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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
Cultivo em Estado Sólido: Modelagem e
Quantificação de Biomassa em Biorreator
Cilíndrico Horizontal Agitado
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Marcus Darci Rutsatz
Porto Alegre
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
Cultivo em Estado Sólido: Modelagem e
Quantificação de Biomassa em Biorreator
Cilíndrico Horizontal Agitado
Marcus Darci Rutsatz
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia
Orientador:
Prof. Dr. Argimiro Resende Secchi
Co-orientador:
Prof. Dr. Marco Antônio Zacchia Ayub
Porto Alegre
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação Cultivo em Estado
Sólido: Modelagem e Quantificação de Biomassa em Biorreator Cilíndrico Horizontal
Agitado, elaborada por Marcus Darci Rutsatz, como requisito parcial para obtenção do Grau
de Mestre em Engenharia.
Comissão Examinadora:
Prof. Drª. Marla Azário Lansarin
Prof. Dr. Maurício Moura da Silveira
Prof. Drª. Rosane Rech
Agradecimentos
A Deus, por sempre iluminar meu caminho.
À UFRGS, instituição da qual faço parte há quase uma década, e à qual devo alguns
dos melhores momentos da minha vida.
Ao Professor Argimiro Resende Secchi, meu orientador. Como falei há alguns dias a
um colega novo no mestrado: “O Arge nunca vai te deixar na mão.” Creio que isto define bem
o que ele representou durante o trabalho.
Ao Professor Marco Antônio Zacchia Ayub, que se revelou um ótimo amigo, uma
pessoa de posições claras, sempre se preocupando com a qualidade do trabalho.
Ao Professor João Henrique Zimnoch dos Santos, do Instituto de Química, cuja
ajuda foi bem além das dúvidas sobre cromatografia.
Ao futuro engenheiro químico Wagner Bertuol Casagrande, que foi meu fiel
escudeiro durante os experimentos, enfrentando comigo os momentos de decepção e
compartilhando os de alegria.
Aos colegas do Bioteclab e do PPGEQ. Prefiro não citá-los individualmente, para
evitar cometer uma injustiça. O apoio mútuo entre os colegas é, sem dúvida, uma das
principais forças motrizes do trabalho.
A meu pai, minha mãe e minhas irmãs, que me incentivaram a cursar o mestrado.
Sem seu apoio, certamente eu não teria sequer iniciado esta jornada.
À Siomara, meu amor e companheira, o melhor motivo que tenho para querer ser
melhor. Dividimos, juntos, a experiência do mestrado, sempre ajudando um ao outro, sendo
compreensivos mesmo nos fins de semana em que não podíamos estar juntos.
Finalmente, à CAPES, pelo apoio financeiro.
V
Resumo
Em bioprocessos, cultivo em estado sólido (CES) pode ser definido como o cultivo
envolvendo sólidos insolúveis na ausência, ou quase, de água livre. Desta forma, o CES se
distingue dos cultivos submersos (CSm), nos quais os substratos e microrganismos
encontram-se dissolvidos ou suspensos em grande quantidade de água. Muitos aspectos
importantes de engenharia de processo ainda precisam ser desenvolvidos em CES, como a
quantificação de biomassa, a cinética de reações e as transferências de massa e energia. Neste
trabalho, estudou-se um processo de cultivo em estado sólido em biorreator de tambor agitado
utilizando um resíduo industrial fibroso de soja (RIFS) como substrato para o crescimento da
bactéria Bacillus circulans BL53.
Inicialmente, foram realizados testes de mistura utilizando corantes alimentícios para
avaliar a eficiência da homogeneização promovida pelas pás agitadoras. O teste utilizando
corantes espelha-se em outros encontrados na literatura, porém o substrato aqui utilizado tem
natureza pastosa, contra os de natureza particulada de outros trabalhos. Concluiu-se que a
homogeneização é satisfatória.
Foi realizada a estimação da biomassa no cultivo através da taxa de produção de
CO
2
, analisado por cromatografia gasosa. Com o uso de um modelo de correlação, obteve-se
bons resultados para as primeiras horas de cultivo, porém os erros de estimação tornaram-se
muito grandes após 20 horas de cultivo. Este é um resultado comum também em outros
trabalhos semelhantes encontrados, já que o erro da estimação é cumulativo, e o único
parâmetro monitorado (produção de CO
2
) pode falhar na detecção de mudanças do
metabolismo microbiano.
Além disso, foi desenvolvido um modelo cinético, que relaciona as concentrações de
biomassa, açúcares redutores totais e acetato, além da produção de CO
2
, no cultivo. O acetato
é um produto metabólico com efeito bactericida. Por conseqüência deste efeito, houve queda
na contagem de células viáveis após aproximadamente 15 horas de cultivo. No geral, houve
boa correlação com dados experimentais, porém outros desenvolvimentos são necessários
para aprimorar o modelo. A produção de CO
2
, por exemplo, não foi bem descrita pelo
modelo. A inclusão de medições de consumo de oxigênio, uma estequiometria de reação
definida e balanços de massa e energia podem trazer melhorias significativas às predições e à
aplicabilidade do modelo.
VI
Abstract
Solid state cultivations (SSC) may be defined as the cultivation involving insoluble
solids in the absence, or near absence, of free water. Therefore, SSC is distinguished from
submerged cultivations (SmC), where substrates and microrganisms are dissolved or
suspended in large quantities of water. Many important engineering aspects of SSC are still to
be developed, like biomass quantification, reaction kinetics, mass and energy transfers. This
work dealt with a solid state cultivation process carried out in an agitated drum bioreactor,
using an industrial fibre soybean residue (IFSR) as substrate for the growth of the bacterium
Bacillus circulans BL53.
Mixing tests were carried out in order to evaluate the efficiency of the
homogeneization promoted by the mixing paddles. Common food grade dyes were used in
these experiments, similary to other works in the literature. However, the viscous nature of
ISFR greatly differs from the particulates used in other works. Homogeneization was
concluded to be satisfactory.
Biomass was estimated through the CO
2
production rate, which was determined by
gas chromatography. Using a correlation model, good results were obtained for the first hours
of the cultivation, but the estimation errors became too large after 20 hours. This is a common
result also in other works, since the estimation error is cumulative, and the only monitored
parameter (CO
2
production) may fail the detection of metabolic changes of the microrganism.
A kinetic model of the process was also developed, relating biomass, total reducing
sugars and acetate concentrations, in addition to CO
2
production. Acetate is a metabolic
product which has bactericidal effect. As a consequence, viable cell count dropped after
approximately 15 hours cultivation. A general good correlation with experimental data was
obtained, but the model may be further improved. For example, the model was unable to
describe the CO
2
production satisfactory. The inclusion of oxygen uptake measurements, a
defined reaction stoichiometry, together with mass and energy balances may significantly
improve model predictions and applicability.
VII
Sumário
Resumo.............................................................................................................................V
Abstract...........................................................................................................................VI
Sumário ..........................................................................................................................VII
Lista de figuras..............................................................................................................IX
Lista de tabelas ..............................................................................................................X
Lista de símbolos..........................................................................................................XI
Introdução.........................................................................................................................1
Fundamentos e Revisão Bibliográfica......................................................................4
2.1 Cultivo em Estado Sólido ........................................................................................4
2.1.1 Uso de bactérias em CES................................................................................9
2.1.2 O pH em CES ...............................................................................................10
2.2 Quantificação de Biomassa em Cultivo em Estado Sólido ...................................11
2.2.1 Métodos diretos ............................................................................................13
2.2.2 Métodos indiretos - Medida de componentes da biomassa..........................14
2.2.2.1 Nitrogênio e Proteína...........................................................................15
2.2.2.2 Ácidos nucléicos..................................................................................16
2.2.2.3 Glicosamina .........................................................................................16
2.2.2.4 Ergosterol.............................................................................................17
2.2.3 Métodos indiretos Medidas de atividade metabólica.................................18
2.2.3.1 Respirometria.......................................................................................18
2.2.3.2 Massa seca do leito ..............................................................................21
2.2.3.3 Produção de enzimas extracelulares ....................................................21
2.2.3.4 Medidas de fluorescência ....................................................................22
2.2.3.5 ATP ......................................................................................................22
2.2.3.6 Ácidos orgânicos .................................................................................23
2.2.4 Outras técnicas..............................................................................................23
2.3 Modelagem Matemática de Biorreatores para Cultivo em Estado Sólido.............24
2.3.1 Biorreatores de leito fixo ..............................................................................26
2.3.2 Biorreatores de bandejas...............................................................................30
2.4 Biorreatores de leito fluidizado .......................................................................33
2.5 Biorreatores de tambor rotatório......................................................................34
2.6 Biorreatores de Tambor Agitado .....................................................................37
2.7 Metabolismo e crescimento .............................................................................38
2.8 Estimação de biomassa através dos gases de saída .........................................43
VIII
Materiais e Métodos....................................................................................................45
3.1 Instalações e equipamentos....................................................................................45
3.2 Biorreator cilíndrico horizontal agitado (BCHA)..................................................46
3.3 Microrganismo.......................................................................................................47
3.4 Preservação da cultura ...........................................................................................47
3.5 Preparo de inóculo .................................................................................................47
3.6 Preparo do meio de cultivo ....................................................................................48
3.7 Condições do cultivo .............................................................................................49
3.8 Água do encamisamento do biorreator ..................................................................49
3.9 Quantificação de biomassa ....................................................................................50
3.10 pH do meio de cultivo..........................................................................................50
3.11 Análises do extrato aquoso ..................................................................................51
3.11.1 Preparo do extrato aquoso ..........................................................................51
3.11.2 Açúcares redutores......................................................................................51
3.11.3 Acetato........................................................................................................51
3.12 Medição da umidade relativa do ar de saída do biorreator..................................52
3.13 Análise de umidade do meio de cultura...............................................................52
3.14 Análise do CO
2
liberado no cultivo .....................................................................52
3.14.1 Análise por Cromatografia Gasosa.............................................................52
3.14.2 Calibração da medida de CO
2
no CG.........................................................53
3.14.3 Análise de CO
2
e O
2
em analisador de gases..............................................53
3.15 Testes de mistura no biorreator............................................................................54
3.16 Estimação de biomassa através da produção de CO
2
..........................................55
3.17 Modelagem do crescimento microbiano..............................................................57
3.18 Resolução dos modelos e estimação de parâmetros............................................57
3.19 Seleção e estimação de parâmetros......................................................................58
Resultados e Discussão............................................................................................60
4.1 Calibração da medida de CO
2
no cromatógrafo a gás ...........................................60
4.2 Testes de mistura ...................................................................................................61
4.3 Temperatura da água de encamisamento...............................................................63
4.4 Umidade do leito ao longo dos cultivos ................................................................64
4.5 Observações gerais durante os cultivos .................................................................65
4.6 pH do meio de cultivo............................................................................................66
4.7 Quantificação de biomassa por contagem em placas ............................................67
4.8 Açúcares Redutores ...............................................................................................70
4.9 Modelagem do crescimento microbiano................................................................71
4.10 Estimação da biomassa através da taxa de produção de CO
2
..............................72
4.11 Desenvolvimento de modelo cinético..................................................................75
4.12 Estimação dos parâmetros do modelo cinético....................................................77
Conclusões e Perspectivas.......................................................................................85
Referências Bibliográficas........................................................................................88
Obras Consultadas .......................................................................................................94
Apêndice A - Problemas enfrentados durante os experimentos....................96
Anexo I Algoritmo SELEST..................................................................................100
IX
Lista de figuras
Figura 2.1: Árvore decisória para validação de método indireto baseado em componente da
biomassa. ....................................................................................................................15
Figura 2.2: Exemplo do aumento do erro de estimação da biomassa.......................................20
Figura 2.3: Classificação dos biorreatores de CES em função das características de
agitação e aeração.......................................................................................................26
Figura 2.4: Descrição dos fenômenos de transferência de energia em biorreatores de leito
fixo tradicional e Zymotis. .........................................................................................27
Figura 2.5: Comparação entre modelos para biorreatores de bandejas. ...................................31
Figura 2.6: Esquema de biorreator de leito fluidizado. ............................................................33
Figura 2.7: Efeitos considerados em modelos de biorreatores de leito fluidizado. ..................34
Figura 2.8: Possíveis regimes de movimentação do leito em biorreatores de tambor
rotatório. .....................................................................................................................35
Figura 2.9: Efeitos considerados em modelo para biorreator de tambor rotatório. ..................35
Figura 2.10: Os vários perfis cinéticos empíricos utilizados em CES......................................40
Figura 3.1: Visões externa e interna do BCHA. .......................................................................46
Figura 3.2: Disposição inicial da fibra nos testes de mistura. ..................................................55
Figura 3.3: Descrição simplificada do algoritmo SELEST. .....................................................59
Figura 4.1: Curva de calibração obtida para análise de CO
2
em CG........................................60
Figura 4.2: Comparação entre as medidas de concentração de CO
2
(em %) obtidas pelo
cromatógrafo a gás e pelo analisador de gases...........................................................61
Figura 4.3: Aspecto do biorreator ao início e após 15 minutos no teste de mistura radial. ......62
Figura 4.4: Aspecto do biorreator ao início e após 45 minutos no teste de mistura axial. .......62
Figura 4.5: Temperatura de entrada e saída da água de encamisamento..................................64
Figura 4.6: Evolução da umidade no meio de cultivo ..............................................................65
Figura 4.7: Variação do pH ao longo dos cultivos. ..................................................................67
Figura 4.8: Evolução da biomassa ao longo dos cultivos.........................................................67
Figura 4.9: Evolução do pH e da concentração de biomassa ao longo dos cultivos. ...............68
Figura 4.10: Comparação entre concentração de biomassa e de ácido acético. .......................69
Figura 4.11: Comparação entre concentração de biomassa e de açúcares redutores................71
Figura 4.12: Ajuste dos dados de biomassa ao modelo logístico. ............................................72
Figura 4.13: Exemplo de cromatograma obtido na análise de CO
2
no ar de saída do
biorreator. ...................................................................................................................72
Figura 4.14: Taxa de produção de CO
2
. ...................................................................................73
Figura 4.15: Resultados da estimação de biomassa a partir da taxa de produção de CO
2
,
para três experimentos................................................................................................74
Figura 4.16: Predições do modelo desenvolvido em comparação com os dados
experimentais..............................................................................................................81
Figura 4.17: Predições do modelo com relação à produção de CO
2
. .......................................82
Figura 4.18: Estimação de biomassa através dos parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m do modelo
cinético. ......................................................................................................................83
Figura A.1: Curva de porcentagem de CO
2
no ar de saída do biorreator apresentando efeito
da variação da vazão de ar..........................................................................................97
Figura A.2: Aspecto de colônias colabadas de Bacillus circulans BL53. ................................99
X
Lista de tabelas
Tabela 2.1: Comparação entre CES e CSm................................................................................6
Tabela 2.2: Algumas aplicações de CES. ...................................................................................7
Tabela 3.1: Composição do Luria Broth...................................................................................47
Tabela 3.2: Composição do RIFS.............................................................................................48
Tabela 3.3: Composição do meio mineral................................................................................48
Tabela 3.4: Composição do meio PCA utilizado......................................................................50
Tabela 3.5: Modelos cinéticos de crescimento em CES ...........................................................57
Tabela 4.1: Parâmetros do modelo cinético presentes nos balanços de biomassa, açúcares
redutores e acetato. .....................................................................................................78
Tabela 4.2: Parâmetros estimados para o modelo cinético.......................................................79
Tabela 4.3: Efeito dos parâmetros sobre as saídas do modelo cinético....................................79
Tabela 4.4: Matriz de correlação para os parâmetros estimados do modelo cinético ..............80
Tabela 4.5: Parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m estimados para o modelo cinético. .............................81
XI
Lista de símbolos
Símbolo Unidade Significado
A................g
S
.h
-1
.............. Taxa para reação enzimática de hidrólise de polissacarídeos
A
ba
.............m
2
.................. Área de troca convectiva de calor entre leito e headspace do
biorreator
A
bp
.............m
2
.................. Área de troca convectiva de calor entre leito e parede do biorreator
Ac..............g
Ac
.g
-1
............ Concentração de acetato
A
pa
.............m
2
.................. Área de troca convectiva de calor entre parede e headspace do
biorreator
A
pe
.............m
2
.................. Área de troca convectiva de calor entre parede do biorreator e o
exterior
A
S
...............m
2
.................. Área superficial do leito
a
x
...............m
-1
................. Área da interface ar/biofilme por unidade de volume do biorreator
B
1
...............[adim]............ Constante da equação de Hougen-Watson
B
2
...............[adim]............ Constante da equação de Hougen-Watson
b ................°C .................. Parâmetro de sensibilidade da taxa de crescimento à mudança de
temperatura
Bi...............[adim]............ Número de Biot
c
1
...............K
-1
................. Constante empírica da equação de Ratkowsky
c
2
...............K
-1
................. Constante empírica da equação de Ratkowsky
2
CO
C ..........g
CO2
.g
-1
.......... Concentração de CO
2
2
CO
in
C ..........L
CO2
.L
ar
-1
....... Concentração de CO
2
no ar de entrada
2
CO
out
C ..........L
CO2
.L
ar
-1
....... Concentração de CO
2
no ar de saída
2
O
C ...........g
O2
.g
-1
............ Concentração de O
2
2
O
C ............g
O2
.g
gás
-1
........ Concentração de O
2
na fase gás
2
O
in
C ...........L
O2
.L
ar
-1
......... Concentração de O
2
no ar de entrada
2
O
out
C ...........L
O2
.L
ar
-1
......... Concentração de O
2
no ar de saída
f
O
C
2
............g
O2
.g
-1
............ Concentração de O
2
no biofilme
x
O
C
2
............g
O2
.g
gás
-1
........ Concentração de O
2
no headspace entre bandejas
b
O
C
2
............g
O2
.g
-1
............ Concentração de O
2
no leito
Cp
a
............J.g
-1
.K
-1
......... Calor específico do ar
XII
Cp
b
............J.g
-1
.K
-1
......... Calor específico médio do leito
Cp
G
............J.g
-1
.K
-1
......... Calor específico da fase gasosa
Cp
p
............J.g
-1
.K
-1
......... Calor específico parede do biorreator
Cp
s
.............J.g
-1
.K
-1
......... Calor específico das partículas sólidas
Cp
VAP
.........J.g
-1
.K
-1
......... Calor específico do vapor de água
Cp
w
............J.g
-1
.K
-1
......... Calor específico da água
C
VAP
...........g
W
.g
-1
............. Concentração de vapor de água nos poros do leito
CPR...........g
CO2
.g
-1
.h
-1
..... Taxa de produção de CO
2
C
W
.............g
W
.g
-1
............. Concentração de água no leito
b
O
D
2
...........m
2
.h
-1
............. Difusividade efetiva do O
2
nos poros do leito
*
VAP
D ..........m
2
.h
-1
............. Difusividade efetiva do vapor de água no leito
E
D
..............J.mol
-1
........... Energia de ativação para o decaimento (morte ou inativação)
celular
E
G
..............J.mol
-1
........... Energia de ativação para o crescimento celular
f .................K
-1
................. Coeficiente linear na aproximação à equação de Antoine.
