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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
Departamento de Letras Modernas
Programa de Pós-graduação em Língua Espanhola e Hispano-americana
A (inter)língua do além – mar
O contato lingüístico e as representações da língua espanhola na mídia
e na produção escrita de alunos
Eduardo Vessoni Lopes
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação do Departamento de
Letras Modernas da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da Universidade de São Paulo, para
obtenção do título de Mestre em Letras
Orientador: Prof. Dr. Adrián Pablo Fanjúl
São Paulo
2007
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Dedico esse trabalho a minha mãe, com
quem fiz as minhas primeiras descobertas
pela América Latina.
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Agradecimentos
Ao André Lima, pela paciência e pelo suporte tecnológico.
A Celina Marinho, com quem dividi as angústias e as descobertas de um trabalho de
pós-graduação.
A Débora Bonfim “Lopes”, quem leu e apoiou as primeiras linhas deste trabalho.
A Érika Oliveira Magalhães, eterna amiga que soube me dar suporte nas horas mais
difíceis.
Ao Fred, “irmão” espiritual que percorreu comigo caminhos tortuosos e fascinantes
de um continente tão complexo como o nosso.
Aos meus alunos que dividiram comigo a tarefa de “montar” este trabalho.
Aos meus eternos professores Adrián Pablo Fanjul, Claudia Jacobi e Enrique
Melone.
RESUMO
Este trabalho tem como objeto de estudo a análise de textos e imagens extraídos
dos meios de comunicação e produção escrita de alunos aprendizes de espanhol, e
as diferentes representações que aparecem nesses documentos acerca da América
Latina e da Espanha.
PALAVRAS-CHAVE
Imaginário, discurso, língua espanhola, América Latina, Península Ibérica
ABSTRACT
This paper has texts and images analysis taken from communication media and texts
written by Spanish learners, and different representation about Latin America and
Spain that appears on them as study object.
KEY WORDS
Imaginary, speech, Spanish language, Latin America, Iberian Peninsula
ÍNDICE
Introdução 4
Capítulo 1
1 - Percurso histórico 8
1.1 Monarquia x República 12
1.2 - O Brasil versus o Brasil 13
1.3 - O Brasil versus a América Hispânica 16
1.4 - Primeira política lingüística no Brasil 20
2 - Os imaginários sociais 25
3 – Interdiscurso e memória 30
Capítulo 2
Alguns discursos na mídia 33
Capítulo 3
Análise de produção de alunos 68
Conclusões 98
Epígrafe 102
Anexos 103
Bibliografia 143
4
Introdução
O estreitamento das relações comerciais e políticas entre os países de língua
espanhola e o Brasil, sobretudo a partir da última década do século XX com o
estabelecimento do Mercosul, vem aumentando o interesse pelas culturas espanhola
e hispano-americana e, conseqüentemente, a demanda do ensino de espanhol para
brasileiros. Essa procura pelo aprendizado de uma língua tão próxima, e ao mesmo
tempo tão distante do português brasileiro, vem carregada de diferentes
representações acerca das regiões hispano-falantes, presentes tanto em
documentos de diversos meios de comunicação como em produções escritas de
aprendizes da língua espanhola, como veremos nos próximos capítulos deste
trabalho.
A elaboração desta pesquisa surgiu a partir da nossa intuição sobre a
presença desses imaginários na sociedade brasileira sobre a língua espanhola e as
sociedades hispanas. Para perceber a materialização de tais representações,
propúnhamos, inicialmente, a descrição e a análise de regularidades de unidades
lexicais e sintáticas observadas na produção de textos de aprendizes de espanhol
ao longo do desenvolvimento de sua interlíngua.
No entanto, a análise de documentos midiáticos e do corpus levantado a partir
de redações de alunos, bem como o nosso interesse pelas questões históricas que
poderiam explicar essas inquietudes, acabaram “desviando” a nossa atenção para
outro problema, uma vez que não queríamos uma análise contrastiva de
regularidades lexicais e sintáticas que apenas se limitasse ao contraste de formas,
uma a uma, e sim um estudo que contemplasse os efeitos, os sentidos e as regras
5
de aparecimento presentes tanto nos discursos de aprendizes da língua espanhola
como nos meios de comunicação.
A partir desses estudos, escolhemos analisar, entre tantas outras
representações possíveis existentes, uma dupla presença de representações
opostas no imaginário de uma parcela da população brasileira: uma visão
europeizante, aristocratizante, da língua espanhola que se opõe à visão de um
espanhol presente em uma América Latina representada, no imaginário do brasileiro,
pelas festas alegres, pela desorganização e pelo atraso. Nosso questionamento
principal é, pois, como funcionam essas representações tão contraditórias sobre as
sociedades hispanas e como essas se materializam em discurso.
Para responder a tal pergunta, nos propomos a encontrar, descrever e
analisar regularidades enunciativas congruentes entre os textos midiáticos
apresentados neste trabalho e os textos produzidos por estudantes de espanhol.
Nosso objetivo secundário é realizar um percurso histórico que contemple as
relações entre o Brasil e a América espanhola para melhor entendermos o que é e o
que foi a América Hispânica para o nosso país para, posteriormente,
compreendermos a necessidade de aproximação que houve entre o nosso país e a
Europa, em especial com a Península Ibérica.
Recorreremos à história pois acreditamos que as imagens atuais sobre
aqueles países hispano-falantes que fazem parte do imaginário do brasileiro de hoje
não são representações criadas no período atual e sim reatualizações de discursos
elaborados em épocas anteriores, são estratégias representacionais acionadas para
construir o senso comum, o produto de várias histórias e de culturas
interconectadas. Acreditamos que, assim como afirma Baczko
1
, certos problemas e
1
1985:299
6
fenômenos atuais são cabalmente compreendidos a partir das observações,
intuições e interrogações que eles suscitaram no passado.
No primeiro capítulo, “Percurso Histórico”, faremos uma descrição da vida
política no Brasil, sua relação com a América Latina no século XIX e as políticas
lingüísticas até esse período. Optamos por esse recorte temporal por considerarmos
que o século XIX é significativo para a compreensão do surgimento de uma
tendência europeizante nas relações políticas, econômicas e sociais do nosso país,
quer acreditamos ter continuidades, no plano do discurso, com algumas
regularidades que aqui analisamos.
A partir dessas idéias partiremos, ainda no primeiro capítulo, para o
referencial teórico no qual nos baseamos para fundamentar nossas hipóteses. O
conceito de “interdiscursividade” será importante nesse momento, uma vez que o
nosso trabalho
se apóia nos estudos da Análise do Discurso cuja perspectiva é
“tomar a sociedade e a História como discursos e textos que dialogam com outros
discursos e textos que produzem sentidos
”2
.
De modo que, partindo dos
pressupostos de que a linguagem está associada ao sócio-histórico e de que o
discurso é o ponto de articulação entre o lingüístico e os processos ideológicos,
acreditamos que o caminho histórico proposto aqui nos permite entender melhor os
discursos e as ações que se produziram no passado entre o lado luso e o hispânico.
Fazemos esse percurso para melhor vincular pistas presentes no recorte histórico
analisado com as cenas enunciativas encontradas na mídia e nos textos produzidos
por brasileiros aprendizes de espanhol, que abordaremos nos capítulos 2 e 3.
A partir dessas análises, o leitor encontrará no capítulo seguinte, “Alguns
discursos na mídia”, uma análise das imagens de uma América Latina produzidas
2
Barros – 2000:9
7
em diferentes meios de comunicação atuais que, indiscutivelmente, servem para a
construção e a manutenção das impressões acerca daquela região, bem como uma
análise dos discursos desses meios. Para exemplificar, analisaremos a legendagem
de uma cena do filme argentino “Nove Rainhas”, onde encontramos indícios de uma
memória coletiva circulante na sociedade brasileira. Em seguida, a tira cômica “Los
tres amigos”, resultado de um trabalho realizado por quatro cartunistas brasileiros,
será nosso outro documento de análise. Posteriormente, passaremos à análise de
uma propaganda de cerveja brasileira, “Puerto del Sol”, e suas imagens sobre a
América Latina. Para concluir esse capítulo, analisaremos documentos jornalísticos
(fotos e editoriais) relacionados com uma reunião de cúpula do Mercosul.
No terceiro capítulo, “Análise de produção de alunos”, partiremos para a
análise de produções escritas de alunos aprendizes de espanhol de duas
instituições do estado de São Paulo: Centro Universitário Nossa Senhora do
Patrocínio de Salto e Universidade de São Paulo. Na primeira, selecionamos textos
de alunos do curso de Secretariado Executivo, onde havia sido proposto a produção
escrita de uma descrição de moradias em sua região. Na segunda, onde se
analisaram textos produzidos no curso de extensão (Español en el Campus”),
pediu-se que grupos diferentes de alunos narrassem brevemente uma situação que
tivesse como cenário as ruas de cidades da Espanha e da América Latina.
8
Capítulo 1
1 - percurso histórico
“A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que
será”.
Eduardo Galeano
Percebe-se que na última década houve um aumento da demanda de cursos
de espanhol para brasileiros e o interesse pelas culturas espanhola e hispano-
americana estimulados, principalmente, após a assinatura do Tratado de Assunção
que deu origem ao Mercosul. A relação Brasil – Américas parece estar se
estreitando cada vez mais, embora de forma ainda tímida e assimétrica, pois,
parafraseando Antonio Cândido, a parte lusa parece preocupar-se mais pelo lado
hispânico do que ele por nós.
“O espanhol tende a super-valorizar a sua cultura e
impor a sua língua, enquanto o português aprende
docilmente as dos outros. Pensemos em nós, herdeiros
deles: ainda hoje, se for, por exemplo à Bolívia, um
brasileiro se esforçará por falar portunhol, enquanto um
boliviano no Brasil falará tranqüilamente o seu bom
castelhano.”
3
Porém, a história nos mostra que nem sempre houve esse interesse por parte
dos luso-falantes em manter relações harmoniosas com os falantes do castelhano e
assimilar “docilmente” a sua cultura.
4
3
1993:130
4
Entre os séculos XV e fins do XVII houve uma espécie de “castelhanização” da corte portuguesa
devido aos casamentos de soberanos de Portugal com princesas espanholas. No entanto, o bilingüismo daquele
momento deu lugar a um espanhol de características muito particulares. “Era pronunciado com sotaque local e,
além disso, a sua morfologia e a sua sintaxe afastavam-se freqüentemente da norma do país vizinho.” Teyssier
(2004:44)
9
A análise dos dados históricos relacionados a diferentes períodos dessas
duas regiões nos mostra que o nosso país sempre esteve, e às vezes parece ainda
estar, de costas para seus vizinhos latinos, pois as afinidades e os interesses
comuns, marcados por uma tradição eurocêntrica, estiveram orientados, durante e
mesmo após o regime monárquico brasileiro, à Europa, e posteriormente aos
Estados Unidos. A tentativa de aproximação com esse último foi tão expressiva que
o nosso país, em 1890, passou a se chamar “Estados Unidos do Brasil” como prova
da nossa admiração pelo progresso norte-americano.
Ao contrário da colonização inglesa de povoamento na região norte do nosso
continente, marcada pelo estabelecimento de costumes trazidos da Europa e
colonização das novas terras mais do que pela conquista violenta e o
enriquecimento fácil, a “outra” América não teve a mesma sorte.
Embora tivessem um sistema comercial sofisticado, tanto a Espanha como
Portugal não tiveram uma preocupação em estimular um desenvolvimento
econômico da região baseado no capitalismo industrial que ainda dava seus
primeiros passos na Europa, ainda que houvessem encontrado na região uma rica
variedade de matérias-primas e alimentos, bem como mão-de-obra servil em
abundância. “Os caminhos transportavam cargas num só sentido: rumo ao porto e
aos mercados de ultramar.”
5
Ocultavam-se os interesses mercantis daquelas
potências sob o discurso salvador da expansão católica que, na figura da Igreja, era
outro regulador poderosíssimo das sociedades encontradas nessa região.
Nesse momento, parece então dar-se início a uma problemática que marcaria
a América ao longo de sua história: a desunião econômica e, sobretudo, o
distanciamento sócio-cultural latino-americano, cujos vértices ainda estão nas
5
Galeano, 2002:145-146
10
capitais européias. A falta de conexão entre os centros de produção internos e os
interesses voltados a um mercado externo explicariam o fracionamento da América
Latina, uma desunião que parece ter sido ainda maior entre o Brasil e seus vizinhos
do que entre os países de língua espanhola.
No entanto, por questões de espaço e, a fim de delimitar o período histórico
que permeará nossa análise, tomaremos um momento mais preciso para pensar a
relação entre o Brasil e a “distante” América Latina: o Império brasileiro e o momento
de transição do regime monárquico para o republicano para, a partir desses dados,
entendermos como se formou no Brasil um imaginário sobre o que é a América
Latina e sua língua nativa. Nossos esforços também estarão voltados para
compreendermos como aquele movimento em direção à Europa, sobretudo à
Península, ainda hoje traz conseqüências discursivas às produções dos aprendizes
brasileiros de E/LE.
6
Antes de iniciar nossa análise sobre esse período político e econômico
desses dois blocos americanos opostos, marcados de um lado pela insistência da
monarquia brasileira e de outro pelo “ineditismo” da república no resto da América
espanhola, consideramos fundamental fazer algumas constatações sobre o passado
histórico dessas duas regiões, pois embora façamos parte de um mesmo espaço
comum latino-americano, a América está formada pela coexistência de sociedades
que ao longo da história estiveram distantes umas das outras, seja por questões
geográficas e políticas, seja por questões lingüísticas.
7
O desconhecimento e a desintegração à qual a América foi submetida parece
ter seu início com a chegada dos primeiros europeus, sobretudo dos portugueses e
espanhóis, e em como cada um deles “investiu” seus esforços na colonização
6
A partir de agora usaremos E/LE para referirmos a “espanhol / língua estrangeira”.
7
Embora não deixamos de reconhecer que tanto o espanhol como o português, alem de sua origem
comum, sempre tiveram contato na Península.
11
daquelas terras de “regiões inéditas, assombrosas e estranhas”, como assim as
descreveu Américo Vespúcio em sua Lettera de 4 de setembro de 1504.
8
O ensaísta Sérgio Buarque de Holanda, em seu “Raízes do Brasil”, faz
justamente uma análise da formação do povo brasileiro, sem deixar de tocar
evidentemente no tema do homem latino-americano, a partir das investidas políticas,
econômicas e sociais dos europeus em terras americanas. As conseqüências das
políticas daqueles europeus, que deixaram marcas profundas até os dias de hoje,
dão início a um longo período de distanciamento político e cultural em toda a
América.
“Em nosso próprio continente a colonização
espanhola caracterizou-se largamente pelo que faltou à
portuguesa: por uma aplicação insistente em assegurar o
predomínio militar, econômico e político da metrópole
sobre as terras conquistadas, mediante a criação de
grandes núcleos de povoação estáveis e bem ordenados.
Um zelo minucioso e previdente dirigiu a fundação das
cidades espanholas na América”.
9
Esse zelo minucioso espanhol a que se refere Holanda parece ser uma forma
de evitar o “trauma” da falta de unidade política e territorial adquirido durante o
período da Reconquista espanhola. Por isso, ainda segundo Holanda, “o esforço dos
portugueses distingue-se principalmente pela predominância de seu caráter de
exploração comercial; (...) os castelhanos, ao contrário, querem fazer do país
ocupado um prolongamento orgânico do seu”.
10
Prova disso são as atitudes
tomadas pela Coroa de Castela durante a incorporação das novas terras, como o
traçado em linhas retas dos centros urbanos da América espanhola, a construção de
plazas mayores marcando o centro da povoação, a preferência pela colonização do
8
Ver Edmundo O´gorman. A invenção da América.
9
2004 : 95-96
10
Holanda - 2004:98
12
interior e a criação de universidades já em 1538, evitando-se assim que os filhos da
América tivessem que ir à Europa para completar seus estudos.
No Brasil, dá-se o caminho inverso ao da colonização espanhola, pois aqui se
impedia o desenvolvimento intelectual
11
, evitando-se assim, segundo Holanda
(2004:121), a circulação de idéias que pudessem colocar em risco a ordem e a
estabilidade do domínio português sobre aquela gente.
Porém, como já dissemos no início deste capítulo, o recorte que escolhemos
para a fundamentação e compreensão históricas do fenômeno que nos propomos a
analisar neste trabalho será o Império brasileiro e o momento de transição do regime
monárquico para o republicano.
1.1 - Monarquia ou República?
“O Brasil é e, ao mesmo tempo, não é a América Latina”.
M. Lígia Coelho Prado
1.2 - O Brasil versus o Brasil
Após a independência do Brasil em relação a Portugal, em 1822, dá-se início
nesse país ao Primeiro Reinado do Império brasileiro, cujo regime político é
encabeçado pelo príncipe regente Dom Pedro I. Marcado por uma política
excessivamente centralizadora e um discurso exclusivista, seu regime não abria
espaço para a discussão das diferenças nem para a negociação dos interesses
divergentes. Lê-se, por exemplo, no artigo 99 da Constituição do Império que a
pessoa do Imperador é inviolável e sagrada: ele não está sujeito a responsabilidade
alguma”. Provas disso são a polêmica elaboração dessa mesma Constituição,
11
Tanto no que diz respeito ao número de universidades como a outro instrumento de divulgação de
cultura: a imprensa. Para mais informações sobre os contrastes entre a América Espanhola e a Portuguesa, ver as
notas do capítulo 4 de Raízes do Brasil, citado anteriormente.
13
alterada pelo próprio imperador a favor do aumento do seu poder, e
concomitantemente a criação do Poder Moderador.
Esse quarto poder, privativo do imperador e que a princípio é apresentado
como uma força neutra capaz de julgar as diferenças políticas da época, significou,
na prática, maior autoridade ao monarca, pois esse teria poderes para dissolver a
Câmara dos Deputados, nomear e demitir ministros, nomear senadores, prorrogar
ou adiar o funcionamento da Assembléia Geral e dissolver a Câmara dos
Deputados, convocando imediatamente novas eleições.
No entanto, o que o imperador não podia imaginar foi que esse mesmo poder
centralizador seria o caminho natural para a desestabilização do seu reinado e a
abdicação do trono em 1831. É nesse período que surgem os constantes conflitos
com as elites de várias regiões brasileiras que reivindicavam maior autonomia para
decidir sobre os seus interesses, como a Confederação do Equador
12
e a perda da
possibilidade de ocupação do atual território uruguaio.
Com a renúncia do imperador, a Assembléia Geral optou por uma regência
provisória até que seu sucessor natural, seu filho Pedro de Alcântara, pudesse
assumir tal cargo. Os anos que se seguiram também seriam politicamente
conturbados, pois as limitações dos poderes municipais e provinciais impostas pelo
governo central foram os motivos pelos quais diversos grupos se organizaram para
reivindicar maior autonomia regional. É nesse período de transição que rebentam
revoltas como a Cabanagem (Grão-Pará, 1835-1840), Farroupilha (no Rio Grande
do Sul e Santa Catarina, 1835-1840), Sabinada (Bahia, 1837-1838), Balaiada
(Maranhão e Piauí, 1838-1841) e a Revolta dos Malês (Bahia, 1835).
12
A Confederação do Equador foi o movimento separatista criado em Pernambuco, em 1824, para
proclamar a independência de várias províncias do Nordeste, criando um novo estado nacional, republicano, que
reunisse as províncias de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. (Cabrini et al – 2005)
14
É nesse cenário de revoltas populares que surge o movimento
Regresso, representação dos interesses de uma elite que pretendia reverter a
descentralização que se havia iniciado com a abdicação de Dom Pedro I, ampliando
a autonomia municipal e dando poder às províncias.
Nota-se nesse primeiro período do Império brasileiro o intento desesperado
da elite em manter a unidade econômica e política do país. A antecipação da
maioridade de Pedro de Alcântara, em 1840, é uma evidência da necessidade de
reorganização da ordem através da reaproximação com o poder imperial. Inicia-se
então o Segundo Reinado e o declínio do período imperial brasileiro.
Esse período divide-se em dois momentos, segundo Monteiro (1994): a
primeira fase (1850-1870) é marcada pela excessiva confiança no regime sob o mito
da conciliação e da união pelo progresso. Porém, os anos que se seguem (1870-
1889) tiveram como tônica a descrença no regime monárquico, que sofreu pressões
populares suficientemente fortes para levá-lo ao declínio.
Nessa primeira fase, promoveram-se acordos com as elites locais de modo
que os seus interesses estivessem sob o poder da Coroa. A Política da Conciliação
(1853-1858) e a Liga Progressista (1862-1868) foram os exemplos de acordos de
maior duração firmados naquele período em que partidos adversários (o Partido
Conservador e o Partido Liberal) formularam um programa mínimo comum para se
manterem no poder.
No entanto, a diversificação econômica brasileira naquela segunda metade do
século XIX leva o país a uma diversificação social e a novas mentalidades que
exigiam alterações estruturais na sociedade brasileira, tornando-se obrigatória a
proclamação de uma república.
15
Destacamos a seguir alguns elementos relacionados com o declínio do
regime monárquico no Brasil, segundo textos de Cabrini (2005):
a crise política que se iniciou após o fim da Liga Progressista, em 1868;
a abolição definitiva dos escravos no Brasil, em 1888, com a Lei Áurea,
ruiu a confiança entre a elite econômica do país e a Monarquia;
os gastos gerados pela Guerra do Paraguai e, conseqüentemente, o
endividamento do Brasil;
a exigência de mão-de-obra estrangeira devido à chegada das
primeiras indústrias e o desenvolvimento da cafeicultura, de modo que
os paulistas foram aderindo ao movimento republicano a partir de
1870;
o avanço considerável na vida urbana na região Centro-Sul do país.
Aparecem os bondes, algumas ruas centrais são iluminadas e recebem
água encanada. É a Monarquia, agora, associada à idéia de
retrocesso, de não-desenvolvimento.
1.3 - O Brasil versus a América Hispânica
Paralelamente aos fatos expostos anteriormente, o continente americano foi
palco de vários congressos interamericanos cujos objetivos obedeciam a causas
sempre distintas.
O primeiro encontro deu-se no Panamá, em 1826, seguido pelos de Lima
(1847-1848), Santiago e Washington (ambos em 1856), Lima (1864 -1865) e o último
novamente em Washington (1889 -1890).
13
13
Santos – 2003:21
16
Embora o desenvolvimento da idéia interamericana tenha obedecido às
necessidades políticas e econômicas de cada momento histórico, podemos entendê-
la como um projeto grandioso que pretendeu “formar de todo o Novo Mundo uma só
nação, com um único vínculo que [ligasse] suas partes entre si e com o todo”
14
,
defendendo-se assim da intervenção de potências não-americanas no continente.
No entanto, o Brasil se diferenciava de seus vizinhos americanos devido a
sua postura de resistência a essas iniciativas interamericanas. Exemplo disso é que,
durante o século XIX, o nosso país esteve presente em apenas um dos encontros
interamericanos realizados no continente, marcando assim a política da
desconfiança e da rejeição dessas iniciativas por parte do Império.
De um lado, um Brasil singularmente monárquico, “uma planta exótica” no
continente americano
15
, e do outro uma América republicana. Para os monarquistas
do período analisado neste trabalho, a imagem a ser evocada era a de um período
de progressos e de reformas tranqüilas presididas por um rei sábio e justiceiro
16
.
“Isolado nas Américas como único defensor do
princípio monárquico (...) o Estado brasileiro tinha
dificuldades para situar-se ao lado de seus vizinhos na
construção e instrumentalização de um discurso
legitimador com base nas idéias de uma ruptura entre o
Antigo Regime e a nova ordem, entre o Novo Mundo e o
Velho Mundo, em síntese, entre a América e a Europa.
Entre esses dois continentes, em um desafio à geografia,
o Império inventava-se como um bastião da civilização
(“européia”, naturalmente) cercado de repúblicas
anárquicas. Um império distante e tropical, mas
fundamentalmente civilizado, e, portanto, “europeu” .
17
14
Carta da Jamaica, de Simóm Bolívar. In: Chacon:23
15
definição dada por J. F. Normano (apud Costa – 1977:277)
16
Costa – 1977:259
17
Santos - 2003:25
17
Para os intelectuais e políticos brasileiros da época, as repúblicas hispano-
americanas eram exemplos de caos, anarquia, instabilidade e fragmentação,
enquanto que o Império seria a garantia de unidade política e territorial no Brasil. Por
tanto, unir-se a essas repúblicas seria pôr em risco essa estabilidade. Pensava-se a
monarquia como “a forma de governo mais adequada para assegurar a estabilidade
política, a ordem, a paz, a unidade territorial, a prosperidade econômica, a justiça e a
liberdade.”
