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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE ELETRICIDADE
ANÁLISE DA LIVRE CONCORRÊNCIA E
COMPETITIVIDADE NO SETOR
ELÉTRICO BRASILEIRO
JOSÉ CARLOS ALVES DO NASCIMENTO
São Luís - MA, Brasil.
SETEMBRO 2007
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ANÁLISE DA LIVRE CONCORRÊNCIA E
COMPETITIVIDADE NO SETOR
ELÉTRICO BRASILEIRO
Dissertação de Mestrado submetida à Coordenação do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Eletricidade da UFMA como parte dos requisitos para
obtenção ao título de Mestre em Engenharia Elétrica
na área de Sistemas de Energia.
Por
JOSÉ CARLOS ALVES DO NASCIMENTO
SETEMBRO, 2007
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Nascimento, José Carlos Alves do
Análise da livre concorrência e competitividade no setor
elétrico brasileiro / José Carlos Alves do Nascimento. São Luís,
2007.
123 f.
Impresso por computador (fotocópia).
Orientador: Vicente Leonardo Paucar Casas.
Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Eletricidade, Universidade Federal do Maranhão,
2007.
1. Energia elétrica Sistemas - Brasil 2. Sistemas elétricos de
potência 3. Mercado elétrico. I. Título.
CDU 621.311 (81)
ANÁLISE DA LIVRE CONCORRÊNCIA E
COMPETITIVIDADE NO SETOR
ELÉTRICO BRASILEIRO
JOSÉ CARLOS ALVES DO NASCIMENTO
DISSERTAÇÃO APROVADA EM 04 DE SETEMBRO DE 2007
ANÁLISE DA LIVRE CONCORRÊNCIA E
COMPETITIVIDADE NO SETOR
ELÉTRICO BRASILEIRO
MESTRADO
Área de Concentração: SISTEMAS DE ENERGIA ELÉTRICA
JOSÉ CARLOS ALVES DO NASCIMENTO
Orientador: Prof. Dr. Vicente Leonardo Paucar Casas
Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Eletricidade da
Universidade Federal do Maranhão
i
Para minha esposa Sônia Maria e filha Carla Millena que estão
continuamente me apoiando e incentivando.
Para minha Mãe Helena (em especial) e irmãos Ana Maria, Ana
Amélia, Creusa, Antônio, Regina e Nascimento que estão sempre torcendo pelo
meu sucesso.
Para meu Pai José Alves do Nascimento (in memorian).
ii
AGRADECIMENTOS
A Deus, em primeiro lugar, pelos dons que me deu. A Ele devo tudo o que sou e
o que tenho e todas as minhas conquistas.
Ao meu orientador Prof. Dr. Vicente Leonardo Paucar Casas pelo incentivo,
apoio e constante disposição em colocar sua experiência e competência ao longo do
curso de mestrado e em especial durante a elaboração deste trabalho.
Aos meus colegas de mestrado Paulo Roberto, Fernando Mendonça, Julio César,
Márcio, Orlando, Jorge Eduardo, Ana Carla, que estiveram comigo nesta jornada.
Aos Professores Doutores do Curso de Pós-Graduação: Osvaldo Ronald
Saavedra Méndez, José Eduardo Onoda Pessanha e Maria da Guia da Silva.
A CEMAR, que permitiu minha participação no curso de mestrado juntamente
com outros colegas através de convênio firmado com a UFMA.
iii
RESUMO
Neste trabalho são analisados os aspectos relevantes da livre concorrência e
competitividade no setor elétrico brasileiro após a sua desregulamentação iniciada em
1995, em que o modelo anterior, tipo monopólio do Estado, mudou para uma estrutura
desverticalizada com a separação dos setores de geração, transmissão e distribuição.
Tendo como pano de fundo este cenário, realizou-se uma abordagem dos aspectos mais
importantes do processo de reestruturação, identificando o arcabouço regulatório criado
para a concepção de um modelo de livre mercado que continuou com as mudanças
ocorridas a partir da promulgação, em 2004, da legislação que estabeleceu um novo
marco regulatório para o setor elétrico brasileiro. Neste particular, destaca-se o papel
das principais instituições do setor, o livre acesso às redes elétricas, os sinais
econômicos representados pelas tarifas, os consumidores livres e cativos, bem como o
processo de comercialização. Foram analisados os riscos e desafios advindos pela
introdução do modelo de livre mercado, verificando se as regras implementadas
facilitam ou dificultam a livre concorrência e a competitividade. Conclui-se que no
Brasil a livre concorrência e competitividade estão ainda num processo de
desenvolvimento e reforma, necessitando de um maior aprimoramento da legislação. O
difícil para o regulador é atender aos anseios dos comercializadores que esperam
atitudes que possibilitem o aumento do portfólio dos consumidores potencialmente
livres contra os das distribuidoras que temem perda de receita pela migração mais
acentuada dos consumidores cativos para livres. Por outro lado, comprovou-se a
convivência de características do modelo monopolista anterior e do modelo de livre
mercado em que as tendências desse modelo híbrido nem sempre estão claramente
definidas.
Palavras-chave: Sistemas elétricos de potência, mercados elétricos, livre concorrência
e competitividade.
iv
ABSTRACT
In this work the relevant aspects of free competition and competitivity in the
Brazilian electric sector after deregulation initiated in 1995 are analyzed. The earlier
model of the electric sector, a State monopoly, moved for a desverticalized structure
with the separation of the sectors of generation, transmission and distribution. With this
scenario as background it was performed a retrospect of the more important aspects of
the restructuring process, being identified the regulatory outline created for the
conception of a free market model that culminated with the changes occurred from
promulgation of legislation, in 2004, which defined a new regulatory environment for
the Brazilian electric sector. In this specific case are distinguished the performance of
the main institutions of the sector, the free access to the electric networks, the economic
signal represented by the tariffs, the free and captive consumers, as well as the
commercialization process. The risks and challenges, generated by the introduction of
the free market model, were analyzed, verifying if the implemented rules facilitate or
difficult the free competition and competitivity. It is concluded that in Brazil the free
competition and competitivity of the electricity market agents are in a developing
process and enhancements and reforms to the wholesale electricity market rules are
required. The difficulty for the regulator is to meet the yearnings of the
commercializators that wait attitudes that make possible the increase of the portfolio of
the potentially free consumers against the ones of distribution concessionaires that may
have reduction in their profits due the increase of migration from captive to free
consumers. On the other hand, the coexistence of characteristics of the monopolist and
free market models has been proved where the tendencies of that hybrid model are not
clearly defined.
Keywords: Electric power systems, electric markets, free competition and
competitivity.
v
SUMÁRIO
Lista de Tabelas vii
Lista de Figuras viii
Abreviaturas e Símbolos ix
1. Introdução 1
1.1. Generalidades 1
1.2. Formulação do problema 2
1.3. Objetivos 3
1.4. Justificativa 4
1.5. Metodologia 5
1.6. Estrutura do trabalho 6
2. Reestruturação do setor elétrico brasileiro 7
2.1. Introdução 7
2.2. O novo modelo do setor elétrico brasileiro 15
2.2.1. Antecedentes à reestruturação (Monopólio)....................................... 15
2.2.2. Modelo FHC: modelo de livre mercado............................................. 18
2.2.3. Modelo Lula: ajustes no modelo de livre mercado............................. 28
2.3. Funcionamento do novo setor elétrico e instituições 31
2.4. Principais diferenças do modelo Lula em relação ao modelo FHC 34
2.5. Experiência internacional 35
3. Análise da Livre concorrência e competitividade 45
3.1. Introdução 45
3.2. Aspectos inerentes à livre concorrência e competitividade 46
3.2.1. Livre acesso e tarifas de uso............................................................... 46
3.2.2. Competitividade ................................................................................. 50
3.2.3. Comercialização ................................................................................. 52
3.2.4. Política tarifária .................................................................................. 57
3.2.5. Qualidade no fornecimento de energia............................................... 57
vi
3.2.6. Investimentos em geração, transmissão e distribuição....................... 59
3.2.7. Análise de riscos................................................................................. 61
3.2.8. PIB e competitividade ........................................................................ 63
3.2.9. Modicidade tarifária ........................................................................... 64
3.2.10. Licenciamento ambiental.................................................................... 68
4. Conclusões 72
ANEXOS........................................................................................................................ 75
ANEXO A ...................................................................................................................... 76
ANEXO B ......................................................................................................................77
APÊNDICES.................................................................................................................. 84
APÊNDICE A ................................................................................................................85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................... 104
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 Resultado das privatizações do setor elétrico brasileiro.............................. 23
Tabela 2.2 Experiência internacional da desregulamentação........................................ 36
Tabela 3.1 Ponto de conexão X emissão do parecer de acesso
............................................. 49
Tabela 3.2 Celebração de contratos
.................................................................................... 49
Tabela 3.3 Caracterização do consumidor
.......................................................................... 54
Tabela 3.4 Cenários X Riscos de Racionamento
................................................................. 62
Tabela 3.5 Taxa de crescimento do PIB (% ao ano)
............................................................ 64
Tabela 3.6 Previsão de entrada em operação de usinas X restrições ambientais
...................... 69
Tabela 3.7 Evolução da Distribuição das UHEs nas Regiões Hidrográficas
........................... 70
viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Modelo 1 – Monopólio.
..................................................................................... 10
Figura 2.2 Modelo 2 – Agente Comprador (pool)
................................................................ 11
Figura 2.3 Modelo 3 – Competição no atacado
.................................................................... 12
Figura 2.4 Modelo 4 – Competição no varejo.
..................................................................... 13
Figura 2.5
Estrutura do antigo modelo do setor elétrico.
....................................................... 15
Figura 2.6 Capacidade instalada X Consumo de eletricidade (Ano base: 1980)
...................... 28
Figura 2.7 Instituições do Setor Elétrico Brasileiro, 2007
..................................................... 32
Figura 3.1 Consumo de eletricidade e variação anual.
.......................................................... 51
Figura 3.2 Tipos de contratação no ACR.
............................................................................ 52
Figura 3.3 Indicadores de qualidade – DEC – Anual, Brasil
................................................. 58
Figura 3. 4 Indicadores de qualidade – FEC – Anual, Brasil
................................................. 58
Figura 3.5 Oferta de energia X Consumo
............................................................................ 63
Figura 3.6 Fluxos econômicos do Setor Elétrico.
................................................................. 65
Figura 3.7 Tributos e Encargos: maior parcela da conta de luz.
............................................. 65
Figura 3.8 Conta de luz Reino Unido: Tributos e Encargos
.................................................. 66
Figura 3.9 Conta de luz Portugal: Tributos e Encargos
......................................................... 66
Figura 3.10 Reajustes das tarifas de eletricidade nos governos FHC e LULA
........................ 68
ix
ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Social
CCEE Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
CDEC Centro de Despacho Econômico de Carga
CELG Companhia Energética de Goiás
CEMAR Companhia Energética do Maranhão
CEMIG Companhia Energética de Minas Gerais
CPUC California Public Utilities
CERJ Companhia de Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro
CESP Companhia Energética de São Paulo
CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
CMSE Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico
CNE Comissão Nacional de Energia
CNPE Conselho Nacional de Prática Energética
COELCE Companhia Energética do Ceará
COELBA Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia
COPEL Companhia Paranaense de Energia
CPFL Companhia Paulista de Força e Luz
DNAEE Departamento Nacional de Água e Energia Elétrica
ELETRONORTE
Centrais Elétricas do Norte do Brasil
ELETROBRAS Centrais Elétricas Brasileiras
ELETROSUL Eletrosul Centrais Elétricas S.A.
EPE Empresa de Pesquisa Energética
ESCELSA Espírito Santo Centrais Elétricas S.A.
FERC Federal Energy Regulatory Commission
FURNAS Furnas Centrais Elétricas S.A.
GCE Câmara de Gestão da Crise de Energia
ISO Operador Independente de Sistema
IUEE Imposto Único sobre Energia Elétrica
LIGHT Light Serviços de Eletricidade S.A.
x
MAE Mercado Atacadista de Energia
ME Ministério da Economia
MME Ministério das Minas e Energia
MRE Mecanismo de Relocação de Energia
MRT Margem de Reserva Teórico
ONS Operador Nacional de Sistema
PND Programa Nacional de Desestatização
PRS Plano de Recuperação do Setor Elétrico
PX Power Exchange
RESEB Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro
SC Schedule Coordinators
SEC Superintendência de Eletricidade e Combustível
SIN Sistema Interligado Nacional
UBP Uso de Bem Público
1
1. INTRODUÇÃO
1
1.1. Generalidades
O processo de desregulamentação do setor elétrico é marcado por profundas
mudanças no arcabouço regulatório. Com o advento do novo modelo institucional do
setor elétrico, apresentado em 2004 pelo Ministério das Minas e Energia (MME), houve
uma nova redefinição dos papeis dos agentes setoriais notadamente a criação da
Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a implementação de novas regras de mercado
para estimular a livre concorrência e a competitividade dentro do setor elétrico
brasileiro. Foram elaboradas, por exemplo, regras para a interconexão às redes com o
objetivo de permitir o uso indiscriminatório e garantir o livre acesso, juntamente com
uma metodologia para a cobrança das tarifas de uso das redes. A adoção de novos
mecanismos que visem assegurar a livre concorrência e a competitividade dentro do
setor poderá ser crucial para garantir as vantagens do novo modelo.
A comercialização de energia neste sistema de livre concorrência e
competitividade é gerenciada pela Câmera de Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE) e se perante dois ambientes de contratação: um regulado onde participam
agentes de geração e de distribuição de energia elétrica e são geralmente precedidos de
leilões; e outro livre do qual participam agentes de geração, comercialização,
importadores e exportadores de energia e consumidores livres que negociam livremente
a partir de contratos bilaterais.
É neste contexto que se procurou analisar e estudar as regras estabelecidas para
estimular a competição e a livre concorrência dentro do setor elétrico brasileiro, com o
intuito de investigar até que ponto a eficiência da indústria de energia elétrica pode ser
alcançada. A análise, bem como a comparação com alguns casos de experiências
internacionais, conduz a uma reflexão sobre as limitações e os desafios advindos de uma
operação em ambientes competitivos no Brasil, bem como os impactos provocados por
este processo de liberalização do mercado que tende a influenciar nos investimentos,
nas tarifas, nos agentes setoriais e nos mecanismos de regulação.
2
1.2. Formulação do problema
A indústria de energia elétrica brasileira que desde 1995 vem passando por
reformas estruturais e institucionais, atravessa um momento de intenso debate e de
expectativas quanto à capacidade do novo modelo garantir a livre concorrência e a
competitividade dentro do setor.
Anteriormente a 1995 tinha-se o modelo monopólio e verticalizado do Estado no
setor elétrico. Em 1995/1996 é adotado/implantado um novo modelo do setor elétrico,
um modelo desverticalizado em que os setores de geração (aberto e competitivo),
transmissão (monopólio natural regulado de livre acesso) e distribuição (além da
comercialização) são considerados setores independentes. Esse modelo, inspirado no
conceito de livre mercado, foi sancionado pela Lei Nº. 9.074 de julho de 1995.
Para a implantação desse modelo foi necessário adotar um cronograma de
privatizações em que foram vendidas supostamente aquelas concessionárias que
operavam com dificuldades econômico/financeiras ou que simplesmente não geravam
lucros ou que não tinham capacidade de realizar mais investimentos para atender a
demanda.
Assim, pode-se dizer que o setor elétrico brasileiro desde 1995 vem
atravessando um contexto de intensas transformações iniciadas no primeiro governo do
Presidente Fernando Henrique Cardoso com o advento de um conjunto de reformas e
regras voltadas a atrair investidores privados, especialmente estrangeiros. A energia
elétrica passaria a ser uma mercadoria como as demais, sujeita a oscilações de oferta e
demanda, e o sistema estatal cooperativo daria lugar a um sistema privado
concorrencial. Para tanto o governo contratou uma empresa inglesa, a Coopers &
Lybrand, com a orientação de privatizar tudo, rapidamente. (BENJAMIM, 2001)
Este novo desenho molda um setor elétrico onde: “...o governo seja somente
formulador de políticas, regulador e fiscalizador, transferindo a novos agentes as tarefas
operacionais; a participação privada seja significativamente aumentada, os agentes
sejam específicos para os segmentos de geração, transmissão, distribuição e
comercialização e a competição exista sempre que possível, com a regulamentação
restringindo-se aos campos realmente necessários” . (PAIXÃO, 1997)
3
No primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, iniciou em 1994, o que,
para o MME (1996, p.15) é o início para as mudanças no setor elétrico brasileiro, pois
foram criadas “condições para o desenvolvimento de novos mercados e a introdução de
novos agentes no setor de energia elétrica” (GARRIDO, 1999).
Contrapondo esta posição, Benjamin no seu artigo Descaminhos do Setor
comenta:
“A reforma de Fernando Henrique nos prometia aumento de oferta: gerou
racionamento. Prometia energia barata: entre 1995 e 2002, as tarifas subiram
182,6% para a energia residencial, 130,3% para a industrial, 130,1% para a
comercial e 110,2% para a rural, enquanto a inflação acumulada no período foi
de 58,68%. Prometia dinheiro estrangeiro: foi o BNDES que financiou a maior
parte dos investimentos privados. Tudo resultou, é claro, numa completa
desordem física, legal e institucional. Depois de privatizar todas as
distribuidoras rentáveis e parte do sistema de geração, a reforma teve de ser
interrompida com o apagão de 2001.” (BENJAMIN, 2006)
Após essa experiência, inicia-se em 2003, o governo Lula com uma nova
proposta de modelo institucional para o setor elétrico, consolidada em 2004 com as Leis
Nº. 10.847 e Nº. 10.848 e seus respectivos decretos. Os pontos principais do atual
modelo são: a maximização da segurança do suprimento de energia elétrica e a
universalização do acesso, em harmonia com a eficiência econômica, expressa pelo
princípio de modicidade tarifária. (CORREIA, 2005)
No entanto, será que este novo modelo privilegia a livre concorrência e a
competitividade ou representa algo híbrido com tendência ao monopólio? Neste sentido
procurou-se analisar se realmente as regras estabelecidas visam estimular a competição
e a livre concorrência dentro do setor elétrico brasileiro.
1.3. Objetivos
Objetivo geral:
Analisar os principais aspectos técnico-econômicos da livre concorrência e
competitividade no setor elétrico brasileiro após o início, em 1995, da
desregulamentação e aplicação do modelo de livre mercado.
4
Objetivos específicos:
Estudar as mudanças propostas pelo novo modelo do setor elétrico
brasileiro bem como o aparato regulatório criado para estabelecer um
ambiente de livre mercado;
Pesquisar e selecionar na literatura especializada as leis e regras que
estabelecem a livre concorrência e a competitividade dentro do setor
elétrico brasileiro a partir da instituição do novo modelo;
Identificar os mecanismos que estão sendo utilizados para implantação da
livre concorrência e competitividade dentro do setor elétrico brasileiro;
Analisar as tendências atuais do novo modelo do setor elétrico brasileiro
assim como as suas vantagens e desvantagens.
1.4. Justificativa
O processo de desregulamentação do setor elétrico refere-se a uma tendência
mundial com motivações distintas, dada às características específicas peculiares de cada
país. Cabe aos estudiosos do meio acadêmico, técnicos e especialistas do setor
contribuírem continuamente com o processo, de forma a avaliar as medidas
implementadas ou em implementação no setor, de modo a identificar as imperfeições,
na busca do equilíbrio e da melhor convivência entre os diversos agentes envolvidos e a
sociedade em geral.
A livre concorrência é uma situação em que as empresas competem entre si e os
preços de mercado formam-se conforme a lei da oferta e procura sem que a intervenção
dos compradores ou vendedores seja relevante. A livre concorrência implica uma
situação ideal em que há uma distribuição de bens eficaz entre as empresas e os
consumidores. Na prática não existe uma concorrência perfeita e sim um mercado que
se desenvolve entre os limites de uma concorrência perfeita e monopólio absoluto,
caracterizado pela possibilidade de que os vendedores podem influenciar a demanda e
os preços.
A competitividade está relacionada com a capacidade de uma empresa pública
ou privada de manter vantagens que lhe permitam alcançar, sustentar e até melhorar sua
5
posição socioeconômica. Por outro lado, a competitividade tem associado o conceito de
excelência envolvendo por sua vez eficiência e eficácia. Qualidade total é uma
estratégia relevante da competitividade. Para estimular a competitividade é preciso ter
condições como estabilidade necessária para crescer, através de uma sólida associação
entre o governo e o setor privado.
Na literatura técnica e científica relacionada com o problema proposto, não
existem muitas referências que tratem a livre concorrência e competitividade no setor
elétrico nem que permitam ter uma definição clara da importância desses conceitos
dentro do novo modelo do setor elétrico brasileiro.
Este trabalho pretende contribuir com a discussão sobre a livre concorrência e
competitividade no novo modelo do setor elétrico brasileiro proposto e levado à prática
pelo governo do Presidente Luís Inácio Lula da Silva. Uma análise da situação anterior
e atual permitirá ter uma visão das tendências da livre concorrência e competitividade
nesse novo modelo do setor elétrico, de forma a apontar as vantagens e desvantagens
para os consumidores e concessionárias de eletricidade.
1.5. Metodologia
Neste trabalho foi adotada a metodologia de pesquisa científica considerando as
seguintes etapas:
Realizar uma adequada pesquisa bibliográfica de forma a levantar o estado da
arte relacionado com o tema proposto. As referências consideradas correspondem à
bibliografia composta por artigos científicos, relatórios de pesquisa, livros, material
eletrônico disponível na Internet, entre outros.
Analisar os aspectos relevantes da legislação e as regras estabelecidas para
estimular a competitividade e a livre concorrência dentro do setor elétrico brasileiro
com o advento do novo modelo;
Investigar até que ponto a eficiência da indústria de energia elétrica pode ser
alcançada através da competição e da livre concorrência dentro do setor elétrico
brasileiro;
6
Analisar os resultados esperados/alcançados da introdução da livre concorrência
e da competitividade dentro do setor elétrico brasileiro bem como os desafios advindos
de uma operação em ambientes competitivos.
1.6. Estrutura do trabalho
No presente capítulo tem-se um resumo do projeto de pesquisa que inclui a
formulação do problema, os objetivos, a justificativa e a metodologia.
No Capítulo 2 trata-se o tema da reestruturação do setor elétrico brasileiro e são
analisados os aspectos mais importantes desta reestruturação, tais como, a evolução da
legislação e a experiência internacional.
No Capítulo 3 são apresentados os aspectos associados à livre concorrência e
competitividade no setor elétrico brasileiro, enfocando e analisando os principais
indicadores e características para o desenvolvimento de um mercado elétrico
competitivo. São analisados indicadores como modicidade tarifária, PIB, investimentos
e riscos no atendimento da demanda.
No Capítulo 4 têm-se as conclusões sobre a análise crítica do atual modelo, bem
como dos mecanismos criados com o intuito de estabelecer a livre concorrência e a
competitividade.
7
2. REESTRUTURAÇÃO DO
SETOR ELÉTRICO BRASILEIRO
2. f
2.1. Introdução
A indústria da eletricidade em vários países do mundo vem passando por um
processo de reestruturação cujo elemento principal é a constatação de que é possível
tratar a energia elétrica como um produto e separá-la comercialmente do serviço de
transporte (transmissão e distribuição). Essa visão do processo de produção de energia
elétrica permite o estabelecimento de um mercado competitivo nos setores de geração
(produção) e comercialização de energia elétrica. (FALCÃO, 2006)
Segundo Falcão (2006), as premissas que levaram alguns países a adotarem um
novo modelo a partir da reestruturação, foram:
Atração de capitais privados com o intuito de liberação do governo dos
altos investimentos para garantir a expansão da indústria de eletricidade;
Descentralização administrativa;
Aumentar a competição com vistas à busca da modicidade tarifária.
No caso do Brasil a reestruturação da indústria de eletricidade foi iniciada no
ano de 1995 com a adoção do processo de desverticalização das empresas de energia
elétrica que consistiu na separação das atividades de geração, transmissão, distribuição e
comercialização de energia.
Modelos aplicáveis ao setor elétrico
A evolução dos modelos aplicáveis ao setor elétrico tem como principal objetivo
a eficiência da indústria de eletricidade. Contudo, para que isso ocorra é necessário
introduzir um processo de competição que pode ser viabilizado reformando a
indústria, a partir de sua reestruturação, desregulamentação e estabelecendo a
8
condição de livre acesso. No sentido de maior entendimento sobre os termos ora
mencionados apresentam-se a seguir o significado de cada um deles: (HUNT, 2002)
Reestruturação: trata-se da mudança institucional pela qual as empresas devem passar
no sentido de prepará-las para atuarem em ambientes competitivos. Assim, algumas
funções são suprimidas, outras combinadas e algumas vezes criadas novas funções. O
objetivo é prevenir comportamentos discriminatórios, favorecer a competição, ou
consolidar a malha de transmissão por uma vasta região.
Desregulamentação: significa retirar o controle de preços estimulando a competição na
geração, agindo de forma contrária à regulamentação que controla os preços dos
supridores aplicando restrição para mercado.
