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ZELI MACHADO DE CASTRO GALLO
A ÉTICA DISCURSIVA DOS ATORES DA
POLÍTICA DE SAÚDE DE SANTA ROSA
Porto Alegre
2007
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2
ZELI MACHADO DE CASTRO GALLO
A ÉTICA DISCURSIVA DOS ATORES DA POLÍTICA DE SAÚDE DE
SANTA ROSA
Tese apresentada como requisito
para obtenção do grau de Doutor
pelo Programa de Pós-Graduação
Mestrado e Doutorado da Faculdade
de Serviço Social, Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.
Orientadora: Profª. Drª. Beatriz Gershenson Aguinsky.
Porto Alegre
2007
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3
ZELI MACHADO DE CASTRO GALLO
A ÉTICA DISCURSIVA DOS ATORES DA POLÍTICA DE SAÚDE DE
SANTA ROSA
Tese apresentada como requisito
para obtenção do grau de Doutor
pelo Programa de Pós Graduação
Mestrado e Doutorado da Faculdade
de Serviço Social, Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.
Aprovada em ____ de ____________________ de ____.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Profª. Dra. Beatriz Gershenson Aguinsky - PPGMD/SS/PUCRS
Presidente/Orientadora
_________________________________________________
Profª. Dra. Jussara Maria Rosa Mendes - PPGMD/SS/PUCRS
_________________________________________________
Prof. Dr. Francisco Arseli Kern - PPGMD/SS/PUCRS
_________________________________________________
Prof. Dr. Luis Antônio Benvegnú - PPG/UNIJUÍ
_________________________________________________
Profª. Drª. Helenara Silveira Fagundes - UCPEL
4
Dedico, em memória, ao amigo Orlando Baumgartner, pois sua palavra
na hora da decisão se fazia ouvir para chegar ao consenso:
“Um homem que morreu trabalhando, mas fazendo aquilo que amava,
buscando melhorias na área de saúde para toda comunidade. Desde a
municipalização da saúde ele esteve presente, atuando, dando idéias,
brigando se fosse preciso, cobrando. A participação dele foi tão
importante enquanto todos os nomes que colaboraram para o
desenvolvimento de Santa Rosa. Ele estava ali, da maneira dele, fazendo
as coisas acontecerem. Fica o exemplo do homem honesto, responsável,
dedicado”.
5
AGRADECIMENTOS
À Professora Doutora Beatriz Gershenson Aguinsky, orientadora deste
trabalho, pela contribuição decisiva na conclusão desta tese, pelo sentido ético
de suas intervenções profissionais que elevam o aprendizado ao gesto de amor
aos outros, fazendo a diferença na sua busca da alteridade.
Ao meu marido, que durante 25 anos compartilhou minha vida
profissional, que incentivou desde o trabalho de conclusão de curso da
graduação até a qualificação desta tese, com o sentimento de responsabilidade
comigo e com nossa descendência.
Aos filhos Luis Fernando e Samanta, que são o sentido à continuidade
da minha vida, que me brindam com a escolha pelo caminho da construção do
conhecimento compartilhado com os outros, com as conclusões e qualificações
de suas graduações de filosofia e de direito, cultivando o valor da solidariedade
e competência profissional.
Ao filho Gilgal Junior, igualmente a razão da minha existência, futuro
engenheiro e colaborador nos assuntos de informática, heroicamente conviveu
com os altos e baixos do cotidiano e do aprendizado, que é sempre a grande
aventura de suportar o equívoco.
À Professora Doutora Jussara Rosa Mendes, pela carinhosa acolhida e
fiel co-responsabilidade na direção e produção do conhecimento, em nome
dela agradeço todos os professores do Mestrado e Doutorado.
Ao Professor Doutor Francisco Arseli Kern, pela contribuição na
qualificação desta tese e pela sua colaboração na reflexão teórica sobre a
cultura e a alteridade.
6
Ao Professor Doutor Luis Antônio Benvegnú, que em vários momentos
da vida pessoal contribuiu fraternalmente e, profissionalmente exemplo de
trabalhador social de saúde, sedimentador do solo ideológico-político da
Reforma Sanitária e dos princípios do SUS em Santa Rosa.
A todos familiares, amigos, colegas e sujeitos outros que, de alguma
forma, contribuíram com suas boas energias e vibrações, a cada conquista
alcançada.
Ao PE Mário Notari, mestre por natureza, sua emoção pela vida do outro
vai até onde a alteridade quer chegar, sou grata pelos ensinamentos didáticos
e da língua inglesa.
Ao nosso Deus que é sempre fiel, co-autor e protagonista da nossa
história de vida me encheram de esperança e me deu a força para lutar além
de todas as adversidades.
7
“Deixe-me dizer,
sem medo de cair no ridículo,
que a verdade revolucionária
é guiada por fortes
sentimentos de amor”.
(Che Guevara)
8
RESUMO
Esta tese intitulada “A Ética Discursiva dos Atores da Política de Saúde de
Santa Rosa” estuda a construção do sentido ético a partir da analise da
alteridade dos sujeitos - outros na esfera pública. O Estudo de Caso é a
metodologia utilizada com a análise de conteúdo dos documentos e discursos
dos sujeitos. Na participação dos sujeitos nos mecanismos constituídos do
controle social fundamentam-se os avanços da política de saúde municipal e a
garantia dos direitos humanos. A ética dos sujeitos atores da política de saúde
é constituída no encontro humano, se realiza na busca da efetivação da justiça
e da cidadania. A análise qualitativa dos discursos dos participantes e líderes
da VII Conferência Municipal evidencia enunciados para transformar a
realidade conforme as pautas propostas. O sentido da alteridade do outro
suscita a responsabilidade da existência e da subsistência decorrendo, assim,
a luta pelos direitos sociais. O estudo da prática cotidiana no campo da saúde
municipal envolve o sujeito com seu trabalho e a inquietação produzida para
modificar a própria realidade, é um compromisso necessário aos sujeitos
trabalhadores para garantir a promoção da saúde. A opção metodológica do
estudo de caso permitiu lançar luzes sobre as particularidades da formação
sócio-histórica da política de saúde no contexto nacional. Destaca-se assim, a
contextualização ideológica dos SUS, os caminhos percorridos para instaurar a
igualdade democrática, a descentralização e a municipalização. Nas políticas
sociais brasileiras o Serviço Social e, o Assistente Social, como trabalhador de
saúde, define seu perfil profissional numa ética alinhada aos direitos humanos
na consolidação do projeto ético-profissional. A saúde e a cidadania se
entrelaçam nos enunciados dos sujeitos, figurando como temáticas das
políticas públicas. A tese concluiu que a presença do sentido da alteridade na
constituição da política de saúde contribuiu para solidificação da participação
da população, controle social e continuidade do Sistema Único de Saúde.
Palavras-chave: Política Pública de Saúde. Alteridade. Controle Social
9
ABSTRACT
The dissertation ‘The Discursive ethics of the actors on municipal health politics
of Santa Rosa’ researches the construction of the ethical meaning on municipal
health politics of Santa Rosa since the analysis of the subject’s alterity on the
public field constitution. It is on the field of municipal health that the public range
is reaffirmed the representation on the social control of SUS by users,
administrators, serviceable workers or health workers consolidate the social
participation. The quantitative analyses of the participants speech on the VII
city’s health conference and of leaders efforts on the exercise of participative
democracy show proposal to change the ethical reality and politics according
with the interventions originated by the schedule of proposals. The ethic of the
actors’ subjects on the health politics is constructed on the human meetings; it
is achieved on the search of permanent justice and citizenship. The meaning of
the alterity of the other raises the responsibility of the existence and the
subsistence arisen, thus the fight for the social rights. The research of the
quotidian practiced on the municipal health field involve the subject with his
work and the uneasiness created to change his own reality, it is a necessary
pledge to the labor workers to guarantee the promotion of health on the
municipal public field. The methodological option of study of the case allowed to
enlighten the particularities of social-historic health politics of Santa Rosa
inserted on the national context. The thematic focus of the alterity importance of
the subjects involved on the articulations of the participation’s mechanisms and
conformation of historic fights confront the several actors involved in this politic.
Being singularize the ideologically contextualization of SUS and the ways
traveled to establish the democratic equality, the decentralization and
municipalization.
It is the setting to this discussion, the thematic plan of the sanitary reform of
Brazil during the 70’s and 80’s. Passing by the decentralization initiated on the
municipal districts and cities, during the 90’s where there were intense changes
on the legislation until it gets the community participation on the health
administration on the local law instances. On the Brazilian social politics social
services and social assistance define the professional profile in an ethic aligned
10
with the human rights to consolidate his/her ethical-professional project. The
health and the citizenship are interlaced on the subject’s annunciates, figuring
as thematic of the public politics. The dissertation concludes that the presence
of the alterity’s meaning on the public field constitution of the health politics of
Santa Rosa, contributed to the popular participation, social control and
continuity of the Brazilian unified health system.
Key words: Municipal Health Politics. Alterity. Social control.
11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
GRÁFICO 1 - Saúde, Cidadania, Políticas Públicas......................................
GRÁFICO 2 - Controle Social........................................................................
GRÁFICO 3 - Financiamento da Saúde........................................................
GRÁFICO 4 - Gestão e Organização dos Serviços de Saúde......................
GRÁFICO 5 - Recursos Humanos para Saúde.............................................
GRÁFICO 6 - Atenção Integral à Saúde........................................................
GRÁFICO 7 - Políticas ligadas ao Saneamento, Meio Ambiente e
Vigilância........................................................................................................
GRÁFICO 8 – Qualidade no Sistema de Saúde............................................
64
66
67
68
71
72
74
75
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABRASCO - Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
ACS - Agente Comunitário de Saúde
AIS - Ações Integradas de Saúde
APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
AS - Assistente Social
ASEDMS - Associação dos Secretários e Dirigentes Municipais de Saúde
BM - Brigada Militar
CAPA - Caixas de Aposentadorias e Pensões
CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Saúde e Escola Nacional de Saúde
Pública
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social
CEPAS - Código de Ética Profissional do Assistente social
CIMS - Conselho Interinstitucional Municipal de Saúde
CIPA - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
CIPEC - Centro Interdisciplinar de Pesquisa e Consultoria em Políticas Públicas
CMS - Conselho Municipal de Saúde
CMCO - Conselho Municipal da Comunidade
CO - Comissão Organizadora
CPMF - Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira
CNS - Conselho Nacional de Saúde
DSS – Diagnóstico Situacional de Saúde
ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública
FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz
FIMA – Faculdades Integradas Machado de Assis
FUNRURAL - Fundo dos Trabalhadores Rurais
FUNSSAR - Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa
FSS – Faculdade de Serviço Social
IAP - Instituto Aposentadoria e Pensão
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social
LAFERGS - Laboratório Farmacêutico do Estado Rio Grande do Sul
13
LOM - Lei Orgânica Municipal
LOS - Lei Orgânica de Saúde
MS - Ministério da Saúde
NOB - Norma Operacional Básica
NUPEDH - Núcleo de Pesquisas e Estudos em Ética Humanos (FSS/PUCRS)
OPS - Organização Pan-americana de Saúde
PAIS - Programa de Ações Integradas de Saúde
PAM - Posto de Atendimento Médico
PMS – Plano Municipal de Saúde
POA - Porto Alegre
PSF - Programa de Saúde da Família
RS - Rio Grande do Sul
SAMU - Serviço de Atendimento Municipal
SES - Secretaria Estadual de Saúde
SC - Santa Catarina
SMSHBES - Secretaria Municipal de Saúde, Habitação e Bem-Estar Social
SINPAS - Sistema Nacional de Previdência Social
SPA - Serviço de Pronto Atendimento
SS - Serviço Social
SUDS - Sistema Único Descentralizado de Saúde
SUS - Sistema Único de Saúde
ULBRA - Universidade Luterana do Brasil
UNIJUI - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
URI - Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e Missões
UTI - Unidade de Tratamento Intensivo
VII CMS – VII Conferência Municipal de Saúde
14
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................
16
I A CONFORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA SAÚDE COMO POLÍTICA
PÚBLICA: PARA ENTENDER O CASO DE SANTA ROSA.........................
19
1.1 MARCOS LEGAIS E IDEOPOLÍTICOS DA TRAJETÓRIA DA
CONSTITUIÇÃO DO SUS NO BRASIL..........................................................
30
1.2 A IMPLANTAÇÃO DO SUS EM SANTA ROSA....................................... 29
1.3 AS PARTICULARIDADES DA POLÍTICA DE SAÚDE DE SANTA
ROSA NA INTERFACE COM O CONTROLE SOCIAL...................................
37
1.4 A PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO NA VII CONFERÊNCIA
MUNICIPAL EM SANTA ROSA......................................................................
40
II A POLÍTICA DE SAÚDE EM MOVIMENTO: O SENTIDO ÉTICO-
POLÍTICO PARA UMA NOVA ESFERA PÚBLICA ......................................
44
2.1 AS POSSIBILIDADES DA PRESENÇA DOS SUJEITOS NA POLÍTICA
PÚBLICA.........................................................................................................
45
2.2 A ÉTICA DA ALTERIDADE E O ENTRE NÓS NA QUALIFICAÇÃO DA
POLÍTICA DE SAÚDE.....................................................................................
48
III GARIMPANDO AS ETICIDADES NO DISCURSO DOS ATORES NA
POLITICA DE SAÚDE DE SANTA ROSA.....................................................
52
3.1 A DIREÇÃO ÉTICA DISCURSIVA DOS REPRESENTANTES DAS
ESFERAS DE GOVERNO..............................................................................
54
3.2 O AGRUPAMENTO DE PAUTAS DAS COMUNIDADES URBANAS E
INCURSÕES TEÓRICAS POSSÍVEIS...........................................................
63
3.3 A DIREÇÃO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL E OS DESAFIOS
PARA AMPLIAÇÃO DA ESFERA PÚBLICA...................................................
77
CONCLUSÃO...............................................................................................
83
15
REFERÊNCIAS...............................................................................................
87
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................................................
92
APÊNDICE A - Resumo de Artigo apresentado no II Congresso
Internacional dos Trabalhadores de Saúde - Cuba ........................................
ANEXOS
.........................................................................................................
97
98
ANEXO A - Relatório Preliminar.....................................................................
99
ANEXO B - Roteiro de Atividades das Microconferências..............................
103
ANEXO C - Trabalho premiado Concurso de Monografias Administração
Pública e Reforma do Estado – Espanha.......................................................
104
ANEXO D - Boletim Epidemiológico...............................................................
130
ANEXO E – Notícia do Falecimento de Orlando Baumgartner 137
ANEXO F - Divulgação das propostas da VII Conferência Municipal de
Saúde..............................................................................................................
138
ANEXO G - Relatório Final da VII Conferência Municipal da Saúde de
Santa Rosa......................................................................................................
139
16
INTRODUÇÃO
A abordagem sobre ética discursiva dos sujeitos tal como se
materializou e continua na política de saúde de Santa Rosa, emergiu na
trajetória profissional do pesquisador e Assistente Social na observação
sistemática da realidade e na relevância que assume a busca da cidadania na
política de saúde. A representação dos Assistentes Sociais através dos núcleos
regionais insere-se no processo de formulação das políticas sociais, desta
forma, foi importante a representação da Delegacia Seccional do Conselho
Regional de Serviço Social (CRESS) no Conselho Municipal da Saúde de
Pelotas que determinou a linha de estudo e pesquisa profissional, e, no
momento atual, presente na representação do Núcleo Regional de Santa Rosa
no Conselho Municipal de Saúde de Santa Rosa. O Controle Social foi tema da
dissertação de Mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS), intitulada Conselhos de Saúde: o grupo, a democracia e o saber;
perpassou a experiência da docência na Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões, Campus Frederico Westphalen (URI); na equipe
Ampliada do Programa de Saúde da Família; na elaboração do Projeto Ético
Político do Curso de Serviços Social das Faculdades Integradas Machado de
Assis (FIMA) e, em todas demais atividades e estudos desenvolvidos no campo
da saúde.
Estas foram implicações objetivas do exercício profissional no campo da
prática em saúde que impulsionaram a construção do conhecimento e desta
tese de doutorado. Na intervenção profissional do Assistente Social considera-
se inseparável esta implicação com o desejo de justiça na idéia da
solidariedade e o compromisso do encontro com o outro. Este desejo infinito de
mudar a realidade perpassou a ação histórica dos sujeitos, distinguidos como
sujeitos - outros pela forma de sua inserção no sistema de saúde local e o
compromisso com os outros despertou o sentido ético. A ética da
responsabilidade para com o outro, enquanto princípio da alteridade
movimentou a participação e, também, o controle social.
17
Na perspectiva de ética na promoção da saúde foram abordados alguns
capítulos desta tese em articulação com a história e princípios do SUS,
observando como o objeto a mobilização e a participação de diversos atores na
VII Conferência Municipal no Conselho Municipal de Santa Rosa.
Para alcançar os objetivos propostos o primeiro capítulo contextualizou
no campo da saúde as conformações legais e ideológicas e políticas da
construção efetiva do SUS no Brasil. Também abordou a implantação do SUS
e inovações gerenciais estratégicas da Política de Saúde de Santa Rosa com
as particularidades do controle social na esfera pública. Em relação à trajetória
de conquistas na política pública de saúde de Santa Rosa, o texto apresentou o
histórico de criação do sistema de saúde e os processos participativos das
comunidades que decorrem em torno do discurso dos atores do Conselho
Municipal e das Conferências Municipais, destacando a VII Conferência
Municipal de Saúde de Santa Rosa.
O sentido ético deste processo de participação e controle social na
esfera pública foi apontado no segundo capítulo, a partir da alteridade ética nos
pressupostos filosóficos de Emmanuel Lévinas.
No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), assumiu-se o pressuposto
de que o desenvolvimento da ética da alteridade pode contribuir para o
enriquecimento do debate político, para efetivação das relações intersetoriais
nos diversos níveis e para despertar a consciência da participação da
população organizada.
Outro pressuposto assumido, a ética da alteridade perpassando esta
relação, no controle social, transitou entre a perspectiva do reconhecimento do
eu e dos muitos outros. No confronto interpessoal das comunidades envolvidas
e no processo de discussão de demandas e nas exigências das prioridades
apontadas para a política de saúde inscreve-se os enunciados para a
realização da igualdade e da justiça social.
A questão teórica de investigação buscou nos primados da ética da
alteridade a orientação da responsabilidade da participação dos sujeitos
representativos da política municipal. Houve a presença da alteridade, tanto na
mediação quanto na articulação dos atos de fala destes sujeitos nos
18
mecanismos de controle social e nos momentos históricos de afirmação dos
direitos à saúde do Município.
O segundo capítulo trouxe, também, os sentidos éticos expressos
pressupondo que eles sedimentam a busca das mudanças necessárias para a
afirmação dos princípios de justiça como articuladores da cidadania. A partir do
garimpo da presença da alteridade pôde-se afirmar um modelo de gestão
democrática com universalidade de acesso, integralidade da atenção e
equidade.
A Conferência Municipal de Saúde de Santa Rosa na sétima edição
representou um momento propício da expressão das demandas de saúde da
população local, em face da luta pelo reconhecimento dos seus direitos sociais
o que envolveu a interlocução de diversos atores da política de saúde.
A alteridade manifestou-se na participação efetiva e na co-
responsabilidade de vida do líder comunitário Orlando (homenagem póstuma) e
nas palavras traduzidas do texto do líder e trabalhador social Che Guevara
(epígrafe) relacionando a transformação social com o ato de amor.
O terceiro capítulo utilizando os dados da pesquisa descritiva foi
objetivado através da estratégia da análise de conteúdo em incursões nos
discursos dos atores onde encontrou do sentido ético na co-responsabilidade
da continuidade do sistema de saúde. A participação comunitária em Santa
Rosa reexaminou e impôs, na expressão dos seus sujeitos, a concretização
dos direitos sociais.
19
I A CONFORMAÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA SAÚDE COMO POLÍTICA
PÚBLICA: PARA ENTENDER O CASO DE SANTA ROSA
A nova fase de organização política do Brasil, demarcada pelo processo
democrático e resultante das lutas e mobilizações pela afirmação de direitos
adensados no período entre 1964 a 1985, convergiu no que se estabeleceu
designar Estado Democrático e de Direito.
A ordenação do Estado Democrático encontra-se na Constituição
Brasileira de 1988, e nesta são estabelecidas: a estrutura política e
administrativa, as relações internacionais, a economia, a segurança e os
interesses fundamentais da população, por meio de poderes e órgãos
constitucionais e integrantes da administração pública. A gestão do Espaço
Público não é unicamente o espaço estatal nem o privado, representa uma
arena de disputas de interesses da coletividade e sua preservação. Incluindo-
se, desta forma, relações entre diferentes atores no contexto de relações entre
a sociedade civil e sociedade política na composição da Esfera Pública.
O enunciado e o reconhecimento dos direitos humanos requerem
exercício da participação dos poderes constituídos e das instâncias
organizadas da sociedade civil. Neste entendimento a sociedade civil é um
complexo espaço não-governamental onde se organiza o poder social, um
processo que resulta do confronto de interesses, de grupos e comunidades em
busca de um determinado projeto de sociedade.
Neste patamar situaram-se a construção da democracia brasileira e a
constituição da Política Pública de Saúde que propõe: realizar o direito de cada
cidadão e de acordo com as necessidades individuais e coletivas de saúde da
população. A saúde no texto constitucional como um direito público subjetivo
indispensável, é assegurada a todas as pessoas sem discriminação, como
garantia institucional por parte do Estado.
A implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) as formas de
representação dos interesses afetos à política de saúde foi uma agenda de
debates intensos até chegar à municipalização, na legislação do Conselho
Municipal de Saúde e na realização de conferências municipais. Na perspectiva
da incorporação dos direitos assegurados e construção da democracia na
20
saúde demarcaram as bases ideológicas e políticas deste percurso, realizadas
por diversos setores da sociedade brasileira e serão contextualizadas a seguir.
1.1 MARCOS LEGAIS E IDEOPOLÍTICOS DA TRAJETÓRIA DA
CONSTITUIÇÃO DO SUS NO BRASIL
A saúde no Brasil possui trajetórias que são importantes marcos
históricos a serem considerados para o entendimento e para a visibilidade da
questão da saúde. No início do século vinte as questões sanitárias agravam-se
na população em virtude dos acidentes de trabalhos decorrentes da Revolução
Industrial. Em 1923, com a Lei Elói Chaves
1
instaura a questão previdenciária e
após decorre a criação do Ministério do Trabalho (MT). Em 1930 surgem
demais Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs) que o mais tarde
transformados em Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), estes se
disseminam por categorias profissionais em meados deste mesmo século.
Vários autores analisam a história deste período a partir da caracterização do
modelo econômico vigente, em complementação ao exposto Eugênio Vilaça
Mendes analisou (1993 p. 21):
Aa metade do século XX, a economia brasileira esteve dominada
por um modelo agro exportador fortemente assentado no café, e por
essa razão a política de saúde era focada no saneamento de espaços
de circulação das mercadorias exportáveis e na erradicação ou
controle de doenças que poderiam prejudicar a atividade econômica.
Assim, erigia-se um sistema sanitário campanhista, com visão
militarista de combate a doenças de massa e com forte concentração
das decisões política sobre os corpos individual e social.
O processo de industrialização acelerada nos anos 50 determinou o
deslocamento do pólo da economia para área urbana e gerou uma massa de
1
Lei Elói Chaves cria a primeira Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAPs) organizadas e financiadas por
empresários e trabalhadores.
21
trabalhadores a ser atendida pelo sistema de saúde que atuava no sentido de
restaurar sua capacidade produtiva.
A Lei Orgânica da Previdência Social em 1963 surgiu com o Estatuto do
Trabalhador Rural, que prevendo a garantia da uniformização dos benefícios.
Em 1971, adota-se o Programa de Assistência ao Trabalhador Rural
(PRORURAL), gerido pelo Fundo dos Trabalhadores Rurais (FUNRURAL). Em
1972, incluíram-se os empregados domésticos e autônomos no sistema da
previdência.
No decurso do período de 1996 ocorreu a unificação da Previdência
Social e a criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). A
Previdência Social brasileira, sob a doutrina de seguro social, e com orientação
econômica a partir de categorias profissionais, começando a capitalização do
Estado através das empresas estatais. Ao mesmo tempo em que ampliou o
âmbito da Previdência Social em diferentes modalidades assistenciais,
constituiu-se, em conseqüência disto, o caráter discriminatório da política de
saúde, ficando clara a desigualdade no acesso qualitativo e quantitativo aos
serviços.
Em 1974, o então Ministério da Previdência Social (MPS), e mais tarde,
o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS) vão
constituir em 1982 um conjunto de Ações Integradas de Saúde (AIS), chegando
após o Sistema Descentralizado e Unificado (SUDS) com comando no âmbito
Estadual.
Entre meios a esse período, a Lei nº. 6.229 de 1975 instituiu-se o
modelo médico assistencial privativista com instituições de competências
públicas e privadas seguindo o referencial doutrinário do mesmo sistema. Na
análise deste período realizada por Mendes (1993, p. 25) referiu a divisão de
espaços entre as ações de saúde pública e ações médicas que ocorriam em
detrimento da saúde coletiva. A análise deste período refere-se a uma divisão
de espaços em que dividiam as ações de saúde pública e ações dicas em
detrimento da saúde coletiva.
Assim a proposta de municipalização de saúde no Brasil iniciou
discussões nos anos 60, no contexto da discussão em torno das reformas de
base e foi objeto de debate na III Conferência Nacional de Saúde. Mas é na VIII
Conferência Nacional que amalgamou o consenso sobre a Reforma Sanitária
22
Brasileira com a criação da Comissão Nacional da Reforma Sanitária em
1978/79 e as discussões em torno da integralidade para alcançar à atenção a
saúde em todos os níveis e da universalização do acesso um direito de todos.
Estas datas foram marcadas por tentativas de planos de unificação e de ações
governamentais para o enfrentamento das crises sociais em suas repercussões
no campo de saúde e financeiras do Estado. O Sistema Previdenciário foi
sustentado por poderes e micro poderes constituídos de classes em oposição,
que se por um lado formavam uma estrutura de poder centralizado no setor
saúde, com suas articulações e composições de classes, por outro, refletiam as
contradições e as necessidades dos destinatários dos serviços, que, também,
eram financiadores dos próprios fundos de previdência.
A Democratização da Saúde consolidou sua identidade programática no
I Simpósio da Câmara dos Deputados cujas conclusões e teses foram
registradas em um documento histórico. Houve neste mesmo momento
histórico a criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde e Escola Nacional
de Saúde Pública (CEBES) em 1976, somada a fundação da Associação
Brasileira de Pós Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) que em 1979
conferiu o contorno institucional ao denominado Movimento Sanitário. Segundo
Arouca (1976) este movimento sanitário teve três níveis: a construção do saber
pela prática teórica; a transformação da consciência pela prática ideológica; a
transformação das relações sociais pela prática política.
O Movimento de Reforma Sanitária no Brasil envolveu a sociedade de
forma mais ampla em discussões sobre a integralidade da saúde de todos, a
universalidade da atenção primária à saúde, a hierarquização dos serviços, a
descentralização de todas as ações e a integração interinstitucional, também,
fomentou a participação da sociedade no controle do sistema de saúde.
Segundo Nilson do Rosário Costa a questão da reforma sanitária
institucionalizou o conflito na proposta de ruptura no padrão de intervenção
estatal no campo da saúde: (Costa, 1994, p.24): ”O projeto apresentou uma
agenda redistributiva com a eliminação da contribuição previdenciária como
precondição para o direito ao atendimento, permitindo teoricamente a
realização de uma significativa transferência de recursos dos segmentos que
contribuem para o financiamento do sistema na direção dos não-contribuintes”.
23
Os paradigmas individualista e coletivista passaram a constituir os
processos de discussão em diversos runs nacionais e a Reforma Sanitária
trouxe a clara opção de ruptura dos paradigmas biomédicos: curativo,
hospitalocêntrico e medicalizante. Desse modo postulou a utopia igualitária e a
cidadania em base no pacto social da solidariedade e da justiça social. Sobre
isto Sônia Fleury
2
considerou claro que a opção pelo paradigma coletivista da
Reforma Sanitária introduziu uma nova concepção de seguro social como
explicita no texto (FLEURY, 1995, p. 25):
O conceito de Seguridade Social fundava-se na existência de fontes
diversificadas de custeio da política social e em uma forma de
integração destas políticas através do Orçamento da Seguridade
Social. Como parte desta inovação evidenciava-se a própria
introdução dos benefícios assistenciais como direito, o modelo
descentralizado e democratizado de gestão de políticas sociais, a
existência de um patamar mínimo para concessão de benefícios,
enfim o reconhecimento dos direitos de cidadania no campo social.
O Ministério da Previdência e Assistência Social, pelo Decreto-lei nº.
94.657 em 20 de julho de 1987, trouxe a implantação através de protocolos e a
operacionalidade com relação aos distritos sanitários e unidades básicas de
saúde que constituiu o Sistema Único Descentralizado de Saúde (SUDS). O
ato de criação do Programa de Desenvolvimento de Sistemas Unificados e
Descentralizados de Saúde (SUDS) representou o primeiro passo do Sistema
Unificado de Saúde a ser designado, posteriormente, o Sistema Único de
Saúde.
Nas diretrizes básicas que permearam a implantação do SUDS há de se
ressaltar segundo Rivera (1989, p.192) a universalização da assistência com
plena garantia do acesso igualitário contemplando: o aprofundamento da
integralidade e a melhoria de qualidade dos cuidados de saúde; a integração,
regionalização e hierarquização de todas as instituições e, a descentralização
efetiva. Estas diretrizes elaboradas em 1987 representaram o solo para as
próprias diretrizes do Sistema Único de Saúde e com os ganhos de direitos
legitimados na Constituição Federal do Brasil de 1988, o artigo 196 diz:
2
FLEURY, Sonia cientista política da ENSP-FIOCRUZ.
24
A saúde é um direito de todos e dever do Estado garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário as
ações e serviços para sua promoção e recuperação.
A conformação do Sistema de Saúde na Constituição Federal
assegurando o caráter de Estado Democrático de Direito, postulou a política de
seguridade social com as seguintes diretrizes no artigo 198
3
:
I - descentralização, com direção única em cada esfera; II -
atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da
comunidade.
O modelo do SUS prevê a descentralização e o incremento da
responsabilidade da gerência nos níveis locais e regionais, o acesso universal
e igualitário a todos os cidadãos num conjunto de ações de iniciativa pública e
da sociedade com primazia do Estado. O modelo de saúde foi regulamentado
pela Lei . 8.080, de 19 de setembro de 1990, no artigo determinou o
conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições
públicas e federais, estaduais e municipais, de administração direta e indireta e
das fundações mantidas pelo Poder Público, passando a responsabilidade de
manutenção vinculada ao Estado. Vislumbrou-se a perspectiva de fomento de
um modelo de saúde inclusivo para toda a população.
Este enfoque de política inclusiva e integral prestada como direito do
cidadão, imprime um padrão ético de participação responsável da sociedade
entendida como usuários consumidores e possíveis gestores de um direito
social. Desta forma O SUS, no entendimento de Adriana Castro e Miguel Malo
(2006, p.13) “vislumbra a superação da fragmentação político-institucional das
intervenções em saúde e a centralidade das ações programáticas”. Para tanto,
investindo na implementação de uma política sanitária de promoção, proteção
e reabilitação da saúde.
3
A Constituição da República Federativa do Brasil, Editora Saraiva 2003, p. 125 nos artigos 196, 197 e
198, apresentam diretrizes e definições da política de saúde.
25
No encontro desta interlocução e lutas, inicia-se o processo de
democratização e participação social para o trânsito das demandas individuais
tendo em vista o universal e a proteção dos direitos para todos. Para garantir a
gestão democrática do SUS os atores envolvidos na sua criação ratificam o
imperativo ético: garantir gestão democrática de políticas públicas, condições
de vida digna, autonomia e eqüidade. Na apresentação do livro Ressignificando
a Promoção da Saúde Adriana Castro e Miguel Malo (2006, p. 14) estabelecem
a relação necessária afirmando: “Nesse sentido, SUS e Movimento
Internacional de Promoção da Saúde têm princípios sinérgicos, ratificando a
indissociabilidade entre: políticas de saúde/políticas dos demais setores;
produção de saúde/ produção de sujeitos; gestão/atenção; clínica/política”.
