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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CAMPUS DE JABOTICABAL
ALTERAÇÕES CLÍNICAS, PROTÉICAS DO HUMOR AQUOSO,
SOROLÓGICAS E HISTOPATOLÓGICAS EM OLHOS DE
CÃES (Canis familiaris) (LINNAEUS, 1758), INFECTADOS
EXPERIMENTALMENTE, POR VIA CONJUNTIVAL, COM
Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937)
Andréa Gomes Ribeiro
Médica Veterinária
JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL
2007
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS
CAMPUS DE JABOTICABAL
ALTERAÇÕES CLÍNICAS, PROTÉICAS DO HUMOR AQUOSO,
SOROLÓGICAS E HISTOPATOLÓGICAS EM OLHOS DE
CÃES (Canis familiaris) (LINNAEUS, 1758), INFECTADOS
EXPERIMENTALMENTE, POR VIA CONJUNTIVAL, COM
Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937)
Andréa Gomes Ribeiro
Orientador: Prof. Dr. José Luiz Laus
Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências
Agrárias e Veterinárias UNESP, Campus de
Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção
do título de Mestre em Cirurgia Veterinária.
JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL
Junho de 2007
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DADOS CURRICULARES DO AUTOR
ANDRÉA GOMES RIBEIRO – nascida em 27 de setembro de 1970, em Fortaleza, Ceará.
Graduou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual do Ceará UECE, em agosto de 1996,
e em Direito pela Universidade de Fortaleza UNIFOR, em dezembro de 1999. Especializou-se em
Clínica e Cirurgia de Pequenos Animas pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró ESAM, em
agosto de 2004. Ingressou no Programa de Pós-graduação em Cirurgia Veterinária da Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP Campus de Jaboticabal, em nível de mestrado, sob a
orientação do Prof. Dr. José Luiz Laus, em Março de 2005. Em março de 2006, ingressou como
professora substituta da Universidade Estadual do Ceará UECE, sendo responsável pelas disciplinas
de Clínica Médica de Pequenos Animais e de Cinotecnia.
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Dedico
Aos meus dois amores, Afrânio e Caio, por todo o amor e
compreensão do tempo subtraído de convívio, e das tantas horas
de ausência.
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Ofereço
Á minha mãe Ivoneide, por seu incomensurável amor, seu
infinito zelo e sua dedicação. Não teria palavras para agradecê-
la, tampouco uma forma equivalente de retribuí-la.
Amo você, mamãe!
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Agradecimentos
A Deus, sem o qual nada seria possível.
Ao Prof. Dr. José Luiz Laus, pela confiança depositada, e, sobretudo pela
oportunidade de partilhar seus admiráveis conhecimentos em Oftalmologia
Veterinária. Saiba que o admiro e respeito. Tenho orgulho de ser sua orientada.
Ao Prof. Dr. Leucio Câmara Alves. Não encontro palavras para descrevê-
lo. Mestre, talvez! Que além de trabalho, ensina a amar. Mostra que o
importante é ser feliz e ajudar o próximo. Faz da sua equipe, uma família
solidária. Conhecê-lo tornou-me uma pessoa melhor! Suas lições me acompanharão
por toda a vida. Obrigada.
Ao Prof. Dr. Fábio Luis da Cunha Brito, pelo ilimitado apoio na
realização desse trabalho, e pela amizade despendida.
A todos os professores e pós-graduandos da Universidade Federal Rural de
Pernambuco, pelos ensinamentos, pela disponibilidade em ajudar e pela amizade
despretensiosa. É um prazer conviver com vocês!
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Aos professores e colegas da pós-graduação da UNESP, pela ajuda do
dia-a-dia e, sobretudo, pelo apoio nas horas de “Saudades da Família”.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, pelo
financiamento da pesquisa.
Aos meus funcionários, tão queridos e solícitos, pelo apoio técnico
incondicional na realização da parte experimental.
Bianca! Como se agradece uma amizade? Adoro conviver e compartilhar
minha vida com você. Obrigada por existir e tornar a minha pós-graduação mais
leve!
Virgínia! Nós somos a prova de que a primeira impressão “não é a que
fica”! Adoro você, acredita?
À minha família, em especial ao meu marido Afrânio Melo, fonte
inesgotável de apoio e incentivo. Amo você... mais do que ontem... menos do que
amanhã!
i
SUMÁRIO
Página
RESUMO..........................................................................................................................iii
SUMMARY........................................................................................................................iv
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................................1
2. REVISÃO DA LITERATURA.........................................................................................3
2.1 Sinais Clínicos da LVC.............................................................................................3
2.2 Sinais Oculares Associados à LVC..........................................................................4
2.3 Imunopatologia da Doença Ocular na LVC..............................................................6
2.4 Anticorpos Séricos e Oculares na LVC ...................................................................8
2.5 Histopatologia da Doença Ocular na LVC...............................................................9
2.6 Diagnóstico.............................................................................................................11
3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................13
3.1 Aspectos Éticos......................................................................................................13
3.2 Seleção dos Animais..............................................................................................14
3.2.1 Avaliação Clínica............................................................................................14
3.2.2 Avaliação Oftálmica........................................................................................14
3.2.3 Coleta do Material Destinado à Parasitologia ...............................................15
3.2.3.1 Biópsia de Medula Óssea............................................................................15
3.2.3.2 Raspado de Pele Íntegra.............................................................................15
3.2.4 Coleta de Material Destinado à Sorologia......................................................15
3.2.5 Sorologia........................................................................................................16
3.2.6 Coleta do Material para Hemograma e Pesquisa de Hematozoários............16
3.3 Terapêutica Utilizada nos Animais após a Avaliação Clínica e Hematológica.......17
3.4 Grupos Experimentais............................................................................................17
3.5 Infecção Experimental ...........................................................................................17
3.5.1 CEPA de Leishmania sp..................................................................................17
3.5.2 Inoculação.......................................................................................................18
3.5.3 Acompanhamento dos Animais dos Grupos Inoculado (GI) e Controle (GC).18
ii
3.6 Pesquisa parasitológica de formas amastigotas de Leishmania (L.) chagasi........19
3.7 Testes Sorológicos.................................................................................................19
3.7.1 Coleta do Humor Aquoso...............................................................................19
3.7.2 Teste ELISA do Humor Aquoso.....................................................................20
3.8 Histopatologia.........................................................................................................20
3.9 Análise à Estatística...............................................................................................20
4. RESULTADOS............................................................................................................21
4.1 Sinais Clínicos dos Animais dos Grupos Inoculado (GI) e Controle (GC)..............21
4.1.1 Secreção Ocular.............................................................................................21
4.1.2 Opacidade Corneal.........................................................................................22
4.1.3 Hiperemia Conjuntival....................................................................................23
4.1.4 Uveíte.............................................................................................................25
4.2 Sorologia................................................................................................................25
4.3 Biópsia de Medula Óssea.......................................................................................25
4.4 Histopatologia do Globo Ocular..............................................................................25
5. DISCUSSÃO...............................................................................................................30
6. CONCLUSÕES...........................................................................................................40
7. REFERÊNCIAS ..........................................................................................................41
iii
ALTERAÇÕES CLÍNICAS, PROTÉICAS DO HUMOR AQUOSO, SOROLÓGICAS E
HISTOPATOLÓGICAS EM OLHOS DE CÃES (Canis familiaris) (LINNAEUS, 1758), INFECTADOS
EXPERIMENTALMENTE, POR VIA CONJUNTIVAL, COM Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA
& CHAGAS, 1937)
RESUMO Avaliaram-se as alterações oftálmicas, protéicas do humor aquoso, sorológicas e
histopatológicas em cães infectados experimentalmente com Leishmania (Leishmania) chagasi por via
conjuntival. Selecionaram-se dez cães saudáveis após exame clínico, prova sorológica de ELISA para
Leishmania sp e microscopia de luz de esfregaços de medula óssea. Dois grupos de cães compuseram o
estudo. O Grupo Inoculado (GI) foi constituído por sete animais, que receberam 150µL de uma solução
de cultura de Leishmania (Leishmania) chagasi por via conjuntival, e o Grupo Controle (GC) por três
animais, inoculados com solução salina fisiológica, pela mesma via. Os cães foram monitorados quanto
às alterações oculares às 2, 4, 6, 12 e 24h após a instilação. Em seguida, diariamente por uma semana,
e a partir daí, uma vez por semana, até que se completassem os 60 dias s-infecção. Amostras de
sangue e de humor aquoso de ambos os olhos e esfregaços de medula óssea foram coletados aos 60
dias, para sorologia, análise protéica e parasitologia, respectivamente. Todos os animais do GI
mostraram sinais oculares unilaterais ou bilaterais, particularmente opacidades corneais. Não somente os
resultados dos anticorpos anti-Leishmania sp no soro e no humor aquoso, como também a parasitologia,
resultaram negativos. A histopatologia dos olhos de cães do grupo infectado por Leishmania revelou
resposta inflamatória caracterizada por infiltração de macrófagos, linfócitos e células plasmáticas,
notadamente na terceira pálpebra, na conjuntiva e na glândula lacrimal. Edema, congestão e perivasculite
difusa envolvendo o trato uveal, igualmente foram observados.
Palavras – chave: calazar canino, olho, patologia
iv
OCULAR SIGNS, PROTEIN OF AQUEOUS HUMOUR, SEROLOGICAL AND
STRUCTURAL CHANGES IN THE DOGS’ EYES (Canis familiaris) (LINNAEUS, 1758),
INFECTED EXPERIMENTALLY BY THE CONJUNCTIVAL ROUTE OF EXPOSURE WITH
Leishmania (Leishmania) chagasi (CUNHA & CHAGAS, 1937)
SUMMARY - The aim of this study was to evaluate the ocular signs protein of aqueous
humour, serological and structural changes in the dogs’ eyes infected experimentally by the
conjunctival route of exposure with Leishmania (Leishmania) chagasi. A total of 10 healthy
dogs were submitted to clinical examination, assayed by the ELISA test for anti- Leishmania
sp antibodies and also microscopic examination of bone marrow smears. Two groups of
dogs were studied. The first, Inoculated Group (IG) consisted of seven animal which one
received a 150µL of Leishmania (Leishmania) chagasi suspension by the conjunctival route
and the Control Group (CG) consisted of three animals inoculated by the saline
physiological solution at the same route. The dogs were ophthalmology monitored at 2, 4, 6,
12 e 24 hours pos instilation. After this period, they were monitored once a day for one week
and then, once a week until 60 days were complete. Blood samples, aqueous humor of both
eyes and bone marrow smears were collected at 60 days for serology , protein of aqueous
humour analyses and parasitological examination. All animals from IG showed unilateral or
bilateral ocular signs, particularly corneal opacification. Not only the results of anti-
Leishmania sp antibodies in sera and aqueous humor but also the parasitological
examinations were negative. The histopathologic evaluation of eyes in the Leishmania-
infected dogs revealed
inflammatory
response characterized by macrophages infiltration,
lymphocytes and plasma
cells particularly on the third eyelid, the conjunctive tissue and
lacrimal gland. Edema, congestion and a diffuse perivasculitis involving the uveal tract were
also observed.