Livre Acesso: Quando se trata de um modelo competitivo na produção de energia
elétrica, é primordial que seja assegurado aos produtores, livre acesso às redes de
transmissão e distribuição de modo a poderem escoar a potência produzida. Neste
sentido deverá ser dado igual tratamento a todos de modo que não haja discriminação no
uso das redes e nem dos custos envolvidos.
A indústria da energia elétrica no Brasil e no mundo em seu primórdio
trabalhava de forma verticalizada, ou seja, uma mesma empresa gerava, transportava e
distribuía seu produto, energia elétrica, aos consumidores finais. Apenas a função de
distribuição, em alguns casos, era separada das funções de geração e transporte.
Contudo, separar o produto e o serviço de transporte do mesmo era considerado uma
tarefa difícil tendo em vista as implicações de ordem técnica e comercial para
operacionalização da indústria. Pela parte técnica a dificuldade seria a necessidade de
que os sistemas elétricos operassem de forma interligada, sendo necessário para isso um
controle único que congregasse empresas de geração e transporte. Pelo lado comercial
as dificuldades giravam em torno dos custos comerciais envolvidos como: contratação,
operação dos contratos, que tenderiam a ser muito elevados.
A quebra do paradigma relacionado às dificuldades técnicas e comerciais para
separação entre o produto energia elétrica e o transporte foi iniciado a partir das
experiências de reestruturação do setor elétrico dos Estados Unidos (1978) e Inglaterra
(1988). Em ambos os casos houve um estímulo por parte do governo para entrada de
novos geradores, ou seja, produtores independentes, no mercado.
9
Assim, com o início do processo de desverticalização inicia-se um processo de
estudo sobre as possíveis variações de modelos estruturais para a indústria de energia
elétrica baseada na separação das funções de geração, transmissão, distribuição e
comercialização.
Sally Hunt (2002) define quatro modelos nos quais pode ser observado um
processo de evolução no que concerne a redução do monopólio e a conseqüente maior
liberdade de escolha do suprimento por parte do consumidor. São eles:
Modelo 1: Monopólio Verticalmente Integrado
Neste modelo a principal característica é que as empresas de energia elétrica são
organizadas numa estrutura vertical e de forma integrada. É baseado no monopólio uma
vez que a concessão para atendimento a uma determinada região é entregue a uma única
empresa que pode ser proprietária de ativos de geração e transmissão e eventualmente
até de ativos de distribuição. Outra característica marcante deste modelo é o fato de não
ser permitida por parte de uma empresa geradora a comercialização de energia elétrica
com consumidores pertencentes à concessão de outra empresa. Este modelo que ainda
existe em muitos lugares, serviu bem a indústria de energia elétrica por 100 anos,
contribuindo para implementação de obras de interesse geral como subsídios a áreas
carentes e eletrificação rural (MARANGON, 2000). Na Figura 2.1 mostra-se a estrutura
organizacional deste modelo.
10
Figura 2.1 Modelo 1 – Monopólio.
Fonte: (HUNT, 2002)
Modelo 2: Comprador Único
Neste modelo a principal característica é a introdução da figura do produtor
independente, permitindo assim a competição entre os agentes produtores de energia.
Contudo, para que isso aconteça, deve existir um agente que detenha um monopólio
para compra de toda energia gerada (Pool) e venda aos agentes distribuidores e/ou
consumidores finais. Vale ressaltar que não é permitido acesso à rede de transmissão
aos agentes geradores, distribuidores e consumidores finais. Neste modelo somente
competição para construir e operar plantas de geração, que uma vez despachadas
garantem suas receitas mesmo que entre um produtor mais barato no sistema. Além
disso, geralmente os contratos firmados entre os produtores e consumidores são de
longo prazo de forma a trazer segurança contra a oscilação de preços. Na Figura 2.2
tem-se a estrutura organizacional deste modelo.
GERADOR
DISTRIBUIDOR
CONSUMIDOR
TRANSMISSOR
GERADOR
DISTRIBUIDOR
TRANSMISSOR
CONSUMIDOR
Intercâmbio
entre regiões
(B) SEPARAÇÃO/
POOL
DISTRIBUIDORA
(A) INTEGRAÇÃO
VERTICAL
FLUXO DE ENERGIA EM
UMA MESMA COMPANHIA
11
Figura 2.2 Modelo 2 – Agente Comprador (pool)
Fonte: (HUNT, 2002)
É relevante destacar que a transição do modelo 1 para o modelo 2 requer a
promulgação de leis, resoluções e regras que definam um arcabouço regulatório onde
possa ser inserida a figura do produtor independente de energia com a regulamentação
dos contratos de compra de energia e definição de preços.
Modelo 3: Competição por Atacado
Em relação ao modelo 2 podem-se destacar duas diferenças básicas. A primeira
refere-se à possibilidade dos agentes distribuidores escolherem de qual gerador comprar
a energia (Mercado Atacado) necessária para suprimento a seus clientes atendidos ainda
em regime de monopólio (Mercado Varejista). A segunda trata-se do livre acesso à rede
de transmissão.
Neste modelo competição na geração, sendo compradores diretos os grandes
consumidores e os agentes distribuidores. Não é permitida aos pequenos consumidores a
compra de energia junto aos agentes produtores. O fato dos geradores poderem vender
seu produto a mais de um comprador, dinamiza o mercado tornando-o mais
PIE
AG. COMPRADOR ENERGIA
POOL
(A) VERSÃO
DESAGREGADA
(B) VERSÃO
INTEGRADA
PIE PIE
DISTRIB.
NOVOS GER.
PIE
DISTRIB.
PIE
CONSUM
.
CONSUM
.
CONSUM
.
CONSUM
.
CONSUM
.
AG. COMPRADOR ENERGIA
POOL
DISTRIB. DISTRIB.
VENDA DE ENERGIA
FLUXO DE ENERGIA EM UMA
MESMA COMPANHIA
12
competitivo. Além disso, os geradores assumem os riscos de mercado e tecnológico. Na
Figura 2.3 é mostrada a estrutura organizacional deste modelo.
Figura 2.3 Modelo 3 – Competição no atacado
Fonte: (HUNT, 2002)
A transição do modelo 2 para o modelo 3 só é possível com a implantação de um
ambiente de mercado para possibilitar as transações de compra e venda de energia entre
os agentes de geração e distribuição. Além disso, o livre acesso ao sistema de
transmissão requer a definição de tarifas de forma a viabilizar esta operação.
Modelo 4: Competição de Varejo
Este modelo é uma evolução do modelo 3 por agregar a competição no varejo,
ou seja, o consumidor final também pode escolher seu agente fornecedor. Além disso,
neste modelo, é permitido o acesso à rede de distribuição. Ressalta-se que neste caso a
atividade de distribuição deve limitar-se ao transporte estando separada da
comercialização, ou seja, a venda de energia no varejo. Para o bom funcionamento deste
modelo é primordial que o agente regulador fiscalize as operações do mercado
competitivo, de forma a garantir a melhor transação para os consumidores sem perder
de vista a integridade da rede que necessita de constantes investimentos para a sua
perfeita operação. “A competição no varejo traz os consumidores finais ao mercado,
porém aumenta os custos de transação, esta estrutura passa a requerer arranjos
SISTEMA DE TRANSMISSÃO
MERCADO ATACADO
PIE PIE PIE PIE
DISTRIB.
PIE
CONSUM.
GRANDE
CONSUMIDO
DISTRIB.
GRANDE
CONSUMIDOR
CONSUM.
13
transacionais mais complexos e medições sofisticadas o que para consumidores
pequenos pode facilmente sobrepujar os benefícios associados. Outro problema
associado é a falta de capacidade em responsabilizar precisamente a má prestação do
serviço de entrega quando a distribuidora local não é a varejista responsável pela venda
da eletricidade que está sendo entregue”. (MARANGON, 2000). Na Figura 2.4 mostra-
se a estrutura organizacional deste modelo.
Figura 2.4 Modelo 4 – Competição no varejo.
A transição do modelo 3 para o modelo 4 exige a definição de um arcabouço
regulatório que contemple e regule os agentes comercializadores de energia elétrica.
Além disso, o livre acesso ao sistema de distribuição requer a definição de tarifas de
forma a viabilizar esta operação.
Como se pode observar a transição de um modelo para o outro representa
aumento de concorrência e competitividade entre os agentes que atuam nos segmentos
de geração e comercialização. Essa evolução tende a apresentar: - arranjos legais e
comerciais mais complexos, isso implica em custos significativos para a sociedade, que
se justificam na medida em que ocorra redução do custo de energia elétrica para os
SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO
MERCADO VAREJISTA
SISTEMA DE TRANSMISSÃO
MERCADO ATACADO
PIE PIE PIE PIE PIE
CONSUM.
COMERC.
DISTRIB./
COMERC.
COMERC.
DISTRIB./
COMERC.
COMERC.
CONSUM. CONSUM. CONSUM. CONSUM.
VENDA DIRETA
14
consumidores finais; - um aumento na participação da iniciativa privada, menor
influência direta do poder Executivo e maior dos poderes Legislativo e Judiciário na
orientação das atividades da indústria de energia elétrica. (BANDEIRA, 2003)
Por fim pode-se dizer que para se ter sucesso na transição de um modelo para o
outro devem ser observados três pontos básicos: 1) implantação de um novo marco legal
no qual não existam vácuos regulatórios; 2) clareza nos papeis definidos para os
agentes; e 3) segurança jurídica das transações realizadas. (BANDEIRA, 2003)
Modelo atual brasileiro
O atual modelo do Setor Elétrico Brasileiro possui características dos modelos 2
e 4, conforme se destaca a seguir:
Ambiente regulado – característica do modelo 2
Agente comprador de energia (pool) MME
Distribuidor adquire energia apenas do pool
Ambiente livre – característica do modelo 4
Existência da figura do comercializador de energia
Geradores vendem energia para pool e clientes livres
Regime tarifário – característica dos modelos 2 e 4
Tarifas reguladas no Ambiente de Contratação Regulada
Preços livres no Ambiente de Contratação Livre
Acesso à rede de transmissão e distribuição – característica do modelo 4
15
2.2. O novo modelo do setor elétrico brasileiro
2.2.1. Antecedentes à reestruturação (Monopólio)
Antes de sua reestruturação, o sistema elétrico brasileiro operava num
monopólio regulado em que as empresas recebiam uma concessão para operar em uma
determinada região onde todos os consumidores eram cativos, não podendo
comercializar sua energia fora de sua concessão. As atividades de geração, transmissão,
distribuição e comercialização estavam integradas numa mesma empresa e eram
estabelecidos contratos bilaterais de médio e longo prazo para a comercialização da
energia entre as empresas do setor. Na Figura 2.5 ilustra-se o antigo modelo do setor
elétrico em que era adotada uma estrutura vertical tipo monopólio do Estado.
Figura 2.5
Estrutura do antigo modelo do setor elétrico.
Fonte: (FALCÃO, 2006)
“Em sua grande maioria, essas empresas tinham uma participação acionária
mista (estatal e privada), com controle acionário estatal. O segmento de geração
e transmissão era constituído por empresas federais sob o controle da Eletrobrás
(Furnas, Chesf, Eletrosul e Eletronorte) e algumas estaduais (Cesp, Cemig,
Copel, etc.) enquanto que o segmento de distribuição era, principalmente,
formado por empresas estaduais (Cerj, Celg, Cpfl, etc.), algumas federais
(Light, por exemplo) e poucas privadas (Cataguazes, etc.). O setor tinha a
característica de monopólio regulado, com a regulação exercida pelo DNAEE
(Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica). A Eletrobrás, além de
seu papel de empresa holding, era também responsável pelo planejamento e
execução da política federal de energia elétrica”. (FALCÃO, 2006)
GERAÇÃO
T
D
C
GERAÇÃO
T
T
D
C
16
Quanto aos aspectos referentes ao financiamento do setor de energia elétrica
brasileiro podem ser observadas três fases distintas: (SILVEIRA, 1997)
Na primeira fase, chamada fiscal, a principal fonte de financiamento era
oriunda de recursos públicos federais e estaduais, do Fundo Federal de
Eletrificação e dos créditos subsidiados pelo BNDE (Banco Nacional de
Desenvolvimento). Além disso, os estados e municípios eram obrigados
a aplicar os 60% do IUEE (Imposto Único sobre Energia Elétrica) que
lhes correspondia, no setor de energia elétrica. Observa-se que neste
período (até 1967) foram gerados as principais condições institucionais e
os instrumentos financeiros para a futura expansão do setor, onde a
tônica da política setorial já começava a se concentrar na expansão
mediante recursos próprios.
A partir de 1967, é iniciada a fase empresarial, onde o foco foi a
retomada dos investimentos no setor que eram baseados em 67% de
recursos próprios e em 33% de recursos de terceiros. Isso se tornou
possível uma vez que o setor elétrico brasileiro apresentava uma
situação econômico-financeira equilibrada, com níveis tarifários
suficientes para cobrir os custos operacionais e remunerar o capital
investido.
A partir de 1974 tem início a fase de endividamento externo que
culminou com a crise financeira do setor elétrico motivada por uma série
de medidas adotadas pelo governo brasileiro tais como: - adoção de uma
política de contenção tarifária, que tinha entre outros objetivos reduzir a
inflação, subsidiar indústrias eletro-intensivas voltadas para a
exportação e reduzir a demanda por derivados de petróleo importado; -
utilização do setor elétrico para a captação de recursos externos,
necessários para o fechamento do balanço de pagamento do país, que em
alguns casos não eram aplicados no próprio setor; - modificação da
política tarifária que deixou de ser diferenciada por região e passou a ser
praticada de forma equalizada em todo o país, além disso, estas
passaram a evoluir em um patamar abaixo da inflação, obrigando o setor
a aumentar o nível de captação de recursos externos, com o conseqüente
17
processo de endividamento; - corte dos investimentos em 1981, 1983 e
1984 que adiou a conclusão de vários projetos, aumentando seus custos
em função dos juros durante a construção. No final de 1986 a dívida
consolidada do setor de energia elétrica atingia 24 bilhões de dólares,
dos quais 80% em moeda estrangeira, e a participação no ativo total do
setor eram representadas por 35% de recursos próprios e 65% de capital
de terceiros.
Assim, em 1985, é elaborado o Plano de Recuperação do Setor de Energia
Elétrica (PRS), cujos recursos necessários para viabilizar a expansão eram oriundos de
três fontes básicas: recursos tarifários, recursos orçamentários e rolamento da dívida.
Ressalta-se que esta medida gerou uma melhoria na estrutura de financiamento do setor
que apresentava ao final de 1988, 46% de recursos próprios e 54% de terceiros.
(SILVEIRA, 1997)
Neste contexto, ganhou força a corrente que defendia a privatização do setor
elétrico como forma de assegurar os recursos necessários para a consecução do plano de
obras setorial. (SILVEIRA, 1997)
O processo de privatização das estatais no Brasil começou a ser discutido no
governo Figueiredo, 1979 a 1984, sob o argumento de que tais empresas tinham saído
do controle das autoridades federais. Já no governo de Fernando Collor de Mello foi
dada grande ênfase à viabilização da privatização de empresas estatais com a
promulgação de duas leis e dois decretos: a) Lei Nº. 8031, de 12 de abril de 1990, que
criou o Programa Nacional de Desestatização PND; b) Decreto Nº. 99.463, de 16 de
agosto de 1990, que regulamentou a lei anterior; c) Decreto Nº. 99.464, de 16 de agosto
de 1990, que designou o BNDES gestor do PND; d) Lei Nº. 8.250, de 24 de outubro de
1990, que estabeleceu as formas de pagamento das empresas privatizadas.
(TOMASQUIM, 2002)
Em 1992, as dívidas das concessionárias estaduais relativas às faturas de energia
comprada e não quitada atingiram a marca de 5 bilhões de dólares. Assim, o governo
Itamar Franco promoveu significativas alterações na legislação do setor elétrico
brasileiro, visando o restabelecimento da adimplência entre as empresas estatais, e a
retomada dos investimentos em geração com o aporte do capital privado. Logo, foi
18
promulgada a Lei 8.631 de março de 1993, que estabelece, entre outras coisas, a
desequalização tarifária e a obrigatoriedade de celebração de contratos entre
concessionárias supridoras e distribuidoras. Ao abolir o regime de equalização tarifária
a referida Lei atribuiu às concessionárias a prerrogativa de propor trienalmente os níveis
das tarifas de energia elétrica para homologação pelo DNAEE.
Outra medida favorável à participação do capital privado nos investimento do
setor foi a instituição, pelo governo Itamar Franco, do Sintrel (Sistema Nacional de
Transmissão de Energia Elétrica) . O Sintrel foi definido como um pacto operativo entre
as concessionárias de transmissão, fundamentado no princípio de livre acesso a rede de
transmissão. Assim, poder-se-ia estimular a participação do capital privado no setor de
geração com a entrada dos produtores independentes. Entretanto, o Sintrel foi
inviabilizado pelas dificuldades para definição de mecanismos de tarifação para o
transporte de energia no sistema.
2.2.2. Modelo FHC: modelo de livre mercado
Com o advento do governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995, foi iniciado
de forma contundente o processo de reforma institucional no setor de energia elétrica,
inspirado em experiência de reestruturação de diversos países Europeus e Sul
Americanos. Esta reforma tinha como motivo principal a introdução de um ambiente
competitivo na geração e comercialização e conseqüente mudança regulatória nos
segmentos considerados monopólios naturais: transmissão e distribuição.
O novo arcabouço regulatório foi iniciado com a promulgação da Lei Nº. 8.987
de fevereiro/1995 (Lei Geral das Concessões) que dispõe sobre o regime de concessão e
permissão de prestação de serviços públicos, regulamentando o artigo 175 da
Constituição, isso obriga a realização de licitação da geração, transmissão e distribuição.
A nova lei cancelou diversas concessões dadas no passado, em que as obras não tinham
sido iniciadas (GARRIDO, 1999). Nos termos da lei, a concessão de serviço público foi
definida como “a delegação de sua prestação, feita pelo poder concedente, mediante
licitação na modalidade concorrência à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que
demonstre capacidade para seu desempenho por sua conta e risco e por prazo
determinado”.
19
A reestruturação tinha como principal objetivo promover a mudança de um
modelo baseado no monopólio verticalmente integrado em um modelo mais competitivo
com a desverticalização da indústria. Assim, em julho de 1995, o governo Fernando
Henrique Cardoso sanciona a Lei Nº. 9.074 que estabelece normas para outorga e
prorrogações das concessões e permissões de serviços públicos. Estabeleceu-se também,
a figura do produtor independente de energia elétrica, permitindo aos consumidores com
carga maior ou igual a 3.000 kW, atendidos em alta tensão a escolha do seu fornecedor
de energia elétrica. Além disso, estabeleceu o livre acesso às instalações de transmissão
e possibilitou a formação de consórcios de geração. (TOMASQUIM, 2002)
A Lei Nº. 9.074/95 antecipa as bases do novo modelo competitivo. Os principais
pontos desta lei descrevem-se a seguir:
Das Concessões, Permissões e Autorizações
Contratações, outorga e prorrogação poderão ser feitas a título oneroso
em favor da União;
Amortização dos investimentos de concessões de geração, de
transmissão e distribuição limitadas em 35 e 30 anos respectivamente,
podendo ser prorrogada por igual período;
São objetos de concessão, mediante licitação:
I o aproveitamento de potenciais hidráulicos de potência superior a
1.000 kW e a implantação de usinas termelétricas de potência superior a
5.000 kW, destinada a execução de serviço público;
II o aproveitamento de potenciais hidráulicos de potência superior a
1.000 kW, destinados à produção independente de energia elétrica;
III o uso de bem público, o aproveitamento de potenciais hidráulicos
de potência superior a 10.000 kW, destinados ao uso exclusivo de
autoprodutor, resguardado direito adquirido relativo às concessões
existentes.
As usinas termelétricas destinadas à produção independente poderão ser
objeto de concessão mediante licitação ou autorização.
São objetos de autorização:
I a implantação de usinas termelétricas, de potência superior a 5.000
kW, destinada a uso exclusivo do autoprodutor;
20
II o aproveitamento de potenciais hidráulicos, de potência superior a
1.000 kW e igual ou inferior a 10.000 kW, destinados a uso exclusivo do
autoprodutor.
Do Produtor Independente de Energia Elétrica
Cria a figura do produtor independente de energia, ou seja, pessoa
jurídica ou empresas reunidas em consórcio que recebam concessão ou
autorização do poder concedente, para produzir energia elétrica
destinada ao comércio de toda ou parte da energia produzida, por sua
conta e risco;
A venda de energia elétrica por produtor independente poderá ser feita
para:
I – concessionário de serviço público de energia elétrica;
II – consumidor de energia elétrica, nas condições estabelecidas no
tópico seguinte;
III – consumidores de energia elétrica integrantes de complexo industrial
ou comercial, aos quais o produtor independente também forneça vapor
oriundo de processo de co-geração;
IV conjunto de consumidores de energia elétrica, independentemente
de tensão e carga, nas condições previamente ajustadas com o
concessionário local de distribuição;
V qualquer consumidor que demonstre ao poder concedente não ter o
concessionário local lhe assegurado o fornecimento no prazo de até
cento e oitenta dias contado da respectiva solicitação.
Das Opções de Compra de Energia Elétrica por parte dos Consumidores
Respeitados os contratos de fornecimento vigentes, a prorrogação das
atuais e as novas concessões serão feitas sem exclusividade de
fornecimento de energia elétrica a consumidores com carga igual ou
maior que 10.000 kW, atendidos em tensão igual ou superior a 69 kV,
que podem optar por contratar seu fornecimento, no todo ou em parte,
com produtor independente de energia elétrica.
21
Decorridos três anos da publicação desta Lei, os consumidores referidos
no artigo poderão também estender sua opção de compra a qualquer
concessionário, permissionário ou autorizado de energia elétrica do
mesmo sistema interligado, excluídas as concessionárias supridoras
regionais.
Decorridos cinco anos da publicação desta Lei, os consumidores com
carga igual ou superior a 3.000 kW, atendidos em tensão igual ou
superior a 69 kV, poderão optar pela compra de energia elétrica a
qualquer concessionário, permissionário ou autorizado de energia
elétrica do mesmo sistema interligado.
Após oito anos da publicação desta Lei, o poder concedente poderá
diminuir os limites de carga e tensão.
É de livre escolha dos novos consumidores, cuja carga seja igual ou
maior que 3.000 kW, atendidos em qualquer tensão, o fornecedor com
quem contratará sua compra de energia elétrica.
Das Instalações de Transmissão e dos Consórcios de Geração
O poder concedente deverá definir, dentre as instalações de transmissão,
as que se destinam à formação da rede básica dos sistemas interligados,
as de âmbito próprio do concessionário de distribuição e as de interesse
exclusivo das centrais de geração.
As instalações de transmissão, integrantes da rede básica dos sistemas
elétricos interligados, serão objeto de concessão mediante licitação, e
funcionarão na modalidade de instalações integradas aos sistemas e com
regras operativas definidas por agente sob controle da União, de forma a
assegurar a otimização dos recursos eletro-energéticos existentes ou
futuros.
As instalações de transmissão de âmbito próprio do concessionário de
distribuição poderão ser consideradas pelo poder concedente parte
integrante da concessão de distribuição.
As instalações de transmissão de interesse restrito das centrais de
geração serão consideradas integrantes das respectivas concessões,
permissões ou autorizações.
22
O decreto 2003/96 regulamentou as figuras do Autoprodutor e do Produtor
Independente de energia. O autoprodutor recebia uma concessão ou autorização do
governo para produzir energia elétrica para uso próprio com possibilidade de
comercializar o excedente gerado. Para o Produtor Independente a concessão ou
autorização seria para produzir energia elétrica e vender aos agentes de mercado, por
sua conta e risco. Além disso, para estimular a concorrência na geração, a Resolução
ANEEL Nº. 265/98 regulamentou a figura do Comercializador de Energia para atuar no
campo da compra e venda de eletricidade. (PIERONI, 2005)
No sentido de privatização dos ativos do Sistema Eletrobrás, o Decreto 1503/95
incluiu esta empresa no Programa Nacional de Desestatização. Com isso, através de
leilões empresas estatais de geração e distribuição foram vendidas à iniciativa privada.
Entre os anos de 1995 e 2003 muitas empresas foram privatizadas como pode ser
observado na Tabela 2.1. (PIERONI, 2005)
23
Tabela 2.1
Resultado das privatizações do setor elétrico brasileiro.
