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LUIZ ROGÉRIO WITTMANN
AVALIAÇÃO CRÍTICA DO ECODESIGN APLICADO NO
PROJETO DE EMBALAGEM DE LASANHA CONGELADA
PARA CONSUMIDORES SINGLES
SÃO CAETANO DO SUL
2007
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LUIZ ROGÉRIO WITTMANN
AVALIAÇÃO CRÍTICA DO ECODESIGN APLICADO NO
PROJETO DE EMBALAGEM DE LASANHA CONGELADA
PARA CONSUMIDORES SINGLES
SÃO CAETANO DO SUL
2007
Dissertação apresentada à Escola de
Engenharia Mauá do Centro Universitário do
Instituto Mauá de Tecnologia para obtenção do
Título de Mestre em Engenharia de Processos
Químicos e Bioquímicos.
Linha de Pesquisa: Engenharia de Embalagem
Orientador: Prof. Dr. Antonio Carlos Dantas
Cabral
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Dedico este trabalho à minha esposa Giselen,
mulher maravilhosa que respeito e admiro.
Agradeço a minha esposa
Giselen pelo auxílio e dedicação. Ao
Cabral por tudo que aprendi durante este
trabalho. A Renata, Liza e Lúcia do
Departamento de Desenvolvimento de
Embalagem da Sadia pelo apoio. Ao
Renato Larocca da Ibratec pelas
informações. Ao profº Guilherme C.
Queiroz do Cetea/Ital pelas valiosas
observações no texto. A profª Eliana P.
Ribeiro da Mauá pela participação na
banca. As minhas queridas amigas e
amigos da R1234 Art Design.
Jean de Léry incluiu em seus relatos de viagem realizada em 1557
um diálogo travado com um velho tupinambá (tribo indígena
brasileira), a respeito do grande interesse demonstrado pelos
franceses na retirada do pau-brasil, revelando o choque de visões
entre o nativo e o europeu: "Por que vindes vós outros, mair
(franceses) e perós (portugueses) buscar lenha de tão longe para
vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?" Jean de Léry
respondeu que os franceses não a queimavam mas dela extraíam
tinta. Ao que o índio retrucou: "E por ventura precisais de muito?"
Tendo Léry respondido afirmativamente, pois que existiam na
Europa grandes comerciantes que acumulavam aquela madeira, o
velho tupinambá estranhou aquele desejo pela acumulação: "Mas
esse homem tão rico de que me falas não morre?"
Na sequência do diálogo, Jean de Léry explicou que, com a morte,
os bens passavam para os filhos, irmãos ou parentes mais
próximos. O índio, não satisfeito com a resposta, acrescentou; "Não
será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também?
Temos pais, mães e filhos a quem amamos, mas estamos certos de
que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os
nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados".
Museu de Porto Seguro, Ministério da Cultura / Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Porto Seguro, 2000 p. 25.
AVALIAÇÃO CRÍTICA DO ECODESIGN APLICADO NO PROJETO DE
EMBALAGEM DE LASANHA CONGELADA PARA CONSUMIDORES SINGLES
RESUMO
O objetivo principal deste trabalho é avaliar a metodologia do Ecodesign
1
através de sua
aplicação ao projeto do produto lasanha congelada acondicionada em embalagem
cartonada destinada ao público single
2
, como ferramenta para analisar os impactos
ambientais do sistema embalagem e identificar oportunidades de minimizá-los. A revisão
crítica da literatura apresenta a evolução das questões ambientais no mundo e seus efeitos
no setor de embalagens. Em seguida trata de estudar o Sistema Embalagem, revelando sua
estrutura de funcionamento e interação dos subsistemas entre si e com o meio ambiente.
Depois, estuda o comportamento do consumidor single e as características das embalagens
para este segmento. Após isto, são apresentados os principais tópicos que compõem o
Ecodesign que é visto como uma ferramenta para otimizar o desempenho ambiental dos
produtos e possibilitar a diminuição dos impactos causados no meio ambiente. Por fim, é
realizado um estudo de caso de uma lasanha porção individual, com base na metodologia
apresentada na revisão bibliográfica. Em suma, espera-se que este trabalho contribua para
o desenvolvimento do Ecodesign aplicado a projetos de embalagens com responsabilidade
ambiental no Brasil e também para identificação de oportunidades de melhora no
desempenho ambiental do sistema embalagem lasanha.
1
Também conhecido como Design for Environment, neste trabalho consiste em integrar os aspectos ambientais
no projeto de embalagem para produzir um sistema embalagem com responsabilidade ambiental.
2
No caso de embalagens refere-se àquelas destinadas ao consumo individual, ou seja, porção única do
produto.
CRITICAL ASSESMENT OF THE ECODESIGN APPLIED IN THE
PROJECT OF FROZEN LASAGNA PACKAGE FOR SINGLES CONSUMERS
ABSTRACT
The main objective of this study is to assess the methodology of the Ecodesign
1
taking into
consideration its application to the project of the frozen lasagna product packed in cardboard
(box) package intended to single
2
consumers, as a tool to analyze the environmental impacts
of the packaging system and to identify opportunities to minimizes them. The critical review
of the literature presents the evolution of the environmental questions in the world and its
affects in the packaging sector. First, it begins to study the Packaging System, disclosing its
functioning structure and interaction of the subsystems between itself and with the natural
environment. After that, is studies the behavior of the single consumer and the
characteristics of the packages for this segment. Next, are presented the main topics that
compose the Ecodesign that is seen as a tool to optimize the environmental performance of
the products and to make possible the reduction of the impacts caused to the environment.
Finally, it’s carried out a case study of one lasagna individual portion, with basis on the
metodology presented in the bibliographical review. In sum, we expect that this study
contributes to the development of the Ecodesign applied to the package projects with
environmental responsibility in Brazil and also to the identification of improvements
opportunities in the environmental performance of the lasagna packaging system.
1
Also know as Design for Environment, this work consists of integrating the environmental aspects in the
package project to produce a packaging system with environmental resposibility.
2
When we mention packages, it refers to those intend to individual consumption, in another word, one portion of
the product.
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO
.........................................................................................
20
1.1 OBJETIVOS .................................................................................................... 20
1.2 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 20
1.3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA.......................................................................... 23
1.4 QUESTÃO DA PESQUISA.............................................................................. 25
1.5 CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO................................................................ 25
1.6 ESQUEMA DA DISSERTAÇÃO...................................................................... 26
2 O MEIO AMBIENTE E A EMBALAGEM
....................................
28
2.1 AS MUDANÇAS NO PARADIGMA AMBIENTAL............................................ 28
2.1.1 Histórico do movimento ambientalista..................................................... 28
2.1.2 Atitude dos governos em relação ao meio ambiente.............................. 29
2.1.3 Atitude das indústrias em relação ao meio ambiente............................. 31
2.1.4 Atitude dos consumidores em relação ao meio ambiente ..................... 32
2.2 O “LIXO” E AS EMBALAGENS NA CIDADE DE SÃO PAULO ...................... 35
2.2.1 Definição de resíduo sólido....................................................................... 35
2.2.2 Origem dos resíduos sólidos urbanos..................................................... 36
2.2.3 Características dos resíduos sólidos domiciliares ................................. 36
2.2.4 Destinação dos resíduos sólidos domiciliares........................................ 37
2.2.5 A participação das embalagens nos resíduos sólidos ........................... 38
2.3 O "PACKAGING DILLEMA", A EMBALAGEM E O MEIO AMBIENTE............ 39
2.3.1 Aspectos ambientais da embalagem........................................................ 39
2.3.2 A embalagem e a legislação ambiental na Europa.................................. 40
2.4 AÇÕES PÓS-CONSUMO PARA MINIMIZAR O IMPACTO AMBIENTAL DAS
EMBALAGENS...................................................................................................... 41
2.4.1 Separação e coleta Seletiva ...................................................................... 41
2.4.2 Reciclagem ................................................................................................. 42
2.4.3 Incineração com recuperação energética................................................ 43
2.5 AÇÕES PRÉ-CONSUMO PARA MINIMIZAR O IMPACTO AMBIENTAL DAS
EMBALAGENS...................................................................................................... 43
2.5.1 Redução e prevenção na fonte ................................................................. 43
2.5.2 Reutilização ................................................................................................ 44
2.5.3 Avaliação do ciclo de vida (NBR ISO 14040)............................................ 44
2.5.4 Ecodesign ou Design for Environment (DfE)........................................... 45
2.5.5 Considerações finais ................................................................................. 46
3 O SISTEMA EMBALAGEM
..............................................................
47
3.1 A TEORIA DOS SISTEMAS............................................................................ 47
3.1.1 O pensamento sistêmico........................................................................... 48
3.2 O SISTEMA EMBALAGEM ............................................................................. 49
3.2.1 Objetivos básicos da embalagem............................................................. 50
3.2.2 A responsabilidade ambiental e embalagem ecoeficiente ..................... 52
3.2.3 Tipos de embalagens................................................................................. 53
3.3 RELACIONAMENTO DO SISTEMA EMBALAGEM E O MEIO AMBIENTE.... 54
3.3.1 Ambiente externo ....................................................................................... 55
3.3.2 Nível estratégico......................................................................................... 56
3.3.3 Nível intermediário ..................................................................................... 57
3.3.4 Nível operacional........................................................................................ 58
3.3.5 Conclusões sobre o sistema embalagem ................................................ 60
3.4 O SETOR DE ALIMENTOS E A EMBALAGEM .............................................. 60
4 O MERCADO CONSUMIDOR SINGLE
......................................
62
4.1 O CONSUMIDOR COMO AGENTE DA CADEIA PRODUTIVA...................... 62
4.1.1 Conhecendo o comportamento do consumidor...................................... 62
4.1.2 Conhecendo os varejistas......................................................................... 64
4.1.3 O relacionamento entre consumidor e embalagem ................................ 64
4.2 O CONSUMIDOR SINGLE.............................................................................. 65
4.2.1 O tamanho e características da população.............................................. 66
4.2.2 Hábitos de consumo .................................................................................. 67
4.3 O SETOR DE ALIMENTOS E A EMBALAGEM SINGLE ................................ 67
4.3.1 Expectativas do consumidor em relação a embalagem ......................... 68
4.3.2 O mercado de alimentos single no Brasil ................................................ 68
4.3.3 Produtos e embalagens disponíveis ........................................................ 69
4.3.4 Embalagem familiar versus single............................................................ 70
4.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS .......................................................................... 75
5 O ECODESIGN
........................................................................................
76
5.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 76
5.1.1 Definição de Ecodesign ............................................................................ 76
5.1.2 Histórico...................................................................................................... 78
5.1.3 Benefícios e motivações para adotar o Ecodesign................................. 79
5.2 ECOEFICIÊNCIA ............................................................................................ 80
5.2.1 Definição de ecoeficiência......................................................................... 80
5.2.2 Os três aspectos da ecoeficiência............................................................ 81
5.2.3 Ecoeficiência no projeto de embalagem .................................................. 82
5.3 ENGENHARIA SIMULTÂNEA......................................................................... 83
5.3.1 Procedimentos de engenharia simultânea para embalagem ................. 84
5.3.2 Ecodesign integrado ao projeto................................................................ 85
5.4 MEDIDAS AMBIENTAIS (ECO-INDICADORES) ............................................ 85
5.4.1 Tipos de medidas ambientais ................................................................... 86
5.4.2 Relação entre metas ambientais e medidas ............................................ 86
5.4.3 Transformação de medidas primárias em operacionais......................... 87
5.4.4 Medidas qualitativas e quantitativas ........................................................ 88
5.4.5 Medidas absolutas e relativas................................................................... 89
5.4.6 Medidas na fonte (causa) e no impacto (efeito)....................................... 89
5.4.7 Interação das medidas nos estágios do ciclo de vida ............................ 89
5.5 ANÁLISE DO PERFIL AMBIENTAL DOS PRODUTOS .................................. 91
5.5.1 Avaliação de ciclo de vida (ACV) .............................................................. 91
5.5.1.1 Fases da ACV ........................................................................................... 92
5.5.2 ACV no Sistema Embalagem..................................................................... 94
5.5.3 A Met Matrix (material cycle, energy use and toxic emissions) ............. 95
5.5.4 O Checklist para Ecodesign ...................................................................... 97
5.7 SELEÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DO PROJETO............................................. 99
5.7.1 Classificação das estratégias ................................................................. 100
5.8 RESUMO DAS METODOLOGIAS DE ECODESIGN ................................... 101
5.8.1 Método de Brezet e Hemel....................................................................... 101
5.8.2 Método de Lewis e Gertsakis .................................................................. 103
5.8.3 Método de Fiksel ...................................................................................... 104
5.9 CONSIDERAÇÕES GERAIS ........................................................................ 104
6 METODOLOGIA
..................................................................................
106
6.1 TIPO DE PESQUISA..................................................................................... 106
6.2 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ESCOLHIDO.................................................... 107
6.3 HIPÓTESES.................................................................................................. 108
6.4 FONTES DE DADOS .................................................................................... 108
6.5 RESULTADOS ESPERADOS....................................................................... 109
6.6 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA ............................................................... 109
6.6.1 Formação da equipe de projeto .............................................................. 110
6.6.2 Seleção do produto.................................................................................. 110
6.6.3 Análise do perfil ambiental do produto.................................................. 111
6.6.3.1 Análise de inventário ............................................................................... 112
6.6.3.2 Determinação do impacto ambiental ....................................................... 113
6.6.4 Seleção das estratégias de Ecodesign para o projeto.......................... 115
6.6.5 Detalhamento técnico do novo produto................................................. 117
6.6.6 Avaliação do desempenho ambiental do novo produto ....................... 117
7 ESTUDO DE CASO LASANHA SADIA
...................................
118
7.1 FORMAÇÃO DA EQUIPE DE PROJETO ..................................................... 118
7.2 SELEÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO ...................................... 118
7.2.1 Características da embalagem................................................................ 119
7.2.2 Características do produto...................................................................... 120
7.2.3 Função do sistema, limites e unidade funcional ................................... 121
7.3 ANÁLISE DO PERFIL AMBIENTAL DO PRODUTO..................................... 122
7.3.1 Fluxograma do sistema ........................................................................... 122
7.3.2 Análise de inventário ............................................................................... 123
7.3.3 Avaliação do impacto ambiental............................................................. 126
7.4 SELEÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE ECODESIGN....................................... 129
7.4.1 Lista de estratégias para minimizar o impacto ambiental .................... 129
7.4.2 Avaliação da viabilidade das estratégias............................................... 130
7.4.3 Estratégias selecionadas para o projeto................................................ 131
7.5 DETALHAMENTO TÉCNICO DO NOVO SISTEMA EMBALAGEM.............. 132
7.5.1 Definição do conceito e objetivos .......................................................... 132
7.5.2 Detalhamento da nova embalagem......................................................... 133
7.5.2.1 Embalagem primária (Bandeja)............................................................... 133
7.5.2.2 Embalagem secundária e de transporte.................................................. 135
7.6 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL DO NOVO SE ................... 136
7.6.1 Unidade funcional .................................................................................... 136
7.6.2 Análise de Inventário ............................................................................... 136
7.6.3 Comparação do desempenho ambiental................................................ 139
7.6.4 Outros benefícios da embalagem ........................................................... 141
7.7 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA EM OUTROS PRODUTOS .................... 142
8 CONCLUSÕES
.........................................................
143
8.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................. 143
8.2 ANÁLISE DAS HIPÓTESES ......................................................................... 145
8.3 RESPOSTA À QUESTÃO DA PESQUISA.................................................... 147
8.4 PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA METODOLOGIA ....................... 147
8.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 149
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
..............................................
151
APÊNDICE-A / CÁLCULOS DE INVENTÁRIO
........................
156
APÊNDICE-B / CÁLCULOS DAS EMBALAGENS
SECUDÁRIA E DE TRANSPORTE
...............................................
172
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - Preocupação da sociedade com o impacto ambiental das embalagens......... 34
FIGURA 2 - Avaliação do interesse do consumidor por embalagens ecológicas ............... 34
FIGURA 3 - Destinação dos resíduos sólidos da cidade de São Paulo.............................. 38
FIGURA 4 - Etapas da ACV de produtos alimentícios ....................................................... 40
FIGURA 5 - O Sistema Embalagem .................................................................................. 50
FIGURA 6 - Agentes da cadeia de embalagem ................................................................. 54
FIGURA 7 - O Sistema Embalagem nos níveis estratégico, intermediário e operacional... 55
FIGURA 8 - Modelo de comportamento do consumidor..................................................... 62
FIGURA 9 - Gráfico comparativo entre peso da embalagem/produto ................................ 72
FIGURA 10 - Gráfico comparativo entre preço/peso dos produtos ...................................... 74
FIGURA 11 - O Ecodesign entre gestão integrada e desenvolvimento sustentável ............. 78
FIGURA 12 - Elementos da ecoeficiência............................................................................ 82
FIGURA 13 - Sistema embalagem ecoeficiente................................................................... 83
FIGURA 14 - Exemplos de medidas primárias e operacionais............................................. 88
FIGURA 15 - O ciclo de vida de um produto manufaturado ................................................. 91
FIGURA 16 - Fluxograma da análise do ciclo de vida.......................................................... 92
FIGURA 17 - Esquema da ACV de uma embalagem........................................................... 95
FIGURA 18 - Exemplo de Met Matrix................................................................................... 96
FIGURA 19 - Checklist para Ecodesign ............................................................................... 98
FIGURA 20 - Exemplo de Círculo de Estratégias................................................................. 99
FIGURA 21 - Exemplo de fluxograma................................................................................ 112
FIGURA 22 - Exemplo de matriz para calcular a soma do inventário................................. 114
FIGURA 23 - Exemplo de gráfico de impacto ambiental .................................................... 115
FIGURA 24 - Cartucho e bandeja da Lasanha Sadia......................................................... 119
FIGURA 25 - Limites do sistema embalagem .................................................................... 122
FIGURA 26 - Fluxograma do sistema lasanha Sadia......................................................... 123
FIGURA 27 - Matriz com cálculo de inventário................................................................... 126
FIGURA 28 - Gráfico de impacto ambiental lasanhas 350g e 650g ................................... 128
FIGURA 29 - Estratégias de Ecodesign para embalagens................................................. 130
FIGURA 30 - Nova embalagem primária para lasanha ...................................................... 134
FIGURA 31 - Modelo de bandeja de papelcartão para lasanha ......................................... 135
FIGURA 32 - Matriz comparativa de inventário.................................................................. 139
FIGURA 33 - Gráfico comparativo do desempenho ambiental das lasanhas..................... 140
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Classificação dos resíduos sólidos urbanos................................................... 36
TABELA 2 - A coleta de lixo segundo sua origem.............................................................. 36
TABELA 3 - Composição do lixo domiciliar na cidade de São Paulo de 1927 a 1991........ 37
TABELA 4 - Composição do lixo domiciliar na cidade de São Paulo de 1996 a 2004........ 37
TABELA 5 - Índice de reciclagem de embalagens no Brasil .............................................. 38
TABELA 6 - Evolução econômica da indústria de alimentos no Brasil ............................... 60
TABELA 7 - Aspectos multiculturais que refletem nas embalagens................................... 65
TABELA 8 - Comparativo entre peso da embalagem familiar e single ............................... 71
TABELA 9 - Comparativo entre peso/preço de embalagem familiar e single ..................... 73
TABELA 10 - Benefícios e resultados da utilização do Ecodesign....................................... 79
TABELA 11 - Tipos de medidas ambientais......................................................................... 86
TABELA 12 - Relação entre metas ambientais e medidas................................................... 87
TABELA 13 - Relevância das metas de desempenho ambiental no CV do produto............. 90
TABELA 14 - Exemplo de interações entre qualidade ambiental e outros benefícios do
produto ao consumidor .................................................................................. 90
TABELA 15 - Estratégias do Ecodesign............................................................................. 100
TABELA 16 - Exemplo de matriz de seleção ..................................................................... 111
TABELA 17 - Exemplo de matriz de inventário .................................................................. 113
TABELA 18 - Exemplo de tabela para análise de inventário de materiais.......................... 113
TABELA 19 - Estratégias de Ecodesign para embalagens ................................................ 116
TABELA 20 - Exemplo de matriz de viabilidade para seleção de estratégias..................... 117
TABELA 21 - Características do sistema embalagem Lasanha Sadia ............................... 120
TABELA 22 - Características do produto lasanha Sadia à Bolonhesa ............................... 120
TABELA 23 - Matriz de inventário das lasanhas Sadia 350g e 650g.................................. 124
TABELA 24 - Inventário de materiais das lasanhas Sadia 350g e 650g............................. 125
TABELA 25 - Inventário de energia das lasanhas Sadia 350g e 650g ............................... 125
TABELA 26 - Inventário de emissões das lasanhas Sadia 350g e 650g............................ 126
TABELA 27 - Matriz de viabilidade para selecionar estratégias de Ecodesign................... 131
TABELA 28 – Ações operacionais selecionadas para o projeto......................................... 132
TABELA 29 - Especificações da embalagem primária nova e atual................................... 134
TABELA 30 - Especificações da embalagem secundária e transporte nova e atual........... 135
TABELA 31 - Inventário de materiais lasanha nova........................................................... 137
TABELA 32 - Inventário de energia lasanha nova.............................................................. 137
TABELA 33 - Inventário de emissões lasanha nova .......................................................... 138
TABELA 34 - Comparação do desempenho ambiental das embalagens atuais e nova ..... 139
TABELA 35 - Resumo comparativo entre as embalagens ................................................. 140
TABELA 36 - Relação de peso de produto por peso de embalagem ................................. 144
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACV: Avaliação de ciclo de vida
CV: Ciclo de vida
DfE: Design for environment
MA: Meio ambiente
PDV: Ponto-de-venda
SE: Sistema embalagem
CD: Centro de distribuição
20
1 INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho de pesquisa é:
Avaliar a metodologia do Ecodesign através de sua aplicação ao projeto do produto
lasanha congelada acondicionada em embalagem cartonada destinada ao público
single, como ferramenta para analisar os impactos ambientais do sistema embalagem e
identificar oportunidades de minimizá-los.
Os objetivos secudários são:
• Comparar o desempenho ambiental das embalagens de lasanha de 350g e 650g.
• Propor embalagem alternativa.
• Demonstrar que o Ecodesign pode ser aplicado em qualquer sistema embalagem.
1.2 JUSTIFICATIVA
O modelo produtivo iniciado na revolução industrial, enxerga a natureza como uma fonte
inesgotável de recursos à disposição do ser humano para satisfazer suas necessidades.
Essa crença, aliada ao crescimento populacional mundial, aumentou a devastação de
florestas, poluição de rios, mares e atmosfera, conduzindo o planeta para uma possível
escassez de recursos naturais. Por consequência, setores da sociedade, governo e
indústria, buscaram nas últimas décadas um modelo alternativo de desenvolvimento. Esse
modelo foi chamado de desenvolvimento sustentável.
21
O conceito de desenvolvimento sustentável surgiu na Conferência de Estocolmo em 1972,
mas somente em 1987 foi formalizado pela ONU (Organização das Nações Unidas)
(LOUREIRO, 2003). Pode ser definido como: “um modelo de desenvolvimento econômico
que respeita os limites dos recursos naturais do planeta e não gera substâncias tóxicas no
ambiente acima da capacidade de assimilação do ecossistema, de modo a atender as
necessidades de hoje sem comprometer as gerações futuras.” Este assunto é complexo,
pois exige uma reflexão sobre quais as necessidades do ser humano e como atender as
gerações futuras, dado que a geração atual, na maior parte do mundo, não tem suas
necessidades básicas atendidas.
Entretanto, para este trabalho, o desenvolvimento sustentável será abordado do ponto-de-
vista do setor industrial e da ecoeficiência. Em 1992, foi criado o World Business Council for
Sustainable Development (WBCSD) que definiu o conceito de ecoeficiência como: “fornecer
bens e serviços a preços competitivos que satisfaçam as necessidades humanas, tragam
qualidade de vida e reduzam progressivamente o impacto ambiental e o consumo de
recursos a um nível no nimo equivalente à capacidade de sustentação do planeta Terra.”
A ecoeficiência pode ser considerada o desenvolvimento sustentável aplicado à realidade
industrial. Assim, os aspectos ambientais começaram a ser vistos como uma vantagem
competitiva e não um limitador de crescimento.
Na prática, a ecoeficiência depende de instrumentos e tecnologias de produção mais limpa,
da utilização de recursos renováveis e da criação de produtos com menos impacto
ambiental. Por conta disso, surgiram no âmbito dos processos produtivos, ferramentas como
o Sistema de Gestão Ambiental (SGA), para as empresas implementarem políticas e
gerenciarem seus aspectos ambientais, normatizados pela série ISO 14001, e a Produção
Mais Limpa. em relação a ecoeficiência dos produtos, surgiu o Ecodesign ou Design for
Environment que foi definido por Fiksel (1995) como: “um conjunto de práticas de projeto
22
usadas na criação de produtos e processos ecoeficientes," cujo objetivo é minimizar o
impacto dos produtos ao longo do ciclo de vida. Em 2004, a ecoeficiência de produtos ganha
força com a criação do relatório técnico ISO TR 14062 sobre integração de aspectos
ambientais no projeto e desenvolvimento do produto.
Na década de 1990, as questões ambientais obrigaram o setor de embalagem a buscar
alternativas para minimizar seus impactos no meio ambiente (CAMPOS, 1996). Em geral, as
soluções adotadas podem ser classificadas em pós-consumo e pré-consumo. As primeiras,
visam minimizar o impacto depois que a embalagem é descartada no meio ambiente, como
por exemplo: coleta seletiva, reciclagem e incineração; estão focadas no consumidor final.
Por outro lado, as ações pré-consumo, são medidas que procuram na fase do projeto criar
embalagens/produtos com menor impacto, por exemplo: redução na fonte (diminuição do
peso das embalagens) e utilização de materiais recicláveis; estão focadas na concepção da
embalagem. Porém, falta uma alternativa de abordagem sistêmica que considere ambas
alternativas.
No Brasil o setor de alimentos é responsável pelo consumo de 60% das embalagens
(BRASILPACKTRENDS 2005, 2002 apud DATAMARK), além disso os produtos deste
gênero dependem delas para conservá-los, porcioná-los e em alguns casos para prepará-
los. Por exemplo, uma lasanha congelada é envasada dentro da bandeja que determina seu
peso, conserva suas qualidades, informa suas características e vai ao forno para prepará-la.
O produto precisa da embalagem para chegar ao consumidor final. Os alimentos ainda têm
uma vida mais curta e as embalagens são descartadas com mais frequência e em muitos
casos de forma irresponsável. Por estes motivos optou-se pelo estudo de caso de uma
embalagem para alimentos congelados.
O público single, como é chamado o conjunto de pessoas que moram sozinhas, de acordo
com o dados do censo de 2002, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
23
(IBGE), representa 9% da população brasileira (IBGE, 2002). As embalagens individuais,
também atendem as necessidades das pessoas que mesmo morando em família costumam
fazer refeições sozinhas, em casa ou no trabalho. Elas têm a seu favor o fato de reduzirem o
desperdício de alimentos, uma vez que o usuário consome o necessário para saciar a
fome. No entanto, apresentam alto custo de material e energia, inclusive na cadeia do frio,
para armazenar uma porção reduzida de produto. A relação entre o peso da embalagem e
peso do produto é maior neste caso. Justifica-se portanto, a escolha de embalagens
congeladas singles para este estudo de caso, o fato de serem uma tendência do setor
alimentício e por consumirem, aparentemente, mais recursos materiais e energéticos que as
embalagens consideradas de tamanho familiar.
Em suma, a corrente do desenvolvimento sustentável que provavelmente vai se fortalecer
nas próximas décadas, o setor de embalagem que procura minimizar seus aspectos
ambientais, a indústria de alimentos como a maior consumidora de embalagens, o mercado
crescente formado pelos consumidores de alimentos single que buscam conveniência e o
fato das embalagens em porções menores terem um gasto energético e de materiais mais
alto, todos convergem para a necessidade de serem desenvolvidos sistemas embalagens
com responsabilidade ambiental, justificando a execução deste trabalho.
1.3 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA
A cadeia da embalagem engloba uma série de agentes como as indústrias de matéria-prima
e de alimento, produtores de embalagem, varejistas, atacadistas, distribuidores,
consumidores, além disso todos interagem com o meio ambiente. Eles formam o sistema
embalagem, quando se fala em responsabilidade ambiental deve-se considerar todos eles.
24
Normalmente as ações para diminuir o impacto ambiental das embalagens se concentram
no pós-consumo sendo a reciclagem a mais conhecida. Entretanto, seu aumento depende
da melhoria no sistema de coleta seletiva e políticas de incentivo para revalorização dos
materiais. Embora indispensável, a reciclagem não deve ser a única alternativa. a
redução na fonte é mais eficiente quando combinada com a reciclagem. Um exemplo é o
das latas de alúminio para bebidas. Seu peso tem diminuído ao longo dos anos e sua
reciclagem aumentado, garantindo, é claro, a proteção do produto. Portanto, combinar
ações pré e pós consumo é mais eficaz do que adotar uma ou outra isoladamente.
Considerando o sistema embalagem e as ações para minimizar seus impactos ambientais,
surgem três questões.
a) Como criar um sistema embalagem com responsabilidade ambiental? Primeiro é preciso
compreender o relacionamento dos agentes do sistema entre si e com o meio ambiente.
Depois, utilizar as ações para diminuir os impactos de forma estratégica e não isoladamente,
desenvolvendo um projeto conciliando as prioridades do produto e as ambientais. Para
solucionar este problema foi utilizado o Ecodesign que é, por excelência, uma metodologia
de projeto focada no desempenho ambiental. Possui o “olhar sistêmico”, buscando
mecanismos para avaliar os impactos, identificar melhorias e propor mudanças. Portanto,
através do Ecodesign é possível criar um sistema embalagem com responsabilidade
ambiental.
b) Como aplicar o Ecodesign ao sistema embalagem? Dentro do universo pesquisado
existem diferentes abordagens sobre o tema, porém nada específico para alimentos ou
embalagens. Através da revisão bibliográfica e análise crítica dos diferentes autores que
tratam do Ecodesign foi possível estabelecer uma metodologia aplicável ao sistema
embalagem.
25
c) Qual a eficiência da metodologia do Ecodesign? Além de estabelecer uma metodologia
aplicável ao sistema embalagem é necessário saber qual sua viabilidade e se justifica ser
utilizado pelos profissionais do setor. Para responder a esta pergunta foi feito um estudo de
caso, aplicando a metodologia no projeto de uma embalagem de lasanha congelada para
singles. Ele permitiu fazer uma avaliação crítica do Ecodesign.
Em suma, a questão geral é como criar um sistema embalagem com responsabilidade
ambiental? Porém a resposta gera duas novas questões. Primeiro, como estabelecer uma
metodologia de Ecodesign para ser utilizado em embalagens? Segundo qual a viabilidade
desta metodologia? Por fim, este trabalho se propõe discutir estes problemas.
1.4 QUESTÃO DA PESQUISA
A questão central da pesquisa é:
Qual a eficiência do Ecodesign na avaliação dos impactos ambientais e melhora do
desempenho ambiental do sistema embalagem lasanha congelada single?
