Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
MATO GROSSO DO SUL
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
MARCELO CASTRO PEREIRA
A EXPANSÃO DA CADEIA
SUCROALCOOLEIRA EM MATO GROSSO DO
SUL, DINÂMICA E DETERMINANTES.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS
CAMPO GRANDE/MS
FEVEREIRO/2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
MARCELO CASTRO PEREIRA
A EXPANSÃO DA CADEIA SUCROALCOOLEIRA EM MATO GROSSO DO
SUL, DINÂMICA E DETERMINANTES.
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO SUBMETIDA
AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MULTIINSTITUCIONAL EM AGRONEGÓCIOS
(CONSÓRCIO ENTRE A UNIVERSIDADE
FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL,
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA E A
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS), COMO
PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À
OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM
AGRONEGÓCIOS NA ÁREA DE
CONCENTRAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL DO AGRONEGÓCIO.
ORIENTADOR: IDO LUIZ MICHELS
CAMPO GRANDE/MS
FEVEREIRO/2007
ads:
3
DEDICATÓRIA:
Dedico este trabalho a dois grandes Homens, meus Avôs
Laudelino Castro Pereira e José Bezerra da Silva, que sempre
me foram o exemplo maior de dignidade, trabalho e
dedicação à família. De quem muitas vezes busco a força
necessária para seguir a diante, quando do surgimento de
obstáculos ao longo do caminho.
Obrigado!!!
4
AGRADECIMENTOS:
Sou grato a muita gente, o que tornaria imensa a lista. Pois muitas são as pessoas, que
no dia-a-dia contribuem conosco em nossas vitórias, desde simples gestos a grandes
atitudes. Mas em especial quero agrader aos:
Meus pais, em especial a minha Mãe pela pessoa sempre presente, tolerante e
compreensiva, representação digna da figura de mãe. Obrigado!!!
Minha Avó, para quem sei que sou também um filho e que mesmo distante posso sentir
a força que o seu amor me traz.
Minha irmã, cunhado e sobrinho pela presença ao meu lado e o apoio incondicional.
Meu tio Sr. Luiz Jacintho, pela paciência e ensinamentos desde minha infância, os quais
contribuíram para que eu seguisse minha carreira e me tornasse o que sou.
Meu orientador Ido Michels, por me conduzir e proporcionar este trabalho.
Meus colegas do Mestrado e da Fundação Cândido Rondon.
Aos membros da banca, Professores Paulo Esselin e Roberto Meurer, pelas
contribuições ao trabalho.
Ao CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo
apoio financeiro ao longo do curso.
E a todos mais, que próximos ou distantes me acompanharam até aqui.
Obrigado!!!
5
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E CATALOGAÇÃO
PEREIRA, M. C. A expansão da cadeia sucroalcooleira em Mato Grosso do Sul,
Dinâmica e Determinantes. Campo Grande. Departamento de Economia e
Administração. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2007, 152 p.
Dissertação de Mestrado.
Documento formal, autorizando reprodução desta
dissertação de mestrado para empréstimo ou
comercialização, exclusivamente para fins
acadêmicos, foi passado pelo autor à Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade de
Brasília e Universidade Federal de Goiás e acha-se
arquivado na Secretaria do Programa. O autor
reserva para si os outros direitos autorais, de
publicação. Nenhuma parte desta dissertação de
mestrado pode ser reproduzida sem a autorização
por escrito do autor. Citações são estimuladas, desde
que citada a fonte.
FICHA CATALOGRÁFICA
Pereira, Marcelo Castro
A Expansão da Cadeia Sucroalcooleira em Mato Grosso do Sul,
Dinâmica e Determinantes. Marcelo Castro Pereira, orientação de
Ido Luiz Michels – Campo Grande, 2007.
152 p. : il.
Dissertação de Mestrado (M) – Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, 2007.
1. Cadeia Sucroalcooleira. 2. Cana-de-açúcar. 3. Açúcar e Álcool.
4. Mato Grosso do Sul.
6
MARCELO CASTRO PEREIRA
A EXPANSÃO DA CADEIA SUCROALCOOLEIRA EM MATO
GROSSO DO SUL, DINÂMICA E DETERMINANTES.
APROVADA POR:
___________________________________________
IDO LUIZ MICHELS, DOUTOR (UFMS)
(ORIENTADOR)
___________________________________________
PAULO ESSELIN, DOUTOR (UFMS)
(EXAMINADOR INTERNO)
___________________________________________
ROBERTO MEURER, DOUTOR (UFSC)
(EXAMINADOR EXTERNO)
CAMPO GRANDE/MS
____/_________/____________
7
SUMÁRIO
RESUMO ....................................................................................................................... 13
ABSTRACT ................................................................................................................... 14
1 - INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15
1.1 – Problemática e relevância.................................................................................. 18
1.2 - Objetivos ............................................................................................................ 18
1.2.1 - Objetivos gerais........................................................................................... 18
1.2.2 - Objetivos específicos .................................................................................. 18
1.3 – Metodologia....................................................................................................... 19
1.4 – Estrutura dos Capítulos...................................................................................... 21
2 – HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA ATIVIDADE
SUCROALCOOLEIRA ................................................................................................. 23
2.1 - Primórdios da atividade sucroalcooleira ............................................................ 23
2.2 – A atividade sucroalcooleira após o Brasil República........................................ 24
2.3 – O início da intervenção estatal........................................................................... 25
2.4 – Valorização do álcool como alternativa ao petróleo ......................................... 25
2.5 – O PROÁLCOOL ............................................................................................... 27
2.5.1 - Primeira fase do PROÁLCOOL.................................................................. 28
2.5.2 - Segunda fase do PROÁLCOOL.................................................................. 28
2.5.3 - Terceira fase do PROÁLCOOL.................................................................. 30
2.6 – A desregulamentacao da cadeia sucroalcooleira ............................................... 31
2.7 – A valorização dos combustíveis renováveis e o meio ambiente ....................... 32
2.8 – A Cadeia Sucroalcooleira no contexto atual ..................................................... 33
3 – DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE SUCRO-ALCOOLEIRA .................................... 38
3.1 – A matéria-prima: Cana-de-açúcar ..................................................................... 39
3.2 – Principais produtos e co-produtos ..................................................................... 41
3.2.1 - Álcool Etílico (C2H5OH) ........................................................................... 41
3.2.2 – Açúcar......................................................................................................... 41
3.2.3 – Vinhaça....................................................................................................... 43
3.2.4 - Bagaço da cana-de-açúcar........................................................................... 44
3.2.5 - Torta de filtro .............................................................................................. 46
3.2.6 - Novos produtos industriais.......................................................................... 47
4 – REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 48
4.1 – Desenvolvimento Sustentável ........................................................................... 48
5 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA CADEIA
SUCROALCOOLEIRA EM MS ................................................................................... 55
5.1 – Empreendimentos no Estado de MS.................................................................. 55
5.1.1 – A organização das empresas sucroalcooleiras............................................ 55
5.1.2 – A situação das empresas em operação no estado ....................................... 56
5.1.3 – Estimativa do número de novos empreendimentos em processo de
instalação no Estado de MS.................................................................................... 59
5.1.3.1 – Estimativas a partir das informações do CDI-MS............................... 59
5.1.3.2 – Estimativas a partir das informações SEMA/IMAP............................ 65
5.1.4 - Localização das unidades industriais em operação e das novas unidades .. 68
5.2 – Motivos que promoveram a migração e a expansão da cadeia para MS........... 71
5.2.1 – Incentivos Fiscais ....................................................................................... 71
5.2.1.1 – O Pacote sul-mato-grossense de incentivos fiscais para a Cadeia
Sucroalcooleira................................................................................................... 72
8
5.2.2 – Disponibilidade de Terras a baixo custo..................................................... 74
5.2.3 – Condições Edafoclimáticas......................................................................... 76
5.2.3.1 – Os ecossistemas de Mato Grosso do Sul ............................................. 76
5.2.3.2 – Edafologia............................................................................................ 80
5.2.3.3 – Clima do Cerrado................................................................................. 82
5.2.4 – Infra-estrutura e localização de MS............................................................ 84
5.2.4.1 – Rodovias.............................................................................................. 84
5.2.4.2. – Ferrovias............................................................................................. 87
5.2.4.3 - Hidrovias.............................................................................................. 88
5.2.5 – Aspectos de Licenciamento Ambiental...................................................... 92
6 – DISCUSSÕES SOBRE OS IMPACTOS DA INSTALAÇÃO DE NOVOS
EMPREENDIMENTOS EM Mato Grosso do Sul......................................................... 96
6.1 – Impactos Sociais................................................................................................ 96
6.1.1 - Relações no sistema produtivo.................................................................... 97
6.1.2 - Geração de empregos e renda.................................................................... 101
6.1.2.1 – Efeitos da ampliação da cadeia sucroalcooleira no emprego e renda 105
6.1.3 - Qualificação da mão-de-obra .................................................................... 106
6.1.4 – Benefícios sociais ..................................................................................... 108
6.1.4.1 - Benefícios gerais ................................................................................ 108
6.1.4.2 – Ações individuais .............................................................................. 110
6.1.5 – Migração de mão-de-obra de outras regiões............................................. 110
6.1.6 - Adequação à legislação trabalhista ........................................................... 111
6.1.7 – Pressão sobre a infra-estrutura social dos municípios.............................. 112
6.2 – Impactos Econômicos...................................................................................... 113
6.2.1 - Investimento no estado.............................................................................. 114
6.2.2 - Recolhimento de impostos ........................................................................ 115
6.2.3 - Diversificação da base produtiva .............................................................. 117
6.2.4 – Deslocamento dos fatores de produção das atividades econômicas
tradicionais para a cadeia sucroalcooleira ............................................................ 117
6.3 – Impactos ambientais ........................................................................................ 118
6.3.1 - Impacto da substituição das lavouras atuais pela cana-de-açúcar............. 119
6.3.2 - Tipos de colheita ....................................................................................... 120
6.3.2.1 – Colheita manual (queima dos canaviais)........................................... 120
6.3.2.2 – Colheita mecanizada.......................................................................... 122
6.3.3 – Impactos da operação das indústrias ........................................................ 123
6.3.3.1 – A Vinhaça.......................................................................................... 124
6.3.3.2 – O bagaço da cana-de-açúcar.............................................................. 127
6.3.3.3 – A torta de filtro .................................................................................. 128
6.3.3.4 – Impactos gerais.................................................................................. 128
6.3.4 – Impactos do aumento do uso do Etanol.................................................... 129
6.3.5 – Aspectos do licenciamento ambiental ...................................................... 130
6.3.5.1 – Os órgãos estaduais de controle ambiental........................................ 131
6.3.5.2 – O modelo sul-mato-grossense de licenciamento e controle ambiental
.......................................................................................................................... 131
6.3.5.3 – Os tipos de estudos ambientais.......................................................... 133
6.3.5.4 - O licenciamento das indústrias sucroalcooleiras................................ 133
7 – CONIDERAÇõES FINAIS .................................................................................... 135
7.1 – Conclusões....................................................................................................... 135
7.1.1 – Resposta aos objetivos específicos........................................................... 135
9
7.1.1.1 - Fazer uma contextualização histórica do desenvolvimento da cadeia
sucroalcooleira.................................................................................................. 136
7.1.1.2 - Descrever sucintamente a atividade sucroalcooleira.......................... 136
7.1.1.3 - Caracterizar a expansão da cadeia sucroalcooleira para o estado de MS
.......................................................................................................................... 137
7.1.1.4 - Identificar quais os motivos que promoveram a expansão da cadeia no
Estado ............................................................................................................... 138
7.1.1.5 - Definir quais os impactos econômicos, sociais e ambientais do
crescimento da cadeia sucroalcooleira no estado ............................................. 140
7.2 – Limitações do Trabalho................................................................................... 143
7.3 – Sugestões para Trabalhos Futuros................................................................... 143
8 - BIBLIOGRAFIA..................................................................................................... 144
ANEXOs....................................................................................................................... 150
Anexo 1 – Exportação brasileira de açúcar .............................................................. 150
Anexo 2 – Questionário encaminhado às Indústrias Sucroalcooleiras..................... 152
10
LISTA DE QUADROS.
Quadro 01 – Evolução das vendas de carros, classificados pelo tipo de combustível...............................35
Quadro 02 – Composição média da cana-de-açúcar em porcentagem......................................................40
Quadro 03 – Quantidade em kg/m
3
dos principais nutrientes, de matéria orgânica e valor do pH da
vinhaça proveniente de três tipos de mosto................................................................................................44
Quadro 04 – Principais componentes do bagaço in natura e hidrolizado em %. ......................................45
Quadro 05 – Principais nutrientes da torta de filtro em (%). ....................................................................46
Quadro 06 – Informações sobre os empreendimentos sucroalcooleiros cadastrados no Conselho de
Desenvolvimento Industrial, CDI – MS......................................................................................................61
Quadro 07 – Informações sobre os processos de licenciamento ambiental das indústrias sucroalcooleiras
na SEMA/IMAP. .........................................................................................................................................67
Quadro 08 – Relação dos empreendimentos em operação e dos novos projetos por município................69
Quadro 09 – Estimativa da economia com a redução no recolhimento dos impostos através dos
benefícios fiscais.........................................................................................................................................74
Quadro 10 – Comparação entre os valores das melhores terras de MS com tradicionais regiões agrícolas
paulistas. ....................................................................................................................................................75
Quadro 11 - Extensão da malha viária, por dependência administrativa e condição do leito em Mato
Grosso do Sul. ............................................................................................................................................84
Quadro 12 – Número de empregos gerados na safra e entressafra, e médias salariais praticadas na
cadeia sucroalcooleira de Mato Grosso do Sul. ......................................................................................105
Quadro 13 – Parâmetros do crescimento da cadeia sucroalcooleira de Mato Grosso do Sul. Comparação
entre a atual condição e a previsão de crescimento.................................................................................116
Quadro 14 – Contribuição líquida dos combustíveis produzidos pela cadeia sucroalcooleira na redução
da emissão de CO
2
. ..................................................................................................................................130
11
LISTA DE FIGURAS:
Figura 1 – Cadeia Sucroalcooleira e os fatores que regulam a produção de álcool e açúcar. ------------ 38
Figura 2 – Indústrias Sucroalcooleiras instaladas em Mato Grosso do Sul. --------------------------------- 58
Figura 3 – Localização das unidades em operação e das novas industriais que poderão ser instaladas no
Estado de Mato Grosso do Sul. ------------------------------------------------------------------------------------- 70
Figura 4: Detalhe de voçoroca em solo de cerrado mal manejado. ------------------------------------------- 82
Figura 5 - Mapa multimodal do Estado do Mato Grosso do Sul. ---------------------------------------------- 86
Figura 6 – Principais hidrovias presentes no Estado de Mato Grosso do Sul.------------------------------- 91
Figura 7 – Divisão das bacias hidrográficas do Rio Paraguai e Rio Paraná. ------------------------------- 93
Figura 8 – Ampliação da área permitida à ampliação e construção de novas indústrias sucroalcooleiras.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 95
Figura 9 – Distribuição dos empregos por faixa salarial e por tipo de atividade agropecuária.---------103
12
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ANP – Agência Nacional de Petróleo
ANTT – Agência Nacional de Transportes Terrestres
ATR – Açúcar Total Recuperável
CDI-MS – Conselho de Desenvolvimento Industrial
CDM – Clean Development Mechanism
CERs – Certified Emission Reductions
CIMA – Comissão Interministerial de Meio Ambiente
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
CTC – Capacidade de Troca Catiônica
CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social
DRT – Delegacia Regional do Trabalho
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador
FIEMS – Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul
IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool
ICMS – Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
IMAP – Instituto de Meio Ambiente Pantanal
LI – Licença de Instalação
LO – Licença de Operação
LP – Licença Prévia
MAPA – Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento
MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
ONG – Organizações não Governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
PAM – Plano de Auto Monitoramento
PBA – Plano Básico Ambiental
PIB – Produto Interno Bruto
PROÁLCOOL – Programa Nacional do Álcool
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
SEMA – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
SEPROTUR – Secretaria de Produção e Turismo
SGA – Sistema de Gerenciamento Ambiental
SINDAL-MS – Sindicato da Indústria da Fabricação do Açúcar e do Álcool do Estado de
Mato Grosso do Sul
SOPRAL – Sociedade dos Produtores de Álcool de São Paulo
UNICA – União das Indústrias Canavieiras
13
A EXPANSÃO DA CADEIA SUCROALCOOLEIRA EM MATO
GROSSO DO SUL, DINÂMICA E DETERMINANTES.
RESUMO
No início do Século XXI o Brasil vivencia uma forte expansão da cadeia
sucroalcooleira, motivada por fatores externos e internos como o aumento da demanda
por este combustível renovável. No cenário internacional os elevados preços do petróleo
e os efeitos nocivos de combustíveis fósseis ao meio ambiente impulsionaram esta
demanda. Internamente, o surgimento da tecnologia bi-combustível e os elevados preços
da gasolina contribuíram para reaquecimento do mercado de etanol, que desde o início
da década de 1990 havia se retraído. Neste cenário o Estado de Mato Grosso do Sul se
apresenta como um dos estados com forte expansão da cadeia sucroalcooleira. O
presente trabalho busca conhecer a dinâmica de como está ocorrendo esta expansão no
estado, avaliando as maneiras utilizadas para se estimá-la. Além de indicar os fatores
que foram determinantes a esta expansão no estado, assim como suas conseqüências
ambientais, econômicas e sociais em Mato Grosso do Sul.
Palavras Chaves: Agroenergia, álcool, sustentabilidade e cana-de-açúcar
14
ABSTRACT
In the beginning of the 21st century, Brazil experiences a strong expansion of the
sugar-alcohol chain, caused by external and internal factors of the increasing of the
demand for this renewable fuel. In the international scenario, the high prices of
petroleum and the harmful effects of the fossil fuels incited this demand. Internally
speaking, the arising of the bi-fuel technology and the high prices of gasoline
contributed for the resurgence of the demand for alcohol, which, since the beginning of
1990 had been drawn back. In this reality, the State of Mato Grosso do Sul represents
one of the states with strong expansion in the sugar-alcohol chain. This present work
searches to know the dynamic of how it is happening this expansion in the State,
evaluating the ways used to estimate this growth. Besides indicating the factors that
were decisive to it’s occurrence in the State, as well the environmental, economical and
social consequences of the expansion of the sugar-alcohol chain in the state of Mato
Grosso do Sul.
15
1 - INTRODUÇÃO
Conjuntura mundial
As discussões sobre as mudanças climáticas do planeta, provocadas pelas ações
humanas nunca foram tão sentidas pela população como nos últimos anos. Secas
prolongadas, ondas de calor, furacões e fortes tempestades com alagações e destruição
em diversas partes do mundo, são alguns exemplos das conseqüências destas mudanças.
Por outro lado, as sociedades nunca valorizaram tanto a importância de medidas
que proporcionem um desenvolvimento com maior sustentabilidade. O consumo
indiscriminado de combustíveis fósseis (não renováveis) se apresenta como o grande
vilão responsável pela emissão de gases que provocam o aquecimento global. Isso fez
aumentar o interesse pelo consumo de combustíveis renováveis, que via de regra, são
menos poluentes e evitam a emissão de gases de efeito estufa.
Outro aspecto negativo da utilização do petróleo é que seus grandes produtores
mundiais se localizam em zonas de conflitos sócio-políticos. O que ameaça muitas
vezes seu fornecimento e provoca fortes variações de preço. Além logicamente, de se
tratar de um produto não renovável, cujo estoque é limitado.
Conjuntura nacional
Neste cenário mundial o Brasil surge como um grande “player”, detentor da mais
eficiente e econômica tecnologia de produção de etanol, um combustível renovável
produzido através da cana-de-açúcar. A produção de açúcar também coloca o país em
lugar de destaque, como o maior produtor mundial.
Desde a década de 1970, com a elevação do preço do petróleo cresceu o interesse
nacional pelo combustível renovável álcool, porém, no final da próxima década o
16
movimento foi inverso com a queda do preço do petróleo e elevação do preço do álcool.
Estas flutuações faziam com que os consumidores tivessem que trocar ou converter seus
veículos para poderem utilizar o combustível mais barato. Este motivo juntamente com
a escassez do álcool no final da década de 1980 provocou à redução da demanda por
carros a álcool.
No entanto, com a consolidação da tecnologia dos carros bi-combustíveis ocorreu
o reaquecimento do mercado do álcool, que desde o início da década de 1990 estava
estagnado. A tecnologia flex permite que o motor trabalhe com qualquer mistura de
álcool e gasolina. Proporcionando assim, flexibilidade também aos consumidores, que
passam a não depender apenas de um único combustível, reduzindo os efeitos de
flutuações na cadeia destes sobre os consumidores.
O aumento da demanda interna de álcool combustível, os bons preços do açúcar
no mercado internacional, o crescente interesse de outros países por este combustível
renovável, somada ainda o surgimento de outros produtos desta cadeia, como a energia
elétrica co-gerada em usinas, fez com que ocorresse uma forte expansão da atividade em
todo país.
Conjuntura Sul-mato-grossense
No ano de 2006 ocorreu a consolidação da expansão sucroalcooleira para o
Centro-Oeste. Apenas no Estado de Mato Grosso do Sul foram protocolados no
Conselho de Desenvolvimento Industrial – CDI, a intenção da instalação de mais de 40
indústrias. Caso a instalação desses empreendimentos se efetive, poderá haver um
crescimento de mais de 300% na capacidade de produção de açúcar e álcool do estado.
17
Tamanho crescimento decorre de diversos fatores que culminaram numa
conjuntura extremamente favorável ao desenvolvimento da cadeia sucroalcooleira.
Estes fatores favoráveis vão desde o âmbito da economia mundial, nacional e até
mesmo numa conjuntura do próprio estado.
A região Centro-Oeste de forma geral e especialmente o Estado de Mato Grosso
do Sul, por sua proximidade aos grandes centros consumidores, suas possibilidades em
termos de logística, pelos preços mais baixos das terras em relação a outros estados,
pela grande disponibilidade de áreas e um clima favorável, se apresentou como uma
importante alternativa para o desenvolvimento desta cadeia.
A crise em que se encontra a pecuária com o fechamento das exportações devido
os focos de aftosa e os baixos preços da arroba. Conjuntamente com a crise da
sojicultura provocada pelas seguidas frustrações de safra e o baixo preço internacional
da soja. Estimularam a diversificação da produção favorecendo a cana, isso devido à
demanda por alternativas a estas atividades, e pela redução da demanda e do valor das
terras.
Outro aspecto de atração de novos empreendimentos são os benefícios fiscais que
os estados oferecem aos empreendedores. Mato Grosso do Sul possui um interessante
pacote de benefícios para os novos empreendimentos sucroalcooleiros, o que certamente
foi um dos fatores que contribuiu na decisão das empresas de migrarem para este
estado.
A efetivação deste crescimento promoverá uma significativa mudança no setor
primário, secundário e terciário do estado, tanto através da alteração das culturas
tradicionais pela cana-de-açúcar, quanto pela operação das novas indústrias e os
serviços que estas demandarão. Tais mudanças provocarão impactos a serem sentidos
18
social, ambiental e economicamente. Para a sociedade se faz interessante compreender
melhor como ocorrerá e o que significará tais mudanças.
1.1 PROBLEMÁTICA E RELEVÂNCIA
Compreender as determinantes e as conseqüências da expansão da cadeia
sucroalcooleira no Estado de Mato Grosso do Sul.
1.2 - OBJETIVOS
1.2.1 - Objetivos gerais
Fazer um desenho da cadeia sucroalcooleira em Mato Grosso do Sul, conhecendo
sua real expansão no estado, os motivos que promoveram tal expansão e os potenciais
impactos econômicos sociais e ambientais.
1.2.2 - Objetivos específicos
1 – Fazer uma contextualização histórica do desenvolvimento da cadeia
sucroalcooleira;
2 – Descrever sucintamente a atividade sucroalcooleira;
3 – Caracterizar a expansão da cadeia sucroalcooleira no estado de MS;
4 – Identificar quais os motivos que promoveram a escolha do estado para a
instalação das novas empresas e os motivos do crescimento da própria cadeia estadual;
5 – Definir quais os impactos econômicos, sociais e ambientais do crescimento da
cadeia sucroalcooleira no estado.
19
1.3 METODOLOGIA
O trabalho se divide em duas etapas, sendo elas:
Primeira etapa – aqui o trabalho abrange o procedimento de análise exploratória,
que através da revisão a partir da literatura especializada, como livros, revistas, artigos e
sites sobre o tema. A pesquisa exploratória, segundo Gil (1999), corresponde à primeira
etapa de uma investigação científica e contribui para delimitar um problema passível de
investigação, por meio de procedimentos sistematizados.
A segunda fase do trabalho envolve a pesquisa do tipo descritiva, buscando
analisar as características de determinado fenômeno e/ou relações entre variáveis, por
meio da utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados (GIL, 1999). Nesta
etapa, a investigação utilizará o método de pesquisa indutiva, a partir do procedimento
de estudo de multicasos, com amostragem não-probabilística intencional.
A coleta de dados primários foi realizada a partir de questionário
1
semi-
estruturado, que servirá de base para o roteiro de entrevista (survey). A aplicação de
questionário foi direcionada aos agentes produtivos e instituições de fomento ligadas à
cadeia produtiva sul-mato-grossense. Experiências de outras regiões onde a atividade se
encontra em maior estágio de desenvolvimento, e onde os impactos da atividade podem
ser melhor definidos, foram utilizadas como referência para inferências sobre as
possíveis conseqüências desta atividade em MS.
Para se alcançar cada um dos objetivos específicos foram realizadas as seguintes
estratégias:
Objetivo específico no. 1- Fazer uma contextualização histórica do
desenvolvimento da cadeia sucroalcooleira.
1
Questionário presente no Anexo 2.
20
Para alcançar este objetivo foram realizadas pesquisas em materiais bibliográficos
como livros, revistas e periódicos, na busca de informações que pudessem
contextualizar o leitor a respeito do desenvolvimento da cadeia ao longo do tempo.
Objetivo específico no. 2- Descrever sucintamente a atividade sucroalcooleira.
Através de referências bibliográficas e de informações de atores da cadeia foi
realizada uma breve descrição para familiarizar o leitor a respeito da atividade.
Objetivo específico no. 3- Caracterizar a expansão da cadeia sucroalcooleira em
Mato Grosso do Sul.
Para consecução deste objetivo específico foram levantadas informações de todas
as usinas em processo de instalação no estado, através de órgãos oficiais como a
Secretaria de Produção e Turismo - SEPROTUR, Conselho de Desenvolvimento
Industrial - CDI, empresas do setor, Sindicato das Usinas de MS, dentre outras.
Objetivo específico no. 4- Identificar quais os motivos que promoveram a escolha
do estado para a instalação das novas empresas e os motivos do crescimento da própria
cadeia estadual;
A fim de se definir os motivos que proporcionaram a vinda de tais empresas para
MS, foram levantadas e comparadas com outros estados, informações referentes ao
preço e disponibilidade das terras, questões referentes à mão-de-obra, características
climáticas e edafológicas, aspectos ambientais, de infra-estrutura do estado dentre
outros.
Objetivo específico no. 5- Definir quais os impactos econômicos, sociais e
ambientais do crescimento da cadeia sucroalcooleira no estado.
Para alcançar o quinto objetivo específico, foram buscadas as seguintes
informações:
21
Para os impactos econômicos: a geração de divisas, a arrecadação tributária, os
investimentos dos empreendimentos, dentre outras.
Para os impactos sociais: a geração de empregos e renda para o estado, a
qualificação dos postos de trabalho, os investimentos em programas sociais.
Para os impactos ambientais: foram levantados os impactos da substituição das
culturas atuais pela cana-de-açúcar, os impactos da operação das indústrias e seus
resíduos, dentre outros.
1.4 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS
Capítulo 1 – Introdução: O primeiro capítulo do trabalho traz a introdução ao
assunto juntamente com uma contextualização geral da atividade sucroalcooleira no
Mundo, no Brasil e no Mato Grosso do Sul. Trazendo ainda a problemática e a
relevância do presente trabalho, o objetivo geral e os específicos e finalmente a
metodologia utilizada no trabalho, além desta descrição sobre o formato do trabalho.
Capítulo 2 – Histórico e Contextualização da Atividade Sucroalcooleira: Este
capítulo busca tecer rapidamente a história da cana-de-açúcar ao Brasil, relatando os
principais eventos pelos quais passou a atividade até chegar aos dias atuais, quando é
construída uma contextualização da cadeia sucroalcooleira no Brasil e no Mundo.
Capítulo 3 – Descrição da Atividade Sucroalcooleira: O capítulo 3 traz a
descrição do que é a atividade sucroalcooleira, como é produzida sua matéria prima,
quais são os principais produtos resultantes do processo industrial e os co-produtos
dessa industrialização.
22
Capítulo 4 – Referencial Teórico: Este capítulo trata do referencial teórico
utilizado para o presente estudo, buscando na literatura especializada a teoria que
servirá de base ao estudo.
Capítulo 5 – Contextualização do desenvolvimento da Cadeia Sucroalcooleira
em MS: Neste capítulo são expostas informações a respeito da cadeia sucroalcooleira
sul-mato-grossense, e analisados os prováveis motivos do seu crescimento.
Capítulo 6 – Considerações Finais: As considerações finais trazem a conclusão a
respeito da investigação quanto ao desenvolvimento da cadeia sucroalcooleira em MS,
as principais dificuldades encontradas na realização do trabalho e ainda sugestões para
trabalhos futuros.
Capítulo 7 – Referências Bibliográficas: Descreve a bibliografia que foi
utilizada para a realização do trabalho.
Anexos – Traz informações complementares ao trabalho.
23
2 – HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA ATIVIDADE
SUCROALCOOLEIRA
Para se compreender a atual conjuntura da cadeia sucroalcooleira se faz
importante a realização de um breve histórico da atividade, abordando-se as principais
fases e eventos que ocorreram ao longo do desenvolvimento da cadeia no Brasil. Segue-
se então uma breve descrição da atividade desde sua chegada ao Brasil.
2.1 - PRIMÓRDIOS DA ATIVIDADE SUCROALCOOLEIRA
No início da atividade sucroalcooleira, o seu principal produto foi o açúcar, sendo
o álcool um produto bem mais recente, que começou a ter significativa importância
quando além de produto para a indústria de fármacos, passou a ser utilizado como
combustível. Atualmente outros co-produtos do setor ganharam importância, como a
energia co-gerada, o bagaço de cana, a vinhaça, a levedura, dentre outros de menor
importância. (FARINA, 1998).
