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CAROLINE DI BERNARDI LUFT
ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO E PRÁTICA DE
ATIVIDADE FÍSICA: POSSÍVEIS RELAÇÕES EM MULHERES IDOSAS
Dissertação de Mestrado
FLORIANÓPOLIS - SC
2007
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, FISIOTERAPIA
E DESPORTOS - CEFID
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
DO MOVIMENO HUMANO
CAROLINE DI BERNARDI LUFT
ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO E
PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA: POSSÍVEIS RELAÇÕES EM
MULHERES IDOSAS
Dissertação de mestrado apresentada como requisito à
obtenção do grau de mestre em Ciências do
Movimento Humano, na subárea de Atividade Física e
Saúde do Programa de Pós-graduação em Ciências em
do Movimento Humano, da Universidade do Estado
de Santa Catarina.
Orientador: Dr. Alexandro Andrade
FLORIANÓPOLIS – SC
2007
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CAROLINE DI BERNARDI LUFT
ASPECTOS NEUROPSICOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO E
PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA: POSSÍVEIS RELAÇÕES EM
MULHERES IDOSAS
Dissertação de Mestrado aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de
Mestre em Ciências do Movimento Humano, na área de concentração “Atividade Física e
Saúde”, no Curso de Pós–Graduação em Ciências do Movimento Humano da Universidade
do Estado de Santa Catarina.
BANCA EXAMINADORA:
Orientador:_________________________________________________________________
Prof. Dr. Alexandro Andrade
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Membro ___________________________________________________________________
Profa. Dra. Giovana Zarpelon Mazo
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Membro ___________________________________________________________________
Prof. Dr. Edgard Matiello Júnior
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Membro ___________________________________________________________________
Prof. Dr. Emílio Takase
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC
Florianópolis, 28 de fevereiro de 2007.
Dedico este trabalho àqueles que me dedicaram suas vidas,
Ao meu pai, Cláudio Edemar Luft (in memorian),
à minha mãe, Sandra Di Bernardi Luft.
“A mãe é eterna, o pai é imortal”.
(Dizer de Luar-do-Chão – Mia Couto)
4
AGRADECIMENTOS
“Merci, merci, merci.
Estou empapelado!
Deixo, feliz, aqui,
o meu muito-obrigado
a ti.”
Drummond
Este é um trabalho que reflete alguns anos de aprendizagem. Não sei precisar quando
começou, mas sei que não acaba aqui. Por isto, não são poucas as pessoas a quem eu devo
agradecer e seria impossível citá-las todas aqui. Registro formalmente o nome daqueles que
auxiliaram mais diretamente da elaboração desta dissertação, mas pretendo que este
agradecimento se estenda a todos que participam da minha vida. Portanto, meus sinceros
agradecimentos:
Ao meu orientador, Prof. Dr. Alexandro Andrade, pela orientação e amizade que tem
me dedicado nestes anos de mestrado, pelo seu entusiasmo que não me deixava desanimar e,
sobretudo, por ter assumido este trabalho junto comigo.
À Profª. Dra. Giovana Zarpellon Mazo, pelo comprometimento e seriedade com que
conduz às pesquisas e ações na área do envelhecimento, que muito me ajudaram. Estendo
meus agradecimentos ao Grupo de Estudos da Terceira Idade (GETI) da UDESC, por ela
coordenado.
Ao Prof. Dr. Edgard Matiello Júnior pelas valiosas contribuições teóricas e pela forma
com que me recebeu, dedicando atenção e cuidado com o trabalho e comigo.
Ao Prof. Dr. Emílio Takase que participou da minha vida acadêmica desde que
cheguei em Florianópolis, estimulando a busca por artigos e informações científicas.
À todas as flores que participaram deste estudo, enriquecendo-o com suas experiências
e vida, dando ao trabalho a possibilidade de ir além do que era inicialmente pretendido. À
Profª Simone Korn do Projeto Mexa-se pela saúde na Terceira Idade, que muito me ajudou no
início desta pesquisa e ao GETI, pelo apoio imprescindível no contato com as participantes do
estudo. Às colegas Geciely M.F. de Almeida e Ana Lúcia Corrêa por ter ajudado no contato
com algumas participantes.
À Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), ao Centro de Educação Física,
Fisioterapia e Desportos (CEFID), ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do
Movimento Humano (PPGCMH) e ao Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício
(LAPE).
Aos meus colegas de mestrado, em especial, à minha grande amiga Sabrina de
Oliveira Sanches, pelo convívio, discussões acadêmicas e, sobretudo, pela amizade. Aos
demais colegas do LAPE pelas discussões e crescimento que tivemos nestes anos juntos, em
especial aos que auxiliaram nas coletas de dados, ao Prof. Maick da Silveira Vianna e ao Prof.
Mestrando Ricardo Brandt pelo apoio e amizade.
À Solange Remor, secretária do PPGCMH, que muito me ajudou com a sua dedicação,
profissionalismo e amizade.
Ao ensino público e gratuito, que é um espaço de discussão e luta, que mesmo com
poucos recursos mantém boa qualidade.
Aos meus amigos e parceiros de discussões acadêmicas:
Ao Prof. Dr. Fernando Luiz Cardoso, pesquisador apaixonado, cuja casa inspirou as
últimas páginas desta dissertação;
À Profª. Doutoranda Astrid Baecker Ávilla e ao Prof. Mestrando Herrmann Muller
pelas cervejadas e inspirações Marxistas;
À Profª. Doutoranda Ana Cristina Zimmermann, que foi fundamental na elaboração
desta dissertação, ajudando a revisar os textos, dando idéias e discutindo os assuntos, enfim,
uma pessoa muito importante para mim.
À minha mãe, Sandra Di Bernardi Luft, que sem dúvida nenhuma é a pessoa que mais
acredita no meu potencial e à minha irmã, Cristiane Di Bernardi Luft, pelo seu sorriso
iluminado e amor incondicional. Ao meu pai, Cláudio Edemar Luft, por deixar como legado,
uma falha nos dentes e uma alegria infinita pela vida.
6
“É bem verdade, que nem a juventude sabe o que pode,
nem a velhice pode o que sabe”.
(A Caverna – José Saramago)
7
RESUMO
Esta é uma pesquisa descritiva que teve como objetivo investigar as relações entre estresse,
depressão, desempenho cognitivo e prática de atividade física de idosas, considerando o nível
de atividade intelectual. A abordagem desta pesquisa foi “quanti-quali”. A amostra foi
constituída por 80 idosas fisicamente independentes de Florianópolis, participantes de
diferentes grupos de idosos, selecionadas de forma não-probabilística por conveniência ou
acessibilidade (COOLICAN, 2004). As idosas foram caracterizadas como praticantes,
intermediárias e não praticantes de atividade física através de questões estruturadas sobre a
freqüência, duração e período de realização de atividade física. As características pessoais
como classe econômica, renda mensal, auto-avaliação da saúde, histórico de atividade física e
lazer, bem como as atividades intelectuais foram avaliadas por meio de um formulário
elaborado com base no questionário desenvolvido por Andrade (2001). O estresse foi
mensurado por meio da “Escala de Estresse Percebido” de Cohen, Karmack e Mermelstein
(1983). A depressão foi avaliada através da “Escala de Depressão em Geriatria” (GDS-15)
desenvolvida por Yesavage et al. (1983). Todos estes testes foram aplicados em forma de
entrevista, sendo utilizados os depoimentos feitos espontaneamente durante as coletas de
dados. O desempenho cognitivo foi avaliado através do Mini-Exame do Estado Mental
(FOLSTEIN et al., 1978), que mensura capacidade cognitiva geral, e de uma bateria de
avaliação cognitiva computadorizada validada internacionalmente, que consta de um conjunto
de testes que mensuram tempo de reação simples e de escolha, memória de trabalho e de curto
prazo e atenção concentrada (DARBY, 2004). Os dados foram tratados com estatística
descritiva e inferencial, observando a normalidade da distribuição. A análise dos depoimentos
das idosas foi orientada pela hermenêutica-dialética sintetizada por Minayo (2004). Os
resultados demonstraram que a maioria das idosas é praticante de atividades física, mas não
praticavam no passado, principalmente por causa das condições de trabalho. As idosas que
foram praticantes de atividade física no passado são de classe econômica mais alta do que as
não praticantes e as que trabalhavam pesado. A prática de atividade física atual não foi
relacionada com classe econômica ou renda mensal. Não houve diferença no estresse,
depressão e desempenho cognitivo das idosas praticantes, intermediárias e não praticantes de
atividade física. A ocorrência de problemas emocionais, como a morte de filhos, dificuldades
financeiras e doença grave, foi determinante no nível de estresse e depressão (p<0,001). O
nível de atividade intelectual foi determinante no desempenho cognitivo das idosas na maioria
das tarefas, incluindo a capacidade cognitiva geral, tempo de reação de escolha, memória de
trabalho e de curto prazo. Não houve interação entre atividade física e nenhuma das variáveis.
Os depoimentos demonstraram outros elementos que devem ser considerados nas análises,
tais como a classe econômica. Observou-se que a classe econômica, atual e no passado, é um
fator determinante em várias das questões investigadas. Conclui-se que a atividade física
isoladamente não tem um papel determinante no estresse, depressão e no desempenho
cognitivo das idosas e que é fundamental redirecionar as pesquisas e as ações considerando a
história, o contexto e a percepção da população em estudo.
Palavras-Chave: Estresse, depressão, desempenho cognitivo, atividade física, idosas.
ABSTRACT
This is a descriptive research whose objective was to investigate the relationship between
stress, depression, cognitive performance and physical activity practice of elderly women,
considering the intellectual activity level. This research had a “quanti-quali” approach. The
sample was constituted by 80 physically independent elderly women of Florianopolis,
selected in a non-probabilistic way by convenience or accessibility (COOLICAN, 2004). The
elderly were considered as practicing, intermediate and non-practicing physical activity by
means of structured questions about frequency, time and period of doing physical activity.
The personal characteristics as economic class, income, self-evaluation of health, physical
activity and leisure history, as well the intellectual activities were evaluated by means of a
form, elaborated based on the questionnaire developed by Andrade (2001). The stress was
measured by the “Perceived Stress Scale” of Cohen, Karmack and Mermelstein (1983). The
depression was assessed through the “Geriatric Depression Scale” (GDS-15) developed by
Yesavage et al. (1983). All these tests were applied by interview, being used in this research
the elderly personal accounts, which were done spontaneously during the data collection. The
cognitive performance was evaluated through the Mini-Mental State Evaluation (FOLSTEIN
et al., 1978), which measures the overall cognitive capacity, and through a cognitive
evaluation battery, CogState, internationally validated and constituted by a set of tests that
measure simple and choice reaction time, working memory, short-term memory and sustained
attention (DARBY, 2004). The data was treated by descriptive and inferential statistics,
observing the normality of distribution. The personal accounts analysis was oriented by
hermeneutic-dialectics synthesized by Minayo (2004). The results demonstrated that the
majority of the elderly women is practicing physical activity, but they not used to practice it
in the past, mainly because of labour conditions. The elderly who had practiced physical
activity in the past have higher economic class than the ones who had not practiced or had a
heavy work. There was not a relation between current physical activity practice, economic
class and income. There was no difference in stress, depression and cognitive performance
between the practicing, intermediate and not practicing physical activity. The occurrence of
emotional problems, as the children’s death, financial difficulties or serious ill, was
determinant of the stress and depression level (p<0,001). The intellectual activity level was
determinant of the cognitive performance of the elderly on the majority of tasks, including the
overall cognitive capacity, choice reaction time, working memory and short-term memory.
There was not any interactive effect of physical activity practice with the study variables. The
personal accounts demonstrated other important elements for the analyses, as the economic
class. It was observed that the current and past economic class is a determinant factor of
several investigated questions. It was concluded that the physical activity is not determinant
of stress, depression and cognitive performance of the elderly and that it is necessary to
redirect the research and actions in order to consider the history, context and perception of the
study population.
Key-Words: Stress, depression, cognitive performance, physical activity, elderly women.
9
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................8
ABSTRACT...............................................................................................................................9
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 14
1.1 PROBLEMA ....................................................................................................................... 14
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 17
1.2.1 Objetivo Geral .......................................................................................................... 17
1.2.2 Objetivos específicos ............................................................................................... 17
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 18
1.4 PRESSUPOSTO TEÓRICO ............................................................................................... 20
1.5 DEFINIÇÃO OPERACIONAL DAS VARIÁVEIS .......................................................... 20
1.6 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ......................................................................................... 23
2 REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................. 24
2.1 O processo saúde-doença e o envelhecimento .................................................................... 24
2.2 O Idoso e a sociedade ......................................................................................................... 26
2.2.1.1 Identificando as contradições ............................................................................ 31
2.3 O estresse e o envelhecimento ............................................................................................ 34
2.3.1 Mecanismos do Estresse ......................................................................................... 36
2.4 A Depressão 39
2.5 A atividade física ................................................................................................................ 40
2.5.1 O estresse, a depressão e a prática de atividade física em idosos ........................... 46
2.6 A cognição, estresse e depressão em idosas ....................................................................... 50
2.6.1 Cognição e Atividade física em Idosos .................................................................... 55
3 MÉTODO .............................................................................................................................. 59
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................. 59
3.2 POPULAÇÃO ..................................................................................................................... 61
3.2.1 Seleção das Participantes ......................................................................................... 63
3.2.2 Participantes da pesquisa ......................................................................................... 64
3.3 INSTRUMENTOS .............................................................................................................. 66
3.3.1 Entrevista de caracterização geral e auto-avaliação das idosas ............................. 66
1
3.3.1.1 Características Gerais ........................................................................................ 67
3.3.1.2 Prática de Atividade Física .............................................................................. 68
3.3.1.3 Nível de Atividade Intelectual .......................................................................... 70
3.3.2 O mini-exame do estado mental (MEM) ................................................................. 71
3.3.3 Bateria de Avaliação Cognitiva Computadorizada .................................................. 72
3.3.4 Escala de depressão em Geriatria ............................................................................. 73
3.3.5 Escala de estresse percebido (PSS) .......................................................................... 73
3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS ................................................................. 74
3.5 ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................................... 76
3.5.1 Tratamento Estatístico .............................................................................................. 76
3.5.2 Análise Qualitativa ................................................................................................... 78
3.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO ........................................................................ 79
3.7 LIMITAÇÕES .................................................................................................................... 82
4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 86
4.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................. 86
4.1.1 Caracterização Geral das Participantes .................................................................... 86
4.1.2 Auto-avaliação da saúde, atividade física e lazer .................................................... 88
4.1.3 Capacidade Cognitiva e Desempenho Cognitivo .................................................... 98
4.1.4 Estresse Percebido .................................................................................................. 100
4.1.4.1 Relação entre estresse percebido, depressão e desempenho cognitivo .......... 101
4.1.5 Aspectos neuropsicológicos e prática de atividade física ...................................... 105
4.2 ANÁLISE DOS DEPOIMENTOS ................................................................................... 110
4.2.1 Depressão ............................................................................................................... 111
4.2.2 Educação ................................................................................................................ 118
4.2.3 Atividade Física e Lazer ........................................................................................ 122
4.2.4 Aspectos neuropsicológicos relacionados ao envelhecimento ............................... 129
DISCUSSÃO......................................................................................................................... 134
DISCUSSÃO......................................................................................................................... 134
5 CONCLUSÕES ................................................................................................................... 150
REFERÊNCIAS.....................................................................................................................154
ANEXOS E APÊNDICES ....................................................................................................168
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 PROBLEMA
A valorização do vigor físico, do trabalho e da beleza associados à imagem de
juventude, tem fomentado um movimento “anti-envelhecimento”, no qual aumenta a procura
pela cosmética e terapêutica na busca de evitar a aparência de “velho”. A oferta de
medicamentos, cirurgias plásticas e práticas corporais com o objetivo de “rejuvenescer” são
estimuladas pela necessidade de aumentar lucros.
Simms (2004) argumenta que algo importante no capitalismo foi associar a idéia de
velhice com a de necessidade clínica, a fim de aumentar os lucros através da restrição das
oportunidades a um círculo limitado de elegíveis. Tudo isto fez com que os idosos, no mundo
neoliberal, se tornassem uma formação social subordinada, o que fica evidente no documento
da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2005), onde a preocupação principal é promover o
envelhecimento ativo para que haja economia nas despesas médicas com esta população, em
especial, aquela que utiliza o sistema público de saúde. No mundo globalizado, as
desigualdades sociais são grandes e tendem a gerar dois tipos de envelhecimento: o daqueles
que podem e o daqueles que não podem pagar pela sua “juventude”.
Chaimowicz (1997, p.193) destaca que “uma das características marcantes da
população que envelhece no Brasil é a pobreza”. O idoso pobre experimenta muitas
dificuldades que vão desde questões como suporte social inadequado até o atendimento
deficiente de saúde (PORCU et al., 2002). A burocracia da aposentadoria, as dificuldades
financeiras, os problemas com o atendimento de saúde e a discriminação social tornam o
idoso cada vez mais susceptível a problemas como o estresse e a depressão. Talvez estes
problemas estejam na origem da alta prevalência de depressão encontrada nas populações
idosas, verificada em muitos estudos (XAVIER et al., 2001a.; XAVIER et al., 2001b; WANG
et al., 2001; KRATZ et al., 2004; MAIA et al., 2004).
O estresse e a depressão prejudicam a saúde de forma global, interferindo inclusive na
função cognitiva (SILBERMAN et al., 1995; SPIRDUSO, 2005; WOLF et al., 2005). Burke
et al. (2005) verificaram que a depressão e o estresse estão associados com maiores níveis de
cortisol. McLullich et al. (2005) demonstraram que níveis excessivos de cortisol estão
associados com redução do volume do hipocampo e, conseqüentemente, com prejuízos na
memória de trabalho. Desta forma, os prejuízos cognitivos que ocorrem em alguns idosos
podem ser acelerados pelo aumento do estresse e pela ocorrência da depressão (SHEPARD,
2003).
Considerando que o estresse, a depressão e os declínios cognitivos são transtornos que
parecem ocorrer de maneira encadeada, é importante pensar em formas de quebrar este ciclo,
pois estes transtornos afetam o bem-estar de muitos idosos. Alguns estudos têm sugerido que
a prática regular de atividade física pode ser uma maneira eficaz de reduzir o estresse
(ATLANTIS et al., 2005; HARRIS et al., 2006; KRAUSE et al., 1993), a depressão
(MURPHY et al., 2002; FUKUKAWA et al., 2004; BARBOUR e BLUMENTHAL, 2005) e
melhorar a função cognitiva dos idosos (LAMBOURNE, 2006; WEUVE et al., 2004;
LARSON et al., 2006).
Embora estes estudos suscitem entusiasmo a respeito dos efeitos da atividade física no
estresse, na depressão e na função cognitiva, existem questionamentos e resultados
contraditórios que indicam que talvez esta relação não seja como presumem muitos
pesquisadores.
Kritz-Silverstein et al. (2001) demonstraram, em um estudo longitudinal, que os
indivíduos com menor humor deprimido são mais propensos a se exercitarem fisicamente e
não o contrário, sugerindo que a atividade física não previne contra depressão e que as
relações encontradas em estudos anteriores acontecem porque os indivíduos deprimidos não
costumam ter motivação para praticar atividade física. Outras pesquisas que investigaram o
efeito protetor da atividade física na depressão não encontraram qualquer relação (PATRICK
et al., 1997; LENNOX et al., 1990).
Além disto, em muitos estudos sobre a relação entre atividade física e função cognitiva
(YAFFE et al., 2001; RICHARDS, HARDY e WADSWORTH, 2003; WEUVE et al., 2004;
LAMBOURNE, 2006; LARSON et al., 2006) o nível de atividade intelectual raramente é
considerado. Algumas pesquisas indicam que idosos com bom nível educacional e que se
mantém ativos intelectualmente, são aqueles que apresentam maior desempenho cognitivo
13
(CHRISTENSEN et al., 1996; HILLERAS et al., 1999; WILSON et al., 2003). Considerando
que a escolaridade está associada ao nível de atividade intelectual (WILSON et al., 2003) e
que pessoas com maior escolaridade costumam praticar mais atividade física (GOMES,
SIQUEIRA e SICHIERI, 2001; SALLES-COSTA et al., 2003), é possível questionar os
resultados das pesquisas que verificaram relação entre atividade física e desempenho
cognitivo sem considerar que os praticantes de atividade física são aqueles que, na maioria
das vezes, apresentam maior nível de atividade intelectual.
Sturman et al. (2005) ao investigar a relação entre atividade física e função cognitiva
verificaram que cada hora adicional de exercício físico foi associada com menor taxa de
declínio cognitivo. No entanto, ao realizar a mesma análise considerando o nível de atividade
cognitiva, esta associação deixou de ser significativa.
Outro problema presente nestas pesquisas é que, na maioria delas, a história do idoso
não é considerada. Hilldson et al. (2004) verificaram que a prática regular de atividade física
na meia idade influencia na função física após os 60 anos, estando associada à saúde durante a
idade avançada. É possível que os idosos que sempre praticaram atividade física sejam
aqueles que tiveram as melhores condições de vida, tendo tempo disponível para isto durante
a fase que trabalhavam. Colocar estes idosos na mesma categoria daqueles que trabalhavam
demais e não tinham tempo para atividade física, começando a praticar após a aposentadoria,
pode ser um erro, que considera pessoas com histórias totalmente diferentes como um “todo
homogêneo”. Desta forma, não considerar a história pode levar a colocar na mesma
categoria, idosos com trajetórias de vida muito diferentes.
Assim, este estudo tratou sobre as possíveis relações entre os aspectos
neuropsicológicos e prática de atividade física de idosas. O problema desta pesquisa foi:
“Quais as relações entre estresse, depressão, desempenho cognitivo e prática de atividade
física de idosas, considerando o nível de atividade intelectual”?
14
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Investigar as relações entre estresse, depressão, desempenho cognitivo e prática de
atividade física de idosas.
1.2.2 Objetivos específicos
- Caracterizar as idosas em relação aos fatores econômicos e sociais, bem como a auto-
avaliação da saúde e da cognição, histórico de atividade física e trabalho, atividade
intelectual, fé e espiritualidade, e prática regular de atividade física;
- Verificar o estresse percebido, a depressão, a capacidade cognitiva e o desempenho
cognitivo, incluindo a capacidade cognitiva geral, tempo de reação simples e de
escolha, memória de trabalho, memória de curto prazo e atenção concentrada;
- Comparar o estresse percebido, a depressão e o desempenho cognitivo das idosas
praticantes, intermediárias e não praticantes de atividade física;
- Comparar o estresse percebido, a depressão e o desempenho cognitivo das idosas com
diferentes históricos de atividade física;
- Comparar o estresse percebido, a depressão e o desempenho cognitivo das idosas com
baixo, médio e alto nível de atividade intelectual;
- Verificar as possíveis interações entre prática de atividade física, histórico de atividade
física e nível de atividade intelectual no estresse percebido, depressão e desempenho
cognitivo;
- Identificar novas possibilidades de análise que auxiliem na compreensão dos
resultados do estudo.
15
1.3 JUSTIFICATIVA
As pesquisas na área da atividade física e saúde têm tido grande repercussão na
sociedade atual. Considerando que as políticas públicas são influenciadas pelos resultados das
pesquisas, este estudo pretende colaborar no sentido de ampliar as discussões a respeito de
questões ligadas à prática de atividade física, especialmente, em como isto pode ou não
influenciar no estresse, depressão e desempenho cognitivo.
Um dos problemas clássicos sobre o envelhecimento está na relação entre expectativa
e qualidade de vida. O indicador de “esperança de vida livre de incapacidade” (DFLE) do
último censo revela que, em média, de 68,6 anos vividos, o brasileiro fica 54 anos livre de
deficiências funcionalmente limitantes, o que representa uma média de 31% dos anos de vida
com problemas graves de saúde. A estimativa é que até o ano de 2020, aproximadamente,
ocorrerá um aumento de 84 a 167% no número de idosos com moderada ou grave
incapacidade (IBGE, 2000).
O avanço da medicina e, especialmente, da farmacologia, promoveu o
desenvolvimento e a utilização de medicamentos cada vez mais poderosos na redução das
doenças, prolongando o tempo de vida. No entanto, tais medidas, na maioria das vezes não
resultam em melhor qualidade de vida, e sim, em maior tempo de vida, o que faz com que o
índice de expectativa de vida se aproxime cada vez mais ao dos países desenvolvidos,
enquanto que o DFLE continue similar aos dos países subdesenvolvidos. A evolução da
indústria farmacêutica e das pesquisas, especialmente nas ciências biológicas, não foi
acompanhada de uma discussão social e ética, o que gerou intervenções voltadas diretamente
para modificar os substratos biológicos associados a determinadas doenças.
Para que este quadro seja modificado, tem sido investido no desenvolvimento de ações
e programas que buscam o aumento da qualidade de vida, evitando que o idoso envelheça
com deficiências e se torne dependente. Nóbrega et al. (1999) sugerem que a implantação de
estratégias de prevenção, como a prática da atividade física regular, pode promover a melhora
funcional dos idosos e minimizar ou prevenir o aparecimento de doenças. Vanltallie (2002)
indicou que a atividade física pode promover a redução dos níveis de estresse e de depressão.
A prática de atividade física é, segundo a OMS (2005), uma estratégia eficaz, econômica e
capaz de promover melhoras no bem estar dos idosos.
16
No entanto, a possível associação entre atividade física e saúde não pode ser reduzida
aos aspectos biológicos sem considerar a problemática histórica e social envolvida. Por
exemplo, em estudo com policiais militares, Monteiro et al. (1998) verificaram que os
sedentários apresentavam piores condições sócio-econômicas, maior carga de trabalho, mais
despesas com moradia, renda mensal inferior e possuíam mais dependentes do que aqueles
que praticavam atividade física. Assim, os problemas parecem pairar sobre as necessidades
impostas por um padrão de vida incompatível com a possibilidade de preocupar-se com a
saúde.
A questão é que a maioria dos estudos que relacionam atividade física com estresse,
depressão, cognição, entre outras variáveis, o faz de forma unilateral, deixando de considerar
muitos fatores que influenciam no processo. Isto pode fazer com que alguns estudos
“superestimem” o fator atividade física como determinante da saúde. Andrade (2001) discute
a questão destacando que além dos fatores históricos e sócio-econômicos é necessário
considerar a subjetividade, ou seja, como os sujeitos percebem a sua realidade material e se
desenvolvem a partir dela, denunciando as reduções que muitas pesquisas fazem na análise
das relações sem considerar o sujeito.
Oliveira, Húngaro e Solazzi (2004) demonstram que a atividade física direciona a
atenção da sociedade para a sua capacidade de delinear corpos saudáveis, mas mascara outros
determinantes do setor da saúde e do quadro social brasileiro. Muitos estudos tratam da
relação atividade física e saúde sem caracterizar o sujeito, mantendo-o escondido em um
grupo de “sedentários” ou “ativos”, definidos apenas em função da faixa etária.
Na área do envelhecimento, algumas pesquisas verificaram a relação entre nível de
atividade física e cognição, mas não consideraram o nível de atividade intelectual dos
participantes do estudo (YAFFE et al., 2001; RICHARDS, HARDY e WADSWORTH, 2003;
WEUVE et al., 2004; LAMBOURNE, 2006; LARSON et al., 2006). Sturman et al. (2005)
demonstraram que a prática de atividade física foi associada com menor risco de declínio
cognitivo quando o nível de atividade cognitiva dos participantes não foi considerado.
Assim como a prática de atividade física está atrelada às condições de vida das
pessoas, a atividade cognitiva também está, pois para que os idosos consigam manter um
nível elevado de atividade intelectual ou cognitiva é necessário ter uma boa escolaridade,
acesso à cultura e oportunidades de aprendizagem. Por isto, neste estudo, processo de saúde-
doença é entendido como um processo histórico-social, onde os comportamentos estão
vinculados à coletividade. Palma (2000, p.97) destaca que “a visão hegemônica aponta um
17
viés biológico e individualizado da doença. Por outro lado, existem, em várias pesquisas,
fortes evidências das relações entre condições sócio-econômicas e a saúde”.
Poucos estudos na área da atividade física e saúde preocuparam-se com a problemática
histórica e social na qual os idosos estão vinculados. Assim, este trabalho deve incluir a
discussão sobre a construção das condições históricas que podem ou não viabilizar a
incorporação da atividade física à dinâmica cultural, consagrando-a como hábito ou atitude
comportamental que talvez possa contribuir com a promoção da saúde e do bem estar dos
indivíduos e da sociedade.
Sendo assim, este estudo pretende colaborar com o aprofundamento da investigação
sobre as relações entre atividade física, estresse, depressão e desempenho cognitivo sob uma
perspectiva crítica.
1.4 PRESSUPOSTO TEÓRICO
O pressuposto teórico que fundamenta este estudo é de que as idosas praticantes de
atividade física regular com maior nível de atividade intelectual apresentam menor nível de
estresse percebido e depressão e melhor desempenho cognitivo. As idosas que apresentam
maior atividade física e intelectual são aquelas que têm as melhores condições de vida e
melhor nível sócio-econômico no passado.
1.5 DEFINIÇÃO OPERACIONAL DAS VARIÁVEIS
Depressão: Pode ser definida como uma síndrome psiquiátrica caracterizada por sintomas
emocionais, motivacionais e físicos com grande repercussão na vida do indivíduo, descrita no
DSM-IV como um transtorno caracterizado por alterações psíquicas, acompanhadas de
modificações no estado de humor que repercutem no ânimo do indivíduo, no seu interesse, no
jeito de sentir, pensar e comportar-se. O humor encontra–se polarizado entre tristeza
(melancolia) ou exaltação (irritabilidade), podendo haver crise única ou cíclica e oscilando ao
18
longo da vida (ROEDER, 2003). A depressão foi mensurada pela Escala de Depressão em
Geriatria (GDS) na sua versão reduzida, que mensura o nível de depressão em uma escala de
0 a 15 pontos. Quanto maior a pontuação, maior o nível de depressão. A GDS apresenta uma
sensibilidade de 82% e especificidade de 71% para diagnosticar casos de depressão
(PARADELA, LOURENÇO e VERAS, 2005).
Desempenho Cognitivo: Envolve os processos cognitivos referentes à atenção, memória,
velocidade de processamento de informações, capacidade psicomotora e percepção
(SPIRDUSO, 2005). O desempenho cognitivo foi avaliado por meio de dois testes. Um
destinado a avaliar a capacidade cognitiva geral, ou seja, a integridade da cognição por meio
do Mini-Mental (FOLSTEIN et al., 1975), que mensura, com 11 questões, 5 funções
cognitivas. O resultado é expresso em pontos, sendo que o escore máximo é 30, abaixo de 23
representa prejuízo cognitivo. O desempenho cognitivo referente aos domínios: velocidade de
processamento de informações, tomada de decisão, memória de trabalho e de curto prazo e
atenção concentrada foram mensurados por meio de uma bateria de avaliação cognitiva
computadorizada CogState (DARBY, 2004), validada internacionalmente.
Memória: É a capacidade de armazenar informações que possam ser recuperadas e
utilizadas posteriormente. A memória compreende a aquisição, formação, conservação e a
evocação de informações (IZQUIERDO, 2002). Pode-se classificar a memória de acordo
com o tempo de retenção, classificando-a como memória de trabalho, memória de curto prazo
e memória de longo prazo, sendo que neste estudo, foram mensuradas a memória de trabalho
e a memória de curto prazo. A memória de trabalho é breve e serve para manter durante
alguns segundos a informação que está sendo processada no momento, e diferencia-se das
demais porque não deixa traços. A memória de curto prazo pode durar alguns minutos
possibilitando o armazenamento das informações (IZQUIERDO, 2002). Neste estudo a
memória de trabalho e a memória de curto prazo foram mensuradas através de dois testes
pertencentes a uma bateria de avaliação cognitiva computadorizada, descrita no anexo 5, que
fornecem o resultado em acurácia (percentual de acertos) e velocidade comportamental das
respostas. O índice de confiabilidade do teste é de 0,87 (DARBY, 2004).
Atenção: Com este termo designamos o fator responsável pela escolha dos elementos
essenciais para a atividade mental, ou o processo que mantém uma severa vigilância sobre o
curso preciso e organizado da atividade mental (LÚRIA, 1981). Quando utilizada no
19
desempenho humano a atenção se refere ao envolvimento das atividades perceptívas,
cognitivas e motoras associadas ao desempenho de habilidades (MAGILL, 2000). Existem
dois tipos de atenção, a seletiva e a concentrada. Neste estudo, a atenção investigada é a
concentrada, sendo considerada como o processo que mantém uma vigilância sobre o curso
preciso e organizado da atividade mental envolvendo as atividades perceptivas, cognitivas e
motoras associadas ao desempenho psicomotor. A atenção foi avaliada através de um teste de
monitoramento, pertencente a bateria de avaliação cognitiva CogState, tendo um índice de
confiabilidade de r=0,81 (DARBY, 2004).
Tempo de reação: É o intervalo de tempo entre “a produção de um sinal de comando para
o desempenho de uma habilidade e o instante em que realmente é observado o início do
movimento” (MAGILL, 2000, p.92). Este sinal de comando ou estímulo pode ser visual,
auditivo ou táctil. Neste estudo, foram avaliados o tempo de reação visual simples e de
escolha. O tempo de reação de escolha consiste na apresentação de diferentes estímulos, cada
um exigindo uma resposta diferente, sendo que quanto maior o número de pares estímulo-
resposta, maior é a complexidade e maior o tempo de reação (SPIRDUSO, 2005). Neste
estudo, o tempo de reação simples e de escolha foram avaliados por dois testes, presentes na
bateria de avaliação cognitiva CogState. O tempo de reação é mensurado em milisegundos e
em escala logarítmica. Os índices de confiabilidade dos testes são 0,89 e 0,83.
Atividade Física: Nesta pesquisa a atividade física está relacionada ao lazer. São
consideradas como atividades físicas práticas como caminhar, correr, nadar, entre outras,
sendo observada a regularidade destas atividades. A prática regular de atividade física foi
verificada por meio de questões estruturadas, conforme realizado em estudos anteriores
(MONTEIRO et al., 1998; STURMAN et al., 2005; LARSON et al., 2006). Foram
consideradas “praticantes de atividade física regular” as idosas que indicarem praticar
atividade física 3 ou mais vezes por semana, 60 minutos ou mais por sessão, por no mínimo 6
meses. As idosas que não indicaram praticar nenhuma forma de atividade física foram
consideradas “não praticantes de atividade física regular”. E aquelas que praticam atividade
física, mas não atingirem a freqüência, duração ou período mínimo de seis meses foram
consideradas intermediárias.
20
Atividade Intelectual: Alguns pesquisadores utilizam o termo “atividade cognitiva”
(STURMAN et al., 2005; WILSON et al., 2002; WILSON et al., 2003) para designar todas as
atividades que estimulam as funções cognitivas incluindo hábitos de leitura, jogos tipo
palavras-cruzadas, xadrez, entre outras. Nesta pesquisa, foi construído um escore para
verificar o nível de atividade intelectual, que considera além das práticas cognitivas a
escolaridade, a profissão, hábitos de leitura no passado e presente, atividades cognitivas e
ocupação atual. Cada item tem um peso específico, sendo que o escore da escala varia de 0 a
37. Para as análises de comparação, foram definidos pontos de corte específicos, sendo o nível
de atividade intelectual diferenciado como: baixo (de 0 a 10), médio (de 11 a 20) e alto (mais
de 21).
1.6 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Este estudo se delimitou em investigar as relações entre estresse, depressão, cognição e
prática de atividade física considerando o nível de atividade intelectual de idosas da cidade de
Florianópolis, no período de 20/05/2006 até 15/12/2006. Participaram do estudo apenas
idosas fisicamente independentes vinculadas a algum grupo de idosos em Florianópolis (SC),
com idade acima de 60 anos que não apresentavam diagnóstico de demência ou escore
inferior a 19 no Mini-Exame do Estado Mental (FOLSTEIN et al., 1978).
21
2 REVISÃO DE LITERATURA
Partindo do conhecimento sobre o caráter social da saúde, buscou-se revisar a
literatura pertinente as ciências sociais e biológicas, procurando compreender o contexto
histórico social das idosas e, partindo desta análise, buscar as bases biológicas e os estudos
atuais condizentes com o tema. A revisão de literatura foi realizada partindo da análise social
que é pretendida, considerando o idoso como um ser histórico, social, subjetivo, biológico e
neurofisiológico. Os tópicos são organizados de forma coerente com a problemática estudada,
partindo da social para a compreensão dos elementos biológicos e neurofisiológicos
envolvidos. Skalinski e Praxedes (2003, p.7) destacam que:
Trabalhos que abordam padrões de risco em saúde e utilizam variáveis
socioeconômicas sem conferir uma análise histórico-política fornecem elementos
que são insuficientes para construir cientificamente um objeto de estudo em
epidemiologia
Breilh (1991) citado por Skalinski e Praxedes (2003) acrescenta que não se deve fazer
justaposição dos métodos das ciências sociais com os da epidemiologia, buscando reconhecer
a unidade entre a realidade social da natureza e a realidade natural do homem, o que na área
da saúde, especialmente na Educação Física, ainda é bastante difícil devido à tradição fundada
nas ciências biológicas. Apesar da intenção de uma leitura unificada, este estudo reflete esta
dificuldade mostrando ainda certa separação entre o biológico e o social.
2.1 O processo saúde-doença e o envelhecimento
O aumento das pesquisas sobre o envelhecimento tem trazido um grande acúmulo de
dados sobre esta população, principalmente na área da saúde, onde as ciências biológicas têm
uma grande participação (PRADO e SAYD, 2005). No entanto, a abordagem utilizada na
maioria das pesquisas é positivista, analisando os aspectos da saúde de maneira fragmentada e
fazendo associações transversais que freqüentemente confundem fato com valor, conforme
explica Demo (1987). Um exemplo disto são as pesquisas que verificam a decadência física e
mental acelerada dos idosos de baixa renda (fato), no entanto, não segue que assim deva ser
(valor). Beauvoir (1990) destaca que não nada de inelutável na condição do idoso, como
vem sendo apontado pela ciência tradicional, que leva as pessoas a acreditar que o
envelhecimento resulta, obrigatoriamente, em isolamento e dependência. Talvez estes
problemas estejam vinculados a uma definição de saúde centrada na ausência de doenças.
Bragrichevsky, Estevão e Palma (2006) destacam que por mais elaborado que seja o
conceito de saúde, trata-se de uma representação simbólica e imperfeita da realidade e que a
subordinação da saúde aos seus preceitos definitórios acaba sendo uma forma de reduzir os
problemas que interferem nas condições de vida humana, o que é ainda mais complicado na
perspectiva das políticas de intervenção. Minayo (1998, p.10) prefere não conceituar saúde,
afirmando: “Saúde é o resultante das condições de alimentação, habitação, renda, meio
ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso
aos serviços de saúde”. Por isto a necessidade de compreensão da saúde enquanto um
processo vinculado a questões sociais.
Skalinski e Praxedes (2003, p.3) destacam que “O reconhecimento do processo saúde-
doença enquanto processo social deve-se à identificação do objeto geral de estudo
(fenômenos epidemiológicos) como derivado de um processo particular de reprodução
social”. Este processo particular de reprodução social é dependente do modo de produção da
vida material, que condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual de
maneira geral. Assim, a compreensão da saúde, do envelhecimento, deve estar vinculada ao
reconhecimento dos condicionantes sociais, políticos e intelectuais do modo de produção
capitalista.
É evidente a ligação da saúde com a condição econômica, de forma que na velhice,
isso pode ser verificado analisando que os idosos de baixa renda são mais acometidos por
doenças (ARAÚJO e ALVES, 2000). Não a condição econômica, mas o papel social tem
uma função fundamental no envelhecimento, sendo que os idosos que têm menos contato
social apresentam uma degeneração mais rápida do seu estado de saúde. Além destes fatores,
a história do idoso também parece determinante da maneira como ele envelhece
(BEAUVOIR, 1990).
Em cada sociedade, em momentos históricos diferentes, a velhice, ou o
envelhecimento, ganha especificidade, papéis e significados distintos em função do meio, da
classe social, do grupo profissional, de parentesco, da cultura, da ideologia dominante, do
23
poder econômico e político que influenciam o ciclo de vida e o percurso de cada indivíduo, do
nascimento até a morte (MAGALHÃES, 1987).
Assim, para estudar o fenômeno da saúde dos idosos, é preciso olhar para a totalidade,
para as relações sociais e econômicas, enfim, todo o contexto que influencia na maneira como
o indivíduo envelhece. Minayo (1998, p.14) enfatiza que:
O reconhecimento da especificidade do setor saúde não retira, porém, sua
cumplicidade com a problemática social mais ampla, seja no campo da realidade
empírica (pois a questão da saúde envolve o conjunto das relações sociais
vivenciadas nas áreas da produção e das condições de produção), seja no âmbito
conceitual, onde o específico está atravessado por distintas posições face as
possibilidades de organização da vida social.
As principais tendências de interpretação dentro da área da saúde, que pode ser
considerada como um fenômeno social de alta significação, são o positivismo, a
fenomenologia e a dialética marxista (MINAYO, 1992). Considerando que o objeto das
ciências sociais, neste caso a velhice, é sempre histórico, intrínseca e extrinsecamente
ideológico, complexo, contraditório e inacabado, que está em constante transformação e que a
sua principal característica é essencialmente qualitativa, sugere-se que a melhor abordagem
para o estudo da saúde na velhice seja o materialismo histórico dialético (TRIVIÑOS, 1987).
Ao estudar os idosos, é importante pensar na história que eles viveram. Muitas
atitudes, representações e condicionamentos podem ser melhor compreendidas quando se
conhece a história, das pessoas e principalmente, do mundo. Considerando que os seres
humanos são condicionados por uma história que transcende a eles, seria impossível aqui
tentar revisar toda a história, tudo aquilo que influencia em quem são as idosas de hoje.
2.2 O Idoso e a sociedade
Nesta parte da revisão busca-se contextualizar a situação dos idosos na sociedade
atual, analisando suas contradições e como o envelhecimento é visto neste meio.
Na nossa sociedade de classes, os idosos são submetidos às mais cruéis contradições.
Se o que define uma classe social é a posição ocupada pelo sujeito nas relações objetivas de
trabalho, os idosos estão colocados entre tais classes, por não possuírem um papel definido no
processo de produção de capital (BARBOSA, 1994). Assim, o idoso é relegado ao descaso,
24
uma vez que a sociedade o como um peso, improdutivo e incapaz. Nas palavras de Bosi
(1994, p.18) “em nossa sociedade ser velho é lutar para continuar sendo homem”.
Os idosos são oprimidos por toda a sociedade, e se sentem cada vez mais pressionados
a comportamentos forçados, repetitivos e monótonos, sendo tolhidos em sua liberdade, Bosi
(1994, p.76) destaca:
Em nossa sociedade, os fracos não podem ter defeitos, portanto os velhos não
podem errar. Deles esperamos infinita tolerância, longanimidade, perdão, ou uma
abnegação servil pela família. Momentos de cólera, de esquecimento, de fraqueza
são duramente cobrados aos idosos e podem ser o início de seu banimento do
grupo familiar.
Uma variante deste comportamento pode ser percebida em pessoas que não sabem
falar aos idosos senão com um tom protetor que mal disfarça a estranheza e a recusa. O
preconceito com os idosos é aprendido desde a infância, depois disso passa-se a reproduzi-lo.
Não se discute com o velho, não se confrontam opiniões com as dele, negando-lhe a
oportunidade de desenvolver o que se permite aos amigos: a alteridade, a
contradição, o afrontamento e mesmo o conflito. Se a tolerância com os velhos é
entendida como uma abdicação do diálogo, melhor seria dar-lhe o nome de
banimento ou discriminação (BOSI, 1994, p.78).
Assim, somos ensinados desde criança a não discutir com o idoso, a acreditar que ele
não tem condições, a subestimá-lo em suas capacidades, pois a sociedade tem o interesse de
calar o idoso, oprimindo suas lembranças, para manter a ideologia a qualquer preço.
A sociedade capitalista desarma o idoso, mobilizando mecanismos pelos quais oprime
a velhice, destrói os apoios da memória e substitui a lembrança pela história oficial
celebrativa, cujo triunfalismo é a vitória do vencedor a pisotear a tradição dos vencidos
(BOSI, 1994).
Em alguns países, os idosos dão importantes contribuições com as suas lembranças,
com a história que viveram, contraposta ao que é contado nos livros. No entanto, em
sociedades capitalistas convencionou-se a não perguntar nada ao velho, a acreditar que as suas
histórias são falsas, preferindo conhecer a história apenas pelo que é contado nos livros sem
nem sequer ouvir o que o idoso tem a dizer, pois isso seria prejudicial a manutenção da
ideologia dominante. Chauí (1994, p.19) acrescenta: “o que é ser velho na sociedade
capitalista? É sobreviver. Sem projeto, impedido de lembrar e de ensinar, sofrendo as
adversidades de um corpo que se desagrega à medida que a memória vai se tornando cada vez
mais viva”.
25
Como se realiza a opressão a velhice? De várias maneiras. Oprime-se o idoso por
mecanismos institucionais visíveis (a burocracia da aposentadoria e dos asilos), por
mecanismos psicológicos sutis e quase invisíveis (a tutelagem, a recusa do diálogo e da
reciprocidade que levam o velho a comportamentos repetitivos e monótonos, a tolerância da
fé, do banimento e da discriminação), por mecanismos técnicos (as próteses e a
precariedade existencial daqueles que não podem adquiri-las) e por mecanismos científicos
(as “pesquisas” demonstram a incapacidade e a incompetência social do idoso) (CHAUÍ,
1994).
Bosi (1994) menciona algumas pesquisas científicas, nas quais a psicologia social
observa, mede, demonstra e conclui acerca da incapacidade social dos velhos para o trabalho.
As pesquisas nas áreas biológicas insistem em indicar “declínios” decorrentes da idade e do
envelhecimento, ao passo que investiga como diminuir essas “perdas” com base em
comportamentos individuais, altamente culpabilizantes.
A associação do envelhecimento com o “declínio” bem como a associação deste com a
necessidade clínica é visível nos conceitos de envelhecimento. Nestes conceitos, o
envelhecimento humano tem sido considerado, especialmente nas ciências biológicas, como
algo natural e inevitável (BLAZER, 1998), como um processo dinâmico e progressivo onde
modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a
progressiva perda de capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando
maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à
morte (FILHO e ALENCAR, 2000).
Pode-se observar que as palavras “declínio”, “perda”, “mudanças desfavoráveis”, entre
outras, estão constantemente presentes nos conceitos de envelhecimento. Estes termos,
segundo Beauvoir (1990, p.20), são os maiores problemas nestes conceitos:
Definir o que é para o homem progresso ou regressão supõe que se tome como
referência um determinado fim; mas nenhum é dado a priori, no absoluto. Cada
sociedade cria seus próprios valores: é no contexto social que a palavra ‘declínio’
pode adquirir um sentido preciso.
Ao considerar um indivíduo como um todo, a qual aspecto deve-se dar mais valor?
Beauvoir (1990) afirma que muitos escritores e filósofos, como Epicuro, consideravam a
velhice como uma época que traz experiência, sabedoria e paz. Assim, a vida humana não
conheceria o declínio, isso porque “declínio” físico e psicológico não andam juntos. Cada
sociedade cria seus próprios valores e é no contexto social que a palavra “declínio” pode
adquirir um sentido preciso.
26
Considerando a totalidade da saúde descrita por Minayo (2004), é possível sugerir que
os “declínios” mencionados por alguns pesquisadores como características comuns do
envelhecimento podem ser resultantes de um sistema social inadequado que não oferece boas
condições de vida do que do envelhecimento em si, ainda mais quando se considera todo o
contexto no qual vivem os idosos atualmente.
Alguns autores indicam que existe uma interação de diversos fatores que acompanham
o envelhecimento, como aumentos de ansiedade, isolamento social, pouca motivação,
mascarando muitas vezes a depressão e a insônia, precursoras comuns de infarte no miocárdio
(RAUCHBACH, 1990; CHEIK et al., 2003; MATSUDO, 2001).
A satisfação de viver do idoso, e de todos os seres humanos, está relacionada à sua
saúde, renda, segurança e relações sociais, por isso a depressão tem uma incidência maior em
pessoas residentes em asilos, que sofrem de doenças médicas severas e/ou que estejam
extremamente isoladas (BLAZER, 1998). Todos esses eventos podem ser considerados
agentes estressores na vida do idoso, que pode estar associado à maior incidência de doenças
psicossomáticas na terceira idade (BUSSE e BLAZER, 1992).
Rauchbach (1990) afirma que nos idosos os entusiasmos são menores, a motivação
tende a diminuir e são necessários estímulos bem maiores para fazê-lo empreender uma nova
ação, como se ele carecesse da reserva de força física ou psicológica para lutar contra fatores,
tanto externos como internos, que ameacem a vida.
Alguns idosos podem se sentir inibidos em relação ao próprio corpo e com isto
mudarem a postura, andando muitas vezes curvados, o que pode gerar problemas de coluna,
rigidez, coordenação motora debilitada ocasionando em alguns o medo de caminhar,
aumentando com essas dificuldades suas tensões psíquicas (RAUCHBACH, 1990).
