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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO
DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DISTÚRBIOS DA
COMUNICAÇÃO HUMANA
TESTE DE FIGURAS PARA DISCRIMINAÇÃO
FONÊMICA: PROPOSTA E APLICAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Beatriz dos Santos Carvalho
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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TESTE DE FIGURAS PARA DISCRIMINAÇÃO FONÊMICA:
PROPOSTA E APLICAÇÃO
por
Beatriz dos Santos Carvalho
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana, Área de Concentração
Audição e Linguagem, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS),
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana.
Orientadora: Profª. Drª. Helena Bolli Mota
Co-Orientadora: Profª. Drª. Márcia Keske Soares
Santa Maria, RS, Brasil
2007
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências da Saúde
Programa de Pós-Graduação Em Distúrbios da Comunicação Humana
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação
TESTE DE FIGURAS PARA DISCRIMINAÇÃO FONÊMICA:
PROPOSTA E APLICAÇÃO
elaborada por
Beatriz dos Santos Carvalho
como requisito parcial para obtenção do grau de mestre
Comissão Examinadora
______________________________
Drª. Helena Bolli Mota – UFSM
(Presidente/ Orientadora)
_______________________________
Drª Carla Aparecida Cielo – UFSM
(Membro)
______________________________
Dr ª Carolina Lisboa Mezzomo – FFFCMPA
(Membro)
Santa Maria, 06 de agosto de 2007
4
À Fonoaudiologia, profissão tão envolvente, dedico este trabalho na esperança de que
possa contribuir para o crescimento da profissão e dos profissionais.
5
AGRADECIMENTOS
À UFSM, pela sua existência, pela sua importância e por toda a minha formação.
À Professora Helena Bolli Mota, por anos e anos de orientação. Aprendi muito com você,
Helena! Obrigada por tudo!
À Professora Márcia Keske Soares, pelo auxílio.
Às Professoras Carolina Lisboa Mezzomo e Carla Aparecida Cielo, por toda a reflexão e
crescimento oriundos de suas avaliações.
Ao Sesi, pelas horas de trabalho cedidas e empréstimo de equipamentos.
À colega Grízia de Amorim Ávila Bocca e à futura colega Valquíria Zimer pelo auxílio na
coleta de dados. Não sei como teria conseguido, dentro dos prazos, sem vocês. Valeu,
meninas!
À direção das escolas: Instituto Sinodal da Paz, Fernando Albino, Creche Jeito de Criança,
Colégio Concórdia e Coronel Bráulio de Oliveira pela aceitação e receptividade à pesquisa.
Aos pais ou responsáveis pelas crianças, sujeitos deste estudo, pela autorização de sua
participação.
À todas as crianças que participaram desta pesquisa, pelo aprendizado, carinho e divertimento
propiciados.
Às manas Scheila e Jaque, parceiras da família em época de mestrado pelo apoio, discussões e
encorajamento. Nessa, seus ouvidos atentos e constantes incentivos também foram muito
importantes!
Aos meus pais, Sonia e Jairo dos Santos, por serem meus pais, por terem me criado tão
amorosamente, por terem acreditado em mim e por terem me propiciado condições de
prosseguir. Amo vocês...
Ao Warley Gomes de Carvalho, meu amado esposo, por ter decidido seguir ao meu lado
mesmo tendo sua família tão distante. Pelo ombro amigo nos momentos de desespero, pelos
cafezinhos nas noites em que eu quase dormia na frente do computador, pelas massagens nas
costas nos dias de muita tensão, pela confiança na minha capacidade. Obrigada, amor!
À Deus, pela vida.
6
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Distúrbios da Comunicação Humana
Universidade Federal e Santa Maria
TESTE DE FIGURAS PARA DISCRIMINAÇÃO FONÊMICA: PROPOSTA E
APLICAÇÃO
AUTORA: BEATRIZ DOS SANTOS CARVALHO
ORIENTADORA: HELENA BOLLI MOTA
CO-ORIENTADORA: MÁRCIA KESKE-SOARES
Data e Local da Defesa:
A discriminação fonêmica é a habilidade de diferenciar os sons da fala. O objetivo desta dissertação foi
propor um teste de figuras para avaliar a percepção fonêmica de crianças de 4:0 a 8:0 anos de idade através de
pares mínimos. Estes foram escolhidos com base nas oposições dos fonemas em relação ao valor binário de cada
traço distintivo e às combinações possíveis entre os traços de lugar ([labial], [coronal], [dorsal]) e nas oposições
de estruturas silábicas. O teste deveria abranger todos os fonemas do português brasileiro, as palavras deveriam
pertencer ao vocabulário de crianças de 4:0 a 8:0 anos e serem facilmente representáveis por figuras. Além disso,
o teste deveria ser de fácil aplicação e contribuir para o diagnóstico das alterações fonoaudiológicas e para
pesquisas científicas desta área. A partir da revisão bibliográfica, a respeito da percepção da fala e da
discriminação fonêmica e dos testes já existentes para avaliar esta habilidade ou outras habilidades da
linguagem, esta pesquisa propôs o Teste de Figuras para Discriminação Fonêmica TFDF. O TFDF é um teste
que avalia a habilidade de discriminação fonêmica, composto por 30 pares mínimos (60 palavras) devidamente
representados por figuras e organizados em cartelas de apresentação. Para explicar as tarefas do teste, fazem
parte dele quatro itens de demonstração. Os 30 pares mínimos foram organizados em 40 apresentações, das quais
30 contêm duas palavras diferentes e 10 contêm duas palavras iguais. As tarefas do TFDF consistem em ouvir
duas palavras (que podem ser diferentes ou iguais) e apontar para a cartela que contém as figuras que as
representam. Foi realizado um estudo piloto para aplicação do TFDF e averiguação da qualidade do teste,
estrutura, organização, adequação das palavras e figuras selecionadas. Este estudo piloto foi realizado em uma
escola particular e uma escola pública da cidade de Santa Rosa-RS. Foram avaliados 49 sujeitos, com idades
entre 4:0 e 7:11, sendo 24 oriundos da escola particular e 25 da escola pública. Dos sujeitos, 22 eram do sexo
feminino e 27 do masculino. Todos os sujeitos foram triados, para exclusão de alterações fonoaudiológicas
graves. Após a realização do estudo piloto, concluiu-se que a estrutura e organização do TFDF estão adequadas
para a faixa etária a que se propõe a avaliar, é de fácil e rápida aplicação, bem aceito pelas crianças, não exige
muitos cuidados em relação ao ambiente de testagem, pode ser muito útil no diagnóstico das alterações
fonoaudiológicas e pesquisas científicas desta área. No entanto precisa sofrer modificações em duas figuras.
Com os resultados quantitativos, verificou-se que não houve diferença significativa de desempenho entre os oito
grupos etários, entre as escolas e entre os sexos. No entanto, encontrou-se diferença estatisticamente significativa
no tempo de aplicação do TFDF entre as escolas, sendo este tempo maior na escola pública. Espera-se que este
teste possa ser padronizado para que se tenha a estimativa de qual é o desempenho normal para a população
brasileira.
Palavras-chave: discriminação fonêmica; percepção da fala; avaliação fonoaudiológica.
7
ABSTRACT
Master’s Thesis
Post Graduation Program in Human Communication Disorders
Federal University of Santa Maria, RS, Brazil
PHONEME DISCRIMINATION PICTURE TEST: PROPOSAL AND APPLICATION
AUTHOR: BEATRIZ DOS SANTOS CARVALHO
ADVISOR: HELENA BOLLI MOTA
CO-ADVISOR: MÁRCIA KESKE-SOARES
Phonemic discrimination is the ability to differentiate the sounds of speech. The aim of this paper is to
propose a picture test to evaluate the phonemic perception in children from 4 to 8 years old through minimum
pairs. These were chosen based on phoneme opposition in relation to the binary value of each distinctive feature
and on possible combinations among Place features ([labial]), [coronal], [dorsal]), and on syllabic structure
oppositions. The test had to appreciate all Brazilian Portuguese phonemes, the words had to belong to child’s
vocabulary from 4 to 8 years old and they had also to be easily represented by pictures. In addition, the test had
to be easily applied and it had to contribute to the diagnostic of the phonologic alterations and to scientific
research on this field. Based on bibliographic references which approaches speech perception, phoneme
discrimination, and existing tests to evaluate this or other language abilities, this paper proposed the Phoneme
Discrimination Picture Test. The PDPT evaluates phonemic discrimination ability and it is composed of 30
minimum pairs (60 words) properly represented by pictures and arranged in flash cards. In order to explain the
task to be performed there are four demonstration items. The 30 minimum pairs were arranged in 40
presentations in which 30 had 2 different words and 10 had 2 equal words. The tasks consisted of listening to 2
words (which could be different or equal) and pointing towards the flash card with the pictures that represented
the words. A trial was carried out in order to apply the PDPT and check its quality, structure, arrangement,
adequacy of the selected words and pictures. This trial was carried out in a private school in Santa Rosa, State of
Rio Grande do Sul, Brazil. 49 subjects at ages 4:0 and 7:11 were evaluated, and from these, 24 studied at a
private school and 25 at a public school. 22 subjects were female and 27 were male. All the subjects underwent a
selection process in order to exclude any serious phonological alteration. At the conclusion of the trial it was
possible to infer that the structure and arrangement of the PDPT were fit for the age group and for what it aimed
to evaluate, and that it was easy and fast to apply, well-accepted by the children, and it did not required any
special arrangement concerning testing environment and could also be very useful to diagnose phonologic
alterations and to conduct scientific research in this field. However, the test needed to have two pictures altered.
Analyzing the quantitative results, it was possible to check that there was no significant difference in
performance among the 8 age groups, between both schools and sexes. Nevertheless, there was significant
statistic difference in time spent to do the test in which the subjects from the public school spent more time.
There is a hope that this test can be standardized so that one can have an estimate of the usual performance by
the Brazilian population.
Key-words: phonemic discrimination; speech perception; language avaliation.
8
LISTA
DE QUADROS
QUADRO 1 – Matriz fonológica dos segmentos consonantais do português (Fonte:
Mota, 1997)........................................................................................................................
QUADRO 2 Pares mínimos selecionados para constituírem o teste .............................
QUADRO 3 – Pares de palavras selecionados para representar a oposição de estrutura
silábica...............................................................................................................................
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61
9
LISTA
DE TABELAS
Tabela 1 — Tempo de aplicação do TFDF versus variável escola ..................................
Tabela 2 Tempo de aplicação do TFDF versus variável grupo etário...........................
Tabela 3 Pontuação no TFDF versus variável escola.....................................................
Tabela 4 Pontuação no TFDF versus variável grupo etário...........................................
Tabela 5 Pontuação no TFDF versus variável sexo.......................................................
Tabela 6 Número de erros nas apresentações do TFDF por grupo etário – total de
sujeitos da amostra ..........................................................................................................
Tabela 7 Comparação do número de erros total no TFDF entre os diferentes grupos
etários................................................................................................................................
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10
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A - Cartelas de apresentação do TFDF ........................................................
APÊNDICE B - Protocolo de apresentação do TFDF ......................................................
APÊNDICE C - Protocolo de respostas do TFDF ............................................................
APÊNDICE D - Termo de consentimento livre e esclarecido .........................................
APÊNDICE E - Questionário – desempenho escolar do aluno ........................................
APÊNDICE F - Alterações fonoaudiológicas encontradas nos sujeitos triados ...............
APÊNDICE G - Resultados gerais escola pública.............................................................
APÊNDICE H - Resultados gerais escola particular........................................................
APÊNDICE I - Número de erros nas apresentações do TFDF por crianças de diferentes
grupos etários em escolas públicas....................................................................................
APÊNDICE J - Número de erros nas apresentações do TFDF por crianças de diferentes
grupos etários em escolas particulares...............................................................................
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................
2.1 Percepção da fala .....................................................................................................
2.1.1 Percepção auditiva da fala.......................................................................................
2.1.2 Percepção visual da fala............................................................................................
2.1.3 Teorias de percepção da fala.....................................................................................
2.1.3.1 Teoria auditiva.......................................................................................................
2.1.3.2 Teoria motora.........................................................................................................
2.2 Habilidades auditivas/ processamento auditivo central.........................................
2.2.1 Memória auditiva......................................................................................................
2.3 Discriminação auditiva .............................................................................................
2.4 Pesquisas relacionadas à discriminação auditiva/ discriminação fonêmica ........
2.4.1 Pesquisas do período pré-natal e neo-natal ..............................................................
2.4.2 Crianças com atraso de linguagem ..........................................................................
2.4.3 Crianças com distúrbio específico da linguagem .....................................................
2.4.4 Crianças com desvio fonológico ..............................................................................
2.4.5 Crianças sem distúrbio da comunicação ..................................................................
2. 5 Detecção fonêmica: habilidade de consciência fonológica ...................................
2.5.1 Consciência lingüística ............................................................................................
2.5.2 Consciência fonológica ............................................................................................
2.5.3 Consciência fonêmica ..............................................................................................
2.6 Noções de fonologia relevantes a este trabalho ......................................................
2.6.1 Fonologia .................................................................................................................
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37
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2.6.2 Fonemas....................................................................................................................
2.6.3 Traços distintivos .....................................................................................................
2.6.4 Estruturas silábicas....................................................................................................
2.6.5 Par mínimo................................................................................................................
2.7 Sobre o processo de avaliação ..................................................................................
2.8 Testes específicos para avaliar a discriminação auditiva / discriminação
fonêmica ...........................................................................................................................
2.8.1 Explanação dos testes internacionais ......................................................................
2.8.2 Explanação dos testes nacionais ..............................................................................
2.8.3 Comentários sobre aspectos estruturais dos testes que avaliam a discriminação
auditiva/ fonêmica..............................................................................................................
2.9 Aspectos estruturais de testes que avaliam habilidades da linguagem.................
2.9.1 Uso de figuras ..........................................................................................................
2.9.2 Treino prévio.............................................................................................................
2.9.3 Motivação verbal ao sujeito testado .........................................................................
2.9.4 Avaliação qualitativa do desempenho do sujeito......................................................
2.9.5 Características do ambiente de testagem .................................................................
3 MÉTODOS E TÉCNICAS ..........................................................................................
3.1 Elaboração do teste ...................................................................................................
3.1.1 Objetivo ....................................................................................................................
3.1.2 Faixa etária a ser avaliada ........................................................................................
3.1.3 Tipo de estímulo.......................................................................................................
3.1.4 Seleção das oposições de fonemas e dos pares mínimos .........................................
3.1.5 Uso de figuras ..........................................................................................................
3.1.6 Apresentação do estímulo.........................................................................................
3.1.7 Itens de demonstração ..............................................................................................
3.1.8 Número de apresentações.........................................................................................
3.1.9 Pistas visuais ...........................................................................................................
3.1.10 Variável memória....................................................................................................
3.1.11 Motivação verbal ao sujeito testado........................................................................
3.1.12 Avaliação qualitativa..............................................................................................
3.1.13 Ambiente de testagem.............................................................................................
3.1.14 Composição do TFDF ...........................................................................................
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46
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3.1.15 Aplicação do TFDF.................................................................................................
3.2 Estudo piloto ..............................................................................................................
3.2.1 Objetivo ....................................................................................................................
3.2.2 Seleção das escolas e sujeitos..................................................................................
3.2.3 Triagem dos sujeitos selecionados...........................................................................
3.2.4 Avaliação com o TFDF ...........................................................................................
3.2.5 Critérios de exclusão dos sujeitos selecionados para a amostra ..............................
3.2.6 Amostra do estudo piloto .........................................................................................
3.2.7 Retorno para escolas e pais/ responsáveis ...............................................................
3.2.8 Análise dos dados do estudo piloto...........................................................................
4 RESULTADOS ............................................................................................................
4.1 Dados qualitativos do estudo piloto ........................................................................
4.1.1 Comentários e reações dos sujeitos durante a aplicação do teste ...........................
4.1.1.1 Comentários / reações sobre as figuras e palavras do teste ..................................
4.1.1.2 Comentários / reações sobre a forma como se organiza o teste ............................
4.1.1.3 Comentários sobre o desempenho no teste ...........................................................
4.1.1.4 Comentários sobre a marcação de respostas .........................................................
4.1.2 Aspectos do desempenho específico da criança ......................................................
4.1.2.1 Interesse ................................................................................................................
4.1.2.2 Fadiga ....................................................................................................................
4.1.2.3 Dificuldades de compreensão da tarefa ................................................................
4.1.2.4 Utilização de apoio articulatório para realização da discriminação fonêmica ......
4.1.2.5 Solicitação de explicações extras ..........................................................................
4.1.2.6 Respostas que seguiam um determinado padrão ..................................................
4.2 Dados quantitativos do estudo piloto ......................................................................
4.2.1 Tempo da aplicação do teste ....................................................................................
4.2.2 Pontuação dos sujeitos .............................................................................................
4.2.3 Número de erros por apresentação no TFDF ...........................................................
5 DISCUSSÃO .................................................................................................................
5.1 Discussão dos dados qualitativos..........................................................................
5.2 Discussão dos dados quantitativos............................................................................
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................
7 CONCLUSÃO ..............................................................................................................
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8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................
9 APÊNDICES ...............................................................................................................
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15
1 INTRODUÇÃO
A discriminação fonêmica é muito importante para a aquisição da linguagem. É
através da associação dos aspectos auditivos, como percepção e discriminação, ao gesto motor
articulatório que os fonemas da língua são memorizados e passam a ser utilizados na fala da
criança.
Sendo a discriminação fonêmica um fator consideravelmente relevante no processo de
aquisição normal da linguagem, deduz-se que, nas patologias da mesma, esta habilidade possa
estar alterada. Esta hipótese foi pesquisada por vários autores, dentre os quais podemos citar
Tallal & Stark (1980) que a pesquisaram em crianças com atraso de linguagem; Leonard,
McGregor & Allen (1992) em crianças com Distúrbio Específico da Linguagem; Rvachew
(1994), Mota et al. (2002) e Santos (2005) em crianças com Desvios Fonológicos Evolutivos.
Todos estes autores encontraram alterações na habilidade de discriminação fonêmica /
discriminação auditiva nos grupos estudados.
Lowe (1996) refere que se a criança não percebe corretamente o modelo de fala sua
representação interna será incorreta, levando a erros na fala. Assim, torna-se necessário
avaliar a discriminação fonêmica em crianças com patologias da linguagem para uma melhor
descrição e diagnóstico dessas patologias e para o bom delineamento da terapia
fonoaudiológica.
É possível encontrar diferentes testes de discriminação auditiva dos sons da fala na
literatura internacional como, por exemplo, os conhecidos “The Boston University Speech
Sound Discrimination Picture Test” (Provnost & Dumbledon, [19--], apud Rodrigues, 1981) e
o “Teste de Weepman” (Weepman, 1958, apud Rodrigues, 1981). No entanto, na literatura
brasileira, encontrou-se apenas a “Prova para Avaliar a Discriminação Auditiva” de
Rodrigues (1981).
A prova de Rodrigues (op. cit.) utiliza pares de sílabas contrastantes como estímulo.
Scliar-Cabral (1991) frisa que o processamento dos sinais lingüísticos não se dá sobre
unidades estáticas tais como consoantes e vogais isoladas, mas sim, através do aspecto
dinâmico da cadeia de fala. Por isso, considera-se o uso de palavras (e não sílabas) como um
estímulo mais adequado para a avaliação desta habilidade auditiva.
No Centro de Estudo da Linguagem e Fala (CELF) da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) foi feita uma adaptação ao “The Boston University Speech Sound
Discrimination Picture Test”, que utiliza palavras como estímulos auditivos (Mota, Keske-
16
Soares & Vieira, 2000). Mas esta adaptação precisa ser modificada, no que diz respeito à:
inclusão da consoante /ñ/, melhor distribuição dos contrastes dos traços distintivos nas
possibilidades de posições das sílabas nas palavras, escolha de palavras que façam parte do
vocabulário infantil, adequação da figura utilizada à palavra que dever representar,
estabelecimento de padrões de normalidade para o teste.
Pela escassez de testes que avaliam a discriminação fonêmica propostos para as
crianças brasileiras, considerou-se necessária a criação de um instrumento de avaliação
elaborado a partir do português brasileiro e devidamente padronizado para as crianças deste
país. Este instrumento deve observar aspectos quantitativos e qualitativos durante a tarefa de
discriminar as diferenças entre os fonemas e levar em consideração a adequação das palavras
do teste ao vocabulário infantil e a escolha de figuras que representem fielmente as palavras a
serem testadas.
Assim, esta pesquisa teve como objetivo geral propor um teste que avaliasse a
discriminação fonêmica através de pares mínimos, escolhidos pelas oposições dos fonemas
em relação ao valor binário de cada traço distintivo e às combinações possíveis entre os traços
de lugar ([labial], [coronal], [dorsal]) e pelas oposições de estruturas silábicas. Igualmente,
buscar que este teste contribua para o diagnóstico de alterações fonoaudiológicas e para a
pesquisa científica nesta área.
Os objetivos específicos foram os seguintes:
- propor um teste que abrangesse todos os fonemas do português brasileiro e utilizá-los em
palavras que pudessem ser facilmente representadas por figuras;
- possibilitar que este teste fosse de fácil aplicação, podendo ser utilizado em qualquer local
de trabalho dos fonoaudiólogos (clínicas, escolas, postos de saúde, etc.).
Esta pesquisa contém um capítulo de Revisão Bibliográfica, onde se faz uma revisão
da literatura disponível a respeito da percepção da fala e da discriminação fonêmica,
pesquisas relacionadas a este tema, habilidades auditivas, detecção fonêmica, noções de
fonologia pertinentes ao trabalho de elaboração do teste, métodos de avaliação, testes
existentes que avaliem a discriminação fonêmica/ discriminação auditiva e testes brasileiros
para habilidades da linguagem. Em seguida, o capítulo Métodos e Técnicas descreve em
detalhes os procedimentos utilizados nesta pesquisa. O capítulo Resultados, explicita os
resultados qualitativos e quantitativos encontrados no transcorrer da pesquisa. No capítulo
Discussão, são discutidos os resultados, com base na revisão bibliográfica e nas reflexões
decorrentes da pesquisa. No Capítulo de Considerações Finais são feitos alguns comentários
17
pertinentes à pesquisa, frutos das reflexões por ela propiciadas. As conclusões alcançadas são
apresentadas no capítulo de Conclusões.
18
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nesta sessão será apresentada uma revisão da literatura sobre os assuntos abordados
nesta dissertação. Esta revisão estará dividida em tópicos, para facilitar o entendimento do
leitor. A ordem cronológica da publicação dos trabalhos bem como a ordem alfabética dos
autores não será considerada para que a mesma não prejudique o desenvolvimento do texto.