No ano de 1515, o primeiro engenho foi instalado em São Domingos e três anos
depois este número já era de 28 engenhos do mesmo tipo. Sua produção era voltada para
o açúcar exportado para a metrópole. Estes tipos de engenhos quase não evoluíram
desde a sua origem, mesmo que certos melhoramentos tenham sido adotados, nenhum
deles modificou significativamente sua concepção inicial. (BYE et all, 1993).
A cana-de-açúcar sempre apresentou importância significativa ao longo de toda a
História. Na Europa, a raridade e o preço do açúcar faziam dele privilégio de grandes
senhores, produto da farmacopéia ou instrumento de práticas de magia. O comércio do
açúcar do Oriente na Europa proporcionou a formação de grandes fortunas e poderes
nacionais, como por exemplo, Gênova e Veneza. Tendo sido um dos fatores
responsáveis pelas grandes navegações. (COPERSUCAR, 1989).
24
Segundo Szmrecsanyi (1976) (Apud FARINA, 1998), quando o Brasil foi
descoberto, o açúcar era mercadoria bastante escassa na Europa. Embora em pequena
escala, o cultivo da cana já era conhecido pelos portugueses, que o praticavam em suas
ilhas de Madeira e Cabo Verde. Com a descoberta, a cana foi trazida para as novas
terras, enquanto o mesmo era feito pelos holandeses nas Antilhas. Em pouco tempo o
açúcar deixou de ser artigo de luxo e se transformou numa das mais importantes fontes
de energia e alimento humano.
Durante quase dois séculos após o descobrimento, a economia colonial assentou-
se praticamente na agroindústria canavieira. Até esta época o Brasil foi o maior produtor
e exportador de açúcar do mundo. Daí em diante, apesar das numerosas crises, o açúcar
continuou sendo o principal produto comercial de sua agricultura, condição que só veio
a perder em fins do século XIX, quando definitivamente se firmou o ciclo do café
(SZMRECSANYI, 1976 Apud FARINA, 1998).
2.2 A ATIVIDADE SUCROALCOOLEIRA APÓS O BRASIL REPÚBLICA
Quando da ocasião da Proclamação da República, o açúcar ocupava o terceiro
lugar, atrás apenas do café e da borracha. Em 1910 houve uma queda, o que levou o
produto para o sétimo lugar na pauta de exportação. Sendo então precedido por produtos
como o café, o algodão, o cacau, o fumo e o mate. (FARINA, 1998).
Ainda segundo Farina (1998), com a Primeira Guerra Mundial, as exportações
voltaram a crescer e, em 1921, o açúcar voltava para o segundo lugar na pauta das
exportações, embora muito distanciado do café, que permanecia no primeiro lugar. Já
nessa época, porém, a maior parte da produção, que nunca cessara de crescer, era
absorvida pelo mercado interno.
25
Em 1929, devido à crise econômica mundial, a economia açucareira brasileira
sofre o golpe mais violento, pois neste ano o país teve uma grande safra de açúcar, já
impulsionada pela expansão da atividade em São Paulo. A expansão no Centro-Sul se
dá com o aporte do capital comercial e dos antigos cafeicultores se tornando usineiros,
para atender principalmente o crescente mercado interno. (VIAN, 2006).
2.3 O INÍCIO DA INTERVENÇÃO ESTATAL
Farina (1998) relata o início de um período de franca intervenção que irá se
acentuar após a Revolução de 1930 e que marcará profundamente o desenvolvimento de
toda a cadeia açucareira nacional. Essa intervenção foi encarada como uma necessidade
de se assegurar a estabilidade dos preços do açúcar, o que contribuía, ao mesmo tempo,
como um suporte à produção nordestina contra a expansão das Usinas paulistas e
fluminenses.
Os grandes conflitos entre usineiros e cortadores de cana levaram, em 1930, a
criação do IAA no intuito de resolver os problemas da cadeia sucroalcooleira. Surge
então o primeiro açúcar destinado à produção de álcool, que até então era visto como
resíduo da produção de açúcar. O álcool se torna um novo produto, o combustível
álcool motor. A regulamentação previa as cotas de produção, fornecimento e
exportação, tabelamento de preços, subsídios e equalização de preços com o Nordeste.
(VIAN, 2006).
2.4 VALORIZAÇÃO DO ÁLCOOL COMO ALTERNATIVA AO PETRÓLEO
No início da década de 1940 o mundo passava pela II Guerra Mundial, o que
provocava problemas com abastecimento de petróleo nos países importadores como o
26
Brasil da época. Nessa fase o álcool teve um forte incentivo através do aumento de sua
demanda por conta do aumento dos preços e da escassez de petróleo.
Em 1942 o Brasil recebeu a chamada missão Cooke, que teve como objetivo
identificar as possíveis formas de manter a economia brasileira em atividade durante o
período da Segunda Guerra Mundial. E entre as recomendações desta Missão
encontrava-se uma relativa ao álcool, ou seja, a necessidade de se estimular a produção
de álcool-motor como substituto para combustíveis líquidos.
Já na década de 1970 a cadeia sucroalcooleira passou por uma transformação
muito importante, deixando de ser quase que exclusivamente voltada para a produção de
alimentos (açúcar), para se destinar também efetivamente à produção de álcool
combustível (energia).
O Brasil, por ocasião do primeiro choque do petróleo, que elevou o preço do barril
de US$2,91 em setembro de 1973 para US$12,45 em março de 1974, importava 79% de
suas necessidades internas de petróleo (FERNANDES, 1984). Essas expressivas
elevações de preço foram as principais responsáveis pelo acentuado crescimento dos
desembolsos com a importação do produto. Estes desembolsos se elevaram de US$0,6
bilhão em 1973 para US$2,6 bilhões em 1974, chegando ao início da próxima década à
US$10,6 bilhões no ano de 1981. (BORGES, 1988 Apud FARINA, 1998).
Na tentativa de reduzir os efeitos da crise o governo adotou as seguintes medidas:
Elevação do preço interno da gasolina, a fim de inibir o seu consumo;
Elevação das exportações de bens e serviços para compensar os maiores gastos com
petróleo;
Adoção de política externa priorizando relações com países produtores de petróleo,
para garantir o suprimento deste produto e ampliar o mercado para as exportações
brasileiras;
27
Elevação da produção nacional de petróleo e produção de álcool para substituir a
gasolina.
Além do propósito de reduzir a vulnerabilidade do país, no tocante aos
combustíveis líquidos e a amenizar os problemas com a balança de pagamentos, o
Programa teve outros importantes objetivos, como:
Redução das disparidades regionais e individuais de renda;
O crescimento da renda interna;
A expansão da produção nacional de bens de capital;
A geração de empregos.
Com o objetivo de fortalecer e expandir a produção nacional de álcool
combustível foi lançado então no final do ano de 1975 através do decreto 76.593 o
PROÁLCOOL.
2.5 O PROÁLCOOL
O PROÁLCOOL teve como principais forças motrizes de sua criação a
problemática situação internacional do petróleo e suas conseqüências sobre a balança de
pagamentos. A dependência externa de energia e a segurança nacional, além da crise da
economia açucareira mundial, eram outros fatores motivadores do programa.
Tratava-se, pois, de estimular o aumento da oferta alcooleira para fins carburantes,
ou seja, substituir o petróleo importado pelo álcool produzido domesticamente a partir
de biomassas agrícolas. A implantação do PROÁLCOOL – Programa Nacional do
Álcool pode ser dividida em três fases distintas:
28
2.5.1 - Primeira fase do PROÁLCOOL
Esta fase se baseou em grande parte na capacidade do setor açucareiro, através da
implantação de destilarias anexas a usinas de açúcar. Além disso, contou com alguns
instrumentos básicos, descritos por Farina (1998) como:
Estabelecimento de preços remuneradores ao álcool, através da paridade
com o preço da cana-de-açúcar;
Linhas de crédito para investimento em condições extremamente
favoráveis, a saber:
Condições iniciais (prazos de 12 anos para amortização, com três anos de
carência);
Na área industrial: financiamento de 80 a 90% do investimento, com juros
nominais de 15% a.a., para produtores do Norte-Nordeste e 17% a.a. para
produtores do Centro-Sul;
Na área agrícola: financiamento de 100% do investimento, com juros de 7%
a.a. (metade das taxas usuais para crédito rural), sem correção monetária.
Garantia de compra pela PETROBRAS do álcool anidro produzido, que
passaria a ser misturado à gasolina (na proporção de 20%);
Ênfase na produção de álcool hidratado, a partir de 1979, após a segunda
elevação abrupta dos preços do petróleo, no mercado internacional, de
US$12,00 para US$34,00 o barril.
Em 1974/75, a produção de álcool era de 625 milhões de litros, com meta prevista
para 1980 de 3 bilhões de litros. Entre 1976 e 1980 a área colhida de cana-de-açúcar
cresceu 29%, enquanto que a produção total teve um aumento de 43,7%. Vale ressaltar
que nesse período, todo o aumento verificado na produção de cana-de-açúcar foi
destinado à produção de álcool, sendo o Estado de São Paulo responsável por 56% do
aumento. (HOMEM DE MELO, 1981 Apud FARINA, 1998).
2.5.2 - Segunda fase do PROÁLCOOL
Novos eventos foram estabelecidos frente ao agravamento da situação de
abastecimento e de preços do petróleo (segundo choque). Um deles relatados por Mello
(2005) foi a liberação da construção de destilarias autônomas, frente à preocupação do
governo brasileiro com o atendimento da demanda crescente pelo álcool.
29
Então no ano de 1975 foi criada a Sociedade dos Produtores de Álcool de São
Paulo (SOPRAL), para representar os interesses das destilarias autônomas que surgiam.
Esta entidade nasceu com considerável poder de aglutinação e representação, já que
englobava também algumas usinas relevantes que já produziam álcool.
Em 1979 foram ampliados os objetivos do Programa, estabelecendo-se para o
mesmo a ambiciosa produção de 10,7 bilhões de litros de álcool hidratado (94% de teor
alcoólico) a partir da safra 1985/86 (PAMPLONA, 1984). Os instrumentos básicos
foram:
Com o iminente esgotamento de uso da mistura de álcool à gasolina,
apenas o uso direto para veículos especialmente preparados abria novos
mercados para aquele combustível. Como conseqüência, tem-se a adoção do
álcool hidratado como combustível exclusivo de veículos projetados para tal
finalidade. O que exigiu adaptação na linha de produção do setor
automobilístico, na rede de distribuição e no comportamento dos
consumidores, que passaram a aceitar um produto novo, ainda em fase de
desenvolvimento. O êxito superaria a todas as previsões, sendo que na
próxima década (1984) os carros a álcool chegariam a representar até 94,4%
da produção das montadoras;
Uma política definida que remunerava adequadamente o produtor de álcool
e mantinha uma relação diferenciada entre os preços do álcool e da
gasolina;
Expansão da produção de álcool a partir de projetos de destilarias
autônomas, através das quais se tornou possível disseminar a produção de
álcool por todos os estados brasileiros, ampliar o número de beneficiários
do programa, compatibilizar o desenvolvimento da agricultura para fins
energéticos com a produção de alimentos para o mercado interno e
exportação, obtendo-se assim maiores rendimentos sociais;
Adicionalmente, foram fortalecidos os mecanismos de desenvolvimento da
indústria alcoolquímica; (PAMPLONA, 1984).
Houve uma significativa redução no volume de açúcar exportado no período de
1973 a 1979, uma vez que, a produção interna de cana-de-açúcar se direcionava para a
produção de álcool, à medida que aumentava a capacidade das destilarias anexas. Para
exemplificar, entre os anos de 1977 e 1979 há uma queda de 626 mil toneladas na
exportação de açúcar, o correspondente a 388 milhões de litros de álcool. (FARINA,
1998).
30
Este mesmo autor argumenta que face à existência do Acordo Internacional do
Açúcar, mesmo que o Brasil desejasse, não conseguiria aumentar as suas exportações
deste produto. A exportação nacional chegou a 2,80 milhões de toneladas em 1973 e
2,36 milhões de toneladas em 1974, porém, em 1979 a quota brasileira caiu para 1,92
milhões. Isso, mesmo com o crescimento das exportações mundiais de açúcar, que de
1972 para 1978, passaram de 14,62 milhões para 25,70 milhões de toneladas.
Na década de 1980, ocorre a estabilização do álcool e a visão deste como efetivo
substituto à gasolina, mesmo que o fator motivador não seja a conscientização
ambiental e sim as variações no preço do petróleo que influenciaram diretamente o
mercado. (FARINA, 1998). Dá-se início então a terceira fase do PROÁLCOOL.
2.5.3 - Terceira fase do PROÁLCOOL
É aprovada, no final de 1983, pela Comissão Nacional de Energia, uma nova meta
de produção. O PROÁLCOOL atinge então a sua plena e total maturidade, com a nova
meta de produção atingindo a ordem de 14,3 bilhões de litros. No entanto, neste mesmo
momento o barril do petróleo apresenta uma acentuada e gradual queda de preços, o que
consequentemente provoca sobra de gasolina nas refinarias brasileiras.
A maior oferta de gasolina e o seu baixo preço provocado pela queda internacional
do preço do petróleo, acabaram acarretando a redução do interesse pelo combustível
álcool. O que consequentemente também diminuiu as vendas de veículos a álcool,
devido aos baixos preços do combustível concorrente.
Somam-se ainda a estes fatores as crises de produção do álcool, provocadas pela
alta no preço internacional do açúcar o que fez haver uma realocação da cana para este
produto, e consequentemente provocou a escassez do álcool no mercado interno. O que
31
afetou a produção automobilística, levando a uma perda de credibilidade e diminuição
da produção de automóveis ao longo da década. (FARINA, 1998).
Para se ter uma idéia da redução da produção de carros álcool, a sua participação
na produção anual despencou da seguinte forma: 88,4% em 1988, 61% em 1989, 19,9%
em 1990 e apenas 0,3% em 1996 (AIAA, 1997 Apud FARINA, 1998). A ausência de
uma política pública causou a paralisação do setor privado. Outro fator de grande
prejuízo à imagem do setor junto ao consumidor foi o desabastecimento de álcool no
final de 1989, principalmente devido à realocação da cana para produção de açúcar.
Como conseqüência, a participação das importações de petróleo sobre o total das
importações do país passou de cerca de 10% em 1973, para 57% em 1983. Apenas com
importações de petróleo o Brasil desembolsou cerca de US$52 bilhões, entre 1973 e
1982, valor bastante próximo ao da dívida externa neste período, em torno de US$60
bilhões. (BORGES, 1988 Apud FARINA, 1998).
2.6 A DESREGULAMENTACAO DA CADEIA SUCROALCOOLEIRA
É na década de 1990 que se inicia o processo de desregulamentação da cadeia
sucroalcooleira, marcado então pela extinção do IAA. Diversas foram as mudanças
ocorridas na cadeia com a desregulamentação, porém, as que merecem principal
destaque são:
o A liberação dos preços, que foi gradativa, sendo que o primeiro a ser
liberado foi o do açúcar (1990), seguido pelo álcool anidro (1997), cana
(1998) e álcool hidratado (1999);
o A abertura do mercado de distribuição de combustíveis;
o A extinção das cotas de produção para as indústrias.
32
Mesmo com o mercado interno do açúcar estagnado e com a redução da produção
de veículos a álcool a cadeia continuou crescendo ao longo da década de 1990, graças a
crescente exportação de açúcar. O maior aumento de produção se deu na região Centro-
Sul, onde também ocorreu o surgimento de novas tecnologias e da mecanização do
corte. Realizavam-se testes para plantio e automação, com a conseqüente redução do
número de empregos e uma maior qualificação profissional passando a ser exigida.
É neste contexto que em 1997, surge a União das Indústrias Canavieiras –
UNICA, que nasce através da tentativa de unificar as ações dos industriais paulistas para
lidar com o novo ambiente desregulamentado. A UNICA também buscaria solucionar o
problema da representação heterogênea, que enfraquecia o poder de negociação dessa
categoria. Num primeiro momento esses objetivos foram alcançados, já que a entidade
nasce aglutinando 121 das 133 unidades industriais existentes em São Paulo
(MORAES, 2000).
Ainda em agosto deste mesmo ano é criada a Agência Nacional de Petróleo –
ANP, que atuaria como uma Autarquia da Pública Federal, vinculada ao Ministério das
Minas e Energia, tendo como finalidade a regulação, a contratação e a fiscalização das
atividades econômicas da indústria do petróleo e do álcool.
2.7 A VALORIZAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS RENOVÁVEIS E O MEIO AMBIENTE
Na década de 1990 diversos países começam a se interessar por questões
relacionadas à sustentabilidade. Daí surge um crescente interesse pela produção e
utilização de combustíveis renováveis. Seja pela possibilidade de cessar a dependência
do petróleo, que além de ter seu estoque finito é produzido por países com sérios
conflitos geopolíticos. Ou então, seja este interesse movido pelas questões ambientais,
por se tratar de um combustível renovável que não contribui para o temido efeito estufa.
33
Neste contexto, no ano de 1992 o Brasil sediava a Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), na qual participaram os governantes
de 154 países e a Comunidade Comum Européia. Eles firmaram a convenção de que os
países mais poluidores do mundo, listados no chamado anexo 1, deveriam reduzir suas
emissões de gases de efeito estufa, e a atrelaram ao desenvolvimento sustentável.
Então no ano de 1997 foi aprovado o Protocolo de Kyoto, que estabeleceu
condições para a implementação da Convenção de Mudança Climática das Nações
Unidas, aprovada em 1992 no Brasil. Ele estabeleceu como meta a redução de emissão
de gases de efeito estufa pelos países industrializados em pelo menos 5% em relação aos
níveis de 1990, com um período para cumprimento compreendido entre 2008 e 2012.
O seu principal objetivo era buscar a estabilização das concentrações de gases
poluentes atmosféricos. De forma a impedir a interferência antrópica, agravante no
sistema climático, assegurando assim as condições necessárias à sobrevivência da
presente e das futuras gerações.
Porém, para a entrada em vigor do Protocolo de Kyoto, o mesmo deveria ser
ratificado por países que juntos correspondam por, pelo menos, 55% das emissões totais
globais de gases poluentes. Aí surge a grande dificuldade, pois nem todos os países
concordaram com a ratificação. Como exemplo, os Estados Unidos (responsáveis por
36,1% das emissões mundiais de gases de efeito estufa) afirmaram não ser interessante
economicamente a sua ratificação, postergando-a.
2.8 A CADEIA SUCROALCOOLEIRA NO CONTEXTO ATUAL
A cadeia sucroalcooleira se encontra num momento extremamente favorável, no
qual se discute internacionalmente a adoção sistemática do álcool combustível na matriz
34
energética, e com uma forte tendência à comoditização deste produto. Este cenário
juntamente com a consolidação da tecnologia bi-combustível contribuiu para determinar
a condição promissora que se encontra a cadeia nacional nos meados da presente
década.
O avanço da tecnologia FLEX ou Bi-Combustível permitiu que os veículos
pudessem funcionar com gasolina, álcool ou qualquer proporção de mistura entre estes
dois combustíveis. Isso fez com o que um grande obstáculo na comercialização de
carros a álcool fosse ultrapassado, a insegurança da instabilidade de oferta e preços do
álcool. Fator este, que provocou o desinteresse do mercado por automóveis a álcool na
década anterior.
O início da comercialização de carros bi-combustíveis se deu em 2003, e em 2
anos cresceu mais de 1.400%, sendo que a soma dos veículos bi-combustíveis e a
álcool, já no ano de 2005 representava cerca de 27% a mais que a comercialização de
carros à gasolina, Quadro 01. (UNICA, 2007).
35
Quadro 01 – Evolução das vendas de carros, classificados pelo tipo de combustível.
Diesel Gasolina
Á
lcool Flex Fuel (álcool + flex) Total anual
1979
906.885 3.120 3.120 910.005
1980
627.050 240.643 240.643 867.693
1981
344.490 137.307 137.307 481.797
1982
365.520 232.575 232.575 598.095
1983
78.816 579.328 579.328 658.144
1984
33.563 565.536 565.536 599.099
1985
26.675 645.551 645.551 672.226
1986
62.020 697.049 697.049 759.069
1987
31.240 458.683 458.683 489.923
1988
77.327 566.482 566.482 643.809
1989
260.881 399.529 399.529 660.410
1990
542.862 81.996 81.996 624.858
1991
526.600 150.982 150.982 677.582
1992
476.409 195.503 195.503 671.912
1993
706.487 264.235 264.235 970.722
1994
964.555 141.835 141.835 1.106.390
1995
1.234.254 40.707 40.707 1.274.961
1996
1.432.656 7.647 7.647 1.440.303
1997
1.554.116 1.120 1.120 1.555.236
1998
1.103.210 1.224 1.224 1.104.434
1999
981.508 10.947 10.947 992.455
2000
1.188.720 10.292 10.292 1.199.012
2001
1.273.930 18.335 18.335 1.292.265
2002
1.206.664 55.961 55.961 1.262.625
2003
1.108.537 39.707 48.178 87.885 1.196.422
2004
1.077.945 50.949 328.379 379.328 1.457.273
2005(
a
)
66.368 614.751 27.081 755.810 782.891 1.464.010
TOTAL 66.368 18.807.671 5.624.324 1.132.367 6.756.691 25.630.730
Nota: (
a
) até novembro de 2005
Fonte: ANFAVEA. Elaborado por UNICA. <acessado em 09/01/2007.
Total de venda anual de veículos no Brasil, conforme tipo de combustível.
Veículos por tipo de combusvel
Peodo
A entrada de transnacionais no setor também foi outra alteração ocorrida na
presente década, o que consequentemente provocou também certa mudança no perfil da
administração e do controle de muitas empresas. (MELLO, 2005). Na busca por maior
eficiência as empresas da cadeia sucroalcooleira tem realizado a contratação de
profissionais qualificados e de executivos para gerenciar os negócios, o que é um sinal
de mudança do estigma de herança familiar.
A cadeia sucroalcooleira ganha importância na matriz energética, sendo
considerada então, parte do novo conceito de Cadeia de Agroenergia. Tanto que, nas
esferas públicas, começa a ser construída uma nova e consciente visão da importância
da Agroenergia na composição dessa nova matriz energética brasileira e mundial. Sendo
36
que, no ano de 2005 o Governo Federal lança o “Plano Nacional de Agroenergia”., que
tem como objetivo principal:
“... Organizar a partir da análise da realidade e das perspectivas futuras da
matriz energética mundial, uma proposta de Pesquisa, Desenvolvimento,
Inovação e de Transferência de Tecnologia, com vistas a conferir
sustentabilidade, competitividade e maior eqüidade entre os agentes das
cadeias de agroenergia. Incluindo ainda a conformidade com os anseios da
sociedade, as demandas dos clientes e as políticas públicas das áreas
energética, social, ambiental, agropecuária e de abastecimento...” (MAPA
2005).
Na década passada através do Protocolo de Kyoto, artigo 12: Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo – MDL, ou em inglês Clean Development Mechanism (CDM),
a partir de uma iniciativa do governo brasileiro, foi construída uma proposta para
financiamento de projetos geradores de reduções certificadas de carbono - Certified
Emission Reductions ou CERs. A chamada comercialização dos créditos de carbono
seria realizada por empresas de auditoria credenciadas pela Organização das Nações
Unidas – ONU, que iriam validar os projetos de desenvolvimento limpo.
Pelo MDL, qualquer país incluído no Anexo 1 do Protocolo de Kyoto pode
adquirir de qualquer outro país, não incluso neste Anexo, reduções validadas e
certificadas pelas auditorias auferidas pelas empresas credenciadas pela ONU. Dessa
forma, seria propiciado o cumprimento de parte das responsabilidades assumidas pelos
países do Anexo 1, com relação à redução das emissões de gases poluentes de efeito
estufa.
A comercialização de créditos de carbono consiste numa nova oportunidade para a
cadeia sucroalcooleira brasileira. Apesar das incertezas, muitas empresas dos países
poluidores (Anexo 1) do Protocolo de Kyoto já estão se mobilizando para obter os
créditos de carbono.
37
A principal experiência nesse sentido é o Fundo do Protótipo do Carbono
(Prototype Carbon Fund), administrado pelo Banco Mundial (BIRD), que inclui
investidores de vários países. O fundo, com captações na ordem de US$180 milhões, até
o momento já financiou 14 compras de lotes de carbono. Evitando emissões de CO
2
da
ordem de 36 milhões de toneladas. O valor da tonelada de carbono é negociado em
média entre US$5,00 a US$10,00, podendo representar nova fonte de renda para a
atividade sucroalcooleira.
Atualmente a cadeia sucroalcooleira compreende atividades que vão muito além
da produção de açúcar e álcool, para uma melhor compreensão do que representa esta
cadeia em seguida será descrita mais detalhadamente a atividade.
38
3 – DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE SUCRO-ALCOOLEIRA
Faz-se interessante destacar a relevância do agronegócio sucroalcooleiro no Brasil,
que representa cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola nacional.
(AMARAL 2003). Também é relevante uma breve descrição da atividade
sucroalcooleira, para familiarização aos processos, produtos e termos utilizados ao
longo do trabalho. Uma representação da cadeia sucroalcooleira pode ser observada na
Figura 1.
Fonte: Ministério de Minas e Energia, 2003.
Figura 1 – Cadeia Sucroalcooleira e os fatores que regulam a produção de álcool e
açúcar.
Um importante aspecto que coloca o Brasil em posição de destaque no cenário
mundial são os custos de produção obtidos para os produtos da cadeia sucroalcooleira,
com praticamente nenhuma forma de proteção à atividade.
No caso do açúcar produzido de cana-de-açúcar, o Brasil possui o menor custo do
mundo, estimado ao redor de US$180,00 por tonelada, sendo que em São Paulo pode
chegar a US$165,00 por tonelada. Na Austrália, detentora do segundo menor custo de
39
produção do mundo, ele está em torno de US$335,00 por tonelada de açúcar, ou seja,
quase o dobro do Brasil.
Por sua vez, na União Européia, de forma geral, os custos de produção médios
atingem US$710,00 por tonelada. Como os preços no mercado internacional de açúcar
giram em torno de US$225,00, as exportações da União Européia são realizadas graças
a elevados subsídios à exportação. (AMARAL, 2003).
A cultura da cana-de-açúcar, uma gramínea semi-perene, ocupa atualmente mais
de 5 milhões de hectares em duas regiões distintas: Centro-Sul e Norte-Nordeste,
separadas por regimes de chuvas diferentes, que condicionam assim suas safras. No
Centro-Sul, onde se concentra cerca de 85% da produção nacional, a safra é contada de
maio a abril, enquanto a do Nordeste vai de setembro a agosto.
3.1 A MATÉRIA-PRIMA: CANA-DE-AÇÚCAR
A cana-de-açúcar é uma planta da família das gramíneas (Saccharum officinarum
L.) cultivada nas regiões tropicais e subtropicais. Ela pode ser considerada uma cultura
perene, pois apresenta ciclo de produção de 5 a 7 anos. No Brasil, ela é a base para a
produção de açúcar, álcool e outros subprodutos, sendo que a produção brasileira para a
safra de 2005/06 foi de 386.584.387 de toneladas, segundo a UNICA (2007).
Lima et al (2001), relata que uma tonelada de cana-de-açúcar moída produz em
média 850 litros de caldo, do qual entre 78 a 86% é água, de 10 a 20% sacarose dentre
outras substâncias em menores quantidades.
Sua composição química é apresentada no Quadro 02, entre as substâncias
encontradas na cana-de-açúcar, a mais importante é a sacarose, que é um dissacarídeo
formado por uma molécula de glicose e uma de frutose.
40
Quadro 02 – Composição média da cana-de-açúcar em porcentagem.
Componentes Teor (%)
Água 65 a 75
Açúcares 11 a 18
Fibras 8 a 14
Sólidos solúveis 12 a 23
Fonte: Caderno Copersucar, 1988.
Composição média da cana-de-açúcar.
Após o plantio, a cana alcança a maturidade com cerca de um ano, sendo
conhecida neste caso como “cana de ano”, ou quando colhida ao redor de 18 meses,
chamada de “cana de ano e meio”. Depois de serem transportadas até as usinas o
material é pesado, amostrado, realizada a análise de qualidade, só então é feito o
descarregamento. Em seguida a cana passa pelo processo de extração do caldo, que será
encaminhado para a fabricação de açúcar ou de álcool.
O rendimento industrial é de aproximadamente 120 kg de açúcar ou 80 litros de
álcool anidro por tonelada de cana. Sendo que os produtores recebem pela cana através
de um método que busca auferir o faturamento obtido pela unidade industrial e a
participação do custo de produção de cana no custo total (industrial + lavoura).
Determinando assim uma parcela do faturamento total destinado ao pagamento ao
fornecedor.
O método de um lado quantifica o total de açucares recuperáveis (ATR – Açúcar
Total Recuperável) na cana e de outro o preço de faturamento por kg de açúcar total
recuperável (ATR), aplicando a seguir o fator de participação do fornecedor, do que
resulta o preço bruto por tonelada de cana. (UDOP, 2007).
41
3.2 PRINCIPAIS PRODUTOS E CO-PRODUTOS
Além dos dois produtos mais conhecidos, açúcar e álcool, obtidos através do
processamento da cana, existem uma gama de outros co-produtos que são utilizados e
começam a ganhar importância econômica dentro da atividade. Serão descritos adiante
os principais produtos e co-produtos da industrialização da cana-de-açúcar.
3.2.1 - Álcool Etílico (C2H5OH)
O álcool proveniente da fermentação e destilação do caldo rico em açúcar da cana
é também conhecido como etanol, metilcarbinol ou álcool de cana. É um líquido
incolor, transparente, volátil e miscível na água e em diferentes líquidos orgânicos, que
é normalmente comercializado na forma hidratada (95 – 96%) ou anidra (maior que
99%) (ARIAS, 1999 Apud LANZOTTI, 2000).
Segundo o mesmo autor, além de ser utilizado como combustível, o álcool pode
ser empregado como anti-séptico, solvente, agente preservante, sendo utilizado ainda
como precipitador, óleos essenciais, drogas, ceras, elaboração de bebidas alcoólicas
entre outros.