A resposta será obtida através da avaliação crítica da aplicação da metodologia do
Ecodesign no estudo de caso de uma embalagem de lasanha congelada porção individual.
1.5 CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO
O trabalho segue duas linhas mestras. Primeiro, aplicar o Ecodesign no sistema embalagem
de lasanha congelada para identificar problemas e oportunidades de melhora. Segundo,
demonstrar a viabilidade de sua aplicação em outras embalagens. Deste modo, este
trabalho pode contribuir para gerar uma nova proposta de sistema embalagem para lasanha
26
congelada e também para despertar nos profissionais do setor, o interesse sobre as
implicações ambientais dos seus projetos, auxiliando-os a criar sistemas embalagens com
responsabilidade ambiental através do Ecodesign.
1.6 ESQUEMA DA DISSERTAÇÃO
A dissertação está organizada da seguinte forma:
Capítulo 1 – Introdução
Objetivos - Justificativa - Definição do problema - Questão da pesquisa - Contribuições do
trabalho - Esquema da dissertação
Capítulo 2 – O meio ambiente e a embalagem
As mudanças no paradigma ambiental - O lixo e as embalagens na cidade de São Paulo -
O "Packaging Dillema", a embalagem e o meio ambiente - Ações pós-consumo para
minimizar o impacto das embalagens - Ações pré-consumo para minimizar o impacto das
embalagens/produtos
Capítulo 3 – O sistema embalagem
A teoria dos sistemas - O sistema embalagem - Relacionamento entre as partes do sistema
embalagem e o meio ambiente - O setor de alimentos e a embalagem
Capítulo 4 – O mercado consumidor e o “single”
O consumidor como agente da cadeia produtiva - O consumidor single - O setor de
alimentos e a embalagem single - A embalagem single e o meio ambiente
27
Capítulo 5 – O Ecodesign
Introdução - Ecoeficiência - Engenharia simultânea - Medidas ambientais (Eco-indicadores)
Análise do perfil ambiental dos produtos - Seleção das estratégias do projeto – Resumo das
metodologias do Ecodesign - Considerações gerais
Capítulo 6 – Metodologia
Tipo de pesquisa - Limitações do método escolhido - Hipóteses - Fontes de dados
Resultados esperados - Descrição da metodologia
Capítulo 7 – Estudo de casa lasanha Sadia
Formação da equipe de projeto - Seleção e características do produto - Análise do perfil
ambiental - Seleção das estratégias de Ecodesign - Detalhamento técnico do novo Sistema
Embalagem (SE) - Avaliação do desempenho ambiental do novo SE - Aplicação da
metodologia em outros produtos
Capítulo 8 – Conclusões
Resultados e discussões - Análise das hipóteses - Resposta a questão da pesquisa - Pontos
positivos e negativos da metodologia - Considerações finais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Apendice-A – Cálculos de inventário
Apêndice-B – Cálculos das embalagens secudária e transporte
28
2 O MEIO AMBIENTE E A EMBALAGEM
2.1 AS MUDANÇAS NO PARADIGMA AMBIENTAL
O paradigma ambiental consiste em considerar a natureza como uma fonte inesgotável de
recursos, sem dar a devida atenção aos problemas ambientais ocasionados. Este modelo,
começou a modificar-se nas últimas décadas. Neste tópico será apresentado um panorama
de como surgiu o pensamento ambientalista na sociedade e sua influência nos governos,
indústrias e consumidores.
2.1.1 Histórico do movimento ambientalista
O ambientalismo, em linhas gerais, pode ser considerado um movimento em defesa do meio
ambiente como condição para manutenção da vida no planeta. Iniciou-se na década de
1960 motivado pelos movimentos pacifistas, antinucleares e a contracultura preconizada
pelo movimento hippie. Foi uma recusa ao estilo de vida consumista e a política belicista
norte-americana (LOUREIRO, 2003).
Nesse período, fatos relevantes contribuiram para o movimento. Em 1956 na cidade de
Minamata no Japão, pessoas foram contaminadas por mercúrio despejado no mar. Em 1962
a bióloga norte-americana Rachel Carson publicou o livro Primavera Silenciosa denunciando
os efeitos tóxicos dos inseticidas e pesticidas. Ainda nessa época, Paul Ehrlich chama
atenção para o crescimento indiscrimado da população mundial no livro The Population
Bomb de 1968. Esse período foi marcado também pela crise do petróleo e a fundação da
ONG (organização na governamental) ambientalista WWF (World Fund for Nature, antigo
World Wildlife Fund) (LOUREIRO, 2003).
29
A evolução do pensamento ambientalista continuou nas décadas seguintes alimentado por
pesquisadores de diversas áreas. James Lovelock e Lynn Margulis formularam a "Hipótese
Gaia" segundo a qual o planeta é considerado um organismo vivo e todos os seres, vivos ou
não, estão intimamente ligados entre sí. Em 1975 o físico austríaco Fritjot Capra publica o
livro "Tao da sica", sugerindo uma mundança da visão científica mecanicista e cartesiana
para uma abordagem holística onde considera que todos os elementos do mundo estão
interligados dentro do que ele definiu como a "teia da vida" (LOUREIRO, 2003). Por fim, em
1999 Paul Hawken, Amory Lovin e L. Hunter Lovins, publicam o livro "Capitalismo Natural"
apresentando alternativas para um modelo econômico e industrial ecologicamente
sustentável.
2.1.2 Atitude dos governos em relação ao meio ambiente
As discussões dos ambientalistas na década de 1960 repercutiram nos governos como
observado na evolução dos tratados ambientais. A primeira vez que o assunto meio
ambiente foi abordado internacionalmente foi em 1960 na reunião do Clube de Roma. Nessa
ocasião governantes do mundo todo discutiram questões políticas do pós-guerra e incluíram
na pauta pela primeira vez a questão ambiental, ainda que restrita à utilização de recursos
hídricos (GERMER, 2002).
Em 1972, na Suécia, a ONU organizou a Conferência de Estocolmo que contou com a
participação de 113 países. Foi a primeira grande reunião exclusiva para tratar de assuntos
ligados ao meio ambiente. A gravidade dos problemas apresentados, como a crise
energética e a superpopulação, poderiam prejudicar o desenvolvimento industrial,
conduzindo o mundo a um colapso. A conferência resultou na Declaração de Estocolmo cuja
30
proposta é a criação de um modelo de desenvolvimento sustentável para minimizar a
degradação ambiental (LOUREIRO, 2003).
Em 1983 foi criada na ONU a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
que formalizou em 1987, através do relatório “Nosso Futuro Comum”, o conceito de
“Desenvolvimento Sustentável” definido como — “forma de desenvolvimento econômico que
não tem como paradigma o crescimento, mas a melhoria da qualidade de vida; que não
caminha em direção ao esgotamento de recursos naturais, nem gera substâncias tóxicas no
ambiente em quantidades acima da capacidade assimilativa do sistema natural” (SILVA,
2002). Ainda nessa época descobriu-se os efeitos nocivos do gás clorofluorcarbono (CFC) à
camada de ozônio, levando a assinatura do Protocolo de Montreal que prevê a redução
gradual da utilização do CFC (GERMER, 2002).
na década de 1990, ocorreu a conferência Rio-92, reunindo pela primeira vez países
desenvolvidos e em desenvolvimento. Os países participantes assinaram cinco documentos
a Declaração do Rio, a Agenda 21, A Convenção sobre Diversidade Biológica, a
Convenção sobre Mudança no Clima e a Declaração de Princípios da Floresta. Na mesma
década, em 1997 na cidade de Kyoto no Japão ocorreu a Cúpula sobre Mudança do Clima
Global de Kyoto que tratou sobre o problema do aquecimento global do planeta. Na ocasião
foi assinado o protocolo de Kyoto com a meta de reduzir em 5,4% os níveis de emissões de
1990, dos gases responsáveis pelo efeito estufa entre 2008 e 2012 (SILVA, 2002).
Portanto, entre a década de 1960 e a atual, questões inicialmente restritas a movimentos
ambientalistas ganharam importância, tanto na ONU que criou em 1972 o PNUMA
(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) quanto nos governos.
31
2.1.3 Atitude das indústrias em relação ao meio ambiente
O setor industrial criou em 1990 o Business Council for Sustainable Development (BCSD),
mais tarde chamado de World Business Council for Sustainable Development (WBCSD).
Ele reúne 170 grandes empresas em mais de 35 países que compartilham uma visão de
desenvolvimento baseada em três pilares: crescimento econômico, equilíbrio ecológico e
progresso social. Sua missão é promover o desenvolvimento sustentável através de práticas
ecoeficientes, unindo economia e desempenho ambiental. Com isso, o desenvolvimento
sustentável passou a ser efetivamente considerado pelo setor produtivo (FIKSEL, 1995).
Entretanto, um passo fundamental para as indústrias caminharem rumo ao desenvolvimento
sustentável foi a criação de normas técnicas ambientais. Em 1992 foi publicada pelo Instituto
de Normas Britânicas (NSI) a norma BS-7750 que formalizou o sistema de gestão
ambiental. Baseadas nesta norma, a International Organization for Standardization (ISO) em
1993 formulou a norma ISO 14000 sobre gestão ambiental, aumentando sua abrangência
para ser aceita no mundo todo (GERMER, 2002). As normas desta série contemplam as
seguintes áreas: Sistemas de Gestão Ambiental, Auditorias Ambientais, Rotulagem
Ambiental, Avaliação de Desempenho Ambiental, Avaliação de Ciclo de Vida e o relatório
técnico sobre Integração de Aspectos Ambientais no Projeto e Desenvolvimento do Produto.
Assim, as normas orientam as empresas em como proceder para aumentarem seu
desempenho ambiental.
No Brasil a FIESP/CIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo/Centro das
Indústrias do Estado de São Paulo) criou em março de 2002 o Departamento de Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – DMA. O objetivo é orientar as empresas a
tornarem-se competitivas considerando os novos paradigmas de sustentabilidade. Dentre
as ações do DMA estão a criação da Câmara Ambiental da Indústria Paulista para efetivar
32
medidas de desempenho ambiental da indústria. Outra ação é a criação da Bolsa de
Resíduos que tem como objetivo principal, disponibilizar para as empresas um mecanismo
de divulgação de ofertas de compra e venda de resíduos industriais recicláveis
(FIESP/CIESP, 2005).
Enfim, as discussões sobre desenvolvimento sustentável no setor industrial iniciadas na
década de 1990, bem como a criação de normas ambientais, são apenas os primeiros
passos rumo a responsabilidade ambiental.
2.1.4 Atitude dos consumidores em relação ao meio ambiente
Paralelo ao conceito de desenvolvimento sustentável surgiu a preocupação com os
consumidores com a publicação do texto “Além do Ano 2000 – A Transição para um
Consumo Sustentável” publicado em 1993 na Holanda. Seu objetivo é chamar atenção da
sociedade para consumir produtos de forma consciente atendendo suas necessidades sem
comprometer as gerações futuras (BRASIL/MMA, 2004). Isso provoca uma mudança na
atitude dos consumidores atribuindo-lhes a responsabilidade sobre o que consomem e
descartam.
O consumo sustentável sugere ações conscientes por parte dos consumidores. Uma delas é
a redução do desperdício de alimentos comprando somente o necessário e optando por
embalagens com porções adequadas ao seu perfil de consumo, por exemplo, no caso de
uma família numerosa, comprando produtos em porções maiores e no caso de consumo
individual embalagens single. Outra ação é destinar corretamente os resíduos para
contribuir com a coleta seletiva. Em seguida, racionalizar o uso de água e energia elétrica
(GERMER, 2002). Portanto, a educação ambiental é o primeiro passo para diminuir a
33
degradação ambiental, considerando que as indústrias produzem para atenderem as
necessidades dos consumidores e não ao contrário.
Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
(
IBOPE) realizada
com consumidores brasileiro em 1998, verificou-se que eles estão dispostos a pagar mais
caro por um produto menos poluente. Dentro do universo pesquisado 68% concordam com
isso contra 24% que não aceitam esta idéia. Inclusive a população de baixa renda concorda
em pagar mais (IBOPE, 1998)! Isso demonstra que o consumidor brasileiro está afinado
com a idéia do consumo sustentável. Surgem os primeiros efeitos da educação ambiental
iniciada na Rio-92.
À medida que a sociedade adota uma atitude de responsabilidade ambiental aumenta a
demanda por produtos e embalagens que possivelmente tenham menor impacto no meio
ambiente. Os próprios fabricantes de embalagem acreditam no aumento da consciência
ambiental dos consumidores conforme ilustram as figuras 1 e 2. Segundo os fabricantes a
preocupação atual da sociedade em relação à embalagem e o meio ambiente é em 47% dos
casos “média” e 13% “muito alta”, porém nenhum fabricante acredita que a preocupação dos
consumidores em relação a embalagem deve diminuir.
34
FIGURA 1 - PREOCUPAÇÃO DA SOCIEDADE COM O IMPACTO AMBIENTAL DAS EMBALAGENS
FONTE: PACKWORLD.COM, 2002
FIGURA 2 - AVALIAÇÃO DO INTERESSE DO CONSUMIDOR POR EMBALAGENS ECOLÓGICAS
FONTE: PACKWORLD.COM, 2002
Portanto, existe uma tendência mundial de responsabilidade ambiental influenciando a
atitude dos consumidores. Essa tendência deve incentivar as empresas a adequarem seus
produtos para atenderem as exigências do consumidor. Vale lembrar que a ISO criou em
2002 o relatório técnico ISO TR 14062 que dispõe sobre a responsabilidade ambiental no
projeto de produtos (bens e serviços). Assim, este cenário é uma nova oportunidade de
35
negócio, pois produtos concebidos dentro de práticas ambientalmente mais adequadas
apresentam um diferencial competitivo e podem conquistar um mercado promissor.
Em resumo, devido a complexidade do tema, somente através dos esforços conjuntos dos
governos, empresas e consumidores será possivel criar uma sociedade sustentável. Porém,
os primeiros passos para mudar o paradigma amibental de que não é importante preservar a
natureza está se modificando, como observado nas atitudes das empresas, governos e
cidadãos.
2.2 O “LIXO” E AS EMBALAGENS NA CIDADE DE SÃO PAULO
No ítem anterior foi apresentado o histórico do movimento ambientalista no mundo e os
reflexos na sociedade. A seguir será abordado o problema dos resíduos sólidos urbanos
com enfoque na cidade de São Paulo.
2.2.1 Definição de resíduo sólido
Resíduo sólido é definido como sendo todos os restos produzidos pelas atividades humanas
considerados inúteis, indesejáveis ou descartáveis pela fonte geradora (CEMPRE/IPT,
1995). Porém, hoje em dia esta definição encontra resistência de pesquisadores que não
chamam o “lixo” de material inútil e falam em materias com potencial de revalorização. Ele é
formado pelo resíduo industrial, domiciliar, entulho e outros resíduos resultantes das
atividades do sistema de produção e consumo. Os resíduos podem classificados conforme a
tabela 1.
36
TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
Classificação do resíduos Tipos
Por sua natureza física
Seco
Molhado
Por sua composição química
Matéria orgânica
Matéria inorgânica
Pelos riscos potenciais ao meio ambiente
Classe I (perigosos), Classe II A (não perigosos e não
inertes) e Classe II B (não perigosos e inertes)
Quanto a sua origem
Domiciliar, comercial, de varrição e feiras livres, serviços
de saúde e hospitalares e outros
FONTE: CEMPRE/IPT, 1995
2.2.2 Origem dos resíduos sólidos urbanos
Para tratar dos resíduos sólidos urbanos foi utilizado como referência os dados da cidade de
São Paulo. Ela foi escolhida por ser uma das maiores metrópoles do mundo com uma
população estimada em 14 milhões de habitantes. Por consequência gera diariamente
16.000 toneladas de lixo dos quais 77%, ou 9.858 toneladas, são provenientes de domicílios
como mostra a tabela 2. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB)
utiliza um índice de 0,7 kg de resíduos sólidos por dia por habitante em populações maiores
de 500 mil pessoas (CETESB, 2004). Portanto a maior parte dos resíduos urbanos tem
origem nas residências.
TABELA 2 – A COLETA DE LIXO SEGUNDO SUA ORIGEM
Origem do lixo Média mensal (ton) Média anual (ton) %
Município de São Paulo 379.971 4.559.649 100,00 %
Primário domiciliar 295.745 3.548.934 77,83%
Industrial 9.385 112.620 2,47%
Saúde 2.789 33.4752 0,73%
Entulho 59.666 715.986 15,40%
Diversos 12.386 148.637 3,26%
FONTE: São Paulo (cidade) - Secretaria de Serviços e Obras, 2004
2.2.3 Características dos resíduos sólidos domiciliares
As tabelas 3 e 4 apresentam as características dos resíduos domiciliares na cidade de São
Paulo, obtida através da medição por amostragem da coleta de residências. Em 2004
37
aproximadamente 60% do lixo domicilar era de origem orgânica e 30% de materiais
recicláveis como embalagens.
TABELA 3 – COMPOSIÇÃO DO LIXO DOMICILIAR NA CIDADE DE SÃO PAULO DE 1927 A 1991
Porcentagem Média em peso (%) por ano
Material
1927 1957 1969 1976 1991
Matéria orgânica 82,5 76,0 52,2 62,7 60,6
Papel, papelão e jornal 13,4 16,7 29,2 21,4 13,9
Embalagem longa vida - - - - -
Plásticos (flexível e rígido), PET e isopor - - 1,9 5,0 11,5
Metais ferrosos 1,7 2,2 7,8 3,9 2,8
Metais não ferrosos (alumínio) - - - 0,1 0,7
Trapos, panos, couro e borracha 1,5 2,7 3,8 2,9 4,4
Pilhas e baterias - - - - -
Vidro 0,9 1,4 2,6 1,7 1,7
Terra e pedra - - - 0,7 0,8
Madeira - - 2,4 1,6 0,7
Diversos - 0,1 - - 1,7
FONTE: São Paulo (cidade) - Secretaria de Serviços e Obras, 2004
TABELA 4 – COMPOSIÇÃO DO LIXO DOMICILIAR NA CIDADE DE SÃO PAULO DE 1996 A 2004
Porcentagem Média em peso (%) por ano
Material
1996 1998 2000 2003 2004
Matéria orgânica 55,7 49,5 48,2 57,6 61,0
Papel, papelão e jornal 16,6 18,8 16,4 10,9 9,4
Embalagem longa vida - - 0,9 1,3 1,1
Plásticos (flexível e rígido), PET e isopor 14,3 22,9 16,8 16,8 14,8
Metais ferrosos 2,1 2,0 2,6 1,5 1,2
Metais não ferrosos (alumínio) 0,7 0,9 0,7 0,7 0,6
Trapos, panos, couro e borracha 5,7 3,0 - 4,2 3,5
Pilhas e baterias - - 0,1 0,1 0,04
Vidro 2,3 1,5 1,3 1,7 1,2
Terra e pedra - 0,2 1,6 0,8 1,6
Madeira - 1,3 2,0 1,6 0,9
Diversos 2,6 - 9,3 1,0 1,6
FONTE: São Paulo (cidade) - Secretaria de Serviços e Obras, 2004
2.2.4 Destinação dos resíduos sólidos domiciliares
A figura 3 apresenta o destino dos resíduos sólidos da cidade de São Paulo.
Aproximadamente 90% do lixo coletado vai direto para os aterros, apenas 8% passa pela
coleta seletiva dos quais 51% vira composto orgânico (adubo) e apenas 2% são reciclados e
2% do lixo total é incinerado. Vale ressaltar que nestes dados não estão contabilizados os
resíduos coletados por catadores e empresas independentes.
38
FIGURA 3 – DESTINAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DA CIDADE DE SÃO PAULO
FONTE: FONTE: SÃO PAULO (CIDADE) - SECRETARIA DE SERVIÇOS E OBRAS, 2004
2.2.5 A participação das embalagens nos resíduos sólidos
Estima-se que em média, 70% dos resíduos domiciliares na cidade de São Paulo são
compostos por materiais orgânicos e 30% de materiais recicláveis. Além disso, a quantidade
per capita dos resíduos cresce à medida que aumenta a população e seu poder aquisitivo.
Nos países mais desenvolvidos o lixo orgânico é menor que o de embalagens
(CEMPRE/IPT, 1995). Na tabela 5 pode-se visualizar o mercado brasileiro de reciclagem
dividido por tipo de material.
TABELA 5 – ÍNDICE DE RECICLAGEM DE EMBALAGENS NO BRASIL EM 2003
Material de embalagem Índice (%)
Alumínio 87
Aço 42
Longa vida 20
Papelcartão 39
Papelão ondulado 74
PET 40
Plásticos em geral 21
Vidro 39
FONTE: Associação Brasileira de Embalagem, 2007
39
2.3 O PACKAGING DILLEMA
3
, A EMBALAGEM E O MEIO AMBIENTE
No iníco da década de 1990, ecologistas europeus apontavam a embalagem como
responsável pelos resíduos urbanos, questionando sua importância e pressionando os
governos a adotarem políticas mais rígidas para o setor. Na Alemanha, por exemplo, ficou à
cargo dos fabricantes de embalagem arcarem com os custos da coleta. Na França o setor
público e privado formaram parcerias para dividir custos com coleta e reciclagem (CAMPOS,
1996). Logo, o aumento dos resíduos de embalagens aliada à dificuldade dos governos em
melhorar a gestão de resíduos sólidos urbanos fez surgir o dilema.
O dilema consiste em como oferecer produtos sem aumentar o impacto ambiental das
embalagens. Os produtos alimentícios singles estão no ápice deste problema porque,
quanto menor a quantidade de alimento, maior o gasto com embalagem e,
consequentemente, mais resíduos são gerados. Portanto, além de melhorar os sistemas de
gestão de resíduos sólidos urbanos é necessário o desenvolvimento de sistemas
embalagens que incluam a responsabilidade ambiental como fator relevante para atenuar o
packaging dillema.
2.3.1 Aspectos ambientais da embalagem
A embalagem, como toda atividade industrial, gera impactos ambientais desde a extração
da matéria-prima, processamento, transporte e disposição final. Porém, por outro lado, é um
elemento fundamental para minimizar outros problemas ambientais. Os alimentos passam
por várias etapas até chegar ao consumidor final, como ilutrado na figura 4, nas quais foram
gastos dinheiro, energia, matéria-prima, mão-de-obra, combustível etc. Uma embalagem
3
Expressão utilizada mundialmente para referir-se às questões ambientais ligadas a área de embalagem no
início da década de 1990 (Brasilpacktrends 2005, 2002).
40
inadequada pode inviabilizar as etapas seguintes como transporte para os pontos-de-venda
e ao usuário, gerando perda de produto. Isto representario o desperdício dos insumos
gastos nas etapas anteriores.
FIGURA 4 – ETAPAS DA ACV DE PRODUTOS ALIMENTÍCIOS
FONTE: GERMER, 2002 APUD IJLCA, 2000
As embalagens também evitam impactos causados pelo aumento de resíduos orgânicos no
lixo, causado pelo desperdício e deterioração dos alimentos. Além de garantirem a
qualidade e segurança alimentar dos consumidores. Certamente, os benefícios das
embalagens são inegáveis, porém é possível melhorá-las continuamente projetando
sistemas embalagem com responsabilidade ambiental.
2.3.2 A embalagem e a legislação ambiental na Europa
Em 20 de dezembro de 1994, o Parlamento Europeu editou a DIRECTIVA 94/62/CE para
harmonizar as diferentes disposições dos países sobre a gestão das embalagens e seus
resíduos. O objetivo era fornecer um mecanismo legal para reduzir seus impactos
ambientais através da sua revalorização. A legislação reconhece a função econômica e
social da embalagem e sugere as seguintes ações.
41
a) Reutilização - para diminuir a geração de resíduos.
b) Reciclagem - para reduzir o consumo de energia, matérias-prima etc.
c) Recuperação energética - para valorizar os resíduos com eficiente poder calorífico.
Além disso, a legislação considera que devem ser feitas análises de ciclo de vida das
embalagens para justificar a melhor escolha para valorização de cada uma. Portanto, a
DIRECTIVA 94/62/CE é a resposta do parlamento europeu para o packaging dillema.
(UNIÃO EUROPÉIA. DIRECTIVA 94/62/CE, 1994).
2.4 AÇÕES PÓS-CONSUMO PARA MINIMIZAR O IMPACTO
AMBIENTAL DAS EMBALAGENS
Ações pós-consumo são consideradas neste trabalho como medidas utilizadas para reduzir
o impacto ambiental das embalagens depois de descartadas pelo consumidor final. Estas
ações, estão restritas ao final da vida útil da embalagem e focadas na revalorização do
material descartado. As ações pós-consumo mais difundidas são: coleta seletiva,
reciclagem, reutilização e incineração com recuperação de energia.
2.4.1 Separação e coleta seletiva
A coleta seletiva é a separação dos materiais recicláveis na fonte geradora (SILVA, 2002).
Podem ser domicílios, escolas ou locais públicos como shopping centers. Alguns lugares
contam com coletores para cada tipo de material como por exemplo: orgânico, metal, papel,
plástico e vidro. Após essa separação primária, os materiais são enviados para estações de
triagem onde são divididos em sub-categorias, por exemplo, os metais são separados entre
42
aço e alumínio e os plásticos entre seus diversos tipos como PET (politereftalato de etileno)
e PP (polipropileno). Ela é a base do processo de reciclagem.
Contudo, a coleta seletiva pode ser otimizada através de um projeto de embalagens com
enfoque ambiental. No projeto é possível adotar medidas que facilitem a identificação e
separação do material. Por isso a destinação final da embalagem deve estar prevista na sua
concepção.
2.4.2 Reciclagem
A reciclagem é um conjunto de procedimentos para aproveitar novamente materiais que
foram utilizados anteriormente e seriam descartados sem revalorização, transformando-os
em matéria-prima para manufatura de novos produtos (SILVA, 2002). Com isso reduz-se os
resíduos nos aterros e a extração de recursos naturais para obtenção de matéria-prima,
trazendo vantagens econômicas e ambientais. Porém, a reciclagem depende de fatores
como coleta seletiva, atratividade econômica e existência de tecnologia para reprocessar os
materiais.
Projetar embalagens pensando na reciclagem pode facilitar este processo. Um exemplo é
das garrafas PET. Quando surgiram, possuiam na sua base uma peça de polipropileno para
dar sustentação, isto dificultava a reciclagem, pois era preciso separar a base da garrafa.
Com o aprimoramento das garrafas a base foi extinta, facilitando a reciclagem e diminuindo
os custos de material e produção. Resumindo, a reciclagem é uma boa alternativa para
diminuir os impactos ambientais, mas pode ser otimizada quando pensada no projeto da
embalagem.
43
2.4.3 Incineração com recuperação energética
Consiste em incinerar as embalagens que apresentam alto poder calorífico para obter
energia. Pode ser importante para reaproveitar as embalagens que não possuem tecnologia
para serem recicladas com eficiência. A norma européia EN 13431, define os padrões para
uma embalagem ser considerada adequada para a recuperação energética (MAIJGREN;
PETTERSSON, 2003).
2.5 AÇÕES PRÉ-CONSUMO PARA MINIMIZAR O IMPACTO
AMBIENTAL DAS EMBALAGENS
As ações pré-consumo são aquelas que consideram no projeto da embalagem/produto, os
impactos ambientais causados por ela ao longo do ciclo de vida. A equipe de projeto
responsável pelo produto e embalagem adota medidas para minimizar o impacto ambiental
como por exemplo: utilizar embalagens reutilizáveis e recicláveis, reduzir o peso da
embalagem, garantindo a proteção adequada, e identificar o tipo de material para facilitar a
triagem, descritos nos sub-ítens a seguir.
2.5.1 Redução e prevenção na fonte
Redução na fonte é diminuir o peso das embalagens utilizando o mesmo material, sem
prejudicar a proteção do conteúdo ou simplificar retirando ítens e acessórios de menos
importância ou mesmo desnecessários. Embalagens mais leves aproveitam melhor a
matéria-prima, diminuem o peso do transporte e a quantidade de material de embalagem
descartado. Um exemplo é o das latas de alumínio para bebida. Uma lata hoje pesa 13,5
gramas ou um terço do que pesava há 25 anos. Antes um quilo de alumínio gerava 49 latas,
44
hoje com a mesma quantidade de matéria-prima produzem-se 73 latinhas (CEMPRE, 2005).
Isso faz com que a redução na fonte seja uma ferramenta importante do Ecodesign.
2.5.2 Reutilização
Reutilizar é usar uma embalagem para acondicionar o mesmo produto novamente. No Brasil
as embalagens reutilizadas mais comuns são as de vidro para bebidas. O vidro suporta
esterilização em altas temperaturas (100ºC a 150ºC) sem perder suas qualidades, por isso é
atrativo para reutilização. A vantagem das garrafas retornáveis está no fato de não gastarem
matéria-prima e energia que seriam necessários para gerar uma nova garrafa e também
diminuir os resíduos pós-consumo. Outro exemplo de reutilização é a venda de produtos
com opção de refil, como faz a empresa de cosméticos Natura S.A.
2.5.3 Avaliação de ciclo de vida (Série NBR ISO 14040)
Avaliação de ciclo de vida é uma técnica para levantar os aspectos ambientais e impactos
associados ao longo da vida de um produto, desde a extração da matéria-prima até a
disposição final. A ISO padronizou o processo de avaliação de ciclo de vida em 1997
através da série de normas ISO 14040 (GERMER, 2002).
Projetar embalagens com apoio da ACV permite às equipes de projeto identificar os pontos
críticos do sistema e como interagem entre si. Isso possibilita o emprego de soluções
integradas para minimizar o impacto do produto, analisando se as escolhas feitas no projeto
vão atingir o objetivo proposto.
45
2.5.4 Ecodesign ou Design for Environment (DfE)
A mais importante das ações pré-consumo, objeto desta dissertação de mestrado, é o
Ecodesign. Surgiu em 1992, por iniciativa de empresas norte-americanas do setor eletrônico
que buscavam métodos para projetar produtos ecoeficientes. Foi definido como — “um
conjunto de práticas de projeto usadas na criação de produtos e processos ecoeficientes”
ou “um sistema de projetar onde o desempenho respeita o meio ambiente, a saúde e
segurança em todo o ciclo de vida do produto e do processo” (FIKSEL, 1995). Resumindo, o
Ecodesign consiste em projetar um produto levando em consideração a integração dos
aspectos ambientais em todas as fases de seu sistema.
diferentes abordagens em relação a metodologia do Ecodesign, porém destacam-se
duas:
a) Fiksel (1995), apresentada em seu livro Design for Environment”, onde divide a
metodologia nas seguintes disciplinas projeto integrado, medição ambiental,
procedimentos práticos, métodos de avaliação ambiental e avaliação do ciclo de vida.
b) Brezet e Hemel (1997) propõem uma metodologia para aplicar o Ecodesign em seis
etapas organização da estratégia ambiental, seleção do produto, análise do produto,
geração de conceitos, detalhamento do protótipo e avaliação do projeto.