Keywords: canine Kalazar, eye, pathology.
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1. INTRODUÇÃO
A Leishmaniose Visceral Canina (LVC) ou calazar canino exibe ampla miríade de
sinais clínicos que, na dependência da resposta imune apresentada pelo hospedeiro
(SANTOS-GOMES et al., 2002), pode se manifestar sob a forma aguda ou crônica,
evoluindo, na maioria dos casos, para o óbito (ALMEIDA et al., 2005).
No Brasil, a despeito da diversidade de espécies de protozoários pertencentes
ao complexo Leishmania donovani (MARZOCHI et al., 1985), apenas a Leishmania
(Leishmania) chagasi tem sido imputada como agente causal da leishmaniose visceral
ou calazar, tanto no homem quanto no cão doméstico. O cão se destaca por seu
importante papel na cadeia epidemiológica da doença, porquanto é o principal
reservatório urbano da infecção, cuja transmissão é dependente de populações de
Lutzomyia longipalpis (CAMARGO & BARCINSKY, 2003).
As repercussões clínicas suscitadas pela LVC comumente incluem lesões
cutâneas (CIARAMELLA et al., 1997), hepatoesplenomegalia, linfoadenopatia
(STRAUSS-AYALI & BANETH, 2001), alterações renais e articulares (ALBUQUERQUE,
2006). Lesões oculares foram descritas acometendo principalmente o segmento
anterior (MOLLEDA et al., 1993; PEÑA et al., 2000; BRITO et al., 2004; BRITO, 2006).
Sobressaem-se as blefarites e as ceratopatias, além das lesões conjuntivais e das
uveítes. Alterações retinianas têm sido reportadas (FERRER et al., 1988;
SLAPPENDEL et al., 1988; FERRER, 1999; DE COPEGUI, 2000; FEITOSA et al., 2000;
LEIVA et al., 2002).
KOUTINAS et al. (1999) referem que o parasitismo direto pode ser determinante
na etiopatogenia das lesões oculares, no entanto, mecanismos imunemediados estão,
habitualmente, associados.
A despeito do grande número de estudos sobre a patogenia e as lesões que
cursam com a LVC, ainda permanece obscura a patofisologia de uma série de lesões
oculares, onde a barreira hemato-ocular e a conjuntiva participam como obstáculo à
entrada de microorganismos e, adjunto, conferem proteção imune. Em virtude da
importância do calazar canino na clínica de pequenos animais, notadamente em regiões
2
endêmicas, e das oftalmopatias que a ele se associam, estudaram-se as alterações
clínicas, oftálmicas, protéicas do humor aquoso, à sorologia e à histopatologia,
ensejadas pela infecção experimental por Leishmania chagasi por via tópica ocular em
cães. Outrossim, se tal via de infecção configura-se como factível e experimentalmente
viável na LVC.
3
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 SINAIS CLÍNICOS DA LVC
A despeito de serem inoculadas na pele, diferentes espécies de Leishmania têm
preferência por órgãos distintos, causando lesões maiores ou menores, produzindo ou
não metástases, podendo ou não ser autocuráveis. Induzem à imunidade permanente
ou temporária e, às vezes, a nenhuma imunidade. Esse conjunto de fatores e suas
possíveis combinações, aliados à capacidade de resposta do paciente, são os
responsáveis pelas diversas formas clínicas da doença (CAMARGO & BARCINSKI,
2003).
Atualmente, a LVC é considerada uma enfermidade em que participam eventos
mediados pelo sistema imune, porquanto alterações na atividade das células T e B
provocam a gênese de imunecomplexos circulantes, que motivam desordens em
diversos órgãos (GARCIA-ALONSO et al., 1996a; NOLI, 1999). Trata-se de
enfermidade de natureza consumptiva e imunossupressora (CAMARGO & BARCINSKI,
2003), cuja apresentação crônica é mais comum que a aguda (KOUTINAS et al., 1999).
Cães acometidos exibem diversidade de quadros clínicos, com espectro de
características que varia de aparente higidez a severo estágio terminal (FERRER,
1999). Animais acometidos podem ser classificados em assintomáticos,
oligossintomáticos ou sintomáticos (BRASIL, 2004).
As manifestações clínicas gerais na LVC incluem anorexia, decréscimo da
atividade física, intolerância ao exercício, depressão, atrofia de musculatura
mastigatória atribuída à progressiva polimiosite imunemediada (KOUTINAS et al.,
1999), emagrecimento progressivo, febre irregular, apatia (FEITOSA et al., 2000), rinite,
secreção nasal, tosse e claudicação (DE COPEGUI, 2000; STRAUSS-AYALI &
BANETH, 2001).
BEVILACQUA et al. (2002) relataram a existência de alterações osteoarticulares,
notadamente a osteoartrite, envolvendo diferentes graus de osteólise, em ossos e
articulações de cães acometidos pela LV.
4
Os sinais cutâneos mais comuns incluem alopecia simétrica bilateral (KOUTINAS
et al., 1999), seborréia seca difusa não pruriginosa, erosão nasal, facial e em
extremidades (DE COPEGUI, 2000), cuja etiopatogenia associa-se, provavelmente, à
vasculite ou à ação direta do parasita (KOUTINAS et al., 1999), descamação furfurácea
da pele, presença de nódulos que, eventualmente, podem ulcerar-se, particularmente
no focinho, orelhas e extremidades (MOLLEDA et al., 1993), onicogrifose (DE
COPEGUI, 2000 ; FEITOSA et al., 2000), com severo parasitismo no leito das unhas,
hiperqueratose nasal, digital e nos coxins plantares (KOUTINAS et al., 1999). Pode
haver piodermite superficial secundária e lesões semelhantes ao impetigo, abrigando
formas amastigotas do parasita (KOUTINAS et al., 1999).
Estomatite ulcerativa e colite são relatadas como associadas à doença renal
(KOUTINAS et al., 1999). Manifestam-se diarréia, melena e vômitos (DE COPEGUI,
2000; STRAUSS-AYALI & BANETH, 2001). Pode haver ascite (KOUTINAS et al., 1999;
STRAUSS-AYALI & BANETH, 2001). A deposição de imunecomplexos circulantes em
líquido sinovial induz a poliartrites (KOUTINAS et al., 1999).
A proliferação de linfócitos B, de histiócitos e de macrófagos resulta em
linfoadenopatia localizada, notadamente dos poplíteos e pré-escapulares (KOUTINAS
et al., 1999) ou generalizada (SLAPPENDEL & GREENE, 1990; STRAUSS-AYALI &
BANETH, 2001).
No estágio terminal da doença, decorrem caquexia, com atrofia da musculatura
facial, epistaxe (FERRER, 1999), por inflamação ou úlceras na mucosa nasal ou por
trombocitopenia e diátese hemorrágica (KOUTINAS et al., 1999). Evidenciam-se, ainda,
hepatoesplenomegalia, anemia, hematoquezia, paresia de membros lvicos (BRASIL,
2004), poliúria e polidpsia, por falência renal (DE COPEGUI, 2000; STRAUSS-AYALI &
BANETH, 2001) e, não raramente, decorre o óbito (THOMÉ, 1999).
2.2 SINAIS OCULARES ASSOCIADOS À LVC
GARCIA-ALONSO et al. (1998) informaram que as oftalmopatias que cursam
com a LVC podem ou não estar associadas a sinais sistêmicos e, na maioria dos casos,
5
se apresentam de forma bilateral. Diversos fatores estão relacionados à sua origem,
quer seja em relação à espécie e ao tropismo do parasita, quer quanto ao tipo e a
duração da resposta imune desenvolvida pelo hospedeiro vertebrado (GARCIA-
ALONSO et al., 1996a).
Em cães com LV, o segmento anterior é, comumente, o mais afetado (MOLLEDA
et al., 1993). BRITO (2004), contudo, relatou coriorretinite em um cão naturalmente
infectado, ressaltando a dificuldade de se realizar a oftalmoscopia, porquanto em
animais acometidos normalmente decorre perda de transparência de estruturas do
segmento anterior.
Lesões próprias ao olho e comprometendo os seus anexos têm sido descritas.
Sobressaem as blefarites, que podem se apresentar na forma erosiva, nodular ou
granulomatosa (FERRER et al., 1988) e, ordinariamente, estão associadas a dermatites
faciais (MOLLEDA et al., 1993; KOUTINAS et al., 1999) ou à celulite orbital (PEÑA et
al., 2000).
El HASAN et al. (1998) observaram que a conjuntivite geralmente decorre da
extensão direta das lesões cutâneas, podendo, no entanto, advir da via hematógena,
sendo clinicamente representada por hiperemia, quemose e exsudato purulento
(SLAPPENDEL et al., 1988; BRITO, 2004).
Edema, ulceração corneal e “melting” foram referidos por LEIVA et al. (2002), e
“distrofia” corneal por ROZE (2002). BRITO et al. (2004) pioneiramente relataram a
presença de formas amastigotas do parasita em um caso de úlcera corneal.
Ceratoconjuntivites, independentes da sua natureza (FERRER, 1999;
KOUTINAS et al., 1999; FEITOSA et al., 2000; PEÑA et al., 2000), têm sido observadas
em cães infectados com Leishmania sp. Decorrem edema corneal focal ou difuso,
vascularização e infiltrado celular intersticial, geralmente próximo à junção
esclerocorneal (MOLLEDA et al., 1993).
As uveítes se apresentam como uma condição freqüente (FERRER, 1999;
FEITOSA et al., 2000). Associam-se hipópio, hifema e hemorragia retiniana (MOLLEDA
et al., 1993), nódulos na íris, com ou sem sinéquias (EL HASSAN et al., 1998), e
glaucomas (FERRER, 1999).
6
Considera-se como factível a diminuição da produção lacrimal decorrente da
inflamação crônica da membrana nictitante e da glândula lacrimal (GARCIA-ALONSO et
al., 1996a), ou pela ação destrutiva do parasita sobre o aparelho lacrimal. Outrossim,
por adenite imunemediada (KOUTINAS et al., 1999).
