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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CORO MÃE DE DEUS- TUPANCIRETÃ/RS:
“É METADE DE MINHA VIDA, SÓ QUEM CANTA SABE
O QUE É, NÉ?”
DISSERTAÇÃO
BRUNO SILVA MARDINI
Santa Maria, RS, Brasil, 2007
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CORO MÃE DE DEUS- TUPANCIRETÃ/RS:
“É METADE DE MINHA VIDA, SÓ QUEM CANTA SABE O QUE
É, NÉ?”
por
Bruno Silva Mardini
Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Educação do Curso de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Educação, Área de Concentração em Educação e Artes, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS)
Orientadora: Profª Drª. Cláudia Ribeiro Bellochio
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de
Mestrado
CORO MÃE DE DEUS- TUPANCIRETÃ/RS:
“É METADE DE MINHA VIDA, SÓ QUEM CANTA SABE O QUE É, NÉ?”
elaborada por
Bruno Silva Mardini
Como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação
COMISSÃO EXAMINADORA:
Cláudia Ribeiro Bellochio, Drª
(Presidente/Orientador- UFSM)
Esther Sulzbacher Wondracek Beyer, Drª
(UFRGS)
Luciane Wilke Freitas Garbosa, Drª
(UFSM)
Santa Maria, Junho de 2007
À minha avó Ângela Magdalena Bay Silva, por
acompanhar e incentivar, com entusiasmo,
carinho e confiança, minha trajetória musical,
desde as primeiras notas ao piano, desde a
primeira canção cantada, até a realização deste
trabalho.
AGRADECIMENTOS
À minha família, que sempre acreditou em minha capacidade, dando apoio,
respeito e confiança pela minha escolha profissional.
À minha orientadora e amiga Prof. Drª. Cláudia Ribeiro Bellochio, a qual
conheci no curso de Música da UFSM e que sempre me incentivou a ir mais além nos
estudos, mais que orientadora, uma amiga sempre presente na minha vida, fica este
eterno agradecimento.
Aos meus queridos cantores do Coro Mãe de Deus, participantes da pesquisa,
pelo carinho e disponibilidade em participar deste trabalho.
Ao Instituto Mãe de Deus, através de sua direção, professores e comunidade
em geral, pelo apoio na construção desta pesquisa.
Às professoras Luciane Wilke Freitas Garbosa e Ana Luiza Ruschel Nunes, que
além de aceitarem o convite para banca desta dissertação, sempre me ajudaram nas
dúvidas deste trabalho, com ensinamentos que levarei para toda minha vida.
Aos professores do Programa de Pós-graduação em Educação, pela seriedade,
confiança e empenho na construção de um curso cada vez mais conceituado e agente
de transformação educacional.
À professora Ilza Zenker Leme Joly, por fazer parte da banca de defesa do
projeto, trazendo contribuições para esta pesquisa.
À professora Esther Sulzbacher Wondracek Beyer, por aceitar fazer parte da
banca de defesa da dissertação, trazendo valorosas contribuições na construção deste
trabalho.
À professora Ana Lúcia Louro pelas discussões esclarecedoras a respeito dos
temas que fazem parte do trabalho.
Aos funcionários do PPGE, em especial à minha amiga Elizabeth Freire Gomes
da Silveira, pelo seu carinho, amizade e pela assistência dispensada na minha trajetória
como mestrando.
Aos meus amigos do coro CE “Canta”, pertencente ao Centro de Educação,
pela amizade, companheirismo e por trazerem mais alegria e felicidade à minha vida.
À minha amiga e colega de coro Amy Pippi, pela disponibilidade em traduzir e
revisar os textos em inglês utilizados.
À professora do Instituto Mãe de Deus, Gladis Eloiza dos Santos Rodrigues,
pelo seu envolvimento e cuidado na correção final desta pesquisa.
Aos meus colegas de mestrado, que acompanharam e vivenciaram as várias
etapas de construção da dissertação.
À professora Lucimara Rosa da Costa, que, no ano de 1997 idealizou,
juntamente com suas vices-diretoras, a formação do coro Mãe de Deus, pela visão e
comprometimento com uma educação mais abrangente na escola.
Ao coro Mãe de Deus, parte importante da minha vida, coro em que pude
vivenciar a aprender o que é canto coral e o que o mesmo representa na vida das
pessoas.
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
Coral Mãe de Deus- Tupanciretã/RS:
“É metade de minha vida, só quem canta sabe o que é, né?”
Autor: Bruno Silva Mardini
Orientador (ª): Drª Cláudia Ribeiro Bellochio
Data e local da defesa: Santa Maria, 27 de junho de 2007
A presente dissertação foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Santa Maria na linha de Pesquisa em Educação e Artes. Trata-se de
um estudo de caso sobre o coro juvenil Mãe de Deus, da cidade de Tupanciretã/RS, onde foram
investigados seis coristas com tempos distintos de participação no grupo. A abordagem de
pesquisa é qualitativa e o coleta de dados constitui-se de entrevista semi-estruturada e
anotações de campo do pesquisador/regente. O objetivo geral centrou-se em investigar o papel
do coro Mãe de Deus no desenvolvimento das concepções e ações musicais dos coristas.
Fizeram parte do referencial teórico autores tais como: Teixeira (2005), Wöhl (2006), Schmeling
(2003), Oliveira (2003), Hentschke (1995), Bellochio (1995), Coll (1994), Phillips (1992), Penna
(1990) e Figueiredo (1990). Os resultados obtidos com a pesquisa apontam para a importância
da atividade de canto coral para os cantores. Apoiando-se na realidade do Instituto Mãe de
Deus de não possuir aulas de música no currículo e levando em conta que o coro Mãe de Deus
representa a única atividade musical formalizada na escola, o mesmo foi destacado pelos
participantes da pesquisa como um agente de construção e desenvolvimento musical. O coro
atua como aglutinador, onde a união das vozes remete a vivências musicais e sociais mais
amplas de seus participantes. As ações musicais praticadas pelos cantores fora da atividade
coral mantém ligações com aprendizados dentro do coro. Vivências musicais diárias são
constantemente relacionadas com os aprendizados vivenciados no grupo. Neste sentido,
percebe-se o papel do regente, que deve promover uma mediação entre cantores e a música
em si. Temas como a técnica vocal, a mudança de voz, o repertório e discussões sobre o cantar
em conjunto, constituem-se em tópicos que devem ter uma atenção especial no coro juvenil.
Finalizando, entende-se a atividade coral como potencializadora do desenvolvimento musical e
social dos cantores, espaço que vivencia-se a solidariedade, a ajuda entre os participantes
promovendo a vontade de coletivamente fazer o melhor.
Palavras-chave: educação musical, coral juvenil, coral escolar, concepções e ações musicais
ABSTRACT
Dissertação de Mestrado
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
Mãe de Deus Choir- Tupanciretã, RS:
“It’s half of my life, only he who sings knows what that’s, like!?”
Autor: Bruno Silva Mardini
Orientador (ª): Drª Cláudia Ribeiro Bellochio
Data e local da defesa: Santa Maria, 27 de junho de 2007
The present thesis was developed in the post-graduate program in education at the
Universidade Federal de Santa Maria in the line of research in Education and Arts. It deals with
a case study of the school youth choir “Mãe de Deus”, from the city of Tupanciretã in the state of
Rio Grande do Sul, Brazil, where 6 members of the choir with varying amounts of time with the
group were investigated. The research approach was qualitative and the data collection was
carried out through semi-structured interviews and Field notes of the choirmaster. The general
objective was to investigate the role of the choir in the development of conceptions and musical
actions of the members of the choir. Authors such as Teixeira (2005), Wöhl (2006), Schmeling
(2003), Oliveira (2003), Hentschke (1995), Bellochio (1995), Coll (1994), Phillips (1992), Penna
(1990) and Figueiredo (1990) were studied in the review of literature. The results obtained
demonstrate the importance of the choir activity for the members of the choir. Given the fact that
the school Mãe de Deus does not offer music classes and that the choir was the only formal
musical activity available, it was considered by participants to be an agent in their musical
construction development. The choir acts as a bond, where the union of voices remits the widest
social and musical experiences of its participants. The musical actions practiced by the singers
outside of the choir further maintain their link to the knowledge gained in the choir. Daily musical
experiences are continuously related to the knowledge gained in the group. Thus, it is possible
to see the role of the choirmaster who should be a mediator between the singers and the music
itself. Themes such as vocal technique, voice change, the repertory and discussions on group
singing should be given special attention in the youth choir. In conclusion, it is clear that the
choir is an activity that enhances musical and social development in its participants and a offers
a space for solidarity among the participants, which encourages the desire to collectively do the
best.
Key words: music education, youth choir, school choir, musical actions and conceptions
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1: Coro Mãe de Deus na estréia em outubro de 1998.....................................41
FIGURA 2: Coro Mãe de Deus em apresentação de Natal na igreja Matriz de
Tupanciretã, 2001............................................................................................................42
FIGURA 3: Coro Mãe de Deus em apresentação na Semana da Cultura, 2006,
Tupanciretã/RS................................................................................................................45
FIGURA 4: Coro Mãe de Deus em Rivera/Uruguai, 2005, Festival de Coros...............46
FIGURA 5: Coro Mãe de Deus em Rivera/Uruguai no segundo Festival de Coros,
2006.................................................................................................................................47
FIGURA 6: Coro Mãe de Deus, Feira do Livro, Júlio de Castilhos/RS, 2007................48
FIGURA 7: Coro Mãe de Deus, Feira do Livro, Júlio de Castilhos/RS, 2007................48
FIGURA 8: Coro Mãe de Deus em apresentação no Festival Coral Mãe de Deus da
canção, 2002...................................................................................................................52
FIGURA 9: Coro Mãe de Deus, no 4° Festival “Coral Mãe de Deus” da canção, 2005,
Tupanciretã-RS...............................................................................................................55
FIGURA 10: Visualização do programa “Auda City”.......................................................67
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Ensaios do coro, ano, horário e número de participantes...........................49
TABELA 2: Cantores selecionados para a pesquisa......................................................64
TABELA 3: Concepções e ações musicais dos coristas entrevistados..........................83
LISTA DE ABREVIATURAS
EM: Educação Musical
FECORS: Federação de Coros do Rio Grande do Sul
MPB: Música Popular Brasileira
OMS: Organização Mundial da Saúde
UFSM: Universidade Federal de Santa Maria
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A: Roteiro da entrevista semi-estruturada...................................................93
APÊNDICE B: Carta de cessão de direitos....................................................................94
SUMÁRIO
Lista de ilustrações
Lista de tabelas
Lista de abreviaturas e siglas
Lista de apêndices
INTRODUÇÃO............................................................................................................15
1 – CORO JUVENIL..................................................................................................19
1.1) Características........................................................................................................20
1.2) Algumas questões importantes para coro juvenil..............................................22
1.2.1 Cantar em conjunto......................................................................................22
1.2.2 Mudança vocal.............................................................................................27
1.2.3 Práticas dos regentes .................................................................................32
1.2.4 Repertório....................................................................................................35
1.3) Coro Mãe de Deus: sua história e atividades......................................................40
1.3.1 História.........................................................................................................40
1.3.2 Coordenadores............................................................................................50
1.3.3 Festival Coral Mãe de Deus da canção.......................................................51
2 - METODOLOGIA...................................................................................................57
2.1) Pesquisa qualitativa...............................................................................................57
2.2) Estudo de caso.......................................................................................................59
2.3) Contexto, participantes, critérios de seleção, coleta dos dados......................61
2.3.1 Instituto Estadual de Educação Mãe de Deus.............................................61
2.3.2 Participantes da pesquisa............................................................................63
2.3.3 Critérios de seleção.....................................................................................64
6.4 Coleta de dados..............................................................................................66
Entrevista semi-estruturada......................................................................66
3 –ANÁLISE DOS DADOS......................................................................................69
3.1) Concepções e ações musicais dos coristas entrevistados...............................69
3.1.1 Coristas com 2 a 3 anos de participação no grupo.....................................69
Concepções Musicais................................................................................69
Ações Musicais..........................................................................................71
3.1.2 Coristas com 4 a 5 anos de participação no grupo.....................................73
Concepções Musicais................................................................................73
Ações Musicais..........................................................................................75
3.1.3 Coristas com 6 a 8 anos de participação no grupo......................................77
Concepções Musicais................................................................................77
Ações musicais..........................................................................................79
3.2) Concepções e Ações Musicais: tecendo relações na construção do canto
coral juvenil....................................................................................................................82
Considerações finais....................................................................................................89
Referências....................................................................................................................95
14
INTRODUÇÃO
Durante boa parte da minha vida musical, as atividades que permearam minha
trajetória se relacionaram com o canto. Desde os seis anos de idade, quando iniciei as
aulas de piano e posteriormente aos 8 anos, quando fiz aulas de teclado na Academia
de Música Santa Cecília, em Tupanciretã-RS, as atividades de tocar o instrumento
vinham acompanhadas do ato de cantar. Participava de recitais, apresentações em
escolas e até mesmo de festivais de intérpretes da MPB. Com isso, o canto foi tomando
um “lugar” especial na minha construção musical e social, pois o mesmo abria “portas”
para a aquisição de novas amizades e relacionamentos com diferentes grupos sociais.
Em 1998, ingressei no curso de Licenciatura Plena em Música da UFSM,
buscando aprimorar meus conhecimentos musicais e ser professor de Educação
Musical. Durante todo o curso, 1998 a 2002, notei que boa parte das disciplinas
trabalhadas continham temas e questões relacionados à voz. Através destas
disciplinas, fui adquirindo conhecimentos sobre a voz falada e cantada, em disciplinas
como anátomo-fisiologia da voz, técnica vocal, regência, canto na infância, na
adolescência, dentre outros.
Anterior ao meu ingresso no curso de Música da UFSM, no ano de 1997, iniciei
a cantar no coro municipal de Tupanciretã como tenor e recebi um convite para montar
um coro, da então diretora da escola municipal Dr. Flory Duck Kruel, de Tupanciretã, a
senhora Maria Loiry Di Mônaco Zunchin. O coro era formado basicamente por crianças
e alguns jovens. Considero este o início das minhas atividades como
preparador/regente de coral. Até hoje tenho lembranças fraternas desta grande
educadora que me fez conhecer o universo do canto coral, tão rico musicalmente e
capaz de unir as pessoas. Quando falo neste caráter de unir as pessoas que a
atividade coral proporciona, reflito que a maioria dos grupos corais existentes no nosso
país se “nutre” do entusiasmo de seus participantes, sendo que grande parte dos coros
não são profissionais. Sabemos que os mesmos, em sua grande maioria, estão no
espaço coral por vontade própria, ou seja, estão por livre escolha. Por isso, vejo o ato
15
de cantar em conjunto como um ato capaz de unir as pessoas, pois reflete uma
atividade espontânea e escolhida, não imposta.
Iniciei, portanto, no ano de 1997, a reger um coro de crianças na escola Dr.
Flory Duck Kruel. O início foi difícil, minha experiência em coros até então, resumia-se
em cantar. Todavia, naquele mesmo ano, já buscava um aprimoramento através de um
curso para jovens regentes realizado aqui no nosso estado e promovido pela FECORS
(Federação de Coros do Rio Grande do Sul). Em 1998, paralelo à minha entrada na
Universidade Federal de Santa Maria, (UFSM), fui convidado a montar um coro no
Instituto Estadual de Educação Mãe de Deus, também de Tupanciretã. O convite partiu
da professora Lucimara Rosa da Costa, então diretora da escola. Nascia, assim, o
Coral Mãe de Deus, cuja história será apresentada no segundo capítulo desta pesquisa.
Com as atividades iniciadas nesse grupo e a participação em festivais e encontros de
coros, algumas questões foram surgindo e acompanhando minha atuação como
regente: o que os coristas entendem por música, o que o ato de cantar representa na
vida dos mesmos e de que forma a sua participação no grupo influencia no
desenvolvimento das atividades extracoral. Estou procurando responder estas questões
através desta pesquisa, sem esquecer, no entanto, que vou construindo algumas
hipóteses através da própria atividade prática no coro, do convívio com outros
profissionais da área de canto coral e mesmo a partir das relações entre regente e
cantores.
Não poderia deixar de abordar outras questões que considero relevantes no
contexto dos estudos sobre canto coral na escola e que envolvem o repertório, a
mudança vocal, as características de um coro juvenil e a questão do cantar em
conjunto.Tais temas se inter-relacionam, como, por exemplo, de nada adianta
conhecer sobre a mudança vocal se, na prática de implementação coral, não relacioná-
la com o repertório que está sendo desenvolvido em um grupo. Ainda, o ato de cantar
em conjunto já nos remete a outras questões tais como o convívio em grupo, o saber
escutar o outro, dentre outras posturas a serem abordadas na primeira parte da
pesquisa.
No momento de realização desta pesquisa, em que o coro, objeto deste estudo,
já possui oito anos de existência, procuro, responder a questões relacionadas às
16
concepções e ações musicais dos coristas. Com isto, pretendo contribuir para os
estudos nesta área. Mais do que isto, promover uma reflexão sobre o canto coral juvenil
na escola. Além desta temática central de pesquisa, também procuro trazer outras
questões relacionadas à atividade do canto coral como o cantar em conjunto, a
mudança vocal e o repertório, as quais servem de referências para o objeto de estudo
desta dissertação. Ao longo dos anos, percebi o quão importante é a atividade coral
para os cantores do coro Mãe de Deus e para a comunidade do qual está inserido. A
cantora Lucélia, uma das participantes da pesquisa, expressou este sentimento: “é
metade de minha vida, só quem canta sabe o que é, né?”. Com base nesta importância
vivenciada e dada pelos cantores, escolhi esta frase como título para esta dissertação.
O estudo e o entendimento, por parte do regente e do pesquisador, sobre as
concepções e ações musicais, a meu ver, são fundamentais para a implementação de
um canto coral escolar que valorize a música, seus participantes e que nos acene para
a ampliação de nossas reflexões acerca desta atividade, de cantar em conjunto. É
necessário ao regente conhecer e saber lidar com as experiências musicais trazidas
pelos cantores e com as experiências musicais adquiridas por eles na própria atividade
do coro. Com isto, quero chamar a atenção para o fato de que cada cantor já possui
uma “bagagem” musical que ele pode expressar ou não no convívio com o restante do
grupo. Esta “bagagem” musical, reconhecida como vivência musical internalizada, se
constitui através das músicas que ele ouve, dos grupos musicais diversos nos quais
participa, enfim, do contato que o mesmo tem com a música. A soma do que o cantor
traz musicalmente para o espaço coral com o que ele vivencia e aprende no coro
poderá nos acenar para um maior entendimento de suas concepções musicais. Diante
do exposto, apresento o objetivo geral e os específicos desta pesquisa:
Objetivo geral:
* Investigar o papel do coro Mãe de Deus no desenvolvimento das concepções
e ações musicais de seus coristas.