Natureza Empresa
Data da
Oferta
Venda
(US$ milhões)
Dívidas
(US$ milhões)
Escelsa 11/7/1995 519 2.0
Light 21/5/1996 2509 585.9
Gerasul 15/9/1998 880 1.082.0
Cachoeira Dourada 5/9/1997 714 140
CESP Paranapanema 28/7/1999 682 482
CESP Tietê 27/10/1999 472 668
Cerj
20/11/1996
587
364
Coelba 31/7/1997 1.589 213
CEEE-Norte-NE 21/10/1997 1.486 149
CEEE-Centro-Oeste 21/7/1997 1.372 64
CPFL 5/11/1997 2.731 102
Enersul 19/11/1997 565 218
Cemat 27/11/1997 353 461
Energipe 1/12/1997 520 40
Cosern 12/12/1997 606 112
Coelce 2/4/1998 868 378
Eletropaulo 15/4/1998 1.777 1.241
Celpa 9/7/1998 388 116
Elektro 16/7/1998 1.273 428
EBE 17/9/1998 860 375
Celpe 17/2/2000 1.004 131
Cemar 15/6/2000 289 158
Saelpa 30/11/2000 185 -
Total das privatizações 22.239 7.510
Empresas
Federais
Geradoras
Estaduais
Distribuidoras
Estaduais
Em dezembro de 1996 foi promulgada a Lei Nº. 9.427 que cria a ANEEL, órgão
responsável por regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e
comercialização de energia elétrica, de acordo com as políticas e diretrizes do governo
federal.
Em julho de 1996, o Ministério das Minas e Energia constituiu um grupo de
trabalho, coordenado pela empresa britânica Coopers & Lybrand, contratada a partir de
uma concorrência internacional lançada pelo governo brasileiro, com o objetivo de
conceber um novo modelo institucional para o setor.
24
Assim, especialistas ligados ao setor elétrico iniciaram um projeto de
reestruturação do setor elétrico brasileiro denominado PROJETO RESEB com o
objetivo de “elaboração de regras claras e definitivas para o setor”. (GARRIDO, 1999)
Foram trabalhadas quatro grandes linhas de atuação: a) Novos arranjos
mercantis: compra e venda de energia no atacado, acesso as redes de transmissão e
distribuição e mecanismos para assegurar planejamento e expansão do setor; b) medidas
jurídicas e regulamentares; c) mudanças institucionais, novos agentes e órgãos; d)
financiamento do setor. (TOMASQUIM, 2002)
Os trabalhos foram iniciados em agosto de 1996 e em outubro daquele ano
estava pronto o diagnóstico setorial, discutido e ajustado à realidade nacional. A fase
seguinte envolveu a discussão dos aspectos técnicos, que resultou na elaboração de 25
documentos de trabalho (Working Papers), produzidos e discutidos em 6 meses. “Tudo
isso considerando os objetivos fundamentais do trabalho: aumento de competitividade,
incentivo à participação privada e venda de ativos da União”. (PAIXÃO, 1997)
Após meses de atividades, em dezembro de 1997, estavam concluídos os
documentos básicos que traduziram a concepção do novo modelo e critérios para a sua
implementação.
Apresentam-se, a seguir, algumas das principais recomendações do projeto
RESEB: (COOPERS & LYBRAND, 1997)
O Projeto RESEB apresentou um modelo comercial competitivo
proposto para a compra e venda de energia elétrica. A característica
central do novo modelo comercial foi a criação do Mercado de
Atacado de Energia (MAE), para substituir o sistema de preços
regulamentados de geração e contratos renováveis de suprimento e
ainda a criação do Operador Nacional do Sistema (ONS), responsável
pelo planejamento operacional, programação e despacho. Para
executar estas funções, receberá dados sobre afluências dricas,
níveis dos reservatórios, disponibilidade de usinas e custos de
combustíveis e calculará um preço que representará o custo marginal
do sistema ou preço “spot”, em que oferta e demanda estarão
equilibradas.
25
A negociação de energia entre os geradores e as empresas de serviço
público de distribuição e comercialização (D/C) será em sua maior
parte celebradas a partir de contratos bilaterais que especificarão o
preço e os volumes contratados durante sua vigência. Contratos
bilaterais representam proteção a ambas as partes contra a exposição
ao risco representado pela potencial volatilidade do preço “spotde
energia do MAE, pois somente fluxos de energia não contratados
serão negociados diretamente no MAE e liquidados ao preço deste. A
contabilização de energia no MAE deverá envolver, portanto, os
dados de medição para toda a energia do sistema.
Um modelo comercial competitivo pressupõe preços contratuais de
energia desregulamentado e acordado entre as partes. Contudo, para
dar início ordenado ao MAE foram instituídos os chamados contratos
iniciais celebrados entre geradores e empresas de D/C. Estes
contratos terão duração de 15 anos “os volumes contratados serão
constantes nos anos de um a seis e passarão a ser reduzidos
gradualmente a partir de então. Geradores e empresas de D/C estarão
assim livres para negociar novos contratos aos preços de mercado
para substituir os volumes não contratados e atender à demanda
crescente”.
Os arranjos comerciais propostos no projeto RESEB darão pleno
apoio à concorrência na comercialização por consumidores livres
através da implementação de políticas que possibilitem o livre acesso
de todos os agentes de mercado aos sistemas de transmissão e
distribuição e regulamentação de tarifas apropriadas pelo uso destes
sistemas. O sistema de transmissão é composto pelos ativos em
tensões iguais ou superiores a 230 kV, os com tensões inferiores a
esta representam os ativos da distribuição. Os consumidores livres
poderão comprar energia de qualquer Comercializador Autorizado ou
através do MAE.
Com base nas recomendações da consultoria Coopers & Lybrand, o governo
sancionou a Lei Nº. 9.648 de 27 de maio de 1998 que institui dois agentes muito
importantes para o novo modelo: o ONS responsável pela coordenação e controle da
26
operação das instalações de geração e transmissão dos sistemas elétricos interligados; e
o MAE, ambiente onde se realizariam as transações de compra e venda de energia nos
sistemas interligados, incluindo as atividades de compatibilização dessas transações e
liquidação das diferenças entre os valores contratados e verificados por medição. Além
da compra e venda de energia por contratos bilaterais de longo prazo, foi prevista a
liquidação de blocos de energia no curto prazo (mercado spot), a partir das
disponibilidades ofertadas pelos geradores, conforme regras de acordo de mercado.
Em 2 de julho de 1998 foi publicado o Decreto 2.655 de regulamentação do
Mercado Atacadista de Energia MAE e do Operador Nacional do Sistema Elétrico
ONS.
Em março de 1998 o ONS assume as funções de Operação, supervisão e
controle do Sistema Elétrico Brasileiro e em setembro de 2000 entra em operação o
Mercado Atacadista de Energia.
No sentido de estabelecer garantias no processo de negociação entre os novos
agentes de mercado, o modelo FHC criou três ambientes de contratação: a) Mercado
Regulado, para os consumidores cativos de concessionárias de distribuição, tendo tarifas
de energia reguladas pelo governo; b) Mercado livre de longo prazo para negociação do
fornecimento de energia elétrica e estabelecimento de contratos bilaterais entre
geradores, comercializadores, consumidores livres e distribuidoras; e c) Mercado livre
de curto prazo (mercado spot), para comercialização de energia não contratada
recorrente da diferença entre os contratos bilaterais firmados pelos agentes nos outros
dois ambientes e o suprimento de fato realizado. Para este caso, o preço da energia deve
refletir o custo marginal de operação do sistema no curto prazo definido a partir de
modelos computacionais. (PIERONI, 2005)
Em 24 de julho de 2000, o governo sanciona a Lei Nº. 9.991 que dispõe sobre a
obrigação das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor elétrico
em aplicar anualmente 1% de sua receita operacional quida em pesquisa e
desenvolvimento e em eficiência energética.
Em maio de 2001, com o nível dos reservatórios de água muito abaixo dos
níveis necessários para manter a geração de energia elétrica suficiente para atender à sua
demanda, o governo federal, através da Medida Provisória 2.147, de 15 de maio de
27
2001, criou a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE). De acordo com
essa Medida Provisória, a GCE ficou encarregada de “estabelecer e gerenciar o
Programa Emergencial de Redução do Consumo de Energia Elétrica”. (OLIVEIRA,
2003)
No dia seguinte à sua criação, a GCE emitiu sua Resolução 001
determinando o início do Programa Emergencial de Redução do Consumo de Energia
Elétrica, popularmente chamado apenas de “racionamento” que atingiu as Regiões
Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. O racionamento prolongou-se na Região Nordeste
por todo o restante do ano 2001 e início do ano 2002, trazendo uma perda de
faturamento significativa para as distribuidoras dessa região durante esse período.
(OLIVEIRA, 2003)
Em março de 2002, foi anunciado o fim do racionamento deixando uma
frustração aos consumidores que mesmo reduzindo o consumo, como pedia o governo,
foram penalizados com aumento no preço da energia. Apesar do prejuízo alegado pelas
empresas distribuidoras, estas obtiveram uma revisão das tarifas denominada
“recomposição tarifária extraordinária” para cobrir os “prejuízos” com a crise, que
entrou em vigor em dezembro de 2001.
Principais fragilidades do modelo FHC
O modelo FHC, durante a sua vigência enfrentou muitas dificuldades que
levaram à adoção de um novo marco regulatório iniciado no governo do presidente Luís
Inácio Lula da Silva. Dentre as dificuldades observadas pode-se citar:
a) Elevação das tarifas: ocasionada principalmente, pelo reajuste tarifário
concedido às concessionárias de distribuição por ocasião da privatização das mesmas;
b) Crise no abastecimento de energia elétrica: ocasionado o racionamento de
energia. Situação devida à falta de investimento em geração tanto do estado, quanto do
setor privado e baixo nível dos reservatórios provocados por um período de estiagem;
Pela Figura 2.6 pode-se constatar que o crescimento do consumo é superior ao da
capacidade instalada.
28
Figura 2.6 Capacidade instalada X Consumo de eletricidade (Ano base: 1980)
Fonte: (BEN, 2004)
c) Incertezas Regulatórias: ocasionadas principalmente, pelas indefinições das
regras de mercado que não davam segurança aos investidores na expansão do sistema.
Como se pode observar estes três problemas atuam negativamente na indústria
como um todo, pois envolvem os consumidores, agentes setoriais (concessionárias de
distribuição e geração, ANEEL, MAE, etc.) e os investidores. Esses fatos levaram ao
governo recém eleito (governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva) a promover
mudanças no Modelo Institucional do Setor Elétrico instituído pelo governo Fernando
Henrique Cardoso.
2.2.3. Modelo Lula: ajustes no modelo de livre mercado
Em janeiro de 2003 toma posse o Presidente Luís Inácio Lula da Silva que
propôs uma revisão no setor de energia elétrica. Assim, sob o comando da Ministra de
Minas e Energia Dilma Rousseff foi iniciado o processo de redefinição do modelo
institucional do setor que deveria obedecer a oito diretrizes básicas: prevalência do
conceito de serviço público para a produção e distribuição de energia elétrica aos
consumidores cativos; modicidade tarifária; restauração do planejamento da expansão;
transparência no processo de licitação permitindo a contestação pública, por técnica e
preço, das obras a serem licitadas; mitigação dos riscos sistêmicos; manutenção da
operação coordenada e centralizada do sistema hidrotérmico brasileiro; universalização
do acesso e do uso dos serviços de eletricidade; e modificação no processo de licitação
de concessão do serviço público de geração, priorizando a menor tarifa.
29
Diante das recomendações apresentadas pelo grupo de trabalho responsável por
apresentar uma proposta de reforma ao modelo FHC, o presidente Lula emitiu as
medidas provisórias (MP) Nº. 144 e Nº. 145 estabelecendo as bases para implantação do
novo modelo.
A MP Nº 144 tratou da definição das regras de comercialização de energia
definindo como elementos fundamentais do novo modelo: - a competição na geração
mediante a realização em separado dos leilões de energia de empreendimentos
existentes (energia velha) e de novos empreendimentos (energia nova) pelo critério de
menor tarifa; - a existência de dois ambientes de contratação de energia, um regulado
para proteção do consumidor cativo e outro livre para estímulos aos consumidores
livres; - instituição de um pool de contratação regulada de energia a ser comprada pelas
distribuidoras. Outra medida importante desta MP foi a substituição do MAE pela
CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) que dentre outras atribuições
ficou responsável pela administração de contratos de compra e venda de energia no
ambiente de contratação regulada e contabilização e liquidação das diferenças
contratuais no ambiente de contratação livre.
A MP Nº145 criou a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pela
elaboração de estudos de planejamento integrado de recursos energéticos e planos de
expansão do setor de energia elétrica. Além disso, criou o Comitê de Monitoramento do
Setor Elétrico (CMSE), responsável por manter a segurança do suprimento de energia
elétrica de forma a garantir o atendimento do mercado no horizonte de cinco anos.
O modelo proposto preservou as funções da ANEEL e do ONS e deu ao
Conselho Nacional de Política Energética duas novas funções: formular o critério de
garantia estrutural de suprimento de energia elétrica e a licitação individual de projetos
especiais para o setor. Quanto a Eletrobrás, esta manteria as funções de holding das
empresas federais, ficando responsável pela administração dos encargos e fundos
setoriais, pela gestão do programa Luz para Todos e pela comercialização da energia de
Itaipu Binacional e das fontes alternativas do Programa de Incentivos às Fontes
Alternativas de Energia (Proinfa).
Em março de 2004 foram promulgadas as leis Nº. 10.847 e Nº. 10.848, além dos
decretos Nº. 5.163 e Nº. 5.175, que estabeleceram um novo marco regulatório.
30
Princípios básicos do modelo Lula
O modelo Lula foi delineado com o objetivo de vencer alguns desafios, tais
como: promover a modicidade tarifária, garantir a segurança do suprimento de energia
elétrica, assegurar a estabilidade do marco regulatório com vistas à atratividade dos
investimentos na expansão do sistema e promover a inserção social por meio do setor
elétrico, em particular dos programas de universalização de atendimento. (SAUER,
2002)
Na busca de atingir o desafio da modicidade tarifária, um conjunto de medidas
foi adotado, das quais se destacam:
O estabelecimento do ambiente de contratação de energia regulado, para
congregar todos os consumidores cativos e os distribuidores, no qual as
compras de energia são realizadas sempre por licitação e pelo critério de menor
tarifa; e o ambiente de contratação livre, onde comercializadores e
consumidores livres podem negociar seus contratos de suprimento;
O estabelecimento da contratação conjunta por todos os distribuidores, na forma
de um pool, permitindo a apropriação na tarifa de economias de escala na
compra da energia;
A reestruturação do planejamento setorial, com contestação de preço,
permitindo a escolha dos projetos mais eficientes e das soluções mais
econômicas para a expansão da oferta.
Para a garantia da segurança do fornecimento de energia elétrica o modelo prevê
um conjunto integrado de medidas, dentre elas se destacam:
A constituição de uma reserva de segurança do sistema, visando a matriz
hidrotérmica – combinação ótima de hidrelétricas e térmicas capaz de garantir
a maior segurança ao menor custo de suprimento possível;
A exigência de contratação de 100% da demanda por parte de todos os agentes
de consumo (distribuidores e consumidores livres), lastreada, basicamente, em
contratos com prazos não inferiores a cinco anos;
31
A contratação da energia visando a expansão do mercado com antecedência de
três e cinco anos e por meio de contratos de longo prazo;
A criação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico CMSE, coordenado
pelo MME, responsável pelo monitoramento permanente da segurança de
suprimento, podendo propor a contratação de reserva conjuntural, em caso de
desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
A atratividade dos investimentos de expansão do sistema, no novo modelo, se dá
a partir de medidas que permitem a realização de contratos de longo prazo entre
quaisquer geradores e quaisquer distribuidores.
Contudo, esses princípios básicos podem ser reformulados e aprimorados
segundo o comportamento e evolução do mercado elétrico no tempo. Em algum
momento pode ser revisto e avaliado o assunto dos investimentos, subsídios e abertura
do livre mercado em que não exista a figura do consumidor cativo.
Em que pese o contexto de livre mercado, a inserção social não deve ser
esquecida, pois a energia elétrica representa um insumo básico na vida das pessoas,
sendo tarefa do Estado promover o acesso a este serviço de forma a minimizar a
exclusão social, sem, no entanto, transferir este ônus ao setor privado de modo a não
afetar o equilíbrio econômico destas empresas.
2.3. Funcionamento do novo setor elétrico e instituições
O modelo Lula foi desenhado para promover uma importante melhoria na
segurança do suprimento de energia. A estrutura do desenho institucional, onde cada
instituição tenha suas funções, atribuições e responsabilidades claramente definidas, é
condição essencial para que o sistema funcione cumprindo seus objetivos de eficiência e
eficácia. Na Figura 2.7 apresenta-se a estrutura do atual do setor.
Na continuação descreve-se uma síntese do papel de cada Instituição do Novo
Modelo referenciada na Figura 2.7.
32
Figura 2.7 Instituições do Setor Elétrico Brasileiro, 2007
Fonte: CCEE
Conselho Nacional de Política Energética – CNPE
É um órgão de assessoramento do presidente da república, cuja principal função
no novo modelo é a homologação da política energética, em articulação com as demais
políticas públicas. Além disso, tem como atribuição propor licitação individual de
projetos especiais do setor elétrico, recomendados pelo MME e critério de garantia
estrutural de suprimento.
Ministério das Minas e Energia - MME
Neste novo modelo tem como atribuições: - formular e implementar políticas
para o setor energético, de acordo com as diretrizes do CNPE; - retomar o exercício da
função de planejamento setorial, com contestação pública, permitindo que possíveis
interessados, tais como concessionários, universidades, movimentos sociais,
consumidores e investidores, tenham a oportunidade de se manifestar, contribuindo na
elaboração do plano de expansão com objetivo de garantir a transparência do processo
licitatório; - monitorar a segurança de suprimento do setor elétrico, por intermédio do
CMSE; - e definir ações preventivas para restauração da segurança de suprimento no
caso de desequilíbrios conjunturais entre oferta e demanda, tais como gestão da
demanda e/ou contratação de uma reserva conjuntural de energia do sistema interligado.
CNPE
Conselho Nacional de
Política Energética
MME
Ministério de Minas e
Energia
ANEEL
Agência Nacional de
Energia Elétrica
EPE
Empresa de Pesquisa
Energética
CMSE
Comitê de Monitoramento
do Setor Elétrico
CCEE
Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica
ONS
Operador Nacional do
Sistema Elétrico
33
Empresa de Pesquisa Energética - EPE
Seu papel no novo modelo a conduz as seguintes responsabilidades: - execução
de estudos para definição da Matriz Energética com indicação das estratégias a serem
seguidas e das metas a serem alcançadas, dentro de uma perspectiva de longo prazo; -
execução dos estudos de planejamento integrado dos recursos energéticos; - execução
dos estudos do planejamento da expansão do setor elétrico (geração e transmissão); -
promoção dos estudos de potencial energético, incluindo inventário de bacias
hidrográficas e de campos de petróleo e de gás natural; - e promoção dos estudos de
viabilidade técnico-econômica e sócio-ambiental de usinas e obtenção da Licença
Prévia para aproveitamentos hidrelétricos.
Esta empresa assumiu o papel do CCPE (Comitê Coordenador do Planejamento
da Expansão) e é vinculado ao MME. Enquanto no modelo FHC o Planejamento da
Expansão da Geração tinha um caráter indicativo, no modelo Lula este passou a ter um
caráter determinativo.
Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE
O CMSE, coordenado pelo MME, é responsável pelo monitoramento
permanente da segurança de suprimento, com o objetivo de assegurar a implementação
de providências com vistas a garantir a normalidade do suprimento de energia elétrica,
podendo propor a contratação de reserva conjuntural, em caso de desequilíbrio entre a
oferta e a demanda.
Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL
A ANEEL é uma autarquia especial, com personalidade jurídica de direito
público e autonomia patrimonial, administrativa e financeira, vincula-se ao Ministério
de Minas e Energia. Seu papel é regular e fiscalizar a produção, transmissão,
distribuição e comercialização de energia elétrica, bem como a atuação dos agentes
envolvidos com essas atividades, zelando pelo cumprimento das normas do marco
regulatório vigente, de forma a proporcionar condições favoráveis para que o
desenvolvimento do mercado de energia elétrica ocorra com equilíbrio entre os agentes
e em benefício da sociedade.
34
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE
Este órgão que absorveu as funções do MAE é responsável pela: implantação
das Regras de Comercialização, administração dos ambientes de contratação Regulada e
Livre, coleta de dados automática dos valores produzidos e consumidos no sistema
elétrico interligado, registro de contratos firmados entre os agentes, realização de leilões
de compra e venda de energia elétrica; apuração das infrações e cálculo de penalidades
por variações de contratação de energia, apuração do preço de liquidação das diferenças
utilizado para liquidação de energia comercializada no curto prazo, contabilização e
liquidação das transações realizadas no mercado de curto prazo e monitoramento das
condutas e ações empreendidas pelos agentes. A CCEE atua como interveniente: - nos
contratos bilaterais de suprimento que cada gerador firmará com cada distribuidor, na
forma de um pool, permitindo a apropriação, na tarifa, de economias de escala na
compra da energia, repartindo os riscos e benefícios dos contratos e equalizando o preço
da energia para os distribuidores; - nos contratos de constituição de garantias que cada
distribuidor terá que firmar, a fim de reduzir a inadimplência.
Operador Nacional do Sistema – ONS
O Operador Nacional do Sistema Elétrico é uma entidade privada, responsável
pela operação integrada e centralizada do SIN e administração da contratação das
instalações de transmissão, cujos integrantes são as empresas de geração, transmissão,
distribuição, importadores e exportadores de energia elétrica e consumidores livres.
Cabe ao ONS conduzir a operação do SIN de forma otimizada, a menor custo.
Desenvolve o planejamento e a operação hidrotérmica do SIN, buscando a eficiência no
uso integrado dos recursos que são disponibilizados, explorando-os de forma otimizada,
produzindo ganhos e garantindo a segurança eletroenergética do SIN.
2.4. Principais diferenças do modelo Lula em relação ao modelo FHC
A reforma introduzida pelo modelo Lula conservou alguns dos princípios
básicos do modelo FHC, notadamente a desverticalização da indústria, as figuras do
consumidor livre, do produtor independente e do autoprodutor de energia. Instituições
como ANEEL e ONS foram mantidas, embora com redução de responsabilidades,
menos autonomia e maior interferência por parte do governo federal.
35
No modelo Lula a preocupação com o fortalecimento do planejamento setorial, a
redução de riscos de investimento na expansão do parque gerador e confiabilidade do
suprimento resultou na definição de três novos agentes EPE (Empresa de Pesquisa
Energética), CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) e CMSE (Comitê
de Monitoramento do Setor Elétrico).
Uma medida adotada pelo modelo Lula que vai diretamente de encontro à
proposição do modelo FHC é o fortalecimento do papel do governo na indústria de
energia elétrica, isto se tornou bem claro quando da retirada da ELETROBRÁS,
FURNAS, CHESF, ELETRONORTE, ELETROSUL e CGTEE do Programa Nacional
de Desestatização. (PIERONI, 2005)
No ANEXO A, estão listadas as principais diferenças entre os três modelos
aplicados no sistema elétrico brasileiro.
2.5. Experiência internacional
A reestruturação da indústria de energia elétrica com foco em um modelo
competitivo na comercialização e na geração foi a opção de muitos países espalhados
pelo globo. Este processo foi iniciado nos anos 80 pelo Reino Unido (Inglaterra,
Escócia e País de Gales) e Chile, sendo estendidas para outros países na década de 90.
A seguir apresenta-se um histórico deste processo em vários países do mundo. Na
Tabela 2.2 é mostrado um resumo da experiência internacional sobre a
desregulamentação do setor elétrico.
36
Tabela 2.2
Experiência internacional da desregulamentação.
Ano País Evento
1978 EUA
Public Utilities Regulatory Act
(PURPA):
introduziu a idéia de competição na geração; as
concessionárias foram obrigadas a adquirir a
energia produzida pelos produtores
independentes
(Independent Power Producers)
ou, IPPS, entretanto, não podiam vender essa
energia diretamente ao consumidor
1982 Chile Reorganização do setor elétrico
1988 Reino Unido
(Inglaterra e País de
Gales)
O governo propôs um desmembramento da
CEGB
(Central Electricity Generating Board)
,
empresa estatal responsável pela geração e
transmissão de energia elétrica em todo o país.
1990 Reino Unido
A nova estrutura do mercado competitivo de
energia elétrica foi implantada
1990 Noruega Implementação de mercado de energia elétrica
1991-94 Argentina
Privatizações e estabelecimentos do mercado de
energia elétrica
1993 Peru
Regulamentação do processo de
desregularização
1995 Colômbia
Inicio do funcionamento do esquema de
mercado de energia elétrica
1998 EUA
Entram em operação os primeiros mercados
totalmente operacionais: Califórnia e PJM.
2000 EUA Inicio da crise de energia na Califórnia
Fonte: (FALCÃO, 2006)
É importante destacar que no Reino Unido e em países da América Latina, a
reestruturação acompanha o processo de privatização do setor elétrico, direcionado a
atrair capitais privados para investirem no setor liberando o governo desta
responsabilidade. Nos países do Leste Europeu, e alguns países socialistas (como a
China, por exemplo), o processo segue uma tendência generalizada de privatização e
descentralização administrativa. Nos EUA e em outros países nos quais as empresas de
energia elétrica em sua maior parte já eram empresas privadas, a reestruturação tem
como objetivos: aumentar a competição e a desregulamentação do setor, visando reduzir
37
o custo final da energia para o consumidor; conduzir a uma utilização mais eficiente dos
recursos energéticos e melhorar a preservação do meio ambiente. (FALCÃO, 2006)
A seguir apresenta-se um breve relato sobre a desregulamentação na América
Latina e nos países Nórdicos. Na seqüência são abordados com maiores detalhes os
casos referentes especificamente à Califórnia e ao Chile.