Outros achados incluem catarata, ciclite, corioretinite, hemorragias retinianas
(MOLLEDA et al., 1993), descolamento de retina (ROZE, 1986; PUMAROLA et al.,
1991; FERRER, 1999; KOUTINAS et al., 1999; MARTINS & STILES, 2003) e retinites
(DE COPEGUI, 2000). Mais raramente, o exoftalmo e o estrabismo (ROZE, 2002).
2.3 IMUNOPATOLOGIA DA DOENÇA OCULAR NA LVC
Células do sistema imune são organizadas e exercem funções específicas em
sítios definidos do hospedeiro vertebrado. Podem ser observadas, em um mesmo
hospedeiro, duas barreiras eficazes contra a invasão de patógenos: a hemato-
encefálica (BHE) e a hemato-ocular (BHO), com alguma individualidade. A BHE
compreende um conjunto complexo de defesa do cérebro, enquanto a BHO torna o
interior do bulbo do olho praticamente isolado (PEIFFER JUNIOR, 1980).
As defesas imunes do olho possuem características próprias, contudo, acham-se
intimamente ligadas ao restante do sistema imune, agindo em conjunto (EICHENBAUM
et al., 1987). Compõe-se, essencialmente, por quatro sítios importantes: o fluido
lacrimal e a conjuntiva, a esclera, a úvea e a retina (BIELORY, 1991).
Segundo EICHENBAUM et al. (1987), a ausência de vascularização corneal
adjunto à inexistência de drenagem linfática, atuam como obstáculo à resposta imune.
Por sua vez, a conjuntiva e a úvea representam os centros primários de atividade
linfóide no olho. Tecido linfóide associado à conjuntiva (CALT) e células de Langerhans
são primordiais para a apresentação de antígenos.
Fatores como a barreira hemato-aquosa, o seqüestro de antígenos na retina, a
imunomodulação no humor aquoso, somados à evasão da resposta imune na câmara
anterior, conferem ao olho um status de ambiente “imunologicamente privilegiado”
(ROCHA et al., 1992, ROCHA et al., 1994).
7
A resposta imune ocular desencadeada agrega-se a diversos fatores, que podem
agir isoladamente ou em associação (EICHENBAUM et al., 1987). Anticorpos podem
ser encontrados em todas as estruturas oculares, por sua produção local. Na
conjuntiva, posteriormente ao reconhecimento do antígeno pelo sistema linfóide, podem
ser encontrados linfócitos B e, por conseguinte, imunoglobulinas das classes IgA, IgD,
IgE, IgG e IgM . Não obstante, deve-se recordar a existência da imunidade mediada por
células na córnea e, também, de proteínas do sistema complemento no limbo
(EICHENBAUM et al., 1987).
Condições patológicas suscitadas pela Leishmania sp derivam de eventos
inflamatórios e degenerativos que o parasita induz no hospedeiro, bem como pela
gênese e deposição de imunecomplexos (NIETO et al., 1999). Como conseqüência da
regulação de linfócitos T e da produção de linfócitos B, geram-se grandes quantidades
de imunecomplexos circulantes (GOTO & LINDOSO, 2004), que se depositam nas
paredes dos vasos sangüíneos em órgãos diversos (FERRER, 2002). sólidas
evidências de que eles desempenham papel decisório, notadamente nas vasculites, nas
glomerulonefrites, nas artrites e nas uveítes (COCHRANE & KOFLER, 1973; RAHI et
al., 1973 THIRKILL et al., 1992). Segundo GARCIA-ALONSO et al. (1998),
desencadeia-se uma enfermidade oftálmica própria, específica da LVC, à qual
denomina Leishmaniose Ocular Canina (LOC), com características peculiares e
próprias à resposta imune a antígenos do parasita.
A presença de imunecomplexos em diferentes componentes do olho,
notadamente no limbo esclerocorneal, no corpo ciliar e na íris, induz a efeitos lesivos
decorrentes da ação de mediadores inflamatórios que, juntamente com o sistema
complemento, promovem a liberação de proteínas e de enzimas lisossomais, induzindo
à lise celular e conseqüente lesão ocular (GARCIA-ALONSO, et al. 1996a).
Dentre as diversas oftalmopatias, as uveítes têm sido alvo de um número
crescente de pesquisas, porquanto acham-se associadas a condições inflamatórias
auto-imunes ou infecciosas (DA COSTA, 2006). Em uveítes acometendo cães
naturalmente infectados, fatores imunogênicos intra-oculares estão envolvidos na
gênese de anticorpos anti-Leishmania (Leishmania) chagasi (BRITO, 2004).
8
Importantes lesões são visibilizadas na esclera, na córnea, no trato uveal e na
retina, onde diferentes elementos participam da resposta imune em cães com LV
(McCONNELL et al., 1970; GARCIA-ALONSO et al., 1998). Segundo BRITO (2006), a
Leishmania sp induz a uma resposta imune humoral ocular em es, em que a
participação de anticorpos da classe IgG.
Complexos antígeno-anticorpo foram identificados à imunoistoquímica, no
processo ciliar e na sua inserção com o corpo ciliar (MOLLEDA et al., 1993; GARCIA-
ALONSO et al., 1996a; GARCIA-ALONSO et al., 1998). BRITO (2006), valendo-se da
mesma técnica, ratificou a sua ocorrência em diversas estruturas oculares.
2.4 ANTICORPOS SÉRICOS E OCULARES NA LVC
A LVC é considerada uma enfermidade imunemediada, em que a presença da
resposta humoral associa-se à doença clínica. A resposta celular, por sua vez, tem sido
observada em animais assintomáticos (MORENO et al. 1999).
O desenvolvimento da enfermidade clínica e, outrossim, o grau de severidade,
têm relação imediata com o equilíbrio entre as respostas imune celular (Th1) e humoral
(Th2) em animais que são acometidos pela afecção (PINELLI et al., 1994).
A resposta (Th1) está associada à produção de interferon-γ (INF-γ), de fator de
necrose tumoral-α (TNF-α), e de interleucinas (IL) 2 e 12, que conferem imunidade
celular e, por conseguinte, a eliminação da infecção (KOUTINAS et al.,1999;
STRAUSS-AYALI & BANETH, 2001). Por outro lado, a enfermidade crônica é mediada
pela via (Th2), onde participam a IL 3, IL4, IL5, IL6 e IL10, como as principais citocinas
da resposta humoral (NOLI,1999).
Um dos achados mais freqüentes na leishmaniose visceral é a hiperglobulinemia,
decorrente da ativação policlonal de células B e da produção de anticorpos
(CIARAMELLA et al.1997; FERRER, 1999; KOUTINAS et al., 1999). O incremento da
produção de imunoglobulinas não confere proteção, sendo potencialmente prejudicial,
uma vez que elas permanecem circulantes e tendem a se depositar em regiões
específicas. Barreiras de filtração, notadamente a hemato-ocular, são muito sensíveis.
9
Análises à imunologia, relativamente a essa barreira, suportam a idéia da participação
conjunta das respostas imune sistêmica e local, na patogenia das lesões oculares que
cursam com a LVC (GARCIA-ALONSO et al., 1998).
Pesquisas de anticorpos no humor aquoso e em outros fluidos corporais têm sido
realizadas com o objetivo de se esclarecer a patogenia da infecção por Leishmania sp
(LOPES et al., 1993; SOLANO-GALEGO et al., 2002; LIMA et al., 2003). A detecção de
imunoglobulinas no soro e no humor aquoso de cães infectados por Leishmania spp.
vem sendo consignada por técnicas de Imunodifusão Radial Simples,
Imunofluorescência Indireta (LIRA, 2005) e pelo teste ELISA (BRITO, 2004), contudo,
não se encontraram correlação entre anticorpos encontrados nestes fluidos orgânicos.
Não obstante, essa relação parece ser importante na vigência de uveítes (GARCIA-
ALONSO et al., 1998).
BRITO (2006) informou não se saber a origem dos anticorpos oculares,
admitindo a possibilidade de haver produção local ou sistêmica, e que a sua presença
poderia motivar a ocorrência de lesões oculares.
Permanece, pois, a hipótese de transferência de anticorpos do sangue para o
humor aquoso, como sugerido por GARCIA-ALONSO (1994), quando identificou a
origem das imunoglobulinas da classe G no humor aquoso e propôs a existência de
correlação positiva entre o soro e o humor aquoso.
2.5 HISTOPATOLOGIA DA DOENÇA OCULAR NA LVC
Estudos envolvendo estruturas oculares em cães acometidos com LV são
reportados desde 1913, quando LEMAIRE et al. relataram a presença de formas
amastigotas do parasita no estroma corneal.
Lesões inflamatórias, caracterizadas por infiltrados celulares de linfócitos,
plasmócitos e macrófagos, têm marcado os achados histopatológicos mais
consistentes, sem que o parasita, contudo, esteja necessariamente presente
(McCONNELL et al., 1970; LAUGIER & VERRO-BOULANGER, 1992; MOLLEDA et al.,
1993; GARCIA-ALONSO et al., 1996a).
10
McCONNEL et al. (1970), ao estudarem a córnea, demonstraram vasos
neoformados e DIAS (1998) relatou exsudação focal no estroma corneal. BRITO et al.
(2004) demonstraram a separação das fibras estromais, edema, plasmócitos em
pequenas quantidades e hiperplasia do epitélio anterior, com espessamento do estroma
subjacente e da membrana de Descemet.
Infiltrado mononuclear-plasmocitário na conjuntiva da terceira pálpebra,
associado à metaplasia no epitélio, hiperplasia das células caliciformes e infiltrado
mononuclear-plasmocitário subepitelial, foram descritos por MOLLEDA et al. (1993) e
BRITO et al. (2004).
GARCIA-ALONSO et al. (1998) classificaram como intenso o processo
inflamatório da glândula lacrimal da terceira pálpebra. Identificaram zonas de infiltrados
celulares focais ou difusos, compostos por linfócitos, plasmócitos e por macrófagos
contendo amastigotas de Leishmania sp.
NARANJO et al. (2005) identificaram fibras musculares (musculatura extra-
ocular) circundadas por infiltrado inflamatório de macrófagos, linfócitos e células
plasmáticas.
REINECKE et al. (2001) demonstraram infiltrados de amastigotas de Leishmania
sp em histiócitos, em um caso de escleromalacia com perfuração escleral em cão.
Áreas com infiltrado mononuclear-plasmocitário na esclera, associado à perivasculite,
foram reportadas por BRITO (2006).