Objetivos específicos:
* Identificar as concepções dos coristas sobre o Coro Mãe de Deus.
17
* Entender o papel do coro no desenvolvimento das concepções e ações
musicais dos coristas fora da atividade coral.
* Tecer algumas relações entre as concepções e ações musicais diárias dos
coristas e suas concepções e ações na atividade coral.
Com base na idéia da dissertação e buscando clarear termos que estou
utilizando, procuro conceituar coro juvenil, concepção e ação musical.
A palavra concepção vem do latim “conceptionis” e significa entendimento,
idéia, noção. A palavra ação vem do latim “actione” e pode ser interpretada como uma
faculdade ou possibilidade de executar alguma coisa, uma atividade, energia,
movimento, segundo o dicionário Michaelis (2006). Em dicionários de filosofia, como o
de Abbagnano (1998) encontramos a definição da palavra concepção. Na sua
explicação, o autor escreve que devemos levar em conta a palavra conceito, quando
falamos em concepção. Quando um conceito é simbolizado para as pessoas, em
seguida o revestimos de uma concepção privada ou pessoal, ou seja, criamos um modo
de entendimento pessoal sobre o conceito, uma idéia, uma noção do mesmo. No caso
desta pesquisa, notamos que os coristas possuem concepções a respeito da atividade
coral que desempenham no coro Mãe de Deus. Os mesmos possuem um ponto de
vista, uma noção, uma idéia a respeito do que estão fazendo. Essa noção,
entendimento constitui-se na sua concepção coral e musical. Concepção, ainda,
segundo Del Ben (2001), está relacionada com as crenças, os valores, as preferências,
os hábitos, princípios e percepções dos coristas, o que torna o termo concepção mais
abrangente. Portanto, utilizaremos nesta pesquisa o termo concepção levando em
conta todos esses princípios, percepções, preferências e hábitos musicais dos sujeitos
da pesquisa.
Ação musical é compreendida como o fazer musical, as atividades musicais
desempenhadas pelos participantes. As ações e concepções, ainda, estão interligadas
pelo mesmo fio condutor: a música. As ações musicais dos coristas, por exemplo, nos
acenam para a possibilidade de compreensão das concepções musicais.
18
1 – CORO JUVENIL
O trabalho coral na escola constitui-se numa atividade de educação musical
com possibilidades de um trabalho baseado nas vivências musicais e sociais de seus
participantes. Este trabalho também nos acena para a possibilidade de uma educação
musical em sentido mais amplo.
Revisar alguns estudos relacionados ao tema canto coral, em sentido amplo,
nos conduz aos trabalhos de Wöhl (2006) com sua obra “técnica vocal para coros”;
Bündchen (2005) que pesquisou a relação ritmo-movimento no fazer musical criativo
tendo como base uma abordagem construtivista na prática do canto coral; Teixeira
(2005), que pesquisou o coro de empresa como desafio para a formação e atuação de
regentes; Roe (1994) com sua obra “Choral Music Education”
1
em que aborda temas
referentes à atividade coral nas escolas; Figueiredo (1990) que tratou do canto coral
como um momento de aprendizagem musical e Ramos (1988) que pesquisou o canto
coral a partir do enfoque do repertório temático ao programa.
No âmbito do canto coral infantil, infanto juvenil e juvenil, encontramos trabalhos
de Schmeling (2005) com a pesquisa de mestrado sobre o cantar com as mídias
eletrônicas, feita com jovens em Porto Alegre/RS; Specht e Bündchen (2004)
pesquisaram o corpo e a voz no fazer musical das meninas do grupo “Arte em Canto”,
(grupo coral formado por meninas); Oliveira (2003) que pesquisou o repertório e a
técnica vocal para coro juvenil; Bellochio (1994) que tratou do Canto Coral como
mediador no desenvolvimento sócio cognitivo da criança em idade escolar; Phillips
(1992) com a obra “Teaching kids to sing” (ensinando crianças a cantar), dentre outros.
Foram citados alguns estudos que tratam de questões sobre a atividade de
canto coral nos mais variados espaços de atuação: escola, empresas e com as mais
variadas faixas etárias: crianças, jovens, adultos. A seguir, seguem-se os temas que
serão abordados nesta parte, quer sejam: características do coro juvenil no primeiro
capítulo e, no segundo capítulo, os temas cantar em conjunto, mudança vocal e o
repertório.
1
Educação Musical Coral
19
1.1 CARACTERÍSTICAS
Quando falamos em coro juvenil muitas palavras inundam nossas reflexões
acerca desta atividade musical: adolescência, mudança vocal, puberdade, grupo,
colaboração, dentre outros.Todos estes pontos vêm à tona na hora do ensaio, da
seleção do repertório, da escolha de métodos, opções de trabalho, enfim, vêm à tona
elementos inerentes à construção do coro juvenil, até mesmo antes dele: na sua
preparação.
No coro Mãe de Deus, encontramos participantes na faixa etária dos 12 aos 25
anos de idade, levantamento feito no ano de 2006. Segundo a (OMS) Organização
Mundial de Saúde, as idades de 10 a 20 anos compreendem a adolescência. Se formos
buscar o significado da palavra adolescência, veremos que a mesma deriva do latim
adolescere (crescer). Portanto, a adolescência caracteriza-se em uma fase de
mudanças vinculadas a aspectos fisiológicos, emocionais e de convivência na própria
sociedade. Anterior a este período, existe a puberdade que vai, em média, dos nove
aos quatorze anos de idade e marca o início da adolescência. No coro Mãe de Deus
participam cantores de 12 a 24 anos de idade. Alguns deles, como vemos, já estão
saindo da adolescência, outros estão passando da puberdade para a adolescência. No
entanto, a grande maioria de seus cantores está na faixa etária própria da
adolescência.
Com isto, entendemos que o coro é juvenil. No entanto, não podemos esquecer
que alguns componentes podem participar de coros infanto-juvenis, pois estão na fase
de transição denominada de puberdade. Alguns cantores podem participar de coros
adultos, pois estão no final da adolescência, com aproximadamente 21 anos.
No aspecto vocal, em meninos e meninas de 9 a 14 anos, a mudança vocal
ocorre pelo aumento da laringe, pregas vocais e músculos do sistema fonatório. Neste
período, notamos a queda de registro na voz dos cantores, sendo esta característica
acentuada no sexo masculino. Este é um dos primeiros desafios encontrados pelo
regente. Frente a este, encontramos outros desdobramentos como a escolha e a
adequação do repertório para os cantores em mudança vocal.
20
Segundo Oliveira (2003), não há motivo para excluir o adolescente de
atividades como o canto coral:
[...] não há nenhum inconveniente em que a criança de ambos os sexos, na
adolescência, desenvolva quaisquer atividades que lhes sejam oferecidas, não
havendo assim justificativa para possíveis exclusões dos adolescentes,
essencialmente masculinos, da prática coral nesta faixa etária (p.10).
Não há, portanto, motivo para excluir o cantor da atividade de canto coral,
todavia, regentes devem ter cuidados especiais com os que se encontram em mudança
vocal e, sempre que possível, ouvir separadamente a voz dos mesmos. Fazer
avaliações também ajuda, pois durante o processo de mudança vocal, a voz poderá
mudar de registro, subindo alguns tons, principalmente nos meninos. O ideal é facilitar
as frases musicais que os mesmos cantam, não utilizando “saltos” com intervalos
grandes ou extremos como tons muito graves ou muito agudos. É um trabalho que
demanda tempo, e, muitas vezes, é necessário marcar horários separados, onde a
conversa com os cantores em mudança vocal também é necessária. A abordagem
sobre o tema, ilustrando-o com exemplos práticos também ajuda.
Finalizando, destaquei que as características de coros juvenis implicam em
desafios para a estruturação da atividade coral juvenil: a mudança vocal, o repertório e
o cantar em conjunto. Na verdade estes temas são norteadores de um trabalho com
jovens, atuando interligados.
21
1.2 ALGUMAS QUESTÕES IMPORTANTES PARA CORO JUVENIL
Nesta parte, estarei abordando questões que considero fundamentais na
atividade do canto coral juvenil na escola tais como reflexões sobre o cantar em
conjunto, a mudança vocal (própria da adolescência), as práticas dos regentes em
coros juvenis e o repertório.
1.2.1 Cantar em conjunto
Cantar em conjunto pode, a princípio, parecer uma prática simples para quem
ouve já que esta atividade implica na reunião de algumas pessoas para cantar.
Todavia, a partir de minha prática no canto coral, como regente e cantor, e pelo
convívio com outros profissionais, educadores e regentes, percebo que existem
questões importantes que compõem o ato de cantar em conjunto, através da atividade
de canto coral, principalmente na escola, foco desta pesquisa. Referidas questões têm,
com certeza, suas próprias peculiaridades sem, no entanto, estarem isoladas de todo
um contexto. Muitas vezes, regentes não conseguem entender o porquê de uma
determinada obra não soar bem. Geralmente, recorre-se ao aprimoramento da técnica
vocal, respiração, dicção e tudo o mais que compõe uma melhor realização técnica da
obra. Porém a técnica não atua de forma isolada no resultado final de uma música, pois
o ato de cantar, por si só, apresenta um caráter humano, emocional, ou seja, a técnica
e a emoção caminham em uma mesma direção de produção vocal e artística de um
coro.
O ato de cantar já ganhou várias interpretações, mas se nota que há uma
quase unanimidade em relacioná-lo às ações naturais do ser humano. Com isto, qual a
relação que poderíamos tecer entre a voz falada e a voz cantada? Segundo Wöhl,
(2006):
A voz é a utilização inteligente dos ruídos e sons musicais produzidos no
interior da laringe com o impulso da expiração controlada, ampliados e
timbrados nas cavidades de ressonância e modelados pelos articuladores no
tempo, no meio e no estado pulsátil de cada pessoa. A esta definição de caráter
22
eminentemente fisiológico e acústico acrescenta-se o conteúdo psíquico e
emocional; isto é, a voz é, também, a expressão sonora da personalidade do
indivíduo e o reflexo de seu estado psicológico (WÖHL, 2006, p. 11).
Neste enfoque, a voz reflete o estado psicológico e emocional das pessoas.
Ainda, segundo Bellochio:
Através da voz podemos revelar (e/ou interpretar) o universo de nossa
existência. Nesse enfoque, parece-nos prudente a referência de que a voz
humana (oral ou em pensamento) é uma veia expressiva do “imaginário social”
que permeia as ações cotidianas do homem (ibid, 1995, p.22).
Estas duas compreensões deixam claro que não podemos separar a voz das
ações cotidianas do homem, com seus anseios, emoções e sentimentos. O ato de
cantar utiliza como matéria prima a voz, técnica e emocional.
Todavia, notamos que cantar exige uma participação muscular maior por parte
do nosso corpo. A respiração precisa ser melhor controlada para auxiliar nas frases
musicais, os ressonadores atuam no sentido de ampliar os sons e a altura da voz
experimenta novas sonoridades as quais quase não usamos no ato de falar. Disto tudo,
podemos concluir que o ato de cantar pressupõe a utilização da voz em uma amplitude
maior em comparação à voz falada. Esta maior amplitude também traduz o caráter
emocional do ser humano. Aqui, cabe uma ressalva, tanto a voz falada como a voz
cantada são capazes de mexer com nossas emoções. Segundo Phillips (1992, p.3)
“cantar é uma forma básica da expressão humana”.
Tendo estes pressupostos, três assuntos nos chamam a atenção quando a
questão implica em compreender o cantar em conjunto, sobretudo em grupos juvenis:
(1) Por que jovens buscam esta atividade? (2) O trabalho em grupo e a interação entre
alunos ajuda no desenvolvimento do canto coral na escola? (3) Qual o papel do regente
na construção do canto coral na escola?
Com relação à primeira questão no canto coral juvenil, âmbito escolar, a
participação de jovens que buscam esta atividade assenta-se pelos mais variados
motivos. Todos, no entanto, estão ligados por um mesmo “fio” condutor: fazer música
em conjunto. No espaço do coro, são compartilhadas as culturas de cada um, seus
padrões músico-vocais, sua forma de cantar fora do espaço coral e suas relações
23
familiares. Também não é incomum vermos jovens participando de coros pelo simples
fato de estarem participando de um grupo, sentindo-se, assim, inclusos e não excluídos
na escola. Eles trazem ao grupo suas experiências de vida, seu modo de lidar com
diversas situações e isto tudo contribui para a diversidade de opiniões e riqueza cultural
no coro, pois, como nos diz Schmeling:
O adolescente traz consigo muitas experiências de vida e também experiências
musicais. Lidar com este leque de informações sócio-culturais é algo vital para
uma proposta pedagógico-musical que inclui o Canto Coral como processo
alternativo de Educação Musical na sociedade (2003, p.5).
Munidos de suas experiências musicais e de vida, adolescentes estabelecem
relações com seus colegas de grupo e a partir deste momento tornam-se parte mais
efetiva do mesmo. Com isto, notamos uma maior participação por parte deste cantor
nos assuntos gerais do grupo. Ao sentir-se incluso e aceito, as chances do adolescente
permanecer no coro aumentam consideravelmente. Podemos concluir, à priori, que a
sua inclusão em um grupo, como o coral, é um dos principais argumentos que motivam
os jovens a cantar.
A segunda indagação proposta foi se o trabalho em grupo e a interação
entre alunos ajudam no desenvolvimento do canto coral na escola. Partindo do
princípio de que o jovem cantor procura participar da atividade coral para fazer parte
de um determinado grupo, acredito que o trabalho em grupo e a interação entre os
alunos contribuem no desenvolvimento do trabalho musical inerente ao do canto
coral.
Em se tratando de escola, muitas vezes os colegas de coro também são
colegas em sala de aula. Isto implica, por parte do regente, no entendimento e
percepção das relações entre os alunos/cantores. Muitas atitudes tomadas no coro e
mediadas na relação entre os cantores podem não ser entendidas pelo regente, pois
estão vinculadas às vivências fora do espaço coral. O papel do regente neste caso é
procurar entender o porquê de determinadas ações e traduzi-las em trabalho de equipe,
cuja união e cooperação estejam movidas num só sentido: o bem do grupo.
24
Quando a cooperação acontece, há um grande avanço nas relações entre os
cantores (alunos), Coll (1994, p. 95-96) entende que:
Do ponto de vista da evidência empírica, do que sabemos, não podemos
abrigar dúvida sobre a importância das relações entre os alunos para atingir os
objetivos educacionais, tanto dos estritamente sócio-efetivos como dos
instrumentais e de conteúdo. As investigações realizadas permitem afirmar que,
em geral, a organização cooperativa das atividades escolares tem alguns
efeitos mais favoráveis sobre a aprendizagem do que a organização competitiva
ou individualista (COLL, 1994, p.95-96).
Nas palavras de Coll, podemos perceber que a cooperação contribui para o
desenvolvimento educacional. No coro, não é diferente, pois se trata de um grupo
formado por alunos em que o trabalho em conjunto e as interações contribuem para a
sua manutenção.
A terceira indagação proposta foi a respeito do regente e seu papel na
construção do canto coral na escola. Entendo que a figura do regente neste contexto
desempenha papel mediador na construção do Canto Coral na escola. O mesmo não
está dissociado das questões acima abordadas, pelo contrário, o regente participa com
o restante do grupo, medeia as atividades musicais e sócio-interativas, em outros
momentos dá voz aos cantores. O papel do regente frente ao coro vem sendo discutido
em vários trabalhos como no de Figueiredo:
É fundamental que se reflita sobre a atividade coral. Os regentes devem se
lembrar de sua função educacional. Através desta reflexão haverá maiores
possibilidades de desenvolvimento consistente do conhecimento musical, que
conduzirá, seguramente, ao aprimoramento da prática coral (1990, p.90).
O regente coral tem um papel educacional, não só por estar trabalhando na
escola, mas também por estar trabalhando com uma educação musical que deverá ser
mais ampla e consistente. Uma educação onde o ensaio não se resuma somente ao
aprendizado de padrões rítmicos, teoria, leitura musical e técnica vocal, mas que
relacione estes aspectos com a vida dos cantores. Um exemplo disto seria relacionar os
exercícios de técnica vocal com o conviver em grupo, onde as vozes unidas soem como
uma só voz, a voz do coro.
25
A seguir vamos expor outra questão importante em canto coral juvenil que é a
mudança vocal. Assim como é necessário que se reflita o cantar em conjunto, abordado
nesta parte, não devemos esquecer de relacioná-lo com a mudança vocal pois, os
cantores juvenis que estão passando por esta fase podem sentirem-se deslocados do
grupo.
26
1.2.2 Mudança vocal
A mudança vocal, como um aspecto fisiológico da voz humana, vem sendo
discutida por fonoaudiólogos, regentes e educadores musicais que trabalham
principalmente em espaços em que há a presença de adolescentes, sujeitos
geralmente em processo de transformações vocais, característica acentuada sobretudo
no sexo masculino. No processo de mudança vocal nota-se o crescimento da laringe e
o aumento, tanto em espessura quanto em comprimento, das pregas vocais. As pregas
vocais situam-se internamente na laringe e são apoiadas por músculos e cartilagens. As
mesmas permanecem abertas para a passagem do ar durante a respiração. Quando
falamos ou cantamos as pregas vibram, produzindo o som que é amplificado nas
cavidades do pescoço, nariz e da boca, que formam a caixa de ressonância. Com isso,
notamos que vários órgãos do nosso corpo auxiliam na produção do som: o aparelho
respiratório, as pregas vocais, a laringe, os ressonadores e os articuladores. Com base
nestes órgãos que auxiliam na emissão vocal, surgem, na voz dos adolescentes,
mudanças que se aproximam cada vez mais do padrão vocal dos adultos e se afastam
da voz infantil, característica de crianças.
Até o início do século XX, existiam dois argumentos distintos no que se refere à
compreensão da mudança vocal em adolescentes. De um lado, professores de canto e
regentes que defendiam a retirada (principalmente do menino) do coro enquanto o
mesmo permanecesse em processo de mudança vocal. Este afastamento do grupo
perdurava de 3 a 6 meses, podendo chegar a um ano. De outro lado, a corrente
formada igualmente por professores de canto, regentes e profissionais da área que
defendia a permanência do jovem no coro. Esta última tendência foi ganhando corpo e
passou-se a discutir estratégias e métodos/atividades de trabalhos para a permanência
dos cantores nos grupos.
No início do século [XX] essa discussão foi retomada nos Estados Unidos da
América sob um outro enfoque. A preocupação não era se o adolescente
poderia continuar cantando nesse período, mas como a voz deveria ser
classificada e treinada (OLIVEIRA, 2003. P.55).