Salienta-se aqui que na revisão bibliográfica feita, foram encontrados poucos trabalhos
atuais sobre o tema específico da pesquisa: a discriminação fonêmica.
2.1 Percepção da fala
2.1.1 Percepção auditiva da fala
De um modo geral, qualquer estudo ou autor que fale sobre a percepção da fala, faz
referência ao fato dela ser percebida de maneira diferente dos demais sons e que haveria um
sistema diferenciado ou especializado para sua percepção.
Para Russo & Behlau (1993), a percepção dos sons da fala envolve um sistema de
interação complexa que ultrapassa a realidade da simples detecção de sinais acústicos. Para
que a fala seja percebida, são necessárias as etapas da audibilidade, recepção, discriminação,
reconhecimento, memória e compreensão da mensagem falada. Basicamente, a energia do
sinal de fala deve ser suficientemente audível e os elementos acústicos desse sinal devem ser
passíveis de discriminação. Isto envolve a segmentação destes em unidades menores que
serão armazenadas na memória para comparação, reconhecimento e compreensão.
Segundo Schochat (1996), o sinal de fala deve ser transformado pelo sistema auditivo
periférico para depois serem extraídas informações acústicas sobre os padrões temporais e do
espectro deste sinal. Essas informações são analisadas e delas provêm as pistas acústicas da
fala, ou seja, as representações auditivas do sinal de fala que são usadas para a classificação
fonética. As atividades periféricas são responsáveis pela sensação do som, enquanto que as
centrais são responsáveis pela percepção.
19
Pereira (2004) observa que a percepção e a produção da fala são eventos relacionados.
A habilidade para produzir fala inteligível depende, em grande parte, das habilidades para
processar os paradigmas do espectro acústico e da prosódia da fala do locutor.
Aguado (2005), numa visão mais psicológica sobre a percepção da fala, coloca que
baseado em várias pesquisas sobre a percepção dos sons da fala pode-se concluir que o bebê
possui uma extraordinária capacidade para o tratamento dos sons da linguagem. Supõe que
isso ocorra porque os sons da linguagem seriam precisamente de origem humana e, deste
modo, essenciais para entrar em contato com o ambiente humano, fonte de segurança,
gratificações e conhecimentos para a criança. O autor refere ainda que essas capacidades
precoces de tratamento dos sons da fala poderiam ser consideradas como os primeiros passos
para uma discriminação mais perfeita e também precoce dos sons produzidos pelo adulto,
portadores de uma função distintiva.
Fazendo um paralelo entre o desenvolvimento lingüístico e a percepção da linguagem
pelos bebês, Northern & Downs (1989) colocam que talvez haja uma hierarquia de facilidade
em observar distinções entre as propriedades acústicas dos sons da fala. Hierarquia esta que
seria responsável pela seleção de determinados sons no ciclo de retorno auditivo (feedback
auditivo). Os autores se perguntam se isto está relacionado à energia sonora ou à sensibilidade
diferencial do ouvido humano em escutar as várias freqüências. Concluem que existe uma
relação entre a sensibilidade auditiva seletiva e a facilidade de produção dos sons, que é a
responsável pela escolha e ordem de aquisição dos sons que os bebês irão produzir.
Northern & Downs (op. cit.) falam que o pré-requisito para uma formulação posterior
da linguagem no bebê, é um longo período de recepção dos estímulos auditivos. Antes da
emergência da fala, deve haver de 12 a 18 meses de recepção da fala adulta complexa.
Após fazer uma revisão sobre o problema de como os complexos padrões acústicos de
fala são interpretados pelo cérebro e percebidos como unidades lingüísticas, Moore (1989) faz
algumas conclusões gerais. Diz, por exemplo, que ainda não está claro qual é a unidade básica
para a percepção da fala, se a sílaba, o fonema ou outra unidade semelhante que tenha caráter
fonético distintivo. Isto se torna o problema básico no estudo da percepção da fala: relatar
quais as propriedades da onda de fala que especificam as unidades lingüísticas.
Segundo Moore (op. cit.), existem boas evidências de que a fala é uma classe especial
de estímulo auditivo, e que esse estímulo é percebido e processado em caminhos diferentes
dos estímulos que não são de fala. Algumas dessas evidências são: o fenômeno de que os sons
podem ser melhores identificados quando são reconhecidos lingüisticamente, a existência de
assimetria cerebral que indica que certas áreas do cérebro são especializadas no intercâmbio
20
com a fala, estudos de integração audiovisual que mostram que a percepção e a identificação
dos sons da fala são influenciadas pelo que a pessoa ouve e vê da face do falante, etc. Este
autor acredita que os diversos fenômenos que indicam a percepção da fala como uma
habilidade especial conduzem à Teoria Motora da Percepção da Fala (ver subitem 2.1.3.2
deste capítulo).
Moore (1989) conclui ainda que a percepção da fala envolve muitos níveis diferentes e
que as informações que são separadas em cada nível podem ser usadas na resolução de
ambigüidades ou para correção de erros ocorridos em outros níveis. É provável que o
processamento da fala não ocorra numa direção hierárquica de cada nível para o próximo, mas
que existam ligações extensas entre cada nível. Assim, a informação de qualquer nível pode
ser novamente analisada com base nas informações vindas de outro nível. Conforme este
autor, o conhecimento prévio da sintática e da semântica permitiria promover ajustes e
correções no espaço situacional, indicando de que forma o falante identifica previamente a
mensagem contida até o momento nas informações.
Complementando, Moore (op. cit.) refere ainda que a natureza multidimensional dos
sons da fala e a grande soma de informações independentes que são avaliadas nos diferentes
níveis de processamento, produzem um elevado nível de redundância no discurso. Por isso,
ela pode ser bem compreendida mesmo na presença de ruído de fundo. Deste modo, a fala
seria um método altamente eficiente de comunicação que permaneceria confiável frente a
condições de dificuldade.
Para Northern & Downs (1989), qualquer que seja a teoria sustentada sobre a
percepção e aquisição da linguagem, o fato que mais se destaca é a primazia da recepção da
fala pelas crianças. Para estes autores, é evidente que ouvir a linguagem não é um processo
passivo, mas um processo do qual o bebê participa através da ação sobre os sinais de entrada.
Do ponto de vista fisiológico, o sistema auditivo do bebê é plástico, ou seja, pode ser
modificado não apenas por alterações anatômicas, mas também por variações nos estímulos
acústicos (Northern & Downs, op. cit.). Assim, a ausência ou a falta de estímulos sonoros
resultará em desvio da função auditiva. Isto é o que acontece em crianças surdas: a privação
sensorial auditiva total num determinado período de tempo pode resultar em inabilidade
irreversível para perceber diferenças nos sons da fala.
21
2.1.2 Percepção visual da fala
Northern & Downs (1989) dizem que uma representação bimodal (auditiva e visual)
da fala está presente no bebê: o reconhecimento de que a seqüência dos movimentos dos
lábios, língua e mandíbula correspondem aos sons que ouvimos.
Mysak (1998) afirma que sob circunstâncias normais a recepção da fala é uma função
bi-sensorial; o ouvido recebe a energia de pressão sonora associada com eventos de fala e o
olho recebe a energia radiante em conexão com movimentos articulatórios, associados à fala,
expressões faciais, movimentos e posturas corporais. A informação da fala, em uma situação
face a face, é gerada por via da síntese dos códigos verbo-acústico e verbo-visual
(movimentos articulatórios, faciais, manuais e corporais). Mesmo assim, a audição permanece
sendo a modalidade sensorial dominante para a recepção e percepção dos sinais de fala.
A idéia de que a audição parece ser quase perfeita dentro do papel de percepção da
fala, não é apoiada por pesquisas atuais que trabalham com sinais acústicos perturbados,
segundo Kozlowski (1997). Esta autora, refere que diferentes pesquisas demonstram
atualmente um processo amodal de percepção da fala, onde a idéia sustentada é aquela de que
a via visual é utilizada mesmo dentro de situações onde o sinal acústico é claro e intacto,
sendo que a leitura labial pode auxiliar na percepção da fala de maneira constante. A
percepção visual da fala não se limita aos movimentos dos lábios, mas abrange os
movimentos do rosto, laringe e corpo.
Neste trabalho, não se ignora a questão da participação visual na percepção da fala. No
entanto, como o objetivo é pesquisar a discriminação fonêmica, que é uma habilidade
auditiva, o aspecto auditivo da percepção da fala é que será enfatizado.
2.1.3 Teorias de percepção da fala
Muitos pesquisadores desenvolveram estudos no intuito de precisar como se dá a
percepção da fala e formularam teorias que explicam essa percepção. A seguir há uma
descrição das mesmas.
22
2.1.3.1 Teoria auditiva
De acordo com Miller (1990), os três pontos básicos da Teoria Auditiva são: a
percepção da fala não é baseada na produção, ela não é específica da espécie e ela pode ser
inata. Segundo esta teoria, a fala não é percebida por um sistema especializado que se baseia
num conhecimento subjacente da articulação. É o sistema auditivo por si só que realiza esta
tarefa. Como é o sistema auditivo que processa os sons (quaisquer sons, de fala ou não), ele
resolve automaticamente o problema da sobrearticulação, de tal modo que as pessoas são
capazes de perceber e ordenar as seqüências de segmentos fonéticos que foram intencionadas
pelos falantes.
Esta teoria afirma também que, como o sistema auditivo humano é muito similar ao de
muitos outros animais, estes também poderiam perceber a fala como nós. Assim, a percepção
da fala não seria específica da espécie humana. No entanto, a Teoria Auditiva da Percepção da
Fala acredita que a habilidade de perceber a fala pode ser inata, pois deve surgir precocemente
na criança para que possa ser bem desenvolvida (Miller, op. cit.).
2.1.3.2 Teoria motora
Segundo Kozlowski (1997), para a Teoria Motora o processo de percepção da fala é
diferente do processo de percepção dos demais sons. A percepção e a produção da fala são
ligadas biologicamente: o sinal de fala é inicialmente submetido a uma análise perceptual,
então os sinais neurais decodificam as unidades fonéticas que estão em relação com os gestos
articulatórios. Assim, ao ouvir uma mensagem, o interlocutor reefetuaria dentro de um espaço
proprioceptivo o gesto articulatório a partir de limiares de identificação fonética.
Para Scliar-Cabral (1991), a Teoria Motora prega que o ouvinte modela os dados
acústicos do emissor, transformando-os em representações dos gestos motores. Assim, os
limites na capacidade de comandar os gestos articulatórios restringiriam os tipos de pistas
acústicas, sua integração e possíveis combinações que a percepção utiliza e vice-versa.
Miller (op. cit.) refere que a Teoria Motora baseia-se em três princípios fundamentais:
a percepção da fala é baseada na produção, é específica da espécie e é inata. Conforme a
autora, os idealizadores desta teoria dizem que há uma ligação íntima entre o sistema
23
responsável por perceber a fala e o sistema responsável por produzi-la. Esta ligação permite
ao ouvinte, no momento em que ouviu o sinal de fala, determinar que gestos articulatórios o
falante usou e a partir disso descobrir quais os segmentos fonéticos (vogais e consoantes) que
foram produzidos. Isto explicaria como o ouvinte consegue entender as palavras faladas
apesar do efeito de sobrearticulação: embora o sinal de fala não seja igual aos segmentos
fonéticos pretendidos pelo falante (efeito da sobrearticulação), o ouvinte consegue processar
este sinal de fala reconhecendo os sinais de fala pretendidos.
Além disso, para a Teoria Motora de Percepção da Fala, esta habilidade é específica da
espécie humana, pois somente ela possui um conhecimento subjacente de articulação, produz
a fala e consegue operar o processo de percepção para reconhecer as estruturas fonéticas
como forma de fala (Miller, 1990). Os animais que ouvem a fala humana a entendem como
uma série de ruídos porque não possuem um sistema de processamento de fala especializado.
Miller (op. cit.) expõe ainda que para esta teoria, a percepção é inata, ou seja, o
sistema de processamento especializado que utilizamos para perceber a fala é parte da
hereditariedade biológica dos seres humanos. Os bebês vêm ao mundo com um conhecimento
implícito da articulação e da ligação entre produção e percepção. Em outras palavras, os bebês
não têm que aprender a perceber os sons da fala.
Bishop (2002) afirma que a Teoria Motora de Percepção da Fala na busca de
solucionar o problema da invariância acústica (têm-se uma representação inconstante na
forma da onda modulada mas percebe-se como sendo o mesmo som) propugnou que a fala é
reconhecida mediante um processo de comparação de um input acústico com as configurações
articulatórias que seriam necessárias para produzir o sinal acústico. Assim a percepção da fala
seria dependente da produção.
A Teoria Motora acredita que o conhecimento da forma como os sons da fala se
relacionam com os movimentos de articulação é inato e não aprendido. Sendo assim, como
explicar, por exemplo, que um falante de japonês não consiga distinguir a diferença entre dois
sons do inglês? Para isto, os teóricos novamente revisaram suas teorias e argumentaram que
uma vez aprendida a língua nativa, o indivíduo perde a capacidade inata de relacionar os sons
da fala com suas correspondências motoras (Bishop, op. cit.).
Os pressupostos teóricos da Teoria Motora da Percepção da Fala, foram os adotados
nesta pesquisa e serviram de guia para a elaboração do Teste de Figuras para Discriminação
Fonêmica - TFDF.
24
2.2 Habilidades auditivas/ processamento auditivo central
Existem várias habilidades auditivas, sendo elas: atenção, detecção, discriminação,
localização, identificação, memória, compreensão. Pereira, Navas & Santos (2002) dizem que
a atenção é a habilidade do indivíduo focar num estímulo sonoro; detecção é a capacidade de
receber o estímulo; discriminação é a habilidade de resolução de freqüência, intensidade,
duração. A localização é a habilidade de analisar diferenças de tempo e de intensidade dos
sons recebidos por cada um dos lados da orelha. Identificação é a habilidade de selecionar um
estímulo e ignorar outros (atenção seletiva); memória envolve memorizar um padrão de
freqüência ou padrão de duração de sons. Compreensão é a habilidade de interpretar os
eventos sonoros integrando-os com as demais informações sensoriais (Pereira, Navas &
Santos, op. cit.).
O processamento auditivo pode ser definido segundo Pereira (2004) como a série de
operações mentais que o indivíduo realiza ao lidar com informações recebidas via o sentido
da audição e que dependem de uma capacidade biológica inata e de experienciação no meio
acústico. Segundo esta autora, é por volta dos 12, 13 anos de idade que o processamento
auditivo, memória, processamento visual e o aprendizado da língua tornam-se similares ao do
adulto.
Pereira (op. cit.) diz que o processamento da informação se dá através da assimilação,
da transformação e do uso desta, resultando em futuros comportamentos. Para que estes sejam
desenvolvidos, há necessidade de integridade e neuromaturação das várias estruturas do
sistema nervoso que lidam com a informação recebida pelo sentido da audição.
Para Magalhães et al (2006), é por meio da recepção, análise e organização do
processamento das informações auditivas que se estabelece a representação mental do
estímulo lingüístico e o armazenamento dessa representação na memória.
Baran & Musiek (2001) dizem que, conforme a ASHA, processos auditivos centrais
são os mecanismo e processos do sistema auditivo responsáveis pelos seguintes fenômenos
comportamentais: localização e lateralização sonora; discriminação auditiva; reconhecimento
de padrões auditivos; aspectos temporais da audição, desempenho auditivo na presença de
sinais competitivo e desempenho auditivo com sinais acústicos degradados. Esses fenômenos
comportamentais referem-se tanto a sons verbais como a sons não-verbais.
25
É a atenção seletiva auditiva que permite a realização da figura-fundo auditiva
(Machado & Pereira, 1997). Déficits na atenção seletiva, que envolvem estruturas do sistema
nervoso central, alteram a capacidade que o indivíduo tem de selecionar estímulos.
Para Azevedo & Pereira (1997), as pesquisas têm demonstrado que tanto a
plasticidade como a maturação são, em parte, dependentes da estimulação; isto porque é a
estimulação que ativa e reforça as vias neurais.
Azevedo & Pereira (op. cit.), propõem um modelo de terapia para a desordem do
processamento auditivo central em crianças. Neste modelo, existem quatro níveis a serem
trabalhados, necessariamente nesta ordem: detecção, discriminação, reconhecimento e
compreensão. Segundo as autoras, a detecção é a habilidade em responder a presença ou
ausência do som, e inclui atenção aos sons e localização da fonte sonora. A discriminação é a
habilidade de perceber semelhanças e diferenças entre sons verbais. O reconhecimento/
identificação é a capacidade de identificar o estímulo verbal e a compreensão é a habilidade
de entender o significado da fala respondendo a questões, seguindo instruções, etc.
2.2.1 Memória auditiva
A habilidade auditiva de memória é o processo que nos permite adquirir e armazenar
informações a curto e longo prazo e recuperá-las quando necessário (Corona et al, 2005). Esta
habilidade é de suma importância para os demais processos envolvidos na percepção auditiva,
pois graças à memória de seqüência de sons, a comunicação se torna possível e eficiente.
Para Pereira (2004), a memória é uma função do sistema nervoso que pode ser
definida como a aquisição ou aprendizado, o armazenamento e a evocação de informações. Já
para Linassi et al (2005) a memória é uma capacidade mental que se combina e se relaciona
com outras capacidades, como a linguagem, o raciocínio e a construção de conhecimentos.
Ela permite ao ser humano a fixação de informações e sua conseqüente conservação, bem
como as ações de reconhecimento e de evocação.
A memória de trabalho é uma memória de curto prazo, a qual é importante para o
desenvolvimento lingüístico, uma vez que essa habilidade influencia no processamento da
linguagem. Linassi et al (op. cit.) observam que há um vínculo significativo entre a habilidade
de memória fonológica e a complexidade da produção de fala. Os três componentes do
modelo de memória de trabalho, o executivo central, a alça fonológica e a alça visuo-espacial,
26
estão presentes nas crianças pequenas, porém, ocorrem mudanças no desempenho na alça
fonológica entre as idades de cinco a dez anos.
Segundo Machado & Pereira (1997), a memória de curto termo é a entrada para a
memória de longo termo. Pereira (2004), diz que a memória de trabalho ou operacional é o
sistema de gerenciamento das informações auditivas.
Realizando uma pesquisa com o objetivo de caracterizar a habilidade auditiva de
memória seqüencial verbal em crianças de três a 12 anos, Corona et al (2005), aplicaram o
teste de memória seqüencial verbal modificado por um acréscimo de uma sílaba a cada
seqüência. O teste modificado foi aplicado em 223 escolares, do ensino público e privado.
As autoras observaram que todos os sujeitos repetiram corretamente pelo menos duas
das três seqüências de três sílabas. Aos nove anos, os sujeitos conseguiram repetir as três
seqüências e aos seis anos eles foram capazes de repetir pelo menos duas das três seqüências
de quatro sílabas. Constataram também que os sujeitos da escola pública apresentaram o
mesmo comportamento das crianças das escolas privadas, mas em faixas etárias superiores.
Corona et al (2005) concluíram que as respostas comportamentais para sons verbais em
seqüência melhoram com a idade e que as crianças da escola privada apresentam evolução
mais precoce dessa habilidade.
2.3 Discriminação auditiva
A discriminação auditiva é a habilidade de distinguir auditivamente a diferença entre
os sons da fala (Rodrigues, 1981). Conforme Russo & Behlau (1993), a discriminação é o
processo de diferenciação de sons acusticamente similares, mas com freqüência, duração e ou
intensidades diferentes, e é justamente nestas diferenças que reside a informação transportada
pelo som.
Rodrigues (op. cit.) refere que a discriminação auditiva melhora com a idade e que
talvez essa melhora dependa da ação mútua da maturação e da experiência. Afirma ainda,
que o aprendizado dos sons da fala só ocorre quando há condições para que os mesmos
sejam discriminados uns dos outros, o que proporciona unidades aceitáveis para a
expressão verbal do pensamento. Para o autor, a diferenciação dos sons da fala é
acompanhada pela identificação e o destaque dado aos traços distintivos importantes
providos de significação fonêmica.
27
Azevedo & Pereira (1997), falando sobre como trabalhar a discriminação em
terapia, sugerem que se apresentem sons verbais para que a criança perceba se são iguais
ou diferentes. As autoras colocam que inicialmente usa-se oposição extrema e aos poucos
deve-se ir aproximando até chegar a sons bem semelhantes.
Northern & Downs (1989) afirmam que logo após o nascimento, a criança começa
a aprender a discriminar os sons da fala. Estes autores afirmam que a criança de um a
quatro anos já distingue a maioria do pares de sons, sendo que por volta dos seis meses já
reconhece muitos dos sons da fala de sua língua e continua partir daí catalogando os sons
da fala.
Conforme o dicionário Aurélio (Ferreira, 2004) o termo discriminar significa
diferenciar, distinguir ou discernir; já o termo perceber significa adquirir conhecimento de
algo por meio dos sentidos; formar idéia de, abranger com a inteligência, entender,
compreender. Embora Rodrigues (1981) tenha descrito o termo discriminação auditiva como
sendo a habilidade de distinguir auditivamente a diferença entre os sons da fala, neste trabalho
este termo não será considerado o mais apropriado, pois é muito abrangente (auditiva poderia
referir-se a qualquer som). Acredita-se que o termo percepção também não seja o mais
adequado, pois perceber os sons é tomar consciência deles, adquirir conhecimento, entender.
Perceber não garante que eles sejam diferenciados; para isso é necessária a discriminação.
Assim, neste trabalho o termo discriminação fonêmica será utilizado como sendo a
discriminação dos sons da fala, os fonemas. Salienta-se, entretanto, que ao citar pesquisas de
outros autores será utilizado o termo usado pelo autor.
2.4 Pesquisas relacionadas à discriminação auditiva/ discriminação fonêmica
Muitas pesquisas foram realizadas para investigar a discriminação auditiva em grupos
específicos de crianças. Algumas destas pesquisas serão descritas a seguir.
2.4.1 Pesquisas do período pré-natal e neonatal
Northern & Downs (op. cit.), investigando o desenvolvimento das habilidades
auditivas pré-natais e neonatais, referem que ao nascer, a criança já tem preferência pela voz
28
da mãe em detrimento de outras vozes. Vários estudos citados pelos autores apóiam a hipótese
de que muitas experiências auditivas antecederam esta capacidade do recém-nascido. Assim,
os autores conjeturam que o sistema auditivo do feto deve ser pré-adaptado para realizar as
várias discriminações (capacidade inata), que já aparecem no recém-nascido. A capacidade
para estas discriminações dependeria de sistema auditivo e sistema nervoso central normais, e
já estariam presentes no 5º mês de vida intra-uterina. As discriminações inatas que auxiliam
na preferência pela voz da mãe requerem competências auditivas para discriminar: ritmo,
entoação, variação de freqüência, acento (aspectos supra-segmentais da fala) e componentes
fonéticos (aspectos lingüísticos).