Quanto às alterações na túnica vascular de es naturalmente infectados por L.
chagasi, destacam-se intensos focos de inflamação, caracterizados por células
redondas e por linfócitos, associados a alterações vasculares, com dilatação de vasos
linfáticos e trombose, descamação de células glandulares e exsudato acidófilo, adjunto
à presença de amastigotas de Leishmania sp (GARCIA-ALONSO et al. 1998;
BARBALHO-LIMA et al. 2005; BRITO, 2006). Formas amastigotas de Leishmania sp na
retina foram relatadas por DIAS (1998). Congestão vascular, coriorretinite, e exsudato
inflamatório no nervo óptico, o foram por BRITO (2006).
11
2.6 DIAGNÓSTICO
Dentre os métodos factíveis para o diagnóstico da LVC, destacam-se os exames
parasitológicos, os testes sorológicos e as provas moleculares (FERRER, 1999).
O exame parasitológico baseia-se na visibilização de formas amastigotas do
parasita em esfregaços obtidos de aspirados esplênicos, hepáticos, de linfonodos, da
medula óssea, de raspados de pele íntegra e lesionada (THOMÉ, 1999; STRAUSS-
AYALI & BANETH, 2001).
Formas amastigotas de Leishmania sp. vêm sendo descritas no interior de
macrófagos do sistema fagocítico mononuclear, no baço, no fígado, nos linfonodos, nas
tonsilas, na mina própria intestinal, na bexiga urinária, nos alvéolos pulmonares, na
medula óssea, no plexo coróide, no fluido cérebro-espinhal, na urina, no sêmen, no
fluido peritoneal e em úlceras mucocutâneas (SLAPPENDEL & GREENE, 1990;
MAYWALD et al., 1996; NEVES, 1998; DE GOPEGUI, 2000).
Segundo FERRER (1999), o método parasitológico, se empregado isoladamente,
não consiste num método seguro ao diagnóstico da LVC, devendo ser utilizado em
conjunto com testes sorológicos.
Cães com calazar quase sempre apresentam resposta humoral,
independentemente da presença de sinais clínicos. Diferentes métodos sorológicos
para a detecção de anticorpos anti-Leishmania sp. têm sido admitidos, entre os quais
destacam-se a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) e a técnica de
imunoadsorção enzimática (ELISA) (STRAUSS-AYALI & BANETH, 2001).
A RIFI começou a ser utilizada a partir da década de 60 do século passado. Sua
sensibilidade varia de 90 a 100% e sua especificidade aproxima-se de 80% para
amostras de soro, sendo o método mais comumente empregado e recomendado pela
Fundação Nacional de Saúde (ALVES E BEVILACQUA, 2004). Não obstante a
existência de reações cruzadas (THOMÉ, 1999), ela permanece como de eleição para
inquéritos epidemiológicos, por sua simpleza e rapidez, baixo custo, sensibilidade e
especificidade, comparativamente a outras técnicas (ALVES E BEVILACQUA, 2004).
12
A busca por novas técnicas mais sensíveis e específicas, permitiu que se
chegasse, a partir da década de 1970, à técnica de ELISA. Não obstante tratar-se de
procedimento mais laborioso, tem se mostrado mais eficiente no diagnóstico da LVC,
comparativamente à RIFI. A utilização de antígenos recombinantes ou purificados,
como as glicoproteínas de membrana gp63, gp72, gp70 e rk39, específicas do gênero
Leishmania, permitiu ganhos qualitativos de sensibilidade e de especificidade.
Entretanto, reações cruzadas com doenças causadas por outros tripanossomatídeos
são, ainda, notificadas (ALVES E BEVILACQUA, 2004). A identificação de anticorpos
específicos no humor aquoso de cães com calazar, é ainda, pouco reportada (BRITO,
2004). Registraram-se apenas os da classe IgG em animais com LVC (GARCIA-
ALONSO et al.,1995).
Recentemente, desenvolveu-se a reação em cadeia da polimerase (PCR), mais
sensível e específica comparativamente à sorologia (STRAUSS-AYALI & BANETH,
2001). Ela possibilita identificar e ampliar, seletivamente, o DNA do cinetoplasto do
parasita (KOUTINAS et al., 1999; ALVES E BEVILACQUA, 2004), facilitando a sua
identificação e possibilitando o diagnóstico em amostras menos concentradas (DE
COPEGUI, 2000).
Limitações para o uso da PCR em inquéritos epidemiológicos recaem sobre o
custo, a disponibilidade de reagentes e de equipamentos, e por sua pouca
aplicabilidade para testes a campo (ALVES E BEVILACQUA, 2004).
O diagnóstico da leishmaniose visceral é considerado, ainda, como de difícil
consecução. O extraordinário pleomorfismo e a pouca especificidade das lesões vistas
à microscopia de luz, que são similares àquelas encontradas em outras enfermidades
infecciosas ou imunemediadas, elencam-se entre os principais obstáculos. Consideram-
se ainda, as falhas intercorrentes, uma vez que os testes não oferecem 100% de
sensibilidade e de especificidade (KOUTINAS et al., 1999). Para a confirmação
diagnóstica, há, portanto, que se congregarem ao exame físico, provas sorológicas,
parasitológicas e em biologia molecular (FERRER, 1999).
13
3. MATERIAL E MÉTODOS
Este capítulo é apresentado em três partes, concebidas para facilitar a
compreensão do leitor quanto à consecução das etapas experimentais.
A primeira discorre sobre os aspectos éticos e a seleção dos cães, que
obrigatoriamente deveriam ser negativos para leishmaniose visceral. Ela encontra-se
representada por protocolos clínicos e laboratoriais, descritos no item 3.2. A segunda
compreende os itens que vão de 3.3 a 3.5 e descreve as etapas relativas ao manejo
sanitário dos animais, à formação dos grupos, à infecção experimental e ao seu
acompanhamento. A terceira amonta os protocolos de análises clínicas e laboratoriais
(biópsia de medula óssea, sorologia e histopatologia), que se encontram descritos nos
itens de 3.6 a 3.8.
3.1 ASPECTOS ÉTICOS
Para a realização da pesquisa, os animais foram classificados na categoria D, de
acordo com os princípios internacionais em pesquisa biomédica envolvendo animais,
adaptado do International Guiding Principles for Biomedical Research Involving Animals
(CIOMS) Genebra, 1985. Todos os procedimentos foram realizados de acordo com o
Consensus Recommendations on Effective Institutional Animal Care and Use
Committes - NIH and USDA publicados pelo laboratório de Ciência Animal, edição
especial, janeiro de 1987.
O estudo foi também aprovado pela mara de Ética e Bem Estar Animal da
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP Campus de Jaboticabal. Por
oportuno ressaltar, que cuidados bioéticos, relativamente às normas da Association for
Research in Vision and Ophthalmology ARVO (National Institutes of Health
Publications No 85-23: Revised 1985), foram também obedecidos.
14
3.2 SELEÇÃO DOS ANIMAIS
Foram analisados 60 animais provenientes do Centro de Zoonoses da cidade de
Fortaleza, Ceará. Empregaram-se, para tal, a avaliação clínica, o diagnóstico sorológico
e parasitológico. Selecionaram-se, apenas, cães com sorologia negativa ao teste
ELISA, exame parasitológico negativo para Leishmania (L.) chagasi, e sem sinais
clínicos sugestivos da doença. Dos pré-selecionados, escolheram-se 10 animais, de
raças e idades variadas, entre machos e fêmeas. Para cada um, anotaram-se todas as
informações quanto às variáveis clínicas e laboratoriais, no curso de toda a pesquisa.
O cálculo da amostra foi realizado por conveniência não probabilística, de acordo
com COSTA NETO (1977).
3.2.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA
A semiotécnica constou de exame físico geral e, principalmente, da inspeção da
pele e dos fâneros e da palpação abdominal e dos linfonodos, para a identificação de
sinais sugestivos de leishmaniose visceral canina, de acordo com FERRER (1999) e
FERRER (2002).
3.2.2 AVALIAÇÃO OFTÁLMICA
O exame oftálmico alicerçou-se na inspeção dos anexos oculares e da câmara
anterior, com o auxílio de iluminação
1
e magnificação
2
, seguido do teste para a
avaliação da produção lacrimal
3
, em ambos os olhos. Ato contínuo, realizou-se indução
da midríase com tropicamida
4
para a oftalmoscopia
5
e, em seguida, o teste de
fluoresceína
6
.
1
Transiluminador Welch Allen
2
Lupa para microcirurgia, Heine
3
Teste de Shirmer, Ophtalmos, São Paulo, Brasil
4
Midriacyl®, Alcon
5
Oftalmoscópio binocular Indireto, Opto
6
Fluoresceína, Ophthalmos, São Paulo, Brasil
15
3.2.3 COLETA DO MATERIAL DESTINADO À PARASITOLOGIA
3.2.3.1 BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA
Procedeu-se à sedação dos animais, com acepromazina
7
, na dose de 0,1mg/kg,
por via intramuscular, e, em seguida, realizou-se a biópsia de medula óssea, por
punção no manúbrio do osso esterno, empregando-se seringa
8
e agulha
9
. Do material
puncionado, foram confeccionados esfregaços em lâminas de vidro
10
, que após
secagem, foram submetidos ao método de coloração rápida Panótico
11
, e examinados
em microscópio de luz
12
, com objetiva de 100x, para a pesquisa de formas amastigotas
de Leishmania (L.) chagasi. Os exames foram analizados no Laboratório de Patologia
Clínica de Universidade Estadual do Ceará – UECE.
3.2.3.2 RASPADO DE PELE ÍNTEGRA
Foram realizados raspados de pele íntegra, na face interna do pavilhão auricular
esquerdo, com o auxílio de lâminas de bisturi
13
. Do material obtido, foram realizados
esfregaços em lâminas de vidro, que após secagem, foram submetidos ao método de
coloração rápida Panótico e examinados em microscópio de luz com objetiva de 100 x,
para a pesquisa de formas amastigotas de Leishmania (L.) chagasi.