27
Estas estratégias podem ser vistas nos mais diversos trabalhos e estudos. Em
“Teaching Kids to sing”
2
(1992), Phillips aborda a questão do aumento das pregas
vocais dos meninos e meninas. Refere que nos meninos, há quase o dobro de
tamanho, tanto em comprimento quanto em espessura das pregas vocais, ocasionando
uma queda no registro vocal em torno de uma oitava. Ainda, segundo o autor, esta
mudança ocorre em velocidades distintas entre os sujeitos. Alguns meninos
experimentam um processo rápido no qual é muito perceptível a mudança na voz o que
caracteriza uma inclinação para tornarem-se baixos, outros são mais lentos neste
processo de mudança vocal tornando-se, segundo Phillips, quando adultos, em tenores.
Segundo Oliveira (2003), a mudança vocal nas meninas inicia em torno dos
nove anos, com o início da puberdade. As graduais mudanças nas vozes femininas,
menos acentuadas que nos meninos, ocorrem num período de quatro a cinco anos. Já
em meninos, a puberdade inicia tardiamente, em torno dos onze a doze anos, e as
mudanças significativas de crescimento dos órgãos fonatórios no menino ocorrem no
transcorrer deste processo que leva, também, de quatro a cinco anos. O tempo para a
mudança vocal varia de dois a seis meses, todavia podem acontecer exceções
perdurando por quase um ano. Ainda, segundo o autor, se este tempo máximo passar
de um ano, o regente deverá encaminhar o cantor a buscar o auxílio de profissionais da
voz, a fim de afastar o perigo de patologias.
A mudança vocal em meninas também é objeto de estudo e preocupação para
regentes em coro juvenil. Contudo, a voz feminina é mais uniforme e as transformações
vocais não são tão extremas e perceptíveis como nos meninos. O crescimento da
laringe e das pregas vocais nas meninas é bem menor e o registro vocal, após a
mudança, configura uma queda de dois tons a dois tons e meio. Isto implica em um
cuidado por parte do regente e preparador vocal para os estágios em que se encontram
meninos e meninas na mudança vocal. As obras citadas neste subcapítulo dão
destaque mais acentuado ao processo de mudança vocal nos meninos.
Existem alguns autores e até mesmo escolas que fixaram parte de seus
estudos neste tema específico. Na obra de Phillips (1992), são citadas seis abordagens
contemporâneas sobre a mudança vocal em adolescentes. Segundo o autor, a primeira
2
Ensinando crianças a cantar.
28
provém da “Royal School of Church Music”, na Inglaterra. Neste espaço, continua a
prática da igreja tradicional onde os meninos são treinados para cantar nos serviços
religiosos. Os meninos são orientados a cantar com a voz em registros agudos. Com
isso, o som produzido pelos cantores é puro e cristalino com pouco ou sem nenhum
vibrato. Vozes mais graves como as de contralto devem ser cantadas por outros
meninos (contratenores). Os rapazes que cantam soprano não devem cantar partes
mais graves e quando iniciam a mudança vocal e não conseguem mais “sustentar” a
voz aguda são retirados do coro e só retornam quando mudaram completamente a voz.
Após o processo de transformação vocal, estes cantores são encaminhados aos naipes
de tenor e baixo.
Segundo Phillips (1992), muitas críticas foram feitas a essa abordagem. John
Dawson e Richard Miller escreveram e criticaram esta posição da “Royal School of
Music”. Miller argumenta que cantando somente na voz aguda, os meninos não são
preparados para o que deveria ser uma transição natural para o registro mais grave.
Além disso, podemos concluir que a retirada dos cantores dos coros durante o
processo de mudança vocal não os auxilia nesta etapa tão importante da vida. O que se
tem discutido nos dias atuais não é a retirada do menino do coro. Os autores
problematizam hoje, através de suas obras, ações mais efetivas direcionadas à escolha
do repertório e à distribuição das vozes nos diferentes estágios da mudança vocal pelos
quais meninos principalmente passam.
A segunda abordagem, segundo Phillips, provém de John Cooksey, (apud
PHILLIPS, 1992) outro pesquisador que trabalha com a mudança vocal e aspectos
relacionados a ela. Foi aluno de Irvin Collins e seguiu, por algum tempo, o seu conceito
de “voz cambiata” (cambiata concept). Todavia, Cooksey abandonou este conceito do
seu professor por achá-lo muito limitante no que se refere à classificação das vozes em
mudança no homem. Passou então a escrever alguns artigos no “Choral Journal”
(1977-1978) nos quais chamou seu conceito como “teoria eclética contemporânea”,
onde reconhece três categorias de voz em mudança, designando três fases da voz
cambiata. Recomenda também que, o professor de música trabalhe com os cantores a
parte adequada com as fases da voz, porém, segundo ele, poucos arranjos e literatura
existem sobre o assunto.
29
A terceira abordagem, segundo Phillips (1992), é a de Frederick Swanson que
trabalha com o barítono-baixo (the baritone-bass aproach). Swanson passou parte da
vida trabalhando com meninos adolescentes.
Ele considera que a velocidade da mudança de voz pode ser muito rápida, até
dentro de algumas semanas. A voz sofre uma queda de registro de uma oitava no início
da maturação para trinta a quarenta por cento dos meninos de 5ª a 8ª séries.
A quarta abordagem, segundo Phillips (1992), e que trata deste tema, provém
de Duncan Mckenzie, com sua teoria do “alto-tenor” (the alto-tenor aproach, 1956).
Preconiza que a mudança vocal é um produto gradual, em que o menino vai perdendo
o registro agudo e adicionando notas no registro abaixo. Explica, posteriormente como
se dá a mudança vocal no menino e as particularidades e tessitura em que se
encontram os diferentes estágios da voz neste processo.
The “Cambiata Aproach”, (teoria da voz cambiata), de Irvin Cooper e Don
Collins, é a quinta abordagem tratada no texto de Phillips e, segundo ele, tem sido a
teoria mais “popular” nos Estados Unidos que trata da mudança vocal em adolescentes.
Descreve quatro tipos de vozes nos meninos em mudança: sem mudança (trebles), na
primeira fase (cambiata), na segunda fase (barítonos) e já mudados (baixo). Segundo
Cooper e Collins, tenores no seu sentido “puro”, nesta fase, não existem.
Sally Herman, segundo Phillips, trabalha com a chamada “Voice Pivoting
Aproach”, ou seja, na tradução literal “Teoria das Vozes em Movimento (girando)”. É a
sexta abordagem e trata da voz do menino adolescente que deve “passar” por todas as
outras partes dos naipes, todavia mantendo-o sempre cantando num registro
confortável para a voz, seria o mesmo que combinar partes das vozes dos outros
naipes e reescrevê-las na mesma pauta para os meninos em mudança vocal. A autora
classifica as vozes em quatro partes: primeiro tenor, segundo tenor, barítono e baixo.
Podemos notar que existem algumas “teorias” e trabalhos direcionados à
mudança de voz e à sua classificação em meninos e meninas. Percebe-se uma
preocupação, principalmente de autores e pesquisadores americanos, ingleses e
europeus no que se refere a este tema.
No Brasil, esta preocupação com a mudança vocal em meninos e meninas
cantores, sobretudo em coros juvenis, está cada vez mais presente nas discussões
30
acerca de canto coral juvenil, tanto na área da música como na fonoaudiologia, todavia,
ainda são restritos os trabalhos sobre o tema.
31
1.2.3 Práticas dos regentes
O regente é, antes de mais nada, um profissional habilitado a trabalhar com os
mais variados grupos vocais ou instrumentais. O regente é o profissional que conduz o
seu grupo de acordo com seus objetivos e propostas, auxilia no desenvolvimento
musical e social de seus cantores, instrumentistas. No coro, a figura do regente é
importante, pois o mesmo orienta a técnica vocal, ajuda a definir o repertório de acordo
com o perfil do coro, trabalha com variados aspectos musicais, vivencia situações que
desafiam e o instigam a repensar a sua prática de atuação nos grupos, enfim, o regente
participa ativamente de todos os processos na construção do canto coral. Ele conhece
seus cantores, e com o passar do tempo cria vínculos de amizade, companheirismo e
respeito, o que lhe possibilita conhecer um pouco mais da vida extra-coro do cantor.
Com relação às práticas dos regentes no nosso país notamos que é muito
comum existirem jovens cantando de várias formas, quase que imitando os artistas que
gostam de ver e ouvir, hábito que trazem da infância. Este processo, onde notamos a
imitação dos padrões vocais dos cantores da mídia principalmente, jovens até podem
fazer adaptações, mudanças para acompanhá-los, todavia, o padrão da imitação é o
que costuma prevalecer, como nos diz Schmeling: “os jovens procuram um gênero
próprio de cantar, dentro do que ouvem. Fazem suas adaptações, mas cantam da
maneira como ouviram as músicas pela mídia, como o intérprete as canta” (2005,
p.121, 122). O regente deve levar em conta esses padrões vocais trazidos, pois no
momento em que o mesmo se depara com jovens cantando de diversas formas, muitas
vezes tentando imitar artistas que ouvem, a técnica vocal pode auxiliar no
desenvolvimento vocal dos cantores fornecendo subsídios para um maior entendimento
acerca da voz:
O regente deve ter consciência da importância da sua função na orientação
vocal. A técnica vocal precisa ser cuidadosamente aplicada para se tornar
efetivamente útil na trajetória dos corais [...] é recomendável que a técnica vocal
seja abordada a partir de aspectos do repertório para que possa ser vivenciada
pelos cantores (FIGUEIREDO,1990, p.89).
32
Através da técnica vocal o jovem poderá vivenciar e descobrir novas
sonoridades na sua voz, utilizar melhor a respiração na hora de cantar, o que possibilita
uma visão mais crítica a respeito do que ele ouve e de como os artistas que, de alguma
maneira, o influenciaram, utilizam as suas vozes.
Os cuidados com a voz, vivenciados nos ensaios do coro, também contribuem
para o conhecimento mais aprofundado dos cantores a respeito do aparelho fonador e
suas características. Este conhecimento pode ultrapassar os limites da atividade coral e
ir para a sala de aula, pois quando a atividade de cantar, seja em coro ou não, é
trabalhada em sala de aula, principalmente na faixa etária de 10 a 14 anos, o professor
de música, muitas vezes sendo o próprio regente do coro, pode notar uma diferença no
som da voz e no timbre produzido, principalmente pelos meninos. Com isso, o mesmo
deve estar ciente de sua responsabilidade de orientar e explicar aos adolescentes que
a mudança vocal é normal e se constitui numa fase de suas vidas em que não só a voz
está mudando, mas todo o corpo, o próprio ser humano.
Como foi dito anteriormente, é importante que o professor saiba identificar as
mudanças vocais ocorridas nos adolescentes na sala de aula. Como costumamos ver,
existem escolas que possuem espaços destinados à prática do Canto Coral. Os
regentes devem ter cuidados especiais com os cantores. Os professores de música e
regentes de coros se deparam com meninos e meninas em processo de mudança vocal
nos mais variados estágios.
A atuação do regente no canto coral implica no conhecimento e estudo mais
detalhado sobre a mudança vocal nos jovens cantores, pois como nos diz Oliveira:
O processo fisiológico da mudança vocal é um aspecto presente em
qualquer coro que trabalhe com vozes adolescentes. O regente deve
conhecer esse processo, não apenas do ponto de vista musical, mas de
maneira global, por ser um processo que envolve o desenvolvimento do
adolescente como indivíduo (2003, p.49).
Disto tudo, vem a prévia escolha de um repertório que se ajuste a estas
mudanças, contribuindo para um maior aproveitamento musical do grupo. No Brasil,
encontramos poucos registros sobre EM em coros juvenis. O repertório para coro
33
juvenil é pouco, se comparado ao adulto, além de não trazer na escrita para suas vozes
partes destinadas aos cantores em mudança vocal. O que é comum acontecer é a
adaptação das obras corais, pois como nos diz Oliveira:
Em decorrência do pequeno número de coros adolescentes, a prática coral com
juvenis ocorre com a adaptação de repertório de coro adulto ou infantil. Essa
condição aponta para uma escassez de repertório, seja de composições e/ou
arranjos, constituindo-se em mais uma dificuldade para o desenvolvimento do
trabalho coral nesta faixa etária (ibid, 2003, p.1-2).
Com isso, vemos meninos cantando no naipe das contraltos e outros no naipe
dos tenores. A adequação do repertório às vozes dos cantores representa mais um
desafio na prática dos regentes, principalmente em coros juvenis.
Entretanto, nota-se o esforço desses cantores em certos trechos das músicas
pois, na maioria das vezes, as obras não trazem partes destinadas a vozes jovens,
principalmente em mudança vocal. O repertório, tema que abordaremos no subcapítulo
seguinte, portanto, contribui decisivamente na produção e qualidade de emissão sonora
do adolescente em mudança vocal.
Finalizando, entendo que conhecer sobre as características da mudança vocal
em jovens e adequar o repertório às mesmas, torna-se imprescindível na atuação do
regente. Existem bons estudos, como os citados nesta parte, referentes a este tema,
todavia, usar um em detrimento do outro, não é uma boa escolha. Na minha opinião,
devemos, além de estudar o material existente sobre vozes juvenis, utilizar o que cada
teoria a respeito da mudança vocal tem de melhor e adequá-la ao nosso trabalho diário.
O regente de coros juvenis deve alicerçar sua prática na mediação entre a
fundamentação teórica e técnica necessária ao desenvolvimento de sua atividade no
coro e o conhecimento acerca de questões próprias da adolescência. Visto isso, o
regente poderá realizar um trabalho de desenvolvimento e construção do canto coral
mais amplo, com objetivos bem delimitados, não esquecendo, todavia, questões
peculiares e únicas, próprias das vozes em desenvolvimento.
34
1.2.4 Repertório
O repertório constitui-se como um conjunto de músicas interpretadas ou não,
que são organizadas (selecionadas de um acervo maior) podendo ser de um
determinado autor, compositor ou de vários, de diferentes gêneros e estilos musicais.
Além disso, o repertório dá sentido aos conteúdos musicais que ensinamos ou
aprendemos.
Visto isto, sabemos que várias questões podem estar relacionadas com a
escolha do repertório tais como, por exemplo, as preferências musicais de quem
aprende e de quem ensina, as influências musicais que temos, os objetivos dos grupos
que participamos, dentre outras. Assim, a escolha do repertório perpassa por questões
sociais e culturais que se associam ao gosto pessoal do regente e do cantor, e de
objetivos musicais traçados.
O repertório de uma orquestra barroca certamente é bem distinto do repertório
de uma banda marcial, pois a primeira se propõe a interpretar músicas do estilo
barroco, ou seja, a orquestra barroca tem objetivos bem delineados no que se refere ao
seu repertório. Em outros casos de grupos musicais, tais como corais, bandas, etc,
muitas vezes, a escolha do repertório é discutida entre os participantes juntamente com
seus regentes.
Parece-me que a questão central em se tratando de repertório é a reflexão que
fazemos consciente ou inconscientemente na hora da escolha musical. Com isto,
entendo que todos nós nos pautamos por algum critério de eleição na hora de fazermos
uma seleção de músicas que comporão o repertório. Concordo com as palavras de
Wöhl (2006), nas quais partimos do princípio de que o repertório é uma forma de
expressão do processo fonatório, quando estamos cantando: “todo o processo fonatório
culmina na execução de um repertório” (2006, p.12). Baseados nesta premissa, não se
pode isolar o repertório de outras atividades no coro, como a técnica vocal, os
exercícios de afinação, dicção, etc.
Outro aspecto importante é que também não podemos negar que a “carta de
apresentação” de um coro é a organização e a apresentação de seu trabalho edificado
35
a partir de um repertório e que através do mesmo conhecemos o trabalho realizado, o
estilo do grupo e sua maneira de interpretar determinada obra. Anterior a esta execução
musical, duas questões me chamam a atenção: a primeira delas está relacionada às
experiências musicais trazidas pelos cantores e a segunda focaliza o repertório sendo
trabalhado na perspectiva de uma educação musical mais ampla. Entendo, com relação
à primeira questão, que estas experiências musicais, muitas vezes trazidas para o
ensaio do coro pelos cantores, se traduzem na sugestão de uma determinada música
para ser trabalhada. Com isso, estas sugestões tornam-se fontes de um olhar especial
por parte dos regentes e respeito do restante do grupo. O papel do regente, neste caso,
ocorre no sentido de não ignorar estas experiências traduzidas em sugestões de obras,
mais do que isto, saber utilizá-las para o crescimento do grupo:
[...] não se pode ignorar a referência musical e as experiências anteriores de
nossos alunos [...] o aluno tem papel importante nessa seleção: a prática nos
mostra que ele, muitas vezes, traz para a sala de aula o repertório que gostaria
de trabalhar (HENTSCHKE, 1995, p. 34).
Nas palavras da educadora musical, apesar da citação nos remeter à EM em
sala de aula, consideramos que, no espaço coral, os cantores, assim como os alunos,
também trazem sugestões de músicas. Paralelo a isto, deve haver discussões sobre
questões que envolvem as sugestões trazidas. No campo de estudos sobre o canto
coral, Schmeling (2003) chama a atenção para o fato de que:
O adolescente traz consigo muitas experiências de vida e também
experiências musicais. Lidar com este leque de informações sócio-culturais é
algo vital para uma proposta pedagógico musical que inclui o canto coral como
processo alternativo de educação musical na sociedade (ibid. p.5).
Penna (1990) também nos chama a atenção para este assunto quando diz que:
“a escolha do repertório deveria se basear nos interesses do aluno, podendo até incluir
peças que retomem a música de sua vivência” (p.70).
36
Teixeira (2005), no seu trabalho de pesquisa, destaca as ações de regentes,
por ela entrevistados, no sentido de atender às sugestões e interesses dos cantores,
quando possível:
Ao escolher o repertório para o coro, Joana procura atender aos interesses dos
cantores, aproveitando as músicas que lhe são sugeridas, especialmente dentre
a MPB. [...] Joana busca músicas que sejam do agrado dos cantores, pois
acredita que, se os integrantes do grupo se interessarem, outras pessoas
podem ser conquistadas a também se interessarem por música coral. (p.74).
A
escolha do repertório, exposta no trabalho de Teixeira (2005), e sua relação
com as sugestões trazidas pelos cantores, constantes nos outros trabalhos citados,
devem ser tomadas como prática cotidiana e consolidada por parte de regentes de
coros juvenis.
As experiências musicais trazidas pelos jovens, muitas vezes, fornecem-nos
materiais ricos para a implementação e manutenção do canto coral em qualquer
espaço, quer em escolas, igrejas, associações, universidades, dentre outros. Saber
escolher quais das obras a serem trabalhadas no coro perpassa por muitos aspectos
como o estilo do grupo, a extensão e tessitura
3
, as vozes disponíveis, se cantam a
duas, três ou quatro vozes, se o grupo é iniciante, dentre outras coisas. Um fator a
destacar, principalmente, é o fato da participação do jovem nesta escolha. O cantor que
participa das atividades do coro, quer trazendo músicas, quer na parte de organização
de determinadas tarefas, sente-se valorizado pelo grupo, o qual “ouve” suas idéias.