O SUS emergiu no contexto pós 1988, tendo como princípio básico o
acesso universal e igualitário as ações e serviços para proteção, promoção e
recuperação e com eixo principal a descentralização administrativa. de se
considerar que os municípios do Brasil para realizem as mudanças na gestão
foram levados a alterar as próprias legislações orgânicas com leis emergidas
na década de 90.
Novas formas em que interesses coletivos foram explicitados e
confrontados, resultando um novo processo de decisões públicas ultrapassa a
dicotomia estatal e privada, conforme modelos e estratégias criadas pelos
mecanismos de poder dominantes na saúde. A esfera pública apresenta-se,
assim, como um desafio à construção de políticas públicas em geral e em
particular da Política de Saúde no Brasil. Assim, o alargamento do conceito de
saúde e dos compromissos do setor sanitário segundo Adriana Castro e Miguel
Malo (2006, p. 27) “exige outros modos de construir os conhecimentos e os
fazeres do setor e de seus trabalhadores”.
Considerando o espaço público como um espaço de conflitos com
determinações na crise universal da saúde entre outras, Eugênio Vilaça
Mendes
4
coloca que as corporações empresariais, articuladas na indústria da
saúde, tendem a pressionar o sistema para obter maiores lucros. Assim, como
as corporações profissionais também buscam sua participação na convivência
da pluralidade, na intersetorialidade e no pensar e o agir para a transformação
4
Sobre a versão estruturalista em Mesa Redonda o cirurgião dentista, Organização Pan-americana de
Saúde - OPS.
26
da prática sanitária. Em decorrência disto, pode-se considerar que não houve,
inicialmente, o estabelecimento de uma comunicação favorável ao diálogo e a
mudança de paradigma da racionalidade individual para o pensar coletivo
suscitou muitos embates para a instauração da democracia participativa
5
na
esfera governamental.
Neste sentido, o Estado e os atores sociais envolvidos na criação do
SUS compartilharam preocupações e compromissos para o encontro da
política e da cidadania em vista de uma nova institucionalidade e de uma ética
permeada pela democracia e pelos direitos sociais. Esses conteúdos de
cidadania consideram os usuários não apenas receptores, mas atores
definidores na relação destes sujeitos do processo com o Estado, são
constitutivos da Esfera Pública, para formulação das Políticas Sociais.
Esta nova forma de relação da esfera pública cujos sujeitos sociais
investidos de representatividade social disputam lugares de reconhecimento
político de suas demandas é um processo que impregnou o tecido social,
direcionado pela correlação de forças políticas que se estabelecem entre
atores sociais e que permite mobilizar espaços de representação, interlocução
e negociação.
Embora doutrinados na Constituição Federal como princípios primordiais
da pessoa na sociedade, a universalidade e integralidade encontram
dificuldades no seu exercício real. Havia forte centralidade da política, no início
dos anos 70, os Movimentos Sociais que emergiram neste cenário e nos anos
80 com outras pautas de lutas paralelamente suscitaram no setor saúde o
controle social e disseminou-se a organização de cerca de cinco mil conselhos
municipais de saúde no país.
No contexto de disputas políticas, incorporou-se a base doutrinária do
SUS, a necessidade de atender às necessidades das pessoas e à qualidade da
vida, resgatando a integralidade e a autonomia. Configurou-se o ideal de uma
política pública, embasada na universalidade do acesso e serviços integrais.
Instaurou-se, assim um compromisso com a democracia, neste requerimento
de participação da sociedade e de suas instituições e organizações no
exercício da responsabilidade social.
5
Democracia participativa forma de governo constitucional que prevê a representação dos cidadãos.
27
Sobre o dever do Estado de garantir políticas econômicas e sociais nas
Disposições Gerais da Lei Federal nº. 8080/90 postulam-se as condições de
promoção, proteção e recuperação da saúde. Isto requer sejam assegurados o
acesso universal e igualitário às ações e serviços. o artigo da
Constituição Federal do Brasil: a saúde é um direito fundamental do ser
humano, devendo o Estado promover as condições indispensáveis ao pleno
exercício. Isto significa uma ampliação da capacidade de serviços de saúde, de
acolher as necessidades de saúde e, ao mesmo tempo promover a
reorganização de práticas de saúde.
Não obstante, alguns pontos fundamentais reguladores do setor privado
tanto no setor de insumos, quanto serviços médicos supletivos e a alta
tecnologia constituíram ambigüidades no sistema público. A partir deste e
outros impasses para convênios, o autor abaixo descrito analisa que os
critérios de repasses e transferência de recursos mobilizaram intensa reação
de entidades da sociedade civil no sentido de regular a participação da
comunidade na gestão do SUS com as transferências intra-governamentais de
recursos financeiros.
A provisão de recursos para promoção da saúde foi extremamente
importante para cumprir com os requisitos do conjunto de ações, das
intervenções, das propostas, de processos e dos movimentos que a partir de
então se desencadearam. Daí resultou um acordo de lideranças partidárias no
Congresso e Governo, criando-se a Lei nº. 8.142 de 28 de dezembro de 1990
conforme descreve:
Ficam assegurados aos Conselhos e Conferências de saúde, a forma
de alocação dos recursos do Fundo Nacional de Saúde, a
regularidade e automatismo dos repasses federais a estados e
municípios e as condições para estados e municípios receberem
recursos federais (fundo de saúde, conselho de saúde, plano de
saúde, relatórios de gestão, contrapartida de recursos e planos de
cargos e salários).
Uma vez instituídos, os Conselhos de Saúde possuem o papel de
executar o controle social das políticas e ações de saúde e, como componente
intrínseco, a democratização e o exercício da cidadania. Os estados e os
28
municípios no decorrer de 1989 promulgaram as leis orgânicas com muitos
atores relevantes, adentrando aos municípios uma nova concepção de saúde.
Este espaço político, designado para Conselhos Municipais e
Conferências Municipais de Saúde, congregou a representação de interesses
diversos e, muitas vezes, antagônicos, é sem dúvida uma arena de discussão,
de negociação e de conflito. Conforme o artigo da Lei nº. 8.080/90
6
, cada
esfera de governo conta com as instâncias colegiadas: Conferência de Saúde e
Conselho de Saúde. Em comentário sobre esta questão, Nilson do Rogério
Costa (1994, p. 24) assegurou que foi uma estratégia de institucionalização do
conflito formalizada nos Conselhos de Saúde, propostos para todos os níveis
de governo.
A nova concepção de saúde pública articula-se em torno da promoção
da saúde amplamente e requerem a mobilização do processo saúde-doença e
de seus determinantes. Paulo Marchiori Buss (2005, p.15) trata da abrangência
da promoção da saúde, propõe: “a articulação entre os saberes técnicos e
populares e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e
privados para o enfrentamento e resolução”.
O grande desafio a partir de então passa a ser o de construir projetos
institucionais de saúde coletiva nos moldes do que foi balizado na VIII
Conferência Nacional de Saúde em 1986. Desta base fecundam-se as
condições sócio-históricas para o acolhimento destas concepções na
constituinte de 1988 e, no ano de 1990 ocorre sancionamento do SUS em
1990.
O texto constitucional de 1988 apontou para um novo conceito de saúde,
resultantes de políticas sociais e econômicas e de outras determinações de
acesso a direitos que determinam
7
como a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o
transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais, os níveis de
saúde da população expressam a organização social e econômica do país.
Estes fatores contêm os caminhos para sua efetivação através da
proteção e da defesa da saúde, individual e coletiva, deixando de significar
meros serviços médicos - assistenciais.
6
Lei Federal nº. 8.080 de 19 de Setembro de 1990.
7
Consta no artigo 3º. da Lei nº. 8.080/90.
29
A análise desse processo histórico pode ser sintetizada na finalização
deste capítulo, utilizando o texto do autor que se refere à realidade e a
circunstância do SUS conforme (Carvalho, 1992, p.12):
Dialeticamente se poderia desenhar o processo evolutivo das ações e
serviços de saúde utilizando-se o esquema de tese, antítese e
síntese, em que a execução estanque de ações e serviços pelos
diversos órgãos e entidades do setor público e do setor privado,
durante mais de trinta anos representa a tese, que produziu pela
exigência do bem comum a antítese da harmonização do complexo
dessas ações e serviços no antigo Sistema Nacional instaurado em
1975, o qual por sua vez, gerou num primeiro estágio a síntese da
unificação com a descentralização, formulada pelo SUDS e, no último
estágio, com a Constituição Federal de 1988, configurou a plenitude
da síntese na unicidade conceitual e operativa do SUS.
O movimento pode ser percebido na interface com a saúde de diversas
formas em meio às contradições nas relações do Estado, do Capital e
Sociedade. A saúde pública que historicamente ficou a cargo do Estado é o
instrumento coletivo de defesa da vida, tornando-se anticapitalista, e com a
sociedade organizada realizou a síntese que une esforços e lutas comuns em
defesa do SUS, como parte integrante da esfera pública.
A consolidação da cidadania na esfera pública no Brasil passa pela
superação das desigualdades sociais e pelo fortalecimento dos espaços de
participação social para o equacionamento das questões de saúde. O projeto
ético-político dos Assistentes Sociais materializa-se nas mediações possíveis
no campo da saúde, nas incursões profissionais nos movimentos sociais e em
todas as formas de representação e participação democrática.
O estudo da agenda de demandas da saúde na busca da ética dos
atores na política pública, em articulação com necessidades da população,
mediada pelo controle social, sob forma de direitos sociais reivindicados,
possibilita a realização dos princípios de justiça social. Isto possibilita as novas
concepções de saúde e de doença entrelaçada aos direitos sociais apontarem
30
para o entendimento do rompimento dos muros restritos das teorias sociais e
dos códigos de conduta profissionais para direção da ação macroética
8
.
Buscando delinear os caminhos desta macroética em uma realidade
particular contextualiza-se a história do município de Santa Rosa, adentrando o
caminho do SUS e as estratégias políticas de consecução dos princípios
constitucionais, institucionais e infra-institucionais na política de saúde
paralelamente privilegiando alguns aspectos da cultura e da tradição
participativa da região na qual o município se insere.
1.2 A IMPLANTAÇÃO DO SUS EM SANTA ROSA
A necessidade de inovação para melhor eficácia na gestão municipal da
saúde com base na busca da universalidade do acesso, ações e serviços e na
democratização das relações com a sociedade, impulsionou a implantação do
Sistema Único de Saúde no município de Santa Rosa, que priorizou a
adequação da política de saúde aos princípios do SUS em 1993, passando a
ser um dos dois primeiros municípios no Estado do Rio Grande do Sul que
efetivou sua municipalização.
Consta no texto do Plano Municipal de Saúde
9
na caracterização de
Santa Rosa está localizada na região Noroeste do Estado, na faixa de fronteira
com a República Argentina. É uma das cidades mais distantes da capital, tendo
uma área de 458 Km
2
com dois distritos rurais e população estimada de 72.078
habitantes. Devido à colonização de europeus, sobretudo alemães e italianos,
é na maioria composta por brancos. As demais etnias componentes da
colonização são: polonesa, russa, sueca e poucos de outras descendências.
Quanto aos valores e atitudes da população os maiores percentuais
apresentados na pesquisa de opinião da Faculdade de Filosofia, Ciência e
Letras Dom Bosco em 1989 constam: 91,96% consideraram a cultura
importante, 91,96 consideraram o casamento um valor a ser preservado, 85,94
8
Macroética compreende questões gerais que direcionam a sociedade e a prática social segundo Sebastião
Loureiro. CEBES, 1992, p. 30 - 31.
9
O plano Municipal de Saúde de 1993 possui o diagnóstico do município, foi um trabalho exemplar
envolvendo uma equipe de profissionais de saúde com organização de Alberto Beltrame.
31
por cento tinha filiação partidária, 80% possuíam hábito de leitura, 77%
achavam que os problemas brasileiros poderiam ser resolvidos politicamente,
70% participavam ativamente de uma comunidade. (PMS, 1993, p. 52).
Os dados obtidos referendam uma tradição de participação dos
imigrantes tanto em grupos étnicos como em comunidades religiosas
decorrentes das próprias da região de imigração. Esta tradição participativa e o
pioneirismo que encontrado na bibliografia consultada possuem raízes na
própria história dos caminhos políticos e administrativos e no desenvolvimento
sócio-econômico do município. Segundo Erneldo Schallenberger e Hélio Roque
Hartmann (1981,p.91), na distribuição de lotes de terra e na formação da
Colônia Mista de Santa Rosa a convivência de várias etnias imprimiu, uma
maior dinâmica social, o que de certa forma, repercutiu sobre o
desenvolvimento global da nova área de colonização.
Em vista do início do povoamento em 1914 a Colônia Santa Rosa
apresentou acelerado ritmo de crescimento. A partir da segunda metade da
década de 20 começaram a vingar autênticos desejos de emancipação política,
Santa Rosa figurava como uma das zonas mais produtivas do Estado com
condições de infra-estrutura administrativa, de serviços e potencialidade
econômica condizente, como centro polarizador de toda a região como
descreve no texto os autores; (Shallemberger; Hartmann, 1981, p.97):
Em vista deste quadro, as associações políticas formadas na Colônia,
desencadearam intensa campanha de propaganda emancipatória. Foi
fundado o Jornal “A Serra” que, cumpriu missão ímpar no que diz
respeito à mobilização da opinião pública. Assim, com a adesão da
opinião popular e justificada a importância da municipalização de
Santa Rosa, a de julho de 1931 o governador do Estado, José
Antônio Flores da Cunha criou o novo município, através do Decreto-
lei nº. 4.823.
A Organização Social da comunidade de Santa Rosa é diversificada em
entidades de caráter religioso, assistencial, clubes de serviço, de
representações por local de moradia, inserção no mercado de trabalho, por
faixas etária, comerciais, industriais, entre outras. Nas vilas e bairros as
associações de moradores são dirigidas pelos líderes comunitários, são
32
legalmente registradas e representadas nos conselhos municipais, com
participação efetiva, inclusive, no Conselho Municipal da Saúde. Estas
entidades constam no histórico Plano Municipal de Saúde (PMS) em graus
diferenciados de participação segundo a forma de associação em atividades
sócio-assistenciais e culturais, inclusive com assentos de representantes nos
conselhos de políticas municipais. (PMS, 1993, p. 98).
A legitimação do Sistema Público de Saúde no município, descrita no
Plano de Saúde, ocorreu num cenário de euforia em virtude do momento
político da vitória de uma grande coligação de cinco partidos e apoio de um
partido de oposição para administração municipal. Imbuída de realizar uma
reestruturação administrativa em face de ter permanecido um mesmo grupo no
poder durante vinte anos, implicou num processo de revitalização para buscar
segundo o plano: o desenvolvimento sócio - econômico do município, a atração
de investimentos, crescimento da economia municipal, instalação de novas
indústrias, fortalecimento do comércio, geração de empregos, priorização da
saúde com municipalização, entre outras metas estabelecidas no plano de
governo. (PMS, 1993, p. 32).
Segundo o diagnóstico do plano municipal de saúde, iniciaram-se as
mudanças a partir de 1991 com a reformulação administrativa que
desmembrou a antiga Secretaria Municipal de Saúde Habitação e Bem Estar
Social (SMSHBES), de acordo com a Lei Municipal nº. 2303. Neste mesmo
período o Estado possuía a estrutura gerencial de saúde em caráter regional,
através da 14ª. Regional de Saúde que possuía 19 municípios em sua
jurisdição, enfrentando grandes dificuldades para o desenvolvimento de suas
atividades programáticas e funcionando em parte no prédio do antigo INAMPS.
O quadro de estrutura gerencial municipal até março de 1991, conforme
descrito, tinha as ações de saúde executadas pela Prefeitura Municipal, através
da Secretaria Municipal de Saúde, Habitação e Bem-Estar Social (SMSHBES),
que “atendia uma grande gama de servos com a saúde, resumindo-se a
consultas médicas e odontológicas, essencialmente de cunho assistencialista”.
(PMS, 1993, p.102).
Consta no histórico do Plano Municipal, que a Secretaria Municipal de
Saúde e Meio Ambiente, absorveu do orçamento em torno de 2% da receita
municipal, sendo a vontade política de fortalecer a área da saúde e o
33
compromisso da administração de elevar para 10% a participação do
município, a fim de realizar a implantação do SUS. Este Plano Municipal foi
elaborado por uma equipe multiprofissional
10
do setor de saúde municipal.
A Gestão Plena da Saúde, antes de ser em Santa Rosa decisão do
Executivo Municipal ou mero cumprimento dos requisitos básicos do Ministério
da Saúde, teve o crivo da participação da população, das lideranças políticas,
dos trabalhadores, dos gestores e usuários, pois, ocorreram intensos debates e
adversidades para constituir-se em uma política de fato, inclusive, com a
mobilização da população. (PMS, 1993, p. 40).
No mês de maio de 1996, com a revisão do Plano Municipal de Saúde,
foi realizado o diagnóstico da situação da saúde do Município de Santa Rosa.
Esse plano foi o instrumento sico e prático de trabalho na política para
implantação e desenvolvimento do Programa de Saúde da Família (PSF),
atualmente com a nova designação Estratégia de Saúde da Família.
A Gestão Plena do Sistema Municipal de Saúde de Santa Rosa em 1993,
embora uma estratégia de gestão, foi também um processo participativo de
redirecionamento conforme consta na apresentação do Plano Municipal de
Saúde, segundo os textos a seguir (PMS, 1993, p.13):
Dentro de uma conjuntura nacional desfavorável; de uma realidade
restritiva; de uma sociedade permeada por injustiças sociais; de um
sistema de exclusão que priva a população de seus direitos mais
elementares; com uma população cansada e espoliada; um quadro
econômico recessivo que piora a qualidade de vida dia, após dia. A
área da saúde deve ser parte de uma política mais global de
promoção do ser humano. Saúde encarada, como direito de
cidadania, um direito a vida.
A necessidade de buscar uma política de pública de saúde foi
relacionada aos princípios da Organização Mundial da Saúde de promoção da
saúde mais amplamente no planejamento das ações (PMS, 1993, p.13):
10
Multiprofissional no texto está relacionado a todos os profissionais de diferentes níveis que
participaram no processo de diagnóstico e elaboração do plano municipal de saúde.
34
Neste sentido, o Plano Municipal de Saúde, o redirecionamento das
ações e serviços de saúde, sua ampliação, descentralização e
democratização fazem parte, junto com a promoção social, de
educação, de incremento econômico, de uma política municipal mais
abrangente que tem no cidadão o seu foco principal, na melhoria das
condições de vida e de saúde uma forma de dignificá-lo, respeita-lo e
a promovê-lo.
Organizar o sistema de saúde a despeito das adversidades conjunturais
deu a primazia de Santa Rosa liderar o processo rumo à promoção de
profundas mudanças e instaurar um trabalho coletivo na definição de
estratégias e prioridades, junto com a população. A vontade política do governo
municipal e a comunidade representada no Conselho Municipal de Saúde
instauraram o processo participativo local conforme o texto do Plano Municipal
de Saúde (PMS, 1993, p. 108).
A constituição do Conselho Municipal de Saúde do município de Santa
Rosa, como todos os demais conselhos no país, precedida pela Comissão
Interinstitucional Municipal de Saúde (CIMS). A etapa de transição,
paritariamente formada com diretoria provisória, posteriormente, passaria a
constituir o Conselho Municipal da Saúde.
A democracia participativa discutida na Reforma Sanitária também foi
viabilizada no Sistema Municipal de Saúde de Santa Rosa, especialmente,
através da realização de sete conferências municipais de saúde: 1993, 1995,
1997, 1999, 2001, 2003 e 2005.
A municipalização da saúde em Santa Rosa encontra-se atualmente em
Gestão Plena do Sistema Municipal, sendo o primeiro município no Estado a
chegar neste patamar
11
. Os marcos iniciais da constituição da Gestão Plena da
Política de Saúde de Santa Rosa segundo Luis Antônio Benvegnú et al (2005,
p.14) considerou: “Instaurar a inovação gerencial como uma renovação no
estilo de fazer política e administrar, cujo enfoque orientador é considerar o
cidadão não como consumidor de serviços, mas como capaz de decidir e
provocar mudanças, ver os indicadores propostos”. Quanto à mudança do
modelo implantado, no mesmo documento acima descrito constam as
seguintes considerações (Benvegnú et al, 1995, p.15):
11
O outro município que organizou a Gestão Semi-Plena, paralelamente à Santa Rosa foi Panambi, sendo
esta, o primeiro passo para Gestão Plena.
35
Considerar a mudança de um padrão curativo e hospitalocêntrico
para um padrão de atenção integral e atenção a segmentos da
população tradicionalmente não atendidos pelo setor público,
procurando a gerência blica e cidadania nos aspectos: mudança
introduzida em relação às práticas anteriores; impacto na qualidade
de vida da população; viabilidade técnica e financeira;
descentralização e democratização da gestão e do processo
decisório [...]; forma de articulação com o setor privado; formação e
qualificação dos servidores; valorização do funcionalismo por meio de
condições de trabalho e melhoria salarial; sistemas de apoio à
decisão; sistema de avaliação e desempenho; racionalização dos
custos; Esta mudança de padrão radical o foi fácil, [...]; c) Valorizar
o critério de legitimidade pública, seu grau de sustentabilidade, bem
como a aplicabilidade.
A legitimação e o incremento de inovações gerenciais
12
exigiram a
mudança de padrões, tanto dos gestores como trabalhadores e da população,
em consonância com os rumos para efetivação jurídica e ação de todos os
atores. Estes indicadores tiveram sua realização ao longo da história e
legalização a partir da criação da Fundação Municipal de Saúde de Santa Rosa
(FUMSSAR).
Houve, na construção da política de saúde municipal descentralizada
13
,
ampla mobilização da comunidade, hoje ainda presentes na consciência dos
partícipes, e também, no Conselho Municipal de Saúde. A Fundação Municipal
da Saúde nos moldes propostos teve sua legislação e sobrevive até o presente
promovendo a participação da população nos fóruns de debates instaurados. A
estrutura do Conselho Municipal de Saúde é de representação do maior
número de delegados no Estado: 72 membros. E, na realização de sete
Conferências Municipais atravessa as mudanças nas administrações políticas
municipais mantendo-se as propostas iniciais sobre a participação da
população
14
. Nesta determinação inscreve-se a ousadia e vontade política de
envolver decisivamente os usuários, os trabalhadores e os administradores no
processo, conforme registra a história local num processo contínuo que se
repete tanto no Conselho Municipal quanto nas Conferências Municipais.
A municipalização descentralizada e o Programa de Saúde da Família
(PSF) foram estratégias de desenvolvimento gradual da Administração
12
Inovação gerencial no texto entenda-se a aplicação proposta de gestão do SUS.
13
Descentralização definida como transferência de poderes, reestruturação implicando delegação de
responsabilidades e ampliação da participação de atores sociais.
14
A participação da população/ou popular para efeitos deste texto significa os sujeitos representados.
36
Municipal incrementada em 1996, e estimulada pela comunidade que possui
alto grau de participação
15
.
A Equipe Cubana que visitou Santa Rosa neste período (1996, p. 200)
no diagnóstico de Santa Rosa considerou uma comunidade sólida, com apoio
de toda população, com tomada de decisões políticas positivas e com
compromisso na saúde e na ação intersetorial, caracterizou uma cidade sã.
Ainda consta no diagnóstico de saúde municipal de Santa Rosa que o
ano de 1996 foi o momento de aperfeiçoamento, e por isto a decisão de iniciar
na Vila Auxiliadora a primeira Equipe de Saúde da Família, para estender
gradualmente a todo município o atendimento em igual patamar. Foi decisiva a
vontade política do gestor municipal apoiada na participação ativa da
comunidade. Houve a realização do concurso público de profissionais da área
de saúde, com dedicação exclusiva de 40h semanais para assegurar a atenção
primária de saúde. (DSS, 1996).
Considerando este quadro, a esfera pública apresentou-se como uma
expressão da particularidade da Política de Saúde de Santa Rosa. Novas
formas de atuação do Poder Público Municipal passaram a ser desvelados em
que pesem os interesses coletivos explicitados e confrontados, resultando em
novo processo de decisões públicas.
Observou-se que a prática da participação popular em Santa Rosa é
peculiar devido à sua característica de congregar as comunidades rurais e as
urbanas em torno do processo de preparação das conferências municipais que
se constituíram processos participativos organizados com uma metodologia
própria, chegando a envolver 1.500 pessoas no processo de organização e
participação representada. Na VII Conferência Municipal de Saúde, por
exemplo, houve o envolvimento de 450 delegados representantes eleitos em
43 Pré-conferências, realizadas nos meses de julho e agosto de 2005,
mobilizando em torno de duas mil pessoas nos debates.
A peculiaridade da contratação de profissionais para comporem as
equipes, também, foi inovada e não foi aleatória. Os profissionais foram
concursados com percentual adicional de exclusividade para dedicação
exclusiva ao Programa de Saúde da Família por 40h semanais, não podendo
15
Participação entendida como presença organizada nos grupos e nos momentos decisões.
37
ter contratualmente outros vínculos empregatícios na mesma função. Isto
permitiu garantir a melhor qualidade na atenção sica uma vez que todos os
postos de saúde possuem o PSF. Importante ressaltar neste sentido que a
Integralidade e Eqüidade permearam a construção do sistema de saúde,
buscando a intersetorialidade e a interdisciplinaridade com equipes de saúde
da família, que também foram ampliadas com médicos, odontólogos,
psicólogos e assistentes sociais. Esta ampliação quantitativa e qualitativa da
rede de atenção básica e dos recursos humanos ao serem delimitados no
sistema de saúde repercutiu na inclusão de diversas categorias profissionais
com a finalidade de constituir equipes multiprofissionais
16
, capazes de uma
atenção integral e integradora.
O controle social, movimentando um processo político novo de
participação da população, visto como a conquista de direitos sociais assume a
forma institucional na Esfera Pública de Santa Rosa através de instâncias
colegiadas, como nos demais municípios do Brasil, estes marcos de
institucionalização serão descritos no título a seguir que traz analisa
particularidades do processo em nível local.
1.3 AS PARTICULARIDADES DA POLÍTICA DE SAÚDE DE SANTA ROSA NA
INTERFACE COM O CONTROLE SOCIAL
Considerando a história dos Conselhos de Saúde, desde o período do
seu surgimento no início da cada de 90 houve aumento gradativo da
participação popular envolvendo as decisões sobre os destinos da sociedade
em instâncias colegiada, gestoras de ações de saúde, em todos os níveis e
com ampla participação das representações populares. Também, supõe a
democratização dos processos de planejamento social e de gestão da Política
de Saúde.
A participação popular, fundamental no processo de gerência,
planejamento e definição de políticas de saúde para efetivação de um
16
Equipes com os seguintes profissionais: médicos especialistas gerais comunitários, odontólogos,
enfermeiros, assistentes sociais, nutricionista, bioquímicos e psicólogos.
38
adequado Sistema Municipal de Saúde, dentro dos princípios e diretrizes do
SUS, voltado para os interesses de necessidades da maioria da população,
começaram a ocorrer de maneira formal com a criação do Conselho
Interinstitucional Municipal de Saúde (CIMS) na cidade de Santa Rosa, que foi
instalada no dia 17 de julho de 1987.
A CIMS de Santa Rosa era composta por 35 entidades e dirigida por um
núcleo de coordenação formado por um presidente, um vice-presidente e
secretário. A maior dificuldade encontrada na época e que acabou por
desestimular uma maior participação popular foi a definição de que o colegiado
era apenas consultivo, não podendo deliberar efetivamente sobre os temas
relativos à saúde no município.
A participação da sociedade através da comunidade local representada se
especifica na Lei nº. 8.142, de 28 de dezembro 1990, definindo a competência
dos Conselhos de Saúde e legitimando uma política social pública. Esta
participação, supondo a identificação de demandas que se elevam à
universalidade nas propostas de todos os destinatários na instância municipal
da Política de Saúde, organiza-se através do Conselho da Saúde, conforme o
texto da legislação a seguir: (LEI FEDERAL nº. 8.142/92).
O Conselho de Saúde, em caráter permanente deliberativo, órgão
colegiado composto por representantes do governo, prestadores de
serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de
estratégias e no controle da execução da política de saúde, na
instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos
financeiros e, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder
legalmente constituído em cada esfera de governo.
As decisões são deliberações
17
e a composição do Conselho Municipal
de Saúde deve ser paritária entre os representantes do governo, prestadores
de serviço, profissionais de saúde e usuários. Em Santa Rosa, em agosto de
1992, através da Lei Municipal nº. 2452 e alterada pela lei nº 2688 de março de
1994 foi instituído o Conselho Municipal de Saúde de Santa Rosa, com
17
As deliberações decorrem de decisões votadas e aprovadas pelos conselheiros em reuniões ordinárias
dos Conselhos Municipais, o poder deliberativo destas foi reafirmado na Resolução nº. 333, de 4 de
Novembro de 2003, do CNS.
39
plenos poderes deliberativos e o respectivo Núcleo de Coordenação. A área de
atuação dos Conselhos de Saúde que se estabelece em articulação com a
sociedade local revela a possibilidade concreta de decisão nos rumos da
política de saúde, pressupondo uma relação de democracia participativa entre
os atores, de modo que estes sejam capazes de planejar e deliberar a política
do município.
Esta participação no Conselho Municipal de Saúde capacita e, nos atos
de reunir, avaliar, reivindicar, deliberar sobre os objetivos e condições de
execução da política de saúde local, possibilidades concretas do
estabelecimento da consciência crítica e da superação da herança de
subalternidade legada do modelo autoritário de governo de décadas anteriores
do Brasil.
Conforme o número do Conselho Municipal de Saúde dos membros foi
significativo, um dos maiores em número no Estado é formado por dezesseis
(16) representantes do governo, oito (8) dos prestadores de serviços, doze (12)
dos profissionais de saúde e trinta e seis (36) representantes da sociedade civil
organizada.
No município de Santa Rosa, a base desta proposta do sistema local foi
construída juntamente com a população, num processo de intensos debates
que envolveram o Plano Municipal de Saúde (PMS) com a determinação de
realizar a política de saúde com um diferencial em toda região e a Gestão
Semiplena do Sistema de Saúde, passando posteriormente a Gestão Plena.
(PMS, 1996, p.108).
A busca do equilíbrio tanto das representações governamentais quanto
não governamentais na paridade numérica mantém-se, mas, as articulações
dentro do Conselho devem ser construídas no cotidiano porque a diversidade
dos campos abre possibilidades de consensos nos dissenso no desenrolar do
processo deliberativo dos conselhos municipais.
Os conselheiros respondem enquanto sujeitos públicos aos mecanismos
de controle e responsabilização por suas resoluções. São agentes convocados
ou nomeados para prestar um serviço de relevância pública. Da mesma forma
que o conselheiro é agente de relação orgânica da realidade particular que
representam com a totalidade. Este movimento lhes conduz a novas práticas
que adentram a organização do Estado, podendo os sujeitos tornaren-se
40
atrelados aos processos burocráticos ou assumirem o papel de agentes de
mudanças.
A análise sobre direitos sociais neste estudo consta em articulação com
as necessidades e condições da existência, tendo relação estreita com os
modos de organização e reprodução da vida social. Em vista dos direitos
humanos espeficos, abrangendo as diversas expressões da questão social,
tanto relacionados às fases da vida, o gênero, a etnias, a infância,
maternidade, velhice, estados de saúde normais ou doentes e sua
correspondente relação, fazem parte de uma imensa complexidade do campo
da saúde. No entanto, são direitos constitutivos dos direitos humanos e,
remetidos à cidadania social são reconhecidos como direitos sociais.
O caminho da criação legal dos conselhos municipais de saúde foi uma
construção social que encaminhou espaços de exercício da cidadania e
possuem potenciais recriadores das relações de poder na esfera pública. Um
dos indicadores expressivos deste caráter mencionado acima é a possibilidade
de exercer poderes governamentais conforme Carvalho (1995, p. 112) pela sua
ação de interpelação ao Estado, o que significa a concretização na cultura
política da alteridade
18
.