No entanto, estes problemas não são inerentes ao envelhecimento, podendo ocorrer em
qualquer fase da vida. Os problemas de saúde dos idosos estão inseridos em um contexto
histórico-social amplo, e não são apenas resultantes da idade cronológica. O estresse, a
depressão e outros transtornos que podem ocorrer nos idosos não estão apenas associados
com o envelhecimento em si, e sim, com todos os problemas sociais que eles enfrentam de
acordo com as suas condições e história de vida.
Simms (2004) destaca que é interessante para a sociedade capitalista associar o
envelhecimento com a necessidade clínica, com a incapacidade, a fim de restringir as
oportunidades econômicas e sociais a um círculo limitado de elegíveis, utilizando a exclusão
social como forma de exploração.
27
Considerando a ideologia que está embutida nas pesquisas que tendem a comprovar
estes “declínios”, biologicamente, tendemos apenas a alongar o percurso de vida, pois as
condições farmacêuticas, médicas e sanitárias generalizam-se mais rápido do que as
condições econômicas, sociais e culturais, indispensáveis para assegurar uma boa qualidade
de vida. Tais condições aumentam a desigualdade social e geram dois tipos diferentes de
idosos. O idoso rico, com qualidade de vida idêntica ou assemelhada à dos países
desenvolvidos e o idoso pobre e hipodotado, que sobrevive graças ao avanço e a difusão dos
benefícios da medicina e da saúde, mas sem condições materiais e sociais para lhe assegurar a
qualidade de vida. Assim, construímos um módulo social de rejuvenescimento das elites, mas
caminhamos para um modelo de morte social, pelo isolamento (MAGALHÃES, 1987).
Bosi (1994) contrapõe-se a esta idéia destacando que o idoso rico também sofre a
discriminação, até mesmo da família, em especial dos filhos, que discutem o “futuro” do
idoso, negando-lhe a possibilidade de escolha “para o seu próprio bem”. Assim, as
dificuldades enfrentadas pelos idosos não estão relacionadas apenas a questão financeira, mas
sim, com todo o modo de produção que tende a encarar os mais velhos como “peça de
reposição”.
A velhice parece ser fruto de uma sociedade onde a degradação começa
prematuramente com a degradação da pessoa que trabalha. Esta sociedade não desvaloriza
somente o operário, mas todo trabalhador, o médico, o professor, o esportista, o ator, o
jornalista, etc. (CHAUÍ, 1994). Nas palavras de Beauvoir (1990, p.16) “... o sentido ou não
sentido de que se reveste a velhice no seio de uma sociedade coloca toda essa sociedade em
questão, uma vez que através dela, desvenda-se o sentido ou o não sentido de qualquer vida
anterior”.
Assim, para a manutenção da ideologia atual é interessante descrever os “declínios” ou
as “perdas” da velhice, oprimindo o idoso e as suas lembranças, utilizando abordagens que
analisem os aspectos separadamente e não demonstrem as contradições da nossa sociedade
atual. Beauvoir (1990) indica que não basta descrever de maneira analítica os diversos
aspectos da velhice: cada um reage sobre os outros e é afetado por eles, sendo que é no
movimento indefinido desta circularidade que devemos apreendê-los. Por isso o estudo da
velhice deve sempre tentar ser exaustivo. Mesmo enquanto destino biológico, a velhice é uma
realidade que transcende a história e é vivida de maneira variável segundo o contexto social.
Na tentativa de captar este movimento, de estudar exaustivamente a velhice, necessita-
se de uma “lente” adequada, ou melhor, de uma abordagem que conta de estudar este
28
fenômeno em maior profundidade, considerando os mais diversos aspectos da vida do idoso,
buscando captar a “circularidade” descrita por Beauvoir (1990).
2.2.1.1 Identificando as contradições
O método dialético não pode ser compreendido fora do conjunto do pensamento
marxista, por isto, a velhice, ao ser estudada com a “lente” dialética, é sempre considerada
dentro do contexto social ao qual está inserida e em relação à história, pessoal e social. Neste
ponto, consideramos que a contradição está sempre presente no estudo, uma vez que a
abordagem dialética não pode encerrar as contradições (DEMO, 1987).
Em relação às categorias ou leis da dialética, considera-se aqui a da unidade dos
contrários, a contradição. Triviños (1987) alerta para que não sejam confundidas as
contradições primárias com as secundárias, assim, analisaremos primeiramente o que é a
contradição primária.
Marx, citado por Lowy (1992), destaca e fundamenta sua teoria na contradição
primária, que é o caráter social da produção e privado da propriedade, adquirida pelo lucro da
produção. Consideremos agora a contextualização, exposta anteriormente, do idoso na
sociedade atual. Observando a realidade existente e toda a ideologia intrínseca aos
mecanismos de opressão do idoso na sociedade capitalista, é possível identificar a unidade de
contrários, que é a mesma referenciada por Marx. Esta é a unidade na qual o sistema
capitalista se sustenta, na luta de classes, na desigualdade, construída nas relações de
produção.
É nesta contradição maior que se insere a problemática vivenciada pelos idosos,
referente a perda do papel social, uma vez que ele não participa do processo de produção.
Sendo considerado um peso para a sociedade capitalista, o idoso vê-se diante de uma nova
contradição. Se por um lado as “pesquisas” e as “políticas públicas” tentam diminuir a
incidência de doenças e problemas de saúde dos idosos por questões financeiras e ideológicas,
por outro a sociedade oprime o idoso, forçando a perda do seu papel social como sujeito
histórico, incapacitado de construir história devido aos “declínios” decorrentes da idade que o
tornam “incapaz” de lembrar com clareza, ou seja, um sujeito sem história.
Assim, a sociedade capitalista mobiliza seus recursos para manter o idoso sem
doenças, visando menor gasto com assistência, financia pesquisas que apontam todos os
prejuízos “naturais” do envelhecimento, aumentando o preconceito, deixando-o impedido de
lembrar, de opinar e de ensinar. Ele perde o seu papel social, tão importante para a
29
manutenção de uma boa qualidade de vida. Além disto, a desvalorização dos idosos na
sociedade atual fica evidente nas pesquisas onde a justificativa principal é a redução das
despesas médicas, sendo o bem-estar dos idosos, algo secundário.
Embora exista comprovação do caráter social e histórico da doença, a maioria das
pesquisas na área da saúde pública apresenta um caráter clínico-biologicista, “pois a
sociedade capitalista não pode assumir a causalidade social da doença sem destruir a
legitimidade de um modelo que preconiza a organização da sociedade para o bem de todos e
que, na prática, dificulta o acesso às condições de saúde” (SKALINSKI e PRAXEDES, 2003,
p.307). O idoso vivencia esta contradição diariamente ao necessitar de serviços de assistência
médico-hospitalar.
As políticas públicas/sociais escondem da população que os problemas enfrentados
têm relação direta com o contexto global da sociedade, pois “a ideologia da humanização dos
serviços é adotada pelo estado com o intuito de valorizar o ser humano e promover a falsa
idéia de que existe igualdade de oportunidades” (SKALINSKI e PRAXEDES, 2003, p.308).
Para os idosos sem condições sócio-econômicas, o hospital “humano” e o atendimento
“humano” mostram uma realidade desumana, especialmente quando deslocam somente para
os idosos a culpa por todas as suas doenças para justificar a desigualdade. Um exemplo disso
é quando na saúde, atribui-se a doença à falta de higiene pessoal, à educação deficiente, ao
mau comportamento do indivíduo que come ou bebe de forma indevida.
Assim, transformam-se as causas coletivas em responsabilidades individuais, culpando
o indivíduo por todos os seus problemas de saúde, negando-lhe mais facilmente assistência.
Isso é evidente no caso de indústrias, que fornecem péssimas condições de trabalho e
alimentação, além de cargas horárias incompatíveis com os salários, mas entendem que os
problemas de saúde dos funcionários são causados pelos seus “maus hábitos”, se isentando de
qualquer responsabilidade ao oferecer “dez minutos de ginástica laboral” (outro tema
polêmico).
Em relação ao idoso, isso vem se processando de maneira parecida, de forma que ele é
levado a acreditar que é o único responsável pelos seus problemas de saúde, como se essa
fosse uma realidade isolada de seu contexto histórico. Mesmo que tenha trabalhado
intensamente durante muito tempo, e agora necessite se sustentar com uma aposentadoria
insuficiente, que o força a viver em instalações precárias, isolado, sem lazer e sem função
social, o idoso ainda leva a culpa de todas as suas doenças, pelos seus “maus” hábitos,
entendendo muitos dos seus problemas como “naturais” da idade. A velhice é reduzida às
doenças e ao declínio, como características “naturais” desta fase.
30
As idéias de “declínio” como naturais e inevitáveis são propagadas pelo capitalismo,
desde o Fordismo e Taylorismo. A obsessão pela produção e a alienação do trabalho, fez com
que os idosos fossem considerados muito lentos e caros para empregar, sendo que as pensões
serviram para legitimar o desemprego, transformando as demissões em aposentadorias
(SIMMS, 2004). Simms (2004) destaca que no mundo neoliberal, a idade foi forjada para a
necessidade clínica, a fim de se tornar uma formidável força de exclusão e exploração, através
do isolamento social. Esta exclusão envolve a escolha de certos atributos físicos e sociais
como base justificativa da exclusão, onde qualquer atributo do grupo pode ser utilizado para a
monopolização de oportunidades específicas, normalmente econômicas. O propósito é sempre
o fechamento de oportunidades sociais e econômicas para os desviantes. As mulheres e os
idosos se incluem neste grupo alvo com oportunidades restritas.
Com a idéia de que o envelhecimento leva ao declínio, como algo natural, dado
biologicamente, universal e irreversível, houve a exclusão dos idosos da força de trabalho e
do serviço hospitalar de saúde, com base nos critérios de idade e necessidade. Tal exclusão
desencadeia um processo de subordinação, transferindo os limites entre as esferas ‘públicas’ e
‘privadas’ de cuidado. Esta transferência acontece pela associação direta da idade com a
necessidade clínica, transformando o cuidado médico contínuo em “responsabilidade social”
da família, e não uma responsabilidade pública (SIMMS, 2004).
O estudo de Simms (2004) evidencia que o capitalismo move mecanismos pelos quais
exclui os idosos da sociedade, criando uma formação social subordinada. As pesquisas que
visam comprovar os declínios e as perdas geradas pelo envelhecimento tendem a forjar uma
suposta necessidade clínica que torna os problemas dos idosos uma responsabilidade da
família, privada, sendo que os mais pobres quando ficam doentes são mandados para asilos,
negando-lhes desta forma o serviço médico hospitalar.
É neste contexto que acontecem as contradições em relação à saúde dos idosos. Breilh
(2003) destaca que é necessário estudar a saúde dentro de uma problemática social mais
ampla, afirmando que o maior desafio nos momentos atuais é melhorar nossa consciência
objetiva sobre os novos problemas de uma realidade complexa e caracterizada por uma espiral
de desigualdade crescente, mas o fazer trabalhando simultaneamente por uma consciência
sobre a subjetividade como ferramenta de impulso coletivo. Para Breilh (2003, p.33) “La Idea
es contextualizar la dureza del desafío de construir herramientas para la vida, en un
escenario levantado al servicio de la muerte”
1
.
1
Tradução da autora: A idéia é contextualizar a dureza do desafio de construir ferramentas para a vida
em um cenário construído a serviço da morte.
31
2.3 O estresse e o envelhecimento
O estresse resulta da ação de um agente estressor, que exerce força e produz uma
resposta ao estresse no receptor (KOLB e WHISHAW, 2002). Em 1936, o fisiologista Hans
Seyle introduziu o termo “stress” para designar a resposta geral e inespecífica do organismo a
um estressor ou a uma situação estressante. Posteriormente, o termo passou a ser utilizado
tanto para designar esta resposta do organismo como a situação que desencadeia os efeitos
desta (LABRADOR e CRESPO, 1994).
O termo estresse denota um estado gerado pela percepção de estímulos que provocam
excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de adaptação
caracterizado, principalmente, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo diversas
alterações sistêmicas com distúrbios fisiológicos e psicológicos. O termo estressor define o
evento ou estímulo que provoca ou conduz ao estresse (MARGIS et al., 2003).
A resposta ao estresse envolve mecanismos fisiológicos específicos envolvidos na
resposta de luta/fuga, preparando o corpo para tais respostas. No entanto esta resposta
depende não apenas do agente estressor, mas também da percepção subjetiva do indivíduo
frente a tais estímulos. Sendo assim, a resposta ao estresse é o resultado da interação entre as
características da pessoa e as demandas do meio, compreendendo aspectos cognitivos,
comportamentais e fisiológicos que visam proporcionar ao indivíduo uma melhor percepção
da situação e das suas demandas, bem como um processamento mais rápido de informação
disponível para buscar soluções adequadas, preparando o organismo para agir de maneira
rápida e vigorosa (MARGIS et al., 2003).
Entretanto, este mecanismo é eficaz até certo limite, que ultrapassado poderá
desencadear um efeito desorganizador, podendo gerar manifestações patológicas diversas,
variando desde transtornos como depressão e ansiedade até problemas coronarianos
(GREENBERG, 2002). A ocorrência destes problemas pode ser compreendida pelo estudo
dos mecanismos do estresse, especificamente pela ação dos hormônios envolvidos na resposta
psicofisiológica ao estresse.
Para os idosos, os agentes estressores podem ser os mais variados, como a
aposentadoria, a morte de entes queridos, o declínio das capacidades físicas e cognitivas,
mudanças de papéis sociais, entre outros (GREENBERG, 2002). No entanto, a forma como
cada idoso percebe estes estressores é um dos principais determinantes de como ele é afetado
pelo estresse. Desta forma, investigar apenas os fatores estressantes na vida do idoso pode não
32
ser uma boa medida para saber o quanto ele é afetado pelo estresse (COHEN, KARMACK E
MERMELSTEIN, 1983, COHEN e WILLIAMSON, 1988).
Para investigar a percepção subjetiva ao estresse, foi cunhado o termo “estresse
percebido”, que está diretamente relacionado com a resposta fisiológica do indivíduo ao
estresse. Vedhara et al. (1999) realizaram um estudo investigando a relação entre estresse
crônico, cortisol e imunidade em idosos cuidadores de pacientes com demência. O estresse foi
mensurado através da escala de estresse percebido de Cohen, Karmack e Mermelstein (1983).
A ansiedade e a depressão foram mensuradas através do Savage Aged Personality Screening
Scale de Savage (1990). A análise destas variáveis psicológicas indicou que apenas o estresse
percebido respondeu por 71,6% a 76,1% da variação nos níveis de cortisol e imunidade.
Bollini et al. (2004) demonstraram que indivíduos com maior percepção de controle
do estresse liberavam menor quantidade de cortisol mediante uma situação de estresse
provocada em laboratório.
Desta forma, o estresse é influenciado pela percepção subjetiva e pelo controle interno
do sujeito em resposta a agentes externos. Muitos idosos parecem ter sua capacidade de
controle do estresse reduzida, devido a diversos fatores (ZEC, 1995). No entanto, a maior
dificuldade encontrada nas pesquisas sobre os aspectos psicológicos do envelhecimento é a
mensuração destas variáveis, indicando ser este um fator importante e decisivo para este tipo
de investigação (SPIRDUSO, 2005).
Existem 3 formas de medir o estresse, uma é direcionada a presença de agentes
estressores específicos, outra é voltada para os sintomas físicos e psicológicos do estresse e a
terceira pretende mensurar a percepção de estresse individual de forma global, sem
referências a agentes estressores específicos (COHEN e WILLIAMSON, 1988). Existem
também instrumentos que mensuram o nível de estresse por meio de escalas que quantificam
o impacto de eventos estressores específicos (life-events impact), porém estes instrumentos
apresentam limitações, uma vez que a percepção de eventos como ameaçadores varia muito
de indivíduo para indivíduo.
Cohen, Karmack e Mermelstein (1983) propuseram uma escala que mensura o estresse
percebido, ou seja, mede o grau no qual os indivíduos percebem as situações como
estressantes. Esta escala denominada de Perceived Stress Scale PSS” foi inicialmente
apresentada com 14 itens (PSS 14), sendo também validada com 10 (PSS 10) e 4 (PSS 4)
apenas para pesquisas realizadas por telefone. A PSS 14 é a versão original na qual os itens
foram designados para verificar o quanto imprevisível, incontrolável e sobrecarregada os
respondentes avaliam suas vidas (COHEN et al., 1983). Estes 3 fatores têm sido considerados
33
como componentes centrais na experiência de estresse (LAZARUS e FOLKMAN, 1984). A
PSS é uma escala geral, que pode ser usada em diversos grupos etários, desde adolescentes até
em idosos, pois não contém questões específicas do contexto. A escala, desenvolvida e
validada por Cohen et al. (1983), vem sendo muito utilizada para mensuração global do
estresse.
É importante ressaltar que ao centrar o estresse na percepção de forma global, sem
considerar os agentes estressores, se perde no sentido de conhecer a origem da situação, o que
é percebido como estressante. No entanto, as escalas disponíveis que apresentam uma
pontuação específica para cada evento também são problemáticas, porque definem a priori os
agentes estressores. Outro fator importante é que o estresse percebido não é meramente
individual, pois depende dos recursos que os sujeitos possuem para lidar com as situações
estressantes, quaisquer que sejam estas. Estes recursos envolvem a história de vida, o contexto
econômico-social, o nível educacional, enfim, uma complexidade de elementos que fazem
com que o estresse varie bastante entre os indivíduos.
2.3.1 Mecanismos do Estresse
O contexto histórico-social, os acontecimentos, a cultura, os relacionamentos, enfim,
tudo o que o ser humano vive repercute na sua biologia. O mecanismo biológico do estresse
foi sintetizado neste capítulo a fim de demonstrar como o corpo reage biologicamente aos
eventos estressores e como isto influencia na memória e no desenvolvimento de algumas
doenças.
Quando o organismo se depara com um estressor, a via que primeiro o percebe envia
uma mensagem para o encéfalo. Essa mensagem passa pelo sistema de ativação reticular
ligando-se ao sistema límbico e tálamo. O sistema límbico é o local onde se desenvolvem as
emoções, e o tálamo determina o que fazer e como filtrar as mensagens que chegam e são
enviadas ao hipotálamo, onde se iniciam as respostas ao estresse (GREENBERG, 2002).
Estas respostas envolvem duas vias de ação, uma rápida e outra lenta. O objetivo da
primeira é proporcionar uma rápida disponibilização de energia e o principal hormônio é a
adrenalina. Na via rápida o encéfalo envia mensagem neural pela medula espinal. O sistema
simpático é então ativado para estimular a glândula supra-renal a liberar adrenalina ao sistema
circulatório. A adrenalina estimula as células corporais, as glândulas endócrinas e o encéfalo.
34
Essa via promove uma disponibilização rápida de energia, preparando o corpo rapidamente
para a resposta (KOLB e WISHAW, 2002).
A via de ação lenta leva de minutos a horas para ser ativada. Esta via tem como
hormônio principal o cortisol e tem como função preparar o organismo para adaptações mais
demoradas, tais como a restauração de tecidos e células após o gasto de energia. Neste
mecanismo, o hipotálamo libera o “hormônio liberador de corticotropina” (CRH) através das
veias para a hipófise anterior que ao receber o CRH libera o hormônio liberador
adrenocorticotrófico (ACHT) na corrente sanguínea. O ACHT atua sobre a glândula supra-
renal e seu córtex libera cortisol no sistema circulatório, que ativa as células corporais, as
glândulas endócrinas e o encéfalo (KOLB e WHISHAW, 2002).
O cortisol tem uma grande variedade de funções, que inclui a desativação de todos os
sistemas corporais não imediatamente necessários para lidar com um estressor. Por exemplo,
o cortisol desativa a insulina para que o fígado comece a liberar glicose, produzindo assim,
um desequilíbrio homeostático temporário. O cortisol também paralisa as funções
reprodutivas e inibe o sistema imune, para que os suprimentos de energia possam ser
concentrados para lidar com o estresse (REICHE et al., 2004).
Embora o cortisol seja hidrofóbico, ele é transportado pela corrente sanguínea,
ligando-se a uma proteína. Quando deixa o sangue, ele se desliga desta proteína, penetra as
membranas celulares e induz a transcrição do gene no DNA das células, resultando na síntese
de novas moléculas de proteína. As proteínas recém-produzidas contribuem para a
mobilização dos recursos corporais e a regeneração dos danos causados pelo estressor e pela
resposta ao estresse (BEAR et al., 2002).
Uma das principais funções do cortisol neste sistema é aumentar o teor de açúcar no
sangue, através da conversão de aminoácidos e glicogênio, reação que ocorre no fígado. Além
disso, o cortisol mobiliza ácidos graxos livres a partir do tecido adiposo, quebra a proteína e
aumenta a pressão sanguínea arterial. O cortisol também provoca outras alterações como a
diminuição dos linfócitos liberados pela glândula do timo e os nódulos linfáticos, por esta
razão, o aumento do cortisol diminui a efetividade da resposta imunológica (GREENBERG,
2002). Essa relação entre cortisol e imunidade foi demonstrada em um estudo realizado por
Davidson et al. (2003) onde foi observado que quanto maior os níveis de cortisol menor a
imunidade. Nesta pesquisa, Davidson et al. (2003) aplicaram uma vacina contra a gripe em
indivíduos com maior e menor nível de cortisol e verificaram que aqueles com os maiores
níveis responderam menos à vacina do que os com níveis normais.
35
Margis et al. (2003) indicam que os mecanismos fisiológicos de resposta ao estresse
são ativados pela percepção de um estímulo como um estressor. Considerando que o
mecanismo típico de resposta inclui a preparação do corpo para ações físicas, como lutar ou
fugir, mas que a demanda atual da sociedade leva os indivíduos a perceberem como
estressantes e ameaçadores eventos que não necessitam de uma resposta essencialmente
“física” com ação forte da musculatura, começam a ocorrer algumas patologias decorrentes do
desequilíbrio entre a demanda e a resposta. Desta forma, existem lesões causadas pelo excesso
de cortisol proveniente da percepção aumentada de ameaça, de estresse.
Normalmente os estressores são eventos de curta duração. O organismo mobiliza seus
recursos, enfrenta o desafio e, em seguida, encerra a resposta ao estresse. Como somente o
encéfalo é responsável pela ativação da reação ao estresse, ele também é responsável por sua
desativação. Quando a causa do estresse termina, o encéfalo instrui o hipotálamo a desativar a
resposta (GREENBERG, 2002).
O hipocampo tem uma função importante na desativação da resposta ao estresse, pois
contém uma alta densidade de receptores de cortisol, além de axônios que se projetam para o
hipotálamo. Desta forma, o hipocampo é responsável por detectar o cortisol no sangue e
instruir o hipotálamo a reduzir esses níveis. Se os níveis de cortisol permanecerem elevados
por muito tempo devido à uma situação contínua de estresse, esses níveis podem causar danos
ao hipocampo, que ao ser danificado é incapaz de desempenhar sua função normalmente. Isto
pode estabelecer um círculo vicioso no qual o hipocampo sofre degeneração progressiva e os
níveis de cortisol não são controlados (KOLB e WHISHAW, 2002).
O hipocampo é uma região cerebral importante para a memória, especialmente para a
de curto prazo. Maclullich et al. (2005) investigaram a relação entre níveis de cortisol, volume
encefálico (por ressonância magnética) e cognição em idosos saudáveis. Os resultados
indicaram que maiores níveis de cortisol estão associados a déficits cognitivos, porém, estes
déficits não apresentaram relação com a atrofia encefálica, embora este estudo tenha
encontrado alterações no hipocampo dos idosos com maior nível de cortisol circulante.
Wolf et al. (2005) realizaram um estudo com o objetivo de investigar a redução na
memória e os níveis de cortisol de idosos. Os resultados apontaram que as idosas com maiores
níveis de cortisol eram as que apresentavam as maiores queixas de perda de memória, no
entanto, essa diferença não foi tão forte nos homens. Este estudo estava baseado em
resultados de pesquisas anteriores que indicaram que os idosos com maiores queixas de
memória apresentavam também os piores desempenhos em testes de laboratório que testavam
memória, especialmente, a de curto prazo. É difícil afirmar que os homens com maior
36
cortisol circulante não apresentem dificuldades de memória, uma vez que eles podem ter se
queixado menos do problema, mas o apresentar na vida diária.
A disponibilidade aumentada de cortisol pode causar muitos danos a saúde geral do
indivíduo, tanto danos encefálicos, quanto circulatórios. Ao analisar a função do cortisol
observando como ele age quando a energia disponibilizada para lutar ou fugir não é
consumida, pode se ter uma idéia das lesões geradas pelo estresse prolongado. Por exemplo, o
aumento de disponibilização de glicose sangüínea e triglicérides, em longo prazo, pode levar a
elevações significativas na pressão arterial, o que faz com que muitos pesquisadores da
fisiologia considerem o estresse como um importante fator de risco para a doença coronariana
(POWERS e HOWLEY, 2000).
A supressão do funcionamento do sistema imunológico, causada pelo cortisol, pode
ser a origem de muitos tipos de câncer. Reiche et al. (2004) realizaram um estudo onde foi
verificado que o estresse excessivo dificulta o funcionamento das células T e dos natural
killers” que são responsáveis por destruir as células cancerosas.
Otte et al. (2005) demonstraram que a resposta do cortisol ao estresse aumenta com o
envelhecimento, e que é maior em mulheres do que em homens. Além de problemas
coronarianos e imunológicos, o cortisol vem sendo estudado como uma possível causa para
danos cognitivos ocorridos especialmente em idosos. Possivelmente o cortisol, o hormônio do
estresse, seja responsável por uma grande parte da perda de memória ocorrida em alguns
idosos.
2.4 A Depressão
Pode-se definir a depressão como uma síndrome psiquiátrica com componentes
biológicos e psicológicos caracterizada por sintomas emocionais, motivacionais e físicos com
grande repercussão na vida do indivíduo (GUIMARÃES, 1996; KATZ, 2003).
De acordo com Diagnostic and Statiscal Manual of Mental Disorders (DSM-IV)
dependendo da sintomatologia, duração e gravidade, os transtornos depressivos podem ser
classificados em: transtorno depressivo maior (unipolar), transtorno distímico e transtorno
depressivo sem outra especificação.
37
Os sintomas decorrentes dos transtornos depressivos comprometem diversos aspectos
do ser humano (emocional, psicológico, cognitivo, social, motor e neurovegetativo), sendo
que a gravidade e a quantidade de sintomas variam de acordo com cada pessoa e também com
o tempo de duração da depressão (SILVEIRA, 1998; NIHM, 2003).
O indivíduo com transtorno depressivo apresenta como alteração afetiva marcante a
tristeza, bem como o desinteresse ou falta de prazer em realizar atividades anteriormente
agradáveis e tristeza (SILVEIRA, 1998; NIHM, 2003). Além de viver com a tristeza, a pessoa
depressiva tende a se isolar cada vez mais, devido ao seu desinteresse em interagir com o
ambiente social (MCKHANN, 2003). De outro lado, estão os que também se afastam dos
entristecidos para evitar ser por eles influenciados, o que agrava ainda mais o isolamento
social das pessoas com depressão.
No âmbito cognitivo, pode-se observar como característica da depressão, a dificuldade
de concentração, memória e de tomar decisões. Sentimentos de culpa, inutilidade,
pessimismo, pensamentos de morte ou suicídio e tentativa de suicídio, também, afligem os
indivíduos que apresentam alguma forma de transtorno depressivo (NIHM, 2003).
Associado a todos esses sintomas pode-se verificar alterações fisiológicas e
neurovegetativas, tais como alteração do sono, apetite e desejo sexual. Quanto ao sono, o
indivíduo pode apresentar insônia ou a necessidade de dormir excessivamente, no que se
refere ao apetite, este pode estar diminuído ou aumentado (SILVEIRA, 1998; NIHM, 2003).
2.5 A atividade física
A atividade física tem sido estabelecida como um comportamento relacionado à saúde
tornando-se foco da saúde pública. Partindo do objetivo de melhorar a saúde, muitos esforços
vêm sendo feitos para determinar a quantidade de atividade física necessária para um
indivíduo melhorar a sua saúde (SALLIS e OWEN, 1999).
O primeiro esforço para definir a quantidade de atividade física necessária para
melhorar a aptidão aeróbica e a composição corporal em indivíduos saudáveis foi feito pelo
Colégio Americano de Medicina do Esporte em 1978 (ACSM, 1978). Este esforço foi feito
com base nos estudos científicos experimentais e preconizava que a atividade física deveria
ser aeróbica, realizada de 3 a 5 vezes por semana, em intensidade de 60% a 90% da
38
freqüência cardíaca máxima de reserva ou 50% a 85% do consumo máximo de oxigênio, com
duração de 15 a 60 minutos.
Estas recomendações de 1978 influenciaram na pesquisa e na prática dos cientistas e
profissionais da saúde, sendo que os pesquisadores avaliavam se os participantes dos estudos
estavam praticando a quantidade aconselhada e os profissionais recomendavam esta quantia
de atividade física para programas preventivos e terapêuticos (SALLIS e OWEN, 1999). As
políticas públicas foram influenciadas pelo guia do ACSM (1978), especialmente nos Estados
Unidos. O manual ficou conhecido no mundo inteiro e se tornou o padrão de recomendação
de atividade física.
As recomendações do ACSM (1978) apresentavam vantagens como serem de fácil
entendimento, poder ser usadas por profissionais da saúde e por pessoas leigas, ajudarem a
aumentar a consciência e o desejo das pessoas em se tornar fisicamente ativas, colaborando
com uma melhora da aptidão física de um número significativo de pessoas no início dos anos
80. No entanto, Sallis e Owen (1999) apontam que foram verificados alguns problemas no
referido manual. Primeiro, porque foi desenvolvido baseado na quantidade de atividade física
necessária para melhorar a aptidão aeróbica de indivíduos sedentários, mas foi interpretado
como a quantidade necessária para assegurar uma boa saúde. Segundo, o guia foi feito com
base em estudos realizados em homens brancos, mas foi generalizado para mulheres, crianças
e idosos, de todos os grupos étnicos e raciais. Terceiro, os exercícios aeróbicos sugeridos no
guia não pareceram atrativos o suficiente para a grande maioria dos adultos.
A baixa adesão de muitas pessoas ao guia pressionou para que novas pesquisas fossem
realizadas. As recomendações foram revisadas em 1990, sendo que a mudança mais
significativa foi adicionar o objetivo de desenvolver força muscular. Apenas mudanças
pequenas foram feitas nas recomendações de exercício aeróbico, reforçando que o
posicionamento foi feito com base em estudos científicos e agradecendo aos estudos
epidemiológicos que demonstraram que níveis mais baixos de atividade física eram
suficientes para diminuir o risco de desenvolver certas doenças crônicas. Enfatizaram que o
guia era direcionado ao aumento da aptidão física e a melhora da composição corporal, sem
prover, no entanto, um manual específico relacionado à saúde (ACSM, 1990).
Sallis e Owen (1999) indicaram que os estudos epidemiológicos que tentavam
demonstrar a existência de associação entre doses menores de atividade física e saúde
pressionaram as recomendações a serem reduzidas em intensidade e duração. O principal
motivo alegado era que o guia era muito rígido e desencorajava qualquer prática de atividade
física pelas pessoas, especialmente pelos indivíduos de países industrializados. O argumento
39
era que modificar as recomendações poderia estimular as pessoas a se tornarem mais ativas
fisicamente e ter comportamentos saudáveis.
O novo manual, resultado desta mudança de foco nas atividades de intensidade
moderada, foi publicado no Health People 2000 (DHHS, 1996). Este documento foi uma
determinação do governo americano sobre promoção de saúde e prevenção de doenças. As
novas recomendações indicavam a realização de pelo menos 30 minutos de atividade física
moderada em no mínimo 5 dias por semana, preferencialmente todos os dias. Os trinta
minutos de atividade física poderiam ser feitos de maneira contínua (uma sessão) ou
acumulada (duas sessões de 15 minutos) (DHHS, 1996). Nas recomendações da segunda
edição, o Health People 2010 (DHHS, 2000), foi indicado que os 30 minutos poderiam ser
atingidos de forma acumulada com sessões de 10 minutos.
Sallis e Owen (1999) destacam que a nova postura em relação às recomendações de
atividade física resulta, na maioria das vezes, em três enganos. O primeiro é que muitas
pessoas acreditam que não precisam muita atividade física quando seguem o guia de atividade
física moderada. Isto não é verdade, porque o total do gasto energético é similar, sendo que se
a intensidade é reduzida, a freqüência deve aumentar de 3 vezes por semana para
“preferencialmente” todos os dias. O segundo engano é acreditar que as atividades moderadas
exigem pouco ou nenhum esforço. A atividade física moderada deve provocar transpiração e
aumento da freqüência cardíaca, embora a níveis inferiores aos indicados nas atividades
prescritas anteriormente pelo ACSM (1990). O terceiro engano é pensar que as atividades
intensas não são mais recomendadas. Outro problema é que esta abordagem leva muitas
pessoas a acreditar que já acumularam os 30 minutos de atividade física andando, quando isto
provavelmente não é verdade, porque as caminhadas são de intensidade muito baixa,
insuficiente para ser considerada moderada.
O fato de ter sido verificado que atividades intermitentes e moderadas também
produzem efeitos positivos na saúde não excluí a importância da prática sistemática de
atividade física, em período e local adequado à prática, conforme é apontado no manual do
ACSM (2000).
Woof-May et al. (2003) realizaram um estudo com o objetivo de investigar se a prática
de sessões acumuladas de atividade física (dez minutos cada) é efetiva para a produção de
mudanças na função cardíaca tanto quanto uma sessão extensa e única. O estudo foi
experimental, comparando os efeitos de pequenas e longas sessões de atividade física na
função cardíaca antes e depois de um período de 18 meses de treinamento. Os resultados
indicaram que sessões de 10 minutos não resultaram em benefícios ao coração similares aos
40
obtidos com sessões mais longas, considerando que os grupos somavam o mesmo tempo e
intensidade de atividade física. Conseqüentemente, os autores destacam que aqueles que
afirmam que a atividade física pode ser feita de forma acumulada devem estar conscientes que
o seu potencial benefício à saúde não pode ser equiparado àqueles obtidos com exercícios
realizados em sessões mais longas.
Assim, existem contradições com as novas recomendações de atividade física para a
população. Uma delas é que as recomendações atuais de atividade física estão levando muitos
indivíduos a acreditar que estão sendo beneficiados fazendo uma atividade que, na maioria
das vezes, é insuficiente. Um estudo clássico realizado por Paffenbarger et al. (1996)
verificou que em 12 anos os estudantes que gastavam mais de 2000 Kcal em atividades do
cotidiano tinham menores riscos de morbidade e doenças cardiovasculares. Com base em
estudos como estes que muitos pesquisadores entenderam o gasto energético como
determinante na relação atividade física e saúde.
No entanto, observando a tabela de gasto calórico publicada no posicionamento oficial
da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (CARVALHO et al., 1996), pode-se verificar
que as atividades e o tempo necessário para obter o gasto energético indicado no estudo de
Paffenbarger et al. (1986) é muito superior ao que vem sendo realizado nos estudos
brasileiros.
A prática atual de recomendar qualquer atividade física informal para a melhora da
saúde pode levar o idoso a se iludir que atinge os objetivos ficando em pé, descendo e subindo
escadas, limpando a casa, quando na verdade não estas atividades não oferecem os mesmos
benefícios obtidos com exercício físico feitos de forma contínua. Isto sem considerar outros
fatores, como a escolha da atividade por parte do sujeito, pois dificilmente um indivíduo
conseguiria gastar 2000 kcal semanais em um exercício que não gostasse. Caso o fizesse, são
duvidosos os efeitos benéficos que possa obter com tal prática, uma vez que até mesmo em
modelos animais é prejudicial praticar exercícios forçadamente.
Assim, pode-se perceber que as modificações no manual, e nas recomendações de
atividade física para a saúde foram adaptadas à realidade social, mascarando os problemas
sociais ao invés de denunciá-los. A atividade física adquiriu status de ginástica laboral,
adaptando-se as necessidades de uma sociedade direcionada para o lucro.
As pesquisas e a literatura tradicional sobre atividade física e saúde contêm muitas
referências ao fato de que as mudanças nos comportamentos de exercício e saúde estão
associadas com a necessidade de “ter controle do estilo de vida pessoal” (BIDDLE, MUTRIE
e MURTIE, 1999). Assim, a informação que muitas doenças ligadas com a morte prematura
41
estão associadas ao estilo de vida tem a mensagem implícita que os indivíduos são os únicos
responsáveis pela sua própria saúde e bem estar. Embora esta abordagem tenha seu valor
contra teorias genéticas que levam a aceitação das condições negativas de saúde, deve-se
reconhecer que existem problemas com tais mensagens de saúde que encorajam o controle
pessoal como a principal forma de mudar o comportamento.
Alguns autores argumentam que a maior ênfase deve ser colocada nos determinantes
sociais da saúde e acusam aqueles que superestimam a necessidade de controle pessoal
adotando a abordagem de “culpabilização da vítima” (victim blaming) (BIDDLE, MUTRIE e
MURTIE, 2001).
Ferreira e Najar (2005) propõem uma reflexão sobre o processo de adesão à prática de
atividades físicas e sobre as ações costumeiramente adotadas neste sentido em programas de
promoção de estilo de vida ativo (especialmente o Agita São Paulo). Os objetivos, estratégias
e avaliações destes programas enfocam o aumento do nível de atividade física da população e
a ampliação dos conhecimentos sobre os benefícios da atividade física na saúde. Tendo em
vista a complexidade da adesão à atividade física, aponta-se para a necessidade de ampliação
do número de variáveis sobre as quais deveriam repousar as avaliações e ações dos
programas. É preciso considerar variáveis como oferta, acessibilidade e qualidade de espaços
para traduzir melhor desempenho das ações adotadas, melhorando a elaboração e avaliação
dos programas de promoção de atividade física de abrangência nacional.
Alguns países lidaram com o dilema de ter responsabilidade por certas ações
relacionadas ao estilo de vida dos cidadãos, outros adotaram a postura de afirmar que a
responsabilidade recai sobre as pessoas. Isto pode ser observado na determinação dos
documentos publicados por entidades ligadas ao governo, como por exemplo, o Documento
de Saúde dos EUA (Health Document, 1993), onde é destacado que os comportamentos de
saúde recaem na escolha pessoal, entendendo que o comportamento é determinado apenas
pelas atitudes individuais, sem referências às influências econômicas e sociais e presumindo
que as vítimas de doenças possíveis de serem prevenidas são “desleixadas” com a própria
saúde (BIDDLE, MUTRIE e MURTIE, 2001).
A constatação de que é possível obter bons resultados na saúde substituindo a prática
regular de atividade física por algumas “caminhadas até o trabalho” ou mesmo “subir degraus
de escada” reforça esta postura, onde recai sobre o indivíduo a responsabilidade sobre todas as
suas doenças, subestimando a importância do governo proporcionar estruturas públicas
adequadas à prática regular de atividade física (afinal, ele pode subir escadas e ir caminhando
ao trabalho) e desconsiderando o fato das exigências de trabalho, muitas vezes, não lhe
42
proporcionarem condições de vida adequadas como tempo de lazer, pausa suficiente para
almoço e horas de descanso.
Embora haja esta postura de defender a atividade física acumulada como forma de
manter a saúde, é defendido, no próprio manual do ACSM (2000) que para obter benefícios e
garantir a segurança é necessário acompanhamento profissional especializado, realizado por
médicos, nutricionistas e professores de educação física. Matiello Júnior e Gonçalves (2001,
p.6) denunciam que “os discursos de acompanhamento particularizado são relativizados nas
diferentes instâncias do poder”. Os autores equiparam as recomendações de atividade física
“bricolagem”, que é um termo utilizado na construção civil e na decoração de ambientes,
onde aqueles que não têm dinheiro para pagar um profissional, antes imprescindível, podem
utilizar um manual associado à idéia de “faça você mesmo”.
[...] para a grande legião de excluídos, conservam-se programas de caráter
massivo com maquiagem de modernidade, proliferando inclusive pelas vias das
políticas públicas através de ensino para auto-controle dos exercícios e seus
efeitos, inseridos num pacote de motivação por toda a vida”(MATIELLO JUNIOR
e GONÇALVES, 2001, p.6).
Alguns estudos têm tentado demonstrar que a atividade física acumulada pode ser tão
efetiva quanto a realizada em uma sessão mais longa. A maioria destes estudos enfatiza a
semelhança dos efeitos em relação à composição corporal e a aptidão aeróbica (OSEI-TUTU
e CAMPAGNA, 2005). No entanto, alguns estudos experimentais compararam os efeitos de
exercícios acumulados com os realizados em sessão longa, entre estes, Murphy et al. (2002).
Neste estudo, foram comparados os efeitos de 6 semanas de treinamento em dois diferentes
grupos: o primeiro constando de 30 minutos de caminhada vigorosa, 5 vezes por semana, o
segundo grupo realizava a mesma caminhada em 3 sessões de 10 minutos, 5 vezes por
semana. A intensidade destas caminhadas foi de 70 a 80% da freqüência cardíaca máxima.
Murphy et al. (2002) verificaram que ambos os programas de exercício promoveram melhoras
significativas no bem estar psicológico dos participantes, sem diferenças entre os grupos.
No entanto, Osei-Tutu e Campagna (2005), ao compararem os efeitos de sessões
longas com os de sessões de exercício acumulado por 8 semanas em uma intensidade de 60%
à 79% da freqüência cardíaca máxima, não verificaram os mesmos resultados. Os sujeitos que
realizaram exercício acumulado (3 vezes de 10 minutos ao dia) não obtiveram benefícios
significativos nos estados de humor quando comparados aos que realizaram uma sessão diária
de 30 minutos. O protocolo de treinamento utilizado por Osei-Tutu e Campagna (2005) foi
43
semelhante ao de Murphy et al. (2002), diferenciando-se apenas em relação à intensidade da
atividade física.
Assim, a realização de atividade física de forma acumulada pode ser considerada
benéfica no bem estar psicológico, porém, a intensidade destas sessões de 10 minutos deve ser
elevada. No caso do idoso, dificilmente alguma atividade do cotidiano permitirá que ele
trabalhe por 10 minutos em uma intensidade elevada, como a investigada por Murphy et al.
(2002), de 70 a 80% da freqüência cardíaca máxima. Este problema quando é trazido para a
realidade dos estudos epidemiológicos é ainda mais complicada, porque os instrumentos
indiretos de mensuração do nível de atividade física dificilmente terão como obter
precisamente a intensidade do exercício realizados “por mais de dez minutos” pelos idosos.
Osei-Tutu e Campagna (2005) sugerem que para que a atividade física tenha
benefícios psicológicos ela deve ser feita por períodos estendidos e não de forma acumulada.
Harris et al. (2003) verificaram que o significado e a prática regular de atividade física quando
feita de forma intencional, estão associados a efeitos mais fortes na saúde e no bem estar
mental. Daley e Maynard (2003) ao comparar os efeitos do exercício físico sobre a ansiedade
e bem estar psicológico, verificaram que estes benefícios eram maiores quando os sujeitos
escolhiam a atividade física de sua preferência. Malmberg et al. (2005) demonstraram que a
saúde percebida estava relacionada apenas com a prática regular de atividade física de lazer e
não com o gasto energético total.
Estes estudos sugerem que o foco, especialmente ao tratar dos aspectos
neuropsicológicos, deve recair sobre o tipo, quantidade e intensidade da atividade física e não
sobre o gasto energético total, que não parece influenciar nas variáveis psicológicas.
2.5.1 O estresse, a depressão e a prática de atividade física em idosos
Existem evidências de que a atividade física favoreça o bem-estar psicológico. As
pesquisas indicam que a prática de atividade física modifica a capacidade de lidar com o
estresse através do aumento dos recursos físicos e psicológicos atingidos com o exercício
(SPIRDUSO, 2005).
Traustadóttir et al. (2005) demonstraram que no envelhecimento, diferentes estilos de
vida podem estar associados a tipos distintos de resposta ao estresse. Os resultados deste
estudo indicaram que entre as idosas que não praticam atividade física, o envelhecimento está
44
associado a maior reatividade ao estresse, liberando mais cortisol frente a um evento
estressante. As idosas praticantes de atividade física apresentaram uma atenuação nestas
respostas, demonstrando um menor aumento nos níveis de cortisol frente aos mesmos eventos
estressantes. No entanto, não foi observado se as idosas que praticavam atividade física se
diferenciavam das que não praticavam em relação à classe econômica e escolaridade. Estas
variáveis não foram consideradas na pesquisa de Traustadóttir et al (2005).
Estes resultados indicam que existem formas diferentes de reagir ao mesmo agente
estressor, intensificando ou minimizando as respostas fisiológicas. A a prática de atividade
física, a meditação, o relaxamento, a psicoterapia e a vem sendo observados na tentativa de
descobrir como obter uma melhor reação ao estresse (GREENBERG, 2002).
Alguns estudos (MOSES et al., 1989; LANDERS; PETRUZZELLO, 1994;
MORGAN, 1987) têm demonstrado que o exercício físico diminui a ansiedade, tensão e afeto
negativo e que aumenta o afeto positivo.
Dados de pesquisas epidemiológicas sugerem uma associação entre sedentarismo e
níveis elevados de sintomas depressivos em jovens e idosos. A importância de estudar estas
variáveis em idosos é destacada pelos dados que apontam diferenças na relação entre
exercício físico e depressão que são dependentes da idade. Por exemplo, Fukukawa et al.
(2004) avaliaram a relação entre exercício físico e depressão em 1000 homens e mulheres
japoneses com idade entre 40 e 79 anos. Nenhuma associação significativa entre exercício e
sintomas depressivos foi encontrada nos adultos de meia idade, no entanto, nos idosos, a
participação em exercícios físicos pareceu estar associada a menor presença sintomas
depressivos. O grupo de idosos apresentou menor renda mensal e mais indivíduos do sexo
masculino em relação ao grupo de adultos, o que pode ter influenciado nos resultados.
Harris et al. (2006) examinaram a associação entre a atividade física, praticada
regularmente com o objetivo de redução do estresse, depressão e variáveis demográficas em
bases de 1, 4 e 10 anos. Maior nível de atividade física foi associado com menos depressão,
mesmo quando foi considerado gênero, idade, problemas médicos e eventos de vida
(estressores). A atividade física reduziu os efeitos das condições médicas e dos eventos de
vida negativos na depressão, mas apenas quando ela foi realizada com o objetivo de redução
de estresse. Os resultados permitem sugerir que a atividade física pode auxiliar no
enfrentamento dos agentes estressores, mas para isto ela deve estar vinculada ao objetivo de
redução do estresse.
Daley e Maynard (2003) compararam os efeitos de diferentes tipos de exercício na
ansiedade e estados de humor de adultos. Os efeitos foram comparados mediante duas
45
diferentes situações, na primeira, os participantes praticavam um exercício de laboratório que
haviam relatado como desagradável e depois eles escolhiam outro equipamento que gostavam
mais para a atividade, em outro dia. Todos os participantes realizaram o exercício preferido e
o desagradável na mesma intensidade. Os resultados indicaram que os participantes do estudo
apenas obtiveram redução de ansiedade e mudança favorável nos estados de humor quando
realizaram o exercício que escolheram.
Kritz-Silverstein et al. (2001) realizaram um estudo com o objetivo de investigar a
relação entre prática de atividade física e depressão ao longo de 8 anos. Os resultados
indicaram que houve associação entre atividade física e depressão na primeira avaliação, no
entanto, quando foi analisada a capacidade da prática de atividade física prevenir a depressão
ao longo dos 8 anos, não foi encontrada relação. Os autores sugeriram que estes resultados
demonstram que os indivíduos menos deprimidos são mais propensos a se exercitar, e por isto
os estudos costumam verificar tal associação. Outros estudos também não encontraram
qualquer relação entre prática de exercícios físicos e depressão (COOPER-PATRICK et al.,
1997; LENNOX et al., 1990; WEYERER, 1992).
Algumas explicações existem para tais divergências. Uma é que os pesquisadores têm
usado mensurações diversas de atividade física, exercício e depressão. Por exemplo,
definições de atividade física têm variado desde a limpeza da casa até participação em
exercícios vigorosos. Estudos prévios têm acessado o tipo e a freqüência das atividades
físicas, mas não têm considerado o significado pessoal ou a função das atividades. Se os
mecanismos pelos quais a atividade física afeta a depressão envolvem o significado pessoal
ou a motivação para as atividades (DALEY e MAYNARD, 2003; HARRIS et al., 2006) então
não considerar estes construtos pode “introduzir ruído” na estimação dos efeitos. Por
exemplo, a atividade física que é utilizada para ajudar a lidar com o estresse pode estar mais
conectada com a depressão do que a atividade física motivada pela tentativa de perder peso.
Outro problema com a maioria destes estudos é não considerar as características
pessoais e sócio-econômicas dos participantes. Por exemplo, é possível que os indivíduos
praticantes de atividade física regular ou engajados em treinamento físico tenham melhores
condições de vida e situação econômica, conforme foi sugerido por Andrade (2001). No caso
dos idosos, é possível que aqueles que praticam e freqüentam grupos de atividade física
tenham maior independência e mais disposição para tanto. Desta forma, em estudos
transversais é necessário buscar as variáveis que influenciam no fenômeno, evitando dar um
status excessivo a um determinado fator.
46
Para saber se somente a promoção de atividade física pode promover melhoras
significativas na saúde, é necessário analisar os resultados das pesquisas experimentais que
utilizaram a atividade física como intervenção.