Todos saem “ganhando”: o regente tem em sua mão mais “obras musicais” passíveis
de um trabalho presente e futuro, conhecendo assim, um pouco dos gostos musicais de
seus cantores e o cantor sente-se valorizado, pois sua sugestão também foi ouvida.
Teixeira (2005), corrobora para estas idéias, quando dá destaque em seu trabalho às
ações dos regentes de “um espírito democrático, permitindo aos cantores, durante os
ensaios, certa liberdade no sentido de sugerirem, inclusive, pequenas alterações nos
arranjos” (p.76).
3
Entende-se por extensão vocal a limite mínimo e máximo de alcance vocal do cantor. Já tessitura representa as
notas emitidas de forma natural e confortável pelo cantor dentro da sua extensão vocal.
37
A segunda questão destacada e que chama a atenção em se tratando de
repertório é a possibilidade que o mesmo fornece para um trabalho de educação
musical mais amplo. Nas escolas em que não há aulas de música presentes no
currículo, mas que possuem atividades musicais como o canto coral, regentes podem
aproveitar o repertório como proposta para uma educação musical mais ampla.
Figueiredo (1990), por exemplo, aborda a questão do repertório em relação aos
conceitos musicais e vocais:
As diferentes etapas de um ensaio serão melhor desenvolvidas na medida em
que estiverem facilitando a assimilação de conceitos através da experiência de
cantar repertório que ilustra esses conceitos. Os conceitos musicais serão
melhor apreendidos e assimilados quando o repertório do grupo reforçar os
conceitos desejados (p.21).
Contextualizar, parece a palavra mais adequada para tratarmos do repertório
coral. Trabalhar com elementos musicais
4
sem contextualizá-los, ao meu ver, não
contribui para uma proposta de canto coral juvenil no âmbito escolar. O repertório está
aí, certamente, para exemplificar, reforçar e pôr em prática conceitos musicais e vocais,
próprios de uma proposta educacional.
Finalizando, o regente que trabalha com coro juvenil, em vista das
transformações vocais ocorridas com os cantores, deve estar em constante processo
de avaliação e análise das partituras originais para coro juvenil e dos arranjos a serem
trabalhados. Esta análise, obviamente, passa por seus conhecimentos a respeito do
próprio coro e as vozes de que dispõe em determinado momento.
O repertório para coro juvenil ainda é muito pequeno se comparado ao adulto e
menor ainda se considerarmos obras que respeitem as extensões vocais para vozes
em mudança: “Muitas das músicas publicadas para coro juvenil são tecnicamente
inviáveis. [...] a tessitura de tenor é frequentemente muito grave, enquanto a de
contralto é geralmente aguda” (OLIVEIRA, 2003, p.72). Neste sentido, Cooksey (1977
apud OLIVEIRA 2003, p.73) encoraja regentes e educadores a discutirem estes
4
Figueiredo trabalha com os elementos musicais na sua obra citando exemplos práticos de como trabalhar com os
mesmos: afinação, respiração, dicção, em se tratando de voz e elementos musicais como dinâmica, altura, timbre,
todos relacionados ao repertório.
38
“problemas” nos arranjos, estimulando, assim, a produção de música adequada para
esta faixa etária (adolescentes em muda vocal). Finalizando, a constante reavaliação
das formas de construir a atividade coral deve estar presente na vida do regente.
39
1.3 CORO MÃE DE DEUS: SUA HISTÓRIA E ATIVIDADES
1.3.1 História
O Instituto Estadual de Educação Mãe de Deus, do qual o coro investigado
nesta pesquisa faz parte, é uma escola pública que possui aproximadamente 1200
alunos, divididos em Educação Infantil, Ensino Fundamental (anos iniciais e finais) e
Ensino Médio. A escola situa-se na região central da cidade de Tupanciretã (RS) e
abriga alunos de vários bairros, inclusive alunos da parte rural do município.
Em março de 1998, encontra-se o início do que, mais tarde, virá a ser o Coral
Mãe de Deus. Uma funcionária da escola, ao violão, ensaiava algumas turmas
convidadas para cantarem em festividades do educandário e em datas comemorativas
tais como Semana da Pátria, Semana Farroupilha, Dia das Mães, dentre outras. O
grupo era formado por cerca de 14 cantores, dentre os quais participavam crianças,
jovens e até mesmo alguns professores. Naquele mesmo ano, a então diretora da
escola, a professora Lucimara Costa (professora de Português e Literatura) em
conversa com a funcionária Aquiléia Salgado (que conduzia os ensaios) expôs sua
vontade de formar um coro na escola
5
. A proposta inicial era de possibilitar a todos os
alunos, pais, professores, enfim, toda comunidade escolar, o acesso ao canto coral.
Para isso, seriam abertas vagas para todos que quisessem participar, respeitando, o
número máximo de vagas por ano letivo (em torno de 45 cantores). Além disto, os
testes vocais realizados deveriam somente fazer uma análise das diferentes vozes, sem
o caráter seletivo que impossibilitasse a participação do cantor que não soubesse
entoar afinadamente no início dos trabalhos.
Para esta proposta ser efetivada, a diretora entrou em contato comigo, então
cursando o 3º ano do Ensino Médio da escola Mãe de Deus. Como escrevi
anteriormente, na introdução do projeto, minha experiência musical resumia-se às aulas
na Academia de Música Santa Cecília (teclado, teoria), à participação em eventos e
festivais de intérpretes e à atividade que desempenhei como regente do coro da escola
5
Registros do regente por ocasião da contratação para assumir o coro Mãe de Deus, em 1998.
40
Flory Kruel, em Tupanciretã. Então, aceitei o convite por diversas razões, dentre as
quais destaco o desafio que me foi imposto e a busca de uma atividade musical mais
efetiva para os alunos da escola, hoje denominado Instituto Estadual de Educação Mãe
de Deus. Com o passar dos meses de ensaio fui, juntamente com os cantores,
montando um repertório, primeiramente em uníssono e com acompanhamento
instrumental. Em outubro de 1998 o coro fez sua primeira apresentação. O clima era de
emoção e ao mesmo tempo de apreensão. O evento, um Seminário de Educação
promovido pela escola, contou com a presença de professores de todo o estado. O coro
subiu ao palco com cerca de 45 cantores e interpretou a música “Amigo” de autoria de
Roberto Carlos e Erasmo Carlos e o Hino da Escola. Ao final, ante aos efusivos
aplausos, os cantores desceram do palco felizes.
Figura 1: Coro mãe de Deus na estréia em outubro de 1998
41
Esta primeira apresentação foi muito marcante pois a reação do público acenou
aos cantores que o trabalho estava sendo realizado e gerando frutos. A partir deste
momento, até o final de 1998, o coro realizou mais algumas apresentações,
destacando-se a apresentação de Natal, realizada na Igreja Matriz de Tupanciretã, da
qual o coral participou interpretando algumas músicas. As apresentações de Natal
perduram até os dias atuais e é feita na segunda quinzena do mês de dezembro, na
igreja Matriz da cidade.
Figura 2: Coro Mãe de Deus em apresentação de Natal na igreja Matriz de Tupanciretã-RS, 2001.
De 1999 até 2000, foi um período de grandes conquistas para o grupo. As
músicas, com acompanhamento instrumental, já possuíam divises musicais em
primeira
6
e segunda vozes. Os meninos em mudança vocal foram divididos em dois
grupos: o primeiro cantava com a primeira voz (geralmente mais aguda) e o segundo
6
Optei por não classificar em sopranos e contraltos, porque, na verdade os cantores, nesta época do coro poderiam,
tranquilamente cantar tanto na primeira como na segunda voz. Portanto coloquei as vozes um pouco mais agudas na
primeira voz e as mais graves, incluindo aí meninos, na segunda voz.
42
grupo com a segunda voz (geralmente mais grave). Nestes dois anos, o coro participou
de vários eventos musicais, inclusive fora do município.
As apresentações na escola e em outros educandários da cidade continuavam
e o trabalho começava a ser conhecido. Novos cantores iniciavam suas atividades no
coro e outros saiam. A respeito disto, comecei a notar que estava se tornando rotina de
um ano para o outro a mudança de cantores. Isto, com certeza, prejudicou o trabalho
com o grupo, pois não se pôde formar uma “base” de cantores para um melhor
desenvolvimento da atividade coral na escola. Os novos cantores, no entanto
contribuíam muito, todavia, o trabalho a ser realizado com estes cantores ocorria muito
no sentido da busca pelo aprimoramento da afinação e técnica vocal, características
que os cantores que estavam há mais tempo no coro já possuíam.
Ainda, em 1999, outra passagem importante na vida do coro foi a participação
no Encontro de coros, então realizado pelo Coral Municipal “Ecos da Terra” na cidade
de Tupanciretã-RS. Este encontro surpreendeu a cidade que estava acostumada a ver
as apresentações do coral Mãe de Deus. O coro interpretou as músicas com
coreografias e expressão corporal, inclusive com um casal (componentes) interpretando
a música “Isto Aqui o que é”, de Ary Barroso. O público, em pé, saudou os coristas, e o
comentário geral na cidade foi de surpresa, pois até então nenhum grupo coral tinha se
utilizado de dança e expressão corporal de modo tão incisivo. Destaco ainda, a
participação da professora de dança Ana Cláudia Terra que contribuiu para o
desenvolvimento das coreografias das músicas. Com este evento, o coro, estabeleceu
seu perfil, cuja prática seria efetuada com acompanhamento instrumental e que se
utilizaria de coreografias e expressão corporal em suas apresentações. A partir desta
“vontade” por parte do grupo, estabelecemos (regente e direção da escola), então, que
o estilo seria este, sem, no entanto, privarmos o acesso à música, à capella também.
No ano de 2001, o coro filiou-se à FECORS (Federação de coros do Rio
Grande do Sul), passando a participar de encontros e festivais de coros por todo o
Estado do Rio Grande do Sul. Um fato marcante neste ano foi o amadurecimento de
algumas vozes, principalmente masculinas. Alguns meninos já haviam passado pela
mudança vocal (período em que, como exposto anteriormente, cantavam com as
sopranos e contraltos). Com a entrada de um número maior de meninos, pertencentes
43
ao ensino médio, o coro ganhou a terceira voz, a qual denominei vozes masculinas.
Com isto, os arranjos construídos especialmente para o coro Mãe de Deus e os
conseguidos através do suporte da FECORS, contemplavam três vozes.
O grupo, na época, já possuía uma base, ou seja, quase que a totalidade dos
cantores desde 2000 continuavam a participar do grupo. Isto me possibilitou um
trabalho visando ao aprimoramento dos arranjos nas obras. Paralelo a isto, professores
de técnica vocal realizavam oficinas com os cantores, trazendo mais ânimo às
atividades do grupo.
O ano de 2002 foi, talvez, um dos mais marcantes para o grupo. Foi o ano em
que o mesmo, juntamente com a direção e comunidade escolar organizou o Primeiro
Festival de Intérpretes da Canção, já a nível estadual e com a participação de cantores
das mais variadas cidades e do município
7
. Este evento, estarei abordando no
subcapítulo 3.3.
No ano de 2003 o coro passou a ser juvenil, não limitando a participação, no
entanto, de crianças. Porém, notei que esta atividade, na escola, estava atraindo mais
os jovens. Com isto, formei uma espécie de “coro escola”, integrado especialmente por
crianças, todavia, com alguns jovens. O “coro escola” foi uma boa alternativa, porque
preparava os cantores para o ingresso no outro grupo. Foi uma espécie de preparação
vocal. Não obstante, este grupo também fazia apresentações na escola, ainda que
internas. A convivência destes dois grupos foi considerada normal e tranqüila. O único
fato a ser relatado foi a vontade que os componentes do “coro escola” tinham para se
inserirem no outro grupo (considerado o principal). O “coro escola” contribuiu em muito
para o desenvolvimento nas atividades do Coral Mãe de Deus, pois seus cantores,
geralmente a partir do meio do ano letivo, já participavam do coro. O coro escola
funcionava da seguinte maneira: os ensaios começavam às 17h15min no Instituto Mãe
de Deus e duravam até às 18h15min. Os cantores novos, participantes deste coro
tinham um trabalho mais voltado à técnica vocal, com exercícios de aquecimento,
afinação, respiração e um repertório idêntico ao coro Mãe de Deus, só que se
trabalhava as partes das vozes com maior ênfase. No ano de 2003 entraram para o
7
Participaram do evento as cidades de Santa Maria, Júlio de Castilhos, São Pedro do Sul, Cruz Alta, Quevedos,
Venâncio Aires e Pinhal Grande.
44
coro 15 novos cantores. Destes, 3 tenores, 5 contraltos e 7 sopranos. Este grupo só
teve seus ensaios no ano de 2003, pois a partir do mês de setembro, todos já
participavam do coro Mãe de Deus.
De 2002 a 2005 o coro experimentou o reconhecimento fora do município. A
participação em festivais de coros por todo o Estado, muitos deles juvenis, colocou o
coro no cenário estadual de grupos juvenis. Em 2005 o coro participou do Festival de
Coros em Rivera, no Uruguai, onde, além de ser muito bem recebido, foi bastante
aplaudido pelo público presente, rendendo um convite para o próximo ano. As
apresentações na cidade de Tupanciretã também aconteciam, como na tradicional
Semana da Cultura, realizada todos os anos no mês de agosto, da qual o coro participa
desde o ano de 2004. O reconhecimento pelo trabalho realizado possibilitava ao grupo
a ajuda financeira, não só da escola, mas também da Prefeitura Municipal e do
comércio da cidade, que patrocinava as viagens. Nesta trajetória, ainda que houvesse
incentivos financeiros da escola e município, o grupo também fazia promoções desde o
início do ano, para, a partir de setembro (geralmente o mês de início dos encontros e
festivais de coros) poder participar destes eventos.
Figura 3: Coro Mãe de Deus em apresentação na Semana da Cultura, 2006, Tupanciretã/RS.
45
Figura 4: Coro Mãe de Deus em Rivera/Uruguai, 2005, Festival de Coros.
O repertório sempre estava em constante mudança, frente aos convites feitos.
Novamente, retomo a questão da escassez do repertório para coro juvenil e a
necessidade de produzir arranjos musicais frente às necessidades do grupo. A maioria
dos arranjos eram de minha autoria, tendo em vista a dificuldade de localização, até
mesmo no banco de partituras da FECORS, de arranjos para determinadas obras,
principalmente a três vozes. A adaptação dos arranjos de coro adulto sempre esteve
presente no repertório do grupo.
No ano de 2006, notei que o grupo passou por uma grande transformação no
que diz respeito à participação de seus antigos componentes. A maioria deles já havia
concluído seus estudos e, por motivos diversos, teve que sair do grupo. Com isto, o
coro passou por um período em que os novos cantores ingressaram, contribuindo,
assim, para a manutenção e desenvolvimento do trabalho. Apesar da constante
renovação de cantores, o coro continuou participando dos mais variados eventos,
festivais de coros por todo o estado. Em 2006 o coro, pela segunda vez cantou em
Rivera-Uruguai:
46
Figura 5: Coro Mãe de Deus em Rivera/Uruguai no segundo Festival de Coros, 2006
Nestes oito anos de regência, alguns fatos e características me chamaram a
atenção em se tratando do coral Juvenil Mãe de Deus. São elas:
Um coro em constante mudança. Esta palavra resume a sua trajetória. Cada
ano, novos cantores surgem, e os anseios, as preocupações e a vida de seus
componentes vão fazendo parte da própria história do coro.
Os ensaios não são somente música. A vida extracoro dos componentes
sempre caminhou lado a lado com a produção coral dos mesmos. Com isto, quero dizer
que, em algumas vezes, os problemas pessoais diversos enfrentados pelos
componentes se refletiam na hora em que os mesmos cantavam. O convívio entre
cantores, direção e regente, proporcionou a formação de um círculo de amizades,
ampliando a convivência entre os mesmos. Assim, em muitos ensaios, a música foi
“pano de fundo” para outros assuntos importantes a serem vividos pelos jovens.
O entendimento entre direção da escola, coordenação do coro e regente
contribuíram para a organização do coro. É imprescindível o planejamento, feito a cada
47
início de ano, das atividades a serem realizadas pelo coro. As reuniões, neste sentido,
entre a direção da escola, coordenação do coro, regente e componentes sempre deram
novo fôlego para as atividades do coro. No ano de 2007, o coro escola retornou, face
ao grande número de novos componentes que ingressaram no grupo. Os ensaios
aconteciam todas as sextas-feiras das 17h15 min às 18h. Mas nesse ano preferi não
separar os novos componentes do restante do grupo. O coro escola está funcionando
como uma espécie de reforço para os novos cantores. Eles participam do coro escola e
após seu ensaio ficam para o coro Mãe de Deus. Essa “inovação” está sendo muito
bem recebida pelos novos cantores, pois eles se sentem parte do grande grupo.
Figura 6: Coro Mãe de Deus, Feira
do Livro, Júlio de Castilhos/RS, 2007.
Figura 7: Coro Mãe de Deus, Feira
do Livro, Júlio de Castilhos, 2007.
48
Tabela 1- Ensaios do coro, ano, horário e número de participantes:
ANO HORÁRIO LOCAL PARTICIPANTES
1998 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 45
1999 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 36
2000 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 30
2001 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 36
2002 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 35
2003
17:15 ás 18:15
(coro escola)
18:15 ás 19:30
(coro Mãe de Deus)
SALA 10 E
ANEXO (11)
40
2004 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 27
2005 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 28
2006 18:00 ÀS 19:30h SALA 10 30
2007 17:30 às 19:30h
17:15 “coro escola
com técnica vocal
até 18:00h. 18:00 às
19:30 coro
SALA 10 30
Obs.: Os ensaios ocorrem na sala 10 do Instituto Mãe de Deus todas as sextas-feiras.
49
1.3.2 Coordenadores
Os coordenadores, no caso específico do coral Mãe de Deus, sempre foram
pessoas escolhidas pela direção da escola. O papel dos coordenadores estende-se à
organização dos uniformes, atualização dos dados dos componentes, agendamento de
apresentações, organização das viagens e participação na coordenação dos eventos
do coro. Tendo em vista todas estas atribuições que competem ao coordenador,
entendo que o resultado de uma simples apresentação, muitas vezes, depende de sua
efetiva participação e compromisso com o grupo. Seu trabalho dá-se atrás das cortinas,
organizando o grupo, coordenando atividades e, porque não dizer, conhecendo um
pouco da vida dos cantores e de sua relação com o restante do coro. Regente e
coordenador têm uma relação de ajuda mútua, pois em muitas ocasiões o coordenador,
por conhecer profundamente o grupo, contribui para a organização do mesmo e sua
construção musical, juntamente com o regente.
