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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
VITTORIO VESCE NETO
AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
CURITIBA
2007
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VITTORIO VESCE NETO
AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
Dissertação apresentada como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Educação. Programa de Pós-graduação
em Educação. Pontifícia Universidade
Católica do Paraná.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Lourdes Gisi.
CURITIBA
2007
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Ao meu irmão Newton que, sem nenhuma teoria,
deixou a mais preciosa das lições: de tudo, o que
mais vale é amar enquanto é possível.
"A educação é o ponto em que decidimos se
amamos o mundo o bastante para
assumirmos a responsabilidade por ele"
(ARENDT, 1961, p.247).
AGRADECIMENTOS
À Gabriela por ser a minha viga mestra além de muita inspiração e
transpiração ao meu lado. Ao meu pai Cesare por ter me guiado até o ponto de poder
“cambalear” pelas próprias pernas. À minha irmã Mirian pelo amor incondicional e
total apoio. Ànossa mãe” Ana pelo incentivo e encorajamento.
À minha orientadora Lourdes pela paciência e por toda as preciosas
indicações na construção da pesquisa. Ao amigo Marcelo, pelo apoio e ajuda na
realização da pesquisa de campo. Ao meu diretor, Luciano Foresti por permitir as
“escapadasnecesrias para assistir às aulas. Ao professor Antônio dos Santos
Neto por me convencer à iniciar os estudos em Comunicação e Semiótica e tornar
tudo isso possível.
Aos professores do Mestrado em Educão por todo o ensinamento
transmitido que foi absorvido e convertido em idéias que contribuíram diretamente na
elaboração do trabalho. À banca examinadora pelas obervações e sugestões. À
Deus, por me aturar e não me abandonar mesmo sendo severamente criticado nos
momentos difíceis.
RESUMO
O presente trabalho de dissertação tem como tema “políticas educacionais e a
responsabilidade social na formação do administrador de empresas” e
compreende a formação do profissional para atuação responsável na sociedade.
Partindo-se dessa temática chegou-se ao seguinte problema de pesquisa: como
a responsabilidade social é trabalhada na formão do profissional de
administração de empresas? A relevância social do trabalho esta em desvelar a
visão maculada da responsabilidade social na contemporaneidade, pois esta tem
sido utilizada muitas vezes como ferramenta de promoção comercial, como
moeda de troca, como diferencial competitivo, ou apenas como obrigatoriedade
legal para ações isoladas. A busca pela mudança desse quadro, instiga e cresce
em importância, pelo fato de ser a responsabilidade social, quando bem
compreendida, um norte para as aspirações pela harmonização da vida em
sociedade. Ponderando a profundidade e a importância do tema, acredita-se que
a maneira mais eficaz de provocar críticas e reflexões quanto à responsabilidade
social, é atuando diretamente no processo de formão de profissionais-
cidadãos, em Instituições de Ensino Superior. O objetivo geral que orientou o
desenvolvimento da pesquisa foi analisar como a responsabilidade social é
trabalhada na formação do profissional de administração de empresas. Ao
pormenorizar os elementos constituintes do objetivo geral, delinearam-se os
seguintes objetivos específicos: identificar como as Políticas Educacionais
tratam a questão da responsabilidade social na formação do profissional em
Administração de Empresas; verificar em que termos a responsabilidade social é
abordada no âmbito dos cursos de Administração de Empresas; investigar a
compreensão dos alunos do curso de Administração de Empresas sobre a
responsabilidade social. Os principais autores que embasaram a fundamentação
teórica foram: Aragão; Aragão (2000), Karkotli (2004), Kanitz (2007), sobre
Responsabilidade Social; Brundtland (1991), ICONS (2003) para
desenvolvimento sustentável; Lipovetsky (1994), Leão (2003) a fim de buscar
respostas ao questionamento sobre a dualidade entre ética e marketing na
responsabilidade social; Veiga (1995), Santomé (1998), Moreira (2006) para
fundamentar questões referentes ao Projeto Pedagógico e Currículo; Sau
(1997), Lima (2003), Calderón (2005) e Volpi (2006) sobre o processo de
formação nas IES; Poulantzas (2000), Azevedo (2001) e Brasil (2002 e 2004)
para referendas as questões sobre políticas educacionais e a responsabilidade
social. O tipo de pesquisa empregada é de abordagem qualitativa, mediante
estudo de caso, entendido como uma inquirição empírica que investiga um
fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real. A fim de
contemplar os objetivos específicos elencados, foi investigado o curso de
Administração de Empresas de uma IES privada da cidade de Curitiba. A
escolha deve-se ao interesse em analisar uma instituição nova e suas propostas
educativas, no que tange às questões de responsabilidade social na formação
do egresso. O trabalho tem como estrutura cinco capítulos além da introdução,
que tratam do tema responsabilidade social de forma geral, a formação do
administrador de empresas relacionada à responsabilidade social, as políticas
educacionais e a responsabilidade social, análise dos dados coletados na
pesquisa de campo e as considerações finais.
Palavras-Chave: responsabilidade social; sustentabilidade; administração de
empresas; políticas educacionais; cidadania.
ABSTRACT
The present work has as subject "educational politics and the social responsibility in
the formation of the administrator of companies" and understands the formation of
the professional for responsible performance in the society. The social relevance of
the work this in to show the stained vision of the social responsibility in the present
time, therefore this has been used many times as tool of commercial promotion, as
currency of exchange, as distinguishing competitive, or only as legal obligatoriness
for isolated actions. The search for the change of this picture, instigates and grows
in importance, for the fact of being the social responsibility, when understood well, a
north for the aspirations for the harmonization of the life in society. Pondering the
depth and the importance of the subject, one gives credit that the way most efficient
to provoke critical and reflections how much to the social responsibility, it is acting
directly in the process of formation of professional-citizens, in Institutions of Superior
Education. The general objective that guided the development of the research was
to analyze as the social responsibility is worked in the formation of the professional
of business administration. The main authors who had based the theoretical recital
had been: Aragão (2000), Karkotli (2004) and Kanitz (2007), about Social
Responsibility; Brundtland (1991) and ICONS (2003) for sustainable development;
Lipovetsky (1994) and Leão (2003) in order to search answers to the questioning
about the dualidade between ethics and marketing in the social responsibility; Veiga
(1995), Santomé (1998) and Moreira (2006) to base referring questions to the
Pedagogical Project and Resume; Sauvé (1997), Lima (2003), Calderón (2005) and
Volpi (2006) about the formation process on the IES; Poulantzas (2000), Azevedo
(2001) and Brasil (2002 e 2004) to authenticate the questions on educational politics
and the social responsibility. The type of employed research is of qualitative
boarding, by means of study of case, understood as an empirical inquiry that
investigates a phenomenon inside contemporary of a context of the real life. In order
to contemplate the elencados specific objectives, were investigated the course of
Business administration of a private IES of the city of Curitiba. The work has as
structure five chapters beyond the introduction, that deal with the subject social
responsibility of general form, the educational formation of the administrator of
companies related to the social responsibility, politics and the social responsibility,
analysis of the data collected in the field research and the conclusions.
Key-Words: social responsibility; sustainable development; business
administration; educational politics; citizenship.
SUMÁRIO
RESUMO ............................................................................................................... 05
1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 07
2 RESPONSABILIDADE SOCIAL ......................................................................... 15
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA .................................................. 17
2.2 A PRÁTICA SOCIALMENTE RESPONSÁVEL: ÉTICA OU MARKETING? ........... 26
2.3 HISTÓRICO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL................................................... 30
3. A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR DE
EMPRESAS .......................................................................................................... 41
3.1 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL ..... 43
3.2 O CURRÍCULO, O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS E SUA
PERTINCIA SOCIAL ......................................................................................... 45
3.3 A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL NAS IES ........................................................................................ 52
4. POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A RESPONSABILIDADE SOCIAL .................. 60
4.1 DEFININDO POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCACIONAIS ...................................... 60
4.2 CONTEXTO DEFINIDOR DE POLÍTICAS BLICAS ............................................ 61
4.3 RELAÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS COM A RESPONSABILIDADE
SOCIAL ......................................................................................................................... 66
4.4 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL SOBRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL
......... 69
5. A CONCEPÇÃO DE
RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS ALUNOS DO CURSO
DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS ...................................................................... 75
5.1 CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS ................ 76
5.2 COMPREENSÃO DOS ALUNOS QUANTO À FORMAÇÃO E A
RESPONSABILIDADE SOCIAL ............................................................................. 81
5.2.1 Conceito de Responsabilidade Social ................................................................. 83
5.2.2 A Responsabilidade Social na Formação do Administrador de Empresas ......... 90
5.2.3 Disciplinas e Aspectos referentes à Responsabilidade Social ............................ 96
5.2.4 As Mudanças Sociais e as Ações de Responsabilidade Social .......................... 99
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 108
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 116
ANEXO
A
QUESTIONÁRIO
.....................................................................................
122
LISTA
DE
QUADROS
Q
UADRO
01
A
EMPRESA E SEUS PARCEIROS
...................................................................
18
Q
UADRO
02
S
ÍNTESE CONCEITUAL DE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
..............
23
Q
UADRO
03
E
VOLUÇÃO HISTÓRICA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
..............................
34
Q
UADRO
04
Q
UADRO DE
D
ISCIPLINAS
2007
.............................................................
79
Q
UADRO
05
D
ISCIPLINAS E
A
SPECTOS
R
EFERENTES À
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
............
97
LISTA
DE
TABELAS
T
ABELA
01
C
ONCEITO DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
....................................................
83
T
ABELA
02
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
..90
T
ABELA
03
D
ISCIPLINAS RELACIONADAS À RESPONSABILIDADE SOCIAL
..............................96
T
ABELA
04
E
STRUTURA
C
URRICULAR DO
C
URSO DE
A
DMINISTRAÇÃO DE
E
MPRESAS
........
99
T
ABELA
05
A
S MUDANÇAS SOCIAIS E AS AÇÕES DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
................
99
T
ABELA
06
A
S MUDANÇAS SOCIAIS E AS AÇÕES DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
...............100
LISTA
DE
GRÁFICOS
G
RÁFICO
01
C
ONCEITO DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
...................................................83
G
FICO
02
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL NA FORMÃO DO ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
....91
G
RÁFICO
03
D
ISCIPLINAS RELACIONADAS À RESPONSABILIDADE SOCIAL
...........................
97
G
RÁFICO
04
P
ERCEPÇÃO DA EXISTÊNCIA DE MUDANÇAS NA SOCIEDADE CAUSADAS
POR AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
......................................................................
100
G
RÁFICO
05
A
S MUDANÇAS SOCIAIS E AS AÇÕES DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
.............101
1 INTRODUÇÃO
O tema “políticas educacionais e a responsabilidade social na formação do
administrador de empresas” compreende a formação do profissional para atuação
responsável na sociedade. O assunto em questão toma cada vez mais corpo e
configura-se como elemento fundamental na dinâmica empresarial e suas relações
com a sociedade. É inegável a importância dada à responsabilidade social pelas
empresas na tentativa de seduzir o cliente com seu pacote de atrativos, procurando
mostrar que além de produto, serviço e preço, a empresa possui um grande diferencial:
investe no bem estar social. A imagem de “boazinhae o largo sorriso organizacional
tem, entre outras, a intenção de cativar e fidelizar sua clientela. Analisando-se de forma
superficial, pode-se entender que houve uma grande evolução no modo de gestão
atual, em que poucos anos não se usava o termo responsabilidade social de forma
tão freqüente como atualmente. O inconveniente surge à partir do ponto em que
questionando-se, não se consegue encontrar a resposta como e de que forma essas
empresas estão contribuindo para a sociedade por meio de ações responsáveis, como
divulgam em seus anúncios. Não se sabe qual a forma por que a sociedade não
procura saber, ou não se sabe a forma por que não existe nenhuma proposta concreta,
ou seja, o compromisso não passa de mera campanha publicitária? Mostra-se
necessário compreender o que de fato acontece, analisar o sentido de
responsabilidade social para as empresas e para a sociedade.
Partindo-se dessa temática chegou-se ao seguinte problema de pesquisa: como
a responsabilidade social é trabalhada na formação do profissional de administração de
empresas? As possíveis respostas para essa pergunta podem levar a um melhor
entendimento das causas que geram os problemas que se inserem nesse contexto. A
possibilidade de haver na sociedade uma atuação mercadológica consciente e
sustentável, depende diretamente da formação que as pessoas que estarão à frente das
empresas e organizações tenham recebido.
A tendência em fazer emergir os aspectos humanos e sociais durante a
formação do pesquisador como Administrador de Empresas, levou a priorização do
pensamento na perspectiva do ser humano, na preservação dos conceitos de bem-
estar e dos direitos humanos em contraposição a valorização tão somente dos
resultados financeiros e mercadológicos. Os aspectos humanos, não se limitam apenas
ao ser humano, mas abrangem também outras relações indiretas que influenciam a
vida, ou seja, não somente as relações diretas entre homens, mas também a relação
do homem com o meio. A degradação de tantos recursos que a natureza oferece, os
riscos diversos de extinção de espécies animais e vegetais, escassez de recursos
naturais básicos, aquecimento global, enfim, um desequilíbrio completo iminente, que
pode até mesmo levar a espécie à extinção (como já levou vários outros povos
conhecidos como Incas, Astecas, Maias, etc.). É claro que o se pode responsabilizar
o mercado empresarial por toda a degradação e mau uso dos recursos naturais, mas é
possível que o empresariado, por meio de seus administradores, auxiliem na
preservação do meio e na educação da sociedade nas relações homem-homem, bem
como nas relações homem-natureza.
A inteão de provocar mudanças primeiramente em nível empresarial,
buscando agir conforme os valores construídos ao longo do processo de formação
como cidao e profissional, e percebendo que o resultado dessas ações seria
possível quando pensado em nível coletivo, incentivaram o pesquisador na tentativa
de uma conscientização dentro da empresa. Ao notar que os valores capitalistas de
gerão e maximização de lucro em detrimento de todos os outros aspectos humanos
estavam profundamente arraigados não na esfera da diretoria, mas também em
todos os outros níveis que participam do processo empresarial. Projetando essa
situação para um universo maior, percebeu-se que tais conceitos não fazem parte
somente do mundo empresarial, mas que de uma maneira geral, eles se fazem
presentes na sociedade em que muitos compartilham dos mesmos valores, agindo de
forma semelhante na busca do acúmulo de capital.
Esse processo de conscientização possibilitou uma reflexão sobre as
possibilidades de como expor idéias e projetos sobre o tema. Os ideais que
impulsionaram a pesquisa no âmbito pessoal foram: viver em uma sociedade onde os
princípios humanos prevaleçam, onde o Homem realmente tenha valor nas decisões
nas mais diferentes instâncias, onde o respeito à natureza seja parte integrante e
essencial da vida, portanto devendo ser protegida e igualmente considerada nas
ões humanas, enfim, uma sociedade humanizada e consciente do papel que cada
cidadão deve exercer para si e para o todo.
Quanto à relevância social do tema, é perceptível a visão maculada da
responsabilidade social na contemporaneidade, pois esta tem sido utilizada muitas
vezes como ferramenta de promoção comercial, como moeda de troca, como
diferencial competitivo, ou apenas como obrigatoriedade legal para ações isoladas. A
busca pela mudança desse quadro, instiga e cresce em importância, pelo fato de ser a
responsabilidade social, quando bem compreendida, um norte para as aspirações pela
harmonização da vida em sociedade.
Se existe algum conceito ideal de responsabilidade social, deve-se questionar
os seus “ideais” objetivos, a fim de promover a discussão sobre ações mais sociais e
menos mercadológicas, suscitando os seguintes questionamentos: é possível
considerar a promoção do bem-estar social e crescimento sustentável, independente
do retorno financeiro-institucional? Pode haver políticas públicas que garantam os
direitos sociais? Podem empresas e organizações atuar como co-responsáveis pela
promoção de melhorias da condição social e de exercício da cidadania? É possível
haver Indivíduos aptos a exigir posturas responsáveis das empresas e organizações,
como consumidores, como profissionais e como cidadãos? Como todos esses
elementos podem contribuir ativamente na construção de uma sociedade melhor,
visando minimizar os efeitos nocivos do capitalismo? Todas as questões tem como
objetivo viabilizar um comportamento que tenham em seu cerne ações dessa natureza
a serem consideradas quando se aborda o tema: responsabilidade social.
Ponderando a profundidade e a importância do tema, acredita-se que a
maneira mais eficaz de provocar críticas e reflexões quanto à responsabilidade social,
é atuando diretamente no processo de formação de profissionais-cidadãos, em
Instituições de Ensino Superior (IES).
No contexto do capitalismo globalizado, com maior ênfase em países
considerados em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, as desigualdades sociais
e os problemas ambientais são gritantes e necessitam de soluções efetivas. Dentro
desse panorama, sabendo-se que as circunstâncias são abrangentes e complexas, a
ação isolada do Governo não tem obtido êxito na resolução do problema como um
todo. Dessa forma, faz-se necessário que outras instancias da sociedade, como as
empresas da iniciativa privada e ONGS, sejam co-responsáveis pela busca de uma
melhor condição sócio-ambiental. Considerando que essas organizações são
conduzidas por profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, as ações
organizacionais são reflexo da formação de seu contingente humano.
A expansão mundial da economia de mercado e a importância crescente das
empresas como motor do desenvolvimento social têm alterado também a
própria função social da empresa. Esta confronta-se com um novo e
imprevisto olhar crítico e contínuo dos cidadãos, dos meios de comunicação
social, dos poderes públicos. Da empresa espera-se um desempenho social
determinado, desempenho este que nunca mais se vai poder separar dos
tradicionais objetivos de produtividade, competitividade e lucro. Face à estas
expectativas das sociedades, as empresas o convocadas a proceder a
novos esforços de adaptação, quenão se confinam às novas tecnologias ou
aos novos produtos ou mercados, mas que compreendem o que chamamos a
sua responsabilidade social. (LEÃO, 2003, p.5).
Para que uma empresa assuma a sua responsabilidade social é necessário
que os profissionais estejam preparados e conscientes da sua importância. Esta
formação é de responsabilidade das IES, que deverão possibilitar um processo de
formação voltado para a construção da cidadania que por sua vez engloba questões
éticas e de responsabilidade social. Sendo assim, é importante aferir como as IES
trabalham com essas questões, nas práticas pedagógicas de formação dos alunos nos
cursos de graduação em administração de empresas. A educação formal, preocupada
com a formação integral do indivíduo, deve fomentar a crítica e a reflexão sobre as
desigualdades sociais e problemas ambientais, levando o indivíduo a adotar uma
postura crítica, reflexiva e responsável enquanto cidadão na sociedade.
O objetivo geral que orientou o desenvolvimento da pesquisa foi analisar como a
responsabilidade social é trabalhada na formação do profissional de administração de
empresas. Ao pormenorizar os elementos constituintes do objetivo geral, delinearam-se os
seguintes objetivos específicos: identificar como as Políticas Educacionais tratam a
queso da responsabilidade social na formação do profissional em Administração de
Empresas; verificar em que termos a responsabilidade social é abordada no âmbito dos
cursos de Administração de Empresas; investigar a compreensão dos alunos do curso de
Administração de Empresas sobre a responsabilidade social.
O tipo de pesquisa empregada é de abordagem qualitativa, mediante estudo
de caso, entendido como uma inquirição empírica que investiga um fenômeno
contemporâneo dentro de um contexto da vida real (YIN, 2001). O motivo da escolha
por essa modalidade de pesquisa deve-se ao fato de ser a mais adequada aos
objetivos propostos. Este tipo de pesquisa em educação tornou-se notória entre os
pesquisadores por volta dos anos 80. Surgiu assim, um grande número de publicações
a respeito dos fundamentos teóricos e dos procedimentos metodológicos da pesquisa
qualitativa, entre eles: dke e And(1986), Demo (1986), Bogdan e Biklen (1982),
Triviños (1987) e Erikson (1989).
A abordagem qualitativa realça os valores, as crenças, as representações, as
opiniões, atitudes e usualmente é empregada para que o pesquisador compreenda os
fenômenos caracterizados por um alto grau de complexidade interna do fenômeno
pesquisado. o estudo de caso consiste em uma investigação detalhada de uma ou
mais organizações, ou grupos dentro de uma organização, com vistas a prover uma
análise do contexto e dos processos envolvidos no fenômeno em estudo. O fenômeno
não está isolado de seu contexto (como nas pesquisas de laboratório), já que o
interesse do pesquisador é justamente essa relação entre o fenômeno e seu contexto.
A abordagem de estudo de caso não é um método propriamente dito, mas uma
estratégia de pesquisa. (
HARTLEY
, 1994).
Se por um lado a pesquisa quantitativa procura seguir um plano rigorosamente
estabelecido, por outro, a pesquisa qualitativa é construída ao longo de seu
desenvolvimento, não buscando enumerar ou medir eventos, e sem priorizar apenas a
análise estatística dos dados coletados. Na pesquisa qualitativa o pesquisador busca
compreender os fenômenos pela perspectiva dos participantes da situação estudada e a
partir daí realiza suas interpretações. Por meio da obtenção de dados descritivos o
pesquisador entra em contato direto e interativo com seu objeto de estudo.
As pesquisas qualitativas são exploratórias, estimulam os entrevistados a
pensarem livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. Elas fazem emergir
aspectos subjetivos e atingem motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de
maneira esponnea. São usadas quando se busca percepções e entendimento sobre
a natureza geral de uma queso, abrindo espaço para a interpretação.
Nas abordagens qualitativas, o termo pesquisa ganha novo significado,
passando a ser concebido como uma trajetória circular em torno do que se deseja
compreender, não se preocupando unicamente com prinpios, leis e generalizações,
mas voltando o olhar à qualidade, aos elementos que sejam significativos para o
pesquisador.
A fim de contemplar os objetivos específicos elencados, foi investigado o curso
de Administração de Empresas de uma IES privada da cidade de Curitiba. A escolha
deve-se ao interesse em analisar uma instituição nova e suas propostas educativas, no
que tange às questões de responsabilidade social na formação do egresso. O
instrumento de pesquisa empregado foi o questionário (Anexo A) com os alunos do
último período noturno do curso de Administração de Empresas.
O questionário, também chamado de pesquisa ampla, é um dos procedimentos
mais utilizados para obter informões. É uma técnica de custo razvel,
apresenta as mesmas questões para todas as pessoas, garante o anonimato e
pode conter queses para atender a finalidades específicas de uma pesquisa.
Aplicada criteriosamente, esta técnica apresenta elevada confiabilidade. Podem
ser desenvolvidos para medir atitudes, opiniões, comportamento, circunstâncias
da vida do cidadão, e outras questões. Podem ser aplicados individualmente ou
em grupos, por telefone, ou mesmo pelo correio. Pode incluir queses abertas,
fechadas, de múltipla escolha, de resposta numérica, ou do tipo sim ou o.
(BARBOSA, 1999, p.26).
Além da obtenção de dados junto aos alunos foi feita uma análise das
disciplinas citadas pelos alunos com conteúdos sobre responsabilidade, bem como da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, das Diretrizes Curriculares Nacionais
do Curso de Administrão de Empresas e do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (SINAES), Lei n
o
10.861, de 14 de abril de 2004.
Para nortear a análise desta investigação foram definidas as seguintes
categorias
1
:
Cidadania: A origem da palavra cidadania vem do latim “civitas”, que quer dizer
cidade. A palavra cidadania foi usada na Roma Antiga para indicar a situação política
de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer.
Ética: Parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que
motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo
simplesmente a respeito da essência, das normas, valores, prescrições e exortações
presentes em qualquer realidade social. Conjunto de regras e preceitos de ordem
valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo social ou de uma sociedade.
Responsabilidade Social: é o relacionamento ético e transparente de uma
organização com todas as suas partes interessadas visando o desenvolvimento
sustentável. A responsabilidade social empresarial é uma forma de gestão que se
1
Conceitos elaborados com base Glossário de Responsabilidade Social do Conselho Paranaense de
Cidadania Empresarial. Disponível em: www.fiepr.org.br.
define pela relação da empresa com todos os públicos com os quais se relaciona por
meio do estabelecimento de metas compatíveis com o desenvolvimento sustentável da
sociedade, preservando recursos ambientais e culturais, respeitando a diversidade e
promovendo a redução das desigualdades sociais.
Sustentabilidade: Condução dos negócios e uso de recursos naturais
considerando o direito à vida das gerações futuras. É olhar para tudo na criação do
Universo de forma sistêmica e interligada de modo que cada ciclo de um subsistema
gera subprodutos que são entrada ou alimentação para um outro subsistema.
A metodologia utilizada para categorização das respostas dos questionários foi
baseada no modelo estatístico em que em uma mesma resposta podem ser
encontrados vários elementos. Por exemplo: ao definir responsabilidade social o aluno
expressou duas ou mais idéias que posteriormente tornaram-se categorias
classificatórias das respostas. Desse modo, a totalização dos resultados em cada
categoria não foi igual ao total de alunos que participaram da pesquisa, sendo sempre
superior a esse valor. Em suma, observou-se que os alunos, quase em sua totalidade,
não abordaram apenas um elemento em suas respostas.
O trabalho tem como estrutura cinco capítulos além da introdução, que tratam
do tema responsabilidade social de forma geral, a formação do administrador de
empresas relacionada à responsabilidade social, as políticas educacionais e a
responsabilidade social, análise dos dados coletados na pesquisa de campo e as
considerações finais.
2
RESPONSABILIDADE SOCIAL
O sentido etimológico da palavra responsabilidade advém do latim respondere,
que denota “a qualidade de responsável”, que “responde por atos próprios ou de
outrem”, que “deve satisfazer os seus compromissos ou de outrem” (
MICHAELIS,
1998
).
As várias significações para o termo direcionam o entendimento à questões
relacionadas à área do dever, da obrigação legal ou moral, ou seja, ao campo da ética.
Refletir sobre ética e sua ligação com a responsabilidade social remete às
manifestações de cada coletividade, à esfera da cultura. Fleta citado por Fernandes
(2000) define responsabilidade social como:
O conjunto de obrigações inerentes a evolução de um estado ou condição
com força ainda não reconhecidas pelo ordenamento jurídico positivo ou
desconhecidas parcialmente, mas cuja força que se vincula e sua prévia
tipificação procedem da íntima convicção social de que não segui-la constitui
uma transgressão da norma da cultura. (p. 37).
A partir dessa definição, pode-se entender que a responsabilidade social deve
ser concebida mediante a percepção espontânea da sociedade, independente de haver
ou não regulamentação legal como condição de sua prática. Essa percepção, advinda
de uma reflexão crítica da realidade social, pertence ao campo da ética. Desta forma, a
responsabilidade social pode ser entendida como conseqüência do desenvolvimento da
consciência ética de cada comunidade ou instituição social.