América Latina
A transformação da indústria de energia elétrica na América Latina se deu a
partir da inserção de uma nova regulamentação com vista a criar mercados mais
competitivos com o ingresso do setor privado no negócio para bancar os altos
investimentos necessários a fim de atender a crescente demanda, liberando o Estado
para focar nos problemas básicos como educação e saúde. Esta transformação seguiu
esta cronologia: Chile em 1982, Argentina em 1992, Peru em 1993, Bolívia e Colômbia
em 1994, e os países da América Central em 1997. Logo após aderiu ao novo processo o
Brasil, Venezuela, México e Equador. (RUDNICK, 2002), (HOGAN, 2002)
A seguir apresentam-se os principais problemas enfrentados em alguns países da
América do Sul que levaram os mesmos a adotarem um novo modelo do setor elétrico a
partir de uma nova regulação: (RUDNICK, 1996)
A crise na Argentina foi instaurada entre os anos de 1988 e 1989 devido,
principalmente, a necessidade de realizar um investimento superior a US$
25.000 milhões acumulado desde 1970.
A Colômbia, devido a seu limitado parque de geração térmica, adotou um
racionamento de energia entre os anos 1992 a 1993 causado por uma severa
seca ocorrida naquele país.
Na Bolívia e Peru os governos não tinham recursos para investir no setor, em
contrapartida ofereciam subsídios para consumidores carentes.
No Brasil não foi diferente, a falta de dinheiro paralisou inúmeros investimentos
levando o país a uma crise no setor que culminou num racionamento de energia
ocorrido em 2001.
38
Entre os anos 1998 e 1999 o mercado chileno enfrentou uma grave crise no
suprimento de eletricidade ocasionada por uma grande seca que abateu o país.
Com a falta de água houve uma drástica redução no nível de armazenamento no
principal reservatório do sistema elétrico chileno, o Lago Laja. (RUDNICK,
2003)
Países Nórdicos
A reestruturação da indústria da eletricidade nos países Nórdicos aconteceu a
partir de 1990 na Noruega, seguido da Suécia em 1995 com o estabelecimento de
mercado comum entre estes dois países. Posteriormente, entre 1998 e 2000, a Finlândia
e a Dinamarca se juntaram a este mercado nórdico comum. (FLATABO, 2003)
“O mercado de eletricidade nórdico é agora o único verdadeiramente
internacional. Nesta estrutura um operador de mercado, cinco
operadores de sistema e agências reguladoras em cada um dos quatros
países”. (FLATABO, 2003)
A geração de energia nos países Nórdicos é bastante diversificada. A Noruega
tem quase 100% da geração de energia produzida através de usinas hidrelétricas. A
Suécia e a Finlândia possuem usinas hidrelétricas, térmicas, nucleares e outras. a
Dinamarca tem quase 100% de usinas térmicas.
Após a reestruturação da indústria da eletricidade na região Nórdica, foi
estabelecido um regime de competição a partir da criação de um mercado atacadista de
energia.
O Caso da Califórnia
No início dos anos 90 o custo da energia elétrica no estado da Califórnia estava
entre os mais altos do país motivado principalmente por:
Excesso de capacidade instalada ociosa;
Ineficiência de muitas centrais geradoras;
Necessidade de amortizar investimentos feitos em grandes centrais nucleares.
Até 1998 o mercado californiano era formado principalmente por três
monopólios privados responsáveis pela geração, transmissão e distribuição de energia
39
elétrica a todos os clientes de sua área de concessão, sendo estas reguladas no âmbito de
tarifas, custos e obrigações pela Califórnia Public Utilities (CPUC) órgão responsável
pela regulação do mercado elétrico. (ARIZTIA, 2002)
Deste modo, a Califórnia que passou por sérios problemas energéticos foi o
primeiro estado norte-americano a oferecer aos consumidores a possibilidade de escolha
do fornecedor de energia elétrica nos moldes da regulamentação adotada em outros
países como o Reino Unido, a Austrália, a Noruega e a Nova Zelândia. (PIRES, 2001)
A implementação do novo modelo do setor elétrico do estado da Califórnia
ocorreu a partir de de janeiro de 1998. A nova legislação tinha como principais
objetivos: (PIRES, 2001)
Criação de um ambiente competitivo na comercialização (livre escolha por
parte dos consumidores) e na geração de energia;
Redução das tarifas cobradas aos consumidores finais;
Estimular a entrada de novas usinas geradoras com base em energias limpas e
mais eficientes;
Fim dos monopólios verticalizados, separação da geração, transmissão e
distribuição.
Para atingir os objetivos, a nova legislação determinou: (PIRES, 2001)
Venda de 50% dos ativos de geração das duas principais empresas
distribuidoras do estado; South California Edison e a Pacific Gas & Electric;
Criação da Bolsa de Energia (Power Exchange PX), para realização de
transações spots de compra e venda de energia;
Criação do Operador Independente do Sistema (ISO), para administrar todos os
ativos de transmissão do sistema elétrico do estado e garantir a segurança e a
confiabilidade do sistema.
40
Acesso livre ao sistema de transmissão para todos os participantes do mercado
através do pagamento de tarifas de transmissão fixadas pela CPUC e
Federal
Energy Regulatory Commission
(FERC).
A regulamentação das atividades do PX e do ISO cabia à agência federal de
eletricidade ou FERC.
A primeira ação do processo de desregulamentação do mercado elétrico
Californiano foi a desverticalização do setor onde as três principais empresas (Pacific
Gás & Electric Company, Southem Califórnia Edison Company e San Diego Gás &
Electric Company) deveriam vender parte de sua geração térmica e passar o controle do
sistema de transmissão a um operador independente, de modo a produzir três mercados
diferentes: um de geração, um de transmissão e um de distribuição. (PIRES, 2001)
Sob a condução do PX os geradores participam de leilão diário no mercado
atacadista, ocasião em que declaram a energia necessária para atender à demanda do dia
seguinte na Califórnia. O PX paga o maior preço/hora para todas as geradoras e, após
isso, o ISO direciona o fluxo de eletricidade através do estado. Se, após o leilão, a oferta
comprada no PX for menor do que a demanda, o ISO cobre a diferença por meio da
compra de energia de reserva junto aos geradores. (PIRES, 2001)
Neste contexto, foi proibido o estabelecimento de contratos bilaterais de longo
prazo entre as distribuidoras pela necessidade de priorizar a transparência de preços
nesse mercado.
Sobre o regime tarifário pode se destacar que este é composto de um preço teto
que reflete: (PIRES, 2001)
Máximo valor que as três distribuidoras podem cobrar de seus consumidores;
Inclusão de percentual referente aos chamados custos amortizados (
stranded
costs
) referentes aos investimentos realizados pelas distribuidoras anteriores à
liberalização de mercado, com vigência máxima de quatro anos (até 2002). À
medida que as distribuidoras fossem cobrindo esses custos eliminando-os da
tarifa, passariam a ter plena liberdade de determinação de preços.
41
A contra reforma na Califórnia
Após dois anos da implementação do novo modelo do sistema elétrico da
Califórnia, mais precisamente no verão do ano 2000, começaram a ser percebidas
fragilidades regulatórias do modelo com impacto direto para os agentes de mercado.
Assim, houve uma crise de fornecimento de energia e colapso financeiro das
distribuidoras que foram provocados por uma série de fatores que se destacam a seguir:
(PIRES, 2001)
Houve uma alta nos preços spot do PX de até sete vezes os patamares de 1999
motivada pelo fato de que a oferta não havia acompanhado o aumento da
demanda de eletricidade;
Deste o inicio da implementação do modelo as distribuidoras vinham
recuperando seus custos amortizados com base na tarifa de transição. A partir
de 1998 a San Diego Gas & Energy, passou a ter liberdade de fixação de preços
conquistando consumidores das outras duas distribuidoras. Com o advento da
crise a Edison e a Pacific Gas tiveram prejuízo da ordem de US$ 13 bilhões sem
poderem repassar os custos aos consumidores finais uma vez que os preços
eram controlados. Por outro lado, a San Diego teve a liberdade de praticar
aumentos de até 270% aos consumidores pertencentes a sua área de atuação.
Contudo, o órgão regulador estadual California Public Utility Commission
(CPUC) retomou imediatamente o controle de preços da San Diego Pacific
Gas.
Houve elevado crescimento da demanda (12% entre 1996 e 1999), estimulado
pelo crescimento econômico não acompanhado pela oferta que cresceu somente
2% no mesmo período e ainda uma alta nos preços do petróleo e do gás natural,
insumos responsáveis pela alimentação de 53% da capacidade instalada. A
conjunção destes fatos culminou num aumento de preços aos consumidores
finais;
O sistema baseava-se exclusivamente em contratos spot, isto obrigava o PX a
remunerar os geradores pelo maior preço licitado sob pena de não garantia do
atendimento a demanda. Com isso, pode-se perceber o poder de mercado
exercido pelos geradores principalmente pela escassez da oferta frente a uma
42
demanda crescente. Assim sendo só restou a ISO, dentro de sua função de zelar
pela confiabilidade do sistema, remunerar geradores para disponibilizar sua
capacidade de suprimento para o caso de uma emergência, uma vez que não
havia capacidade de transmissão e interligação suficientes para importação de
energia de outros sistemas;
Enquanto a construção de novas plantas de geração esbarrava nas regras
ambientais, a carga crescia e nenhuma atitude era tomada no sentido de atenuar
este crescimento através de políticas de conservação de energia e redução da
demanda no horário de ponta.
O acúmulo de todos estes problemas gerou a crise que culminou num colapso de
energia em 2001.
O Caso do Chile
A indústria de eletricidade Chilena, em 1982, estabeleceu a criação de um
mercado livre e competitivo na geração, um mercado regulado de transmissão e um
mercado de monopólios regulados em distribuição. A seguir relacionam-se os aspectos
mais importantes do modelo de mercado atacadista implementado no Chile: (ARIZTIA,
2002)
Possibilidade de acesso livre no sistema elétrico por qualquer gerador;
Uso não discriminatório do sistema de transmissão e distribuição mediante
pagamento de pedágios;
Despacho dos geradores realizado por um operador independente do sistema
(Centro de Despacho Econômico da Carga - CDEC) de forma centralizada
utilizando critério de mínimo custo. Este operador encarregava-se do controle
do sistema de transmissão e determinava o preço da energia spot para cada hora
do dia.
Os geradores negociam sua energia a clientes livres, empresas distribuidoras e
mercado spot;
O mercado considera três tipos de preços para negociar a energia:
43
o
Preços livres, estabelecidos de comum acordo entre o consumidor
e o provedor;
o
Preço fixo, estabelecidos para consumidores regulados que
recebem energia por uma empresa distribuidora;
o
Preço spot, fixado pela CDEC a cada hora que corresponde aos
custos marginais do sistema.
De forma a garantir o suprimento às cargas, os geradores eram remunerados por
manter a disposição do sistema uma potência firme, estejam ou não gerando. Foi criada
também a chamada MRT (Margem de reserva teórico) que corresponde ao déficit ou
excedente de geração verificados no balanço de potencia firme realizado pela CDEC em
cima do compromisso assumidos pelos geradores. Deste balanço eram determinados
pagamentos pelo conceito de transferência de potência firme entre geradores.
(ARIZTIA, 2002)
Sendo verificadas situações de dificuldades de suprimento as cargas, deverá ser
decretado um racionamento de energia, obrigando, contudo, os geradores a
compensarem seus clientes regulados com o pagamento pela energia não suprida que
corresponde ao custo de falha menos o preço regulado. Este custo de falha, determinado
pelo governo, corresponde ao custo dos usuários por não receberem energia. (ARIZTIA,
2002)
A contra reforma no Chile
A seca que atingiu o Chile entre 1998 e 1999 provocou uma grande
descontinuidade de suprimento gerando blecautes em muitos lugares. O suprimento de
energia elétrica a Santiago foi reduzido três horas por dia, ocasionando uma energia não
suprida de mais de 450 GWh, provocando significativo impacto social e econômico.
(RUDNICK, 2003)
O que ficou claro foi uma falha no sistema de tarifas contidas na regulamentação
vigente. Estas não eram suficientes para conter a crise e prover sinais econômicos certos
para que os agentes pudessem contribuir na resolução do problema. (RUDNICK, 2003)
44
A crise no suprimento de energia demonstrou que a classe política não estava
preparada para enfrentar essa condição de emergência. Contudo, em 1999, o congresso
alterou drasticamente a lei que regulamentava o setor. Esta passou a indicar que
qualquer gerador com tarifa nodal contratada junto às companhias de distribuição, que
por sua vez atendam a consumidores finais, deverá arcar totalmente com os riscos de
uma seca eventual. (RUDNICK, 2003)
Em setembro de 2000, a Comissão de Energia chilena publica a nova lei que
redesenha o setor de eletricidade daquele país. Dentre as mudanças realizadas estava a
criação da Bolsa de Energia – PX e do Operador Independente do Sistema - ISO.
(WATTS, 2002)
Ao contrário de modelos centralizados em que uma única instituição assume as
três funções principais do mercado, o PX-ISO, é um modelo que contempla uma
separação explícita entre o mercado e as funções físicas. Assim, o PX assume a função
de operador de mercado de energia enquanto a ISO toma conta da operação física da
rede, ou seja, enquanto o operador de mercado baseia-se em princípios econômicos, o
ISO deve operar de acordo com requisitos físicos e de segurança. (WATTS, 2002)
Além disso, dois provedores deram lugar a cinco companhias geradoras que
competem entre si.
45
3. ANÁLISE DA LIVRE
CONCORRÊNCIA E
COMPETITIVIDADE
3.
3.1. Introdução
Nos últimos anos muitas foram as mudanças que ocorreram no setor elétrico
brasileiro com o objetivo de estimular a livre concorrência e a competitividade e assim
beneficiar os consumidores em geral. Com isso, foi criado o mercado livre de energia
com o intuito de oferecer novas opções e fomentar a redução de custos. Entretanto,
exigiu que os consumidores (principalmente os grandes consumidores) conhecessem
melhor o mercado e seus agentes de forma a fazer a escolha mais adequada aos seus
negócios, como por exemplo, tornar-se consumidor livre ou continuar cativo.
Assim, a indústria da eletricidade assume uma nova estrutura institucional
levando em conta que os setores de geração e comercialização são competitivos e
expostos à concorrência, enquanto a transmissão e distribuição continuam sendo
tratados como monopólios naturais. Por isso, para que possa haver competição na
geração e comercialização, torna-se necessária a obrigatoriedade do livre acesso à rede
de transmissão e distribuição e determinação dos limites técnicos ou regulamentares do
uso das redes, pois, se mal dimensionado pode afetar a competição entre os setores, uma
vez que geram poder de mercado para quem está a jusante da restrição. (HOGAN, 2002)
Neste capítulo serão analisados os aspectos relevantes que caracterizam um
ambiente de mercado elétrico destacando aqueles mais relacionados com a livre
concorrência e a competitividade no setor elétrico brasileiro.
46
3.2. Aspectos inerentes à livre concorrência e competitividade
3.2.1. Livre acesso e tarifas de uso
O estabelecimento da livre concorrência na indústria da eletricidade vai de
encontro a atitudes anticompetitivas que visem à concentração de mercado bem como o
impedimento ao livre acesso às redes de transmissão e distribuição do sistema elétrico
para o transporte da energia elétrica. Assim sendo, e de forma a coibir atitudes
contrárias a livre concorrência foi promulgada a lei Nº. 9.648/98 que versa sobre o livre
acesso de centrais geradoras e grandes consumidores às redes de transmissão e
distribuição, a partir do pagamento de tarifas de uso e conexão não discriminatória aos
proprietários das redes.
O livre acesso ao sistema de transporte de energia é fundamental para que se
tenha a livre concorrência. Assim, a ANEEL, por meio das resoluções Nº. 245/98 e Nº.
66/99 promoveu a separação dos ativos de transmissão e distribuição. Os ativos de
transmissão, chamado Rede Básica, são compostos por linhas com tensão igual ou
superior a 230 kV, os ativos de distribuição são compostos por linhas com tensão
inferior a 230 kV. Outras medidas importantes foram estabelecidas pelas resoluções Nº.
281/99, Nº. 282/99 e Nº. 286/99, a primeira trata das condições gerais de contratação do
acesso, compreendendo o uso e a conexão aos sistemas de transmissão e distribuição
enquanto a segunda e a terceira tratam das tarifas de uso das instalações de transmissão
e distribuição, respectivamente.
Além do estabelecimento da regulação de acesso, a prevenção de abuso do poder
dominante bem como a concentração de mercado, necessitam de tratamento especial.
Neste sentido, foi muito importante a desverticalização da indústria de energia elétrica e
conseqüente separação contábil, dos segmentos de geração, transmissão, distribuição e
comercialização de forma a prevenir possíveis cobranças discriminatórias para o uso das
redes e permitir a visualização dos custos de transporte pelos consumidores, de modo a
facilitar a ampliação do mercado não cativo.
No que tange a concentração de mercado, a resolução ANEEL Nº. 94/98
estabeleceu limites à composição acionária, à propriedade cruzada e à política de
47
compra de energia entre os agentes. Por essa resolução é vedado aos agentes de
mercado: - deter mais do que 20% da capacidade instalada nacional ou 25% e 35%,
respectivamente, da capacidade existente nos sistemas interligados Sul-Sudeste-Centro-
Oeste e Norte-Nordeste; - deter mais do que 20% do mercado nacional de distribuição
ou 25% e 35%, respectivamente, do mercado de distribuição dos sistemas interligados
Sul-Sudeste-Centro-Oeste e Norte-Nordeste; - possuir participação cruzada na geração e
distribuição que resulte em percentual superior a 30% considerando-se o somatório
aritmético da participação nos dois mercados.
Conforme discutido anteriormente, instalações de transmissão são aquelas que se
destinam a formação da rede básica do SIN, bem como as que servem às
concessionárias de distribuição além das de interesse exclusivo de centrais de geração.
as instalações de distribuição são vinculadas à prestação de serviço público sendo de
propriedade das concessionárias ou permissionária de distribuição. É importante
ressaltar que as Demais Instalações da Transmissão - DITs, estabelecida na Resolução
Normativa ANEEL Nº. 67 de 8/6/2004, são disponibilizadas para os geradores e
importadores e/ou exportadores de energia, em caráter exclusivo ou compartilhado e
para as distribuidoras, como instalações de âmbito próprio da distribuição.
A garantia de livre acesso a estes sistemas impõe o pagamento de tarifas de uso
do sistema de transmissão TUST e de tarifas de uso do sistema de distribuição TUSD.
As Demais Instalações de Transmissão, de uso exclusivo, são remuneradas mediante o
pagamento de encargos de conexão.
Para ter acesso aos sistemas de transmissão e distribuição os agentes
interessados deverão executar as obras de interligação necessárias até o ponto de
conexão com a rede. Assim, para:
Geradores, autoprodutores, importadores e/ou exportadores: A forma de
conexão é definida pelo planejamento setorial realizado pela EPE que adotará a
solução de mínimo custo global uma vez que se trata de serviços de utilidade
pública;
Concessionárias e permissionárias de distribuição: A conexão poderá ser feita
mediante a solicitação de acesso: - ao ONS ou à transmissora, quando se tratar
48
de acesso às instalações da rede básica (tensão maior que 230 kV); - a
concessionária proprietária de instalações com tensões inferiores a 230 kV;
Consumidor Livre: O decreto Nº. 5.597/2005 definiu novas formas de acesso
destes consumidores a rede básica, uma vez que anterior ao referido decreto o
acesso poderia ser realizado a partir da concessionária de distribuição, a
menos que suas instalações de conexão estivessem totalmente contidas em área
de sua propriedade. Pelo decreto tem-se:
Art. 1º O acesso de consumidores atendidos em tensão igual ou superior
a 230 kV à rede básica de transmissão de energia elétrica deverá ser
efetuado pelas formas a seguir descritas:
I - atendimento por intermédio do concessionário local de distribuição
de energia elétrica;
II - atendimento por intermédio do concessionário de transmissão de
energia elétrica, nos termos do § 2º do art. do Decreto 41.019, de
26 de fevereiro de 1957; ou
III - mediante construção das instalações necessárias para o acesso
diretamente pelo próprio consumidor.
A viabilização do acesso a que se refere o art. do referido Decreto deve ser
precedido da emissão de dois documentos:
Art. O acesso a que se refere o art. 1º, para atendimento exclusivo de
um único consumidor, deverá ser precedido de:
I - portaria do Ministério de Minas e Energia fundamentada em parecer
técnico, o qual deverá considerar o critério de mínimo custo global de
interligação e reforço nas redes, além de estar compatibilizado com o
planejamento da expansão do setor elétrico para um horizonte mínimo
de cinco anos; e
II - parecer de acesso emitido pelo Operador Nacional do Sistema
Elétrico - ONS. Parágrafo único. Quando da elaboração do parecer de
acesso, pelo ONS, deverão ser observados os Procedimentos de Rede
aprovados pela ANEEL e os padrões técnicos da instalação de
transmissão acessada.
O Decreto dispõe ainda que a migração de consumidores livres dos sistemas de
distribuição para a Rede Básica pode-se dar por duas razões: (i) aumento de carga e/ou
(ii) melhoria de qualidade. Nesta última, é necessária a análise prévia por parte da
ANEEL, conforme disposto nos seus artigos 3º e 6º.
A formalização do acesso é precedida da emissão por parte do acessado de um
documento denominado Parecer de Acesso (Ver Tabela 3.1).
49
Tabela 3.1
Ponto de conexão X emissão do parecer de acesso
Emitido o Parecer de Acesso deverão ser firmados entre as partes contratos de
conexão e uso da rede conforme se pode ver na Tabela 3.2:
Tabela 3.2
Celebração de contratos
* CCT - Contrato de Conexão à Transmissão
** CCD – Contrato de Conexão à Distribuição
Estes contratos referem-se às condições técnicas e contratuais das instalações de
conexão incluindo o ponto de conexão.
*** CUST – Contrato de Uso do Sistema de Transmissão
**** CUSD – Contrato de Uso do Sistema de Distribuição
Estes contratos especificam os montantes de uso (MW) injetados no ponto de
conexão. Ressalta-se que sobre estes montantes deverá ser aplicada tarifas de uso do
sistema de Transmissão - TUST ou Distribuição TUSD, sendo previstas penalidades
Ponto de conexão Emissão do parecer de acesso
Rede Básica ONS ou Transmissora
Demais Instalações de Transmissão - DITs Transmissora
Instalações de Concessionária de Distribuição Distribuidora
Ponto de
conexão
Acessante Contrato
Rede Básica e
DITs
Distribuidoras/ geradoras/
importadoras/ exportadoras de
energia e Consumidoras Livres
CCT *
Celebrado c/
Transmissora
CUST ***
Celebrado c/
ONS
Instalação de
Distribuição
Distribuidoras/ geradoras/
importadoras/ exportadoras de
energia e Consumidoras Livres
CCD **
Celebrado c/
Distribuidora
CUSD****
Celebrado c/
Distribuidora
50
para o caso de ultrapassagem dos valores contratados. Uma parcela destas tarifas
conhecida como tarifa-fio, refere-se ao custo de transporte da energia gerada ou
consumida e está relacionada com os investimentos feitos para construção destas redes.
A TUSD-fio tem como principal insumo a receita requerida pela distribuidora
para exploração do serviço fio. Esta receita é constituída de uma parcela referente aos
custos gerenciáveis (Parcela B) e outra referente aos custos não gerenciáveis (Parcela
A).
A TUST está definida em duas parcelas: TUST
FR
e TUST
RB
. A TUST
FR
contempla o serviço prestado por instalações de transmissão necessárias para rebaixar
tensões maiores ou iguais a 230 kV para tensões de distribuição (< 230 kV), sendo paga
exclusivamente pelas concessionárias de distribuição que se beneficiam deste serviço. A
TUST
RB
contempla o serviço prestado pelas instalações de transmissão com tensões
maiores ou iguais a 230 kV necessárias para promover a otimização dos recursos
elétricos e energéticos do sistema, sendo esta aplicada a todos os usuários.
(TERRA,
05/01/2007)
3.2.2. Competitividade
Além da livre concorrência, um outro pilar bastante relevante no novo modelo
setorial é a competitividade. Neste sentido, torna-se necessário um ambiente para livre
negociação de preços dos fluxos energéticos, entre geradores e consumidores.
O mercado elétrico brasileiro está dividido em quatro submercados: Norte,
Nordeste, Sul e Sudeste/Centro-Oeste, sendo que este último é responsável por mais de
60% do consumo do país. O consumo de eletricidade que cresce a taxas razoáveis, como
pode ser observado na Figura 3.1, em sua maior parte é devido aos consumidores
cativos, contudo deve-se destacar o rápido crescimento do número de consumidores
livres.
51
Figura 3.1 Consumo de eletricidade e variação anual.