Com uma identidade política própria, nenhum candidato à administração
pública tem a ousadia de ignorando o Conselho Municipal de Saúde ou mesmo
desprestigiando-o sob o real perigo de não obter êxito na sua eleição,
constituindo-se, desta forma, como sujeito do processo político municipal.
A presença do outro em práticas contra-hegemônicas no interior da
esfera pública governamental foram expressas em relações permeadas de
alteridade ética pela noção de direitos socialmente pactuados. Estes direitos
foram e, estão compactados no sistema de saúde de Santa Rosa através do
Conselho Municipal da Saúde e das Conferências Municipais de Saúde.
1.4 A PARTICIPAÇÃO DA POPULAÇÃO NA VII CONFERÊNCIA MUNICIPAL
DE SAÚDE DE SANTA ROSA
18
O sentido da alteridade no controle social é citado por SPOSATI, A & LOBO. Controle Social e
políticas de saúde, Cadernos do CEAS nº. 139, 1992, p. 64 - 80.
41
A aproximação da expressão dos atores da conferência municipal de
saúde no cotidiano profissional saúde pública, constituiu o garimpo possível
para uma aproximação teórica do sentido ético para a aproximação teórica. A
expressão da fala dos atores é o desafio de uma reflexão fundamental. Na
concepção teórica adotada não se separa da prática o discurso e vice-versa,
tornando assim possível a busca da configuração do ato ético no agir dos
sujeitos do discurso na configuração do ato ético.
A VII Conferência Municipal da Saúde de Santa Rosa foi realizada nos
dias 23 e 24 de Setembro de 2005. Teve como tema “Desospitalização: deixe a
saúde entrar em sua casa”, sendo este o campo de pesquisa escolhido, o
cenário de importantes dados na expressão da fala dos atores e nos
documentos e registros.
Em evidência a ação de diversos sujeitos envolvidos, sujeitos estes
coletivos
19
representaram setores fundamentais ligados à saúde, tanto
prestadores de serviços públicos quanto privados e grupo de consumidores
como movimento sindical e popular de saúde.
Os sujeitos coletivos e delegados representantes revelaram-se
envolvidos nos processos de participação social e imbuídos da defesa dos
direitos sociais, envolvidos na dinâmica da política pública. Na medida em que
a busca de realização de direitos instituídos se expressa na enunciação dos
sujeitos públicos, pode haver a transformação das condições que impediam
sua concretude quando foram enunciados.
Em Santa Rosa ao longo dos anos de implantação da municipalização,
do SUS, estabeleceu-se uma metodologia própria de trabalho diferenciando as
conferências municipais realizadas bi anualmente, de acordo com deliberação
do conselho municipal. As regras metodológicas das conferências são
observadas pela Comissão Organizadora.
Na realização das reuniões preparatórias das conferências municipais
são utilizadas tarjetas de cartão, escritas com pincéis, onde a população
descreve boas, ruins e sugere ações na seguinte forma descrita Apêndice A
pelos autores (Benvegnú et Gallo, 2001, p. 1):
19
Sujeito coletivo aquele que tem projetos políticos a serem construídos e ação num tempo cronológico.
SADE, Eder, citado por CARVALHO, Antônio Ivo. Rio de Janeiro: FASE/IBAM, 1995, p. 136.
42
A estratégia metodológica foi muito acessível a todos, se baseando
em relatos das reuniões respondendo a três questões: Que Bom =
destacar os bons serviços existentes na rede básica; Que Pena =
problemas e dificuldades encontradas no sistema local; Que tal =
outros mais sugestões e mudanças necessárias.
No segundo momento são reunidas as respostas (que bom; que pena e
que tal?) num painel para proceder à apreciação e votação da assembléia. Em
continuidade foi elaborado o relatório das propostas e coletadas as assinaturas
dos presentes. O Relatório de Pautas Preliminares contém as reivindicações
que deixam o caráter isolado de uma comunidade para comporem as pautas
de reivindicações gerais. Neste processo ocorre a omissão de nomes pessoais,
de categorias profissionais e de questões isoladas e desvincula-se a
comunidade de procedência.
Os relatórios são enviados para serem sistematizados no Relatório de
Pautas Preliminares das Micro-conferências, cujos resultados são
apresentados agrupados e analisados posteriormente pela Comissão de
Sistematização. Após a eleição das prioridades, na segunda etapa de Pré-
conferências, com a comunidade distrital reunida, foi feito o Relatório das Pré-
Conferências que integraram a pauta de discussão dos grupos e debates na VII
Conferência Municipal de Saúde.
O relatório de pautas originárias das reuniões nas vilas objetivou discutir
o sistema de saúde e eleger representantes para a Conferência Municipal.
Estas reuniões foram coordenadas por três monitores membros da Comissão
Organizadora que utilizaram um texto básico sobre o sistema de saúde para
iniciar o debate, colheram as presenças e relataram as conclusões.
Durante as Conferências Municipais sempre ocorre à discussão em
grupos das prioridades, que são apresentadas pelo relator e votadas na
Plenária Final. A Comissão de Sistematização elaborou o Relatório Final da VII
Conferência Municipal contemplando o resultado das votações, que foi
publicado na imprensa escrita local.
A população, ao longo dos anos, compõe Comissão de Organização das
conferências que é escolhida em reunião ordinária do Conselho Municipal,
juntamente com a escolha do Presidente da Conferência. Portanto, os
43
documentos apresentados são manifestações concretas da expressão dos
sujeitos envolvidos e parte da produção conjunta com os trabalhadores de
saúde, gestores e prestadores de serviços.
Na VII Conferência a Comissão Organizadora utilizou a dinâmica para
conduzir as reuniões da seguinte forma: um copo descartável cheio de líquido
vermelho, significando a saúde e a vida plena, com um alfinete a cada item o
monitor fazia perfurações. Gradativamente, o líquido esvazia. Diante disso, o
coordenador inicia a discussão sobre o financiamento do sistema de saúde e
após são ouvidos os moradores da comunidade com registro em relatório.
Na comunidade da Vila Winkelmann, por exemplo, houve a presença do
pesquisador juntamente a cerca de trinta participantes entre adultos e idosos,
sendo que suas intervenções ocorreram de forma informal. Alguns se
manifestavam através de perguntas, outros registrando fatos ocorridos que não
havia lhes agradado enquanto outros preconizavam com bom humor ou
mesmo ironia, destacando na conferência itens importantes para constar em
relatório.
Nesta fase, também, se observou também a reunião na Vila Planalto que
contou com de doze líderes locais. No salão comunitário onde se realizou a
microconferência foram apontadas necessidades, foram avaliados os serviços
de saúde, como é praxe nesta etapa do processo de participação. Nesta
localidade foi realizada a cerimônia fúnebre do líder comunitário Orlando
20
.
O campo da política pública na esfera municipal do governo de Santa
Rosa particulariza-se pela construção de políticas sociais compromissadas com
a defesa dos direitos sociais, da autonomia e da melhoria das condições de
vida. O encontro entre o processo de constituição dos sujeitos-outros,
imbuídos de princípios e valores éticos dão o sentido para o caminho de
construção da esfera pública. O capítulo que segue trata dessas possibilidades
éticas como um pano de fundo do cenário em movimento dos diversos atores
na conquista da participação social.
20
Orlando Baumgartner de Souza homenagem stuma, colaborou na divulgação e teve morte súbita na
cerimônia de abertura da VII Conferência.
44
II A POLÍTICA DE SAÚDE EM MOVIMENTO: O SENTIDO ÉTICO-POLÍTICO
PARA UMA NOVA ESFERA PÚBLICA
O sentido ético para uma nova esfera pública se realiza na busca da
justiça e da igualdade para o outro. O princípio da alteridade ética no rosto do
outro se as suas necessidades e nelas as próprias, suscitando a
responsabilidade da existência e da subsistência. Neste solo, surge á luta para
garantia dos direitos sociais. A constituição de uma esfera pública com
instâncias de lutas coletivas é o campo fecundo para o florescimento de um
estatuto de cidadania e o reconhecimento dos sujeitos - outros
21
, cuja ação é
solo para a garantia do universalismo e equidade política no campo da saúde.
O encontro com alteridade significa antes de tudo reconhecer o ser e
pensar a realidade enquanto possibilidade de realizar a justiça. Porém, a
justiça a ser conquistada numa construção histórica, na perspectiva para o
outro, busca a garantia de direitos à vida, à liberdade, à saúde e demais
direitos compreendendo mais que o alcance do mero direito individual, mas a
promoção dos direitos de todos.
A ética que é um convite à relação, ela é uma prática, pois, diante de
mim a realidade do outro é concreta, não é um problema teórico. Nos
pressupostos assumidos nesta tese, o rosto do outro representa na sua
imagem, não é uma representação mental. Esta imagem reflete os problemas
de saúde e o sofrimento dos sujeitos, especialmente para os profissionais de
saúde são encontros diários.
A construção da ética ocorre no cotidiano, suscitando uma resposta aos
apelos do outro. Para Natálio Kisnnerman (2000, p. 5): “são essa ética e essa
moral as que rechaçamos, muito antes de ter aderido ao construcionismo, por
entender que nada está regido exclusivamente pela razão e que tudo se
constrói na prática das relações sociais, no espaço de significados do que
participamos e construímos as pessoas”. Este pensamento orienta as
afirmações desta tese, por complementar as indagações iniciais e direcionar o
espaço profissional das profissões sociais. A partir de tais pressupostos defini-
21
Sujeitos (outros) são os sujeitos que se comprometem com o outro e pela sua inserção na prática social
são imprescindíveis.
45
se ética
22
como o ato do sujeito na realidade humano social baseado na
responsabilidade com o outro para a sua existência e realização da justiça
social.
A sustentação dos discursos dos diversos atores sociais emerge junto às
preocupações com igualdade e justiça, encontrando na enunciação da palavra
na participação social o compromisso com a questão do outro e o lugar do ser
na ordem social. Essas afirmações desafiam a situar o trânsito da discussão
teórica e a prática dos sujeitos sociais. A autonomia e sobrevivência dos
sujeitos requerem manter a política saúde em disputa com os demais projetos
sociais postos na esfera pública.
Neste patamar se considera a Conferência Municipal como espaço
privilegiado de expressão da palavra na construção da esfera pública da
Política de Saúde local nos enunciados que remetem à justiça social na política
de saúde. O conjunto do texto no capítulo que se segue, consolidado no estudo
bibliográfico e nos documentos, representa a multiplicidade das vozes dos
atores no processo de participação da política de saúde no município de Santa
Rosa em vista das possibilidades de concretização de pressupostos da ética da
responsabilidade
23
e das possibilidades éticas da intervenção dos sujeitos.
2.1 AS POSSIBILIDADES ÉTICAS DA PRESENÇA DOS SUJEITOS NA
POLÍTICA DE SAÚDE
A construção cio política está inserida na história dos sujeitos e essa
história é uma construção humana, portanto, a concepção do mundo e a
consciência do agir menos individual ao mais coletivo é decisivo para construir
políticas sociais.
Na política de saúde, para que os conflitos e interesses adquiram
visibilidade pública e realizem o movimento de contraposição de suas
necessidades reais, que haver debates e consensos. Somente os sujeitos
22
Ética no texto é a prática da alteridade para coexistência.
23
Ética da responsabilidade é a intervenção do sujeito e/ou o ser na sociedade a fim de promover a
justiça.
46
comprometidos com os demais podem enfrentar os determinantes sociais
enunciando através do diálogo as alternativas e mudanças necessárias.
O diálogo é o atributo que media a comunicação humana e através
ocorre à participação do sujeito no sistema político social, um convite à ética da
alteridade para a conformação das políticas públicas. Portanto, é através do
sujeito participante que se materializa no controle social a objetivação da
presença dos sujeitos - outros na política de saúde.
Neste sentido, Marilena Chauí (1995, p.117) destaca no ponto de vista
do agente ou sujeito moral, a ética faz uma exigência essencial qual seja: a
diferença entre passividade e atividade. O principal constituinte da existência
ética, o sujeito moral, isto é a pessoa consciente de si e dos outros, que
reconhece a existência dos outros como sujeitos éticos. Desta forma, a ética
concretiza-se, também, na palavra dita, pois nela está contida a inserção do
sujeito no mundo. Com isso se quer dizer que o sujeito, ao se expressar,
também revela a sua ética.
Segundo Chauí (1995, p.118):
Do ponto de vista ético e moral, a consciência é a espontaneidade
livre e racional, para escolher, deliberar e agir conforme a liberdade,
aos direitos alheios e ao dever. É a pessoa, dotada de vontade livre e
de responsabilidade. É a capacidade para compreender e interpretar
sua situação e sua condição (física, mental, social, cultural, histórica),
viver na companhia de outros segundo as normas e os valores morais
definidos por deliberação e decisão, realizar virtudes e, quando
necessário contrapor-se e opor-se aos valores estabelecidos em
nome de outros, considerados mais adequados à liberdade e à
responsabilidade.
Dentro destes parâmetros a autora reafirma a liberdade e a
responsabilidade da consciência moral constituindo a consciência política do
cidadão. Estes agentes políticos da práxis são os sujeitos - outros que fazem à
diferença.
Ao falar em sujeitos concretos procura-se concentrar nos problemas
essenciais vividos nas relações com os outros, e, neste sentido, une-se o
pensar e o fazer. Ao voltar-se para e pelo outro um desinteresse de si na
arena da vida social, unindo a transcendência e a cotidianidade, a razão e a
47
práxis. A idéia de alteridade é a transcendência do eu, descortinando-se na
relação ética, um o ato responsável de voltar-se para o outro, pois ele contém e
revela a possibilidade e a realidade do além ser e da identidade do mesmo,
como transcender para o outro, numa relação recíproca que Lévinas chama de
alteridade. (LÉVINAS, 2005, p. 213)
O significado da alteridade está na relação entre o eu e o outro, a
reciprocidade na relação do eu com o outro no mundo, este encontro inscreve-
se no fato de que eu o posso realizar a sociabilidade como um sujeito só,
pois não posso me encontrar apenas comigo mesmo.
O sentido de alteridade vem de outrem e realiza-se na relação social
fundamental e no posicionamento do existir no mundo. Ou seja, positividade da
relação de reciprocidade entre o eu e o outro que a alteridade se expressa. A
construção deste sentido humano ocorre na ruptura com a indiferença e esta
possibilidade de responsabilidade com o outro é um acontecimento ético
argumenta Ricardo Timm de Souza: (2003, p. 23):
Encontrar o Outro significa assim muito mais que um acontecimento
trivial como outro qualquer; significa encontrar uma rao de viver,
um motivo para perdurar a existência. Em longo prazo, significa a
possibilidade da construção de um sentido do humano em meio às
agruras e dificuldades da vida. Pois, para que se vive, senão para
encontros, encontros com a realidade sempre nova que palpita no
ritmo da temporalidade que passa? O ser humano, emerso da
multiplicidade; sua solidão existencial o puxa para fora, para além de
si, para o Outro que está adiante de suas idéias, de seus
preconceitos, até mesmo de suas carências.
Nessa visão o sentido do humano é uma instância de humanização
aberta ao infinito e responsável que o eleva e o realiza tanto individual como
socialmente. A construção da ética da alteridade ocorre investindo-se na
liberdade do ser e na superação do apenas eu. Para Lévinas é uma inversão
humana do em si e do para si priorizando o outro, é o sair de si para o
outro. (2005, p. 269).
O sujeito ao agir revela sua ética, na ação orientada por princípios.
Nestes termos o cotidiano humano é o espaço de desenvolvimento da ética. A
dimensão concreta da ética emerge da impossibilidade de tematizá-la como
48
abstração, e sim como expressão do agir humano, referendado no texto citado
abaixo de Souza (2003, p.11):
Neste contexto difícil de inícios do século XXI, sabemos que não
podemos deixar de olhar com especial atenção para os temas
referentes às dimensões éticas. Em toda e qualquer circunstância da
vida humana, seja em sua dimensão individual ou coletiva, é a forma
de agir o tema central da ética – que determinará as características
de uma determinada comunidade ou sociedade.
No texto acima o autor manifesta que a dimensão ética define uma
comunidade ou sociedade. A construção da Política de Saúde em Santa Rosa
vem demonstrando a implicação dos sujeitos com a política de saúde e com a
ética. Dentre a multiplicidade dos sentidos da ética, o enfoque que nos permite
aproximações com o objeto de investigação supõe o modo pelo qual ela se
materializa para realizar a universalização, o entre nós na saúde.
Assume-se uma proximidade entre ética e alteridade (Lévinas) cujos
pressupostos são de diferentes dos autores, mas complementam-se na
enunciação dos atos de fala e na atitude Kisnnerman (2003, p. 3) afirma:
"Entendemos a Ética como atitude, como a coerência entre a palavra e a ação,
e, decidimos que é uma construção, porque ao inserir no mundo de relações se
constrói a si mesma”.
O item a seguir aborda o desdobramento da ética para os outros na
política de saúde um campo de articulação de demandas e necessidades.
2.2 A ÉTICA DA ALTERIDADE E O ENTRE NÓS NA QUALIFICAÇÃO DA
POLÍTICA DE SAÚDE
A ética é um encontro real com o outro, é um convite à relação para a
convivência. Os caminhos do sentido deste encontro entre ética e alteridade
são buscados na expressão dos sujeitos da política de saúde nas instâncias do
controle social.
49
As diferenças e injustiças da convivência dos sujeitos no discurso se
materializam na palavra dos representantes dos usuários inquietando a ponto
de comprometer ações práticas para superação destas diferenças via da
responsabilidade com outro na vida comunitária.
Ricardo Timm Souza (2003, p. 24) em outras palavras explica que o
encontro do cotidiano é inevitável com o compromisso, pois o que o outro
representa originalmente frente a mim é um problema não apenas teórico, mas
um acontecimento concreto. É um desabrochar da racionalidade da relação
que compreende o mundo desde o sentido do encontro face a face. Este
mesmo auto (2003 p.11) considera que “o Agir - é uma questão que se ocupa a
ética - não é nunca uma questão meramente individual, isolada, mas uma
questão fundamental coletiva”. É no encontro com os outros na promoção ou
na negação do outro que nosso agir se concretiza.
A proximidade do outro faz transparecer em mim a alteridade que é a
condição do outro em relação a mim. Na concretização da relação tão humana
quanto resposta a ela inerente, identifica-se, também, o sentido ético. Para a
compreensão do sentido humano da alteridade busca-se a contribuição do
conhecimento de Emmanuel Lévinas
24
, nele a exploração dos caminhos do
sentido da justiça e da liberdade, a partir da sua experiência durante a segunda
guerra mundial, do sofrimento da morte de sua família no holocausto, e de ser
prisioneiro levado a executar trabalhos forçados.
O pensar filosófico de Lévinas (2005, p. 269) é um questionamento ético
que vai além da ontologia, pois ele sustenta o ser social não apenas na
existência temporal, mas no horizonte de sua consciência, ele destaca: “A
inteligência do ente consiste então em ir para além do ente precisamente no
aberto - e em percebê-lo no horizonte”. No horizonte do ser, surge na luta pela
vida a preocupação pelo outro, e esta possibilidade do um - para - o - outro
ocorre de forma inversa a mim mesmo, é um acontecimento ético.
Em outras palavras, o acontecimento ético é um agir do ser para o outro
no qual ele não pensa em si. Ele fica imbuído do desinteresse por si para
dedicar-se a outra existência; reafirma o outro como ser e estabelece a relação
24
Emmanuel Lévinas filósofo lituano nasceu em 1906, desenvolveu estudos na França onde morreu em
1995. O tema convergente central que produz sua unidade é a alteridade.
50
de responsabilidade pela sua sobrevivência. Esta relação irredutivelmente
aponta ao além, a subjetividade seguida para Deus.
O ser que na presença do outro se como responsável por ele e pelos
outros, ou seja, na experiência com o outro desperta a consciência de
pertencer à existência. Pensa as coisas, determina a ação e articula sua
concretude, reexaminando as relações estabelecendo um ordenamento de
vida. No entendimento que eu não posso permitir a morte do outro, então, eu
luto pela vida do outro. Esta proximidade do outro é ilimitada na consciência
adquirida pela responsabilidade social
25
é uma resultante da reflexão do papel
da ética e da política conforme as palavras “para s, ética e política não são
campos separados no âmbito da filosofia ou da ciência política, mas formas
íntimas de expressão do agir humano sadio em comunidade”. (SOUZA, 2003,
p. 9).
O estudo empreendido nos permite compreender a epistemologia da
ética instaurada a partir da decisão da vontade singular e dos atores partícipes
do Controle da Política de Saúde de Santa Rosa, que pretende encontrar o
sentido profundo humano do entre nós
26
na prática do diálogo. No campo da
saúde uma peculiar possibilidade de inserção dos sujeitos na defesa de
uma política social e no diálogo entre sujeitos se concretiza a enunciação dos
direitos sociais. O contato com vários níveis da realidade que aparecem no
cenário emerge no plano da singularidade, na forma de situações isoladas dos
indivíduos, de grupos ou de comunidades, na tensão da imediaticidade, como
demandas de justiça reportam a universalidade.
A participação do cidadão nas lutas pelo direito à vida e à saúde,
promove a justiça social configurando o sentido ético para o outro. A ação
concreta de sua defesa dos direitos sociais em conjunto, unindo forças na
comunidade expressa para população em sua sociedade.
O papel dos sujeitos no processo de autoconsciência que desencadeia
nesta arena de debates apela ao ser aí e constitui os sujeitos éticos. O
significado ético dos sujeitos, expressos nos seus enunciados de falas, o
25
Responsabilidade Social, entendida como uma intervenção na sociedade com fim de promover a justiça
26
Entre nós relação intersubjetiva, ligação impalpável que ordena a vida para Lévinas.
51
focalizados no próximo item sobre o garimpo
27
da participação dos atores do
controle social na Política de Saúde.
27
Garimpo termo utilizado para designar escolhas significativas ou evidências relacionadas aos
construtos
52
III GARIMPANDO AS ETICIDADES NO DISCURSO DOS ATORES DA
POLÍTICA DE SAÚDE DE SANTA ROSA
A produção do pesquisador é comparável a uma viagem com um mapa.
Com muitas incertezas inicia-se o caminho, tentando um esboço da
representação parcial do fenômeno investigado, a fim de reproduzir um modo
de constituição da realidade. O objetivo desta viagem é encontrar o sentido
ético e humano das ações de busca da cidadania engajada na política
municipal de saúde.
Na direção do entendimento de que a saúde é uma relação entre as
condições sociais e as práticas de saúde institucionalizadas em canais que
possibilitam a busca da satisfação das necessidades humanas fundamentais, é
importante a assunção de um conceito de saúde mais abrangente, resultante
das formas de organização social e a subjetividade da relação com os outros.
As formas de organização desta sociabilidade nos entremeios dos
tempos difíceis do hoje relacionam a saúde como uma resultante da mediação
da comunicação cotidiana entre os sujeitos que produzem sua organização na
esfera da política de saúde. Dentro destes conteúdos foram extraídos os
sentidos através dos procedimentos orientadores da análise do conteúdo dos
documentos examinados. Estes conduziram a investigação para o
apontamento dos sentidos dos discursos dos atores.
O desenvolvimento da metodologia de Estudo de Caso conduziu a
investigação para procura de sentidos éticos nas falas dos sujeitos. Os sujeitos
coletivos que constituem hoje o setor saúde são os prestadores de serviços
públicos e privados, os trabalhadores de saúde e os usuários. Ao caracterizar
os processos participativos da população emerge a importância destes sujeitos
na configuração da história da saúde e no contexto do SUS local.
As categorias garimpadas são compreensões do conjunto de
informações colhidas que evidenciam elementos básicos para unitarização
28
.
As pautas dos relatórios das micro-conferências serviram para focalizar
os elementos com o sentido ético do objeto de estudo para registrar a
28
Unitarização são os elementos específicos que vem de encontro ao objeto de estudo.
53
emergência de categorias de análise na originalidade em que foram
produzidos.
Estas pautas agrupadas em um texto são trazidas com suas categorias
delimitadas a priori pelos sujeitos do processo de pesquisa. A fase
subseqüente, a estratégia de análise textual, evidencia-se as categorias
emergentes
29
de acordo com os níveis representação dos sujeitos e das
enunciações dos seus discursos. Derivam deste processo os constructos
30
apresentados nos itens: direção ética discursiva dos representantes das
esferas de governo; agrupamento de pautas das comunidades de usuários e a
direção ético política dos trabalhadores sociais.
A analise de conteúdo como uma técnica de levantamento de dados e
informações deste Estudo do Caso buscou no contexto histórico e nas
informações disponíveis os subsídios para inferir algumas categorias
emergentes no material escrito coletado e nas falas dos sujeitos.
Visto de outro modo à estratégia de análise de conteúdo (BARDIN,
1997) dos discursos dos atores é o instrumento para indicar a subjetividade
ética que se manifesta naturalmente, sem escolhas e a aplicação dos
conteúdos expressos nas falas nas suas freqüências nas pautas. Portanto, o
objeto de estudo é a palavra em amplos processos de debate com a população
e seus rebatimentos na política pública de saúde na esfera municipal.
As conferências municipais realizadas anteriormente trouxeram aportes
para organização e motivou à realização da VII Conferência Municipal de
Saúde que foi gravada e feita a transcrição da fita de vídeo dos
pronunciamentos. Os mecanismos de controle social, o Conselho e a
Conferência Municipal de Saúde são analisados através dos documentos
elaborados em conjunto pelos participantes dessas instâncias, nos registros de
campo nas microconferências, grupos de discussão e plenárias, nesta de ida e
vinda os dados agrupados são um esforço compreensivo, no sentido de
superação das situações evidentes para o encontro do significativo.
3.1 A DIREÇÃO ÉTICA DISCURSIVA DOS REPRESENTANTES DAS
ESFERAS DE GOVERNO
29
Categorias emergentes são compreensões de ajustamento entre os sujeitos, o objeto e incursões
teóricas.
30
Constructos: construção teórica que busca representar o significado teórico de uma proposição.
54
Nesta análise pretende-se valorizar os sentidos éticos das falas das três
esferas de governo através de seus representantes ao manifestaram-se na
abertura da VII Conferência Municipal de Saúde de Santa Rosa, na sessão de
abertura no Centro Cívico Municipal.
A emergência das categorias de análise na perspectiva da ética é
extraída tal como emergem nos discursos dos sujeitos procurando a dimensão
da participação e da responsabilidade social. Percebeu-se que a alteridade
interpela os sujeitos na política social para a garantia dos direitos dos outros.
Evidencia-se isto na exposição dos argumentos dos representares de governo
nas esferas Federal, Estadual e Municipal, que manifestam a materialização de
suas ações para a comunidade representada durante a VII Conferência
Municipal de Saúde.
Os sujeitos representantes das esferas de governo foram consultados
pessoalmente sobre a utilização de parte de suas falas para fins desta tese, os
mesmos referendaram sua concordância e consentimento. Em data anterior ao
evento foi enviado um ofício solicitando o consentimento para a pesquisa e o
protocolo da pesquisa foi aprovado pela assembléia presente a reunião.
Porém, é pertinente considerar que os documentos oriundos da
exposição e do debate o de interesse social relevante e foram explicitados
na plenária da VII Conferência Municipal de Santa Rosa que é uma plenária
aberta para toda população realizada no Centro Cívico Municipal. Documentos
estes que tem o domínio público ao serem divulgados na mídia local.
O texto passa a apresentar os achados da pesquisa num constructo
31
destacando as categorias emergentes. A primeira categoria emergente a se
destacar é a alteridade
20
sob o aspecto de responsabilidade com o outro. Ela
não é abstrata e se manifesta no gesto e na palavra dita. Portanto, reflete-se no
pronunciamento a seguir do Representante do Executivo: E assim vamos
todos juntos de forma inteligente, de forma solidária ver de que forma podemos
aproveitar o dinheiro que temos para fazer a melhor saúde para todos.
Obrigado”. O representante ao saudar a platéia da VII Conferência faz um
31
Constructo é uma construção variável que busca representar o significado teórico de uma proposição.
20
Alteridade é o sentido humano da ação pelo outro, que é uma expressão da minha responsabilidade pela
sua existência.
55
convite para utilização de maneira responsável e solidária utilizar o recurso
público.
O diálogo
21
segunda categoria emergente, o componente essencial da
relação entre os sujeitos. É através dele que se operam as transformações das
posições e contraposições dentro do espectro da cidadania e inicia-se no
reconhecimento das partes que interagem no cenário como considerou o
mesmo Representante do Executivo ao dizer:
Bom dia senhores e senhoras, amigos aqui presentes saúdo com
alegria o nosso ilustre coordenador, presidente desta VII Conferência
da Saúde de Santa Rosa que certamente vai permitir que todos aqui
gestores e população possam dialogar para cuidar dos melhores
caminhos da saúde de nossa gente.
O diálogo conforme a colocação do representante permite encontrar os
melhores caminhos para promover a saúde da população. Mesmo que o
diálogo seja estabelecido através das contraposições ele contém as
possibilidades de superação da realidade concreta conforme pronunciou ainda
o Representante do Executivo Municipal:
Saudar o Joel Faccin presidente da FUMSSAR e juntamente com o
presidente do conselho Harry tem tido um diálogo extremamente
árduo, feroz e competente como representante da prefeitura tem tido
uma interligação muito grande com o conselho e com as instituições
tais como hospital ABOSCO e VIDA E SAÚDE, não adianta
precisamos um do outro para ser competentes no que fazemos.
A caracterização do diálogo nas práticas cotidianas da política pública
interliga os diversos atores mesmo que seja estabelecido em posições
contrárias entre governo, prestadores de serviços e representantes dos
usuários, ele precisa ser firme e competente. Deste embate de posições
decorre a categoria participação
22
que interliga os níveis hierárquicos de
21
Diálogo é a expressão livre da minha preocupação com o outro, com os demais que leva a ação entre
nós.
22
Participação para efeitos deste texto é controle e gestão das ações de saúde.
56
representações em diversos momentos. Ela foi referenciada pelos atores desde
o momento da abertura da VII Conferência Municipal através da fala dos
representantes. Destacou-se a seguir as falas tanto do usuário e quanto do
gestor Estadual a valorização da participação para a continuidade do sistema
de saúde e no patamar de participação popular em que ela aconteceu como
destacou o Representante dos Usuários:
O município de Santa Rosa tem optado por realizar as Conferências
Municipais de Saúde a cada dois anos. As conferências são
instâncias com a representação dos vários segmentos sociais, para
avaliar e propor as diretrizes de formulação da política de saúde nas
três esferas de governo: o Federal, o Estadual e o Municipal. É por
meio das conferências que a sociedade tem a oportunidade de
discutir e apontar problemas de saúde cruciais a serem resolvidos,
bem como políticas a serem implementadas. As decisões das
conferências devem orientar a gestão nas suas ações e servir como
referência para elaboração dos planos de saúde. Apresentamos
nossos cumprimentos e cumprimentos do Presidente da VII
Conferência Municipal de Saúde.
Em outras palavras reafirma a expressiva participação popular
23
, o
Representante do Executivo Estadual:
Santa Rosa está fazendo, sem favor nenhum, o maior evento da
saúde, vocês podem achar que eu estou exagerando, podem achar
que estão acostumados a eleger um representante no bairro e na vila,
mas não existe nenhum município no Brasil, um fato que conheço
com a representatividade que tem uma Conferência Municipal como
tem em Santa Rosa, mais de 500 delegados eleitos,
proporcionalmente o maior número a participar numa conferência em
todo país, por isso esse evento tem uma responsabilidade enorme
reforçar rumos e dar novas alternativas de saúde para Santa Rosa e
continuar sendo um modelo de saúde pública para o Rio Grande do
Sul e para o Brasil.
O modelo de saúde de Santa Rosa desencadeou ao longo dos anos a
mobilização dos usuários. Observou-se que esta participação vem permitindo a
23
Participação popular para efeitos deste texto é o grande número de representantes comparado ao
número de habitantes.
57
continuidade do processo histórico da saúde mantendo-se os fóruns de
expressão e reafirmando o controle social.