3.2.4 COLETA DE MATERIAL DESTINADO À SOROLOGIA
Foram coletados, de todos os animais, aproximadamente 10 mililitros (mL) de
sangue por venopunção jugular, com seringa
14
e agulha
15
, imediatamente transferidos
7
Acepran 0,2%®, Laboratório Univet
8
Seringas descartáveis - 20 (ml),
Becton Dickson
9
Agulhas descartáveis- 40 x 12 mm, Becton Dickson
10
Lâminas de vidro para microscopia, Invicta
11
Solução Corante para Hematologia Panótico Rápido - LB Laborclin
12
Microscópio Olympus BX 41
13
Lâmina de bisturi n
o
24
14
Seringas descartáveis 10 ml, Becton Dickson
15
Agulhas descartáveis 25x7mm, Becton Dickson
16
para tubos de ensaio estéreis, sem anticoagulante, para a obtenção do soro. Após a
retração do coágulo, as amostras sangüíneas foram submetidas à centrifugação a 1000
rotações por minuto (rpm), durante 10 minutos. O soro resultante foi acondicionado em
frascos de polipropileno
16
e mantido à temperatura de -20 ºC, até a realização dos
testes.
3.2.5 SOROLOGIA
Empregou-se o teste de ELISA, realizado junto ao Laboratório de
Imunoparasitologia do Departamento de Imunologia do Centro de Pesquisas Ageu
Magalhães Fundação Oswaldo Cruz –Recife - Pe (CPqAm/FIOCRUZ). Empregou-se
o Kit para o diagnóstico da EIE-Leishmaniose Canina Bio-Manguinhos®
17
. Os
protocolos foram executados de consoante com as instruções do fabricante e a leitura
foi feita em espectrofotômetro
18
a 490 nanômetros.
3.2.6 COLETA DE MATERIAL PARA HEMOGRAMA E PESQUISA DE
HEMATOZOÁRIOS
Posteriormente à contenção dos animais, realizou-se anti-sepsia local com álcool
iodado a 2% e a coleta de três mililitros (mL) de sangue por venopunção jugular, com
agulha
19
e seringa
20
. As amostras obtidas foram transferidas para tubos de ensaio
esterilizados, contendo, como anticoagulante, Ácido Etileno Diamino Tetracetato de
Sódio
21
(EDTA). Foram confeccionados esfregaços em lâmina de vidro, corados pelo
método de coloração rápida Panótico, e realizou-se a pesquisa de hematozoários.
16
Eppendorf Reaktiosgerafaβe, Marca Geratebau
17
Bio-Manguinhos®/FIOCRUZ
18
BIO-RAD Model 3550 Microplate reader
19
Agulha descartável 25x8 , marca BD.
20
Seringa descartável, 5 ml, marca BD.
21
Ácido Etileno Diamino Tetracetao de Sódio, Reagen
17
3.3 TERAPÊUTICA UTILIZADA NOS ANIMAIS APÓS A AVALIAÇÃO CLÍNICA
E HEMATOLÓGICA
Após a seleção e a consecução dos testes hematológicos, os animais foram
submetidos à quarentena. Como parte do manejo sanitário, eles receberam medicação
anti-helmíntica
22
e terapêutica preventiva para Babesia spp.
23
, na dose de 4 mg/kg, pela
via intramuscular, repetida decorridos 15 dias da primeira dose. Simultaneamente,
empregou-se fármaco para o controle profilático de Ehrlichia sp
24
, na dose de 5mg/kg,
em intervalos regulares de 12 horas, por 21 dias consecutivos, pela via oral. Aplicou-se,
por via tópica, ectoparasicitida
25
. Posteriormente, os animais foram vacinados
26
.
3.4 GRUPOS EXPERIMENTAIS
Constituíram-se dois grupos experimentais: Grupo Inoculado (GI) e Grupo
Controle (GC), formados por sete e três animais, respectivamente. Os cães foram
mantidos em canis individuais, em área telada, com temperatura e fotoperíodo
controlados, e receberam, diariamente, ração comercial seca para es e água potável
à vontade.
3.5 INFECÇÃO EXPERIMENTAL
3.5.1 CEPA de Leishmania sp
Formas promastigotas de L. chagasi (MHOM/BR/00/MER02) foram expandidas
in vitro em meio Schneider’s até a fase de crescimento exponencial, sendo diluídos em
uma concentração de 10
7
microorganismos/ml. A cepa foi proveniente do estado da
Bahia.
22
Drontal Plus®, Bayer
23
Ganaseg®, Coopers
24
Doxitrat® , Agener União
25
Max 3®, Bayer
26
Duramune Max®, Fort Dodge
18
3.5.2 INOCULAÇÃO
Foram realizadas infecções experimentais em sete cães pertencentes ao Grupo
Inoculado (GI), que receberam seis gotas (150 µL) de uma de solução de cultura de
Leishmania chagasi, por via tópica ocular bilateral. No grupo Controle (GC), instilou-se
solução fisiológica isotônica em mesmo volume.
Para a inoculação, os animais foram sedados com acepromazina, na dose de
0,1mg/kg, por via intramuscular, e seguiu-se um protocolo de instilação de uma gota a
cada 5 minutos, com o objetivo de completa absorção conjuntival.
3.5.3. ACOMPANHAMENTO DOS ANIMAIS DOS GRUPOS INOCULADO (GI)
E CONTROLE (GC)
Os animais foram observados clinicamente às 2, 4, 6, 12 e 24h após a instilação.
Em seguida, foram examinados diariamente por uma semana e, a partir daí, uma vez
por semana, até que se completassem 60 dias de pós-infecção (PI). A semiotécnica foi
realizada conforme descrito nos itens 3.2.1 3.2.2 e consistia na observação da presença
de secreção ocular, opacidade corneal, hiperemia conjuntival, e uveíte. Soro sangüíneo
de cada animal foi coletado e armazenado conforme descrito no item 3.2.4,
semanalmente, até 60 dias PI.
Em todos os animais, de ambos os grupos, utilizaram-se colares impregnados
com deltametrina
27
durante o período experimental, no intuito de prevenir a ação
hematófaga de artrópodes vetores de Leishmania sp. Adjunto, os animais foram
mantidos em local protegido com tela fina, com o mesmo objetivo.
27
Coleira Scalibor®, Merial.
19
3.6 PESQUISA PARASITOLÓGICA DE FORMAS AMASTIGOTAS DE
Leishmania (L.) chagasi
Decorridos 60 dias da infecção experimental, realizaram-se biópsia de medula
óssea e os testes laboratoriais, seguindo-se os protocolos descritos no item 3.2.3.1.
3.7 TESTES SOROLÓGICOS
O teste de ELISA foi realizado no Laboratório de Imunoparasitologia do
Departamento de Imunologia do Centro de Pesquisas Ageu Magalhães Fundação
Oswaldo Cruz Recife - Pe (CPqAm/FIOCRUZ). Empregou-se o Kit para o diagnóstico
da Leishmaniose Visceral Canina ELISA/S7
28
. Os protocolos foram executados de
consoante com as instruções do fabricante e a leitura foi feita em espectrofotômetro a
450 nanômetros.
3.7.1 COLETA DO HUMOR AQUOSO
Aos 60 dias PI, e imediatamente após a coleta de amostras para a sorologia e a
parasitologia, realizou-se a eutanásia ativa dos animais de ambos os grupos, no Centro
de Especialidades Veterinárias CEV, em Fortaleza, Ceará. Para tal, empregou-se a
acepromazina e o tiopental sódico
29
.
Posteriormente ao óbito, realizou-se a paracentese da câmara anterior, na
porção límbica lateral de cada um dos olhos, com o auxílio de seringa
30
e agulha
31
, para
a coleta do humor aquoso, que foi armazenado em microtubo de polipropileno a uma
temperatura de -20
0
C, até a realização dos testes. Ato contínuo, injetou-se 1 mL de
solução de formalina
32
tamponada a 10% Posteriormente, os olhos foram enucleados
de sua órbita e mantidos na mesma solução fixadora até a realização dos exames.
28
Biogene®
29
Pentobarbital® – Cristália –Produtos químicos farmacêuticos Ltda, São Paulo, SP, Brasil
30
Seringas descartáveis de 3 ml, Becton Dickson
31
Agulhas descartáveis 13x4,5 mm, BD
32
Formaldeído, Reagen
20
3.7.2 TESTE ELISA DO HUMOR AQUOSO
O teste de ELISA foi realizado no Laboratório de Imunoparasitologia do
Departamento de Imunologia do Centro de Pesquisas Ageu Magalhães Fundação
Oswaldo Cruz Recife - Pe (CPqAm/FIOCRUZ). Empregou-se o Kit para o diagnóstico
da Leishmaniose Visceral Canina ELISA/S7, na diluição 1:2, em conformidade com
GARCIA-ALONSO et al. (1996a). Os protocolos foram executados de consoante com
as instruções do fabricante e a leitura foi feita em espectrofotômetro a 450 nanômetros.
3.8 HISTOPATOLOGIA
Foram coletados fragmentos da terceira pálpebra, da glândula da terceira
pálpebra, da conjuntiva, do limbo esclerocorneal, da esclera, da córnea, da úvea
anterior, da coróide, da retina e do nervo óptico. Eles foram processados para a
inclusão em blocos de parafina, cortados em micrótomo a 3-4 micrômetros (µm) e
corados pela técnica da Hematoxilina-Eosina (H.E.), segundo o descrito por BEHMER,
TOLOSA e FREITAS NETO (1976).
A microscopia de luz foi realizada no Setor de Patologia Animal do Departamento
de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, em
Recife, Pernambuco.
3.9 ANÁLISE À ESTATÍSTICA
Empregou-se análise discriminante, multivariada, para se avaliar o efeito da
positividade aos testes nas variáveis que expressavam o número de células por tipo,
para um nível de probabilidade de 95% e erro amostral de cinco por cento.
A normalidade da amostra foi testada pelo método t de student.
21
4. RESULTADOS
4.1 SINAIS CLÍNICOS DOS ANIMAIS DOS GRUPOS INOCULADO (GI) E
CONTROLE (GC)
4.1.1 SECREÇÃO OCULAR
À avaliação clínica dos animais do grupo inoculado (GI), observaram-se a
presença de secreção ocular seromucóide em 71,42% dos cães, sendo, geralmente,
bilateral e discreta, a partir do dia 0,16 (4h PI) até o dia cinco PI (Figura 1).
Quanto à avaliação temporal (0,08, 0,16, 0,33, 0,5, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 16, 23,
30, 37, 44, 51 e 58 dias) das médias observadas, constatou-se que 28% dos animais
apresentaram secreção ocular a partir do dia 0,16, o que corresponde a 4h PI, e 14% a
apresentaram no dia 0,5, o que corresponde a 12h PI. Nos dias um e dois, 28% dos
animais apresentaram o evento. A média sofreu decréscimo para 14% dos animais no
dia cinco, a partir do qual, não foi mais observada secreção ocular (Figura 2).