Com quatro semanas de vida, o bebê já é capaz de distinguir contrastes fonêmicos em
sinais sonoros, como pode ser medido pelas mudanças no ritmo cardíaco (Northern & Downs,
1989). O fato de que o bebê é capaz de discriminar os aspectos acústicos da fala significa que
ele pode dividir em segmentos distintivos, uma dose acústica quase contínua. Esta capacidade
de transformar a linguagem em elementos distintos é uma base para a competência completa
da linguagem. E conforme Northern & Downs (op. cit.), o fato de o bebê poder fazer isto logo
no começo da aquisição da linguagem, significa que ele não tem de aprender que esta é
formada por elementos distintos, ou seja, é uma capacidade inata.
2.4.2 Crianças com atraso de linguagem
Tallal & Stark (1980) desenvolveram um estudo sobre a percepção auditiva, visual e
cruzada (auditiva-visual), envolvendo 40 crianças com atraso de linguagem e 48 crianças
normais (grupo controle) de escolas da mesma região, com idades compreendidas entre 5:0 e
9:0 anos. Os resultados gerais deste estudo indicam que as crianças com atraso de linguagem
são mais defasadas na percepção auditiva do que na visual ou cruzada, embora também
apresentem déficit nestas duas modalidades.
Em relação à percepção auditiva, as crianças com atraso de linguagem têm prejuízo
especificamente na discriminação entre sinais acústicos que incorporam mudanças rápidas,
sejam eles verbais ou não-verbais. O grupo de crianças com atraso de linguagem teve
desempenho muito inferior ao grupo controle ao responder seqüências de sons apresentadas
muito rapidamente.
29
2.4.3 Crianças com distúrbio específico da linguagem
Leonard, McGregor & Allen (1992), desenvolveram uma pesquisa para determinar se
a dificuldade das crianças falantes do inglês e com Distúrbio Específico da Linguagem (DEL)
na percepção dos contrastes tem ligação com a limitação da morfologia gramatical. Os autores
formaram dois grupos de crianças: o grupo controle e o grupo das crianças com DEL, ambos
com oito sujeitos, com idades entre 4:6 e 5:7 anos, sendo 4 do sexo feminino e 4 do
masculino. Todos os sujeitos passaram por triagem auditiva, exame das funções motoras-
orais, avaliação da linguagem (TOLD-P) e da capacidade de pronunciar as consoantes
exigidas na testagem durante o uso de inflexões gramaticais. Além disso, tinham QI acima de
85 e não apresentavam evidências de disfunção neurológica.
Foram sintetizados cinco pares de estímulos: [ba] e [da], [dab] e [daæb], [i] e [u], [dab-
i-ba] e [dab-u-ba], [das] e [daš], sendo que o primeiro representante de cada par era o som-
alvo e o segundo o som de comparação. Os sujeitos foram instruídos a abaixar um painel
circular, toda vez que ouvissem um som-alvo e a não pressionar o painel quando um som de
comparação fosse ouvido. Os autores consideravam que a criança conseguia perceber o
contraste perceptivo quando respondesse corretamente a 12 das 16 apresentações de
estímulos.
Como resultados, os autores concluíram que todas as crianças do grupo controle e 6
das 8 crianças com DEL conseguiram perceber [dab] e [dæb], mas apenas 6 das 8 do grupo
controle e 2 do grupo com DEL conseguiram perceber a diferença entre [ba] e [da]. As
crianças com DEL mostraram grande dificuldade em perceber os contrastes entre [das] e
[daš]. Isto ocorreu também para [dab-i-ba] e [dab-u-ba] mas não para [i] e [u]. Neste caso,
comprovou-se a maior dificuldade das crianças com DEL na morfologia gramatical. Embora
as crianças com desenvolvimento normal da linguagem conseguissem um desempenho
satisfatório no teste, também para elas era mais difícil perceber [das] e [daš], [dab-i-ba] e
[dab-u-ba].
A partir desses resultados, os autores levantaram duas hipóteses para as dificuldades
das crianças com DEL: uma seria a de que essas crianças possuem um déficit nas habilidades
perceptivas e outra que aquelas possuem uma limitação mais geral, de memória. Leonard,
McGregor & Allen (1992) concluem o estudo dizendo que acreditam mais na primeira
hipótese.
30
2.4.4 Crianças com desvio fonológico
Em outro trabalho, Rvachew (1994) investigou a importância do treinamento da
percepção da fala no tratamento de crianças com desvio fonológico. A finalidade do estudo
foi demonstrar que o treinamento da percepção da fala poderia facilitar o aprendizado da
produção dos sons em crianças que apresentavam problemas na produção do /š/. No estudo,
foi usado um jogo de computador para ensinar uma grande amostra de crianças a identificar
sinais naturais de fala pertencentes ou não à categoria do /š/. Os sujeitos foram 21 meninos e
seis meninas com idades entre 42 e 66 meses. Eles foram avaliados por um fonoaudiólogo, o
qual diagnosticou o desvio fonológico.
Os resultados deste estudo demonstraram que o programa de treinamento da percepção
da fala conduzido por computador, fornecido ao mesmo tempo do que o treinamento da
produção do som, pode facilitar a aprendizagem da produção do som para algumas crianças.
Além disso, a seleção dos contrastes para o treinamento da percepção da fala deve ser paralela
à seleção dos contrastes para treinamento da produção. Inicialmente devem ser utilizados sons
com oposições máximas de contrastes e gradualmente devem ser inseridas distinções
mínimas. A autora salienta também que a intenção primária do treinamento de fala é instruir a
criança a prestar atenção à variabilidade acústica relevante para diferenciar as categorias de
sons.
Wolfe, Presley & Mesaris (2003) realizaram uma pesquisa cujo objetivo era comparar
duas abordagens no tratamento articulatório com fins de explorar a relação entre a melhora
articulatória e a identificação do som, antes e depois do treinamento. Para isto, aplicaram dois
tipos de tratamento articulatório, um incluindo treinamento de produção e identificação dos
sons e outro incluindo apenas treinamento de produção. A amostra constou de sete meninos e
duas meninas, com idades entre 41 e 50 meses. Todos os sujeitos apresentaram desvio
fonológico severo, com estimulabilidade a nível silábico para pelo menos três fonemas.
Não foi encontrada nenhuma diferença significativa na produção dos sons treinados
em relação aos dois tipos de tratamento, bem como não houve diferença em relação aos sons
que eram bem identificados antes do tratamento. Para os sons que não eram bem identificados
antes do tratamento, houve melhor evolução (com diferença significativa) nas crianças que
receberam treinamento simultâneo. As autoras concluíram também que a habilidade de
identificação do som existente antes do tratamento, influenciou apenas na sensibilidade
31
daquelas crianças que foram tratadas somente com produção, sendo que o treinamento desta
tende a melhorar a identificação dos sons.
Vários autores sugerem que a inabilidade em discriminar auditivamente os sons pode
ser um fator causal para o desvio fonológico evolutivo (DFE). Um estudo que relaciona a
discriminação auditiva com os DFE é o de Keske-Soares, Mota & Costamilan (2001), que
procurou verificar a relação entre os fonemas alterados na fala das crianças e os erros
identificados no Teste de Figuras para Discriminação Auditiva (Mota, Keske-Soares &
Vieira, 2000), baseado no The Boston University Speech Sound Discrimination Picture Test.
Foram avaliadas 17 crianças com DFE, 11 do sexo masculino e 6 do sexo feminino, com
idades compreendidas entre 4:0 e 7:0. Além do Teste de Figuras para Discriminação
Auditiva, realizou-se a AFC (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 1992), avaliação
otorrinolaringológica e audiológica.
Das crianças estudadas, 23,53% apresentaram desempenho inferior a 62 % no Teste de
Discriminação Auditiva, sendo que os mesmos fonemas alterados no teste encontravam-se
alterados na fala. Outras 47,06% das crianças apresentaram acertos entre 64 e 79% no Teste
de Discriminação Auditiva, mas os fonemas alterados nele não eram os mesmos da fala.
Finalmente, 29,41% das crianças não apresentaram alterações no Teste de Discriminação
Auditiva. As autoras concluem que percentuais baixos de acertos no Teste de Figuras para
Discriminação Auditiva podem indicar dificuldade de discriminação auditiva associada à
alteração de fala.
Mota et al (2002) realizaram uma pesquisa onde procuraram verificar como crianças
com desvio fonológico realizam os fonemas não discriminados no Teste de Figuras para
Discriminação Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira, op. cit.). Foram avaliadas 34 crianças
com desvios fonológicos, com idades entre 4:0 e 7:0, atendidas no Serviço de Atendimento
Fonoaudiológico da Universidade Federal de Santa Maria /RS. Os resultados apontam que os
fonemas não discriminados têm uma alteração correspondente nos sistemas fonológicos,
sendo apagados ou substituídos. Isto indica que estes desvios fonológicos podem estar
relacionados com dificuldade de discriminar os sons auditivamente, prejudicando sua
estabilização no sistema fonológico.
Em um trabalho, Santos et al (2003) relacionaram o grau de severidade do DFE
(segundo Shriberg & Kwiatkowski, 1982) com a discriminação auditiva. O grupo pesquisado
constituiu-se por 16 sujeitos, com idades entre 4:0 e 7:1, que recebiam atendimento no
Serviço de Atendimento Fonoaudiológico da UFSM. Destes sujeitos, quatro apresentavam
desvio médio, seis apresentavam desvio médio-moderado e outros seis, desvio
32
moderadamente-severo. Para cada grau de severidade do desvio, foi calculada a média de
acertos no Teste de Figuras para Discriminação Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira,
2000).
Analisando-se os resultados, constatou-se que os sujeitos com desvio médio
apresentaram melhores resultados na discriminação auditiva e praticamente não houve
diferença nos resultados da discriminação auditiva dos outros dois graus de desvios. As
autoras concluíram que a discriminação auditiva pode estar relacionada com o grau de
severidade do desvio, sendo melhor nos sujeitos com desvio médio.
Para verificar se a habilidade de discriminação auditiva melhora com a idade e é
diferente para os sexos, Santos et al (2004) estudaram esta habilidade em 41 crianças, com
idades entre 4:11 e 7:11, que tinham DFE. As crianças foram divididas em três grupos de
acordo com a faixa etária, e para cada grupo calculou-se a média de acertos no Teste de
Figuras para Discriminação Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira, op. cit.). As autoras
concluíram que, assim como nas crianças sem distúrbio da comunicação oral (Rodrigues,
1981), a discriminação auditiva melhora com a idade. No entanto, o melhor desempenho de
cada sexo parece estar ligado a uma determinada faixa etária; no grupo estudado, o sexo
feminino teve melhor desempenho nas faixas etárias entre 4:11 e 5:11 e 5:11 e 6:11, enquanto
que o sexo masculino desempenhou-se melhor na faixa etária de 6:11 a 7:11.
Santos (2005), desenvolveu uma pesquisa onde investigou a habilidade de discriminação
auditiva em 41 crianças com DFE, sendo 16 do sexo feminino e 25 do sexo masculino, com
idades compreendidas entre 4:0 e 8:2, que recebiam ou haviam recebido tratamento
fonoaudiológico no CELF/ SAF da UFSM. O objetivo da pesquisa era descobrir se os
fonemas alterados no sistema fonológico são os mesmos não discriminados no teste de
discriminação auditiva e se as habilidades de discriminação auditiva relacionam-se com o
sexo, a idade e o grau de severidade do DFE. Os dados utilizados foram coletados por meio
do Teste de Figuras para Discriminação Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira, op. cit.) e da
Avaliação Fonológica da Criança (Yavas, Hernandorena & Lamprecht, 1992).
Após análise dos dados, observou-se que não houve diferença estatisticamente
significante de desempenho no teste de discriminação auditiva entre os sexos e que o melhor
desempenho no teste está correlacionado estatisticamente ao avanço da idade cronológica.
Verificou-se que a ocorrência de inabilidade de discriminação auditiva é maior em crianças
com DFE do que em crianças sem distúrbios da comunicação. Por fim, concluiu-se que a
inabilidade de discriminação auditiva pode ser um fator causal ou agravante do DFE, embora
não se aplique a todos os casos.
33
2.4.5 Crianças sem distúrbio da comunicação
Com o objetivo de estudar o desenvolvimento da habilidade de discriminar sons
quanto ao sexo e a idade cronológica, Rodrigues (1981) elaborou um teste para avaliar a
discriminação auditiva com sílabas e o aplicou em 391 crianças oriundas de escolas
particulares de Campinas, no estado de São Paulo. Foram formados oito grupos de crianças de
acordo com a faixa etária, sendo o primeiro grupo constituído por crianças com idades entre
5:0 e 5:5, o segundo constituído por crianças com 5:6 até 5:11, e assim consecutivamente até
o último grupo, com crianças de 8:6 até 9:0 incompletos. O critério de seleção das crianças foi
a ausência de distúrbios da compreensão e expressão orais. Todos os indivíduos se
submeteram a um exame otoscópico e a um screening audiológico. O teste foi composto por
trinta pares de sílabas, dos quais dez eram iguais e vinte eram diferentes quanto aos traços de
sonoridade e de nasalidade e quanto ao ponto e modo de articulação.
Analisando os resultados, Rodrigues (op. cit.) concluiu que houve uma evolução na
habilidade de discriminar sílabas auditivamente, acompanhando a idade cronológica. Mas
essa melhora na habilidade de discriminação auditiva não é homogênea para os sexos. No
sexo masculino, a habilidade evolui para melhor, lentamente, dos 5:0 até os 6:5, e apresenta
um discreto pico de melhora entre 6:6 e 7:0 incompletos. No sexo feminino, este pico (platô)
de melhora ocorre dos 6:0 até os 7:5, sendo que nos grupos de faixa etária inferior ou superior
a estas idades a melhora é lenta. Entre 7:0 e 7:5, os sujeitos do sexo masculino apresentam um
melhor desempenho do que os sujeitos do sexo feminino. Essa situação se inverte entre 7:6 e
8:0. Após os 8:0, a habilidade de discriminação auditiva evoluiu sem diferenças entre os
sexos.
Essas diferenças de platô entre os sexos sugerem que a maturação para esta habilidade
ocorre em momentos e intensidades diferentes para os sexos. Mas Rodrigues (1981) afirma
que, apesar de terem sido encontradas diferenças no desempenho em habilidades de
discriminação auditiva entre os sexos, estas não foram estatisticamente significantes, exceto
nas faixas etárias compreendidas entre 6:0 e 6:5 e 7:5 a 7:11, ambas com melhor desempenho
do sexo feminino.
Para investigar se o meio social exerce influência no desenvolvimento das habilidades
envolvidas na percepção dos sons, Ribas (2001) desenvolveu uma pesquisa com escolares de
Curitiba, com idades entre 4:6 e 5:6. A autora dividiu os escolares em dois grupos, de acordo
com a condição social. O grupo A era formado por crianças de classe média-alta, que
34
freqüentavam escolas particulares em um turno e faziam atividades extra-classe em outro
turno, como balé, judô, coral e teatro. O grupo B era formado por crianças de classe baixa,
que freqüentavam creches do município durante todo o dia. Ambos os grupos tinham 40
crianças, sendo 20 de cada sexo.
Foram realizados os testes de localização sonora, memória seqüencial, discriminação e
compreensão auditivas. Os resultados indicam que não há diferença entre os grupos na
habilidade de localizar a fonte sonora. No entanto, o grupo A apresentou melhor desempenho
nas provas de memória, discriminação e compreensão auditivas. Com isto, a autora concluiu
que a qualidade do meio no qual a criança está inserida influencia no desenvolvimento da
percepção auditiva.
2.5 Detecção fonêmica: habilidade de consciência fonológica
2.5.1 Consciência lingüística
Segundo Cielo (2001) a consciência lingüística é uma habilidade lingüística especial
que permite refletir sobre a língua, tratá-la como objeto de análise e observação, focalizar a
atenção nas suas formas e concentrar-se na expressão lingüística. A metalinguagem ou
capacidade metalingüística diferencia-se da consciência lingüística pelo fato de poder
explicitá-la verbalmente, lançando mão da linguagem para falar sobre a própria linguagem.
A consciência lingüística é composta por diferentes níveis, sendo eles: textual,
pragmático, semântico, sintático e fonológico (Zorzi, 2000). Cielo (2001) apresenta a ordem
hierárquica de desenvolvimento das habilidades de consciência lingüística, enfatizando que
ela varia em função do nível de aquisição da linguagem: habilidades em consciência
semântica, habilidades em consciência sintática, consciência fonológica. Somente mais tarde
surgem as habilidades pragmáticas e textuais, tendo relação direta com a leitura.
Conforme esta autora, a consciência lingüística é resultado do desenvolvimento e
amadurecimento biológico em constantes trocas com o meio. Cielo (1996) afirma que é na
fase dos quatro aos oito anos de idade que ocorre o surgimento das habilidades
metalingüísticas.
35
A consciência lingüística é uma habilidade especial que ocorre de maneira lenta e
intencional, diferentemente do processamento lingüístico automático ou comunicacional
(Cielo, 1996). A função do processamento lingüístico automático é garantir a produção e
recepção da mensagem, garantindo sua transmissão. A consciência lingüística é uma
habilidade controlada, e não automática (Cielo op. cit.).
2.5.2 Consciência fonológica
Viu-se anteriormente que a consciência fonológica é um dos níveis da consciência
lingüística. Zorzi (2000) define a consciência fonológica como sendo a capacidade
metalingüística que permite refletir sobre as características estruturais da fala, assim como
manipulá-las. Morales et al (2002) também definem a consciência fonológica como sendo a
habilidade do indivíduo em refletir e manipular os segmentos da fala.
Cielo (2001) enfatiza que as habilidades em reconhecimento e produção de rimas,
análise, síntese, reversões e outras manipulações silábicas e fonêmicas e as habilidades em
realizar correspondências entre fonemas e grafemas são integrantes da consciência fonológica.
Zorzi (op. cit.) coloca que os diferentes níveis de consciência fonológica são: conhecimento
ou sensibilidade à rima, conhecimento silábico, conhecimento intra-silábico e conhecimento
segmental ou fonêmico. O autor diz que alguns níveis são desenvolvidos espontaneamente,
independentes do ensino formal da escrita; outros, mais elaborados, dependem da evolução
que o ser alcança na alfabetização.
Para Zorzi (op. cit.) o conhecimento fonológico não deve ser entendido como uma
habilidade única ou linear, pois há conhecimentos que podem ser elaborados em maior ou
menor grau de profundidade. Freitas (2004) observa que a consciência fonológica “não é algo
que as crianças têm ou não têm, mas habilidades apresentadas em maior ou menor grau”.
Após revisar várias pesquisas da área, Cielo (op. Cit.) diz que de modo geral a ordem
crescente de emergência das habilidades de consciência fonológica é: identificação e
produção de rimas, seguidas de habilidades em consciências silábicas, conseguintes das
habilidades em consciência fonêmica e por fim, da consciência de traços fonéticos.
A consciência fonológica pode ser manifestada em um nível implícito ou explícito.
Segundo Freitas (2004), o jogo espontâneo com os sons das palavras representa a consciência
36
implícita, enquanto que a análise consciente desses sons caracteriza a consciência fonológica
explícita.
2.5.3 Consciência fonêmica
Segundo Cielo (1996) a consciência fonêmica é a habilidade em reconhecer que um
signo semiológico consiste em uma seqüência de sons individuais. Para a autora, é clara a
distinção entre a habilidade de analisar a fala explicitamente em seus componentes
fonológicos (consciência fonológica) e os processos inconscientes e automáticos pelos quais a
língua é habitualmente percebida e compreendida. Ou seja: não há uma relação direta entre a
discriminação de sons lingüísticos (consciência fonêmica) e a habilidade em discriminar
fonemas, pois “a discriminação funcional entre dois sons lingüísticos não implica
identificação consciente das diferenças fonológicas entre esses sons” (Cielo, op. cit.).
Para Freitas (op. cit.), a consciência fonêmica ou nível dos fonemas compreende a
capacidade de dividir as palavras em fonemas; para isso é necessário o reconhecimento de que
uma palavra é, na verdade, um conjunto de fonemas. Fazendo parte da consciência fonêmica
está a detecção fonêmica. Porém:
A detecção de fonemas pode ser realizada na ausência de consciência fonêmica devido ao fato de
pistas fonéticas como duração e intensidade do fonema auxiliarem a detecção, podendo ser
considerada uma forma holística de consciência fonológica. Assim, o sujeito pode ser sensível às
características fonéticas de determinado fonema sem conseguir representá-lo e manipulá-lo
conscientemente. (Morais, 1991, apud Cielo, 2001, p.52).
Não foi encontrada na literatura pesquisada nenhuma referência às ligações entre a
habilidade de discriminação fonêmica (habilidade auditiva) e a detecção fonêmica (habilidade
de consciência fonêmica). Assim, a habilidade de discriminação fonêmica, tema desta
pesquisa, será vista como uma habilidade auditiva e não de consciência fonológica/ fonêmica.
Isto porque ela não é uma habilidade controlada, consciente, e sim automática, presente desde
o nascimento ou até antes dele (conforme pesquisas citadas anteriormente). Ela desenvolve-se
muito antes do início do desenvolvimento da consciência fonológica, sendo imprescindível
para a aquisição da linguagem.
37
2.6 Noções de fonologia relevantes a este trabalho
2.6.1 Fonologia
Conforme Grunwell (1990) a fonologia descreve a organização e as funções dos
constituintes fonéticos da fala como sistema sinalizador da linguagem falada. Yavas,
Hernandorena & Lamprecht (1992) referem que a fonologia é a ciência que estuda os fonemas
e a maneira como eles se organizam e se relacionam, além das regras a que estão sujeitos, a
fim de formarem unidades lingüísticas maiores, como as sílabas e palavras. Segundo Lowe
(1996), a fonologia é vista como o estudo de como os sons são organizados e funcionam na
comunicação. Preocupa-se, assim, com o sistema de sons contrastantes da fala e como eles
são usados ao se transmitir o significado. Lamprecht (1999) diz que quando se fala em
fonologia, se está falando, por definição, em organização, em contraste e em sistema.
Para Callou & Leite (1990) à fonologia cabe o estudo das diferenças fônicas
intencionais, distintivas, que se vinculam às diferenças de significação, estabelecendo como
se relacionam entre si os elementos de diferenciação e quais as condições em que se
combinam uns com os outros para formar morfemas, palavras e frases. Cagliari (2002) diz
que a fonologia faz uma interpretação dos resultados apresentados pela fonética, em função
dos sistemas de sons das línguas e dos modelos teóricos que existem para descrevê-los. A
fonologia é, portanto, interpretativa e a análise fonológica baseia-se no valor dos sons dentro
de uma língua, ou seja, na função lingüística que eles desempenham nos sistemas de sons das
línguas.
