma arma aqui é:: eu quero setenta reais...
Juiz: uhn
Réu: /notei que a::: (incompreensível)
Juiz: / (só descreveu)?
Réu: ((gaguejando pouco)) eh eh nem nem nem falou u calibre que é não porque ele tinha uma outra arma
também
Juiz: /ahn::: tá ... sei
Réu: /lá na hora... ele falou é::: setenta reais... eu tava com uma nota de cinquenta no bolso né::
Juiz: /unh::
Réu: ele falou eu falei que tipo de arma que é ? ele falou vamo ali... /eu tava dentro do carro/ vamo ali no
banheiro que eu te mo::stro
Juiz: /uhn:::
II
Réu: eu desci... fui olhei... (eu eu nem vi) qual das duas /foi até uma trinta e dois a que eu peguei... eu fui
peguei né falei ó: num tenho setenta eu tenho cinqüenta... tirei do bolso cinqüenta... daí peguei a arma... aí vendi
a arma... no outro dia troquei a arma... no outro dia
Juiz: /tá... ((ditando para a escrivã)) que o declarante foi ao banheiro do bar com a pessoa para pegar a arma
sendo que esta última pediu o preço de setenta reais ((questionando o réu)) era um revólver trinta e dois?
Réu: trinta e dois
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que a arma era um revólver... ((Juiz questionando o Réu)) lembra... a marca u
senhô sabe?
Réu: é: esse t d::
Juiz: /t d:: ( incompreensível)/
Réu: /uma arma uma arma um pouco diferente... não era uma arma normal... taurus... rossi
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /que a arma e::ra... um revólver calibre trinta marca t d m r...
Escrivã: td m E?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) isso... M R... que o declarante ofereceu pela mesma a importância de cinquenta
reais ((questionando o réu)) e aí fecharam o negócio?
Réu: isso... peguei a arma coloquei no carro... ((falando um pouco trêmulo)) a transação durou mais ou menos
uns trinta segundos
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /reais e::: e foi fechado o negócio... negócio e foi fechado o negócio neste valor
((questionando o réu)) o senhor pegou a arma e aí?
Réu: eu peguei a arma coloquei no carro... tinha jogo de futebol marcado no clube:
Juiz: unh
Réu: /voltei depois depois eu entreguei a arma
Juiz: /no mesmo dia?
Réu: procurei vendê
Juiz: /(no dia seguinte)?
Réu: /não... procurei vendê no mesmo dia que eu não encontrei logo o pessoal no dia segui::nte no mesmo
dia
Juiz: /quando u senhô comprou o intuito já era de revendê?
Réu: ERA... cem por cento comercial... era de revendê... tanto que tava até sem bala nem procuramo atirar nem
sabe se se:: nosso intuito num e:ra
Juiz: /a arma tava sem munição?
Réu : sem munição
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que a arma estava desmuniciada
Réu: /não temos nenhum intuito com a arma não... era comercial... tava muito barato
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que não tinha ciência de que a arma era roubada
Réu: /posso fazer uma ressalva?
Juiz: pode
Réu: é: ocê notou que: foi a arma foi roubada no::: um dia antes e eu adquiri logo um dia de manhã a CIDADE
ainda não sabia do fato dessas armas terem sido roubadas... eu adquiri logo... poucas horas depois
Juiz: /u senhô recorda o dia que foi isso?
Juiz: foi num DOMINGO que eu que eu adquiri a arma... num domingo DE MANHÃ... aproximadamente oito
horas da manhã
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) (volta pro início do depoimento) que num domingo de manhã... vírgula... estava
passando e continua... quando uma pessoa (incompreensível) ((questionando o réu)) u senhô não desconfiou
do preço não... u senhô mesmo falou que tava muito barato?
Réu: desconfiei do preço
Juiz: /mas ainda assim resolveu?
Réu: /ainda assim::
Juiz: /chegou a perguntar pra ele?
Réu: nã::o
Juiz: /por que que ele tava vendendo essa ar::ma... esse tipo de coisa?
Réu: /não... não cheguei a perguntar não... principalmente porque ele tava com mais de uma
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) é:: que achou o preço da arma... ((questionando o Réu)): mas chegou a desconfiar
então da (incompreensível)?
Réu: cheguei a desconfiar... assim... ele tava com duas armas
Juiz: / desconfiar do quê? vamos dizer assim
Réu: ele tava com duas armas... eu notei que ele tava querendo vender prá se livrar logo daquela daquelas
armas... por isso que tava num preço mais barato
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que achou o preço barato... desconfiou da procedência porque a pessoa parecia
querer se livrar das armas já que esta::va ((Juiz questionando o Réu)) eram DOIS revólveres?
III
Réu: dois revólveres
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que estava com DOIS revólveres... mas mesmo assim... resolveu fechar o
negócio... seu intuito sempre foi o de comê/ comercializar a arma com com terceiros... ((questionando o réu)): o
senhor trabalha nesse ramo de de venda de arma alguma coisa? ou nada a vê? pra ganhar um dinheirinho por
fora?
Réu: NÃO... isso era... porque... eu trabalho com sementes... trabalho (mecânico parte mecânica) com
sementes e nunca... nada
Juiz: /nunca nada a vê com venda de arma não né:?
Réu: esse negócio foi SIMPLESMENTE porque... normalmente você nas fazenda conversando sempre o
pessoal das fazenda pergunta... né::... fala ó meu revólver tá:... eu querendo comprar um... fui comprar um
paguei quatrocentos reais
Juiz: /tá... ((dirigindo-se à escrivã)) que não trabalha no ramo de armas mas de sementes vírgula... mas sempre vê
pessoas querendo comprar armas nas fazendas por valores em torno de quatrocentos reais ((questionando o réu))
quantos dias depois o senhor vendeu a arma?
Réu: eu ENTREGUEI ela três dias depois
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que conseguiu entregar três dias depois ((questionando o réu)) quando o senhor
VENDEU... u senhô já estava sabendo do furto lá: da: delegacia?
Réu: não... ainda não
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que quando vendeu a arma... ainda não tinha conhecimento do furto ocorrido na
delegacia de São Gotardo... ((questionando o réu)): como que u senhô vendeu a arma?
Réu: eu fiz uma troca por umalarme de carro
Juiz: AH::.. não foi uma venda não?
Réu: /não... nã::o
Juiz: /o senhor tem idéia de quanto valia o alarme?
Réu: aproximadamente duzentos reais
Juiz: foi... pau a pau? nu::m voltou alguma coisa... dinhei:ro
Réu: /nã::o nã::o/
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /que conseguiu negociar a arma... onde ocê vendeu... três dias depois...
(começa aí... que negociou a arma) aí ocê pode por uma vírgula antes do ponto e vírgula... (incompreensível) que
negociou a arma três dias depois... vírgula... isso... recebendo... aí... recebendo em troca ... ((questionado o réu))
o quê que foi?
Réu: um alarme automotivo
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /um alarme de veículo... que avalia ((questionando o réu)) foi u senhô mesmo que
avaliou... o::u preço de mercado::?
Réu: não... é o preço de mercado
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) é: então (incompreensível) preço de mercado é duzentos reais... vírgula sendo que
na negociação... sendo que a negociação não envolveu dinheiro... quando negociou a arma em vez de vender...
(incompreensível) ((questionando o réu)) pra quem que o senhô::: negociou a arma?
Réu: pro W
Juiz: /pro W?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) (incompreensível) que conseguiu negociar a arma três dias depois... vírgula com
aí... a pessoa de nome W (incompreensível)... certinho... ((questioanando o réu)) u:: senhô... é:: essa arma que
u::: senhor comprô:: ti:nhá: porte de arma éh::... registro... alguma coisa desse tipo... u senhor chegou a conferi::r
ou nem tomou nenhum conhecimento disso?
Réu: /não tomei nenhum conhecimento
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que não tem conhecimento se a arma adquirida tem registro... ((questionando o
réu)) u senhô não tem porte de arma não... tem?
Réu: negativo
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que não tem porte de arma ((questionando o réu)) u senhô tem conhecimento de
de de simplesmente portar arma constitui... um crime atualmente?
Réu: com certe:za:
Juiz ((dirigindo-se à escrivã)): que tem conhecimento de que o porte de arma constitui crime... ((questionando o
réu)) o: senhor conhece as provas du du desse processo?
Réu: não
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que não conhece as provas do processo ((questionando o réu)) conhece alguma
dessas testemunhas aqui ó::: é::: A M que teria participado lá do furto da delegacia?
Réu: /não
Juiz: /T X S... O T... policial civil... L F P... policial civil... e C J D... policial civil?
Réu: o L F... sim eu conheço...
IV
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que das testemunhas... conhece... que das testemunhas da denúncia conhece L F...
mais algum?
Réu: O T... tem algum::
Juiz: aqui ó... quem o senhor tem que perguntar... eu também não conheço
((Risos e murmúrios discretos))
Réu: esse nome não me é estranho::... ah::: também conheço
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): conhece L F e O ((questionando o réu)): o senhor foi preso ou processado
alguma vez?
Réu: sim
Juiz: /por quê? preso ou processado?
Réu: processado... por porte ilegal de arma.
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que foi processado por porte de arma ((questionando o réu)) foi esse processo
que tá com: suspensão condicional... né?
Réu: isso
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) o denunciado... vírgula... estando cumprindo suspensão condicional... aliás... põe
assim... sendo beneficiado com a suspensão condicional... ((questionando o réu)) u senhô tem advogado...
constituído prá defendê-lo ne nesse processo?
Réu: não sabia que tinha necessidade
Juiz: é: mai mai vai haver necessidade né::... pra pra alguém fazê a defesa do senhô:: é:: das duas uma... ou o
senhô:: ou nós vamo que nomeá um um defensor pro senhô entendeu? seria um defensor dativo... ou o
senhô... o senhor tem condições de contratá alguém?
Réu: tenho tenho condições... eu não sabia que tinha necessidade... mas caso venha a ter... posso solicitar:: a
presença dele
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) (nesse caso... incompreensível) pois é:: mas o senhor já sabe quem é que o senhor
vai
Réu: /sei
Juiz: /pois é... quem é que é?
Réu: o J
Juiz: (incompreensível) é o nome do advogado?
Réu: o J é::: deixa eu me lembrar o nome dele (incompreensível)... E
((Cumpriram-se as demais formalidades de encerramento de uma audiência de interrogatório de um réu, sem
mais questionamentos.))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO JUDICIAL N˚1
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
COMARCA DE SÃO GOTARDO
TERMO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO
Aos vinte e três (23) dias do mês de Outubro de 2002, às 13:00 horas, nesta cidade de São
Gotardo, no Fórum local, onde se achava o Dr. (nome do Juiz), MM. Juiz de Direito da Vara Criminal desta
comarca, comigo escrevente ao final nomeada e assinada, compareceu, em virtude da citação retrocertificada, o
(a) acusado (a) a quem o MM. Juiz passou a qualificar do modo seguinte: o (a) acusado (a), livre de qualquer
coação, respondeu chamar-se, (nome do réu), nascido em (nome da cidade), em (data de nascimento), solteiro,
representante comercial, filho de (nome dos pais do réu), residente (endereço do réu). Disse saber ler e escrever.
Nomeação de Curador : não. Em seguida o MM. Juiz, depois de cientificar a (o) (u) da acusação constante
destes autos e do dispositivo no art. 186 do CPP, c/c art. LXIII, da CF, passou a interrogá-lo (a) na forma
legal, e, às suas perguntas, respondeu-lhe o (a) acusado (a) do modo seguinte: que são parcialmente
verdadeiros os fatos narrados na denúncia; que num domingo de manhã, estava passando próximo a um
bar, quando um pessoa que não conhecia o chamou para lhe oferecer uma arma de fogo, porque o
declarante é muito conhecido na região; que o declarante foi ao banheiro do bar com a pessoa para ver a
arma sendo que esta última pediu o preço de setenta reais; que a arma era um revólver calibre 32, marca
DVMR, que o declarante ofereceu pela mesma a importância de cinqüenta reais e foi fechado o negócio
neste valor; que arma estava desmuniciada; que não tinha ciência de que a arma era roubada; que achou
V
o preço barato e desconfiou da procedência; porque a pessoa parecia querer se livrar das armas, que
estava com dois revólveres, mas ainda assim resolveu fechar o negócio; que seu intuito sempre foi o de
comercializar a arma com terceiros; que não trabalha no ramo de armas, mas de sementes, mas sempre vê
pessoas querendo comprar armas nas fazendas por valores em torno de quatrocentos reais; que conseguiu
negociar a arma três dias depois, com a pessoa de nome (nome), recebendo em troca um alarme de
veículo, cujo preço de mercado é de duzentos reais, sendo que a negociação não envolveu dinheiro; que
quando negociou a arma, ainda não tinha conhecimento do furto ocorrido na Delegacia de São Gotardo;
que não tem conhecimento se a arma adquirida tem registro; que não tem porte de arma; que tem
conhecimento que o porte de arma constitui crime; que não conhece as provas do processo; que das
testemunhas da denúncia, conhece (nomes de duas testemunhas); que foi processado por porte de arma,
sendo beneficiado com a suspensão condicional; que tem Advogado na pessoa do Dr. (nome do advogado).
TERMO DE DELIBARAÇÃO: Após o interrogatório, o MM. Juiz proferiu o seguinte despacho: “Intime-se o
Advogado do réu para apresentar defesa prévia e arrolar testemunhas no prazo de três dias.” Nada mais
havendo, mandou o MM. Juiz encerrar o presente.
MM.JUIZ :
RPM :
INTERROGADO :
VI
2) DEPOIMENTO DE (NOME DO RÉU) PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA
COMARCA DE SÃO GOTARDO, EM 23/10/02, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE HOMICÍDIO
QUALIFICADO CONTRA SEU IRMÃO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Juiz de Direito, da Escrivã e do Réu)
Após a leitura da denúncia oferecida pelo Ministério Público, oJuiz de Direito pergunta ao acusado:
Juiz: este fato é verdadeiro... é falso?
Réu: NÃO... é falso
Juiz: não tem nada aqui que é verdadeiro... que eu cheguei a lê pro senhô:::
Réu: não... tudo /é totalmente diferente
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia... ((dirigindo-se ao Réu))
me conta comé que se passaram os fatos
Réu: o causo foi antes da meia-noite ... o causo eu tava no fundo...
Juiz : /comé que é? começa por favor
Réu: o causo foi antes da meia-noite ... (imcompreensível) Ô:: eu tava no fundo “cu cumeçando” a comer um
churrasco
Juiz: /pois é... mas éh::: começa então... vão:: vão pro início... o senhô senhô tava sem falar com seu irmão
realmente?
Réu: o:: início seguinte... não se falava com ele há mais de um ano... porque um ano atrás... eu:: eu fui num lixo
levar um lixo pra jogar lá... ele passou... como ele tava meio tonto... eu fechei a cara...
ele me jogou um estilete...
Juiz: /tá/... ((dirigindo-se à escrivã)) que há um ano não falava com seu irmão
porque:::
Réu: /um estilete com::: com elástico
Juiz: ((ditando para a escrivã)) ... tiveram uma briga
Réu: /NÃO tivemo uma briga
Juiz: /não foi uma briga não? foi o quê? uma discussã::o ...
Réu: ((gaguejando)) eu eu fechei a cara e e::le me jogou de longe um... um estilete com elástico
Juiz: /ahn:::
Réu: ((incompreensível)) atingiu o nariz deu três pontos... isto tem na justiça provado isso aí
Juiz: /então foi e::le que agrediu o senhô... foi isso?
Réu: ELE que me agrediu
Juiz: ((ditando para a escrivã)) porque este o agredira tempos atrás ((questionando ao réu)) cumé que foi essa
reaproximação? (incompreensível) daí num num falava com ele... encontrou ele em que condições... para
voltar a ter esse contato?
Réu: não
Juiz: (que levou) a fazer churrasco?
Réu: daí... ele passava (por) mim... ele falava comigo... mais num falava com e::le eu num convidei ele prá i::r na
minha casa... ele foi... chegou ficou em pé do lado de fora oiando eu lá
Juiz: /pois é... mas an antes do churrasco? o senhor tinha encontrado com ele falado ó vamo fazê as pazes,
vamo vamo::
Réu:/não não não
Juiz: não tinha tido nenhum contato com ele em um ba:r... ou coisa do tipo não?
Réu: ele sempre falava comigo... mas eu não respondia
Juiz: ahn
Réu: ele falava (eu largava pra lá)... cê entendeu cumé que é o negócio?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): (incompreensível) ((dirigindo-se ao réu)) aqui consto::u o depoimento que o
sinhô prestô na delegacia foi o seguinte: que há alguns dias atrás é.. o declarante e seu irmão voltaram a se falar
quando se encontraram num bar... éh:: o senhor realmente encontrou ele num bar e:: voltaram a falar e:::?
Réu: /ele passou num bar uns dias atrais... mais ((gaguejando)) e:le falou comigo mais eu nun fa falei co ele
num falei co’ele
Juiz: /unh...
Réu: eu geralmente em qualquer lugar que ele chegava ele falava
Juiz: /ele puxou papo e u senhô não deu papo:: num é isso?
Réu: eu saía né ... eu saía...
Juiz: e aconteceu isso de novo... nesse dia do bar?
Réu: não não... não esse dia eu tava em casa
VII
Juiz: /não é no dia do churrasco não... éh: nesse dia do bar aqui que o senhor falô que teria encontrado com ele
em poucos dias
Réu: não e::le sempre... eu passava por ele na estrada o::u na rua... qualquer lugar... e::le conversava... eu... num
respondia... eu num respondia
Juiz: ((ditando para a escrivã)): quando o seu irmão o encontrava... puxa-va assun-to... mas o declarante na-da
respondia...((dirigindo-se ao o réu)) então vamo lá pro dia agora dos fatos... como é que aconteceu?
Réu: eu tava eu tava cu cumeçando um churrasco
Juiz: /sozinho?
Réu: sozinho
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que no dia dos fatos estava... ((dirigindo-se ao réu)) na sua casa?
Réu : na minha casa
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): estava na sua casa começando... um churrasco... sendo que estava sozinho
(dirigindo-se ao réu) não tinha mais ninguém? AMIGO... parente...
Réu: /mai ninguém... mai ninguém
Juiz: ninguém? certinho... então vamo lá... e aí? aí ele chegou
Réu: aí ele chegou ficou em pé mais a muié a ... o nome dela éh::... acho que é J...
Juiz: unh
Réu: daí a pouco chegou um gato
Juiz: unh...
Réu: o que ele fêz... ele pegou o gato... ela segurou e ele matou ele co a faca
Juiz: unh... pois éh... mas é::: o churrasco que o senhô tava fazendo então era sem gato
Réu: /não... nã não tem gato não... não tinha gato
Juiz: /era de carne mesmo
Réu: era de carne mesmo a carne tava lá prá assar
((risos discretos))
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que:: seu irmão... que momentos depois... seu irmão... chegou ao local...
juntamente com sua mulher ((dirigindo-se ao réu) aí... o senhor convidou ele para entrar? ou ele foi entrando?
Réu: não ele veio pelos fundos né... (eu) tava nos fundos da casa da...da::
Juiz: /pois éh... mais aí e::le pediu permissão du senhor pra entrar já (que o senhor não .incompreensível...)
(Réu): /não ele num falou na::da e chegou e falo
(nóis veio comê) churrasco... tem churrasco foi o que ê falô
Juiz: / FOI? e aí u senhor não falou nada? deixô
Réu: /eu falei nada... fiquei só oiando
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): juntamente com sua mulher... vírgula... entrando pelos fundos... dizendo... é::
((dirigindo-se ao réu)) que ele falou o quê... tava tendo churrasco?... eu vou ficar?
Réu: não ê só falo que ia comê churrasco... eu num respondi nada não
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) dizendo que (ia) para o churrasco... sendo que... o declarante nada
respondeu... que passou... um gato pelo local... (incompreensível) e o declarante é:: o matou... ((dirigindo-se ao
réu)) e aí depois disso?
Réu: ((gaguejando)) a aí a a muié dele jogou o gato no chão... a muié saiu... eu também peguei saí... por dento da
casa... cê entendeu?
Juiz: uhn::
Réu : eu fui o telefone... cheguei não consegui telefonar... (que eu falei) ês arrumaram uma coisa aqui em
cima de mim... né... daí quando eu voltei... e:u... (a parte) na frente tem uma garage... na garage... quando eu
cheguei... eu tomei uma facada na ponta do braço... e deu muito sangue
Juiz: /i não teve nem conversa?
Réu: não não eu dexei::
Juiz: / u senhor...(incompreensível) nada
Réu: / nada nada
Juiz: /então vamo tentar... bem bem especificadamente... é:: ta tamo na hora que que u gato morreu... depois
disso quê que o senhor fez?
Réu: ((gaguejando muito)) o... a a mmuié:: passou prá trais e eu: saí pe pela pela ca:sa
saí pra fora de casa e fui no telefone éh... (incompreensível) ...
Juiz: saiu prá fora de casa o senhor (incompreensível)
Réu: /...e ê ficô lá... oiando o churrasco lá...
Juiz: uhn:: (dirigindo-se à escrivã) que após isso o declarante saiu de casa para dar um telefonema... sendo que a
mulher... de seu irmão... também saiu ((Juiz dirigindo-se ao réu)) ela saiu pra quê? ... o senhor sabe?
Réu: num sei... não sei qual a intenção
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): também saiu não sabendo qual motivo... vírgula... sendo que seu irmão ficou
na casa olhando o churrasco... e aí?
VIII
Réu: aí quando eu voltei eu tomei uma facada na nagarage lá lá ( incompreensível)
Juiz: /o senhor voltou sem ela? ela num tava na hora não?
Réu: /não e::u fui só eu::
Juiz: /aí quando o senhor voltou ela não tava não... a mulher?
Réu: ((gaguejando muito)) fu fui du duas quadra prá baixo... pá pá pá ligar lá...
Juiz: e::la num tava mais na casa não... quando o senhor saiu... só tava o senhor e o irmão?
Réu: não... isso aí eu não sei porque
Juiz: /o senhor não deu pa pa::
Réu: /ela saiu pra um lado eu saí pro outro
Juiz: tá... ((dirigindo-se à escrivã)) que... quando voltou... ((dirigindo-se ao réu)) cumé... agora me explica... e:ssa
questão da facada... cumé que ocorreu... aonde... cumé que foi:?
Réu: e:u tomei uma facada depois que eu entrei no portão de dentro da garage no (incompreensível).
Juiz: /logo depois... que o senhor passou pela garage?
Réu: quan quando eu voltei do telefone
Juiz: /ahn... u senhô entrou na garagem...
Réu: eu entrei na garage... tomei a facada
Juiz: /pois é:: mas ê ele veio de frente pru senhô... veio de costas... veio de lado...
Réu: não... e::u
Juiz: /ele tava escondido... cumé que foi?
Réu: não... deixa eu te falá... daí quando eu chego lá dentro... ele já tava morto lá dentro...
Juiz: ah:: ele já tava morto lá dentro
Réu: /aí aí o que eu fiz... eu fui lá dentro... lavei a ponta do braço... que tava dando sangue
Juiz: /então não foi ele que deu a facada no senhor não?
Réu: não não... foi nã::o
Juiz: /foi uma pessoa que tava saindo lá de dentro...?
Réu: foi uma pessoa que tava saindo...
Juiz: uhn...
Réu: daí eu fui lá dentro lavei... quando eu voltei... eu ((murmúrios do réu incompreensíveis)) tenho que dar um
jeito da dar providência... eu: eu cheguei de fora já: encontrei com a polícia
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): (quando retornou à casa)... logo que... entrou na garagem... veio uma pessoa
e... lhe deu facada... ((dirigindo-se ao réu)) aonde que ele deu essa facada no senhor ?
Réu: na ponta do braço aqui ó::... o senhor tá vendo?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): e lhe deu uma facada na ponta do braço
Juiz: e:: essa pessoa saiu correndo de casa?
Réu: saiu correndo... eu vi só o (rojo)
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /saindo correndo...sendo que... (incompreensível) não podendo reconhecê-la
((dirigindo-se ao réu)): aí u senhô foi pra dentro de casa?
Réu: aí eu fui lá lavei...
Juiz: /seu irmão já tava caído? foi isso?
Réu: já já tava morto lá no arpendre...
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) /que entrou para casa... e viu seu irmão morto... caído no alpendre ... ((
questionando o réu)) e aí?
Réu: aí eu eu lavei a ponta do braço... lavei o sangue que espirrou ni mim... e e e moiei um pouquim do cabelo e
voltei... quando eu voltei a a polícia tava chegando... assim::
Juiz: /o senhor não chamou a polícia não?
Réu: não eu... quando eu ia chamá de novo... tentá de novo... ês já tava chegando...
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que lavou seus ferimentos... que foi LAVAR seus ferimentos... para depois...
chamar a polícia... sendo que... nesse instante ela chegou... antes é::... de fazer o contato... ((questionando o
réu)): J é a: mulher dele?
Réu: a J: é muié da... dum dum rapaz que... ele ela segurou ele pr prá ele sangrar o marido dela uma vez que ele
tomou a muié dele... por esse motivo
Juiz: é: J P... e:la é irmã do do seu irmão? do A? é: mulher do seu irmão... do A?
Réu: /não... ela tá com ele... mais porque ele tomou de outro...
Juiz: ah tá...
Réu: ((gaguejando)) o outro o outro o outro foi embora pros Tiros porque ele tomou ela dele... tem o: motivo... ê:
a muié segurou ele e ele sangrou o marido dela... assim ele tomou dela a muié... dele
Juiz: o senhor chegou a: beber junto co:m seu irmão
Réu: /não não não... eu tinha tomado só uma cerveja mais cedo... num
tava bebendo
Juiz: /JUNTO...num chegaram a beber não?
IX
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que no dia dos fatos tinha tomado apenas uma cerveja... sendo que não chegou a
beber... junto com seu irmão
Juiz: u u senhor conhece as as provas já de desse processo? que existem... ou não?
Réu: como assim...
Juiz: prova em geral... inquérito... depoimentos que foram prestados... as testemunhas que tão arroladas aqui...
Réu: não não conheço
Juiz: /NÃO? ((dirigindo-se à escrivã)): que não conhece as provas do processo... ((dirigindo-se ao réu)) u senhô
u senhô conhece alguma dessas testemunhas aqui... a J... u senhô falou que conhece né? u G dos R... que é
policial militar... V R... policial militar... e J M dos S... algum desses o senhor conhece?
Réu: ô:: ela eu vejo ela com ele né... a tal muié né?
Juiz: /conhece de vista né:::
Réu: /eles eu eu num sei se num posso afirmar se conheço eles né?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) que das testemunhas... ((dirigindo-se a o réu)) J M dos S também não?
Réu: por nome eu:: num... num posso falá pro cê...
Juiz: não?
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): só conhece J
Juiz: u senhô já foi preso ou processado alguma vez?
Réu: não
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)): que nunca foi preso ou processado
Juiz: u senhô tem advogado?... constituído já nesse processo? quem que é?
Réu: tenho... tenho... doutô G
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) advogado...
((Cumpriram-se as demais formalidades de encerramento de uma audiência de interrogatório de um réu, sem
mais questionamentos.))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO JUDICIAL N˚2
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
COMARCA DE SÃO GOTARDO
TERMO DE QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO
Aos vinte e três (23) dias do mês de Outubro de 2002, às 14:00 horas, nesta cidade de São
Gotardo, no Fórum local, onde se achava o Dr. (nome do Juiz), MM. Juiz de Direito da Vara Criminal desta
comarca, comigo escrevente ao final nomeada e assinada, compareceu, em virtude da citação retrocertificada, o
(a) acusado (a) a quem o MM. Juiz passou a qualificar do modo seguinte: o (a) acusado (a), livre de qualquer
coação, respondeu chamar-se, (nome do réu), nascido em (nome da cidade), em (data de nascimento), solteiro,
pedreiro, filho de (nomes dos pais do réu), residente (endereço completo do réu, atualmente recolhido na Cadeia
Pública de (nome da cidade). Disse que sabe ler e escrever. Nomeação de Curador: não. Em seguida o MM.
Juiz, depois de cientificar a (o) ré (u) da acusação constante destes autos e do dispositivo no art. 186 do CPP, c/c
art. 5º LXIII, da CF, passou a interrogá-lo (a) na forma legal, e, às suas perguntas, respondeu-lhe o (a) acusado
(a) do modo seguinte: que não são verdadeiros os fatos narrados na denúncia; que um ano não falava
com seu irmão porque este o agredira tempos atrás; que desde então, quando seu irmão o encontrava,
puxava assunto, mas o declarante não respondia; que no dia dos fatos estava em sua casa, começando um
churrasco, sendo que estava sozinho; que momentos depois, seu irmão chegou ao local juntamente com
sua mulher, entrando pelos fundos, dizendo que tinha ido para o churrasco, sendo que o declarante nada
respondeu; que passou um gato pelo local e o irmão do declarante o matou; que após isto o declarante saiu
de casa para dar um telefonema, sendo que a mulher de seu irmão também saiu, não sabendo por qual
motivo, sendo que seu irmão ficou na casa olhando o churrasco; que quando voltou à casa, logo que
entrou na garagem, veio uma pessoa que lhe deu uma facada na ponta do braço, saindo correndo, sendo
que viu seu vulto, não podendo reconhecê-la; que entrou para a casa e viu seu irmão morto, caído no
alpendre; que foi lavar seus ferimentos para depois chamar a polícia, sendo que nesse instante ela chegou
antes de fazer o contato; que no dia dos fatos tinha tomado apenas uma cerveja, sendo que não chegou a
beber junto com seu irmão; que não conhece as provas do processo; que das testemunhas arroladas na
denúncia, conhece (nome da testemunha); que nunca foi preso ou processado; que tem Advogado na
pessoa do Dr. (nome do advogado). TERMO DE DELIBERAÇÃO: Após o interrogatório, o MM. Juiz
X
proferiu o seguinte despacho: “Intime-se o Advogado do réu a apresentar defesa prévia e arrolar
testemunhas no prazo de três dias. Desde já, designo audiência para oitiva das testemunhas, inclusive da
defesa, para o dia 22.11.2002, às 13:00 horas. Intimem-se as testemunhas arroladas, expedindo-se carta
precatória, com prazo de vinte dias, acaso necessário.” Nada mais havendo, mandou o MM. Juiz encerrar o
presente.
MM. JUIZ :
RPM :
INTERROGADO :
XI
3) DEPOIMENTO DE (NOME DO RÉU) PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 12/09/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE PESCA
ILEGAL.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Juiz de Direito, do Promotor de Justiça, da
Escrivã, do Réu e do Advogado de defesa)
Qualificação do réu: ((realizada somente pela escrivã))
Juiz: o senhor é o F de O... é isso?