Em um estudo designado para avaliar os efeitos do exercício no nível total de
depressão e nos sintomas depressivos (somáticos e psicológicos), foi selecionada uma amostra
aleatória de 30 idosos com depressão moderada, separados em 3 condições: exercício
supervisionado, controle com contato social, e lista de espera. Os participantes do grupo de
exercício e de contato social apresentaram uma redução significativa na depressão e nos
sintomas depressivos em relação à lista de espera. Apenas os participantes do grupo de
exercício demonstraram melhora significativa na sintomatologia somática após a intervenção
(McNEIL et al., 1991).
Mather et al. (2002) compararam as alterações no nível de depressão promovidas pela
realização de exercício ou de um programa educacional de saúde, no qual os participantes
estavam sendo tratados com medicação antidepressiva e continuaram durante as 10 semanas
de intervenção da pesquisa. Em ambas as condições os participantes obtiveram reduções
significativas na depressão, mas não houve diferenças entre os efeitos dos tipos de
intervenção. Os autores sugeriram que os estudos epidemiológicos que encontram diferenças
entre praticantes e não praticantes de atividade física provavelmente as encontram por não
considerar características específicas entre estes grupos.
Além das pesquisas que demonstram os efeitos benéficos do exercício aeróbio no
humor, existem evidências que sugerem que exercício anaeróbios de força também podem
reduzir a depressão. Uma amostra de idosos independentes com transtorno depressivo maior,
depressão menor ou distimia foram aleatoriamente selecionados para treinamento de força
progressivo ou grupo controle com programa educacional de saúde. Ao final de 20 semanas
de intervenção, participantes no grupo de treinamento de força demonstraram reduções
significativas na depressão em relação ao grupo controle. Estes efeitos permaneceram após 26
semanas após o final da intervenção, com 33% dos participantes do grupo de força que
continuaram a realizar o treinamento (SINGH et al., 2001).
Blumenthal et al. (1999) realizaram um estudo com 156 idosos com transtorno
depressivo maior residentes na comunidade, divididos aleatoriamente em 3 grupos:
medicação, exercício supervisionado e medicação e exercício supervisionado combinados.
Foram 16 semanas de tratamento, que constou de exercício aeróbio 3 vezes por semana. Ao
final da intervenção, os 3 grupos apresentaram reduções nos níveis de depressão. Os
tratamentos não se diferenciaram em relação à eficácia. Os resultados sugerem que o
47
exercício pode ser uma alternativa viável para o tratamento da depressão de idosos. Após 6
meses depois das intervenções, apenas o grupo que praticou exercício físico manteve níveis
inferiores de depressão, enquanto os dois grupos com medicação voltaram a apresentar
depressão. Isto pode ser explicado porque 64% dos idosos que participaram da intervenção
com exercício continuaram a se exercitar após o final do estudo. Exercício auto-relatado entre
todos os participantes foi relacionado com redução de 50% do risco de depressão 6 meses
após o final da pesquisa.
2.6 A cognição, estresse e depressão em idosas
Toda a esfera de funcionamento intelectual humano pode ser incluída no termo
“cognição” (SIEGLER e POON, 1992). O funcionamento cognitivo corresponde as fases do
processamento de informação como a percepção, a memória, atenção, vigilância, raciocínio e
solução de problemas. Outras variáveis, referentes ao funcionamento psicomotor como tempo
de reação, tempo de movimento e velocidade de desempenho, são também freqüentemente
incluídas neste conceito (SPIRDUSO, 2005).
Para compreender os processos cognitivos é necessário distinguir os componentes da
cognição, que são os processos que sustentam a cognição, as funções cognitivas e a cognição
em si. Os processos que sustentam a cognição são aqueles que mais comumente são
mensurados, sendo eles atenção, memória de trabalho, velocidade de processamento de
informações, processo psicomotor e processos perceptivos. As funções cognitivas são:
memória (verbal, visual, etc.), associação, comparação, raciocínio abstrato, manipulação e
capacidade espacial e síntese. Os processos e as funções cognitivas agem em conjunto
permitindo que os indivíduos tomem decisões e se comportem de maneira inteligente
(SPIRDUSO, 2005).
Os processos que sustentam a cognição podem ser considerados como domínios
cognitivos. Muitos pesquisadores se interessam em estudar os diferentes domínios cognitivos
dos idosos, visando identificar quaisquer alterações que possam ocorrer como resultantes do
envelhecimento (SPIRDUSO, 2005). No entanto, as interpretações devem ser limitadas ao
domínio mensurado e não à cognição como um todo.
48
Spirduso (2005) destaca que nos últimos 20 ou 30 anos muitos pesquisadores têm
tentado dissociar o processo de envelhecimento em si (envelhecimento primário) dos
declínios causados pelas condições patológicas (envelhecimento secundário). Pesquisas
transversais que comparam o desempenho de jovens e idosos têm apoiado que ocorrem
declínios naturais no envelhecimento, no entanto, algumas diferenças históricas, sociais e
culturais são freqüentemente negligenciadas em tais estudos.
Dustman et al. (2003) ao comparar o tempo de reação e o P300, medida que equivale
ao “tempo de reação cerebral”, de jovens com os de idosos verificaram que os idosos
praticantes de exercício regular apresentavam desempenho semelhante aos dos jovens, no
entanto, o mesmo não foi verificado nos idosos sedentários. Estes resultados permitem sugerir
que os “declínios” cognitivos não fazem parte do envelhecimento primário, mas sim, que
podem ser evitados mediante a adoção de estratégias adequadas.
Alguns autores como Zec (1995) e Shepard (2003) afirmam que a eficiência dos
processos de funcionamento cognitivo reduz muito com o passar dos anos, no entanto, eles se
baseiam nos resultados de pesquisas que demonstram que os idosos apresentam uma redução
da velocidade de transmissão neural. No EEG aparece a redução da freqüência elétrica
cortical generalizada no córtex (BUSSE e BLAZER, 1992). Além da lentificação do
processamento de informações no cérebro, a velocidade de percepção de estímulos externos
também diminui, o P300, que corresponde ao tempo de reação cerebral, aumenta muito com a
idade (McDOWELL et al., 2003).
A redução na velocidade da transmissão neural parece ser maior a nível central do que
periférico, ou seja, os efeitos são maiores no cérebro do que nas terminações nervosas
periféricas. Shepard (2003) coloca que além do declínio no tempo de reação, o idoso também
apresenta uma desaceleração do tempo de movimento por causa de fatores como a rigidez de
articulações e a perda de força muscular. No entanto, a principal área responsável por atrasos
nas reações de uma pessoa está no cérebro, onde alguns pesquisadores indicam que um
declínio progressivo na capacidade de processar informações e completar operações como a
codificação, o processamento, a comparação, a recuperação e a seleção (SPIRDUSO, 1995).
Analisando criticamente os achados expostos anteriormente sobre a lentificação do TR
e das ondas mentais, pode-se verificar que o resultado foi generalizado para a cognição como
um todo, levando aos pesquisadores sugerirem que com a redução da velocidade o cérebro
sofre “uma perda gradativa de eficiência”. A eficiência, entretanto, não é definida somente
pela velocidade. Kolev, Yordanova e Falkeinstein (2006) demonstraram que os idosos
possuem um limiar de ativação de resposta mais alto (verificado no EEG), o que
49
possivelmente atrasa a sua resposta motora, no entanto, quando comparados aos jovens, os
idosos cometem um número de erros e antecipações significativamente menores, o que indica
certa maturidade, sendo este tempo mais lento devido a uma necessidade maior de elaboração
cerebral para uma tomada de decisão mais eficaz. Assim, não é correto afirmar que o maior
tempo de reação reflete uma pior “eficiência cerebral, sendo necessário analisar outros
fatores como número de erros, variabilidade, antecipações, entre outros.
McDougall e Balyer (1998) denunciam que a maioria dos estudos tentou provar que os
idosos perdem suas funções cognitivas com a idade, ajudando a reforçar crenças que estão
baseadas no estereótipo de que a memória automaticamente se deteriora com o
envelhecimento. As pesquisas que se preocupam em enfatizar que a memória diminui com a
idade levam os idosos a acreditarem que nada podem fazer contra isto, reduzindo ainda mais o
senso de auto-eficácia, o que pode aumentar a depressão.
Mecacci e Righi (2006) investigaram a relação entre idade e auto-avaliação de lapsos
cognitivos. Os resultados indicaram que os idosos relataram menor freqüência de lapsos em
relação aos mais jovens. Os participantes que indicaram menor freqüência de lapsos foram
aqueles que afirmaram monitorar cuidadosamente sua atividade cognitiva. Este resultado foi
independente da idade. Paradoxalmente, os idosos foram os que demonstraram maior
preocupação em relação ao seu desempenho cognitivo.
Embora a auto-avaliação da cognição não reflita o desempenho cognitivo, estes
resultados permitem sugerir que apesar dos idosos não constatarem problemas cognitivos eles
se preocupam com estes, monitorando cuidadosamente a sua atividade. É possível sugerir que
a crença em relação ao “declínio” cognitivo inevitável pode estar deixando os idosos mais
preocupados em relação ao seu desempenho cognitivo.
Assim, as reduções e os déficits verificados em alguns idosos devem ser tratados como
parte do envelhecimento secundário e não como inevitáveis ou naturais do envelhecimento
primário. Cohen (1995) destaca que nos idosos os problemas ocorrem em cadeia, interligados,
desta forma, considera-se que os “déficits” ou “declínios” não sejam naturais do
envelhecimento e sim, ligados a história de vida e a todas as condições biopsicosociais que
envolvem os idosos investigados.
Siegler e Poon (1993) demonstram haver grande inter-relação de variáveis cognitivas.
A atenção, especialmente a atenção seletiva, pode ser prejudicada nos idosos, e
provavelmente está ligada a uma menor capacidade inibitória resultante de uma redução na
atividade cerebral. As reações parecem agir em cadeia, pois se pode considerar também que
uma menor capacidade de atenção seletiva, dificulte o aprendizado e a aquisição de novas
50
memórias (ZEC, 1995). Desta forma, é difícil estabelecer uma relação de causa-efeito, pois as
reações acontecem, normalmente, encadeadas.
A memória é uma das variáveis cognitivas mais destacadas pelos idosos. Muitos
idosos apresentam queixas de memória (WOLF et al., 2005). O tipo de memória mais afetado
nos idosos é a de curta duração, incluindo a memória de trabalho. Isto é observável no
comportamento diário de muitos idosos, que lembram com facilidade de eventos antigos,
passados, mas tem dificuldades de lembrar coisas que precisa, como por exemplo, de tomar
um medicamento ou do que fez no dia anterior.
Embora as pesquisas confirmem que existe declínio, baseadas na maior prevalência de
déficits cognitivos durante a velhice, é importante destacar que o declínio cognitivo geral não
faz parte do envelhecimento normal. Cargin et al. (2006) verificaram um prejuízo leve de
memória em 28% dos sujeitos de uma amostra de idosos australianos independentes. As
análises demonstraram que os indivíduos com prejuízos na memória também demonstraram
outros déficits de memória, função cognitiva, velocidade de processamento e cognição global.
Estes déficits não foram explicados pelas mudanças na idade, educação, inteligência, humor,
fatores relacionados à saúde ou status do gene “ApoEg4”. Os idosos com prejuízos na
memória (n=30) não reconheceram a extensão de suas dificuldades de memória e cognição
por meio de queixas, que foram feitas pelos idosos sem tais prejuízos (n=77). As dificuldades
de memória apresentadas por tais idosos não pareceram ter impacto na participação das
atividades diárias. Estes resultados sugerem que não é correto afirmar que dificuldades
cognitivas, especialmente de memória, refletem o envelhecimento normal. Os autores
demonstraram que pequenas reduções na memória de trabalho estão relacionadas com a idade,
mas não costumam ser grandes o suficiente para serem consideradas como um “declínio”.
Wolf et al. (2005) demonstraram que os déficits na memória estão relacionados com
maiores níveis de cortisol. Possivelmente, o cortisol, o hormônio do estresse, seja responsável
por uma grande parte da perda de memória em alguns idosos. MacLullich et al. (2005)
investigaram a relação entre níveis de cortisol, volume cerebral (por ressonância magnética) e
cognição em idosos saudáveis. Os resultados indicaram que maiores níveis de cortisol estão
associados a déficits cognitivos e reduções no volume cerebral em determinadas áreas,
especialmente no hipocampo. Elevados níveis de cortisol estavam associados a déficits na
memória e também com atrofia da área hipocampal. Desta forma, o estresse, que é
responsável por grande parte da produção de cortisol, também está associado a déficits
cognitivos (WOLF et al., 2005).
51
Assim como o estresse, a depressão está positivamente associada ao nível de cortisol
(DAVIDSON et al., 2002). Xavier et al. (2001) ao estudar a prevalência da depressão em
octogenários verificou que os idosos com depressão apresentam pior desempenho nos testes
cognitivos e pior qualidade do sono. Wang et al. (2001) investigaram os níveis de estresse e
depressão em idosos de uma comunidade do interior e verificaram que aqueles expostos a
muitos fatores estressantes, tais como, morte de entes queridos, baixo nível sócio econômico,
dependência financeira, entre outros, eram os que mais sofriam de depressão.
Bremner et al. (2000) investigaram o volume hipocampal de indivíduos com e sem
depressão maior, através de ressonância magnética. Foi comparado o volume hipocampal de
indivíduos clinicamente deprimidos com o dos que não apresentavam depressão. Os
resultados indicaram que os indivíduos deprimidos apresentaram um volume hipocampal
esquerdo 19% menor em comparação ao dos sujeitos sem o transtorno. Não foram verificadas
diferenças em outras áreas cerebrais. Estes resultados continuaram significativos mesmo
depois de considerar o tamanho cerebral total, a ingestão de álcool, a idade e o nível
educacional.
Estes estudos corroboram com a idéia de Joça et al. (2003) que indica que a exposição
a fatores estressantes aumenta a probabilidade de desenvolver depressão, e desta forma, gerar
um distúrbio neuroquímico capaz de alterar a atividade encefálica lesando células do
hipocampo, prejudicando desta forma, a memória.
Thompson (1992) levanta a hipótese, com base em outros estudos, de que a memória
de curta duração reduza naturalmente com a idade devido ao acúmulo de experiência. Para o
autor, a medida que as pessoas precisam recordar mais eventos e coisas importantes na
memória de longo prazo, a memória de curta duração precisa se tornar mais seletiva,
armazenando melhor aquilo que for mais relevante. Os estudos revisados por Thompson
(1992) indicam que a memória de longo prazo permanece intacta nos mais velhos, e
justamente por isto que a memória de curto prazo precisa se tornar mais seletiva.
Assim, a redução da memória de curta duração não seria algo necessariamente
prejudicial a qualidade de vida, a medida que podem ser adotadas estratégias simples para que
pequenos esquecimentos não interfiram no cotidiano dos idosos.
52
2.6.1 Cognição e Atividade física em Idosos
Alguns estudos têm revelado que o exercício físico influencia positivamente o
funcionamento cognitivo (TOMPOROWSKI, 2003). O exercício tem se mostrado eficaz na
produção de mudanças fisiológicas nos idosos, mas as pesquisas não têm documentado
consistentemente os benefícios cognitivos da atividade física para esta população (ZEC,
1995).
Yaffe et al. (2001) investigaram a relação entre o nível de atividade física e o risco de
declínio cognitivo ao longo de 8 anos. Participaram do estudo, 5925 idosas sem déficits
cognitivos ou limitações físicas residentes na comunidade. Os resultados indicaram que as
idosas com maior nível de atividade física no início do período apresentaram maior propensão
a sofrer declínio cognitivo ao longo dos 8 anos. Após ajustar os dados pela idade,
escolaridade, comorbidade, tabagismo, estrogênio e limitações funcionais, as idosas que se
exercitavam continuaram com menos chance de desenvolver declínio cognitivo. Estes
resultados dão suporte a hipótese de que a prática regular de atividade física previne o
declínio cognitivo em idosas saudáveis. No entanto, as condições econômicas e o nível de
atividade intelectual não foram considerados nesta pesquisa.
McDowell et al. (2003) compararam as diferenças no P300 (medida de potencial
evocado que evidencia a reação cerebral a um determinado estímulo) de idosos e jovens
ativos e sedentários. Os resultados indicaram que os idosos ativos apresentavam um P300
com um menor período de latência do que os sedentários, indicando maior velocidade de
resposta. No entanto ao comparar os jovens ativos e sedentários, esta diferença não foi tão
grande. Os autores sugeriram que a atividade física ajuda a manter a velocidade de
processamento de informações durante o envelhecimento, mas não consideraram a história
dos idosos participantes em relação à própria atividade física e as condições sócio-
econômicas, além de não se preocupar em verificar se houve diferenças no nível de atividade
intelectual entre os ativos e sedentários.
Tomporowski (2003) realizou um estudo de meta-análise dos efeitos do exercício em
diferentes intensidades sobre a cognição. Ele verificou que exercício aeróbico de intensidade
moderada produzia benefícios na memória de curta duração, a atenção e a solução de
problemas. Nesta meta-análise, também foi verificado que os efeitos positivos do exercício na
cognição eram maiores nas pesquisas de corte transversal do que em pesquisas experimentais
53
que investigaram os efeitos agudos. Os resultados das pesquisas experimentais deixaram
dúvidas em relação aos possíveis efeitos do exercício físico sobre os processos cognitivos.
McAuley et al. (2004) investigaram a relação entre capacidade cardiovascular e
cognição de idosos por meio de uma meta análise. Foi verificado que um melhor
condicionamento físico está associado com melhor funcionamento cognitivo. Os estudos com
ressonância magnética comparando a ativação de sujeitos idosos mediante a realização de
tarefas cognitivas demonstraram que aqueles com melhor aptidão aeróbica apresentavam uma
ativação mais eficiente e menos confusa quando comparados com indivíduos que
apresentavam menor condicionamento cardiovascular. Essa ativação mais eficiente está
relacionada à atenção seletiva durante a tarefa, que foi um dos principais efeitos do exercício
nas pesquisas revisadas por McAuley et al. (2004).
Madden et al. (1989) investigaram os efeitos do treinamento aeróbico em 85 idosos
divididos em: grupo de exercício aeróbico, grupo de prática de yoga e grupo controle (lista de
espera). Após 16 semanas todos os idosos do grupo que realizou exercício aeróbico
aumentaram significativamente a capacidade aeróbica. No entanto não houve nenhuma
melhora no TR, na atenção e na memória em função deste aumento na aptidão aeróbica. Os
autores sugerem a partir destes resultados que as mudanças relacionadas ao desempenho
cognitivo de idosos ocorrem devido a períodos estendidos de exercícios ou são causadas pelas
diferenças nas características de grupos praticantes e não praticantes de atividade física.
É importante destacar que existem muitos fatores que influenciam nos efeitos do
exercício na cognição e que existem diferenças entre os gêneros. As mulheres parecem se
beneficiar mais dos efeitos do exercício na cognição (RICHARDS, HARDY e
WADSWORTH, 2003).
Uma variável importante nos efeitos crônicos do exercício na cognição é o estresse.
Pois ao considerar que o estresse aumenta os níveis de cortisol no sangue e que o excesso de
cortisol traz prejuízos estruturais e funcionais à memória, um dos mecanismos pelo qual o
exercício poderia beneficiar a memória seria na redução do estresse, diminuindo os efeitos
negativos provocados pelo excesso de cortisol.
Talvez pelo fato de alguns fatores influenciarem no nível de estresse, eles se associem
à pior cognição. Por exemplo, idosos com baixo nível sócio econômico podem sofrer maior
estresse por terem que se preocupar mais com a sobrevivência do que aqueles com vida mais
confortável. Outras fontes também podem ser explicadas com vista na teoria de que o estresse
piora a cognição.
54
Entretanto, existem muitos problemas teóricos e metodológicos na interpretação dos
resultados nesta área. O primeiro problema é que não está claro quais atividades são mais
importantes para a cognição. Efeitos significativos têm sido registrados para a atividade
intelectual (HULTSCH et al., 1999; STURMANN et al. 2005; WILSON et al., 2002),
engajamento social (BASSUK, GLASS e BERKMAN, 1999) e exercício físico (YAFEE et
al., 2002; McAULEY, 2004). A questão é que estes componentes, intelectual, social e físico,
são difíceis de analisar separadamente.
O segundo problema é que a direção de causalidade é complicada. É possível que a
atividade física diretamente promova um aumento do desempenho cognitivo, no entanto,
aqueles com maior habilidade cognitiva são mais propensos a se engajarem em programas de
exercício físico. Este problema é difícil de resolver mesmo com dados longitudinais
(HULTSCH et al., 1999). Terceiro, é que alguns estudos não consideram fatores que podem
ser responsáveis pela associação entre atividade física e cognição, particularmente a atividade
intelectual e a condição sócio-econômica.
Em quarto lugar, não está claro se existe um período mínimo de engajamento nas
atividades. A maioria dos estudos analisa dados referentes às atividades físicas realizadas
durante a velhice, quando pouco se sabe das atividades nos períodos anteriores, especialmente
na idade adulta.
Richards, Hardy e Wadsworth (2003) realizaram um estudo longitudinal investigando
as atividades sociais, físicas e intelectuais em diferentes fases ao longo de 36 anos. Os
resultados indicaram que ambos os tipos de atividade foram positivamente associados com o
desempenho de memória, mesmo quando controlado por sexo, escolaridade, classe social, QI
aos 15 anos, doenças e distresse mental. A prática de atividade física foi relacionada com
menor taxa de declínio na memória dos 43 aos 53 anos, evidenciando que continuar fazendo
exercício físico após os 36 anos é importante para proteger a cognição. No entanto, a função
cognitiva apresentou maior relação com a atividade intelectual e não com o exercício físico. A
atividade intelectual aos 36 anos apresentou poder preditivo sobre a cognição, independente
de estas atividades terem sido mantidas ou não até os 53 anos. A relação obtida entre
atividade física e cognição foi reduzida pela metade ao incluir as variáveis escolaridade e
classe social na regressão linear.
Sturman et al. (2005) investigaram se a prática de atividade física reduz a taxa de
declínio cognitivo em idosos após considerar a participação em atividades cognitivamente
estimulantes, como leitura e jogos. Os resultados indicaram que a prática atividade física
estava correlacionada com menor taxa de declínio, no entanto, quando a participação em
55
atividades cognitivamente estimulantes foi considerada na análise, esta relação deixou de
existir. Os pesquisadores sugerem que a maioria dos estudos que encontrou associação
significativa entre prática de atividade física e desempenho em testes cognitivos, foi porque
não consideraram o engajamento em outros tipos de atividade cognitivamente estimulantes,
pois idosos que praticam atividade física, costumam também ser mais ativos intelectualmente.
Noice et al. (2004) investigaram os benefícios de uma intervenção de 4 semanas nas
variáveis cognitivas e afetivas de 124 idosos independentes, divididos em 3 condições: teatro
(intervenção primária), artes visuais (grupo de comparação) e grupo controle sem intervenção
(fila de espera). Os resultados indicaram que aqueles que participaram das aulas de teatro
obtiveram ganhos significativamente maiores do que os idosos dos outros dois grupos, tanto
no domínio cognitivo quanto no afetivo. Os autores sugerem que engajar-se em atividades
intelectualmente exigentes pode resultar no aumento da ativação cerebral, o que pode
melhorar o desempenho cognitivo.
Estes resultados indicam que a atividade física sozinha não pode predizer a cognição,
sugerindo que o nível de atividade intelectual seja mais importante na manutenção da
capacidade cognitiva. Não está sendo afirmado que a atividade física não auxilia na cognição,
apenas se está destacando outras variáveis fundamentais na investigação deste fenômeno.
Destaca-se que os domínios cognitivos específicos não predizem a capacidade
cognitiva geral e que a cognição, muitas vezes, é definida em torno daquilo que se pretende
medir. Por exemplo, Aleey, Suthers e Crimmins (2007) afirmaram que a escolaridade não
previne contra declínio cognitivo. No entanto, eles consideraram como “declínio cognitivo”
apenas a memória de trabalho. Esta é uma observação que leva a questionar as afirmações e o
preconceito gerado em torno da capacidade cognitiva dos idosos, que é tida como “reduzida”,
mas com base em testes de abrangência, também, reduzida.
Os estudos que investigaram os efeitos da atividade física na cognição também
observaram domínios cognitivos isolados, incapazes de englobar a complexidade da cognição
humana. Assim, corre-se o risco de programar intervenções que atinjam um domínio
cognitivo específico, sem gerar qualquer melhora objetiva para a própria pessoa investigada.
Um exemplo disto são os resultados de Fabre et al. (1999) ao realizar um estudo experimental
que avaliou os efeitos do treinamento aeróbico e/ou mental na qualidade de vida de idosos. Os
resultados indicaram que ambos os grupos apresentaram melhoras significativas na memória
de trabalho e de curto prazo, mas que todos os participantes do estudo demonstraram
insatisfação em termos da melhora da qualidade de vida provocada pela intervenção.
56
3 MÉTODO
O método inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que
possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador,
abrangendo a sua visão de mundo e corrente de pensamento. Considera-se que método vai
além de um conjunto de técnicas, pois “as correntes de pensamento têm sua história, veiculam
uma visão de mundo em a ver com a realidade social complexa onde foram geradas e que
elas tentam expressar” (MINAYO, 2004, p.19).
Cada objeto de análise requer uma maneira específica de abordagem de estudo,
determinada pelo próprio objeto. O método não dispensa a apreensão de cada objeto,
proporcionando apenas um guia, uma orientação para o conhecimento da realidade. A forma
do método deve subordinar-se a realidade (GADOTTI, 2001).
Desta forma, este capítulo apresenta as concepções teóricas de abordagem, o conjunto
de técnicas de pesquisa, bem como as suas limitações e algumas considerações que indicam o
caminho teórico percorrido na tentativa de subordinar o método à realidade investigada.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Esta é uma pesquisa sobre as possíveis relações entre estresse, depressão, desempenho
cognitivo e prática de atividade física de mulheres idosas. Os objetivos deste estudo contêm
elementos de correlação e de análise de discurso, por isto, esta pesquisa utiliza duas
abordagens, quantitativa e qualitativa. Minayo (2004, p.22) indica que:
A rigor qualquer investigação social deveria contemplar uma característica básica
de seu objeto: o aspecto qualitativo. Isto implica considerar sujeito de estudo:
gente, em determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou
classe com suas crenças, valores e significados. Implica também considerar que o
objeto das ciências sociais é complexo, contraditório, inacabado, e em permanente
transformação.
Triviños (1987, p.118) destaca que existe uma falsa dicotomia quantitativo-
qualitativo, afirmando:
Os investigadores pouco experientes, especialmente, que transformam a estatística
num instrumento fundamental de sua busca, quando ela realmente deveria ser um
elemento auxiliar do pesquisador, desperdiçam material hipoteticamente
importante. E terminam seu estudo onde, verdadeiramente, deveriam começar.
Por meio de análise estatística de dados quantitativos, buscou-se investigar se o
estresse, a depressão e o desempenho cognitivo estão associados à prática de atividade física.
A abordagem qualitativa foi utilizada com o objetivo de aprofundar a discussão sobre
as variáveis deste estudo no contexto histórico e social das idosas. Na pesquisa qualitativa, a
interação pesquisador-pesquisado é fundamental. Neste estudo, os depoimentos analisados
surgiram devido a esta interação, pois as idosas relatavam espontaneamente as suas opiniões
sobre as questões perguntadas, durante a aplicação dos testes quantitativos. Os depoimentos
analisados nesta pesquisa foram obtidos, registrados e aproveitados visando aprofundar a
investigação do tema, pois conforme Minayo (2004, p.121) afirma: “quando se trata de
aprender sistemas de valores, de normas, de representações de determinado grupo social, ou
quando se trata de compreender relações, o questionário se revela insuficiente”.
Skalinski e Praxedes (2003) realizaram uma investigação sobre os pressupostos
teóricos utilizados em epidemiologia, o modelo clínico e os efeitos de sua aplicação
hegemônica visando levantar indícios para a construção de um novo método que redirecione a
interpretação da pesquisa epidemiológica. Os autores verificaram que para transformar a
análise do processo saúde-doença é necessário adotar uma metodologia que recorra aos
processos históricos e sociais e que contribua na formação da consciência social, incluindo, na
luta pela saúde, todos os sujeitos excluídos na sociedade.
Assim, os resultados desta pesquisa foram interpretados partindo de uma perspectiva
histórica e social. Conforme afirma Skalinski e Praxedes (2003, p.7) “É preciso articular
esses resultados com a sua essência histórica a fim de não reduzir a análise às expressões
externas e empíricas”.
Como forma de aprofundar a discussão, os dados quantitativos e qualitativos foram
articulados, buscando a compreensão da dinâmica do fenômeno, de como estes fatores são
vivenciados pelas idosas, com o que estão associados e como são percebidos.
Esta abordagem se torna necessária porque para estudar o fenômeno da saúde é
preciso olhar para a totalidade, para as relações sociais e econômicas e para todo o contexto
que influencia na maneira como o indivíduo envelhece.
58
Minayo (2004, p.11) enfatiza que “frente a problemática da quantidade e da qualidade
a dialética assume que a qualidade dos fatos e das relações sociais são suas propriedades
inerentes, e que quantidade e qualidade são inseparáveis e interdependentes”.
3.2 POPULAÇÃO
Este estudo tem como população mulheres idosas residentes no município de
Florianópolis vinculadas a grupos de idosos. Foram consideradas idosas mulheres com idade
mínima de 60 anos. Embora a literatura gerontológica internacional aponte a idade de 65 anos
como mínima, o critério de 60 anos foi adotado com base nos indicadores nacionais de
envelhecimento populacional (IBGE, 2000). O gênero feminino foi escolhido por ser
apontado pelo censo (IBGE, 2000) como predominante nesta faixa etária, bem como pelos
resultados de pesquisa que indicam que os transtornos psiquiátricos são mais comuns nas
mulheres (LIMA, 1999; LEITE et al., 2006). A pesquisa do “Perfil do Idoso do Município de
Florianópolis” citada por Benedetti (2004) verificou que existem 16.837 mulheres idosas no
município de Florianópolis. As idosas de Florianópolis costumam freqüentar grupos de
terceira idade, seja de recreação, seja de atividade física. Estes grupos podem estar vinculados
a programas promovidos por universidades ou prefeituras, ou podem ser iniciativas isoladas,
coordenadas pelos próprios idosos de algum bairro ou comunidade.
A população deste estudo está vinculada ao contexto histórico da região e do Brasil.
As idosas ricas, em sua maioria, eram donas de casa, que seguiam os padrões de
comportamento das famílias burguesas, cuja obrigação era cuidar dos filhos e do marido.
Algumas destas mulheres podiam lecionar ou serem funcionárias públicas. Estas idosas
viveram em uma época de intensas mudanças sociais, políticas e culturais, onde novos
padrões de comportamento foram impostos, fazendo com que elas tivessem que se adaptar às
novas tendências (PEDRO, 2004). Um exemplo disso são as atividades físicas ou esportes,
que antigamente eram proibidas para as mulheres e agora são incentivadas como uma forma
de manter-se saudável.
Embora este “padrão de comportamento” fosse viável para as mulheres de família
burguesa, ele era cobrado das mulheres mais pobres e servia para justificar a discriminação
social e conseqüentemente os baixos salários. As mulheres pobres trabalhavam fora,
59
normalmente em profissões como costureira, rendeira, doméstica, entre outras ocupações mais
pesadas (FONSECA, 2004). Além de trabalhar fora, as mulheres pobres cuidavam dos filhos
e do marido, realizando dupla jornada. Em Florianópolis, os principais locais de trabalho
destas mulheres eram as vendas, limpeza e secagem do peixe, nos engenhos de farinha de
mandioca (PEDRO, 2004).
Eram os homens da classe dominante que chefiavam todas as instâncias, prescrevendo
formas de ser “distinto” e “civilizado”. As mulheres, em especial as mais pobres, sofriam
preconceitos sociais e legais, sendo que poderiam ser expulsas de casa sem que o marido
precisasse pagar qualquer tipo de pensão (FONSECA, 2004).
Mazzo (2003) realizou um estudo com amostra probabilística da população de
mulheres idosas de Florianópolis e verificou que a maioria destas idosas é viúva, possui baixa
escolaridade (entre um a três anos), vive de pensão ou aposentadoria, não trabalha, não faz
trabalho voluntário, foi dona de casa, rendeira ou costureira, é da religião católica apostólica
romana e pertence à classe econômica “D”. Os resultados demonstraram que as idosas
pertencentes à classe econômica “D”, com baixa escolaridade, que não trabalham e têm mais
doenças apresentam menor nível de atividade física e qualidade de vida.
Benedetti (2004) realizou uma pesquisa com amostra probabilística de idosos
residentes em Florianópolis, com o objetivo de verificar a relação entre atividade física e as
condições de vida destes idosos. Esta pesquisa resultou no desenho do perfil do idoso de
Florianópolis. Os resultados apontaram uma média de idade de 71,6 anos (s=7,9) para os
idosos de ambos os sexos. A maioria das mulheres idosas são viúvas, apresenta uma
escolaridade baixa e religião católica. A autora verificou que as necessidades e problemas que
mais afetavam os idosos eram, nesta ordem de importância: econômicos, de saúde e de
segurança.
Entende-se que os resultados das pesquisas de Mazzo (2003) e Benedetti (2004) são
importantes para a compreensão da população alvo desta pesquisa, e ajudam a identificar se as
características sócio-demográficas identificadas nas participantes deste estudo estão de acordo
com as verificadas em amostras probabilísticas da mesma população.
60
3.2.1 Seleção das Participantes
Barbeta (2006) destaca que existem situações de pesquisa onde o processo de
amostragem conveniente é não-aleatório, especialmente em estudos comparativos, onde o
objetivo não é a generalidade dos resultados.
O processo de seleção das participantes ocorreu de forma não-aleatória por
conveniência ou acessibilidade (COOLICAN, 2004), pois a participação no estudo foi
voluntária. Foram entrevistadas apenas as idosas consideradas acessíveis e dispostas a
participar da pesquisa.
Processos de seleção não-aleatórios, usualmente, dispensam cálculo do “n” amostral
(COOLICAN, 2004). No entanto, mesmo em um estudo correlacional, devem ser tomados
alguns cuidados para que os resultados da pesquisa sejam válidos. Assim, para reduzir o erro
amostral, foram selecionadas idosas de diferentes localidades e grupos de convivência.
Coolican (2004) argumenta que quanto maior o número de características avaliadas, menor a
quantidade de sujeitos necessária. Esta pesquisa avaliou uma série de variáveis, por isto, o
tamanho da amostra foi definido com base nos critérios nos pré-requisitos para a realização de
testes paramétricos.
Dancey e Reidy (2005) recomendam que, para evitar o erro amostral, é importante que
os dados estejam normalmente distribuídos. Para as variáveis categóricas, Dancey e Reidy
(2005) indicam ser necessário no mínimo 10 sujeitos em cada grupo para tornar possível a
aplicação dos testes estatísticos utilizados.
Assim, com 80 participantes, foi obtida distribuição normal para as principais
variáveis de estudo, com exceção do escore na escala de depressão, cuja própria natureza da
escala torna difícil este tipo de distribuição.
Thompson (1992) destaca que para aumentar a confiabilidade dos resultados da
pesquisa é importante entrevistar apenas pessoas dispostas a colaborar com o estudo,
procurando acessar participantes de diferentes localidades, o que torna possível diversificar a
amostra.
As participantes deste estudo foram contatadas a partir de dois programas de
atividades para idosos e de dois grupos específicos: um de ginástica para a terceira idade e
outro de orações. O primeiro programa consta de vários grupos de idosos onde os professores
de educação física oferecem atividades. Os grupos estão distribuídos pela cidade de
Florianópolis, podendo ser de dois tipos: grupos de ginástica, que acontecem duas vezes por
61
semana durante uma hora; e os grupos de recreação, aonde o professor vai a cada quinze dias
com fins recreativos. As idosas desta pesquisa foram selecionadas a partir de quatro destes
grupos, dois de atividade física (n=28) e dois de recreação (n=20), totalizando 48 idosas.
O segundo programa está integrado a uma universidade e oferece aos idosos uma série
de atividades, incluindo hidroginástica, natação, informática, cantoterapia, dança de salão.
Neste segundo programa, as idosas foram selecionadas a partir dos grupos de cantoterapia,
hidroginástica e natação, totalizando 22 idosas.
Outras idosas foram acessadas a partir de um grupo de orações, composto por idosas
que se reúnem uma vez por semana para rezar o terço (n=6); e outras através de um grupo de
ginástica para a terceira idade de uma associação de moradores (n=4), onde as idosas se
reúnem uma vez por semana com o acompanhamento de uma professora de educação física.
Apenas foram incluídas na amostra, idosas com idade entre 60 e 90 anos, do sexo
feminino e que não apresentaram demência, esclerose múltipla e incapacidade física ou
mental. As idosas que obtiveram um escore inferior a 20 no Mini-Exame do Estado Mental
(MEM) foram excluídas da amostra. Este escore foi definido com base nos resultados
encontrados por Brucki et al. (2003) e Lourenço e Veras (2006). Também foram excluídas da
pesquisa as idosas que apresentarem escores elevados (>10) de sonolência diurna.
3.2.2 Participantes da pesquisa
A realização desta pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética e pesquisa em seres
humanos da UDESC sob o número de protocolo 019-06. Participaram da pesquisa 80 idosas
de diversas camadas sociais residentes na cidade de Florianópolis. Todas as participantes são
fisicamente independentes e participam de no mínimo um grupo de idosos. Destas, 25
residem no centro de Florianópolis, 14 em Coqueiros, 13 no bairro Estreito, 10 na praia dos
Ingleses, 8 no bairro Saco dos Limões, 6 na Trindade e 4 moram no Morro da Cruz. A média
de idade das participantes é de 69,5 anos (s=6,272) variando de 60 a 87 anos.
Grande parte das participantes é viúva (n= 39 / 48,8%), 28 são casadas (35%), 7 são
divorciadas (8,8%) e 6 são solteiras. Das participantes, a maioria é alfabetizada, sendo que, 5
(6,3%) nunca estudaram, 31 (38,8%) fizeram o primário (incompleto ou completo), 12 (15%)
têm grau completo, 20 (25%) terminaram o grau, enquanto 12 idosas (15%) têm curso
superior completo.
62
Foram comparadas as médias da renda mensal familiar entre cada classe econômica,
de acordo com o “Critério de Classificação Econômica Brasil” da Anep (2000) com o
objetivo de verificar se existe diferença entre as classes em relação a renda mensal (tabela 1):
Tabela 1.Classe Econômica das Participantes
Freqüência % Renda Mensal (em reais) DP Mínimo Máximo
Classe A2 6 7,5 11.166,67 4215,05 5.000 18.000
Classe B1 15 18 3.930,00 1931,12 1.700 10.000
Classe B2 18 22,5 2.544,12 1190,57 950 6.000
Classe C 30 37,5 1.185,00 604,03 400 2.800
Classe D 9 11,3 500,00 216,506 350 1.000
Classe E 2 2,5 350,00 0 350 350
Total 80 100 2.686,88 3.094,76 350 18.000
A maioria das idosas está na classe econômica B ou C, sendo que nenhuma
participante foi classificada na classe A1. Além disso, pode-se perceber que o desvio-padrão
da renda mensal em cada nível é alto, bem como a sua variação, dados que indicam que as
participantes não são homogêneas em relação à renda mensal. Foi verificado que as médias da
renda mensal se diferenciam significativamente entre as classes econômicas (p<0,001). Ao
agrupar as classes econômicas em alta (A2, B1 e B2) e baixa (C, D e E) percebe-se que 48%
das idosas são de classe alta e 52% de classe econômica baixa.
A fonte de renda de grande parte das idosas provém de rendimentos de pensão (n= 38/
47,5%), 33 (41,3%) recebem aposentadoria, 3 (3,8%) são totalmente dependentes do marido,
3 (3,8%) vivem de aluguel e 2 idosas m como fonte de renda o trabalho (uma na costura e
outra com vendas). Uma idosa não respondeu esta questão.
A maioria das idosas (n=54/ 67,5%) tinha outras ocupações além de cuidar da casa
(tabela 2). Nas entrevistas, apenas duas participantes não relataram ter que cuidar da casa por
serem solteiras e terem empregada doméstica.
Tabela 2.Ocupação principal das participantes durante a maior parte da vida.
Ocupação Freqüência %
Dona de Casa 26 32,5
Professora 11 13,8
Funcionária Indústria/Comércio 8 10
Empregada Doméstica/ Diarista 8 10
Costureira 6 7,5
Funcionária Pública 6 7,5
Rendeira 4 5
Esteticista 2 2,5
Ajudar nos negócios do marido 2 2.5
Outras* 6 7,5
Total 80 100
*Profissões com apenas uma participante: telefonista, assistente social, comissária de bordo, farmacêutica
bioquímica, advogada e dentista.
63
3.3 INSTRUMENTOS
Os instrumentos utilizados nesta pesquisa foram aplicados em forma de entrevista.
Considerando que na maioria das vezes, as idosas não se restringem a responder diretamente o
que foi perguntado, as entrevistas foram gravadas, para possibilitar a utilização destas
informações dadas pelas participantes na situação da pesquisa, conforme recomenda Minayo
(2004). Algumas entrevistas não puderam ser gravadas, mas as falas principais das
participantes foram anotadas no formulário e transcritas no diário de campo. No total, 26
entrevistas foram gravadas.
Os pesquisadores que aplicaram os testes passaram por treinamento prévio, que
consistiu em dois encontros, sendo que no primeiro, os procedimentos e todas as questões
foram revisados e no segundo encontro, os instrumentos foram aplicados entre os próprios
pesquisadores. A equipe de pesquisadores responsáveis pela coleta de dados foi composta por
seis alunos do Laboratório de Psicologia do Esporte (LAPE) do CEFID/UDESC.
3.3.1 Entrevista de caracterização geral e auto-avaliação das idosas
Foi utilizada uma entrevista semi-estruturada para caracterizar as idosas quanto às
variáveis: estado civil, escolaridade, dominância manual, nível econômico (objetivo e
subjetivo), condição de saúde, sonolência auto-avaliação da memória e capacidade de
solucionar problemas, histórico esportivo, prática de atividade física, nível de atividade
intelectual e atividades atuais. O roteiro da entrevista foi feito com base no questionário de
Andrade (2001).
A clareza das questões foi verificada no estudo piloto. A entrevista foi escolhida por
ser um instrumento viável e adequado à população alvo deste estudo, pois permite aumentar a
confiabilidade quanto à compreensão das idosas a respeito de cada questão e pela
possibilidade de aprofundar algumas questões do roteiro ao deixar a participante mais livre
para complementar as respostas (ANEXO 2).
A estrutura da entrevista foi definida por tópicos, sendo que algumas questões foram
incluídas com base nas pesquisas que indicam variáveis que influenciam no desempenho
64
cognitivo e no estado emocional das idosas. Estas questões foram utilizadas para aprofundar a
compreensão das correlações previstas nos objetivos da pesquisa.
3.3.1.1 Características Gerais
As questões relacionadas ao nível econômico foram estruturadas visando abranger o
nível objetivo (classe econômica e renda mensal) e subjetivo (situação econômica em relação
ao passado e em relação às necessidades básicas). Para verificar a classe econômica, foi
utilizado o “Critério de Classificação Econômica Brasil”, que faz uma estimativa do poder de
compra das pessoas e famílias urbanas, sem ter a pretensão de classificar a população em
classes sociais (ANEP, 2000).
No item “condição de saúde”, foi incluída a “Escala de Sonolência de Epworth” (ESS)
que se destina a verificar a propensão ao sono. Esta escala abrange as variedades de
propensões ao sono, com 8 questões sobre situações cotidianas, onde a pessoa deve avaliar de
0 a 3 quanto a sua tendência a adormecer. Os escores distinguem os sujeitos que têm
diferentes níveis de sonolência, sendo tais escores correlacionados com a latência do sono
durante o dia (JOHNS, 1991) e a noite (JOHNS, 1992). A ESS é um instrumento sensível
para medir sonolência em populações gerais e específicas, como idosos, apresentando um
elevado índice de consistência interna (r=0,88) (JOHNS, 1991). Souza et al. (2003) utilizaram
esta escala em um estudo sobre o uso de hipnóticos e ocorrência de sonolência diurna
excessiva (SED) e verificaram que a escala é válida para a população idosa. Indivíduos que
apresentaram um escore igual ou superior a 11 foram excluídos da amostra por apresentarem
sonolência diurna excessiva (SED).
3.3.1.2 Prática de Atividade Física
Para investigar a prática de atividade física regular foram utilizadas as perguntas do
item “Prática de Atividade Física”. Estas perguntas foram formuladas de acordo com alguns
estudos que tiveram como objetivo verificar a relação entre atividade física e cognição
(EVENSON et al., 2002; STURMAN et al., 2005; LARSON et al., 2006; MALMBERG et al.,
2005) e bem estar psicológico (HASSMÉN, KOIVULA e UUTELA, 2000).
Evenson et al. (2002) realizaram um estudo multiétnico que visava descrever
diferenças na participação em atividades físicas moderadas e vigorosas durante diversos
períodos da vida de mulheres pós-menopausa. O estudo abordou a temática enfocando apenas
65
os aspectos comportamentais da atividade física, distinguindo sujeitos que fazem atividades
físicas moderadas daqueles que praticam atividades físicas intensas. Malmberg et al. (2005)
ao investigar a relação entre atividade física e demência verificaram que o gasto energético
semanal não foi um fator protetor contra demência, mas que a intensidade, o tipo e a
freqüência de atividade física de lazer o foram.
Considerando que o foco deste estudo é a prática regular de atividade física de lazer,
optou-se por indicar questões diretas sobre o comportamento de exercício, moderado ou
intenso, modalidade e tempo de prática. Isto foi necessário porque interessa verificar as
diferenças entre as idosas que praticam pouco, muito e que não praticam atividade física
regularmente, obtendo diferenciação destas em função da natureza das suas atividades físicas
e considerando há quanto tempo as realizam.
Larson et al. (2006) verificaram que houve uma redução do risco de demência apenas
em idosos que indicaram se exercitar 3 ou mais vezes por semana, por 60 minutos ou mais
durante 6 anos.
Desta forma, optou-se por agrupar as idosas em função das respostas às perguntas
sobre prática regular de atividade física consistente com os estudos de Larson et al. (2006) e
Evenson et al. (2002) dividindo as idosas em função da sua freqüência e duração em
exercícios moderados e vigorosos. Assim, a classificação foi feita da seguinte forma:
- Não praticantes de atividade física regular: são as idosas que não praticam
atividade física regular nenhuma vez por semana.
- Intermediárias: são as idosas que praticam atividade física, mas não atingem
180 minutos de atividade física moderada semanal.
- Praticantes de atividade física regular: são as idosas que praticam atividade
física regular 3 ou mais vezes por semana, somando 180 minutos semanais ou
mais.
O pré-requisito para enquadrar as idosas em cada grupo era estar com esta prática
regular pelo menos 6 meses. Foram incluídas questões sobre a realização de trabalhos que
exigem esforço físico com o objetivo de diferenciar as idosas que realizam funções como
limpeza da casa, faxinas, entre outras, três ou mais vezes por semana. No entanto, todas as
idosas que relataram fazer tais atividades 3 ou mais vezes por semanas eram praticantes de
atividade física regular, sendo assim, não foi necessária a separação da categoria “trabalho
pesado”.
66
Outras questões sobre atividade física regular foram feitas pela necessidade de saber o
significado desta prática para as idosas. Estas questões foram elaboradas com base no estudo
de Harris et al. (2006) que, ao examinar a associação entre a prática de atividade física e
depressão, verificaram que o motivo pelo qual as pessoas praticam atividade física pode
influenciar no grau de redução do seu estado depressivo.
Em uma revisão, Rhodes et al. (1999) indicaram que a escolaridade e o histórico
esportivo são fatores importantes na prática da atividade física na terceira idade. Hivensalo et
al. (2000) demonstraram que a participação em esportes recreativos entre os 40-60 anos foi
capaz de predizer o nível de atividade física na terceira idade. Com base nestes estudos,
foram elaborados os itens “Histórico de Atividades Físicas e de Lazer” e “Atividades Atuais”,
que procuram identificar variáveis relevantes na compreensão da relação atividade física,
desempenho cognitivo, estresse e depressão.
A classificação do histórico de atividade física foi feita de acordo com a proposta e
realizada por Rydwik et al. (2005). Desta forma, as idosas foram classificadas em três
categorias em relação ao histórico de atividade física: a) não praticantes: aquelas que não
relataram praticar atividade física regularmente e não indicaram trabalho que exigisse esforço
físico; b) praticantes: aquelas que praticaram atividade física regular durante a maior parte
do período em que tinham de 30 a 60 anos; c) trabalho pesado: idosas que relataram realizar
regularmente esforço físico significativo em atividades ocupacionais e não realizavam
atividade física. Esta classificação não é a mesma que a feita para a prática atual de atividade
física porque se trata de um período longo de tempo, no qual é difícil definir o nível
intermediário.
3.3.1.3 Nível de Atividade Intelectual
Para classificar as idosas quanto ao nível de atividade intelectual, foram considerados
os seguintes fatores: escolaridade, profissão e realização de leituras no passado, ocupação,
atividades atuais, freqüência semanal de leitura e prática de jogos. Estes fatores foram
combinados para categorizar o nível de atividade intelectual das idosas em: baixo, médio e
alto. Esta classificação foi feita com base nos estudos de Sturman et al. (2005) e Wilson et al.