Na trajetória do Coro Mãe de Deus tivemos três pessoas que coordenaram o
grupo. A primeira foi Aquiléia Salgado, funcionária da escola, que abriu as portas para o
início da história do grupo e que esteve presente até o ano de 2003. Ajudou a realizar o
primeiro Festival de Intérpretes da Canção (2002) e os encerramentos de final de ano
(1999, 2000, 2001 e 2002). Sua coordenação possibilitou o crescimento e o
reconhecimento do grupo na cidade e Estado. Após, o coro contou com a coordenação
da Professora Gladis Eloiza dos Santos Rodrigues e direção do coro da professora
Ofélia Maria Silva Mardini. Através destas professoras, o coro realizou a segunda,
terceira e quarta edições do Festival de Intérpretes da Canção (2003, 2004 e 2005
respectivamente), além do encerramento de fim de ano (2003, 2004 e 2005). Com tudo
isto, destaco o trabalho incansável destas pessoas promovendo o canto coral e a sua
manutenção. Ainda, destaco os três diretores (da escola) que fizeram parte da história
do coro: Lucimara Rosa da Costa, Gladis Eloiza dos Santos Rodrigues e a atual
diretora Carmen Regina Simões Genro.
50
1.3.3 Festival Coral Mãe de Deus da Canção
No ano de 2002, após o início das atividades com o Coro Juvenil do Instituto
Estadual de Educação Mãe de Deus, deparamo-nos com algumas questões acerca das
atividades do grupo. Cantávamos desde o ano de 1998 e, até o presente ano, não
tínhamos organizado nenhum evento musical. Os próprios coristas já falavam que
gostariam de organizar, talvez, um encontro de coros, visto que já havíamos participado
de vários deles e recebido muitos convites. Posto isso, resolvemos, juntamente com
coordenação e direção do coral, propor aos jovens a realização de algum evento
musical. Marta
8
, uma das coristas, que participava de festivais de intérpretes por todo o
estado nos sugeriu que poderíamos organizar um Festival da Canção. E essa idéia
inicial traduziu-se concretamente. Ao início do mês de setembro de 2002 tínhamos o 1º
Festival “Coral Mãe de Deus” da Canção, evento que lotou as dependências da Casa
de Cultura de Tupanciretã e teve a participação de cantores provindos de todo estado,
divididos em três categorias:
1- Coral, com componentes do grupo
9
2- Juvenil (estadual e municipal)
3- Adulta ( estadual e municipal)
A escolha das categorias, regulamento, captação de recursos, contratação do
som, dentre outras coisas, foi feita pelo regente juntamente com as coordenadoras e
direção da escola Mãe de Deus.
Porém, apesar do sucesso alcançado, notamos em certo momento que a
participação de todo o grupo tinha sido mínima e que o “nosso” abrangente havia sido
minimizado para um “nosso” excludente, detentor das principais decisões do evento.
Um dos objetivos principais do evento era de que “através da participação da
comunidade escolar fosse promovida a música vocal e instrumental”. Isto não estava
sendo contemplado como pensávamos. A música, certamente, foi pensada neste
evento, mas careceu de uma participação mais efetiva de toda a comunidade escolar,
8
Nome fictício dado a uma das coristas.
9
Categoria composta por cantores do Coral Mãe de Deus que competiram entre si (7cantores no total).
51
principalmente do segmento dos professores da escola. Muitas coisas precisavam de
reformulação e mudança.
Figura 8: Coro Mãe de Deus em apresentação no Festival Coral Mãe de Deus da Canção, 2002
Estávamos no segundo encontro após o Festival e ao final foi feita uma reunião
de avaliação. Os coristas, entusiasmados com a repercussão, ansiavam por expressar
suas impressões. Ana, então, falou que o evento tinha sido uma conquista, mas que
sentiu a falta de participação ativa de todo o grupo nas tarefas de organização, não
somente na venda de ingressos e no dia propriamente do Festival. “Devemos participar
juntamente com o Bruno e coordenadoras desde o primeiro dia”, salientou Ana. Pedro
aproveitou para dar a idéia de dividir o grupo em 5 equipes diferentes, cada uma
responsável por uma determinada tarefa.
Com isso, começamos a pensar e a refletir o quanto importante é uma atividade
em que os coristas participassem mais efetivamente. Neste contexto, também
refletimos sobre qual é o papel do regente na dinamização deste tipo de atividade.
Pensamos que o mesmo, mais do que orientar atividades musicais, também é um
educador, principalmente nesse contexto de escola. E esse papel educacional passa
52
por uma interação construtiva entre o aluno e o objeto de conhecimento. O papel do
regente é muito importante e no contexto escolar ele deve levar em conta os
conhecimentos do aluno para a organização de sua proposta e atuação em sala de aula
ou no espaço de um grupo vocal ou instrumental. Partindo desse princípio, procuramos,
no ano seguinte, ou seja, em 2003, formar equipes e distribuir tarefas nas quais cada
um dos grupos estaria responsável e resolveria as questões e desafios decorrentes do
evento. Mais do que simplesmente dividir os trinta cantores, mais alguns pais e
professores em grupos, pensamos que a tarefa mais difícil foi como trabalhar com
esses grupos não ditando ordens de “cima para baixo”, mas tentando também deixar
que a relação aluno/aluno fosse contemplada. Sabemos que a cooperação entre
indivíduos nos leva à realização de tarefas e no caso deste evento, esta cooperação
tornou-se vital. Um grande desafio, todavia, nessa interação entre alunos é em que
etapa o professor está situado nesse contexto. Para esse trabalho, entretanto,
pensamos em um papel de mediador dessas discussões deixando também a liberdade
de reflexão para o grupo envolvido na atividade, sem, no entanto, abandoná-los. Assim,
fizemos reuniões com cada um dos grupos e após juntamos todos os coristas para
fazermos um “entrelaçamento” das atividades que compunham o evento. Os grupos
assim ficaram distribuídos:
GRUPO 1: sonorização e divulgação
GRUPO 2: captação de recursos, ingressos e apoio no palco
GRUPO 3 : recepção, assistência aos avaliadores e promoção de um concurso
na escola para a confecção dos troféus.
GRUPO 4: fichas de inscrição, planilhas e entrega dos troféus para os
vencedores.
GRUPO 5: informações aos participantes, organização dos mesmos no dia,
apoio à banda acompanhante e recepção dos convidados. O critério de divisão dos
grupos levou em conta, principalmente, da elaboração de atividades pré-festival e no
dia do evento.
Notamos que a partir dessa nova organização de atividades em grupo, o evento
cresceu em qualidade. Sentimos uma maior aceitação da comunidade. Uma das
preocupações foi de que, com a participação de alguns pais e professores no grupo, o
53
restante dos cantores fosse ficar obscurecido por uma participação mais “adulta” nas
questões internas do próprio grupo, porém notamos que isso não ocorreu e os
componentes dividiram opiniões, impressões na resolução das atividades com pais e
professores. Em certos momentos, notávamos duas opiniões diferentes sobre um
assunto e posto isso, nós podemos nos remeter às palavras de Coll (1994) ao expor
que “[...] há quase sempre um progresso quando no discurso da realização grupal da
tarefa produz-se uma confrontação de pontos de vista moderadamente divergentes
sobre a maneira de abordá-la”. (p. 86).
A confrontação de idéias, obviamente, produziu atividades mais ricas e
elaboradas nos grupos e contribuíram para a realização de um Festival ainda melhor.
Quando falo em confrontação de idéias, me refiro a opiniões divergentes no sentido de
trazerem mais alternativas para a organização do evento e não de brigas produzidas
por tais opiniões.
No ano de 2004, novamente realizamos o evento com a mesma distribuição em
grupos. Entretanto, um fato novo surgiu, pois quando falamos em canto coral é muito
comum que os componentes de um grupo mudem de um ano para outro. Portanto, nos
deparamos com uma mudança de ordem numérica com muitos componentes novos
vindos das mais variadas séries do Instituto Mãe de Deus e escolas do município.
Paralelo a isso, verificamos que os cantores traziam consigo experiências
diversas, tanto musicais como de vida. Através dessas experiências dos novos coristas
com a turma mais “antiga” foi-se delineando a terceira edição do evento. Uma
característica importante nesse ano foi um “amadurecimento” do Festival, visto que os
grupos já tinham uma experiência do ano anterior em como organizar suas tarefas. No
ano de 2005 o Festival, mais uma vez foi um sucesso e contou com a participação de
cantores de todo o estado. Os grupos foram divididos seguindo os mesmos moldes do
ano anterior e a participação dos novos cantores (2005) foi significativa para a
organização do evento.
54
Figura 9: Coro Mãe de Deus, no 4° Festival “Coral Mãe de Deus” da Canção, 2005, Tupanciretã-RS
No ano de 2006, por consenso do coro, direção e comunidade escolar, o
Festival não foi realizado, ficando assim para o ano de 2007. A partir daí, o evento será
realizado de dois em dois anos. Intercalando o Festival da Canção, teremos um
encontro de coros organizado pelo coro e Escola. Essa decisão foi tomada com a
finalidade de ampliarmos o festival para dois dias, deixando o mesmo mais abrangente.
Com isto, participarão do evento bandas com músicas próprias e compositores
individuais, além dos intérpretes que já participam desde o início do evento. O Festival
da Canção não é o único evento que o coro realiza. Todos os finais de ano o coro faz
sua apresentação de encerramento na Igreja Matriz de Tupanciretã. Alguns anos o coro
pode contar com a participação de outros coros convidados tais como o Coro de
Câmara do Departamento de Música da UFSM, o grupo vocal Improviso, hoje
denominado Oficyna G12, o grupo vocal do Conservatório Riograndense de música,
55
dentre outros. Este encerramento, tradicionalmente, traz ao público um repertório
musical composto de músicas natalinas e obras trabalhadas durante todo o ano pelo
grupo.
56
2 – METODOLOGIA
2.1 PESQUISA QUALITATIVA
Nesta dissertação, optei por realizar uma pesquisa com abordagem qualitativa
baseada no método de estudo de caso. Segundo Bresler e Stake (1992)
Abordagens qualitativas aparecem com alguns nomes e descrições: estudo de
caso, pesquisa de campo, pesquisa etnográfica, naturalística, fenomenológica,
interpretativa, interacionista simbólica ou simplesmente planejamento descritivo
(p. 75)
10
.
Bresler e Stake, (1992, p.79), abordam algumas características da pesquisa
qualitativa como a ênfase na análise das palavras das pessoas mais do que nos
números, na interpretação por parte dos pesquisadores, que devem também confiar na
sua intuição, no empirismo, no aspecto não-intervencionista e na observação em
ambiente natural, no qual os pesquisadores podem passar um longo espaço de tempo
nos locais e espaços que irão pesquisar. Segundo Martins (2004):
As chamadas metodologias qualitativas privilegiam, de modo geral, na análise
de microprocessos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais.
Realizando um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude quanto em
profundidade, os métodos qualitativos tratam as unidades sociais investigadas
como totalidades que desafiam o pesquisador (ibid, s.p).
A pesquisa qualitativa, portanto, analisa em amplitude e em profundidade os
dados, olhando os mesmos por diferentes ângulos. Ainda, segundo Martins (2004), a
pesquisa qualitativa estuda as
ações sociais e individuais. Neste sentido, mostrou-se
apropriada no desenvolvimento da pesquisa que gerou a dissertação da qual participam
cantores do próprio coro estudado.
10
(…) “qualitative aproaches come whith various names and descriptions: case study, field study, etnographic
ressearch, naturalistic, phenomenological, interpretative, symbolic interacionist, or just plain descritive”(p.75).
57
Em textos de Bogdan e Biklen (1994), os autores também abordam a pesquisa
qualitativa e destacam algumas características principais da mesma: a investigação é
descritiva, na qual os investigadores tentam analisar os dados em toda sua riqueza,
respeitando, na medida do possível, a forma em que estes foram registrados ou
transcritos; há interesse em como os entrevistados agem e após buscam o produto, o
resultado das ações; na investigação tende-se a analisar os dados de forma indutiva
não se montando um “quebra cabeças”, cuja forma se sabe de antemão, ao contrário,
constrói-se as abstrações “à medida em que os dados particulares vão sendo
recolhidos e agrupados” (ibid, p.50) e por último; procura-se entender como a vida de
diferentes pessoas interagem. Considera que o significado dessas vivências e interação
entre pessoas é muito importante para a pesquisa. Busca, ainda, descobrir a “dinâmica
interna das situações, dinâmica frequentemente invisível ao observador externo” (ibid,
p.50).
Azanha (1992, p.77) aborda alguns princípios orientadores do trabalho de
pesquisadores qualitativos, tais como: o respeito no trato com os entrevistados, a
autenticidade ao escrever os resultados ainda que as “conclusões a que chega,
possam, por razões ideológicas, não lhe agradar” (p.77). O autor também destaca que
o pesquisador deve ser muito claro e explicar todos os passos da pesquisa para o
entrevistado, a fim de não haver dúvidas. Ainda, Azanha problematiza:
Conduzir investigação qualitativa assemelha-se mais ao estabelecimento de
uma amizade do que de um contrato. Os sujeitos tem uma palavra a dizer no
tocante à regulação da relação, tomando decisões constantes relativamente à
sua participação (ibid, 1992, p.77).
Portanto, é através da abordagem qualitativa que situei o contexto metodológico
da presente dissertação.
58
2.2 ESTUDO DE CASO
No subcapítulo anterior apresento reflexões sobre a abordagem qualitativa na
pesquisa. O estudo de caso, nesta abordagem de pesquisa, foi escolhido por fornecer a
possibilidade metodológica de um estudo mais aprofundado do “caso” escolhido, o
grupo coral Mãe de Deus.
Na literatura que aborda métodos de pesquisa como o estudo de caso,
encontramos trabalhos de Lüdke e André (1986); Azanha (1992); Adelman e Kemp
(1995) e Stake (1999), dentre outros. Segundo Stake (1999): “de um estudo de caso se
espera que abarque a complexidade de um caso particular. Estudamos um caso
quando tem um interesse muito especial em si mesmo” (p.11).
Segundo Geertz in Adelman e Kemp, (1995):
O estudo de caso é uma descrição minuciosa, rica, de um aspecto de uma
cultura actual ou do passado, dentro de limites bem delineados e
escolhidos pelo investigador. O seu objetivo é relatar,
pormenorizadamente, os acontecimentos e suas relações internas e
externas, (ibid p.111).
Lüdke e André (1986), na sua obra, conceituam o estudo de caso e destacam
como características que o compõem: o caráter de descoberta, onde os pressupostos
teóricos iniciais do pesquisador servem de “esqueleto, de estrutura básica a partir da
qual novos aspectos poderão ser detectados [...] na medida em que o estudo avança”
(p.18). A busca em retratar a realidade em todos os níveis, a utilização de uma vasta
gama de informação, dentre outras, também são características que, segundo os
autores, ilustram o estudo de caso.
O tema central deste projeto requer um estudo minucioso e detalhado, no qual
o foco está centrado no coro Mãe de Deus. Com isto, acredito que o estudo de caso
como método, subsidiou uma maior compreensão acerca das concepções e ações
musicais dos coristas, sujeitos da pesquisa. Ainda, não podemos esquecer que os
participantes da pesquisa fazem parte de todo um contexto social e cultural. O estudo
59
de caso leva em conta o contexto em que vivem os sujeitos e os espaços onde os
mesmos têm suas atividades.
O princípio básico desse tipo de estudo é que, para uma apreensão mais
completa do objeto, é preciso levar em conta o contexto em que ele se
situa. Assim, para compreender melhor a manifestação geral de um
problema, as ações, as percepções, os comportamentos e as interações
das pessoas devem ser relacionados à situação específica onde ocorrem
ou à problemática determinada a que estão ligadas (LÜDKE E ANDRÉ,
1986, p.18).
Os seis coristas, sujeitos desta pesquisa, participam de um grupo, o coro Juvenil
do Instituto Mãe de Deus, que, por sua vez, faz parte do Instituto Mãe de Deus. Com
isso, destaco o fato de que esta pesquisa, também está situada em um contexto
escolar, relacionado à própria existência e trajetória do coro enquanto atividade musical
na escola, o que repercute na própria cidade de Tupanciretã.
Outra questão, discutida no estudo de caso, é a possibilidade de o leitor da
pesquisa fazer algumas generalizações, pois como nos dizem Lüdke e André (1986):
O pesquisador procura relatar as suas experiências durante o estudo de
modo que o leitor ou usuário possa fazer as suas “generalizações
naturalísticas”. Em lugar da pergunta: este caso é representativo do quê, o
leitor vai indagar: o que eu posso (ou não) aplicar deste caso na minha
situação? (p.19).
Com isso, há a possibilidade do leitor fazer generalizações deste estudo, Um
exemplo seria um corista, ao ler uma pesquisa a respeito das vivências musicais de
coristas de uma determinada cidade ou escola, pode concluir que muitas de suas
vivências como cantor também ocorrem com outras pessoas, são confirmadas ou
simplesmente não são iguais. Isto, na concepção de Stake denomina-se “generalização
naturalística”. O estudo de caso, então, não nos impossibilita de tecer generalizações,
todavia devemos estar com o foco central caso em particular, “de maneira a permitir o
seu conhecimento amplo e detalhado (GIL, 1999, p. 73) atendendo assim, as bases
metodológicas que medeiam a sua implementação na abordagem qualitativa de
pesquisa.
60
2.3 CONTEXTO, PARTICIPANTES , CRITÉRIOS DE SELEÇÃO,
COLETA DOS DADOS
2.3.1 Instituto Estadual de Educação Mãe de Deus
O Instituto Mãe de Deus, como já exposto anteriormente, é uma escola pública
que possui aproximadamente 1200 alunos. Situa-se na parte central da cidade,
abrigando alunos de praticamente todos os bairros, além dos alunos provindos do meio
rural do município.
Na parte musica, a escola já teve uma banda marcial chamada “Banda
Professor Bridi”, em homenagem a um professor muito querido por todos. As aulas de
música foram até aproximadamente a década de 70, depois deram lugar às aulas de
Educação Artística. A banda “Professor Bridi” teve seus ensaios até meados da década
de 80. Após isso, a banda se dissolveu e nos dias atuais a escola monta, durante o mês
de setembro, grupos de alunos que utilizam os instrumentos da banda que restaram e
fazem o desfile de sete de setembro.
Todavia, este grupo mantém o nome original da banda, mas executam
somente os instrumentos de percussão. Não posso afirmar com clareza o real motivo
do desaparecimento dos instrumentos melódicos da banda, porém, procuro conversar
com antigos professores e pessoas da comunidade que participaram do grupo. Alguns
dizem que os instrumentos foram emprestados e não devolvidos, esquecidos no fundo
de uma sala. Outros, dizem que muitos deles foram levados pelos próprios
componentes da banda e não foram devolvidos. Como professor da escola, atualmente,
lamento muito essa condição, pois todos nós sabemos o quanto é difícil adquirir um
instrumento como um trompete, por exemplo. Torna-se difícil pelo preço e também
porque os alunos precisam de professores especializados no instrumento para
aprenderem.
