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conhecimento ou comunicação. Um trabalho imaterial pode ser reconhecido
numa analogia com o funcionamento de um computador. O uso cada vez
mais amplo de computadores tende progressivamente a redefinir as práticas
e relações de produção, juntamente com todas as práticas de relações
sociais (...) Hoje pensamos cada vez mais como computadores, enquanto
as tecnologias de comunicação e seu modelo de interação se tornam mais e
mais indispensáveis às atividades laborais (...) Máquinas interativas e
cibernéticas tornaram-se uma nova prótese integrada a nossos corpos e
mentes, sendo uma lente pela qual redefinimos nossos corpos e mentes. A
antropologia do ciberespaço é, na realidade, um reconhecimento da nova
condição humana.
Uma das conseqüências desta crescente informatização e do advento do
trabalho imaterial tem sido a homogeneização dos processos de trabalho.
Segundo Hardt e Negri, na perspectiva de Marx no século XIX, as práticas
concretas de diferentes atividades laborais era heterogênea. Somente quando
abstraídas poderiam ser reunidas e vistas de forma mais homogênea como força
humana de trabalho, ou seja, como trabalho abstrato. No entanto, com a
informatização, a heterogeneidade do trabalho concreto se reduz, sendo que o
trabalhador é continuamente afastado de seu objeto de trabalho.
Anteriormente, as ferramentas estavam relacionadas de forma arbitrária, e
praticamente inflexível, a determinadas atividades ou grupos de tarefas. Já nos dias
de hoje, o computador apresenta-se como a ferramenta universal, a ferramenta
central, do processo de produção, consolidando todo trabalho à posição de trabalho
abstrato.
Há ainda outra face do trabalho imaterial que é, segundo Hardt e Negri, o
trabalho afetivo do contato e da interação humana. Os autores citam como exemplo
os serviços de saúde e a indústria do entretenimento que estão centrados no
trabalho afetivo de cuidado, criação e manipulação de afetos e, mesmo quando
físico e afetivo, este trabalho é imaterial, pois seus produtos são intangíveis. Esta
dimensão do trabalho imaterial transcende o modelo de inteligência e comunicação
determinado pelo computador. Segundo os autores:
Serviços de saúde, por exemplo, baseiam-se essencialmente em cuidados e
em trabalho afetivo (...) Esse trabalho é imaterial, mesmo quando físico e
afetivo, no sentido de que seus produtos são intangíveis, um sentimento de
conforto, bem estar, satisfação (...) O trabalho de cuidar de alguém está,
certamente, imerso no corpóreo, no somático, mas os afetos que produz,
são, apesar disso, imateriais. O que o trabalho afetivo produz são redes,
formas comunitárias, biopoder. Aqui pode-se reconhecer mais uma vez que
a ação instrumental da produção econômica foi unida à ação comunicativa
das relações humanas; neste caso, entretanto, a comunicação não ficou