Para compreender a amplitude do conceito de responsabilidade social, este
deve ser entendido como indissociável do entendimento do que se possa definir como
sustentabilidade.
É a propriedade de um processo que, além de continuar existindo no
tempo, revela-se capaz de: (a) manter padrão positivo de qualidade, (b)
apresentar, no menor espaço de tempo possível, autonomia de
manutenção (contar com suas próprias forças), (c) pertencer
simbióticamente a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis e (d)
promover a dissipação de estratégias e resultados, em detrimento de
qualquer tipo de concentração e/ou centralidade, tendo em vista a
harmonia das relações sociedade-natureza. (ICONS, 2003, p.12).
Faz-se necessário ressaltar que o conceito de sustentabilidade inclui a
responsabilidade social como fator primordial para sua efetivação. Partindo do princípio
que a natureza tem como característica intrínseca a sua auto-sustentabilidade, e que o
processo civilizatório trouxe consigo o desequilibro e a violação dessa característica, a
responsabilidade social surge como o meio pelo qual a sustentabilidade pode ser
resgatada. No contexto da sustentabilidade o ser humano não pode ser visto como um
usuário dos recursos naturais, mas como parte de um todo holisticamente integrado.
Em sua intervenção no plenário da ONU, em Nova York, a ministra do Meio-
Ambiente do Brasil, Marina Silva, lembrou que:
O círculo virtuoso do desenvolvimento sustentável compõe-se de:
investimentos inteligentes, responsabilidade social das empresas, geração
de empregos, aumento de renda da população local, conseqüente
arrecadação de impostos, enfim, a geração de riqueza e a proteção do
patrimônio de biodiversidade brasileira não são metas antagônicas. O que
é preciso ter é visão estratégica (NOVAE 2003, p.7).
A busca pela sustentabilidade não deve significar estagnação econômica, da
mesma forma que progresso o deve significar devastação do ambiente, considerando
todos os elementos essenciais à vida. É possível convergir os interesses de crescimento
econômico com a necessidade de desenvolvimento sustentável, entendendo-se como
indissociável a relação entre sustentabilidade e crescimento. Uma vez que não é
possível garantir o não esgotamento de recursos naturais, o crescimento
socioeconômico fica comprometido. Dessa forma, o crescimento sustentável torna-se
uma premissa fundamental para a sobrevivência e evolução da sociedade
contemporânea. Icons (2003) conceitua desenvolvimento sustentável como:
[...] processo político-participativo que integra as sustentabilidades
econômica, ambiental e cultural, coletiva e individual, tendo em vista o
alcance e a manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de
disponibilização de recursos, seja quando dos períodos de escassez,
tendo como perspectivas a cooperação e a solidariedade, entre os povos e
as gerações. (ICONS, 2003, p.14).
A prática da responsabilidade social nas instituições pauta-se na
sustentabilidade do meio, objetivando integrar as esferas econômica, ambiental e social
na criação de um contexto compatível à manutenção e ao crescimento das atividades
das organizações, no presente e no futuro.
Desenvolvimento sustentável é aquele que "[...] satisfaz as necessidades
presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas
próprias necessidades" (BRUNDTLAND, 1991).
A fim de que essas necessidades ressaltadas por Brundtland sejam supridas, as
relações do homem com a natureza devem incidir com o menor dano possível ao
ambiente. As políticas, os sistemas de produção, transformação, comércio, serviço e o
consumo têm de trabalhar resguardando a biodiversidade e o próprio ser humano.
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
A responsabilidade social, em específico a corporativa, que diz respeito às
corporações empresariais apesar de o termo corporação não se restringir somente
ao segmento empresarial, mas, em se tratando de responsabilidade social,
predominantemente refere-se às empresas surge no século XXI como elemento
fundamental de sobrevivência das empresas. Entende-se que os vários ambientes em
que estão inseridas as empresas, estão em constante mutação e precisam ser
compreendidos pelas mesmas, a fim de manterem-se vivas e competitivas. Pode-se
entender por ambiente tanto a natureza e seus recursos, quanto o homem e a
sociedade de consumo. O ser humano enquanto agente causal e final, ou seja,
entendendo-o como o principal motivo da existência das empresas para atender as
suas necessidades, e ao mesmo tempo como o coração que torna a organização
viva, influencia diretamente no comportamento do mercado consumidor, entendendo
como mercado o "[...] conjunto de todos os envolvidos ou organizações que compram
ou podem ser induzidos a comprar um produto ou serviço”. (ARAGÃO; KARKOTLI,
2004, p. 21). A responsabilidade social corporativa surge nesse contexto como um
dos principais elementos para assegurar a sobrevivência das empresas diante desse
conturbado e instável cerio econômico, em que o “atual”, por conta do
comportamento social e conseqüentemente do mercado empresarial, se torna
obsoleto a cada instante.
É importante a partir desse ponto, compreender o significado da
responsabilidade social corporativa para todos os envolvidos nas atividades da
empresa e no ambiente em que ela está inserida. Quais aspectos envolvem ações
responsáveis, quem são ou deveriam ser considerados nessas ações, quais formas /
estratégias podem ser adotadas para iniciar esse ou aquele plano de atuação
responsável, qual o papel social que a empresa deve ter com todos os envolvidos
(diretamente e indiretamente), enfim, essas e tantas outras questões que devem ser
analisadas na busca por uma, entre tantas possíveis concepções de responsabilidade
social corporativa. Para tanto, faz-se necessário compreender quais os agentes que
compõem a esfera de atuação de uma empresa, suas contribuições e demandas, que
interferirão na percepção individual quanto à responsabilidade social.
QUADRO 01 – A EMPRESA E SEUS PARCEIROS
Parceiros Contribuições Demandas Básicas
Acionistas Capital Lucros e dividendos
Preservação do patrimônio
Empregados Mão-de-obra
Criatividade
Idéias
Tempo
Remuneração justa
Condições adequadas de
trabalho
Segurança, saúde e
proteção
Reconhecimento e
realização pessoal
Fornecedores Mercadorias Respeito aos contratos
Negociação leal
Parceria
QUADRO 01 – A EMPRESA E SEUS PARCEIROS
Parceiros Contribuições Demandas Básicas
Clientes Dinheiro
Segurança e boa
qualidade dos produtos e
serviços
Preço acessível
Atendimento de
necessidades / desejos
Concorrentes Competição; referencial de
mercado
Lealdade na concorrência
Propaganda honesta
Governo Suporte institucional,
jurídico e político
Obediência às leis
Pagamento de tributos
Grupos e Movimentos Aportes socioculturais
diversos
Proteção ambiental
Respeito aos direitos das
minorias
Respeito aos acordos
salariais
Comunidade Infra-estrutura Respeito ao interesse
comunitário
Contribuição para a
melhoria da qualidade de
vida da comunidade
Conservação dos recursos
naturais etc,
FONTE: Quadro elaborado com base em Aragão, 2000.
Pode-se notar no quadro acima que mesmo havendo interesses divergentes,
como, por exemplo, interesse de acionistas versus comunidade, a responsabilidade
social, visando o bem coletivo, deve ser intrínseca em ambos os pólos e direcionar as
ões para um ponto convergente em que ambas as partes sejam co-responsáveis
pela manutenção do bem estar e atendimento das necessidades da sociedade. Em
outras palavras: a empresa é formada por diversos parceiros com interesses
divergentes entre si, isso, porém, o pode afetar a garantia da segurança e do bem
estar da comunidade, ou seja, ambos devem ajustar os seus interesses e executar as
ões respeitando o bem comum. Em consonância com esse pensamentos, Andrade
(2004) defende a necessidade de harmonização dos interesses privados com os
interesses sociais:
Na nova ordem mundial estabelecida nos últimos 20 anos, em que
praticamente faliram os sistemas totalitários de apropriação e de gestão de
recursos, bem como os de acumulação radical e excludente, os sistemas
reformados do mercado em que as corporações atuam terão continuidade à
medida que os interesses dos proprietários se harmonizarem com os de
outros grupos de interesse (p. 381).
Os principais objetivos das empresas tradicionais visam unicamente o
equilíbrio entre receitas e despesas, ou a relação entre lucro e custos. Outros aspectos
sociais e políticos que definem ou não o posicionamento de uma empresa como
responsável, apouco tempo o eram entendidos como necessários, e em muitos
casos, percebidos como inviáveis no âmbito administrativo, financeiro e operacional
(DONAIRE, 1995).
Essa postura cada vez mais se torna insustentável, devido às
transformações que vem se construindo algumas décadas e mais acentuadamente
a partir do final dos anos 90. A nova configuração, os novos elementos inseridos no
dia-a-dia da sociedade, as percepções quanto a degradação de recursos naturais,
direitos humanos, qualidade de vida e outros, tornam cada vez mais necessárias a
gestão responsável de todos os recursos, como fator de sustentabilidade não do
meio, mas como da própria organização.
Atualmente a realidade das empresas engloba, além de interesses de
proprietários, dirigentes e trabalhadores, ações que correspondam às
responsabilidades de que está investida, dentre as quais: a qualidade
intrínseca de seus produtos e as conseqüências de sua utilização; o
padrão dos serviços prestados; proteção e preservação do meio ambiente,
bem como os efeitos diretos de sua atividade sobre o bem estar da
comunidade (ARAGÃO; KARKOTLI, 2004, p. 23).
Existem vários conceitos para definir responsabilidade social corporativa. A
construção de uma definição deve abranger todos os aspectos diretos e indiretos que
envolvem e são conseqüências da gestão empresarial.
Inicialmente é fundamental refoar que a responsabilidade social em seu
sentido ideal deve ser incorporada tanto pela empresa, quanto pela sociedade, de
forma voluntária. A partir do momento em que isso não acontece, a
responsabilidade social corporativa corre o risco de ter o seu emprego distorcido e
conseqüentemente ineficiente no que diz respeito à garantia do cumprimento das
responsabilidades da organização para com a sociedade, e de uma cobrança
oriunda de uma sociedade esclarecida e participativa para com as empresas que se
inserem em suas comunidades.
Havendo desequilíbrio entre o entendimento que a sociedade deve ter de
responsabilidade social, obviamente considerando a sua própria responsabilidade
sobre o meio, e as empresas, ou seja, se não houver convergência entre a empresa e
a comunidade na compreensão desse conceito, podem existir alguns efeitos
indesejáveis para o bem estar social. Caso a sociedade não esteja preparada para
exigir das empresas ações responsáveis, essa poderá, caso não tenha valores éticos
sólidos, utilizar-se da responsabilidade social única e exclusivamente como ferramenta
mercadológica para alavancar suas vendas ou apenas parecer uma organização de
boa índole para seus consumidores. Diferentemente de seu discurso, poderá continuar
utilizando-se dos recursos naturais de maneira inadequada, não oferecendo para seus
funcionários condições adequadas de trabalho, não oferecendo salários e suporte
condizente com as necessidades deles e conseqüentemente de suas famílias,
desrespeitando as leis e regulamentos sociais, enfim, não contribuindo para o bem
estar da comunidade. Outra possibilidade é a de haver cobrança por parte da
sociedade, mas uma o aceitação das reivindicações comunitárias por parte da
organização, e dessa forma se instalar uma luta entre as partes, e, muito
provavelmente o maior afetado será o meio ambiente e a própria comunidade que terá
que aguardar um parecer legal para ter seus direitos assegurados. Por esses motivos é
que se torna fundamental haver consonância no que se entende e no que se espera da
responsabilidade social corporativa.
Como conceito, a responsabilidade social se refere à noção de que
empresas ou organizações têm uma obrigação com outros grupos
constituídos na sociedade, além de acionistas.Essa definição apresenta
dois lados críticos: primeiro que a obrigação deve ser voluntariamente
adotada, muito embora admita-se que qualquer comportamento
influenciado por forças coercitivas da lei ou sob acordos contratuais não é
propriamente ação voluntária. Outro aspecto do conceito é determinar se
as empresas tem realmente obrigações para com outros grupos tais como:
consumidores, empregados, fornecedores e comunidade (ARAGÃO;
KARKOTLI, 2004, p. 53).
De acordo com Oded Grajew (1999), Presidente do Instituto Ethos, a
responsabilidade social corporativa “[...] é a atitude ética da empresa em todas as suas
atividades. Diz respeito às interações da empresa com funcionários, fornecedores,
clientes, acionistas, governo, concorrentes, meio ambiente e comunidade”.
Considerando os elementos que estão dispostos até esse ponto, nota-se que
deve haver por parte da organização, não somente consideração, mas interação com a
comunidade no sentido de entender quais as suas demandas e atuar em prol do bem
estar social, e também, abrir para essa mesma comunidade as suas intenções e como
pretende agir. Essa conduta pode estabelecer uma relação de respeito mútuo entre a
organização e a comunidade, cooperação e perceber que a relação empresa-sociedade
é uma relação complexa e inter-relacionada, em que a ação da organização terá efeitos
diretos no meio, ou seja, a organização não é um elemento independente do ambiente.
Conforme Davis (1975), a empresa deve buscar conhecer o ideário social com tanto
empenho quanto busca informações de mercado, e analisá-lo da mesma maneira como
as de natureza econômicas são analisadas. O modelo de responsabilidade social espera
que os negócios voltem suas atenções para as necessidades e desejos sociais. A
responsabilidade social corporativa, em sentido estrito, deve ser entendida como “a
obrigação que tem a organização de responder por ações próprias ou de quem a ela
esteja ligada” (ARAGÃO; KARKOTLI, 2004, p. 45).
Na busca da compreensão do significado de responsabilidade social
corporativa, é importante ter claro o contexto em que se está inserido e quais as
necessidades de cada sujeito envolvido. O quadro abaixo apresenta várias concepções
construídas por diferentes autores em diferentes momentos, possibilitando relacionar o
momento histórico em que cada conceito foi concebido com os aspectos assinalados
por cada autor.
QUADRO 02 SÍNTESE CONCEITUAL DE RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
Autores Conceituação
Bowen (1953)
Obrigação do empresário de adotar políticas, tomar
decisões, e acompanhar linhas de ação desejáveis,
segundo os objetivos e valores da sociedade.
Petit (1976)
Ética do lucro dando lugar à ética da
responsabilidade social: demandas sociais que não
podem ser satisfeitas pelas cnicas tradicionais de
gerência empresarial, ou seja, com funções
especificamente econômicas.
Friedman (1970)
Responsabilidade social é um comportamento
antimaximização de lucros, assumido para beneficiar
outros que não os acionistas da empresa. Portanto,
existe somente uma responsabilidade da empresa:
utilizar seus recursos e organizar suas atividades
com o objetivo de aumentar seus lucros, seguindo as
regras do jogo de mercado.
Kugel (1973)
Desenvolvimento do conceito de responsabilidade
social: acompanhou a própria evolução dos
programas sociais estabelecidos pelas empresas
americanas. Os executivos passaram a aceitar a
necessidade de realizar certas ações e procuraram
fazer com que fossem componentes regulares das
operações das empresas.
Zenisek (1979)
Responsabilidade social como uma preocupação das
empresas com as expectativas do público. Seria,
então, a utilização de recursos humanos, físicos e
econômicos para fins sociais mais amplos, e não
simplesmente para satisfazer interesses de pessoas
ou organizações em particular.
FONTE: Adaptado de Hatz, apud Aragão; Karkotli, 2004.
Com base no atual cerio sócio-econômico externo e interno, e com as
idéias desenvolvidas a esse ponto, é possível a construção de um conceito ideal de
responsabilidade social corporativa, atualizado e focado nas necessidades da
sociedade brasileira. Pode-se dizer que a responsabilidade social corporativa é a
conduta espontânea e voluntária por parte das organizações, por meio de seus
gestores, que reconhecem as obrigações (voluntárias) que a empresa tem para com
todos os agentes internos e externos, com a comunidade local, com a sociedade
como um todo e principalmente com a natureza e seus recursos. A promoção do bem
estar social, qualidade de vida de todos os envolvidos direta e indiretamente com a
organização, melhoria no nível cultural e educacional da comunidade, bem como a
otimização e permanente busca para minimizar o quanto possível a degradação de
recursos naturais, devem prevalecer sobre qualquer interesse individual que vão
contra o bem comum.
Para se garantir e efetivação de práticas de responsabilidade social
corporativa, é fundamental que a educação seja de responsabilidade não do
Governo, mas também de organizações privadas, que consigam auxiliar no objetivo de
elevar o nível sócio-cultural da sociedade brasileira. Dessa forma poder-se-á ter
certeza de que os conceitos de responsabilidade social terão realmente sentido e serão
verdadeiros em sua prática, que a própria sociedade será a maior promotora e
incentivadora de empresas realmente responsáveis. Em consonância com esse
pensamento Aragão e Karkotli (2004, p.13) destacam que com a elevação do grau de
“[...] informação e conscientização da sociedade” ocorre juntamente a modificação na
gestão empresarial, “[...] impelindo-as a assumirem novos compromissos que vão além
daqueles definidos pela ordem econômica centrada no mercado, onde a minimização
de custos e a primazia do lucro são os objetivos únicos”.
Sabe-se, porém, que diferente do conceito ideal, a prática honesta da
responsabilidade social por parte das empresas, ou seja, sem buscar unicamente a
promoção de sua marca ou melhorar a imagem junto aos seus consumidores, ainda é
muito pequena. Segundo Stephen Kanitz (2007), os dez mandamentos da
responsabilidade social para haver ações genuínas das empresas para com a
sociedade, devem considerar os seguintes aspectos:
1. Antes de implantar um projeto social pergunte para umas vinte entidades do
Terceiro Setor para saber o que elas realmente precisam. 2. O que as entidades
precisam normalmente o é o que sua empresa faz, nem o que a sua empresa
quer fazer. 3. Toda empresa que assumir uma responsabilidade semais dia
menos dia responsabilizada. 4. Assumir uma responsabilidade social é coisa
ria. Creches não mandam embora órfãos porque a diretoria mudou de idéia. 5.
Todo o dinheiro gasto em anúncios tipo “Minha Empresa É Mais Responsável do
que o Concorrente", poderia ser gasto duplicando as doações de sua empresa. 6.
Entidades têm no social seu “core business”, dedicam 100% do seu tempo, 100%
do seu orçamento para o social. Sua empresa pretende ter o mesmo nível de
dedicação? 7. O consumidor não é bobo. 8. Antes de querer criar um Instituto com
o nome da sua empresa ou da sua marca favorita, lembre-se que a maioria dos
problemas sociais é impalatável. 9. Evite usar cririos empresariais ao escolher
seus projetos sociais, como "retorno sobre investimento" ou "ensinar a pescar".
Esta área é regida por critérios humanirios,o científicos ou econômicos. 10. A
responsabilidade social é no final das contas, sempre do indiduo, do voluntário,
do funcionário, do dono, do acionista, do cliente, porque requer amor, afeto e
compaixão.
Poucas empresas vêem na responsabilidade social uma necessidade real, e
não um bônus ou um simples discurso para ludibriar a sociedade. Um número muito
pequeno de organizações realmente realiza ações responsáveis, a grande maioria
baseia-se em ações exclusivamente assistencialistas como doar “migalhas” para, por
exemplo, creches e orfanatos, e colocam em suas propagandas que são promotoras de
responsabilidade social. Isso, sem considerar o fato de que a legislação brasileira
“premia” algumas dessas ações com isenção de impostos. “Empresas estão agora
ganhando dinheiro vendendo a imagem de bonzinhos na área social. Virou um grande
negócio, existem agora interesses a preservar, o lado voluntário e filantrópico se foi
para sempre”. (KANITZ, 2007). Torna-se claro, diante do exposto acima, que não é
necessário somente ões que envolvam investimentos monetários para ser uma
organização socialmente responsável, diferente disso, muitas vezes as ações que
não envolvem dinheiro algum, mas são pautadas pela ética, respeito e cooperação,
provocam muito mais benefícios tanto para sociedade, quanto para a própria
organização, do que (do)ações exclusivamente financeiras. Essas questões serão
mais profundamente analisadas no capítulo seguinte.
2.2 A PRÁTICA SOCIALMENTE RESPONSÁVEL: ÉTICA OU MARKETING?
Até este ponto, desenvolveu-se o conceito de responsabilidade social e
sustentabilidade em termos ideais, porém, é necessário destacar a maneira como esse
tema tem sido encarado pela maioria das organizações.
Não obstante, e sem distanciamentos da realidade, sabe-se que a
empresa do sistema capitalista só se comporta de forma socialmente
responsável quando sua sobrevivência es ameaçada, ou quando
alguma atitude que adote possa gerar valor, isto porque, mesmo com a
vigilância que a sociedade vem exercendo e de organismos públicos
nacionais e internacionais, a lógica do mercado o mudou (ARAGÃO;
KARKOTLI, 2004, p.15).
Infelizmente para a sociedade e de modo geral o planeta, o conceito e a
prática da responsabilidade social estão baseados na grande maioria dos casos, em
ações meramente utilitaristas, com o objetivo de promover o nome e melhorar a
imagem de uma organização perante a sociedade. Sob este ponto de vista Aragão e
Karkotli afirmam que: “A ética não é um produto que esteja à venda em algum lugar e
possa ser adquirido pela empresa. Igualmente a responsabilidade social não é um bem
ou serviço a ser produzido, tampouco pode ser colocado à disposição do público. É
antes um conjunto de valores e princípios que precisam estar internalizados na
organização” (2004, p.39).
Em alguns lugares mais do que outros, agir responsavelmente ainda não é
vista como uma necessidade social, e por conseqüência a responsabilidade social não
é genuína nem eficaz em seu objetivo de promover sustentabilidade e auxiliar no
desenvolvimento econômico transgeracional. Um exemplo de visão utilitária da
responsabilidade social é a “barganha” das organizações com o Governo, em que
essas utilizam-se de uma lei para reduzir impostos a pagar. Prosseguindo com esse
raciocínio, percebe-se que a legislação é somente um, entre tantos outros instrumentos
utilizados sob a visão míope da função da responsabilidade social. Para Karkotli
(2004), esse entendimento equivocado por parte dos dirigentes de organizações
privadas e de outras naturezas, leva a dois tipos de erro: primeiro o pensamento de
que simples doações de recursos, de qualquer ordem, não necessariamente
financeiros, significam que a organização está agindo responsavelmente. O segundo
erro é justamente o uso utilitarista da responsabilidade social. Lipovetsky complementa
dizendo que: “[...] a voga dos códigos éticos nada tem de idealista, é profundamente
sustentada pela crença de que a ética é essencial ao sucesso comercial e financeiro [...]
Se a caridade-espetáculo explora a moral do sentimento, a business ethics assenta na
moral do interesse bem claro: não é a consagração da ética que caracteriza a nossa
época, mas a sua instrumentalização utilitarista no mundo dos negócios. (LIPOVETSKY,
1994, p.282)”.
É, acima de tudo, lamentável a necessidade de haver legislação específica
para obrigar as organizações a atuarem responsavelmente. Isso deveria estar
intrínseco às ações e operações organizacionais, mas conforme expõe Leão, muitas
empresas praticam a “ética dos mínimos”:
As questões associadas à ética e responsabilização social das empresas,
num sentido lato e em contexto empresarial, podem ser, e muitas vezes ainda
são, consideradas como uma questão de “mínimos”, normalmente de
natureza jurídico-legal, que devem ser cumpridos. Mas ficar-se pelos
“mínimos” nunca será um modelo de responsabilidade social. A ética dos
“mínimos” assume-se muitas vezes como negativa, pois parte do princípio que
“não se deve fazer mal a ninguém”, porque o primeiro que se prejudica é
quem o faz. À semelhança dos indivíduos, as empresas podem aprender com
as suas próprias ações e essa aprendizagem inclui a aquisição de valores e
atitudes que são a base da dimensão ética e responsável da conduta humana
e também das empresas. (LEÃO, 2003, p.8).
A responsabilidade social tem sido usada pelas organizações e vista pela
sociedade como diferencial competitivo e como ferramenta mercadológica para
fortalecer a imagem organizacional. Existe claramente uma distorção no fato gerador
do conceito de responsabilidade social, pois o uso publicitário deve ser secundário e
subordinado às necessidades percebidas pela sociedade, e não o contrário. Esse
problema vem sendo identificado tempos, como destaca Weber em relação a
existência do uso ou da deturpação da consciência ética: “[...] toda a atividade
orientada segundo a ética pode ser subordinada a duas máximas inteiramente diversas
e irredutivelmente opostas. Pode orientar-se segundo a ética da responsabilidade ou
segundo a ética da convicção” (WEBER, 1968, pág. 113). O indivíduo tem duas
percepções diferentes, que podem variar conforme os interesses envolvidos no
entendimento de certo ou errado. Sobre esse tema Weber destaca que para os
adeptos da ética da convicção suas ações: “[...] visam apenas àquele fim: estimular
perpetuamente a chama da própria convicção” (p.114). Para os simpatizantes da ética
da responsabilidade:
“[...] o partidário da ética da responsabilidade, ao contrário,
contará com as fraquezas comuns do homem [...] e entenderá que o pode lançar a
ombros alheios as conseqüências previsíveis da sua própria ação” (p.113-114). A
dualização da ética no entender de Weber, mostra com clareza um dos grandes
motivos da situação alarmante com relação à degradação da natureza e da
precariedade dos valores (e condições) humanos e sociais.
A forma de concorrência estabelecida pelo mercado empresarial leva os
administradores das empresas e de outras organizações a tomarem decisões muitas
vezes totalmente contrárias às necessidades sociais, mas favoráveis ao mercado:
“para alcançar fins «bons», vemo-nos, com freqüência, compelidos a recorrer, por um
lado, a meios desonestos ou, pelo menos, perigosos, e compelidos, por outro, a contar
com a possibilidade e mesmo a eventualidade de conseqüências desagradáveis”
(WEBER, 1968, p.114).
Como ressalta Lipovetsky: “Desgraçada ética que, reduzida a si mesma, se
parece mais com uma operão cosmética do que com um instrumento capaz de corrigir
oscios ou os excessos do nosso universo individualista e tecno-científico” (1994, p.22).
É importante analisar as demandas sociais que geram essa percepção de
necessidade em se atuar responsável e eticamente, mas, que, no entanto não são
suficientes para mudar a postura da maior partes das organizações, que utilizam a
responsabilidade social como atrativo comercial. Alguns estudos recentes têm
evidenciado que os cidadãos estão dispostos a premiar as empresas socialmente
responsáveis. Um estudo da Environics Intl, realizado em 23 países do mundo,
intitulado “The Millenium Poll on Corporate Social Responsibility”, revela que:
A responsabilidade social da empresa é mais importante do que a
reputação das suas marcas e do que os aspectos financeiros na imagem
que o cidadão tem de uma empresa;
A maioria dos cidadãos pensa que a pressão pública para que as
empresas assumam um novo perfil na sociedade aumentará
significativamente nos próximos anos;
A maioria dos cidadãos pensa que durante os primeiros dez anos do novo
milênio as empresas deverão fixar objetivos sociais e ambientais, além dos
econômicos;
Mais de um em cada cinco cidadãos dizem que, como consumidores,
premiarão ou castigarão a empresa a partir da sua percepção do seu
comportamento social;
Dois em cada ts cidadãos querem empresas que contribuam para
objetivos sociais mais amplos e de interesse geral, para além do tradicional
conceito de benefício, de pagar impostos, de criar emprego e de cumprir a
lei. (ABAD, 2001, p.7)
É necessário verificar se os resultados sociais de ações éticas e responsáveis,
quando utilizados como ferramenta de marketing e fator de competitividade, são o
efetivos quanto quando encarados como necessidade real de crescimento sustentável.