18
O discurso de poder presente no discurso daquela elite monarquista
pretendia impor o consenso como unanimidade, de forma que qualquer outro
discurso seria ameaçador à unidade e à prosperidade do país.
“O exemplo dos povos sul-americanos, que se
tinham demonstrado incapazes de manter unido o antigo
Império espanhol e que viviam ameaçados por agitação e
lutas intestinais, serviria de argumento àqueles que
consideravam a monarquia unitária e centralizadora a
melhor solução para os problemas brasileiros”.
19
Por outro lado, os opositores dessas idéias defendiam a integração latino-
americana, pois acreditava-se que esse integracionismo seria para o nosso país
uma possibilidade de superação do atraso.
“Dessa maneira, estava clara a diferença que se
devia estabelecer entre “nós” e “eles”, entre o Brasil e os
demais países da América do Sul, onde campeavam a
desordem, a desunião e a fragmentação, todas
alimentadas pelas idéias republicanas [tudo o que o Brasil
não deveria ser]. O Brasil, em oposição, era forte, unido e,
portanto, poderoso”.
20
18
Baggio - 1998:65-66
19
Costa – 1977:310
20
Prado - 2001:131-132
18
Percebe-se, a partir dessa análise histórica, uma nação dividida politicamente
marcada por uma forte presença de representações opostas que seus habitantes
possuíam do seu próprio país com relação à outra América. Por um lado, o Brasil é
enunciado como o espaço da civilidade, da ordem e da estabilidade, enquanto a
América hispânica é o lugar da anarquia, do caos e da fragmentação. Uma
representação que, ainda hoje, reforça a crença na unidade, na estabilidade e na
prosperidade do Brasil.
Um discurso que, na verdade, não é nem atual e nem do período monárquico
brasileiro, pois esse distanciamento político poderá ser visto já na época das
colonizações na América. No conjunto, a Espanha era “uma ameaça sombria e
permanente de absorção e liquidação da lusitanidade.”
21
, ainda que o Brasil sulista
tenha surgido com o trabalho dos jesuítas espanhóis.
Esse mito fundador, que ainda hoje fornece elementos controladores dessas
representações acerca do Brasil e da América Latina hispânica, possui uma
profunda relação com um passado que não cessa e que se conserva presente sob
nova roupagem. O que podemos notar nesse momento conflitivo e de tendências
contraditórias presentes no interior daqueles discursos é o acionamento de
estratégias representacionais com o fim de construir e regularizar o senso comum
daquela sociedade, que nada mais era do que o produto de várias histórias e de
culturas interconectadas.
Assim como explica Chauí
22
, os mitos se repetem indefinidamente através de
representações da realidade reorganizadas ao longo da história, seguindo a
hierarquia interna e a ampliação de seu sentido. Conseqüentemente, as ideologias,
21
Ribeiro – 1998-38
22
2004: 9-10
19
que também acompanham esse movimento histórico de formação, alimentam-se
dessas representações, atualizam-nas e as adequam a um novo momento histórico.
Acreditamos, pois, que é nesse (não) contato entre duas regiões de
tendências opostas, assim como no contexto de interesses voltados para a Europa,
que se dá início à formação das representações acerca da América Hispânica como
“outra América”, um sentimento entre ser ou não ser parte integrante de uma região
tão perto e ao mesmo tempo tão distante que se opõe a um certo “esnobismo” e às
ânsias de europeização das elites tradicionais brasileiras presentes daquele período.
Segundo Prado
23
, as diferenças, muito mais que as semelhanças,
continuavam a ser destacadas.
“As visões da distância que nos separavam
contribuíram para a construção de um imaginário que
forjou uma memória transformada em senso comum e que
remetia ao passado histórico apresentado como
legitimador do presente”.
A compreensão dessas representações forjadas em um tempo anterior na
história política do Brasil nos ajuda a melhor entender a necessidade constante de
se manter a ordem interna e a estabilidade na colônia portuguesa através de
questões político–jurídicas que serão tratadas na seção seguinte.
1.4 - Primeira política lingüística no Brasil
No entanto, essa busca “desesperada” pela homogeneização daquela
sociedade não esteve presente apenas no terreno das questões econômicas e
políticas, mas também no campo lingüístico.
23
2001:146
20
A religião durante o período colonial brasileiro foi uma das funções urbanas
mais importantes daquele período, já que as político-administrativas e as comerciais
estavam concentradas em poucos centros portuários. É importante lembrar que a
colonização portuguesa foi marcada, desde o início, pela concentração ao longo da
costa, de onde eram exportadas as principais riquezas do país: açúcar, fumo e
algodão. As capitais dessas províncias situadas no litoral eram as mais
movimentadas, as mais modernas e as mais europeizadas. A aliança Estado-Igreja
permitia a aproximação entre o mundo selvagem e o mundo civilizado.
O português da elite, das autoridades e dos eclesiásticos, não estava sozinho
nessa região. A diversidade lingüística do nosso país estava formada, entre as
inúmeras línguas indígenas existentes, pela língua geral (tupinambá), línguas
européias, latim e línguas africanas, cujo objetivo de uso era distinto segundo o
espaço comunicativo. O latim, por exemplo, estava reservado ao religioso e também
ao pedagógico das elites, enquanto que a língua geral era oralizada e difundida na
região de São Paulo.
A necessidade de se impor uma unidade, como se verá também nos anos
monárquicos, ante essa diversidade de línguas e culturas existentes no Brasil, faz
com que o governo português e os padres jesuítas voltem seus esforços para a
resolução desse tema conflitivo. Isso significava a imposição de uma única língua
que pudesse diluir essa variedade lingüística e cultural, já que o Brasil colonial era
palco das seguintes cenas: de um lado, um país sob a política impositiva da língua
portuguesa de uma metrópole que pretendia civilizar “selvagens”, lingüisticamente
“deficientes”, segundo os moldes da civilização européia. Do outro lado, vê-se uma
21
Igreja evangelizadora que, a partir do processo de gramatização
24
, passou a ensinar
a língua local, o tupi.
25
A vida cultural e a instrução formal estavam, conseqüentemente, vinculadas à
religião e a sua função de cristianizar a população nativa. Assim como descreve
Costa
26
, “os colégios religiosos tiveram o monopólio da cultura, preenchendo as
necessidades da colônia, fornecendo uma educação retórica e erudita, ornamental,
essencialmente definidora de status, elitista pela sua própria natureza”.
No entanto, assim como explica Mariani
27
, “em ambos os casos o objetivo era
o mesmo: inscrever o índio como um sujeito colonizado cristão e vassalo de El Rei a
partir do aprendizado e utilização de uma só língua. Os efeitos produzidos em
função da adoção de uma ou outra língua, porém, é que resultam diferentes.”
Aquelas práticas não tinham apenas uma orientação religiosa, eram também
um intento forçado e desesperado de apagar a heterogeneidade de línguas ali
existentes.
Naquele momento, coexistia, com o português europeu, falado pelos
“colonos” de origem portuguesa, a língua geral, um tupi simplificado e gramatizado
pelos jesuítas
28
, baseado nos modelos europeus de sistematização. Porém essa
língua comum, utilizada não somente nos contextos religiosos, começa a perder
força concomitantemente às hostilidades das práticas catequistas jesuíticas dos
missioneiros. Esses passam a ser vistos como centralizadores da atenção da
população indígena, ao mesmo tempo em que se começa a acreditar que se fazia
24
Auroux - 1992
25
A língua majoritariamente falada na costa brasileira era o tupi que, nas primeiras décadas da
colonização, era conhecida como língua brasílica.
26
1977:183
27
2004:95
28
Segundo Auroux, o fenômeno da gramatização é uma técnica, ao mesmo tempo, de aprendizagem das
línguas e um meio de descrevê-las. (Auroux – 1992)
22
necessário “instalar” uma única língua principal que organizasse e suprisse o caos e
a carência lingüística da colônia.
Assim como já afirmara Maquiavel em seu clássico O Príncipe, as maiores
dificuldades de incorporação de Estados aos principados dominadores surgem
quando esses Estados incorporados possuem língua, costumes e regras diferentes,
e é desses (des)encontros que se dá o “nascimentos das desordens”.
29
Na América portuguesa não foi diferente. Com o objetivo de afastar essa
diversidade e esse “caos”, o marquês de Pombal encontra a solução em seu
Diretório de 3 de maio de 1757, ordenando o aprendizado elementar da Língua
Portuguesa como uma iniciativa para o ensino normativo daquele idioma. É o fim
definitivo da aliança entre o Estado e a Igreja, e conseqüentemente o apagamento
do que seria a invenção “abominável e diabólica” que havia sido a língua geral. Não
fora exatamente um ato anti-religioso, mas sim uma tentativa de reduzir a influência
de grupos católicos sobre aquela sociedade. O maior deles foi a Cia de Jesus,
ordem religiosa fundada na França em 1534, cujos 670 membros comandavam os
colégios jesuíticos.
Aplicada inicialmente na região do Pará e do Maranhão, a nova política
lingüística estendeu-se no ano seguinte a todo o Brasil, proibindo assim o uso da
língua geral sob idéia de que “a língua da metrópole é a que deve ser falada na
colônia.”
30
Vê-se uma vez mais como essa orientação, agora lingüística, colaborou para
a concretização do projeto político português. Ainda segundo Mariani (ibidem: 18),
“uma única língua era convocada para diluir a diversidade, possibilitando, dessa
forma, inscrever o sujeito colonizado em outra memória homogênea: a do europeu
29
Maquiavel – 1996:51
30
Mariani - 2004:25
23
cristão. Há neste sentido um efeito homogeneizador resultante do processo
colonizador que, ainda hoje, repercute no modo de conceber a língua nacional no
Brasil.” (tradução nossa)
A relação entre língua e fé, anterior à intervenção pombalina, dá lugar a uma
forte imagem enunciativa que relaciona língua e política (da nação conquistadora e
na nação conquistada); uma “nova” língua como instrumento de controle e de poder,
pois, se o Brasil é colônia de Portugal, é a língua do rei dessa nação que deve ser
usada. “Trata-se da construção imaginária de uma unidade e de uma
homogeneidade lingüística”.
31
É nesse momento do século XVIII, em que a língua vai adquirindo outra
função, que encontramos a chave para a compreensão do fenômeno que viemos
analisando ao longo deste trabalho, já que a história do Brasil passa a ser narrada a
partir da história de Portugal. A partir dessa mudança forçada e violenta de língua
(de desindianização do índio e de desafricanização do negro), o povo brasileiro vê-
se despojado de suas raízes e torna-se obrigado a assimilar uma nova identidade.
A memória é construída para o Brasil segundo o que se construiu para
Portugal, cuja língua é língua de cultura, “que tem história e que por isso – junto com
a latina – pode contar a história do Brasil, que não é outra, neste século XVIII, senão
a das conquistas de Portugal.”
32
Isso quer dizer que a língua portuguesa que se passou a falar aqui trazia
consigo uma memória européia, “a memória do colonizador sobre a sua própria
31
op. cit. pág. 33
32
Mariani – 2004:114. Nessa obra, a autora descreve no capítulo 4, como forma de exemplificar a criação
forçada de uma identidade e de uma história para o Brasil, a criação das Academias Brasílica dos Esquecidos
(ABE) e Brasílica dos Acadêmicos Renascidos (ABAR). Essas Academias que são fundadas no país têm como
objetivo fazer circular, na memória daquela gente, determinados enunciados que fomentasse a idéia do que
realmente deveria ser o Brasil, nem que para isso fosse necessário “apagar” a língua e a realidade brasileiras. O
que de fato aconteceu.
24
história e sobre a sua própria língua”
33
, e nessa memória estava inscrita uma língua
portuguesa européia homogênea e estável, assim como a metrópole. Era a
reprodução fiel do mundo europeu, começava-se a narrar a história do Brasil a partir
da história de Portugal, construía-se uma imagem segundo o que se havia
construído para Portugal, de modo que se buscava pré-construir uma memória para
o futuro daquela gente e para o que viria a ser a sua língua oficial.
Um dos propósitos deste trabalho é relacionar esse imaginário construído
sobre o português no Brasil com as duas representações antagônicas acerca da
língua espanhola: ora a de um idioma homogêneo e estável, ora caótico. Voltaremos
a esse tema no capítulo “Alguns discursos na mídia”.
2 - Os imaginários sociais
O conceito de imaginário será de extrema importância para avançarmos na
compreensão desse processo de formulação de idéias e do papel dessas na
formulação de ações e práticas, já que ao narrar uma nação torna-se impossível não
esbarrarmos nos símbolos e nas representações nela compostas.
Acreditamos que, ao nos apoiarmos na teoria das representações sociais,
poderemos melhor compreender o senso comum que está presente em todas as
sociedades modernas, suas determinações, sua origem e as influências que o
alimentam.
Segundo a definição que Baczko dá em seu texto “Imaginação Social”, os
imaginários sociais são bens simbólicos fabricados por qualquer sociedade que
guiam as ações, modelam os comportamentos e mobilizam as energias para, ao
final, compor uma “ordem”, legitimar o poder. Porém esses imaginários só passam a
33
Mariani – 2004:24
25
existir onde a linguagem simbólica se torna comunicável, ou seja, quando a sua
expressão é garantida pela evocação de uma imagem, seja ela acionada por
palavras, por figuras de linguagens ou por objetos.
“Quando uma sociedade, grupos ou mesmo
indivíduos de uma sociedade se vêm ligados numa rede
comum de significações, em que símbolos (significantes)
e significados (representações) são criados, reconhecidos
e aprendidos dentro de circuitos de sentido; são utilizados
coletivamente como dispositivos orientadores /
transformadores de práticas, valores e normas; e são
capazes de mobilizar socialmente afetos, emoções e
desejos, é possível falar-se da existência de um
imaginário social”.
34
Isso nos faz relembrar, para retomar o ponto histórico do qual partimos neste
trabalho, as colonizações na América e as produções de sentido que (não) se deram
naquele momento, pois não estavam estabelecidos, naquelas sociedades
“selvagens”, certos dispositivos orientadores/transformadores de práticas. Exemplo
disso foi o assombro dos indígenas ao verem as primeiras caravelas aportando em
praias americanas e logo as primeiras notícias: “Um grande ‘monte’ nadava
mexendo-se pelo mar.”
35
Para aqueles índios assustados, aquelas caravelas
repletas de armas, animais desconhecidos e homens com armaduras, não poderiam
ser nada mais do que um ‘monte’ sobre o mar, o que nos leva a crer que no seu
imaginário não deveriam haver representações que dessem sentido para aquelas
imagens. O que para alguns, como Galeano, significou a derrota daquela gente.
Isso significa dizer que o indivíduo está inserido em uma sociedade repleta de
representações dominantes e serão essas as responsáveis pela manutenção e pela
materialização de suas práticas.
34
Capelato e Dutra : 229
35
Galeano, 2002:28
26
Devemos lembrar que a nação, termo histórico inventado recentemente
36
, é a
(re)produtora de signos que indicam “algo que significa alguma outra coisa e cujo
valor não é medido por sua materialidade e sim por sua força simbólica”.
37
Assim como Hall
38
, acreditamos que referir-se a uma nação não significa
apenas referir-se a uma instituição política, mas sim a algo que produz sentidos, um
“sistema de representação cultural”.
“As identidades nacionais não são coisas com as
quais nascemos, mas são formadas e transformadas no
interior da representação. Nós só sabemos o que significa
ser “inglês” devido ao modo como a “inglesidade”
(Englishness) veio a ser representada – como um
conjunto de significados – pela cultura nacional inglesa.”
No entanto, embora esse imaginário seja um conjunto de representações que
faz parte constitutiva do real (não é revestimento, nem ornamento do real, é inerente
a ele)
39
, é apenas com a instalação do poder estatal, centralizado, que os
imaginários sociais se desritualizam, ganhando autonomia e diferenciação. Baczko
diz que a instalação de um novo imaginário, através dos seus símbolos, cultos e
ritos, consolida uma nova organização social, criando então novas crenças. É no
discurso autoritário que “o signo se fecha e irrompe a voz da ‘autoridade’ sobre o
assunto, aquele que irá ditar verdades como num ritual entre a glória e a
catequese”
40
, é o monólogo sobre o diálogo.
Podemos afirmar que as representações são conhecimentos socialmente
elaborados: “é através do intercâmbio de informações e de maneira coletiva como se
36
Segundo Chauí (2004:14), o termo Estado-nação data por volta de 1830.
37
Chaui (2004:12)
38
2005:48-49
39
Baitz – 2004:22
40
Citelli – 1995:39-40
27
elaboram as representações sociais, e é por isso que se trata de um conhecimento
compartilhado.”
41
O período de transição entre os períodos monárquico e republicano no Brasil
nos serve como exemplo do que acabamos de expor nos parágrafos anteriores, já
que mesmo com a proclamação da República, a voz dos monarquistas não foi
calada e esses continuaram a dar a sua interpretação dos fatos através de discursos
que tentavam manter no imaginário brasileiro a idéia de que a queda do antigo
regime não passara de um equívoco.
O retrato que se faz do Império é completamente oposto ao do período
republicano como nos mostra a análise de documentos da época realizada pela
professora Emilia Viotti da Costa:
“O império não foi a ruína, foi a conservação e o
progresso. Durante meio século manteve-se íntegro,
tranqüilo e unido o território colonial. Uma nação atrasada
e pouco populosa converteu-se em grande e forte
nacionalidade, primeira potência sul-americana,
considerada e respeitada em todo o mundo”.
42
A versão dos republicanos, também contraditória e não menos imparcial,
ressaltava, logo nos primeiros anos posteriores à proclamação da República, o valor
corretivo dos vícios do antigo regime, um desejo nacional concretizado graças aos
esforços do partido republicano e do exército, os intérpretes do povo. Esse seria o
desenlace natural dos acontecimentos.
Analisando os discursos anteriores à luz das reflexões de Roger Chartier
43
sobre as representações sociais, podemos afirmar com mais segurança que a
construção e a imposição das representações que o brasileiro tem de si e como esse
41
Banchs - 1991: 9
42
Costa – 1977:249
43
1990
28
vê o outro na América Latina, bem como a constante vontade da elite brasileira de
se aproximar da Europa, tiveram conseqüências sobre as imagens que hoje o
brasileiro tem de seus vizinhos latino-americanos e sobre como essas imagens
repercutem na formação do discurso do aprendiz de língua espanhola. Discurso
esse que parece estar marcado pelo entrelaçamento de outros discursos
pertencentes a um estágio anterior ao do português falado atualmente no Brasil.
Algumas de suas produções enunciativas parecem nos levar a um período
monárquico de formalidade e de protocolo nas relações interpessoais.
Para Chartier, as imagens representacionais “são sempre determinadas pelos
interesses de grupo que as forjam” e “as percepções do social não são de forma
alguma discursos neutros [pois] produzem estratégias e práticas (sociais, escolares,
políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros.”
44
Assim como a compreensão dos mitos, a compreensão dos mecanismos
utilizados na construção de tais representações nos “ajudam muito mais a
compreender a época em que foram forjados do que o universo remoto que
pretendem explicar.”
45
A realidade e o indivíduo interagem e se constroem
reciprocamente.
3 – Interdiscurso e memória
“Sei que às vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?”
(“Quase sem querer” – Renato Russo)
Para avançarmos em nosso estudo, e antes de analisarmos nosso corpus,
consideramos importante um melhor esclarecimento sobre o conceito de
44
op. cit. p. 17
45
Alfredo Bosi (apud: Fiorin - 2000:45)
29
interdiscursividade e, posteriormente, uma breve análise de exemplos que deram
origem a esta investigação.
Ante as questões históricas expostas nos capítulos anteriores, este trabalho
não poderia deixar de tocar em um ponto fundamental na reflexão sobre o discurso:
as marcas de sua heterogeneidade. Ao nos apoiarmos nas teorias desenvolvidas
pela Análise do Discurso, acreditamos também na relação do discurso com a
história, como a materialização do processo enunciativo, “cuja materialidade exibe a
articulação da língua com a História.”
46
Os discursos que analisaremos neste trabalho parecem ser determinados
pela História, são resultados de uma articulação e de um entrecruzamento de
discursos anteriores (re)ativados a partir da memória social. Retomaremos esse
ponto no capítulo três (“Análise de produção de alunos”), onde veremos como certos
fenômenos lingüísticos ganham força por serem efeito de um imaginário sobre a
língua alvo. Assim como diz Maingueneau
47
, “enunciar não é somente expressar
idéias, é também tentar construir e legitimar o quadro de sua enunciação.”
Tais idéias nos levam ao último tema deste capítulo, o qual consideramos
essencial para a compreensão do problema exposto neste trabalho: a
interdiscursividade presente na interlíngua dos aprendizes brasileiros E/LE. A análise
dessa diversidade será abordada a partir do conceito de interdiscurso, o “pré-
construído”
48
que “impõe a 'realidade' e seu 'sentido', é o que fornece a matéria-
prima na qual o sujeito se constitui em relação a suas formações discursivas
preponderantes.”
49
46
Gregolin, 2000:19
47
2001:93
48
O conceito de 'pré-contruído' foi proposto por P. Henry em um trabalho de 1977 (apud Serrani Infante,
1998:235)
49
Serrani-Infante, 1998:235
30
Para Pêcheux, ao analisar discursos, devemos considerar as relações de
sentidos nas quais esses discursos são produzidos, uma vez que todo discurso
remete a tal outro, “o processo discursivo não tem, de direito, início: o discurso se
conjuga sempre sobre um discursivo prévio...”
50
Por isso podemos afirmar que um
discurso nunca é autônomo, já que o locutor não é a origem do seu discurso e esse
é remissível a outros discursos historicamente enunciados anteriormente.
Sobre essa relação interdiscursiva, Maingueneau afirma que a unidade de
análise pertinente não é o discurso, mas um espaço de trocas entre vários discursos
convenientemente escolhidos no presente.
Assim como Hall (2005), para quem a identidade do homem não está
determinada pelo biológico e sim pela história, acreditamos que a enunciação de
textos está marcada pela conviviabilidade de tempos, ou seja, que o que se diz é
explicado pelas condições históricas e não nos atos de fala. É a história que
determina o discurso, essa massa circulante de restrições históricas, ideológicas e
políticas.
Não se constrói o sentido dos enunciados através das partes que os
compõem. O sentido é constituído pela relação destes com outros dizeres
produzidos em outras épocas e em outros espaços sociais, um enunciado é sempre
a reatualização de outros enunciados, um supõe o outro. Assim como Guimarães
51
,
acreditamos que “não seria possível imaginar a existência de um enunciado único.
Faz parte das condições de existência de um enunciado que existam outros.”
É pensando nesse caráter relacional entre enunciados, já que “algo sozinho
nunca é linguagem”
52
, que convidamos o leitor ao próximo capítulo. Ali teremos a
50
“Análise automática do discurso” - Michel Pêcheux em Gadet, F. (1993:77)
51
1989:74
52
Ibidem:74
31
oportunidade de mostrar, através de textos da mídia, como um discurso atual é, na
verdade, atualização de outros enunciados produzidos em outras épocas.
32
Capítulo 2
Alguns discursos na mídia
Embora tenhamos feito esse percurso histórico-político pelas Américas
espanhola e portuguesa, acreditamos que esse seria insuficiente para entendermos
os atuais discursos brasileiros acerca da língua espanhola e da América Latina. O
cenário discursivo que notamos nessa região está construído também com base em
dados fornecidos e fomentados pelos meios de comunicação atuais.
A mídia, ferramenta intermediária de difusão de informação presente no
cotidiano de qualquer cidadão moderno, também é responsável pela construção de
um imaginário que penetra o discurso do aprendiz de E/LE, é origem dessas outras
vozes que constituem esse aprendiz e o seu dizer. A aparente homogeneização de
sentidos produzidos por esses veículos de comunicação dá lugar a uma
multiplicidade de discursos e de sentidos produzidos e reforçados ao longo da
história.