(2003). A escolaridade e o histórico ocupacional e de atividades foram considerados nos
escores, a fim de abranger além das atividades cognitivas, conforme o proposto por Wilson et
al. (2003), um escore geral de atividade intelectual, que evite fragmentar as análises
multivariadas. O peso de cada fator está descrito no Apêndice 2. A pontuação da escala varia
67
de 0 a 37, de forma que a escolaridade responde por grande parte da pontuação (máxima 20 –
doutorado). Os pontos de corte foram definidos de forma que ter 2° grau completo garanta um
médio nível de atividade intelectual e que as idosas com apenas o primário possam alcançar o
nível médio de atividade intelectual, caso tenham muitas atividades cognitivas.
É importante destacar que esta escala é um recurso de controle da atividade intelectual
de maneira global, onde foram reunidas as diferentes atividades cognitivas para compreender
o quanto estas influenciam no desempenho cognitivo. Assim, foram estimados pontos de
corte, para permitir a comparação de médias dos grupos:
- Baixo nível de atividade intelectual: idosas que pontuaram de 0-11 na escala.
- Médio nível de atividade intelectual: idosas que pontuaram de 12-22 na escala.
- Alto nível de atividade intelectual: idosas com mais de 23 pontos na escala.
Estes pontos de corte são apenas estimativas, feitas a partir das comparações de
médias com diferentes pontos de corte, com base no que foi realizado por Wilson et al. (2003)
e Sturmann et al. (2005). Ao comparar as médias gerais de atividade intelectual entre os níveis
definidos pelos pontos de corte, verificou-se diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos. Os dados apresentados na tabela 3 demonstram que os pontos de corte definidos são
capazes de diferenciar os grupos em relação ao escore na escala.
Tabela 3.Médias do Nível de Atividade Intelectual para cada ponto de corte.
Nível de Atividade Intelectual N Média Desvio Padrão Erro
Padrão
Mínimo Máximo
Baixo (0-11) 36 5,86 3,016 0,503 0 10
Médio (12-22) 25 16,16 2,54 0,509 12 20
Alto (23-37) 19 27,32 3,34 0,770 23 33
Total 80 14,18 9,104 1,108 0 33
3.3.2 O mini-exame do estado mental (MEM)
Para mensurar a capacidade cognitiva global foi utilizado o “Mini-Exame do Estado
Mental”, desenvolvido por Folstein et al. (1975). Desde 1975, este instrumento vem sendo
validado e usado em muitos países, tanto na pesquisa quanto na prática clínica. No Brasil, foi
traduzido e validado para o uso na pesquisa e na clínica em indivíduos idosos obtendo um
68
índice de confiabilidade de 0,85 (BERTOLLUCCI et al., 1994; LAKS et al., 2003). É um
instrumento composto por 11 questões que testam 5 aspectos do funcionamento cognitivo:
orientação (espacial e temporal), processamento, atenção, cálculo, memória e linguagem
(ANEXO 3).
As normas para a aplicação uniforme do MEM foram sugeridas por Brucki et al.
(2003) ao realizar um estudo de padronização da aplicação em 433 indivíduos, avaliando seu
desempenho em relação às variáveis demográficas. A escolaridade foi o principal fator que
influenciou o desempenho dos indivíduos. Os escores medianos por escolaridade foram: 20
para analfabetos; 25 para 1 a 4 anos de escolaridade; 26,5 de 5 a 8 anos; 28 de 9 a 11 anos e
29 para indivíduos com escolaridade superior a 11 anos. Lourenço e Veras (2006) sugeriram
pontos de corte de 18/19 para analfabetos.
Baseado nestes resultados, a presente pesquisa utilizou o ponto de corte indicado por
Folstein et al. (1975), considerando o escore mínimo de 23 para idosas com mais de 4 anos de
escolaridade e de 19 para aquelas com escolaridade inferior a 4 anos. Estes limites estão de
acordo com os resultados verificados por Brucki et al. (2003) e com os pontos de corte
sugeridos pos Lourenço e Veras (2006), sendo que foram utilizados para verificar se as idosas
apresentam os requisitos cognitivos mínimos para participar do estudo.
3.3.3 Bateria de Avaliação Cognitiva Computadorizada
Para verificar o desempenho cognitivo, foi utilizada uma bateria de avaliação
cognitiva computadorizada, aCogState Battery”. Os índices de validade dos testes da bateria
variam de 0,76 a 0,89 (COLLIE et al., 2003).
Collie et al. (2003a) investigaram os efeitos da aprendizagem de idosos nesta bateria
computadorizada, em curto espaço de tempo. Os resultados indicaram que os efeitos da
aprendizagem diminuem após o primeiro teste, ou seja, após a segunda administração da
bateria as alterações são mínimas. Isto indica que a prática do teste incluída no programa é
suficiente para minimizar os efeitos da aprendizagem. As idosas realizaram a bateria duas
vezes no estudo piloto, visando identificar a magnitude dos efeitos da prática. Foi verificado
que na segunda aplicação da bateria os resultados são estabilizados.
A bateria computadorizada CogState tem como característica ser breve, com um
número de tentativas suficientemente alto para aumentar a confiabilidade das avaliações. O
69
tempo aproximado de aplicação da bateria é de 10 minutos, com intervalo na metade do teste.
O intervalo acaba quando o indivíduo diz estar pronto para continuar, sem tempo
cronometrado.
Para esta pesquisa optou-se por utilizar uma bateria CogState personalizada com testes
simples. Os domínios cognitivos testados foram: tempo de reação (simples e de escolha),
memória de trabalho e memória de curta duração e atenção concentrada. As tarefas escolhidas
foram: Tarefa de Tempo de Reação Simples (velocidade de resposta), Tarefa de Tempo de
Reação de Escolha (tomada de decisão), Tarefa “Volta-Uma” (memória de trabalho), Tarefa
Aprendizagem de “Uma-Carta” (memória de curto prazo), Tarefa de Monitoração (atenção
concentrada). A descrição detalhada dos testes consta no anexo 4. Cada teste apresenta
feedback auditivo, sendo que ao errar, antecipar ou adiar a resposta é apresentado um ruído,
parecido com uma buzina.
Os resultados do estudo piloto indicaram que é necessária a realização da bateria duas
vezes, sendo a primeira considerada treino e a segunda, a avaliação. Os testes foram mantidos
com a configuração original, validada internacionalmente (COLLIE, MARUFF e DARBY,
2001; COLLIE et al., 2003; DARBY et al., 2003; MARUFF, 2006).
Para cada participante em todos os testes foi mensurado o tempo de reação (TR ou
velocidade psicomotora) e a acurácia. O TR foi mensurado em milisegundos (ms) e também
em valor transformado com logaritmo de base 10. A acurácia das respostas foi obtida pelo
número de respostas corretas positivas e negativas dividido pelo número total de tentativas
feitas, sendo este resultado apresentado em forma de percentual de acertos.
3.3.4 Escala de depressão em Geriatria
Para verificar o nível de depressão, foi utilizada a “Escala de Depressão em Geriatria”
(GDS-15) desenvolvida por Yesavage et al. (1983). A versão original é constituída por 30
itens com perguntas fechadas dicotômicas, onde cada sintoma depressivo é acompanhado por
duas opções de resposta: “sim e não”. Foram elaboradas versões reduzidas da GDS, com 1, 4,
10, 15 e 20 questões. A versão brasileira com 15 questões (GDS-15) foi utilizada neste estudo
por apresentar um índice de confiabilidade de 0,81 (ALMEIDA e ALMEIDA, 1999), similar
ao da versão com 30 itens e superior ao encontrado nas versões com 1, 4, 10 e 20 questões
(ANEXO 5).
70
Paradela, Lourenço e Veras (2005) fizeram um estudo de validação com o objetivo de
definir pontos de corte, verificando a sensibilidade da escala para diagnosticar depressão
clínica. Foi verificada uma sensibilidade de 82% e especificidade de 71%. Os pontos de corte
da escala foram delimitados, sendo que idosos com escore de 6 a 10 podem ser considerados
com depressão leve e de 11 a 15 com depressão maior.
3.3.5 Escala de estresse percebido (PSS)
Existem 3 formas de medir o estresse, uma é direcionada a presença de agentes
estressores específicos, outra é voltada para os sintomas físicos e psicológicos do estresse e a
terceira pretende mensurar a percepção de estresse individual de forma global, independente
dos agentes estressores (COHEN e WILLIAMSON, 1988). Existem também instrumentos
que mensuram o nível de estresse por meio de escalas que quantificam o impacto de eventos
estressores específicos (life-events impact), porém estes instrumentos apresentam limitações,
uma vez que a percepção de eventos como ameaçadores varia muito entre os indivíduos.
Neste estudo o estresse foi avaliado de forma global, por meio da Escala de Estresse
Percebido (PSS), desenvolvida por Cohen, Karmack e Mermelstein (1983). Esta escala, que
mede o grau no qual os indivíduos percebem as situações como estressantes, foi inicialmente
apresentada com 14 itens (PSS 14), sendo também validada com 10 e 4 questões para
pesquisas por telefone. A PSS 14 é a versão original, na qual os itens foram designados para
verificar o quanto imprevisível, incontrolável e sobrecarregada os respondentes avaliam suas
vidas (COHEN et al., 1983). A PSS é uma escala geral, que pode ser usada em diversos
grupos etários, desde adolescentes até em idosos, pois ela não contém questões específicas do
contexto.
No Brasil, esta escala foi traduzida e validada para a avaliação do estresse percebido
de idosos apresentando um índice de confiabilidade de 0,82 (LUFT et al., 2007). A escala
fornece um escore que pode variar de 0 a 56, sendo que pontos de corte específicos não são
sugeridos, pois o estresse deve ser avaliado no seu continuum, aprimorando a validade
estatística das análises e ganhando em precisão (ANEXO 6).
71
3.4 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
Após a aprovação do projeto de pesquisa pelo comitê de ética, foram contatados os
responsáveis pelos programas e grupos de idosos participantes deste estudo.
Nos grupos de convivência da prefeitura, a coleta de dados foi feita no dia dos
encontros, enquanto que nos outros grupos, foi feita nas casas das participantes ou no
Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE). Cada idosa foi contatada e
convidada por telefone ou na ocasião da aula, sendo agendado o dia, hora e local mais
apropriado para a participante. Na ocasião do convite para a participação na pesquisa, foi
explicado para cada idosa que ela teria que dispor aproximadamente uma hora para a coleta de
dados.
As idosas que aceitaram e preencheram os pré-requisitos para a participação na
pesquisa assinaram a carta de consentimento livre e esclarecido (ANEXO 1). Cada idosa ficou
com uma copia da carta assinada pelo pesquisador responsável pela pesquisa. Antes do início
da entrevista, o pesquisador explicava novamente a pesquisa e os procedimentos da coleta,
deixando claro que a idosa poderia não responder as questões que não quisesse.
Inicialmente, as informações relevantes, além das respostas objetivas, relatadas pelas
idosas, eram anotadas no formulário e passadas para o diário de campo. Devido a grande
riqueza de informações obtidas ao longo das coletas, optou-se pela gravação dos relatos das
idosas durante as coletas de dados. Assim, era solicitada a autorização para a gravação da
entrevista, caso a idosa autorizasse, a entrevista era gravada. Nestas entrevistas era entregue
um documento garantindo o sigilo de identidade das participantes, assinado pelo pesquisador
responsável (APÊNDICE 1). No total, foram gravadas 26 entrevistas, cujo perfil das
participantes consta no apêndice 3.
A coleta de dados foi feita em forma de entrevista, sendo que primeiramente, foi
aplicado a bateria de avaliação cognitiva CogState. Na primeira aplicação da bateria, foi
deixado claro que o teste poderia ser interrompido em qualquer momento, sendo que o
pesquisador deveria se certificar que a participante havia entendido a tarefa. Caso a tarefa
fosse iniciada e o pesquisador percebesse que não havia sido bem compreendida, o teste era
interrompido e a tarefa era explicada novamente, prosseguindo após a participante demonstrar
que havia entendido.
Depois da primeira aplicação da bateria cada idosa respondeu as questões da entrevista
de caracterização geral, seguida pela aplicação do Mini-Exame do Estado Mental (Mini-
72
Mental), que foi utilizado de acordo com os procedimentos padronizados descritos por Brucki
et al. (2003).
Após o Mini-Mental, aplicou-se a Escala de Depressão em Geriatria (GDS) de acordo
com o procedimento padrão descrito por Yesavage et al. (1983). Em síntese, as questões eram
lidas e as idosas se posicionavam respondendo “sim” ou “não”.
Na seqüência, foi aplicada a Escala de Estresse Percebido (PSS). Os procedimentos
adotados foram os mesmos descritos por Luft et al. (2007) ao validar esta escala em idosos.
As questões eram lidas em voz alta e a idosa as respondia escolhendo a opção em uma escala
de 0 a 4 (0=nunca; 1= quase nunca; 2=às vezes; 3= quase sempre; 4= sempre). As opções da
escala eram demonstradas em uma folha com letras grandes, onde a idosa poderia visualizar
as opções e o significado de cada resposta.
Após a finalização das perguntas a idosa realizava novamente a bateria de avaliação
cognitiva CogState. Na segunda aplicação da bateria cognitiva, o pesquisador apenas lia a
explicação da tarefa, que consta na tela, e perguntava para a participante se ela lembrava da
tarefa. Se a resposta fosse positiva, a idosa dava início ao teste, caso não lembrasse, a tarefa
era explicada novamente, até se certificar da compreensão da mesma. Durante o segundo teste
era instruído que a idosa procurasse se concentrar ao máximo e para que não iniciasse nenhum
teste antes de ter certeza de que havia entendido.
O tempo de aplicação da primeira bateria cognitiva foi em média de 15 minutos,
porque as explicações, especialmente na tarefa de memória de trabalho, exigiam mais tempo
para garantir a compreensão do teste. A segunda aplicação da bateria foi mais rápida, durando
em média 10 minutos, devido à aprendizagem prévia da tarefa. O tempo entre a primeira e a
segunda aplicação foi em média de 50 minutos. Considerando que a duração das entrevistas
variou de uma a cinco horas, foi necessário controlar o intervalo entre a primeira e a segunda
aplicação da bateria de avaliação cognitiva, sendo que caso a entrevista não acabasse em 50
minutos após a primeira aplicação, o pesquisador fazia uma interrupção para a realização do
teste, e depois disto, dava seqüência ao restante das perguntas.
Este procedimento foi adotado para garantir um intervalo de tempo similar entre as
aplicações da bateria cognitiva, pois o tempo entre uma aplicação e outra produz diferenças na
aprendizagem das tarefas (DARBY, 2004). Nos casos em que houve alguma interrupção,
como por exemplo, o telefone tocando, o teste foi reiniciado do início.
73
3.5 ANÁLISE DOS DADOS
3.5.1 Tratamento Estatístico
A tabulação e a análise estatística dos dados foram realizadas no software estatístico
SPSS, versão 13.0. Primeiramente, foi aplicada a estatística descritiva (freqüência, percentual,
média, desvio padrão), onde foram analisados os histogramas e valores de assimetria e curtose
para verificar a normalidade de distribuição dos dados. Esta análise foi feita com todas as
variáveis intervalares antes da execução dos testes inferenciais.
Com as variáveis do desempenho cognitivo resultantes da bateria cogstate, foram
adotados procedimentos de normalização dos dados. Isto foi feito com base nas pesquisas de
Collie et al. (2003; 2003a), Darby et al. (2002), Cargin et al. (2003), Cargin et al. (2006) que
utilizaram a mesma bateria e verificaram a necessidade de normalização devido a distribuição
dos dados apresentar uma curva assimétrica positiva. Neste estudo, foi verificada uma
assimetria positiva para os tempos de resposta. Esta bateria fornece o resultado em
milisegundos (ms), para os tempos de resposta nos 5 testes, sendo este resultado normalizado
pelo próprio programa, que fornece o desempenho através do tempo em milisegundos e
normalizado com transformação logarítmica de base 10. Para a normalização, utiliza-se uma
transformada logarítmica, que é recomendada quando os dados apresentam variâncias
extremas. Osborne (2002) recomenda o uso de transformadas logarítmicas de base 10 para as
ciências sociais, principalmente porque elas ajudam a reduzir erros do tipo I e II, diminuindo
as distâncias entre os dados e mantendo as posições destes.
Com os dados normalizados e as distribuições normais, foram realizadas as análises
inferenciais. O intervalo de confiança adotado foi de 95%. Para a análise das correlações entre
variáveis intervalares com distribuição normal, foi utilizada a correlação linear de Pearson.
Para correlacionar variáveis ordinais ou aquelas que não apresentaram distribuição normal,
como a depressão, utilizou-se a correlação de Spearmann. As correlações parciais foram
utilizadas, considerando as variáveis da caracterização geral. Para verificar a relação entre
variáveis nominais, utilizou-se o teste do qui-quadrado.
No caso de dados normalmente distribuídos, foi utilizado teste t para amostras
independentes quando o objetivo foi comparar dois grupos, e ANOVA e Post-Hoc de Scheffé
74
para comparar 3 ou mais grupos. No caso de dados não paramétricos, foi utilizado o teste de
Mann-Whitney para comparar dois grupos e Kruskal-Wallis para comparar 3 ou mais grupos.
Para analisar o desempenho cognitivo, foi necessária a aplicação de análise
multivariada de variância (MANOVA), que é um teste que deve ser utilizado quando se tem
mais de uma variável dependente. A MANOVA combina as variáveis dependentes em uma
nova variável e então usa esta nova variável como única nas análises. Conseqüentemente, esta
análise mostra se existe alguma diferença na combinação linear das variáveis de estudo em
função da variável independente. Esta análise foi realizada de acordo com as recomendações
de Dancey e Reidy (2004), observando primeiramente se as variáveis dependentes estavam
normalmente distribuídas. O Box’s M Test é feito para verificar se houve ou não violação na
homogeneidade das matrizes de variância-covariância, caso haja, os autores recomendam
maior cautela na interpretação dos resultados. A fórmula utilizada para o cálculo do valor F
foi o Wilk’s Lambda. Seguida desta análise, foi realizada a comparação de efeitos principais,
com Post-Hoc de Bonferroni, para verificar especificamente em qual variável dependente foi
verificada a principal diferença.
Para verificar possíveis efeitos interativos entre as variáveis: prática de atividade
física, nível de atividade intelectual e histórico de atividade física, foi utilizado um design 5
(domínios cognitivos) X 3 (prática de atividade física) X 3 (nível de atividade intelectual). O
outro design utilizado foi 5 (domínios cognitivos) X 3 (prática de atividade física) X 3
(histórico de atividade física).
Para as variáveis estresse e depressão, foi utilizada ANOVA fatorial com desenho para
mais de uma variável independente (two-way ANOVA), com desenho 3 (prática de atividade
física) X 3 (nível de atividade intelectual) e 3 (prática de atividade física) X 3 (histórico de
atividade física), a fim de observar possíveis efeitos interativos entre estas variáveis.
Nas análises multivariadas o nível de significância adotado foi de p<0,008. Este nível
foi adotado de acordo com as recomendações de Dancey e Reidy (2004) onde é sugerido
dividir o valor de “p” pelo número de comparações a serem realizadas. Neste estudo, existem
duas variáveis independentes com três níveis cada. Desta forma, dividiu-se 0,05 por 6,
obtendo-se o valor de p<0,008. Este procedimento é recomendado devido ao fato de que o
número de comparações realizadas aumenta a probabilidade de erros do tipo I.
75
3.5.2 Análise Qualitativa
As informações contidas no diário de campo, as anotações feitas durante as entrevistas
e as respectivas gravações foram utilizadas na análise qualitativa. Depois de ouvidas as
entrevistas, foram transcritos apenas os depoimentos que forneciam explicações espontâneas
das participantes em relação às perguntas dos instrumentos.
Minayo (2004) aponta que existem diferentes formas de analisar o conteúdo de
entrevistas qualitativas. Enquanto a análise de conteúdo de Bardin (1977) engloba técnicas de
análise e categorização, a Hermenêutica Dialética se coloca como um “caminho do
pensamento”, como uma via de encontro entre as ciências sociais e a filosofia, e não como
uma tecnologia de interpretação de textos, não se constituindo de um conjunto de regras
disciplinadoras do discurso.
Habermas (1987) citado por Minayo (2004, p.223) destaca que “a hermenêutica se
apóia na reflexão histórica que concebe o intérprete e seu objeto como momentos do mesmo
contexto”. Embora a hermenêutica dialética esteja baseada na comunicação ela se difere da
lingüística, cujo objeto principal é a reconstrução do sistema abstrato de regras de uma
linguagem natural. A estrutura do “significado” presente na linguagem é apenas um fator na
totalidade do mundo real, que para Habermas se compõe de trabalho, poder e linguagem.
“Portanto, a tradição cultural que se expressa na linguagem está marcada pelo caráter
ideológico das relações de trabalho e de poder” (MINAYO, 2004, p.224).
O objetivo não foi fazer uma análise hermenêutica-dialética rigorosa do ponto de vista
metodológico. No entanto, foi importante adotar um caminho teórico, uma orientação, para a
interpretação dos depoimentos das idosas.
Desta forma, a análise qualitativa realizada nesta pesquisa buscou nas referências da
dialética (MINAYO, 2004) a fundamentação teórica necessária ao estudo qualitativo,
utilizando-se da hermenêutica dialética como um caminho teórico na análise e interpretação
das falas das participantes.
A operacionalização desta análise se deu a partir de alguns passos sugeridos por
Minayo (2004). Primeiro, o material foi revisado, sendo ouvido, transcrito e organizado. O
segundo passo foi a classificação dos dados, onde após a leitura repetida dos textos foram
constituídos vários “corpus” de comunicação, sendo formadas as unidades de análise. Após
esta fase, as unidades foram enxugadas e classificadas por temas mais relevantes, sendo que
os depoimentos foram unificados em torno de categorias centrais, que constituíram os eixos
76
temáticos. Por último, buscou-se trazer estes dados empíricos para o plano teórico, e vice-
versa, procurando realizar uma análise em torno dos elementos históricos e sociais dos grupos
envolvidos. Os eixos temáticos foram definidos a partir dos próprios depoimentos das
participantes em conjunto com o verificado na literatura investigada.
A união da hermenêutica com a dialética leva a que o intérprete busque entender
o texto, a fala, o depoimento como resultado de um processo social (trabalho e
dominação) e processo de conhecimento (expresso em linguagem) ambos frutos de
múltiplas determinações mas com significado específico. Esse texto é a
representação social de uma realidade que se mostra e se esconde na
comunicação, onde o autor e o intérprete são parte de um mesmo contexto ético-
político e onde o acordo subsiste ao mesmo tempo que as tensões e perturbações
sociais” (MINAYO, 2004, p.227-228).
3.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO
Embora este trabalho esteja enraizado na noção dos fatores de risco, se reconhece a
fragilidade de tal construção teórica, conforme aponta Castiel e Vasconcellos-Silva (2006). A
intenção inicial era realizar uma análise do estresse, depressão e desempenho cognitivo das
idosas relacionado à prática de atividade física e ao seu histórico, buscando entender como
estas relações, se existentes, acontecem na história de vida de algumas idosas.
No entanto, no decorrer do processo de investigação, tanto a nível teórico quanto
empírico, foi surgindo a necessidade de compreensão dos elementos que sustentam tal
abordagem. A realidade foi se mostrando demasiado complexa para ser investigada por meio
apenas dos instrumentos empíricos tradicionais. Se por um lado, a pesquisa abrange uma
grande quantidade de variáveis que pretendia evitar “reducionismos”, por outro estava
submetida a uma lógica que reduzia o fenômeno as suas expressões empíricas. Bagrichevsky,
Estevão e Palma (2006, p.38) destacam que vivemos um certo paroxismo mensurativo nos
dias de hoje, sobretudo, em relação às práticas de prevenção a doenças, propaladas pela
biomedicina (e suas dimensões correlatas)”.
Skaliski e Praxedes (2003) destacam que a epidemiologia estuda a saúde na sociedade,
sendo que o materialismo histórico busca a causalidade no social, enquanto que a
epidemiologia clássica analisa o fator coletivo como um conjunto de fatos individuais. É
importante destacar que a presente pesquisa tem a sua forma e estrutura metodológica mais
próxima a de um estudo de modelo epidemiológico de multicausalidade, de acordo com a
77
descrição de Breilh (2003). No decorrer das coletas de dados, observou-se uma dificuldade
em compreender as questões de estudo partindo de um modelo epidemiológico de
multicausalidade. A partir destas dificuldades constatadas no campo, foi necessária a busca
por outros referenciais teóricos, que dessem conta das dificuldades. Assim, foi necessária uma
mudança no foco de discussão do estudo, procurando abranger o debate sobre os conflitos e
desigualdades, pois conforme Skalinski e Praxedes (2003) destacam, a prática da
epidemiologia clássica exerce poder hegemônico sobre a sociedade com o intuito de desviar a
discussão dos conflitos e desigualdades sociais, transformando causas coletivas em
responsabilidades individuais.
Ao mesmo tempo em que se reconhece o primado das relações econômicas, políticas e
culturais na saúde, se sabe que este não impede que os processos biológicos também sejam
determinantes, embora se subordinem aos processos da vida social (SKALINKI e
PRAXEDES, 2003). Castiel (1999) citado por Castiel e Vasconcellos-Silva (2006, p.83)
destacam:
Claro que determinados ‘estilos’ são perigosos, seja para o próprio indivíduo,
seja, também, para os que lhe cercam. Assim, demandam intervenções
apropriadas. Mas, é essencial não perder de vista a perspectiva descrita, sob o
risco de serem adotadas premissas que conduzam a ações insensíveis,
culpabilizantes, limitadas e, conforme o caso, de efetividade restrita.
Andrade (2001), ao discutir a questão do estilo de vida no contexto dos bancários,
afirma que muitos estudos não consideram o contexto social dos sujeitos muitas vezes
determinante do estilo de vida:
O que se tem visto nos estudos que abordam a questão do estilo de vida e saúde, é
praticamente uma negligência com relação ao fato de ser a saúde uma questão
fundamentalmente sócio-econômica, antes de ser apenas a ausência de doenças ou
um amplo estado de bem estar físico e psicológico (ANDRADE, 2001, p.96).
Ao discutir o primado social dos processos de saúde-doença, uma crítica comum é a
de que Bateson citado por Schramm e Castiel (1992) denominou de confusão de tipo lógico,
que questiona como conceituar as variáveis do nível social e as operar e relacionar ao nível
individual. Isto é, como seria possível as variáveis pertencentes ao nível macro social, como
classe social, ter uma relação causal com agravos específicos ao nível micro social
(individual, como a depressão). Schramm e Castiel (1992, p.383) destacam que “estes
pressupostos oferecem problemas de confusão de tipos-lógicos variáveis localizadas em
uma dada dimensão (populacional) talvez não possuam o mesmo comportamento se
78
consideradas ao nível do indivíduo”. Assim, foi destacada pelos autores a existência de níveis
intermediários de análise: o grupo, a comunidade, a família.
Breilh (2003) ao discutir se a saúde corresponde a ordem “individual-subjetivo-
contingente” ou a ordem “coletivo-objetivo-determinado”, argumenta que estas oposições
ocultam o real sentido da vida e da saúde, que se desenvolvem entre tais processos. Assim, a
saúde não é nem “individual-subjetiva-contigente”, nem “coletiva-objetiva-determinada”, mas
sim o movimento de gênese e reprodução, Breilh (2003) complementa afirmando que esta
discussão não tem sentido porque livre arbítrio e determinação coletiva não são termos
excludentes, mas sim, interdependentes.
Trazendo estes elementos para o presente estudo, ficou clara a necessidade de
compreender as relações sociais, o contexto das idosas. As relações políticas, sociais e
culturais adquiriram maior relevância na pesquisa, fazendo com que grande parte da estrutura
do trabalho fosse reconsiderada. Além disto, a interpretação sobre o processo saúde-doença
tratada no presente estudo estava fundada na teoria do estresse, de forma que os processos
psicobiológicos tinham o maior destaque, na estrutura e no texto, deixando com que a origem
do estresse fosse pouco considerada. Dejours (1988) citado por Castiel (2005, p.112) destaca
que o primado mensurável se impõe em detrimento da experiência subjetiva, a ponto de
torná-la acessória, ou mesmo suspeita. A noção de estresse não distingue situações,
respostas, vivências”.
Castiel (2005) complementa afirmando que o problema na conceitualização do
estresse está em “algo” que ficou “fora”. Na verdade, fora das possibilidades de que o
instrumento empiricista dispõe para a apreensão totalizante dos fatores que expliquem
satisfatoriamente o processo saúde-doença” (CASTIEL, 2005, p.110).
Desta forma, foi verificado nesta pesquisa que embora se tentasse abranger um grande
número de variáveis relacionadas ao estresse, a depressão e ao desempenho cognitivo, o
estudo estaria preso à lógica dos instrumentos empíricos e da estatística, pois conforme Susser
(1989) destaca, as análises multivariadas permitem abranger um número maior de aspectos da
investigação, porém divorciadas tanto do substrato biológico, como do contexto social. De
acordo com Schram e Castiel (2005, p.385) “é preciso levar em conta que, com freqüência, os
processos biológicos assumem comportamento cujas leis não são conhecidas, sendo
impossível determinar todas as variáveis intervenientes no sistema e suas intrincações”.
Estas questões apontam para a impossibilidade de compreensão da realidade
investigada apenas a partir de dados empíricos e análises estatísticas. Por isto, optou-se por
utilizar o conteúdo dos depoimentos das participantes durante as entrevistas, buscando
79
também a compreensão da essência histórica dos fenômenos. A riqueza dos depoimentos
espontâneos foi um dos fatores que interferiram no redirecionamento da própria pesquisa.
3.7 LIMITAÇÕES
Considerando que todas as pesquisas apresentam limitações em diversos níveis, são
expostas aqui apenas algumas consideradas relevantes e que podem encaminhar
questionamentos e reflexões aos próximos estudos envolvendo esta temática.
A primeira limitação diz respeito à delimitação do problema e à escolha dos
instrumentos, que foram feitas a partir dos achados de estudos anteriores, fazendo com que o
eixo central da investigação fosse definido exclusivamente com base em artigos científicos
internacionais, que pouco refletem a problemática brasileira. Minayo (2004, p.16) ressalta
que:
[...] saúde/doença importam tanto por seus efeitos no corpo como pelas suas
repercussões no imaginário: ambos são reais em suas conseqüências. Portanto,
incluindo os dados operacionalizáveis e junto com o conhecimento técnico,
qualquer ação de tratamento, de prevenção ou de planejamento deveria estar
atenta aos valores, atitudes e crenças dos grupos a quem a ação se dirige. É
preciso entender que, ao ampliar suas bases conceituais, as ciências sociais da
saúde não se tornam menos ‘científicas’, pelo contrário, elas se aproximam com
maior luminosidade dos contornos reais dos fenômenos que abarcam.
Assim, a delimitação do problema e a escolha dos instrumentos podem ter limitado o
estudo no sentido da capacidade de apreensão da realidade vivenciada pelas idosas. A
delimitação do problema deveria ter sido feita com base também nas questões destacadas
pelas próprias idosas, o que tornaria a pesquisa mais próxima da realidade que abordou.
As próximas limitações apontadas estão conectadas com esta primeira, remetendo à
observação da inserção do problema de investigação na realidade social dos participantes da
pesquisa.
Os aspectos neuropsicológicos foram definidos em termos de estresse, depressão e
desempenho cognitivo. A depressão e o estresse foram avaliados por meio de duas escalas
validadas. Embora os instrumentos utilizados tenham sido devidamente validados puderam-se
perceber algumas limitações no decorrer do período de coleta de dados. Em relação ao
desempenho cognitivo, foram investigadas a memória de trabalho e a de curto prazo, além do
tempo de reação simples, de escolha e a atenção concentrada.
80
No caso da avaliação cognitiva, observou-se que os testes, embora bem aceitos pelas
participantes, tinham pouca validade ecológica. Thompson (1992, p.153) destaca que “a falta
de qualquer interesse intrínseco é o que invalida muitos dos primeiros experimentos com
memória em laboratório”. Assim, os testes cognitivos, especialmente os de memória,
apresentavam um componente difícil de controlar, algo que ultrapassa as possibilidades dos
testes de laboratório, que é o interesse das idosas pelos testes propostos.
Além disto, a memória de curto prazo e de trabalho pareceu ser algo menos relevante
para as idosas do que é apontado na literatura. Thompson (1992), ao discutir a redução de
memória no envelhecimento, argumenta que a memória de curto prazo diminui nos mais
velhos à medida que suas experiências se acumulam, exigindo uma maior seletividade da
memória de curto prazo. No decorrer da pesquisa, especialmente durante as entrevistas,
observou-se que as idosas, ao perceberem algumas falhas de memória, passaram a adotar
estratégias (como fazer anotações) para não deixar que isto afetasse a sua rotina. No entanto, a
maioria destas não iniciou o uso desta estratégia na terceira idade, e sim, muito tempo antes.
Com isto, evidencia-se que esta pesquisa valorizou a priori, com base em estudos científicos
internacionais, questões que, para a maioria das idosas desta amostra, não se constituía de um
problema que afetasse negativamente sua vida.
Desta forma, é importante ressaltar a importância de maior compreensão dos
problemas reais da população investigada, evitando reduzir a pesquisa ao que foi
“cientificamente” testado, a fim de não perder de vista a possibilidade de uma produção
acadêmica mais comprometida com a realidade e com a inserção dos conhecimentos
científicos no cotidiano.
Outras limitações deste estudo residem em aspectos próprios dos instrumentos
empíricos de quantificação dos eventos psicológicos. Uma destas limitações foi a observação
de que a complexidade do fenômeno psicológico não pode ser reduzido nas escalas. Isto pôde
ser observado nas entrevistas, onde muitas participantes apresentavam dificuldade de se
posicionar. Por exemplo, na escala de estresse percebido, houve algumas divergências e
ambigüidades nas respostas. Questões como: “Você tem tratado com sucesso dos problemas
difíceis da vida?”, foram respondidas: “... ah... sim, mas depende dos problemas...”. Outra
questão: “Você tem sentido que as coisas estão sob o seu controle?”, houve respostas como:
“na minha vida sim, mas no mundo não, a violência, a guerra,... e isto me estressa demais...”.
Estas questões não invalidam a escala, dada a sua adequação fatorial e confiabilidade,
no entanto, apontam para a baixa valorização das diferentes situações estressantes, mesmo no
âmbito individual. Desta forma, a escala de estresse permite conhecer as percepções
81
individuais relacionadas a uma ou outra variável, mas fornece uma análise limitada na
tentativa de entender o fenômeno dentro da sua coletividade, da compreensão do que pode
estar causando estresse nas idosas.
Na escala de depressão, dois outros problemas foram observados. A falta de uma
opção de resposta intermediária foi uma das limitações, pois algumas participantes ao serem
questionadas respondiam: “mais ou menos, nem sim, nem não... não sei como responder”.
Outra limitação diz respeito a dificuldade de algumas idosas admitir alguns sentimentos, por
exemplo, algumas até se sentiam de determinada forma, mas se sentiam culpadas e então
mudavam a resposta dizendo: “... Deus é tão bom comigo, não posso me sentir assim né, é
pecado...”. Um depoimento interessante que retrata de outra maneira esta questão foi “Só
melhorei depois da separação porque eu não podia admitir o que eu estava sentindo, pois o
meu marido trabalhava muito e eu me sentia culpada por estar daquele jeito”.
Visando superar ou ao menos amenizar esta limitação, optou-se por gravar as
entrevistas, utilizando este conteúdo para enriquecer a análise dos dados. A descoberta destas
limitações faz parte da própria experiência de campo adquirida e também da mudança de
posicionamento teórico que foi ocorrendo no decorrer da pesquisa. Thompson (1992, p.33)
afirma que os alunos vêm à entrevista para aprender, o que significa sentar-se ao de
outros que, por provirem de uma classe social diferente, ou por serem menos instruídos, ou
mais velhos, sabem mais a respeito de alguma coisa”. Neste processo, Thompson (1992,
p.32) destaca que a experiência vai muito além do campo:
Descobrem que as pessoas por eles entrevistadas não se ajustam facilmente aos
tipos sociais apresentados pelas leituras preliminares. Precisam de fatos, ou
pessoas, ou registros que se mostram exasperadoramente esquivos. Vêem-se diante
de problemas de vieses de contradição e de interpretação da evidência.
Assim, essa mudança de posicionamento, tanto da pesquisadora, quanto da
investigação, passa pela aprendizagem obtida com as próprias participantes da pesquisa, com
as suas falas e vivências, que acabavam sendo espontaneamente ditas, a medida que a
entrevistadora se colocava na posição de quem queria aprender com as entrevistadas.
Thompson (1992, p.41), ao comentar sobre as falas das pessoas entrevistadas, indica que
com elas se aprende mais do que simples conteúdo. As gravações demonstram como é rica a
capacidade de expressão de pessoas de todas as condições sociais”.
O relato oral fornece evidência de como as coisas acontecem, como algo pode ir além
do que os números podem apontar. No entanto, são conhecidas as críticas à confiabilidade das
fontes orais, a tendência de ocultar alguns fatos e enaltecer a outros. A falta de interesse
82
pessoal por dado acontecimento também afeta significativamente nos relatos. Estas falas são,
em geral, mais falíveis em relação à descrição de acontecimentos, mas válidas para transmitir
valores e representações. Muitos acontecimentos podem ser distorcidos na elaboração de uma
versão socialmente aceitável, a partir da própria relação entre os sujeitos envolvidos no
estudo. O pesquisador precisa estar atento a tais valores e crenças, que podem alterar
substancialmente os fatos que lhe vão ser relatados.
Embora existam limitações de toda ordem, e a presença de viés apareça em diversos
níveis, entende-se que o reconhecimento destas é mais importante do que retirá-las da
pesquisa, o que, dadas às condições objetivas, não seria possível. Plummer, citado por
Thompson (1992, p.158), destaca que expurgar a pesquisa de todas essas ‘fontes de viés’
significa expurgar a pesquisa da vida humana”. Assim, mais do que retirar as fontes de viés,
deve-se pretender revelá-las.
83
4 RESULTADOS
Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento
Adélia Prado
Os resultados deste estudo são apresentados em duas partes principais. Na primeira
são apresentados os resultados da análise estatística. Na segunda parte é apresentada a análise
dos depoimentos das idosas, visando o aprofundamento das questões de estudo.
4.1 ANÁLISE ESTATÍSTICA
A análise estatística dos resultados desta pesquisa foi apresentada em tópicos, na
seguinte seqüência: 1) Caracterização Geral das Participantes; 2) Auto-avaliação da saúde,
atividade física e lazer; 3) Capacidade cognitiva, desempenho cognitivo e estresse percebido
das idosas; 4) Aspectos neuropsicológicos das idosas, prática de atividade física e nível de
atividade intelectual.
4.1.1 Caracterização Geral das Participantes
A média de idade das participantes foi de 69 anos (s=6,27), variando de 60 a 87 anos.
A maior parte das participantes é viúva e vive de pensão. A maioria das idosas é de classe
econômica C e D e possui como escolaridade o primário incompleto ou completo. Ao agrupar
as classes econômicas, verificou-se que 48% das idosas pertencem à classe A e B (alta) e 52%
são de classe C, D e E (baixa). A mediana da renda mensal familiar foi de 1.700,00 reais.
Observou-se que a maioria das idosas tinha outra ocupação além de cuidar da casa (n=54/
67,5%), enquanto 26 (32,5%) participantes indicaram ser donas de casa. As ocupações das
idosas, bem como os demais dados sócio-demográficos podem ser observados na tabela 2
(página 64).
Grande parte das idosas indicou que a sua situação econômica atual em relação a
quando tinha 50 anos está melhor (n=32/ 40%) ou igual (n=22/ 27,5%), enquanto 26 idosas
(32,5%) indicaram que a sua situação econômica piorou.
A maioria das participantes indicou que a sua renda mensal é suficiente para custear as
suas necessidades básicas, onde 33 (41,3%) idosas apontaram que a sua renda “dá na conta
certa” e 25 (31,3%) disseram que sobra dinheiro. No entanto, 23 (27,6%) idosas relataram que
a sua renda mensal é insuficiente para custear as necessidades básicas. Ao comparar as médias
da renda mensal em função desta classificação (kruskal-wallis), foi verificado que as idosas
que indicaram sobrar dinheiro tiveram renda mensal superior (média=4.102,00/ s=3.373,87)
em relação às que indicaram que “dá na conta certa” (média=2.471,21/ s=3.387,87) e “sempre
falta um pouco” (média=1.544,74/ s=1.189,84). As idosas com a menor renda mensal foram
as que indicaram sempre faltar muito dinheiro para custear as necessidades básicas
(média=500/ s=173,20). Estas diferenças foram estatisticamente significativas (p<0,001),
apesar da alta variação das rendas nos grupos. Estes resultados indicam que há coerência entre
os níveis econômicos objetivos e subjetivos.
Em relação à moradia, 45 idosas residem em casa (56,3%) e 35 (43,7%) moram em
apartamento. A maioria das idosas considera a sua residência ótima (n=50/ 62,5%) ou boa
(n=23/ 28,8%), enquanto apenas 7 (8,7%) a avaliam como regular ou ruim.
Das 80 idosas, apenas 4 (5%) cuidam de alguém doente em casa. A maioria das idosas
relatou ter um ótimo (n=60/ 75%) ou bom (n=15/ 18,8%) relacionamento com os familiares,
enquanto apenas 5 participantes (6,3%) relataram ter um regular ou péssimo relacionamento
com os familiares.
85
4.1.2 Auto-avaliação da saúde, atividade física e lazer
Em geral, as participantes têm uma auto-avaliação positiva da saúde, pois grande parte
das idosas acredita ter boa (n=30/ 37,5%) ou excelente saúde (n=13/ 16,3%). Entretanto, 31
(38,8%) idosas avaliam sua saúde como regular e 6 (7,4%) como ruim ou péssima.
A maioria das participantes relatou ter mais de um problema de saúde (n=68/ 85%),
enquanto que 12 (15%) indicaram não apresentar nenhum destes problemas. A média de
doenças relatadas pelas idosas foi de 2,3 (s=1,13/ mediana=2).
Tabela 4.Freqüência de ocorrência de doenças nas idosas.
Doenças Sim % Não % Total
Hipertensão arterial 44 55 36 45
Problemas na coluna 16 20 64 80
Colesterol 16 20 64 80
Tireóide 13 16,3 67 83,8
Diabetes 10 12,5 70 87,5
Artrite/ artrose 10 12,5 70 87,5
Labirintite 9 11,3 71 88,8
Problema cardíaco 8 10 72 90
Osteoporose 7 8,8 73 91,3
Triglicérides 5 6,3 75 93,8
Fibromialgia 3 3,8 77 96,3
Gastrite 2 2,5 78 97,5
Visão 2 2,5 78 97,5
Edema Pulmonar 1 1,3 79 98,8
Câncer 1 1,3 79 98,8
80 (100%)
A doença mais freqüente nas idosas foi a hipertensão arterial (tabela 4). Foi verificado
que quanto melhor a auto-avaliação da saúde das participantes, menor a média de doenças
relatadas, sendo estas diferenças estatisticamente significativas (F=4,652/ p=0,002). Isto
indica que a avaliação de saúde das idosas pode estar vinculada à ocorrência de doenças.
A média de medicamentos utilizados regularmente foi de 2 (s=1,86/ mediana=2).
Verificou-se que quanto mais medicamentos as idosas utilizam, pior a auto-avaliação da saúde
(F=6,336/ p<0,001). Estes resultados demonstram que as idosas auto-avaliam a sua saúde de
acordo com o número de doenças apresentadas e medicamentos utilizados regularmente.
Em relação à reposição hormonal, a maioria das idosas nunca fez (n=57/ 71,3%),
enquanto 23 (28,8%) participantes relataram fazerem ou terem feito reposição hormonal por
um tempo médio de 7,95 anos (s=5,038), variando de 1 a 20 anos. A maioria das idosas
86
indicou não fumar e nunca ter sido fumante (n=62/ 77,5%), 16 (20%) pararam de fumar e
apenas duas (2,5%) fumam diariamente. A média do tempo que as idosas pararam de fumar é
de 18,06 anos (s= 9,272).
A maioria das idosas relatou nunca consumir bebidas alcoólicas (n=56/ 70%), 16
(20%) indicaram utilizá-las até 3 vezes por semana ou de 4 a 6 vezes por semana (n=2/ 2,5%)
e 6 (7,5%) participantes declararam tomar doses pequenas diariamente.
A maioria das idosas tem pouca ou nenhuma dificuldade para dormir (n=45/ 56,3%),
enquanto as demais participantes apontaram ter média (n=20/ 20,8%), muita (n=8/ 10%) ou
excessiva (n=7/ 8,8%) dificuldade para dormir. Das idosas, a maioria nunca toma remédios
para dormir (n=63/ 78,8%), 9 (11,3%) indicaram utilizá-los “às vezes”, enquanto 8 (10%)
participantes relataram utilizar estes medicamentos freqüentemente.
O índice de sonolência diurna médio das participantes foi de 3,89 (s=3,18), variando
de 0 a 10. Todas as participantes apresentaram níveis de sonolência abaixo de 10, o que indica
que nenhuma participante sofre de sonolência diurna excessiva.
Em relação à depressão, a maioria afirmou nunca ter recebido diagnóstico médico do
transtorno (n=51/ 63,8%), enquanto 29 (36,3%) afirmaram terem recebido este diagnóstico
em algum momento da vida. O tempo de diagnóstico variou de um mês a 35 anos, sendo na
média de 10,62 anos (s=9,46/ mediana= 7 anos). Destas 29 idosas, 20 (69%) utilizaram
tratamento farmacológico, sendo que o medicamento mais apontado foi a fluxetina (n=6/
21%), no entanto, 8 participantes (27,6%) que realizaram tratamento medicamentoso não
sabiam o nome do remédio utilizado. Entre as idosas que receberam diagnóstico de depressão,
8 (27,6%) ainda apresentam o transtorno e tomam medicamento anti-depressivo, 10 (34,5%)
estão curadas e 11 (37,9%) têm crises ocasionalmente.
Analisando caso a caso considerando o período de início da depressão, conforme o
realizado por Basso e Bornstein (1999), verificou-se que 8 (10%) idosas tiveram o primeiro
episódio após os 60 anos, 8 (10%) apresentaram depressão recorrente e 13 (16,3%) estiveram
deprimidas mas não sofrem mais do transtorno. A média do nível de depressão das idosas,
mensurado através da GDS, foi de 2,15 (s=2,45), no entanto, a mediana foi 1, e os escores
variaram de 0 a 13, o que indica ampla variação nos níveis de depressão das participantes.
Para verificar se as médias na GDS são coerentes com o diagnóstico clínico, foram
comparadas as médias de depressão entre as idosas com diferentes diagnósticos (tabela 5).
87
Tabela 5.Nível de depressão das idosas em relação ao diagnóstico de depressão
Diagnóstico Média Desvio-Padrão Mediana Mínimo Máximo
Nunca teve depressão 1,37 1,505 1,00 0 5
Teve depressão no passado 2,00 1,91 2,00 0 6
Primeiro episódio de depressão 4,25 4,27 3,50 0 13
Depressão recorrente 5,25 2,55 5,00 2 8
Ainda tem depressão 5,50 3,82 5,50 1 13
Tem crises ocasionalmente 3,55 2,84 3,00 0 8
Não tem mais depressão 1,90 1,97 0 0 6
Pode-se observar que as médias na GDS são coerentes com o diagnóstico clínico, pois
o nível de depressão das idosas com depressão é superior ao daquelas que não apresentam o
transtorno. No entanto, estas diferenças não foram estatisticamente significativas (kruskal-
wallis). Foram verificados escores de 0 em participantes que apresentam quadros clínicos de
depressão. Observou-se pelos valores máximos e mínimos que algumas idosas que
apresentam o diagnóstico clínico de depressão não apresentam escores altos na GDS, e que,
algumas idosas que dizem não ter depressão apresentaram escores de 6 na GDS, indicando a
ocorrência do transtorno.
Em geral, a auto-avaliação da memória das idosas é positiva, pois a maioria delas
acredita ter memória boa (n=41/ 51,3%) ou regular (n=27/ 33,8%) e 4 (5%) a avaliaram como
excelente. Apenas 8 (9,9%) idosas avaliaram sua memória como ruim ou péssima. Quando
questionadas sobre como está a memória atual em relação a dez anos atrás, grande parte das
idosas relatou estar igual (n=35/ 43,8%) ou pior (n=31/ 38,8%), 9 (12,5%) participantes
acreditam que a sua memória está muito pior. Apenas 5 (6,3%) participantes indicaram ter
melhorado a memória.
Em relação à freqüência de esquecimentos, a maioria das idosas indicou esquecer
“poucas vezes” (n=24/ 30%) e “às vezes” (n=23/ 28,8%), enquanto 16 (20%) afirmaram
nunca ter esquecimentos. Dezessete idosas (21,3%) relataram ter esquecimentos quase sempre
ou sempre (n=2/ 2,5%). A maioria das idosas acredita que pode melhorar sua memória
(n=59/ 73,8%), 10 (12,5%) relataram não acreditar nisto e 11 (13,8%) não souberam
responder a esta questão.
