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Quando minhas esperanças por uma nova era nas nossas relações comerciais
receberam rude golpe com endosso pelo governo dos Estados Unidos, de algo
arbitraria e inteiramente revolucionária, doutrina de se pagar aos outros, não o que
eles pedem pela sua mercadoria, mas o preço que os Estados Unidos, isto é, os
negociantes americanos quiseram pagar por ela. É doutrina nova em folha, e os
Estados Unidos parecem dispostos a impô-la, mesmo com sacrifícios da velha
amizade internacional.
166
Para E. Bradford Burns, o Ministro Müller estava disposto a uma cooperação e a uma
amizade irrestrita com os Estados Unidos, pois no final, os benefícios seriam melhores para o
Brasil do que algumas inconveniências transitórias. “O novo Ministro das Relações
Exteriores, Lauro Müller, julgou as observações e sugestões do seu embaixador prejudiciais
às metas supremas do Brasil.”
167
Clodoaldo Bueno comenta que Domício da Gama era crítico
com os latino-americanos que não zelavam pela soberania do seu país. “Domício da Gama
defendia, coerentemente, a não ingerência norte-americana nas questões sul-americanas.”
168
As concessões de favores entre os países eram muito importantes, pois o Brasil
buscava o aumento da venda de seus produtos e a compra de produtos de boa qualidade com
preços compatíveis ao mercado. O Congresso Brasileiro aprovou as leis de taxas
alfandegárias de tal maneira que o país cedesse tarifas preferenciais somente às nações que
oferecessem concessões tarifárias e facilidades comerciais. Foi apresentado ao Congresso em
junho de 1915 o Tratado assinado pelo Brasil em Washington a 24 de junho de 1914, com os
Estados Unidos, para o arranjo amigável de qualquer dificuldade que possa surgir entre os
dois países, aprovado e sancionado pelo Decreto n. 3.018 de 10 de novembro de 1915.
169
O monroismo, como doutrina, teve no Brasil, através do Barão do Rio Branco, um dos
seus defensores na América do Sul. “Em nome da defesa da América do Sul, procurava
colocar o Brasil como responsável pela defesa da Doutrina de Monroe e pela segurança do
sub-continente.”
170
Segundo Cervo e Bueno o Brasil seria o co-garante do monroismo na
América do Sul, mas em l906 o Barão do Rio Branco, Ministro das Relações Exteriores do
Brasil, em discurso, fez elogios à Europa amenizando a situação. “Não havia para o Barão do
Rio Branco, possibilidade de se formar, no continente americano, nenhum bloco de poder
166
Folha do Comércio, 14/06/1912.
167
BURNS, E. Bradford. As Relações Internacionais do Brasil durante a Primeira República. In: FAUSTO,
Bóris. História Geral da Civilização Brasileira. Tomo III V. 2 Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S. A, 1990,
p 380.
168
BUENO, Clodoaldo. Op. cit., 2003, p 371.
169
Relatório do Ministério das Relações Exteriores do Brasil no período de 01 de julho de 1915 a 22 de junho
de 1916. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1916, p. XIX.
170
HEINSFELD, Adelar. As Ações Geopolíticas do Barão do Rio Branco e seus Reflexos na Argentina.
Porto Alegre: PUCRS (Tese de Doutorado), 2000, p. 317.