Réu: ((apenas balançou a cabeça))
Juiz: ((dirigindo-se ao advogado do réu)) mandando citá né... citá e interrogá ... fazê isso rápido viu doutor... dez
minutos ... ((dirigindo-se ao réu)) ô:: seu F de O... o senhor não está obrigado a respondê as perguntas do Juiz
não viu ... o senhor responde se o senhor quiser... tá certo?... eu vou lê pro senhor o que o senhor disse quando
éh::... eu vou pro senhô o o que o promotor de justiça está falando contra o senhor... ele apresentou uma
denúncia contra o senhor... e contra o C J de M e também contra o V H P... sobre o seguinte fato... diz que... no
dia treis e sete de maio dois mil e quatro... na represa Nova Ponte... rio Quebra Anzol... o senhor... F e C
pescaram mediante utilização de petrechos não permitidos... como se apurou no dia trêis de maio... F e C foram
levados de Patos de Minas ao local dos fatos pelo V... que também emprestou àqueles seus materiais de pesca...
quais sejam... uma canoa de madeira... dezessete redes de fio de náilon... no dia sete de maio dois mil e quatro...
o V retornou de Patos para a represa... a fim de buscar F e C... que haviam pescado várias espécies de peixe...
com esses petrechos proibidos... quando retornaram da represa... os denunciados foram abordados pela polícia
militar do meio ambiente que procedeu à apreensão dos peixes... então ele qué processá o senhor... por pesca...
PREDATÓRIA... isso aconteceu mesmo ou não... ô:: seu F?
Réu: aconteceu... só que esses material aí ... canoa e carro... tudo era do K...
Juiz: /sei.... ((ditando para a escrivã) perguntado... perguntado ao depoente... perguntado ao interrogando se...
eram verdadeiros os fatos... denunciados... vírgula... ele respondeu que os fatos aconteceram mesmo... vírgula...
mas... os petrechos de pesca eram de um terceiro conhecido como K... ((dirigindo-se ao réu)) eu vou pro
senhô o que o senhô dise na DELEGACIA DE POLÍCIA... prô senhô me confirmá se foi isso mesmo que o
senhor teria dito naquela oportunidade.... o senhô disse o seguinte... que... nesta data... na data de hoje... sete
de maio dois mil e quatro... por volta das treis horas... o senhô se encontrava na represa de Nova Ponte... local
onde o senhor se deslocou de automóvel... uma pampa... cor preta... de propriedade do declarante... para buscar
seus dois amigos... /não aqui eu lendo é o do V... desculpa... éh...o senhor é o F... né... desculpa... o senhor
disse o seguinte na delegacia... que em data de hoje... dia treis de maio... por volta das seis horas... o senhor
deslocou-se para as margens da represa Nova Ponte... em companhia de C... e que efetuavam pesca com
petrechos proibidos... a REDE... que foram levados para as margens da represa por V... o qual retornou pra
Patos... em data de hoje... sete de maio... ele retornou em seu veículo pampa para buscá-los... ocasião em que
foram abordados pela polícia... que conduziram o senhor e seus dois amigos presos em flagrante delito...
ressaltando o senhor que V... em momento algum... efetuou pesca no local... nada mais... foi isso mesmo que o
senhor falou lá na delegacia?
Réu: /não senhor...ele pescô....
Juiz: /hum... ele pescô?
Réu: ele pescô ... na terça-feira ele veio trazê os peixe...
Juiz: hum ... anh ...anh
Réu: que ele tratô essa pesca com o C
Juiz: /certo... hum
Réu: e o C me chamô pra cozinhá e (rematá) não... inclusive foi só isso que eu fiz...
cozinhei pra eles
Juiz: /mais foi isso aqui que o senhor falô na delegacia?
Réu: foi
Juiz: e por que o senhor falou que o /que o V num pescô?
Réu: não... ela num me perguntou se ele não pescô não senhor
Juiz: não? .... hum... que falando aqui/ que o senhor falando que ele não
pescô
Réu: /lá ela num me perguntô...
Juiz: /então ele pescô... né?
Réu: ele pescô... ele veio embora na terça-feira..trouxe os peixe que ele pegô...
Juiz: /hum rum... ((ditando para a escrivã)) que confirma parcialmente... as declarações que... prestou perante a
autoridade policial... e que consta de folhas oito dos autos da precatória... e que consta de folhas outo/oito da
precatória... vírgula... dizendo que... a ele não foi perguntado... se V teria... pescado ou não... e que... esclarece...
agora... que V teria realmente pescado na terça-feira
XII
Réu: /ele pescou de segunda e na terça ele veio pra Patos trazê o peixe... e largô nóis lá
Juiz: anh... pegou/então ele pescô na segunda?
Réu: éh... segunda e terça
Juiz: ((ditando para a escrivã)) éh:: que V teria pescado na:: segunda-feira... e retornado para Patos na terça... na
terça-feira ... ((interrogando o réu)) u:: u senhor já foi preso ou processado? não né?
Réu: não senhô... é a primeira veiz que eu...
Juiz: /foi processado né?... essa:: o senhor trabalha com o quê?
Réu: sou pescador profissional
Juiz: ah o senhor é pescador profissional... ((ditando para a escrivã)) informa mais o interrogando que é ...
((dirigindo-se ao réu)) o senhor é casado? tem filhos?
Réu: sou amasiado... tenho um filho e ela também tem um
Juiz: /o senhor é amasia/tem filhos? ((ditando para a escrivã)) que é amasiado e tem um filho...
vírgula... sendo pescador profissional... e que nunca foi preso... ou processado
Réu: /não... nunca nunca tinha sido nem advertido pela polícia
Juiz: e que sequer... e que sequer... teria sido anteriormente advertido pela polícia
Réu: o tentente lá num quis nem me mu/multar
Juiz: bom seu F M de O... e::ssa agressão que o senhor fez à à à lei... esse crime... ele é de menor potencial
ofensivo... é um crime que num é muito GRAVE... né... tem suas gravidades... evidente... mas é... ele está
muito longe de uma gravidade maior... como um homicídio num é... um assalto à mão armada... um tráfico de
drogas... então esse crime do senhor... é possível... é possível ocê fazê/o senhor fazê um acordo com o promotor
de justiça e a gente suspendê o processo durante... ((dirigindo-se ao advogado do réu)) éh:: é suspensão doutor?
eh né ?
(Advogado do réu)): (incompreensível)
Juiz: suspendê durante dois anos... esse processo fica parado... num é... não vai ouvir... não vai instruir... não vai
condenar o senhor... ele fica parado na na secretaria... e durante dois anos... se o senhor não cometê nenhum
outro crime e atender algumas considerações... algumas condições que nós vamos impor para o senhor... esse
processo acaba e num fica registrando qualquer nódoa... qualquer mancha... nos anais criminais do do estado...
quer dizer... o senhor fica com a ficha limpa... entendeu?... então esse processo ele fica suspenso por dois anos...
sob as seguintes condições... o senhor tem que apresentar aqui nessa... nesse juízo aqui... na secretaria... até o
dez de ca/dez dias de cada mês... e assinar o termo de presença... uma folha de presença... e... afastar-se /
acredito pelo... que a gente vendo do senhô... afastar-se/o senhor não freqüenta... afastar de bar... buteco...
zona... esse tipo de coisa né... tem aqui ainda... ((rindo)) inferninhos... prostíbulos... casa de boemia... isso aqui
foi eles que escreveram lá... num é eu não... inferninhos e prostíbulos... quer dizer ZONA... ZONA mesmo né...
ZONA... e não mudar da comarca sem autorização do Juiz... CLARO não portar armas que não pode... e não
voltar a pescar... mais importante... o senhor não voltar a pescar com os apetrechos que não pode né... época
de piracema... aquele negócio todo né... pinga e e etcétera... e também rede..
Réu: /sei
Juiz: o o senhor quer/aceita essas condições? aceita?
Réu: eu aceito... aceito
Juiz: então nós vamos suspender o processo dois anos... o senhor vai cumprindo aqui... depois de dois anos... nós
mandamo isso embora viu?
Réu: tá bom
((houve conversas paralelas que não diziam respeito ao interrogatório))
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
XIII
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO JUDICIAL N˚3
Comarca de Patos de Minas(MG)
Vara de Execuções Criminais, Infância e Juventude e
Precatórias Cíveis e Criminais
TERMO DE AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO COM SUSPENSÃO DO PROCESSO
(ART. 89 DA LEI 9.099/1995)
Precatória n. 480 06 084648-6
PARTES: JUSTIÇA PÚBLICA x FMO
Aos 12 (doze) dias do mês de setembro do ano de dois mil e seis (2006), às 14:00 horas, na sala de
audiência da Vara de Execuções Criminais, Infância e Juventude e Precatórias Cíveis e Criminais desta cidade e
comarca, presentes o Exmo. Sr. Dr. (nome do Juiz), MM. Juiz de Direito e o representante do Ministério
Público, Dr. (nome do promotor), comigo, Oficial de Apoio Judiciário ao final nomeado e assinado, foi
ordenado que se procedesse, com as formalidades legais, ao pregão das partes e de seus procuradores.
Apregoados, compareceram o denunciado FMO e seu defensor Dr. HHS, OAB/MG (número). Após cientificar
o réu da acusação constante dos autos, passou a interrogá-lo na forma legal, e, às perguntas respondeu: que os
fatos aconteceram mesmo, mas os petrechos de pesca eram de um terceiro conhecido como K, confirma
parcialmente as declarações que prestou perante a autoridade policial, que consta de fls. 08 dos autos da
precatória, dizendo que a ele não foi perguntado se V teria realmente pescado na segunda-feira e
retornado para Patos de Minas na terça-feira; informa mais o interrogando que é amasiado e que tem um
filho, sendo pescador profissional e que nuca foi preso ou processado e que sequer teria sido
anteriormente advertido pela polícia. Após, MM. Juiz esclareceu a proposta da suspensão condicional ao réu,
informando de suas vantagens e conseqüências, sendo expressamente aceita pela parte, ficando ciente o acusado
de que, a partir desta, data que deverá iniciar o cumprimento das condições estabelecidas. O processo foi
suspenso por dois (02) anos, impondo ao réu as seguintes condições: 1- proibição de freqüentar lugares
inadequados, botecos e zonas boêmias; 2- não se ausentar da comarca onde reside por período superior a
08 (oito) dias, sem autorização judicial e nem mudar da comarca sem autorização deste juízo; 3-
comparecimento mensal em juízo, para informar e justificar suas atividades, até o dia 10 (dez) de cada
mês; 4- não mudar de endereço sem avisar ao juízo; 5- não portar armas ofensivas de qualquer natureza.
O réu e a defensor confirmaram a aceitação e o réu ficou ciente de que, a suspensão será revogada se, dentro do
prazo acima, vier a ser processado por outro crime ou não cumprir as condições impostas, sem motivo
justificado. Aguarde-se o cumprimento das condições, pelo prazo da suspensão. Oficie-se ao juízo deprecante
com cópia deste termo. Nada mais havendo, Eu, _____________ Oficial Judiciário, que o digitei.
Juiz de Direito:
M P:
Denunciado:
Procurador:
XIV
4) DEPOIMENTO DE (NOME DO RÉU) PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 12/09/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE PESCA
ILEGAL.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Juiz de Direito, do Promotor de Justiça, da
Escrivã, do Réu e do Advogado de defesa)
Qualificação do réu: ((realizada somente pela escrivã))
Juiz: ((conversando informalmente com o réu antes de iniciar o interrogatório, sobre um co-réu e rindo)) mais
né... porque já tem muitos/vai é agravar né... vai é agravar um pouco...
Réu: ele já tem é muitos...
Juiz: tem muitos? ih:: HUM:: esse aqui é outro oh ((dirigindo-se ao réu para início do interrogatório)) o senhor é
u:: C?
Réu: C J de M
Juiz: muito bem... ((dirigindo-se à escrivã)) tá qualificado já?
Escrivã: não
Juiz: não?
Escrivã: (o senhor pode interrogar... depois eu qualifico)
Juiz: pode depois ocê qualifica né... ((dirigindo-se ao réu)) senhor C... o senhor não está obrigado a responder as
perguntas de um Juiz viu... o senhor responde se o senhor quiser... certo? eu vou pro senhô o que o...
promotor de justiça de Patrocínio... falando contra o senhor... apresentou uma DENÚNCIA contra o
senhor... contra o F... e contra o V... dizendo que o seguinte.... que no dia treis e sete de maio de dois mil e
quatro... na represa Nova Ponte... no rio Quebra Anzol... no município de Patrocínio... o senhor... F e C estavam
pescando mediante utilização de petrechos não permitidos... REDES...como se apurou no dia trêis de maio... F e
C foram levados de Patos de Minas... até a represa pelo denunciado V... que também emprestou a vocês material
de pesca... que sejam... uma canoa de madeira... e dezessete REDES de fio de náilon... que no dia sete de maio
dois mil e quatro... V retornou pra Patos... para/retornou de Patos para a represa... a fim de buscar F e C... que
haviam pescado várias espécies de peixe... com rede... quando retornaram da represa... os denunciados foram
abordados pela polícia do meio ambiente... que procedeu à apreensão dos peixes... e também da canoa... e das
redes... então a polícia quer... processar... os três por CRIME AMBIENTAL ... isso aqui é verdadeiro... ou não é
verdadeiro?
Réu: não
Juiz: não?
Réu: não senhor
Juiz: não?((ditando para a escrivã)) que... não são verdadeiros os fatos articulados na denúncia... ((interrogando o
réu)) o senhor conhece as testemunhas que foram arroladas? ... e também o senhor conhece o que foi
produzido de prova contra o senhor?
Réu: (lá)?
Juiz: éh... PROVA... quais as provas que foram produzidas? ... o senhor conhece as testemunhas que foram
arroladas?... não?
Réu: num conheço porque... era a primeira vez que eu tinha ido pescá lá... né...
Juiz: anh... ((ditando para a escrivã)) e que não conhece as testemunhas que foram arroladas... nem as PROVAS
contra ele produzidas
Réu: /agora eu quero declara umas coisinhas...
Réu: /só um minutinho que o senhor vai declara a vontade... viu
Juiz: o senhor é o C?
Réu: C
Juiz: quem arrumou o nome do senhor de C foi o pai do senhor?
Réu: foi meu pai...
Juiz: /onde que ele arrumou isso?
Réu: uai ... ele gostava de lê uns livro... fran/ francês... né
Juiz: /ah... de livros franceses... hum...
Réu: meu pai foi criado com esse povo V ((sobenome))... aqui de Patos
Juiz: /ele falava francês... não?
Réu: falava um pouquim
Juiz: o senhor aprendeu alguma palavra?
Réu: nã::o((ditando para a escrivã))
Réu: nem merci... beaucoup? nem nada disso? ... asseyez vous? nada
Réu: nim... nem estudá eu num estudei... não senhô
XV
Juiz: /bom então o senhô disse lá na delegacia o seguinte... o senhor disse que o seguinte... que na data do dia de
hoje... no dia três de maio... dois mil e quatro... por volta das seis horas... o senhor teria... se deslocado para as
margens da represa... em companhia do F... os quais efetuavam... pesca... proibida... que foram levados para as
margens da represa por V... que retornou para Patos em data do dia sete... e retornou em seu veículo pampa para
buscá-lo... ocasião em que foram abordados pela polícia... que conduziram o SENHOR e seus dois amigos
PRESOS em flagrante delito... ressaltando o senhor que... V EM MOMENTO ALGUM... efetuou pesca no
local... foi isso mesmo que o senhor falou na delegacia?
Réu: não
Juiz: /não? ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que... perguntado ao interrogando... se confirmava aquelas
declarações como sendo as que prestou perante à autoridade policial... entre parênteses... folhas
nove dos autos... fecha parênteses... vírgula... o interrogando negou que tenha dito aquelas declarações...
vírgula... dizendo que... ((dirigindo-se à escrivã)) então o que realmente aconteceu?
Réu: realmente...
Juiz: /o senhor foi daqui pra lá?
Réu: realmente...nóisi fomos daqui de Patos pra pescá lá.. com esse V... né...
Juiz: /sei
Réu: apelidado por K...
Juiz:/sei
Réu: até que ele / ele é que ficou me/ pedindo lá pra mim ir lá dá uma pescadinha de duas noites com ele...
Juiz: anh...
Réu: inclusive essas duas noite ele / pegou uns peixe lá::
Juiz: hum
Réu: na:: igua::l o F já declarou / na:: segunda
Juiz: /anh
Réu: e na terça ele veio trazê os peixe
Juiz: /o V pescou? chegou a pescá então?
Réu: /pescou ... junto cum nóis
Juiz: junto com ocêis
Réu: pescou
Juiz: /os apetrechos era dele?
Réu: tudo dele ... canoa... rede... caxa...
Juiz: tudo dele .... /na noite... na noite de segunda feira... ocês... todos três pescaram?
Réu: pescamos
Juiz: então todo mundo pescou?
Réu: todo mundo... incrusive/ incruisve ele me chutô aqui na rua
Juiz: /hum
Réu: o V
Juiz: /chutou como?
Réu: me ameaçou
Juiz: ah ameaçou
Réu: me ameaçou ... e o tenente de lá::
Juiz: /hum
Juiz: /por que que ameaçou o senhor? por que que ele ameaçou o senhor?
Réu: porque:: porque EU que contei sobre o material
Juiz: ah... o materi/ o material era dele
Réu: é dele
Juiz: hum
Réu: e a polícia lá... então eles me / fez pressão ... eu num vou negá pro senhor não...
Juiz: hum sei
Réu: fui pressionado... eles andaram muito lá comigo... eh:: de madrugada lá::
Juiz: hum hum
Réu: me / me fazendo assim... ameaça queren / falando que ia me leva pra uma...
Juiz: / hum rum
Réu: /pra uma casa lá... sabe
Juiz: hum rum
Réu: que eles num ia vê eu mais
Juiz: /sei ((ditando para a escrivã)) INFORMA... INFORMA... o interrogando que...
Réu: /éh... (incompreensível) é porque
XVI
Juiz: ((ditando para a escrivã)) por insitência... por insistência do acusado V... vírgula.. foi passar com ele... e
F M... duas noites de pescaria... na represa de Nova Ponte... vírgula... dizendo mais... que todo... o material de
pesca... inclusive as redes... vírgula
Réu: / eu que entreguei
Juiz: ((ditando para a escrivã)) inclu... ((interrogando o réu)) /as redes era dele também?
Réu: éh eu que entreguei
Juiz: a canoa também?
Réu: também eu que entreguei a canoa...
Juiz: ((ditando para a escrivã)) / inclusive redes e canoa eram de propriedade de V... ((interrogando o réu)) qual
que era a finalidade da pescaria? pra que os peixe? era pra venda?
Réu: era pra venda
Juiz: ele tem o costume de vender peixe aqui na cidade?
Réu: tem / ele tinha né... agora ele num tá não
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que ... o citado V... queria os peixes para para comercializá-los na cidade de
Patos de Minas... vírgula... já que tinha comércio de peixes na cidade... ((interrogando o réu)) quantas noites ocês
ficaram lá?
Réu: nóis ficamos lá cinco noites
Juiz: /cinco noites pescando... o V ficou quantas noites com vocês? SÓ a noite de segunda feira pra terça?
Réu: ele fico:: ... nóis chegamos no domingo né... na segunda (corremos os pente)... na terça feira foi que
ele veio né
Juiz: NA TERÇA que ele veio?
Réu: é trazendo peixe
Juiz: trazendo peixe
Réu: é incrusive oceis num ... / num sabe nem que que ele fez... nem nada
Juiz: /dos peixe ... QUANTOS PEIXE/ o senhor lembra mais
ou menos qual a quantidade de peixe que ele trouxe?
Réu: / não num lembro mais ou menos não... era mais ou menos um::a caixa também de peixe
Juiz: uma caixa de peixe?
Réu: /uns oite::nta...
Juiz: /uns oitenta peixe ou oitenta quilo?
Réu: /uns oite::nta quilo a noventa quilo...
Juiz: hum rum... ((o Juiz limpa a garganta e passa a ditar para a escrivã)) disse também o interrogando que... teria
passado na represa pescando juntamente com F... durante cinco noites
Réu: /três éh duas... duas noite né
Juiz: DUAS NOITE ou cinco
Réu: /éh... o outro dia ele veio...
Juiz: não o F... com o F o senhô ficou cinco noites
Réu: ah éh
Juiz: F né?
Réu: éh
Juiz: cinco noites... ((ditando para a escrivã)) vírgula... enquanto que ... V ficou de domingo para terça....
vírgula... porque teria trazido para Patos ... cerca de oitenta quilos de peixe...
Réu: /e trouxe os peixe
Juiz: o senhor tem mais alguma:: ... esclarecimento sobre isso? sobre esses fatos?
Réu: não o que eu esclareço é só que esse material era tudo dele...
Juiz: / JÁ FALAMOS
Réu: incru / incrusive foi eu que entreguei pro tentene os material...
Juiz: /certo... já falamos já...
Réu: éh... isso mesmo
Juiz: só isso mesmo?
Réu: só isso mesmo
Juiz: o senhor é pescador... o quê que o senhor é?
Réu: /profissional
Juiz: profissional?
Réu: éh
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que o depoente/que o interrogando é/ é:: pescador profissional... ((interrogando o
réu)) é casado?
Réu: casado
Juiz: tem quantos filhos?
Réu: tenho dois filhos
XVII
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que/vírgula... que é casado e tem dois filhos... que ganha ((interrogando o réu))
por mês... qual a renda mais ou menor do senhor?
Réu: doutor... eu num sei assim... excêlên / excelência... o senhor desculpa... é que eu carrego tudo anotado
aqui... qué vê... o senhor...
Juiz: / uma MÉDIA... uma média mais ou menos
Réu: eu peguei:: em vinte e cinco... em vinte e cinco dias esse... aqui a prova... éh:: nesse final agora... que
eu... incrusive... eu... num gosto de mentira... eu:: tô:: cum outro/com outro pepino aí... que é uma espingarda que
a polícia me tomô... aqui em Patos de Minas... na beira do rio... Para/Paranaíba... que era relíquia... do do meu
pai... que depois ocês vão puxá a ficha aí ocês vão vê mesmo...
Juiz: /é vai
Réu: e:: eu tô::
Juiz: /tá processado?
Réu: tô
Juiz: /tá respondendo
Réu: respondendo também... então eu vim cá:: no dia... foi acho que dia oito... aqui AGOSTO...
aqui oh... de agosto até:: esse mês aqui...
Juiz: hum
Réu: veio até aqui... aqui ... se quisé uma oiadinha... foi trezentos e:: sessenta e sete quilo de peixe... vinte e
cinco dia... ah... pega/pega...um dia pega nove... outro dia pega oito... outro dia pega quatro quilo... outro dia
pega dezoito... outro dia pega...
Juiz: /isso em dinheiro dá o quê?
Réu: uai... tô vendendo dois e cinqüenta lá
Juiz: que peixe que é?
Réu: é piau... é cu ri... curimatá ... mandi... dourado... esses outro peixe num tá dando ainda não
Juiz: /piau... curimatá... mandi amarelo... /ainda não?
Réu: não... então a gente:: ganha...
Juiz: /PINTADO?
Réu: pintado
Juiz: o senhor pesca aonde?
Réu: eu tô pescando agora ultimamente... eu tô até morando lá...no São/ no rio/ no... / Morada Nova
Juiz: ah Morada Nova
Réu: Morada Nova
Juiz: ah então dá mandi açu / BÃO lá né? mandi açu?
Réu: não num tá pegando não... num tá pegando nada
Juiz: e / o senhor ganha por mês mais ou menos o quê? ... uns trezentos... quatrocentos... quinhentos reais
Réu: éh:: quatrocentos quinhentos ... éh ((murmurando sons))
Juiz: / quinhentos reais... quatrocentos quinhentos reais
Réu: éh... um mês pelo outro
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que... que a renda mensal do interrogando... aproxima-se a quinhentas reais...
aproxima-se de quinhentos reais... ((dirigindo-se ao réu)) C J DE M... já tem a fichinha do senhor já tá aqui óh ...
tem três registros nela óh... a do V TEM MAIS... do senhor tem três... do V tem... seis... vai crescendo né...
tem que parar de crescer né... senão dá problema pro senhor... o senhor já tá com a idade avançada...
Réu: tô... sessenta anos
Juiz: então... tem advogado?
Réu: o C
Juiz: quem é esse?
Réu: é o C
Juiz: esse aqui ?
Réu: é que ele veio no lugar do doutor C
Juiz: ah no lugar do C...
Réu: ele ia viajar...
Juiz:((dirigindo-se ao advogado que acompanhava o réu)) / quem que é o advogado doutor A?
Advogado: é o C
Juiz: é o C mesmo? hoje é só:: pra acompanhar aqui né...
Advogado: ele me ligou agora só pra acompanhar
Escrivã: ((dirigindo-se ao Juiz)) C A de R?
Juiz: ((dirigindo-se ao advogado)) C A... num é o A não?
Advogado: C A de A... acho que é isso mesmo
Juiz: é A de A..((dirigindo-se ao advogado)) o senhor quer fazer alguma pergunta?
Advogado: não
XVIII
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que já foi/ ((dirigindo-se ao réu)) já foi preso alguma vez /não?
Réu: ((o réu balançou a cabeça negativamente)) hum hum
Juiz: já foi processado? processado é esse aí né... processado tem
Réu: não
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que nunca foi preso... encontra-se processado por ... ((o Juiz passa a folhear os
autos do processo procurando pelos processos do réu)) ... tem não... a que tem a espingarda ele já tá aqui óh...
Réu: aí óh viu... (incompreensível)
Juiz: /uso de arma... quatorze... quatorze da dez mil oitocentos e vinte e seis... é isso aí
Réu: espingardinha véia que era do meu avô
Escrivã: ((interferindo com o objetivo de saber qual o nome do advogado que deveria constar no termo de
interrogatório)) (incompreensível)
Juiz: ((dirigindo-se ao advogado)) A? A?
Advogado: A B S
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) acabou k?
Escrivã: acabou... ((dirigindo-se ao advogado)) OAB?
Advogado: oitenta e dois oitocentos e vinte e nove
Juiz: um moio de mandi é bão não é?
Réu: é bão... o senhor gosta?
Juiz: ((sorrindo)) mas o de pintado também é bão num é?
Réu: ((rindo)) é bão... o senhor gosta?
Juiz: eu pesco eu pesco lá no... eu pesco com / eu pesco com o P
Réu: ah com o P?
Juiz: P doido
Réu: ((rindo)) ah
Juiz: P lá da Cemig
Réu: Cemig?
Juiz: éh...
Réu: uma pescadinha boa então
Juiz: Paracatu::... Rio Negro ali... (incompreensível)
Réu: /eu vou no Indaiá ((o Juiz e o réu passam a conversar sobre pescaria e a escrivão formaliza o término do
interrogatório))
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO JUDICIAL N˚4
Vara de Execuções Criminais, Infânciae Juventude e
Precatórias Cíveis e Criminais
Comarca de Patos de Minas
QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO
Carta Precatória n. 480 06 084646-0
Autora: Justiça Pública
Réus: (CJM e VEP).
Aos 12 (doze) dias do mês de setembro do ano de dois mil e seis (2006), às 18:00 horas, nesta
cidade e comarca de Patos de Minas, Estado de Minas Gerais, na sala das audiências da Vara de Execuções
Criminais, Infância e Juventude e Precatórias Cíveis e Criminais, onde estavam presentes, o Exmo. Sr. Dr.
(nome do Juiz), MM. Juiz de Direito, o acusado, o representante do Ministério Público Dr. (nome do
promotor), comigo, Oficial de Apoio Judiciário, ao final nomeado e assinado, compareceu o acusado (nome do
réu) brasileiro, casado, pescador, nascido aos 23/09/1943, natural de Lagamar (MG), filho de JJM e JDM,
residente na Rua (nome), (número), bairro (nome), nesta cidade. O MM. Juiz, depois de cientificar o réu da
XIX
acusação constante destes autos e do disposto no art. 186 do CPP, passou a interrogá-lo na forma legal, e, às
suas perguntas, respondeu, após detida leitura da denúncia: que não são verdadeiros os fatos articulados na
denúncia; e que não conhece as testemunhas que foram arroladas , nem as provas contra ele produzidas; que
perguntado ao interrogando se confirmava aquelas declarações como sendo as que prestou perante a autoridade
policial (fls. 09 dos autos), o interrogando negou que tenha dito aquelas declarações, dizendo que por
inssit6encia do acusado (nome), foi passar com ele e (nome de outro acusado), duas noites de pescaria na represe
de Nova ponte, dizendo mais que todo material de pesca, inclusive as redes e canos eram de propriedade de V, e
que o citado V queria os peixes para comercializá-los na cidade de Patos de Minas, que tinha comércio de
peixes na cidade; disse também o interrogando que teria passado na represa pesando juntamente com F durante
cinco noites, enquanto que V ficou de domingo para terça, porque teria trazido para Patos cerca de oitenta quilos
de peixe; que o interrogando é pescado profissional, que é casado e tem dois filhos, sendo que a renda mensal do
interrogando aproxima-se de R$500,00. Que nunca foi preso e encontra-se processado. Que tem advogado
constituído na pessoa do Dr. C A A, sendo acompanhado no presente interrogatório pelo Dr. A B F OAB/MG
(número), sendo que MM. Juiz foi determinada a devolução da carta precatória ao Juízo Deprecante com as
homenagens deste juízo de Patos de Minas. Nada mais havendo. Eu, _____________ Oficial de Apoio
Judiciário, digitei e subscrevi.
Juiz de Direito:
Ministério Público:
Interrogado:
Procurador:
Termo de deliberação:
Pelo MM. Juiz foi constatado que mesmo devidamente intimado, não compareceu o denunciado VEP, e tendo
sido interrogado e denunciado CJM, deus-e por cumprida a presente deprecata, devendo a mesma ser devolvida
com as homenagens deste juízo.
Juiz de Direito:
XX
5) DEPOIMENTO DE (NOME DO INFRATOR) PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO
DA COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 21/09/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE POSSE
ILEGAL DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Juiz de Direito, do Promotor de Justiça, da
Escrivã e do Infrator)
Qualificação do infrator: ((realizada somente pela escrivã))
Juiz: D ô:: você é o D A de O é isso?
Infrator: ((o infrator balançou a cabeça afirmativamente))
Juiz: o promotor de justiça fazendo uma representação contra o senhor ... eu vou ler o que o promotor de
justiça falando contra o senhor... e o senhor vai me dizer se isso é verdadeiro ou não é verdadeiro... o senhor
não está obrigado a responder minhas perguntas não viu... o senhor responde se o senhor quiser... certo?... o
promotor de justiça dizendo o seguinte... que no dia vinte e oito de fevereiro deste ano... por volta das onze
horas e cinqüenta minutos da noite... na Major Gote... no bar /da Recreativa... o senhor... foi surpreendido
quando trazia com o senhor para uso próprio... um grama e onze centigramas de maconha...e além disso quatorze
sementes também de maconha
Infrator: /mai mais esse tipode semente aí óh
Juiz: /só um minutinho eu vou terminar de ler e depois o senhor vai me esclarecer... se isso é verdadeiro e o que /
e o que não é verdadeiro... por causa disso o promotor de justiça tá:: processando o senhor por USO... de
substância entorpecente que é droga... isso é verdadeiro ou não é verdadeiro?