A produção de álcool hidratado e anidro em m
3
na safra de 2005/06 foi de
8.170.229 e 7.765.653, respectivamente, somando um total de 15.935.882 m
3
e
colocando o país em primeiro lugar na produção mundial de etanol de cana-de-açúcar.
UNICA (2007).
3.2.2 – Açúcar
O açúcar é um carboidrato encontrado naturalmente nas frutas e vegetais.
Comercialmente ele é obtido a partir do beneficiamento de méis cristalizáveis da cana-
42
de-açúcar e da beterraba, sendo destinado principalmente a adoçar bebidas e alimentos.
O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar de cana, com uma produção que, na safra
de 2005/06 ficou ao redor de 25.834.486 de toneladas, sendo que neste período
18.142.820 de toneladas foram destinadas à exportação, segundo a UNICA (2007).
Quadro no anexo 1.
De acordo com a UNICA (2000), atualmente existem os seguintes tipos de açúcar:
Açúcar refinado granulado: puro, sem corantes, sem umidade ou
empedramento e com cristais bem definidos e granulometria homogênea. É
utilizado na indústria farmacêutica, em confeitos e xaropes.
Açúcar refinado amorfo: baixa cor, dissolução rápida, granulometria fina
e brancura excelente, o refinado amorfo é utilizado no consumo doméstico,
em misturas sólidas de dissolução instantânea, bolos e confeitos e caldas
transparentes e incolores.
Açúcar de confeiteiro: com grânulos bem finos, cristalinos, sem refino e
destinado à indústria alimentícia, que o utiliza em massas, biscoitos,
confeitos e bebidas.
Açúcar mascavo: é um alimento obtido diretamente da concentração do
caldo-de-cana recém extraído, eliminando o uso de aditivos químicos para o
processo de branqueamento e clarificação. Sua cor pode variar do dourado
ao marrom escuro.
Xarope invertido: com 1/3 de glicose, 1/3 de frutose e 1/3 de sacarose,
solução aquosa com alto grau de resistência à contaminação microbiológica,
que age contra a cristalização e a umidade. É utilizado em frutas em calda,
sorvetes, balas, caramelos, licores, geléias, biscoitos e bebidas
carbonatadas.
Xarope simples ou açúcar líquido: transparente e límpido é uma solução
aquosa usada quando é fundamental a ausência de cor. É usado na
fabricação de bebidas claras, balas, doces e produtos farmacêuticos.
Açúcar orgânico: produto com granulação uniforme, produzido sem
nenhum aditivo químico, tanto na fase agrícola quanto na industrial, e pode
ser encontrado nas versões claro e dourado. Seu processamento segue os
princípios internacionais de agricultura orgânica e é anualmente certificado
pelos órgãos competentes. (UNICA, 2000).
O anexo 1 traz os quadros com os principais países importadores do açúcar
produzido pelo Brasil, sendo, segundo a UNICA (2007), a Rússia o maior comprador do
produto com um volume de 3.977.990 toneladas.
43
3.2.3 – Vinhaça
A vinhaça é o principal subproduto da fabricação do álcool, sendo produzido em
maior quantidade, pois para a produção de um litro de álcool são produzidos de 10 a 14
litros de vinhaça. Até duas décadas atrás, este resíduo causava grandes danos ambientais
porque era descartado sem nenhum tratamento nos rios, provocando a contaminação das
águas e a morte de peixes e outros animais silvestres.
Atualmente é empregada como fertilizante nas lavouras de cana-de-açúcar,
contribuindo para manutenção da produtividade da cultura. Sua aplicação pode
substituir em parte o uso de fertilizantes. Por exemplo, a aplicação de 150 m
3
de vinhaça
por hectare equivale a uma adubação de 61 kg/ha de nitrogênio, 40 kg/ha de fósforo,
343 kg/ha de potássio, 108 kg/ha de cálcio e 80 kg/ha de enxofre. Todos
macronutrientes indispensáveis à produção agrícola (MMA, 1999).
A vinhaça pode ser aplicada por distribuição em sulcos e canais ou por caminhões
tanque. Para que não haja o risco de salinização do solo, é necessário considerar sua
composição química e morfológica e o tipo específico da vinhaça para a correta
aplicação. De acordo com Moreira et al (1999) uma aplicação de 100 m
3
de vinhaça
aumenta em 1 t/ha a produtividade da cana. A composição química representada no
Quadro 03 varia em função do tipo de mosto
2
utilizado na fermentação para a produção
de álcool.
2
Mosto: É uma solução de açúcar cuja a concentração foi ajustada de forma a facilitar a sua fermentação.
Basicamente é cunstituido pela mistura de méis e caldo com uma concentração de sólidos de 17 a 22º
Brix. COPERSUCAR (1989)
44
Quadro 03 – Quantidade em kg/m
3
dos principais nutrientes, de matéria orgânica
e valor do pH da vinhaça proveniente de três tipos de mosto.
Melaço Misto Caldo
N 0,7 a 0,8 0,3 a 0,5 0,2 a 0,4
P
2
O
5
0,1 a 0,4 0,1 a 0,8 0,1 a 0,5
K
2
O
3,5 a 7,6 2,1 a 3,4 1,1 a 2,0
CaO 1,8 a 2,4 0,6 a 1,5 0,1 a 0,8
MgO 0,8 a 1,4 0,3 a 0,6 0,2 a 0,4
SO
4
1,5 1,6 2,0
Matéria orgânica 37,3 a 56,9 19,1 a 45,1 15,3 a 34,7
pH 4,0 a 4,5 3,5 a 4,5 3,5 a 4,0
Fonte: CORTEZ, 1992.
Mosto
Composição química da vinhaça (kg/m
3
de vinhaça).
Nutrientes
Além da fertirrigação, a vinhaça pode ser aproveitada utilizando-se métodos de
tratamento que requerem maiores investimentos. A vinhaça em uma concentração de
60% pode ser usada como fertilizante. Após esta concentração, ela pode ser seca por
atomização, sendo o pó obtido usado como complemento de ração ou incinerado para
geração de vapor e obtenção de cinzas potássicas para uso como fertilizantes.
A vinhaça ainda pode ser utilizada na geração de metano (combustível) pela
fermentação anaeróbica que produz, como resíduo, um biofertilizante de uso agrícola. A
vinhaça serve de substrato na fermentação aeróbica para o desenvolvimento de certos
microorganismos de elevado teor protéico (proteína unicelular) que pode ser empregada
como complemento de ração (CAMARGO, 1990).
3.2.4 - Bagaço da cana-de-açúcar
O bagaço da cana-de-açúcar é um resíduo que pode ser aproveitado como recurso
energético (combustível), como matéria-prima na indústria de celulose (aglomerados),
na indústria química, na construção civil (material alternativo) e como ração animal. A
quantidade de bagaço obtida por unidade de massa de cana depende do teor de fibra,
45
que varia em função de sua espécie e o momento do corte (WALTER, 1993). No
Quadro 04 está representada a composição química do bagaço in natura e hidrolisado.
Quadro 04 – Principais componentes do bagaço in natura e hidrolizado em %.
Item
In natura
Hidrolisado
Matéria seca 48,31 44,32
Proteína bruta 1,86 1,67
Fibra bruta 45,09 34,45
Extrato etéreo 2,26 4,86
Matéria mineral 2,73 4,77
Extrativo não nitrogenado 48,06 54,25
Fibra em detergente neutro 85,24 58,16
Fibra em detergente ácido 62,33 62,65
Celulose 44,69 43,99
Hemicelulose 22,91 - - -
Lignina em detergente ácido 14,89 15,06
Ca n.d. 0,12
P n.d. 0,02
K n.d. 0,16
Fonte: CORTEZ, 1992. n.d. = não disponível
%
% na matéria seca
Composão do bagaço
Como insumo energético, o bagaço permite a auto-suficiência energética das
usinas e até mesmo a produção de excedente energético para comercialização. Ele pode
ser queimado diretamente em caldeiras ou pela gaseificação. Industrialmente o bagaço
pode ser utilizado para fabricação de celulose e papel como alternativa ao uso da
madeira de eucalipto e pinho.
Este co-produto (nomenclatura mais apropriada), ainda pode ser utilizado na
produção do furfural (solvente para a refinação de óleos lubrificantes, resinas de
madeira e óleos vegetais). Pode-se produzir ainda álcool furfurílico que é matéria-prima
para polímeros furânicos, anticorrosivos, polímeros de uréia, formaldeídos modificados,
fragrâncias e solvente de resinas e corantes (CAMARGO, 1990).
Outras duas importantes utilizações do bagaço são para a indústria de placas de
compensados e na alimentação animal. Pois apesar de ter um baixo valor nutritivo, após
46
passar por um tratamento químico ou físico e ser complementado com outros nutrientes,
torna-se um alimento de bom valor nutritivo, podendo ser empregado como opção para
ração animal.
3.2.5 - Torta de filtro
A torta de filtro é produzida no processo de clarificação do caldo, onde, para cada
tonelada de cana moída, são produzidas de 30 a 40 kg de torta de filtro (CORTEZ,
1992). Sua destinação principal é a aplicação ao solo como fertilizante orgânico, sendo
uma fonte de nutrientes e matéria orgânica, retornando ao solo parte dos nutrientes
extraídos pelas plantas.
A quantidade da torta de filtro resultante dos processos produtivos é relativamente
pequena em relação à produzida de bagaço. Sua aplicação é realizada através de
caminhões e tratores que as distribuem na cultura da cana. Ela pode também ser
utilizada em outras culturas, o Quadro 05 traz sua composição, determinada por três
diferentes fontes.
Quadro 05 – Principais nutrientes da torta de filtro em (%).
COOPERSUCA
R
IAA/PLANALSUCA
GLORIA et al 1974
N 1,41 0,87 1,26
P205 1,94 1,35 2,61
K2O 0,39 0,28 0,27
Ca 2,1 2,18 5,04
Mg 0,89 0,24 0,54
Carbono 39,6 31,2 36,2
Relação C/N 28:01:00 36:01:00 29:01:00
Umidade 79 61 75
Fonte: CORTEZ, 1992.
Elemento
Porcentagem de nutrientes na matéria seca da torta de filtro.
47
3.2.6 - Novos produtos industriais
Existem outros produtos que foram apresentados por ANDRIETTA (1998) que
são caracterizados por possuírem um valor agregado maior e que são obtidos a partir
dos subprodutos da cana-de-açúcar. Assim, a partir do etanol, podem ser produzidos
etileno, acetaldeído, éter etílico, acetona e clorofórmio.
Partindo do melaço se pode obter a levedura utilizada para panificação e como
fonte de proteína; L-lisina produzida por bactérias do gênero Brevibacterium; glutamato
de sódio da fermentação por Micrococcus glutamicus; ácido cítrico do fungo
Penicillium ou Aspergillus; goma xantana da bactéria Xantomonas campestri; adoçantes
líquidos, açúcar líquido, açúcar invertido, newsugar, sucralose, dentre outros.
48
4 – REFERENCIAL TEÓRICO
Utilizou-se como base teórico-empírica o Desenvolvimento Sustentável, a escolha
se justifica na importância de se analisar o crescimento da cadeia sucroalcooleira no
Estado de Mato Grosso do Sul com um aparato teórico mais abrangente. A teoria
escolhida nos permite analisar o objeto do estudo a partir de três pontos de vista, o
econômico, o social e o ambiental. Isso é extremamente relevante, pois o equilíbrio
entre eles é mais importante que a simples predileção por um único.
4.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Os conceitos relacionados ao desenvolvimento sustentável, foram utilizados para
análise da cadeia sucroalcooleira, pois permitiu analisar o desenvolvimento desta
através de três condições básicas de sustentabilidade, que são:
¾ Justiça social.
¾ Viabilidade econômica.
¾ Correto posicionamento ambiental.
Para Sachs (2002), o desenvolvimento sustentável é o estabelecimento de um
aproveitamento racional e ecologicamente correto da natureza em benefício das
populações locais, levando-as a incorporar a preocupação com a biodiversidade em seus
próprios interesses, como um componente de estratégia de desenvolvimento.
Este autor ainda amplia para oito, os critérios necessários para que se ocorra
efetivamente a sustentabilidade, sendo: Social, Cultural, Ecológica, Ambiental,
Territorial, Econômico, Política Nacional e Política Internacional.
No entanto, foi apenas a partir da década de 1980, que se tornou mais comum à
utilização do adjetivo sustentável junto ao substantivo desenvolvimento. As noções
referentes à sustentabilidade inicialmente pertenciam à biologia e se referiam
49
especialmente às condições em que a exploração dos recursos naturais renováveis se
daria sem o comprometimento dos ecossistemas.
Na opinião de Veiga (2005), a origem do termo desenvolvimento sustentável está
ligada a três antecedentes: “desenvolvimento econômico”, “crescimento com
distribuição de renda”, e “desenvolvimento humano”.
Segundo este mesmo autor o desenvolvimento econômico até meados dos anos
1970 havia sempre sido identificado como progresso, sendo que o enriquecimento
levaria a melhoria dos padrões sociais. Porém, quando do surgimento do primeiro
Relatório sobre Desenvolvimento Humano em 1990, se percebeu que o crescimento
econômico não se traduzia necessariamente em benefícios para sociedade como um
todo.
O próximo aspecto proposto por Veiga (2005), que serve de antecedente para o
desenvolvimento sustentável seria então o “crescimento com distribuição de renda”, que
poderia então alcançar tal objetivo. Visto que não basta o crescimento da renda per
capta, é necessária também sua justa distribuição.
Daí surgiu a clássica idéia da curva de Kuznets, que relacionava crescimento com
distribuição e evidenciava que a desigualdade de renda tendia a aumentar com a fase
inicial de industrialização de uma nação, ou seja, com o início de seu desenvolvimento.
Veiga (2005) ainda lembra que foi daí que surgiu a famosa parábola de que
primeiramente o bolo necessita crescer para que depois possa ser dividido.
A teoria de Kuznets foi superada somente quarenta anos depois quando o Banco
Mundial publica um trabalho de quatro décadas em que foram avaliadas 108 economias
e que demonstrou a inexistência de um único padrão histórico de evolução da
distribuição de renda.
50
O último termo que compõe a idéia de desenvolvimento sustentável é o aspecto
relacionado ao “desenvolvimento humano”. Pois, apesar da pobreza ser uma idéia
econômica, ela deve ser entendida sob a dimensão cultural. Além das formas mais
brutas de pobreza como a fome ou a falta de saneamento básico, por exemplo, pobreza
também está ligada à privação da participação da vida social e cultural de uma
sociedade. Segundo ainda o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2004: “a cultura
estabelece uma importante relação entre rendimentos relativos e capacidades humanas
absolutas”.
Na concepção de Sen (1999, Caput VEIGA, 2005) Desenvolvimento Humano
apresenta as seguintes premissas:
“... Só há desenvolvimento quando os benefícios do crescimento servem à
ampliação das capacidades humanas, entendidas como o conjunto das
coisas que as pessoas podem ser, ou fazer, na vida. E são quatro as mais
elementares: ter uma vida longa e saudável, ser instruído, ter acesso aos
recursos necessários a um nível de vida digno e ser capaz de participar da
vida da comunidade...” (SEN 1999, Caput VEIGA, 2005).
No ano de 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento
publica o Famoso Relatório Brundtland, intitulado “Nosso Futuro Comum”, que foi o
marco de um novo paradigma de desenvolvimento com sustentabilidade, e que
influenciou diversos setores das sociedades modernas. O relatório define
Desenvolvimento Sustentável como:
“... O processo capaz de satisfazer as necessidades das gerações presentes
sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas
próprias necessidades.” Sendo ainda: “um processo de mudança na qual a
exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de acordo
com as necessidades atuais e futuras...” (NAÇÕES UNIDAS, 1987).
Dessa forma, o desenvolvimento sustentável rejeita políticas e práticas que dêem
suporte aos padrões de vida correntes à custa da deterioração da base produtiva,
51
inclusive a de recursos naturais, e que diminuam as possibilidades de sobrevivência das
gerações futuras. (REPETTO, 1986).
É possível perceber que no âmbito rural, se torna uma tarefa ainda mais complexa
conciliar desenvolvimento no sentido de aumentos de produção, seja pela produtividade
ou pela integração de novas áreas, com a preservação do meio ambiente. Isso porque
toda e qualquer intervenção humana no meio provoca impactos
3
, que afetam o estado
natural deste.
Talvez uma solução seja aceitar então a idéia de que o caminho para o
desenvolvimento passe pela interferência humana no meio ambiente. No entanto, de
forma racional que permita que estes recursos possam ser preservados, apesar de
alterados, podendo ainda ser utilizados pelas gerações futuras para garantirem também
sua sobrevivência.
Marouelli (2003) reflete sobre este aspecto:
“... A própria palavra “sustentabilidade” possui forte conotação valorativa,
refletindo mais uma expressão de desejos e valores de quem a exprime do
que algo concreto, de aceitação geral. Por isso mesmo as definições
correntes de desenvolvimento sustentável são vagas e amplas...”.
“... No confronto com a opção de crescer e no processo de impor inevitável
desgaste ao estoque de recursos naturais, ou conservar o meio ambiente, o
crescimento sustentável prevê os dois: crescimento com conservação; e
assim se qualifica como um objetivo social eticamente legítimo...”.
Souza (1994) amplia um pouco mais o conceito de desenvolvimento sustentável,
afirmando que ele baseia sobre duas solidariedades: a Solidariedade Sincrônica
3
Um dos impactos causados por intervenções humanas é o Impacto Ambiental que é definido pelo
Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA como sendo qualquer alteração das propriedades
físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia
resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, a segurança e o bem-
estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente e a qualidade dos recursos naturais.
52
relacionada com a geração a qual pertencemos e a Solidariedade Diacrônica
relacionada com as gerações futuras.
Por outro lado, Buarque (1999), faz uma importante reflexão alertando para o
risco de um posicionamento que em detrimento do presente se importa apenas com um
futuro, que acima de tudo pode ser incerto:
“... A parcela da geração atual que padece de pobreza e desigualdade não
pode se sacrificar em função de um futuro improvável e imponderável para
seus filhos e netos, assumindo um comprometimento com o futuro sem
sequer ter o presente...”.
Suas ponderações alertam para a necessidade de garantir qualidade de vida
também para as atuais gerações. O que no discurso de muitos radicais comovidos com o
bucolismo das paisagens inalteradas pelo homem não está presente. Daí a importância
do desenvolvimento de sistemas de produção que possam além de preservar o ambiente,
acima de tudo gerar riquezas, e que estas sejam bem distribuídas, reduzindo a grande
diferença social entre as nações e dentro de uma mesma nação.
Buarque (1999) contribui ainda mais ao tema desenvolvimento sustentável
definindo ser ele:
“... Um processo de mudança social e elevação das oportunidades da
sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento
econômico, conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social,
partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre as
gerações...” (BUARQUE, 1999).
Para a análise do crescimento da cadeia sucroalcooleira em MS, tem que ser
compreendido que haverá certo impacto ambiental provocado pela nova atividade. Ele
pode ser causado tanto pela substituição das culturas atuais como a soja ou a pecuária
pela cultura da cana. Ou então pela operação das usinas que produzirão açúcar e álcool.
No entanto, tais impactos devem ser dimensionados, previstos, monitorados e
controlados, papel este que oficialmente no estado é realizado pelos órgãos públicos de
53
defesa ambiental como Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos e o
Instituto de Meio Ambiente Pantanal, SEMA/IMAP, ou secretarias municipais de meio
ambiente.
À sociedade e às organizações não governamentais também cabe a função de
participar deste processo de industrialização no estado, isentas, porém, de paixões que
não as permitam compreender que tanto a preservação ambiental, quanto o
desenvolvimento econômico e social são importantes para o estado.
O crescimento econômico é estudado neste trabalho, buscando-se avaliar o que ele
representa para o estado. Se realmente trará divisas para a economia estadual e regional.
Não menos importante, também se faz a compreensão de como se configura a
distribuição de renda dentro deste novo setor. Se ela acontece de forma justa, ou apenas
através de subempregos desumanos que nada contribuem para uma sociedade mais justa
e eqüitativa.
Ao se avaliar a sustentabilidade ambiental do desenvolvimento da cadeia
sucroalcooleira em MS, é importante entender que além dos impactos referentes aos
resíduos industriais e o da substituição das atividades agropecuárias tradicionais,
também haverá um aumento generalizado da pressão sobre os recursos naturais do
estado, como:
Maior necessidade da utilização de mão-de-obra que certamente atrairá
migrantes de outras regiões para o estado;
Maior grau de mecanização, com conseqüente aumento do consumo de
combustíveis, lubrificantes, dentre outros;
Aumento do trafego de veículos nas estradas, especialmente de veículos
pesados, com certamente elevação do número de atropelamento de animais
silvestres. Aspecto que o estado já apresenta elevados índices.
54
Por outro lado, também há de se considerar os impactos positivos como:
Redução
4
na emissão de gases poluentes no estado como CO
2
, gases de
enxofre, dentre outros, devido a provável redução do preço do álcool e o seu
conseqüente maior consumo.
Maior conservação dos recursos naturais devido à cultura da cana exigir um
melhor preparo do solo. Conferindo ainda uma melhor cobertura do solo, entre
outras características positivas como ciclos produtivos mais longos que o da
soja, conferindo melhor proteção ao solo.
Menor utilização de defensivos que a soja, dentre outros aspectos que serão
descritos adiante.
4
Segundo Macedo (2001), a utilização do álcool desde a década de 1990 permitiu a eliminação total dos
aditivos com Pb (chumbo) na gasolina. Também promoveu a eliminação de 100% do SOX (gases de
enxofre), a redução dos particulados de Carbono e a diminuição em aproximadamente 70% na emissão de
monóxido de carbono (CO) nos motores que utilizavam 100% de etanol (E 100). Com a adição de 22% de
álcool na gasolina (E 22), a redução de monóxido foi de até 40% comparados com veículos que
utilizavam gasolina pura.
55
5 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DA CADEIA
SUCROALCOOLEIRA EM MS
Neste capítulo é realizada uma breve caracterização do Estado de Mato Grosso do
Sul em termos dos empreendimentos sucroalcooleiros já instalados, dos novos projetos
e também dos aspectos que podem ter influenciado nas decisões das empresas de
ampliarem ou instalarem novos empreendimentos no estado.
5.1 EMPREENDIMENTOS NO ESTADO DE MS
As principais indústrias sucroalcooleiras do estado se instalaram aqui no final da
década de 1970, incentivadas pelo PROÁLCOOL, seguindo o processo de crescimento
do setor que promoveu a disseminação das Destilarias e das Usinas por todo o país.
Outra parte dos empreendimentos foi implantada entre as décadas de 1980
5
e 1990.
Atualmente no Estado de Mato Grosso do Sul existem nove unidades
sucroalcooleiras em operação. Através dos processos de licenciamento ambiental e das
solicitações de termo de acordo para benefícios fiscais, estima-se que poderão ser
implantadas no estado entre 18 a 41 novas unidades nos próximos 5 anos.
5.1.1 – A organização das empresas sucroalcooleiras
As empresas sucroalcooleiras do estado estão organizadas no seu sindicato, o
Sindicato da Indústria da Fabricação do Açúcar e do Álcool do Estado de Mato Grosso
do Sul, SINDAL-MS, que inicialmente foi constituído como uma associação dos
produtores de álcool.
5
Havia um projeto para a instalação de uma grande indústria na bacia do Rio Paraguai, mais
especificamente na região de Miranda, segundo Heberle (2007), seria uma das maiores usinas do país.
Porém, devido a uma grande pressão da sociedade liderada por ONG’s ambientalistas, a instalação deste
empreendimento, assim como de qualquer outra indústria sucroalcooleira ficou impedida na bacia do Rio
Paraguai, Lei 382/1982.
56
Esta associação foi criada em 01 de fevereiro de 1986, através da reunião de todas
as usinas então instaladas em MS. Após dois anos da criação da Associação, deu-se o
início o processo de sua transformação em Sindicato, que aconteceu em 1989. Segundo
o SINDAL-MS, o ato foi assinado pelo então Ministro do Trabalho Almir Pazianoto.
O papel do SINDAL-MS é o de representar a classe produtora de cana-de-açúcar,
açúcar e álcool no estado. Defendendo os interesses coletivos e se fazendo presente nas
comissões e conselhos estaduais dentre outras instâncias nas quais se fizer necessária a
efetiva representação da cadeia. A função do sindicato é baseada num programa
desenvolvido pela Diretoria, sendo de responsabilidade do sindicato cumprir as metas
estabelecidas nestes programas.
As deliberações são tomadas pela Diretoria, sempre com a maioria absoluta dos
associados, sendo que todas as unidades produtoras do MS são filiadas ao sindicato. As
participações se dão nas Reuniões ordinárias e extraordinárias, sempre convocadas pela
sua diretoria executiva. Outro importante órgão para a cadeia é a Câmara Setorial do
Açúcar e Álcool, criada dentro da Secretaria Estadual de Produção – SEPROTUR, na
qual o SINDAL-MS tem lugar na estrutura organizacional, sendo o seu coordenador o
diretor do sindicato.
5.1.2 – A situação das empresas em operação no estado
O SINDAL-MS por representar todas as empresas do estado se constitui uma
importante fonte de informações sobre a cadeia sucroalcooleira. Segundo este, as
empresas em operação no estado são nove, representadas no mapa da Figura 2. A
posição do triângulo indicador da indústria não representa sua localização no município,
pois a indústria de Sidrolândia se localiza na Bacia do Alto Paraguai.
57
As indústrias do estado em operação são as seguintes:
1. Alcoolvale S/A – Álcool e Açúcar, Aparecida do Taboado – MS;
2. Usina Naviraí S/A – Açúcar e Álcool, Naviraí - MS;
3. Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool – CBA Brasilândia – ex
DEBRASA, Brasilândia – MS;
4. Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool, Sidrolândia – MS;
5. Usina Eldorado Ltda., Rio Brilhante – MS;
6. Santa Helena Açúcar e Álcool Ltda., Nova Andradina – MS;
7. Tavares de Melo Açúcar e Álcool S/A - Usina Maracajú, Maracajú – MS;
8. Tavares de Melo Açúcar e Álcool S/A - Usina Passa Tempo, Rio Brilhante
– MS;
9. Companhia Agrícola Sonora Estância, Sonora – MS.
58
Fonte: Sindicato da Indústria da Fabricação do Açúcar e do Álcool do Estado de Mato Grosso do Sul – SINDAL-MS. Adaptados pelo autor.
Figura 2 – Indústrias Sucroalcooleiras instaladas em Mato Grosso do Sul.
59
Conforme as informações concedidas pelo sindicato, para a safra de 2006/07, que
ainda não encerrada até o presente estudo, a produção de cana-de-açúcar será de
aproximadamente 11.700.000 toneladas, representando em relação à produção da região
Centro-Sul e do Brasil, 3,47% e 3,03%, respectivamente. Enquanto que a de açúcar
ficará em torno de 575.000 toneladas e a de álcool estimada em 640.000.000 de litros.
Para atingir esta produção, a área ocupada com cana-de-açúcar, é de
aproximadamente 165.714 hectares, considerando uma produtividade média de 70
toneladas por hectare. Tal área representa aproximadamente 5,31% da soma das áreas
cultivadas por culturas anuais e perenes no estado, que segundo o IBGE com base no
ano de 2005 apresenta área de 3.121.663 ha.
A área total ocupada pela cultura da cana confere uma área média em torno de
18.400 ha/empreendimento em operação. O sindicato ainda relata que o número de
empregos diretos gerados pela cadeia sucroalcooleira em 2006, na época de safra,
chegou a 22 mil postos de trabalho.
5.1.3 – Estimativa do número de novos empreendimentos em processo de
instalação no Estado de MS
Foram consideradas duas formas de se estimar o número de novos
empreendimentos a serem instalados em Mato Grosso do Sul. A primeira delas é a
estimativa baseada no Conselho de Desenvolvimento Industrial, CDI-MS, e a segunda
baseada nos processos de licenciamentos ambientais da SEMA/IMAP.
5.1.3.1 – Estimativas a partir das informações do CDI-MS
Espera-se para um horizonte de tempo relativamente curto, cinco anos, uma
significativa ampliação do quadro de empreendimentos sucroalcooleiros do estado. Esta
60
ampliação pode ser estimada através do cadastro de novos empreendimentos junto ao
Conselho de Desenvolvimento Industrial do Estado de Mato Grosso do Sul, CDI-MS.
O cadastro neste órgão, juntamente com a carta de intenções de investimentos das
empresas representa o primeiro passo para as indústrias se instalarem no estado. Este é o
procedimento para a realização do termo de acordo com o Estado, que firma o
compromisso de investimentos da empresa e dos benefícios fiscais estaduais. A relação
das empresas cadastradas no CDI-MS está representada no Quadro 06.
Neste quadro temos na primeira coluna o número de referência do
empreendimento, na segunda coluna o município onde se pretende, ou, onde se está
instalando o empreendimento. Na terceira coluna a razão social pela qual a empresa está
cadastrada, na quarta coluna o grupo empresarial a qual pertence o empreendimento.
A décima primeira coluna traz a situação do processo de realização do termo de
acordo de benefícios com o Estado. Se “em andamento” indica que o processo ainda
esta em análise na Secretaria de Estado Receita e Controle,assinado SERC” que já foi
aprovado por esta secretaria e está aguardando a assinatura do governador. E “governo
assinado” representa que o processo foi aprovado e já está assinado pelo governo
estadual.
No caso de todas estas empresas efetivarem seus empreendimentos no estado, a
produção de Mato Grosso do Sul poderia passar a representar, com referência a
produção atual de cana-de-açúcar, 9,51% e 8,29%, produção do Centro-Sul e Brasil,
respectivamente.
61
Quadro 06 – Informações sobre os empreendimentos sucroalcooleiros cadastrados no Conselho de Desenvolvimento Industrial, CDI –
MS.
N
o
Município Razão social Grupo econômico
Área plantio
(ha)
Ca
p
. de moa
g
em
(t/ano)
Prod. açúcar
(t/ano)
Prod. álcool
(m
3
/ano)
Emprego Investimento Situação Ano
1
Anaurilândia
Usina Aurora Açúcar e Álcool
Ltda.