Assim como afirma Gregolin
53
, “na interpretação de um texto da mídia, o
centro da relação interpretativa não está nem no eu (sujeito enunciador), nem no tu
(sujeito leitor), mas no espaço discursivo criado entre ambos”. A chave para a
compreensão desse fenômeno é conhecer o lugar de onde se fala, pois as
representações que surgem nesse espaço nada mais são do que o produto de
várias histórias que constroem um senso comum, uma massa circulante
determinada pelas restrições históricas, ideológicas e políticas, já que o discurso e a
realidade não são exteriores um ao outro.
Para perceber essas marcas históricas guardadas pela memória da língua
que coloca em circulação outros enunciados já produzidos em discursos anteriores,
53
2000:25
33
nos propomos a analisar exemplos extraídos de diferentes mídias que demonstram a
imagem que se tem sobre a língua espanhola e seus espaços sociais e discursivos.
Iniciaremos nossa análise com um trecho do filme “Nove Rainhas”, produção
argentina de 2000 com direção do cineasta Fabián Bielinsky, e, posteriormente,
analisaremos a tira cômica “Los tres amigos”. Em seguida nos propomos a analisar a
campanha publicitária de uma cerveja brasileira, “Puerto del Sol” e, finalmente,
chegamos à análise de documentos de mídia jornalística (editorial e fotos,
especificamente) relacionados à Cúpula do Mercosul no Rio de Janeiro.
Nove rainhas
Escolhemos essa produção cinematográfica argentina para análise devido a
dois motivos. O primeiro se deve ao fato de que essa obra foi responsável pela
abertura e pela melhor aceitação do mercado brasileiro às produções latino-
americanas no início desta década. Um ponto a ser considerado se pensarmos na
tímida distribuição, no Brasil, de películas produzidas naquela região em anos
anteriores. Mas esse esforço seria em vão não fosse a aceitação do público
brasileiro que lotou as salas em que foi exibido durante os sete meses consecutivos
em que esteve em cartaz na cidade de São Paulo.
54
O trecho a ser analisado é um diálogo entre os dois protagonistas do filme,
Marcos e Juan, e um empresário espanhol que se encontra em um hotel na cidade
de Buenos Aires a fim de negociar a coleção de selos raros que estão sob os
cuidados dos dois jovens trapaceiros.
A nossa atenção nesse momento da trama está voltada, sobretudo, para as
formas de tratamento (tú, vos e usted) que aparecem no diálogo estabelecido entre
54
Dados extraídos do artigo “América Latina grita”, publicado na revista do Memorial da América
Latina, Nuestra América, ano 2003, nº 23
34
os argentinos e o espanhol, e como esse sistema triádico foi interpretado e traduzido
para o português brasileiro. Devemos esclarecer que em nenhum momento faremos
essa análise baseada em alguma teoria da tradução e sim em nossos estudos
baseados nas teorias da Análise do Discurso. Assim, nossas observações serão
sobre aspectos do imaginário sobre a diversidade lingüística evidenciado na
tradução.
Voltamos nossa atenção, inicialmente, ao tratamento não recíproco, vertical,
que se dá entre aqueles personagens. Os jovens argentinos polarizam o uso de
usted, pois se encontram diante de alguém de maior autoridade e de idade mais
avançada. Por outro lado, o empresário espanhol opta pelo tuteo como forma de
aproximação psicológica e afetiva com os possíveis vendedores de selos raros.
Como podemos observar no trecho abaixo:
Marcos: ¿Usted quién es?
comprador español: Si lo que tienes para ofrecer es lo que yo creo.
Marcos: Perdón, ¿usted quién es?
comprador espanhol: La persona que te indicaron, la que viniste a buscar.
Marcos: Bien, yo no tengo nada para vender, ni le pedí ningún favor.
Estamos aquí por gentileza, usted nos hizo un favor en el baño, un mal
entendido. Pero la verdad, es que no sé quién es usted.
Até aqui parece não haver nenhuma novidade, pois, como já é sabido, a
norma estabelece os pronomes e usted como pronomes pessoais de tratamento
informal e formal, respectivamente, norma essa adotada pela maior parte dos países
hispano-falantes.
35
No entanto, o que nos chama a atenção, e o que justifica a inclusão desse
trecho de Novas Rainhas em nossa análise, é a tradução dessas formas de
tratamento, ora formal ora informal, para o PB, como se pode notar na tradução do
mesmo trecho anterior.
Marcos: Quem é o senhor?
comprador espanhol: Se o que tens aí é o que penso.
Marcos: Quem é o senhor?
comprador espanhol: Quem te indicaram, quem procuras.
Marcos: Não tenho nada à venda, estamos aqui por gentileza. O sr. nos
fez um favor, foi um engano. Não sei quem é o senhor.
Optou-se durante toda essa cena, como se verá em outros momentos do
mesmo diálogo, pelo seguinte “jogo” de tradução. A formalidade no discurso dos
argentinos está definida pelas marcas verbais de terceira pessoa do singular e
também pelo pronome de tratamento “o senhor”. Porém, diante da informalidade
desse mesmo comprador europeu com relação aos argentinos (uso de “”), frente a
uso de vos entre os personagens portenhos ao longo de todo o filme, os tradutores
optaram por uma forma de tratamento pouco utilizada no Brasil, o pronome de
segunda pessoa do singular do português, tu, como se pode notar em “Se o que
tens aí é o que penso” e “ Quem te indicaram, quem procuras.”
Isso pode ser notado ao longo de todo o diálogo entre os três personagens da
trama. O recorte nos permite observar repetidamente a opção feita pelos tradutores
para marcar as diferenças entre os espaços enunciativos em que se encontram os
argentinos e o espanhol, o lugar de onde se fala.
36
O seguinte trecho, bem como o seu equivalente em português, é mais um
exemplo do que expusemos nas linhas anteriores que, nos recortes abaixo, vai
sublinhado e com uma indicação numérica que se refere ao seu correspondente na
tradução para o português.
comprador español: ¡Vaya profesionales! (a sus empleados) ¿Entendéis,
cretinos, cómo se hacen estas cosas? Sí tú tuvieras algo para ofrecerme
seguramente (1) llamarías a mi puerta como un vendedor de enciclopedias.
Pero si (2a) fueras un porteño listo (2b) intentarías que yo me interesara.
(3) Buscarías la forma de que yo te buscara a ti y no al revés. (4) Podrías,
por ejemplo, tener una conversación telefónica con un supuesto comprador
y asegurarte de que yo la escuchara. Aunque debe ser sutil,, no decir nada
como: “¿Cómo?, ¿Por las Nueve Reinas?, ¿Pero vos estás loco?”. Y luego el
policía: ¿No, por favor, no me pegues, no me pegues. Tengo algo para vender, sí,
pero es legal, te lo juro”. ¿Entendéis? Fue tan ridículo.
comprador espanhol: Mas que profissionais. (aos seus empregados)
Viram como se faz? Para vender algo, (1) chamarias à porta como um
vendedor de enciclopédias. Se (2) fosses
um portenho esperto, (2b)
despertarias
meu interesse. (3) Me fazias procurá-lo e não o contrário.
(4) Falavas ao telefone com um suposto comprador e me farias
escutar, mas deve ser sutil. Nada de: “Pelas Nove Rainhas, está
maluco?”. Depois o vigia: “Não me bata, vendo uma coisa, mas é legal,
juro”. Entendes? Foi tão ridículo.
37
O nosso questionamento é saber por que os tradutores optaram pela tradução
do peninsular em um tu já quase em desuso em português brasileiro (PB), já que
em outros diálogos da trama o pronome vos é traduzido como você. Em todos os
casos, optou-se pelas formas de tratamento informal utilizadas pelo português
europeu (PE).
Será mais uma pista de uma memória coletiva que vem à tona, como um
conjunto de traços que (ainda) forma uma imagem de uma língua espanhola
“européia” que, assim como o PE, é vista como formal, correta e idealizada, e que
deve ser marcada, discursivamente e sintaticamente, como diferente e distante do
espanhol americano e do PB?
Los tres amigos
O segundo documento de mídia que usaremos para a nossa análise seguinte
é a tira cômica da série “Los tres amigos” dos cartunistas brasileiros Laerte, Adão,
Angeli e Glauco, publicada diariamente no caderno Ilustrada do jornal Folha de S.
Paulo.
38
Fonte: http://p.php.uol.com.br/laerte/index.phptira3amigos16.gif
Nesse contexto social, encontramos um conjunto de fatores selecionados que
nos permitem descrever e compreender a conjuntura em que se dá a breve história
entre o casal.
Assim como Bakhtin, acreditamos que “a situação extraverbal nunca é apenas
a causa exterior do enunciado, ela não age do exterior como uma força mecânica”,
(ela é) “um constituinte necessário à sua estrutura semântica.”
55
Isso significa dizer
que essa estrutura tem em si as marcas do contexto onde foi construída.
55
apud Maingueneau, 1997:53
39
A cena enunciativa armada pelos autores está carregada de representações
que ativam a memória social do leitor acerca de uma América Latina que ainda é
aquela região distante e desconhecida, lugar do caos, da desordem e da anarquia
presentes em discursos anteriores, como já vimos no capítulo 1 na seção “Percurso
Histórico” deste trabalho.
Em primeiro lugar, analisemos o espaço geográfico em que ocorre a história.
A situação se dá supostamente em algum país latino-americano cujo cenário parece
ser uma terra desolada, inóspita e com poucos habitantes, assim como os clássicos
filmes norte-americanos de bang-bang ambientados nos desertos do México. Essa
imagem é reforçada quando se verifica a presença de casas simples de madeira, um
chão irregular, ainda não asfaltado, e a presença de animais (como o bebedouro
destinado para o gado, como podemos ver no quarto quadrinho), o que salienta
ainda mais a imagem de uma região não desenvolvida.
Outro ponto que devemos ressaltar é o dos habitantes como sujeitos
sociais. Já na primeira cena, os habitantes daquela região são vistos como
preguiçosos que fumam cachimbo ou mascam palha dispostos a presenciar,
atônitos, uma simulação de briga entre um casal. O cenário é, ao mesmo tempo, o
lugar da indiferença, já que ninguém está disposto a “meter la culér”, do caos e da
violência, uma vez que marido e “mulér” decidem acertar as contas com armas em
plena via pública.
E por último, ressaltamos também as generalizações lingüísticas acerca da
língua espanhola que são feitas ao longo de toda a história. Aspectos gramaticais
como a ditongação da letra “o” em algumas palavras em espanhol (“Socuerro”) e
particularidades fonéticas (“Bagabunda”, “piraña”, “jo, “peguê”) são outros
elementos que acentuam o distanciamento, e ao mesmo tempo a proximidade, entre
40
o castelhano e o português. Essas fórmulas lingüísticas escolhidas pelos autores
fazem parte de um estereótipo fonético que se acredita ser representativo da
América Latina em geral, ainda que a forma “jo” pareça remeter-nos a um espanhol
rio-platense (Argentina e Uruguai).
Essas imagens são, pois, a atualização de temas e de figuras do passado que
reforçam a memória do presente. Como bem diz Gregolin, “a imagem traz discursos
que estão em outros lugares e que voltam sob a forma de remissões, de retomadas
e de efeitos de paráfrases.”
56
Resumindo, a América Latina representada nessa tira cômica reproduz
diretamente o repertório de imagens que se tem daquela região.
Puerto del Sol – “Cerveja Pilsen para beber debaixo do Sol”
Nossa próxima análise se refere à campanha publicitária da cerveja brasileira
“Puerto del Sol” lançada em maio de 2006 pela companhia de bebidas Ambev.
Decidimos incluir esse material em nosso trabalho, pois acreditamos que a
publicidade também é uma forma de comunicação que contem elementos
representacionais dominantes em uma determinada sociedade resultantes de um
entrecruzamento de discursos anteriores. A mesma interdiscursividade observada
nas produções escritas dos aprendizes deste trabalho que serão analisadas
posteriormente parece repetir-se nos documentos de mídia analisados nessa seção.
Em ambos contextos parece haver uma espécie de acionamento de uma memória
discursiva capaz de sustentar determinadas formulações a fim de que
determinados sentidos sejam produzidos.
56
Gregolin, 2000:22
41
Segundo Quin, "os meios de comunicação reforçam as opiniões gerais das
pessoas e servem para definir o conteúdo do estereótipo para seu público,
recorrendo à apresentação e repetição de representações coexistentes."
57
Na
campanha em questão, podemos ver claramente como as representações do
contexto latino-americano são apresentadas e reforçadas.
Começaremos nossa análise pelo rótulo e pela embalagem do produto que
aparecem a seguir para, posteriormente, analisarmos a propaganda veiculada na
televisão.
Segundo informações da própria assessoria de imprensa da empresa, a
embalagem transparente long neck, como podemos observar a seguir, traz no rótulo
“ícones latinos” e utiliza o vermelho, pois é uma cor “quente e vibrante que
predomina nesse universo”.
Chama-nos a atenção o uso da expressão “ícones latinos” no plural, uma vez
que a única imagem que se vê no rótulo é a de um senhor com um poncho, com
longos e espessos bigodes que parecem remeter-nos à figura do mexicano Emiliano
Zapata. Recorre-se à imagem de um personagem histórico, conhecido por sua
origem humilde e pela luta a favor dos índios oprimidos, a fim de representar toda
uma região. As semelhanças entre o personagem da embalagem e o herói nacional
mexicano podem ser comprovadas na comparação a seguir:
57
1996:5
42
(Fonte: www.co.uk)
Uma vez mais a América Latina está marcada pela imagem estereotipada da
desordem e das revoluções que parece ter relação com o mesmo espaço geográfico
e político ao qual fazíamos referência na seção “Percurso histórico” deste trabalho.
Outro elemento que vale a pena ressaltar nesse pacote de "ícones latinos" é o
tom amarelado da cerveja que, acondicionada em uma garrafa transparente,
contrasta com o vermelho vibrante do rótulo, que nos transporta a uma América
Latina eternamente ensolarada, com praias, sensualidade e diversão (o próprio
slogan da cerveja nos obriga a comportar-nos assim: Cerveja Pilsen para beber
debaixo do sol).
A serigrafia do rótulo, bem como a fonte das letras utilizadas na embalagem,
é também uma alusão a esse universo, já que parecem referir-se aos desenhos das
antigas civilizações indígenas que povoaram essa região ao longo dos séculos. Vale
a pena comentar que a serigrafia, processo de impressão cuja tinta é vazada através
de uma tela preparada, tem sua origem em sociedades ancestrais do Oriente, como
China e Japão, que usavam o estêncil para a aplicação de padrões em tecidos,
móveis e paredes.
Analisaremos também a campanha veiculada na televisão à época do
lançamento do produto e agora perceberemos, com mais intensidade, todos os
elementos analisados na primeira parte desta seção. É evidente que nesse
43
comercial estão presentes os elementos mais comuns que costumam fazer parte
dos comerciais de cerveja no Brasil (sol, praia e mulheres), mas há um certo esforço
em latinizar esse espaço discursivo tão conhecido do consumidor brasileiro.
O filme parece querer reunir, em trinta segundos de veiculação, o maior
número possível de estereótipos circulantes no imaginário do espectador;
contabilizamos, ao menos, quinze na construção desse espaço, ou seja, 1 elemento
estereotipado a cada dois segundos.
O vídeo começa com a imagem (cena 1) de uma praia com um forte pôr-do-
sol atrás de uma montanha e, de fundo, uma versão em espanhol de uma música de
axé brasileiro de muito sucesso no Brasil no final dos anos 90.
58
cena 1
Soa-nos curioso a utilização de um ritmo brasileiro tão popular em uma
ambientação que se diz "representada principalmente pelo Caribe", o que parece
ser uma tentativa de aproximação com a América Latina sem se desprender das
nossas "raízes" brasileiras. Isso também aparece no modo de falar do locutor do
filme que possui um forte sotaque de um hispano falando português, uma vez que
percebemos marcas fonéticas típicas de um falante dessa região que não domina
completamente os sons da língua portuguesa.
58
."En la isla del sol. Oh Milla, mil y una noches de amor con usted, viviendo este sueño de estar a su
lado en la playa, en un barco, en un farol apagado, en un molino abandonado, en las olas del mar, en la isla del
sol, en el puerto del sol."
44
No plano seguinte, vemos um quiosque (cena 2) com uma passarela de
acesso à praia com uma placa onde se lê "Puerto del Sol", acompanhado de um
cacto típico das regiões desérticas e um sombrero de estilo mexicano.
cena 2
Nesse ambiente, há mulheres e homens brancos em trajes de banho
dançando e bebendo, exceto três personagens: um branco e um negro de camisa
verde que parecem ser os "monitores" do local contratados para animar e ensinar os
"turistas" a dança local, e o "barman", quem faz malabarismos com as garrafas de
cerveja. Esses parecem representar os "moradores locais" que estão sempre se
divertindo usando, inclusive, desse "conhecimento" para ganhar a vida com dinheiro
estrangeiro. (cenas 3, 4 e 5)
cena 3 cena 4
45
cena 5
Não podemos deixar de perceber a estreita semelhança desse espaço que se
cria para enunciar a América Latina com o documento analisado anteriormente, em
que o cartunista Laerte apresenta uma mesma região rústica e pouco civilizada onde
imperam a diversão, o lazer e a falta de compromisso com a vida profissional. Puerto
del Sol é a terra do sol, da praia, dos esportes e do ritmo caribenho.
No entanto, esse lugar é perfeito, o que não poderia ser diferente em uma
propaganda brasileira de cerveja. Corpos perfeitos e pré-dispostos para a dança;
lindas mulheres morenas com poucas roupas, quase nuas; e um tom de pele que
lhes dá um certo ar indígena (observe que não há nehuma loira em primeiro plano).
Não seria de se estranhar se, em um dado momento do filme, uma gigantesca
caravela portuguesa aparecesse ao fundo, navegando pelo mar esverdeado. Aliás,
as imagens as quais o telespectador é exposto nesse comercial nos faz lembrar os
relatos deslumbrados dos colonizadores portugueses à época do "descobrimento"
do Brasil em que, em certos momentos, descreviam o corpo do índio local:
"A feição deles é serem pardos, um
tanto avermelhados, de bons rostos e
bons narizes, bem feitos [...] E não
comem senão desse inhame [...] e
dessas sementes e frutos [...]. E com
isto andam tais e tão rijos e tão
nédios que o não somos nós tanto,
46
com quanto trigo e legumes
comemos."
59
Coincidentemente, desde aquela época já se faziam referências e super
valorizações ao corpo feminino local, como podemos notar em outro trecho do
mesmo documento e a seguir nas cenas 6 e 7:
"E uma daquelas moças era toda
tingida [...] e era tão bem feita, e tão
redonda, e sua vergonha (que ela
não tinha) tão graciosa que a muitas
mulheres de nossa
terra, vendo-lhes tais feições
envergonhara, por não terem as
suas como ela."
60
cena 6 cena 7
O tratamento dado à natureza também é outro aspecto a ser considerado em
nossa análise. Nas cenas apresentadas no filme publicitário, as construções civis
dão lugar a um cenário paradisíaco e selvagem constituído por típicas palmeiras e
cactos que adornam um bar rústico feito de sapê, o que nos causa uma certa
estranheza, uma vez que a primeira é típica de regiões tropicais com pouca
drenagem ou alagamentos regulares e, a segunda, se desenvolve em ambientes
59
Pero Vaz de Caminha (apud Barros: 19)
60
Ibidem, pág. 19
47
extremamente áridos.
61
Essa planta aparece no portal de entrada e também como
enfeite em cada uma das mesinhas dispostas ao longo do quiosque.
Isso nos faz lembrar o relato de Américo Vespúcio ao descrever, atônito, as
terras encontradas: "As árvores são de tanta beleza e tanta suavidade que nos
sentíamos estar no Paraíso terrestre..."
62
As cenas 2 e 8 comprovam o que acabamos de dizer:
cena 8
Outro aspecto interessante encontrado é o domínio que o "local" tem sobre a
natureza. Em um dado momento de outra versão do mesmo filme encontrada na
Internet, um dos personagens sai correndo para trazer de volta o sol que já estava
se pondo e, com uma cortada de vôlei, garante assim a prolongação da festa
daqueles habitantes. Ver cenas 9, 10 e 11.
cena 9 cena 10 cena 11
61
Informações obtidas do site www.wikipedia.org
62
apud Galeano – pág. 25
48
O ato de "reintegrar" o sol ao contexto da festa dos "locais" parece remeter-
nos às riquezas abundantes encontradas pelos europeus ao chegarem em terras
americanas. Esses, deslumbrados com o que acabaram de encontrar, chegam a
descrever a região como o seguinte trecho da carta de Cristovão Colombo: "do ouro
se faz tesouro, e com ele quem o tem faz o que quiser no mundo e chega a levar as
almas ao Paraíso."
63
Para concluir nossa análise, não podemos deixar de comentar a forma em
que se optou para concluir o filme. Ao fundo, os "locais" vão deixando o local da
"festa" em um trenzinho humano e, em primeiro plano, surge a figura do suposto
Zapata do rótulo piscando para o telespectador, como podemos notar na seguinte
seqüência:
A piscada final do personagem nos é muito representativa, pois parece
reforçar a imagem estereotipada que se tem do povo latino-americano, a do eterno
malandro.
Todos esses símbolos analisados até aqui parecem ser a materialização das
imagens reducionistas que alguns brasileiros têm da latinidade, seu estilo de vida,
cultura e valores, podendo-se inclusive "fazer o que quiser", desde que tenha
disponível, como afirma Colombo no trecho citado anteriormente, tal variedade de
riqueza natural como a presente outrora em nossas terras.
63
Ibidem:25
49
Podemos encontrar nesse documento um exemplo da imagem contraditória
que defendemos haver com relação à lingua espanhola, contrapondo-se à imagem
já descrita quando nos propusemos a analisar a obra "Nove Rainhas". Enquanto
aqui parece evidenciar-se a língua inserida em situações de descontração dadas em
regiões menos desenvolvidas, na tradução do filme argentino notamos um idioma
tido como correto e idealizado.
Tudo isso materializado em uma determinada cenografia
64
e, é através dessa,
que certas enunciações aparecem. A cenografia, ainda segundo Mainguneau, não é
apenas um determinado quadro que dá materilização ao enunciado. É, também, o
esforço da enunciação em se construir como fala. A cenografia não apenas a de
uma praia chamada "Puerto del Sol", com muita cerveja, praias e mulheres semi-
nuas; é também o que se fala desde aquele lugar, "a cenografia é ao mesmo tempo
a fonte do discurso e aquilo que ele engendra."
65
O mais curioso é que, segundo a própria empresa produtora, a "criação do
produto foi baseada em pesquisas e no desenvolvimento da cultura latina no Brasil",
"trabalhamos com o aspiracional da latinidade, que é representada principalmente
pelo Caribe."
66
Mas que "cultura latina no Brasil" é essa? Quem a representa? De
quem são essas vozes? Os símbolos selecionados para a caracterização desse
espaço são os marcos de referência selecionados que orientam as percepções dos
consumidores dessa cerveja; através da simplificação e da generalização, os
publicitários responsáveis pela criação da imagem do produto fomentam o universo
estereotipado do mundo latino.
64
Usamos o conceito de “cenografia” de Maingueneau (2001:87)
65
Ibidem (pág. 87)
66
O leitor poderá encontrar nos anexos finais o texto completo divulgado pela assessoria de imprensa á
época do lançamento do produto.
50
No entanto, os sentidos produzidos nessa campanha publicitária nada mais
são do que a reprodução de outros discursos que circulam na sociedade brasileira
acerca da cultura latina e que agora são retomados, uma vez que, assim como
dissemos na Introdução deste trabalho, essas representações atuais são
atualizações de discursos produzidos anteriormente. A voz que "ouvimos" é a voz de
quem faz a propaganda selecionando imagens para vender a cerveja, e essas
carregam consigo instruções explícitas que orientam a interpretação que o público
deve fazer sobre o produto, ainda assim a empresa diz criar uma cerveja como essa
para "atender às expectativas de um público que valoriza cada vez mais o estilo de
vida, cultura e valores latinos." Assim como afirma Maingueneau
67
, o discurso
publicitário mobiliza certas cenografias para que, na medida que persuade seu co-
enunciador, essas possam captar o imaginário desse "leitor" / "telespectador" para
então atribuir-lhe uma identidade, "por meio de uma cena de fala valorizada."