A auto-avaliação da capacidade de solucionar problemas foi positiva por parte das
idosas, pois a maioria das participantes indicou ter boa (n=42/ 52,5%) ou muito boa (n=17/
21,3%) capacidade de solucionar problemas. Dezenove (23,8%) participantes avaliaram esta
capacidade como regular. Apenas 2 (2,5%) participantes indicaram ter péssima capacidade de
solucionar problemas.
88
Ao correlacionar estas auto-avaliações da memória e da capacidade de solucionar
problemas com a classe econômica, renda mensal e idade, foi verificado que quanto mais
baixa a classe econômica, pior a auto-avaliação da memória (r=0,328/ p=0,003) e da
capacidade de solucionar problemas (r=0,254/ p=0,023). Observou-se que quanto maior a
renda mensal, melhor a auto-avaliação da memória (r=0,275/ p=0,014) e da capacidade de
solucionar problemas (r=0,260/ p=0,020). Além disto, foi verificado que quanto maior a
escolaridade melhor a auto-avaliação da capacidade de solucionar problemas (r=0,331/
p=0,003). A correlação mais significativa da capacidade de solucionar problemas foi com o
nível de atividade intelectual (r=0,350/ p=0,001).
Em relação à auto-avaliação do estilo de vida relacionado à atividade física, a maioria
das idosas se considerou ativa (n=70/ 87,5%), enquanto 8 (10%) afirmaram serem sedentárias
e 2 (2,5%) não souberam responder.
Verificou-se que a maioria das idosas é praticante de atividade física regular (n=42/
52,5%), 25 (31,3%) são intermediárias e 13 (16,3%) participantes não praticam atividade
física. Foi verificado que todas as idosas que faziam tarefas que exigiam esforço físico três ou
mais vezes por semana são praticantes de atividade física regular. Por este motivo, não houve
necessidade de separar a categoria trabalho pesado, pois nenhuma não praticante relatou fazê-
los três ou mais vezes por semana. Na tabela 6 podem ser observadas a duração e a freqüência
das sessões de atividade física, bem como a média de tempo destas práticas.
Tabela 6.Duração total e freqüência da prática de atividade física semanal das idosas não
praticantes, intermediárias e praticantes de atividade física regular
Prática Regular de Atividade Física
Praticantes
N = 42
Intermediárias
N = 25
Não praticantes
N = 13
Freqüência Semanal (dias)
Média 4,60 2,40 0,62
Desvio Padrão 1,41 0,76 0,91
Mediana 4,5 2 0
Mínimo 3 2 0
Máximo 7 4 2
Duração Semanal
(minutos)
Média 290,36 133,4 23,85
Desvio-Padrão 105,63 57,67 40
Mediana 300 120 0
Mínimo 180 90 0
Máximo 720 300 100
89
Ao comparar estas médias entre os grupos praticantes, intermediárias e não praticantes
de atividade física, foram verificadas diferenças estatisticamente significativas para a
freqüência semanal (F=66,189/ p<0,001) e para o total de minutos em uma semana
(F=59,220/ p<0,001).
Tabela 7.Atividades Físicas praticadas pelas idosas
Atividade Física Freqüência Percentual
Caminhada 40 50%
Ginástica 40 50%
Natação/Hidroginástica 18 22,5%
Dança 7 8,75%
Yoga/Tai-chi-chuan 2 2,5%
Musculação 2 2,5%
Exercício Personalizado 1 1,25%
As modalidades de atividade física mais praticadas pelas idosas são a caminhada e a
ginástica, seguidas pela natação ou hidroginástica e dança (tabela 7). Grande parte das idosas
pratica mais de um tipo de atividade física, sendo a combinação entre caminhada e ginástica a
mais praticada. A ginástica referida pelas participantes é específica para idosos. Apenas 3
idosas relataram fazer atividade física intensa, destas, duas indicaram sambar e uma indicou
correr. Estas 3 participantes praticam um volume alto de atividade física moderada, sendo
incluídas no grupo de praticantes de atividade física.
Em relação à realização de tarefas que exijam esforço físico, 24 (30%) idosas
indicaram realizar estas tarefas, sendo que destas a maioria realiza este esforço físico uma
(n=10/ 41,7%) ou duas (n=5/ 20,8%) vezes por semana. A duração aproximada de cada sessão
variou de 30 a 360 minutos, sendo que a média foi de 130 minutos (s=74,015) e a mediana de
120 minutos. No total de uma semana, a duração média destas tarefas foi de 277,20 minutos
(s=100,75/ mediana= 225 minutos), variando de 60 a 900 minutos por semana. A tarefa
indicada pela maioria das idosas foi a faxina (n=19), enquanto 3 afirmaram fazer jardinagem,
uma indicou fazer massagem e outra falou que fica andando durante o trabalho voluntário.
A maioria das idosas indicou gostar de praticar atividade física (n=60/75%). Apenas
uma participante indicou não gostar de praticar atividade física (tabela 8).
90
Tabela 8.Relação entre gostar e praticar atividade física
Detesta Não gosta Gosta Gosta
muito
Gosta
totalmente
Total
Praticantes 0 (0%) 2 (4,8%) 11 (26,2%) 19 (45,2%) 10 (23,8%) 42 (100%)
Intermediárias 0 (0%) 2 (8%) 5 (20%) 14 (56%) 4 (16%) 25 (100%)
Não Praticantes 1 (7,7%) 0 (0%) 4 (30,8%) 7 (53,8%) 1 (7,7%) 13 (100%)
Total 1 (2,1%) 4 (8,3%) 20 (25%) 40 (50%) 15 (18,8%) 80 (100%)
Não foi verificada relação entre gostar e praticar atividade física (qui-quadrado). Pode-
se observar que a maioria das não praticantes indicou gostar muito de fazer atividade física.
Estes dados indicam que existem outros motivos que levam as idosas a praticar ou não
atividade física do que o “gostar”. Entre estes motivos, destaca-se a melhora da saúde e
recomendação médica, citado pela maioria das idosas (n=42/ 52,5%) como o principal motivo
para praticar atividade física. Vinte e nove idosas (36,3%) indicaram praticar atividade física
porque gostam e apenas uma participante indicou a socialização como o principal motivo para
a prática.
Entre as nove participantes que indicaram não praticar nenhum tipo de atividade física,
a maioria (n=5) indicou não praticar por proibição médica, uma relatou não gostar de
atividade física e outra afirmou ter preguiça. Duas participantes disseram que não faziam
atividade física por falta de condições adequadas e tempo, pois estas duas ainda trabalham.
Ao analisar o histórico de atividade física, observou-se que 33 (41,3%) idosas eram
não praticantes de atividade física regular, 23 (28,8%) faziam trabalho que exigia esforço
físico, enquanto 24 (30%) realizavam atividade física regular.
Tabela 9.Relação entre o histórico de atividade física e a prática regular de atividade física.
Histórico de Atividade Física
Atividade física atual Não Praticantes Praticantes Trabalho Pesado
Não Praticantes 6 (18,2%) 4 (16,7%) 3 (13%)
Intermediárias 9 (27,3%) 7 (29,2%) 9 (39,1%)
Praticantes 18 (54,5%) 13 (54,2%) 11 (47,8%)
Total n=33 (100%) n=24 (100%) n=23 (100%)
Não foi verificada relação significativa entre o histórico e a prática regular de
atividade física (tabela 9). Este resultado sugere que houve uma mudança em relação à prática
de atividade física, pois no histórico de atividade física, se verificou que a maioria não
praticava atividade física ou trabalhava pesado e que na atividade física atual, a maioria das
idosas pratica atividade física regularmente. Pode-se observar uma mudança de prática de
91
atividade física, o que aumenta a importância de considerar o histórico de atividade física,
pois, ao que foi verificado até agora, a prática de atividade física atual não reflete o histórico
de atividade física.
Não foi verificada relação entre classe econômica e prática de atividade física atual,
assim como não foram encontradas diferenças na renda mensal das praticantes, intermediárias
e não praticantes de atividade física, sugerindo que a prática de atividade física das idosas é
independente da situação financeira.
Ao comparar as diferenças na renda mensal das idosas em relação ao histórico de
atividade física, foi verificado que as idosas praticantes de atividade física no passado
apresentaram renda mensal familiar média superior (média=3.810 reais) à das não praticantes
(média=2.583 reais) e das que trabalhavam pesado (média=1.663 reais). Estas diferenças
foram estatisticamente significativas (p=0,042). Isto indica que embora a prática atual de
atividade física não esteja associada a fatores econômicos, o histórico de atividade física está.
Tabela 10.Relação entre o histórico de atividade física e classe econômica das idosas
Classe Econômica
Histórico de
Atividade Física
A2 e B1 B2 C D e E Total
Trabalho Pesado 2 (10%) 7 (36,8%) 7 (23,3%) 7 (63,6%) 23 (28,8%)
Não Praticantes 7 (35%) 8 (42,1%) 15 (50%) 3 (27,3%) 33 (41,3%)
Praticantes 11 (55%) 4 (21,7%) 8 (26,7%) 1 (9,1%) 24 (30%)
Total 20 (100%) 19 (100%) 30 (100%) 11 (100%) 80 (100%)
Observou-se que a maioria das idosas de classe econômica A2 e B1 era praticante de
atividade física regular, enquanto que na classe B2 e C eram não praticantes e nas classes D e
E a maioria realizava trabalho pesado (tabela 10). Foi verificado que esta relação é
estatisticamente significativa (X²=15,500/ p=0,017).
Foram comparadas as médias de doenças relatadas e medicamentos utilizados
regularmente pelas idosas em relação ao histórico de atividade física e à prática de atividade
física (tabela 11).
92
Tabela 11. Média de doenças relatadas e medicamentos utilizados regularmente pelas
idosas
Doenças relatadas Medicamentos utilizados
Média S Média s
Atividade Física Atual
Praticantes 2,02 1,28 1,79 1,59
Intermediárias 2,04 1,74 1,64 1,75
Não Praticantes 2,69 1,44 3,08 2,53
Histórico de Atividade Física
Não Praticantes 2,15 1,73 1,58 1,61
Praticantes 2,50 1,32 2,92* 2,38
Trabalho Pesado 1,74 1,10 1,48 1,16
* Diferença estatisticamente significativa ao nível de p<0,05 (Kruskal-Wallis)
Observou-se que não houve associação entre prática regular de atividade física e a
média de doenças relatadas e medicamentos utilizados regularmente pelas idosas. A única
diferença verificada foi em relação ao número de medicamentos utilizados pelas idosas que
foram praticantes de atividade física no passado (p=0,023). Ao comparar as médias
individualmente, foi verificado que a média de medicamentos utilizados pelas idosas que
foram praticantes de atividade física no passado foi significativamente mais alta do que a das
não praticantes (p=0,015) e das que trabalhavam pesado (p=0,020). No entanto, em relação à
média de doenças apresentadas, não foi verificada diferença entre as idosas que praticavam,
não praticavam atividade física e que trabalhavam pesado. Verificou-se que a média de
medicamentos utilizados pelas idosas que praticavam atividade física é superior à de doenças
relatadas, enquanto que para as idosas que não praticavam atividade física e que trabalhavam
pesado, foi constatado que a média de medicamentos utilizados é inferior à média de doenças
apresentadas.
Em relação ao histórico de lazer, as atividades indicadas pelas idosas foram: realizar
trabalhos manuais (n=19/ 23,8%), passear/viajar (n=15/ 18,8%), atividades culturais como
cinema e teatro (n=10/ 12,5%), assistir televisão (n=4/ 5%), dançar (n=3/ 3,8%), sair com os
amigos (n=2/ 2,5%), jogar (n=2/ 2,5%), realizar trabalho voluntário (n=2/ 2,5%) e ouvir
música (n=1/ 1,3%). Das idosas, 19 (23,8%) afirmaram que não tinham atividades de lazer,
especialmente devido à falta de tempo e dedicação ao marido ou família. Estas foram as
principais atividades de lazer, mas cada idosa citava quantas atividades tinha, assim, a média
de atividades de lazer no passado foi de 1,64 (s=1,25).
93
A maioria das idosas (n=50/ 62,5%) relatou realizar alguma leitura no passado,
enquanto 30 (37,5%) afirmaram não ter tido tais hábitos. Entre os tipos de leitura que as
idosas costumavam realizar, foram citados os romances (n=10), jornais e revistas (n=7), a
Bíblia (n=3), romances espíritas (n=3), e 1 indicou ler apenas livros técnicos. Vinte e seis
idosas (32,5%) indicaram ler de tudo, incluindo jornais, livros (de todos os tipos) e revistas,
diariamente.
Entre as principais atividades de lazer atuais indicadas pelas idosas estão: trabalhos
manuais (n=26/ 32,5%), assistir televisão (n=10/ 12,5%), passear/viajar (n=9/ 11,3%),
participar das atividades do grupo de convivência (n=6/ 7,5%), dançar (n=4/ 5%), participar
da missa e de atividades religiosas (n=3/ 3,8%), cuidar de plantas/animais (n=3/ 3,8%), jogar
(n=3/ 3,8%), cozinhar (n=2/ 2,5%), arrumar a casa (n=2/ 2,5%), realizar trabalho voluntário
(n=1/ 1,25%), escrever poesias (n=1), ouvir música (n=1), pintar (n=1) e ir ao cinema e teatro
(n=1). Apenas duas participantes indicaram não ter nenhuma atividade de lazer (n=2). A
média de atividades de lazer atual foi de 2,48 (s=1,32).
Ao comparar a média de atividades de lazer no passado com a média de atividades de
lazer atuais (teste de Wilcoxon), foi verificado que o número de atividades de lazer aumentou
em relação ao passado (Z= -4,718/ p<0,001). O número de atividades de lazer atual e no
passado foi diferente entre as idosas de classe econômica alta (A2, B1 e B2) e baixa (C, D e
E). As idosas de classe econômica alta têm um número maior de atividades de lazer (média=
2,92/ s=1,34) do que as idosas de classe econômica baixa (média=2,05/ s=1,12). Estas
diferenças foram estatisticamente significativas (t=3,169/ p=0,002). No entanto, a diferença
no número de atividades de lazer entre as classes foi ainda maior em relação ao passado
(t=4,374/ p<0,001), sendo que as idosas de classe econômica alta apresentaram uma média de
atividades de lazer no passado maior (média=2,21/ s=1,23) do que as participantes mais
pobres (média=1,10/ s=1,02).
A maioria das idosas afirmou realizar leituras (n= 51/ 63,8%), enquanto 19 (23,8%)
indicaram nunca ler e 13 (12,5%) relataram realizar leituras esporadicamente. Entre os tipos
de leituras realizadas atualmente pelas idosas estão os livros religiosos (n=11/ 13,8%), jornais
e revistas (n=9/ 11,3%), romances espíritas (n=7/ 8,8%), literatura (n=6/ 7,5%) e livros de
auto-ajuda (n=6/ 7,5%). Vinte e duas participantes (27,5%) indicaram ler de tudo, incluindo
jornais, revistas e livros variados. Das idosas que realizam leituras, 31 (60,8%) as fazem
diariamente, 20 (39,2%) costumam ler até 3 vezes por semana, enquanto 10 (19,6%)
indicaram a freqüência de 4 a 6 vezes na semana.
94
A maioria das idosas (n=43/ 53,8%) não costuma jogar ou fazer atividades como
palavra-cruzada, quebra-cabeça, dominó, entre outras, enquanto 30 (37,5%) participantes
relataram fazer estas atividades mais de 3 vezes por semana. Sete participantes (8,8%)
afirmaram jogar ou fazer estas atividades apenas esporadicamente.
Em relação ao nível de atividade intelectual (APÊNDICE 2), verificou-se que o escore
médio das participantes foi de 14,18 (s=9,104), variando de 0 a 33. Observou-se que a grande
parte das participantes apresentou um baixo nível de atividade intelectual (n=36/ 45%), 25
(31,3%) médio e 19 (23,8%) demonstraram um alto nível de atividade intelectual.
Para verificar se o nível de atividade intelectual está associado com a classe
econômica, foram comparadas as médias de atividade intelectual (ANOVA) entre as classes
econômicas (tabela 12).
Tabela 12.Classe Econômica e média do nível de atividade intelectual das idosas
Classe Econômica
Média de Atividade Intelectual
N Média Desvio-Padrão
A2 e B1 20 20,25 9,199
B2 19 17,32 9,69
C 30 11,23 5,66
D e E 11 5,73 5,31
ANOVA F=10,304 p<0,001
Observou-se que quanto mais alta a classe econômica, maior a atividade intelectual.
As análises de post-hoc revelaram que todos os grupos se diferenciam significativamente,
com exceção dos grupos “A2 e B1” e B2. Mas estes dois grupos se diferenciam
significativamente do C (p=0,002) e do “D e E” (p=0,003).
Para verificar se o nível de atividade intelectual está associado à prática de atividade
física e com o histórico de atividade física, foram comparadas as médias de atividade
intelectual das idosas em relação a estas variáveis (tabela 13).
Tabela 13. Média de atividade intelectual das idosas em relação à prática de atividade
física e ao histórico de atividade física
Histórico de Atividade Física* Prática de Atividade Física Atual
Trabalho
Pesado
Não
Praticantes
Praticantes
Não
Praticantes
Intermediárias Praticantes
Média 10,96 13,18 18,63 16,54 14,76 13,10
s 6,98 8,63 10,09 9,59 10,04 8,40
ANOVA F= 4,951 / p= 0,009 F= 0,781 / p= 0,462
* Diferença estatisticamente significativa ao nível de p<0,05 (bi-caudal).
95
Pode-se verificar que o nível de atividade intelectual das idosas que foram praticantes
de atividade física é significativamente superior ao das que trabalhavam pesado (p=0,013) e
daquelas que não praticavam atividade física (p=0,041).
Em relação à e à espiritualidade, a maioria das idosas crê muito (n=17/ 21,3%) ou
totalmente (n=61/ 76,3%) na existência de um Deus ou de um ser superior, enquanto apenas
duas idosas disseram não acreditar em um Deus, nem ser superior, e sim na natureza, em uma
forma de energia natural. A maioria das idosas relatou realizar orações sempre (n=57/ 71,3%)
ou quase sempre (n=20/ 25%), enquanto duas relataram não fazer orações, mas sim,
meditações e visualizações diárias. Apenas uma participante disse que nunca faz orações.
Das idosas, 64 (80%) crêem totalmente que a em Deus ou em um ser superior
auxilia na vida, 13 (16,3%) indicaram crer muito (ter poucas dúvidas), uma relatou crer
moderado (tem dúvidas), uma crê pouco (tem muitas dúvidas) e uma disse que não acreditava
nisto de forma nenhuma. Quando questionadas sobre se a vida tem sentido, a maioria das
idosas respondeu que sim (n=74/ 92,5%), a vida tem sentido para elas. No entanto, 3 (3,8%)
idosas disseram não ver sentido na vida e 2 (2,5%) nunca pensam nisto. Uma participante
relatou que não sabe se a vida tinha sentido, mas que pensava sempre sobre isto.
4.1.3 Capacidade Cognitiva e Desempenho Cognitivo
Os resultados da capacidade cognitiva, mensurada pelo Mini-Exame do Estado
Mental, demonstrou que todas as idosas tinham condições cognitivas de participar do estudo.
O escore médio das idosas no mini-mental foi de 26,5 (s=2,57), variando de 20 a 30.
Considerando os resultados do estudo piloto, optou-se por utilizar nas análises apenas
os resultados da segunda aplicação da bateria de avaliação cognitiva. Assim, são apresentados
os valores em escala logarítmica para a velocidade de resposta e em percentual para a acurácia
(hit – rate). Os resultados gerais da bateria foram analisados utilizando: os tempos de resposta
e a variabilidade individual em milisegundos (ms) e em base logarítmica; a acurácia em
percentual e o número de erros (tabela 14).
96
Tabela 14.Desempenho cognitivo das idosas nas tarefas de tempo de reação simples (TRS), tempo
de reação de escolha (TRE) e atenção concentrada (atenção) da bateria cognitiva CogState
Tarefas TRS TRE Atenção
Variáveis Média s Média s Média S
Tempo de Resposta (ms) 407,41 132,12 635,42 148,75 720,98 226,19
Variabilidade Individual 136,63 122,54 162,04 83,94 469,05 248,40
Acurácia (%) 95,1834 7,816 93,4520 6,052 88,1315 11,897
Tempo de Resposta (log) 2,5716 0,11306 2,7804 0,0812 2,7608 0,1281
Variabilidade Individual (log) * * 0,1002 * 0,2663 *
Número de Erros 1,85 3,21 2,25 2,32 6,156 2,455
*Valor inferior ao mínimo apresentado no SPSS.
Pode-se observar que quanto maior o nível de dificuldade da tarefa, maior o tempo de
resposta e maior a variabilidade individual. O número de erros também foi maior para as
tarefas mais difíceis (TRE e atenção). O mesmo pode ser observado nas tarefas de memória
de trabalho (MT) e memória de curto prazo (MCP) (tabela 15).
Tabela 15.Desempenho cognitivo geral das idosas nas tarefas de memória de trabalho (MT) e
memória de curto prazo (MCP) da bateria cognitiva CogState
Tarefas
Memória de
Trabalho
Memória de Curto
Prazo
Variáveis Média s Média S
Tempo de Resposta (ms) 1061,92 331,049 1601,76 598,83
Variabilidade Individual 470,344 219,306 1004,47 632,16
Acurácia (%) 78,9984 18,014 65,1797 10,081
Tempo de Resposta (log) 2,9708 0,1238 3,1189 0,1475
Variabilidade Individual (log) 0,1672 * 0,2071 0,0653
Número de Erros 9,774 9,64 14,76 4,493
*Valor inferior ao mínimo apresentado no SPSS.
Observou-se que o desempenho das idosas na tarefa de memória de curto prazo
apresentou maior variabilidade e maior número de erros do que na tarefa de memória de
trabalho. Os valores utilizados para as análises e comparações foram os tempos de resposta
normalizados com logaritmo de base 10. Todas as variáveis do desempenho cognitivo
apresentaram valores de assimetria e curtose menores que 1, indicando distribuição normal,
com exceção da variabilidade individual na tarefa de memória de curto prazo e do número de
erros e variabilidade individual do tempo de reação simples.
97
4.1.4 Estresse Percebido
Os autores da escala de estresse percebido (COHEN et al., 1983) sugerem que sejam
consideradas algumas questões centrais para análise dos resultados da escala: felicidade,
irritação e ocorrência de problemas emocionais.
A maioria das idosas relatou que se sentia feliz (n=63/ 78,8%) nos dias atuais, 15
(18,8%) afirmaram estar “mais ou menos” felizes, enquanto apenas 2 (2,5%) indicaram não
estarem felizes.
No mês da entrevista, a maioria das idosas indicou não estar mais irritada do que o
normal (n=57/ 71,3%), enquanto 23 (28,8%) afirmaram estarem mais irritadas. A maioria das
idosas indicou ter passado por algum problema emocional que ainda a deixa triste (n=44/
55%), enquanto 36 (45%) relataram que não passaram por este tipo de problema.
A média das idosas na “Escala de Estresse Percebido” foi de 19,11 (s=8,262/
mediana= 18,00), variando de 2 a 37. Embora os resultados tenham uma variação alta, a
distribuição do estresse percebido foi normal, dados os valores de assimetria (0,25) e curtose
(-0,46). Estes valores de curva indicam que existe uma pequena assimetria positiva, porém
não grande o suficiente para ser significativa.
Ao comparar o nível de estresse percebido em relação ao sentimento de felicidade das
idosas, foi verificado que aquelas que relataram estar felizes estavam menos estressadas
(média=17,35/ s=7,644) do que as que indicaram estar “mais ou menos” felizes
(média=25,27/ s=7,294) ou não estar felizes (média=28,50/ s=9,192). Estas diferenças foram
estatisticamente significativas (F=8,131/ p=0,001).
As idosas que indicaram estarem “mais irritadas que o normal” apresentaram maior
nível de estresse percebido (média=24,17/ s=7,608) do que as que não o indicaram
(média=17,07/ s=7,667). Esta diferença foi significativa (t=3,759/ p<0,001).
As idosas que passaram por problemas emocionais apresentaram maior estresse
percebido (média=22,89/ s=7,418) do que as que não relataram tais problemas (média=14,50/
s=6,831), sendo esta diferença estatisticamente significativa (t=5,211/ p<0,001). Entre estas
três questões analisadas (felicidade, irritação e problemas emocionais), a ocorrência de
problemas emocionais foi a que mais influenciou no nível de estresse. Desta forma, ao
comparar o nível de estresse percebido das idosas em relação à prática de atividade física, esta
variável teve que ser considerada.
98
4.1.4.1 Relação entre estresse percebido, depressão e desempenho
cognitivo
Para verificar a relação entre o nível de depressão, estresse percebido, capacidade
cognitiva e o desempenho cognitivo na bateria de avaliação cognitiva, utilizou-se correlação
linear de Pearson (dados paramétricos) e Spearmann (para as correlações com a depressão)
(tabela 16).
Tabela 16. Correlação entre depressão, estresse percebido e capacidade cognitiva das
idosas
Capacidade Cognitiva Depressão (GDS) Estresse Percebido
Capacidade Cognitiva r 1 -0,310* -0,415*
p - 0,005 <0,001
Estresse Percebido r -0,415* 0,561* 1
p <0,001 <0,001 -
* A correlação é significativa ao nível de p<0,01 (bi-caudal)
Verificou-se que a capacidade cognitiva geral está significativamente correlacionada
com a depressão e com o estresse percebido. O valor da correlação indicou que a cognição
geral compartilha 10% da variância com a depressão e 18% da variância com o estresse
percebido. A relação entre estresse percebido e depressão foi moderada, indicando que
embora estejam correlacionados, estes constituem dois construtos independentes.
Em relação ao desempenho cognitivo, foi analisada a correlação entre a velocidade
comportamental (em todos os testes) com a capacidade cognitiva, o estresse percebido e a
depressão (tabela 17).
Tabela 17.Correlação entre capacidade cognitiva, depressão e estresse percebido e tempos de
resposta nas tarefas: tempo de reação simples (TRS), tempo de reação de escolha (TRE),
memória de trabalho (MT), memória de curto prazo (MCP) e atenção concentrada
TRS TRE TR MT TR MCP TR atenção
r p r p r P r p r P
Cap. Cognitiva
-,433* <0,001 -,292* 0,008 ,009 0,934 0,119 0,291 -,371* 0,001
Depressão
,089 0,434 ,028 0,806 -,143 0,205 -,056 0,622 ,099 0,381
Estresse Percebido
,253* 0,023 ,171 0,130 ,041 0,719 ,063 0,579 ,120 0,296
* Correlação significativa ao nível de p<0,05 (bi-caudal).
A maior correlação verificada foi entre a capacidade cognitiva geral e tempo de
resposta no TR simples, sendo que quanto maior a capacidade cognitiva geral menor o tempo
de resposta, indicando que estas variáveis compartilham 19% da variância. A capacidade
99
cognitiva geral também está correlacionada com menor tempo de resposta na tarefa de
atenção e no TR de escolha.
Foram correlacionadas as variáveis: cognição geral, depressão e estresse percebido
com a acurácia (percentual de tentativas corretas) nas tarefas da bateria de avaliação cognitiva
(tabela 18).
Tabela 18.Correlação entre capacidade cognitiva geral, depressão e estresse percebido com a
acurácia nos testes da bateria de avaliação cognitiva
Acurácia TR simples TR de escolha MT MCP Atenção
R p r p r P r p r p
Cap. Cognitiva
,422* <0,001 ,252 0,024 ,591* <0,001 ,445* <0,001 0,044 0,701
Depressão
,105 0,352 -,238* 0,033 -,190 0,091 -,061 0,590 -,114 0,316
Estresse Percebido
-,060 0,597 -,185 0,100 -,378* 0,002 -,144 0,203 -,202 0,072
* Correlação significativa ao nível de p<0,05 (bi-caudal).
As correlações encontradas demonstram que a capacidade cognitiva está
correlacionada com a acurácia na tarefa de memória de trabalho, compartilhando 35% da
variância, e com a memória de curto prazo, compartilhando 20% da variância. A depressão foi
inversamente correlacionada com a acurácia no TR de escolha, compartilhando 7% da
variância, e o estresse percebido teve correlação significativa com a acurácia na memória de
trabalho, compartilhando 14% da variância.
Houve correlação entre a variabilidade individual do TR simples e a capacidade
cognitiva (r=-0,478/ p<0,001) e entre a variabilidade no TR de escolha e a capacidade
cognitiva (r= -0,267/ p=0,017). Estes resultados indicaram que quanto maior a variabilidade
individual do tempo de reação, menor a capacidade cognitiva geral das idosas. Pode-se
observar que o coeficiente mais elevado foi na correlação da variabilidade individual com a
capacidade cognitiva, e não com o tempo de resposta, indicando que a variabilidade do
desempenho pode ser mais importante que a velocidade na capacidade cognitiva.
Com o objetivo de identificar os fatores referentes às características gerais das idosas
que podem influenciar nos resultados, foram correlacionadas as variáveis da entrevista de
caracterização geral com a depressão, o estresse percebido e a capacidade cognitiva geral.
Considerando que são muitas as variáveis da entrevista, optou-se por apresentar apenas as
correlações que foram estatisticamente significativas (tabela 19).
1
Tabela 19.Correlações encontradas entre as características gerais das idosas e os níveis
de depressão, estresse percebido e capacidade cognitiva
Depressão Estresse Capacidade
cognitiva
Variáveis R p r p r p
Escolaridade - - - - 0,414 <0,001
Nível de atividade intelectual - - - - 0,520 <0,001
Renda Mensal Familiar - - - - 0,232 0,039
Relacionamento familiar 0,296 0,008 0,413 <0,001 -0,224 0,046
Auto-avaliação da saúde -0,404 <0,001 -0,517 <0,001 0,255 0,023
Dificuldade para dormir 0,469 <0,001 0,355 0,001 - -
Auto-avaliação da memória -0,355 0,001 -0,378 0,001 - -
Memória em relação a 10 anos atrás -0,480 <0,001 -0,509 <0,001 0,341 0,002
Capacidade de solucionar problemas - - -0,436 <0,001 0,275 0,014
Freqüência de esquecimentos 0,233 0,037 0,259 0,020 -0,363 0,001
Observou-se correlação positiva entre escolaridade e renda mensal individual
(r=0,507/p<0,001) e renda familiar (r=0,491/ p<0,001). A correlação mais alta verificada foi
entre auto-avaliação da saúde e estresse percebido, variáveis que compartilham 27% da
variância. Observou-se que quanto pior a auto-avaliação da memória, maior o nível de
estresse e depressão. A auto-avaliação da memória das idosas em relação a dez anos atrás
apresentou a maior correlação com a depressão. Estes resultados indicam que as idosas
deprimidas tendem a sentir maior “declínio” da memória, ou que as idosas que acreditam estar
piorando sua memória estejam mais deprimidas.
A correlação entre depressão e dificuldade para dormir foi maior para a classe baixa
(C, D e E) (r=0,564/ p<0,001) do que para a classe alta (A e B) (r=0,431/ p=0,005). Além
disto, a correlação entre auto-avaliação da saúde e estresse percebido foi maior para as idosas
de classe econômica baixa (r= -0,614/ p<0,001) do que para as de classe econômica alta (r=
-0,366/ p=0,022). Estes resultados demonstram que a auto-avaliação da saúde e o estresse
percebido compartilham 38% da variância entre as idosas de classe econômica baixa e 13%
entre as idosas de classe econômica alta. Isto indica que quanto pior a auto-avaliação de
saúde, maior o nível de estresse percebido, mas que esta correlação é três vezes maior entre a
classe econômica baixa.
Para verificar a relação entre o desempenho cognitivo e as características avaliadas na
entrevista, foram correlacionadas as médias do TR e da acurácia de desempenho na bateria de
avaliação cognitiva (todos os domínios cognitivos avaliados) com as variáveis da entrevista.
São apresentadas apenas as correlações estatisticamente significativas (tabela 20).
1
Tabela 20.Relação entre os tempos de resposta nos testes da bateria de avaliação
cognitiva e as variáveis da entrevista
TRS TRE TR MT TR MCP TR atenção
r p r p r p r p r p
Idade ,306 0,00
6
- - ,282 0,01
1
- - ,39
0
<0,001
Escolaridade -,24
0
0,03
2
- - - - - - - -
Escala de Sonolência - - - - - - -,28
9
0,01
9
- -
Relacionamento
Familiar
- - - - 0,25
1
0,02
4
- - - -
Observou-se que quanto maior a idade, mais lento o TR nas tarefas de TR simples,
memória de trabalho e atenção concentrada, pois a idade respondeu por 9% da variância no
TR simples, por 8% no TR de memória de trabalho (MT) e por 15% no TR de atenção. O
nível educacional respondeu por 6% do TR simples, sendo que quanto maior a escolaridade,
mais rápido o TR simples. A sonolência diurna e o TR na memória de curto prazo (MCP)
dividiram 8% da variância. Quanto melhor o relacionamento com os familiares, melhor a
memória de trabalho. Esta correlação provavelmente ocorreu porque o relacionamento
familiar está associado ao estresse percebido, pois quando esta correlação foi aplicada
considerando o estresse percebido ela deixou de ser significativa.
Assim como foram correlacionadas as variáveis da entrevista e a velocidade na
avaliação cognitiva, realizaram-se as mesmas correlações, mas com a acurácia nos testes
cognitivos (tabela 21).
Tabela 21.Relação entre acurácia nos testes da bateria de avaliação cognitiva e as
variáveis da entrevista
TRS TRE MT MCP Atenção
r p r p r P r p r p
Idade - - -,234 0,03
7
-,395 <0,001 - - - -
Escolaridade - - ,245 0,02
5
,431 <0,001 ,530 <0,00
1
- -
Atividade Intelectual ,302 0,00
7
,564 <0,001 ,543 <0,00
1
Renda Familiar - - - - ,240 0,032 - - - -
Capacidade de Solucionar
Problemas
- - ,331 0,00
3
- - - - - -
Ao realizar as correlações parciais entre a acurácia nos testes de memória de trabalho e
idade, não foram encontradas possíveis mudanças nos coeficientes, indicando que
1
possivelmente a correlação é verdadeira. Observa-se que a idade está mais relacionada com o
tempo de resposta do que com a acurácia, sendo que as tarefas onde houve maior correlação
são aquelas mais dependentes da velocidade. A própria natureza da tarefa de memória de
trabalho exige maior velocidade do que a de memória de curto prazo, tarefa que não
apresentou correlação com a idade, mesmo sendo mais complexa. Não foi verificada
correlação entre a capacidade cognitiva geral e idade, indicando que possivelmente apenas a
velocidade diminua com a idade, e não a capacidade cognitiva como um todo.
A escolaridade está correlacionada com a capacidade cognitiva e com o desempenho
cognitivo em algumas tarefas, especialmente nas mais complexas (memória de trabalho e de
curto prazo). Além disso, foi verificado que a escolaridade está relacionada com renda mensal
(r=0,507/ p<0,001) e com classe econômica (r=-0,516/ p<0,001), de forma que quanto mais
baixa a classe econômica, menor a escolaridade.
4.1.5 Aspectos neuropsicológicos e prática de atividade física
O estresse percebido, a depressão e o desempenho cognitivo foram comparados em
relação à prática de atividade física regular. Foi verificado que a prática de atividade física
não está associada ao estresse, à depressão e ao desempenho cognitivo, pois ao testar as
diferenças entre as não praticantes, intermediárias e praticantes (ANOVA), não foram
verificadas diferenças estatisticamente significativas, para nenhuma destas variáveis. Além
disto, não houve correlação entre o total de minutos semanais de atividade física e às variáveis
deste estudo.
Considerando que as idosas que passaram por problemas emocionais apresentaram
estresse percebido e nível de depressão significativamente maior do que as que não
vivenciaram tais problemas, a relação entre estresse, depressão e atividade física foi analisada
considerando esta variável (tabela 22).
Tabela 22.Estresse percebido e depressão de idosas não praticantes, intermediárias e
praticantes de atividade física, considerando a ocorrência de problemas emocionais
Não Praticantes Intermediárias Praticantes
Estresse Percebido Média S Média s Média S
Geral 17,85 9,371 19,44 8,042 19,31 8,206
Com problema emocional 23,43 6,425 23,15 7,819 22,58 7,745
Sem problema emocional 11,33 8,161 15,42 6,360 14,94 6,78
Depressão Média S Média s Média S
Geral 1,77 2,006 2,40 2,566 2,12 2,539
Com problema emocional 2,71 2,29 3,62 2,81 2,71 2,88
Sem problema emocional 0,67 0,816 1,08 1,44 1,33 1,78
1
Observou-se que não diferenças no estresse percebido (F=0,294/ p=0,746) e no
nível de depressão (F=0,364/ p=0696) das idosas em relação à prática de atividade física. No
entanto, observou-se que o nível de estresse e depressão das idosas que relataram ter passado
por problemas emocionais é significativamente superior ao das que não indicaram tais
problemas, tendo apresentado um efeito de 25% no estresse (F=25,123/ p<0,001) e de 14% na
depressão (F=11,636/ p=0,001). Não foram verificados efeitos interativos entre prática de
atividade física e acontecimento de problema emocional, nem no estresse percebido (F=0,498/
p=0,609) nem na depressão (F=0,498/ p=0,610).
Foram comparados os níveis de estresse e depressão das idosas em relação ao histórico
de atividade física, considerando a ocorrência de problemas emocionais (ANOVA 3 x 2). Não
foram encontradas diferenças significativas no estresse percebido (F=0,325/ p=0,724) e na
depressão (F=0,116/ p=0,891) em relação ao histórico de atividade física. Não foram
verificados efeitos interativos entre histórico de atividade física e ocorrência de problemas
emocionais (F=0,098/ p= 0,907). Assim, apenas o acontecimento de problemas emocionais
diferenciou o estresse percebido e a depressão das participantes.
Ao comparar o estresse e a depressão, combinando a prática de atividade física atual e
o histórico de atividade física, não foram encontradas diferenças significativas (ANOVA
3X3). Os resultados indicaram que não houve diferenças no estresse (F=1,054/ p=0,354) e na
depressão (F=0,160/ p=0,853) em função do histórico de atividade física. Não houve
interação entre histórico e a prática de atividade física atual nem no estresse (F=1,844/
p=0,130), nem na depressão (F=1,082 / p=0,372).
Ao comparar os tempos de resposta nas tarefas da bateria de avaliação cognitiva das
praticantes, intermediárias e não praticantes (MANOVA), não foram verificadas diferenças
significativas (F=1,082/ p=0,380). As comparações de efeitos principais revelaram que não
houve diferença no desempenho cognitivo das idosas em nenhuma das tarefas da bateria de
avaliação cognitiva (TR simples, TR de escolha, memória de trabalho, memória de curto
prazo e atenção concentrada).
Em relação ao histórico de atividade física e o tempo de resposta nas tarefas da bateria,
não foram verificadas diferenças no desempenho das que foram praticantes, não praticantes e
as que trabalhavam pesado (F=0,595/ p=0,816). A análise dos efeitos principais revelou que
não houve diferença relacionada ao histórico de atividade física nos tempos de resposta em
nenhuma das tarefas.
1
Nem o histórico de atividade física e nem a prática de atividade física atual parecem
estar associados ao desempenho cognitivo das idosas nas tarefas cognitivas da bateria, pois ao
comparar os tempos de resposta nas tarefas da bateria considerando o histórico de atividade
física e a prática de atividade física, não foram verificadas diferenças significativas dos
tempos de resposta em nenhuma das tarefas (F=0,571/ p=0,930). O nível de atividade
intelectual também não pareceu estar associado com os tempos de resposta nas tarefas da
bateria de avaliação cognitiva (F=1,033/ p=0,419).
Foram comparados os tempos de resposta na bateria das idosas em relação à prática de
atividade física e ao nível de atividade intelectual (MANOVA), sendo que também não foram
encontradas diferenças significativas nos tempos de resposta na combinação destas variáveis
(F=1,309/ p=0,175).
Foi comparada a acurácia de desempenho nas tarefas da bateria de avaliação cognitiva
em relação às variáveis: prática de atividade física, histórico de atividade física e nível de
atividade intelectual (MANOVA). Os resultados indicaram que não houve diferença na
acurácia entre as praticantes, intermediárias e não praticantes de atividade física em nenhuma
das tarefas da bateria de avaliação cognitiva (F=0,738/ p=0,687). Em relação ao histórico de
atividade física, também não foram encontradas diferenças significativas na acurácia nas
tarefas entre as idosas que foram praticantes, não praticantes de atividade física e as que
realizavam trabalho pesado (F=0,700/ p=0,609).
No entanto, ao comparar as médias de acurácia (MANOVA) entre as idosas com
baixo, médio e alto nível de atividade intelectual, foram verificadas diferenças significativas
(F=13,954/ p<0,001), sendo que o nível de atividade intelectual respondeu por 23% da
variância total da acurácia nos testes da bateria de avaliação cognitiva (partial eta
squared=0,228) (tabela 23).
Tabela 23.Acurácia (percentual de acertos) das idosas nas tarefas da bateria de
avaliação cognitiva em função do nível de atividade intelectual
Nível de Atividade Intelectual
Tarefas da Bateria de
Avaliação Cognitiva
Baixo (n=36) Médio (n=25) Alto (n=19)
Média s Média s Média s
Acurácia TR simples 93,9794 9,1178 94,8323 7,8743 97,9262 3,5750
Acurácia TR de escolha 92,2124 6,2652 93,5054 5,5165 95,7305 5,9430
Acurácia MT* 71,1036 18,833 78,6384 15,9107 94,4280 4,5603
Acurácia MCP* 60,6284 10,685 66,1179 7,9569 72,5691 6,3154
Acurácia de Atenção 87,5272 10,635 85,0170 14,6693 93,3743 8,3769
*Diferenças estatisticamente significativas ao nível de p<0,05.
1
Pode-se observar que quanto maior o nível de atividade intelectual, melhor o
desempenho nos testes da bateria de avaliação cognitiva. Ao proceder à análise dos efeitos
principais, foi verificado que as principais diferenças encontradas foram nos testes de
memória de trabalho (F=15,989/ p<0,001) e memória de curto prazo (F=11,147/ p<0,001),
que são as tarefas mais complexas da bateria. O nível de atividade intelectual teve um efeito
de 32% na memória de trabalho e de 22% na memória de curto prazo. Foram verificadas
diferenças na acurácia do TR de escolha (F=3,910/ p=0,025) e na atenção concentrada
(F=4,916/ p=0,010), sendo que o nível de atividade intelectual mostrou responder por 10% da
acurácia no TR de escolha e por 12% da acurácia na atenção concentrada.
Para analisar possíveis efeitos interativos entre prática de atividade física e nível de
atividade intelectual comparou-se a acurácia nos testes da bateria CogState (MANOVA) em
relação a estas duas variáveis (tabela 24).
Tabela 24.Acurácia nos testes da bateria CogState em função da prática de atividade
física atual e do nível de atividade intelectual
TR simples TR de escolha MT MCP Atenção
Nível de atividade
Intelectual
Média s Média s Média s Média s Média S
Baixo
Não Praticantes 98,42 3,53 86,25 7,69 63,67 8,64 65,73 6,09 79,06 16,3
Intermediárias 95,22 7,38 93,41 4,40 66,60 18,8 57,93 13,4 88,05 8,39
Praticantes 92,19 10,6 93,04 6,23 75,44 20,1 60,84 9,80 89,35 9,64
Médio
Não Praticantes 95,52 2,95 93,93 4,93 63,66 21,5 59,14 8,92 80,07 18,9
Intermediárias 90,30 13,4 90,63 6,94 77,24 15,3 62,31 8,87 76,54 12,3
Praticantes 96,81 3,59 94,76 4,71 82,29 14,3 69,29 5,92 89,96 10,8
Alto
Não Praticantes 98,42 3,53 96,85 3,12 96,28 3,97 73,89 8,85 95,11 4,43
Intermediárias 97,02 4,42 96,83 2,55 91,94 5,14 73,01 5,89 94,98 6,43
Praticantes 98,47 2,99 93,83 9,29 95,58 3,70 71,19 5,36 90,53 11,8
Observou-se que as praticantes de atividade física com médio e baixo nível de
atividade intelectual apresentaram um melhor desempenho na tarefa de memória de trabalho
em relação às intermediárias e não praticantes. No entanto, ao analisar estatisticamente os
resultados observados na tabela (MANOVA), não foram verificados efeitos interativos
significativos entre prática de atividade física e nível de atividade intelectual (F=1,388/
p=0,130), sendo que o tamanho do efeito interativo foi de 9% (partial eta squared= 0,93).
Para verificar os possíveis efeitos interativos entre histórico de atividade física e nível
de atividade intelectual na acurácia do desempenho na bateria de avaliação cognitiva foi
realizada a mesma análise (MANOVA), cujos resultados apontaram que não existem
1
interações significativas (F=0,819/ p=0,693) entre histórico de atividade física e nível de
atividade intelectual. O tamanho do efeito interativo foi de 6% (partial eta squared= 0,57).
Considerando que a acurácia na tarefa de memória de trabalho foi a variável que mais
pareceu estar relacionada com a prática regular de atividade física e com o nível de atividade
intelectual, comparou-se a média de erros das idosas praticantes, intermediárias e não
praticantes de atividade física com baixo, médio e alto nível de atividade intelectual (tabela
25).
Tabela 25.Número de erros na tarefa de memória de trabalho em relação à prática
regular de atividade física e ao nível de atividade intelectual
Prática de Atividade
Física
Nível de Atividade Intelectual
Baixo (n=36) Médio (n=25) Alto (n=19) Geral
Média s Média S Média s Média s
Não Praticantes 17,80 6,340 14,67 9,292 1,20 1,304 10,69 9,53
Intermediárias 16,82 11,68 10,14 7,73 3,00 2,00 11,08 10,35
Praticantes 11,85 11,609 7,20 6,48 1,43 1,272 8,45 9,57
Total 14,19 11,13 8,92 7,28 1,95 1,75 9,64 9,77
Embora se observe que a média de erros das não praticantes com baixo e médio nível
de atividade intelectual seja maior do que a das intermediárias e praticantes de atividade física
com este mesmo nível, estas diferenças não foram estatisticamente significativas,
provavelmente porque este não foi o resultado encontrado para as idosas com alto nível de
atividade intelectual, onde as não praticantes obtiveram o menor número de erros. No entanto,
as diferenças nas médias em relação ao nível de atividade intelectual foram estatisticamente
significativas (F=13,707/ p<0,001).
Para confirmar os resultados verificados nas análises comparativas, foram feitas
algumas correlações com o objetivo de verificar se o nível de atividade intelectual e o número
de minutos de atividade física semanais estariam correlacionados com as variáveis deste
estudo (depressão, estresse percebido e desempenho cognitivo).
Os resultados das correlações demonstraram que apenas o escore do nível de atividade
intelectual apresentou correlação com o desempenho cognitivo. Foi verificada correlação
entre o nível de atividade intelectual e a acurácia nos testes de tempo de reação simples
(r=0,251/ p=0,025), tempo de reação de escolha (r=0,302/ p=0,007), memória de trabalho
(r=0,564/ p<0,001) e memória de curto prazo (r=0,543/ p<0,001). Assim, a atividade
intelectual respondeu por 6% da variância no TR simples, 9% no TR de escolha, 32% na
memória de trabalho, 29% na memória de curto prazo. O nível de atividade intelectual
1
também apresentou correlação com a capacidade cognitiva geral (r=0,480/ p<0,001),
respondendo por 23% da variância nesta variável.
4.2 ANÁLISE DOS DEPOIMENTOS
Após a escuta repetida e leitura cuidadosa das entrevistas transcritas, procedeu-se a
análise dos depoimentos. Estes depoimentos ocorreram durante a coleta de dados, onde a
interação entre pesquisador e participante da pesquisa permitiu o aprofundamento das
questões. Muitas idosas complementaram e explicaram as suas respostas, que foram gravadas
e registradas.
Para proteger a identidade das participantes, todas elas receberam um nome de flor. O
perfil de cada participante incluída nesta etapa de análise está descrito no apêndice 3.
A partir do processo de análise qualitativa descrito no método, os depoimentos das
participantes foram organizados em quatro eixos temáticos principais: depressão, educação,
atividade física e lazer e aspectos neuropsicológicos relacionados ao envelhecimento. Dentro
destes eixos, destacaram-se temas como: insônia, memória, solução de problemas, moradia,
preconceito, doenças relacionadas ao trabalho, dupla jornada, assistência médica, e
espiritualidade.
Ao organizar o material em eixos temáticos, pôde-se observar que muitos depoimentos
das idosas estavam ligados a sua condição econômica. Por isto, as análises foram orientadas
para destacar as diferenças e semelhanças das idosas de diferentes classes econômicas. Nesta
análise, as classes econômicas foram agrupadas em duas, sendo classe alta (A2, B1 e B2) e
baixa (C, D e E). A classe econômica específica e os detalhes de cada idosa, bem como outras
características gerais, podem ser analisadas no apêndice 3.
Para facilitar a visualização da síntese dos resultados, foram elaborados quadros, um
para cada eixo temático, com os principais temas destacados pelas idosas em cada categoria.
As comparações entre idosas de classe econômica alta e baixa, foram realizadas com o auxílio
da “Técnica do Espelho”, desenvolvida por Andrade (2001), onde se colocam “lado a lado” os
discursos que se pretende comparar, buscando identificar suas semelhanças e diferenças.