Aurora 20.500 1.260.250 29.000 85.700 1.965 136.000.000
em
andamento
2006
2
Angélica Angélica Agroenergia Ltda Adeco 30.000 2.500.000 185.000 117.000 1.200 35.000.000
SERC -
assinado
2006
3
Angélica Usina Santa Isabel S/A. Santa Isabel 45.000 3.000.000 390.000 270.000 680 150.000.000
em
andamento
2006
4
Aparecida do
Taboado
Alcoolvale S/A - Álcool e
Açúcar
Unialco S/A Álcool e
Açúcar
15.500 1.170.000 75.000 60.638 872 14.523.512 aprovado 2003
5
Bandeirantes Central de Álcool Lucélia Ltda.
Serafim Antônio
Neto
2.000.000 0 1.500 122.000.000
em
andamento
2006
6
Batayporã
Agro Industrial Vista Alegre
Ltda.
Ludovico Trevisam 33.000 2.500.000 158.000 110.000 1.500 215.000.000
Governo
assinado
2006
7
Batayporã
Usina Laguna - Álcool e Açúcar
Ltda.
Olga de Carvalho
Cunha
13.100 950.000 12.800 48.120 1.020 96.630.000
Governo
assinado
2006
8
Caarapó Nova América S/A -Alimentos. Nova América 40.000 3.000.000 5.300.000 96.000 1.600 510.000.000
Governo
assinado
2006
9
Camapuã
Cooperativa dos Produtores
Agropecuaristas de Camapuã -
Coapuã.
15.000 1.620.000 1.620.000 75.600 730 195.000.000
em
andamento
2006
10
Camap Socialcool Ltda. Giuseppe Petrella 20.000 2.000.000 125.000 95.000 2.700 220.000.000
em
andamento
2006
11
Campo Grande Usina São Gabriel S/A
Usina São Gabriel
S/A
16.000 1.200.000 81.000 51.000 1.000 190.000.000
em
andamento
2006
12
Chapadão do Sul
Companhia Energética
Chapadão do Sul S/A
Leão 42.000 3.000.000 195.000 135.000 1.405 235.000.000
em
andamento
2006
13
Chapadão do Sul Iaco Agrícola S/A
Ribeirão
Agropecuária
20.000 2.000.000 135.000 85.000 910 135.000.000
em
andamento
2006
14
Dourados
Coagri - Cooperativa
Agropecuária e Industrial
Cooagri 12.450 1.000.000 62.500 11.000 110 44.250.000
SERC -
assinado
2005
Fonte: Conselho de Desenvolvimento Industrial - CDI, 2007.
Instrias Sucroalcooleiras cadastradas no CDI, situação em janeiro de 2007.
62
N
o
Município Razão social Grupo econômico
Área plantio
(ha)
Ca
p
. de moa
g
em
(t/ano)
Prod. açúcar
(t/ano)
Prod. álcool
(m
3
/ano)
Emprego Investimento Situação Ano
15
Dourados Dourados Álcool e Açúcar Ltda. Zacaner Dal Lago 24.000 2.500.000 175.000 100.000 2.260 186.000.000
Governo
assinado
2005
16
Dourados
São Fernando Açúcar e Álcool
Ltda.
Guilherme de Barros
Costa Marques
Bumlai
9.600 800.000 35.020 37.400 140 76.375.500
Governo
assinado
2006
17
Dourados Usina Eldorado Ltda. 55.000 4.000.000 4.320.000 204 2.309 260.500.000
Governo
assinado
2006
18
Eldorado Usina Rio Paraná S/A - URP Usaciga 21.510 2.000.000 153.278 156 1.340 182.668.056
em
andamento
2006
19
Glória de Dourados Usina Glória Ltda. Marcelo Giboti 30.000 1.500.000 187.000 90.000 2.500 162.600.000
em
andamento
2006
20
Iguatemi
Destilaria Centro Oeste
Iguatemi Ltda.
Nelson Donadel 8.500 600.000 24.000 24 1.200 19.000.000
Governo
assinado
2003
21
Ivinhema Usina Ivinhena Ltda. Daniel Gadotti 10.500 1.125.000 56.250 56 275 76.000.000
Governo
assinado
2005
22
Jateí Nova América S/A -Alimentos. Nova América 40.000 300.000 5.300.000 96.000 1.600 510.000.000
em
andamento
2006
23
Maracajú
Tavares de Melo Açúcar e
Álcool S/A (Usina Maracajú II)
Tavares de Melo 45.000 3.500.000 360.000 97.000 3.200 556.335.520
em
andamento
2006
24
Maracajú
Vista Alegre Açúcar e Álcool
Ltda.(Santa Cândida - Açúcar e
Álcool Ltda.)
José Tonon 35.000 3.000.000 195.000 0 3.985 235.000.000
Governo
assinado
2005
25
Navir Destilaria Pindó Ltda. Pindó 12.430 1.000.000 85 1.050 83.280.000
em
andamento
2006
26
Nova Alvorada do
Sul
Alimentos Dallas Indústria e
Comércio Ltda
Dallas 8.845 1.000.000 50.000 530 1.063 149.460.000
Governo
assinado
2006
27
Nova Andradina Agro Industrial Tie Ltda Annio Buranelo 500.000 18.900 610 45.000.000
em
andamento
2006
Fonte: Conselho de Desenvolvimento Industrial - CDI, 2007.
Indústrias Sucroalcooleiras cadastradas no CDI, situação em janeiro de 2007. (Continuação)
63
N
o
Município Razão social Grupo econômico
Área plantio
(ha)
Ca
p
. de moa
g
em
(t/ano)
Prod. açúcar
(t/ano)
Prod. álcool
(m
3
/ano)
Emprego Investimento Situação Ano
28
Dourados Destilaria Paraguaçu Ltda. Paraálcool 40.000 1.500.000 159.750 78.810 3.500 130.000.000
Governo
assinado
2006
29
Paranba Araúna Agroindustrial Ltda. Marcello Bassan 15.000 800.000 450.000 54.000 1.600 133.000.000
Governo
assinado
2005
30
Paranaíba
Usina Santa Adélia S.A. - Filial
Paranaíba
Usina Santa Adélia
S.A.
42.660 3.000.000 148.000 172.000 2.250 528.000.000
Governo
assinado
2006
31
Paranba Usina São Paulo Ltda. Wagner Crossati 11.500 1.000.000 49.150 55.000 1.175 74.000.000
em
andamento
2006
32
Ponta Porã
MonteVerde Agro-Energética
S/A.
Monte Verde S/A 25.000 2.000.000 2.400.000 100 2.040 300.100.000
em
andamento
2006
33
Ponta Porã Ponta Porã S/A Álcool e Açúcar
Ponta Porã S/A
Ácool e Açúcar
35.000 3.000.000 175.000 100.000 1.614 84.120.000
em
andamento
2006
34
Rio Brilhante
Louis Dreyfus Commodities
Bionergia S.A..
Louis Dreyfus
Commodities
Bionergia S.A.
50.000 3.500.000 245.000 160.000 3.000 620.000.000
Governo
assinado
2006
35
Rio Brilhante Usina Eldorado Ltda. Benedito Coutinho 30.000 2.250.000 160.000 160 2.200 171.453.499
Governo
assinado
2003
36
Sidrolândia Agrison Bionergia Ltda. Agrison 29.500 4.500.000 0 0 1.900 285.000.000
em
andamento
2006
37
Sidrolândia
Tavares de Melo Açúcar e
Álcool S/A (Usina Esmeralda)
Grupo Tavares de
Melo
43.000 3.500.000 255.000 29.500 2.300 585.155.520
em
andamento
2006
38
Sidrolândia
Vale do Vacaria Açúcar e
Álcool Ltda.
Usina Vale do
Vacaria
48.000 4.000.000 290.000 170.000 2.160 446.000.000
Governo
assinado
2006
39
Três Lagoas
Usina de Açúcar e Álcool Três
Lagoas Ltda.
Usina Três Lagoas 4.000 500.000 0 0 90 45.000.000
em
andamento
2006
40
Vicentina
Central Energética Vicentina
Ltda.
Meneghetti 1.190.000 79.500 53.550 1.550 91.600.000
Governo
assinado
2006
41
Vicentina
Vila Rica Agro Indústria de
Álcool e Açúcar Ltda.
José Luiz Malagoli 4.000 320.000 10.000 20.000 300 16.700.000
Governo
assinado
2006
400.238 32.034.100 9.458.099 1.029.413 25.761 3.340.300.643
1.000.595 80.085.250 23.645.248 2.573.533 64.403 8.350.751.607
Fonte: Conselho de Desenvolvimento Industrial - CDI, 2007.
Instrias Sucroalcooleiras cadastradas no CDI, situação em janeiro de 2007. (Continuação)
TOTAL
Total (40%)
64
É necessário considerar que da coluna 5 até a 10, (área de plantio, capacidade de
moagem, produção de açúcar e álcool, número de empregos gerados e valor do
investimento), existe uma grande variação nas informações, o que não permite
estabelecer uma proporcionalidade entre elas.
Isso porque não existe uma padronização nas informações fornecidas pelas
indústrias, pois algumas empresas para declarar o valor do empreendimento somam a
parte industrial e a agrícola, enquanto outras apenas os investimentos na indústria. O
que não permite criar uma relação de proporcionalidade entre valor do investimento e
geração de empregos, por exemplo.
Diferentes tecnologias também podem contribuir para tamanha divergência, pois
algumas plantas podem ser mais modernas e automatizadas reduzindo o número de
empregos, porém, aumentando o nível de investimento. Deve-se olhar com cautela para
estes números, pois, em muitos casos são estimativas, e podem não representar a
realidade dos empreendimentos de cada declarante.
Outro aspecto que chama atenção, é que, parte destes termos de acordo firmados
com o governo não possui na verdade um empreendimento concreto por tras. Eles são
firmados em alguns casos com o objetivo apenas de se assegurar os benefícios
oferecidos pelo estado. Então após o termo de acordo assinado, e os benefícios
concedidos, o seu responsável pode atuar como um especulador e sair à busca de
investidores ou de algum grupo interessado em adquirir tal pacote de benefícios já
pronto.
Em outros casos o próprio empreendedor garante a concessão de benefícios,
mesmo sem ainda ter definido se realmente irá instalar o seu projeto no estado. Porém,
dessa forma ele já garante seus benefícios, aproveitando-se de um momento em que o
governo ainda possui tal política.
65
Ao longo do trabalho foram realizadas entrevistas e diálogos com os
representantes do governo, das indústrias, das empresas de consultorias ligadas ao setor,
dentre outros atores. Das investigações foi possível, através da união dessas diversas
opiniões, chegar a um valor que representa a sua média.
De forma que foi possível estimar um provável número, que se aproxime da
realidade dos empreendimentos que efetivamente se instalarão no estado nos próximos
cinco a oito anos. De modo geral, as opiniões giraram em torno de 34% a 48% de
efetivação dos empreendimentos propostos no CDI-MS.
5.1.3.2 – Estimativas a partir das informações SEMA/IMAP
Outra forma de estimar os empreendimentos que poderão ser instalados no estado
são os pedidos de Termo de Referência para início dos estudos ambientais e do
protocolo destes estudos, que são exigidos para a obtenção das licenças ambientais. Este
procedimento é realizado junto à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos - SEMA, e eles também fornecem uma idéia do número de empreendimentos
em processo de instalação no estado.
Em alguns casos, ao processo de licenciamento, é dada menor atenção pelos
empreendedores em relação ao termo de acordo de benefícios com o estado. O que faz
com que num primeiro momento, os procedimentos junto ao órgão ambiental ocorram
depois da assinatura do termo de acordo. Dessa forma, o número de empresas em
processo de licenciamento é expressivamente menor que o de empresas protocoladas no
CDI-MS. No Quadro 07 é possível visualizar as empresas que já deram início ao
processo de licenciamento ambiental.
66
Outro aspecto que contribui para um menor número de empresas em processo de
licenciamento ambiental são os maiores custos deste processo. O que certamente pode
reduzir o interesse de especuladores, como ocorre no caso dos benefícios fiscais. Dessa
forma, pode-se inferir que, as empresas em processo de licenciamento são bem mais
prováveis de se instalarem no estado do que as empresas que possuem apenas o termo
de acordo de benefícios.
Do Quadro 07, extraímos 18 empresas em diferentes estágios de licenciamento
ambiental, desde o protocolo da LP, até o aguardo da emissão da licença de operação
(LO). Nota-se então uma proporção de aproximadamente 44% em relação aos
empreendimentos cadastrados no CDI-MS, (41 empreendimentos). O que vem a
confirmar as opiniões dos atores da cadeia quanto à efetivação de 34% a 48% das
empresas que protocolaram suas intenções no CDI.
67
Quadro 07 – Informações sobre os processos de licenciamento ambiental das indústrias sucroalcooleiras na SEMA/IMAP.
N
o
.
Razão Social Localidade
Tipo de
Licença
Atividade Situação Atual do processo
1
Dourados Álcool e Açúcar Ltda. Dourados LP e LI
Indústria sucroalcooleira e co-geração
de energia elétrica.
LI aprovada
2
Coopernavi – Cooperativa dos produtores de cana de açúcar Naviraí LI Indústria sucroalcooleira. Processo de LI em análise.
3
Tavares de Melo Açúcar e Álcool S/A Filial Passa Tempo Rio Brilhante RLO Indústria sucroalcooleira. LO renovada
4
Usina Santa Olinda S/A Açúcar e Álcool Sidrolândia LI
Indústria sucroalcooleira e
melhoramento controle ambiental.
Processo de LI em análise.
5
Alcoovale S/A – Açúcar e Álcool Aparecida do Taboado LI e LO Indústria sucroalcooleira. LO aprovada
6
Usina Ivinhema Ltda. Ivinhema LP
Indústria sucroalcooleira e co-geração
de energia elétrica.
LP aprovada
7
Usina Maracaju S/A Maracaju RLO Indústria sucroalcooleira. Processo de RLO em análise.
8
Usina Eldorado Ltda. Rio Brilhante LO Indústria sucroalcooleira. LO aprovada
9
Coimbra Cresciumal S/A Rio Brilhante LP Indústria sucroalcooleira. LP aprovada
10
Arauna Agroindustrial Ltda. Paranaíba LP Indústria sucroalcooleira. LP aprovada
11
Central Energética Vicentina Ltda. Vicentina LP Indústria sucroalcooleira. LP aprovada
12
Destilaria Centro Oeste Iguatemi Iguatemi LP, LI e LO Indústria sucroalcooleira. Aguardando LO
13
São Fernando Açúcar e Álcool Dourados LP Indústria sucroalcooleira. Processo de LP em análise.
14
Usina Aurora Açúcar e Álcool Anaurilândia LP Indústria sucroalcooleira. Processo de LP em análise.
15
Usina Laguna Açúcar e Álcool Bataypo LP Indústria sucroalcooleira. Processo de LP em análise.
16
Vista Alegre Açúcar e Álcool Maracaju LP Indústria sucroalcooleira. LP aprovada
17
Ponta Porã Álcool e Açúcar Ponta Porã LP Indústria sucroalcooleira. Processo de LP em análise.
18
Monteverde Agroenergética Ponta Porã LP e LI Indústria sucroalcooleira. Processo de LI em análise.
19
Angélica Agroenergia Angélica LP Indústria sucroalcooleira. Processo de LP em análise.
20
Safi Brasil Energia Nova Alvorada do Sul LO Indústria sucroalcooleira. LO aprovada
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMA, 2006.
Legenda: LO Licença de Operação, LP- Licença Prévia, LI Licença de Instalação, RLO Renovação de Licença de Operação e ALRS – Alteração de Razão Social.
68
5.1.4 - Localização das unidades industriais em operação e das novas unidades
As nove indústrias em operação no estado estão distribuídas em oito municípios.
Sendo que duas se encontram localizadas na Bacia do Alto Paraguai – BAP. Tais
indústrias foram construídas anteriormente à lei que proíbe a atividade nesta bacia. As
indústrias que se encontram na BAP são: a Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool e
a Companhia Agrícola Sonora Estância, respectivamente em Sidrolândia e Sonora.
Pelas informações do CDI-MS ter-se-iam novos empreendimentos em mais 19
municípios que não possuíam indústrias. Outros seis novos projetos contemplariam
municípios que já possuem indústrias em operação, totalizando os possíveis novos 41
empreendimentos
6
.
Através das informações dos novos empreendimentos com processos na SEMA,
ter-se-iam 15 municípios contemplados com novos empreendimentos, destes, apenas
cinco já possuem indústrias do setor. Como já descrito, este cenário mais conservador é
o mais provável de acontecer. O que de forma alguma deixa de ser bastante positivo
para o estado. No Quadro 08 se pode observar os empreendimentos e seus municípios.
6
Obs.: Em alguns municípios existe mais de um empreendimento programado.
69
Quadro 08 – Relação dos empreendimentos em operação e dos novos projetos por
município.
Município
Indústrias em
operão
Novos projetos
protocolados no CDI
Novos projetos
protocolados na SEMA
Anaurilândia -
11
Angélica -
21
Aparecida do Taboado 1
11
Bandeirantes -
1-
Batayporã -
21
Brasilândia
1
--
Caarapó -
1-
Camapuã -
2-
Campo Grande -
1-
Chapadão do Sul -
2-
Dourados -
52
Eldorado -
1-
Glória de Dourados -
1-
Iguatemi -
11
Ivinhema -
11
Jateí -
1-
Maracajú 1
21
Navir 1
11
Nova Alvorada do Sul -
11
Nova Andradina 1
1-
Paranaíba -
31
Ponta Porã -
22
Rio Brilhante 2
22
Sidrolândia 1
31
Sonora
1
--
Três Lagoas -
1-
Vicentina -
21
Total 9 41 18
Situação dos empreendimentos Sucroalcooleiros em MS.
Fonte: SEMA e CDI-MS (2007), adaptados pelo autor.
O mapa da Figura 3 apresenta a localização das novas unidades que poderão ser
instaladas no estado, somadas às já existentes. No centro de cada triangulo indicador da
usina no município há um número que corresponde à quantidade de empreendimentos
existentes ou projetados para o local. É importante observar que a indústria de Camapuã
será construída na parte do município localizada na Bacia do Rio Paraná.
Nota-se que o mapa do estado se encontra dividido por uma linha que representa a
divisa entre as Bacias do Rio Paraná e Paraguai. Existem dois empreendimentos
localizados na Bacia do Rio Paraguai, suas implantações datam anteriormente a lei que
proíbe a construção de novas indústrias sucroalcooleiras nesta bacia. Portanto todos os
novos empreendimentos se localizam na Bacia do Rio Paraná.
70
Fonte: Conselho de Desenvolvimento Industrial – CDI e Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEMA, 2006. Adaptados pelo autor.
Figura 3 – Localização das unidades em operação e das novas industriais que poderão ser instaladas no Estado de Mato Grosso do Sul.
71
5.2 MOTIVOS QUE PROMOVERAM A MIGRAÇÃO E A EXPANSÃO DA CADEIA PARA MS
São analisadas aqui as causas da migração de empresas sucroalcooleiras para o
Estado, assim como a expansão da própria cadeia estadual. Para tanto, foram estudados
os motivos que tornam Mato Grosso do Sul uma atraente opção para a atividade.
5.2.1 – Incentivos Fiscais
Toda vez que grandes empreendimentos pretendem se instalar num local, diversos
são os fatores que influenciam na escolha deste. Um dos fatores que podem contribuir
para a decisão do local desta instalação são os pacotes de incentivos fiscais e benefícios
que são concedidos pelo poder público municipal, estadual e federal.
Em alguns casos a corrida para atrair as empresas para seu território provoca certo
tipo de guerra fiscal. Guerra esta, que ocorre quando os estados passam a oferecer
pacotes de incentivos cada vez mais atraentes na tentativa de trazer para si os
empreendimentos. Para tanto, abrindo mão da arrecadação de impostos e taxas,
realizando doações, dentre outras formas.
O interesse público na atração das empresas é explicado pelos benefícios sociais e
econômicos que elas potencialmente representam, sendo a geração de empregos o
principal deles. No Estado de Mato Grosso do Sul, a primeira Lei de Incentivos às
Indústrias foi a de n.º 440/1984, na qual foi criado o Conselho de Desenvolvimento
Industrial (CDI-MS).
Os benefícios promovidos pela instalação de novos empreendimentos são os
representados pela geração de novos empregos, pela qualificação da mão-de-obra, pela
arrecadação tributária direta e indireta e pelo efeito renda que promove a movimentação
econômica da região como um todo.
72
5.2.1.1 – O Pacote sul-mato-grossense de incentivos fiscais para a Cadeia
Sucroalcooleira
Mato Grosso do Sul criou uma estratégia para promover a atração das usinas
sucroalcooleiras para o estado. De forma geral e simplificada, o pacote de incentivos
compreende a isenção ou descontos nas alíquotas de impostos, dentre outros benefícios.
Os procedimentos para obtenção destes benefícios são realizados por empresas de
consultoria na área econômica. Estas empresas realizam os projetos e acompanham os
trâmites legais junto ao governo do estado. Os custos destes trabalhos para o
empreendedor ficam ao redor de R$50.000,00.
Incentivos Gerais –
Um importante benefício concedido aos empreendimentos agroindustriais de
maneira generalizada é a não obrigatoriedade do pagamento do diferencial de alíquota
de 10% no caso da compra de máquinas e equipamentos de outros estados. Este
benefício é garantido pela Lei Complementar 093/2001.
Incentivos para o Açúcar -
O benefício concedido ao açúcar também se dá através da Lei Complementar
093/2001, que define um desconto de 67% nas guias de recolhimento do ICMS. Dessa
forma, o imposto devido nestas operações passa a ser cobrado da seguinte maneira:
Operações dentro do estado alíquota de 17%, redução de 67% no ICMS:
17% x (1-0,67) = 5,61%; Ù ICMS com o benefício 5,61%.
Operações interestaduais alíquota de 12%, redução de 67% no ICMS:
12% x (1-0,67) = 3,96%; Ù ICMS com o benefício 3,96%.
73
Este benefício também é estendido na operação de compra de cana-de-açúcar dos
produtores pela indústria. Fator importante de desoneração tributária da cadeia num elo
a montante, o setor de produção primária.
Incentivos para o Álcool -
No caso do álcool, produto que apresenta alíquota de ICMS de 25% para
operações dentro do estado e 12% para operações interestaduais. Os benefícios são
concedidos por meio do decreto n.º 9.375/99. De forma simplificada os benefícios para
o álcool podem ser sintetizados da seguinte forma:
Operações dentro do estado alíquota de 25%, a redução se dá através do crédito
recebido pelas distribuidoras de 16,75%:
25% - 16,75% = 8,25%; Ù ICMS com o benefício 8,25%.
Operações interestaduais alíquota de 12%, a redução se dá através do crédito
presumido de 9,6%, resultando numa carga tributária de 2,4%:
12% - 9,6% = 2,5%; Ù ICMS com o benefício 2,4%.
Diferentemente de outros estados com incentivos como o de Mato Grosso e o de
Goiás, o Mato Grosso do Sul oferece isenção de ICMS, enquanto que os dois primeiros
trabalham com postergação. Ou seja, concedem apenas um prazo para o pagamento dos
impostos, e não sua isenção. Dessa forma, este certamente é um dos aspectos que
contribuem para tornar o estado mais atrativo para estes empreendimentos.
Para ficar mais claro a dimensão dos benefícios proporcionados pelos incentivos
fiscais do açúcar e do álcool foi elaborado o Quadro 09. Neste quadro é realizada uma
simulação da redução no recolhimento de impostos estaduais (ICMS) no ato da
74
comercialização da produção. Foi tomada como parâmetro uma indústria hipotética com
a capacidade de esmagamento de 2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano.
Quadro 09 – Estimativa da economia com a redução no recolhimento dos impostos
através dos benefícios fiscais.
Processamento
cana (t) Açúcar (sc 50kg)
Álcool (litro)
2
Açúcar Álcool
2.000.000 2.400.000 99.800.000 11.688.979,02 12.174.323,14
Açúcar Álcool Açúcar Álcool
Total
1.782.000,00 3.263.504,04 9.906.979,02 8.910.819,10
18.817.798,11
Fonte: ESALQ /CEPEA 2006, adaptado pelo autor e dados do trabalho.
Tributos e benefícios para açúcar e álcool.
Redução no recolhimento (R$)
Nota 1: Estabelecendo a proporção de 50% de maria-prima para cada produto.
Nota 2: Considerando a utilizão do mel residual para prodão de álcool.
Produção
1
Imposto devido sem o benefício
fiscal
3
(
R$
)
Imposto devido com o benefício fiscal
3
(
R$
)
Nota 3: Considerando 30% da produção para consumo interno e 70% para corcio com outros estados. Utilizando-se as respectivas
alíquotas e benefícios.
5.2.2 – Disponibilidade de Terras a baixo custo
Outro fator que certamente contribuiu para o grande interesse de investidores da
cadeia sucroalcooleira pelo Estado de Mato Grosso do Sul foi o preço das terras. No
Quadro 10 é feita uma comparação entre as melhores terras do estado com terras de boa
qualidade no estado de São Paulo. Pode-se observar que o valor em SP de um hectare
em média chega a ser ao redor de três vezes maior que em MS.
Tamanha diferença faz com que o custo de produção agrícola, seja ele da
produção de cana da própria indústria ou de parceiros seja menor. Isso devido ao
também menor nível de capital empatado com o ativo “terras”. Com isso se ganha em
lucratividade do negócio.
75
Quadro 10 – Comparação entre os valores das melhores terras de MS com
tradicionais regiões agrícolas paulistas.
Municípios de São Paulo
Preço da Terra
(
R$/ha
)
Municípios de Mato Grosso do Sul
Preço da Terra
(
R$/ha
)
Ribeirão Preto 18.967,00 Maracaju (terra agrícola de alta produtividade) 6.061,00
Campinas (Paulínia) 15.256,00 Sidrolândia (terra agrícola em alta produtividade) 4.959,00
Pirassununga 14.897,00 Naviraí (terra agrícola em alta produtividade) 4.959,00
Assis 13.554,00 Sonora (terra agrícola em chapada) 4.959,00
São José do Rio Preto 12.769,00 Dourados (pastagem formada de alto suporte) 4.950,00
Araraquara 12.521,00 Nova Andradina (pastagem formada de alto suporte) 3.808,00
Ourinhos 12.314,00 Ap. do Taboado (pastagem formada de alto suporte) 3.713,00
Bauru 11.591,00 Rio Brilhante (pastagem formada de alto suporte) 3.168,00
Araçatuba 10.002,00 N. Alvorada do Sul (pastagem formada de alto suporte) 3.020,00
Presidente Prudente 5.534,00 Pedro Gomes (pastagem formada de alto suporte) 1.386,00
Média 12.740,50 Média 4.098,30
Fonte: Instituto FNP – Análise do Mercado de Terras (Janeiro – Fevereiro 2005).
Quando se compara o preço médio das terras, e para isso se considerando todas as
terras do estado, e não apenas as de melhor qualidade como foi feito no quadro anterior,
o diferencial entre SP (R$9.288,00) e MS (R$2.713,00) em termos de preço médio,
ficaria ainda maior. Da forma como está apresentado no quadro as terras paulistas valem
cerca de 3,4 vezes mais que as sul-mato-grossenses.
Para o estado do Paraná e Minas Gerais se percebe a mesma tendência, com os
valores médios das terras avaliados em R$6.307,00 e R$3.334,00, respectivamente. É
importante considerar que este valor das terras mineiras se encontra de certa forma
subestimado. Uma vez que Minas Gerais possui grandes áreas de caatinga com o valor
da terra muito baixo, além de outras áreas com relevo bastante ondulado, o que reduz o
preço médio estadual.
Pode-se concluir desta forma que, outro fator que tornou Mato Grosso do Sul
atraente para estes novos empreendimentos foi o valor da terra. Fator este, que somado a
outros tornaram o estado, segundo a UNICA (2007), a terceira maior área em expansão
de cana-de-açúcar no Brasil.
76
5.2.3 – Condições Edafoclimáticas
7
Outro aspecto estudado como fator de atração dos empreendimentos
sucroalcooleiros para Mato Grosso do Sul foram suas condições edafoclimáticas. O
estado apresenta excelentes condições para o desenvolvimento de atividades agrícolas, o
que certamente foi um importante fator de decisão para os empreendedores optarem por
MS.
5.2.3.1 – Os ecossistemas de Mato Grosso do Sul
Primeiramente é interessante se destacar rapidamente os dois principais
ecossistemas presentes no Estado de Mato Grosso do Sul, uma vez que, a partir deles é
possível se ter uma idéia das características edafoclimáticas predominantes. Fornecendo
assim subsídios para compreender as legislações que limitam ou proíbam o
desenvolvimento de determinadas atividades em locais específicos, o que será discutido
mais adiante.
Os principais ecossistemas presentes no Estado de Mato Grosso do Sul são o
Pantanal e o Cerrado, a caracterização tratará mais detidamente o Ecossistema de
Cerrado, pois é nele onde se encontram as indústrias e também os novos projetos.
PANTANAL:
A CIMA - Comissão Interministerial para Preparação da Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento-SI/PR, 1991, definiu o Pantanal como
“a maior planície de inundação contínua do planeta”. Constituída por um complexo de
7
Condição edafoclimáticas é a soma de duas características, edáficas e climáticas:
a- Edáficas: como tipo de solo, sua fertilidade, profundidade, disponibilidade de água, formação de
relevo, dentre outras.
b- Climáticas: como temperatura, pluviosidade, regime de chuvas, definição das estações do ano, dentre
outras.
77
lagos rasos, temporários ou permanentes, áreas alagadas, depressões inundadas e um
vasto número de canais, rios, e outros sistemas alagados. (IBAMA, 2007).
Localizada no centro da América do Sul, esta grande área alagada, tem
aproximadamente 150.000 km
2
. Este é um dos sistemas continentais mais importantes
do ponto de vista ecológico, econômico e social. Pois representa o elo de ligação entre o
Cerrado, no Brasil Central, o Chaco, na Bolívia, e a região Amazônica, ao Norte,
identificando-se, aproximadamente, com a Bacia do Alto Paraguai - BAP.
O Pantanal funciona como um grande reservatório, provocando uma defasagem de
até cinco meses entre as vazões de entrada e saída. O regime de verão determina
enchentes entre novembro e março no norte e entre maio e agosto no sul, neste caso sob
a influência reguladora do Pantanal.
Suas cotas altimétricas oscilam entre 80 e 200 m. Ele se constitui de uma
depressão em forma circular, para o interior da qual direciona uma complexa rede
hidrográfica, sujeita a inundações periódicas. Sendo o Rio Paraguai o principal eixo da
drenagem regional. Para o equilíbrio do ecossistema Pantaneiro é de extrema
importância à preservação de seus recursos hídricos, daí a preocupação com os rios que
compõe sua bacia hidrográfica.