Imagem fotográfica de olho de cão
submetido à infecção experimental com
Leishmania chagasi por via tópica ocular,
12h pós-infecção. Notar
a presença de
secreção ocular seromucóide (seta).
-
22
Não foi vista secreção ocular nos animais do grupo controle (GC).
4.1.2 OPACIDADE CORNEAL
Com relação à transparência corneal, 100% dos cães do grupo inoculado (GI) a
perderam, entre o dia 0,16 e o dia 60 PI. As alterações foram observadas em diferentes
pontos da córnea, sendo em 57,14% dos cães, de forma central. Opacidades
puntiformes foram visibilizadas em 42,85% dos cães (Figura 3). Observou-se, ainda,
que 66,98% apresentaram-nas bilateralmente.
Figura 2 -
Representação gráfica das médias observadas
para a variável secreção ocular em cães
após a infecção experimental com Leishmania chagasi, por via tópica ocular.
F
igura 3
Imagem fotográfica de olho de cão submetido à
infecção experimental com Leishmania chagasi
por via tópica ocular, 60 dias pós-infecção
.
Notar a presença de opacidade corneal
puntiforme (seta).
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Média
0,08d 0,16d 0,33d 0,5d 1d 2d 3d 4d 5d 6d 7d 8d 9d 16d 23d 30d 37d 44d 51d 58d
Período de avaliação
Secreção Ocular
23
Quanto à avaliação temporal (0,08, 0,16, 0,33, 0,5, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 16, 23,
30, 37, 44, 51 e 58 dias) das médias observadas, constatou-se que ao dia 0,16 (4h PI),
28% dos animais apresentaram opacidade corneal. Observou-se o aumento da média a
partir do dia 0,5 (12h PI), quando 57% dos cães a apresentaram. No dia um, a média
atingiu o máximo de 85%, permanecendo em 71% entre os dias dois e cinco PI. A
despeito da diminuição ocorrida aos sete dias, ela permaneceu, em alguns animais, por
até 60 dias PI (Figura 4).
Com relação ao grupo controle (GC), não houve alteração da transparência
corneal.
4.1.3 HIPEREMIA CONJUNTIVAL
Hiperemia conjuntival (Figura 5) foi observada no Grupo Inoculado (GI) em
85,71% dos animais, sendo visibilizada entre os dias 0,16 (4h) e 16 PI. Ela apresentou-
se de forma discreta em 33,33% e moderada em 66,66% dos animais. Em 71,42 % a
ocorrência foi bilateral.
Figura 4
-
Representação gráfica das médias observadas para a variável opacidade corneal
em
cães, após a infecção experimental com Leishmania chagasi, por via tópica ocular.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Média
0,08d 0,33d 1d 3d 5d 7d 9d 23d 37d 51d
Período de avalião
Opacidade Corneal
24
Quanto à avaliação temporal (0,08, 0,16, 0,33, 0,5, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 16, 23,
30, 37, 44, 51 e 58 dias) das médias observadas, constatou-se média máxima de 85%
no dia 4 PI, com tendência à diminuição entre os dias 5 e 16. Após esse período, o
evento não foi mais observado (Figura 6).
Hiperemia conjuntival não foi observada nos animais do grupo controle (GC).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Média
0,08d 0,33d 1d 3d 5d 7d 9d 23d 37d 51d
Período de avalião
Hiperemia Conjuntival
-
Imagem fotográfica de olho de cão
submetido à infecção experimental com
Leishmania chagasi por via tópica ocular, 4h
pós-infecção
. Notar a presença de
hiperemia conjuntival (seta).
Figura 6 -
Representação gráfica das médias observadas para a variável hiperemia conjuntival
em cães, após a infecção experimental com Leishmania chagasi
, por via tópica
ocular.
25
4.1.4 UVEÍTE
Não foram observadas alterações na túnica vascular dos animais do GI e do GC.
4.2 SOROLOGIA
Ao rmino do período concebido, realizou-se a pesquisa de anticorpos anti-
Leishmania, no soro e no humor aquoso, cujos resultados foram negativos, para ambos
os grupos.
4.3 BIÓPSIA DE MEDULA ÓSSEA
Aos 60 dias, realizou-se a biópsia de medula óssea para a pesquisa de
Leishmania chagasi, não tendo sido observadas formas amastigotas nas amostras
examinadas, nos dois grupos.
4.4 HISTOPATOLOGIA DO GLOBO OCULAR
Verificou-se à histopatologia, inicialmente, no Grupo Inoculado (GI), exsudato
inflamatório com predomínio de plasmócitos e de linfócitos.
Infiltrado linfoplasmocitário subepitelial foi observado na conjuntiva, em 85,71%
dos animais. Sua ocorrência deu-se de forma discreta em 50%, moderada em 33,33%,
e intensa em 16,66%, uni ou bilateralmente.
Plasmócitos e macrófagos foram evidenciados ao redor dos vasos conjuntivais,
notadamente nos mais superficiais, caracterizando quadro de perivasculite. Observou-
se, de forma infreqüente, congestão vascular, que, por vezes, associava-se à dilatação
dos vasos. Em 28,57% dos cães, notou-se hemorragia no estroma conjuntival.
Na terceira pálpebra, decorreu infiltrado inflamatório composto por linfócitos,
plasmócitos e macrófagos, com o predomínio de plasmócitos, em graus variados, em
todas as amostras avaliadas.
26
Os epitélios de revestimento da terceira pálpebra se apresentaram adelgaçados
e, algumas vezes, ulcerados, na maioria dos animais (Figura 7).
Plasmócitos e macrófagos foram mais evidenciados nas áreas subepiteliais. Nas
áreas adjacentes ao epitélio estratificado plano, a exsudação inflamatória preponderou.
Menor quantidade de exsudato inflamatório foi identificada no epitélio colunar prismático
e nas áreas mais próximas à cartilagem da terceira pálpebra. Nas regiões onde o
exsudato inflamatório foi mais evidente, o epitélio encontrava-se adelgaçado em grande
parte de sua extensão. Tanto o epitélio estratificado plano, quanto o colunar prismático
achavam-se hiperplásicos e, na maioria das vezes, havia acentuada hiperplasia das
células caliciformes, não raro, afetando toda a sua extensão (Figuras 8 e 9). Em
algumas áreas, todavia, não se encontraram células caliciformes.
Fotomicrografia da conjuntiva da terceira pálpebra de cão infectado
por via pica conjuntival com cultura de Leishmania chagasi. Notar
intenso infiltrado constituído por linfócitos e plasmócitos adjacente ao
epitélio, com adelgaçamento do mesmo. HE. Obj. 10 x
Figura 7
27
Figura 8 –
Figura 9
-
Fotomicrografia da conjuntiva da terceira pálpebra de cão infectado por
via tópica conjuntival, com cultura de Leishmania chagasi. Notar áreas do
epitélio, ora com metaplasia (setas largas), ora com hiperplasia das
células caliciformes (seta estreita). HE. Obj. 4 x
Fotomicrografia da conjuntiva da terceira pálpebra de cão infectado por
via tópica conjuntival com cultura de Leishmania chagasi. Notar intenso
infiltrado focal (seta larga) e hiperplasia de células caliciformes (seta
estreita). HE. Obj. 4 x
28
Alterações inerentes às glândulas da terceira pálpebra foram representadas,
principalmente, por infiltrado inflamatório em 42,85% dos animais. Esse se compunha,
basicamente, por linfócitos e por plasmócitos, com atrofia focal em grande parte dos
ácinos serosos e mucosos. Adjunto à presença de exsudato inflamatório, a atrofia foi
mais evidente. Células inflamatórias foram visibilizadas entre os ácinos, no lúmen e nos
ductos. Concomitantemente, denotou-se desorganização do estroma da glândula em
alguns dos fragmentos avaliados (Figura 10).
Relativamente à íris, ao corpo ciliar e aos processos ciliares, visibilizaram-se
congestão vascular, edema e perivasculite, em 85,71% dos animais, caracterizada,
notadamente, pela presença de plasmócitos e de macrófagos (Figura 11).
Na coróide, notou-se, apenas, infiltrado inflamatório mononuclear.
Relativamente às túnicas fibrosa e nervosa, não foram visibilizadas quaisquer
alterações, sequer quanto à presença de infiltrado de células inflamatórias.
No Grupo Controle, apenas um animal apresentou células inflamatórias
mononucleares (linfócitos e plasmócitos) no tecido conjuntival, de forma discreta.
Nenhuma outra alteração pôde ser observada.
29
Figura 10-
Figura 11-
Fotomicrografia do tecido glandular
da terceira pálpebra de cão
infectado por via tópica conjuntival, com cultura de
Leishmania
chagasi
. Notar infiltrado inflamatório linfoplasmocitário (setas)
distribuído difusamente entre os ácinos e ductos. HE. Obj. 40 x
Fotomicrografia da íris de cão infectado por via tópica conjuntival com
cultura de Leishmania chagasi. Notar congestão vascular (setas) no
estroma. HE. Obj. 10 x
30
5. DISCUSSÃO
A LVC é uma enfermidade sistêmica, que enseja oftalmopatias, dermatopatias,
linfoadenomegalia, perda de peso, lesões renais, entre outros sinais clínicos
(CIARAMELLA et al., 1997; NARANJO et al., 2005). Manifestações oculares sucedem,
em casos de infecção natural, entre 16 e 80,49% dos animais (MOLLEDA et al., 1993;
CIARAMELLA et al., 1997; KOUTINAS et al., 1999; PEÑA et al., 2000; BRITO, 2004)
num período que varia de um mês a sete anos (SLAPPENDEL & GRENE, 1990). A
dissimilitude no número de animais que desenvolvem a doença e no período de
incubação é atribuída a diversos fatores, tanto ligados à espécie de Leishmania sp e ao
seu tropismo, quanto relacionados ao tipo e à duração da resposta imune desenvolvida
pelo hospedeiro (BRITO, 2004).
Neste estudo, somente alterações oculares foram observadas nos animais do
grupo inoculado, não tendo sido caracterizado qualquer sinal clínico sistêmico, o que
contraria CUNHA (1938), que relatou intenso parasitismo em pele e presença de sinais
clínicos após quatro meses, se utilizando da via intraperitoneal para a infecção, e
MARTINEZ-MORENO et al. (1995) e RODRIGUES-CORTES et al. (2007), que
reproduziram doença crônica similar à natural, em animais experimentalmente
infectados por via intravenosa. A ausência de sinais sistêmicos provavelmente decorreu
da via de inoculação e do provável desenvolvimento de resposta imune ocular, aliado
ao caráter crônico da doença e do pouco tempo de exposição dos animais ao parasita
(STRAUSS-AYALI et al., 2004), ou ao desenvolvimento da resposta imune celular.