Aragão e Karkotli (2004) afirmam que mesmo a intenção, muitas vezes não sendo
altruísta, aumenta as chances de sobrevivência quando as empresas valorizam questões
ambientais e de bem estar social. Ainda assim é vantajoso para todos uma atuação
menos selvagem e predatória por parte das empresas.
Para compreender melhor os diversos comportamentos e intenções que são
elementos constituintes da forma pela qual as empresas e demais organizões
concebem e implementam as ões de responsabilidade social (que podem ou não
considerar as necessidades de cada comunidade), é importante analisar os fatores
históricos que desencadearam de maneira gradativa o que atualmente se entende
por responsabilidade social.
2.3 HISTÓRICO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
Seguindo a linha de pensamento que considera a responsabilidade social
como percepção esponnea da sociedade e ação voluntária das organizações, e
que para a concretização desse ideal, a conscientização por parte da sociedade
como um todo é extremamente necessária, é importante conhecer alguns fatos
históricos que influenciaram diretamente a garantia da sustentabilidade em
determinados contextos que serão expostos a seguir. Fatos esses, que para
algumas sociedades serviram como catalisador de um processo de conscientização
coletiva, ou, utilizando um termo mais simples, motivos para que essas sociedades
despertassem para a necessidade de responsabilidade social como fator garantidor
da sustentabilidade.
Num primeiro momento, o fato gerador para a inauguração da idéia de função
social da empresa não foi necessariamente por uma questão de percepção e demanda
social. Na Alemanha em 1929, a constituição da República de Weimar, devido a forte
recessão econômica e desordem social como algumas das conseqüências da derrota
na primeira guerra mundial, instituiu a co-responsabilidade da iniciativa privada em
assumir uma função social de caráter filantrópico, visando a reconstrução do país e a
recomposição da ordem social, econômica e política.
Mais recentemente, ainda na Europa, identificou-se a necessidade de haver
mudanças na atuação industrial no sentido de preservar os recursos naturais, devido,
entre outros fatores, ao elevado índice de degradação ambiental sofrido pela expansão
da indústria. Segue abaixo cronologia da Responsabilidade Social na Europa de 1982 a
2001
2
:
Em 1982 é criado a Business in the Community (BITC)
3
no Reino Unido,
entidade presidida pelo Príncipe de Gales. O Príncipe de Gales dirige, em 1992, um
discurso em Davos, para oitocentos deres empresariais sobre a responsabilidade social
das empresas. Põe-se neste ano em marcha uma rede de empresas, Business for Social
Responsibility
4
, cujo objetivo principal é apoiar as empresas no desempenho da sua
responsabilidade social. Em 1995 é assinada a Declaração das empresas contra a
exclusão social promovida por Jacques Delors, então presidente da recém constituída
European Business Network for Social Cohesion, que se define como a rede européia
para a responsabilidade social. Dirigida por membros de 60 empresas multinacionais
européias, o principal objetivo é integrar a responsabilidade social na rotina diária e nos
negócios das empresas. A empresa Body Shop publica o seu relatório Values Report. É
criado o World Business Council for Sustainable Development
5
, uma rede de 180
empresas multinacionais que se comprometem a trabalhar para um desenvolvimento
mais sustentado.
Kim Howells é nomeado em 1998, na Inglaterra, como Ministro dos
Consumidores e da Responsabilidade Social das Empresas (Minister For Consumer
2
Dados adaptados de LEÃO (2003).
3
O Business in the Community é uma organização que pretende gerar benefício público, auxiliando
empresas a aumentarem o impacto de seus negócios de maneira positiva na sociedade e
contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Com 20 anos de experiência, o BITC é composto
por mais de 700 grandes empresas da Grã-Bretanha e mantém parcerias com cerca de 100
organizações nessa nação, além de mais de 60 outras no mundo, que compartilham conhecimentos
para transformar a política em práticas. Sua biblioteca apresenta questões relativas à
Responsabilidade Social, relatos de seminários internacionais, casos de sucesso etc. (IDIS, 2007).
4
Importante entidade internacional, que objetiva contribuir para que as empresas possam conciliar
seu desempenho econômico com o respeito aos valores éticos, aos cidadãos, às comunidades e ao
meio ambiente. (COMTEXTO, 2007).
5
O World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) representa o
comprometimento conjunto de 180 empresas multinacionais para o desenvolvimento sustentável
através de crescimento econômico, equilíbrio ambiental e progresso social. Seus membros são de
mais de 30 diferentes países e 20 setores industriais. (ECO-FINANÇAS, 2007).
Affairs and Corporate Social Responsibility). Entre as suas funções está a promoção
da responsabilidade social das empresas. É apresentada a norma SA 8000, cujo
cumprimento por parte de uma empresa garante a salvaguarda dos direitos básicos
dos trabalhadores. Em 1999 Kofi Annan faz um apelo, no rum de Davos, para que
as empresas estejam atentas e promovam o rosto humano da globalização. A ONU
lança uma campanha chamada Global Compact
6
para que as grandes empresas
multinacionais apóiem o desenvolvimento sustentado.
Na Cimeira Européia de Lisboa em 2000, os Chefes de Estado e de Governo
lançam um apelo para que as empresas assumam as suas responsabilidades sociais.
É criado em Lisboa o Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial (GRACE)
7
,
rede de empresas que visa divulgar entre o meio empresarial a necessidade da
adoção de políticas e de ações de responsabilidade social. Realiza-se a primeira
Conferência Européia sobre a Responsabilidade Social da Empresa, organizada pela
CSR Europe (Corporate Social Responsibility, antes chamada EBNSC, European
Business Network for Social Cohesion), na qual se apresenta a campanha de 2005,
para o Desenvolvimento Sustentado e o Progresso Humano. Cria-se, na França, o
Forum pour l ’Investissement Responsable, cujo principal objetivo é contribuir para a
elaboração de políticas públicas relativas à responsabilidade social e promover as
práticas de investimento socialmente responsável. Cria-se, em Portugal, a Rede
Portuguesa de Empresas para a Coesão Social RPECS, e organiza-se o Seminário
“Responsabilidade Social da Empresa e Coesão Social”. Em parceria com a EBNSC, o
6
O Global Compact é uma iniciativa desenvolvida pela Organização das Nações Unidas (ONU),
com o objetivo de mobilizar a comunidade empresarial internacional para a promoção de valores
fundamentais nas áreas de direitos humanos, trabalho e meio ambiente. Essa iniciativa conta com a
participação das agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não-
governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado global mais
inclusivo e igualitário. (INSTITUTO ETHOS, 2007).
7
Formada em Fevereiro de 2000 por um conjunto de empresas, maioritariamente multinacionais,
que tinham como denominador comum o interesse em aprofundar o papel do sector empresarial no
desenvolvimento social. O GRACE foi a primeira associação portuguesa sem fins lucrativos
dedicada à problemática da Responsabilidade Social das Empresas. O seu principal objectivo é
fomentar a participação das empresas no contexto social em que se inserem, procurando
disseminar práticas de gestão empresarial socialmente responsáveis. (IBM, 2007).
principal objetivo da RPECS era impulsionar, coordenar e divulgar boas práticas de
responsabilidade social de empresas portuguesas, visando um intercâmbio e a
multiplicação destas práticas entre as empresas portuguesas. O Trustee Act 2000, lei
do parlamento britânico, obriga as empresas britânicas gestoras de fundos de pensões
a explicar as suas políticas relacionadas com investimentos de responsabilidade social.
No ano de 2001 é publicado o Livro Verde “Promover um quadro europeu para a
responsabilidade social das empresas”, o qual destina-se a lançar uma discussão ampla
sobre a maneira como a União Européia promoverá a responsabilidade social das
empresas tanto no âmbito europeu quanto internacional, “sobre a melhor forma de
explorar as experiências existentes, fomentar o desenvolvimento de práticas
inovadoras, melhorar a transparência e reforçar a confiabilidade da avaliação e da
validação das diversas iniciativas promovidas na Europa”. (EUROPEAN COMISSION,
2007). Resolução de 3 de Dezembro de 2001, na qual o Conselho Europeu desenhou
uma lógica de âmbito europeu. Mais concretamente, invocou a necessidade de abordar
a RSE em termos europeus, para que o conceito seja desenvolvido e para que as
medidas existentes aos níveis local e nacional possam ser complementadas e
beneficiadoras de mais-valia. Follow-up do Livro Verde: a comissão recebeu mais de 250
respostas ao Livro Verde.
A queso da responsabilidade social nos Estados Unidos denota
características diferentes das identificadas no caso europeu. A queso econômico-
financeira parece ter uma foa maior na condução dos assuntos inerentes à função
e participação das empresas junto à sociedade. A garantia da maximização dos
lucros é tida pelos emprerios americanos como mais importante do que os
aspectos sociais, ou seja, pode-se identificar interesses econômicos em ões de
responsabilidade arquitetadas pelas empresas para benefício da sociedade. No
quadro abaixo sintetizam-se alguns marcos históricos na evolução da
responsabilidade social nos Estados Unidos.
QUADRO 03 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS EUA
Ano Responsável Observações
1899 Andrew Carnigie,
fundador do
Conglomerado U.S.
Steel Corporation
Estabelecia dois princípios às grandes
empresas. O primeiro princípio era o da
caridade, exigia que os membros mais
afortunados da sociedade ajudassem os
grupos de excluídos e o segundo era o da
cusdia, em que as empresas deveriam
cuidar e multiplicar a riqueza da sociedade.
1919 Henry Ford Contraria um grupo de acionistas ao reverter
parte dos lucros na capacidade produtiva,
aumento de sarios e constituição de fundo
de reserva. A justiça americana posicionou-
se contria à atitude de Ford, alegando que
os lucros deveriam favorecer aos acionistas.
1953 Justiça Americana Julga um caso semelhante ao de Ford, mas
neste caso a decisão foi favovel à doação
de recursos para a Universidade de
Princeton, contrariando interesses de um
grupo de acionistas e estabelecendo uma
brecha para o exercício da filantropia
corporativa.
cada
de 60
Conflito Viet A sociedade se manifesta contra a produção
e uso de armamentos licos, principalmente
armas qmicas. As organizões não
podiam mais vender o que desejassem.
cada
de 70
Novo contexto
econômico
Os aumentos nos custos de energia e a
necessidade de maiores investimentos para
reduzir poluições e proteção de
consumidores fazem as empresas buscarem
ações para maximizar os lucros, deixando de
lado as responsabilidades sociais.
FONTE: Elaborado a partir de Karkotli, 2001 (p. 59).
Nos Estados Unidos, o caos social e a crise de confiança provocada pelas fraudes
contábeis, financeiras e administrativas com o intuito de maximizar o valor das ações das
empresas na bolsa de valores, além de gerar promoções e bonificações para seus
dirigentes, também se apresentou como um fator de sobrevivência, pois envolve a
necessidade de restabelecer a confiança dos investidores nas empresas americanas.
Nesse sentido, em 1982 é fundada nos EUA a Business for Social Responsibility, uma
rede global para apoio às empresas que querem obter sucesso comercial respeitando
valores éticos, pessoas, comunidades e ambiente. Em 1999 lança-se o Dow Jones
Sustainability Group Index, índice das 200 principais empresas cotadas nos mercados
internacionais e publicamente comprometidas com programas de responsabilidade
social (são de 68 setores e de 22 países). Para complementar esse pensamento
Lipovetsky crítica a “ética dos negócios” nos Estados Unidos:
Não se pode separar o estado de graça de que a moral dos negócios
beneficia nos Estados Unidos, da imagem da empresa e dos diversos
escândalos financeiros que escandalizaram os anos oitenta. [...] A voga da
ética dos negócios veio em resposta ao estado de desconfiança provocado
pelas praticas dos golden boys, pelo enriquecimento arbitrário dos acionistas,
pelas manipulações financeiras e crimes de iniciados, pelos
desmantelamentos de empresas e pelas cessões de departamentos
motivadas pelo desejo de lucro a curto prazo. [...] O que tornou necessária a
business ethics não foi apenas a desconfiança em relação as grandes firmas e
a degradação da imagem dos negócios entre a opinião pública, mas também
a nova consciência das contradições do individualismo do self-interest, dos
impasses da maximização do lucro, dos abusos da gica de Wall Street.
(1994, p.288, 289 e 293).
Muito tem se falado em ética e responsabilidade social corporativa no Brasil.
Apesar de todos os escândalos financeiros, políticos e sociais, e abusos registrados
contra o ecossistema, aparentemente o foram suficientes para provocar reflexões e
críticas sociais e percepção da real necessidade de atuação responsável. Alguns autores
brasileiros apontam esse valor como necessidade e fator de sobrevivência para as
empresas. Apesar da sociedade brasileira não expor em comportamentos e atos o
descontentamento com o cenário descrito, não havendo uma cobrança consciente da
populão para com as atitudes tanto da iniciativa privada, como do poder blico,
algumas discuses acerca do assunto tomaram corpo ao longo do tempo. Para
compreender a concepção brasileira para o tema é necessário expor rapidamente a
evolão histórica da responsabilidade social no Brasil.
No Brasil, de acordo com dados sintetizados com base no Instituto Ethos, a
responsabilidade social começa a ser discutida ainda nos anos 60 com a criação da
Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Um dos princípios desta
associação baseia-se na aceitação por seus membros de que a empresa, além de
produzir bens e serviços, possui a função social que se realiza em nome dos
trabalhadores e do bem-estar da comunidade. Embora a idéia já motivasse discussões,
apenas em 1977 mereceu destaque a ponto de ser tema central do 2º Encontro Nacional
de Dirigentes de Empresas. Em 1984, ocorre a publicação do primeiro balanço social de
empresa brasileira (Nitrofértil).
No Brasil, o início da discussão sobre a Responsabilidade Social nas
empresas data dos anos 60, a partir da criação da Associação dos
Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE) e do surgimento da lei
76.900/75, que obrigou as empresas a fornecer informações individuais
sobre seus empregados. A crise do modelo econômico baseado no
Estado, mais recentemente, fez com que os aspectos sociais,
anteriormente relegados a um segundo plano, assumissem uma
importância maior no modo como as empresas passaram a atuar e a
serem avaliadas. Desta forma, surgem os chamados relatórios sociais,
como forma de divulgar as ações sociais da organização e construir uma
imagem positiva perante a sociedade. (DAMKE; SOUZA, 2004, p.6).
No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social empresarial
ganhou forte impulso na década de 90, por meio da ão de entidades não
governamentais, institutos de pesquisa e empresas sensibilizadas com a questão. O
trabalho do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) na promoção
do balanço social é uma de suas expressões e tem logrado progressiva repercussão.
Muitas vezes a história do IBASE se confunde com a trajetória pessoal do sociólogo
Herbert de Souza, o Betinho, um de seus fundadores e principal articulador.
Em 1992, o BANESPA publica um relatório completo divulgando todas as suas
ações sociais; e a partir de 1993, várias empresas de diferentes setores passam a
divulgar o balanço social anualmente. Ainda no ano de 1993, Herbert de Souza e o
IBASE lançam a Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e
pela Vida com o apoio do Pensamento Nacional das Bases Empresarias (PNBE). Este
é o marco da aproximação dos empresários com as ações sociais.
No ano de 1995, é criado o GIFE, a primeira entidade que genuinamente se
preocupou com o tema da filantropia, cidadania e responsabilidade empresarial,
adotando, por assim dizer, o termo cidadania empresarial às atividades que as
corporações realizassem com vista à melhoria e transformação da sociedade.
Em 1996 é fundado o IPD, inicialmente como Instituto Paraná
Desenvolvimento, posteriormente alterado para Instituto de Promoção do
Desenvolvimento, ampliando a sua atuação para uma abrangência nacional, que até
então era de âmbito local. O objetivo principal do IPD é Identificar e desenvolver
iniciativas inovadoras que possam contribuir para um modelo de desenvolvimento
sustentável, baseado no crescimento do indivíduo.
Em 1997, Betinho lança uma campanha nacional a favor da divulgação do
balanço social e com o apoio de lideranças empresariais, da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), do jornal Gazeta Mercantil, de empresas (Banco do Brasil, Usiminas,
entre outras); e de suas instituições representativas (Firjan, Abrasca, Abamec, Febraban,
etc.); a campanha decolou e suscitou uma série de debates através da dia e em
seminários, encontros e simpósios. Em novembro de 1997, novamente em parceria com
a Gazeta Mercantil, o IBASE lança o Selo do Balanço Social para estimular a
participação das companhias. O selo, num primeiro momento, é oferecido a todas as
empresas que divulgarem o balanço social no modelo proposto pelo IBASE.
No ano de 1998, Oded Grajew fundou o Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social. O Instituto serve como ponte entre os empresários e as
causas sociais. Seu objetivo é disseminar a prática social por meio de publicações,
experiências vivenciadas, programas e eventos para seus associados e para os
interessados em geral, contribuindo para um desenvolvimento social, econômico e
ambientalmente sustentável e incentivando a formação de uma nova cultura
empresarial baseada na ética, princípios e valores.
Pela incapacidade do Estado em cumprir sua função social como
conseqüência da penetração da ideologia neoliberal, o setor privado brasileiro passou a
investir nas questões sociais por meio de investimentos no terceiro setor. A Associação
de Dirigentes de Vendas e marketing do Brasil (ADVB), preocupada em ressaltar as
ações de responsabilidade social das empresas, criou um instituto de responsabilidade
social e em 1999 estabeleceu a premiação Top Social. O premio “visa reconhecer
organizações que tenham demonstrado visão quanto à importância do
desenvolvimento social como fator fundamental de crescimento, de uma sociedade que
deixa de buscar somente o lucro e também desempenha o papel de agente social”.
(ADVB, 2007).
Em 1999, a adesão ao movimento social se refletiu com 68 empresas publicando
seu balanço social no Brasil. Entre os anos de 1999 e 2001, o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) realizou a Pesquisa ão Social das Empresas nas cinco
regiões do Brasil, visando conhecer asões sociais do setor empresarial nacional.
A Associação Comercial do Paraná (ACP) criou em fevereiro de 2000 o
Conselho de Ação Social Empresarial da ACP (Casem), cujo objetivo principal era o de
sensibilizar o empresariado paranaense no desenvolvimento de projetos sociais. “O
Casem instituiu o ‘Selo CASEM/ACP da Empresa Socialmente Responsável’ que
identifica produtos e serviços de empresas que investem em projetos sociais, culturais
e de meio ambiente”. (ACP, 2007). Ainda em 2000, para fortalecer o movimento pela
responsabilidade social no Brasil, o Instituto Ethos concebeu os Indicadores Ethos
como um sistema de avaliação do estágio em que se encontram as práticas de
responsabilidade social nas empresas. Além disso, o Ethos promove, anualmente, a
realização da Conferência Nacional de Empresas e Responsabilidade Social no mês de
junho em o Paulo. A primeira, realizada em 2000, foi prestigiada por mais de 400
pessoas. Na Conferência de 2001, estiveram presentes 628 pessoas, representando
empresas; ONGs, instituições governamentais, centros de pesquisas e universidades.
A Conferência Nacional de 2002 teve como tema central a Gestão e o Impacto Social e
teve como foco da discussão como a gestão socialmente responsável é incorporada
nas diversas áreas e atividades das empresas e quais os impactos dessas ações na
sociedade.
A Editora Referência, juntamente com a Escola de Administração de Empresas
de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP) e Madia Marketing School,
criaram em 2002 o Prêmio Marketing Best Responsabilidade Social. O objetivo
principal é destacar as organizações que ajudam a solucionar os problemas e as
carências do país, por meio de ações de responsabilidade social. “O prêmio, que foi
criado em 2002, visa estimular, reconhecer, premiar e difundir os exemplos de ações
empresariais socialmente responsáveis”. (MARKETING BEST, 2007). Em de
fevereiro de 2002, foi criado o BAWB -
Business as an Agent of World Benefit
-
oficialmente sob a forma de um estudo piloto organizado pelo corpo docente da
Weatherhead School of Management, da Case Western Reserve University, de
Cleveland - Ohio (EUA). “O movimento BAWB tem por objetivo disseminar iniciativas e
ações desenvolvidas por empresas lucrativas que promovem o desenvolvimento
sustentável no âmbito regional, nacional e global e que trazem benecios para a
sociedade”. (BAWB, 2007). Esse estudo alcançou o Brasil e promoveu reuniões e
reflexões acerca da responsabilidade social e desenvolvimento sustentável em
algumas capitais brasileiras como Curitiba, Fortaleza e Vitória.
Nota-se que existem no Brasil organizações, ainda que em número pouco
expressivo, realmente interessadas em promover a responsabilidade social como
forma de garantir sustentabilidade e o conseente equilíbrio cio-ambiental. Isso
não significa que a responsabilidade social em seu objetivo mais genuíno seja uma
realidade, pois a maior parte das empresas utilizam-na como ferramenta visando
benefícios financeiros à curto prazo.
É importante ressaltar que os fatores que geram as demandas sociais por
responsabilidade, como: corrupção, degradação ambiental e exclusão social, entre
outras, são globais e existem em todos os cenários analisados com suas respectivas
características. O que diferencia “desenvolvidos” de “subdesenvolvidos” e “em
desenvolvimento”, é a percepção social dos cidadãos e a reação com relação aos
problemas de ordem sócio-ambientais.
Na Europa a percepção social pela necessidade de ações responsáveis se
deu, entre outros fatores, pelo elevado índice de degradação ambiental sofrida pela
expansão da industria. Exemplo: a revitalização do Rio Reno. Nos Estados Unidos a
crise de confiança provocada pelas fraudes contábeis foi o fato gerador para um
engajamento da sociedade em relação ao tema. Finalmente no Brasil, apesar de os
mesmos problemas existirem, logicamente que com suas peculiaridades, o houve
ainda a percepção social atentando para esses fatores, ou seja, apesar de algumas
poucas ações isoladas, é de fundamental importância a participação de todos na
busca da exigência social por ações genuinamente responsáveis.
Diante dessa prática utilitarista e antanica aos conceitos expostos de
responsabilidade social e sustentabilidade, a busca pela formação do cidao
reflexivo e consciente deve ser objetivo fundamental no processo educativo, em que
as IES se destacam como formadoras dos profissionais que perpetuarão ou
transformao a ptica desses conceitos.
3. A RESPONSABILIDADE SOCIAL E A FORMÃO DO ADMINISTRADOR
DE EMPRESAS
O tema responsabilidade social no Brasil mostra-se ainda numa fase
bastante inicial de amadurecimento em relação às discussões postas à sociedade.
o é percepvel uma consciência social quanto ao tema, no sentido de,
primeiramente os próprios cidadãos perceberem-se parte atuante de um todo, e que
atos individuais, de alguma forma contribuem (positiva ou negativamente) para as
constantes mutações do ambiente social. Não existe cobrança da sociedade para
com as organizões, tanto privadas quanto públicas, exigindo ações éticas e
responsáveis, e finalmente, da parte das organizações percebe-se que um
percentual muito pequeno tem conscncia da importância da participação
organizacional na atuão junto à sociedade e suas demandas. É gritante a
aplicação do termo em propagandas, em que é bastante claro o objetivo
especificamente comercial que é dado à responsabilidade social.
Essa imaturidade deve-se, entre outros fatores, a uma educão que da
mesma forma que os elementos citados acima, o parece estar impregnada dos
prinpios de responsabilidade social, não tendo, portanto, aptio para formar
cidadãos críticos capazes de apreender esse entendimento e apli-lo como
conduta ética em sua ptica social e profissional. A formação mostra-se, de uma
forma geral, voltada para outros objetivos que se mostram antagônicos às
necessidades sociais, ao equibrio social, econômico e ambiental, à
sustentabilidade, e a outras tantas necessidades que o estão ligadas a
lucratividade e prosperidade das empresas no mundo dos necios.
Diante desses fatores surge a proposta de discutir e rever a formação do
Administrador de Empresas, no sentido de redirecionar a formação profissional e
vislumbrar a possibilidade de cultivar futuros profissionais melhor preparados no que
tange às queses que não lhes parecem estarem vinculadas aos negócios. Para
entender como a formação do profissional em administração de empresas se
configurou em uma forma predominantemente mercadogica em detrimento aos
aspectos sociais, é importante tamm averiguar a formação dos professores. É
necessário que esses tenham uma vio geral dos aspectos a serem desenvolvidos
durante a formão dos alunos, para que haja a abordagem necessária e
equilibrada entre os aspectos técnicos e mercadogicos, bem como da conduta
ética do profissional e a sua relação com a sociedade e o meio.
Parece que assim como seus alunos, os professores também não entram em
sala de aula preparados para abordar os temas sociais e ambientais, que urgem
serem compreendidos como parte ativa na vida das empresas e que não o
obstáculos ao desempenho das mesmas. Diferentemente disso, podem ser grandes
aliados se considerados com a importância e o respeito necessário nas ações
empresariais em sua comunidade. A dinâmica dos elementos necessários na
formação de professores e alunos parece estar invertida. O mercado determina e
define qual é o perfil profissional para o mercado, quais as prioridades a serem
consideradas, qual o comportamento necessário para estar apto a competir pelos
postos de trabalho disponíveis, em suma, o mercado determina como deve ser o
profissional que seformado pelas Instituições de Ensino Superior. Enquanto for o
mercado a dar as cartas, os interesses a serem atendidos serão somente os do
mercado, e esse o tem se mostrado interessado em agir e expandir em conjunto
com a sociedade e a todos os elementos que a compõem. Exigi-se da sociedade uma
postura de luta por melhores condições, e um caminho para equilibrar a balança dos
interesses do mercado com os interesses da sociedade, é a formação de
profissionais conscientes dessa realidade e que possam conjugar os interesses
sociais com os interesses do mercado.
Para adequar as difereas e garantir melhores condições sociais, existem
rios instrumentos origirios das políticasblicas educacionais, dispostos às
Instituões de Ensino Superior que podem, se bem trabalhados, iniciar um processo
de mudança e possibilitar uma formação mais critica e consciente do profissional
que determinará a forma de agir e pensar das empresas, consequentemente,
transformações éticas para o mercado. Alguns desses instrumentos como o Projeto
Político Pedagógico, por exemplo, o construídos dentro da ppria Universidade,
que tem a responsabilidade de, desde a criação de seus objetivos até o
encaminhamento do profissional para o mercado de trabalho, fomentar a ética e a
responsabilidade social em todas as suas atribuões.