1
4.2.1 Depressão
Os depoimentos das participantes a respeito da depressão denotam algumas diferenças
entre idosas de classe econômica alta e baixa. Em geral, para as idosas de classe econômica
alta, a depressão foi associada ao uso de remédio, falhas de memória, falta de atividades
culturais e baixa valorização profissional. Para as idosas mais pobres, a depressão esteve mais
associada com insônia, falta de opções de lazer e incerteza quanto ao diagnóstico clínico da
doença. A ocorrência de problemas emocionais (por exemplo: perda de filhos, marido),
pareceu estar associada com o desencadeamento da depressão em ambos os grupos
econômicos, mas sendo mais freqüente os relatos destes problemas entre as mais pobres. A
questão da fé como algo importante no enfrentamento dos problemas foi destacado nos relatos
das idosas de diferentes classes econômicas. Os temas principais desta análise são as
atividades de lazer, moradia, remédios e fé.
Foi recorrente a queixa da falta de atividades e opções de lazer em ambas as classes
econômicas ao referir-se à depressão. No entanto, a natureza destas atividades pareceu ser
diferente, sendo que as idosas de melhor nível econômico e alto nível de atividade intelectual
reclamaram mais da falta de opções e acesso às atividades culturais, como relata Dona
Acácia:
“não nada para fazer aqui, não tenho companhia para ir ao teatro ou cinema,
não dirijo e é difícil pegar ônibus nos horários do teatro, é perigoso... o único
lugar que eu posso falar com as pessoas é aqui no grupo, mas o que se faz aqui?
Nada... aqui é lugar de fazer nada, isso deixa mal...”.
Além da falta de atividades culturais, a fala de Dona Acácia demonstra a sua
insatisfação em relação às atividades que são feitas no grupo de convivência, o que pode estar
indicando que nestes grupos não é apenas a convivência social o que importa, mas também as
atividades propostas para os idosos.
Dona Rosa, mesmo com carro à disposição, disse sentir dificuldade de acesso às
atividades culturais, pois argumentou não saber usar a internet e morar sozinha, considerando
difícil saber a programação das atividades, além de ter medo de dirigir sozinha à noite, ela
relata:
“Adoro teatro, cinema, orquestra, tudo isto, mas infelizmente não tenho como
saber a programação porque hoje é tudo pela internet, eu não aprendi a usar,
acho que principalmente por causa da minha visão, aí é complicado, sair dirigindo
de noite é perigoso, é muito difícil manter estas atividades.”
.
1
As atividades de lazer mais importantes foram aquelas que parecem ter um significado
para as idosas, como Dona Violeta, que é sambista desde criança e relatou: A dança me fez
querer voltar a viver, eu voltei a dançar e foi isto, tenho certeza, que me fez superar”.
Outras idosas reclamaram da falta de opções de lazer, mas esta queixa foi menos
freqüente entre as idosas de classe econômica baixa, sendo que para a maioria destas, a
depressão pareceu estar ligada ao acontecimento de problemas emocionais, situações tristes,
como a perda de familiares. Nas idosas mais pobres, o início da depressão está relacionado
com algum acontecimento trágico, e as atividades de lazer aparecem como uma forma de
auxílio, que na maioria das vezes, não está acessível. Dona Cravina tinha dois filhos
pescadores que morreram durante uma tempestade, o seu marido também morreu no trabalho
algum tempo depois. Ela disse que quando estava “muito ruim” não tinha nem luz elétrica na
casa, o que a impossibilitava de ler, ver TV, ou fazer outras coisas que a permitisse se distrair.
Dona Cravina ainda não está bem, mas destaca que agora eu posso ler, ver TV à noite, o
dinheiro não é muito, mas como estou sozinha deu pra parar de trabalhar”. Dona Angélica,
classe econômica baixa, diz sentir solidão intensa e que estar no grupo é algo que ela busca
como única opção de lazer, porque as suas dificuldades financeiras impedem que ela procure
mais lugares: me sinto triste, mal e sozinha, não sei o que fazer, venho aqui tentar encontrar
pessoas para não fazer uma besteira”.
Em casos de depressão maior, o engajamento nas atividades de lazer é mais difícil.
Dona Tulipa, que teve o escore mais elevado de depressão, disse participar do grupo de
atividade física por obrigação, pois as filhas a levam e buscam do grupo. Ela relatou que gosta
de atividade física, que ajuda a aliviar as suas dores, mas que não sente vontade de sair da
cama e se pudesse não iria. O caso de Dona Tulipa deixa claro que pessoas deprimidas são
menos propensas a se exercitar, mas que podem vir a fazê-lo por pressão dos familiares.
Outra questão que chamou atenção em relação à depressão foi a ausência de
diagnóstico médico entre as idosas de classe econômica baixa. No caso da Dona Hortênsia,
fica evidente a falta de diagnóstico médico e a vinculação da depressão a problemas
emocionais:
“Às vezes tenho depressão. Mas a minha depressão logo passou, é porque eu tive
uma separação do meu filho, fiquei muito chateada assim, eu tive um pouco de
depressão, mas logo melhorei. Não sei se era depressão, dessas assim que falam,
mas eu tava sempre nervosa, tinha muita tristeza. Não tomava remédio, nem fui ao
médico nem nada”.
A ausência de assistência médica fica evidente no caso de Dona Cravina, que relatou:
“acho que eu tinha depressão sim, eu não queria nada, não saia da cama, nem de
casa, chorava o dia todo, mas nunca pude ir no doutor, nós não tinha nem luz
1
elétrica, tinha que trabalhar, não dava para fazer muita coisa, que eu não
queria mais fazer nada mesmo né, nem tinha como”.
A questão da perda de memória relacionada à depressão apareceu apenas nas idosas de
classe econômica alta, como no caso da Dona Lobélia: Minha memória não está boa, está
péssima. Acho que é muito remédio, às vezes me reação, fico mal, isso está prejudicando
minha memória”. Dona Jasmine associou a sua perda de memória com a depressão e com a
idade: “Minha memória em relação dez anos atrás... bom, dez anos atrás eu tava com
depressão, não queria nada da vida, então a memória estava muito ruim”. Estes relatos
indicam que nestas idosas, com melhores condições econômicas, a perda de memória está
associada com o remédio para depressão e com o próprio estado de desânimo produzido pela
doença.
Nas classes mais pobres não ocorreram falas associando a depressão com a perda de
memória, apenas Dona Flor, que associou as falhas na memória com o estresse excessivo,
decorrente do excesso de trabalho:
... a não ser quando eu fico estressada, eu começo a esquecer as coisas [...]
quando eu me estresso muito, muita costura me canso e volta e eu fico
esquecida. Quando eu trabalho muito, fico muito cansada, não tem? me
descontrola. A última vez que me deu forte eu fui no médico, mas não acharam
nada... acho que é muito trabalho. É muita coisa né, eu faço tudo, eu lavo, eu
passo, eu costuro, atende uma, atende outra, então aquilo me faz pensar: ‘meu
Deus, será que eu vou agüentar isto a vida toda?...”
A insônia foi uma reclamação recorrente nas idosas de classe econômica baixa, como
no caso da Dona Dália, que tem insônia trinta anos e a associa com a viagem do filho, a
quem era muito apegada. Ela disse não ter depressão, embora fique muito triste com a
depressão da filha:
“... com este negócio da filha eu estou passando uma fase meio triste, sabe? Mas
não é uma depressão, eu não considero uma depressão e sim uma tristeza que eu
tenho né, porque sabe, a gente ter um filho com estes problemas não é fácil não.
Mas depressão, depressão de ter que fazer tratamento com médico, nunca na
minha vida tive que ir a um psiquiatra, então eu considero uma depressão, eu
considero uma tristeza”
Talvez as queixas de insônia relatadas pelas participantes de classes econômicas mais
pobres estejam relacionadas à falta de diagnóstico de depressão e tratamento medicamentoso,
pois as idosas que tomam remédio apresentam falhas de memória, mas não tem dificuldade de
dormir, como pode ser constatado no discurso de Dona Lobélia:
“não tenho dificuldade para dormir, quer dizer, durmo bem porque tomo o
relaxante, o médico mandou eu tomar 2 mg de rivotril, mas eu tomo só uma porque
1
senão eu fico muito sonolenta, acordo com sono, com uma eu durmo bem e acordo
melhor ”.
Uma das únicas participantes de classe mais pobre que toma medicação para dormir é
Dona Dália, que tem insônia 30 anos e disse fazer uso de diazepan desde o início do
transtorno. Embora Dona Dália tenha dito nunca ter consultado com um psiquiatra, ela
indicou tomar doses excessivas deste benzodiazepínico:
eu tomava 10 mg de diazepam, era para tomar 5 mg mas eu tomava dez. que
eu tomava um de 10 mg e não dormia e lá pelas duas da manhã eu tomava outro de
10... e não tava mais fazendo efeito, eu não conseguia dormir mesmo tomando os
dois... aí eu resolvi parar”.
O uso prolongado deste benzodiazepínico é mais freqüente em mulheres de baixa
renda e pouca escolaridade, conforme foi verificado por Huf, Lopes e Rozenfeld (2000) e o
seu uso prolongado está associado com insônia, além de ser o medicamento mais difícil de
interromper e menos recomendado para pacientes idosos. Embora o uso do diazepan, pela
Dona Dália, tenha sido motivado pela presença de insônia, talvez ele a esteja aumentando
ainda mais, ao lhe provocar crise de abstinência, pois ela parou o uso do medicamento
alguns meses:
“É não estou mais usando o remédio, mas olha, meu Deus, eu pensei de morrer e
ainda estou naquela abstinência... ainda. Eu sinto assim uns choques no corpo, eu
parei de tomar agora em março e não estou nem conseguindo mais ir caminhar,
tem noites que eu vou dormir as 6 da manhã, tem noites que eu viro a noite. Eu
deito, fico aqui, volto para lá, e quando eu sinto que me dá tipo uns choques eu vou
para o chuveiro, ligo o chuveiro bem quente e deixo cair nas costas para
relaxar um pouco e depois que me acalma os músculos eu saio. Esta noite eu fui
duas vezes, já teve noite que eu cheguei a ir quatro vezes...”
A fala de Dona Dália talvez denuncie a questão das diferentes representações do
psiquiatra para as classes econômicas. As idosas de melhor condição econômica relatam com
naturalidade a sua depressão e a assistência do psiquiatra. Entre as idosas mais pobres, houve
poucos relatos de consulta ao psiquiatra, além de uma representação negativa da doença,
como algo para loucos ou pessoas desocupadas, como se percebe no depoimento de Dona
Flor:
“Pobre não tem depressão, não tenho tempo de ter depressão não. Tem madame aí
que tem tudo, tem carro, tem dinheiro e tem depressão. Me dizem que não tem
vontade de fazer nada, ora, não é pra ser assim né? Vai fazer alguma coisa, eu
acordo todo dia as 6 e meia da manhã e não tenho tempo para pensar no que
quero ou não fazer”.
A fala de Dona Flor teve tom de revolta, de irritação, talvez porque para ela, a
depressão seja algo exclusivo para os ricos, ficando evidente o seu descontentamento em
1
relação as suas condições, que não permitem ela pensar no que quer ou não fazer. Estes dados
sugerem que talvez a representação da depressão das idosas mais pobres seja algo diferente do
que é para as mais ricas.
A moradia foi destacada como um fator muito importante para as participantes. Dona
Palma, classe C, atribuiu a sua depressão ao fato de ter se mudado para um apartamento:
“parece que eu estou numa prisão, não conheço ninguém, os vizinhos não conversam, não há
amizade, me sinto muito mal morando lá, pois no lugar que eu morava as pessoas se
cumprimentavam, eu tinha com quem conversar, era muito melhor”. Parece que o
apartamento, nesta fala, representa o isolamento.
Morar em um apartamento pareceu um fator negativo, para ambas as classes
econômicas, como fica evidente no depoimento de Dona Rosa, que mora em uma cobertura
com vista para o mar:
...É bom aqui porque pega sol, o mar. até uma chance de viver de uma
maneira normal. Eu não acho que viver em apartamento seja uma maneira normal,
sabe, você está segura mas você está presa. Eu acho que as pessoas sentem muita
falta da terra, mas a própria arquitetura de hoje em dia está uma porcaria,
pensando apenas em ampliar o lucro, fazem aqueles apartamentos horrorosos...”
A moradia parece ter um papel importante principalmente ao proporcionar atividades
de lazer em função das instalações disponíveis. Dona Gloriosa ao responder se preferia ficar
em casa a sair fazer coisas novas relatou: Ah, eu prefiro sair, claro. Moro em um
apartamento pequeno, onde fico vendo TV, não tem muita coisa para fazer, eu não posso
ficar não, ficaria louca. eu sempre que posso vou bater perna por aí”. Diferente da
Dona Azaléia que comentou:
Prefiro ficar em casa, amo a minha casa, é maravilhosa. O jardim é primeira
coisa. Eu levanto e vou para a jardinagem. A energia que a gente pega das
plantas tu não imagina, mesmo que tenha dias que seja mais difícil, eu chego em
casa e vou para as plantas, eu preciso estar lá.”
Estes depoimentos deixam clara a importância da moradia para as idosas, mas também
destacam as diferenças nas condições de moradia das diferentes classes econômicas. De forma
contraditória, a maioria das idosas avaliou sua moradia como “ótima”, no entanto, muitas
delas apresentaram alguma reclamação a este respeito em outros momentos da entrevista. Esta
contradição pode ser um reflexo da idéia de que os idosos devem depender da família, o medo
de ir para um asilo e a religião, que fez com que muitas, ao se comparar com pessoas em
piores condições, considerassem pecado reclamar. Dona Gloriosa, ao avaliar a sua moradia,
em relação às instalações comenta: Para mim está ótimo, não para reclamar. Posso
1
morar sozinha, não preciso de ninguém para me cuidar, para uma mulher da minha idade só
pode estar ótimo, tem tanta gente que eu vejo que tá tão mal... é pecado reclamar, né?”.
Outras questões foram destacadas pelas participantes em relação à depressão. Dona
Íris, classe econômica alta, relata que a falta de oportunidades a faz sentir deprimida,
especialmente porque se sente desvalorizada na sua profissão, ela relata me sinto cheia de
energia, o problema é que não tenho o que fazer com ela”. Dona Íris, que disse ter depressão,
quando questionada sobre se sentia controle sob as coisas, respondeu: “Ah, depende, em
relação à minha vida, tenho sentido sim, nem tanto, mas não me incomoda. Mas em relação
ao mundo não, veja as guerras, os roubos, a fome... isso me incomoda muito mais...”. Esta
fala reforça o caráter coletivo da saúde, como no depoimento da Dona Margarida:
“Depressão não sei, mas ando com crise do pânico, estou com medo, muito medo.
Acho que é de ver tanta coisa acontecendo hoje, a gente vai ficando assustada. São
as pessoas de hoje, ninguém mais gosta de ninguém, não existe mais amor né, não
existe mais respeito, não existe mais nada...”.
Estas falas demonstram que a saúde das idosas abrange a coletividade, incluindo o que
acontece no mundo. De alguma forma, as idosas se mostraram descontentes com a situação do
país e do mundo, mostrando muita preocupação em relação a isto.
A vergonha de ter depressão foi algo que apareceu em alguns depoimentos. Dona
Rosa relata que embora não se sentisse bem, não falava a ninguém do seu problema e
conseguiu melhorar depois da separação, embora ainda goste do ex-marido:
... fiz terapia, 9 anos, até que um dia eu pensei: não posso continuar. Isso foi bem
perto da minha conversão para o lado evangélico. Depois disso foi quando eu
comecei a me libertar, eu tinha uma vergonha absurda de falar o que eu estava
sentindo [...] Era algo que eu pensava, eu sou culpada por estar desse jeito, de me
sentir desta forma, meu Deus, aquilo era um caos na minha vida... Então, acho que
quanto mais eu pensava assim, pior eu ficava. Eu acho que de certa forma o
divórcio foi o que me deu esta noção: ‘eu não tenho que estar bem para satisfazer
o meu marido’, eu posso estar mal no dia seguinte, entende, e isto começou a me
liberar inclusive para a cura”...
A vergonha de Dona Rosa estava atrelada principalmente ao marido, ao fato de ser
mulher e não poder estar deprimida. No mesmo depoimento, Dona Rosa destaca que
melhorou após a separação, e também após a sua conversão para a religião evangélica. A
questão religião foi percebida durante as entrevistas, especialmente na aplicação da GDS, pois
muitas idosas diziam não poder se sentir daquela forma porque é pecado, Deus é tão bom
comigo...”.
Muitas idosas, quando questionadas sobre a sua crença em Deus ou em um ser
superior, enchiam os olhos de lágrimas e davam respostas seguras de sua e da importância
1
disto em sua vida. Este papel da na vida das participantes foi muito destacado,
especialmente para a superação de problemas emocionais, como Dona Rosa complementa:
por isso eu penso assim, que sem fé, sem eu não teria resistido. Eu fiquei tão
mal, tão mal, que tinha dias que eu pensava que não ia voltar ao normal, mas eu
creio em um Deus imortal, na imortalidade e penso que isto não será perdido”.
A em Deus, a espiritualidade, deu suporte a muitas participantes que passaram por
problemas emocionais, aparecendo nos discursos de forma mais independente da classe
econômica. Dona Lobélia com depressão há 16 anos relata:
Acredito muito em Deus. Eu faço orações falando com Deus. Eu não gosto de
rezar o rosário. Eu gosto também de cantar, peço ajuda a Deus cantando, canto
para Deus ajudar meus filhos...”.
A das participantes tem muitas facetas. Muitas acreditam em um Deus único, que
julga, outras acreditam em uma energia, uma força vital. Algumas acreditam em um Deus que
é como um pai, com quem preferem conversar a fazer orações prontas, enfim, parece que cada
participante encontrou a sua forma de se comunicar com Deus, seja por meio de orações,
conversas ou até mesmo meditações, visualizações, procurando encontrar um “equilíbrio” e
ajuda para os seus problemas.
Assim como a parece ajudar as idosas, pode prejudicá-las, tornando-as demasiado
fanáticas por uma única verdade, como no caso da Dona Gardênia, que relatou ter grandes
problemas por causa da filha, que diz não crer em Deus. Ela pensa que a filha pode ir para o
inferno e por isto passa as noites em claro.
A pareceu estar relacionada à doença, à morte e à esperança, como no depoimento
de Dona Cássia:
Com a é que eu me mantenho em pé, viva e com saúde. Porque o que eu tenho
é a conseqüência da vida, tudo acaba, a árvore acaba, fica velha, e eu também não
sou diferente, então eu aceito isso numa boa... Acho que Deus faz uma coisa muito
interessante, te da a oportunidade de abrir os olhos para a vida”.
Quadro 1. Síntese dos temas associados à depressão das idosas de classe econômica alta e
baixa
Classe Econômica Alta Classe Econômica Baixa
- Remédios anti-depressivos; - Ausência de diagnóstico médico;
- Falhas de memória; - Insônia;
1
- Eventos emocionais; - Eventos emocionais;
- Falta de atividades culturais; - Falta de opções de lazer;
- Baixa valorização profissional e exclusão
do mercado de trabalho;
- Excesso de trabalho;
- Vergonha de ter depressão; - A depressão como algo para loucos ou
desocupados;
- A importância da fé; - A importância da fé;
- A importância da moradia; - A importância da moradia;
- A importância do grupo de convivência.
4.2.2 Educação
Este eixo temático concentrou algumas questões, entre elas a desigualdade de acesso à
educação. Da mesma forma que o eixo temático anterior, a análise foi pautada pelas classes
econômicas. Entretanto, a classe econômica contemplada nesta discussão é relativa ao
momento da vida narrado pela participante, pois muitas mudaram de classe econômica. Isto
fica evidente na fala de Dona Orquídea: “me criei pobre, mas casei bem”, indicando que a sua
situação econômica mudou depois do casamento. Com isto, o seu grau de escolaridade está
mais associado ao passado, ao período em que era pobre, do que ao atual. Assim, foi
necessário tomar este cuidado durante as análises do eixo temático educação.
O primeiro tema que surgiu ao tratar da educação foi a desigualdade social. Os
principais relatos neste eixo foram feitos pelas participantes que não tiveram oportunidades ou
condições de estudar, deixando clara a diferença de acesso à educação. Os demais temas
abordados neste eixo são: preconceito, trabalho braçal, cultura, condição feminina e
atividades cognitivas.
Dona Violeta relata que quando criança não pôde estudar. Ela é negra, de família
muito pobre e disse ter tomado uma pedrada na cabeça, o que fez com que fosse recusada na
escola, pois os diretores da escola argumentavam que ela era “retardada mental”. Hoje, com
66 anos ela tenta aprender a ler sozinha e disse fazer isto todos os dias, com um livrinho de
oração que ela guarda na bolsa:olha, euconsigo ler uma linha e continuar na seguinte...”
começou a ler, mostrando o quanto estava conseguindo, com um ar de sucesso. Ela tem a
capacidade cognitiva normal, apresentando apenas problemas de memória de curto prazo. Isto
indica que provavelmente a principal razão de terem recusado Dona Violeta na escola foi o
fato dela ser mulher, negra e pobre.
Estas e outras questões podem ser verificadas também na fala de Dona Dália:
1
“A gente morava em fazenda, e meus pais, é, nem tanto o meu pai mas a minha
mãe, que é dessas pessoas bem antigonas, ela achava que não havia necessidade,
ela falava que escola era para rapazes, só para meninos. Depois, quando eu fui
para a cidade eu tava mocinha, então o pouco que eu fiz, eu fiz a noite, nos
cursos de adulto e escondido dela. Sim, porque quando ela descobrisse ela me
tirava imediatamente da escola. Por isto que não foi uma coisa regular. Eu já tinha
uns 11 ou 12 anos quando fui para a cidade e mesmo assim né, eu fui trabalhar e
não tinha muito tempo. Eu fui trabalhar de doméstica [...] Neste tempo eu ia numa
escola que tinha perto da casa, mas quando a minha mãe descobria ela tirava. Ela
era assim, sabe estas pessoas que assim, tadinha, não sabia nada e achava que não
havia necessidade. Minha mãe nunca estudou nada, nada nada mesmo, então ela
achava que não precisava, daí... eu senti muita falta de estudar, muita falta mesmo,
por isso que para os meus filhos eu dei tudo o que eu tinha para dar escola para
eles porque eu sei a falta que faz”
Neste depoimento de Dona Dália, pode-se constatar alguns fatores que interferiram na
sua escolaridade, entre eles, a moradia (fazenda), o preconceito (escola é para rapazes) e o
trabalho.
Dona Flor reforça a questão de morar na zona rural como uma barreira ao estudo:eu
me criei no meio de mato e lavoura, não tinha como estudar, e o meu marido a mesma coisa,
acho que ele estudou o mesmo que eu, não tinha como né querida”.
O problema de não poder estudar por morar na roça não é apenas uma questão de
deslocamento até a escola, e sim, da condição econômica destas pessoas que moravam no
campo, pois as crianças tinham que trabalhar e isto tornava difícil a liberação delas para a
escola. Além disso, o trabalho braçal era considerado mais importante, especialmente para os
mais pobres, pois era o que garantia o sustento.
Dona Orquídea não morava no campo, mas relatou:
“A minha juventude, a minha infância foi meio tumultuada porque meu pai bebia,
brigava muito com a minha mãe, e eu adorava a minha mãe, aquilo até hoje me
aflige, sabe? [...] Você não imagina como foi trabalhoso para mim, saí dos estudos
para poder ajudar a mãe, eu trabalhava e dava tudo para ela, na mão dela, aí meu
pai bebia e queria o dinheiro... eu trabalhava muito para ajudar em casa, eu era
tão inteligente que as professoras ficaram muito tristes quando eu disse que ia sair
da escola, mas eu tive que sair, para ajudar. Mas hoje tudo isto ficou para trás,
porque eu ajudo minha família tudo o que eu posso.”
Este depoimento demonstra que uma das razões pela qual Dona Orquídea não estudou
foi a necessidade de trabalhar, ainda criança. Estas questões são recorrentes entre as idosas
pobres ou naquelas que foram pobres, e sem uma análise mais detalhada de suas histórias, não
seriam verificadas. Transversalmente, a Dona Orquídea é de classe alta, mas no passado, sua
realidade era bem diferente.
1
A questão cultural também interfere na realidade de algumas idosas, como Dona Rosa,
que tinha uma situação econômica melhor e não deixou de estudar por causa da
supervalorização do trabalho em relação aos estudos:
“Hoje você tem que pagar o seu preço, não vale mais do que produz. Sabe, isso é
exatamente o oposto do que deve ser, saber isto mudou muito a minha angústia
existencial, a minha forma de escutar as pessoas. Sabe, mamãe era filha de
imigrantes italianos, e era impossível a gente ficar cinco minutos parados na nossa
casa, porque para mamãe pessoa que não produz, não vale nada, inclusive ler. Ler
para nós era algo que tinha que fazer escondido porque até ler para a mamãe era
ruim. Ela era uma pessoa inteligente mas incapaz de entender que a leitura era um
trabalho mental... Mas a mamãe nos criou de uma forma que nós tivesse
sentimento de culpa de ficar dois minutos olhando a paisagem, e isso me deixou
marcas. Demorei um tempo para conseguir olhar as pessoas e ver que existem
coisas mais importantes do que o que ela produz, que é o que o capitalismo
preconiza, ou seja, você vale aquilo que você faz e isso é fato, nos afeta sempre
de alguma forma. Então a minha profissão, o que eu faço é o que me define”.
No depoimento de Dona Rosa está presente a interferência dos aspectos culturais da
família associados ao preconceito em relação ao trabalho intelectual. Embora existisse o
preconceito, este teve um impacto na vida de Dona Rosa diferente daquele que exerceu sobre
a vida da Dona Dália. Como se pode perceber, a questão da mãe de Dona Rosa era em relação
ao trabalhar, fazer alguma coisa, o que deixou marcas emocionais, no sentido de destacar o
trabalho como a coisa mais importante, mas não impediu que ela completasse os seus estudos
e realizasse as suas leituras. É interessante que a própria participante, Dona Rosa, elabora uma
crítica ao capitalismo, baseada na supervalorização da produção, deixando claro o quanto isto
afetou a sua vida, a sua maneira de ver as pessoas.
No caso de Dona Dália, o impacto foi maior, ela de fato não teve como estudar, como
sequer freqüentar a primeira série do primário, tendo que fazer isto escondido. Dona Orquídea
conseguiu completar o primário, mas a necessidade de ajudar a mãe a fez desistir dos estudos,
tendo que trabalhar.
Dona Dália não conseguiu voltar a estudar, pois relatou: Eu depois eu casei, e fui
trabalhar com a minha cunhada na costura. Depois de um ano meu filho nasceu, eu tive 3.
Mas a minha vida foi trabalhar, trabalhar e trabalhar e nunca mais consegui voltar a
estudar”. Ela se tem ressentimentos em relação a não ter estudado, como pode ser percebido
na sua resposta à pergunta sobre a realização de leituras no passado: “Não, nisto que eu digo,
se eu tivesse pego estudo nestas épocas, é por isso que eu sou meio burrona, sabe, eu não...
eu não lia nada, não dava tempo e também eu estava tão cansada que não dava...”.
Dona Violeta sentiu a falta de ter estudado, relatando que “nós freqüentávamos a alta
sociedade, grandes jantares, mas o meu marido me dizia para ficar quieta para não falar
1
besteiras... acho que se tivesse estudado a sociedade me respeitaria mais...”. Ela associou o
respeito da sociedade por ela com a escolaridade, se sentindo discriminada por não ter
estudado. Dona Violeta relatou que depois de casada ela tentou estudar, mas o seu marido não
permitia. Se ele quisesse que ela não falasse besteiras, a estimularia a estudar, e não o
contrário.
Parece que o baixo nível educacional tem repercussões nas atividades cognitivas ao
longo da vida associadas às condições sócio-econômicas e à condição feminina. No caso de
Dona Violeta, o preconceito contra a mulher pode ter sido a principal barreira para que depois
de casada e com boa condição financeira, ela não pudesse estudar. Em síntese, as condições
econômicas na infância influenciam na escolaridade, que por sua vez, repercute nas atividades
cognitivas ao longo da vida.
Um exemplo de como a educação influencia nas atividades cognitivas na terceira
idade é o depoimento de Dona Dália ao falar de suas leituras atuais: ah, quase nada. O meu
filho fala para quando eu tiver insônia para sentar e ler alguma coisa, eu até tenho aqui, mas
eu começo e logo me canso, acho que é falta de costume né...”. Além dela não ter estudado
quando criança, o fato de não ter tido tempo para leituras em função do trabalho excessivo,
também prejudicou as suas leituras na terceira idade.
Para Dona Orquídea, a questão da falta de estudo na infância acabou sendo diferente
do que foi para Dona Violeta, pois ela teve um marido que lhe proporcionou uma vida mais
ativa intelectualmente. Ela relata que sempre teve empregada doméstica, o que a permitia
realizar leituras diariamente.
“Ah, eu adoro ler, qualquer tipo de leitura. Livros, revista, jornal, adoro ler [...]
Adoro jogar dominó, mas ninguém lá em casa joga. Adoro também fazer palavras-
cruzadas, a do jornal é a mais difícil, eu faço sempre e também jogo destas
figurinhas que é igual sabe? É, memória, jogo memória com o meu netinho toda
semana”.
Assim, parece que as atividades cognitivas estão relacionadas com as condições
econômicas, tanto atuais, quanto anteriores. Dona Flor relataAdoro ler também, mas leio
uma vez ou outra, porque não sobra tempo, e às vezes, quando sobra, eu to tão cansada que
tenho que me esforçar demais para ler”. Neste caso, embora a participante tenha baixa
escolaridade, ela gosta de ler, mas não consegue porque ainda trabalha e fica cansada. Além
disto, o fato de ter baixa escolaridade pode influenciar no esforço necessário para realizar as
leituras, que é muito maior para alguém que estudou pouco.
Um bom nível de escolaridade não garante um alto nível de atividade intelectual,
como no caso de Dona Gloriosa, que tem segundo grau completo e foi professora, mas que
1
hoje, não realiza leituras: Eu não gosto de ler. Eu fui professora, mas não gosto de muita
leitura. Eu não tenho mais paciência. trabalhei trinta anos lendo, como professora e não
quero mais saber de livro”. Considerando os relatos, o nível educacional parece ser mais uma
condição básica para a atividade intelectual do que uma garantia.
Quadro 2. Síntese dos temas relacionados à educação das idosas de classe econômica alta
e baixa
Classe Econômica Alta Classe Econômica Baixa
- Tiveram oportunidade de estudar, a maioria
estudou;
- Não tiveram oportunidade de estudar;
- Preconceito em relação ao trabalho
intelectual;
- Falta de oportunidade de estudo em
decorrência de questões como: preconceito
em relação ao sexo feminino e à pobreza,
morar na fazenda, trabalho infantil;
- Hábitos de leitura e atividades culturais dos
30 aos 60 anos;
- Pouca leitura e atividades de lazer por causa
do trabalho excessivo;
- Hábitos de leitura na terceira idade.
- Pouca leitura na terceira idade devido ao
esforço excessivo para ler associado à baixa
escolaridade;
4.2.3 Atividade Física e Lazer
Ao falar de atividade física no passado e atual com as idosas, alguns temas emergiram
dos seus relatos, entre eles destaca-se o tema trabalho. O trabalho foi abordado pelas
participantes como a principal barreira para as suas atividades de lazer. Os temas abordados
neste eixo temático são dependentes da classe econômica, incluindo os tipos de atividades de
lazer no passado e nos dias atuais, nível educacional, aposentadoria, gosto pela atividade
física, moradia, Educação Física escolar e recomendação médica de atividade física.
Muitas das participantes tinham ocupações fisicamente desgastantes. Dona Palma, por
exemplo, era funcionária de uma loja no centro de Florianópolis e relata que “Ficava em pé o
dia todo, tinha épocas que não dava nem de fazer lanches. Era o dia todo até fechar a loja. A
patroa era a única que podia sentar, ficava lá nos cuidando, não nos deixava nem se escorar
na parede para descansar um pouco...”. Por isto, Dona Palma não fazia atividade física nem
1
tinha atividades de lazer, pois segundo ela “Não fazia nada, não dava tempo, chegava o final
de semana nós só queria descansar...”.
Além do cansaço provocado pelo trabalho, tinha a falta de tempo, destacada por
muitas participantes, como no caso de Dona Dália que trabalhou a maior parte de sua vida
depois de casada em um frigorífico. O depoimento de Dona Dália torna evidente a
incompatibilidade da prática de atividade física e do lazer na sua rotina:
“O último trabalho que eu tive foi numa câmara fria de um frigorífico, na desossa
[...] Nesta época eu entrava às 7 horas, hora que tocava a sirene e a gente tinha
que já estar com as facas amoladas e postas em cima da mesa para limpar, porque
tinha os homens descarregando já. Então tinha esta hora para entrar, mas não
tinha hora para sair, eu cheguei a sair meia noite e vinte, porque às vezes chegava
algum caminhão [...] àqueles caminhões sem geladeira a gente era obrigado a
desossar toda aquela carne e embalar para a mesma noite [...] Nós tínhamos o
horário de dia e da noite, mas eles sumiam com os cartões da noite e pagavam o
que estavam a fim de pagar e ninguém podia falar nada. De sair meia noite
aconteceram algumas vezes, mas o horário normal era entrar às 7 da manhã e sair
8 e 30 ou 9 da noite, mas nós não podia reclamar. No sábado, a nossa saída era ao
meio dia, mas teve muitos sábados em que eu saí as 8 da noite. Então foi cansativo,
o meu marido, como ele cuidava do pátio, meio dia ele ia para casa, e eu
chegava esta hora da noite e ainda tinha que preparar um lanche, a janta e cuidar
dos filhos. Então a minha jornada era dupla, com certeza. No frigorífico doze
horas por dia era certeza, fora as outras horas de trabalho que não contavam”
No relato de Dona Dália existem alguns pontos que evidenciam a exploração no
trabalho, a jornada dupla da mulher, pois mesmo o marido chegando mais cedo, ele não
ajudava nas tarefas da casa. Assim, a mulher que era pobre e trabalhava acabava tendo dupla
jornada, pois era sua obrigação cuidar dos filhos e do marido. Quando questionada sobre a
atividade física Dona Dália respondeu em tom cansado: Não dava tempo né, não sobrava
nada. E ainda tinha meu marido, as crianças... nós não fazia nada disso não”. Sobre as
atividades de lazer a sua resposta foi semelhante, mas em um tom de impaciência, pela
obviedade da resposta: “... não sobrava tempo. E sábado e domingo eu consertava roupa, eu
passava roupa eu fazia comida para deixar preparado para segunda... muito pouco tempo eu
tinha...”. A questão que se pode perguntar a partir da descrição do relato de Dona Dália é:
caso ela tivesse uma hora do seu dia para atividade física, o cansaço a permitiria fazer? Ou
então, se ao invés de ela sair cinco da manhã para o trabalho, ela saísse às quatro e meia e
descesse do ônibus antes do seu destino e fosse caminhando esta meia hora até o trabalho,
seria isto benéfico para a sua saúde? Podemos ignorar as condições de trabalho no que diz
respeito à saúde?
Foi recorrente a questão da falta de tempo, não apenas para aquelas que eram muito
pobres, como para aquelas que tinham uma condição econômica regular, mas que
1
trabalhavam, especialmente para garantir o estudo dos filhos. O depoimento de Dona Gloriosa
retrata a vida de muitas das participantes:
“Não tinha quase tempo livre. Não tinha. Eu fui ter tempo livre depois de velha. A
vida é assim né? A gente quando é nova trabalha para adquirir, para dar uma vida
boa para os filhos, e eu tinha filho que eu queria que se formasse, tudo. Então, eu
nunca tive nada para não tirar eles dos estudo, para não perder os estudos, eu
podia largar um pouco e fazer o que eu gostava, mas não, a gente quer dar de tudo
de bom para os filhos. E então a gente se sacrifica, se maltrata, não vai a nada.
Quando a gente pode ter uma atividade melhor a gente está velho, está
doente. Agora, é que eu posso dizer que eu tenho a vida boa, porque os meus filhos
estão tudo casados, tem onde morar, não preciso me preocupar com nada. Mas
eu tenho medo de fazer uma viagem longe, de ficar doente, para não incomodar os
outros. Quando era nova não podia e agora que posso não tenho mais saúde”.
A questão do excesso de trabalho para garantir os estudos dos filhos está presente na
fala de muitas idosas. A prática de atividade física e o lazer não tiveram espaço na vida da
maioria das idosas que trabalhavam, pois as prioridades recaíram sobre o futuro dos filhos,
que para a maioria delas, é mais difícil do que era “antigamente”, devido ao aumento da
competição no mercado de trabalho. No entanto, Dona Gloriosa fala que agora tem tempo
livre, “depois de velha”, segundo ela. Assim, a maioria das idosas inicia a sua prática de
atividade física quando pára de trabalhar, destacando a importância do histórico nas análises e
avaliações.
Além da dificuldade de tempo para atividade física e lazer, houveram relatos de
doença ligados ao trabalho. Algumas destas doenças se manifestaram durante o período no
qual trabalhavam, outras, na terceira idade. Dona Margarida teve mielite transversa, o que a
deixou paralisada na cama, podendo mexer apenas cabeça e braços. Ela ficou três meses no
hospital e demorou onze anos para se recuperar, tendo que reaprender a andar. Quando foi
questionada sobre a origem da sua doença, Dona Margarida relatou: “... não sei porque me
deu isto. A única coisa que eu sei é que eu trabalhava demais. Eu acho que é porque eu
trabalhava muito”. Seu depoimento sobre a rotina de trabalho na época em que foi acometida
pela mielite:
“O dia inteiro, costurava o dia inteiro e de noite eu dormia duas horas, só. [...]
Então... eu achei que era de tanto trabalhar que me deu isso... domingo ao invés de
passear eu colocava tudo em prova, para as clientes virem provar as roupas.
Todos os dias eu começava às 6 da manhã e ia até a 1 da manhã, tinha empregada
para fazer a limpeza, mas tinha que ir ao mercado, fazer as compras, trabalhar e
dar conta da pensão, pagar telefone, luz e água... era tudo por minha conta,
sozinha. As filhas eram pequenas, estudavam né... então eu trabalhava igual a um
cão danado... Hoje eu tenho uma vida de princesa, mas agora tenho estas
dificuldades, quero sair não posso, tenho medo de cair...”.
Além disto, Dona Margarida relatou que o gasto que teve para tratar a sua doença foi o
equivalente ao que economizou durante anos de trabalho: “O que eu ganhei em 10 anos
1
trabalhando eu gastei em 3 meses no hospital...”. Ela relatou que nos meses que passou no
hospital o médico disse que ela não voltaria a andar:A sorte é que eu tenho cabeça boa. Era
para estar lá, jururu, mas que nada. O médico me disse que eu não ia andar mais, e eu disse:
quem que disse que eu não vou andar? Ainda bem que eu não acreditei nele”.
A relação do trabalho com a doença é recorrente nos depoimentos destas idosas que
trabalhavam pesado. Dona Hortênsia foi lavadeira e passadeira de roupas, trabalhava o dia
todo para criar os quatro filhos:
Ah, eu lavava muita roupa para fora e passava. Lavava tudo na mão, eu tive
tendinite, as minhas mãos ficaram toda dura, depois eu operei, faz uns seis anos
que eu operei a mão, porque eu não mexia os dedos, por causa do trabalho. Tinha
dores horríveis [...] Eu trabalhei bastante, porque eu fui separada e tive que criar
os meus filhos todos sozinha, quatro filhos [...] Ficava o dia inteiro, saia duma
casa depois ia para a outra e quando chegava em casa, continuava trabalhando,
porque tinha as roupas que eu lavava e passava em casa, isso sem contar as
tarefas da casa, cuidar dos filhos, fazer comida... não tinha ninguém para me
ajudar
Dona Hortênsia teve que fazer a cirurgia após a aposentadoria porque mesmo com
dores não podia parar de trabalhar, pois tinha que criar os filhos, ela disse ter suportado as
dores até se aposentar, quando pôde fazer cirurgia.
Estas doenças associadas às condições de trabalho refletem nos problemas atuais das
idosas, como no depoimento de Dona Dália: A câmara era muito fria também, acho que
minha artrose vem daí, desde lá venho sentindo muitas dores”.
Dona Flor, que ainda trabalha na costura, tem artrose, a qual ela atribui às suas horas
de trabalho:
“A minha saúde não ta boa não, acho que ta regular. [...] Eu bati uma chapa e
descobri que tenho artrose em tudo quanto é junta da mão, então eu tenho que
tomar cálcio e remédio para dor, senão eu ia ta toda alejada se não tomasse,
porque eu faço muito esforço. Eu tenho que cuidar, porque a minha luta da costura
é um serviço ruim, porque eu fico assim, o dia todo, descanso quando eu to na
cama, porque cama eu vou direto para a máquina e passo o dia inteiro [...] Se
não trabalhar não tem minha querida, olha, não é fácil”.
Por outro lado, as doenças das idosas de classe econômica mais alta não foram
atribuídas ao trabalho, evidenciando a diferença de classe neste aspecto. O trabalho não era
pesado, e algumas delas faziam atividade física, como no caso da Dona Acácia, que morava
no Rio, e fazia ginástica todos os dias. Dona Ardísia, que era dentista, também relatou ter
feito atividade física com freqüência: Eu fazia academia, só, não a tal da musculação, eu
fazia aquelas aulas de aeróbica, é aeróbica né? Aqueles que a professora vai na frente e a
gente faz como ela”.
1
Estas participantes que relataram fazer atividade física foram as que relataram maior
quantidade de atividades de lazer. Dona Azaléia fala que: Lazer para mim estava ligado a
cinema, estava ligado à praia e a passear. A gente passeava muito, eu e o marido, ficava
olhando as casas para planejar a nossa”.
Dona Acácia fala que as minhas principais atividades de lazer era ir ao cinema, ao
teatro, ler bons livros, conhecer lugares novos, isso era o que eu gostava de fazer”. Dona
Ardísia destaca que “Como lazer eu gosto de viajar, ah, eu amo viajar, gosto muito de teatro,
de cinema também, ainda gosto muito, ah, e palavras-cruzadas...”.
Outra atividade de lazer destacada pelas idosas foi a jardinagem, como no caso de
Dona Lobélia:Eu adoro mexer no jardim, na terra, por isto eu não saio deste apartamento.
Os meus filhos acham muito grande para mim, mas eu gosto muito da casa e posso escolher
como gasto minha aposentadoria”.
As idosas com maior nível intelectual atribuem um papel fundamental à leitura, como
Dona Ardísia que relatou Eu leio o que vier na mão, literatura, jornais, revistas, adoro ler...
Agora estou lendo Saramago, é maravilhoso, eu amo ler, o Gabriel Garcia Marques,
‘Memórias de minhas putas tristes’, você iria gostar, é muito bom...”. Estas são leituras que
exigem um bom nível intelectual e foram relatadas apenas pelas idosas com alto nível
educacional, reforçando as diferenças de classe.
As atividades de lazer atuais das idosas de classe econômica mais baixa e menor nível
educacional são diferentes. Dona Flor, que não tem muito tempo, destaca a sua dificuldade em
ter atividades de lazer:
Adoro fazer palavras cruzadas, mas não tenho tempo... as madames vêm aqui e
querem a roupa para o mesmo dia, eu não posso fazer para o mesmo dia, então
tento fazer para o outro dia, viro a noite muitas vezes, e aí... elas vêm pegar às
vezes duas semanas depois, parece que esquecem que pediram para ser rápida...”.
Embora Dona Flor não tenha muito tempo livre, ela tira um tempo para atividade
física, pois agora ela tem a aposentadoria para fechar o orçamento, que lhe permite tirar
alguns horários na semana para ir à hidroginástica. Dona Flor diz que quando está muito
cansada se fecha na casa para descansar:
“Antigamente eu virava as noites para fazer as encomendas das madames, hoje eu
me estresso menos, de vez em quando eu paro um dia e finjo que não tem ninguém
em casa [...] depois ficam perguntando onde eu estava, eu digo que saí, comprar
coisas para casa, porque elas não entendem, acham que porque a gente faz costura
tem que ser escrava de madame, eu mudei nisto. Antes, quando eu era mais pobre,
eu me quebrava, tinha dias que eu costurava a noite toda, quando tinha os filhos
pequenos. Agora, eu coloco o meu respeito, porque elas não respeitam, imagina se
soubessem que eu faço hidroginástica”
1
Esta fala de Dona Flor reforça a representação das diferenças de classe, como se o
lazer fosse algo específico às pessoas mais ricas, ou que tem o controle dos meios de
produção.
A maioria das idosas que não tinha tempo para atividade física passou a praticar
depois da aposentadoria, isso talvez seja acentuado pelas poucas atividades de lazer
disponíveis. Como diz Dona Orquídea: “... Antigamente eu me sentia mais cansada, era mais
acomodada eu acho e também eu trabalhava. Hoje que eu não trabalho eu resolvi fazer
atividade física, fazer o que né, fico o dia inteiro em casa, parada eu não posso ficar”.
O fato de ficar o dia todo em casa fez com que Dona Orquídea procurasse atividade
física. Parece ser um consenso o gosto pela atividade física, como a própria Dona Orquídea
afirma: Se pudesse eu fazia o dia todo, eu faço porque gosto e porque eu acho que se eu me
acomodar eu vou piorar”.
O gosto pela atividade física parece independer da classe econômica, como afirma
Dona Flor: Eu gosto de fazer, se pudesse, fazia todos os dias. Não faço por que falta tempo,
ás vezes eu quero fazer e não sobra tempo, eu to aqui trabalhando, chega cliente, tem roupa
para entregar... eu adoro atividade física, acho muito bacana, se pudesse eu fazia sempre”.
Dona Camélia caminha todos os dias, além de fazer ginástica e nadar nos finais de
semana: Faço atividade física porque me sinto bem, além de que dizem que faz bem para
saúde”.
Outras participantes indicaram gostar, mas fazer principalmente por recomendação
médica, como no caso da Dona Hortênsia: “Eu faço caminhada por causa da saúde, porque o
médico mandou fazer”.
A questão do médico foi recorrente nas escolhas do tipo de atividade física praticado
pelas idosas, como declara Dona Gloriosa: Eu agora faço a hidro mesmo. Eu fazia
ginástica, mas o médico disse que ginástica seca para mim jamais: ‘a senhora não faça
ginástica seca, só dentro d’água”.
Dona Dália sofre de insônia há 30 anos e por isto procurou fazer yoga, pois esta é uma
prática conhecida por seus efeitos terapêuticos, especialmente para quem sofre de insônia,
mas disse ter desistido por proibição do médico: Parei porque o meu médico disse que
caminhada não combina com yoga, então eu tive que parar. Ele disse, olha, não tem nada a
ver a yoga com a hidro, então você faz uma ou outra. Aí eu optei pela hidro”.
Um tema que emergiu dos depoimentos foi a Educação Física na escola. Dona Ardísia
relatou não gostar de esportes por causa da sua experiência nas aulas de Educação Física:
1
Atividade física sempre fiz, esportes não. Nunca tive incentivo para o jogo, não
conseguia aprender, porque o professor chamava de tonta e eu tinha vergonha
disso. Eu era ruim, e quase nunca podia jogar [...] Quando eu fazia educação
física o professor nos chamava de princesa, madame, gozava de nós”.
Fica evidente no discurso de Dona Ardísia a importância do vigor, do desempenho
físico nas aulas de Educação Física da época, que era a condição básica para a participação no
jogo. Dona Rosa relata:
Eu sempre gostei de andar, eu nunca fui uma pessoa de esportes. Gosto mesmo é
de andar, não sei se gostaria de esportes, porque na minha infância eu não tive
oportunidade de praticar assim, aprender esportes, vôlei, basquete, estas coisas...
meu problema de visão acho que também, de certa forma, me levou para a leitura,
porque todo míope é tímido com coisas físicas [...] Eu não tenho como dizer se
gosto de tênis, vôlei ou o que seja, porque nunca pratiquei
Mesmo freqüentando a escola regularmente, Dona Rosa não aprendeu nenhum
esporte, e isto ela associa à sua vergonha com “coisas físicas”. Isto pode ser decorrente da
supervalorização do desempenho nas aulas daquela época.
As idosas que relataram gostar do esporte, como Dona Camélia e Dona Orquídea,
foram aquelas que não tiveram Educação Física na escola. Dona orquídea ficava muito tempo
na rua quando criança Ah, eu adoro, adoro, adoro fazer atividade física, adoro assim, a
presença de uma árvore, subir num morro, escalar um morro, escorregar, sabe? Estas coisas
assim eu gosto, eu faço isto desde criança”. Dona Camélia conta que Antes de casar eu
morava na praia. Nadava duas vezes ao dia, adorava. Pulava de trampolim, mergulhava...”.
É interessante o fato de que as que relataram gostar de esporte foram aquelas que não tiveram
Educação Física na escola.
Talvez estas falas ajudem a entender a pouca prática de esportes na terceira idade,
reforçada pela interferência do médico, que tende a estimular as idosas a fazer apenas
hidroginástica e caminhada. Dona Cássia destaca o papel do esporte, Se desse, na minha
idade, eu só fazia esporte, eu fazia lazer, eu faria tai-chi, faria dança, natação, iria
fazer um curso de dança de salão, porque esse negócio que é gostoso”.
