preexistente. Durante os dois séculos seguintes, a Carta foi re-expedida várias vezes por
diversos monarcas ingleses, tendo os seus princípios sido acolhidos pelo direito
consuetudinário ou comum da Inglaterra
53
. Na re-expedição da Carta, ocorrida em 1225, no
reinado de Enrique III, o texto sofreu redução de 63 para 37 capítulos, sendo que a cláusula
atinente ao devido processo legal, per legem terrae, passou do capítulo 39, onde teve
origem, para o capítulo 29. Em 1354, quando a Magna Carta foi editada pelo Rei Eduardo
III, com a denominação de Statute of Westminster of the Liberties of London, o texto
aparece pela primeira vez redigido no idioma inglês, tendo a expressão do capítulo 29 per
legem terrae sido alterada para due process of law, a qual, posteriormente, aparece
consagrada na Petition of Rights de 1627 e no Habeas Corpus Act de 1640
54
.
Observa-se que os direitos fundamentais contemplados na Magna Carta foram
reconhecidos sob a forma de contrato, em caráter privado, a pessoas integrantes de uma
classe social, a nobreza. Como refere Pérez Luño
55
, a evolução posterior operou uma
trajetória progressiva de tais documentos do âmbito privado para o direito público, o que
ocorre na medida em que se dissolve o sistema estamental próprio do feudalismo, com a
perda de poder da nobreza, em proveito do tiers état, e vão surgindo com os parlamentos
instituições representativas das novas classes sociais, sob a liderança da burguesia, que
idealiza e busca a soberania popular. Com o avanço do constitucionalismo, a garantia do
devido processo legal transforma-se em direito fundamental, despontando em cartas e
documentos públicos, não mais como simples direito de uma classe, da nobreza, mas como
princípio e garantia da cidadania e de todos os homens, por inerente à pessoa. Em
decorrência da independência dos Estados Unidos em 1776, à garantia do devido processo
legal vai galgar os textos constitucionais. Assim, algumas constituições estaduais, como as
da Pennsylvania, de agosto de 1776, Maryland e Carolina do Norte, novembro e dezembro
de 1776, todas após o 4 de julho, mencionam a law of the land, expressão originária da
Carta Magna. Na “Declaração de Direitos” de Maryland, de 03/11/1776, fez-se, pela
primeira vez, menção expressa ao trinômio, hoje inscrito na Constituição Federal norte-
53
HOYOS, A. La garantia constitucional del debido proceso legal (Art. 32 de la Constitución Política). In:
Revista de Processo, São Paulo, n. 47, p. 46, julho-setembro de 1987.
54
Ibidem.
55
LUÑO, A. E. P. Derechos humanos, estado de derecho y constitución. Madrid: Tecnos, 1984.