A seguir é citada a representação do Alto da Timbaúva porque se fez
presente não somente através dos delegados, mas com pessoas da
comunidade levando suas reivindicações escritas em cartazes, o representante
do Executivo Municipal “[...] Nós temos uma representação importante do Alto
da Timbaúva e de outros bairros, temos que decidir como gastar o dinheiro".
Ainda sobre a participação outro representante ressalta o número de
delegados que reuniu a VII Conferência Municipal e a importância para a
democratização do SUS na mensagem do Representante da Secretaria de
Estado:
Fico muito feliz em estar aqui num momento em que se discute a
saúde pública do nosso município com o tema Desospitalização num
SUS com 17 anos. Então o SUS que vem crescendo e a nossa
responsabilidade de melhorar cada vez mais nosso sistema na nossa
Santa Rosa, região e estado. Quando eu dizia que é muito importante
para o Brasil esta conferência porque se reúne em Santa Rosa o
maior número de delegados duma conferência municipal por numero
de habitantes no país é a única.
A participação possibilita a busca da melhoria da demanda dos serviços
e a qualidade dos mesmos na política de saúde, confirma o depoimento do
Representante do Executivo Municipal: “E dizer que é bom pra gente ouvir que
Santa Rosa faz muitas coisas boas, é bom ouvir que nós sejamos o município,
que melhor está fazendo, digamos em termos de oxigenação da participação
das pessoas nas decisões políticas de Santa Rosa”.
A democracia
24
na dimensão que foi promulgada é um desafio que se
impõe às novas gestões administrativas municipais para manutenção
governabilidade na política social. Ela interfere decisivamente sobre as
decisões políticas e nas ações dos atores envolvidos.
Sobre o desenvolvimento da democracia, Dagnino (2002, p. 333)
considera um processo que na realidade encontra-se em exercício relaciona a
um processo longo e em construção quando refere: “Na longa e inacabada
24
Democracia participação da população nos processos de tomada de decisão política.
58
transição para democracia”. Esta ênfase da autora é oportuna, pois se
reconhece o longo percurso ainda ser percorrido para que se efetive em todos
os níveis a democracia. Ainda persistem na gestão pública tendências de
ênfase na centralização administrativa e burocrática, em detrimento das
instâncias democráticas e deliberativas. Diante do controle social, cada
administração municipal se depara com certo mal estar geral e dificuldades
para reprogramação de atividades com controle social principalmente em
relação aos compromissos dos programas partidários assumidos nos
palanques eleitorais. Além disto, a execução orçamentária fiscalizada tende a
conduzir as demandas em uma direção de poder partilhado e questiona as
suas ações. Estes embates são constantes na esfera municipal mobilizando
lutas e disputas internas no Conselho Municipal de Saúde para o atendimento
das demandas da política pública de saúde.
A Conferência Municipal possibilita o exercício da democratização isto é
expresso pelo Representante da Câmara de Deputados Federal:
Fazer aqui o nosso registro, homenagear a Conferência, fazer
exatamente aquele processo o processo democrático a partir da
Constituição de 1988. Sistema Único de Saúde a partir de nós
construirmos o processo democrático nas conferências no Brasil, nós
queremos que cada vez mais a sociedade seja cobradora,
fiscalizadora, atuante e participante desse processo de
democratização, universalizando o atendimento da saúde, ao
conjunto de homens e mulheres do nosso país.
O exercício do processo democrático que a CMS viabilizou é
fundamental para uma política social respaldada pela população e para a
concretização do princípio da universalidade.
O controle social
25
decorrente do processo de cidadania possui na
esfera blica os runs constitucionais (Conferência e Conselho Municipal),
estes têm contribuído para a continuidade do SUS, a fala do Representante do
Executivo do Estado ratificou: “Eu quero dar os parabéns aos amigos e as
amigas. Graças ao controle social ao CMS e as conferências de dois em dois
25
Controle social é o acompanhamento da política social através de representantes da população.
59
anos que Santa Rosa é o que é na área da saúde pública. O fato é que é
graças a vocês que as políticas públicas em Santa Rosa tem continuidade” .
A gestão das políticas sociais frente ao controle social demonstrou que a
descentralização e participação apresentaram limitações pela pluralidade de
interesses representados em todos os níveis de hierarquização. O processo de
consolidação operacional da política de saúde nacional e a democratização
não têm garantido por si novos avanços no sistema como um todo, pois
existe a destinação de recursos a programas governamentais centralizados,
com orçamentos específicos não alinhados as necessidades dos pequenos e
médios municípios, como se podem verificar no decorrer da fala do
Representante da Esfera Federal:
O Brasil Sorridente, que é outro programa de 5.965 novas equipe de
saúde bucal aspecto integral. SAMU atendimento de primeiro
socorros, 910 ambulâncias, 15 estados, 186 municípios, 160 milhões
de pessoas. Beneficiadas. O acréscimo de pessoas nas UTIS em
2.260 leitos, 20% de aumento. Farmácia Popular, no país 39
funcionam, oportunizando remédios a um custo muito baixo ou
gratuito a população. Construção, talvez concluída em Santa Rosa,
no final do ano, uma vez a mão do governo federal, a custo
repassado de R$ 50.000,00.
Quanto ao financiamento
26
da política de saúde os municípios contam
com um piso básico com poucos reajustes, e outros recursos financeiros são
pré-determinados, em detrimento da sobrevivência dos municípios e das
obrigações de folha de pagamento e outras rubricas necessárias para
subsistência dos padrões de atendimento instalados, caracterizando neste
ponto uma contradição no planejamento das ações das políticas sociais.
Os recursos alocados das esferas de governos também não têm
conexão com os planos nos diversos níveis hierárquicos e, estes com as novas
ações a serem implantadas nas consultas da população formando uma
engrenagem desconexa. Isto remonta a novos espaços de lutas para a
universalização e hierarquização das ações e recursos a nível nacional, estas
dificuldades constam no depoimento do Gestor Municipal: “Quando nós
assumimos. Nós, que somos governo, não somos Joel, somos gestores, quer
26
Financiamento é o suporte econômico da política social nos diversos níveis.
60
dizer o município é o gestor dos recursos. um recurso do Ministério da
Saúde, um recurso que vem do Estado através da Secretaria, o município
tem que por a sua parte”. (Representante Executivo Municipal).
Quanto ao poder de deliberação
27
do controle social emergiu como uma
categoria essencial para garantir atendimento das demandas e melhorias das
ações preventivas e consequentemente melhoria dos índices de saúde. Estes
índices verificados no Boletim Epidemiológico
28
foram conquistados em Santa
Rosa. Houve esta referência na fala do gestor municipal: “[...] conquistamos
índices de saúde servindo de exemplo para todo o Estado. O que leva hoje a
todos os prefeitos que sucederam a mim, ao prefeito que sucedeu ao Júlio e se
reelegeu, de manter o programa funcionando e respeitar esta vontade da
população”.
Essas relações de poder requerem vigilância constante, pois apesar de
serem uma questão de interesse público e figurarem como objeto da lei, não
significa que todos tenham rompido com a visão tradicional, impregnada de
patrimonialismo, tutela, benemerência, assistencialismo, voluntarismo,
filantropia entre outras visões que se reproduzem no embate das intervenções
nos fóruns de participação dos usuários do SUS.
As instâncias de participação e controle social são necessárias para o
condicionamento das demandas sociais, pois os atores sociais tanto no campo
de decisões quanto na gerência das novas demandas tem seu papel
estabelecido nas políticas sociais.
A seguir é reafirmado o poder de deliberação e expressão da vontade
dos delegados na conferência municipal na saudação do gestor: “Saudar as
senhoras e os senhores aqui presentes, os delegados, na verdade s aqui
vamos participar, o Harry vai coordenar, mas os delegados é que terão a
palavra final na hora de levantar o crachá”. (Representante do Executivo
Municipal).
A finalidade da criação dos conselhos de acompanhamento das políticas
públicas foi de atribuir à sociedade a responsabilidade de acompanhar e
verificar as ações governamentais na execução de suas políticas, tornando
27
Deliberações são decisões da plenária do CMS ou da Conferência Municipal.
28
O primeiro Boletim Epidemiológico foi distribuído para população durante a VII Conferência e
encontra-se em Anexo C
.
61
transparentes todos os seus atos e resultados. A representação dos delegados
para votar e garantir os direitos dos cidadãos nas políticas públicas deve ser
encarado segundo o autor diz ”Se em nosso país, a conquista legal afirma o
direito do cidadão, o princípio da responsabilidade também cria para o cidadão
o dever ético de participar na tomada de decisões”. (CIPEC, 2003, p. 49)
A política de saúde
29
outra uma categoria utilizada, mesmo que, com
limitações no seu resultado privilegiou o espaço público, porque dotando a
sociedade de mecanismos ágeis e atuantes com a representação de
segmentos da comunidade e com a composição plural na participação dos
sujeitos nas deliberações, ela instaurou um processo de diálogo entre os
atores. Em todos os níveis promoveu a melhoria conforme descrito nos
parágrafos descritos abaixo pelo Representante Executivo Municipal:
É bom ouvir que vamos ter um prêmio me disse ontem o Secretário e
o Paulino confirmou que o município que melhores índices m
tendo. Somos a microrregião que menores índices a mortalidade
infantil está conseguindo na área da saúde, isso é um grande troféu,
isso é um grande troféu através do qual a gente pudesse celebrar
essas conquistas importantes a mercê de políticas públicas, de
recursos que se investe para a qualidade da saúde do nosso pessoal.
Na seqüência desta mesma fala, o Representante do Executivo
Municipal refere os bons índices de saúde com a competência dos
trabalhadores:
[...] digamos nos postos de saúde, nossos médicos e enfermeiras, da
competência dos nossos hospitais, digamos assim, é uma coisa
importante para começo de conversa aqui na conferência para que a
gente da colônia, gente da vila, gente do interior, gente da cidade,
que possamos celebrar as coisas boas que temos tido.
Na avaliação da política municipal a valorização de programas de
prevenção para a comunidade, na viabilização da saúde e o papel dos agentes
29
Política Social ações de planejamento e execução para o atendimento das necessidades humanas.
62
comunitários de saúde, também foi lembrada pelo Representante da Esfera
Federal:
Agora, desospitalização, ter programas com a comunidade, para que
as pessoas como diz aqui: deixem à saúde entrar na sua casa.
Parabenizamos a todos. E parabenizar por este trabalho e por vocês,
Eu vejo aqui os Agentes de Saúde que é fundamental. Quero
parabenizar, aqui eu vejo muitos agentes de saúde. Todos nos somos
agentes de saúde, mas eu quero falar daquele que vão formalmente
todos os dias baterem na casa de vocês, para visitar, deixar
informações, dar orientação que nós precisamos.
A política de saúde municipal na interação com as demais regiões
proporciona a mudança de regras e permite reavaliar o SUS a nível estadual e
nacional, conforme exemplifica o depoimento do Representante da Esfera
Estadual:
É com base neste trabalho, e aqui quando nós discutíamos o piso de
atenção básica, foi nesse ambiente o Conselho Municipal de Santa
Rosa, com a participação dos técnicos, que conseguimos mudar uma
parte da legislação de aplicação de recursos no Brasil, que é o piso
de atenção básica. Nós não vamos esquecer este momento porque
saiu da discussão de técnicos da FUMSSAR que foi ouvido e
aprovado pelo CMS e discutido na ASEDISA e aceito em Brasília as
regras para mudar e melhor aplicar o piso de atenção básica no Brasil
todo. (Representante da Esfera Estadual).
A experiência local nos moldes do SUS proporciona o espelhamento e a
organização de outros municípios da região, isto é bem demarcado nesta fala
do Representante do Estadual: “Também gostaria de dizer a vocês que é muito
importante que essa Conferência tenha novas propostas, que Santa Rosa
continue dando exemplo, iluminando o caminho das políticas públicas de saúde
no Estado do Rio Grande do Sul”.
O caminho para inovar uma política municipal de saúde no texto dos
trabalhadores, recoloca na esfera pública o componente essencial que é a
parceria com os usuários na gestão do sistema. O SUS - Santa Rosa não
rompeu com qualquer paradigma no que se refere à atenção à saúde, tendo
apenas implantado uma concepção de política de saúde nos moldes
63
preconizados. Ela incorporou o novo referencial do modelo de gestão municipal
buscando vencer as práticas tradicionais, implantou mudanças necessárias à
execução da esfera pública isto foi sinalizado nos depoimentos extraídos na
Conferência Municipal e trazidos neste texto.
O agrupamento de pautas a seguir introduz o pensamento dos usuários
nas micro-conferências, preparatórias da Conferência Municipal. Nelas a
participação dos usuários demonstra o conhecimento da realidade local,
expressam as críticas, as expectativas e opiniões livremente.
3.2 O AGRUPAMENTO DE PAUTAS ORIGINÁRIAS DAS COMUNIDADES E
AS INCURSÕES TEÓRICAS POSSÍVEIS
A manifestação dos usuários no primeiro item sobre no exemplo do
Gráfico 01 - Saúde, Cidadania e Políticas Públicas que identifica uma
reivindicação na pauta de construção de banheiro externo para pacientes. Este
foi um assunto levantado por mais de três comunidades nas reuniões
preparatórias. E assim, este e os demais enunciados apresentados
sucessivamente formam unidades do estudo, relacionados pelo número maior
de votos das comunidades, este conjunto de dados permitiu a categorização do
agrupamento das pautas.
As categorias utilizadas foram as mesmas dos relatórios, portanto, as
categorias estabelecidas a priori, pelo senso comum dos participantes da
Comissão Organizadora da VII CMS (VII Conferência Municipal de Saúde). No
segundo momento constituíram-se categorias emergentes em relação ao
fenômeno pesquisado a ética dos atores.
Do contexto da palavra usuários foram retirados as categorias prévias
indicadas nos documentos elaborados consensualmente pelos partícipes das
micro-conferências e, na segunda etapa estão apresentadas as categorias
emergentes do discurso dos usuários da política de saúde. Quanto aos
trabalhadores e gestores a categorização foi registrada nos discursos e
64
palestras proferidas durante o evento da VII CMS transcritas posteriormente
pois foram gravadas em vídeo.
O Relatório de Pautas Preliminares foi a participação genuína dos
sujeitos, oferecida como gratuidade na busca do direito à palavra. A palavra,
acima das obras e antes de ser interpretação, é interpelação, invocação, exige
a pessoa, pede resposta e assim - no face a face abre a dimensão da
responsabilidade ao invés de simplesmente dar satisfação.
A teoria Levinasiana supõe que na relação eu - Outro que instaura a
dimensão ética e faz a história: “A realidade os seres é isto. Mas a palavra
ser tem uma forma verbal que deveria significar, em princípio, um fazer ou uma
história” (2005, p. 268). A presença ética do ser que produz uma ação se
concretiza na palavra e faz a história na sua materialização.
O aspecto da fala dos sujeitos como luta para adquirir o direito à saúde é
questão que interpela o ser humano na prática da justiça, representados nos
mecanismos de controle social da política de saúde local, no texto representou
a palavra disposta em agrupamentos de pautas dos usuários a partir de suas
comunidades. No gráfico estas opiniões foram pautas propostas:
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
a - Colocação de um telefone de fácil acesso aos usuários que os mesmos entrem em contato com seus familiares
b - Contratação de um segurança para proteger as pessoas durante o horário de atendimento do posto de saúde
c - Banheiro externo para os pacientes
Gráfico 01 - Saúde, Cidadania e Políticas Públicas
a
b
c
d
e
f
g
h
i
j
k
l
m
n
o
p
65
d - Implantar lixeiras externas próximo aos Postos de Saúde.
e - Melhores estradas de acesso aos Postos de Saúde do interior
f - Formar uma comissão para passar durante a noite e tomar conhecimento do que acontece nos postos
g - FUMSSAR disponibilizar veículos para buscar doadores de sangue, ou prestar atendimento.
h - Construir calçamento em frente ao Posto de Saúde da Manchinha.
I - Urnas de opinião pública nos Postos de Saúde
j - Retirar pessoas embriagadas, que promovem desordem.
k - Regularização das áreas dos postos de saúde
l - Punir as pessoas que são atendidas e vem de outros municípios e mentem endereço
m - Deixar banheiro aberto durante a noite
n - Calçamento em frente ao posto de saúde
o - Mais esclarecimento para população sobre serviços do SUS
p - Terminar com o comércio de fichas no Posto
A cidadania na política de saúde nas falas dos usuários, mesmo
expressa em linguagem simples pela comunidade trouxe a consciência da
amplitude da promoção da saúde. A letra c, por exemplo, indica a indignidade
do fato de não haver banheiro externo para pacientes, traz a alteridade
objetivamente, pois houve a negação da dignidade do outro, uma imoralidade
para outrem. Estas propostas foram divulgadas na imprensa e contra-se neste
trabalho em Anexo (GAZETA REGIONAL, 28 set. 2005, p. 1). No seguimento
houve a indicação de segurança, a necessidade de transporte e a colocação de
urnas de opinião pública. Todas as propostas apresentaram preocupações com
os demais e com a política de saúde, mais especificamente percebeu-se na
letra I que indicou a necessidade do um meio de comunicação dos usuários
com os postos de saúde. Esta é uma a exigência do direito à palavra, do
exercício da alteridade sem constrangimento. Na livre opinião, sem
impedimentos, sem submissão a busca do espaço quer objetivar-se no
cotidiano.
Estas interpelações éticas reportaram ao texto da Declaração Universal
de Direitos Humanos no primeiro artigo que diz: “Todos os homens nascem
livres e iguais em dignidade. São dotados de razão e consciência e devem agir
em relação aos outros com espírito de fraternidade”, conforme a Declaração
Universal de Direitos Humanos na Assembléia Geral das Nações. (PARIS, 10
out. 1948)
No embate nos grupos com demais delegados participantes, e na
votação das propostas permaneceram no Relatório Final da VII CMS estes
itens referidos acima foram uma avaliação conectada a realidade local.
66
Sobre o controle social uma categoria que foi destacada a priori nos
relatórios preliminares e finais trouxe a opinião dos usuários condensada em
dois itens, que estão destacados no gráfico que se segue:
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
a - Palestras sobre Alcoolismo e Drogas nos Postos
b - Ministrar Cursos ou Palestras para funcionários dos Postos
Nas ações relativas ao controle social, constatou-se a solicitação de
palestras de combate ao álcool e as drogas para usuários e para funcionários
palestras ou cursos de capacitação para o trabalho, estes temas são
fragilidades pelos agravos no convívio familiar e na própria saúde,
principalmente, na região de colonização alemã onde predomina o uso de
bebidas alcoólicas nas festas populares. O alcoolismo e a drogadição atingem
índices preocupantes com dimensões familiares ligadas à violência das
condutas pessoais e perdas preocupantes no convívio comunitário. São
agravos e riscos para a saúde que a comunidade pode combater. Isto ficou
implícito na preocupação com pedido de palestras de prevenção e capacitação
dos funcionários para o enfrentamento destes problemas.
No Relatório final da VII CMS a questão do controle social passa a ter
outros componentes como à criação de Conselhos Gestores, continuidade de
encontros periódicos entre a equipe de saúde do posto e a comunidade que
exige relatórios financeiros mensais dos hospitais no CMS. A prática de
aprovação do relatório financeiro mensal da FUMSSAR no CMS - Conselho
Municipal de Saúde permite na mesma medida exigir que os hospitais
Gráfico 02 - Controle Social
a
b
67
prestadores de serviços também disponham os relatórios financeiros para o
controle social.
O Financiamento da Saúde com pautas demonstradas no Gráfico 03,
traz principalmente a opinião dos usuários remetida à esfera Estatal.
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
a - Exigir o cumprimento da lei de aplicação da CPMF/RS
b - Buscar mais recursos junto ao Estado e União
c - Contribuição financeira de outros municípios atendidos aqui pelo SUS
A comunidade de sujeitos expressa neste ponto a exigência da
aplicação do depósito compulsório sobre operações financeiras no Estado,
para gerar mais recursos para a manutenção financeira do sistema de saúde.
Tanto na esfera Estadual quanto na esfera Federal o ressarcimento dos
atendimentos prestados a outros municípios, não organizados quanto ao
sistema de gestão municipal de saúde, recai no município de referência,
causando conseqüente diminuição nos recursos para o atendimento dos
próprios usuários.
Esta categoria de pautas é extensa na VII CMS ela desdobra-se
inserindo a garantia de manutenção e investimentos para as Unidades Básicas
de Saúde e a Garantia da Gestão Plena com incremento de recursos
financeiros para expansão dos serviços aos usuários. Sob diversas formas o
texto final, na discussão com todos os demais sujeitos reafirma, coletivamente,
e, advoga a continuidade da política de saúde e os direitos sociais adquiridos
na participação.
O Gráfico 04 - Gestão e Organização dos Serviços expõem proposições
de sugestões que se referem às necessidades, melhorias e urgências, desde a
Gráfico 03 - Financiamento da Saúde
a
b
c
68
organização de serviços até a solicitação recursos humanos e categorias
profissionais.
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
Gráfico 04 - Gestão e Organização dos Serviços de Saúde
a
b
c
d
e
f
g
h
i
j
k
l
m
n
o
p
q
r
s
t
u
v
x
y
w
z
a2
b2
c2
d2
e2
f2
g2
h2
i2
j2
k2
l2
m2
n2
o2
p2
q2
r2
s2
t2
u2
v2
x2
y2
w2
z2
a3
b3
c3
d3
e3
f3
g3
h3
i3
j3
k3
l3
m3
n3
o3
p3
q3
r3
s3
t3
u3
v3
x3
y3
w3
z3
a4
b4
c4
d4
69
a - Deixar fichas médicas disponíveis para moradores da Vila Santa Inês
b - Contratar mais uma enfermeira para atende no posto
c - Fazer a contratação de uma agente de saúde para o distrito
d - Aumentar o numero de fichas diárias para consultas médicas
e - Plantão noturno
f - Ter atendimento de pediatra no posto
g - Fazer ampliação da estrutura do posto
h - Organização no agendamento de fichas
i - Construir um abrigo no posto para usuários
j - Mais agilidade no encaminhamento das cirurgias eletivas
k - Agilizar o atendimento
L - Carro de emergência para atendimentos
m - Organizar as fichas
n - Transformar o posto da Balneária em distrito sanitário
o - Facilitar o recebimento de exames e agendamento de consultas
p - Maior numero de exames
q - Agenda um dia somente para entregar exames
r - Agilizar e facilitar entrega de exames
s - Atendimento dos médicos deve ser de no mínimo 20 fichas
t - Melhorar o atendimento
u - Mais auxiliar para o atendimento
v - Estudante não precisar tirar ficha para dentista
x - Fichas para dentista um dia para Vila Ibanês
y - Reforma nas dependências do posto
w - Médico uma vez por semana no Rincão dos Rocha
z - Facilitar a marcação de cirurgia
a2 - Criar sistema de marcação de fichas através do 0800
b2 - Conclusão do Posto
c2 - Agendar Dentista e Médico uma vez por semana
d2 - Garantir fichas na vila uma vez por semana
e2 - Mais rapidez nas cirurgias e consultas por especialistas
f2 - Aumentar o tamanho da sala de espera
g2 - Ceder fichas somente para familiares
h2 - Agendamento de dentista para o Interior
i2 - Aumentar o Posto de Saúde
j2 - Designar mais pessoas para trabalhar na recepção
k2 - Marcação de especialistas nos postos
L2 - Contratar mais serviços especializados
m2 - Reservar algumas fichas para outras comunidades
n2 - Reservar algumas fichas para idosos
o2 - Não tirar ficha para mostrar os exames
p2 - Maior numero de fichas para dentista no interior
q2 - Regionalizar as fichas
r2 - Construção de Posto de Saúde
s2 - Tirar ficha para mostrar exames
t2 - Contratação de mais serviços eletivos mensais
u2 - Construir posto avançado no interior
v2 - Reservar dia para dentista
x2 - Liberar Laqueaduras
y2 - Maior número de visitas dos agentes de saúde
w2 - Cadeiras de rodas no posto
z2 - Mais nebulizadores
a3 - Alterar o horário para tirar fichas
b3 - Aceitar baixas as baixas dos médicos dos postos
c3 - Rodízio dos funcionários nos Postos
d3 - Organização no posto de saúde
e3 - Garantir fichas odontológicas pelo menos uma vez por mês
f3 - Troca do dentista doutor x o qual não cumpre horário e presta pouca qualidade no serviço
g3 - Permanência do (a) médico (a)
h3 - Cobertura para proteger as pessoas em dias de chuva
i3 - Cumprimento do horário de trabalho por parte da equipe do Posto
j3 - Construção de dois sub -postos
k3 - Papel higiênico no posto
L3 - Mais campanhas para doação de sangue
m3 - Não acumular funções dos agentes de saúde
n3 - Tratamento de canal e atendimento diariamente na Candeia Baixa
o3 - Médico mais um dia por semana em Candeia Alta e Tarumã
p3 - Médico permanente em candeia baixa
q3 - Agilizar consultas
r3 - Aumentar o horário de atendimento do Posto
s3 - Autorização para os agentes medirem pressão e outros atendimentos
t3 - Autonomia para gentes de saúde marcar consulta e fornecer medicamento no interior
u3 - Marcar reconsulta com especialista depois de 3 meses
v3 - Permanência da médica na linha Boa Vista
x3 - Atendimento de dentista diariamente na linha Boa Vista
70
y3 - Buscar enfermeira quando for necessário atendimento
w3 - Aumentar o número de especialistas para diminuir a fila
z3 - Mudar o sistema de retirar remédios na FUNSSAR
a4 - Pediatra com mais freqüência na Bomba D'água
b4 - Reunião da equipe de saúde não deve durar a tarde toda, 1 hora por semana deve ser suficiente.
c4 - Atualização no cartão SUS
d4 - Colocar fotos nos cartões do SUS
O maior percentual de reivindicação foi o aumento de fichas para o
atendimento médico, juntamente com o segundo item O2 explicita o fato do
retorno na fila para nova consulta e mostrar exames. Este debate foi instaurado
recentemente no sistema de saúde local, cuja polêmica e justificativa resultou
uma Lei Municipal nº. 4.123, de 19 de dezembro de 2005, que dispõe sobre
regras a serem implementadas na FUNSSAR relativas ao atendimento nos
postos de saúde do município.
Porém, permaneceu o dispositivo que garante a cada comunidade a
autonomia de organizar o seu sistema próprio de distribuição de fichas nas
unidades de saúde de Santa Rosa. Portanto, a entrega de exames é
considerada uma consulta e não reconsulta, pois, este debate constituiu uma
defesa da qualidade dos serviços, em conseqüência disto, foi viabilizando
maior facilidade para o acesso dos usuários.
As demais sugestões de gestão dos serviços alternaram entre a
organização de serviços, infra-estrutura básica e contratação e demissão de
pessoal, avaliação dos usuários sobre a prestação de serviços de alguns
profissionais.
Esta prática que escuta as particularidades e interesses da população
estimula a responsabilidade de pensar a saúde, privilegiando o sentido da
responsabilidade ética e referenda a alteridade. Também, o princípio da
democratização da saúde e permite neste movimento de recriação de
alternativas para promoção da saúde, através da estratégia de conhecimento e
controle para a promoção da saúde na esfera municipal.
Houve também uma antecipação da próxima categoria sobre recursos
humanos com especificação de quantidades e tipos de atividades profissionais
necessários tanto no interior quanto na sede do município, revelando a
dinâmica da relação do trabalho que o campo da saúde traz. Acredita-se que
não existe trabalho sem saúde assim como não existe saúde sem trabalho, não
é um campo neutro, é uma relação com o outro e consigo em espaços de
71
deliberações. Sobre a implicação deste espaço coletivo dos sujeitos BARROS;
CARVALHO (2006, p.173) referenda: “No espaço onde os sujeitos deliberam -
no lócus da atividade laboral o processo de produção do trabalho vem a ser,
também, o próprio processo de produção da saúde”. Os dois interagem no
cotidiano dos sujeitos trabalhadores e beneficiários do campo da saúde.
Neste espaço, a gestão do trabalho não é uma prerrogativa dos
administradores e ou gerentes, ele é um processo de colaboração, de
confiança e solidariedade coletiva. No movimento entre nós, eu e o outro
revelam, segundo os autores citados no parágrafo anterior ocorre uma
evocação: “a alteridade evocativa nas relações sociais de produção. Neste
trabalho o trabalho ocupa lugar privilegiado na luta contra a doença e o
patológico” (2006, p. 174). A palavra expressa no face a face antes de ser
interpretação é interpelação, é uma invocação, exige da pessoa, pede resposta
abrindo a dimensão da responsabilidade.
Na redação do Relatório Final da VII CMS, esta categoria especialmente
a organização do sistema apresentou outras ingerências e subdivisões quanto
a: atendimento hospitalar, postos de saúde, sistema de administração e apoio,
sistema de referência e contra referência, qualificação dos profissionais na
saúde.
A comunidade desta forma reforçou sua posição e interesse no
desenvolvimento de estratégias para integrar os avanços na política de saúde
municipal, oferecendo sua contribuição para a promoção da saúde em todos os
níveis e para futuras ações. Reafirmou também a responsabilidade de infra-
estrutura para promoção da saúde e no plano coletivo a contribuição para a
qualidade de vida no processo saúde – doença – cuidados.
Gráfico 05 - Recursos Humanos para Saúde
a
c
b
e
f
g
h
72
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
a - Substituir o médico na sua falta no dia
b - Instruir agentes de saúde para serem mais eficientes
c - Aumentar especialidades de alta e média complexidade
d - Contratação de um médico clinica geral
e - Contratação de um dentista
f - Contratação de uma assistente social interior
g - Substituir médica
h - Desenvolver trabalhos de humanização
Os dados apresentados no Gráfico 05 refletiram a percepção dos
usuários sobre os recursos humanos necessários no sistema de saúde local.
Nos enunciados acima descritos persistiu o embate da oferta dos
serviços relacionado com as demandas, da eficiência dos profissionais e da
eficácia de seus serviços para complementação da atenção à saúde para os
usuários. As mudanças propostas foram relacionadas à prática e ao
aperfeiçoamento tanto no sentido de valorização profissional (um exemplo claro
seria a contratação de uma Assistente Social para área da saúde do interior,
médico, dentista e substituições) quanto à capacitação dos agentes de saúde.
Esta perspectiva de partícipes da organização do processo de trabalho,
trabalho elaborado coletivamente na saúde em conferências municipais,
incorporou a possibilidade de participação direta no exercício do poder político
e confirmou a participação popular como elemento essencial da democracia,
aumentando o poder reivindicatório por seus direitos sociais.
A categoria Atenção Integral à Saúde a seguir visualizada no Gráfico 06
inclui, também, outros aspectos elementares do sistema de saúde de Santa
Rosa que necessitam ser garantidos na promoção da saúde.
Gráfico
0
6
-
Atenção Integral à Saúde
a
b
c
d
e
f
g
h
73
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
a - Não deixar faltar medicamentos para cadastrados
b - Aumentar o numero de agentes de saúde (e substituir a agente que está de atestado a + ou - 4 anos)
c - substituir gradativamente medicamentos industrializados por fitoterápicos
d - Realização de visitas domiciliares por parte médica
e - Garantir medicamento e quantidade para pessoas cadastradas
f - Controlar a distribuição de medicamentos contínuos
g - Aquisição de medicamentos genéricos pela FUMSSAR
h - Consultas de emergência no Posto
Os dois pontos principais categorizados em torno da atenção básica são:
garantia de medicamentos genéricos e aumento do número de agentes
comunitários de saúde, remetem ao princípio da integralidade da atenção aos
problemas de saúde e o equilíbrio entre necessidades de saúde e serviços.
A visita domiciliar é citada para complementação da atenção médica e
as consultas de emergência no próprio posto aparecem na busca da qualidade.
Para Maria Cecília Minayo citada pelos autores do Diagnóstico de Saúde do
Distrito Leste (2005, p. 73):
Considera-se qualidade de vida a partir dos parâmetros subjetivos e
objetivos, cujos referenciais são a satisfação das necessidades
básicas e das necessidades criadas pelo grau de desenvolvimento
econômico e social de determinada sociedade.