Mais detalhes sobre a metodologia do Ecodesign serão apresentados no capítulo 5.
46
2.5.5 Considerações finais
Em suma, o packaging dillema alertou o setor de embalagens para a necessidade da
responsabilidade ambiental. Entretanto, para diminuir os impactos das embalagens existem
ações que foram classificadas em pré e pós-consumo. Estas ações isoladas tem sua
eficiência limitada devido a complexidade dos aspectos ambientais do sistema embalagem.
Por isso, é preciso uma ferramenta de projeto capaz de lidar com todas estas variantes.
A metodologia do Ecodesign proposta engloba uma série de disciplinas que consideram a
totalidade do sistema embalagem/produto, não estando restrita a minimizar o impacto
apenas de uma etapa. Essa visão sistêmica do Ecodesign motivou sua escolha para ser
aplicado no estudo de caso de uma embalagem de alimento congelado para analisar os
impactos ambientais do sistema embalagem e identificar oportunidades de minimizá-los.
47
3 O SISTEMA EMBALAGEM
3.1 A TEORIA DOS SISTEMAS
Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos em interação com finalidade
definida, no qual cada parte afeta o desempenho do todo e as partes não tem razão para
existir ou apresentam comportamento diferente quando analisadas isoladamente. As partes
não têm consciência da totalidade da qual fazem parte (ACKOFF, 1994). Essa teoria foi
apresentada por Bertalanffy em 1927. De acordo com ele existem modelos, princípios e leis
que se aplicam a qualquer tipo de sistema, independente do campo cientifico
(BERTALANFFY, 1977).
Deste modo, o conceito de sistemas pode ser ilustrado através de uma analogia com o
corpo humano. Este foi dividido pelos biólogos em diversos sistemas como: endócrino,
nervoso, respiratório, digestivo, sanguíneo e outros que em conjunto constituem o corpo
humano e permite que ele funcione adequadamente. Cada um desses sistemas tem
razão de existir quando inseridos no corpo humano. Qualquer desarmonia em um deles
compromete e prejudica todo o corpo.
A teoria dos sistemas prevê dois tipos de sistemas, os abertos e fechados. Os fechados são
aqueles considerados isolados do ambiente, ou que não sofre influências de fatores
externos. os abertos estão sujeitos a ação de fatores externos (BERTALANFFY, 1977).
Essa teoria contribuiu para o surgimento da chamada visão sistêmica ou pensamento
sistêmico.
48
3.1.1 O pensamento sistêmico
A teoria geral dos sistemas gerou uma nova abordagem em diversas áreas da ciência como
a química, física, biologia, psicologia, ciências socias, cibernética e outras. Entretanto foi
utilizada por alguns autores como Ackoff (1994) na área de administração. Este autor
propõe duas maneiras de abordar os sistemas, o método analítico e o sintético chamado
também de sistêmico.
Enxergar a floresta e as árvores ou enxergar somente as ávores para depois compreender a
floresta é um exemplo simples da diferença entre o raciocínio analítico e o sintético, ou
pensamento não-sistêmico e sistêmico. No método analítico o objeto de estudo é separado
em partes e cada uma delas é estudada isoladamente. Depois junta-se o conhecimento
obtido da compreensão das partes na tentativa de conhecer o sistema todo (ACKOFF,1994).
Seria como estudar cada árvore para compreender a floresta da qual faz parte. Essa
abordagem é oposta à visão sistêmica.
No caso do pensamento sistêmico faz-se o caminho inverso, o objeto de estudo é visto
como parte de um todo maior do qual não pode ser separado. Através da compreensão do
todo chega-se a do objeto estudado pelo conhecimento da função que ele desempenha
(ACKOFF, 1994). Nesse caso seria como observar a floresta para depois compreender a
função de cada árvore e como se relacionam entre si nesse contexto. Não se pode
compreender uma floresta analisando uma única árvore da mesma maneira que o aparelho
digestivo humano não tem função nenhuma fora do corpo. Portanto um sistema não pode
ser explicado pelo método analítico, pois quando desmontado em partes elas não exercem
as mesmas funções.
49
Resumindo, o pensamento sistêmico é uma forma de pensar onde o objeto observado é
visto em sua totalidade e são estudados tanto o inter-relacionamento entre as partes que
compõem esse objeto, como o relacionamento do conjunto com outros sistemas. Essa
abordagem é também conhecida como visão holística. Ela pode ser aplicada em qualquer
sistema inclusive o de embalagem.
3.2 O SISTEMA EMBALAGEM
A embalagem é um sistema, pois para cumprir seus objetivos básicos, envolve um grande
número de variáveis e de agentes das cadeias produtivas. Também é considerada um
sistema aberto como explicado a seguir.
A embalagem vista por um prisma reducionista pode ser considerada apenas um invólucro
utilizado para conter um produto. Na visão sistêmica a embalagem adquire um papel
estratégico e fundamental para as empresas. Influencia áreas que aparentemente não têm
nenhum relacionamento entre si como o marketing, distribuição, produção e até o serviço de
atendimento ao consumidor (SAC).
O sistema embalagem pode ser definido como: "um conjunto de operações, materiais e
acessórios que são utilizados na indústria com a finalidade de conter, proteger e conservar
os diversos produtos e transportá-lo aos pontos de venda ou utilização, atendendo as
necessidades dos consumidores e/ou clientes a um custo adequado, respeitando a ética e o
meio ambiente" (CABRAL, 2002). O presente trabalho vai utilizar como base esta definição,
ilustrada pela figura 5.
50
FIGURA 5 - O SISTEMA EMBALAGEM
FONTE: CABRAL, 2002
O sistema embalagem é aberto porque recebe e troca influências com outros ambientes.
Essas trocas estão presentes em todos os seus elos tornando-o aberto e dinâmico.
Analisando a figura 5, intui-se que cada elo possui dentro de si uma enorme complexidade
de fatores e reúnem um grande número de profissionais especializados. Uma mudança no
projeto de uma embalagem pode influenciar todo o conjunto. Isso demonstra a posição
estratégica e a complexidade de fatores envolvidos no sistema embalagem.
3.2.1 Objetivos básicos da embalagem
A embalagem possui mais de uma função ou objetivo. Como mencionado anteriormente ela
possui os objetivos básicos de conter, proteger, transportar e informar o consumidor
(CABRAL, 2002). Somam-se a eles outros dois com importância cada vez maior que são
atrair a atenção do consumidor na gôndola e ter o nimo impacto ambiental. Entretanto
51
para atingir cada um desses objetivos são necessários profissionais especializados e um
planejamento estratégico. Os objetivos são explorados em seguida.
Conter e proteger: deve proteger os produtos tanto dos fatores de ordem mecânica -
choques sofridos durante o transporte e armazenagem, como contra fatores ambientais
químicos e microbiológicos - luz, umidade, odor, calor, gases e bactérias. Ela não pode ser
nem superdimensionada protegendo o produto mais que o preciso, aumentando o seu
custo, nem subdimensionada, acarretando perdas de produto.
Transportar: a distribuição ou logística é uma peça estratégica para as empresas pois,
sem uma distribuição eficiente, os produtos não chegam aos mercados. A embalagem deve
otimizar o sistema de distribuição através do dimensionamento correto para aproveitar
melhor os paletes, containers e caminhões. Deve ter codificação adequada para facilitar o
controle e identificação dos produtos.
Informar: as informações podem ser obrigatórias para atender a legislação como por
exemplo composição, tabela nutricional, peso e prazo de validade. Também pode ser um
canal de comunicação entre a empresa e o consumidor apresentando sugestões de
consumo, receitas, divulgando outros produtos da marca, o telefone do SAC e rotulagem
ambiental.
Atrair e vender: o consumidor está inserido em um ambiente social onde os valores
estéticos e estilo de vida mudam com frequência. Essas tendências influenciam o design
das embalagens. Porções individuais destinadas ao público single demonstram uma
mudança na estrutura familiar que a embalagem se adaptou (CABRAL, 2002). Outro
aspecto do design está em atrair a atenção dos consumidores nos pontos-de-venda,
destacando-se da concorrência e motivando a compra. Além disso pode ser utilizada em
ações promocionais de marketing (MESTRINER, 2002).
52
Maquinabilidade: a embalagem deve ter funcionalidade operacional na linha de
produção. Isso significa eficiência, produtividade e baixo downtime
4
em máquinas. Além
disso devem ter fácil manuseio e serem unitizáveis para otimizar a logística.
Resumindo, estas funções são consideradas básicas para uma embalagem existir de forma
eficiente e com custos adequados. Entretanto, além de atender a todos os requisitos
citados, o sistema embalagem deve ser desenvolvido com responsabilidade ambiental, ou
seja, gerar o mínimo impacto no meio ambiente ao longo do ciclo de vida. Mas será
possível atingir este objetivo?
3.2.2 Responsabilidade ambiental e embalagem ecoeficiente
O que seria uma embalagem com responsabilidade ambiental? Para responder a esta
pergunta é necessário conceituar ecoeficiência. De acordo com a definição do WBCSD
(1990) — “ecoeficiência consiste em maximizar os benefícios econômicos e ambientais e ao
mesmo tempo reduzir estes custos.” Assim, quanto menos recursos naturais gastos para
fazer um produto, mais barato ele se torna para as empresas e melhor para o meio
ambiente porque gastou menos matéria-prima e energia. Portanto, a ecoeficiência é um
requisito para a responsabilidade ambiental dos produtos/embalagens.
Baseado na definição do WBCSD, o autor deste trabalho propõe a seguinte definição
Embalagem ecoeficiente é aquela projetada para ter o mínimo impacto ambiental ao
longo do ciclo de vida, facilitar o processo de revalorização, atender suas funções
básicas e ser economicamente viável.
4
Tempo que uma máquina permanece fora de uso para ajuste ou manutenção.
53
Portanto introduzir a ecoeficiência ao sistema embalagem requer uma visão estratégica e
uma compreensão de como as partes do sistema se relacionam e são afetadas. Ao realizar
alguma ação em determinado ponto da cadeia, ela se reflete nos demais. Por isso é
importante conhecer o comportamento de cada parte do sistema e seu relacionamento com
o meio ambiente.
3.2.3 Tipos de embalagens
Para compreender o SE é importante conhecer qual o papel de cada tipo de embalagem
dentro do sistema e qual sua relação com o produto. De acordo com Cabral (2002), elas
são classificadas da seguinte maneira:
Primária: contém diretamente o produto. Conserva e divide o produto em porções
adequadas. São vendidas diretamente ao consumidor.
Display: apresenta o produto na gôndola. Devem atrair a atenção do consumidor e conter
as informações legais. Em alguns casos a embalagem primária exerce esta função.
Secundária: contém um múltiplo das embalagens primárias, são as caixas de papelão ou
fardos. Otimizam a paletização e logística. São vendidas para os varejistas.
• Terciária: unitizam as embalagens secundárias, são os paletes. Otimizam o transporte e a
logística.
Transporte: unitizam as embalagens terciárias em grandes movimentações, são os
containers.
54
Em suma, um produto deve ser projetado levando em conta estas embalagens. Todas têm
um papel importante para o SE cumprir os seus objetivos. Além disso a mudança em uma
delas afeta as demais. Por isso recomenda-se utilizar o projeto integrado ou engenharia
simultânea.
3.3 RELACIONAMENTO DO SISTEMA EMBALAGEM E O MEIO
AMBIENTE
A embalagem é um sistema aberto, por isso troca influências com outros agentes externos.
Estes sistemas, conforme ilustrados na figura 6, são: a indústria de matéria-prima
responsável por alimentar o SE, os atacadistas/varejistas que são os canais de venda, a
indústria de alimentos, o consumidor que é o destinatário final da embalagem e o meio
ambiente. O objetivo dessa seção é apresentar cada etapa do SE e qual a sua implicação
ambiental. Essas influências são baseadas em observações do autor com base nas
informações do capítulo 2 e na sua experiência e visão pessoal.
FIGURA 6 – AGENTES DA CADEIA DE EMBALAGEM
FONTE: CABRAL, 2002 APUD ARTHUR ANDERSEN BUSINESS CONSULTING
55
O sistema embalagem pode ser dividido em quatro níveis conforme mostra a figura 7. São
eles: ambiente externo, nível estratégico, nível intermediário e nível operacional (CABRAL,
2002). O Ecodesign permeia todo o SE e deve ser estudado nas fases de projeto e criação.
FIGURA 7 - O SISTEMA EMBALAGEM NOS NÍVEIS ESTRATÉGICO, INTERMEDIÁRIO E OPERACIONAL
FONTE: CABRAL, 2002
3.3.1 Ambiente externo
O ambiente externo é assim chamado por estar fora da empresa. Ele é formado por dois
elementos, os consumidores e os pontos-de-venda. Podem ser descritos resumidamente da
seguinte maneira (CABRAL, 2002):
Consumidor: é o ponto de partida do projeto. Um produto nasce da identificação ou
criação de necessidades de determinado público interessado em adquirí-lo. Fatores
culturais, sociais, pessoais e psicológicos influem na hora da compra. Estima-se que 53%
das compras em supermercados sejam feitas por impulso (KOTLER; ARMSTRONG, 1998).
56
Portanto, compreender os hábitos e tendências do consumidor é fundamental para projetar
uma embalagem que atenda suas expectativas, atraia sua atenção e transmita os atributos
do produto facilitando a venda.
Pontos-de-venda: são os locais onde os produtos são vendidos para o consumidor final.
Podem ser supermercados, lojas de conveniência, farmácias e outros. Os produtos ficam
expostos em gôndolas e os consumidores compram sem auxílio de um vendedor, isso é
chamado de auto-serviço. É o canal de ligação entre o produto e o destinatário.
Neste nível o consumidor é o principal agente de interação com o meio ambiente, porque ele
é o responsável pela disposição final das embalagens pós-consumo e pela escolha dos
produtos. A embalagem pode contribuir para educar ambientalmente o consumidor. Como
mencionado no capítulo 2, o consumo sustentável pode diminuir os impactos ambientais por
meio de duas ações. Primeiro, orientando os consumidores a praticarem a separação dos
resíduos domiciliares. Segundo, educando-os a comprarem só os produtos necessários
evitando o desperdício e selecionado embalagens adequadas ao seu perfil de consumo.
3.3.2 Nível estratégico
O nível estratégico é onde nasce a embalagem. É a fase de concepção e criação de um
novo produto/embalagem. É considerado estratégico porque todas as decisões tomadas
nessa fase determinarão o comportamento do restante do sistema. Está dividido em projeto
e criação.
Projeto: consiste na conceituação da embalagem. Desenvolve-se à partir da identificação
das necessidades e desejos dos consumidores, das oportunidades de mercado ou por
inovações tecnológicas. Requer o conhecimento das características do público alvo, dos
57
requisitos de processamento, proteção e conservação, da distribuição e comercialização,
das propriedades dos materiais e equipamentos. Também deve considerar a revalorização
da embalagem. A metodologia do projeto integrado é útil nesta etapa (HARTLEY, 1998).
Criação: esta etapa é geralmente realizada por um profissional especializado em design
de embalagem. Normalmente o departamento de marketing das empresas fornece um
estudo (briefing) detalhando o produto, a concorrência, o posicionamento da marca, o perfil
do consumidor, tendências de mercado e outras informações relevantes. Este profissional
traduz as informações em conceitos, ele é quem efetivamente desenha a embalagem que
irá ao ponto-de-venda. Algumas empresas fazem pesquisa junto ao consumidor para
selecionar a embalagem mais adequada.
As decisões tomadas na fase do projeto/criação influenciam diretamente no impacto
ambiental do sistema. As ações para minimizar o impacto ambiental pré ou pós-consumo
são afetadas pelo projeto. É nesse nível estratégico que o Ecodesign se encaixa!
3.3.3 Nível intermediário
Este nível está entre o estratégico e o operacional. Ele recebe as informações do nível
estratégico para efetivá-las junto aos fornecedores externos e envia para o nível operacional
concretizar o produto. É composto por três elementos, especificação, seleção de
fornecedores e departamento de compra (CABRAL, 2002).
Especificação: após a conclusão do projeto e criação, as propriedades da embalagem e
variações toleradas são formalizadas em três documentos utilizados como base para o setor
de compras: especificação técnica, arte final e plano de controle de qualidade.
58
Seleção de fornecedores: é responsabilidade deste departamento pesquisar e selecionar
os fornecedores, baseando-se em critérios técnicos e comerciais utilizando os documentos
fornecidos na especificação. Os fornecedores devem ser responsáveis pela qualidade do
materiais, prazos e também comprometidos com a qualidade do produto final.
Compras: é a efetivação do projeto da embalagem através da escolha final dos
fornecedores. Pode ser realizado de maneira centralizada em um departamento específico
de compras ou através de um comitê formado por profissionais de embalagem, cada um dos
meios têm suas vantagens e desvantagens.
As especificações técnicas e fornecedores afetam diretamente o impacto ambiental das
embalagens. Para um SE com responsabilidade ambiental, devem ser selecionados
materiais menos agressivos ao meio ambiente e optar por fornecedores com certificações
ambientais. Esta etapa pode ser beneficiada com a adoção de uma lista de conferência
(checklist) ambiental, ou seja, uma lista de exigências e recomendações para selecionar
materiais e fornecedores alinhados com os objetivos ambientais do projeto.
3.3.4 Nível operacional
Essa fase acontece dentro da planta da fábrica. É onde o produto e embalagem tornam-se
um elemento, o produto passa a existir como foi projetado. A fábrica recebe todos os
materiais e ingredientes dos fornecedores e transforma-os no produto que será
comercializado. Pode ser dividida em três etapas (CABRAL, 2002).
Recebimento/estocagem de embalagem: as embalagens adquirdas pelo departamento
de compra são recebidas e armazenadas obedecendo o FIFO (First In First Out), ou seja,
um sistema que permite sempre retirar do estoque o produto que está lá a mais tempo.
59
Envase: consiste no acondicionamento do produto dentro da embalagem. À partir deste
momento ela possui a função de armazenar, proteger e representar o produto até o
consumo final. A função da maquinabilidade da embalagem influencia nesta etapa, porque
deve diminuir os desperdícios de produto e materiais na linha de produção.
Estocagem do produto acabado: deve respeitar as condições ideais para manutenção
da qualidade do produto, ou seja, temperatura, umidade relativa, resistência ao
empilhamento, dentre outros. A partir dessa etapa inicia-se o processo de distribuição do
produto até os pontos-de-venda
Distribuição: compreende o transporte das embalagens/produtos do estoque das
empresas para os pontos-de-vendas. Envolve as caixas de papelão, paletização,
codificação e meios de transporte. A distribuição no entanto não está restrita ao vel
operacional, pois está presente em praticamente todos as etapas do SE. A distribuição é um
fator estratégico a ser considerado no projeto.
Neste vel destacam-se dois aspectos ambientais que são a linha de envase e a
distribuição. O primeiro pode afetar o meio ambiente tanto no consumo de energia, insumos
e emissões de resíduos de embalagens e produtos. Ferramentas como a “Produção Mais
Limpa” podem contribuir para minimizar o impacto ambiental desta etapa. A distribuição,
envolve o transporte e armazenagem dos produtos nos pontos-de-venda, é a ligação entre o
ambiente da fábrica e os agentes externos. As principais implicações ambientais estão no
consumo de energia e emissões causadas pelos veículos em geral, além do gasto de
energia com refrigeração quando necessário. O projeto de embalagem com
responsabilidade ambiental deve estar atento as estes fatores.
60
3.3.5 Conclusões sobre o sistema embalagem
Em suma, todos os níveis do sistema embalagem interagem entre si e com o meio
ambiente. Deste modo, nenhuma etapa pode ser desconsiderada porque afeta o meio
ambiente de uma maneira específica. Porém, todas estas interações e agentes devem ser
conciliados e agirem de forma harmonizada, focados nos princípios do Ecodesign, ou seja,
minimizar o impacto ambiental no ciclo de vida. Assim, é possível construir um sistema
embalagem com responsabilidade ambiental.
3.4 O SETOR DE ALIMENTOS E A EMBALAGEM
A indústria de alimentos brasileira cresceu de 157,80 para 184,60 bilhões de reais entre
2003 e 2005 como mostrado na tabela 6, um crescimento aproximado de 17%, enquanto a
população cresceu em torno de 3%. O setor é responsável pelo consumo de 61% das
embalagens produzidas no país (BRASILPACKTRENDS 2005, 2002 apud DATAMARK).
Estes dados revelam o aumento do consumo de produtos alimentícios no Brasil e por
consequência da indústria de embalagens. Isto significa maior oferta de marcas e produtos
para atender novos nichos de mercado como por exemplo os consumidores singles.
TABELA 6 – EVOLUÇÃO ECONÔMICA DA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS NO BRASIL
Conceito Unidade Fonte 2003 2004 2005
População Milhões de habit. IBGE 179,00 181,60 184,20
Indústria geral Bilhões de R$ IBGE 905,10 1086,9 1193,67
Indústria de alimentação
(1)
Faturamento líquido
Participação no PIB
Bilhões de R$
%
ABIA
ABIA
157,80
10,1
175,90
9,9
184,60
9,70
Indústria de alimentação
(2)
Bilhões de R$ ABIA 137,00 152,30 158,50
NOTA: (1) Considerando indústria de alimentos e bebidas. (2) Considerando apenas indústria de alimentos.
FONTE: Associação Brasileira da Indústria Alimentícia (ABIA), 2006
Embora o sistema embalagem seja específico para cada produto, existem similaridades. O
cuidado com o meio ambiente, ou seja, a responsabilidade ambiental permeia todos eles.
61
Deste modo, a necessidade de soluções para minimizar os impactos ambientais do setor,
devem acompanhar o crescimento do mercado de alimentos que impulsiona o de
embalagens. Contudo é preciso conhecer e educar melhor os consumidores, pois ele é o
destino final dos produtos e embalagens.
62
4 O MERCADO CONSUMIDOR SINGLE
4.1 O CONSUMIDOR COMO AGENTE DA CADEIA PRODUTIVA
No capítulo anterior o consumidor foi apresentado como o principal agente do sistema
embalagem. Conhecer suas necessidades e comportamento é fundamental para
desenvolver o projeto de embalagem. Neste trabalho o público alvo consumidor é a parcela
denominada single. Neste capítulo serão abordados seu comportamento, os canais-de-
venda, as embalagens single e sua interação com o meio ambiente.
Um produto nasce da identificação das necessidades do consumidor. Não se produz algo
que não tenha para quem vender. Ao mesmo tempo é o elo final da cadeia, pois conforme
ilustrado na figura 8, todos os processos têm como objetivo criar, produzir e levar o produto
a ele. Mundanças de comportamento causam alterações nos produtos e nas embalagens
influenciando todo o sistema. Portanto conhecer o consumidor é fundamental para um
projeto bem sucedido.
FIGURA 8 - MODELO DE COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
FONTE: KOTLER; ARMSTRONG, 1998
4.1.1 Conhecendo o comportamento do consumidor
Os consumidores são famílias ou indivíduos que compram bens e serviços para seu
consumo pessoal, são os destinatários finais para quais os produtos são criados, sendo seu
63
conjunto chamado de mercado consumidor. Cada indivíduo apresenta um modelo de
comportamento influenciado por características culturais, sociais, pessoais e psicológicas.
Este modelo determina como ele responde aos estímulos de marketing. Existem quatro tipos
de estímulos que são: produto, preço, ponto-de-venda e promoção, são conhecidos como os
quatros “Ps” do marketing. Estes estímulos entram na chamada "caixa preta" do consumidor
onde é traduzido e transformado em reações de compra. Entretanto as embalagens podem
ser consideradas como o quinto “P” (packaging) devido a sua importância nesse processo
(KOTLER; ARMSTRONG, 1998).
O desenvolvimento de uma embalagem em um mercado cada vez mais competitivo, não
pode estar restrita a atender as necessidades de custo, produção e proteção do produto. Ela
é uma importante ferramenta de vendas e informação. O crescimento do auto-serviço, ou
seja os mercados e supermercados onde os consumidores escolhem os produtos
diretamente de uma gôndola sem auxílio de um vendedor, transferiu esta tarefa para a
própria embalagem. Porém, a compra por impulso, comum nestas circunstâncias, é
questionável do ponto-de-vista do consumo sustentável que consiste em comprar o
necessário para evitar desperdício.
A partir da década de 1960 houve um aumento generalizado da preocupação da sociedade
com as questões ambientais, como descrito no capítulo 2. Isso gerou uma mudança gradual
no comportamento do consumidor. A tendência é terem maior responsabilidade ambiental
conforme demonstram pesquisas realizadas pelo Packworld Institute (PACKWORLD.COM,
2002) e IBOPE (1998). Pode ser que atualmente, esta influência não seja significativa, mas
tende a aumentar seu peso na decisão de compra. Portanto, as indústrias atentas a este
fato devem alinhar o SE com o desenvolvimento sustentável tornando-o ecoeficiente. Outro
agente do SE diretamente ligado aos consumidores são os varejistas.
64
4.1.2 Conhecendo os varejistas
Os varejistas são os responsáveis em vender o produto direto ao consumidor final.
Supermercados, lojas de conveniências e outros estabelecimentos comerciais, conhecidos
por auto-serviço, fazem parte desse universo. De acordo com o Ranking Abras 2006,
divulgado pela Associação Brasileira de Supermercados, o faturamento do setor
supermercadista atingiu R$ 106,4 bilhões em 2005 (LUKIANOCENKO, 2006). Considerando
que a tabela 6 mostra que em 2005 o faturamento total do setor de alimentos e bebidas
chegou a 184,60 bilhões de reais, pode-se deduzir que são responsáveis pela maior parte
da venda de alimentos.
Portanto, o foco deste trabalho está nos produtos destinados ao usuário final vendidos no
varejo através do auto-serviço. Neste ponto, cabe uma pergunta: se os varejistas têm por
obrigação conhecer o comportamento do consumidor para melhor atendê-lo, como este
comportamento pode afetar o projeto do sistema embalagem?
4.1.3 O relacionamento entre consumidor e embalagem
Neste trabalho foram citados inúmeras vezes as funções e importância da embalagem para
o consumidor. Porém é interessante observar uma pesquisa de 1999 realizada pela Pack
Futura e Artur Andersen (CABRAL, 2002). Na tabela 6 observa-se como as mudanças de
comportamento do consumidor refletem nas embalagens.
65
TABELA 7 – ASPECTOS MULTICULTURAIS QUE REFLETEM NAS EMBALAGENS
Valores/Posturas Implicações Influência nas embalagens
Família tradicional com
membros de hábitos
diferenciados
Diversificação das embalagens
enfocando o uso para a “pessoa”
Embalagens menores de fácil manuseio e
práticas
Aumento de lares com
uma só pessoa
Preferência por produtos de
conveniência e com sofisticação
Embalagens menores, mulfifuncionais e
de fácil armazenamento
Envelhecimento da
população
Pessoas com grande potencial
financeiro que buscam alimentos
mais saudáveis e uma vida mais
ativa
Busca por embalagens de produtos com
shelf-life (vida útil) menor e com
características ergonômicas que tragam
conveniência, segurança e que
contenham informações de fácil leitura e
instruções
Aumento da consciência
do saudável e da higiene
Necessidade de maior cuidado com
embalagens por toda a cadeia de
suprimentos e distribuição
Embalagens mais elaboradas, com maior
transparência nas informações e
materiais confiáveis que garantam
inviolabilidade
Consciência do
“ecologicamente correto”
Existência de uma maior
responsabilidade do setor de
embalagens e busca de maior
diversificação nas embalagens
Busca por embalagens recicláveis ou
reaproveitáveis
Stress, aumento das
horas trabalhadas e maior
valor ao lazer
Menos tempo de dedicação ao lar e
para cozinhar
Embalagens com conveniência,
reutilizáveis e ready-to-cook (próprias
para preparar o produto)
FONTE: Cabral, 2002 apud Pack Futura e Arthur Andersen Business Consulting, 1999
Na tabela 7 merecem atenção quatro atitudes e valores dos consumidores:
a) mudança ocorrida nas famílias onde cada membro possui hábitos diferenciados;
b) aumento de lares com uma única pessoa;
c) aumento de horas trabalhadas e menos tempo para realizar tarefas domésticas;
d) destaca-se a consciência do “ecologicamente correto”;
O autor acredita que no futuro as embalagens devem nascer da convergência destes
fatores. É interessante notar que eles sugerem embalagens menores e mais práticas,
algumas das exigências do consumidor single.
4.2 O CONSUMIDOR SINGLE
Os consumidores podem ser agrupados e classificados segundo vários fatores. Podem ser
divididos por sexo, classe social, estilo de vida, hábitos de consumo e necessidades de
66
compras, dentre outros. Esse processo de classificação dos consumidores chama-se
segmentação do mercado. O público chamado single é um desses segmentos.
O termo single é utilizado nos EUA para designar um segmento de mercado caracterizado
por pessoas que moram sozinhas ou tem hábitos de consumo particulares (KAMIO, 2002). É
um público amplo formado por pessoas de diferentes perfis. São jovens que moram
sozinhos, casais que não querem ter filhos, pessoas separadas, viúvos, homossexuais e
outros.
O modelo familiar tradicional onde as famílias eram numerosas e existia a figura da mulher
dedicada a cuidar do lar, vem sofrendo alterações. As mulheres trabalham fora e os
membros da família não fazem mais refeições juntos, pois cada uma tem seus próprios
horários e hábitos alimentares. Essas mudanças ocorridas na sociedade e nas rotinas das
famílias também contribuiram para o aumento desse segmento de mercado.
4.2.1 O tamanho e características da população
Através das pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre a
população brasileira é possível identificar o tamanho aproximado desse segmento. Em 1991
apenas 5,7% dos domicílios tinham apenas um morador, em 2000 esse número chegava a
9,1%, um crescimento de 18% nos últimos sete anos. Isso demonstra que a população
single corresponde a aproximadamente 9% das residências brasileiras (IBGE, 2002). Esses
valores correspondem a aproximadamente 4 milhões de pessoas ou 8,6% da população
nacional. As regiões metropolitanas de Porto Alegre (13,5%) e Rio de Janeiro (11,3%) são
as que apresentaram o maior índice de domicílios com uma única pessoa. Portanto, estes
dados provam que é cada vez maior o número da população single no Brasil.
67
Além do fato de viverem sozinhos, este público tem uma característica em comum: possuem
um alto poder aquisitivo e não se importam em pagar mais caro para ter conforto, posssuem
alta escolaridade, alta renda e nível cultural. São pessoas esclarecidas que sabem avaliar
muito bem a relação custo-benefício dos produtos (PACHECO, 2002). Enfim, não se
importam em pagar mais caro para satisfazer suas necessidades. Estas pessoas devem
inclusive ter maior preocupação com o meio ambiente.
4.2.2 Hábitos de consumo
Os hábitos de consumo são as características de comportamento do consumidor em relação
à compra de um produto. De acordo com a pesquisa do instituto Sense Envirosel, os
atributos mais valorizados pelo público single são: praticidade, comodidade e conforto.
"Essas pessoas são sozinhas por opção ou porque têm dificuldades em partilhar seu tempo
com os outros, prezam o tempo e a objetividade e quando entram na loja sabem exatamente
o que vão comprar e não compram apenas por impulso” (NIGRO, 2002).
