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Entre as ofertas dos tabuleiros ou bancas vale destacar a permanência dos
acarajés no Recife. São pequenos, redondinhos, verdadeiros bolinhos de
feijão fritos em dendê, iguais aos africanos vendidos em ruas, praças e
mercados tão próximos e iguais aos daqui do outro lado do Atlântico. São
encontrados esses acarajés - os mais africanos - nas ruas centrais do Recife,
bastando seguir o cheiro das frituras. Já os acarajés baianos, vendidos em
tabuleiros mais suntuosos e de caráter barroco, por mulheres à moda – saia
estampada, bata, pano-da-costa, fios de contas, turbante e folhas de axé
colocadas atrás da orelha ou no próprio tabuleiro, com pequenas imagens de
Santo Antônio, moedas e outros preparados para garantir boa venda – eles
são grandes e redondos, diga-se mais próximos do ideal de sanduíche do que
dos bolinhos africanos. Estes acarajés são servidos com vatapá, camarões
secos ou com a herege salada, sendo este conjunto um verdadeiro almoço.
Percebemos, por essa declaração, que acarajés menores e sem os acompanhamentos
untuosos são considerados mais autênticos. Também Vivaldo da Costa Lima definiu o
acarajé como, originalmente, uma entrada (hors d’oeuvre). Quase uma guloseima,
semelhante aos “enganos” - nome genérico dos doces de tabuleiro mencionado por Câmara
Cascudo - o acarajé, apesar de maior e mais substancioso, continua sendo encarado como
um tira-gosto, um petisco. O horário em que é consumido o comprova.
Na praia - não exatamente na orla calçada da praia, espaço de horário mais flexível -
as baianas, que geralmente encontramos pela manhã, descrevem clientes que comem mais
de um bolinho, “antes de almoçar”. Ele continua sendo apreciado nos intervalos das
refeições, na hora da “merenda” - palavra usada cotidianamente em Salvador, ao invés do
anglicismo do lanche. À noite, em seu horário tradicional, o acarajé é ainda encarado como
comida que antecede o jantar.
Os pontos de acarajé, construídos em função da proximidade de bares, também
reforçam seu caráter de petisco. O conhecido ponto do Rio Vermelho, por exemplo, tem
sua história entremeada com a desse tipo de estabelecimento. Na memória da conhecida
baiana do acarajé Dinha (Lindinalva de Assis), relatada por sua filha Cláudia (Eliana
Cláudia de Assis), havia ali - outrora uma vila de pescadores - uma padaria que pertencia a
um espanhol, hoje local do Bar Vermelho e também uma farmácia que se transformou em
bar, sendo a causa desse tipo de transformação o próprio acarajé de Dinha. Com o tempo, o
comércio se deslocou um pouco por causa do estacionamento e foi construída uma praça,
mais recentemente, durante a prefeitura de Lídice da Mata, no início dos anos 90, atraindo
mais baianas do acarajé. Ana Paula Almeida da Cruz, que trabalha com Cira de Itapoã,