A aquisição da linguagem é uma tarefa complexa que envolve várias aquisições
simultâneas (Mota, 1996). Para a autora, a aquisição fonológica é uma parte desse processo
que permite à criança lidar com o sistema de sons de sua língua levando a um incremento de
todas as outras habilidades lingüísticas. Esta aquisição é também influenciada pelo
desenvolvimento em outras áreas tais como o desenvolvimento neuro-motor, cognitivo e
perceptual.
Mota (op. cit.) refere que a aquisição da fonologia de uma língua implica no
aprendizado de vários aspectos relacionados aos sons que compõem o sistema desta. Assim, a
criança deve aprender quais sons que são possíveis em cada posição na palavra, quais as
seqüências de sons que podem ocorrer em uma mesma sílaba, onde fica o acento de cada
38
palavra, etc. A maioria das crianças aprende todos esses aspectos somente a partir das
evidências do input, sendo que em geral não há um ensino direto dessas habilidades.
Todas as línguas do mundo organizam-se em sistemas fonológicos que são regidos
pelos mesmos princípios (Cagliari, 2002): têm fonemas e alofones, o ambiente fonológico
exerce pressões estruturais, há sílabas, ocorrem pausas, os sons apresentam-se numa ordem
linear nos enunciados, há seqüências de sons permitidas e outras proibidas. O que é peculiar a
cada uma é a escolha de possíveis elementos para exercerem as funções fonológicas, além da
maneira como se estruturam para formar a realidade oral da língua.
2.6.2 Fonemas
Definindo os fonemas, Yavas, Hernandorena & Lamprecht (1992) dizem que eles são
unidades distintivas em uma língua, isto é, têm a propriedade de distinguir significados.
Callou & Leite (1990) definem o fonema como a menor unidade fonológica da língua.
Segundo Cagliari (op. Cit.) os sons que têm a função de formar os morfemas e que,
substituídos por outros ou eliminados mudam o significado dos mesmos, são chamados de
fonemas. Os fonemas, portanto, são sons que estabelecem uma relação de oposição entre si.
Diz-se que estão em oposição fonológica ou têm um valor distintivo no sistema da língua.
Caplan (1996) refere que um fonema é um som que contrasta com outro e determina a
existência das palavras da língua. Os fonemas de cada língua são selecionados a partir de uma
pequena gama de fones contrastivos que representam sons que podem ser produzidos pelo
trato vocal humano.
Matzenauer (2004) expõe que toda língua é um sistema constituído de diferentes
unidades – fonemas, sílabas, morfemas, palavras, frases – cujo funcionamento é governado
por regras e/ ou restrições. A autora define sons da fala como sendo aqueles emitidos pelo
aparelho vocal humano, diferentemente de fonemas de uma língua, que são os sons
pertinentes para a veiculação de significado. Todo falante possui uma representação
fonológica (mais abstrata) que contém os fonemas que identificam a língua e uma
representação fonética, constituída pelos sons, de acordo com suas propriedades articulatórias
e acústicas.
Os fonemas podem ser divididos em vogais e consoantes. As vogais são, para Knies &
Guimarães (1989), sons produzidos com a passagem da corrente de ar bastante livre, que
39
constituem sempre o núcleo da sílaba. Já as consoantes são sons que oferecem obstrução total
à passagem do ar, ou parcial com fricção, e caracterizam-se por aparecerem na periferia da
sílaba. Conforme Callou & Leite (1990) as vogais se opõem às consoantes por serem
acusticamente sons periódicos complexos e porque sobre elas podem incidir acento de tom e/
ou intensidade. Toda língua tem ao menos uma distinção de vogal e consoante, refletindo o
extremo contraste entre um trato vocal aberto (vogal) e um trato vocal fechado (consoante)
(Caplan, 1996).
Conforme Machado & Pereira (1997), as vogais carregam a energia da fala. Elas são
eventos sonoros que, na coarticulação da fala, são modificados pelas consoantes que as
antecedem ou precedem.
Numa descrição mais acústica dos fonemas, Russo & Behlau (1993) descrevem as
vogais como sons sonoros, longos em duração, intensos em energia e com um padrão de
freqüência bem definido, pois são produzidos pela vibração quase periódica das pregas
vocais. As consoantes, para estas autoras, são ruídos produzidos pelas inúmeras fontes
friccionais situadas em diversas regiões do trato vocal, que produzem sons aperiódicos cujo
espectro inclui uma gama de freqüências, sem resolução de continuidade.
Machado & Pereira (op. cit.) expõe as principais características que auxiliam na
discriminação de cada grupo de consoantes. Sobre os fonemas plosivos as autoras afirmam
que:
A discriminação dos fonemas plosivos é realizada pelas pistas auditivas como: a força de
articulação, que é maior nos fonemas surdos, grau de aspiração da consoante, que é válido apenas
para o fonema /k/ e será uma excelente pista para discriminação deste fonema, se o realizarmos
com maior grau de aspiração; transição das vogais adjacentes, mais marcada nos sonoros, duração
da vogal precedente ao fonema plosivo, pois as vogais que precedem fonemas sonoros são 40%
mais longas e ao acentuarmos essa pista na emissão dos fonemas plosivos sonoros, estaremos
favorecendo a discriminação dos mesmos e o tempo de início de sonorização ou VOT. (Machado &
Pereira, 1997, p 62)
Os fonemas fricativos são os mais fracos e agudos do português brasileiro, sendo que a
duração da fricção é a pista auditiva principal para a discriminação desta classe de fonemas
(Machado & Pereira, op. cit.). Nos fonemas líquidos é a duração dos fonemas a pista que mais
auxilia na discriminação. Já nos fonemas oclusivos nasais, que são muito graves, a
discriminação é realizada principalmente pela soltura da oclusão oral bem definida.
Os inventários de fonemas diferem entre as línguas: sons presentes em uma podem
estar ausentes em outra (Mota, 1996). Segundo Caplan (1996), os fonemas de uma dada
língua são parcialmente selecionados com base em fatores da linguagem universal e em parte
por processos específicos da linguagem. Os fatores da linguagem universal ditam que alguns
40
fonemas são mais prováveis de ocorrer na língua do que outros, por duas razões: eles são mais
fáceis de produzir e eles representam contrastes mais extremos dos gestos articulatórios.
Para Callou e Leite (1990), na língua portuguesa há 26 fonemas segmentais, sendo 19
consoantes e 7 vogais. Mota (1997) refere que o sistema consonantal do português é formado
por seis consoantes oclusivas: /p, b, t, d, k, g/, seis consoantes fricativas: /f, v, s, z, š, ž/, três
nasais: / m, n, ñ / e quatro líquidas: / l, ´ r, R/.
2.6.3 Traços distintivos
Os fonemas podem ser subdivididos em unidades menores, chamadas traços
distintivos. Caplan (op. cit.) diz que muitos autores têm concordado que todos os fonemas
consistem em grupos de traços distintivos. Conforme Yavas, Hernandorena & Lamprecht
(1992), os sons da língua são o resultado do conjunto de propriedades que caracterizam a sua
produção: os traços distintivos. E estes traços são as unidades mínimas que se unem para a
composição de um segmento da língua (fonema), e podem identificar este fonema ou
distingui-lo dos demais. Yavas, Hernandorena & Lamprecht (op. cit.) colocam ainda que os
traços distintivos têm três funções básicas: descrever as propriedades articulatórias e /ou
acústicas que entram na composição do som, diferenciar itens lexicais e agrupar os sons em
classes naturais.
Callou & Leite (op. cit.) referem que é a presença ou ausência de certos traços que
opõe o fonema a todos os demais fonemas da língua, e que os traços distintivos podem ser
definidos por seus componentes articulatórios e / ou acústicos. Mota (1996) citando a
Geometria de Traços, fala que os traços distintivos são constituídos como unidades
psicológicas e definidos em termos de padrões específicos de realização acústica e
articulatória. Complementa dizendo que os traços proporcionam a ligação crucial entre a
representação cognitiva da fala e sua manifestação física.
Para estudar a organização dos traços nas representações fonológicas, Clements &
Hume (1995), propuseram a Geometria de Traços. De acordo com esta teoria, os segmentos
são apresentados como configurações de nós hierarquicamente organizados, cujos nós
terminais são valores de traços e cujos nós intermediários representam constituintes (Mota,
1996). Os princípios básicos desta teoria são: regras fonológicas desempenham somente
operações simples e a organização dos traços é universalmente determinada.
41
Na geometria de traços, utiliza-se um sistema binário para indicar características
opostas, ou seja, usa-se apenas um traço distintivo antepondo a ele um sinal positivo (+) ou
negativo (-) que indica se o tributo se faz presente ou não (Callou & Leite, 1990; Mota, 1996).
O sistema binário vale para todos os traços, com exceção dos traços dos articuladores que
apresentam apenas um valor (sendo chamados privativos), pois não há regras fonológicas
operando nos valores negativos destas categorias (Mota, op. cit.). Os traços dos articuladores
são: [labial], envolvendo os lábios como articulador ativo; [coronal], envolvendo a frente da
língua como articulador ativo e [dorsal], envolvendo o corpo da língua como articulador ativo.
Caplan (1996) diz que o fato de ser usado um sistema binário de representação dos traços
distintivos indica que os traços são abstrações idealizações de capacidades articulatórias e
acústicas dos fonemas.
Baseada na representação geométrica geral dos segmentos consonantais de Clements
& Hume (1995), Mota (1997) propôs a Matriz Fonológica dos Segmentos Consonantais do
Português (Quadro 1) que será a adotada neste trabalho. A representação geométrica
considera um Nó de Raiz, com os traços [soante], [aproximante] e [vocóide]; um Nó
Laríngeo, com o traço [voz]; um Nó de Cavidade Oral, com o traço [contínuo] e um Nó de
Lugar de Consoante, com os traços [labial], [coronal] (a ele ligado o traço [anterior]) e
[dorsal].
O Nó de Raiz é aquele que domina todos os traços, expressando a coerência do
segmento melódico como uma unidade fonológica. Este nó carrega os traços de classes
principais, uma vez que estes nunca podem espraiar-se ou desligar-se como uma classe
independente do Nó de Raiz. O Nó Laríngeo existe pela motivação de que os traços que
compõem este nó podem espraiar-se e desligar-se não apenas individualmente, mas como uma
unidade. O Nó de Lugar existe pelo fato de que, em regras de assimilação, os traços de lugar
do trato oral [labial], [coronal] e [dorsal] e seus dependentes espraiam-se como uma unidade
independente de outros traços, como os de abertura [contínuo], [consonantal] e [soante]. O Nó
de Cavidade Oral corresponde à constrição da cavidade oral e representa uma unidade
funcional na fonologia.
A geometria de Traços também prevê uma organização hierárquica dos traços nas
vocóides, mas não vamos descrevê-la aqui por fugir dos interesses desta pesquisa.
Traços p b t d k g f v s z š ž m n ñ L
´
r R
42
Soante - - - - - - - - - - - - + + + + + + +
Vocóide - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Aprox. - - - - - - - - - - - - - - - + + + +
Contínuo - - - - - - + + + + + + - - - - - + +
Voz - + - + - + - + - + - + + + + + + + +
Coronal X X X X X X X X X X
Anterior + + - - + - + -
Labial X X X X X
Dorsal X X X
Legenda: aprox (aproximante)
Fonte: Mota (1997, p.25)
Quadro 1- Matriz fonológica dos segmentos consonantais do português
2.6.4 Estruturas silábicas
É relevante para este trabalho descrever melhor as estruturas silábicas. Para Knies &
Guimarães (1989), a sílaba pode ser entendida como um segmento ou um conjunto de
segmentos pronunciados de uma única vez. Matzenauer (2004), fala que os fonemas
organizam-se em seqüências, formando as sílabas que irão compor os itens lexicais da língua.
Esta autora afirma que em português, uma sílaba pode ser constituída de três elementos:
onset, núcleo e coda, sendo que apenas a presença do núcleo é obrigatória.
No Português Brasileiro, o núcleo é ocupado sempre por uma vogal e pode possuir as
margens de início (onset) e final (coda). Neste trabalho, designar-se-á a posição da consoante
em início de sílaba no início de palavra como onset inicial (OI), início de sílaba dentro da
palavra como onset medial (OM), final de sílaba dentro da palavra como coda medial (CM) e
final de sílaba no final da palavra como coda final (CF). À ocorrência de mais de uma
consoante nas posições de onset ou coda dá-se o nome de onset complexo ou coda complexa,
respectivamente.
Conforme Mota (1997), a posição de onset medial é a única que permite a ocorrência
de todas as consoantes. Na posição de onset inicial, não ocorrem as consoantes /ñ, ´, r/.
A coda, constituinte silábico dominado pela rima, não é obrigatória no português
brasileiro. Conforme Mezzomo (2004), o português impõe fortes restrições ao material
43
segmental associado à coda, fazendo com que o número de consoantes que podem ocupar essa
posição seja muito reduzido. Mezzomo (op. cit.) diz que os sons que podem ser usados na
coda são as soantes /l/, /r/, /n/ (ex: alto, árvore, canta), o /s/ (ex: pasta) ou, ainda, uma
seqüência das duas (soantes + /s/, ex: monstro).
Segundo Callou & Leite (1990), levando-se em consideração a representação
ortográfica das palavras, pode-se acreditar que todas as consoantes ocorrem na posição de
coda. Mas o que acontece é que em palavras como: advogado, obter, optar, normalmente
pronuncia-se uma vogal entre as duas consoantes, desenvolvendo-se assim uma nova sílaba
(ex: adivogado).
O molde silábico é o que determina o número máximo e mínimo de elementos
permitidos numa sílaba em determinada língua (Collischonn, 1996). Para o português, não há
acordo entre os autores quanto ao número máximo de elementos que uma sílaba possa conter.
Os padrões silábicos do português são: V (é), VC (ar), VCC (instante), CV (cá), CVC (lar),
CVCC (monstro), CCV (tri), CCVC (três), CCVCC (transporte), VV (aula), CVV (lei),
CCVV (grau), CCVVC (claustro).
A estrutura silábica predominante no português brasileiro é CV, que é considerada por
Matzenauer (2004) como não-marcada, já que está presente em todas as línguas do mundo e
tem emergência precoce na aquisição dos sistemas lingüísticos.
2.6.5 Par mínimo
Outra definição importante para este estudo é a definição de par mínimo. Para Silva
(2001), duas palavras com significados diferentes, cuja cadeia sonora seja semelhante
constituem um par mínimo. A autora cita o exemplo do par mínimo faca e vaca, que contrasta
os fonemas /f/ e /v/ num ambiente semelhante. Cagliari (2002), diz que pares mínimos são
duas palavras que têm um ambiente comum e uma diferença, representada pela troca de um
único som por outro, em um mesmo lugar da cadeia da fala. Quando a diferença entre uma
palavra e outra apresenta mais de um som, o par de palavras não pode ser considerado um par
mínimo (ex: dado/ tato, ave/ avô, porta/ porto).
Vários autores enfatizam a maneira como os segmentos consonantais ou vocálicos
afetam os segmentos adjacentes. O par mínimo é uma boa maneira de controlar esse aspecto
segmental da cadeia de fala. Lowe (1996), recomenda a utilização dos pares mínimos em
44
tarefas de identificação na qual a criança aponta para a resposta que considera correta como
um bom meio de avaliar a discriminação auditiva.
2.7 Sobre o processo de avaliação
Alguns clínicos dividem a avaliação em duas partes: avaliação propriamente dita e
diagnóstico. A avaliação envolve coleta dos dados e história do caso, através de entrevistas e
questionários preenchidos pelos pais e do exame direto com a criança. O diagnóstico é obtido
a partir do estudo e interpretação das informações obtidas com a avaliação. O diagnóstico
requer classificar e identificar o problema, muitas vezes inferindo sobre as possíveis causas
deste (Paul, 2001).
Numa abordagem de avaliação “descritiva-desenvolvimental” estas duas fases são
menos distintas. A meta desta abordagem de avaliação é decidir se a criança tem um déficit
identificando o mais detalhadamente possível a relação deste com a aquisição normal da
linguagem.
Segundo Paul (op. cit.), o primeiro passo para desenvolver o plano de avaliação em
linguagem é determinar em que nível de desenvolvimento geral a criança está. Depois o
clínico precisa decidir que áreas avaliar e que método de avaliação será usado em cada área.
Além disso, é importante refletir sobre a ordem em que as avaliações serão realizadas, para
não serem repetitivas e maximizarem o potencial da criança avaliada para o sucesso. O autor
sugere iniciar com atividades menos estruturadas, para permitir que a criança se interesse pelo
ambiente. Dando seqüência podem ser usadas atividades mais estruturadas como os testes
padronizados.
Falando sobre como avaliar, Paul (2001) descreve quatro formas de avaliação: testes
padronizados, escalas desenvolvimentais, procedimentos de critérios de referência e
observações comportamentais. Os testes padronizados são as maneiras mais formais de
avaliar e, portanto, acabam sendo descontextualizados. Eles são desenvolvidos para projetar
uma série de itens que são atribuídos como ideais para um grande grupo de crianças com
desenvolvimento normal. Para que eles sejam bem construídos, é necessária administração
clara e criteriosa dos scores, validação, confiança, padronização, medidas de tendências
centrais e variabilidade, medidas de erro padrão e scores de normo-referência. A vantagem
dos testes padronizados é que eles permitem fazer uma significativa comparação das
45
performances entre as crianças, ou seja, estabelecer se uma criança é significativamente
diferente de outra.
As escalas desenvolvimentais são instrumentos observacionais ou de entrevista que
exemplificam comportamentos de um período do desenvolvimento em particular. Os
procedimentos de critérios de referência são procedimentos criados para examinar uma forma
particular de comportamentos comunicativos, não usando referências alcançadas por outras
crianças mas determinando quando a criança poderá alcançar um certo nível de performance.
Eles não se designam a estabelecer se uma criança é diferente de outra, mas são usados para
estabelecer a linha-de-base, identificar metas para a intervenção e descobrir precisamente o
que a criança consegue ou não fazer com a linguagem. As observações comportamentais
consistem na descrição do desempenho da criança em uma área e não na comparação do
desempenho da criança com um critério.
Paul (2001) diz ainda que os testes padronizados são importantes para definir se a
criança tem um déficit e a partir desta definição são necessárias outras formas de avaliação
que consigam estabelecer a “linha-de-base”, identificar metas de intervenção e medir a
evolução do programa de intervenção. Quando o perfil intralingüístico foi estabelecido e o
funcionamento da “linha-de-base” foi esboçado, estas informações devem ser usadas para
completar o processo de diagnóstico, determinando a severidade da desordem, fazendo o
prognóstico e recomendando um programa de intervenção.
Mysak (1998) diz que, em termos de trabalho clínico de fala diagnosticar significa
distinguir, através de conhecimento, entre uma alteração da fala ou da audição. Ele expõe
nove abordagens diagnósticas passíveis de uso pelo fonoaudiólogo: diagnóstico clínico,
diferencial, direto, diagnóstico pelo tratamento, por exclusão, em grupo ou equipe,
instrumental, provocativo e tentativo.
2.8 Testes específicos para avaliar a discriminação auditiva / discriminação fonêmica
46
2.8.1 Explanação dos testes internacionais
Ao longo dos anos, foram criados vários testes que avaliam a habilidade de
discriminação auditiva/ discriminação fonêmica. No entanto, não foi possível para a autora ter
acesso às publicações originais contendo os testes internacionais que avaliam esta habilidade.
Como Rodrigues (1981) cita alguns deles, a autora optou por confiar nas citações deste autor
em detrimento de não apresentá-los nesta dissertação. A seguir, serão citados alguns destes
testes.
Templin (1943, apud Rodrigues, op. cit.) criou um teste para avaliar a discriminação
dos sons da fala, em versões diferentes para crianças de seis a oito anos e para crianças de três
a cinco anos. O teste que avaliava crianças de três a cinco anos baseava-se na identificação de
diferença e similaridade do valor acústico de palavras familiares (pares mínimos) que
pudessem ser representadas por gravuras. A criança deveria apontar a figura correspondente
ao nome pronunciado pelo examinador. A apresentação consistia de 59 pares de figuras. No
decorrer do teste, apresentava-se à criança cada palavra estímulo pelo menos duas vezes. Se a
identificação fosse incorreta uma vez e correta na outra, a palavra estímulo deveria ser
apresentada uma terceira vez. A versão para crianças de seis a oito anos era constituída por 50
pares de sílabas sem sentido, que a criança deveria considerar igual ou diferente. O
examinador não deveria permitir que a criança visse seus lábios e também era necessário
apresentar alguns exemplos para que o examinado entendesse o mecanismo do teste.
Weepman (1958, apud Rodrigues, op. cit.) também propôs um teste para
Discriminação Auditiva, que consistia em 40 pares de vocábulos, com a mesma extensão,
porém com um som diferente. O examinador falava os vocábulos e a criança deveria ouvir e
dizer se eram iguais ou diferentes. Antes da aplicação do teste, eram dados exemplos para que
a criança conseguisse compreender seu funcionamento. Os pares eram apresentados à viva
voz e não deveriam ser repetidos pelo examinador, nem enfatizados. Os resultados esperados
eram considerados em função da idade, e foram obtidos numa testagem de 533 crianças.
Considerava-se inadequado mais do que 6 erros numa criança de 5 anos, mais do que 5 erros
numa criança de 6 anos, mais do que 4 erros numa criança de 7 anos e mais do que 3 erros
numa criança de 8 anos.
Outro teste desenvolvido para avaliar a discriminação auditiva foi o Teste de
Goldman-Fristoe-Woodcock (1972, apud Rodrigues, 1981), o qual faz parte de uma bateria de
testes para avaliação de vários aspectos da percepção e compreensão auditivas. É um teste
47
para avaliar a habilidade de discriminar sons da fala, empregando vocábulos monossilábicos,
na presença de ruído controlado e silencioso. Deve ser aplicado em crianças com mais de
quatro anos de idade. Este teste é composto por três subtestes, a saber: procedimentos de
treinamento, discriminação auditiva em silêncio e discriminação auditiva com ruído de fundo
(objetivando uma situação natural de fala). Compõem o teste 79 pranchas com desenhos
ilustrativos de quatro palavras que diferem entre si apenas por um som. A criança deve
apontar qual dos quatro desenhos presentes na prancha do teste ilustra a palavra ouvida. A
apresentação é feita com o uso de fones de ouvido.