Outras características do público single são: fidelidade às lojas e marcas; exigentes, não
costumam fazer compras grandes; compram para satisfazer uma necessidade imediata ou
de até três dias; preferem lojas menores (NIGRO, 2002); são politicamente corretos e não
aceitam desperdício (PACHECO, 2002), fato que demonstra a preocupação ambiental deste
público. Tendo em vista o crescimento desse segmento, qual foi a reação do setor de
alimentos e do SE?
4.3 O SETOR DE ALIMENTOS E A EMBALAGEM SINGLE
Antes de abordar o mercado de alimentos para esse público é importante definir o que é
uma embalagem single de alimento. Neste trabalho a definição utilizada é a seguinte: são
68
embalagens que acondicionam porções reduzidas dos produtos para atender as
necessidades de consumo instantâneas de uma pessoa. Um exemplo são os alimentos
congelados prontos ou semi-prontos em porções individuais.
4.3.1 Expectativas do consumidor em relação à embalagem
É possível identificar algumas diferenças entre o consumidor single e as famílias em relação
às expectativas sobre as embalagens. Segundo pesquisas feita pela ABRE (Associação
Brasileira de Embalagem) em 2002, comparando os dois grupos chegou-se no seguinte
resultado. Os singles dão preferência a quantidades menores e às porções individuais,
buscando comodidade e praticidade. As famílias valorizam as quantidades maiores, a
reutilização e embalagens para crianças, tendo o foco na economia e na objetividade.
Embora embalagens infantis apresentem porções menores, estão restritas a produtos para o
público infantil, não atendendo as necessidades do consumidor adulto (ABRE, 2002).
4.3.2 O mercado de alimentos single no Brasil
Através da pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa LatinPanel (TEIXEIRA, 2003) foram
identificadas algumas características no mercado de alimentos para single. Segundo a
pesquisa, estes consumidores são o alvo preferencial para produtos práticos de uso
individual, como pratos semiprontos, docinhos, coberturas, salgadinhos para
acompanhamento etc. Deve-se considerar que 22% de todos domicílios das classes A e B
estão nesta categoria. Consomem 27% do requeijão e dos sorvetes vendidos no Brasil, 38%
do adoçante e 24% do café solúvel. Com isso o segmento do mercado que trabalha com
sachês e porções para uma ou duas pessoas responde em torno de 5% e 10% do
faturamento total do setor de alimentos e bebidas que deve chegar a R$ 150 bilhões no ano
de 2003 (TEIXEIRA, 2003).
69
Entretanto as projeções demográficas e econômicas da população brasileira apontam para
uma polarização do mercado, que se divide em duas categorias: grande classe média baixa,
onde o foco dos produtos é o custo, e a classe média expandida com foco no valor
agregado. A classe média expandida estima-se que será constituída de aproximadamente
30 milhões pessoas (BRASILPACKTRENDS 2005, 2002). Dentro dessa classe média está
inserido o consumidor single. Isso reforça a expectativa do aumento da demanda por estes
tipos de produtos e embalagens.
4.3.3 Produtos e embalagens disponíveis
De acordo com a definição para embalagem single apresentada, é possível identificar
produtos encontrados nos supermercados brasileiros para atender essa população.
Empresas como a Perdigão e a Sadia têm linhas de pratos congelados para uma ou duas
pessoas. Têm também embalagens de frios com somente algumas fatias para um único
lanche. Nestlé e Unilever têm sachês com porções individuais de sopas. A marca de sucos
em Clight lançou uma embalagem de suco em pó para fazer um único copo, a marca Dr.
Oetker também lançou chás em embalagens individuais. Isso aumenta a variedade de
produtos para este segmento.
Hoje é possível encontrar biscoitos e sorvetes de massa em porções para single. A Dan
Vigor possui em sua linha de queijos minas frescal da marca Danubio opções de
embalagem em 250g e 65g. Além disso, encontram-se frutas e saladas preparadas em
porções individuais nos supermercados da rede Pão de Açúcar. Segundo constatou
pessoalmente o autor deste trabalho, estão à venda porções individuais de frutas, verduras
e saladas pré-lavadas. As indústrias de alimentos e os varejistas estão atentos a este nicho
de mercado.
70
Portanto existem uma série de produtos desde massas frescas e arroz com porções para
um prato, à potes de refeições desidratadas instantâneas. Após pesquisar diversos produtos
singles, o autor selecionou alguns deles para analisar as diferenças entre as embalagens
das porções maiores e menores. O critério da escolha foi selecionar produtos do mesmo tipo
e da mesma marca que são vendidos tanto em porções familiares como individual. A seguir
mais detalhes sobre esta análise.
4.3.4 Embalagem familiar versus single
A diferença mais significativa entre embalagens familiares e singles está na quantidade da
porção de produto acondicionado. A tabela 8 compara o pesos dos produto e das
embalagens de alimentos de diversos tamanhos. Nela estão as quantidades de embalagens
por produto, o tipo de material, o peso do produto e das embalagens, bem como a relação
entre peso do produto por peso de embalagem. O objetivo deste comparativo é confirmar a
hipótese de quanto menor a quantidade de produto maior é o peso da embalagem.
71
TABELA 8 - COMPARATIVO ENTRE PESO DA EMBALAGEM FAMILIAR E SINGLE
Produto Marca
embal.
Material
Peso
produto (g)
Peso
embalagem (g)
Peso produto/
embalagem
biscoito Bono 1 flexível 200g 1,89 0,01
biscoito Bono 7 flexível 240g 7,13 0,03
sopa em pó Knorr 1 flexível 190g 5,82 0,03
sopa em pó Knorr 1 flexível 74g 3,80 0,05
sopa em pó Knorr 1 flexível 38g 3,32 0,09
sopa em pó Knorr 1 flexível 17g 2,32 0,14
suco em pó Clight 1 flexível 10g 1,66 0,17
suco em pó Clight 11 flexível 22g 7,09 0,32
extrato tomate Tomatino 1 lata 350g 44,06 0,13
extrato tomate Tomatino 1 lata 140g 26,03 0,19
suco líquido Ades 1 tetrapak 1000ml 36,48 0,04
suco líquido Ades 1 tetrapak 250ml 13,36 0,05
arroz Tio João 1 flexível 1000g 4,58 0,00
arroz Tio João 9 flexível 1000g 20,33 0,02
arroz Tio João 3 flexível 250g 12,13 0,05
macarrão Adria 1 flexível 500g 5,22 0,01
macarrão Adria 1 flexível 80g 3,48 0,04
chá líquido IcedTea 1 plástico rígido
1500ml 42,28 0,03
chá líquido IcedTea 1 plástico rígido
500ml 27,47 0,05
cereal matinal Quaker 6 cartão/flexível
200g 34,92 0,17
cereal matinal Quaker 2 cartão/flexível
250g 20,36 0,08
cereal matinal Grainflakes 1 flexível 300g 6,56 0,02
café solúvel Nescafé 1 vidro 100g 267,62 2,68
café solúvel Nescafé 1 vidro 50g 157,6 3,15
pipoca microondas Yoki 2 flexível/papel 100g 16,78 0,17
milho pipoca Yoki 1 flexível 500g 3,70 0,01
flocos milho Sucrilhos 2 cartão/flexível
345g 54,95 0,16
flocos milho Sucrilhos 2 cartão/flexível
23g 12,04 0,52
Lasanha Sadia 2 cartão 350g 46,14 0,13
Lasanha Sadia 2 cartão 650g 61,07 0,08
NOTA: as embalagens foram pesadas em balança semi-analítica modelo Marte A1000
A seguir, no gráfico da figura 9 é possível visualizar as diferenças da relação de peso
produto/embalagem entre o tamanho familiar e o individual para cada produto. Para os
produtos que apresentaram mais de dois tamanhos de embalagem foram selecionados a
maior e a menor porção. No gráfico, ao lado direito, estão as relações entre peso
produto/embalagem familiar dividido por single.
72
FIGURA 9 - GRÁFICO COMPARATIVO ENTRE PESO DA EMBALAGEM/PRODUTO
No gráfico da figura 9, pode-se observar que as embalagens singles apresentam em todos
os casos analisados a relação entre peso de produto por peso embalagem maior que a
familiar. Entretanto, para encontrar um padrão entre os valores, os produtos foram
agrupados em conjuntos. Deste modo, 9 dos 13 produtos têm relação entre
produto/embalagem familiar dividido por single menor ou igual a 2. A lasanha esta inclusa
neste grupo majoritário. A seguir estão as relações dos conjuntos.
73
Relação familiar/single 2 = 9 produtos
Relação familiar/single > 2 = 4 produtos
A seguir, na tabela 9, foram comparados os preços de varejo com o peso do produto. O
objetivo deste comparativo é confirmar que quanto menor a quantidade de produto maior é
seu custo.
TABELA 9 – COMPARATIVO ENTRE PESO/PREÇO DE PRODUTO DA EMBALAGEM FAMILIAR E SINGLE
Produto Marca Peso produto Preço (R$) Preço/peso produto (R$/g)
Biscoito Bono 200g 1,65 0,008
Biscoito Bono 240g 4,33 0,018
sopa em pó Knorr 190g 4,83 0,025
sopa em pó Knorr 74g 2,83 0,038
sopa em pó Knorr 38g 2,83 0,074
sopa em pó Knorr 17g 1,44 0,084
suco em pó Clight 10g 0,71 0,071
suco em pó
(1)
Clight 22g 2,70 0,122
extrato tomate Tomatino 350g 1,75 0,005
extrato tomate Tomatino 140g 1,16 0,008
suco líquido Ades 1000ml 3,08 0,003
suco líquido Ades 250ml 1,12 0,004
Arroz Tio João 1000g 1,88 0,001
Arroz Tio João 1000g 3,66 0,003
Arroz Tio João 250g 4,02 0,016
Macarrão Adria 500g 1,49 0,002
macarrão Adria 80g 0,84 0,010
chá líquido IcedTea 1500ml 4,65 0,003
chá líquido IcedTea 500ml 2,10 0,004
cereal matinal Quaker 200g 3,59 0,017
cereal matinal Quaker 250g 2,56 0,010
cereal matinal Grainflakes 300g 6,56 0,021
café solúvel Nescafé 100g 7,31 0,073
café solúvel Nescafé 50g 5,96 0,119
pipoca microondas Yoki 100g 1,19 0,011
milho pipoca Yoki 500g 1,40 0,002
flocos milho Sucrilhos 345g 6,40 0,018
flocos milho Sucrilhos 23g 1,12 0,048
lasanha Sadia 350g 5,10 0,014
lasanha Sadia 650g 7,20 0,011
NOTA: Preços consultados no site www.paodeacucar.com.br em 27 nov. 2006
(1) Preço aproximado do ano de 2005
A seguir, no gráfico da figura 10 é possível visualizar as diferenças entre peso de produto
por preço de embalagem entre familiar e single. No lado direito do gráfico estão as relações
entre peso/preço dos produtos familiares e single.
74
FIGURA 10 - GRÁFICO COMPARATIVO ENTRE PREÇO/PESO DOS PRODUTOS
De acordo com a figura 10 pode-se observar que 11 dos produtos apresentam um custo
maior para embalagem single. A relação entre produtos familiares e singles foram
agrupadas em conjuntos como mostrado abaixo.
Relação familiar/single 1 = 11 produtos
Relação familiar/single > 1 = 2 produtos
Portanto, através da análise dos produtos foi possível confirmar as seguintes hipóteses em
relação a embalagem single. Primeiro, quanto menor a quantidade de produto, maior o peso
da embalagem. Segundo, alguns produtos singles podem apresentar uma quantidade maior
75
de embalagens por utilizar sachês individuais para cada porção. Por último, na maior parte
dos produtos comparados, o preço por grama de produto é maior nas embalagens singles.
Um exemplo é o da lasanha congelada. Pertence aos conjuntos majoritários de peso de
produto por embalagem e de preço por peso de produto.
4.4 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Em suma, foi confirmado que os produtos singles gastam mais material de embalagem para
acondicionar uma quantidade menor, além de terem um custo maior. Pode-se concluir que
consomem mais energia, insumos e matéria-prima para produção das embalagens. Por sua
vez, também aumenta a quantidade de material de embalagem gerado no final do processo.
Contudo, o produto single atende as necessidades de consumo do mercado e pode reduzir
o desperdício de alimento. Porém, será possível desenvolver uma embalagem single com
eficiência ambiental? Esta resposta pode ser obtida através da aplicação da metodologia do
Ecodesign no sistema embalagem.
76
5 O ECODESIGN
5.1 INTRODUÇÃO
O conceito denominado Ecodesign neste trabalho também é conhecido por outros nomes. O
autor Fiksel (1995) e a Environmental Protect Agency (EPA) ambos americanos, utilizam o
termo Design for Environment (DfE), cuja tradução literal para o português é “Projeto para o
Meio Ambiente”. Por outro lado, autores como Brezet e Hemel (1997) optaram pelo termo
Ecodesign. No Brasil, a FIESP utiliza a palavra Ecodesign quando nomeia o concurso
homônimo que promove. Já, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), traduziu
o relatório técnico ISO/TR 14062 como “Integração de aspectos ambientais no projeto e
desenvolvimento do produto”. Portanto, não havendo um consenso sobre o termo, o autor
optou em utilizar a palavra Ecodesign neste trabalho, lembrando que seu significado
corresponde aos demais termos citados.
Neste capítulo serão apresentados os principais conceitos e ferramentas do Ecodesign, bem
como um resumo das principais metodologias pesquisadas.
5.1.1 Definição de Ecodesign
De acordo com a fonte pesquisada o Ecodesign apresenta diferentes definições. Segundo,
Fiksel “é um conjunto específico de procedimentos de projeto com objetivo de criar produtos
e processos ecoeficientes” ou “é um sistema de projetar onde o desempenho respeita o
meio ambiente, a saúde e a segurança em todo o ciclo de vida do produto e do processo”
(FIKSEL, 1995).
77
Para Brezet e Hemel o Ecodesign é entendido como uma metodologia onde os aspectos
ambientais direcionam as decisões do projeto e têm o mesmo peso de outros valores como
custo, qualidade, ergonomia e estética. A palavra Ecodesign implica no equilíbrio entre
fatores ecológicos e econômicos no desenvolvimento de um produto. Deve considerar os
aspectos ambientais em todo o ciclo de vida, empenhando-se em produzir o menor impacto
possível. Também deve convergir para a produção e consumo sustentável. (BREZET;
HEMEL, 1997).
Para Lewis e Gertsakis, o Ecodesign é uma oportunidade de fazer intervenções no
desenvolvimento do produto para eliminar ou reduzir impactos ambientais. É uma
ferramenta que pode proporcionar ganhos ambientais e comerciais com base na seguinte
filosofia “é melhor prevenir que remediar” (LEWIS; GERTSAKIS, 2001).
Em resumo, considerando as definições apresentadas o autor desta pesquisa chegou a
seguinte definição o Ecodesign é uma metodologia de projeto cujo objetivo é
otimizar o desempenho ambiental dos produtos ao longo do ciclo de vida, criando
produtos e embalagens ecoeficientes, proporcionando, desta forma, benefícios
econômicos, sociais e ambientais para as empresas, para os consumidores e para o
meio ambiente.
Por fim, é importante fazer uma distinção entre o conceito de Ecodesign e seus
procedimentos. O termo Ecodesign representa a idéia de otimizar o desempenho ambiental
do produto, mas como isso dever ser feito depende de cada autor, não existe um
procedimento ou ferramenta padrão. Porém, as ferramentas apresentadas neste capítulo
apoiam-se principalmente na metodologia de dois autores, Fiksel (1995) e Brezet e Hemel
(1997).
78
5.1.2 Histórico
O conceito de Ecodesign surgiu nos EUA em 1992. As indústrias do setor eletroeletrônico
norte-americanas sob a liderança da American Eletronics Association, introduziram a
conscientização ambiental na filosofia das empresas. Isso resultou em práticas de projeto
voltadas para o meio ambiente chamadas naquele país de Design for Environment. Dois
pilares apoiaram o nascimento do Ecodesign, a Gestão Integrada e o Desenvolvimento
Sustentável como mostrado na figura 11. Portanto a convergência dessas duas tendências
criou um solo fértil para o Ecodesign germinar (FIKSEL, 1995).
FIGURA 11 - O ECODESIGN ENTRE GESTÃO INTEGRADA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
FONTE: ADAPTADO DE FIKSEL, 1995
Neste cenário, o Ecodesign tornou-se uma ferramenta para as empresas atingirem o
desenvolvimento sustentável. Mas para chegar a este objetivo elas precisavam ser
ecoeficientes ou seja, produzir mais produtos com menos recursos ambientais (WBCSD,
2004). Através de uma metodologia de projeto focada na responsabilidade ambiental, o
Ecodesign contribui para o setor industrial atingir a meta do desenvolvimento sustentável,
além de favorecer a gestão sistêmica.
79
5.1.3 Benefícios e motivações para adotar o Ecodesign
Os setores de embalagens e alimentos, o foco desse trabalho, podem se beneficiar de
várias formas com a utilização do Ecodesign. Os benefícios variam desde a melhora da
imagem de seus produtos perante o consumidor através da criação de produtos
ecoeficientes, a otimização de custos e até adequação dos produtos a futuras normas e
legislações ambientais. A tabela 10 apresenta alguns benefícios proporcionados pelo
Ecodesign.
TABELA 10 – BENEFÍCIOS E RESULTADOS DA UTILIZAÇÃO DO ECODESIGN
Benefícios Resultados
Senso de responsabilidade
Aumento da consciência ambiental no nível das gerências das
empresas e por consequência dos demais funcionários (ótica sistêmica)
Reduzir custos Diminuição de gastos com materiais, energia e descarte dos produtos
Melhorar a imagem da empresas A empresa passa a ter uma imagem de responsabilidade ambiental
Melhorar o produto
O aumento do desempenho ambiental pode acarretar em melhorias da
qualidade dos produtos
Adequar à legislação
Muitos países têm legislação ambiental rígidas para seus produtos e
incentivando a criação de produtos ecológicos, como os “selos verdes”
Adequar às normas internacionais
O relatório técnico ISO/TR 14062 sobre aspectos ambientais do projeto
e desenvolvimento do produto, pode tornar-se uma norma internacional
e ser exigida das empresas para exportarem seus produtos,
transformando-se em uma barreira não-comercial
Atender a demanda ecológica
Aumenta a conscientização dos consumidores em geral, que procuram
produtos menos agressivos ao meio ambiente
Fonte: National Research Council of Canada, 2004
Para uma equipe de projeto que toma decisões baseadas na visão sistêmica, o Ecodesign
introduz um elemento novo. Ele incorpora as questões ambientais no sistema embalagem
em todos os níveis. Dessa forma, por se tratar de uma metodologia de projeto de natureza
sistêmica, pois trata o produto considerando seu ciclo de vida, aplica-se perfeitamente ao
projeto de embalagem.
Em suma, para as empresas que ainda não consideram suas embalagens e produtos do
ponto de vista sistêmico, o Ecodesign pode ser uma oportunidade para fazê-lo. Para
80
implantá-lo é preciso conhecer todos os aspectos do produto, aumentar o monitoramento
dos processos e a capacidade de aprendizagem das equipes. Desta forma o trabalho
conjunto através do projeto integrado e a compreensão do sistema embalagem torna-se um
pré-requisito para o Ecodesign. A busca da ecoeficiência estimula a criatividade e a
inovação dentro das equipes de projeto. Neste ponto, cabe uma pergunta: o que vem a ser
exatamente a ecoeficiência?
5.2 ECOEFICIÊNCIA
5.2.1 Definição de ecoeficiência
Eficiência pode ser definida como a relação entre os recursos programados para entrar no
sistema e os recursos efetivamente consumidos. Por exemplo: se a provisão de consumo de
recursos para produção de um determinado produto for duas unidades e o consumo real
também for duas unidades, pode-se dizer que o processo estava dentro do previsto. Se o
consumo de recursos gastos no processo fosse uma unidade, ou seja, menor que o
previsto, pode-se dizer que o processo foi mais eficiente.
O termo ecoeficiência surgiu em 1992, no livro Change Course de Stephan Schmidheiny.
Ele definiu este conceito como criar produtos e serviços reduzindo continuamente o
consumo de recursos e poluentes” ou seja, “produzir mais com menos impacto”. Em 1993, o
WBCSD aprimorou o conceito definindo ecoeficiência
5
do seguinte modo — "ecoeficiência é
fornecer bens e serviços a preços competitivos de modo que satisfaçam as necessidades
humanas, tragam qualidade de vida e reduzam progressivamente tanto impacto ambiental
quanto o consumo de recursos dentro de um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de
sustentação da Terra” (WBCSD, 2000).
5
Disponível em: http://www.wbcsd.org
81
Resumindo, ecoeficiência é uma filosofia de gerenciamento que une melhorias ambientais
ao crescimento econômico, cuja consequência seria o desenvolvimento sustentável.
Portanto, através da eliminação de desperdícios e melhorias no uso dos recursos, as
empresas ecoeficientes podem reduzir custos e tornarem-se mais competitivas. Um
exemplo de ecoeficiência é reduzir o consumo de energia e emissões no processo de
produção. Desse modo ela se baseia em dois eixos, o desempenho econômico e ambiental.
5.2.2 Os três aspectos da ecoeficiência
O WBCSD com a intenção de auxiliar as empresas a buscarem a ecoeficiência, dividiu-a em
três objetivos: recursos sustentáveis (materiais, energéticos e água), processos limpos e
produtos ecoeficiêntes, que podem ser resumidos da seguinte maneira (FIKSEL, 1995):
Recursos sustentáveis: procura minimizar os gastos com material e energia para cada
unidade de produto fabricado, além de, na medida do possível, utilizar recursos energéticos
e materias renováveis.
Processos limpos (produção mais limpa): significa a aplicação contínua de uma
estratégia preventiva econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e
produtos, a fim de aumentar a eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, através
da não-geração, minimização ou revalorização de resíduos gerados em um processo
produtivo.
Produtos ecoeficientes: de acordo com o Ministério do Meio Ambiente produto
ecoeficiente foi definido com as seguintes palavras “produto não-poluente, não-tóxico,
reciclável, notadamente benéfico ao meio ambiente e à saúde, contribuindo para o
82
desenvolvimento de um modelo econômico e social sustentável. O uso de matérias-primas
naturais renováveis, obtidas de maneira sustentável, o reaproveitamento e a reciclagem de
matérias-primas sintéticas por processos tecnológicos limpos são os primeiros itens de
classificação de um produto ecologicamente correto” (BRASIL MMA, 2004).
Em resumo, para uma empresa tornar-se ecoeficiente deve-se combinar estes três
elementos. Como o foco deste trabalho é embalagens de alimentos, um projeto ecoeficiente
será caracterizado pela sinergia entre estes três fatores mostrados na figura 12.
FIGURA 12 – ELEMENTOS DA ECOEFICIÊNCIA
5.2.3 Ecoeficiência no projeto de embalagem
No capítulo 3 embalagem ecoeficiente foi definida como sendo “aquela projetada para ter
o mínimo impacto ambiental ao longo do ciclo de vida por meio da redução dos gastos de
matérias-prima, energia e emissões, da otimização da disposição final facilitando o processo
de revalorização, além de cumprir suas funções básicas e ser economicamente viável.” A
figura 13 apresenta o sistema embalagem em quatro etapas com exemplos de possíveis
medidas para otimizá-las.
83
Produção mais limpa
Gasto energético menor
REDUÇÃO DO
IMPACTO NA
PRODUÇÃO
REDUÇÃO DO
IMPACTO NO
CONSUMO
Porções adequadas para
diminuir desperdício
Informações de como dispor
a embalagem pós-consumo
SISTEMA
EMBALAGEM
ECOEFICIENTE
Otimização do transporte
Otimização da
paletização
REDUÇÃO DO
IMPACTO NA
DISTRIBUIÇÃO
REVALORIZAÇÃO
DAS EMBALAGENS
PÓS-CONSUMO
Materias recicláveis,
embalagens retornáveis ou
com menos elementos
Faciliade de identificação do
material
FIGURA 13 – SISTEMA EMBALAGEM ECOEFICIENTE
Outro ponto a ser considerado é que a adoção de uma medida pode inviabilizar outra, por
isso é necessário definir as prioridades ambientais do sistema embalagem. Portanto, o
Ecodesign é uma metodologia de projeto que engloba os três níveis da ecoeficiência
apresentados na figura 12 e pode ser utilizada no projeto de sistemas embalagens
ecoeficientes.
5.3 ENGENHARIA SIMULTÂNEA
Para se manterem competitivas as empresas precisam de qualidade, integração e
flexibilidade em seus sistemas produtivos. No início dos anos 1980, as empresas
procuraram aumentar o grau de paralelismo entre as diferentes atividades e setores. Surgiu
a partir deste momento a engenharia simultânea também chamada de concorrente ou
paralela (HARTLEY, 1998).
Seu objetivo é executar diversas etapas de engenharia ao mesmo tempo. Antes na
engenharia seqüencial uma nova atividade era realizada após o término da anterior. A
84
engenharia simultânea leva à diminuição do tempo de desenvolvimento de um novo produto,
porque o paralelismo das atividades pode antecipar possíveis problemas (HARTLEY, 1998).
A engenharia simultânea requer uma abordagem sistêmica e a formação de equipes
multidisciplinares unindo os diversos setores da engenharia e outras áreas como por
exemplo marketing, vendas e suporte. Ela aproxima a equipe de projeto da fabricação do
produto. As pessoas envolvidas no desenvolvimento devem trabalhar em sinergia e
simultaneamente considerando desde o início todos os elementos do ciclo de vida do
produto, desde a concepção até o final da vida útil.
5.3.1 Procedimentos de engenharia simultânea para embalagem
No desenvolvimento de SE para alimentos, conforme descrito no capítulo 3, diversos
profissionais estão direta ou indiretamente ligados ao projeto. Em consequência, no projeto
integrado de embalagem, sinônimo de engenharia simultânea, os profissionais de
departamentos diferentes como marketing, engenharia, pesquisa e desenvolvimento (P&D),
produção e logística devem trabalhar em conjunto. Além disso devem participar do projeto,
profissionais externos como os fabricantes de embalagem e as agências de design. Com
isso o ideal seria ter um gerente estratégico do sistema embalagem.
O projeto integrado de desenvolvimento de sistemas de embalagem possui quatro fases
distintas e interativas, considerando-se que em todas as fases existem profissionais
competentes para executar com qualidade todas as atividades (CABRAL, 2002).
1. Analítica - desenvolve-se no ambiente interno da empresa e compreende: coleta e
análise de dados do mercado ou seja interpretar as necessidades do consumidor
identificando oportunidades e problemas.
85
2. Planejamento - avalia os dados da fase anterior e toma uma decisão, iniciando o projeto
integrado com a inclusão das agências e fornecedores.
3. Elaboração do conceito da embalagem - determina as características e personalidades
da embalagem.
4. Execução - coloca em prática o desenvolvimento do sistema embalagem.
5.3.2 Ecodesign integrado ao projeto
Por sua própria natureza holística, o Ecodesign pode existir em projetos integrados, uma
vez que considera todos os aspectos do ciclo de vida do produto. O Ecodesign deve estar
presente em todas as etapas do projeto, desde seu início e não apenas como um elemento
acessório. Por isso a equipe de projeto ao utilizá-lo deve estar familiarizada com a
engenharia simultânea.
5.4 MEDIDAS AMBIENTAIS (ECO-INDICADORES)
No contexto do Ecodesign, medidas ambientais são parâmetros usados para medir a
melhoria do projeto em relação às metas ambientais. As medidas de qualidade são
essenciais para o sucesso do Ecodesign, sendo um elemento chave. um ditado em
administração que diz “você não pode administrar ou melhorar aquilo que não pode medir.”
Existem numerosos tipos de medidas de desempenho ambiental, devendo a equipe de
projeto escolher as mais adequadas para seus objetivos. Para isso as medidas ambientais
devem ser avaliadas segundo o ciclo de vida do produto no inicio do desenvolvimento.
86
5.4.1 Tipos de medidas ambientais
A tabela 11 apresenta alguns exemplos de medidas de desempenho ambiental.
TABELA 11 – TIPOS DE MEDIDAS AMBIENTAIS
Tipos de medidas Exemplos
Para uso de energia
Energia total consumida durante o ciclo de vida do produto
Energia renovável consumida no ciclo de vida
Energia elétrica usada
Para uso de água
Consumo de água durante o processo
Água consumida durante o uso final do produto
De material perigoso
Material tóxico usado na produção
Resíduos totais gerados durante a produção
Resíduos tóxicos gerado durante produção
Emissões no ar e na água gerada durante a produção
Gases causadores do efeito estufa
Para recuperação ou reuso
Tempo de desmontagem e recuperação do produto
Percentual de material reciclável disponível no fim da vida útil
Percentual de produto revalorizável ou reusável
Percentual de material reciclado usado no produto
De exposição e risco
Concentração de poluentes ambientais
Estimativa da população anual com incidência de efeitos causados por danos
ambientais
Econômicas
Custo médio do ciclo de vida da fabricação
Custo de venda para consumidor
Custos associados com melhorias de projeto
FONTE: Fiksel, 1995
5.4.2 Relação entre metas e medidas ambientais
Existem medidas primárias que podem ser utilizadas pelas equipes de projeto para
determinar objetivos gerais. Entretanto para serem utilizadas na melhoria da qualidade do
produto, estas metas precisam ser decompostas em medidas operacionais que podem ser
controladas e observadas.
O método exposto por Fiksel (1995), consiste em identificar os objetivos ambientais a serem
atingidos pelo produto, depois aplicar um tipo de medida que será utilizada, em seguida
definir o objetivo específico ou seja quantificar o quanto se deseja atingi-la através da
melhoria contínua. Por exemplo, supondo que o produto seja um detergente líquido, o
objetivo é criar uma embalagem com material reciclado, a unidade escolhida será a
87
porcentagem de material reciclado por massa de embalagem, o objetivo específico será
obter uma embalagem com até 80% de material reciclado dentro do processo de reciclagem
determinado, mantendo a proteção do produto. A tabela 12 apresenta algumas sugestões
de como transformar metas em medidas ambientais.
TABELA 12 - RELAÇÃO ENTRE METAS AMBIENTAIS E MEDIDAS
Metas Medidas Objetivos específicos
Gramas de emissões no ciclo de vida
Reduzir emissões do CV para 30%
anualmente
Reduzir ou
eliminar resíduos
Porcentagem por peso de produto
descartado
Reduzir o resíduo sólido descartado
para 1 grama por unidade de produto
Porcentagem em peso de produto
recuperado ou reciclado
Atingir 95% de reciclagem
Desenvolver
produtos
recicláveis Geração de resíduos sólidos
Reduzir a quantidade de resíduos no
final da vida útil
Reduzir o custo do ciclo
de vida do produto
Custo de fabricação
Reduzir o custo de fabricação para
$7500 por unidade de produto
Reduzir o custo do
produto para os
consumidores
Custo operacional e de venda ao ano Reduzir para $500 por ano
Total de energia por unidade produzida
Reduzir para 10% anualmente
Conservar o consumo
de energia no CV Consumo de energia média no uso do
produto
Diminuir para 30 Watts
Conservar recursos
naturais pelo aumento
de materiais reciclados
Porcentagem de materiais reciclados por
peso de produto
Atingir 20% ou mais do total de
materiais reciclados
FONTE: Fiksel, 1995
5.4.3 Transformação de medidas primárias em operacionais
As medidas primárias do exemplo anterior podem ser transformadas em operacionais como
mostrado na figura 14. Elas podem ser definidas como um modelo de integração que
relaciona o desempenho das atividades da empresa com o desepenho ambiental. São mais
específicas, como por exemplo, número de defeitos por unidades produzidas (FIKSEL,
1995).
