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Seminário Mais,ainda e relativo à posição feminina: não totalmente fálica.
Este “não quero ser adulto” ao ser relacionado com o “não quero ter
cabelo no peito”, resultou na seguinte hipótese: Wilson não antecipava a
possibilidade de se fazer representar de forma diferente da infantil. Desta
maneira, perante a mudança da imagem do corpo, ele não quer avançar, ele
se apega à imagem infantil. Tenta se manter na identificação com esta
imagem que o aliena, que dá alguma consistência à sua experiência
subjetiva, mas evita se deparar com o ponto em que esta imagem não dá
conta do ser (Kehl, 2001). Tal ponto leva o sujeito a confrontar-se com a
falta, falta a ser que a identificação imaginária não resolve.
Esta “escolha” impõe dificuldade, produz resistência ao registro da
passagem do tempo na constituição de uma relação com a história. Ao
considerarmos, como Gagnebin (1998) a história pessoal como uma
tentativa de constituir uma narração que traduz, na sucessão de palavras e
frases, um encadeamento do real, o avanço perante o impasse só pôde se
realizar através da viabilização da constituição de narrativas do aluno.
Se a relação com a história envia, como destaca Calligaris (1996) à
relação com as origens, a dificuldade em compor uma história passa a se
fundamentar na dificuldade em se referir à origem.
Freud (1996[1905]) considera que sempre abordamos nossa origem
através de uma ficção. Esta “outra cena”, em que a relação com a origem se
torna possível, constituiu-se, primeiramente, na seqüência de fabricações do
fusca, através da qual o aluno constituiu a demarcação de uma
temporalidade possível. Posteriormente, nas interrogações em relação à
minha origem, data de nascimento do meu pai e de minha mãe, ao
perguntar sobre minha posição em relação à minha filiação, passou da
relação de certeza - (não quero saber) – à de dúvida, na qual ensaia a
constituição de uma relação a uma genealogia possível. Nos seus diálogos,
instaura-se a possibilidade de pensamento, de distanciamento sobre sua