No Relatório Final da VII Conferência os diversos atores subdividem esta
categoria acrescentando a necessidade de uma política de medicamentos. O
amadurecimento das discussões nos grupos durante a VII CMS, tornou mais
complexas as pautas no sentido de buscar melhorias para a saúde não é
por uma questão de subsistência, mas de qualificação da existência e modo de
vida. A participação dos sujeitos nas situações concretas tornou-se um
compromisso ativo e responsável para com o outro, e, portanto, remete a
dimensão social e dimensão existencial ética.
Na continuidade as políticas ligadas ao saneamento, meio ambiente e
vigilância são complementares a atenção básica e estão dispostas no Gráfico
07 abaixo discriminado:
74
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
a - Água potável para toda comunidade
b - Retomar campanhas de conscientização sobre o lixo
c - Limpeza da sanga do Inácio
d - Melhoramento quanto ao saneamento básico
e - Recolhimento de lixo tóxico
f - Mais ações de vigilância sanitária
g - Melhoria na vigilância sanitária
Destacou-se o maior percentual na proposta de água potável para toda
comunidade. Esta requisição estendeu-se dentro dos princípios constitucionais
e acompanhou o conceito novo de saúde. Este novo conceito aponta para a
interface entre a saúde e o ambiente, e deve iniciar um novo olhar para a
sustentabilidade da vida no planeta a partir da saúde humana.
Em percentuais menores e em igual patamar os demais: limpeza da
sanga do Inácio; melhoramento do saneamento básico; campanhas de
conscientização sobre o lixo; recolhimento do lixo tóxico, mais ações e melhoria
da vigilância sanitária. Foram estas ações possíveis que ao serem expressas
demonstraram a compreensão da construção de práticas voltadas a defesas do
meio ambiente são também ações de promoção da saúde em sentido amplo.
Tanto urbanização entendida como o crescimento da população vivendo
nas cidades, quanto o aumento da população na zona rural em regiões de
produção de alimentos produziu desafios importantes a serem enfrentados,
pois têm impactos importantes na saúde humana. A falta de água potável foi a
principal preocupação dos usuários, é um direito fundamental a ser garantido
para todos.
Gráfico 07 - Políticas ligadas ao Saneamento, Meio Ambiente e Vigilância
a
b
c
d
e
f
g
75
A importância dos enunciados dos usuários na garantia dos direitos
complementares a qualidade de vida e saúde expressaram uma política de
saúde saudável e inclusiva porque é para todos. O pensar para o outro, é o
direito do homem, e também é a expressão da alteridade de fato.
Na qualidade do sistema de saúde, as próximas categorizações foram
relacionadas ações pontuais necessárias do cotidiano da saúde para
investimento no sentido de qualificação dos serviços.
Fonte: Pautas aprovadas nas Micro-Conferências da VII Conferência Municipal de Santa Rosa.
Agosto/2005.
Legenda:
a - Priorizar atendimento de idosos nos Postos
b - Melhor atendimento de emergência para acamados
c - Melhorar atendimento da agente de saúde
d - Melhor atendimento da dentista
e - Plantão atender qualquer idade (hospital reclama para prestar atendi meto)
f - Atendimento restrito ao plantão
g - Melhor atendimento no pronto socorro do H.V.S.;
h - Igualdade no atendimento dos pacientes do SUS e particulares por parte dos Hospitais e prestadores de serviço
i - Melhorar atendimento de alguns funcionários com curso de relações Humanas
j - Fornecer informações corretas sobre medicamentos
Destacou-se no Gráfico 08, o percentual que referiu a melhoria do
atendimento do Pronto Socorro de um hospital, o reconhecimento do serviço
deficitário foi apontado, com certeza uma fragilidade do sistema como um todo
a ser priorizado. Seguiram-se nas propostas a priorização da atenção para
idosos e acamados; cursos de relações humanas para alguns funcionários e
informações corretas sobre medicamentos.
Gráfico 08 - Qualidade no Sistema de Saúde
a
b
c
d
e
f
g
h
i
j
76
A busca da qualidade dos serviços de saúde pelos usuários nestes
termos foi identificada nas suas expectativas e preocupações, estas foram
impregnadas de alteridade e revelaram sujeitos comprometidos com seu
contexto de vida e seus valores. Da mesma forma a relação de direitos sociais
acompanhou o sentido da alteridade, em complementação do sentido ético
Lévinas (2005, p. 268) diz:
A essência formal dos direitos do homem, percebida a partir do lugar
excepcional do homem no determinismo do real, dando abertura
diretamente à vontade livre, recebe, assim, uma característica
concreta e um conteúdo. Nem sempre é fácil, na defesa dos direitos
do homem e este é um problema importante, mas prático
estabelecer uma ordem de urgência para estes direitos sociais
concretos.
As questões que os usuários trouxeram nos enunciados ordenados,
embora com os limites que a concretização destes encontra no cotidiano do
sistema de saúde, ao mesmo tempo, essas diversas abordagens expressam a
consciência e o poder das comunidades na definição de estratégias e decisões
prioritárias. Paulo Marchori Buss (2005, p. 27) citando a Carta de Ottawa (2005,
p. 33) diz:
A carta de Ottawa enfatiza que as ações comunitárias serão efetivas
se for garantida a participação popular na direção dos assuntos de
saúde, bem como o acesso total e contínuo à informação e às
oportunidades de aprendizagem nesta área é o conceito de
empowerment comunitário, ou seja, a aquisição de poder técnico e
consciência política em prol da saúde.
Na conclusão deste capítulo, é possível afirmar-se que a promoção da
saúde e as ações na tentativa de proteção do outro presente nas demandas
apresentadas, manifestaram a ética da alteridade, tanto no pedido de
construção de um abrigo para proteger as pessoas na chuva, quanto na água
potável para toda comunidade. São estes pensamentos particularidades na
política de saúde, tanto na forma de idéias objetivadas quanto nas críticas ou
sugestões, que no espaço temporal do mundo do outro que indicaram a
77
alteridade. Seja na preocupação com a proteção da Sanga do Inácio ou no
destino do lixo entre outras pautas, foi elevada a condição de situação dada
para enunciação de fala. Esta dimensão do outro, da unidade do ser humano e
da natureza permitiu a viabilização da construção da política blica em Santa
Rosa.
3.4 A DIREÇÃO ÉTICO - POLÍTICO PROFISSIONAL DO E OS DESAFIOS
PARA AMPLIAÇÃO DA ESFERA PÚBLICA
Os trabalhadores de saúde se fazem presentes compondo a Comissão
Organizadora nas conferências municipais, apresentam os resultados obtidos
nas suas ações profissionais e, nesta conferência, foram analisados os
indicadores de saúde, através do primeiro Boletim Epidemiológico impresso
para apreciação dos delegados. Também, habitualmente, participam de
comissões específicas e reuniões ordinárias do Conselho Municipal de Saúde
de Santa Rosa através da representação dos funcionários ou de categorias
profissionais.
A produção teórica dos trabalhadores é utilizada nos eventos, sendo que
ela construída no seu dia a dia profissional na interação com as demais
profissões e, decorre da inserção nos mecanismos de controle e avaliação dos
usuários. Estes sujeitos participam ativamente nas conferências, no conselho
municipal de saúde através de representações de classe, nas equipes
interdisciplinares e atuam na execução e no planejamento da política municipal
de saúde. A participação no conselho como representantes de categorias de
trabalhadores, é um meio para criar e desenvolver o sentimento de co-
responsabilidade. É através do sentimento de pertencer segundo Kisnnermann
(1977, p. 15) que “o homem passa de uma passividade receptiva e alienante a
uma atitude crítica que lhe permite, mediante o diálogo, aprofundar e interpretar
os seus problemas” este processo manifestou-se nas falas dos sujeitos nas
pautas desta tese.
A ética da alteridade surgiu como reflexão da responsabilidade dos
trabalhadores frente aos desafios dos profissionais no sentido de contribuir
78
para garantia de direitos sociais, transformando os aportes herdados de uma
ética individual para uma ética solidária. O agir ético dos sujeitos sociais
necessita do exercício da liberdade de todos os atores, inclusive os
profissionais, desde sua formação acadêmica até na sua vida profissional, para
que a inserção na saúde tenha uma visão humanista e comunitária.
Os saberes em torno do fazer coletivo são construções complexas que
desnudam as incertezas da prática social. A saúde operando no campo
estritamente das fragilidades e vulnerabilidades humanas requer submeter-se
ao crivo da cientificidade, além de encontrar os sentidos éticos de sua atenção
para não perder a perspectiva de humano-social. Neste sentido houve um
rigoroso processo de seleção no primeiro concurso público em 1996 na saúde
em Santa Rosa, com vistas a selecionar profissionais para todas equipes de
saúde houve a exigência teórica e de práticas no sentido da integralidade como
ponto de partida para promoção da saúde em sentido ampliado.
um imperativo de análise para o tema de promoção e o da produção
da saúde no sentido do estabelecimento de uma crítica e reorientação acerca
da obtenção dos ganhos para o sistema porque segundo Cosme Ordones
Carceller (1995, p. 21) é necessário analisar “o que se diz e o que se faz”.
Destas escolhas éticas e políticas, no processo de trabalho dos profissionais
decorrem a motivação e mobilização da sociedade civil e dos movimentos da
produção social para novos ordenamentos sociais. uma relação implícita no
cotidiano do profissional de saúde e esta implicação exige, também, um projeto
ético-político para a garantia nos direitos sociais.
As indagações sobre a formação ético profissional na perspectiva da
solidariedade e justiça beiram os discursos filosóficos contemporâneos e
revigoram o sentindo ético da alteridade.
A proposta desta abordagem sobre ética da alteridade nasceu na prática
como trabalhador social em meio ao cotidiano de atuação como assistente
social no setor saúde. A intervenção Serviço Social e dos demais profissionais
de saúde media a ação dos sujeitos, entre o objetivo e o subjetivo, procurando
o elo entre os acontecimentos do passado com o presente e os significados do
que se participou e se construiu com as pessoas. Este projeto no Serviço
79
Social explicita-se nos princípios Código de Ética Profissional do Assistente
Social o indicador da direção social da categoria profissional.
Assim, cabe ao Serviço Social articular-se com outros segmentos
juntamente com os usuários para a defesa e aprofundamento do Sistema Único
de Saúde, formulando estratégias para reforçar ou criar serviços que efetivem o
direito social à saúde. O assistente social acredita na organização e na
formação de grupos representativos dos sujeitos para alcançar a superação
dos conflitos, a melhoria da organização comunitária local e no planejamento
das políticas sociais.
Nesta direção encontra-se no pensamento de Maria Inês Bravo (2005, p.
43) explicitando a necessidade do compromisso profissional de todos com a
defesa e aprofundamento do SUS, formulando estratégias que busquem
reforçar e criar experiências propositivas de serviços de saúde efetivos e com
qualidade. Para esta mesma autora o CEPAS - Código de Ética Profissional do
Assistente Social possui as ferramentas fundantes para o trabalho dos
Assistentes Sociais destaca os princípios:
Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo; em favor da equidade e justiça, que assegure
posicionamento e universalidade de acesso aos bens e serviços
relativos aos programas e políticas sociais, bem como a gestão
democrática; articulação com os movimentos de outras categorias
profissionais que partilhem dos princípios deste código e com a luta
geral dos trabalhadores; e no compromisso com a qualidade dos
serviços prestados á população e com aprimoramento técnico, na
perspectiva da competência profissional.
Observou-se igualmente que a construção de um projeto democrático
não é exclusividade de uma categoria profissional, mas junto as demais forças
democráticas em presença que partilham estes princípios. Isto poderá tornar
possível o projeto de democratização da saúde. Um profissional comprometido
em reforçar a vinculação entre ética e a política, concretamente, tanto na vida
social como na vida profissional une e relaciona os cidadãos com o campo dos
direitos humanos. A coerência entre a dimensão social e profissional referenda
o engajamento vico e, na afirmação da esfera pública, o posicionamento em
favor da eqüidade e da justiça social.
80
A alteridade na relação dos sujeitos se manifesta pela consciência do
papel de cada um na sociedade e no coletivo, através de múltiplas percepções
da realidade se concretiza a possibilidade de promoção da saúde. Também,
mesmo que estreitamente ligada ao campo da gestão, a perspectiva da
intersetorialidade deve permear a atividade profissional significando, esta “uma
estratégia de incentivo e aprimoramento tanto na oferta dos serviços como na
formulação e gestão de políticas públicas” (COSTA; PONTES; ROCHA, 2006,
p. 105) é um desafio para o SUS. O que caracteriza a intersetorialidade é a
possibilidade de síntese de práticas, embora paradoxalmente ela seja muito
complexa, e, não sendo este o foco deste debate, ela possui um potencial de
articulação diante das situações concretas do fazer profissional.
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) reconhece treze profissões
imprescindíveis na área da saúde: assistentes sociais, biólogos, profissionais
de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, médicos, veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e
terapeutas ocupacionais, através da Resolução nº. 218, de 06 de Março
de1997, do Conselho Nacional de Saúde.
As classes isoladas não podem consubstanciar valores democráticos.
Assim, urge a necessidade de incorporar os ganhos históricos resultantes da
luta de segmentos democráticos, para viabilizar o acesso integral aos serviços,
o direito à informação, a igualdade da assistência de saúde e a participação da
comunidade, que são processos coletivos e educativos essenciais para
consolidação do SUS.
O trabalho do Serviço Social em saúde pautou-se pelo reconhecimento
do direito que têm os outros de participar, ou seja, ser - parte - de decidindo,
assumindo com auto-responsabilidade não apenas uma autodeterminação em
ações transformadoras pessoais na sociedade. Neste sentido, torna-se
necessário o investimento em uma ação transformadora da realidade para
construção de um novo projeto societário.
O conceito ampliado de saúde é um desafio sobre os diversos sentidos e
dimensões da integralidade que não se pretende esgotar, mas trazer a
preocupação constante dos trabalhadores de saúde nas reafirmadas nas
colocações do autor:
81
Os trabalhadores hoje apresentam grande sofrimento ético dada à
ruptura e dada a nossa herança, no Brasil, de um imaginário, em que
o ethos, a costura do algo possível na ordem democrática está em
questão. Portanto, esse sofrimento ético atravessa a possibilidade de
desejo de construção do novo. Mas o novo resiste ao tempo todo.
Mesmo assim somos testemunhas das pulsões criativas. Sujeitos
tentando fazer laços, construindo redes. E é isso a saúde no trabalho
a força da vida. (BARROS; CARVALHO, 2006, p. 185).
Ao reconhecer o usuário como o outro, e interlocutor dos direitos
coletivos, os trabalhadores segundo Natálio Kisnnerman (2003, p. 5) refletem a
questão do compromisso das profissões com as relações sócio-culturais e os
valores para construção de relações humanas satisfatórias, de igualdade na
diversidade e na desigualdade, aceitando e integrando as diferenças na
participação comunitária, são os valores que cobram a consciência conforme
reforça:
Os valores cobram sentido em função do compromisso que
assumimos na ação de verdadeiro respeito por tudo o que faz a
convivência humana. Por isso, mais do que perguntar pelo bem
que construir e reconstruir relações satisfatórias com e entre as
pessoas, nas que aceitam as diferenças, abandonando os discursos
absolutistas, onipotentes, os rótulos que como estigma deposita em
quem não é como nós.
Pensar e atuar na questão social requer compromisso com os sujeitos a
fim de que se possa desvendar a plenitude dos sentidos e o domínio
substantivo do campo de conhecimento subjetivo da ética expressa nos atos de
fala dos sujeitos coletivos de modo a particularizar neste campo, a totalidade
social.
A concepção de pessoa e indivíduo adquire dimensões sociais mais
efetivas mediante a noção de sujeitos sociais que contempla todos os atores e
o cenário em que estes se inscrevem. Na visão crítica os sujeitos sociais o
aqueles direcionados à práxis. A esta forma de pensar deslocam as
concepções de indivíduo e pessoa, para sujeitos partícipes no cerne das
problemáticas causadas pela sociedade capitalista.
A ética, nesse ponto, funda-se na produção econômica da sociedade, na
medida em que ao não estabelecer as mediações entre o econômico e a moral,
82
entre política e prática profissional aponta à necessidade de uma nova ética
que reflita o coletivo, restabeleça valores e leis universais, acima dos
interesses de classe.
A saúde é o campo que de forma imediata e necessariamente une a
teoria e a prática no sentido de buscar a relação dos sujeitos sociais com a
totalidade e realizar, na fecunda visão atual da saúde coletiva, a democracia
participativa.
83
CONCLUSÃO
A incorporação na Constituição de 1988, dos dispositivos de controle
social e o reconhecimento dos direitos individuais, políticos e sociais
fundamentais à cidadania mereceram destaque, pois foram elementos centrais
para obtenção de conquistas da sociedade e de suas reivindicações, através
das entidades de representação.
Os precedentes de deteriorização das condições de vida apontados e
evidenciados nos indicadores de saúde no Brasil, num sistema de saúde
operando com recursos públicos atendendo aos interesses do capital, com as
diretrizes de centralização e privatização do Estado, sob regime autoritário até
a metade do culo XX, a iniqüidade e a irracionalidade no tipo de
desenvolvimento social subsidiaram o ressurgimento do movimento social, da
reforma sanitária e o desafio da construção de um projeto nacional com uma
proposta alternativa e com uma nova concepção de saúde.
Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde surgiu como uma proposta
de democratização, reorganização da atenção básica e sob controle social,
uma alternativa tecnicamente adequada à realidade brasileira e socialmente
justa. O SUS trouxe acepção de saúde como direito de cidadania, trazendo a
descentralização e a hierarquização como uma via de desenvolvimento da
justiça social. E, mesmo sob contradições internas e externas, existem
expressivos e bem sucedidos sistemas municipais de gestão, destacou-se o
município de Santa Rosa como um caso entre outros, devido às peculiaridades
que apresentou no Estado do Rio Grande do Sul.
A partir dos pressupostos jurídicos institucionais de constituição de uma
Política Pública no Brasil, observou-se que em Santa Rosa a saúde foi
constituída como uma política pública solidificada através da rede de serviços
de atendimento básico e tanto instituições governamentais quanto não
governamentais. A gestão partilhada foi solidificada e continua formando
parceria entre o poder público e a sociedade civil através do Conselho
Municipal da Saúde.
No fortalecimento dos fóruns de controle social verificou-se o
acontecimento ético dos sujeitos participativos sejam usuários do sistema de
84
saúde, trabalhadores, prestadores de serviço ou gestores de saúde. A
descoberta da alteridade é um crivo essencial, pois ela cria um fio condutor
invisível para a relação universal, sendo ela a responsabilidade com o outro se
materializando na vida comunitária.
A construção do entre nós no caso específico da VII Conferência
Municipal foi e continua uma ação com liberdade e reconhecimento como
membro de um todo, é uma lógica além da razão, uma forma de resistência.
Neste sentido, querendo registrar a importância deste espaço e do
posicionamento crítico e atento voltado para a esfera municipal, foi pertinente
demonstrar o que a população de Santa Rosa promoveu ao fazer-se ouvir e ao
participar efetivamente.
Os efeitos desse posicionamento permitiram o acompanhamento da
execução das políticas sociais e dos direitos de cidadania. Neste sentido,
declara-se a ética da alteridade na forma também de resistência e contradição
ao que está posto, foi um elemento conseqüente à manutenção dos patamares
das conquistas e melhorias na qualidade dos serviços.
Na matéria bruta da pesquisa documental se delinearam as pré-
categorias nas proposições práticas dos sujeitos que se materializam no
relatório de pautas, nos debates nas comunidades, nos grupos na conferência
municipal e na votação da plenária final. Nisto foi possível visualizar o sentido
da ética do outro para o outro; na alteridade ética que exigiu interpelação na
realidade do outro, na vida cotidiana, nas necessidades sociais e nas políticas
sociais para garantia dos direitos. Este movimento que ocorreu e continua na
história de Santa Rosa configurou-se como um exemplo de partilha do poder,
do saber dos trabalhadores de saúde, dos prestadores de serviços, dos
gestores e usuários com a responsabilidade da democratização das relações
na discussão com os demais para o planejamento e a execução das demandas
na política de saúde local. Desta tal forma, para a continuidade do
funcionamento do Sistema Único de Saúde de Santa Rosa nos moldes
idealizados, mesmo atravessando as mudanças políticas administrativas
municipais, constatou-se o necessário esforço de todos os sujeitos
participativos e conscientes para processo de evolução permanente.
O compromisso dos trabalhadores de saúde, na manutenção dos
conselhos, das conferências, de todos os espaços de garantia de direitos, dos
85
interesses e necessidades dos diferentes segmentos está muito além de uma
ação individualizada, ela aponta a ação coletiva. A implicação necessária, junto
com os demais profissionais, com os usuários, com gestores e prestadores de
serviço é a condição para a ampliação da democracia na política de saúde e da
alteridade ética na esfera pública.
Neste compromisso e responsabilidade inseriu-se: assistentes sociais,
médicos, odontólogos, enfermeiras, nutricionistas, psicólogos e todos demais
profissionais que integraram o Programa de Saúde da Família no setor saúde,
que conscientemente participaram e ainda compõem as suas representações.
São essas participações de sujeitos, sem omissões, que promovem a
solidariedade e a cooperação cnica muito além dos protocolos de conduta,
realizando o entre nós, a alteridade.
Na perspectiva conclusiva existem as descobertas do percurso,
representando uma curva uma tanto arriscada, que vai da razão do ser-para-
outro de Lévinas para ação no sair de si realizando o entre nós. Neste caminho
vários atores sociais foram envolvidos, eles foram os sujeitos partícipes da
responsabilidade de concretizar a cidadania. Na busca da ética dos sujeitos na
linguagem expressa e na subjetividade das manifestações das falas, nos fóruns
de participação, discussões e consensos vislumbrou-se o acontecer prévio do
sonho da ética da cidadania.
A questão ética no setor saúde sempre foi vista como um processo que
diz respeito à atividade profissional relacionada a deveres e padrões de
comportamento moral e auto regulação haja visto os ditames dos próprios
códigos de ética profissionais. Mas, no aspecto da ética da alteridade no
campo da saúde há a possibilidade de a partir da posição dos sujeitos e de sua
relação com o outro, transcender o mero cumprimento de preceitos de
moralidade. A Ética como uma atividade de reflexão, não prescritiva envolve o
exercício da atividade crítica, interpela o diálogo e o consenso na dimensão da
ação dos seres humanos. A dimensão da alteridade ética que se inscreve no
face a face com o outro, no embate dos sujeitos outros eles fazem à
diferença na transformação da realidade.
O cultivo da ética da alteridade na política de saúde requer a busca de
caminhos para efetivação da política pública de saúde, enfrentando para isto o
cultivo da democratização na sociedade civil e no Estado, através da
86
superação das desigualdades sociais na tentativa de colaborar no
equacionamento da questão social, tarefa atribuída aos assistentes sociais na
direção ético - político profissional. Igualmente o fortalecimento dos espaços de
participação social como conselhos, conferências e fóruns em todos os níveis
de ação com a partilha do poder e com a democratização das relações são
imprescindíveis no cotidiano profissional.
A participação e a responsabilidade de mudar a realidade frente aos
enigmas da saúde que é um fator vital revela-se no eu - para - o outro. O
acontecimento ético é relacional, eis prós ti termo grego que designa um para o
outro: uma relação que une a essência e luta pela vida na vizinhança do ser.
Esta relação conduz o ser ético esta ligação impalpável é capaz de ordenar a
vida social.
Os sujeitos em sua relação com a saúde do outro condicionam,
enquanto ação e possibilidade de participação, a autoconsciência e a
responsabilidade na esfera pública, mesmo nas adversidades, acionam os
mecanismos para efetivação da justiça social.
87
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97
APÊNDICE A - Resumo de Artigo Apresentado no II Congresso
Internacional dos Trabalhadores de Saúde – Cuba
TITULO: La IV Conferencia Municipal de Salud de Santa Rosa, sus
actores y la estrategia metodológica de participación de la
comunidad local.
AUTOR: Asistente Social Zeli Machado de Castro Gallo
Médico Sanitario Luis Antonio Benveg
INSTITUCIÖN: Fundación Municipal de Salud de Santa Rosa
TELËFONO: 55 55 3511-4182
Fax: 55 55 3512-5303
e-mail: [email protected]m.br
OBJETIVOS:
Consolidación del Control Social en el SUS - Sistema Único de Salud, a
través del foro de evaluación y planificación de la política de salud local: La IV
Conferencia Municipal de Salud.
RESULTADOS:
El principio básico de participación de la comunidad comenzó en las
comunidades locales con trinita ocho reuniones llamadas micro-conferencias. Luego
fueron realizadas las pre-conferencias distritales que escogieron delegados para la
Conferencia Municipal.
Este proceso involucró diversos actores, los cuales protagonizaron un
proceso intenso de participación y compromiso, hasta llegar al momento final y a la
consolidación de los resultados, en un informe aprobado en asamblea de todos.
La estrategia metodológica fue muy accesible para todos, basándose en
relatos de las reuniones respondiendo a tres cuestiones:
1. Que bueno = destacar los buenos servicios existentes en el sistema de
salud;
2. Que pena = problemas y dificultades encontradas en el sistema;
3. Que tal = otras sugerencias e cambios necesarios;
La Comisión Organizadora, los profesionales de salud, los prestadores de
servicios, los usuarios, los monitores, los delegados, los divulgadores y gestores se
movieron intensamente en el escenario de discusiones y votaciones para la
formulación de la Política de Salud de Santa Rosa.
CONCLUSIÖN:
La participación de la sociedad organizada es fundamental para la
consolidación del SUS - Sistema Único de Salud y para la Política Pública de Salud de
Santa Rosa. Por eso no es posible desembarazarse de este momento especial
preconizado en la Ley 8142 de la Constitución Brasileña.
Esta participación es local y comienza allí mismo, siendo ascendente en materia
jerárquica. Ésta es la dialéctica posible de planificación, integrando actores e
construyendo un escenario local con una política de salud para una mejor cualidad de
vida.
98
ANEXOS
99
ANEXO A - Relatório Preliminar
1. Saúde, Cidadania e Políticas Públicas.
- Fazer a colocação de um telefone público de fácil acesso aos usuários no Posto de
Saúde da Vila Esperança.
- Fazer a contratação de um segurança para proteger as pessoas durante o horário de
atendimento nos Postos de Saúde das vilas Vicente Cardoso e Cruzeiro do Sul.
- Criar um mecanismo dentro da Rede Pública, envolvendo todos os órgãos, como por
exemplo, o Ministério público, para que haja a diminuição e/ou extinção do comércio de
fichas.
- Construir banheiros externos nos Postos de Saúde que ainda não possuem.
- Implantar lixeiras externas próximo aos Postos de Saúde.
- Fazer o melhoramento das estradas que dão acesso aos Postos de Saúde do interior.
- Formar uma comissão, envolvendo CMS, FUMSSAR, MP e BM, para percorrer os
Postos de Saúde, durante à noite, para termos ciência do que acontece
- FUMSSAR disponibilizar veículos para buscar doadores de sangue, ou prestar
atendimento. - Construir calçamento em frente ao Posto de Saúde da Manchinha.
- Criar urnas de opinião pública nos Postos de Saúde.
- Planejar os investimentos conjuntamente com as equipes das Unidades Básicas de
Saúde.
- Reativar a CIPA da FUMSSAR.
- Rever os casos de profissionais da FUMSSAR, que tenham sido liberados para
docência, se está dentro da lei e, providenciar para que estes e outros sejam
divulgados no CMS.
2. Controle Social
- Ministrar palestras sobre alcoolismo e drogas nos Postos de Saúde.
- Ministrar cursos e/ou palestras para funcionários dos Postos de Saúde, para que haja
um atendimento de excelência, principalmente no quesito recursos humanos.
3. Financiamento da Saúde
- Exigir dos órgãos competentes o cumprimento da Lei de Aplicação da CPMF/RS.
- Buscar de alguma maneira, mais recursos para saúde, junto ao Estado e União.
- Criar um mecanismo, desde que seja legal, para que os municípios que são
atendidos aqui em Santa Rosa, venham a contribuir financeiramente.
- Garantir recursos para investimentos em equipamentos, e manutenção dos mesmos
para as Unidades Básicas de Saúde.
- Efetivar a Comissão Técnica de Licitação.
4. Gestão e Organização dos Serviços de Saúde
4.1 Atendimento Hospitalar
- Ter mais agilidade nos encaminhamentos das cirurgias eletivas.
- Ter mais rapidez nas cirurgias e consultas por especialistas.
- Contatar com médicos plantonistas dos hospitais, para que aceitem as baixas
hospitalares dos médicos dos Postos de Saúde.
100
- Aumentar as especialidades oferecidas nos atendimentos de média e alta
complexidade.
4.2 Postos de Saúde
- Deixar fichas médicas disponíveis no Posto de Saúde da Vila Auxiliadora, para
moradores da Vila Santa Inês.
- Contratar mais uma enfermeira para atender no Posto de Saúde da Vila Oliveira.
- Aumentar o número de fichas diárias para consultas médicas.
- Implantar um plantão médico, noturno, no Bairro Sulina.
- Ter atendimento de um médico Pediatra nos Postos de Saúde das Vilas Balneária,
Esperança, Cruzeiro do Sul, km 03, Auxiliadora.
- Ter atendimento de um médico Pediatra diariamente no Posto da Vila Auxiliadora.
- Fazer a ampliação da estrutura do Posto de Saúde da Vila Balneária e transformá-lo
em Distrito.
- Fazer com que haja mais organização no agendamento de fichas nos Postos de
Saúde.
- Providenciar a construção de abrigos aos usuários nos Postos de Saúde que não
possuem.
- Fazer com que haja mais agilidade nos atendimentos nos Postos de Saúde da Vila
Glória e Cruzeiro.
- Aumentar o atendimento dos médicos para no mínimo 20 fichas diárias.
- Aumentar o número de auxiliares para o atendimento no Posto de Saúde da Vila
Agrícola.
- Estudantes não precisam tirar ficha para realizar consultas odontológicas.
- Dedicar um dia exclusivo para atendimento odontológico aos moradores da Vila
Ibanês, no Posto de Saúde da Vila Cruzeiro do Sul.
- Fazer o agendamento de médico e dentista, uma vez por mês, nas localidades que
não tem Posto de Saúde.
- Garantir a conclusão do Posto de Saúde até o final do ano de 2005 no Bairro Sulina.
- Fazer a marcação para especialistas nos Postos de Saúde.
- Designar mais pessoas para trabalhar na recepção do Posto de Saúde de Esquina
Guia Lopes.
- Reservar algumas fichas para pessoas que não residam na Vila do local do Posto de
Saúde, para outras comunidades (fichas emergenciais).
- Reservar fichas nos Postos de Saúde para idosos.
- Aumentar o número de fichas para dentista.
- Construção de um Posto de Saúde Avançado, para atendimento no mínimo três
vezes por semana e que tenha enfermeira diariamente no km 03.
- Disponibilizar cadeira de rodas, no Posto de Saúde na Linha Sete de Setembro.
- Alterar o horário para tirar fichas, nas Vilas Bancários, Meinertz e Santos.
- Fazer com que haja o cumprimento de horário de trabalho por parte da equipe do
Posto de Saúde de Candeia Alta.
- Diminuir e/ou fazer em horários pós-expediente as reuniões nos Postos de Saúde.
- Aumentar em um dia, o atendimento médico em Esquina Candeia.
- Ter atendimento odontológico diário no Posto de Saúde de Esquina Candeia.
- Ter atendimento médico permanente em Esquina Candeia Baixa.
- Aumentar para mais um dia de atendimento no Posto de Saúde de Lajeado Tarumã
- Ter atendimento odontológico diário para moradores da Linha Boa Vista.
- Aumentar o atendimento do médico Pediatra para moradores da Vila Bomba D’Água.
- Disponibilizar mais um médico Clínico Geral (40h) no Posto de Saúde da Planalto.
4.3 Sistema Administrativo de Apoio
101
- Aumentar a cobertura dos Agentes de Saúde, fazendo com que as Vilas e locais do
Interior que ainda não possuem, sejam contemplados com Agentes do local.
- Fazer com que a FUMSSAR disponibilize uma ambulância, para que fique de
sobreaviso para atender as solicitações dos Postos de Saúde.