88
FIGURA 14 - EXEMPLOS DE MEDIDAS PRIMÁRIAS E OPERACIONAIS
FONTE: FIKSEL, 1995
5.4.4 Medidas qualitativas e quantitativas
As medidas podem ser classificadas em qualitativas ou quantitativas dependendo dos dados
coletados. Na pesquisa qualitativa, considera-se que há uma relação entre o mundo objetivo
e a interpretação do pesquisador que não pode ser colocada em números (SILVA, 2004
apud GIL, 1991). Dentre as ferramentas que utilizam medidas qualitativas estão a Met Matrix
(material cycle, energy use and toxic emission)
6
ou Matriz de Inventário e o Checklist para
Ecodesign.
Na pesquisa quantitativa tudo deve ser quantificável e traduzido em números (SILVA, 2004
apud GIL, 1991). As medidas quantitativas dependem de resultados numéricos que
demonstrem o desempenho sico, financeiro e outros. A vantagem é que o resultado é
passível de verificação, mais próximo da realidade e mais confiável. A maior desvantagem é
a dificuldade e os custos para obtenção dos dados. Um exemplo de ferramenta que utiliza
6
Pode ser traduzido como matriz de matéria-prima, consumo de energia e emissões tóxicas.
89
medidas quantitativas para medir o desempenho ambiental dos produtos é a Avaliação de
Ciclo de Vida (FIKSEL, 1995).
5.4.5 Medidas absolutas e relativas
As medidas também podem ser classificadas em absolutas ou relativas. Absolutas são
aquelas referentes a uma escala de medição fixa, por exemplo: quantidade de emissões
geradas. As relativas são aquelas que se referem a outra variável, por exemplo: emissões
geradas por unidade produzida entre 1994 e 1995 (FIKSEL, 1995).
5.4.6 Medidas na fonte (causa) e no impacto (efeito)
Fiksel (1995) define medidas na fonte como sendo aquelas que presumem que a origem das
conseqüências ambientais estão associadas com as atividades da empresa. Um exemplo é
contabilizar a quantidade de resíduo perigoso, aquele que apresenta risco para saúde
publica ou ao meio ambiente, depositado em um local. A vantagem dela é que a fonte pode
ser observada e controlada. A desvantagem é que elas são um indicador indireto de
impactos potenciais e geralmente ignoram os demais fatores envolvidos como transporte,
exposição e outros. O mesmo autor estabelece que as medidas do impacto referem-se ao
dano ambiental causado por um produto ou processo para depois chegarem na causa,
fazendo, portanto, o caminho inverso da anterior.
5.4.7 Interação das medidas nos estágios do ciclo de vida
As medidas ambientais devem ser avaliadas levando em conta os diversos estágios do ciclo
de vida do produto e processo. Muitas medidas devem ser definidas como por exemplo:
quando se fala de redução no consumo de energia, deve-se especificar se a redução é no
90
processo de manufatura e distribuição ou redução da energia consumida pela utilização do
produto (FIKSEL, 1995).
A tabela 13 mostra como uma medida primária causa influência nos diversos estágios do
ciclo de vida. A seta representa sua diminuição e a seta o aumento. Por exemplo, ao
reduzir o peso da embalagem de uma lasanha congelada, pode-se baixar o custo de
matéria-prima para fabricação, otimizar o transporte e diminuir a emissão de resíduos.
TABELA 13 - RELEVÂNCIA DAS METAS DE DESEMPENHO AMBIENTAL NO CV DO PRODUTO
Metas Materiais Fabricação Transporte Uso Disposição final
Energia utilizada
X X X X X
Água utilizada
X X X
Volume na fonte
X X X X X
Reuso
X X X
Resíduo e emissões
X X X X X
Reciclagem de materiais
X X
FONTE: Fiksel, 1995
A tabela 14 mostra como uma ação para melhorar a qualidade ambiental pode influenciar
uma classe de medidas primárias representada pelas colunas, as setas demonstram se o
tipo de melhoria desejada é aumentar ou diminuir cada fator, nesse caso " X" representa se
o resultado pode ser favorável e "?" se poderia ser desfavorável. Por exemplo, a redução da
energia usada no processo favorece a diminuição dos custos. Já, diminuir simplesmente o
volume na fonte, pode ocasionar perda do desempenho do produto se o material ou
processo não for aprimorado. Os exemplos são apenas ilustrativos, devendo ser estudados
em cada caso através de pesquisas.
TABELA 14 - EXEMPLO DE INTERAÇÕES ENTRE QUALIDADE AMBIENTAL E OUTROS BENEFÍCIOS DO
PRODUTO AO CONSUMIDOR
Metas Desempenho Custo Segurança Conveniência Estética
Energia utilizada
X
Água utilizada
X X
Volume na fonte
? X ? X
Reuso
X ?
Resíduo e emissões
X X X X
Reciclagem de materiais
? ?
FONTE: Fiksel, 1995
91
5.5 ANÁLISE DO PERFIL AMBIENTAL DOS PRODUTOS
Para implementar o Ecodesign no projeto de um produto é preciso compreender com
clareza os impactos ambientais do ciclo de vida. Dessa forma é possível identificar os
pontos críticos e como se relacionam as etapas do processo entre si e com o meio
ambiente. Conhecer o perfil ambiental do produto é fundamental para traçar as estratégias
de Ecodesign. Contudo, para isso podem ser utilizadas ferramentas quantitativas como a
ACV ou qualitativas como a Met Matrix.
5.5.1 Avaliação de ciclo de vida (ACV)
ACV segundo a norma NBR ISO 14040 é definida como “uma técnica para avaliar aspectos
ambientais e impactos potenciais associados a um produto mediante: compilação de um
inventário, avaliação dos impactos ambientais, interpretação dos resultados e avaliação dos
impactos em relação aos objetivos do estudo”. “A ACV estuda os aspectos ambientais e os
impactos potenciais ao longo da vida de um produto, desde aquisição de matéria-prima,
passando por produção, uso e disposição final”, como mostrado na figura 15.
FIGURA 15 - O CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO MANUFATURADO
FONTE: NATIONAL RESEARCH COUNCIL CANADA
92
5.5.1.1 Fases da ACV
A norma NBR ISO 14040 divide a ACV em 4 fases como esquematizado na figura 16. São
elas: definição de objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação do impacto e
interpretação.
FIGURA 16 - FLUXOGRAMA DA ANÁLISE DO CICLO DE VIDA
FONTE: ABNT. NBR ISO 14040, 2001
A) Definição de objetivo e escopo
O objetivo e escopo devem ser consistentes com a aplicação do estudo e definidos com
exatidão. A definição do objetivo visa deixar claro qual a aplicação do estudo, suas razões e
o público-alvo. O escopo deve determinar exatamente onde se quer chegar e quais os
limites e abrangência da ACV. Para isso, são definidos as funções do sistema do produto,
unidade funcional, fronteiras, metodologia para avaliar os impactos entre outros requisitos.
Esta etapa deve ser bem definida para garantir a viabilidade do estudo (NBR ISO 14040).
93
B) Análise de inventário
A análise de inventário é a etapa de coleta de dados onde se identifica e quantifica todas as
informações relativas a entrada de energia e matéria-prima no processo e saídas para o
meio ambiente no ar, água e terra. A análise de inventário é interativa e pode sofrer
alterações na coleta de dados à medida que surgem novos requisitos e limitações durante a
análise (NBR ISO 14040).
C) Avaliação de impacto ambiental
Nesta etapa busca-se compreender e avaliar os efeitos causados pelos produtos e
processos relacionando-os com possíveis causas potenciais com base na análise de
inventário. A avaliação de impacto ambiental está dividida em três partes descritas a seguir.
1) Classificação - consiste em associar os elementos da análise de inventário a uma
categoria de impacto. Dentre as categorias destacam-se: aquecimento global, acidificação,
toxidade
7
, consumo de recursos naturais, eutroficação
8
entre outras.
2) Caracterização - converte diferentes elementos que contribuem para uma mesma
categoria de impacto em uma única medida, por exemplo, todas substâncias que se
enquadram na categoria de impacto relacionada com aumento do efeito estufa são somadas
na base equivalente de CO
2
(dióxido de carbono).
3) Ponderação – consiste em agregar os dados obtidos na fase da caracterização para obter
7
Capacidade de uma substância química em causar danos a um ecossistema ou a uma espécie biológica
determinada, incluindo o homem (SILVA, 2002).
94
um indicador de desempenho ambiental. Os dados utilizados para chegar a unidade devem
estar disponíveis para análise.
Conforme a NBR 14040, a avaliação do impacto ambiental é uma etapa crítica porque as
atuais metodologias científicas ainda estão em desenvolvimento. Está sujeita a análises
subjetivas e por isso as suposições devem ser transparentes e detalhadas.
D) Interpretação
O objetivo desta etapa é analisar os dados do inventário e do impacto ambiental. Após a
compreensão das informações, deve-se verificar se o estudo está de acordo com os
objetivos e escopo determinados. Os resultados desta interpretação podem propor
recomendações e chegar a conclusões para auxiliar na tomada de decisões para otimizar o
sistema como por exemplo: identificação de pontos críticos que precisam ser melhorados,
estimativa de ganhos ambientais que podem ser adquiridos, identificação de problemas
ambientais que podem ser solucionados entre outros (NBR 14040).
5.5.2 ACV no Sistema Embalagem
Muitos estudos de ACV foram feitos em outros países motivados pela legislação ambiental
rigorosa ou para tentar encontrar uma embalagem/produto ambientalmente mais adequada.
Demonstrou-se que o resíduo urbano é somente um aspecto do impacto ambiental a ser
tratado. A ACV do sistema embalagem pode contribuir para otimizar o desempenho
ambiental desse sistema trazendo benefícios como: redução de desperdício de produto,
minimizar a quantidade de material de embalagem por peso do produto, incentivar a
reciclagem, promover a educação ambiental da sociedade, otimizar a distribuição dos
8
Processo de crescimento bacteriano nas águas, causado por esgotos que leva a depleção de oxigênio e
95
produtos, reduzir o gasto de material e energia tanto no transporte como no processo. A
figura 17 apresenta o CV de uma embalagem (MADI; GARCIA, 1996).
FIGURA 17 - ESQUEMA DA ACV DE UMA EMBALAGEM
FONTE: MADI E GARCIA, 1996
Para a ACV é necessário estabelecer uma unidade funcional de medida. No caso das
embalagens, pode-se utilizar o volume de produto acondicionado/comercializado/
consumido, pois elas existem para proteger um produto e não por si (MADI; GARCIA,
1996).
5.5.3 A Met Matrix (material cycle, energy use and toxic emissions)
consequentemente à morte de espécies (SILVA, 2002).
96
A Met Matrix ou Matriz de inventário conforme apresentado na figura 18, é uma ferramenta
qualitativa para avaliar o perfil ambiental de um produto. Consiste em um quadro onde são
colocados as etapas do ciclo de vida e as emissões ambientais de entrada/saída divididas
em três categorias: materiais (entrada/saída), energia (entrada/saída) e emissões (saída).
Os estágios do ciclo de vida são divididos em cinco: matéria prima, produção, distribuição,
consumo e disposição final. A peculiaridade desta ferramenta é que todas as etapas
referente a um estágio do ciclo de vida são agrupadas e somadas na mesma célula, por
exemplo, no caso de uma embalagem de refrigerante de plástico, coloca-se o PET da
garrafa, o plástico do rótulo e da tampa e a caixa de embarque na célula de matéria-prima.
ETAPAS
MATERIAIS
(entradas/saídas)
ENERGIA
(entradas/saídas)
EMISSÕES
(saídas)
Matéria-prima
Produção
Distribuição
Consumo
Disposição final
FIGURA 18 - EXEMPLO DE MET MATRIX
FONTE: BREZET E HEMEL, 1997
Para utilizar esta ferramenta a equipe de projeto deve saber com clareza quais as etapas do
ciclo de vida do produto e suas implicações ambientais. Portanto antes de preencher o
quadro é preciso realizar duas tarefas (BREZET; HEMEL, 1997).
1 - Definir as fronteiras do sistema do produto analisado: ou seja, ter bem definido qual
é o produto e quais partes do seu sistema serão inclusas. Por exemplo, se o produto a ser
analisado for uma lasanha congelada, deve-se levar em conta os elementos necessários
para ela ser consumida pelo usuário final, como o refrigerador e o forno de microondas.
2 - Listar os materiais e partes do produto: para preencher a Met Matrix é preciso
desmembrar todos os materiais e componentes do produto para determinar seu peso e tipo
de material, incluindo os materiais presentes em todas as etapas do produto.
97
Depois deve-se preencher as colunas de material, energia e emissões.
Coluna de materiais - nesta parte coloca-se todos os impactos ambientais relacionados
com a entrada e saída dos materiais nas etapas do ciclo de vida (matéria-prima, produção,
distribuição, consumo, disposição final). Devem ser incluídas as seguintes informações
sobre os materiais: existência de materiais não renováveis; materiais que geram emissões
durante a produção; materiais incompatíveis; materiais ineficientes ou que não podem ser
reaproveitados.
Coluna de energia - nesta parte coloca-se o consumo de energia em todas as etapas do
ciclo de vida do produto, desde transporte, uso, produção e processos de reaproveitamento.
Coluna de emissões - esta parte corresponde a identificação de todas as substâncias
emitidas na terra, ar e água durante as cinco etapas do ciclo de vida. Os gases e vapores
que são emitidos no uso de energia são incluídos nessa coluna, por exemplo, monóxido de
carbono emitido no transporte ou na produção.
5.5.4 O Checklist para Ecodesign
O objetivo do Checklist ou lista de conferência é ajudar as equipes de projeto a conhecerem
os impactos ambientais do produto em todas etapas do ciclo de vida (BREZET; HEMEL,
1997). Ele consiste em uma lista de perguntas relacionadas a cada etapa para garantir que
não sejam esquecidos aspectos importantes. A figura 19 apresenta um exemplo de
Checklist sugerida por Brezet e Hemel (1997). Assim como a Met Matrix, está dividida de
acordo com as etapas de ciclo de vida do produto. Recomenda-se utilizar o Checklist com a
Met Matrix.
98
ANÁLISE DAS NECESSIDADES
O sitema do produto satisfaz as necessidades sociais? Como?
Quais as funções principais e secundárias do produto
O produto cumpre de maneira eficiente estas funções?
Qual necessidade do usuário ele satisfaz?
Pode aumentar suas funções para satisfazer melhor as necessidades do usuário?
Estas necessidades se modificaram com o tempo?
Podemos antecipar estas modificações com inovações radicais do produto?
PRODUÇÃO E FORNECIMENTO DE MATERIAIS E COMPONENTES
Quais problemas podem surgir na produção e suprimento de materiais e componentes?
Quais tipos e quantidades de plástico e adesivos são utilizados?
Quais tipos e quantidades de aditivos e solventes são utilizados?
Quais tipos e quantidades de metais são utilizados?
Quais tipos e quantidades de outros materias são utilizados?
Quais tipos e quantidades de tratamento de superfície são utilizados?
Qual é o perfil ambiental dos componentes?
Quanta energia é necessário para transportar os materiais e componentes?
PRODUÇÃO NA FÁBRICA
Quais problemas podem aparecer no processo de produção na fábrica?
Quantos e quais são os processos de produção utilizados?
Quantos e quais insumos são utilizados?
O consumo de energia é alto?
Qual a quantidade de resíduos são gerados?
Quantos produtos ficam abaixo da qualidade exigida?
DISTRIBUIÇÃO
Quais problemas surgem na distribuição do produto para os clientes?
Quais tipos de embalagens são utilizadas para o transporte?
Quais os meios de transporte utilizados?
A logística de transporte é eficiente?
UTILIZAÇÃO
Quais problemas surgem durante o uso, operação, assistência técnica e conserto do produto?
Quanto e qual tipo de energia é gasta para utilizar o produto?
Quanto e quais materiais são gastos?
Qual é a vida útil do produto?
Qual é a tempo de vida estético do produto?
Quanta manutenção e reparo precisa?
O produto pode ser facilmente desmontado para manutenção?
As partes que necessitam de reparos podem ser separadas?
RECUPERAÇÃO E DISPOSIÇÃO FINAL
Quais problemas podem surgir na recuperação ou disposição final do produto?
Qual a melhor maneira de dispor o produto no final da vida útil?
É possível reutilizar componentes ou materias do produto?
Quais componentes pode ser reaproveitados?
É possível desmontar os componentes sem danificá-lo?
Quais materias são recicláveis?
É possível identicar os tipos de materiais?
É possível separá-los rapidamente?
Existem tintas, etiquetas que são incompatíveis com o material?
Existem componentes perigosos que podem ser separados com facilidade?
Existe problema para incinerar partes do produto que não sejam reaproveitáveis?
FIGURA 19 – CHECKLIST PARA ECODESIGN
FONTE: BREZET E HEMEL, 1997
99
5.7 SELEÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DO PROJETO
Depois de conhecido o perfil ambiental do sistema do produto o passo seguinte é selecionar
quais estratégias serão utilizadas para melhorar seu desempenho ambiental. Para isso
existe uma ferramenta para auxiliar a tomada de decisão chamada de Círculo de Estratégias
ou Lids (Lifecycle design strategies), como exemplificado na figura 20 (BREZET; HEMEL,
1997).
As circunferências representam os níveis de eficiência ambiental que vai de 0 (ruim) a 5
(excelente) pontos. Os oito pontos representam as fases do ciclo de vida. A cor amarela
representa o perfil ambiental existente e a verde o perfil almejado. Para cada etapa do CV
existe uma lista com estratégias para atingir os objetivos.
FIGURA 20 – EXEMPLO DE CÍRCULO DE ESTRATÉGIAS
FONTE: BREZET E HEMEL, 1997
100
5.7.1 Classificação das estratégias
De acordo com o perfil ambiental atual e o pretendido expresso no Círculo de Estratégias, o
próximo passo é selecionar quais os procedimentos mais adequados para atingir a meta.
Desse modo, conforme apresentado na tabela 15, os oito elementos que compõem as
estratégias correspondem as etapas do CV, sendo por sua vez agrupados em quatro veis
primários (ECODISEÑO, 2005). Em seguida, cada etapa apresenta ações operacionais.
Portanto, a função desta classificação é apresentar de forma organizada sugestões de
procedimentos para diminuir o impacto ambiental do produto em cada fase do CV, podendo
acrescentar-se outros procedimentos.
TABELA 15 - ESTRATÉGIAS DO ECODESIGN
Nível Estratégia Ações operacionais
1. Seleção de materiais de
baixo impacto
1a. Não-tóxicos
1b. Renováveis
1c. Com baixa proporção de energia
1d. Reciclados
1e. Recicláveis
Componentes
do produto
2. Redução na forma de uso
dos materiais
2a. Em peso
2b. Em volume (transporte)
3. Otimização das técnicas de
produção
3a. Técnicas alternativas
3b. Menos passos no processo
3c. Consumo menor e uso de energia mais limpa
3d. Menos detalhes
3e. Menor utilização de consumíveis e mais limpos
4. Otimização do sistema de
distribuição
4a. Embalagens: menos ítens, reutilizáveis
4b. Meios de transporte eficientes no uso de energia
4c. Logística eficiente no uso de energia
Estrutura
do produto
5. Redução no impacto
durante o uso
5a. Menor consumo de energia
5b. Fontes de energia mais limpas
5c. Menor quantidade de insumos
5d. Insumos mais limpos
5e. Menor desperdício de energia e combustíveis
6. Otimização da vida útil do
produto
6a. Confiança e durabilidade
6b. Manutenção e reparação mais facéis
6c. Estrutura modular do produto
6d. Interface amigável entre o usúario e o produto
Sistema
do produto
7. Otimização do fim da vida
do sistema
7a. Reutilização do produto
7b. Refabricação
7c. Reciclagem dos materiais
7d. Incineração mais segura com recuperação de energia
Desenvolvimento
Conceitual
@. Desenvolvimento de um
novo conceito
@a. Uso compartilhado do produto
@b. Integração de funções
@c. Otimização funcional do produto (componentes)
FONTE: Ecodiseño en Centroamérica, 2005
101
5.8 RESUMO DAS METODOLOGIAS DE ECODESIGN
Durante a pesquisa, destacaram-se três metodologias de Ecodesign: a escrita por Brezet e
Hemel (1997), a de Lewis e Gertsakis (2001), e por fim a de Fiksel (1995). A seguir estão
descritos cada uma delas de forma resumida.
5.8.1 Método de Brezet e Hemel
O manual intitulado Ecodesign: a promising approach to sustainable production and
consuption apresenta uma metodologia composta de sete etapas para as empresas
adotarem o Ecodesign, estão descritas a seguir.
1. Organizar o projeto - primeiro deve-se conseguir o apoio da gerência da empresa. Um
projeto deste precisa de tempo, recursos financeiros e visão estratégica, não pode ter
sucesso sem o comprometimento da alta administração. Segundo, formar a equipe de
projeto, que deve ser composta de profissionais de diferentes áreas como por exemplo:
produção, pesquisa, vendas, marketing, logística, e contar com designers e consultores
ambientais.
2. Selecionar o produto - consiste em escolher o produto mais adequado para iniciar o
projeto. Para isso, deve-se analisar os objetivos da empresa em relação ao projeto e
selecionar os critérios de decisão. Depois, de escolhido, deve ser criado um relatório
detalhado do produto, com as necessidades da empresa, custos, cronograma e o plano de
ação.
3. Determinar a estratégia de Ecodesign - é a principal etapa da metodologia que engloba
cinco passos:
102
a) Analisar o perfil ambiental do produto - consiste e levantar os aspectos ambientais ao
longo do ciclo de vida do produto, identificando os principais impactos. Recomenda o uso da
Met Matrix e do Checklist de Ecodesign.
b) Analisar as motivações internas e externas da empresa – motivações internas são
provenientes de dentro da empresa como por exemplo, o senso de responsabilidade
ambiental da administração, ou necessidade de melhorar a qualidade do produto.
Motivações externas vem de fora como adequação à legislação ambiental ou demanda de
mercado por produtos ambientalmente responsáveis.
c) Criar alternativas para melhorar o produto baseado no perfil ambiental esta etapa
consiste em organizar as opções de melhoria que podem ser utilizadas no projeto. Utiliza
para isso a ferramenta Lids (Life cycle Design Strategy) apresentada na figura 21.
d) Estudar a viabilidade das alternativas as idéias geradas na etapa anterior, devem ser
avaliadas de acordo com sua viabilidade técnica e financeira e os ganhos ambientais.
e) Definir a estratégia com o auxílio das alternativas selecionadas, é preciso definir qual a
melhor estratégia, ou seja, a prioridade do produto, que pode ser por exemplo, economizar
energia ou reduzir os materias na produção. Devem ser estabalecidas estratégias de curto e
longo prazo.
4. Criar e selecionar novas idéias - recomenda um workshop para gerar idéias e possíveis
soluções para o projeto. Depois as idéias devem ser avaliadas considerando critérios como
ganhos ambientais, viablidade técnica e financeira.
5. Detalhar o conceito - nesta etapa são detalhados os materiais, processos e
especificações técnicas para dar origem ao novo produto.
103
6. Promover o projeto e o produto depois de terminado o projeto, deve ser criado um
plano de marketing interno para promover o Ecodesign na empresa, e uma campanha de
publicidade para divulgar os benefícios ambientais do novo produto ao mercado consumidor.
7. Continuar as atividades - a etapa final é avaliar os resultados do projeto, está dividida
em três partes. Primeiro, avaliar o desempenho ambiental e financeiro do novo produto.
Depois, avaliar os resultados do projeto, pontos positivos e negativos do processo e
possibilidades de melhorarias. Por fim, a metodologia sugere desenvolver um programa
para implantar definitivamente o Ecodesign como procedimento padrão de projeto.
5.8.2 Método de Lewis e Gertsakis
Este método é utilizado no National Centre for Design do Royal Melbourne Institute of
Technology. Ele é semelhante ao de Brezet e Hemel (1997), está dividido em cinco etapas:
1. Avaliação dos impactos ambientais - consiste em levantar o perfil ambiental do
produto, com o objetivo de identificar os principais impactos ao longo do ciclo de vida e
orientar as decisões do projeto. Para isso pode ser utilizada tanto a ACV como a Matriz de
inventário e Matriz de Impacto Ambiental.
2. Pesquisa de mercado - procura reunir as informações detalhadas sobre o produto, os
consumidores, concorrentes, a empresa, tecnologias disponíveis, componentes do produto,
custos, posicionamento de marketing, tendências do mercado, dentre outros. Deve ocorrer
paralemente a avaliação de impactos ambientais.
104
3. Workshop criativo resume-se em formar uma equipe de profissionais de diversas
áreas da empresa com o objetivo de gerar idéias e soluções para o projeto. Podem ser
utilizadas técnicas de criatividade como por exemplo o BrainStorm. Depois as idéias devem
ser avaliadas, considerando critérios como ganhos ambientais, viablidade técnica e
financeira.
4. Seleção das estratégias de projeto - a função desta etapa é criar um relatório detalhado
(briefing) com os propósitos do projeto, requisitos técnicos do produto, metas ambientais,
legislação e custos. Devem estar inclusos as estratégias para o projeto selecionadas na
etapa anterior. Este documento vai orientar a equipe de projeto a desenvolver o produto.
5. Projeto do produto - com base nas informações das etapas anteriores, inicia-se o
detalhamento do projeto final. Após o fim desta etapa a equipe deve avaliar o desempenho
do produto.
5.8.3 Método de Fiksel
O livro Design for Environment”, Fiksel (1995) não apresenta necessariamente um método,
mas uma série de disciplinas, ferramentas e exemplos de empresas que utilizaram o
Ecodesign. Dentre as disciplinas destacam-se: Projeto Integrado ou Engenharia Simulânea,
Medidas Ambientais, Estratégias de Ecodesign e Avaliação do Impacto Ambiental. Elas
foram descritas neste capítulo.
5.8 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Em resumo, neste capítulo foram apresentados em linhas gerais, os conceitos teóricos e
ferramentas do Ecodesign, baseado principalmente na literatura de Fiksel (1995) e de
105
Brezet e Hemel (1997). Porém, é preciso deixar claro três pontos chaves. Primeiro, o
Ecodesign ou Design for Environment (DfE) como conceito, pode ser resumido como a
integração dos aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de um produto. Segundo,
a metodologia ou procedimentos para atingir esta integração é flexível e depende de cada
autor. Terceiro, o objetivo da metodologia é orientar as equipes de projeto na criação de um
produto ecoeficiente, ou seja, que atenda as necessidades dos usuários, consuma menos
recursos naturais e gere menos impacto no meio ambiente, através de um processo de
melhoria contínua.
106
6 METODOLOGIA
6.1 TIPO DE PESQUISA
As pesquisas podem ser classificadas quanto sua natureza, forma de abordagem e
objetivos. Quanto a natureza, pode ser básica e aplicada. A primeira tem a função de gerar
conhecimentos para o progresso científico, porém sem uma aplicação prática. Já a segunda,
procura gerar conhecimento para ser aplicado na solução de um problema específico
(SILVA, 2004).
Quanto a abordagem pode ser quantitativa ou seja, tudo deve ser quantificável e traduzido
em números; ou qualitativa onde, considera-se que há uma relação entre o mundo objetivo e
a subjetividade do pesquisador que não pode ser transformada em números e por isso os
dados são coletados do ambiente e interpretados pelo pesquisador (SILVA, 2004 apud GIL,
1991).
Em relação aos objetivos podem ser exploratória, descritiva e explicativa. Pesquisa
exploratória proporciona maior familiaridade do problema, depende de levantamento
bibliográfico, entrevistas e análise de exemplos, nesta categoria está o estudo de caso. O
método descritivo tem por objetivo descrever as características de um fênomeno, através de
questionários e observação sistemática. Por fim, a pesquisa explicativa procura encontrar a
causa de um fenômeno, podendo para tanto, valer-se de experimentos, como nas ciências
naturais (SILVA, 2004).
Para responder a questão central do trabalho foi escolhido o estudo de caso que é uma
pesquisa de natureza aplicada com abordagem qualitativa e objetivo exploratório. O objeto
de estudo selecionado foi o sistema embalagem do produto lasanha congelada da marca
107
Sadia. O objetivo deste estudo é fornecer subsídios para a avaliação crítica da metodologia
do Ecodesign que está detalhada adiante. Em suma, esta pesquisa se enquadra no estudo
de caso porque se aprofunda em um sistema embalagem específico e utiliza diversas fontes
de dados interpretadas pelo observador.
6.2 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ESCOLHIDO
A metodologia do estudo de caso têm três limitações: é pouco precisa por não ser
quantitativa; tem pouca objetividade e baixo rigor metodológico (CABRAL, 2003 apud
YIN,1989).
Pouca precisão - deve-se considerar que o objetivo deste trabalho é avaliar
criticamente a metodologia do Ecodesign aplicado-o a um sistema embalagem pré-
estabelecido para alimento single. Selecionar um produto que represente este
universo é suficiente para formar massa crítica para realização desta análise.
Portanto o estudo de caso é mais adequado para a finalidade deste trabalho e
suficiente para confirmar suas hipóteses. Além disso, um estudo quantitativo
demandaria muito tempo e recursos. Porém, para minimizar a influência do
pesquisador, procurou-se quantificar o maior número de informações e organizar os
dados com lógica e transparência.
Pouca objetividade - procurou-se focar a pesquisa em um único produto para torná-la
mais objetiva.
Pouco rigor metodológico foi utilizado como base a metodologia desenvolvida por
Brezet e Hemel (1997) que apresenta em detalhes as etapas para aplicar o
108
Ecodesign, além da massa crítica formada na revisão bibliográfica. Portanto, a falta
de rigor foi suprida pela adoção de uma metodologia consistente.
6.3 HIPÓTESES
Hipótese 1: A metodologia do Ecodesign pode ser utilizada no projeto de um sistema
embalagem para lasanha congelada para otimizar o impacto ambiental desse sistema sem
comprometer suas demais funções.
Hipótese 2: Caso não existisse a embalagem single e estes consumidores passassem a
utilizar os produtos em porções maiores jogando fora o excedente, o impacto ambiental
aumentaria.
6.4 FONTES DE DADOS
Os dados podem ser classificados, de acordo com sua origem, em primários e secundários.
Os primeiros são coletados diretamente pelo pesquisador. os dados secundários são
provenientes de pesquisas realizadas por outras pessoas (KOTLER; ARMSTRONG, 1998).
