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sua apresentação como motivo de orgulho próprio. Sua aparência pode ser
considerada uma mímese que reforça sua identidade de pessoa organizada.
Nessa pesquisa, as falas são importantes fontes de dados. Falar de si, sob a
ótica de estar se expondo a uma câmera de vídeo, algo que ficasse registrado, tem
uma implicação. Em um ou outro momento da entrevista, Paulo hesita quanto ao fato
de que ele esteja falando possa ser divulgado, e em seguida reforça a autorização.
Essa é uma fragilidade com a qual o pesquisador tem que saber lidar: mesmo
autorizando o uso de sua imagem visual e sonora, o entrevistado pode solicitar em
qualquer momento sua exclusão da pesquisa, o que deve ser acatado.
Muitos se interessam pelo Grêmio e pelo Internacional, pois esses são os
times de futebol com o maior número de torcedores no estado. Mais que clubes, são
ícones da identidade do gaúcho. O Clovis conheceu e trabalhou com dois jogadores
que se tornaram ídolos da geração dos anos 80 no Rio Grande do Sul: Mazaropi e
Taffarel. Um era do Grêmio e o outro do Internacional. Essa história é contada assim:
Eu trabalho...eu trabalhei na assembléia, trabalhei de estagiário, batia
cartão...trabalhei na assembléia e servia café pros deputado, daí trabalhei em
farmácia e agora to na latinha, fui gandula do Inter, no tempo do Taffarel e do
Grêmio no tempo do Mazaropi, nosso abrigo era da Arcal e da Paquetá.
Depois eu comecei a junta latinha... única chance... servi o exército...Foi há
muitos anos atrás, no tempo do Mazaropi, do Taffarel, gandula do Inter e do
Grêmio né, nóis treinava com bola de areia, ia dez gandula, muitos anos
atrás... (Falha na gravação)... nosso abrigo era da Arcal vermelha e da
Paquetá que treinava nóis era o Seu Cláudio, nóis treinava com bola de areia,
por que ficava dez gandula, ficava três em cada lateral e eu ficava atrás da
golera né. E era sempre o mesmo... nóis ia aqui no Beira Rio e no Olímpico...
que era o Antônio Mazzaropi... era legal assim eu achava legal... entrava no
vestuário. Jogava bola lá dentro, e na saída já ganhava o dinhero na época
né..(CLOVIS, 2004)
Clovis teve a oportunidade de trabalhar, entre outras coisas, como gandula.
Uma profissão aprendida nos programas de assistência social que os clubes fazem,
estimulando crianças pobres ou abandonadas a conviverem com o universo esportivo.