3.1 O PROJETO POTICO PEDAGÓGICO E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
Defende-se a idéia de que um projeto político pedagógico, se empregado
com seriedade e integridade, o bastando a simples execução, mas principalmente
a construção consciente e responsável do mesmo, provavelmente se torna
protagonista para a superação do desafio da obtenção de uma educação crítica e
emancipatória. Para o entendimento desses conceitos, é fundamental situar-se na
concepção de projeto pedagógico e currículo proposta nesse trabalho. Para uma
maior compreensão de projeto político pedagógico tem-se como aporte teórico o
pensamento de Ilma Passos:
O projeto político-pedagógico é entendido, neste estudo, como a própria
organização do trabalho pedagógico da escola. A construção do projeto
político-pedagógico parte dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade,
gestão democrática e valorização do magistério. A escola é concebida como
espaço social marcado pela manifestação de práticas contraditórias, que
apontam para a luta e/ou acomodação de todos envolvidos na organização
do trabalho pedagógico. (VEIGA, 1995, p.22).
o currículo, aqui percebido numa dimensão muito maior do que a visão
minimalista de grade curricular, extrapola a simples justaposão de disciplinas para
tornar-se elemento social, cultural e político, norteador dos rumos da educação voltada
para o combate às desigualdades sociais e o desequilíbrio em todas as suas faces.
Novamente Ilma Passos oferece subsídios para essa compreensão quando expõe:
Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a
sistematização dos meios para que essa construção se efetive; a
transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de
assimilá-los, portanto, transmissão e assimilação são processos que
comem uma metodologia de construção coletiva do conhecimento
escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. Neste sentido, o currículo
refere-se à organização do conhecimento escolar. (VEIGA, 1995, p.26).
Em consonância com o pensamento de Ilma Passos, tem-se também Santomé
que contribui para o entendimento e conceituação de currículo:
Assim, o currículo pode ser descrito como um projeto educacional planejado
e desenvolvido a partir de uma seleção da cultura e das experiências das
quais deseja-se que as novas gerações participem, a fim de socializá-las e
capacitá-las para ser cidadãos solidários, responsáveis e democráticos.
(SANTOMÉ, 1998, p.95).
A responsabilidade social da escola inicia-se na construção de seu Projeto
Político Pedagógico (PPP). Conceber um PPP envolve um “pensar responsável” não
no espaço interno da escola, mas em todo o macro-contexto em que a escola es
inserida. Pensar em sociedade, formação de cidadãos, fomento à cidadania, são
resultados que podem ser alcançados, ou conseqüências de um processo educativo
fundado em um PPP socialmente responsável.
Percebe-se então que o PPP o influencia somente internamente, mas
causa efeitos externos à estrutura física da escola. A responsabilidade social neste
sentido pode ser considerada um primeiro passo para uma formação de cidadãos
responsáveis, é um elemento fundamental na construção do PPP, ou seja, não se
pode pensar em responsabilidade social como simplesmente uma disciplina na grade
curricular de um curso, se essa não estiver impregnada na ideologia da instituição
transmitida pelo PPP.
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma aceitação intencional, com
um sentido explícito, com um compromisso definido coletivamente. Por isso,
todo o projeto pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar
intimamente articulado ao compromisso sóciopolítico com os interesses
reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de
compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. [...]
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação da
intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo,
responsável, compromissado, crítico e criativo. Pedagógico, no sentido de
definir as ações educativas e as características necessárias às escolas de
cumprirem seus propósitos e sua intencionalidade. (VEIGA, 1995, p.13).
Ambos, PPP e responsabilidade social, não podem ser encarados como
meras necessidades burocticas para cumprimento de leis e normas, tão pouco
como troféus à serem exibidos para a sociedade, percebida como cliente ou
consumidora de um produto que precisa ter uma boa propaganda. A responsabilidade
social impregnada na ideologia institucional deve ser vivida e posta em prática em
todas as ações tomadas pela instituição.
O projeto não é algo que é construído e em seguida arquivado ou
encaminhado às autoridades educacionais como prova do cumprimento de
tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos,
por todos os envolvidos com o processo educativo da escola. (VEIGA,
1995, p.13).
Esses fatores tornam o PPP e a responsabilidade social diretamente
relacionados, que não é possível a construção de um PPP socialmente relevante
sem a aplicação dos princípios de responsabilidade social. É importante perceber que
em todas as suas ações, a instituição deve estar consciente de sua responsabilidade,
sabendo que influencia diretamente a sociedade por meio da formação dos educandos
que nela atuarão posteriormente. Tem em suas mãos o poder de formar cidadãos com
capacidade de exercer sua cidadania plena, ou apenas indivíduos acríticos sem poder
de compreender e lutar por seus direitos.
3.2 O CURRÍCULO, O CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS E SUA
PERTINCIA SOCIAL
Quando são levantadas questões sobre o papel do currículo na escola, muito
se fala em imperialismo de países do primeiro mundo sobre países emergentes ou do
terceiro mundo. Não somente no âmbito econômico, mas também cultural. Dessa
maneira, o currículo e a própria escola podem ser usados como uma forma de
exercer controle social. Desse modo não atuam como agentes redutores de
desequilíbrios sociais e não possibilitam mobilidade social
8
. As camadas dominantes,
tanto nacionais quanto internacionais, promovem a manutenção da configuração
social existente, padronizam e ditam o comportamento desejado pelos formadores
das políticas públicas, enfim, organizam e moldam a sociedade conforme seus
interesses políticos e econômicos.
se torna visível uma concordância básica com as teorias da reprodução:
a escola, mais que contribuindo para a redão de injustiças sociais, é vista
como participando na reprodução das desigualdades e privilégios. Segundo
Carnoy, as escolas agem como instrumentos de controle social, ajudando a
“manter a ordem social (1974, p.8), e como instrumentos de inculcação
ideológica, convencendo as crianças de que o “o sistema é basicamente
justo e que os papéis nos quais elas serão alocadas lhes o adequados”
(ibid., p.13). (MOREIRA, 2006, p.19).
Não se pode afirmar que os pensamentos e a ideologia dos paises dominantes,
principalmente a norte-americana, não tenham sido transformados e “abrasileirados”,
mas certamente não se tem uma ideologia genuinamente nacional no que tange ao
contexto socioeconômico brasileiro, portanto, não contempla as necessidades sociais
brasileiras. Parece que a educação brasileira tem como característica histórica atender à
interesses, na maioria das vezes econômicos, em detrimento ao atendimento das
necessidades sociais. Desse modo, a formação de cidadãos críticos e reflexivos torna-se
cada vez mais difícil.
Poucas vezes ao longo da história foi tão urgente a aposta em uma
educação verdadeiramente comprometida com valores de democracia,
solidariedade e crítica, se quisermos ajudar cidadãos e cidadãs a enfrentar
essas políticas de flexibilidade, descentralização e autonomia propugnadas
nas esferas trabalhistas. É preciso formar pessoas com capacidade de
crítica e solidariedade, se não quisermos deixá-las ainda mais indefesas.
(SANTOMÉ, 1998, p.23).
Diante do exposto, questiona-se as conseqüências da educação e o currículo
atual para construção de uma sociedade aunoma. Forma-se cidadãos críticos? Ou
8
Possibilidade do indivíduo melhorar sua condição social.
o currículo permite e direciona a escola apenas à (con)formação passiva de aceitação
da realidade?
Para Freire (1969) educação visa a conscientizar os oprimidos, capacitando-
os a refletir criticamente sobre o seu destino, suas responsabilidades e seu
papel no processo de vencer o atraso do país, a miséria e as injustiças
sociais. Para isso, novos currículos se fazem necessários, já que o currículo
tradicional, abstrato, teórico e desligado da vida real, não pode jamais
desenvolver a consciência crítica do educando. (MOREIRA, 2006, p.129).
O princípio de transferência educacional enquanto forma de inflncia
estrangeira na construção de currículos no Brasil pode ser percebido na maioria dos
cursos de administração de empresas, em que é possível observar que não se forma
um profissional preparado para o contexto brasileiro. O perfil da formação dos novos
administradores inclina-se para o “mega-empresário”, para atuar em multinacionais
de grande porte com recursos discrepantes com a realidade brasileira e inseridas em
um mercado incompatível com o mercado brasileiro. Grande parte das cnicas e das
teorias da administração, da maneira como foram concebidas originalmente, são
incompatíveis e conseqüentemente negativas para a sociedade brasileira. São
utilizadas novas e sofisticadas técnicas de gestão, corte e redução de pessoal como,
por exemplo, downsizing
9
, benchmarkng
10
, reengenharia, entre outras. Essas
cnicas descontextualizadas na formação do administrador brasileiro o totalmente
contrárias às necessidades de maior geração de emprego, para exemplificar apenas
um dos diversos temas que estão em pauta nas discussões sociais brasileiras,
diferentemente da realidade norte americana, em que a taxa de desemprego não é
o elevada quanto no Brasil.
Entre 2003 e 2004 a taxa de desemprego
11
norte americana variou entre 5% e
6% aproximadamente, enquanto, no mesmo período no Brasil, o índice de desemprego
9
Downsizing (um termo importado da informática), aplicado à gestão significa a redução radical do
tamanho da empresa, geralmente através do delayering (redução dos níveis hierárquicos) ou da
venda de negócios não estratégicos.
10
O benchmarking é um processo sistemático e contínuo de medida e comparação das práticas de
uma organização com as das líderes mundiais, no sentido de obter informações que a possam ajudar a
melhorar o seu nível de desempenho.
11
Dados extraídos do relatório de inflação do Banco Central do Brasil (2005).
variou entre 9% e 13%. Na região do euro esses números variaram entre 8,5% e 9%, e
no Japão a taxa de desemprego esteve entre 4% e 5% aproximadamente. Esses dados
demonstram, que cada país ou região possui características próprias que devem ser
consideradas na estrutura curricular, tendo em vista a formação profissional. Maior
preocupação do que a descontextualização da formação do administrador de empresas
brasileiro é o fato de que o aluno é avaliado por ter mais domínio dessas técnicas, o
que tende a acarretar o aumento da aplicação prática das mesmas pelos egressos do
curso de administração de empresas.
Incoerentes com o discurso sobre a necessidade de constante adaptação às
mudanças, alguns cursos de Administração de Empresas parecem não perceber as
alterações sociais que envolvem temas como o ambiente, a energia, o racismo, os
direitos humanos, a alimentação, enfim, temas que modificam o cenário social e exigem
adequação de conteúdo e forma, buscando a pertinência na produção de seus
conhecimentos para a realidade brasileira, e a desvinculação com a atual semelhança ao
modelo norte americano.
Mais do que analisar modelos, teorias e outros aspectos teórico-científicos é
necessário se fazer uma primeira análise da pertinência do currículo para a realidade
social. Questões que abordam temas como os de transferência educacional e outros
fatores influenciadores na construção das políticas educacionais e do currículo, o
podem ser analisadas de forma radical. Os modelos teóricos vindos de fora do Brasil
não podem ser encarados como algo necessariamente negativos ou como simples
ferramenta de controle social. Existem aspectos positivos como o fato de serem
teorias construídas em países que estudam o tema mais tempo, portanto, com um
embasamento teórico mais lido em alguns aspectos. O mais relevante a ser
analisado não é a teoria em si, mas a forma como são recebidas essas teorias. Deve
existir o olhar crítico por parte dos especialistas, no sentido de filtrar e adaptar os
modelos estrangeiros para a realidade brasileira. Não se deve posicionar em nenhum
extremo: o de se aceitar tudo passivamente (adesão ingênua)
12
, nem o de rejeitar
tudo cegamente (rejeição ingênua)
13
, pois nenhum dos extremos é benéfico para a
educação.
Embora o campo do currículo no Brasil esteja lutando por uma identidade
própria, não nos parece conveniente (nem posvel) ignorarmos as
experiências de outras nações. Não é essa a melhor forma de atingirmos
autonomia cultural. Precisamos, sim, aprender a receber influências
internacionais em termos aceitáveis (cf. Cowen, 1988). Conforme acentuou
Davis (1973), contribuir para o desenvolvimento de uma cultura nacional o
implica resistir à prodão avaada dos países metropolitanos; implica, sim,
adaptar o quadro ideogico no qual essa prodão foi colocada. Julgamos,
portanto, que especialistas em currículo e em educação comparada precisam
discutir as melhores formas de concretizarmos o que chamamos de
adaptação crítica (MOREIRA, 2006, p.211).
Mostra-se necessário que os profissionais que estão engajados no campo do
currículo não se atenham somente às teorias, problemas internos, organizacionais e
operacionais que não abrangem a totalidade das questões relacionadas ao currículo,
bem como do PPP. Deve-se alargar horizontes e perceber fatores extra-operacionais
que dificultam alcançar o consenso na construção do currículo. O fator político-
econômico aparece novamente como um dos principais influenciadores e
impossibilitador da construção de um currículo que priorize os interesses sociais ante
os interesses de mercado. Os educadores, e em geral todos os envolvidos com a
educação precisam buscar conjugar os interesses econômicos aos sociais para que o
progresso econômico possa ser acessível também às classes sociais menos
favorecidas. Essa aspiração envolve diretamente as políticas blicas,
especificamente as educacionais. Tem-se que elevar as discussões ao nível macro,
ou seja, o que se passa no ambiente externo à escola, em que parece que
atualmente é predominantemente formado por políticos e empresários, contando com
12
[...] se caracteriza fundamentalmente por uma valorização excessiva (e mesmo indevida) de tudo
o que se cria nos Estados Unidos e na Europa e uma forte desvalorização do que se faz aqui.
(MOREIRA, 2006, p.206).
13
[…] corresponde a um significativo fechamento à influência estrangeira e a uma supervalorização
do que se cria no próprio país. (MOREIRA, 2006, p.209).
uma participão muito pequena de educadores, que deveriam ser participantes
ativos na formação das políticas, pois detém um conhecimento maior das
necessidades sociais em relação à educação.
Se a escola nutre-se da vivência cotidiana de cada um de seus membros, co-
participantes de sua organização do trabalho pedagógico à administrão
central, seja o Ministério da Educão, a Secretaria de Educação Estadual ou
Municipal, o compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim
estimular inovações e coordenar as ões pedagógicas planejadas e
organizadas pela própria escola. (VEIGA, 1995, p.15).
É dever de todo o profissional da educação engajar-se na elaboração das
políticas educacionais, considerando que a elaboração das políticas não se restringe
somente à “mesa de reuniões”, mas inicia-se na própria sociedade e na manifestação
de seus interesses e necessidades. Isso pode ser entendido como uma ação de
responsabilidade social do profissional enquanto cidadão. O envolvimento nas
discussões que envolvem as questões políticas, a união e mobilização da classe no
intuito de se fazer ouvir, a busca pelo aumento da participação dos educadores nas
discussões definidoras das políticas públicas, é fundamental para a formação de
políticas que considerem as necessidades sociais sob o prisma da educação. É dever
moral de todo o indivíduo o exercício da cidadania e a responsabilidade de lutar por
melhores condições sociais, garantia de direitos para todos, enfim, redução de
qualquer tipo de desigualdade. Objetiva-se elevar o nível de qualidade de vida por meio
da emancipação nos níveis econômicos, sociais, políticos e culturais. Educar e
conscientizar é um ato de cidadania, é um legado do cidadão para a sociedade.
A concepção de Poulantzas (2000) sobre o Estado como uma resultante de
correlação de forças, cabe também na análise dos aspectos que influenciam a
construção ideológica sobre currículos no Brasil. O embate entre grupos que buscam
defender seus interesses na esfera do Estado tem como conseqüência as políticas
norteadoras das ações a serem executadas nas instâncias do Estado. A educação, sua
legislação e regulamentação normativa é fruto desses embates, em que os interesses
dos grupos com maior poder de barganha são atendidos.
Estando as relações político-ideológicas desde já presentes na formação
das relações de produção, desempenham um papel essencial em sua
reprodução e desse modo o processo de produção e de exploração é ao
mesmo tempo processo de reprodução das relações de
dominação/subordinação política e ideológica. Deste dado fundamental
decorre a presença do Estado, específica para cada modo de produção o
qual concentra, materializa e encarna as relações político-ideológicas nas
relações de produção e sua reprodução. (POULANTZAS, 2000, p.25).
Existe uma tendência em responsabilizar os interesses econômicos por todas
as decisões tomadas nas mais diversas instâncias sociais, dentre elas a educação.
Assim como o Estado é resultante da correlação das forças entre classes com
interesses diversos, a construção curricular parece sofrer um processo similar em que
a economia é um dos agentes que irá se correlacionar com outros fatores como cultura
local, interesses sociais, políticos e ideológicos nacionais, influências internacionais,
entre outras. O importante, porém, é manter as discussões e lutas focadas no contexto
brasileiro.
Com relação à contextualização do currículo, conseqüentemente dos cursos
de administração especificamente, parece que estão bastante desfocados da realidade
e das necessidades sociais brasileiras. Algumas perguntas poderiam ser feitas para
tentar se obter com as respostas um entendimento e possíveis encaminhamentos para
a questão da pertinência dos currículos para o contexto social atual: Por que pretendo
me tornar um administrador de empresas? Para que ou quem servem os
conhecimentos adquiridos durante o curso? Como reverter o “saber” adquirido durante
o curso em bem social? Quais são os bens que a sociedade onde o profissional vai
atuar necessita? Deve o profissional engajar-se nas lutas por melhorias sociais? As
respostas para essas questões poderiam auxiliar na identificação quanto à
contextualização do currículo, bem como na compreensão de quais as necessidades
sociais relacionadas à atuação profissional do egresso.
3.3 A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO PROCESSO DE FORMAÇÃO
PROFISSIONAL NAS IES
A concepção de responsabilidade social interiorizada por um individuo ou grupo,
é reflexo da educação recebida. Assim a educação pode ser um instrumento de
dominação ou de emancipação do sujeito. A dominação pode ser identificada nos
sujeitos que entendem responsabilidade social como ferramenta mercadológica do
sistema capitalista. os sujeitos que alcançam a emancipação, vêem essa questão
como uma necessidade fundamental para a vida humana, como um direito do cidadão.
E não existem outras soluções realistas a longo prazo que não sejam a
formação dos homens, o desenvolvimento e a difusão do saber, o aumento
das responsabilidades individuais, a aposta na inteligência científica e
cnica, política e empresarial (LIPOVESTSKY, 1994, p.24).
A função social da IES transcende a lógica capitalista de acúmulo de capital e
lucratividade. Como formadora dos cidadãos e profissionais que atuarão na sociedade,
tem o dever de primar pelos princípios da ética e antes de buscar a obtenção de
retorno financeiro, tem a responsabilidade de prover a sociedade com indivíduos
preparados para a ação profissional, mas que tenham também a consciência plena de
sua função social e da necessidade de participar da construção de uma nação
verdadeiramente soberana, iniciando-se pelo seu povo, intelectual e culturalmente
autônomo. Quanto a isso Volpi afirma que:
A contribuição da Universidade o deve limitar-se somente a prover a
sociedade de recursos humanos adequadamente qualificados para o
desenvolvimento sócio-econômico. O acamico, ao adquirir conhecimentos
necessários para exercer uma atividade especifica numa sociedade deve ser
capaz de responder às expectativas nele depositadas mediante a concretização
de um compromisso não só com ele mesmo, mas com todos os seus
semelhantes, com a vida e com a sociedade como um todo. E é na
Universidade onde esses fundamentos de estreita relão entre o
profissionalismo e o respeito ao ser humano e aos seus direitos deve solidificar-
se, na busca da construção de uma sociedade mais justa. (1996, p.17).
Diante desse posicionamento, a IES não pode limitar-se a uma formação
imediatista, visando apenas a qualificação do profissional para absorção pelo mercado
de trabalho, o que denota uma postura negligente. A formação acadêmica deve
contemplar valores e práticas que transcendam a simples instrumentalização técnica,
desenvolvendo uma visão ampla da ligação do sujeito e da sociedade com o meio em
que habitam. Se a IES enquanto formadora da “elite intelectual” não se preocupa com as
questões de responsabilidade social e sustentabilidade, o caminho para uma
transformação do modelo social vigente, torna-se cada vez mais impensável. A busca de
soluções para os problemas sociais não pode ser vista como uma opção, mas como
uma obrigação da IES. Se uma IES não cumpre sua obrigação, torna-se uma
instituição socialmente irresponsável.
A responsabilidade social da universidade deve ser entendida como os
deveres que a universidade tem para com o equacionamento dos graves
problemas sociais do país e de seus entornos territoriais. Falar da
responsabilidade social universitária significa falar dos deveres e das
obrigações da universidade. Trata-se de incumbências inerentes a
natureza institucional das IES (CALDERÓN, 2005 p.14).
Tão importante quanto considerar as demandas sociais, é perceber os diversos
contextos de onde essas demandas emergem. o se pode formar um “pacote” de
ações de responsabilidade social generalizável para todos os contextos. As ações de
responsabilidade social devem ser pensadas e estruturadas por meio de projetos que
partam do mapeamento da realidade para qual essas ações serão implementadas.
Pode-se dizer que existe a necessidade de reconhecer e aceitar as diferenças culturais e
suas necessidades. A tendência à massificação e padronização da cultura é uma
conseqüência do modelo de produção capitalista, associada à globalização e ao
neoliberalismo. Novamente as IES são chamadas à responsabilidade de participar
ativamente na identificação e busca de soluções para as demandas sociais, devendo
estar o caráter financeiro-mercadológico em segundo plano.
A responsabilidade social da IES tem de ser assumida por ela, enquanto
instituição de ensino, observando e atendendo às demandas sociais, sobretudo àquelas
originadas dos grupos sociais menos favorecidos. “A autonomia universitária e a
liberdade acadêmica assumem agora uma nova premência, uma vez que só elas podem
garantir uma resposta empenhada e criativa aos desafios da responsabilidade social”. A
sociedade é uma entidade concreta, portanto, os desafios são conjunturais e não podem
ser enfrentados com medidas genéricas e inflexíveis. (
SANTOS
,
2004, p.91).
Do mesmo modo que a responsabilidade social se relaciona à sustentabilidade
em termos conceituais, esses conceitos o também interdependentes quando aplicados
às IES e à educação formal.
Quando, portanto, se passa a propor, como faz a UNESCO, que o
desenvolvimento sustentável é o objetivo mais decisivo da relação
homem-natureza e que todo o processo educativo deveria ser
redirecionado para o desenvolvimento sustentável o mínimo que
precisamos fazer é perguntar e discutir o que significam o
desenvolvimento sustentável e educar para o desenvolvimento sustentável
(SAUVÉ, 1997, p.77).
Educar visando formar cidadãos preparados para compreender os princípios e
as necessidades que fazem do desenvolvimento sustentável uma questão de
sobrevivência, significa fornecer subsídios para que o educando adquira uma postura
crítico-reflexiva quanto à sustentabilidade em seus aspectos políticos, sociais,
econômicos, culturais, e principalmente ambientais, integrando as esferas individuais e
coletivas, objetivando obter e manter as condições de qualidade de vida demandadas
nos diversos contextos. Sobre o duplo papel da universidade, Volpi destaca:
Produzir o saber buscando o equilíbrio entre o conteúdo social e a
excelência acadêmica especificamente profissional, num explicito
comprometimento com a elevação das condições de vida a níveis mais
dignos e fraternos, numa significativa interação com o entorno social onde
se situa (1996, p.18).
Uma das poucas pesquisas realizadas sobre educação ambiental no Brasil,
pela comissão organizadora da I Conferência Nacional de Educação Ambiental,
mapeou os problemas e desafios da educação ambiental no ensino formal, chegando
às seguintes considerações:
O modelo de educação vigente nas escolas e universidades responde a
posturas derivadas do paradigma positivista e da pedagogia tecnicista
que postulam um sistema de ensino fragmentado em disciplinas, o que
se constitui um empecilho para a implementação de modelos de
educação ambiental integrados e interdisciplinares.
A falta de material didático para orientar o trabalho de educação ambiental
nas escolas, sendo que os materiais disponíveis em geral, estão distantes
da realidade em que são utilizados e apresentam caráter apenas
informativo e principalmente ecológico, não incluindo os temas sociais,
econômicos e culturais, reforçando as visões reducionistas da questão
ambiental.
A ausência de uma visão integrada que contemple a formação ambiental
dos discentes e a inclusão das questões éticas e epistemológicas
necessárias para um processo de construção de conhecimento em
educação ambiental.
A ausência de conceitos e práticas da educação ambiental nos diversos
níveis e modalidades de ensino reforça as lacunas na fundamentação
teórica dos pressupostos que a sustentam. (BRASIL-MMA/MEC, 1997).
A questão da educação ambiental torna-se tão fundamental na discussão
quanto à sustentabilidade, uma vez que o paradigma educacional expresso nas
concepções e nas práticas de educação ambiental valem igualmente para a
sustentabilidade, e refletem um modelo educativo ultrapassado. Os primeiros princípios
de responsabilidade, ética e sustentabilidade devem ser formados na base. A
importância da educação ambiental reside justamente no fato de que o aprendizado
sobre a necessidade de haver equilíbrio entre o homem e o meio, pode ser um primeiro
elemento para a formação de cidadãos que percebam desde cedo a responsabilidade
social como fundamental para a vida. As tentativas historicamente realizadas para a
implementação de uma educação que considere o conceito de sustentabilidade não se
mostraram capazes de acompanhar a complexidade das questões cio-ambientais e
não tiveram a eficiência necessária para se transformarem em ações eficazes. Quanto
a isso Lima afirma que:
Essas limitões se devem, em grande parte, à inadequação entre o
paradigma cartesiano-mecanicista, prevalecente na sociedade e ciência
ocidentais, e os problemas que hoje atingem a vida social, o ambiente,
a economia e a cultura. Segundo essa compreensão, as mudaas
necesrias e desejadas exigem um novo paradigma integrador ou
holístico que a educação ambiental o conseguiu r em prática,
embora tenha reconhecido essa necessidade retoricamente. (2003,
p.11).
Alguns teóricos como Sterling (2001) e Sauvé (1997) argumentam que a
educação ambiental assumiu um ponto de vista fragmentado e tradicional com
expressões reducionistas: ao aplicar metodologias disciplinares o participativas e
de baixa criatividade, e ao propor respostas comportamentais e tecnológicas para
problemas de maior complexidade; ao não considerar suas dimensões políticas,
éticas e culturais; ao confundir o meio ambiente com a natureza; ao tratar como
ecológica uma crise de caráter ambiental; ao apresentar a questão sócio-ambiental
de forma fragmentada e acrítica.