Neste trabalho foram utilizados os dois tipos.
Dados primários especificações técnicas das embalagens, da linha de envase e
fluxograma do sistema, foram obtidos diretamente pelo próprio pesquisador, através
de entrevistas com o departamento de desenvolvimento de embalagem da empresa
Sadia S/A e da gráfica responsável pela produção das embalagens.
Dados secundários consumo de energia no transporte, na produção da
embalagem, emissões de CO
2
dentre outros. Foram obtidos através de consultas a
109
fornecedores, manuais de equipamentos e internet. Além disso, foram feitos cálculos
e medições pelo próprio autor, baseado em diversas metodologias e fontes que
estão citadas e apresentadas nos Apêndices deste trabalho para eventuais
consultas.
6.5 RESULTADOS ESPERADOS
Através deste estudo de caso espera-se:
Confirmar as hipóteses propostas;
Responder a questão central do trabalho;
Fornecer subsídios para uma análise crítica da metodologia do Ecodesign;
Contribuir para elucidar o dilema desperdício de alimentos versus consumo de
embalagem;
Propor uma nova embalagem de lasanha para singles;
6.6 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA
Neste estudo de caso foi utilizado uma metodologia baseada sobretudo no manual de
Ecodesign de Brezet e Hemel (1997). Outros manuais como o canadense Design for
Environment Guide e o Ecodiseño en Centro-América utilizam a mesma metodologia,
aumentando sua credibilidade. Porém algumas modificações foram feitas para adaptá-la ao
sistema embalagem estudado. Ela está dividida em seis etapas enumeradas abaixo e
detalhadas em seguida.
1. Formação da equipe de projeto
2. Seleção do produto
110
3. Análise dos impactos ambientais ou perfil ambiental do produto
4. Seleção das estratégias para o projeto
5. Especificação técnica do novo produto
6. Avaliação do desempenho ambiental do produto
6.6.1 Formação da equipe de projeto
De acordo com a metodologia de Brezet e Hemel (1997), seleciona-se para o projeto um
grupo multidisciplinar de profissionais, composto por especialistas de diferentes áreas como:
marketing, vendas, embalagem, desenvolvimento, produção, logística, compras, design,
meio ambiente. A equipe deve ter um profissional que conheça a metodologia e os conceitos
do Ecodesign. Porém, neste estudo de caso, o pesquisador será responsável em coletar,
analisar e tomar as decisões do projeto amparado na metodologia, e na consulta a
profissionais do departamento de desenvolvimento de embalagem da Sadia S/A e da gráfica
que produz as embalagens.
6.6.2 Seleção do produto
Quando dúvida sobre qual produto selecionar para aplicar o Ecodesign, a metodologia
recomenda o uso de uma matriz de decisão como a da tabela 16. Primeiro devem ser
definidos os critérios de seleção que podem ser: redução de custos, melhora da qualidade,
inovação, potencial de vendas e de melhora ambiental. Depois atribui-se uma nota para
cada critério de modo que o produto cuja soma dos pontos for maior é o escolhido.
Caso exista um produto pré-selecionado como neste trabalho desconsidera-se esta etapa. A
lasanha foi escolhida por representar o dilema do produto single, ou seja, quanto menor a
111
quantidade de produto proporcionalmente maior é o de embalagem, além de possuir duas
versões de tamanhos diferentes, mas com a mesma estrutura.
TABELA 16 - EXEMPLO DE MATRIZ DE SELEÇÃO
Produto
Custo de produção Potencial de melhora ambiental Demanda de mercado Total
Lasanha
Hot Pocket
Pizza
FONTE: Ecodiseño en Centroamérica, 2005
Depois de selecionado o produto, deve-se descrever suas características técnicas e
requisitos das embalagens que o acompanham. Neste momento são determinadas as
funções do sistema, seus limites e unidade funcional. O Checklist apresentado na figura 21
pode auxiliar esta etapa.
6.6.3 Análise do perfil ambiental do produto
O objetivo desta etapa é traçar o perfil ambiental do sistema do produto considerando seu
ciclo de vida, para identificar seus aspectos ambientais. Para isso é feito um fluxograma das
etapas do sistema como mostra a figura 21. Depois, a análise de inventário e a
determinação do impacto ambiental.
112
FIGURA 21 – EXEMPLO DE FLUXOGRAMA
6.6.3.1 Análise de inventário
De acordo com a metodologia do Ecodesign, as duas ferramentas sugeridas para a análise
do perfil ambiental são a ACV e a Met Matrix. A primeira, embora seja mais precisa,
demanda muito tempo e sairia do foco qualitativo do estudo de caso. A segunda, utiliza
dados qualitativos e mais fáceis de serem obtidos, atendendo às necessidades desta
pesquisa. Além disto, é recomendada por Brezet e Hemel (1997) e também por Lewis e
Gertsakis (2001). Portanto, optou-se pela Met Matrix também chamada de Matriz de
Inventário .
O modelo de Matriz de Inventário utilizado é o da tabela 17. Comparado ao modelo
apresentado na figura 18, apresenta algumas diferenças nas fases do ciclo de vida.
113
Primeiro, considerando os limites estabelecidos para este sistema, inicia-se o ciclo de vida
com a produção da embalagem, em seguida a linha de envase, a logística, o uso do produto
pelo consumidor e a disposição final. Estas modificações foram feitas para adequar-se ao
sistema embalagem estudado. Lembrando que, por não se tratar de uma ACV, não foram
considerados a análise dos materiais primários, com por exemplo, a produção de
papelcartão.
TABELA 17 – EXEMPLO DE MATRIZ DE INVENTÁRIO
Etapas Materiais Energia Emissões
Produção embalagem Papel cartão 25 kW 2 kg
Linha de envase Bandejas 35 kW -
Logística
Uso do produto
Final da vida útil
FONTE: Adaptado de Brezet e Hemel, 1997
O próximo passo consiste em quantificar os ítens do inventário. Para isso foi determinado
uma unidade funcional e foram utilizadas três tabelas distintas para os gastos de materiais,
energia e emissões, tanto para as embalagens de 350g e 650g. A tabela 18 é um exemplo
de tabela de inventário de materiais.
TABELA 18 – EXEMPLO DE TABELA PARA ANÁLISE DE INVENTÁRIO DE MATERIAIS
Processo Unidade 350g 650g
Produção embalagem
• papel cartão bandeja
• papel cartão tampa
• tinta
kg
kg
kg
10
15
1,2
12
14
1,5
Linha de envase
Logística
Uso do produto
Disposição final
Total de material
6.6.3.2 Determinação do impacto ambiental
Depois da análise de inventário surge um dilema: como determinar o grau de impacto
ambiental de cada etapa do ciclo de vida? Como comparar processos tão distintos como
uma impressora off-set e um caminhão e determinar qual é mais prejudicial ao meio
114
ambiente? A metodologia de Brezet e Hemel (1997) é bastante limitada neste ponto. Para
responder a estas questões foi utilizada uma matriz para calcular a soma de inventário como
mostrado na figura 22. Porém, devido a natureza distinta das emissões geradas, foram
considerados neste coluna, apenas a soma dos resíduos sólidos.
Materiais (kg) Energia (kWh) Emissões (kg)
Etapa
350g 650g 350g 650g 350g 650g
Produção da embalagem
Linha de envase
Logística
Uso do produto
Disposição final
Total
FIGURA 22 – EXEMPLO DE MATRIZ PARA CALCULAR A SOMA DO INVENTÁRIO
Com os valores totais da somatória de materias, energia e emissões foi criada uma função
matemática. O objetivo desta função é expressar o grau de impacto ambiental do sistema,
partindo da premissa que quanto maior o valor, maior o impacto ambiental. Esta função
permite comparar os sistemas embalagens. Os valores de cada etapa foram divididos pelo
peso do produto estabelecido pela unidade funcional como mostrado na equação abaixo.
energia
(kWh)
,
material
(Kg)
,
emissões
(Kg)
Desempenho Ambiental =
Peso do produto (kg)
Baseado na matriz da figura 22 foi criado um gráfico para materiais, um para energia e
outro para emissões para poder visualizar o impacto de cada etapa do CV. Foram criados
gráficos separados, por entender que são medidas distintas e não podem ser agrupadas. A
figura 23 exemplifica o gráfico de materiais.
115
FIGURA 23 – EXEMPLO DE GRÁFICO DE IMPACTO AMBIENTAL
Resumindo, esta etapa da metodologia é a mais difícil devido à complexidade da coleta e
medição dos dados ambientais. Para minimizar esta deficiência, nesta pesquisa foram
utilizados o maior número de dados disponíveis, apresentados com transparência.
6.6.4 Seleção das estratégias de Ecodesign para o projeto
O objetivo desta etapa é definir quais as metas a serem atingidas e como atingi-las. As
estratégias dizem “o que fazer” e para cada uma existem ações operacionais sugerindo
“como fazer”. A tabela 19 apresenta sugestões de estratégias e ações operacionais para
otimizar cada fase do ciclo de vida do sistema embalagem. Podem ser acrescentadas novas
estratégias ou ações de acordo com as necessidades do produto e projeto. Portanto, a
função desta etapa é mostrar de forma organizada como chegar ao objetivo.
Neste trabalho optou-se por não utilizar o Círculo de Estratégia apresentado na figura 20. O
motivo foi a dificuldade de estabelecer critérios confiáveis para preenchê-lo. Para não correr
o risco de ficar totalmente subjetivo, o autor preferiu deixá-lo de lado e ir diretamente para a
lista de estratégias.
116
TABELA 19 – ESTRATÉGIAS DE ECODESIGN PARA EMBALAGENS
Etapas Estratégias Ações Operacionais
1. Seleção de materiais
de baixo impacto
1a.
Origem renovável (não fóssil)
1b. Reciclados
1c. Recicláveis
1d. Não-tóxicos
Produção da
embalagem
2. Simplificação e redução
da embalagem
2a.
Reduzir espessura
2b. Reduzir tamanho
2c. Reduzir quantidade ítens
2d. Usar materiais compatíveis
Linha
de envase
3. Otimização das técnicas
de produção
3a. Reduzir etapas do processo
3b. Reduzir consumo de energia
3c. Usar fontes de energia mais limpa
3d. Reduzir uso de insumos
3e. Reduzir desperdícios
3f. Gerenciar resíduos
3g. Implantar Sistema de Gestão Ambiental
4. Otimização do sistema de
distribuição
4a. Colocar mais produtos por caixa de transporte
4b. Colocar mais produtos por palete
4c. Reduzir distâncias entre fornecedores e fábrica
4d. Reduzir distâncias entre fábrica, CD e consumidor
4e. Reduzir consumo de combústíveis e insumos
Logística
5. Otimização da vida útil 5a. Aumentar o prazo de validade do produto
Uso do
produto
6. Redução no impacto
durante o uso
6a. Reduzir tempo de preparo
6b. Adequar quantidade de produto às necessidades do
consumidor
6c. Eliminar necessidade de acessórios para consumo
Disposição
final
7. Otimização do fim da vida
da embalagem
7a. Embalagem reutilizável
7b. Embalagem reciclável
7c. Embalagem não-tóxica
7d. Informações de como dispor a embalagem
Desenvolvimento
conceitual
8. Novo conceito de
embalagem/produto
8a. Aumentar conveniência do consumidor
8b. Preparo e consumo no próprio PDV
8c. Consumo na própria embalagem
8d. Menor tempo de preparo
8e. Produto sem necessidade de refrigeração
Depois de selecionadas as ações ambientais é preciso definir quais as mais viáveis. Para
isso foi utilizado uma matriz como a da tabela 20. Sua função é facilitar a escolha das ações
baseada em critérios pré-estabelecidos. Estes critérios podem ser a viabiliadade técnica, ou
seja, não adianta selecionar uma medida para qual não exista tecnologia disponível;
viabilidade financeira, por exemplo, a inviabilidade de substituir máquinas no processo de
envase devido ao alto custo; o prazo, ou seja, construir uma fábrica próxima ao mercado
consumidor, é uma estratégia de longo prazo, enquanto substituir o material da embalagem
pode ser aplicado no curto prazo. Na última coluna devem ser colocados o tipo de melhoria
esperada com cada ação.
117
TABELA 20 – EXEMPLO DE MATRIZ DE VIABILIDADE PARA SELEÇÃO DE ESTRATÉGIAS.
Ação Prazo
Viabilidade
Técnica
Viabilidade
Financeira
Melhoria Ambiental
1. Utilizar material reciclável CP sim não Reduzir impacto pós-consumo
2.
3.
4.
5.
NOTA: LP = longo prazo CP = curto prazo
6.6.5 Detalhamento técnico do novo produto
Neste momento as estratégias e ações selecionadas no passo anterior devem ser
concretizados em um novo produto. Esta etapa está dividada nas seguintes ações: definição
do conceito ou prioridades ambientais, detalhamento técnico da nova embalagem e
execução do protótipo final.
6.6.6 Avaliação do desempenho ambiental do novo produto
Depois de terminado o projeto, esta etapa da metodologia consiste em avaliar seu
desempenho ambiental e os resultados obtidos através da comparação entre o produto
original e o eco-projetado. Isso foi feito utilizando as mesmas ferramentas da metodologia
para avaliar o desempenho ambiental.
118
7 ESTUDO DE CASO LASANHA SADIA
7.1 FORMAÇÃO DA EQUIPE DE PROJETO
O primeiro passo no projeto de Ecodesign é a formação da equipe de trabalho. A
metodologia apresentada recomenda a formação de um grupo multidisciplinar composto por
profissionais de diferentes áreas como: marketing, produção, desenvolvimento, logística e
meio ambiente. Porém, neste estudo de caso, o autor foi responsável em coletar
informações de todas as áreas, contando com os dados fornecidos pelo departamento de
desenvolvimento de embalagem da Sadia S/A e da gráfica responsável em produzir as
embalagens. O contato se deu através de entrevistas pessoais, dúvidas respondidas por
emails e visita à gráfica. Portanto, neste estudo, a equipe de projeto foi substituída pela
atuação do autor.
7.2 SELEÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO
O mercado de pratos prontos e semi-prontos congelados apresentou em 2004 um consumo
anual estimado de 160 mil toneladas, sendo que o crescimento médio do setor é de 13%
ao ano. Grande parte do consumo está nas grandes cidades, mas tende a aumentar em
pequenos centros. Além disso, são produtos de alto valor agregado porque oferecem
qualidade e conveniência, atributos procurados principalmente pelo público single
(ARAUJO, 2005).
Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa ACNielsen no período de fevereiro/março
de 2006, a Sadia S/A detém 60,5% do mercado de pratos prontos, onde estão inseridas as
lasanhas. Dentro deste segmento, a lasanha à bolonhesa (figura 24) é o produto mais
vendido da empresa, cuja participação no portfólio de congelados não é divulgada (SADIA
119
S/A, 2006). Portanto, dentro do universo pesquisado, este produto é o mais relevante em
volume de vendas, e provavelmente, deve aumentar junto com o mercado.
Além dos fatores mercadológicos, outros ítens motivaram a escolha do produto. A
embalagem da lasanha, como demonstrado na tabela 8, apresenta uma relação entre peso
de produto por embalagem alto. Além disso, ambas as versões de lasanha possuem a
mesma estrutura de embalagem permitindo uma comparação do desempenho ambiental
entre as duas. Além disso, este trabalho conta com a inestimável colaboração do
departamento de desenvolvimento de embalagens da Sadia S/A, sem o qual não seria
possível executá-lo. Em suma, por estes motivos, a escolha da lasanha à bolonhesa Sadia,
dispensou a utilização da matriz de seleção da tabela 16.
FIGURA 24 – CARTUCHO E BANDEJA DA SADIA
7.2.1 Características da embalagem
As especificações técnicas do sistema embalagem Lasanha Sadia, tanto dos materiais,
processos de produção e distribuição são iguais tanto na versão de 350g e 650g,
excetuando as dimensões das embalagens. As características, funções e requisitos de cada
uma delas estão descritas na tabela 21.
120
TABELA 21 – CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA EMBALAGEM LASANHA SADIA
Características Embalagem primária Embalagem display Embalagem Secundária
Modelo Bandeja de papelcartão Cartucho Cartucho normal
Material
Papelcartão coextrusado com
poliéster (pet) 373 g/m
2
Papelcartão 278g/m
2
da
marca Klakoad da Klabin
Papelão ondulado 4,8
g/m
2
onda C
Impressão
Off-set 6 cores + verniz UV Off-set 6 cores + verniz UV
Flexografia 2 cores
Funções
Acondicionar, conservar e ser
própria para preparar a lasanha
Acondicionar embalagem
primária, informações legais e
de marketing, exposição no
PDV
Acondicionar embalagens
display, otimizar
paletização e uniformizar
unidade de venda
Requisitos
Resistência a umidade, gordura,
baixas e altas temperaturas
(-12˚C a +220˚C) em fornos
convencionais e microondas
Resistência a umidade, a luz,
a baixas temperaturas (-12˚C)
e mecânica
Proteção mecânica,
identificação do produto
7.2.2 Características do produto
O produto lasanha pertence à categoria de pratos prontos congelados que consiste em
produtos previamente preparados, acondicionados nas embalagens e depois congelados
para manter sua qualidades. Para serem consumidos basta descongelar e aquecer em forno
microondas ou convencional. A vida útil é determinada pelo ingrediente mais críticos que
geralmente são as carnes. As lasanhas são compostas basicamente por três processos:
preparo da massa, do molho e envase nas embalagens (SARANTÓPOULOS, 2001).
Os sabores de lasanha produzidos pela Sadia S/A são: bolonhesa, creme de espinafre,
quatro queijos, frango, presunto e queijo, massa verde à bolonhesa e bolonhesa com peru.
A seguir, o tabela 22 apresenta as características do produto lasanha à bolonhesa.
TABELA 22 – CARACTERÍSTICAS DO PRODUTO LASANHA SADIA À BOLONHESA
Requisitos Características
Composição
Molho bolonhesa: carne bovina, polpa de tomate, condimentos naturais, bacon, sal, açúcar,
amido modificado e pimenta branca. Molho branco: creme de leite, margarina, leite em pó,
condimentos naturais, bacon, sal, amido modificado e açúcar. Massa: farinha de trigo
enriquecida com ferro e ácido lico, água, ovo e sorbato de potássio (INS 202). Queijos:
mussarela e parmesão, presunto e aroma de fumaça. Contém glúten.
Validade
4 meses (freezer)
Conservação
Manter em -12˚C
Preparo no
microondas
350g: 9 minutos se estiver congelado e 4 minutos descongelado
650g: 14 minutos congelado e 8 minutos descongelado
FONTE: Embalagem de lasanha à Bolonhesa Sadia de 350g e 650g
121
7.2.3 Função do sistema, limites e unidade funcional
Para iniciar o projeto de Ecodesign, assim como na ACV, é preciso definir qual a função ou
objetivo do sistema do produto, indicar uma unidade funcional e determinar seus limites.
Considerando a definição para SE apresentado no capítulo 3, pode-se determinar que a
função do SE lasanha é “conter, proteger, conservar e transportar lasanha congelada aos
pontos-de-venda, atendendo as necessidades dos consumidores e respeitando o meio
ambiente.”
Depois de determinada a função, o próximo passo é definir a unidade utilizada que é uma
medida de referência do desempenho das saídas funcionais do sistema estudado (ABNT.
NBR ISO 14040, 2001). No caso da embalagem, seu objetivo é acondicionar a lasanha, por
isso a unidade funcional é a quantidade de produto embalado. Portanto, neste trabalho será
utilizado a unidade de 1000kg de lasanha o que corresponde a:
• Lasanha 350g – 1000 kg de produto = 2857 unidades
• Lasanha 650g – 1000 kg de produto = 1538 unidades
Por fim, a intenção deste trabalho não é fazer a ACV do produto, mas sim levantar seu perfil
ambiental através de uma ferramenta qualitativa como proposto na metodologia. Por isso,
não foram considerados a extração de matéria-prima como celulose, poliéster ou
ingredientes da lasanha. Desse modo, o sistema embalagem foi limitado como apresentado
na figura 25, em cinco etapas consideradas principais pelo autor que se baseou na Met
Matrix (figura 18), no conhecimento do sistema embalagem (figura 5) e no fluxograma do
produto fornecido pela Sadia S/A (figura 26). Em suma, esta delimitação está de acordo com
a metodologia do Ecodesign e tem por objetivo focar a análise ambiental nas principais
etapas do ciclo de vida da lasanha.
122
FIGURA 25 – LIMITES DO SISTEMA EMBALAGEM
7.3 ANÁLISE DO PERFIL AMBIENTAL DO PRODUTO
Após definir com clareza quais as características, limitações e funções do sistema, o passo
seguinte é conhecer seu perfil ambiental. Sem dúvida, é parte mais crítica do projeto por
causa da dificuldade em coletar os dados e determinar os impactos ambientais, por isso é
essencial delimitar a fronteira do sistema. Esta etapa está dividida em três partes: criação do
fluxograma com os limites do sistema, análise de inventário e análise do impacto ambiental.
7.3.1 Fluxograma do sistema
O fluxograma do SE apresentado na figura 26 foi construído com base nas informações
fornecidas pela Sadia S/A, pela gráfica responsável pela impressão das embalagens e
complementadas pelo autor. Nele estão presentes os principais processos do sistema que
foram identificados por cores que correspondem a uma fase do ciclo de vida do sistema.
Portanto, este fluxograma será a base para o levantamento de inventário e análise do perfil
ambiental.
123
FIGURA 26 – FLUXOGRAMA DO SISTEMA LASANHA SADIA
7.3.2 Análise de inventário
Baseado no fluxograma, foi feito a análise de inventário utilizando a Matriz de Inventário
(Met Matrix) como motrado na tabela 23. É muito importante lembrar que trata-se de uma
análise limitada às informações dos principais processos do sistema sem o rigor de uma
ACV.
124
A Sadia S/A possui certficação ISO 14000 e tinha os dados relativos ao consumo de
energia nos processos alvo deste trabalho como a linha de produção e estocagem
refrigerada. Porém, os dados relativos à produção da embalagem na gráfica foram mais
difíceis de obter necessitando consultar os fabricantes das máquinas para levantar o
consumo de energia. Os dados relativos a outros processos foram obtidos em diversas
fontes e calculados por vários critérios estando todos descritos no Apêndice-A deste
trabalho.
Antes de apresentar a análise de inventário é importante fazer algumas considerações em
relação as emissões do sistema. Existem diferentes categorias de emissões como por
exemplo: atmosféricas, para água e de residuos sólidos. Da mesma maneira, os materiais
gerados na saída do sistema são de naturezas diferentes, como os resíduos de embalagem
e o CO
2
. Portanto, seria incoerente, utilizando os critérios apresentados para avaliar o
impacto ambiental, somar as emissões de produtos distintos. Por estes motivos, na análise
de inventário que se segue, foram considerados apenas os resíduos sólidos.
TABELA 23 - MATRIZ DE INVENTÁRIO DAS LASANHAS SADIA 350G E 650G
Etapas Materiais (entradas/saídas) Energia Emissões (saídas)
Produção
embalagem
Papelcartão
Papelcartão com pet
Verniz UV
Tinta
Impressora off-set
Corte/vinco
Dobradeira
Aparas de papelcartão
Emissões off-set
Linha de envase
Ingredientes massa/molho
Cartucho papelcartão
Bandeja papelcartão c/ pet
Tampa de papelcartão c/ pet
Linha de envase n/c
Logística
Caixas papelão
Diesel
Trajeto gráfica - fábrica
Trajeto fábrica - CD (frio)
Trajeto CD - pdvs (frio)
Câmera fria fábrica
Câmera fria CD
Gôndolas frias no PDVs
Caixas papelão
Uso do produto Pratos/Talheres
Estocagem freezer
Preparo microondas
Disposição final n/e
Trajeto embalagens:
residência - aterro ou
residência - triagem
Cartucho papelcartão
Bandeja/tampa de
papelcartão com PET
NOTA: n/c = não considerado, n/e = não existe
125
Esta matriz de inventário tem por objetivo relacionar os principais ítens de cada etapa do
ciclo de vida separados pelo gasto de energia, materiais e emissões. Estes dados estão
descritos com a quantidade correspondente nas tabelas 24, 25 e 26. Calculados de acordo
com a unidade funcional de 1000 kg de lasanha.
TABELA 24 - INVENTÁRIO DE MATERIAIS LASANHA 350G E 650G ATUAIS
Processo Unidade 350g 650g
Produção embalagem
Cartuchos - papelcartão 278 g/m
2
kg 98,6 83
Bandejas - papelcartão com pet 373 g/m
2
kg 46 35,3
Tampas - papelcartão com pet 373 g/m
2
kg 23 23,6
Cartuchos - tinta + verniz UV kg 2,4 2
Bandejas tinta + verniz UV kg 1,1 0,9
Tampas - tinta + verniz UV kg 0,6 0,5
Linha de envase
Cartuchos de papelcartão kg 65,9 46,9
Bandejas de papelcartão com PET kg 37,4 28,2
Tampas de papelcartão com PET kg 21,9 18,6
Logística
Embalagens papelão ondulado kg 51,6 46,2
Diesel kg 8 7,8
Uso do produto
Pratos/talheres não condiderado
Disposição final não condiderado
Total de material kg 356,5 293
FONTE: Consultar Apêndice-A deste trabalho
TABELA 25 - INVENTÁRIO DE ENERGIA LASANHA 350G E 650G ATUAIS
Processo Unidade 350g 650g
Produção embalagem
Cartucho - Impressão off-set
kWh 40,8 25,6
Bandeja - Impressão off-set
kWh 14,2 10,9
Tampa - impressão off-set
kWh 7,1 7,3
Cartucho - corte/vinco kWh 0,5 0,3
Bandeja - corte/vinco kWh 0,2 0,1
Tampa - corte/vinco kWh 0,1 0,1
Linha de envase
Linha dedicada contínua kWh 235 235
Logística
Transporte embalagens gráfica - fábrica não condiderado
Transporte refrigerado fábrica - CD kWh
94 92
Transporte refrigerado CD - PDVs não condiderado
Estocagem câmera fria fábrica kWh
9 5
Estocagem câmera fria CD kWh
5,4 3
Gôncolas frias nos PDVs kWh
96,9 83,1
Uso do produto
Estocagem fria no Freezer kWh 74,5 64
Preparo do produto no Microondas kWh 628 338
Disposição final
Transporte residência - aterro ou residência - triagem não condiderado
Total de energia kWh 1205,7 864,4
FONTE: Consultar Apêndice-A deste trabalho
126
TABELA 26 - INVENTÁRIO DE EMISSÕES LASANHA 350G E 650G ATUAIS
Processo Unidade 350g 650g
Produção embalagem
Cartuchos - aparas de papelcartão kg 35,1 38,1
Bandejas - aparas de papelcartão kg 9,7 8
Tampas - aparas de papelcartão kg 1,7 5,5
Emissões off-set
não condiderado
Linha de envase não condiderado
Logística
Caixas papelão kg 51,6 46,2
Uso do produto
Água não condiderado
Disposição final
Cartuchos de papelcartão kg 65,9 46,9
Bandejas de papelcartão com PET kg 37,4 28,2
Tampas de papelcartão com PET kg 21,9 18,6
Total de emissões kg 223,3 191,5
FONTE: Consultar Apêndice-A deste trabalho
7.3.3 Avaliação do impacto ambiental
Depois do levantamento do inventário foi preciso determinar o grau de impacto ambiental de
cada etapa do sistema. Para isto foram somados as quantidades de material, energia e
emissões de cada etapa do sistema como mostrado na figura 27. O objetivo é mostrar quais
etapas consomem mais recursos e geram mais resíduos.
Materiais (kg) Energia (kWh) Emissões (kg)
Etapas
350g 650g 350g 650g 350g 650g
Produção da embalagem 171,7 145,3 62,9 44,3 46,5 51,6
Linha de envase 125,2 93,7 235 235 n/c n/c
Logística 59,6 54 205,3 183,1 51,6 46,2
Uso do produto n/c n/c 702,5 402 n/c n/c
Disposição final n/c n/c n/c n/c 125,2 93,7
Total 356,5 293 1205,7 864,4 223,3 191,5
FIGURA 27 - MATRIZ COM CÁLCULO DO INVENTÁRIO
NOTA: n/c = não considerado
Baseado na figura 28, foram gerados as unidades de desempenho ambiental da lasanha
350g e 650g. Os valores totais de materias (Ma), energia (En) e emissões (Em) do sistema
embalagem foram divididos pela quantidade de produto definida na unidade funcional (1000
kg). Estes valores foram utilizados para comparar ambos os sistema como mostrado nas
equações a seguir.
127
356,5;
1205,7;
223,3
Desempenho Ambiental 350g =
1000
= 0,35 (Ma); 1,20 (En); 0,22 (Em)
293;
864,4;
191,5
Desempenho Ambiental 650g =
1000
= 0,29 (Ma); 0,86 (En); 0,19 (Em)
Baseada na matriz de cálculo de inventário (figura 27), foi criado o gráfico da figura 28, para
melhor visualizar as relações dos aspectos ambientais de cada etapa do ciclo de vida.
128
FIGURA 28 – GRÁFICO DE IMPACTO AMBIENTAL LASANHA 350G E 650G
129
Observando a figura 28, percebe-se que em quase todas as etapas, o gasto de energia e
materiais do sistema lasanha 350g é maior que o da 650g. De acordo com o gráfico, o maior
consumo de materiais está na produção da embalagem, confirmando que a embalagem
single utiliza proporcionalmente mais material para acondicionar o produto. Já, a etapa de
maior consumo de energia é a da utilização do produto, este valor é influenciado pelo alto
consumo de energia dos fornos de microondas utilizados para preparar a lasanha. Portanto,
com base no perfil ambiental apresentado, foi possível identificar os pontos de maior
impacto ambiental para selecionar as estratégias mais adequadas.
7.4 SELEÇÃO DAS ESTRATÉGIAS PARA O PROJETO
Depois de identificar o perfil ambiental do sistema lasanha congelada, é preciso selecionar
as estratégias para o projeto. Para isso foram utilizados a Lista de Estratégias e a Matriz de
Viabilidade. O objetivo foi definir quais ações ambientais aplicar no projeto da nova
embalagem.
7.4.1 Lista de estratégias para minimizar o impacto ambiental
A lista de estratégias consiste em um quadro onde são colocados as cinco etapas do ciclo
de vida em uma coluna, ao lado as estratégias de Ecodesign e em seguida as ações
correspondentes para atingir cada estratégia. O objetivo é organizar as alternativas
disponíveis, criar novas idéias e auxiliar na escolha. A figura 29 apresenta, possíveis
estratégias com as ações correspondentes, elaboradas com base na Revisão Bibliográfica e
adequadas ao sistema embalagem.