O Teste da Universidade de Boston para Discriminação de Sons da Fala com
Utilização de Figuras (Provnost & Dumbledon, [19--], apud Rodrigues, op. cit.) constitui-se
por pares de vocábulos foneticamente balanceados (pares mínimos), ilustrados por figuras
correspondentes aos vocábulos. A apresentação está estruturada em três combinações
diferentes das figuras na mesma folha do teste, uma contendo a figura A duas vezes, outra
contendo a figura B duas vezes e a terceira combinação contendo a figura A e B. O
examinador fala os pares de vocábulos e pede que a criança aponte as figuras
correspondentes. O teste totaliza 36 apresentações, que são apresentadas duas vezes, sendo
que na segunda vez em que são apresentadas, o par de vocábulos é diferente do apresentado
na primeira vez. O teste é precedido de exemplos para treinamento da criança a ser avaliada.
Rodrigues (op. cit.) refere não ter tido acesso à informação dos limites de idade das crianças a
serem testadas. O teste foi aplicado em 434 crianças e o escore médio foi de 65,5, com um
desvio estandardizado de 6.55, num total de 72 pares testados.
O Teste de Discriminação da Fala com Utilização de Figuras (Picture Speech
Discrimination Test) é um teste elaborado para crianças pequenas (Mecham & Jex, [19--],
apud Rodrigues, op. cit.). Ele é composto por 86 cartões com três figuras cada, que ilustram
vocábulos apropriados para a idade das crianças a serem avaliadas. A criança testada ouve
uma série de três vocábulos e deve apontar para uma das três figuras da prancha que
corresponde a um destes vocábulos. Por exemplo, a criança olha para uma prancha onde tem
figuras dos vocábulos “feet”, “sun” e “money”, e ouve “seat”, “fun” e “money”.
2.8.2 Explanação dos testes nacionais
48
Também Rodrigues (1981), propôs um teste para avaliar a habilidade de
discriminação auditiva, a Prova para Avaliar a Discriminação Auditiva. Nela, são utilizados
trinta pares de sílabas sem sentido com diferença de apenas um fonema, dos quais 10 pares
são iguais e 20 são diferentes. Rodrigues (op. cit.) preocupou-se em distribuir os 10 pares de
sílabas iguais de maneira que cinco ficassem entre as primeiras 15 apresentações e os outros
cinco entre as últimas 15 apresentações da prova, objetivando avaliar a atenção do indivíduo
testado.
As apresentações devem ser feitas através de uma gravação, que pronuncia o par de
sílabas seguido da opção “igual ou diferente”; a criança testada deve então responder usando
um destes termos. Entre uma apresentação e outra, deu-se um intervalo de sete segundos, com
o objetivo de dar tempo suficiente à criança para responder e não tornar a prova
excessivamente longa. Assim, o tempo total de apresentação da prova é de três minutos e
meio. O autor salienta que com o uso da gravação para apresentação dos estímulos, impede-se
o uso de pistas visuais por parte da criança testada, já que o estímulo é somente auditivo. O
examinador deve considerar a resposta errada caso a criança utilize apoio tátil-cinestésico
antes de responder às apresentações, ou se repetir à viva-voz as sílabas ouvidas. São
apresentados itens para treinamento da criança testada.
No Brasil, Mota, Keske-Soares & Vieira (2000), realizaram uma adaptação do “The
Boston University Speech Sound Discrimination Picture Test” a qual chamaram de Teste de
Figuras para Discriminação Auditiva. Neste teste, foram apresentados 25 pares de palavras
que diferiam entre si em apenas um fonema. Os pares mínimos foram escolhidos de forma a
opor pares de fonemas que comumente são substituídos uns pelos outros nos erros de fala das
crianças.
No Teste de Figuras para Discriminação Auditiva, as palavras foram representadas em
forma de figuras e para cada par mínimo apresenta-se três fichas contendo dois desenhos cada
uma. Por exemplo, para o par mínimo “bote” x “bode” mostra-se três fichas: uma com dois
desenhos de bodes, outra com dois desenhos de botes e uma terceira com o desenho de um
bode e de um bote. A criança a ser testada deve ouvir a pronúncia de duas palavras do par,
que poderão ser iguais ou diferentes, e apontar para a ficha que contenha as figuras
correspondentes às palavras ouvidas. Se a criança não responder corretamente a um par de
figuras, após a apresentação dos demais pares, aquele é retestado.
Antes de aplicar o teste, o examinador deve mostrar à criança todos os desenhos que o
compõem explicando que palavras eles representam, bem como deve tapar a boca na hora de
49
apresentar os pares de palavras para evitar uso da leitura labial por parte das crianças
examinadas.
2.8.3 Comentários sobre aspectos estruturais dos testes que avaliam a discriminação auditiva/
fonêmica
Em relação ao tipo de estímulo utilizado, observa-se que dentre os sete testes acima
citados, três (Teste de Weepman, Teste da Universidade de Boston, Teste de Figuras para
Discriminação Auditiva) utilizaram-se de pares mínimos como estímulo, dois (Teste de
Goldman-Fristoe-Woodcock, Teste de Discriminação da Fala com Utilização de Figuras) de
palavras monossilábicas, um de sílabas sem sentido (Prova para Avaliar a Discriminação
Auditiva) e um (Teste de Templin) de pares mínimos para crianças mais novas e de sílabas
sem sentido para crianças mais velhas. A autora acredita que o melhor estímulo que pode ser
empregado na avaliação da discriminação fonêmica é o par mínimo, que utiliza palavras com
significado. O par mínimo contorna a influência da sobrearticulação e por usar-se de palavras,
possui o aspecto dinâmico da cadeia de fala. Além disso, a palavra com significado evita a
dispersão da atenção à discriminação fonêmica por não exigir atenção da criança examinada
na busca por acesso léxico (o que não é o caso de palavras ou sílabas sem significado).
Em cinco dos testes anteriormente referidos (Teste de Templin, Teste de Weepman,
Teste da Universidade de Boston, Teste de Discriminação da Fala com Utilização de Figuras e
Teste de Figuras para Discriminação Auditiva) a apresentação do estímulo é feita à viva-voz
pelo examinador; em um (Prova para Avaliar a Discriminação Auditiva) é através de gravação
reproduzida em campo livre e em outro (Teste de Goldman-Fristoe-Woodcock) através de
gravação com uso de fones de ouvido.
Acredita-se que a apresentação dos estímulos possa ser feita à viva-voz, desde que
haja um rigoroso cuidado por parte dos examinadores para que não ocorram diferenças
articulatórias nas apresentações de uma criança para a outra. A apresentação em campo livre
torna a condição de testagem mais próxima das condições reais de recepção e discriminação
da fala a que a criança está exposta em seu dia-a-dia, permitindo a presença de ruídos de
fundo naturais (barulhos do ambiente).
Analisando os testes expostos neste item, observa-se que quatro deles (Teste de
Templin, Teste de Weepman, Teste da Universidade de Boston, Prova para Avaliar a
50
Discriminação Auditiva) fazem referência ao uso de alguns itens de demonstração para
treinamento do mecanismo do teste. Acredita-se que é de extrema importância a presença
deste treinamento prévio, para explicar à criança que será testada como ela deve responder às
tarefas bem como para averiguar se a criança realmente compreendeu o que deve fazer. Com
isto, evita-se baixos desempenhos conseqüentes ao não entendimento do teste.
É possível observar também que três dos referidos testes mencionam o cuidado que o
examinador deve ter para evitar o uso de pistas visuais por parte da criança testada (Teste de
Templin, Teste de Figuras para Discriminação Auditiva e a Prova para Avaliar a
Discriminação Auditiva). Como já foi mencionado na seção 2.1.2 , sabe-se que a percepção
visual auxilia na percepção da fala. Por isto, considera-se importante impedir a presença de
pistas visuais na apresentação dos estímulos, para que o examinador possa certificar-se que a
habilidade usada foi a discriminação fonêmica, com base somente no estímulo auditivo. Este
cuidado pode ser tomado usando apresentação por meio de gravação, ou impedindo que a
criança possa visualizar a boca do examinador.
Em relação ao número de apresentações que compõem cada teste, nota-se que este é
bastante variado, indo de um mínimo de 25 apresentações no Teste de Figuras para
Discriminação Auditiva a um máximo de 86 apresentações no Teste de Discriminação da Fala
com Utilização de Figuras. Observa-se que os dois testes que utilizam o menor número de
apresentações são os testes nacionais. Não foi encontrada na literatura revisada nenhuma
referência ao tempo máximo ideal de testagem de uma criança. Acredita-se que este tempo
aumente gradualmente com a idade da criança testada, e que o teste não deve ser
demasiadamente longo, pois o cansaço da criança influenciará no seu desempenho.
Nenhum dos testes citados faz referência direta a algum tipo de cuidado relacionado à
memória.
2.9 Aspectos estruturais de testes que avaliem habilidades da linguagem
A partir daqui, citar-se-á alguns pontos ponderados por autores de diversos testes que
avaliem habilidades da linguagem uma vez que foram considerados relevantes para a proposta
desta dissertação.
2.9.1 Uso de figuras
51
Em relação ao uso de figuras nos testes, Moojen et al (2003), elaboradoras do
CONFIAS- Consciência Fonológica: Instrumento de Avaliação Seqüencial, referem utilizar
figuras correspondentes às palavras-modelo em alguns itens do teste para auxiliar a memória
das crianças e obter um instrumento lúdico.
Yavas, Hernandorena & Lamprecht (1992) na proposição do teste AFC- Avaliação
Fonológica da Criança, dizem que a utilização de desenhos é o meio mais adequado para a
eliciação da nomeação espontânea. Os autores referem que podem ser utilizados desenhos
isolados ou temáticos, sendo que os desenhos isolados tendem a eliciar unicamente palavras
isoladas, enquanto que os temáticos levam à produção das palavras-chave e conduzem
também a narrações e descrições.
Para o objetivo do teste de Yavas, Hernandorena & Lamprecht (op. cit.), os desenhos
temáticos foram considerados mais adequados, pois os autores necessitavam de uma grande
amostra de fala das crianças avaliadas. Já para o objetivo do teste proposto nesta dissertação,
acredita-se que o uso de figuras isoladas seja o mais adequado, pois facilita o processo de
buscar rapidamente o acesso ao léxico da palavra ouvida. Uma figura temática poderia
dificultar este processo, exigindo uma análise mais demorada.
2.9.2 Treino prévio
Vários autores que propuseram testes para avaliar alguma habilidade de linguagem,
fazem uso de itens a serem aplicados anteriormente aos itens do teste propriamente dito com a
finalidade de explicar à criança o que ela deve fazer. Moojen et al. (2003) propõem em seu
teste o uso de dois exemplos iniciais antes de cada tarefa, com o intuito de verificar se as
crianças a serem avaliadas entenderam a tarefa que deverão realizar. Complementam dizendo
que se a criança a ser testada não compreender bem a atarefa com estes dois exemplos, o
avaliador deve dar a resposta correta, fornecendo explicações adicionais.
Cielo (2001), que propôs o Protocolo de Tarefas de Consciência Fonológica, também
indicou o uso de dois treinos antes de cada tarefa do teste, com o objetivo de deixar claro o
significado do que era proposto para que a criança não tivesse o processo de elaboração da
resposta prejudicado por questões de semântica.
52
Bogossian & Santos (1977), responsáveis pela adaptação brasileira do Teste Illinois de
Habilidades Psicolingüísticas, colocam que em todos os subtestes do teste que adaptaram são
aplicados itens de demonstração, cujo propósito é ilustrar a tarefa para as crianças.
Acrescentam que os itens de demonstração devem ser utilizados primeiro conforme prescritos
no teste e se for necessário podem ser repetidos, modificados ou explicados à vontade do
examinador. Rodrigues (1981), em seu Teste para Avaliar a Discriminação Auditiva, fez uso
de uma pré-prova, para explicar o que se pretendia de resposta da criança.
2.9.3 Motivação verbal ao sujeito testado
Cielo (2001), citando Corrêa (1996) observa que um fator relevante para o bom
desempenho da criança numa testagem seria a influência das expectativas da criança sobre seu
desempenho frente à tarefa. Assim, no teste que propõe, Cielo (op. cit.) utilizou junto às
crianças o termo “jogo” e não “teste” e valeu-se de explicações para tranqüilizar a criança em
relação ao seu desempenho, explicitando que ela não precisaria acertar todas as respostas.
Os autores divergem em relação ao uso de expressões de apoio e motivação para as
respostas das crianças, bem como sobre a confirmação de que a resposta foi correta. Para
Bogossian & Santos (op. cit.), as respostas corretas dos itens de demonstração devem ser
confirmadas pelo examinador, mas isso não deve ser feito nos itens do teste. Contudo, são
permitidos elogios e encorajamento geral. No teste de Rodrigues (1981), é permitido adotar
atitudes de aprovação para as respostas corretas da criança durante a pré-prova, para motivá-la
a ter uma boa atitude durante a prova. No entanto, o examinador não deve se manifestar no
caso de respostas incorretas, bem como durante o teste em si. Frankenburg & Dodds (1983),
elaboradores do Teste de Desenvolvimento de Denver, acreditam que o avaliador deve elogiar
a criança pelo esforço feito após cada tarefa do teste.
Cielo (2001) enfatiza que as ordens a serem dadas pelo examinador às crianças em
testes de consciência lingüística devem ser a mais simples possível, para evitar dificuldades
em sua compreensão, envolvendo muito a memória e a cognição e prejudicando o
desempenho na tarefa.
2.9.4 Avaliação qualitativa do desempenho do sujeito
53
Os testes citados acima contêm uma análise quantitativa, mas alguns também fazem
referência a uma análise qualitativa. A análise qualitativa do desempenho da criança envolve,
para Moojen et al. (2003) a observação do desempenho específico de cada criança e dos
comentários por ela formulados durante a aplicação do instrumento. Frankenburg & Dodds
(1983) também sugerem que o avaliador deve observar na criança durante a testagem itens
como cooperação, atenção, comportamento verbal, autoconfiança e tiques nervosos.
2.9.5 Características do ambiente de testagem
Aspectos importantes devem ser observados em relação ao ambiente de testagem,
conforme enfatizado por vários idealizadores de testes nas áreas da linguagem. Andrade et al
(2002), idealizadoras do ABFW- Teste de Linguagem Infantil nas Áreas de Fonologia,
Vocabulário, Fluência e Pragmática, ressaltam que o ambiente de aplicação do teste deve ser
adequado, com privacidade, bem iluminado e sem fatores de distração ou estressantes. Sobre
a mesa de testagem deverá estar apenas o material a ser usado no teste. Segundo as autoras
esses cuidados potencializarão a qualidade dos resultados encontrados.
Também Frankenburg & Dodds (1983) frisam que durante a avaliação, o examinador
deverá retirar todo o material de testagem da mesa, exceto o que ele estiver usando no
momento, pois a criança deverá estar atenta ao que lhe for solicitado e um brinquedo poderá
interessá-la mais do que executar a tarefa pedida.
Bogossian & Santos (1977) referem que o examinador deve assegurar à criança boas
condições ambientais, como: iluminação adequada e ausência de ruídos que distraiam ou
causem interrupções. Complementam ainda, dizendo que em itens visuais, a criança deve
estar sentada em local suficientemente alto e próximo do material, para que tenha uma visão
clara e correta.
3 MÉTODOS E TÉCNICAS
54
Neste capítulo será descrita a metodologia utilizada na elaboração do Teste de Figuras
para Discriminação Fonêmica (TFDF) e na realização do estudo piloto para aplicação deste
teste.
3.1 Elaboração do teste
O TFDF foi elaborado com base nos pontos e reflexões expostos a seguir.
3.1.1 Objetivo
O objetivo do TFDF é avaliar a discriminação fonêmica através de pares mínimos,
escolhidos pelas oposições dos fonemas em relação ao valor binário de cada traço distintivo e
as combinações possíveis entre os traços de lugar ([labial], [coronal], [dorsal]) bem como
pelas oposições de estruturas silábicas. Buscou-se que este teste contribuísse para o
diagnóstico de alterações fonoaudiológicas e para a pesquisa científica nesta área. Para isso,
utilizou-se a Matriz Fonológica dos Segmentos Consonantais do Português Brasileiro de Mota
(1997).
3.1.2 Faixa etária a ser avaliada
O TFDF foi proposto para avaliar crianças de quatro a oito anos de idade. Ele deve ser
aplicado em crianças que tenham acima de quatro anos, pois a partir desta idade, a maioria
delas já adquiriu todos os fonemas do português brasileiro (Lamprecht et al, 2004). A idade de
oito anos foi considerada limite para ser avaliada pelo TFDF porque se acredita que a maioria
das crianças que procuram atendimento fonoaudiológico por alterações na linguagem o fazem
até esta idade. Esta é a impressão clínica da autora, baseada em sua experiência profissional.
55
Também o vocabulário utilizado no TFDF foi pensado para crianças que estivessem dentro
dessa faixa de idade.
O teste pode ser aplicado em crianças de qualquer nível sócio-econômico.
3.1.3 Tipo de estímulo
Acredita-se que o melhor estímulo que pode ser empregado na avaliação da
discriminação fonêmica é o par mínimo que utiliza palavras com significado. O par mínimo
contorna a influência da sobrearticulação, pois o contexto fonológico é semelhante para
ambas as palavras do par, e por usar-se de palavras, possui o aspecto dinâmico da cadeia de
fala. Além disso, a palavra com significado evita a dispersão da atenção à discriminação
fonêmica por não exigir atenção da criança examinada na busca por acesso léxico (o que não
é o caso de palavras ou sílabas sem significado).
3.1.4 Seleção das oposições de fonemas e dos pares mínimos
Para a escolha das palavras do teste, procedeu-se da seguinte forma: primeiro
selecionou-se todos os traços distintivos que apresentavam oposições de valores binários e as
combinações possíveis entre os traços de lugar, cruzando-os entre si. Depois verificou-se,
dentro de cada combinação, quais eram os pares de fonemas que diferiam entre si pelo menor
número de traços distintivos, objetivando encontrar pares de fonemas que diferissem entre si
somente nos traços em questão. Os pares de fonemas que diferiam entre si pelo menor número
de traços foram selecionados.
Depois de realizada a verificação das oposições dos traços, bem como da
representação destes por fonemas, passou-se para a escolha dos pares mínimos. Para esta
escolha, utilizaram-se os seguintes critérios: palavras que fossem facilmente representáveis
por desenho, pares de palavras com os fonemas escolhidos em duas posições dentro das
palavras (OI e OM); palavras monossilábicas seguidas de dissilábicas ou trissilábicas;
palavras que fizessem parte do vocabulário de crianças com quatro anos de idade (idade
56
mínima a que o teste se propõe a avaliar); palavras com diferentes estruturas silábicas (CV,
CCV, CVC).
As oposições possíveis entre os traços distintivos com valores binários foram: [+
soante] e [- soante]; [+ aprox] e [- aprox]; [+ cont] e [- cont]; [+ voz] e [-voz]; e as
combinações possíveis entre os traços de lugar foram: [labial] e [cor]; [cor] e [dorsal]; [labial]
e [dorsal]; [cor + ant] e [cor – ant]. Os traços [+ soante] e [- soante] e [+ aprox] e [- aprox]
têm diferenças de classe principal. Os demais pares de traços distintivos têm diferenças de
classe não principal.
Para a combinação [+ soante] e [- soante], existem os seguintes representantes:
- [+ soante]: /m/, /n/, /ñ/, /l/, /´ /, /r/, /R/.
- [-soante]: /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/, /f/, /v/, /s/, /z/, /š/, /ž/.
Entre estes representantes, os que diferem entre si apenas pelo traço em questão são
/m/ x /b/ e /n/ x /d/. No entanto, não se encontrou pares mínimos dentro dos critérios
estabelecidos que representassem a oposição /n/ x /d/. Por exemplo, os pares mínimos dado x
nado ou data x nata são difíceis de serem representáveis em desenho. Além disso, acredita-se
que a palavra data não faça parte do vocabulário de todas as crianças com quatro anos de
idade. A palavra nata não seria conhecida em todo o Brasil, pois é mais utilizada na região sul
do país. Por este motivo, apenas a oposição /m/ x /b/ está representada no teste.
Para a oposição /m/ x /b/, localizou-se os pares mínimos: mala x bala, mola x bola, bar
x mar, cabelo x camelo. Entre estes, optou-se por excluir apenas mola x bola, pois acredita-se
que a palavra mola não é tão conhecida entre as crianças, e a palavra bola foi utilizada em
outro par mínimo do teste. Os demais pares mínimos compuseram o teste, por serem
facilmente representáveis por figuras e por representarem palavras monossilábicas,
dissilábicas e trissilábicas, com localização da oposição em OI e OM, e terem diferentes
estruturas silábicas (CVC, CV).
Na combinação [+ aprox] e [- aprox], os representantes são:
- [+ aprox]: /l/, /´ /, /r/, /R/.
- [- aprox]: todos os outros fonemas.
O único par de fonemas que difere entre si apenas pelo traço em questão é /l/ x /n/. Os
pares mínimos encontrados para a oposição /l/ x /n/ foram: nata x lata e lua x nua. Acredita-se
que a palavra nua não faça parte do vocabulário de crianças com quatro anos de idade, e a
palavra nata é considerada regional (alimento utilizado na região sul do Brasil). Assim,
utilizou-se a oposição /r/ x /z/, que difere entre si por dois traços distintivos [+ soante] [-
57
soante] e [+ aprox] [- aprox], respectivamente. O único par mínimo localizado que
representasse a oposição em questão foi cara x casa.
Os fonemas que contém os traços [+ cont] e [- cont] são:
- [+ cont]: /f/, /v/, /s/, /z/, /š/, /ž/, /r/, /R/.
- [-cont]: /p/, /b/, /t/, /d/, /k/, /g/, /m/, /n/, /ñ/, /l/, /´/.
Dentre esses, diferem entre si pela oposição em questão /f/ x /p/, /v/ x /b/, /s/ x /t/, /z/ x
/d/, /l/ x /r/. Optou-se por utilizar apenas as oposições /f/ x /p/, /s/ x /t/, /z/ x /d/, por serem
estas as oposições encontradas em pares mínimos dentro dos critérios utilizados no teste.
Mesmo dentre estas oposições exclui-se alguns exemplos: teia x ceia ( não faz parte do
vocabulário), massa (palavra regional) x mata, preço (aparece em outro par mínimo do teste)
x preto, saco x taco (não faz parte do vocabulário), ponte x fonte (não faz parte do
vocabulário).Os pares mínimos encontrados para as oposições excluídas foram: vota x bota,
vareta x valeta, coragem x colagem.
Os representantes que contém a combinação [+ voz] e [-voz] são os seguintes:
- [+voz]: /b/, /d/, /g/, /v/, /z/, /ž/, /m/, /n/, /ñ/, /l/, /´ /, /r/, /R/.
- [-voz]: /p/, /t/, /k/, /f/, /s/, /š/.