Como área de transição, a região do Pantanal ostenta um mosaico de ecossistemas
terrestres, com afinidades, sobretudo, com os Cerrados e, em parte, com a floresta
Amazônica, além de ecossistemas aquáticos e semi-aquáticos, interdependentes em
maior ou menor grau.
Os planaltos e as terras altas da bacia superior são formados por áreas escarpadas e
testemunhos de planaltos erodidos, conhecidos localmente como serras. São cobertos
por vegetações predominantemente abertas, tais como campos limpos, campos sujos,
78
cerrados e cerradões, determinadas, principalmente, por fatores de solo (edáficos) e
climáticos e, também, por florestas úmidas, prolongamentos do ecossistema amazônico.
O Ecossistema do Pantanal de forma geral não é adequado à agricultura,
principalmente a sistemas intensivos como a cultura da cana-de-açúcar. Com relação
aos seus solos, de modo geral, eles apresentam serias limitações à agricultura. Nas
planícies pantaneiras sobressaem solos inférteis (lateritas) em áreas úmidas
(hidromórficas) e planossolos, além de várias outras classes, todos alagáveis, em maior
ou menor grau, e de baixa fertilidade. Nos planaltos, embora predominem também solos
com diversas limitações à agricultura, sobretudo à fertilidade, topografia ou escassez de
água, podem existir situações favoráveis. (IBAMA, 2007).
CERRADO:
É no Cerrado onde se localizam as indústrias sucroalcooleiras do estado, e onde
serão instalados os novos projetos. Segue-se então uma breve descrição deste
ecossistema.
Segundo o IBAMA (2007), o Cerrado se encontra principalmente representado
pelas regiões do Planalto Central Brasileiro, nos Estados de Goiás, Tocantins, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, parte de Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal,
abrangendo 196.776.853 ha. Há outras áreas de Cerrado, chamadas periféricas ou
ecótonos, que são transições com os biomas Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga.
Os Cerrados são reconhecidos devido às suas diversas formações ecossistêmicas.
Sob o ponto de vista fisionômico temos: o cerradão, o cerrado típico, o campo cerrado,
o campo sujo de cerrado, e o campo limpo que apresentam altura e biomassa vegetal em
ordem decrescente.
79
O Cerrado típico é constituído por árvores relativamente baixas (até vinte metros),
esparsas, disseminadas em meio a arbustos, subarbustos e uma vegetação baixa
constituída, em geral, por gramíneas.
O Cerrado contém basicamente dois estratos: um superior formado por árvores e
arbustos dotados de raízes profundas que lhes permitem atingir o lençol freático, situado
entre 15 a 20 metros. O outro, o extrato inferior é composto por um tapete de gramíneas
de aspecto rasteiro, com raízes pouco profundas, que na época seca, favorece
sobremaneira a propagação de incêndios.
A típica vegetação que ocorre no Cerrado possui seus troncos tortuosos, de baixo
porte, ramos retorcidos, cascas espessas e folhas grossas. A vegetação nativa do Cerrado
não apresenta essa característica pela falta de água – pois, ali se encontra uma grande e
densa rede hídrica – mas sim, devido a outros fatores edáficos, como o desequilíbrio de
nutrientes, e presença de alumínio.
O Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo em
biodiversidade, com a presença de diversos ecossistemas e riquíssima flora com mais de
10.000 espécies de plantas, com 4.400 endêmicas (exclusivas) dessa área.
A fauna apresenta 837 espécies de aves; 67 gêneros de mamíferos, abrangendo
161 espécies e dezenove endêmicas; 150 espécies de anfíbios, das quais 45 endêmicas;
120 espécies de répteis, das quais 45 endêmicas; apenas no Distrito Federal, há 90
espécies de cupins, mil espécies de borboletas e 500 espécies de abelhas e vespas.
(IBAMA, 2007).
80
5.2.3.2 – Edafologia
Como a produção da cadeia sucroalcooleira é realizada principalmente em região
de Cerrado, as avaliações neste tópico serão realizadas sobre este ecossistema. Mesmo
porque, legalmente não é permitido se criar novas indústrias na região Pantaneira.
A formação dos solos de Mato Grosso do Sul confere ao estado um elevado
potencial produtivo para a agropecuária. Apesar de possuir solos de baixa fertilidade
química, pois tanto os solos do Cerrado quanto os do Pantanal apresentam reduzida
disponibilidade de nutrientes às plantas. Porém, eles possuem outras características que
os fazem interessante.
Edafologia do Cerrado:
No caso dos Cerrados, as características que conferem às suas terras um bom
potencial produtivo estão relacionadas às questões físicas do solo. Pois ele apresenta
boa drenagem, boa profundidade, não apresenta impedimentos físicos às raízes, textura
(teor de argila) que concede um bom armazenamento de água, característica de alta
mecanização, dentre outras. Sendo solos que quando corrigidos quimicamente podem
dar suporte a elevados níveis de produtividade.
O seu relevo é em geral bastante plano ou suavemente ondulado, estendendo-se
por imensos planaltos ou chapadões. Cerca de 50% de sua área situa-se em altitudes que
ficam entre 300 e 600 m acima do nível do mar; apenas 5,5% vão além de 900m o que o
torna altamente mecanizável. Fato que permite um alto rendimento das operações
agrícolas, reduzindo assim sensivelmente o custo destas. As colhedoras e tratores, por
exemplo, podem trabalhar durante longo tempo em linha reta, sem realizar manobras.
81
Aumentando a velocidade das operações, reduzindo o consumo de combustível e o
desgaste das máquinas, dentre outras vantagens.
Os solos do Cerrado se originaram de espessas camadas de sedimentos que datam
do Terciário, sendo geralmente profundos, azonados, de cor vermelha ou vermelha
amarelada, porosos, permeáveis, bem drenados e, por isto, intensamente lixiviados
8
(COUTINHO, 2007).
Quanto às suas características químicas, Prado (2005) comenta que eles são
bastante ácidos, com pH que pode variar de menos de 4 a pouco mais de 5. Sua forte
acidez é devida em parte aos altos níveis de Al
3+
(alumínio), o que os torna
aluminotóxicos para a maioria das plantas agrícolas. Níveis elevados de íons Fe e de Mn
também contribuem para a sua toxidez.
Ainda segundo este autor, a baixa capacidade de troca catiônica - CTC, baixa
soma de bases e alta saturação por Al
3+
desses solos, os caracterizam como impróprios
para a agricultura, caso não sejam corrigidos. A correção do pH, do alumínio, ferro e
manganês tóxicos, se dá pela calagem (aplicação de calcário). As adubações tanto com
macro quanto com micronutrientes, são necessárias para torná-los férteis e produtivos.
Quando mal manejado, o solo do cerrado fica muito exposto e é facilmente
erodido. Devido às suas características texturais e estruturais ele é também
frequentemente sujeito à formação de enormes voçorocas, Figura 4. Sendo este um dos
principais motivos da degradação que afeta o Cerrado e as áreas adjacentes ao Pantanal.
8
Que tiveram seus nutrientes removidos pela água.
82
Fonte: Coutinho 2007.
Figura 4: Detalhe de voçoroca em solo de cerrado mal manejado.
5.2.3.3 – Clima do Cerrado
Segundo Coutinho (2007) o clima predominante no Domínio do Cerrado é o
Tropical Sazonal, de inverno seco. A temperatura média anual fica em torno de 22-
23ºC, sendo que as médias mensais apresentam pequena estacionalidade. As máximas
absolutas mensais não variam muito ao longo dos meses do ano, podendo chegar a mais
de 40ºC. Por tais características é classificado como parte do Zonobioma II, na
classificação de Heinrich Walter.
Já as temperaturas mínimas absolutas mensais variam bastante, atingindo valores
próximos ou até abaixo de zero, nos meses de maio, junho e julho. A ocorrência de
geadas no Domínio do Cerrado não é fato incomum, ao menos em sua porção austral.
Em geral, a precipitação média anual fica entre 1.200 e 1.800 mm. Ao contrário da
temperatura, a precipitação média mensal apresenta uma grande estacionalidade,
83
concentrando-se nos meses de primavera e verão (outubro a março), que é a estação
chuvosa. Curtos períodos de seca, chamados de veranicos, podem ocorrer em meio a
esta estação, criando sérios problemas para a agricultura. No período de maio a
setembro os índices pluviométricos mensais se reduzem bastante, podendo chegar a
zero.
Água parece não ser um fator limitante para a vegetação do cerrado,
particularmente para o seu estrato arbóreo-arbustivo. Pois estas plantas possuem raízes
pivotantes profundas, chegando a mais de 15 metros de profundidade, atingindo assim
camadas de solo permanentemente úmidas. Porém, em conseqüência do período de
estiagem, o solo se desseca realmente, na sua parte superficial, provocando a morte da
parte aérea das plantas de pequeno porte, que com a volta das chuvas brotam
novamente.
A radiação solar no domínio do Cerrado é geralmente bastante intensa, podendo se
reduzir devido à alta nebulosidade, nos meses excessivamente chuvosos do verão. Por
esta possível razão, em certos anos, outubro costuma ser mais quente do que dezembro
ou janeiro. Como o inverno é seco, quase sem nuvens, e as latitudes são relativamente
pequenas, a radiação solar nesta época também é intensa, aquecendo bem as horas do
meio do dia. Estes fatores concorrem para os altos índices de produtividade das culturas
neste ambiente.
84
5.2.4 – Infra-estrutura e localização de MS
Outro aspecto essencial na decisão do local de instalação de um empreendimento
são suas características de infra-estrutura e localização. Quanto ao primeiro aspecto o
estado apresenta alguns gargalos, porém, que não chegam a comprometer o crescimento
da cadeia sucroalcooleira. Já no que se refere à localização, Mato Grosso do Sul possui
situação privilegiada, próximo a grandes centros consumidores como SP, MG, RJ e PR
e estando ainda numa região de expressiva produção agrícola com grande potencial de
expansão.
5.2.4.1 – Rodovias
A estrutura rodoviária de Mato Grosso do Sul, representa um importante fator de
apoio logístico ao escoamento da produção do estado. Pois é o modo de transporte mais
utilizado atualmente, conectando o estado aos seus vizinhos e aos portos por onde pode
ser realizado o comércio com outros países.
Segundo as informações da Secretaria Estadual de Infra-Estrutura, o estado conta
com uma malha viária de 57.155 km, dos quais 4.413 km são federais, 14.090 km, são
de jurisdição estadual, 38.652 km são estradas municipais. Além disso, também possui
3.080 km de rodovias planejadas. (Mato Grosso do Sul, 2000). Como pode ser
observado no Quadro 11. Apesar das informações datarem de 1999, não ocorreu grande
alteração nessas condições.
Quadro 11 - Extensão da malha viária, por dependência administrativa e condição
do leito em Mato Grosso do Sul.
Administração Pavimentada Leito Natural Implantada Total
Federal 3.300 494 619 4.413
Estadual 1.966 6.919 5.205 14.090
Municipal 23 38.115 514 38.652
Total 5.289 45.528 6.338 57.155
Fonte: Agencia Estadual de Empreendimentos de Mato Grosso do Sul - AGESUL 1999.
Extensão da malha viária em km.
85
No estado, o transporte rodoviário está estruturado basicamente a partir de três
troncos rodoviários que cortam o Estado nos sentido Norte-Sul e dois nos sentido Leste-
Oeste. O tronco rodoviário Leste-Oeste é constituído pela BR – 267 interligando Porto
Murtinho (Oeste) a Bataguassu (Leste), encontrando-se em Presidente Epitácio - SP
com redes rodoviárias e ferroviárias paulistas.
Neste mesmo sentido existe ainda a rodovia federal BR – 262 que interliga as
cidades de Corumbá e Ladário (Oeste), com a cidade de Três Lagoas (Leste) e, desta
com o interior do Estado de São Paulo, mais especificamente através da SP – 350
(Rodovia Marechal Rondon – duplicada até a capital paulista).
Existem então duas tramas: de Leste, até o entroncamento com a BR – 163, em
Nova Alvorada do Sul e outro, a Oeste, também a partir desta rodovia, na altura de Rio
Brilhante. Sendo que a trama Oeste é vista com destaque em função de cidades como:
Porto Murtinho, Dourados e Jardim, por ser a única opção pavimentada de interligação
entre eles.
No sentido Norte-Sul se tem a BR – 163, que corta Mundo Novo e vai até Sonora,
no norte do MS. Esta rodovia interliga o norte paranaense com Dourados. Também
interliga Campo Grande e São Gabriel do Oeste. O tronco rodoviário da BR – 163
também é responsável por conectar Camapuã, ao Nordeste, com o município de
Chapadão do Sul, conexão que também possibilita acesso aos municípios de Paranaíba e
Aparecida do Tabuado. Este eixo teve aumento no seu fluxo de carga com o início da
operação da FERRONORTE que tem um terminal em Chapadão do Sul.
A composição da malha rodoviária federal do estado, juntamente com informações
dos outros modais de transporte que o conectam MS aos estados de SP, RJ, à Região
Sul e o restante da região Centro-Oeste, está representada na Figura 5.
86
Fonte: http://www.transportes.gov.br 2006.
Figura 5 - Mapa multimodal do Estado do Mato Grosso do Sul.
87
5.2.4.2. – Ferrovias
Outra forma de transporte que serve o estado de MS é o Ferroviário. A malha
ferroviária do estado é representada por duas importantes ferrovias, Figura 5, a Ferrovia
Novoeste e a FERRONORTE. A seguir são trazidas as principais características deste
modal.
FERROVIA NOVOESTE S.A.
A Malha Oeste é controlada pela Ferrovia Novoeste S.A., que pertencente à Rede
Ferroviária Federal S.A.. O início da operação dos serviços públicos de transporte
ferroviário de cargas foi em 01/07/96. A sua área de atuação compreende os estados de
Mato Grosso do Sul e São Paulo, a ferrovia possui 1.621 km de extensão e bitola de
1,00 m.
A Ferrovia Novoeste S.A. apresenta as seguintes interconexões:
¾ Com outras ferrovias: FERROBAN – Ferrovias Bandeirantes S.A. em
Bauru – SP e Empresa Ferroviária Oriental S.A. (Bolívia) em Corumbá.
¾ Com portos: Terminal Hidroviário de Porto Esperança - MS e Terminal
Hidroviário de Ladário – MS.
FERRONORTE S.A. - FERROVIAS NORTE BRASIL
A FERRONORTE S.A. - Ferrovias Norte Brasil detém a concessão outorgada por
decreto para estabelecer um sistema de transporte ferroviário de carga, abrangendo a
construção, operação, exploração e conservação da ferrovia.
Pela dimensão, o projeto é de longo prazo e vem sendo implantado em trechos,
tendo sido iniciadas as operações ferroviárias a partir da abertura ao tráfego público do
88
primeiro trecho, que inicia às margens do Rio Paraná (Ponte Rodoferroviária) e termina
em Mato Grosso do Sul no Município de Chapadão do Sul. O Ministério dos
Transportes liberou o último trecho construído entre Alto Taquari – MT e Alto Araguaia
– MT, que somado ao primeiro totaliza 512 km de extensão.
O projeto para atuação da FERRONORTE contempla os estados de Mato Grosso
do Sul, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Pará. Sua extensão total é de 5.228 km,
sendo 4.584 km na bitola de 1,6 m e o restante com bitola de 1,0 m. Porém, atualmente
apenas o trecho do Rio Paraná até o Alto Taquari está em funcionamento, o que
representa 512 km de trilho com bitola de 1,60 m.
A FERRONORTE S.A. apresenta as seguintes interconexões:
¾ Com outras ferrovias: FERROBAN – Ferrovias Bandeirantes S.A.
Aparecida do Taboado - MS.
Com a finalização dos projetos serão incluídas ainda as seguintes interconexões.
¾ Com outras ferrovias: Ferrovia Centro-Atlântica S.A. em Uberlândia –
MG;
¾ Com portos: Terminal Hidroviário de Santarém – PA e Terminal
Hidroviário de Porto Velho – RO.
5.2.4.3 - Hidrovias
O transporte hidroviário também representa uma interessante alternativa para
escoamento da produção da cadeia sucroalcooleira, dessa forma, a seguir segue uma
breve descrição deste modal de transporte, a partir de informações do (DNIT, 2007). As
principais hidrovias do estado são a Hidrovia do Paraguai e a Tietê-Paraná, Figura 6.
89
HIDROVIA DO PARAGUAI
Localizada no Corredor do Sudoeste, essa hidrovia compõe um sistema de
transporte fluvial de utilização tradicional, em condições naturais, que conecta o interior
da América do Sul com os portos de águas profundas no curso inferior do rio Paraná e
no rio da Prata.
Com 3.442 km de extensão, desde Cáceres até o seu final, no estuário do Rio da
Prata, proporciona acesso e serve como artéria de transporte para grandes áreas no
interior do continente. As principais cargas transportadas no trecho brasileiro são:
minério de ferro, minério de manganês e soja.
Os fluxos de carga na hidrovia vêm crescendo nos últimos anos, respondendo à
expectativa de interação comercial na região. No território brasileiro, a hidrovia
percorre 1.278 km e tem como principais portos: Cáceres, Corumbá e Ladário, além de
três terminais privados com expressiva movimentação de carga.
No trecho de Cáceres a Corumbá, os comboios, com formação 2x3, trafegam
compostos por chatas de 45 m de comprimento e 12 m de largura, com calado
assegurado de 1,5 m e que podem transportar até 400 toneladas de carga. Em cerca de
três meses do ano, a navegação no trecho pode sofrer limitações, e os comboios têm de
operar com menos carga. Ou em caso de estiagens rigorosas, pode deixar de navegar,
principalmente nos 150 km próximos à cidade de Cáceres.
Outro trecho é o que se estende de Corumbá até a foz do Rio Apa, a capacidade de
transporte é superior. Neste trecho trafegam comboios com formação 4x4, compostos
por chatas de 60 m de comprimento e 12 m de largura, com calado assegurado de 2,6 m,
capazes de transportar 20.000 a 25.000 toneladas de cargas.
90
HIDROVIA TIETÊ-PARANÁ
Localizada nos Corredores Transmetropolitano do Mercosul e do Sudoeste, a
hidrovia Tietê-Paraná permite a navegação numa extensão de 1.100 km entre Conchas,
no Rio Tietê (SP), e São Simão (GO), no Rio Paranaíba, até Itaipu, atingindo 2.400 km
de via navegável. (DNIT, 2007).
Esta hidrovia movimenta mais de um milhão de toneladas de grãos/ano, a uma
distância média de 700 km. Se computarmos as cargas de pequena distância como areia,
cascalho e cana-de-açúcar, a movimentação no rio Tietê se aproxima de dois milhões de
toneladas, Figura 6.
91
Fonte: http://www.seltra.ms.gov.br. Acesso em: 20 fev. 2005, adaptado pelo autor.
Figura 6 – Principais hidrovias presentes no Estado de Mato Grosso do Sul.
92
5.2.5 – Aspectos de Licenciamento Ambiental
Ao se tratar de licenciamento ambiental primeiramente é interessante esclarecer a
questão da divisão das bacias hidrográficas, onde se é ou não permitida a
implementação de indústrias sucroalcooleiras. Tal divisão é regulamentada pela lei
328/1982 que dispõe sobre a Proteção Ambiental do Pantanal Sul-Mato-Grossense.
“...Pedro Pedrossian, Governador do Estado de Mato Grosso do Sul, faço
saber que a Assembléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º - Fica proibida a instalação de destilaria de álcool ou de usina de
açúcar e similares na área do Pantanal Sul-Mato-Grossense, correspondente
a área da bacia hidrográfica de Rio Paraguai e de seus tributários,
delimitada de acordo com o anexo I.
Art. 2º Respeita a proibição contida no Artigo anterior, somente será
concedida autorização para instalação de qualquer outro tipo de indústria na
mesma área, se ficar evidenciado que seu funcionamento não concorrerá ou
provocará poluição ambiental no Pantanal.
Parágrafo único - Entende-se por poluição para fins deste Artigo, o definido
no Artigo 2º, itens I, II, III do Capítulo II, da Lei Nº 90, de 02 de junho de
1980.
Art. 3º - Ficam assegurados os direitos das indústrias de que tratam os
artigos anteriores que, na data da publicação desta lei, já se achem
instaladas e em operação, condicionado o funcionamento das mesmas a
observância das normas de controle de poluição vigentes.
Art. 4º - Fica proibida a ampliação da capacidade instalada das destilarias
de álcool ou usinas de açúcar de que trata o artigo 1º, que já se achem
instaladas e em operação na data da publicação desta Lei.
Art. 5º - O Poder Executivo, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data da
publicação desta Lei, regulamentará sua aplicação.
Art. 6º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as
disposições em contrário...” (Transcrito da Lei 328/1982).
A lei é bastante clara ao proibir qualquer construção ou ampliação de capacidade
produtiva de usinas na região do Pantanal sul-mato-grossense, que corresponderia à
bacia hidrográfica do Rio Paraguai. Na Figura 7 a visualização do estado torna mais
compreensível a divisão das bacias hidrográficas.
93
Fonte: FCR 2005.
Figura 7 – Divisão das bacias hidrográficas do Rio Paraguai e Rio Paraná.
94
Por outro lado, o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
9
fortalece as
limitações à atividade sucroalcooleira na região do Pantanal com o objetivo de preservar
este importante ecossistema do estado. Dessa forma, no uso das atribuições que lhe
confere o item III, do artigo 71, de seu Regimento Interno, cria a seguinte resolução:
“...Determinar que a Secretaria Especial do Meio Ambiente e os órgãos
estaduais do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, responsáveis pelo meio
ambiente, suspendam a concessão de licença para a implantação de novas
destilarias de álcool nas bacias hidrográficas localizadas no Pantanal Mato-
grossense, até que o plenário do Conselho Nacional do Meio Ambiente se
posicione conclusivamente sobre o assunto...” (Boletim de Serviço nº 956,
de 22/03/85, do Ministério do Interior. Republicado no Boletim de Serviço
nº 002, de 03/05/85, do MDU).
No ano de 2005 o então Governador do Estado José Orcírio Miranda (Zeca do
PT), faz uma tentativa de ampliar a área permitida para a instalação de usinas de açúcar
e álcool. Através de articulações políticas e da mobilização da opinião pública o
governador tentou alterar a lei. Porém, além da pressão de certas Organizações não
Governamentais - ONG’s, a Assembléia Estadual rejeitou esta ampliação, embasada na
resolução 001/1985 do CONAMA.
Pela nova proposta a área para a qual seria ampliada a permissão de se instalar
novas usinas sucroalcooleiras, além da ampliação das indústrias já existentes
corresponde à região em cor amarela disposta na Figura 8.
Somente no final do ano de 2006 esta discussão voltou à pauta, sendo desta vez
alterada, passando a permitir apenas a ampliação das usinas que estão localizadas na
Bacia do Alto Paraguai.
9
CONAMA é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, e
foi instituído pela Lei 6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada
pelo Decreto 99274/90.
95
Fonte: FCR 2005.
Figura 8 – Ampliação da área permitida à ampliação e construção de novas indústrias sucroalcooleiras.
96
6 – DISCUSSÕES SOBRE OS IMPACTOS DA INSTALAÇÃO DE NOVOS
EMPREENDIMENTOS EM MATO GROSSO DO SUL
Neste capítulo serão discutidos os impactos que o crescimento da cadeia
sucroalcooleira poderá provocar no estado, sendo abordado os três principais impactos:
¾ Impactos sociais: Discussões sobre as relações no sistema produtivo,
geração de empregos e renda, qualificação de mão-de-obra, benefícios sociais e
migração de mão-de-obra de outras regiões, adequação à legislação trabalhista,
pressão sobre a estrutura social dos municípios;
¾ Impactos econômicos: Investimento no estado, recolhimento de
impostos, diversificação da base produtiva, deslocamento dos fatores de
produção das atividades econômicas tradicionais para a cadeia sucroalcooleira;
¾ Impactos ambientais: Impacto da substituição das lavouras atuais pela
cana-de-açúcar, tipos de colheitas, impactos da operação das indústrias, impactos
do aumento do uso do etanol e aspectos do licenciamento ambiental.
6.1
IMPACTOS SOCIAIS
A cadeia produtiva da cana-de-açúcar brasileira gera 1,2 milhão de empregos
diretos no país e apenas no estado de São Paulo 600 mil postos de trabalho, sendo que o
piso salarial, em média, é 70% superior ao salário mínimo (AMARAL, 2003).
No estado de Mato Grosso do Sul, no período da safra, a cadeia sucroalcooleira é
responsável pela geração de 22 mil empregos diretos através das nove indústrias em
operação atualmente, segundo o seu sindicato SINDAL-MS. Serão discutidos a seguir
alguns aspectos relevantes do ponto de visto social destes empreendimentos.
97
6.1.1 - Relações no sistema produtivo
Quando se trata das relações entre as indústrias e os fornecedores de cana existe
um quadro variado de possibilidades, porém, há a predominância de duas modalidades,
a de fornecimento e a de arrendamento.
O fornecimento consiste na realização da produção pelo próprio produtor com a
venda da respectiva produção para uma indústria, na maioria das vezes através de
contratos previamente firmados entre as partes. A remuneração do produtor neste caso
se dá através da ATR, que representa o Açúcar Total Recuperado, que é o indicador de
produtividade que corresponde à quantidade média de açúcar (em quilogramas) que
pode ser extraída de uma tonelada de cana.
Amaral (2003) observa que no Estado de São Paulo, aproximadamente 80% dos
Fornecedores são pequenos (entregam até 4.000 toneladas de cana anuais
10
); 11,4% são
médios
11
(até 10.000 toneladas anuais); e os grandes fornecedores representam apenas
7,6% do total. Os grandes fornecedores, embora representem parcela pequena da
população, são responsáveis por aproximadamente 57,6% da cana produzida por estes
fornecedores.
Como a estrutura fundiária do Mato Grosso do Sul é composta por produtores de
maior escala, pode-se esperar que esta cadeia no estado seja mais dinâmica e tenha uma
composição de custos ainda menor que a paulista. A escala permite também uma mais
fácil adoção da mecanização, devido à exigência de uma área mínima para operação das
colhedoras.
10
O que representaria algo ao redor de até 55 a 60 hectares de cultura.
11
Até aproximadamente 150 hectares de cultura de cana-de-açúcar.
98
Outra forma de relacionamento entre as indústrias e os produtores é a parceria, que
no caso se dá através do arrendamento
12
. O arrendamento ocorre mais comumente com
os pequenos proprietários, isso devido à menor capacidade de mecanização e emprego
da tecnologia necessária para a cultura por estes.
No entanto, esta tendência não é a causa mais forte registrada no estudo realizado
por Peres (2003) para que os pequenos agricultores deixem de cultivar sua propriedade,
passando assim da condição de fornecedor para a de arrendador. O seu trabalho foi
realizado junto a uma amostra de pequenos ex-fornecedores de cana (menos de 50 ha),
que passaram a arrendar suas terras, na região de Piracicaba.
“... Identificou-se que a razão mais importante (respondendo por 62% dos
entrevistados) para o abandono do cultivo da cana e o arrendamento da terra
para terceiros vincula-se aos problemas no interior da família colocados
pela dinâmica do ciclo de vida dessas famílias (desinteresse das novas
gerações pela atividade agrícola, necessidade de buscar rendimentos fora da
unidade agrícola, conflitos sobre a gestão do trabalho no interior da unidade
produtiva, problemas de saúde e de idade do chefe da família).
Curiosamente, apenas 38% alegaram a inviabilidade econômica do
empreendimento imposto pelo tamanho do estabelecimento...” (PERES,
2003).
Seja qual for o motivo para a mudança da posição de fornecedor para a de
parceiro, o fato é que ela cresceu nos últimos anos. Segundo Amaral (2003), nos anos
1970 os fornecedores eram responsáveis 70% da cana-de-açúcar moída no país, essa
proporção na safra de 2001/02 passou para 27% do total de cana moída.
Atenção deve ser dada a este fato, pois, ele pode representar uma tendência a vir
ser seguida em Mato Grosso do Sul. O que representaria a passagem da posse dessas
12
O contrato de parceria é espécie de contrato agrário, que dá origem a uma sociedade sui generis – que é
regido pela Lei n.º 4.504/64 (Estatuto da Terra), art. 96 e incisos, e seu respectivo Regulamento (Decreto
n.º 59.566/66). Segue o art. 4º do Decreto n.º 59.566/66:
"Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se obriga a ceder à outra, por tempo
determinado ou não, o uso específico de imóvel rural, de partes do mesmo, incluído ou não benfeitorias,
outros bens e/ou facilidades, com o objetivo de nele ser exercida atividade de exploração agrícola,
pecuária, agro-industrial, extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega animais para cria, recria,
invernagem, engorda ou extração de matérias primas de origem animal, mediante partilha de riscos de
caso fortuito e da força maior do empreendimento rural, e dos frutos, produtos ou lucros havidos nas
proporções que estipularem, observados os limites percentuais da lei (art. 96, VI do estatuto da terra)"
99
propriedades para as indústrias, durante o contrato de arrendamento, que via de regra
obedece a prazos superiores a 8 anos. No entanto, isso não significa que o produtor não
passe a ter maiores ganhos do que os atualmente obtidos no estado com as atividades
tradicionais.
Em outro trabalho onde se analisou a origem da mão-de-obra utilizada na cultura
da cana, realizado em Ribeirão Preto por Guedes (2006), detectou-se que as atividades
de plantio e cultivo eram realizadas majoritariamente por meio de trabalho assalariado
contratado fora da família (cerca de 60%). Ao se incluir outras formas que utilizam
terceiros para o cultivo, a participação exclusiva da mão-de-obra familiar se limita a
20% das famílias. Trabalho este encontrado principalmente nos estratos de produção
inferiores a 800 toneladas/ano.
O trabalho ainda demonstra que para a colheita, é irrelevante a mão-de-obra
familiar, uma vez que apenas 1,47% dos entrevistados colhem exclusivamente
utilizando esse tipo de mão-de-obra. A maioria dos entrevistados (72%) se utilizou da
usina para realizar o corte da cana. Fato que indica o grau de integração e subordinação
desse contingente social à agroindústria, que realiza uma das mais importantes etapas do
processo produtivo do complexo.