As diversidades regionais bem como as limitações de capacidade de transmissão
para o intercâmbio de energia entre os submercados dificultam a competitividade no
mercado elétrico brasileiro. Neste sentido, justificam-se a adoção de regras
diferenciadas adaptada às condições estruturais dos mercados regionais. (OLIVEIRA,
2007)
Com o advento do mercado atacadista de energia - MAE, criado em 1996 no
governo de Fernando Henrique Cardoso, procurou-se estabelecer um mercado
competitivo, onde geradores e distribuidores/consumidores firmavam contratos
bilaterais sendo inclusos nos mesmos os custos da gestão dos riscos setoriais (incertezas
de mercado). Foi criado também um mercado de curto prazo (mercado spot) com o
intuito de permitir o ajuste de diferenças entre a energia contratada e consumida. No
mercado spot os preços negociados são calculados a partir de modelos computacionais
operados pelo ONS.
No modelo Lula, o MAE deu lugar à Câmera de Comercialização de Energia
Elétrica CCEE, que modificou o mercado de contratos com criação do ambiente de
contratação livre, para transações de consumidores livres e do ambiente de contratação
regulada, destinado a atender exclusivamente o mercado cativo a partir de contratação
realizada pelas distribuidoras. Este assunto seabordado como mais detalhes no item a
seguir.
Carga total e variação anual do Sistema Interligado Nacional
52
3.2.3. Comercialização
A comercialização de energia no modelo Lula foi regulamentada pelo Decreto
Nº. 5.163, de 30 de julho de 2004. Nele estão contidas as regras de comercialização
entre os diversos agentes do setor e destes com os consumidores. Essa comercialização
acontece em dois ambientes de contratação: um regulado e outro livre.
No Ambiente de Contratação Regulada (ACR) as operações de compra e venda
de energia elétrica são precedidas de leilões e podem participar os agentes geradores ou
comercializadores e os agentes de distribuição que são responsáveis em distribuir
energia elétrica de forma regulada. Destaca-se que de modo a não serem penalizados, os
agentes vendedores devem garantir a venda de cem por cento de seus contratos, para
isso, devem apresentar lastro para venda de energia e potência. os agentes de
distribuição devem garantir o atendimento a cem por cento de seus mercados através da
aquisição, por meio de leilões, de energia elétrica proveniente de empreendimentos de
geração existentes ou novos. Vale ressaltar que os leilões acontecem em três etapas: na
primeira, chamada “A-1”, os leilões ocorrem no ano anterior à previsão do início de
suprimento para energia elétrica proveniente de empreendimentos de geração existente;
na segunda, chamada “A-3”, os leilões ocorrem no terceiro ano anterior à previsão do
início do suprimento; e na terceira, chamada “A-5”, os leilões ocorrem no quinto ano
anterior à previsão do início do suprimento. Para os casos “A-3” e “A-5” a energia
elétrica deverá ser proveniente de um novo empreendimento de geração. Na Figura 3.2
ilustram-se os tipos de contratação no ACR.
Figura 3.2 Tipos de contratação no ACR.
Fonte: (OLIVEIRA, 2003)
Geração Nova
Ajuste
A-5 A-4 A-3 A-2 A-1 A
Geração
Existente
Geração
Distribuída
53
No Ambiente de Contratação Livre (ACL) são celebrados contratos bilaterais
entre os agentes geradores ou comercializadores e os consumidores livres. Ressalta-se
que os consumidores potencialmente livres, com contratos firmados com um agente de
distribuição, que desejarem adquirir parte ou toda energia necessária a sua unidade
consumidora de outro fornecedor, deverão fazer uma declaração formal ao referido
agente até quinze dias antes da data em que este está obrigado a declarar sua
necessidade de compra de energia elétrica para atendimento ao mercado, sendo a
entrega prevista no ano subseqüente ao da declaração. Entretanto, para que os
consumidores livres possam ser novamente atendidos pelo agente de distribuição
mediante tarifas e condições reguladas, deverão formalizar esta decisão com
antecedência mínima de cinco anos, salvo se for de interesse do agente de distribuição
reduzir este prazo.
Comercialização da energia elétrica - Consumidores Livres
A livre concorrência e competitividade dentro do setor elétrico, começaram a
tomar forma com a publicação da Lei Nº. 9.074, de 07 de julho de 1995, que definiu a
figura do consumidor livre. Este poderá escolher seu fornecedor de energia desde que
respeitados os contratos de fornecimento firmados. Assim, segundo esta lei no seu
artigo 1parágrafo 2º, os consumidores cuja carga seja igual ou superior a 3.000 kW
atendidos em uma tensão igual ou superior a 69 kV podem ser caracterizados como
consumidores potencialmente livres. o artigo 16º define que, os consumidores cuja
data de instalação seja realizada após a publicação desta Lei e a carga de consumo for
maior que 3.000 kW serão caracterizados como livres independente da tensão de
atendimento.
É relevante destacar ainda, que a Lei Nº. 9.074 define que após 8 anos da sua
publicação, o órgão regulador poderá aumentar mais o leque do consumidor
potencialmente livre com a diminuição dos limites mínimos de carga e tensão.
Entretanto, isso ainda não ocorreu de fato.
Em novembro de 2003 a Lei Nº. 10.762 aumenta o portfólio dos consumidores
livres quando define, no seu artigo 8º, que consumidores reunidos por comunhão de
interesse de fato ou de direito, cuja carga seja maior que 500 kW, independente da
tensão de atendimento, podem comprar energia das chamadas fontes alternativas de
54
energia elétrica, a saber: usinas hidrelétricas com capacidade instalada de até 30.000
kW, usinas de cogeração de energia elétrica a partir de biomassa, fontes solares e
eólicas. No final de 2006, a ANEEL regulamentou esta condição com a edição da
resolução Nº. 247.
“Resumindo a legislação em vigor, temos, portanto hoje três possíveis
classificações para um consumidor de energia elétrica: consumidor
cativo, consumidor potencialmente livre para comprar energia apenas
de "fontes alternativas" e consumidor potencialmente livre, conforme
demonstrado na Tabela 3.3:” (ICEE, 11/01/2007)
Tabela 3.3
Caracterização do consumidor
Carga de consumo Tensão de
conexão
Data da
instalação
Caracterização
Menor que 500 kW --- --- Consumidor cativo
Maior que 500 kW
menor que 3.000 kW
--- --- Consumidor livre para comprar energia
apenas de “fontes alternativas”
Maior que 3.000 kW Menor que
69 kV
Anterior a
07/07/1995
Consumidor livre para comprar energia
apenas de “fontes alternativas”
Maior que 3.000 kW Menor que
69 kV
Posterior a
07/07/1995
Consumidor potencialmente livre
Maior que 3.000 kW Maior que
69 kV
--- Consumidor potencialmente livre
O consumidor livre deverá ter livre acesso à rede elétrica da distribuidora ou
transmissora, mediante celebração de contratos: - de conexão com a empresa de
distribuição local ou com o ONS; - de uso do sistema de distribuição e/ou transmissão; -
e de compra e venda de energia com o fornecedor.
Não se pode deixar de destacar que a compra de energia elétrica no mercado
livre, com negociação bilateral conforme a vontade das partes envolvidas: comprador e
vendedor de energia elétrica, é um ponto forte do novo modelo.
Logicamente, o consumidor potencialmente livre que opte por um novo
fornecedor que não a concessionária local, não se desvincula totalmente desta, pois
utilizará as redes elétricas de sua propriedade para receber a energia elétrica, pagando
55
por isso, tarifas de uso do sistema de distribuição (pedágio), a menos que seja um
consumidor atendido em tensão igual ou superior a 230 kV que pode segundo decreto
N° 597/2005 construir suas próprias instalações para o acesso à rede básica.
“Desde 1999, indústrias, shopping centers e hospitais, entre outros
estabelecimentos, exercem o direito de compra de energia elétrica insumo
básico de suas atividades - do agente que seja capaz de lhes oferecer os
melhores preços.” (MACIEL, 2005)
Comercialização da energia elétrica – consumidores cativos
Quanto à comercialização de energia, os consumidores cativos estão inseridos
no ambiente de contratação regulada (ACR), em que os contratos de energia podem
variar em duas modalidades, a saber:
Contratos de quantidade de energia, nos quais os riscos (ônus e bônus) da
operação energética integrada são assumidos totalmente pelos geradores,
arcando eles com todos os custos referentes ao fornecimento da energia
contratada; e
Contratos de disponibilidade de energia, em que os riscos da variação de
produção em relação à energia assegurada (placa) são alocados ao pool e
repassados aos consumidores regulados. Neste ambiente, são realizados leilões
de energia proveniente de empreendimentos existentes e leilões de energia de
novos empreendimentos.
A contratação da geração existente visa atender à carga das geradoras com
energia de contratos expirados. Os contratos firmados para a aquisição de nova geração
devem englobar prazos de duração entre 15 e 35 anos, dependendo do tempo necessário
para a amortização dos investimentos, e possuir cláusulas de incentivo à modicidade
tarifária. O repasse dos custos destes contratos às tarifas de fornecimento é realizado
pelo valor nimo entre o preço contratado e o Valor de Referência (VR) calculado no
ano corrente. O VR publicado pela ANEEL representa o preço que resulta dos
montantes contratados pelo conjunto dos distribuidores nas licitações A-5 e A-3
vigentes no ano de efetivação do consumo. Ressalta-se que os preços obtidos nos leilões
serão integralmente repassados à tarifa. [CORREIA, 2005]
56
O VR é calculado a partir da seguinte fórmula:
VR = [VL
5
. Q
5
+ VL
3
. Q
3
]
[Q
5
+ Q
3
]
na qual:
VL5 é o valor médio de aquisição nos leilões de compra de energia elétrica
proveniente de novos empreendimentos de geração realizados no ano “A-5”, ponderado
pelas respectivas quantidades adquiridas;
Q5 é a quantidade total de energia, expressa em MWh por ano, adquirida nos
leilões de compra de energia elétrica proveniente de novos empreendimentos de
geração, realizados no ano “A - 5”;
VL3 é o valor médio de aquisição nos leilões de compra de energia elétrica
proveniente de novos empreendimentos de geração realizados no ano “A-3”, ponderado
pelas respectivas quantidades adquiridas; e
Q3 é a quantidade total de energia, expressa em MWh por ano, adquirida nos
leilões de compra de energia elétrica proveniente de novos empreendimentos de
geração, realizados no ano “A-3”.
Os resultados alcançados nos primeiros leilões de energia de empreendimentos
existentes, em dezembro de 2004, abril e outubro de 2005 revelam que a modicidade
tarifária vem sendo atingida. (LANDI, 2006)
Neste cenário observa-se o desafio imposto às distribuidoras de prever e
contratar nestes leilões, energia suficiente para atender a 100% do seu mercado com
antecedência de 5 anos. Vale ressaltar que as diferenças entre os montantes contratados
e verificados são contabilizadas e liquidadas mensalmente na CCEE, sob o preço de
liquidação de diferenças (PLD), o qual é calculado e publicado pela CCEE, tendo por
referência o custo marginal de operação e limitado por valores mínimo (piso) e máximo
(teto), determinado pelo MME. Como os preços resultantes desses leilões tenderão a
ser diferentes, e os desvios entre o mercado previsto e o realizado serão liquidados no
mercado de curto prazo, que é bastante volátil, a distribuidora deverá gerenciar o risco
associado à contratação de energia para não prejudicar sua receita. (CASTRO, 2004)
57
3.2.4. Política tarifária
Com vista a trazer benefícios aos consumidores na forma de modicidade, um
vetor de extrema importância é a política tarifária adotada. No Brasil, o método de
tarifação adotado é o
price cap
(preço teto). Neste sentido, por ocasião da revisão
tarifária, é definido para cada empresa com base na análise dos dados econômico-
financeiros e operacionais da concessionária, o chamado fator X, que define a
produtividade a ser rateada com o consumidor.
Na prática, o fator X significa uma meta mínima de desempenho que a empresa
terá que alcançar, reduzindo suas despesas operacionais, sob pena de sofrer perdas de
receita, porque sua parcela B não mais tem reajustes anuais pelo total do IGPM.
Contudo, deve-se ressaltar a dificuldade de determinar com precisão, os tais ganhos de
produtividade com base nos quais, como foi dito anteriormente, será definido o fator X.
Mesmo assim, a cada revisão tarifária a ANEEL calcula e projeta sob a forma de um
percentual o fator X que valerá até o próximo período de revisão. Ressalta-se que este
percentual será aplicado automática e obrigatoriamente a cada reajuste tarifário anual,
reduzindo o preço ao consumidor.
Na verdade trata-se de definir um modelo de empresa eficiente e eficaz cujas
despesas operacionais, estrutura do capital, ativo fixo e investimentos representem um
padrão de gestão ótimo - ou quase, de forma que nem o consumidor nem a empresa
sejam prejudicados, porque é com base nesse modelo ou padrão que será calculada a
nova tarifa.
Como esses dados e informações, basicamente, estão na posse da empresa e não
do órgão regulador, essa assim chamada assimetria de informações é uma das grandes
dificuldades, ou desafios, para aplicação correta do método de tarifação adotado, o price
cap. (TAVARES, 2003; RUDNICK, 2000)
3.2.5. Qualidade no fornecimento de energia
Não se deve esquecer outro aspecto importante e que vem sendo um desafio a
vencer continuamente que é a qualidade no fornecimento de energia aos consumidores,
traduzidos principalmente nos índices de DEC (duração equivalente de interrupção) e
FEC (freqüência equivalente de interrupção), apurados rotineiramente pela ANEEL.
Após o inicio do processo de reestruturação do setor elétrico houve uma melhora
58
significativa nos indicadores. Esta melhora reflete o trabalho de acompanhamento e
fiscalização da ANEEL. Depois dos primeiros anos observa-se uma estabilização nas
tendências do DEC (ver Figura 3.3) principalmente, e de alguma forma no FEC (ver
Figura 3.4).
Figura 3.3 Indicadores de qualidade – DEC – Anual, Brasil
Fonte: ANEEL
Figura 3. 4 Indicadores de qualidade – FEC – Anual, Brasil
Fonte: ANEEL
59
3.2.6. Investimentos em geração, transmissão e distribuição
O novo modelo do setor elétrico associa a participação de agentes públicos e
privados na realização de investimentos na geração e transmissão de modo a garantir o
atendimento do mercado de energia elétrica com qualidade e confiabilidade. Esses
investimentos devem ser realizados dentro do critério de menor custo global, de forma a
garantir suprimento adequado ao mercado com qualidade e sempre privilegiando a
modicidade tarifária.
Desta forma, a EPE elabora o Planejamento Decenal da Expansão do SIN,
definindo um cenário de referência para implementação de novas instalações de geração
e transmissão, com vistas a atender ao crescimento do mercado. Este planejamento, que
é revisado anualmente, servirá de subsídio para os futuros leilões de compra de energia
de novos empreendimentos de geração e de novas instalações de transmissão.
Os novos montantes de energia elétrica provenientes de novas instalações de
geração são negociados e contratados pelas distribuidoras nos leilões A-3 e A-5.
Os agentes de geração candidatos à construção dos novos parques geradores
deverão participar de leilões apresentando propostas de preços de venda de sua energia
elétrica, competindo por contratos de compra de energia das concessionárias
distribuidoras. Adicionalmente, os geradores podem ainda contratar direta e livremente
com consumidores livres.
Com a definição das novas unidades geradoras, bem como o montante de carga a
ser atendida, é estabelecida a expansão do sistema de transmissão (novas linhas de
transmissão e subestações da rede básica) necessária para o transporte de energia
elétrica desde as fontes de produção até o local de consumo, atendendo a critérios de
confiabilidade, continuidade e segurança no abastecimento.
Das afirmativas anteriores pode-se verificar que neste novo modelo do setor
elétrico brasileiro, os agentes de geração e transmissão são responsáveis pela realização
dos investimentos necessários para atendimento ao montante de energia contratado
pelos agentes de distribuição nos leilões A-3 e A-5. Logicamente, para os agentes
privados a decisão de investir está sempre atrelada as suas estratégias de maximização
60
de resultados e em estratégias e aspirações de taxas de retorno, enquanto o planejamento
governamental busca a minimização dos custos de energia elétrica para a sociedade.
O Plano Decenal de Expansão de Energia Elétrica 2006-2015 aponta para uma
expansão de 39.057 MW na capacidade instalada no SIN, dos quais 30.045 MW em
usinas hidrelétricas e 9.012 MW em usinas térmicas. Para atender a esta expansão são
necessários investimentos da ordem de R$ 75,0 bilhões, sendo R$ 60,0 bilhões
referentes a usinas hidrelétricas e 15,0 bilhões a unidades térmicas.
Para a transmissão, o Plano Decenal estima que a Rede Básica agregue 41.127
km, passando de 82.092 km no final de 2005 para 123.219 km no final de 2015. Para
este incremento são necessários investimentos da ordem de R$ 26,7 bilhões em linhas
de transmissão e de R$ 12,7 bilhões em subestações e transformadores.
As empresas distribuidoras nesse novo modelo são responsáveis pelos serviços
de rede e venda de energia ao mercado cativo de sua área de concessão com
participação obrigatória no ambiente de contratação regulada onde celebra contratos de
compra e venda de energia com preços resultantes de leilões. Estas empresas cumprem
um importante papel no processo de inserção social por meio do setor elétrico,
participando como agente executor no Programa Luz para Todos do governo federal
iniciado em 2003. Para isso, recebem recursos subvencionados do governo que por sua
vez estabeleceu metas de atendimento que devem ser cumpridas sob pena de sofrerem
penalizações.
Contudo, as ligações destes consumidores trazem sérios problemas a estas
concessionárias tendo em vista que são, em sua maioria, consumidores de baixa renda
representando um mercado muito pequeno sem atrativos comerciais, mas que entram na
rede elétrica, levando a necessidade de implementação de investimentos adicionais que
podem não gerar retorno. Além disso, após a conclusão do programa, previsto para
2008, toda solicitação de novas ligações com carga menor que 50 kW e tensão menor
que 2,3 kV devem ser atendidas pela distribuidora nem que seja necessária a realização
de reforços na rede, e neste caso, não deverá mais existir a subvenção.
Além disso, para atender de forma satisfatória os seus consumidores cativos, as
distribuidoras devem investir com vistas a cumprir as metas de qualidade de
fornecimento estabelecidas pela ANEEL, bem como a própria expansão do seu mercado
61
vegetativo. O investimento realizado seconsiderado no processo de revisão tarifária
que acontece a cada quatro anos.
3.2.7. Análise de riscos
A competitividade e a livre concorrência podem ser bastante afetadas quando
não estão claros riscos de desequilíbrios entre a oferta e a demanda e ainda a elevação
dos preços. A falta de transparência neste caso pode levar a uma retração dos
investimentos por parte dos empreendedores privados. O CMSE, apoiado pela EPE,
ONS e ANEEL tem a obrigação de monitorar continuamente a partir de estudos de
cenários e de forma transparente, o grau de risco de se chegar a um novo racionamento
de energia no futuro. Considera-se um risco aceitável quando os estudos apontam um
valor menor ou igual a 5%. O Instituto Acende Brasil trimestralmente edita um relatório
analisando o risco de haver racionamento de energia no período 2008 a 2011. O
relatório referente ao segundo trimestre deste ano, que utilizou dados da EPE, ONS, e
ANEEL, aponta para os riscos de se decretar racionamento nos anos 2010 (11,5%) e
2011 (28%) considerando o crescimento do PIB e demanda de energia em 4,8% e 5,3%
ao ano, respectivamente. Se a deficiência do planejamento setorial foi uma das
principais causas do racionamento de 2001, o governo federal deve estar atento a este
sério problema que põe em xeque a credibilidade do modelo podendo levar a sociedade
a pagar mais uma vez a conta pela adoção de soluções emergências para enfrentar a uma
suposta crise.
Na Tabela 3.4 têm-se os cenários utilizados pelo Instituto Acende Brasil, bem
como os riscos associados a cada um deles. Vale ressaltar, que os estudos realizados
pelo referido Instituto foram simulados com o software computacional RISK
desenvolvido por pesquisadores experientes em desregulamentação e planejamento de
mercados elétricos internacionais, dando assim, maior credibilidade ao mesmo.
(KELMAN, 2007)
62
Tabela 3.4
Cenários X Riscos de Racionamento
CENÁRIO 1 CENÁRIO 2 CENÁRIO 3 CENÁRIO 4
PIB 4% 4,80% 4,80% 4,80%
CRESC.DEMANDA BAIXO 5,30% BAIXO 5,30%
PROINFA SEM ATRASOS SEM ATRASOS Deficit 40% Deficit 40%
PROJETOS ENERGÉTICOS SEM ATRASOS SEM ATRASOS COM ATRASOS COM ATRASOS
2010
7% 11,50% 10% 14%
2011
16,50% 28% 21% 32%
RISCO DE RACIONAMENTO
Causa grande preocupação o fato de que continue ocorrendo os erros de um
passado próximo, quando a falta de ação de governos passados culminou com o
racionamento de energia no governo de FHC. Por isso, é preciso que o atual governo
administre o setor elétrico de olho no futuro para não transferir o problema do
suprimento de energia ao governo que estará administrando o país em 2011.
Estudos realizados pela Universidade Federal de Itajubá liderado pelo Professor
Afonso Henrique dos Santos conclui que mais de 90% das usinas inauguradas pelo
governo Lula foram leiloadas no governo FHC, ou seja, o atual governo ainda não
iniciou nenhuma grande obra de geração de energia. O estudo ainda aponta que, a contar
do ano 2003, foram acrescentados ao sistema 17.500 MW a matriz energética, sendo
que destes somente 1.700 MW foram contratados durante o governo Lula. Não há
dúvidas de que sem investimentos em novas usinas estará comprometido o crescimento
do país. (Revista Veja - Edição 2020 – 08/08/2007)
Segundo os estudos realizados pelo Instituto Acende Brasil um déficit de
demanda de 3100 MW médios para o ano 2011 e os leilões de energia A-3 que
ocorrerão em 2007 e 2008 para atender a demanda de 2010 e 2011 deverão
disponibilizar apenas 1600 MW médios. Neste sentido, cabe a CMSE apontar medidas
urgentes para corrigir o rumo evitando um futuro apagão (ver Figura 3.5) que
certamente comprometerá a livre concorrência e a competitividade na indústria de
energia elétrica brasileira.
63
OFERTA
MW
63961
CONSUMO
MW
59172
58621
PIB: 4,5 % AO ANO
58608
51631
51204
50731
42605
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Figura 3.5 Oferta de energia X Consumo
Fonte: Edson Luiz da Silva, UFSC
3.2.8. PIB e competitividade
Nos seus dois mandados o governo FHC (1995/2002) ostentou como conquista o
fim da inflação e a estabilidade da moeda. No primeiro mandato de Lula (2003/2006)
foi dada maior ênfase a programas assistencialistas que beneficiaram milhões de
famílias. Agora, no seu segundo mandato (2007/2010), o presidente Lula tem a missão
de fazer com que o Brasil volte a crescer de forma sustentável com o objetivo, dentre
outros, de aumentar a oferta de emprego e reduzir a pobreza. Pela avaliação de
especialistas do governo o Produto Interno Bruto - PIB deve atingir 3,5 % a 4 % em
2010 e em 2011 chegar a 4,5 ou 5%. Contudo, segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), este crescimento enfrentará um gargalo na indústria de energia
elétrica devido à limitada capacidade de geração que não suportará nos próximos anos,
crescimento superior a 4% sem o risco de um apagão. (POMPONET, 2006)
Estudos de projeção de mercado (consumo e carga) de energia elétrica
realizados pela EPE para o período 2006-2015 contemplam o crescimento da economia
brasileira baseado em cenários macroeconômicos a partir do qual são geradas três
trajetórias denominadas: trajetória de referência, trajetória de crescimento alto e
trajetória de crescimento baixo. A trajetória de referência foi adotada como base para os
estudos de planejamento decenal, enquanto as outras duas representam estudos de
64
sensibilidade. Na Tabela 3.5 retrata-se o crescimento anual do PIB considerado as três
trajetórias. (Plano Decenal da Expansão 2006-2015)
Tabela 3.5
Taxa de crescimento do PIB (% ao ano)
Como pode ser visto pelos próprios dados da EPE é provável que o PIB atinja
pelo menos o valor de 4% em 2010, assim sendo o governo precisa encarar o problema
de frente, a fim de que soluções possam ser tomadas hoje a fim de evitar um novo
racionamento de energia em 2010 ou 2011.
3.2.9. Modicidade tarifária
Um dos principais objetivos de um modelo de livre concorrência e
competitividade, na indústria da energia elétrica, é a busca da modicidade tarifária
responsável por promover a competitividade da economia, estimular o desenvolvimento
econômico e atender as demandas sociais.
A busca pela modicidade não é fácil, pois há diversos interesses em jogo: de um
lado têm-se os consumidores que querem energia barata e de boa qualidade, de outro os
investidores preocupados com a maximização dos lucros, tendo em vista os riscos
associados aos investimentos e ainda de um outro, o governo, preocupado com a
arrecadação fiscal e o desenvolvimento de políticas sociais (ex.: subsídios aos
consumidores rurais, sistemas isolados e de baixa renda, universalização, P&D, entre
outros, Figura 3.6) com recursos obtidos a partir da cobrança de encargos nas tarifas.