Infrator: que eu tava?
Juiz: o que eu li... que o senhor foi apanhado...
Infrator: ma/mais esse trem de quatorze semente é porque num tinha isso tudo não ... eles foi pegando pe /
pedacim eles foi contado como um inteiro... tinha só um um cadim... tinha tanto assim não
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que... são parcialmente verdadeiros os fatos constantes da representação...
vírgula... entretanto... vírgula disse o interrogando... que... não havia... a quantidade de quatorze de sementes
/quatorze sementes...
Infrator: /que era pedaço eles tava contando como uma
Juiz: ((ditando para a escrivã)) / de quatorze sementes de maconha... vírgula tendo a polícia contado pedaços de
semente como inteiras... você conhece o C J G?
Infrator: não
Juiz: o C M M... o cabo da polícia militar?
Infrator: não
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que não conhece nenhuma das testemunhas arroladas na inicial ...
((interrogando o infrator)) a droga realmente era maconha então? era isso?
Infrator: era pra (lavar)...
Juiz: /a droga dava pra fazê quantos pito de maconha?
Infrator: um pito
Juiz: só um pito?
Infrator: tinha mais era semente porque o cara levou o resto (num tinha condições mais não)
Juiz: /hum rum ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula ... que... realmente a substância entorpecente tratava-se
de maconha... e a quantidade... dava pra fazê somente um cigarro... e que o quê... mais tinha era semente /
sementes ... ((interrogando o infrator)) o senhor usa droga há quanto tempo?
Infrator: eu usava... num tô usando mais não
Juiz: num tá usando mais não? usava há quanto tempo? usou quanto tempo?
Infrator: ah::
Juiz: /hem?
Infrator: dois anos
Juiz: dois anos? ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que... o interrogando até aquela data... fazia uso de
droga por cerca de... dois anos e que atualmente está livre do uso de droga ... ((interrogando o infrator)) o senhor
já é maior de idade hoje mais... já teve outras passagens aqui pela vara da infância e juventude?
Infrator: antes?
Juiz: é antes disso
Infrator: não / teve antes... bem antes
Juiz: bem antes?... hum rum... chegou a ficar apreendido preso ou não?
Infrator: não
Juiz: não? ... e foi / o envolvimento foi com o quê?
Infrator: com briga
XXI
Juiz: briga ((ditando para a escrivã)) que... tem outras passagens... por esta vara criminal de menores ...
vírgula tendo lhe sido aplicadas outras medidas sócio-educativas... ((dirigindo-se ao infrator)) é... vendo aqui
que você tem... três medidas sócio-educativas uma liberdade assistida... de dois meses outras de três meses e uma
prestação de comunidade três meses
Infrator: /não... duas liberdade assistida (desse mundo)
Juiz: ... (interrogando o infrator)) ocê sabe como é que tá isso? ocê já cumpriu? tá cumprindo? ... ocê já cumpriu?
Infrator: (foi lá na na cela)
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que... segundo o interrogando... teria dado cumprimento às medidas sócio-
educativas que lhe... já foram aplicadas... ((interrogando o infrator)) tá estudando ou trabalhando?
Infrator: trabalhando no café... nóis chega tarde demais sô... quase sete hora...
Juiz: tá só / tá só trabalhando? ... ocê mora com quem?
Infrator: minha mãe
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que... ((interrogando o infrator)) ocê é solteiro... ainda?
Infrator: sou
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que é solteiro e reside na companhia de sua mãe
Infrator: lá em Coromandel... é longe demais
Juiz: ((ditando para a escrivã)) /e que trabalha na colheita do café e não estuda porque chega muito tarde do
trabalho... ((interrogando o infrator)) esse aqui foi a última... o último envolvimento seu né... com a polícia?
Infrator: foi
Juiz: ocê tem advogado não né?... fica nomeada então... uma defensora pública pra você viu... fazê sua defesa
Infrator: quem é a promotora? esperá aqui?
Juiz: ocê vai só assinar aqui o termo e pode / se ocê quiser procurá-la esses dias hoje ou amanhã viu?
Infrator: vai ter que vim cá de novo?
Juiz: possivelmente vai / não num precisa não
Infrator: vai vim cá só e fazê o quê?
Juiz: vai te / ouvir as testemunhas
Infrator: então vai ter audiência aqui por causa de mim?
Juiz: tem
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO JUDICIAL N˚5
Vara de Execuções Criminais, Infância e Juventude e
Precatórias Cíveis e Criminais
Comarca de Patos de Minas
QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO
Ato Infacional n. 0480. 06.085013-2
Autora: Justiça Pública
Réu: (DAO)
Aos 21 (vinte e um) dias do mês de Setembro do ano dois mil e seis (2006), às 13:00 horas, nesta
cidade e comarca de Patos de Minas, Estado de Minas Gerais, na sala das audiências da Vara de Execuções
Criminais, Infância e Juventude e Precatórias Cíveis e Criminais, onde estavam presentes, o Exmo. Sr. Dr.
(nome do Juiz), MM. Juiz de Direito, o acusado, o representante do Ministério Público Dr. (nome do
promotor), comigo, Oficial de Apoio Judiciário, ao final nomeado e assinado, compareceu o representado
(nome do infrator) brasileiro, solteiro, estudante, filho de JJO e AARO, nascido aos 03 de julho de 1988, natural
desta cidade, residente na Rua (nome), (número), bairro JE, nesta cidade. O MM. Juiz, depois de cientificar o
representado da acusação constante destes autos e do disposto no art. 186 do CPP, passou a interroga-lo na forma
legal, e, às suas perguntas, respondeu, após detida leitura da representação: que são parcialmente verdadeiros os
fatos constantes da representação, entretanto, disse o interrogando que não havia a quantidade de quatorze
sementes de maconha, tendo a polícia contado pedaços de semente como inteiras e que não conhece nenhuma
XXII
das testemunhas arroladas na inicial; que realmente a substância entorpecente tratava-se de maconha e a
quantidade dava para fazer somente um cigarro e que mais tinha eram sementes; que o interrogando até aquela
data fazia uso de droga por cerca de dois anos e que atualmente está livre do uso de drogas; que tem outras
passagens por esta vara criminal de menores, tendo-lhe sido aplicadas outras medidas sócio-educativas; que
segundo o interrogando já teria dado cumprimento às medidas sócio-educativas que já foram-lhe aplicadas; que é
solteiro e reside na companhia de sua mãe e que trabalha na colheita do café e não estuda porque chega muito
tarde do trabalho. Nada mais havendo. Eu, _____________ Oficial de Apoio Judiciário, digitei e subscrevi.
Juiz de Direito:
Ministério Público:
Menor:
Defensora dativa:
Termo de deliberação:
Tendo o menor comparecido desacompanhado de defensor, a ele foi nomeada “ad hoc” a Dra. M E M C,
defensora pública desta comarca, que deverá ser intimada para ofertar defesa prévia no tríduo legal.
Juiz de Direito:
XXIII
6) DEPOIMENTO DE (NOME DO RÉU) PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 04/10/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE ESTUPRO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Juiz de Direito, do Promotor de Justiça, da
Escrivã, do Réu e do Advogado de defesa)
Qualificação do réu: ((realizada somente pela escrivã))
((o advogado entra na sala do Juiz e cumprimenta as pessoas e conversa um pouco com a escrivã, antes do início
do interrogatório))
Juiz: o senhor é o B R S?
Réu: sim senhor
Juiz: como é que vai o senhor? tudo bem né?
Réu: tudo bem
Juiz: senhor R... eu tem aqui em mãos uma denúncia contra o senhor... oferecida pelo promotor de justiça da
comarca de Araxá... eu vou ler a denúncia para o senhor e lhe fazer algumas perguntas... o senhor não está
obrigado a responder... responde se o senhor quiser tá certo?
(Ré): certo
Juiz: o promotor de justiça de Araxá dizendo que no dia... primeiro de janeiro de dois mil e quatro... por
volta de três horas da madrugada... no interior da residência da Avenida Tonico... do Alonso... óh meu avô...
Tônico Alonso é meu avô
Advogado: éh? ((rindo)) uai coisa boa...
Juiz: MEU AVÔ... num sabia que tinha esse nome dele lá não
Advogado: (rindo)
Juiz: éh:: avenida Tonico Alonso... ah que bacana ... ((dirigindo-se ao réu)) bairro Luciano Lemos... nesta cidade
de Araxá... o senhor teria constrangido a K C da S... mediante grave ameaça... a praticar com o senhor conjunção
carnal... quando então o senhor introduziu o seu pênis na vagina dela... conforme foi apurado... a vítima foi até a
casa do senhor... com quem tem um filho com o senhor... nascido no dia vinte e dois de dezembro de doi/dois
mil e três... para passar o reveillion... ocorre que... por volta de três horas da madrugada... o senhor disse à
vítima... para ela deitar-se no chã/colchão com ele... diante da /diante da negativa dela dela / quer dizer que ela
né/recusou a deitar-se com o senhor... o senhor teria... então puxado os seus cabelos... sendo que... K chamou
nesse momento... pela mãe do senhor... a mãe do senhor entrou no quarto alertando-os de que não poderiam ter
relações sexuais pois K estava de resguardo... pois a criança havia nascido apenas onze dias... entretanto ao
certificar-se que sua mãe tinha saído do quarto... o senhor pegou uma latinha de cola de sapateiro que estava
embaixo da cama e... em tom ameaçador... afirmou que... caso a vítima não deitasse com o senhor... a/ o senhor
mataria ela e também o filho... diante das graves ameaças... a vítima deitou-se no chão com o senhor... e o senhor
passou a arrancar as suas roupas... muito embora... tenha a vítima... APELADO para o senhor não fazer aquilo...
o senhor continuou o ato... introduzindo o seu pênis na vagina dela... mantendo com ela... as relações sexuais
contra a vontade dela... depois disso... do:: senhor ter mantido relação sexual forçada... a vítima começou a
sangrar... deixou o len/deixando o lençol e o colchão todo / todo sujo de sangue ... ((interrogando o réu)) isso é
verdadeiro ou não é verdadeiro?
Juiz: isso é verdadeiro
Juiz: isso tudo é verdadeiro?
Juiz: não tudo não... parte
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que... nem tudo constante... nem tudo constante... da denúncia é verdadeiro... e
que... ((interrogando o réu)) o senhor conhece a K né claro... o PM J N o senhor conhece?
Réu: conheço
Juiz: o A F T?
Réu: /o pai da K
Juiz: pai da K?
Réu: isso
Juiz: a M R?
Réu: mãe da K
Juiz: a mãe da K... e a C?
Réu: a C... minha mãe
Juiz: sua mãe... C... sua mãe... ((ditando para a escrivã)) e que conhece TODAS as testemunhas arroladas na
denúncia... vírgula... sendo que... A e M R... A e M R são pais de K C... vírgula e C... C ... é e do réu
...((interrogando o réu)) tem alguma coisa contra eles? qualquer um deles?
Réu: de maneira alguma
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que de maneira alguma e que de maneira alguma... tem qualquer coisa contra as
tes / as testemunhas arroladas... ((passam-se mais de quatro minutos em silêncio, enquanto o Juiz peças do
XXIV
processo)) ((interrogando o réu)) Breno eu vou lê pra você o que você disse na Delegacia de Polícia... quando da
sua prisão em flagrante... pra ocê me dizer se foi isso mesmo que o senhor teria dito lá naquela oportunidade... o
senhor diz o seguinte... que presta suas declarações na presença de seu PAI... e informa que... devidamente
cientificado dos fatos que deram origem à sua prisão o declarante atualmente trabalha como viajante... e
transporta queijo do tipo minas para São Paulo... que ganha quarenta reais por semana... que o senhor tem um
filho com a vítima K C... T nascido no dia vinte e dois... de dezembro de dois mil e/ dois mil e três... e ainda não
foi registrado tendo em vista que o cartório encontra-se fechado... que o senhor foi apreendido quando
adolescente por umas duas vezes... por ter brigado na rua... que o senhor nunca foi processado anteriormente
nem cumpriu pena ou medida sócio-educativa... que o senhor... que o declarante fuma... bebe... e não faz uso de
entorpecente... que o senhor manteve relação sexual com a vítima nesta madrugada... mas não forçou a relação...
e foi uma relação natural... que a relação sexual teve início... por iniciativa da vítima quando ela passou a fazer
sexo oral no órgão genital do declarante... que o declarante não chegou a ver se durante a relação sexual teve
sangramento... e K chegou a reclamar por algumas vezes que estava doendo... mas quando indagada pelo senhor
se queria que parasse... ela respondia que não... que está bom/está bom... que não houve... discussão ou briga
entre a/o declarante e a vítima e na manhã de hoje quando acordou K havia ido embora... que a última
relação... sexual que tiveram... ocorreu aproximadamente um mês atrás... quando K estava no final da
gestação... que o declarante não motivos para a vítima atribuir a prática do crime que lhe é imputado... que o
senhor bebeu cerveja na noite de ontem... antes de se deitar... pois estavam fazendo churrasco de fim de ano...
que estavam na casa do declarante a K... o filho recém-nascido... duas vizinhas com as suas crianças... e os pais
do declarante... nada mais... foi isso mesmo que o senhor falou na Delegacia de Polícia?
Réu: foi
Juiz: ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que confirma o acusado as declarações que prestou perante a
autoridade policial... vírgula... conforme cópia do auto de prisão em em flagrante delito...
((conversa paralela entre a escrivã e o Juiz))
Juiz: o quê que o senhor tem mais a esclarecer sobre os fatos... que aconteceram lá naquela noite?
Réu: não... o que aconteceu naquela noite foi só isso mesmo
Juiz: só?... ocê então manteve relação sexual com ela?
Réu: mantive... mas foi ela que procurou
Juiz: o senhor num num num ameaçou ela de de de de fazê uso daquela cola? mostrou a latinha de cola?
Réu: /não hora alguma
Juiz: não?
Réu: não / hora alguma... até ela achou a latinha de cola é da mãe dela
Juiz: não?... /é da mãe dela? faz usa? a mãe dela faz uso disso não?
Réu: não... a mãe dela tinha comprado pra colar um:: uma sandália
Juiz: uma sandália?
Réu: isso e:: a caminhonete que eu viajava... a borracha ficava soltando
Juiz: hum rum
Réu: aí a M me falou que tinha uma cola
Juiz: anh
Réu: falei me empresta me empresta pra mim colar a borracha... me emprestou eu colei a borracha... nisso eu
entreguei pra minha mãe guardar
Juiz: sua mãe guardou?
Réu: minha mãe pegou a cola e foi colar um estrado da minha cama e nisso (ela colou e ) ela esqueceu de
baixo
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que a latinha de cola... que a latinha de cola... que a latinha de cola... objeto das
declarações dos envolvidos... no processo era propriedade da mãe do acusado... da mãe do acusado... vírgula...
que teria adquirido para que teria adquirido para... (interrogando o réu)) colar sapatos?
Réu: era da mãe da K
Juiz: ah:: mãe da K... ((dirigindo-se à escrivã)) do acusado não... da mãe da K... vírgula que... usava o material
para colar...
Réu: /a borracha da caminhonete
Juiz: ((ditando para a escrivã)) a borracha da caminhonete... usada para entre/ entrega de queijo...
Réu: /isso
Juiz: ((ditando para a escrivã)) usada para entrega de queijos em São Paulo... ((interrogando o réu)) que você
usou e pediu pra sua mãe guardar?
Réu: éh
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que... e que foi... usada pelo acusado... entregue para a mãe... para a mãe dele...
guardar... ((interrogando o réu)) pra depois devolver pra dona?
Réu: isso
XXV
Juiz: ((ditando para a escrivã)) vírgula para depois devolver... para a dona da lata... ponto e vírgula que confirma
ter mantido relações sexuais com a vítima... na data denunciada... vírgula... mas de forma alguma... mas de forma
alguma... ameaçou a vítima ou seu filho... ((interrogando o réu)) depois depois da K ter tido a criança filho foi a
primeira vez que ocês tiveram relação sexual?
Réu: foi
Juiz: ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que depois do nascimento... depois depois do nascimento do
filho... foi a primeira vez que vítima e acusado... tiveram relação sexual ((interrogando o réu)) no momento da da
relação sexual... éh:: quem tava na casa? era só:: a sua sogra/sua mãe?
Réu: tava minha mãe e meu pai
Juiz: sua mãe e seu pai?
Réu: éh
Juiz: num/num quarto num outro quarto/quarto do casal deles? e você no seu quarto com a K?
Réu: /éh ... e a criança também tava
Juiz: e a criança também... que hora que era mais ou menos?
Réu: por volta de quatro e meia... umas cinco horas da manhã mais ou menos
Juiz: /umas cinco horas da manhã ((ditando para a escrivã)) diz mais o interrogando que na casa em que
ocorreram os fatos... estavam seus próprios pais no quarto separado do casal vírgula enquanto que... K e o réu...
K e o réu... estavam no quarto dele... ((interrogando o réu)) ela gritou chorou... pediu por algum socorro alguma
vez?
Réu: não
Juiz: nada nada?
Réu: não
Juiz: que foi tudo consensual?
Réu: normal /foi
Juiz: ela... foi vontade dela?
Réu: foi
Juiz: ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que não houve... por parte da vítima... choro ou grito de
socorro... vírgula... porque segundo o acusado... a relação foi por vontade da vítima... ((interrogando o réu)) é
isso? temalguma coisa mais a:: que ocê desejaria... esclarece::r a respeito / sobre esse fato ou ocê tá satisfeito?
Réu: não... queria só que:: depois que igual eu fui preso né... no mesmo dia eles queriam retirar a queixa
Juiz: / no mesmo dia?
Réu: no mesmo dia... o pai dela é que num aceitou
Juiz: sei ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... informa também o interrogando... que no mesmo dia...
((interrogando o réu)) foi dia primeiro então?
Réu: no mesmo dia / à noite
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que no mesmo dia... primeiro de janeiro vírgula... à noite vírgula... a sua/ a
vítima... queria retirar a queixa... vírgula... mas o pai... dela não teria permitido... ((interrogando o réu)) só?
Réu: bom/aí logo assim quando eu saí da prisão / da cadeia...
Juiz: /anh...
Réu: ela me procurou... ela me pediu desculpas (por eu ter ficado preso)
Juiz: /hum
Réu: /por causa do pai dela... pressão
Juiz: anh
Réu: aí a gente voltou
Juiz: /no dia seguinte? no dia dois?
Réu: no dia seguinte
Juiz: ocê foi preso e solto no dia seguinte?
Réu: éh::
Juiz: no dia dois então?
Réu: éh
Juiz: ((ditando para a escrivã)) disse também o acusado... que no dia dois de janeiro... vírgula... quando foi
liberado da prisão... vírgula a K lhe teria procurado... pessoalmente... vírgula ... lhe teria procurado
pessoalmente... vírgula lhe pedido perdão pelo que fez e dito que fez aquilo... por... pressão do pai...
((interrogando o réu)) só?
Réu: e até:: no:: eu queria acrescentar que:: o:: pai dela... quando tava no:: chá de bebê... aí ele me ameaçou né...
não assim (pessoalmente) comentou né... ele comentava pro povo da rua e pro meu pai mesmo ele me ameaçou
falou que ia me matar
Juiz: isso depois desses fatos?
Réu: depois não antes dos fatos antes (incompreensível) com a K
Juiz: /antes dos fatos?
XXVI
Réu: quando o bebê nascesse... ele ia me matar
Juiz: /hum ... ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... diz mais o depoente... diz
mais o interrogando... que ... na festa de chá do bebê... vírgula... o pai da K... o pai da K teria falado para as
pessoas... presentes... que... depois do nascimento do neto... vírgula... iria matar o acusado... ((interrogando o
réu)) isso?
Réu: isso
Juiz: já foi preso ou processado alguma vez?
Réu: /não
Juiz: /enquanto adulto?
Réu: não
Juiz: ((dirigindo-se ao advogado do réu)) tem pergunta?
Advogado: excelência éh:: uma éh:: o:: anh o réu... depois que aconteceu aí... os supostos fatos... ele voltou
algum dia mais a encontrar com a:: com a suposta vítima e como é que foi a convivência dela?
Juiz: ((dirigindo-se ao advogado do réu)) / depois do dia dois?
Advogado: isso
Juiz: ((interrogando o réu)) hoje ocês tão numa boa? tão namorando? tão vivendo juntos? como é que é?
Réu: não não até que quando eu mudei pra cá ela queria vir com a gente né
Juiz: anh
Réu: comigo com meu pai e com a minha mãe...
Juiz: anh
Réu: só que ela não veio porque
Juiz: / mas seu relacionamento hoje é bom com ela?
Réu: éh...
Juiz: ((dirigindo-se ao advogado do réu)) é isso que o senhor quer saber?
Advogado: e outra coisa excelência... éh:: se:: do quando/desde quando... teve a festa / eles fizeram uma festa...
como é que foi?
Juiz: /festa?
Advogado: /porque:: num sei se foi festa de batiza::do... alguma coisa assim
Juiz: ((interrogando o réu)) teve batizado/festa de batizado?
Réu: teve mas
Juiz: e aí? ((dirigindo-se ao advogado)) (o senhor tá querendo saber especificamente o quê?)
((Juiz e advogado falam juntos tornando a inteligência das falas impossível))
Advogado: (queria indagar) da da da moça com ele... se ela /foi normal...
Juiz: teve / ocês tiveram tiveram relacionamento lá no?
Réu: normal normal
Juiz: normal?
Réu: tava meu pai minha mãe... as as tias a: a mãe dela
Juiz: ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que... acusado e R ((Juiz diz outro nome no lugar do nome
correto da vítima))... teria se encontrado... teriam se encontrado no batizado da criança... e o seu relaciona
mento... foi normal... e que K e que K teria manifestado a sua vontade... de mudar-se... junto com... mudar-se
para Patos de Minas junto com a família do acusado ((dirigindo-se ao advogado)) só?
Advogado: ((balança a cabeça afirmativamente))
Juiz: ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... que nunca foi preso nem processado... ((dirigindo-se ao
advogado)) quem que é o advogado dele doutor?
Advogado: é esse aqui excelência... tá aí a caneta
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que tem advogado constituído na pessoa do doutor C E... C E te... tê de tudo
(((risos do advogado))
Juiz: ((ditando para a escrivã)) tê... ponto... L... ponto L... vírgula... OABMG ((número)) / ((núemro)) /
((número))... vírgula... com endereço... à avenida Getúlio Vargas... vírgula... duzentos e trinta e quatro...
vírgula... fundos... vírgula... sala dois... vírgula... centro... de Araxá
Advogado: / excelência... éh:: ele é que diz que vai apresentar defesa prévia
Juiz: ((ditando para a escrivã)) vírgula... que deverá ser intimado para apresentar defesa prévia no tríduo legal...
ponto... nesta audiência foi... foi constituído
Advogado: isto
Juiz: ((ditando para a escrivã)) advogado ad hoc... foi constituído advogado ad hoc... a pessoa do doutor...
((dirigindo-se ao advogado)) esqueci
Advogado: E... eu já passei pra ela
Juiz: ((ditando para a escrivã)) E B... B eu lembro
Advogado: isso... B tem que lembrar né
((risos))
XXVII
Juiz: ((ditando para a escrivã)) devolva-se... com baixa
((interferência de uma servidora do fórum dando um recado ao Juiz que conversa com ela e com o advogado
sobre outros assuntos não pertinentes ao interrogatório, passando a ocorrem várias conversas paralelas sobre
assuntos diversos))
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO JUDICIAL N˚6
Vara de Execuções Criminais, Infância e Juventude e
Precatórias Cíveis e Criminais
Comarca de Patos de Minas
Carta Precatória n. 48006085654-3
Autora: Justiça Pública
Réu: (BRS - nome por extenso)
Aos 04 (quatro) dias do mês de Outubro do ano de dois mil e quatro (2006), às 14:30 horas, nesta
cidade e comarca de Patos de Minas, Estado de Minas Gerais, na sala de audiências da Vara de Execuções
Criminais, Infância e Juventude e Precatórias Cíveis e Criminais, onde estavam presentes, o Exmo. Sr. Dr.
(nome do Juiz), MM. Juiz de Direito, o acusado, o representante do Ministério Público Dr. (nome do
promotor), comigo, Oficial de Apoio Judiciário, ao final nomeado e assinado, compareceu o acusado (nome do
réu) brasileiro, solteiro, nascido aos (data de nascimento), filho de ERA e de CASA, residente na Rua JBO,
(número), bairro JC, nesta cidade, acompanhado do Dr. EJB OAB/MG (número), advogado “ad hoc”. O MM.
Juiz, depois de cientificar o réu da acusação constante destes autos e do disposto no art. 186 do CPP, passou a
interrogá-lo na forma legal, e, às suas perguntas, respondeu, após detida leitura da denúncia: que nem tudo
constante da denúncia e que conhecem todas as testemunhas arroladas na denúncia, sendo que A e M do R são
pais de K C e C A é mãe do réu e que de maneira alguma tem qualquer coisa contra as testemunhas arroladas;
que confirma o acusado as declarações que prestou perante a autoridade policial, conforme cópia do flagrante
delito; que a latinha de cola, objeto das declarações dos envolvidos no processo, era da mãe da K, que usava o
material para colar a borracha da camionete, usada para a entrega de queijo em São Paulo e que a cola foi usada
pelo acusado e entregue para a mãe dele guardar, para depois devolver para a dona da lata; que confirma ter
mantido relações sexuais com a vítima na data denunciada, mas de forma alguma ameaçou a vítima ou seu filho;
que depois do nascimento do filho, foi a primeira que a vítima e o acusado tiveram relação sexual, diz mais o
interrogando que na casa que ocorreram os fatos estavam seus próprios pais no quarto separado do casal,
enquanto K e o acusado estava no quarto dele; que não houve por parte da vítima choro ou grito de socorro
porque segundo o acusado, a relação foi por parte da vítima; informa também o interrogando que no mesmo dia
1 de janeiro, à noite, a vítima queria retirar a queixa, mais o pai dela não teria permitido; diz também o acusado
que n dia 02 de janeiro, quando foi liberado da prisão, a K lhe teria procurado pessoalmente, lhe pedido perdão
pelo que fez e dito que fez aquilo pó pressão do pai; diz mais o interrogando que na festa de berço do bebê, o pai
de K teria falado para as pessoas presentes que depois do nascimento do neto, iria matar o acusado; que acusado
e K teriam se encontrado no batizado da criança e seu relacionamento foi normal e que K teria manifestado sua
vontade de mudar-se para Patos de Minas junto com a família do acusado; que nunca foi preso ou processado
Que tem advogado constituído na pessoa do Dr. C E T L OABMG (número), com endereço na Avenida (nome),
(número) fundos, sala (número), Centro de Araxá, que deverá ser intimado para apresentar defesa prévia no
tríduo legal. Nesta audiência foi constituído advogado “ad hoc”na pessoa do Dr. E J B OAB/MG (número).
Devolva-se. Nada mais havendo. Eu, __________ Oficial de Apoio Judiciário, digitei e subscrevi.
Juiz de Direito,
Ministério Público,
Interrogado,
Defensor,
XXVIII
7) DEPOIMENTO DE (NOME DO RÉU) PRESTADO EM AUDIÊNCIA JUDICIAL, NO JUÍZO DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 04/10/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE PORTE
ILEGAL DE ARMA DE FOGO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Juiz de Direito, do Promotor de Justiça, da
Escrivã e do Réu)
Qualificação do réu: ((realizada somente pela escrivã))
Juiz: tudo bem né? o senhor é o A... C da S?
Réu: C da S
Juiz: o senhor tá bom né? .... senhor... senhor A... existe aqui uma:: denúncia... ofertada pelo ministério público
de Brasília... eu vou ler pro senhor ... mas o senhor não está obrigado a responder minhas perguntas não viu...
o senhor responde se o senhor quiser tá bom?
Réu: sim senhor
Juiz: o promotor de Brasília tá dizendo o seguinte... que o senhor... no dia vinte e cinco de maio de dois mil e
três... por volta da::s
Réu: /cinco
Juiz: cinco horas da manhã o senhor portava um revólver marca taurus sem munição... e sem autorização da
polícia para estar portando esse revólver... consta dos autos que o policial militar V da S A estava de serviço no
setor central Gama... próximo ao bar Porta Aberta... quando abordou o senhor em conduta suspeita... e ao ser
abordado... logrou o militar em encontrar... logrou êxito em encontrar com o senhor u/uma arma de fogo... isso é
verdadeiro ou não é verdadeiro?
Réu: verdadeiro
Juiz: é verdadeiro ((ditando para a escrivã)) que são verdadeiros os fatos como articulados na denúncia e que...
((interrogando o réu)) o senhor conhece o soldado V? o sargento / N?
Réu: não
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que não conhece as testemunhas arroladas... e que... ((interrogando o réu)) o
senhor sabe qual que é as provas / quais são as provas que foram produzidas contra o senhor já ... não?
Réu: foi esse PORTE de arma
Juiz: éh...((ditando para a escrivã)) e que não tem ciência das provas contra o se /si produzidas... ((interrogando o
réu)) o senhor portava essa arma aí sem autorização? sem porte legal?
Réu: isso
Juiz: há quanto tempo o senhor portava essa arma?
Réu: uns dois meses
Juiz: tinha dois meses ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... diz mais o o interrogando que... portava a
arma sem autorização... sem autorização administrativa... pelo tempo aproximado de dois meses... ((interrogando
o réu)) e por quê que o senhor comprou essa arma? começou a usar?...por quê que o senhor usava essa arma?...
Réu: não / na verdade ela... ela era duma... tipo de uma:: uma galerazinha... entendeu?
Juiz: /ah de uma galera
Réu: isso
Juiz: anh
Réu: eu fui pra mim no dia (eles tinha me pedindo eu peguei aceitei né) eu fui pra mim vendê ela... eu
cheguei lá num encontrei as pessoas do Goiás...
Juiz: /hum
Réu: foi... eu fui pra essa... pra essa boate... entrei armado... acho que alguma pessoa me viu e:: chamou a
polícia
Juiz: hum / éh ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula disse também o declarante que... a arma não era... de sua
propriedade exclusiva... ((interrogando o réu)) né num era só sua não né?
Réu: ((balançou a cabeça afirmativamente))
Juiz: ((ditando para a escrivã)) não era de sua propriedade exclusiva... vírgula mas pertencia... entre aspas... a
uma galerinha... fecha aspas e naquela / naquela noite estava para vender a arma... para vender a arma... vírgula
mas entrou na boate... vírgula... alguém viu e denunciou... vírgula... havendo então... a prisão do interrogando...
((interrogando o réu)) o senhor já foi preso ou processado alguma vez... sem ser essa época?
Réu: já
Juiz: já... que que foi?
Réu: um... um cinco sete
Juiz: um cinco sete... lá em Brasília? lá no Gama também? só uma vez ou mais vezes?