Nos dias atuais, o coro Mãe de Deus, vem resgatar um pouco da história
musical da escola, fornecendo a possibilidade de os alunos terem contato mais direto
com a música, através do canto. Atualmente, a escola não possui aulas de música no
61
seu currículo, a única atividade musical que acontece regularmente ao longo do ano é
representada pelo coro.
62
2.3.2 Participantes da pesquisa
Com base na pesquisa e no método escolhido, optei pela seleção de seis
participantes para a realização da entrevista semi-estruturada. Acredito que este
número contribua para a investigação proposta do caso, quer seja, o próprio coro Mãe
de Deus. Para a escolha dos participantes da pesquisa, busquei utilizar critérios para a
seleção que foram assentados no tempo de participação do cantor no grupo.
Os seis participantes selecionados foram: Jaime Léo, Déborah, Gabriela,
Lucélia, Ana Paula e Simone. Estes participantes receberam, respectivamente, as
siglas: JM, DE, GA, LU, AP E SI. Após a capturação das entrevistas pelo programa de
computador “Auda City” (do qual estarei abordando nas páginas seguintes), cada
entrevista foi transcrita em um caderno, o qual identifico como Caderno de Pesquisa –
CP . Por exemplo, para Jaime Léo, foi utilizado o caderno de pesquisa número 1 – CP1.
Para fins de apresentação dos dados utilizo as siglas JM, CP1 (Jaime Léo, caderno de
pesquisa 1) e assim, para os demais sujeitos da pesquisa, sucessivamente.
A escolha dos seis sujeitos, portanto, reflete a própria escolha do método da
pesquisa, pois os mesmos devem dar suporte em termos de dados para o pleno
desenvolvimento de um estudo de caso. Em segundo lugar, pelo tempo de
implementação da pesquisa (elaboração do projeto, coleta e análise dos dados),
considerando, assim, o tempo de realização do mestrado. O coral Mãe de Deus possui,
em levantamento feito em 2006, cerca de 30 componentes. A faixa etária dos cantores
vai de 12 a 24 anos de idade.
63
2.3.3 Critérios de seleção
Do total de 30 cantores participantes do coro, encontramos 17 deles cantando
de 2 a 3 anos. Outros 10 cantores participam de 4 a 5 anos do grupo e os 3 restantes
participam do coro de 6 a 8 anos. Com base nestes dados, selecionei o critério do
sorteio entre os cantores de cada categoria até chegarmos a dois cantores por
categoria. O critério para a seleção dos entrevistados foi o de tempo de participação
efetiva no coro Mãe de Deus:
Cantor 1 e 2: 2 a 3 anos.
Cantor 3 e 4: 4 a 5 anos.
Cantor 5 e 6: 6 a 8 anos.
Com esse critério, busquei uma compreensão maior acerca das concepções e
ações musicais destes participantes e suas repercussões na atividade musical diária.
Através do estabelecimento de critérios para a seleção dos “anos de participação” de
cada cantor, busquei situar o leitor em cada fase da história do grupo supondo que as
concepções dos participantes e suas ações serão distintas, todavia, são hipóteses que
levanto e que podem ou não ocorrerem, pois, como nos diz Azanha (1992):
O plano geral de um estudo de caso pode ser representado como um funil. Num
estudo qualitativo, o tipo adequado de perguntas nunca é muito específico. O
início do estudo é representado pela extremidade mais larga do funil. [...] À
medida que vão conhecendo melhor o tema em estudo, os planos são
modificados e as estratégias selecionadas (p. 89-90).
Tabela 2- Cantores selecionados para a pesquisa:
CANTOR IDADE CRITÉRIOS TEMPO NO CORO
1. JAIME LÉO 17 ANOS 2-3 ANOS 3 ANOS
2. DÉBORAH 17 ANOS 2-3 ANOS 3 ANOS
3. GABRIELA 16 ANOS 4-5 ANOS 4 ANOS
4. LUCÉLIA 25 ANOS 4-5 ANOS 5 ANOS
5. ANA PAULA 18 ANOS 6-8 ANOS 7 ANOS
6. SIMONE 24 ANOS 6-8 ANOS 8 ANOS
64
Aqui, cabe ressaltar que o critério escolhido foi o tempo de participação efetiva
no coro. Lucélia iniciou no grupo no final de 1999 e permaneceu até 2005. Após o ano
de 2006 sem cantar, retornou em 2007. Portanto, tem cinco anos de participação
efetiva no coro. Ana Paula ingressou no coro em 1998 e ficou somente sem cantar no
ano de 2006, portanto, tem sete anos de participação no coral Mãe de Deus. Os outros
participantes que o coro possui não pararam de cantar em nenhum ano.
65
2.3.4 Coleta de dados
Entrevista semi-estruturada
A entrevista semi-estruturada foi selecionada por se entender que é este o
instrumento de coleta de dados que proporciona ao pesquisador uma maior flexibilidade
nas perguntas sem fugir de um “fio” condutor para o trabalho. Segundo Lüdke e André
(1986):
Parece-nos claro que o tipo de entrevista mais adequado para o trabalho de
pesquisa que se faz atualmente em educação aproxima-se mais dos esquemas
mais livres, menos estruturados [...] então é melhor nos prepararmos para uma
entrevista mais longa, mais cuidada, feita provavelmente com base em um
roteiro, mas com grande flexibilidade (p. 34-35).
A entrevista semi-estruturada, neste sentido, atendeu às demandas desta
pesquisa, pois seguiu um roteiro pré-estabelecido. Todavia, a mesma nos fornece a
oportunidade de acrescentar alguns pontos que achamos importantes a partir da
própria fala do entrevistado.
Triviños (1995) também nos fala a respeito da entrevista semi-estruturada, onde
o seu caráter exploratório permite ao pesquisador a construção de novas hipóteses
baseadas em respostas dos sujeitos entrevistados pois, “o informante, seguindo
espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco
principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da
pesquisa” (p.146).
Para que a entrevista estimule os sujeitos pesquisados, o pesquisador deve
proporcionar um clima de respeito, interagindo com o pesquisado o que, segundo
Lüdke e André (1986), é próprio da entrevista semi-estruturada. Com isso, segundo os
autores “na medida em que houver um clima de estímulo e de aceitação mútua, as
informações fluirão de maneira notável e autêntica” (p.34).
Ao lado do respeito pela cultura e pelos valores do entrevistado, o entrevistador
tem que desenvolver uma grande capacidade de ouvir atentamente e de
66
estimular o fluxo natural de informações por parte do entrevistado (LÜDKE E
ANDRÉ, p.35).
As entrevistas com os participantes da pesquisa foram realizadas em minha
residência, em horários pré-combinados. Escolhi este processo pois toda a estrutura já
estava pronta para as entrevistas (computador, microfone, programa, local com pouco
barulho vindo do exterior). Os sujeitos da pesquisa aceitaram o convite de serem
entrevistados em minha residência.
Após esta fase de entrevista com os participantes da pesquisa, seguiu-se a
transcrição de suas falas. Para a gravação da entrevista foi utilizado o programa “Auda
City”.
O programa “Auda City” funciona como um gravador, no próprio computador.
Foi escolhido em face de seu simples manuseio e por ser encontrado em sites da
internet para download. Esta técnica de gravação constituiu-se na utilização do um
microfone comum conectado ao computador, onde cada sujeito da pesquisa respondeu
às perguntas da entrevista semi-estruturada. Ainda, o programa possibilita a
visualização de todas as entrevistas ao mesmo tempo, onde é possível, por exemplo,
acesso imediato a qualquer parte da entrevista dos cantores.
Figura 10: Visualização do programa “Auda City”
67
A imagem da página anterior nos mostra um gráfico do programa onde temos
ondas sonoras (espectros de freqüência). Quanto menor a onda menor a intensidade
da voz do entrevistado, quanto maior a onda maior é a intensidade da voz. Com isso,
pode-se verificar diferentes nuances da voz dos sujeitos da pesquisa.
Neste programa foi possível termos acesso a todas as seis entrevistas ao
mesmo tempo, cada uma delas representando um arquivo diferente. Cabe ressaltar que
este arquivo é de áudio e é gravado no formato “wav”
11
. Após a gravação, podemos
transformá-lo em arquivo “mp3”, sendo possível ouvi-lo em CD, no computador, em
DVD’S que suportem esta tecnologia, dentre outros.
Além disso, podemos destacar trechos específicos de cada entrevista, por
exemplo, a resposta da primeira pergunta de cada entrevistado e criarmos um arquivo
único. Este arquivo, portanto, pode conter todas as respostas dos entrevistados para
primeira pergunta da entrevista semi-estruturada. Isto agilizou o tempo do pesquisador
e facilitou no sentido de termos uma “visão geral” do trabalho, pois houve a
possibilidade de um acesso rápido e específico de cada pergunta feita na entrevista
com os participantes da pesquisa. Da mesma forma, pode-se ter na tela do programa,
todas as seis entrevistas realizadas ao mesmo tempo, onde podemos destacar trechos
de cada uma das entrevistas para ouvir, copiar,recortar, etc.
Resumidamente, o período destinado às entrevistas compreendeu uma semana
e o programa “Auda City” nos possibilitou uma maior agilidade na busca de uma
determinada parte da entrevista com os cantores, participantes da pesquisa. Os
participantes foram entrevistados de segunda-feira a sábado em horários pré-
combinados na minha residência. O tempo médio de duração da entrevista foi de 20
minutos.
11
Arquivo sonoro não codificado e descompactado. Que tende a ser muito maior que o arquivo do tipo “mp3”. No
caso desta pesquisa, portanto, buscou-se transformar as mesmas do formato “WAV” para “mp3”
68
3- ANÁLISE DOS DADOS
3.1 CONCEPÇÕES E AÇÕES MUSICAIS DOS CORISTAS
ENTREVISTADOS
3.1.1 Coristas com 2 a 3 anos de participação no grupo
Nesta parte, trago a análise dos dados de dois participantes da pesquisa: Jaime
Léo (17 anos) e Deborah (17 anos). Nas falas citadas será utilizada a abreviação “JM”
para Jaime Léo e “DE” para Déborah.
Concepções Musicais
Jaime Léo participa do coro há três anos, mesmo tempo que Déborah. O corista
ressaltou em sua fala, dentre outras coisas, o lazer, a diversão e a desinibição que a
atividade do canto coral lhe proporciona. Suas concepções musicais sobre o canto coral
são um pouco distintas das de Déborah. A corista entende o canto coral como uma
reunião de pessoas que criam vínculos de amizade e que estão ali para aperfeiçoarem
as técnicas do canto. Jaime Léo não respondeu diretamente o que era o canto coral
para ele, todavia abordou aspectos dos quais esta atividade torna-se prazeirosa.
Déborah considera o canto coral importante na sua vida pois o mesmo melhora
sua auto-estima, dando mais confiança às suas ações:
Ele [coro] é muito importante pra minha auto-estima, pra eu conseguir, saber
que eu posso, que eu consigo, que todo mundo é capaz de evoluir. Eu sinto que
evoluí, desde que eu comecei até agora, musicalmente e até na convivência
com as pessoas (DE, CP 2, p. 4).
69
Antes de ingressar no coro, tanto Jaime Léo quanto Déborah tinham uma
imagem do canto coral como algo só de velhos, muito certinho. Todavia hoje têm uma
outra imagem pois como nos diz Déborah: “eu via uma coisa assim, mais certinha,
mudou agora porque eu vi que é descontraído, a gente tem a liberdade de se
expressar” ( DE, CP 2, p. 4).
Para Jaime Léo música coral não é só cantar pois tem outros aspectos que
devem ser lembrados como a expressão corporal. Em sua fala, afirma que, ao participar
do coro, está sim fazendo música e que o canto coral produz muitas repercussões na
sua vida como ajudá-lo nas atividades musicais da sua banda, já que é vocalista.
Déborah considera a voz como “um meio de expressão musical (DE, CP 4, p. 4). Com
isso, corrobora com seu colega quando diz que está fazendo música ao participar do
coro.
Destaca-se na fala de Déborah a questão da desinibição, auto-confiança pois diz
que: “eu sou uma pessoa muito mais solta, antes eu tinha vergonha de cantar, agora eu
sei que posso” (DE, CP 4, p. 5). Analisando sua entrevista pude notar que ao ter mais
liberdade de expressão, Déborah também foi ficando mais “solta”, perdendo o medo de
cantar e interagir com os colegas de coro. A corista, também destaca a disciplina como
um ponto importante em termos de ação coral. Quando falo em ação coral, me refiro a
questões que chamam a atenção dos coristas nas atividades do coro, aquecimento,
técnica vocal, repertório, dentre outros. Constitui-se no ensaio prático em si. Jaime Léo
destaca, em termos de ação coral, a expressão corporal. Para ele: é um negócio muito
bonito de ver, as cores, a animação” (JM, CP1, p. 2).
70
Ações musicais
Os dois coristas, entre 2-3 anos no coro, participantes desta pesquisa, têm
atividades musicais fora do coro Mãe de Deus. Enquanto Jaime Léo se dedica a
atividades em bandas onde o canto também está presente, Déborah atua como
instrumentista na banda municipal de Tupanciretã tocando saxofone. Jaime Léo é
vocalista de uma banda de pop-rock denominada “Nonsense” composta por quatro
integrantes. Além desta atividade musical, canta no coral da Liga Feminina de Combate
ao Câncer, fazendo serenatas e apresentações, principalmente na época do natal, a fim
de angariar recursos para os pacientes tratados pela Liga Feminina. Sente-se mais
realizado ao participar do coral da Liga Feminina por estar ajudando as pessoas, porém
no coro Mãe de Deus acha mais divertido:
A diferença, assim, [...] é que o coral da Liga é um negócio, assim, mais parado
e tal, mais eu me sinto mais realizado porque eu sei que to ajudando pessoas.
Já no coral Mãe de Deus eu me divirto fazendo, dois lados diferentes (JM, CP1,
p. 2).
Déborah, além de tocar sax soprano na banda municipal, toca teclado em casa e
violão em bares como música ambiental. Aprendeu a tocar violão no Conservatório
Riograndense de Música de Tupanciretã e é formada em teoria e solfejo pelo mesmo.
“Percepção do público, conseguir saber se eles estão gostando” (DE, CP 2, p. 5) são
aprendizados que Déborah obteve através de atividades musicais fora do coro. Ainda,
estes aprendizados são utilizados pela corista quando está no coro Mãe de Deus:
[...] tu conseguir saber se eles estão gostando, se eles não estão gostando, o
que a gente tem que fazer a mais, a menos, coreografia, interpretação,
expressão. Tu pode perceber se a pessoa está gostando,se ela gosta e isso eu
uso no coro (DE, CP 2, p. 5).
Já Jaime Léo destaca o volume e o alcance da sua voz, adquiridos depois que
iniciou as atividades com sua banda. Segundo ele, no coro, cantava junto com os
71
outros colegas e na banda teve de cantar sozinho. Essa experiência em cantar como
solista, Jaime Léo leva para o coro Mãe de Deus, ajudando quando tem que fazer
algum solo ou simplesmente para ter mais segurança no canto com os colegas “sem
depender do colega do lado” (JM, CP2, p. 2).
A expressão corporal, segundo o corista, foi um aspecto da sua melhora,
proporcionada pelo coro. Agora sente que suas atividades musicais diárias se utilizam
da expressão corporal trabalhada nos ensaios do coro. Débora também destaca a
expressão corporal e a interpretação como uma contribuição do coro nas suas
atividades musicais diárias acrescentando:
Na parte de soltar mais a voz, assim, que eu não conseguia, não soltava a voz.
Eu perdi o medo, eu vi que a gente tava ali pra errar, pra acertar e se eu não
soltasse eu não iria saber nunca se eu tinha condições ou não. Foi no meio do
ano passado pra cá que eu soltei a voz, tinha mais três ou quatro contraltos e
tive que soltar mais a voz e perder o medo (DE, CP 2, p. 5).
Perguntada se percebia alguma relação das aprendizagens do coro em suas
atividades musicais fora do coro, Déborah grifou a divisão de sons da banda com
instrumentos fazendo o papel das vozes no coro: soprano, contralto, tenor e baixo.
Jaime Léo comparou e teceu relações entre os dois coros que participa. Aborda que
considera importante cantar sorrindo, pois contagia e incentiva as pessoas.
Jaime Léo e Déborah destacam o coro como um espaço para amizades,
companheirismo e que através da atividade do canto coral conquistaram novos amigos.
72
3.1.2 Coristas com 4 a 5 anos de participação no grupo
Nesta parte, trago a análise dos dados de mais dois participantes da pesquisa:
Lucélia (25 anos) e Gabriela (16 anos). Nas citações será utilizada a abreviação “GA”
para Gabriela e “LU” para Lucélia.
Concepções Musicais
Lucélia participa do coro há cinco anos. Na sua entrevista destacou o canto coral
como um momento de união de vozes, tons, com o mesmo intuito: o de formar um
grupo para cantar. Gabriela, que participa do coro há quatro anos, expressa situação
semelhante de sua colega de coro e chama a atenção para a contínua ajuda de todos
os colegas entre si: “todos se ajudam” (GA, CP 3, p.8). Lendo mais atentamente as
palavras da corista, me vem à mente todos os momentos em que Gabriela ajudava os
cantores novos a aprenderem as músicas do coro. Lucélia, da mesma maneira, ajuda
seus colegas na hora dos exercícios vocais e na execução vocal do repertório. A corista
iniciou, segundo suas palavras, muito cedo a cantar, todavia foi através de sua
participação no coro Mãe de Deus que sua vida mudou:
[...] desde que eu iniciei no canto coral, a minha vida mudou bastante, até
porque eu comecei muito cedo a cantar. [...] pra mim o coro representa tudo,
né, porque várias pessoas juntas conseguem muito mais do que uma só [...]
conhecer e respeitar a voz do outro, isso é muito importante no canto coral (LU,
CP 4,p. 9).
Gabriela, que participa do coro há quatro anos, destaca o aprimoramento vocal e
as amizades como contribuições do coral em sua vida. A cantora participa como
vocalista de uma banda na cidade de Tupanciretã-RS. Considera as músicas do coro
mais difíceis do que as da banda e salienta a importância que cada cantor tem dentro
do coro. Expressa, também, que lhe chama a atenção no coro a organização e o
número de pessoas envolvidas na atividade.
73
Lucélia via, antes de ingressar no coro, o canto coral como um todo, onde a
impressão que têm é que está tudo correto, com vozes preparadas. Participando do
coro, a corista pôde, então, entender o que estava cantando:
[...] antes eu cantava sem entender e o canto coral fez com que eu conhecesse
notas, né, que eu soubesse diferenciar tons, é, conhecer as vozes, as técnicas,
como funciona a voz, agora, com a técnica que existe no canto coral, eu
consigo controlar a minha voz (LU, CP 4, p. 9).
Gabriela e Lucélia, ao participarem do coro, acreditam que estão fazendo
música. A primeira, por estar cantando e interpretando e a segunda, pela união musical
através das vozes dos colegas na hora de cantar.