Tais informações trazem importantes constatações, à de que os proprietários pouco
se utilizam de mão-de-obra familiar, principalmente para o corte da cana, e que quanto
maior a propriedade mais expressiva se torna esta realidade. O fato da contratação de
mão-de-obra de fora do núcleo familiar, de certa forma, pode descaracterizar a
propriedade como de agricultura familiar, que segundo Graziano
13
é determinada pela
característica da mão-de-obra utilizada.
13
GRAZIANO (1983 e 1995) enfatiza que os vínculos da unidade familiar com o mercado de trabalho
são o elemento determinante para caracterizá-la, estando explícita a idéia de que quanto mais mão-de-
100
Porém, deve-se atentar ao fato de que a redução do uso da mão-de-obra familiar
nestas pequenas propriedades pode também estar relacionada ao aumento real da renda
desses pequenos proprietários. Pois, com tal elevação de renda é de se esperar que as
operações mais pesadas e insalubres como o plantio e o corte manual da cana sejam
realizados através de trabalhadores contratados.
No estado já é identificável um fato semelhante ao relatado por Guedes (2006),
que o elevado número de assalariados empregados, independe do tamanho da unidade
familiar. Pois não sendo contínuo o emprego desses safristas, o que se nota é que quanto
menor a área menor o número de dias trabalhados, porém, sem expressiva redução do
número de safristas.
Este fato revela que as turmas de cortadores contratados diretamente ou por meio
de turmeiros trabalham durante toda a safra em várias unidades produtivas, distribuídas
e organizadas conforme o número, tamanho e grau de maturação da cana, migrando
assim atrás de novas áreas lavouras para o corte, quando encerram o trabalho de uma
unidade.
Outro importante aspecto é levantado por Peres (2003), que se refere ao fato dos
produtores arrendaram suas terras para terceiros e abandonarem a atividade produtiva,
conservando, porém, sua propriedade. Ele afirma que a permanência da propriedade da
terra traz benefícios a esses ex-fornecedores, por isso não se desfazem dela. Ele cita os
principais benefícios como:
“... 1- benefício médico-previdenciário por estar associado às organizações
de classe dos fornecedores;
2 - importância da renda derivada do aluguel da terra no rendimento
familiar, que em média é de 42%, mas alcança 78% nos estratos de área
menores;
obra de fora da família e quanto mais os membros da família recorrem a atividades remuneradas fora da
unidade familiar, maior é a desnaturalização dessa unidade produtiva como familiar.
101
3 - idade e o fato daquele que arrenda sua terra permanecer, na grande
maioria dos casos, morando na casa rural do estabelecimento...” (PERES
2003).
É relevante destacar que no trabalho realizado por Guedes (2006), foram
identificados intensos processos de diferenciação social no interior da categoria dos
pequenos fornecedores. Em muitos casos, o fornecedor operava com escalas e utilização
de força de trabalho que o assemelhava à empreendedores capitalistas. Porém, o
contrário não foi observado, isto é, processos de diferenciação e decomposição social no
qual o fornecedor perdeu sua condição de proprietário de terras.
De toda forma, se faz necessária uma análise mais aprofundada neste sentido para
se conhecer as relações comerciais ou de parceria na cadeia sucroalcooleira e suas
conseqüências sociais. A estrutura de mercado pulverizada da produção de cana-de-
açúcar faz com que surjam preocupações com as questões distributivas ao longo da
cadeia produtiva, já que o setor industrial se apresenta mais concentrado e, portanto,
com maior poder de barganha que o agrícola.
No entanto, na literatura não foi encontrado nenhum caso de decomposição social,
como relata Guedes (2006), ao contrário, a atividade sucroalcooleira tem se
demonstrado socialmente mais justa para produtores familiares que outras atividades.
Mesmo que seja pelo simples fato de um maior retorno econômico para estes
produtores.
6.1.2 - Geração de empregos e renda
A geração de empregos se trata de importante tema a ser discutido na cadeia
sucroalcooleira, tida como grande geradora de empregos, porém também conhecida
pelos empregos extremamente insalubres como o corte manual da cana.
102
Borges (1991), no entanto ressalta que na década de 1990 cerca de 30% do total de
empregos da cadeia sucroalcooleira eram ocupados por trabalhadores especializados
(lavoura e indústria); 10% possuíam treinamento médio (motoristas, por exemplo), e
60% tinham pouca qualificação (cortadores de cana, entre outros).
O autor ainda relata que nos 357 municípios com destilarias de etanol, estas
proporcionavam de 15% a 28% do total de empregos. Diferenças regionais em
mecanização, automação e produtividade levavam a três vezes mais trabalhadores por
unidade de produção no Nordeste, com relação ao Sudeste. Em Mato Grosso do Sul esta
relação fica muito próxima a do Sudeste, visto que o sistema de produção se assemelha
ao deste último.
No estado de São Paulo um cortador de cana recebia mais que 86% dos
trabalhadores agrícolas; mais que 46% dos trabalhadores industriais, e mais que 56%
dos trabalhadores em serviços, quando comparado com a média nacional. A renda
familiar média (cortadores de cana, dois trabalhadores por família) era superior a 50%
das famílias no país. (BORGES, 1991).
A relação entre os salários dos trabalhadores da cadeia sucroalcooleira e de outros
setores em Mato Grosso do Sul está representada na Figura 9. Na qual se pode notar que
o setor primário que apresenta maior proporção de empregados com menores salários é
a pecuária.
Na faixa de 2,01 a 3,0 salários mínimos é onde se encontra maior equidade entre
as quatro atividades comparadas, sendo que a atividade sucroalcooleira apresenta maior
proporção que as outras atividades em praticamente todas as faixas de salários
superiores a 3,01 salários mínimos.
103
Distribuição de empregos por faixa salarial.
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
Até 1 de 1,01 a
1,5
de 1,51 a
2,0
de 2,01 a
3,0
de 3,01 a
4,0
de 4,01 a
5,0
de 5,01 a
7,0
de 7,01 a
10,0
Acima de
10,01
Cla sse de sa l á ri os.
Valores proporcionais (%).
Cultivo de cana-de-açúcar
Cultivo de soja
Criaçao de bovinos
Lavoura e pecuária
Fonte: RAIS 2006, adaptado pelo autor.
Figura 9 – Distribuição dos empregos por faixa salarial e por tipo de atividade
agropecuária.
Ao se comparar os empregos gerados no campo pela atividade sucroalcooleira, em
seis dos oito municípios que já possuem indústrias, percebe-se que mais de 20% desses
empregos são gerados por esta atividade. Sendo que no caso de Rio Brilhante, que
possui duas indústrias, eles chegam a representar mais de 50% dos empregos rurais.
(Ministério do Trabalho e Emprego, 2005).
Um outro aspecto de extrema relevância é o custo da geração de empregos na
cadeia sucroalcooleira. Quando se compara a necessidade de investimento para geração
de empregos nesta cadeia com os 35 maiores setores da economia, percebe-se uma
necessidade muito menor de investimento para a geração de empregos naquela primeira.
Enquanto que para a produção de etanol o investimento necessário para a geração
de um posto de trabalho (emprego), excluindo-se o valor da terra, foi avaliado em
104
US$11.000,00 e US$23.000,00, respectivamente no Nordeste e em São Paulo, para os
35 outros setores estudados ele fica ao redor de US$41.000,00. (BORGES, 1991).
Tais dados sugerem que o investimento na atividade sucroalcooleira é uma
interessante opção, que se demonstra altamente geradora de empregos. Se apresentando
como alternativa para industrialização e geração de empregos em Mato Grosso do Sul.
Ao se comparar a produção de álcool com outros combustíveis também se percebe
a vantagem da cadeia sucroalcooleira na geração de empregos por investimento. Pois, se
tomando como base a produção de petróleo no Brasil, a geração de empregos por
unidade de energia equivalente é 4 vezes maior no carvão, 3 vezes com a energia
hidroelétrica, e 150 vezes com o etanol. (CARVALHO, 2000).
Este aspecto levantado por Carvalho (2000) possibilita que se questione os
investimentos estatais, no caso do governo federal através da PETROBRAS. Chamando
a atenção para este combustível renovável, que analisado pelo aspecto de geração de
empregos demonstra ser socialmente muito mais interessante que a cadeia
Petroquímica.
No Estado o setor industrial é responsável pela geração de 50.000 empregos
diretos, correspondendo a 12,76% dos empregos formais do estado. A média salarial
mensal dos industriários sul-mato-grossenses, segundo Benavides (2006) é de
R$570,00, inferior à média salarial nacional correspondente, R$670,00. Porém superior
a médias de salários comerciais e rurais no estado.
No entanto, pelas informações fornecidas pela indústria sucroalcooleira e pelo
SINDAL-MS, a média salarial dos empregos desta cadeia é superior aos empregos
industriais do estado, R$850,00. Este fato se repete para os trabalhos agrícolas, sendo
que a média das indústrias que forneceram informações fica em torno de R$650,00. Este
105
fato chama atenção para o potencial do efeito renda dos empregos industriais, que sem
dúvida tem forte impacto na economia, e que será discutido adiante.
6.1.2.1 – Efeitos da ampliação da cadeia sucroalcooleira no emprego e renda
Foi realizada uma estimativa a partir de informações fornecidas pelo SINDAL-MS
e pelas informações contidas no questionário parte deste trabalho, que foi respondido
pelas empresas já em operação no estado. Para efeito de uma ponderação entre o
número de empregos na safra e entressafra foi considerada ainda esta variação ao longo
dos meses do ano.
Chegou-se a um valor médio ponderado anual para a cadeia sucroalcooleira em
operação no estado, de algo ao redor de 10.000 empregos, e com o crescimento da
cadeia se estima um aumento de mais de 15.700 novos empregos. Tais números
compreendem tanto os empregos industriais quanto os agrícolas.
A média dos salários pagos para cada tipo de emprego, informada pelas indústrias
está representada no Quadro 12. A média ponderada calculada considera a sobre-
contratação para os meses de safra ocorrendo durante seis meses do ano. Enquanto que
o salário médio ponderado, também considera a diferença entre o número de vagas da
indústria e do setor agrícola.
Quadro 12 – Número de empregos gerados na safra e entressafra, e médias
salariais praticadas na cadeia sucroalcooleira de Mato Grosso do Sul.
Entressafra Safra
Média
ponderada
Aumento da
demanda (%)
Entre as
empresas
Ponderado
indústria e agrícola
Agrícola
497 1355
926
172,82
700,00
Industrial
173 240
206
38,94
850,00
Fonte: Elaborado pelo autor.
Salário médio (R$)
727,31
Empresas em operação no Estado de Mato Grosso do Sul.
Tipo de
trabalho
Número de empregos
106
6.1.3 - Qualificação da mão-de-obra
A presença de mão-de-obra qualificada numa região tem efeito decisivo para a
atração de empresas, visto que uma das grandes dificuldades para a migração de
empresas dos grandes centros para outros locais é a falta de recursos humanos. Fato
comprovado no estado, por exemplo, pela cadeia do couro, que apesar da matéria prima
abundante e benefícios fiscais não se desenvolve no estado, devido em partes pela falta
de mão-de-obra qualificada.
A consolidação da cadeia sucroalcooleira em Mato Grosso do Sul poderá provocar
além do aumento generalizado dos postos de trabalho, com a conhecida elevada
demanda pelos trabalhadores que realizam o corte manual da cana, o crescimento da
demanda por profissionais especializados ou qualificados.
O atendimento a estas demandas por profissionais especializados até o momento
foi suprido seja pela contratação de profissionais de outras regiões, onde existe a oferta.
Ou então pelo treinamento de profissionais pelas próprias empresas ou através de
convênios com outras entidades como o SENAI, SENAR, dentre outras.
Segundo Benavides
14
(2006), para os novos empreendimentos que estão se
consolidando no estado, o Sistema FIEMS - Federação das Indústrias do Estado de
Mato Grosso do Sul, possui negociações com as indústrias e o seu sindicato para
efetivar a realização de treinamento e qualificação da mão-de-obra.
No entanto, caso a preparação de profissionais especializados não aconteça no
mesmo ritmo com que cresce o setor poderá haver uma escassez de profissionais no
mercado. Aliado ainda a este aspecto de reduzida oferta de profissionais capacitados no
estado, soma-se o crescimento generalizado da atividade sucroalcooleira em todo o país,
14
Informação fornecida através de entrevista pelo Assessor Especial do SENAI-MS, Rodrigo Alejandro
Ferrada Benavides.
107
o que também poderá dificultar a contratação de profissionais em outras regiões. Tal
cenário indica que poderá existir um gargalo no desenvolvimento da atividade, a falta de
recursos humanos.
De forma geral os convênios que estão sendo realizados se destinam a suprir
profissionais para atividades como a de mecanização da colheita, informatização e
automação dos processos produtivos, mecanização agrícola, procedimentos laboratoriais
e processos que demandam conhecimento em técnicas de química.
Ainda segundo Benavides (2007), além dos cursos mais específicos para o setor,
que são oferecidos pelo sistema FIEMS como o de Técnico em Açúcar e Álcool e o de
Técnico em Química, existem os cursos tidos como transversais. Estes cursos formam
profissionais que podem ser absorvidos tanto pela indústria sucroalcooleira como por
outras atividades industriais, como:
o Leitura e Interpretação de Desenho Técnico Mecânico;
o Metrologia Básica;
o Rolamento;
o Montagem e Desmontagem de Equipamentos;
o Comandos Elétricos;
o Segurança para operador de empilhadeira;
o Segurança para operador de pontes rolantes;
o Comunicação na Empresa;
o Gestão de recursos – relações interpessoais;
o Metrologia para mecânica Automotiva;
o Motor diesel – básico;
o Injeção eletrônica – básica.
Os convênios são firmados junto às empresas ou com o sindicato de uma forma
coletiva e o objetivo maior deles e preparar profissionais para atendimento as estes
postos de trabalho. Isso permite que se absorva a população local nos empreendimentos.
Um aspecto importante, segundo o SENAI-MS, é que se preza que os cursos
cheguem até a população de forma gratuita. Para isso, se conta com investimento das
indústrias, e com fundos como o Fundo de Apoio a Industrialização do Governo
108
Federal, o Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT, com o apoio dos governos
estaduais e municipais. No entanto, segundo este mesmo assessor do SENAI, o
principal investidor nesta qualificação são as próprias empresas da cadeia
sucroalcooleira.
Dessa forma, mesmo com a perda relativa de número de empregos gerados devido
ao aumento da mecanização, tanto da colheita como de processos industriais, ganha-se
com o aumento de vagas mais qualificadas, que são menos insalubres e melhor
remuneram o trabalhador.
Outro ponto positivo deste processo é que nem toda mão-de-obra qualificada é
absorvida, o que promove um contingente não ocupado que formaria um estoque de
mão-de-obra qualificada, fator que pode atrair outras indústrias para a região. Além de
se tratar, a educação técnica, de um importante investimento social.
6.1.4 – Benefícios sociais
Os investimentos sociais em Mato Grosso do Sul ainda não representam uma ação
sistemática de todas as empresas. Encontram-se algumas ações isoladas, porém é
perceptível uma tendência dessas companhias de passarem a valorizar mais estes
aspectos.
6.1.4.1 - Benefícios gerais
Segundo informações fornecidas por uma das empresas já instaladas no estado,
num curto horizonte de tempo vem ocorrendo profundas mudanças na postura da
empresa e na forma de tratar seus colaboradores. Tais mudanças estão acontecendo de
109
maneira generalizada em todas as indústrias do estado, em algumas de forma mais
acentuada e em outras menos.
Para se ter uma idéia de tais mudanças, há apenas poucos anos foi criado numa das
empresas do estado um departamento médico que conta com os seguintes profissionais:
1 médico, 1 enfermeiro de nível superior, 3 técnicos de enfermagem, 3 auxiliares de
enfermagem e 1 dentista. Sendo que há menos de uma década apenas existia
enfermeiros e um médico era chamado somente em caso de emergências.
Além de um ambulatório completo com profissionais à disposição para
emergências ou qualquer outra necessidade médica, as empresas também incluíram em
seus quadros os profissionais de segurança do trabalho. Tais profissionais desempenham
papel fundamental na prevenção de acidentes, que somado ao serviço médico,
demonstram maior valorização social dos colaboradores e a criação de um ambiente
mais seguro de trabalho.
A maioria das empresas que responderam o questionário, ou então forneceram as
informações a partir de entrevistas ou contatos telefônicos, declararam que também
apresentam outros benefícios como: alojamento, seguro de vida e transporte. De
maneira geral as empresas financiam cursos de aperfeiçoamento e especialização e
fornecem bolsas (integrais ou parciais) para cursos de maior duração. Uma das
empresas possui ainda um programa que oferece assistência educacional a filhos de
funcionários.
Certamente a qualidade dos empregos na cadeia sucroalcooleira ainda está muito
longe de ser ideal, e o corte ainda representa um trabalho altamente desgastante e
insalubre, no entanto, algumas melhoras são indiscutíveis em termos de qualidade dos
empregos. Assim como é relevante o fato de se criar empregos onde estes não existiam.
110
6.1.4.2 – Ações individuais
Algumas empresas apresentam importantes iniciativas para melhorar a qualidade
do ambiente de trabalho, a Usina Alcoolvale é uma delas.
Instalada em Aparecida do Taboado, pertencente ao grupo Unialco, esta empresa
implantou desde o início da safra 2005/06 um programa de alimentação e saúde do
trabalhador rural. O programa atende os funcionários que trabalham no setor agrícola da
unidade que passaram a receber diariamente, três refeições distintas, café da manhã,
almoço e jantar.
As refeições são preparadas por uma equipe especializada (terceirizada),
controlada pela usina e acompanhada por nutricionista, que prepara o cardápio para
atender as necessidades diárias nutricionais dos trabalhadores.
Através de reuniões com os trabalhadores os cardápios são adaptados às
características de cada região. Segundo a empresa, com a implantação do programa de
alimentação do trabalhador rural já foi possível observar mudanças na saúde e no
desempenho dos trabalhadores. (JORNAL DA CANA, 2005).
6.1.5 – Migração de mão-de-obra de outras regiões
As migrações para atender as demandas ocasionadas pela cadeia sucroalcooleira
são bastante conhecidas e estudadas, como não é o objetivo do presente trabalho não
será aprofundado o assunto. No entanto, algumas considerações se fazem interessantes
de serem tecidas.
Tais migrações são provocadas devido a grande demanda por trabalhadores rurais
na época da colheita da cana, no entanto, tais postos de trabalhos são temporários. A
sazonalidade desse tipo de emprego provoca ao final da safra o movimento inverso com
111
os trabalhadores retornando novamente para seus locais de origem. Regiões tradicionais
fornecedoras de mão-de-obra para a cadeia são a Nordeste de forma geral e o norte de
Minas Gerais.
No caso de Mato Grosso do Sul, o próprio estado de São Paulo e Paraná poderão
fornecer alguma mão-de-obra. Porém, no caso destes dois estados provavelmente se
trate do fornecimento de trabalhadores para serviços mais especializados, como já vem
ocorrendo.
O que se nota no estado é a contratação de mão-de-obra indígena para execução
dos trabalhos de colheita manual. Próximas a algumas indústrias estão localizadas
aldeias, que provêem estes trabalhadores. Segundo informação de uma das empresas, de
forma geral, elas costumam possuir um recrutador específico para a contratação de mão-
de-obra indígena, devido se tratar de uma situação mais delicada de contrato.
6.1.6 - Adequação à legislação trabalhista
Percebe ao longo dos últimos anos que ocorreu certa evolução no que diz respeito
ao atendimento da legislação trabalhista e dos direitos dos trabalhadores. O que garante
tanto o direito às condições mínimas de trabalho, e alguma segurança para estes
migrarem para os locais na época da safra. O que assegura ainda que quando encerrada
a safra de um determinado lugar eles poderem sair em busca de outros trabalhos ou
retornarem para sua origem.
Para tanto, segundo Cordeiro (2005), o Ministério do Trabalho tem recomendado
e exigido através das delegacias regionais do trabalho que sejam seguidos alguns
procedimentos:
Elaboração de contrato coletivo de condições de trabalho firmado com
o Sindicato dos Trabalhadores;
112
Contratação mediante a realização de exame admissional; Assinatura
na CTPS e ficha de registro de empregados;
Cadastro e emissão de relação de trabalhadores que estarão sendo
contratados com qualificação, assinatura e identificação do responsável da
empresa pela contratação;
Solicitação para obtenção de certidão liberatória junto a DRT;
Os trabalhadores ainda não podem ter as despesas de viagem
descontadas dos seus vencimentos, inclusive as de retorno e alimentação no
percurso;
Os passageiros devem constar da relação ANTT;
Contrato social da empresa contratante;
Envio de ofício aos sindicatos e observância da IN no. 01/94 do
MTBE;
Os trabalhadores devem viajar com as CTPS já anotadas e com direito
a percepção de salários desde a contratação;
Constar ainda no contrato do trabalho as condições de alojamento.
O cumprimento de tais procedimentos é direito do trabalhador e garante a este
melhores condições de trabalho.
6.1.7 – Pressão sobre a infra-estrutura social dos municípios
Mato Grosso do Sul é um estado ainda pouco populoso, de forma que, diversos de
seus municípios apresentam pequenas populações, e consequentemente, com estruturas
sociais reduzidas em suas sedes. A implantação de empreendimentos nesses locais
poderá afetar fortemente tais estruturas.
Um município como Angélica, por exemplo, segundo a estimativa de população
residente do IBGE de julho de 2006, possuía população pouco superior a 6.000
habitantes. Caso este município venha a ter efetivamente implantados os dois
empreendimentos previstos pelo CDI-MS certamente a estrutura social municipal
enfrentará um forte impacto.
113
Pois, considerando-se os trabalhadores fixos, de indústrias de médio porte, pode-
se ter para cada uma das usinas algo ao redor de 1.500 funcionários. O que somado
representaria um aumento na população do município em torno de 50%.
Dessa forma, os aspectos de infra-estrutura municipal devem ser profundamente
analisados quando dos estudos de implantação do empreendimento. O que deve ocorrer
na realização do EIA/RIMA, que analisa além das questões ambientais os impactos
econômicos e sociais do empreendimento. Sendo que ainda neste momento são
realizadas as propostas de mitigação dos efeitos destes impactos.
6.2 IMPACTOS ECONÔMICOS
Os possíveis impactos econômicos do crescimento da cadeia sucroalcooleira em
Mato Grosso do Sul com o implemento dos novos empreendimentos será determinado a
partir de índices e valores encontrados nas empresas que já se encontram em operação.
Dessa forma, com informações do próprio setor foram realizadas inferências para se
estimar o grau desses impactos.
Terciote (2006), em estudo no qual avalia o impacto da inserção de 41 novas
usinas de açúcar e álcool na economia brasileira faz a seguinte análise:
“... A inserção destas novas 41 usinas na economia brasileira pode gerar um
aumento de demanda de R$14.556.006,00 que representa um acréscimo de
0,57%. Quanto ao emprego vemos que teremos um acréscimo de 168.903
empregos, representando um aumento de 0,25%. Para o PIB temos uma
variação de 0,55%, a qual representa R$ 7.366.876,00. Considerou-se
apenas os efeitos diretos e indiretos destes choques. Lembramos ainda que o
efeito induzido pode aumentar consideravelmente a variação da demanda do
emprego e do PIB...” (TERCIOTE, 2006).
Coincidente o número de empreendimentos cadastrados junto ao CDI-MS, para se
instalarem em Mato Grosso do Sul é de 41. No entanto, a expectativa real é de que num
curto horizonte de tempo o número de indústrias que venham a se instalar no estado não
114
passe de 15 a 20 empreendimentos, segundo estimativas de profissionais envolvidos
com a cadeia.
Esta proporção se explica pelo fato do interesse de grupos ou empresas
sucroalcooleiras com algum potencial de se instalarem no estado já buscarem
antecipadamente se cadastrar junto ao CDI. Firmando com o governo estadual o termo
de acordo, para garantirem desta forma o pacote de benefícios oferecido.
6.2.1 - Investimento no estado
Os investimentos que serão realizados no estado com a implantação dos novos
empreendimentos podem dar uma breve noção do que significará para a economia
regional o crescimento da cadeia sucroalcooleira. No entanto, quantificar esses valores
representa uma difícil tarefa. Isso devido a grandes divergências entre as informações
encontradas na literatura, nas fornecidas pelas empresas e sindicato e pelos órgãos
estaduais.
Para tentar contornar este obstáculo foram realizadas estimativas a partir dos
valores obtidos de todos os informantes, se desconsiderando, entretanto, valores que se
demonstraram não condizentes com a realidade existente, ou com padrões de outras
regiões. Porém, não foi realizado nenhum tratamento estatístico, se tratando apenas de
estimativas aproximadas para se tentar obter uma compreensão do que esta ocorrendo
na cadeia.
Considerando-se a estimativa realizada anteriormente, de que 40% dos
empreendimentos se efetivem no estado, o montante de investimento que este
crescimento da cadeia representaria é da ordem de R$3,3 bilhões. Tal investimento seria
realizado a partir da construção de um número ao redor de 16 novas indústrias (40% do
115
total). Representando um montante de investimento por indústria da ordem de 203
milhões, condizente com os valores de mercado.
6.2.2 - Recolhimento de impostos
As discussões sobre as questões referentes à arrecadação de impostos, serão
realizadas basicamente sobre o imposto estadual ICMS. Pois, sendo o objetivo principal
deste trabalho avaliar os impactos sobre o estado, não serão considerados os impostos
federais. Quanto aos impostos municipais, devido também se tratar de uma análise mais
superficial dos aspectos tributários, estes também não foram analisados.
Para se compreender os prováveis impactos que o crescimento esperado da cadeia
sucroalcooleira possa provocar no estado, foi elaborado o Quadro 13, a partir das
estimativas construídas sobre as informações fornecidas pelos atores da cadeia.
116
Quadro 13 – Parâmetros do crescimento da cadeia sucroalcooleira de Mato Grosso do Sul. Comparação entre a atual condição e a
previsão de crescimento.
Situações
Área
p
lantio
(ha)
Cap. de moagem
(t/ano)
Prod. açúcar
(t/ano)
Prod. álcool
5
(m
3
/ano)
Investimento
Empregos
1
Atual condição 145.000 11.600.000 575.000 640.000 1.400.000.000 10.000
Previsão c/ implementação de 40%
dos novos empreendimentos
400.238 32.034.100 1.922.046 1.281.681 3.340.300.643 25.761
Total 545.238 43.634.100 2.497.046 1.921.681 4.740.300.643 35.761
Situações
Valor Açúcar
(R$)
2
ICMS Açúcar
(R$)
3
Valor Álcool
(R$)
2
ICMS Álcool
(R$)
3
Total ICMS
(R$)
Total Sario
Médio (R$)
4
Atual condição 352.262.208,32 14.636.494,76 503.689.107,69 22.439.349,75 37.075.844,50 94.550.283,44
Previsão c/ implementação de 40%
dos novos empreendimentos
1.177.502.901,65 48.925.245,56 1.008.701.294,59 44.937.642,67 93.862.888,24 243.572.876,18
Total 1.529.765.109,97 63.561.740,32 1.512.390.402,28 67.376.992,42 130.938.732,74 338.123.159,62
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nota 3 - Valor do ICMS: Calculado considerando os benefícios fiscais e estipulada a proporção de 30% da produção para consumo interno e 70% para comércio com outros estados, devido a diferença da alíquota para os dois
casos.
Nota 5 - A partir de 1,0 t de cana-de-açúcar obentedo-se: 60 kg de açúcar e 59,8 litros de álcool (sendo 19,8 de recuperação do mel). Trata-se de valores médios, dependentes do processo industrial e da ART da cana.
Parâmetros da cadeia sucroalcooleira de Mato Grosso do Sul.
Nota 1
-
Empregos: na situação atual estimativa a partir de informações baseadas nas resposta das empresas ao questionário deste trabalho e em informações buscadas no trabalho realizado por Araújo (2001). No caso da previsão
dos empreendimentos a serem implantados foi considerada a declaração das indústrias no cadastro CDI.
Nota 2 - Valor do açúcar e álcool: média para o ano de 2005 pelo índice da ESALQ/CEPEA de 2006.
Nota 4 - Salário médio: Realizada média ponderada entre número de funcionários industriais e da área agrícola, chegando-se a um valor de R$690,00, e considerando ainda 13 salários por ano.
117
6.2.3 - Diversificação da base produtiva
A diversificação da base produtiva representa um importante avanço econômico
para Mato Grosso do Sul, pois através dela se reduz o risco da dependência exclusiva
por determinadas atividades. Tal dependência traz sérios riscos para a economia local,
exemplo disso foi à crise provocada pelo surgimento do foco de febre aftosa no Sul do
estado.
O surgimento deste foco impediu a comercialização da carne produzida e abatida
na região. Como a economia era altamente dependente desta cadeia houve uma forte
crise regional, principalmente nos municípios onde funcionavam os frigoríficos.
Com a implementação de novos empreendimentos ocorre a diversificação na
agropecuária, através da criação de outras possibilidades para locais que se ocupavam
principalmente da pecuária e da soja. Dessa forma é fortalecido também o setor de
transformação, ou seja, através da implementação das agroindústrias que processam a
cana-de-açúcar em álcool e açúcar.
Com isso se agrega valor à produção primária, criam-se empregos com
especialização em outras áreas e fortalece a posição do estado no promissor circuito da
Agroenergia.
6.2.4 – Deslocamento dos fatores de produção das atividades econômicas
tradicionais para a cadeia sucroalcooleira
Com a possibilidade do investimento em atividade que apresente melhores
perspectivas em termos de retorno financeiro, é de se esperar que ocorra um
deslocamento dos fatores de produção para esta nova atividade. Esta transferência não é
imediata devido a certas barreiras à novos entrantes, como a alta necessidade de capital,
118
o Know How da atividade, questões ambientais e de mercado, dentre outras, porém, este
deslocamento já é certo.
Exemplos do deslocamento dos fatores de produção são as grandes extensões de
áreas que já começam a ser cultivadas com a cultura da cana, e que antes eram ocupadas
por pastagens e culturas mais tradicionais na região como soja e milho.
6.3 IMPACTOS AMBIENTAIS
A preocupação com o meio ambiente
15
se tornou nas últimas décadas pauta de
discussão da sociedade em todo o mundo. O tema cresceu em importância à medida que
as sociedades tornaram-se mais conscientes da necessidade da preservação dos recursos
naturais e também por começarem a sentir os efeitos da insustentabilidade do sistema
produtivo adotado até então.