- Propiciar aos usuários, formas, para que tenham mais esclarecimentos e/ou
conhecimento sobre os serviços prestados pelo SUS.
- Criar um sistema de marcação de fichas para os Postos através do 0800.
- Contratar mais serviços especializados e eletivos.
- Liberar laqueadura para mulheres que não tem condições de ter mais filhos.
- Criar a rotatividade dos funcionários atendentes dos Postos de Saúde.
- Troca do dentista L. R., o qual não cumpre horário e presta pouca qualidade no
serviço.
- Realizar mais campanhas de conscientização para doação de sangue.
- Mudar o sistema de retirar remédios na FUMSSAR, não precisando ir durante a
madrugada para entregar a receita.
- Fazer a atualização do Cartão do SUS, inclusive colocando foto nos mesmos.
- Criação de uma lista de medicamentos para fornecimento por processo, e uma
comissão técnica que avalie solicitações de medicamentos não padronizadas.
- Criação de um setor de regulação, que contemple as atividades de autorizados,
controle, avaliação e auditoria.
- Que a ampliação da rede básica somente ocorra após adequação física, de
equipamentos e de recursos humanos das unidades já existentes.
- Garantir que as contratações de pessoal permaneçam sendo feitas por concurso, que
seja mantido o regime jurídico único estatutário.
- Ampliar a capacidade do laboratório.
- Fazer a substituição da médica em Candeia Baixa.
4.4 Sistema de referência e Contra-Referência
- Agendar um dia por semana para agendamento, entrega e recebimento dos exames,
facilitando assim, o andamento das consultas médicas.
- Agilizar os encaminhamentos dos casos de urgência.
- Facilitar a marcação de cirurgias.
- Marcar reconsulta com especialista depois de 3 meses.
5. Recursos Humanos para Saúde
5.1 Aumentos do Quadro de Funcionários
- Aumentar o número de médicos e especialistas.
- Contratar mais médicos especialistas em otorrinologia.
- Fazer a contratação de um médico Clínico Geral para o Posto de Cruzeiro.
- Mais uma assistente social para Fundação.
- Ampliação do quadro de profissionais, com participação do CMS e profissionais na
decisão de prioridades.
- Criar o cargo de técnico de enfermagem.
- Disponibilizar um médico ginecologista para o Posto de Saúde da Vila Agrícola.
5.2 Qualificação dos Profissionais na Saúde
- Substituir o médico, quando na sua falta, para todos ter acesso às consultas do dia.
- Capacitar os agentes de saúde para que sejam mais eficientes.
102
- Fornecer material (pastas e uniforme) para os agentes de saúde.
- Desenvolver trabalhos de Humanização, sobretudo com funcionários dos Postos.
- Implantação de uma política de capacitação de recursos humanos.
- Manutenção dos espaços de discussão: reunião de categoria, reunião de nível
superior,…
- Criação do programa de saúde ocupacional dos servidores ocupacionais.
6. Atenção Integral à Saúde
- Aumentar o numero de Agentes de Saúde e substituir a Agente que está de atestado
há mais ou menos 4 anos.
- Garantir realização de visitas domiciliares por parte da médica em Candeia Baixa.
- Fazer com que haja consultas de emergência no Posto de Saúde.
6.1 Política de medicamentos
- Substituir gradativamente os medicamentos industrializados (químicos) por
medicamentos fitoterápicos.
- Garantir medicamentos para pessoas cadastradas, respeitando a quantidade para
cada pessoa e controlar a distribuição de medicamentos contínuos.
- Aquisição de medicamentos genéricos pela FUMSSAR.
7. Políticas Ligadas ao Saneamento, Meio Ambiente e Vigilância Sanitária
- Fornecer água potável para todas as comunidades.
- Retomar as campanhas publicitárias sobre a conscientização relativa ao lixo.
- Providenciar a limpeza da Sanga do Inácio.
- Fazer melhoramentos quanto ao saneamento básico.
- Ter recolhimento de lixo tóxico.
- Priorizar melhorias na Vigilância Sanitária.
8. Qualidade no Sistema de Saúde
- Priorizar o atendimento dos idosos nos Postos, garantindo assim, seu acesso.
- Melhorar o atendimento de emergência para acamados.
- Melhorar o atendimento do (a) Agente de Saúde.
- Melhorar o atendimento do dentista na Linha Sete de Setembro.
- Plantão nos Postos de Saúde deveria atender para qualquer idade, pois o hospital
reclama para prestar atendimento.
- Melhor os atendimentos no Pronto Socorro do Hospital Vida e Saúde.
- Ter igualdade no atendimento dos pacientes do SUS e particulares, por parte dos
Hospitais e Prestadores de Serviços.
- Melhorar o atendimento de alguns funcionários do CSU, sendo que foi sugerido,
proporcionar um curso de relações humanas.
- Fornecer informações corretas aos usuários sobre medicamentos.
- Estimular a política de estímulo à produção científica e a pesquisa aos Funcionários
da FUMSSAR.
- Que se mantenha a dedicação exclusiva dos profissionais da FUMSSAR.
103
ANEXO B - Roteiro de Atividades das Microconferências
1. Apresentação dos monitores (profissão, etc..) em nome da comissão organizadora;
2. Explicar a metodologia da reunião:
- Fala inicial
Divisão em grupos preenchimento das tarjetas QUE BOM QUE PENA E
QUE TAL – reunir o grupo todo e chegar ao consenso sobre o que foi colocado.
- Eleição do delegado (explicar o papel do delegado).
3. Passar a lista de presenças
4. Anotar no formulário específico o relatório das questões.
5. Anotar o nome completo dos delegados COM ENDEREÇO POSTAL.
A FALA INICIAL.
- Situar a microconferência na Conferência municipal, e na história das
conferências anteriores;
- Destacar o papel do CONTROLE SOCIAL. Citar a lei 8142, e o papel do
conselho;
- Falar da gestão plena do sistema municipal e a origem dos recursos. A
possibilidade de gestão com autonomia em Santa Rosa desde 1994;
- Falar sobre a organização da assistência:
- A rede básica organizada em distritos
- A atenção por equipe multidisciplinar (o papel do médico geral comunitário
x especialistas, da integração da equipe, dos agentes comunitários...)
- A referência e contra-referência.
- Os hospitais e laboratórios conveniados;
- Os encaminhamentos para fora do município.
OBS: A FALA DO MONITOR NÃO DEVE EXCEDER OS 15 MINUTOS, FICAR
EM TORNO DE DEZ MINUTOS. Procurar não responder perguntas durante a
apresentação inicial e não travar debates com os participantes. Não assumir o papel de
“juiz” quando houver dúvidas entre os participantes: ambos os pontos não consensuais
devem ser levados para o relatório, observando-se que não houve consenso.
104
ANEXO C - Trabalho premiado (3º lugar) no Concurso de Monografias do
Congresso Administração Pública e Reforma do Estado - Espanha:
Inovação Gerencial no Sistema Único de Saúde: o caso do município de Santa
Rosa - Rio Grande do Sul - Brasil
Maria Ceci Misoczky
Luis Roque Klering
Luís Antônio Bevegnú
Dione Amado Weiler
Resumo
O objeto desse estudo é o Sistema Único de Saúde (SUS) do município de
Santa Rosa, Estado (ou Província) do Rio Grande do Sul, Brasil. Tem como objetivos
verificar e analisar inovações gerenciais com relação à participação dos cidadãos nos
processos de tomada de decisão e de implantação de mudanças; com relação à
política de saúde no atendimento a grupos especiais; bem como com relação à
inovação na gestão, processos decisórios e provisão de serviços. Também tem como
objetivo analisar a sustentabilidade desta experiência e a replicabilidade de seus
aspectos fundamentais em outros municípios e regiões do Brasil. Trata-se de um
estudo de caso único, utilizando técnicas qualitativas para a coleta dos dados. Conclui
pela constatação da inovação na maioria dos aspectos considerados, embora alguns
precisem ser melhorados. Igualmente analisa fatores que colocam a política sob risco
de não continuidade e como estes podem ser enfrentados. Conclui ainda pela
replicabilidade dos aspectos que marcam esta experiência.
Introdução
No Brasil, o movimento pela descentralização das políticas públicas foi,
principalmente, uma reação ao forte centralismo imposto pelos governos militares
entre 1964 e 1984. Especialmente na área social, a intervenção estatal neste período
teve um caráter burocrático privatista e de centralismo, fragmentação organizacional,
iniqüidade e exclusão das camadas mais pobres da população. Outra característica foi
o mistargeting, conceituação desenvolvida pelo Banco Mundial para situações em que
ocorre grande desproporção entre os recursos aplicados e os resultados alcançados,
principalmente pelos segmentos que configuram a população-meta (Melo, 1998).
No processo de abertura política, durante a década de 80, desenvolveu-se a
crença de que a descentralização levaria a uma maior eqüidade na distribuição de
bens e serviços e a uma maior eficiência no setor público (Silva e Costa, 1995); por
isso, foi concebida como arma da democratização, como estratégia de consolidação
de direitos sociais, extensão da cidadania à massa da população, bem como forma de
superar os problemas associados ao gigantismo burocrático (Melo, 1998). Assim, o
movimento pela descentralização ocupa lugar central na agenda política dos anos 80,
com o municipalismo se constituindo em sua modalidade mais visível (Draibe, 1998).
É nesse contexto que se situa o processo de Reforma da Saúde e que,
similarmente à tendência mundial, tem a descentralização como eixo principal e,
contraditoriamente a esta tendência, tem a universalidade do acesso como princípio
orientador.
Na tendência mundial, fortemente influenciada pelos organismos de
cooperação internacional, predomina uma perspectiva economicista de busca de
eficiência, onde não há espaço para a gratuidade e a universalidade.
105
No Fórum sobre Reformas no Setor Saúde, realizado em abril de 1998 na
London School of Hygiene and Tropical Medicine, Ann Mills enfatizou que os temas da
"revolução da gerência pública", que compõem o "senso comum" nos processos de
reforma da saúde, são: redução do Estado e do gasto público, aumento da eficiência
do setor público através da contratação e da competição entre provedores, extensão
do papel do setor privado, e seletividade e focalização de serviços para grupos
prioritários. Na mesma oportunidade, Robert G. Evans criticou esta abordagem,
enfatizando a possibilidade de se aperfeiçoar sistemas de saúde a partir das seguintes
bases ou premissas: universalidade (em oposição à proposta dominante, de
eliminação de tal princípio);
análise da efetividade tendo em vista os determinantes de saúde, ou seja, indicadores
de condições de saúde e qualidade de vida. Ainda neste Fórum, Julio Frenk mostrou
quais são as bases para a definição do acesso a serviços de saúde, sua expressão
institucional e os mecanismos de racionalização. Esta formulação permite
compreender mais claramente quais são as alternativas para a definição desta política
pública, e como se a escolha do princípio orientador de cada processo de reforma.
Quadro 1 Bases para a definição do acesso a serviços de saúde.
Critério
Expressão
Institucional
Mecanismo de
Racionalização
Poder de Compra
Mercado não
regulado
Preço
Pobreza Assistência pública Barreiras burocráticas
Prioridade socialmente
percebida
Seguro social
restrito
Exclusão social
Cidadania
Sistema de saúde
universal
Custo da efetividade e
aceitabilidade social
Também a descentralização, vista como parte de processos de reforma do
Estado e, conseqüentemente, da sua intervenção na área social, pode ser abordada a
partir de diferentes perspectivas. Segundo Curbelo (1986) a popularidade do conceito
pode estar ligada a uma combinação de elementos, incluindo sua capacidade de
ocultar mais do que revelar, sua identificação com sentimentos longamente
estabelecidos, e sua fácil identificação com o ponto de vista tecnocrático. Portanto, é
preciso esclarecer com que sentido o termo é utilizado.
Sob a ótica do desenvolvimento humano as ações blicas devem ter o
objetivo de ampliar a capacidade das pessoas para que sejam responsáveis por
atividades e estados valiosos e valorizados (Sen, 1992). Kliksberg (1996, p.85) aborda
a modernização do Estado para promover o desenvolvimento humano e social,
destacando o grande potencial que a via da descentralização contém para melhorar a
produtividade de políticas públicas e de programas sociais: "A natureza destes
programas requer um tipo de gerência adaptativa, aberta e flexível, que encontra seu
habitat propício em modelos de gestão descentralizados." Afirma ainda que só através
da descentralização é possível "criar transparência dos atos públicos, desburocratizar,
favorecer todas as formas de cogestão dos cidadãos, (...) atingir sistemas políticos que
façam amadurecer crescentemente a cidadania e favoreçam a organização e a
expressão da sociedade civil" (Kliksberg, 1994, p.27).
106
No entanto, esta abordagem não é consensual: Na agenda de inspiração
neoliberal, os eixos privatização, descentralização e focalização são propostos como
formas de reduzir o gasto público e o tamanho do Estado. A descentralização,
especificamente, é apontada como uma forma de aumentar a eficiência e a eficácia do
gasto, ao aproximar problemas e gestão, aumentando o vínculo entre clientes e
entidade responsável pelas decisões sobre os serviços (Farah, 1998b).
Na agenda de inspiração progressista o objetivo é repensar o Estado,
articulando eficiência e eficácia com eqüidade e democratização dos processos de
decisão. A descentralização é, então, pensada como estratégia de reestruturação do
aparelho estatal, não para reduzí-lo, mas para torná-lo eficaz, democratizando a
gestão através da criação de novas instâncias de poder e da redefinição das relações
Estado/sociedade(Junqueira,1998).
A proposta de "Transformação produtiva com eqüidade", formulada pela
CEPAL (1990) para a América Latina, pode ser vista como sendo compatível com a
perspectiva progressista, no sentido de que apóia reformas de Estado que promovam
a coordenação entre política econômica e social, definindo metas para esta última que
levem os benefícios do desenvolvimento à população, especialmente a mais humilde,
articule programas universais com programas seletivos (não concebendo unicamente
a focalização), e racionalizem o gasto social para obter maior eficiência e eficácia.
Parte importante deste documento se refere à relação eqüidade/participação,
recomendando o controle da população sobre a "própria situação e o próprio projeto
de vida (enquanto ator social), mediante a intervenção em decisões, iniciativas e
gerenciamentos que afetam o entorno vital em que tal situação e projeto se
desenvolve". Ou seja, mais do que a distribuição de recursos, a eqüidade diz respeito
ao poder de decidir sobre a alocação de recursos. Assim, "um sistema será mais
eqüitativo se ampliar progressivamente o grau de descentralização democrática do
poder de decisão, se as diferentes áreas do Estado estreitarem sua comunicação com
setores menos articulados à modernização produtiva e aos serviços sociais instalados"
(Rodríguez, 1994, p.195).
A partir destas distinções pode-se situar este estudo: identificam-se fatores de
inovação e sucesso em uma experiência de gestão municipal da saúde que, com base
na busca da universalidade do acesso a ações e serviços de saúde e na
democratização das relações com a sociedade, está melhorando as condições de vida
e saúde da população local. A identificação desses fatores tem, também, o objetivo de
considerar as possibilidades de sua replicação em outros municípios, dos mais de
5.500 existentes no Brasil.
O texto completo do estudo está estruturado da seguinte forma: contextualiza-
se a municipalização da saúde no processo de implementação do Sistema Único de
Saúde; realiza-se uma revisão teórica, para elencar fatores de inovação e sucesso
utilizados na pesquisa de campo; apresenta-se a metodologia da pesquisa e o
município em foco (Santa Rosa-Rio Grande do Sul); aborda-se o Sistema Único de
Saúde em Santa Rosa, considerando sua estrutura gerencial, processo de
participação da população nas decisões, aspectos de inovação na política de saúde, e
aspectos de inovação na gestão, nos processos decisórios e na provisão de serviços;
e, por fim, faz-se uma análise da sustentabilidade do sistema e das possibilidades de
replicabilidade das etapas e dos resultados encontrados.
107
A municipalização no processo de implementação do Sistema Único de Saúde
A Reforma Sanitária Brasileira, enquanto política social, foi uma proposta surgida de
um movimento da sociedade que, no bojo do processo de transição democrática, teve
a capacidade de articular o conjunto de forças sociais interessadas na revisão dos
princípios e da estrutura institucional do sistema de saúde.
Como resultado concreto deste movimento a Constituição de 1988 define a
criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que tem como princípio básico o acesso
universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da
saúde (Brasil, 1988). O texto constitucional expressa ainda uma clara intenção de
deslocar o poder do centro para a periferia, tendo como eixo principal a
descentralização, reforçando a autonomia municipal e a participação da comunidade.
O município passa a ter a incumbência específica de prestar serviços de atendimento
à saúde da população, e à União e aos Estados cabe prover a cooperação técnica e
financeira. Quando houverem competências concorrentes a União deve restringir-se a
estabelecer normas gerais.
"O que deve caracterizar a descentralização no Sistema de Saúde
não éo fato da tomada de decisão situar-se junto ao local onde os
serviços são prestados e a existência de maior possibilidade de
controle social sobre esses serviços. É, sobretudo, a autonomia das
instâncias sub-nacionais, para exercitar sua principal competência:
organizar o respectivo subsistema, de acordo com as peculiaridades
locais respeitadas os demais postulados constitucionais
(universalização, acesso igualitário, regionalização e hierarquização
da rede, direção única, atendimento integral, prioridade para as
atividades preventivas e a participação da comunidade)." (Vianna,
1992, p.35-36)
Podem ser identificadas três ordens de motivos para esta lentidão.
A primeira delas se localiza na própria esfera federal, que desenvolve
programas de descentralização assumindo "uma postura de tutor do processo, para
poder manter o controle político ou operacional do manejo e do repasse de recursos,
colocando empecilhos para viabilizar qualquer ação que signifique diminuir seu poder
setorial de influência" (Silva e Costa, 1995, p.270). Tal postura é decorrente de um
processo que se inicia com a fragmentação da coalizão que estava no governo no
período conhecido como Nova República (1985-1989), levando a um realinhamento
dos atores, com o eixo se deslocando da ênfase em políticas públicas universalistas,
democráticas e redistributivas, para a ênfase na focalização, seletividade e redefinição
da articulação público-privado. A descentralização deixa de ser vista como modus
operandi que viabiliza a participação, considerada pré-requisito para aumentar a
eficiência e reduzir o mistargeting, e passa a ser vista como fragmentação
organizacional e territorial, que alimentaria a espiral de ingovernabilidade (Melo, 1988).
Especificamente no caso da saúde, a União, em procedimentos que demarcam um
movimento que Vianna (1992) denomina de "recentralização", reinterpreta as
definições constitucionais, reduz o ritmo da reforma e, aproveitando os espaços
existentes na Lei Orgânica da Saúde de 1990, reserva à burocracia do Ministério da
Saúde a prerrogativa de tutelar o processo de descentralização através da emissão
periódica de Normas Operacionais Básicas (NOBs), que normatizam a transferência
de recursos federais para estados e municípios. Ao fazê-lo não apenas estabelece
condições a que os municípios e estados devem satisfazer, como também define
programas que, se implantados localmente, serão premiados com incentivos
financeiros, induzindo a focalização e a seletividade.
Os Estados, na sua maioria, têm dificuldades em assimilar o esvaziamento de seu
108
papel como definidores e executores da política de saúde, buscando conservar
parcelas de poder adquiridas e consolidadas. Utilizam o argumento de que esta
situação não trará prejuízos ao sistema, pelo fato de que o gestor estadual tem uma
trajetória de conhecimento, eficiência e eficácia na realização das ações e serviços
(Dallari, 1992). Ao mesmo tempo, resistem em assumir sua nova função, de
desencadear a cooperação e o estímulo para a efetiva descentralização das ações de
saúde, respeitando as peculiaridades locais (Mendes, 1996).
Os municípios, por sua vez, enfrentam diversas dificuldades para assumir suas
novas atribuições constitucionais. Araújo Júnior (1997) considera que a fragilidade
política e técnica dos governos municipais é determinante para que não consigam
superar as barreiras que os governos estaduais e federal colocam à efetiva
descentralização. Entre os problemas políticos, menciona a subordinação dos políticos
locais aos governadores e deputados estaduais, ao presidente e deputados federais e
senadores, o que reduz as possibilidades de negociação com os outros níveis de
governo; a dependência financeira dos municípios ao nível federal; e a falta de apoio
da comunidade, que não dispõe, na maioria dos casos, de informações sobre o
processo em andamento. Em relação aos problemas técnicos o autor ainda inclui a
falta de pessoal qualificado para assumir as novas responsabilidades, principalmente
nos municípios de pequeno e médio porte; e a falta de infraestrutura na maioria das
secretarias municipais de saúde, que não existiam até meados da década de 1980.
Araújo Júnior (1997) ressalta ainda que estas dificuldades do nível local são uma
característica comum aos municípios da América Latina. Por falta de recursos
financeiros, os governos locais têm dificuldades em realizar despesas básicas, treinar
seu pessoal, adquirir equipamentos modernos, financiar o desenvolvimento
organizacional e expandir os serviços que oferecem à população. Seus fundos
limitados tornam impossível melhorar a capacidade administrativa, o que leva a
desencorajar a aplicação de recursos em novas funções (Harris, 1983).
A estes entraves somam-se ainda outros fatores, que contribuem, no conjunto, para
uma situação que se tornou publicamente conhecida como caos da saúde:
"(...) o agravamento dos problemas de financiamento setorial
acentuou as dificuldades de relacionamento entre distintas esferas de
governo e entre estas e o setor privado prestador de serviços,
comprometendo os resultados positivos do processo, ainda que as
situações de operação dos serviços, em termos de eficiência e
eqüidade, variem bastante, dependendo de cada estado ou
município. Além disto, revelou as fraquezas e as insuficiências da
própria estratégia de reforma, que não conseguiu efetivar uma
coalizão em seu favor que superasse os conflitos e as contradições
entre as ações dos diferentes veis de governo integrantes da
Federação Brasileira. Tudo isso leva a que se considere como caótica
a situação atual da política de atenção à saúde, em seu formato
descentralizado." (Silva e Costa, 1995, p.276)
No entanto, apesar deste ser o quadro geral do SUS no país, e de todos os
fatores que dificultam sua efetiva implementação, acima mencionados, em alguns
municípios se criaram verdadeiras "ilhas de modernidade sanitária" (Mendes, 1995,
p.19), não sendo poucos os relatos e avaliações de experiências de municipalização
bem sucedidas, o que demonstra a potencialidade que a concepção do sistema
oferece. Impõe-se, portanto, a tarefa de compreender melhor as experiências bem
sucedidas, em que novos estilos de gestão pública convivem com velhos padrões de
políticas sociais (Draibe, 1997), com a preocupação de identificar os fatores que
compõem estes estilos, e quais podem ser disseminados.
109
2. Inovações gerenciais no governo municipal
Motta (1998, p.186) trata a inovação como um processo coletivo que "altera
crenças, hábitos e interesses sedimentados de indivíduos e grupos, (...) é um
processo sistêmico e complexo de aplicar idéias novas".
"A inovação renova significados, ao mesmo tempo em que danifica,
constrói. Para implantar um novo sentido faz-se uso do poder, da
persuasão, da união de interesses e dos consensos; busca-se apoio
e motivação para reaprender uma nova visão organizacional e
readquirir confiança no futuro. Conduzir mudanças é gerenciar o hiato
entre a percepção da realidade vivida e a promessa da nova ordem; é
lidar com fatores que facilitam ou inibem as novidades. Envolve,
assim, a compreensão do contexto organizacional onde se passa a
mudança, bem como a capacidade de agir para mobilizar recursos e
superar resistências." (Motta, 1998, p.188)
Em busca de um conceito de inovação Fachin e Chanlat (1998, p.15-16)
revisam seu significado. Segundo o Dicionário Larrouse, significa introduzir uma coisa
nova para substituir uma antiga, tendo o sentido de criação e mudança. Citam também
Dávila que, tratando de êxito e inovação na América Latina, define inovação como
"fazer novas coisas, conseguir realizar combinações de recursos de forma nova, ou
fazer as coisas de certa maneira"; para Dávila, o conceito traz a idéia de "estruturas e
formas organizacionais não convencionais, formas novas de organização do trabalho,
estruturas organizacionais não hierárquicas, e programas de mudança planejada".
Para Fachin e Chanlat "inovar também significa olhar com outros olhos os mesmos
problemas, descobrir novos atores no processo de desenvolvimento local, espreitar a
realidade e redescobri-la com olhos não presos a um paradigma antigo e tradicional".
Ainda segundo estes autores, a gestão local inovadora deve levar em conta uma
"análise, em primeiro lugar, do conceito de cidadão e de cidadania, significando não
somente um cidadão consumidor de serviços (o que reduz o conceito de cidadão ao
de satisfação de algumas necessidades básicas do homem) mas também alguém
capaz de decidir e provocar mudanças." Trata-se, portanto, de uma renovação do
estilo de fazer política e de administrar, implicando o sentido de exercício, pelo
cidadão, do controle sobre o ato de fazer política.
Diversos autores vêm buscando identificar condições para que ocorram
processos de mudança em nível local. Junqueira (1998) considera que, para dar
eficácia à gestão, é preciso fazer alianças internas e externas: obter o compromisso
dos servidores com o projeto, envolvendo-os e valorizando-os, tornando-os parceiros;
articular outros atores sociais capazes de comprometer-se com um projeto que vise a
melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. Inojosa (1998, p.41-42) vê a possibilidade
de que o governo municipal se torne o motor da transformação do perfil de
organizações governamentais, invertendo a prática dos modelos copiados e
subordinados ao modelo do governo federal. Para que isto ocorra é preciso considerar
a perspectiva do desenvolvimento social, significando a "ampliação das condições de
qualidade de vida e do exercício dos direitos de uma dada população, com o objetivo
de promover o compartilhamento da riqueza material e imaterial disponível em um
grupo social, em determinado momento histórico", sendo que um dos fatores para
realizar tal ampliação é o acesso a bens que compõem o conceito de qualidade de
vida.
Alguns autores abordam especificamente o tema das inovações na área da
municipalização da saúde. Fleury et al. (1997) o fazem a partir de três aspectos: (1)
social, tratando da relação entre a gestão municipal e diferentes setores da sociedade,
110
buscando verificar o controle social sobre a definição de prioridades e a alocação de
recursos, os mecanismos de prestação de contas à sociedade e formas de
comunicação com a mesma; (2) gerencial, abordando o aumento da eficiência, pela
utilização de recursos externos e pela valorização das dimensões técnicas da gestão;
(3) assistencial, enfatizando a racionalização dos recursos e a prevenção e
desospitalização. Araújo Júnior (1997), por sua vez, enumera algumas ações
inovadoras que devem ser desenvolvidas para superar os problemas atuais da
descentralização: melhorar a participação da comunidade; priorizar a saúde no
governo municipal; ter claro o que deve ser feito para assegurar a compatibilidade
entre descentralização e eqüidade; enfrentar o problema de satisfazer as condições
que são requeridas para que o governo local desenvolva suas novas funções,
principalmente quanto a habilidades e estruturas gerenciais.
O programa de premiação "Gestão Pública e Cidadania", coordenado pela
Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, patrocinado pela Fundação Ford (EUA) e
apoiado por várias instituições e Universidades do Brasil, visando avaliar, premiar e
disseminar iniciativas inovadoras de governos municipais, estaduais e organizações
de povos indígenas, elenca como relevantes os seguintes critérios ou atributos de
projetos de desenvolvimento: grau de mudança introduzido, em termos qualitativos ou
quantitativos, em relação a práticas anteriores, inclusive em termos de modernidade
do desenho e das ações do projeto;
grau de impacto na qualidade de vida do público-alvo; grau de transferibilidade do
projeto para outras áreas, administrações ou regiões;
grau de consolidação e ampliação do diálogo com a sociedade civil e agentes
públicos; grau de responsabilidade na utilização de recursos e oportunidades, inclusive
em termos de organização e planejamento das várias etapas e ações do projeto; vel
de abrangência e envolvimento do público-alvo; grau de credibilidade pública
alcançado, especialmente em termos de importância interna atribuída ao projeto, bem
como da capacidade de oferecer pronta-resposta a demandas do público-alvo;
viabilidade técnica e financeira do projeto; grau de sustentabilidade, tendo em vista
seu enfoque no desenvolvimento das pessoas e organizações envolvidas.
Farah (1998a,1998b), por sua vez, desenvolve uma abordagem bastante
completa sobre inovação gerencial em nível sub-nacional. A partir da análise das
iniciativas inscritas no programa "Gerência Pública e Cidadania" (acima mencionado)
identifica tendências na evolução da agenda de reforma na área social, e as organiza
em torno de dois eixos: novas políticas sociais e novas formas de gestão, processos
decisórios e provisão de serviços públicos.
Novas políticas sociais
"A tendência de inovação consiste em mudanças na concepção sobre
a natureza dos serviços prestados, com repercussões sobre a própria
política. Constituem exemplo deste tipo de inflexão ões na área de
saúde, em que medidas de caráter preventivo substituem o padrão
exclusivamente curativo que vinha prevalecendo neste setor. (...)
visa, a um só tempo, garantir maior democratização no acesso à
saúde (e não apenas aos serviços curativos) e maior eficiência,
eficácia e efetividade às políticas do setor." (Farah, 1998a, p.55)
A autora também exemplifica com novas políticas na área de educação,
voltadas para a universalização da oferta, para o combate à evasão e à repetência e
orientadas para a melhoria da qualidade do ensino. Aborda ainda um terceiro
movimento de mudança, que consiste na implementação de programas
governamentais voltados para segmentos da população tradicionalmente não
111
atendidos pelo setor público, identificando-os como um movimento de ampliação do
espaço de cidadania - programas dirigidos a idosos, deficientes, mulher e comunidade
negra ou indígena. Neste bloco de novas políticas também se incluem ações voltadas
para a geração de emprego e renda.
Novas formas de gestão, processos decisórios e provisão de serviços públicos.
"Neste âmbito, o primeiro movimento de inovação diz respeito às
mudanças na relação entre Estado e sociedade civil, destacando-se,
em primeiro lugar, a tendência de inclusão de novos atores na
formulação e implementação das políticas públicas. Partes
significativas dos programas na área social incluem hoje a
participação de entidades da sociedade civil. Muitos dos programas
governamentais têm como um dos seus elementos constitutivos a
participação do cidadão na formulação, na implementação, no
controle e na avaliação das políticas públicas." (Farah, 1998a, p.56)
Ainda com relação à inclusão de novos atores, muitos projetos, que tratam de
problemas cujo enfrentamento ultrapassa a capacidade de ação isolada do poder
público, envolvem várias entidades e instituições articuladas sob a direção de uma
entidade governamental.
A segunda tendência de inovação relativa aos processos e à gestão das
políticas públicas incide sobre a gestão de programas e políticas estatais e da própria
máquina pública, sendo possível identificar os seguintes eixos de mudança:
descentralização e democratização da gestão e do processo decisório, com ênfase à
participação do servidor público nesses processos; descentralização das estruturas de
decisão em direção à unidade prestadora do serviço, buscando maior proximidade em
relação ao cidadão-usuário; formação e qualificação dos servidores; valorização do
funcionalismo por meio da melhoria das condições de trabalho e do próprio salário;
reforço a sistemas de apoio à decisão - bancos de dados, estatísticas gerenciais, etc.;
introdução de sistemas de avaliação de desempenho; adoção de programas de
qualidade e produtividade; redução de custos." (Farah, 1998a, p.57)
A partir desta revisão, propõe-se, para fins deste estudo:
Considerar, em termos mais amplos, inovação gerencial (conforme a
formulação de Fachin e Chanlat,1998) como uma renovação no estilo de fazer política
e de administrar, cujo enfoque orientador é considerar o cidadão não como
consumidor de serviços, mas como capaz de decidir e provocar mudanças.
Em termos mais específicos, assumir a divisão proposta por Farah (1998a) -
inovação na política e inovação na forma de gestão, processos decisórios e provisão
de serviços. No que se refere à inovação na política também se incorpora a definição
de Farah para inovação - mudança na concepção sobre a natureza dos serviços
prestados. No caso da política de saúde, mudança de um padrão curativo e
hospitalocêntrico para um padrão de atenção integral e atenção a segmentos da
população tradicionalmente não atendidos pelo setor público.
