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da situação com o apoio policia de Curitiba, serviu como estímulo para eles
intensificarem a sua luta. A ocupação da Agropecuária São Rafael continuou.
Poucos dias depois, aproximadamente 50 famílias ocuparam a fazenda
vizinha pertencente ao Sr. Bomfim. Montaram as suas barracas e começaram a
cultivar o solo. Porém alguns meses depois foi concedida a reintegração de posse
ao Sr. Paulo Cleve do Bomfim. Os acampados que haviam ocupado esta
propriedade perderam todas as hortas que haviam plantado, muitos foram embora,
alguns continuaram no acampamento, porém nas terras da antiga Agropecuária São
Rafael.
Como colocado na introdução deste tópico, este pesquisador está ciente
que a metodologia adotada por este trabalho de pesquisa privilegiou um dos lados
da história, o lado dos historicamente excluídos. Porém esta escolha foi consciente e
proposital, pois a história do outro lado já é contada pelos diversos meios de
comunicação de massa. Segue alguns relatos publicados em jornais:
De uma hora para outra, sem motivo específico, começaram a chegar pessoas oriundas de
favelas próximas a Grande Curitiba, se intitulando sem terras, iniciando um acampamento
na estrada de acesso à nossa propriedade e da área de nosso vizinho, Dr. Pedro Paulo
Pamplona, que também é criador de búfalos. Logo começaram pequenos furtos e delitos.
Um leitão desaparecido, um capão de palmito cortado na calada da noite, uma rede com
malha criminosa no rio. Rapidamente evoluiu para roubo de búfalos, fechamento de
estradas, proibição do tráfego da linha regular de ônibus, de carros e de pessoas, furto de
fios e cabos elétricos e até ameaças de morte. Depois veio a invasão (05/06/2004).
Roubaram a fazenda. Destruíram casas e currais. Desmancharam as cercas. Não ficou
nada inteiro. As matas viraram depósitos de toda sorte de armadilhas e os rios,
almoxarifado de redes de pesca. Em um lugar de riquíssima fauna, hoje não se encontra
um tatu, uma paca, um tucano. Nosso rio, um esteio de biodiversidade, onde gerações e
mais gerações de nossos antepassados lutaram pela sua preservação, hoje não passa de
um cemitério. Tudo morto. Dezenas e mais dezenas de caçadores e pescadores sem terra,
se revezam criminosamente para dar cabo de tudo... (BOMFIM, 2005).
De acordo com os depoentes, os conflitos na região tiveram início há 18 meses, quando o
posseiro de uma área vizinha a ambos se inscreveu em assentamento para reforma agrária
que estava sendo implantado na Lapa. Ele teria sido convencido a dar início a uma
ocupação em sua área de origem. A partir daí, começaram a chegar sem-terra
provenientes de outras partes, que montaram um acampamento na estrada. Também teve
início uma série de delitos ambientais, como roubo de palmito e uso em grande escala de
redes para pesca nos rios da região.
Pamplona e Bomfim disseram ter registrado denúncias na Polícia e nos vários órgãos
ligados ao setor agrário e ambiental sem qualquer resposta. Uma ação de reintegração de
posse que chegou a ser iniciada pelo comandante da PM local, tenente Stokos, no ano
passado, custou a ele o afastamento do cargo e um Inquérito Policial Militar, ao fim do qual
o oficial foi reintegrado.
Bomfim, o primeiro a ser ouvido, disse que hoje está limitado a utilizar 20% dos 429
alqueires da propriedade e acusou os acampados de danificarem os rios, liquidarem a
fauna e desmatarem a mata nativa primária. Sua intenção, em função dos prejuízos que