Entre estes, têm diferenças apenas no traço voz os pares de fonemas: /p/ x /b/, /t/, x /d/,
/k/ x /g/, /f/ x /v/, /s/ x /z/, /š/ x /ž/. Para /p/ x /b/, foram encontrados os seguintes pares
mínimos: pingo x bingo, pote x bote, par x bar, pomba x bomba. Optou-se por utilizar o par
pomba x bomba, por ser o mais facilmente representável por desenho e fazer parte do
vocabulário de crianças de quatro anos. A oposição /t/ x /d/ tem os pares mínimos corda x
corta (difícil representar em figura), gado (palavra utilizada em outro par) x gato, quadro x
quatro. O par escolhido foi quadro x quatro. Para /f/ e /v/, achou-se os pares mínimos faca x
vaca, fila x vila (não é do vocabulário da criança), foto x voto (representação em figura e não
adequada ao vocabulário). Escolheu-se o par faca x vaca.
Para /s/ x /z/ encontrou-se os pares mínimos roça x rosa, caça x casa, doce x doze,
preço x preso. Acredita-se que as palavras roça e caça não façam parte do vocabulário de
todas as crianças com quatro anos de idade. O par mínimo doce x doze foi considerado
adequado, mas como se queria apenas um exemplo desta oposição de fonemas, optou-se por
preço x preso, por ter estrutura silábica CCV na palavra, mesmo que esta não fosse na
oposição.
Na oposição de fonemas /š/ x /ž/, foi possível achar os pares mínimos queixo x queijo,
xis x giz, chato x jato, lixeira x ligeira. Dentre estes, se escolheu o par queixo x queijo, por ser
o que melhor atende aos critérios utilizados.
58
Não aparece no teste apenas a oposição /k/ x /g/, pois se encontrou apenas o par
mínimo cola x gola. A palavra gola aparece em outra oposição do teste, por isto este par não
foi utilizado.
Já para o traço [cor] [+ ant] e [-ant], existem os representantes:
- [+ ant]: /s/, /z/, /n/, /l/.
- [- ant]: /š/, /ž/, /ñ/, /´ /.
Entre estes, diferem entre si apenas por um traço /s/ x /š/, /z/ x /ž/, /n/ x /ñ/, /l/ x /´/.
Para a oposição de fonemas /s/ x /š/, encontrou-se os pares mínimos chaleira x saleira, roça x
rocha; para a oposição /z/ x /ž/ zangada x jangada. Supõe-se que as palavras em questão não
façam parte do vocabulário das crianças na idade a serem testadas, por isto estas oposições de
fonemas não aprecem no teste. Para /n/ x /ñ/, achou-se apenas o par mínimo sono x sonho. Os
pares mínimos vela x velha, fila x filha e galo x galho foram os encontrados para a oposição
/l/ x /´/. Excluiu-se apenas fila x filha, pois a palavra filha aparece em outro par mínimo do
teste.
Para a combinação de traços [labial] e [coronal] era possível cruzar os fonemas:
-[labial]: /p, /b/, /f/, /v/, /m/.
-[cor]: /t/, /d/, /s/, /z/, /, /ž/, /n/, /ñ/, /l/, /´/, /r/.
Diferem entre si, apenas pelos traços citados, os seguintes pares de fonemas: /p/ x /t/,
/b/ x /d/, /f/ x /s/, /v/ x /z/, /m/ x /n/. No teste, utilizaram-se os pares de fonemas /p/ x /t/ e /v/ x
/z/. Os pares mínimos encontrados para estas oposições foram: porta x torta, lupa x luta, mapa
x mata, tomada x pomada, cavar x casar. Selecionou-se apenas porta x torta e cavar x casar,
por melhor atenderem os critérios de escolha.
Para a oposição de fonemas /b/ x /d/, encontrou-se apenas os pares mínimos bois x
dois e nabo x nado. Para /f/ x /s/, fala x sala, fanta x santa, fino x sino. Para /m/ x /n/
descobriu-se cama x cana, mata x nata, mão x não. Todos estes exemplos ou eram compostos
de palavras difíceis de representar em figuras, ou não faziam parte do vocabulário de crianças
pequenas, ou eram palavras regionais. Por isto estas oposições não foram selecionadas para o
teste.
Para a oposição [cor] x [dorsal] é possível utilizar os fonemas:
- [cor]: /t/, /d/, /s/, /z/, /š/, /ž/, /n/, /ñ/, /l/, /´/, /r/.
- [dorsal]: /k/, /g/, /R/.
Há diferença apenas de um traço entre /k/ x /t/, /g/ x /d/ e /R/ x /r/. Para a oposição /g/
x /d/, foi possível achar apenas o par mínimo gado x dado, e para /R/ x /r/, carreta x careta, os
quais foram utilizados no teste. O par mínimo couro x touro foi o único encontrado para
59
representar /k/ x /t/. No entanto, são palavras que não se enquadram nos critérios de escolha
utilizados, por isto, esta oposição de fonemas não aparece no teste.
Observando-se os traços [labial] e [dorsal] é possível encontrar como representantes os
fonemas:
- [labial]: /p, /b/, /f/, /v/, /m/.
- [dorsal]: /k/, /g/, /R/.
Há diferença apenas nos traços em questão nos fonemas /k/ x /p/ e /g/ x /b/. Dentre
estas oposições, localizou-se os pares mínimos: cão x pão, quente x pente, sapo x saco, corta x
porta, cano x pano, espada x escada, gravura x bravura, bola x gola, bato x gato. Optou-se
pelos pares mínimos sapo x saco, cano x pano, escada x espada e bola x gola, por serem os
que melhor atendem aos critérios de escolha.
Assim, selecionaram-se os pares mínimos que podem ser visualizados no Quadro 2.
Observa-se que em relação à posição de onset (inicial ou medial) do fonema
contrastado, apenas não se conseguiu representantes de ambas as posições quando se
contrastou o traço [+ aprox] [- aprox], com os fonemas /r/ e /z/. Isto ocorreu pela
impossibilidade estrutural da língua que proíbe o /r/ nesta posição. Lembra-se que na oposição
[cor + ant] e [cor – ant] não seria possível a posição de onset inicial, já que os fonemas /´/ e
/ñ/ não aparecem nesta posição no português brasileiro.
O objetivo do teste era avaliar a habilidade de discriminar auditivamente os fonemas,
ou seja, avaliar a discriminação fonêmica da criança. No entanto, considerou-se importante
acrescentar ao teste alguns pares de palavras que tivessem oposição não do fonema, mas da
ordem em que estes são utilizados nas palavras (estrutura silábica). No Português Brasileiro as
estruturas silábicas mais comuns são as seguintes: V, CV, CVC, CCV. Para contrastar estas
estruturas entre si era necessário encontrar pares de palavras contendo os mesmos fonemas
arranjados de forma diferente, dentro das seguintes oposições: V x CV; CVC x CCV; CV x
CVC; CV x CCV.
Não foi possível encontrar palavras que representassem a oposição de estrutura
silábica CVC x CCV e ao mesmo tempo atendessem os critérios de escolha dos pares.
Encontraram-se os seguintes pares de palavras com estas estruturas: furta x fruta; garça x
graça; parto x prato. Contudo, as palavras furta, garça e parto não são comuns ao vocabulário
da maioria das crianças com quatro anos, além disso, seria difícil ilustrar as palavras furta,
graça e parto. Assim, esta oposição de estrutura silábica não está contemplada no teste.
60
Traços
distintivos
contrastados
Fonemas
que fazem a
oposição
Nº de
traços
distintivos
diferentes
Pares mínimos
Nº de
síl.
Tipo
onset
Estrutura
silábica
+/ - soante /m/ x /b/ 1 Mar x bar
Mala x bala
Cabelo x camelo
1
2
3
OI
OI
OM
CVC
CV
CV
+/- aproximante /r/ x /z/ 2 Cara x casa 2 OM CV
+/ - contínuo /f/ x /p/
/z/ x /d/
/s/ x /t/
1
2
2
Filha x pilha
Rosa x roda
Praça x prata
2
2
2
OI
OM
OM
CV
CV
CV
+/ - voz /b/ x /p/
/ž/ x /š/
/d/ x /t/
/f/ x /v/
/z/ x /s/
1
1
1
1
1
Bomba x pomba
Queixo x queijo
Quadro x quatro
Faca x vaca
Preço x preso
2
2
2
2
2
OI
OM
OM
OI
OM
CV
CV
CCV
CV
CCV
Coronal
+ant/ -ant
/l/ x /´/
/n/ x /ñ/
1
1
Vela x velha
Galo x galho
Sono x sonho
2
2
2
OM
OM
OM
CV
CV
CV
Labial/ coronal /p/ x /t/
/v/ x /z/
1
1
Porta x torta
Cavar x casar
2
2
OI
OM
CVC
CVC
Dorsal/ coronal /r/ x /R/
/d/ x /g/
1
1
Careta x carreta
Dado x gado
3
2
OM
OI
CV
CV
Dorsal/ labial /p/ x /k/
/b/ x /g/
1
1
Sapo x saco
Espada x escada
Pano x cano
Bola x gola
2
3
2
2
OM
OM
OI
OI
CV
CV
CV
CV
Quadro 2 Pares mínimos selecionados para constituírem o teste
O Quadro 3 a seguir apresenta os pares de palavras selecionados para representar a
oposição de estruturas silábicas.
Estruturas Silábicas Contrastadas Par Mínimo Nº de Sílabas
V x CV Ovo x povo
Uva x luva
2
2
CV x CCV Banco x branco
Pato x prato
2
2
61
Fio x frio 1
CV x CVC Pote x poste
Pata x pasta
2
2
Quadro 3 Pares de palavras selecionados para representar a oposição de estrutura
silábica
3.1.5 Uso de figuras
Alguns testes específicos de discriminação auditiva / fonêmica, bem como alguns que
avaliam habilidades de linguagem, citados na revisão bibliográfica, fazem uso de figuras.
Conforme Moojen et al (2003), as figuras servem para auxiliar a memória das crianças e obter
um instrumento lúdico. Exatamente por estes motivos optou-se pela elaboração de um teste de
figura (TFDF): a criança ouve as palavras dos pares mínimos tendo à sua frente as cartelas do
teste com as figuras que representam graficamente estas palavras, evitando-se assim que ela
tenha que memorizar as palavras por mais tempo enquanto busca o acesso léxico destas
palavras, para depois disto responder à apresentação.
Igualmente, com a utilização das figuras e a disposição destas em cartelas, pôde-se
obter um caráter lúdico no teste, fazendo com que a criança não sentisse tensão por estar
sendo avaliada e sim, tivesse prazer em responder as apresentações do teste.
Após decidir quais pares mínimos fariam parte do teste, contratou-se um profissional
das artes visuais para que criasse as figuras representativas das palavras. Este profissional
1
fez
os desenhos à mão livre e em seguida a autora conferiu-os, solicitando algumas modificações.
Após, estes foram passados para o computador, coloridos e assumiram sua versão final para o
estudo piloto. As figuras já organizados nas cartelas de apresentação do teste encontram-se no
Apêndice A.
3.1.6 Apresentação do estímulo
1
Desenhista: Alexandre Alves
62
Nos testes citados na revisão bibliográfica, observa-se que alguns apresentam os
estímulos para a criança a ser avaliada através de viva-voz e outros através de gravação.
Entende-se que a melhor maneira de apresentar os estímulos seja através de viva-voz, uma
vez que facilita a aplicação em qualquer ambiente e permite que a apresentação tenha um
caráter mais real de fala. Também possibilita a adaptação da apresentação dos estímulos ao
dialeto do lugar onde o teste estiver sendo aplicado. Contudo, deve haver um rigoroso cuidado
na padronização articulatória das apresentações, não existindo diferenças na aplicação de uma
criança para a outra ou de um examinador para outro.
3.1.7 Itens de demonstração
Muitos testes fazem uso de itens de demonstração a serem utilizados antes da
aplicação do teste em si, para explicar à criança testada como ela deve proceder nas tarefas.
Acredita-se que o uso destes seja de suma importância para o examinador e para a criança a
ser avaliada.
Para o examinador, os itens de demonstração servem como um “termômetro” onde ele
poderá sentir se a criança realmente compreendeu a tarefa que terá que desempenhar. Com a
utilização destes itens, o examinador poderá ter certeza que o mau desempenho da criança no
decorrer do teste não foi por falta de compreensão das tarefas. Para a criança avaliada eles
servem como um guia, mostrando como realizar as tarefas.
Foram incluídos no TFDF quatro itens de demonstração. Dois deles apresentam
simplesmente dois pares de palavras com a mesma extensão silábica (três e uma sílabas
respectivamente), mas que não formavam pares mínimos (cavalo x boneca, pão x trem). Estas
palavras foram escolhidas por serem conhecidas das crianças e de fácil representação em
desenho. Os outros dois itens de demonstração foram compostos igualmente por dois pares de
palavras de mesma extensão silábica (três e duas sílabas, respectivamente), mas dessa vez por
pares mínimos (corrida x comida, gata x lata).
3.1.8 Número de apresentações
63
Não foi encontrada na literatura revisada nenhuma referência ao tempo máximo ideal
de testagem de uma criança. Acredita-se que este tempo aumente gradualmente com a idade
da criança testada e que o teste não deveria ser demasiadamente longo, pois o cansaço da
criança influenciará no seu desempenho.
Baseado nisto, procurou-se desenvolver um teste que não fosse extenso demais, mas
que contemplasse exemplares de todas as oposições de fonemas seguindo a oposição de
traços distintivos e de estruturas silábicas descritas no item 3.1.4.
Assim, o Teste de Figuras para Discriminação Fonêmica (TFDF) foi composto por 30
pares mínimos (60 palavras) listados nos quadros 2 e 3 e por quatro itens de demonstração.
Esses pares mínimos foram organizados em 40 apresentações, das quais 30 são apresentações
com duas palavras diferentes e 10 são apresentações com duas palavras iguais. As
apresentações com duas palavras iguais foram incluídas no teste para fazer com que a criança
que for submetida a ele preste mais atenção.
Se houvessem somente apresentações com palavras diferentes no teste, após algumas
tarefas a criança poderia deduzir que todas as respostas apresentavam um padrão, ou seja, ela
deveria mostrar a cartela com duas figuras diferentes e passaria a apontar para esta cartela sem
nem mesmo prestar atenção auditiva às palavras faladas. Os 10 pares de palavras iguais
distribuem-se pelo teste de forma que cinco devem estar entre as vinte primeiras
apresentações e cinco entre as vinte finais.
Das 30 apresentações com duas palavras diferentes, três diferenciam-se pela oposição
[+/ - soante], uma pela oposição [+/ - aproximante], três por [+ / - contínuo], cinco por [+ /-
voz], três pela oposição [coronal + / - anterior], duas por [labial] x [coronal], duas por [dorsal]
x [coronal], quatro por [dorsal] x [labial] e sete pela oposição de estruturas silábicas, das quais
duas diferem por V x CV, duas por CV x CVC e três CV x CCV. A ordem das apresentações
segue esta mesma seqüência. Para as apresentações de duas palavras iguais escolheram-se
aqueles pares com palavras simples e cuja representação em desenho é de fácil acesso para as
crianças.
Assim, definiu-se como ordem de apresentação a seguinte: 1- mala x mala, 2- mar x
bar, 3- cabelo x camelo, 4- mala x bala, 5- cara x casa, 6- praça x prata, 7- rosa x roda, 8-
cabelo x cabelo, 9- filha x pilha, 10- bomba x pomba, 11- filha x filha, 12- queijo x queixo,
13- quadro x quatro, 14- faca x vaca, 15- preço x preso, 16- torta x torta, 17- velha x vela, 18-
galo x galho, 19- sono x sonho, 20- quadro x quadro, 21- porta x torta, 22- cavar x casar, 23-
pata x pata, 24- bola x bola, 25- carreta x careta, 26- dado x gado, 27- sapo x saco, 28- bola x
gola, 29- cano x pano, 30- prato x prato, 31- espada x escada, 32- uva x luva, 33- ovo x povo,
64
34- carreta x careta, 35- pote x poste, 36- pata x pasta, 37- pato x prato, 38- sapo x sapo, 39-
banco x branco, 40- fio x frio.
3.1.9 Pistas visuais
Como já foi mencionado na seção 2.1.2 da revisão bibliográfica, sabe-se que a
percepção visual auxilia na percepção da fala. Por isto, considera-se importante impedir a
presença de pistas visuais na apresentação dos estímulos para que o examinador possa
certificar-se de que a habilidade usada foi a discriminação fonêmica, com base somente no
estímulo auditivo.
No estudo piloto, será utilizado o próprio Protocolo de Apresentação do TFDF para
tapar a boca do examinador, para que a criança não possa ver os gestos articulatórios. Para a
versão final do TFDF não será necessário este cuidado, pois será utilizada uma gravação das
apresentações.
3.1.10 Variável memória
Durante a elaboração do TFDF não se tomou nenhum cuidado especial com a variável
memória; mesmo assim, de certa forma, esta variável foi controlada. Isto porque as palavras
estímulo do teste foram selecionadas cuidadosamente para não terem um grande número de
sílabas, para se oporem ao menor número de traços distintivos e, principalmente, para fazerem
parte do vocabulário das crianças de quatro a oito anos de idade.
O estudo de Corona et al (2005), citado na revisão bibliográfica (item 2.2.1), mostra
que todos os sujeitos avaliados, de três a doze anos, conseguiram repetir pelo menos duas das
três seqüências de três sílabas testadas. Assim, acredita-se que aos quatro anos de idade
(menor idade avaliada com o TFDF) as crianças não tenham dificuldade para memorizar as
duas palavras da apresentação, pois é preciso que elas utilizem apenas a memória de trabalho
(curto prazo) para então responderem à tarefa do teste. Lembra-se que cada apresentação é
constituída por apenas duas palavras, de no máximo três sílabas cada.
65
3.1.11 Motivação verbal ao sujeito testado
Considera-se positivo o uso de motivação verbal ao sujeito testado, pois mantém o
interesse do sujeito no teste, instigando-o a continuar desempenhando bem as tarefas.
Também pelo fato de que as expectativas da criança sobre seu desempenho frente à tarefa
influenciam grandemente em sua performance. Por este motivo, no TFDF é permitido o uso
de expressões para encorajar e motivar a criança.
3.1.12 Avaliação qualitativa
Os dados quantitativos são interessantes para a obtenção de diagnóstico,
principalmente quando o teste utilizado é padronizado, oferecendo faixas de acertos que
enquadram o desempenho como adequado ou não. São especialmente úteis em pesquisas com
grandes populações. No entanto, tão importantes quanto os dados quantitativos, são os dados
qualitativos.
Os dados qualitativos mostram fatores específicos do desempenho de cada criança,
que auxiliam na interpretação dos dados quantitativos, na compreensão do comportamento da
criança, na revisão da qualidade do teste utilizado. Assim, no TFDF serão considerados
também os aspectos qualitativos do desempenho da criança.
3.1.13 Ambiente de testagem
Como visto na revisão bibliográfica (item 2.9.5) vários idealizadores de testes referem
cuidados especiais em relação ao ambiente de testagem. Estes cuidados dizem respeito à
presença de estímulos de distração, ao conforto da criança testada, à presença de iluminação
suficiente, a um ambiente silencioso. Eles são fundamentais para garantir o bom desempenho
do sujeito no teste, ou pelo menos, para excluir que o mau desempenho tenha sido causado
por fatores alheios ao sujeito testado. No Manual de Aplicação do TFDF são especificados
detalhes do ambiente de testagem.
66
3.1.14 Composição do TFDF
Após refletir sobre cada item descrito acima, chegou-se a versão do TFDF utilizada no
estudo piloto. Nesta versão, o TFDF compõe-se por 132 cartelas ilustradas, um Manual de
Aplicação, um Protocolo de Apresentação e um Protocolo de Respostas. As cartelas do TFDF
podem ser visualizadas no Apêndice A. Para cada apresentação são utilizadas três cartelas:
uma contém duas vezes a figura que ilustra a palavra A, outra contém duas vezes a figura que
ilustra a palavra B e outra contém as figuras que ilustram as palavras A e B, não
necessariamente nesta ordem, para evitar que a criança deduza um padrão de resposta. As
cartelas possuem um número e uma letra no verso; o número indica a apresentação e as letras
indicam a ordem em que as cartelas devem ser posicionadas (por exemplo: 1A, 1B, 1C).
Antes de iniciar a testagem, o examinador deve verificar se as cartelas estão na ordem correta.
O Protocolo de Apresentação (Apêndice B) contém as ordens verbais que devem ser
dadas às crianças. Estas ordens devem ser lidas de maneira clara, observando-se a articulação
correta dos fonemas. O examinador deve segurar o Protocolo de Apresentação em frente à sua
boca para eliminar as pistas visuais da articulação dos fonemas. Para facilitar o manuseio por
parte do examinador, deixou-se em negrito as apresentações com palavras repetidas. As
respostas das crianças deverão ser anotadas no Protocolo de Respostas (Apêndice C).
3.1.15 Aplicação do TFDF
Para explicar como o TFDF deve ser aplicado, elaborou-se um Manual de Aplicação.
Este manual será descrito abaixo.
Manual de Aplicação do TFDF:
1- O teste deve ser aplicado em um local silencioso, para evitar interferências do ruído nas
respostas. Não devem ser deixados brinquedos, revistas ou livrinhos perto do local de
67
aplicação do teste para não desviar a atenção da criança. Esta deve estar sentada
confortavelmente, numa altura adequada para ter uma boa visão das cartelas de apresentação
do TFDF dispostas sobre a mesa.
2- Antes de iniciar a avaliação, o examinador deve verificar se as cartelas do teste estão na
ordem correta, bem como se os Protocolos de Apresentação e de Respostas estão em cima da
mesa.
3- O examinador não deve utilizar o termo “teste” quando for explicar à criança o que será
feito. Ele pode convidar a criança para jogar um “jogo de adivinhação”. Então, explicará à
criança que serão colocadas sobre a mesa três cartelas com figuras. Ela ouvirá uma ordem
pedindo que mostre a cartela que contém esta e aquela figura. Em seguida, deverá apontar
para a cartela que contém as figuras citadas. Com crianças menores (quatro, cinco anos) pode-
se iniciar colocando as cartelas da primeira apresentação dos itens de demonstração na frente
da criança e perguntar que figuras ela está vendo. Então solicitar à criança que mostre a figura
A (ex: a boneca), depois pedir que mostre a figura B (ex: cavalo), e em seguida, pedir que
mostre a cartela que tem as figuras A e B.
4- Caso o examinador perceba que a criança não compreendeu a tarefa durante as
apresentações dos itens de demonstração, deve fornecer as respostas corretas e dar
explicações adicionais. As respostas da criança às apresentações dos itens de demonstração
nunca contam para a pontuação.