A prática educacional visando o exercício da responsabilidade social e da
sustentabilidade, “[...] implica em ir além de uma sustentabilidade de mercado,
reprodutivista, fragmentária e reducionista(LIMA, 2003, p.17). Nota-se, por meio das
campanhas publicitárias das IES que o ser responvel”, ou se autodenominar uma
instituição com responsabilidade social é um atributo apresentado por praticamente
todas as IES que concorrem no mercado de ensino superior. Apesar do apelo moral
da responsabilidade social, é visível em muitos casos o cater comercial assumido
pelas instituições na captação de novos “clientes”. Dessa forma, continuar-se a
utilizar a responsabilidade social meramente com uma função mercadogica. Mesmo
praticando ações de responsabilidade social, se o conceito não é entendido como um
dever da IES em contribuir para a elevação do nível sócio-cultural, a função mercantil
continuasendo mais relevante que a função social que a IES deve ter para com sua
comunidade.
Pautar as estratégias de marketing em torno da queso da responsabilidade
social é a tendência do momento no mercado de ensino superior. Constata-se
que: cada vez mais as IES adotam em suas estragias de marketing o
discurso da responsabilidade social não sendo reflexo necessariamente de
uma prática institucional real; cada vez mais as IES distribuem como cartão
de visitas, muitas vezes em impressos sofisticados, seus Balanços Sociais; e
utilizam a grande dia para divulgar suas ões de responsabilidade social.
(CALDEN, 2005, p.9).
A responsabilidade social e a sustentabilidade devem ser inseridas no
processo educativo na perspectiva freiriana de educação problematizadora. Essa
visão supõe que o trabalho didático-pedagógico é articulado por meio de
questionamentos e situações-problema que emergem do contexto em que o
educando está inserido, culminando na construção significativa do conhecimento e na
emancipação do sujeito como um cidadão consciente e reflexivo. A aplicação de
termos como “educação para a responsabilidade social”, ou “para a sustentabilidade”,
não parece ser adequada ao intento de formar cidadãos capazes de perceber
necessidades como responsabilidade social e sustentabilidade, e construir seus
próprios conceitos a partir da visão do todo. Os diversos temas sociais, culturais,
políticos e ambientais, trabalhados como disciplinas escolares o possibilitam uma
visão ampla do contexto e suas transformões. Dessa forma, o sentido rígido e
inflexível que o vocábulo disciplina” denota, teum efeito anulador da capacidade
reflexiva necessária para o entendimento das demandas de um ambiente integrado e
em constante mutação.
Jickling, embora crítico de uma “educação para a sustentabilidade”, por
seu caráter instrumental, propõe uma outra abordagem onde o tema da
sustentabilidade seja apresentado e discutido com os alunos, de uma
forma que permita-os: conhecer os argumentos favoráveis e contrários ao
discurso, avaliar o conjunto da argumentação e participar deste debate.
(LIMA, 2003, p.13).
Uma IES é uma organização complexa e universal, cuja finalidade sica é
promover a educação superior em todas as suas dimenes. Ensino, pesquisa e
extensão, compatíveis com o desenvolvimento responsável e sustenvel da
sociedade em que atua.
Adotar o conceito de responsabilidade social universitária significa assumir
a maioridade, ou seja, assumir a responsabilidade de seus atos
institucionais. Significa que as IES não podem mais fugir de suas
obrigações. Significa que a universidade não pode mais estar isolada
como uma empresa somente preocupada com os lucros, no caso de
muitas IES particulares, ou com um grupo de intelectuais preocupados
com devaneios teóricos que não levam a lugar nenhum e que somente
representam gastos aos cofres públicos, no caso das IES estatais. O
ensino tem que ser socialmente responsável. A pesquisa tem que ser
socialmente responsável. Não se trata de um compromisso para o futuro.
Trata-se de uma obrigação para o hoje e não mais uma promessa para o
amanhã. (CALDERÓN, 2005, p.15).
A construção de uma educação que objetive a apropriação do termo
responsabilidade social ou sustentabilidade pelo educando, não como um
conhecimento pronto, mas como algo que se renove e que seja repensado
constantemente, é uma tarefa complexa, que deve ser capaz de responder a
problemas igualmente complexos.
Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, complexidade
quando elementos diferentes são inseparáveis e constitutivos do todo (...)
e um tecido interdependente e inter-retroativo entre o objeto do
conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes, as
partes entre si. Por isso a complexidade é a união entre a unidade e a
multiplicidade. (MORIN, 2000, p.38).
A complexidade de um sistema de educação superior pode ser constatada
através de suasltiplas funções, bem como pela diversidade das inter-relações com
os contextos interno e externo e pelos papéis desempenhados pelos rios agentes
que nela atuam. A multiplicidade de objetivos que uma IES deve cumprir é geradora
de tenes que atingem todos os membros de uma instituição. Instituições devem ser
constituídas pela coerência de um conjunto de interações e relações. Para auxiliar no
entendimento do conceito de complexidade das instituições, pode-se utilizar a
definição de organização complexa de segundo Bauer (1999), que é composta dos
seguintes conceitos:
sistema: exprime o todo enquanto fenômeno e enquanto unidade complexa
que expressa também o caráter complexo da interdependência entre o todo
e as partes; interação: corresponde às ações e retroalimentações que
ocorrem e que surgem no âmbito de um sistema; organização: exprime o
caráter constitutivo dessas interações, organização é tudo o que forma,
preserva, regula e regenera. Tais conceitos o podem ser tomados
isoladamente, pois eles produzem-se uns aos outros em recorrência e
interdependência. (p.57).
Diante da percepção de uma organização como um sistema complexo, onde
os elementos estão constantemente conflitando e interagindo, o grande desafio
lançado às IES, é o de formar cidadãos éticamente comprometidos com a árdua
tarefa da lutar pela obtenção de um sistema cio-ambiental que se mantenha em
equilíbrio, focando-se nas demandas atuais da sociedade, e sem perder de vista seus
compromissos institucionais.
Esse contexto complexo expressa-se no fato de a responsabilidade social
englobar fatores advindos de todas as instâncias da vida em sociedade. Pressupondo a
necessidade de “aprender, criar e exercitar novas concepções e práticas de vida, de
educação e de convivência individual, social e ambiental capazes de substituir os
velhos modelos em esgotamento”. (LIMA, 2003, p.14).
4. POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A RESPONSABILIDADE SOCIAL
4.1 DEFININDO POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCACIONAIS
Entende-se por políticas públicas o conjunto de políticas econômicas, sociais e
ambientais implementadas pelo governo, em conjunto com a sociedade, visando
atender as demandas específicas de grupos sociais. As políticas públicas devem ser
universais, portanto, tudo aquilo que o governo implementa deve ser válido para todos.
Como deveria ser, por exemplo, o acesso à educação e aos serviços de saúde,
habitação, e outros direitos que garantam a democracia e a dignidade do cidadão. As
políticas devem surgir da união da sociedade com o governo, para que haja um
planejamento para definir estratégias de alocação de recursos, com o objetivo principal
de fazer chegar a toda população os direitos gerados pelas políticas.
A formulão das poticasblicas surge da identificação de problemas específicos
e as suas causas. O planejamento consiste no estabelecimento de metas, definão de
programas para atuação direcionada para problemas espeficos, e finalmente a alocão
de recursos humanos e financeiros para atingir as metas definidas.
Sabe-se, porém, que a identificação dos problemas, fatos geradores para a
elaboração das políticas, é resultado da relação de forças entre grupos de interesses. A
pressão de setores da sociedade sobre o governo origina as políticas públicas. Entre
esses grupos de interesses podemos destacar, o empresariado, muitas vezes dividido
em segmentos de atuação diferentes, e lutando por interesses diversos. Partidos
políticos, defensores da classe trabalhista a qual pertencem, e nos últimos anos, nota-
se o aumento da participação da sociedade através de movimentos específicos
defendendo problemáticas específicas.
Para reforçar esse pensamento Azevedo (2001, p. 62) acredita que é preciso
considerar que os grupos que atuam e integram cada setor “[...] vão lutar para que suas
demandas sejam atendidas e inscritas na agenda dos governos. E estas lutas serão
mais ou menos vitoriosas, de acordo com o poder e pressão daqueles que dominam o
setor em cada momento”.
Percebe-se também uma cooperação maior entre governo e sociedade.
Algumas iniciativas de movimentos sociais e ONGS são absorvidas como políticas
públicas, bem como, nota-se que o governo solicita mais a participação da sociedade
por meio de organismos sociais na divisão das responsabilidades que até pouco tempo
eram exclusivas do Estado.
As políticas públicas definem as diretrizes para todos os diversos segmentos
da sociedade. Devem ter em seu cerne o objetivo de definir as melhores estratégias,
abrangendo todos os aspectos que constituem uma nação, com o fim de que todas as
decisões por elas materializadas sejam positivas para o país e sua população. As
políticas públicas se desdobram em vários campos de atuação, que compreendem
basicamente as áreas “econômica, social, militar e política”. (SAVIANI, 1998, p.121).
As políticas educacionais fazem parte das políticas sociais, juntamente com as
poticas para saúde, habitação, previncia social, entre outros. Enquanto viabilizadoras,
que irão especificar as ões no âmbito educacional, as políticas educacionais m por
função reger todas as decisões que dizem respeito às instituições de ensino, em todas as
suas modalidades. Fornecer acesso, auxiliar na busca da redução de desigualdades por
meio da elevação do nível cultural da população em geral, formar cidaos capazes de
decidirem os próprios rumos que querem para as suas sociedades, devem ser objetivos,
ou amesmo, funções das poticas educacionais.
4.2 CONTEXTO DEFINIDOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Antes de abordar as políticas públicas e a sua relação com a responsabilidade
social é necessário entender as dinâmicas entre as políticas e o Estado, o modelo de
produção e a problemática do contexto atual.
A relação entre as políticas públicas e a responsabilidade social, es
diretamente ligada com as políticas educacionais, que devem ter como objetivos
principais possibilitar que todos tenham acesso à educão, e fazer surtir efeitos
transformadores para uma sociedade mais crítica e atuante no que diz respeito aos
seus direitos.
Pode-se dizer que as políticas públicas o reflexos dos cenários políticos e
econômicos de seu tempo. O modelo de produção, a relação entre as classes sociais,
as relações de trabalho, as relações de consumo e de forma geral, todos os elementos
internos e externos que agem diretamente sobre a condução e definição das políticas.
Pode-se dizer que tanto o Estado quanto suas políticas, são resultantes de relações de
forças de vários agentes, como classes sociais, relações de produção, ideologias,
segmentos da sociedade, como afirma Poulantzas:
O Estado tem uma relão essencial nas relações de produção e na
delimitação-reprodão das classes sociais, porque não se limita ao
exercício da represo física organizada. Situar o Estado em sua
ligão com as relações de produção é delinear os contornos primeiros
de sua presença na luta de classes. O Estado também tem um papel
específico na organização das relações ideológicas e da ideologia
dominante. (2000, p.26).
A nova configuração potico-econômica mundial direciona as políticas
educacionais no sentido de atender as demandas características de nossos tempos,
interferindo diretamente nos interesses e nas correlações de forças, que irão se
materializar nas ões do Estado. As mudanças frenéticas das necessidades do
mundo do trabalho, geradas pelas mudanças nas bases tecnogicas, estão
alterando a dinâmica de rios elementos e dos agentes definidores de poticas
públicas. Novamente reportando-se a Poulantzas tem-se a decorrência da presença
do Estado que é [...] específica para cada modo de produção o qual concentra,
materializa e encarna relações político-ideológicas nas relações de produção e sua
reprodução(2000, p.25).
O modelo rígido de produção, aliado à existência de um mercado esgotável de
bens de consumo duráveis, um significativo grau de organização dos sindicatos e
partidos políticos, um Estado inchado e elevadas taxas de desemprego e inflação,
decorrem em uma crise do modelo taylorista / fordista de produção.
A fim de responder à crise do capitalismo e propondo uma alternativa à sua
superação, o capital busca a realização de reformas de ordem geral que correspondam
a um novo estágio de desenvolvimento do capitalismo mundial. Com o intuito de atingir
um maior incremento da produtividade e maior capacidade competitiva, o capitalismo
sofre modificações no que diz respeito à constituição de um novo padrão de
acumulação, pautado em um modelo flexível de produção, fortemente articulado à
globalização da economia e que vem provocando mudanças no globo, alterações estas
que possuem componentes contextuais e estruturais que indicam novas formas de
relações econômicas, sociais, jurídico-políticas e culturais. (HARVEY, 2000).
A flexibilização das relações de trabalho diminui o tempo e o valor do saber,
aumentam a competitividade e a seletividade, e conseqüentemente a desigualdade
social. E dentre outros fatores exigem da educação caractesticas integradoras
entre teoria e ptica, entre o conhecer e o aplicar, além da necessidade de
desfragmentar o ensino e adotar um caráter transdisciplinar.
Como resposta às novas exigências de competitividade que marcam o
mercado globalizado, exigindo cada vez mais qualidade com menor custo, “[...] a base
técnica de produção fordista, vai sendo substituída por um processo de trabalho
resultante de um novo paradigma tecnológico apoiado essencialmente na
microeletrônica, cuja característica principal é a flexibilidade” (KUENZER, 2005, p.33).
Para o trabalhador o princípio da incerteza pode colocar em xeque as
atitudes com relação ao seu comportamento ético. A alta competitividade, a
cobrança extrema de produtividade e lucratividade, pode levá-lo a tomar decies
que priorizem a garantia e aumento dos lucros da empresa em detrimento a outros
valores morais que correspondam ao senso ético e às necessidades da sociedade,
que por sua vez o parece estar bem preparada para identificar essas ações e
cobrar outra postura do individuo / empresa. A base para conscientizar e formar
uma sociedade crítica que tanto o trabalhador como individuo profissional, como
enquanto cidadão e participante de uma sociedade devem ter, é fundamental como
uma das fuões da educão.
As sociedades em rede informacional global, a aclamada globalização,
tendem, por meio das tecnologias de informão e comunicação, a se
homogeneizarem no consumo de coisas materiais e não-materiais, como, por
exemplo, programas de televisão, sicas e tenncias sociais, homogeneizando de
certa forma tamm a cultura, que normalmente sepassada das nões tidas como
mais desenvolvidas, para as menos desenvolvidas.
A globalização não é um fenômeno novo, o que é nova é sua natureza,
velocidade e grandeza, a “[...] sua capacidade paradoxal de excluir e fragmentar. Por
isso, tal como vem sendo veiculada constitui-se em mais uma poderosa ideologia do
que em um conceito que nos ajude a compreender melhor a realidade”
(FRIGOTTO,1999, p.13), é uma poderosa filosofia que sintetiza bem as aspirações
dos blocos dominantes. Ainda baseando-se em Frigotto, tem-se:
A revolução contínua da produção, o abalo constante de todas as
condições sociais, a eterna agitação e incerteza distinguem a época
burguesa de todas as precedentes. Suprimiram-se todas as relações
fixas, cristalizadas, com seu cortejo de preconceitos e iias antigas e
veneradas; todas as novas relações se tornam antigas, antes mesmo de
se consolidar. A necessidade de um mercado constantemente em
expano impele a burguesia a invadir todo o globo. Necessita
estabelecer-se em toda a parte, explorar em toda a parte, criar nculos
em toda a parte. (1999, p.16).
Esse pado global de comportamento social torna as habilidades
necessárias para o trabalho, para a convivência social e aceitação social, também
homogeneizadas. Todas essas padronizações alteram a configuração social de uma
nação, o que certamente modifica as políticas blicas, que na maioria das vezes não
serão as ideais para grande parte da população.
Nesse cenário, os novos e principais agentes definidores de Políticas
Educacionais serão os agentes internacionais e os movimentos sociais. Há pouco tempo
as decisões internas eram menos influenciadas por órgãos internacionais como a ONU,
UNESCO, BID, FMI e outros. Financiamentos, investimentos internacionais, abertura de
mercados, tem como moeda de troca algumas exigências internacionais sobre as
decisões internas e a formulação das políticas públicas, inclusive as que se referem à
educação. Os movimentos sociais também assumem um papel importante como agentes
definidores das políticas públicas a partir dos anos noventa, até então, os agentes
predominantes eram as classes sociais pleiteando algo.
Considerando o caso brasileiro, verifica-se que, no período pré-64, sob a
vigência da ideologia nacional-desenvolvimentista, a “política social” entra
em conflito aberto com a “política econômica” que o caráter anti-social
desta era identificado com a sua marca desnacionalizante, decorrendo daí
a dependência e subordinação da nação brasileira aos países capitalistas
centrais, em especial aos Estados Unidos. A “política econômica” era,
pois, anti-social pois colocava a economia contra a sociedade brasileira
subordinando o povo brasileiro à superexploração estrangeira (SAVIANI,
1998, p.123).
-se na realidade brasileira uma grande crise econômica e institucional, em
que o governo adota um conjunto de políticas definidas pelo Banco Mundial. Tem-se
que, conduzidas pela racionalidade financeira, as políticas educacionais vigentes
“repousam o mais reconhecimento da universalidade do direito à educação em
todos os níveis, gratuita nos estabelecimentos oficiais, mas no princípio da eqüidade,
cujo significado é o tratamento diferenciado segundo as demandas da economia
(KUENZER, 2005, p.55).
A ideologia neoliberal configura-se como ideologia hegemônica orgânica ao
capitalismo de acumulação flexível, tendo como pressuposto que a extensão do papel
do Estado é a principal causa dos problemas sociais contemporâneos.
As políticas neoliberais atualmente adotadas objetivam constituir um Estado
que seja forte em "[...] sua capacidade de romper o poder dos sindicatos e no controle
do dinheiro, mas fraco em todos os gastos sociais e nas intervenções econômicas"
(ANDERSON; SADER; GENTILLI, 1995, p.11). Se nas políticas do Estado de Bem-
Estar Social, próprio do taylorismo / fordismo havia um pacto social entre o capital e o
trabalho, por meio do qual os cidadãos tinham como garantia alguns direitos como
educação, saúde, previdência, etc, nas políticas neoliberais pretende-se anular as
conquistas sociais, realizando a exclusão desses direitos, que o progressivamente
privatizados.
Os organismos internacionais desempenham fundamental papel na difusão de
uma nova concepção de Estado orgânica aos interesses neoliberais, com a qual
articulam-se específicas concepções de educação e de ensino. As políticas da
educação superior, assim como as dos demais níveis de ensino, têm apresentado
historicamente íntima relação com os interesses políticos de reprodução do modo de
produção capitalista e, conseqüentemente, na manutenção de uma educação que
reproduza um determinado modelo de sociedade e acumulação.
Por outro lado, podem, enquanto processo de construção humana, constituir-
se como prática que aponte para a emancipação e transformação deste nível de
educação. A apreciação crítica quanto às políticas públicas apresenta contribuição
imprescindível tanto para a delineação quanto para a resistência na implementação dos
fundamentos neoliberais no campo da educação superior.
4.3 RELAÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS COM A RESPONSABILIDADE SOCIAL
A relação das políticas educacionais com a responsabilidade social na visão
social e não mercadológica – é de influência direta e de vital importância para a
“responsabilização” da sociedade.
A sustentabilidade, referindo-se não somente à natureza, mas também a
sustentabilidade social é o motivo da necessidade de existir a responsabilidade social.
Caso o homem habitasse um recinto em que os recursos naturais fossem inesgotáveis,
em que todos os homens, mulheres e crianças tivessem os mesmos direitos e
usufruíssem deles, em que negros, brancos, índios, amarelos e mestiços fossem
simplesmente homens, em que todo homem e mulher tivessem trabalho, não somente
para garantir o sustento do corpo, mas como realização pessoal e social, em que todas
as crianças pudessem ingressar na escola e de lá não sair até terminar o ciclo inicial de
aprendizado, considerando como ciclo inicial toda a etapa escolar a o ensino
superior, e lembrando que o aprendizado pode ser exercitado durante toda a vida de
um homem. Finalmente, se todos tivessem condições de vida digna garantidas,
desejáveis para todo e qualquer ser humano, não seria necessário entender a
responsabilidade social como imposição ou lei. Contudo, a realidade não é essa, e
muito pior que isso, é o espelho bizarro dessa utópica descrição. As desigualdades
sociais, as subcondições de vida de milhões de pessoas, o desrespeito do homem para
com a natureza e para com o próprio homem e suas raízes, o questões aceitas por
todos os “incluídos” no convívio social. A questão que se levanta é o que está se
fazendo para caminhar para uma realidade melhor? Quais as frentes de batalha que
estão sendo erguidas para lutar contra esse cenário assustador, que muitas vezes tem
como limítrofe um muro de concreto que separa realidades completamente diferentes?
A educação aparece como carro-chefe na busca de possíveis soluções para
esses questionamentos. Obviamente não se pode responsabilizá-la pela solução de
todos os problemas, outros agentes sociais devem atuar juntamente com a educação
para o estabelecimento de uma base social forte no combate às causas geradoras
desses desequilíbrios. O que pode sim, ser esperado por parte da educação é a
formação lida de cidadãos politizados, que irão compor outros agentes sociais que
atuando em conjunto poderão fazer frente aos interesses predominantes atuais
relativos ao neoliberalismo.
[...] não se pode esquecer que a escola e principalmente a sala de
aula são espaços em que se concretizam as definições sobre a
política e o planejamento que as sociedades estabelecem para si
próprias, como projeto ou modelo educativo que se tenta por em ação.
(AZEVEDO, 2001, p. 59).
É nesse sentido que as políticas educacionais, como leme direcionador dos
rumos da educação nacional tem a grande responsabilidade de apontar os melhores
caminhos para que os desafios postos à educação sejam superados. A política pública
é o fato gerador e possibilitador das ações educacionais, por esse motivo, na definição
das políticas devem estar impregnadas as necessidades de fazer da educação guia
para a evolução intelectual, cultural, ética, social e política da sociedade, possibilitando
a concretização das políticas desejadas pelas sociedades, sem estarem restritas a
pequenos grupos detentores do capital e conseqüentemente do poder de decisão. O
ciclo de definição e implementação de políticas públicas inicia-se na escola,
entendendo que o aluno será o futuro influenciador na criação das políticas, e quanto
mais acesso houver, maior será a participação de outros grupos sociais na elaboração
das políticas públicas. É afirmativo dizer que as noções de responsabilidade abordadas
nesse trabalho iniciam-se na sala de aula, mas certamente não tem resultado imediato,
é um projeto para o futuro, para as gerações que hoje devem estar em sala de aula.
À educação superior cabe fornecer condições de o individuo que conseguiu
chegar até esse ponto, e que, portanto, teoricamente tem maiores possibilidades de
assumir postos de chefia que obriguem-no a tomar decisões importantes, a definir
ações que mantenham em foco os aspectos éticos da comunidade em que está
inserido. Decisões estas que influenciao diretamente o seu grupo de trabalho e o
meio.
É consenso entre rios autores que a educação atual é dirigida por
prinpios pprios do capitalismo, e que tem como objetivo primeiro atender às
expectativas do mercado de trabalho, uma educação mercantilista. Esse aspecto é
mais norio na educação superior, em que o mercado e as empresas têm cada vez
mais inflncia nas habilidades a serem apreendidas pelos alunos durante a sua
passagem pela universidade. O ideal é que os valores éticos e morais de um
cidadão não precisem ser formados nas instituições de ensino superior, mas que
todos esses princípios já tenham se consolidado ao longo da educação básica. Isso,
porém, o parece se concretizar nas atitudes dos cidaos enquanto profissionais,
que o demonstram muitas vezes capacidade suficiente para não ceder às
preses impostas pela mentalidade neoliberal que direciona as intenções e as
ações do mercado em sentido contrio em relação à conduta ética esperada pela
sociedade. Dessa forma, torna-se extremamente importante o entendimento dos
conceitos genuínos de responsabilidade social como um regulador de conduta no
que diz respeito às decisões empresariais em relação a sustentabilidade. As
políticas educacionais direcionadas para a educação superior devem priorizar a
urgência de transformar o “produto final das universidades não em alguém apto
simplesmente para o mercado de trabalho, mas, pessoas preparadas para atuar
profissionalmente conjugando os interesses das empresas com as necessidades da
sociedade, havendo nessa combinação a possibilidade de resgatar para o homem o
verdadeiro valor da terra e a importância de manter a sustentabilidade como fator de
sobrevivência humana.
4.4 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL SOBRE A RESPONSABILIDADE SOCIAL
A legislação educacional específica para o tema “responsabilidade social” é
bastante limitada. Pode-se encontrar em alguns artigos da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional elementos de caráter social, moral e ético que estão relacionados
com responsabilidade social.
Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
I estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e
do pensamento reflexivo;
II formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a
inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento
da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
III incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da
cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio
em que vive;
VI — estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente, em
particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados à
comunidade e estabelecer com esta uma relação de reciprocidade;
Art. 52. As universidades são instituições pluri-disciplinares de formação dos
quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de
domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:
I produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático
dos temas e problemas mais relevantes, tanto do ponto de vista científico e
cultural, quanto regional e nacional. (BRASIL, 1996).
Da mesma forma, nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Administração de Empresas, nada se refere ao título “responsabilidade social. De
forma bastante genérica, em alguns pontos isolados menciona-se o caráter social
na formação dos alunos, sendo o foco principal do curso o mercado de trabalho e a
capacitão profissional dos alunos.
Quanto ao perfil do egresso é mencionado em linhas gerais que o
Administrador precisa compreender as questões científicas, técnicas, sociais e
econômicas da produção”. Mas sempre ligando o exercício da profissão ao mercado
de trabalho e a produtividade.
Perfil Desejado do Formando:
O curso de Administrão deve ensejar condições para que o bacharel
em Administração esteja capacitado a compreender as queses
científicas, técnicas, sociais e econômicas da produção e de seu
gerenciamento no seu conjunto, observados os níveis graduais do
processo de tomada de decio, bem como a desenvolver o alto
gerenciamento e a assimilação de novas informações, apresentando
flexibilidade intelectual e adaptabilidade contextualizada no trato de
situações diversas presentes ou emergentes nos vários segmentos do
campo de atuão do administrador. (BRASIL, 2002, p.13).
No que se refere às competências e habilidades que o aluno irá desenvolver
ao longo do curso, são elencados uma série de itens ligados ao contexto empresarial, à
gestão e ao processo produtivo, com passagens sutis por questões de âmbito social
que possam relacionar-se com a responsabilidade social.