Um inóculo natural contém cerca de 1 a 1000 formas promastigotas (ALMEIDA et
al., 2003; ROBERTS, 2006). Uma quantidade pequena de parasitas pode ser destruída
de imediato pela imunidade inata, no entanto, na infecção natural, fatores ligados à
saliva do vetor e associados a mecanismos de escape do parasita, permitem o
desencadeamento da infecção.
O inóculo empregado neste estudo consistiu de uma solução de cultura de
formas promastigotas de Leishmania chagasi, na concentração de 10
7
microorganismos/mL. Trata-se de uma solução mais concentrada que a natural, que,
31
potencialmente poderia promover reação conjuntival mais precoce e intensa, tornando
factível a infecção.
Segundo ALMEIDA et al. (2003), quanto mais elevada a infectividade do inóculo,
maior a possibilidade de o agente estabelecer a infecção. Devido às condições iniciais
que caracterizam a infecção, o parasita está apto a estabelecê-la, ainda que numa
baixa concentração (0,03-0,1 parasita por fagócito).
Resistência individual relacionada à ausência de sinais clínicos, em a50% da
população canina infectada naturalmente, foi relatada por ABRANCHES et al. (1991),
tendo sido relacionada ao desenvolvimento da resposta Th1, em que há a participação
da interleucina 12 (IL-12), do fator de necrose tumoral α (TNF- α) e do interferon γ (IFN-
γ). Estes contribuem para a ativação de macrófagos e subseqüente morte do parasita
(PINELLI et al., 1994).
Características anatômicas, fisiológicas e bioquímicas próprias ao olho
contribuem para a ocorrência de uma resposta imune específica. Estruturas oculares
são desprovidas de drenagem linfática, e consistente barreira hemato-aquosa nos
capilares retinianos, no epitélio pigmentar da retina e no epitélio ciliar.
Face à inexistência de linfonodos de drenagem, linfócitos sensibilizados por
antígenos migram para o olho, tornando a úvea um centro linfóide. Admite-se que a
infiltração de linfócitos na úvea pode significar a rota da resposta patológica. A
hipersensibilidade do tipo III tem sido implicada nas uveítes, relativamente à gênese de
imunecomplexos (GOGI, 1979).
A despeito dos inúmeros mecanismos de defesa celular, o suprimento vascular
da superfície do olho é o maior condutor da resposta imune, estando a inflamação
ocular ligada à dilatação vascular e à exsudação de substâncias imunogenicamente
ativas e de células, incluindo macrófagos, leucócitos polimorfonucleares e linfócitos
(KLOTZ et al., 2000). Estudos suportam a idéia da participação conjunta da resposta
imune sistêmica e da local na patogenia das lesões oculares (GARCIA-ALONSO et al.,
1998).
Neste estudo, observou-se mais de um sinal acometendo o mesmo olho, na
maioria dos animais, à similitude do que fora reportado por PEÑA et al. (2000), ao
32
relatarem o desenvolvimento de mais de uma lesão no mesmo olho, em 74,28% dos
cães estudados, após infecção natural. BRITO (2004) verificou que lesões únicas eram
mais freqüentes.
Observou-se, neste estudo, uma maior apresentação bilateral dos sintomas dado
o envolvimento sistêmico da doença. MOLLEDA et al. (1993) referiram acometimento
unilateral na fase inicial, no entanto, admitiram como factível o envolvimento bilateral
nos estágios mais avançados. BRITO (2004) verificou que a manifestação bilateral era
a mais prevalente na infecção natural, representando 89,47%.
Sob o ponto de vista clínico, apenas o segmento anterior do olho mostrou
alterações. Postula-se haver predisposição da doença por esse segmento (PUCHOL &
GONZÁLES, 1989), uma vez que ele tem sido reportado como o mais acometido
(MOLLEDA et al., 1993; PEÑA et al., 2000; ROZE, 2002; BRITO, 2004). GARCIA-
ALONSO et al. (1998), no entanto, informaram sobre o acometimento de ambos os
segmentos do olho no curso da LVC.
As desordens oculares que se manifestam na LVC normalmente envolvem a
conjuntiva, podendo ou não se apresentar de forma isolada (MOLLEDA et al., 1993;
SLAPPENDEL et al., 1988).
Neste estudo, a hiperemia conjuntival foi encontrada em 85,71% dos cães do
grupo inoculado. GARCIA-ALONSO et al. (1998) reconheceram a conjuntivite como o
sinal ocular mais freqüente, com evolução aguda ou crônica, e em diferentes formas
clínicas de apresentação.
BRITO (2004) verificou 40% de prevalência de quadros de conjuntivite,
caracterizada por hiperemia conjuntival, quemose e exsudato purulento, à similitude do
que fora observado por PEÑA et al. (2000). ROZE (2002) reportou que a conjuntivite
pode preceder os quadros clínicos de uveíte em cães com LVC.
A conjuntiva, que é ricamente vascularizada, adjunto à glândula lacrimal e ao
sistema de drenagem, compõem o tecido linfóide associado ao olho (EALT), essencial
ao reconhecimento de antígenos e à resposta imune. A conjuntiva desempenha um
papel indispensável na resposta imune local, pela produção das imunoglobulinas da
classe IgA (KNOP & KNOP, 2005).
33
Macrófagos do tecido subepitelial conjuntival são os primeiros a reconhecer o
agente agressor, participando decisoriamente das defesas imunes na infecção aguda.
Células dendríticas e de Langerhans são igualmente importantes na apresentação de
antígenos na Leishmaniose (FERRER et al., 1988). fortes indícios de que elas
influenciam o desenvolvimento das respostas das células T e B através de mecanismos
pouco elucidados (GUARGUA et al., 2000; BAUER et al., 2002).
Opacidade corneal foi vista em 100% dos animais do grupo inoculado, se
apresentando em diversas formas, notadamente como opacidades focais, o que
corrobora com. BRITO (2004), que observou alterações corneais em 12% dos cães
estudados. GARCIA-ALONSO et al. (1996b) as relacionaram à presença de uveíte.
ROZE (2002) referiu-se ao envolvimento corneal isolado como raro, estando
normalmente relacionado à conjuntivite ou à uveíte. Outrossim, que eles são
caracterizados por opacidades focais, com edema e infiltrado de lulas inflamatórias.
GARCIA-ALONSO et al. (1998), no entanto, informaram sobre a ocorrência de
opacidade corneal generalizada, associada à ceratoconjuntivite.
O epitélio estratificado não queratinizado, a membrana basal e as junções
celulares, contribuem para a manutenção da integridade corneal, atuando como uma
barreira efetiva contra patógenos. Por ser avascular, a resposta imune que se
desenvolve é limitada, tendo como componentes de defesa células dendríticas ou de
Langerhans, que modulam a atividade dos linfócitos B e T e a ocorrência de
imunoglobulinas no estroma. Após uma injúria, o epitélio corneal desencadeia resposta
imune local, na qual participam polimorfonucleares, linfócitos e fibroblastos (KLOTZ et
al., 2000). Produzem-se citocinas e proteases inflamatórias, induzindo e agravando a
destruição corneal (KNOP & KNOP, 2005).
Secreção ocular seromucóide foi observada em 71,42% dos animais do GI,
ocorrendo de forma branda. GARCIA-ALONSO et al. (1998) descreveram secreção
ocular associada à LVC, variando de mucóide a catarral. LAUGIER & VERRO-
BOULANGER (1992) relataram descarga ocular associado à conjuntivite. Exsudato
purulento associado à uveíte foi reportado por PEÑA et al. (2000), ROZE (2002) e
BRITO (2004).
34
Não se encontraram quadros clínicos de uveíte em qualquer dos animais que
compuseram o presente estudo, ainda que ela seja considerada de ocorrência comum
(FEITOSA et al., 2000; BRITO, 2004). PEÑA et al. (2000) reportaram-se à incidência de
uveíte em 42,8% dos cães acometidos por Leishmaniose Visceral, em áreas
endêmicas. ROZE (2002) reportou a sua ocorrência em 70% dos casos, tendo como
provável causa a deposição de imunecomplexos nas paredes dos vasos sangüíneos
(PUMAROLA et al, 1991).
No presente estudo decorreram apenas hiperemia conjuntival, opacidade corneal
e secreção ocular, no entanto, ROZE (1988) e ROZE (2000) descreveram nódulos
conjuntivais, exoftalmia e estrabismo. BRITO (2004) relatou blefarite, ceratoconjuntivite
seca, ceratite ulcerativa, hifema, coriorretinite e glaucoma como intercorrências
presentes em cães infectados naturalmente por L. chagasi.
Ao exame sorológico, todos os animais resultaram negativos. Reiter et al. (1995)
detectaram IgG aos 15 dias da infecção experimental em cães (SLAPPENDEL &
GRENE, 1990). MARTINEZ-MORENO et al. (1995) detectaram soroconversão, ao
ELISA e à imunofluorescência indireta, aos 50 dias da infecção experimental por via
intravenosa. STRAUSS-AYALI et al. (2004) obtiveram soroconversão a partir de 60 dias
da infecção experimental, também pela via intravenosa em cães. Os autores
confirmaram a infecção empregando a PCR da conjuntiva, decorridos 45 dias da
infecção. Face aos resultados, admitiram tratar-se de técnica mais sensível para o
diagnóstico precoce da infecção experimental.
No presente estudo, a não positividade pode ter decorrido do pouco tempo de
acompanhamento dos animais, provavelmente insuficiente para se identificar a
soroconversão, da baixa sensibilidade do teste (SLAPPENDEL & GRENE, 1990), ou
ainda, da via de inoculação.
Não foram encontradas formas amastigotas nas amostras de medula óssea
examinadas. ROZE (1995) e TAFURI et al. (2003) referiram que a despeito do uso
freqüente de amostras de esfregaços sangüíneos ou teciduais corados, para o
diagnóstico da LVC, elas são, em muitos casos, inconclusivas, notadamente se a carga
parasitária tecidual for baixa. PIARROUX et al. (1994) e FERRER (1999) sugeriram que
35
testes parasitológicos diretos, a partir de aspirados de medula óssea, são pouco
sensíveis, comparativamente à PCR. O acompanhamento clínico temporal, não muito
extenso, poderia, igualmente, justificar a ausência de positividade aos testes
parasitológicos.