130
Etapas Estratégias Ações Operacionais
Desenvolver bandeja sem PETl
Substituir verniz UV por outra alternativa
Utilizar papelcartão reciclado no cartucho
Seleção de materiais de baixo
impacto
Utilizar papelcartão reciclado na bandeja
Simplificação da embalagem Desenvolver bandeja que não necessite do cartucho
Redução do peso da
embalagem
Reduzir gramatura do papelcartão das embalagens
Produção da
embalagem
Otimização impressão Redimensionar tamanho das embalagens
Linha de envase
Otimização da paletização Aumentar quantidade de produto por palete
Reduzir distâncias entre fornecedores, fábrica e
consumidores
Logística
Otimização distribuição
Desenvolver embalagem que dispense refrigeração
Desenvolver embalagem que reduza o tempo de
preparo no microondas
Desenvolver embalagem que permita o consumo na
própria, dispensando o prato
Uso do produto Otimização do uso do produto
Incluir talheres descartáveis na embalagem
Acrescentar Informações de como dispor a
embalagem adequadamente
Disposição final
Redução do impacto da
embalagem pós-consumo
Reduzir quantidade de embalagem pós-consumo
FIGURA 29 – ESTRATÉGIAS DE ECODESIGN PARA EMBALAGENS
7.4.2 Avaliação da viabilidade das estratégias
Depois de selecionada as estratégias para o projeto, foi avaliado o grau de eficiência e
viabilidade de cada uma. Para isso foi utilizado a Matriz de Viabilidade da tabela 27, cujos
critérios de avaliação foram: prazo, viabilidade técnica e viabilidade financeira. Na última
coluna foram colocados o tipo de melhora esperada com cada ação.
Em relação aos critérios foram utilizados os seguintes conceitos. O prazo foi dividido em
curto ou longo que de acordo com a Sadia S/A correspondem respectivamente a 1 mês e 6
meses aproximadamente. A viabiliadade técnica estabelece se existe tecnologia disponível
na empresa para executar determinada ação. Já, a viabilidade financeira tem por objetivo
verificar se o custo para determinada ação é alto ou baixo.
131
É importante salientar que as ações operacionais da tabela 27, foram submetidas ao
departamento de desenvolvimento de embalagem da Sadia S/A. Ficando a cargo dele
preencher a viabilidade financeira e técnica, e o prazo em curto ou longo. Os ítens não
preenchidos e assinalados com -“ requerem mais estudos para serem determinados.
Portanto, estes critérios foram validados pela própria empresa produtora da lasanha.
TABELA 27 - MATRIZ DE VIABILIDADE PARA SELECIONAR ESTRATÉGIAS DE ECODESIGN
Ações operacionais P VT VF Melhora esperada
Desenvolver bandeja sem PET L S -
• Eliminar material de fonte não-renovável
• Aumentar reciclabilidade dos materiais
Substituir verniz UV por outra alternativa L S S • Eliminar material do processo
Utilizar papelcartão reciclado no cartucho L S - • Otimizar a extração de matéria-prima
Utilizar papelcartão reciclado na bandeja L N - • Otimizar a extração de matéria-prima
Desenvolver bandeja que não necessite do
cartucho
L S N
• Reduzir gasto de material, energia e
emissões
Reduzir gramatura do papelcartão das
embalagens
C S S • Reduzir papelcartão
Redimensionar tamanho das embalagens C S S
• Reduzir material, energia e aparas de
papelcartão
Aumentar quantidade de produto por palete C S S • Reduzir gasto de energia
Reduzir distâncias entre fornecedores,
fábrica e consumidores
L S N
• Otimizar transporte e armazenamento
• Reduzir energia e emissões de CO
2
Desenvolver embalagem que dispense
refrigeração
L S N • Economizar energia da cadeia do frio
Desenvolver embalagem que reduza o
tempo de preparo no microondas
L - - • Economizar energia no preparo
Desenvolver embalagem que permita o
consumo na própria, dispensando o prato
C S S
• Economizar água da lavagem da louça
• Reduzir efluentes da lavagem da louça
Incluir talheres descartáveis na embalagem L S S
• Aumentar conveniência do consumidor
• Economizar água da lavagem da louça
Acrescentar Informações de como dispor a
embalagem adequadamente
C S S
• Estimular coleta seletiva
LEGENDA: P = Prazo, L = longo prazo, C = curto prazo, VT = viabilidade técnica, VF = viabilidade financeira,
S= sim, N= não
7.4.3 Estratégias selecionadas para o projeto
Baseado no resultado da Matriz de Viabilidade da tabela 27, foram selecionadas as ações
operacionais. O critério utilizado para seleção foi a viabilidade técnica e financeira. A
exceção foi a estratégia número dois (tabela 28), desenvolver bandeja que não necessite do
cartucho, embora considerada inviável financeiramente pela Sadia S/A, o autor acredita que
132
os benefícios ambientais compensem o custo, uma vez que a eliminação da embalagem
display (cartucho) pode ter efeito positivo em todo o CV do sistema embalagem. A tabela 28
apresenta as ações selecionadas com a justificativa da escolha.
TABELA 28 – AÇÕES OPERACIONAIS SELECIONADAS PARA O PROJETO
Ações operacionais Motivos da escolha
1. Desenvolver bandeja sem PET
A funcão do PET é proteger a embalagem contra
umidade e gordura. Porém, existe um papelcartão
sem PET para produtos congelados
2. Desenvolver bandeja que não necessite do
cartucho
Eliminar o cartucho da lasanha pode reduzir os
impactos ambientais em todo o CV
3. Desenvolver embalagem que permita o consumo na
própria dispensando o prato
Aumentar a conveniência do consumidor single, além
de reduzir o consumo de água na lavagem da louça
4. Aumentar quantidade de produto por palete
Otimiza a logística, reduzindo consumo de energia
tanto na cadeia do frio como no transporte
5. Acrescentar Informações de como dispor a
embalagem adequadamente
A um custo baixo, estabelece um canal de
comunicação ambiental com o consumidor
7.5 DETALHAMENTO TÉCNICO DO NOVO SISTEMA EMBALAGEM
Nesta etapa foi detalhada a nova embalagem com base nas estratégias selecionadas. O
ideal seria que as embalagens resultantes fossem testadas com os ensaios de laboratório
necessários. Porém, como o propósito deste trabalho é apenas fazer uma avaliação crítica
da metodologia utilizando um modelo teórico para comparar o desempenho ambiental do
sistema, isto não foi necessário.
7.5.1 Definição do conceito e objetivos
Para definir o conceito central do novo SE é importante lembrar de alguns aspectos
ambientais atribuídos às embalagens na revisão bibliográfica. Um dos pontos mais
negativos é seu impacto nos resíduos sólidos urbanos, uma vez que após cumprir sua
função de proteger o produto, o que resta são os resíduos de embalagem. Outro ponto é o
133
fato da embalagem menor usar mais recursos materiais e energéticos em sua produção, em
relação a quantidade de produto. O consumo de água para lavar a louça na etapa do
consumo, embora não incluso no inventário, é significativa como mostrado no Apêndice-A
do trabalho. Por causa destes aspectos, os objetivos principais do novo sistema embalagem
são:
1. Reduzir material de embalagem pós-consumo
2. Reduzir a proporção do peso da embalagem por peso do produto
3. Reduzir gasto de água e energia na utilização do produto
4. Aumentar conveniência e praticidade da embalagem para o consumidor
5. Otimizar logística
7.5.2 Detalhamento da nova embalagem
A seguir são especificados o tipo de material, impressão, dimensão e outras informações
técnicas das novas propostas de embalagens primária, secundária e de transporte. A
embalagem display (cartucho) foi eliminada de acordo com as estratégias selecionadas.
7.5.2.1 Embalagem primária (Bandeja)
Eliminando a embalagem display a primária passou a ter dupla função. Além de seus
atributos de conter e proteger o produto, deve agregar as informações e identidade visual
da embalagem display. As dimensões da bandeja foram alteradas, a bandeja ficou mais
baixa, para facilitar o consumo na própria embalagem. Outro aspecto foi informar os
atributos ambientais da nova embalagem como por exemplo “Consuma na própria
embalagem”. Ademais, o verso pode ser utilizado como um canal de comunicação
134
ambiental, podendo por exemplo estimular o usuário a utilizar a coleta seletiva. Algumas
destas modificações podem ser observadas na figura 30.
FIGURA 30 – NOVA EMBALAGEM PRIMÁRIA PARA LASANHA
A seguir a tabela 29 apresenta as especificações técnicas da nova embalagem em
comparação com a atual. Com estas modificações da embalagem primária que permitiu
eliminar o uso da embalagem display, foi ecomizado o equivalente a 68,93 kg de
papelcartão e aproximadamente 1,73 kg de tinta e verniz, utilizados para produzir o
cartucho.
TABELA 29 – ESPECIFICAÇÕES DA EMBALAGEM PRIMÁRIA NOVA E ATUAL
Especificações Embalagem atual de 350g Embalagem nova
Material Papelcartão com PET 373 g/m
2
Papelcartão Suzano TP Polar
(1)
Impressão
Off-set 3 cores + verniz UV (tampa)
Off-set 1 cor + verniz UV (bandeja)
Off-set 6 cores + verniz UV (tampa)
Off-set 6 cores + verniz UV (bandeja)
Dimensões (montada) 35 mm (A) 125 (C) 150 mm (L) 125,3 mm (L) 141 mm (C) 25,5 mm (A)
Dimensões (aberta) 194 mm x 176 mm (bandeja) 185 mm x 201 mm (bandeja)
Volume 450 ml 450 ml
Conteúdo do produto 350g 350g
(1) Papelcartão, sem PET, para produtos congelados com resina barreira à água e gordura
O modelo de bandeja de papelcartão utilizado está representado na figura 31.
135
FIGURA 31 – MODELO DE BANDEJA DE PAPELCARTÃO PARA LASANHA
FONTE: MOURAD, 1999
7.5.2.2 Embalagem secundária e de transporte
Com alteração das dimensões da embalagem primária foi necessário redimensionar a
embalagem secundária (caixa de embarque) e a embalagem de transporte (palete). A tabela
30 apresenta as especificações das embalagens novas em comparação com as atuais. O
redimensionamento da bandeja e por consequência da caixa de embarque e paletização
permitiu um aumento de 700 kg para 1134 kg de lasanha por palete, ou ainda de 2000 para
3240 unidades de produto. No Apêndice-B deste trabalho, estão os cálculos e critérios
utilizados para dimensionar a nova caixa de embarque e paletização.
TABELA 30 – ESPECIFICAÇÕES DA EMBALAGEM SECUNDÁRIA E TRANSPORTE NOVA E ATUAL
Especificações Embalagem atual de 350g Embalagem nova
Caixa de embarque
Material Papelão ondulado 490 g/m
2
onda C Papelão ondulado 490 g/m
2
onda C
Impressão Flexografia 2 cores Flexografia 2 cores
Dimensões 308 mm x 206 mm x 133 mm 376 mm x 282 mm x 71 mm
Bandejas por caixa 10 unidades 12 unidades
Paletização
Caixas por palete 200 unidades 270 unidades
Bandejas por palete 2000 unidades 3240 unidades
Produto por palete 700 kg 1134 kg
136
7.6 AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO AMBIENTAL DO NOVO SE
A etapa final do projeto de Ecodesign consiste em avaliar os benefícios ambientais do novo
protótipo da embalagem. Para isso foram comparados o desempenho ambiental do novo
sistema com o atual das lasanhas de 350g e 650g. A comparação foi feita de maneira
teórica baseada nas informações do levantamento de inventário das embalagens atuais.
Portanto, para realizar esta etapa primeiro foi definida uma unidade funcional e depois
recalculadas as tabelas de inventário em cima das novas especificações.
7.6.1 Unidade funcional
A unidade funcional adotada é a mesma do levantamento de inventário, ou seja um palete
de produto, o equivalente a:
• Lasanha 350g – 1000 kg de produto = 2857 unidades
• Lasanha 650g – 1000 kg de produto = 1538 unidades
• Nova Lasanha 350g – 1000 kg de produto = 2857 unidades
7.6.2 Análise de Inventário
As tabelas 31, 32 e 33 apresentam a simulação do inventário da nova embalagem
comparado com as demais, baseando-se no detalhamento técnico realizado. Os critérios
utilizados para os cálculos estão no Apêndice-A deste trabalho.
137
TABELA 31 - INVENTÁRIO DE MATERIAIS LASANHA NOVA
Processo Unidade 350g 650g Nova 350g
Produção embalagem
Cartuchos - papelcartão 278 g/m
2
kg 98,6 83 -
Bandejas - papelcartão com pet 373 g/m
2
kg 46 35,3 46
Tampas - papelcartão com pet 373 g/m
2
kg 23 23,6 22
Cartuchos - tinta + verniz UV kg 2,4 2 -
Bandejas tinta + verniz UV kg 1,1 0,9 1,4
Tampas - tinta + verniz UV kg 0,6 0,5 0,6
Linha de envase
Cartuchos de papelcartão kg 65,9 46,9 -
Bandejas de papelcartão com PET kg 37,4 28,2 45,9
Tampas de papelcartão com PET kg 21,9 18,6 19,7
Logística
Embalagens papelão ondulado kg 51,6 46,2 53,6
Diesel kg 8 7,8 7,7
Uso do produto
Pratos/talheres não condiderado
Disposição final o condiderado
Total de material kg 356,5 293 196,9
FONTE: Consultar Apêndice-A deste trabalho
Observa-se na tabela 31, o diferença no consumo de materiais entre ambas as embalagens.
A embalagem de 350g atual consome 356,5 kg de matéria-prima para envasar 1000 kg de
lasanha, ou seja, uma relação de 0,35 kg de embalagem para 1 kg de produto. Já, a nova
embalagem consome 196,9 kg de material para 1000 kg de produto, uma relação de 0,19 kg
de embalagem para 1 kg de lasanha.
TABELA 32 - INVENTÁRIO DE ENERGIA LASANHA NOVA
Processo Unidade 350g 650g Nova 350g
Produção embalagem
Cartucho - Impressão off-set
kWh 40,8 25,6 -
Bandeja - Impressão off-set
kWh 14,2 10,9 14,2
Tampa - impressão off-set
kWh 7,1 7,3 6,9
Cartucho - corte/vinco kWh 0,5 0,3 -
Bandeja - corte/vinco kWh 0,2 0,1 0,1
Tampa - corte/vinco kWh 0,1 0,1 0,1
Linha de envase
Linha dedicada contínua kWh 235 235 235
Logística
Transporte embalagens gráfica - fábrica não condiderado
Transporte refrigerado fábrica - CD kWh
94 92 91
Transporte refrigerado CD - PDVs não condiderado
Estocagem câmera fria fábrica kWh
9 5 9
Estocagem câmera fria CD kWh
5,4 3 5,4
Gôncolas frias nos PDVs kWh
96,9 83,1 72,3
Uso do produto
Estocagem fria no Freezer kWh 74,5 64 55,5
Preparo do produto no Microondas kWh 628 338 628
Disposição final
Transporte residência/aterro ou residência/triagem não condiderado
Total de energia kWh 1205,7 864,4 1117,5
FONTE: Consultar Apêndice-A deste trabalho
138
Comparando o consumo de energia por produto da tabela 32, também é possível verificar as
reduções proporcionadas pela nova embalagem. Enquanto a de 350g atual gasta 1205,7
kWh para 1000 kg de produto, o equivalente a 1,2 kWh por quilo, a nova embalagem de
350g gasta 1117,5 kWh para 1000 kg de lasanha, ou seja, 1,2 kWh por quilo de lasanha.
TABELA 33 - INVENTÁRIO DE EMISSÕES LASANHA NOVA
Processo Unidade 350g 650g Nova 350g
Produção embalagem
Cartuchos - aparas de papelcartão kg 35,1 38,1 -
Bandejas - aparas de papelcartão kg 9,7 8 1,5
Tampas - aparas de papelcartão kg 1,7 5,5 2,9
Emissões off-set
não condiderado
Linha de envase não condiderado
Logística
Caixas papelão kg 51,6 46,2 53,6
Uso do produto
Água não condiderado
Disposição final
Cartuchos de papelcartão kg 65,9 46,9 -
Bandejas de papelcartão com PET kg 37,4 28,2 45,9
Tampas de papelcartão com PET kg 21,9 18,6 19,7
Total de emissões kg 223,3 191,5 123,6
FONTE: Consultar Apêndice-A deste trabalho
Por fim, de acordo com a tabela 33, chega-se as seguintes conclusões. A embalagem atual
de 350g gera aproximadamente 0,22 kg de emissões sólidas por quilo de produto, enquanto
a relação da nova embalagem é de 0,12 kg de emissões por quilo de lasanha.
A seguir, na figura 32, foram comparadas a soma dos aspectos ambientais das três
embalagens de lasanha (350g e 650g atuais e a nova de 350g). Através deste comparativo,
foi comprovado que a embalagem de 350g com as novas especificações técnicas apresenta
a relação entre a soma dos aspectos ambientais de material, energia e emissões, por peso
de produto envasado, menor que os sistemas embalagens atuais.
139
Materiais (kg) Energia (kWh) Emissões (kg)
Etapa
350g 650g NOVA 350g 650g NOVA 350g 650g NOVA
Produção da embalagem 171,7 145,3
70 62,9 44,3 21,3 46,5 51,6 4,4
Linha de envase 125,2 93,7 65,6 235 235 235 n/c n/c n/c
Logística 59,6 54 61,3 205,3 183,1 177,7 51,6 46,2 53,6
Uso do produto n/c n/c n/c 702,5 402 683,5 n/c n/c n/c
Disposição final n/c n/c n/c n/c n/c n/c 125,2 93,7 65,6
Total 356,5 293 196,9 1205,7
864,4 1117,5 223,3 191,5 123,6
Embalagem/produto 0,3 0,3 0,2 1,2 0,8 1,1 0,2 0,2 0,1
FIGURA 32 - MATRIZ COMPARATIVA DE INVENTÁRIO
NOTA: n/c = não considerado
7.6.3 Comparação do desempenho ambiental
Baseado na figura 32 foi criada a função de desempenho ambiental da nova embalagem
como mostrado a seguir. Na tabela 34 estão comparados as três embalagens.
196,
1117,
123
Desempenho Ambiental (DA) =
1000
= 0,19 (Ma); 1,11 (En); 0,12 (Em)
TABELA 34 – COMPARAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO AMBIENTAL DAS EMBALAGENS ATUAIS E NOVA
Embalagem Material (kg) Energia (kWh) Emissões (kg)
Lasanha 350g 0,3 1,2 0,2
Lasanha 650g 0,3 0,8 0,2
Lasanha Nova 0,2 1,1 0,1
Variação 350g nova/atual -0,1 -0,1 -0,1
Observando a lasanha 350g atual e a nova, concluiu-se que o novo sistema embalagem
apresenta melhorias nos aspectos ambientais segundo os critérios utilizados. Consome
menos materiais, energia e gera menos emissões. O gráfico da figura 33 apresenta o
comparativo entre os sistemas embalagens.
140
FIGURA 33 - GRÁFICO COMPARATIVO DO DESEMPENHO AMBIENTAL DAS LASANHAS
Resumindo, a nova proposta de embalagem apresentou uma redução no consumo de
materiais e na emissão de resíduos sólidos. Dois fatores contribuíram para a redução.
Primeiro, a eliminação da embalagem display, diminuindo tanto o uso como a disposição
final dos materiais. Segundo, otimização das caixas de papelão que passaram a conter 12
unidades ao invés de 10, permitindo uma redução no consumo de diesel no transporte.
Portanto, foi constatado nesta simulação que a embalagem nova cumpriu seus objetivos,
contendo a mesma quantidade de produto com menos impacto ambiental. Enfim, a tabela
35, apresenta um resumo comparativo entre os principais ítens das embalagens de lasanha
350g e 650g atuais e da nova embalagem de 350g.
TABELA 35 – RESUMO COMPARATIVO ENTRE AS EMBALAGENS
Especificações Lasanha 350g Lasanha 650g Lasanha nova
Unidades de produto por palete 2000 1152 3240
Peso do produto p/ palete (kg) 700 748,8 1134
Materiais p/ 1000 kg de produto (kg)
(1)
356,5 293 196,9
Energia p/ 1000 kg de produto (kWh) 1205,7 864,4 1117,5
Emissões p/ 1000 kg de produto (kg) 223,3 191,5 123,6
(1) Considerado apenas o peso das embalagem acabadas
Contudo, é preciso ressaltar mais uma vez, que esta se trata apenas de uma simulação
teórica. Para confirmar ou não, a viabilidade técnica e o desempenho ambiental da nova
embalagem, resultante do estudo de caso, é imprecindível realizar testes e pesquisas. O
141
objetivo do estudo de caso não foi criar uma nova embalagem, apenas simular uma
aplicação da metodologia do Ecodesign em um produto real.
7.6.4 Outros benefícios da nova embalagem
Além do menor consumo de materiais, energia e emissões por quantidade de produto da
nova embalagem, podem ser citados outros benefícios que não foram mensurados mas
podem ser percebidos como:
Otimização do transporte com a nova embalagem 1 palete carrega 3240 bandejas
podendo transportar mais produtos por viagem.
Otimização de materiais substituindo o papelcartão coextrusado de PET na bandeja e
tampa pelo papel Suzano TP Polar sem PET, evitou-se a utilização de material de origem
fóssil e não renovável como o PET. Também houve a redução dos materiais com a
eliminação do cartucho
• Otimização no uso – trouxe mais conveniência para o consumidor oferecendo uma
embalagem em formato mais anatômico e permitindo que o produto seja consumido na
própria embalagem, reduzindo o consumo de água na lavagem da louça. Os dados sobre o
consumo de água encontram-se no Apêndice-A deste trabalho.
Otimização na disposição final eliminando o cartucho reduziu-se a quantidade de
resíduo. Além disso, a embalagem pode trazer no verso informações de como descartá-la
corretamente, contribuindo para a educação ambiental do consumidor.
142
7.7 APLICAÇÃO DA METODOLOGIA EM OUTROS PRODUTOS
Concluído o projeto, a metodologia de Brezet e Hemel (1998), no qual o autor se baseou,
recomenda a divulgação dos resultados do trabalho e os benefícios do novo produto. O
objetivo é desenvolver um programa para adotar o Ecodesign como procedimento padrão na
empresa, devendo ser aplicado a outros produtos. Neste caso, deve-se considerar que o
conceito de sistema embalagem aplica-se a uma ampla gama de produtos, não limitando-se
ao setor de alimentos. Deste modo, o Ecodesign pode ser utilizado no sistema embalagem
de qualquer produto, respeitando as particularidades de cada um.
143
8 CONCLUSÕES
Este capítulo apresenta os resultados do trabalho, as conclusões sobre as hipóteses
formuladas e propõe responder à questão da pesquisa. Para isso relaciona os principais
pontos fortes e limitações da metodologia do Ecodesign e suas implicações no projeto de
embalagem de alimentos congelados para o público single. Por fim sugere pesquisas futuras
sobre o tema.
8.1 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O objetivo principal proposto no início deste trabalho de pesquisa é:
Avaliar a metodologia do Ecodesign através de sua aplicação ao projeto do produto
lasanha congelada acondicionada em embalagem cartonada destinada ao público
single, como ferramenta para analisar os impactos ambientais do sistema
embalagem e identificar oportunidades de minimizá-los.
Os objetivos secundários são:
Comparar o desempenho ambiental das embalagens de lasanha de 350g e 650g.
Propor embalagem alternativa.
Demonstrar que o Ecodesign pode ser aplicado em qualquer sistema embalagem.
Os resultados do trabalho atenderam aos objetivos porque:
144
Avaliou o Ecodesign através da Revisão Bibliográfica e do estudo de caso. A
pesquisa identificou as metodologias disponíveis. Selecionou como linha mestra o
método de Brezet e Hemel (1997), adaptando-o para o objeto de estudo. Aplicou no
projeto de uma embalagem de lasanha congelada single. Por fim, o trabalho
forneceu subsídios para avaliar criticamente a metodologia, identificando seus
pontos positivos e negativos. Desta forma, atingiu o objetivo principal.
Comparou as embalagens de lasanha, concluindo que a versão menor consome
mais recursos e por isso gera mais impacto ambiental. A tabela 36 apresenta a
relação entre peso do produto por peso de embalagem nas suas três opções.
Enquanto a embalagem de 650g atual tem uma relação aproximada de 0,09g de
embalagem para cada grama de produto, a lasanha de 350g tem uma relação de
0,12g, aproximadamente 35% maior. Logo, a embalagem de lasanha single causa
mais impacto ambiental porque gasta mais material para acondicionar menos
quantidade de produto.
TABELA 36 – RELAÇÃO DE PESO DE PRODUTO POR PESO DE EMBALAGEM
Consumidor single
Lasanha 350g
Lasanha 650g Lasanha 350g nova
Peso produto (g) 350 650 350
Peso embalagem (g) 44,7 61,1 23,1
Relação peso emb./prod. (g) 0,12 0,09 0,06
Propôs, como consequência do estudo de caso, uma possível alternativa de sistema
embalagem para lasanha congelada single. A simulação teórica comparando o
desempenho ambiental desta embalagem com as atuais demonstrou que ela gera
menos impacto. Porém, é preciso realizar os testes necessários para confirmar a
viabilidade da embalagem nova.
Por fim, confirmou a viabilidade de utilizar o Ecodesign em outros sistemas
embalagens. Parece não haver problemas uma vez que a metodologia pode ser
145
aperfeiçoada e adaptada para o projeto de qualquer produto. Isto ficou evidente no
estudo de caso. A demanda por embalagens com responsabilidade ambiental tende
a crescer e com isso deve aumentar a procura por mecanismos para criar
embalagens com menos impacto. Neste cenário, o Ecodesign torna-se uma
ferramenta essencial para a indústria de embalagens em geral.
Ao atingir estes objetivos, espera-se que o trabalho tenha contribuído para sistematizar o
conhecimento do Ecodesign, que é o objetivo de uma dissertação de mestrado, e contribuir
para disseminá-lo no setor de embalagens de alimentos no Brasil. Espera-se também
incentivar novos estudos nesta área para aperfeiçoá-la.
8.2 ANÁLISE DAS HIPÓTESES
Pode-se afirmar que as duas hipóteses levantadas no trabalho foram comprovadas, como
se segue:
Hipótese 1: A metodologia do Ecodesign é viável e satisfatória para ser aplicada no projeto
de uma embalagem de lasanha congelada, para diminuir o impacto ambiental do sistema,
mantendo os requisitos técnicos da embalagem como: conservar, proteger e transportar o
produto, além de baixar os custos e agregar valor ao produto.
Considerando suas limitações, o estudo de caso resultou na proposta de uma nova
embalagem de lasanha congelada. Esta embalagem, de acordo com as simulações teóricas
realizadas, teve seu impacto ambiental reduzido, manteve seus requisitos técnicos, agregou
valores de praticidade e responsabilidade ambiental. Portanto, pode-se dizer o Ecodesign é
viável para ser aplicado no projeto de lasanha congelada, confirmando a Hipótese 1.
146
Hipótese 2: Caso não existisse a embalagem single e estes consumidores passassem a
utilizar os produtos em porções maiores jogando fora o excedente, o impacto ambiental
aumentaria.
Partindo da premissa que a porção ideal de lasanha para uma pessoa é de
aproximadamente 350g, valor considerado pela Sadia S/A, pode-se criar três cenários de
consumo para o público single.
1. Não existe a embalagem 350g. O consumidor compra 650g de lasanha, consome
400g e descarta 250g mais 61g de embalagem.
2. Não existe a embalagem 350g. O consumidor compra 650g de lasanha, consome
400g, congela 250g para consumir em outra ocasião, descartando 61g de
embalagem.
3. Existe a embalagem 350g. O consumidor compra 350g de lasanha, consome tudo e
descarta 44g de embalagem.
Logo, no cenário 1, desperdício de alimento, o que é inaceitável. No cenário 2, embora
não tenha desperdício de alimento, o congelamento pode ocasionar perda de nutrientes e
sabor. No cenário 3, não desperdício de alimento e a quantidade de embalagem pós-
consumo (44g) é menor que nos outros cenários (61g).
Portanto, a resposta para esta hipótese é afirmativa. Eliminar a embalagem single
agravaria o problema, porque como demonstrado no capítulo 4, este público tende a
crescer. Estas pessoas vão consumir alimentos congelados independente do tamanho das
embalagens disponíveis. Por isso, o impacto seria maior, porque enquanto um casal gasta
147
uma embalagem que pesa 61g para uma refeição, o single gasta a mesma embalagem
porém, desperdiça parte do produto.
8.3 RESPOSTA À QUESTÃO DA PESQUISA
A questão central da pesquisa é: Qual a eficiência da utilização do Ecodesign na
avaliação dos impactos ambientais e melhora do desempenho ambiental do sistema
embalagem de lasanha single?
Em relação ao perfil ambiental, apresentou flexibilidade e rapidez, quando comparado a uma
ACV, porém por trabalhar com dados qualitativos não tem tanta precisão, apenas fornece
um panorama geral dos aspectos ambientais. Para apontar melhorias mostrou ser uma
ferramenta útil, porque permite repensar as funções da embalagem/produto, selecionar
estratégias de projeto sugeridas e contribuir para inovação. De modo geral, o fator
determinante para afirmar a eficiência do Ecodesign foi sua simplicidade e versatilidade.
Contudo, é preciso reconhecer as limitações do estudo de caso e a falta de testes da nova
embalagem.
8.4 PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA METODOLOGIA
Os pontos positivos da metodologia do Ecodesign são:
Sintetizar ferramentas e conceitos sobre como proceder para minimizar o impacto
ambiental de um produto em todas as etapas do ciclo de vida. Muitas estratégias do
Ecodesign como por exemplo: redução na fonte, usar materias recicláveis ou de
origem renovável, são conhecidas e adotadas isoladamente por algumas empresas.
148
Entretanto, a metodologia do Ecodesign demonstra como selecionar e combinar as
estratégias tirando o máximo proveito de cada uma.
Dissemina uma visão sistêmica sobre os aspectos ambientais da embalagem
ampliando as possibilidades para minimizar o impacto ambiental, não restringindo-se
a chavões como o de que basta reciclar a embalagem no final da vida útil que o
problema está resolvido. As pessoas envolvidas com o Ecodesign passam
automaticamente a pensar no projeto de embalagem considerando seu ciclo de vida.
Muitas empresas estão familiarizadas com a norma ISO 14000 sobre gestão
ambiental e com técnicas de Produção Mais Limpa, mas ainda não constumam
adotar um método para projetar embalagens com responsabilidade ambiental.
Algumas empresas depois do projeto acabado, apenas procuram colocar um
“enfeite” na embalagem para dizer que é ecologicamente correta. A adoção do
Ecodesign como ferramenta de projeto pode realmente fazer diferença.
Aproxima os diversos setores da empresa à medida que o Ecodesign requer uma
equipe multidisciplinar e com isso difunde a cultura da responsabilidade ambiental
em todos setores.
É um instrumento que leva à inovação uma vez que estimula a equipe de projeto a
repensar as funções da embalagem/produto e buscar alternativas.
Não requer grandes investimentos para ser implementada.
Os pontos negativos da metodologia são:
149
Por trabalhar com dados qualitativos pode estar sujeita a influência da interpretação
da equipe e por isso apresentar desvios e falta de credibilidade. Pode não oferecer
fundamento para uma possível certificação ambiental ao contrário de um estudo de
ACV. Pelo mesmo motivo, a determinação dos impactos ambientais utilizando as
ferramentas do Ecodesign não possuem alto grau de precisão.