Na Figura 3.7 mostra-se a composição de uma conta de energia elétrica no
Brasil. Pode-se observar que os tributos e encargos representam a maior parcela da
conta, quase 40 %. A conseqüência disso pode ser mensurada na inadimplência e no
furto de energia elétrica que se traduz em riscos aos investidores e custos adicionais aos
bons pagadores.
65
Figura 3.6 Fluxos econômicos do Setor Elétrico.
Fonte: (PEDROSA, 2005)
Figura 3.7 Tributos e Encargos: maior parcela da conta de luz.
Fonte: (CVM, Abradee, 2005)
Para efeitos de comparação, nas Figuras 3.8 e 3.9 tem-se a composição de uma
conta de energia no Reino Unido e em Portugal, respectivamente.
66
Figura 3.8 Conta de luz Reino Unido: Tributos e Encargos
Fonte: (Jamasb, 2002)
Figura 3.9 Conta de luz Portugal: Tributos e Encargos
Fonte (Entidade Reguladora de Serviços Energéticos)
Neste conflito de interesses a modicidade tarifária não é vista como prioridade.
Assim, é dever da ANEEL buscar o equilíbrio de forma a proteger os consumidores do
abuso do poder de mercado, dando aos investidores garantia de rentabilidade adequada
desde que atuem de forma eficiente.
67
Um dos principais problemas enfrentados pelo modelo FHC foi a dificuldade de
conter o aumento das tarifas. De 1995, início do governo FHC, até o final de seu
segundo mandato em 2002, as tarifas nas classes residencial, industrial, comercial e
rural subiram 116%, 81%, 83% e 75% respectivamente, como pode ser visto na Figura
3.10. Esta situação não favorece as propostas de competitividade na indústria de energia
elétrica.
No modelo Lula, ações como: a) ampliação da competição na geração, através
de leilões pelo critério de menor tarifa; b) garantia do equilíbrio entre a oferta e a
demanda por energia, para não onerar o consumidor pela falta ou excesso de energia; c)
concessão de licença prévia ambiental a fim de reduzir riscos de investimentos, d)
firmar contratos de compra de energia de longo prazo; e e) apropriar custos somente
referentes à prestação do serviço; foram inseridas no modelo com vistas a mudar esta
situação adversa rumo à diminuição das tarifas.
Pode-se dizer que, apesar de nem todas as ações estarem sendo realizadas a
contento, a partir dos dados da Figura 3.10 verifica-se que no primeiro ano do governo
Lula (2003/2006) houve um avanço na modicidade tarifária em relação aos dois
mandatos de FHC (1995/2002), principalmente no que diz respeito à classe residencial,
que sofreu reajuste de 23% contra 116% do governo FHC. Entretanto, para a classe
industrial a tarifa foi reajustada em 86%, maior do que o reajuste dos dois mandatos de
FHC que ficou em 81%.
68
Figura 3.10 Reajustes das tarifas de eletricidade nos governos FHC e LULA
Fonte (ANEEL)
A modicidade tarifária estará assegurada, na medida em que o governo
apresente medidas eficazes para resolver alguns problemas urgentes como:
Política Ambiental: O processo de licenciamento ambiental é bastante moroso,
impedindo a construção de várias hidrelétricas necessárias para manter o equilíbrio
oferta e demanda, principalmente nos anos 2010 e 2011;
Política tributária, de encargos setoriais e sociais: É necessário que aja uma
revisão nos tributos e encargos inseridos na conta de energia, e de subvenções como:
CCC, Baixa Renda, Universalização e Energia Alternativa (PROINFA).
3.2.10. Licenciamento ambiental
Outro fator importante na busca da competitividade e da livre concorrência na
indústria da energia elétrica é o processo de licenciamento ambiental. Uma vez que a
realização de investimentos na expansão do sistema elétrico depende da aprovação dos
órgãos de defesa do meio ambiente como, por exemplo, o IBAMA (Instituto Brasileiro
69
do Meio Ambiente e Recursos Renováveis). Não se tem dúvidas da importância do
licenciamento ambiental, pois neste processo além de serem avaliados os impactos da
construção de um determinado empreendimento, são estudas medidas para compensar o
seu efeito sobre o meio ambiente. Contudo, este processo deve acontecer de forma
transparente de modo a não haver interferência política que muitas vezes buscam
interesses particulares e com isso provocam atrasos significativos na instalação de
novos projetos de geração importantes para a segurança energética. Na Tabela 3.6,
mostra-se dados em MW referentes à previsão de entrada de novas usinas no sistema
elétrico brasileiro. Pode-se observar que na grande maioria, existem restrições
ambientais para entrada em operação dos empreendimentos.
Tabela 3.6
Previsão de entrada em operação de usinas X restrições ambientais
Para o diretor geral da ANEEL, Jerson Kelman, a escolha de empreendimentos
de interesse nacional deve ser feita em quatro dimensões: a ambiental, a social, a
econômica e a segurança energética:
A social e ambientalexistem e são conhecidas. A dimensão energética
tratará da garantia de o país ter energia elétrica necessária para o bem
estar da população e para atividades produtivas, sem as quais não se cria
emprego nem se combate a pobreza. A questão energética vai dizer qual
é o acréscimo de energia que precisamos para dar segurança ao país, pois
sem segurança energética nada acontece. E tem que ter a questão
econômica, para dizer o que vai significar ter ou não energia, como vai
impactar o PIB, na atração de investimentos, na competitividade, no
câmbio, etc. A decisão final de como se fazer é uma decisão
70
essencialmente política e não técnica. Esse é o cerne da proposta. Não se
pode travestir de decisão técnica algo que é político. Trata-se de escolher
entre coisas desiguais: cada dimensão tem uma visão e um argumento.
Não tem jeito de haver um consenso. Por isso sugiro que essa decisão
seja dada por um conselho de alto nível: o Conselho de Defesa Nacional,
composto pelo vice-presidente da República, os presidentes da Câmara e
do Senado e vários ministros. Estamos falando de um pacto nacional, do
Legislativo com o Executivo, que se reúnem e decidem o que é melhor
para o país, com base nos argumentos apresentados por cada instância.
Segundo estudos realizados pelo Banco Mundial, estão sendo necessários 39
meses na obtenção de licença prévia para construção de usinas hidrelétricas. Um
exemplo disso é a usina de Estreito prevista para entrar em operação em 2010. Após seis
anos de análise, o IBAMA emitiu, em dezembro de 2006, a licença de autorização para
o início da obra, contudo a Justiça do Maranhão determinou a paralisação da obra
devido a supostos impactos sobre uma comunidade indígena situada a 140 km da usina.
De acordo com estudos realizados pela EPE deverá haver um aumento de 31.000
MW na capacidade de geração hidrelétrica instalada. Com isso, será necessária a
implantação de 83 novas usinas hidrelétricas até o ano 2015 (16 destas se encontram
na etapa de construção). Na Tabela 3.7, mostra-se a distribuição das usinas hidrelétricas
nas diversas regiões hidrográficas.
Tabela 3.7
Evolução da Distribuição das UHEs nas Regiões Hidrográficas
Fonte: EPE
71
A retomada no crescimento do Brasil, bem como a competitividade na indústria
de energia elétrica, requer segurança energética e isso poderá acontecer na medida
em que os empreendimentos de geração possam ser construídos de forma a atender a
expansão da demanda. Assim, cabe ao governo interferir neste processo no sentido de
garantir a implantação das usinas necessárias ao sistema elétrico brasileiro.
72
4. CONCLUSÕES
Em 1995 inicia-se o processo de reestruturação da indústria de energia elétrica
no Brasil, uma vez que o modelo baseado no monopólio não estava mais conseguindo
assegurar o atendimento da demanda, tendo em vista que os investimentos requeridos
não estavam sendo viabilizados por falta de recursos financeiros. Assim, o setor elétrico
foi reestruturado procurando estabelecer as bases para a livre concorrência e
competitividade num ambiente de mercado elétrico que até então tinha características
monopolistas com empresas verticalizadas.
As características relevantes do modelo de mercado elétrico desverticalizado
consideram que as tarifas podem ser definidas pelas forças do mercado
(desregulamentação), que os investimentos para atender a demanda devem ser
realizados adequadamente e no tempo previsto. Nesse contexto a competitividade e livre
concorrência deverão estar presentes nos setores de geração e comercialização.
A estruturação da indústria de eletricidade brasileira em linhas gerais segue a
tendência internacional de desenvolver um ambiente competitivo e de livre
concorrência. Neste sentido, muitas foram às mudanças implementadas com vista
atingir este objetivo. Esta reestruturação, de fato, teve início no governo de Fernando
Henrique Cardoso, sofrendo modificações na sua concepção original no governo de
Luís Inácio Lula da Silva. Entretanto, passados quatros anos da implementação do
modelo Lula, verifica-se que várias ações necessitam ser tomadas de modo a privilegiar
a livre concorrência e a competitividade na indústria de energia elétrica brasileira.
As regras regulatórias definidas no modelo Lula suspenderam o processo de
privatização iniciado no modelo FHC e alteraram a forma de contratação e precificação
de energia entre os consumidores livres e os cativos das distribuidoras, de forma a terem
tratamentos diferenciados. Os consumidores cativos, representados pelas distribuidoras,
adquirem a energia necessária a seu suprimento através de leilões, enquanto os
consumidores livres negociam livremente com o fornecedor de sua escolha. Sobre estes
leilões de energia realizados pela CCEE ressalta-se que em caso de escassez de energia,
73
por falta de investimentos necessários em geração, os consumidores livres e as
distribuidoras serão obrigados a pagar preços elevados, no mercado de curto prazo, a
fim de poder atender toda demanda requerida, neste caso estará comprometida a
modicidade tarifária.
Atualmente o mercado não é totalmente livre, pois ainda não é possível a livre
comercialização de energia por parte de consumidores com tensão inferior a 69 kV. Esta
limitação visa atender ao anseio das distribuidoras que temem uma saída em massa dos
consumidores cativos como shopping centers e pequenas indústrias, para o ambiente de
livre negociação, pois atualmente além de serem remuneradas pelo serviço de transporte
da energia, estas repassam para o consumidor o preço da energia adquirida no ambiente
regulado. O fato é que no ambiente de competição, a energia elétrica é vista como uma
“commodity”, separando o produto dos serviços de transmissão e distribuição. Por isso,
o ideal é que os consumidores paguem às distribuidoras a tarifa referente ao uso do fio e
à empresa geradora ou comercializadora a energia em si, como acontece em muitos
países, onde o consumidor recebe duas contas distintas.
Existe um forte indício (alto risco) que entre os anos 2010 e 2011, o Brasil tenha
que conviver com um novo apagão basta analisar os estudos realizados pelo Instituto
Acende Brasil que utiliza em suas projeções de cenários dados dos órgãos ligados à
indústria de energia elétrica como ONS, EPE e ANEEL. Esses estudos foram simulados
com o software computacional RISK desenvolvido por pesquisadores experientes em
desregulamentação e planejamento de mercados elétricos internacionais. Por isso, é
necessário que o governo tome uma atitude agressiva para resolver, por exemplo, o
problema de falta de obras de geração, pois a sua omissão agora trará, no futuro, sérios
problemas à sociedade que poderá pagar um custo alto pela implementação de soluções
emergenciais para conter o apagão e diminuir os problemas decorrentes de um
racionamento de energia.
Esta situação impõe a retomada imediata dos investimentos em geração,
principalmente usinas hidrelétricas consideradas prioritárias pelo próprio governo, que
esbarram no licenciamento ambiental. Esse processo carece no mínimo de agilidade e
respeito às normas da Instrução Normativa 65/2005, que estabelece o procedimento de
licenciamento ambiental.
74
Um dos principais motivos para o estabelecimento de um ambiente competitivo
e de livre concorrência é a busca da modicidade tarifária. Neste sentido, muito que
ser feito pelo modelo Lula, pois a política de concessão de subsídio do governo,
acompanhada dos tributos e encargos setoriais torna-se um peso na composição das
tarifas, não favorecendo o interesse dos consumidores.
É fato que, do modelo FHC até o modelo Lula, muitas foram às medidas
tomadas em prol da reestruturação da indústria da energia elétrica brasileira, contudo,
esta tarefa ainda não está concluída e necessita que estudiosos do meio acadêmico e
especialistas do setor elétrico, trabalhem no desenvolvimento de aspectos institucionais
e regulatórios de modo que se construa um “modelo Brasil”, desvinculado de interesses
político-eleitorais onde estejam garantidas: - a expansão da capacidade geradora da
indústria, favorecendo com isso, o crescimento econômico do país; - a ampliação do
mercado livre para os consumidores residenciais; - a modicidade tarifária; e a
universalização da energia elétrica.
Pelo que indica a experiência internacional, a comercialização precisa ser
competitiva a nível de todos os usuários
1
.
1
No Reino Unido desde 2001, 10 agentes comercializadores disputam os consumidores finais. Na
União Européia em junho de 2007 foi liberalizada a comercialização de energia para os
consumidores finais baseada na competitividade (Gás e Eletricidade).
75
ANEXOS
76
ANEXO A
Modelos do setor elétrico brasileiro
Na Tabela A.1 são listadas as diferenças entre os três modelos já aplicados no
sistema elétrico brasileiro, estando em vigor o modelo instituído em 2004.
Tabela A.1 Comparação entre os modelos do setor elétrico brasileiro.
Fonte: Site Internet da CCEE
Modelo Antigo (até 1995)
Modelo de Livre Mercado
(1995 a 2003)
Novo Modelo (2004)
Financiamento através de
recursos públicos
Financiamento através de
recursos públicos e privados
Financiamento através de recursos
públicos e privados
Empresas verticalizadas
Empresas divididas por
atividade: geração,
transmissão, distribuição e
comercialização
Empresas divididas por atividade:
geração, transmissão, distribuição,
comercialização, importação e
exportação.
Empresas predominantemente
Estatais
Abertura e ênfase na
privatização das Empresas
Convivência entre Empresas Estatais
e Privadas
Monopólios - Competição
inexistente
Competição na geração e
comercialização
Competição na geração e
comercialização
Consumidores Cativos
Consumidores Livres e
Cativos
Consumidores Livres e Cativos
Tarifas reguladas em todos os
segmentos
Preços livremente
negociados na geração e
comercialização
No ambiente livre: Preços livremente
negociados na geração e
comercialização. No ambiente
regulado: leilão e licitação pela menor
tarifa
Mercado Regulado Mercado Livre
Convivência entre Mercados Livre e
Regulado
Planejamento Determinativo -
Grupo Coordenador do
Planejamento dos Sistemas
Elétricos (GCPS)
Planejamento Indicativo
pelo Conselho Nacional de
Política Energética (CNPE)
Planejamento pela Empresa de
Pesquisa Energética (EPE)
Contratação: 100% do Mercado
Contratação : 85% do
mercado (até agosto/2003)
e 95% mercado (até
dez./2004)
Contratação: 100% do mercado +
reserva
Sobras/déficits do balanço
energético rateados entre
compradores
Sobras/déficits do balanço
energético liquidados no
MAE
Sobras/déficits do balanço energético
liquidados na CCEE. Mecanismo de
Compensação de Sobras e Déficits
(MCSD) para as Distribuidoras.
77
ANEXO B
O Sistema Elétrico Interligado Nacional
O Sistema Interligado Nacional (SIN) é um sistema hidrotérmico com
predominância de usinas hidrelétricas e com múltiplos proprietários formados por
empresas distribuídas pelas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste, Nordeste e parte da
região Norte. Os sistemas isolados representam apenas 3,4% da capacidade de produção
de energia elétrica do país e estão localizados principalmente na região amazônica. Na
Tabela B.1 tem-se valores relacionados com a capacidade instalada do Brasil, os quais
são maiores que os valores no SIN, mostrados na Tabela B.2.
Tabela B.1
Parque gerador existente em dezembro/2005 no Brasil (MW)
Fonte Capacidade Instalada (MW)
Hidrelétrica 69.631
Termelétrica 19.770
Nuclear 2.007
PCH 1.330
Subtotal 92.738
Interligação com a Argentina 2.178
Parcela de Itaipu da ANDE 5.600
Total 100.516
Fonte: Plano decenal 2006-2015
Tabela B.2
Parque gerador existente no Sistema Interligado Nacional em dezembro/2005 no Brasil
Fonte Capacidade Instalada (MW)
Hidrelétrica 68.637
Termelétrica 12.407
Nuclear 2.007
Outras fontes 2.899
Subtotal 85.950
Interligação com a Argentina 2.178
Parcela de Itaipu da ANDE 5.600
Total 93.728
Fonte: Plano Decenal 2006-2015
78
O sistema interligado possui uma rede de transmissão (rede básica) de 83.049
km que opera nas tensões entre 230 kV a 750 kV e uma capacidade de transformação de
184.790 MVA (rede básica). Na Figura B.1 é mostrada a configuração do SIN.
Figura B.1 Mapa eletrogeográfico do SIN.
79
O sistema Interligado Nacional é dividido nos seguintes subsistemas elétricos:
Sudeste/ Centro-Oeste: Compreendendo os estados do Espírito Santo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul;
Sul: Compreendendo os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná;
Nordeste: compreendendo os estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia;
Norte: Compreendendo os estados do Pará, Tocantins e Maranhão.
As interligações dessas regiões possibilitam a otimização energética das bacias
hidrográficas, com o aproveitamento da sua diversidade hidrológica.
Em 1998 os subsistemas SE/CO e S foram interligados ao subsistema N/NE por
uma linha de transmissão em 500 kV com 1.000 km de extensão e capacidade para
transmitir 1.000 MW. Seus terminais encontram-se nas subestações Imperatriz (MA) e
Serra da Mesa (Goiás). Esta interligação foi reforçada com a construção do segundo
circuito Imperatriz/Serra da Mesa e de uma nova linha de transmissão ligando as
subestações de Imperatriz e a região metropolitana de Salvador (BA).
Os subsistemas Norte e Nordeste foram interligados pelas linhas de transmissão
em 500 kV Presidente Dutra - Boa Esperança e Presidente Dutra Teresina Sobral
Fortaleza C1 e C2. Esta interligação será reforçada com a construção da linha em 500
kV Colinas Ribeiro Gonçalves São João do Piauí Sobradinho, já licitada, com
previsão de entrada em operação em maio/2007.
Fontes de Energia
Hidreletricidade
“A fonte hidrelétrica se constitui numa das maiores vantagens competitivas do
país, por se tratar de um recurso renovável e com possibilidade de ser implementado
pelo parque industrial brasileiro com mais de 90% (noventa por cento) de bens e
80
serviços nacionais. Além do mais, ao possuir uma das mais exigentes legislações
ambientais do mundo, é possível ao Brasil garantir que as hidrelétricas sejam
construídas atendendo aos ditames do desenvolvimento sustentável.” [Plano Decenal
2006-2015]
Termeletricidade a Biomassa
“No Brasil, existe um potencial expressivo para geração de energia elétrica a
partir de biomassa, a chamada “Bioeletricidade”, produzida especialmente a partir de
resíduos da indústria sucroalcooleira, sobretudo o bagaço de cana de açúcar. A
exploração deste potencial traz benefícios para o meio ambiente, por se tratar de uma
fonte de energia renovável (bagaço e palhas da cana de açúcar), além de contribuir para
a modicidade tarifária, por se tratar de uma geração termelétrica de baixo custo, com
tecnologia dominada, e que pode ser disponibilizada em prazos relativamente curtos,
com equipamentos fabricados no país.” [Plano Decenal 2006-2015]
“Embora a oferta desta biomassa seja sazonal, como o período natural de safra
da cana de açúcar (maio novembro no Sudeste) coincide com o período de estiagem
na região Centro-Sul, esta geração termelétrica pode complementar adequadamente a
geração do parque hidrelétrico existente no país. Outra vantagem é que grande parte
deste potencial localiza-se próximo aos grandes centros de consumo, acarretando baixos
custos de transmissão e/ou conexão às redes de distribuição em baixa tensão (BT).”
[Plano Decenal 2006-2015]
Termeletricidade a Carvão Mineral
O Brasil possui importantes reservas de carvão mineral, de cerca de 32 bilhões
de toneladas, localizadas em sua maior parte (89%) no Rio Grande do Sul, nas regiões
de Candiota, Baixo Jacuí e litoral. Tais reservas, se utilizadas apenas em 50% para
geração de energia elétrica e se a sua extração for efetuada com rendimento mínimo de
50%, seriam suficientes para suprir termelétricas que totalizem 20.000 MW, durante
100 anos. Na região sul do Brasil, também existe em operação um importante parque
de usinas termelétricas a carvão mineral, conforme mostrado na Tabela B.3. (Plano
Decenal 2006-2015)
81
Tabela B.3
Usinas termelétricas a Carvão Mineral em operação
Usina Empresa Município UF Potência (MW)
São Gerônimo
CGTEE São Gerônimo RS 20
P. Médice – A/B
CGTEE Candiota RS 446
Figueira I
CGTEE Figueira PR 20
Jorge Lacerda A
Tractebel
Capivari de Baixo SC 232
Jorge Lacerda B
Tractebel
Capivari de Baixo SC 262
Jorge Lacerda IV
Tractebel
Capivari de Baixo SC 363
Charqueadas
Tractebel
Capivari de Baixo SC 72
Total
1.415
Fonte: Plano Decenal 2006-2015
Pequenas Centrais Hidrelétricas
“As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), caracterizadas por possuírem
potência instalada entre 1.000 kW e 30.000 kW, com reservatórios de área não superior
a 3 km
2
para a cheia centenária, representam um tipo de expansão hidráulica
amplamente utilizado. A atratividade destas usinas fundamenta-se, principalmente, por
suas características de menor impacto ambiental, menor volume de investimentos, prazo
de maturação mais curto e tratamento diferenciado por parte da regulamentação vigente.
Nesse sentido, uma característica das PCHs é a dispensa de licitação para obtenção da
concessão, bastando o empreendedor obter autorização da ANEEL Agência Nacional
de Energia Elétrica. Outras características atrativas são: a isenção de pagamento de Uso
de Bem Público (UBP), taxa de compensação financeira aos Estados e Municípios; a
isenção da obrigação de aplicar, anualmente, o montante de, no mínimo, 1% (um por
cento) de sua receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento do setor
elétrico; a isenção relativa à compensação financeira pela utilização de recursos
hídricos; a possibilidade de comercializar de imediato a energia elétrica produzida com
consumidores cuja carga seja maior ou igual a 500 kW e a redução de no mínimo 50%
no pagamento dos encargos por uso das redes de transmissão e distribuição.
Atualmente, existem no Brasil 253 PCHs em operação, somando 1.277 MW ao sistema
interligado nacional.” [Plano Decenal 2006-2015]
82
Termeletricidade a Gás Natural
“Entre as fontes de recursos para produção de energia primária que compõem a
matriz energética brasileira, o gás natural foi a de maior crescimento percentual,
passando de 5,5 % em 1989, para 8,9 % em 2004. O deslocamento de combustíveis
fósseis líquidos, com acentuadas características poluidoras, trouxe melhorias ao meio
ambiente, principalmente em regiões industriais de grande concentração urbana ou nas
cidades em que ocorreu maior inserção dos veículos automotivos a gás natural. Outra
vantagem importante foi a melhoria nos processos e produtos de alguns segmentos
industriais que requerem energia de queima mais eficiente e limpa. O crescimento da
termogeração a gás natural também trouxe benefícios importantes ao sistema elétrico do
país, tanto em termos energéticos, para aumentar as garantias do sistema gerando
eletricidade quando maiores riscos de geração hidrelétrica futura, quanto em termos
de estabilidade do sistema elétrico, pois as termelétricas a gás natural podem ser
instaladas próximas ou nos centros de carga, onde podem atuar na estabilização dos
níveis de tensão.” [Plano Decenal 2006-2015]
Cogeração a Gás Natural
“A cogeração pode ser definida como a produção simultânea de duas ou mais
formas de energia a partir de um único combustível. O processo mais comum de
cogeração é a produção de eletricidade e energia térmica (calor e/ou frio), a partir do
uso de gás natural, biomassa ou outro energético. Com relação ao estágio atual de
utilização desta tecnologia no Brasil, segundo registros da ANEEL, em 2005 havia 46
centrais de cogeração em operação, totalizando 958 MW, sendo 22 a gás natural, com
capacidade instalada total de 285 MW.” [Plano Decenal 2006-2015]
Energia Eólica
“O desenvolvimento da energia eólica, no Brasil, tem ocorrido de forma gradual
e consistente e está em consonância com a diretriz do Governo Federal de diversificação
da Matriz Energética, bem como valorizando as características e potencialidades
regionais na formulação e implementação de políticas energéticas. O potencial eólico
brasileiro para aproveitamento energético tem sido objeto de estudos e inventários desde
83
a década de 1970, que culminaram com a publicação, em 2001, do Atlas do Potencial
Eólico Brasileiro. O Atlas apontou a existência de áreas com regimes médios de vento,
propícios a instalação de parques eólicos, principalmente nas regiões Nordeste (144
TWh/ano), e Sul e Sudeste do país, (96 TWh/ano).” [Plano Decenal 2006-2015]
No plano de obras decenal não é considerada a energia solar a qual pode
representar uma fonte renovável importante no setor.