Não se encontraram, no presente estudo, formas amastigotas à histopatologia
ocular. DIAS (1998) relatou-as nas três túnicas oculares e BRITO (2004) as evidenciou
nos diversos componentes do olho, à exceção da retina, em es naturalmente
infectados. KLOTZ et al. (2000) referiram que formas amastigotas o são
habitualmente identificadas na doença ocular decorrente do calazar. STRAUSS-AYALI
et al. (2004), em casos de infecção experimental, não encontraram positividade aos 60
dias de infecção, em dois animais. Os autores, que empregaram a imunoistoquímica
como teste, sugeriram que esse resultado teria decorrido do pouco tempo de exposição
do hospedeiro ao parasita. BRITO (2004) admitiu que a ocorrência de formas
amastigotas intra-oculares, dever-se-ia, provavelmente, à quebra da barreira hemato-
ocular e à sua passagem para a câmara anterior ou através de macrófagos parasitados.
Formas amastigotas de Leishmania sp. têm sido documentadas em tecidos
oculares corados pela Hematoxilina-Eosina (HE) (DIAS, 1998; BRITO, 2004), no
entanto, a sua baixa sensibilidade tem sido reportada (TAFURI et al., 2004).
DIAS (1998) afirmou que a presença de L. chagasi em olhos de cães induz a
alterações estruturais. A despeito de não terem sido detectadas formas amastigotas, à
histopatologia, diferentes alterações morfológicas foram identificadas, à similitude do
que fora reportado por BRITO (2006), que descreveu a ocorrência de exsudato
inflamatório abundante na retina, mesmo na ausência do parasita, admitindo como
factível que as lesões teriam sido induzidas pela deposição de imunecomplexos.
Paralelamente à participação direta do parasita e de mediadores da inflamação,
outros fatores podem corroborar para o desenvolvimento de lesões. Macrófagos, não
somente atuando na eliminação do agente agressor, mas também promovendo reação
inflamatória local pela liberação de radicais livres oxigenados, enzimas e citocinas, têm
sido incriminados.
36
Exsudato inflamatório, predominantemente celular, caracterizado por
mononucleares, foi observado na conjuntiva e na túnica vascular dos animais
infectados. Infiltrado inflamatório linfoplasmocitário tem sido relatado em diferentes
segmentos do olho (MOLLEDA et al., 1993; GARCIA-ALONSO et al., 1998; NARANJO
et al., 2005; BRITO, 2006) e em outros órgãos, como pele, baço, fígado, intestinos,
pulmões e rins (TAFURI et al., 2001; XAVIER, 2002).
Infiltrado subepitelial conjuntival no Grupo Inoculado apresentou-se em diferentes
graus, que variaram de discreto a intenso, unilateral ou bilateralmente. Em alguns
animais, todavia, o evento não foi identificado.
Diferenças quanto à intensidade da inflamação nas estruturas oculares foram
descritas por BRITO (2006), que admitiram decorrer do tipo de resposta imune do
hospedeiro, predominantemente celular ou humoral.
Na conjuntiva e na úvea identificou-se forte exsudação inflamatória. LAUGIER &
VERRO-BOULANGER (1992) e BRITO (2006) discorreram sobre o mesmo em cães
naturalmente infectados por L. chagasi.
Admite-se, como factível, o importante papel como órgãos linfóides, que essas
estruturas representam para o olho. EICHENBAUM et al. (1987) destacaram o
conjuntival associated lymphoid tissue (CALT), como áreas especializadas aptas a
receber e a apresentar antígenos. O predomínio de células inflamatórias nessas regiões
poderia, então, estar relacionado à resposta específica, tanto no trato uveal, quanto na
superfície conjuntival (BRITO, 2006).
Identificou-se perivasculite em vasos conjuntivais, notadamente nos mais
superficiais. MOLLEDA et al. (1993) e GARCIA-ALONSO et al. (1998) a evidenciaram
apenas na túnica fibrosa. Lesões vasculares associadas à deposição de complexos
imunes, localizadas ou generalizadas, foram descritas por PUMAROLA et al. (1991) e
CIARAMELLA et al. (1997). Não se descarta a possibilidade da deposição de
imunecomplexos nos vasos conjuntivais, suscitando resposta inflamatória e lesões
intercorrentes.
Neste estudo, os epitélios de revestimento da membrana nictitante
apresentaram-se adelgaçados e, algumas vezes, ulcerados, com infiltrado inflamatório
37
predominantemente em região subeptelial. Observaram-se algumas áreas de
hiperplasia de células caliciformes e outras com metaplasia epitelial e ausência de
células caliciformes, a exemplo do que fora descrito por BRITO (2006), ao estudar cães
naturalmente infectados por L. chagasi. Alterações relacionadas a células caliciformes
não haviam sido reportados, até que BRITO (2006) as tivesse referido, e como
secundárias à reação inflamatória ensejada.
Relativamente à glândula da terceira pálpebra, o infiltrado inflamatório
caracterizou-se por linfócitos e plasmócitos entre os ácinos, no lúmem e nos ductos.
GARCIA-ALONSO et al. (1996b), GARCIA-ALONSO et al. (1998) e BRITO (2006)
reportaram-se ao mesmo. NARANJO et al. (2005) relataram infiltrado inflamatório ao
redor dos ductos, promovendo acúmulo retrógrado e retenção do produto de secreção
glandular. Observou-se, ainda, atrofia focal em ácinos serosos e mucosos, à similitude
do que fora descrito por BRITO (2006).
Em paralelo à presença de exsudato, identificou-se atrofia acinar e
desorganização do estroma glandular em alguns fragmentos avaliados. Tratam-se de
achados que corroboram as descrições de NARANJO et al. (2005), quanto à deficiência
na produção lacrimal em casos de Leishmaniose Ocular, decorrentes da inflamação, da
atrofia acinar, ou de ambas.
A congestão vascular, o edema e a perivasculite em íris, corpo ciliar e processos
ciliares, caracterizados pela presença de plasmócitos e de macrófagos, ocorreram
conforme reportado por BRITO (2006), que descreveu perivasculite, mesmo na
ausência do parasita. Achados semelhantes haviam sido descritos por MOLLEDA et
al. (1993), GARCIA-ALONSO et al. (1996b), DIAS (1998) e GARCIA-ALONSO et al.
(1998).
Relativamente à coróide, verificou-se infiltrado inflamatório mononuclear.
MOLLEDA et al. (1993), GARCIA-ALONSO et al. (1996b), DIAS (1998), GARCIA-
ALONSO et al. (1998) e BRITO (2006), no entanto, se reportaram à congestão vascular,
edema e perivasculite. NIETO et al. (1996) referiram coroidite, caracterizada por
congestão capilar e intensa exsudação inflamatória.
38
Neste estudo, não foram visibilizadas alterações histopatológicas na túnica
fibrosa, tampouco a presença de formas amastigotas. BRITO (2006) houvera descrito
desorganização do estroma corneal com proliferação vascular, hiperplasia do epitélio
anterior e da membrana basal, e a presença de infiltrado inflamatório por
mononucleares, em quantitativo maior comparativamente ao que fora relatado por
MOLLEDA et al. (1993), GARCIA-ALONSO et al. (1998) e DIAS (1998).
BRITO (2006) sugeriu que a presença de formas amastigotas de Leishmania sp
na córnea decorreria da inflamação crônica, por migração de macrófagos parasitados.
Neste estudo, não foram encontradas alterações estruturais na túnica nervosa.
DIAS (1998) reportou-se à ausência de alterações na retina, a despeito da presença do
parasita. GARCIA-ALONSO et al. (1998) consideraram a retina como importante tio
de agressão parasitária. BRITO (2006) descreveu congestão vascular, coriorretinite,
presença de células inflamatórias em fibras do nervo óptico. Outrossim, espessamento
de suas camadas e degeneração e necrose de lulas ganglionares, em cães
naturalmente infectados por L. chagasi. Comentou, ademais, que formas amastigotas
de Leishmania sp não têm sido rotineiramente notificadas no tecido nervoso.
Ocorreu infiltrado inflamatório mononuclear discreto em apenas um animal do
Grupo Controle. Segundo GARCIA-ALONSO et al. (1996b), a infiltração mononuclear
não é patognomônica para LVC.
Visando a melhor compreender a patogenia das lesões que envolvem a
Leishmaniose Ocular Canina, estudos envolvendo a pesquisa de anticorpos em humor
aquoso têm sido desenvolvidos. Resultados quanto ao aumento dos níveis de IgG
podem resultar de produção local ou de quebra da barreira sangue-olho.
Anticorpos da classe IgG no humor aquoso, foram reportados por LOPES et al.
(1993), à imunodifusão radial simples. Os autores afirmaram não ter conseguido
estabelecer qualquer relação entre eles e anticorpos séricos. GARCIA-ALONSO et al.
(1995) e GARCIA-ALONSO et al. (1996b) demonstraram quantidades elevadas de IgG
anti- Leishmania chagasi no humor aquoso de cães com uveíte. DIAS (1998) detectou
anticorpos anti-Leishmania (IgM e IgG) nos humores aquoso e vítreo, valendo-se da
técnica de ELISA. LIEKFELD et al. (2002) referiram o micro-ELISA modificado como útil
39
para a determinação de anticorpos intra-oculares, em casos de doenças sistêmicas com
manifestação ocular.
Recentemente, BRITO (2006) demonstrou que o ELISA, utilizando peptídeo
recombinante S7, foi capaz de detectar anticorpos anti-Leishmania chagasi,
expressados em densidade óptica, no humor aquoso de cães infectados naturalmente.
Tais resultados apontam para evidências quanto à presença do parasita ou do antígeno
internamente ao olho, e a viabilidade do teste para diagnóstico. No presente estudo, o
humor aquoso foi pela mesma técnica avaliado, e resultou negativo para anticorpos
anti-Leishmania chagasi.
Estudos adicionais, quanto a diferentes tipos de imunoglobulina, poderão auxiliar
no entendimento da patogenia da inflamação ocular e, conseqüentemente, das
oftalmopatias intercorrentes em casos de LVC.
40
6. CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos com a pesquisa, na forma como fora concebida e
executada, permite-se concluir que:
A via conjuntival pode ser utilizada como modelo para o estudo da patogenia da
Leishmaniose Ocular Canina.
A pesquisa de anticorpos IgG anti-Leishmania chagasi em exame sorológico
deve ser realizada preferencialmente após dois meses da infecção experimental pela
via tópica.
A reposta à infecção experimental por Leishmania chagasi por via tópica ocular
em cães caracteriza-se por reposta inespecífica, de caráter focal ou difuso,
representada por células mononucleares.
41
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