5- As apresentações devem ser lidas pelo examinador e repetidas somente uma vez se assim
for solicitado pela criança. Caso a criança peça uma segunda repetição, o examinador poderá
repetir a apresentação para evitar frustração por parte da mesma, mas anotará no Protocolo de
Respostas uma observação citando o fato e desconsiderará a resposta dada por ela à
apresentação.
6- O examinador do TFDF não deverá confirmar à criança se a sua resposta foi correta, mas
pode usar de algumas expressões de encorajamento ou elogios para motivá-la a continuar.
Expressões como: “que criança esperta!”, “continue assim...” ou “ótimo!” podem ser
utilizadas no decorrer do teste.
7- As respostas da criança devem ser marcadas no Protocolo de Respostas que acompanha o
TFDF. O examinador deverá evitar anotar as respostas de forma que a criança as visualize.
Para isso, pode colocar o Protocolo de Respostas no colo, colocá-lo sobre a mesa e escondê-lo
com o Protocolo de Apresentações ou utilizar uma mesa que tenha um gaveteiro móvel. Caso
a criança aponte as figuras corretas, porém, situadas em cartelas diferentes, o examinador
deve considerar certa a resposta e explicar à criança novamente que as figuras devem aparecer
68
na mesma cartela. No Protocolo de Respostas há espaço para realizar anotações relevantes no
decorrer da aplicação do teste para posterior análise qualitativa do desempenho da criança.
Não devem ser consideradas erradas respostas que utilizem apoio articulatório ou que sejam
feitas após repetição oral do par da apresentação por parte da criança.
8- A análise qualitativa implica em observar os comentários e reações da criança durante a
aplicação do teste, bem como a apreciação de fatores de desempenho específico de cada
criança, como: interesse, concentração, fadiga, dificuldades de compreensão da tarefa,
utilização de apoio articulatório para realização da discriminação fonêmica, solicitação de
explicações extras, respostas que mostrem sempre uma cartela na mesma posição ou um
determinado padrão de respostas (mostra sempre uma cartela que contenha dois desenhos
iguais ou diferentes, ou então sempre a cartela do meio, por exemplo).
9- A pontuação do teste será efetuada somando-se um ponto para cada resposta correta e zero
ponto para respostas incorretas ou provenientes de segunda repetição da apresentação,
totalizando um máximo de 40 pontos.
3.2 Estudo piloto
3.2.1 Objetivo
Para verificar se o TFDF estava adequado à faixa etária a que se propunha avaliar, se
as palavras escolhidas faziam parte do vocabulário das crianças, se as figuras ficaram de
acordo com as palavras que deveriam representar e se a estrutura e organização do teste eram
compreendidas pelas crianças, realizou-se um estudo piloto. Neste, aplicou-se o TFDF em
escolares da rede pública e privada da cidade de Santa Rosa – RS.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal
de Santa Maria e está registrada sob número 0128/06.
3.2.2 Seleção das escolas e sujeitos
69
Realizou-se o estudo piloto em escolas da rede pública e particular de ensino. A
preocupação em avaliar crianças de ambas as redes de ensino decorreu do estudo de Ribas
(2001) e de Corona et al. (2005) citados na revisão bibliográfica. Para a escolha das escolas
utilizou-se o critério de maior acessibilidade da autora, em função de já ter contato
profissional com a mesma. Assim, entrou-se em contato com uma escola da rede particular e
uma escola da rede estadual de ensino, ambas com educação infantil ao ensino médio.
Após autorização das diretorias das escolas citadas, procedeu-se a seleção dos sujeitos
que fariam parte do estudo piloto. Para isto, a autora e as coordenadoras pedagógicas das
escolas levaram em consideração os seguintes critérios: idade, ausência de distúrbios graves
da comunicação (envolvendo audição, fala e linguagem), problemas educativos ou patologias
graves e facilidade de comunicação das escolas com os pais.
Escolheram-se quatro sujeitos dentro de cada um dos seguintes grupos etários, sendo
sempre dois do sexo masculino e dois do sexo feminino: 4:1 a 4:6, 4:7 a 5:0, 5:1 a 5:6, 5:7 a
6:0, 6:1 a 6:6, 6:7 a 7:0, 7:1 a 7:6 e 7:7 a 8:0. Estes grupos foram divididos de seis em seis
meses para que não compreendessem um período muito longo, pois acredita-se que as
crianças desta faixa de idade evoluem muito rapidamente em todas as áreas do
desenvolvimento, inclusive na habilidade de discriminação fonêmica.
Dando seqüência a esta seleção, enviou-se para os pais uma carta com o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice D). Como nem todas retornaram,
selecionaram-se mais alguns sujeitos e enviou-se o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para os pais. Por isso os grupos etários não ficaram homogêneos em relação aos
sexos ou mesmo em relação ao número de participantes.
Ao todo foram selecionados 27 sujeitos da rede pública de ensino e 27 da rede
particular, totalizando 54, sendo 26 do sexo feminino e 28 do sexo masculino.
3.2.3 Triagem dos sujeitos selecionados
Todos os sujeitos que foram autorizados pelos pais a participarem do estudo piloto
foram triados para exclusão de distúrbio da comunicação grave. A triagem foi realizada nas
próprias escolas, em salas cedidas pela diretoria, que não estavam sendo ocupadas para outras
atividades nos dias das avaliações, onde todos foram avaliados individualmente.
70
Para a triagem da fala e da linguagem, foi utilizada a figura “Circo” (Hernandorena &
Lamprecht, 1997); se necessário era feita uma avaliação articulatória (repetição de palavras) e
avaliação de Órgãos Fonoarticulatórios.
Para a triagem auditiva, foram utilizados os critérios de Barret (1999) que incluem a
testagem de tom puro nas freqüências de 1000, 2000 e 4000 Hz por via aérea, realizada de
forma individual em campo livre, com o uso de fones de ouvido. Considerou-se como critério
de normalidade respostas obtidas em 20 dB NA. A triagem auditiva foi realizada na própria
escola, em uma sala silenciosa. Antes dela, foi realizada uma inspeção do meato acústico
externo de ambas as orelhas, com otoscópio modelo Pen Scope da marca Embramac, para
averiguar a presença de obstrução do meato por tampão ou excesso de cerúmen.
Além da autora, outra fonoaudióloga
2
e uma acadêmica
3
do quinto semestre de
fonoaudiologia auxiliaram nestas avaliações.
Solicitou-se as professoras dos sujeitos escolhidos que respondessem um pequeno
questionário (Apêndice E) usado para exclusão de casos graves. Igualmente, pediu-se a estas
que ao encaminharem os sujeitos para a sala onde seriam triados, explicassem que eles iriam
“jogar um jogo de adivinhação”, com figuras coloridas. Elas não deveriam usar os termos
“teste” ou “avaliação”.
3.2.4 Avaliação com o TFDF
Após a triagem fonoaudiológica, todos os sujeitos foram avaliados com o TFDF,
conforme explicações do Manual de Aplicação. Apenas a autora do teste fez a aplicação deste
nos sujeitos da amostra, para evitar que diferenças na aplicação influenciassem os resultados.
A aplicação do TFDF também foi realizada na própria escola, em sala cedida pela direção, e
no mesmo dia em que foi feita a triagem auditiva.
3.2.5 Critérios de exclusão dos sujeitos selecionados para a amostra
2
Fonoaudióloga: Grízia de Amorim Ávila Bocca, formada pela UFSM em 1996.
3
Acadêmica: Valquíria Zimmer, estudante do 5º semestre de Fonoaudiologia pela UFSM
71
Entende-se que para realizar a padronização dos resultados esperados como normais
para a maioria da população em um determinado teste, faz-se necessário um rigor
metodológico na seleção e avaliação dos sujeitos a serem submetidos a ele. O objetivo do
estudo piloto desta pesquisa era verificar a qualidade do TFDF quanto à adequação à faixa
etária, verificação das palavras escolhidas em relação ao vocabulário das crianças, captação
das figuras, compreensão da estrutura e organização do teste. Como o objetivo não era
padronizar as respostas, a autora optou por não ser rigorosa em relação às triagens, excluindo
da participação no estudo piloto somente os casos graves de alterações da fala e linguagem ou
sujeitos que falharam na triagem auditiva.
Entende-se por casos graves de alteração de fala aqueles em que a inteligibilidade da
fala está muito prejudicada. Considerou-se falha na triagem auditiva presença de limiares
auditivos superiores a 20 dB NA (Barret, 1999).
Dos sujeitos avaliados na escola estadual, dois (um do sexo masculino e um do sexo
feminino) foram excluídos por causa da avaliação auditiva. Na escola particular, houve
exclusão de três sujeitos, sendo todos do sexo feminino, por terem falhado na triagem
auditiva. A autora entrou em contato (telefônico ou na própria escola) com os pais destes
solicitando avaliação com médico otorrinolaringologista e realização de avaliação auditiva
completa.
Não houve casos de exclusão da amostra em conseqüência de alterações graves da fala
ou linguagem. No entanto, foram encontradas algumas alterações de fala (desvio fonético e
fonológico
4
), voz ou motricidade oral nos sujeitos triados. Estes dados podem ser vistos no
Apêndice F.
Todos os sujeitos que aparecem no Apêndice F foram encaminhados para avaliação
com fonoaudiólogos, odontopediatras, ortodontistas ou otorrinolaringologistas, de acordo com
a necessidade.
3.2.6 Amostra do estudo piloto
4
Os sujeitos com desvio fonético ou fonológico não foram excluídos da amostra porque não apresentaram
dificuldades em relação à execução do TFDF.
72
Assim, a amostra final deste estudo piloto constituiu-se de 49 sujeitos, na faixa etária
dos quatro aos oito anos, sendo 24 da rede particular de ensino e 25 da estadual, totalizando
27 do sexo masculino e 22 do sexo feminino.
3.2.7 Retorno para escolas e pais/ responsáveis
Depois de concluídas as avaliações, a autora elaborou um relatório para cada escola e
para cada pai ou responsável pelos sujeitos testados, explicando o trabalho realizado e
expondo os resultados encontrados individualmente. Quando necessários, foram feitos
encaminhamentos para médicos otorrinolaringologistas, odonto-pediatras, ortodontistas e
fonoaudiólogos. O telefone da pesquisadora foi anexado ao relatório, para que os pais ou
responsáveis pudessem entrar em contato caso quisessem maiores explicações.
3.2.8 Análise dos dados do estudo piloto
O estudo piloto foi composto por dados qualitativos e quantitativos. A análise
qualitativa foi realizada com base nas observações dos comportamentos e reações dos sujeitos
durante a aplicação do teste e frente aos comentários deles sobre o mesmo. Os dados
quantitativos foram analisados estatisticamente, por profissional
5
da área. Para esta análise,
foram utilizados o Teste Kruskal-Wallis, que é um teste não paramétrico para comparação de
grupos, e o Teste de Diferenças de Proporções, que é um teste paramétrico, que como o nome
já diz, compara proporções. Considerou-se um nível de significância de 0.05 (p< 0,05).
4 RESULTADOS
5
Estatístico: Dr. Luís Felipe Dias Lopes
73
Neste capítulo serão descritos os resultados qualitativos e quantitativos encontrados
nesta pesquisa, conforme os objetivos estabelecidos previamente: propor um teste de figuras
que avaliasse a discriminação dos fonemas da língua portuguesa; que abrangesse todos os
fonemas do português brasileiro, contrastando-os quanto aos traços distintivos e estruturas
silábicas, opondo-os uns aos outros em pares mínimos. Possibilitar que este teste fosse de
fácil aplicação e pudesse contribuir para o diagnóstico de alterações fonoaudiológicas e para a
pesquisa científica nesta área.
4.1 Dados qualitativos do estudo piloto
Conforme explicado no Manual de Aplicação do TFDF (vide Métodos e Técnicas),
durante as avaliações com o TFDF foram observados aspectos qualitativos como comentários
e reações dos sujeitos durante a aplicação do teste e fatores de desempenho específicos de
cada um, como: interesse, concentração, fadiga, dificuldades de compreensão da tarefa,
utilização de apoio articulatório (tátil-cinestésico) para realização da percepção fonêmica,
solicitação de explicações extras e respostas com um determinado padrão. A seguir, serão
expostos os resultados encontrados em cada um destes itens.
4.1.1 Comentários e reações dos sujeitos durante a aplicação do teste
A examinadora anotou todos os comentários pertinentes ao assunto, feitos pelos
sujeitos avaliados, bem como reações que chamassem a atenção. Esses comentários versaram
sobre as figuras ou palavras do teste e a forma como ele se organiza. Colocou-se entre aspas
as expressões usadas pelos próprios sujeitos.
4.1.1.1 Comentários / reações sobre as figuras e palavras do teste
74
Os comentários a seguir foram agrupados por apresentação do teste. Olhando o
desenho da mala, na apresentação nº 1 (mala x mala) o sujeito 1 indagou se a bala estava
dentro da mala. Perante a apresentação nº 2 (mar x bar) o sujeito 31 perguntou à examinadora:
“você quer mar e casa?”.
Para a apresentação nº 9 (filha x pilha) o sujeito 2 disse: “não sei o que é pilha”. Frente
à apresentação nº 17 (vela x velha), o sujeito 41 deu muitas risadas. Após ser questionado pela
examinadora sobre o motivo das risadas, ele explicou: “é que o desenho da velha é muito
engraçado!”. Para a apresentação nº 19 (sono x sonho) o sujeito 31 perguntou qual dos dois
desenhos representava o sonho.
Na apresentação nº 23 (pata x pasta) ambos os desenhos foram questionados. O sujeito
28 apontou para um dos desenhos da pata e disse que apenas aquele desenho representava
pata e pata, pois estavam desenhados uma pata e um patinho. O sujeito 31 apontou para o
desenho que representava a pasta e perguntou se ele era a pasta. O sujeito 6 disse que não
tinha nenhuma pasta. Já o sujeito 16 disse: “gostei do desenho da pata!”.
Sobre a apresentação nº 24 (bola x gola) o sujeito 31 disse: “tem bola e pescoço”.
Olhando os desenhos da apresentação nº 25 (carreta x careta) o sujeito 43 disse à
examinadora: “você queria dizer caminhão?”.
Na apresentação nº 26 (dado x gado) o sujeito 12 após ouvir a ordem da examinadora
disse: “você perguntou dado e gado?” e mesmo tendo a confirmação da examinadora ele
mostrou a cartela que tinha dado e dado. A examinadora então perguntou ao sujeito qual era a
dúvida, ao que ele perguntou: “é dado e vaca?”. A examinadora confirmou e ele apontou a
cartela correta.
Para a apresentação nº 33 (ovo x povo), o sujeito 29 perguntou à examinadora: o que é
ovo? A examinadora respondeu que era “aquilo que vinha da galinha” e então o sujeito 29
apontou para a cartela que continha as duas figuras de ovo. Já o sujeito 36 perguntou o que era
povo, a examinadora respondeu que era um monte de gente e ele acertou. O sujeito 37
demonstrou estar em dúvida perante a apresentação nº 33, a examinadora então perguntou
para ele qual era a dúvida. Ele disse que nas cartelas tinha “um monte de gente e uma bolacha,
e não ovo e povo”. O sujeito 48 disse que achou a apresentação nº 33 difícil, porque não sabia
o que era povo.
Após ouvir a ordem da apresentação nº 35 (pote x poste) o sujeito 25 ficou parado
olhando para as cartelas. A examinadora questionou-o perguntando se não sabia o que era, e
ele disse que não sabia o que era poste. A examinadora respondeu que era aquilo que tem os
fios de luz, e então o sujeito apontou a cartela que continha poste e poste.
75
Em relação à apresentação 39 (branco x banco), os sujeitos 22 e 30 manifestaram suas
opiniões. O sujeito 22 virou a cartela em branco para olhar do outro lado. O sujeito 30 disse à
examinadora que a cartela estava virada.
4.1.1.2 Comentários / reações sobre a forma como se organiza o teste
Apenas o sujeito 43 comentou o fato de haver algumas apresentações no teste que
repetem os pares/ figuras, dizendo: “esse desenho de novo!”. No entanto este comentário não
teve conotação negativa.
Em relação ao estímulo, par mínimo, apenas o sujeito 44 demonstrou reação, pois
confundiu-se ao responder a apresentação nº 17 (vela x velha). Mas logo se corrigiu
justificando: “o que você falou é quase igual”.
4.1.1.3 Comentários sobre o desempenho no teste
Não houve nenhum comentário por parte dos sujeitos a respeito do seu desempenho no
teste.
4.1.1.4 Comentários sobre a marcação de respostas
Igualmente, nenhum sujeito fez comentário sobre o fato de a examinadora estar
anotando as respostas. Salienta-se que, um fato que chamou a atenção da autora, foi o de que
a maioria dos sujeitos nem sequer olhava para a folha de respostas.
4.1.2 Aspectos do desempenho específico da criança
4.1.2.1 Interesse
76
De um modo geral os sujeitos manifestaram grande interesse pelo teste, especialmente
pelo fato das examinadoras se referirem a ele como “jogo de adivinhação”. Quando
questionados pela examinadora ao término da aplicação do TFDF, sobre o que achavam do
jogo, eles respondiam que era legal, que tinha desenhos bonitos. O sujeito 33 dizia a cada
pouco que o jogo era fácil, fácil. O sujeito 13 dava risadas toda vez que a examinadora o
incentivava, dizendo que gostava de jogar.
4.1.2.2 Fadiga
Nenhuma criança manifestou fadiga durante a aplicação do teste, até porque o tempo
de aplicação não foi longo (em média, 04:56 min/seg.).
4.1.2.3 Dificuldades de compreensão da tarefa
O sujeito 1 teve dificuldades para entender a tarefa, após a ordem da examinadora
sempre perguntava: “é dois desenhos do mesmo?”. O sujeito 5 mostrava duas vezes a mesma
figura em vez de mostrar a cartela que continha duas vezes a figura. O sujeito 27 demonstrou
dificuldades em compreender as tarefas do TFDF, pois sempre mostrava apenas a figura da
última palavra falada, geralmente a cartela que continha as duas figuras iguais da última
palavra falada na ordem da apresentação. O sujeito 28 demorou a entender a tarefa do TFDF,
tendo uma mudança significativa de desempenho a partir do momento em que compreendeu.
4.1.2.4 Utilização de apoio articulatório para realização da discriminação fonêmica
77
Três sujeitos (5, 35 e 41) repetiam em voz alta o par falado pela examinadora antes de
apontar para a cartela correta. O sujeito 5 repetia alguns pares com a articulação errada, de
acordo com as trocas fonológicas que ele realizava na fala (ver Apêndice F), mas mostrava as
cartelas corretas. Os sujeitos 35 e 41 se repetiam errado, mostravam a cartela errada.
4.1.2.5 Solicitação de explicações extras
Para o sujeito 1, a examinadora aproveitava os acertos para explicar a tarefa
novamente, dizendo, por exemplo, “isto, a faca (apontava a faca) e a vaca (apontava a vaca),
na mesma cartela”. Para o sujeito 8, a examinadora tinha que solicitar que olhasse todas as
cartelas antes de responder, pois ele tinha pressa em responder e apontava qualquer cartela.
Somente o sujeito 28 solicitou que a examinadora repetisse a ordem da apresentação pela
terceira vez.
4.1.2.6 Respostas que seguiam um determinado padrão
O sujeito 8 apresentou tendência em apontar sempre para a cartela que tivesse as duas
figuras iguais da última palavra falada na apresentação.
4.2 Dados quantitativos do estudo piloto
A seguir serão apresentados os resultados da pesquisa que podem ser quantificados.
Igualmente, estes foram distribuídos em itens para facilitar a compreensão do leitor. Os dados
gerais dos sujeitos em relação ao sexo, idade, tempo de aplicação da prova e pontuação no
TFDF podem ser visualizados nos Apêndices G (escola pública) e H (escola particular). A
partir desses dados, realizou-se a análise estatística, considerando-se um nível de significância
de 0,05.
78
4.2.1 Tempo da aplicação do teste
Em uma média geral, a examinadora precisou de 04:56 min/seg para aplicar o TFDF.
O maior tempo de aplicação considerando-se o total da amostra foi de 10:01 min/seg e o
mínimo 02:13 min/seg.
Relacionou-se os resultados referentes ao tempo de aplicação do TFDF com a variável
escola, analisando-os estatisticamente através do Teste Kruskal-Wallis. A Tabela 1 abaixo
mostra os dados referentes a esta análise. Assim, obteve-se um valor de p = 0,0271 (p < 0,05),
ou seja, há diferença estatisticamente significativa entre o tempo de aplicação do TFDF nas
escolas públicas e particulares, sendo este tempo maior na escola pública.
Tabela 1 Tempo de aplicação do TFDF versus variável escola
Escola N Média de tempo
min/seg.
Média Teste
Kruskal-Wallis
Desvio
Padrão
p
Pública 25 5:27 29.420000 49.996173
Particular 24 4:48 20.395833 49.996173
0,0271
Legenda: N - número de sujeitos, p - significância
Igualmente, considerou-se relevante para esta pesquisa, relacionar o tempo de
aplicação do TFDF com os grupos etários, a fim de verificar se havia diferença conforme o
aumento da idade. O resultado desta análise pode ser visualizado na Tabela 2, onde se
constata que não há diferença estatisticamente significativa no tempo de aplicação do TFDF
entre os diferentes grupos etários. No entanto, pode-se observar que os sujeitos das faixas
etárias mais precoces levam mais tempo para realizar o teste.
Tabela 2 Tempo de aplicação do TFDF versus variável grupo etário
Grupo Etário N Média de tempo
min/seg.
Média Teste
Kruskal-Wallis
Desvio
Padrão
p
1 (4:1 a 4:6) 7 6:17 32.642857 34.997321
79
2 (4:7 a 5:0) 6 6:12 39.333333 32.784683
3 (5:1 a 5:6) 8 5:33 18.375000 36.965626
4 (5:7 a 6:0) 5 4:55 24.900000 30.274186
5 (6:1 a 6:6) 8 4:36 20.062500 36.965626
6 (6:7 a 7:0) 7 5:06 24.642857 34.997321
7 (7:1 a 7:6) 3 4:33 17.333333 23.977322
8 (7:7 a 8:0) 5 4:45 20.800000 30.274186
0.1000
Legenda: N - número de sujeitos, p - significância
4.2.2 Pontuação dos sujeitos
Conforme explicado no Manual de Aplicação do TFDF (vide Métodos e Técnicas), a
pontuação deve ser feita somando-se um ponto para cada acerto do sujeito e zero ponto para
erros ou respostas provenientes de segunda repetição da ordem da apresentação, totalizando
um máximo de 40 pontos. Levando-se em conta o total dos sujeitos, a menor pontuação obtida
no TFDF foi de 14 pontos e a maior de 40 pontos.