Réu: só uma vez e tem u::ma:: (incompreensível)
Juiz: / cento e oitenta?
Réu: éh::
XXIX
Juiz: / uma receptação?
Réu: isso
Juiz: comprou coisa roubada?
Réu: isso
Juiz: ((ditando para a escrivã)) que... foi preso e processado pelo crime tipificado no artigo um cinco sete do
código penal e também cento e oitenta ((interrogando o réu)) foi con / foi... / foi processado? foi
condenado?.... quanto tempo ocê pegou?
Réu: cinco anos... cinco anos cinco meses e qua / quatro dias
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que foi condenado por isso... numa pena de cinco anos e alguns meses...
((interrogando o réu)) pagou isto? ou tá em dívida com isso aí? com é que tá?
Réu: paguei fui processado né e como eu num tinha passagem.... antecedentes criminais
Juiz: /anh
Réu: aí o Juiz mandou arquivar os anos... e foi... concedeu:: liberdade
Juiz: concedeu liberdade...
Réu: ... pra eu respondê em liberdade
Juiz: ((ditando para a escrivã)) e que... estaria respondendo em liberdade ((dirigindo-se ao réu)) então num...
((interrogando o réu)) pois é mas ocê tá cumprindo a pena em liberdade?
Réu: sim senhor
Juiz: mas que tipo de / ocê tá cumprindo pena? ... ocê tá morando aqui há quanto tempo?
Réu: só seis meses
Juiz: seis meses... ocê tá apresentando em algum lugar aqui... não?
Réu: não tem que ir lá... eu vou lá ... e /e apresento...
Juiz: /ocê apresenta-se lá? todo mês?
Réu: não / todo / fui lá duas vez
Juiz: ((comentando o não cumprimento da pena pelo réu)) esse país num tem jeito não... tá danado... nós tamos...
nós tamos no fim da era ... ((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula ... diz mais o depoente... o interrogando
que... ((interrogando o réu)) tem alguma periodicidade de algum:: algum tempo que o ocê vai lá:: certinho? ...
dois em dois meses? ou três em três meses? um mês? ... ou não? é quando você... entender
Réu: / não... não... é porque... o seguinte /
eu lá... eu tive duas tentativas de homicídio...
Juiz: ocê?
Réu: quando isso aconteceu... foi... quando isso aconteceu... quando eu fui julgado eu tava/ eu tava no
hospital... baleado...
Juiz: pois é então ocê / ah:: você foivítima?
Réu: fui vítima... aí eu tive que sair de lá
Juiz: ah você foi vítima de duas tentativas de homicídio?
Réu: foi ... /foi/ isso.
Juiz: e agora ocê só tá apresentando lá...
Réu: isso
Juiz: pois é mas ele não determinou um prazo pra ocê apresentar lá?
Réu: não...
Juiz: /dois em dois meses ou três em três meses?
Réu: não...
Juiz: /ou é só /quando você:: acha que você deve ir lá que você vai?
Réu: não... quando eu acho que devo ir lá não... eu num recebi nenhuma::...
Juiz: / nada ainda?
Réu: nada ainda não
Juiz: certo...((ditando para a escrivã)) ponto e vírgula... diz que... teria sido vítima de duas tentativas... e que
mudou-se para Patos de Minas do verbo haver mais ou menos seis meses... ((interrogando o réu)) o seu
Gama lá é o Gama leste não?
Réu: isso
Juiz: ocê conhece o R? R? moreninho?
Réu: conheço
Juiz: enfermeiro?
Réu: não
Juiz: não? num é esse não? trabalhava no Santa Lúcia?
Réu: não
Juiz: esse processo seu tá aonde? como é que chama lá:: ? é é na rua... é na na...?
Réu: /na décima quarta
Juiz: décima quarta esse processo seu que... do um cinco sete?
XXX
Réu: é esse
Juiz: é tá lá na décima quarta? isso é no Plano /Piloto ou lá no Gama mesmo?
Réu: no Gama mesmo
Juiz: décima quarta... vara criminal?
Réu: não não delegacia... décima quarta DP
Juiz: não e o Juiz? o seu Juiz é...
Réu: /ah o Juiz / o Juiz é lá do fórum do Gama... doutor Arquibaldo
Juiz: pois / Arquibaldo... só tem um Juiz lá na no Gama?
Réu: ah eu acho... ah num sei
Juiz: /é Arquibaldo de quê? qual que é o endereço do Gama? o senhor sabe lá do fórum do Gama?
((conversa paralela entre oJuiz e a Escrivã sobre formalidades processuais ))
Juiz: o endereço seu correto hoje qual que é?
Réu: rua Modesto Marques Ferreira... duzentos e noventa e nove... Alvorada Caramuru
Juiz: duzentos e noventa e nove Caramuru Alvorada?
Réu: isso
Juiz: ocê tem advogado?
Réu: não
Juiz: vai ter que nomear um defensor pra você é isso?
Réu: isso
Juiz: ((dirigindo-se à escrivã)) então éh ad hoc (incompreensível) ad hoc ... manda devolver... onde abre será
nomeado um defensor pra podê (incompreensível)
Escrivã: (a M E é advogada dele)
Juiz: /tá então... então manda embora
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO JUDICIAL N˚7
Vara de Execuções Criminais, Infância e Juventude e
Precatórias Cíveis e Criminais
Comarca de Patos de Minas
Carta Precatória n. 48006085765-7
Autora: Justiça Pública
Réu: (ACS - nome por extenso) (ACS)
Aos 04 (quatro) dias do mês de Outubro do ano de dois mil e quatro (2006), às 14:00 horas, nesta
cidade e comarca de Patos de Minas, Estado de Minas Gerais, na sala de audiências da Vara de Execuções
Criminais, Infância e Juventude e Precatórias Cíveis e Criminais, onde estavam presentes, o Exmo. Sr. Dr.
(nome do Juiz), MM. Juiz de Direito, o acusado, o representante do Ministério Público Dr. (nome do
promotor), comigo, Oficial de Apoio Judiciário, ao final nomeado e assinado, compareceu o acusado (nome do
réu) brasileiro, solteiro, nascido aos 10/06/1983, natural de Brasília (DF), filho de SGS e de MAS, residente na
Rua (nome), casa (número), bairro C, nesta cidade. O MM. Juiz, depois de cientificar o réu da acusação
constante destes autos e do disposto no art. 186 do CPP, passou a interrogá-lo na forma legal, e, às suas
perguntas, respondeu, após detida leitura da denúncia: que são verdadeiros os fatos articulados na denúncia e que
não conhecem as testemunhas arroladas e que não tem ciência das provas contra si produzidas; diz mais o
interrogando que portava a arma, sem autorização administrativa, pelo tempo aproximado de dois meses; diz
também o declarante que a arma não era de sua propriedade exclusiva, mas pertencia a uma “galerinha”, mas
naquela noite estava pra vender a arma, mas entrou em uma boate, algum viu e o denunciou, havendo a prisão do
interrogando; que foi preso e processado pelo crime tipificado no art. 157 do CP e também no 180; que
também foi condenado por isso, em uma pena de 05 anos e alguns meses e que estria respondendo em
liberdade;diz mais o depoente e o interrogando que teria sido vítima de duas tentativas de homicídio e que
mudou para a cidade de Patos de Minas mais ou menos seis meses. Que não tem advogado e nem condições
XXXI
para contratar um, motivo pelo qual lhe foi nomeada defensora “ad hoc” na pessoa da Dra. (nome), defensora
pública desta comarca, presente ao interrogatório e rogando que fosse nomeado defensor ao acusado no juízo
deprecante, sendo que pelo MM. Juiz foi determinada a devolução da carta precatória ao Juízo Deprecante com
as homenagens deste juízo de Patos de Minas. Nada mais havendo. Eu, _____________ Oficial de Apoio
Judiciário, digitei e subscrevi.
Juiz de Direito,
Ministério Público,
Interrogado,
Defensor,
XXXII
DEPOIMENTOS POLICIAIS
1) DEPOIMENTO DE (NOME DO ACUSADO), EM INTERROGATÓRIO NA DELEGACIA DA
COMARCA DE SÃO GOTARDO, EM 16/04/03, RESPONDENDO À ACUSAÇÃO DE FURTO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Delegado de Polícia, da Escrivã e do
Acusado)
Qualificação do acusado: ((realizada somente pela escrivã))
Escrivã: D... cê tá lembrado desse furto da Vanussa... já conversou com os detetives
Acusado: /ran ran...
Escrivã: /cê já confessou pra eles né:?
Acusado: já
Escrivã: éh:: como que foi? que dia... que horas... se tinha alguém na casa... como que foi?
Acusado: ah... o DIA eu não lembro mais não
Escrivã: há quanto tempo mais ou menos:: aproximadamente?
Acusado: /tem um mês mais ou menos
Delegado: /((nome da escrivã))... deixa eu perguntar pra ele... (questionando o autor): conta a história pra nós...
cumé que foi isso aqui?
Acusado: senhor?
Delegado: conta a história pra nós...
Acusado:/eu fui lá...
Delegado: /uhn...
Acusado: eu fui lá na casa dela... não tinha ninguém em casa...
Escrivã:/que horas?
Acusado: lá pelas oito horas oito e meia...
Escrivã: /da noite?
Acusado: éh...
Delegado: que dia da semana... que foi... cê lembra?
Acusado: ah... num lembro não...
Delegado: não... tá... cê tava sozinho?
Acusado: tava
Delegado: tava nã::o D...
Acusado: tava...
Delegado: pra quem que cê vendeu isso?
Acusado: eu vendi ele pro S... pro RAPAZ que trabalha com o S (incompreensível) negócio que mexe com
som... eu nun sei o nome dele
Escrivã: éh::: passava...(risos) passava pela rua planejou o furto... pensou... na-quela casa
furtar... ou cê passava pela rua e de repente notou que não tinha ninguém... e entrou e furtou... como que foi?
Acusado: não...
Delegado: /cê já conhecia a casa?
Acusado: não...
Delegado: sabia quem era que morava ali?
Acusado: (não) /sabê quem (sabia)/ eu sabia...
Delegado: e cê sabia que não tinha ninguém lá?
Acusado: sabia...
Delegado: /por quê?
Acusado: porque ês só fica trabaiando (aquele povo lá)...
Delegado: éh:: enquanto eles trabalham... ocê furta né... tem vergonha não D... AH NEM... QUE
TRISTE::ZA ((mumúrios))... enquanto o povo tá tabalhando ocê tá aqui... aprontando... ah: nem:::...
Escrivã:/ como é que é o nome da vítima doutor? V?
Delegado: V C... /não... de C/ P
((murmúrios))
Escrivã: ocê não sabia que não tinha ninguém na casa?
Acusado: (não senhora)
Delegado: que horas mais ou menos que era? era de madrugada...
Acusado: /não... era umas oito horas...
Delegado: /da noite?
Acusado: éh::
XXXIII
Delegado: /mas... já tava escuro
Acusado: tava
Escrivã: ocê foi até lá com a intenção de cometer o furto?
Acusado: foi...
Escrivã: como que ocê entrou?
Acusado: pela janela
Escrivã: tava aberta?...
Acusado: tava
Escrivã: a janela tava aberta... a janela da frente... que dá de frente pra rua... ou (incompreensível)...?
Acusado: (não... /dentro do quintal)...
Delegado: tem idéia desse desse furto... qual número que ele foi? pelos duzentos.. quantos furtos
cometeu:: D?
Acusado: /sei não
Delegado: /deve tá nos duze::ntos... treze::ntos... né... pra mais né... tem base pro cê não D... ah nem:::
Acusado: (agora eu vou miorá) agora se Deus quisé agora...
Delegado: /tem quanto tempo que ocê fala isso... que agora cê vai melhorá:::?
Acusado: /não... agora eu trabaiando... agora eu não mexocom isso mais não... chego em casa cansado uai...
Escrivã: /até dá a vontade de pitá a próxima pedra né... tá tudo tranqüilo
Acusado: (não eu comprei um passarinho lá...) tá uma brigaiada por mode desse passarinho uai...
Delegado: /é né tá certo...
Escrivã: /aí ocê entrou na casa pela janela.. e aí.
Delegado: /a janela já tava aberta?...
já tava? ocê num destruiu nada não?
Acusado: /tava... /não
Delegado : então tá... e aí... o que que ocê viu lá de bom?
Acusado: não só peguei só o receptor só e vim embora... porque o rapaz falô que queria comprar ele...
Delegado : /uhn...
Delegado : /por que qui ocê num pegô mais coisa?
Acusado: /não porquê o rapaz falou qui queria comprar o receptô...
Delegado: ah:: ocê já tinha u::m cliente?
Acusado: /é
Delegado: /então tá certo... o negócio aqui tá to:do arrumado... né D...
((comentários sobre outras pessoas e questões não relativas aos fatos... portanto não pertinentes))
Escrivã: /aí cê pegou e levou ele e entregou prá para quem... vendeu prá quem?
Acusado: o nome do rapaz ê eu num sei o nome dele... só sei que ele trabalha junto com o S lá...
Delegado: /cumé qui ele é... moreninho... lourinho...?
Acusado: não ele é meio branco... minhas cor assim mais ou menos
Escrivã: vem não D... fala aí o nome do rapaz...
Acusado: /eu SEI NÃO... sá...eu vendi o:: S que pediu... pra mim arrumá foi pro S
Delegado: pro próprio S?
Acusado: /é mas quem me pagou foi esse rapaz que me pagou... que me deu esses quarenta real
Escrivã: /quarenta reais?...
Acusado: é quarenta real que ele me deu... mais que o S que me pediu
((o Delegado tenta descobrir junto ao Detetive o nome do receptador diálogo paralelo ao depoimento, não
transcrito))
Escrivã: quem te pediu:: foi o S quem encomendou?
Acusado: / foi o S... foi
Escrivã: /ele sabia que ocê ia furtar pra vender pra ele... então tá bom
Acusado: /éh:
Delegado:o S pediu prô cê arrumá um::
Acusado:/foi
Delegado: /sabendo que ocê ia era... catá um de alguém... então tá bom
Acusado: /éh
((Escrivã conversando com o Delegado)): o dia que o S vim aqui... perguntar pra ele se o D vende... (risos) se ele
tem alguma loja especializada em venda de... receptores
((Delegado respondendo a escrivã)) : o D fornece... e o rapaz vende
((Escrivã lendo em voz alta e conferindo o depoimento escrito)): que o declarante vendeu um receptor para...
Delegado: ((ditando para a escrivã)) /para um RAPAZ que trabalha...
XXXIV
Escrivã: o rapaz trabalha com o S... em uma loja de... conserto de ele.. de eletro... comé que é doutor... que
chama?
Delegado: /eletro eletrônica...
((intervenção de um servidor da Delegacia, que entra na sala falando outro assunto))
Escrivã : éh::... ocê vendeu por quanto?
Acusado: quarenta real
Delegado: /que dia que ocê vendeu esse negócio? no dia seguinte? ou no mesmo dia?
Acusado: não... no outro dia...
Delegado: /que horas?
Acusado: umas duas umas duas horas da tarde
Delegado: foi lá: lá no comércio do S... mesmo?
Acusado: /foi
Delegado: o S num tava lá não?
Acusado: tava
(Delegado): e: ele viu ocê vendendo?
Acusado: viu
Escrivã: ocê sabe qual o valor da da... quanto vale um receptor de antena parabólica? o valor REAL pro ir
numa loja e comprar?
Acusado: não...
Delegado: e:... outra coisa... é: é cê falou pra ele onde cê... que cê tinha furtado era da V?
Acusado: não
Delegado: cê falou que cê tinha arrumado onde?
Acusado: eu falei que eu tinha arrumado na roça
Delegado: fala a verda:de D::...
Autor): /éh mesmo eu falei que eu tinha arrumado na roça...
Delegado: /na roça assim... que cê tinha furtado de uma roça né?
Acusado: /éh...
Escrivã: o S tava lá e presenciou ocê ven... entregar pro rapaz e ele te pagá?
Acusado: /éh...
Delegado: /o nome do rapaz éh:: J J?
Acusado: /eu nunca vi o rapaz na minha vida não...
Delegado: J?
Acusado: (eu fui lá porque o S que falou)...
Escrivã: ocê vendeu no dia seguinte... né?
Acusado: /foi...
Escrivã: foi no dia seguinte... por volta de duas horas?
Acusado: uhn...
Delegado: D... o R tá trabalhando também ou não?
Acusado: uhn... nun trabaia não...
Escrivã: /só ocê né D... que trabalha...
Acusado: /trabaio de vez em quando também... quem dera se trabaiasse direto também...
Delegado: quantas vezes cê já foi preso... D?
Acusado: de ficar aqui preso... aqui mesmo?
Delegado: éh... não de ficar preso preso mesmo... foi preso alguma vez? ou ocê ficava de um dia pro
outro assim e ia embora?
Acusado: não...
Delegado: /(incompreensível)
Escrivã: D quando ocê foi lá é é:: cê furtou... cê já foi encomendado... ele já te encomendou... então cê já foi lá e
levou direto prá ele... então o S te encomendou... e o S SABIA que ocê iria furtar um um (VGA3) prá
vendê pra ele um receptor pra vendê pra ele... ele precisava... ele ti encomendô... no caso?
((interferência de barulhos externos e balbucios da escrivã digitando o texto))
Escrivã: mas ele não sabia quando ocê vendeu que era da V? não contou que era da Vanussa?
Acusado: /não...
Escrivã: ocê falou que tinha (apanhado) o aparelho aonde?
Acusado: na roça
Escrivã: /numa casa na roça?
XXXV
Acusado: éh
Delegado: o que ocê fez com os quarenta reais qui ocê ganhou?
Acusado: comprei em pedra
Delegado: de quem que ocê comprou?
Acusado: ahn?
Delegado: de quem que ocê comprou?
Escrivã: Z ah:: acho que do Zi Zi (aquele do Boa Esperança)
Delegado: /o Z? Z aquele que mexia com carteira falsa?
Acusado: eu num sei... ele mexia com isso
Escrivã: quantas pedras de crack você comprô?... quatro... dez reais a pedra?
Acusado: /quatro
Delegado: /quanto tempo tem que: cê usa crack::?
Acusado: dois anos...
Delegado: /só dois? (tem muito mais que dois anos uai...)
Acusado: /dois anos
Escrivã: tem muito maisque isso...
Acusado: /tem dois anos que eu mexo com isso... num tenho certeza também não...
((risos))
Delegado: /unh... o crack já afetou sua cabeça... D...
Acusado: /desde os doze anos...
Delegado: uai... mas se ocê tem dezoito uai ((frase exclamativa))
Acusado: / ah então...(incompreensível)
Delegado: /ENTÃO TEM SEIS doze oh... treze... quatorze... quinze... dezesseis... dezessete... dezoito......
tem seis anos
Escrivã: ((questionanado o autor))/...falou Z... esse Z mora aonde faz o quê?
Acusado: acho que ele trabaia de pedreiro...
Escrivã: éh? ele fica ali na Zona... ou tem alguma residência fixa?
Acusado: éh::: ele fica lá na Zona...
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que o Z... vírgula... que... vai lá... continua que que cuja identida... /cuja
identificação completa o declarante desconhece/... cuja identificação completa o declarante desconhece...
vírgula... sabendo apenas que o mesmo... permanece nas imediações da zona boêmia desta cidade
Delegado: cumé que ele é... branco... preto... moreno... (velho)
Acusado: branco
Delegado: ele branco?... quantos anos mais ou menos?
Acusado: (minha idade)... uns trinta e dois trinta e três anos...
Delegado: ((ditando para a escrivã)) possui cerca de trinta e dois anos de idade... ((questionando o autor)) cê sabe
se ele é casado... se é solteiro?
Acusado: solteiro
Escrivã: ((dirigindo-se à Delegado)) possui aproximadamente trinta e dois anos de idade?
Delegado: éh:: e é solteiro...
Escrivã: solteiro... alto... magro?
Acusado: /gordo
Escrivã: gordo...
Delegado: /pedreiro né... que ocê falou?
Acusado: é pedreiro
Escrivã: gordo... baixo ou alto?
Acusado: baixo
Escrivã: aproximadamente... quanto de altura? mais alto... mais baixo do que eu?
Acusado: bem mais baixo... ichi...(perto do G) mais ou menos...G é baixo uai...
Escrivã: ah::... D:: ... um metro e sessenta de altura...
((comentários e risos não pertinentes))
Escrivã: /tem quanto tempo que ocê fuma crack... quanto tempo que ocê usa droga?
Acusado: ah::: uns seis anos... ( incompreensível)...falaram seis anos...
Delegado: /nós fizemos as contas né:: D... ocê tinha falado que era dois... se é desde os doze... ocê tem dezoito...
ocê só tem dezoito ou cê já fez dezenove? como é que tá?
Acusado: vou fazê dezenove este mês...
XXXVI
Escrivã: /cê usa alguma outra droga... ou é só crack?
Acusado: só crack...
Delegado: maconha é muito fraca né sô... tá cum nada não...
((risos))
Escrivã: cê compra crack sempre... cê usa sempre cê trabalha pra tê dinheiro pra comprá crack:?
Acusado: num tem (uma mió) resposta prá ti dá não... si fosse... eu num roubava...
((risos))
Escrivã: /éh:: é verdade... cê é muito objetivo... ((risos)) cê compra quantas pedras de crack por dia?
Acusado: umas cinco...
Escrivã: quantas?
Acusado: cinco...
Escrivã: umas cinco pedra por di:a... cê tem que furtar todo dia pra manter essa esse seu...
Acusado: /NÃO... também né todo dia que eu fumo não... uai: uai...
Delegado: só quando cê dá conta de furtar alguma coisa pro cê poder... sustentar né D... cê tá trabalhando agora?
quanto cê tá ganhando por dia?
Acusado: quinze real
Delegado: dá pra uma pedra e meia... tá bom...
Acusado: cê tá é doido...
Escrivã: quando cê tem dinheiro então... cê... fuma até cinco por dia?
Acusado: éh/
Escrivã: cê já foi preso?
Acusado: de ficar muitos dias... não...
Escrivã: já foi processado? ocê está sendo processado né... atualmente...
Acusado: /éh::...
Delegado:... que a polícia ti pegou... foi quantas vezes... umas cem?
Acusado: NÃO... nem lembro mais não...
Delegado: é vez demais... né D...
Escrivã: foi foi... foi por que aquela vez que ocê foi autuado... foi por receptação ocê lembra... ou foi por furto?
Acusado: /receptação
Delegado: /receptação
Escrivã: /receptação né... foi autuado por receptação...
((comentários que não têm pertinência com o depoimento))
Escrivã: /você se envolveu em várias ocorrências de furto né::... está respondendo a:: vários inquéritos
policiais...
Acusado: /éh::
Delegado: /nem sabe quantos...
Escrivã: inquéritos policiais... todas as ocorrências em que você se envolveu foi por prática de furto...
receptação... ou tem alguma outra coisa?... tem algum outro tipo de crime ou não?
Acusado: /não... (incompreensível)
Delegado: /nunca te pegaram usando droga... não?
Acusado: não... graças a Deus... não...
Delegado: ocê usa só prá espairecê né: D... ocê num é bobo né::...
Acusado: éh...( incompreensível)
Delegado: ocê também tá vendendo... também ou não?
Acusado: quem dera se eu tivesse vendeno... (riso) se eu tivesse vendeno eu tava rico...
Delegado: /ocê num dá conta de vendê né... na hora que ocê vê... ocê fuma tudo...
Acusado: fuma tudo... uai...
Delegado: nada mais né ((nome da escrivã))... pode terminá... qué falá alguma coisa mais D?...
Acusado: num quero falá mais não... mais se o senhor quisé que fala... nóis fala
Delegado: não... pra mim tá bom... pode fechá ((nome da escrivã))
((Cumpriram-se as demais formalidades de encerramento de um interrogatório de um acusado em Delegacia de
Polícia.))
XXXVII
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO POLICIAL N˚1
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS
DELEGACIA DE POLÍCIA DA COMARCA DE SÁO Gotardo
Rua Padre Kerdole, s/n, Centro, Tel. (034) 36712185
LOCAL: Delegacia de Polícia de São Gotardo/MG
DATA: 16 de abril de 2003.
NOME DODELEGADO: Dr. (nome)
NOME DO ESCRIVÃO: (nome)
DECLARAÇÃO QUE PRESTA:
NOME:
PAI:
FILIAÇÃO:
MÃE:
NACIONALIDADE: brasileira NATURALIDADE: ( nome da cidade)
IDADE: 19 anos DATA NASCIMENTO: COR: Branca SEXO: Masculino
PROFISSÃO: Sem profissão ESTADO CIVIL: Solteiro
Local trabalho: Tel:
Residência: (endereço completo) Tel:
Documento de Identidade:
Lê: Não Escreve: Assina o nome
Costumes:
Compromisso legal: não presta
INTERROGADO, PERGUNTADO, INQUIRIDO RESPONDEU; QUE o declarante
comparece nesta Unidade, atendendo à intimação da Autoridade Policial, para esclarecer sobre os fatos narrados
no IP nº 48/03; QUE há aproximadamente um mês atrás, não se lembrando a data exata, por volta de 20:00 hs., o
declarante se deslocou até a casa da vítima, (nome), que o declarante já conhecia; QUE o declarante sabia que
não havia ninguém na casa; QUE o declarante foi até a casa com a intenção de cometer o furto; QUE o
declarante entrou no quintal da casa, e se aproveitando que uma janela que para os fundos da casa estava
aberta, o declarante entrou na residência; QUE o declarante apanhou um receptor de antena de parabólica que
estava na sala, e saiu da casa levando o citado objeto; QUE no dia seguinte, por volta de 14:00 hs., o declarante
foi até a loja do (nome), que conserta objetos eletro eletrônicos e vendeu o citado receptor para um rapaz que
trabalha lá; QUE o (nome) estava na loja no momento e presenciou quando o declarante vendeu o objeto e
recebeu por ele; QUE o declarante vendeu o citado aparelho pela quantia de quarenta reais; QUE o declarante
não sabe o valor real de um receptor de antena parabólica; QUE quando o declarante furtou o referido receptor
na casa da (nome), sabia que o venderia para o (nome), pois foi o próprio (nome) que o encomendou para o
declarante; QUE quando o (nome) “encomendou” um aparelho receptor de antena parabólica para o declarante,
sabia que o declarante precisaria furtá-lo para obtê-lo; QUE o declarante não contou ao (nome) que o aparelho
havia sido furtado da (nome); QUE o declarante disse ao (nome) que havia furtado o aparelho em uma residência
na zona rural; QUE com o dinheiro apurado com a venda do aparelho receptor de antena parabólica, o declarante
comprou quatro pedras de crack; QUE o declarante comprou a droga do (nome), cuja identificação completa o
declarante desconhece sabendo apenas que o mesmo permanece nas imediações da zona boêmia desta cidade;
QUE o (nome) é de cor branca, com aproximadamente trinta e dois anos de idade, é solteiro, gordo, com
aproximadamente um metro e sessenta de altura; QUE o declarante fuma crack há aproximadamente seis anos;
XXXVIII
QUE o declarante não trabalha para sustentar o vício; QUE quando o declarante “tem dinheiro” fuma uma
quantidade aproximada de cinco pedras de crack por dia; QUE o declarante foi preso e autuado por
receptação, estando ainda respondendo o processo; QUE o declarante está respondendo a vários inquéritos
policiais, todos por crime contra o patrimônio; QUE nada mais disse nem lhe foi perguntado mandou a
Autoridade que encerrasse o mesmo que depois de lido segue legalmente assinado.
AUTORIDADE:________________________________________________
DEPOENTE: ________________________________________________
ESCRIVÃ: ____________________________________________________
XXXIX
2) DEPOIMENTO DE (NOME DO ACUSADO), EM INTERROGATÓRIO NA DELEGACIA DA
COMARCA DE SÃO GOTARDO, EM 16/04/03, RESPONDENDO À ACUSAÇÃO DE FURTO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação do Delegado de Polícia, da Escrivã e do
Acusado)
Qualificação do acusado: ((realizada somente pela escrivã))
Delegado: D... vai ser ouvido agora... pelo crime da ocorrência meia sete meia barra zero três... do dia sete de
abril de dois mil e três... éh:: uma acusação de que ocê cometeu um furto qualificado... por arrombamento...
contra a vítima Antônio Ferreira Alves... na rua Rio Araguaia... número mil e duzentos... Jardim Ana Paula...
São Gotardo ((data e dados do depoimento)) dezesseis do quatro de dois mil e três... escrivã... dona ((nome da
escrivã)) ... eu te ouvindo ... delegacia de São Gota:rdo
Delegado: conta pra nós:: esse furto ainda aconteceu ó:: por volta de::: dezoito horas... onde ocê tava no dia sete
de abril de dois mil e três ... às seis horas da tarde?...
Acusado: trabaian:do
Delegado: aonde?
Acusado: no S
Delegado: qual S?
Acusado: ah::: só conheço ele por S
Delegado: /S S?
Acusado: éh: ... S S
Delegado: /uhn::: que qui ocê tava fazendo lá?
Acusado: tava catano batata... tra trabaio de tratorista... mais eu tava catano batata
Delegado: /tá ... cê tava catando batata... então num foi ocê que foi lá não?
Acusado: /NÃO:: até a hora eu:: (incompreensível)
Delegado: furtaram de lá... uma espingarda... um par de sapato vermelho... um par de tamanco... várias moedas...
uma calça... cinco cuecas... e uma sacola marca... PURIMAX cinza... essa sacola tava na sua casa, comé que
ela não foi::
Acusado: /éh o qui essa menina tava falando... mas ce a hora agora... até a hora num deu pra mim:: num
deu prazo pra eu chegar do serviço... chego do serviço é sete... sete e meia oito hora
Delegado: /uhn:: eu vou chamar o Shi chamar o S
aqui pra (vê se ocê tava na roça)?
Acusado: pode chama:::
Delegado: uhn:: tá cer::to e essa sacola... que a vítima viu lá na sua casa?
Acusado: num num existe só uma M no mundo né doutor
Delegado: /uhn?
Acusado: num existe uma M no mundo... agora essa sacola nem minha (eu busquei) eu num vi essa sacola
em casa (incompreensível) seis horas eu tava trabalhando...
Delegado: /tá cer::to
Escrivã: ele afirma... o: dono da sacola... afirma que ele tem essa sacola aqui... que é uma sacola
personalizada... que ela é dele mesmo... que ele viu essa sacola
Acusado: /é uma sacola de viagem então
Escrivã: /eu não sei... ele me falou que (incompreensível)
Acusado: /é fácil... oceis caça a sacola lá dentro de casa ...
((os três interlocutores falaram ao mesmo tempo de forma incompreensível))
Delegado: ocê tem uma sacola de marca POLIMAX?
Acusado: eu... não
Delegado: /uhn
Acusado: /nem sei sei que qui jeito que é e:ssa sacola
Delegado: /uhn::: cumé qui esse homem então tá lá:: ocê
conhece esse tal de::: A... P A?