O que notamos aqui é a descrição de um local em que não há lugar para o
progresso e para o desenvolvimento, assim como a América Hispânica fantasiada
pelos monarquistas brasileiros citados anteriormente, uma vez que esses
personagens só parecem ter disposição para a diversão e o ócio. Mesmo havendo
uma certa civilidade presente no filme, como um bar bem organizado e uma dança
ritmada, ainda assim isso seria insuficiente para considerar essa gente civilizada e
produtiva. Essas representações são justamente contrárias à crença que se tinha na
estabilidade e na prosperidade de um país monárquico. A desordem da região
parece estar representada por todos esses elementos analisados anteriormente: um
lugar “selvagem”, ainda que paradisíaco, pouco explorado e com escassos sinais de
67
2001:90
51
civilidade, além da presença de moradores “preguiçosos” que passam o dia
dançando, inclusive os que estão trabalhando.
É como colocar um refletor sobre apenas partes de um cenário, selecionando
uns objetos de cena e não outros.
Viva o carnaval latino-americano
Nossa última análise tem a atenção voltada para documentos coletados na
mídia jornalística, mais especificamente editoriais e fotos de jornal impresso, revista
e da Internet.
Durante a elaboração deste trabalho, a cidade do Rio de Janeiro foi palco da
32ª reunião de Cúpula do Mercosul e reuniu, entre os dias 18 e 19 de janeiro de
2007, presidentes dos países-membros desse bloco econômico, além dos
presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, Evo Morales, da Bolívia e o colombiano
Álvaro Uribe. O encontro foi marcado, sobretudo, pelas divergências e atritos
econômicos entre alguns chefes de estado sobre temas como a entrada definitiva da
Bolívia ao bloco e o alívio nas regras comerciais para o Uruguai e o Paraguai.
No entanto, o nosso propósito não é, em hipótese alguma, analisar e
questionar os entraves comerciais e políticos do bloco, nem as discussões travadas
pelos seus líderes; não está em questão, e nem caberia a nossa discussão, analisar
as questões políticas e as polêmicas que se criaram nessa Cúpula, tão pouco
defender a eficácia ou não dos ideias bolivarianos e anti-americanos que permearam
todo o encontro.
Nosso foco é justamente o "cenário" e as "fantasias" em que esses
personagens foram inseridos pelos meios de comunicação. O que nos interessa
para este trabalho é justamente entender como essas discussões foram tratadas
pelos meios jornalísticos, quais elementos representacionais foram selecionados,
52
entre tantos outros possíveis, para “desenhar” o cenário pelo qual circulariam os
personagens envolvidos na notícia.
68
O clima de “carnaval”, às vezes substituído pelo “picadeiro circense”, além de
um certo ar de “inutilidade” da região, esteve presente em todos os documentos
coletados para essa análise.
O texto que mais nos chama a atenção, talvez por seu deliberado teor
carnavalesco, é o do jornalista e produtor musical Nelson Motta, “Alegorias
carnavalescas".
69
Ali, o leitor é convidado a "assistir", quase que de camarote, ao
desfile de uma América Latina hispânica recheado de elementos estereotipados que
ainda reforçam o imaginário internacional que se tem dessa região, incluindo o
Brasil.
O autor começa seu ensaio descrevendo o desfile de carros alegóricos cujas
as prinicpais atrações são os presidentes venezuelano e boliviano, e os seus
adereços mais típicos (e estereotipados):
"No primeiro carro alegórico ... vem o
grande líder bolivariano Hugo Chávez, em
seu uniforme multicolorido, com seus
alamares, borlas e dragonas dourados,
sob o imenso quepe, e com o peito
pesado de medalhas, cercado por
seguranças fantasiados de astecas e
lindas morenas de seios de fora. A bateria
explode, a torre de petróleo cenográfica
lança jatos de chocolate, a massa delira e
se lambuza, como se fosse melado
comido pela primeira vez."
E continua:
"Logo atrás...cercado por plantas de coca
cenográficas e por belas índias seminuas,
com a segurança em trajes típicos dos
68
Todos os textos utilizados para a análise desta seção se encontram anexados no final deste trabalho.
69
Folha de São Paulo (edição de 19 de janeiro de 2007). Versão disponível no link:
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1901200705.htm
53
Andes, o grande líder cocaleiro Evo
Morales acena para o povo, com sua
touca multicolorida lhe cobrindo as orelhas
e seu casaco de pele de lhama."
Assim como nos documentos midiáticos analisados anteriormente, nesse
também podemos encontrar pistas que nos remetem a uma região "exótica",
marcada pelas manifestações festivas alegres presentes até mesmo nas questões
políticas mais profundas como a integração de um grupo de países. Como diz o
próprio autor do texto, a integração latina se dá pelo "caminho da festa,
especialidade dos hermanos brasileiros."
A expressão "hermanos" também deve ser ressaltada, pois seu uso é
difundido pelos meios de comunicação quando esses se referem aos habitantes dos
países latino-americanos, sobretudo os do América do Sul, por sua proximidade com
o Brasil. Ela não é usada para referir-se aos espanhóis. Essa expressão coloca a
irmandade como voz do outro, e o mais interessante na sua utilização é a intenção
que parece haver na escolha dela para referir-se a essa gente, uma falsa afetividade
que projeta uma superioridade do enunciador.
Esse espaço, que parece querer (re)produzir no leitor/espectador o mesmo
efeito de assombramento que tiveram os europeus ao chegarem a este lado do
planeta, é o lugar das festas, das manifestações populares em que os personagens
vestem fantasias ("uniforme multicolorido" / "seguranças fantasiados de astecas" /
"belas índias seminuas" / "segurança em trajes típicos dos Andes" / "touca
multicolorida" / "casaco de pele de lhama.") e circulam por um lugar em que nada
parece ser real, são apenas adereços cenográficos ("torre de petróleo cenográfica
lança jatos de chocolate", " imensas plantas de coca cenográficas").
Tudo isso parece ser uma espécie de ritual de demonstração de civilidade em
que a sua descrição detalhada funciona como ilustração para marcar a diferença
54
entre o mundo civilizado e o mundo selvagem. Essa intenção percebida no texto do
jornalista nos faz lembrar a "cena de recepção" que os índios fazem a Cabral à
época da colonização e que Edward Lopes descreve da seguinte maneira:
"Ali estava, pois, no centro do palco –
como principal, o Capitão, bem vestido e
assentado, a afirmar, na pose de maioral
no trono, sua condição de ator- não
natural (o estar vestido atesta, agora, sua
condição de /humano/), paramentado de
/civilizado/, cujo corpo, coberto de
coruscantes trajes, armas, adornos e
condecorações, torna patente, através
desses significantes /humano/ +
/civilizado/ + /detentor do poder/, perante
aquelas espantosas criaturas
avermelhadas que no corpo usavam
pinturas no lugar de roupas e cuja nudez
seria fatalmente lida pela competência
semiótica dos cristãos como o significante
fugurado da ‘inocência’..."
70
Nesse texto também está presente um velho estereótipo que ainda circula
sobre a região, sobretudo sobre a Bolívia e a Colômbia: a América Latina como lugar
das drogas ilícitas. Mas como estamos falando do "paraíso terrestre", ali tudo está
permitido, uma vez que "os canhões do carro despejam chuvas de folhas de coca
sobre o público, todo mundo ligadão até o ‘grande amanhã’ chegar." O sentido das
expressões ‘chuvas de folhas de coca’ e ‘ligadão’ ultrapassam a intenção de crítica
política, para "transportar" o leitor a outra dimensão da história.
Em se tratando de carnaval, a música não poderia deixar de ter também o seu
espaço nesse cenário de festa e comemorações. Instrumentos típicos dessa região
são convocados para animar as reivindicações daquela gente:
70
Edward Lopes – 2000:18
55
"No refrão da salsa-enredo, as congas e
timbales repicam e todos gritam, de
punhos fechados: "Patria o muerte!".
Depois o refrão muda para "socialismo o
muerte!", as mulatas rebolam, as índias
se sacodem. De mãos dadas e braços
para o alto, todos gritam: "Revolución o
muerte!" (...) O enredo "O Mundo Mágico
do Perfeito Idiota Latino-americano",
versão 0.7, começou a ser ensaiado
nesta semana no Rio."
Percebemos uma vez mais como certas palavras ou expressões parecem ser
recorrentes nas descrições em textos cuja a América Latina, o seu povo e a sua
natureza, são os protagonistas, como por exemplo a seqüência de expressões
utilizadas pelo autor do texto para referir-se à América Hispânica ("Patria o muerte!" /
"Socialismo o muerte!" / "Revolución o muerte!"). Ali, a palavra 'morte', presente nas
três seqüências vem acompanhada de palavras correlacionadas ideologicamente
('patria', 'socialismo' e 'revolución'). Pensamos que essas palavras podem entrar em
paráfrase com "Independência ou Morte", grito atribuído a D. Pedro I, às margens do
riacho Ipiranga, ao declarar o rompimento da dependência do Brasil com Portugal. É
a América Latina "anarquista" e "desorganizada" em mais um exemplo de
estereótipo que se tem sobre a região.
No entanto, em alguns casos, o "carnaval" latino-americano aparece sob uma
nova roupagem: o circo. Em um editorial do O Estado de São Paulo
71
, o desfile de
personagens "históricos" na rua de alguma cidade latino-americana dá espaço ao
picadeiro em que o anfitrião do encontro assume um papel de "palhaço" fora de si
que não consegue enxergar a situação: "[se] o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
tiver tido um instante de lucidez, deve ter corado até os artelhos com as agressões e
gozações que sofreu do companheiro Chávez. Mas é pouco provável" e, ao referir-
71
O Estado de São Paulo (edição de 20 de janeiro de 2007). Versão disponível no
link:http://txt.estado.com.br/editorias/2007/01/20/edi-1.93.5.20070120.3.1.xml
56
se ao acordo firmado entre o Brasil e a Venezuela para a construção de um
gasoduto até Recife, dispara: “Também para isso não seria necessário armar um
circo tão amplo diante da Praia de Copacabana. A paisagem, pelo menos, deve ter
compensado o esforço."
A região é descrita como um lugar que não devemos levar a sério, uma vez
que se trata, para usar as palavras de um outro editorial publicado pelo mesmo
jornal no dia anterior, "de mais um surto de fantasia geopolítica" onde prevalecem o
"delírio" e a "ficção".
O mais interessante é perceber o diálogo que há entre os diversos textos
coletados em diferentes jornais e revistas que se propuseram a descrever e analisar
tal encontro político. E afirmar aqui que há um “diálogo” entre esses documentos,
significa dizer que as representações são as mesmas, as regularidades discursivas
estão presentes nessa espécie de colcha de retalhos que se forma quando o
assunto é a América Latina hispânica dos meios de comunicação. O que parece
haver aqui, uma vez mais, é o entrecruzamento de diálogos do presente e do
passado, "inventando-se um fio condutor que deseja impor uma continuidade
histórica."
72
No entanto, esse diálogo se completa quando analisamos os elementos
visuais selecionados para ilustrar os acontecimentos. As fotos que acompanharam
as notícias de caráter mais jornalístico também seguiram a tendência em
carnavalizar o evento, torná-lo um registro “fiel” da festa em que se tornara o
encontro de chefes de Estado da América do Sul, como podemos observar a seguir:
72
Expressão usada pela professora Maria Lígia Coelho Prado no artigo “Bolívar em várias versões”
(bibliografia no final deste trabalho)
57
foto 1
Fonte: http://oglobo.globo.com/economia/fotogaleria/2007/1300/default.asp
legenda foto 1:
“O presidente venezuelano, Hugo Chávez, observa passista da Vila Isabel durante
apresentação da escola para a cúpula do Mercosul” (EFE)
58
foto 2
Fonte: http://www.estadao.com.br/ext/especial/extraonline/galerias/economia/2007/01/18/14154400
legenda foto 2:
"Samba - Após jantar oferecido aos presidentes do Mercosul, que teve também a
presença de governadores e empresários, os chefes de Estado assistiram a uma
apresentação da escola de samba Portela"
Em ambas as fotos, podemos notar que aparecem em primeiro plano
elementos representativos do Carnaval brasileiro como mulheres negras semi-nuas
vestindo adereços típicos como penas e adornos brilhantes. Assim como o cenário
da cerveja Puerto del Sol, aqui percebemos outra vez a mulher como a principal
representante da latinidade, seja em festas improvisadas na praia ou em reuniões de
cúpula, convertendo-se assim num objeto valorizado. Essas imagens reforçam o
estigma da condição de naturalidade selvagem da América Latina que, mais uma
vez, remete seus leitores à época da chegada dos colonizadores em nosso
59
continente. Não podemos negar a função da fotografia em registrar fatos reais, mas
também não devemos acreditar que essa represente uma naturalidade que não
esteja carregada de elementos deliberadamente escolhidos, ou rechaçados, para
aparecerem no campo de visão do leitor.
Outra representação encontrada nos documentos é a de uma região ainda
não preparada para reuniões políticas como o fazem os países “civilizados”.
No mesmo editorial do O Estado de São Paulo de 20 de janeiro, alguns
imaginários latinos já citados neste capítulo também são acionados, como a “não
civilidade da região”, “baixaria e inutilidade” dos locais e a “falta de bom senso”.
O parágrafo de abertura começa afirmando que “não poderia faltar uma dose
de baixaria na lamentável e inútil conferência de cúpula do Mercosul, no Rio de
Janeiro, encerrada ontem. Quem previu uma reunião apenas improdutiva e marcada
pela retórica terceiro-mundista pecou por otimismo. A realidade foi pior." Mais
adiante, os autores afirmam que "Morales e Chávez não vieram ao Brasil para
discutir de forma civilizada projetos de interesse comum, mas para ditar palavras de
ordem e proclamar novos tempos para a região", para logo mais dizerem que "uma
das poucas manifestações de bom senso foi o pronunciamento da presidente
chilena, Michelle Bachelet." (os grifos são nossos)
A revista semanal Veja daquela mesma semana também brindou seus
leitores com um discurso nacionalista exacerbado marcado pelo destacamento dos
aspectos negativos dos outros países latinos em defesa do próprio crescimento
econômico nacional. Em seu "Carta ao leitor", um breve editorial que comenta algum
assunto importante da semana, a revista deixa claro, logo nas primeiras linhas, a sua
posição contrária aos acordos firmados entre o nosso país e aqueles países sul-
americanos. Como podemos ver a seguir:
60
"Falta um trecho para o Brasil chegar
à estrada asfaltada que nos levará sem
solavancos ao desenvolvimento
sustentado. Falta um ambiente de
negócios menos hostil à inovação, falta
incentivo à produtividade e,
principalmente, falta um Estado com o
mesmo manequim do PIB e que controle
sua fome insaciável por recursos. Mas
não ocorre a ninguém minimamente
responsável no Brasil a idéia de
retroceder um centímetro do ponto a que
se chegou até agora. Somos um país que
vive um inédito consenso em torno dos
fundamentos da vida civilizada – a
democracia e a estabilidade econômica, o
progresso social pela melhoria dos
padrões educacionais e a integração aos
fluxos globais de idéias e práticas sociais
e ambientais sadias."
73
Para os editores da revista, os (des)encontros ocorridos no evento político foi
um "choque" onde "as virtudes celebradas e cultivadas no Brasil estão sendo
demolidas". O discurso levantado pela revista é o mesmo dos outros editoriais
publicados pelos jornais citados anteriormente, em que aparecem personagens
despreparados (como os ´caciques populistas´ a que a Veja cita posteriormente no
mesmo texto) cuja irrelevância dos seus governos pode abalar a estabilidade que o
Brasil vem conquistando nos últimos anos. E uma aproximação desses países com o
Brasil significa abalar "a democracia e a estabilidade econômica, o progresso social
pela melhoria dos padrões educacionais e a integração aos fluxos globais de idéias
e práticas sociais e ambientais sadias."
A essa altura, o leitor atento deste trabalho terá a impressão de já haver lido
isso anteriormente. E terá razão, uma vez que os documentos analisados para essa
seção parecem nos remeter, em menor ou maior escala, aos anos monárquicos no
Brasil em que esse procurou distanciar-se da América Hispânica "caótica" e
73
Veja – edição 1992 – ano 40 – nº 3 de 24 de janeiro de 2007
61
"anarquista", como vimos no capítulo "Percurso Histórico". Os textos aqui reunidos
parecem ser um eco daquele discurso desesperado dos monarquistas. Embora já
não se trate de monarquistas, e sim de setores da elite interressados nas alianças
com outros blocos e países, fundamentalmente os E.U.A., o que acontece é que
elementos do discurso se aliam com essa nova ideologia e, a reprodução desse
discurso, parece servir para que o nosso país se distancie da "planta exótica" que é
a América Hispânica. E agora temos a impressão que a história se repete, nem que
seja necessário "carnavalizar" a região e os acontecimentos políticos como a Cúpula
do Mercosul.
O texto da revista ressalta as conquistas econômicas do Brasil e o perigo que
essas correriam com uma aliança mais estreita com países vizinhos como
Venezuela, Bolívia e Equador. Para a revista, a liderança do Mercosul deve estar em
mãos de países de "economia maior, mais moderna e mais complexa ", como o
Brasil e a Argentina. "Como a chilena, a economia brasileira é vista pelo mundo
como produto de uma civilização distintamente melhor do que a da América do Sul."
Já os textos publicados pelo O Estado, menos fervorosos que o da Veja,
também lamentam os temas que não foram discutidos na Cúpula para que o
discurso "socialista do século XXI" tivesse seu devido espaço.
No entanto, para lograr tal efeito, esses veículos utilizaram um discurso que
parece remeternos ao que vimos durante o Império brasileiro: apontar os defeitos
dos sistemas contrários à Monarquia para justificar as suas crenças políticas.
Acredita-se, como se acreditou no passado, na "civilização, ordem e estabilidade,
qualidades que acreditava ‘européias’, e que o distinguiam de seus turbulentos
vizinhos."
74
74
Santos – 2004 : 67-68
62
Essa situação é claramente representada pelo quadro criado pela revista Veja
para ilustrar a atual situação do nosso país com relação aos outros países do bloco
sul-americano. Como podemos notar na página 64 deste trabalho, o Brasil se isola
do "perigo" hoje como se isolou dos países americamos naquele século XIX.
No lado direito do quadro, isolado da "outra" América Latina, está o desenho
do presidente do Brasil, uma figura de olhos arregalados e assustados ante a
possibilidade de invasão dos "selvagens" latinos, que parece tentar, ao mesmo
tempo, proteger seu território das ameaças externas vizinhas que chegam a cavalo.
Para isso, algumas seleções foram feitas pela equipe de arte da revista.
É notável a forma como o presidente se posiciona, fisicamente, diante dos
outros presidentes. Isolado em seu "curral", Lula se impõe enchendo o peito, abrindo
as pernas e fincando-as no chão de forma defensiva. Como delimitação geográfica
estão também, além da já citada cerca de isolamento, a bandeira nacional
acompanhada de uma placa onde se lê: Brasil.
A bandeira nacional, criada em 1889 e inspirada na bandeira do Império, não
deixa de ser uma forma de comunicação carregada de significações que "atuam na
sistematização de ideologias, no reconhecimento e oposição entre grupos", é um
emblema que "pode condensar sentidos e significar o que se quer reter
politicamente como traço distintivo de um grupo."
75
Dessa forma, e seguindo o
raciocínio desenvolvido anteriormente, a bandeira hasteada à porta do país é a
garantia do "Ordem e Progresso" que atualmente figura no centro da nossa bandeira
em lugar da coroa imperial.
Assim como um objeto como a bandeira nacional vem carregado de
significações, as cores escolhidas para a representação dos países no mapa que
75
Castelfranchi (Ver bibliografia completa ao final deste trabalho)
63
aparecem sob seus pés também nos faz crer que foram cuidadosamente escolhidas
para transmitir uma determinada mensagem.
O verde que obviamente ilustra o Brasil parece querer reforçar o nacionalismo
e os seus próprios interesses; enquanto que países de economia menor e menos
ameaçadores para o nosso país, como o Uruguai e o Paraguai, estão em branco
que, segundo pesquisamos informalmente, significa inocência e pureza.
Quanto aos países "invasores", foi-lhes dado um tom alaranjado que, assim
como o vermelho que aparece nas caixas com os nomes desses países, podem
simbolizar, entre outros sentimentos, o sangue, a violência ou a agressividade. Para
proteger-se desses perigos externos, o país está isolado por um forte, edificação
para proteger um lugar estratégico de ataques inimigos, que nos remete aos
períodos de confronto entre brancos e índios em toda a América. No centro,
encontra-se um presidente brasileiro com expressões faciais europeizadas que não
lhe parecem próprias, uma vez que remetem o leitor às imagens de pessoas
destacadas da História, sobretudo as do século XIX.
Outras delimitações étnicas também são percebidas nessa arte. Os
personagens da cena são apresentados, com exceção do presidente argentino,
com seus trajes típicos, ora fazendo referências a militares ora aos índios e seus
típicos ponchos. O vocabulário utilizado para referir-se a esses personagens
também reforçam a posição da revista sobre aqueles países. Enquanto a Venezuela
é comandada pelo "cacique de todos os caciques malignos" que financia
"arruaceiros nos países vizinhos", a Bolívia, representada pela figura de Evo
Morales, "mobiliza índios em pé de guerra para depor na marra governadores
oposicionistas."
64
Fonte: http://veja.abril.com.br/240107/popup_inter01.html
65
Capítulo 3
Análise de produção de alunos
“Não existe uma língua portuguesa. Existem línguas em português”.
(José Saramago no documentário: “Língua – vidas em português”)
Alguns exemplos
A partir dessas primeiras reflexões expostas na seção anterior, e baseando-
nos na nossa experiência docente em institutos de línguas, fomos coletando
exemplos de fenômenos que nos fizeram refletir e aprofundar nossa discussão sobre
essas possíveis imagens como produtos dessa história.
Pudemos notar que há uma tendência em optar por construções pertencentes
ora a um estágio anterior ao do português falado atualmente no Brasil ora
pertencente a outros espaços enunciativos, como Portugal ou a Itália. No momento
de se inscrever nessa trama imaginária de sua interlíngua, esses alunos parecem
ser convocados a falar como brasileiros.
Por isso, não devemos descartar as questões históricas e sociais existentes
entre a América hispana e o Brasil, e como essas questões são responsáveis, mais
cedo ou mais tarde, pelas influências entre o espanhol e o português. “Hoje na
tentativa de difundir o espanhol no Brasil e o português nos países do Mercosul,
pensa-se a questão como que se começasse do zero. E isso, obviamente, não é
assim. Há uma experiência natural, espontânea, histórica de uma integração pacífica
que dá como resultado uma variedade que não se deve descartar como um
antecedente válido de relacionamento entre lusos e hispanos”.
76
Conseqüentemente, tal fenômeno tem alterado o rumo e o enfoque das
minhas aulas.
76
Elizaincín – 2002:9-10
66
Recolhi, durante esses anos, alguns exemplos que podem ilustrar o problema
exposto neste trabalho. Devemos esclarecer que os seguintes enunciados são
produções de alunos brasileiros de São Paulo com diferentes níveis de língua e de
idade. Observe os exemplos:
1) “Miguel de Cervantes fora un escritor muy famoso”.
2) “Estoy a trabajar en el departamento de finanzas”.
3a) “Los apartamentos localizan-se en el centro de la ciudad y allí viven cerca
de 4 personas”.
3b) “... y las casas dividense en dos habitaciones; baño, cocina, sala y
cochera”.
O exemplo (1) nos parece o mais interessante de todos os coletados, pois foi
produzido por um adolescente, de aproximadamente 15 anos, da primeira série do
Ensino Médio. Embora no falar brasileiro atual o pretérito mais-que-perfeito (“fora”)
seja um tempo verbal reservado apenas aos textos escritos mais formais e melhor
elaborados como a literatura e a mídia impressa, esse aluno opta por uma
conjugação pois desconhece os tempos verbais passados da língua espanhola.
Essa transferência verbal do português para o espanhol se dá, fundamentalmente,
pela falta de conhecimento da estrutura da língua alvo.
É necessário explicar que se tratava de uma atividade proposta em uma sala
de alunos iniciantes que ainda não haviam aprendido formalmente nenhum tempo
verbal pretérito, de modo que aqueles alunos deveriam produzir apenas frases
simples com o presente do indicativo sobre personalidades hispânicas, vivas ou não.
67
Consideramos o segundo exemplo (“Estoy a trabajar en el departamento de
finanzas”) como o mais representativo do que viemos desenvolvendo ao longo deste
trabalho, pois traz consigo fortes marcas que nos levam a concluir que no imaginário
do falante brasileiro ainda persiste a imagem de que a língua do Brasil ainda é o
português de Portugal. Trata-se de uma construção sintática de um português
europeu que ainda carrega consigo a imagem de um português formal que justifica e
influencia certas estruturas construídas pelos aprendizes brasileiros de E/LE.
Naquele momento em que foi produzido tal enunciado, o aluno, cujo nível era
o intermediário do curso superior de Secretariado Executivo, justamente aprendia
em língua espanhola a construção “estar + verbo no gerúndio”. Mas, no momento de
construir tal oração para descrever as suas atividades laborais, escolheu uma
estrutura pertencente a um espaço lingüístico “distante” do seu. Produzem-se então
estruturas a partir de certos padrões estabelecidos pelo português europeu.
Consideramos importante destacar, como bem lembra Celada
77
, que o
espanhol no território brasileiro funcionou, ao longo da história, como uma língua de
escrita, e que a memória dessa língua contém marcas dessa relação. Esse idioma
serviu, durante muitos anos, como um instrumento de acesso a textos estrangeiros
não disponíveis no Brasil em versão em português.
Se, de acordo com Celada, o brasileiro interpreta a língua espanhola, seja
essa oral ou escrita, como a (re)produção das normas escritas de um português que
ficou distanciado do seu discurso oral, como sendo tocado como sujeito da
colonização, podemos então notar outra vez a escolha por uma estrutura inexistente
no português brasileiro coloquial atual. Seja pela insegurança de conjugar um verbo
no gerúndio, seja pela “comodidade” de usar uma expressão que lhe soe, ao mesmo
77
Celada – 2002:230
68
tempo, “familiar” e “correta”. Como bem diz Revuz, “o encontro com a língua
estrangeira faz vir à consciência alguma coisa do laço muito específico que
mantemos com nossa língua.”
78
Para a autora, aprender uma língua estrangeira é
um ato racional, ao mesmo tempo, próximo e heterogêneo à primeira língua.
O terceiro e último caso (“Los apartamentos localizan-se en el centro de
la ciudad y allí viven cerce de 4 personas” / ... y las casas dividense en dos
habitaciones; baño, cocina, sala y cochera.”) que analisaremos aqui se refere à
colocação do pronome impessoal se. Desde as primeiras aulas formais sobre
colocação pronominal em sua língua materna, o brasileiro aprende que, segundo as
normas do português culto, não se deve iniciar orações com pronomes, embora o
faça coloquialmente.
Porém, ao aprender espanhol, esse mesmo brasileiro descobre que a partir
de agora será diferente, que frases do tipo “Los apartamentos se localizan...estão
corretas do ponto de vista gramatical. Paradoxalmente, o que deveria ajudá-lo, já
que se trata de uma construção conhecida do brasileiro, acaba confundindo-o.
Primeiramente, não poderíamos deixar de referir-nos às questões de
identificação presentes no ato de aprender uma língua estrangeira. Essas,
determinadas pelos fatores sócio-históricos e das memórias, explicam os sentidos
produzidos nos discursos de nossos alunos brasileiros que, ao aprender E/LE se
inscrevem em um “lugar” reservado à língua espanhola que, conseqüentemente,
lhes exige uma série de atitudes e estratégias a fim de dar sentido àquela
enunciação; e essas intenções acabam dando forma ao discurso.
Essas atitudes e estratégias se dão a partir da necessidade de buscar no
português de Portugal, baseada na idéia que se tem sobre a língua falada naquele
78
Revuz – 1998:215
69
país, formas que possam preencher certas lacunas que se acentuam durante o
processo de aprendizagem de E/LE. Para esses enunciadores, parece ainda existir
uma língua perfeita, a língua dos nossos colonizadores “superiores” e “civilizados”
que respeitam as regras gramaticais. Na análise desse pequeno corpus percebem-
se marcas da tradição eurocêntrica que nos parece existir no discurso do brasileiro.
Certamente, não podemos negar a herança deixada pela implantação da
cultura européia na sociedade brasileira, mas concordamos com Marcos Bagno
quando esse diz que “é o nosso eterno trauma da inferioridade, nosso desejo de nos
aproximarmos, o máximo possível, do cultuado padrão ideal, que é a Europa”.
79
A problemática aqui se refere à atitude em relação à língua, em nosso caso, à
língua espanhola peninsular. A importância que se dá a ela, bem como ao português
europeu, faz parte dos imaginários sociais e é justificada pelas representações que
os brasileiros têm dela. Não se trata simplesmente de tomar a palavra como um
simples instrumento de comunicação, mas de ocupar um lugar em relação à língua e
suas diferentes formas de existência, “tomar” a língua, que tem um real específico,
uma ordem própria.
Para Calvet, esses “olhares” sobre a língua traduzidos, em nosso caso
específico, em palavras são “normas que podem ser partilhadas por todos ou
diferenciadas segundo certas variáveis sociais (...) e que geram sentimentos,
atitudes, comportamentos diferenciados”.
80
A breve análise dos exemplos demonstrados anteriormente possui algumas
marcas que indicam essa visão “eurocêntrica” que ainda faz parte do imaginário
brasileiro acerca da língua espanhola. Neles, percebem-se as representações que o
locutor dá (e se dá) de sua enunciação. O espanhol, assim como o português
79
Bagno - 2004:30
80
Calvet - 2002:72
70
peninsular, parece ser ainda um “produto” culto produzido em terras “civilizadas”,
“ordenadas” e “prósperas” da Europa, muito diferente das representações sobre a
América Hispânica, citadas anteriormente.
Porém não devemos nos esquecer, como já foi descrito nos capítulos
anteriores, da existência de um sinuoso caminho diacrônico e contraditório de ir e vir
entre a Europa e a América Espanhola; e compreender esse caminho é, pois,
reconhecer duas tendências contraditórias que permeiam o interior do discurso do
aprendiz brasileiro de E/LE; tendências que ora se cruzam ora se deslocam
mutuamente.
Além de recorrerem a um português considerado culto, esses alunos
produzem enunciados que eles não utilizariam em sua própria língua materna, pelo
menos na língua coloquial. O espanhol desses aprendizes se remete a outra forma
da língua portuguesa, vê-se na outra uma parte de si. Uma língua se inscreve na
memória da outra, uma vez que, assim como afirma Guimarães
81
, “a língua é um
sistema de regularidades que esquece e guarda as enunciações por que passa. E
aquilo que parece ser o que lhe é próprio foi constituído enunciativamente, nos
nossos termos, interdiscursivamente.” (os grifos são nossos)
Desse modo, o aprendiz brasileiro parece ativar o “imaginário lingüístico”,
termo utilizado por Pêcheux
82
para referir-se à ilusão que o falante tem de que a
língua é exterior a ele e de que existem “evidências lexicais” assentadas em sua
estrutura. Esse imaginário se reforça com o falso pressuposto, detectado por
Celada
83
, de que a língua espanhola é mais correta, rebuscada e formal e que, para
enunciá-la corretamente, se deve recorrer a um português culto com estruturas
gramaticais e unidades lexicais que já não aparecem em enunciados brasileiros ou
81
Guimarães - 1996:32
82
apud Celada (1999:304)
83
Celada (2002:229-230)
71
que são pouco utilizadas no português atual. Muitas vezes o estudante acredita que
o ato de aprender uma língua é ter acesso a suas palavras, sobretudo quando se
trata de sistemas lingüísticos próximos como o português e o espanhol, e por isso
pensa que tem o “direito de apropriar-se espontânea e imediatamente da língua do
outro.”
84
Destacamos também outros enunciados detectados, ainda que em menor
escala, que nos remetem a Itália e a sua língua nativa. Esse tipo de associação do
espanhol com o italiano parece ser resultado da experiência do contato brasileiro
com a imigração italiana dos séculos XIX-XX. Embora não estejam na mesma linha
dos exemplos analisados anteriormente, acreditamos que seja mais um efeito da
proximidade entre o português e as línguas latinas européias.
85
Vale a pena observá-los:
a) “¿Algo para manjar?”
b) “Yo fui en las playas, al Beto Carrero y andiamos del escuna.”
c) “Como vivo acá desde que era un niño muy pequeño, a mí me gusta
mucho cuesta ciudad.”
Uma vez mais, notamos a necessidade de recorrer a um vocabulário
pertencente a uma civilização européia, mais antiga e mais “civilizada”.
No entanto, neste capítulo não pretendemos encarar o léxico apenas como
um conjunto de palavras diretamente vinculado às ideologias de um determinado
grupo social, mas sim sob quais condições de produção nossos aprendizes
escolhem ou rechaçam determinado vocabulário. O nosso principal objetivo agora é
84
Mannoni (apud Celada -1999:307-310)
85
Essa valorização ao estrangeiro tem seu início em 1822, ano de independência do nosso país. Segundo
Teyssier, “o Brasil vai, naturalmente, valorizar tudo o que se distingue da antiga metrópole, particularmente as
suas raízes índias. Deixar-se-á influenciar pela cultura da França e acolherá também imigrantes europeus de
nacionalidade diversa da portuguesa.” (2004: 96-97)
72
saber segundo que regras um enunciado foi construído e como esse aparece, e não
outro em seu lugar.
Pretendemos assim analisar as interferências detectadas nas produções
escritas dos aprendizes de E/LE, pois segundo Maingueneau “o texto não é um
estoque inerte que basta segmentos para dele extrair uma interpretação, mas
inscreve-se em uma cena enunciativa cujos lugares de produção e de interpretação
estão atravessados por antecipações, reconstruções de suas respectivas imagens,
imagens estas impostas pelos limites da formação discursiva.”
86
O levantamento dos dados para a análise nesta seção se deu em duas
partes: primeiro, com alunos do curso de Secretariado Executivo do Centro
Universitário Nossa Senhora do Patrocínio da cidade de Salto, interior de São Paulo,
e posteriormente com redações de alunos do curso Español en el Campus da
Faculdade de Letras da USP.
Naquela primeira instituição, propusemos a elaboração de um texto escrito a
dois grupos de níveis básico e intermediário com alunos entre 18 e 40 anos. A partir
dessas redações, cujo tema era “Tipos de moradias da sua cidade”, selecionamos
casos lexicais e de estruturas sintáticas que exemplificassem e justificassem as
idéias desenvolvidas ao longo deste trabalho.
87
O primeiro grupo analisado estava composto por alunos de Espanhol V,
equivalente ao nível intermediário de um curso de idiomas. Aqui, vale a pena
comentar o que notamos na análise dos 22 textos recebidos.
Do total, 8 realmente cumpriram o que lhes foi proposto e apresentaram uma
descrição mais objetiva dos tipos de moradia existentes em suas cidades. Fizeram
86
1997:91
87
Consideramos importante ressaltar que, em ambas as turmas, trabalhava-se, no momento em que a
atividade foi solicitada, a temática “Viviendas” (“moradias”, em português), bem como o vocabulário referente a
partes de uma casa, descrição e localização de objetos de uma casa.
73
inclusive referências às partes de cada tipo de residência, e utilizaram estruturas
com advérbios de lugares e verbos para caracterizar uma cidade como ser, estar,
tener e haber.
Em 3 casos não se atingiu o objetivo da atividade, de modo que não os
incluímos nesta análise. Os outros 50% dos textos (11, mais especificamente)
optaram por um estilo de texto totalmente diferente dos anteriores.
E é justamente esse segundo grupo que nos interessa para aprofundar a
nossa análise. Nota-se não apenas uma definição simples e direta de onde vivem as
pessoas da região oeste de São Paulo, em alguns casos não houve sequer
referência a isso, mas uma preocupação com as questões sociais relacionadas às
moradias. O que lhes interessava não era a descrição de construções físicas, mas
sim tratar de diferenciá-las a partir do nível social das pessoas que habitam cada
uma dessas construções.
Mais do que simplesmente descrever tipos de moradias, como lhes havia sido
pedido no enunciado do exercício, esses alunos parecem nos confessar um
problema social de suas respectivas cidades. O tom de denúncia dessa situação
permeia os textos produzidos, de modo que esses acabam indo além do proposto,
como podemos notar nos exemplos abaixo
88
:
(1) Yo vivo en Sorocaba, hay estilos de viviendas de diferentes niveles
sociales, lo que hace la desigualdad del pueblo brasileño.
88
As formas impossíveis encontradas nos textos serão mantidas afim de se preservar a autenticidade dos
documentos analisados.
74
(2) En mi ciudad hay diferentes tipos de viviendas porque hay diferentes
situaciones financieras y también las particularidades de cada
persona.
(3) Los apartamentos del CDHU son viviendas pequeñas que los
habitantes ganan del Alcalde de su ciudad y pagan muy poco al mes
para adquiriren esa propiedad después de muchos años.
(4) Las personas de mayor poder adquisitivo viven en residencias
enormes con grandes habitaciones, innumerables aposentos, garaje
para muchos carros y un bello jardín delante de la vivienda.
O ponto que notamos aqui nesses quatro exemplos é que a sociedade é
pensada como uma sociedade hierarquizada que dá valor aos diferentes tipos de
moradia, já que em muitos casos os textos foram organizados com base nas
diferenças sociais e não na simples descrição física dessas residências. A casa,
enquanto “categoria sociológica” oposta à rua, é, nas palavras de Roberto da Matta,
uma entidade moral, o lugar da ação social, domínio cultural institucionalizado capaz
de despertar emoções, reações, leis, orações, músicas e imagens esteticamente
emolduradas e inspiradas.
89
Segundo Chauí, “a sociedade brasileira é marcada pela estrutura hierárquica
do espaço social que determina a forma de uma sociedade fortemente verticalizada
em todos os seus aspectos”, o que significa dizer que as relações sociais são
sempre pautadas pela relação entre um superior e um inferior, como ocorre
89
Ver introdução em da Matta, 1997.
75
claramente no terceiro exemplo, e serão sempre essas diferenças transformadas em
desigualdades que reforçarão a relação mando-obediência. E isso se expressa na
língua espanhola produzida pelos aprendizes bem como podemos notar nos
exemplos analisados ao longo desta seção. Não devemos nos esquecer que na
Monarquia eram os fazendeiros escravocratas e seus filhos quem monopolizavam a
política.
Ao deter-nos mais profundamente nesses textos notamos outro fator curioso:
a referência constante aos signos de prestígio e de poder como a valorização de
diplomas e de fama:
(5) El poder de la renta de estas personas es grande y solamente esas
personas consiguen sustentar todo el suyo.
(6) Allí habitan ejecutivos bien sucedidos, inclusive el Alcalde de la
ciudad.
(7) ... y varios condominios donde viven personas importantes, como
médicos, empresarios, abogados, que son personas de clase alta que
frecuentan los mejores restaurantes y bares de Itu.
(8) En nuestra ciudad no hay arrabales, existen barrios más humildes y
común son de nivel escolar primario.
(9) ... son ricas, tienen muchos objetos de arte y mobiliarios planeados.
76
(10) ... donde encontra-se habitantes conocidos como el actor Lima Duarte,
Sandy e Júnior, este condominio llamase Itaci. Los habitantes deste
condominio son personas de clase alta. Hay condominios más
modestos como Vale das Laranjeiras.
O Brasil esteve marcado por uma cultura senhorial e estamental que
privilegiou, e podemos afirmar tranqüilamente que ainda privilegia, o luxo como uma
maneira de delimitar a distância entre classes sociais, como se pode observar ao
longo dos exemplos de 5 a 10.
Como bem diz Chauí, a sociedade brasileira “tem o fascínio pelos signos de
prestígio e de poder..., ou da manutenção de criadagem doméstica... ou, ainda,
como se nota na grande valorização dos diplomas que credenciam atividades não-
manuais e no conseqüente desprezo pelo trabalho manual.”
90
Ou seja, repete-se
indefinidamente o mesmo padrão de comportamento e de ação do período colonial,
e isto parece se refletir também nos textos produzidos por esses aprendizes de
E/LE.
Nos três primeiros exemplos (5, 6 e 7) notamos o uso de algumas expressões
que, por si só, parecem descrever por completo como é internamente determinado
tipo de moradia (“El poder de la renta
de estas personas es grande” / “Allí habitan
ejecutivos bien sucedidos” / “...donde viven personas importantes, como médicos,
empresarios, abogados...”). Para os enunciadores desses discursos, a escolha dos
termos sublinhados já são suficientes para orientar os seus leitores acerca das
moradias às quais fazem referência, assim como no exemplo 8, quando a referência
90
2004 : 92
77
a artistas famosos nacionalmente são enunciados como moradores de um
determinado tipo de residência.
O enunciado anterior (“... son ricas, tienen muchos objetos de arte y
mobiliarios planeados) traz também um ponto importante para o nosso trabalho. A
escolha do autor dessa frase por palavras como objetos de arte” e “mobiliarios
planeados” nos remetem a outros espaços enunciativos pertencentes a épocas
anteriores a atual, objetos e mobiliários de famílias aristocráticas européias de
séculos passados.
Uma observação mais atenta dos enunciados produzidos por aprendizes
parece nos levar ao período do Brasil colônia, ao qual nos referíamos no capítulo
Percurso histórico, quando, como descreve Costa
91
, “os colégios religiosos tiveram o
monopólio da cultura, preenchendo as necessidades da colônia, fornecendo uma
educação retórica e erudita, ornamental, essencialmente definidora de status,
elitista pela sua própria natureza.”
No entanto, para ir além, pretendemos então entender essas “coisas”, para
fazer uso de uma expressão de Michel Foucault
92
, que são anteriores ao discurso.
Para esse autor, o discurso é, enquanto prática, um sistema que emprega, de forma
constante, um feixe de relações, por isso afirma que esse mesmo discurso “não é a
manifestação, majestosamente desenvolvida, de um sujeito que pensa, que
conhece, e que diz... é um espaço de exterioridade em que se desenvolve uma rede
de lugares distintos.”
93
Os enunciados analisados acima são, pois, não apenas
elementos de significação de que dispõem os sujeitos falantes, em uma dada época,
mas também exemplos de estruturas semânticas que aparecem na superfície de
discursos produzidos anteriormente.
91
1977:183
92
1997:54
93
1997 : 61-62
78
Visto que o discurso é exterior ao sujeito, que não é ele que decide o que já
existe, esse se inscreve em uma ordem de um discurso circulante para poder
enunciar. O discurso presente nesses enunciados analisados, que muitas vezes
apresenta um tom de ressentimento e de inferioridade, é resultado de imagens
idealizadas do mundo exterior, onde o que é estrangeiro – ainda que esse
estrangeiro seja a capital São Paulo – é melhor. Percebe-se a necessidade e
aproximação do seu mundo com um mundo exterior civilizado e socialmente bem
sucedido.
Outra regularidade existe nas redações daqueles aprendizes é o tom
publicitário usado para a descrição das moradias. Mais do que descrever-nos
diferentes estilos de residências, os textos parecem uma tentativa de convencer-nos
do que há de melhor em algumas dessas moradias. Isso é claramente perceptível
nos exemplos abaixo:
(11) Existen condomínios de alto patrón con áreas magníficas de lazer... es
totalmente murado y con sistemas de seguridad distribuídos de forma
estratégica.
(12) Las viviendas son grandes y tienen una arquitectura moderna y jardín
muy bellos, como verdaderas obras-primas.
(13) En el otro extremo de la ciudad hay muchos conjuntos residenciales,
tiendo la más completa seguridad y las casas son grandes terrenos
arbolados.
79
(14) Las viviendas son mansiones formadas por enormes jardines...
O que nos chama atenção nessa seqüência de enunciados é a intenção que
parece haver dos autores ao posicionarem, nas orações, os adjetivos referentes às
moradias das orações. Como se sabe, a ordem habitual é “substantivo + adjetivo”
como estrutura para descrever objetos, lugares ou pessoas. Porém, ao inverter essa
ordem, optando agora pela estrutura “adjetivo + substantivo”, notamos a
necessidade de se expressar um valor com uma intenção de persuasão.
No segundo grupo de textos, de alunos do segundo semestre de espanhol do
curso de Secretariado Executivo daquela mesma instituição, percebemos que o
enfoque social-financeiro permanece também nos textos desse grupo de alunos.
Do total de 23 textos, encontramos pelo menos oito redações que explicitam
essa relação entre moradias e classes sociais, como se pode ver em alguns
exemplos que destacamos abaixo:
(15) En mi ciudad hay muchas casas, en ellas viven las personas de renta
alta, media y baja…
.
(16) Las personas que viven en casa son las más populares...y los que
viven en el campo son los más afortunados.
(17) Aquí, la grande mayoría de las personas viven en barrios. Esas
personas son trabajadores asalariados, de clase media, con renta para
el sustento de su familia.
80
(18) Al lado derecho de mi barrio, hay una chabola, donde viven algunas
personas muy pobres que están sin trabajo o ganan muy poco, tienen
muchos hijos y por eso no consiguen tener una vivienda mejor y una
vida mejor.
(19) Mi ciudad natal es Itu, donde tiene mucha diferencia de grupo social.
(20) En Sorocaba... se destacan los condominios con edificios, donde
están concentrados los habitantes de clase media...Existen también
las favelas, esas moradias son precarias. Son habitantes que no
tienen una buena situación financiera y acaban sin mucha opción.
Uma vez mais se vê a necessidade de relacionar a descrição física de
diferentes moradias com a situação financeira, ou inclusive a posição social, dos
habitantes daquelas construções.
Outro ponto que nos chama a atenção, e agora dentro do campo da sintaxe, é
a forma como esses aprendizes marcam as diferenças sociais optando ou
recusando determinadas construções verbais. Verbos como dispôr, destinar ou
ganhar
são freqüentes na hora de descrever as moradias mais simples, como se
pode ver nos enunciados a seguir (os grifos são nossos):
21) Las casas más sencillas disponen
de sala, cocina, baño y patio,
sin lujos.
81
22) Esse tipo de viviendas [da CDHU] son destinadas para los
trabajadores de clase baja com la renta mínima de 300,00 reais.
23) Los apartamentos del CDHU son viviendas pequeñas, que los
habitantes ganan del Alcalde de su ciudad.
Está implícito, nesses discursos, que aqueles moradores realmente não têm
outra opção a não ser aceitar o que lhes é imposto. Embora essa pareça ser a única
opção que lhes resta, esses não devem reclamar pois, assim como encontramos em
um dos textos, “el más importante, independente de la situation financiera es teñer
un lugar dónde se pueda llamar de su lugar (hogar).”
Por outro lado, os moradores de condomínios fechados e apartamentos
gozam de outra situação, uma vez que esses desfrutam, requerem ou preferem.
24) Los apartamentos son más requisitados pelas personas que preferem
investir na tranquilidad de su familia.
25) Es un tipo de vivenda mucho requisitada por personas de clase alta.
26) Las personas que viven allí [nos apartamentos] son de clase média, tuvieron
preferencia por estas habitaciones porque hay una mayor seguridad.
27) La gente que vive en condominios disfruta de un área de recreación y
jardines.
82
Podemos afirmar por tanto que, por não ser dono ou origem desse dizer, o
sujeito enunciador fala de um lugar, de uma região do interdiscurso que nada mais é
do que o recorte de um passado memorável.
“O sujeito não fala no presente, no tempo,
embora o locutor o represente assim, pois
só é sujeito enquanto afetado pelo
interdiscurso, memória de sentidos,
estruturada pelo esquecimento, que faz a
língua funcionar. Falar é estar nesta
memória, portanto não é estar no
tempo.”
94
Outra construção verbal que não podemos deixar de destacar é o uso dos
verbos de posse (“tener”) frente ao de existência (“haber”); e o jogo enunciativo que
se cria em alguns casos. Na maioria dos textos analisados, o primeiro verbo aparece
nas descrições de apartamentos e condomínios fechados, enquanto que o “haber” é
mais freqüente nas referências a casas simples.95
O uso do verbo “tener” parece marcar a existência de um sujeito
possuidor, focalizando assim as pessoas das orações:
28) Los edificios tienen 2 dormitorios, una pequeña cocina y una sala.
29) En lo otro extremo de la ciudad hay muchos conjuntos residenciales,
tiendo la más completa seguridad.
94
Guimarães – 2002:14
95
Em alguns poucos casos, o “jogo” parece ser contrário. Em algumas descrições de casas humildes,
detectou-se o uso de tener, ainda que me escala muito inferior, bem como o uso do verbo haber em momentos
dos textos em que se referiam aos condomínios e apartamentos.
83
30) Los moradores de un solo piso tienen más privacidad, pués el aceso a
ella es solamente de los familiares o invitados.
31) ... [los apartamentos] llegan a tener de tres a cuatro dormitorios
alguns incluindo suite, cocina y sala de jantar interligadas.
O verbo “existir” às vezes aparece como outra forma possível de dar vida,
existência, a esses moradores de classe social privilegiada, como poderemos
comprovar nos seguintes trechos:
32) ... normalmente existe uma porteria y un portero que controla las
llegadas y salidas de los moradores y de los vistantes.
33) Existen condominios de alto patrón com áreas magníficas de lazer,
com salón de fiestas, play-ground, cuadras poliesportivas.
34) Otro tipo de vivienda que existe em mi ciudad, son los apartamentos.
35) Sorocaba tiene poca quintas, pero las qué existen
son muy guapas.
36) Existen
también los condominios cerrados muy bellos para personas
de clase alta, generalmente empresarios.
Por outro lado, ao optarem pelo verbo impessoal “haber”, os autores parecem
querer “apagar” a possibilidade de existir um sujeito, como se os habitantes das
84
moradias mais humildes pudessem ser escondidos, “varridos” da sociedade. Esses
exemplos de “não pessoa” no texto96 podem ser vistos a seguir:
37) En los barrios de la periferia hay muchos ranchos.
38) Hay también moradias común, humilde como las casas dos barrios
donde las personas viven una vida comun.
39) Hay casas mucho simple y pequeñas.
40) En nuestra ciudad no hay arrabales.
Ainda que em menor escala, observamos outra vez em algumas produções
de alunos o tom publicitário de certos enunciados, como podemos ver nos exemplos
abaixo:
41) Para los solo tenemos los edificios, siendo apartamento menores.
Ahora para aquellos que buscan más seguridad, tenemos los
condominios cerrados, con casas o sobrados. Indaiatuba y una excelente
ciudad para vivirse y para trabajar. Cuando tuviera oportunidad venga la
conoces.
42) Hay muchas casas de campo y fincas, donde con certeza las
personas que escogieron este estilo de vida son muy más felices, pues
96
Termo emprestado de Maingueneau, 2001
85
pueden disfrutar de la naturaleza y tener contacto directo con los
animales.
43) Indaiatuba es una excelente ciudad para vivirse y para trabajar.
44) Hay también condominios, estos ofrecen confort y seguridad.
A segunda amostra foi levantada a partir de redações de alunos do curso
Español en el Campus da Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo. No
total, 17 textos foram coletados.
Em um primeiro momento, pediu-se aos alunos do nível intermediário
(aproximadamente 180 horas de estudo formal da língua) a seguinte atividade:
Narra brevemente (de 10 a 12 líneas) una situación que tenga como
escenario las calles de alguna ciudad de España.
Para a outra turma, com 270 horas de estudo (Avançado II), o cenário foi
transferido para a América e lhe foi pedida a seguinte tarefa:
Narra brevemente (de 10 a 12 líneas) una situación que tenga como
escenario las calles de alguna ciudad de América Latina.
A análise atenta dessas duas mostras apenas comprova e enriquece o que
vínhamos descrevendo ao longo deste trabalho acerca das representações
86
presentes nos discursos dos brasileiros com relação a essas duas regiões hispanas:
a Espanha e a América Latina.
Em ambas atividades podemos notar claramente o tratamento formal que se
dá às estruturas sintáticas e lexicais ao se produzir textos em espanhol. Os
enunciados abaixo são alguns exemplos dessa observação:
Sobre a Espanha:
“Había una vez estaba caminando por la calle a mirar una estatueta.”
“Fui a la policía para darles la cartera, porque a mí no me pertenecía.”
Sobre a América Latina:
“Estaba en Buenos Aires caminando por sus calles, largas y rectas, con sus
edificios de misma altura y lenguaje formal, conferiendole una unidad majestosa.”
“Sensación esta que me hace extrañar mucho aquella región del sur de
América y que me trae el deseo de allá volver y dejarme soñar nuevamente.”
Nesse breve recorte já podemos notar, uma vez mais, como as
representações se impõem sobre a imaginação através de uma roupagem vistosa,
“palavras bonitas ou argumentos sedutores”, nas palavras de Buarque da
Hollanda.
97
Em primeiro lugar nos chama a atenção como o mundo hispano está
representado pelos alunos. No que se refere à América Latina, os textos nos dão a
sensação de que essa região se restringe a lugares que estão culturalmente mais
próximos das tradições européias, como Buenos Aires, e os relatos sobre essas
cidades estão marcados pela idéia de deslumbramento com as descobertas de uma
97
p.155 – op. cit.
87
América Latina aproximada da Europa. Cabe ressaltar aqui que apenas dois dos
textos sobre a primeira região não estão ambientados nessa cidade.
Os seguintes trechos extraídos do próprio material analisado exemplificam o
que dissemos anteriormente.
a) “Por Dios, hombre, esa gente es muy alegre.”
b) “Me encanté con las calles de el centro de la ciudad. Primero porque
estaban limpias y llenas de personas...”
c) Jamás olvidaré de las calles porteñas, ya que allá me sentí muy a gusto,
como si fuera una chica visitando el mundo de los sueños.”
Aquela região desorganizada e anárquica a que nos referíamos no nosso
percurso histórico vai dando lugar, nos textos produzidos, à possibilidade de uma
região também de organização, de limpeza e de superioridade.
Por outro lado, em quatro redações cujo cenário é a Espanha aparecem
referências desse país como lugar das oportunidades e do desenvolvimento
intelectual. Percebe-se ali um país para se praticar espanhol (notem que nos textos
situados na América Latina não é feita essa menção) e até mesmo como lugar de
aprendizado para a vida, como podemos notar nos seguintes trechos:
a) “Hace unos diez años, todavía era jovencita y no conocía muchas
cosas acerca de vida y de las cosas...Resulta que tuve la oportunidad de
irme a España.”
88
b) “En el año pasado, hizo un viaje a Madri. Esa ciudad siempre me
encantó mucho y también fue para praticar mi español.”
c) “En final del año 2000 fue a Barcelona conocer la ciudad y participar de
uno seminario de Lingüística.”
Quanto à América Latina, embora a referência seja Buenos Aires, é o lugar do
ócio e da diversão, na Espanha não se faz apenas turismo, pois também é
associada com a oportunidade de se aprender algo, tirar algum proveito intelectual.
As produções escritas sobre esse país apresentam um outro mundo hispano, muito
mais relacionado ao mundo formal dos estudos e do trabalho. Ali parecem repousar
as origens da sociedade brasileira, encontra-se tudo o que devemos a uma
sociedade européia perfeita, civilizada e superior. Seríamos, por tanto, herdeiros
dessas instituições e idéias.
Outro aspecto que devemos ressaltar é como esses enunciadores se
apresentam imaginariamente naqueles lugares. Em 16 dos 17 textos produzidos e
analisados, optou-se por uma narração em primeira pessoa do singular (yo), embora
não se fizesse nenhuma referência a isso no enunciado da atividade. Além dessa
preferência por se colocar como personagens participantes daquelas situações, os
alunos tenderam em recolocar os espaços e personagens em lugar do que se havia
pedido nos enunciados dos exercícios.
É curioso notar a presença desse mesmo fenômeno nos textos analisados na
primeira amostra, embora ali se desse em uma direção contrária. Ao descrever tipos
de moradias, os alunos não deixaram de considerar aspectos exteriores como
89
titulação dos moradores e nível social, enquanto que nessa amostra há a presença
da figura da família em pelo menos seis textos analisados. Embora sejam lugares
socialmente complementares possuem códigos diferenciados que exigem de seus
personagens o acionamento de posturas diferenciadas, tanto no âmbito das relações
pessoais como nas questões políticas e sociais. Destacamos alguns exemplos de
ambas as amostras:
1ª amostra (“a casa”)
a) “Mi ciudad es una ciudad de diferentes niveles sociales donde todos
buscan vivir siempre mejor.”
b) “En mi ciudad hay diferentes tipos de viviendas porque hay diferentes
situaciones financieras.”
c) “Las personas que viven en este tipo de vivienda [apartamentos] son, en
general, de la clase social media o media-alta y que tienen mayor
remuneración y por eso desean más seguridad.”
2ª amostra (“a rua”)
a) “Un día fui a una tenda comprar un regalo a mi madre.”
b) “Había llegado a la ciudad hace unos siete días para visitar a unos primos
que viven por allí hace muchos años.”
90
c) “Paseando con mi hermana en una calle...encontramos un joven que había
estado sin dinero.”
Esses textos também possuem outra característica em comum, uma vez
que a maioria deles (13, para sermos mais específicos) vinham carregados de um
tom hiperbólico que davam um ar de deslumbramento às regiões citadas.
Modalizadores como todos, muchos, siempre, jamás reforçam esse aspecto
particular da segunda amostra com se verá nos exemplos abaixo:
1) “Esa ciudad siempre me encanto mucho y también fue para practicar mi
español. La ciudad es muy guapa, tiene sitios maravillosos.”
2) “Total que me llevé muchos abrigos, pullóveres, medias, bufandas, gorros
y ningún dinero.”
3) “Todos los edificios llevan la inscripción del arquitecto que les proyectó.”
4) “Jamás olvidaré de las calles porteñas.”
5) “Las calles anchas, muy claras, sin construcciones altas en su alrededor.”
Para finalizar essa segunda análise, gostaríamos de destacar um texto
que nos chamou a atenção não apenas por sua originalidade, mas também por ser
uma exceção entre as produções escritas situadas nas ruas da América Latina. Para
uma melhor compreensão transcrevemo-lo integralmente.
91
“Yo y mi nena nos fuimos al boliche, digo, mi nena y yo (el burro viene antes), vimos
unos árboles increíbles en el camino, un perro y su cachorro, digo, una perra y su
cachorro.
Yo y mi vieja os fuimos a un antro, digo, mi vieja y yo, vimos una féria con unos
floreros chilo, pero a ella le valía gorro, la calle estaba un poco sucia. México es la
mayor ciudad del mundo.
Yo y mi negrita nos fuimos a la pachanga, digo, mi negrita y yo. Vimos por el camino
el compay Nicolás, sus hijas meneaban al sonido de una rumba.
Mi chava y yo nos fuimos a una cafetería, la chaparra me hizo reír con sus chistes.
Vi un carro que era un coche bien padre. Nieta, era bien padre, vi una amiga con su
bici, fue buena onda.”
A cadeia lexical que se desenvolve nessa seqüência vai transportando o leitor
a diversos lugares da América Latina como a Argentina (“boliche”, “nena”), México e
Cuba (“negrita”, “compay” e “rumba”), dando-lhes uma atmosfera de lugares do ócio
e da diversão. Desse modo podemos perceber duas representações acerca da
América Latina: por um lado, uma América isolada voltada às tradições européias,
como Buenos Aires; e por outro lado uma região de desordem e multiplicidade racial,
uma vez que é o único texto com pessoas de raças não brancas.
Observamos nas amostras analisadas ao longo deste capítulo que o sujeito
enuncia por meio de um ethos. Esse “enunciador encarnado”
98
é autor de um texto
sustentado por uma voz que acaba revelando a sua personalidade. Como bem
define Roland Barthes
99
:
98
Maingueneau, 2001:1996
99
apud Maingueneau, 2001:98
92
“São os traços de caráter que o orador
deve mostrar ao auditório [...] para causar
boa impressão: são os ares que assume
ao se apresentar. O orador enuncia uma
informação, e ao mesmo tempo diz: eu
sou isto, eu não sou aquilo.”
No nosso corpus, encontramos alguns indícios textuais de diversas origens
que nos ajudam a compreender como esses aprendizes desejam ser vistos e como
esses constroem uma identidade compatível ao mundo construído.
93
Conclusões
Como dissemos na introdução, este trabalho se propunha a investigar,
mediante a observação de fatos discursivos, as representações sobre a língua
espanhola, como língua simultaneamente “espanhola” e “latino-americana”,
presentes em documentos midiáticos e em textos de alunos de aprendizes de
espanhol.
Não podemos negar o papel desses meios de comunicação como agentes
influenciadores e fornecedores de elementos representacionais para o imaginário
brasileiro sobre regiões como a Península Ibérica (Portugal e Espanha) e a América
hispano-falante. Esses são o resultado do entrecruzamento de histórias que,
guardado pela memória da língua, origina outros enunciados a partir de combinação
de elementos anteriores.
Exemplos disso são os documentos de mídia que analisamos ao longo do
capítulo 2 (“Alguns discursos na mídia”) onde o leitor pôde perceber claramente o
que representa a Espanha e a América Latina para uma parcela da população
brasileira. Enquanto a primeira é o lugar da ordem, do desenvolvimento e de uma
língua bem falada (ora espanhola, ora portuguesa), a segunda é representada como
o lugar do caos e do atraso econômico.
Em “Nove Rainhas”, por exemplo, evidencia-se essa diferença através da
tradução dos pronomes de um determinado trecho da história, onde o
espectador/leitor pode perceber o jogo que se faz entre as formas de tratamento “tú”,
“vos” e “usted” castelhanos frente a “tu”, “você” e “o senhor” da língua portuguesa.
Para delimitar as variantes geográficas, optou-se por identificar o espanhol
peninsular com o português europeu, e a variedade rio-platense com o português
brasileiro.
94
Na análise da tira cômica de “Los tres amigos”, figuras representacionais do
passado também são retomadas para reforçar a memória que se tem de uma
determinada região e de sua língua nativa, uma vez que a América Latina daqueles
quadrinhos, bem como a América vista pelos monarquistas brasileiros do século XIX,
é também caótica e pouco desenvolvida. O mesmo cenário poderá ser visto na
propaganda de “Puerto del Sol”, bem como nas imagens e nos textos jornalísticos
analisados à época da Cúpula do Mercosul no Brasil.
Não podemos esquecer-nos que em outros momentos essa região também é
associada às manifestações culturais populares como o circo e o Carnaval,
presentes tanto nos textos sobre a Cúpula do Mercosul como em textos como a
descrição em que um aluno faz sobre uma possível “viagem” sua com a sua
“negrita”.
As regularidades discursivas se repetem entre os documentos de mídia
analisados como se o espectador/leitor voltasse no tempo à época do Brasil
monarquista quando os políticos daquele período acreditavam que relacionar-se
com a América hispânica significava manter relações com uma região
desorganizada, instável e pouco desenvolvida. É, uma vez mais, o diálogo entre o
presente e o passado.
Percebemos que esse imaginário está presente também nos enunciados de
aprendizes de espanhol em seu processo de aquisição de língua estrangeira e como
esses estudantes vêem o aprender e o falar espanhol. Assim como nos textos
midiáticos, os textos escritos produzidos por esses alunos também estão carregados
de atitudes e estratégias que nos remetem a determinadas representações.
Em ambas amostras (sobre as moradias e, posteriormente, sobre as ruas de
cidades da Espanha e da América Latina), percebemos a tendência em escolher
95
determinado vocabulário segundo o espaço geográfico a que se referiam os textos.
Por um lado, havia a presença de um espanhol pertencente às sociedades
européias “civilizadas”, do desenvolvimento intelectual e econômico, bem como do
espaço das oportunidades. Por outro lado, notava-se, assim como na propaganda
da cerveja “Puerto del Sol” e da tira cômica “Los tres amigos”, um espanhol
pertencente a regiões de festa, de descompromisso, chegando às vezes a estar
relacionadas à desorganização.
As análises históricas e lingüísticas feitas ao longo deste trabalho sobre as
relações políticas e econômicas que o Brasil manteve, ou não, com a América
espanhola durante os anos pré-republicanos, bem como os discursos oriundos
daquela época, parecem mostrar-nos o início das representações que se tem
atualmente da América Latina a partir do Brasil e como elas podem interferir nos
enunciados de estudantes brasileiros que se dedicam ao estudo do espanhol como
língua estrangeira. Fizemos um caminho diacrônico de ir e vir entre a Europa e a
América Espanhola para melhor entendermos o que é e o que foi a América
hispânica para o Brasil para, posteriormente, a partir dos documentos históricos que
contemplassem as relações entre essa América esquecida e negada pelo Brasil,
compreendermos a necessidade de aproximação que houve, e que parece haver
ainda hoje nos discursos produzidos pelos alunos aprendizes de espanhol, entre o
Brasil e a Europa, mais especificamente a Península Ibérica.
Por isso, acreditamos que no imaginário lingüístico brasileiro repousa, de um
lado, um espanhol, europeu naturalmente, formal e “bem falado” que tem forte
influência nas produções enunciativas desses aprendizes, e do outro, a língua do
caos, como no exemplo de “Los tres amigos”, que também aparece no espaço do
ensino-aprendizado, embora de forma mais reprimida. Acreditamos, assim como
96
Guimarães, que as formas da língua são o que são pela história de suas
enunciações.
“Uma forma é na língua o que ela se
tornou pela história de seus
funcionamentos na enunciação. Deste
modo, deve-se considerar que a língua
tem em si a memória desta história, ou
seja, a língua carrega na sua estrutura as
marcas de seu passado”.
100
São vozes de épocas diferentes que dão origem a um entrelaçamento de
discursos e que, fornecendo “matéria prima” para esse novo discurso a partir de algo
pré-construído, explicam a construção dos enunciados observados neste trabalho.
100
Guimarães – 1990:27
97
epígrafe
“Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de
grandes novidades. O tempo não pára”
(Cazuza)
98
Anexo 1
Transcrição do texto original e das legendas em português do trecho
analisado em “Nove Rainhas”. As falas em negrito marcam o texto original em
castelhano e as em itálico que estão na seqüência o que se lê nas legendas em
português.
Comprador espanhol: Bien, vamos a tratar de no perder el tiempo. Tú le
dijiste al policía que tenías algo para vender. Un negocio, legal, según tus
palabras. Y por lo que escuché de la conversación telefónica quizá pudiera
interesar.
Comprador espanhol: Não vamos perder tempo. Disse ao vigia que vendi
“algo legal”, como disse. Pelo que ouvi da conversa, talvez possa me interessar.
Marcos: ¿Usted quién es?
Marcos: Quem é o senhor?
CE (comprador espanhol): Si lo que tienes para ofrecer es lo que yo creo.
CE (comprador espanhol): Se o que tem aí é o que penso.
M (Marcos):
Perdón, ¿usted quién es?
M (Marcos):
Quem é o senhor?
CE: La persona que te indicaron, la que viniste a buscar.
CE: Quem te indicaram, quem procuras.
99
M: Bien, yo no tengo nada para vender, ni le pedí ningún favor. Estamos
aquí por gentileza, ustedes nos hizo un favor en el baño, un mal entendido.
Pero la verdad, es que no sé quién es usted.
M: Não tenho nada à venda, estamos aqui por gentileza. O sr. nos fez um
favor, foi um engano. Não sei quem é o senhor.
CE: (a Juan) ¿Y tú, qué dices?
CE: (a Juan) E tu?
Juan: Mi socio habla por mí.
Juan: Estou com meu sócio.
CE: ¡Vaya profesionales! (a sus empleados) ¿Entendéis, cretinos, cómo
se hacen estas cosas? Sí tú tuvieras algo para ofrecerme seguramente
llamarías a mi puerta como un vendedor de enciclopedias. Pero si fueras un
porteño listo intentarías que yo me interesara. Buscarías la forma de que yo te
buscara a ti y no al revés. Podrías, por ejemplo, tener una conversación
telefónica con un supuesto comprador y asegurarte de que yo la escuchara.
Aunque debe ser sutil, no decir nada como: “¿Cómo?, ¿por las Nueve Reinas?,
¿pero vos estás loco?”. Y luego el policía: No, por favor, no me pegues, no me
pegues. Tengo algo para vender, sí, pero es legal, te lo juro”. ¿Entendéis? Fue
tan ridículo.
CE: Mas que profissionais. (aos seus empregados) Viram como se faz? Para
vender algo, chamarias à porta como um vendedor de enciclopédias. Se fosses um
portenho esperto, despertarias meu interesse, Me fazias procurá-lo e não o
100
contrário. Falavas ao telefone com um suposto comprador e me fazias escutar, mas
deve ser sutil. Nada de: “Pelas Nove Rainhas, está maluco?”. Depois o vigia: “Não
me bata, vendo uma coisa, mas é legal, juro”. Entendes? Foi tão ridículo.
M: No sé de qué está hablando.
M: Não sei de que fala.
CE: Bueno, hombre. No tienes que continuar con eso. Además es cierto
por si hubieseis venido directamente, quizá nunca hubiera hablado con
vosotros. No me importa que lo hayáis hecho así, de veras, mientras que lo
que tengáis sea bueno y me interese.
CE: Ó pá, não tens de continuar com isso. Mas, me abordando diretamente,
talvez eu não falasse consigo. Não importa o que fizestes, se tens algo bom e
interessante.
M: De verdad, no sé de qué me está hablando.
M: Sério, não sei do que fala.
CE:
Dale, hombre. No seas pesado. Ya está, terminó la función. Estás
cerca de mí, te estoy escuchando. Quieres ofrecerme algo, pues haz algo o
vete a la mierda. Que me queda poco tiempo y muchas cosas por disponer.
CE:
Que insuportável! O show acabou, estou aqui te ouvindo, ofereça algo já
ou vá à merda. Tenho pouco tempo e muito a fazer.
101
(Marcos lhe entrega os selos)
CE: ¿Tú tienes esto? ¿Y de dónde los sacaste?
CE: Tens isto? Onde os conseguiste?
J: Me la dejó mi abuelo a mí poco antes de morir, murió hace unos
meses. A él se la dio un alemán que conoció en un barco, la pagó 7 pesos.
J: Meu avô me deu pouco antes de morrer, há uns meses. Ele comprou de
uma alemão num barco, por 7 pesos.
CE: ¿7 pesos?
CE: 7 pesos?
J: Siete. Sí, Bueno. Ya se lo comenté a mi primo y él me sugirió que la
podíamos vender a algún coleccionista.
J: 7. Meu primo sugeriu vender a um colecionador.
M: ¿Le interesa?
M:
Interessa?
CE:
No me apresures.
CE: Calma!
M: No, digo, como tiene tan poco tiempo y tantas cosas por disponer.
M:
Tem pouco tempo e muito a fazer.
102
CE: Quizá quiera comprarlas.
CE: Talvez queira comprá-las.
M: Eso sería una suerte para todos.
M: Seria uma sorte para todos.
CE: Volved aqui en una hora, quero ver los sellos y hablaremos de
dinero.
CE: Voltem em uma hora com os selos, e negociamos.
M: ¿Hoy mismo?
M: Hoje mesmo?
CE: Hoy mismo, sí. No tengo mucho tiempo. Lamentablemente tengo que
abandonar vuestra ciudad mañana por la mañana. ¿Tú no lo sabías?
CE: Sim, tenho pouco tempo. Infelizmente, devo deixar a cidade pela manhã.
Não sabias?
M:
No, no lo sabía.
M:
Não.
CE: Pues es así. Y creedme, voy a extrañar este país. Nunca he visto tan
buena disposición para los negocios. En mi habitación, a las cuatro.
103
CE: Pois é assim. Sentirei falta deste país. Nunca vi tão boa disposição para
os negócios. No meu quarto, às 4h.
CE: (a uno de sus empleados) Deja el teléfono de una vez, coño.
CE: ( a um de seus empregados) Largue o telefone, porra.
104
Anexo 2
Press-release de divulgação da campanha de lançamento da cerveja “Puerto del
Sol”.
Fonte: http://www.ambev.com.br/not_04.php?noticia=194
24/05/2006 - AmBev lança Puerto del Sol rumo a expansão da cultura latina
Com embalagem e líquido diferenciados, a cerveja Puerto del Sol chega às
principais cidades brasileiras para atender às expectativas de um público que
valoriza cada vez mais o estilo de vida, cultura e valores latinos
De olho no potencial do desenvolvimento da cultura latina no Brasil, a
AmBev coloca no mercado, a partir de amanhã, a cerveja Puerto del Sol. Do tipo
pilsen, menos encorpada e com embalagem transparente e serigrafada, será
lançada nas principais cidades brasileiras para atender às expectativas de um
público que valoriza o estilo de vida latino. Puerto Del Sol chega inicialmente a São
Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre e Belo Horizonte.
O radar da AmBev para esse lançamento veio do forte crescimento que
produtos focados no segmento latino tem apresentado em países como os EUA e na
experiência da empresa em suas operações ao redor do mundo. Segundo dados da
universidade da Geórgia, este mercado movimenta nos EUA, somente na categoria
de alimentos e bebidas, uma cifra de US$ 60 bilhões/ano. “No Brasil temos a imensa
oportunidade de desenvolver este mercado, que segundo indica nossos estudos tem
potencial de crescimento imediato. Esse é nosso papel como líder”, diz Andréa
Fernandes, gerente de portfólio da AmBev.
De fato, estudos de mercado da AmBev mostram que o consumidor brasileiro
também se mostra receptivo ao universo latino, é o que prova a aderência dos
brasileiros cada vez maior à gastronomia, cinema e música de origem latina, que
nunca tiveram tanto mercado no Brasil. Dados da Abresi (Associação Brasileira das
105
Entidades de Gastronomia) revelam também que cerca de 15% dos bares e
restaurantes da região sudeste do Brasil têm temática latina, seja no cardápio, com
comidas picantes e bem temperadas, seja no repertório musical, com ritmos como
rumba, reggae, salsa e outros.
É justamente nesse ambiente que Puerto del Sol será melhor apreciada.
Segundo o mestre-cervejeiro Daniel Baumann, responsável pelo desenvolvimento do
produto, a nova cerveja é ideal para ser degustada em dias quentes e harmonizando
com a culinária latina. “Por ser menos encorpada, combina perfeitamente com o
tempero marcante da gastronomia latina e é perfeita para dias de sol”, sugere.
Durante um ano de pesquisas, os mestres-cervejeiros da AmBev testaram
alguns tipos de líquidos com o consumidor brasileiro e chegaram a uma fórmula que
se adequa perfeitamente ao gosto e estilo de um típico produto latino. “A Puerto del
Sol apresenta um amargor bastante suave ao ser degustada, combinado ao seu teor
alcoólico um pouco mais baixo, 4,3%, que a deixa menos encorpada do que as
pilsens convencionais, revela Baumann.
Super-premium
Com o lançamento da nova cerveja, a empresa pretende ampliar seu portfólio
de cervejas super premium e oferecer mais uma opção para os consumidores. “Ao
oferecermos novos produtos para os consumidores, estamos contribuindo para o
desenvolvimento do mercado super premium no Brasil, que, atualmente, representa
5,4% do mercado total de cervejas. Para se ter uma idéia do potencial de
crescimento deste mercado, basta analisarmos os dados de outros países, como a
Venezuela, por exemplo, onde o segmento super premium representa 10% do
mercado de cervejas. Nos Estados Unidos, esse número salta para 25%.
106
Embalagem
Em embalagem transparente long neck, 355ml, serigrafada, trazendo no rótulo
ícones latinos, além de utilizar a cor vermelha (quente e vibrante que predomina
nesse universo), Puerto Del Sol terá preço sugerido de R$ 1,79 e poderá ser
encontrada nos principais supermercados, lojas de conveniência, bares e
restaurantes.
Campanha
Para comunicar os consumidores sobre o novo produto, a agência de
publicidade F/Nazca desenvolveu uma campanha inspirada em elementos típicos do
universo latino. Nos próximos dias, deve entrar no ar um filme que retrata o clima de
muito sol, diversão, sensualidade e alegria da cultura latina. O slogan da campanha
é Cerveja Puerto Del Sol. Para beber debaixo do sol, conta Fernandes.
Mais informações
In Press Porter Novelli Assessoria de Comunicação
Fátima Santos – [email protected]
(11) 3323-1553/ 1520
107
Anexo 3
textos de mídia jornalística
veículo: jornal (Folha de São Paulo)
data: 19 de janeiro de 2007
gênero: editorial
referência: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1901200705.htm
Alegorias carnavalescas (Nelson Motta)
RIO DE JANEIRO - No primeiro carro alegórico, jogando beijos para a
multidão, vem o grande líder bolivariano Hugo Chávez, em seu uniforme
multicolorido, com seus alamares, borlas e dragonas dourados, sob o imenso quepe,
e com o peito pesado de medalhas, cercado por seguranças fantasiados de astecas
e lindas morenas de seios de fora. A bateria explode, a torre de petróleo cenográfica
lança jatos de chocolate, a massa delira e se lambuza, como se fosse melado
comido pela primeira vez.
Logo atrás, no alto de uma alegoria menor, mas não menos luxuosa, cercado por
imensas plantas de coca cenográficas e por belas índias seminuas, com a
segurança em trajes típicos dos Andes, o grande líder cocaleiro Evo Morales acena
para o povo, com sua touca multicolorida lhe cobrindo as orelhas e seu casaco de
pele de lhama. Os canhões do carro despejam chuvas de folhas de coca sobre o
público, todo mundo ligadão até o "grande amanhã" chegar.
A América Latina finalmente começa a sua integração pelo caminho da festa,
especialidade dos hermanos brasileiros. No refrão da salsa-enredo, as congas e
timbales repicam e todos gritam, de punhos fechados: "Patria o muerte!". Depois o
refrão muda para "socialismo o muerte!", as mulatas rebolam, as índias se sacodem.
De mãos dadas e braços para o alto, todos gritam: "Revolución o muerte!".
Embora Carnaval não combine muito com morte, o desfile imaginário é a perfeita
integração entre fantasia, alegoria e ideologia que Chávez e Morales representam e
que atrasa e empobrece as Américas cada vez mais, sob inspiração do fantasma de
Fidel e de seus ideais de ordem e progresso.
O enredo "O Mundo Mágico do Perfeito Idiota Latino-americano", versão 0.7,
começou a ser ensaiado nesta semana no Rio.
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veículo: jornal (O Estado de São Paulo)
data: 20 de janeiro de 2007
gênero: editorial
referência:http://txt.estado.com.br/editorias/2007/01/20/edi-1.93.5.20070120.3.1.xml
Perda de tempo
Não poderia faltar uma dose de baixaria na lamentável e inútil conferência de
cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, encerrada ontem. Quem previu uma reunião
apenas improdutiva e marcada pela retórica terceiro-mundista pecou por otimismo. A
realidade foi pior. O presidente da Bolívia, Evo Morales, meteu o bedelho em
assuntos internos da Colômbia, criticando sua orientação econômica e seus vínculos
com os Estados Unidos. O presidente colombiano, Álvaro Uribe, foi obrigado a
responder. O guru de Morales, o venezuelano Hugo Chávez, interveio em sua
defesa, acusando Uribe de haver exagerado na resposta. Nenhuma surpresa.
Morales e Chávez não vieram ao Brasil para discutir de forma civilizada
projetos de interesse comum, mas para ditar palavras de ordem e proclamar novos
tempos para a região. O presidente venezuelano disse ter vindo para descontaminar
o Mercosul do neoliberalismo e atacou os Estados Unidos, o FMI e o Banco Mundial.
Seu acólito boliviano, que já dissera, em Cochabamba, que seu país quer ingressar
no Mercosul para fazer nele 'profundas reformas', repetiu a mensagem de Chávez e
denunciou o mau desempenho das economias ainda contaminadas pela doença
neoliberal. Se o anfitrião do encontro, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tiver tido
um instante de lucidez, deve ter corado até os artelhos com as agressões e
gozações que sofreu do companheiro Chávez. Mas é pouco provável.
O novo presidente do Equador, Rafael Correa, também da turma
neobolivariana, aproveitou a ocasião para pedir assessoria argentina sobre
renegociação - calote, em linguagem normal - da dívida externa. Os ministros de
Economia Felisa Miceli, da Argentina, e Ricardo Patiño, do Equador, reuniram-se no
Rio para formalizar o acordo de assessoria.
Assuntos importantes para o Mercosul, como se previa, ficaram em plano
muito recuado. A proposta brasileira de condições especiais de comércio para as
economias menores do bloco, Paraguai e Uruguai, ficou suspensa, por pressão
argentina. O governo argentino também se opôs à admissão da Bolívia em
condições favorecidas. Os dois assuntos foram entregues a grupos de trabalho.
Embora derrotado, o presidente Lula não deve ter ficado muito infeliz. Em seu
primeiro Confederação Nacional da Indústria não havia sido consultada e estrilou.
A diplomacia brasileira, portanto, não havia combinado o jogo nem com os
parceiros externos nem com o público interno. Uruguaios e paraguaios,
naturalmente, não gostaram e isso deve ter reforçado sua disposição de buscar um
acordo de livre-comércio com os Estados Unidos. Como consolação, ganharam a
promessa de financiamento para obras de infra-estrutura e para programas de
tecnologia.
O presidente Lula e o chanceler Celso Amorim gastaram parte de sua retórica
defendendo a inclusão da Venezuela, já consumada, e a da Bolívia, ainda em
negociação. É preciso, segundo o presidente Lula, aceitar a diversidade no
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Mercosul. Mas ele parece ter esquecido um detalhe: essa diversidade é limitada, até
agora, por um compromisso de preservação das instituições democráticas.
Uma das poucas manifestações de bom senso foi o pronunciamento da
presidente chilena, Michelle Bachelet. Não basta, segundo Bachelet, ficar falando
sobre integração sul-americana. É preciso desenhar um roteiro de cooperação. É
necessário formular um marco normativo para um espaço econômico, definir o
caminho para uma zona de livre-comércio no prazo de dez anos, investir na criação
de uma infra-estrutura regional e trabalhar, desde logo, para maior liberalização do
intercâmbio de bens.
Não se avançou em nenhum desses temas, exceto pela assinatura de um
compromisso entre Brasil e Venezuela com a fixação de prazos para estudos, até
dezembro de 2008, de um projeto de gasoduto até Recife. Também para isso não
seria necessário armar um circo tão amplo diante da Praia de Copacabana. A
paisagem, pelo menos, deve ter compensado o esforço.
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veículo: jornal (O Estado de de São Paulo)
data: 19 de janeiro de 2007
gênero: editorial
referência: http://www.estado.com.br/editorias/2007/01/19/edi-
1.93.5.20070119.1.1.xml
O Mercosul que se perdeu
O Mercosul não pode ser apenas um projeto econômico, disseram ontem o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim, em mais um surto
de fantasia geopolítica. Mas como pode ser mais que isso, se nem isso consegue
ser? A reunião de cúpula iniciada ontem no Rio de Janeiro tornou mais visíveis as
fraturas do bloco original, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Mas
essas fraturas não bastam para satisfazer a sede de fracasso. Incapaz de resolver
seus impasses, o quarteto cometeu a imprudência, no ano passado, de aceitar como
sócia a Venezuela do coronel Hugo Chávez. Um dos temas centrais da nova
conferência, programada para encerrar-se hoje, é a admissão da Bolívia, liderada
por Evo Morales, discípulo de Chávez e inimigo de quaisquer acordos comerciais
com os mercados mais importantes. Com cinco sócios, o Mercosul é mais fraco do
que era com quatro. Com seis, será ainda mais frágil, ou mais desconjuntado.
“É natural”, disse o chanceler Amorim, “que os mercocéticos ou mercocríticos
se enfureçam cada vez que acontece algo como a adesão da Venezuela ao
Mercosul, porque percebem que o bloco está-se fortalecendo.” Cometeu dois
enganos graves nessas poucas palavras (provavelmente deliberados).
Os críticos da atual situação do Mercosul foram sempre favoráveis à formação
do bloco e à integração de seus membros originais. Não descrêem das
potencialidades do Mercosul. Condenam, simplesmente, os erros crassos cometidos
nos últimos anos, desde quando os governos do Brasil e da Argentina decidiram
minar a união aduaneira e dificultar os acordos com os principais parceiros. Em
segundo lugar, falar em fortalecimento do bloco beira o delírio: com sócios como a
Venezuela de Chávez e a Bolívia de Morales, o Mercosul apenas se torna balofo e
mais se distancia de sua vocação original.
A tarefa urgente, neste momento, seria retomar o caminho da integração
econômica, fortalecer a união aduaneira e buscar o caminho da inserção competitiva
no mercado global. Enquanto o Mercosul se deixou enredar no protecionismo e nas
briguinhas internas, outros países, conduzidos com maior sensatez, conquistaram
preferências comerciais e tomaram fatias preciosas dos principais mercados. No
bloco, só os governos dos sócios menores, Paraguai e Uruguai, parecem ter
avaliado com algum realismo as oportunidades perdidas nos últimos anos.
“O Mercosul não é só um projeto economicista”, disse o chanceler Amorim
numa entrevista à TV Globo. O adjetivo “economicista” revela um estranho
preconceito, inadmissível num diplomata responsável pelas negociações comerciais
do País. De fato, o bloco foi concebido com ambições amplas, mas não se faz
uma associação política, social e cultural apenas com retórica. A integração
econômica ainda é a base mais concreta e mais sólida para outras formas de
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aproximação entre os povos, mesmo vizinhos. A integração econômica entre Brasil e
Argentina progrediu rapidamente durante alguns anos, impulsionada pelo comércio e
pelo intercâmbio de investimentos. Hoje os vôos entre Buenos Aires e São Paulo
constituem praticamente uma ponte aérea. Cursos de português e de espanhol
multiplicaram-se na Argentina e no Brasil. Não são necessárias explicações muito
sofisticadas para fenômenos como esses.
Mas a integração empacou. A união aduaneira tornou-se uma ficção legal. Em
vez de atacar os problemas e de trabalhar pela formação de cadeias produtivas,
para intensificar a interdependência, os governos do Brasil e da Argentina permitiram
que os impasses se agravassem. Os sócios menores foram esquecidos, sem
receber o apoio necessário para aproveitar mais amplamente as possibilidades do
comércio e do investimento.
A Venezuela de Hugo Chávez nada agrega a esse conjunto, a não ser
problemas. O caudilho já se manifestou contra a liberalização do comércio agrícola
defendida pelos outros sócios, em rara unanimidade, na Rodada Doha. O ingresso
da Bolívia de Evo Morales tornará mais difícil o consenso a respeito das questões
internacionais de interesse concreto para Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Seria preciso, sim, voltar aos objetivos da integração econômica e buscar a solução
para os impasses, porque só assim seria possível consolidar a base necessária a
uma associação mais completa.
Seria. Mas, agora, ao que tudo indica, não será mais.
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veículo: revista (Veja)
data: 24 de janeiro de 2007
gênero: carta ao leitor (editorial)
referência: http://veja.abril.com.br/240107/cartaleitor.html
O MARCO CIVILIZATÓRIO
Falta um trecho para o Brasil chegar à estrada asfaltada que nos levará sem
solavancos ao desenvolvimento sustentado. Falta um ambiente de negócios menos
hostil à inovação, falta incentivo à produtividade e, principalmente, falta um Estado
com o mesmo manequim do PIB e que controle sua fome insaciável por recursos.
Mas não ocorre a ninguém minimamente responsável no Brasil a idéia de retroceder
um centímetro do ponto a que se chegou até agora. Somos um país que vive um
inédito consenso em torno dos fundamentos da vida civilizada – a democracia e a
estabilidade econômica, o progresso social pela melhoria dos padrões educacionais
e a integração aos fluxos globais de idéias e práticas sociais e ambientais sadias.
Por isso foi um choque receber no Rio de Janeiro na semana passada, para
uma reunião de cúpula do Mercosul, chefes de Estado de países vizinhos como
Venezuela, Bolívia e Equador, onde as virtudes celebradas e cultivadas no Brasil
estão sendo demolidas. Uma reportagem da presente edição mostra que o
presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se viu cercado de caciques populistas
cuja irrelevância no contexto mundial só rivaliza com sua raivosa rejeição aos
consensos que o Brasil abraçou. Lula dirigiu-se em especial ao venezuelano Hugo
Chávez, cuja irresponsabilidade fiscal e descaso com as riquezas petrolíferas de seu
povo fazem dele o financiador da vanguarda do atraso na região. O presidente
brasileiro sinalizou com a necessidade de avançar a integração regional mas traçou
os esboços de um marco civilizatório do qual não retrocederá e que começa pela
entrega da liderança do processo aos países de economia maior, mais moderna e
mais complexa – ou seja, o Brasil e a Argentina.
Os esforços do Brasil estão sendo recompensados. Pelo que mostram os
indicadores recentes que medem o grau de risco de investir nos países emergentes,
o Brasil desgarrou seu perfil da geléia geral da região. Como a chilena, a economia
brasileira é vista pelo mundo como produto de uma civilização distintamente melhor
do que a da América do Sul. Já era tempo.
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Anexo 4
Produções de textos analisadas ao longo deste trabalho. Consideramos
importante salientar que os erros de escrita (lexical e sintática) foram mantidos.
Amostra 1 – 1º grupo
Tipos de moradias da sua cidade
Texto 1
Yo vivo em Indaiatuba, donde existe personas con diferentes niveles sociales.
Hay casas terreas, apartamentos, condominio cerrado e chácaras. Las casas
más sencillas disponen de sala, cocina, baño y patio, sin lujos. Hay también
apartamientos de classe media y alta, los de altas es compuesto den habitaciones,
suite, sala de cenas, cocina, lavandería y otros espacios que la habitación ofrece. En
el condominio son muy sofisticado, tiene muchas habitaciones, suites, closed,
lavandería, patio y otros espacios tiene chácara con grandes espacios verdes y
grandes habitaciones.
En mi ciudad hay también el barrio bajo, estas casas son casas llamadas
COAB, donde ellas tienen solamente una habitación, un baño muchas veces.
Mi cuidad es una ciudad de diferentes niveles sociales donde todos buscan
vivir siempre mejor.
Texto 2
En Cotia hay diferentes tipos de viviendas como casas, edificios, condominios
y casas de cartón.
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Las casas están localizadas en toda la ciudad, geralmente contiene 3
dormitorios, una sala pequeña y una cocina mediana. Normalmente san un casal y
dos niños que viven en estas casas.
Hay también los edificios, pero solamente en la entrada de la ciudad.
Diferente de las casas, los edifícios tienen 2 dormitorios, una pequena cocina y una
sala. Debido el pequeño tamaño de los aposentos solo três personas viven en los
edifícios.
Algo mucho común san los condomínios, localizados en una área estricta de
la ciudad. Con más de três dormitórios y aposentos grandes, hay también las
cuadras de desportes y las piscinas.
Infelizmente hay las casas de cartón, ocupando una grande parte de la ciudad
como el centro y también la entrada. Las casas san construídas sin terminacion y
san habitadas por más de una familia en cada casa y todas de clase baja.
Texto 3
Yo vivo en Sorocaba, hay estilos de viviendas de diferentes niveis sociales, lo
que hace la desigualdad del pueblo brasileño.
En los barrios de la periferia hay muchos ranchos hechos de madera unido un
con el otro, las muchas veces sin espacio hasta mismo para las calles. Con un o
hasta dos cômodos servindo para muchos ambientes. Familiares simples que gaña
lo maximo um salário mínimo o hasta menos, viven todos juntos con sus cuatro o
cinco hijos.
En los barrios considerados de classe media siguen el esquema llamado
tradicional: dos habitaciones, sala, cocina, baño, area de servicio y garaje. Ladrillos y
losa son los materiales más usados en la construcción de las casas. Viven en las
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viviendas los trabajadores asalariados, independientes, con sus familias y con sus
hijos, solamete uno o dos.
En lo otro extremo de la ciudad hay muchos conjuntos residenciales, tiendo la
más completa seguridad y casa con grandes terrenos arbolados. Las casas
generalmente son de cuatro o cinco habitaciones, muchas veces con suites, muchas
salas y ambientes. Las familias desta viviendas son la minoría en la ciudad, son
ricas, tienen muchos objetos de arte y mobiliarios planeados.
Texto 4
En mi ciudad hay diferentes tipos de viviendas, porque hay diferentes
situaciones financieras y también las particularidades de cada persona.
Así, yo escogí exponer rápidamente sobre las viviendas de apartamento, de
un solo piso y las casas de ruedas (tráiler).
Creo que en el apartamento las personas se senten un poco mas seguras,
pués normalmente existe una porteria y un portero que controla las llegadas y
salidas de los moradores y de los visitantes. A pesar de toda la seguridad que esa
moradia ofrece, las personas tienen poco espazio individual (privado) fuera de su
apartamento ya que la area de recreación es usada en conjunto por los demás
habitantes del edifício o entonces con hora y dia reservados.
Las moradias de un solo piso tienen más privacidad, pués el aceso a ella es
solamente de los familiares o invitados, pero la seguridad puede estar comprometida
de acuerdo con el barrio y la facilidad de aceso que la casa presenta a los
asaltantes.
Ahora, las casas de ruedas en mi puento de vista son excelentes terapias
para personas urbanas que ocupan su tiempo semanal con trabajo, agitación y la
116
locura de la sucesión de los días y necesitan viajar y conocer otros lugares para salir
de la rutina. El facto es que algunas personas consiguen vivir de la manera que
desean con la casa de sus sueños. Ya otras no pueden por motivos financieros o
mismo falta de oportunidad, pués en eso país la renta es mal distribuida y nin toda la
gente puede dormir o alimentarse como deveria.
Texto 5
En la ciudad de Itu hay diferentes barrios y formas de moradias y varios
condominios donde viven personas muy importantes, como los médicos,
empresarios, abogado que son personas de classe alta que frecuentan los mejores
restaurantes y bares de Itu, como lo Bar do Alemão donde vai solamente personas
importantes.
Hay también moradias común, humilde como las casas dos barrios donde las
personas viven una vida comun, trabajan, estudian compratillam todas las dificultad
con sús familias y frecuentan lugares más humildes y gustan mas de agitación y la
locura de la sucesión de los dias, diferentes das personas que tiene dinero, que son
mas reservadas.
En mí ciudad hay solamente una arrabale donde as personas viven en
situación precaria en casas muy pequeña donde hay solamente un cómodo y
muchas vezes não tienen nen o que comer, não trabajam e não tienes nenhum
estudio por isso viven nesta situación.
Lo que diferencia los varios tipos de moradia son las situaciones finacieras
que cada persona tien.
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Texto 6
En la ciudad de Sorocaba donde vivo, hay diferentes tipos de viviendas, en
realidad hay un poco den todo. Existem condominios de alto patrón co areas
magnificas de lazer, con slaón de fiestas, play-ground, cuadras poliesportivas, és
totalmente murado y con sistemas de seguridad distribuidos de forma estratégica.
Allí habitan ejecutivos bien sucedidos, inclusive el Alcalde de la ciudad.
La vida en el campo, las personas son humildes, viven una constante rutina.
Es una vida pacata y sin grandes acontecimientos. Las personas viven naturalmente,
con recursos de la naturaleza.
Despertan muy temprano, cuidan de los animales, el leche es puro y retirados
pelas personas que allí habitan. Sobreviven da caça e pescado, plantan y colhen sus
propios alimentos. El medio de transporte son los caballos y que todavía servem
como instrumento de trabajo. Geralmente viven en comunidad. Podemos decir que
son personas mui felizes.
La vida de las chabolas es muy precaria en todos los sentidos. Existe mui
vandalismo, violencia, asaltos, etc. En la mayoría de las veces son personas que
vienen de otros estados para tentar una vida mejor en Sorocaba, mas sin suceso,
pus encuentran grandes dificultades para conseguir un empleo y acaban pasando
necesidad y residindo allí y alguns acabam entrando para el mundo del crime. Son
moradias de mucho risco.
Puede non parecer, mas Sorocaba tienes vida en el campo y chabolas, no
obstant dessa ciudad ser un dos principales pólos de desenvolvimiento económico y
social del país. Ese se debe al hecho dessa ciudad abrigar importantes industrias
multinacionales, shoppings, hipermercados y grandes tiendas de fast food,
responsables por gerar empleo y renta.
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Texto 7
Bajo mi punto de vista, las personas que viven en las casa pertenecen a la
clase social media o media-baja. En mi ciudad, hay casas mucho simple y pequeñas.
Ellas tienen de 4 a 5 cómodos: 2 o 3 cuartos, 1 cocina, 1 sala y 1 cuarto de baño.
Allí viven, mas o menos, 5 personas, generalmente asalariadas, qué trabajan el día
todo y regresan a la casa solo por la noche.
Otro tipo de vivienda qué xiste en mi ciudad, son los apartamentos. Las
personas que viven en este tipo de vivienda son, en general, de la clase social
media o media-alta y que tienen mayor remuneración y por eso desean mas
seguridad. Los apartamentos localizan-se en el centro de la ciudad y allí víven cerca
de 4 personas. Ellos tienen sala, comedor, 2 cuartos de baño, 2 o 3 cuartos,
lavandería y cocina.
El tercero tipo de vivienda son los tugurios. Localizanse distante de el centro
de mi ciudad y la clase social de las personas que allí viven es baja.
Los tugurios son hechos con muchas tablas que las personas pegan en la
calles. Ellos poseen pocos cómodos: 1 cuarto, 1 cocina y 1 cuarto de baño.
Generalmente, viven en los tugurios mucha gente: padre, madre y muchos hijos.
Esas personas no tienen empleo fijo.
Texto 8
En Itu hay varias opciones de vivenda, una delas son los apartamentos,
llegam a tener de tres a cuatro dormitorios alguns incluindo suíte, cocina y sala de
jantar interligadas, lavandería y hasta cuarto para empleada.
Los apartamentos son más requisitados pelas personas que preferem investir
na tranquilidad de su familia.
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La maioria das personas que viven alí son da clase média.
Otra opción son las casas nos condominios cerrados, o espacio es mayor,
llegam a tener vaga para até cuatro coches, tiene piscina y area para churrasco y
también tiene monitoramento por cámaras do condominio.
Es un tipo de vivenda mucho requisitada por personas da clase alta.
Texto 9
En la ciudade que vivo existe muchos tipos de vivendas, mas la mayoría son
vivendas construídas por la CDHU. Esse tipo de vivendas son destinadas para los
trabajadores de clase baja com la enta mínima de 300,00 reais. Son vivendas que
tiene uno dormitorio, una sala, una cocina e uno bañero.
Por otro lado los condomínios son grandes y posuem varios tipos de
ambientes de recreación como piscinas, cuadras de tenis, volley, futebol. Las
vivendas son grande y tiene una arquitetura moderna y jardim mui belos, como
verdaderas obras-primas. El poder de la renta de estas personas es grande y
solamente esas personas consieguen sustentar todo el lujo.
Texto 10
En la ciudad de Salto hay muchos tipos de viviendas. Sigue tres diferentes
tipos abajo:
Mansiones: Sus aspectos exteriores y interiores son bién lujosos. Esas
viviendas se dividen en muchas partes grandes. Tienen muchas suites y muchas
salas. Las personas que viven allí son ricas y tienen un alto padrón de vida. Las
mansiones en general son construidas en condominios.
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Viviendas populares: Son varias viviendas cuya construcción fue uniformada y
financiada por el banco en sociedad con el gobierno. Sus aspectos exteriores y
interiores son uniformadas. Se dividen en habitaciones con tres, cuatro y hasta cinco
partes. Las personas que viven allí son de la clase pobre y media. Esas personas
tuvieron preferencia por estas habitaciones porque el pago de estas pueden ser en
muchos meses.
Chabolas:Tienen aspectos exteriores y interiores de mucha miseria y basura.
Se dividen en pocas partes que son muy apretadas. Las personas que viven allí son
muy pobres. La mayoría de estas personas tienen poco estudio y son
desempleadas. Pasan por muchas dificultades y algunas pasan hambre.
Texto 11
En Salto hay varios tipos de vivienda. La gente que vive en los barrios son de
clase baja – mediana y las casa dividense en dos habitaciones; baño cocina, sala y
cochera.
Los moradores son personas sencilhas que trabajan en empresas cercas de
la ciudad.
La gente que vive en el centro de la ciudad son de clase mediana, sus
vivendas dividen-se en tres habitaciones, dos baños, sala, cocina, cochera y
varanda.
Las personas no necesitan irse muy lejos para hacer las compras, pues el
centro comercial es cerca de la vivendas, facilitando mucho la vida.
Porem las personas que viven en los condominios viven lejos del centro y del
comercio. Las vivendas son mansiones formadas por enormes jardines, las vivendas
son divididas en varios comodos como por exemplo cinco habitaciones com suite,
121
baños con jacuzi, sala de TV, cocina, cochera, oficinas, solon juegos, piscina y
muchas outras dependecias.
En la ciudad de Salto hay varios outros tipos de vivenda cada cual con sus
características y personas muy interesantes.
Texto 12
Em Salto hay varios tipos de viviendas. Sigue abajo la descripción de três
tipos:
Los apartamentos
– sus aspectos exteriores e interiores tienen apariencia
uniforme y padrón, geralmente son ambientes con habitaciones pequeñas y muebles
versátiles. Normalmente se dividen en habitaciones con uno ou dos cuartos, una
sala de estar, una cocina y una pequeña lavandería.
Las personas que viven allí son de clase média, tuvieron preferencia por estas
habitaciones porque hay una mayor seguridad.
Por otro lado temos los condomínios
– sus aspectos exteriores e interiores
son lujosos, esas viviendas se dividen en partes grandes, bien repartidos y mucho
más requintado. La gente que vive en condomínios disfrutan de un área de
recreación y jardines. Son grupos de viviendas que estan protegidas con mucha
vigilancia. Las personas que viven allí son adineradas y tienen alto padrón de vida.
Finalmente las chacras
, sus aspectos exteriores e interiores son rústicos,
amplios y también extremamente acogedora. Esas viviendas tienen ambientes bien
distribuidos con muebles simples y confortables.
Las personas que eligen vivir en las chacras, gustan de tranquilidad y
contacto con la naturaleza.
122
Texto 13
La ciudad de Indaiatuba hay diferente barrios e formas de moradia. Vários
condominio cerrado, donde encontra-se habitantes conocido cómo actor Lima
Duarte, Sandy e Júnior, este condominio llamase Itaci. Os habitantes deste
condominio son personas de clase alta. Hay condominio más modesto como Vale
das Laranjeiras.
En nuestra ciudad no hay arrabales, existe barrios más humilde y común son
de nivel escolar primario.
Solamente uno barrio Carlos Androvane no hay asfalto, es demás hay asfalto
y rede de cantarillado. También hay barrio industrial, donde solamente son
permitidas fábricas.
Muchas personas viven en la región agraria cómo cansancio de casa de
campo.
Tiene muchos barrios nuevos en construcción, de clase média, con una
población mucho cerrada. En común a población de Indaiatuba es mucho amable,
mucho hospitalaria.
Indaiatuba es una ciudad mucho diversificada.
Texto 14
En la ciudad dónde vivo tiene diferentes tipos de viviendas, desde las mas
simple hasta las mas lujosas.
Existen las moradias del CDHU (apartamentos), del condominio y casa terea.
Los apartamentos del CDHU son viviendas pequeñas, que los habitantes
ganan del Alcalde de su ciudad y pagan mucho poco al mes para adquiriren esa
propriedade después de muchos años. Normalmente no tiene confort y las personas
123
que allí viven tienen muchos hijos, devido a sus condiciones sociales y a veces a la
falta de informaciones.
Los condomínios pueden ser de alto y médio patrón, y generalmente son
seguros, pero los moradores necesitan pagar la mensalidad para tener eso confort,
ya que existe la policia dentro del condominio, allende playground, club acuático y de
baile.
Ya las casas no tienen tanta seguridad, pues dependendo del barrio y del la
seguridad general de la ciudad, pueden sufrer invasiones constantes.
Contudo el mas importante, independente de la situation financiera es teñer
un lugar dónde se pueda llamar de su lugar (hogar).
Amostra 1 – 2º grupo
Texto 1
Mi ciudad natal es Itu, dónde tiene mucha diferencia de grupo social. Aqui es
una ciudad de turismo.
Las personas de mayor poder adquisitivo, viven en residencias enormes com
grandes habitaciones, innumerable aposentos, garajes para muchos carros y un
bello jardín delante de la vivienda.
Tiene también los edificios. Algunos son lujuosos muy amplios con muchos
aposentos y hay los edificios conocidos como CDHU, esos pisos son pequeños, muy
incómodos, con solamente um cuarto de baño, pequeñas habitaciones, no tiene
lavandería y no tiene también seguridad. Esos apartamentos se localizan em barrios
más necesitado, para personas sin condición financiera de comprar su propio
inmueble.
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La dificultad obliga com que algunas personas hacen de las calles su
viviendas. Viven y dormen debajo de la puentes, encima de los asientos públicos,
dentro del terreno baldío, eso com muchas dificultades, sín higiene personal, con
apetito, se alimentan de restos de comida encontrados dentro de la basura.
Esa como las otras viviendas, aparece en la imagen de uma bella ciudad del
turismo, solo que esta se aparece al fondo.
Texto 2
En mi ciudad hay viviendas normales con dos o tres habitaciones, una mayor
con cuarto de baño y las otras dos pequeñas, tienen también una cocina media, uno
o dos cuartos de baño y una pequeña lavandería.
La mayoría de las casas tienen una garaje donde van dos coches, tienen
también un salón donde costumbran recibir las visitas.
En mi ciudad hay muchas casas, en ellas viven las personas de renta alta,
media o baja, en general viven famílias compuestas por los padres, dos o tres hijos.
Hay también los apartamentos qué son muy semejante a las casas en
relación a su estructura, la diferencia está en las habitaciones qué son de una a dos
y son muy pequenãs.
En estas viviendas costumbran vivir los estudiantes qué o dividen cón otros
estudiantes qué van a quedar en la ciudad lo tiempo estiveren estudiando en la
universidad. También acostumbran vivir en los apartamientos, las personas solas e
independientes.
Sorocaba tiene pocas quintas, pero las qué existen son muy guapas, tienen
una casa con dos o tres habitaciones, cocina, cuarto de baño qué en general es
pequeño, salón y garaje para los coches.
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Texto 3
La grande mayoría da gente en Salto viven casa, pero aquí también la gente
gusta de vivir en piso y algunas prefieren el campo. Las personas que viven en casa
son los mas populares, en piso os dé clase media y los que viven en el campo son
los mas afortunados.
Casa – normalmente tiene cuatro habitaciones, siendo dos cuartos, uno
cuarto de baño, una cocina, uno salón.
Piso – tiene por volta de siete habitaciones, siendo tres cuartos, uno salón,
una cocina, uno comedor, uno cuarto de baño y uno lavabo.
El campo – son más grandes con cuatro cuartos, tres salóns, dos cuartos de
baño, uno lavabo tiene también pasillo, cocina amplia, comedor y garaje para
algunos coches.
Texto 4
Vivo en la ciudad de Salto/SP. Aquí, la grande mayoría de las personas vive
en barrios. Esas personas son trabajadores asalariados, de clase media, con renta
para el sustento de su familia.
Los empresarios prefieren vivir en condominios, argumentando una vida mas
tranquila y mas segura.
Las personas que tienen el costumbre de vivir en edificios o apartamentos,
generalmente son solteros o parejas sin hijos por el hecho del espacio no ser muy
amplio.
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Texto 5
Mi ciudad es muy bonita y bien poblada, yo vivo en un barrio que queda a dos
Km del centro. Al lado derecho de mi barrio, hay una chabola, donde viven algunas
personas muy pobres, que están sin trabajo o ganan muy poco, tienen muchos hijos
y por eso no consiguen tener una vivienda y una vida mejor.
El centro de la ciudad la mayor parte son casas antiguas o nuevas, donde
habitan personas de clase media, que viven de su trabajo o tienen renta propia,
generalmente son familias grandes o pequeñas, solteras, estudiantes, etc.
Hay casa de dos tipos: algunas menores con pocas habitaciones y algunas
más grandes con mucho patio, con garaje para autos.
Existen también los condominios cerrados muy bellos para personas de clase
alta, generalmente empresarios. Sus casas son mucho más grandes con mucho
verde, muchos cuartos y a veces con dos piscinas por casa y todo en perfecto
estado. Estos condominios quedam alejados del centro de la ciudad, tienen mucha
tranquilidad, monitoramiento y seguridad. Éste es un lugar en el cual a todos nos
gustaría vivir.
Texto 6
Hay varios tipos de viviendas en Porto Feliz, existen muchos barrios
residenciales donde residen personas de clase alta y media, pero existen también
los barrios más pobres donde viven las personas de baja renta.
Los edificios son pocos, se puede contar en los dedos, y los mismos son muy
caros. Las personas que optan en viven en departamentos, generalmente son
personas que viven solas o parejas que no tiene hijos y buscan más seguridad.
127
Porto Feliz es una ciudad simple, pequeña, podemos decir, una ciudad
familiar, pues es muy buena para vivirse, por quedarse prójima de las ciudades
grandes y por la tranquilidad que ofrece a sus habitantes.
En sus arrededores, hay muchas casa de campo y fincas, donde con certeza
las personas que escogieron este estilo de vida son muy más felices, pues pueden
disfrutar de la naturaleza y tener contacto directo con los animales.
Los condominios son pocos, pero con verdaderas mansiones, son
exageradamente caros y las personas que viven en ellos generalmente son
empresarios o propietários de algún negocio. Finalmente esas son las opciones en
Porto Feliz.
Texto 7
Hola, mi nombre y Lucia y vivo en una ciudad de nombre Indaiatuba,
localizada en el interior de São Paulo – Brasil.
Indaiatuba tiene hoy 200 mil habitantes y su coste de vida y considerado
medio, esta proxima del mayor aeropuerto de Brasil, Viracopos y podemos encontrar
viviendas diversificadas.
Por formar parte del circuito de las Frutas, podemos encontrar en Indaiatuba
muchas haciendas con mansoes enormes, con muchos cuartos, salas, cocinas y
jardines maravillosos. Pero para quien prefiere vivir en el centro de la ciudad,
tenemos casas lindas con cuartos, suites, salas y garaje. Para los solo tenemos los
edificios, siendo apartamento menores. Ahora para aquellos que buscan más
seguridad, tenemos los condominios cerrados, con casas o sobrados. Indaiatuba y
una excelente ciudad para vivirse y para trabajar. Cuando tuviera oportunidad venga
la conoces.
128
Texto 8
Yo vivo em Salto, uma ciudad pequeña, um poco antigua pero muy limpia,
com pueblos diversos y arquitectura deiferenciada por sus tantos años de tradición.
Hay edificios em el centro de la ciudad y hay también aquellos que estan lejos
del transtorno y stress. Estos ofrecen pisos pequeños, con uno o dos habitaciones,
hay poco espacio para los niños jugar y muchas veces no puedem tener perros o
gatos.
Hay también los condominios, estos ofrecen confort y seguridad. Las casas
son grandes y confortables.
Los condominios se quedan lejos del centro, por eso las familias tienem
tranquilidad y privacidad, hay muchas árboles y gramo verde.
Y para terminar esa descripción: hay también los barrios. Donde viven
muchas familias y trabajadores. Las casas puedem ser grandes o pequeñas y tiene
escuelas públicas, autobus y plazas.
Hay muchos niños, perros, gatos y muchos otros animales. Todos se
conocem y son amigos. Y es tambiém donde vivo yo.
Amostra 2 – textos sobre a Espanha
Texto 1
Habia una vez estaba caminando por la calle a mirar una estatueta de donde
caía agua y entonces un tipo que pasaba a delante miraba también la estatueta, él
se dió con una señora maior.
La situación fue muy cômica. Mi atención prontamente pasó a ellos y me
quedé a reir mucho. Pero con culpa por lo que se habia pasado, intentaba quitar el
riso.
129
La señora quedó muy nerviosa y el tipo despreocupado ya estaba en una
situación pesada.
Yo continue allá a intentando mirar la estatueta pero cuando el tipo se dió
cuenta de mí, empecé nuevamente a reir ... y bien que sí él no se seguró y empezo
a reirse mucho también.
Texto 2
Estaba caminado por las calles de Basrcelona. Había llegado a la ciudad hace
unos siete días para visitar a unos primos que viven por allí hace muchos años.
Como estudio español intentaba oír las charlas de las personas por dónde pasaba
mientras miraba el suelo, porque tengo esta costumbre cuando me pongo
concentrado. Dos horas después de caminar vi a una cosa en el suelo, me pareció
una cartera. La garré, y cuando la abrí estaba llena de dólares y dos billetes para un
partido de fútbol, Barcelona x Real Madrid, en el Camp Nou. Me quedé sorpreso con
esto.
Fui a la policía para darles la certera, porque a mi no me pertenecía. La
sorpresa es que, en aquel mismo momento estaba en la policía el presidente de la
equipo de Barcelona, peleando con los policías pues deseaba que ellos encontrase
su preciosa cartera. Él cuando me vio se quedó muy contento y agradecido por mi
honestidad. Me dio 10 billetes para ver los partidos de Barça además de poder
charlar con todos los jugadores y sacar fotos con ellos. Fue un año prefecto.
Texto 3
En el año pasado, hizo un viaje a Madri. Esa ciudad siempre me encantó
mucho y también fue para practicar mi español.
130
La ciudad és muy guapa, tiene sitios maravillosos.
Pero, un día fue a una tienda comprar un regalo a mí madre que quedó en el
Brasil y percebí que alguién estaba me mirando mucho.
Cuando salí de la tienda y me dirigía a otra caje un hombre bien vestido con
una arma en las manos, me pidió mí cartera.
Yo sin hablar nada die ella para el hombre que salió corriendo.
Yo quedé muy nerviosa, no por el diñero que había en la cartera, pues era
poco, pero sí por el susto que pasé.
Texto 4
Cuando fui a España el año pasado, me divertí mucho y hice muchos amigos.
Pablito, uno de ellos, lo conocí en un bar de Barcelona. Salí de copas con mis
padres y estábamos sentados en sillas n la calle. Hacía mucho calor y tomávamos
jugos de frutas helados.
Un payaso se acercó de nuestra mesa y empezó a hacer trucos. También
saltaba, cantaba y hacía bromas. Fue muy gracioso y divertido. Cuando supe que
nosotros éramos brasileños, se puso mucho más agitado, pues quería saber todo
sobre Brasil. Pablito nos contó que pensaba viajar a Brasil para trabajar en un circo y
aprender nuevos trucos y técnicas.
Hoy Pablito trabaja en el circo y viaja por todo el país. Enviamos correos
electrónicos toda semana y voy a visitarlo las próximas vacaciones.
131
Texto 5
En el último año viajé a Barcelona para conocer la ciudad. Como necesitaba
descansar elegí esta ciudad porque hay muchos sítios históricos visitar y también
para salir de tapas.
Invité una amiga para acompañarme y entonces seguimos para la ciudad.
La idea era volver después de 15 dias pero no fué lo que se pasó.
Mi amiga se enamoró por un chico español y no quería más volver.
Los 15 días se pasaron y el día de volver había llegado. Ya estaba con mis
equipajes listas, cerca de la puerta. Cuando abri la puerta vi el chico lleno de
equipajes y le pregunté lo qué se pasaba.
Él dijo que había se casado con mi amiga y que iba a vivir en Brasil con ella.
Bién, después de casi caer, salimos todos los três al aeropuerto y algunas
horas después habíamos llegado a Brasil.
Texto 6
Hace unos diez años, todavía era jovencita y no conocía muchas cosas
acerca de la vida y de las cosas... Resulta que tuve la oportunidad de irme a
España, más precisamente a Sevilla y, chocha de la vida, arregle mis valijas, sueños
y ropas, estas últimas de manera especial. Sí porque estábamos en junio y en Brasil
hace mucho frio, imagíneselo en España! Total que me lleve muchos abrigos,
pullóveres, medias, bufandas, gorros y ningún dinero... sobre todo porque no lo
tenía.
Llegué allá, muy bien abrigada, y me pareció que recien entrara en el infierno
con derecho a diablo y todo lo más, ¡qué calor! Nunca se me ocurrió que en Sevilla
la temperatura era tan alta. ¿Cómo pudiera ser tan tonta de buscar informaciones?
132
A pesar de todo, este fue el mejor viaje de mi vida, que me enseño que jamas
uno debe salir de su pais sen, al menos, echar un vistazo en el google.
Texto 7
Dos amigos aficionados por fútbol se encuentran para asistir a un partido de
Real Madrid. En las últimas rondas el equipo jugó un pelotón y las previsiones son
las mejores. Con los jugadores bien entrenados y el estadio y la luna llenos, no
habría, para estos torcedores, la posibilidad de salir sin la vitoria.
Texto 8
Juan trabaja con equipages que descorriaran-se en el aeropuerto.
El tiene una tienda en Sevilla de cosas nuevas e viejas que el encuentra
dentro de las equipages.
En el año pasado el he encontrado un peluche muy viejo y feo y he ponido en
la tienda.
Una mujer no lo queria llevarlo porque estava sucio y Juan lo tomou de sus
manos para llavarlo.
Cuando Juan empienso a llavarlo he encontrado diamantes dentro de lo
peluche viejo.
La mujer e Juan pelearan por lo peluche hasta lo día seguinte.
Texto 9
En final del año 2000 fue a Barcelona conocer la ciudad y participar de uno
seminario de Lingüística. Llegando en el hotel empezo los equivocos, me hay
133
quedado tres horas até tener un cuarto para mi, cuando lleguei en el cuarto no tenia
calefacción y estavamos en inverno hacia 10º C.
En otro día por la mañana un autobús iria buscarnos en el hotel para llevarnos
al seminario pero el autobús llego una hora después del combinado.
En seminario fue me indentificar y descobri que tenian me colocado en una
mesa de questiones diferente de minha area de estudios, he ficada una colorada
pero hablei lo que estudiaba.
Per lo fim yo volvei al aeropuerto y me he quedado por dos horas esperando
el avion.
Amostra 2 - textos sobre a América Latina
Texto 1
Estaba en Buenos Aires, caminando por sus calles largas y rectas, con sus
edificios de misma altura y lenguaje formal, conferiendole una unidad majestosa, ¡y
mira! Todos los edificios llevan la inscripción del arquitecto que les proyectó!
Diez de la noche y ... me sentía muy bien allí mezclada a los porteños. La
calle estaba llena de gente que iba, que venía ... ¡Por Dios, hombre, esa gente es
muy alegre, parece que no vuelve a casa! Salen del trabajo y se ponen a caminar,
se van a los restaurantes, a las discotecas.
Parece que el importante es vivir, convivir... ¡ser feliz! Qué maravilloso, ¿no?
Texto 2
Cuándo estuve en Buenos Aires, hace 3 años, me encanté con las calles de
el centro de la ciudad.
134
Primero, porque estaban limpias y llenas de personas. Segundo porque nunca
hubiera visto tantos artistas por la calle.
Me encantaron los músicos y los bailarinos. Sin embargo, las estátuas
viventes llamaban mi atención por todo el tiempo que me quedé a Buenos Aires.
Texto 3
Hace algún tiempo estuve en Buenos Aires de excursión, lo que mas me
surpreendió fue como la Iglesia Universal hacia para llamar la atención de las
personas que pasaban por la calle: ponian en el paseo una televisión muy ancha
donde pasaban sus pregaciones.
Asi que la calle Corrientes, famosa por su noche, ahora tenia otra atraciones.
Texto 4
Jamás olvidaré de las calles porteñas, ya que allá me sentí muy a gusto,
como si fuera una chica visitando el mundo de los sueños.
Las calles anchas, muy claras, sin construcciones altas en su alrededor y con
jardines a lo largo de todos ellos me transmitiron una sensación de paz. Sensación
esta que me hace extrañar mucho aquella región der sur de America y que me trae
el deseo de alla volver y dejarme soñar nuevamente.
Texto 5
Yo y mi nena, nos fuimos al boliche, digo, mi nena y yo (el burro viene antes),
vimos unos árboles increíbles en el camino, un perro y su cachorro, digo, una perra y
su cachorro.
135
Yo y mi vieja nos fuimos a un antro, digo, mi vieja y yo, vinos una féria con
unos floreros chilo, pero a ella le valía gorro, la calle estaba un poco sucia, México
es la mayor ciudad del mundo.
Yo y mi negrita, nos fuimos a la pachanga, digo, mi negrita y yo. Vimos por el
camino el compay Nicolás, sus hijas meneaban al sonido de una rumba.
Mi chava y yo nos fuimos a una cafetería, la chaparra me hizo reír con sus
chistes. Vi un carro que era un coche bien padre. Nieta, era bien padre, vi una amiga
con su bici, fue buena onda.
Texto 6
He conocido Argentina, más precisamente, la ciudade de Buenos Aires y las
cercanias.
Me encantó algunos sitios que normalmente los turistas visitan como: El
Puerto Madero, museos, Teatro Colón, etc.
Pero la vida de las personas en las calles me ha dejado muy triste, mucha
gente pedindo por dinero, personas sin trabajo y sin tener lo que comer.
Paseando con mi hermana en una calle que no recuerdo más el nombre,
encontramos un jóven que había estado sin servicio y era “artesão”; pedía por
comida y como nuestro dinero era corto, le di una manzana que trae en mi “bolza”,
nos quedamos hablando por un tempo y él nos contó sobre su vida. Cuándo
despedímonos él aceno dibujando un corazón en el aire.
Siempre pensamos que la miseria vive solamente en nuestro país, pero temos
que nos dar cuenta que ella atinge todo el mundo.
136
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