84
APÊNDICES
85
APÊNDICE A
Glossário do Setor Elétrico
Acordo de Mercado
Contrato multilateral de adesão homologado pela Resolução ANEEL 18, de 28 de janeiro de
1999.
Agente do Mercado
Pessoa física ou jurídica, ou empresas reunidas em consórcio, que atue na geração,
comercialização, importação ou exportação de energia elétrica, bem com os consumidores
livres, conforme disposto na Lei nº 9.074, de 7 de julho de 1995, que participam no MAE.
Alta-Tensão
Toda tensão maior ou igual a 69.000 Volts (69kV). Geralmente, estas tensões são utilizadas para
o transporte de energia elétrica do centro gerador para o centro consumidor.
ANEEL
Agência Nacional de Energia Elétrica: Organismo de Estado, independente do Governo,
responsável por toda a regulamentação do setor e pelo equilíbrio entre os interesses e as
necessidades dos clientes e das empresas.
Ano hidrológico
Período de um ano (doze meses) do histórico de vazões.
Ano Seco
Ano baseado em critérios estatísticos, em que o curso de água tem afluências inferiores à média.
Ano úmido
Ano baseado em critérios estatísticos, em que curso de água tem afluências superiores à média.
Assembléia geral do MAE
Órgão deliberativo superior do MAE.
Auditor do Sistema de Contabilização e Liquidação
Empresa independente, reconhecida publicamente, responsável pela auditoria do Sistema de
Contabilização e Liquidação.
Bacia Hidrográfica
Área de influência de um curso d'água principal e de seus afluentes.
Baixa Tensão
Toda tensão inferior a 69.000 volts (69kV). Geralmente, essas tensões são utilizadas para a
distribuição da energia elétrica.
Câmara de Arbitragem do MAE
Entidade destinada a estruturar, organizar e administrar processo alternativo de solução de
conflitos, de âmbito específico, por meio de arbitragem, mediante seleção, credenciamento,
treinamento e indicação de árbitros, bem como regulamentar e criar a infra-estrutura necessária
para decidir sobre os respectivos processos.
86
Capacidade Instalada
Potência máxima em regime contínuo para a qual a instalação foi projetada. Normalmente vem
indicada nas especificações fornecidas pelo fabricante e na chapa afixada nas máquinas.
Carga de base
Limite mínimo de energia consumida em qualquer horário/dia de atendimento.
Carga de Ponta
(Peak Load) Quantidade de energia consumida no horário de pico do atendimento
(normalmente, entre 18h e 22h).
Carga Instalada
(Installed Load) Soma das potências nominais dos equipamentos elétricos instalados na unidade
consumidora, em condições de entrar em funcionamento, expressa em quilowatts (kW).
Carga Leve / Mínima
(Light Load / Minimum Load) Denominação dada ao consumo de energia elétrica na
madrugada. É a parte da curva de carga onde são registrados os menores consumos de energia
elétrica do dia.
Carga Pesada
(Heavy Load) Denominação dada ao consumo de energia elétrica que compreende o período do
final da tarde (em torno das 20h, aproximadamente). É a parte da curva de carga onde são
registrados os maiores consumos de energia elétrica do dia.
CBEE
Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial (CBEE) - (Emergency Power Brazilian
Trader). Empresa Pública tem com os objetivos de: aumento da oferta de energia no curto prazo;
garantia energética quanto aos riscos hidrológicos; assegurar a transição do novo modelo
elétrico; garantir a infra-estrutura de energia elétrica para o desenvolvimento sócio-econômico.
Prazo de existência da CBEE até 30/06/2006. São de competência da CBEE: a aquisição, o
arrendamento e a alienação de bens e direitos, a celebração de contratos e a prática de atos
destinados a: I viabilização do aumento da capacidade de geração e da oferta de energia
elétrica de qualquer fonte em curto prazo; e II - superação da crise de energia elétrica e ao
reequilíbrio de oferta e demanda de energia elétrica.
CCC
Conta de Consumo de Combustível (CCC) - relativa a custeio de combustível termelétrico.
CCEAR
Contrato de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado
CCEE
Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Começou a operar em 10 de novembro de
2004 - regulamentada pelo Decreto 5.177, de 12 de agosto de 2004, sucedendo ao Mercado
Atacadista de Energia (MAE). É uma associação civil integrada pelos agentes das categorias de
Geração, de Distribuição e de Comercialização, a instituição desempenha papel estratégico para
viabilizar as operações de compra e venda de energia elétrica, registrando e administrando
contratos firmados entre geradores, comercializadores, distribuidores e consumidores livres. A
CCEE tem por finalidade viabilizar a comercialização de energia elétrica no SIN nos Ambientes
de Contratação Regulada e Contratação Livre, além de efetuar a contabilização e a liquidação
financeira das operações realizadas no mercado de curto prazo, as quais são auditadas
externamente, nos termos da Resolução Normativa ANEEL 109, de 26 de outubro de 2004
(Convenção de Comercialização de Energia Elétrica). As Regras e os Procedimentos de
Comercialização que regulam as atividades realizadas na CCEE são aprovados pela ANEEL.
87
CCPE
Comitê Coordenador do Planejamento da Expansão do Sistema Elétrico: Órgão do governo
vinculado ao Ministério de Minas e Energia que avalia as necessidades de expansão do sistema
elétrico a médio e longo prazos.
CDE
Conta de Desenvolvimento Energético, instituída pela Lei 10.438/02 para financiar o Programa
de Incentivo às Fontes Alternativas (Proinfa) e parte dos projetos de universalização dos
serviços de eletricidade.
CGSE
Câmara de Gestão do Setor Elétrico
Classe de Consumo
(Consumption, classes of) Designação de grupos de consumidores para enquadramento do
fornecimento de energia elétrica realizado a unidades de consumo, classificadas como:
Residencial, Industrial, Comercial Serviços e Outras Atividades, Rural, Poder Público
fundações de direito público, autarquias, órgãos da União, Estado ou Município, Iluminação
Pública, Serviço Público (tração elétrica, água esgoto e saneamento), Consumo Próprio (prédios
das concessionárias de serviço público de eletricidade, canteiros de obras, usinas).
CMSE
Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico. O CMSE é um órgão criado no âmbito do MME,
sob sua coordenação direta, com a função de acompanhar e avaliar a continuidade e a segurança
do suprimento elétrico em todo o território nacional. Suas principais atribuições incluem:
acompanhar o desenvolvimento das atividades de geração, transmissão, distribuição,
comercialização, importação e exportação de energia elétrica; avaliar as condições de
abastecimento e de atendimento; realizar periodicamente a análise integrada de segurança de
abastecimento e de atendimento; identificar dificuldades e obstáculos que afetem a regularidade
e a segurança de abastecimento e expansão do setor e elaborar propostas para ajustes e ações
preventivas que possam restaurar a segurança no abastecimento e no atendimento elétrico.
CNPE
Conselho Nacional de Política Energética. O CNPE é um órgão interministerial de
assessoramento à Presidência da República, tendo como principais atribuições formular
políticas e diretrizes de energia e assegurar o suprimento de insumos energéticos às áreas mais
remotas ou de difícil acesso país. É também responsável por revisar periodicamente as matrizes
energéticas aplicadas às diversas regiões do país, estabelecer diretrizes para programas
específicos, como os de uso do gás natural, do álcool, de outras biomassas, do carvão e da
energia termonuclear, além de estabelecer diretrizes para a importação e exportação de petróleo
e gás natural.
Cogeração
Produção de energia elétrica e térmica simultaneamente a partir de uma fonte de combustível.
Exemplos típicos: 1) Uma caldeira produz vapor de alta pressão (podendo utilizar óleo, gás e/ou
biomassa) que é entregue a um turbogerador que produz eletricidade entregando o vapor a baixa
pressão para utilização no processo. 2) Um turbogerador (tipicamente a gás) gera eletricidade e
o calor de sua exaustão é utilizado por uma caldeira de recuperação para produzir vapor a ser
utilizado no processo. Os investimentos em plantas de cogeração costumam ser da ordem de
US$ 1000 por KW instalado e o preço da energia gerada pode ser adotado, para uma primeira
avaliação, em US$ 50 por MWh e US$ 10 por tonelada de vapor incluindo-se todos os custos
operacionais, depreciação e remuneração do capital.
88
Composição do potencial hidrelétrico brasileiro
O valor do potencial hidrelétrico brasileiro é composto pela soma de três parcelas: o que está em
operação, o que está em construção e o que está em inventariado sendo que a parcela do
inventariado inclui inventário, projetos de viabilidade e projetos básicos.
Concessionária ou permissionária
Agente titular de concessão ou permissão federal para prestar o seviço público de energia
elétrica.
Consumidor
Qualquer agrupamento de unidades consumidoras, global ou parcial, de uma mesma área de
concessão de distribuição, definido pela concessionária ou permissionária e aprovado pela
ANEEL.
Consumidor cativo
Consumidor que adquire energia de concessionária ou permissionária a cuja rede esteja
conectado e segundo tarifas regulamentadas.
Consumidor Livre
Consumidor de energia que pode escolher sua empresa fornecedora e gerenciar suas
necessidades da maneira mais conveniente, levando em conta preços, produtos e qualidade de
serviços. Desde 2000, todos os consumidores com demanda superior a 3 MW e tensão maior
que 69 kV são considerados clientes livres, mantidos os pré-requisitos dos contratos bilaterais
vigentes. Consumidores que iniciaram suas atividades após a promulgação da lei e ligada em
alta tensão, já são clientes livres, independentemente das suas variações em demanda de energia.
Consumo de energia elétrica
Quantidade de potência elétrica (kW) consumida num intervalo de tempo, sendo a unidade mais
utilizada o (kWh) ou em pacotes de 1000 unidades (MWh).
Consumo Médio
Uma usina de 100 MW de potência entrega 36.000.000 kWh/mês (100 X 1.000 kWh por MWh
X 24 horas X 30 dias X 50% de fator de carga). Considerando que a conta média residencial
brasileira é de 150 kWh/mês, uma usina de 100 MW de potência atende a uma população
residencial de 240.000 consumidores (36.000.000 / 150 = 240.000).
Conta de energia elétrica
Documento apresentado mensalmente a cada período de faturamento, à unidade consumidora,
contendo os seguintes dados de forma genérica para exemplificar tanto unidades atendidas em
baixa tensão, como, as em alta tensão: data de vencimento, data de leitura, código do cliente,
consumo de energia ativa e reativa do mês, demanda máxima de potência registrada, fator de
potência, histórico de consumo dos últimos 12 meses, espaço reservado para mensagens e
informações, período de consumo, número do medidor, valor do tributo a ser recolhido, valor
total a pagar, etc.
Contabilização do MAE
Processo de apropriação e registro das transações com energia elétrica entre os agentes que
participam do MAE, determinando, em intervalos temporais definidos, a situação de cada
agente (comprador e/ou vendedor) na condição de credor ou devedor no referido no Mercado.
89
Contrato de adesão
Instrumento contratual com cláusulas vinculadas às normas e regulamentos aprovados pela
ANEEL, não podendo o conteúdo das mesmas ser modificado pela concessionária ou
consumidor, a ser aceito ou rejeitado de forma integral.
Contrato de fornecimento
Instrumento contratual em que a concessionária e o consumidor responsável por unidade
consumidora do Grupo "A" ajustam as características técnicas e as condições comerciais do
fornecimento de energia elétrica.
Contrato de uso e de conexão
Instrumento contratual em que o consumidor livre ajusta com a concessionária as características
técnicas e as condições de utilização do sistema elétrico local, conforme regulamentação
específica.
Contratos Bilaterais
São contratos de compra e venda, negociados livremente entre as partes, refletindo as
expectativas de ambas, em relação às condições futuras do mercado. Ao registrarem um
contrato bilateral no MAE os negociadores evitam as incertezas da variação do preço Spot.
Contratos Iniciais
São contratos bilaterais de longo prazo firmados entre empresas geradoras e distribuidoras de
energia, com preços fixados pela ANEEL no início da reestruturação do Setor. São os
instrumentos da transição entre o regime anterior de preços administrados e o regime de preços
negociados entre os agentes de mercado.
CRC
Conta de Resultados a Compensar. Até 1993, as empresas do setor elétrico tinham garantia de
remuneração anual de 10% a 12% sobre seus investimentos. Mas, para combater a inflação, o
governo passou a segurar reajustes de tarifas, reduzindo assim os resultados das distribuidoras.
Com isso, elas passaram a ter direito a compensações, lançadas na Conta de Resultados a
Compensar (CRC). Com o desmoronamento das finanças públicas na década de 80, o governo
não tinha como quitar esses créditos das empresas, e as distribuidoras passaram a não ter como
pagar seus devedores, principalmente as geradoras de eletricidade. Isso provocou um calote
generalizado no setor elétrico, que foi resolvido com o encontro de contas de 1993, promovido
pela lei 8.631/93, conhecida como "Lei Eliseu Resende". Para tentar evitar que as perdas do
Tesouro Nacional com o encontro de contas do setor elétrico ficasse muito acima de US$ 20
bilhões, o governo federal aplicou um redutor nos créditos da conta, antes de fazer o encontro de
contas. Na maioria dos Estados, os 75% que sobraram da CRC foram suficientes para quitar as
dívidas das distribuidoras de energia estaduais.
Custos Gerenciáveis
Vide definição de Parcela B.
Custos Não-Gerenciáveis
Vide definição de Parcela A.
CVA
Conta de Variação dos Itens da Parcela A. Criada para represar por doze meses os impactos
negativos ou positivos da variação cambial nos custos não-gerenciáveis das tarifas. A conta é
atualizada anualmente pela taxa Selic.
DEC
Duração equivalente de interrupção por unidade
90
Demanda
Média das potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao sistema elétrico pela parcela da
carga instalada em opergação na unidade consumidora, durante um intervalo de tempo
especificado.
Demanda Contratada
Demanda de potência ativa a ser obrigatória e continuamente disponibilizada pela
concessionária, no ponto de entrega, conforme valor e período de vigência fixados no contrato
de fornecimento e que deverá ser integralmente paga, seja ou não utilizada durante o período de
faturamento, expressa em quilowatts (kW).
Demanda contratada fora de ponta
Valor da demanda contratada para o horário fora de ponta.
Demanda contratada ponta
Valor da demanda contratada para o horário de ponta.
Demanda de ultrapassagem
Parcela da demanda medida que excede o valor da demanda contratada, expressa em quilowatts
(kW).
Demanda faturável
Valor da demanda de potência ativa, identificando de acordo com os critérios estabelecidos e
considerada para fins de faturamento, com aplicação da respectiva tarifa, expressa em
quilowatts (kW).
Demanda instantânea MW
Demanda requerida num determinado instante.
Demanda máxima fora de ponta
Maior valor de demanda verificado durante o horário de ponta.
Demanda máxima ponta
Maior valor de demanda verificado durante o horário de ponta.
Demanda média
Relação entre a quantidade de energia elétrica utilizada durante um período de tempo definido e
esse mesmo período.
Demanda Medida
Maior demanda de potência ativa, verificada por medição, integralizada no intervalo de 15
(quinze) minutos durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW).
DIC
Duração de interrupção individual por unidade Intervalo de tempo que, no período de
observação, em cada unidade consumidora ocorreu descontinuidade da distribuição de energia
elétrica.
DMIC
Duração Máxima de Interrupção Contínua por Unidade Consumidora Tempo máximo de
interrupção contínua, da distribuição de energia elétrica, para uma unidade consumidora
qualquer.
91
Eletricidade
Eletricidade é uma energia derivada que pode ser produzida a partir da maioria das formas
energéticas. O mais importante processo da sua produção consiste em recorrer a um gerador ou
alternador que converte a energia mecânica fornecida por um processo térmico ou por uma
turbina hidráulica. Na maioria das suas aplicações, a eletricidade é uma energia de rede que
deve ser produzida no momento do seu consumo.
Energia Armazenada
Energia equivalente de água armazenada em um reservatório acima da cota mínima normal.
Energia Assegurada
Referente a cada usina hidrelétrica, constitui o seu limite de contratação. Trata-se da fração a ela
alocada da energia assegurada global do sistema. Esta alocação da energia assegurada e suas
revisões são propostas em conjunto pelo ONS e o planejamento setorial, sendo homologadas
pela ANEEL. Decreto no 2.655, de 2 de julho de 1998.
Energia elétrica ativa
Energia elétrica que pode ser convertida em outra forma de energia, expressa em quilowatts-
hora (kWh).
Energia elétrica reativa
Energia elétrica que circula continuamente entre os diversos campos elétricos e magnéticos de
um sistema de corrente alternada, sem produzir trabalho, expressa em quilovolt-ampère-reativo-
hora (kvarh).
Energia hidráulica
A utilização da energia cinética e potencial das águas pela humanidade remonta a tempos
imemoriais, que desde sempre se instalaram variados dispositivos nas margens e nos leitos
dos rios. Foi, porém, no século XIX que o aproveitamento dessa forma de energia se tornou
mais atraente do ponto de vista econômico, pois, com a invenção dos grupos geradores de
energia elétrica e a possibilidade do transporte de eletricidade a grandes distâncias, se conseguiu
obter um elevado rendimento econômico desse aproveitamento.
EPE
Empresa de Pesquisa Energética. Instituída pela Lei 10.847/04 e criada pelo Decreto
5.184/04, a EPE é uma empresa vinculada ao MME, cuja finalidade é prestar serviços na área de
estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético. Suas principais
atribuições incluem a realização de estudos e projeções da matriz energética brasileira, execução
de estudos que propiciem o planejamento integrado de recursos energéticos, desenvolvimento
de estudos que propiciem o planejamento de expansão da geração e da transmissão de energia
elétrica de curto, médio e longo prazos, realização de análises de viabilidade técnico-econômica
e sócio-ambiental de usinas, bem como a obtenção da licença ambiental prévia para
aproveitamentos hidrelétricos e de transmissão de energia elétrica.
ESS
O Encargo de Serviços do Sistema consiste basicamente num valor em R$/MWh
correspondente à média dos custos incorridos na manutenção da confiabilidade e da estabilidade
do sistema para o atendimento do consumo em cada submercado, e que não estão incluídos no
preço MAE. Este valor é pago por todos os agentes de consumo do MAE, na proporção do
consumo medido correspondente, contratado ou não. Em mercados energéticos consolidados, os
custos normalmente incluídos no ESS são: - Restrições de operação - Capacidade adicional -
Serviços Ancilares - Testes de disponibilidade - Ofertantes de redução de carga - Aplicação de
penalidades.
92
Estrutura tarifária
Conjunto de tarifas aplicáveis aos componentes de consumo de energia elétrica e/ou demanda
de potência ativas de acordo com a modalidade de fornecimento.
Estrutura tarifária convencional
Estrutura caracterizada pela aplicação de tarifas de consumo de energia elétrica e/ou demanda
de potência independentemente das horas de utilização do dia e dos períodos do ano.
Estrutura tarifária horo-sazonal
Estrutura caracterizada pela aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica e
de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia e dos períodos do ano,
conforme especificação a seguir: a) Tarifa Azul: modalidade estruturada para aplicação de
tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia
e os períodos do ano, bem como de tarifas diferenciadas de demanda de potência de acordo com
as horas de utilização do dia. b) Tarifa Verde: modalidade estruturada para aplicação de tarifas
diferenciadas de consumo de energia elétrica de acordo com as horas de utilização do dia e os
períodos do ano, bem como de uma única tarifa de demanda de potência. c) Horário de ponta
(P): período definido pela concessionária e composto por 3 (três) horas diárias consecutivas,
exceção feita aos sábados, domingos, terça-feira de carnaval, sexta-feira da Paixão, “Corpus
Christi”, dia de finados e os demais feriados definidos por lei federal, considerando as
características do seu sistema elétrico. d) Horário fora de ponta (F): período composto pelo
conjunto das horas diárias consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de
ponta. e) Período úmido (U): período de 5 (cinco) meses consecutivos, compreendendo os
fornecimentos abrangidos pelas leituras de dezembro de um ano a abril do ano seguinte. f)
Período seco (S): período de 7 (sete) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos
abrangidos pelas leituras de maio a novembro.
Faixa Capacitiva
Período diário de 6 horas consecutivas, compreendido, a critério da Concessionária, entre 23h30
e 06h30.
Faixa Indutiva
Período diário complementar ao definido para a faixa capacitiva.
Fator de capacidade
Relação entre a carga própria de energia e a capacidade instalada de uma instalação ou conjunto
de instalações.
Fator de Carga
Reflete a capacidade de entrega de energia de uma fonte geradora. Exemplo: uma usina de 100
MW de potência entrega 36.000.000 kWh/mês se seu fator de carga for de 50% (100 X 1.000
kWh por MWh X 24 horas X 30 dias X 50% de fator de carga). Considerando que a conta
média residencial brasileira é de 150 kWh/mês, uma usina de 100 MW de potência atende a
uma população residencial de 240.000 consumidores (36.000.000 / 150 = 240.000)
Fator de demanda
Razão entre a demanda máxima num intervalo de tempo especificado e a carga instalada na
unidade consumidora.
Fator de Potência
É a relação entre a energia ativa e a energia reativa para cada unidade consumidora. O fator de
potência indica qual a porcentagem da energia total fornecida que é efetivamente utilizada como
energia ativa. Assim, o fator de potência mostra o grau de eficiência do uso dos sistemas
elétricos. Valores altos de fator de potência (próximos a 1,0) indicam uso eficiente da energia
elétrica, enquanto fatores baixos indicam seu mau aproveitamento, além de representar uma
93
sobrecarga para todo sistema elétrico. O fator de potência máximo autorizado pela resolução
456 da ANEEL é de 0,92. Ou seja, clientes que tenham fator de potência menores terão sua
energia e/ou demanda reativa excedentes cobradas em conta. Os principais fatores para um
baixo fator de potência são: motores e transformadores operando "em vazio" ou com pequenas
cargas, motores e transformadores superdimensionados, máquinas de solda, lâmpadas de
descarga (fluorescentes, vapor de mercúrio, vapor de sódio) sem reatores de alto fator de
potência. A instalação de bancos de capacitores pode reduzir o excedente em até 100%.
Fator de potência mínima diário
Menor valor do fator de potência verificado no período de 0h e 24h, diariamente.
Fatura de energia elétrica
Nota fiscal que apresenta a quantia total que deve ser paga pela prestação do serviço público de
energia elétrica, referente a um período especificado, discriminando as parcelas
correspondentes.
FEC
Freqüência equivalente de interrupção por unidade. Número de interrupções ocorridas, em
média, no período de observação, em cada unidade consumidora do conjunto considerado.
FIC
Freqüência equivalente de interrupção individual por unidade. Número de interrupções
ocorridas, no período de observação, em cada unidade consumidora.
Grupo A
Grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão igual ou
superior a 2,3 kV, ou, ainda, atendidas em tensão inferior a 2,3 kV a partir de sistema
subterrâneo de distribuição e faturadas neste Grupo nos termos definidos no art. 82,
caracterizado pela estruturação tarifária binômia e subdividido nos seguintes subgrupos: a)
Subgrupo A1 - tensão de fornecimento igual ou superior a 230 kV; b) Subgrupo A2 - tensão de
fornecimento de 88 kV a 138 kV; c) Subgrupo A3 - tensão de fornecimento de 69 kV; d)
Subgrupo A3a - tensão de fornecimento de 30 kV a 44 kV; e) Subgrupo A4 - tensão de
fornecimento de 2,3 kV a 25 kV; f) Subgrupo AS - tensão de fornecimento inferior a 2,3 kV,
atendidas a partir de sistema subterrâneo de distribuição e faturadas neste Grupo em caráter
opcional.
Grupo B
Grupamento composto de unidades consumidoras com fornecimento em tensão inferior a 2,3
kV, ou, ainda, atendidas em tensão superior a 2,3 kV e faturadas neste Grupo nos termos
definidos nos arts. 79 a 81, caracterizado pela estruturação tarifária monômia e subdividido nos
seguintes subgrupos: a) Subgrupo B1 - residencial; b) Subgrupo B1 - residencial baixa renda; c)
Subgrupo B2 - rural; d) Subgrupo B2 - cooperativa de eletrificação rural; e) Subgrupo B2 -
serviço público de irrigação; f) Subgrupo B3 - demais classes; g) Subgrupo B4 - iluminação
pública.
Grupos Geradores
Equipamentos destinados à produção de energia elétrica a partir de diesel, óleo pesado ou gás.
São usados em caso de emergência (interrupção do fornecimento de energia pela
concessionária) ou nos horários em que a tarifa da concessionária é maior que o seu custo de
geração.
Horário de Ponta
Período definido pela Concessionária e composta de 3 (três) horas diárias consecutivas, exceção
feita aos sábados, domingos, terça-feira de carnaval, sexta-feira da Paixão, Corpus Christi, dia
94
de Finados e os demais feriados definidos por lei federal, considerando as características do seu
sistema elétrico.