A maioria das estratégias sugeridas na literatura são genéricas e podem não ser
apropriadas para o uso em produtos perecíveis e embalagens, por isso o autor
incluiu estratégias e medidas específicas para o setor.
A falta de um protótipo da nova embalagem com os devidos testes, não permitiu
confirmar seu desempenho em situações reais de uso.
8.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Resumindo, a metodologia é simples, mas trabalhosa. O grau de eficiência do projeto de
Ecodesign, depende do apoio da alta gerência da empresa, do comprometimento de todos
os departamentos, e do envolvimento dos fornecedores. Além disto, é importante o
treinamento dos líderes do projeto. Assim, as maiores dificuldades para implantar o
Ecodesign estão dentro das próprias organizações.
Para chegar ao término deste trabalho, houve uma série de dificuldades. A primeira foi a
pesquisa bibliográfica, exitem poucos trabalhos acadêmicos sobre Ecodesign, e
praticamente nenhum relacionado com embalagens. A literatura também é escassa, em
lingua portuguesa praticamente não existe nada, por isso, demorou para identificar e depois
reunir as principais fontes. Outra dificuldade foi coletar os dados para o estudo de caso.
150
Ao concluir seu trabalho, o autor expressa o desejo que outros pesquisadores continuem a
estudar o Ecodesign e gerar novas soluções para otimizar o desempenho ambiental das
embalagens. Além disso, acredita ter contribuído para aumentar a massa crítica sobre o
Ecodesign e o projeto de embalagens de alimentos com responsabilidade ambiental no
Brasil. Deste forma, espera abrir espaço para que outros pesquisadores dêem continuidade
a esta linha de pesquisa. Inclusive que alguém além do estudo de caso e coloque no
mercado uma embalagem/produto projetada com esta metodologia.
Por fim, o autor esperar ter contibuído para o setor de embalagens, para o meio ambiente,
para a sociedade e para os estudos de Ecodesign. De modo que as empresas adotem uma
metodologia de projeto para otimizar o impacto ambiental de suas embalagens/produtos,
contribuindo para preservar os recursos naturais do país, diminuir os resíduos sólidos
urbanos e melhorar a vida das pessoas.
151
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156
APÊNDICE- A / CÁLCULOS DE INVENTÁRIO
Neste apêndice estão os procedimentos e os cálculos utilizados no levantamento de
inventário. Estão dispostos na mesma ordem da tabela de inventário e divididos em
materiais, energia e emissões. Deve-se considerar a unidade funcional (UF) estabelecida
para os cálculos que é a seguinte:
• Lasanha 350g: 1000 kg de produto = 2857 unidades
• Lasanha 650g: 1000 kg de produto = 1538 unidades
• Lasanha Nova (350g): 1000 kg = 2857 unidades
Os valores da nova embalagem de Lasanha 350g foram obtidos hipoteticamente
considerando os valores das embalagens atuais. Uma vez que ela não foi produzida e não
pode ser medida empiricamente.
1.1 METODOLOGIA PARA CALCULAR MATERIAIS
1.1.1 Produção das embalagens
Neste item foram considerados a entrada dos principais materiais para produzir os
cartuchos, bandejas e tampas. São eles o papelcartão, a tinta e o verniz, sendo que os dois
últimos foram calculados juntos. As informações referentes aos processos de produção e
tamanho da folha impressa foram fornecidos pela gráfica. A Sadia utiliza mais de uma
gráfica para imprimir suas embalagens, para este trabalho foi consultada a gráfica Ibratec.
157
1.1.1.1 Papelcartão
Para calcular o peso total de papelcartão primeiro obteve-se o peso da folha, multiplicando a
gramatura pela área. Depois de obter o peso de cada folha, ele foi multiplicado pela
quantidade de folhas utilizadas para produzir uma unidade funcional de embalagem. A
gramatura do papel e o tamanho da folha foram fornecidos pela gráfica. A tabela 1
apresenta o resultado destas informações.
TABELA 1 – CONSUMO DE PAPELCARTÃO PARA PRODUÇÃO DAS EMBALAGENS
Embalagem
Gramatura
folha (g/m
2
)
Área folha
(m
2
)*
Peso folha
(g)
Qtde embalagem
por folha
Folhas/UF
1
Peso total
(kg)
Lasanha 350g
Cartucho
Bandeja
Tampa
278
373
373
0,87
0,87
0,87
241,8
324,5
324,5
7
20
40
408
142
71
98,6
46
23
Lasanha 650g
Cartucho
Bandeja
Tampa
278
373
373
0,87
0,87
0,87
241,8
324,5
324,5
6
14
21
256
109
73
83
35,3
23,6
Lasanha Nova
Bandeja
Tampa
373
373
0,87
0,87
324,5
324,5
20
42
142
68
46
22
* Todas as folhas apresentam a dimensão de 113 x 77 cm o equivale a 0,87m
2
.
(1) Unidade Funcional
1.1.1.2 Tinta e verniz
Para calcular a quantidade tinta e verniz foi utilizado os seguintes procedimentos. Obteve-se
a gramatura da tinta e verniz através da diferença entre a gramatura do papelcartão
impresso e a gramatura do papelcartão não impresso. Para calcular a gramatura do
papelcartão impresso seguiu-se a seguinte metodologia:
9
1. cortou-se 3 corpos de prova com área de 100 cm
2
cada
2. pesou-se cada corpo de prova em balança analítica
9
Descrito na apostila “Embalagens de Papel, Cartão e Papelão Ondulado, CETEA, 1999.
158
3. calculou-se a gramatura de cada corpo de prova, conforme a equação a seguir:
G = 10.000 x
P
A
onde:
G = gramatura (g/m
2
)
P = peso do corpo de prova (g)
A = área do corpo de prova (cm
2
)
O resultado final, expresso em g/m
2
foi obtido pela média aritmética dos resultados. A tabela
2 apresenta os resultados das medições, considerando a quantidade de embalagem e a
área impressa por folha multiplicada pela unidade funcional.
Entretanto deve-se considerar uma observação. A tinta e o verniz não puderam ser pesados
separadamente pelo processo utilizado, porque não foi possível obter uma amostra
impressa sem verniz uma vez que ele é aplicado em linha na própria máquina off-set.
TABELA 2 – CONSUMO DE TINTA E VERNIZ POR EMBALAGEM
Embalagem
Gramatura
folha
(g/m
2
)
Qtde
embalagem/
folha
Área
embalagem
(m
2
)
Gramatura
tinta
(g/m
2
)*
Tinta/
Embalagem
(g)
Folhas/
UF
Peso
total
(kg)
Lasanha 350g
Cartucho
Bandeja
Tampa
278
373
373
7
20
40
0,082
0,034
0,018
10,7
12,2
12,2
0,87
0,41
0,21
408
142
71
2,4
1,1
0,6
Lasanha 650g
Cartucho
Bandeja
Tampa
278
373
373
6
14
21
0,105
0,050
0,030
10,7
12,2
12,2
1,32
0,61
0,36
256
109
73
2
0,9
0,5
Lasanha Nova
Bandeja
Tampa
373
373
20
42
0,034
0,018
12,2
12,2
0,52
0,21
142
68
1,4
0,6
* Valor obtido através da subtração da gramatura da folha em branco pela da folha impressa.
1.1.2 Linha de envase
Neste ítem foram calculados a quantidade de embalagens utilizadas na linha de envase da
fábrica da Sadia em Ponta-Grossa para produzir uma unidade funcional.
159
1.1.2.1 Embalagens prontas
O procedimento foi pesar separadamente em balança de precisão os cartuchos, bandejas e
tampas de 350g e 650g, multiplicando-os pela unidade funcional como mostra a tabela 3.
Lembrando que o peso da Lasanha nova é uma simulação baseada nas especificações do
projeto.
TABELA 3 – PESO DAS EMBALAGENS PRONTAS
Embalagem Embalagens/UF Peso individual (g) Peso total (kg)
Lasanha 350g
Cartucho
Bandeja
Tampa
2857
2857
2857
23,1
13,1
7,7
65,9
37,4
21,9
Lasanha 650g
Cartucho
Bandeja
Tampa
1538
1538
1538
30,5
18,4
12,1
46,9
28,2
18,6
Lasanha Nova
Bandeja
Tampa
2857
2857
16,1
6,9
45,9
19,7
1.1.3 Logística
Foram considerados como materiais usados desta etapa, as caixas de papelão ou
embalagens secundárias e o diesel utilizados no caminhão para transportar as embalagens
da fábrica até o centro de distribuição.
1.1.3.1 Papelão ondulado
O procedimento utilizado foi pesar as embalagens de papelão em balança de precisão. A
tabela 4 apresenta as especificações técnicas das caixas, o peso individual e total por
unidade funcional.
160
TABELA 4 – ESPECIFICAÇÕES DA EMBALAGEM SECUNDÁRIA
Embalagem
Dimensões
fechada (mm)
Área
(m
2
)
Peso individual
(g)
Unidade por emb.
transp.
Qtde por
UF
Peso
total (kg)
Lasanha 350g 308 x 206 x 113 0,37 181,3 10 285 51,6
Lasanha 650g 310 x 220 x 140 0,37 180,7 6 256 46,2
Lasanha nova 376 x 282 x 71 0,46 225,4 12 238 53,6
Nota: Caixa de papelão ondulado onda C, 490 g/m
2
1.1.3.2 Diesel no transporte
O inventário sobre o transporte resume-se ao trajeto em caminhão baú refrigerado da
fábrica em Ponta-Grossa até o Centro de Distribuição em Jundiaí. Não foi possível obter
informações sobre outras etapas do transporte como por exemplo da gráfica até a fábrica e
do CD até os PDVs.
O transporte rodoviário é realizado em caminhão modelo Mercedez Benz modelo 1938. O
consumo médio informado pela transportadora terceirizada da Sadia é de 2 km/l de diesel
para o percurso de 530 km entre a fábrica de Ponta-grossa (PR) até o CD em Jundiaí (SP),
considerando uma carga total de 31200 kg (gasto de 265 L de diesel). Baseado nestes
dados foi calculado qual seria o consumo para o peso de um palete como mostra a tabela 5.
O peso do palete foi calculado somando o peso do produto mais embalagens totais.
TABELA 5 – CONSUMO DE DIESEL NO TRANSPORTE DA FÁBRICA ATÉ O CD
Embalagem Peso/UF (kg) Consumo (L)
Consumo (kg)*
Lasanha 350g
Lasanha 650g
Lasanha nova
1171
1136
1123
9,9
9,6
9,5
8
7,8
7,7
* Considerando a densidade do diesel de 0,815 kg/l retirados do Bosch Automotive Handbook 5th edition.
1.1.4 Uso do produto
Esta etapa compreende o momento em que o consumidor final armazena a lasanha no
freezer de sua casa, prepara no microondas e consome o produto, descartando as
embalagens depois. O material utilizado para o consumo pode ser considerado os talheres e
161
pratos. A tabela 6 pode ser entendida como uma possibilidade dos materiais utilizados nesta
etapa, porém o autor desconsiderou-os na somatória do inventário.
TABELA 6 – ACESSÓRIOS UTILIZADOS NO CONSUMO DA LASANHA
Embalagem Consumidores Talheres (garfos/facas) Pratos
Lasanha 350g
Lasanha 650g
Lasanha nova
1
2
1
2
4
2
1
2
0*
* Considerando que a proposta do projeto é sugerir o consumo na própria embalagem.
1.1.5 Disposição final
Esta etapa consiste em dispor as embalagens pós-consumo para serem revalorizadas. Não
foi considerado a existência de nenhum material. O que poderia ser considerado em uma
análise mais detalhada são os sacos de lixo utilizados. Porém o autor optou em considerar
que não existe material além das embalagens dispostas que foram contabilizadas na tabela
de emissões.
2.1 METODOLOGIA PARA CALCULAR ENERGIA
2.1.1 Produção das embalagens
Neste ítem foram considerados as seguintes etapas: impressão, corte e vinco e colagem.
2.1.1.1 Impressão
Os cartuchos, bandejas e tampas são impressos com as seguintes especificações. Máquina
off-set plana de 6 cores com verniz UV em linha modelo Rolland 700. Velocidade de
impressão de 1200 folhas por hora (ROLLAND 700) e o consumo de energia de 120 kWh.
Baseado nestes valores foi calculado o consumo de energia por folha que é de 0,1 kWh.
Depois foi multiplicado pela unidade funcional (UF) como mostrado na tabela 6.
162
TABELA 6 – CONSUMO DE ENERGIA NO PROCESSO DE IMPRESSÃO DAS EMBALAGENS
Embalagem Folhas por UF Consumo (kWh)*
Lasanha 350g
Cartucho
Bandeja
Tampa
408
142
71
40,8
14,2
7,1
Lasanha 650g
Cartucho
Bandeja
Tampa
256
109
73
25,6
10,9
7,3
Lasanha nova
Bandeja
Tampa
142
68
14,2
6,8
* O valor do consumo da máquina foi informado por um representante de vendas da Rolland.
2.1.1.2 Corte e vinco
Este processo é feito em uma máquina modelo Bobst Speria. Foi adotando o seguinte
procedimento para calcular o consumo de energia. Baseado na potência e velocidade da
máquina obtidos no manual (BOBST), foi calculado o consumo estimado de energia por
hora através da fórmula: consumo (kWh) = potência (W) x tempo (horas) / 1000, em seguida
multiplicado pelo mero de folhas por palete. Sendo que: Consumo = 11000 W x 1 hora /
1000 = 11 kWh. Os resultados estão na tabela 7.
TABELA 7 – CONSUMO DE ENERGIA NO PROCESSO DE CORTE/VINCO
Embalagem Folhas/unidade funcional Consumo (kWh)*
Lasanha 350g
Cartucho
Bandeja
Tampa
408
142
71
0,57
0,19
0,09
Lasanha 650g
Cartucho
Bandeja
Tampa
256
109
73
0,35
0,15
0,10
Lasanha Nova
Bandeja
Tampa
142
68
0,19
0,09
*Consumo por folha = 0,0014 kWh (11 kWh / 7700 folhas)
163
2.1.1.3 Processo de dobra e cola
Não considerado o consumo de energia desta etapa por causa da insuficiência de dados
satisfatórios obtidos pelo autor.
2.1.2 Linha de envase
2.1.2.1 Consumo de energia da linha de envase
De acordo com a fábrica de Ponta-Grossa, gasta-se aproximadamente 235 kWh por
tonelada de produto. Deste modo, os gastos para unidade funcional utilizada são iguais para
ambas as embalagens. Embora não seja possível saber o quanto de energia pode ser
economizado eliminando a etapa de encartuchamento da nova embalagem, uma vez que o
consumo da linha é medida como um todo, provavelmente haveria diminuição no gasto. Na
tabela 7 foi colocado a relação do consumo de energia por bandeja.
TABELA 7 – CONSUMO DE ENERGIA NA LINHA DE PRODUÇÃO
Embalagem Bandejas/UF Produto (kg) Consumo/bandeja (kWh) Consumo/UF (kWh)
Lasanha 350g
Lasanha 650g
Lasanha Nova
2857
1538
2857
1000
1000
1000
2,8
1,5
2,8
235
235
235
2.1.3 Logística
Esta etapa engloba o transporte rodoviário da fábrica até o CD e os gastos de energia com a
cadeia do frio, ou seja, estocagem refrigerada na fábrica, no CD e no PDV. Limitou-se ao
trajeto escolhido por ser o único com dados disponíveis que permitiram fazer o cálculo.
164
2.1.3.1 Transporte rodoviário
Para este cálculo foi considerado o consumo de diesel apresentado na tabela 5 e utilizada a
seguinte equação: Poder calorífico do diesel (42,5 MJ/Kg)
10
x Consumo (kg) = Potência
(MJ). Assim chegou-se a potência em MJ que foi convertida para kWh sendo 1 J = 277,8e-9
kWh. Os resultados estão na tabela 8.
TABELA 8 – CONSUMO DE ENERGIA NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO
Embalagem Peso/UF (kg)
Consumo diesel
(L)
Consumo diesel
(kg)*
Consumo de
energia (MJ)
Consumo de
energia (kWh)
Lasanha 350g
Lasanha 650g
Lasanha nova
1171
1136
1123
9,9
9,6
9,5
8
7,8
7,7
340
331
327
94
92
91
* Considerando a densidade do diesel de 0,815 kg/l retirados do Bosch Automotive Handbook 5th edition.
2.1.3.2 Estocagem refrigerada na fábrica e no centro-de-distribuição
As informações sobre o consumo estimado de energia na fábrica e no centro-de-
distribuição, bem como o tempo médio de permanência nos estoques, foram informados por
palete de produto, pela Sadia. A tabela 9 apresenta os valores convertidos para a unidade
funcional.
TABELA 9 – CONSUMO DE ENERGIA NA ESTOCAGEM REFRIGERADA
Embalagem Tempo na fábrica
Consumo fábrica
(kWh)
Tempo centro-de-
distribuição
Consumo centro-de-
distribuição (kWh)
Lasanha 350g
Lasanha 650g
Lasanha nova
5 dias
5 dias
5 dias
9
5
9
3 dias
3 dias
3 dias
5,4
3
5,4
2.1.3.3 Estocagem no ponto-de-venda em gôndola refrigerada
10
Poder calorífico de 42,5 MJ/kg foram retirados do Bosch Automotive Handbook 5th edition.
165
O procedimento adotado para calcular o gasto de energia no PDV foi o seguinte. Primeiro,
selecionou-se 3 modelos de geladeiras de supermercado para obter o consumo médio diário
por volume. Segundo, foram calculados os volumes de cada embalagem. Depois
considerado a permanência média de 3 dias do produto na gôndola (informado pela Sadia) e
tendo o consumo de energia por volume foram calculados o quanto consome um palete por
3 dias. A tabela 10 mostra o consumo médio de energia de geladeira de supermercados
enquanto a tabela 11 apresenta o consumo de energia no PDV por embalagem.
TABELA 10 – CONSUMO MÉDIO DE ENERGIA DOS FREEZERS DE SUPERMERCADO
Modelo Volume (l)
Consumo
energia/mês (kWh)
Consumo energia/dia
(kWh)
Consumo dia/volume
(kWh/l)
Gelopar – GHTE 220 410 156 5,2 0,010
Gsrv 500 380 12,6 0,020
Metalfrio HS 812 315 10,5 0,010
Média 574 283 9,4 0,013
FONTE: www.frigel.com.br
TABELA 11 – CONSUMO DE ENERGIA DA LASANHA NO PDV
Embalagem
Volume
individual (L)
Volume
UF (L)
Consumo
UF/dia (kWh)
Consumo total
3 dias (kWh)
Lasanha 350g 0,87 2485 32,3 96,9
Lasanha 650g
Lasanha nova
1,39
0,65
2137
1857
27,7
24,1
83,1
72,3
2.1.3.3 Estocagem no freezer do consumidor
Primeiro foi calculado o valor médio do consumo de energia por volume para freezers de
uso domiciliar como mostrado na tabela 11. Em seguida, tendo o consumo médio, o volume
das embalagens e o tempo de permanência estimado que é de 5 dias, de acordo com a
Sadia, foram calculados o consumo de energia como apresentado na tabela 12.
TABELA 11 – CONSUMO MÉDIO DOS FREEZERS DE USO DOMICILIAR
Marca Volume (l)
Consumo
energia/mês (kWh)
Consumo energia/dia
(kWh)
Consumo
energia/dia/volume (kWh/l)
Brastemp 306 86,5 2,8 0.009
Westinghouse 327 75,8 2,5 0.007
Cônsul 392 85,0 2,8 0,007
Westinghouse 394 70,6 2.3 0,005
Gelomatic 394 70,6 2.3 0,005
Westinghouse 394 72,5 2,4 0,006
Média 367 76,8 2,5 0,006
FONTE: http://www.certelnet.com.br/consumo.php
166
TABELA 12 – CONSUMO DE ENERGIA NO FREEZER DO CONSUMIDOR
Embalagem
Volume
individual (L)
Volume
UF (L)
Consumo
UF/dia (kWh)
Consumo total
5 dias (kWh)
Lasanha 350g 0,870 2485 14,9 74,5
Lasanha 650g
Lasanha nova
1,390
0,656
2137
1857
12,8
11,1
64
55,5
2.1.3.4 Preparo da lasanha no microondas
Neste trabalho foi considerado que a lasanha é preparada no microondas. Deste modo, foi
adotado os seguintes procedimentos para calcular o gasto de energia. Primeiro estabeleceu-
se a média de consumo do microondas na potência máxima (recomendada para preparar a
lasanha). Depois com o tempo de preparo descrito na embalagem, foi obtido o consumo de
energia por lasanha e depois por palete como apresentado na tabela 13.
TABELA 13 – CONSUMO DE ENERGIA PARA PREPARAR A LASANHA NO MICROONDAS
Embalagem
Pontência*
(W)
Tempo
(minutos)
Tempo
(horas)
Consumo por bandeja
(kWh)
Consumo total
(kWh)
Lasanha 350g 1300 9 0,15 0,22 628
Lasanha 650g
Lasanha nova
1300
1300
14
9
0,23
0,15
0,34
0,22
338
628
* A pontência do forno de microondas varia de 1200W a 1500W por isso optou-se em utilizar o valor médio de
1300W. Valor considerado para cálculo no site da empresa Energia Bandeirante (www.bandeirante.com.br).
3.1 METODOLOGIA PARA CALCULAR EMISSÕES
3.1.1 Produção da embalagem
Na produção da embalagem foram considerados dois aspectos, as aparas de papelcartão e
as emissões da impressão off-set. As aparas foram mensuradas considerando a quantidade
de papelcartão que entra no processo subtraído pela quantidade de embalagem acabada
que sai processo. Os resultados estão na tabela 14.
167
TABELA 14 – APARAS DE PAPELCARTÃO DA PRODUÇÃO DAS EMBALAGENS
Embalagem Entrada de material (kg) Saída de embalagem (kg)* Aparas (kg)
Lasanha 350g
Cartucho
Bandeja
Tampa
98,6
46
23
63,5
36,3
21,3
35,1
9,7
1,7
Lasanha 650g
Cartucho
Bandeja
Tampa
83
35,3
23,6
44,9
27,3
18,1
38,1
8
5,5
Lasanha 650g
Bandeja
Tampa
46
22
44,5
19,1
1,5
2,9
* Foi descontado o valor da tinta da tabela 2.
O impressão off-set provoca a emissão de diversos aspectos ambientais. Como não foi
possível quantificá-los eles foram listados na tabela 15. Porém, não foram inclusos na tabela
de inventário.
168
TABELA 15 – INVENTÁRIO DAS EMISSÕES DA IMPRESSÃO OFF-SET
Entrada Saída
Classe NBR
10.004
Aspectos
(causas)
Destino
Papel e plástico Papel e plástico usado II GRS ERL
Papel adesivo e adesivo Aparas e carcaças de adesivo I GRS INC/ACI
Dupla face/fita adesiva Dupla face/fita adesiva descartada I GRS INC/ACI
Tinta/verniz Resíduos de tita/verniz I GRS FOR/INC/ACI
Solução de fonte Solução saturada I GEL ETE/INC
Álcool Isopropílico ou
substituto
Solução saturada
VOCs compostos voláteis
I
GEL
GEA
ETE/INC
FECPE
Água Efluente líquido contaminado I GEL ERL/INC/FECPE
Solvente limpador
Solvente contaminado
VOCs compostos voláteis
I GEL ERL/INC/FECPE
Solvente/tinta
Solvente contaminado
VOCs compostos voláteis
I GEL ERL/INC/FECPE
Luvas de proteção Luvas de proteção descartadas II GRS ACII
Silicone Solução saturada I GEL ETE
Silicato de sódio Solução saturada I GEL ETE
Rolo de moleton Rolo de moleton contaminado I GRS FOR
Blanqueta Blanqueta contaminada I GRS FOR
Restaurador de
blanqueta
VOCs compostos voláteis
Efluente líquido contaminado
I
GEA
GEL
FECPE
ETE
Filtro de água Filtro de água contaminado I GRS INC/ACI
Pó antimaculatura Suspensão e deposição de fumos II GEA FECPE
Embalagens Embalagens contaminadas I GRS ACI
Trapos e estopas Trapos e estopas contaminadas I GEL/GRS ETE/ERL
Toalhas reutilizáveis Toalhas reutilizáveis contaminadas I GEL/GRS ETE/ERL
Escovas Escovas contaminadas I GRS ACII
Óleos, lubrificantes e
graxas
Óleos, lubrificantes e graxas
contaminados
I GRS ERL/ETE
Lâmpadas mpadas queimadas I GRS ERL
Poeiras do papel Deposição e suspensão de poeiras II GEA FECPE
FONTE: Sindicato das Indústrias Gráficas (Org.), 2003
LEGENDA:
GRS - Geração de resíduos sólidos
GEL – Geração de efluentes líquidos
GEA – Geração de emissões atmosféricas
ERL – Empresa recicladora licenciada
FOR – Devolução ao fornecedor
EDS – Empresa que descontamina
INC- Incineração
ACI – Aterro industrial Classe I
ACII – Aterro industrial Classe II
COP – Coprocessamento
FECPE – Filtragem/exaustão do
ambiente, ciclone ou precipitadores
eletrolíticos
ETE – Estação de tratamento de
efluentes líquidos ou envio para
empresa licenciada que trate
169
3.1.2 Linha de envase
De acordo com a Sadia, não há emissões significativas na linha de envase. Por isso não
foram considerados emissões nesta etapa.
3.1.3 Logística
3.1.3.1 Caixas de papelão
Foram considerandos os pesos das embalagens secundárias (caixas de papelão) utilizadas
por unidade funcional. Sendo que todas são descartadas nos PDVs. A tabela 17 apresenta
estes valores.
TABELA 17 – CAIXAS DE PAPELÃO DESCARTADAS
Embalagem Peso individual (g) Qtde por palete Peso total (kg)
Lasanha 350g 181,3 285 51,6
Lasanha 650g 180,7 256 46,2
Lasanha nova 225,4 238 53,6
3.1.4 Uso do produto
Nesta etapa foi considerado a emissão de água gasta para lavar a louça utilizada para
consumir a lasanha. Para este cálculo partiu-se da premissa que para consumir uma
bandeja de lasanha são utilizados 1 prato e 2 talheres por pessoa que devem ser lavados
depois do uso.
3.1.4.1 Consumo de água
Neste item está uma suposição do gasto de água para a lavagem da louça após o uso do
produto, porém não foi acrescentado na planilha de inventário, por que o trabalho limita as
170
emissões aos resíduos sólidos. Para determinar o consumo de água na lavagem utilizou-se
dois métodos. Primeiro o consumo médio de máquinas lava-louça informados pelos
fabricantes. Segundo, calculando o gasto de uma pessoa lavando a louça em uma pia com
uma bacia embaixo para coletar a água e depois medir em um recipiente adequado, os
resultados estão nas tabela 18 e 19.
TABELA 18 – CONSUMO DE ÁGUA NA LAVAGEM DE LOUÇA
Máquina lava-louça Consumo água (L)*
Brastemp
GE
Bosch
Média
11
12
14
12.3
* independente da quantidade de louça colocada o consumo
será o mesmo.
TABELA 19 – CONSUMO DE ÁGUA NA LAVAGEM MANUAL
Lavagem manual Consumo água (L)*
amostra 1
amostra 2
amostra 3
Média
2,4
2,1
1,5
2
* lavagem de 1 prato e dois talheres
Foi considerado o valor de 2 litros de água para cada refeição, porque é mais provável que a
louça seja lavada na mão pelo fato de ser pouca quantidade. Também foi considerado que
para lavar 2 talheres apenas, gasta-se 1 litro, a metade da água. Deste modo o consumo de
água por lasanha varia conforme tabela 20.
TABELA 20 – ACESSÓRIOS UTILIZADOS NO CONSUMO DA LASANHA
Embalagem Consumidores
Talheres
(garfos/facas)
Pratos
Água por
refeição (L)
Quantidade
refeições
Gasto de
água (L)
Lasanha 350g
Lasanha 650g
Lasanha nova
1
2
1
2
4
2
1
2
0*
2
2
1
2000
2304
3240
4000
4608
3240
* considerando que a proposta do projeto é sugerir o consumo na própria embalagem.
171
3.1.5 Disposição final
3.1.5.1 Embalagens pós-consumo
Neste ítem foi considerado que todas as embalagem são descartada depois do uso
independente se vai para coleta seletiva ou lixo comum. Portanto, a mesma quantidade de
embalagens que entra na linha de envase é descartada como mostra a tabela 21.
TABELA 21 – EMISSÕES DE EMBALAGENS PÓS-CONSUMO
Embalagem Lasanha 350g (kg) Lasanha 650g (kg) Lasanha nova (kg)
Cartucho
Bandeja
Tampa
65,9
37,4
21,9
46,9
28,2
18,6
-
45,9
19,7
172
APÊNDICE-B / CÁLCULOS DAS EMBALAGENS
SECUNDÁRIA E DE TRANSPORTE
Para que as caixas tenham um lastro perfeito, sem sobressaída, considerou-se um desconto
natural que as caixas têm entre si de 2% das dimensões do palete ou seja:
1200 - 2% = 1176 mm
1000 - 2% = 980 mm
Considerando o lastro de 10 caixas como o que tem melhor aproveitamento no palete como
mostra a figura 1, chegou-se as seguintes dimensões externas para a caixa de papelão
ondulado:
FIGURA 1 – PALETIZAÇÃO NOVA EMBALAGEM
Para o cálculo das dimensões internas descontou-se as paredes da caixa e a compensação
dos vinco onde: onda C = 4 mm de espessura.
173
Desconto das paredes:
C = 392 – (2x4) = 384 mm
L = 294 – (2x4) = 286
Desconto da compensação dos vincos. Considerando o modelo 0201 (caixa tipo normal)
mostrado na figura 2 e o desconto de 1 valor de espessura entre dois vincos tem-se:
C = 381 – 4 – 4 = 376 mm
11
L = 286 – 4 = 282 mm
FIGURA 2 – MODELO DE CAIXA DE TRANSPORTE TIPO NORMAL
Para cálculo das dimensões da bandeja e posteriormente da altura da caixa de papelão,
considerou-se o arranjo de 3 x 2 x 2 para as 12 bandejas dentro da caixa. Para cálculo da
altura externa da caixa de papelão ondulado, acrescentou-se as espessuras das abas
superiores e inferiores mais a compensação dos vincos como segue:
H = 2 x 25,5 + 4 x 4 + 4
H = 51 x 16 x 4
H = 71 mm
Portanto, as dimensões da embalagem de transporte são: 376 x 282 x 71 mm
11
Descontou-se mais um valor da espessura em função da aba de colagem que ocupa o espaço de uma
espessura no comprimento da caixa.
174
Considerando a altura máxima do caminhão de 2100 mm e a altura do palete de 120 mm,
calculou-se a quantidade de caixas no empilhamento:
2100 – 120 = 1980
1980 / 71 = 27 caixas
Total de caixas por palete: 10 x 27 = 270
Total de bandejas por palete: 270 x 12 = 3240
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