Lucélia destaca o espaço que o canto coral ocupa na sua vida. Segundo ela, as
atividades do coro lhe proporcionam técnica vocal e a conquista de novas amizades.
Gabriela também possui a mesma idéia de Lucélia. Coloca a técnica vocal e a amizade
como repercussões do canto coral na sua vida. Lucélia, paralelamente às atividades do
coro, participa de festivais de intérpretes da canção e acrescenta:
[...] eu consegui tirar os primeiros-lugares nos festivais através do exercício
vocal que eu aprendi no canto coral, né, foi depois que eu entrei.[...] que eu
consegui adaptar aminha voz aos exercícios e conquistar os primeiros-lugares
(LU, CP 4, p. 10).
Dentro das atividades do coro, Gabriela destaca como significativa a união do
grupo. Lucélia chama a atenção para o sentimento, afeto e o carinho que sente pelos
colegas e que é correspondido.
As duas coristas destacam estes aspectos que julgo peculiares do coro Mãe de
Deus. Com isto, não estou afirmando que a amizade, carinho e afeto não façam parte
de outros grupos corais, todavia, estou relatando o que vejo nos ensaios do coro.
Lucélia vai mais além quando diz: “é metade da minha vida, só quem canta sabe o que
é, né?” (LU, CP 4, p. 11)
12
.
12
Esta fala foi utilizada no nome da dissertação, representando o valor do canto coral para a vida dos que nele estão
envolvidos.
74
Ações Musicais
Lucélia tem uma trajetória musical paralela ao coro que chama atenção. Já
cantou em festivais de intérpretes da canção por todo estado, inclusive além-fronteiras
(Uruguai e Argentina). Já participou de dois programas de televisão em São Paulo
concorrendo como cantora em um concurso de talentos, canta em casamentos,
festivais de música nativista, festas, dentre outros. Gabriela canta na banda Oficyna
G12, de Tupanciretã, onde faz shows por toda a região. Já participou do coral da escola
Divino Mestre/Objetivo, em Tupanciretã.
O modo de fazer música fora do coro traz alguns aprendizados que Gabriela
utiliza no próprio coro, pois já cantava no grupo vocal Improviso, de Tupanciretã, antes
de ingressar no coro Mãe de Deus. Quando vai fazer algum solo no coro, utiliza-se da
presença de palco adquirida no grupo vocal Improviso. Cabe aqui ressaltar que este
grupo é hoje a banda Oficyna g12. Antes de mudar de nome, o grupo Improviso era
composto apenas por cantores, nos dias atuais os cantores têm o acompanhamento
musical de uma banda composta por dois teclados, duas guitarras, baixo, percussão e
bateria.
Lucélia iniciou a cantar com aproximadamente sete anos de idade. Quando
entrou no coro Mãe de Deus, por volta dos quinze anos, trouxe consigo experiências
em como usar o microfone, postura em palco, dentre outras.
Segundo Gabriela, o coro contribuiu nas suas atividades musicais diárias
dando-lhe mais segurança. Lucélia, por sua vez, utiliza-se do que aprendeu e vivenciou
no coro na hora de cantar nos mais variados lugares. Segundo ela, o que aprende no
coro nunca mais esquece.
Lucélia prefere não separar o coro de suas atividades musicais diárias: “pra mim
tudo é o mesmo. No momento em que eu aprendo. Eu sou uma, então o que eu
aprendo lá, eu utilizo fora dali, pra mim é a mesma coisa” (LU,CP 4, p.12). Já Gabriela
considera bem distintas as atividades do coral e da banda a qual participa: “no coral é
um grupo, na banda é individual, outros estilos de música” (GA,CP 3, p.8). Lucélia
coloca o canto coral como sua própria vida, pois ao parar de cantar por um tempo no
coro Mãe de Deus, sentiu falta dos amigos e das atividades do grupo:
75
Eu acredito que Deus tenha me dado um dom, mas ele teve que ser melhorado,
lapidado [...] e é muito importante na minha vida. É uma pena, eu fiquei algum
tempo fora e foi quando eu percebi que eu não sou praticamente nada, eu até
sou uma planta murcha sem o canto (LU,CP 4, p.12-13)
Lucélia e Gabriela são cantoras com experiências musicais e vocais anteriores
ao coro. Essas experiências possibilitaram às mesmas que ajudassem seus colegas do
coro nos exercícios vocais, na hora de cantar as músicas e na execução das
coreografias, inclusive com sugestões dadas ao regente. Lucélia é muito participativa,
criando um espaço para compartilhar suas experiências musicais com coristas e
regente. Contudo, em suas narrativas é destacada a importância do coro na sua vida.
76
3.1.3 Coristas com 6 a 8 anos de participação no grupo
Nesta parte, trago a análise das entrevistas de Ana Paula (18 anos) e de Simone
(25 anos). Nas citações, para Ana Paula, será usada (AP) e, para Simone (SI).
Concepções musicais
Ana Paula começou a cantar com o coro Mãe de Deus no ano de 1998, data de
início do coro. No ano de 2005 esteve ausente do coro por questões pessoais, voltando
no ano de 2006. Simone canta no coro há oito anos, desde seu início. Para Ana Paula,
o canto coral é uma união de vozes que gera uma força:
[...] tu apóia uma soprano, uma contralto lá e sai uma melodia, assim, uma
coisa perfeita, então pra mim é uma união, um conjunto, um apoio, uma união
que gera uma força, assim, uma coisa boa (AP, CP5, p.14).
Simone vê o canto coral como um aprendizado baseado na técnica vocal. Ainda,
para ela o coro representa tudo pois tem sentimento, amizades e união. Ana Paula
considera o coro mais do que uma terapia na sua vida e aconselha a todos que
procurassem participar desta atividade porque a mesma toca profundamente “não só o
ouvinte, como principalmente quem tá cantando” (CP 5, p.14). Através do coro, Ana
Paula diz ter aprendido a ser mais companheira, colega e ajudar a quem precisa.
Simone, antes de ingressar no coro, tinha uma imagem de que o mesmo seria
como uma aula de música. Agora, participando, destaca o coro como sendo mais do
que uma aula de música, um grupo com união.
Ana Paula não tinha idéia do que era canto coral antes de seu ingresso no grupo.
Todavia, com o tempo de participação no grupo, foi vivenciando novas experiências
musicais, as quais deram suporte para a sua mudança de pensamento frente a esta
atividade:
[...] no coral eu aprendi outros estilos de música, tanto que me transformou,
hoje em dia eu sou bem eclética, gosto tanto de um pagodinho quanto uma
77
bossa nova ou um coral bem melódico, uma coisa, tanto que mudou meu jeito
de ver a música, me ensinou a ver de onde vem o som, né, não só da voz como
dos instrumentos, conhecimento técnico, o jeito da boca, no fazer tal som, etc
(AP, CP5, p.14).
Simone e Ana Paula, ao serem indagadas se ao participarem do coro estão
fazendo música, tiveram respostas bem semelhantes. Ana Paula considera a voz como
instrumento musical, e acredita portanto, que usando a mesma está fazendo música.
Simone considera, da mesma forma, a voz como instrumento musical e diz que também
é um instrumento para se aprender música.
É interessante esta colocação de Simone, mas não causa surpresa, pois a
corista, neste ano de 2007, ingressou no primeiro semestre de pedagogia, na UNICRUZ
(Universidade de Cruz Alta). Essa visão da voz como meio de aprendizagem musical,
portanto, faz parte de sua trajetória como futura professora.
Ana Paula explica que a repercussão que a atividade do canto coral produziu em
sua vida foi de ficar mais “famosa e conhecida” na cidade. Após muitos risos, destacou
também as viagens, os cantores e estilos de coros que conheceu, dentre outros. Ainda,
citou o sossego e a paz que o coro lhe traz. Nas atividades do coro, dois aspectos
chamam a atenção de Simone: a maneira do regente ensaiar e as técnicas de voz
como aquecimento, voz “de cabeça”, etc. Da mesma maneira, são as técnicas, os
exercícios que chamam a atenção de Ana Paula. Para a corista, saber dominar a
respiração e a voz na atividade de canto coral são aspectos muito importantes.
78
Ações Musicais
Ana Paula iniciou no coro Mãe de Deus em 1998. Paralelamente, estudou piano
no Conservatório Riograndense de Música em Tupanciretã-RS. Participou, de 2000 a
2005, do grupo vocal Improviso, também da cidade. Hoje em dia, além de participar do
coro, é solista de uma banda da cidade. Sente falta, na banda, de um trabalho mais
voltado à parte vocal, pois canta sozinha. Simone, no ano de 2005, foi convidada a
trabalhar com um grupo de crianças da escola estadual Tupanciretã, também de
Tupanciretã. Tinha a ajuda de uma professora da escola e permaneceu até final de
2005. Estuda e toca teclado pelo Conservatório Riograndense de Música. Além destas
atividades, a corista participa do coro da igreja Matriz.
Cantando neste coro, Simone destaca que tem que “soltar” mais a voz, pois são
poucos integrantes. Segundo ela, utiliza-se dos aprendizados deste coro na hora de
cantar no coro Mãe de Deus. Já para Ana Paula, sua experiência conquistada nas
apresentações de sua banda, em soltar mais a voz, chamar o público e estar mais
descontraída é utilizada no coro Mãe de Deus:
[...] expressão, né, no palco. Acho que a banda é mais largada, tu tem que ser
mais solto [...] banda tu tem que chamar o público [...] é uma coisa que eu
resolvi aproveitar no coro ( ibid, CP5, p.16).
Para Simone, o coro tem contribuído nas suas atividades musicais diárias,
principalmente no coro da igreja. Ana Paula, por sua vez, utiliza o aquecimento vocal e
as técnicas de voz aprendidas no coro, nas suas atividades musicais diárias. A corista
acredita que todo cantor deveria começar por um coro, mesmo se for cantar em uma
banda.
Simone, finalizando, considera o coro muito importante na sua vida: “eu tento
fazer da melhor forma possível e para mim, os amigos são muito importantes” (CP6,
p.21). Na parte final de sua entrevista, Ana Paula destacou aspectos do coro Mãe de
Deus, como a grande quantidade de cantores novos que entram todos os anos e o
trabalho do regente frente a esta situação:
79
Eu acho assim, que o coral é, acima de tudo, um trabalho difícil, por melhor que
ele traga pro coralista, pro componente, por que é acima de tudo uma
responsabilidade, que tu assume, né. Que tu veste a camisa, como a gente diz,
né. É um trabalho que se torna difícil porque... num ano tu tem aquela turma
firme, principalmente porque o coral é de escola, então alguns se formam,
alguns vão embora, e daí, no outro ano, como vai tar o nível do coral, né?
Decai, com certeza, porque entram pessoas novas. Daí tem uns que já estão
um pouquinho acima no nível de conhecimento e daí pra ter paciência, pra
segurar, né? Ah!!! Vamos começar tudo de novo, daí fica uma repetição, então
se torna um trabalho difícil. Por mais que seja prazeiroso estar ali, né, mas é
uma coisa que se torna difícil e ao mesmo tempo um desafio. Porque o desafio
do coral, que eu vejo, todos os anos é chegar a um nível bom no final do ano,
não interessa quem entre, sabe. Acho que foi sempre um desafio maior pra ti,
né, Bruno (AP, CP5, p.17).
A constante renovação de cantores, de um ano para outro, é uma das
características do coro Mãe de Deus. Acredito que outros coros devem partilhar deste
caso, visto que, em contato com regentes e pessoas ligada ao canto coral, sempre
ouço relatos de coros que, de um ano para outro, tiveram renovação em termos de
cantores quase que totalmente. Acredito que esta renovação é sempre saudável, pois
expande o acesso a esta atividade a mais pessoas e dá a oportunidade a elas de
conviverem com seus colegas e vivenciarem a música. Todavia, os novos cantores
passam por um trabalho de adaptação desde o início, incluindo aí adaptação vocal, de
convivência com um grupo novo e este trabalho é um desafio para o regente, visto que
os cantores que ficam, encontram-se em outros níveis de desenvolvimento vocal e de
interação com os demais do grupo.
Considero esta característica mais comum em coros escolares. Como
sabemos, na escola, todos os anos, alunos concluem seus estudos, outros são
transferidos para outras escolas, outros simplesmente desistem das atividades que
participam. Para que o grupo contasse com um número bom de cantores e
consequentemente a manutenção de um trabalho musical é que optei pelo coro-escola.
Para componentes mais antigos, como Ana Paula, portanto, este fato chama muito a
atenção. Outros dois fatos marcantes para a corista foram o primeiro solo realizado e o
primeiro festival da canção:
A primeira vez que tu me botou pra fazer solo, fiquei apavorada!! Cantei a
música “Isto aqui o que é”, foi no encontro de coros. Eu fiquei feliz e ao mesmo
tempo assustada. [...] aquele encontro foi inesquecível, não só pelo solo, mas
80
por ter visto todo mundo em pé, aplaudindo, e cada vez que o coral viaja e é
aplaudido em pé me dá aquela emoção, assim, aquela sensação e dá até
vontade de chorar. [...] outra coisa é o festival da canção que apareceu como
um desafio e terminou como uma conquista.[...] as equipes eram muito
competentes, todos ajudaram, mas pra ter a casa cheia e o pessoal elogiando
tinha que ser mesmo (AP, CP 5, p.18).
Nesta última fala na entrevista de Ana Paula, pude notar que a corista trouxe à
tona temas até então não comentados pelos outros participantes da pesquisa, tais
como Festival da Canção e o trabalho com os cantores durante esses anos que
passaram. A corista destacou o evento realizado por permitir um trabalho em equipe,
onde os coristas, pais e comunidade escolar em si, tiveram a oportunidade de realizar
um evento musical de grandes proporções, visto que abarcava cantores de todo o
estado. Finalizando, a corista ao destacar tópicos únicos entre as narrativas dos
participantes, como o Festival da Canção abre espaços para novas reflexões acerca
das atividades musicais produzidas e vivenciadas pelo coro Mãe de Deus.
81
3.2 CONCEPÇÕES E AÇÕES MUSICAIS: TECENDO RELAÇÕES NA
CONSTRUÇÃO DO CANTO CORAL JUVENIL
As concepções e ações musicais, temas propostos na entrevista semi-
estruturada, produziram desdobramentos particulares e comuns entre os participantes
da pesquisa. A partir da fala dos entrevistados, busquei entender suas particularidades
e construir pontos em comum revelados entre os cantores investigados. Os seguintes
temas abaixo foram destacados nas entrevistas:
O que é canto coral para os participantes
O que o coro Mãe de Deus representa na vida de seus componentes
O papel do regente, destacado pelos cantores
O trabalho de expressão corporal e coreografias realizado
O fazer música no coro
A contribuição do coro na vida dos cantores
A seguir, apresento um quadro/resumo das concepções e ações musicais dos
coristas entrevistados:
82
Tabela 3- Concepções e ações musicais dos coristas entrevistados:
coristas
O que é canto
coral
O que o coro
representa
Papel do
regente
Expressão
corporal e
coreografias
O fazer música
no coro
Contribuição do
coro
JM
___________
Desestressante,
divertido
Maneira
“fácil” do
regente
passar as
músicas
Chamou a
atenção
como um
diferencial
Sim, ao
cantar está
fazendo
música
Novas
amizades e
encontrar
colegas
DE
União de
vozes
Melhora sua
auto-estima e
prova que é
capaz
________ _________
Sim, voz
como
expressão
musical
Melhorar sua
auto- estima
LU
União de
vozes
Tudo, parte
fundamental na
sua vida
Promove a
união do
grupo,
coesão
entre
cantores
________
Sim, ao
cantar está
fazendo
música
Técnica aliada
à mudança no
comportamento
GA
União de
vozes
Possibilidade
de conquistar
novos amigos
________ _______
Sim Verdadeiras
amizades
AP
União de
vozes
Terapia,
sossego,
realização
Deixar o
coro no
mesmo
nível até o
final do ano,
aglutinador
Faz menção
mas
concentra-se
em postura
no palco
Sim, voz é um
instrumento
musical
Técnica e
mudança no
comportamento
SI
União de
vozes
Tudo em sua
vida
________ ________
Sim, voz
como
possibilidade
de
aprendizagem
musical
Amizades
83
Ao responderem o que entendem por canto coral, a maioria dos coristas
concebe esta atividade como uma união de vozes (DE, LU, GA, AP e SI, p.1 a 21).
Desta união de vozes, vão surgindo outros destaques nas falas dos jovens
adolescentes tais como a amizade, o companheirismo, a ajuda e o cantar em conjunto.
Destas respostas, pude notar a real importância de um grupo estar unido para iniciar
uma atividade de canto. O coro, através das falas, transforma-se em um verdadeiro
grupo, onde, tudo é feito nele. Da convivência com os colegas cantores surgem
amizades, muitas, segundo Gabriela, “pra toda a vida” (GA, CP3, p.7).
Tomando como base a profunda ligação dos coristas com o próprio coro Mãe de
Deus, foi importante problematizar o que o mesmo representava na vida dos seus
participantes. Quando me refiro a profunda ligação, entendo que um dos motivos
principais para esta é o fato do coro ser da escola. Com isto, os alunos que participam
do grupo estão sempre vivenciando as atividades do coro. As coristas Lucélia e
Simone, cantoras há mais de quatro anos do grupo, deram importância acentuada para
o coro em relação às suas vidas. O grupo representa tudo para elas. Em vários trechos
das entrevistas Lucélia, por exemplo, destacou o que o canto coral representa na sua
vida. Chegou a falar que sente-se até uma planta murcha sem o canto, lamentando o
tempo em que esteve ausente dos ensaios do coro Mãe de Deus. Da mesma maneira,
a primeira resposta de Simone foi que o canto coral representava tudo em sua vida,
clara alusão ao grande espaço que, segundo ela, o coro ocupa na sua trajetória.
Ana Paula destacou o coro como uma espécie de terapia: “Repercutiu muito,
acho, que no pessoal, sabe; uma terapia. Cantar pra mim me traz um sossego, assim..
[...] estando lá tu sai aliviada, de alma lavada, repercutiu pessoalmente” (AP, CP5,
p.15).
Jaime Léo não cita a palavra terapia, porém diz que: “ [...] muita gente deveria
fazer, porque é desestressante” (JM, CP1, p.1). Pode-se entender estas duas respostas
pois tanto Jaime Léo como Ana Paula trabalham. Ana Paula trabalha em uma loja de
informática e celulares e Jaime Léo trabalha com os pais, proprietários de uma loja de
criação visual, ambos na cidade de Tupanciretã. Os dois saem mais cedo do trabalho
nas sextas-feiras, porém chegam sempre alguns minutos atrasados no coro. Quando
estão participando sentem-se mais relaxados, sossegados. Com isto, a atividade coral
84
assume outras funções e é vista de uma maneira distinta dos cantores Lucélia e
Simone.