Horas fora de ponta
Período composto do conjunto das horas diárias consecutivas e complementares àquelas
definidas no horário de ponta.
ICMS
Tributo de competência dos Governos Estaduais e do Distrito Federal, previsto no parágrafo 3o
do artigo 155 da Nova Constituição Federal. O ICMS é cobrado de forma diferenciada na conta
de energia elétrica no território brasileiro. Cada Estado da Federação definiu um valor de
alíquotas que são aplicados às diferentes classes de consumidores. A energia elétrica está sujeita
a incidência do ICMS por ser considerada uma mercadoria. O ICMS incide sobre o
fornecimento de energia elétrica e é devido por alíquotas aplicáveis sobre o importe da conta.
Na classe residencial, a aplicação da alíquota é de acordo com o consumo mensal. O ICMS é
calculado sobre o importe da conta de energia, segundo a seguinte fórmula: ICMS = (I x A) /
(100 - A) onde I= importe da conta em R$ e A= alíquota do ICMS No Estado de São Paulo, o
ICMS sobre energia elétrica foi instituído pela Lei Estadual no. 6374, de 01/03/89, com
alíquotas de: 18% para as classes industrial, comercial, poder público, iluminação pública,
consumo próprio. Isenção para a classe residencial com consumo de até 50 kWh, 12% para
consumo no intervalo de 51< consumo <= 200 kWh, 25% para consumo> 200kWh.. 18% para
unidades rurais ligadas sem Inscrição Estadual , 12% para unidades rurais ligadas com Inscrição
Estadual , 18% para Serviço Público subclasses água, esgoto, saneamento e Serviço Público
Municipal , 12% para Serviço Público subclasses tração elétrica urbana e ferroviária. O "Total
da Conta" de energia elétrica - é o resultado do Importe + ICMS apurados. O "Importe" - é a
parcela da conta de energia elétrica resultado da aplicação das tarifas respectivas (de demanda e
consumo), sobre a demanda faturável e o consumo total medido, ou seja, (kW x R$) + (kWh x
R$).
Indicador de continuidade
Representação quantificável do desempenho de um sistema elétrico, utilizada para a mensuração
da continuidade apurada e análise comparativa com os padrões estabelecidos.
Instalação elétrica
Conjunto de obras de engenharia civil, edifícios, máquinas, aparelhos, linhas e acessórios que
servem para a produção, conversão, transformação, transporte, distribuição e utilização de
energia elétrica.
IRT
Índice de Reajuste Tarifário
Linha
Conjunto de condutores, isoladores e acessórios, usado para o transporte ou distribuição de
eletricidade.
Linha de distribuição
Equipamentos elétricos utilizados para a distribuição da energia elétrica aos seus consumidores
finais, operando com baixas tensões.
Linha de transmissão
Equipamentos elétricos utilizados para o transporte de energia elétrica entre o centro gerador e o
centro consumidor, operando com altas tensões.
95
Liquidação
Processo de compensação financeira dos débitos e créditos contabilizados no âmbito do MAE,
referentes à compra e venda de energia elétrica no Mercado de Curto Prazo.
MAE
Mercado Atacadista de Energia Elétrica: Entidade privada formada pelos agentes do mercado
atacadista. Seu objetivo é o de definir as regras e procedimentos comerciais, incluindo
representantes de todos os segmentos desse mercado. (O Governo Federal recentemente
determinou alterações ainda não detalhadas no MAE).
Medidas de freqüência
Hertz = Hz
Medidas de potência
Watt = W kilowatt = kW (1.000 x 1 W) Megawatt = MW (1.000.000 x 1 W) Gigawatt = GW
(1.000.000.000 x 1 W)
Medidas de potência por unidade de tempo
kWh = consumo ou produção de 1 kW durante 1 hora. MWh = consumo ou produção de 1 MW
durante 1 hora. GWh = consumo ou produção de 1 GW durante 1 hora. kWmês = consumo ou
produção de 1 kW durante 1 mês. MWmês = consumo ou produção de 1 MW durante 1 mês.
GWmês = consumo ou produção de 1 GW durante 1 mês. kWano = consumo ou produção de 1
kW durante 1 ano. MWano = consumo ou produção de 1 MW durante 1 ano. GWano =
consumo ou produção de 1 GW durante 1 ano.
Medidas de tensão
Volt = V kiloVolt = kV (1.000 x 1V)
Mercado de curto prazo
Segmento do MAE onde é transacionada a energia elétrica não contratada bilateralmente, as
eventuais sobras de contratos bilaterais de compra de energia elétrica firmados pelos agentes da
Categoria Consumo e as insuficiências em relação aos contratos bilaterais de venda de energia
elétrica de responsabilidade dos agentes da Categoria Produção.
Metas de continuidade
Padrões estabelecidos pela ANEEL, para os indicadores de continuidade, a serem respeitados
mensalmente, trimestralmente e anualmente, para períodos preestabelecidos.
MME
Ministério de Minas e Energia.
Modalidades tarifárias
Tipos de tarifas reguladas pela ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, classificadas
em tarifas horosazonais, caracterizadas por apresentarem preços diferenciados de demanda e
consumo de energia elétrica de acordo com as horas do dia (ponta e fora de ponta) e os períodos
do ano (seco e úmido). Tarifa Azul: caracterizasse pela aplicação de preços diferenciados de
demanda e consumo de energia elétrica para os horários de ponta e fora de ponta e para os
períodos seco e úmido. Tarifa Verde: caracteriza-se pela aplicação de um preço único de
demanda, independente de horário e período e preços diferenciados de consumo, de acordo com
as horas do dia e períodos do ano.
Modulação de consumo
O índice de modulação de consumo é a relação do consumo na ponta sobre o consumo total:
(CP / CT ) * 100 O Índice de modulação de consumo pode variar em condições ideais
96
aproximadamente entre 0 e 11%. O preço médio da energia elétrica (R$/MWh) se reduz na
medida em que se decresce o índice de modulação de consumo até 0%.
MRE
Mecanismo de Realocação de Energia Mecanismo financeiro de compartilhamento dos riscos
hidrológicos que afetam seus participantes, decorrentes particularmente dos efeitos da
otimização centralizada do sistema sobre os níveis de geração de cada usina.
ONS
Operador Nacional do Sistema Elétrico: Entidade privada responsável pela operação
centralizada do sistema elétrico.
Padrão de continuidade
Valor limite de um indicador de continuidade aprovado pela ANEEL e utilizado para a análise
comparativa com os indicadores de continuidade apurados.
Parcela A
Custos Não-Gerenciáveis pelas Distribuidoras: Impostos, Encargos, Subsídios e Compra de
Energia (incluindo a energia de Itaipu, denominada em dólares). Considerando-se a tarifa média
brasileira, 73% do valor da tarifa advém da Parcela A.
Parcela B
Parcela da tarifa que engloba os Custos Gerenciáveis pelas empresas distribuidoras de energia
elétrica.
PCH
Pequena Central Hidrelétrica. Definição adotada pela Eletrobras no mercado nacional de
energia.
Pedido de fornecimento
Ato voluntário do interessado que solicita ser atendido pela concessionária no que tange à
prestação de serviço público de fornecimento de energia elétrica, vinculando-se às condições
regulamentares dos contratos respectivos.
Penalidades
Sistema ou conjunto de sanções definidas pela ANEEL, aplicável em caso de inobservância ou
descumprimento das Regras de Mercado ou dos Procedimentos de Mercado.
Perdas elétricas
Sempre que uma corrente elétrica percorre um condutor ocorrem perdas. Essas perdas são
ocasionadas pela resistência do condutor, sob forma de calor. Esse efeito é conhecido como
"Efeito Joule".
Período hidrológico crítico ou período crítico
Período no qual, em virtude de condições hidrológicas desfavoráveis, o armazenamento
projetado do sistema é inteiramente utilizado para o fim de produzir energia ou, período de uma
série histórica ou simulada que necessita um maior volume armazenado para produzir uma
vazão especificada. É geralmente definido a partir do início da utilização do armazenamento até
o seu preenchimento.
Período seco (S)
(1) Período de 7 (sete) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas
leituras de maio a novembro. (2) Período do ano hidrológico caracterizado, historicamente, pela
menor incidência de precipitações.
97
Período úmido
Período de 5 (cinco) meses consecutivos, compreendendo os fornecimentos abrangidos pelas
leituras de dezembro de um ano a abril do ano seguinte.
Pico de demanda
Máxima demanda instantânea requerida num intervalo de tempo (dia, mês, ano, etc.).
PIE
Produtor Independente de Energia. Definição adotada no mercado nacional de energia e que
corresponde ao produtor de energia (gerador) que vende sua produção no mercado.
PLD
Preço de Liquidação de Diferenças definido pela CCEE para contabilizar e liquidar eventuais
diferenças entre a quantidade de energia elétrica contratada e os valores reais verificados.
Ponto de entrega
Ponto de conexão do sistema elétrico da concessionária com as instalações elétricas da unidade
consumidora, caracterizando-se como o limite de responsabilidade do fornecimento.
Potência
Quantidade de energia elétrica solicitada na unidade de tempo, expressa em quilowatts (kW).
Potência aparente ou total
(volt x ampère) Resultado da soma da potência ativa (W), (parcela efetivamente transformada
em potência mecânica, térmica e luminosa), mais a potência reativa (Var), (parcela
transformada em campo magnético necessário ao funcionamento de equipamentos como
motores, transformadores e reatores).
Potência bruta
Potência elétrica nos terminais do gerador
Potência de mínimo técnico
A mais baixa potência com que uma central pode funcionar em condições técnicas corretas.
Potência disponibilizada
Potência que o sistema elétrico da concessionária deve dispor para atender às instalações
elétricas da unidade consumidora, segundo os critérios estabelecidos na Resolução ANEEL
456/2000 e configurada nos seguintes parâmetros: a) unidade consumidora do Grupo "A": a
demanda contratada,expressa em quilowatts (kW); b) unidade consumidora do Grupo "B": a
potência em kVA, resultante da multiplicação da capacidade nominal ou regulada, de condução
de corrente elétrica do equipamento de proteção geral da unidade consumidora pela tensão
nominal, observado no caso de fornecimento trifásico, o fator específico referente ao número de
fases.
Potência elétrica
Intensidade dos efeitos de luz e calor. Um exemplo é a lâmpada, que é a potência elétrica
transformada em potência luminosa e térmica. Capacidade nominal de um equipamento para
produzir trabalho. Produto da tensão (V) pela corrente elétrica (I), ou seja, Pot.= V . I. A
unidade de potência elétrica é o Watt (W).
Potência elétrica disponível
Potência elétrica máxima que, em cada momento e em um determinado período, poderia ser
obtida na central ou no grupo, na situação real em que se encontra nesse momento, sem
considerar as possibilidades de colocação da energia elétrica que seria produzida.
98
Potência elétrica máxima possível
Maior potência elétrica que pode ser obtida em uma central ou em um grupo, durante um tempo
determinado de funcionamento, supondo em estado de bom funcionamento a totalidade das suas
instalações e em condições ótimas de alimentação (combustível ou água).
Potência instalada em consumidor
Soma das potências nominais de equipamentos elétricos de mesma espécie instalados na
unidade consumidora e em condições de entrar em funcionamento.
Potência nominal
Capacidade instalada. Potência máxima em regime contínuo para a qual a instalação foi
projetada. Normalmente vem indicada nas especificações fornecidas pelo fabricante e na chapa
afixada nas máquinas.
Potência útil
Potência elétrica na saída da central.
PPT
Programa Prioritário de Termeletricidade.
Preço médio de energia - cálculo
Objetivo: O Preço Médio de Eletricidade é um parâmetro, como o próprio nome já diz, que
define o custo da energia elétrica para uma unidade consumidora, resultado das tarifas aplicadas
e o regime de operação. Principais variáveis necessárias ao cálculo: Demanda, Consumo, Fator
de Carga e Índice de Modulação e tarifas de energia elétrica por classe de tensão e modalidades
tarifárias. Metodologia de cálculo do preço médio. Comparação de Tarifas das diferentes
modalidades tais como: azul, verde e binômia convencional, por subgrupo de tensão de
fornecimento. Para ambas as modalidades tarifárias, são apresentadas para os períodos seco e
úmido, e a média anual, na qual são ponderados os preços médios: Pm anual = (7*Pm(seco) +
5*Pm(úmido))/12. Alguns parâmetros são adotados para suporte de cálculo: CP/CT: Relação
entre o consumo na ponta e o consumo total, esse parâmetro foi escolhido por ser comum às
modalidades azuis e verde. Fator de Carga na Ponta e Fora da Ponta: medem a otimização entre
o consumo de energia e sua demanda correspondente, para cada segmento horário. Para a
modalidade verde, é feita uma média ponderada dos fatores de cargas para a obtenção do fator
de carga geral. FC = (66 x Fcp + 664 x Fcfp) / 730 Resultado do Cálculo do "Preço dio da
Tarifa Azul" Nessa modalidade existe a segmentação horária na demanda (ponta e fora de
ponta) e segmentação horo-sazonal no consumo (ponta e fora de ponta; seco e úmido). O
resultado numérico do cálculo é mostrado em R$/MWh. Resultado do Cálculo do "Preço Médio
da Tarifa Verde Horo-Sazonal" Nessa modalidade não há diferenciação entre demanda na ponta
e fora de ponta, existindo a tarifação para a demanda total, a qual é a máxima registrada no
período de 15 minutos de integração, durante todo o período de fornecimento. Quanto ao
consumo, há a segmentação horo-sazonal, existindo as tarifas na ponta e fora de ponta, além de
tarifas nos períodos seco e úmido. Por isso, só são considerados dois parâmetros para cálculo, o
CP/CT e o Fator de Carga total. Unidades: PM= R$/MWh; TD= R$/kW; TC= R$/MWh;
CP\CT= %; FC= %; IMOD= %
Procedimento do mercado
Conjunto de definições das atribuições e dos prazos necessários para operacionalizar as Regras
do Mercado e de detalhamento da troca de informações entre os agentes do MAE.
Proinfa
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas.
99
Qualidade de serviço de uma rede elétrica
Grau de conformidade com cláusulas contratuais entre distribuidor e consumidor, para uma
entrega de energia elétrica num período de tempo determinado, ou, mais geralmente, grau de
perturbação de uma alimentação de eletricidade. Os elementos a considerar para determinar a
qualidade de serviço referem-se ao tempo de não fornecimento programado ou ocasional; ao
respeito de condições de alimentação admissíveis relativas à queda de tensão máxima aceitável,
ao vazio de tensão e ao nível das harmônicas de uma rede de corrente alternada. As cláusulas
contratuais de um fornecimento de eletricidade e, consequentemente, a qualidade de serviço
requerida, podem variar conforme a natureza dos aparelhos elétricos alimentados.
Ramal de ligação
Conjunto de condutores e acessórios instalados entre o ponto de derivação da rede da
concessionária e o ponto de entrega.
Rede de distribuição
Rede destinada à distribuição de energia elétrica no interior de uma região delimitada. Conjunto
de instalações de distribuição de energia elétrica, com tensão inferior a 230kV ou instalações em
tensão igual ou superior, quando especificamente definidas pela ANEEL.
Rede elétrica
Conjunto de linhas e outros equipamentos ou instalações elétricas, ligados entre si, permitindo o
movimento de energia elétrica. Um sistema interligado de linhas de transmissão elétrica,
transformadores, chaves e outros equipamentos ligados de forma a prover a transmissão
confiável de energia elétrica de geradores múltiplos para centros de carga múltiplos. Uma rede
implica em redundância, graças ao uso de múltiplos caminhos paralelos de fluxo. .
Redes de transmissão
Conjunto de linhas de transmissão utilizadas para o transporte de energia.
Regras do mercado
Conjunto de normas comerciais definidas pela ANEEL e de cumprimento obrigatório pelos
agentes no âmbito do MAE.
Regulação primária
Modificação da potência da turbina pelo seu regulador, em função da velocidade de
rotação(freqüência).
Religação
Procedimento efetuado pela concessionária com o objetivo de restabelecer o fornecimento à
unidade consumidora, por solicitação do mesmo consumidor responsável pelo fato que motivou
a suspensão.
Repartidor de cargas
Órgão cuja função é comandar a entrada em serviço e a saída dos grupos e das centrais,
repartindo as cargas. Em geral comanda igualmente a interligação das redes diretamente
interessadas.
Represa/reservatório
Grande depósito formado artificialmente fechando um vale mediante diques ou barragens e no
qual se armazenam as águas de um rio com o objetivo de as utilizar na regularização de caudais,
na irrigação, no abastecimento de água, na produção de energia elétrica, etc.
RGR
Reserva Global de Reversão, encargo gerido pela Eletrobrás para constituir um fundo (Fundo de
Reversão) que seria, originalmente, usado para reverter concessões com desempenho
100
insatisfatório. Atualmente tem sido usada para financiar a universalização dos serviços de
energia elétrica.
RTE
Reajuste Tarifário Extraordinário: Aumento extraordinário de tarifa, por prazo limitado,
autorizado com o objetivo de restabelecer, ao menos parcialmente, o equilíbrio econômico-
financeiro das empresas do setor. Tal equilíbrio foi rompido em decorrência do racionamento e
do não repasse de custos não-gerenciáveis.
RTP
Revisão Tarifária Periódica
Sala de comando
Local onde estão instalados os controles que comandam os equipamentos elétricos responsáveis
pelo funcionamento da subestação, como proteção, chaveamento, etc.
SCL
Sistema de contabilização e liquidação Sistema que compreende os processos de contabilização,
conciliação e liquidação financeira, constituído de um conjunto de programas, regras e
procedimentos, com os objetivos de registrar a compra e venda de energia elétrica no âmbito do
MAE, a valoração das transações não cobertas por contratos bilaterais e o gerenciamento das
transferências financeiras entre os membros do MAE.
Self Dealing
Define regime em que as distribuidoras geram sua própria energia. A "taxa de self dealing"
define a parcela de energia que as distribuidoras podem gerar.
Serviço essencial
Todo serviço ou atividade caracterizado como de fundamental importância para a sociedade,
desenvolvido nas unidades consumidoras a seguir exemplificadas: a) serviço público de
tratamento de água e esgoto; b) processamento de gás liquefeito de petróleo e combustíveis; c)
estabelecimento hospitalar público ou privado; d) transporte coletivo; e) serviço público de
tratamento de lixo; f) serviço público de telecomunicações; g) centro de controle de tráfego
aéreo; e h) segurança pública.
Ship or Pay
Tipo de contrato em que o comprador de um produto se compromete a pagar pelo transporte de
determinada quantidade independentemente de esta ser ou não transportada. No setor elétrico,
normalmente se refere à contratação de capacidade de transporte de gás natural em gasodutos
independentemente de essa capacidade ser ou não utilizada (ver "Take or Pay").
SIN
Sistema Interligado Nacional
Spot (Mercado Spot)
O mercado Spot ou mercado de energia livre funciona como uma Bolsa de Mercadorias. Toda a
energia elétrica faltante ou excedente dos Contratos Bilaterais é, respectivamente, comprada e
vendida no MAE, a um preço único - preço do MAE ou preço Spot -, que é calculado por um
modelo de preços.
Subestação
Equipamentos que comutam, mudam ou regulam a voltagem elétrica. Uma usina de energia
elétrica que funciona como ponto de controle e transferência em um sistema de transmissão
elétrica. As subestações direcionam e controlam o fluxo energético, transformam veis de
voltagem e funcionam como pontos de entrega para consumidores industriais. Parte das
101
instalações elétricas da unidade consumidora atendida em tensão primária de distribuição que
agrupa os equipamentos, condutores e acessórios destinados à proteção, medição, manobra e
transformação de grandezas elétricas.
Subestação de transformação
Conjunto de equipamentos que tem como tarefa transformar os veis de tensão para os valores
apropriados para determinado uso. Por exemplo, para o transporte da energia elétrica dos
centros geradores aos centros consumidores, os veis de tensões apropriados são os que se
enquadram nos valores de alta tensão, então são necessárias subestações de transformação
elevadoras.
Subestação transformadora compartilhada
Subestação particular utilizada para fornecimento de energia elétrica simultaneamente a duas ou
mais unidades consumidoras.
Submercados
Subdivisões do sistema interligado, correspondentes às áreas de mercado, para as quais o MAE
estabelecerá preços diferenciados e cujas fronteiras são definidas em função da presença e
duração de restrições relevantes de transmissão.
Subsídio Cruzado
Transferência de recursos entre duas categorias de consumidores. No caso da energia elétrica, a
tarifa para os consumidores residenciais de alta renda é mais elevada para subsidiar uma tarifa
mais baixa para os consumidores industriais e os residenciais de baixa renda.
Take or Pay
Tipo de contrato em que o comprador de um produto se compromete a pagar por determinada
quantidade independentemente de esta ser ou não fornecida. No setor elétrico, normalmente se
refere a contratos de fornecimento de gás natural em que determinada quantidade por período
deve ser paga, seja ou não consumida (ver "Ship or Pay").
Tarifa
Preço da unidade de energia elétrica e/ou da demanda de potência ativas. Valor homologado
pelo Poder Concedente para a prestação de serviço público de energia elétrica.
Tarifa Azul
Modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica
de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de tarifas
diferenciadas de demanda de potência de acordo com as horas de utilização do dia.
Tarifa binômia
Conjunto de tarifas de fornecimento constituído por preços aplicáveis ao consumo de energia
elétrica ativa e à demanda faturável.
Tarifa fio
Refere-se ao custo de transporte da energia elétrica gerada ou consumida e está
relacionada com os investimentos feitos para construção destas redes.
Tarifa de ultrapassagem
Tarifa aplicável sobre a diferença positiva entre a demanda medida e a contratada, quando
exceder os limites estabelecidos.
Tarifa monômia
Tarifa de fornecimento de energia elétrica constituída por preços aplicáveis unicamente ao
consumo de energia elétrica ativa.
102
Tarifa Verde
Modalidade estruturada para aplicação de tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica
de acordo com as horas de utilização do dia e os períodos do ano, bem como de uma única tarifa
de demanda de potência.
Tarifação de energia elétrica
Sistema organizado de tabelas de preços correspondentes às diversas classes de serviço
oferecidas às unidades consumidoras, aprovadas e reguladas pela ANEEL - Agência Nacional
de Energia Elétrica.
Telecomando centralizado
Método de ligar e desligar grupos de consumidores da rede de distribuição.
Tensão de fornecimento de energia elétrica
Nível de tensão de transformação em que a unidade consumidora é atendida. São classificadas
pela concessionária em Grupo A (Grupo alta tensão); A1, A2, A3a, A4, As (subterrâneo) e
Grupo B (Grupo baixa tensão); B1, B2, B3. A sua unidade de medida é o Volt (V).
Tensão Nominal
Valor de tensão especificado pelo fabricante, sob o qual o equipamento opera em condições
ideais.
Tensão primária de distribuição
Tensão disponibilizada no sistema elétrico da concessionária com valores padronizados iguais
ou superiores a 2,3 kV.
Tensão secundária de distribuição
Tensão disponibilizada no sistema elétrico da concessionária com valores padronizados
inferiores a 2,3 kV.
Transformadores
Equipamentos que transferem energia elétrica de um circuito a outro, mantendo a mesma
freqüência e variando a tensão de trabalho.
TUSD
Tarifas de uso do sistema de distribuição
TUST
Tarifas de uso do sistema de transmissão
UHE
Usina hidrelétrica.
Unidade consumidora
Intervalo de tempo em que ocorreu descontinuidade da distribuição de energia elétrica, em
média, no período de observação, em cada unidade consumidora do conjunto considerado.
UTE
Usina termelétrica.
Valor líquido da fatura
Valor em moeda corrente resultante da aplicação das respectivas tarifas de fornecimento, sem
incidência de imposto, sobre as componentes de consumo de energia elétrica ativa, de demanda
103
de potência ativa, de uso do sistema, de consumo de energia elétrica e demanda de potência
reativas excedentes.
Valor mínimo faturável
Valor referente ao custo de disponibilidade do sistema elétrico, aplicável ao faturamento de
unidades consumidoras do Grupo "B", de acordo com os limites fixados por tipo de ligação.
Watt (W)
Unidade de Potência. Define a capacidade de geração de energia por unidade de tempo. Ex: uma
usina com potência instalada de 300 MW gera 300 milhões de Wh (Watt-hora) por hora.
Watt-hora (Wh)
Unidade de Energia. Define a quantidade de energia gerada num certo período. O consumo
médio brasileiro é de 150 kWh/mês, ou 150 mil Wh por mês.
104
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LEI No. 9.648 de maio de 1998
DECRETO No. 2.655 de julho de 1998
LEI No. 9.991 de julho de 2000
LEI No. 10.762 de novembro de 2003
LEI No. 10.847 de 15 de março de 2004
LEI No. 10.848 de 15 de março de 2004
DECRETO No. 5.163 de 30 de julho de 2004
DECRETO No. 5.175 de 30 de julho de 2004
DECRETO No. 5.597 de novembro de 2005
RESOLUÇÃO NORMATIVA ANEEL 67 de junho de 2004
MEDIDA PROVISÓRIA No. 2.147 de maio de 2001
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