Acusado: /não nunca vi esse na minha vida... não... num conheço
nenhum D também
Delegado: /tá... e esse D... quem que é?
Acusado: NÃO... nunca vi isso na minha vida também nã::o
Delegado: /e o R P... ocê conhece?
Acusado: esse eu conheço... vagabundo
Delegado: /quem qui é? esse R?
Acusado: ((rindo)) quem qui é?
Delegado: /não... eu tô te perguntando... quero saber quem qui é ele ...
Acusado: (uai) ele mora lá perto de casa... ua::i
XL
Delegado: /o que qui ele faz da vida?
Acusado: roubá...
Delegado: /igual ocê mesmo então né?
Acusado: éh:::
Escrivã: foi o R que fez a casa desse homem aqui?
Acusado: num sei não:: eu tava trabaiando... nesse horário eu tava trabaiando...
Escrivã: quem qui foi que ti encomendô arma de fogo?
Acusado: que arma de fogo?
Escrivã: uma arma de fogo... me contou que tava vendeno uma arma de fogo lá:: um revólver trinta e oito
na na
Acusado: /lá na Guarda tava venden::o
Escrivã: /não D::?
Acusado: /(incompreensível) uma arma de fogo quando eu bati com o leiteiro... que ocê tá falando que eu sei da
arma... é essa que eu sei... e a do R... eles tava falano que o R roubou o revólver do J... do J da loja... um um
revólver e um celular
Escrivã: /ocê não conhece a vítima então::
Acusado: não
Delegado: /ocê passou na rua... ocê passou naquela rua aquele dia?
Acusado: não
Delegado : /onde que é Jardim Ana Paula?
Acusado: sei lá onde fica esse trem:...
Escrivã: fica pra cima da Godiva... perto da casa dele... é encostado no bairro dele
Delegado: / perto da sua casa... cê conhece essa rua aqui Araguaia?
Acusado: nã::o
Delegado: é pertinho lá da sua casa... ocê e o R tavam andando lá aquele dia... tem uma moça que te viu lá...
Acusado: (incompreensível) é perto do Cargueiro... num é perto de casa não:
Escrivã: atrás da Godiva ali descendo... perto da Pematra, pra um pouquinho... aquilo ali é o Jardim Ana
Paula... atrás da Godiva ali
Acusado: /não as popular (incompreensível) ali fica ali (incompreensível) aquilo é tudo popular
Escrivã: /pois é pra ali é o Jardim Ana Paula
Acusado: ah::: só se for prá ali então...
Escrivã: porque tem a Erotides Batista (prá baixo é debaixo)... prá é Nossa Senhora de Fátima... pra é
Jardim Ana Paula
Delegado: /cê sabe D... tem dó... o R tava com cê aquele dia?
Acusado: /não comigo tava não...
Delegado: à noite?
Acusado: ((sinal negativo com a boca))
Delegado: uhn::... então põe aí... ((nome da escrivã))... que o declarante alega que na data dos fatos... no dia sete
do quatro de dois mil e três... estava trabalhando
Delegado: ((dirigindo-se ao autor)) /ocê tava trabalhando desde que horas?
Acusado: eu pego às sete e vou até sete e meia
Delegado: nossa... cê tá trabalhando demais D... esse negócio num vai fazer bem pro cê não...
Acusado: vai não:: tá bom
Delegado: ((ditando para a escrivã)): estava trabalhando na fazenda do senhor S S... ((questionando o autor)): na
turma de quem que ocê tava?
Acusado: R... mas eu trabaio mesmo é pro S né
Delegado: /uhn:: na turma do R?
Acusado: é
Delegado: anh::: ((ditando para a escrivã)): desde as sete horas da manhã até às dezenove e trinta...
((questionando o Autor)): foi isso? ocê ficou lá na roça até sete i meia da noite?
Acusado: todo dia
Delegado: /espetáculo uai::
Acusado: ele tira sarro demais da ge::nte
Delegado: /tô até preocupado... tô até preocupado com ocê...
Acusado: (incompreensível) tira sarro demais da ge::nte
Delegado: /ocê num tira de mim não né:... mentindo desse tanto... na minha cara aqui
Acusado: /não: mesmo... eu trabaio de sete às sete
((conversas incompreensíveis e/ou não pertinentes))
XLI
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que o declarante não sabe onde (fica a Rua Rio Araguaia) e nem o Bairro
Jardim Ana Paula ponto e vírgula... que entretanto... o decla /o declarante reside... ((questionando o autor)): qual
bairro que ocê mora D?
Acusado: Santa Terezinha
Delegado: reside no Bairro Santa Terezinha éh::
Escrivã: /próximo né: ao Jardim Ana Paula...
Delegado ((questionando o autor)): ocê sabe que: lá fica próximo ao Jardim Ana Paula?
Acusado: eu sei porque ela tá falando aí... que tá perto... prá mim lá era Cargueiro aquilo ali ó::
Delegado: ((ditando para a escrivã)) /pró próximo ao bairro Jardim Ana Paula vírgula... SEGUNDO informação
obtida nesta Delegacia
Delegado: então ocê chegou sete e meia da noite e foi prá sua casa?
Acusado: ahn:::
Delegado: /ocê durmiu lá... num saiu de lá... aquele dia não?
Acusado: não::
Delegado: ((ditando para a escrivã)): que o declarante... desceu ((questionando o autor)): onde ocê desce... na
hora que ocê A-PEI-A do: caminhão?
Acusado: posto Serjão
Delegado: ((ditando para a escrivã)): /que o declarante desceu... do caminhão ((questionando o autor)):
caminhão ou ônibus?
Acusado: não... é camioneta
Delegado: desceu da camioné/ camioneta do próprio S? quem tava conduzindo?
Acusado: é... /não é do: gerente... é do M
Delegado: /é do M ((prossegue ditando para a escrivã)) desceu da camionete conduzida por Ma-no-el... gerente
do S... às dezenove e trinta... vírgula... em frente ao Posto Boiadeiro... e de lá... e de vírgula... rumou
diretamente para sua casa... vírgula... onde permaneceu... até o dia seguinte... quando novamente acordou e
dirigiu-se para o trabalho... (incompreensível) ((questionando o autor)) até:... vou ter que escrever isso mesmo
D?
Acusado: me::mo
Escrivã: ocê levantou no dia seguinte... seis e meia ... foi trabalhar
Acusado: /fui trabaiá:... trabaiá
Delegado: /é:: que bele::za... vão lá: ((pross
eguindo ditando para a escrivã)) até o dia seguinte
Escrivã: ((lendo o que ia digitando)) /quando novamente saiu de casa às seis horas... (incompreensível)
Delegado: ((ditando para a escrivã)) para trabalhar:: ((prosseguindo
questionando o autor)) ah: ai ai:: D de Deus... quem vê isso até acredita... ((prosseguindo ditando para escrivã))
que por /é::: que portanto... o declarante nega... vírgula... veementemente... vírgula... a prática do delito de
furto... a prática do delito de furto contra a vítima A F A vírgula...
Escrivã: A?
Delegado ((ditando para a escrivã)): F A vírgula... ocorrido em sete do quatro de dois mil e três... que o
declarante não sabe informar o autor... vírgula ou autores de tal furto ((questionando o autor)):/foi o R?
Acusado: num sei não... num converso com aquele vagabundo não
Delegado: /a não D... tem dó... ocês vivem juntos sô::
Acusado: não... num tô conversando com ele nã::o
Delegado: /por quê... o que aconteceu?
Acusado: ele me bateu esses dias... ele me deu uma coça esses dias:: (incompreensível)
Delegado: por quê que ele ti bateu?
Acusado: porque eu entreguei ele uai:::
Delegado: uhn
Escrivã: o D ocê conhece?
Delegado: entregou ele prá quem?
Acusado: ahn? prá quem?
Delegado: éh?
Acusado: pra esse menino aqui da loja... que eles roubaram o revólver dele... tava falan::o
Delegado: o J?
Acusado: éh::
Delegado: /uhn: se::i... então quer dizer/ então quer dizer que a arma... que o D que:: o:: P tava vende:no... é a do
J
Acusado: /a do J
Delegado: /num é essa daqui não?
Acusado: nã:o do J...
Delegado: num é essa espingarda aqui não?
XLII
Acusado: não
Delegado: tá bom... ((dirigindo-se à escrivã)): que: qui eu coloquei aí? que o declarante desconhece...
Escrivã: não... (incompreensível) ocê conhece o B?
Acusado: não
Delegado: tá: bom: ... vizinho seu... o autor do furto...
Acusado: B? nã::o qual B?
Delegado: /éh:: que:: que não conhece... ((fala realizada ao ditar para a escrivã))
Acusado: perto de casa tem nenhum B não uai... perto de nóis num mora nenhum B não... nunca morou B
Escrivã: que não conhece B... né doutora?
Delegado: é:
((comentários – murmúrios irrelevantes))
Escrivã: o R P ocê conhece né?
Acusado: unh:::
Delegado: ((ditando para a escrivã)) e sabe que o mesmo... ((prosseguindo questionando o autor)): o quê que ele
faz da vida... rouba dos outros?
Acusado: é::
Escrivã: come que é?
Acusado: ele rouba dos outros
Delegado: ((ditando para a escrivã)) e sabe que o mesmo tem como profissão... põe entre aspas aí... roubar dos
outros... ((questionando o autor)) ocê tinha profissão igual a dele... agora que ocê mudou né D::?
Acusado: vai mudando devagarzinho
Delegado: ((risos)) devagarzinho não meu filho... tem que mudar é rápido uai... tem de nós ó:: nem num
güento ocê não
Escrivã: (incompreensível) como profissão roubar dos outros
Delegado: /tá
Escrivã: a arma que ele tava vendendo então::: ocê falou que ele tava vendendo uma arma
Acusado: /do J
Escrivã: uhn::: era um revólver trinta e oito?
Acusado: /TRINTA E DOIS... do J era trinta e dois
Delegado: ((ditando para a escrivã)) /que R dias atrás estaria vendendo uma arma... estava vendendo uma
arma... de fogo... vírgula... ((questionando o autor)) tratando-se de um revólver... calibre trinta e dois D?
Acusado: trinta e dois
Delegado: ((ditando para a escrivã)): calibre trinta e dois vírgula... revólver este que R teria furtado de J... J
Acusado: da lo:ja
Delegado: da loja de móveis?
Acusado: é
Delegado: ((ditando para a escrivã)) (incompreensível) ponto e vírgula... que não sabe se R... estava também
vendendo uma espingarda cartucheira... calibre trinta e seis... ((questionando o autor)): conta prá nós quem que
fez isso aqui... foi o R também?
Acusado: não num sei não
Delegado: então... tá bom
Acusado: se eu soubesse... eu falava
Delegado: eu sei:... ocê num conhece essa vítima aqui também não?
Acusado: não
Delegado: esse A F A
Acusado: /não
Delegado: nem sabe quem que é ele?
Acusado: ((negando emitindo som com os lábios))
Delegado: /ele não teve lá na sua casa?
Acusado: nã::o nem nem nunca vi esse homem
Delegado: /tá:... ((ditando para a escrivã)): que não conhece a vítima dos fatos... e que:... esse homem jamais
esteve em sua casa... e que tal homem jamais esteve em sua casa
Delegado: então/ lá na sua casa nunca teve uma BOLSA de marca polimax (então não)?
Acusado: não::: nunca vi isso lá não
Delegado: ((ditando para a escrivã)): polimax... de marca polimax
Delegado: então tá certo D... mais alguma coisa?
Acusado: não
Delegado: se ocê num contá QUEM foi prá nós... nós vamos falá que foi ocê:...
XLIII
Acusado: risos nã::o ocê tá doida?
Delegado: não uai... nun tô doida não... uai:: o rapaz viu a bolsa lá na sua ca:sa...
Acusado: nã:o viu mais uai::: viu nada uai... tem testemunha de onde que eu tava uai::: trabaian::do... tem prova
de onde que eu tava
Delegado: /tá... ocê já foi preso... já praticou vários furtos... mas e::sse num foi ocê não né?
Acusado: não
Delegado: então tá bom
Acusado: posso embora agora?
Escrivã: ocê ocê não assinou o depoimento ainda
Delegado: /calma rapaz
((comentários não importantes à transcrição do depoimento))
((Cumpriram-se as demais formalidades de encerramento de um interrogatório de um acusado em Delegacia de
Polícia.))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO POLICIAL N˚2
POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS
DELEGACIA DE POLÍCIA DA COMARCA DE SÃO GOTARDO
Rua Padre Kerdole, snº, Centro, Tel. (034) 3671 2185
LOCAL: Delegacia de Polícia de São Gotardo/MG
DATA: 16 de abril de 2003.
NOME DODELEGADO: Dr. (nome)
NOME DO ESCRIVÃO: (nome)
DECLARAÇÃO QUE PRESTA:
NOME:
PAI:
FILIAÇÃO:
MÃE:
NACIONALIDADE: brasileira NATURALIDADE: ( nome da cidade)
IDADE: 18 anos DATA NASCIMENTO: COR: Branca SEXO: Masculino
PROFISSÃO: Sem profissão ESTADO CIVIL: Solteiro
Local trabalho: Tel:
Residência: (endereço completo) Tel:
Documento de Identidade:
Lê: Não Escreve: Assina o nome
Costumes:
Compromisso legal: não presta
XLIV
INTERROGADO, PERGUNTADO, INQUIRIDO RESPONDEU: QUE o declarante comparece
nesta Unidade, atendendo a Autoridade Policial, para esclarecer sobre fatos narrados no BO/PM nº 676/03 do dia
07/04/03; QUE o declarante alega que na data dos fatos, 07/04/03, estava trabalhando na fazenda do Sr. (nome),
na turma do (nome), desde às 07:00 h. até as 19:30 hs.; QUE o declarante nega que tenha praticado o furto
narrado no BO/PM citado; QUE o declarante não sabe onde fica a rua Rio Araguaia, e nem o bairro Jardim Ana
Paula; QUE entretanto, o declarante reside no bairro Sta. Terezinha, próximo ao B. Jardim Ana Paula, segundo
informação obtida nesta Delegacia; QUE o declarante desceu da caminhonete conduzida por (nome), gerente do
(nome), às 19:30 hs., em frente ao Posto Boidadeiro e de lá, rumou diretamente para sua casa, onde permaneceu
até o dia seguinte, quando novamente saiu de casa às 06:30 hs., se dirigindo para o trabalho; QUE portanto, o
declarante nega, veementemente, a prática do delito de furto contra a vítima (nome), ocorrido em 07/04/03; QUE
o declarante não sabe informar o autor, ou autores, de tal furto; QUE o declarante não conhece o (nome de
pessoa), vizinho da vítima; QUE o declarante conhece o (nome de uma pessoa) e sabe que o mesmo tem como
profissão “roubar dos outros”; QUE o declarante tem conhecimento que dias atrás o (nome) estava vendendo
uma arma de fogo, tratando-se de um revólver cal. 32, revólver este que o (nome) teria furtado do (nome),
proprietário de uma loja de móveis; QUE não sabe se o (nome) estava também vendendo uma espingarda
cartucheira cal. 36; QUE não conhece a vítima dos fatos e que tal homem jamais esteve em sua casa; QUE na
casa do declarante nunca teve uma bolsa de marca “Polimax”; QUE o declarante foi preso e já praticou vários
furtos, mas este não foi praticado pelo declarante; QUE nada mais disse nem lhe foi perguntado mandou a
Autoridade que encerrasse o mesmo que depois de lido segue legalmente assinado.
AUTORIDADE:________________________________________________
DECLARANTE: ________________________________________________
ESCRIVÃ: ____________________________________________________
XLV
3) DEPOIMENTO DE (NOME DO ACUSADO), EM INTERROGATÓRIO NA DELEGACIA DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 29/08/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE FURTO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação da Delegado de Polícia, da Escrivã, do
Advogado e do Acusado – houve conversas paralelas)
Qualificação do acusado: ((realizada somente pela escrivã))
QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO: ((realizado somente pela escrivã))
((interferência de agente de polícia conversando com o Delegado, que havia entrado na sala, sobre um outro
assunto, enquanto a escrivã terminava a qualificação do acusado))
Delegado: B djek xan... aquele do filme? é né?
Delegado: B me conta como é que foi essa história desse furto ontem à noite ... o quê que aconteceu... com quem
ocê tava ... como é que ocês fizeram isso?
Acusado:: foi qui eu tava na porta da escola
Delegado: qual escola?
Acusado:: estadual
Delegado: cê estuda lá?
Acusado:: ran ran
Delegado: ahã
Acusado:: aí:: o D passou... ele falou vamo ali... ele ... tinha ficado um celta parado ali perto da escola
mesmo ... estadual ... eu ajudei ele entortá a porta fiquei do lado de fora olhando ele pegou e entrou ...
quando ele passou a mão por baixo ele achou o revólver ... ele pois no / coiso pegou e desceu eu peguei e fui
pra escola de novo
Delegado: e ele é que ficou com o revólver?
Acusado:: foi ele que ficou COM O REVÓLVER
Delegado: ele levou o revólver pra casa?
Acusado:: foi
Delegado: foi? ... que horas que era?
Acusado:: era umas oito horas da manhã
Delegado: e o som?
Acusado:: o som nóis num pegou não
Delegado: O::LHA ... onde cês deixaram esse som?
Acusado:: o som nóis num tava com ele não
Delegado: como é que ocês entram dentro do carro? ocês entraram no carro pra pegá o quê?
Acusado:: aí / nóis... o D viu ... um umas sacoloas ... uns trem ... pensou que tinha alguma coisa de valor ...
ele num achou nada ... e passou a mão debaixo e achou
o revólver
Delegado: /cês tiraram a frente do som uai ... levaram a frente do som...
Acusado:: eu num vi nada
Delegado: ... e:: o quê que ele fez dessa arma?
Acusado:: eu num sei ... ele desceu ... eu acho que ele vendeu pra aquele rapaz que ta ali... aquele
moreno
Delegado: /ocê acompanhou a venda?
Acusado:: não acompanhei
Delegado: quanto/por quanto que ele vendeu ela?
Acusado:: ah ele tava falando ali ... nos fundo que foi trezentos
Delegado: quanto que sobrou pro cê?
Acusado:: nada
Delegado: ah que que isso uê? como que ce ajuda o cara a a a furtar o negócio e e num num sobra nada pro
cê?
Acusado:: peguei nada de dinheiro não
Delegado: o quê que ele fez com o dinheiro?
Acusado:: num sei ... tava na escola
Delegado: como é que eles te pegaram hoje ... que te acharam?
Acusado:: lá em casa ... eu tava almoçando eles chegaram
Delegado: já tava com ele já.... a hora que eles chegaram?
Acusado:: ele já tava (incompreensível)
Delegado: /só tava ele? depois é que foi atrás do outro cara que comprou a arma?
Acusado:: o outro cara ... acho que ele veio aqui... foi com a outra viatura trouxe ele
Delegado: foi outra viatura... num foi a /que cê veio com ele não?
XLVI
Acusado:: foi não
Delegado: que horas que era esse furto?
Acusado:: era lá pelas oito horas da noite
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que na data de ontem... vírgula... por volta de vinte horas... vírgula ... o
informante (( dirigindo-se ao acusado)) ocê já era conhecido do D... muito tempo? É NÉ... cês anda junto
muito tempo né... ((ditando para a escrivã)) o informante e seu amigo E D de O... vírgula... mais conhecido por
D... ((dirigindo-se ao acusado)) ocê foi metê uma parada perto da escola onde ocê estuda... num é isso?
praticar um furto... ((ditando para a escrivã)) resolveram praticar um furto ... que/em um veículo que estava
estacionado... nas proximidades da escola onde estuda ... ponto e vírgula ... que para tanto vírgula ... os autores /
não o informante e D (( dirigindo-se ao acusado)) ocês arrombaram a porta puxando e entortando ela com as
mãos... éh?
Acusado:: éh
Delegado: ((ditando para a escrivã)) arrombaram a porta do veículo... ((dirigindo-se ao acusado)) que carro que
era?
Acusado:: acho que era um celta
Delegado: celta ou CORSA?
Acusado:: celta
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ... parecido com celta eh... vírgula ... utilizando-se de força física... vírgula
... ocasião em que conseguiram adentrar no veículo... ((dirigindo-se ao acusado)) ocê não entrou no carro não?
Acusado:: num entrei não
Delegado: /só ele que entrou ocê ficou de fora vigiando?((ditando para a escrivã) que D adentrou no automóvel
... ((interferência de um agente de polícia que entrou na sala e perguntou algo ao Delegado de Polícia que o
respondeu, prosseguindo com o interrogatório, ditando para a escrivã)) que D adentrou no automóvel ... que o
declarante ... que o informante ... ficou do lado de fora ... observando a movimentação ... que foi localizado... no
interior do veículo ((dirigindo-se ao acusado)) ... que calibre que é esse aqui?
Acusado:: acho que é:: trinta e oito ... da côlti
Delegado: é? um revólver calibre trinta e oito ... marca côlti ...vírgula este que ficou ((interferência da escrivã
que também se dirige ao acusado)) tava cheio de bala? Acusado:: ((respondendo ao questionamento da escrivã))
tava tava (incompreensível)
Delegado: ((prosseguindo ditando para a escrivã)) ... na posse de D ((dirigindo-se ao acusado)) aí depois do furto
ocê foi pra sua ca/ cê foi pro/ voltou pra escola e o D foi embora?
Acusado:: aí ele foi embora
Delegado: ((ditando para a escrivã)) /que após a prática do ilícito... vírgula ..o info/ vírgula o informante retornou
voltou para a escola ((dirigindo-se ao acusado)) o D foi pra onde?
Acusado:: foi descendo pra casa dele
Delegado: ((ditando para a escrivã)) enquanto D se dirigiu pra sua residência ((dirigindo-se ao acusado)) ... ele te
falou que tinha vendido o revólver? o D?
Acusado:: fiquei sabendo que ele vendeu ele hoje
Delegado: /foi hoje? depois que prenderam ocês? ocê não teve contanto com ele mais depois dessa hora não? só
hoje na hora da prisão?
Acusado:: foi
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que não mais teve contato com seu comparsa... vírgula... sendo que hoje
((dirigindo-se ao réu)) que horas que eles te pegaram na sua casa?
Acusado:: mais ou menos umas meio dia e quarenta
Delegado: ((ditando para a escrivã)) por volta das doze horas ... uma equipe da polícia militar esteve em sua
residência ...((dirigindo-se ao acusado)) eles te prenderam? ((ditando para a escrivã)) ... vírgula... ocasião em
que efetuaram a apreensão do informante em razão do furto cometido ... que quando os policiais estiveram em
sua moradia ... estavam com o D preso ... vírgula ... tendo este informado que havia vendido o revólver
((dirigindo-se ao acusado)) vendeu prum rapaz? ele falou quem que era? ocê conhece o rapaz / pra quem ele
vendeu?
Acusado:: (incompreensível)
Delegado: ocê já conhecia ele?
Acusado:: conhecia não
Delegado: quanto que ele vendeu o revólver
Acusado:: eles tava falando aí que foi trezentos
Delegado: ((ditando para a escrivã)) para um rapaz ... que não conhecia pela quantia de trezentos reais ... que o
declarante o recebeu ... ((dirigindo-se ao acusado)) recebeu NADA pelo revólver? (( ditando para a escrivã))
não recebeu ... qualquer parte ... da quantia auferida ... com a venda da arma ... quando a arma foi apreendida
ocê tava na viatura? quando cês /quando eles foram na casa do cara que comprou a arma?
Acusado:: não
XLVII
Delegado: ocê num foi lá não?
Acusado:: de lá de lá de casa já veio direto pra cá
Delegado: ah veio / a outra viatura é que foi lá pega ele? o D veio com ocê pra cá?
Acusado:: foi
Delegado: FOI? então após ter te apreendido lá ocê veio direito pra delegacia? ... ocê já foi preso alguma vez?
Acusado:: já
Delegado: por conta do quê
Acusado:: vandalismo ... um cinco cinco...
Delegado: quê mais?
Acusado:: só
Delegado: QUÊ MAIS? ... hum? ... vandalismo de quê... ocês quebraram o quê?
Acusado:: uma vidraça ali no (incompreensível)
Delegado: de onde?
Acusado:: ali perto du:: daquele hospital ali ((interferência da escrivã)) ah numa loja? Acusado:: não numa casa
((interferência da escrivã)) ah numa casa
Delegado: furto também? furto de quê?
Acusado:: boné... de::
Delegado: /quê mais?
Acusado:: num tô lembrando
Delegado: muitos né
Acusado:: foi que eu entrei na zona um dia pra vê as mulhé ... eles me prenderam também
Delegado: bateno nos outros também... briga?
Acusado:: não
Delegado: ((diálogo paralelo entre a escrivã e o Delegado)) (incompreensível) não... ele entrou numa casa de
tolerância ((dirigindo-se ao acusado)) e eles prenderam ocê porque ocê era de menor e tava dentro né? DE
MENOR ... ahã?
Acusado:: foi na luz do dia
Delegado: /é?
Acusado:: fui lá pra vê elas
Delegado: hum hum ((comentários à escrivã)) ... freqüência a lugares inadequados para aqueles que estão na fase
de desenvolvimento do caráter ((comentários e risos da escrivã)) ... foi isso que aconteceu então? ocê costuma
sair da sua sala pra ir praticar furtos e voltar pra sala depois?
Acusado:: ((negando)) hum hum
Delegado: quantos furtos ocê já praticou na companhia do D?
Acusado:: só:: esse revólver mesmo
Delegado: e os outros? mais nada? foi o primeiro ato infracional que ocê praticou na companhia do E?
Acusado:: foi
Delegado: ((comentários incompreensíveis)) é isso que aconteceu... é?... ocê já teve preso aqui?
Acusado:: já
Delegado: quantos dias?
Acusado:: num/teve nenhum dia ainda não
Delegado: /dum dia pro outro só ? ocê já teve lá no doutor Tenório?
Acusado:: já
Delegado: batê um papinho com ele? ocê vai voltar lá... viu? tá na hora né
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
XLVIII
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO POLICIAL N˚3
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
10ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL
Pçª Juquinha Caixeta, 153 Centro Patos de Minas/MG CEP:38700-130 Fone
(34)3821.2086
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO
Aos vinte e nove dias do mês de agosto do ano de dois mil e seis (29/08/06), às 16:00h, nesta cidade de
Patos de Minas/MG, na Delegacia Adjunta de Repr. a C/ C/ o patrimônio e Tóxicos/Entorpecentes - 10 ª DRPC,
presente o Bel. (nome), Delegado de Polícia, comigo, (nome), Escrivão de Polícia de seu cargo, ao final
assinado, passou a Autoridade a interrogar o MENOR INFRATOR que disse chamar-se DGS, alcunha “JC”,
brasileiro, natural de Arinos/MG, filho de SJS e DMGS, exercendo a profissão de estudante, local de trabalho
x.x, nascido aos (data) (15 anos), solteiro, documento de identidade (número), residente à R. (nome), (número),
(nome do bairro)/Patos de Minas-MG, escolaridade série. Cientificado pela Autoridade Policial sobre os
direitos elencados na Constituição Federal e no Estatuo da Criança e Adolescente, entre eles de que tem direito
de permanecer calado, assistência de advogado e familiares, conforme determina o Art. 5˚, incisos LXII, LXIII e
LXIV da Constituição Federal, desejando que sua apreensão seja comunicada a sua mãe que o acompanha neste
auto; Foi ainda cientificado que o responsável por sua apreensão é o condutor do auto de apreensão em flagrante
delito, e que a Autoridade Policial responsável por sua inquirição é o presidente deste auto. INQUIRIDO,
RESPONDEU: QUE na data de ontem, por volta de 20:00 h, o informante e seu amigo E D DE O, mais
conhecido por “D”, resolveram praticar um furto em um veículo parecido com Celta, utilizando-se de força
física, ocasião em que conseguiram adentrar no veículo; QUE “D” adentrou no automóvel e o informante ficou
do lado de fora observando a movimentação; QUE foi localizado no interior do veículo um revólver calibre 38,
marca Colt, este que ficou na posse de “D”; QUE após a prática do ilícito, o informante retornou para a escola
enquanto “D” se dirigiu para sua residência; QUE não mais teve contato com seu comparsa, sendo que hoje, por
volta das 12:00h, uma equipe de policiais esteve em sua residência, ocasião em que efetuaram a apreensão do
inforamante em razão do furto cometido; QUE quando os policiais estiveram em sua moradia, estavam com
“D”preso, tendo este informado que havia vendido o revólver para um rapaz que não conheci, pela quantia de
R$300,00 (trezentos reais); QUE o informante não recebeu nenhuma parte da quantia auferida com a venda da
arma; QUE este foi o único ato infracinal que cometeu em companhia de “D”; QUE já teve pasagens pela polícia
por dano, furto, e freqüentar casa de prostituição. Nada mais disse e nem lhe foi perguntado. Mandou a
autoridade encerrar o presente termo, que depois de lido e achado conforme, segue devidamente assinado, e fica
fazendo parte do auto de apreensão em flagrantedelito epigrafado.
AUTORIDADE:
MENOR INFRATOR:
GENITORA:
ESCRIVÃ:
XLIX
4) DEPOIMENTO DE (NOME DA ACUSADA), EM INTERROGATÓRIO NA DELEGACIA DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 29/08/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE
RECEPTAÇÃO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação da Delegado de Polícia, da Escrivã e da Acusada
houve conversas paralelas)
Qualificação da acusada: ((realizada somente pela escrivã, mas houve um diálogo entre a Escrivã e o Delegado
antes do início do interrogatório))
Delegado: como é que é o nome da SENHORA?
Acusada: D M
Delegado: /D... Dona D... eu quero saber o seguinte... a senhora tem uma loja de roupa... não tem?
Acusada: tenho... roupa usada
Delegado: /tem... roupa usada... a senhora compra e vende roupa usada... é isso?
Acusada: é... tem dezeno/ tem:: dezessete anos
Delegado: /dezessete anos naquele mesmo lugar lá?
Acusada: naquele memo luga... nunca me aconteceu isso... nunca nunca nunca
Delegado: /é.... ah... tá... me conta aqui... hoje a moça da polícia foi e pegô umas
roupa furtada lá dentro da loja da senhora...
Acusada : /pegô
Delegado: /quem que vendeu essas roupa pra senhora?
Acusada: meu amigo... se eu falá com ocê se fala assim EU TÔ MEN-TIN-DO... eu juro pro que é mais sagrado
que eu não sei o nome dele... incrusivi que eu tamém comprei (uma que do:: que... que tem) .... uns tênis....e
um::.... um secador
Delegado: /tudo dele?... que a senhora comprou?
Acusada: /justamente
Delegado: a... as calças... os tênis... o secador? (incompreensível)
Acusada: o secador não achei porque ela é minha testemunha que a menina
foi... procurar as calças... e jogou meus trem TUDO no chão
Delegado: /ahn ran.... tudo da mesma pessoa que a senhora compra?