F................g.h
-1
............... Vazão de ar
F
in
..............L.h
-1
............... Vazão de entrada de ar
F
out
.............L.h
-1
............... Vazão de saída de ar
F
w
..............g.h
-1
............... Vazão de água (entrando ou saindo)
G
D
...........J.mol
-1
........... Variação de energia livre para inativação celular
h ................J.h
-1
.m
-2
.K
-1
... Coeficiente de troca convectiva de calor
H ...............J..................... Entalpia
H
b
..............m ................... Altura do leito
h
ba
..............J.h
-1
.m
-2
.K
-1
... Coeficiente de troca convectiva de calor entre leito e headspace do
biorreator
h
bp
..............J.h
-1
.m
-2
.K
-1
... Coeficiente de troca convectiva de calor entre leito e parede do
biorreator
h
pa
..............J.h
-1
.m
-2
.K
-1
... Coeficiente de troca convectiva de calor entre parede e headspace
do biorreator
h
pe
..............J.h
-1
.m
-2
.K
-1
... Coeficiente de troca convectiva de calor entre parede do biorreator
e o exterior
2
O
H ...........[adim]............ Constante da Lei de Henry para o O
2
k.................h
-1
.................. Constante de decaimento exponencial de primeira ordem
K................UFC.g
-1
.h
-1
.... Taxa de crescimento linear
k
1
...............(g
Ac
.g
-1
)
-n
.h
-1
.. Taxa de reação de inativação celular devido ao acetato
k
2
...............(g
Ac
.g
-1
)
-p
.h
-1
.. Taxa de reação de hidrólise de polissacarídeos
XIII
K
a
..............m.h
-1
.............. Coeficiente de transferência mássica de O
2
na interface ar/biofilme
k
a
...............J.h
-1
.m
-1
.K
-1
... Condutividade térmica do ar
k
b
...............J.h
-1
.m
-1
.K
-1
... Condutividade térmica média do leito
k
D
...............h
-1
.................. Velocidade específica de decaimento (morte ou inativação) celular
k
exp
.............[adim]............ Parâmetro empírico
K
i
...............g
S
.g
-1
.............. Constante de inibição pelo substrato
k
s
................J.h
-1
.m
-1
.K
-1
... Condutividade térmica dos sólidos secos
K
S
..............g
S
.g
-1
.............. Constante de Monod para o substrato S
2
O
K ...........g
O2
.g
-1
............ Constante de Monod para o O
2
k
w
...............g.m
-2
.h
-1
......... Coeficiente de transferência de massa
L................[adim]............ Razão entre a taxa de crescimento específico no início da fase de
desaceleração e a taxa de crescimento específico na fase de
aceleração
m ...............g.UFC
-1
.h
-1
.... Taxa de produção/consumo para manutenção (não-associada ao
crescimento)
M
B
.............g .................... Massa do leito
M
G
.............g .................... Massa da fase gasosa
M
S
..............g .................... Massa seca do leito
2
CO
m ..........g.UFC
-1
.h
-1
.... Velocidade específica de produção de CO
2
para manutenção celular
(não-associada ao crescimento)
2
O
m ...........g.UFC
-1
.h
-1
.... Velocidade específica de consumo de O
2
para manutenção celular
(não-associada ao crescimento)
2
CO
M .........g.mol
-1
........... Massa molar do CO
2
2
O
M ..........g.mol
-1
........... Massa molar do O
2
n ................[adim]............ Ordem da reação de morte celular em relação ao acetato
p ................[adim]............ Ordem da reação de hidrólise de polissacarídeos em relação à
biomassa
R................J.mol
-1
.K
-1
..... Constante universal dos gases
r.................m ................... Coordenada radial
R
b
...............m ................... Raio do leito
r
x
................UFC.g
-1
.h
-1
.... Taxa de crescimento
r
Q
...............J.m
-3
.h
-1
......... Taxa de geração de energia metabólica
OH
r
2
...........g.h
-1
............... Taxa de geração metabólica de água
2
O
r .............g
O2
.g
-1
.h
-1
....... Taxa de consumo de O
2
S ................g
S
.g
-1
.............. Concentração de substrato
XIV
T................°C .................. Temperatura
t .................h .................... Tempo
t
a
................h .................... Instante de tempo de troca de fase de crescimento (da aceleração
rápida para a desaceleração lenta)
T
a
...............°C .................. Temperatura do ar
T
b
...............°C .................. Temperatura do leito
T
in
..............°C .................. Temperatura do ar na entrada
T
max
............°C .................. Temperatura máxima para crescimento
T
min
............°C .................. Temperatura mínima para crescimento
T
opt
.............°C .................. Temperatura ótima para crescimento
T
out
.............°C .................. Temperatura do ar na saída
T
p
...............°C .................. Temperatura da parede do biorreator
T
viz
.............°C .................. Temperatura da vizinhança
T
w
..............°C .................. Temperatura da água de resfriamento
V................L.................... Volume utilizado do biorreator
V
p
...............m
3
.................. Volume da parede do biorreator
V
z
...............m.h
-1
.............. Velocidade superficial do ar na direção vertical
2
CO
v ...........L.mol
-1
.......... Volume molar do CO
2
2
O
v .............L.mol
-1
.......... Volume molar do O
2
W...............g
W
.g
-1
............. Umidade do leito (em base seca)
X................UFC.g
-1
......... Concentração de biomassa
x.................m ................... Coordenada cartesiana horizontal
X
max
...........UFC.g
-1
......... Concentração máxima de biomassa na equação logística
y
a
...............g
W
.g
-1
............. Concentração de vapor no ar do headspace
y
EQ
.............g
W
.g
-1
............. Concentração de vapor em equilíbrio com o leito
y
in
...............g
W
.g
-1
............. Concentração de vapor no ar na entrada
y
out
.............g
W
.g
-1
............. Concentração de vapor no ar na saída
Y
Ac/X
...........g
Ac
.UFC
-1
...... Razão de produção de acetato por biomassa formada
2
/OX
Y .........UFC.g
O2
-1
...... Razão de formação de biomassa por O
2
consumido
2
/COX
Y ........UFC.g
CO2
-1
.... Razão de formação de biomassa por CO
2
produzido
Y
X/P
............UFC.g
P
-1
........ Razão de biomassa formada por produção/consumo de
produto/substrato
Y
Q/X
............J.UFC
-1
.......... Razão de geração de calor metabólico por biomassa formada
Y
S/X
............g
S
.UFC
-1
........ Razão de consumo de substrato por biomassa formada
z.................m ................... Coordenada vertical
XV
α................g
Ac
.UFC
-1
...... Parâmetro de proporcionalidade entre redução da concentração de
acetato e a velocidade de morte celular
................[adim]............ Emissividade das paredes do biorreator
ε.................[adim]............ Porosidade do leito
λ
w
..............J.g
-1
................ Calor latente de evaporação da água
µ................h
-1
.................. Velocidade específica de crescimento
µ
max
...........h
-1
.................. Velocidade específica máxima de crescimento
µ
opt
.............h
-1
.................. Velocidade específica de crescimento microbiano sob condições
ótimas
0
T
µ ............h
-1
.................. Velocidade específica de crescimento na temperatura de referência
ρ
a
...............g.m
-3
.............. Massa específica do ar
ρ
b
...............g.m
-3
.............. Massa específica média do leito
ρ
p
...............g.m
-3
.............. Massa específica da parede do biorreator
ρ
s
...............g.m
-3
.............. Massa específica dos sólidos secos
σ................J.h
-1
.m
-2
K
-4
.... Constante de Stefan-Boltzmann
Capítulo 1
Introdução
Nas últimas décadas, o crescimento populacional, com o conseqüente aumento do
consumo dos limitados recursos naturais do planeta, tem obrigado o homem a buscar
alternativas aos processos produtivos tradicionais. Estas alternativas devem-se caracterizar
pela substituição de fontes não-renováveis por renováveis, pela minimização do uso de
energia e da geração de resíduos, e pela eficiência produtiva.
Nesse contexto, os bioprocessos têm-se apresentado como uma alternativa aos
tradicionais processos químicos estudados na Engenharia Química, com a vantagem de serem
mais ecologicamente corretos e utilizarem recursos naturais renováveis.
Entretanto, a viabilidade econômica dos bioprocessos depende, a exemplo dos
processos químicos, de um entendimento da relação entre a cinética de reação e os fenômenos
de transporte associados à conversão de reagentes em produtos, tanto em micro como em
macro escala. Assim, é importante perceber o papel que engenheiros químicos, juntamente
com biólogos, devem desempenhar no desenvolvimento desses processos.
INTRODUÇÃO 2
Esta aplicação de princípios de engenharia química aos processos biológicos é
importante especialmente no caso de produtos de baixo valor agregado e grande volume de
produção, nos quais o sucesso depende de pequenos ganhos que se pode obter no processo.
Os cultivos em estado sólido (CES) se caracterizam por utilizarem substratos
insolúveis, em geral resíduos agro-industriais, e reduzida quantidade de água. Assemelham-
se, assim, aos processos fermentativos que ocorrem na natureza. Apresentam algumas
vantagens em relação aos cultivos submersos (CSm), que utilizam grande quantidade de água
e substratos mais refinados.
Por outro lado, ainda é necessário ampliar muito o desenvolvimento tecnológico dos
CES, especialmente quanto à engenharia do processo. Exatamente os aspectos de cinética de
reação e fenômenos de transporte, tão importantes para a viabilidade da produção, estão muito
pouco caracterizados para as condições de CES.
O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, e a agro-indústria
brasileira teve forte expansão nos últimos anos, destacando-se como grande exportadora e
geradora de renda longe dos tradicionais centros metropolitanos, levando assim dinamismo
econômico para as regiões do interior do território, outrora economicamente dormentes. Logo,
nosso país também é um importante gerador de resíduos agro-industriais, que, em geral, ainda
estão subaproveitados, por vezes configurando inclusive problemas ambientais.
Além disso, o Brasil é líder mundial na produção de produtos biotecnológicos de
grande volume, devido ao álcool combustível. Há décadas o País tem-se destacado na busca
de fontes alternativas de energia, produzidas a partir de fontes renováveis, sendo o álcool o
principal exemplo, seguido pelos recentes investimentos na produção de biodiesel.
Analisando esses argumentos, fica claro o grande potencial apresentado por nosso
país no ramo da biotecnologia industrial, em especial para os cultivos em estado sólido. Estes
processos ainda estão muito pouco desenvolvidos, mas surgem como uma alternativa muito
INTRODUÇÃO 3
promissora. Desta forma, o esforço de trabalhos como este se justifica pela necessidade de
maior entendimento dos aspectos de engenharia envolvidos nestes cultivos.
Este trabalho teve por objetivo estudar um processo de cultivo em estado sólido que
utiliza um resíduo agroindustrial como substrato para o desenvolvimento de uma bactéria do
gênero Bacillus, isolada de ambiente amazônico, produtora de enzimas de interesse comercial.
Especificamente, objetivou-se:
estudar a transferência de massa e a dinâmica de mistura em um biorreator cilíndrico
horizontal agitado (BCHA), utilizando um substrato sólido pastoso, diferente daqueles já
estudados na literatura, que são particulados.
desenvolver metodologia para estimação da biomassa no processo a partir da sua taxa de
produção de CO
2
.
monitorar o comportamento de diferentes parâmetros mensuráveis durante o cultivo,
buscando o entendimento dos fenômenos físicos e químicos envolvidos no processo.
iniciar o desenvolvimento de modelos matemáticos para descrever o processo, baseando-se
nas variáveis monitoradas nos experimentos.
Esta dissertação foi dividida em 5 capítulos, um apêndice e um anexo, sendo que esta
Introdução corresponde ao primeiro capítulo. O Capítulo 2 compõe-se de uma revisão
bibliográfica sobre cultivos em estado sólido, quantificação de biomassa e modelagem
matemática destes processos. O terceiro capítulo trata da metodologia adotada nos
experimentos em laboratório e durante a fase de modelagem do sistema, enquanto o quarto
traz os resultados obtidos e a discussão de seu significado. No Capítulo 5, são apresentadas as
conclusões do trabalho e perspectivas para trabalhos futuros. Finalmente, no Apêndice A
estão listados alguns problemas enfrentados na realização do trabalho, que prejudicaram os
resultados finais; e no Anexo I há uma informação adicional sobre a metodologia do trabalho.
Capítulo 2
Fundamentos e Revisão Bibliográfica
2.1 Cultivo em Estado Sólido
Mitchell e Lonsane (1992) já apontavam a dificuldade de se definir precisamente o
conceito de “cultivo em estado sólido”. Pandey (2003) definiu cultivo em estado sólido (CES)
como o cultivo de microrganismos em substratos sólidos insolúveis na ausência (ou quase
ausência) de água livre. Esta definição, ainda que um tanto vaga e incapaz de delimitar
fronteiras claras entre cultivos sólidos e submersos (CSm), estabelece a diferença básica entre
estes dois conceitos: a quantidade de água (Mitchell et al., 2000).
Exemplos clássicos de CES são as fermentações do pão e de alguns queijos. Já o
conceito de CSm está representado nas fermentações alcoólicas para produção de bebidas ou
álcool combustível.
Nos CES, uma matriz sólida adsorve a quantidade (limitada) de água que é fornecida
para o processo, diferentemente dos CSm, em que os substratos e microrganismos se
encontram dissolvidos ou suspensos em grande quantidade de água. Entretanto, também em
CES, o substrato deve conter umidade suficiente para sustentar o crescimento e o
2.1 CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 5
metabolismo microbiano (Pandey, 2003), mas a água encontra-se fundamentalmente
adsorvida em uma matriz sólida.
O CES imita o crescimento de microrganismos na natureza em sólidos úmidos e é
considerado responsável pelo início das técnicas fermentativas na Antigüidade (Mitchell e
Lonsane, 1992).
Gervais e Molin (2003) lembram que, mesmo em CES, os microrganismos estão em
meio líquido, já que as transferências de massa ocorrem em um filme líquido que circunda os
microrganismos. Assim, em geral, três fases estão presentes nos CES (sólido, líquido e gás),
em oposição aos sistemas bifásicos (gás + líquido) do CSm. Os autores apontam ainda que
uma das principais diferenças entre CES e CSm é a possibilidade de agitação. Os cultivos
líquidos costumam ser tratados como reações em meio homogêneo, perfeitamente misturado,
enquanto a alta viscosidade do meio no CES reduz a possibilidade de agitação, já que as
tensões de cisalhamento originadas poderiam danificar o microrganismo.
Múltiplos termos já foram utilizados na literatura em referência a cultivos em estado
sólido, p.ex.: fermentação em meio sólido, fermentação em fase sólida, processo em estado
sólido, fermentação de sólidos úmidos, fermentação semi-sólida, cultivo semi-sólido, cultura
de superfície, fermentação “koji”, entre outros (Mitchell e Lonsane, 1992).
Pandey (1994) aponta que, embora os registros da utilização de CES venham desde a
Antigüidade, na fabricação de pães, queijos e koji (alimento fermentado típico do Extremo
Oriente), os processos em meio sólido foram completamente negligenciados no Ocidente a
partir da década de 1940, em benefício dos processos submersos. O autor afirma ainda que
não houve uma razão clara para esta opção, mas talvez tenha sido decorrência do sucesso da
produção da penicilina em CSm. Conforme Mitchell e Lonsane (1992), não foi realizada
nenhuma comparação entre os aspectos econômicos das duas técnicas ao se optar pelo
desenvolvimento em CSm. Pandey (1994) complementa que, nas décadas seguintes, poucos
2.1 CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 6
trabalhos foram realizados em CES, até que na década de 1980 ressurgiu o interesse por estes
processos.
A Tabela 2.1 apresenta algumas diferenças importantes entre cultivos submersos e
cultivos em estado sólido.
Tabela 2.1: Comparação entre CES e CSm
Cultivo em estado sólido Cultivo submerso
Meio de cultivo não é fluido Meio de cultivo é fluido
Profundidade do leito costuma ser limitante Profundidade sempre é maior
Substrato sólido adsorve água, e nutrientes
consumidos provêm destes sólidos úmidos
Nutrientes estão dissolvidos na água
A formação de gradientes de concentração e
temperatura é comum nos processos
Agitação garante uniformidade do meio.
Quantidade de água é restrita, apenas
suficiente para manter os níveis de
crescimento.
A água é abundante, sem uma
padronização.
Sistema envolve três fases: sólido, líquido e
gás.
Sistema envolve apenas fases líquida e
gasosa.
Fase líquida é descontínua Fase líquida é contínua
Inóculo grande
Inóculos menores, a não ser que o processo
demande.
Bactérias e leveduras crescem aderindo-se
às partículas de substrato
Células ficam uniformemente distribuídas
no líquido em culturas agitadas.
Exemplos: pão, queijos Exemplos: bebidas alcoólicas
Fonte: Adaptado de Mitchell e Lonsane, 1992.
Vários processos de cultivo em estado sólido têm sido pesquisados e desenvolvidos.
As aplicações são bastante diversificadas, indo das de baixa tecnologia, como o aumento de
valor nutricional e produção de biomassa, e chegando até algumas de alta tecnologia como
produção de enzimas, compostos orgânicos e antibióticos. Os tipos de resíduos agroindustriais
utilizados também são extremamente diversificados. A Tabela 2.2 apresenta algumas
aplicações desenvolvidas de CES.
2.1 CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 7
Tabela 2.2: Algumas aplicações de CES.
Aplicação/Produto Substrato Microrganismo Referência
Enriquecimento
protéico
Palha de trigo
Trichoderma reesei
e Endomycopsis
fibuliger
Laukevics et al.
(1984)
Amiloglucosidase
Farelo de trigo e farinha
de milho
Aspergillus niger Ghildyal et al. (1985)
Celulase Farelo de trigo
Trichoderma reesei
e Sporotrichum
cellulophilum
Kim et al. (1985)
Delignificação
Madeira de vidoeiro
(bétula)
Phanerochaete
chrysosporium
Mudgett e Paradis
(1985)
α-amilase Farelo de trigo
Bacillus
licheniformis
Lonsane e Ramesh
(1990)
Delignificação Palha de trigo
Trametes versicolor
e Pleurotus ostreatus
Valmaseda et al.
(1991)
Etanol
Meio líquido adsorvido
em bagaço de cana
Schwanniomyces
castellii
Saucedo-Castañeda et
al. (1992a)
Protease Farelo de trigo Aspergillus niger
Padmanabhan et al.
(1993)
β-galactosidade
Soro de leite
desproteinado adsorvido
em grits de milho ou
farelo de trigo
Kluyveromyces lactis
Becerra e González
Siso (1996)
Inulinase
Farelos de arroz e trigo,
bagaço de côco e farinha
de milho
Staphylococcus sp. e
Kluyveromyces
marxianus
Selvakumar e Pandey
(1999)
Ácido giberélico
Meio líquido adsorvido
em amberlite
Gibberela fujikuroi Gelmi et al. (2002)
Ácido cítrico Bagaço de mandioca Aspergillus niger Prado et al. (2004)
Xilanase Fibra de soja Bacillus coagulans Heck et al. (2005)
Robinson et al. (2001) afirmam que o CES tem potencial para, no futuro, substituir
com vantagens o CSm na produção de metabólitos secundários.
Vários trabalhos apontam vantagens na utilização de CES em comparação a CSm
(Mitchell e Lonsane, 1992; Lonsane, 1994; Raimbault, 1998), como:
2.1 CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 8
utilização de substratos mais baratos (que não precisam ser solúveis), em geral, resíduos
agro-industriais;
como a atividade de água (Aw) é mais baixa que em CSm, há menor risco de
contaminação, reduzindo a necessidade de condições assépticas (por vezes o substrato sequer
é esterilizado), e também a necessidade de mão-de-obra especializada;
menor gasto energético;
menor uso de água, que leva a uma menor geração de efluentes líquidos, além de menor
volume de equipamento e, conseqüentemente, menor capital inicial;
maior transferência de oxigênio, favorecendo processos aeróbios;
maior concentração final de produtos, reduzindo custos do processamento downstream;
alguns parâmetros não precisam ser controlados com o mesmo rigor que em CSm;
Ramesh e Lonsane (1991) relatam que a produção de α-amilase por Bacillus
licheniformis M27 em CES minimizou o efeito de inibição por substrato que era observado
em CSm.
Apesar de a redução de custos ser muito citada por aqueles que defendem os CES,
falta na literatura um número maior de comparações de ordem econômica entre CES e CSm
(Mitchell e Lonsane, 1992; Raimbault, 1998), ficando como exemplo o trabalho de Ghildyal
et al. (1985), sobre a produção de amiloglucosidase por Aspergillus niger. Estes autores
concluíram que, para este caso, o processo em CES era economicamente vantajoso.
Entretanto, Mitchell e Lonsane (1992) e Pandey (2003) também apontam algumas
desvantagens nos CES em comparação aos CSm:
o cultivo em estado sólido é restrito a microrganismos que se adaptem às condições de
baixa disponibilidade de água;
2.1 CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 9
a transferência de massa e energia é menos efetiva no meio sólido, o que pode gerar
gradientes consideráveis de concentração e temperatura, que podem vir a limitar o
crescimento;
os tempos de cultivo costumam ser mais longos;
extratos obtidos pela lixiviação (leaching) dos produtos do cultivo costumam ser bastante
viscosos, o que pode dificultar algumas etapas downstream;
muitos importantes aspectos científicos e de engenharia ainda estão pouco caracterizados
em CES, sendo a maior parte do trabalho ainda qualitativa ou empírica, devido às dificuldades
encontradas na quantificação de parâmetros importantes do cultivo, como biomassa;
vários tipos de sensores (pH, concentração) utilizados em CSm são inadequados para
CES;
ainda não há informação suficiente sobre a cinética de reações em CES e a modelagem
dos processos ainda precisa ser muito estudada;
Raimbault (1998) afirma que, devido à dificuldade em medir e controlar os
parâmetros ambientais, como é feito em CSm, os microrganismos que têm sido selecionados
para CES são mais tolerantes em relação às condições de cultivo.
2.1.1 Uso de bactérias em CES
Os trabalhos desenvolvidos em CES estão ligados principalmente à utilização de
fungos filamentosos. Este fato deve-se principalmente à idéia de que as técnicas de CES não
seriam aplicáveis ao cultivo de bactérias, devido ao maior requerimento de água por parte
destas. Além disso, fungos são capazes de formar hifas que penetram nos poros dos substratos
sólidos, enquanto bactérias, em geral, não têm esta habilidade (Lonsane e Ramesh, 1990).
Mitchell (1992a) afirma que os processos de CES envolvendo bactérias e leveduras
são poucos em número, mas são de grande importância na natureza e na indústria de
alimentos. Exemplos são a compostagem (bactérias termofílicas), a ensilagem (Lactobacilli),
2.1 CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 10
a produção de alimentos orientais como o natto (Bacillus subtilis), a microflora secundária de
queijos (Lactobacillus e Propionibacterium) e a produção de pão (levedura Saccharomyces).
O desenvolvimento de processos não-tradicionais com bactérias ainda é escasso,
destacando-se processos para produção de α-amilase com bactérias do gênero Bacillus
(Ramesh e Lonsane, 1991) e a produção de inulinase por Staphylococcus sp (Pandey et al.,
2000).
2.1.2 O pH em CES
O pH do meio de cultura pode variar em resposta ao metabolismo microbiano. O
caso mais óbvio é a excreção de ácidos orgânicos, como acético ou lático, que farão o pH cair.
Por outro lado, o consumo destes mesmos ácidos presentes no meio pode causar o aumento do
pH (Prior et al., 1992).
A utilização da fonte de nitrogênio também pode causar alteração no pH. Com sais
de amônio (
+
4
NH ), o pH tende a cair durante o cultivo, já que o metabolismo deste cátion
libera um íon hidrogênio. Por outro lado, quando a fonte de nitrogênio é nitrato (
3
NO ), íons
hidrogênio do meio são consumidos para reduzir o nitrato a
+
3
NHR . O pH também aumenta
quando aminas orgânicas são deaminadas (Prior et al., 1992).
Normalmente, o pH em CES é determinado pela medida tomada em suspensões ou
extratos aquosos da amostra sólida (Raghavarao et al., 2003).
Conforme Prior et al. (1992), em alguns trabalhos, utiliza-se pH baixo como meio de
impedir o desenvolvimento de contaminantes, especialmente em processos onde o substrato
não é esterilizado.
Os mesmos autores afirmam ainda que o controle de pH pela adição de soluções
concentradas de ácido ou base, como comumente se faz em CSm, é impraticável em CES.
Porém é possível obter certo grau de controle de pH em CES utilizando diferentes proporções
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 11
de sais de amônio e uréia no substrato (Raimbault, 1998). O nitrato de amônio (NH
4
NO
3
),
isoladamente, também tem sido utilizado para este fim. Os mesmos autores afirmam ainda
que os maiores problemas em termos de controle de pH podem-se dar em biorreatores
estáticos, onde é difícil evitar mudanças locais de pH.
Muitos trabalhos, entretanto, não apresentam nenhum tipo de preocupação com o
controle do pH. Considera-se que o próprio substrato sólido possui propriedades tamponantes,
o que eliminaria a necessidade do controle (Lonsane e Ramesh, 1990).
Prado et al. (2004), estudando a produção de ácido cítrico em CES, adicionaram
uréia ao meio para controle do pH nas primeiras 24h, quando se formava a maior parte da
biomassa. Após este período, o pH do meio começava a cair.
Considerando estes aspectos, pode-se afirmar que a dificuldade em controlar o pH
em CES configura outra desvantagem em relação aos CSm, já que a falta deste controle pode
impedir a obtenção de alguns produtos específicos, de alto valor agregado.
2.2 Quantificação de Biomassa em Cultivo em Estado
Sólido
A biomassa é um parâmetro fundamental na caracterização do crescimento
microbiano, logo, sua medida é essencial para estudos cinéticos de cultivos em estado sólido.
Entretanto, a medida direta da biomassa em CES é bastante difícil, devido à dificuldade de
separar o microrganismo do substrato, especialmente no caso de fungos filamentosos
(Mitchell, 1992b), e pela natureza insolúvel do meio de cultivo, que impede o uso de técnicas
tradicionais dos CSm, como peso-seco e turbidimetria (Madrid e Felice, 2005). A cinética e a
modelagem matemática do crescimento fúngico em CES têm recebido pouca atenção devido à
dificuldade em estimar a biomassa (Lekha e Lonsane, 1994).
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 12
Mitchell (1992b) aponta ainda a questão de como expressar a quantidade de
biomassa em CES: em termos absolutos (gramas de peso seco) ou como concentração (grama
de peso seco por grama de meio de cultivo). Esses valores irão diferir porque normalmente a
massa do meio diminui significativamente ao longo do cultivo devido à conversão do
substrato em dióxido de carbono. Além disso, há a questão de se usar base seca ou úmida para
a concentração de biomassa no meio. De qualquer forma, é importante que o método de
expressar estes valores seja cuidadosamente descrito, para que comparações possam ser feitas.
Segundo o mesmo autor, métodos ideais para estimar biomassa em CES devem
apresentar as seguintes características:
obtenção de resultados com rapidez, de forma a permitir tomada de decisões durante o
processo.
ser barato, tanto em termos de aparelhagem como de reagentes.
ser simples em sua execução, já que operadores deverão precisar apenas de treinamento
básico.
ser reprodutível, preciso e não-suscetível à interferência por componentes do substrato.
Há uma grande variedade de metodologias que são utilizadas para quantificar
biomassa, a grande maioria se destina aos cultivos envolvendo fungos filamentosos. Percebe-
se que cada trabalho pode exigir uma metodologia diferente, de acordo com o sistema
trabalhado (substrato, microrganismo).
As metodologias utilizadas se encaixam basicamente nestas categorias (Lekha e
Lonsane, 1994; Mitchell, 1992b; Raimbault, 1998):
Métodos diretos:
Separação direta da biomassa da matriz sólida;
Métodos indiretos:
Medida de algum componente da biomassa; e
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 13
Medidas de atividade metabólica.
2.2.1 Métodos diretos
Em geral, envolvem a separação da biomassa do substrato e, por isso, dificilmente
podem ser utilizados para fungos filamentosos. No caso de culturas com bactérias e leveduras,
a quantificação de biomassa pode ser mais fácil, já que a separação de microrganismo e
substrato é mais simples (Lekha e Lonsane, 1994). Entretanto, os métodos diretos são todos
destrutivos e não-aplicáveis on-line.
Saucedo-Castañeda et al. (1992a) produziram etanol com a levedura
Schwanniomyces castellii em meio líquido absorvido num suporte inerte de bagaço de cana
moído com granulometria de 0,3-0,8 mm. Para a quantificação de biomassa, o meio era
sonicado com água esterilizada e filtrado em peneira de 50 µm, sendo o filtrado utilizado para
contagem de células em hemocitômetro e para determinar peso seco. A granulometria
controlada do suporte inerte permitia o uso desta técnica.
Sugama e Okazaki (1979) utilizaram técnica semelhante. Para quantificação de
biomassa, o seu substrato, farinha de arroz, foi digerido com um preparado enzimático e então
filtrado. Entretanto, resíduos não-digeríveis do substrato interferiam na estimação, e este
método não é apropriado para substratos com teores consideráveis de insolúveis.
Sato et al. (1983) homogeneizaram amostras de Candida lipolytica cultivadas em
arroz. A suspensão foi filtrada para remover os sólidos e as células de levedura foram
quantificadas por contagem em placas ou hemocitômetro.
Alguns estudos levaram ao desenvolvimento de meios de cultivo modelo, nos quais é
possível recuperar totalmente a biomassa, mas cuja aplicabilidade se limita à pesquisa
laboratorial, como na calibração de métodos indiretos. Mitchell et al. (1989) utilizaram
cultivos em membranas, as quais retiam a biomassa, enquanto permitiam a passagem de
nutrientes do substrato. Weber et al. (1999) desenvolveram um meio sólido à base de κ-
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 14
carragena, o qual pode ser solubilizado com água desmineralizada, permitindo a recuperação
total da biomassa.
Estudos em escala laboratorial, utilizando placas de Petri, permitem estimar a
biomassa fúngica pela extensão linear do micélio. Smits et al. (1996) utilizaram esta medida
para validar métodos indiretos de estimação da biomassa em CES.
Para bactérias e leveduras, apesar do reduzido número de trabalhos que utilizam estes
microrganismos em CES, diversos autores concordam que os métodos de contagem em placas
são apropriados para quantificar biomassa (Mitchell, 1992b; Lekha e Lonsane, 1994;
Raimbault, 1998). Madrid e Felice (2005) classificam a contagem em placas, juntamente com
peso-seco, como métodos de referência para desenvolvimento de técnicas de estimação de
biomassa. Pirt (1975) afirma que a contagem em placas é o método mais sensível para
quantificar biomassa, e que deve-se utilizar meio rico nas placas ao invés de meio mínimo.
Cita como desvantagem do método, entretanto, erros inevitáveis de amostragem.
Mitchell (1992b) frisa que as técnicas de contagem em placas também já foram
testadas para fungos filamentosos, porém, os resultados são questionáveis, uma vez que não
há uma relação direta entre a quantidade de biomassa e o número de fragmentos de micélio
formados durante a homogeneização. Além disso, este processo levaria à morte de muitos
fragmentos de micélio. Por fim, esporos fúngicos contariam como células vivas, apesar de
estarem inativas no momento da amostragem.
2.2.2 Métodos indiretos - Medida de componentes da biomassa
No caso do cultivo de fungos, que representa a grande maioria dos trabalhos em
CES, a biomassa não pode ser estimada de forma confiável pelos métodos diretos, e por isso
foram desenvolvidas metodologias que quantificam um determinado componente do
microrganismo e relacionam à quantidade total de biomassa. Tomaselli Scotti et al. (2001)
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 15
apontam que as metodologias que se baseiam na medida de um componente da biomassa
devem satisfazer algumas condições, conforme mostrado na Figura 2.1.
Figura 2.1: Árvore decisória para validação de método indireto baseado em componente da biomassa.
Fonte: Adaptado de Tomaselli Scotti et al. (2001).
2.2.2.1 Nitrogênio e Proteína
São os componentes da biomassa de medição mais imediata. Diferentes métodos já
foram testados: Kjeldahl, Lowry e Biureto. Não é considerado um método muito apropriado,
já que a proteína presente no substrato interfere na medida, e diferentes trabalhos mostram
que o conteúdo protéico da biomassa não é constante (Mitchell, 1992b). Só é recomendado
para substratos com baixo teor de proteína. Como exemplo, há o trabalho de Carrizales et al.
(1981), que utilizaram farinha de mandioca, de baixo conteúdo protéico, suplementada com
sulfato de amônio como única fonte de nitrogênio, o que permitia separar nitrogênio orgânico
de inorgânico durante a análise.
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 16
2.2.2.2 Ácidos nucléicos
Bajracharya e Mudgett (1980) utilizaram a medida de DNA para estimar biomassa de
Aspergillus oryzae em arroz. O conteúdo inicial de DNA do substrato foi descontado das
medidas, já que pôde ser provado que o fungo não produzia DNA-ases extracelulares. Porém,
em cultivos submersos, percebeu-se que o conteúdo de DNA da biomassa do fungo caía na
fase estacionária. Assim, para o CES, os autores utilizaram a quantidade média para converter
a medida de DNA em biomassa.
Métodos baseados na determinação de DNA ou RNA, além de serem caros, só são
viáveis se o substrato não contiver quantidades significativas destes componentes, nem
interferentes (Lekha e Lonsane, 1994). Exemplos de substrato seriam alguns materiais
celulósicos. Ainda assim, não há trabalhos recentes utilizando esta técnica.
Conforme Priest (1977) bactérias do gênero Bacillus são produtoras de várias
enzimas hidrolíticas extracelulares, incluindo nucleases, enquanto o RIFS, por ser um resíduo
de componentes vegetais, certamente possui ácidos nucléicos. Estes fatos já impedem a
utilização dessa técnica neste trabalho.
2.2.2.3 Glicosamina
A N-acetilglicosamina (NAG) é o monômero da quitina (poli-N-acetilglicosamina),
componente da parede celular de fungos. A medida envolve a hidrólise química da quitina e
quantificação da glicosamina liberada (Lekha e Lonsane, 1994).
Pode ocorrer interferência na medida no caso do cultivo em resíduos agrícolas
complexos, que podem conter glicosamina em glicoproteínas. Nestes substratos, entretanto, a
quantidade de glicosamina presente deve permanecer constante (Mitchell, 1992b).
A precisão do método depende de se estabelecer um fator de conversão confiável
entre o conteúdo de glicosamina e o peso seco da biomassa. A principal desvantagem do
método é exatamente que este fator de conversão varia de acordo com o meio e as condições
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 17
de cultivo, e fatores obtidos de cultivos submersos podem não ser apropriados para o cultivo
em meio sólido. Além disso, o procedimento analítico é longo e tedioso, podendo levar até 24
horas (Lekha e Lonsane, 1994).
Ooijkaas et al. (1998) verificaram aumento no conteúdo de glicosamina em
Coniothyrium minitans, cultivado em placas de Petri, ao longo do tempo de cultivo.
Ainda assim, é o método mais comumente utilizado para estimar biomassa fúngica
em CES.
Recentemente, alguns trabalhos de modelagem em CES têm utilizado o conteúdo de
glicosamina diretamente como parâmetro de biomassa, sem fazer uso de fatores de conversão
(Smits et al., 1996; Smits et al., 1998).
Na literatura não é citado nenhum componente celular de bactérias que possa ser
utilizado como parâmetro de biomassa em CES com a mesma eficiência que a glicosamina de
fungos.
2.2.2.4 Ergosterol
Ergosterol é o esterol predominante na membrana celular de fungos. Compostos da
membrana celular são interessantes para realizar estimação de biomassa, já que costumam ser
rapidamente degradados após a morte celular e porque se assume que a área da membrana é
bem correlacionada ao volume celular. Além disso, o conteúdo de esteróis parece manter-se
aproximadamente constante na biomassa fúngica. Assim, o ergosterol é bastante utilizado
para determinar biomassa fúngica no solo, em grãos de cereais e em material em
decomposição (Olsson et al., 2003), bem como em CES (Lekha e Lonsane, 1994).
Matcham et al. (1985) compararam diferentes técnicas de estimação de biomassa
para Agaricus bisporus e afirmaram que a análise de ergosterol é mais simples e rápida do que
a de glicosamina, já que aquele pode ser separado por cromatografia líquida (HPLC) e
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 18
quantificado facilmente por espectrofotometria em UV. Além disso, afirmam ainda que o
método do ergosterol foi mais sensitivo para níveis baixos de crescimento do micélio.
Entretanto, outros trabalhos indicam que o conteúdo específico de ergosterol pode
variar muito com idade da cultura, composição do meio e condições de cultivo, tornando a
técnica inadequada (Mitchell, 1992b).
2.2.3 Métodos indiretos Medidas de atividade metabólica
2.2.3.1 Respirometria
A respiração é o processo metabólico pelo qual os microrganismos aeróbios obtêm a
maior parte de sua energia para o crescimento, consumindo O
2
e produzindo CO
2
. Estas
atividades são, portanto, associadas ao crescimento e podem ser utilizadas para a estimação da
biomassa (Mitchell, 1992b; Raimbault, 1998).
A determinação do consumo de O
2
(OUR oxygen uptake rate) e da produção de
CO
2
(CPR carbon dioxide production rate) envolve a medida da concentração destes gases
no ar de entrada e de saída do biorreator. Conhecendo-se a vazão de ar que entra e que sai,
além da quantidade de meio de cultivo contida no biorreator, obtém-se os valores de OUR e
CPR.
Tem a grande vantagem de ser uma técnica on-line e não-destrutiva (Raimbault,
1998), mas para ser utilizada na estimação de biomassa, precisa ser calibrada por algum outro
método de referência.
Conforme Mitchell (1992b), as medidas do consumo de O
2
ou da produção de CO
2
são mais poderosas quando acopladas a um modelo matemático para correlação. O termo
modelo de correlação indica um modelo que relacione a quantidade de biomassa a um
parâmetro mensurável. Modelos de correlação não são, assim, modelos de crescimento, já que
não fazem predição sobre o comportamento do parâmetro medido. A utilidade destes modelos
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 19
reside no fato de que, acompanhando-se o perfil do parâmetro medido, pode-se construir um
perfil de biomassa.
Já que CO
2
e O
2
são produto gerado e substrato consumido pelo metabolismo celular,
a correlação entre CPR ou OUR e biomassa costuma ser descrita por variantes do modelo de
Luedeking-Piret (Luedeking e Piret, 1959), considerando um termo associado ao crescimento
e outro termo de manutenção, não associado ao crescimento (Sugama e Okazaki, 1979; Sato
et al., 1983; Mitchell, 1992b), conforme as Equações 2.1 e 2.2:
Xm
dt
dX
Y
CPR
CO
COX
+=
2
2
/
1
(2.1)
Xm
dt
dX
Y
OUR
O
OX
+=
2
2
/
1
(2.2)
Raimbault (1998) afirma que a razão entre produção de CO
2
e consumo de O
2
,
chamado de quociente respiratório (RQ), pode mudar com a fase de crescimento. E, segundo
Sato et al. (1983), se o RQ não é constante, então os parâmetros do modelo de correlação
entre OUR ou CPR e biomassa também não seriam constantes, o que representa uma
limitação da técnica.
Trabalhando em CSm, Petkov e Davis (1996) desenvolveram uma taxa de consumo
de oxigênio modificada (OUR
X
), que levava em conta dois diferentes estados da biomassa de
Corynebacterium glutamicum: crescimento puro (RQ = 1,05) e fase de produção de L-lisina
(RQ = 2,0). A Equação 2.2 foi reescrita utilizando esta taxa modificada (Equação 2.3).
OUR
RQ
OUR
X
=
05,10,2
0,2
(2.3)
Xm
dt
dX
Y
OUR
O
OX
X
+=
2
2
/
1
(2.4)
Conforme Lekha e Lonsane (1994), o CPR sozinho falha em reconhecer o início da
fase estacionária no desenvolvimento de fungos, sendo a precisão da técnica maior nos
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 20
estágios iniciais do crescimento. De fato, o erro na estimativa tende a aumentar ao longo do
processo (Figura 2.2) pela natureza cumulativa deste erro; visto que, utilizando os modelos
apresentados, a estimativa da biomassa em qualquer instante de tempo dependerá sempre das
estimativas feitas nos instantes de tempo anteriores.
Figura 2.2: Exemplo do aumento do erro de estimação da biomassa.
A região hachurada representa o intervalo de confiança da estimação, que aumenta ao longo do tempo.
Fonte: Adaptado de Biagiola et al. (2001).
De qualquer forma, o monitoramento do consumo de O
2
e da produção de CO
2
produz uma ótima medida da atividade metabólica do microrganismo, sendo muito
interessante como ferramenta inclusive no controle do processo. Saucedo-Castañeda et al.
(1992b) desenvolveram sistema de controle para um biorreator de leito fixo, tendo como
parâmetro de controle a taxa de aeração do leito, de forma a manter a concentração de CO
2
no
ar de saída constante em níveis baixos e assim conseguir rendimentos ótimos na produção de
biomassa em todas as alturas do leito.
A concentração de oxigênio pode ser medida através de medidores específicos,
paramagnéticos ou polarográficos. Em experimentos de escala laboratorial, Ramstack et al.
(1979) e Ooijkaas et al. (1998) utilizaram cromatógrafo a gás conectado on-line ao processo,
equipado com coluna tipo peneira molecular 5Å e detector de condutividade térmica (TCD).
É possível também utilizar o método manométrico, como Kim et al. (1985), onde a amostra é
colocada em uma câmara que contém ainda uma solução alcalina. O metabolismo microbiano
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 21
irá consumir O
2
e liberar CO
2
. Este último será absorvido pela solução alcalina, gerando uma
queda de pressão na câmara, que pode ser relacionada então à OUR.
O método mais indicado para medir a concentração de CO
2
é um medidor por
infravermelho, por sua resposta rápida (Saucedo-Castañeda et al., 1992b). A análise por
cromatografia a gás também é viável em escala laboratorial (Ramstack et al., 1979; Saucedo-
Castañeda et al., 1992a; Ooijkaas et al., 1998). Sugama e Okazaki (1979) e Carrizales et al.
(1981) borbulharam o ar de saída do biorreator em soluções alcalinas, as quais absorviam o
CO
2
e eram posteriormente tituladas para se obter a quantidade de gás carbônico liberada pelo
sistema.
É interessante notar que a maioria dos trabalhos na literatura utiliza a medição de
apenas um dos dois gases (oxigênio e gás carbônico) na estimação de biomassa.
2.2.3.2 Massa seca do leito
Terebiznik e Pilosof (1999) relacionaram biomassa à perda de massa seca do leito.
Esta relação é esperada, uma vez que, conforme Smits et al. (1996 e 1998), a perda de massa
seca do leito é diretamente proporcional à produção de CO
2
. Entretanto, esta técnica tem
pouca aplicabilidade para sistemas maiores que a escala laboratorial.
2.2.3.3 Produção de enzimas extracelulares
Vários autores apontam relações lineares entre a produção de determinadas enzimas
extracelulares, em geral hidrolases, e o crescimento microbiano (Mitchell, 1992b). Entretanto,
poucos trabalhos utilizam a atividade enzimática diretamente para estimar biomassa.
Matcham et al. (1985) apontam que a produção da enzima laccase por Agaricus
bisporus em CES foi proporcional à extensão do micélio ao longo de 30 dias de cultivo. Smits
et al. (1996) concluíram que as atividades de protease e xilanase de uma linhagem de
Trichoderma reesei em farelo de trigo estavam associadas ao crescimento da biomassa ao
longo das 125 horas de cultivo.
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 22
2.2.3.4 Medidas de fluorescência
Fluorescência é o resultado de um processo em três estágios que ocorre em certas
moléculas (em geral, hidrocarbonetos poliaromáticos ou heterocíclicos) chamadas de corantes
fluorescentes. O processo responsável pela fluorescência está relacionado aos níveis de
energia das moléculas e ao “salto” de um elétron de um estado de alta energia para um de
energia mais baixa, emitindo simultaneamente um fóton (Madrid e Felice, 2005).
A absorção de radiação UV por uma molécula excita um elétron a um estado de
energia mais elevado. A molécula tende a rapidamente perder este excesso de energia, por
exemplo por colisões com moléculas vizinhas. A fluorescência ocorre quando a molécula
retorna ao estado fundamental pela liberação de um fóton.
Conforme Madrid e Felice (2005), fluroescência é a técnica on-line de determinação
de biomassa mais utilizada. Pode ser utilizada in-situ nos cultivos submersos.
Hisiger e Jolicoeur (2005) utilizaram sensores de fluorescência para quantificar
NAD(P)H, triptofano e riboflavinas em cultivo submerso. As concentrações destas
substâncias puderam ser correlacionadas à concentração de biomassa.
Outra forma de utilizar a fluroescência envolve a marcação do meio com algum
corante fluorescente adicionado ao meio de cultura. Soderstrom (1977) utilizou diacetato de
fluorosceína (FDA). Esta substância não é fluorescente até ser enzimaticamente hidrolisada
por esterases. Esta técnica é, portanto, uma medida de atividade enzimática, e apenas regiões
ativas do micélio irão fluorescer. Várias culturas fúngicas foram testadas isoladamente, e uma
boa correlação pôde ser obtida entre a fluorescência, crescimento e respiração.
2.2.3.5 ATP
Assumindo que células vivas de determinado microrganismo possuam quantidade
aproximadamente constante de ATP, o qual é rapidamente perdido quando da morte celular,
2.2 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA EM CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 23
esta medição pode ser um bom parâmetro para estimar biomassa. Uma forma rápida de
quantificar ATP é por bioluminescência (Madrid e Felice, 2005).
Entretanto, Mitchell (1992b) afirma que a medida de ATP no CES pode fornecer
apenas uma estimativa grosseira da biomassa, já que algumas regiões da biomassa podem
estar mais ativas que outras.
2.2.3.6 Ácidos orgânicos
Raimbault (1998) afirma que, freqüentemente, a produção de ácidos orgânicos está
associada ao crescimento. A medida pode ser efetuada pelo monitoramento do pH, por
titulação ou análise em HPLC de extratos aquosos.
Porém, não há trabalhos que utilizem esta medida diretamente como parâmetro para
estimar a biomassa.
2.2.4 Outras técnicas
Peñaloza et al. (1991) estimaram o crescimento micelial baseando-se na diferença de
condutividade elétrica entre substrato e biomassa, obtendo boa correlação e propondo um
modelo.
Auria et al. (1993) estudaram a relação entre a queda de pressão do ar soprado em
um biorreator de leito fixo e o crescimento de um fungo filamentoso. O aumento do micélio
reduz porosidade do leito, aumentando a perda de carga do ar. Foi possível criar uma relação
entre o crescimento microbiano e a queda de pressão, que é um parâmetro facilmente
mensurável on-line. Um ponto interessante da técnica é o fato de ser sensível ao início da
formação dos conídios. Sua aplicabilidade, porém, é bastante restrita.
Dubey et al. (1998) desenvolveram um método ELISA (enzyme-linked
immunosorbent assay), que quantifica a reatividade de um anti-corpo contra o micélio de
Aspergillus niger. O método foi avaliado como rápido, específico e bastante sensível.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 24
Bellon-Maurel et al. (2003), em seu artigo de revisão, apontam várias técnicas que
poderiam servir à estimação de biomassa em CES, algumas já testadas, outras apenas
idealizadas, como:
SEM (Microscopia Eletrônica de Varredura), que permitiria acompanhar visualmente
crescimento do microrganismo.
FTIR (Infra-Vermelho) e FTIR PAS (Foto-Acústico) podem ser utilizados para
quantificar determinados compostos presentes no meio, como um componente da biomassa
que possa ser relacionado ao crescimento. Conforme Lekha e Lonsane (1994), a ligação
amida das proteínas produz uma absorção característica no espectro infra-vermelho. São
utilizados on-line em CSm, mas em CES ainda demandam amostragem do meio.
a visão artificial, com o uso de um analisador de imagens, permitiria acompanhar
crescimento dos microrganismos, e poderia ainda ser acoplada à utilização de marcadores
fluorescentes.
sensores de aroma, como narizes artificiais (e-noses) ou cromatógrafos a gás, para
quantificar produtos voláteis associados ao crescimento.
sensores capazes de realizar tomografia, ou seja, o mapeamento 3-D do cultivo, utilizando
ressonância magnética, por exemplo.
2.3 Modelagem Matemática de Biorreatores para Cultivo em
Estado Sólido
Mitchell et al. (2000a) revisaram os fenômenos que devem ser levados em conta no
desenvolvimento de modelos para processos de cultivo em estado sólido, dividindo-os em de
micro e macroescala.
a) Fenômenos em microescala:
Crescimento microbiano e taxa de morte em resposta às condições ambientais.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 25
A forma de crescimento microbiana, especialmente se o crescimento ocorrer na forma de
um micélio ou de um biofilme de organismos unicelulares.
O efeito do crescimento microbiano sobre o ambiente, pela liberação de enzimas e
produtos, e pelo consumo de nutrientes.
Difusão intra-partículas de compostos como O
2
, CO
2
, prótons (pH), enzimas, nutrientes
solúveis, produtos de hidrólise e do metabolismo.
Transferência entre as regiões interparticulares e a partícula de substrato ou biomassa de
compostos como O
2
, CO
2
, água, e produtos voláteis do metabolismo.
Destruição da partícula devido ao crescimento, se a fonte de carbono contribui à estrutura
física da partícula sólida.
b) Fenômenos em macroescala:
Fluxo de ar para dentro e para fora do biorreator, levando energia e compostos como O
2
,
CO
2
, e água.
Se o bioreactor é operado com aeração forçada ou agitação, fluxo de ar no espaço inter-
partículas, levando energia e compostos como O
2
, CO
2
e H
2
O.
Convecção natural, difusão, e condução, que são normalmente sem importância na direção
de corrente de ar, mas podem ser importante na direção normal à corrente de ar ou na
ausência de aeração forçada.
Condução pela parede do biorreator e resfriamento convectivo para a vizinhança, que
pode ser ar ou uma camisa de água.
Efeitos de cisalhamento causados pela agitação dentro do biorreator, inclusive dano para o
microrganismo em si, ou para a integridade das partículas de substrato.
Os modelos apresentados na literatura utilizam várias simplificações destes
fenômenos, até porque muitos são de difícil quantificação. Os trabalhos na área têm se
preocupado principalmente com o balanço energético. Muitos ignoram os balanços de massa,
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 26
seja de substrato, seja de água, no leito. As cinéticas de crescimento e a estequiometria dos
processos também têm recebido atenção limitada.
Vários tipos de biorreatores têm sido utilizados em CES. Conforme sua construção e
operação (agitação, aeração, etc.), os modelos utilizados para descrevê-los mudam bastante. A
Figura 2.3 apresenta uma classificação simples de biorreatores para CES de acordo com as
características de agitação do leito (infreqüente ou ausente, ou contínua) e aeração (forçada ou
não-forçada).
Figura 2.3: Classificação dos biorreatores de CES em função das características de agitação e aeração.
As setas retas indicam o sentido da aeração.
Fonte: Adaptado de Mitchell et al. (2000a).
2.3.1 Biorreatores de leito fixo
Os biorreatores de leito fixo representam um dos tipos mais simples de biorreatores
para CES. A natureza estática do leito o torna próprio para o desenvolvimento de organismos
sensíveis às tensões de cisalhamento decorrentes da agitação, como os fungos. Sua
aplicabilidade em escala industrial, porém, ainda é difícil, mas boas alternativas, como o
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 27
biorreator Zymotis, têm surgido (Mitchell et al., 2000a). As dificuldades para scale-up surgem
da própria natureza estática do leito, reduzidas transferências de massa e energia, e da
compactação do substrato em leitos de grandes dimensões.
A Figura 2.4 apresenta um esquema dos fenômenos de transferência de massa e
energia comuns em biorreatores de leito fixo. A ocorrência de gradientes de temperatura no
leito é praticamente inevitável, e o grande desafio de engenharia é minimizar estes gradientes.
Figura 2.4: Descrição dos fenômenos de transferência de energia em biorreatores de leito fixo tradicional e
Zymotis.
Fonte: Mitchell et al. (2003).
No caso de leitos cilíndricos, costuma-se ignorar a condução axial, já que os
gradientes de temperatura mais pronunciados estão na direção radial, e a transferência axial se
dá principalmente pela advecção do ar. No biorreator Zymotis, onde placas resfriadoras
verticais estão colocadas paralelamente a pequena distância, para manter uma maior
homogeneidade de temperatura no leito, a condução na direção vertical é desprezível frente à
horizontal.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 28
O balanço energético macroscópico em coordenadas cilíndricas, segundo
Sangsurasak e Mitchell (1998), é dado por:
( )
Qbbzwaabb
r
z
T
k
r
T
kr
rrz
T
VfCp
t
T
Cp +
+
=
++
2
2
1
λρρ (2.5)
Os termos da Equação 2.5 correspondem à variação de entalpia no leito, remoção de
calor pelo ar e por evaporação de água, condução nas direções radial e axial e geração de
calor metabólico.
Conforme Mitchell et al. (2003), caso o leito seja largo o suficiente, a condução
radial pode ser insignificante para a remoção de calor, e o termo entre colchetes na Equação
2.5 pode ser eliminado.
Considera-se que o ar mantém-se saturado em vapor ao longo do leito, e o termo
fλ
W
, presente nos balanços de massa e energia, surge desta consideração, já que a evaporação
de água aumenta o calor específico aparente do ar. Esta relação deveria ser descrita pela
equação de Antoine, mas a aproximação linear é aceitável em uma faixa de variação de
temperatura de aproximadamente 20°C, como nos cultivos (Mitchell et al., 2003).
O balanço está sujeito às seguintes condições de contorno:
Na base do leito (entrada de ar):
a
TTz ==0 (2.6)
No topo do leito (saída do ar):
0=
=
z
T
Hz
b
(2.7)
No centro do biorreator:
00 =
=
r
T
r (2.8)
Na parede do biorreator:
( )
TT
R
Bi
r
T
Rr
w
b
b
=
= (2.9)
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 29
Sendo:
b
b
k
Rh
Bi
= (2.10)
As propriedades devem ser calculadas como médias ponderadas dos valores no ar e
no sólido:
(
)
sab
ρερερ += 1 (2.11)
(
)
sab
kkk += εε 1 (2.12)
(
)
(
)
(
)
b
sswaa
b
CpfCp
Cp
ρ
ρ
ε
λ
ρ
ε
+
+
=
1
(2.13)
Para o biorreator de leito-fixo do tipo Zymotis, entretanto, este balanço deve ser feito
em coordenadas retangulares, conforme Mitchell e Meien (2000). A condução axial é
desprezada, já que as placas resfriadoras removem a maior parte do calor gerado.
( )
Qbzwaabb
r
x
T
k
z
T
VfCp
t
T
Cp +
=
++
2
2
λρρ (2.14)
Este balanço está sujeito às seguintes condições de contorno:
Na base do leito (entrada de ar):
a
TTz ==0 (2.15)
No centro do espaço entre placas:
00 =
=
x
T
x (2.16)
Na superfície das placas:
( )
wb
TTh
x
T
kLx =
= (2.17)
Os biorreatores de leito fixo, se ainda encontram dificuldade de aplicação na escala
industrial, são extremamente úteis em escala laboratorial, nas fases iniciais de
desenvolvimento de processos, podendo fornecer valiosas informações sobre cinética de
crescimento e metabolismo do microrganismo.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 30
2.3.2 Biorreatores de bandejas
Biorreatores de bandejas consistem em uma câmara, que pode ser pequena como
uma incubadora ou grande como uma sala, na qual são colocadas bandejas de substrato
inoculado. O ambiente é controlado através da temperatura e da umidade do ar que é soprado
para dentro da câmara. Constituem, portanto, sistemas não-agitados com aeração não-forçada.
Bastante simples, são empregados há séculos no Oriente na fabricação de alimentos
tradicionais (shoyu, miso). A dificuldade em automatizar o trabalho com as bandejas,
entretanto, cria uma demanda por grande quantidade de mão-de-obra (Mitchell et al., 2000a).
Conforme Mitchell et al. (2003), os primeiros modelos de biorreatores de bandejas
assumiam estado pseudo-estacionário para escrever os balanços de oxigênio ou energia no
leito. Os modelos mais recentes, de Rajagopalan e Modak (1994) e Smits et al. (1999)
consideram os balanços de massa e energia, sem assumir o estado pseudo-estacionário.
O modelo de Rajagopalan e Modak (1994) considera uma bandeja com aeração não
forçada. O fluxo de ar passa no topo da bandeja, na direção x
+
(Figura 2.5), e o oxigênio
difunde para dentro do leito poroso. Admite-se a existência de um biofilme de biomassa
cobrindo as partículas no leito, e o consumo de O
2
no biofilme foi equacionado através de
uma aproximação do estado pseudo-estacionário. A taxa de crescimento seguiu uma equação
logística, considerando ainda o oxigênio como único limitante, segundo cinética de Monod.
As equações para representar este modelo são:
b
Hz
O
h
b
O
x
O
X
x
O
z
C
z
D
x
C
V
t
C
=
=
2222
(2.18)
( )
f
OOOxa
O
b
O
O
CHCaK
z
C
D
t
C
222
2
2
2
2
2
=
ε
(2.19)
(
)
XXOs
f
OOOxa
rYCHCaK =
/
2222
ρ (2.20)
( )
+
=
max
max
1
22
2
X
X
X
CK
C
r
f
OO
f
O
X
µ
(2.21)
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 31
X
r
t
X
=
(2.22)
Na Equação 2.19, a transferência de oxigênio para dentro do leito se dá por difusão,
apenas, enquanto a concentração do gás na superfície do biofilme está em equilíbrio com a
concentração nos poros seguindo a lei de Henry.
Figura 2.5: Comparação entre modelos para biorreatores de bandejas.
A Rajagopalan e Modak (1994); B Smits et al. (1999).
1) Difusão de O
2
, 2) transferência de O
2
entre o meio e o biofilme, 3) difusão e consumo de O
2
no biofilme,
4) liberação de calor metabólico, 5) condução de calor, 6) difusão de O
2
, 7) evaporação, 8) difusão de água,
9) condução de calor, 10) consumo de O
2
e produção de água e calor na reação de crescimento.
Fonte: Mitchell et al. (2003).
Conforme Mitchell et al. (2000b), assumir a existência de um biofilme na superfície
das partículas é mais apropriado para microrganismos unicelulares (bactérias e leveduras) do
que para fungos.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 32
Note-se que a porosidade do leito pode ser descrita como variável no tempo. No
trabalho em questão, um balanço semelhante foi desenvolvido para o CO
2
.
A taxa específica de crescimento máxima foi considerada dependente da temperatura
e descrita por uma equação polinomial de quinta ordem.
Nenhum balanço de água foi escrito e o balanço de energia envolvia apenas
condução e geração metabólica de calor, conforme Equação 2.23.
Qbss
r
z
T
k
t
T
Cp +
=
2
2
ρ (2.23)
As condições de contorno para o problema são:
Na superfície do leito:
x
OO
CC
22
= (2.24)
( )
TTh
z
T
k
ab
=
(2.25)
Já o modelo de Smits et al. (1999) não utiliza o conceito de biofilme (Figura 2.5) e
faz uma descrição mais simples do balanço de O
2
no leito (Equação 2.26), novamente
havendo apenas difusão para dentro do leito, com consumo pelo microrganismo. Apresenta,
entretanto, um avanço no sentido de levar em conta as possíveis mudanças na umidade,
incluindo um balanço de água (Equação 2.27), composto de geração metabólica de água,
variação na concentração de vapor no ar dos poros devido à variação de temperatura
(considera-se que o ar se mantém saturado) e difusão de vapor d’água nos poros. Por fim,
condução, geração metabólica de calor e evaporação de água entram no balanço entálpico
(Equação 2.28).
2
2
2
2
2
2
O
b
O
b
O
b
O
r
z
C
D
t
C
=
(2.26)
=
2
2
*
2
z
C
D
t
C
r
t
C
VAP
VAP
VAP
OH
W
(2.27)
2
2
*
2
2
z
C
Dr
z
T
k
t
H
VAP
VAPWQb
++
=
λ (2.28)
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 33
O balanço de água, entretanto, é de necessidade duvidosa, uma vez que as
simulações mostraram que a difusão de água pode ser pouco significativa (Smits et al., 1999).
2.4 Biorreatores de leito fluidizado
Neste biorreator, as partículas de substrato são fluidizadas por ar (ou outro gás)
soprado verticalmente a uma velocidade suficientemente alta. É importante notar que este
design não é aplicável a todos os tipos de substrato, uma vez que a aplicabilidade depende das
características de fluidização das partículas (Mitchell et al., 2000a).
Este modelo consiste basicamente de uma câmara vertical, a qual é alargada na parte
superior para impedir que as partículas sejam carregadas para fora do biorreator. Na parte
inferior costuma haver um misturador, que quebra eventuais agregados de partículas que se
formam. Um esquema deste tipo de biorreator pode ser visualizado na Figura 2.6.
Figura 2.6: Esquema de biorreator de leito fluidizado.
Fonte: Mitchell et al. (2000b).
Segundo Mitchell et al. (2000a), já foram construídos biorreatores de leito fluidizado
para CES relativamente grandes, utilizados industrialmente. Entretanto, há poucos trabalhos
na literatura aberta que utilizam este tipo de equipamento.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 34
A modelagem é bastante simplificada, já que o alto fluxo de ar sobre partículas
pequenas torna a transferência de calor intensa no leito, enquanto que eventuais perdas de
umidade podem ser repostas por aspersão. A preocupação maior nos modelos são os
fenômenos intra-partícula. A Figura 2.7 apresenta de forma simplificada os efeitos
comumente considerados no desenvolvimento de modelos para biorreatores de leito
fluidizado.
A praticidade no estudo deste tipo de biorreator, pela possibilidade de utilizar
modelos mais simplificados, é contrabalançada por um aumento nos custo de operação devido
às altas taxas de aeração necessárias, o que pode tornar o processo menos interessante
(Mitchell et al., 2000a).
Figura 2.7: Efeitos considerados em modelos de biorreatores de leito fluidizado.
1 Entrada de ar; 2 Geração metabólica de calor; 3 Mistura; 4 Transferência convectiva de calor através
das paredes do biorreator; 5 Saída de ar; 6 Evaporação de água.
Fonte: Mitchell et al. (2000a).
2.5 Biorreatores de tambor rotatório
Os biorreatores de tambor rotatório consistem de um cilindro horizontal que gira ao
redor de seu eixo. A entrada de ar costuma ser localizada em uma das extremidades do
cilindro, e a saída na oposta. Este tipo de equipamento tem despertado interesse porque
2
3
4
1
6
5
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 35
proporciona uma agitação suave no leito, o que é muito importante quando se trabalha com
fungos filamentosos, por exemplo.
Hardin et al. (2002) estudaram a dinâmica de mistura nestes biorreatores e citaram
seis possíveis regimes de movimentação do leito, cuja ocorrência dependente da velocidade
de rotação do cilindro. Estes regimes são apresentados na Figura 2.8.
Figura 2.8: Possíveis regimes de movimentação do leito em biorreatores de tambor rotatório.
Fonte: Adaptado de Hardin et al. (2002).
A literatura apresenta modelos que dividem o espaço interno do biorreator em leito
sólido, headspace e parede (Hardin et al., 2002; Mitchell et al., 2003), conforme apresentado
na Figura 2.9.
Figura 2.9: Efeitos considerados em modelo para biorreator de tambor rotatório.
1 Entrada de ar; 2 Geração de calor metabólico; 3 Transferência advectiva de calor entre leito e o ar;
4 Evaporação de água do leito, com retirada de energia; 5 Condução entre leito e parede do biorreator;
6 Advecção entre ar e parede do biorreator; 7 Perda advectiva de calor para o ambiente; 8 Saída de ar;
9 Mistura no leito; 10 Mistura no ar; 11 Homogeneidade térmica na parede do biorreator.
Fonte: Mitchell et al. (2000a).
Conforme Mitchell et al. (2003), para esta situação, o balanço de energia no leito
fica:
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 36
( )
(
)
( )
( )
( )
( )
[ ]
VAPabWWbaEQbaW
abbabapbbpbpQ
Sb
WS
CpTTCpTyyAk
TTAhTTAhr
dt
MTd
WCpCp
+
+=
+
λ
(2.29)
O termo do lado esquerdo da Equação 2.29 descreve a variação de entalpia do leito.
Os termos do lado direito representam a geração de calor metabólico, as trocas convectivas do
leito com a parede do biorreator e o ar de headspace, e a remoção de calor por evaporação de
água.
O balanço de energia no ar de headspace é:
( )
(
)
( )
( )
( )
( )
( )
appapaabbaba
VAPaaEQbaW
aVAPGouta
inVAPGinin
Ga
aVAPG
TTAhTTAh
CpTyyAk
yCpCpFT
yCpCpFT
dt
MTd
yCpCp
++
++
++
++=
+
(2.30)
Novamente, o termo do lado esquerdo descreve a variação de entalpia do sistema
considerado. Já os dois primeiros termos do lado direito representam a entrada e saída de
energia com o ar, o terceiro termo, a energia adquirida através da água evaporada do leito, e
os dois últimos contabilizam as trocas convectivas do ar com o leito e a parede do biorreator.
Na parede, considerando as trocas convectivas com o leito, o ar de headspace e ainda
com o meio externo, o seguinte balanço de energia foi escrito:
( ) ( ) ( )
eppepeappapapbbpbp
p
ppp
TTAhTTAhTTAh
dt
dT
CpV =ρ (2.31)
O balanço de água no leito, considerando evaporação e geração metabólica, é:
(
)
( )
OHaEQbaW
S
ryyAk
dt
WMd
2
+=
(2.32)
Já o balanço de água no ar de headspace pode ser descrito pela Equação 2.33, que
leva em conta a entrada e a saída de água com o ar e a evaporação de água do leito.
(
)
( )
aEQbaWaoutinin
aG
yyAkyFyF
dt
yMd
+=
(2.33)
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 37
Hardin et al. (2002) desenvolveram um modelo que levava em conta o tipo de
agitação e o conseqüente regime de movimentação do leito (conforme Figura 2.8). Além
disso, compararam diferentes formas para descrever o comportamento do ar de headspace:
mistura perfeita;
considerando plug-flow;
empregando o conceito de Central Jet Residence Time Distribution (RTD), que divide o
headspace em duas regiões: uma central de plug-flow, ao longo do eixo de rotação, e uma
zona morta junto às paredes;
Concluíram que o conceito de Central Jet RTD oferece uma alternativa mais simples
e realista para a solução do problema.
2.6 Biorreatores de Tambor Agitado
Biorreatores de tambor agitado possuem pás para agitação interna, promovendo uma
maior homogeneização dos perfis de temperatura e de concentração no leito. Apesar de seu
grande potencial para aplicação em escala industrial, têm recebido pouca atenção em termos
de modelagem para CES. Conforme atesta Mitchell et al. (2000a), apenas tambores rotatórios
têm recebido atenção, pois o tipo de movimento destes causa menor dano ao micélio de
fungos filamentosos. Entretanto, bactérias são menos sensíveis à tensão de cisalhamento
gerada pelo movimento das pás, e tambores agitados apresentam-se como uma alternativa
bastante viável neste caso. É interessante notar que vários elementos considerados na
modelagem de tambores rotatórios também são aplicáveis em tambores agitados.
Muitas vezes, biorreatores de tambor permitem a instalação de bicos aspersores de
água, além de encamisamento. Estes dispositivos, junto com a própria agitação, permitem um
melhor controle e homogeneidade da temperatura no leito (Nagel et al., 2001), através do
resfriamento evaporativo e troca convectiva nas paredes.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 38
Boa parte da modelagem fenomenológica destes biorreatores pode se basear nas
considerações aplicadas aos tambores rotatórios: três regiões homogêneas (leito, headspace e
parede) que trocam massa e energia entre si. Assim, modelos similares ao representado pelas
Equações 2.29 a 2.33 podem ser utilizados.
Pena y Lillo et al. (2001) utilizaram um modelo que assume mistura perfeita,
utilizando medições on-line (temperatura e umidade relativa do ar que entra e sai do
biorreator) para estimar o conteúdo de água do leito. O balanço de energia utilizado foi:
(
)
(
)
( ) ( )
( )
( )
[ ]
)(
44
exp
bwwwvizbvizbS
inoutwinoutbVAP
ininoutoutVAPinouta
Q
b
b
TTCpFTTTTAh
yyyyTCp
TyTyCpTTCp
Fr
dt
dT
kCp
++
+
+
=
σ
λ (2.34)
Este balanço considera geração metabólica de calor, diferenças na entalpia do gás na
entrada e na saída do biorreator, resfriamento evaporativo, trocas convectivas e radiativas, e o
último termo da equação conta por escoamento de água saindo e adição de água por aspersão
à temperatura T
w
. A inclusão do parâmetro empírico k
exp
foi necessária para corrigir distorções
produzidas pela consideração de homogeneidade do leito.
No mesmo trabalho, o balanço de água no leito foi expresso por:
(
)
( )
inoutwOH
S
yyFFr
dt
WMd
+=
2
(2.35)
Leva-se em conta, assim, a geração metabólica de água, entrada por aspersão e saída
por escoamento, evaporação e alteração no conteúdo sólido seco no biorreator.
2.7 Metabolismo e crescimento
Sendo os microrganismos os operários em ação durante um cultivo, consumindo a
matéria-prima para gerar os produtos de interesse, o conhecimento de sua cinética de
crescimento e de metabolismo torna-se importante para a modelagem matemática de
processos biotecnológicos. Entretanto, o desenvolvimento deste tipo de trabalho têm se dado à
base de equações essencialmente empíricas.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 39
Basicamente, 4 tipos de cinéticas de crescimento são utilizadas em modelagem de
CES (Mitchell et al., 2004):
Linear
K
dt
dX
= (2.36)
onde K é a taxa de crescimento linear.
Exponencial
X
dt
dX
= µ (2.37)
onde µ é a taxa de crescimento específico.
Logística
=
max
1
X
X
X
dt
dX
µ (2.38)
onde X
max
é a máxima quantidade de biomassa possível.
Duas fases (aceleração rápida e desaceleração lenta)
X
dt
dX
tt
a
=< µ (2.39)
( )
[
]
XeL
dt
dX
tt
a
ttk
a
=
µ (2.40)
onde t
a
é o instante de tempo de troca de fase de crescimento (da aceleração rápida
para a desaceleração lenta), L é a razão entre a taxa de crescimento específico no início da
fase de desaceleração e a taxa de crescimento específico na fase de aceleração, e k é uma
constante de decaimento exponencial de primeira ordem, a qual causa a desaceleração do
crescimento.
Essas equações de crescimento produzem curvas como as apresentadas na Figura
2.10.
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 40
Ainda segundo os mesmos autores, a maioria dos pesquisadores tem empregado
equações logísticas para descrever cinéticas de crescimento.
Além da forma da equação cinética, é importante também levar em consideração a
influência dos fatores ambientais sobre os parâmetros de crescimento. Estes fatores incluem
concentração das fontes de nutrientes (carbono e nitrogênio, p.ex.), concentração de oxigênio,
concentração de produtos, temperatura, pH e atividade de água (Mitchell et al., 2000a). A
influência ambiental comumente é incluída no valor da taxa de crescimento microbiano (µ).
Figura 2.10: Os vários perfis cinéticos empíricos utilizados em CES.
(A) exponencial, (B) logístico, (C) linear, (D) duas fases.
Fonte: Adaptado de Mitchell et al. (2004).
Diferentes propostas existem para o equacionamento desta influência. A equação
mais conhecida é a de Monod, onde um único nutriente é considerado como limitante do
crescimento:
SK
S
S
+
=
max
µµ (2.41)
onde µ
max
é a taxa máxima de crescimento específico, S é a concentração do nutriente
limitante e K
S
é a constante de saturação de Monod.
Nessa equação, caso o nutriente seja inibidor do crescimento a altas concentrações,
pode-se incluir um termo de inibição por substrato, através da constante de inibição pelo
substrato, K
i
(Andrews, 1968):
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 41
i
S
K
S
SK
S
2
max
++
=µµ (2.42)
Para a temperatura, considerada em muitos casos o principal limitante do
crescimento em CES, as propostas existentes costumam se relacionar à tradicional equação de
Arrhenius, como a equação de Hougen-Watson, utilizada por Mitchell e Meien (2000):
+
=
TR
G
B
TR
E
B
D
G
exp1
exp
2
1
max
µµ (2.43)
onde E
G
representa a energia de ativação para o crescimento celular, e G
D
a
variação de energia livre para a inativação celular.
Szewczyk e Myszka (1994) dividiram a biomassa em viva e morta, incluindo um
termo de morte relacionado à temperatura.
=
TR
E
k
TR
E
D
D
G
T
expexp
0
µµ
(2.44)
Smits et al. (1998) cita a equação de Ratkowsky (Ratkowsky et al., 1983):
(
)
(
)
(
)
[
]
{
}
2
max2min1max
exp1 TTcTTcµµ = (2.45)
onde T
max
e T
min
são as temperaturas máxima e mínima, além das quais teoricamente
não é possível haver crescimento, e c
1
e c
2
são parâmetros empíricos.
Sangsurasak e Mitchell (1998) propuseram as seguintes equações empíricas para
descrever o efeito da temperatura sobre a taxa de crescimento:
optopt
TT µµ = (2.46)
(
)
( )
(
)
( )
+
+
=
TTb
TT
TT
TTb
TTT
opt
opt
opt
opt
max
max
max
max
max
µ
µ
(2.47)
0
max
= µTT (2.48)
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 42
onde o parâmetro b representa a sensibilidade da taxa de crescimento à mudança de
temperatura, T
opt
é a temperatura ótima para o crescimento e µ
opt
a taxa de crescimento
específico nesta temperatura.
Os efeitos de atividade de água (Aw) e pH são ainda mais complexos para
equacionar, e raramente são levados em conta nos modelos. Costumam ser deixados de lado, e
os modelos consideram que os cultivos ocorrem sem variação nestes parâmetros. Outras áreas
de estudo, como a Microbiologia de Alimentos, modelam a influência do pH no
desenvolvimento de microrganismos através de relações polinomiais (Gibson e Hocking,
1997), parabólicas (Pitt, 1993) ou lineares (Ratkowsky et al., 1982).
A combinação de efeitos sobre a taxa de crescimento é possível, mas surge a questão
de como realizar esta operação. Tipicamente, os efeitos são multiplicados, utilizando-se a
forma da Equação 2.49 (Mitchell et al., 2000a):
)()()()()()(
2max
AwfpHfTfOfXfSf µ=µ (2.49)
Além disso, não se pode esquecer a própria influência do microrganismo sobre o
meio, como pela geração de calor metabólico. Este efeito deve ser considerado para os
balanços energéticos e costuma ser descrito por uma equação que o associa ao crescimento
(Sangsurasak e Mitchell, 1998):
( )
dt
dX
Yr
XQsQ
=
/
1 ερ (2.50)
onde ρ
S
é a massa específica seca do leito, ε é a porosidade do leito, e Y
Q/X
representa
a geração de calor metabólico na reação de crescimento.
Cooney et al. (1968) mostraram que a geração de calor metabólico relaciona-se
linearmente com a produção de CO
2
e o consumo de O
2
, em diferentes microrganismos (E.
coli, C. intermedia, B. subtilis, A. niger).
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 43
2.8 Estimação de biomassa através dos gases de saída
O consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono resultam da respiração, o
processo metabólico pelo qual microrganismos aeróbios obtém a maior parte de sua energia
para o crescimento. Sendo assim, estas atividades metabólicas estão associadas ao
crescimento e podem ser utilizadas para estimar a formação de biomassa (Raimbault, 1998).
As quantidades de CO
2
produzido e O
2
consumido podem ser quantificadas pelo
acompanhamento dos gases de saída do biorreator.
Conforme Mitchell (1992b), as medidas de CPR ou OUR são mais úteis quando
associadas à utilização de um “modelo de correlação”. A aplicação destes modelos, que
envolvem predição do crescimento através do CPR e do OUR, demanda o uso de métodos
numéricos para resolver as equações diferenciais geradas (Raimbault, 1998).
Considerando que o CO
2
é um produto metabólico e o O
2
um nutriente consumido,
costuma-se utilizar modelos do tipo Luedeking-Piret (Luedeking e Piret, 1959). Descreve-se a
produção e o consumo de substâncias pelo metabolismo microbiano utilizando uma única
equação, composta de um termo associado ao crescimento e um termo de manutenção.
Xm
dt
dX
Ydt
dp
PX
+=
/
1
(2.51)
ou então:
Xm
Ydt
dp
PX
+=
/
µ
(2.52)
Para o caso da produção de gás carbônico e consumo de oxigênio, obtém-se:
Xm
dt
dX
Ydt
dC
CPR
CO
COX
CO
+==
2
2
2
/
1
(2.53)
ou
Xm
Ydt
dC
CPR
CO
COX
CO
+==
2
2
2
/
µ
(2.54)
2.3 MODELAGEM MATEMÁTICA DE BIORREATORES PARA CULTIVO EM ESTADO SÓLIDO 44
e
Xm
dt
dX
Ydt
dC
OUR
O
OX
O
+==
2
2
2
/
1
(2.55)
ou
Xm
Ydt
dC
OUR
O
OX
O
+==
2
2
2
/
µ
(2.56)
As considerações do modelo assim construído são, basicamente:
§ Fluxos de entrada e de saída de ar são iguais.
§ CO
2
e O
2
não se acumulam no meio.
Koutinas et al. (2003) calcularam a CPR e a OUR, em meio líquido, por:
2
2
22
)(
CO
CO
CO
in
CO
out
v
M
V
CCF
CPR
= (2.57)
2
2
22
)(
O
O
O
out
O
in
v
M
V
CCF
OUR
= (2.58)
Para o meio sólido, substitui-se o volume do biorreator (V) pela massa do leito (M
B
),
que é mais representativa neste sistema.
2
2
22
)(
CO
CO
B
CO
in
CO
out
v
M
M
CCF
CPR
= (2.59)
2
2
22
)(
O
O
B
O
out
O
in
v
M
M
CCF
OUR
= (2.60)
A análise de gases de saída é uma técnica on-line de estimação de biomassa em CES,
e suas grandes vantagens são a natureza não-intrusiva e não-destrutiva da técnica, as
possibilidades de controlar o quociente respiratório, garantindo um nível ótimo de oxidação
do substrato, e de incorporar controles automáticos para o processo através da taxa de aeração
(Raimbault, 1998).
Capítulo 3
Materiais e Métodos
Para atingir os objetivos propostos, foram realizados alguns experimentos em
biorreator, procurando estudar a dinâmica da mistura e a relação entre crescimento do
microrganismo, produção e consumo de alguns compostos durante o cultivo.
3.1 Instalações e equipamentos
O trabalho foi desenvolvido nos Laboratórios de Biotecnologia (BioTecLab) I e II do
Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos (ICTA) e no Laboratório de Computação da
Pós-Graduação (LACOP) do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Leituras de ensaios espectrofotométricos foram realizadas em aparelho marca
“Hitachi” modelo U-1100 (Japão). Este aparelho foi utilizado na análise de açúcares redutores
totais e na padronização do inóculo.
Equipamentos, materiais e meios de cultura foram esterilizados em autoclaves
verticais: Phoenix Equipamentos modelo AV75 (Brasil) ou Ralf Winter (Brasil).
3.2 BIORREATOR CILÍNDRICO HORIZONTAL AGITADO (BCHA) 46
Operações que demandam ambiente estéril, como o preparo de inóculo e a análise de
contagem em placa, foram realizadas em capela de fluxo marca Trox (Technik do Brasil).
3.2 Biorreator cilíndrico horizontal agitado (BCHA)
O biorreator utilizado nos experimentos é do tipo tambor horizontal agitado e está
apresentado na Figura 3.1. Fabricado por uma metalúrgica da região, a partir de projeto
desenvolvido no Laboratório, compõe-se de um corpo cilíndrico em aço inox 304, com
encamisamento que permite circulação de água para o controle de temperatura. As dimensões
do cilindro são 40cm de comprimento e 20cm de diâmetro, perfazendo um volume interno de
aproximadamente 12 litros. O volume aproximado do encamisamento é de 2,5 litros.
Há pás de agitação retas, sem inclinação, ligadas a um eixo central. Por este eixo
central entra também o fluxo de ar, que é distribuído ao longo de todo o comprimento do
cilindro. A aeração é, assim, não forçada, já que o ar não é impulsionado através do leito.
Figura 3.1: Visões externa e interna do BCHA.
Através de duas escotilhas localizadas no corpo do biorreator é possível, com uma
concha longa e esterilizada, retirar amostras do meio de cultivo.
3.3 MICRORGANISMO 47
3.3 Microrganismo
O microrganismo utilizado neste trabalho foi Bacillus circulans BL53, isolado de
ambiente amazônico e já utilizado em outros estudos no laboratório (Heck, 2001; Heck,
2005).
3.4 Preservação da cultura
Para estocagem prolongada, o microrganismo foi inicialmente cultivado em meio
Luria-Bertani (LB) por 18 horas, e 0,5 mL deste meio foi adicionado a 0,5 mL de glicerol
previamente esterilizado em tubos Eppendorf e estocado a -20°C. O microrganismo também
foi mantido em tubos de ágar inclinado contendo meio LB, a partir dos quais realizava-se a
inoculação nos experimentos.
A composição do meio LB está apresentada na Tabela 3.1.
Tabela 3.1: Composição do Luria Broth
Peptona 10,0 g.L
-1
Extrato de levedura 5,0 g.L
-1
NaCl 5,0 g.L
-1
3.5 Preparo de inóculo
O inóculo foi preparado em meio LB. O meio foi esterilizado a 121°C por 15min,
resfriado à temperatura ambiente e inoculado com Bacillus circulans BL53. O inóculo cresceu
durante 18 a 20h em incubadora orbital agitada (Nova Técnica Ind. e Com. Ltda. - Brasil) a
37°C com agitação orbital.
3.6 PREPARO DO MEIO DE CULTIVO 48
3.6 Preparo do meio de cultivo
O meio de cultivo utilizado foi o resíduo industrial fibroso de soja (RIFS),
subproduto da produção de proteína isolada de soja, que foi obtido junto a uma empresa da
região. A composição do RIFS, determinada por Heck (2001), está apresentada na Tabela 3.2.
Tabela 3.2: Composição do RIFS
Proteína 29,4%
Carboidratos 56,7%
Hemicelulose 23,5%
Celulose 16,3%
Açúcares totais 16,9%
Umidade 10,1%
Fonte: Adaptado de Heck (2001)
O preparo do meio de cultivo foi realizado de forma similar à apresentada por Heck
(2005): 800g de RIFS (granulometria média mesh 30) adicionados a 4000mL de meio
mineral. O meio foi transferido para o biorreator e o conjunto foi esterilizado a 120°C por
30min.
O meio mineral é composto de sais dissolvidos em água de acordo com a Tabela 3.3.
O meio foi resfriado até 37°C, sendo então adicionados 800mL de inóculo
padronizado à OD
620
= 1,0.
Tabela 3.3: Composição do meio mineral
MgSO
4
7H
2
O 0,41 g.L
-1
CaCl
2
0,02 g.L
-1
KH
2
PO
4
1,00 g.L
-1
K
2
HPO
4
1,00 g.L
-1
NH
4
NO
3
1,00 g.L
-1
FeCl
3
6H
2
O 0,05 g.L
-1
Fonte: Heck (2005)
3.7 CONDIÇÕES DO CULTIVO 49
3.7 Condições do cultivo
A agitação do biorreator foi ajustada a 4 rpm, o fluxo de água no encamisamento foi
mantido a 37°C, e a aeração foi feita com ar estéril umidificado a 37°C, a uma vazão de
4L.min
-1
. O ar foi aquecido pela passagem em uma serpentina de cobre (3mm de diâmetro
interno por 2m de comprimento) mergulhada em banho termostático a 37°C, e umidificado
pelo borbulhamento em um frasco contendo água destilada estéril, colocado dentro de uma
estufa mantida a 37°C. A mangueira de ar possuía 2 metros de comprimento dentro da estufa,
de forma a garantir a temperatura do ar, e um pequeno trecho externo (aproximadamente
20cm), que foi coberto com isolante, até o biorreator.
Em intervalos regulares, pequenas amostras (30 a 50 g) foram retiradas do biorreator
para quantificação de biomassa, determinação de pH, de umidade do meio e demais análises
off-line.
Para garantir a ausência de microrganismos contaminantes no cultivo, realizou-se
teste de Gram, e, além disso, foi observada a morfologia das colônias desenvolvidas nas
placas de contagem.
3.8 Água do encamisamento do biorreator
A água para controle de temperatura no encamisamento do biorreator foi fornecida
por um banho termostático Frigomix B (B.Braun Int. - Alemanha), mantido a 37°C. As
temperaturas de entrada e saída da água do encamisamento foram medidas automaticamente a
cada 2 minutos por 2 termorresistências Pt-100 e armazenadas em um sistema de aquisição de
dados LogBox Standard (Novus – Brasil) para coleta posterior.
3.9 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA 50
3.9 Quantificação de biomassa
A quantificação de biomassa foi realizada através da contagem em placas. Em capela
de fluxo, tomaram-se 3g da amostra do cultivo, que foram adicionados a 27mL de água
peptonada previamente esterilizada em tubo de ensaio. A mistura foi agitada em sonicador
(B.Braun Int. - Alemanha) por 3 minutos, de forma a garantir que a biomassa fosse separada
da fibra e suspensa no líquido. Deste tubo tomou-se 1mL para novo tubo com 9mL de água
peptonada, procedendo-se assim diluição seriada até 10
-6
ou 10
-7
. O plaqueamento foi feito em
triplicata em meio PCA (Plate Count Agar) pela técnica de espalhamento com alça de
Drigalski. As placas foram armazenadas em estufa a 37°C, a contagem das colônias foi feita
após 12 e 18h, e a biomassa foi expressa em termos de unidades formadoras de colônias
(UFC) por grama de meio úmido.
A composição do meio PCA utilizado está apresentada na Tabela 3.4.
Tabela 3.4: Composição do meio PCA utilizado
Peptona 5,0 g.L
-1
Extrato de levedura 2,5 g.L
-1
Glicose 1,0 g.L
-1
Ágar bacteriológico 24,0 g.L
-1
3.10 pH do meio de cultivo
O pH foi analisado em amostra do meio de cultivo ressuspendida a 10% em água
destilada (Instituto Adolfo Lutz, 1985). As medidas foram feitas em potenciômetro da marca
"Renè Graf".
3.11 ANÁLISES DO EXTRATO AQUOSO 51
3.11 Análises do extrato aquoso
3.11.1 Preparo do extrato aquoso
Seguindo a metodologia de Heck (2001), o extrato aquoso foi produzido através da
extração de componentes solúveis presentes no meio de cultivo, incluindo-se substâncias
como as enzimas hidrolíticas e açúcares redutores. Para tanto, 10g da amostra do cultivo
foram adicionados de igual quantidade de água destilada a 4°C em erlenmeyer de 125mL.
Após 30 minutos em agitador orbital Certomat MO (B.Braun Int. – Alemanha) a 240rpm, a
mistura foi centrifugada a 2.500g por 20 minutos na temperatura de 4°C em centrífuga Sygma
modelo 4K15 (Alemanha). O sobrenadante foi recolhido e congelado para posterior análise.
3.11.2 Açúcares redutores
Os açúcares redutores foram quantificados no extrato aquoso pelo método do ácido
3,5-dinitrosalicílico (DNS). Adicionaram-se 100µL de amostra a 1mL de solução de DNS,
agitou-se a mistura rapidamente e levou-se a banho de água fervente por 10 minutos. Após
resfriamento, leu-se a absorbância da amostra a 570nm (Chaplin, 1986). Curvas-padrão foram
construídas utilizando glicose.
3.11.3 Acetato
A análise de acetato foi realizada por cromatografia gasosa, com técnica adaptada de
Williams e Onwudili (2005). Utilizou-se cromatógrafo a gás marca Shimadzu modelo GC-
14B, equipado com coluna capilar Carbowax de 60m x 0,25mm e detector de chama ionizante
(FID). O gás de arraste utilizado foi H
2
, a 100kPa. O perfil de temperatura na coluna foi 1
minuto a 100°C; aquecimento a 5°C por minuto até 200°C; manutenção nessa temperatura por
3 minutos. O acetato era eluído em aproximadamente 6,5 minutos. O volume de amostra
injetado foi de 1µL. A calibração da medida foi realizada pela técnica de padrão externo
(Smith, 1988).
3.12 MEDIÇÃO DA UMIDADE RELATIVA DO AR DE SAÍDA DO BIORREATOR 52
3.12 Medição da umidade relativa do ar de saída do
biorreator
Para monitorar a umidade relativa e temperatura na saída do biorreator foi utilizado
um termo-higrômetro marca Center modelo 310, ligado a um computador para aquisição de
dados on-line. O sensor foi instalado no primeiro trap, logo após a saída do biorreator, o qual
foi envolvido com isolante térmico, bem como o curto trajeto até ele (alguns centímetros).
Para determinar a umidade relativa do ar de entrada, realizou-se um teste no qual o
medidor de umidade relativa e temperatura foi instalado após os umidificadores, na posição
onde estaria o biorreator. Esta umidade relativa foi considerada constante ao longo da duração
do cultivo, como foi possível verificar durante esse teste.
3.13 Análise de umidade do meio de cultura
A umidade do leito foi medida conforme método descrito em Carvalho e Jong
(2002). Tomaram-se aproximadamente 5g de amostra, que foram misturados com areia
tratada em cápsula previamente seca (mínimo 3h em estufa a 80°C) e pesada. A cápsula, após
pesada com amostra, foi levada à estufa a 80°C por 6 horas, resfriada em dessecador e
novamente pesada. Essa operação foi repetida até se obter pesagens consecutivas iguais. A
diferença entre o peso inicial e o peso seco foi atribuída à umidade da amostra.
3.14 Análise do CO
2
liberado no cultivo
3.14.1 Análise por Cromatografia Gasosa
O ar de saída do biorreator foi continuamente conduzido a um cromatógrafo a gás
(CG) modelo Shimadzu GC-14B, equipado com uma válvula de injeção automática marca
VICI, coluna Supelco Carboxen 1006 Plot 30m x 0,53mm, detector TCD (a 230°C). O gás de
3.14 ANÁLISE DO CO2 LIBERADO NO CULTIVO 53
arraste e referência utilizado foi hélio a 30mL.min
-1
(arraste) e 10mL.min
-1
(referência),
medidos com a coluna a 35°C. O perfil de temperatura na coluna iniciou com 6 minutos a
35°C, seguindo-se aquecimento de 25°C.min
-1
até 110°C. Esta temperatura era mantida por 3
minutos. Nessas condições, o tempo de retenção do CO
2
foi de aproximadamente 4 minutos.
A amostragem automática do gás de saída do biorreator foi realizada a cada 20 minutos.
Para garantir condições padronizadas do ar que era amostrado pelo CG, a saída de ar
do biorreator foi conectada a dois traps: um primeiro para reter material sólido que
eventualmente saía do biorreator e outro resfriado para condensação de água. Em seguida, o
ar passava ainda por uma coluna de sílica, que retirava a umidade ainda não condensada, de
forma a enviar apenas ar seco ao cromatógrafo.
Para quantificar o CO
2
no ar que entra no biorreator, necessário para calcular a taxa
de produção do gás, foram feitas análises cromatográficas do ar vindo do compressor antes e
depois do cultivo.
3.14.2 Calibração da medida de CO
2
no CG
A calibração do CG para a medição do CO
2
foi realizada pela técnica de padrão
externo (Smith, 1988), com injeção de volumes conhecidos de gás puro (Dióxido de Carbono
USP – White Martins, Brasil), utilizando-se seringa de injeção comum de cromatografia. O
volume injetado foi convertido em concentração de CO
2
dividindo-se pelo volume do loop do
injetor automático (280µL). Assim, o sinal gerado no cromatograma foi relacionado com a
concentração de CO
2
. Para obter maior precisão, as injeções foram repetidas várias vezes para
cada volume utilizado.
3.14.3 Análise de CO
2
e O
2
em analisador de gases
O ar conduzido até o CG foi também analisado utilizando-se um analisador de gases
Mocon Pac Check Model 650 (Minneapolis, EUA). Este instrumento, comumente utilizado
3.15 TESTES DE MISTURA NO BIORREATOR 54
para análise de gás em embalagens de alimentos, realiza medições simultâneas de CO
2
e O
2
.
A concentração do primeiro é determinada por um eletrodo infra-vermelho, e a do segundo,
por um eletrodo polarimétrico de óxido de zircônio.
As análises utilizando este aparelho foram realizadas em intervalos de
aproximadamente 1 hora, durante os cultivos.
Entretanto, o uso do analisador de gases ficou prejudicado devido à baixa resolução
das medições do aparelho, da ordem de décimos de %, enquanto que as variações na
concentração de CO
2
e O
2
durante o processo não passavam de 1%.
3.15 Testes de mistura no biorreator
Com o objetivo de obter uma avaliação qualitativa da agitação proporcionada pelas
pás do biorreator, foram realizados testes de mistura utilizando corantes alimentícios, de
forma a desenvolver trabalho semelhante aos de Nagel et al. (2001) e Schutyser et al. (2001).
Nesses trabalhos, entretanto, os substratos utilizados eram particulados (grãos de trigo), o que
diferencia este trabalho daqueles.
Utilizaram-se duas porções de 400g de RIFS com 2000mL de água. Uma foi colorida
com 0,3g de corante azul brilhante, e a outra com 0,3g de corante amarelo tartrazina. Após
esterilização a 120°C por 20min, ambas foram resfriadas até a temperatura ambiente.
Adicionaram-se mais 400mL de água a cada porção, misturando bem. Este procedimento
buscava reproduzir aquele normalmente adotado nos cultivos, sem inoculação de
microrganismo.
Dois tipos de teste de mistura foram realizados, buscando qualificar as velocidades
de mistura radial e axial.
Para avaliar a mistura radial, as porções de fibra reconstituída foram distribuídas,
sem se misturar, no sentido longitudinal dentro do biorreator. No caso da avaliação da mistura
3.16 ESTIMAÇÃO DE BIOMASSA ATRAVÉS DA PRODUÇÃO DE CO2 55
axial, as porções de fibra foram distribuídas na outra direção, conforme mostrado na Figura
3.2.
Em ambos os casos, o biorreator foi fechado e a agitação foi ajustada a 4rpm (rotação
normal utilizada nos cultivos). Em intervalos regulares, parou-se a agitação e observou-se o
grau de mistura das duas cores (azul e amarelo) dentro do biorreator. Fotografias foram
obtidas utilizando uma câmera digital Olympus C-960 Zoom.
Este teste simples forneceu dados qualitativos sobre os padrões de mistura do
biorreator.
Figura 3.2: Disposição inicial da fibra nos testes de mistura.
Esquerda: teste de mistura radial; Direita: teste de mistura axial.
3.16 Estimação de biomassa através da produção de CO
2
A relação entre a taxa de produção de CO
2
e a biomassa foi descrita por uma equação
do tipo Luedeking-Piret (Luedeking e Piret, 1959), como comumente é feito na literatura
(Sugama e Okazaki, 1979; Sato et al., 1983; Mitchell, 1992b).
Xm
dt
dX
Y
CPR
dt
dC
CO
COX
CO
+==
2
2
2
/
1
(3.1)
3.16 ESTIMAÇÃO DE BIOMASSA ATRAVÉS DA PRODUÇÃO DE CO2 56
Ressalte-se que a forma apresentada pela Equação 2.54 não seria aplicável aqui, pois
os dados experimentais permitiriam a obtenção apenas de uma taxa de crescimento específica
(µ) aparente. O uso da forma que inclui a derivada da quantidade de biomassa em relação ao
tempo é mais apropriada, pois se reorganiza a Equação 3.1 para isolar a taxa de crescimento,
obtendo-se:
( )
XmCPRY
dt
dX
COCOX
=
22
/
(3.2)
O valor da taxa de produção de CO
2
foi calculado conforme Koutinas et al. (2003):
2
2
22
)(
CO
CO
B
CO
in
CO
out
v
M
M
CCF
CPR
= (3.3)
As considerações do modelo são, basicamente:
1. CO
2
não se acumula no meio.
2. Fluxos de entrada de ar e de saída de gás são iguais.
3. A massa do leito não se altera significativamente durante o cultivo.
A primeira consideração é bastante plausível, dada a baixa solubilidade do gás.
A segunda costuma ser utilizada na literatura e, neste trabalho, produz um erro
inferior a 2%, pois a taxa de produção de CO
2
é baixa ao longo de todo o cultivo, e é, ao
menos em parte, contrabalançada por consumo de O
2
. Medir o fluxo de gás na saída do
biorreator, neste caso, além de naturalmente impreciso seria prejudicado pela existência de
vazamentos de gás no biorreator (ver Apêndice).
A terceira consideração justifica-se novamente pela baixa produção de CO
2
. Ao
longo de 40 horas de cultivo, a quantidade acumulada de CO
2
gerado foi de aproximadamente
65g. Mesmo considerando diferentes rotas metabólicas possíveis, esta quantidade de gás
corresponderia à perda de menos de 1% da massa seca inicial do leito. Complementando isto,
as análises mostraram que a umidade do leito não se alterou significativamente ao longo do
tempo (ver Capítulo 4).
3.17 MODELAGEM DO CRESCIMENTO MICROBIANO 57
3.17 Modelagem do crescimento microbiano
Os dados de biomassa obtidos nos experimentos foram ajustados aos quatro
diferentes modelos cinéticos citados por Mitchell et al. (2004) para CES (Tabela 3.5):
Tabela 3.5: Modelos cinéticos de crescimento em CES
Tipo de modelo Forma diferencial Parâmetros a estimar
Linear
K
dt
dX
=
K
Exponencial X
dt
dX
= µ
µ
Logístico
=
m
X
X
X
dt
dX
1µ
µ , X
m
Duas fases
( )
[ ]
XeL
dt
dX
tt
X
dt
dX
tt
a
ttk
a
a
=
=<
µ
µ
µ , L , k , t
a
Fonte: Mitchell et al. (2004)
3.18 Resolução dos modelos e estimação de parâmetros
Os modelos, constituídos por sistemas de equações diferenciais ordinárias, foram
resolvidos utilizando-se o método da retrodiferenciação (BDF) com ordem e passo variável
(Brenan et al., 1995), com tolerância relativa de 10
-5
e tolerância absoluta de 10
-6
nas
variáveis.
Para todos os modelos testados, a estimação dos parâmetros foi realizada de forma a
minimizar a soma dos quadrados dos erros de predição, utilizando o método Particle Swarm
Optimization (PSO) de busca aleatória para obtenção de soluções aproximadas, refinadas pelo
método de Levenberg-Marquardt com atualização da matriz Hessiana pela técnica de BFGS
(Edgar e Himmelblau, 1988), ambos implementados em MATLAB v.5.3. Utilizou-se uma
tolerância relativa de 10
-6
para as variáveis de decisão e para a função-objetivo.
3.19 SELEÇÃO E ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS 58
A utilização de um método de busca aleatória, nestes problemas de estimação,
justifica-se, pois os modelos, e, por conseqüência, as funções-objetivo, são relativamente
simples, mas apresentam mínimos locais, o que pode prejudicar o desempenho dos métodos
de busca multivariável e analíticos, muito dependentes de uma boa estimativa inicial.
3.19 Seleção e estimação de parâmetros
As estimativas dos parâmetros foram refinadas pelo uso do algoritmo SELEST,
desenvolvido por Secchi et al. (2006). Com base na matriz de sensibilidade do sistema, o
algoritmo calcula o efeito de cada parâmetro nas variáveis medidas e a sua independência
linear em relação aos demais parâmetros. O produto destas duas grandezas é definido como a
identificabilidade (identifiability) do parâmetro, a qual pode ser entendida como a capacidade
que se tem, com os dados experimentais disponíveis, de estimar o parâmetro com precisão.
A maior identificabilidade determina qual parâmetro será estimado em cada etapa do
processo. O algoritmo prevê critérios de parada quando as condições do sistema já não
permitirem uma estimação precisa dos parâmetros.
A Figura 3.3 apresenta uma descrição simples dos passos do algoritmo SELEST.
Uma descrição mais detalhada é fornecida no Anexo I.
3.19 SELEÇÃO E ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS 59
Figura 3.3: Descrição simplificada do algoritmo SELEST.
Modelo identificado
com np parâmetros
Estimação inicial
dos parâmetros
Cálculo das médias dos
valores experimentais e da
matriz de covariância
Matriz de
sensibilidade global
Decomposição em valores
singulares ou característicos
Cálculo do efeito do
parâmetro sobre as medidas
Seleção de
parâmetro
Estimação do
parâmetro
Índices de degradação da
predição e de correlação
dos parâmetros
Critérios de
parada
Fim
Medida de
independência linear
Índice de
identificabilidade
Sim
Não
Capítulo 4
Resultados e Discussão
4.1 Calibração da medida de CO
2
no cromatógrafo a gás
A Figura Erro! Fonte de referência não encontrada. mostra a curva de calibração
para a medição de CO
2
no CG, obtida pelo método de calibração com padrão externo, com
injeção de volumes conhecidos de gás puro. O método mostrou-se bastante reprodutível, o
que foi comprovado pelo alto coeficiente de correlação.
0 2000 4000 6000 8000 10000
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
%CO
2
= 1,46.10
-4
x Area + 0,232
r
2
= 0,993
CO
2
(%)
Área de pico (µV.s)
Figura 4.1: Curva de calibração obtida para análise de CO
2
em CG.
4.2 TESTES DE MISTURA 61
Medições de CO
2
realizadas paralelamente no cromatógrafo e no analisador de gases
vieram a confirmar a boa qualidade da calibração feita no primeiro, conforme mostrado na
Figura 4.2.
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
r
2
= 0,992
Analisador de Gases
Cromatógrafo
Figura 4.2: Comparação entre as medidas de concentração de CO
2
(em %) obtidas pelo cromatógrafo a gás e
pelo analisador de gases.
4.2 Testes de mistura
Nos testes de mistura, verificou-se que o biorreator possui ótima capacidade de
mistura na direção radial, sendo que em menos de 15 minutos de agitação a 4 rpm (total de 60
revoluções) não há mais diferenças de cor no leito, conforme pode ser observado na Figura
4.3.
Porém, foram identificadas zonas mortas dentro do biorreator, que não são atingidas
pelas pás e, por isso, acumulam pequena quantidade de substrato que não se mistura muito
rapidamente com o resto do leito. Estas zonas mortas localizam-se na fina camada que reveste
as paredes do biorreator, com aproximadamente 3mm de espessura e nas extremidades do
eixo. Entretanto, estima-se que estas regiões correspondam a menos de 5% do volume do
leito.
4.2 TESTES DE MISTURA 62
Figura 4.3: Aspecto do biorreator ao início e após 15 minutos no teste de mistura radial.
Já na direção axial, a mistura é mais lenta, conforme esperado devido à configuração
das pás. A Figura 4.4 mostra o aspecto interno do biorreator aós 45 minutos de agitação a 4
rpm (180 revoluções). Percebe-se que a massa está bem misturada, entretanto, as zonas
mortas, como o fundo do cilindro, ainda não se misturaram. Esta mistura mais completa só
será obtida após quase duas horas de agitação.
Figura 4.4: Aspecto do biorreator ao início e após 45 minutos no teste de mistura axial.
Estes resultados concordam com os de Nagel et al. (2000), que também perceberam
que a homogeneização na direção radial se dá muito mais rapidamente que na direção axial.
Entretanto, cabe ressaltar que a mistura completa no sistema particulado daquele trabalho se
deu muito mais rapidamente (6 revoluções em teste de mistura radial e 120 revoluções em
4.3 TEMPERATURA DA ÁGUA DE ENCAMISAMENTO 63
teste de mistura axial), já que foram usadas pás em “V” e o substrato era particulado (grãos de
trigo).
Com estes resultados, decidiu-se, a exemplo dos demais trabalhos encontrados na
literatura (Nagel et al., 2000; Heck, 2005), tratar o leito do biorreator como homogêneo, pois
a dinâmica da mistura no biorreator é mais rápida que a dinâmica de processos biológicos. O
fato da mistura axial ser mais lenta que a radial é compensado pela distribuição do ar de
entrada ao longo de toda a extensão do cilindro e pela homogeneidade inicial do biorreator.
Este resultado, entretanto, é unicamente qualitativo, já que não era possível fazer
nenhum tipo de quantificação do grau de mistura do sistema. Tentando aprimorar este
aspecto, entrou-se em contato com o Laboratório de Processamento de Sinais e Imagens
(LAPSI) da UFRGS, para avaliar a possibilidade de desenvolver um trabalho visando
quantificar o grau de mistura ao longo do tempo.
Instalando-se uma câmera com uma fonte de luz em uma das escotilhas, poder-se-
iam obter imagens em intervalos regulares, as quais seriam processadas para determinar a
freqüência de ocorrência de cada tonalidade entre o amarelo e o azul. A partir daí, seria
necessário desenvolver uma regra que determinasse o grau de mistura a partir da distribuição
de freqüência de ocorrência de cada tonalidade.
Até o momento, foi realizado apenas um teste com fotografias tiradas com uma
câmera digital comum, no qual já foi confirmada a viabilidade do trabalho.
4.3 Temperatura da água de encamisamento
As medições de temperatura da água na entrada e na saída do encamisamento do
biorreator mostraram que a camisa se mantém praticamente constante a 37°C (Figura 4.5).
Variações nas medições são atribuídas à imprecisão do instrumento. Devido ao alto fluxo de
4.4 UMIDADE DO LEITO AO LONGO DOS CULTIVOS 64
água (aproximadamente 6 L.min
-1
, correspondente a uma velocidade linear de 70 cm.s
-1
na
mangueira), a diferença de temperatura entre entrada e saída foi praticamente nula.
Além disso, verifica-se que não houve nenhum pico de temperatura da água. Espera-
se um pico de geração de calor metabólico no instante de máximo crescimento da biomassa
(Mitchell e Meien, 2000; Mitchell et al., 2000; Mitchell et al., 2003), o qual poderia se refletir
na temperatura da água de encamisamento, caso a transferência de calor fosse limitada.
A partir desta observação pode-se concluir que a utilização de um modelo isotérmico
para descrever o biorreator é adequada.
0 10 20 30 40 50
30
32
34
36
38
40
Temperatura (°C)
Tempo (h)
0,0
3,0x10
8
6,0x10
8
9,0x10
8
1,2x10
9
1,5x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Figura 4.5: Temperatura de entrada e saída da água de encamisamento.
Linha pontilhada: Temperatura na entrada; Linha contínua: Temperatura na saída;
Linha contínua com círculos: Biomassa
4.4 Umidade do leito ao longo dos cultivos
A umidade do leito é muito importante em CES. A Figura 4.6 apresenta os resultados
obtidos para este parâmetro durante os cultivos. A umidade do leito manteve-se estável dentro
4.5 OBSERVAÇÕES GERAIS DURANTE OS CULTIVOS 65
de uma faixa estreita, entre 85% e 88%. Algumas considerações utilizadas nos modelos
desenvolvidos baseiam-se na constância da umidade do leito.
0 5 10 15 20 25 30
80
82
84
86
88
90
Umidade (%)
Tempo (h)
Figura 4.6: Evolução da umidade no meio de cultivo
Resultados são a média de três experimentos.
4.5 Observações gerais durante os cultivos
Vários aspectos interessantes do processo puderam ser observados, de forma
basicamente qualitativa, durante os experimentos.
Ao início dos experimentos, o substrato apresentava-se como uma pasta úmida,
porém consistente. Ao longo do cultivo, entretanto, o substrato foi se tornando mais
liquefeito, apesar de o teor de umidade manter-se praticamente inalterado.
Esta alteração de aspecto do substrato pode ser explicada pela ação das enzimas
hidrolíticas (celulases, xilanases, proteases), que hidrolisaram componentes do RIFS,
reduzindo sua capacidade de retenção de água. O microrganismo Bacillus circulans BL53 é
sabidamente produtor destas enzimas (Heck, 2001 e 2005).
Conforme Mitchell et al (2000), estas alterações estruturais do substrato são comuns
em CES, e, no caso de trabalhos de modelagem do processo, pode ser necessário levar este
fato em consideração. Uma conseqüência desta alteração é a redução dos espaços vazios no
4.6 PH DO MEIO DE CULTIVO 66
meio de cultivo (porosidade), o que, segundo os mesmos autores, prejudicaria a transferência
de oxigênio.
Os extratos produzidos a partir das amostras do cultivo apresentaram certa
viscosidade, o que, segundo Mitchell e Lonsane (1992), representa inclusive uma
desvantagem comum em CES, que pode trazer dificuldades no processamento downstream.
Entretanto, Heck (2005) purificou a enzima xilanase a partir deste mesmo extrato, utilizando
procedimentos de precipitação fracionada com sulfato de amônio, cromatografia e gel-
filtração. Nenhuma menção foi feita a dificuldades encontradas devido à viscosidade do
extrato.
4.6 pH do meio de cultivo
Foi observada variação significativa no pH do meio de cultivo ao longo dos
experimentos (Figura 4.7). O inóculo, produzido em meio líquido LB, chegava ao final da
incubação com pH entre 7,5 e 8,0. Após a inoculação, o cultivo iniciava-se com pH do meio
em 6,5. Após aproximadamente 10 horas de cultivo, nas quais o pH foi estável, verificou-se
sistematicamente a queda do pH do meio para valores próximos a 5,5. Cabe ressaltar que a
natureza do substrato, sólido e de composição complexa, impede o controle do pH como
realizado em cultivos submersos (Prior et al., 1992).
4.7 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA POR CONTAGEM EM PLACAS 67
0 5 10 15 20 25 30
5,0
5,2
5,4
5,6
5,8
6,0
6,2
6,4
6,6
6,8
7,0
pH
Tempo (h)
Figura 4.7: Variação do pH ao longo dos cultivos.
Resultados são a média de três experimentos.
4.7 Quantificação de biomassa por contagem em placas
Paralelamente à queda de pH, observou-se também, em todos os experimentos, que a
contagem de UFC no meio de cultivo atingia um máximo após aproximadamente 15 horas de
cultivo, e então passava a declinar, conforme se observa na Figura 4.8. Há certa variabilidade
nos resultados, mas pode-se distinguir claramente que a biomassa atingiu um valor máximo a
aproximadamente 15 horas de cultivo, passando a um declínio pouco depois.
0 5 10 15 20 25 30
0,0
4,0x10
8
8,0x10
8
1,2x10
9
1,6x10
9
2,0x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
Figura 4.8: Evolução da biomassa ao longo dos cultivos.
Resultados são média de três experimentos.
4.7 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA POR CONTAGEM EM PLACAS 68
Unindo os gráficos das Figuras 4.7 e 4.8, pode-se visualizar como a queda do pH está
associada ao crescimento do microrganismo, conforme preconiza a literatura (Figura 4.9).
Estas quedas no pH e na concentração de biomassa não eram esperados, mas
repetiram-se em todos os experimentos, e então buscou-se possíveis explicações para o
fenômeno.
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
3,0x10
8
6,0x10
8
9,0x10
8
1,2x10
9
1,5x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
5,0
5,2
5,4
5,6
5,8
6,0
6,2
6,4
6,6
6,8
7,0
pH
Figura 4.9: Evolução do pH e da concentração de biomassa ao longo dos cultivos.
¡ = biomassa (UFC.g
-1
); w = pH
Resultados são a média de três experimentos.
A queda no pH poderia inibir o crescimento do microrganismo, mas o pH alcançado
(5,5) não seria capaz de causar morte celular.
É também pouco provável que a carência de algum nutriente essencial tenha causado
este fenômeno. Havia ainda grande quantidade de fibra não consumida, o que garante fonte de
carbono e nitrogênio (proteína). Porém a biodisponibilidade destes recursos não pode ser
garantida. Por outro lado, ainda, devido à perda de estrutura da fibra, é provável que a
transferência de oxigênio no meio de cultivo tenha se tornado limitante.
Vários micronutrientes são fornecidos pela adição do meio mineral. Alguns destes
sais são pouco solúveis, como o CaCl
2
e o FeCl
3
, e poderiam estar presentes no meio em
concentração de fato menor que a desejada. Entretanto, outros trabalhos utilizando bactérias
do gênero Bacillus não se preocupam em fornecer tantos micronutrientes minerais ao
microrganismo (Paavilainen et al., 1995; Asensi et al., 1997; Paavilainen et al., 1999).
4.7 QUANTIFICAÇÃO DE BIOMASSA POR CONTAGEM EM PLACAS 69
A explicação mais provável para a queda da biomassa parece ser a produção de
algum metabólito tóxico durante o cultivo. Paavilainen et al. (1995 e 1999) estudaram as rotas
metabólicas de Bacillus circulans var. alkalophilus e concluíram que a utilização de glicose
ocorria quase que exclusivamente (90-93%) pela rota de Embden-Meyerhof-Parnas (EMP),
sendo que o piruvato formado era convertido principalmente a ácido acético e fórmico. Asensi
et al. (1997) identificaram que o ácido acético tem efeito bactericida in vitro sobre Bacillus
subtilits, uma espécie próxima ao B. circulans. Este efeito é dependente do pH, sendo que, em
pH 5,5, uma concentração de 17,4 µM (1 mg.L
-1
) já produziu ação bactericida in vitro,
enquanto que em pH 6 esta mesma concentração não se apresenta tóxica. Os autores
procuraram explicar o efeito pela alteração do pH intracelular, causada pela entrada de
moléculas de ácido não-dissociadas pela membrana, as quais se dissociam no ambiente neutro
do citoplasma, reduzindo o pH interno da célula.
De fato, análise em extratos de um dos cultivos apontou a produção de acetato
durante a fase de crescimento, chegando à concentração de 1,86 g.L
-1
no extrato aquoso
(correspondendo a 3,71 g.kg
-1
no leito do biorreator) às 18 horas de cultivo, momento em que
também se iniciou a queda da contagem de microrganismos, conforme Figura 4.10.
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
3,0x10
8
6,0x10
8
9,0x10
8
1,2x10
9
1,5x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
0,0
4,0x10
-4
8,0x10
-4
1,2x10
-3
1,6x10
-3
2,0x10
-3
Acetato (g
Ac
.g
-1
)
Figura 4.10: Comparação entre concentração de biomassa e de ácido acético.
¡ = biomassa (UFC.g
-1
); w = acetato (g.kg
-1
) no leito.
4.8 AÇÚCARES REDUTORES 70
Cabe ressaltar, porém, que a queda na concentração de biomassa não é acompanhada
de alteração na tendência da curva de produção de CO
2
, como seria esperado, uma vez que se
afirma relação entre produção de gás carbônico e crescimento microbiano. Esta discrepância
conduz à idéia de possíveis erros de amostragem no biorreator. Biorreatores de tambor
agitado têm sido tradicionalmente estudados como sistemas homogêneos, mas cultivos
sólidos, por definição, caracterizam-se por heterogeneidade do meio.
O microrganismo poderia estar se desenvolvendo mais rapidamente junto às paredes
do biorreator, numa fina camada (aproximadamente 3mm) formada pela fibra no início do
cultivo, e mais lentamente no bulk do leito, onde era realizada a amostragem. Esta camada de
parede poderia ter melhor acesso ao oxigênio. Porém, ao longo dos cultivos percebeu-se que a
fibra perdia a capacidade de aderir às paredes do biorreator, desaparecendo a camada de
parede.
Uma outra possibilidade levantada para explicar o fenômeno seria a formação de
aglomerados de microrganismos não desmanchados com a agitação no sonicador. Estes
aglomerados dariam origem a apenas uma colônia nas placas de contagem, ainda que
formados por um número maior de células.
4.8 Açúcares Redutores
A variação da concentração de açúcares redutores no meio de cultivo acompanhou,
aproximadamente, o desenvolvimento da biomassa, conforme pode ser observado na Figura
4.11. Desta observação conclui-se que a hidrólise dos polissacarídeos presentes no RIFS
ocorre a velocidade maior que o consumo dos açúcares redutores formados pelo metabolismo
bacteriano.
Apesar de não ter sido realizada a quantificação das enzimas hidrolíticas (celulases,
xilanases) no meio, pode-se inferir, pela geração de açúcares redutores, que a produção
4.9 MODELAGEM DO CRESCIMENTO MICROBIANO 71
daquelas está associada ao crescimento, como é citado em alguns trabalhos na literatura
(Mitchell, 1992b; Matcham, 1985; Smits et al., 1996).
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
5,0x10
-3
1,0x10
-2
1,5x10
-2
2,0x10
-2
2,5x10
-2
0,0
3,0x10
8
6,0x10
8
9,0x10
8
1,2x10
9
1,5x10
9
Açúcares Redutores (g
S
.g
-1
)
Tempo (h)
Biomassa (UFC.g
-1
)
Figura 4.11: Comparação entre concentração de biomassa e de açúcares redutores.
¡ = biomassa (UFC.g
-1
); ¡ = açúcares redutores (g.kg
-1
) no leito.
4.9 Modelagem do crescimento microbiano
A queda na quantidade de biomassa medida, após algumas horas de cultivo,
prejudica o ajuste da curva de crescimento aos modelos normalmente utilizados em trabalhos
de modelagem de CES. O modelo logístico obtém resultados satisfatórios somente nas
primeiras 20 horas, ou seja, antes da queda da biomassa (Figura 4.12), uma vez que não é
capaz de descrever este tipo de comportamento. Os parâmetros µ e X
max
assim estimados
foram:
µ = 0,780 ± 0,0386 h
-1
X
max
= 1,4010
9
± 6,0710
7
UFC.g
-1
Os demais modelos citados por Mitchell et al. (2004) apresentaram-se ainda menos
adequados para descrever a cinética observada, pois nenhum deles inclui um termo de morte
microbiana.
4.10 ESTIMAÇÃO DA BIOMASSA ATRAVÉS DA TAXA DE PRODUÇÃO DE CO2 72
0 5 10 15 20 25 30
0,0
4,0x10
8
8,0x10
8
1,2x10
9
1,6x10
9
2,0x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
Figura 4.12: Ajuste dos dados de biomassa ao modelo logístico.
¡ = dados experimentais; Linha = predição do modelo
4.10 Estimação da biomassa através da taxa de produção
de CO
2
Os cromatogramas obtidos para o CO
2
tiveram resolução satisfatória. Um exemplo
está apresentado na Figura 4.13.
Figura 4.13: Exemplo de cromatograma obtido na análise de CO
2
no ar de saída do biorreator.
A Figura 4.14 mostra os resultados obtidos para a taxa de produção de CO
2
durante
os cultivos. As curvas de CPR foram bastante reprodutíveis e seguiram o mesmo padrão
apresentado por outros trabalhos encontrados na literatura (Sato et al., 1983; Kim et al., 1985;
Smits et al., 1996; Koutinas et al., 2003; Prado et al., 2004): um rápido aumento inicial,
4.10 ESTIMAÇÃO DA BIOMASSA ATRAVÉS DA TAXA DE PRODUÇÃO DE CO2 73
atingindo máximo com aproximadamente 8 horas de cultivo (próximo à metade da fase de
crescimento), seguido de uma lenta redução, que se prolongava por dias. Em alguns
experimentos, pode-se acompanhar esta lenta redução na taxa de produção de CO
2
, que
continuou por pelo menos mais seis dias, até atingir praticamente zero.
0 5 10 15 20 25 30
0,0
2,0x10
-4
4,0x10
-4
6,0x10
-4
8,0x10
-4
1,0x10
-3
CPR (g
CO
2
.g
-1
.h
-1
)
Tempo (h)
Figura 4.14: Taxa de produção de CO
2
.
Resultados são média de três experimentos.
Os resultados de uma triplicata do cultivo em BCHA foram utilizados para estimar os
parâmetros do modelo representado pela Equação 3.2, que relaciona a produção de CO
2
à
biomassa.
Os valores obtidos para os parâmetros foram:
XCO
Y
/
2
= 2,7610
-12
g
CO2
.UFC
-1
2
CO
m = 2,3610
-13
g
CO2
.UFC
-1
.h
-1
Os gráficos da Figura 4.15 comparam os resultados preditos pelo modelo, a partir dos
dados de produção de CO
2
, com a biomassa medida para três experimentos. Percebe-se que o
modelo só conseguiu descrever satisfatoriamente a evolução da curva de biomassa durante as
primeiras 20h de cultivo, ou seja, até a fase estacionária. Após este período, foi observada
queda na contagem de células viáveis, o que o modelo utilizado não foi capaz de descrever.
4.10 ESTIMAÇÃO DA BIOMASSA ATRAVÉS DA TAXA DE PRODUÇÃO DE CO2 74
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
5,0x10
8
1,0x10
9
1,5x10
9
2,0x10
9
2,5x10
9
CPR (g
CO
2
.g
-1
.h
-1
)
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
0,0
2,0x10
-4
4,0x10
-4
6,0x10
-4
8,0x10
-4
1,0x10
-3
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
5,0x10
8
1,0x10
9
1,5x10
9
2,0x10
9
2,5x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
0,0
2,0x10
-4
4,0x10
-4
6,0x10
-4
8,0x10
-4
1,0x10
-3
CPR (g
CO
2
.g
-1
.h
-1
)
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
5,0x10
8
1,0x10
9
1,5x10
9
2,0x10
9
2,5x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
0,0
2,0x10
-4
4,0x10
-4
6,0x10
-4
8,0x10
-4
1,0x10
-3
CPR (g
CO
2
.g
-1
.h
-1
)
Figura 4.15: Resultados da estimação de biomassa a partir da taxa de produção de CO
2
, para três experimentos.
Linha sólida = predição do modelo (UFC.g
-1
); ¡ = biomassa medida (UFC.g
-1
);
w = taxa de produção de CO
2
(g
CO2
.g
-1
.h
-1
)).
Este é um resultado comum nos trabalhos que buscam estimar biomassa em CES a
partir de dados de atividade metabólica (produção de CO
2
, consumo de O
2
, atividade
enzimática). Mitchell (1992) já apontava a dificuldade de estimar a biomassa a partir dos
dados de produção de CO
2
após a fase de crescimento exponencial.
Matcham et al. (1984) mostraram que a atividade da enzima laccase é bom parâmetro
para estimação de biomassa de Agaricus bisporus apenas nas primeiras 56h de cultivo.
Smits et al. (1996), utilizando também um modelo do tipo Luedeking-Piret para
estimar biomassa a partir da produção de CO
2
e a produção de O
2
, encontraram desvios entre
a estimativa da equação e as medidas experimentais nos pontos de baixa e alta concentração
de biomassa. Os primeiros, devido à menor dimensão, têm pouco efeito sobre a estimação da
biomassa ao longo do cultivo e foram atribuídos a erro experimental. Entretanto, os autores
não encontraram explicação para os desvios nas altas concentrações de biomassa e sugeriram,
para trabalhos futuros, extender a equação para compensar tais desvios.
4.11 DESENVOLVIMENTO DE MODELO CINÉTICO 75
4.11 Desenvolvimento de modelo cinético
A partir dos dados experimentais de biomassa, açúcares redutores, acetato e
produção de CO
2
, foi desenvolvido um modelo cinético para descrever a evolução destas
grandezas.
As seguintes observações puderam ser realizadas a partir dos resultados obtidos
experimentalmente:
A curva de crescimento do microrganismo atingiu um máximo após aproximadamente 15
horas de cultivo, passando a declinar.
Sugere-se que este declínio esteja relacionado ao acúmulo de acetato no meio de cultivo,
estando este fenômeno de acordo com outros trabalhos da literatura.
A concentração de açúcares redutores no meio aumenta juntamente com a biomassa, sendo
fruto da atividade enzimática do microrganismo.
O leito não sofre alterações significativas de massa seca e umidade ao longo do cultivo.
Com base nestas observações, foi desenvolvido o modelo, cujas principais
considerações são:
1) Microrganismo possui cinética de crescimento do tipo Monod, sendo os açúcares
redutores seu substrato limitante.
2) Os açúcares redutores são consumidos pelos microrganismos e, concomitantemente,
produzidos pela atividade enzimática (xilanases, celulases) destes.
3) Os produtos finais do metabolismo microbiano considerados são o gás carbônico e o ácido
acético, sendo que este possui efeito bactericida.
4) Leito do biorreator não sofre alterações significativas de massa seca, umidade ou atividade
de água ao longo do cultivo.
5) Influências do pH sobre a velocidade de crescimento e do metabolismo microbiano sobre
o pH são desprezadas.
4.11 DESENVOLVIMENTO DE MODELO CINÉTICO 76
Com base nestas considerações, foi desenvolvido o equacionamento do modelo. A
biomassa cresce dependente do nutriente limitante (açúcares redutores), com a velocidade
específica de inativação celular dependente da concentração de acetato no meio.
XkX
dt
dX
D
=µ (4.1)
SK
S
S
+
=
max
µµ (4.2)
n
D
Ackk =
1
(4.3)
Os açúcares redutores são consumidos pelo microrganismo e produzidos pela sua
atividade enzimática, que é considerada proporcional somente à concentração de biomassa.
Portanto, os polissacarídeos hidrolisados por esta atividade enzimática são considerados em
excesso, o que gera uma simplificação da equação da velocidade de reação (A).
AXY
dt
dS
XS
+= µ
/
(4.4)
p
XkA =
2
(4.5)
O acetato é produzido pelo metabolismo microbiano, mas possui efeito bactericida
descrito pela Equação 4.3. A curva experimental de acetato, entretanto, apresentou queda na
concentração da substância a partir das 18 horas de cultivo (Figura 4.10). Para tentar explicar
este fenômeno, foi introduzido um termo para representar esta redução da quantidade de
acetato no meio, sendo o efeito proporcional à inibição causada pelo acetato no crescimento.
XkXY
dt
dAc
DXAc
= αµ
/
(4.6)
Este termo α mostrou-se indispensável para que o modelo conseguisse se aproximar
dos dados experimentais.
O gás carbônico é produzido pelo metabolismo microbiano, estando associado ao
crescimento e à manutenção.
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 77
Xm
dt
dX
YCPR
dt
dC
COXCO
CO
+==
22
2
/
(4.7)
Aqui a utilização da Equação 2.54 seria justificada, e provavelmente até mais
indicada. Entretanto, este balanço de CO
2
não influencia os demais, e, como será explicado
mais adiante o uso da Equação 4.7 permite melhores comparações com os resultados obtidos
para a estimação da biomassa a partir da taxa de produção de CO
2
.
4.12 Estimação dos parâmetros do modelo cinético
Os parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m foram estimados separadamente dos demais parâmetros
do modelo, utilizando a predição de biomassa obtida com o modelo. Este procedimento
facilitou a resolução do problema de estimação, sem prejuízos à qualidade da solução, uma
vez que o balanço de CO
2
não influencia os demais. Por este motivo, a discussão sobre a
estimação dos parâmetros também iniciará pelos balanços de biomassa, açúcares redutores e
acetato; para depois lidar com o balanço de CO
2
.
Assim, inicialmente se tinha um sistema de três equações diferenciais (Equações 4.1,
4.4 e 4.6) e nove parâmetros a estimar, que são apresentados na Tabela 4.1.
No processo de estimação, percebeu-se que, mesmo impondo limites máximos e
mínimos para os parâmetros, era possível obter vários conjuntos de valores diferentes para os
nove parâmetros, sendo que o modelo apresentava resposta similar em todos os casos, ou seja,
erros de predição semelhantes.
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 78
Tabela 4.1: Parâmetros do modelo cinético presentes nos balanços de biomassa, açúcares
redutores e acetato.
Parâmetro Significado
µ
max
Velocidade específica máxima de crescimento
K
S
Constante de saturação de Monod
k
1
Taxa de reação de inativação celular devido ao acetato
n Ordem da reação de morte celular em relação ao acetato
Y
S/X
Razão de consumo de substrato por biomassa formada
k
2
Taxa de reação de hidrólise de polissacarídeos
p
Ordem da reação de hidrólise de polissacarídeos em relação à
biomassa
Y
Ac/X
Razão de produção de acetato por biomassa formada
α
Parâmetro de proporcionalidade entre redução da
concentração de acetato e taxa de morte celular
A análise realizada com o algoritmo SELEST revelou alto grau de correlação entre
os parâmetros, ou seja, imprecisões da estimação de um parâmetro são “compensadas” por
imprecisões nas estimações dos demais, de forma que o modelo forneça uma resposta que,
com os dados disponíveis, parece satisfatória. A reduzida quantidade de dados experimentais
disponíveis é que permite esta distorção e prejudica a estimação. Esta carência de dados
aproveitáveis é explicada por problemas enfrentados durante os experimentos, descritos no
Apêndice.
O algoritmo apontou que o parâmetro µ
max
, por exemplo, possui grande efeito sobre
as saídas do modelo. Isto é esperado, uma vez que a velocidade específica de crescimento µ,
que aparece nas três equações diferenciais, é diretamente proporcional a µ
max
. Entretanto, a
alta correlação deste parâmetro com os demais faz com que sua identificabilidade seja a mais
baixa e ele não possa ser estimado com precisão.
Buscando melhorar a estimativa dos parâmetros, decidiu-se fixar o valor de µ
max
em
0,78 h
-1
, valor este que fora obtido anteriormente no ajuste ao modelo de crescimento
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 79
logístico, para estimar somente os outros oito parâmetros, com mais precisão. Esta medida
surtiu efeito, e sete parâmetros puderam ser estimados com boa precisão (Tabela 4.2). Apenas
o parâmetro K
S
não pode ser refinado, permanecendo com uma estimativa grosseira. De
qualquer forma, este é o parâmetro de menor efeito sobre as saídas do sistema (Tabela 4.3), o
que é uma garantia de que, ainda assim, as incertezas do modelo estão minimizadas.
Tabela 4.2: Parâmetros estimados para o modelo cinético
Parâmetro Valor Unidade
µ
max
0,78
h
-1
K
S
0,674
g
S
g
-1
k
1
0,154
± 1,0610
-2
h
-1
n 1,50
± 6,8410
-2
Y
S/X
9,7510
-8
± 1,2710
-9
g
S
UFC
-1
k
2
7,10
± 0,941 g
S
h
-1
p 1,01
± 3,1310
-3
Y
Ac/X
1,0210
-9
± 6,9710
-11
g
Ac
UFC
-1
α 8,9210
-10
± 7,2610
-11
g
Ac
UFC
-1
Tabela 4.3: Efeito dos parâmetros sobre as saídas do modelo cinético.
Parâmetro Efeito
p 0,8318
k
2
0,3615
n 0,3593
Y
Ac/X
0,0346
k
1
0,0275
Y
S/X
0,0244
α 0,0208
K
S
0,0151
A Tabela 4.4 representa a matriz de correlação dos parâmetros estimados com o
algoritmo SELEST. O diagnóstico final foi de que os parâmetros são muito correlacionados.
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 80
Ressalte-se ainda que, caso K
S
ou µ
max
também tivessem sido estimados, as correlações
aumentariam consideravelmente.
O parâmetro p foi o que apresentou o menor grau de correlação em relação aos
demais. Aliando-se isso ao seu alto efeito sobre as saídas do modelo, este parâmetro torna-se
o de maior identificabilidade. Além disso, o valor de p, praticamente igual a 1, mostra que a
velocidade da reação de hidrólise dos polissacarídeos é controlada pela transferência de massa
no leito.
Os parâmetros k
2
e Y
S/X
possuem alta correlação pois, uma vez que o valor de p é
quase igual a 1 (e p é o parâmetro de maior identificabilidade), eles se contrabalançam na
equação dos açúcares redutores. O aumento de um implica o aumento do outro, para manter o
equilíbrio. Isto remete a um problema já na proposição do modelo, que não foi previsto. É
semelhante a explicação para o caso do par Y
Ac/X
e α, fortemente correlacionados por se
compensarem no balanço de acetato.
k
1
e n, que também apresentam forte correlação, possuem dependência inversa: os
aumentos de um acarretam redução do outro. A causa da forte correlação é o fato e o modo de
ambos participarem da equação que define a taxa de morte, k
D
.
Tabela 4.4: Matriz de correlação para os parâmetros estimados do modelo cinético
p k
2
n Y
Ac/X
k
1
Y
S/X
α
p 1 0,150 0,028 0,185 -0,049 0,212 0,190
k
2
0,150 1 -0,525 0,377 0,544 0,998 0,381
n 0,028 -0,525 1 -0,829 -0,979 -0,514 -0,826
Y
Ac/X
0,185 0,377 -0,829 1 0,812 0,380 0,995
k
1
-0,049 0,544 -0,979 0,812 1 0,531 0,799
Y
S/X
0,212 0,998 -0,514 0,380 0,531 1 0,385
α 0,190 0,381 -0,826 0,995 0,799 0,385 1
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 81
Os resultados obtidos na simulação do modelo podem ser confrontados com os dados
experimentais na Figura 4.16. Percebe-se que o modelo proposto apresentou boa concordância
com os dados experimentais, conseguindo descrever de forma satisfatória o comportamento
das variáveis biomassa, açúcares redutores e acetato no sistema.
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
3,0x10
8
6,0x10
8
9,0x10
8
1,2x10
9
1,5x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
4,0x10
-3
8,0x10
-3
1,2x10
-2
1,6x10
-2
2,0x10
-2
Açúcares redutores (g
S
.g
-1
)
Tempo (h)
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
1,0x10
-3
2,0x10
-3
3,0x10
-3
4,0x10
-3
Acetato (g
Ac
.g
-1
)
Tempo (h)
Figura 4.16: Predições do modelo desenvolvido em comparação com os dados experimentais.
¡ = Dados experimentais; Linhas = Predições do modelo.
As predições da biomassa do modelo cinético, obtidas na primeira fase da estimação,
conforme foi descrito, foram utilizadas para estimar os parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m . Os valores
obtidos constam na Tabela 4.5. Percebe-se que ambos divergem ligeiramente dos valores
estimados diretamente a partir dos dados experimentais.
Tabela 4.5: Parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m estimados para o modelo cinético.
Y
CO2/X
2,1110
-12
g
CO2
UFC
-1
m
CO2
4,9210
-13
g
CO2
UFC
-1
.h
-1
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 82
A Figura 4.17 apresenta a comparação entre a produção de CO
2
verificada
experimentalmente e a predição feita pelo modelo. A curva obtida não acompanhou
satisfatoriamente as tendências desenvolvidas pela curva experimental.
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
3,0x10
-3
6,0x10
-3
9,0x10
-3
1,2x10
-2
1,5x10
-2
CPR Acumulado (g
CO
2
.g
-1
)
Tempo(h)
Figura 4.17: Predições do modelo com relação à produção de CO
2
.
¡
= Dados experimentais; Linhas = Predições do modelo.
A dificuldade em descrever satisfatoriamente a produção de CO
2
pode ser
decorrência direta do ainda limitado poder de caracterização dos sistemas em CES. A
descrição ofertada pelo modelo é bastante simples em comparação com a complexidade do
processo.
Possíveis problemas difusionais, causados pela alteração da estrutura do RIFS
durante o cultivo, poderiam levar à limitação de oxigênio no processo. Isto, juntamente com a
composição complexa do meio de cultivo, implica em diferentes rotas metabólicas utilizadas
pelo microrganismo, as quais não poderiam ser corretamente consideradas no modelo pelas
próprias limitações analíticas ainda presentes nos estudos de processo de CES.
Com os parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m , aqui obtidos para o modelo cinético, foi realizada
a estimação indireta da biomassa, como comparação ao resultado apresentado anteriormente,
quando esses parâmetros foram estimados diretamente a partir das medições experimentais de
biomassa. A Figura 4.18 apresenta os resultados obtidos.
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 83
0 5 10 15 20 25 30 35
0,0
3,0x10
8
6,0x10
8
9,0x10
8
1,2x10
9
1,5x10
9
Biomassa (UFC.g
-1
)
Tempo (h)
0,0
2,0x10
-4
4,0x10
-4
6,0x10
-4
8,0x10
-4
1,0x10
-3
CPR (g
CO
2
.g
-1
.h
-1
)
Figura 4.18: Estimação de biomassa através dos parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m do modelo cinético.
¡ = Medições de biomassa; w = Medições de CPR.
Linha pontilhada = Biomassa predita pelo modelo cinético.
Linha contínua = Biomassa estimada através dos parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m do modelo cinético.
De acordo com o procedimento utilizado para a estimação dos parâmetros
XCO
Y
/
2
e
2
CO
m , a biomassa estimada deveria coincidir com aquela predita pelo modelo cinético.
Entretanto, os resultados foram pouco satisfatórios, o que pode ser decorrência da já
mencionada desvinculação do balanço de CO
2
em relação aos demais presentes no modelo.
Além disso, o meio sólido contém várias fontes de carbono diferentes, cujo consumo gera
CO
2
, mas apenas o teor de açúcares redutores foi monitorado.
Está claro, assim, que o modelo proposto pode ser aperfeiçoado. Além da
necessidade de mais dados experimentais, o modelo ainda carece de relações estequiométricas
para melhor descrever o sistema. As produções de acetato e CO
2
, conforme o modelo,
ocorrem sem haver uma relação direta com o consumo de substrato.
O próprio substrato, que é complexo, constituído de polissacarídeos e seus derivados
por hidrólise, é apresentado de forma bastante simplificada: açúcares redutores derivados de
polissacarídeos presentes em excesso. A caracterização extremamente simplificada do
4.12 ESTIMAÇÃO DOS PARÂMETROS DO MODELO CINÉTICO 84
substrato, ou até a falta de caracterização, é comum nos modelos propostos para CES, o que
nos remete a uma das desvantagens do CES em relação ao CSm: a dificuldade na
quantificação de parâmetros importantes do cultivo (Mitchell e Lonsane, 1992; Pandey,
2003).
Capítulo 5
Conclusões e Perspectivas
Apesar de os cultivos em estado sólido apresentarem, por definição,
heterogeneidades, os testes de mistura realizados mostraram que o biorreator utilizado realiza
uma homogeneização adequada para os propósitos do trabalho. Os poucos trabalhos
encontrados na literatura que também utilizavam este tipo de biorreator adotaram igualmente
a consideração de homogeneidade do leito.
A quantificação de biomassa, apesar de ser um parâmetro fundamental para o
desenvolvimento de bioprocessos, ainda tem de ser muito estudada em CES. As técnicas
desenvolvidas têm-se destinado basicamente aos processos envolvendo fungos filamentosos,
enquanto a análise por contagem em placas, tradicionalmente recomendada para bactérias,
ainda não mostra a precisão desejada. A literatura carece do desenvolvimento de trabalhos
que apontem componentes da biomassa bacteriana de fácil medição e que sejam adequados na
estimação indireta de biomassa.
Neste trabalho, a estimação de biomassa através da produção de CO
2
apresentou
bons resultados nas primeiras horas do cultivo, mas a queda na contagem de microrganismos
não foi acompanhada por similar queda na produção de CO
2
. De qualquer forma, é sempre
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 86
esperado que a estimação da biomassa através da atividade metabólica perca eficiência ao
longo do tempo nos experimentos, quer pela natureza cumulativa do erro de estimação, quer
por mudanças metabólicas do microrganismo, que não são corretamente detectadas quando se
tem um único parâmetro mensurável.
Alguns trabalhos, em geral em CSm, já procuram utilizar um maior número de
medições on-line simultaneamente para gerar uma estimativa melhor da biomassa. A
obtenção de tais medições depende do desenvolvimento de sensores adequados, e a tecnologia
disponível para CES ainda está aquém da utilizada em CSm.
O modelo cinético desenvolvido para representar o processo apresentou resultados
satisfatórios, realizando boas predições das concentrações de biomassa, açúcares redutores e
acetato no meio. A predição da produção de CO
2
, por outro lado, não apresentou a mesma
qualidade.
Porém, ficou claro que o modelo ainda pode ser bastante aprimorado, como pela
obtenção de uma maior quantidade de dados experimentais. Além disso, o estabelecimento de
relações estequiométricas no processo pode tornar o modelo mais parcimonioso, reduzindo o
número de parâmetros a estimar.
Cabe ressaltar que, neste trabalho, procurou-se desenvolver o conhecimento ligado a
alguns dos pontos que a literatura cita como desvantagens dos CES em relação aos CSm: a
pouca caracterização de aspectos de engenharia do processo, dificuldade de medição de
parâmetros do processo (biomassa, substrato, produtos), cinética de reações e modelagem
matemática.
Por fim, os resultados deste trabalho podem servir como guias para o
desenvolvimento de novos estudos que aprofundem mais o conhecimento dos aspectos de
engenharia dos cultivos em estado sólido, para que estes atinjam o mesmo nível tecnológico já
alcançado pelos cultivos submersos.
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS 87
O trabalho apresentado nesta dissertação serve como um primeiro esforço no sentido
de desenvolver modelos não-empíricos para o cultivo em estado sólido utilizando o resíduo
industrial fibroso de soja para o crescimento de bactérias. Novos estudos são possíveis a partir
deste trabalho.
Para desenvolver o estudo da transferência de massa no biorreator, está sendo
estudada a possibilidade do uso de análise de imagens nos testes de mistura com corantes,
para determinar um coeficiente efetivo de transferência de massa. Esta informação seria útil
no momento de propor modelos adequados para descrever os fenômenos de transferência de
massa no processo.
Na estimação de biomassa, sugere-se o desenvolvimento de novos métodos indiretos
de estimação, através de componentes da biomassa, que sejam aplicáveis a bactérias. A
literatura cita apenas exemplos para fungos (glicosamina e ergosterol).
Medições on-line de O
2
, com a precisão necessária, acopladas às medições atuais de
CO
2
, podem permitir uma estimação de biomassa mais precisa e robusta que a obtida
atualmente.
O modelo cinético desenvolvido seria bastante aprimorado se fosse possível
estabelecer uma estequiometria do processo. A própria incorporação de um balanço de
oxigênio ao modelo atual pode auxiliar nesse intuito.
Um número maior de experimentos utilizando este sistema, porém variando-se as
condições de cultivo (temperatura, pH inicial, umidade relativa do ar, umidade inicial do
leito) pode representar uma grande evolução no modelo atual, com a incorporação de
balanços de massa (água) e energia.
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Apêndice A - Problemas enfrentados durante
os experimentos
Durante a execução dos experimentos, houve vários problemas com o aparato
experimental, que dificultaram o desenvolvimento do trabalho. Alguns deles, juntamente com
uma breve discussão sobre suas conseqüências, serão apresentados aqui.
O compressor responsável pelo fornecimento de ar para o biorreator tem
funcionamento intermitente, ou seja, trabalha para gerar uma determinada pressão de ar na
linha e pára, sendo novamente acionado quando a pressão cai abaixo de determinado nível.
Como o aparato experimental não contava com válvulas reguladoras de pressão, apenas
válvulas simples e rotâmetros, ocorriam leves variações na pressão e, conseqüentemente, na
vazão de ar no biorreator. Como efeito, nos gráficos da porcentagem de CO
2
no ar de saída,
medida pelo CG, observa-se um perfil em forma de serrote, com periodicidade, inclusive.
Entretanto, a amplitude das variações provocadas por este fenômeno é pequena, como
observado na Figura A.1.
O biorreator utilizado impedia a instalação de sensores de temperatura em contato
direto com o leito, para monitorar a temperatura do meio de cultura ao longo do cultivo. As
pás de agitação não deixam nenhum espaço entre suas trajetórias, e apenas 3 mm para a
parede do cilindro.
Através de um teste de submersão do corpo do biorreator, percebeu-se que ele possui
pontos de vazamento de ar. O principal é no eixo, mas pode vazar ar também pelas escotilhas
e pela tampa do biorreator. A grande preocupação neste caso é que os pontos de vazamento se
tornem pontos de entrada de microrganismos contaminantes.
APÊNDICE A - PROBLEMAS ENFRENTADOS DURANTE OS EXPERIMENTOS 97
0 10 20 30 40
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
CO
2
(%)
Tempo (h)
Figura A.1: Curva de porcentagem de CO
2
no ar de saída do biorreator apresentando efeito da variação da vazão
de ar.
De fato, a despeito das afirmações de vários autores sobre a menor possibilidade de
contaminação em CES, vários experimentos foram perdidos devido ao desenvolvimento de
microrganismos estranhos.
As operações de amostragem do biorreator ofereciam uma boa oportunidade para a
entrada de contaminantes, já que era necessário abrir uma escotilha do biorreator e introduzir
uma colher para coleta da amostra. Por mais que se utilizasse material esterilizado, e o
procedimento fosse feito junto à chama, a possibilidade de contaminação era alta, pois não era
possível realizar a amostragem numa capela de fluxo.
O próprio teste de Gram, comumente utilizado para identificar contaminantes em
meio de cultivo, não é muito adequado quando se trata de CES, exatamente pela grande
quantidade de sólidos que dificultam a visualização ao microscópio. A forma que foi mais
utilizada para detectar a presença de contaminantes foi a observação das colônias formadas
nas placas de contagem.
A saída de ar do biorreator consistia de um pequeno orifício com aproximadamente 7
mm de diâmetro. Por várias vezes, verificou-se que a fibra acabava entrando neste orifício e
causando seu entupimento. Isto ocorria principalmente nas primeiras horas do cultivo, quando
APÊNDICE A - PROBLEMAS ENFRENTADOS DURANTE OS EXPERIMENTOS 98
a fibra ainda tinha maior capacidade de retenção de água e consistência. Para desentupir a
saída de ar podia ser necessário abrir o sistema, o que possibilitava novamente a entrada de
contaminantes.
O Campus do Vale da UFRGS também sofre eventuais quedas de energia, que,
muitas vezes, acabam encerrando experimentos precocemente.
Na etapa final do trabalho, o motor do biorreator começou a apresentar problemas.
Por vezes, não respondia ao acionamento, rodava em velocidade lenta ou até mesmo parava
sozinho. Isto acabou impedindo que mais experimentos pudessem ser realizados.
O termo-higrômetro utilizado também apresentou problemas no funcionamento.
Primeiramente, tais medidores já costumam perder precisão nas condições de alta umidade
relativa do ar utilizadas nos experimentos. Além disso, nesta situação de ar saturado, pode
ocorrer condensação de água no sensor. De fato, estas condições às quais ele foi exposto
durante os cultivos parecem ter afetado o aparelho, o qual, aparentemente, perdia a calibração
após algumas horas de medição, marcando valores de temperatura e umidade relativa
sabidamente incorretos. Em outras oportunidades, o aparelho simplesmente acusava erro de
medição, e, por fim, perdeu a estabilidade das medições, que variavam continuamente, sem
estabilizar em um valor.
O controle de umidade relativa no ar de entrada do biorreator, que fora planejado,
acabou não funcionando. Embora fosse possível ajustar a umidade relativa do ar por meio de
soluções saturadas de sais, o pequeno trecho (aproximadamente 20 cm) de mangueira de ar
fora da estufa era suficiente para reduzir um pouco a temperatura do ar. Esta pequena redução
na temperatura era suficiente para causar um aumento significativo na umidade relativa do ar.
A própria análise de contagem de colônias em placas mostrou peculiaridades no caso
do Bacillus circulans BL53. A bactéria apresentou crescimento muito rápido no meio PCA,
com suas colônias aumentando de tamanho rapidamente, chegando ao ponto de se juntarem,
APÊNDICE A - PROBLEMAS ENFRENTADOS DURANTE OS EXPERIMENTOS 99
dificultando a contagem (Figura A.2). Por este motivo era necessário realizar a contagem das
colônias já com apenas 12 horas de incubação.
Há trabalhos na literatura tratando deste crescimento das colônias de Bacillus
circulans (Eiha et al, 2002; Komoto et al, 2003). As colônias desta bactéria são capazes de
migrar sobre o meio de cultura, e inclusive formar subcolônias. Komoto et al (2003)
concluíram que o aumento da quantidade de ágar no meio de cultura reduz esta capacidade,
pois o ágar cria uma rede que impede o deslocamento das células.
Com esta informação, decidiu-se aumentar a quantidade de ágar adicionada aos
meios de cultura utilizados neste trabalho.
Figura A.2: Aspecto de colônias colabadas de Bacillus circulans BL53.
Anexo I Algoritmo SELEST
A seguir são descritos em detalhe os passos do algoritmo SELEST, utilizado na
estimação e no cálculo de desvios-padrão dos parâmetros. Adaptado de Secchi et al. (2006),
com autorização.
Partindo-se de um sistema dinâmico:
(
)
(
)
(
)
);,(
; ; 0;,,,
00
θ
θθθ
uxHy
xtxuxxtF
=
==
&
(I.1)
onde x, x
&
nx
são as variáveis de estado e suas derivadas em relação à variável
independente, t; u
nu
são as entradas do sistema (variáveis cujo valor é controlado à parte
do sistema considerado, p.ex., temperatura); y
ny
são as saídas medidas e θ
np
são os
parâmetros do modelo.
1) Avaliam-se os valores médios de y e u para cada experimento com r repetições:
Nny
r
k
k
y
r
y
=
=
1
1
(I.2)
Nny
r
k
k
u
r
u
=
=
1
1
(I.3)
E a matriz de covariância experimental normalizada (V
y
ny·N × ny·N
):
T
T
rr
y
yy
r
yyyy
V
1
,1,1
1
)1)(1(
= (I.4)
onde
-1
significa divisão elemento-por-elemento,
r,1
1 é um vetor-coluna de “uns”, e
y
ny·N
× r
.
2) Calcula-se a matriz de sensibilidade normalizada das saídas do sistema em relação
aos parâmetros, S
ny·N × np
, utilizando uma estimativa inicial dos parâmetros do modelo, θ
o
:
TT
N
TT
SSSS ][
21
L=
(I.5)
ANEXO I ALGORITMO SELEST 101
onde
ojjj
SyS θ=
ˆ
)
ˆ
(
1
ny × np
, () é a matriz diagonal de um vetor,
j
y
ˆ
ny
é a
predição do modelo para o j-ésimo ponto experimental, utilizando a média dos valores das
entradas
j
u :
);,(
ˆ
)0(,0);,,,(
ojj
oojj
uxHy
xxuxxtF
θ
θ
=
=
=
&
(I.6)
e
j
S
ˆ
é a matriz de sensibilidade normalizada das saídas do sistema em relação aos
parâmetros avaliada no j-ésimo ponto:
θ
+
=
H
W
x
H
S
xj
ˆ
(I.7)
A matriz de sensibilidade dos estados em relação aos parâmetros,
θ
=
x
W
x
, é obtida
resolvendo-se o seguinte problema de valor inicial para processos dinâmicos:
θθ
==
+
+
o
xxx
x
W
F
W
x
F
W
x
F
)0(,0
&
&
(I.8)
ou o sistema linear:
θ
=
F
x
F
W
x
1
(I.9)
para processos estacionários.
3) Toma-se m = min {np, ny N} e procede-se a decomposição em valores singulares
da S ponderada pelo desvio-padrão das medições,
iiyi
V
,
)(=σ
:
(
)
T
VUS Σ=
1
σ
(I.10)
ou, de forma similar, procede-se a decomposição em valores característicos da matriz
de informação de Fisher:
ΣΣ=ΛΛ==
TT
y
T
VVSVSF ; )(
1
(I.11)
onde V
y
é a matriz diagonal composta pelos elementos da diagonal de V
y
. Então,
determina-se o efeito de cada parâmetro nas saídas utilizando os primeiros m componentes
ANEXO I ALGORITMO SELEST 102
principais (primeiros m vetores coluna da matriz V, designados por V
m
np × m
) e a medida
de magnitude E:
np
m
j
j
m
V
E
=
=
1
λ
λ
(I.12)
onde |V
m
| é a matriz dos valores absolutos de V
m
, e λ são os primeiros m maiores
valores característicos em Λ.
4) Seleciona-se o parâmetro de maior efeito p
1
= {θ
k
| E
k
= max
j
E
j
}, ajusta-se o
número de parâmetros selecionados para n = 1 e o vetor-índice dos parâmetros
n
= {k},
representando o vetor-índice dos melhores parâmetros possíveis de estimar com os dados
disponíveis (em ordem decrescente).
5) Calcular matriz de informação de Fisher reduzida, F
n
, em relação aos parâmetros
selecionados p e as matrizes de covariância dos parâmetros, V
p
, e da predição,
y
V
ˆ
:
nNny
y
T
n
SVSF
×
= )(
1
(I.13)
1
=
np
FV
(I.14)
T
py
SVSV
=
ˆ
(I.15)
onde S
é a sub-matriz de S contendo apenas as colunas
n
. Além disso, calcula-se
os coeficientes de correlação destas matrizes de covariância,
p
ρ e
y
ˆ
ρ , e o condicionamento
κ da F
p
:
T
pppp
VVV =
1
ρ
,
= ||||
npp
Iρρ (I.16)
T
yyyy
VVV
ˆˆ
1
ˆˆ
=
ρ
,
= ||||
ˆˆ
nyyy
Iρρ (I.17)
pn
VF =κ (I.18)
ANEXO I ALGORITMO SELEST 103
onde I
n
é a matriz identidade de tamanho n, e
|||| designa o maior elemento de
valor absoluto de uma matriz. Com esta definição de norma,
p
ρ é a maior correlação entre os
parâmetros.
6) Mantendo os demais parâmetros com a estimativa inicial θ
o
, obtém-se novo vetor
estimativa
n
p
ˆ
para os parâmetros p através de estimação por mínimos quadrados (ou máxima
verossimilhança). Também se calculam os resíduos normalizados, ξ; o índice de degradação
da preditabilidade, ψ
n
, e o índice de degradação por correlação de parâmetros η
n
.
Nny
k
r
k
nkk
ypyy
r
=
=
)]ˆ(ˆ[
1
1
1
ξ
(I.19)
+= ||||
ˆ
ξρψ
yn
(I.20)
npn ,1
δρη += (I.21)
onde δ
i,j
é a função delta de Kronecker. A adição de δ
1,n
na Equação I.21 é necessária
para impedir uma parada prematura no passo 7 quando n = 2.
7) Aplicam-se os seguintes critérios de parada, definindo a máxima correlação dos
parâmetros permitida, ρ
max
:
7.a) Se n > 1 e (((ψ
n-1
< 1 ou (η
n-1
< ρ
max
e η
n
> ρ
max
)) e ψ
n-1
< ψ
n
) ou κ
-1
< ε), então
n-1
é o vetor-índice da solução e
1
ˆ
n
p é o vetor de parâmetros estimados correspondente,
terminando-se o algoritmo. ε é a precisão computacional da máquina.
7.b) Se n = np, então
n-1
é o vetor-índice da solução e
1
ˆ
n
p é o vetor de parâmetros
estimados correspondente, terminando-se o algoritmo.
8) Se n < m, então se calcula a medida de independência linear d
j
para cada
parâmetro em relação aos anteriormente selecionados:
n
1
||||||||
cossin
=
j
sVs
sVs
d
jj
j
T
j
j
(I.22)
ANEXO I ALGORITMO SELEST 104
onde
(
)
TT
SSSSV
=
1
. Caso contrário, i.e., n m, calcula-se a medida de
independência linear d
q,j
para cada parâmetro restante em relação a todos os possíveis (m1)-
tuplos
q
dos parâmetros previamente selecionados, para
)!1()!1(
!
1
+
mnm
n
q , (I.23)
onde
q
n
e |
q
| = m1, utilizando a Equação I.24:
n
1
,
||||||||
cossin
=
j
sVs
sVs
d
jqj
jq
T
j
jq
(I.24)
onde
(
)
T
qq
T
qqq
SSSSV
=
1
. Determina-se, então, o pior valor, que é a menor
independência linear: d
j
= min
q
d
q,j
.
9) Calcula-se o índice de identificabilidade I
j
para cada parêmetro θ
j
remanescente:
I
j
= E
j
d
j
j
n
. (I.25)
Seleciona-se o próximo melhor parâmetro p
n+1
= {θ
k
| I
k
= max
j
I
j
}, ajusta-se o
número de parâmetros selecionados para n = n + 1, o vetor-índice para
n
= {
n-1
, k}, e
retorna-se ao passo 5.
É ainda possível adicionar os seguintes diagnósticos nas condições de parada do
passo 7, avaliadas no estágio (n – 1) (7.a) ou n (7.b):
Se
max
ˆ
ρρ
y
e
max
ρρ <
p
, então as saídas estão muito correlacionadas devido a
possível alta correlação nas entradas;
Se
max
ˆ
ρρ
y
e
max
ρρ
p
, então as saídas estão muito correlacionadas devido à alta
correlação dos parâmetros;
Se
max
ρρ
p
então os parâmetros estão muito correlacionados.
ANEXO I ALGORITMO SELEST 105
A constante ρ
max
do algoritmo é um limite superior para o grau de correlação dos
parâmetros. Este limite é muito mais fácil de determinar do que um limite para o índice de
identificabilidade I
j
, cujo valor depende mais de experimentos do que de valores estatísticos.
Ao final do algoritmo, o desvio-padrão (σ) da estimativa de cada parâmetro n
selecionado pode ser obtido a partir dos valores da diagonal principal da matriz ρ
p
, calculada
no passo 5:
nn
pn
=
,
)(ρσ (I.26)
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