Competências e Habilidades
Os cursos de graduão de Administração devem formar profissionais que
revelem, pelo menos, as seguintes competências e habilidades:
- reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar
estrategicamente, introduzir modificações no processo produtivo, atuar
preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos e exercer, em
diferentes graus de complexidade, o processo da tomada de decisão;
- desenvolver expressão e comunicação compatíveis com o exercício
profissional, inclusive nos processos de negociação e nas comunicações
interpessoais ou intergrupais;
- refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção, compreendendo
sua posição e função na estrutura produtiva sob seu controle e
gerenciamento;
- desenvolver raciocínio lógico, crítico e analítico para operar com valores e
formulações matemáticas presentes nas relações formais e causais entre
fenômenos produtivos, administrativos e de controle, bem assim
expressando-se de modo crítico e criativo diante dos diferentes contextos
organizacionais e sociais;
- ter iniciativa, criatividade, determinação, vontade política e administrativa,
vontade de aprender, abertura às mudanças e consciência da qualidade e das
implicações éticas do seu exercício profissional;
- desenvolver capacidade de transferir conhecimentos da vida e da
experiência cotidianas para o ambiente de trabalho e do seu campo de
atuação profissional, em diferentes modelos organizacionais, revelando-se
profissional adaptável. (BRASIL, 2002, p.13).
Ao explicitar os conteúdos curriculares para o curso de Administração o primeiro
item refere-se aos conteúdos de formação sica, abrangendo conhecimentos sobre as
áreas: “Ciências Sociais, a Filosofia, a Psicologia, a Ética, a Política, o Comportamento, a
Linguagem, a Comunicão e Informação”. Considerando que as áreas citadas acima
trabalham a formão do individuo enfatizando os aspectos humanos, disponibilizarão
elementos que permitirão ao individuo construir um entendimento acerca da
responsabilidade social, sem necessariamente abor-la diretamente.
Conteúdos Curriculares
Os cursos de graduação em Administração deverão contemplar, em seus
projetos pedagógicos e em sua organização curricular, conteúdos que
atendam aos seguintes campos interligados de formação:
I Conteúdos de Formação Básica: estudos relacionados com as Ciências
Sociais, a Filosofia, a Psicologia, a Ética, a Política, o Comportamento, a
Linguagem, a Comunicação e Informação;
II Conteúdos de Formação Profissional, compreendendo Estudos da
Teoria da Administração e das Organizações e suas respectivas funções,
dos Fenômenos Empresariais, Gerenciais, Organizacionais, Estratégicos e
Ambientais, estabelecidas suas inter-relações com a realidade social,
objetivando uma visão crítica da validade de suas dimensões, bem como os
aspectos legais e contábeis;
III Conteúdos de Formação Complementar, compreendendo Estudos
Econômicos, Financeiros e de Mercado, e suas inter-relações com a
realidade nacional e internacional, segundo uma perspectiva histórica e
contextualizada de sua aplicabilidade no âmbito das organizações e na
utilização de novas tecnologias;
IV Conteúdos de Estudos Quantitativos e suas Tecnologias, abrangendo
Pesquisa Operacional, Teoria dos Jogos, Modelos Matemáticos e
Estatísticos e aplicação de tecnologias que contribuam para a definição e
utilização de estratégias e procedimentos inerentes à Administração.
(BRASIL, 2002, p.14).
O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), Lei n
o
10.861, de 14 de abril de 2004, refere-se especificamente ao termo “Responsabilidade
Social” em seus artigos 1º, e 3º. No artigo 1º, § 1º,
destaca como uma das
finalidades dos SINAES promover o aprofundamento dos compromissos e
responsabilidades sociais das IES:
O SINAES tem por finalidades a melhoria da qualidade da educação
superior, a orientação da expansão da sua oferta, o aumento permanente
da sua eficácia institucional e efetividade acadêmica e social e,
especialmente, a promoção do aprofundamento dos compromissos e
responsabilidades sociais das instituições de educação superior, por meio
da valorização de sua missão pública, da promoção dos valores
democráticos, do respeito à diferença e à diversidade, da afirmação da
autonomia e da identidade institucional (BRASIL, 2004, Art. 1º).
Ao explicitar a avaliação dos cursos e o desempenho dos alunos nas IES, o
artigo segundo em seu primeiro inciso institui que:
Art. 2º O SINAES, ao promover a avaliação de instituições, de cursos e de
desempenho dos estudantes, deverá assegurar:
I – avaliação institucional, interna e externa, contemplando a análise global
e integrada das dimensões, estruturas, relações, compromisso social,
atividades, finalidades e responsabilidades sociais das instituições de
educação superior e de seus cursos (BRASIL, 2004).
O artigo terceiro coloca como obrigatoriedade a observância da
responsabilidade social pela IES, bem como em seu terceiro inciso, a definição dos
aspectos abrangidos pelo termo:
Art. 3
o
A avaliação das instituições de educação superior terá por objetivo
identificar o seu perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas
atividades, cursos, programas, projetos e setores, considerando as
diferentes dimensões institucionais, dentre elas obrigatoriamente as
seguintes: III a responsabilidade social da instituição, considerada
especialmente no que se refere à sua contribuição em relação à inclusão
social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio
ambiente, da memória cultural, da produção artística e do patrimônio
cultural (BRASIL, 2004).
Existem alguns projetos para a aprovão de leis que regulem esse tema e
projetos para a atuação responsável de universirios junto à comunidade. O
deputado Federal Lincoln Portela do Distrito Federal, enviou em 2001, a indicação
1.682 da Câmara dos Deputados, que propõe a inserção da disciplina
Responsabilidade Social e Ambiental nos Currículos de Ensino Médio e Superior. O
argumento apresentado foi que a maioria das empresas, não têm uma gestão social e
ambiental responsável, estando atentas somente a dois aspectos: melhoria da imagem
e da situação financeira. O último registro desse parecer é de 26/01/2001 - Mesa
Diretora da Câmara dos Deputados (MESA) - Remessa ao Ministro Chefe da Casa
Civil da PR, Pedro Parente, através do Of 1789/01.
Em novembro de 2003 a União Nacional dos Estudantes (UNE) enviou uma
carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a sugestão de reativação do Projeto
Rondon.
O novo Projeto Rondon pretende aumentar a participação dos jovens
universitários no desenvolvimento do País, além de levá-los ao conhecimento da
realidade brasileira. Contará com três tipos de operação: a nacional, que deslocará
universitários nas férias escolares para outras regiões; a regional, que será realizada
nas periferias próximas aos campi; e a especial, que terá ajuda das entidades públicas
e privadas na realização de atividades específicas.
A partir de janeiro de 2005, o
Projeto Rondon secontado como crédito nas grades curriculares das instituições de
ensino superior interessadas.
Com base na legislão aqui analisada percebe-se que a importância da
responsabilidade social nas IES é amplamente reconhecida, porém sob o aspecto
legal, essa temática é abordada de maneira limitada e gerica. A legislação
educacional necessita de reformulações a fim de abordar a participação potica e a
responsabilidade social institucional, de professores e alunos, pois é preciso discutir
sobre as aplicações socialmente construtivas do conceito de cidadania, base
essencial de uma educação que resgate valores humanos.
5. A CONCEPÇÃO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL DOS ALUNOS DO CURSO
DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
A pesquisa de campo foi realizada em uma Instituição de Ensino Superior
privada de Curitiba, com 22 alunos do último período do curso de Administração de
Empresas com habilitações em marketing e recursos humanos.
A instituição em atuação desde maio de 2003 tem sede e limite de atuação em
Curitiba, é um estabelecimento de Ensino Superior, pessoa jurídica de direito privado,
sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de Curitiba, Paraná. Encontra-se em
funcionamento, desde o final do ano de 2003 o Campus II da Faculdade, localizado no
centro de Curitiba, com os Cursos de Pós-Graduação lato sensu nas áreas de
Educação, Ciências Humanas e Sociais. Tem por objetivo promover:
1. A Formação de pessoal capacitado nas áreas dos cursos mantidos;
2. Estudos sistemáticos para melhor conhecimento dos problemas da
comunidade e para a proposição de melhores e mais adequadas soluções sob a
inspiração dos princípios democráticos e cristãos;
3. A pesquisa e o desenvolvimento das ciências, no seu campo de atuação.
Em seu site na internet, a instituição apresenta como foco de sua ação o
comprometimento em preparar para os desafios do mercado de trabalho,
considerando-se detentora de currículos modernos e adequados às exigências do
mercado de trabalho. Afirma que seus cursos refletem as tendências de mercado e
carreiras em ascensão na geração de empregos. Pode-se perceber que seguindo a
tendência de grande parte das instituições que possuem cursos de formação para a
área de negócios, tanto novas instituições quanto as mais tradicionais, o apelo para
uma formação competitiva para o mercado de trabalho e a garantia de empregabilidade
é notório. Nesse sentido Frigotto afirma que:
Cabe à escola e aos centros de formação profissional, nessa perspectiva,
desenvolver um "banco" variado de competências e de habilidades gerais,
específicas e de gestão. Diante das mudanças no mundo do trabalho,
mormente da crise estrutural do emprego, não se pensa em "formar
para o posto de trabalho", mas formar para a "empregabilidade".
(FRIGOTTO, 1999, p.23).
Os docentes e acadêmicos das instituições em geral “ao mesmo tempo em
que defendem a formação para valores mais profundos que apenas cnicas
específicas, são cobrados pelo mercado sobre performance de empregabilidade e
inserção profissional" (MONTEIRO, 2006, p.01). A formação acadêmica é cada vez
mais direcionada para o mercado de trabalho. Não se pode afirmar que não existam
apelos para aspectos humanos nas propostas das IES, mas é claramente perceptível
que o mercado de trabalho tem prioridade sobre a formação humana, principalmente
nas mídias de divulgação publicitária. Chavões como: “formando para o mercado e
para a vida”, tornam claro que em primeiro plano está a formação profissional, mas que
também, após o atendimento das necessidades do mercado, levam em consideração
aspectos humanos.
Os cursos de graduação oferecidos o cinco: Administração de Empresas,
Ciências Contábeis, Engenharia Ambiental, Pedagogia e Sistemas de Informação.
5.1 CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS
14
O curso apresenta como objetivo a formação de cidadãos capazes de assumir
posões de liderança e gestão nas mais diversas áreas nas empresas privadas e
públicas, como planejamento, marketing, pessoas, finanças e logística através de um
conhecimento multidisciplinar que capacite e estimule para um apreender continuado
com responsabilidade social e ética numa economia globalizada.
14
Elaborado com base nas informações extraídas do site da instituição pesquisada.
O perfil de egresso é de um profissional que deverá possuir um sólido domínio
conceitual, técnico e humano que possibilite adaptar-se nos mais diversos segmentos de
negócios, possuindo uma visão sistêmica, generalista e polivalente do seu campo de
atuação, sendo eficaz no reconhecimento e definição de problemas, na preposição de
soluções, pensando estrategicamente, introduzindo modificações no processo de
trabalho, transferindo e disseminando conhecimentos através de iniciativas com
criatividade, abertura e receptivo às mudanças, consciente da qualidade e das
implicações éticas do seu trabalho. O curso possui duas linhas de formação:
1. Recursos Humanos: Esta linha de formação procura dar ênfase nas
habilidades e compencias para montar equipes de trabalhos e políticas inovadoras
na área da gestão de pessoas; ser capaz de desenvolver poticas de cargos e
salários, recrutar e selecionar profissionais nas mais diversas áreas, am de
introduzir modificações no processo de trabalho, procurando desenvolver o capital
intelectual das organizações.
2. Marketing: Esta linha de formação procura dar ênfase nas habilidades e
competências para entender a mutação dos mercados consumidores, identificando
comportamentos e novas tendências dos consumidores, sendo criativo e sensível às
expectativas, anseios e necessidades dos consumidores, além do domínio das técnicas
de pesquisas mercadológicas para o desenvolvimento de projetos de marketing.
O curso possui dois núcleos de formação, a cnica e a humana, com seus
respectivos objetivos:
1. Formação Técnica:
a. Dominar os conceitos das técnicas de administração aplicáveis aos negócios
em geral;
b. Resolver problemas através do raciocínio lógico e análise crítica e coerente
de alternativas;
c. Capacidade de propor e promover mudanças organizacionais internas, a fim
de aperfeiçoar processos, analisando a viabilidade de novos negócios e o
planejamento de novas estratégias;
d. Habilidade de negociação com fornecedores, colaboradores e agentes
externos como governos e sindicatos;
e. Eficia na contratão, gerenciamento, capacitação e manutenção de equipes;
f. Prestar serviços de consultoria externa, sugerindo e promovendo mudanças
nas organizações em que vir a prestar serviços;
g. Disseminar o senso de responsabilidade ética e moral, o sentimento de
cidadania e a preocupação com as questões sociais e ambientais;
h. Identificar os sistemas de informação envolvidos com o exercício da sua
profissão;
2. Formação Humana:
a. Promover a importância do trabalho em equipes;
b. Incentivar o espírito empreendedor, de desenvolver um negócio próprio;
c. Assumir, como cidadão de formação superior, posições de liderança e
vanguarda na defesa da cidadania e da justiça social;
d. Ser capaz de respeitar as diferenças entre pessoas, fazendo com que a
diversidade humana seja uma ferramenta de aprendizado do exercício da
cidadania, debaixo das leis universais do criador;
e. Ter a ética profissional como bandeira, procurando ser um agente de
mudanças, responsável e humano.
Nota-se que há uma divisão do curso em dois núcleos: técnico e humano. Uma
interpretação possível para essa dualidade é a preocupação da instituição com a
formação completa do egresso nos aspectos específicos da profissão e nos aspectos
relacionados à ética e cidadania. Cabe porém ressaltar que, tal dicotomia pode
significar uma fragmentação dos conhecimentos em dois núcleos distintos. Entende-se
que os aspectos humanos devam permear todos os momentos da formação
profissional, não sendo adequado haver momentos estanques destinados à discussão
e reflexão das questões humanas, uma vez que a fragmentação contribuirá para que o
aluno não estabeleça relações práticas entre a técnica e as humanidades.
Segue do quadro abaixo, a estrutura curricular a ser aplicada a partir do
primeiro semestre de 2007, para acadêmicos ingressantes
Q
UADRO
04
E
STRUTURA
C
URRICULAR
2007
S
EMESTRES
D
ISCIPLINAS
1º período
carga horária: 380h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
INFORMÁTICA PARA ADMINISTRADORES - Básica - 72h
INTRODUÇÃO À ADMINISTRAÇÃO - Profissionalizante - 72h
MATEMÁTICA - Básica - 72h
METODOLOGIA CIENTÍFICA - Básica - 72h
SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES - Básica - 72h
2º período
carga horária: 380h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL - Básica - 72h
ESTATÍSTICA - Básica - 72h
PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL - Básica - 72h
TEORIA ECONÔMICA - Básica - 72h
TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO - Profissionalizante - 72h
3º período
carga horária: 380h
ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS I -Profissionalizante - 72h
ADMINISTRAÇÃO MERCADOLÓGICA I - Profissionalizante - 72h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Básica - 72h
MATEMÁTICA COMERCIAL E FINANCEIRA - Básica - 72h
ORGANIZAÇÃO, SISTEMAS E MÉTODOS - Profissionalizante - 72h
4º período
carga horária: 380h
ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS II - Básica - 72h
ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA E ORÇAMENTÁRIA I - Básica - 72h
ADMINISTRAÇÃO MERCADOLÓGICA II - Básica - 72h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
CONTABILIDADE GERENCIAL - Profissionalizante - 72h
FILOSOFIA E ÉTICA NAS ORGANIZAÇÕES - Profissionalizante - 72h
5º período
carga horária: 380h
ADMINISTRAÇÃO DE PRODUÇÃO E OPERAÇÕES - Profissionalizante - 72h
ADMINISTRAÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO - Profissionalizante - 72h
ADMINISTRAÇÃO
FINANCEIRA
E
ORÇAMENTÁRIA
II - Profissionalizante - 72h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
CULTURA ORGANIZACIONAL - Básica - 72h
RESPONSABILIDADE SOCIAL E MEIO AMBIENTE - Complementar - 72h
6º período
carga horária: 380h
ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS MATERIAIS E PATRIMONIAIS -
Profissionalizante - 72h
ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA - Profissionalizante - 72h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
EMPREENDEDORISMO - Profissionalizante - 72h
GESTÃO DE QUALIDADE - Complementar - 72h
NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO DE CONFLITOS - Complementar - 36h
ORIENTAÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO I - Teórico-prática - 36h
7º período
carga horária: 530h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
ESTÁGIO SUPERVISIONADO I - Teórico-prática - 150h
INOVAÇÃO EMPRESARIAL - Estudos quantitativos e suas tecnologias - 36h
OPTATIVA I - Complementar - 36h
OPTATIVA II - Complementar - 36h
OPTATIVA III - Complementar - 36h
ORIENTAÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO II - Teórico-prática - 72h
PESQUISA MERCADOLÓGICA - Estudos quantitativos e suas tecnologias - 72h
TÓPICOS ESPECIAIS EM ADMINISTRAÇÃO I - Complementar - 72h
8º período
carga horária: 530h
ATIVIDADES COMPLEMENTARES - Teórico-prática - 20h
ESTÁGIO SUPERVISIONADO II - Teórico-prática - 150h
GESTÃO DO CONHECIMENTO - Complementar - 36h
JOGOS DE EMPRESA E SIMULAÇÃO EMPRESARIAL - Estudos
quantitativos e suas tecnologias - 72h
OPTATIVA IV - Complementar - 36h
OPTATIVA V - Complementar - 36h
OPTATIVA VI - Complementar - 36h
ORIENTAÇÃO DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO III - Teórico-prática - 72h
TÓPICOS ESPECIAIS EM ADMINISTRAÇÃO II - Complementar - 72h
FONTE: Site da Instituição.
Entende-se que a condição natural e irremediável do sujeito é a de ser
humano, compreendendo os desejos, sentimentos, necessidades e todos os instintos
próprios da condição humana. Não se pode portanto, separar o humano do técnico,
uma vez que antes de ser profissional, o individuo é homem e não deixará de -lo
para tornar-se um profissional. Sendo assim, parece incoerente a condução do ensino
sob dois núcleos distintos, que na verdade se complementam e que devem ser tratados
como um todo necessário à formação profissional. A relação entre ambos é tão estreita
que até mesmo na definição dos núcleos parece ter havido confusão sobre o que é
técnico e o que é humano. Por exemplo, no item g da formação técnica foi abordada a
disseminação do senso de responsabilidade ética e moral, o sentimento de cidadania e
a preocupação com as questões sociais e ambientais. Esse item complementa e
sintetiza o que expressam os itens c, d, e, do cleo de formação humana,
demonstrando como os dois núcleos são próximos e que não devem ser tratados
separadamente.
Quanto aos aspectos metodológicos do curso, deverá existir uma articulação
constante entre teoria e prática, promovendo a capacidade de atualizar-se
continuamente. Essa concepção teórica prática procura promover ao acadêmico
vivenciar o que profissional formado enfrenta de desafios no mercado. Esta
metodologia se fundamenta nos seguintes princípios:
a. realização por parte dos acadêmicos de pesquisas do que está
acontecendo na gestão das organizações;
b. visitas técnicas em organizações dos mais diversos segmentos;
c. a constante utilização de estudos de caso, trazendo a vivência de
situações organizacionais já ocorridas;
d. corpo docente atuante o no meio acadêmico, mas no mercado de
trabalho, possibilitando trazer as experiências do mercado para a sala de aula.
5.2 COMPREENO DOS ALUNOS QUANTO À FORMÃO E A RESPONSABILIDADE
SOCIAL
A fim de compreender como os alunos relacionam a formação construída ao
longo do curso com questões de responsabilidade social, foram aplicados questionários
contendo os seguintes questionamentos:
1. Baseando-se nos conhecimentos adquiridos durante a sua formação no
curso de Administração de Empresas, conceitue responsabilidade social;
2. Qual a importância da responsabilidade social na atuação profissional do
administrador de empresas?
3. Elenque, por ordem de importância, as três disciplinas que mais abordaram o
tema “responsabilidade social” e os principais aspectos abordados por cada uma delas;
4. É possível perceber mudanças na sociedade causadas por ações de
responsabilidade social? Justifique sua resposta.
Antes de analisar os dados resultantes da aplicão do questiorio, cabe
apresentar o perfil dos alunos participantes da pesquisa. Foram entrevistados vinte e dois
alunos, sendo que destes, sete do gênero masculino e quinze do feminino. A idade variou
entre vinte e três e quarenta e dois anos, sendo que a dia da amostra é de trinta e três
anos. A idade dia entre as mulheres é de trinta e três anos e a dos homens trinta e
quatro. Todos os alunos atuam no mercado de trabalho, sendo que o tempo médio de
atuação da amostra é de quatorze anos, variando entre quatro e vinte e quatro anos de
atividade. As mulheres m uma dia de doze anos e os homens dezessete anos de
atuação no mercado de trabalho. Responderam ao questionário profissionais das
seguintes categorias: vendedores, assistentes de recursos humanos, assistentes
administrativos, auxiliares cnicos, auxiliares administrativos, coordenadores técnicos,
coordenadores administrativos, coordenadores de treinamento, técnicos de aplicação,
cnicos de desenvolvimento, secretárias, engenheiros de prodão, lideres de
manutenção, supervisores de produção, agentes penitencrios, gerentes, subgerentes,
diretores comerciais e programadores de materiais. Foram identificados os ramos de
siderurgia, agronegócio, serviços, petroqmica, engenharia, varejo, recursos humanos,
saúde, automotivo, seguraa publica, telefonia e financeiro.
É importante destacar o perfil diferenciado da amostra. Sabe-se que em cursos
de período noturno é comum a conciliação do estudo com atividade profissional,
ressalta-se, porém que no grupo pesquisado todos apresentam essa característica,
além da faixa etária ser mais alta que a comumente encontrada em cursos
universitários. Fatores como a faixa etária elevada e experiência profissional também
mais expressiva do que a média identificada em cursos universitários de graduação,
torna essa amostra um contexto otimizado de pesquisa. Desta forma, os dados
encontrados refletem com maior fidelidade e qualidade os conceitos relacionados à
responsabilidade social apresentados ao longo do curso.
5.2.1 Conceito de Responsabilidade Social
Com base na pesquisa de campo, o primeiro questionamento feito aos alunos
foi: “1) Baseando-se nos conhecimentos adquiridos durante a sua formação no curso
de Administração de Empresas, conceitue responsabilidade social”. As respostas
obtidas foram agrupadas em seis categorias, conforme a tabela abaixo:
T
ABELA
01
C
ONCEITO DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
C
ATEGORIAS DE
R
ESPOSTAS
N
º
DE
O
CORRÊNCIAS
Iniciativa da empresa para a sociedade 18
Proteção ao meio ambiente 9
Ética empresarial 5
Iniciativa do cidadão para a sociedade 5
Iniciativa privada assumiu um papel do governo 2
Outros 4
FONTE: Dados da Pesquisa de Campo.
Da amostra composta por 22 alunos, 82% citaram que a responsabilidade social
trata-se de uma iniciativa que parte da empresa para a sociedade. Outros 41%
relacionaram o conceito à proteção ao meio ambiente, enquanto 23% vincularam à ética
empresarial e outros 23% indicaram como sendo uma iniciativa que parte do cidadão para
a sociedade. Ainda, 9% pontuaram que a iniciativa privada assumiu um papel do governo
e 18% relacionaram a outros fatoreso categorizados.
G
RÁFICO
01
C
ONCEITO DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
FONTE: Dados da pesquisa de campo.
82%
41%
23%
23%
9%
18%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Ocorrências
Iniciativa da empresa
para a sociedade
Proteção ao meio
ambiente
Ética empresarial
Iniciativa do cidadão
para a sociedade
Iniciativa privada
assumiu um papel do
governo
Outros
Para exemplificar a natureza das respostas que compuseram a categoria
“iniciativa da empresa para sociedade”, ressaltam-se as seguintes respostas:
Promover o bem estar de seus colaboradores e também promover ações
sociais na comunidade, melhorando de alguma forma a situação das
pessoas em nosso país. (Entrevistado 4);
É uma obrigação da empresa ter responsabilidade por seus produtos,
notificando a comunidade como um todo a procedência e a utilização dos
produtos, também incentivar e ajudar a comunidade da melhor maneira
possível seu desenvolvimento. (Entrevistado 6);
Compromisso da empresa para com a sociedade, envolvendo, resgatando,
e interagindo a população a participar das atividades, independente de qual
seja. (Entrevistado 11);
É estar preocupado e comprometido com as necessidades da sociedade
localizada nas proximidades da organização e a partir desta preocupação,
promover campanhas para suprir as necessidades destas pessoas
procurando envolver os demais funcionários motivando-os a colaborar. É
ter ética. A responsabilidade social depende da cultura da empresa para
ser colocada em prática. (Entrevistado 14;)
As empresas se utilizam da responsabilidade social, ajudando a dedução
de impostos, mais a população envolvida em sua região, mais seus
funcionários. (Entrevistado 18.)
Dentre os aspectos abordados nas respostas acima, os participantes
ressaltaram que a responsabilidade, vista como uma ação empresarial para a
sociedade, abrange a mobilização dos colaboradores para realização de ações sociais.
Envolve o cuidado com os produtos e toda a cadeia de suprimentos envolvida nos
processos de produção, de comercialização e de consumo. Envolver a sociedade nas
atividades da empresa também foi citada como elemento do conceito de
responsabilidade social, no sentido de abrir as portas da empresa para que a
comunidade tenha acesso no que tange aos impactos sociais causados pela
organização à comunidade. As ações de responsabilidade social devem fazer parte da
cultura organizacional, entendida como um elemento que deve permear todas as ações
e todos os setores da empresa. Nesse sentido, tem-se o pensamento de Cheibub e
Locke, quanto a interação de todos os atores sociais e da empresa:
na literatura quatro modelos básicos das diferentes formas com que as
empresas podem se inserir de forma responsável em seu meio social. Esses
modelos m por base duas dimensões. A primeira refere-se aos grupos ou
atores beneficiários da gestão e das ações das empresas. Nesta dimensão
coloca-se em um extremo do contínuo os acionistas ou donos (modelo dos
stockholders) e no outro extremo todos os grupos que têm uma relação com
uma empresa e que podem se beneficiar, mediata ou imediatamente, de
suas ações. Neste caso, considera-se como beneficiários, além de outros
possíveis grupos sociais, a comunidade em que a empresa se localiza, seus
acionistas e, até mesmo, seus trabalhadores (modelo dos stakeholders).
(
CHEIBUB; LOCKE
, 2001, p.3).
Outro aspecto assinalado foi a questão da dedução de impostos, beneficio ao
qual as organizações que apresentam projetos de responsabilidade social tem direito, e
que muitas vezes torna-se o principal motivo da implementação de planos de
responsabilidade, mas que muitas vezes não se materializam em ações concretas junto
à comunidade.
A categoria “protão ao meio ambiente” pode ser retratada nas respostas a seguir:
Seria um compromisso com o meio ambiente. (Entrevistado 8);
Preocupão com o meio ambiente, visando preservá-lo. (Entrevistado 12);
É a aceitação e ao mesmo tempo a prática de ajudar o próximo tanto o ser
humano quanto o meio ambiente. (Entrevistado 20).