Acusada:tudo tudo
Delegado:quem que é esse menino? cumé que ele chama?
Acusada: a não sei não meu...
Delegado: /quanto tempo que ele vende prá senhora lá?
Acusada: quanto que ele vende a roupa?
Delegado: /não... há quanto tempo que ele vende pra senhora?
Acusada:o quê? a roupa?
Delegado:é... as roupas... há quanto tempo que ele costuma vendê produtos pra senhora?
((interrupção da escrivã que pergunta algo incompreensível aoDelegado))
Delegado ((prosseguindo com o interrogatório)) hein... há quanto tempo que ele vende
roupas pra senhora?
Acusada: /quanto tempo.....quanto tempo....que ele ele vende meu amigo...
Delegado: /é.. ahn ran....
Acusada: meu amigo... já tem... se qué vê... já tem::...mais ou menos um mês
Delegado: já tem um mês mais ou menos que ele tá lá de cima... to todo dia ele passa lá... como é que ele faz?
Acusada:/((gaguejando)) ê/ ê/ ê/ ele fala... ele fala que é pra mim comprá um bujão de gás ou pra mim coisá...
num sei que é que tem...
Delegado: /ah é isso que eu ia perguntá... o quê que ele fala? ele fala que é pra /que é pra ele comprar as coisas?
Acusada: (quem)...é
Delegado: /éh? e ele fala onde é que ele consegue essas roupas?
Acusada: não... num fala
Delegado:ele apareceu lá da última vez com sete calças... foi isso?
Acusada: éh foi... entreguei...
Delegado: /calça de mulher?
Acusada: calça de mulher... essas qui...qui...
Delegado: essas que vieram apreendidas aqui?
Acusada: essas... meu amigo/
Delegado: éh?... e ele vendeu as sete calças pra senhora e a senhora não sabia de onde que que
Acusada: /não... não... uai Deus se seu soubesse a ((afinando a voz)) a primeira coisa... eu juro por Deus e pela
Virgem Maria que a primeira coisa (incompreensível)
L
Delegado: /e a senhora num sabe... e a senhora num sabe o nome dele não?
Acusada: não... meu sobrinho é até Delegado ((gaguejando e afinando a voz))lá lá no no no no no ...São Gotardo
Delegado: a senhora num sabe/ quem que é o sobrinho da senhora?
Acusada: eu sei... é:: o Z C
Delegado: Z C... tá...a senhora num sabe/ a senhora num sabe o nome dele não?
Acusada: de quem?
Delegado:de quem vende esses trem pra senhora lá... desse menino
Acusada: DE JEITO NENHUM... se eu soubesse que era
Delegado: /qualquer um que chega lá pode vender qualquer coisa pra senhora a senhora compra?
(Acudada): não... ((resmungando))num pergunto porque ocê sabe a gente que é honesta... geralmente a gente
(compra) muito roupa usada meu Deus... quando ele num tem roupa coisa (incompreensível) a gente ajuda
(incompreensível) e tem muito mais na fila
Delegado: por quanto a senhora comprou a calça as calças?
Acusada: anh?
Delegado: por quanto a senhora comprou as calças?
Acusada: comprei... meu amigo/por isso que eu achei que não
Delegado: POR QUANTO a senhora comprou?
Acusada : pois é mais eu achei que não fosse roubada... porque... (incompreensível)
Delegado: /POR QUANTO a senhora comprou?
Acusada: eu comprei por noventa reais as calça
Delegado: todas elas?
Acusada: é... mas se chega ... eu compro lá... eu vivo comprando é assim é dois... é três...
Delegado: /e por quanto a senhora tava vendendo?
Acusada: calça?
Delegado: éh
Acusada: dez reais
Delegado: ah... mais a senhora ia tomar prejuízo... uai... se eram sete calças... a senhora comprou por noventa
reais e a senhora tava vendendo de dez uai...
Acusada: /((interrupção incompreensível por parte da acusada))
Delegado: /a senhora ia tomar vinte reais de prejuízo?
Acusada: vo você sa sabe ((gaguejando)) porque que eu tô to tomando prejuízo?
Delegado: ahn?
Acusada: porque eu tenho óh... eu te confesso a verdade... EU é que que que pago talão de luz... talão de água...
talão de telefone... dois aluguel... i eu vendo barato... mesmo que eu tome prejuízo mas eu vendo barato... minha
roupa usada é barata
Delegado: éh... tá certo.... a senhora vai vender tomando prejuízo?
Acusada: /a roupa... a roupa usada meu amigo... ocê pega ela de um... de dois...cê vende ela de treis... de
quatro.....de cinco... cê vende por mixaria...num é igual a roupa nova... aquela que cê (incompreensível)
Delegado: /qual que é o cuidado que que a senhora toma pra podê comprá uma roupa lá... se eu chegasse
vendendo uma roupa pra senhora o quê que a senhora ia me perguntar... nada?
Acusada: uai... se ocê chegasse pra pra mi mi ven vendê... a única coisa que eu faço é:: contá as roupa e::
perguntá quanto que é
Delegado: a senhora não pergunta de onde que é aquela roupa?
Acusada: não... porque eu acostumada a comprá ali óh... procê vê... eu acostumada a comprá ali oh... do
DR. W ali óh né... que é um dentista... que eu compro dele... eu acostumada a compra dos meninos que
trabalha no banco... eu acostumada a comprá de de de advogado... do do cunhado do A V... que ocê pergunta
ele...
Delegado: /tá... agora me conta aqui
Acusada: /tô acostumada a comprar dele...
Delegado: /tá jóia... que dia que eles venderam essas calças lá pra senhora?
Acusada: o a ((guaguejando)) as calças vendeu... ocê qué vê....foi... SEXTA-FEIRA
Delegado: que horas?
Acusada: foi dez... dez e meia
Delegado: da manhã ou da noite?
Acusada: o secador vendeu sábado... dez e meia/ não da da manhã... que eu tava até fechando
Delegado: cumé que é? as calça vendeu que dia?
Acusada: anh?
Delegado: as calça vendeu que dia?
Acusada: as calça vendeu sexta-feira
Delegado: sexta-feira que horas?
LI
Acusada: mais ou menos dez horas
Delegado: da manhã?
Acusada: DA MANHÃ
Delegado: e o secador?
Acusada: o secador tamém foi do mesmo horário... ((guaguejando sons incompreensíveis)) (o sa sabado que eu
vem que eu vendo)
Delegado: /no sábado ou na sexta?
Acusada: no sábado que eu fecho pro almoço
Delegado: no sábado ou na sexta?
Acusada: no sábado dez horas
Delegado: e o tênis?
Acusada: o tênis tamém foi dele... foi junto
Delegado: /então... quando que a senhora comprou o tênis
Acusada: não... junto com o secador e a e a e a....aquele trem de passar no cabelo...a... Delegado: e a chapa?
Acusada: chapa
Delegado: no sábado tamém?... então no sabádo ele vendeu pra senhora...
Acusada: /éh... eu paguei TRINTA REAIS bobo paguei trinta reais no no nos trem
Delegado: /tá... no sábado ele vendeu pra senhora... o secador...
((a irmã da acusada entra na sala cuja porta encontrava-se aberta e passa a conversar com a acusada))
Acusada: (...) essa é minha irmã...
Delegado: ((interrompendo o diálogo entre a acusada e sua irmã, prossegue com o interrogatório)) /tá... depois eu
vou conversar com ela... no no sábado ele vendeu pra senhora o secador... a chapa e o tênis... tudo junto?
Acusada: foi... foi
Delegado: às dez horas da manhã?
Acusada: TRINTA REAIS... foi/
Delegado: trinta reais que a senhora pagou?
Acusada: foi
Delegado: e as calças ele vendeu na sexta feira?
Acusada: foi... sexta-feira
Delegado: às dez horas tamém?
Acusada: éh... um dia atrás
Delegado: e a senhora pagou quanto nas calças?
Acusada: ...paguei noventa reais
Delegado: quanto que é... quantas calças que era?
Acusada: éh a as calças era..... qué vê... tinha vendido quase tudo...
Delegado: /era quantas calças no total?
Acusada: as calça era nove (num total)
Delegado:nove calça... nove calça por noventa reais?
Acusada: noventa
Delegado: ahn... tá
Acusada: eu tomei foi prejuízo... (incompreensível)
Delegado: éh ... desse jeito a senhora vai quebrar...foi sábado agora... sexta feira passada
agora que ele vendeu... né?
Acusada: FOI moço
Delegado: ((dirigindo-se à escrivã)) sexta feira foi dia?
Acusada: ((passa a murmurar sons incompreensíveis))
Delegado: ((conversa com a escrivã))
Acusada: /e que dia que a menina concorreu com a ocorrência... que ela robô dela no varal... num sei aonde é
que é?
Delegado: foi na mesma sexta feira
Acusada: /aí...
Delegado: /no mesmo dia
Acusada: pois é... uai
Delegado: /a senhora foi... depois que a senhora
Acusada: então ele deve tê... ele deve tê roubado à noite
Delegado: uhn...
Acusada: ela deve tê deixado... no meu... no meu eu não sei... eu num fui testimunha e que eu não quero né
Delegado: anh ran
Acusada: ele deve tê roubado à noite e vendido (como foi)/
Delegado: tá bom... a senhora não sabe o nome dele?
LII
Acusada: diacho... juro por Deus... se eu soubesse... eu eu teria dedado
Delegado: /nenhum jeito de eu identificar ele nem nada?
Acusada: nada... não ê ele ele é assim... ocê qué o jeito que ele é ((gaguejando)) ... cabelo... ele é ele é
baixo... ele é mais baixo que ocê um pouco... cabelo rapado... em cima tá... cabelo já... nascendo...
fininho...
Delegado: /tá... o cabelo tá raspado... tá... anh ran
Acusada: /a camisa vermeia de....de...dessas camiseta... uma calça jeans de...cor beja....mais se eu soubesse eu
queria falar como é que ocê chama... aonde ocê mora... Delegado:/ tá... e como é que chama a mulher do do
salão que pegou as calças emprestadas pra poder olhar... que comprou as calças daquele que vendeu vendeu
pra senhora?
Acusada: a do salão eu não sei não bobo... porque sabe porque (eu só tinha vendido)
Delegado:/a senhora vendeu pra por quanto pra ela? pra ela por quanto?
Acusada: que eu vendi as calças? dez rais
Delegado:dez reais cada uma?
Acusada: dez reais cada uma
Delegado: éh? que dia que a senhora vendeu?
Acusada: eu vendi... ocê qué vê... eu vendi pra ela... foi no mesmo dia... no mesmo dia que eu comprei
Delegado: /na sexta-feira?
Acusada: na sexta feira
Delegado: que horas?
Acusada: foi... era....era quase onze horas
Delegado: onze horas da manhã?
Acusada: não... da da manhã... fartava uns dez pra onze
Delegado: logo depois que a senhora comprou então?
Acusada: foi
Delegado: foi?
Acusada: fui chegando e ela foi comprando
Delegado: /e essas três calças que a senhora vendeu era daquelas que a senhora / que a senhora tinha acabado de
comprar do rapaz?
Acusada: foi
Delegado:era?
Acusada: foi... hum hum... foi... foi... foi mesmo... já pensou se eu soubesse quando eu chegá/ coisá aqui
Delegado: /éh...
Acusada: /eu juro que eu ia dedar ele... pra quê aprontar uma coisa dessas...
Delegado: /é verdade... num pode não né... num pode não... quantos anos a senhora
tem de comércio?
Acusada: anh?
Delegado: quantos anos a senhora tem de comércio?
Acusada: (tem dezessete ... vai fazer ... tem dezesseis... ainda) ... (roupa usada comprava na prefeitura ali)
Delegado: sempre venden/ sempre vendendo roupa naquele lugar ali?
Acusada: vendo
Delegado: éh?
Acusada: isso ocê pode perguntá que eu nunca dei cano em ninguém... nunca fiquei devendo ninguém...ocê olha
meu nome procê vê.....tudo limpo em loja... em qualquer lugar
Delegado: tá bom.....éh::
Acusada: /aconteceu essa tragédia ((murmurava sons incompreensíveis))
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que a declarante exerce a profissão de comerciante... vírgula... no ramo
de venda de roupas usadas ... há aproximadamente dezessete anos...
Acusada: ((continuava murumurando sons incompreensíveis enquanto o Delegado ditava para a Escrivã e então
disse em som mais audível))...a gente não tem curpa de nada... meu amigo... que curpa que eu tenho dele chegá
lá...
Delegado: ((interrompendo a acusada mais uma vez)) /agora a senhora pode ficar CALADINHA... tá
Acusada: vou ficar caladinha
Delegado:é melhor... a senhora economiza um pouquinho da voz
Acusada: vou ficar caladinha... vou te fala viu... Deus me livre... meu pai
Delegado: ((ditando para a escrivã) ...que na data... do dia vinte e cinco deste mês...vírgula ... sexta
feita passada... vírgula... por volta ... das dez horas da manhã... dez horas né... apareceu em seu comércio... um
rapaz.....vírgula....que não sabe... o nome e nem onde mora.....e lhe ofereceu... nove calças jeans... para que
comprasse...que efetuou a compra pelo valor de noventa reais...vírgula....disponibilizando as calças para a
venda... que passado aproximadamente um hora......((questionamento da escrivã ao Delegado incompreensível))
LIII
aproximadamente uma hora... revendeu três das calças que foram adquiridas de tal rapaz... vírgula... desta feita...
para uma mulher ((dirigindo-se à acusada)) a mulher trabalha no salão a que comprou as calças?
Acusada: éh...
Delegado: qual salão que ela trabalha?
Acusada: ((emitindo sons incompreensíveis e gaguejando))
Delegado: então... qual qual qual salão que ela trabalha?
Acusada: uai NUM SE::I... ela passou lá e viu as calças e falou comigo assim ... quanto custa essas calças
Delegado: anh
Acusada: eu falei dez reais e ela falô então eu vô vendê minha amiga e me pagou
Delegado: tá... qual salão que ela trabalha....a senhora sabe o nome dela...o salão que ela trabalha...
Acusada: nun sei porque a minina passa lá... deixa eu te falá... ela passa na minha porta on onze horas... sabe...
que ela vai para almoçar... então ela passa na minha porta... num sei porque não perguntei... eu sou muito
inocente eu sou muito honesta eu acho que que ocê também é ((sons incompreensíveis emitidos juntamente com
o ditar do Delegado))
Delegado: ((segue ditando para a escrivã desconsiderando as murmurações da acusada)): para uma menina que
trabalha num salão de beleza....vírgula.....sendo que também não sabe declinar.....não sabe declinar seu
nome....ou mesmo seu local de trabalho......((dirigindo-se à acusada)) a senhora vendeu dez reais cada calça?
Acusada: ((murmurou afirmativamente e fez comentários incompreensíveis))
Delegado: ((continua ditando para a escrivã)) que vendeu cada calça .....pelo valor de dez reais......que no
sábado.....vinte e seis...... do oito........ de dois mil e seis.......((dirigindo-se novamente à acusada)) no sábado ele
te vendeu a chapa... o secador e o tênis?
Acusada:é
Delegado: também por volta de dez horas
Acusada: é ((murmurando palavras incompreensíveis))
Delegado: ((continua ditando para a escrivã)) também por volta de dez horas....aquele mesmo rapaz que tinha
passado na sua loja no dia anterior.....
Acusada: ((interfere no momento em que o Delegado dita à escrivã)) Nossa Senhora....meu Deus do céu.....do
jeito que eu gosto daquele menino... gente...ele levou roupa pra mim dimais da conta.... tem que um jeito
nesses ladrão ...
Delegado: ((ditando para a escrivã)) no dia anterior... vírgula... retornou ao seu comércio ...vírgula...desta
feita...vendendo-lhe...vendendo-lhe....um secador.....uma chapa para cabelos......e um par de tênis....((dirige-se à
escrivã)) (incompreensivel)
Acusada: (murmura algo incompreensível)
Delegado((ditando para a escrivã)) que pagou pelos referidos produtos....((dirige-se à acusada)) TRINTA REAIS
que a senhora pagou?
Acusada: paguei trinta
Delegado: /trinta reais... à vista... tudo à vista ali?
Acusada: (trinta reais do secador sabe o quê que ele falou?... vou compra um bujão de gás)
Delegado: depois ele voltou lá? depois desse sábado que ele vendeu o secador?
Acusada: não... (incompreensível)
Delegado: não? ... já tinha/ já tem mais ou menos um mês que ele vai lá vendê pra senhora?
Acusada: tem... (mas depois ele vai e/ele num num leva... né num leva ...eu num vejo não...)
Delegado: / ((ditando para a escrivã)) que o rapaz em questão
Acusada: eu num tenho dinheiro pra compra isso... num é que eu num pago
Delegado: / ((ditando para a escrivã) que o rapaz em questão... vírgula... há aproximadamente um mês
Acusada: /inda perguntei ele mas e isso aqui? ... não que que é isso?
Delegado: /vírgula... vem freqüentando o comércio da declarante e vendendo-lhe produtos...
Acusada: / se eu soubesse o nome dele meu amigo... nossa... eu queria tanto sabe o nome dele ((continua
murmurando sons incompreensíveis))...
Delegado: ele fala pra senhora onde ele arrumou esses produtos que ele vende pra senhora?
Acusada: DE JEITO NENHUM
Delegado: a senhora compra sem sabe de onde que é a procedência?
Acusada: /uai Deus me livre se ele falasse isso... eu ia eu batia o telefone na cara da minha amiga... ela era
minha amiga (den/dentro da minha amiga...)
Delegado: / não eu to falando do rapaz que vende esses produtos pra senhora ... ele fala pra senhora onde que
arruma esses produtos?
Acusada: NÃO
Delegado: num fala também/ a senhora também num perguntou?
Acusada: uai num pergunto meu amigo... porque a gente lida lida com as pessoas sempre pro ocê vê... eu lido
com as pessoa agente é honesta... então...
LIV
Delegado: num num lido com pessoa mal elemento
Acusada: / ((ditando para a escrivã)) vírgula... sendo que a declarante nunca lhe perguntou sobre a procedência
de tais bens... ((interferência de um outro policial sobre outro assunto, tendo várias pessoas passado a conversar,
inclusive a acusada))
Delegado: tá... a senhora pegô... comprou o tênis lá... comprou a:: o secador... os negócio... a senhora
vendeu isso ou não? tá lá no comércio ainda?
Acusada: não
Delegado: ele tá lá pra vendê ainda?
Acusada: (incompreensível)
Delegado: ah a senhora já tinha vendido o tênis já?
Acusada: NÃO... num vendi não... eu truxe os tênis que (incompreensível)
Delegado: /a senhora tinha vendido só as calça?
Acusada: só as calça...
Delegado: /o tênis tava lá no comércio ainda?
Acusada: não eu entreguei quase tudo meu amigo
Delegado: eu sei... eu falando assim... a senhora tinha da / a senhora comprou as calça desse rapaz... o tênis...
o secador... a chapa... mas a senhora vendeu só três calça... o resto pegou lá?
Acusada: ((diz sons muito finos e incompreensíveis ao mesmo tempo que o Delegado))
Delegado: tá certo... as calça eram dela
Acusada: ((continua murmurando várias palavras inaudíveis)) (... nem achei o secador da menina nem a chapa....
eu vou te fala pro ocê meu amigo... é muita confusão meu amigo ... eu vou te fala pro ocê... a gente ser honesta a
gente sofre DEMAI::S da conta
Delegado: /é verdade... a gente ser honesto a gente sofre muito... a senhora tava no no no:: no comércio da
senhora hoje aí chegou a menina lá e aí falou que as calça / que as calça usada era calça roubada?
Acusada: aí sabe o quê que eu fiz?
Delegado: anh?
Acusada: eu/ eu pus as calça lá na na na porta lá
Delegado: pra vende pro mostruário...
Acusada:/ uai é uai...pus lá na porta...
Delegado: aí ela viu... passou lá...
Acusada: a menina falou essa calça aqui é minha...
Delegado: nossa que coincidência hem...
Acusada: (incompreensível)
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que na data ((dirigindo-se à acusada)) que horas que foi isso mais ou
menos? de tarde... por volta do meio dia uma hora num foi? hoje?
Acusada: era uma hora... mais de uma meia depois eu vi ela lá... falei meu Deus...
Delegado: ((ditando para a escrivã, enquanto a acusada continuava murmurando)) que na data de hoje por volta
de treze horas... por volta de treze horas... uma moça passou em frente seu comércio e reconheceu uma das
calças que estava dentro como sendo de sua propriedade...vírgula... calça esta que... que havia sido vendida...
pelo citado rapaz... na sexta feira passada... que a moça... acionou a polícia militar ... (vendeu foi três calças né?)
... que a moça acionou a polícia militar vírgula... esta que compareceu no local... compareceu no local...
compareceu no local e... fazendo uma vistoria no comércio em companhia da moça... procedeu à apreensão de
mais duas calças e uma bermuda ((interrogando a acusada)) a moça falou que aquelas peças eram dela que
tinham sido furtada?
Acusada: (éh ela vinha oiá todas)
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula peças que haviam sido reconhecidas pela vítima
Acusada: ((continuava prosseguindo com comentários em murmúrios)) (uma uma peça ... num tem vergonha...)
Delegado: vírgula... peças que haviam sido reconhecidas/ que foram reconhecidas pela vítima como sendo de sua
propriedade ... ((o Delegado se despede de uma estagiária que estava assistindo ao interrogatório, dizendo
tchau)) ((interrogando à acusada)) depois a polícia / foi outras polícia e apreendeu o tênis e o que mais que
eles apreenderam?
Acusada: (entreguei/ entreguei ...(incompreensível) foi o tênis mais mais )
Delegado: um tênis... umas duas bolsa de viagem... mais uma calça... é isso?
Acusada: /éh mais uma bremuda... mais duas ou três calça... ((continua
murmurando enquanto o Delegado ditava para a escrivã))
Delegado: duas calças... duas malas de viagem... e um tênis ((dirigindo-se à escrivã)) tem outra mala num
tem?
Acusada: ... isso é num é dela é de outra pessoa... de outro que ele roubô... (continuou murmurando sons
inaudíveis, enquanto oDelegado ditava para a escrivã))
LV
Delegado: /tá... ((ditando para a escrivã)) em seguida... não... em se/ é:: que diante dos fatos foi conduzida à
Delegacia de Polícia... onde... (incompreensível) onde vírgula... após conversar com os policiais civis ... vírgula
retornou ao seu comércio.... sendo... vírgula... sendo efetuada a apreensão de mais duas calças...vírgula... duas
malas de viagem e um par de tênis... vírgula... objetos que seria produto de furto... objetos TAMBÉM que seriam
produto de furto ...
((conversa paralela da escrivã e do Delegado))
Acusada: ((continuava sempre murmurando inconformada com sua prisão))
Delegado: foi isso que aconteceu então dona D?
Acusada: foi... (incompreensível)
Delegado: /aí foi lá prendeu isso tudo e depois trouxe pra cá...
Acusada: /(incompreensível) nunca ... óia pro ocê vê... nunca fui chamada... em delegacia nenhuma meu amigo...
Delegado: /senhora já teve passagem pela polícia já alguma vez?
Acusada: ...DEUS ME LIVRE...
Delegado: /nunca?
Acusada: nim... Jesus Cristo a favor... (incompreensível) nem nunca sei o quê que é isso... nossa família é uma
família graças a Deus (família digna) ... graças a Deus
Delegado: /a senhora num costuma ter cuidado na hora de comprar as roupas não?
Acusada: o (incompreensível) meu amigo deixa eu te explicar como é que é... chega... chega aqui então
(incompreensível) ... agora eu eu pergunto... quanto que ocê qué? tanto... esse tanto... eu compro... eu
compro de vez... um pouquinho só... eu compro de muito... (eu compro também enquanto eu te falo) eu
compro de gente de alta sociedade que eu compro... eles vende.. é roupa que ocê veste e num qué ... que ocê num
tá querendo usá maisi... passa pra outro
Delegado: /a senhora num pode fazê isso não... a senhora tem um tempão de comércio... como é que a senhora
faz um negócio desse?
Acusada: /é isso... isso tá registrado na prefeitura ocê pode ligá ... eu pago adiantado a prefeitura... o irmão do A
do / o cunhado do A do V falou pra mim assim D eu vou tirar o da prefeitura pra ocê... eu falei não... né:: tem
te::m dezessete ano que eu pagando... eu num gosto de NADA ENROLADO... tem gente que tem loja
nunca pagô ... nunca sabe o quê que é pagá uma loja nada nunca pagô... quantas loja que abre a porta e
nunca pagô ...e eu eu paguei na prefeitura... (incompreensível) pago pago tudo adiantando aluguel adiantado...
pra mim tê meu nome limpo... quando é meu nome tá aí (incompreensível) ... chega na loja pro ocê vê se tem
meu nome aí no no SPC... em algum lugar nenhum nenhum... nenhum... nenhum eu compro eu compro assim... a
hora que chego aqui eu falo num é fiado (incompreensível) ... eu num sei que que que ele foi saí lá ... parece que
é pau mandado... (de alguém de um trem que mandou ele lá) eu num sei... (murmúrio incompreensível) eu num
sei... pensou se eu soubesse o nome dele... se eu falasse é ele vai atrás dele... pensou se eu soubesse? mais
como que eu sei? Deus pra sabê... Ele... cada um passa um trem na sua cabeça... cada um sabe... ocê num
sabe se ô ô ocê fala a verdade se ocê fala a mentira... (se ocê tem compromisso) ocê num sabe... (então o
falso) Ele... eu num gosto de nada... eu num gosto de nada eu num gosto de NA-DA... de NA-DA...
(incompreensível) ...trabalhar é tão duro... trabalhar honesto é tão difícil né... tão difícil a gente trabalhar
honesto...
((a acusada continuou murmurando várias palavras ininterruptamente, sem lhe ser dada qualquer atenção, até que
se encerrou o interrogatório, com as formalidades legais, permanecendo a acusada presa em flagrante delito pela
prática do crime de receptação))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO POLICIAL N˚4
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
10ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL
Pçª Juquinha Caixeta, 153 Centro Patos de Minas/MG CEP:38700-130 Fone
(34)3821.2086
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO
Aos vinte e nove dias do mês de agosto do ano de dois mil e seis (29/08/06), às 18:30h, nesta cidade de
Patos de Minas/MG, na Delegacia Adjunta de Repr. a C/ C/ o Patrimônio e Tóxicos/Entorpecentes - 10 ª DRSP,
LVI
presente o Bel. (nome), Delegado de Polícia, comigo, (nome), Escrivão de Polícia de seu cargo, ao final
assinado, passou a Autoridade a interrogar a CONDUZIDA que disse chamar-se DMS, alcunha “Z”, brasileira,
natural de São Gotardo/MG, filha de JL e MGC, exercendo a profissão de comerciante, local de trabalho R.
(nome da rua), (número) (nome da loja), nascida aos (data) (64 anos), solteira, documento de identidade não
portava, residente à R. (nome), (número)/Patos de Minas-MG, escolaridade não possui (somente assina).
Cientificada pela Autoridade Policial que tem o direito de permanecer calada, assistência de advogado e
familiares, conforme determina o Art. 5˚, incisos LXII, LXIII e LXIV da Constituição Federal, desejando que
sua prisão seja comunicada a seu irmão Vicente Paulo, o qual está nesta Depol; Foi ainda cientificada que o
responsável legal por sua prisão é o condutor deste auto e que a autoridade responsável por seu interrogatório é o
presidente deste auto. INTERROGADA, RESPONDEU: QUE a declarante exerce a profissão de comerciante,
no ramo de venda de roupas usadas há aproximadamente 17 anos; QUE na data do dia 25 deste mês. Sexta-feira
passada, por volta das 10:00 h, apareceu em seu comércio um rapaz, que não sabe o nome e nem onde mora e lhe
ofereceu nove calças jeans para que comprasse; QUE efetuou a compra pelo valor de R$90,00 (noventa reais),
disponibilizando as calças para venda; QUE passado aproximadamente uma hora, revendeu três das calças que
foram adquiridas de tal rapaz, desta feita, para uma mulher que trabalha num salão de beleza, sendo que também
não sabe declinar seu nome ou mesmo seu local de trabalho; QUE vendeu cada calça para citada moça, pelo
valor de dez reais; QUE no sábado, 26/08/06, também por volta das 10:00h, aquele mesmo rapaz tinha passado
em sua loja no dia anterior, retornou ao seu comércio, desta feita, vendendo-lhe um secador, uma chapa para
cabelos e um par de tênis; QUE pagou pelos referidos produtos a quantia de R$30,00 (trinta reais); QUE o rapaz
em questão aproximadamente um mês vem freqüentando o comércio da declarante revendendo-lhe produtos,
sendo que a declarante nunca lhe perguntou sobre a procedência de tais bens. QUE na data de hoje, por volta das
13:00h, uma moça passou de frente seu comércio e reconheceu uma das calças que estava exposta à venda, como
sendo de sua propriedade, calça esta que havia sido vendida pelo citado rapaz na sexta-feira passada; QUE a
moça acionou a Polícia Militar, esta que compareceu no local e fazendo uma vistoria no comércio, em
companhia da moça, procedeu a apreensão de mais duas calças e uma bermuda, peças que foram reconhecidas
pela vítima como sendo de sua propriedade; QUE diante dos fatos, foi conduzida a Delegacia de Polícia onde,
após conversar com os policiais civis, retornou ao seu comércio, sendo efetuada a apreensão de mais duas calças,
duas malas de viagem e um par de tênis infantil, objetos que também seriam produto de furto. Nada mais disse e
nem lhe foi perguntado. Mandou a autoridade encerrar o presente termo, que depois de lido e achado conforme,
segue devidamente assinado, e fica fazendo parte do auto de prisão em flagrante delito epigrafado.
AUTORIDADE:
CONDUZIDA:
ESCRIVÃ:
LVII
5) DEPOIMENTO DE (NOME DO ACUSADO), EM INTERROGATÓRIO NA DELEGACIA DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 29/08/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE
RECEPTAÇÃO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação da Delegado de Polícia, da Escrivã e do Acusado
houve conversas paralelas)
Qualificação do acusado: ((realizada somente pela escrivã))
((interferências de conversas de outros policiais com o Delegado, sobre outros assuntos, enquanto a escrivã
procedia à qualificação do acusado))
Delegado: (...) pode sentar aí... vai me contar direitinho como é que foi essa história de ocê comprar esse
REVÓLVER ... rapaz... onde é que cê tava com a cabeça?
Acusado: /foi bestêra né...
Delegado: quê que aconteceu?... como é que foi?... que horas que ocês foram lá? ... quem te ofereceu?...
quanto que cê pagou?... como é que foi essa história?
Acusado: foi aquele menino de camisa vermeia... que eu num conheço... que eu não sou daqui... tem pou/ te::m...
um mês e pouco que eu tô aqui prestando pra:: Copasa
Delegado: ta ahã ahã
Acusado: nóis tava jogando sinuca num bar... de repente chegou aquele menino lá... falando assim ô:: cê/cê
num qué comprar um revólver não?/ levá:: mantimento pra dentro de casa... pro meu menino... (ou) quele outro
menino falou que ele diz que tem um menino pequeno...