Como exemplo dos danos provocados ao meio ambiente, temos: a destruição da
camada de ozônio, o efeito estufa com o conseqüente aquecimento global, a degradação
e a desertificação de solos férteis, o assoreamento de rios, a poluição de mananciais,
dentre outros.
Para Custódio (1993), o conceito de dano ambiental decorrente de poluição
ambiental pelo uso nocivo da propriedade e por outras condutas e atividades lesivas ao
meio ambiente, compreende todas as lesões, ou ameaças de lesões prejudiciais à
propriedade (pública ou privada) e ao patrimônio ambiental. Com todos os recursos
15
No direito ambiental, meio ambiente pode ser definido como um conjunto de ações,
circunstâncias de origens culturais, sociais, físicas, naturais e econômicas que envolvem o homem e todas
as suas formas de vida. Sendo de fato tudo aquilo que circunda a vida, todo o meio no qual os seres vivos
estão inseridos. (ANTUNES 2004).
119
naturais ou culturais integrantes, degradados, descaracterizados ou destruídos
individualmente ou em conjunto.
6.3.1 - Impacto da substituição das lavouras atuais pela cana-de-açúcar
A substituição de atividades tradicionais como a pecuária por cana pode trazer
impactos devido à alteração do ecossistema que já estaria estabilizado. Além da
derrubada de arvores desses sistemas tradicionais de produção devido a maior
necessidade de mecanização. No entanto, no caso da pecuária é interessante se
considerar que quase a totalidade das pastagens cultivadas no estado são compostas de
gramíneas exóticas, como as do gênero Brachiárias, Panicum e Tifton, dentre outras.
Dessa forma, tais ecossistemas por mais adaptados que estejam às condições do
estado são considerados um meio antropizado, ou seja, que sofreu ação humana.
Somente na região do Pantanal é praticada a pecuária sobre pastagens nativas, no
entanto, por não se poder implantar indústrias neste ecossistema não se faz necessária a
discussão dos impactos da cultura da cana sobre ele.
Mesmo não se tratando de um ecossistema natural, a sua substituição poderá
provocar alteração da flora, principalmente de espécies que convivem com os sistemas
de pecuária, e principalmente da fauna que certamente irá buscar um habitat mais
propício que um canavial.
Dessa forma, há de se esperar alterações ambientais com o crescimento da lavoura
de cana. Porém, como é fato que as pastagens no estado apresentam elevado grau de
degradação, pode ser esperado também que esta mudança tenha aspectos positivos
quanto à conservação do solo e de mananciais. Pois, a cana representa uma cultura
altamente sistematizada, proporcionando um bom preparo do solo o que previne
inúmeros impactos hoje observados.
120
O fato da cana-de-açúcar ser uma cultura que melhor remunera o produtor rural
comparada à pecuária, por exemplo, fará com que este possa certamente estar mais
capitalizado e com condições de investir nos processos de conservação do solo. Quando
se compara a cana com culturas de ciclo curto como a soja, os índices de cobertura do
solo são bem mais efetivos, o que também promove melhor conservação deste.
6.3.2 - Tipos de colheita
Existem basicamente dois tipos de colheita, a manual e mecanizada, será realizada
uma breve descrição de ambas, para que possam ser avaliados seus impactos
ambientais.
6.3.2.1 – Colheita manual (queima dos canaviais)
A colheita manual é realizada por trabalhadores rurais que com auxílio de um
facão e de alguns equipamentos de proteção promovem o corte da cana planta. Após o
corte, eles fazem pilhas para que seja medido o volume cortado, que em seguida é
carregado por máquinas nos caminhões que levam para a usina. Porém, para a
realização desta tarefa o canavial deve ser previamente queimado.
A queima dos canaviais é uma prática agrícola ainda muito utilizada, seu objetivo
é o de facilitar e baratear o corte manual e de reduzir os custos de carregamento e de
transporte. Para o trabalhador a queima da cana permite um corte mais seguro, pois
facilita o acesso ao canavial, reduz os riscos com animais e insetos peçonhentos e com
os acidentes de trabalho. Para o corte manual a queima do canavial se faz
imprescindível. Já na usina a cana queimada aumenta a eficiência das moendas pela
ausência das palhas, reduzindo a necessidade de intervalos de limpeza.
121
No entanto, a queimada da cana está passando por um processo de reavaliação,
onde de um lado se tem a questão social da geração de empregos pelo corte manual, e
do outro as beneficies do corte da cana crua, que tem que ser realizado por máquinas,
reduzindo a geração de empregos no corte.
As desvantagens ambientais da queima da cana são relatadas por diversos autores,
sendo as principais delas:
Desperdício da energia contida nas folhas, palhas e pontas de cana-de-
açúcar;
Aumento da temperatura e diminuição da umidade do solo, levando a uma
maior compactação, perda de porosidade e desequilíbrio da microbiota;
Poluição da atmosfera através do CO e CO
2
e principalmente da fuligem
resultante das queimadas, afetando as áreas rurais adjacentes e os centros
urbanos mais próximos;
Os impactos ao solo são discutíveis, pois, existem estudos que comprovam que
uma camada de não mais de 5 cm do solo é afetada com o calor, sendo que sua
recuperação é extremamente rápida. Porém, animais que possam estar se abrigando no
meio do canavial certamente serão mortos pelo fogo.
Além da possível morte de animais, quando se trata dos prejuízos da utilização do
fogo existem dois outros aspectos a serem destacados. O primeiro deles se dá quando se
queima o canavial e este está próximo a cidades ou a vilas. De forma que a fuligem
produzida provoca além do incomodo pela sujeira nas casas, problemas respiratórios
como alergias, por exemplo.
O segundo aspecto, quanto à emissão de CO
2
, é discutível, pois na verdade este
gás que é emitido foi previamente fixado pela planta através da reação de fotossíntese
16
.
16
Reação bioquímica lenta, na qual o dióxido de carbono se combina com a água, absorvendo energia
solar, resultando em oxigênio e matérias orgânicas, estruturas de hidrato de carbono (CH
2
O). Tem-se
assim a absorção de CO
2
e a liberação de O
2
na fotossíntese, e a situação inversa na combustão e
putrefação. As quantidades envolvidas dos componentes são molecularmente equivalentes, a cada
molécula de CO
2
corresponde uma de O
2
. Durante o desenvolvimento da lavoura tem-se consumo de CO
2
e emissão de O
2
desde o plantio ate a colheita. KOTCHETKOFF (1999)
122
Reação na qual todo o carbono liberado através da queima do canavial, da fermentação
ou mesmo do álcool combustível é previamente fixado da atmosfera pelos vegetais.
Podendo ser considerado um circuito fechado que não contribui para o aquecimento
global.
É interessante um estudo mais aprofundado de cada caso, para se conhecer a
distância destes canaviais até as comunidades mais próximas. No caso de estarem
localizados próximos a estes locais, talvez seja interessante a utilização prioritária da
colheita mecanizada para tais canaviais. Este procedimento pode passar a ser exigido
pelos órgãos de fiscalização ambiental.
6.3.2.2 – Colheita mecanizada
A colheita mecanizada se baseia, além da necessidade de redução de custos
operacionais, na crescente pressão pelo fim das queimadas. Entretanto, o uso do corte
mecanizado segundo pesquisas é mais apropriado para propriedades que tenham no
mínimo 500 hectares (MMA, 1999). Em talhões menores o custo operacional da
operação fica muito elevado.
Em relação ao desemprego que poderá ser provocado pela mecanização do corte é
preciso esclarecer que para a realidade do estado isso não se aplica. Pois, a maior parte
dos empreendimentos ainda está por surgir, de modo que ainda não existem estes postos
de trabalho que seriam substituídos pelas máquinas, como é realidade em São Paulo.
Há de se considerar ainda o fato de que nas áreas mais acidentadas, ou em
menores propriedades não é viável o corte mecânico, o que de certa forma irá garantir a
manutenção de parte desses empregos.
123
Ao se realizar a colheita mecânica é produzido como subproduto, de 10 a 12
toneladas de palha picada por hectare. Material que pode ser usado como alimento para
animais, como fonte de energia para as usinas de açúcar e destilarias de álcool ou ainda
como cobertura morta, formando uma camada espessa de material orgânico que protege
o solo contra a erosão (MMA, 1999).
Contudo, a implantação da colheita mecanizada exige determinadas condições de
declividade do terreno, pois declives acima de 12% a 15%, dependendo do tipo do
terreno, não são viáveis à mecanização do corte. Assim como terrenos ondulados ou mal
sistematizados. Nestes locais ainda será necessário o corte manual da cana.
Poderá haver então um equilíbrio natural entre os aspectos ambiental e social,
pois, nos locais onde não é possível a mecanização com seu menor impacto ambiental,
ainda será utilizado o corte manual com a sua maior geração de empregos.
É preciso se estudar mais afundo as questões agronômicas para que se possa
conhecer para o estado de Mato Grosso do Sul qual será este ponto de equilíbrio entre
mecanização e corte manual. E ainda se ele realmente significará um equilíbrio razoável
entre questões sociais e ambientais.
6.3.3 – Impactos da operação das indústrias
As atividades industriais de forma geral provocam impactos no ambiente onde
estão inseridas. Na verdade toda e qualquer ação antrópica é provocadora de impacto
ambiental, desde uma simples residência até uma indústria, ambas irão alterar o meio
ambiente.
Dessa forma, cabe ao poder público, aos empresários e à sociedade como um todo
o papel de minimizar os impactos de suas próprias intervenções ao ambiente em que
124
vivem. No entanto, algumas atividades são mais impactantes e necessitam de um
acompanhamento mais detalhado, neste tópico são discutidos os impactos provocados
pela operação das indústrias sucroalcooleiras.
De maneira geral a minimização de resíduos industriais já faz parte de um novo
conceito de gerenciamento de poluentes. Baseado numa sistemática de medidas que
visam reduzir o máximo possível a quantidade de resíduos a serem tratados ou
dispostos. Possuindo uma estrutura de ação fundamentada na sua prevenção ou
reciclagem. Pois o melhor resíduo é aquele que não é gerado, porém, quando não se
pode evitar sua produção é preferível reutilizá-lo.
A cadeia sucroalcooleira ilustra este aspecto, pois existe um reaproveitamento
quase total dos resíduos produzidos na industrialização da cana-de-açúcar, a ponto de
muitos serem considerados co-produtos. Com isso, muitos destes “co-produtos”
deixaram de representar um passivo ambiental para ganharem valor comercial.
6.3.3.1 – A Vinhaça
Como um clássico exemplo de resíduo industrial da cadeia sucroalcooleira que se
tornou um co-produto temos a vinhaça. Este efluente
17
industrial, sempre representou
um grande problema, pois era despejado em cursos d’água o que provocava sua
contaminação, a proliferação de doenças, a morte de animais silvestres, dentre diversos
outros impactos.
O lançamento da vinhaça em rios e aqüíferos superficiais foi proibido pela portaria
Minter n.º 323, de 29 de novembro de 1978, que reza sobre tratamento de resíduos, água
e álcool e energia combustível:
17
A ABNT, através da norma NBR – 9800/1987 define: efluente líquido industrial é o despejo líquido
proveniente do estabelecimento industrial, compreendendo emanações de processo industrial, águas de
refrigeração poluídas, águas pluviais poluídas e esgoto doméstico.
125
"... Proíbe, a partir da safra 1979/1980, o lançamento, direto ou indireto, do
vinhoto (vinhaça) em qualquer coleção hídrica, pelas destilarias de álcool
instaladas ou que venham a instalar no País" (MINTER 1978).
A questão sobre o que fazer da vinhaça a partir de então passaria a fazer parte da
pauta da pesquisa tecnológica, seja de grupos de cientistas, seja de pesquisadores
individuais, tanto em instituições públicas de pesquisa quanto na própria agroindústria
canavieira.
As alternativas tecnológicas para o destino da vinhaça foram estudadas por
Corazza (2000), o qual descreve as principais tecnologias como sendo: a aerobiose, a
reciclagem na fermentação e a fertirrigação, que já na década de 1980 se encontravam
em um estágio de desenvolvimento que era possível sua utilização em ampla escala.
Outras técnicas como a combustão, a produção de levedura, o uso na construção
civil e na fabricação de ração animal, bem como a digestão anaeróbia se encontravam
ainda em desenvolvimento, cada uma delas em graus diferenciados de amadurecimento
e de intensidade de pesquisa.
O mesmo autor descreve estes diferentes processos:
“... Aerobiose - Tratamento da vinhaça como efluente em duas fases.
Grande redução de DBO. Problemas associados à necessidade de
construção, manutenção e monitoramento de grandes tanques ou lagoas
para o tratamento, devido aos grandes volumes do resíduo.
Reciclagem da vinhaça na fermentação - Empregado para substituir a
água como diluidor (razão 1:3 entre vinhaça e água). A existência de um
limite técnico no aproveitamento da vinhaça para este fim, tornando o
volume não muito significativo.
Fertirrigação - Alternativa conhecida há muito tempo. Despejada in natura
no solo, a vinhaça irriga e, ao mesmo tempo, fertiliza a lavoura, razão pela
qual ela traz o duplo benefício da disposição da vinhaça e da economia de
insumos.
Combustão da vinhaça - Alternativa em que o resíduo é concentrado e
queimado na caldeira. Elevado consumo de energia para evaporar a água da
vinhaça, ainda não compensa economicamente. As pesquisas nesta
alternativa devem buscar a melhoria do balanço energético.
Produção de levedura – É uma alternativa, porém de custo elevado, pois
se deve acrescentar à vinhaça sais de amônia e de magnésio para se obter o
fermento seco, além do elevado consumo de energia.
126
Construção civil - A vinhaça pode ser adicionada à massa de cimento, ou
na fabricação de tijolos. Porém a possibilidade de utilização de vinhaça é
limitada devido ao custo de transporte para locais distantes da usina.
Fabricação de ração animal – Estudada desde os anos 80. Necessita de
redução do nível de potássio, podendo ser utilizado como ração de bovinos,
suínos e aves. Há, porém, limitações de dosagem que devem ser obedecidas.
Digestão anaeróbia – Método que produz metano, é hoje considerada
tecnicamente viável, sendo possível encontrar uma unidade (de escala
industrial) em operação na Usina São Martinho (Pradópolis - SP).
A digestão anaeróbica com a possibilidade da remuneração de mecanismos de
desenvolvimento limpo MDL, poderá se beneficiar com a comercialização dos créditos
de carbono. A viabilidade econômica desta tecnologia esbarra também na falta de
valorização do biogás, e pelo sucesso e difusão da fertirrigação.
De forma generalizada no Brasil e também no estado de MS, a principal
destinação da vinhaça é a fertirrigação. Isso fez com que o principal resíduo industrial
obtivesse uma nobre finalidade, a de fertilizante orgânico, retornando parte dos
nutrientes ao solo de onde foi retirada a cana. Cortez et alii (1992) define ainda as
principais razões da ampla difusão desta prática:
i. O baixo investimento inicial requerido (tanques de decantação,
caminhões, e atualmente bombas e dutos).
ii. O reduzido custo de manutenção (pouco pessoal e diesel, e a eletricidade
gerada localmente).
iii. A rápida disposição da vinhaça no solo (sem necessidade de grandes
reservatórios reguladores).
iv. Os ganhos compatíveis com o investimento (há lucros com a reciclagem
do potássio no solo e o retorno do investimento é bastante rápido).
v. O "fechamento" do ciclo interno que envolve a parte agrícola e a
industrial no mesmo setor, diminuindo a dependência de insumos externos
(fertilizante).
vi. O não envolvimento de tecnologia complexa.
vii. O aumento da produtividade da safra e da produtividade na fabricação
do açúcar.
Além de ser um excelente fertilizante, a utilização da vinhaça proporciona
economia com a não aquisição de adubos industrializados. Em trabalho realizado com
as indústrias de Mato Grosso do Sul, Araújo (2001) descreve que é possível uma
127
economia da ordem de mais de R$300,00 por hectare de cana-de-açúcar plantada,
através da aplicação da vinhaça.
A vinhaça é produzida em quantidade extremamente elevada na industrialização
da cana-de-açúcar. Pois, ao se considerar a produção atual de álcool no estado de
640.000.000 litros, sendo a relação de produção de álcool/vinhaça de 1/12, chegara-se
ao impressionante volume da ordem 7.680.000.000 de litros anuais.
A vinhaça quando corretamente aplicada não polui o solo, no entanto, devido ao
custo de transporte para distribuí-la corretamente em toda a área, faz-se uma aplicação
mais direcionada nos locais mais acessíveis. Esse procedimento sim, pode provocar a
contaminação do solo e lençol freático. Para se evitar este impacto ao ambiente, é
necessária que seja realizada a adequação correta da dosagem para cada solo.
6.3.3.2 – O bagaço da cana-de-açúcar
Na década de 1990 era bastante comum se deparar com montanhas de bagaço de
cana no pátio das indústrias sucroalcooleiras. Este cenário foi se alterando e o bagaço
ganhando espaço como combustível para as próprias caldeiras industriais da usina.
Então a crise do apagão ocorrida no início deste século, na qual o país se viu na
eminência de uma crise de abastecimento energético, o bagaço passou do papel de vilão
para herói.
Além de fornecer energia para o próprio consumo industrial da usina, o bagaço é
produzido suficientemente para alimentar a rede de distribuição. Sendo ainda um
combustível renovável que não contribui para o aquecimento global. Dessa forma, este
resíduo também deixou de ser um transtorno para se tornar uma solução.
128
No entanto, a queima do bagaço nas caldeiras pode trazer um tipo de dano
ambiental através da emissão de um particulado de carvão que pode provocar poluição
atmosférica afetando populações que residirem próximas às indústrias. Porém, para este
problema pode ser adotado o filtro de lavagem de gases que eliminaria o particulado.
Araújo (2001) constatou em seu trabalho, realizado com parte das indústrias
sucroalcooleiras de MS, que nenhuma das organizações pesquisadas, desenvolviam
algum trabalho de redução deste resíduo. Isso por acreditarem que a poluição fosse
ínfima, pelo fato de que geralmente, estas empresas estão localizadas distantes dos
centros urbanos e pela não exigência dos órgãos de controle ambiental.
6.3.3.3 – A torta de filtro
Outro resíduo industrial da agroindústria canavieira é a chamada de torta de filtro.
Este resíduo nada mais é que a borra ou a sobra existente nos filtros da linha de
produção e que é retirado freqüentemente. A maioria das empresas utiliza esta torta de
filtro como fertilizante, pois, além de ser rica em material orgânico, possui um pequeno
percentual de macronutrientes como o potássio (K) e o fósforo (P).
6.3.3.4 – Impactos gerais
Como já descrito, da operação industrial é impossível não se ter impactos
ambientais tão sérios, que, no entanto, sempre devem ser minimizados, controlados e
monitorados. Outros fatores que podem afetar o meio ambiente são os resíduos
secundários da operação da indústria. Como por exemplo, óleos lubrificantes, pneus
usados, embalagens de defensivos e produtos utilizados no processo industrial, dentre
outros, que deverão ter o seu destino tratado no Estudo de Impacto Ambiental da usina.
129
A grande utilização de água no processo industrial, tanto para a lavagem da cana
quanto para o resfriamento das caldeiras e a produção de vapor também pode
representar um potencial fator impactante. Aspectos que determinarão estes impactos
são dependentes do manancial que proverá a água necessária e do sistema de
reutilização das águas da indústria.
Estes fatores impactantes se devidamente controlados podem não provocar danos
ao ambiente, isso irá depender de um efetivo Sistema de Gerenciamento Ambiental –
SGA, realizado pela empresa.
6.3.4 – Impactos do aumento do uso do Etanol
A substituição do etanol na matriz energética traz diversos benefícios,
principalmente quando se refere à qualidade do ar. Isto por se tratar de um combustível
limpo, que reduz a emissão de gases do efeito estufa e principalmente por ser uma fonte
renovável, que recicla o carbono emitido para a atmosfera, diferentemente das fontes
não renováveis.
Dessa forma, a emissão de CO
2 é reduzida com a adoção do álcool como
combustível veicular e com o uso do bagaço para geração de eletricidade. O Quadro 14
ilustra a análise do ciclo de vida dos produtos etanol e açúcar na agroindústria
canavieira. A quantidade de CO
2 que não é emitida, 12,7 x 10
6
t de Carbono,
correspondente a aproximadamente 20% das emissões de CO2 dos combustíveis fósseis.
(MOREIRA e GOLDEMBERG, 1999).
É importante destacar que para este cálculo, o potencial da contribuição da cana-
de-açúcar para aquecimento global não inclui o gás carbônico emitido pela queimada de
cana. Pois, este é absorvido pela fotossíntese, durante o crescimento da planta.
130
Quadro 14 – Contribuição líquida dos combustíveis produzidos pela cadeia
sucroalcooleira na redução da emissão de CO
2
.
Fatores de emissão ou compensão de Carbono 10
6
t de Carbono (equiv.)/ano
Uso de combustíveis fósseis na agricultura + 1,28
Emissões de metano/outros (queima da cana) + 0,06
Emissões de N
2
O
+ 0,24
Substituição de gasolina por etanol - 9,13
Substituição de óleo por bagaço (ind. de alimentos) - 5,2
Contribuição líquida - 12,74
Fonte: MOREIRA e GOLDEMBERG, 1999.
Emissões líquidas de Carbono (CO
2
) da agroindústria canavieira no Brasil.
Com a implantação do Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos
Automotores, em vigor desde 1986, houve uma diminuição nas emissões de monóxido
de carbono. A utilização do álcool combustível reduz também a quantidade de emissão
de hidrocarbonetos, porém, ele tem a desvantagem de emitir mais aldeídos que a
gasolina.
No ano de implantação deste programa, um veículo à gasolina emitia
aproximadamente 22 gramas de monóxido de carbono por quilometro rodado e o
movido a álcool 16 gramas. Em 1997 esta emissão se reduziu para 1,2 gramas nos
carros movidos à gasolina e 0,9 gramas nos movidos a álcool.
6.3.5 – Aspectos do licenciamento ambiental
Como já foi descrito, a atividade sucroalcooleira assim como toda atividade
antrópica é provocadora de impacto ambiental. No entanto, não se pode impedir
simplesmente o desenvolvimento do setor industrial, alegando-se a manutenção do meio
ambiente preservado. Pois estes empreendimentos trazem importantes benefícios sócio-
econômicos para a sociedade local.
A solução então é conhecer, controlar e minimizar tais impactos, monitorando
assim a atividade das empresas e o correto cumprimento dos seus programas
131
ambientais. Este papel além de ser uma obrigação das empresas empreendedoras, deve
ser acompanhado pela sociedade e pelos órgãos de defesa ambiental.
6.3.5.1 – Os órgãos estaduais de controle ambiental
Em Mato Grosso do Sul o monitoramento ambiental de empreendimentos como as
indústrias sucroalcooleiras é realizado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos – SEMA, e pelo Instituto de Meio Ambiente Pantanal – IMAP, sendo
este último o braço operacional da SEMA. Segundo as próprias instituições elas se
definem como sendo:
“... A SEMA é o órgão responsável por organizar ações e estabelecer as
políticas ambientais, tendo suas principais atividades direcionadas para as
áreas de pesca, biodiversidade, recursos florestais, recursos hídricos,
controle ambiental e educação ambiental.
A atuação do IMAP é voltada à implantação e consolidação da gestão
ambiental no estado, uma vez que a grande pressão exercida pelo
desenvolvimento sobre os recursos naturais, necessita estabelecer um
compromisso claro em torno da indissociabilidade dos conceitos de respeito
ao meio ambiente, justiça social e crescimento econômico.
No plano de metas do IMAP estão previstos programas e projetos que
contemplam a biodiversidade, os recursos hídricos, o controle ambiental e a
educação ambiental, dentre outros, como continuidade ao plano de gestão
estabelecido para o meio ambiente.
A preservação e o uso sustentável dos recursos naturais dependem de ações
conjuntas das instituições governamentais e não governamentais. A
participação dos municípios nesse processo também é fundamental, por isso
terá continuidade o plano de descentralização da gestão ambiental,
proporcionando a progressiva instrumentalização, utilizando como principal
ferramenta o licenciamento ambiental. O fortalecimento das unidades
regionais constituirá também em importante instrumento para efetivar as
ações junto aos municípios...”
6.3.5.2 – O modelo sul-mato-grossense de licenciamento e controle ambiental
Os procedimentos de licenciamento e controle ambiental de Mato Grosso do Sul
estão baseados no seu manual de licenciamento ambiental. Documento este, que está
disponível no site do órgão estadual (www.sema.ms.gov.br), e que serve de orientação
metodológica para estes trabalhos.
132
A criação deste manual se iniciou no ano de 2001 no encontro da Associação
Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente. Na qual foi discutida a carência de
uma estratégia municipal para a gestão ambiental. Com essa carência dos municípios
em gerirem os licenciamentos ambientais na maioria dos estados o processo ainda se
encontra centralizado nos órgãos estaduais. Com isso existe uma sobrecarga desses, que
acarreta a lentidão generalizada na análise de processos.
A partir dessa necessidade de maior celeridade na análise dos processos, o IMAP
firmou um convênio com a Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL para
melhoria dos processos de licenciamento ambiental no estado. Foram desenvolvidos
então instrumentos legais, normas e procedimentos de licenciamento ambiental. Esse
trabalho então deu origem ao manual de licenciamento ambiental.
Este manual é então adotado para todos os processos de licenciamento. Ele traz as
diretrizes principais para o licenciamento de toda e qualquer atividade passiva de
licenciamento. O documento apresenta mais de trezentas páginas, sendo dividido
basicamente em:
¾ Controle Ambiental
o Setor agropastoril
o Setor industrial
o Setor de turismo
o Setor de mineração
o Setor de infra-estrutura
o Exigências gerais para a solicitação de licenciamento ambiental
¾ Atividades florestais
o Licenciamentos do setor florestal de forma geral.
133
6.3.5.3 – Os tipos de estudos ambientais
Existem diferentes níveis de complexidade para os estudos ambientais, desde
atividades que necessitam simplesmente do preenchimento de documentos e prestação
de algumas informações para seu licenciamento até atividade que necessitam do
EIA/RIMA. Os tipos de estudos são da seguinte forma classificados por grau crescente
de complexidade, segundo a SEMA:
RAP – Relatório Ambiental Preliminar > EAP – Estudo Ambiental Preliminar >
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental > EIA – Estudo de Impacto Ambiental
6.3.5.4 - O licenciamento das indústrias sucroalcooleiras
Empreendimentos sucroalcooleiros, mais especificamente Usinas de Açúcar e
Álcool, são considerados empreendimentos de grande porte e elevado risco ambiental.
Devido a este elevado potencial de afetar o meio ambiente que a atividade apresenta é
exigido o tipo mais completo de estudo ambiental, o EIA/RIMA. A indicação do tipo de
estudo necessário para a atividade é realizada através do termo de referência da SEMA.
Documento este, que oficializa o tipo de estudo ambiental exigido para a
atividade. Ele orientará o empreendedor ou a empresa de consultoria ambiental, quanto
à forma de proceder com a elaboração do EIA/RIMA, fornecendo um roteiro sugerido
pela SEMA/IMAP.
No caso das indústrias sucroalcooleiras para obtenção da primeira licença
necessária ao empreendimento são exigidas a elaboração do Estudo de Impacto
Ambiental – EIA, do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA e da Análise de Riscos -
AR. Para completar então o licenciamento ambiental e a indústria poder se instalar e
operar, são exigidos mais dois trabalho, o Plano Básico Ambiental – PBA e o Plano de
134
Auto Monitoramento – PAM, para as Licenças de Instalação e de Operação
respectivamente.
É exigida, para a elaboração desse conjunto de estudos, uma equipe
multidisciplinar. Isso devido à necessidade de analisar além das questões ambientais,
aspectos sociais e econômicos do empreendimento. Tornando o trabalho abrangente e
representativo de toda a área de influência do empreendimento.
O papel do licenciamento ambiental é conhecer e diagnosticar a área que será
afetada direta e indiretamente pela atividade e avaliar os tipos e intensidades dos
impactos (EIA/RIMA). São propostas então as medidas mitigadoras, preventivas e
compensatórias desses impactos no PBA, que serão por sua vez auto-monitoradas
constantemente pela empresa através do PAM.
Todo o trabalho de licenciamento ambiental representa de certa forma um custo
elevado ao empreendedor, algo ao redor de R$400.000,00. Este é um dos motivos que
torna este um parâmetro confiável para estimar os empreendimentos a serem instalados
no estado.
Ainda é interessante destacar que o processo de licenciamento ambiental, segundo
Samorano (2006) é significativamente mais simples que no estado de São Paulo. Porém,
esta tendência, certamente irá desaparecer com o amadurecimento dos procedimentos
sul-mato-grossenses de legalização ambiental. Além das crescentes exigências dos
órgãos de controle ambiental, da promotoria do meio ambiente e com a
profissionalização das empresas de consultoria ambiental.
135
7 – CONIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo é divido em três partes: Conclusões, Limitações do Trabalho e
Sugestões para Trabalhos Futuros, sendo que cada parte aborda os seguintes aspectos:
7.1 – Conclusões: São aqui realizadas as conclusões acerca da expansão da cadeia
sucroalcooleira em Mato Grosso do Sul, e avaliados os objetivos quanto à sua
consecução.
7.2 – Limitações do Trabalho: Neste tópico são abordadas as principais
limitações encontradas ao longo do trabalho e com relação ao alcance de seus objetivos.
7.3 – Sugestões para Trabalhos Futuros: Aqui são tecidas sugestões quanto à
realização de trabalhos futuros relacionados ao presente tema.
7.1 CONCLUSÕES
O objetivo geral de realizar um panorama da expansão da cadeia sucroalcooleira
em Mato Grosso do Sul foi atingido. Assim como os objetivos específicos da realização
de um breve histórico desta cadeia, da descrição sucinta da atividade, da determinação
da expansão da cadeia em MS, dos motivos desta expansão e finalmente da
determinação dos principais impactos econômicos sociais e ambientais.
7.1.1 – Resposta aos objetivos específicos
As conclusões são descritas como resposta a cada um dos objetivos específicos
formulados no Capítulo 1, referente à Introdução ao presente trabalho.
136
7.1.1.1 - Fazer uma contextualização histórica do desenvolvimento da cadeia
sucroalcooleira
Este objetivo específico foi alcançado ao longo do Capítulo 2 no qual foi realizada
uma contextualização histórica se buscando informações sobre o desenvolvimento da
cadeia sucroalcooleira no Brasil, relatando os principais fatos e acontecimentos à ela
relacionados.