É importante entender qual a amplitude do termo “meio ambiente”, quando
pensado sob o cuidado da responsabilidade social. Discernir qual a ligação entre o
meio e o homem e quais as conseqüências para ambos, se consideradas as inter-
relações entre eles. Apenas um dos alunos relacionou o homem ao meio, as outras
duas respostas consideraram o meio ambiente isoladamente, sem definir a importância
ou mesmo a necessidade de preservação. O discurso “responsável” fala
exaustivamente em degradação ambiental, considerando todas as suas temáticas
relacionadas como aquecimento global, desastres ambientais, extinção de espécies
vegetais e animais, e outros tantos desequilíbrios. É, porém, importante analisar se a
reprodução e o eco desse discurso na sociedade entende os motivos que alardeiam
tanta necessidade de preservação. É preciso que a empresa e seus colaboradores, a
comunidade local e a sociedade como um todo entendam que a preservação do meio
ambiente é fundamental para a vida humana. A defesa ambiental não tem nada de
altruísta. Pensa-se na fauna e na flora em si como questões estéticas e fragmentadas,
mas deve-se pensar na dependência do meio ambiente por parte da espécie humana
para dar continuidade à sua existência. Em suma, deve-se pensar a preservação
ambiental como um todo integrado entre homem e natureza.
Em termos ideais uma empresa somente poderia exercer suas atividades se
o custo-benefício da sua existência fosse positivo. A empresa que agride o
meio ambiente, conseqüentemente coloca em risco a continuidade da vida
humana ou reduz a qualidade desta (RIBEIRO; LISBOA, 1999, p.21).
O item “ética empresarial” se expressa pelas respostas abaixo:
É o comprometimento a ética junto ao desenvolvimento econômico, a
qualidade de vida de seus funcionários e familiares, comunidade em geral e
a sociedade como um todo. (Entrevistado 3);
Ser responsável socialmente é o praticar assistencialismo, mas sim
cumprir de maneira ética o papel do Estado, pensar também na diversidade
humana, fazer parte de processos de inclusão social. (Entrevistado 7);
Ações de indivíduos ou empresas, centradas na melhoria das condições de
vida, cultura e cidadania. (Entrevistado 12);
...representa a ética da empresa. (Entrevistado 21).
A ética empresarial, segundo as interpretações das respostas acima, não se
limitam à atividade fim da empresa, mas também consideram aspectos como o
desenvolvimento econômico comprometido com a qualidade de vida, a inclusão
social, o acesso à cultura e o desenvolvimento da cidadania. Pode-se entender ética
como um conjunto de valores norteadores das ações individuais e coletivas que
participam de todos os contextos da existência humana. Sendo a ética um conjunto
de valores e princípios, o se deve confundi-la com as ações propriamente ditas,
mas como um direcionador das ões visando o bem comum. A responsabilidade
social nesse caso é a ética da empresa materializada em todas as instâncias do
convio social.
Defendemos que para analisar as relações entre empresas e sociedade, da
perspectiva da responsabilidade social, é imprescindível introduzir a dimensão
política e ética na discussão. Essas dimensões tem permanecido, até o
momento, ausente do debate. Assim, propomos que se leve em conta
possíveis e, por que não, prováveis conseqüências políticas da RS. Dessa
forma, devemos nos indagar se e como a RS contribui, ou não, para que todos
os cidadãos tenham garantidos aqueles direitos publicamente aceitos e
expressos pela sociedade na sua organização político-legal. Essa concepção,
sem dúvida, corporifica-se em um conjunto de leis, regras, procedimentos,
além de instituições e organizações, as quais devemos, obrigação política e
obediência, além da preocupação com o exercício efetivo da cidadania.
(REED, 1999, p.53).
A categoria “iniciativa do cidadão para a sociedadepode ser exemplificada
pelas respostas a seguir:
Responsabilidade social é a preocupação, o cuidado, o comprometimento, o
envolvimento que todos nós devemos ter para com o bem estar da
sociedade e o meio-ambiente em que vivemos e atuamos. (Entrevistado 5);
Responsabilidade social é preocupar-se com o meio ambiente, com as
pessoas menos favorecidas é atuar fortemente no terceiro setor...
(Entrevistado 7);
É o comprometimento e contribuição da sociedade como um todo, para
proporcionar uma melhor qualidade de vida. (Entrevistado 19).
Esse grupo de alunos classificou a responsabilidade social como sendo o
dever de todos, ou seja, da própria sociedade para com ela mesma. Parece o mais
gico dos conceitos, mas uma fração muito pequena dos questionados sobre esse
tema entendem dessa forma. Apesar de as respostas terem sido pouco
aprofundadas, é interessante o entendimento de que a própria sociedade deve
assumir a responsabilidade de suas ações, e cobrar um direcionamento sustentável
para tudo o que se faz com o patrimônio natural e cultural comum.
A responsabilidade social deve buscar melhores condições de vida e maior
longevidade para o ser humano, exige-se também a adoção de uma postura
ética consciente e segura, voltada para a defesa do papel do cidadão e para
o resgate da história e da cultura local. Pautada em fundamentos ético-
políticos, a responsabilidade social trás uma visão da necessidade da
construção de uma sociedade que seja de fato democrática, na qual a
participação dos cidadãos não fique restrita ao exercício do voto, mas que
seja ampliada à conquista dos direitos e à defesa dos deveres de cada um,
tornando-se assim um agente participativo que toma para si as
responsabilidades por seus atos e promove ações de conscientização
coletiva. (
CHEIBUB; LOCKE
, 2001, p.11)
A responsabilidade social começa com cada indivíduo em sua casa, em sua
comunidade e nas suas relações com os demais e com o meio em que vive. A
preocupação com o bem estar coletivo é uma obrigação de cada cidadão que
desenvolve seu potencial de criticar e promover transformação da realidade social.
Para exemplificar as respostas que compuseram a categoria “iniciativa privada
assumiu o papel do governo”, ressaltam-se as seguintes respostas:
Temos a iniciativa privada fazendo um trabalho que na teoria seria do
governo. (Entrevistado 1);
...a falta de preocupação do Estado acaba por transferir sua
responsabilidade para as empresas e os cidadãos. (Entrevistado 7).
A responsabilidade social é assim um tema que começa a ser discutido
amplamente por diversos setores da sociedade, e torna-se relevante na
medida que busca um melhor entendimento do papel do Estado na
sociedade atual, e quais objetivos econômicos e sociais devem ser
perseguidos pelas empresas. (PARRA, 2003, p.32).
As respostas dessa categoria abrem espaço para a discuso quanto a
responsabilidade do Estado em suprir as necessidades sociais e proporcionar
servos públicos. Na contemporaneidade, com a emerncia da ideologia
neoliberal, fala-se no fim do Estado de bem-estar social”, em que o Estado
transfere progressivamente a atividade pública para a iniciativa privada. Dessa
forma a gestão de projetos de responsabilidade social, antes executada por
organismos públicos, cada vez mais passa para o âmbito dos movimentos sociais,
terceiro setor e empresas privadas.
As políticas neoliberais têm como fundamento uma menor participação do
governo na atividade econômica. Isso se concretiza, entre outras coisas, na
participação das empresas estatais que levou à maior concentração de
capitais da história. Nos países latino-americanos, as riquezas nacionais têm
sido compradas, sobretudo por estrangeiros, o que tem levado a uma perda
de soberania. A capacidade de tomar decisões econômicas depende cada
vez menos dos governos locais e são os organismos internacionais (como o
Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de
Desenvolvimento), os países credores e os grandes bancos internacionais a
determiná-las. Em alguns países, a privatização alcança os setores centrais
da economia, tais como: as comunicações, a produção e distribuição de
energia, os serviços financeiros, os serviços de saúde, a educação e a
previdência social. (ABRAMO, 1996, p.43).
Pode-se questionar as conseqüências negativas trazidas pelas privatizações
e o crescimento das multinacionais na América Latina, uma vez que é percebido um
maior desenvolvimento de projetos de responsabilidade por parte das mesmas,
quando comparadas com os agentes locais. Porém, destaca-se que muitos desses
projetos são formatados por equipes estrangeiras e não são adequadamente
adaptados aos valores e à realidade locais. Também existe a ocorrência de esses
projetos serem direcionados para divulgação e aceitação da empresa junto à
comunidade, sem necessariamente haver um diagnóstico pvio do contexto em que
asões ocorrerão.
5.2.2 A Responsabilidade Social na Formação do Administrador de Empresas
O segundo questionamento feito aos alunos foi: “2) Qual a importância da
responsabilidade social na atuação profissional do administrador de empresas?”. As
respostas obtidas foram agrupadas em seis categorias, conforme a tabela abaixo:
T
ABELA
02
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
C
ATEGORIAS DE
R
ESPOSTAS
N
º
DE
O
CORRÊNCIAS
Qualificação profissional 5
Status / Marketing empresarial 5
Cidadania 5
Relação empresa / sociedade 4
Cumprimento de leis 2
Meio ambiente 2
Lucratividade 2
Relação com o mercado 2
Desafios e estratégias 2
Outros 9
FONTE: dados da pesquisa de campo.
Dos 22 alunos participantes, 23% citaram que a importância da
responsabilidade social para a atuação profissional do administrador de empresas
relaciona-se à qualificação profissional. Outros 23% ligaram ao marketing empresarial
e uma terceira parcela de 23% vinculou a importância do tema a uma questão de
cidadania. A relação da empresa com a sociedade foi apontada por 18% da amostra.
Lucratividade, cumprimento de leis, questões ambientais, relacionamento com o
mercado e ainda, a questão de desafios e estratégias, foram citadas por parcelas de
9% para cada categoria. Outros 41% relacionaram a importância da responsabilidade
social a outros fatores diversos não categorizados. A categoria “outrosrepresentou a
grande maioria das respostas, demonstrando que o existiu um pado para os
vários elementos que surgiram e não se repetiram no decorrer da pesquisa. Esse
aspecto pode denotar que não houve uma reflexão aprofundada quanto a importância
da responsabilidade na atuação profissional do egresso, e que os alunos não tiveram
como base conhecimentos adquiridos durante o curso, e sim responderam segundo
suas opiniões pessoais.
G
RÁFICO
02
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR DE EMPRESAS
FONTE: dados da pesquisa de campo.
A fim de demonstrar as respostas da categoria “qualificação profissional”,
foram elencadas as seguintes contribuições:
É de grande importância pois ajuda no desenvolvimento do administrador,
pois a responsabilidade social auxilia no desenvolvimento das habilidades
do administrador. (Entrevistado 3);
23
%
23
%
23%
18%
9%
9%
9%
9%
9%
41%
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
Ocorrências
Qualificação profissional
Status / Marketing empresariall
Cidadania
Relação empresa / sociedade
Cumprimento de leis
Meio ambiente
Lucratividade
Relação com o mercado
Desafios e estratégias
Outros
O administrador deve atuar e desenvolver o seu potencial com objetividade.
(Entrevistado 12);
O administrador deve estar atualizado e com os olhos voltados às
necessidades que seu meio (local) mostra e os objetivos que a própria
empresa traça. (Entrevistado 17).
As respostas acima versam sobre a habilidade profissional do egresso, o
desenvolvimento de seu potencial e a atualização profissional. Todas remetem de
alguma forma ao desempenho, o que pode significar um direcionamento inadequado
para as questões de responsabilidade social. Novamente esse tema aparece como
ferramenta de autopromoção em detrimento da real necessidade de haver
consciência social, organizacional e ambiental em todos os atos praticados por esses
profissionais.
O grupo de respostas que gerou o item “status / marketing empresarial” pode
ser representado pelas afirmações abaixo:
O administrador de empresa precisa atuar fortemente para o sucesso de
seu negócio, se não souber administrar de maneira a participar da
responsabilidade social, tende a ficar estagnado ou perder competitividade
para empresas socialmente responsáveis. (Entrevistado 7);
Desenvolvimento, o crescimento interno, pessoal facilitando o crescimento
profissional, mostrando como exemplo para os demais empregados. Utiliza-
se também o marketing envolvendo o nome da empresa, pensando no seu
crescimento. (Entrevistado 11);
O bom empresário nos dias atuais deve preocupar-se com a
responsabilidade social, para ser competitivo, manter boa imagem da
empresa, e atender algumas exigências do mundo globalizado, bem como:
ISOS 14000 e 14001... (Entrevistado 13).
“O marketing ligado a responsabilidade social alia a marca e os produtos de
uma empresa a uma iia de organização justa, que respeita e se preocupa com a
perpetuação de todos os agentes influenciados pelas poticas da empresa”.
(CARNEIRO, 2002, p.12). Novamente as respostas direcionam a imporncia de
atuação responsável à questões de desempenho e competitividade organizacional.
Isso se torna claro analisando-se elementos como o sucesso do necio,
estagnação da empresa, o nome da empresa relacionado ao crescimento e
obteão de certificações.
O marketing moderno reserva para o exercício da responsabilidade social
das empresas as funções mais nobres no processo da conquista das
preferências do mercado. Uma empresa atuante nessa área, e, portanto
sintonizada com as demandas culturais e sociais de sua comunidade, será
sempre preferida a qualquer outra que não possua a mesma capacidade de
responder a essas aspirações. (FRANCESCHI, 1998, p.35).
Todas essas considerações encontradas nas respostas, assim como na
questão anterior, remetem à competitividade e ao mercado, ambos mostrando como
objetivo principal a melhoria de desempenho comercial. A diferença entre os dois
grupos de resposta é que no primeiro caso se tratou da questão individual do
profissional, e nesse caso abordou-se o coletivo, a organização como um todo.
A categoria “cidadania” tem nas respostas que seguem sua sintetização:
Aprende a resgatar a cidadania, uma maior experiência para com a
sociedade, aprende a acreditar mais no eu... (Entrevistado 10);
Suas ações devem estar em consonância com as necessidades do meio,
ou seja, respeitando e procurando manter ou melhorar a condição de vida
das pessoas e, também preocupando-se com a questão ambiental.
(Entrevistado 12).
Nesse grupo de respostas identificaram-se apontamentos que parecem ser o
cerne da questão da responsabilidade social, a substância verdadeira de sua
necessidade. O resgate da cidadania e a individualidade citadas o de encontro com
o principio de que toda a coletividade está baseada nos valores e atitudes individuais,
e que não se deve ficar omisso como cidadão nas questões que envolvem o bem
estar social. As duas afirmações se complementam, no sentido em que o individuo
deve perceber que a sua ação isolada influencia o todo, e que se não houver uma
conscientização de todos o será possível alinhar as necessidades sociais com as
ões da empresa junto à comunidade. Corroborando com esses dizeres, Amoroso
ressalta que:
O empresariado, por sua vez, deve investir em uma postura ética e
transparente, visando o resgate da cidadania e o respeito ao meio ambiente do
qual depende. Na verdade, estamos falando de uma grande rede que envolve
governo, a iniciativa privada e as universidades, que detêm o conhecimento. O
grande desafio, pom é como coordenar e trazer o entendimento de que a
visão pro-ativa e integrada de todos esses setores tornará o caminho mais curto
e menos penoso. Este deve ser o novo modelo de gestão da responsabilidade
social que seja capaz de conduzir à transformação social e à formação de
cidaos críticos. (AMOROSO, 2003, p.11).
A categoria “relação empresa
/
sociedade tem como exemplos as respostas
abaixo:
Sensibilizar estes administradores, através de trabalhos em conjunto com a
sociedade, fazendo com que os mesmos observem, aprendam a valorizar o
que possuem, agindo com honestidade. e dando a importância merecida
aos seus colaboradores. (Entrevistado 14);
Dar mais condições a sociedade para atuar dentro das empresas e vice-
versa. (Entrevistado 15);
É de grande valia pois é uma forma de desenvolvermos um trabalho para a
sociedade... (Entrevistado 22).
Aspectos como sensibilização do profissional, valorização dos recursos e
colaboradores, maior acesso da sociedade à empresa e trabalho em conjunto entre
empresa e sociedade, demonstram uma visão interessante por parte dos alunos quanto
à necessidade de interação e parceria das organizações e sociedade. Além da
necessidade de atuação conjunta para o equilíbrio da relação com a comunidade e o
desenvolvimento organizacional não no aspecto comercial e mercadológico, mas
também e principalmente o cultural, não é necessário prestar mero assistencialismo,
mas necessariamente trabalhar com a conscientização de que nessa relação, para
haver sustentabilidade, todos devem ganhar.
Responsabilidade Social representativo do compromisso da empresa com
a sociedade, é também forma de prestar contas da companhia para toda a
sociedade, dado que a organização utiliza os recursos da sociedade, algo
que não lhe pertence, para o seu adequado desenvolvimento. (VICENTE,
2004, p.17).
Os itens “cumprimento de leis”,meio ambiente”, “lucratividade”, “relação com
o mercado” e “desafios e estratégias podem ser vislumbrados nos apontamentos
abaixo:
Saber administrar as dificuldades adversas no dia à dia do trabalho.
Conviver sempre com desafios procurando inovar e criar novas estratégias
de trabalho. (Entrevistado 4);
É fundamental que tenhamos profissionais com visão voltada para a
responsabilidade social e com conhecimento suficiente para fazer valer as
leis que a regulamentam. (Entrevistado 5);
Hoje, além das legislações estarem em constante mudança, e a empresa
necessitar de atualizações, o próprio mercado está cobrando esta
identidade. (Entrevistado 17);
Ajudar a sociedade, meio ambiente, os funcionários e a própria organização.
(Entrevistado 18);
..buscando fins lucrativos e desenvolvimentos das pessoas. (Entrevistado 22).
Os principais fatores abordados nessas cinco categorias consideraram a
importância da responsabilidade social na formação do administrador como essencial
para a gestão das dificuldades, inovação e criação de estratégias. Destacaram ainda a
necessidade de conhecimento da legislação regulamentadora como um fator de maior
obtenção de lucratividade. A cobrança do mercado foi citada denotando a necessidade
de haver cobrança externa para que ações responsáveis sejam efetivadas. A ajuda à
sociedade, meio ambiente, colaboradores e simultaneamente a ppria organização
também foram elementos abordados. Percebe-se um entendimento bastante
diversificado da importância de conhecimentos de responsabilidade social, visto que
alunos que tiveram a mesma base de conhecimento técnico mostraram
posicionamentos divergentes quanto a um tema comum e tão discutido na área de
formação e atuação profissional.
Como os outros itens citados são analisados nas respostas de outras
questões, cumpre analisar a questão do cumprimento da lei no que se refere a
efetivação de ações de responsabilidades social:
Consideramos que a discuso sobre responsabilidade social tem que
tomar como dado que as empresas cumprem com suas obrigões legais
(triburias, fiscais, trabalhistas, ambientais, etc.). A questão que se
apresenta é se as empresas e/ou os emprerios/executivos assumem
alguma responsabilidade além daquelas exigidas por lei. Não faz sentido,
portanto, denominar de responsabilidade social o cumprimento da lei.
(PAVA, 1996, p.37).
Sabe-se que algumas empresas cumprem com a responsabilidade social
apenas nos limites determinados por lei. O cumprimento de leis ambientais e
trabalhistas, entre outras, pode ser considerado como comportamento alinhado aos
conceitos de responsabilidade social, mas isoladamente, não contempla a abrangência
que o tema exige.
5.2.3 Disciplinas e Aspectos referentes à Responsabilidade Social
Para a analise deste item, foi solicitado à IES as ementas das disciplinas mais
citadas pelos alunos, como sendo as que mais abordaram conceitos de
responsabilidade social. Pretende-se realizar um paralelo entre as disciplinas e
aspectos ressaltados pelos alunos com os conteúdos presentes nas ementas.
T
ABELA
03
D
ISCIPLINAS RELACIONADAS À RESPONSABILIDADE SOCIAL
Categorias de Respostas N
O
de Ocorrências
Responsabilidade Social nas Empresas 19
Mudanças Econômicas 12
Administração Estratégica 8
Inovação Empresarial 4
Administração de RH 2
Benefícios Sociais e relações sindicais 2
Gestão da Qualidade e Produtividade 2
Tópicos de RH 2
Outras 6
FONTE: dados da pesquisa de campo.
G
RÁFICO
03
D
ISCIPLINAS RELACIONADAS À RESPONSABILIDADE SOCIAL
FONTE: dados da pesquisa de campo.
Q
UADRO
05
D
ISCIPLINAS E ASPECTOS REFERENTES À RESPONSABILIDADE SOCIAL
D
ISCIPLINA
A
SPECTOS
Administração de RH
Mostrar o verdadeiro valor do funcionário; O ser humano em primeiro lugar; Respeitar
as limitações das pessoas, visando o autodesenvolvimento pessoal e profissional; O
administrador, a empresa e sua responsabilidade.
Administração Estratégica
Conceitos de responsabilidade social; Desenvolvimento de responsabilidade social;
Aspectos sociais; Criar novas formas de trabalho para os colaboradores; Criar novos
produtos de fácil acesso ao consumidor; O que pode ser feito; Onde pode ser
implantado; Custos para empresa; Ética; Planejamento; Mudanças e inovações;
Aspectos sociais; Conceito de responsabilidade social. Desenvolvimento de
responsabilidade social; Conhecer o mercado, saber o que produzir, gerando lucro, mas
Outras
11%
Benefícios Sociais
e
relações sindicais
4%
Administração de RH
4%
Inovação Empresarial
7%
Mudanças
Econômicas
20%
Administração
Estratégica
14%
Tópicos de RH
4%
Gestão da Qualidade
e Produtividade
4%
Responsabilidade
Social nas Empresas
32%
tendo o cuidado de observar a sua volta; Aspectos sociais.
Benefícios Sociais e
relações sindicais
Leis trabalhistas; Responsabilidade Social; História e nascimento da responsabilidade
social; Comparativo das conquistas dos direitos trabalhistas e a valorização da
responsabilidade social como um diferencial.
Gestão da Qualidade e
Produtividade
Redução de desperdício, utilizando os materiais não utilizados para promover
campanhas que revertam este material em recursos; Processo de produção, impactos
ambientais (causas / efeitos).
Inovação Empresarial
Criação de produtos valorizando a natureza; Trabalhos voltados para a sociedade;
Novas tecnologias menos agressivas ao meio-ambiente; Avanços tecnológicos,
quebra de paradigmas, estratégias e competitividade; Avanços tecnológicos,
competitividade.
Marketing de
relacionamentos
Ética na elaboração do marketing.
Marketing Propaganda
Os efeitos de propaganda; Os princípios éticos.
Marketing Social
Visão da empresa para a comunidade; Pontos fortes e pontos fracos; Apoio da
empresa para comunidade.
Mudanças Econômicas
Sensibilizar as pessoas no que se refere à visão de mundo, procurando agir
corretamente; Preocupação com a comunidade, trabalho escravo; Mudanças
significativas desde a revolução industrial, até a atualidade; Compromisso com a
sociedade; Projetos; Desenvolvimento; Visão de mundo e paradigmas; Globalização;
Papel do ambiente; Globalização; Atividades humanas fundamentais;
Desenvolvimento por parte dos administradores; Poder aquisitivo das pessoas;
Investimentos do governo em saúde, educação e salário; Desenvolvimento de
projetos sociais; Responsabilidade social; Terceiro setor.
Organização e Métodos
A empresa e o meio em que vive; O que é válido na competição empresarial?
Responsabilidade Social
nas Empresas
Responsabilidade Social na sociedade e nas empresas; Responsabilidade com as
organizações e com a sociedade; Comprometimento da organização perante a
sociedade; O individuo na sociedade; Administração com a responsabilidade social;
Histórico da responsabilidade social; 3 setores; A diferença entre assistencialismo e
responsabilidade social; Envolvimento das Ongs, empresas, governo e sociedade na
responsabilidade social; Aspectos sociais; Aspectos sociais; Ética no desenvolvimento
de projetos sociais; Preocupação com a reciclagem; Preocupação com o meio
ambiente; Preocupação com o ambiente de trabalho; Gestão ambiental; Empresa
ética com o meio inserido, apoio entre todos os envolvidos, responsabilidade com as
pessoas mais necessitadas (comunidade); Problemas encontrados na sociedade e
projetos para solucioná-los; Conceito de responsabilidade social; Problemas sociais e
seus impactos; Questão do lixo (aterros); ISO.
Sociologia
Mostrou vários aspectos de mudanças no trabalho do passado visando melhorar e
inovar para o futuro (K. Marx).
Tópicos de RH
O envolvimento do departamento de RH na responsabilidade social.
Tópicos Especiais em
Marketing I
Trabalho voluntário.ONGS.Assistencialismos.
FONTE: dados da pesquisa de campo.
Grande parte das disciplinas relacionadas abordam o que se pode chamar de
primeira parte da consciência empresarial de responsabilidade social, que é a parte da
concepção e da divulgação de idéias relacionadas à publicidade, mas poucas
disciplinas relacionam-se a ações concretas de responsabilidade social, ou seja, com a
materialização da publicidade em ações reais de responsabilidade.
A estrutura curricular subdivide-se em disciplinas em cinco categorias:
T
ABELA
04
E
STRUTURA
C
URRICULAR DO
C
URSO DE
A
DMINISTRAÇÃO DE
E
MPRESAS
CATEGORIA CARGA HORÁRIA
1
Básica 1008 horas
2
Profissionalizante 936 horas
3
Complementar 576 horas
4
Teórico-prática 640 horas
5
Estudos quantitativos e suas tecnologias 180 horas
Carga Horária Total 3340 horas
FONTE: baseado no site da instituição pesquisada.
5.2.4 As Mudanças Sociais e as Ações de Responsabilidade Social
O quarto e último questionamento foi: “É possível perceber mudanças na
sociedade causadas por ações de responsabilidade social? Justifique sua resposta.”. A
primeira parte da resposta foi dividida em três categorias conforme a tabela abaixo:
T
ABELA
05
A
S MUDANÇAS SOCIAIS E AS AÇÕES DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
Categorias de Respostas N
O
de Ocorrências
Sim 14
Não 4
Sem resposta 4
FONTE: dados da pesquisa de campo.
Da amostra de vinte e dois alunos, 64% responderam que é possível perceber
mudanças na sociedade causadas por ões de responsabilidade social, 18%
responderam que não é possível tal percepção e outros 18% não deram resposta.