Déborah e Gabriela, por sua vez, trazem respostas distintas com relação ao que
o coro representa em suas vidas. A primeira considera que o coro representa uma
possibilidade de melhorar sua auto-estima e provar que é capaz de evoluir. Já Gabriela,
destacou que o coro representa para sua vida a possibilidade de conquistar novos
amigos.
Outro ponto abordado pelos cantores diz respeito às concepções sobre a figura
do regente. As coristas Ana Paula e Lucélia destacaram ações do regente como o
desafio de “deixar todo mundo no mesmo nível no final do ano” (AP, CP5, p.12). Lucélia
considera o respeito dos integrantes pelo regente fundamental:
[...] para mim, o mais importante que eu acho, no nosso coral, vamos falar no
nosso, é o respeito que os integrantes tem por ti, né. Tu rege e eu te acho novo
e todo mundo tem respeito por ti e tu aprende muito fácil, consegue muito fácil
passar pra nós, os teus alunos, no caso (LU, CP4, p.11).
Jaime Léo também destaca a atuação do regente: “a maneira como tu rege e nos
passa as músicas também me chama a atenção, fica mais fácil entender” (JM, CP1,
p.2)
A respeito da fala dos coristas, considero fundamental o papel do regente no
canto coral. Acredito no diálogo, na busca pela união do grupo e no respeito com as
vivências musicais trazidas, pois como nos diz Oliveira:
[...] o regente deve oportunizar um diálogo produtivo com os cantores via
repertório e a atividade coral em si. Deve criar condições onde o cantar, o
movimentar-se no palco e o “dialogar com a música”, possam contribuir para o
processo de auto-conhecimento (OLIVEIRA, 2003, p. 94).
O movimentar-se no palco e dialogar com a música perpassam pelo trabalho de
construção coral como um todo, envolvendo desenvolvimento pessoal, coletivo,
musical, trabalho com coreografias e expressão corporal, outro item que emergiu da
fala dos entrevistados. Este trabalho chamou a atenção dos cantores, muitas vezes por
85
ser um diferencial do grupo nas apresentações. Todavia, aqui cabe uma ressalva, pois
noto que parte desta experiência e “facilidade” com que os coristas desempenham as
coreografias é proveniente de suas atividades diárias. Aqui, cria-se um ponto de união
entre o que se faz e vivencia musicalmente fora do coro e o que se produz
musicalmente no próprio coro. As experiências musicais vivenciadas fora da atividade
do coro pelos cantores são utilizadas nos ensaios do grupo. Esta experiência, portanto,
traz benefícios para o coro e para seus participantes.
Jaime Léo, em sua entrevista cita: “tem o trabalho de expressão corporal, etc,
acho que isso ajuda um monte, é bom até porque eu gostaria de fazer artes cênicas”
(JM, CP1, p.1). Ana Paula, utiliza no coro alguns aprendizados que obtém em outras
atividades musicais. A expressão no palco vivenciada em outras atividades musicais,
segundo a corista, é também utilizada na hora de cantar e se apresentar no coro, até
mesmo no momento de dar sugestões para novas coreografias e atividades de
expressão corporal.
Outro ponto que me chamou a atenção foi a resposta para a seguinte pergunta:
ao participar do coro tu estás fazendo música? Por quê?.
A este ponto, dei o nome de: “o fazer e aprender música no coro”. Todos os
entrevistados responderam que sim.
Simone respondeu que é cantando que se aprende música. Ana Paula
considera a voz como um instrumento musical e Déborah considera a voz como uma
forma de expressão musical. Em comum, estas respostas nos remetem à utilização da
voz como uma forma de fazer e aprender música. Mais ainda, concordo com as
palavras de Schmeling, 2005, de que a voz é uma forma de auto-expressão:
Com esse entendimento da voz como forma de expressão, é possível analisar o
cantar dos jovens participantes da pesquisa como um ato que envolve muito
mais do que resolver questões técnicas de emissão vocal. Assim, cantar é uma
conseqüência do estado emocional da pessoa, pois a voz é uma forma de auto-
expressão (SCHMELING, 2005, p.78).
Ao cantarem no coro, além de utilizarem a voz como um meio de fazer e
aprender música, cada corista a utiliza para se expressar, tornando sua participação
86
singular, única. Não só a voz, mas “o cantor usa seu corpo como meio de expressão”
(WÖHL. 2006, p. 27). Cada singularidade, no momento que se une a outras forma, um
verdadeiro grupo. Este grupo, por sua vez, possui suas próprias características, sua
própria forma de ver e entender a música. Assim vejo o coro Mãe de Deus. Um grupo
singular, em constante mudança e desenvolvimento. O trabalho realizado, que já passa
de oito anos, também contribui para a formação de uma identidade do coro. Esta
identidade compreende o acompanhamento instrumental, a utilização de coreografias
nas músicas, até mesmo o uniforme que é a identidade visual do grupo. A sua
contribuição na vida dos coristas foi o último item destacado e em comum para os
participantes da pesquisa. Para Jaime Léo, Gabriela e Simone, o coro ajuda a
conquistar novas amizades, encontrar os colegas que não são da mesma turma, bater
um papo sobre as novidades, enfim, o coro, em seu espaço, possibilita um grande
momento de encontro para os jovens. Gabriela cita que “fiz muitas amizades lá [coro],
me ajuda na técnica vocal, me aprimorando, pra mim só ajuda e eu gosto muito” (GA,
CP 3, p.7). Jaime Léo considera o coro como “uma das minhas horas de diversão, né, é
onde eu encontro os amigos...é a melhor hora da minha vida, é quando eu to fazendo
isso” (JM, CP 1, p.1).
Em contrapartida, as coristas Ana Paula e Lucélia deram ênfase à mescla de
aspectos técnicos (técnica vocal, postura, respiração, exercícios) com mudanças nos
seus comportamentos frente aos colegas de coro e frente às suas próprias vidas.
Entendo essa mistura de repercussões ou contribuições provocadas pelo coro como
materiais passíveis de uma problematização mais aprofundada.
No caso das coristas Ana Paula e Lucélia, notei que a parte técnica dos
exercícios do coro foi profundamente ligada às suas ações mais subjetivas no coro, tais
como: se colega, ser companheira, ajudar no seu naipe, dentre outros, pois como
Lucélia afirma: “tu tem que ter um ouvido muito bom pra tua voz não se sobressair às
outras, então tu aprende a educar a audição, a tua voz” (LU, CP4, p.9). Ana Paula, em
um trecho de sua entrevista expõe:
Eu aprendi muito e até minha personalidade, sabe, de ser companheira, de ter
coleguismo, ajudar a quem precisa [...] o canto coral pra mim, além de me trazer
87
amizades, carinho e companheirismo, me trouxe muito aprendizado pra mim ver
a minha vida (AP, CP5, p.14).
Vejamos, no momento em que Lucélia afirma que tem que ter um “ouvido muito
bom” para sua voz não se sobressair as outras está corroborando para a idéia de que o
coro é um grupo, onde sua voz só deve ser amplamente notada no momento em que,
porventura, estiver fazendo um solo. Ana Paula, da mesma forma, ao afirmar que ajuda
a quem precisa, no caso suas colegas de naipe, assume um papel no coro,
participando mais efetivamente de sua vida.
É importante salientar que essa ajuda que Ana Paula dá a seu naipe perpassa
pela técnica vocal que a mesma aprende nos ensaios do coro. Portanto, a técnica
aliada à novas posturas das coristas no coro, produziram ações que, certamente,
beneficiam a todos. Difícil neste caso, é estabelecer o limiar entre o que realmente o
coro representa na mudança de “atitude” das coristas, visto que suas vivências
musicais fora do espaço coral também contribuem para esta mudança. Inegável é o fato
de que o coro contribui, e muito, para isso. As duas coristas participam do coro há mais
de cinco anos. Parece-me, portanto, que neste caso, quanto maior a participação no
grupo, maior é a consciência do cantor sobre o seu papel no mesmo, bem como o
próprio papel e contribuição do coro em sua vida. Finalizando esta parte, os temas
relacionados às concepções e ações musicais apresentaram pontos em comum, a partir
da fala dos participantes da pesquisa.
88
Considerações Finais
Nesta pesquisa procurei investigar o papel do coro Mãe de Deus no
desenvolvimento das concepções e ações musicais dos coristas. O trabalho foi
organizado em três partes. Na primeira, trouxe quatro questões que julgo importantes
na abordagem sobre coros juvenis. A saber: (1) cantar em conjunto, (2) mudança
vocal, (3) práticas dos regentes e (4) repertório. Na segunda parte destaquei a história
do coro Mãe de Deus, seus coordenadores e eventos realizados e na terceira parte
busquei mapear as concepções e ações musicais dos coristas.
Durante a construção do referencial teórico desta primeira parte, utilizei autores
como Wöhl (2006), Teixeira (2005), Schmeling (2005), Oliveira (2003), Hentschke
(1995), Bellochio (1995), Coll (1994), Phillips (1992), Penna (1990) e Figueiredo (1990).
Na segunda parte, abordei a metodologia utilizada. Através dos autores Martins
(2004), Stake (1999), Gil (1999), Bogdan e Biklen (1994), Bresler e Stake (1992),
Azanha (1992), e Lüdke e André (1986), tracei uma breve análise da pesquisa
qualitativa e do estudo de caso. Fizeram parte do contexto metodológico da pesquisa, o
coro Mãe de Deus do Instituto Estadual de Educação Mãe de Deus.
Na terceira parte, busquei mapear primeiramente as concepções e ações
musicais dos coristas. Em seguida, trouxe as concepções e ações musicais
relacionadas, buscando pontos em comum na fala dos entrevistados. Para esta
pesquisa foram selecionados seis cantores com tempos distintos de participação no
coro.
O coro Mãe de Deus possui oito anos de existência. Durante todos esses anos
de trajetória, representou uma das únicas, senão a única, atividade musical formalizada
na escola. Muitos alunos do Instituto Mãe de Deus e outras escolas do município
cantaram no coro durante todo esse tempo. A existência do coro contribuiu e continua
contribuindo na construção e desenvolvimento musical e social de seus cantores. Suas
concepções e ações musicais na presente pesquisa foram investigadas a fim de termos
uma maior compreensão do coro na vida de seus cantores. Com base nisto, trago
alguns pontos que corroboram na construção das concepções e ações musicais:
89
A atividade coral abre um grande espaço no qual, além de estarmos fazendo
música, temos a possibilidade de um convívio maior com o restante dos amigos e
colegas. Essa afirmação pode ser comprovada através das entrevistas realizadas com
os participantes da pesquisa. As amizades, o companheirismo, o coleguismo, foram
itens destacados pelos cantores. Segundo eles, o coro é um grande aglutinador,
promove a união, é uma atividade onde se faz amigos. A concepção de coro
problematizada como sendo uma união de vozes nos remete a refletirmos nas suas
“entrelinhas”. União de vozes, no caso do coro Mãe de Deus, vai além de simplesmente
cantar com os colegas. Entendo que “unir as vozes”, representou a busca por um
mesmo objetivo, pela vontade coletiva de fazer o melhor, dar o melhor de si para a
construção coletiva inerente ao canto coral. As ações do regente expostas na primeira
parte deste trabalho como unir o grupo, respeitar as vivências musicais trazidas pelos
cantores, foram corroboradas pelos entrevistados, participantes desta pesquisa.
Como segundo apontamento, destaco a técnica vocal e os exercícios como
agentes de transformação no coro. A técnica vocal e os exercícios feitos nos ensaios
produzem um desenvolvimento na voz do cantor e abrem espaço para o mesmo refletir
sobre seu papel no grupo. Com isso, os exercícios técnicos devem estar
fundamentados na idéia de grupo, de ajuda mútua. Ajuda, onde todas as vozes unidas
produzam uma só voz: a voz do coro. As coristas Ana Paula e Lucélia abriram novos
rumos para este pensamento. Por que não relacionar os exercícios técnicos à mudança
na nossa forma de ser “cada um por si”? Quando falo nesta forma de ser, entendo que
nos dias atuais as pessoas estão muito mais preocupadas consigo mesmas, e, muitas
vezes, não pensam em realizações compartilhadas, em ações conjuntas. Neste sentido,
entendo que o canto coral representa, basicamente, o contrário: ações colaborativas e
conjuntas que levam a um bem comum – a existência do coro Mãe de Deus. O grupo
aparece em primeiro lugar, sem que, no entanto, esqueçamos da singularidade de cada
cantor. Assim, acredito que os regentes podem fundamentar mais a técnica vocal nos
ensaios bem como promover exercícios onde haja a possibilidade do corista escutar a
sua voz e perceber a voz do colega. As coristas Ana Paula e Lucélia perceberam o real
sentido do coro e tiveram a possibilidade de mudança nas suas próprias vidas. Em suas
entrevistas, destacam que ajudam os colegas e aprenderam através dos exemplos
90
dados no coro, a serem mais solidárias com todas as pessoas. Esta é uma concepção
do coro Mãe de Deus, provinda da fala dos entrevistados. O canto coral é aglutinador,
onde as vozes unidas ajudam-se, promovendo um melhor desenvolvimento da
atividade musical na escola.
As ações musicais diárias dos cantores relacionaram-se com as suas ações na
atividade coral. Como exemplo disto, pude notar que a maioria das atividades musicais
fora do coro relacionaram-se com o canto, com exceção de Déborah.
A corista Ana Paula aproveita os ensinamentos do coro como relaxamento,
concentração e técnica vocal para suas atividades musicais diárias. Da mesma
maneira, a forma como esta cantora vivencia suas atividades musicais fora do grupo,
trouxe aprendizados que utiliza no coro. Um exemplo disto foi a questão da postura
citada por Ana Paula. Segundo a corista, a postura vivenciada na sua banda contribui
para sua atividade musical no coro Mãe de Deus. Outro exemplo foi o de Jaime Léo
que, com as vivências musicais de sua banda, aprendeu a soltar mais a voz no coro.
Com isto, criou-se uma relação de troca de experiências entre o que é feito no coro em
termos de ações musicais e o que é feito em outras atividades.
O coro Mãe de Deus, portanto, promove um trabalho de construção coral no
sentido mais amplo, onde atividades musicais diárias dos coristas se relacionam, abrem
espaço para uma interligação musical, de idéias e vivências. Com isto, entendo que as
ações musicais no coro ficaram mais fundamentadas porque abriram espaço para que
as experiências musicais diárias, vivenciadas pelos cantores, fossem também levadas
em conta no próprio ensaio do coro.
O estudo das concepções e ações musicais abre espaço para reflexões acerca
da influência do canto coral nas atividades musicais fora do coro dos cantores. Como
vimos, muitas atividades musicais realizadas pelos cantores fora do espaço do coro
tiveram relação com o canto. Da mesma forma, as atividades musicais extracoro
produziram aprendizados utilizados nos ensaios do grupo. Um tema interessante para
futuras pesquisas, portanto poderia ser investigar a relação entre as vivências musicais
extracoro e as produzidas na atividade coral. A técnica vocal também poderá ser
utilizada em futuros trabalhos com um enfoque não somente em si mesmo, mas
relacionando-a com o sentido de grupo, de união, de ajuda.
91
Temas relacionados ao canto coral podem servir de objeto de estudo para
futuras pesquisas em Educação Musical, visto que estudos voltados ao canto coral no
Brasil. em geral, ainda são poucas frente ao número total de trabalhos em outras
temáticas pesquisadas na educação musical. Acredito na possibilidade do
desenvolvimento de trabalhos de pesquisa voltados aos tópicos acima citados.
Finalizando, o estudo do coro Mãe de Deus trouxe algumas informações
particulares, únicas. Todavia, acredito que as mesmas devem ocorrer em outros coros
juvenis. O canto coral mostrou ser uma atividade que une, que integra os cantores. No
espaço físico, onde ocorrem os ensaios, muitas experiências musicais e sociais foram e
são vividas. Essas experiências se revelam como suporte para o desenvolvimento
musical e social dos seus participantes. Também abrem espaço e instigam os jovens a
buscarem outras atividades como tocar um instrumento, participar de outros grupos
vocais ou instrumentais, ou simplesmente cantarem “embaixo do chuveiro”. Não importa
a dimensão das atividades, do mais simples cantar para si ao cantar para um grande
público, é necessário darmos destaque à atividade, por si própria. E essa atividade
promove benefícios para o coro, cantores e escola.
A existência do coro Mãe de Deus provocou mudanças na forma dos coristas
verem o canto coral como um todo. Uma atividade, antes vista como enfadonha, sem
graça e “para velhos” transformou-se em movimento, divertimento, terapia, união.
Acredito que esta é uma visão compartilhada por outros participantes de coros
por todo o país porque, pois como nos disse uma corista: “[...] só quem canta sabe o
que é, né?”.
92
APÊNDICE A- ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
CONCEPÇÕES MUSICAIS:
1) O que tu entendes por Canto Coral?
2) O que o Canto Coral representa na tua vida?
3) A tua participação no coro contribuiu para a ampliação ou mudança do teu modo de
entender o que é música e Canto Coral? Como, antes de ingressar no coro, tu vias e
compreendias o Canto Coral?
4) Ao participar do coro tu estás fazendo música? Por quê?
5) Quais as repercussões que a atividade de Canto Coral produz na tua vida?
6) Dentro da atividade do coro, o que tu consideras mais importante, significativo em
termos de ação coral?
AÇÕES MUSICAIS:
1) Quais são as atividades que desempenhas fora do coro? Em quais espaços?
2) Tu percebes, em algum momento, que o teu modo de fazer música fora do coro traz
alguns aprendizados que utilizas no coro? Em caso afirmativo, como que percebes
isto? Poderia citar alguns exemplos?
3) Na tua opinião, o coro tem contribuído para o melhor desempenho de tuas atividades
musicais diárias extracoro ? Em caso afirmativo, em que sentido? Em quais atividades
musicais cotidianas sentes que o que aprendeste no coro realmente ajuda?
4) Percebes alguma relação dos aprendizados do coro nas tuas atividades fora do
coro? Exemplifique:
5) Tu gostarias, neste momento de falar alguma coisa a respeito de tudo isto que
falamos até agora? Algum assunto que mais te chamou a atenção ou alguma coisa que
esqueceste de falar?
93
APÊNDICE B: CARTA DE CESSÃO DE DIREITOS
CARTA DE CESSÃO DE DIREITOS
Eu________________________________, participante desta pesquisa, autorizo o seu
autor a utilizar meu nome na dissertação e nos depoimentos, bem como em posteriores
apresentações deste trabalho em congressos, seminários, dentre outros.
__________________________
Assinatura
RG
Tupanciretã, 2007
94
Referências:
ABAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
ADELMAN, Clem; KEMP, Anthony. Estudo de caso e Investigação-acção. In:
Introdução à Investigação em Educação Musical. Lisboa: Fundação Calouste, 1995.
AZANHA, José Mario. A ética. In: Uma idéia de pesquisa educacional. São Paulo:
EDUSP, 1992. p. 75-78.
BELLOCHIO, Cláudia Ribeiro. O canto coral como mediação ao desenvolvimento
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