Foi abordada desde a passagem do papel açúcar como uma rara especiaria até
tornar-se uma das mais importantes fontes de energia na alimentação humana, sua
consolidação como uma das mais importantes mercadorias de exportação e a expansão
da cadeia produtiva do Nordeste para o Centro-Sul.
Relatou-se ainda o período de intervenção estatal que durou desde a década de
1930 até a década de 1990, a criação do PROÁLCOOL e dos veículos movidos
unicamente a álcool e o processo de desregulamentação da cadeia ocorrido na década de
1990.
Concluindo o objetivo específico é realizada a contemplação da atual conjuntura,
na qual a preocupação com o meio ambiente ganha importância mundialmente e o
álcool surge como um importante combustível renovável. A cadeia sucroalcooleira se
fortalece como parte da matriz energética nacional, passando a ser considerada então
parte uma cadeia de agroenergia.
7.1.1.2 - Descrever sucintamente a atividade sucroalcooleira
A descrição da atividade sucroalcooleira foi realizada, contemplando assim este
objetivo específico. Para tanto foi realizada uma contextualização da importância da
atividade para o agronegócio, noções sobre a produção e custos, as principais
137
características da matéria-prima cana-de-açúcar, os principais produtos e co-produtos da
cadeia sucroalcooleira.
Dessa forma, este capítulo cumpriu seu objetivo, o de fornecer subsídios para a
introdução do leitor à atividade sucroalcooleira, colaborando assim para a compreensão
das discussões dos capítulos seguintes.
7.1.1.3 - Caracterizar a expansão da cadeia sucroalcooleira para o estado de MS
Este objetivo foi cumprido através dos levantamentos que demonstraram o
crescimento do número de empreendimentos no estado. Sendo duas as fontes que
forneceram as informações utilizadas para a caracterização desta expansão da cadeia
sucroalcooleira sul-mato-grossense.
A primeira delas representada pelo cadastro das empresas junto ao Conselho de
Desenvolvimento Industrial, CDI-MS, e pelos processos que estabelecem o Termo de
Acordo entre o Estado e as empresas, para a concessão de benefícios fiscais.
Totalizando o montante de 41 empresas que demonstraram suas intenções de se
estabelecerem em Mato Grosso do Sul.
A segunda fonte se trata dos processos de licenciamento ambiental junto à
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMA. O processo de
licenciamento ambiental é um dos primeiros passos para a instalação de novos
empreendimentos, sendo imprescindível ao estabelecimento de qualquer
empreendimento. Esta fonte revelou que 18 empreendimentos já se encontram em fase
de licenciamento ambiental.
As informações fornecidas pela SEMA são uma fonte mais confiável para a
estimativa dos novos empreendimentos de Mato Grosso do Sul. Isso porque se trata de
138
um processo mais oneroso e complexo, comparado ao processo de confecção do termo
de acordo de benefícios fiscais com o Estado. Dessa forma, afastando os especuladores
que firmam o termo de acordo apenas para negociarem os benefícios concedidos com
empreendedores. Ou afastando mesmo os empreendedores que reservam os benefícios
fiscais apenas para potenciais empreendimentos futuros, sem possuir ainda um projeto
de empreendimento concreto.
A relação entre as informações da SEMA (18 indústrias) e do CDI-MS (41
indústrias), apresenta-se muito próxima da proporção de empreendimentos que na
opinião dos atores da cadeia serão efetivamente concluídos nos próximos 5 anos. Ou
seja, menos da metade do que é divulgado na mídia, representando uma efetivação ao
redor de 44% (18 empresas) das empresas cadastradas no CDI-MS.
A partir do que se pode concluir que o processo de licenciamento ambiental é o
melhor parâmetro de estimativa da expansão da cadeia sucroalcooleira em Mato Grosso
do Sul, devido ao investimento mais elevado e a complexidade deste processo.
7.1.1.4 - Identificar quais os motivos que promoveram a expansão da cadeia no
Estado
Foram identificados 5 principais fatores motivadores da migração e expansão dos
empreendimentos em Mato Grosso do Sul. Através de análises das informações
levantadas e das opiniões dos atores da cadeia, pode-se concluir que os fatores de
atração das indústrias e da expansão da própria cadeia estadual se dividem em dois
grupos, os de:
Importância prioritária – são os que foram definitivos na decisão da escolha do
local para o estabelecimento do empreendimento, no qual se encontram 3 fatores:
139
¾ Características edafoclimáticas. Estas representam um importante fator
decisivo, pois as condições de clima e solo do estado são extremamente
favoráveis ao desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar;
¾ Disponibilidade e baixo preço das terras. A grande disponibilidade de
terras para expansão das lavouras e o seu baixo preço em comparação com as
regiões produtoras tradicionais, sem dúvida foram fatores decisivos na instalação
de novos empreendimentos em Mato Grosso do Sul;
¾ Infra-estrutura e localização do estado. O estado apresenta condições
mínimas ao desenvolvimento da atividade e ao escoamento da produção. Além
da excepcional localização, que lhe confere uma excelência em logística, estando
próximo a centros consumidores e a portos para exportação, assim como da
fronteira agrícola que o Centro Oeste representa.
Importância secundária – são os que contribuem para a decisão da instalação
dos empreendimentos, porém, não são os fatores que a determinam, sendo estes 2
fatores:
¾ Incentivos fiscais. Os benefícios fiscais representam uma sensível
economia com os impostos que seriam recolhidos pela empresa. Porém, outros
estados já apresentam pacotes de benefícios semelhantes aos de MS, existindo
ainda uma tendência de equiparação desses incentivos.
¾ Aspectos de Licenciamento Ambiental. Os procedimentos para o
licenciamento ambiental em Mato Grosso do Sul se apresentam mais simples que
em outros estados como São Paulo, por exemplo. No entanto, os órgãos de
licenciamento ambiental tendem a se tornarem mais exigentes, tornando os
140
procedimentos semelhantes a outros estados onde se encontram mais
consolidados. Representando um fator interessante, porém, não decisivo à
implementação de novos empreendimentos.
7.1.1.5 - Definir quais os impactos econômicos, sociais e ambientais do crescimento
da cadeia sucroalcooleira no estado
¾ Impactos sociais:
Com relação aos aspectos sociais, pode-se concluir que a expansão da cadeia será
responsável por um significativo aumento dos postos de trabalho. Tanto os que exigem
profissionais mais qualificados, quanto os que utilizam profissionais com menor
qualificação como o corte manual da cana.
Os salários médios pagos pelas atividades da cadeia sucroalcooleira são superiores
aos de outras atividades tanto industriais quanto agrícolas. Assim como a indústria
sucroalcooleira é mais eficiente na geração de empregos por unidade de capital
investido que outras atividades industriais, inclusive as ligadas à produção de
combustíveis.
A qualificação dos profissionais para cadeia sucroalcooleira irá refletir numa
qualificação geral da mão-de-obra estadual, beneficiando outras indústrias e a própria
população. Porém, caso esta qualificação não se torne efetiva o suficiente, a falta de
profissionais capacitados poderá representar um gargalo ao desenvolvimento da cadeia.
Em pequenos municípios deverão ser tomadas medidas que reduzam ou
compensem os efeitos do crescimento da população sobre a estrutura social, o que
poderá ser realizado em parceria com o empreendedor.
141
¾ Impactos econômicos:
Economicamente se pode concluir que os impactos da expansão da cadeia
sucroalcooleira são positivos, pois apenas os investimentos que serão realizados no
estado, são da ordem de 3,3 bilhões de Reais, caso 40% dos empreendimentos seja
efetivado.
A arrecadação direta de ICMS somente sobre o açúcar e o álcool, já descontados
os benefícios fiscais, renderão aos cofres do governo um adicional de 93 milhões
anuais. Enquanto que a contribuição em termos de salários da cadeia passará de 94,5
para 243,5 milhões de Reais anualmente.
A diversificação da base produtiva é outro fator favorável ao estado, pois diminui
a dependência ou até mesmo a exclusividade da sociedade por algumas cadeias, como
no caso da pecuária em algumas regiões. Evitando o efeito de crises como ocorreu no
sul do estado provocada pela febre aftosa.
A expansão da cultura da cana-de-açúcar, poderá ainda contribuir indiretamente
para atividades como a pecuária. Uma vez que, com a transferência dos fatores de
produção tender-se-á a uma redução da oferta de gado, podendo melhorar a relação de
preço pago aos produtos da cadeia pecuária.
¾ Impactos ambientais:
Pode-se concluir que a expansão da cadeia sucroalcooleira provocará dois
principais tipos de impactos ambientais. Os decorrentes da substituição das culturas
tradicionais pela da cana-de-açúcar e pela operação das indústrias processadoras de
cana.
142
Quanto aos impactos no campo pela substituição de culturas, pode-se ocorrer
como impactos negativos, a modificação de um habitat já adaptado, a supressão de
vegetação para maior mecanização, e potenciais contaminações devido à má utilização
da vinhaça na fertirrigação.
Quanto aos positivos, pode-se esperar a melhoria de áreas degradadas de
pastagens, a melhor conservação do solo devido se tratar de uma cultura que exige
melhor sistematização deste. Em alguns casos menor utilização de defensivos que
culturas anuais como a soja, por exemplo.
Com relação à operação das indústrias, os seus efluentes e subprodutos, que eram
à tempos atrás um grande problema, pois geravam grandes impactos ambientais,
atualmente não são mais. Pois hoje são tratados como co-produtos, gerando divisas, ou
sendo reutilizados no ciclo produtivo, reduzindo os custos de produção. Contudo, sem
provocar os impactos antes provocados.
Exemplos do aproveitamento desses “co-produtos” são: a utilização da vinhaça na
fertirrigação, que quando bem utilizada não provoca impactos significativos, a queima
do bagaço para geração de energia, o emprego da torta de filtro como fertilizante
orgânico, a utilização de um circuito fechado para as águas industriais, dentre outras.
Assim como os processos produtivos industriais e as técnicas de produção agrícola
evoluíram, os conceitos de proteção e controle ambiental também. De forma que, todos
estes processos podem ser monitorados e avaliados constantemente, a fim de se
determinar seus impactos. Então, a qualquer momento que se julgar que tais atividades
estão prejudicando o ambiente ou a sociedade, é possível que se exija a adequação de
suas condutas ou o encerramento de suas atividades.
143
7.2 LIMITAÇÕES DO TRABALHO
As principais limitações encontradas ao longo da realização do trabalho estão
relacionadas com a reduzida disponibilidade de informações referentes à cadeia
sucroalcooleira de Mato Grosso do Sul. Outra dificuldade também encontrada é quanto
à obtenção de informações junto às indústrias, que na maior parte dos casos não se
demonstraram muito acessíveis para o fornecimento destas.
7.3 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Para trabalhos futuros é interessante que sejam estudados mais profundamente três
aspectos:
Econômico: A questão tributária desta cadeia, inclusive o motivo das diferenças
entre a forma de benefício atribuída ao açúcar e ao álcool.
Ambiental: Avaliar quais as medidas de proteção ambiental que efetivamente as
indústrias estão adotando para preservar o meio ambiente.
Social: Quais estão sendo os reais benefícios sociais que a expansão da cadeia
sucroalcooleira está promovendo à sociedade sul-mato-grossense.
144
8 - BIBLIOGRAFIA
ABREU, S. de. Planejamento governamental: a SUDECO no "Espaço Mato-
Grossense". Contexto, propósitos e contradições. Tese de Doutorado, São Paulo
2001.
AMARAL, T. M. do; NEVES, M. F.; E MORAES, M. A. DIAS de. Cadeias
produtivas do açúcar do Estado de São Paulo e da França, comparação dos
sistemas produtivos, organização, estratégias e ambiente institucional. Agric. São
Paulo, SP, 50 (2):65-80, 2003.
ANDRIETTA, M.G.S. Novas alternativas para subprodutos da cana-de-açúcar.
STAB, v. 16, (4), 1998.
ANTUNES, P. de B. Direito Ambiental. 7 e. Rio de Janeiro: Lúmen Jurs, 2004.
ARAÚJO, R. M. S. Análise da Gestão Ambiental em Empresas Agroindustriais de
Usinas de Açúcar e Álcool no Mato Grosso do Sul, Porto Alegre, 2001.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Escola de Administração Programa de Pós-
Graduação em Administração.
BENAVIDES, R. A. F. Trabalhos não publicados. Assessor Especial do SENAI-MS.
2006.
BORGES, J. E. Curso de Direito Comercial Terrestre. 5. ed., 4. tir. Rio de Janeiro:
Forense, 1991
BUARQUE, S. Metodologia de Planejamento do Desenvolvimento Local e
Municipal Sustentável. In: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/IICA. Brasília,
1999.
BYE, P., MEUNIER, A., MUCHNIK, J. As Inovações Açucareiras: Permanência e
Diversidade de Paradigmas. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.10, n.1/3,
p.35-52, 1993.
CAMARGO de, C.A.. Conservação de energia na indústria do açúcar e álcool:
Manual de Recomendações. IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo,
1990.
145
CARVALHO, L. C. C. Os caminhos do futuro. Revista da Associação dos Municípios
Canavieiros do Estado de São Paulo, v. 1, p. 8-11, 2000.
COPERSUCAR. Proácool: fundamentos e perspectivas. 2.ed. São Paulo, 1989. 121p.
CORAZZA, R. I.; SALLES-FILHO, S. L. M. Opções produtivas mais limpas: uma
perspectiva evolucionista a partir de um estudo de trajetória tecnológica na
agroindústria canavieira. XXI SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO
TECNOLÓGICA. 7 a 10 de Novembro de 2000 – São Paulo - SP
CORDEIRO, A. Contratação de trabalhadores rurais em outros estados.
JornalCana, série 2, ano 12, no. 141, p. 6 Legislação e Administração. Ribeirão Preto –
SP, 2005.
CORTEZ, L; MAGALHÃES, P; HAPP, J. Principais subprodutos da agroindústria
canavieira e sua valorização. Revista Brasileira de Energia, vol. 02, (2), pp. 111-146,
1992.
COUTINHO, L. M. Informações sobre o Cerrado. Disponível em:
<http://eco.ib.usp.br/cerrado/>. Acessado em: 02/01/2007.
CUSTÓDIO, E. B. A questão constitucional: propriedade, ordem econômica e dano
ambiental. Competência legislativa concorrente. In: BENJAMIN, Antônio Herman
V. (Org.). Dano Ambienta: prevenção, reparação e repressão. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1993. V. II. Série.
DNIT, Departamento Nacional de Transportes e Infra-Estrutura de Transportes.
Transporte hidroviário. Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/menu/
servicos/ferias/Hidroviario.doc>. Acessado em: 10/10/2006.
FARINA, E. M. M. Q., ZYLBERSZTAJN, D. (coordenadores). Sistema
Agroindustrial da Cana-de-açúcar. PENSA/FIA/FEA/USP. São Paulo – SP, Julho,
1998.
FERNANDES, M. de R.; CASTRO, R. de F. Comentários sobre as estruturas de
preços de gasolina e de álcool. Brasília: CENAL, 1984. 29p.
146
FERREIRA, E. S.; ZOTARELLI, E. M. M.; SALVIATI, L. Efeitos da utilização da
torta de filtro na produtividade da cana-de-açúcar. IV Seminário de tecnologia
agronômica, Piracicaba, 1988. Copersucar, Piracicaba, São Paulo, pp. 321-331, 1988.
FUNDAÇÃO CÂNDIDO RONDON. Trabalho apresentado na Audiência Pública: A
Implantação de Agroindústrias de Exploração de cana-de-açúcar e seus derivados
em Mato Grosso do Sul. 2005. Disponível em: <www.fcr.org.br>. Acessado em:
20/12/2006.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999.
GRAZIANO DA SILVA, J. Resistir, resistir, resistir: considerações acerca do
futuro do campesinato no Brasil. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA
E SOCIOLOGIA RURAL, 33., 1995, Curitiba – PR. Anais. Brasília: SOBER, 1995.
GRAZIANO DA SILVA, J. Tecnologia e campesinato. Revista de Economia Política,
São Paulo, v. 3, n. 4, p. 21-56, out./dez. 1983.
GUEDES, S. N. R.; SHIKIDA; P. F. de A.; TERCI; E. T.; PERES, M. T. M.; PERES,
A. de P. Mercados de Terra e de Trabalho na (Re)Estruturação da Categoria
Social dos Fornecedores de Cana de Ribeirão Preto. Agric. São Paulo, São Paulo, v.
53, n. 1, p. 107-122, jan./jun. 2006.
HASSUDA, S. Impactos da infiltração da vinhaça de cana no aquífero de Bauru.
Dissertação de Mestrado IG/USP, 1989.
JORNAL DA CANA. p. 130, no. 141, série 2, ano 12, Setembro de 2005. Ribeirão
Preto – SP.
KATZ, D. e KAHN, R. Psicologia social das organizações. São Paulo: Atlas, 1974.
LANZOTTI, C. R. Uma análise emergética de tendências do setor sucroalcooleiro.
Campinas, SP. 2000. Dissertação. Mestrado em Engenharia Mecânica. 106 p. São Paulo
2000.
LIMA, M.A.; BOEIRA, R.C.; CASTRO, V.L.S.S.; LIGO, M.A.; CABRAL, O.M.R.;
VIEIRA, R.F.; LUIZ, A.J.B. Estimativa das emissões de gases de efeito estufa
provenientes de atividades agrícolas no Brasil. In: LIMA, M.A.; CABRAL, O.M.R.;
147
MIGUEZ, J.D.G. (Ed.). Mudanças climáticas globais e a agropecuária brasileira.
Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2001. p.169-189.
MACEDO, I.C. – “Geração de energia elétrica a partir da biomassa no Brasil:
situação atual, oportunidades e desenvolvimento”. Relatório para o MCT – Julho,
2001.
MACEDO, I. DE C. A Energia da cana-de-açúcar. Ed. Berlendis &Vertechia. São
Paulo, Setembro, 2005.
MARJOTTA-MAISTRO, M. C. Ajustes nos mercados de álcool e gasolina no
processo de desregulamentação. Piracicaba, 2002. 180 p. Tese de Doutorado – Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2002.
MAROUELLI, R. P. O Desenvolvimento Sustentável na Agricultura do Cerrado
Brasileiro. Brasília: ISAEFGV, 2003.
MELLO, F. O. T. de; PAULILLO, L. F. Metamorfoses da Rede de Poder
Sucroalcooleira Paulista e Desafios da Autogestão Setorial. Agric. São Paulo, São
Paulo, v. 52, n. 1, p. 41-62, jan./jun. 2005.
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA. Seminário: Políticas para o Setor
Sucroalcooleiro e a Reestruturação do Proálcool. Brasília, 28 de agosto de 2003.
MINISTÉRIO DE ESTADO DO INTERIOR - MINTER. Portaria MINTER nº
100/1980.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DA
AMAZÔNIA LEGAL, 1999: Projeto PNUD - BRA/94/016, Contrato no. 139/98; Área
Temática: Agricultura Sustentável; SP.
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO, 2005. Relação Anual de Informações
Sociais – RAIS.
MORAES, M. A. F. D. A desregulamentação da cadeia sucroalcooleira do Brasil.
Americana: Caminho Editorial, 2000. 238 p.
148
MOREIRA, J. R.; GOLDEMBERG, J. The Alcohol program. Energy Policy. 27, 229-
245, 1999.
NAÇÕES UNIDAS. Nosso Futuro Comum. Nova Yorke. EUA, 1987.
OMETTO, A. R.; MANGABEIRA, J. A. de C.; HOTT, M. C. Mapeamento de
potenciais de impactos ambientais da queima de cana-de-açúcar no Brasil. Anais
XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005,
INPE, p. 2297-2299.
PAMPLONA C. Proálcool, impactos em termos técnico-econômicos e sociais do
programa no Brasil. Belo Horizonte, Ministério da Indústria e Comércio Instituto do
Açúcar e do Álcool, p. 7-15, 1984.
PERES, A. M. P. O arrendamento de terras na pequena propriedade fundiária
canavieira: o caso do município de Piracicaba, SP. 2003. Dissertação (Mestrado) -
Instituto de Economia, Universidade de Campinas.
PRADO, H. do. Solos do Brasil. 4. ed. Pìracicaba: 2005. 281 p.
REPETTO, R. World Enough and Time. New Haven, Yale University Press, 1986.
RICHARDSON, R. J. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 1989.
SAMORANO, W. H. Entrevista realizada com Consultor Ambiental. Dezembro de
2006.
SACHS, I. Caminhos do Desenvolvimento Sustentável. Ed. Garamond, 2002.
SOUZA, M. J. L. O Território Sobre Espaço e Poder, Autonomia e
Desenvolvimento. CASTRO, Iná Elias; CORREIA, Roberto Lobato; GOMES, Paulo
César da Costa. Geografia: Conceitos e Temas. São Paulo: Bertrand Brasil S. A.,
1995, p77 – 117.
TERCIOTE, R. Impactos Econômicos da Implementação das Novas Usinas de
Cana-de-Açúcar. Agrener 2006.
149
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Atlas,
1987.
______. Informação UNICA. Ano 7, número 66, Agosto/Setembro, 2005.
UDOP, União dos Produtores de Bioenergia. Disponível em: <www.udop.com.br>
Acessado em: 04/01/2007.
VEIGA FILHO, A. A. et al 1993 “Análise da mecanização do corte da cana-de-
açúcar no Estado de São Paulo”, in Informações Econômicas (São Paulo). Vol. 24, N°
10, pp. 43-52.
VEIGA, J. E. O Prelúdio do Desenvolvimento Sustentável. In: CAVC, Economia
Brasileira: Perspectivas do Desenvolvimento, pp. 243-266 (2005).
VIAN, C. II Seminário Brasileiro sobre as Problemáticas Ambientais e Sociais do
Setor Canavieiro. São Paulo – SP, 31 de maio de 2006.
WALTER, A. C. S. Potencial energético da cana-de-açúcar; STAB, v.11, n.4, p. 29-
34; mar/abr 1993.
150
ANEXOS
ANEXO 1 EXPORTAÇÃO BRASILEIRA DE AÇÚCAR
Posição País de destino volume (t) Montante FOB (US$)
V
alor (US$/t)
1
RÚSSIA, FED. DA
3.977.990 787.365.829 197,93
2
ÍNDIA
1.291.562 243.416.626 188,47
3
NIGÉRIA
1.238.333 267.940.147 216,37
4
EMIR. ÁRABES UNIDOS
1.037.615 218.117.031 210,21
5
MARROCOS
864.703 174.805.204 202,16
6
ARÁBIA SAUDITA
844.399 175.910.253 208,33
7
EGITO
757.931 150.062.851 197,99
8
ARGÉLIA
647.035 132.191.076 204,30
9
PAQUISTÃO
607.575 131.761.378 216,86
10
CANADÁ
600.642 125.679.696 209,24
11
BANGLADESH
536.459 123.585.232 230,37
12
GANA
469.374 113.138.088 241,04
13
IÊMEN
461.107 107.963.236 234,14
14
SÍRIA, REP. ARABE
423.070 101.198.251 239,20
15
MALÁSIA
386.209 80.257.764 207,81
16
ESTADOS UNIDOS
339.762 130.957.731 385,44
17
IRÃ REP. ISL. DO
311.072 64.658.840 207,86
18
GEÓRGIA
253.129 62.788.333 248,05
19
ÁFRICA DO SUL
231.398 53.353.241 230,57
20
ANGOLA
215.060 52.981.421 246,36
21
TUNÍSIA
193.503 41.815.342 216,10
22
ROMÊNIA
185.698 39.500.764 212,72
23
SOMÁLIA
184.207 44.582.006 242,02
24
MAURITÂNIA
175.611 39.640.072 225,73
25
INDONÉSIA
172.561 37.000.752 214,42
26
ARGENTINA
159.344 33.210.973 208,42
27
IRAQUE
146.245 40.381.932 276,13
28
SUDÃO
126.264 28.796.609 228,07
29
SRI LANKA
122.201 29.682.128 242,90
30
GÂMBIA
99.717 23.608.533 236,76
31
LITUÂNIA
96.520 19.061.821 197,49
32
JORDÂNIA
84.250 22.922.260 272,07
33
URUGUAI
70.438 14.881.602 211,27
34
GUINÉ
67.426 15.547.235 230,58
35
DJIBUTI
60.418 15.098.727 249,90
36
BURKINA FASO
59.700 13.647.218 228,60
37
CROÁCIA, REP. DA
56.827 11.407.596 200,74
38
CONGO, REP. DEM. DO
51.300 11.205.305 218,43
39
ERITRÉIA
42.359 8.920.286 210,59
40
MADAGASCAR
39.710 9.412.313 237,03
41
VENEZUELA
38.434 9.365.055 243,67
42
COLÔMBIA
37.152 9.644.341 259,59
43
TOGO
35.184 8.888.988 252,64
44
TRINDAD E TOBAGO
32.700 7.692.533 235,25
45
LÍBIA
27.656 6.949.602 251,29
46
PORTUGAL
24.300 9.353.034 384,90
47
ESPANHA
23.311 4.721.827 202,56
48
TANZÂNIA
22.000 4.790.848 217,77
49
MALI
20.999 4.952.728 235,86
50
PERU
18.200 4.820.200 264,85
Fonte: UNICA. <www.unica.com.br> acessado em 09/01/2007.
Ranking de exportação de açucar por ps para o ano de 2005.
151
Posição País de destino volume (t) Montante FOB (US$)
V
alor (US$/t)
51
CAZAQUISTÃO
17.000 3.281.931 193,05
52
CHILE
15.527 3.789.353 244,05
53
PAÍSES BAIXOS
15.089 4.216.472 279,44
54
ALBÂNIA
10.000 2.191.061 219,11
55
BOLÍVIA
8.682 2.630.142 302,94
56
GRÉCIA
8.658 2.121.933 245,08
57
GUATEMALA
8.000 2.186.540 273,32
58
REP.DOMINICANA
8.000 1.978.126 247,27
59
SERRA LEOA
7.756 2.085.564 268,90
60
HAITI
7.010 1.921.500 274,11
61
BENIN
6.492 1.607.767 247,65
62
CABO VERDE
6.220 1.444.823 232,29
63
ALEMANHA
5.347 1.493.783 279,37
64
UGANDA
5.000 1.204.650 240,93
65
TAIWAN (FORMOSA)
4.450 1.260.326 283,22
66
NEPAL
4.050 895.253 221,05
67
REINO UNIDO
3.445 1.148.249 333,31
68
ITÁLIA
3.231 915.019 283,20
69
CUBA
2.949 826.560 280,28
70
COSTA DO MARFIM
2.511 543.632 216,50
71
DINAMARCA
2.224 762.352 342,78
72
LIBÉRIA
2.160 490.320 227,00
73
OMÃ
2.160 499.393 231,20
74
SENEGAL
2.036 486.069 238,74
75
NAMIBIA
1.654 411.697 248,91
76
CAMARÕES
1.647 472.138 286,67
77
SUÍÇA
1.469 453.118 308,45
78
FRANÇA
1.278 455.170 356,16
79
CHIPRE
1.242 290.232 233,68
80
POLÔNIA
1.034 287.400 277,95
81
CORÉIA, R. P. D. NORTE
956 178.210 186,41
82
JAPÃO
851 424.827 499,21
83
CINGAPURA
810 180.048 222,28
84
KWAIT
810 235.544 290,80
85
NOVA ZELÂNDIA
746 218.479 292,87
86
AFEGANISTÃO
594 158.360 266,60
87
BÉLGICA
549 132.660 241,64
88
IUGOSLÁVIA
486 102.449 210,80
89
CORÉIA, REP. SUL
413 163.009 394,69
90
ISRAEL
338 127.925 378,48
91
CHINA
296 99.483 336,09
92
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
270 78.030 289,00
93
GUINÉ EQUATORIAL
162 44.550 275,00
94
REUNIÃO
134 41.518 309,84
95
IRLANDA
104 27.040 260,00
96
HONG KONG
79 27.226 344,63
97
BAHAMAS
73 17.649 241,77
98
SUÉCIA
63 23.838 378,38
99
BULGÁRIA
27 5.265 195,00
100
GUINÉ-BISSAU
26 7.410 285,00
101
ESLOVÊNIA, REP.
24 6.254 260,58
102
AUSTRÁLIA
20 5.603 280,15
103
PARAGUAI
8 2.150 268,75
Total BRASIL 18.142.820 3.914.292.958 215,75
Fonte: UNICA. <www.unica.com.br> acessado em 09/01/2007.
Continuação: Ranking de exportação de açucar por ps para o ano de 2005.
152
ANEXO 2 QUESTIONÁRIO ENCAMINHADO ÀS INDÚSTRIAS SUCROALCOOLEIRAS
Razão Social:
Nome fantasia:
Data de início da operação:
Controle da empresa (SA, Ltda):
Origem do controle (se multinacional o país, se nacional o estado):
Munipio da sede:
2002 2003 2004 2005 2006
Número de funcionários: Lavoura: Indústria: Escritório:
Média salarial (R$): Lavoura: Indústria: Escritório:
Contrata (corte de cana) funcionários temporários de outras regiões, quais regiões, qual proporção:
Qual o valor do investimento inicial (R$):
Ocorreram ampliações, qual valor (R$):
Qual o valor patrimonial atual (R$):
Qual o faturamento bruto (R$):
Quais incentivos fiscais possui:
Qual o valor dos impostos arrecadados (R$): PIS/COFINS: ICMS:
IPI: Outros: : : :
Data: Assinatura:
Questionário de pesquisa sobre o setor sucroalcooleiro de Mato Grosso do Sul.
Este questionário é parte de um trabalho de dissertação para obtenção do título de
Mestre pelo Mestrado Multidisciplinar em Agronegócios da UFMS.
Os incentivos foram decisivos para a vinda da empresa para MS?
Dados da Empresa:
Dados de produção:
Capacidade de moagem de cana (milhões de toneladas):
Período
Foi necessária a realização de EIA/RIMA ou outro estudo na época da implantação da indústria:
Existem planos de ampliação da produção, ou da construção de outra unidades:
Responsável pelas respostas (nome e cargo):
Cana efetivamente processada (t):
Dados sociais:
Total de área de cana
(
ha
)
:
próprias:
de terceiros:
Dados econômicos:
Dados ambientais:
Produção anual de açúcar (t):
Produção anual de álcool (m
3
):
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo