o “prazer” é, portanto, aqui (e sem poder prevenir), ora extensivo à fruição,
ora a ela oposto. Mas devo me acomodar com esta ambigüidade; pois, de
um lado, tenho necessidade de um “prazer” geral, toda vez que preciso me
referir a um excesso do texto, àquilo que, nele, excede qualquer função
(social) e qualquer funcionamento (estrutural); e, de outro, tenho
necessidade de um “prazer” particular, simples parte do Todo-prazer, toda
vez que preciso distinguir a euforia, a saciedade, o conforto (sentimento de
repleção em que a cultura penetra livremente), da agitação, do abalo, da
perda, próprios da fruição.
Se um bom leitor deve ter paixão pela leitura, ensinar a ler e, conseqüentemente, a
gostar de ler, é uma tarefa dos professores (das mais diversas disciplinas) que, para tal, são
considerados “leitores-modelo”. Por isso, a prática de leitura em sala de aula deve ser
prazerosa, e deve, obrigatoriamente, ocorrer o processo interativo no jogo da leitura.
A respeito da leitura de professores, não podemos afirmar simplesmente que se
caracterizam como não-leitores, uma vez que seu repertório de leitura se compõe de textos
de jornais e revistas e, principalmente, de livros escolarizados, exigidos por sua prática
pedagógica. Segundo Ceccantini e Pereira (2003), os professores afirmam que em seu
tempo livre valorizam a leitura, porém pouco freqüentam bibliotecas e pouco sabem afirmar
a respeito das leituras que dizem fazer. O que se percebe é que os professores repetem um
discurso preconcebido que valoriza a leitura como algo “sagrado”, mas não a praticam
como parte integrante de sua formação cultural e pedagógica. Observa-se em seu discurso
uma atividade fragmentada, sustentada por uma idéia vaga de que a leitura deveria fazer
parte de sua rotina. Por isso, freqüentam suas listas de leituras, livros legitimados pela
tradição universitária na formação de professores e aqueles considerados clássicos que
sempre freqüentaram as salas de aulas das escolas de ensino Fundamental e Médio. Para os
referidos autores,
Estariam configurados comportamentos de um leitor que não comunga de
forma plena de certas preocupações e práticas legitimadas e valorizadas
socialmente e que são corriqueiras, para os “herdeiros culturais”, aqueles
que, por sua condição social, herdaram de sua família, não necessariamente
o “patrimônio cultural” instituído, mas, sobretudo, os modos “apropriados”
de com ele se relacionar, e que os fazem sentir-se “à vontade” nessa relação
(p. 418).
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