A intensidade das atividades físicas praticadas pelas idosas parece ser leve, pois
muitas delas dizem que não transpiram quando fazem atividade física. Dona Jasmine
complementa Eu fazia ginástica sabe? Aquela ginástica para idosos, uma coisa água com
açúcar, eu não cansava...”.
1
Quadro 3. Síntese dos temas destacados no eixo temático “atividade física e lazer” pelas
idosas de classe econômica alta e baixa
Classe Econômica Alta Classe Econômica Baixa
Atividade Física e lazer no passado
- Faziam atividade física, embora a maior
preocupação fosse com a casa e os filhos;
- Não praticavam atividade física devido a
falta de tempo e ao cansaço provocado pelo
trabalho excessivo e desgastante;
- Realizavam atividades de lazer como ir ao
cinema, teatro, viajar, ler, entre outras.
- Tinham poucas atividades de lazer por
causa da falta de tempo provocada pela dupla
jornada de trabalho;
- Ocupações menos desgastantes e portanto,
menor ocorrência de doenças ocupacionais.
- Doenças ligadas ao excesso de trabalho.
Atividade Física e lazer atual
- Aumento da prática de atividade física pela
falta de opções de lazer;
- Aumento da prática de atividade física pela
falta de opções de lazer;
- Gostam de praticar atividade física; - Gostam de praticar atividade física;
- Escolha da atividade física vinculada ao
médico;
- Escolha da atividade física vinculada ao
médico;
- Experiências negativas na Educação Física
na escola que repercutem negativamente na
prática esportiva.
- Não tiveram experiências de Educação
Física na escola e relatam ter vontade de
fazer esportes.
4.2.4 Aspectos neuropsicológicos relacionados ao envelhecimento
Este eixo temático foi elaborado a partir dos discursos das idosas sobre questões que
estão ligadas aos aspectos neuropsicológicos do envelhecimento. Os temas principais do eixo
temático são: memória, capacidade de solucionar problemas, a atividade mental e experiência.
Sobre a memória, existem duas representações distintas. Considerando que a pergunta
foi feita com a palavra “memória” sem especificar qual, algumas idosas se referiram a
memória de longo prazo e outras à memória de curto prazo. Dona Dália deixa claro estas duas
possibilidades no seu depoimento:
“Olha, a minha memória pela idade que eu tenho até que ela é boa. É né, porque
aquela coisa de você ir pegar uma coisa e esquecer isso todo mundo tem, eu não
sei se você tem. Às vezes você vai pegar uma coisa e pergunta: o que será que eu
vim fazer aqui? Mas eu lembro do meu passado inteirinho, lembro tudo tudo tudo,
coisas, dia por dia, minuto por minuto”.
A avaliação da memória quando se refere a eventos passados costuma ser mais
positiva do que quando está relacionada com coisas pequenas e recentes. Dona Hortênsia, por
exemplo, mostra esta diferença ao relatar A minha memória não muito boa não sabe?
1
Deve estar regular, porque não está péssima nem boa. Porque às vezes eu esqueço, eu estou
aqui na cozinha e vejo que não quero nada na geladeira”. No decorrer da entrevista ela
comenta: “eu me lembro de tudo, eu me lembro até dos aniversários das pessoas... as pessoas
falam que eu tenho uma memória de computador”.
Assim, parece que as queixas de memória das idosas estão mais relacionadas à
dimensão ou à importância atribuída ao objeto de sua lembrança. Quando interrogada sobre a
sua memória, Dona Hortência referiu-se às coisas pequenas como ir pegar alguma coisa na
geladeira, mas quando estava falando sobre outros assuntos ela elogiou a sua própria
memória, relatando que lembra de tudo, só que as coisas que ela relata lembrar parecem ser as
mais significativas para ela.
Estas falhas de memória de curto prazo são frequentemente atribuídas à falta de
atenção, pois as coisas esquecidas parecem ser menos relevantes, Dona Amarílis destaca:
“Minha memória acho que está normal. Eu esqueço muito onde está as coisas,
acho que é porque eu fico sempre pensando outras coisas e não presto atenção.
Então, se eu não quero esquecer eu fico tentando associar a alguma outra coisa, e
as coisas que eu preciso eu sempre procuro deixar no mesmo lugar, eu não
esqueço. Mas isso, assim, não é de hoje, sempre fui distraída”
As participantes que indicaram estes pequenos lapsos de memória os atribuíram à falta
de atenção e reforçaram que isto não é exclusivo dos mais velhos. Esta falta de atenção parece
estar associada com a baixa relevância daquilo que esquecem. Como fica evidente na fala de
Dona Margarida:
“...ah, eu vou na geladeira, não lembro o que eu quero, volto, ai retorno, mas
assim né, sempre isso sempre aconteceu. A minha filha está com 50 anos e
esquece também... Mas assim, conta, compromisso eu não esqueço. É falta de
atenção mesmo, que diferença vai fazer se eu não pegar o leite quando eu abrir a
geladeira? Eu vou abrir ela depois e pegar o leite...”
Tanto Dona Amarílis quanto Dona Margarida atribuem as falhas de memória à falta de
atenção e destacam que isto não é porque elas estão mais velhas. Dona Margarida deixa claro
que se ela esquecer o que foi fazer na hora em que abre a geladeira pouca diferença vai fazer,
pois ela poderá ir novamente quando sentir vontade. A questão da relevância do objeto a ser
lembrado parece fundamental na lembrança dele, principalmente porque coisas mais
importantes naturalmente recebem mais atenção.
Para evitar que as falhas de memória prejudiquem suas vidas, as idosas adotam
estratégias como fazer listas, se organizar melhor, associar as coisas, entre outras. Além disto,
as participantes que obtiveram os melhores desempenhos nos testes cognitivos foram aquelas
1
que demonstraram exercitar a memória. Entre elas, Dona Ardísia: às vezes as pessoas me
falam que tenho que parar um pouco, a minha cabeça não pára... não consigo, se estou em
casa eu pego as palavras-cruzadas e começo... porque tenho que ficar trabalhando com a
cabeça”.
Dona Azaléia também relatou exercitar a “cabeça” e fugir da rotina para não declinar a
sua memória:
“A pessoa que fica ali naquela rotina, uma de coisas bestas, ah, isto bitola igual
um tapa olho de cavalo, olha para frente e nunca para os lados. Isso é muito
importante, eu acho que as pessoas têm que manter a cabeça sempre funcionando,
por isto eu não uso máquina de calcular”.
Dona Açucena teve um desempenho nos testes de memória de trabalho e de curto
prazo muito acima da média. Ela relatou que é precisa na lembrança das coisas recentes, de
onde deixou as coisas, do que as pessoas falaram, mas quando se trata de acontecimentos
passados e pessoas que fizeram parte da sua vida mais tempo ela tem dificuldade de
lembrar. Isto fica evidente no seu depoimento:
“me incomoda muito não lembrar direito das pessoas com quem convivi há tempos
atrás, de quem fui colega... isso me incomoda. Eu lembro de coisas atuais com
muita precisão, até o que você me falou uma semana atrás, mas coisas de anos
atrás eu tenho muita dificuldade de lembrar...”.
No geral, as idosas acreditam que a sua memória e capacidade de solucionar
problemas está boa, especialmente por causa da experiência de vida. No entanto, Dona
Gloriosa demonstra um outro tipo de representação dos velhos, pois ela, quando questionada
sobre a sua memória e sua capacidade de solucionar problemas, relata:
Ah, excelente não está não, porque uma pessoa com 79 anos né, não pode ter uma
memória muito boa. Mas... na minha opinião não serve para boa, mas para
regular... porque não pode eu achar boa né?
Quando Dona Gloriosa é questionada sobre a sua capacidade de solucionar problemas,
a sua resposta aponta para a mesma questão, da subestimação da capacidade dos velhos, que
ela mesma faz:
Hoje em dia quando tem alguma coisa e tem que resolver um problema às vezes
eu peço um auxílio à minha filha [...] Não que eu não tenha confiança em mim
mesma, mas se eu tomo a decisão sozinha, ela mora junto comigo praticamente, e
se eu errar na decisão ela vai me criticar. Então, para não haver crítica, eu peço a
opinião, mas se não tivesse ela perto, eu resolveria sem problema nenhum [...]
Pessoa mais de idade não pode tomar decisão sozinha, não pode fazer o que quer
né?”.
Este depoimento demonstra a própria idosa aceitando o preconceito, diferente das
outras participantes, ao relatarem que a sua capacidade de solucionar problemas melhorou
1
muito com a idade. Elas disseram se sentirem mais seguras e maduras para fazer escolhas
melhores, e que a experiência ajuda muito nisto. Isto fica evidente no depoimento de Dona
Cássia: Porque quando a gente é jovem, a gente pensa que os velhos não sabem de nada,
que a gente sabe tudo. Eu fui jovem, achei que sabia tudo, mas não é nada disso. Eu
queria ter a experiência que eu tenho hoje há uns vinte anos, mas isso é impossível”.
Dona Cássia complementa afirmando que aprendeu coisas, que ela leva desde que se
curou do câncer e que acredita ser algo que todos percebem quando ficam mais velhos:
“Porque nunca me passou pela cabeça o que eu fazia da minha vida. É uma coisa
que é automática, você estuda, se forma, trabalha, namora, casa, vai ser dona de
casa, vai ter filho, então a gente faz tudo pelos filhos, não precisa nem pensar,
pois estava tudo determinado... a gente poderia fazer tudo isto, mas com uma
consciência diferente, mas livre, mais completa, mais bem elaborada [...] Você
entra numa roda viva, é uma coisa assim, mecânica, é tudo mecânico. Você vive a
vida inteira de maneira mecânica...”.
Esta fala de Dona Cássia evidencia algum aprendizado que teve durante a sua vida,
uma percepção diferente daquela que tinha quando jovem. Ela demonstra uma reflexão sobre
a vida, sobre a alienação em que a maioria das pessoas vive. Esta reflexão sobre a alienação
humana no trabalho e nas funções familiares também pode ser observada na fala anterior de
Dona Azaléia ao comparar uma “rotina de coisas bestas” a um “tapa olho de cavalo”. Talvez
estas falas estejam sintetizadas na fala de Dona Rosa:
“Não tem como escapar, tem um livro que fala que envelhecer sabiamente é saber
administrar a suas perdas, porque elas vão existir sempre, nunca mais você é como
você era aos 40 anos, eu digo no sentido do seu físico, do seu intelecto, mas o que
é que você ganha? Você ganha no sentido de fazer melhores escolhas, nisto você
ganha, você sabe escolher melhor o que te convém... você se torna diferente do que
você era. No que diz respeito a minha visão de mundo, nossa, não tem nem
comparação, eu sou mais humana, eu sou mais tolerante, porque isto é que faz a
diferença na sua vida, em como você se sente e vive”.
1
Quadro 4. Síntese dos temas abordados no eixo temático: aspectos neuropsicológicos
relacionados ao envelhecimento
Temas principais abordados pelas idosas neste eixo temático
- Auto-avaliação positiva da memória quando relacionada à coisas importantes e negativa
para coisas menores;
- Importância da atenção e da relevância do que será lembrado na memória;
- Pouca importância atribuída à memória de curto prazo;
- A utilização de estratégias para não esquecer;
- As idosas que tiveram os melhores desempenhos de memória foram as que relataram
exercitar as funções cognitivas através de palavras-cruzadas, leituras e evitar o uso da
calculadora;
- Avaliação positiva da capacidade de solucionar problemas devido à experiência de vida;
- Subestimação da capacidade de solucionar problemas e da memória em decorrência da
idade;
- Reflexões sobre a vida, experiência e envelhecimento.
1
DISCUSSÃO
A discussão dos resultados desta pesquisa abrange as principais questões do estudo, na
seguinte ordem: características da amostra em relação à população estudada; atividade física e
de lazer atual e no passado; condições de trabalho, doenças e medicamentos; depressão;
relação entre estresse, depressão e prática de atividade física; relação entre desempenho
cognitivo e prática de atividade física e nível de atividade intelectual; nível educacional e
desempenho cognitivo; estresse, idade e memória e experiência de vida.
Primeiramente, é necessário destacar que se trata de um estudo que tem como
participantes idosas residentes na comunidade, fisicamente independentes. Em geral, as
participantes deste estudo apresentam algumas diferenças nas características sócio-
demográficas em relação à população de mulheres idosas de Florianópolis. Isto pode ser
constatado ao comparar as características sócio-demográficas das participantes deste estudo
com as de outras pesquisas como as de Mazo (2003) e Benedetti (2004), que são estudos
populacionais com amostra probabilística dos idosos de Florianópolis.
Mazo (2003) constatou que a maioria das mulheres idosas dos grupos de convivência é
de classe econômica D (55,6%), sendo que apenas 7,1% das de classe econômica B, e tem de
baixa escolaridade, pois apenas 8,1% das idosas estudaram mais de 8 anos. Benedeti (2004)
encontrou resultados similares, indicando que a maior parte da população de idosos de
Florianópolis apresenta baixa renda mensal e tem pouca escolaridade, sendo que a maioria
estudou de um a três anos.
Estes resultados evidenciam as diferenças para a amostra desta pesquisa, onde 48%
das participantes estão nas classes A e B e 52% estão distribuídas entre as classes C e D, com
apenas duas participantes na classe E. Em relação à escolaridade, 40% das participantes tem
no mínimo 8 anos de estudo formal, sendo que 15% destas concluíram o curso superior. Estes
dados indicam que as participantes deste estudo m melhor situação econômica e nível
educacional do que a média da população de idosas de Florianópolis. Observou-se que a
amostra deste estudo está igualmente dividida em relação à situação sócio-econômica, sendo
aproximadamente a metade (48%) das participantes de classe econômica A e B com mais de 8
anos de escolaridade (40%) e a outra metade (52%) de classe econômica C, D e E com menos
de 8 anos de estudo (60%). Esta distribuição entre os grupos facilitou as comparações das
idosas de diferentes classes econômicas.
Em relação à atividade física, a maioria das idosas pratica atividade física três ou mais
vezes por semana, sendo que poucas participantes indicaram não realizar estas atividades.
Mazo (2003) ao investigar o nível de atividade física nas idosas dos grupos de convivência de
Florianópolis verificou que a maioria (66,2%) era ativa fisicamente. Embora o instrumento
utilizado por Mazo (2003) seja diferente e as atividades físicas investigadas pela autora
abranjam mais dimensões, os resultados concordam no sentido de que a maioria das idosas
realiza atividade física regularmente. Estes dados destacam que uma diferença no nível de
atividade física das idosas de Florianópolis em relação às de outros estudos. Por exemplo,
resultados de pesquisas realizadas em outros países, como os EUA, apontam que a maior
parte da população idosa não pratica atividade física regularmente (KING, REJESKI e
BUCHNER, 1998).
Benedetti (2004), ao pesquisar os programas europeus para idosos, constatou que uma
diferença marcante destes programas em relação aos brasileiros é que eles funcionam como
um sistema articulado, promovido, na maioria das vezes, pelas prefeituras. A autora destaca
que o município de Oleiros, na Espanha, foi pioneiro no trabalho de atividade física para
idosos, mas que junto a isto, os idosos contam com 9 centros de cultura, que ficam abertos de
segunda a sábado, para que qualquer pessoa possa usufruir das instalações para jogar cartas,
dominó, ler, ou encontrar com os amigos. Além disso, são oferecidas oficinas de memória,
excursões e caminhadas. Foram construídas piscinas aquecidas, salas de ginástica onde são
oferecidas aulas de ginástica, natação e yoga. Outros tipos de atendimento, médico,
psicológico e assistencial também são oferecidos para os idosos, que dispõem de um ônibus
específico para conduzi-los a estes centros.
Uma das possíveis explicações para a prevalência de atividade física entre as idosas na
amostra investigada é o investimento das entidades governamentais brasileiras nos programas
massivos de “promoção de saúde”, que colocam na atividade física a esperança de diminuir os
gastos com remédios de maneira simples e econômica. A oferta de programas de atividade
física aos idosos aliada a uma campanha de “promoção de estilo de vida ativo” pode ter
provocado o aumento da prática de atividade física dos idosos com piores condições
financeiras. Nos EUA e na Europa, existem campanhas para estimular as pessoas a fazerem
atividade física, mas uma das principais diferenças, é que os idosos têm mais opções de lazer
133
em relação ao que têm no Brasil, pois foi verificado nos depoimentos de algumas
participantes o fato de não conseguir ficar “o dia todo em casa” ou ter poucas atividades de
lazer, sendo que a atividade física aparece como uma das poucas alternativas para quebrar esta
rotina.
Esta carência de opções de lazer e oportunidades de convívio social aliado ao apelo
dos programas de promoção de saúde parece provocar o aumento da participação das idosas
em programas de atividade física de caráter massivo do tipo “ginástica para a terceira idade”.
Nos países desenvolvidos, as diversas opções de lazer aliadas ao maior nível educacional da
população talvez permitam aos idosos optar melhor sobre a forma com que utilizam o seu
tempo livre, podendo diversificar mais as atividades.
No Brasil, os programas para os idosos têm apresentado menos opções, sendo que o
enfoque é na atividade física, o que acaba se tornando uma das poucas opções para tirar os
idosos de casa. Nesta pesquisa, as idosas com melhores condições sócio-econômicas tendiam
a não participar de grupos de convivência, pois continuam freqüentando os espaços de lazer,
convivendo com amigos e se ocupando com atividades culturais ou familiares, pois tem
conservado seu papel social. Dona Azaléia é um exemplo disto, pois não freqüenta grupos de
convivência porque não sente necessidade de encontrar mais pessoas e gosta das suas
atividades, costuma se reunir com amigos e tem um papel ativo na família.
As idosas com boa situação financeira que m pouco acesso às atividades culturais
costumam freqüentar menos os grupos de convivência, mas tendem a praticar atividade física
como uma forma de sair de casa e sentir-se bem, preservando hábitos de leitura. Algumas
relataram freqüentar academias ou praticar caminhada. No entanto, as idosas com baixa
escolaridade e com menor nível econômico, tendem a procurar grupos de atividade física e de
convivência como forma de encontrar pessoas e se ocupar de algo. Conforme Matiello Júnior
e Gonçalves (2001, p.6) denunciam: “[...] para a grande legião de excluídos, conservam-se
programas de caráter massivo com maquiagem de modernidade, proliferando inclusive pelas
vias das políticas públicas [...]”.
Os resultados evidenciaram que as idosas mais pobres tinham menos atividades de
lazer do que as com melhores condições financeiras. Estes resultados evidenciam que além da
natureza das atividades de lazer ser diferente, o número também o é. Estes fatores com certeza
colaboraram para o aumento da prática de atividade física e engajamento em grupos de idosos
por parte das mais pobres.
Outro resultado encontrado foi a mudança na prática de atividade física regular, sendo
que a maioria das idosas não praticava atividade física e depois da aposentadoria passou a
134
praticar. Estes resultados discordam dos encontrados por Evenson et al. (2002) ao investigar a
relação entre a prática de atividade física atual e no passado de mulheres em período pós-
menopausa. Os pesquisadores verificaram que aquelas que não praticavam atividade física no
passado foram as que continuaram sem esta prática depois da menopausa, indicando que o
histórico e a prática de atividade física atual estão relacionados. Eles verificaram uma
tendência geral das mulheres diminuírem a prática de atividade física em geral, especialmente
os exercícios vigorosos.
Neste estudo, poucas participantes relataram ter praticado ou praticar atividades físicas
vigorosas. As idosas mais pobres relataram que durante a fase em que trabalhavam, elas não
tinham tempo para atividade física nem para o lazer devido ao trabalho excessivo com dupla
jornada. Elas relataram ter começado a praticar atividade física depois da aposentadoria. Isto
foi diferente entre as classes econômicas, pois as idosas com melhor situação financeira
relataram praticar atividade física a maior parte da vida. Assim, pode-se dizer que o histórico
de atividade física e de lazer das idosas está diretamente relacionado com a classe econômica
e com o trabalho que exerciam no passado.
As condições de trabalho podem ser consideradas uma das razões pelas quais foi
verificada associação entre histórico de atividade física e classe econômica, sendo que as
idosas com pior classe econômica não praticavam atividade física regularmente ou
trabalhavam pesado. Assim, a classe econômica acaba por impedir a prática de atividade
física, pois as mulheres mais pobres têm que trabalhar e cuidar da casa. Esta “escolha” sobre
as atividades físicas e de lazer está restrita às mulheres de classe econômica mais alta, que não
têm dupla jornada de trabalho. Mesmo as mulheres de classe econômica alta que trabalhavam
fora de casa, conseguiam praticar atividade física, pois tinham ocupações menos desgastantes
e contavam com auxílio de empregada doméstica para cuidar da casa.
Não a prática de atividade física voluntária era prejudicada pelas condições de
trabalho, como também o lazer em geral. Nos relatos foi verificado que não apenas a falta de
tempo, mas o cansaço provocado pelo trabalho excessivo dificultava as práticas de lazer.
Ludmila Mourão (1999) investigou a realidade de mulheres com baixa escolaridade que
trabalham como diaristas em São Paulo. Elas saem às quatro e meia da manhã e retornam às
nove da noite, seis vezes por semana, além de ter que realizar suas próprias tarefas
domésticas. Elas m grande dificuldade de acesso às atividades de lazer e relatam que “o
cansaço não deixa fazer outra coisa”.
Cabe questionar se a falta de atividade física é mesmo um problema para estas
mulheres, pois pelo que parece a questão central, neste caso, está nas condições de trabalho.
135
Mesmo que estas mulheres pobres tivessem tempo para atividade física não praticariam, ou se
praticassem, provavelmente obteriam resultados questionáveis. Quando se aposentam, ou
começam a receber pensão do marido, estas mulheres podem diminuir um pouco as suas
atividades de trabalho e buscar outras atividades, dependendo das oportunidades. Este é um
dos possíveis motivos para o aumento da prática de atividade física na terceira idade. No
entanto, o valor que recebem de aposentadoria força muitas das idosas a continuarem no
mercado de trabalho, tendo que se submeter à horas diárias de trabalho braçal, como é o caso
de algumas entrevistadas.
No Brasil, os idosos na sua maioria, em especial os mais pobres, fazem parte de uma
formação social subordinada, e os valores atuais de aposentadoria não permitem uma vida
confortável. Dona Flor, por exemplo, paga aluguel, precisa morar em apartamento por causa
da segurança, não restando opção para ela que não seja trabalhar, pois com a aposentadoria
ela pode pagar o aluguel e o condomínio, apenas. Ela poderá trabalhar até quando suas mãos
agüentarem, pois estes trabalhos, como costurar, passar, lavar, fazer faxina, são fisicamente
desgastantes e estão associados com o aparecimento de doenças ocupacionais (LEIGH et al.,
1999).
As doenças destas mulheres parecem estar relacionadas com as suas condições de
trabalho, daí a importância de conhecer a sua história. Palma (2000, p.98), citando Gadamer,
destaca: “a doença está relacionada à história do indivíduo e deste com a sociedade”. Fica
evidente o enfoque unilateral dos profissionais da saúde quando Dona Flor relata que às vezes
tem crises de labirintite que acontecem quando ela trabalha excessivamente, mas o médico
“não acha nada”, pois provavelmente ele não perguntou o quanto ela trabalha. Monteiro et al.
(1998, p.91) ao discutir a relação atividade física e saúde destacam que:
“é necessário considerar o cotidiano das pessoas, muitas vezes vinculado a
atividades ocupacionais que deterioram a saúde, as poucas opções de lazer
determinadas por condições sócio-econômicas precárias, as estruturas familiares
voltadas unicamente a própria subsistência são apenas alguns dos aspectos que
limitam a relação entre o indivíduo, o exercício físico e a saúde”.
Assim, o fenômeno de saúde dos idosos deve ser compreendido dentro de uma
perspectiva mais ampla. Nos estudos transversais sobre atividade física, é importante
compreender que populações com baixa renda, minorias étnicas e pessoas idosas com
deficiências são freqüentemente inativas, e que nos países menos desenvolvidos, os
indivíduos freqüentemente executam trabalho físico árduo e tarefas que podem acelerar
deficiências, causar lesões e agravar doenças existentes” (OMS, 2005).
136
Um dos problemas com estas afirmações é que se tende a atribuir as doenças ao
sedentarismo destes grupos e por isto procurar promover atividade física, como uma panacéia.
É relevante que neste estudo a maioria das idosas pratica atividade física mais de duas vezes
por semana, mas possuem muitas doenças que parecem estar mais associadas à sua história de
vida, em especial, às condições de trabalho, do que à prática de atividade física atual. Estas
tentativas de buscar onde está a “inatividade” parece direcionar a visão dos profissionais da
área da saúde para os “fatores de risco”, ignorando as condições históricas e sociais destas
pessoas.
A preocupação maior em reduzir os “fatores de risco” entre os idosos estão centradas
na preocupação com a redução de gastos com remédios e assistência médica para esta
população, conforme fica evidente na afirmação da OMS (2005, p.23) ao justificar a
realização de atividade física: importantes benefícios econômicos quando os idosos são
fisicamente ativos. Os custos médicos são significativamente menores para as pessoas idosas
ativas”. Esta afirmação deixa evidente que o bem estar humano não parece constituir-se de
um motivo suficiente para o governo proporcionar programas de atividades física, no entanto,
esta realidade não se restringe aos idosos, pois muitas pesquisas justificam a atividade física
para o trabalhador argumentando que isto aumenta a produtividade dos trabalhadores. Nas
palavras de Chauí (1994, p.18): a degradação senil começa prematuramente com a
degradação da pessoa que trabalha. Esta sociedade pragmática não desvaloriza somente o
operário, mas todo o trabalhador: o médico, o professor, o esportista, o ator, o jornalista”.
Os resultados deste estudo indicaram que não houve diferenças entre as praticantes,
intermediárias e não praticantes de atividade física em relação ao número total de doenças e
medicamentos utilizados. Mas em relação ao histórico de atividade física, foi verificado que
as idosas que foram praticantes de atividade física utilizavam mais medicamentos que as que
não praticavam ou que trabalhavam pesado. No entanto, o número de doenças apresentadas
pelos grupos não foi diferente. A utilização de medicamentos pode estar relacionada à classe
econômica, pois as idosas que foram praticantes de atividade física no passado são aquelas
com melhor condição econômica e podem, portanto, comprar mais remédios. A evidência é
que as praticantes de atividade física apresentaram uma média de doenças inferior ao número
de medicamentos, enquanto que as mais pobres apresentaram uma média de doenças superior
à dos medicamentos.
Em relação à depressão, foi verificado que algumas idosas apresentaram escores
elevados na escala de depressão, mas não indicaram ter diagnóstico clínico do transtorno. Este
dado pôde ser explicado pelos relatos das participantes, onde as mais pobres afirmaram ter
137
sofrido “grande tristeza”, mas nunca terem consultado um psiquiatra. Além disto, muitas
idosas pobres relataram não tomar remédio para depressão e sofrer de insônia, enquanto as de
classe econômica mais alta associaram a depressão ao uso de remédios e à perda de memória.
Houve correlação entre dificuldade de dormir e depressão, principalmente para aquelas de
classe econômica mais baixa. Isto parece estar associado ao maior uso de antidepressivos e
calmantes pelas idosas de classe econômica alta, o que auxilia com que a depressão não
provoque insônia, mas cause maiores danos à memória. Talvez isto explique porque a
correlação entre dificuldade de dormir e nível de depressão tenha sido mais alta na classe
econômica baixa.
Noronha e Andrade (2005) verificaram que os países que apresentam os piores
indicadores sociais, como desigualdade de renda e baixo índice de desenvolvimento humano,
são aqueles que têm as maiores desigualdades na utilização dos serviços de saúde. Lima-
Costa et al. (2003) demonstraram que os idosos brasileiros com baixa renda mensal são
aqueles que têm menor acesso aos serviços de saúde. No presente estudo é provável que a
falta de diagnóstico clínico da depressão observado entre as idosas de classe econômica baixa
esteja associada às dificuldades de assistência médica adequada.
Foi verificado que a correlação entre auto-avaliação da saúde e estresse percebido é
três vezes mais alta nas idosas de classe econômica baixa. Lima-Costa, Barreto e Giatti (2002)
verificaram que adultos e idosos com baixa renda utilizam menos os serviços de saúde. Esta
baixa utilização dos serviços de saúde está relacionada à desigualdade social e pode, no caso
das idosas deste estudo, estar provocando maior estresse.
As idosas atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) recebem atendimento e
prescrições de remédio diferenciado, como parece ser o caso de Dona Dália, que embora
nunca tenha consultado um psiquiatra, tomava doses excessivas de diazepan, que a médica
“do postinho” havia prescrito para a sua insônia. Huf, Lopes e Rozenfeld (2000) indicam que
embora os benzodiazepínicos não sejam recomendados para os idosos, são os medicamentos
mais usados por estes, especialmente por aqueles das classes econômicas mais baixas e com
menor nível educacional. Estes remédios são distribuídos gratuitamente nos postos de saúde,
são de baixo custo financeiro, e apresentam uma vasta lista de efeitos colaterais, incluindo a
insônia.
Não foi verificada relação significativa entre prática regular de atividade física e
depressão, estresse e desempenho cognitivo. Esses resultados contrariam o que algumas
pesquisas vêm mostrando, de que praticantes de atividade física apresentam menos depressão
(MURPHY et al., 2002; FUKUKAWA et al., 2004; BARBOUR e BLUMENTHAL, 2005),
138
estresse (ATLANTIS et al., 2005; HARRIS et al., 2006; KRAUSE et al., 1993) e melhor
desempenho cognitivo (LAMBOURNE, 2006; WEUVE et al., 2004; KRAMER, ERIKSON e
COLCOMBE, 2006).
Porém, não são raros os estudos que não observaram tal relação. Kritz-Silverstein et al.
(2001) verificaram em um estudo prospectivo que as relações entre atividade física e
depressão embora tenham sido encontradas na primeira avaliação, não foram confirmadas em
8 anos. Os autores verificaram que os indivíduos mais deprimidos não costumam continuar
em programas de atividade física, ou se engajar nestas práticas, indicando que a ordem
temporal da relação é contrária ao que muitos pesquisadores sugerem a partir de dados
epidemiológicos. Outros estudos também não encontraram qualquer relação entre prática de
exercícios físicos e depressão (COOPER-PATRICK et al., 1997; LENNOX et al., 1990;
WEYERER, 1992).
Krause et al. (1993), embora tenham encontrado relação entre atividade física e
estresse, verificaram que os idosos expostos a determinados agentes estressores tendem a
diminuir a freqüência de atividade física. Eles demonstraram que idosos com maior suporte
social realizam mais exercício físico. Estas pesquisas sugerem que quanto melhor as
condições de saúde dos idosos, maiores as chances de se engajarem em programas de
atividade física.
Neste estudo não foi encontrada relação entre prática de atividade física, depressão e
estresse. A questão discutida anteriormente, sobre a mudança de hábitos de atividade física e a
falta de opções de lazer, talvez ajude a explicar este resultado, pois as idosas deprimidas
também têm se engajado nos grupos de atividade física para idosos. Isto fica evidente no caso
de Dona Angélica, que é pobre e diz participar do grupo para “não fazer uma besteira”, como
a única forma de se distrair. Dona Tulipa, que também é pobre e tem depressão maior, deixa
claro que não iria ao grupo de atividade física se as filhas não a obrigassem, embora ela relate
gostar da prática.
Verificou-se que o principal determinante do estresse percebido foi o acontecimento
de eventos emocionais que ainda afetavam as participantes. Wang et al. (2001) investigaram
os níveis de estresse e depressão em idosos e verificaram que aqueles expostos a muitos
fatores estressantes, tais como morte de entes queridos, baixo nível sócio econômico e
dependência financeira eram os que mais sofriam de depressão. Estes resultados reforçam a
importância dos eventos emocionais negativos no estresse e depressão, indo ao encontro do
que foi verificado no presente estudo, onde o acontecimento de problemas emocionais
pareceu diferenciar as idosas em relação ao estresse e a depressão, a níveis superiores aos de
139
qualquer outra variável investigada neste estudo. No caso de Dona Tulipa, que apresentou o
maior escore na escala de depressão, fica evidente como estes eventos emocionais afetam o
estresse e a depressão das idosas. Ela perdeu o marido, é de classe econômica baixa e depende
financeiramente da filha. Todos estes fatores, citados por Wang et al. (2001), interferem na
depressão de Dona Tulipa, que não parece dispor dos recursos necessários para se recuperar
da doença.
Em relação ao desempenho cognitivo, não foram encontradas diferenças entre as
praticantes, intermediárias e não praticantes de atividade física na maioria dos domínios
cognitivos. Madden et al. (1989) realizaram um estudo experimental onde foram investigados
os efeitos do treinamento aeróbico em uma amostra de 85 idosos, divididos em grupo de
exercício aeróbico, não aeróbico (yoga) e grupo controle (lista de espera). Após 16 semanas
de treinamento, todos os idosos do grupo de exercício aeróbio aumentaram significativamente
a capacidade aeróbica, no entanto, não houve nenhuma melhora no TR de atenção e memória
em função deste aumento. Os autores deste estudo indicaram que as mudanças cognitivas
promovidas pelo exercício sugeridas pelos estudos epidemiológicos podem ocorrer devido às
diferenças nas características particulares dos grupos de ativos e sedentários.
Talvez estas diferenças nas características particulares entre praticantes e não
praticantes de atividade física é que esteja aumentando as correlações entre atividade física e
cognição verificada em muitos estudos. Weuve et al. (2004) verificaram que a atividade física
regular está associada com melhor função cognitiva e menor declínio em mulheres idosas.
No entanto, Sturmann et al. (2005) ao investigar a mesma hipótese considerando o
nível de atividade cognitiva, obteve resultados diferentes, sendo que a atividade física
esteve associada com melhor função cognitiva quando as atividades intelectuais das idosas
não eram consideradas. Os pesquisadores verificaram que a atividade física sozinha não
protege contra declínio cognitivo, e que provavelmente, a maioria dos estudos que
demonstrou tal relação, foi porque não considerou a prática de atividades intelectualmente
estimulantes realizadas pelos idosos. Foi constatado que os idosos mais ativos fisicamente são
aqueles com maior escolaridade e que participam de mais atividades cognitivas.
Outros estudos também não verificaram associação significativa entre prática de
atividade física e desempenho cognitivo, mas constataram que quanto mais atividades
cognitivas os idosos estão engajados, menor o risco de declínio cognitivo (FRATIGLIONI et
al., 2004; VERGHESE et al., 2006; WANG et al., 2006).
Hultsch et al. (1999) demonstraram que indivíduos que participam em desafios
intelectuais envolvendo novos tipos de processamento de informação, como aprender novos
140
idiomas e jogos, são menos suscetíveis a sofrerem declínio cognitivo. Wilson et al. (2002)
demonstraram através de um estudo longitudinal que aqueles engajados em atividades como
ler jornais, revistas e ir a museus, têm um risco reduzido em desenvolver a doença de
Alzheimer. Stanovich e Cunningham (1992) descobriram uma relação entre o tempo gasto em
ler livros e outros materiais, e o desempenho em medidas de compreensão de leitura.
Poucas idosas indicaram praticar jogos que estimulem a cognição e, entre as
modalidades de atividade física, nenhuma relatou praticar esportes, com exceção do Tai-chi-
chuan e da natação. Isto parece ter ocorrido por dois motivos principais: as experiências
negativas na Educação Física na escola e as recomendações médicas, que limitam a prática de
atividade física das idosas à caminhada e hidroginástica.
Considerando que participar de atividades cognitivamente estimulantes e prazerosas é
positivo para a função cognitiva, por que não pensar em oferecer outras modalidades para os
idosos? Por que não oportunizar a aprendizagem de esportes para a terceira idade ou
atividades físicas desafiadoras, que promovam novos estímulos e reforcem que a
aprendizagem é possível em todas as idades? É realmente proveitoso utilizar a atividade física
como uma espécie de remédio, que os médicos recomendam o tipo e a dose sem considerar se
a pessoa se sente mais ou menos feliz ao ingerir?
A falta de preocupação em proporcionar atividades físicas mais prazerosas e
estimulantes pode ser constatada em alguns manuais de atividade física, como o divulgado
pelo consulado de aptidão física, saúde e esportes de Michigan (LAMPMAN, 2002). Neste
documento existe um conjunto de recomendações para os profissionais da saúde em relação à
atividade física. Todas as recomendações enfatizam os benefícios da atividade física, dizendo
que os gastos são menores quando os idosos são fisicamente ativos e por isto os profissionais
devem: 1) ter conhecimento dos benefícios da atividade física; 2) encorajar os idosos a
praticarem atividade física; 3) ser ativos fisicamente para “dar exemplo”; 4) advogar
fortemente em favor da atividade física. Entre as recomendações, não havia nenhuma
alertando os profissionais para pensar em intervenções criativas, em formas de tornar a
atividade física mais prazerosa ou mais adequada à realidade social da população.
Por isto, é preciso pensar em novas formas de intervir sem perder de vista a realidade
histórica e social dos idosos, conforme Boghossian (1999, p.99) destaca:
Explorar estas possibilidades e propor novas práticas é tarefa imprescindível.
Demanda buscar formas criativas de intervenção a partir da realidade social e
cultural das comunidades, famílias e indivíduos. Pensamos que uma de suas metas é
fazer possível uma elaboração da revolta em ação transformadora, ação política e
141
solidária, em cuidados mútuos e sobretudo em respeito às vivências e expressões
culturais de cada grupo.
Entre as correlações foi verificado que as principais variáveis relacionadas com a
memória de trabalho foram: o estresse percebido, a idade e o nível de atividade intelectual. Ao
realizar as correlações parciais destas variáveis com a memória de trabalho, não foram
encontradas mudanças nos coeficientes, indicando que estas correlações são independentes.
Assim, o estresse percebido respondeu por 14% da variância da memória de trabalho, a idade
respondeu por 16% e o nível de atividade intelectual respondeu por 32% da variância da
acurácia de memória de trabalho. Estes resultados indicam que a idade pode influenciar na
memória de trabalho, mas que o nível de atividade intelectual responde pelo dobro da
variância nesta variável. Assim, sugere-se que qualquer possível déficit da idade poderia ser
amenizado por uma maior atividade intelectual e menor nível de estresse.
Estes resultados estão de acordo com a hipótese de que o excesso de cortisol gerado
pelo estresse excessivo pode lesar as células do hipocampo e desta forma prejudicar a
memória (McLULLICH et al., 2005; WOLF et al., 2005). No entanto, é importante destacar
que o coeficiente de correlação encontrado não é suficiente para explicar a maior parte da
variação no desempenho de memória das idosas.
A correlação do desempenho cognitivo com a idade indica que a hipótese de que a
memória de trabalho diminui com a idade pode estar correta (MATTAY et al., 2006), mas da
mesma forma que o estresse, ela explica apenas uma parte da variação no desempenho de
memória de trabalho. Além da memória, o tempo de reação apresentou correlação com a
idade, indicando que quanto maior a idade, mais lenta é a resposta ao estímulo visual.
Uma análise apressada deste resultado viria a reforçar o preconceito contra este
grupo etário, desconsiderando os aspectos sociais relacionados com os “declínios”
verificados. O uso de testes classificatórios, fundamentados na velocidade e rendimento
ganham força sustentados pela ótica capitalista da produtividade. Estes testes, em diversas
ocasiões, aumentaram o preconceito com os idosos, julgando-os como lentos, desde o
Fordismo e Taylorismo, onde se reforçava a velocidade como qualidade humana fundamental,
para servir aos interesses do modo de produção capitalista (SIMMS, 2004).
Os resultados do presente estudo evidenciam que o nível de atividade intelectual foi
determinante no desempenho cognitivo nas tarefas mais complexas, bem como na capacidade
cognitiva geral. O nível de atividade intelectual desta pesquisa engloba variáveis como
escolaridade, ocupação e leitura no passado, tipo e freqüência de leitura semanal e a
realização de jogos. Este nível de atividade intelectual apresentou maior relação com o
142
desempenho e com a capacidade cognitiva geral do que a escolaridade sozinha, indicando que
além do nível educacional, as atividades cognitivas podem influenciar na função cognitiva das
idosas.
Algumas pesquisas demonstram que o nível educacional influencia positivamente na
longevidade, sendo que as pessoas que com maior escolaridade vivem mais e melhor
(LLERAS-MUNEY, 2005; ZAJACOVA, 2006) além de ter menor risco de desenvolver
demência (EVANS et al., 1997). Springer et al. (2005) verificaram que a ativação cerebral de
idosos durante a realização de uma tarefa de memória de trabalho é diferente para aqueles
com maior escolaridade, que demonstram maior atividade no lobo frontal durante este tipo de
teste. Os autores sugerem que a escolaridade protege a função cognitiva auxiliando no
desenvolvimento de uma rede neural auxiliar.
Foi constatado que o nível educacional das idosas depende da classe econômica delas
enquanto jovens, pois as mais pobres tiveram que trabalhar desde cedo e por isto não
estudaram. Os motivos pelos quais muitas idosas não estudaram ficam evidentes nos casos de
Dona Violeta, Dona Dália e Dona Orquídea. Questões como preconceito, pobreza e trabalho
impediram muitas idosas de freqüentar a escola e isto pareceu repercutir na sua vida e na
realização de atividades intelectuais. As idosas que não puderam estudar são aquelas com
menos hábitos de leitura, ou de realização de atividades intelectuais.
As participantes que apresentaram os maiores escores de atividade intelectual foram
aquelas com melhor condição financeira e escolaridade, que não tinham muitos obstáculos
para a realização destas atividades. As participantes que estudaram menos, além de terem que
se esforçar mais para realizar as leituras, tinham uma situação financeira complicada, tendo
pouco tempo para as atividades. O nível de leitura parece seguir o padrão do passado, sendo
dependente do nível educacional, até porque para sentir prazer em ler qualquer pessoa precisa
ter boa fluência verbal.
Aleey, Suthers e Crimmins (2007) ao investigar se o nível educacional está
relacionado com menor declínio cognitivo verificaram que embora os idosos com maior
escolaridade apresentem melhor desempenho cognitivo, eles também declinaram esta
capacidade. Alguns pontos são importantes neste estudo: o primeiro deles é a diferença
cultural, pois os participantes são americanos e estudaram em média 11,1 anos (s=3,5). Mais
da metade dos participantes tem acima de 10 anos de escolaridade. Mas a questão mais
importante é que o declínio cognitivo esteve presente em ambos os grupos e foi avaliado
através de testes de memória verbal, como se esta fosse uma medida de capacidade cognitiva
geral. Assim, o declínio cognitivo ao que os autores se referem é a redução da memória verbal
143
de trabalho e de curto prazo e não da capacidade cognitiva geral, como eles parecem se
referir.
Thompson (1992) argumenta que a memória de curta duração diminui naturalmente
com o envelhecimento, mas que a memória de longo prazo para acontecimentos, pessoas e
coisas importantes permanece intacta. O autor atribui esta redução de memória de curto prazo
ao aumento do número de lembranças dos mais velhos, que obriga a memória de curta
duração a se tornar mais seletiva com coisas menos importantes. Talvez se esteja utilizando
testes inadequados para avaliar o que é um bom funcionamento cognitivo, pois parece que na
maioria das vezes, os testes conseguem avaliar coisas que são irrelevantes para os idosos.
Embora o presente estudo tenha se utilizado destes testes, foi verificado que as idosas
não atribuem a mesma importância que os pesquisadores para a memória de curto prazo. A
falta de coerência entre o que os pesquisadores mensuram e aquilo que é realmente importante
para os idosos fica evidente também no estudo de Fabre et al. (1999), ao realizar uma
pesquisa experimental sobre a qualidade de vida de idosos antes e depois de programas de
treinamento aeróbico e/ou mental. Os resultados indicaram que ambos os grupos melhoraram
os escores de memória de trabalho, no entanto, todos os participantes do estudo relataram não
estar satisfeitos com as melhoras em termos de qualidade de vida, indicando que os aumentos
“objetivos” de memória que eles tiveram não exerceram impacto algum na sua vida.
O relato de Dona Margarida sobre a sua memória de curto prazo denuncia isto,
indicando que a relevância daquilo que deve ser lembrado influencia na memória, porque
recebe maior ou menor atenção: “[...] que diferença vai fazer se eu não pegar o leite quando
eu abrir a geladeira? Eu vou abrir ela depois e pegar o leite”. Além disto, Dona Hortênsia
deixa clara esta contradição, ora dizendo que sua memória não está boa ao se referir às coisas
pequenas, ora afirmando que “parece um computador” se referindo às datas de aniversário e
coisas importantes para ela.
Dona Açucena apresenta o padrão de memória contrário ao da maioria das idosas. Ela
teve um excelente desempenho nos testes de memória de trabalho e memória de curto prazo,
mas se queixou da sua memória de longo prazo, dizendo que não consegue lembrar a maioria
das coisas importantes que aconteceram com ela há mais tempo e que esquece as pessoas com
quem conviveu, relatando que isto a incomoda muito. Estes resultados ajudam a confirmar a
idéia de Thompson (1992) de que à medida que aumenta o número de experiências de vida e
coisas importantes para lembrar a memória de curta duração tende a se tornar mais seletiva.
Assim, isto não seria necessariamente algo ruim para os idosos, mas natural, sendo mais
144
importante enfatizar o que eles ganham neste processo, no sentido de experiência de vida, de
história.
Kolev, Falkenstein e Yordanova (2006) ao investigar os efeitos da idade no tempo de
reação de escolha e no processamento cerebral (ERPs/RRPs) verificaram que os idosos
embora apresentassem respostas motoras mais lentas, tinham uma latência de resposta motora
maior e cometiam menos erros que os mais jovens. Estes resultados sugerem que a
lentificação do tempo de reação dos idosos aconteça em função do aumento do limiar de
ativação cerebral da resposta motora, que é um indício de maior elaboração cerebral da
resposta e não processamento cerebral mais lento. Os autores concluem afirmando que os
idosos são prejudicados em testes neuropsicológicos que dependem exclusivamente de
velocidade, mas que ganham no sentido de fazer melhores escolhas, da elaboração e do
acerto.
A capacidade cognitiva geral, no presente estudo, apresentou maiores correlações com
a acurácia das respostas e não com o tempo de reação, apontando que o número de acertos
parece estar associado de forma mais consistente com o status cognitivo das idosas do que a
velocidade em si (TR).
As falas das idosas em relação a sua capacidade de solucionar problemas estão de
acordo com as conclusões de Kolev, Falkenstein e Yordanova (2006), pois elas relatam que se
sentem mais capazes de tomar decisões por causa da experiência que adquiriram durante a
vida, e que quando jovens, eram mais apressadas, mais “mecânicas”. Estes resultados
parecem apontar novas maneiras de ver a capacidade cognitiva dos idosos, na tentativa de não
valorizar apenas o que é possível mensurar.
A auto-avaliação da capacidade de solucionar problemas foi positiva, e reforçada pelas
falas de que “a experiência ajuda muito” a tomar melhores decisões. Houve correlação da
auto-avaliação da capacidade de solucionar problemas com a classe econômica, renda mensal,
escolaridade e nível de atividade intelectual. A maior correlação foi entre auto-avaliação da
capacidade de solucionar problemas e nível de atividade intelectual, que engloba a
escolaridade. Estes resultados indicam que a capacidade de solucionar problemas está ligada a
algo mais do que a experiência de vida, mas também com os recursos que estas idosas
dispõem para resolver as coisas. Talvez por isto a maioria dos relatos sobre este assunto foi
feito por idosas com alta escolaridade.
Os relatos de Dona Gloriosa sobre a sua memória e capacidade de solucionar
problemas denunciam as questões ligadas ao preconceito contra os idosos, propagado muitas
vezes pelas pesquisas que procuram mostrar os “declínios” associados ao envelhecimento.
145
Dona Gloriosa comenta que ela até tomaria as decisões sozinha, que se sente capaz e com
experiência, mas que a filha a critica dizendo que velhos não podem tomar decisões sozinhos,
o que a própria Dona Gloriosa aceita como verdade, dizendo: “... pessoa de mais idade não
pode tomar decisão sozinha, fazer o que quer né?”. Bosi (1994) enfatiza que não é apenas o
idoso pobre sofre com o preconceito, mas que o idoso rico também, à medida que é tido como
alguém “lento”, “caro”, “incapaz de decidir com clareza”. Como os idosos não estão mais no
mercado de trabalho por serem considerados “caros” e “lentos”, interessa, ao modo de
produção atual, excluí-los da sociedade (SIMMS, 2004).
O histórico de atividade física não pareceu estar associado à depressão, estresse e
desempenho cognitivo. Nenhuma variável relacionada à atividade física pareceu ter qualquer
associação com as variáveis de estudo. Estes resultados dão suporte à hipótese levantada por
Madden et al. (1989) ao sugerir que a origem das diferenças no desempenho cognitivo
encontrada em muitos estudos epidemiológicos seja gerada por diferenças nas características
dos grupos de pessoas que praticam e não praticam atividade física. Estas características, no
caso dos estudos sobre a função cognitiva dos idosos, estão relacionadas ao nível de atividade
intelectual, como sugere Sturmann et al. (2005).