No que se refere ao segundo aspecto - inovação na forma de gestão,
processos decisórios e provisão de serviços - incluem-se tanto itens da proposição de
Farah (1998a) quanto dos critérios e atributos utilizados pelo programa "Gerência
Pública e Cidadania" - (a) mudança introduzida em relação às práticas anteriores; (b)
impacto na qualidade de vida da população; (c) viabilidade técnica e financeira; (d)
descentralização e democratização da gestão e do processo decisório, tanto com
112
ênfase na participação da população quanto dos servidores; (e) forma de articulação
com o setor privado; (f) formação e qualificação dos servidores; (g) valorização do
funcionalismo por meio das condições de trabalho e melhoria salarial; (h) sistemas de
apoio à decisão; (i) sistema de avaliação de desempenho; (j) racionalização dos
custos. Valoriza-se, ainda, o critério da legitimidade pública alcançada pela
experiência em foco, seu grau de sustentabilidade, bem como sua replicabilidade em
outras áreas, administrações, ou regiões.
Portanto, este estudo de caso único visa verificar e analisar os aspectos acima
mencionados. A escolha do caso - Sistema Municipal de Saúde de Santa Rosa (que
será denominado daqui para frente do SUS - Santa Rosa), Estado do Rio Grande do
Sul, se deu com base nas suas particularidades quanto à política de saúde. Trata-se
de um caso instrumental, na terminologia utilizada por Stake (1994) - um caso que é
examinado para prover insights sobre um tema, que desempenha um papel de apoio,
facilitando o entendimento de algo mais. Como os objetivos deste estudo incluem a
análise da replicabilidade de aspectos desta experiência local, a escolha de Santa
Rosa justifica-se com base nos seguintes critérios, ali observados: pelas
peculiaridades da sua política de saúde, pelos resultados obtidos, e pela ausência de
particularidades no âmbito social, econômico e político do município.
3. O Sistema Único de Saúde em Santa Rosa
3.1 Estrutura gerencial
Antes da municipalização da saúde, que ocorreu em 1993, a Secretaria
Municipal de Saúde, tanto pela desorganização político-administrativa e inexistência
de uma adequada instância gerencial local, quanto pela centralização político-
administrativa e desarmonia gerencial, não tinha uma política de saúde clara e
objetiva, nem oferecia serviços de saúde, com evidentes prejuízos para a população.
No que se refere à organização dos serviços blicos, não havia definição das
funções de cada unidade, enquanto componentes de uma rede municipal, nem da
complementaridade entre o setor privado e o público, o que levava a um descontrole
de demandas, com o conseqüente aumento da compra de serviços privados e uma
grande ociosidade da rede pública, que, embora fosse composta por apenas quatro
postos de saúde (três estaduais e um federal), chegava, em média, a 53%. A gerência
e o planejamento eram centralizados no gabinete do secretário, não havendo
participação da população ou dos servidores nas decisões. A Secretaria Municipal de
Saúde, Habitação e Bem-Estar Social era pouco estruturada e a saúde ficava em
segundo plano. As ações se resumiam a algumas consultas médicas prestadas por
uma unidade móvel.
A criação da Secretaria Municipal de Saúde e Meio Ambiente (janeiro de 1993),
em substituição à anterior, deu-se a partir da compreensão de que a municipalização
da saúde era a forma de garantir à população tanto a participação nas decisões
quanto o acesso universal e gratuito a serviços resolutivos de boa qualidade, e exigia
uma estrutura gerencial claramente definida e capaz de atender às demandas
decorrentes do processo de descentralização e de participação popular. No mesmo
ano, foi criado o Fundo Municipal de Saúde, com o objetivo de gerenciar os recursos
financeiros destinados ao desenvolvimento das ações de saúde.
Naquele momento, uma Norma Operacional do Ministério da Saúde definia
diferentes estágios de descentralização - condições de gestão. Santa Rosa foi
municipalizada, em 1993, na condição de gestão incipiente, em que compete ao
113
município gerenciar as ações básicas de saúde e em que este se relaciona com o
nível federal na situação de prestador de serviços, recebendo recursos financeiros de
acordo com a quantidade de procedimentos realizados. Um ano após, a administração
municipal e o Conselho de Saúde optaram pela condição de gestão semiplena, em
que o município recebe a totalidade dos recursos de custeio ambulatorial e hospitalar
e gerencia o sistema em nível local. Esta condição se constituía como a forma mais
avançada de descentralização possível.
Com o avanço da municipalização, ficou evidente a necessidade de aumentar a
agilidade administrativa, sem prejuízo da transparência. Os gestores concluíram de
que era importante contratar pessoal em regime de trabalho de 8 horas diárias, com
salário compatível e dedicação exclusiva. Para tanto, a solução encontrada foi a
criação de uma Fundação (em 1995), órgão da administração indireta, com
personalidade jurídica de direito público. A estrutura da Fundação inclui 5
departamentos e um serviço, todos subordinados ao presidente - Atenção Básica,
Vigilância Sanitária, Planejamento e Informação em Saúde, Articulação com os
Prestadores, Administração e Finanças, e o Serviço de Auditoria. A rede de 13 postos
de saúde está vinculada ao Departamento de Atenção Básica.
3.2 O cidadão como quem decide e provoca mudanças
Nas entrevistas levadas a efeito diversas pessoas mencionam o importante
papel da participação popular, desde o começo da implementação do SUS - Santa
Rosa.
O SUS - Santa Rosa se inicia com a criação da Comissão Interinstitucional
Municipal de Saúde (CIMS), em julho de 1987, composta por 35 entidades e dirigida
por um Núcleo de Coordenação. Esse órgão colegiado tinha caráter meramente
consultivo, fato que o impedia de deliberar efetivamente sobre os serviços e ações de
saúde no município e desestimulava maior participação popular. Em agosto de 1992
foi instituído o Conselho Municipal de Saúde - órgão colegiado, de caráter
permanente, com poderes deliberativos e composição paritária (50% de
representantes dos usuários e 50% representantes de órgãos governamentais,
profissionais de saúde e prestadores de serviço), de acordo com a legislação do
Sistema Único de Saúde. Tem como objetivos (definidos na Lei Municipal de sua
criação) o estabelecimento, acompanhamento, controle e avaliação da política
municipal de saúde e do meio ambiente, constituindo-se no órgão coordenador
máximo do Sistema de Saúde e do Meio Ambiente. Tem como membros: 11
representantes do governo municipal, 4 do governo federal, 13 de prestadores
privados de serviços, 2 de centros de formação de recursos humanos para a saúde; e
38 representantes de usuários, sendo 12 de associações de moradores, 10 de
sindicatos de trabalhadores, e 11 de diversas entidades (estudantes, empresários,
clubes de mães, etc.).
O Conselho se reúne mensalmente, tendo realizado, em 1997, mais três
reuniões extraordinárias, com um número médio de 42 conselheiros presentes. Neste
ano o Conselho deliberou sobre assuntos como: cobrança irregular, dos usuários, de
serviços hospitalares e ambulatoriais privados vinculados ao SUS; análise de auditoria
nos hospitais e decisão sobre providências a serem tomadas frente a irregularidades;
tabela de valores a serem pagos aos prestadores privados; insatisfação quanto à
qualidade do atendimento hospitalar e ambulatorial; aquisição e distribuição de
medicamentos; formas de acesso ao atendimento médico especializado; problemas
relacionados com a destinação de dejetos e com a criação de animais no perímetro
urbano; poluição do meio ambiente.
114
No entanto, como disse o presidente do Sindicado dos Bancários, "não se pode
sonhar que o oásis da democracia vai ser a saúde, teria que democratizar tudo e vir
crescendo com participação e cidadania para poder dizer que o Conselho realmente é
efetivo nas suas ações. A população está exercitando, aprendendo a gerir, e este é
um fenômeno de grande mudança".
3.3 Inovação na política
3.3.1 Modelo de Atenção e Estrutura de Prestação de Serviços
A prestação de serviços à população está organizada a partir de uma base de
nove Distritos Sanitários e segundo o princípio da integralidade, com ênfase na
promoção da saúde e no acesso universal e gratuito, tendo o apoio de equipes
multidisciplinares de 13 unidades municipais de saúde e a contratação de serviços
complementares do setor privado.
Cada Distrito Sanitário tem um posto de saúde com equipe multidisciplinar -
pelo menos um médico geral comunitário, uma enfermeira, um dentista, auxiliares de
enfermagem e auxiliares de serviços gerais. Do total de 13 unidades da rede pública
municipal, 9 são postos de saúde e sedes dos Distritos, outra é centro de
especialidades e as três demais são postos avançados - dois localizados em área rural
e um em área urbana de difícil acesso. Cada posto de saúde tem um equipamento
odontológico, totalizando 9 na rede pública.
Além do atendimento nas unidades de saúde, são realizadas visitas
domiciliares, inclusive por médicos, e "internações domiciliares". As consultas
especializadas, realizadas tanto no centro de especialidades, quanto pelo sistema de
compra de consultas do setor privado, são previamente agendadas pelo posto de
saúde. No centro de especialidades são oferecidos atendimentos em gineco-
obstetrícia, urologia, oftalmologia e nefrologia.
As equipes dos postos de saúde desenvolvem uma prática de demanda
dirigida, definindo demandas específicas; assim acontece com, por exemplo, pacientes
portadores de doenças crônicas, que devem ter um vínculo constante com o serviço, e
não apenas com o profissional médico. Desta forma, um paciente tem uma visita
agendada mensalmente para receber a medicação e informar sobre sua condição,
vendo o médico periodicamente a critério clínico. Com esta prática, aumenta a
qualidade do atendimento (pelo aporte de uma abordagem multidisciplinar), diminui o
número de consultas médicas por paciente e aumenta a disponibilidade de consultas
para casos realmente necessários. Por exemplo, após a implantação desta rotina
numa unidade, um médico realizou consultas de outros 46 pacientes, e realizou visitas
domiciliares extras sem que ninguém houvesse abandonado o tratamento.
Santa Rosa conta ainda com o trabalho de 44 agentes comunitários de saúde.
Sua função é acompanhar um número determinado de famílias de uma área
geográfica, realizando orientações sobre cuidados com a saúde e com alimentos,
enfatizando a importância das vacinas, do pré-natal e do acompanhamento do
crescimento e desenvolvimento das crianças, bem como encaminhando pacientes
para receberem cuidados nos postos, quando necessário. Estão cadastradas 5.643
famílias, totalizando 20.546 pessoas, perfazendo aproximadamente 35% da
população. Constituem exemplos de atuação dos agentes comunitários de saúde: o
acompanhamento dos nascidos vivos e a verificação do seu peso ao nascer, para que
os de baixo peso recebam atenção especial da equipe do posto; a identificação das
115
causas dos óbitos em menores de 1 ano; a identificação das causas de morte em
mulheres de 15 a 49 anos; o acompanhamento de crianças menores de 12 anos com
relação à doença diarréica e infecção respiratória aguda, orientando a utilização de
reidratantes orais no primeiro caso e o uso dos antibióticos prescritos pelo médico no
segundo caso; orientação da amamentação no peito; acompanhamento da situação
vacinal de crianças até 2 anos; acompanhamento das famílias cadastradas, realizando
visitas periódicas.
Com base no relatório de atividades de 1997, pode-se visualizar o perfil dos
atendimentos médios mensais realizados na rede pública de 13 postos de saúde:
8.500 consultas médicas, 4.800 atendimentos odontológicos, 500 exames preventivos
de câncer ginecológico realizados por enfermeiros, participação de 1.200 pessoas em
30 grupos (gestantes, diabéticos, hipertensos, idosos, saúde mental, etc.), 800
atendimentos de crianças com menos de um ano pelo programa de promoção da
saúde da criança, 200 realizações de testes de gravidez no próprio posto, 300
realizações de exames de acompanhamento de diabéticos, 1.700 vacinas, 2.000
atendimentos do tipo curativos ou nebulizações, 100 atendimentos domiciliares por
médicos e enfermeiros. A média mensal de pessoas atendidas por posto de saúde é
de 1.990. Foram ainda distribuídos medicamentos, de acordo com uma média de
9.300 receitas, em que a maioria dos itens faz parte da Lista Básica (78 itens)
adquirida pela Fundação, e os demais são comprados após avaliação social.
A Lista Básica visa atender a maioria dos problemas de saúde, principalmente
os casos relacionados a doenças crônicas que exigem uso contínuo. Os
medicamentos estão disponíveis somente nos postos de saúde, destinando-se,
preferencialmente, aos usuários do SUS - Santa Rosa. Entretanto, pessoas que
consultarem por convênios ou seguros/planos de saúde podem retirar medicamentos
nos postos da sua área de residência. Alguns medicamentos têm a sua distribuição
vinculada à avaliação e acompanhamento dos resultados e da adesão ao tratamento,
como os anti-hipertensivos e anti-ulcerosos. Outros são destinados, preferencialmente,
aos participantes de programas preventivos, como Pré-Natal e Prevenção do Câncer
Ginecológico.
Existem dois hospitais privados no município, sendo um deles filantrópico. Este
último dispõe de 127 leitos, incluindo UTI, e o outro possui 39 leitos.
A articulação com outras instituições da área social se com ênfase na
atenção à infância, incluindo o acompanhamento das creches e escolas (pelas
equipes dos Distritos Sanitários em que estão localizadas) e o atendimento
odontológico, dentro do conceito de promoção da saúde bucal, desde aplicação de
flúor a procedimentos curativos e restauradores. Outra área de articulação
interinstitucional é a de combate a endemias, através de convênios com a Fundação
Nacional de Saúde para controle da cólera ou do dengue. O controle deste último é
especialmente relevante, que Santa Rosa está em uma área de trânsito intenso de
veículos de cargas e transportes de passageiros com origem na região Centro-Oeste
do Brasil, onde esta endemia é muito importante.
3.3.2 Cobertura da população e resultados quanto à utilização por tipo de serviço de
saúde
Com a territorialização, a cobertura por área aumentou de 50% para 75%.
Antes, a principal atividade dos postos era o atendimento da demanda espontânea;
com a atual sistemática muitas atividades são dirigidas para grupos prioritários
(gestantes, crianças, doentes crônicos), com programas que incluem visitas
116
domiciliares, para ocorrências clínicas e busca de faltosos, o que aumenta o nculo
da equipe com a população de sua área.
No entanto, como o princípio da eqüidade também é orientador do SUS - Santa
Rosa, a própria localização dos postos resulta da intenção de ampliar a cobertura para
setores populacionais que não teriam outra forma de acesso a serviços de saúde -
planos/seguros de saúde ou pagamento direto. Assim, é considerado que cada Distrito
tenha em torno de 4.500 habitantes "usuários do SUS", ou seja, uma determinada
população para a qual os recursos são planejados. Abordando a cobertura com
enfoque nesta população, ela é de 100%.
Dois indicadores tradicionais - cobertura à gestação e ao parto e cobertura
vacinal de menores de 1 ano, relativos a 1997, demonstram a procedência desta
estimativa:
100% dos partos são hospitalares, desde 1994;
44,2% das gestantes fizeram mais de 6 consultas de pré-natal, 54,0% entre 1 de 6
consultas, e somente 1,8% não realizaram nenhuma consulta;
100% dos menores de 1 ano estão vacinados contra poliomielite (3 doses),
coqueluche (3 doses) e tuberculose;
95,5% dos menores de 1 ano estão vacinados contra sarampo.
Outro indicador de cobertura pode ser a porcentagem de óbitos por causas mal
definidas, na medida em que são uma expressão de óbito sem acompanhamento
médico; em 1997, somente 0,8% das mortes tiveram tal registro.
No que se refere à inovação na política de saúde, os resultados mostram um
claro afastamento do padrão hospitalocêntrico de utilização dos serviços de saúde.
Segundo dados do Ministério da Saúde (Brasil, 1998) as internações
hospitalares reduziram-se de 9.022 em 1992, para 5.599 em 1997, representando um
decréscimo de 37,94%. Somente as internações obstétricas mantiveram o mesmo
nível, apresentando pequenas variações de um ano para outro. As internações
cirúrgicas apresentaram a maior redução - 61,12%, seguidas pelas internações
pediátricas - 44.99%, e clínicas - 31,87%.
Nos anos anteriores à municipalização a média anual de atendimentos
ambulatoriais era de 116.400, sendo que 20.400 eram realizados nos postos de saúde
e 96.000 nos ambulatórios hospitalares. Em 1997 foram realizadas 99.341 consultas
médicas de pediatria, clínica médica e gineco-obstetrícia; 19.496 atendimentos
médicos com procedimentos cirúrgicos ambulatoriais; 42.575 consultas médicas
especializadas; totalizando 161.412 atendimentos médicos ambulatoriais, dos quais
102.000 na rede de postos de saúde.
Os atendimentos por profissionais não médicos, onde se incluem enfermeiros,
psicólogos, assistentes sociais, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de
saúde, praticamente dobraram nos últimos três anos (de 61.029 em 1995 para
105.128 em 1997), sendo que os executados pelo município praticamente triplicaram
(de 38.420 para 85.391); nesse período, ocorreu pequeno aumento nos atendimentos
de prestadores privados (de 2.702 para 3.757), e um pequeno decréscimo nos de
prestadores filantrópicos (de 19.907 para 15.980). O aumento da participação pública
nestas atividades fica claro, que além do importante aumento em números
absolutos, também ocorreu uma mudança na proporção: em 1995, o setor público
realizava 67,6% destes procedimentos, passando em 1997 para 81,23% (Brasil,
1998).
117
3.3.3 Atenção a grupos especiais
A identificação de grupos populacionais que necessitam de atenção específica
tem levado os serviços a organizar atividades dirigidas.
As atividades não são, necessariamente, sobre doenças ou orientações
preventivas específicas da saúde. Estas estão presentes, por exemplo, no caso da
parceria com a ADISA - Associação de Diabéticos de Santa Rosa - que recebe
orientações e apoio com material para as reuniões. Mas atividades como a do Grupo
de Idosos do Posto Cruzeiro têm como objetivo integrar as pessoas da terceira idade
do bairro e melhorar a sua qualidade de vida. Eventualmente são realizadas atividades
especificas de saúde, utilizando métodos participativos como a dramatização.
Outros exemplos de atenção a grupos específicos são: atividades em conjunto com a
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, principalmente garantindo
atendimento médico, psicológico e odontológico;
atendimento médico à população carcerária, no posto de saúde mais próximo do
presídio. As atividades coletivas, como orientações sobre doenças sexualmente
transmissíveis e AIDS, são realizadas no próprio presídio; os atendimentos
odontológicos também são realizados no presídio, visto haver disponibilidade de
equipamento.
3.4 Inovação na gestão, processos decisórios e provisão de serviços
Nos itens anteriores fica claramente expresso o grau de mudança introduzido
com relação às práticas anteriores. Quanto à gestão, a principal mudança ocorrida foi
o setor público responsabilizar-se pelo gerenciamento de todas as ações e serviços de
saúde, na perspectiva de que somente desta forma seria possível efetivar a inovação
política, redirecionando a prioridade dos gastos do sistema para a atenção básica,
com enfoque integral, em detrimento da centralidade da atenção hospitalar.
Impacto sobre a qualidade de vida
O impacto sobre a qualidade de vida pode ser identificado pela melhoria de
indicadores de saúde, obtida principalmente pelas ações de promoção da saúde,
como redução da Taxa de Mortalidade Infantil - de 19,1 em 1991 para 10,4 nos últimos
12 meses, tendo sido de 8,9 em 1996; ou o aumento da cobertura vacinal, como
mencionamos.
No entanto, a possibilidade de acesso gratuito a serviços curativos e
resolutivos deve ser considerada como fundamental em municípios, como Santa Rosa,
em que o pagamento pela atenção à saúde em situações de crise, pela população
rural e urbana de baixa renda, é um importante fator de empobrecimento, tanto desta
população quanto do município. Por exemplo, a necessidade de pagar por um parto
pode levar uma família que possui 3 ou 4 hectares de terra e uma vaca a vender a
vaca e 1 hectare; ou a costureira a vender sua máquina de costura, se algum membro
da família necessitar de cirurgia. Relatos de situações como estas o bastante
freqüentes e preocupantes, não apenas no município em foco, como em muitos outros
municípios do interior do RS. Portanto, ter a situação de doença resolvida de forma
gratuita também é um importante fator para a qualidade de vida e para o
desenvolvimento social de um município como Santa Rosa, evitando que o retorno à
saúde se dê às custas de outras funções valorizadas.
Viabilidade técnica e financeira
118
Até o presente, os atores participantes do SUS - Santa Rosa têm-se mostrado
bastante capazes de equacionar soluções para os problemas gerenciais e de atenção
à saúde. Parte expressiva do contingente de profissionais de vel superior do
município possui cursos de pós-graduação (um mestre em epidemiologia, outro em
serviço social, e onze especialistas em saúde pública), o que tem sido determinante
para garantir a ênfase na integralidade e a clareza quanto à política de saúde que está
sendo implantada. No entanto, inclusive como conseqüência dos avanços obtidos e da
complexidade resultante, os gestores estão identificando a necessidade de aumentar a
qualificação gerencial de coordenadores de Distritos, bem como de profissionais de
setores da administração central; para tanto, estão em andamento tratativas com uma
Universidade regional, visando operacionalizar tal capacitação. Fica evidente a
importância dada à qualificação técnica e, principalmente, à capacidade de perceber
pontos de estrangulamento, que podem constituir impedimentos para o avanço do
processo, bem como o encaminhamento de formas para superá-los.
Do ponto de vista financeiro, o sistema é mantido através do aporte de
recursos de diferentes fontes, gerenciados pelo Fundo Municipal de Saúde. No ano de
1997, o total de recursos financeiros foi de R$ 9.848.390,566, sendo 27,97% do
orçamento municipal, 71,21% do Governo Federal e 0,82% de outras fontes. O
montante repassado pelo governo federal está estabelecido no convênio de
municipalização, sendo feito por transferência direta ao Fundo.
Descentralização e democratização das decisões
O processo de participação da população foi descrito anteriormente (vide
item 5.2). Com relação à participação dos servidores, é interessante mencionar a
afirmação de uma odontóloga: "No momento da escolha dos técnicos, a Prefeitura não
se preocupou em selecionar profissionais com a mesma linha que ela. Além disto,
deixa os técnicos trabalharem, ouvindo-os e respaldando seu trabalho. Quem a
linha para a saúde em Santa Rosa não é a Prefeitura em si, mas seus profissionais,
servidores municipais, que estabelecem a orientação geral".
A elaboração dos programas da rede municipal foi coordenada pelo diretor do
Departamento de Planejamento e Informação, e realizada com a participação dos
profissionais da rede básica, em busca de um maior engajamento das equipes no
desenvolvimento e revisão das ações previstas. A reflexão sobre o andamento destes
programas, e a observação de itens que deviam ser modificados, excluídos ou
acrescentados, permitiu que cada equipe fizesse as correções de trajetória
necessárias e tivesse programas cada vez mais adequados à realidade de cada
unidade. As situações diversas em cada Distrito Sanitário impõem que os programas
sejam flexíveis, de tal forma que, seguindo as mesmas orientações gerais, cada
equipe possa adaptá-los à sua realidade, conseguindo assim melhores resultados e
maior satisfação, tanto da população atendida quanto dos profissionais do serviço.
Como os profissionais de nível superior apresentassem maior tendência de
participação em situações de tomada de decisão, foi elaborada uma estratégia para
estimular os profissionais de nível médio a ocuparem um espaço maior na equipe,
dando opiniões e decidindo com os demais. Parte desta estratégia foi o Programa de
Educação Continuada, descrito mais adiante.
Atualmente muitos profissionais participam das reuniões do Conselho Municipal
de Saúde, onde todos os presentes têm direito à voz, sendo este um espaço
importante para a troca de informações e para conhecer melhor as demandas e
posicionamentos dos usuários.
119
Articulação com o setor privado
Podem ser identificados momentos distintos no decorrer da implantação da
municipalização.
Inicialmente, no período da gestão incipiente, houve um aumento tímido da
rede básica com a contratação de poucos profissionais, que se somaram à
municipalização dos oriundos da Secretaria Estadual de Saúde e do Instituto Nacional
de Assistência Médica da Previdência Social. A seguir, com a gestão semiplena e a
possibilidade de gerenciar todo o sistema de saúde no município, houve um aumento
mais intensivo da rede básica, a contratação de um maior número de profissionais, a
negociação de valores diferenciados para o pagamento de procedimentos
ambulatoriais aos prestadores privados de serviço, e o enfrentamento dos prestadores
que habitualmente realizavam cobranças adicionais dos pacientes, isto é, cobranças
de pacientes que deveriam ser atendidos de forma gratuita, conforme previsto pelo
SUS. Ou seja, foi se estabelecendo uma relação mais transparente, sendo exigindo
dos prestadores o encerramento de cobranças irregulares, sem deixar de reconhecer,
contudo, a necessidade de melhorar os valores pagos pelos serviços prestados.
A maioria dos serviços e dos profissionais privados adotou uma posição
contrária ao sistema, com várias tentativas de interromper o atendimento, acontecendo
até um descredenciamento em massa de médicos do SUS, numa tentativa de
inviabilizar as mudanças que vinham acontecendo e que retiravam privilégios que
estavam consagrados pela prática, à revelia da lei e em prejuízo do cidadão. Frente ao
impasse, o nculo estabelecido pela administração municipal com a comunidade, e a
disposição para enfrentar as dificuldades, constituíram importantes apoios a medidas
para superar a situação e implementar as reformas. Dentre as medidas tomadas, cabe
destacar a operação de devolução, por parte da Prefeitura, dos valores pagos pela
população, cobrados indevidamente pelos prestadores de serviços; a Prefeitura
passou a descontar os referidos valores das faturas dos prestadores, com o apoio
fundamental do Ministério Público.
Também deve ser mencionado que os postos de saúde tinham suas ações
muito centradas nos médicos, que em sua grande maioria eram favoráveis à posição
dos colegas do setor privado; tal fato contribuía para a baixa resolutividade da rede
básica e para a necessidade de comprar serviços na rede conveniada.
Com a contratação de profissionais com dedicação exclusiva (ver a seguir) e a
composição de equipes multiprofissionais em todas as unidades, entraram no sistema
profissionais que não apenas tinham uma formação mais adequada - com ênfase em
medicina geral e comunitária - para a atenção primária à saúde, como também se
posicionaram como aliados para a implantação de um sistema público eficiente e
resolutivo. Isto ficou evidente na participação dos profissionais na composição e no
trabalho em equipes, na busca de soluções de acordo com a realidade de cada
Distrito, na participação para a implementação da territorialização da saúde, e nas
reuniões com a comunidade e com o Conselho Municipal de Saúde.
O Prefeito Municipal, que assumiu em 1997, prometeu manter as mudanças na
área da saúde. no início de seu mandato houve sinalização dos prestadores de
serviços de que estavam dispostos a negociar e cooperar. Tal atitude permitiu que o
sistema fosse consolidado; o contexto mais favorável também permitiu implementar
melhorias no sistema de gerenciamento, aumentar a resolutividade da rede básica,
diminuir a dependência dos prestadores privados, e aumentar a confiança da
população nos serviços da rede pública. Foram adotadas, então, várias medidas
120
racionalizadoras e foi, novamente, aumentado o número de profissionais privados
dispostos a atender pelo SUS. Também os serviços de diagnóstico e terapia voltaram
a se interessar pela demanda do SUS. Ao mesmo tempo, outros serviços foram
abertos na cidade, oferecendo-se para prestar atenção ao sistema. Isto permitiu que a
contratação de serviços fosse discutida com os prestadores, inclusive com a redução
de alguns valores da antiga tabela, devido à competição entre profissionais e serviços,
mantendo-se, entretanto, valores acima da tabela nacional do SUS.
Esta nova relação com os prestadores trouxe benefícios para os usuários. No
caso dos laboratórios de análises clínicas, terminaram as dificuldades impostas aos
usuários do sistema público, como o estabelecimento de exames apenas em horários
pré-determinados (após os particulares) ou salas diferenciadas para o atendimento. A
marcação de consultas especializadas passou a ser feita nos postos de saúde, e
agora o paciente precisa se deslocar ao serviço no dia da consulta. São poucos os
relatos de cobranças complementares.
Formação e qualificação dos servidores
Conforme referido, a qualificação dos profissionais de nível superior é
bastante boa, considerando o contexto do Estado e do Brasil. Além disto, convênios
com Universidades da região permitem fazer da rede de saúde área própria para
estágios, o que também funciona como meio de atualização dos serviços. Existem
convênios para estágios de cursos de graduação na área de enfermagem, com a
Universidade de Ijuí e Universidade Federal de Santa Maria; e na de psicologia com a
Universidade Regional Integrada de Santo Ângelo. Com a Universidade de Ijuí, outro
convênio operacionaliza (em Santa Rosa) um curso de auxiliar de enfermagem, que
permite a vários profissionais da rede exercer a docência e repassar conhecimentos.
Um acordo de cooperação técnica com o Serviço de Saúde Comunitária do Grupo
Hospitalar Conceição (com sede em Porto Alegre - capital do Estado), proporciona a
ida de residentes de medicina comunitária para Santa Rosa e de enfermeiras da
Fundação para treinamento em Porto Alegre. Está em andamento um processo para
um curso de residência em medicina comunitária, em conjunto com a Universidade de
Ijuí e com a Secretaria Estadual de Saúde, a ser realizado em Santa Rosa.
Os auxiliares de saúde têm a sua disposição um Programa de Educação
Continuada, com o objetivo de permitir a integração entre os profissionais que atuam
na rede básica, instrumentalizar os auxiliares em assuntos técnicos, e envolver os
profissionais com as discussões sobre a política de saúde que norteia a construção do
SUS no município. São realizados encontros mensais, no horário de trabalho, com
rodízio entre os auxiliares das diversas unidades. Os profissionais de nível superior
também participam em sistema de rodízio, para apoiar o desenvolvimento dos temas
tratados e aumentar a integração. São exemplos de temas: saúde e sociedade,
legislação do SUS, planejamento dos serviços, aleitamento materno e alimentação de
zero a 1 ano, saúde mental, saneamento básico, etc.
Os agentes comunitários de saúde têm reuniões semanais de educação
continuada com a instrutora de cada Distrito de saúde, que é enfermeira, contando
com a eventual participação do respectivo médico e dentista; e mensalmente uma
reunião de todos os 44 agentes com a coordenadora municipal do programa. São
revisados assuntos referentes a cuidados básicos à saúde, prevenção e promoção da
saúde, ações dirigidas a patologias especificas mais prevalentes nas estações do ano,
ou referentes à organização e funcionamento do sistema de saúde.
121
Os médicos têm reuniões semanais para discussões sobre assuntos
relacionados à clínica médica, em horário fora do expediente, por iniciativa própria. Os
enfermeiros mantêm reunião mensal com as mesmas características; no período de
definição das rotinas de assistência do enfermeiro na atenção primária (que perrmite a
estes profissionais solicitar exames e prescrever medicamentos previstos nos
programas), as reuniões chegaram a ser semanais; o conjunto de reuniões facilitou e
aumentou a realização de vários serviços, como a realização do pré-natal, exames
ginecológicos e outros, aumentando a capacidade de atendimento resolutivo da
unidade, além de uma maior disponibilidade de consultas médicas.
As psicólogas e a assistente social, que estão trabalhando mais próximas da
saúde mental, também fazem reuniões semanais de avaliação do programa e de
pacientes, tanto do ponto de vista clínico, como de encaminhamentos do tratamento.
Valorização dos servidores
O principal objetivo para a criação da Fundação Municipal de Saúde foi permitir
um sistema de remuneração compatível com a permanência dos profissionais em
tempo integral na rede pública, bem como a ausência de vínculos com o setor privado.
Como diz a presidente do Conselho Municipal de Saúde: "a dedicação
exclusiva garante que o médico, principalmente, não tenha ambigüidade de trabalhar
no privado e no público, eliminando-se, assim, tanto a pressa em sair do serviço
público para atender no consultório, quanto o encaminhamento de pacientes para a
clínica privada". De acordo com o segundo vice-presidente do Conselho, "o interesse
do profissional com dedicação exclusiva é fazer com que o paciente saia com seu
problema resolvido, ele não tem interesse de repassar para outro colega se puder
resolver no seu serviço".