G
RÁFICO
04
P
ERCEPÇÃO DA EXISTÊNCIA DE MUDANÇAS NA SOCIEDADE CAUSADAS
POR AÇÕES DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
o
18%
Sem resposta
18%
Sim
64%
FONTE: dados da pesquisa de campo
A segunda parte da questão quatro, a justificativa da resposta, foi respondida
por 18 alunos e categorizadas em 7 grupos conforme a tabela abaixo:
T
ABELA
06
A
S MUDANÇAS SOCIAIS E AS AÇÕES DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
Categorias de Respostas N
O
de Ocorrências
Assistencialismo 2
Superficialidade das empresas 2
Meio ambiente 4
Novo nicho de mercado / lucro 4
Mídia / Campanhas 2
Cidadania e inclusão social 5
Outros 11
FONTE: dados da pesquisa de campo
Dos 18 alunos, 27% responderam que “cidadania e inclusão social” são as
mudanças sociais causadas por ações de responsabilidade social. Duas parcelas de 22%
respondeu que meio ambiente” e “novo nicho de mercado / lucro” são as conseqüências
percebidas. Três grupos de 11% destacaram como efeitos assistencialismo”,
superficialidade das empresas” e mídia
/
campanhas”. Além destes, 61% elencaram
outros fatores diversoso expressivos para serem categorizados.
G
RÁFICO
05
A
S MUDANÇAS SOCIAIS E AS AÇÕES DE
R
ESPONSABILIDADE
S
OCIAL
FONTE: dados da pesquisa de campo
A categoria “cidadania e inclusão social” pode ser expressa nas seguintes
contribuições:
Sim, pois eles ajudam a melhorar a qualidade de vida das pessoas e da
sociedade em geral. (Entrevistado 3);
Sim. Um dos maiores problemas que estamos vivendo, por falta de
responsabilidade, é o aquecimento global. Administradores que visaram
os lucros e esqueceram de olhar a sua volta, não respeitaram a natureza e
os limites do ser humano e hoje estão sujeitos a extinção. Outro aspecto
que podemos observar é o crescimento da marginalidade, a violência, a
11% 11%
22% 22%
11%
27%
61%
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Ocorrências
Assistencialismo
Superficialidade das empresas
Meio ambiente
Novo nicho de mercado / lucro
Mídia / Campanhas
Cidadania e inclusão social
Outros
fome, o analfabetismo, são aspectos visíveis da falta de responsabilidade
social. (Entrevistado 5);
Sim. Através de trabalhos comunitários, ações sociais, cultura das pessoas
o resgate da cidadania. (Entrevistado 10);
... um grande número de participantes, individuais, voluntários que ajudam
no mantenimento e melhoria da vida em sociedade. (Entrevistado 12).
Essa categoria foi a mais expressiva no que se refere à quantidade total de
respostas. Além de ser numericamente o grupo mais representativo, considera-se
como a mudança social mais importante para o entendimento ideal do que seja
responsabilidade social (conforme abordado no referencial teórico). Melhoria de
qualidade de vida; perpetuação da espécie humana; preocupação com problemas
sociais como: violência, fome e analfabetismo; trabalhos comunitários; resgate cultural,
foram componentes da importância da cidadania e inclusão social como fator de
mudança provocados por ações de responsabilidade social.
O conceito de responsabilidade social inclui a noção de ética e cidadania
nos negócios, pois a empresa deveria agir como um membro da sociedade,
um próprio cidadão. Enfatiza também que entre os ingredientes essenciais
da responsabilidade social inclui-se um determinado grau de voluntarismo
em oposição à coerção, uma interação com outras organizações voluntárias
e a aceitação de que certos custos estão envolvidos, embora sem a
possibilidade de mensurar diretamente retornos econômicos. (SANTOS,
2005, p.3).
A responsabilidade social deve ser considerada num contexto gerencial,
implicando uma postura pública diante dos recursos econômicos e humanos da
sociedade e numa disposição de considerar aqueles recursos para uso com fins sociais
mais amplos e não simplesmente para o estreito e circunscrito interesse de pessoas e
empresas privadas (CARROLL, 1999).
A questão ambiental é retratada nas respostas abaixo:
Sim. Com certeza, percebemos que as empresas estão mais preocupadas
em não poluir o meio-ambiente, cumprir a risca as ISOS... (Entrevistado 7);
E ao meio ambiente muitas empresas estão se conscientizando quanto as
suas responsabilidade para tentar não danificar a vida do ser humano.
(Entrevistado 15).
É fato que um dos principais aspectos abordados pelas empresas no que
tange à responsabilidade social é a preocupação ambiental. Questiona-se, no entanto
a efetividade de tais programas e ações empresariais, que muitas vezes tem caráter
simlico e atacam somente os sintomas, ou, as conseqüências provocadas pela
degradação gerada pelas operações da própria empresa. Entende-se que a
responsabilidade social visa garantir a sustentabilidade, e uma vez que o processo de
degradação, não só no Brasil, mas em todos os países industrializados se encontra
em estágio avançado, é necessário fazer mais que “a sua parte”, e destinar um olhar
mais amplo a fim de buscar soluções para melhorar a condão ambiental abrangendo
um nível local e global.
Novos segmentos de mercado afloram atualmente, os quais têm
demonstrado uma preocupação maior com a preservação do meio ambiente
e com as práticas sociais das empresas para com seus funcionários; além é
claro de exigências legais que atuam como elementos de pressão sobre as
empresas, para que respeitem os direitos legais de seus funcionários, bem
como tenham participação mais efetiva e responsável na questão ambiental.
Em se tratando de economias abertas e mercado globalizado, cresce a
necessidade da gestão ambiental e responsabilidade social nas empresas
(SOVINSKI, 2007).
As respostas da categoria “novo nicho de mercado / lucro” são expressas
pelos seguintes exemplos:
Sim. Pois no mundo globalizado em que vivemos o grande nicho de
mercado é a responsabilidade social, onde virou o grande foco dos
empresários os quais viram na responsabilidade social uma maneira de
ganhar dinheiro. (Entrevistado 4);
Sim. As empresas que buscam trabalhar com responsabilidade social tem
retorno garantido e incentivos pelo governo. (Entrevistado 6);
Os resultados não são melhores devido a interesses de terceiros, que
visam apenas se apropriar e se enriquecer ilicitamente, com os recursos
que deveriam ser utilizados para melhoria das condições de vida da
população. (Entrevistado 12).
As duas primeiras respostas vão de encontro com o pensamento capitalista
de que toda a oportunidade de lucro deve ser aproveitada e maximizada,
desvirtuando completamente o sentido da responsabilidade social. Percebe-se que
tal visão não é exclusiva do empresariado, mas que mesmo na formação acadêmica
existe esse discurso. Cabe às instituões de ensino superior trabalhar em duas
frentes: primeiramente proporcionar um processo de ensino-aprendizagem focado
em conhecimentos que expressem o sentido genuíno de responsabilidade social.
Por outro lado, que identifique a deturpação do conceito e corrija tais discrepâncias,
para que futuramente o mercado de trabalho tenha profissionais com postura ética
na relação empresa-sociedade, tendo consciência de que nem todas as situações
o oportunidades de necio.
A manutenção de uma política de responsabilidade social é vantajosa para
as empresas por gerar novas oportunidades de negócios, um marketing
social bastante favorável, e ganhos de competitividade através da
certificação ambiental que a diferenciará positivamente de sua concorrente,
tudo isso gerando um maior lucro. (...) Observa-se, inclusive, que muitos
consumidores preferem pagar mais caro por uma melhor qualidade social e
ambiental nos produtos e serviços, o que abre um nicho de mercado
bastante lucrativo para as empresas que buscam excelência em sua
responsabilidade social. (SANTOS, 2003, p.39).
A citação anterior exemplifica e reforça uma vio corrente de que a
responsabilidade social deve ser agregada como marketing social, a fim de abrir
novas frentes de mercado e refoar a marca da empresa, com o objetivo único de
maximização da produtividade e dos lucros. Dessa forma, mostrando a total
incompreeno da importância do papel social da empresa e de sua relação com o
meio em que está inserida.
O item “assistencialismo” tem como exemplos a respostas abaixo:
Não. Porque o que temos hoje são trabalhos de assistencialismo... (...) E
infelizmente a comunidade se acostumou a receber “esmolas” e se mostra
dura para promover uma mudança de atitude que poderia mudar a vida de
muita gente. (Entrevistado 1);
Não, porque além da reintegração social, ainda falta dar continuidade as
ações. (Entrevistado 20).
Novamente percebem-se características neoliberais, em que são realizadas
ações isoladas e compensatórias, não contribuindo para a transformação social e a
emancipação dos sujeitos. As medidas de responsabilidade social de caráter estrutural
devem fornecer possibilidades de que o cidadão construa meios autônomos de
reprodução de sua existência, e não o mero recebimento de um auxílio paliativo, que
ao cessar o benefício, volta-se à condição anterior.
A despeito do que ainda pensam representantes da classe política, é preciso
ampliar o espectro e pensar a assistência social sem cultivar o
assistencialismo. O mesmo raciocínio se aplica ao mundo corporativo. Ações
que refletem a consciência de cada profissional vão além do que empresas
socialmente responsáveis podem fazer para diminuir a desigualdade de
classes. A responsabilidade social empresarial é hoje questão de estratégia.
(AFRAS, 2007).
A categoria “superficialidade das empresas” é representada pelas
contribuições que seguem abaixo:
...as empresas não vão a fundo para resolver de vez o problema da
comunidade / meio ambiente. Pois a solução esta muito distante do que
uma empresa pode pensar um tentar fazer. (Entrevistado 1);
um movimento muito grande em prol da responsabilidade social, porém
parcela pequena deste resulta em ões concretas. (...) As empresas
utilizam também deste recurso, como plataforma de marketing, visando
unicamente o lucro. Repassam à sociedade, uma imagem irreal, que não
reflete a verdadeira identidade de seus propósitos. (Entrevistado 12);
Essa questão se relaciona diretamente com a anterior, ações assistencialistas
são também superficiais e paliativas. É fundamental também considerar o caráter
mercadológico que grande parte das empresas dão para os seus projetos de
responsabilidade social, em que o real objetivo da empresa é passar uma imagem
positiva para seus clientes, a fim de que esses tenham a consciência limpa para
continuar consumindo os produtos de tal organização. O comentário acima de que o
problema é muito maior do que uma organização isoladamente pode imaginar, denota
a necessidade de que as ações empresariais sejam, antes de mais nada, efetivas, e
que na medida do possível se complementem.
A ultima categoria a ser analisada, é “mídia
/
campanhas” e pode ser
representada pelas seguintes respostas:
... podemos presenciar as várias campanhas promovidas pelos grandes
empresários. (Entrevistado 4);
As pessoas estão mais orientadas, com isso o meio de comunicação faz a
diferença, e a cobrança para as empresas é maior. (Entrevistado 6);
... campanhas educativas e comunitárias. (Entrevistado 9);
Sim! Através de campanhas sérias pelos meios de comunicação, visando
trazer a sociedade a se envolver cada vez mais, fazendo com que todos
consigam ser respeitada, incentivadas e acima de tudo buscar alternativas
de melhorias para a população. (Entrevistado 13).
O principal meio utilizado pelas corporações para transformar a
responsabilidade social em uma ferramenta de marketing, agregando valor aos
produtos e serviços, é utilizando as mídias de massa a fim de promover uma imagem
positiva da empresa que a relacione à inclusão social, proteção do meio ambiente,
etc, vendendo para o cliente a ilusão de estar participando na promoção do bem
comum. É preciso destacar que as campanhas têm uma função reconhecidamente
importante nos planos de responsabilidade social das empresas, mas não podem ser
a única ação implementada, devem fazer parte de um conjunto de medidas.
Frequentemente tais campanhas consomem mais recursos do que a implementação
do plano em si.
Cotidianamente, a mídia tem veiculado com grande destaque, notícias de que
algumas empresas estão recebendo honrarias e prêmios por serem
consideradas empresas-cidadãs”, sendo, o mote das premiações, sempre:
não estarem elas explorando mão de obra infantil, ou estarem fazendo
gestões ambientais a compensar agressões anteriormente feitas à natureza e,
especialmente me chamou a atenção o fato de se dar este grande realce por
estarem cumprindo a legislação fiscal e triburia. (
RESENDE
, 2005, p.44).
Novamente a questão dos “mínimos” ressurge no debate da atuação
responsável da empresa. O mero cumprimento da legislação e a restituição dos danos
causados pela própria empresa não podem ser considerados em sua essência ações
de responsabilidade social, tratando-se de uma visão reducionista e ligada somente às
obrigações da empresa.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A hitese inicial da pesquisa era de que no Brasil a responsabilidade social o
é encarada pela sociedade nem pelo empresariado como uma necessidade de melhorar
as condões de vida social e até mesmo como fator de sobrevivência, mas como uma
ferramenta mercadológica, conduzida com o predominante objetivo publicitário de
fortalecimento de imagem das empresas, a qual se confirmou ao final da pesquisa.
Não existe uma consciência coletiva por parte da sociedade (com exceção de
uma minoria) quanto à responsabilidade social, desse modo não cobrança suficiente
para influenciar a forma superficial e mercantilista como grande parte das empresas e
demais organizações se utilizam desse tema. Não havendo esta consciência seria
necessária uma cobrança social, para uma ão responsável por parte do empresariado
e da própria sociedade, pois mesmo sendo uma necessidade global, no Brasil ainda não
se tem um real interesse acerca da extensão dos danos causados pelo homem no
convívio com o meio e até mesmo entre si, e os problemas existentes não são
entendidos como geradores de necessidades no que tange a ações responsáveis.
Tais problemas e necessidades não são localizados e característicos do
Brasil, as demandas o globais, com peculiaridades inerentes a cada região. O que
é diferente entre a sociedade brasileira e sociedades européias e norte americanas,
dentre outras ditas desenvolvidas, é que os problemas existentes despertaram
nessas sociedades o interesse e a necessidade de uma cobrança mais ativa por
ões responsáveis.
Em suma, problemas existem em todos os lugares, portanto a necessidade é
global. O que muda é o entendimento que cada sociedade tem do assunto. A educação,
inserida nesse contexto, tem papel protagonista na formação e conscientização dos
cidadãos. Tem o poder e acima de tudo o dever de promover questões e fomentar os
debates para um amadurecimento social quanto ao assunto.
Sabe-se que o mau uso dos conceitos de responsabilidade social, que por sua
vez não gera nada além de vantagens mercadológicas e uma errônea percepção por
parte da sociedade, que entende como “bonzinho” quem assim procede, é mais um
problema a ser combatido pelas políticas sociais, principalmente a educacional. A
utilização da responsabilidade social como uma marca, um slogan ou meramente um
apelo comercial para atrair a clientela é inaceitável em nossos dias, considerando os
problemas de ordem social e ambiental que afligem o Brasil, e de forma geral o mundo.
Não se pode mais aceitar uma sociedade que não tenha em sua maioria cidadãos
críticos, capazes de escolherem o que querem consumir, de quem querem comprar,
quem deve decidir o que é bom para a sua família e para sua comunidade.
Tais questões motivaram o estudo e levaram a definição dos objetivos do
trabalho: analisar como a responsabilidade social é trabalhada na formação do
profissional de administração de empresas e mais especificamente: identificar como
as Políticas Educacionais tratam a questão da responsabilidade social na formão
do profissional em Administração de Empresas; verificar em que termos a
responsabilidade social é abordada no âmbito dos cursos de Administração de
Empresas e; investigar a compreensão dos alunos do curso de Administração de
Empresas sobre a responsabilidade social.
Constatou-se a partir da análise documental das políticas relacionadas ao
curso de Administração de Empresas e da pesquisa de campo realizada no curso de
Administração de Empresas de uma IES privada, os seguintes aspectos:
As Políticas Educacionais para o curso de Administração de Empresas,
especificamente a LDB 9.394/96, as Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Administração de Empresas, o SINAES (Lei n
o
10.861/2004), am
de outros projetos governamentais deixam evidente a relevância da
responsabilidade social, porém tratam a questão, em termos práticos, na
legislão educacional e na formação do profissional em Administração de
Empresas, de maneira vaga e superficial;
Verificou-se que a responsabilidade social é abordada no Curso de
Administração de Empresas estudado, conforme descrição dos alunos, com
foco mercadogico, visando a maximização de lucros e o fortalecimento da
marca da empresa, e que o sentido ligado à sustentabilidade é sobrepujado
nos conteúdos e discussões pela visão capitalista da utilidade da
responsabilidade social por parte das empresas;
Percebeu-se que os alunos do curso de Administração de Empresas
compreendem a responsabilidade social em seu sentido genuíno e
conseguem identificar os desvios provocados pela sua utilização como
ferramenta de marketing, ou seja, os educandos o ignoram essa
abordagem e a mesmo questionam essa desvirtualização do conceito de
responsabilidad,e social.
Cabe indicar que a presente pesquisa possui algumas limitações, uma vez
que, ao delinear-se uma amostra e um contexto de investigação, abordam-se
particularidades do universo pesquisado. Destacam-se aqui as especificidades da
amostra selecionada, em que os alunos apresentam faixa etária mais elevada e
experiência profissional mais expressiva do que a média identificada em cursos de
graduação, tornando essa amostra um contexto particular e otimizado de análise.
O estudo gerou, também, novos questionamentos que poderão ser abordados
em trabalhos futuros. Um dos questionamentos levantados a partir da pesquisa na IES
estudada é o de verificar o reflexo prático dos conhecimentos acadêmicos, da referida
amostra, na atuação profissional e social dos administradores de empresa.
Novas práticas administrativas são instituídas constantemente pelas mais
diversas lideranças empresariais englobando discursos sobre: o respeito pelo ser
humano; a preocupação com a preservação ambiental; a responsabilidade social; a
prática da cidadania e a construção de uma sociedade global mais responsável e
humanizada. Tais práticas são transmitidas à população como resultado de um
processo de mudança necessário nos pressupostos da Administração de Empresas,
porém a realidade mostra que muitas vezes a predominância de certas ações tem
como finalidade apenas agregar valor à imagem da organização. Para a maioria das
empresas, a justificativa interna recai freqüentemente nos aspectos econômicos ligados
à concorrência e ao lucro, como pretexto para adoção de ações responsáveis,
viabilizando o discurso de responsabilidade social, que de outro modo seria indesejável
para os objetivos capitalistas.
A formação dos alunos mostra-se indiferente ao cerio de desigualdade e
desequilíbrio na qual a Universidade es inserida, ou pelo menos não tem se
mostrado eficiente na formação de indiduos capazes de contribuir para a
transformação desse quadro. A preparação para atuação profissional parece ter
como foco apenas o lado profissional do aluno em formação, isso pode ser
percebido na medida em que é sabido que existem disciplinas com o objetivo de
fazer emergir as questões de ordem social, mas essas têm uma importância nima
no currículo e a mesmo na responsabilidade que representam para os alunos. Ao
longo do curso as discuses geradas nessas disciplinas como Filosofia e
Sociologia, por exemplo, acabam sendo engolidas pelo foco mercadológico, que é a
tônica da formação ofertada pelo curso. Trabalham-se muito as questões técnicas, a
mensagem passada é a da extrema competitividade entre profissionais, empresas e
mercados, o discurso para a ação é o da eficia, melhoria dos resultados (não se
sabe ao certo a que custo), adaptação às constantes transformações geradas pelas
mudaas incessantes no mercado, enfim, os princípios, valores e objetivos são
predominantemente mercadológicos.
No âmbito acamico, o processo de formação de cidadãos conscientes e
responsáveis, no contexto neoliberal e globalizado, torna-se cada vez mais árduo.
Considerando-se que globalização e neoliberalismo estão intimamente relacionados
com o modo de produção capitalista vigente, que tem como um de seus objetivos a
maximização dos lucros por meio do consumo em massa, padroniza-se e
homogeneízam-se bitos e comportamentos em todas as esferas do convio
social. Tais pticas têm como impacto negativo o crescente abismo social entre
grupos dominantes
e
dominados, e entre produtores
e
consumidores de tecnologia,
artefatos, ideologias e cultura.
Nessa conjuntura, o reconhecimento das diferenças, visando reforçar,
reconhecer e conservar as diversas culturas, além de identificar e possibilitar acesso
aos grupos excluídos dos direitos sociais torna-se cada vez mais difícil, pois o consumo
de produtos e da própria cultura dominante de forma massificada torna o diferente cada
vez mais igual.
Um dos importantes objetivos que devem permear a formação do
administrador de empresas, de forma a possibilitar a inclusão social, é desenvolver
um projeto pedagógico que consiga identificar qual a comunidade que esta sendo
atendida por suas ações. Desse modo, possibilitando uma reflexão nesse grupo, no
sentido de resgatar e valorizar os seus costumes, não desconsiderando o contexto
gerado pela massificação, mas acompanhando o progresso sem descaracterizar-se
e tornar-se similar ao estereotipo do modelo social vigente. A busca pelo padrão
degrada grupos sociais gerando p-conceito e desrespeito não somente entre
elementos de grupos diferentes, mas também de elementos de um mesmo grupo,
que provavelmente não se perceba mais como indiduo pertencente àquela
comunidade, o que conseqüentemente facilita atitudes preconceituosas e aumento
da excluo imposta por grupos dominantes, impossibilitando assim a ptica da
responsabilidade social.
Diante dessas demandas, reforça-se a idéia do dever de todo cidadão em
combater os desequilíbrios e a exclusão, primeiramente sociais, que por sua vez geram
outros desequilíbrios no sistema, como os fatores ambientais, culturais, econômicos e
políticos, acentuados pelo abismo social existente no país, para que a construção de
novos conhecimentos não se torne fator de aumento das desigualdades.
As políticas públicas devem estar diretamente ligadas aos problemas sociais,
bem como às possíveis soluções. É justamente nesse espaço, o das políticas públicas,
que a sociedade deve encorpar-se e fazer valer os seus direitos. Para cada instância
do Estado é fundamental a participação social por meio dos profissionais atuantes
ligados direta ou indiretamente a ela. As políticas educacionais devem ter em sua
elaboração, como representantes da sociedade, os profissionais da área da educação,
defendendo ativamente a construção de políticas que compreendam e estejam
adequadas aos problemas brasileiros.
É fundamental, para se iniciar qualquer análise referente aos rumos que
devem ser dados à educação, que as políticas educacionais, e em geral todas as
políticas sociais, desvinculem-se da ideologia neoliberal e possuam uma intenção
realmente de caráter social. As áreas da saúde, habitação, saneamento sico,
educação, entre outras, não devem ter políticas originadas de diverncias de
interesses entre grupos que visam unicamente o acúmulo de capital. Mantendo-se
essa conjuntura as políticas sociais permanecerão sendo elaboradas de forma
incompleta, no sentido de não serem aproveitadas em todas as suas possibilidades,
sendo subordinadas às políticas econômicas, induzidas para cumprir expectativas de
órgãos internacionais, não havendo preocupação com a qualidade, mas somente com
a quantidade, porque o necessário nessas barganhas é a produção de números, ou
seja, políticas sociais de fachada.
A fim de vislumbrar horizontes diferentes dos atuais, é necessário entender
que a relação de dependência entre o plano social e o econômico, no que concerne a
disponibilização de recursos para a implementação das políticas deve romper com a
visão neoliberal de extinção dos direitos sociais, que os transforma em produtos a
serem comercializados pela iniciativa privada. O escopo do debate não está em
valorizar as políticas sociais em detrimento das econômicas, mas em alcançar o
equilíbrio entre ambas. Equilíbrio este que tem sido historicamente inatingível em um
modo de produção que exalta a racionalidade econômica, sufocando as tentativas de
superação da exclusão social. Sabe-se que o desenvolvimento econômico e a
produção não podem parar, mas nos moldes do capitalismo de acumulação flexível vê-
se a impossibilidade da implementação de políticas sociais justas e igualitárias,
inviabilizando a materialização da responsabilidade social genuína.
Para que ocorra transformação nas políticas sociais, em busca da prática
coletiva da responsabilidade social, pontuam-se três aspectos básicos para a
construção de novos horizontes das poticas sociais, com base em Saviani (1998):
Aumento dos recursos monetários e humanos no âmbito social objetivando o
equilíbrio com a área econômica, a fim de possibilitar a ampliação do poder de
barganha da sociedade sobre o Estado, por meio de uma conscientização
coletiva e integração dos movimentos populares.
Oposição veemente às tentativas de privatização da política social, exigindo que
o Estado seja responsável pelos serviços públicos mantendo a eficiência e
idoneidade. Tal oposição justifica-se pelo fato de que a queda na qualidade e o
sucateamento dos serviços blicos viabilizam a expansão da iniciativa privada,
diminuindo o acesso aos serviços mantidos pelo Estado.
Não condicionamento da política social aos resultados econômicos,
dimensionando os investimentos em função das necessidades de atendimento.
Não se pode desconsiderar a dependência do desempenho da economia,
considerando que os recursos são gerados nesse âmbito, cabe, porém ao
Estado alocar os recursos conforme as prioridades definidas de acordo com as
necessidades sociais, sem haver a condição de que para investir na área social
deve haver apenas o êxito nos resultados econômicos.
A educação deve participar desse compromisso de todos os envolvidos com a
educação, defendendo não somente a política educacional, mas o conjunto das políticas
sociais. Se fazem necessários pleitos pela garantia do ensino público e gratuito e a
reivindicação por mais verbas para a educação são aspectos que valorizam a política
social em relação à política econômica.
A responsabilidade social surge nesse contexto de lutas e reivindicações como
mais um fator a aliar-se às batalhas na busca da garantia dos direitos sociais, da
dignidade e da igualdade. As idéias expostas acima são simultaneamente práticas de
cidadãos responsáveis, e base para que esses argumentos se materializem, ou que ao
menos não sejam perdidos como palavras ao vento, na tentativa de promover políticas
sociais adequadas às necessidades da sociedade brasileira.
A responsabilidade social deve estar presente em todos os atos praticados,
não se limitando às organizações
e corporações, mas principalmente na
individualidade. O processo de conscientização e atuação responsável deve partir do
individual para o coletivo, pois todos têm o dever de proteger a vida por meio de ações
responsáveis. Sustentabilidade se conquista com responsabilidade, portanto,
responsabilidade significa sobrevivência.
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ANEXO A – QUESTIONÁRIO
O questionário abaixo destina-se à obtenção de dados para pesquisa de Mestrado em
Educação da PUCPR. As informações coletadas terão aplicação estritamente para fins
acadêmicos.
Idade:____ Sexo: M ( ) F ( )
Atua no mercado de trabalho? Não ( ) Sim ( ) – há quanto
tempo?_________________________
Cargo/Função:_________________________
Departamento:_____________________________
Tempo de empresa:___________ Ramo de atividade da
empresa:_________________________
1)
Baseando-se nos conhecimentos adquiridos durante a sua formação no curso de
Administração de Empresas, conceitue responsabilidade social:
2) Qual a importância da responsabilidade social na atuação profissional do administrador de
empresas?
3) Elenque, por ordem de importância, as três disciplinas que mais abordaram o tema
“responsabilidade social”, e os principais aspectos abordados por cada uma delas.
DISCIPLINA ASPECTOS ABORDADOS
4) É possível perceber mudanças na sociedade causadas por ações de responsabilidade
social? Justifique sua resposta.
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Milhares de Livros para Download:
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Baixar livros de Medicina Veterinária
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Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo