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RENATA MARIA SOUZA OLIVEIRA
CONDIÇÕES DE NASCIMENTO E ESTADO NUTRICIONAL NA
ADOLESCÊNCIA COMO FATORES DETERMINANTES DA
SITUAÇÃO NUTRICIONAL DE INDIVÍDUOS ADULTOS DO
SEXO MASCULINO EM VIÇOSA - MG
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de Viçosa,
como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em
Ciência da Nutrição, para obtenção
do título de Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2007
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ii
Aos que sempre acreditaram nos meus sonhos
Helio de Oliveira e
Angélica Maria de Souza Oliveira
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iii
AGRADECIMENTOS
A Deus, por todas as oportunidades que me foram concedidas, pela certeza do
Seu imenso amor, pela sua eterna fidelidade e compromisso em cumprir todas as Suas
promessas em minha vida.
Aos meus pais, por acreditarem em mim e investirem tanto na realização dos
meus sonhos. Ao Gustavo (meu irmão e amigo) e Marcelo (primo-irmão), por serem
companheiros presentes em todos os momentos da minha vida.
Ao Jonathas, que sempre esteve e para sempre estará ao meu lado. Pelo amor,
incentivo e paciência. Verdadeiro presente de Deus pra mim.
À professora Silvia Priore,
Por mais que tente, não consigo expressar com palavras a minha gratidão!
Obrigada, por ter acreditado e investido em mim. Por ter-me ensinado a amar a pesquisa
científica e desenvolvê-la de forma tão humana. Por ter-me ajudado a superar minhas
limitações e por continuar incentivando meus projetos. Enfim, por ser o referencial que
eu precisava para orientar minha vida profissional.
À admirável professora Sylvia Franceschini que, com seu exemplo de amor à
profissão, me motiva a permanecer na área acadêmica. Obrigada pelas preciosas
orientações estatísticas, pelo tempo dedicado a sanar minhas dúvidas e, principalmente,
pelo sorriso sempre acolhedor e incentivador.
Ao professor Gilberto Paixão, pela constante atenção e dedicação dispensadas
durante o desenvolvimento do trabalho.
Aos amigos que conquistei em Viçosa durante todos estes anos, por torcerem por
mim e participarem de cada uma das minhas conquistas, tornando tudo em minha vida
mais fácil e divertido.
Aos queridos colegas do mestrado, Josy, Santuzza, Nataly, Mariane, Tat, Nilma,
Andréia, Poly, Sabrina, Paula, Vanessa, Patrícia, Hiara e aos demais, pela amizade e
pelo apoio constante em todas as nossas atividades. Especial agradecimento à Eliane,
amiga e companheira de trabalho e congressos, por se fazer presente tanto nos bons
quanto nos mais difíceis momentos deste trabalho.
Aos professores do mestrado em Ciência da Nutrição/UFV, responsáveis por
minha formação acadêmica e crescimento profissional. Exemplos de dedicação e amor à
profissão.
iv
À Otaviana, “minha bolsista querida”, pela importante colaboração na coleta dos
dados e análise dietética.
Aos funcionários do Laboratório de Análises Clínica da Divisão de Saúde/UFV,
pela importante colaboração na coleta de dados.
Aos voluntários do estudo, pela disponibilidade, paciência, “pelas 12 horas de
jejum” e por todo respeito com que sempre me trataram.
Aos membros da banca examinadora desta dissertação, pela participação e
valiosa contribuição.
À FAPEMIG, pela concessão da bolsa de estudo.
À Universidade Federal de Viçosa, pela oportunidade em realizar a graduação e
o mestrado.
v
BIOGRAFIA
RENATA MARIA SOUZA OLIVEIRA, filha de Hélio de Oliveira e Angélica
Maria de Souza Oliveira, nasceu em 28 de abril de 1982, na cidade de Belo Horizonte,
Minas Gerais.
Em 2000, iniciou o curso de Nutrição na Universidade Federal de Viçosa, em
Viçosa-MG, concluindo-o em julho de 2004.
Em março de 2005, ingressou no Programa de Pós-graduação em nível de
mestrado, em Ciência da Nutrição, na área de Saúde e Nutrição de Grupos
Populacionais, submetendo-se à defesa de tese em abril de 2007.
vi
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS .......................................................................................
ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.......................................................
xiii
RESUMO ............................................................................................................
xiv
ABSTRACT........................................................................................................
xvi
1. INTRODUÇÃO..............................................................................................
1
2. REVISÃO DA LITERATURA .....................................................................
3
2.1. Artigo 1 - Deficiência do crescimento intra-uterino e suas
conseqüências ao longo da vida
3
2.1.2. Resumo...................................................................................................
3
2.1.3. Introdução ..............................................................................................
4
2.1.4. Metodologia ...........................................................................................
5
2.1.5. Doenças crônicas: importância no cenário epidemiológico...................
5
2.1.6. Marco Teórico de Barker .......................................................................
7
2.1.7. Origem fetal das doenças na vida adulta................................................
9
2.1.7.1. Hipertensão arterial ...................................................................
9
2.1.7.2. Diabetes tipo 2 e resistência à insulina .....................................
9
2.1.7.3. Dislipidemias.............................................................................
11
2.1.7.4. Obesidade e distribuição da gordura corporal...........................
11
2.1.8. A hipótese contestada.............................................................................
12
2.1.9. Sugestões para futuras investigações .....................................................
13
2.1.10. Considerações finais.............................................................................
14
2.1.11. Referências Bibliográficas ...................................................................
15
2.2. Artigo 2 Estado nutricional na adolescência: conseqüência
imediatas e a longo prazo ..................................................................................
19
2.2.1. Resumo...................................................................................................
19
2.2.2. Introdução ..............................................................................................
20
2.2.3. Metodologia ...........................................................................................
21
2.2.4. Necessidade e vulnerabilidade nutricional do adolescente ....................
21
2.2.5. Conseqüências imediatas .......................................................................
25
2.2.5.1. O excesso de peso e suas consequências..................................
25
2.2.5.2. As carências nutricionais .........................................................
27
2.2.6. Conseqüências futuras............................................................................
29
2.2.7. Considerações finais...............................................................................
31
2.2.8. Referências Bibliográficas .....................................................................
32
3.OBJETIVOS................................................................................................
38
3.1. Objetivo geral..................................................................................
38
3.2. Objetivos específicos ......................................................................
38
4. METODOLOGIA ......................................................................................
39
4.1. Delineamento do estudo..................................................................
39
vii
Página
4.2. Casuística .....................................................................................
39
4.3.Critérios de inclusão e exclusão 41
4.4. Coleta de dados ............................................................................
41
4.4.1. Ao nascer...........................................................................
41
4.4.2. Na adolescência 42
4.4.3. Na vida adulta ...................................................................
43
4.4.3.1. Antropometria ..................................................
44
4.4.3.2. Composição corporal .......................................
45
4.4.3.3. Questionário socioeconômico ..........................
46
4.4.3.4. Análise dietética...............................................
47
4.4.3.5. Análise bioquímica ..........................................
48
4.4.3.6. Pressão arterial .................................................
49
4.4.3.7. Fatores de risco para síndrome metabólica ......
50
4.5. Softwares......................................................................................
51
4.6. Estatística .....................................................................................
51
4.7. Retorno aos indivíduos.................................................................
58
4.8. Aspecto ético................................................................................
58
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................
59
5.1. Caracterização socioeconômica e atropométrica .........................
60
5.1.1. Perfil socioeconômico........................................................
60
5.1.2. Antropometria e estado nutricional ao nascer 64
5.1.3. Antropometria e estado nutricional na adolescência..........
69
5.2. Influência da situação ao nascer sobre a adolescência.................
73
5.2.1.Peso ao nascer ......................................................
76
5.2.2. Comprimento ao nascer.......................................
79
5.2.3. Idade gestacional.................................................
81
5.2.4. Crescimento intra-uterino....................................
82
5.3.Fatores associados a situação nutricional na vida adulta ..............
85
5.3.1. Análise do estado nutricional na vida adulta.......
85
5.3.1.1. Antropometria e composição corporal.......
85
5.3.1.2. Avaliação bioquímica e pressão arterial ....
90
5.3.1.3. Estilo de vida..............................................
100
5.3.1.4. Análise dietética.........................................
102
5.3.2. Influência da situação ao nascer sobre a vida
adulta ..................................................................
112
5.3.3. Influência do estado nutricional no final da
adolescência sobre a vida adulta ......................
128
5.4. Fatores de risco para síndrome metabólica na vida adulta...........
141
6. CONCLUSÕES ..............................................................................................
151
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................
154
viii
Página
8. ANEXOS.........................................................................................................
169
ANEXO I – AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA AO NASCER E NA
ADOLESCÊNCIA .........................................................................
169
ANEXO II – TERMO DE CONSENTIMENTO RESUMIDO...........................
170
ANEXO III – AVALIAÇÃO ANTROPOMÉTRICA E DE COMPOSIÇÃO
CORPORAL ...................................................................................
171
ANEXO IV –
PROTOCOLO PARA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO
CORPORAL PELA BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA
172
ANEXO V – QUESTIONÁRIO SÓCIOECONÔMICO.....................................
173
ANEXO VI – QUESTIONÁRIO DE FREQÜÊNCIA ALIMENTOS..............
176
ANEXO VII – RECORDATÓRIO ALIMENTAR HABITUAL ........................
179
ANEXO VIII APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA NA PESQUISA
COM SERES HUMANOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DE VIÇOSA....................................................................................
180
ix
LISTA DE TABELAS
Página
1 Variáveis socioeconômicas investigadas na vida adulta...................... 61
2 Escolaridade da mãe e do pai dos voluntários estudados ................... 63
3 Valores de média, desvio-padrão, mediana e valores mínimos e
máximos das variáveis investigadas ao nascer ...................................
64
4 Valores medianos de peso e comprimento ao nascer segundo idade
gestacional ..........................................................................................
66
5 Valores de média, desvio-
padrão, mediana e valores mínimos e
máximos do índice de crescimento de roher ......................................
68
6 Valores de média, desvio-
padrão, mediana e mínimos e máximos
das variáveis investigadas na adolescência .........................................
69
7 Valores med
ianos de peso, IMC e CC, segundo estatura na
adolescência .......................................................................................
71
8 Valores médios e medianos de peso, estatura e CC dos adolescentes,
segundo estado nutricional .................................................................
72
9 Correlações entre as variáveis de nascimento e antropometria,
no final da adolescência ....................................................................
76
10 Peso e estatura na adolescência, segundo peso ao nascer ................... 77
11 Estatura média dos adolescentes, segundo comprimento ao
nascer..................................................................................................
80
12 Peso, IMC, estatura e circunferência da cintura na adolescência,
segundo idade gestacional ................................................................
81
13
Peso, IMC, estatura e CC na adolescência, segundo crescimento intra-
uterino, avaliado segundo a curva de Willians (1982) ............................
83
14
Peso, IMC, estatura e CC na adolescência, segundo crescimento intra-
uterino, avaliado de acordo com o índice de crescimento de Roher.......
83
15
Média, desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos das
variáveis investigadas na vida adulta.........................................................
85
16 Correlações entre variáveis antropométricas e de composição
corporal................................................................................................
89
x
Página
17 Valores de média, desvio-
glicemia de jejum e hemoglobina .......................................................
91
18 Análise do perfil lipídico dos indivíduos adultos................................
92
19 Média, desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos de
colesterol total, triglicerídeo, LDL, HDL, VLDL, Col/HDL,
LDL/HDL ...........................................................................................
93
20 Correlação entre parâmetros bioquímicos e variáveis antropométrica
e de composição corporal ....................................................................
95
21 Comparação entre os valores médios, desvio-
padrão e mediana
dos componentes do perfil lipídico e glicemia de indivíduos com e
sem excesso de peso ...........................................................................
98
22 Valores médios, desvio-padrão e mediana da pressão arterial de
indivíduos com e sem excesso de peso ...............................................
99
23 Comparação dos valores médios e medianos de colesterol, TG e
HDL, segundo hábito de fumar e ingestão de álcool .....................
102
24 Valores de ingestão média, desvio padrão, mediana, mínimos e
máximos da nutrientes investigados....................................................
103
25 Correlação entre o consumo energético e variáveis antropométricas
e de composição corporal...................................................................
105
26 Consumo mediano de energia, proteína, vitaminas e minerais,
segundo o estado nutricional...............................................................
106
27
Diferença entre os valores médio, mediano, mínimo e máximo de
da análise bioquímica dos indivíduos, com consumo energético
abaixo e acima das necessidades estimadas de energia ......................
107
28 Valores médio, mediano, mínimo e máximo do per
fil bioquímico de
indivíduos, que apresentaram consumo de carboidrato adequado
(AC) e abaixo da AMDR (AB) ..........................................................
108
29 Valores médio, mediano, mínimo e máximo do perfil bioquímico de
indivíduos, que apresentaram consumo de lipídeo acima (AC) e
abaixo da AMDR (AB) ..............................................................
108
30 Prevalência do consumo diário dos grupos alimentares investigados
entre indivíduos com e sem excesso de peso corporal........................
110
xi
Página
31 Média, mediana, valor
nimo e máximo de variáveis
antropométricas, perfil bioquímico e pressão arterial, segundo o
hábito de se alimentar em horários regulares .....................................
111
32 Correlações entre peso ao nascer e antropometria na vida adulta .....
114
33 Variáveis antropométricas na vida adulta, segundo peso ao nascer....
115
34 Correlações entre comprimento ao nascer e antropometria na vida
Adulta..................................................................................................
116
35 Valores médios ou medianos de peso, IMC, CC, RCQ, percentual de
gordura corporal PCSE e peso de gordura na vida adulta, segundo
comprimento ao nascer .......................................................................
117
36 Correlações entre índice de crescimento e antropometria na vida
Adulta..................................................................................................
119
37 Percentual de gordura corporal segundo índice de Roher...................
120
38 Correlações entre idade gestacional e antropometria na vida adulta ..
122
39 Valores médios ou medianos de peso, IMC, CC, CQ RCQ,
percentual de gordura corporal, PCT, PCSE e peso de gordura na
vida adulta, segundo idade gestacional ..............................................
123
40 Correlações entre variáveis ao nascer e alguns parâmetros
bioquímicos dos indivíduos adultos.................................................
125
41 Correlações entre peso na adolescência e variáveis antropométricas,
de composição corporal e pressão arterial na vida adulta .................
130
42 Correlações entre estatura na adolescência e variáveis antropomé -
ricas, de composição corporal e de pressão arterial na vida adulta ...
131
43 Valores médios ou medianos de variáveis na vida adulta, segundo
estatura na adolescência ......................................................................
132
44 Correlações entre IMC na adolescência e variáveis antropométricas
e de composição corporal na vida adulta ..........................................
133
45 Valores médios ou medianos de peso, IMC, CC, RCQ, percentual de
gordura corporal, peso de gordura e peso massa magra na vida
adulta, segundo comprimento ao nascer ............................................
134
xii
Página
46 Prevalência de baixo peso, eutrofia e excesso de peso corporal,
segundo IMC apresentado no final da adolescência............................
135
47 Correlações entre CC na adolescência e variáveis antropométricas
de composição corporal e pressão arterial na vida adulta ...............
136
48 Correlação entre o IMC na adolescência e variáveis da análise
bioquímica, realizada na vida adulta....................................................
137
49 Correlação entre o CC na adolescência e variáveis da análise
bioquímica, realizada na vida adulta....................................................
137
50 Comparação entre os valores médios, desvio-padrão e mediana dos
componentes do perfil lipídico e glicemia de indivíduos com e sem
excesso de peso na adolescência .......................................................
138
51 Comparação dos valores médios ou medianos de variáveis
antropométrica, de composição corporal e na vida adulta dos
indivíduos com e sem diagnóstico de Síndrome Metabólica (SM) ...
144
52 Comparação dos valores medianos de ingestão de energia, macro e
micronutrientes dos indivíduos com e sem Síndrome Metabólica.....
146
53 Comparação dos valores médios ou medianos de variáveis ao nascer
dos indivíduos com e sem diagnóstico de Síndrome Metabólica........
147
54 Comparação dos valores medianos de peso, CC e IMC na
adolescência dos indivíduso com e sem Síndrome Metabólica...........
148
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AI Ingestão adequada
AIG Adequado para Idade Gestacional
AMDR Acceptable Macronutrients Distribution Range
CC Circunferência da Cintura
CDC Center for Disease Control and Prevention
CN Comprimento ao Nascer
CQ Circunferência do Quadril
DCNT Doenças Crônicas Não-Ttrasmissíveis
EAR Necessidade Média Estimada
EER Necessidade Energética Estimada
GC Gordura Corporal
GIG Grande para Idade Gestacional
HDL High Density Lipoproteins
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e estatística
IC Intervalo de Confiança
IG Idade Gestacional
IMC Índice de Massa Corporal
IMCG Índice de Massa Corporal de Gordura
IMCL Índice de Massa Corporal Livre de Gordura
IR Índice de crescimento de Roher
LDL Low Density Lipoproteins
NCEP-ATP III
National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III
NCHS National Center for Health Statistics
OPAS Organização Panamericana de Saúde
OR Odds Ratio
PAD Pressão Arterial Diastólica
PAS Pressão Arterial Sistólica
PCB Prega Cutânea Bicipital
PCSE Prega Cutânea Subescapular
PCSI Prega Cutânea Supra-ilíaca
PCT Prega Cutânea Tricipital
PIG Pequeno para Idade Gestacional
PNDS Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde
QFCA Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
RCQ Relação Cintura/Quadril
RDA Recommended Dietary Allowances
SBAN Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
UFV Universidade Federal de Viçosa
VET Valor Energético Total
VLDL Very Low Density Lipoproteins
WHO World Health Organization
xiv
RESUMO
OLIVEIRA, Renata Maria Souza, M.Sc.,Universidade Federal de Viçosa, abril de 2007.
Condições de nascimento e estado nutricional na adolescência como fatores
determinantes da situação nutricional de indivíduos adultos do sexo masculino
em Viçosa-MG. Orientadora: Silvia Eloiza Priore.Co-orientadores: Sylvia do
Carmo Castro Franceschini e Gilberto Paixão Rosado.
Com o objetivo de investigar a influência das condições de nascimento e estado
nutricional na adolescência sobre a situação nutricional dos indivíduos na vida adulta,
procedeu-se um estudo do tipo de coorte, com dados retrospectivos e prospectivos.
Foram avaliados 100 indivíduos do sexo masculino residentes na cidade de Viçosa
MG, em três fases da vida: ao nascer, no final da adolescência e início da vida adulta. A
amostra foi selecionada a partir dos registros do banco de dados referente ao alistamento
militar de Viçosa MG, nos anos de 1996, 1997 e 1999, de onde foram coletadas
medidas de peso, estatura e circunferência da cintura (CC) na adolescência. A partir daí,
buscou-se nos registros disponível na única maternidade do município os dados sobre
peso e comprimento ao nascer, a partir do qual calculou-se o índice de Crescimento de
Roher. A idade gestacional foi obtida a partir da equação proposta por RAMOS (1986).
A avaliação do peso ao nascer em relação à idade gestacional foi realizada tendo como
ponto de corte para retardo do crescimento intra-uterino (RCIU) o percentil 10 da curva
de WILLIAMS (1982), preconizada pela WHO (1995). Os indivíduos adultos foram
procurados a partir dos endereços, contidos no banco de dados do Tiro de Guerra e,ou
por lista telefônica a partir de seus próprios nomes ou de seus pais. Nos indivíduos
adultos, que aceitaram participar do estudo, aferiu-se peso, estatura, circunferência da
cintura (CC) e circunferência do quadril, a partir dos quais se calculou IMC e seus
derivados (IMC gordura e IMC livre de gordura) e relação cintura/quadril (RCQ),
utilizando os pontos de cortes propostos pela WHO (1998). O percentual de gordura
corporal (% GORD) foi aferido por meio de bioimpedância elétrica, sendo considerados
os pontos de corte propostos por LOHMAN (1992). Aferiu-se pregas cutâneas bicipital
(PCB), tricipital (PCT), subescapular (PCSE) e supra-ilíaca (PCSI); a partir das quais se
determinou gordura central (PCSE + PCSI) e gordura periférica (PCB + PCT). Para o
perfil bioquímico, amostras de sangue foram coletadas para análise de colesterol total,
triglicerídeos (TG), HDL, LDL, VLDL, relação colesterol-T/HDL, relação LDL/HDL e
glicemia de jejum. Para investigação da ingestão energética, foram utilizados três
registros alimentares. Como resultado da caracterização da vida adulta, encontrou-se
xv
que a amostra é bem distribuída quanto à renda per capita. Quanto à situação
nutricional, obteve-se prevalência de excesso de peso (33%) e elevado percentual de
gordura corporal (39%). Em relação à análise bioquímica, 19% apresentavam tolerância
à glicose diminuída e quanto ao perfil lipídico, a alteração mais freqüente foi o HDL
baixo (62%). Observou-se também que as variáveis ao nascer se correlacionaram de
forma fraca com a situação nutricional na adolescência e na vida adulta. Os recém-
nascidos que apresentaram comprimento superior a 50 cm, entretanto, apresentaram
peso, IMC, RCQ, percentual de gordura corporal, PCES e peso de gordura, na vida
adulta, estatisticamente, superiores aos demais. Além disso, encontrou-se correlação
entre o índice de crescimento de Roher e percentual de gordura corporal na vida adulta,
sendo que os nascidos pequenos, para idade gestacional, apresentaram risco 2 vezes
maior para excesso de gordura corporal (RR = 2,00; IC= 1,07 – 3,73). O estado
nutricional no final da adolescência se comportou como fator determinante da situação
nutricional de indivíduos adultos. Foi encontrada correlação entre peso e IMC na
adolescência e todas as variáveis antropométricas na vida adulta, com exceção da
estatura e pressão arterial sistólica e diastólica. A partir da análise de risco relativo,
encontrou-se ainda que aqueles indivíduos, que na adolescência possuíam IMC acima
do percentil 85 da curva de IMC/ idade (CDC/2000), apresentaram risco 3,67 vezes
maior para excesso de peso quando adulto (RR= 3,67; IC = 2,46 3,74), bem como
risco de 2,53 vezes maior de terem percentual de gordura corporal aumentado (IC =
1,71 3,74) e risco 9,17 vezes maior de terem CC aumentada (IC = 4,52 18,6).
Obteve-se, ainda, correlação significante entre IMC na adolescência e perfil lipídico na
vida adulta. Foi observada prevalência de síndrome metabólica (SM) em 13% da
amostra, sendo que estes apresentaram valores superiores para quase todas as variáveis
antropométricas avaliadas, bem como para o percentual de gordura corporal e gordura
periférica. Quanto à análise bioquímica, resultados significantes foram observados em
relação ao HDL, VLDL, triglicerídeo, relação colesterol/HDL e relação LDL/ HDL.
Encontrou-se ainda que os indivíduos que foram diagnosticados com SM, apresentaram
valores estatisticamente maiores de peso, CC e IMC, na adolescência, portanto, estes
resultados demonstram a influência do estado nutricional na adolescência como
determinante da situação nutricional na vida adulta, ressaltando a necessidade de
maiores investigações sobre a relação existente entre condições de nascimento e estado
nutricional posterior.
xvi
ABSTRACT
OLIVEIRA, Renata Maria Souza, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, April, 2007.
Birth conditions and the nutritional state at adolescence as determinant factors
on the nutritional situation of adult individuals in Viçosa-MG. Adviser: Silvia
Eloiza Priore. Co-advisers: Sylvia do Carmo Castro Franceschini and Gilberto
Paixão Rosado.
Aiming at the investigation of the influence from either birth conditions and
nutritional state in adolescence on the individuals' nutritional situation at adult life, a
cohort-type study with retrospective and prospective data. was carried out. One hundred
male individuals residing in Viçosa county- MG were evaluated at three life phases: at
birth, at the final adolescence phase, and at beginning of the adult life. The selection of
the sample was performed from the data file registers relative to the military enlistment
for 1996, 1997 and 1998 in Viçosa county. The measures of weight, stature, and waist
circumference (CC) at the adolescence phase were collected. Then, both weight and
length data at birth were obtained in the registers of the unique maternity available in
this county during the investigated years. The Roher´s Growth Index was calculated
from those data. The gestational age was obtained, by applying the equation proposed
by Branches in 1986. The evaluation of the birthweight relative to the gestation age was
accomplished, by using the percentile 10 of the Williams curve preconized by WHO in
1995 as cutoff for the Intrauterine Growth Retardation (RCIU). The adult individuals
were searched at the addresses contained in the data file of the Tiro de Guerra and/or by
telephone directory from their own names or their parents´. From those adult individuals
who accepted to participate in the study, the checking were accomplished for weight,
stature, waist circumference (CC) and hip circumference (HC), from which IMC and its
derivatives (fat IMC and fat-free IMC) and waits/hip relationship (RCQ), by using the
cutoff points proposed by WHO (1998). The percent body fat (% GORD) was checked
by electric bioimpedance, by considering the cutoff points proposed by Lohman in
1992. The bicipital (PCB), tricipital (PCT), subscapular (PCSE) and supra-iliac (PCSI)
from which the central fat (PCSE + PCSI) and peripheral fat (PCB + PCT) were
determined. To verify the biochemical profile, some blood samples were collected for
analyzing the total cholesterol, triglycerides (TG), HDL, LDL, VLDL, cholesterol-
T/HDL relationship, LDL/HDL relationship, and fasting glucemia. For investigating the
energetic intake, three feeding registrations were used. As a result from the
characterization of the adult life, the sample was found to be well distributed for per
xvii
capita income. Concerning to the nutritional situation, the prevalence of excessive
weight (33%) and percentage of high body fat (39%) were obtained. Relative to the
biochemical analysis, 19% showed tolerance to the reduced glucose, whereas the low
HDL (62%) was the most frequent alteration observed in the lipid profile. The variables
at birth were also observed to be weakly correlated with the nutritional situation at both
adolescence phase and adult life. Though, the newborns with birthlength above 50cm
showed weight, IMC, RCQ, percent body fat, PCES and fat weight statistically superior
to the other ones in the adulthood. In addition, a correlation was found between the
Roher growth index and body fat percent in the adulthood, whereas those ones who
were small at birth for the gestational age showed two-times higher risk to have
excessive body fat (RR = 2.00; IC = 1.07 3.73). At the final adolescence, the
nutritional state behaved as determinant factor of the adult individuals' nutritional
situation. The correlation between weight and IMC was found in adolescence, as well as
among all anthropometric variables in adulthood, except for stature and both systolic
and diastolic blood pressure. From the relative risk analysis, the following results were
found for those individuals presenting IMC above the percentile 85 of the IMC/age
curve (CDC/2000) at adolescence: risk 3.67 times higher to be excessively weighty at
adulthood (RR = 3.67; IC = 2.46 3.74); risk of 2.53 times higher to have increased
percentage for body fat (IC = 1.71 3.74) and risk 9.17 times higher to have increased
CC (IC = 4.52 18.6). A significant correlation between IMC at adolescence and
lipidic profile in adulthood. Prevalence of the metabolic syndrome (SM) was also
observed in 13% sample, that showed higher values for almost all anthropometrical
variables as well as for both percent body fat and peripheral fat. Concerning to
biochemical analysis, significant results were observed for HDL, VLDL, triglyceride,
Cholesterol/HDL relationship and LDL/HDL relationship. It was also found that those
individuals diagnosed with SM showed statistically higher values for weight, CC, IMC
at adolescence phase. Thus, those results demonstrate the influence of the nutritional
state during the adolescence phase as a determinant of the nutritional situation at
adulthood and reinforces the need for more investigations on the relationship occurring
between birth conditions and the subsequent nutritional state.
1
1. INTRODUÇÃO
A prevalência de obesidade no Brasil e no mundo tem aumentado,
significantemente, em decorrência das mudanças nos hábitos de vida da população,
favorecendo assim o crescimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT):
hipertensão arterial, hipercolesterolemia, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e
algumas formas de câncer (MONDINI & MONTEIRO, 1994; FONSECA et al., 1998;
GIGANTE et al., 1997; BARRETO et al., 2005).
CASTRO et al. (2004) relatam que, segundo o Ministério da Saúde, as DCNT
constituiem importante como causa de mortalidade em todas as regiões brasileiras, além
de representar ônus econômico crescente. À medida que este quadro de mudança
epidemiológica se instala, podendo-se observar um aumento na prevalência da
obesidade e demais DCNT, surge a necessidade de estudos concernentes aos grupos
populacionais vulneráveis ao problema e seus possíveis fatores de riscos (FONSECA, et
al. 1998).
Dentre os fatores de risco sugeridos para justificar o aumento das DCNT, além
do estilo de vida, muita atenção tem sido dada à hipótese da Origem Fetal das Doenças,
segundo a qual a obesidade e as co-morbidades associadas a ela, bem como a
distribuição da gordura corporal, resultariam de desnutrição energético - proteica
precoce, ocorrida na vida intra-uterina ou na primeira infância. Esta restrição nutricional
seria responsável por modificação na regulação do sistema nervoso central, facilitando o
acúmulo de gordura corporal, quando o acesso de alimentos fosse facilitado
(GOLDFREY & BARKER, 2000; PARSON et al., 2001; ROBINSON, 2001; OKEN &
GILLMAN, 2003).
Ainda que dados de estudos experimentais em animais e mesmo observações em
seres humanos não tenham provado, conclusivamente, a relação entre desenvolvimento
intra-uterino e colesterol, pressão sanguínea ou obesidade na vida futura, diversos
trabalhos têm sido realizados e seus resultados sugerem que alterações nutricionais
precoces podem afetar, permanentemente, as atividade de sistemas fisiológicos
(BRESSON & REY, 2004; BOULLU-CIOCCA, 2005).
Outra importante realidade é a prevalência de obesidade na adolescência que,
acompanhando o processo de transição nutricional, apresenta também crescente e rápido
aumento. A associação da obesidade com alterações metabólicas, como dislipidemia,
hipertensão arterial, intolerância à glicose e a doenças cardiovasculares, que até alguns
2
anos atrás eram mais evidentes em adultos, podem ser observadas freqüentemente em
faixas etárias mais jovens (STYNE, 2001; OLIVEIRA, 2004).
Considerando esta prevalência, ressalta-se que a obesidade na infância e
adolescência tende a persistir na vida adulta, como fator de risco para as doenças
crônicas. Alguns estudos revelam que 50% de crianças obesas aos 6 meses de vida e
80% daquelas aos 5 anos sempre serão obesas (LAMOUNIER, 2000; MULLER, 2003).
Neste contexto, ressalta-se a importância de se estudar condições de nascimento,
estado nutricional na adolescência e possíveis associações entre condições nutricionais
encontradas na vida adulta.
3
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Artigo 1- DEFICIÊNCIA DO CRESCIMENTO INTRA-UTERINO E SUAS
CONSEQUÊNCIAS AO LONGO DA VIDA
2.1.2 Resumo
As doenças crônicas representam a principal causa de mortalidade e incapacidade no
mundo, principalmente as doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade e câncer. O
aumento na incidência de doenças crônicas reflete-se em mudança no quadro
epidemiológico. Esta mudança instiga investigações sobre os principais fatores de risco
para as doenças crônicas, para que medidas preventivas sejam tomadas. Alguns fatores
como sedentarismo, alimentação e fumo são reconhecidos pela Organização Mundial de
Saúde como potenciais ao desenvolvimento destas doenças. No entanto, pesquisas
recentes sugerem que as doenças da vida adulta, incluindo as cardiovasculares,
hipertensão, diabetes e obesidade podem ter origem no período intra-uterino. Estas
doenças podem ser conseqüência do programming, fenômeno decorrente de um
estímulo ou agressão, durante um período crítico e sensível no início da vida,
promovendo alterações metabólicas permanentes. Neste trabalho foi realizado um
levantamento bibliográfico sobre a Hipótese da Origem Fetal das Doenças, buscando-se
conhecer os principais autores, que defendem a teoria, bem como os principais estudos
realizados neste sentido, além de proceder uma análise crítica sobre o assunto.
Palavras-chave: Doenças crônicas, obesidade, peso ao nascer, índice de peso corporal,
desnutrição fetal.
4
2.1.3 Introdução
Mudanças observadas nos hábitos de vida da população têm favorecido o
aparecimento da obesidade, doenças cardiovasculares, câncer e outras doenças crônico-
degenerativas não transmissíveis (DCNT), além de promover a transição nutricional,
sendo que, em um mesmo país, pode-se observar o problema ainda não resolvido das
doenças infecciosas e parasitárias, ocorrendo juntamente com aumento das doenças
crônicas (BARATA, 1994; MONDINI & MONTEIRO, 1998; BARRETO et al., 2005).
Segundo POPKIN et al. (1993), a ocorrência de transição nutricional em
diferentes países é consequência de uma mudança no estilo de vida, em que se observa
dieta mais rica em gorduras, açúcares e alimentos refinados, mas reduzida em
carboidratos complexos e fibras, aliada ao declínio progressivo da atividade física dos
indivíduos, promovendo desta forma, alterações concomitantes na composição corporal.
No Brasil, estudos indicam que esta transição nos padrões nutricionais está,
diretamente, associada às mudanças demográficas, socioeconômicas e epidemiológicas
ao longo do tempo, assim como ao perfil de morbi-mortalidade, levando a uma
diminuição progressiva da desnutrição e um aumento da obesidade e demais DCNT
(PRATA, 1992; MONDINI & MONTEIRO, 1998; FRANCISCHI et al., 2000).
À medida que este quadro de mudança epidemiológica se instala, surge a
necessidade de se estudar os grupos populacionais vulneráveis às DCNT, assim como
possíveis causas (FONSECA et al.,1998).
Segundo o Ministério da Saúde, as DCNT contribuem significativamente, como
causa de mortalidade em todas as regiões brasileiras, além de representar um ônus
econômico crescente (CASTRO et al., 2004).
No estudo dos fatores sugeridos para justificar o aumento das DCNT no mundo,
tem-se utilizado a hipótese da Origem Fetal das Doenças, segundo a qual a obesidade e
as co-morbidades associadas, bem como a distribuição da gordura corporal, resultariam
de uma desnutrição energético-protéica, ocorrida na vida intra-uterina ou na primeira
infância. Esta restrição nutricional seria responsável por modificação na regulação do
sistema nervoso central que, por sua vez, acarretaria adaptações endócrinas e
metabólicas, a fim de possibilitar a sobrevivência fetal nesta condição de restrição
nutricional. No entanto, estas adaptações ocorreriam de forma permanente,
possibilitando, então, o acúmulo de gordura corporal quando o acesso aos alimentos
fosse facilitado (GOLDFREY & BARKER, 2000; PARSON et al., 2001; ROBINSON,
5
2001; OKEN & GILLMAN, 2003). Entretanto, esta hipótese, ainda não é bem
esclarecida e alguns estudos parecem contradizê-la, não encontrando nenhuma
associação entre o baixo peso ao nascer, obesidade e DCNT (GUNNARSDOTTIR et
al., 2002; MONTEIRO et al., 2003).
Neste contexto, o presente trabalho foi conduzido com o objetivo de realizar
uma revisão bibliográfica, a partir da literatura científica, sobre a Hipótese da Origem
Fetal das Doenças, sua base e princípios, bem como proceder uma análise critica da
mesma.
2.1.4. Metodologia
Realizou-se um levantamento de artigos científicos, publicados no período de
1989 a 2005, utilizando como termos de busca, os descritores: obesidade, transição
nutricional, peso ao nascer, doenças crônicas, epidemiologia, origem fetal das doenças e
seus equivalentes em inglês nas bases de dados Science Direct Online e MedLine,
Scielo. A partir destas referencias iniciais, rastreou-se outras afins.
2.1.5. Doenças crônicas: Relevância no cenário epidemiológico
Segunda a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), as DCNT figuram
como principal causa de mortalidade e incapacidade no mundo, sendo responsáveis por
59% dos 56,5 milhões de óbitos no ano de 2002 (OPAS, 2003). No Brasil, elas são
responsáveis pela maior parcela de óbitos e de despesas hospitalares do SUS (Sistema
Único de Saúde), sendo que as doenças cardiovasculares lideram as causas de morte, no
país, desde a década de 60 (CASTRO et al., 2004; BARRETO et al., 2005).
Atualmente a obesidade é considerada epidemia mundial tanto em países
desenvolvidos quanto em desenvolvimento (FRANCISCHI et al., 2000). As maiores
prevalências são encontradas nos Estados Unidos, onde a obesidade é um importante
problema de saúde pública, sendo que 1/3 dos adultos e mais de 10% das crianças são
obesas (FLEGAL et al., 1998).
Na Europa, a obesidade aumentou de 10 para 40% em um período de 10 anos,
destacando-se a Inglaterra, que apresentou maior aumento nos anos 80 e 90 (WHO,
1998).
6
No Brasil, observa-se uma tendência concomitante de declínio da desnutrição e
ascensão da obesidade, característica de sociedades em desenvolvimento, que
experimentaram modificações em seu padrão demográfico e econômico, fenômeno
denominado “transição nutricional” (PRATA, 1992).
MONTEIRO et al. (1995), analisando as prevalências de obesidade, estimadas
por meio de estudos nacionais, realizados em 1974/75 e 1989, verificou aumento na
prevalência de obesidade entre adultos em todos os estratos socioeconômicos, com
aumento proporcional mais elevado nas famílias de baixa renda.
ABRANTES et al. (2003) avaliaram a prevalência de sobrepeso e obesidade em
crianças, adolescentes, adultos e idosos brasileiros, nas regiões Nordeste e Sudeste, com
base em dados da Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV, 1996/97). Os autores
encontraram 10,8% de sobrepeso em crianças, 9,9% em adolescentes e 28,3% em
adultos e idosos e, quanto à obesidade, 7,3%, 1,8% e 9,7% respectivamente. Na região
Sul do país, GIGANTE et al. (1997), estudaram a prevalência de sobrepeso entre
adultos em Pelotas – RS e encontraram 21% de sobrepeso na população enquanto
aproximadamente 40% da amostra apresentou sobrepeso. De acordo com os últimos
resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF, 2002-2003), contemplando adultos
brasileiros, o sobrepeso foi de 41% em homens e 39,2% em mulheres, enquanto a a
prevalência de obesidade foi de 8,8 e 12,7% para o sexo masculino e feminino,
respectivamente (BRANDÃO et al., 2005).
Desta forma, com a intenção de entender a etiologia e as repercussões da
transição epidemiológica e nutricional, surge a necessidade de estudos concernentes aos
grupos vulneráveis, bem como os fatores de riscos associados a obesidade e às demais
doenças crônicas.
Estudos têm apresentado os fatores de risco envolvidos na etiologia da doença
cardiovascular. Assim, entre os considerados de maior importância, destacam-se a
hipertensão arterial, as dislipidemias, a obesidade, o diabetes melito (MARTINS et al.,
1989; MARTINS et al.,1993), bem como hábitos relacionados ao estilo de vida, como
dieta rica em calorias, gorduras saturadas, colesterol e sal, consumo de bebidas
alcoólicas, tabagismo e sedentarismo (CERVATO et al., 1997; CASTRO et al., 2004).
Neste contexto surge, nos últimos anos, um novo paradigma envolvendo princípios de
que fatores intra-uterinos e da primeira infância estariam associados ao risco de doenças
crônicas na adolescência e na vida adulta.
7
2.1.6. Marco Teórico de Barker
PETRY & HALES (2000), revisando estudos que relacionam fatores da infância
com estado nutricional na vida adulta, relataram que as primeiras investigações com
este propósito datam de 1934, quando KERMACK et al, começaram a observar que a
taxa de mortalidade em diferentes faixas etárias, na Inglaterra, Escócia e Suécia,
relacionava-se com os dados de nascimento dos indivíduos, especialmente com o baixo
peso ao nascer. No entanto, ainda não se discutia a possibilidade da origem fetal das
doenças, sendo que a associação entre peso ao nascer e doenças na vida adulta foi
atribuída a fatores genéticos.
No final dos anos 80, intensificaram-se os estudos das causas do aumento na
incidência de doenças cardiovasculares nos países ocidentais. A epidemia de doenças
cardiovasculares, no culo XX, coincidia com melhores padrões de vida e nutrição. O
pesquisador inglês David J. P. Barker observou que, no início do século, a Inglaterra e o
País de Gales tiveram as maiores taxas de baixo peso ao nascer. Ele postulou que a
inadequação do crescimento fetal poderia ter predisposto os sobreviventes à doença
cardíaca na vida adulta (ROBINSON, 2001). Os primeiros indícios, que comprovavam
esta teoria, foram encontrados na cidade de Hertfordshire, Inglaterra, onde um grupo de
pesquisadores, liderados por Barker, trabalhando com um desenho retrospectivo,
conduziram estudos dos registros de nascimento dos homens da cidade e analisaram as
causas de morte e suas relações com o peso ao nascer, peso na idade de um ano e
alimentação nesta faixa etária. Compararam os dados encontrados com as referências
locais e concluíram que as mortes devido à isquemia estavam relacionadas,
inversamente, ao peso no primeiro ano de vida (BARKER et al., 1989).
A partir dos primeiros achados, Barker propôs a possível relação entre
crescimento fetal e doenças cardíacas na vida adulta, sendo-lhe atribuída esta teoria em
sua forma atual, denominada Teoria da Hipótese Fetal das Doenças (SCHROEDER &
MARTORELL, 2000).
A teoria propõe que a má nutrição fetal, durante a gestação, resulta em retardo
do crescimento do feto e em um desenvolvimento adaptativo, que promoveria de forma
permanente mudanças estruturais, funcionais e metabólicas no organismo humano.
Quando associada a fatores ambientais e genéticos, essas alterações predisporiam ao
desenvolvimento das doenças cardíacas na vida adulta (BARKER et al., 1993;
GODFREY & BARKER, 2000). Por partir do princípio que o organismo é programado,
8
para sobreviver em condições desfavoráveis no útero e esta programação ocorrer de
forma permanente, a teoria proposta por Baker, é também conhecida como Hipótese da
Programação Fetal. O mecanismo da programação é ilustrado na figura 1
Fonte: SZITÁNYL et al., 2003
Figura 1: Hipótese da programação fetal, de Barker
Fatores genéticos
Fatores
ambientais
DOENÇAS
CARDIOVASCULARES
NA VIDA ADULTA
Redução da ingestão ou
dos estoques maternos
Deficiência placentária
Desnutrição fetal
Adaptações endócrinas e
metabólicas no útero
PROGRAMAÇÃO
9
2.1.7. Origem fetal das doenças na vida adulta
A partir dos primeiros estudos nos registros de Hertfordshire, têm sido
desenvolvidas pesquisas nesta linha, buscando argumentos concretos, que sustentem a
teoria da Origem Fetal das Doenças (GOLDFREY & BARKER, 2000; ERIKSSON et
al., 2001a; SINGHAL et al., 2003). Desde sua formulação associada a doenças
cardíacas, tem-se tentado correlacionar também o crescimento fetal com outras doenças
crônicas, como a hipertensão arterial, diabetes não insulino-dependente,
hipercolesterolemia, obesidade e câncer (BRESSON & REY, 2004; KHAN et al.,
2005).
2.1.7.1. Hipertensão arterial
LAW & SHIELL (1996) revisaram 34 trabalhos sobre pressão arterial e
encontraram relação inversa entre pressão arterial e peso ao nascer. No entanto, a
tendência a aumento da tensão arterial em indivíduos com baixo peso parece estar mais
associada aos que nasceram pequenos para idade gestacional, que provavelmente
sofreram retardo no crescimento intra-uterino (RCIU), do que aos prematuros.
A partir de estudos com animais, postula-se que a regulação do cortisol é o
possível mecanismo de ligação entre o RCIU e hipertensão arterial na vida adulta
(SCHROEDER & MARTORELL, 2000). Em estudo longitudinal BARKER et al.
(2002), analisando mais de 13.000 indivíduos em três fases da vida, ou seja, ao nascer
(registros do hospital), na infância (dados fornecidos em questionário pelos adultos) e
na vida adulta, encontraram que o baixo peso ao nascer, combinado ao ganho de peso
acelerado na infância e adolescência, é um fator preditivo da incidência de doenças
cardíacas e hipertensão na vida adulta (SCHROEDER & MARTORELL, 2000).
2.1.7.2. Diabetes tipo 2 e resistência à insulina
O diabetes tipo 2 é um fator de risco para doenças cardiovasculares, sendo
estudado dentro do contexto da origem fetal das enfermidades.
Embora vários estudos tenham mostrado sua correlação com o crescimento fetal
(CIANFARANI et al., 1999; BARKER et al., 2002; YAJANIK, 2004), ainda se
investiga o elo existente entre estes fenômenos.
PETRY & HALES (2000) em revisão sobre o assunto, apresentam alguns
estudos em que os estudiosos têm tentado explicar a relação entre peso ao nascer e
doenças na vida adulta, sendo que algumas hipóteses foram propostas a partir desses
10
trabalhos (Quadro 1). Os estudos de NELL (1982), McCANCE et al. (1994) e
HATTERSLEY & TOOKE (1999) basearam-se em mecanismos predominantemente
genéticos; partindo do princípio da seleção natural, ou seja, os indivíduos geneticamente
predispostos a desenvolver diabetes apresentavam maior capacidade de sobrevivência
no útero e no período pós-parto em face à desnutrição. Isto explicaria a prevalência
crescente do diabetes tipo 2 entre indivíduos adultos que apresentaram baixo peso ao
nascer. Em 1992, BARKER & HALES propuseram a Teoria do Fenótipo Parcimonioso
ou Fenótipo Adaptativo, que parte do princípio de uma redução do hormônio IGF ( fator
de crescimento similar à insulina), em resposta à hipoglicemia fetal, acarretaria
alterações no desenvolvimento das células β do pâncreas no período pré natal. Estas
alterações podem ter implicações a longo prazo no desenvolvimento de diabetes tipo 2
na fase adulta.
Quadro 1 - Hipóteses e,ou teorias da relação do peso ao nascer com a resistência à
insulina na vida adulta
HIPÓTESE REFERÊNCIA
Genótipo parcimonioso
Genótipo do RN pequeno para idade gestacional
Insulina fetal
Fenótipo parcimonioso
“Catch-up” de crescimento
NELL (1982)
McCANCE et al (1994)
HATTERSLEY & TOOKE
(1999)
BAKER et al. (1993)
CIANFARANI et al. (1999)
Fonte: PETRY & HALES (2000)
No entanto, a teoria proposta por CIANFARANI et al., (1999) sugere que,
durante o período intra-uterino, quando em situação de restrição alimentar, o hormônio
IGF (fator de crescimento semelhante à insulina) mantêm-se em níveis baixos a afim de
desviar o suprimento de nutrientes que seria utilizado para o crescimento, para
sobrevivência de órgãos vitais. No período pós-natal, a recuperação do crescimento e
normalização destes parâmetros ocorreria com o “catch-up” do crescimento, no
primeiro trimestre de vida. A superativação do sistema IGF, durante o “catch up”, a fim
de recuperar o tamanho do RN, induziria uma adaptação metabólica com efeitos a longo
prazo, o que, em associação com a predisposição genética e,ou obesidade, poderia
eventualmente promover o diabetes tipo 2. De acordo com esta teoria, o ponto crucial
11
para desenvolvimento de doenças a longo prazo seria, então, o período pós-natal
imediato.
Em conformidade com a teoria de CIANFARANI et al (1999), alguns estudos
indicam que as doenças crônicas na vida adulta estão associadas ao rápido crescimento
ou ganho de peso na infância (FORSÉN et al. 2000; MONTEIRO, 2003; YAJANIK,
2004)
2.1.7.3. Dislipidemias
A concentração sanguínea de lipídeos é um outro fator de risco associado às
doenças cardiovasculares. No entanto, o efeito da deficiência fetal nas hiperlipidemias
ainda é pouco estudado, não apresentando mecanismo biológico consistente que
explique esta associação. Estudos neste sentido indicam que indivíduos, que apresentam
pequena circunferência abdominal ao nascer (indicando um crescimento insuficiente),
tendem a ter concentrações séricas mais elevadas de colesterol total, LDL (low density
lipoprotein - lipoproteína de baixa densidade), apolipoproteínas B e fibrinogênio
(GOLDFREY & BARKER, 2000; SCHROEDER & MARTORELL, 2000).
2.1.7.4.Obesidade e distribuição da gordura corporal
Investigações que relacionam a exposição pré-natal com obesidade futura têm
sido consuzidas no sentido da associação entre o peso ao nascer e IMC alcançado na
vida adulta (OKEN & GILLMAN, 2003). Os estudos de Barker, ainda nos registros de
Hertforshire, indicaram que homens e mulheres com baixo peso ao nascer apresentam
maior acúmulo de gordura central, representado por índices mais elevados de relação
cintura/ quadril (SCHROEDER & MARTORELL, 2000).
VELDE et al. (2003), estudando a composição corporal e distribuição da
gordura, encontraram relação entre peso ao nascer e gordura corporal elevada. Os
resultados, embora não estatisticamente significantes, indicaram uma possível relação
inversa entre peso ao nascer e aumento da gordura subcutânea e acúmulo abdominal.
Apesar de estudos apontarem o baixo peso ao nascer como fator para sobrepeso
na vida adulta, outros autores encontraram resultados indicando que o sobrepeso na vida
adulta parece estar associado, principalmente, ao elevado peso ao nascer e ganho de
peso excessivo na infância (ERIKSSON et al., 2001b; GUNNARSDITTIR et al., 2002;
EUSER et al., 2005)
12
MONTEIRO et al. (2003), avaliando a associação entre peso ao nascer e
velocidade de crescimento no primeiro ano de vida, com ocorrência de sobrepeso e
obesidade em adolescentes brasileiros, encontraram correlação positiva entre o
sobrepeso/obesidade e o elevado peso ao nascer e rápido crescimento no primeiro ano
de vida, sendo que esta associação foi mais forte em relação à velocidade de
crescimento.
De acordo com SINGHAL et al. (2003), com adolescentes entre 13 e 16 anos, o
aumento de um desvio-padrão no peso ao nascer esteva significantemente associado
com aumento de 0,9-1,4 kg na massa magra na adolescência, mas não se correlacionava
com a massa gorda, sendo esta associação independente de idade, sexo, altura, estágio
puberal, nível socioeconômico e atividade física. Do mesmo modo, STETTLER et al.
(2000) objetivando identificar fatores de risco, presentes ao nascer, para adiposidade em
adultos da população afro-americana não encontrou associação entre peso ao nascer e
adiposidade.
Conforme se observa, não consenso entre os estudiosos sobre quais fatores ao
nascer, realmente, influenciam o estado nutricional na vida adulta, bem como quais
mecanismos biológicos explicariam esta associação. No entanto, tem sido aceito que
tanto a desnutrição quanto a hiperglicemia no período intra-uterino, associadas a baixo e
elevado pesos ao nascer, respectivamente, podem afetar de forma permanente os centros
hipotalâmicos envolvidos na regulação da ingestão alimentar e conseqüentemente,
promover o acúmulo de gordura corporal na vida adulta (OKEN & GILLMAN, 2003).
2.1.8. A hipotese contestada
Embora a relação entre condições intra-uterina e suas conseqüências a longo
prazo pareça definida, ainda existem incertezas. Provavelmente, seja imprudente pensar
que o desenvolvimento do diabetes, da hipertensão, das doenças cardiovasculares e da
obesidade resultem de acontecimentos, que ocorreram nos primeiros estágios da vida,
ao invés de resultarem da ação combinada de fatores genéticos e ambientais, ativos
durante o desenvolvimento humano pós-natal (BRESSSON & REY, 2004).
Embora em estudos controlados, realizados em animais, a Hipótese da Origem
Fetal das Doenças seja mantida, as evidências que a apóiam em humanos ainda são
insuficientes, devido à dificuldade de controle das variáveis de confusão e
consequentemente dos resultados contraditórios. Portanto, os mecanismos que
13
explicariam esta relação continuam obscuros (LANGLEY-EVANS & JACKSON,
1999).
Alguns estudos epidemiológicos com seres humanos (VALDEZ et al., 1994;
ALISSON et al., 1995) não apresentam nenhuma relação entre o peso ao nascer e o
estado nutricional na vida adulta. VALDEZ et al. (1994) analisando 564 adultos
americanos de origem hispânica, não constataram relação entre o peso ao nascer e a
relação cintura/quadril.
FRISANCHO (2000), estudando o sobrepeso em adolescentes, encontrou que
este esteva associado como ao peso dos pais e não ao peso ao nascer ou a fatores da
primeira infância.
Outro ponto, que tem sido indicado como falha na sustentação desta hipótese,
refere-se à análise estatística dos dados. Segundo LUCAS et al. (1999), muitos estudos
restringem-se a testes de correlação, sendo que para uma correta interpretação dos dados
seria necessário utilizar a análise multivariada com, pelo menos, três análises de
regressão para controlar as variáveis de confusão.
Outra visão da Hipótese da Origem Fetal das Doenças é indicada por POPKIN et
al. (1996). Segundo esses autores, as hipóteses de associações não são incompatíveis,
mas poderiam refletir dois mecanismos separados: um relacionado à desnutrição durante
a gestação e o outro à diabetes gestacional e alimentação pouco balanceada durante a
gravidez, os quais promoveriam, respectivamente, baixo e elevado peso ao nascer e
afetariam o estado nutricional na vida adulta.
Como pode ser observado, este tema é de grande relevância, mas ainda restam
questionamentos, o que requer fuutras investigações a fim de se obter hipóteses e,ou
explicações mais detalhadas e claras.
2.1.9. Sugestões para futuras investigações
Na literatura científica pesquisada para este trabalho, encontrou-se falhas
metodológicas, bem como sugestões para desenhos de futuras investigações, a fim de
resolver o embate que gira em torno desta hipótese. A seguir são apresentadas as
principais sugestões encontradas (SCHROEDER & MARTORELL, 2000; LANGLEY-
EVANS & JACKSON, 1999; LUCAS et al.,1999; GOLDFREY & BARKER, 2000;
BRESSON & REY, 2004).
14
realizar estudo com desenho de coorte prospectiva desde a infância até a vida
adulta;
estudar uma população com mobilidade social e geográfica;
buscar informações detalhadas sobre fatores biológicos, determinantes do
crescimento deficiente na infância e sobre fatores de risco para enfermidades
crônicas na vida adulta;
buscar conhecer os fatores maternos ligados ao desenvolvimento intra-uterino
considerar o ganho de peso na infância, catch up , como possível fator de risco
para o sobrepeso;
dispor de informações socioeconômicas na infância, para compreender os fatores
básicos determinantes do crescimento deficiente;
buscar detalhamento preciso sobre possíveis variáveis de confusão na vida
adulta, tais como classe social, tabagismo, atividade física e alimentação;
buscar conhecer a possível associação do elevado peso ao nascer, bem o
mecanismo biológico envolvido;
proceder, corretamente, a análise estatística dos dados
2.1.10 Considerações finais
A desnutrição fetal pode representar outro fator ambiental, que promove o
desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta. No entanto, é pouco provável que
se consiga separar os impactos sofridos na vida intra-uterina e primeira infância, dos
fatores que determinam o curso de uma vida no seu contexto social e econômico.
Caso se consiga provar a Hipótese da Origem Fetal das Doenças, as repercussões
podem ser enormes, no sentido que, para prevenir as doenças crônicas não
transmissíveis, serão necessários cuidados e atenção redobrada no período pré-natal e na
primeira infância, a fim de garantir adequado crescimento e desenvolvimento.
Certamente, muitos estudos ainda são necessários sobre esta hipótese, até que se
defina de forma mais concreta sua veracidade ou não e bases biológicas.
15
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANTES, M.M.; LAMOUNIER, J.A.; COLOSIMO, E.A. Prevalência de
sobrepeso e obesidade nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil. Revista da
Associação Médica Brasileira, v.49, n.24, p. 24-34, 2003
BARATA, R.C.B. O desafio das doenças emergentes e a revalorização da
epidemiologia descritiva. Revista de Saúde Pública, v.31, n.5, p.531-37, 1994
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19
2.2. Artigo 2-ESTADO NUTRICIONAL NA ADOLESCÊNCIA:
CONSEQUÊNCIAS IMEDIATAS E A LONGO PRAZO
2.2.1. Resumo
O estado nutricional dos adolescentes reflete as condições de saúde da infância e
é um bom indicador das prioridades de atenção à saúde de indivíduos adultos. Além do
aspecto físico, a adolescência é um período de mudanças sociais e psicológicas,
constituindo um grupo com características fisiológicas e psicológicas bem específicas.
De acordo com a literatura, grande parte dos hábitos alimentares e de estilo de vida que
se estabelecem nesta faixa etária, persistirão ao longo dos anos. Desta forma, uma
nutrição adequada neste grupo específico tem como objetivo promover o
desenvolvimento de todo potencial do indivíduo, bem como prevenir doenças na vida
adulta. Neste trabalho, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre a
vulnerabilidade biológica do grupo adolescente e sobre as principais conseqüências
imediatas e a longo prazo do estado nutricional desses indivíduos, trazendo à discussão
a importância de programas de promoção de saúde e prevenção de doença no grupo em
estudo.
Palavras-chave: adolescentes, estado nutricional, sobrepeso, carências nutricionais
20
2.2.2. Introdução
Segundo WHO (2005), os adolescentes constituem 20,8% da população mundial
e são, reconhecidamente, um grupo estratégico na promoção de saúde e prevenção de
doenças na vida adulta.
A situação nutricional dos adolescentes, ao mesmo tempo que reflete as
condições de saúde da infância, é um bom indicador das prioridades de atenção à saúde
de indivíduos adultos (MONTEIRO et al., 1995).
A nutrição adequada neste grupo específico tem como objetivo, não somente
promover o desenvolvimento de todo potencial do indivíduo, mas também prevenir
doenças na vida adulta (EISENSTEN et al., 2000).
De acordo com MARQUES (1982) é possível que indivíduos com potencial de
crescimento similar alcancem estaturas diferentes, quando adultos, em conseqüência do
ambiente em que tenham vivido. Entre os fatores ambientais, que influenciam a estatura
final dos indivíduos, a alimentação é uma das mais importantes.
Embora possa ser observada a tendência secular positiva do crescimento entre os
brasileiros, há diferenças consideráveis, quando se comparam indivíduos segundo a
classe econômica (MONTEIRO et al., 1995). SICHIERI et al. (1995) destacam que,
embora a estatura final dos adolescentes brasileiros tenha aumentado, ainda permanece
inferior em comparação a dos americanos. Este quadro reflete a situação nutricional na
infância e o atendimento à saúde materno-infantil, que embora apresente melhora ao
longo dos anos, ainda requer cuidados e atenção específica.
Outra realidade é a prevalência mundial de obesidade na adolescência que,
acompanhando o processo de transição nutricional, apresenta também crescente e rápido
aumento. A associação da obesidade às alterações metabólicas, como dislipidemia,
hipertensão arterial, intolerância à glicose e as doenças cardiovasculares, que alguns
anos, eram mais evidentes em adultos, podem ser observadas freqüentemente em
faixas etárias mais jovens (STYNE, 2001; OLIVEIRA et al., 2004).
Este é um período crítico para se iniciar ou agravar a obesidade preexistente,
decorrente do aumento fisiológico de peso e tecido adiposo e, consequentemente,
aumento das necessidades nutricionais, que muitas vezes são supridas de forma
inadequada, devido a hábitos alimentares pouco nutritivos ou desbalanceados
(ESCRIVÃO et al., 2000).
JACOBSON (1998) destaca que a adolescência é uma fase oportuna para se
colocar em prática medidas preventivas, educando e responsabilizando os indivíduos
21
por suas próprias ingestões alimentares; reforçando a importância de se conhecer o
estado nutricional e estilo de vida dos adolescentes, uma vez que os hábitos adquiridos,
na ocasião em que o indivíduo valoriza cada vez mais sua independência e se torna
responsável por suas escolhas, geralmente persistem na idade adulta, podendo se tornar
fatores de riscos para doenças crônicas na vida adulta (VIEIRA et al., 2001).
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo revisar, na literatura científica,
os estudos que mostram as principais conseqüências do estado nutricional de
adolescentes, sejam elas imediatas ou futuras.
2.2.3. Metodologia
Foi realizado levantamento bibliográfico, baseado em periódicos científicos,
utilizando-se os termos de busca: obesidade, desnutrição, adolescente, hábitos
alimentares, baixa estatura, atividade física e seus equivalentes em inglês e espanhol nas
bases Science Direct Online e MedLine, Scielo, bem como, nos Periódicos da Capes.
Foram selecionados artigos publicados nos últimos 10 anos, incluindo também aqueles
relevantes ao tema, publicados anteriormente e citados nos artigos, previamente,
selecionados.
2.2.4. Necessidades e vulnerabilidade nutricional do adolescente
As necessidades nutricionais da adolescência são influenciadas pelo rápido
crescimento corporal e pela necessidade de reserva para puberdade. Desta forma, a
nutrição adequada é de grande importância para que o adolescente consiga expressar,
adequadamente, seu potencial genético em termos de crescimento e desenvolvimento
(URBANO et al., 2002).
Além do aspecto físico, nesta fase há mudanças sociais e psicológicas, como o
aumento da capacidade cognitiva e adaptações na personalidade, constituindo uma
população com características fisiológicas e psicológicas bem específicas
(GAMBARDELLA et al., 1999).
Segundo FARTHING (1991), todas estas transformações influenciam o
comportamento alimentar, que é resultado de fatores internos (auto-imagem,
necessidades fisiológicas, valores, preferências e desenvolvimento psicossocial) e
fatores externos (hábitos familiares, amigos, mídia, modismos, experiências e
conhecimentos do indivíduo).
22
Como característica dietética dos adolescentes, pode-se citar a omissão de
refeições, substituição de refeições, como o almoço ou jantar, por lanches e o consumo
aumentado de refrigerante e de outros produtos ricos inclusive as vazias. A importância
de se conhecer as características da alimentação de adolescentes é reforçada, quando se
considera que os hábitos alimentares, desenvolvidos neste período, podem persistir na
idade adulta (EISENSTEIN et al., 2000).
PRIORE (1998), analisando a dieta de adolescentes de 12 a 18 anos em São Paulo
(SP), constatou que a ingestão de lipídeos estava acima do preconizado e a de
carboidratos, abaixo. A adequação do consumo de ferro, para o sexo feminino e de cálcio,
para os sexos feminino e masculino, em todas as faixas etárias, esteve sempre abaixo do
recomendado. LIMA et al. (2000) estudaram, em Natal/RN, crianças e adolescentes com
idade média de 11 anos. Observaram que a ingestão de lipídeos também estava acima do
máximo aceito, enquanto a ingestão de fibras era reduzida. Estas dietas favorecem não
apenas a deficiência de micronutrientes e vitaminas, mas também contribuem para o
balanço energético positivo, que geralmente é determinante para o excesso de peso.
Associada a esta alimentação, observa-se aumento do sedentarismo entre os
adolescentes. A atividade física, reconhecida como fator protetor à saúde, contribui de
forma eficaz no controle do peso, melhora da pressão arterial e vel de lipídeos séricos
(MENDONÇA & ANJOS, 2004). Estudiosos têm mostrado que a atividade física
incorporada desde a infância e adolescência contribui para o hábito de realizar atividade
física na fase adulta (LAAKSO & VIIKARI, 1997; TAYLOR et al., 1999). No entanto,
observa-se na literatura que, em diferentes localidades, os níveis de sedentarismo são
elevados entre adolescentes, conforme apresntado no Quadro 1.
23
Quadro 1- Trabalhos apresentando o sedentarismo entre adolescentes
Ano Autores Local Metodologia Resultados
2006 RIBEIRO et al. Belo
Horizonte/MG
Metodologia
proposta por Ross
(1994)
28,1% dos participantes
despendendo mais que 5,5
horas em atividades
sedentárias;
22,6% apresentando baixos
níveis de atividade física
expressa como gasto
energético
2004 OEHLSCHLAEGER
et al.
Pelotas/RS Questionário
proposto por
Caspersen et al.
(2000)
39% foram considerados
sedentários. As meninas
foram mais sedentárias do
que os meninos, 2,45 (IC
95% 2,06-2,92)
2001 GUEDES et al. Londrina/PR Auto-recordação das
atividades diárias,
( Bouchard et al.)
54% dos rapazes foram
classificados como ativos ou
moderadamente ativos,
enquanto aproximadamente
65% das moças analisadas
mostraram ser inativas ou
muito inativas.
2000 SILVA & MALINA Niterói/RJ Questionário
proposto por
Crocker et al. (1997)
85% dos meninos e 94% das
meninas como sedentários
Somado à incorporação de hábitos alimentares inadequados e ao sedentarismo, o
consumo de cigarros e bebidas alcoólicas, que segundo o Minstério da Saúde, vem
crescendo neste grupo, propiciando o aparecimento ou agravando fatores biológicos de
risco cardiovascular, como hipertensão arterial, obesidade, hiperinsulinemia,
hipercolesterolemia e homocisteinemia (BARRETO et al., 2005).
Portanto, a identificação precoce dos comportamentos determinantes de risco,
para posterior intervenção educativa afim de prevenir problemas imediatos e futuros
(NOBRE et al., 2006).
Assim, a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2005) apresentou, em
documento recente, modelo da estrutura conceitual dos problemas nutricionais e seus
principais fatores de risco na adolescência. Este modelo pode ser observado na Figura 1.
Desnutrição, Deficiência de micronutrientes, obesidade, e outras co-
morbidades associadas ao excesso de peso
Fatores fisiológicos
Fatores socioeconômicos
Acesso aos alimentos
Hábitos
alimentares típicos
da adolescência
Padrões culturais
Acesso à alimentação
saudável e segura (pobreza)
Deficiência de
nutrientes
essenciais
Distúrbios
alimentares
Estilo de vida
(álcool, sedentarismo,
cigarro...)
Dieta
Inadequada
Gestação
precoce
Doenças infecciosas
e/ou outros
problemas de saúde
Má-nutrição intrauterina, na infância
Deficiência no estoque corporal
Fonte: WHO, 2005
Figura I - Estrutura conceitual dos problemas nutricionais e suas causas na adolescência
2.2.5. Conseqüências imediatas
As principais conseqüências na adolescência, decorrentes do estado nutricional
dos indivíduos, basicamente dizem respeito ao excesso de consumo energético e baixo
nível de atividade física (obesidade e hiperlipidemias) ou deficiência energética e de
micronutrientes (desnutrição, energético-protéica, anorexia nervosa, bulimia, deficiência
de vitaminas e minerais), decorrentes de hábitos alimentares inadequados (BRASIL,
1998).
2.2.5.1. O excesso de peso e suas consequências
As mudanças de crescimento, maturação e diferenciação em tempo, forma e
tamanho corporal, que ocorrem durante a adolescência, têm sido também marcadas por
transições históricas, políticas, socioeconômicas e culturais, assim como pelas
epidemias, múltiplas doenças, problemas ecológicos causados pela urbanização e
industrialização e também por avanços tecnológicos e científicos da atual globalização
(EISENSTEIN et al., 2000).
Assim, este grupo também tem acompanhado a transição nutricional que vem
ocorrendo no país, onde aumento da prevalência de sobrepeso/obesidade. Embora os
problemas relacionados à ingestão insuficiente, ainda, sejam de grande importância no
país, não se deve subestimar os agravos à saúde, resultantes da ingestão energética
excessiva, (CANNON et al, 1999).
NEUTZLING et al (2000), analisando os dados da Pesquisa Nacional sobre
Saúde e Nutrição (PNSN-1989), encontraram prevalência de 7,6% de sobrepeso em
adolescentes. WANG et al. (2002), verificaram aumento na prevalência de sobrepeso e
obesidade de 4,1% para 13,9%, em crianças e adolescentes de 6 a 18 anos. Estudos
realizados em algumas cidades brasileiras confirmam a alta prevalência do sobrepeso/
obesidade, como o realizado em Pelotas, em 1998. Esse estudo relata prevalência de
sobrepeso de 20,9% em homens e 20,0% em mulheres com 15 anos de idade
aproximadamente (MONTEIRO, et al. 2003), enquanto, em Recife, as prevalências de
sobrepeso e obesidade foram de 22,6% e 11,3%, respectivamente entre os escolares
avaliados por BALABAN & SILVA (2001).
Em Viçosa-MG, FARIA et al. (2006) observaram que, em relação ao estado
nutricional, 9%, 40% e 51% dos adolescentes, apresentavam, respectivamente, baixo
peso, eutrofia e risco de sobrepeso ou sobrepeso, segundo proposta do CDC (2000) e
26
que aqueles com excesso de peso (risco de sobepeso ou sobrepeso) apresentavam maior
proporção no sexo masculino (81%).
Em conseqüência do aumento de sobrepeso/obesidade, já é possível encontrar
alterações metabólicas características do excesso de peso, como hiperglicemia,
dislipidemia e hipertensão arterial que são fatores de risco para a doença coronariana,
principalmente na fase adulta (OLIVEIRA et al.,2004)
ROSA & PINHEIRO (1999), revisando estudos sobre hipertensão arterial na
adolescência, encontraram evidências indicando que a hipertensão arterial (HA)
essencial do adulto pode ter início na infância e adolescência. Os autores também
relatam que a prevalência de HA entre crianças e adolescentes situa-se entre 2 a 3% e
que o nível de pressão arterial, aumentado na infância e adolescência, parece ser o mais
potente previsor de hipertensão arterial na vida adulta.
STYNE (2001), observou presença de, pelo menos, um fator de risco para doença
cardiovascular em 60% das crianças e adolescentes com excesso de peso, sendo que
20% apresentavam dois ou mais fatores.
O aumento na incidência de hiperglicemia e Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) entre
adolescentes também é citado na literatura (YOUNG et al. 2000). Até recentemente, o
DM2 era considerado raro na adolescência; entretanto, nas últimas décadas, pode-se
encontrar aumento desta doença entre adolescentes, sendo que características da doença
são similares às encontradas em adultos (GABBAY et al., 2003).
A associação entre obesidade e dislipidemia, observada em adultos, também tem
sido documentada em crianças e adolescentes (STEINBERG & DANIELS, 2003).
ROMALDINI et al. (2004), estudando dislipidemia em crianças e adolescentes com
história familiar de doença arterial coronariana, encontrou associação significante entre
dislipidemia e excesso de peso.
Em Viçosa MG, FARIA et al. (2006), estudando adolescentes atendidos no
Programa de Atenção à Saúde do Adolescente, observou que o perfil lipídico foi
inadequado em 63% dos estudados, sendo o percentual mais elevado para o colesterol
total (47,4%) e que o sexo feminino apresentou valores significantes e maiores para
colesterol total (p=0,009), LDL (p=0,02) e o masculino valores menores para HDL
(p=0,0009). Observou-se ainda colesterol total maior para o grupo de eutróficos em
relação ao baixo peso (p=0,02).
Este estudo vem reforçar que a quantidade de gordura corporal, freqüentemente,
está associada a alterações lipídicas, o que mostra a necessidade de uma intervenção
27
constante junto aos adolescentes, reforçando, assim, a importância de programas
específicos de atenção à saúde do adolescente.
Em relação à Síndrome Metabólica, JESSUP & HARRELL (2005) ressaltam
que sua prevalência na infância e adolescência varia com o critério diagnóstico
utilizado, bem como com a definição adotada para os pontos de corte. No entanto,
estudos vêm mostrando maior prevalência em crianças e adolescentes com sobrepeso e
obesidade, concluindo que a prevalência de síndrome metabólica aumenta, diretamente,
com o grau de obesidade (CAPRIO, 2005; CRUZ et al.., 2004; WEISS et al., 2004).
Além das alterações metabólicas, sabe-se que o sobrepeso e a obesidade também
podem interferir no aspecto psicológico e social dos adolescentes. Isolamento social e
baixa taxa de aceitação dos colegas são problemas comuns para jovens obesos, pois,
neste período, o indivíduo está desenvolvendo sua auto-imagem; portanto, a obesidade
pode ser extremamente prejudicial ao desenvolvimento psicológico e social do
adolescente (CAMPOS, 2005).
2.2.5.2. As carências nutricionais
Devido ao aumento de suas necessidades nutricionais decorrentes de seu
crescimento e desenvolvimento, bem como, aos hábitos alimentares inadequados, os
adolescentes constituem também um grupo de risco também para desenvolvimento de
deficiências nutricionais.
As carências nutricionais podem comprometer o sistema imunológico, alterando
a susceptibilidade às infecções e contribuindo para maior freqüência de hospitalizações.
Por sua vez, as infecções dificultam o consumo alimentar e, consequentemente, a
ingestão e absorção de nutrientes, limitando a possibilidade da velocidade de
crescimento e da maturação óssea (OPAS, 1996)
A deficiência de ferro é a principal carência, citada pela OMS (WHO, 2005), em
todas as faixas etárias, incluindo os adolescentes, com principal ênfase na gestante
adolescente. A deficiência de vitamina A também deve ser considerada com atenção.
No Brasil, embora a insuficiência de dados para verificação das carências, sabe-se que a
hipovitaminose A constitui problema de saúde pública (WHO, 1995). A vitamina A está
envolvida na secreção do hormônio de crescimento e pode comprometer o ganho
estatural no período do estirão (SARNI et al., 2002).
Vale ainda citar a importância da ingestão do cálcio e zinco, nesta faixa etária.
O cálcio é um nutriente essencial as diversas funções orgânicas e, sobretudo, para uma
28
adequada saúde óssea. O cuidado com a ingestão é necessário em todas as faixas etárias,
sendo muito importante no estirão do crescimento na adolescência. Estudos
comprovaram sua influência no pico de massa óssea em seres humanos e animais, o que
sugere que seguir as recomendações para ingestão dietética deste mineral é fundamental
(SARNI et al., 2002; SAITO, 2003) Em adolescentes, o baixo consumo de alimentos
ricos em cálcio tem sido associado à mineralização óssea e osteoporose na população
adulta (EISENSTEIN, 1998; WHO, 2005).
O zinco participa de funções fisiológicas essenciais ao organismo, sendo
componente de várias enzimas, participando de reações imunológicas e fundamental no
crescimento físico e desenvolvimento normal do organismo (FISBERG & BRAGA,
1998; EISENSTEIN et al., 2000). Normalmente, sua deficiência tem sido associada à
desnutrição ou ndrome de má absorção. A OMS apresenta a ingestão de zinco como
prioridade para atenção primária em todas as faixas etária, em países em
desenvolvimento (WHO, 2005).
Em relação ao crescimento na adolescência, o zinco é produto de interações
contínuas e complexas entre fatores hereditários e ambientais. Entre os fatores
ambientais mais importantes, encontram-se a nutrição, doenças, atividade física e
estresse.
Um agravo físico prolongado no início da vida pode determinar retardo no
crescimento, que acaba por se manifestar com déficit de estatura para a idade (stunting)
(CASTILHO & BARRAS FILHO, 2000). Segundo MARTORELL & HABICHT
(1986), as crianças cujo crescimento foi prejudicado (desnutrição grave) durante
período prolongado, mesmo que o agravo físico cesse, poderão apresentar estatura
inferior ao seu potencial genético na idade adulta.
Em virtude das desigualdades sociais prevalecentes no País, ainda existem
populações submetidas à subnutrição e à fome, razão pela qual o déficit estatural,
resultante da desnutrição imposta no início da vida, é bastante freqüente nessas
comunidades (FERREIRA, 2000).
É importante destacar que o indivíduo com baixa estatura pode estar refletindo
variação normal, determinada geneticamente. Entretanto o conceito de déficit estatural
aplica-se à situação em que o crescimento linear não conseguiu atingir seu potencial
genético, decorrente das condições de saúde e,ou nutrição (WHO, 1995).
No Brasil, tem-se observado tendência secular do crescimento positiva. Entre os
adolescentes brasileiros, a estatura média aumentou 8 cm aproximadamente entre 1975
29
e 1989; no entanto, eles permanecem ainda cerca de 10 cm mais baixos do que os
norte-amercianos (MONTEIRO et al., 1995).
GRANTHAM-MCGREGOR et al. (1989), sugere que o déficit de crescimento
pode afetar o desenvolvimento cognitivo e comportamental.
2.2.6. Conseqüências futuras
De acordo com a literatura disponível, a principal conseqüência a longo prazo do
estado nutricional dos adolescentes refere-se ao excesso de peso, que tende a persistir na
vida adulta, contribuindo, significativamente, para morbimortalidade (MUST &
STRAUSS , 1999).
CARNEIRO et al. (2000) apontam a obesidade, na adolescência, como fator de
risco para complicações clínico-metabólicas atuais e futuras. Estudando adolescentes
obesos e não obesos, pareados por sexo, idade, cor, nível de escolaridade e estágio de
maturação sexual, os autores verifcaram que os obesos apresentavam maiores valores
para relação cintura-quadril e para medidas de pressão arterial sistólica e diastólica.
Indivíduos obesos apresentavam, ainda, valores de HDL inferiores e de triglicerídeos
superiores àqueles aos dos não-obesos.
Segundo LAMOUNIER et al (2000), cerca de 50% de crianças obesas aos 6
meses de vida e 80% daquelas aos 5 anos sempre serão obesas. GUO, et al., (2002),
avaliando o IMC na infância e adolescência como preditor do sobrepeso/obesidade na
vida adulta, concluiram que aqueles que se encontram no percentil 95, na infância ou
adolescência, têm até 80% de probabilidade de manter o excesso de peso corporal na
vida adulta.
Além disso, a distribuição corporal do tecido adiposo implica diferentes riscos
para o desenvolvimento de alterações metabólicas, sendo que esta distribuição inicia-se
na adolescência (BAUMGARTNER et al., 1989). A gordura de localização central está
associada a maior risco para diabetes, doenças cardiovasculares e hipertensão arterial
(ESCRIVÃO et al., 2000). Embora ainda não se conheça o efeito específico da gordura
concentrada na região abdominal sobre o perfil lipídico, esta relação é consensual
(OLIVEIRA & VEIGA, 2005). Segundo KISSEBAH et al. (1994), adultos com alto
nível de adiposidade central desenvolvem, com maior frequência, resistência insulínica
do que aqueles com uma distribuição periférica de gordura corporal.
A doença coronariana secundária à aterosclerose, que tem se destacado nos nossos
dias como principal causa de morbidade e mortalidade em adultos, geralmente apresenta
30
manifestações clínicas (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença
vascular periférica) a partir da meia idade. No entanto, segundo STARY (1990), o
processo aterosclerótico começa a se desenvolver na infância. Estrias gordurosas,
precursoras das placas de ateroma, podem ser encontradas na camada íntima da aorta
aos 3 anos de idade e nas coronárias durante a adolescência, podendo progredir
significativamente na terceira e quarta décadas de vida (STARY, 1990).
Vale ressaltar, os fatores determinantes para doença coronariana estreitamente
relacionados ao estilo de vida que tem início na adolescência: fumo, hábitos alimentares
e atividade física (BEGOÑA et al., 1999).
O cigarro, por exemplo, apresenta um aumento no consumo a cada ano, entre
populações mais jovens. Além disso, o Ministério de Saúde informou em relatório que,
após a primeira tragada, 50% dos jovens tornam-se dependentes do fumo (CANNON et
al., 1999; BARRETO et al., 2005). Os hábitos alimentares inadequados e o
sedentarismo, citados anteriormente, também precisam ser considerados, pois, sabe-se
que entre os principais fatores de risco para doenças cardiovasculares do adulto, cinco já
tiveram sua importância comprovada na infância e na adolescência e são eles:
tabagismo, dislipidemias, hipertensão arterial, obesidade e sedentarismo (FISBERG &
RODRIGUEZ, 2000).
Nas últimas décadas, surgiu a hipótese conhecida como teoria de Barker,
segundo a qual um agravo nutricional ocorrido durante um período crítico do
crescimento e desenvolvimento poderia ter efeito deletério durante toda a vida, pois,
induz mecanismos adaptativos que, na idade adulta, tornariam tais indivíduos
especialmente susceptíveis à obesidade. (GRODFREY & BARKER, 2000; BARKER
et al., 1993). Desta forma, a desnutrição pregressa ocorrida no período intra-uterino,
representada pela baixa estatura na infância e adolescência, pode ser associada ao futuro
excesso de peso corporal (FLORENCIO et al., 2001).
SAMPEI (1992), estudando adolescentes do sexo feminino, residentes em
favelas do município de São Paulo, relata que 21% apresentava déficit estatural
associado ao sobrepeso e obesidade. Em concordância, PRIORE (1996) estudou
adolescentes do sexo masculino, residentes em favela em São Paulo e encontrou 26,3%
deles com déficit estatural, sendo que 24% destes apresentavam sobrepeso ou obesidade
associado ao déficit.
Alguns estudos têm mostrado que a baixa estatura nutricional causa uma série de
mudanças a longo prazo, como menor gasto energético, maior susceptibilidade aos
31
efeitos de dietas com alto teor de gorduras, menor oxidação de gorduras e prejuízo na
regulação da ingestão alimentar. Esses achados sugerem a necessidade de um
entendimento mais amplo e detalhado sobre os efeitos tardios da desnutrição no início
da vida, que é a causa direta da baixa estatura para a idade (MARTINS et al., 2004;
VELDE, et al., 2003; HOFFMAN et al., 2000).
FERREIRA et al. (2005), em estudo envolvendo mulheres adultas de renda
mutio baixa, observaram que baixa estatura, considerada indicador de desnutrição no
início da vida, constitui importante fator de risco para a hipertensão arterial e para a
obesidade abdominal.
Portanto, a adolescência pode ser considerada um período crítico e ao mesmo
tempo estratégico do ponto de vista nutricional, pois é nesta fase que os hábitos devem
ser implantados de forma eficaz a fim de possibilitar que este indivíduo desenvolva todo
seu potencial de crescimento e desenvolvimento, ao mesmo tempo em que se previnem
futuras doenças (BRASIL, 1998).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A obesidade ou deficiência nutricional na adolescência, bem como alguns
hábitos adotados por este grupo, são fatores de risco importantes para estado nutricional
atual e o desenvolvimento de doenças crônico degenerativas na vida adulta.
Os dados apresentados apontam os adolescentes como grupo estratégico no
âmbito da atenção primária, tendo em vista que os hábitos assimilados nesta faixa etária
persistem na vida adulta e podem se tornar fatores que predispõem ao desenvolvimento
de doenças futuras.
A promoção e a garantia dos direitos dos adolescentes, além de assegurar-lhes
uma vida melhor, é importante investimento para a sociedade, uma vez que o preço
social e econômico futuro é bem mais alto, quando este trabalho não é feito.
32
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38
3. OBJETIVOS
3.1. Geral
Investigar as interferências das condições de nascimento e do estado nutricional
no final da adolescência na condição nutricional de adultos jovens do sexo masculino ,
no município de Viçosa-MG
Específicos
Caracterizar as variáveis ao nascer da população estudada;
Avaliar o estado nutricional no final da adolescência dos indivíduos
estudados;
Avaliar o estado nutricional na vida adulta;
Determinar a composição corporal e o perfil bioquímico dos indivíduos
adultos;
Verificar a influência do peso, ao nascer, no estado nutricional na
adolescência e vida adulta;
Verificar a interferência do estado nutricional na adolescência no estado
nutricional do adulto;
Verificar a influência do peso ao nascer e do estado nutricional na
adolescência na composição corporal e perfil bioquímico na vida adulta;
Investigar fatores de risco para a síndrome metabólica, no grupo em estudo;
39
4. METODOLOGIA
4.1. DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de um estudo epidemiológico de coorte, com dados retrospectivos e
prospectivos, que pode ser classificado quanto aos eixos de investigação, como: não-
comparado, estático, de seleção incompleta, observacional e individual (DUNCAN &
SCHIMIDT, 1988).
4.2. CASUÍSTICA
Foram avaliados 100 indivíduos do sexo masculino, residentes na cidade de
Viçosa MG, em três fases da vida: ao nascer, no final da adolescência (com 18 e 19
anos) e início da vida adulta.
A amostra foi selecionada a partir dos registros mais antigos do banco de dados
referente ao alistamento militar de Viçosa – MG, nos anos de 1996, 1997 e 1999,
visando garantir um maior intervalo entre o período da adolescência e vida adulta. O
ano de 1998 não foi incluído, por não haver registro de dados dos alistados neste
período. Foram encontrados 1336 registros, sendo que em 1082 destes constavam todos
os dados para avaliação antropométrica (peso, estatura e circunferência da cintura). A
partir do nome das mães dos alistados, buscou-se os dados referentes à condição de
nascimento, no período correspondente a 1978-1981, no hospital (única maternidade da
cidade na época). Apenas 385 registros foram encontrados e foi dentre estes que
procedeu-se seleção dos adultos. Utilizou-se amostragem aleatória simples, pois esta
permite que todos os indivíduos da população tenham a mesma probabilidade de serem
aceitos (CALLEGARI-JACQUES,2003).
Inicialmente, atribuiu-se um número de ordem a cada elemento e, por meio de
dispositivo aleatório, selecionou-se a quantidade desejada (CALLEGARI-
JACQUES,2003). Cada indivíduo participou do sorteio somente uma vez, ou seja, o
nome sorteado foi anotado em protocolo próprio e não foi recolocado junto aos demais,
que ainda estavam disponíveis para o respectivo fim.
Para o estudo, foram selecionados 100 invidíduos correspondentes a 7,4% dos
alistados em 1996/97 e 1999.
Os indivíduos adultos foram procurados a partir dos endereços contidos no
banco de dados do Tiro de Guerra e,ou na lista telefônica a partir de seus próprios
40
nomes ou de seus pais, obtidos no mesmo banco. Dentre todos, 142 não foram
localizados, 100 aceitaram ser voluntários na pesquisa, 66 não quiseram participar, 53
haviam se mudado da cidade, 1 estava preso e 4 haviam falecido, sendo que os 19
restantes não chegaram a ser contactados, visto ter sido alcançado o número amostral
determinado.
A Figura 1 apresenta esquema de coleta de dados, a fim de facilitar a
compreensão das etapas.
FIGURA 1: Esquema de seleção amostral
BANCO DE ALISTAMENTO
TIRO DE GUERRA
1336
Dados incompletos
254
Dados completos
1082
DADOS COMPLETOS
MATERNIDADE
385
SELEÇÃO VIDA ADULTA
385
66 não
quiseram
1 preso
4 faleceram
100
aceitaram
53 haviam
mudado
Encontrados
224
Não Encontrados
142
Não contactados
19
41
4.3. Critérios de inclusão e exclusão
Os participantes foram selecionados, baseando-se nos critérios de inclusão: ter se
alistado no serviço militar, nos anos de 1996, 1997 ou 1999; possuir avaliação
antropométrica, no ano de alistamento, registrada no banco de dados do Tiro de Guerra;
ter nascido em Viçosa-MG; e possuir registro hospitalar referente aos dados de
nascimento.
Como fatores de exclusão foram considerados: indivíduos que não residiam
mais em Viçosa-MG, gêmeos ou a recusa do voluntário em participar do estudo.
4.4. Coleta de dados
4.4.1. Ao nascer
Os dados referentes a este estágio da vida foram coletados a partir dos registros
do berçário da única maternidade que, na época existia no município de Viçosa MG,
nos anos investigados (ANEXO I).
A) Em relação ao recém-nascido, foram obtidos os dados relativos:
Peso ao nascer (g) (PN)
Comprimento ao nascer (cm) (CN)
Tipo de parto ( vaginal ou cesariana)
Para classificação do peso ao nascer, foram utilizados os pontos de cortes
preconizados pela Organização Mundial da Saúde OMS (WHO,1995) que considera:
peso ao nascer <2500g - baixo peso; entre 2500 |-- 3000g - peso insuficiente; e ≥3000g,
- peso adequado. As categorias “baixo peso” e “peso insuficiente ao nascer” foram
agrupadas, devido o pequeno número encontrado em cada categoria, sendo este novo
grupo denominado como “peso inadequado ao nascer”. Utilizou-se o termo “peso
excessivo ao nascer” para definir os indivíduos nascidos acima de 4000 g.
A idade gestacional foi obtida a partir da equação (RAMOS, 1986):
Idade Gestacional (IG) = Comprimento ao nascer (cm) x 4
5
A avaliação do peso ao nascer em relação à idade gestacional foi realizada tendo
como ponto de corte para Retardo do Crescimento Intra-uterino (RCIU) o percentil 10
da curva de WILLIAMS (1982) preconizada pela WHO (1995) (QUADRO 1):
42
QUADRO 1 - Classificação do peso ao nascer em relação à idade gestacional
Adequado para IG (AIG) PN igual ou acima do percentil10 e
inferior ao percentil 90
Pequeno para IG (PIG) PN abaixo do percentil 10
Grande para IG (GIG) PN acima do percentil 90
Fonte: WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1995
A partir do peso e comprimento, calculou-se o índice de crescimento de Roher
(IR), que caracteriza o crescimento intra-uterino, no período pós-natal imediato, ou seja
a proporcionalidade corporal do recém-nascido é dada segundo RAMOS, 1986.
Índice de Crescimento = Peso ao nascer (g) x 100
[Comprimento ao nascer (cm)]
3
O Quadro 2 apresenta a classificação do recém nascido a partir do IR
QUADRO 2 - Classificação do índice de crescimento de Roher (IR)
IR < 2,2 g/cm
3
=> retardo do crescimento
IR = 2,2-3,0 g/cm
3
=>crescimento normal
IR > 3,0 g/cm
3
=> crescimento excessivo
Fonte: RAMOS, 1986
4.4.2. Na adolescência:
No banco dos alistados do Tiro de Guerra nos anos de 1996 e 1997 e 1999,
foram coletados os dados referentes ao peso (kg), estatura (cm) e circunferência da
cintura (cm). A partir desses dados, calculou-se o Índice de Massa Corporal (IMC), para
avaliar o estado nutricional dos adolescentes (ANEXO I), utilizando-se os pontos de
corte e a referência antropométrica, preconizados pelo Center for Disease Control and
Prevention e National Center for Health Statistics (CDC/NCHS, 2000),
respectivamente (Quadro 3)
43
QUADRO 3 - Pontos de corte para avaliação do estado nutricional
Indicador Índice Ponto de corte
IMC baixo para idade IMC para idade < p 5
Eutrofia IMC para idade > p 5 < p85
Risco de sobrepeso IMC para idade ≥ p 85 e < p 95
Sobrepeso IMC para idade > p 95
Fonte: CDC/NCHS (2000)
Na análise dos dados, aqueles que apresentavam risco de sobrepeso ou
sobrepeso foram agrupados e considerados com “excesso de peso” devido ao número de
indivíduos encontrados em cada uma das classificações.
Uma vez que não existem pontos de corte, estabelecidos para avaliação da
circunferência da cintura em adolescentes e como neste estudo os indivíduos
encontravam-se no final da adolescência, optou-se pela utilização do ponto sugerido
para adultos que é de 94 cm (WHO, 1998).
Considerou-se com ficit estatural, os que apresentavam estatura inferior ao
percentil 5 da curva estatura/idade (CDC/NCHS, 2000).
4.4.3. Na vida adulta
Os indivíduos foram informados e esclarecidos sobre os objetivos e metodologia
do estudo, sendo este realizado somente com aqueles que, após tomarem conhecimento
do projeto, aceitaram participar e assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido (ANEXOS II).
Os indivíduos, que aceitaram, foram atendidos na Divisão de Saúde da UFV
para realização de avaliação antropométrica e de composição corporal. A análise
bioquímica foi realizada no laboratório de Análises Clínicas da Divisão de Saúde. A
caracterização socioeconômica e a análise dietética foram realizadas em segunda
consulta, também na Divisão de Saúde ou em visita domiciliar, conforme preferência do
voluntário. Todos os indivíduos receberam retorno de toda avaliação realizada.
A avaliação antropométrica e de composição corporal foram realizadas,
unicamente, pela nutricionista (CRN 2005101256), estudante de mestrado. Os exames
bioquímicos e avaliação de composição corporal foram realizados, após jejum de 12
horas.
44
4.4.3.1 Antropometria (ANEXO III)
Peso
O peso foi obtido por balança eletrônica, com capacidade máxima de 150kg
e subdivisão em 50g. Os indivíduos foram pesados sem calçados e com o mínimo de
roupa possível (JELLIFFE, 1968).
Estatura
A estatura foi determinada utilizando-se um antropômetro vertical, dividida em
centímetros e subdividida em milímetros, segundo as normas preconizadas por
JELLIFFE (1968). Todos os indivíduos foram medidos descalços.
Pregas cutâneas
Foram verificadas, em mm, as pregas cutâneas tricipital (PCT), bicipital (PCB),
subescapular (PCSE) e supra-ilíaca (PCSI) (mm), para o cálculo do percentual de
gordura corporal, a partir do somatório das quatro pregas e análise da distribuição da
gordura corporal. Utilizou-se o equipamento Lange Skinfold Caliper, no lado direito do
corpo e com três repetições para cada medida, sendo aceito o valor da média dos dois
valores mais próximos (PRIORE,1998).
A gordura periférica e gordura central foram calculadas, a partir do somatório
das pregas periféricas (PCB e PCT) e centrais (PCSI e PCSE), respectivamente.
Índice de massa corporal (IMC)
A partir do peso e estatura, o IMC foi calculado e classificado de acordo com a
WHO (1998): baixo peso (IMC < 18,5 kg/m
2
); eutrófico (IMC: 18,5 24,99 kg/m
2
);
pré-obeso (IMC: 25 29,99 kg/m
2
); obeso classe I (IMC: 30 34,99 kg/m
2
); obeso
classe II (IMC: 35 39,99 kg/m
2
) e obeso classe III (IMC > 40 kg/m
2
). Indivíduos com
IMC > 25 kg/m
2
foram agrupados e classificados como “excesso de peso” devido ao
número de indivíduos com obesidade (n = 9 ) .
Os índices derivados do IMC, índice de massa corporal de gordura (IMCG) e
índice de massa corporal livre de gordura (IMCLG), foram calculados por meio da
relação entre massa de gordura e massa livre de gordura em quilogramas,
respectivamente, pela estatura em metros quadrados (VANITALLIE et al., 1990;
45
PRIORE, 1998). A massa de gordura e massa livre de gordura em quilogramas foram
obtidas por meio de bioimpedância elétrica.
Circunferências
As circunferências da cintura e do quadril foram aferidas, utilizando-se uma fita
métrica com extensão de 2 metros, flexível e inelástica, dividida em centímetros e
subdivida em milímetros.
A circunferência da cintura foi obtida, durante a expiração normal, sendo
circundada a menor circunferência horizontal, localizada abaixo das costelas e acima da
cicatriz umbilical. Os valores foram comparados com os pontos de corte, propostos pela
OMS (WHO, 1998) que propõe para homens, como risco de complicações metabólicas
associadas à obesidade, valores > 94 cm.
A circunferência do quadril foi verificada na região glútea, sendo circundada a
maior circunferência horizontal entre a cintura e os joelhos (HEYWARD &
STOLARCZYK, 2000).
Relação cintura/quadril
Esta relação foi obtida, procedendo-se a divisão da circunferência da cintura pela
circunferência do quadril.
A classificação baseou-se em WHO (1998), que para adultos do sexo masculino,
considera valores > 1,0 como risco de complicações metabólicas.
4.4.3.2. Composição corporal
A composição corporal foi avaliada por meio de bioimpedância elétrica. Antes
da colocação dos eletrodos, as áreas de contato foram limpas com álcool para o
posicionamento dos adesivos. Um eletrodo emissor foi colocado próximo à articulação
metacarpo-falangea da superfície dorsal da mão direita e o outro distal do arco
transverso da superfície superior do direito. Um eletrodo detector foi colocado entre
as proeminências distais do rádio e da ulna do punho direito e o outro, entre os maléolos
medial e lateral do tornozelo direito, de acordo com o manual do fabricante.
Esta avaliação foi realizada em horários entre 7h e 8h30’ da manhã, estando os
participantes em jejum de 12 horas. O modelo do protocolo completo, utilizado para
avaliação da composição corporal pela bioimpedância elétrica, pode ser observado no
ANEXO IV.
46
O percentual de gordura corporal foi analisado segundo a classificação proposta
por LOHMAN (1992) (QUADRO 4).
QUADRO 4 - Padrão de percentuais de gordura para homens
Classificação Homens
Risco de doenças e desordens associadas à desnutrição < 5%
Abaixo da média 6-14%
Média 15%
Acima da média 16-24%
Risco de doenças e desordens associadas à obesidade > 25%
Fonte: LOHMAN (1992)
4.4.3.3.Questionário socioeconômico e de estilo de vida
Aplicado a todos os participantes do segundo encontro, englobando os pontos
descritos abaixo (ANEXO V).
Identificação
Nome, endereço, telefone e data de nascimento.
Aspectos socioeconômicos
Condições de moradia e saneamento básico de seus respectivos domicílios,
renda familiar e per capita e escolaridade.
História familiar
Presença de doenças crônicas em antecedentes familiares de primeiro grau,
(pais, tios e avós), que faleceram em função de alguma enfermidade crônica
degenerativa (obesidade, hipertensão, diabetes, acidente vascular cerebral, doenças
cardiovasculares, câncer) ou que apresentam alguma enfermidade.
Enfermidades e uso de medicamentos
Uso contínuo de algum medicamento.
47
Tabagismo
Hábito de fumar e quantidade de cigarro consumida, diariamente.
Etilismo
Consumo de bebidas alcoólicas e em caso positivo, o tipo de bebida mais
consumido e a freqüência.
Atividade Física
Questionou-se sobre esta prática e, em caso positivo, o tipo e freqüência da
atividade foram classificados de acordo com proposta de nível de atividade física do
Instituto of Medicine/Food and Nutrition Board (2002).
Hábitos alimentares
Verificou-se o hábito de realizar refeições em horários estabelecidos, número de
refeições por dia, hábito de comer nos intervalos das refeições e/ou substituí-las por
lanches.
4.4.3.4. Análise dietética
Foram aplicados dois instrumentos dietéticos: Questionário de Freqüência de
Consumo Alimentar seletivo (QFCA) e Registro Alimentar.
Questionário de freqüência alimentar
Foi aplicado questionário de freqüência seletiva de consumo alimentar (ANEXO
VI). O questionário foi elaborado e, posteriormente, testado em 10 indivíduos da mesma
faixa etária. Tal piloto objetivou verificar os hábitos alimentares, observados nesta
população, para a inclusão ou a exclusão de possíveis alimentos. Os participantes do
piloto não foram incluídos no estudo.
Registro alimentar
Solicitou-se aos participantes que anotassem os alimentos sólidos e líquidos,
exceto água, consumidos ao longo do dia, durante 3 dias não consecutivos, sendo dois
referentes a dias da semana e um referente ao final de semana (ANEXO VII). As
48
quantidades foram registradas em medidas caseiras e, quando industrializados, de
acordo com a respectiva quantidade da embalagem.
A ingestão alimentar foi analisada, conjuntamente, baseando-se na média de
ingestão obtida dos três registros. Dentre todos os participantes, sete não fizeram os
registros solicitados.
As seguintes variáveis foram analisadas: energia, proteínas, carboidratos,
lipídios, ferro, cálcio, vitamina C e fibras, ácidos graxos monoinsaturados totais, ácidos
graxos poliinsaturados totais, ácidos graxos saturados totais, colesterol e sódio.
A adequação de energia foi calculada, considerando-se a ingestão energética e a
necessidade segundo a Estimated Energy Requirement (EER) do Instituto de Medicina
(2002), sendo o percentual de macronutrientes em relação ao Valor Energético Total
(VET), avaliado segundo a proposta da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição
SBAN (Vannucchi et al., 1990) e Acceptable Macronutrients Distribuition Range
(AMDR) do Instituto de Medicina (2002). Para ferro, vitamina C e sódio, procedeu-se o
cálculo da prevalência de inadequação, utilizando o valor da Estimated Average
Requirement (EAR) como ponto de corte, recomendado pelo Instituto de Medicina
(2001) e (2000), respectivamente, enquanto para cálcio e fibras utilizou-se o valor da
Adequate Intake (AI), também, recomendado pelo Instituto de Medicina (1997) e
(2002), respectivamente.
A adequação da ingestão de colesterol, ácidos graxos saturados,
monoinsaturados e poilinsaturados foi analisada, segundo os pontos de corte
preconizados pelo Instituto de Medicina (2002).
4.4.3.5. Análise bioquímica
A coleta de sangue dos participantes foi realizada no Laboratório de Análises
Clínica da Divisão de Saúde da UFV, após jejum de 12 horas. Amostras de sangue
foram coletadas por punção venosa, em seringas descartáveis, para análise de glicemia
e hemograma completo, assim como para avaliar a concentração de colesterol total e
frações e de triglicérides.
Para avaliação de adequação foram utilizados os pontos de cortes preconizados
nas III Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias (QUADRO 5 e 6)
49
QUADRO 5 -Valores de referência para análise de perfil lipídico em indivíduos maiores de 20 anos
VALOR CLASSIFICAÇÃO
COLESTEROL
TRIGLICERÍDEOS
HDL
LDL
< 200 mg/dL
200-239 mg/dL
> 240 mg/dL
< 150 mg/dL
150 - 200 mg/dL
201-499 mg/dL
> 500 mg/dL
> 40 mg/dL
< 130
>130 – 159
> 160
Desejável
Limítrofe
Alto
Ótimo
Limítrofe
Alto
Muito Alto
Desejável
Desejável
Limítrofe
Aumentado
Fonte: III Diretrizes Brasileira sobre Dislipidemia (2001)
QUADRO 6- Valores de referência para glicose
VALOR CLASSIFICAÇÃO
<100 mg/dL Glicemia normal
101 -125 mg/dL Tolerância à glicose
diminuída
> 126 mg/dL Diabetes
Fonte: AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2006
4.4.3.6.Pressão arterial
A pressão arterial foi aferida por meio de monitor de pressão sanguínea de
inflação automática, segundo as orientações da V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão
Arterial (2006).
A aferição foi realizada com o paciente sentado, em repouso. Foram realizadas
duas aferições num intervalo médio de 2 minutos, trabalhando-se com a média entre
elas, conforme recomendação específica do fabricante do equipamento.
A classificação utilizada foi a proposta pela Sociedade Brasileira de Hipertensão
(2006), conforme descrito no Quadro 7.
50
QUADRO 7: Classificação da pressão arterial para maiores de 18 anos
Classificação da pressão arterial
CLASSIFICAÇÃO PRESÃO SISTÓLICA
(mmHg)
PRESSÃO DIASTÓLICA
(mmHg)
Ótima < 120 <80
Normal < 130 <85
Limítrofe 130- 139 85-89
HIPERTENSÃO
Estágio 1 (leve) 140-159 90-99
Estágio 2 (moderada) 160-179 100-109
Estágio 3 (grave) > 180 >110
Sistólica isolada > 140 < 90
Fonte: Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial (2006)
4.4.3.7.Fatores de risco para síndrome metabólica
Foram investigados possíveis fatores de risco para ndrome metabólica,
segundo proposta da I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome
Metabólica (2004) que, por sua vez, baseia-se nos pontos de corte definidos pelo
National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III,
2001). Segundo este documento, a síndrome metabólica representa a combinação de,
pelo menos, três dos componentes apresentados no quadro 8.
QUADRO 8:Componentes da síndrome metabólica par homens
COMPONENTES NÍVEIS
Obesidade abdominal por meio de circunferência abdominal
Homens > 102cm
Triglicerídeo > 150mg/dl
HDL colesterol
Homens < 40 mg/dL
Pressão arterial
> 130 mmHg ou > 85 mmHg
Glicemia de jejum > 110 mg/dL
Fonte: I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2004)
51
4.5. Softwares
O banco de dados foi elaborado nos softwares Epi info 6.0 e Excel. Foram
utilizados, ainda, os softwares Diet Pro e Sigma Stat 2.0 para os cálculos dietéticos e
análise estatística, respectivamente.
4.6. Estatística
Em toda a análise estatística, a probabilidade inferior a 5% (p < 0,05) foi
considerada como nível de significância estatística.
- Teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov - utilizado para verificar a
distribuição dos valores das variáveis, quanto aos afastamentos observados em relação
aos esperados na distribuição normal. A partir do resultado do teste de normalidade,
foram aplicados os testes paramétricos ou não-paramétricos (SOKAL & RHOLF,
1969).
- Teste do qui-quadrado - utilizado para verificar a associação entre duas
variáveis qualitativas (CALLEGARI-JAQUES, 2003)
- Correlação de Pearson - medida de associação existente entre duas variáveis
quantitativas, em que pelo menos uma variável tenha distribuição normal
(CALLEGARI-JACQUES, 2003).
- Peso ao nascer e peso, estatura, IMC e circunferência da cintura na
adolescência.
- Índice de crescimento de Roher e peso, estatura, IMC e circunferência da
cintura na adolescência
- Estatura na adolescência e comprimento ao nascer
- Estatura na adolescência e idade gestacional
- Colesterol e variáveis na vida adulta: peso, estatura, IMC, gordura (kg), massa
livre de gordura, IMC de gordura, IMC livre de gordura, circunferência da cintura,
circunferência do quadril, relação cintura/quadril, pregas cutâneas bicipital, tricipital
, sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central, percentual de
gordura corporal.
52
- LDL e variáveis na vida adulta: peso, estatura, IMC, gordura (kg), massa livre
de gordura, IMC de gordura, IMC livre de gordura, circunferência da cintura,
circunferência do quadril, relação cintura/quadril, pregas cutâneas bicipital, tricipital
, sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central, percentual de
gordura corporal.
- HDL e variáveis na vida adulta: peso, estatura, IMC, gordura (kg), massa livre
de gordura, IMC de gordura, IMC livre de gordura, circunferência da cintura,
circunferência do quadril, relação cintura/quadril, pregas cutâneas biciptal, tricipital ,
sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central, percentual de
gordura corporal.
- Massa livre de gordura e VLDL, TG, colesterol/HDL, LDL/HDL.
- IMC livre de gordura e VLDL, TG, colesterol/HDL, LDL/HDL.
- Estatura e VLDL, TG, colesterol/HDL, LDL/HDL.
- Percentual de gordura corporal e VLDL, TG, colesterol/HDL, LDL/HDL
- Ingestão energética e peso, estatura, massa livre de gordura, IMC livre de
gordura e percentual de gordura corporal na vida adulta.
- Peso ao nascer e variáveis na vida adulta: peso, estatura, IMC, gordura (kg),
massa livre de gordura, IMC de gordura, IMC livre de gordura, circunferência da
cintura, circunferência do quadril, relação cintura/quadril, prega cutânea biciptal,
tricipital, sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central e
percentual de gordura corporal.
- IR e variáveis na vida adulta: peso, estatura, IMC, gordura (kg), massa livre de
gordura, IMC de gordura, IMC livre de gordura, circunferência da cintura,
circunferência do quadril, relação cintura/quadril, prega cutânea bicipital, tricipital ,
sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central e percentual de
gordura corporal.
- Peso ao nascer e glicemia, colesterol, LDL, HDL, VLDL, relação
colesterol/HDL e LDL/HDL na vida adulta.
- IR e peso ao nascer e glicemia, colesterol, LDL, HDL, VLDL, relação
colesterol/HDL e LDL/HDL na vida adulta.
- Comprimento ao nascer e colesterol, HDL e LDL na vida adulta.
53
- IG e colesterol, HDL e LDL na vida adulta.
- Peso na adolescência e estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura,
CC, percentual de gordura corporal e PAS na vida adulta.
- IMC na adolescência e estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura,
CC, percentual de gordura corporal e PAS na vida adulta.
- CC na adolescência e estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura,
CC, percentual de gordura corporal e PAS na vida adulta.
- Estatura na adolescência e variáveis na vida adulta: peso, estatura, IMC,
gordura (kg), massa livre de gordura, IMC de gordura, IMC livre de gordura,
circunferência da cintura, circunferência do quadril, relação cintura/quadril, prega
cutânea biciptal, tricipital , sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura
central, percentual de gordura corporal.
- IMC na adolescência e colesterol, HDL e LDL na vida adulta.
- Correlação de Spearman - medida de associação entre duas variáveis, sendo
uma alternativa não-paramétrica para o coeficiente de correlação de Pearson. Deve
ser usada quando nenhuma das variáveis, em análise, tem distribuição normal
(CALLEGARI-JACQUES, 2003).
- Comprimento ao nascer e peso, IMC e circunferência da cintura na
adolescência.
- Idade gestacional e peso, IMC e circunferência da cintura na adolescência.
- VLDL e variáveis na vida adulta: peso, IMC, gordura (kg), IMC de gordura,
circunferência do quadril, relação cintura/quadril, prega cutânea biciptal, tricipital ,
sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central.
- Triglicerídeo e variáveis na vida adulta: peso, IMC, gordura (kg), IMC de
gordura, circunferência do quadril, relação cintura/quadril, prega cutânea biciptal,
tricipital , sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central.
- Colesterol/HDL e variáveis na vida adulta: peso, IMC, gordura (kg), IMC de
gordura, circunferência do quadril, relação cintura/quadril, prega cutânea biciptal,
tricipital , sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central.
54
- LDL/HDL e variáveis na vida adulta: peso, IMC, gordura (kg), IMC de
gordura, circunferência do quadril, relação cintura/quadril, prega cutânea biciptal,
tricipital , sub-escapular e supra-ilíaca, gordura periférica, gordura central.
- Ingestão energética e peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI,
PCSE, gordura periférica e central na vida adulta.
- Comprimento ao nascer e peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT,
PCSI, PCSE, gordura periférica e central na vida adulta.
- IG e peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura
periférica e central na vida adulta.
- Comprimento ao nascer e glicemia, VLDL, relação colesterol/HDL, LDL/HDL
e TG na vida adulta.
- IG e glicemia, VLDL, relação colesterol/HDL, LDL/HDL e TG na vida adulta.
- Peso na adolescência e peso, IMC, gordura (kg), IMC de gordura, CQ, RCQ
PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura periférica, gordura central e PAD.
- IMC na adolescência e peso, IMC, gordura (kg), IMC de gordura, CQ, RCQ
PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura periférica, gordura central e PAD.
- CC na adolescência e peso, IMC, gordura (kg), IMC de gordura, CQ, RCQ
PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura periférica, gordura central e PAD.
- IMC na adolescência e VLDL, relação colesterol/HDL, LDL/HDL,
triglicerídeo e glicemia.
- Análise de variância (ANOVA): utilizada para cálculo da diferença entre
mais de duas médias amostrais com distribuição normal. Permite identificar quais
grupos diferem entre si, mantendo controlado o nível de significância do teste
(CALLEGARI-JACQUES, 2003).
- Peso ao nascer segundo a idade gestacional.
- Estatura na adolescência segundo peso ao nascer, comprimento ao nascer,
idade gestacional, IR e classificação de Williams.
- Distribuição de macronutrientes, segundo o estado nutricional na vida adulta
- Estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura, CC e percentual de
gordura corporal na vida adulta segundo, peso ao nascer.
55
- Estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura, CC e percentual de
gordura corporal na vida adulta segundo, comprimento ao nascer.
- Estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura, CC e percentual de
gordura corporal na vida adulta segundo, IG.
- Estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura, CC e percentual de
gordura corporal na vida adulta segundo, IR.
- Estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura, CC e percentual de
gordura corporal na vida adulta segundo, estatura na adolescência.
- Estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura, CC e percentual de
gordura corporal na vida adulta segundo, IMC na adolescência.
- Kruskals Wallis - utilizado para o cálculo de diferença entre dois ou mais
grupos, em relação à tendência central dos dados, quando as variáveis não
apresentam distribuição normal. Permite identificar os grupos que diferem entre si,
mantendo controlado o nível de significância do teste (CALLEGARI-JACQUES,
2003).
- Comprimento ao nascer segundo idade gestacional.
- Peso segundo estatura na adolescência.
- IMC segundo estatura na adolescência.
- Circunferência da cintura, segundo estatura na adolescência.
-Circunferência da cintura, segundo estado nutricional na adolescência.
- Peso, IMC e circunferência na cintura, na adolescência, segundo peso ao
nascer.
- Peso, IMC e circunferência na cintura, na adolescência, segundo comprimento
ao nascer.
- Peso, IMC e circunferência na cintura, na adolescência, segundo idade
gestacional.
- Peso, IMC e circunferência na cintura, na adolescência, segundo a classificação
de Williams para crescimento intra-uterino.
56
- Peso, IMC e circunferência na cintura, segundo IR.
- Peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura
periférica e central na vida adulta, segundo peso ao nascer.
- Peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura
periférica e central na vida adulta, segundo comprimento ao nascer.
- Peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura
periférica e central na vida adulta, segundo IG.
- Peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura
periférica e central na vida adulta, segundo IR.
- Peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura
periférica e central na vida adulta, segundo estatura na adolescência.
- Peso, IMC, IMC de gordura, CQ, RCQ, PCB, PCT, PCSI, PCSE, gordura
periférica e central na vida adulta, segundo IMC na adolescência.
- Teste t Student: utilizado para análise entre duas amostras independentes, no
caso de pelo menos uma com distribuição normal (SOKAL & RHOLF, 1969)
- Colesterol, HDL, LDL e pressão arterial sistólica entre indivíduos com e sem
excesso de peso na vida adulta
- Colesterol e HDL segundo hábito de fumar e consumo de álcool na vida adulta
- Colesterol, LDL, HDL e PAS entre indivíduos com consumo energético abaixo
e acima das necessidades na vida adulta.
- Colesterol, LDL e HDL entre indivíduos com consumo de carboidrato e lipídeo
adequado ou inadequado, segundo AMDR, na vida adulta.
- Colesterol, LDL e HDL, percentual de gordura corporal e massa livre de
gordura na vida adulta, segundo hábito de alimentar em horários regulares.
- Colesterol, LDL e HDL entre indivíduos com e sem excesso de peso na
adolescência.
- Estatura, massa livre de gordura, IMC livre de gordura, CC, percentual de
gordura corporal, HDL e LDL entre indivíduos com e sem síndrome metabólica.
57
- Peso ao nascer entre indivíduos com e sem síndrome metabólica.
- IR entre indivíduos com e sem síndrome metabólica.
- Estatura na adolescência entre indivíduos com e sem síndrome metabólica.
- Mann Whitney: utilizado para análise entre duas amostras independentes, no
caso de as variáveis não apresentarem distribuição normal (SIEGEL, 1975).
- VLDL, triglicerídeo, colesterol/HDL, LDL/HDL e pressão arterial diastólica,
em indivíduos com e sem excesso de peso na vida adulta.
- consumo de energia, proteína, vitaminas e minerais entre indivíduos com e sem
excesso de peso na vida adulta.
- TG, glicose e PAD em indivíduos com consumo energético abaixo e acima das
necessidades, na vida adulta.
- TG e glicose entre indivíduos com consumo de carboidrato e lipídeo adequado
ou inadequado, segundo AMDR na vida adulta.
- VLDL, triglicerídeo, colesterol/HDL, LDL/HDL e pressão arterial diastólica
em indivíduos com e sem excesso de peso, na adolescência.
- Peso, IMC, gordura (kg), IMC de gordura, PCB, PCT, PCSI, PCS, gordura
periférica, gordura central, CQ, RCQ, VLDL, TG, colesterol/HDL, LDL/HDL,
glicemia e hemoglobina, em indivíduos com e sem síndrome metabólica.
- Valores de ingestão de energia, macro e micronutrientes, em indivíduos com e
sem síndrome metabólica.
- Comprimento ao nascer, em indivíduos com e sem síndrome metabólica.
- Peso, IMC e CC na adolescência, em indivíduos com e sem síndrome
metabólica.
- Risco Relativo refere-se ao risco de um evento, ou de desenvolver uma
doença, relativo à exposição. O risco relativo é uma relação (razão) da probabilidade
de ocorrer o evento no grupo exposto contra o grupo de controle (não exposto)
(FLEISS, 1981).
58
4.7. Retorno aos indivíduos
Após a avaliação do estado nutricional, baseado em parâmetros dietéticos,
antropométricos, de composição corporal e bioquímicos, todos os voluntários receberam
retorno, enquanto aqueles que apresentaram algum distúrbio nutricional e,ou
bioquímico receberam aompanhamento nutricional tanto da nutrcionista, autora do
presente trabalho, quanto da bolsista de iniciação científica, integrante do projeto.
4.8. Aspecto ético
O projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa (ANEXO VIII).
59
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para melhor entendimento dos dados, os resultados e discussões serão
apresentados em capítulos específicos:
5.1. Caracterização socioeconômica e antropométrica
5.1.1. Perfil socioeconômico
5.1.2. Antropometria e estado nutricional
- ao nascer
- na adolescência
5.2. Influência da situação ao nascer na adolescência
5.3. Fatores associados ao estado nutricional na vida adulta
5.3.1. Análise do estado nutricional na vida adulta
- Antropométrico
- Bioquímico
- Dietético
5.3.2. Inflluência da situação ao nascer sobre a vida adulta
5.3.3. Influência da situação nutricional da adolescência sobre a vida adulta
5.3.4. Fatores de risco para Síndrome Metabólica na vida adulta
60
5.1. CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA E
ANTROPOMÉTRICA
Avaliou-se 100 indivíduos em três fases específicas da vida:
- no final da adolescência, a partir dos dados encontrados no banco de dados de
alistamento do Tiro de Guerra de Viçosa- MG;
- ao nascer, em relação às variáveis obtidas nos registros de nascimento
encontrados na maternidade;
- na vida adulta, avaliando de forma direta os parâmetros antropométricos,
dietéticos, bioquímicos, socioeconômicos e de estilo de vida.
Este capítulo apresenta a caracterização socioeconômica dos indivíduos na vida
adulta e dados referentes ao nascimento e na adolescência, sem, no entanto, buscar
associação entre estas variáveis e,ou entre as fases da vida; sendo estas análises
realizadas e discutidas nos capítulos seguintes.
5.1.1. Perfil socioeconômico
A situação socioeconômica e hábitos de vida foram investigados pro meio de um
questionário semi-estruturado.
Em relação ao estado civil, foram encontrados 73% de indivíduos solteiros.
A renda familiar variou de R$ 390,00 a R$12.000,00 sendo a mediana de R$
1950,00. A renda per capita variou entre R$ 97,50 e R$ 3000,00 com mediana de R$
500,00, sendo que 16% dos indivíduos adultos não participavam ativamente da renda
familiar. A renda familiar pode ser pouco representativa, quando não se considera o
tamanho da família, pois pode ocorrer que a receita familiar não seja suficiente, quando
se considera o valor que é destinado individualmente. Portanto a renda per capita média
é mais indicada.
Quando os indivíduos foram divididos em quartis de acordo com a renda per
capita, observou-se que a amostra do estudo é bem distribuída e não houve diferença
significante entre a prevalência dos estratos socioeconômicos (Tabela 1).
Segundo MONTEIRO (1995), a renda per capita está diretamente relacionada
aos cuidados com a saúde, sendo que muitos diferenciais na saúde de uma população
são reflexos das desigualdades sociais existentes.
Os resultados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN, 1989)
indicaram relação direta entre a prevalência de excesso de peso e o poder aquisitivo
(COITINHO et al., 1991; GIGANTE et al., 1997). Outros estudos, realizados no Brasil,
61
mostram associação inversa entre escolaridade e obesidade, principalmente, nas
mulheres, tendência esta que acompanha a dos países desenvolvidos. Entre os homens,
estes estudos confirmam as resultados da PNSN, tendo encontrada associação direta
entre renda e prevalência de excesso de peso corporal (GIGANTE et al., 1997;
FONSECA et al., 2006).
Tabela 1 - Variáveis socioeconômicas investigadas na
vida adulta
Freqüência
Aspectos socioeconômicos
N
%
Renda familiar média
1º quartil 22 22
2º quartil 28 28
3º quartil 19 19
4º quartil 31 31
Renda per capita Média
1º quartil 22 22
2º quartil 21 21
3º quartil 29 29
4º quartil 28 28
No de cômodos por domicílio
3 2 2
4 6 6
5 11 11
6 18 18
7 12 12
8 15 15
9 15 15
> 10 21 21
Conforme se obsersve na tabela 1, 57% dos indivíduos se encontram no e
quartis de renda per capita, o que pode explicar o nível de escolaridade encontrado, com
prevalência de indivíduos com no mínimo, 2º grau completo (Gráfico 1).
Na região sudeste, a média de anos de estudo para homens com idade entre 25-
29 anos é de aproximadamente 9 anos, o que corresponde aproximadamente ao ensino
médio completo (IBGE, 2005). No presente estudo, 82% dos indivíduos investigados
tinham escolaridade igual ou superior a 9 anos, ou seja, encontravam-se na média ou
acima do esperado para esta região.
O nível de instrução está relacionado também ao acesso destes indivíduos a
melhores condições de saúde, oportunidades de trabalho e níveis salariais (SAITO,
62
1990). Segundo MONTEIRO (2001), no Brasil, a baixa escolaridade é um fator
explicativo da obesidade, principalmente entre as mulheres.
FONSECA et al (2006), em estudo da escolaridade, renda e IMC em
funcionários de uma universidade no Rio de Janeiro, observaram que a prevalência de
obesidade variou de acordo com o nível de escolaridade, sendo mais alta nos de menor
nível educacional. Entretanto, essa diferença foi mais expressiva entre as mulheres.
Entre os homens, a prevalência variou de 19% para os que tinham até o primeiro grau
completo, mas 15,8% para aqueles com 3º grau ou pós-graduação.
O estudo de MONTEIRO et al (2003), realizado sobre escolaridade e estado
nutricional nas regiões Nordestes e Sudeste do país, apresentou tendência secular da
obesidade segundo escolaridade. No primeiro período do estudo (1975-1989), o risco de
obesidade foi ascendente em todos os níveis de escolaridade; no segundo (1989-1997),
o aumento de obesidade foi máximo naqueles sem escolaridade, registrando-se
estabilidade, ou mesmo diminuição nos estratos femininos de média ou alta
escolaridade. Como resultado da tendência recente, também nos homens acentua-se a
relação inversa, que já vinha sendo observada na população feminina.
A distribuição da escolaridade dos pais dos voluntários é apresentada na Tabela
2.
1 grau completo 1 grau incompleto 2 grau completo
2 grau incompleto 3 grau completo 3 grau incompleto
7
5
6
19
18
45
%
Gráfico 1: Escolaridade dos adultos estudados
63
ESCOLARIDADE MÃE
%
PAI
%
Primeiro grau incompleto 51 55
Primeiro grau completo 13 12
Segundo grau incompleto - 2
Segundo grau completo 21 13
Terceiro grau completo 14 12
Terceiro grau incompleto 1 3
Não soube informar - 3
n = 100
Observou-se distribuição percentual semelhante para pais e mães em relação ao
primeiro e terceiro grau completo e incompleto. Houve pequena variação em relação ao
ensino médio, em que se encontrou maior percentual de mães com grau completo.
Embora não tenha sido observado nenhum caso de analfabetismo, a prevalência de
indivíduos mais velhos, no caso os pais, que não possuem o ensino fundamental
completo é relevante.
O nível de escolaridade parental tem sido descrita na literatura como possível
determinante da sáude, relacionando principalmente o nível de escolaridade do chefe da
família com o bem-estar dos demais membros e a escolaridade das mães com os
cuidados com a saúde e higiene dos demais membros da família.
Em relação às condições de moradia, os indivíduos foram questionados
primeiramente sobre o tipo de moradia, sendo observado que 17% moravam em
apartamentos e os demais em casas. Entre os investigados, 82% tinham residência
própria, 11 % pagavam aluguel e 7% moravam em local cedido, normalmente, pelos
pais ou sogros.
O número de cômodos mediano, encontrado por residências foi, 8 sendo que a
menor residência possuía apenas 3 e a maior 18 cômodos. Sua distribuição pode ser
observada na Tabela 1. Todos os voluntários relataram ter, em sua residência, energia
elétrica, água encanada e coleta de lixo e tratamento de esgoto.
Condições adequadas de moradia e saneamento são fundamentais para saúde e
qualidade de vida dos indivíduos (IBGE, 2006). Os dados refletem a cobertura sanitária
na região Sudeste do Brasil que, segundo o IBGE (2006), a partir dos dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio, no ano de 2005, era de 91,5 %, 87% e 99,4%,
Tabela 2: Escolaridade da mãe e do pai dos voluntários estudados
64
respectivamente, para abastecimento de água potável, sistema de esgoto e fornecimento
de energia elétrica.
Com relação à estrutura familiar, investigando o número de pessoas residentes
por domicílio, encontrou-se valor mediano de 4 indivíduos por domicílio (mínimo:1;
máximo:8). Este valor é muito próximo (3,4) ao da média de moradores, por domicílio,
na região Sudeste, segundo Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (2005). A
determinação do tamanho da família é importante, uma vez que se subentende maior
divisão da renda em famílias numerosas e, conforme discutido anteriormente, a renda
está fortemente relacionada ao estado nutricional dos indivíduos.
5.1.2. Antropometria e estado nutricional
Ao nascer
A Tabela 3 apresenta os valores médios e medianos das variáveis investigadas
ao nascer.
Variáveis
X
+ DP Md (mi -ma)
Peso (g)** 3375,5 + 430,5 3450 (1930 - 4400)
Comprimento (cm) 50,1 + 1,7 50 (45 – 55)
IG (semanas) 40,1 + 1,3 40 (36 – 44)
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Md).
Valor mínimo: mi; e máximo: ma.
IG= Idade gestacional
** variável com distribuição normal
O peso ao nascer é considerado importante indicador do estado nutricional intra-
uterino e influencia, significativamente, a morbimortalidade do recém nascido.
(EUCLYDES, 2000; SEGRE et al., 2001; ROMANI & LIRA, 2004). Estudos citam a
importância do peso ao nascer adequado, como o fator determinante e de maior
importância para a sobrevivência e qualidade de vida posterior (MENEZES et al., 1996;
D'ORSI & CARVALHO, 1998; ANCHIETA et al., 2004; LIMA & SAMPAIO, 2004;
ROMANI & LIRA, 2004; SILVEIRA & SANTOS, 2004).
Na amostra estudada, em relação ao peso ao nascer, foram encontrados 17% com
peso inadequado (< 3000g), dentre os quais 3% apresentavam baixo peso (inferior a
2500g) e 14% com peso insuficiente (entre 2500 e 2999g). A maior parte dos recém-
nascidos (76%) pesava entre 3000-3999g e 7% deles mais de 4000g.
Tabela 3: Valores de média, desvio-padrão, mediana e valores mínimos
e máximos das variáveis investigadas ao nascer.
65
A prevalência de baixo peso encontrada no trabalho é inferior ao resultado
encontrado por NÓBREGA (1985) que, estudando o peso ao nascer em maternidades
das capitais de todos os estados brasileiros, no final da década de 70, encontrou
prevalência de baixo peso ao nascer de 8,3%.
O baixo peso ao nascer pode ser devido à prematuridade, ao retardo de
crescimento intra-uterino ou à combinação de ambos, os quais apresentam etiologias e
conseqüências diferentes (KRAMER,1987; HORTA et al., 1997). De qualquer forma,
em nascidos prematuros, adequados para a idade gestacional ou nos desnutridos intra-
uterinamente, o baixo peso representa risco à saúde, pois está associado ao óbito
neonatal, transtornos no desenvolvimento neuropsíquico e possíveis alterações
metabólicas futuras.
Por sua vez, o excesso de peso ao nascer, ou macrossomia, é definido como peso
de nascimento igual ou superior ao percentil 90 para a idade gestacional, embora alguns
autores estabeleçam que o evento, também, pode ser conceituado como peso ao nascer
igual ou superior a 4.000 g, independentemente da idade gestacional (LUBCHENCO et
al., 1963; STEVENSON et al.,1982).
Neste estudo, a prevalência de macrossomia foi de 4% segundo a classificação
por curvas de crescimento intra-uterino e de 7% se forem considerados 4000g como
ponto de corte.
Os casos de macrossomia normalmente são secundários à variação biológica
normal, mas pode também ser resultado de algum distúrbio na gravidez. Pesquisas
recentes têm indicado que a incidência da macrossomia nos Estados Unidos, tem
aumentado nos últimos tempos (LIPSCOMB et al.,1995; GRASSI & GIULIANO,
2000).
Sabe-se que, entre os principais determinantes da macrossomia, destacam-se a
idade materna avançada, a multiparidade, a obesidade pré-gestacional, além do ganho
de peso gestacional excessivo (LÓPEZ & URÍA, 2004). KAC & VELÁSQUEZ-
MELÉNDEZ (2005) verificaram que a chance de nascimentos macrossômicos foi 5,83
vezes maior, em mulheres com ganho de peso gestacional excessivo.
Neonatos macrossômicos apresentam maior risco de morte e morbidade perinatal
(EUCLYDES, 2000) além das evidências apresentadas por alguns trabalhos que
apresentam relação direta entre peso ao nascer e IMC na adolescência e vida adulta
(MONTEIRO et al., 2003; GILLMAN, et al., 2003).
Em relação ao comprimento ao nascer, encontrou-se média de 50 cm. Este valor
está de acordo com o percentil 50 da curva comprimento por idade, segundo CENTER
66
FOR DISEASE CONTROL AND PREVETION (CDC, 2000). 26 % dos recém
nascidos apresentaram comprimento ao nascer inferior a este valor.
O comprimento, por sua vez, é uma medida estável, extremamente valiosa, porém
de difícil mensuração, principalmente em se tratando de recém nascido pré-termo.
Reflete o potencial de crescimento dos neonatos e alterações cumulativas a longo prazo
na situação nutricional, pois este é afetado quando a deficiência nutricional é
prolongada, ou quando é muito intensa nos períodos de grande velocidade de
crescimento (GEORGIEFF & SASANOW, 1986; O’DONNELL et al., 1993).
Os prematuros, classificados segundo a proposta da WHO (1995), foram
distribuídos da seguinte forma: 3 % pré-termo (inferior a 37 semanas gestacionais), 2 %
pós-termo (acima de 42 semanas gestacionais), sendo o restante da amostra a termo (
entre 37 e 42 semanas de gestação).
Segundo FALCÃO (2001), a prematuridade representa importante risco
nutricional, uma vez que o crescimento é interrompido na fase de maior velocidade.
Dentre os recém nascidos em estudo, que apresentaram baixo peso ao nascer, a
prematuridade foi constatada em 33,3% da amostra e em 7,1% entre aqueles com peso
insuficiente.
A Tabela 4 apresenta a diferença estatística em peso e comprimento médio ao
nascer, em relação à idade gestacional, reforçando a importância do crescimento nas
últimas semanas de gestação.
IDADE GESTACIONAL Md (mi –ma)
< 37 semanas 37-42 semanas > 42 semanas p
Peso (g) **
2550 (2400 – 2900)
3450 ( 1930 – 4150)
3580(3155-4400)
<0,001*b
Comprimento (cm)
45 (45 - 46) 50 (47 – 52 ) 53 (53 – 55)
<0.001*a
** variável com distribuição norma
* resultado estatisticamente significante
Mediana (Md).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma
Kruskal Wallis,: variável não paramétrica
Análise de variância: variável paramétrica
a=Teste comparação Dunn’s ; IG > 42 semnas > 37-42 semanas > <37 semanas
b= Teste comparação Tuckey ; IG > 42 semnas > 37-42 semanas > <37 semanas
Uma vez que o tamanho do recém nascido é reflexo da duração da gestação e da
taxa de crescimento intra-uterino, baseando-se em sua avaliação, considerando o peso e
idade gestacional é possível separá-los em: pequenos, grandes ou adequados à idade
Tabela 4:Valores medianos de peso e comprimento ao nascer, segundo idade gestacional
67
gestacional (EUCLYDES, 2000) o que tem sido utilizado desde a década de 60, quando
BATTAGLIA & LUBCHENCO (1963) propuseram a primeira curva de crescimento
intra-uterino.
Segundo a proposta da WHO (1995), os recém nascidos devem ser classificados
como: PIG (pequeno para idade gestacional) se estiverem abaixo do percentil 10 da
curva de WILLIAMS (1982); como AIG (adequado para idade gestacional) se
estiverem entre o Percentil 10 e 90; e como GIG (grande para idade gestacional) se
estiverem acima do percentil 90.
No presente estudo, segundo a classificação de crescimento intra-uterino proposto
pela WHO, 7 % dos recém-nascidos foram classificados como PIG e 4% como GIG;
todos os demais encontravam-se adequados para a idade gestacional.
Ressalta-se que o termo PIG, utilizado para descrever uma criança cujo peso de
nascimento, em relação à idade gestacional, está abaixo de um determinado ponto de
corte, não tem o mesmo significado que retardo do crescimento intra-uterino (RCIU).
Embora freqüentemente a condição PIG ao nascer esteja associada ao RCIU, os
recém nascidos que são PIG por critérios do peso, mas não exibem sinais ou sintomas
associados com o retardo do crescimento (GEORGIEFF & SASANOW, 1986;
BAKKETEIG, 1998).
Além disso, a classificação baseada em curvas de crescimento intra-uterino,
reflete, apenas, a massa corporal do indivíduo em relação à idade gestacional, não
considerando como esta massa está distribuída, razão pela qual os recém-nascidos
classificados como AIG podem apresentar algum grau de retardo no crescimento
(FILHO & LIRA, 2003).
Outros índices têm sido utilizados para a determinação da proporcionalidade
corporal, que vai além da classificação do peso ao nascer. É o caso do índice de
crescimento de Roher (IR), calculado em função do peso (g) pelo comprimento (cm) ao
cubo, fornecendo noção da proporcionalidade corporal dos recém nascidos, com ou sem
retardo do crescimento inta-uterino.
De acordo com esta classificação de proporcionalidade, no presente estudo foi
encontrado índice de crescimento de Roher médio de 2,67, conforme Tabela 5, sendo
que 3% dos recém-nascidos apresentavam retardo no crescimento, 90% crescimento
normal e 7% crescimento excessivo. Dentre os classificados com retardo do
crescimento, (33,3%), um havia sido classificado como AIG, enquanto dentre os
classificados como PIG, segundo proposta da WHO, 5 (71,4 %) apresentaram
68
crescimento normal segundo IR.
Variáveis
X
+ DP Md (mi -ma)
IR** 2,67 + 0,26 2,71 (1,74 – 3,52)
Observa-se, portanto, que não existe um único método para avaliar o estado
nutricional de recém-nascidos, nem um consenso sobre o melhor método, mas é
consensual a necessidade de um diagnóstico preciso ao nascer, a fim de se evitar
problemas neonatais e futuros (FILHO & LIRA, 2003).
Ainda em relação às variáveis ao nascer, foram observados 63 % de partos
cesarianos. O Sistema de Informação de Nascidos Vivos (SISNAC) da Secretaria de
Vigilância Sanitária, que fornece informações epidemiológicas em relação às condições
de nascimento no país, foi criado em 1990, razão pela qual não informações exatas
disponíveis sobre a prevalência de cesariana no final da década de 70. O percentual
observado neste trabalho, que é representativo do município de Viçosa para o período
estudado, é muito superior aos 15% recomendados pela WHO (1985). Segundo
CECATTI et al. (2000), entretanto, este valor é esperado e aceito uma vez que, durante
praticamente toda a década de setenta e até quase metade da de oitenta, acreditou-se que
o parto cesariano melhorava o prognóstico perinatal, o que serviu como justificativa
para o aumento no número de cesáreas durante este período.
Atualmente, sabe-se que partos cesarianos aumentam a morbi-mortalidade
materna e do recém-nascido, representando maiores custos de saúde, sendo indicado
apenas em gestações de alto risco, ou casos específicos em que diminui,
consideravelmente, a mortalidade materno-infantil (GIGLIO et al., 2005).
O Brasil apresenta índices em torno de 35% de partos cesarianos (FAYSAL-
CURY & MENEZES, 2006). Este declínio no número de cesarianas é resultado do
incentivo e esclarecimento governamental a favor do parto normal. Embora a
prevalência atual seja relevante, podendo chegar a 30 % em determinadas regiões, uma
tendência de aumento no número de cesarianas nos últimos anos tem sido observada,
Tabela 5: Valores de média, desvio-padrão, mediana e valores mínimos
e máximos do Índice de Crescimento de Roher.
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Md).
Valor mínimo: mi; e máximo: ma.
IG= Idade gestacional
** variáveis com distribuição normal
69
sendo necessária conscientização e análise por parte do médico e gestante, sobre o tipo
de parto mais adequado (CUNHA et al., 2006).
Adolescência
Todos os indivíduos avaliados nesta fase, apresentavam idade média de 18 anos,
obrigatória ao alistamento no Tiro de Guerra.
A Tabela 6 apresenta valores de média, desvio padrão, mediana, mínimos e
máximos das variáveis antropométricas estudadas na adolescência.
Tabela 6: Valores de média, desvio-padrão, mediana e mínimos e máximos das
variáveis investigadas na adolescência.
Variáveis
X
+ DP Md (mi -ma)
Peso (kg) 64,1 + 11,3 61,5 (45,0-110,0)
Estatura (cm)** 172,6 + 6,2 172,5(158,0 - 189,0)
IMC (kg/m
2
) 21,4 + 3,2 20,8 (16,6 - 36,3)
Circunferência da cintura (cm) 76,4 + 8,9 75,0 (62,0 - 114,0)
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Md).
Valor mínimo: mi; e máximo:T ma.
** variável com distribuição normal
A média de peso corporal dos adolescentes foi de 64,1 kg. Este valor é inferior à
média de peso para idade (percentil 50), segundo a proposta do CENTER FOR
DISEASE CONTROL AND PREVENTION (CDC 2000). O controle de peso na
adolescência, contribui para saúde dos indivíduos neste período e futura. O excesso de
peso confere um maior risco ao desenvolvimento de graves doenças, incluindo as
cardiovasculares. Além disso, evidências que adolescentes com sobrepeso/obesidade
tendem a se manter acima do peso ideal, quando adultos (RABELO & MARTINEZ,
2005).
Da mesma forma, a estatura de 57 % dos indivíduos encontrava-se abaixo da
média de estatura para idade, segundo a proposta do CDC (2000), sendo observado um
défictil estatural em 10% da amostra, segundo os pontos de cortes propostos pelo CDC
(2000) para o índice estatura para idade.
O crescimento linear tem sido considerado um dos melhores indicadores de
saúde da criança e adolescente, uma vez que reflete suas condições de vida pregressa e
atual. Pode-se dizer que a estatura final dos indivíduos é resultado da interação entre sua
carga genética e os fatores ambientais, que permitirão maior ou menor expressão de seu
potencial genético (FISBERG, 1995).
70
O índice estatura para idade é, comumente utilizado no acompanhamento do
crescimento durante a adolescência. EISENSTEIN (1999), afirma que este índice é
adequado para o diagnóstico e acompanhamento da baixa estatura nutricional. Segundo
a autora, adolescentes do sexo masculino com baixa estatura apresentam maiores
problemas com a imagem corporal e com sua auto-estima. Além disso, GRANTHAM-
MCGREGOR (1989) sugere que os adolescentes com déficit estatural são mais
susceptíveis a atraso no desenvolvimento cognitivo e comportamental.
Em relação ao estado nutricional, observou-se 21 % de distrofia, sendo 9% de
IMC baixo para idade e 12% de excesso de peso (risco de sobrepeso e sobrepeso). Os
outros 79% estavam com IMC adequado para idade. Estes resultados concordam com a
prevalência na região Sudeste observada, por ABRANTES et al. (2002) que, estudando
o sobrepeso/obesidade no Nordeste e Sudeste do Brasil, a partir de análise dos
resultados da Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), encontrou 10,2% de excesso de
peso em adolescentes do sexo masculino na região Sudeste.
Neste trabalho, entre aqueles com déficit estatural, 20% apresentavam excesso
de peso associado à baixa estatura na adolescência.
SANTOS et al. (2005) analisaram o perfil antropométrico de adolescentes entre
17 e 19 anos em Teixeira de Freitas-Bahia. Os autores encontraram, no sexo masculino,
a prevalência de baixo peso (6,4%) e déficit estatural de 10,1%. O sobrepeso foi
observado em 3,2% dos estudados.
A Tabela 7 apresenta os resultados da análise das variáveis antropométricas,
investigadas na adolescência entre aqueles com e sem déficit estatural.
71
Tabela 7: Valores medianos de peso, IMC e CC, segundo estatura na
adolescência.
Variáveis Estatura Adolescência (cm)**
Adolescência Déficit estatural Estatura normal p
Peso (kg) 57,0 62,0 0,072
IMC (kg/m
2
) 19,4 20,3 0,371
CC (cm) 70,5 75,0 0,021*
** variável com distribuição norma
* resultado estatisticamente significante
Mediana (Md).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma
Mann Whitney
Conforme se observa na tabela 7, encontrou-se diferença em relação à
circunferência da cintura, sendo que os indivíduos sem déficit estatural apresentaram
valores superiores.
No que se refere à circunferência da cintura (CC), esta está aumentada em 5% da
amostra. Para avaliação, foi utilizado o ponto de corte sugerido pela WHO (1998) para
adultos, uma vez que não existe ponto de corte estabelecido para avaliá-la em
adolescentes, além do fato de, os indivíduos desta amostra se encontravam no final da
adolescência.
A circunferência da cintura tem sido utilizada, devido sua acurácia como
indicador da obesidade abdominal, tanto em adultos com em crianças e adolescentes. Na
literatura, observa-se, a relação entre topografia da gordura e a ocorrência de doenças
crônicas, enfocando o papel do tecido adiposo localizado na região abdominal,
envolvido na gênese dessas doenças (CAPRIO et al., 1996; TAYLOR et al., 2000).
A falta da definição de um ponto de corte para o grupo dos adolescentes dificulta
a classificação e comparação entre os estudos. No entanto, correlações positivas entre
CC e composição corporal em crianças e adolescentes têm sido comprovadas na
literatura (GIULIANO, & MELO, 2004).
Na Tabela 8, são observados, os valores médios ou medianos de peso, estatura e
CC dos adolescentes segundo estado nutricional. Resultados, estatisticamente
significantes, foram observados para peso e CC.
72
IMC ADOLESCÊNCIA (kg/m
2
)
Baixo peso Eutrofia Excesso de peso p
Peso (kg) 60,0 ( 51,4 - 73,1)
72,7 (52,6 – 120) 97,3 (75 – 118) <0,001*
Estatura (cm)**
175,7 + 7,8 175,1 + 5,8 177,2 + 6,5 0,551
CC (cm) 68,0 (66,7 -73,0)
75,0 (71,0 -77,0) 87,5 (83,0 -98,0) <0,001*
* *variável com distribuição norma
* resultado estatisticamente significante
Mediana (Md).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma
Análise de variância = variável paramétrica
Kruskal Wallis = variável nãoparamétrica:
Teste comparação Dunn’s: Peso: excesso de peso > eutrofia > baixo peso
CC: excesso de peso > eutrofia > baixo peso
A diferença em relação à CC também foi observada por CARNEIRO et al.
(2000) que, estudando fatores de risco para alterações metabólicas em adolescentes
obesos, encontraram diferença média de 30 cm entre o grupo dos obesos e não obesos.
Tabela 8: Valores médios e medianos de peso, estatura e CC dos adolescentes
segundo estado nutricional
73
5.2. INFLUÊNCIA DA SITUAÇÃO AO NASCER SOBRE A
ADOLESCÊNCIA
Condições de nascimento inadequadas, decorrentes principalmente da
desnutrição fetal, refletem-se no peso e comprimento ao nascer e têm sido apontadas
como determinantes do estado nutricional na infância, adolescência e vida adulta
(VICTORA et al., 1988; FALKNER et al., 1994; GOLDFREY & BARKER, 2000;
PARSONS et al., 2001; ROBINSON, 2001; OKEN & GILLMAN, 2003).
Quanto a esta influência, podem ser encontradas na literatura, pelo menos três
diferentes linhas de pesquisas, que tentam explicar esta relação. A primeira e mais
discutida tem marco inicial no final da década de 80, desde a publicação de BARKER et
al. (1989), quando foi proposta a teoria da Hipótese da Origem Fetal das Doenças e a
partir da qual surgiram investigações em busca de argumentos, que sustentem ou
refutem a teoria.
O estudo realizado em 1989 tem base em pesquisas desenvolvidas no Reino
Unido, que evidenciaram correlação entre recém-nascidos e lactentes com reduzido
crescimento intra-uterino e a morbimortalidade por doenças cardiovasculares na vida
adulta, independente do estilo de vida. Segundo Barker e colaboradores, essa restrição
nutricional seria responsável por modificação na regulação do sistema nervoso central,
acarretando adaptações endócrinas e metabólicas a fim de permitir a sobrevivência
(BARKER, 2004).
No contexto desta hipótese, o termo programming é utilizado para definir o
processo em que o estímulo ou a agressão, em períodos críticos de desenvolvimento,
teria repercussão na estrutura e,ou função de órgãos, tecidos e sistemas orgânicos,
resultando em alterações permanentes na fisiologia e metabolismo durante a vida adulta.
Portanto, o período de maior risco abrangeria os dois primeiros trimestres de gravidez,
quando ocorre o desenvolvimento dos tecidos, sistemas e órgãos (MCCLELLAN &
NOVAK, 2001; NEWSOME et al., 2003).
Os mecanismos responsáveis pelo programming ainda não são, totalmente,
conhecidos. As mudanças que ocorreriam na estrutura e funções dos órgãos fetais,
possivelmente, incluem redução no número de células, mudanças na distribuição dos
tipos celulares e estrutura dos órgãos e reprogramação da retroalimentação hormonal.
Estas adaptações, por sua vez, ocorreriam de forma permanente, possibilitando o
74
acúmulo de gordura corporal quando o acesso aos alimentos fosse facilitado
(PESCADOR et al., 2001).
A partir do estudo de BARKER et al. (1989), outros têm sido realizados no
sentido de verificar a associação do baixo peso ao nascer com doenças cardiovasculares,
obesidade e as co-morbidades associadas, bem como a distribuição da gordura corporal
(GODFREY & BARKER, 2000; PARSONS et al., 2001; ROBINSON, 2001; OKEN &
GILLMAN, 2003). Surgiram então duas outras correntes de investigação.
A segunda linha descreve também o peso ao nascer, como fator de risco para
futuras alterações metabólicas. No entanto, o programming não ocorreria no período
intra-uterino, mas no período de recuperação do crescimento, denominado catch up.
Desta forma, a fase de risco seria o primeiro ano de vida, quando ocorre a referida
recuperação do crescimento.
De acordo com RUGOLO, (2005), no período neonatal imediato, observa-se
perda inicial de peso, seguida de aceleração do crescimento (catch up) no sentido de
recuperar o peso de nascimento, sendo que a intensidade e duração destas duas fases são
inversamente relacionadas à idade gestacional e peso de nascimento.
Durante o período intra-uterino, se os indivíduos experimentam um déficit
nutricional, eles podem, subseqüentemente, aumentar seu ritmo de crescimento tão logo
melhorem suas condições. Esta estratégia da natureza visa, aparentemente, compensar
os problemas iniciais. De acordo com esta corrente, entretanto, o recém nascido que
sofreu um retardo do crescimento intra-uterino, ao realizar um esforço acentuado para
recuperar seu tamanho, promoveria a ativação excessiva do sistema IGF. Normalmente,
como forma de adaptação, este sistema encontra-se diminuído durante o período intra-
uterino com restrição nutricional. A superativação do IGF acabaria por induzir a uma
adaptação metabólica a longo prazo. Daí resultaria, por exemplo, um aumento na
resistência à insulina o que, se for associado à predisposição genética e,ou obesidade,
poderá futuramente levar ao desenvolvimento do diabetes tipo 2 (CIANFARANI et al.,
1999; LEVY-MARCHAL et al., 2004).
ASHWORTH (1969), estudando a velocidade de crescimento de oito crianças
em recuperação de desnutrição energético-proteica, encontrou aumento desproporcional
na gordura corporal, ultrapassando o peso adequado para estatura.
Apesar da teoria dos efeitos maléficos do excesso de crescimento poder ser
verdadeira, sem dúvida é menos consistente que a dos causados pelo déficit de
75
crescimento, mantendo-se confirmada a importância do cacth up no desenvolvimento
neonatal (CAMELO-Jr & EULÓGIO, 2005).
Uma terceira linha apresenta resultados, indicando o sobrepeso na adolescência e
vida adulta como resultado do elevado peso ao nascer e ganho de peso excessivo na
infância. Embora ainda pouco consistente, a hipótese desta corrente é que o ganho de
peso excessivo, durante o período intra-uterino e infância, pode afetar de forma
permanente os centros hipotalâmicos envolvidos na regulação da ingestão alimentar e,
conseqüentemente, promover o acúmulo da gordura corporal na vida adulta
(ERIKSSON et al., 2001; GUNARSDITTIR et al., 2002; EUSER et al., 2005).
Vale ressaltar que alguns estudiosos ainda questionam qualquer associação entre
as condições de nascimento e o estado nutricional futuro do indivíduo. Em seus
trabalhos, alguns estudiosos concluíram que o estado nutricional de adolescentes e
adultos não tinham nenhuma relação com as condições de nascimento.
Considerando essas hipóteses, neste capítulo, investigou-se a possível associação
das variáveis estudadas ao nascer com o estado nutricional, observado na adolescência.
A Tabela 9 apresenta as correlações entre as variáveis investigadas ao nascer e
na adolescência.
76
Tabela 9 – Correlações entre as variáveis de nascimento com a antropometria no final
da adolescência
Dados ao nascer Adolescência r p
Peso (kg)
0,207
0,038*
IMC (kg/m
2
) 0,099 0,325
Estatura (cm)
0,227
0,020*
Peso (g)**
CC (cm) 0,152 0,132
Peso (kg)
0,221
0,027*
IMC (kg/m
2
) 0,149 0,140
Estatura (cm) 0,124 0,220
Comprimento (cm)
CC (cm) 0,166 0,099
Peso (kg) 0,069 0,495
IMC (kg/m
2
) 0,026 0,791
Estatura (cm) 0,166 0,101
IR**
CC (cm) 0,001 0,987
Peso (kg)
0,231
0,021*
IMC (kg/m
2
) 0,158 0,116
Estatura (cm) 0,129 0,201
IG
CC (cm)
0,205
0,040*
IG= Idade gestacional; IR=Índice ponderal de Roher; CC = Circunferência da cintura
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas
* resultados estatisticamente significante
** variáveis com distribuição normal
Observou-se que o peso na adolescência foi a variável que mais se correlacionou
com as variáveis investigadas ao nascer. Ressalta-se ainda a correlação positiva
observada entre peso ao nascer e estatura alcançada no final da adolescência e entre IG
e CC na adolescência. O Índice de Roher não apresentou correlação com nenhuma das
variáveis estudadas na adolescência.
A partir desta primeira análise, a relação de cada variável ao nascer com o estado
nutricional observado na adolescência foi estudada e discutida separadamente.
5.2.1. Peso ao nascer
Os resultados obtidos (Tabela 9) indicam correlação positiva, ou seja, à medida
que o peso ao nascer aumenta, tem-se o mesmo comportamento para peso e estatura no
final da adolescência. No entanto, a correlação entre as variáveis é fraca.
Conforme se observa na Tabela 10, quando foram distribuiídos os valores
médios de peso, estatura, IMC e CC na adolescência, segundo intervalos de peso de
nascimento, os mesmos não diferiram estatisticamente.
77
Tabela 10 - Peso e estatura na adolescência, segundo peso ao nascer
Antropometria na Peso ao nascer (g)**
Adolescência < 3000 3000-3999 > 4000 p
Peso ( kg) 59,0 63,0 62,0 0,127
Estatura (cm) ** 170,4+5,8 173,0+6,3 174,8+5,1 0,192
IMC (kg/m2) 20,0 21,1 20,4 0,223
CC (cm) 71,0 75,0 74,0 0,131
Análise de Variância: variáveis paramétricas
Kruskal Wallis: variáveis não paramétricas
** variáveis com distribuição normal
Quanto ao risco relativo (RR) do peso ao nascer em relação ao peso e estatura na
adolescência, encontrou-se que os nascidos com 4000g ou mais apresentam risco de
2,42 vezes maior de alcançarem estatura, aos 18 anos, superior ao percentil 50 da curva
estatura/idade, conforme o CDC (2000), do que os nascidos com peso inferior a 4000g
(RR = 2,42; IC = 1,15 5,05). A análise daqueles nascidos com peso insuficiente
(<3000g), como fator de risco para o déficit estatural na adolescência, não foi
significante ( RR= 1,14; IC= 0,26-4,92).
Este resultado está de acordo com aqueles disponíveis na literatura sobre
crescimento físico: recém nascidos de baixo peso, geralmente, tornam-se crianças
menores em peso e estatura; apresentam “catch-up” tardio e mesmo assim podem
continuar menores que o esperado até a adolescência; no período entre adolescência e
idade adulta podem, ou não, atingir tamanho normal, havendo influência do potencial
genético na estatura final do adulto. Entretanto, sabe-se que, mesmo atingindo tamanho
considerado normal, quando comparados com recém-nascidos de peso adequado, estes
indivíduos apresentam déficit do crescimento (GIANINI et al., 2005). Sendo assim,
justifica-se o risco para maior média estatural dos nascidos com mais de 4000g.
O peso inadequado (<3000g) bem como o excessivo ao nascer (> 4000g) não se
comportaram como fator de risco para o excesso de peso corporal (> P85) no final da
adolescência (RR= 0,51; IC= 0,07- 8,26; RR= 1,48; IC= 0,22- 10,05 ; respectivamente).
Da mesma forma como encontrada no presente trabalho, a fraca correlação ou
mesmo a não correlação entre variáveis ao nascer e estado nutricional futuro, foi
observada por MARTORELL et al. (2000) que em trabalho de revisão, investigaram a
influência das condições intra-uterinas no desenvolvimento do sobrepeso em
adolescentes e adultos. Esses autores concluíram que as evidências de risco para o baixo
peso ao nascer no desenvolvimento de obesidade, em adolescentes ou adultos, foram
78
inconsistentes. Quanto ao elevado peso ao nascer, uma associação positiva com a
obesidade foi encontrada, apenas, em trabalhos realizados em países desenvolvidos.
Em outro estudo, EUSER et al. (2005) concluiram que o peso ao nascer (PN) se
correlacionou de forma positiva com composição corporal, peso, IMC, CC, massa gorda
e massa livre de gordura, porém, quando ajustados para idade atual, a associação entre
PN e CC desapareceu, PN e massa livre de gordura diminuiu e PN e massa gorda,
tornou-se insignificante.
Em trabalho realizado em Pelotas, MONTEIRO et al. (2003) avaliaram a
associação entre peso ao nascer e velocidade de crescimento no primeiro ano de vida
com a ocorrência de sobrepeso e obesidade em adolescentes do sul do Brasil. Os autores
encontraram correlação positiva entre o sobrepeso e elevado peso ao nascer e rápido
crescimento no primeiro ano de vida, após ajuste para condições socioeconômicas e
ganho de peso materno, sendo que esta associação foi mais forte em relação à
velocidade de crescimento.
No presente trabalho, não foi possível avaliar a velocidade de crescimento na
infância, devido à carência de dados suficientes para isto. No entanto, embora o peso ao
nascer ter apresentado correlação significante com o peso na adolescência, as análises
realizadas não permitem confirmar a influência direta do peso ao nascer sobre o estado
nutricional na adolescência.
FRISANCHO (2000) estudou o sobrepeso em 2000 adolescentes californianos,
aproximadamente e verificou que este estava associado ao peso dos pais e não
apresentou nenhuma relação com o peso ao nascer ou com fatores da infância.
Em relação à influência do peso ao nascer sobre o estado nutricional no final da
adolescência, realizou-se análise da prevalência de fatores de risco (circunferência da
cintura aumentada, sobrepeso e déficit estatural) na adolescência entre indivíduos, que
apresentavam peso ao nascer inferior a 3000g e prevalência entre aqueles com peso ao
nascer superior ou igual a 3000g.
Os resultados desta análise podem ser observados no Gráfico 2.
79
Gráfico 2 - Prevalência de fatores de risco na adolescência, entre indivíduos que
apresentavam peso ao nascer inferior a 3000g e prevalência
entre os com peso ao nascer superior ou igual a 3000g
5,8
13,2
0
4,8
11,7
12
IMC>= p 85 CC>=94 Estatura <=p5
< 3000g >=3000g
Peso inferior a 3000g considerado risco (exposição) na análise de x
2
Peso inferior a 3000g ( n = 17)
Embora se observe, entre os nascidos com peso superior a 3000g, maior
prevalência de fatores de risco na adolescência, não foi encontrada associação
estatisticamente significante entre peso de nascimento inferior a 3000g e os fatores de
risco investigados (IMC > p 85: x
2
=0,54 p = 0,460 ; CC > 94 cm: x
2
=0,85; p = 0,355;
estatura/idade < p5: x
2
=0,00; p = 0,973).
É importante ressaltar que, embora 17 indivíduos tenham sido classificados com
peso inadequado ao nascer (< 3000g), apenas 3 desses realmente apresentavam baixo
peso (< 2500g). Da mesma forma, o peso ao nascer igual ou superior a 4000g foi
observado em apenas 7 indivíduos. Análise com um número maior de indivíduos
expostos ao risco (PN < 3000g ou > 4000g), seria indicada para confirmar ou não os
resultados aqui apresentados.
5.2.2. Comprimento ao nascer
Da mesma forma como observado na análise do peso ao nascer, o comprimento
ao nascer se correlacionou de forma significante com peso na adolescência, porém esta
correlação foi fraca (Tabela 9).
Quando se analisou peso, estatura, IMC e CC dos adolescentes, segundo
comprimento de nascimento, separando-se os nascidos com comprimento inferior ao
%
80
percentil 5 da curva de comprimento para idade do CDC (2000), entre P 5 e P 50 e
superior ao P 50, encontrou-se diferença estatística entre os grupos, sendo que os
nascidos com mais de 50 centímetros de comprimento (p 50) apresentaram peso,
estatura e IMC médio superior aos demais na idade de 18 anos (Tabela 11).
Tabela 11 - Estatura média dos adolescentes, segundo comprimento ao nascer
Comprimento ao nascer (cm)*
Antropometria
na adolescência
< p 5
< 46 cm
Grupo 1
> p 5 e < 50
> 46 e < 50
Grupo 2
> p 50
> 50 cm
Grupo 3
p
Peso (kg) 59,0 59,5 64,0 0,030*a
Estatura (cm) ** 173,6+3,5 171,1+6,0 174,4+6,0 0,036*b
IMC (kg/m2) 20,3 23,0 24,4 0,049*a
CC (cm) 74,0 74,0 76,0 0,100
** variável com distribuição normal
* p estatisticamente significante
Teste Análise de Variânica = variáveis com distribuição normal
Teste Kruskal Wallis = variáveis sem distribuição normal
a = teste de comparação : Dun’s
b = teste de comparação: Tuckey
Estatura: Grupo 3 > Grupo 1 e 2
Peso: Grupo 3 > Grupo 1 e 2
IMC: Grupo 3 > Grupo 1 e 2
Confirmando este resultado, a análise do risco relativo mostrou que os nascidos
com comprimento acima do percentil 50 apresentam probabilidade 1,63 de serem mais
altos do que os nascidos entre p 5 e p 50 (RR= 1,63; IC =1,12-2,38). O comprimento ao
nascer inferior ao percentil 5 (46 cm), como fator de risco para o déficit estatural no
final da adolescência, não foi significante. Em relação ao IMC, os nascidos acima do
percentil 50 não apresentaram nenhuma probabilidade de se tornaram adolescentes com
excesso de peso ( RR= 1,44; IC = 0,44 – 4,65).
O baixo comprimento é, comumente, considerado um reflexo direto da
desnutrição fetal crônica, caracterizando um tipo de o RCIU simétrico com menor
probabilidade de recuperação posterior (FISBERG et al. 1997; EYCLYDES, 2000;
ACCIOLY et al., 2003). Assim, estudos vêm sendo conduzidos no sentido de investigar
a associação do baixo comprimento ao nascer com o déficit estatural na infância e,ou
adolescência.
GUIMARAES et al (1999), estudando pré-escolares, constataram que a variável
apresentando correlação mais forte com a baixa estatura foi o comprimento ao nascer.
81
Em seu estudo com jovens alistados no serviço militar, SORENSEN et al.,
(1997) encontraram associação entre peso e comprimento ao nascer com a estatura
desses jovens, sendo esta associação mais forte para o comprimento ao nascer.
No presente estudo, entretanto, esta correlação do comprimento ao nascer com a
estatura alcançada pelos adolescentes aos 18 anos não foi observada (Tabela 9).
Provavelmente uma das justificativas para este fato seja o pequeno tamanho amostral de
indivíduos com baixo comprimento ao nascer, ou seja, apenas 3 % (n=3) dos avaliados
apresentaram comprimento ao nascer igual ou inferior a 46 cm , que é o valor de
comprimento no percentil 5, segundo índice comprimento/idade da curva proposta pelo
CDC (2000).
5.2.3. Idade gestacional
Realizou-se também análise da distribuição do peso, estatura, IMC e CC na
adolescência segundo IG, para comparação dos valores médios.
Como pode ser observado na Tabela 12, encontrou-se diferença estatisticamente
significante apenas entre estaturas, sendo que os indivíduos pós-termo apresentaram
valores superiores.
Tabela 12 – Peso, IMC, estatura e circunferência da cintura
na adolescência segundo idade gestacional
Antropometria Idade Gestacional ( semanas)
na adolescência < 37 37-42 > 42 p
Peso ( kg) 59,0 62,0 59,5 0,636
Estatura (cm) ** 173,6 + 3,5 170,9 + 5,8 174,6 + 6,1 0,012*b
IMC (kg/m
2
) 19,4 20,3 19,2 0,226
CC ( cm) 74,0 75,0 77,5 0,551
CC = Circunferência da Cintura
** variável com distribuição normal
Análise de Variânica = variáveis com distribuição normal ; p <0,05
Kruskal Wallis = variáveis sem distribuição normal; p <0,05
b = teste de comparação: Tuckey
Estatura: Grupo 3 > Grupo 1 e Grupo 3 >Grupo 2
Este resultado era esperado, visto que a prematuridade, no contexto da
Hipótese da Origem Fetal, não tem sido apresentada como fator de risco para doenças
futuras, uma vez que a literatura tem indicado que o baixo peso ao nascer é fator de
risco para o estado nutricional futuro, quando refere-se a retardo do crescimento intra-
uterino e não diretamente à prematuridade. Se o recém-nascido apresentar peso
adequado para sua idade gestacional, ainda que prematuro, é possível que entre
82
normalmente no seu canal de crescimento. Por outro lado, o retardo do crescimento,
manifestado nas proporções corporais ao nascer, pode promover futuras seqüelas,
independentemente da idade gestacional (CIANFARANI et al., 1999; BARKER et al.,
2002; SZITÁNYI et al., 2002).
Além disso, a prematuridade encontrada no presente estudo é uma denominada
prematuridade limítrofe (36-37 semana gestacional) e segundo literatura estes
prematuros apresentam boa evolução pós-natal (ACCIOLY, et al 2003)
5.2.4.Crescimento intra-uterino
Quando a variável peso ao nascer é utilizada em análises, é preciso considerar
que ela é, diretamente, influenciada pelo tempo de gestação e taxa de crescimento intra-
uterino (CIU). Desta forma, o retardo do crescimento intra-uterino - que pode ser
observado no peso ao nascer, segundo idade gestacional, bem como pela
proporcionalidade corporal do recém-nascido, considerando-se peso e comprimento ao
nascer - pode influenciar o estado nutricional futuro.
A relação do Retardo do Crescimento Intra-Uterino (RCIU) e estado nutricional
pós-natal tem sido estudada. Tem sido encontrada relação deste com a obesidade,
hiperinsulinemia e doenças cardiovasculares na vida adulta (CIANFARANI, 1999;
GODFREY & BARKER, 2000; ERIKSSON et al., 2001; GUNNARSDITTIR et al.,
2002; SINGHAL et al., 2003; VELDE et al., 2003; EUSER et al., 2005).
Por outro lado, recém-nascidos pequenos para idade gestacional (PIG) têm sido
considerados grupo de risco para o déficit estatural na infância e adolescência.
Sendo assim, considerou-se válida a análise das variáveis da adolescência,
também, em relação ao crescimento intra-uterino, objetivando observar a influência do
CIU no estado nutricional dos indivíduos em estudo.
Na Tabela 13, os indivíduos foram distribuídos, segundo a proposta da WHO,
para avaliação do CIU, em que se leva em consideração o peso para idade gestacional e
classifica os recém-nascidos como pequenos, adequados ou grandes para idade
gestacional. Na Tabela 14, pode-se observar a distribuição baseada no índice de
crescimento de Roher, considerando o peso e comprimento ao nascer para classificar a
proporcionalidade ao nascer.
83
Tabela 13 - Peso, IMC, estatura e CC na adolescência, segundo crescimento intra-
uterino, avaliado segundo a curva de Williams et al. (1982).
Antropometria
CLASSIFICAÇÃO DO CRESCIMENTO INTRA-UTERINO,
SEGUNDO CURVA PROPOSTA POR WILLIANS.
na adolescência PIG AIG GIG p
Peso (kg) 59,0 62,0 71,0 0,232
IMC (kg/m
2
) 20,1 20,6 21 0,306
Estatura (cm) ** 171,4 172,5 176,5 0,395
CC ( cm) 74,0 75,0 75,0 0,819
PIG = Pequeno para idade gestacional ; AIG = Adequado para idade gestacional; GIG = Grande para idade gestacional
CC = Circunferência da Cintura
** variávls com distribuição normal
Análise de Variância = variáveis paramétrica
Kruskal Wallis = variáveis não paramétrica
Tabela 14 - Peso, IMC, estatura e CC na adolescência, segundo crescimento intra-
uterino, avaliado de acordo com o ìndice de crescimento de Roher.
Antropometria
CLASSIFICAÇÃO DO CRESCIMENTO INTRA-UTERINO,
SEGUNDO ÍNDICE DE CRESCIMENTO DE ROHER.
na adolescência Retardo Adequado Excessivo p
Peso (kg) 59,0 62,0 64,0 0,726
IMC (kg/m
2
) 20,1 20,6 20,7 0,861
Estatura (cm) ** 171,0 + 4,0 172,4 + 6,3 175,3 + 2,5 0,494
CC ( cm) 74,0 75,0 73,5 0,881
CC = Circunferência da Cintura
** variáveis com distribuição normal
Análise de Variância = variáveis paramétrica
Kruskal Wallis = variáveis não paramétrica
Conforme apresentado nas tabelas 13 e 14, nenhuma variável investigada na
adolescência apresentou diferenças, estatisticamente, significantes em relação ao
crescimento intra-uterino.
Na classificação baseada na curva de Williams (Tabela 13), observa-se uma
tendência, embora não estatisticamente significante, de valores médios superiores de
peso, estatura e IMC para os indivíduos nascidos grandes para idade gestacional (GIG).
Segundo índice de crescimento de Roher (Tabela 14), aqueles nascidos com
crescimento excessivo apresentaram valores dios superiores para peso, estatura e
84
IMC na adolescência (resultado não estatisticamente significante). O valor médio da CC
não apresentou nenhuma diferença entre os grupos.
A não recuperação do crescimento linear é conseqüência biológica de ter nascido
PIG e pode ser observada na estatura na infância e adolescência (PESCADOR et al.
2001), o que é confirmado na análise da estatura dos indivíduos PIG.
WESTWOOD et al. (1983), estudando adolescentes canadenses PIG, entre 13 e
19 anos e comparando-os com um grupo controle, encontraram médias de 159,2 para o
grupo PIG e 165,2 cm para o controle, sendo a diferença estatisticamente significante,
mesmo após ajustamento para nível socioeconômico e estatura parental.
Por sua vez, o excesso de peso ao nascer, bem como o ganho de peso excessivo
na infância é apontado por alguns autores como fator de risco para o sobrepeso na
adolescência e vida adulta (ERIKSSON et al., 2001; GUNNARSDITTIR et al., 2002;
EUSER et al., 2005).
Em relação aos recém-nascidos GIG, os bebês constitucionalmente grandes
tendem a permanecer nos percentis mais elevados de peso e altura após o nascimento. Já
os recém-nascidos macrossômicos, como conseqüência de diabetes ou obesidade
maternas, embora mantenham por alguns meses o mesmo ritmo de crescimento intra-
uterino, passam posteriormente por uma desaceleração (catch-dow growth) até entrarem
em seu canal de crescimento próprio (EUCLYDES, 2000).
Mais uma vez cabe ressaltar que o número de indivíduos PIG e com retardo do
crescimento, bem como os nascidos GIG ou com crescimento excessivo, foi muito
reduzido.
Em análise crítica, os resultados apresentados neste capítulo, num primeiro
momento, podem nos levar a deduzir que não existe influência realmente significante do
crescimento intra-uterino, manifestado nas variáveis ao nascer, sob a situação
nutricional no final da adolescência. No entanto, apesar da fraca correlação, ou mesmo
não-correlação, entre as condições de nascimento e algumas variáveis antropométricas
avaliadas na adolescência, foi observada tendência de maior ganho de peso e estatura
entre os nascidos com peso superior a 4000g. Além disso, o pequeno tamanho amostral
daqueles com baixo peso e comprimento, bem como daqueles com grandes proporções
corporais, pode ter sido um fator limitante para os resultados. Isto nos permite manter o
questionamento quanto a influência, principalmente do peso e comprimento aumentados
ao nascer, sobre o estado nutricional na adolescência e reforça a necessidade de
continuidade das investigações.
85
5.3. FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO NUTRICIONAL
NA VIDA ADULTA
5.3.1. Análise do estado nutricional na vida adulta
Esta primeira parte do capítulo é composta pela caracterização antropométrica;
de composição corporal, bioquímica, pressão arterial, dietética e estilo de vida dos
indivíduos na fase adulta da investigação, bem como análise da relação entre algumas
destas variáveis.
5.3.1.1. Antropometria e composição corporal
A amostra foi composta de 100 indivíduos do sexo masculino com idade média
de 26,17 ± 1,21 anos. A Tabela 15 apresenta a média, desvio padrão, mediana, valores
mínimo e máximo das variáveis antropométricas e de composição corporal dos
indivíduos avaliados na idade adulta.
Variáveis
X
+ DP Md (mi -ma)
Peso (kg) 74,6 + 14,0 73,0 (51,4 – 120,5)
Estatura (cm) ** 175,4 + 6,1 174,5(163,0 – 193,0)
IMC (kg/m
2
) 24,2 + 3,8 24,0 (17,1 – 35,6)
Gordura (kg)
18,2+ 6,8 17,0 (4,2 – 43,0)
MLG (kg)**
56,5+ 8,5 55,8 (36,9 – 82,2)
IMCG (kg/m
2
)
5,8+ 2,1 5,6 (1,3 – 12,7)
IMCLG (kg/m
2
)**
18,2+ 2,2 18,3 (13,8 – 22,8)
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
10,9 + 4,6 10 ( 3,0 – 25,0)
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm
15,5 + 5,9 15 (4,0 – 31,0)
Prega cutânea subescapular (PCS) (mm)
18,4 + 7,9 18 (5,0 – 42,0)
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
21,3 + 7,8 20,5( 9 – 52,0)
% gordura**
23,9 + 5,6 23,8 (7,7 – 38,8)
Gordura periférica (PCSE + PCSI) (mm)
26,4 + 9,8 26,0 (7,0 – 56,0)
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
39,7 + 14,9 39,0 (15,0 – 92,0)
Circunferência da cintura (cm)** 85,0 + 10,5 83,5 ( 68,0 – 119,0)
Circunferência do quadril (cm) 101,8 + 7,5 101,5 (88,0 – 128,0)
Relação cintura/quadril 0,83 + 0,06 0,82 ( 0,71 – 38,8)
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Md).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma.
** variáveis com distribuição normal
Tabela 15: Média, desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos das
variáveis investigadas na vida adulta.
86
A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio do IMC, que é um dos
indicadores mais utilizados na avaliação populacional, devido sua simplicidade de
aplicação, baixo custo e boa reprodutividade, embora apesente algumas limitações como
a incapacidade de fornecer informações sobre a composição corporal (GARN et
al.,1986; WHO, 1995; GUEDES & GUEDES, 1998).
O Gráfico 3 apresenta a distribuição de estado nutricional segundo classificação
do IMC.
Gráfico 3 – Estado nutricional dos indivíduos em fase adulta
A prevalência de sobrepeso e obesidade tem aumentado em todo o mundo e em
todas as faixas etárias, constituindo-se em fator de preocupação em saúde populacional.
De acordo com os últimos resultados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF, 2002-
2003), na população brasileira adulta, o sobrepeso foi observado em 41% dos homens e
39,2% das mulheres, enquanto a prevalência de obesidade foi de 8,8 e 12,7% para o
sexo masculino e feminino, respectivamente (BRANDÃO et al., 2005).
A obesidade pode ser considerada doença e caracteriza-se por acúmulo
excessivo de gordura corporal. Quando associada à dislipidemia, hipertensão arterial,
resistência à insulina, hiperinsulinemia e intolerância à glicose ou diabetes do tipo 2,
constitui a síndrome metabólica (CARNEIRO et al., 2003), que confere, aos seus
portadores, risco cardiovascular elevado por reunir vários fatores de risco (SIQUEIRA
et al., 2006).
No presente estudo, detectou-se prevalência de 9% de obesidade (IMC > 30
kg/m
2
), resultado este superior ao observado por outros autores, em indivíduos de faixa
etária semelhante, como 2,6% e 7,8% nos estudos de COELHO et al. (2005) e
RABELO et al., (1999), respectivamente e próximo aos apresentados pelo Ministério da
Saúde, caracterizando 8% de obesidade na população brasileira (FONSECA &
MORIGUCHI, 2001).
Á medida que se define obesidade como aumento de massa de gordura corporal
e não somente aumento do peso, esta passa a ser investigada mais em relação à massa
2%
65%
24%
8%
1%
BAIXO PESO
EUTROFIA
PRÉ-OBESO
OBESO CLASSE I
OBESO CLASSE II
87
de gordura. O termo obesidade é melhor empregado quando existe alto acúmulo de
gordura subcutânea, sendo que esta pode ser avaliada em relação ao percentual total de
gordura corporal e pela espessura das pregas cutâneas (WHO, 1995).
Em relação ao percentual de gordura corporal, observou-se que, em 39% dos
homens, o percentual de gordura corporal estava acima do limite preconizado por
LOHMAN (1992) sendo que, dentre estes, 14 (35,8%) eram eutróficos, confirmando a
baixa sensibilidade do IMC na identificação da gordura corporal. YAO et al. (2002),
encontraram resultado semelhante, sendo que 30% dos homens eutróficos apresentaram
percentual de gordura elevado.
O excesso de peso corporal é, reconhecidamente, um fator de risco para o
desenvolvimento de doenças cardiovasculares. No entanto, estudos indicam que a
localização abdominal da gordura se mostra mais associado a distúrbios metabólicos e
risco cardiovascular, alterações no perfil lipídico, hipertensão arterial, resistência
insulínica e diabetes (GUEDES e GUEDES, 1998; CARNEIRO et al., 2003; MARTINS
& MARINHO, 2003; PITANGA & LESSA, 2005; FERREIRA et al., 2006).
No presente estudo o acúmulo de gordura abdominal foi estimado segundo os
seguintes indicadores: razão cintura/quadril (RCQ), gordura central (PCSI + PCSE) e
circunferência da cintura isolada (CC).
A circunferência da cintura, bem como a relação cintura quadril, tem sido
utilizada em estudos epidemiológicos para estimar a proporção de tecido adiposo
abdominal. A CC se correlaciona estreitamente com IMC e RCQ, além de ser
considerada um indicador mais sensível do que o IMC na identificação de indivíduos
com excesso de gordura corporal e alterações metabólicas e está relacionada à
quantidade de tecido adiposo visceral (PEREIRA et al., 1999; CHAN et al., 2003).
No presente estudo foram observados valores de circunferência da cintura (CC)
e do quadril (CQ) aumentados em 21 e 2% da amostra, respectivamente. A relação
cintura/quadril estava aumentada em, apenas, um dos voluntários.
Conforme mencionado, a CC tem sido considerada forte indicador de obesidade
abdominal, que por sua vez está diretamente relacionada a alterações metabólicas.
Assim, quando se considera que a população em estudo é composta por indivíduos
jovens, a prevalência observada pode ser considerada alta.
Visto ter sido encontrado apenas 1 indivíduo com RCQ aumentada, deve-se
considerar a proposta de alguns autores que têm sugeridos outros pontos de cortes para
prevenção de doenças futuras. PEREIRA et al. (1999) propuseram, para homens, ponto
88
de corte para o RCQ de 0,95, para prevenção de hipertensão arterial. FERREIRA et al.,
(2006), avaliando a acurácia dos indicadores antropométricos de localização de gordura
em homens saudáveis, indicaram 0,9 como o melhor valor para ponto de corte da
relação cintura/quadril para predizer dislipidemias. Considerando estas propostas
teríamos resultados relevantes: 3% de acordo com a proposta de PEREIRA e
colaboradores (95 cm) e 11% segundo proposta de FERREIRA et al. (90 cm).
A Tabela 16 apresenta as correlações entre as variáveis antropométricas e de
composição corporal. Conforme se observa, somente a estatura não se correlacionou
com todas as demais variáveis. Fortes correlações podem ser observados entre o peso e
IMC, CC e CQ.
Ressaltam-se também as correlações positivas, encontradas entre o IMC e as
medidas antropométricas que estimam o percentual de gordura corporal total (% de
gordura corporal, PCB e PCT), bem como a distribuição central desta (CC, PCSE,
PCSI, gordura central), exceto para a relação cintura/quadril e razão de pregas cutâneas.
Observa-se que o peso, IMC de gordura, IMC livre de gordura e circunferência da
cintura apresentaram correlação mais forte com o IMC (Tabela 16).
Quanto à correlação com a circunferência do quadril e razão cintura/quadril, os
resultados evidenciam correlação positiva estatisticamente significante, mas não tão
fortes quanto a encontrada com a CC. Correlações satisfatórias também foram
encontradas entre IMC e pregas cutâneas, gordura central, gordura periférica e
percentual de gordura corporal (Tabela 16).
Tabela 16 – Correlações entre variáveis antropométricas e de composição corporal
Peso Estatura IMC IMCG IMClG CC ** CQ RCQ PCB PCT PCSE PCSI Gor.
Central
Gor.
Periferica
% gor.**
Peso r = 0,530
<0,001*
r = 0,909
<0,001*
r =0,785
< 0,001*
r =
0,785
< 0001*
r = 0,874
<0,001*
r = 0,827
<0,001*
r = 0,605
<0,001*
r = 0,642
< 0,001*
r = 0,499
<0,001*
r =0,635
<0,001*
r = 0,636
< 0,001*
r = 0,670
< 0,001*
r= 0,605
< 0,001*
r = 0,546
<0,001*
Estatura r = 0,530
<0,001*
r = 0,175
0,081
r=0,055
0,585
r =0,184
0,066
r = 0,286
0,004*
r =0,406
<0,001*
r = 0,022
0,825
r= 0,039
0,699
r = -0,067
0,504
r = 0,060
0,546
r = -0,011
0,912
r= 0,022
0,826
r= -0,007
0,940
r =-0,030
0,761
IMC r = 0,909
<0,001*
r = 0,175
0,081
r =
0,847
< 0,001*
r =
0,832
<0,001 *
r = 0,901
<0,001*
r = 0,777
0,001*
r = 0,713
<0,001*
r =
0,728
< 0,001*
r = 0,608
<0,001*
r = 0,713
<0,001*
r = 0,751
< 0,001*
r =
0,712
<0,001*
r =
0,670
< 0,001*
r = 0,611
<0,001*
IMCG r =0,785
< 0,001
r=0,055
0,585
r =
0,847
< 0,001*
r =0,546
< 0,001*
r =0,817
< 0,001*
r =0,693
< 0,001*
r =0,705
<0,001*
r =0,679
< 0,001*
r =0,614
< 0,001*
r =0,688
< 0,001*
r =0,790
< 0,001*
r =0,782
< 0,001*
r =0,699
< 0,001*
r =0,922
< 0,001*
IMCLG r =
0,785
< 0001*
r =0,184
0,066
r =
0,832
<0,001 *
r =0,546
< 0,001*
r =0,708
< 0,001*
r =0,617
< 0,001*
r =0,540
< 0,001*
r =0,576
< 0,001*
r =0,489
< 0,001*
r =0,578
< 0,001*
r =0,578
< 0,001*
r =0,582
< 0,001*
r =0,569
< 0,001*
r =0,230
0,021*
CC ** r = 0,874
<0,001*
r = 0,286
0,004*
r = 0,901
<0,001*
r =0,817
< 0,001*
r =0,708
< 0,001*
r = 0,794
<0,001*
r = 0,818
<0,001*
r =0,680
< 0,001*
r = 0,588
<0,001*
r = 0,743
<0,001*
r =0,755
< 0,001*
r =0,791
< 0,001*
r =0,662
< 0,001*
r = 0,623
<0,001*
CQ r = 0,827
<0,001*
r =0,406
<0,001*
r =0,777
<0,001*
r =0,693
< 0,001*
r =0,617
< 0,001*
r = 0,794
<0,001*
r = 0,430
<0,001*
r =0,541
< 0,001*
r = 0,505
<0,001*
r = 0,556
<0,001*
r =0,549
< 0,001*
r =0,578
< 0,001*
r =0,561
< 0,001*
r = 0,514
<0,001*
RCQ r = 0,605
<0,001*
r = 0,022
0,825
r = 0,713
<0,001*
r =0,705
<0,001*
r =0,540
< 0,001*
r = 0,818
<0,001*
r = 0,430
<0,001*
r =0,586
< 0,001*
r = 0,485
<0,001*
r = 0,683
<0,001*
r =0,707
< 0,001*
r =0,737
< 0,001*
r =0,572
< 0,001*
r = 0,597
<0,001*
PCB r = 0,642
< 0,001*
r= 0,039
0,699
r =
0,728
< 0,001*
r =0,679
< 0,001*
r =0,576
< 0,001*
r =0,680
< 0,001*
r =0,541
< 0,001*
r =0,586
< 0,001*
r =0,704
< 0,001*
r =0,678
< 0,001*
r =0,722
<0,001*
r =0,756
< 0,001*
r =0,897
< 0,001*
r =0,897
< 0,001*
PCT r = 0,499
<0,001*
r = -0,067
0,504
r = 0,608
<0,001*
r =0,614
< 0,001*
r =0,489
< 0,001*
r = 0,588
<0,001*
r = 0,505
<0,001*
r = 0,485
<0,001*
r =0,704
< 0,001*
r = 0,692
<0,001*
r =0,692
< 0,001*
r =0,746
< 0,001*
r =0,940
< 0,001*
r = 0,580
<0,001*
PCSE r =0,635
<0,001*
r = 0,060
0,546
r = 0,713
<0,001*
r =0,688
< 0,001
r =0,578
< 0,001*
r = 0,743
<0,001*
r = 0,556
<0,001*
r = 0,683
<0,001*
r =0,678
< 0,001*
r = 0,692
<0,001*
r =0,785
< 0,001*
r =0,939
< 0,001*
r =0,742
< 0,001*
r =0,585
<0,001*
PCSI r = 0,636
< 0,001*
r = -0,011
0,912
r = 0,751
< 0,001*
r =0,790
< 0,001*
r =0,578
< 0,001*
r =0,755
< 0,001*
r =0,549
< 0,001*
r =0,707
< 0,001*
r =0,722
<0,001*
r =0,692
< 0,001*
r =0,785
< 0,001*
r =
0,940
< 0,001*
r =
0,768
< 0,001*
r =0,718
< 0,001*
Gor.
Central
r = 0,670
< 0,001
r= 0,022
0,826
r =
0,712
<0,001*
r =0,782
< 0,001*
r =0,582
< 0,001*
r =0,791
< 0,001*
r =0,578
< 0,001*
r =0,737
< 0,001*
r =0,756
< 0,001*
r =0,746
< 0,001*
r =0,939
< 0,001*
r =0,940
< 0,001*
r =
0,810
< 0,001*
r =
0,687
< 0,001*
Gor.
Periférica
r= 0,605
< 0,001*
r= -0,007
0,940
r =
0,670
< 0,001*
r =0,699
< 0,001
r =0,569
< 0,001*
r =0,662
< 0,001*
r =0,561
< 0,001*
r =0,572
< 0,001*
r =0,897
< 0,001*
r =0,940
< 0,001*
r =0,742
< 0,001*
r =0,768
< 0,001*
r =
0,810
< 0,001*
r =
0,606
< 0,001*
% gor. ** r = 0,546
<0,001*
r =-0,030
0,761
r = 0,611
<0,001*
r =0,922
< 0,001*
r =0,230
0,021*
r = 0,623
<0,001*
r = 0,514
<0,001*
r = 0,597
<0,001*
r =0,558
< 0,001*
r = 0,580
<0,001*
r =0,585
<0,001*
r =0,718
< 0,001*
r =
0,687
< 0,001*
r =
0,606
< 0,001*
CC = circunferência da cintura; CQ = circunferência do quadril; RCQ = relação cintura quadril; PCT = prega cutânea tricipital; PCSE = prega cutânea subescapular; % gordura = percentual de gordura corporal
* resultados estatisticamente significante ;** variável com distribuição normal. Correlação de Pearson: variáveis paramétricas Correlação de Spearman: variáveis não paramétricas
Em geral tem sido encontrada relação mais forte entre fatores de risco
cardiovasculares e a quantidade de gordura intra-abdominal do que o valor de gordura
corporal total e o valor do índice de massa corporal (MELO et al., 2005).
SAMPAIO & FIGUEREDO (2005), investigando a correlação entre o IMC e
CC e RCQ em adultos e idosos, encontraram que, no grupo de homens adultos, esta
correlação foi igual a 0,93 (p<0,001), resultado este próximo ao encontrado no presente
estudo (Tabela 16). Quando à correlação entre IMC e a razão cintura quadril (RCQ) em
ambos os estudos citados, apesar do resultado estatisticamente significante, os
resultados evidenciam uma associação não tão forte.
Foi observado que o percentual de gordura corporal se correlacionou mais
fortemente com a CC do que o IMC. Este resultado é confirmado na literatura, pois
embora o IMC se correlacione bem com o peso corporal, apresenta algumas limitações
como, por exemplo, a avaliação de atletas com grande massa muscular. Além disso,
pode subestimar o percentual de gordura corporal em indivíduos com pouca massa
corporal, como idosos, portadores de doenças crônicas e aqueles extremamente
sedentários (GUEDES & GUEDES, 1998). É importante observar que peso e estatura,
componentes do IMC, não se comportam de maneira semelhante, visto que apenas o
peso apresenta correlação, estatisticamente, significante com o percentual de gordura
corporal.
Apesar da correlação positiva e significante entre o IMC e o percentual de
gordura corporal, observada neste estudo e em outras referências, não é indicada a
utilização isolada do IMC, pois, a utilização isolada deste índice para avaliações
rotineiras de gordura corporal pode falhar na identificação do excesso de gordura
corporal e de seus fatores de risco (CARVALHO, 2005). Portanto, na avaliação
nutricional, é necessário complementar a utilização do IMC com outras medidas, que
assegurem a mensuração adequada do percentual de gordura corporal total, bem como a
distribuição desta, sendo que as pregas cutâneas e a circunferência da cintura são as
mais utilizadas em trabalhos populacionais.
5.3.1.2.Avaliação bioquímica e de pressão arterial
Em relação à análise bioquímica, os resultados revelaram que, entre os avaliados
19% apresentavam tolerância à glicose diminuida, com valores de glicemia de jejum
entre 100 e 125 mg/dL; no entanto, não foi encontrado nenhum indivíduo diabético.
91
Chama atenção o número de indivíduos que, nesta idade, apresentam intolerância à
glicose, o que pode ser indicador de possível desenvolvimento futuro do diabetes.
SOUZA et al. (2003), avaliando a prevalência do diabetes melitos e sua associação com
a obesidade em adultos, encontraram prevalência de 2,1% de diabéticos na faixa etária
de 18 aos 29 anos e concluíram que esta prevalência aumenta de acordo com a idade.
Dentre todos os avaliados, apenas 1 indivíduo encontrava-se anêmico. De certa
forma, este resultado também não é surpreendente, visto que a população avaliada não
faz parte dos grupos fisiológicos considerados vulneráveis para anemia carencial
(NEUMAN et al., 2000).
Os valores médios, e medianos de glicemia de jejum e hemoglobina são
apresentados na Tabela 17.
Tabela 17 - Valores de média, desvio-padrão, mediana, mínimos
e máximos da glicemia de jejum e hemoglobina
Variáveis
X
+ DP Md (mi –ma)
Glicemia mg/dl 92,4 +7,6 93,0 (87,0 – 97,0)
Hemoglobina g/dL 15,4 + 1,4 15,6 (12,8 – 18,2)
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Mi).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma
Em relação à analise do perfil lipídico (Tabela 18), encontrou-se 32% da
amostra com o colesterol acima do desejável, sendo que 6% apresentavam quadro de
hipercolesterolemia e 8 % apresentavam nível de triglicerídeo elevado. A alteração mais
freqüente foi o HDL baixo (62%).
92
Tabela 18 - Análise do perfil lipídico dos indivíduos adultos
VALOR mg/dL CLASSIFICAÇÃO PREVAlÊNCIA
COLESTEROL
TRIGLICERÍDEOS
HDL
LDL
< 200
200-239
> 240
< 150
150 - 200
201-499
> 500
> 40
< 130
>130 – 159
> 160
Desejável
Limítrofe
Alto
Ótimo
Limítrofe
Alto
Muito Alto
Desejável
Desejável
Limítrofe
Aumentado
68%
26%
6%
89%
3%
8%
-
38%
54%
33%
13%
III Diretrizes Brasileiras sobre dislipidemias e diretriz de prevenção da aterosclerose
Por se tratar de população jovem, ressalta-se que os valores são elevados,
indicando a necessidade de trabalhos de prevenção em faixas etárias cada vez mais
jovens, a fim de controlar o desenvolvimento de doenças futuras.
Em outros estudos com indivíduos da mesma faixa etária foram encontrados
resultados aproximados. COELHO et al. (2005) avaliaram o perfil lipídico e fatores de
risco para doenças cardiovasculares em estudantes de medicina e obtiveram os seguintes
resultados: níveis alterados de colesterol, LDL e TG detectados em 11,8%, 9,8% e 8,5
% dos estudantes, respectivamente; e níveis reduzidos de HDL em 12,4 %. Da mesma
forma, RABELO et al. (1999), estudando fatores de risco para doença aterosclerótica,
em adultos jovens numa universidade privada de São Paulo, observaram que 9,1 % e 16,
3% da amostra apresentavam níveis aumentados de colesterol total e triglicerídios,
respectivamente, enquanto 7,6% apresentavam hipertrigliceridemia e 6,8%
apresentavam diminuição nos níveis de HDL.
Na Tabela 19 observam-se os valores médio e desvio-padrão, mediano e valores
máximo e mínimo de glicemia, hemoglobina e variáveis componentes do perfil lipídico.
93
Tabela 19 - Média, desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos de
colesterol total, triglicerídeo, LDL, HDL, VLDL, Col/HDL,LDL/HDL
Variáveis
X
+ DP Md (mi –ma)
Colesterol Total mg/dl** 183,2 + 35,9 183,0 (105,0 - 192,0)
Triglicerídeo mg/dl 101,9 + 62,6 82,0 (26,0 – 370,0)
LDL mg/dl** 124,6 + 33,1 124,5 (47,0 - 210,4)
HDL mg/dl** 38,6 + 9,3 38,0 (21,0 – 65,0)
VLDL mg/dl 29,7 + 11,3 15,4 (5,2 – 56,2)
Colesterol/HDL mg/dl 4,9 + 1,5 4,7 (2,6 – 11,2)
LDL/HDL mg/dl 3,4 + 1,1 3,2 (1,5 -8,0)
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Mi).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma
** váriáveis com distribuição normal
MARTINS et al. (1989) concluíram que na população mais jovem, entre 29 e 39
anos, as proporções de HDL diminuem à medida que a idade aumenta, enquanto os
demais componentes do perfil lipídico comportam-se de forma contrária.
Atualmente, as doenças cardiovasculares são consideradas como causa principal
de mortalidade no Brasil, pois, foi demonstrado que os níveis plasmáticos de
colesterol, principalmente de LDL, sua fração mais aterogênica, constituem importante
fator na gênese da doença (CERCATO et al., 2004). Desta forma, o controle do perfil
lipídico constitui um dos cuidados para prevenção do desenvolvimento da doença
arterial coronariana. A elevada concentração plasmática de LDL, bem como reduzidas
concentrações de HDL, tem sido considerada fator de risco independente para a gênese
e desenvolvimento da aterosclerose (PRADO e DANTAS, 2002).
Outra variável, que contribui para ocorrência de alterações no perfil lipídico, é o
peso corporal elevado. Sabe-se que o excesso de peso, principalmente sua distribuição
central, representa fator de risco para o desenvolvimento de alterações metabólicas
como dislipidemias e resistência insulínica (GUEDES e GUEDES, 1998; FERREIRA et
al., 2006).
Neste contexto, procedeu-se a análise de correlação entre variáveis
antropométricas e bioquímicas, cujos resultados são apresentados na Tabela 20.
Conforme se obseva, o colesterol se correlacionou de forma positiva com o
IMC, gordura (kg), IMCG, CC, RCQ, todas as pregas cutâneas avaliadas, bem como a
gordura periférica, central e percentual de gordura corporal.
94
É importante ressaltar que, neste estudo, com exceção do HDL, encontrou-se
correlação positiva e, estatisticamente, significante entre todos os componentes do perfil
lipídico com a circunferência da cintura, que representa a gordura abdominal, bem como
o percentual de gordura corporal.
O HDL apresentou correlação negativa, estatisticamente, significante com a CC,
RCQ, PCSE, PCSI e IMC, ou seja, quanto maior a CC, RCQ, PCS menor foram os
níveis de HDL, o que apresenta a menor CC como fator de proteção para o HDL
reduzido.
Com exceção da estatura, os níveis de VLDL, colesterol/HDL e LDL/HDL
apresentaram correlação positiva, estatisticamente significante, com todas as variáveis
antropométricas, sendo que, em geral, as correlações mais fortes com as variáveis
antropométricas foram observadas entre os índices colesterol/HDL e LDL/ HDL.
As correlações observadas entre o TG e as variáveis indicam que o aumento das
variáveis antropométricas e de composição corporal, promovem aumento nos níveis de
triglicerídeo sérico.
A glicemia de jejum, por sua vez, não apresentou correlação com nenhuma
variável estudada.
95
Tabela 20 - Correlação entre parâmetros bioquímicos e variáveis antropométrica e de
composição corporal
Parâmetros bioquímicos Antropometria e composição corporal r p
Peso (kg) 0, 187 0,063
Estatura (cm)** -0.136 0.176
IMC (kg/m
2
)
0,288
0,003*
Gordura (kg)
0,286
0,003*
MLG (kg)** 0,087 0,388
IMCG (kg/m
2
)
0,319
<0,001*
IMCLG (kg/m
2
)** 0,189 0,059
Circunferência da cintura**
0,294
0,003*
Circunferência do quadril 0,049 0,625
Relação cintura/quadril
0,326
<0,001*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
0,348
<0,001*
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm)
0,230
0,021*
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm)
0,261
0,008*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
0,345
<0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm)
0,304
0,002*
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
0,318
<0,001*
Colesterol**
% gordura corporal**
0,364
<0,001*
Peso (kg)
-0.379
<0,001*
Estatura (cm)**
-0.227
0,023*
IMC (kg/m
2
)
-0,323
<0,001*
Gordura (kg)
-0,310
< 0,001*
MLG (kg)**
-0,339
<0,001*
IMCG (kg/m
2
)
-0,278
0,003*
IMCLG (kg/m
2
)**
- 0,285
0,004*
Circunferência da cintura**
-0,406
<0,001*
Circunferência do quadril 0,005 0,585
Relação cintura/quadril -0,292 0,003*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm) -0,120 0,274
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm) -0163 0,105
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm)
-0,229
0,020*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
- 0,250
0,012*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm) -0,156 0,122
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
-0,251
0,011*
HDL**
% gordura corporal** -0,159 0,114
Peso (kg) 0,168 0,094
Estatura (cm)** -0.126 0,212
IMC (kg/m
2
)
0,270
0,006*
Gordura (kg)
0,247
0,013*
MLG (kg)** 0,084 0,405
IMCG (kg/m
2
)
0,278
0,005*
IMCLG (kg/m
2
)** 0,182 0,070
Circunferência da cintura**
0,266
0,007*
Circunferência do quadril 0,047 0,638
Relação cintura/quadril
0,307
0,001*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
0,333
<0,001*
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm)
0,237
0,017*
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm)
0,214
0,032*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
0,293
<0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm)
0,301
0,002*
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
0,266
0,007*
LDL**
% gordura corporal**
0,308
0,001*
96
Peso (kg)
0,371
<0,001*
Estatura (cm)** 0,143 0,156
IMC (kg/m
2
)
0,415
<0,001*
Gordura (kg)
0,414
<0,001*
MLG (kg)**
0,315
<0,001*
IMCG (kg/m
2
)
0,427
<0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,298
0,002*
Circunferência da cintura**
0,489
<0,001*
Circunferência do quadril
0,346
<0,001*
Relação cintura/quadril
0,454
<0,001*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
0,305
0,002*
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm)
0,265
0,007*
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm)
0,456
<0,001*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
0,515
<0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm)
0,306
0,002*
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
0,498
<0,001*
VLDL
% gordura corporal**
0,377
<0,001*
Peso (kg)
0,443
<0,001*
Estatura (cm)** 0,101 0,317
IMC (kg/m
2
)
0,508
<0,001*
Gordura (kg)
0,518
<0,001*
MLG (kg)**
0,325
<0,001*
IMCG (kg/m
2
)
0,527
<0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,338
<0,001*
Circunferência da cintura**
0,525
<0,001*
Circunferência do quadril
0,421
<0,001*
Relação cintura/quadril
0,509
<0,001*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
0,360
<0,001*
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm)
0,310
<0,001*
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm)
0,410
<0,001*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
0,527
<0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm)
0,359
<0,001*
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
0,495
<0,001*
Colesterol/HDL
% gordura corporal**
0,407
<0,001*
Peso (kg)
0,428
<0,001*
Estatura (cm)** 0,340 0,738
IMC (kg/m
2
)
0,516
<0,001*
Gordura (kg)
0,514
<0,001*
MLG (kg)**
0,284
<0,001*
IMCG (kg/m
2
)
0,531
<0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,331
<0,001*
Circunferência da cintura**
0,490
<0,001*
Circunferência do quadril
0,398
<0,001*
Relação cintura/quadril
0,509
<0,001*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
0,391
<0,001*
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm)
0,331
<0,001*
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm)
0,407
<0,001*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
0,504
<0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm)
0,385
<0,001*
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
0,488
<0,001*
LDL/HDL
% gordura corporal**
0,391
<0,001*
Peso (kg)
0,416
<0,001*
Estatura (cm)**
0,266
0,007*
IMC (kg/m
2
)
0,440
<0,001*
Gordura (kg)
0,450
<0,001*
Triglicerideo
MLG (kg)**
0,378
<0,001*
97
IMCG (kg/m
2
)
0,446
<0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,300
0,002*
Circunferência da cintura**
0,464
<0,001*
Circunferência do quadril
0,387
<0,001*
Relação cintura/quadril
0,432
<0,001*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
0,270
0,006*
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm)
0,246
<0,014*
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm)
0,456
<0,001*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
0,529
<0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm)
0,274
0,059
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
0,505
<0,001*
% gordura corporal**
0,348
<0,001*
Peso (kg)
0,011 0,908
Estatura (cm)** -0,084 0,406
IMC (kg/m
2
) 0,098 0,332
Gordura (kg) 0,075 0,459
MLG (kg)** -0,005 0,953
IMCG (kg/m
2
) 0,112 0,269
IMCLG (kg/m
2
)** 0,043 0,671
Circunferência da cintura** 0,120 0,238
Circunferência do quadril -0,052 0,604
Relação cintura/quadril 0,165 0,103
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm) 0,065 0,520
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm) 0,013 0,893
Prega cutânea subescapular (PCSE) (mm) 0,151 0,137
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm) 0,151 0,137
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm) 0,042 0,675
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm) 0,125 0,217
Glicemia de
Jejum
% gordura corporal** 0,047 0,644
**distribuição normal
* estatisticamente significante
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas
A correlação observada entre as variáveis está de acordo com a literatura. Em
trabalho de revisão sobre obesidade e adiposidade central, SCARSELLA & DESPRÉS
(2003) encontraram que os indivíduos obesos, com elevado acúmulo de gordura na
região abdominal, tendem a apresentar hipertrigliceridemia acompanhada de baixas
taxas de HDL.
GUEDES e GUEDES, (1998) enfatizam a influência da maior adiposidade na
região central do corpo, nos teores plasmáticos de LDL e triglicerídeos,
independentemente da quantidade de gordura corporal.
Outra análise mais detalhada mostra que indivíduos com excesso de peso
apresentaram valores médios, estatisticamente, mais elevados de colesterol total, HDL,
LDL, VLDL, TG, relação Colest/ LDL e relação HDL/LDL (Tabela 21). Isto confirma a
influência do estado nutricional sobre os parâmetros do perfil lipídico.
98
Estado Nutricional
IMC > 25 kg/m
2
IMC < 25 kg/m
2
Variáveis
X
+ DP Mi
X
+ DP Mi p
Colesterol total** 198,6 + 36,3 196,0 175,0 +33,6 175,0 0,002*
HDL** 34,7 + 8,0 33,5 40,3 + 9,3 39,0 0,003*
LDL** 136,9 + 38,0 118,3 116,7 + 31,5 133,5 0,006*
VLDL 28,1 +15,4 23,0 16,3 + 8,5 14,1 <0,001*
TG 131,1 + 67,7 109,0 81,9 + 42,7 70,5 <0,001*
Colesterol/ HDL 6,0 + 1,7 6,1 4,4 + 1,0 4,5 <0,001*
LDL/HDL 4,4 + 3,1 4,4 3,0 + 2,3 3,0 <0,001*
Glicemia 93,4 + 8,4 92,0 91,9 + 7,2 95,0 0,404
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Mi).
** váriáveis com distribuição normal
Teste t = variáveis paramétricas
Mann Whitney = variáveis não paramétricas
CARNEIRO et al. (2003) encontraram altas prevalências de
hipercolesterolenemia (49,1%) e hipertrigliceridemia (21,3%), em indivíduos com
excesso de peso e demonsntraram que esta prevalência foi diretamente proporcional ao
IMC.
CERCATO et al. (2004) observaram que a prevalência de hipertensão arterial
sistêmica, hipertrigliceridemia e baixos níveis de HDL aumentam com o incremento
ponderal, enquanto a prevalência de colesterol sérico não sofreu alterações com a
mudanças no IMC.
Em trabalho com adultos jovens, COELHO et al. (2005) encontraram níveis
mais elevados de HDL e decréscimo de LDL, associados a valores de IMC e peso
reduzidos.
No presente estudo, a pressão arterial (PA) foi aferida e classificada, segundo
proposta da Sociedade Brasileira de Hipertensão. Encontrou-se 13% dos indivíduos
com PA ótima, 31% com PA normal, 29% foram classificados como limítrofes e 28 %
apresentavam hipertensão, sendo que 85,7 % destes apresentaram hipertensão leve e
14,3% hipertensão moderada. A média de pressão arterial sistólica e diastólica foi de
130,6 +
13,2 mmHg e 77,6 +10,2 mmHg, respectivamente.
Tabela 21 - Comparação entre os valores médios, desvio-padrão e mediana dos
componentes do perfil lipídico e glicemia de indivíduos com e sem excesso
de peso.
99
No estudo de GUEDES & GUEDES (1998), os valores encontrados para
homens foramo 127,5 + 10,8 mmHg para a pressão sitólica e 84,2 + 8,27mmHg para
diastólica. A prevalência, observada no presente estudo, foi superior a encontrada por
GIROTO et al. (1996), que encontraram prevalência de 7 %, mas esteve próxima à
prevalência encontrada em estudo sobre fatores de risco para doença arteroclerótica, em
estudantes com idade entre 19 e 25 anos, realizado por RABELO et al. (1999). Em
estudos, para avaliação de indivíduos cuja faixa etária era mais ampla, como o de
OLIVEIRA et al. (2006) e GUS et al. (2004), foram detectados respectivamente, 48,8%
e 33,7% de hipertensos.
A hipertensão arterial (HA) tem sido apontada como o principal fator de risco
para a morbimortalidade precoce, causada por doenças cardiovasculares. Fortes
evidências relacionam níveis elevados de pressão sistólica, diastólica ou ambas com
maior probabilidade de ocorrência de doença isquêmica do coração, doenças
cerebrovasculares, aterosclerose e mortalidade geral (CHOR, 1998).
Não disponibilidade de dados exatos sobre prevalência em nível nacional,
pois, existem apenas estudos regionais sobre a epidemiologia da Hipertensão Arterial no
Brasil e sobre fatores de risco cardiovasculares (CONCEIÇÃO et al., 2006).
Levando-se em consideração que, de acordo com a literatura disponível, o
aumento da massa corporal está associado à elevação da pressão arterial e pode ser
considerado como o principal determinante controlável, os valores de pressão foram
analisados segundo IMC na amostra estudada.
Como pode ser observado na Tabela 22, apesar de não ter sido encontrada
diferença estatística, nota-se que invidíduos com IMC > 25kg/m
2
apresentaram valores
médios mais elevados de pressão sistólica e diastólica. Este resultado não significante,
provavelmente é decorrente da faixa etária em estudo, visto que a idade é um fator
importante na análise da pressão arterial.
Tabela 22 - Valores médios, desvio-padrão e mediana da pressão arterial de
indivíduos com e sem excesso de peso.
Estado Nutricional
IMC < 25 kg/m
2
IMC > 25 kg/m
2
Variáveis
X
+ DP Md
X
+ DP Md p
Pressão arterial sistólica ** 128,9 + 13,8 129,0 133,3 + 11,7 137,0 0,120
Pressão arterial diastólica 76,0 + 10,3 75,0 78,4 + 10,4 80,0
0,416
Média + desvio-padrão (
X
+ DP); Mediana (Mi).; ** váriáveis com distribuição normal
Teste t: variáveis paramétricas; Man Whitney: variáveis não paramétricas
100
5.3.1.3. Estilo de vida
Em relação à atividade física, os indivíduos foram classificados de acordo com
a proposta do Instituto of Medicine/Food and Nutrition Board, (2002). Segundo esta
classificação, 31% dos indivíduos possuíam atividade leve, 23% moderada e apenas 1
foi considerado como realizador de atividade intensa. A atividade mais mencionada foi
o futebol (79%), seguido de musculação (16,2%) e corrida (13,9%). O sedentarismo
apresentou prevalência de 45%, semelhante àquele observado no estudo de COELHO et
al. (2005), que foi de 43%, sendo os indivíduos da mesma faixa etária.
A atividade física é um fator protetor à saúde, contribuindo de forma eficaz no
controle do peso, melhora da pressão arterial e lipídeos séricos (MENDONÇA &
ANJOS, 2004), razão pela qual essa alta prevalência de sedentarismo é relevante,
podendo com certeza ser responsável pela prevalência do excesso de peso, observada no
grupo.
RIQUE et al. (2002) destacam que um de maiores benefícios da atividade física
regular é a melhora do perfil lipídico a longo prazo, sendo que o tipo de exercício que
mais atua no metabolismo de lipoproteínas é o aeróbico, elevando a concentração sérica
da HDL e reduzindo as concentrações dos triglicerídeos.
A inatividade física tem sido considerada fator de risco tão importante para
morte prematura quanto o fumo, dislipidemia e hipertensão arterial (PRADO &
DANTAS, 2002). Alguns estudos têm demonstrado forte relação entre inatividade física
e presença de fatores de risco cardiovascular, como hipertensão arterial, resistência à
insulina, diabetes, dislipidemia e obesidade (MONTEIRO, 2004; MENDONÇA &
ANJOS, 2004).
Em trabalho de revisão sobre a importância da atividade física no controle da
síndrome metabólica, CIOLAC e GUIMARÃES (2004), afirmam que indivíduos ativos
fisicamente apresentam maiores níveis de HDL e menores níveis de triglicerídeos, LDL
e VLDL, em comparação aos sedentários.
Em relação ao hábito de fumar, obteve-se prevalência de 11%, sendo o consumo
médio diário de 10 cigarros. Esta frequência é superior à descrita por COELHO et al.
(2005) e FISBERG et al. (2001), com variação de 5,9% e 6,7 %, respectivamente, em
população jovem. Por outro lado, em estudandes universitários, MENEZES et al. (2004)
encontraram 10% de fumantes, um percentual aproximado ao do presente estudo.
101
A literatura mostra que o hábito de fumar se instala, precocemente, visto que
80% dos atuais adultos fumantes declararam ter se iniciado no tabagismo antes dos
dezoito anos de idade (WHO, 2000). Esya informação confirma a tendência mundial
para aumento na prevalência do uso de cigarros entre a população de adolescentes e
adultos jovens (ANDRADE et al., 2006).
O percentual de fumantes no Brasil é considerado alto (33%), em comparação
com aquele de países da América Latina, como o Paraguai (15%) (OPAS, 2003).
Estudos epidemiológicos têm associado o hábito de fumar a doenças crônicas,
tais como isquemia do coração e vários tipos de neoplasias. No entanto, apesar do
conhecimento sobre os efeitos maléficos do cigarro como fator de risco e sobre a sua
própria condição de doença crônica ligada à dependência da nicotina, o consumo global
aumentou desde meados da década de 70, devido ao crescimento do consumo em países
em desenvolvimento (CAVALCANTI, 2005; SPADA et al., 2006).
Dentre os indivíduos estudados, 75% relataram consumo de álcool, sendo que
26,6 % destes declararam beber raramente, 68% nos finais de semana e 5,4 %
reconheceram o hábito de ingerir diariamente bebida alcoólica.
Alguns autores defendem que o consumo moderado de bebida alcoólica tem
efeito benéfico sobre as doenças coronarianas; no entanto, em indivíduos propensos, o
consumo de álcool pode aumentar os níveis de TG (PEARSON, 1996; FONSECA &
MORIGUCHI, 2001).
A Tabela 23 apresenta os valores de colesterol, triglicerídeo e HDL, LDL e
VLDL entre os fumantes e não fumantes e entre aqueles que possuem hábito de ingerir
bebidas alcoólicas e os que declararam não fazê-lo. De acordo com os dados, os
fumantes e aqueles que relataram consumo de álcool apresentaram valores superiores
para colesterol, TG, LDL e VLDL, embora os resultados não apresentassem diferenças,
estatisticamente, significantes.
102
Tabela23 - Comparação dos valores médios e medianos de colesterol, TG e HDL, segundo
hábito de fumar e ingestão de álcool.
Variável Colesterol**
X
+ DP
p TG
Md
p LDL p VLDL p HDL**
X
+ DP
p
Tabagismo
Sim 113,33 ± 73,66 0,46 102 0,46 127 0,27 19,8 0,56 37,42 ±
10,55
0,61
Não 96,64 ± 54,37 81 106 16,4 38,86 ±
9,23
Etilismo
Sim 186,85 ± 35,22 0,07 86 0,06 129 0,32 17,6 0,20 39,45 ±
9,99
0,14
Não 171,70 ± 36,97 71 118 14,2 36,92 ±
6,54
* * variável com distribuição normal
Teste t: variáveis paramétricas
Mann Whitney: variáveis não paramétricas
Segundo COELHO et al. (2005), os indivíduos que ingeriam bebida alcoólica
apresentaram, preferencialmente, níveis elevados de colesterol total e LDL.
5.3.1.4. Análise dietética
A importante relação entre ingestão alimentar e estado nutricional tem sido
descrita, amplamente na literatura. Uma dieta adequada previne o desenvolvimento de
várias doenças, diminuindo, portanto, os gastos públicos com o tratamento relacionado
ao excesso e,ou deficiência nutricional. Mudanças nos hábitos alimentares e nos padrões
de dieta da população têm levado à deficiência no consumo de vários nutrientes e
aumento do consumo energético, o que favorece a chamada transição nutricional, onde
se pode contemplar o aumento do excesso de peso corporal em toda população
(MAIHARA et al., 2006).
A genética, o sedentarismo, o tabagismo, o ganho ponderal progressivo e uma
dieta rica em carboidratos refinados e gorduras saturadas, mas pobre em fibras
alimentares contribuem para o desenvolvimento da síndrome metabólica, considerada
fator que promove a aterosclerose e eleva o risco cardiovascular (SANTOS et al 2006).
No presente trabalho, a avaliação dietética baseou-se em registros alimentares de
três dias. Foi solicitado, aos voluntários, que anotassem os alimentos sólidos e líquidos,
exceto água, consumidos ao longo do dia, durante 3 dias não consecutivos, sendo dois
referentes a dias da semana e um ao final de semana. Então, realizou-se a análise da
103
ingestão dietética relativa ao habitual dos dias de semana e do fim de semana, que
corresponde à ingestão habitual total dos indivíduos.
Como qualquer método de avaliação dietética, o registro alimentar apresenta
limitações e, especificamente neste trabalho, em que se trabalhou apenas com
indivíduos do sexo masculino, a principal dificuldade foi estimar as porções por falta de
conhecimento de medidas. Dentre todos os avaliados, 93% preencheram e entregaram o
registro alimentar conforme solicitado.
A necessidade estimada de energia (EER Estimated Energy Requirement),
definida como a ingestão dietética média de energia, que é necessária para manter o
balanço de energia em uma pessoa saudável, considerando-se a idade, peso, altura, sexo
e o nível da atividade física (MAIHARA, et al., 2006), foi calculada a partir de
equações para predição do gasto total de energia, medido por meio da técnica de água
duplamente marcada. Este valor de referência foi calculado para cada participante,
segundo as novas recomendações, tendo sido encontrado um EER médio de 2755,1 +
361,2 kcal.
Na avaliação do consumo energético, forão encontrados 47,31% (n=44) com
ingestão abaixo da EER, sendo que os demais ingeriam mais que a necessidade
estimada.
Na Tabela 24 são apresentados os valores médios e medianos de ingestão dos
macro e micronutrientes, investigados a partir da análise do registro alimentar.
Tabela 24 – Valores de ingestão média, desvio-padrão, mediana, mínimo
e máximos dos nutrientes investigados
Variáveis
X
+ DP
Md (mi -ma)
Energia (Kcal) 2898,0 + 754,0 2816,3 (1545,0 - 5609,1)
Proteína (g) 111,8 + 36,1 108,8 (61,6 - 278,0)
Carboidrato(g) 342,3 + 94,0 328,0 (179,2 - 617,8)
Lipídeo (g) 113,7 + 37,8 106,4 (46,1 - 217,7)
Ferro (mg) 15,1 + 4,8 14,6 ( 6,2 – 33,6)
Cálcio (mg) 778,2 + 350,6 687,4 ( 242,0 – 2295,5)
Vitamina C (mg) 83,3 + 84,4 59,9 (3,1 – 687,4)
Fibras (g) 13,5 + 6,7 12,5 ( 3,2 – 35,2)
AGM (g) 49,7 + 17,7 48,4 (19,8 - 107,9)
AGP (g) 15,0 + 7,1 13,2 ( 4,3 – 50,3)
AGS (g) 48,8 + 17,5 46,2 ( 19,3 - 104,0)
Colesterol (g) 263,5 + 118,5 250,1 (28,1 - 779,0)
Sódio (mg)
2827,4 + 1046,8
2633,3 (884,4 - 6190,3)
Média + desvio-padrão (
X
+ DP) ; Mediana (Mi).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma
AGM = Ácido graxo monoinsaturado; AS = ácido graxo poliinsaturado;AGS = Ácido graxo saturado
104
Considerando a distribuição do valor energético total (VET), segundo os
intervalos aceitávies de distribuição dos macronutrientes (acceptable macronutrient
distribution range AMDRs), todos os indivíduos apresentaram o consumo de proteína
dentro da faixa preconizada, enquanto 53,8% (n=50) tinham consumo de lipídeo acima
do recomendado. Com relação à ingestão de carboidratos, 26,88% (n=25) dos
indivíduos tinham consumo abaixo da faixa mínima recomendada e 1,07% (n=1)
apresentou consumo excessivo.
De acordo com a literatura, o aumento da obesidade é uma tendência secular que
ocorre paralelamente à redução na prática de atividade física e aumento na ingestão de
alimentos ricos em gordura. Em um trabalho de revisão, ROSADO & MONTEIRO
(2001), concluíram que as significativas mudanças nos hábitos alimentares têm sido
marcadas pelo aumento do conteúdo de lipídios na dieta, que é geralmente considerado
um contribuinte significativo para o aumento na incidência de obesidade. De acordo
com esses autores, um maior conteúdo de carboidratos na dieta, principalmente na
forma simples, também representa fator de risco para o desenvolvimento da obesidade.
Conforme na Tabela 25, o consumo energético se associou de forma positiva e
significante com todas as variáveis, sendo que as correlações mais fortes foram
observadas entre ingestão energética e peso, CC e CQ.
105
Tabela 25 - Correlação entre o consumo energético e variáveis antropométricas e de
composição corporal
Ingestão Antropometria e composição corporal r p
Peso
0,649
<0,001*
Estatura**
0,537
<0,001*
IMC (kg/m
2
)
0,649
<0,001*
Gordura (kg)
0,538
<0,001*
MLG**
0,755
<0,001*
IMCG (kg/m
2
)
0,445
<0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,623
<0,001*
Circunferência da cintura (cm)**
0,587
<0,001*
Circunferência do quadril (cm)
0,590
<0,001*
Relação cintura/quadril
0,337
<0,001*
Prega cutânea bicipital (PCB) (mm)
0,387
<0,001*
Prega cutânea tricipital (PCT) (mm)
0,285
0,004*
Prega cutânea subescapular (PCS) (mm)
0,374
<0,001*
Prega cutânea supra-ilíacal (PCSI) (mm)
0,359
<0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT) (mm)
0,361
<0,001*
Gordura central (PCSE + PCSI) (mm)
0,379
<0,001*
Energia (kcal)
% gordura corporal
0,381
<0,001*
n= 93
** variável com distribuição normal.
Correlação de Pearson : variáveis com distribuição normal
Ccorrelação de Spearman : variáveis sem distribuição normal
Comparando a ingestão entre indivíduos com e sem excesso de peso corporal
(Tabela 26), verificou-se que aqueles com IMC > 25kg/m
2
apresentavam valores
superiores de ingestão energética, proteica, lipídica e de carboidratos, ácidos graxos
mono e poliinsaturados, colesterol e sódio, embora diferença estatisticamente
significante tenha sido observada, apenas, para a ingestão de ácido graxo
monoinsaturado (p < 0,05).
106
Tabela 26 - Consumo mediano de energia, proteína, vitaminas e minerais, segundo o
estado nutricional
Adultos
IMC > 25 kg IMC < 25 kg
Energia e nutrientes
Md Md
p
Energia (kcal) 3029,2 2708,1 0,342
Proteínas (g) 117,4 103,9 0,073
Carboidrato (g) 329,0 326,0 0,557
Lipídios (g) 109,1 105,2 0,132
Ferro (mg)
14,6 14,6 0,678
Cálcio (mg) 667,9 689,0 0,596
Vitamina C (mg) 55,0 62,3 0,184
Fibras (g) 11,5 13,2 0,493
AGM (g) 39,7 33,2 0,050*
AGP (g)
14,1 13,2
0,941
AGS (g)
46,3 46,2 0,132
Colesterol (g)
270,1 236,5 0,338
Sódio (mg)
2799,4 2581,2 0,951
* resultado estatisticamente significante
Mediana (Md)
Teste: Mann Whitney; p< 0,05
.
O hábito alimentar inadequado, representado pela quantidade excessiva de
alimentos consumidos, pode contribuir para o balanço energético positivo, em que o
consumo é superior ao gasto de energia, favorecendo, assim, a deposição de gordura
corporal. Conforme mencionado anteriormente, entre todos os avaliados, sete não
preencheram os registros alimentares solicitados, sendo que dentre estes, 5 eram
classificados com excesso de peso corporal, sendo que, provavelmete este fato
influenciou o resultado não significante, encontrado entre os grupos.
Analisou-se também a diferença entre os valores médio, mediano, mínimo e
máximo de colesterol total, triglicerídeo, LDL, HDL, VLDL, glicemia, pressão arterial
sistólica e diastólica dos indivíduos com consumo energético abaixo e acima das
necessidades estimadas de energia (Tabela 27).
A única diferença, estatisticamente, significante foi encontrada na análise do
colesterol, em que se observou que indivíduos com ingestão energética acima das
necessidades apresentavam valores superiores de colesterol sanguíneo, em comparação
com aqueles que apresentaram ingestão abaixo das necessidades estimadas.
107
Tablea 27 - Diferença entre os valores médio, mediano, mínimo e máximo da análise
bioquímica dos indivíduos com consumo energético abaixo e acima das
necessidades estimadas
de energia
Ingestão Média ± DP Mediana Mínimo ximo p
Colesterol** < EER 175,18±31,68 173 110 233 0,02*
>EER 191,61±38,04 189 119 292
TG < EER 95,78±57,81 78,5 27 275 0,3
>EER 104,36±59,34 92 26 284
LDL** < EER 118,15±28,93 118,3 60,6 180,4 0,06
>EER 130,75±35,51 129,4 47 210,4
VLDL < EER 20,5 + 11,9 16,6 5,2 56,8 0,64
>EER 19,5 + 11,4 16,4 5,4 55,0
HDL** < EER 37,84±9,46 38 21 65 0,4
>EER 39,47±9,54 38 21 63
Glicose < EER 92,87±8,30 93 77,3 118 0,79
>EER 93,31±7,93 94 75 117
PAS** < EER 130,86±12,89 130 100 160 0,7
>EER 129,9±13,77 130 100 160
PAD < EER 74,98±10,37 71 54 100 0,058
>EER 79,12±10,45 80 60 105
TG = triglicerídeo, PAS = pressão arterial sistólica
PAD = pressão arterial diastólica
Teste t: variáveis paramétricas
Man Whitney: variáveis não paramétricas
* = estatisticamente significante
** variáveis com distribuição normal
Como foi detectado percentual significante de indivíduos com elevada
ingestão de lipídeos e menor consumo de carboidratos, verificou-se então se esta
inadequação interferiu nas médias e medianas do perfil bioquímico. Os resultados
destas análises são apresentados nas Tabelas 28 e 29.
108
Tabela 28 - Valores médio, mediano, mínimo e máximo do perfil bioquímico de indivíduos
que apresentaram consumo de carboidrato acima (AC) e abaixo AMDR (AB):
Parâmetro
bioquímico
Consumo Média±DP Mediana nimo Máximo p
Colesterol** AC 185,46±35,35 185 110 292 0,71
AB 182,4±35,85 175 114 266
Triglicerídeos AC 107,69±60,79 92 26 284 0,048*
AB 82,64±48,39 76 27 275
LDL** AC 125,18±31,62 125 60,6 210,4 0,93
AB 125,8±36,27 129,4 47 208
VLDL AC 21,6 + 12,0 18,4 5,2 56,8 0,20
AB 16,2 + 9,7 14,6 5,4 55
HDL** AC 38,72±10,03 38 21 65 0,85
AB 39,08±7,95 38 21 55
Glicose AC 92,66±8,35 93 75 118 0,48
AB 94±7,38 93 82 117
Teste t: variáveis paramétricas; Man Whitney: variáveis não paramétricas
* resultado estatisticamente significante
** variáveis com distribuição normal
Tabela 29 - Valores médio, mediano, mínimo e máximo do perfil bioquímico de indivíduos
que apresentaram consumo de lipídeo acima (AD) e abaixo da AMDR (IN):
Parâmetro
bioquímico
Consumo
Média±DP
Mediana
Mínimo
Máximo
p
Colesterol** AB 183,46±40,55 178 110 292 0,9
AC 184,16±31,89 188 114 266
Triglicerídeos AB 96,24±57,01 82 26 284 0,56
AC 103,8±60,4 82 27 275
LDL** AB 126,02±35,44 124 60,6 210,4 0,74
AC 123,74±31,07 129,1 47 208
VLDL AB 19,3 + 11,3 16,4 5,2 56,8 0,63
AC 20,6 + 12,0 16,4 5,4 55
HDL** AB 38,19±8,56 38 24 57 0,63
AC 39,14±10,28 38 21 65
Glicose AB 91,8±9,15 92 75 118 0,14
AC 94,22±6,89 95 82 117
Teste t: variáveis paramétricas; Man Whitney: variáveis não paramétricas
* resultado estatisticamente significante
** variáveis com distribuição normal
109
Conforme se observa, uma diferença estatisticamente significante foi encontrada
apenas, em relação aos valores de triglicerídeo. Acredita-se que esta ocorrência esteja
relacionada às limitações inerentes aos métodos de análise dietética.
Segundo LOPES et al. (2003), independente do método escolhido para
quantificar a ingestão alimentar, a obtenção de dados válidos e confiáveis em estudos
epidemiológicos nutricionais é tarefa difícil, uma vez que não existe um método-ouro
para avaliação da ingestão de alimentos e nutrientes, sendo que os utilizados estão
sujeitos a variações e erros. Além da variabilidade proveniente do próprio método
dietético, a mensuração da ingestão alimentar, pode estar sujeita a erros mesmo em
condições ótimas de estudo.
Portanto, a detecção de associações entre a ingestão alimentar e o risco de
doenças, em estudos populacionais, é limitada justamente devido a esta dificuldade em
mensurar, com precisão o consumo (SCAGLIUS & LANCHA JUNIOR, 2003),
Este problema é inerente a todos os métodos de avaliação da ingestão alimentar,
que dependem do relato individual e, conforme mencionado, o registro alimentar
depende muito da disposição dos voluntários, além da ocorrência de menor adesão entre
sexo masculino. Desta forma, os vieses de mensuração do consumo podem produzir
resultados inconsistentes, como os encontrados no presente estudo.
Em relação à análise do questionário de freqüência do consumo alimentar, todo
os voluntários responderam ao questionário e encontrou-se: consumo diário de 100%
para alimentos componentes do grupo de cereais e massas e de gorduras; 90% relataram
consumo de 6 a 7 vezes na semana para o grupo de carnes e ovos; 51% dos
entrevistaram relataram consumo diário do grupo de leite ou derivados; e 36% consumo
diário de frutas, verduras e hortaliças.
Quando questionados sobre a freqüência de preparações fritas ingeridas, 32%
relataram consumo diário. Comparando-se as médias ou medianas das medidas
antropométricas entre o grupo, que relatou ingestão de preparações fritas diariamente e
aqueles que ingeriam 6 vezes ou menos por semana, não houve diferença
estatisticamente significante entre as mesmas. Ao considerar os indivíduos que ingeriam
5 ou mais vezes na semana (n=44) este tipo de preparação, somente a média de
colesterol total foi estatisticamente superior (192,36±39,39 x 176,04±31,72), sendo o
valor de p igual a 0,02.
110
A Tabela 30 apresenta a prevalência do consumo diário dos grupos alimentares
investigados entre indivíduos com e sem excesso de peso corporal.
Tabela 30 –
Prevalência do consumo diário dos grupos alimentares investigados entre
indivíduos com e sem excesso de peso corporal
IMC vida adulta
Grupo alimentar
> 25 kg/m
2
(%)
n = 33
< 25 kg/m
2
(%)
n = 67
p
Cereais e massas 100 100 0,997
Leite e derivados 54,8 49,2 0,590
Carnes / Ovos 45,1 74,6 0,115
Frutas, verduras e legumes 29 40,2 0,255
Açúcares e doces 25,8 28,3 0,175
Teste: Mann Whitney
Não houve diferença significante quanto à ingestão alimentar entre os grupos o
que, provavelmente seja decorrente das limitações do próprio método utilizado.
O questionário de freqüência de consumo alimentar consiste em um checklist de
um número de alimentos, que podem variar de acordo com os objetivos do estudo
(FISBERG et al., 2001).
Os indivíduos foram questionados sobre o hábito de realizar as refeições em
horários regulares, sendo que 38 % afirmaram não ter horário certo para se alimentar. A
partir daí, estudou-se a influência deste hábito sobre variáveis antropométrica e
bioquímica (Tabela 31).
111
Tabela 31 - Média, mediana, valor mínimo e máximo de variáveis antropométricas, perfil
bioquímico e pressão arterial, segundo o hábito de se alimentar em horários regulares
Variável Horário Média±DP Mediana Mínimo Máximo p
Glicose Não 92,73±6,47 93,5 78 106 0,99
Sim 92,73±8,79 92,5 75 118
Colesterol** Não 181,63±34,83 178 110 292 0,73
Sim 184,19±37,02 184 105 270
Triglicerídeos Não 118,10±66,31 103,5 43 284 0,007*
Sim 86,72±46,86 75 26 244
LDL** Não 120,29±32,67 118,1 47 209,2 0,31
Sim 127,14±33,35 130,1 63,8 210,4
VLDL Não 20,0 + 10,7 17,0 8,6 52,8 0,55
Sim 19,5 + 11,7 16,0 5,2 56,8
HDL** Não 37,08±7,72 38 21 54 0,17
Sim 39,68±10,16 38 21 65
Colesterol/HDL Não 4,7 + 1,0 4,6 4,0 5,6 0,924
Sim 5,0 + 1,6 4,7 3,7 6,2
LDL/HDL Não 3,4 + 1,3 3,2 2,7 3,7 0,875
Sim 3,2 + 1,5 3,2 2,4 4,4
Peso Não 78,6 + 26,9 74,9 51,4 120,0 0,034
Sim 71,7 + 10,9 68,9 56,9 98,9
IMC Não 25,28±4,29 24,65 17,1 35,6 0,01*
Sim 23,41±3,33 23 18,7 34,4
CC** Não 89,32±11,36 87,5 70 119 0,001*
Sim 82,5±9,2 81 68 108
CQ o 102,7 + 6,9 102 100 105 0,281
Sim 101,0 + 8,0 100 96 102
RCQ Não 0,83 + 0,05 0,83 0,80 0,87 0,107
Sim 0,82 + 0,006 0,81 0,77 0,86
% gordura** Não 25,04±5,88 24,55 7,7 38,8 0,04*
Sim 23,07±5,26 23,7 10,7 36
Gordura (kg) Não 18,8 + 6,5 17,8 4,2 36,6 0,332
Sim 17,8 + 6,9 16,6 6,7 43,0
MLG** Não 57,5+ 8,3 58,1 40,1 75,7 0,420
Sim 56,0+ 8,6 55,4 36,8 82,2
Gordura periférica Não 26,9 + 9,5 26,0 20,0 33,0 0,666
Sim 26,1 + 10,0 25,0 19,0 33,0
Gordura central Não 41,3 + 15,0 38,0 32,2 46,2 0,473
Sim 38,8 + 15,0 40,0 27,0 46,0
CC = circunferência da cintura; % gordura = percentual de gordura corporal; PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial
diastólica; * = resultado estatisticamente significante; ** = variáveis com distribuição normal; Teste t de Student : variáveis
paramétricas; Mann-Whitney : variáveis não paramétricas
112
De acordo com os resultados, este hábito teve maior influência sobre variáveis
antropométricas que sobre o perfil bioquímico. As médias de peso, IMC, circunferência
da cintura e percentual de gordura corporal foram, estatisticamente, superiores entre os
que relataram não ter horário regular de alimentação. Dentre as variáveis bioquímicas,
apenas o triglicerídeo foi estatisticamente superior para os indivíduos sem horários
regulares para alimentação.
Em análise crítica dos resultados referentes ao consumo alimentar, avaliado
segundo o questionário de freqüência, reforça-se as dificuldades de análise do consumo
dietético, devido a limitações inerentes ao próprio método que, muitas vezes, podem ser
responsáveis pelas não-associações encontradas.
O Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar é um método
relativamente simples, objetivo e facilmente adaptável à população em estudo, sendo
que uma de suas vantagens é a praticidade e rapidez (WILLET,1994). Por outro lado, da
mesma forma como mencionado em relação ao registro alimentar, o questionário de
freqüência apresenta algumas limitações, que incluem depenncia da meria do
entrevistado quanto à freência da ingeso de alimentos, pelo entrevistado, bem como o
tempo gasto em sua realização (DUARTE & CASTELLANI, 2002).
5.3.2. Influência da situação ao nascer sobre a vida adulta
A relação entre as condições intra-uterinas e, consequentemente, o estado
nutricional ao nascer com posteriores alterações metabólicas, conforme mencionado
anteriormente, tem sido tema de grandes discussões na literatura científica.
Embora dados de estudos experimentais em animais e as observações em seres
humanos não tenham provado, conclusivamente, que o desenvolvimento intra-uterino
tem influência a longo prazo no colesterol, pressão sanguínea ou obesidade, diversas
linhas de evidência sugerem que alterações nutricionais precoces podem afetar,
permanentemente, as atividade de sistemas fisiológicos (BRESSON & REY,2004;
BOULLU-CIOCCA, 2005).
Esses trabalhos sustentam a “hipótese de origem fetal das doenças”, segundo a
qual as alterações nos estados nutricional e endócrino fetal resultam no
desenvolvimento de adaptações a mudanças permanentes na estrutura fisiológica e
metabolismo, predispondo a doenças cardiovasculares, metabólicas e endócrinas na vida
adulta (RASMUSSEN, 2001).
113
LANGLEY & JACKSON (1994) avaliaram, em ratos, possíveis associações
entre nutrição materna durante a gestação e doenças crônicas não-transmissíveis na vida
adulta. Foram fornecidas aos ratos, dietas que continham uma variação dos níveis de
proteína (18, 12, 9 e 6% de acordo com o peso), durante um período de 14 dias, antes do
cruzamento e ao longo da gravidez. Durante a amamentação, foi administrada uma dieta
padrão contendo 20% proteína. Segundo os autores, os filhotes de mães que receberam
dietas com baixo teor de proteína apresentaram pressão arterial, significativamente,
mais alta em relação ao grupo controle, sendo observada relação inversa, e a pressão
arterial permaneceu aumentada até 21 semanas de idade.
Observações em humanos também têm demonstrado a importância do ambiente
fetal no estado de saúde posterior. BARKER et al. (1993) constataram associação entre
o baixo peso ao nascer e prevalência de doenças cardiovasculares e Diabetes mellitus
tipo 2 em adultos. MCCLELLAN & NOVAK (2001), analisando documentos
epidemiológicos, encontraram resultados semelhantes, indicando relação entre
crescimento intra-uterino retardado e diabetes mellitus tipo 2, doença cardiovascular e
hipertensão, na vida adulta.
Por outro lado, o crescimento intra-uterino acelerado, manifestado nas
proporções corporais aumentadas ao nascer, também tem sido citado como fator de
risco principalmente para o excesso de peso corporal e co-morbidades associadas
(ERIKSSON et al., 2001; GUNNARSDITTIR et al., 2002; EUSER et al., 2005). LI et
al. (2003) investigando a associação das condições de nascimento com o peso e
composição corporal de adultos da Guatemala, observaram que o peso ao nascer esteve
associado positivamente com o peso dos avaliados.
Como discutido anteriormente, não consenso entre os estudiosos sobre quais
fatores ao nascer realmente influenciam o estado nutricional na vida adulta, bem como
quais os mecanismos biológicos que explicariam esta associação. No entanto, tem sido
aceito que tanto o baixo peso como o ganho de peso excessivo durante o período intra-
uterino podem afetar de forma permanente os centros hipotalâmicos, envolvidos na
regulação da ingestão alimentar e, conseqüentemente, promover o acúmulo da gordura
corporal na vida adulta (OKEN & GILLMAN, 2003).
Tendo em vista esta discussão proposta na literatura, procedeu-se à análise da
influência das condições ao nascer sobre antropometria e parâmetros bioquímicos
encontrados na idade adulta.
114
Na Tabela 32, apresentam-se os resultados da análise de correlação entre o peso
ao nascer e as variáveis antropométricas dos indivíduos na idade adulta.
Tabela 32 - Correlações entre peso ao nascer e antropometria na vida adulta
Variável
ao nascer
Variáveis
Vida adulta
r p
Peso
0,218
0,029*
Estatura** 0,006 0,946
IMC 0,146 0,147
Gordura (kg) 0,153 0,128
MLG** 0,170 0,091
IMCG 0,093 0,355
IMCLG** 0,148 0,143
CC ** 0,174 0,084
CQ 0,650 0,521
RCQ 0,190 0,058
Peso ao nascer** PCB 0,110 0,270
PCT 0,128 0,204
PCSE 0,089 0,374
PCSI 0,130 0,199
Gordura Periférica 0,130 0,198
Gordura central 0,115 0,256
% gordura ** 0,036 0,721
PAS** 0,002 0,982
PAD -0,109 0,283
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; Peso MM= Peso Massa Magra;
PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica
% gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, p < 0,05
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas, p < 0,05
** variáveis com distribuição normal
* resultado estatisticamente significante
Conforme se observa na Tabela 32, a única correlação estatisticamente
significante entre as variáveis ocorre entre peso ao nascer e peso na idade adulta.
Da mesma forma, de acordo com a análise das variáveis antropométricas na vida
adulta, segundo peso ao nascer, não houve diferenças estatisticamente significantes
entre essas variáveis (Tabela 33).
115
Tabela 33: Variáveis antropométrica na vida adulta, segundo peso ao nascer
Variáveis Peso ao nascer (g)
Vida Adulta < 3000 3000-4000 > 4000 p
Peso ( kg) 67,0 73,4 82,4 0,067
Estatura (cm)** 173,3 + 5,0 175,7 + 6,3 177,5 + 5,7 0,228
IMC (kg/m
2
) 22,9 23,9 25,9 0,133
Gordura (kg) 15,8 16,8 19,5 0,182
MLG (kg)** 52,5 + 8,4 57,1 + 8,2 60,0 + 9,6 0,068
IMG (kg/m
2
) 5,4 5,6 6,0 0,347
IMLG (kg/m
2
)** 17,3 + 2,3 18,4 + 2,1 18,9 + 1,3 0,154
CC ( cm) ** 80,8 + 8,6 85,6 + 11,0 89,5 + 7,2 0,126
CQ (cm) 99,0 102,0 104,0 0,249
RCQ 0,82 0,82 0,84 0,129
PCB (mm) 9,0 9,5 10,0 0,436
PCT (mm) 13,0 13,0 16,0 0,352
PCSE (mm) 16,0 18,0 21,0 0,161
PCSI (mm) 19,0 21,0 23,0 0,175
Gordura periférica
(PCB + PCT) (mm)
22,0 26,0 29,0 0,384
Gordura central
(PCSE + PCSI) (mm)
36,0 40,0 45,0 0,135
% gordura corporal ** 23,3 27,3 25,5 0,653
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ; MLG = massa livre de gordura
IMG = IMC de gordura; IMCLG = IMC livre de gordura; RCQ= Relação cintura/quadril;
PCB = prega cutânea bicipital ; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; PCSI= prega cutânea supra-iliaca,
% gordura= percentual de gordura corporal
Análise de Variância = variáveis paramétricas
Kruskal Wallis = variáveis não paramétricas
** variáveis com distribuição normal: dados apresentados em média e desvio padrão
Variáveis sem distribuição normal: dados apresentados em mediana
Na Guatemala, Li et al. (2003) observaram associação positiva entre o peso de
nascimento e a altura, peso e massa livre de gordura de adultos jovens (21 a 26 anos).
Em estudo longitudinal, BARKER et al. (2002) analisaram mais de 13.000
indivíduos em três fases da vida: ao nascer (dados de registros do hospital), na infância
(dados obtidos em questionário aplicado aos adultos) e na vida adulta. Encontraram que
o baixo peso ao nascer, combinado com ganho de peso acelerado na infância e
adolescência, é um fator preditivo da incidência de doenças cardíacas e hipertensão na
vida adulta.
O pequeno número amostral de indivíduos nascidos com baixo peso (<2500g, n=
3) e nascidos com peso aumentado (> 4000 g, n =7) pode ter desfavorecido a análise das
correlações com as demais variáveis.
116
STETTLER et al. (2003), tentando identificar fatores de risco, presentes ao
nascer, para adiposidade em adultos da população afro-americana, não encontraram
correlação entre peso ao nascer e adiposidade.
Considerando este e outros estudos, a análise de correlação apresentada acima
poderia ser uma confirmação desta não relação, que vem sendo mencionada por outros
estudiosos.
Entretanto a análise da relação do comprimento ao nascer, utilizando-se as
mesmas variáveis da vida adulta, mostra uma correlação positiva, estatisticamente,
significante embora fraca, com peso, IMC, gordura corporal, IMCG, CC, RCQ, PCB,
PCT, PCSE, PCSI, gordura periférica, gordura central e percentual de gordura corporal
(Tabela 34).
Tabela 34 - Correlações entre comprimento ao nascer e antropometria
na vida adulta
Variável
ao nascer
Variáveis
vida adulta
r p
Peso (kg)
0,265
0,007*
Estatura (cm)** 0,146 0,148
IMC (kg/m
2
)
0,236
0,018*
Gordura (kg) 0,325 0,001*
MLG (kg)** 0,066 0,512
IMCG (kg/m
2
) 0,256 0,007
IMCLG (kg/m
2
)** 0,119 0,237
CC (cm) **
0,249
0,012*
CQ (cm)
0,205
0,040*
RCQ
0,248
0,012*
Comprimento PCB (mm)
0,214
0,003*
PCT (mm)
0,245
0,014*
PCSE (mm)
0,282
0,004*
PCSI (mm)
0,259
0,009*
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
0,244
0,014*
Gordura central (PCSE + PCSI)
(mm)
0,306
0,002*
% gordura corporal **
0,294
0,003*
PAS** -0,017 0,860
PAD -0,026 0,793
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ; MLG = massa livre de gordura;
IMG = IMC de gordura; IMCLG = IMC livre de gordura; RCQ= Relação cintura/quadril;
PCB = prega cutânea bicipital ; PCT= Prega cutânea tricipital; PCSE = Prega cutânea sub-escapular;
PCSI= prega cutânea supra- iliaca, % gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas; Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas
* resultados estatisticamente significantes; ** variáveis com distribuição normal
Diferente do peso, as alterações do comprimento ao nascer demoram mais a se
manifestar, de forma que os déficits refletem agravos nutricionais a longo prazo, sendo
uma medida de grande importância no diagnóstico da desnutrição intra-uterina
117
(ACCIOLY et al., 2003). Na Tabela 34, observa-se que maior comprimento ao nascer
está associado ao peso, IMC, gordura corporal (kg), IMCG, CC, RCQ, PCB, PCT,
PCSE, PCSI, gordura periférica, gordura central e percentual de gordura corporal
maiores, quando o indivíduo atinge a fase adulta.
A escassez de estudos que investigam o comprimento ao nascer isoladamente
como fator de risco para desenvolvimento de alterações metabólicas e doenças futuras,
dificulta a discussão dos resultados. Em uma analise mais aprofundada, foram
analisadas todas correlações significantes segundo comprimento ao nascer (Tabela 35).
Tabela 35: Valores médios ou medianos de peso, IMC, CC, RCQ, percentual de gordura corporal
PCSE e peso de gordura na vida adulta, segundo comprimento ao nascer
Variáveis COMPRIMENTO (cm)
vida adulta < p 5
< 46 cm
Grupo 1
> p 5 e < 50
> 46 e < 50
Grupo 2
> p 50
> 50 cm
Grupo 3
p
Peso ( kg) 64,2 69,5 75,0 0,014*a
Estatura** 173,6 + 3,5 172,0 + 6,0 172,7 + 6,3 0,685
IMC 20,3 23,0 24,4 0,049* a
Gordura (kg) 12,3 15,9 19,2 0,003*a
MLG** 51,3 + 0,8 55,9 + 8,6 57,8 + 8,5 0,077
IMCG 3,8 5,3 5,9 0,019*
b
IMCLG** 16,5 + 0,9 18,3 + 2,4 18,2 + 1,9 0,049*
b
CC ( cm) ** 72,0 + 4,3 73,9 + 7,5 77,5 + 9,1 0,915
CQ ( cm) 75,3 84,0 87,3 0,086
RCQ 0,78 0,81 0,84 0,029 * a
PTB 8,0 10,0 12,0 0,042*
a
PCT 12,0 13,5 17,0 0,030*
a
PCSE 19,0 19,0 22,0 0,045* a
PCSI 11,0 17,0 20,0 0,026*
a
Gordura periférica 20,0 22,0 29,0 0,023*
a
Gordura central 30,0 36,0 44,0 0,015*a
% gordura corporal ** 18,9 + 3,8 23,0 + 6,0 25,1 + 4,2 0,047 *
b
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ; MLG = massa livre de gordura; IMG = IMC de gordura;
IMCLG = IMC livre de gordura; RCQ= Relação cintura/quadril; PCB = prega cutânea bicipital ; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; PCSI= prega cutânea supra-iliaca, % gordura= percentual de gordura
Análise de Variância = variáveis paramétricas, p < 0,05; Kruskal Wallis = variáveis não paramétricas, p < 0,05
** variáveis com distribuição normal
a
Teste de comparação = Dunn’s ;
b
Teste de comparação = Tuckey
Peso: grupo 3> grupo 2 e grupo1; IMC: grupo 2 > grupo1 e grupo 3> grupo 1; Gordura: grupo 3 > grupo 2 > grupo 1; IMCG:
grupo 3>grupo1; RCQ: grupo 3 > grupo 2 > grupo 1; PCB: grupo 3 > grupo 2 > grupo 1; PCT grupo 3 > grupo 2 > grupo 1; PCSE:
grupo 3 > grupo 2 > grupo 1, PCSI: grupo 3 > grupo 2 > grupo 1, Gorudura Perifèrica: grupo 3 > grupo 2 > grupo 1, Gordura
central: grupo 3 > grupo 2 > grupo 1. % gordura: grupo 3 > grupo 2 > grupo 1
118
Observa-se que os recém-nascidos, que apresentavam comprimento ao nascer
superior a 50 cm - valor correspondente ao percentil 50, de acordo com índice
comprimento/idade da curva proposta pelo CDC (2000) - apresentaram peso, IMC,
RCQ, percentual de gordura corporal, PCES e peso de gordura, estatisticamente,
superiores aos demais. No entanto não foi encontrado Risco Relativo significante para
nenhuma das variáveis.
Quando isolados, os dados de peso e comprimento ao nascer não possibilitam a
integral do tamanho corporal do recém-nascido. Entretanto, sua análise conjunta permite
avaliar a proporcionalidade corporal do recém-nascido e, consequentemente, julgar a
existência ou não de algum retardo no crescimento intra-uterino. Baseado nesta análise,
obteve-se a proporcionalidade corporal do recém nascido como fator de risco para o
estado nutricional na vida adulta.
O índice de crescimento de Roher (IR) foi utilizado neste trabalho para avaliação
da relação entre peso e comprimento ao nascer. Este índice é calculado em função do
peso (g) pelo comprimento (cm) ao cubo, fornecendo uma visão de proporcionalidade
corporal de todos os recém-nascidos, com e sem retardo do crescimento intra-uterino
(BRAGA & LIMA, 2002; FILHO & LIRA, 2003).
Neste trabalho, encontrou-se correlação inversa e, estatisticamente, significante
entre o Índice de Crescimento de Roher e o percentual de gordura corporal na vida
adulta. Isto significa que, na população estudada, quanto maior a proporcionalidade
corporal ao nascer, menor a quantidade de gordura corpórea na vida adulta (Tabela 36).
119
Tabela 36 – Correlações entre índice de crescimento e antropometria na
vida adulta
Variável
ao nascer
Variáveis
vida adulta
r p
Peso 0,007 0,942
Estatura ** -0,022 0,827
IMC -0,048 0,635
Gordura (kg) -0,142 0,158
MLG** 0,127 0,208
IMCG -0,198 0,060
IMCLG** 0,060 0,549
CC ** -0,059 0,560
CQ 0,075 0,455
RCQ 0,003 0,972
IR ** PCB -0,094 0,350
PCT - 0,126 0,213
PCSE -0,151 0,135
PCSI -0,117 0,246
Gordura periférica -0,121 0,231
Gordura central -0,140 0,164
% gordura corporal **
- 0,314
0,001*
PAS** 0,010 0,915
PAD -0,005 0,956
IR= Índice de crescimento de Roher
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; Peso MM= Peso Massa Magra;
PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica
% gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
Esta relação foi observada por VELDE et al. (2003), em estudo envolvendo 229
indivíduos com idade entre 27 e 36 anos, segundo condições de nascimento e
encontraram que o crescimento intra-uterino se correlacionou de forma negativa com a
RCQ. Além disso, observou-se também tendência negativa de relação entre crescimento
intra-uterino e gordura corporal na vida aulta.
Confirmando a correlação encontrada, foram observados valores médios
superiores de percentual de gordura corporal para os indivíduos classificados pelo IR,
com retardo no crescimento intra-uterino (Tabela 37) enquanto a análise do Risco
Relativo revelou que os recém-nascidos, com retardo do crescimento, têm
probabilidade duas vezes maior de apresentarem percentual de gordura elevada na vida
adulta (RR = 2,00; IC= 1,07 – 3,73).
120
Tabela 37- Percentual de gordura corporal segundo Índice de Roher
Variáveis Índice de Roher**
vida adulta < 2,2 g/cm
3
GRUPO 1
2,2-3,0 g/cm
3
GRUPO 2
> 3,0 g/cm
3
GRUPO 3
p
Peso ( kg) 73,5 73,0 76,9 0,822
Estatura (cm)** 173,5 + 5,2 175,2 + 6,2 179,8 + 2,2 0,177
IMC (kg/m
2
) 25,0 23,9 23,2 0,338
Gordura (kg) 22,7 16,8 16,9 0,181
MLG (kg)** 53,8 + 8,1 56,5 + 8,7 57,9 + 6,4 0,797
IMCG (kg/m
2
) 7,0 5,5 5,0 0,125
IMCLG (kg/m
2
)** 17,7 + 1,6 18,3 + 2,2 17,8 + 1,8 0,826
CC ( cm) ** 91,3 + 8,0 85,0 + 10,6 83,0 + 11,3 0,534
CQ ( cm) 112,0 101,0 102,0 0,247
RCQ 0,83 0,82 0,82 0,807
PTB (mm) 14,0 10,0 7,5 0,358
PCT (mm) 22,0 15,0 10,5 0,112
PCSE (mm) 26,0 21,0 15,5 0,052
PCSI (mm) 18,0 18,0 11,0 0,331
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
38,0 16,0 28,0 0,171
Gordura central (PCSE + PCSI)
(mm)
44,0 40,0 26,5 0,146
% gordura corporal ** 31,2 + 3,6 23,8 + 5,0 20,1 + 8,0 0,014*b
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ; MLG = massa livre de gordura
IMG = IMC de gordura; IMCLG = IMC livre de gordura; RCQ= Relação cintura/quadril;
PCB = prega cutânea bicipital ; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; PCSI= prega cutânea supra-iliaca,
% gordura= percentual de gordura corporal
Análise de Variância = variáveis paramétricas, p < 0,05
Kruskal Wallis = variáveis não paramétricas, p < 0,05
** variáveis com distribuição normal
b
Teste de comparação = Tuckey grupo 1 > grupo 1 > 3
Uma vez que o retardo do crescimento intra-uterino reflete-se diretamente na
estatura futura dos indivíduos, a relação retardo do crescimento intra-uterino e posterior
acúmulo de gordura corporal tem sido mencionada na literatura, em relação a este
déficit estatural. Em estudo prospectivo SAWAYA et al. (1998) encontrou que
adolescentes com déficit estatural apresentaram maior ganho em peso/estatura do que
aqueles com estatura normal, quando submetidos à ingestão de dieta rica em gordura .
SICHIERI et al. (2000) apresentaram resultados, confirmando a relação entre déficit
estatural na infância e maior gordura abdominal em adultos.
121
MARTINS et al. (2004), estudaram adolescentes residentes em favela em São
Paulo, com o objetivo de investigar as mudanças de composição corporal entre
indivíduos com déficit de estatura e testar a hipótese de acúmulo de gordura corporal,
como conseqüência da desnutrição no início da vida. Os autores encontraram que os
adolescentes do sexo masculino com déficit estatural apresentaram maior acúmulo de
gordura e ganharam menos massa massa livre de gordura, comparativamente ao grupo
com estatura adequada.
Em relação à influência da idade gestacional (IG), a análise de correlação
(Tabela 38) mostra que esta esteve correlacionada com quase todas as variáveis
investigadas, tendo sido observado que a correlação mais forte ocorreu entre o tempo de
gestação e o peso de gordura corporal (kg).
De forma consensual na literatura, a prematuridade, especialmente os
prematuros extremos, tendem a apresentar proporções corporais inferiores, o que
justifica as correlações encontradas entre idade gestacional e variáveis antropométricas,
descritas na Tabela 38.
122
Tabela 38 - Correlações entre idade gestacional e antropometria na vida adulta
Variável
ao nascer
Variáveis
vida adulta
r p
Peso (kg)
0,274
0,005*
Estatura (cm) 0,157 0,119
IMC (kg/m
2
)
0,240
0,016*
Gordura (kg)
0,332
<0,001*
MLG (kg)** 0,068 0,497
IMCG (kg/m
2
)
0,269
0,007*
IMCLG (kg/m
2
)** 0,120 0,233
CC (cm)**
0,250
0,012*
CQ (cm)
0,213
0,033*
RCQ
0,245
0,014*
IG PCB (mm)
0,209
0,037*
PCT (mm)
0,242
0,015*
PCSE (mm)
0,282
0,004*
PCSI (mm)
0,261
0,008*
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
-0,068 0,497
Gordura central (PCSE + PCSI)
(mm)
0,307
<0,001*
% gordura corporal **
0,294
0,003*
PAS** 0,017 0,860
PAD 0,018 0,853
IG= Idade Gestacional
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; Peso MM= Peso Massa Magra;
PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica
% gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, p < 0,05
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
No entanto, conforme discutido anteriormente, a prematuridade só tem sido
apresentada como fator de risco para doenças futuras se estiver associada ao retardo no
crescimento intra-uterino.
Segundo RUGOLO (2005), a expectativa é que ocorra aceleração máxima do
crescimento entre 36 e 40 semanas de idade pós-concepção e que os recém nascidos
pré-termo, em sua maioria, apresentem catch-up, atingindo seu canal de crescimento,
entre os percentis de normalidade nas curvas de referência, até 2-3 anos de idade. Esta
evolução é confirmada na análise dos valores médios das variáveis antropométrica na
vida adulta, segundo idade gestacional (Tabela 39). Como pode ser visto a diferença
estatisticamente significante entre os valores médios, foi observada apenas para
circunferência do quadril e peso de gordura, sendo os valores superiores para nascidos
com mais de 42 semanas de gestação. Não houve diferença significante entre nenhuma
outra variável analisada.
123
Tabela 39 - Valores médios ou medianos de peso, IMC, CC, CQ RCQ, percentual de gordura
corporal, PCT, PCSE e peso de gordura na vida adulta, segundo idade gestacional
Variáveis IDAGE GESTACIONAL ( semanas)
Vida Adulta < 37 semanas
Grupo 1
37-42 semanas
Grupo 2
> 42 semanas
Grupo 3
p
Peso ( kg) 64,2 73,1 82,6 0,076
Estatura (cm)** 176,0 + 3,9 175,1 + 5,7 179,3 + 9,0 0,173
IMC (kg/m
2
) 20,3 23,9 24,9 0,094
Gordura (kg) 12,3 16,8 21,1
0,018*a
MLG (kg)** 51,8 55,9 62,6 0,260
IMCG (kg/m
2
) 3,90 5,8 6,6 0,161
IMLG (kg/m
2
)** 16,2 + 18,4 + 18,6 + 0,257
CC ( cm) ** 75,3 + 84,9 + 91,1 + 0,075
CQ (cm) 96,0 101,0 107,0 0,018*a
RCQ 0,780 0,820 0,825 0,238
PCB (mm) 8,0 10,0 11,0 0,154
PCT (mm) 12,0 15,0 15,5 0,475
PCSE (mm) 19,0 20,0 24,0 0,126
PCSI (mm) 11,0 18,0 19,5 0,087
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
20,0 26,0 27,5 0,271
Gordura central
(PCSE + PCSI)
(mm)
30,0 38,0 44,5 0,123
% gordura corporal ** 18,9 + 23,7 + 26,5 + 0,952
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT = prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular
% gordura= percentual de gordura corporal
Análise de Variância = variáveis paramétricas, p < 0,05
Kruskal Wallis = variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
a
Teste de comparação = Dunn’s
Gordura (kg) : grupo 3 > grupo 1 e grupo 3 > grupo 2
CQ: grupo 3 > grupo 1 e grupo 3 > grupo 2
Em relação à pressão arterial, esta não apresentou correlação significante com
nenhuma das variáveis investigadas ao nascer. LAW & SHIELL (1996), em revisão de
34 trabalhos sobre a pressão arterial em adultos, encontraram relação inversa entre
pressão arterial e peso ao nascer. Concluíram também que a tendência de aumento da
tensão arterial, em indivíduos que nasceram de baixo peso, parece estar mais associada
aos que nasceram pequenos para idade gestacional, que provavelmente sofreram retardo
no crescimento intra-uterino (RCIU), do que aos prematuros.
124
No entanto, a associação entre condições de nascimento e hipertensão na vida
adulta para alguns não é clara e consistente (OPAS, 2003)
Por outro lado, em um estudo holandês, a relação entre a pressão sanguínea em
adultos e o peso ao nascer foi relatada como não linear, ou seja, os riscos foram
encontrados em crianças com baixo peso ao nascimento e naquelas nascidas com mais
de 3700g (LAUNER et al., 1993).
Além disso, não se pode desconsiderar o efeito do IMC no adulto sobre a
pressão sanguínea. Estudo sueco mostrou que o atraso do crescimento no útero está
associado ao aumento da pressão arterial, somente, em pessoas que apresentaram
excesso de peso aos cinqüenta anos. Isto levanta a hipótese que fatores relacionados ao
sobrepeso ao longo da vida podem potencializar o risco. Portanto, é necessário cautela
quanto a qualquer afirmação neste sentido, pois muitos estudos são ainda necessários
para se conhecer o real efeito das condições de nascimento sobre as alterações na
pressão arterial dos indivíduos.
Nenhum resultado estatisticamente significante foi observado, também, no que
se refere à análise da influência das condições ao nascer sobre variáveis bioquímicas,
investigadas nos mesmos indivíduos, quando adultos (Tabela 40).
125
Tabela 40 - Correlações entre variáveis ao nascer e alguns parâmetros
bioquímicos dos indivíduos adultos
Variável
ao nascer
Variáveis
Vida Adulta
r p
Gliciemia 0,009 0,922
Peso ao nascer** Colesterol** 0,033 0,738
LDL** 0,014 0,885
HDL** - 0,017 0,861
VLDL -0,093 0,356
COL/HDL -0,165 0,100
LDL/HDL -0,166 0,100
TG 0,079 0,435
Gliciemia 0,025 0,805
Comprimento Colesterol** 0,094 0,351
LDL** 0,068 0,496
HDL** -0,084 0,406
VLDL 0,136 0,177
COL/HDL 0,125 0,216
LDL/HDL 0,110 0,279
TG 0,129 0,200
Gliciemia 0,061 0,547
IG Colesterol** 0,093 0,357
LDL** 0,068 0,496
HDL** - 0,085 0,397
VLDL 0,127 0,218
COL/HDL 0,129 0,200
LDL/HDL 0,116 0,254
TG 0,156 0,122
Gliciemia -0,008 0,935
Colesterol** - 0,128 0,205
IR** LDL** -0,122 0,228
HDL** 0,041 0,681
VLDL -0,062 0,536
COL/HDL -0,103 0,307
LDL/HDL -0,124 0,223
TG -0,063 0,530
IG= Idade Gestacional; IR= Índice de crescimento de Roher
TG= Triglicerídeo
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas
** variáveis com distribuição normal
* resultado estatisticamente significante
Embora estudos tenham mostrado correlação entre a intolerância à glicose em
adultos com o crescimento fetal (CIANFARANI et al., 1999; BARKER et al., 1993;
YAJANIK, 2004), ainda se investiga o elo existente entre estes fenômenos. Na amostra
em estudo, não foi encontrado nenhum indivíduo com glicemia alterada e nenhuma
correlação desta com as condições de nascimento.
126
Quanto ao efeito da deficiência do crescimento fetal nas dislipidemias, ainda é
pouco estudado, não tendo sido encontrado mecanismo biológico consistente, que
explique esta associação. A não-associação observada, de certa forma era esperada.
Investigações neste sentido indicam que os indivíduos, que apresentam pequena
circunferência abdominal ao nascer (indicativo de crescimento insuficiente), tendem a
ter concentrações séricas mais elevadas de colesterol total, LDL (low density lipoprotein
- lipoproteína de baixa densidade), apolipoproteínas B e fibrinogênio (GODFREY &
BARKER, 2000; SCHROEDER & MARTORELL, 2000). Esta análise não pode ser
realizada no presente estudo, visto não ter sido encontradas medidas de circunferência
abdominal nos registros hospitalares.
Como análise final da influência da situação ao nascer, sobre o estado
nutricional na vida adulta, investigou-se a prevalência de fatores de risco (percentual de
gordura aumentado, IMC > 25 kg/m
2
, CC, RCQ, colesterol, LDL, VLDL, TG, relação
colesterol/HDL, LDL/LDL, pressão arterial aumentado e HDL reduzido) na vida adulta
de acordo com o peso ao nascer (gráficos 4 e 5).
Gráfico 4- Prevalência de fatores de risco na vida adulta, entre indivíduos que
apresentavam peso ao nascer inferior a 3000g
41,1
17,6
12,5
0
29,4
5,8
41,1
23,5
47
11,7
35,3
70,5
Peso inferior a 3000g considerado risco (exposição) na análise de x
2
Peso inferior a 3000g (n = 17)
a = % gordura > 25; b = IMC > 25 kg/m
2
; c = CC > 94 cm ; d = RCQ > 1,0
;
e = Colesterol > 200 mg/dL; f = Triglicerideo > 150 mg/dL; g = LDL > 130 md/dL;
h = glicemia > 100 mg/dL ; i = HDL < 40 mg/dL; j = Col/HDL > 5, 8 mg/dL
l = LDL/HDL = > 3,8; m = pressão arterial > 130 ou > 85 mmgHg
a c d f e b j i h l m g
%
127
Gráfico 5 - Prevalência de fatores de risco na vida adulta, entre indivíduos
que apresentavam peso ao nascer superior ou igual a 3000g
38,5
91,5
22,8
2,4
25,3
12
46,9
18
65
30
27,7
53
As maiores prevalências observadas foram de pressão arterial aumentada e HDL
reduzido, para ambos os grupos.
Nas análises de qui-quadrado, o peso inferior a 3000g foi considerado como
risco (exposição), não tendo sido encontrado nenhum resultado estatisticamente
significante (a: x
2
=0,04; p = 0,839; b: x
2
=0,139; p = 0,139; c: x
2
=1,05; p = 0,304; d:
x
2
=0,42 ; p = 0,517; e: x
2
=0,12; p = 0,724; f: x
2
=0,55; p = 0,459; g: x
2
=0,06; p =
0,811; h: x
2
=0,27; p = 0,601; i: x
2
=1,94; p = 0,163; j: x
2
=2,,41; p = 0,120; l: x
2
=0,39; p = 0,530; m: x
2
=1,77; p = 0,18).
Embora a relação entre condições intra-uterinas e suas conseqüências a longo
prazo pareça definida para alguns autores, neste trabalho ainda permanecem algumas
incertezas. É muito importante a continuidade de estudos, que relacionem as condições
de nascimento à maioridade, a fim de elucidar os questionamentos existentes quanto a
esta relação e fornecer informações, que possam contribuir para a implantação de
medidas que visem e sejam direcionadas para maior qualidade de vida da população.
g a b c d e f h i j l m
%
a = % gordura > 25; b = IMC > 25 kg/m
2
; c = CC > 94 cm ; d = RCQ > 1,0
;
e = Colesterol > 200 mg/dL; f = Triglicerideo > 150 mg/dL; g = LDL > 130 md/dL;
h = glicemia > 100 mg/dL ; i = HDL < 40 mg/dL; j = Col/HDL > 5, 8 mg/dL
l = LDL/HDL = > 3,8; m = pressão arterial > 130 ou > 85 mmgHg
128
5.3.3. Influência do estado nutricional no final da adolescência sobre a vida
adulta
Mudanças observadas nos hábitos de vida da população têm favorecido o
aparecimento de vários problemas como a obesidade, doenças cardiovasculares, câncer e
outras enfermidades crônico-degenerativas não transmissíveis (MONDINI &
MONTEIRO, 1998; WHO, 1997; BARRETO et al., 2005).
A transição nutricional ocorrida em diferentes países é decorrente de mudanças
nos estilos de vida, como aumento no consumo de alimentos mais ricos em gorduras,
açúcares e alimentos refinados, aliado ao declínio progressivo da atividade física dos
indivíduos, promovendo assim, alterações concomitantes na composição corporal
(PRATA, 1992; MODINI & MONTEIRO, 1998; FRANCISCHI et al., 2000).
Quanto mais prevalente se torna a obesidade, maior é o estímulo para
investigação de grupos populacionais vulneráveis ao problema, no sentido de levantar
hipóteses relacionadas à determinação desta enfermidade e investir em sua prevenção.
Um desses grupos é o de adolescentes que, quando obesos, apresentam grande
probabilidade de se tornar em adultos com excesso de peso corporal (FONSECA,
1998).
Em estudo de coorte, WRIGTH et al. (2001) investigaram o excesso de peso na
infância e adolescência (entre 9 e 13 anos de idade) como fator de risco para obesidade
futura e encontraram correlação positiva entre o IMC nesta faixa etária e o IMC
alcançado pelos indivíduos aos 50 anos ( r= 0,24; p<0,001).
A prevalência mundial de obesidade na infância e adolescência, acompanhando
o processo de transição nutricional, também, vem apresentando crescente e rápido
aumento. A associação da obesidade com alterações metabólicas, como dislipidemia,
hipertensão arterial, intolerância à glicose e as doenças cardiovasculares, que alguns
anos, eram mais evidentes em adultos, podem ser observadas freqüentemente em
faixas etárias mais jovens (STYNE, 2001; OLIVEIRA et al., 2004). Nos Estados
Unidos, a obesidade é considerada o distúrbio nutricional mais prevalente em
crianças e adolescentes (DIETZ, 2006).
No Brasil, segundo análise dos dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e
Nutrição (PNSN-1989), NEUTZLING et al. (2000), encontraram prevalência de 7,6%
de sobrepeso em adolescentes. WANG et al. (2002), comparando os dados do Estudo
Nacional da Despesa Familiar (ENDEF), realizado em 1974/75, com aqueles da
Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV) realizada em 1996/97, somente nas regiões
129
Sudeste e Nordeste, verificou aumento na prevalência de sobrepeso e obesidade de 4,1%
para 13,9%, em crianças e adolescentes de 6 a 18 anos.
Estudos isolados, realizados em algumas cidades brasileiras confirmam a alta
prevalência do sobrepeso/ obesidade. Em estudo realizado em Pelotas, MONTEIRO et
al. (2003) relatam prevalência de sobrepeso em 20,9% dos adolescentes do sexo
masculino e 20,0% no sexo feminino, enquanto em Recife, as prevalências de sobrepeso
e obesidade foram de 22,6% e 11,3%, respectivamente, entre os escolares avaliados por
BALABAN (2001).
O início da adolescência tem sido apontado como um dos momentos críticos
para o estabelecimento da obesidade, tendo em vista o aumento de gordura e mas do
próprio número de células, que ocorre nesta fase (MULLER,2003).
Adolescentes obesos provavelmente permanecerão acima do peso na idade
adulta, estando mais sujeitos ao desenvolvimento das diversas complicações clínico-
metabólicas encontradas em adultos obesos.
Além disso, adolescentes obesos apresentam fatores de risco clínico-
metabólicos para desenvolvimento da síndrome de resistência à insulina, antes mesmo
de atingir a maturidade, visto que o excesso de peso corporal predispõe à elevação dos
níveis séricos de VLDL, LDL, TG e diminuição de HDL, assim como níveis elevados
de pressão arterial sistólica e diastólica (CARNEIRO et al., 2000; DIETZ, 2006).
Sendo assim, por anteceder de imediato a idade adulta, a adolescência pode ser
considerada um período de grande importância para que se estabeleçam intervenções,
que possam modificar riscos futuros (CARNEIRO et al. 2000).
Com a intenção de investigar a influência do estado nutricional na adolescência
sobre a situação nutricional atual dos indivíduos quando adultos, nesta parte do capítulo
serão apresentados os resultados e discussões, encontrados a partir da análise da
população em estudo.
A Tabela 41 apresenta os resultados da análise de correlação entre o peso no
final da adolescência e variáveis antropométricas e de composição corporal, aferidos
dos mesmos indivíduos adultos. Verificou-se correlação positiva, estatisticamente
significante para todas as variáveis, exceto a pressão arterial diastólica.
130
Tabela 41 - Correlações entre peso na adolescência e variáveis antropométricas,
de composição corporal e pressão arterial na vida adulta
Variável
na adolescência
Variáveis
Vida Adulta
r p
Peso (kg)
0,777
< 0,001*
Estatura (cm) **
0,445
< 0,001*
IMC (kg/m
2
)
0,670
< 0,001*
Gordura (kg)
0,566
< 0,001*
MLG (kg)**
0,721
< 0,001*
IMCG (kg/m
2
)
0,466
< 0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,682
< 0,001*
CC (cm)**
0,572
< 0,001*
CQ (cm)
0,573
< 0,001*
RCQ
0,353
< 0,001*
PESO (kg) PCB (mm)
0,453
< 0,001*
PCT (mm)
0,336
< 0,001*
PCSE (mm)
0,359
< 0,001*
PCSI (mm)
0,349
< 0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
0,416
< 0,001*
Gordura central (PCSI + PCSE)
(mm)
0,386
< 0,001*
% gordura corporal **
0,569
< 0,001*
PAS**
0,247
0,013*
PAD -0,003 0,972
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; Peso MM= Peso Massa Magra;
PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica
% gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, p < 0,05
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
A principal conseqüência a longo prazo do estado nutricional dos adolescentes,
relatadas na literatura, diz refere-se ao excesso de peso que tende a persistir na vida
adulta, contribuindo significativamente para morbi-mortalidade (MUST & STRAUSS,
1999).
Na Tabela 42, é apresentado o resultado da análise das mesmas variáveis na vida
adulta, agora segundo correlação com a estatura na adolescência.
131
Tabela 42 - Correlações entre estatura na adolescência e variáveis antropométricas,
de composição corporal e de pressão arterial na vida adulta
Variável
Na adolescência
Variáveis
Vida Adulta
r
p
Peso (kg)
0,449
< 0,001*
Estatura (cm) **
0,262
0,008 *
IMC (kg/m
2
) 0,109
0,281
Gordura (kg)
0,265
0,007*
MLG (kg)**
0,429
< 0,001*
IMCG (kg/m
2
) 0,038
0,698
IMCLG (kg/m
2
)** 0,176
0,079
CC (cm)**
0,236
0,018*
CQ (cm) -0,061
0,545
RCQ 0,019
0,849
ESTATURA (cm)** PCB (mm) 0,047
0,638
PCT (mm) -0,023
0,814
PCSE (mm) 0,061
0,544
PCSI (mm) -0,045
0,649
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
0,001
0,985
Gordura central (PCSI + PCSE)
(mm)
0,016
0,872
% gordura corporal ** -0,071
0,483
PAS**
0,226
0,023*
PAD 0,103
0,310
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; Peso MM= Peso Massa Magra;
PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica
% gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, p < 0,05
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
Os resultados disponíveis na literatura têm indicado relação entre baixa estatura
na infância e adolescência e risco de obesidade futura (SAWAYA & ROBERTS, 2003;
MARTINS et al., 2004). Entretanto, no presente trabalho, esta associação não foi
encontrada.
No presente trabalho, como observado para o peso, as correlações
estatisticamente observadas entre estatura na adolescência e variáveis na vida adulta
foram todas positivas. Outra análise sobre relação entre estatura na adolescência e
conseqüências futuras (Tabela 43) mostra que aqueles com déficit estatural na
adolescência, ou seja, estatura abaixo do percentil 5 da curva do CDC (2000), segundo
índice de estatura para idade, apresentaram na vida adulta valores inferiores,
estatisticamente significante, de estatura e massa livre de gordura (MLG) .
132
Tabela 43: Valores médios ou medianos de variáveis na vida adulta segundo estatura na
adolescência
Variáveis Estatura adolescência
Vida adulta < P 5 > P 5 p
Peso (kg) 62,2 73,6 0,098
Estatura (cm)** 168,1 + 3,8 176,3 + 5,7 <0,001*
IMC (kg/m
2
) 22,1 24,0 0,765
Gordura (kg) 15,3 17,3 0,480
MLG (kg)** 51,5 + 9,9 57,1 + 8,2
0,047*
IMCG (kg/m
2
) 5,3 5,6 0,886
IMCLG (kg/m
2
)** 17,9 18,3 0,823
CC (cm)** 85,4 + 11,3 85,0 + 10,5 0,930
CQ (cm) 97,0 102,0 0,280
RCQ 0,84 0,82 0,244
PCB (mm) 10,5 10,0 0,859
PCT (mm) 15,0 15,0 0,950
PCSE (mm) 20,0 17,5 0,283
PCSI (mm) 22,0 20,0 0,163
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
26,0 26,0 0,945
Gordura central (PCSE + PCSI) 40,5 37,5 0,278
% gordura corporal ** 24,7 + 4,0 23,7 + 5,5 0,586
PAS** 126,6 + 12,8 130,8 + 13,3 0,343
PAD 78,5 76,0 0,954
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT = prega cutânea tricipital;
Teste t student = variáveis paramétricas, p < 0,05 b = teste de comparação: Tuckey
Mann Whitney= variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
Apesar das correlações observadas entre o peso e estatura na adolescência e as
variáveis na vida adulta, poucos são os estudos que investigam a influência destas
variáveis, isoladamente. Esta análise tem sido realizada e discutida na literatura
científica, a partir do estado nutricional, representado pelo IMC e indicadores de
gordura corporal.
Como indicador do estado nutricional na adolescência, embora apresentando
importante variação com relação à idade e maturidade sexual, o IMC tem sido
considerado bom indicador de sobrepeso em adolescentes, apresentando importante
relação com medidas antropométricas futuras (FONSECA et al.; 1998).
Foram encontradas correlações positivas e significantes entre o IMC na
adolescência e as seguintes variáveis na vida adulta: peso (r = 0,634; p < 0,001); IMC (
r= 0,678; p<0,001); circunferência da cintura (r = 0,517; p < 0,001); circunferência
do quadril (r = 0,460; p < 0,001); RCQ (r = 0,403; p<0,001); percentual de gordura
133
corporal (0,353; p<0,001); prega cutânea tricipital (r = 0,346; p < 0,001); prega cutânea
subescapular (r = 0,368; p < 0,001); e peso gordura (r = 0,511; p < 0,001) (Tabela 44).
Tabela 44 - Correlações entre IMC na adolescência e variáveis antropometria
e de composição corporal na vida adulta
Variável
na adolescência
Variáveis
vida adulta
r p
Peso (kg)
0,634
< 0,001*
Estatura (cm) **
0,071 0,477
IMC (kg/m
2
)
0,678
< 0,001*
Gordura (kg)
0,511
< 0,001*
MLG (kg)**
0,565
< 0,001*
IMCG (kg/m
2
)
0,490
< 0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,725
< 0,001*
CC (cm)**
0,517
< 0,001*
CQ (cm)
0,460
< 0,001*
RCQ
0,403
< 0,001*
IMC (kg/m
2
) PCB (mm)
0,469
< 0,001*
PCT (mm)
0,346
< 0,001*
PCSE (mm)
0,368
< 0,001*
PCSI (mm)
0,383
< 0,001*
Gordura periférica
(PCB + PCT) (mm)
0,429
< 0,001*
Gordura central (PCSI
+ PCSE) (mm)
0,406
< 0,001*
% gordura corporal **
0,353
< 0,001*
PAS**
0,183 0,068
PAD
0,036 0,722
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; PCT= Prega cutânea tricipital;
PCSE = Prega cutânea sub-escapular; Peso MM= Peso Massa Magra;
PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica
% gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, p < 0,05
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
É importante ressaltar que, no final da adolescência, o IMC apresentou forte
correlação com o IMC alcançado na idade adulta, bem como correlacionou-se de forma
significante com todas as medidas antropométricas, que estimam o percentual de
gordura corporal total, e sua distribuição central, podendo este ser considerado fator de
risco para o excesso de peso e comorbidades associadas na vida adulta.
Em estudo de revisão, REILLY et al. (2003) apresentaram resultados de uma
coorte, em que foi encontrado que IMC > 25kg/m
2
aos 18 anos esteve associado com
aumento significativo da mortalidade, observada vinte anos mais tarde.
134
Certamente, análise da correlação entre o percentual de gordura na adolescência
sobre a mesma população anos depois, seria interessante. No entanto, o foi possível
realizar esta análise, visto não haver dados disponíveis sobre o percentual de gordura
corporal dos adolescentes no banco de dados investigados.
Para confirmar a correlação apresentada na Tabela 44, realizou-se análise das
variáveis, que apresentaram correlação estatisticamente significante com o IMC na
adolescência, segundo estado nutricional e obteve-se diferenças significantes entre todas
elas (Tabela 45).
Tabela 45 - Valores médios ou medianos de peso, IMC, CC, RCQ, percentual de gordura
corporal, peso de gordura e peso massa magra, na vida adulta, segundo
comprimento ao nascer
Variáveis IMC Adolescência
vida adulta Baixo peso Eutrofia Excesso de
peso
p
Peso (kg) 60,0 72,7 97,3
<0,001* a
Estatura (cm) ** 175,7 + 7,8 175,1 + 5,8 177,2 + 3,5
0,473
IMC (kg/m
2
) 19,4 23,9 31,0
<0,001* a
Gordura (kg) 11,8 16,8 28,8
<0,001* a
MLG (kg)** 48,9 + 7,7 55,2 + 8,3 67,7 +6,8
<0,001* b
IMCG (kg/m
2
) 3,7 5,6 9,4
<0,001*a
IMCLG (kg/m
2
)** 15,6 + 1,3 18,0 + 1,8 21,4 + 1,4
<0,001* b
CC (cm)** 76,4 + 6,3 83,8 + 8,9 100,2 + 9,1
<0,001* b
CQ (cm) 96,0 102,0 111,0
<0,001* a
RCQ 0,80 0,82 0,88
<0,001* b
PCB (mm) 6,0 10,0 16,5
<0,001* a
PCT (mm) 10,0 14,0 22,4
<0,001* a
PCSE (mm) 13,0 17,0 28,0
<0,001* a
PCSI (mm) 16,0 20,0 30,0
<0,001* a
Gordura periférica (PCB + PCT)
(mm)
17,0 25,0 39,0
<0,001* a
Gordura central (PCSI + PCSE)
(mm)
28,0 37,0 60,0
<0,001* a
% gordura corporal ** 18,0 + 23,7 + 30,0 +
<0,001* a
PAS** 123,5 + 16,3 130,0 + 13,1 137,7 + 8,9
<0,001* b
PAD 74,0 75,0 80,0
0,427
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ;
RCQ= Relação cintura/quadril; % gordura= percentual de gordura corporal
Peso MM = peso massa magra
Análise de Variância = variáveis paramétricas, p < 0,05
Kruskal Wallis = variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
a
Teste de comparação = Dun’s
b
Teste de comparação = Tuckey
Segundo análise apresentada na Tabela 45, adolescentes com excesso de peso
corporal apresentaram, na vida adulta, valores superiores estatisticamente significantes
135
de peso, IMC, CC, CQ, percentual de gordura corporal, peso de gordura e peso de
massa magra.
Outro resultado diz respeito à análise do Risco Relativo. Segundo esta análise,
os indivíduos, que na adolescência possuiam IMC acima do percentil 85 da curva de
IMC/ idade da curva do CDC (2000), apresentam risco 3,67 vezes maior de
apresentarem excesso de peso quando adulto (RR= 3,67; IC = 2,46 3,74); risco de
2,53 vezes maior de apresentarem percentual de gordura corporal aumentado (IC = 1,71
– 3,74) e 9,17 vezes mais chances de apresentarem CC aumentada ( IC = 4,52 – 18,6).
Outro estudo, realizado em 1997 por WHITAKER e colaboradores em
Washington, mostrou que após ajustamento para obesidade dos pais, adolescentes entre
15 e 17 anos apresentaram 17,5 vezes mais chances (OR 17,5; IC = 7,7-39,5; p<0,05) de
se tornarem adultos obesos (21- 29 anos).
A Tabela 46 apresenta a prevalência de baixo peso, eutrofia e excesso de peso
corporal na vida adulta dos avaliados no presente trabalho, de acordo com o IMC
apresentado pelos voluntários na adolescência . Entre aqueles que tinham um IMC para
idade abaixo do percentil 5 segundo curva CDC (2000), 88% encontravam-se eutróficos
na vida adulta. Entre os que apresentavam risco de sobrepeso (> P85 e < P 95) na
adolescência, 12,5% eram eutróficos, enquanto os demais (87,5%) apresentavam
excesso de peso corporal na vida adulta. Vale ressaltar ainda que todos os adolescentes
com sobrepeso ( > P 95) foram, mais tarde, encontrados com sobrepeso (75%) ou
obesos (25%) na vida adulta.
Tabela 46 - Prevalência de baixo peso, eutrofia e excesso de peso corporal, segundo IMC
apresentado no final da adolescência
ESTADO NUTRICIONAL VIDA ADULTA
Percentil IMC na
adolescência
Baixo peso
(%)
Eutrofia
(%)
Sobrepeso
(%)
Obesidade
(%)
< P 5 ( n = 9) 11,2 88,8 - -
> P 5 e < 50 ( n = 67) 1,4 73,1 22,3 2,9
>P 50 e < P 85 ( n = 12) - 66,6 33,4 -
> P 85 e < P 95 ( n = 8) - 12,5 12,5 75,0
> P 95 ( n = 4) - - 75,0 25,0
Esta associação tem sido descrita na literatura e reafirma a influência que o IMC
alcançado no final da adolescência pode exercer sobre o estado nutricional futuro. GUO,
et al. (2002), avaliando o IMC na infância e adolescência como preditor do
sobrepeso/obesidade na vida adulta, encontraram associação significante e positiva,
136
concluindo que aqueles que se encontram no percentil 95, na infância ou adolescência,
têm até 80% de probabilidade de manter o excesso de peso corporal na vida adulta.
A CC é forte indicador de obesidade abdominal, que por sua vez está
diretamente relacionada a importantes alterações metabólicas. Além disso, correlações
positivas entre CC e composição corporal em adolescentes tem sido comprovada na
literatura. No entanto, a falta de ponto de corte específico para o grupo dos
adolescentes dificulta a análise desta variável. Neste estudo, optou-se por utilizar o
ponto de corte proposto para a população adulta, visto que os indivíduos investigados
encontravam-se no final da adolescência.
Conforme Tabela 47, encontrou-se correlação estatisticamente significante entre
a CC e todas as demais variáveis, com exceção das pressões arteriais sistólica e
diastólica.
Tabela 47 - Correlações entre CC na adolescência e variáveis antropométricas,
de composição corporal e pressão arterial na vida adulta
Variável
na
adolescência
Variáveis
vida adulta
r p
Peso(kg)
0,551
< 0,001*
Estatura (cm)**
0,281
0,004*
IMC (kg/m
2
)
0,522
< 0,001*
Gordura (kg)
0,504
< 0,001*
MLG**
0,493
< 0,001*
IMCG (kg/m
2
)
0,551
< 0,001*
IMCLG (kg/m
2
)**
0,451
< 0,001*
CC (cm) **
0,540
< 0,001*
CQ (cm)
0,459
< 0,001*
RCQ
0,435
< 0,001*
CC PCB
0,401
< 0,001*
PCT
0,386
< 0,001*
PCSE
0,401
< 0,001*
PCSI
0,454
< 0,001*
Gordura periférica (PCB + PCT)
0,413
< 0,001*
Gordura central (PCSE + PCSI)
0,456
< 0,001*
% gordura corporal **
0,433
< 0,001*
PAS**
0,129 0,202
PAD
0,047 0,642
CC= Circunferência da cintura; CQ= Circunferência do quadril ; RCQ= Relação cintura/quadril; Peso MM=
Peso Massa Magra; PAS= Pressão arterial sistólica; PAD= Pressão arterial diastólica
% gordura= percentual de gordura corporal
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas, p < 0
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
Em relação à análise bioquímica realizada com os indivíduos adultos, foi
encontrada correlação positiva e significante entre IMC na adolescência e colesterol,
137
LDL, VLDL, relação colesterol/HDL e LDL/HDL. O valor do HDL se correlacionou
negativamente, com o IMC na vida adulta indicando menores valores de IMC na
adolescência como fator de proteção a níveis inadequados de HDL (Tabela 48).
Tabela 48 – Correlação entre o IMC na adolescência e variáveis da
análise bioquímica realizada na vida adulta
Variável
na adolescência
Variáveis
vida adulta
r p
Colesterol**
0,213
0,033*
HDL**
-0,200
0,045*
LDL**
0,270
0,006*
IMC VLDL
0,238
0,017*
Colesterol/HDL
0,292
0,002*
LDL/HDL
0,298
0,002*
TG 0,118 0,242
Glicemia -0,092 0,332
TG = triglicerídeo Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, p < 0,05
Correlação de Spearman = variáveis não paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
Os dados das correlações entre CC na adolescência e análise bioquímica na vida adulta
estão descritas na Tabela 49. Conforeme se observa foram encontradas correlações positivas e
estaticamente significantes entre CC e VLDL, relação colesterol/HDL, LDL/HDL, TG.
Da
mesma forma como discutido em relação ao IMC na adolescência, o valor do HDL se
correlacionou, negativamente com a CC na adolescência.
Tabela 49 – Correlação entre o CC na adolescência e variáveis da
análise bioquímica realizada na vida adulta
Variável
na adolescência
Variáveis
Vida Adulta
r p
Colesterol** 0,127 0,209
HDL**
-0,258
0,009*
LDL** 0,136 0,177
CC VLDL
0,232
0,020*
Colesterol/HDL
0,302
0,002*
LDL/HDL
0,267
0,007*
TG
0,280
0,004*
Glicemia -0,033 0,745
TG = triglicerídeo
Correlação de Pearson = variáveis paramétricas, p < 0,05
* resultados estatisticamente significantes
** variáveis com distribuição normal
Estes resultados confirmam a indicação de que o excesso de peso corporal, bem
como o acúmulo da gordura na região abdominal na adolescência se comportam como
fator de risco para alterações metabólicas.
Em conseqüência do aumento na prevalência do sobrepeso/obesidade entre
adolescentes, já é possível encontrar alterações metabólicas características do excesso
138
de peso, como hiperglicemia, dislipidemia e hipertensão arterial que são fatores de risco
para a doença coronariana, que se manifestará principalmente na fase adulta
(OLIVEIRA, 2004).
Na Tabela 50, observa-se que indivíduos com excesso de peso na adolescência
apresentaram valores inferiores de HDL e valores superiores de todos os demais
parâmetros comparados, embora este resultado tenha apresentado significância
estatística, apenas, para a análise de HDL, VLDL, relação colesterol/HDL , relação
LDL/HDL e TG.
Tabela 50: Comparação entre os valores médios, desvio-padrão e mediana dos
componentes do perfil lipídico e glicemia de indivíduos com e sem
excesso de peso na adolescência.
Estado nutricional adolescência
Excesso de peso BP/ Eutrofia
Perfil lipídico
na vida adulta
X
+ DP Mi
X
+ DP Mi p
Colesterol total** 181,8 + 36,8 179,0 194,1 + 26,9 189,0 0,256
HDL** 33,8 + 6,3 35,0 39,4 + 9,5 38,5 0,050
LDL** 132,9 + 29,5 131,7 123,4 + 33,5 123,7 0,355
VLDL 27,4 + 15,8 19,3 18,6 + 10,3 15,6 0,029*
Colesterol/HDL 5,8 + 1,2 5,9 4,8 + 1,5 4,5 0,008*
LDL/HDL 3,9 + 0,8 3,9 3,3 + 1,2 3,2 0,025*
TG 137,1 + 79,0 98,5 97,1 + 58,9 80,0 <0,040*
Glicemia 92,8 + 7,6 89,0 89,8 + 6,7 93,0 <0,284
Média + desvio-padrão (
X
+ DP).
Mediana (Mi).
Valor mínimo: mi; Valor máximo: ma
Teste t student: variáveis paramétricas
Mann Whitney : variáveis não paramétricas
* resultado estatisticamente significante
** váriáveis com distribuição normal
A associação entre obesidade e dislipidemia, observada em adultos, também tem
sido documentada em crianças e adolescentes (STEINBERG & DANIELS, 2003).
STYNE (2001) observou a presença de, pelo menos, um fator de risco para doença
cardiovascular em 60% das crianças e adolescentes com excesso de peso, sendo que
20% apresentavam dois ou mais fatores.
Em Viçosa MG, FARIA et al. (2006), realizaram estudo com adolescentes
atendidos no Programa de Atenção à Saúde do Adolescente e observaram que o perfil
lipídico foi inadequado em 63% dos estudados, sendo o percentual mais elevado para o
colesterol total (47,4%). O sexo feminino apresentou valores significantes e maiores
139
para colesterol total (p=0,009), LDL (p=0,02) e o masculino valores menores para HDL
(p=0,0009). Observou-se, ainda, colesterol total maior para o grupo de eutróficos, em
relação ao baixo peso (p=0,02). Este estudo vem reforçar que o excesso de gordura
corporal está, freqüentemente, associado a alterações lipídicas, o que mostra a
necessidade de uma intervenção constante junto aos adolescentes, no sentido de reforçar
a importância de programas específicos de atenção à saúde do adolescente.
A prevalência de fatores de risco na vida adulta entre os indivíduos que
apresentavam baixo peso ou eutrofia e excesso de peso na adolescência, pode ser
observada nos gráficos 6 e 7.
Gráfico 6 - Prevalência de fatores de risco na vida adulta, entre indivíduos que
apresentavam baixo peso ou eutrofia na adolescência
34
25
12,5
0
23,8
9
44,3
21,5
56,8
23,8
26,1
52,2
a
c
d
f
e
b
j
i
h
l
m
g
a = % gordura > 25; b = IMC > 25 kg/m
2
; c = CC > 94 cm ; d = RCQ > 1,0
;
e = Colesterol > 200 mg/dL; f = Triglicerideo > 150 mg/dL; g = LDL > 130 md/dL;
h = glicemia > 100 mg/dL ; i = HDL < 40 mg/dL; j = Col/HDL > 5, 8 mg/dL
l = LDL/HDL = > 3,8; m = pressão arterial > 130 ou > 85 mmgHg
%
140
Gráfico 7 - Prevalência de fatores de risco na vida adulta, entre indivíduos que
apresentavam excesso de peso na adolescência
75
91,5
83,3
16
41,6
25
58,3
0
100
50 50
83,3
As maiores prevalências, encontradas entre os que apresentavam baixo peso ou
eutrofia na adolescência, foram pressão arterial aumentada e HDL reduzido. Entre
aqueles com excesso de peso na adolescência, observaram-se altas prevalência de HDL
reduzido, IMC > 25 kg/m
2
e pressão arterial aumentada.
Considerou-se, então, excesso de peso na adolescência como risco (exposição)
para análise do qui-quadrado e encontrou-se associação entre este e as seguintes
variáveis na vida adulta: percentual de gordura corporal aumentado (x
2
=7,43; p =
0,006); IMC superior a 25 kg/m
2
(x
2
=21,23; p = <0,001); circunferência da cintura
aumentada (x
2
=31,94; p = <0,001); RCQ aumentada (x
2
=14,97; p = <0,001); HDL
reduzido (x
2
=8,36; p = 0,003) e pressão arterial aumentada (x
2
=10,5; p = 0,003). As
demais associações não foram, estatisticamente, significantes.
Este resultado confirma aqueles disponíveis na literatura cientifica, que
apresenta a influência do estado nutricional na adolescência como fator de risco para a
situação nutricional de indivíduos adultos.
Em investigação sobre os riscos a longo prazo da obesidade na infância e
adolescência, POWER et al. (1997) encontraram evidências, segundo as quais a
associação do estado nutricional na adolescência com acúmulo de gordura entre adultos
g a b c d e f h i j l m
%
a = % gordura > 25; b = IMC > 25 kg/m
2
; c = CC > 94 cm ; d = RCQ > 1,0
;
e = Colesterol > 200 mg/dL; f = Triglicerideo > 150 mg/dL; g = LDL > 130 md/dL;
h = glicemia > 100 mg/dL ; i = HDL < 40 mg/dL; j = Col/HDL > 5, 8 mg/dL
l = LDL/HDL = > 3,8; m = pressão arterial > 130 ou > 85 mmgHg
141
torna-se mais forte à medida que a idade aumenta. Esta indicação pode explicar a
associação, observada neste trabalho, entre os indivíduos com idade média de 18 anos e
quase todas as variáveis antropométricas investigadas. Nesta análise, constatou-se que a
adolescência, especificamente o final deste período, parece ser de grande importância na
determinação do estado nutricional futuro. Sendo assim, os adolescentes tornam-se um
grupo relevante em termos de saúde pública, sendo estratégico na promoção de saúde e
prevenção de doenças.
5.4.Fatores de risco para síndrome metabólica na vida adulta
Segundo a Sociedade Brasileira de Hipertensão (2004), a Síndrome Metabólica
(SM) é um transtorno, caracterizado por um conjunto de fatores de risco
cardiovasculares, usualmente, relacionados à deposição central de gordura e à
resistência à insulina.
A Síndrome tem sido um tema muito estudado e discutido na literatura científica
das últimas décadas, por conferir aos seus portadores risco cardiovascular dos mais
elevados e pelo fato de reunir uma série de fatores ou condições de risco, que estão em
ascensão nas populações. O aumento da expectativa de vida contribui para que
determinados fatores como a obesidade visceral, a intolerância à glicose, a hipertensão
arterial sistêmica, a hipertrigliceridemia e os níveis baixos de HDL se tornem mais
freqüentes, justificando, portanto, justifica considerar a SM como uma grande
preocupação em termos de saúde pública (SIQUEIRA et al.,2006).
É importante destacar a associação da SM com a doença cardiovascular,
aumentando a mortalidade total em, aproximadamente,1,5 vezes e a cardiovascular em
cerca de 2,5 vezes de risco para doenças coronarianas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
HIPERTENSÃO, 2004).
Segundo o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares são a causa mais
freqüente de morbimortalidade no Brasil (300.000 mortes/ano).Elas são responsáveis
pela maior parcela de despesas hospitalares do Sistema Único de Sáude e lideram as
causas de morte, no país, desde a década de 60. Têm sido consideradas um problema de
grande repercusão, pois, além de promoverem mortes prematuras, têm importante efeito
econômico e na qualidade de vida dos indivíduos (CASTRO et al., 2004; BARRETO et
al., 2005; WHO, 2005).
142
Na verdade, a associação entre síndrome metabólica e aterosclerose coronariana
ainda não é bem esclarecida. O que se sabe é que a SM envolve um conjunto de fatores
de risco, representado pela hipertensão arterial, sobrepeso/obesidade, aumento dos
triacilglicerois, diminuição do HDL e tolerância à glicose diminuída/diabetes tipo 2, que
são encontrados freqüentemente nos indivíduos, que apresentam doenças
cardiovasculares (BRANDÃO et al., 2005).
A prevalência da síndrome metabólica depende muito do critério utilizado para a
sua definição e por esta razão os estudos iniciais de prevalência desta síndrome
diferiram muito qaunto aos resultados (PICON et al., 2006).
Várias têm sido as propostas de definição para SM. A Organização Mundial da
Saúde (OMS) e o National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel III
(NCEP-ATP III) formularam definições que são muito utilizadas devido sua
praticidade. Neste trabalho, optou-se pela definição do NCEP-ATP III, que foi
desenvolvida para uso clínico e não exige a comprovação de resistência à insulina,
facilitando sua utilização.
Devido sua simplicidade e praticidade, a classificação do NCEP-ATP III é
recomendada pela I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da ndrome
Metabólica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2004).
Segundo esta classificação, a SM representa a combinação de, pelo menos, três
componentes (Quadro 9).
Quadro 9: Componentes da síndrome metábolica
COMPONENTES NÍVEIS
Obesidade abdominal por meio de circunferência abdominal
Homens > 102cm
Triglicerídeo > 150mg/dl
HDL
Homens < 40 mg/dL
Pressão Arterial (sistólica e diastólica)
> 130 mmHg ou > 85 mmHg
Glicemia de Jejum > 110 mg/dL
Fonte: I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica (2004)
Neste trabalho, encontrou-se apenas 1 indivíduo com glicemia de jejum igual, ou
superior a 110 mg/dL. Obteve-se, porém, importante prevalência dos demais
143
componentes da síndrome. Individualmente, a prevalência de circunferência da cintura
(CC) aumentada foi de 21%, hipertrigliceridemia (TG > 150mg\dL) de 12%, HDL
inadequado (inferior a 40 mg/dL) de 57% e pressão arterial igual ou superior a
130mmHg ou 85 mmHg foi de 58%.
A elevada prevalência de fatores de risco para a síndrome metabólica, em
indivíduos jovens, tem sido mencionada por outros autores (RABELO et al., 1999;
VIEBIG et al., 2004) e chama atenção para a necessidade de programas preventivos.
No entanto, combinação de três desses fatores, caracterizando presença de
síndrome metabólica foi encontrada em 13% dos indivíduos avaliados, sendo que os três
principais fatores foram HDL reduzido, hipertrigliceridemia e hipertensão arterial.
Não estudos disponíveis em nível nacional, que definem a prevalência exata
da síndrome metabólica. No entanto, estudos em diferentes populações como a
mexicana, a norte-americana e a asiática, revelam prevalências elevadas, dependendo do
critério utilizado e das características da população estudada, sendo que em homens,
nestas populações, as taxas variam de 12,4% a 28,5% (SOCIEDADE BRASILEIRA DE
HIPERTENSÃO, 2004).
A Tabela 51 apresenta os valores médios e medianos das variáveis
antropométricas, de composição corporal, bioquímicas e de pressão arterial dos
indivíduos com e sem síndrome metabólica.
Observou-se que aqueles, classificados como portadores da síndrome
metabólica, apresentavam valores superiores para quase todas as variáveis
antropométricas, avaliadas bem como para o percentual de gordura corporal e gordura
periférica. Quanto à análise bioquímica, resultados significantes foram observados em
relação ao HDL, VLDL, Triglicerídeo, relação Colesterol/HDL e relação LDL/ HDL.
144
Tabela 51- Comparação dos valores médios ou medianos de variáveis antropométrica
de composição corporal e na vida adulta dos indivíduos com e sem
diagnóstico de Síndrome Metabólica (SM)
Com risco de SM
(n = 13)
Sem risco de SM
(n = 87)
p
Peso (kg) 94,4 71,1 <0,001*
Estatura** 179,2 174,9 0,016*
IMC (kg/m
2
) 27,7 23,4 <0,001*
Gordura (kg) 27,9 16,6 <0,001*
MLG (kg)** 66,3 + 9,1 55,1+ 7,4 <0,001*
IMCG (kg/m
2
) 8,4 5,4 <0,001*
IMCLG (kg/m
2
)** 20,5 + 2,0 17,9 + 2,0 <0,001*
PCB (mm) 12,0 10,0 0,123
PCT (mm) 16,0 15,0 0,148
PCSE (mm) 27,0 20,0 0,002*
PCSI (mm) 27,0 17,0 <0,001*
% gordura** 30,3 + 4,5 23,4 + 5,1 <0,001*
Gor. Periférica (PCB + PCT) 26,0 25,0 0,113
Gord. Central (PCSI +PCSE) 57,0 36,0 <0,001*
CC (cm)** 100,0 + 11,7 82,8 + 8,4 <0,001*
CQ (cm) 110,0 101,0 <0,001*
RCQ 0,87 0,82 <0,001*
Colesterol** 197,8 + 41,1 181,1 + 34,8 0,118
HDL** 27,8 + 4,9 40,3 + 8,7 <0,001*
LDL** 130,8 + 39,4 123,6 + 32,2 0,463
VLDL 42,2 15,2 <0,001*
TG 233,0 76,0 <0,001*
Col/HDL 7,1 4,5 <0,001*
LDL/HDL 4,4 3,1 <0,001*
Glicemia 96,0 92,5 0,440
Hemoglobina 15,3 15,6 0,675
MLG= massa livre de gordura; CC= Circunferência da Cintura;
% gordura = percentual de gordura corporal; IMCG = IMC de gordura
IMCLG = IMC livre de gordura; PCB = prega cutânea biciptal;
PCT = prega cutânea tricipital; PCSE = prega cutânea subescapular;
PCSI = prega cutânea supra -ilíaca ;TG= triglicerídeo
CQ = circunferência do quadril; RCQ = relação cintura/quadril
PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica
** variáveis com distribuição normal
* resultados estatisticamente significante
Teste t student = variáveis paramétricas
Man Whitney = variáveis não paramétricas
145
A reconhecida associação entre excesso de peso e gordura corporal com
alterações metabólicas como hipertensão arterial e dislipidemias que são utilizadas no
diagnóstico da síndrome metabólica, pode justificar estes resultados.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2002), os fatores de
risco mais importantes para a morbimortalidade relacionada a doenças crônicas não-
transmissíveis (DCNT) são: hipertensão arterial sistêmica, hipercolesterolemia, ingestão
insuficiente de frutas, hortaliças e leguminosas, sobrepeso ou obesidade, inatividade
física e tabagismo, sendo que cinco desses fatores de risco estão relacionados à
alimentação e à atividade física, sendo que três desses fatores têm grande impacto no
aparecimento da síndrome metabólica (SM). É por isso que o controle do peso corporal
e gordura corporal têm sido indicados na prevenção do desenvolvimento da Síndrome
Metabólica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2004).
Considerando a importância da atividade física no controle e combate dos
componentes da SM, investigou-se o nível de atividade física dos indivíduos detectados
como portadores e encontrou-se que sete deles (53,8%) não praticavam nenhum tipo de
atividade, sendo que a atividade física dos demais foi classificada como leve e
moderada.
A inatividade física é considerada fator de risco para mortalidade prematura
sendo tão importante quanto o fumo, dislipidemia e hipertensão arterial. A literatura
apresenta a relação entre inatividade física e presença de fatores de risco cardiovascular
como hipertensão arterial, resistência à insulina, diabetes, dislipidemia e obesidade. Por
outro lado, a prática regular de atividade física tem sido recomendada para a prevenção
e tratamento de doenças cardiovasculares, seus fatores de risco, e outras doenças
crônicas (BEGONÃ et al., 1999).
CIOLAC & GUIMARÃES (2004), em trabalho de revisão, investigaram os
efeitos benéficos da atividade física e concluíram a partir dos estudos encontrados que,
por ser componente do gasto energético, a atividade física tem importante papel no
controle do peso corporal, além de promover o controle dos níveis glicêmicos através
do aumento da sensibilidade à insulina em indivíduos ativos. Quanto aos efeitos no
perfil de lipídios e lipoproteínas, estes são bem conhecidos. Os indivíduos ativos,
fisicamente, apresentam maiores níveis de HDL e menores níveis de triglicérides, LDL
e VLDL. Da mesma forma, a prática regular de exercício físico tem demonstrado
prevenir o aumento da pressão arterial associado à idade, mesmo em indivíduos com
risco aumentado de desenvolvê-la.
146
Realizou-se, ainda, análise da ingestão alimentar dos indivíduos, a fim de
investigar a relação desta com a presença da síndrome metabólica. Os resultados desta
análise são apresentados na Tabela 52.
Tabela 52 - Comparação dos valores medianos de ingeso de energia,
macro e micronutrientes dos indivíduos com e sem SM
Com Síndrome
Metabólica (n = 13)
Sem Síndrome
Metabólica (n = 87)
p
VET 3049,1 2794,6 0,367
CHO 339,9 325,7 0,846
LIP 106,4 107,1 0,448
PTN 116,7 105,7 0,461
16,3 14,6 0,524
Ca 609,2 688,2 0,864
VIT C 72,5 59,0 <0,001*
FIBRAS 12,1 12,6 0,786
AGM 50,2 47,7 0,280
AGP 16,0 12,9 0,425
AGS 44,8 46,6 0,735
COL 238,4 254,3 0,727
Na 2931,9 2590,5 0,719
VET = valor energético total, CHO = carboidratos;LIP = lipídeos; PTN = proteínas;
AGM = ácidos graxos monoinsaturados; AGP = ácidos graxos poliinsaturados;
AGS = ácidos graxos saturados; COL = colesterol
*resultado estatisticamente significante
** variável com distribuição normal
Man Whitney : variáveis não paramétricas
Observa-se que apenas a ingestão de vitamina C diferiu, estatisticamente, entre
os grupos. A dificuldade na avaliação da associação entre o consumo alimentar e
desenvolvimento de doenças é descrita na literatura, sendo que, segundo FLEGAL
(1999) uma dificuldade metodológica é a complexidade em considerar a dieta como
variável de exposição, visto ser este um evento completamente aleatório e variável.
Como todos os métodos de inquérito alimentar, o registro alimentar apresenta
algumas limitações. Segundo FISBERG et al. (2001), os indivíduos do sexo masculino
apresentam menor adesão ao método, em relação ao sexo feminino.
Conhecendo-se a importância da alimentação sobre o estado nutricional e perfil
bioquímico e diante dos resultados obtidos, que mostram não haver diferença entre os
grupos com e sem síndrome metabólica, considera-se que o instrumento dietético
147
utilizado talvez não tenha correspondido de forma fidedigna ao consumo alimentar dos
avaliados.
Investigou-se também a possível influência das condições de nascimento e
estado nutricional na adolescência sobre este quadro de SM, observado nos indivíduos
em idade adulta.
Em relação às condições de nascimento, aqueles que desenvolveram a SM
tiveram mediana de peso ao nascer superior aos demais. No entanto, esta diferença não
foi, estatisticamente, significante. A proporcionalidade corporal ao nascer avaliada
segundo classificação de Índice de Crescimento de Roher e o valor mediano do
comprimento ao nascer foram idênticos para os dois grupos. (tabela 53).
Tabela 53 - Comparação dos valores médios ou medianos de variáveis ao nascer dos
indivíduos com e sem diagnóstico de Síndrome Metabólica
Com Síndrome
Metabólica (n = 13)
Sem Síndrome
Metabólica (n = 87)
p
Peso (g)** 3480,7 + 282,5 3359,8 + 447,5 0,464
Comprimento (cm) 50,0 50,0 0,415
IR (g/cm
3
)** 2,64 + 0,27 2,66 + 0,26 0,799
IR = índice de crescimento de Roher
** variáveis com distribuição normal
* resultados estatisticamente significante
Teste t student = variáveis paramétricas
Man Whitney = variáveis não paramétricas
Portanto, considerando-se os indivíduos avaliados neste estudo, não se pode
concluir que a síndrome metabólica, observada na idade adulta, tenha sofrido alguma
influência do estado nutricional ao nascer.
A análise da influência do estado nutricional na adolescência por sua vez, nos
apresenta importantes resultados significantes (Tabela 54). Os indivíduos, que foram
diagnosticados com SM, apresentavam na adolescência valores superiores e
estatisticamente significantes de peso, CC e IMC, reforçando a hipótese da manutenção,
na vida adulta, do excesso de peso e acúmulo de gordura apresentados na adolescência.
148
Tabela 54 - Comparação dos valores medianos de peso, CC e IMC na adolescência
dos indivíduso com e sem SM
Com Síndrome
Metabólica
Sem Síndrome
Metabólica
p
Peso (kg) 71,0 60,0 <0,001*
IMC (kg/m
2
) 22,7 20,2 0,002*
CC (cm) 83,0 75,0 <0,001*
Estatura (cm) ** 175,4 + 7,7 172,1 +5,8 0,071
*resultado estatisticamente significante
** variável com distribuição normal
CC= Circunferência da Cintura
Teste t student : variáveis paramétricas
Man Whitney : variáveis não paramétricas
Estes resultados são confirmados na literatura, pois juntamente com o aumento
da prevalência de sobrepeso e obesidade na infância e adolescência, pode ser observado
também o aumento da prevalência da SM na fase adulta.
Tradicionalmente, as alterações cardiovasculares eram consideradas doenças
típicas da meia-idade, sendo que sua forma letal atingia incidência significativa a partir
dos 45 anos. No entanto, estudos de autópsia têm demonstrado que o processo
arterosclerótico inicia-se décadas antes da sua manifestação clínica, caracterizada pelo
infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e doença vascular periférica.
Grande parte dos fatores de risco tem início, ou é adquirida na infância e
adolescência e tende a persistir ao longo da vida (RABELO et al., 1999).
Em relação à prevalência da síndrome metabólica em crianças e adolescentes,
não consenso no diagnóstico, sendo que o uso de diferentes critérios diagnósticos
também contribui para a variabilidade nessa prevalência que, nesta faixa etária, pode
variar de 4,2% até 32% (SILVA et al., 2005).
Neste trabalho, não foi possível determinar a prevalência de SM na adolescência
visto não haver dados suficientes para o diagnóstico, referentes a esta faixa etária. No
entanto, o excesso de peso na adolescência foi detectado em 38,4% da amostra, sendo
que o IMC na adolescência se correlacionou, positivamente, com o peso e IMC dos
indivíduos na vida adulta (r =
0,634, p = < 0,001;
r =
0,678, p= < 0,001; respectivamente)
.
Na literatura, verifica-se que muitas desordens metabólicas, como as
dislipidemias, diabetes, hipertensão arterial, associadas à distribuição da gordura
149
corporal encontrada em adultos obesos, se manifestam em adolescentes obesos
(FORBES, 1991).
As alterações iniciais de cada um desses fatores podem ocorrer em associações
variadas, que, mesmo em pequenas expressões, determinam perfil cardiovascular
desfavorável para esses jovens.
A literatura confirma a presença dos fatores de risco da SM, associados ao
excesso de peso corporal em adolescentes. A resistência à insulina, por exemplo, que é
um determinante de extrema importância no desenvolvimento da síndrome, pode ser
observado neste grupo. SILVA et al. (2005), avaliando 99 adolescentes de 10 a 19 anos,
encontraram prevalência de resistência à insulina em 10,9% dos eutróficos, em 23%
daqueles com sobrepeso e em 43,5% no grupo de obesos.
Quanto às dislipidemias, particularmente em jovens, estas merecem maior
atenção à medida que as evidências da associação com a aterosclerose e a instalação
precoce de suas lesões tornam-se mais consistentes.
No Brasil, há poucos estudos sobre a prevalência de alterações lipídicas na
infância e adolescência. FORTI et al (1996), analisando o perfil lipídico em 104
indivíduos de 2 a 11 anos e em 180 de 12 a 19 anos, segundo valores ideais
preconizados pelo Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias (2001), encontraram valores
indesejáveis de colesterol total em 57,7% e 42,7%, de LDL em 55,4% e 38,3%, de
triacilgliceróis em 51,0% e 31,9%, de HDL em 13,5% e 14,2%, respectivamente, nas
crianças e adolescentes. Essas alterações estavam relacionadas à presença de obesidade
e sobrepeso.
Em relação à hipertensão arterial na infância e adolescência, os estudos
epidemiológicos realizados no Brasil demonstraram prevalências variando de 0,8% a
8,2% (FUCHS et al., 2001; GUS et al., 2004). Da mesma forma como observado em
adultos, muitos desses trabalhos demonstraram freqüente associação de hipertensão
arterial sistólica com sobrepeso/obesidade.
Vale ressaltar, ainda, a importância que a distribuição de gordura corporal exerce
neste quadro e as diferenças existentes entre os sexos. Adolescentes do sexo masculino
apresentam menores porcentagens de gordura corporal que os do sexo feminino. Ambos
acumulam peso em tecido magro, durante a adolescência. Entretanto, os meninos
apresentam uma redistribuição do acúmulo de gordura das extremidades para o tronco,
enquanto nas meninas a tendência é inversa, sendo que esta diferença ocorre devido a
150
modificações nos veis de estrogênio e testosterona, durante a puberdade (OLVEIRA
et al., 2004).
Portanto, considerando os resultados encontrados neste estudo e na literatura
científica disponível, a adoção de medidas de prevenção primária em jovens tem sido
reconhecida como muito importante no cenário da abordagem de doenças
cardiovasculares, sendo que a adolescência pode ser considerada uma fase de
oportunidades para realização de atividades, que previnam as doenças crônico-
degenerativas não transmissíveis, como as cardiovasculares, incluindo formação de
hábitos de vida e alimentares saudáveis (RABELO, 1999).
151
6.0. CONCLUSÕES
Em relação à influência das condições ao nascer sobre o estado nutricional no
final da adolescência, não foram encontradas correlações satisfatórias entre as variávies
e os resultados de significância estatística. Desta forma, neste trabalho, não se concluiu
que as condições ao nascer são determinantes do estado nutricional na adolescência. No
entanto, foi observada tendência de maior ganho de peso e estatura entre os nascidos
com peso superior a 4000g. Além disso, o pequeno tamanho amostral dos recém
nascidos com baixo peso e comprimento, bem como daqueles com grandes proporções
corporais, pode ter sido um fator limitante para os resultados. Isto permite manter o
questionamento sobre a influência, principalmente do peso e comprimento aumentados
ao nascer, sobre o estado nutricional na adolescência e reforça a necessidade da
continuidade das investigações. Sugerem-se investigações com maior tamanho amostral
de recém-nascidos de baixo peso e macrossômico, assim como análises no sentido de
investigar a influência genética do sobrepeso e obesidade.
No que diz respeito à situação nutricional na vida adulta, foram encontradas
algumas correlações estatisticamente significantes com as variáveis ao nascer, sendo
observado que o comprimento ao nascer apresentou maior influência. Visto ter sido
encontrada correlação inversa e, estatisticamente, significante entre o índice de
crescimento de Roher e o percentual de gordura corporal, reforça-se a necessidade de
outras investigações, envolvendo maior tamanho amostral de recém-nascidos com
retardo do crescimento a fim de confirmar esta associação. É muito importante a
continuidade de estudos, que relacionem as condições de nascimento à maioridade, com
o intuito de elucidar os questionamentos existentes quanto a esta relação e fornecer
informações, que possam contribuir para a implantação de medidas que visem e sejam
direcionadas para maior qualidade de vida da população. Caso se confirme a influência
da condição de nascimento como determinante do estado nutricional futuro, serão
necessárias, então, ações de promoção de saúde desde o pré-natal, a fim de prevenir
doenças futuras.
Um resultado de grande importância, refere-se à influência do estado nutricional
na adolescência sobre a situação nutricional do indivíduos, quando adultos.
152
O IMC no final da adolescência apresentou forte correlação com o IMC alcançado na
idade adulta, bem como se correlacionou, significativamente com todas as medidas
antropométricas que estimam o percentual de gordura corporal total e com distribuição
central, podendo ser considerado fator de risco para o excesso de peso e comorbidade
associados na vida adulta. Adolescentes obesos, provavelmente, têm grandes chances de
permanecerem acima do peso na idade adulta, estando mais sujeitos ao desenvolvimento
das diversas complicações clínico-metabólicas, encontradas em adultos obesos. O perfil
lipídico também sofreu influência da situação nutricional da adolescência. Os resultados
deste trabalho permitem concluir que, o estado nutricional na adolescência é fator
determinante para a situação nutricional de indivíduos adultos. Sendo assim o grupo
adolescente pode ser considerado estratégico no campo da promoção de saúde e
prevenção de doenças e merece maior atenção no que diz respeito a políticas e programs
públicos.
Encontrou-se prevalência de síndrome metabólica de 13% e observou-se que
aqueles classificados como portadores desta síndrome metabólica apresentavam valores
superiores para quase todas as variáveis antropométricas avaliadas, bem como para o
percentual de gordura corporal e de gordura periférica. Quanto à análise bioquímica,
resultados significantes foram observados em relação ao HDL, VLDL, triglicerídeo,
relação Colesterol/HDL e relação LDL/ HDL. Ressalta-se ainda que, neste trabalho, as
condições de nascimento não se apresentaram como determinante do quadro na vida
adulta. Entretanto, o estado nuticional no final da adolescência esteve, diretamente,
relacionado ao desenvolvimento da sindrome metabólica na vida adulta. Novamente,
ressalta-se a importância do trabalho de prevenção de doença e promoção de saúde,
destacando-se a adolescência como momento oportuno para colocar em prática estas
medidas.
Finalmente, conclui-se que a situação nutricional dos indivíduos na vida adulta
sofreu influência de condições nutricionais pregressas. Ainda são necessários estudos,
que definam as consequências a longo prazo das condições de nascimento. Entretanto,
caso se consiga provar esta relação, as repercussões podem ser enormes no sentido que,
para prevenir as doenças crônicas não-transmissíveis, serão necessários cuidados e
atenção redobrada no período pré-natal e na primeira infância. Por sua vez, o estado
nutricional na adolescência se comportou como fator de risco importante para o estado
153
nutricional e desenvolvimento de doenças crônico degenerativas na vida adulta, razão
pela qual faz-se necesária atenção à saúde deste grupo, a fim de lhes assegurar uma vida
mais saudável no momento atual e futuro.
154
7.0. REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS
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169
8.0. ANEXOS
ANEXO I
Avaliação antropométrica ao nascer e na adolescência
Medida Valor Classificação
AO NASCER
Peso ao nascer
Comprimento ao nascer
Tipo de parto
Idade Gestacional
Índice de Crescimento
Classificação segundo
Willians
Ordem de nascimento
Prematuridade ( ) SIM ( ) NÃO
NA ADOLESCÊNCIA
Peso
Estatura
IMC
Circunferência da cintura
170
ANEXO II
Termo de Consentimento Resumido
Estou ciente de que:
1. Os procedimentos que serão adotados na pesquisa “Condições de nascimento e estado
nutricional na adolescência associado à situação nutricional de indivíduos adultos do
sexo masculino, em Viçosa-MG”, são resumidos em: aplicação de questionários para
obtenção de dados socioeconômicos e de estilo de vida; aplicação de inquéritos
dietéticos, avaliação antropométrica por métodos não invasivos (peso, altura,
circunferências, avaliação da composição corporal por bioimpedância elétrica), de
medida da pressão arterial, de exames laboratoriais, sendo necessário para isso, a coleta
de aproximadamente 10 ml de sangue, feita em laboratório bioquímico devidamente
reconhecido na cidade de Viçosa para análise do hemograma, colesterol total e frações,
triglicerídeos, e glicemia. Para isto, são necessárias 1 consulta e uma visita domiciliar de
aproximadamente 2 horas cada.
2. Não serei submetido a nenhum tipo de intervenção que possa causar danos à minha
saúde.
3. A minha participação é voluntária. Tenho o direito de abandonar o estudo a qualquer
momento sem justificativa.
4. Os dados obtidos estarão disponíveis para a equipe envolvida na pesquisa e poderão
ser publicados com a finalidade de divulgação das informações científicas obtidas, não
sendo divulgada a identidade dos voluntários.
5. Eu não receberei remuneração por minha participação nesse projeto.
6. Se houver descumprimento de qualquer norma ética poderei recorrer ao Comitê de
Ética na Pesquisa com Seres Humanos da UFV, dirigindo-me ao seu Presidente:
Gilberto Paixão Rosado, pelo telefone: 3899-1269.
De posse de todas as informações necessárias, concordo em participar do projeto.
Assinaturas:
Equipe:
__________________________ ________________________
Renata Maria Souza Oliveira Silvia Eloiza Priore
Voluntário :__________________________________________________________
Data: ______/______/_______
171
ANEXO III
Avaliação antropométrica e de composição corporal
Data da avaliação: ___/___/___
Nome: ____________________________________________________________
Data de nascimento ___/___/___ Idade: ______________
Peso ( kg): ___________________ Estatura (cm): __________________
IMC (kg/m2): ________________________Classificação: __________________
Circunferência da cintura (cm): _______________ Classificação: ____________
Circunferência do quadril (cm) : _______________
Relação Cintura/Quadril ( RCQ): ______________ Classificação: ____________
Prega cutânea:
PCB: _________ PCT: ____________ PCSI:___________ PCSE: ________
% de gordura corporal: ________________ Classificação: _____________
Pressão Arterial: ____________________ Classificação: _______________
172
ANEXO IV
PROTOCOLO PARA AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO CORPORAL
PELA BIOIMPEDÂNCIA ELÉTRICA
1. Jejum de no mínimo quatro horas;
2. Não fazer exercícios a menos de doze horas do teste;
3. Urinar a menos de 30 minutos do teste;
4. Não consumir álcool a menos de 48 horas do teste;
5. Não tomar medicamentos diuréticos a menos de sete dias do teste;
Fonte: HEYWARD & STORLARCZYK (2000)
173
ANEXO V
Questionário Sócioeconomico
I - IDENTIFICAÇÃO: DATA: ____/____/____
1- Nome:____________________________________________________________
2-Endereço:__________________________________________________________
__________________________________________________________________
3- Telefone: ______________________ Cel: ____________________________
4- Data de nascimento: ___/___/___ Idade: __________________________
7- E-mail: __________________________________________________________
8- Estado civil:______________________________________________________
II – ASPECTOS SÓCIOECONÔMICOS:
Escolaridade:
Escolaridade: _____________________ Profissão: _______________________
Escolaridade Materna: _______________Escolaridade Paterna; ______________
Renda:
Renda familiar : R$__________________
Quantas pessoas participam ativamente desta renda além de você? ___________
Renda percapta: _________________________
Característica da moradia:
Tipo : ( ) Casa ( ) Apartamento
A residência é:
( ) própria ( ) alugada ( ) cedida
No de cômodos: _____________ No de moradores:________________
Quem mais mora em sua residência:
( ) companheira ( ) filhos. Quanto?__________________
( ) mãe ( ) sogra
( )pai ( ) sogro
174
( ) Outro: ___________________
TOTAL: _____________________
Tem energia elétrica? ( ) SIM ( ) NÃO
Tem energia água encanada? ( ) SIM ( ) NÃO
Tem rede de esgoto? ( ) SIM ( ) NÃO
Coleta de lixo? ( ) SIM ( ) NÃO
Em caso negativo, o que a família faz com o lixo? ________________________
III – História Familiar e uso de medicamentos:
Alguém da sua família (pai, mãe, tios, irmãos, avós) já teve algumas destas doenças
abaixo:
( ) Ataque cardíaco ( ) Hipertensão
( ) Derrame ( ) Câncer
( ) Diabetes
( ) Outras: ___________________________________________________
Você faz uso de algum remédio?
( ) Não
( ) Sim. Qual (s): _______________________________________________
IV- Bebida alcoólica e hábito de fumar
- Você fuma?
( ) Não
( ) Sim. Qual (s): ______________________________________________
Quantos cigarros (ou outro tipo de fumo) por dia? _______________________
- Já fumou?
( )Sim ( )Não
Faz quanto tempo que deixou de fumar? _________________________________
Fumou durante quanto tempo? _________________________________________
- Você consome álcool?
175
( ) Não
( ) Sim. Qual (s): _______________________________________________
Frequência: ( )diariamente ( ) final de semana ( )raramente
V - Atividade Física
Você pratica atividade física regular?
( ) Não
( ) Sim. Qual (s): _______________________________________________
Tempo por dia: ________________________________________________
Dias por semana: ______________________________________________
A quanto tempo pratica regularmente_______________________________
176
ANEXO VI
QUESTIONÁRIO DE FREQUÊNCIA ALIMENTAR
1) Cereais e massas
< 1 x /
semana
1 a 3
vezes
4 a 5
vezes
6 a 7
vezes
Não
consome
INGESTÃO DO GRUPO
Pão ( ) branco
( ) integral
Arroz
Salgado ( ) frito. Qual?________
( ) assado. Qual? _____
Bolo ( ) s/ cobertura
( ) c/ cobertura
Pizza
Biscoito simples
Biscoito recheado
Batata ( ) frita
( ) cozida
( ) purê
2) Leite e derivados
< 1 x /
semana
1 a 3
vezes
4 a 5
vezes
6 a 7
vezes
Não
consome
INGESTÃO DO GRUPO
Leite ( ) integral
( )desnatado
( )“da roça”
Iogurte
Queijo (Tipo: ______________)
Leite condensado
Outros: ____________________
3) Carnes e Ovos
< 1 x /
semana
1 a 3
vezes
4 a 5
vezes
6 a 7
vezes
Não
consome
INGESTÃO DO GRUPO
Carne de boi ( ) frita
( ) cozida
Carne de porco ( ) frita
( ) cozida
Carne de frango ( ) frita
( ) assada
Carne de Hamburger
Salame/ Presunto/ Mortadela
Salsicha
Ovo de galinha ( ) frito
( ) cozido
177
4) Frutas, legumes e verduras
< 1 x /
semana
1 a 3
vezes
4 a 5
vezes
6 a 7
vezes
Não
consome
INGESTÃO DO GRUPO
Frutas
Suco de fruta natural
Legumes ( ) cozidos
( ) fritos
Verdura ( ) crua
( ) refogada
5) Açucares e doces / Guloseimas
< 1 x /
semana
1 a 3
vezes
4 a 5
vezes
6 a 7
vezes
Não
consome
INGESTÃO DO GRUPO
Chocolate
Doce de fruta
Doce de leite
Tortas doces (De quê? _______)
Refrigerante
Mel
Sorvete
Outros: __________________
6) Gorduras
< 1 x /
semana
1 a 3
vezes
4 a 5
vezes
6 a 7
vezes
Não
consome
INGESTÃO DO GRUPO
Maionese
Margarina
Manteiga
Catchup
Mostarda
Creme de leite
Banha de porco
Outros:___________
Informações adicionais:
- Você tem horários certo para se alimentar? ( ) SIM ( ) NÃO
- Quais refeições você realiza diariamente?
DESJEJUM ( ) SIM ( )NÃO
COLAÇÃO ( )SIM ( ) NÃO
ALMOÇO ( ) SIM ( ) NÃO
178
LANCHE ( ) SIM ( ) NÃO
JANTAR ( )SIM ( )NÃO
Outras_________________________________________________________________
- Qual a freqüência de preparações fritas? ________________________________
- Já fez o está fazendo algum tipo de dieta atualmente? ( ) SIM ( ) NÃO
Quem orientou? ____________________________________
- Consome adoçante ou algum tipo de alimento “diet” ou “ligth” ( )SIM ( ) NÃO
Quais? ___________________________________________
- Você consume alimentos integrais? Quais?:______________________________
- Você adiciona sal na comida, além do utilizado na preparação? ______________
179
ANEXO VII
RECORDATÓRIO ALIMENTAR HABITUAL REFERENTE AOS
FINAIS DE SEMANA
Nome: ____________________________________________________________
Medida Caseira Quantidade
Desjejum
Hora:
Local
:
Colação
Hora:
Local:
Almoço
Hora:
Local:
Lanche
Hora:
Local
:
Jantar
Hora:
Local:
Ceia
Hora:
Local:
180
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