A realização de um concurso público, que colocava como requisito a dedicação
exclusiva, levou a um perfil de candidatos que buscam a realização profissional no
trabalho com saúde pública. A remuneração da dedicação exclusiva é feita através de
um adicional de 300% sobre o salário básico para médicos e odontólogos, e de 150%
para enfermeiros.
De acordo com o diretor do Departamento de Planejamento e Informação: "A
dedicação exclusiva é uma das pedras fundamentais do sistema, porque os
profissionais vestem a camisa e têm uma realização pessoal e financeira. Pela própria
estrutura do serviço, trabalhando com epidemiologia, vendo os resultados no coletivo e
não só no individual, tendo uma retaguarda que garante a resolutividade - com
medicamentos e serviços de maior complexidade, a realização da pessoa é muito
maior e implica no reconhecimento de que seu trabalho está contribuindo para que o
sistema dê certo".
Portanto, a valorização pode se expressar tanto do ponto de vista da
remuneração quanto do reconhecimento do seu trabalho como fundamental, incluindo
ainda o sentir-se ator pela participação no processo de tomada de decisões.
Sistemas de apoio à decisão
No que se refere à estrutura do processo de decisão do SUS - Santa Rosa, o
órgão máximo é a Conferência Municipal de Saúde, que se realiza anualmente com
grande participação popular e com o objetivo de deliberar sobre a política municipal de
saúde; segue-se, em ordem hierárquica, o Conselho Municipal de Saúde, o Conselho
122
Diretor da Fundação e Comissão de Coordenação da Fundação (chefes dos
Departamentos e do Serviço, e coordenadores dos Distritos Sanitários).
O sistema de informações, que apóia o processo de decisão, tem sua base nos
postos de saúde, interligados entre si e com o Departamento de Planejamento e
Informação, em rede. Assim, os índices de morbidade, que levam a população ao
serviço, são monitorados constantemente, bem como as internações hospitalares e
suas causas, os índices de cobertura de pré-natal, etc. A demanda reprimida é
avaliada pela procura de unidades fora dos Distritos Sanitários de origem do usuário, e
pela procura dos serviços de pronto atendimento por motivos que poderiam ter sido
atendidos na rede básica. O sistema local de informações está conectado a cinco
sistemas nacionais - nascidos vivos, mortalidade, doenças de notificação compulsória,
produção ambulatorial e produção hospitalar.
As informações são processadas no Departamento de Planejamento e
Informação, com envio para os postos de dados mensais, com exceção dos dados do
sistema de Nascidos Vivos, com as informações sobre peso ao nascer, tipo de parto,
realização de pré-natal, idade e condições sócio-econômico-culturais da mãe, que são
enviados semanalmente para o posto da área de residência da parturiente. Isto
permite a busca das crianças de risco, como filhos de mães adolescentes, prematuros
ou de baixo peso ao nascer.
Além disto, são utilizados indicadores sócio-econômicos, principalmente a partir
do trabalho dos agentes comunitários de saúde junto às famílias cadastradas e dos
dados dos prontuários nos postos de saúde.
Sistema de avaliação de desempenho
O município criou o Serviço de Revisão e Auditoria somente em 1996, com a
estruturação física e de pessoal somente se completando em 1997. Neste ano foram
elaborados novos contratos com os prestadores privados e as ações do serviço foram
orientadas para estabelecer normas de revisão e auditoria compatíveis com tais
contratos. O serviço é responsável pela manutenção e atualização do cadastro de
prestadores; pela vistoria, supervisão, inspeção e auditoria de todos os serviços,
autorização prévia das internações hospitalares e dos procedimentos de alto custo, e
análise dos relatórios dos prestadores.
Na área ambulatorial foi priorizada a revisão dos Boletins de Produção
Ambulatorial, documento apresentado pelos prestadores para comprovar a realização
de cada procedimento, e para orientar os serviços no cumprimento das normas. Na
área hospitalar foram identificadas as áreas com maior número de internações e as de
maior carência. A partir destas informações foram planejadas ações para mudar a
situação; por exemplo, foram reduzidas as internações por doenças bronco-
pulmonares e aumentadas às cirurgias eletivas.
No entanto, o SUS - Santa Rosa ainda não desenvolveu formas de
monitoramento sistemático das suas próprias atividades, o que dificulta não apenas o
processo de decisão, como também não permite identificar em que medida alterações
introduzidas nos serviços impactam, e de que forma, os indicadores de saúde e a
qualidade de vida da população.
Racionalização dos custos
123
A evolução dos gastos com serviços contratados não demonstra reduções
importantes, a não ser nos gastos com internações hospitalares, que correspondiam a
uma média mensal de 31,7%, do total do gasto com saúde no SUS - Santa Rosa, em
1995, e a 22,6% nos meses de 1998. O gasto com serviços ambulatoriais contratados
aumentou de 30,1%, em 1995, para 34,8% na média mensal de 1998; essa mudança
na compra de serviços expressa a nova direcionalidade da política de saúde. O total
dos gastos com o setor privado foi reduzido de 61,8% em 1995, para 57,4% nos
meses de 1998. Porém, a maior racionalização nestes gastos pode ser
compreendida se for ligada ao aumento no número de procedimentos realizados e de
pessoas atendidas (como foi descrito no item 5.3), como também à proibição da
prática de cobranças irregulares.
A racionalização no uso dos recursos financeiros pode ainda ser exemplificada
com a Lista Básica de Medicamentos, realização de exames nos postos de saúde e
mudanças realizadas no Pronto Socorro Noturno.
O fornecimento de medicamentos vinha sendo realizado nos postos com
fármacos adquiridos pela Prefeitura através de licitação. Eram realizados cadastros
para os pacientes que faziam uso de medicamentos contínuos, sendo estes adquiridos
numa farmácia conveniada e fornecidos aos pacientes. Analisando os medicamentos
adquiridos pelo período de três meses, foi constatado que os postos dispunham da
maioria dos mesmos, principalmente quando se levava em consideração os princípios
ativos. Foi proposta ao Conselho Municipal de Saúde uma Lista Básica que atendesse
a maior parte das patologias, bem como a padronização da prescrição para o
fornecimento. A Fundação Municipal de Saúde apresentou uma lista como proposta e
foi formada uma comissão de cinco médicos, indicada pelo Conselho, que analisou e
fez mudanças. Esta nova lista voltou ao Conselho, tendo sido aprovada. Para
complementação de itens ausentes da Lista Básica a Fundação realiza avaliação
técnica e avaliação social, uma vez que o Conselho deliberou pela prioridade de
fornecimento de medicamentos aos mais carentes. Os gastos com medicação
passaram de uma média mensal de R$ 60.000,00 para R$ 35.000,00, sem prejuízo à
população.
Foram adquiridos Kits para testes de gravidez, dosagem de glicemia e exames
qualitativos de urina para a realização de exames nos postos; foi constatado que os
resultados obtidos com estas técnicas têm valor similar aos realizados em laboratórios
e que a possibilidade de obter resultado imediato evitava repetição de consultas,
deslocamentos desnecessários, ausências de serviço e outras dificuldades. Mesmo
considerando uma perda de 30% nos exames disponíveis em cada Kit, há uma
redução de mais de 50% no valor do exame. Por exemplo, o custo unitário do teste de
gravidez fica em torno de R$ 0,60, incluindo as perdas.
Foi criado um plantão de Pronto Atendimento no Posto de Saúde Cruzeiro, durante a
noite, em função de estar localizado em um bairro populoso e distante do centro, onde
se localizam os dois hospitais e respectivo Pronto Socorro. O serviço era conveniado
com os prestadores privados de serviço por um valor fixo de R$ 6.800,00 e mais a
fatura dos procedimentos - em torno de R$ 7.500,00, totalizando aproximadamente R$
14.300,00 mensais. Este serviço não era resolutivo, servindo apenas como porta de
entrada para o sistema de referência e contra-referência, e havia um número muito
grande de solicitações de exames que eram, na verdade, transcrições de exames
solicitados em consultórios particulares ou de pacientes de plano-seguros de saúde
que só cobrem a consulta médica. Ou seja, o profissional contratado utilizava o serviço
para dar vazão a exames para seus pacientes particulares. Foi realizado um estudo de
demanda que mostrou a possibilidade de diminuir o número de horas de plantão (a
partir da uma hora eram raros os atendimentos). Foi também encaminhado Projeto de
Lei para a Câmara de Vereadores criando um adicional por plantão noturno para os
profissionais da Fundação com contrato de dedicação exclusiva. Desta forma, o
124
funcionamento do plantão passou a ser integrado com o dos postos de saúde,
terminando o desvio de recursos (na nova sistemática a fatura dos procedimentos é
realizada a favor da Fundação); como resultado, aumentou a satisfação dos
funcionários e seus proventos, e aumentou a resolutividade do atendimento. Com as
mudanças o custo passou a ser de aproximadamente R$ 6.500,00 mensais.
Sustentabilidade e Replicabilidade
A análise da sustentabilidade deve considerar, em um primeiro momento, a
legitimidade social da política de saúde, que se evidencia em diversas situações. Por
exemplo, a aprovação da Lei que cria a Fundação Municipal de Saúde foi resultado de
um movimento de mobilização popular, inclusive com uma grande manifestação na
frente da Câmara de Vereadores no dia da votação.
Além desses momentos de evidente explícito ao processo, evidências do dia-a-
dia também revelam a adesão da população. O reconhecimento das mudanças no
modelo pode ser percebido com a crescente valorização, pela população, de que não
somente o médico, mas também outros profissionais, inclusive os de nível médio, são
capazes de ações resolutivas. Assim, está se tornando comum o usuário procurar o
posto para ser atendido por profissionais não médicos. Isto é especialmente
importante em uma cultura muito medicalizada, como a brasileira.
A possibilidade de acesso universal e gratuito é outro fator legitimador da
política. Antes da sua implantação, segundo depoimento do presidente da Fundação,
“o acesso a uma consulta ou internação, ou a redução do valor cobrado por elas,
dependia do Vereador ou do Secretário, até do Prefeito; não havia uma política de
saúde, havia uma política de favores".
No entanto, não podemos esquecer que o Brasil é um país com forte tradição
patrimonialista, o que leva a duvidar que uma experiência, embora bem sucedida e
legitimada pela população, com tão pouco tempo de implantação, tenha sido capaz de
mudar padrões culturais de convivência da população com o poder público. Assim,
todos os entrevistados alertam para riscos à continuidade da política de saúde, em
caso de vitória da oposição nas próximas eleições municipais (no ano 2000, com
posse em janeiro de 2001). De acordo com o diretor de Planejamento e Informação, o
quadro político local é bastante complexo, em função do impacto da política de saúde
nas relações de poder da cidade:
"Os políticos locais até hoje não têm noção do que seja o SUS. Eles, de certa
forma, foram conduzidos. Viram que a coisa começou a dar certo e tiveram que
incorporar isto no seu discurso. Então, temos muitas lideranças falando a favor sem
entender o que é, tenho medo de que esses discursos sem respaldo comecem a
mudar em caso de uma mudança na Prefeitura. (...) Vários grupos sociais têm
interesse em que esta estrutura seja desmontada. O melhor exemplo é o dos médicos,
que tiveram que baixar o preço das consultas particulares, hoje o preço médio é de
R$30,00, pela competição da rede pública. Ou seja, as pessoas percebem que o
atendimento no posto de saúde é de boa qualidade e resolutivo, com acesso a
exames e medicamentos necessários, e não se sujeitam mais a pagar entre R$ 80,00
e R$100,00 por uma consulta, mais os outros gastos. Os hospitais também tiveram
seus ganhos bastantes reduzidos, o mesmo ocorreu com os laboratórios e as
farmácias. Houve uma mudança das esferas de circulação de dinheiro na cidade.
Então, estes grupos têm interesse de, na hora da eleição municipal, negociar apoio
financeiro para um candidato que não seja comprometido com a manutenção do SUS
125
em Santa Rosa. E muitos candidatos estão dispostos a aceitar este apoio, até por
convicções ideológicas."
Ou seja, a descentralização provocou, na área de saúde em Santa Rosa, uma
mudança que contradiz a tendência detectada por alguns autores, de que este
processo favoreça a sedimentação da dominação de grupos que, por riqueza ou
status, são poderosos no nível local (Smith, 1988). Paradoxalmente, esta qualidade
da inovação é sua maior ameaça.
Outra ameaça constante se localiza dentro do próprio sistema de saúde, em
função do movimento de recentralização liderado pelo Ministério da Saúde. A última
Norma Operacional, emitida por este órgão em 1996, define que parte dos recursos
repassados pelo governo federal para os municípios deve ser aplicado em atividades
previamente estabelecidas pelo Ministério, visando implantar a focalização e a
seletividade. Até este momento o SUS - Santa Rosa tem conseguido argumentar e
demonstrar, pelas evidências dos seus bons resultados, que seria um retrocesso
abandonarem a perspectiva da integralidade e da atenção por equipe multidisciplinar,
para implantar, em contrapartida (por exemplo), o modelo do Programa de Saúde da
Família. Espera-se que a relação de forças não se altere e que o governo municipal
consiga continuar fazendo prevalecer seus argumentos frente à tecno-burocracia
federal. Este mesmo tipo de confronto tem ocorrido em relação à Secretaria Estadual
de Saúde, que vem agindo como uma espécie de guardião das normas federais.
Pode-se ainda acrescentar que a sustentabilidade do modelo, na atual
conjuntura, também depende da continuidade e avanço do processo. Para tanto, é
preciso que o gestor municipal implemente algumas atividades importantes, como o
monitoramento das ações e serviços públicos com avaliação de resultados, para o
qual um sistema de informação de base geográfica seria muito útil. É igualmente
importante conseguir levar adiante as atividades de capacitação gerencial dos
profissionais, tanto do vel central quanto da rede, incluindo a capacitação em
planejamento para enfrentar problemas, para evitar (por exemplo) a submissão às
normas que o gestor estadual tenta impor aos municípios para funcionamento dos
programas de saúde.
Quanto à replicabilidade, é interessante mencionar que o SUS - Santa Rosa
atingiu uma imagem pública muito boa em todo o Estado do RS, tendo funcionado
como uma espécie de espaço-demonstração do que é possível realizar por um
município como Santa Rosa. Assim, a visita de prefeitos e secretários municipais de
outros locais é bastante freqüente.
Isto nos encaminha para considerar que aspectos chave da inovação gerencial
ocorrida em Santa Rosa podem ser replicados em outros municípios, mesmo de
outras regiões do Brasil:
O primeiro deles se refere à clareza quanto ao modelo de atenção a ser
implantado. Em nenhum momento, desde 1993, foi colocado em dúvida que o eixo
central era romper com o modelo hospitalocêntrico - na palavra de um dos médicos,
"não adianta ser universal e gratuito se continuar sendo hospitalocêntrico". Assim, o
princípio da integralidade da atenção, juntamente com o da universalidade e
gratuidade no acesso, funciona como imagem objetivo que orienta a direcionalidade
das decisões e das alianças necessárias, mesmo nos momentos de maior crise.
A atenção a grupos especiais pode ser feita de forma simples, integrada a rede de
serviços, não implicando em esforços adicionais para o sistema e repercutindo em
importantes ganhos de cidadania para grupos sociais em situação de desvantagem.
126
Sem a aliança com a população não teria sido possível enfrentar atores sociais
bastante poderosos no nível local. Portanto, não basta ter um Conselho Municipal de
Saúde funcionando apenas do ponto de vista formal, por ser uma exigência legal para
a municipalização. É preciso que este Conselho de fato delibere sobre a política e
esteja informado sobre todas as etapas do processo, sendo parte ativa e fundamental
do processo de tomada de decisão e de acompanhamento do sistema.
A valorização dos profissionais de saúde, tanto do ponto de vista da remuneração
quanto da parceria no decorrer do processo, é outro aspecto fundamental. Fica
bastante claro o papel que os profissionais com dedicação exclusiva desempenham no
sistema. No caso de Santa Rosa, sua entrada constituiu momento marcante, de
redirecionamento nos rumos, considerando a viabilização do modelo de atenção
almejado e a própria racionalização dos custos. Ou seja, fica claro que o aumento das
despesas com os profissionais da Fundação é mais do que compensado pela redução
de custos em outros pontos do sistema.
Embora não exista nenhuma Universidade com sede em Santa Rosa, esta
experiência demonstra a possibilidade de articulação com instituições de formação de
pessoal para a área de saúde na região e mesmo em nível estadual.
Medidas simples de racionalização dos gastos mostram o quanto o setor
público pode fazer nesta área, contradizendo a perspectiva que condena este setor à
ineficiência e como única saída à adoção de modelos economicistas, com base na
competição de mercado. Este caso demonstra, inclusive, o papel que o setor público
desempenha para reduzir os preços cobrados pelo setor privado, competindo com
este.
Considerações Finais
Este estudo demonstra não apenas que é possível ao gestor municipal
diferenciar-se em termos de qualidade e eficiência, mesmo se inserido em um Sistema
Nacional que vem impondo sucessivas dificuldades à efetiva implementação do SUS
e, em especial, à efetiva descentralização. Ele também demonstra que a
descentralização, de fato, pode ser um meio para a democratização e para a atuação
da cidadania, decidindo e provocando mudanças. Reforça, portanto, a vertente
progressista e sua concepção de descentralização como forma de reformar o aparelho
estatal, conferindo-lhe maior eficiência e reformulando as relações do Estado com a
sociedade, em especial com relação à prática patrimonialista longamente
estabelecida.
Consideramos, portanto, o SUS - Santa Rosa como uma experiência que inova
nos aspectos que nos dispomos a considerar neste estudo, com algumas limitações
que ainda precisam ser superadas em alguns itens. Esta experiência tem sua
sustentabilidade muito vinculada ao processo eleitoral (o que é bastante característico
no Brasil), mas a legitimidade da política junto à população e a outros gestores
municipais pode ser importante fator para interferir em uma eventual tentativa de
desmonte do sistema. Além disto, a experiência é transferível para outros locais, uma
vez que se desenvolveu sobre opções simples e claras.
Na verdade, o SUS - Santa Rosa não rompeu com qualquer paradigma no que
se refere à atenção à saúde, tendo apenas implantado uma concepção amplamente
desenvolvida e difundida. A inovação está em que este modelo, quando implantado,
implica em um deslocamento de poder entre os atores que compõem o espaço
institucional do setor de saúde, e a forma de enfrentar as reações decorrentes foi
estabelecer uma forte parceria com os cidadãos.
127
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FONTE: Evento: Concurso de Monografias do Congresso "Administração Pública e
Reforma do Estado"
129
Local: Centro Latinoamericano de Apoyo al Desarollo (CLAD) - Madrid
Data: Outubro de 1998
Publicação: Escola de Administração - UFRGS
Rua Boa Vista, 401 Cx. Postal 1040 - Santa Rosa/RS CEP 98900-000
Fone/Fax: (55)3512 6122
130
ANEXO D
Boletim Epidemiológico
131
132
133
134
135
136
137
ANEXO E – Notícia do Falecimento de “Orlando Baumgartner”
138
ANEXO F – Divulgação das Propostas da VII Conferência Municipal da
Saúde
139
ANEXO G - Relatório Final da VII Conferência Municipal de Saúde de
Santa Rosa
7ª Conferencia Municipal de Saúde
RELATÓRIO FINAL
Saúde, Cidadania e Políticas Públicas
1 - Providenciar a colocação de um telefone público de fácil acesso à comunidade da
Vila Esperança.
2 - Solicitar à Brigada Militar que melhore o policiamento ostensivo próximo aos Postos
de Saúde, principalmente nas Vilas Cruzeiro do Sul e Vicente Cardoso e nos outros
Postos conforme necessidade.
3 - Criar um mecanismo juntamente com o Conselho Tutelar, Brigada Militar, Polícia
Civil, própria comunidade, Promotoria Pública e outros órgãos de segurança pública
para que o usuário tenha uma melhor segurança durante á noite e visando coibir a venda
de fichas.
4 - Reivindicar ao Poder Público a instalação de lixeiras para recolhimento de lixo
próximo aos Postos de Saúde.
5 - Encaminhar solicitação a Secretaria de Obras para manutenção e melhoramento
das estradas que dão acesso aos Postos de Saúde do interior.
6 - Encaminhar solicitação a Secretaria de Obras para estudo e viabilidade de
construção de calçamento em frente ao Posto Avançado de Saúde de Lajeado
Manchinha.
7 - Em parceria com instituições de ensino, viabilizar curso de residência nas áreas de
medicina e áreas multiprofissionais.
8 - Sugerir para que a Secretaria Municipal de Educação incentive trabalho de
reeducação alimentar junto as escolas, voltado aos cuidados com a merenda escolar.
Controle Social
9 - Estimular a criação de Conselhos Gestores junto as Unidades de Saúde (Distritos
Sanitários).
10 - Continuar com os encontros periódicos entre as equipes dos Postos de Saúde e a
comunidade local, onde são discutidos e definidos, horário e critério para distribuição
de fichas entre outros assuntos.
11 - Que os hospitais apresentem relatório financeiro mensal junto ao Conselho
Municipal de Saúde dos incentivos financeiro repassados pela Fundação Municipal de
Saúde.
Financiamento da Saúde
12 - Exigir do Governo Federal a aplicação da CPMF, exclusivamente na área de
saúde pública, adotando também um critério para divisão com os Estados e
Municípios.
13 - Reivindicar o repasse de mais recursos por parte de todas as esferas de governo
para a saúde pública de Santa Rosa.
140
14 - Criar um mecanismo legal, para que os municípios que encaminham pacientes
para serem atendidos aqui em Santa Rosa, venham a contribuir financeiramente.
15 - Garantir recursos para investimentos em equipamentos, e manutenção dos
mesmos para as Unidades Básicas de Saúde.
16 - Efetivar Comissão Técnica de Apoio aos Procedimentos de Licitação.
17 - Que seja mantida a Gestão Plena, buscando o incremento de recursos financeiros
para a expansão dos serviços aos usuários.
Gestão e Organização dos Serviços de Saúde
a) - Atendimento Hospitalar
18 - Ter mais agilidade nos encaminhamentos das cirurgias eletivas.
19 - Ter mais rapidez nas cirurgias e consultas por especialistas.
20 - Aumentar as especialidades oferecidas nos atendimentos de média e alta
complexidade, e manter as já existentes.
21 - Buscar o credenciamento do serviço de radioterapia para atendimento a usuários
dos SUS.
22 - Contratar consultas médicas especializadas em otorrinolaringologia.
b) Postos de Saúde
23 - Que os médicos dos Postos de Saúde mantenham contato com os médicos
plantonistas dos hospitais, quando houver a necessidade de baixas hospitalares de
usuários.
24 - Deixar fichas médicas disponíveis no Posto de Saúde da Vila Auxiliadora, para
moradores da Vila Santa Inês, após discussão e deliberação em reunião junto a
comunidade do Distrito de Saúde.
25 - Manter atendimento de médico Pediatra junto aos Postos de Saúde e/ou através
de sistema de referência.
26 - Fazer a ampliação da estrutura do Posto de Saúde da Vila Balneária e
transformá-lo em Distrito.
27 - Fazer com que haja mais organização no agendamento de fichas nos Postos de
Saúde.
28 - Providenciar a construção de abrigos aos usuários nos Postos de Saúde que não
possuem.
29 - Fazer com que haja mais agilidade nos atendimentos nos Postos de Saúde da
Vila Glória e Cruzeiro.
30 - Dedicar um dia exclusivo para atendimento odontológico aos moradores da Vila
Ibanês, no Posto de Saúde do CSU de Cruzeiro, após discussão e deliberação em
reunião junto a comunidade do Distrito de Saúde.
31 - Reservar turno de atendimento dos profissionais médicos e dentistas, uma vez
por mês, para as localidades que não possuem Posto de Saúde.
32 - Garantir a conclusão do Posto de Saúde até o final do ano de 2005 no Bairro
Sulina.
33 - Recurso financeiro para conclusão da unidade de Guia Lopes e um dentista para
atendimento.
34 - Manter agendamento de fichas nos Postos de Saúde para idosos.
35 - Aumentar o número de Equipes de Saúde Bucal.
36 - Disponibilizar cadeira de rodas e macas, em todos os Postos de Saúde que não
contam com este equipamento ainda.
37 - Alterar o horário para tirar fichas, nas Vilas Bancários, Mainertz e Santos, após
discussão e deliberação em reunião junto a comunidade do Distrito de Saúde.
38 - Ter atendimento odontológico, quinzenalmente, no Posto de Saúde de Esquina
Candeia.
141
39 - Aumentar mais um turno de atendimento médico no Posto de Lajeado Manchinha,
após discussão e deliberação em reunião junto a comunidade do Distrito de Saúde.
40 - Organizar o agendamento de fichas de consultas odontológicas para estudantes
de acordo com o Protocolo de Saúde Bucal.
41 - Instalação de um gabinete odontológico para atender o Distrito de Cruzeiro do Sul
e no Distrito da Pereira.
42 - Construção de um Posto de Saúde na Vila Timbaúva, conforme avaliação técnica
pelo Conselho Municipal de Saúde.
43 - Troca do dentista de 20 horas do Posto da Saúde da Vila Sete de Setembro.
44 - Dentro das possibilidades e mediante avaliação junto ao Conselho Municipal de
Saúde dê implantação de gabinete odontológico no Distrito da Agrícola.
c) Sistema Administrativo de Apoio
45 - Fazer com que a FUMSSAR disponibilize, quando necessário, uma ambulância,
para atender as solicitações dos Postos de Saúde.
46 - Usar meios de comunicação para fins de esclarecimentos a toda população sobre
os serviços e as ações prestadas pelo Sistema Único de Saúde, inclusive com o apoio
do Conselho Municipal de Saúde.
47 - Realizar mais campanhas de conscientização para doação de sangue, visando
um comprometimento maior de toda a comunidade.
48 - Fazer a atualização do Cartão do SUS com mais agilidade para sua entrega
49 - Criação de um setor de regulação, que contemple as atividades de autorização,
controle, avaliação e auditoria.
50 - Que a ampliação da rede básica somente ocorra após adequação física, de
equipamentos e de recursos humanos das unidades já existentes.
51 - Garantir que as contratações de pessoal permaneçam sendo feitas por concurso,
que seja mantido o regime jurídico único estatutário.
52 - Disponibilizar urnas para coleta de sugestões, reclamações e denúncias junto aos
Postos de Saúde.
53 - Planejar os investimentos conjuntamente com as equipes das Unidades Básicas
de Saúde, e o Conselho Municipal de Saúde, para inclusão nos orçamentos anuais.
54 - Reativar a CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes da FUMSSAR.
55 - Viabilizar transporte para grupos organizados de doadores de sangue, de Santa
Rosa, para manutenção do Hemocentro Regional.
56 - Seja dado conhecimento, através do Conselho Municipal de Saúde, da
contrapartida dos profissionais especialistas e qual o mecanismo de marcação das
referidas consultas.
d) Sistema de referência e Contra-Referência
57 - Possibilitar um dia por semana para agendamento, entrega e recebimento dos
exames, facilitando assim, o andamento das consultas médicas, após discussão e
deliberação em reunião junto á comunidade do Distrito de Saúde.
58 - Agilizar os encaminhamentos dos casos de urgência.
59 - Facilitar a marcação de cirurgias eletivas.
60 - Contratar mais serviços especializados e eletivos.
Recursos Humanos para Saúde
a)- Aumentos do Quadro de Funcionários
61 - Ampliação do quadro de profissionais, para os Postos de Saúde, com participação
do Conselho Municipal de Saúde e ouvindo a opinião dos profissionais na decisão de
prioridades.
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62 - Criar o cargo de técnico de enfermagem, estudando a possibilidade de alteração
de nível para os auxiliares de enfermagem.
63 - Observar a legislação quanto a forma de contratação dos Agentes Comunitários
de Saúde.
b)- Qualificação dos Profissionais na Saúde
64 - Existência de médico substituto para cobertura das eventuais faltas nas unidades.
65 - Garantir a capacitação dos agentes de saúde.
66 - Fornecer material (pastas e uniforme) para os agentes de saúde.
67 - Desenvolver trabalhos de Humanização, sobretudo com funcionários dos Postos.
68 - Qualificar os funcionários sobre alcoolismo e drogas lícitas e ilícitas.
69 - Formular uma política de capacitação e qualificação dos recursos humanos da
FUMSSAR.
70 - Implantação de uma política de capacitação de recursos humanos.
71 - Manutenção dos espaços de discussão: reunião de categoria, reunião de nível
superior,…
72 - Criação do programa de saúde ocupacional para os servidores municipais.
73 - Rever os casos de profissionais da FUMSSAR, que tenham sido liberados para
docência e/ou alteração de horário para exercício de outras atividades, se estão dentro
da lei e, apresentação de relatório junto ao Conselho Municipal de Saúde.
74 - Que se mantenha a dedicação exclusiva dos profissionais da FUMSSAR.
Atenção Integral à Saúde
75 - Garantir realização de visitas domiciliares.
76 - Fazer com que haja consultas de urgência no Posto de Saúde.
77 - Aumentar a cobertura dos Agentes Comunitários de Saúde, fazendo com que as
Vilas da cidade e locais do Interior que ainda não possuem, seja contemplado com
Agentes.
78 - Proporcionar a liberação da realização de vasectomia e laqueadura, como
mecanismo de apoio ao planejamento familiar.
79 - Implantar um Centro Municipal de Referência de Saúde do Trabalhador, mediante
as possibilidades financeiras e técnicas avaliadas junto ao Conselho Municipal de
Saúde.
80 - Buscar viabilidade para disponibilizar o exame de densitometria óssea pelo SUS.
a) - Política de medicamentos
81 - Incluir no Sistema a possibilidade de utilização de medicamentos fitoterápicos e
homeopáticos.
82 - Garantir medicamentos para pessoas cadastradas, respeitando a quantidade para
cada pessoa e controlar a distribuição de medicamentos contínuos.
83 - Aquisição de medicamentos genéricos pela FUMSSAR.
84 - Garantir a continuidade da distribuição gratuita de medicamentos, mesmo com a
implantação da Farmácia Popular.
85 - Criação de uma lista de medicamentos para fornecimento por processo, e uma
comissão técnica que avalie solicitações de medicamentos não padronizadas.
86 - Fornecer informações corretas aos usuários sobre o uso de medicamentos.
Políticas Ligadas ao Saneamento, Meio Ambiente e Vigilância
Sanitária
143
87 - Fornecer água potável para todas as comunidades.
88 - Retomar as campanhas publicitárias sobre a conscientização relativa ao lixo.
89 - Apoiar o Projeto existente de limpeza da Sanga do Inácio e de outros rios, com o
envolvimento da comunidade e entidades organizadas.
90 - Fazer melhoramentos quanto ao saneamento básico.
91 - Ter recolhimento de lixo tóxico.
92 - Priorizar melhorias na Vigilância Sanitária.
93 - Qualificação e ampliação do recolhimento seletivo de lixo.
94 - Ampliação do esgoto cloacal e da rede coletora.
95 - Adequação de acordo com a legislação vigente dos sistemas ambientais das
empresas.
96 - Solicitar ao Poder Público a manutenção do recolhimento de lixo em comunidades
do interior.
97 - Fazer parceria com a CORSAN para tratamento das águas das comunidades do
interior do município.
Qualidade no Sistema de Saúde
98 - Priorizar o atendimento dos idosos nos Postos, garantindo assim, seu acesso.
99 - Melhorar o atendimento de urgência para acamados.
100 - Melhorar o atendimento do dentista na Vila Sete de Setembro.
101 - Plantão nos Postos de Saúde deveria atender para qualquer idade, pois o
hospital reclama para prestar atendimento.
102 - Melhorar os atendimentos no Pronto Socorro do Hospital Vida e Saúde.
103 - Ter igualdade no atendimento dos pacientes do SUS e particulares, por parte
dos Hospitais e Prestadores de Serviços.
104 - Melhorar o atendimento por parte de todos os funcionários da rede, sendo que
foi sugerido, proporcionar um curso de relações humanas.
105 - Criar uma política de produção científica e a pesquisa aos Funcionários da
FUMSSAR.
106 - Ampliar a capacidade do laboratório.
Santa Rosa, em 25 de setembro de 2005.
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