Delegado: /tava os dois junto junto?
Acusado: não o menino tava me contando hoje... na/na hora que nóis ficou lá na cela
Delegado: ontem quem te vendeu tava um só?
Acusado: só um
Delegado: qual que tava?
Acusado: aque::le prime/... acho que o primeiro que depôs
Delegado: um do cabelim enroladim baixim assim?
Acusado: é:: de camiseta vermelha
Delegado: E que ele chama... D que eles chamam ele? ... é?
Acusado: isso
Delegado: e aí como é que foi? ocês encontraram no bar?
Acusado: eu / nóis tava jogando ele foi e chegou e perguntou (incompreensível) qué compra um revólver
não? eu tenho menino pequeno em casa ... aí vou vendê barato vou vendê por trezentos reais procês... mostrou
Delegado: hum
Acusado: mostrou pra nóis ... os menino falou assim não sô... num compra não num compra não ... ta
mostrando mostrando quando eu num resisti ... peguei e comprei (incompreensível) ... eu ia pega ele e
pro meu vô... levá pra roça ... primeira vez também deu caí nessa besteira de...
Delegado: /ta e aí? ocê comprou o revólver e levou pra casa?
Acusado: eu deixei lá
Delegado: na sua casa onde ocê mora aqui ... é? isso foi que horas?
Acusado: isso
Delegado: isso foi que horas?
Acusado: a::cho que era umas nove e pouco...
Delegado: /da noite ou da manhã?
Acusado: da noite
Delegado: ontem à noite... é? aí ocê levou ele pra casa... tudo certinho ... e tava na sua casa hoje na hora que a
polícia foi lá ou não?
Acusado: tava
Delegado: ocê tava lá?
Acusado: só eu não... o revólver tava lá
Delegado: /então... o revólver tava lá também?... que horas que as polícias chegaram lá?
Acusado: a:: hora eu num sei não porque eu tava trabaiando... eu acho que mais ou menos
Delegado: /ocê tava na casa ou tava trabalhando?... a hora que as polícias te procuraram?
Acusado: oh na hora que eles chegou lá... eu tava no serviço
Delegado: /tava no serviço
Acusado: /foi mais ou menos a meio di::a ... umahora mais ou menos
Delegado: eles foram na sua casa?
LVIII
Acusado: foi acho que es foi ligou ... num sei se/onde que es arrumou o endereço... ou o telefone acho que
ligou pro meu patrão... e foi subiu lá em cima ... mandou ele me busca (incompreensível) ele me busco subi com
ele
Delegado: /seu patrão que te buscou?
Acusado: é ta te ta aí
Delegado: ahn ran ... aquele quele engenheiro que ta né?... chama R que ele chama? ele te buscou e
levou ocê na sua casa?
Acusado: isso
Delegado: aí ocê chegou na sua casa a hora que ocê chegou as polícia já tava lá?
Acusado: tava
Delegado: aí ocê confessou que comprou o revólver ... que pagou trezentos reais ... tudo certinho?
Acusado: confessei
Delegado: cabeça ruim hem?
Acusado: uma bestêra
Delegado: /é... põe besteira nisso... ocê sabe que não pode comprar as coisas sem procedência ... ainda mais um
revólver...
Acusado: é ...
Delegado: / o quê que ocê ia fazer com um revólver?
Acusado: hum rapaiz ...isso pra mim num tinha utilidade nenhuma ... porque graças a Deus nunca precisei
Delegado: /então ... o quê que ocê ia faze com isso?
Acusado: eu ia pegá e pro meu leva pra roça ... eu ia passa férias agora em Belo Horioznte ... eu ia pra
ele
Delegado: qual o bar que ocês tava jogando sinuca?... como é que chama o bar?
Acusado: jo/jonas
Delegado: JONAS? fica aonde?
Acusado: lá:: pra cima da rodoviária ... é:: ru::a...
Delegado: perto da rodoviária?
Acusado: pra cima... pra cima da rodoviária... lugar bem assim... é que eu num conheço bem
Delegado: /nas proximidades lá da rodoviária
Acusado: isso
Delegado: ontem mais ou menos umas nove da noite?
Acusado:isso
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que na data de ontem ... vírgula... por volta de vinte e uma horas... vírgula...
u:: declarante estava... num bar... localizado nas proximidades do terminal rodoviário vírgula ... vírgula... ocasião
em que ali apareceu... ((dirigindo-se ao acusado)) D que ele chama né? o que te vendeu né?
Acusado: isso os outros falou que é D porque eu num sabia... não conhecia
Delegado: ocê conheceu ele como D?
Acusado: é... eu ouvi es falando/chamando ele de D
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ...que conheceu um indivíduo conhecido por D ... vírgula... este que
ofereceu ao declarante ... e ao seu companheiro ... e ao seu companheiro ... um revólver ((ruído de garganta)) ...
ele falou de quem que era o revólver?... falou que era dele?
Acusado: falou que era dele
Delegado: ((ditando para a escrivã))vírgula... que D alegou que o revólver era de sua propriedade e quis vender
pra alimentar os meninos dele... ((dirigindo-se ao acusado)) que tinha menino pequeno em casa... num foi isso?
Acusado: /que ele falo... falô
Delegado: ((ditando para a escrivã)) e que queria vendê-lo para conseguir dinheiro ... para comprar alimentos
para seus filhos ... e queria vende-lo tentando conseguir dinheiro... e os outros não quiseram e o ocê quis o
revólver pagando trezentos reais à vista? ((interferência de vozes de policiais conversando sobre outro assunto))
... hein? ocê pagou no dinheiro? ocê tinha dinheiro lá na hora?
Acusado: foi (...) /que nóis tinha recebido
Delegado: ocê tinha recebido ontem?
Acusado: isso
Delegado: é? gastou seu salário quase tudo... quanto que ocê recebeu?
Acusado: quatrocentos e oitenta e setenta
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que o declarante negociou a compra do revólver ... pela quantia de trezentos
reais ...vírgula tendo efetuado o pagamento à vista e em dinheiro... ((dirigindo-se ao acusado)) é? que estava na
posse ... quan/quanto de dinheiro ocê tinha?
Acusado: uns quatrocentos e setenta
Delegado: ((ditando para a escrivã)) na posse de quatrocentos e setenta reais ... ((dirigindo-se ao acusado)) que
ocê tinha recebido ontem mesmo?
LIX
Acusado: que nóis foi acerta lá no bar umas conta nossa...
Delegado: /hum rum ... referente ao pagamento por seus serviços ...((ditando para a escrivã)) quatrocentos e
setenta reais vírgula ... dinheiro que havia recebido... naquele dia ... dinheiro que havia recebido naquele dia pelo
trabalho (que havia exercido) ... ((dirigindo-se ao acusado)) aí ocê pegou o revólver e levou pra casa?
Acusado: isso
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que de posse do revólver ... levou o mesmo para sua residência ...
((dirigindo-se ao acusado)) onde ocê guardou ele lá?
Acusado: dentro da minha bolsa /mochila
Delegado: ((ditando para a escrivã)) tendo guardado o mesmo dentro da mochi /dentro de sua mochila ... tendo
guardado o mesmo dentro de sua mochila ... vírgula ((dirigindo-se ao acusado)) ocê tinha a intenção de ele
pro seu vô leva pra roça?
Acusado: isto
Delegado: ((ditando para a escrivã)) desde que tinha a intenção de dar o revólver para o seu avô para que este
levasse para a roça... ((dirigindo-se ao acusado)) aí mais ou menos hoje meio dia eles procuraram ocê lá:: no seu
/serviço?
Acusado: é... meio dia e me::io... uma hora
Delegado: hora do almoço
Acusado: isto
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que na data de hoje... por volta de doze horas ... o declarante foi procurado
em seu trabalho ... ((dirigindo-se ao acusado))Ran R que ele chama né?
Acusado: isto
Delegado: ((comentários com a escrivã)) ((ditando para a escrivã)) por seu patrão Rodolfo ((dirigindo-se ao
acusado)) ele te informou que as polícia tava na sua casa que ocê tinha que ir lá?
Acusado: ele me chamou... ele falou que eu tinha que ir ... eu falei péra
Delegado: /é? ((ditando para a escrivã)) este que o conduziu...
este o conduziu até sua residência... ((dirigindo-se ao acusado)) que ocê viu as polícia? na
(incompreensível) sua casa que as polícia tava lá?
Acusado: e tinha dois de moto ... num sei se era / acho que era polícia civil que tava atrás... da camionete
Delegado: /mas num dava pro ce vê uai
Acusado: mas acho que tinha dois da civil tamém... atráis (incompreensível)
Delegado: /a viatura da PM também tava lá?
Acusado: TAVA... quando eu cheguei lá em cima na casa tava
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula...local em que deparou (comentários alheios ao fato entre o
Delegado e a escrivã) este que o conduziu até sua residência... local em que se deparou com policiais militares
((dirigindo-se ao acusado)) eles já tinham achado o revólver lá?
Acusado: quando eu cheguei lá já tinha achado
Delegado: /é? já?
Acusado: ((ditando para a escrivã)) que os milicianos haviam encontrado o revólver que estava guardado em
seus pertences vírgula(( dirigindo-se ao acusado)) aí ocê falou pra eles tudo que tinha acontecido?
Acusado: falei
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ocasião em que relatou aos mesmos as circunstâncias que envolveram a
compra da arma de fogo ... ((dirigindo-se ao acusado)) o D lá:: preso junto com eles ou não... ocê num viu ele?
Acusado: não a hora que eu cheguei lá ele num tava lá não
Delegado: /tava não?
Acusado: acho que ele já tinha vindo
Delegado: aí depois de lá ocê foi lá... falou que não realmente comprei paguei tanto e tal relatou tudo certinho aí
eles te trouxeram pra cá?
Acusado: é... eu vim com ês
Delegado: ((comentários e risos alheios ao interrogatório)) ocê já foi preso alguma vez A?
Acusado: não
Delegado: nunca foi preso? já foi processado?
Acusado: não ... nunca
Delegado: anh?
Acusado: nunca
Delegado: ((comentários alheios com a escrivã)) ocê sabia que num podia comprar arma num bar né? ocê tem
consciência disso? que num pode comprar arma num bar de quem te oferece assim?
Acusado: tenho
Delegado: tem num tem? onde que a gente compra uma arma?
Acusado: ... a gente tem que compra:: numa casa de arma
Delegado: na casa de arma né... então ocê sabia que tava fazendo uma coisa que num era certa num sabia?
LX
Acusado: é... (incompreensível) mai na hora foi que falô eu também que falo assim que sustentá meu
menino ... num sei o quê aí
Delegado: entendi ((ditando para a escrivã)) que o declarante afirma ter consciência de que não é correto
comprar arma em bar ... o lugar o correto para adquirir uma arma é em uma casa que vende armas né?
((comentários da escrivã e de outros policiais sobre outros assuntos)) ((retomando o trabalho e ditando
novamente para a escrivã parte do interrogatório que havia apagado do computador)) que na data de hoje por
volta das doze horas vírgula o declarante foi chamado em seu local de trabalho ... por seu patrão Rodolfo ...
vírgula este que o levou até sua residência ... que chegando em sua moradia (incompreensível) ... que chegando
em sua moradia ... deparou deparou-se com policiais militares vírgula estes que haviam feito a apreensão do
revólver que estava em seus pertences... que estava escondido em seus pertences... que o declarante que o
declarante é:: relatou aos policiais as circunstâncias que envolveram a compra da arma ((risos e comentários)) ...
((relendo o interrogatório)) que na data de hoje ... põe aí... que na data de hoje vírgula... por volta das doze horas
... o declarante foi chamado em seu local de trabalho ... por seu patrão Rodolfo ... este que o levou até sua
residência ... que chegando em sua moradia vírgula ... depois de moradia vírgula ... deparou-se com policiais
militares... estes que haviam feito a apreensão do revólver que estava escondido em seus pertences ... que o
declarante relatou aos milicianos... nós colocamos milicianos... milicianos as circunstâncias que envolveram a
compra da arma ... vírgula ...sendo conduzido ... sendo conduzido a esta Delegacia de Polícia tendo pleno
conhecimento ... de que não é correto comprar arma de terceiros ... terceiros em um bar... vírgula ... tendo ciência
tendo ciência ... que armas somente que armas de fogo somente devem ser adquiridas em casas autorizadas para
revendas de tais objetos ... que nunca foi preso e nem processado
Escrivã: ((dirigindo-se ao acusado)) e a munição da arma ô::?
Acusado: num tinha não
Escrivã: tinha não?
Acusado: tinha não
Delegado: ((dirigindo-se à escrivã)) põe isso também ((ditando para a escrivã)) que a arma estava desmuniciada
quando de seu (incompreensível)
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO POLICIAL N˚5
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
10ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL
Pçª Juquinha Caixeta, 153 Centro Patos de Minas/MG CEP:38700-130 Fone
(34)3821.2086
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO
Aos vinte e nove dias do mês de agosto do ano de dois mil e seis (29/08/06), às 16:50h, nesta cidade de
Patos de Minas/MG, na Delegacia Adjunta de Repr. a C/ C/ o patrimônio e Tóxicos/Entorpecentes - 10 ª DRSP,
presente o Bel. (nome), Delegado de Polícia, comigo, (nome), Escrivão de Polícia de seu cargo, ao final
assinado, passou a Autoridade a interrogar o CONDUZIDO que disse chamar-se AGAL, alcunha x.x, brasileiro,
natural de Belo Horizonte/MG, filho de JML e MGA, exercendo a profissão de pedreiro, local de trabalho (nome
da empresa)/Belo Horizonte-MG, nascido aos (data) (25 anos), solteiro, documento de identidade (número),
residente à R. (nome), (número), (nome do bairro)/Belo Horizonte-MG, escolaridade 2˚grau. Cientificado pela
autoridade policial que tem o direito de permanecer calado, assistência de advogado e familiares, conforme
determina o Art. 5˚, incisos LXII, LXIII e LXIV da Constituição Federal, desejando que sua prisão seja
comunicada a ninguém; Foi ainda cientificado que o responsável legal por sua prisão é o condutor deste auto e
que a autoridade responsável por seu interrogatório é o presidente deste auto. INTERROGADO, RESPONDEU:
QUE na data de ontem, por volta de 21:00 h, o declarante estava em um bar localizado nas proximidades do
terminal rodoviário deste município, ocasião em que ali apareceu o indivíduo conhecido por “D”, este que
ofereceu ao declarante e seus companheiros um revólver; QUE “D” alegou que o revólver era de sua propriedade
LXI
e que queria vende-lo visando conseguir dinheiro para comprar alimentos para seus filhos; QUE o declarante
negociou a compra do revólver pela quantia de R$300,00 (trezentos reais), tendo efetuado o pagamento à vista e
em dinheiro; QUE estava na posse de R$470,00 (quatrocentos e setenta reais), dinheiro que havia recebido
naquele dia como pagamento pelo trabalho que executa; QUE de posse do revólver, levou o mesmo para sua
residência, tendo guardado o mesmo dentro de sua mochila, visto que a intenção de dar o revólver para seu avô
para que este o levasse para a roça; QUE a arma estava desmuniciada no momento de sua aquisição; QUE na
data de hoje, por volta das 12:00 h, o declarante foi chamado em seu local de trabalho por seu patrão R, este que
o levou até sua residência; QUE chegando em sua moradia, deparou-se com policiais militares, esses que
haviam feito a apreensão do revólver que estava escondido em seus pertences; QUE o declarante relatou aos
milicianos as circunstâncias que envolveram a compra da arma, sendo conduzido a esta Delegacia de Polícia;
QUE tem pleno conhecimento de que não é correto comprar arma de fogo de terceiros em um bar, tendo ciência
de que arma de fogo somente deve ser adquirida em casas autorizadas para revenda de tais objetos; QUE nunca
foi preso e nem processado. Nada mais disse e nem lhe foi perguntado. Mandou a autoridade encerrar o presente
termo, que depois de lido e achado conforme, segue devidamente assinado, e fica fazendo parte do auto de prisão
em flagrante delito epigrafado.
AUTORIDADE:
CONDUZIDO:
ESCRIVÃ:
LXII
6) DEPOIMENTO DE (NOME DO ACUSADO), EM INTERROGATÓRIO NA DELEGACIA DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 30/08/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE TRÁFICO DE
SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação da Delegado de Polícia, da Escrivã e da Acusado
houve conversas paralelas)
Qualificação da acusada: ((realizada somente pela escrivã))
((interferências de conversas de outros policiais com o Delegado, sobre outros assuntos, enquanto a escrivã
procedia à qualificação da Acusada))
Delegado: (( primeiramente houve conversas entre a escrivã e o Delegado)) (...) como é que é seu nome?
Acusada: A...
Delegado: anh?
Acusada: A
Delegado: A? seu nome verdadeiro é A? te chamam ocê de P tamém? o quê que aconteceu procê vim
presa A?
Acusada: (eles foram lá na minha casa lá e acharam droga)
Delegado:/ quê?
Acusada : (incompreensível)
((barulho de telefone tocando, sendo atendido pelo Delegado que passa a travar conversa sobre outro assunto,
enquanto a acusada esperava para ser ouvida))
Delegado: ((retomando o interrogatório após cerca de nove minutos)) oh... esqueci o quê que eu tava falando
com a moça aqui oh... pro ce vê moça como é que é minha vida né... pior que a sua ... tem hora... o trem é triste...
ocê é de SALVADOR? ... o quê que ocê fazendo aqui moça? o Nereu certo... tinha que tê ficado ... terra
boa ... bonita... um MAR maravilhoso... um POVO maravilhoso... mai vamo lá... que ocê veio pra ... PATOS
ou Paris... aí te pegaram com a droga dentro da sua casa? foi isso? quantas pedras de crack tinha lá?
Acusada: que eles pegaram comigo?
Delegado: é... quantas que ês pegaram com ocê?
Acusada: (eu to pensando aqui) ... tinha trinta parece
Delegado: /mas ocê sabe ué... mas ocê sabe quantas dogras ocê tinha lá uai
Acusada: agora... que ês (incompreensível)
Delegado: é... quanto que apreendeu lá? trinta pedras?
Acusada: hum rum
Delegado: /o dinheiro que tava com ocê lá era da venda da droga?
Acusada: não... isso aí eu/eu tinha juntado (no ano passado) pra eu pagá o aluguel
Delegado: /tá... mais ôcê tem /ocê tinha vendido droga pra esse pessoal já hoje?
Acusada: não eu tava dormindo... e / e o policial prendeu ele na rua ... foi lá
Delegado: / ele sempre compra droga docê lá?
Acusada: quem?
Delegado: esse menino?
Acusada: não ... conheço ele assim não (esse menino)
Delegado: ocê mora sozinha?
Acusada: eu moro sozinha na minha casa... eu moro sozinha
Delegado: /quanto tempo ocê tá morando lá?
Acusada: acho que vai fazê dois meses que eu mudei pra lá
Delegado: e aquela moça que tava lá... ((nome da moça em tom alto)) o quê que ela faz lá?
Acusada: não num tem nada a vê
Delegado: ahn?...
Acusada: ela foi durmir comigo essa noite porque eu tava sozinha
Delegado: /num foi isso que ela falou aqui não
Acusada: ela num mora comigo não
Delegado: anh? o quê que é sua casa? é uma casa de encontro?
Acusada: na::o
Delegado: /é uma casa onde as pessoas vão procê podê:: arrumá os clientes pra elas?
Acusada: não... eu num mexo com esse negócio de prostituição
Delegado: anh? não mexe?
Acusada: não
Delegado: /com nada?
Acusada: não eu não
Delegado: eles já deram uma batida lá na sua casa já? pra vê esse negócio de prostituição?
Acusada: não
LXIII
Delegado: e na outra casa que ocê morava?
Acusada: que outra casa?
Delegado: uai o primeiro lugar que ocê mora aqui em Patos é lá?
Acusada: não eu nunca mixi com (ramo de ) prostituição eu num mixi com casa... eu
aluguei casa (incompreensível)
Delegado: /então por que que ocê falou que é garota de programa?
Acusada: eu fazia programa ... porque eu tava no Paulistano
Delegado: /mais lá é no Paulistano não é não?
Acusada: ficá eu fazi/ ficá/ fazi /ficava lá... o cliente me ligava ... eu trabaei numa casa na frente
Delegado: anh ... na frente onde ocê foi presa hoje?
Acusada: não...
Delegado: de onde ocê mora?
Acusada: não... eu ficava na numa boate na frente
Delegado: /tá
Acusada: eu ficava ali na frente ... o cliente passava... (depois) ia pro hotel...
Delegado: lá na sua casa ocê num num tem quarto pra prostituição nem nada disso não?
Acusada: não... lá não
Delegado: e essa M não é garota de programa não?
Acusada: ela é mais na minha casa ela não... eu /só chamei ela pra ela ir dormir comigo... o/essa noite
(incompreensível)
Delegado: / ocês são amigas?
Acusada: não
Delegado: então por que você chamou uma pessoa que não é sua amiga pra dormir na sua casa?
Acusada: eu conheço ela (incompreensível) conheço ela
Delegado: /ah... ocê é conhecida dela... ocê é colega dela então?
Acusada: mais ou menos
Delegado: uai é uai... ocê tem que ter um relacionamento com ela senão ocê num ia chamá ela pra durmir na sua
casa
Acusada: eu chamei porque eu to sem programa... ela (incompreensível) a gente conversava muito ... lá na
casa que eu tava não... nunca que
Delegado: /ela também ... ocê vende droga há quanto tempo?
Acusada: uns dois meses mais ou menos
Delegado: desde que ocê mudou pra essa casa lá?
Acusada: humrum
Delegado: quanto que ocê vende a droga... pedra? quanto?
Acusada: dez reais
Delegado: dez cada uma? é? só pedra ou se vende maconha também?
Acusada: não
Delegado: só pedra?
Acusada: é
Delegado: /é? ocê arruma isso aonde?
Acusada: ... eu só falo emjuízo agora
Delegado: hum?
Acusada: num vô falá mais nada
Delegado: num vai falá mais nada?
Acusada: (só falo em juízo)
Delegado: ocê num qué falá nada não... ou isso que ocê falou eu posso constá aqui?
Acusada: pode pode
Delegado: até aí pode?... ocê numqué me falá então de quem que ocê compra? ... isso ocê num vai falá não?...
Acusada: /só vou falá em juízo
Delegado: ta jóia ... beleza... então esses fatos outros aqui eu posso constá aqui que ocê vai assinar? ... isso que
ocê me falo até agora?
Acusada: (vô sim)
Delegado: hum rum... ocê já tem passagem pela polícia já?
Acusada: não... primeira vez
Delegado: a primeira vez? nem lá em Salvador?
Acusada: não
Delegado: nunca foi presa?
Acusada: não... se o senhô quisé pode olhá
Delegado: não nós já olhamo
LXIV
Acusada: /então tá bom
Delegado: /só tô te perguntando pra podê confirmar o que eu tenho ali...
Acusada: se eu tivesse / se eu tivesse mentindo não tava olhando nos seus olhos não ...
Delegado: não necessariamente
Acusada: se eu tivesse mentindo...
Delegado: eu já vi muita gente menti olhando nos meus olhos... pode ter certeza
Acusada: /eu não to mentindo... eu falando a verdade... na minha casa eu trabalhava com isso... a M eu
pedi pra ela ir dormir comigo... eu tava sozinha ... não sou amiga dela ... quando eu trabalhava na outra casa...
ficava lá eu ela ... outras meninas ... lá na casa que eu aluguei não mexia com isso
Delegado: hum rum ... que horas que os policias chegaram lá ... mais ou menos?
Acusada: ah eu não sei ... não olhei lá
Delegado: /na manhã... de manhã ainda ainda?
Acusada: tava ce::do
Delegado: na parte da manhã?
Acusada: foi... hum rum ... acordei com eles batendo na janela...
Delegado: te pedindo a droga?
Acusada: não o rapaz
Delegado: /o rapaz que tava com eles pediu a droga?
Acusada: o rapaz tava já já algemado... já chegou com o rapaz algemado
Delegado: /então ele pediu
Acusada: deve tê pulado o meu muro... eu num sei como é que ele entrou lá
Delegado: ele pediu a droga e ocê já /foi pra / vendê pra ele com a pedra na mão? Acusada: não num passei num
cheguei a passá
Delegado: então na hora que o policial te prendeu lá... ocê tava com a pedra na mão?
Acusada: não... não estava
Delegado: tava sem nenhuma droga?
Acusada: tava
Delegado: eles acharam a droga foi dentro da sua casa?
Acusada: tava guardada... dentro das minhas coisas
Delegado: ... hum rum ... tá bom... então vamo lá ((ditando para a escrivã))... é::... que na
data de hoje... no período da manhã... vírgula ... a declarante estava na sua casa ... quando ouviu o barulho de
alguém bater na porta
Acusada: /na janela
Delegado: ((ditando para a escrivã)) na janela ((dirigindo-se à acusada)) aí ocê foi até à janela atender.... foi
Acusada: (incompreensível)
Delegado: hum rum ... ((ditando para a escrivã)) que se deslocou ((dirigindo-se à acusada)) ocê tava durmindo?
Acusada: tava
Delegado: ((dirigindo-se à acusada)) que se deslocou ... até a janela ((dirigindo-se à acusada)) a pessoa falou
que queria comprar uma droga?
Acusada: é... me pediu a dolinha... aí eu falei assim não (incompreensível)
Delegado: hum rum ... ele pediu antes de ocê vê quem
que era... com a janela fechada ainda ele te pediu
Acusada: oi? ...eu abri janela
Delegado:/aí ele pediu
Acusada: ele pediu ... (falei com ele doutor) DEIXE EU DURMIR cansada... eu fiquei fazeno hora
quando a polícia chegou... e me autuou
Delegado: /tá.... ((ditando para a escrivã)) que se deslocou até a janela ... e quando a abriu ... deparou-se com
uma pessoa que lhe pediu ... uma dolinha ... ((dirigindo-se à acusada)) é isso? dolinha? de crack né? crack?
((dirigindo-se à escrivã)) uma dolinha de crack... ((dirigindo-se à acusada)) aí o quê que ocê falou pra ele?
Acusada: foi pra ele que eu estava dormindo... que não era pra ele me incomodá... e eu ia fechá a janela
quando a polícia chegou (a gente já tava)
Delegado: ocê conhece o rapaz?
Acusada: não num conheço
Delegado: não conhece?
Acusada: não ... só depois que (incompreensível)
Delegado: ocê coloca em vez de pessoa ocê coloca assim que um rapaz desconhecido que lhe pediu... lhe pediu
uma dolinha de crack((dirigindo-se à escrivã)) ... enquanto ocê tava atendendo ele então a polícia pulou
dentro... pulou nocê ... foi isso?
Acusada: não ... eu tava conversando com ele... falei que eu tava durmindo que não ia atendê
LXV
Delegado:/tá...((ditando para a escrivã)) que enquanto conversava com... tal indivíduo vírgula... foi abordada por
policiais militares ... estes que prenderam a declarante pelo fato da mesma estar ((dirigindo-se à acusada)) ... te
prenderem porque eles falaram que ocê tava vendendo droga ... é isso né? ((ditando para a escrivã)) da mesma
estar vendendo droga... ((dirigindo-se à acusada)) a hora que eles pularam nôcê então ocê num tava com
nenhuma droga na mão não? nada?
Acusada: ((barulho com os lábios indicando negação))
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que ao ser abordada ... vírgula ... a declarante não estava de posse de
nenhuma substância entorpecente ... vírgula no entanto vírgula ((dirigindo-se à acusada)) ... es/eles
procederam à vistoria na casa e acharam quantas pedras de crack?
Acusada: ... (incompreensível) falou trinta
Delegado: / trinta onde essas pedras tavam?
Acusada: tava escondidas no meus pertences
Delegado: ((ditando para a escrivã)) no entanto... ao procederem a uma vistoria na casa da declarante... os
policiais encontraram escondidos em seus ... escondidas em seus pertences trinta pedras da substância
comumente conhecida por crack ((conversa paralela com a escrivã a respeito do acionamento do perito)) ((
retomando o interrogatório e relendo o que havia ditado para a escrivã)) trinta pedras da substância conhecida
por crack ((conversa paralela da escrivã no telefone inclusive do Delegado e de outros policiais sobre a
realização de perícia))
Delegado: ((retomando o interrogatório e relendo o que havia ditado)) ... hum:: trinta pedras da substância
comumente conhecida por crack ((ditando para a escrivã)) que afirma ... estar vendendo droga ((dirigindo-se à
acusada)) ocê vende na sua casa mesmo? é?
Acusada: sim
Delegado: ((ditando para escrivã)) em sua residência... aproximadamente dois meses ((dirigindo-se à
acusada)) desde que ocê mudou pra lá?
Acusada: hum rum
Delegado: é?
Acusada: é
Delegado: ... ((ditando para a escrivã)) em sua residência aproximadamente dois meses... que vende pra qual/
assim num tem pessoa/ apessoa vai lá ... procura ocê vende...
Acusada: é
Delegado: /dez reais cada dolinha né?
Acusada: é
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula... cobrando dez reais por porção vendida ((dirigindo-se à acusada))
ocê vende só crack?
Acusada: ((balançando a cabeça afirmativamente))
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que seu comércio é destinado à venda de crack... vírgula... não trabalhando
com outro tipo de droga
((interferência de outro policial que começa a travar um diálogo sobre outro assunto com o Delegado, havendo
também a interferência de outros policiais e da escrivã)
Delegado: ((retomando o interrogatório, relendo parte do que havia ditado)) que afirma estar vendendo droga
aproximadamente dois meses em sua residência ... cobrando dez reais por porção vendida... que seu o
comércio é destinado à venda de crack... não trabalhando com outro tipo de droga... perguntado à declarante ...
perguntado à declarante de quem adquire a substância entorpecente que vende ... vírgula... respondeu que ...
somente prestará declarações nesse sentido em juízo... que afirma que sua moradia não é destinada à prática de
encontros amorosos ou prostituição ((dirigindo-se à acusada)) ocê mora sozinha? só ocê ... mais ninguém?
Acusada: moro ... /((barulho negativo com a boca))
Delegado: ((ditando par a escirvã)) residindo vírgula residindo sozinha... sozinha residindo sozinha na casa...
que quanto à pessoa de M... ((dirigindo-se à acusada)) a M tava com você quando os policiais chegaram num
tava?
Acusada: (não ela tava durmindo num outro quarto)
Delegado: /então ela tava na sua casa... isso é que eu to perguntando
Acusada: anh
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que quanto à pessoa de M que estava em sua residência quando da
abordagem policial... alega ser somente sua conhecida... ((dirigindo-se à acusada)) ocê pediu pra ela dormir
essa noite né?
Acusada: hum rum
Delegado: quê que foi mesmo que ocê pediu pra ela dormir lá?