A situação financeira das idosas não pareceu ter uma influência direta sobre o estresse,
a depressão e desempenho cognitivo. Schramm e Castiel (1992) afirmam que não é possível
que variáveis pertencentes ao nível macro social, como classe social, tenham uma relação
causal com agravos específicos ao nível micro social (individual, como o desempenho
cognitivo). Os autores sugerem a existência de níveis intermediários de análise. Neste estudo,
este nível intermediário pareceu ser a atividade intelectual, que é dependente da escolaridade
e das condições de vida. Nos relatos das participantes, fica claro que só estudaram aquelas que
tiveram as condições sócio-econômicas necessárias na época, e que as atividades cognitivas
estão relacionadas com as condições de vida, incluindo a família, o trabalho e o nível
educacional que permite maior facilidade na realização destas atividades.
É possível que exista relação entre atividade física, estresse, depressão e desempenho
cognitivo, no entanto, os resultados levam a repensar como os fatores históricos, sociais e
econômicos interferem nesta relação. Em síntese, esta discussão permitiu observar alguns
pontos principais. A maioria dos estudos que verificou relação entre atividade física, estresse,
depressão e desempenho cognitivo o fez em uma população onde as pessoas que praticam
atividade física são aquelas que têm melhor situação financeira e maior escolaridade.
Nos estudos internacionais, os idosos que praticam atividade física são aqueles que
sempre praticaram (EVENSON et al., 2002), sendo que nesta pesquisa, a maioria das idosas
146
passou a praticar atividade física depois da aposentadoria. Não foi verificada diferença na
situação econômica, na escolaridade e nas atividades intelectuais de praticantes,
intermediárias e não praticantes de atividade física. Talvez por isto, não tenham sido
encontradas diferenças no estresse, depressão e desempenho cognitivo entre praticantes,
intermediárias e não praticantes de atividade física, o que reforça a hipótese de que a
associação entre atividade física e tais fatores neuropsicológicos tenha sido verificada, em
muitas pesquisas, graças às diferenças nas características dos grupos, tais como classe
econômica e escolaridade. O contexto econômico e social específico das participantes do
presente estudo impediu encontrar esta relação, indicando que a atividade física, sozinha, não
é determinante no nível de estresse, depressão e desempenho cognitivo.
147
5 CONCLUSÕES
“Certeza é o chão de um imóvel
Prefiro as pernas que me movimentam”
Nando Reis
Os resultados encontrados neste estudo, em conjunto com a literatura revisada
permitiram algumas conclusões com base nos objetivos propostos:
As idosas participantes deste estudo apresentam um melhor nível sócio-econômico e
educacional em relação à população de idosos de Florianópolis. A auto-avaliação da saúde, da
memória e da capacidade de solucionar problemas das idosas é positiva. A maioria das idosas
pratica atividade física regularmente, mas não praticava no passado, principalmente por causa
das atividades ocupacionais. Não foi verificada associação entre prática de atividade física
atual e classe econômica, no entanto, foi constatado que as idosas que praticavam atividade
física no passado apresentaram maior renda mensal e classe econômica em relação as que não
praticavam ou trabalhavam pesado.
A prática de atividade física não se mostrou determinante no estresse, depressão e no
desempenho cognitivo. Foi constatado que a ocorrência de problemas emocionais é capaz de
diferenciar o estresse percebido e o nível de depressão das idosas, não havendo interação
destes com a atividade física.
O histórico de atividade física, nesta amostra, não está relacionado com o estresse,
depressão e desempenho cognitivo.
O nível de atividade intelectual foi determinante na capacidade cognitiva e na acurácia
do desempenho cognitivo nas tarefas de memória de trabalho, memória de curto prazo e tempo
de reação de escolha.
Não foram verificadas interações entre a prática de atividade física atual e no passado e
nível de atividade intelectual.
Os depoimentos das idosas permitiram observar diferenças nas representações das
idosas de classe econômica alta e baixa em relação à depressão, educação, saúde, atividade
física e lazer e aspectos neuropsicológicos relacionados ao envelhecimento. Foi verificado que
existe uma mudança na prática de atividade física depois da aposentadoria, sendo que a
maioria das idosas começa a praticar atividade física como forma de ocupar o tempo livre,
devido às poucas oportunidades de lazer disponíveis.
Com base nestes resultados, é possível negar o pressuposto teórico que fundamentou
este estudo, no qual era sugerido que as idosas praticantes de atividade física regular com
maior nível de atividade intelectual apresentariam menor nível de estresse percebido e
depressão e melhor desempenho cognitivo, sendo estas as que teriam melhores condições de
vida e nível sócio-econômico. Além disto, era esperado que o histórico de atividade física
fosse coerente com a prática de atividade física atual, sendo que a relação entre estresse,
depressão e desempenho cognitivo seria dependente de ambos.
Os resultados que levaram a negar o pressuposto teórico estão relacionados às
diferenças na realidade social das participantes desta pesquisa que é diferente da investigada
em muitos estudos. Isto pôde ser compreendido a partir dos depoimentos das idosas,
auxiliando na interpretação dos dados analisados estatisticamente e ajudando a esclarecer a
origem das diferenças dos resultados deste estudo em relação ao que foi demonstrado nos
artigos internacionais da área. A diferença principal das idosas desta pesquisa é que as
praticantes de atividade física não se diferenciavam das intermediárias e não praticantes em
relação à classe econômica e nível de atividade intelectual. Este é um resultado peculiar, pois
o que se observou em muitos outros estudos é que as pessoas que praticam atividade física
costumam ter melhores condições financeiras e maior escolaridade.
O nível de atividade intelectual incluiu a escolaridade e a realização de atividades que
estimulem a cognição. A escolaridade pareceu ser dependente do nível sócio-econômico na
infância, além de ser fundamental no nível de atividade intelectual. A maioria das idosas
praticam atividade física três ou mais vezes por semana, independente da classe econômica e
da escolaridade. No passado, a maioria das participantes deste estudo não praticava nenhum
tipo de atividade física, mas depois da aposentadoria, passaram a praticar, principalmente
devido às poucas opções de lazer oferecidas para os idosos.
A falta de acesso às atividades de lazer, bem como a baixa oferta de atividades
intelectualmente estimulantes pode ter colaborado para que muitas idosas praticassem
atividade física. Cabe ressaltar que, apesar das dificuldades, existem programas para idosos
que trazem um enfoque mais global, como o Grupo de Estudos da Terceira Idade (GETI), do
CEFID-UDESC, grupo este que promove uma série de atividades físicas e de lazer, incluindo:
informática, cantoterapia, dança de salão, yoga, natação, hidroginástica e musculação. Embora
existam iniciativas como esta para promover atividades para a população idosa, é importante
149
destacar que estas ainda são escassas perto do grande contingente de idosos que necessitam ser
atendidos.
Foi constatado que a auto-avaliação da saúde está relacionada com o estresse
percebido, sendo esta maior entre as idosas de classe econômica baixa, principalmente por
causa da desigualdade no acesso aos serviços de saúde. Observou-se correlação memória de
trabalho e estresse, idade, escolaridade e nível de atividade intelectual. Destes, a escolaridade
e o nível de atividade intelectual apresentaram os maiores coeficientes de correlação,
indicando que o nível de atividade intelectual foi responsável pela maior parte da variância na
memória de trabalho com coeficiente superior aos do estresse e da idade juntos.
As idosas não atribuiram muita importância para a memória de trabalho, relatando
fatos que ilustram o quanto um leve declínio desta função não interfere no seu cotidiano.
Muitas idosas destacam a importância da experiência de vida, e como isto trouxe benefícios a
elas, no sentido de fazerem melhores escolhas, de se sentirem mais calmas e maduras, de ter
aprendido a viver a vida de maneira menos “mecânica” e apressada.
Os resultados desta pesquisa suscitam alguns questionamentos e indagações sobre a
relação atividade física e saúde na terceira idade. O fato de não encontrar diferenças no
estresse, na depressão e no desempenho cognitivo das idosas que praticam e não praticam
atividade física aponta para a complexidade do fenômeno, indicando que outros fatores
importantes na relação “atividade física e saúde” podem não estar sendo considerados em
muitas pesquisas. A constatação de que acontecimentos negativos são capazes de diferenciar o
nível de estresse e depressão das idosas de forma mais significativa que a atividade física
possibilita questionar os diversos estudos sobre esta temática que não consideram esta
variável.
Não se pretende aqui afirmar que a atividade física não está relacionada com os
aspectos neuropsicológicos das idosas, apenas evidencia-se a complexidade da relação que
não pode conferir a atividade física uma capacidade “produtora” de saúde. Estes resultados
vêm a destacar o conteúdo ideológico presente na maioria dos estudos que demonstram a
atividade física a principal determinante da saúde, mascarando a problemática histórica e
social dos idosos brasileiros, fazendo com que sejam simplificadas as ações necessárias na
promoção de saúde para esta população.
150
As possibilidades apontadas nesta pesquisa e os questionamentos feitos a partir destes
resultados direcionam o estudo a uma problemática mais ampla, em um contexto sócio-
econômico específico, que valoriza o produto, o lucro, relegando o ser humano a um papel
secundário. Os problemas sociais enfrentados pelos idosos não deixam de ser um reflexo de
uma sociabilidade regida pelo capital, onde pessoas que não trabalham, não têm valor.
A visão utilitarista da atividade física fez com que os esforços se direcionassem na
tentativa de legitimá-la e não de aperfeiçoar as suas diversas manifestações. Considerando o
atual contexto sócio-econômico seria frustrante depositar na atividade física a esperança de
“cura para todos os males”. Entretanto, pelas suas diversas possibilidades na esfera da saúde,
a ênfase deve recair sobre a criação de novas práticas e propostas, que redirecionem
constantemente as pesquisas e intervenções por meio do questionamento e diálogo com a
realidade social. Pesquisa, nas palavras de Minayo (2004, p.23) é uma atitude e uma prática
teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e permanente.
É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma
combinação particular entre teoria e dados”.
151
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167
ANEXOS E APÊNDICES
ANEXO 1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA
CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS - CEFID
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título do Projeto: Aspectos neuropsicológicos do envelhecimento e prática de
atividade física: possíveis relações em mulheres idosas
A senhora está sendo convidada a participar de uma pesquisa que investigará quais
as relações entre estresse, depressão, desempenho cognitivo e prática regular de atividade
física. A sua participação será condicionada pela disponibilidade em realizar os testes
propostos. Estas avaliações lhe tomarão aproximadamente 1 hora, dependendo do tempo
que a senhora achar necessário para responder as questões. Os testes envolvem responder
as perguntas sobre características gerais (por exemplo, escolaridade, religião, nível
econômico, entre outras), sobre sua saúde, histórico e atividades atuais. A senhora será
entrevistada com questões referentes ao seu estresse, depressão e estilo de vida. Também
realizará uma bateria de avaliação cognitiva no computador, simples e com
acompanhamento de um instrutor.
Garantimos o sigilo dos seus dados, pois cada participante será identificada por números.
A senhora terá algumas vantagens em participar do estudo, entre elas a oportunidade de
participar de uma pesquisa que visa o seu bem-estar e a possibilidade de colaborar com a
ciência. A senhora poderá também perguntar aos pesquisadores sobre os seus resultados.
A senhora pode se retirar do estudo a qualquer momento.
As pessoas que estarão lhe acompanhando serão a mestranda Caroline Di Bernardi
Luft e o professor Dr. Alexandro Andrade. Estes estão a sua disposição para quaisquer
esclarecimentos. Outros membros da equipe do Laboratório de Psicologia do Esporte e do
Exercício (LAPE) também estarão acompanhando a pesquisa e estarão a sua disposição.
Solicitamos a vossa autorização para o uso de seus dados para a produção de
artigos técnicos científicos. A sua identificação será mantida em sigilo, pois seu nome não
será apresentado na pesquisa. A senhora terá total liberdade e direito de não responder as
questões que não achar conveniente e também de se retirar do estudo.
Agradecemos a vossa participação e colaboração
PESSOA PARA CONTATO
Alexandro Andrade
Número do Telefone: (48)84063333. Endereço: Rua Paschoal Simone, n.358
169
TERMO DE CONSENTIMENTO
Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e, que recebi de
forma clara e objetiva todas as explicações pertinentes ao projeto e, que todos os dados a
meu respeito serão sigilosos. Eu compreendo que neste estudo, as medições dos
experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim.
Declaro que fui informado que posso me retirar do estudo a qualquer momento.
Nome por extenso
_________________________________________________________ .
Assinatura _____________________________________ Florianópolis,
____/____/____ .
170
ANEXO 2
Entrevista de caracterização geral e auto-avaliação das idosas
ORIENTAÇÕES PARA O PREENCHIMENTO
Pergunte à idosa e preencha o que ela responder, repita para ele a resposta para se certificar de que a
alternativa marcada foi a correta. Peça ao idoso que responda diretamente a pergunta e deixe-o livre para
fazer comentários sobre as questões.
Id:______________ Data de Nasc.: __/__/_____ Estatura:____cm Peso:______Kg
Religião:___________ Estado civil:___________________
Lateralidade: (1) destro (2) canhoto (3) ambidestro (peça que a idosa fazer um risco no papel)
Conhece cartas? ( ) sim ( ) mais ou menos ( ) não
Utiliza computador? ( ) sim ( ) poucas vezes ( ) nunca usou
Escolaridade máxima completa? ___ anos
( ) Nenhuma ( ) Primário ( ) Ginásio ougrau ( )grau completo (científico, técnico)
( ) Curso superior
Profissão?___________________________
Exerce a profissão atualmente? ( ) não ( ) sim, quantas horas por dia trabalha?_______________
Por favor, informe se em sua casa/apartamento existem e estão funcionando em ordem os
seguintes ITENS e QUANTIDADE que possui.
Você tem em sua casa:
Não tem
Quantos(as) tem?
1 2 3 4 ou +
Televisão em cores
Rádio
Banheiro
Automóvel
Empregada mensalista
Aspirador de pó
Máquina de lavar
Videocassete e/ou DVD
Geladeira
Freezer (ou parte da geladeira duplex)
Indique o grau de instrução do chefe da família:
Analfabeto/Primário incompleto 0
Primário completo/ Ginasial incompleto 1
Ginasial completo/ Colegial incompleto 2
Colegial completo/ Superior incompleto 3
Superior completo 5
Fonte(s) de renda:__ ____________ Renda Mensal: ________ Renda Mensal Familiar:
________
Quantas pessoas dependem desta renda? ____ pessoas
Em comparação a quando a senhora tinha 50 anos de idade, a sua atual situação econômica é:
( ) Melhor ( ) A mesma ( ) Pior ( ) N.S./N.R.
Para suas necessidades básicas, a sua renda mensal:
( ) Dá e sobra ( ) Dá na conta certa ( ) Sempre falta um pouco ( ) Sempre falta muito
A senhora mora em: ( ) casa ( ) apartamento ( ) outro: _______________________
Quantas pessoas vivem com a senhora neste local? ____ pessoas ( ) mora sozinha
171
Como a senhora considera o local onde mora (instalações):
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
Como a senhora avalia o seu relacionamento com os familiares mais próximos?
( ) Ótimo ( ) Bom ( ) regular ( ) Ruim ( ) Péssimo
CONDIÇÃO DE SAÚDE
1) Como a senhora avalia sua saúde?
( ) Péssima. ( ) Ruim. ( ) Regular ( ) Boa ( ) Excelente
2) A senhora tem problemas de saúde? ( ) sim ( ) não
Qual(is)?_______________________________________________________________________
_
3) Toma algum medicamento? ( ) sim ( ) não
Qual(is)?_______________________________________________________________________
_
4) A senhora fuma? ( ) não fuma ( ) ocasionalmente ( ) diariamente ( ) Parou
Caso tenha parado, há quanto tempo parou?_________________________________________ __
5) A senhora toma bebidas alcoólicas com que freqüência?
( ) nunca toma ( ) até 3 X por semana ( ) de 4 a 6 X por semana ( ) diariamente/
Qual a quantia?____________________
6) A senhora apresenta alguma dificuldade para dormir?
( ) nenhuma ( ) pouca ( ) média ( ) muita ( ) demais
7) A senhora toma algum remédio para dormir? ( ) nunca toma ( ) às vezes ( ) freqüentemente
Qual o medicamento? _____________________________________________________________
ESCALA DE SONOLÊNCIA EPWORTH
Utilize a escala apresentada a seguir, para escolher um número mais apropriado para cada situação. Marque
um X ao lado do valor correspondente a sua escolha, na tabela abaixo:
0 = nenhuma chance de cochilar
1= pequena chance de cochilar
2= moderada chance de cochilar
3= alta chance de cochilar
9) A senhora já recebeu diagnóstico médico de depressão? ( ) sim ( ) não
Em caso afirmativo, há quanto tempo aproximadamente?________________________________
10) Utilizou algum remédio para depressão? ( ) não ( ) sim, qual?_______________________
SITUAÇÃO CHANCE DE COCHILAR
Sentado e lendo 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
Assistindo TV 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
Sentado em um lugar público (ex. sala de espera, igreja, etc.) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
Como passageiro de trem, carro ou ônibus andando uma hora sem parar. 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
Deitando-se para descansar à tarde, quando as circunstâncias permitem. 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
Sentado e conversando com alguém 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
Sentado calmamente após o almoço (sem álcool) 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
Se estiver no carro, enquanto pára por alguns minutos no trânsito intenso. 0 ( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( )
TOTAL
172
11) Ainda sofre de depressão? ( ) sim ( ) não ( ) tem crises ocasionalmente
12) Toma algum medicamento anti-depressivo atualmente? ( ) sim ( ) não
AUTO-AVALIAÇÃO DA COGNIÇÃO
1) Como a senhora avalia sua memória?
( ) Péssima. ( ) Ruim. ( ) Regular. ( ) Boa. ( ) Excelente.
2) Em relação a dez anos atrás, a sua memória atualmente está:
( )Muito pior ( ) Pior ( ) Igual ( ) Melhor ( ) Muito Melhor
3) Como você avalia sua capacidade de solucionar problemas?
( ) Péssima. ( ) Ruim. ( ) Regular. ( ) Boa. ( ) Excelente.
4)Com que freqüência a senhora tem esquecido de coisas como dar recados, compromissos, onde
deixou as coisas, etc.?
( ) nunca ( ) poucas vezes ( ) às vezes ( ) freqüentemente ( )
sempre
5) A senhora acredita que pode melhorar a sua memória? ( )sim ( )não ( )não sabe dizer
PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA
1) A senhora se considera sedentária ou ativa? ( ) ativa ( ) sedentária ( ) não sabe
2) Com que freqüência cada semana a senhora pratica exercícios moderados, não exaustivos, que
provoquem leve aumento da respiração e dos batimentos cardíacos?
_________ vezes por semana ( ) não pratica atividade física moderada
Qual a duração (aproximada) de cada sessão? ______ minutos
Qual (is) a(s) atividade(s)? _____________________________ Há quanto tempo? _________
3) Com que freqüência a senhora costuma realizar os exercícios fortes ou muito fortes, sentindo
suor e batimentos cardíacos elevados?
_________ vezes por semana ( ) não pratica atividade física intensa
Qual a duração (aproximada) de cada sessão? ______ minutos
Qual (is) a(s) atividade(s)? ______________________________ Há quanto tempo? _________
4) Com que freqüência cada semana a senhora realiza algum trabalho que exija esforço físico,
como faxina pesada, cortar grama, etc.?
______ vezes por semana ( ) esporadicamente ( ) não realiza trabalho que exija esforço físico
Qual a duração (aproximada)? ______ minutos
Qual (is) a(s) atividade(s)? ______________________________ Há quanto tempo? _________
5) A senhora gosta de praticar atividade física ou esportes?
( ) detesto ( ) não gosto ( ) gosto ( ) gosto muito ( ) gosto demais
6) Por que a senhora faz atividade física?
______________________________________________
Existe algum motivo pelo qual você deixaria de praticar atividade física?______ _____________ _
7) Por que a senhora não faz atividade física?___________________________________________
Existe algum motivo que a faria praticar atividade física?_________________________________
173
HISTÓRICO DE ATIVIDADES FÍSICAS E DE LAZER
Pense nas atividades durante dos trinta aos sessenta anos da sua vida e responda:
1) Qual ocupação ou profissão a senhora exerceu durante a maior parte destes 30 anos?
_______________________________________________________________________________
2) Este trabalho que a senhora fazia exigia algum esforço físico? Descreva:
_______________________________________________________________________________
3) Com que freqüência a senhora praticou atividade física ou esportes durante a maior parte dos
últimos 30 anos?
( ) Não praticava. ( )Poucas vezes ( ) Às vezes ( )Muitas vezes ( )Freqüentemente/atleta
4) Que tipo(s) de atividade física ou esportiva a senhora praticava regularmente?
_______________________________________________________________________________
5) O que a senhora costumava fazer no seu tempo livre nestes últimos 30
anos?________________
_______________________________________________________________________________
6) A senhora costumava ler? ( ) não ( ) sim, O que?___________________________________
ATIVIDADES ATUAIS
1) O que a senhora costuma fazer para passar o tempo? __________________________________
2) A senhora costuma realizar alguma leitura? ( ) sim ( ) não ( ) esporadicamente
O que a senhora costuma ler?_________________________________
Com que freqüência você realiza estas leituras? _______ vezes por semana.
3) A senhora costuma jogar ou fazer atividades que exijam esforço mental?
( ) não ( ) esporadicamente ( ) sim, quais? ___________________________________________
FÉ E ESPIRITUALIDADE
1) A senhora acredita em Deus ou em um ser superior a nossa existência no planeta?
( )Não creio de
forma nenhuma 0%
( ) Tenho muitas
dúvidas/ 25%.
( )Creio. Moderado.
Tenho dúvidas/ 50%.
( ) Creio muito.
Poucas dúvidas 75%
( ) Creio
totalmente/ 100%.
2) A senhora costuma fazer orações?
( )Nunca ( ) Poucas vezes ( )Às vezes ( ) Freqüentemente ( ) Muito freqüentemente
3) A senhora acredita que a sua em Deus ou em um ser superior a nossa existência a auxilia em
sua vida?
( )Não creio de
forma nenhuma
( ) Tenho muitas
dúvidas
( )Creio. Moderado.
Tenho dúvidas
( ) Creio muito.
Poucas dúvidas
( ) Creio
totalmente
4) A vida tem um sentido para a senhora? ( ) sim ( ) não ( ) nunca pensa nisto
174
ANEXO 3
MINI-EXAME DO ESTADO MENTAL
Identificação:_________________
ITENS
Pontuação
Obtida
Pontuação
Máxima
ORIENTAÇÃO TEMPORAL
Que dia do mês é hoje? Em que mês estamos?
Em que ano estamos? Em que dia da semana estamos?
Qual a hora aproximada? (considere a variação de mais ou menos uma
hora)
( ) 5
ORIENTAÇÃO ESPACIAL
Em que local nós estamos? (consultório, dormitório, sala . apontando
para o chão)
Que local é este aqui? (apontando ao redor num sentido mais amplo: hospital, casa de repouso,
própria casa).
Em que bairro nós estamos ou qual o nome de uma rua próxima.
Em que cidade nós estamos?
Em que Estado nós estamos?
( ) 5
MEMÓRIA IMEDIATA
Eu vou dizer três palavras e você irá repeti-las a seguir: carro, vaso,
tijolo
( ) 3
ATENÇÃO E CÁLCULO
subtração de setes seriadamente
100-7 = 93-7= 86-7= 79-7= 72-7= 65
( ) 5
MEMÓRIA RECENTE
Quais as três palavras que você repetiu antes?
( ) 3
LINGUAGEM
Mostrar um relógio de pulso e uma caneta e pedir os nomes
( ) 2
Preste atenção: vou lhe dizer uma frase e quero que você repita depois
de mim: .Nem aqui, nem ali, nem lá
( ) 1
Comando: Pegue este papel com a mão direita (1 ponto), dobre-o ao
meio (1 ponto) e coloque-o no chão (1 ponto).
( ) 3
Leia e obedeça: “feche os olhos”
( ) 1
Peça ao indivíduo para escrever uma frase. Se não compreender o
significado, ajude com: alguma frase que tenha começo, meio e fim;
alguma coisa que aconteceu hoje; alguma coisa que queira dizer.
( ) 1
Cópia do desenho: mostre o modelo e peça para fazer o melhor
possível. (estará correto se existirem 10 ângulos, dois quais dois devem
estar interseccionados)
( ) 1
TOTAL DE PONTOS ( ) 30
175
ANEXO 4
Descrição das Tarefas Cognitivas
As tarefas cognitivas foram realizadas com a utilização de uma bateria
computadorizada personalizada para este estudo, a CogState. Utilizaram-se 5 tarefas,
sendo que cada uma tem a duração entre 1 a 2 minutos.
Todas as respostas são registradas e podem ser consideradas nos resultados. Em cada
tarefa, respostas corretas positivas e negativas são usadas para calcular a média e o desvio
padrão do tempo de reação. Para calcular a acurácia, todas as respostas são utilizadas, ou
seja, respostas corretas e incorretas positivas e negativas e as antecipações.
Para indivíduos destros, a tecla “K” é designada para responder “SIM”, enquanto que a
tecla “D” é pressionada para responder “NÃO”. Para canhotos, utiliza-se o inverso. Cada
tarefa é precedida por uma demonstração com instruções simples. Estas instruções são
animadas por um boneco que as explica e pela ilustração do teclado, simulando as
respostas corretas do teste.
Tarefa de Tempo de Reação Simples
Esta tarefa mensura a função psicomotora e também introduz os elementos usados
para ajudar a aprender as instruções (um boneco com uma caixa de texto explicativa e o
desenho do teclado, destacando as teclas em vermelho, as duas mãos na posição
recomendada sobre o teclado, piscando a tecla da resposta correta). Para esta tarefa,
apenas a tecla “SIM” é circulada em vermelho, pois é a única tecla solicitada na tarefa.
Quando a carta que aparece virada para baixo no centro da tela é virada para cima, o
sujeito deve clicar “SIM” tão rápido quanto possível. Repetindo várias vezes até obter 35
respostas acuradas para seguir até a próxima tarefa.
Tarefa de Tempo de Reação de Escolha
Nesta tarefa, utiliza-se a mesma organização visual da primeira de uma única pilha
de cartas viradas para baixo. Ambas teclas “SIM” e “NÃO” são destacadas em vermelho e
o boneco das instruções pergunta: “A carta que aparece é vermelha?” As respostas são
dadas pressionando “SIM” ou “NÃO” o mais rápido possível. Ao menos 30 respostas
acuradas são requeridas antes de ir para a próxima tarefa.
Tarefa Volta-Uma
Esta tarefa requer que o indivíduo determine se a nova carta é a mesma ou
diferente da última carta apresentada no topo da pilha de cartas viradas para baixo. Apenas
a última carta deve ser imediatamente lembrada. Se a nova carta for exatamente a mesma
que a última apresentada deve-se pressionar “SIM”, caso a carta seja diferente, pressiona-
se o “NÂO”.
Ao menos 30 respostas corretas são necessárias para partir para a próxima tarefa.
Tarefa de Monitoração
Apenas a tecla “SIM” é requerida para esta tarefa. Cinco cartas se mexem
alternadamente para cima e para baixo. Tão logo qualquer carta toque a linha branca ou
entre na “zona final” depois delas e não antes, o indivíduo deve pressionar “SIM” o mais
rápido possível. Ao menos 30 respostas corretas são necessárias para passar para a
próxima tarefa.
176
Tarefa de Uma-Carta: aprender
Uma carta virada para baixo aparece no centro da tela. O boneco ajudante
pergunta: “Você viu esta carta antes nesta tarefa?
O sujeito inicia pressionando a tecla “SIM”. A carta no centro da tela irá virar para cima e
tão logo que ela apareça, o sujeito deve decidir se a carta apareceu antes nesta mesma
tarefa e responder clicando “SIM” ou “NÃO”. Após responder a carta vai ao fundo da
pilha de cartas e continuam a aparecer e o sujeito deve tentar ir lembrando de todas as
cartas que vê durante esta tarefa. Apenas algumas das cartas irão se repetir.
A bateria é sempre precedida de escalas onde ao mover as alternativas aparece
um “smile” diferente, coerente com cada opção, estas questões são:
1) O quanto sonolenta a senhora está se sentindo agora?
Escala de 0 a 10 (respostas com carinhas mais sonolentas até as mais dispostas)
2) Como você dormiu esta noite?
Escala de 0 a 10 (respostas com carinhas mais sonolentas até as mais dispostas)
Depois dos testes:
1) Como estava sua concentração durante o teste em comparação ao normal?
( ) muito pior ( ) pior ( ) normal ( ) melhor ( ) muito melhor
2) Como estava sua velocidade no teste em comparação ao normal?
( ) muito pior ( ) pior ( ) normal ( ) melhor ( ) muito melhor
3) Como estava sua capacidade de tomar decisões em comparação ao normal?__________
5) Teve algum fator que atrapalhou o seu desempenho nos testes? ___________________
177
ANEXO 5
ESCALA DE DEPRESSÃO EM GERIATRIA
Identificação:_________________________________
Pergunta Escore
NÃO SIM
1- Você está basicamente satisfeito com a sua vida? 1 0
2- Você deixou muitos de seus interesses e atividades? 0 1
3- Você sente que sua vida está vazia? 0 1
4- Você se aborrece com freqüência? 0 1
5- Você se sente de bom humor a maior parte do tempo? 1 0
6- Você tem medo que algum mal vá lhe acontecer? 0 1
7- Você se sente feliz a maior parte do tempo? 1 0
8- Você sente que a sua situação não tem saída? 0 1
9- Você prefere ficar em casa a sair e fazer coisas novas? 0 1
10- Você se sente com mais problemas de memória do que a maioria? 0 1
11- Você acha maravilhoso estar vivo? 1 0
12- Você se sente inútil nas atuais circunstâncias? 0 1
13- Você se sente cheio de energia? 1 0
14- Você acha que sua situação é sem esperanças? 0 1
15- Você sente que a maioria das pessoas está melhor do que você? 0 1
TOTAL DE PONTOS
178
ANEXO 6
ESCALA DE ESTRESSE PERCEBIDO
Identificação: ______
De um modo geral, a senhora se sente feliz nos dias atuais?
( ). Sim ( ) mais ou menos ( ) Não
Durante o último mês a senhora se sentiu mais irritado(a)/zangado(a) do que de costume?
( ) Sim ( ) Não ( ) N.S./N.R.
A senhora passou por algum problema emocional que ainda a deixa triste?
( ) sim ( ) não
Os itens e as instruções para a Escala de Stress Percebido
As questões nesta escala perguntam sobre seus sentimentos e pensamentos durante o
último mês. Em cada caso, será pedido para você indicar o quão freqüentemente você tem se
sentido de uma determinada maneira. Embora algumas das perguntas sejam similares,
diferenças entre elas e você deve analisar cada uma como uma pergunta separada. A melhor
abordagem é responder a cada pergunta razoavelmente rápido. Isto é, não tente contar o número
de vezes que você se sentiu de uma maneira particular, mas indique a alternativa que lhe pareça
como uma estimativa razoável. Para cada pergunta, escolha as seguintes alternativas:
0= nunca 1= quase nunca 2= às vezes 3= frequentemente 4= muito frequentemente
NESTE ÚLTIMO MÊS, COM QUE FREQÜÊNCIA...
1 Você tem ficado triste por causa de algo que aconteceu inesperadamente? 0 1 2 3 4
2 Você tem se sentido incapaz de controlar as coisas importantes em sua vida? 0 1 2 3 4
3 Você tem se sentido nervoso e "estressado"? 0 1 2 3 4
4 Você tem tratado com sucesso dos problemas difíceis da vida? 4 3 2 1 0
5 Você tem sentido que está lidando bem as mudanças importantes que estão ocorrendo
em sua vida?
4 3 2 1 0
6 Você tem se sentido confiante na sua habilidade de resolver problemas pessoais? 4 3 2 1 0
7 Você tem sentido que as coisas estão acontecendo de acordo com a sua vontade? 4 3 2 1 0
8 Você tem achado que não conseguiria lidar com todas as coisas que você tem que
fazer?
0 1 2 3 4
9 Você tem conseguido controlar as irritações em sua vida? 4 3 2 1 0
10 Você tem sentido que as coisas estão sob o seu controle? 4 3 2 1 0
11 Você tem ficado irritado porque as coisas que acontecem estão fora do seu controle? 0 1 2 3 4
12 Você tem se encontrado pensando sobre as coisas que deve fazer? 0 1 2 3 4
13 Você tem conseguido controlar a maneira como gasta seu tempo? 4 3 2 1 0
14 Você tem sentido que as dificuldades se acumulam a ponto de você acreditar que não
pode superá-las?
0 1 2 3 4
TOTAL
179
APÊNDICE 1
Declaração pública garantindo sigilo de identidade entregue a cada participante da
pesquisa, quando do início das entrevistas.
DECLARAÇÃO
Declaro publicamente para os devidos fins e efeitos que eu, Caroline Di Bernardi
Luft, mestranda em Ciências do Movimento Humano pela UDESC, portadora da CI.
1070816929 estou realizando uma pesquisa sobre estresse, cognição e atividade física de
idosas considerando a história de vida, visando a conclusão de uma dissertação de
mestrado, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da
UDESC, e que as pessoas que estão optando em colaborar com este estudo, fornecendo
informações e opiniões terão garantido o sigilo de suas identidades sob qualquer condição.
Este cuidado serve para garantir total tranqüilidade aos informantes, veracidade as
informações declaradas e para que nenhuma informação dada possa de qualquer maneira
prejudicar ou comprometer os participantes da pesquisa. Além disso, não interesse da
pesquisa e desta pesquisadora em divulgar nomes de pessoas ou das instituições
investigadas.
Por ser verdade, assino e dou fé.
Florianópolis, ___ de ___________ ,2006.
___________________________
Caroline Di Bernardi Luft
Mestranda em Ciências do Movimento Humano/UDESC
Endereço: Rua Dr. Abel Capela, 135, ap304.
Telefone: (48)88017727
180
APÊNDICE 2
NÍVEL DE ATIVIDADE INTELECUTAL
ESCOLARIDADE PONTOS
Nenhuma 0
Primário Incompleto 2
Primário Completo 4
Ginásio ou 1° Grau Incompleto 5
Ginásio ou 1° Grau Completo 8
2° Grau Incompleto 10
2° Grau Completo 12
Curso Superior 15
Especialização 16
Mestrado 18
Doutorado 20
Histórico PONTOS
Histórico de Leitura
Livros religiosos 1
Jornais e/ou revistas 2
Livros de auto-ajuda/ alternativos 2
Literatura 3
De tudo (jornais/revistas ou literatura +
uma opção)
4
Trabalho ou profissão que exigisse
escolaridade mínima 2º grau 2
Trabalho ou profissão que exigisse
escolaridade mínima curso superior
4
Atividades atuais PONTOS
Leitura no passado
Livros religiosos 1
Jornais e/ou revistas 2
Livros de auto-ajuda/ alternativos 2
Literatura 4
De tudo (jornais/revistas ou literatura +
uma opção)
1 ponto para cada vez na semana
Jogos
Esporadicamente 1
Sim 2
181
APÊNDICE 3
PERFIL DAS PARTICIPANTES
Dona Acácia: Esta participante tem 73 anos, é solteira, classe econômica B1, completou o
2º grau e trabalhou como comissária de bordo a maior parte da sua vida. Não faz atividade
física por recomendação médica. Morou no RJ no período no qual trabalhou. Era ativa,
fazia atividade física regularmente, e suas atividades de lazer eram teatros, cinema,
música, shows, enfim, atividades culturais, além de ter o hábito de leitura. Atualmente está
morando em Florianópolis e apresentou um escore alto na GDS, indicando que sente a sua
vida vazia, que deixou de muitos interesses e atividades e que se sente inútil.
Dona Açucena: Participante com 66 anos de idade, casada, classe econômica B2, formada
em Serviço Social, trabalhou como funcionária pública. Atualmente trabalha no asilo para
complementar a renda da família. Ela indicou não praticar atividade física por falta de
tempo, pois tem que trabalhar e cuidar dos afazeres da casa e dos filhos. Apresentou um
alto nível de estresse percebido e atribuiu isto ao excesso de atividades, e a falta de tempo
para lazer. Da mesma forma que a participante anterior, esta precisa cuidar da neta, que
ainda é bebê, isto porque a sua filha engravidou ainda muito adolescente. A filha ainda
mora com ela, o que torna as coisas ainda mais difíceis, pois acaba tendo que cuidar da
filha e da neta.
Dona Amarílis: Participante com 71 anos, casada, classe econômica A2. Ela tem segundo
grau completo e foi funcionária pública e dona de casa. Não precisava fazer as tarefas da
casa porque sempre teve empregada doméstica. Ela tem médio nível de atividade
intelectual e reclamou que se distrai facilmente. Faz pinturas não lê muito por causa do seu
problema de atenção. Faz atividade física regularmente e tem uma vida familiar tranqüila.
Dona Angélica: Participante com 70 anos de idade, viúva, classe econômica E. Ela
trabalhou a vida toda como diarista e costureira e hoje vive sozinha com uma pensão de
350 reais. Apresentou uma pontuação de 8 na GDS, que pode ser considerada como
depressão. Ela relatou ter se mudado um ano para Florianópolis, pois morava em
Curitiba, onde trabalhava. Indicou ter muita insônia e se sentir muito mal, triste e sozinha.
O início da depressão corresponde ao período que ela indicou ter passado por um grande
problema emocional, sobre o qual ela não quis falar.
Dona Ardísia: Participante com 62 anos, divorciada, classe econômica B1, mora em uma
casa com a filha. Uma pessoa muito calma, tranqüila. Foi dentista e agora está aposentada.
Faz palavras-cruzadas e realiza leituras diariamente, tendo preferência por autores
clássicos da literatura. Teve o melhor desempenho no teste de memória de curto prazo,
bem como o maior escore no nível de atividade intelectual.
Dona Azaléia: Participante com 67 anos, casada, classe econômica A2. Ela tem alto nível
cultural e intelectual, mora em uma casa ampla, com bastante árvores e plantas no jardim.
Foi farmacêutica-bioquímica, tem especialização, trabalhou como funcionária pública na
área da saúde. Teve um dos melhores desempenhos cognitivos e aparentou estar muito
bem, feliz e realizada. Tem horário invertido, ficando a noite inteira acordada e dormindo
182
de manhã. Sempre teve uma situação econômica favorável, o que permitiu com que ela e
toda a família invertessem os horários.
Dona Bromélia: Participante com 64 anos, casada, classe econômica B2. Tem segundo
grau completo e foi professora. Indicou ter depressão clínica, bem como o uso contínuo de
antidepressivos desde que recebeu o primeiro diagnóstico, 20 anos. Atualmente, ela
toma fluxetina (há 4 anos). Ela apresentou um escore de 2 na GDS, que não seria
considerado como depressão. O escore na escala de estresse foi bem acima da média,
diferente das outras participantes deprimidas.
Dona Calêndula: Participante com 60 anos de idade, viúva, classe econômica B1,
formada em dois cursos superiores (pedagogia e direito), tendo feito a segunda faculdade
porque se sentia vazia, sem atividades. Mora com a neta. Relatou ter depressão sem
diagnóstico clínico, mas que sente aumentar quando diminui o número de atividades. Ela
relata que quando sente que vai ter uma crise procura aumentar as suas atividades, sair de
casa. Freqüenta cursos de alemão, pintura, artes e realiza leituras todos os dias. Tem um
alto nível de atividade intelectual.
Dona Camélia: Participante com 65 anos, casada, classe econômica B2, mora em uma
casa com o marido. Tem segundo grau completo, foi dona de casa e ajudava o marido na
venda. Costuma ler e fazer palavras cruzadas. Faz caminhada todos os dias. Muito ativa na
casa, trabalhando na venda do marido e nas atividades do lar, conforme fez a vida toda.
Não tem, nem nunca teve depressão. Não apresenta nenhuma doença e é fumante desde
jovem.
Dona Cássia: Esta participante tem 64 anos, é viúva, classe econômica B2. Ela é formada
em Serviço Social e trabalhou com vendas. Atualmente está aposentada. Nunca teve
depressão, é fumante e pratica atividade física regularmente3 anos. Faz tai-chi-chuan e
caminhadas. Tem uma renda mensal de 950 reais e mora sozinha, reclamando de pouca
companhia. Ela teve câncer na bexiga, mas está curada.
Dona Celestina: Participante com 61 anos, classe econômica B2, formada em pedagogia
com especialização que trabalhou como professora. Depois de se aposentar conseguiu
emprego no asilo, onde ocupa o cargo de administradora a fim de completar o orçamento
da família. Sua nora morreu e por isto ela toma conta da neta. Não apresentou depressão e
o seu nível de estresse percebido está um pouco acima da média, mas nada que afete sua
vida (segundo ela).
Dona Cravina: Participante com 60 anos de idade, viúva (o marido era pescador), tem
uma renda mensal de 350 reais, classe econômica E. Trabalhava com renda de bilro. Ela
não freqüentou a escola, mas sabe ler e escrever. Esta participante indicou que achava que
tinha tido depressão aproximadamente 15 anos, quando perdeu dois filhos. Ela relatou
que naquele tempo não queria sair de casa e chorava todos os dias. Ela não tinha luz
elétrica e disse não ter atividades nas quais pudesse se distrair, pois sem a luz e as
condições necessárias de moradia ela não tinha opções. Hoje ela está melhor, embora
tenha relatado que sente sua vida vazia e sem saída.
Dona Dália: Esta participante tem 69 anos, é viúva, classe econômica D, mora sozinha.
Ela morava em São Paulo, onde trabalhava num frigorífico, na desossa. Teve uma vida de
trabalho, saía de manhã cedo e retornava a noite, ocasião em que tinha que fazer a
183
comida para os filhos e marido e cuidar da casa. Ela tem problemas com insônia,
labirintite e artrose, que ela atribui ao trabalho que fazia na câmara fria. Ela não teve
oportunidade de estudar, sendo que conseguiu se alfabetizar quando se mudou para a
cidade e começou a trabalhar como empregada doméstica, aos 12 anos, e freqüentava um
curso noturno escondido da mãe, que acreditava que a escola era apenas para rapazes.
Dona Flor: Esta participante tem 65 anos de idade, classe econômica D, divorciada. É
costureira há 45 anos e ainda trabalha. Em média, ela costura 8 horas por dia, mas tem dias
em que fica desde manhã até a noite costurando. Teve a infância na roça e não pôde
estudar por causa disto, mas sabe ler e escrever. Ela ainda costura para poder manter a
casa e as coisas que gosta de fazer, porque a sua aposentadoria é muito baixa e não é
suficiente para manter as suas despesas, incluindo aluguel, condomínio, etc. Na ocasião da
coleta de dados muitos trechos foram difíceis de transcrever porque ela tinha ido ao
dentista e extraído alguns dentes que, segundo ela, poderia repor com a “ponte” no
próximo mês, por causa dos horários do dentista, pois foi atendida no sistema público.
Dona Gardênia: Esta idosa tem 60 anos de idade, foi empregada doméstica e está casada,
classe econômica C, tem uma renda mensal de 900 reais, da qual 3 pessoas dependem.
Esta participante completou a escola primária e não estudou mais, indicou realizar leituras
de jornais, mas diz não as realizar mais. Disse que não tinha lazer no passado e que agora
ela organiza a casa no seu tempo livre. A sua pontuação na escala de depressão em
geriatria foi 6, que pode ser considerado depressão. Entre as questões da escala, a
participante indicou ter deixado de seus interesses e atividades, que sentia sua vida vazia,
não se sente feliz a maior parte do tempo, sente que a sua situação não tem saída e prefere
ficar em casa a sair fazer coisas novas. A sua pontuação na escala de estresse foi normal,
perto da média (escore de 21). Esta participante indicou sofrer de insônia e tomar lexotan
para dormir.
Dona Gloriosa: Esta participante tem 79 anos, viúva, classe econômica C. Muito lúcida e
bem humorada. Tem segundo grau completo, foi professora e ajudava o marido na venda,
mora no mesmo prédio da filha e da neta, que ela diz monitorá-la. Gosta de sair de casa,
passear e é muito alegre.
Dona Hortênsia: Participante com 73 anos de idade, viúva 20 anos, classe econômica
D. Ela mora com a neta, que tem 23 anos, isto porque os pais dela (sua filha e seu
genro) morreram num acidente de carro. Foi lavadeira/passadeira toda a sua vida, parou de
trabalhar aos 60 anos e diz que a sua situação financeira melhorou após os 60 anos.
Dona Íris: Participante com 67 anos de idade, casada, classe econômica B1, casada curso
superior e alto nível de atividade intelectual. Foi professora e morou em diferentes países e
estados do Brasil. Disse ter depressão e fez um escore elevado na GDS. Ela relatou sentir a
vida vazia e sem atividades, se sentir desvalorizada na sua profissão, pois acreditava que
não conseguia emprego no que ela queria trabalhar por causa da idade.
Dona Jasmine: Participante de 83 anos, muito lúcida e com situação econômica
confortável (renda mensal de 6.000 reais). Ela foi professora e é pensionista, viúva 5
anos. Apresenta depressão bipolar, tendo recebido o diagnóstico 30 anos. Apresentou
queixas de memória e não teve bom resultado de memória nos testes.
184
Dona Lobélia: Esta participante tem 73 anos, é viúva, classe econômica B1 e mora
sozinha em um apartamento amplo (cobertura). Trabalhou como esteticista e professora de
ginástica, na clínica de estética que ela tinha em sociedade com o marido. Ela é viúva do
primeiro e do segundo casamento. Apresenta depressão 16 anos, e toma remédio desde
então. Apesar de ela apresentar depressão 16 anos, ela fez um escore de um ponto na
GDS.
Dona Margarida: Esta participante tem 75 anos e é divorciada, classe econômica C.
Trabalhava como costureira e dona de pensão. Ela tem insônia crônica, desde criança, não
consegue dormir a noite. Teve mielite transversa 26 anos e ficou 3 meses paralisada.
Teve que reaprender a andar. Morou 12 anos com a filha e agora voltou para o seu
apartamento, onde mora com outra filha, mas leva uma vida independente.
Dona Orquídea: Participante com 61 anos, casada, classe econômica B1. Teve uma
infância difícil, com pai alcoólatra que brigava com a mãe. Trabalhou enquanto criança
porque era muito pobre. Estudou até a terceira série do primário. A participante relata:
“me criei pobre, mas casei bem”. Sou a única da família que não tem hipertensão e
depressão”. Ela trabalhou com o marido, na área de comércio de imóveis, e parece ter
assumido o comando da família. Relata ser muito requisitada pela família pois diz
“resolver as coisas” com facilidade. Estudou pouco, mas tem um nível de atividade
intelectual razoável, pois tem hábito de leitura e de jogos como memória e palavras
cruzadas. Teve escores muito baixos na GDS e na PSS, e bom desempenho cognitivo.
Dona Palma: Participante com 63 anos de idade, classe econômica B2. Foi solteira a
maior parte da vida e casou-se dois anos. Antes do casamento, a sua situação
econômica era pior. Trabalhou a maior parte da vida como vendedora de uma loja no
centro de Florianópolis. Ela ganha uma aposentadoria de 350 reais, com a renda do marido
eles vivem com 1400 reais por mês. Ela tem fibromialgia e recebeu diagnóstico clínico de
depressão 4 anos, segundo ela, desde que o irmão, de quem cuidou durante muito
tempo, se suicidou. Além disso, ela atribui a depressão à mudança de residência, pois
segundo ela, a vizinhança que ela tinha no outro endereço era amiga, se falava, enquanto
agora, no apartamento, os vizinhos não se cumprimentam, o que a faz se sentir muito
sozinha.
Dona Rosa: Esta participante tem 62 anos de idade, é divorciada, classe econômica B1,
mora sozinha e tem apartamento próprio. Ela é formada em pedagogia e tem um alto nível
de atividade intelectual. Tem glaucoma e enxerga nitidamente apenas 4 horas do dia, com
duas lentes e óculos. Necessita de um transplante de córnia, que pretende fazer logo. Ela
relatou se sentir a maior parte do dia como se estivesse em um nevoeiro, o que a força a
ficar em casa a maior parte do dia. Teve depressão no passado e ainda tem algumas crises.
Entrevista que durou 5 horas.
Dona Tulipa: Participante com 62 anos de idade, classe econômica E, viúva de pescador.
Foi dona de casa. Relatou ter recebido diagnóstico clínico de depressão 19 anos e
continuar deprimida até os dias atuais. Isto é confirmado pelo resultado da GDS, onde a
idosa obteve 13 pontos. Ela relatou ter tentado suicídio e disse que se sente muito mal.
A sua condição econômica não é boa, pois ela se mantém com uma pensão de 350 reais,
indicando que sempre falta um pouco, mas que os filhos ajudam. A participante
apresentou queixas de memória e relatou ter esquecimentos freqüentes.
185
Dona Violeta: Esta participante tem 66 anos de idade, classe econômica B1 e viúva.
Tinha um salão de beleza e era casada com um coronel, morou no Rio de Janeiro e se
mudou para Florianópolis em 2000, após o assassinato do filho e do marido. Ela teve uma
infância difícil e disse não ter estudado porque levou uma pedrada e com isto a professora
disse que ela era “retardada mental” e por isto não poderia estudar. Ela aprendeu a ler
recentemente. Ela desfilava em escola de samba, chegando a ganhar diversos prêmios
como sambista. Sua filha morreu ainda adolescente no naufrágio do Bateau Mouche, seu
filho foi assassinado um ano antes do marido. Ela presenciou o assassinato do marido.
Apresenta queixas de memória e teve depressão.
186
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