Acusada: que (acabou) que ta com a luz cortada né e eu fiquei com medo de dormir no escuro
Delegado: /anh ran ... ((ditando para a escrivã))
alega ser somente sua conhecida... tendo vírgula... tendo pedido a mesma que dormisse consigo no dia de hoje
LXVI
((comentário da escrivã incompreensível)) ((continua ditando para a escrivã)) esta noite ... esta noite vírgula
dormido consigo ... esta noite pelo fato da energia de sua residência estar cortada... vírgula... tendo ficado com
medo de pernoitar sozinha.... ((dirigindo-se à acusada)) atualmente ocê ganha a vida então fazendo programa?
Acusada: oi?
Delegado: atualmente ocê ganha a vida fazendo programas? ... é?
Acusada: hum rum
Delegado: ocê num trabalha assim em outro trabalho não né? só faz programa e vende essas drogas pro povo?
Acusada: é
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que atualmente a declarante ganha a vida vendendo substância entorpecente
e fazendo programas sexuais ((dirigindo-se à acusada)) faz na sua casa mesmo?
Acusada: /NÃO
Delegado: ocê só encontra com o cliente lá?
Acusada: não eles me ligam eu saio.. lá não pode (incompreensível)
Delegado: /tá... na casa ocê num faz nada então?
Acusada: não... lá em casa não
Delegado: hum rum ((ditando para a escrivã)) e fazendo programa sexual vírgula ... sendo que os clientes ligam
em seu celulá/ ((dirigindo-se à acusada)) celular que ocê tem?
Acusada: ((pronuncia algo afirmativo))
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ligam em seu celular e combinam de encontrar com a declarante fora de sua
residência... ((dirigindo-se à acusada)) isso né?
Acusada: é
Delegado: a M então também é garota de programa? a M ...que tava lá?
Acusada: (incompreensível) só que em outra casa
Delegado: anh ran ((ditando para a escrivã)) ... que M ... também é garota de programa ((dirigindo-se à acusada))
ocê conheceu ela quando ocê trabalha em uma outra/em uma outra casa de prostituição?
Acusada: ficava lá na esquina lá
Delegado: /hum rum ((ditando para a escrivã)) tendo conhecido a mesma ... quando realizava programas em uma
casa de prostituição próxima ao local onde mora ... ((dirigindo-se à acusada)) ... então jamais sua casa foi
utilizada aí pra pra prostituição né?
Acusada: não
Delegado: nem pra:: só servir de ponto de encontro?
Acusada:/não
Delegado: os clientes iam mas não faziam o programa lá.. mas iam lá:: e pegavam as mulheres e depois
saíam...
Acusada: nada nada lá:: nunca (incompreensível) lá que eu/eu moro sozinha
Delegado: /tá mais por exemplo assim por exemplo num é um local/ não é um local onde os clientes vão e
encontram com as suas amigas com seus colegas assim e depois saem lá ...e depois vão fazê o programa?
Acusada: /lá não ((barulho com a boca negativo)) ... lá é minha casa
Delegado: (incompreensível) ocê falou que ocê nunca foi presa e nem processada né? nunca ... nem aqui nem
lá na Bahia?
Acusada: não ... não
Delegado: é isso que eu ditei pra ela? certo? tá? ocê qué fala é isso? é? mais alguma coisa que ocê qué fala?
sobre esses fatos aí?
Acusada: não (barulho negativo com a boca) não
Delegado: ((dirigindo-se à escrivã)) nada mais... nada MAIS
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
LXVII
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO POLICIAL N˚6
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
10ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL
Pçª Juquinha Caixeta, 153 Centro Patos de Minas/MG CEP:38700-130 Fone
(34)3821.2086
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO
Aos trinta dias do mês de agosto do ano de dois mil e seis (30/08/06), às 15:45h, nesta cidade de Patos
de Minas/MG, na Delegacia Adjunta de Repr. a C/ C/ o patrimônio e Tóxicos/Entorpecentes - 10 ª DRSP,
presente o Bel. (nome), Delegado de Polícia, comigo, (nome), Escrivão de Polícia de seu cargo, ao final
assinado, passou a Autoridade a interrogar a CONDUZIDA que disse chamar-se AST, alcunha “P”, brasileira,
natural de Salvador/BA, filha de ALT e VLS, exercendo a profissão de promotora de vendas, local de trabalho
desempregada, nascida aos (data) (30 anos), solteira, documento de identidade não portava, residente à R.
(nome), (número), (nome do bairro)/Patos de Minas-MG, escolaridade 2˚grau. Cientificada pela autoridade
policial que tem o direito de permanecer calada, assistência de advogado e familiares, conforme determina o Art.
5˚, incisos LXII, LXIII e LXIV da Constituição Federal, desejando que sua prisão seja comunicada a sua
advogada MCD, militante nesta comarca; Foi ainda cientificada que o responsável legal por sua prisão é o
condutor deste auto e que a autoridade responsável por seu interrogatório é o presidente deste auto.
INTERROGADA, RESPONDEU: Que na data de hoje, no período da manhã, a declarante estava em sua casa,
quando ouviu o barulho de alguém bater na janela; QUE se deslocou até a janela e quando abriu deparou-se com
um rapaz desconhecido que lhe pediu ma “dolinha de crack”; QUE enquanto conversava com tal indivíduo, foi
abordada por policiais militares, estes que prenderam a declarante pelo fato da mesma estar vendendo droga;
QUE ao ser abordada, a declarante não estava de posse de nenhuma substância entorpecente, no entanto, ao
procederem a uma vistoria na casa da declarante, os policiais encontraram escondidas em seus pertences 30
(trinta) porções da substância comumente conhecida por “crack”; QUE afirma estar vendendo droga em sua
residência aproximadamente dois meses, cobrando dez reais por porção vendida; QUE seu comércio é
destinado a venda de “crack”, não trabalhando com outro tipo de droga; PERGUNTADA a declarante de quem
adquire a substância entorpecente que vende, RESPONDEU que “somente prestará declarações nesse sentido
“em juízo”; QUE afirma que sua moradia não é destinada a prática de encontros amorosos ou prostituição,
residindo sozinha na casa; QUE quanto a pessoa de M que estava em sua residência quando da abordagem
policial, alega ser somente sua conhecida, tendo pedido a mesma que dormisse consigo nessa noite pelo fato da
energia de sua residência estar cortada, tendo ficado com medo de pernoitar sozinha; QUE atualmente a
declarante ganha a vida vendendo substância entorpecente e fazendo programa sexual, sendo que os clientes
ligam em seu celular e combinam de encontrar com a declarante fora de sua residência; QUE M também é garota
de programa, tendo conhecido a mesma quando realizavam programas em uma casa de prostituição próxima a
casa onde moram; QUE nunca foi presa e nem processada. Nada mais disse e nem lhe foi perguntado. Mandou a
autoridade encerrar o presente termo, que depois de lido e achado conforme, segue devidamente assinado, e fica
fazendo parte do auto de prisão em flagrante delito epigrafado.
AUTORIDADE:
CONDUZIDA:
ESCRIVÃ:
LXVIII
7) DEPOIMENTO DE (NOME DO ACUSADO), EM INTERROGATÓRIO NA DELEGACIA DA
COMARCA DE PATOS DE MINAS, EM 12/09/06, RESPONDENDO A ACUSAÇÃO DE FURTO.
TRANSCRIÇÃO DO DEPOIMENTO ORAL: (participação da Delegado de Polícia, da Escrivã e do Acusado
houve conversas paralelas)
Qualificação do acusado: ((realizada somente pela escrivã))
Delegado: como é que é seu nome?
Acusado: A de O D
Delegado: por que que ocê veio preso A?
Acusado: uai... infelizmente eu tava... eu tava na beira de um corgo... certo...
Delegado: /hum
Acusado: aí passaram três elementos... certo...
Delegado: /hum
Acusado: me jogaram me jogaram umas camisas e uns / e umas moedas perto de mim... num sabia que era
roubado... peguei... certo...
Delegado: /hum
Acusado: logo em seguida né... vou... subindo na beira do corgo... topo topo com policial... ele um tiro...
certo
Delegado: / hum
Acusado: ele dá um tiro... mandou eu parar eu saí correndo eu saí correndo mesmo... saí disparado doido... eu
pra te falar (saí desesperado mesmo)... menti pra ele até meu nome certo...menti memo porque:: meu medo de de
vim/voltar para cadeia... foi demais né... porque eu... puxei um ano e três meses de graça... certo... no Carmo na
época... agora de todo jeito eles vai me fechá... eu vou ficá mais / eu vou ficá um bom tempo lá dentro lá
Delegado: /de graça por que?
Acusado: porque foi de graça uai... pra pagá cadeia pros outros certo
Delegado: (cadeia de que que ocê pagou?)
Acusado: (incompreensível) certo
Delegado: ocê pagou de quê?
Acusado: do um cinco sete... me espancaram aqui durante três dias certo... me espancaram durante três dias...
coisa que eu não fiz... e:: e:: é difícil... num adianta a gente falar que que num é porque polícia num acredita na
gente ... então a palavra dum:: / a palavra dum / a palavra dum pobre humilde /dum pobre que não tem lugar
memo éh:: num éh:: num vale / num vale pra ninguém mesmo ... é desse jeito... fui preso... fui espancado
hoje... fui preso... fui espancado de novo certo... tomei tiro certo
Delegado: o tiro acertou ocê?
Acusado: acertou na minha perna bala de borracha certo... rasgou minha calça certo
Delegado: /ah:: tá ... bala de borracha ... ah bom
Acusado: então a vida é desse jeito mesmo ... num num dá nada não... o que tinha que
Delegado: /então tá... então me conta aqui o que me interessa é a situação da sua prisão lá...
Acusado: certo
Delegado: ocê tava aonde.. a hora que os policiais te encontraram?
Acusado: na beira do corgo
Delegado: fazendo o quê?
Acusado: deitado lá debaixo de uma árvore
Delegado: fazendo o quê?
Acusado: fumando meu brown sossegado
Delegado: /hum tá... e aí?
Acusado: fumando meu brown lá
Delegado: /e aí passaram três caras?
Acusado: éh... eles primeiro eles passaram certo... eles passaram desceram no meu sentido... aonde eu tava...
desceram a beira do corgo correndo...
Delegado: / hum
Acusado: eu num vi queeles tava correndo de polícia mano
Delegado: anh e aí?
Acusado: jogaram uma brusa / jogaram uma brusa... junto com a brusa enrolada na:: nas brusa lá tinha as moeda
mano... as moeda e umas nota lá... mas eu num cheguei...
Delegado: /hum
Acusado: rasgar sacolinha pra contar nem pegar dinheiro certo
Delegado: /ocê pegou dinheiro e pôs no bolso
Acusado: éh eu peguei dinheiro e pus no bolso e as ca/ e as camisa eu deixei num canto
LXIX
Delegado: /no mesmo lugar?
Acusado: éh:: no mesmo lugar certo
Delegado: / anh e aí?
Acusado: quando é o policial arrancou atrás de mim e eu fiquei com medo certo... eu tava com meu
brown na mão enrolado certo... eu saí correndo... foi aonde ele me pediu pra mim parar eu falei que eu
não ia parar né... aí ele foi e atirou... certo
Delegado: /ah tá
Acusado: deu um tiro... eu saí correndo... depois de uma cerca de arame... certo... eu senti uma dor / uma
dor forte na hérnia que eu tenho na perna caí...
Delegado: aí eles te pegaram?
Acusado: /foi aonde que eles me acertaram o tiro certo... do outro lado da minha perna... do lado direito...
Delegado: /hum rum
Acusado: certo... eu caí no chão... fiquei sossegado num:: nem:: num movimentei... chegou... me deu umas
bicudos... puxaram meu cabelo... saíram me arrastando no meio do mato... certo... e eu levantei... saí junto
com ele.. até a/ aonde eu dei conta de andar... certo... que:: foi:: até / en/enquanto eu num dei conta de andar mais
e::
Delegado: / ocê conhecia esses caras que passou lá perto docê?
Acusado: não... num conheço não
Delegado: num conhece nenhum deles?
Acusado: nenhum deles?
Delegado: de que jeito que eles era?
Acusado: uai.. um / um é branquinho... certo
Delegado: /hum
Acusado: o outro é moreno alto
Delegado: anh
Acusado: e o outro e o outro é também um moreno alto... quase da mesma altura dos dois... certo mas
Delegado: / eles é que foram jogando a a as roupa pra fora?
Acusado: /eles que jogaram / jogaram as roupa
Delegado: /o dinheiro as roupas e vazaram no meio do mato lá?
Acusado: eh:: procê vê... procê vê por quê que fui eu doido? ou perto da minha casa certo...
Delegado: / eles jogaram essas roupas e vazaram no mato?
Acusado: (perto da minha casa) porque era... porque era a: a aonde aonde aconteceu o delito certo... é duas é
duas quadra da minha casa uai... duas esquina da minha casa certo... e eu num tirei roupa nenhuma minha...
Delegado: /certo
Acusado: minhas roupa tá tudo comigo
Delegado: certo
Acusado: então cumé que fo::i né?... eu garanto
Delegado: / tinha mandado de prisão procê... por conta de quê que é?
Acusado: /TINHA porque éh porque éh que eu quebrei meu albergue
Delegado: AH:: quebrou albergue... então beleza
Acusado: certo
Delegado: que horas que era isso mais ou menos?
Acusado: ah:: era por volta das três e meia
Delegado: ((ditando para a escrivã)) na data de hoje por volta de quinze horas e trinta minutos... vírgula... o
declarante estava na beira ((interrogando o acusado)) era do rio Paranaíba lá?
Acusado: na::o sô lá é um corgo lá... perto de casa mesmo... beira da represa ali óh
Delegado: ((ditando para a escrivã)) na beira de um córrego nas proximidades da sua residência... da sua
residência... fazendo uso (interrogando o acusado)) era maconha que ocê tava fumando?
Acusado: /entorpecente
Delegado: eh?
Acusado: entorpecente...
Delegado: maconha?
Acusado: só...
Delegado: ((ditando para a escrivã)) fazendo uso de... substância entorpecente... vírgula... mais precisamente
vírgula ... ponto e vírgula... que em determinado momento... em determinado momento notou vírgula... notou a
aproximação de três indivíduos ((interrogando o acusado)) eles tava correndo esses caras?
Acusado: tava descendo morro abaixo
Delegado: / descendo tirando a roupa e:: e jogando os trem fora?
Acusado: éh
LXX
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula... estes que estavam correndo... ((interrogando o acusado)) em
direção ao mata/ matagal que tem lá perto?
Acusado: éh
Delegado: ((ditando para a escrivã)) em direção ao matagal vírgula... se livrando... se livrando... das roupas que
estavam vestidos... ((interrogando o acusado)) é uma sacolinha onde tava o dinheiro?
Acusado: éh... amarrada tava bem amarrada
Delegado: / que cor que é essa sacola?
Acusado: branca
Delegado: ((ditando para a escrivã)) e de uma sacolinha de cor branca... ((interrogando o acusado)) ocê
aproximou das roupas viu a sacolinha... viu que era dinheiro... e pegou ela?
Acusado: / vi a sacolinha e peguei ela
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que se aproximou das vestes deixadas por citados indivíduos... indivíduos e
percebeu que a sacolinha que também foi largada pelos mesmos... continha dinheiro... vírgula ... oportunidade
em que se apoderou... em que se apoderou desta... e a colocou ((interrogando o acusado))... no bolso da sua
calça?
Acusado: foi
Delegado: aí as polícia já apareceu?
Acusado: aí a hora que eu subi né
Delegado: anh ran
Acusado: que eu tava subindo...
Delegado: ((ditando para a escrivã)) / no bolso da sua calça... que tais indivíduos /éh que não conhece
((interrogando o acusado)) nunca tinha visto esses caras não?
Acusado: NÃO (incompreensível)
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que não conhece... os indivíduos que pasaram pelo local e que se livraram
das roupas... e do dinheiro... vírgula... sendo um deles... ((interrogando o acusado)) como que é:: um é que jeito?
Acusado: um é branquinho e os dois é moreno alto
Delegado: ((ditando para a escrivã)) um deles branco... ((interrogando o acusado)) mais baixo?
Acusado: éh mais baixo
Delegado: ((ditando para a escrivã)) e os outros dois morenos
Acusado: /altos
Delegado: ((ditando para a escrivã)) altos... ((interrogando o acusado)) assim que ocê foi saindo do local... os
pm chegou
Acusado: éh... o / o po o policial tava agachado de tráis de uma árvore... eu num vi não... lá ia saindo
Delegado: / hum rum ... tá ... ((ditando para a escrivã)) /que assim que
ia saindo do local... vírgula... foi abordado por policiais militares... ((interrogando o acusado)) eles pediram
procê parar e ocê parou?
Acusado: saí correndo
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula... este que... pediram ao declarante... que ficasse parado... vírgula...
oportunidade em que não obedeceu à ordem dos militares ((interrogando o acusado)) aí ocê saiu correndo?
Acusado: correndo não
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ao aviso dos militares... e saiu correndo ((interrogando o acusado)) em
direção daquela/do matagal também?
Acusado: não... foi pra cima / morro acima... em estado livre
Delegado: ((ditando para a escrivã)) e saiu correndo (disse) morro acima... que foi perseguido pelos policiais...
que foi perseguido pelos policiais vírgula... sendo preso ((interrogando o acusado))... a hora que ocê caiu perto
de uma cerca de arame é que eles te pegaram?
Acusado: não passei a cerca de arame... aí depois eles me acertou um tiro... na / na perna de raspão a:: ... certo
Delegado: ((ditando para a escrivã)) sendo preso... logo depois de transpor ... uma cerca de arame... uma cerca de
arame...vírgula... sendo que naquela oportunidade... ((interrogando o acusado)) um tiro de borracha na perna?
Acusado: éh
Delegado: éh?
Acusado: porque deve ser de borracha porque num machucou né... levantou calombo
Delegado: hum rum... ((ditando para a escrivã)) levou
um tiro de borracha na perna... ((interrogando o acusado)) aí os policiais te prenderam sob qual acusação?
Acusado: não... pra mim ele num:: nem me deram satisfação não uai
Delegado: o quê que eles te falaram / o quê que eles te falaram que ocê tava preso?
Acusado: não eles falou pra mim que:: era roubo né
Delegado: /anh... falaram procê
Acusado: /então eu / pra mim só que mesmo assim eu num:: num mexo num:: nem num assino nada
não... porque eu num/num roubei nada
LXXI
Delegado: num tô falando procê assinar nada não
Acusado: /não não sério
Delegado: num falando procê assinar não... te perguntado a situação o quê que foi... é isso que eu to te
perguntando
Acusado: não sério... sério... não porque a gente fica meio ((gaguejando))
ô ô ô eu ou.. fui pro mato memo... usei minha droga memo... certo...
Delegado: / TÁ:: NUM TE PERGUNTANDO ISSO NÃO... TE PERGUNTANDO AQUI POR QUÊ
QUE ELES FALARAM QUE TE PRENDERAM? ... PORQUE OCÊ TINHA... ELES ALEGARAM QUE OCÊ
TINHA ROUBADO?
Acusado: éh isso memo
Delegado: ROUBADO O QUÊ?
Acusado: eles falou que eu tinha roubado um supermercado certo
Delegado: /éh? ((ditando para a escrivã)) que os militares informaram ao declarante
Acusado: /que tinha sido roubado um supermercado
Delegado: ((ditando para a escrivã)) /que estava sendo preso... pelo fato de ter participado de um roubo a um
supermercado... que o declarante afirma ((interrogando o acusado)) ocê num participou de roubo nenhum né?
Acusado: não nenhum
Delegado: nenhum ...((ditando para a escrivã)) que o declarante afirma... que não participou de qualquer crime...
vírgula... estando apenas usando droga... na beirada do córrego ((interrogando o acusado)) ocê sabia que ocê
tinha mandado contra ocê?
Acusado: sabia
Delegado: sabia?
Acusado: sabia
Delegado: ((ditando para a escrivã)) que o declarante também tinha conhecimento... que o declarante TINHA
conhecimento /pode tirar esse também... tinha conhecimento... de que existia mandado de prisão em seu
desfavor... ((interrogando o acusado)) foi cumprido né? ((ditando para a escrivã)) este foi cumprido... vírgula
este que foi cumprido pelos militares
((interferência de um policial civil que diz ao Delegado que o mandado de prisão havia sido cumprido pela
polícia civil e não pela polícia militar))
Delegado: ((retoma o interrogatório novamente ditando para a escrivã, corrigindo o equívoco)) este que foi
cumprido... então tira os militares... pelos militares... este que foi cumprido
((o Delegado conversa novamente com m policial civil a respeito do cumprimento do mandado de prisão))
Delegado: ((volta a interrogar o acusado)) éh:: ... o mandado foi porque ocê num cumpriu o albergue né?
Acusado: éh meu albergue
Delegado: ((ditando para a escrivã)) ... que o mandado foi expedi /expedido... pelo fato do declarante não ter
cumprido as exigêngias/exi-gên-cias do regime semi-aberto... vírgula... não tendo comparecido na colô
/((interrogando o acusado) no presídio né? pra poder pernoitar né?
Acusado: éh
Delegado: ((ditando para a escrivã)) vírgula... visto ((interrogando o acusado)) esse era /crime era um cinco sete?
essa/esse albergue era do um cinco sete que ocê falou?
Acusado: éh isso
Delegado: ((ditando para a escrivã)) visto que estava cumprindo pena... pela prática de roubo... ((interrogando o
acusado)) ocê já foi processado por roubo e por que mais?
Acusado: não só só roubo memo
Delegado: anh?
Acusado: só roubo mesmo
Delegado: mais nada?
Acusado: mais nada
Delegado: preso já por quanto tempo?
Acusado: eu/que eu já fui preso?
Delegado: éh
Acusado: só por causa desse roubo mesmo
Delegado: MAIS NADA?
Acusado: não
Delegado: mentiroso sô
Acusado: /não só roubo
Delegado: /ocê já teve aqui um monte de vez
Acusado: /só roubo
Delegado: TUDO ROUBO?
Acusado: uai... eu num:: vim aqui com nenhum entorpecente
LXXII
Delegado: ocê é usuário?
Acusado: éh:: sô
Delegado: ((dirigndo-se à escrivã)) tirou a FAC dele?
Escrivã: (deixa eu ver... acho que não saiu toda não... só saiu um pedaço)
Delegado: hum?
Escrivã: tem que tirar o restante...
Delegado: (incompreensível)
Escrivã: (deixa eu ver aqui se tem mais alguma coisa)
(Delegado: hum rum ((retomando o interrogatório)) é isso que eu ditei pra ela que aconteceu?
Acusado: hum rum
Delegado: éh? tá certinho?
Acusado: tá
Delegado: então ocê tava na beira do rio... tudo mais... ocê tava de boa... os caras passaram... ocê num
conhece ninguém... um branco dois moreno... ocê pegou o dinheiro... pôs no bolso... né... e aí diante disso aí ocê
/ a polícia foi atrás docê/ acabou te pegando o dinheiro tava com ocê a hora que eles te prenderam?
Acusado: tava comigo
Delegado: hum... (tem quanto de nota aqui?)
Acusado: as moeda nem num mexi... certo ... nem num abri num mexi...
Delegado: /anh ran
Acusado: o dinheiro tava no meu bolso memo... dava tempo de jogar fora... dava tempo de jogar... num joguei
porque eu num sabia... senão tinha jogado fora... sabesse assim... sabesse que era roubado tinha jogado fora
((Delegado e Escrivã conversam algo inaudível))
Escrivã: ((perguntando ao acusado)) ocê sabia quanto tinha dentro da sacolinha de dinheiro?
Acusado: /não
Escrivã: num chegou a contar o dinheiro não?
Acusado: não cheguei porque eu num mexi né... num cheguei a abrir não
((Delegado passa a reler as declarações prestadas pelo acusado balbuciando sons inaudíveis))
Delegado: ((dirigindo-se ao acusado)) então foi isso que aconteceu?
Acusado: sim senhor
Delegado: tá jóia... nós vamos ler procê rapidinho aqui... ocê presta atenção vê se tá... se tiver algum detalhe ocê
fala que a gente muda aqui tá?... hum... que hoje por volta de tre e meia da tarde... o declarante estava na beira de
um córrego / de um córrego nas proximidades de sua residência fazendo uso de substância entorpecente... mais
precisamente de maconha... que em determinado momento... notou a aproximação de três indivíduos... estes que
estavam correndo em direção ao matagal... se livrando das roupas que estavam vestidos... das roupas que
vestiam... se livrando das roupas que vestiam... vestiam... e ainda... e ainda deuma sacolinha de cor branca... que
se aproximou das vestes deixadas por citados indivíduos... que percebeu que a sacolinha... continha... que a
sacolinha continha dinheiro ((dirigindo-se à escrivã)) não tem aqui é você tirar ((retornando à leitura))
percebeu que a sacolinha continha... dinheiro... oportunidade em que se apoderou desta e a colocou no bolso de
sua calça... que não conhece os indivíduos que passaram pelo local e se livraram das roupas e do dinheiro...
sendo um deles de cor branca mais baixo e os outros dois morenos altos... que assim que ia saindo do local... foi
abordado por policiais militares... estes que pediram para o declarante / que ficasse... estes que pediram AO
declarante ((dirigindo-se à escrivã)) tira esse para aqui ((retornando à leitura)) estes que pediram ao declarante...
para ficar... parado... para ficar parado... oportunidade em que não obedeceu à ordem dos militares e saiu
correndo morro acima... que foi perseguido pelos policiais... sendo preso logo depois de transpor uma cerca de
arame... ocasião / não oportunidade em que levou um tiro de borracha na perna... ((dirigindo-se à escrivã)) pode
tirar ((retornando à leitura)) oportunidade em que... levou um tiro de borracha na perna... que foi apreendida em
seu poder a sacolinha plástica com o dinheiro... não sabendo declinar o valor que existia no interior de dita
sacola... que os militares informaram ao declarante que estava sendo /informaram ao declarante... que ... o
mesmo estava sendo preso... pelo fato de ter participado de um roubo em um supermercado... que o declarante
afirma que não participou / que não participou de qualquer crime... estando apenas usando droga na beirado do
córrego... que o declarante tinha conhecimento de que existia mandado de prisão em seu desfavor... este que foi
cumprido... que o mandado foi expedido pelo fato de não ter... de não te::r ... ((dirigindo-se à escrivã)) cumprido
de novo? ((retomando a leitura)) éh... pelo fato de não ter cumprido as exigências do regime semi-aberto... não
retornan / não comparecendo ao presídio local para pernoitar... não comparecendo... ao presídio... para
pernoitar...vez que estava cumprindo pena pela prática de roubo... ((dirigindo-se ao acusado)) éh isso mesmo?
Acusado: sim senhor
Delegado: ((dirigindo-se à escrivã)) coloca aqui óh ... éh:: ((interrogando o acusado)) ocê foi processado e
preso por conta desse roubo... mais nada?
Acusado: mais nada
LXXIII
Delegado: mais nada? ((ditando para a escrivã)) que somente foi preso e processado... em razão / em função do
roubo declinado... ((interrogando o acusado)) é isso então? sua declaração é essa?
Acusado: certo
((encerrou-se o interrogatório sem maiores formalidades))
TERMO DE DEPOIMENTO (RETEXTUALIZAÇÃO) DO DEPOIMENTO POLICIAL N˚7
POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS
10ª DELEGACIA REGIONAL DE POLÍCIA CIVIL
Delegacia Adjunta de Plantão
Pçª Juquinha Caixeta, 153 – Centro – Patos de Minas/MG CEP:38700-130 Fone (34)3821.2086
AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO
Às 22:37 horas do dia 12(doze) do mês de setembro(09), de 2006, na Delegacia Adjunta de Plantão da
10 ª DRPC, presente a Autoridade Policial DR (nome), Delegado de Polícia, comigo, Escrivã de Polícia, na
seqüência do Auto de Prisão em Flagrante Delito, passou-se ao interrogatório do conduzido AOD, sendo
brasileiro, solteiro, natural de Presidente Olegário, MG, nascido aos (data), com 21 anos de idade, filho de
AGD e de LO, portador do RG de nr (número), com a profissão de pintor de paredes, residente a rua
(nome), (número), (nome do bairro), cidade de Patos de Minas, MG, Fone (número),m tendo cursado até a
série do 1˚grau; Preliminarmente foi o interrogado cientificado pela Autoridade Policial quanto aos seus
direitos individuais constitucionalmente previstos, em especial os de receber assistência de familiares ou de
advogado que indicar, desejando que sua prisão seja comunicada a sua genitora, Sra LO, através do telefone
celular número; de não ser identificado criminalmente senão nas hipóteses legais, de ter respeitadas suas
integridades física e moral, de manter-se em silêncio e/ou declinar informações que reputar úteis à sua auto-
defesa, de conhecer a identidade do autor de sua prisão. Cientificado da imputação que lhe é feita nestes autos e
das provas contra si existentes, ao ser indagado pela autoridade Policial, às perguntas respondeu: QUE hoje
por volta de 15:30 horas, o declarante estava na beira de um córrego nas proximidades de sua residência fazendo
uso de substância entorpecente, mais precisamente, de maconha; Que em determinado momento notou a
aproximação de 03(três) indivíduos, estes que estavam correndo em direção a um matagal, se livrando das
roupas que vestiam e ainda de uma sacolinha de cor branca; Que se aproximou das vestes deixadas por citados
indivíduos e percebeu que a sacolinha continha dinheiro, oportunidade em que se apoderou desta e a colocou no
bolso de sua calça; Que não conhece os indivíduos que passaram pelo local e se livraram das roupas e do
dinheiro, sendo um deles de cor branca, mais baixo e o outros dois morenos altos; que assim que ia saindo do
local, foi abordado por Policiais Militares, estes que pediram ao declarante para ficar parado, oportunidade em
que não obedeceu a ordem dos militares e saiu correndo morro acima; Que foi perseguido pelos Policiais, sendo
preso logo depois de transpor uma cerca de arame, oportunidade em que levou um tiro de borracha na perna;
Que foi apreendido em seu poder a sacolinha plástica com o dinheiro, não sabendo declinar o valor que existia
no interior da dita sacola; Que os Militares informaram ao declarante que o mesmo estava sendo preso pelo fato
de ter participado de um roubo a um supermercado; Que o declarante afirma que não participou de qualquer
crime, estando apenas usando droga na beirada do córrego; Que o declarante tinha conhecimento de que existia
mandado de prisão em seu desfavor, este que foi cumprido; Que o mandado foi expedido pelo fato de não ter
cumprido as exigências do regime semi-aberto, não comparecendo ao presídio local para pernoitar, visto que
estava cumprindo pena pela prática de roubo; Que somente foi preso e processado em função do roubo
declinado; Que nada mais disse nem lhe foi perguntado. Lido e assinado, fica este termo fazendo parte integrante
do auto de prisão em flagrante.
AUTORIDADE:
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