Comparou-se a pontuação dos sujeitos no TFDF em relação à variável escola. Isto
pode ser visualizado na Tabela 3.
Tabela 3 Pontuação no TFDF versus variável escola
Escola N Média de
Pontuação no
TFDF
Média do Teste
Kruskal-Wallis
Desvio
Padrão
p
Pública 25 33.6400000 25.140000
Particular 24 33.0833333 24.854167
49.754499 0.9439
Legenda: N - número de sujeitos, p - significância
Segundo os dados da Tabela 3, verifica-se que não há diferença estatisticamente
significativa de pontuação no TFDF entre os sujeitos dos dois tipos de escolas (pública e
particular).
Considerou-se importante verificar também se havia diferença significativa na
pontuação dos sujeitos entre os diferentes grupos etários, já que a discriminação fonêmica
80
melhora com a idade. Assim analisou-se os dados desses grupos através do Teste Kruskal-
Wallis, obtendo-se os resultados expostos na Tabela 4.
Tabela 4 Pontuação no TFDF versus variável grupo etário
Grupo Etário N Média de
Pontuação no
TFDF
Média Teste
Kruskal-Wallis
Desvio
Padrão
p
1 (4:1 a 4:6) 7 28,85 16.928571 34.828150
2 (4:7 a 5:0) 6 31,33 15.750000 32.626207
3 (5:1 a 5:6) 8 32,75 24.062500 36.786939
4 (5:7 a 6:0) 5 33,40 23.500000 30.127846
5 (6:1 a 6:6) 8 34,75 27.687500 36.786939
6 (6:7 a 7:0) 7 35,71 32.000000 34.828150
7 (7:1 a 7:6) 3 34,33 24.333333 23.861420
8 (7:7 a 8:0) 5 37 36.700000 30.127846
0.1743
Legenda: N - número de sujeitos, p - significância
Pelo número de p= 0,1743 encontrado após análise estatística, observa-se que não há
diferença significativa (p>0,05) de pontuação no TFDF entre os grupos etários. Mas é
possível notar que a pontuação é crescente em relação ao aumento da faixa etária. Excetua-se
a isso o resultado do grupo 7, onde há um decréscimo no valor da pontuação.
Fazendo mais uma análise, comparou-se a pontuação obtida no TFDF pelos sujeitos
dos sexos feminino e masculino. Segundo dados da Tabela 5, nota-se que não há diferença
estatisticamente significativa na pontuação entre os sexos (p= 0,5648, ou seja, p>0,05).
Tabela 5 Pontuação no TFDF versus variável sexo
Sexo N Média de
Pontuação no
TFDF
Média do Teste
Kruskal-Wallis
Desvio
Padrão
p
Feminino 22 33,31 26.295455 49505102 0.5648
81
Masculino 27 33,40 23.944444
Legenda: N - número de sujeitos, p – significância
4.2.3 Número de erros por apresentação no TFDF
Para realizar a análise do número de erros por apresentação computou-se os erros de
cada sujeito individualmente em relação ao número da apresentação do TFDF. Depois juntou-
se os dados individuais somando-os por grupo etário dentro de cada classe de escola
(particular e pública).
Considerou-se importante mostrar estes dados separadamente por tipo de escolas, já
que o meio sócio-econômico influencia no vocabulário das crianças e, conforme Ribas (2001)
e Corona et al. (2005), também no desenvolvimento das habilidades auditivas.
Podem ser visualizados nos Apêndices I e J, as tabelas que indicam os resultados totais
dos erros dos sujeitos da amostra separados por grupos etários. Destacou-se em negrito nestas
tabelas os sete resultados mais incidentes.
Na Tabela 6 abaixo, constam os dados do número de erros somando-se os erros por
grupos etários dos sujeitos da escola pública e particular, ou seja, do total da amostra.
Conforme pode ser visualizado na Tabela 6, a apresentação 12 (queixo x queijo) foi
aquela em que ocorreu o maior e mais significativo número de erros: 24 sujeitos erraram a
resposta desta apresentação, representando 48,97 % da amostra avaliada. Em seguida, a
apresentação 15 (preço x preso), com respostas erradas de 18 sujeitos (36,73 % da amostra) e
as apresentações 34 (carreta x careta) e 39 (banco x branco), ambas com 16 erros dos sujeitos
(32,65 % da amostra). Depois as apresentações 2 (mar x bar) e 19 (sono x sonho) com erros
de 15 sujeitos (30,61 % da amostra). Para a apresentação 8 (cabelo x cabelo) ocorreram 13
erros (26,53 %) e para a apresentação 26 (dado x gado) 12 erros (24,48%).
Tabela 6 Número de erros nas apresentações do TFDF por grupo etário – total de
sujeitos da amostra
Nº Apres. – Par
G 1 G 2 G 3 G 4 G 5 G 6 G 7 G 8
Total
1- Mala x mala 1 1 0 0 0 0 0 0 2
2- Mar x bar
3 0 2 2 4 2 1 1
15
3- cabelo x camelo 2 0 3 2 1 2 1 0 11
4-mala x bala 1 2 3 1 1 0 0 0 8
5- cara x casa 2 0 1 0 0 0 0 0 3
82
6- praça x prata 2 2 0 0 0 0 0 0 4
7-rosa x roda 1 1 2 1 0 0 0 0 5
8- cabelo x cabelo
4 2 1 1 4 0 1 0
13
9-filha x pilha 2 1 2 1 2 0 1 0 9
10-bomba x pomba 3 1 0 2 0 2 1 0 9
11- filha x filha 1 2 0 0 1 0 0 0 4
12- queixo x queijo
3 3 6 3 6 1 2 0
24
13- quadro x quatro 4 0 2 1 0 1 0 0 8
14-faca x vaca 1 0 1 1 0 0 1 0 4
15-preço x preso
4 3 4 1 2 3 0 1
18
16-torta x torta 1 0 0 1 0 0 0 0 2
17-vela x velha 1 1 1 3 0 1 0 1 8
18-galo x galho 2 2 0 1 0 0 0 0 5
19-sono x sonho
3 5 3 1 1 1 0 1
15
20-quadro x quadro 1 1 2 1 1 1 0 2 9
21-porta x torta 2 1 1 0 2 0 2 1 9
22-cavar x casar 2 1 1 0 0 2 0 1 7
23-pata x pata 2 1 0 0 2 1 1 1 8
24-bola x bola 0 0 0 0 2 0 0 0 2
25-carreta x careta 1 2 1 1 2 1 0 0 8
26-dado x gado
2 1 1 3 2 2 1 0
12
27-sapo x saco 1 0 2 2 0 1 0 0 6
28-bola x gola 2 0 1 0 0 0 1 0 4
29-cano x pano 2 0 0 0 2 0 1 0 5
30-prato x prato 1 1 2 0 0 0 0 0 4
31-escada x espada 2 0 1 0 1 0 0 0 4
32-uva x luva 2 2 0 0 0 1 1 1 7
33-ovo x povo 2 1 3 0 1 0 0 0 7
34-carreta x carreta
3 4 4 0 1 1 1 2
16
35-pote x poste 2 2 2 2 1 0 0 1 10
36- pata x pasta 2 0 1 1 1 0 0 1 6
37-pato x prato 0 1 0 0 2 0 0 0 3
38-sapo x sapo 2 3 1 0 0 1 1 0 8
39-banco x branco
2 4 4 0 2 3 0 1
16
40-fio x frio 2 0 1 1 0 3 0 0 7
TOTAL 76 51 59 33 44 30 17 15 325
Para averiguar se havia diferença no número de erros total no TFDF entre os grupos
etários, comparou-se estes erros através do Teste de Comparação de Proporções. Os dados
podem ser visualizados na Tabela 7. Destacou-se os resultados estatisticamente significantes
(p< 0,05) usando-se fonte em negrito.
Tabela 7 Comparação do número de erros total no TFDP entre os diferentes
g
rupos
etários
83
Valor de p G1 G2 G3 G4 G5 G6 G7 G8
G1 (76 erros) -
0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00001
G2 (51 erros) - - 0,05792 0,23497 0,37810
0,00000 0,00554
0,29455
G3 (59 erros) - - - 0,81654 0,37810
0,00000
0,08508 0,76525
G4 (33 erros) - - - - 0,11271
0,00000 0,01692
0,50000
G5 (44 erros) - - - - -
0,00000
0,13336 0,16430
G6 (30 erros) - - - - - -
0,00036 0,00000
G7 (17 erros) - - - - - - - 0,05812
G8 (15 erros) - - - - - - - -
5 DISCUSSÃO
Este capítulo destina-se a discutir os resultados encontrados e apresentados no capítulo
anterior, confrontando-os com a literatura citada na revisão bibliográfica e com as reflexões
feitas pela autora a partir de todo o desenvolvimento desta pesquisa.
84
5.1 Discussão dos dados qualitativos
Serão discutidos primeiramente os comentários e reações dos sujeitos sobre as figuras
do teste (item 4.1.1.1 Capítulo Resultados), que podem ser visualizadas no Apêndice A.
Acredita-se que o comentário do sujeito 1 a respeito da apresentação nº 1 (mala x
bala), perguntando se a bala estava dentro da mala, demonstra apenas falta de atenção, pois se
olhasse atentamente as cartelas da apresentação veria o desenho da bala. Ou então, como a
examinadora referiu-se a um jogo de adivinhação, o sujeito pode ter entendido que a figura
não apareceria na cartela já que teria de “adivinhar” onde estava a mesma.
Sobre o comentário do sujeito 31, referindo-se a figura do bar (apresentação nº 2, mar
x bar) como sendo a de uma casa, observa-se que realmente a figura lembra uma casa, até
porque ambas são construções (bar e casa). No entanto, não se considera necessário modificar
esta figura, já que os outros 48 sujeitos da amostra não fizeram nenhum comentário a respeito
dela. Seguindo este raciocínio, acredita-se que a figura que ilustra a palavra sonho também
não precisa ser modificada, mesmo que o sujeito 31 a tenha questionado.
Considerou-se pertinente o comentário do sujeito 28 referente à figura que representa a
palavra pata (que aparece nas apresentações nº 23 e nº 36), pois realmente a representação
gráfica escolhida consta de dois patos (uma pata e seu filhote) e não de uma pata, o que pode
confundir os sujeitos ou desviar sua atenção na hora de responder à apresentação do teste.
Esta figura deve ser alterada.
Quanto ao comentário do sujeito 31, que questionou se aquela figura era a da pasta,
acredita-se que tenha sido feito em função de uma confusão de vocabulário. Antes de solicitar
ao desenhista que fizesse os desenhos, refletiu-se bastante sobre qual figura de pasta deveria
aparecer no teste: a de uma pasta de dente ou de uma pasta / mochila. Concluiu-se que para a
maioria das crianças a figura da pasta de dente facilitaria o acesso semântico ao ouvir a
palavra pasta. E que talvez o significado de pasta referindo-se à mochila não faria parte do
vocabulário de todas as crianças nas faixas etárias estudadas. Por estes motivos optou-se pela
figura que representa a pasta de dente, e mesmo após o estudo piloto, considerou-se esta a
figura mais adequada.
Quanto à figura do ovo, contestada pelo sujeito 37 acredita-se que ela realmente não
ficou muito clara e deva sofrer alterações. Para isto, sugere-se que a figura seja refeita, e
represente um ovo frito ao lado da casca quebrada e não um ovo no ninho.
85
Em relação à cartela sem figuras que representa a palavra branco, mesmo que dois
sujeitos (22 e 30) não demonstraram entendimento, considerou-se esta cartela adequada para o
teste.
Os comentários sobre as palavras do teste (item 4.1.1.1 do Capítulo Resultados) dizem
respeito diretamente ao vocabulário das crianças de 4:0 a 8:0 (a quem o teste se propõe a
avaliar). Por isso foram extremamente valiosos e motivo de muita reflexão.
O comentário do sujeito 43 sobre a palavra carreta (apresentação nº 25, carreta x
careta) deixou claro que ele não a conhecia. No entanto, ele foi o único sujeito da amostra que
explicitou não conhecê-la, por isso ela não foi considerada inadequada para o teste.
Antes de incluir o par mínimo dado x gado no TFDF, já havia dúvidas sobre a
adequação da palavra gado à faixa etária que o teste se propõe a avaliar. O comentário “é
dado e vaca?” (sujeito 12), explicita que nem todas as crianças conhecem o significado desta
palavra. Entretanto, apenas um sujeito de toda a amostra demonstrou não ter domínio da
semântica desta palavra. Talvez mais alguns sujeitos não conhecessem a palavra, mas
conseguiram acertar a resposta porque perceberam a distinção dos fonemas e deduziram que
se havia duas palavras diferentes, a resposta deveria ser uma cartela que tivesse dois desenhos
diferentes. Na Tabela 8 vê-se que 12 sujeitos (24,48% da amostra) erraram a apresentação nº
26 (dado x gado), não sendo esta uma das apresentações onde ocorreram os maiores números
de erros. Assim, apesar de saber-se que a palavra gado não faz parte do vocabulário de todas
as crianças, ela não foi considerada uma palavra inadequada para o teste.
Quanto à palavra gola, o sujeito 31 demonstrou não conhecer o seu significado. Mas
foi apenas um sujeito que se manifestou a respeito desta palavra. E se for verificada a Tabela
8, observa-se que apenas 6 sujeitos do total da amostra cometeram erros nas apresentações
24 e 28 do TFDF onde a palavra gola aparece. Assim sendo, esta palavra foi considerada
adequada.
Três sujeitos (36, 37 e 48) demonstraram não conhecer a palavra povo. Chama a
atenção o fato destes pertencerem à escola particular (melhor situação sócio-econômica), já
que se espera que estas tenham um vocabulário mais rico, conhecerem lugares variados,
freqüentarem escolinhas complementares (dança, esporte, arte, etc.), terem mais acesso a
programas culturais, assim por diante. A palavra povo, inicialmente, não foi considerada
difícil para a faixa etária. Conclui-se que talvez esta não seja muito usada entre as pessoas de
classe econômica mais elevada, e por isto, foi questionada somente por crianças da escola
particular.
86
Sobre a repetição de desenhos e palavras, Moojen et al. (2003) referem que após a
testagem da primeira versão do Teste CONFIAS, passaram a evitar o uso de repetição de
palavras, porque as crianças que compuseram sua amostra demonstraram desagrado quando
identificavam palavras que já haviam sido ditas. No TFDF, as repetições de desenhos e
palavras ocorrem em dez das quarenta apresentações, e apenas um sujeito (43) fez menção ao
fato de haver estas repetições no teste (item 4.1.1.2 do capítulo de resultados). No entanto,
este comentário não foi considerado como desagrado ou como se as repetições fossem algo
negativo no teste. As repetições demonstram o nível de atenção ao teste, dificultando que as
crianças testadas adotem como padrão de resposta mostrar sempre a cartela que tenha duas
figuras diferentes. Assim, discorda-se destas autoras em relação ao fato da repetição de
elementos no teste ser negativo.
O fato de nenhum sujeito ter questionado a examinadora sobre o seu desempenho no
teste (item 4.1.1.3 do Capítulo Resultados), mostra que a escolha de usar a expressão “jogo de
adivinhação” e não “teste” no momento de explicar aos sujeitos o TFDF atingiu seu objetivo.
Este termo foi escolhido baseado em Cielo (2001), que em seu Protocolo de Tarefas de
Consciência Fonológica utilizou-se do termo “jogo” em vez de teste para evitar que a criança
ficasse ansiosa ou tensa. Nenhum sujeito da amostra demonstrou estar consciente de que
estava sendo avaliada.
No capítulo sobre Métodos e Técnicas explicou-se que ao realizar a avaliação com o
TFDF o examinador deveria evitar anotar as respostas no Protocolo de Respostas de forma
que não fosse possível à criança visualizar suas anotações. Isso foi sugerido com base no que
diz Corrêa (1996, apud Cielo, 2001, p. 69) a respeito da influência das expectativas da criança
sobre seu desempenho frente à tarefa nos resultados da testagem. No entanto, o fato da
examinadora estar anotando os resultados não parece ter chamado à atenção das crianças
(item 4.1.1.4 do Capítulo Resultados), pois não houve nenhum comentário delas a respeito
disto. Mesmo assim, mantém-se a orientação de evitar anotar as respostas na frente da criança,
pois talvez seja justamente por isso que os sujeitos desta pesquisa não tenham sido atraídos
para este fato.
Em relação aos aspectos do desempenho específico da criança, acredita-se que o
quesito interesse foi bem sucedido (nenhum sujeito da amostra demonstrou estar
desinteressado pelo TFDF; item 4.1.2.1 do Capítulo Resultados) pelo fato do TFDF ser um
teste com figuras atrativas, que por si só dão um caráter mais lúdico, e pelo cuidado da
examinadora ao referir-se ao teste como “jogo de adivinhação”. Estes cuidados deram um
estilo mais informal ao teste, adequando-o à faixa etária a ser testada (4:0 a 8:0). Por ser
87
agradável às crianças e não ser longo demais, o teste não é cansativo, não produz fadiga
(nenhum sujeito manifestou cansaço, item 4.1.2.2 do Capítulo Resultados). Isto evita
interferências negativas no desempenho da criança.
A examinadora explicou as tarefas para os sujeitos como está descrito no Manual de
Aplicação do TFDF. Quatro sujeitos da amostra (1, 5, 27 e 28; item 4.1.2.3 do Capítulo
Resultados) tiveram dificuldades em compreender a tarefa. Dois deles (1 e 5) pertencem ao
grupo etário 1 (4:0 a 4:6 anos), sendo mais imaturos, e talvez por isto tenham tido mais
dificuldade do que os outros. Não se conseguiu encontrar uma explicação para a dificuldade
de compreensão do sujeito 28. Inclusive questionou-se a coordenadora da escola a respeito do
mesmo, e esta informou que ele não apresenta nenhuma dificuldade pedagógica. Quanto
ao sujeito 27, acredita-se que a dificuldade dele em desempenhar a tarefa do teste esteja ligada
a uma dificuldade de memória, e não de compreensão da tarefa. Acredita-se que o fato de
apenas quatro sujeitos da amostra terem tido alguma dificuldade em compreender a tarefa do
TFDF, comprova que a maneira proposta para explicar o que se espera de resposta por parte
da criança está adequada.
Rodrigues (1981) coloca que em sua Prova para Avaliar a Discriminação Auditiva
devem ser consideradas erradas as respostas que as crianças derem após utilizarem apoio tátil-
cinestésico, ou depois de repetir a viva-voz os pares de sílabas apresentados. Isto porque o
autor acredita que este tipo de apoio interfere na habilidade de discriminar os sons, dando um
apoio “extra”. Rodrigues (op. cit.) crê que retirando este apoio, se estará avaliando esta
habilidade de maneira mais refinada.
No TFDF não foram consideradas erradas as respostas das crianças que utilizaram
estes apoios, embora o fato fosse anotado na análise qualitativa. Acredita-se que outros fatores
possam estar envolvidos na utilização do apoio tátil-cinestésico, que não envolvem só um
apoio “extra” à discriminação fonêmica: insegurança da criança avaliada, necessidade de
confirmar o que foi apresentado pelo examinador, necessidade de um tempo maior de
raciocínio antes de dar a resposta. Além disso, segundo a Teoria Motora da Percepção da
Fala, a percepção dos sons está ligada à produção (Kozlowski, 1997; Miller, 1990; Bishop,
2002). Ressalta-se que a utilização deste tipo de apoio não é comum, tendo sido encontrado
em apenas três sujeitos da amostra (item 4.1.2.4 do Capítulo Resultados).
Observou-se que apenas três sujeitos (1, 8 e 28; item 4.1.2.5 do Capítulo Resultados)
necessitaram de explicações extras. Dois destes (1 e 28) tiveram dificuldade de compreensão
da tarefa, e o outro (8) tinha pressa em responder. Procurou-se dar ordens simples e claras aos
88
sujeitos, fato enfatizado como relevante por Cielo (2001). Contudo, mesmo assim alguns
precisaram de explicações extras.
Tomou-se alguns cuidados para evitar que, ao serem avaliadas, as crianças
estabelecessem um tipo padrão de respostas, como a inserção de apresentações contendo a
mesma palavra (igual) e o cuidado para que as figuras não estivessem dispostas sempre na
mesma ordem nas cartelas (ex: sempre duas figuras A na cartela 1A, duas figuras B na cartela
1B e uma figura A e uma B na cartela 1C). Mesmo assim, o sujeito 8 (item 4.1.2.6 do
Capítulo Resultados) pareceu adotar um padrão de resposta, apontando preferencialmente
para a cartela que contivesse duas vezes a figura da última palavra falada como sendo a
correta. No entanto, este sujeito tinha pressa em responder e não olhava todas as cartelas do
testes antes de dar a resposta. Acha-se que foi uma exceção.
5.2 Discussão dos dados quantitativos
A partir daqui, serão discutidos os dados quantitativos do estudo piloto. O tempo de
aplicação do teste foi uma das grandes preocupações de Rodrigues (1981) na hora de formular
a Prova para Avaliar a Discriminação Auditiva. Este autor, após expor explicações sobre
vários testes propostos com a finalidade de avaliar a habilidade de discriminar auditivamente
os sons, diz que a fadiga desencadeada pelo número extenso de estímulos de cada teste foi a
grande responsável pela limitação destes testes, fazendo com que não se tornassem efetivos
(Rodrigues, op. cit.). Na sua prova, o tempo utilizado na apresentação dos 30 pares de sílabas
e no tempo de resposta para cada apresentação totaliza três minutos e meio.
Moojen et al. (2003) sugerem que o teste CONFIAS por elas proposto seja aplicado
em duas etapas, feitas em momentos diferentes; isto deve ser levado em consideração
especialmente para crianças pequenas que cansam ao longo da aplicação do teste. Estas
autoras não descrevem o tempo médio utilizado na aplicação do CONFIAS.
Na aplicação do TFDF, a média do tempo de aplicação foi de 04:56 min/seg, sendo
que o tempo máximo que a examinadora precisou foi 10:01 min/seg e o mínimo 02:13
min/seg. Acredita-se que o fato de haver diferença estatisticamente significativa do tempo de
aplicação entre as escolas (Tabela 1) não era esperado, pois ambos os sujeitos têm que
entender o mesmo tipo de tarefa.
89
Esperava-se que a diferença no tempo necessário para a aplicação do TFDF seria
significativamente diferente entre os grupos etários, já que se sabe que a discriminação
auditiva (ou fonêmica) melhora com a idade, por fatores maturacionais e de estimulação
(Rodrigues, 1981). Isto não foi o encontrado (Tabela 2), mas, de modo geral, o tempo de
aplicação do TFDF diminui conforme há aumento da idade das crianças avaliadas. Mesmo
não sendo estatisticamente significativos, estes dados confirmam a afirmação de Rodrigues
(1981).
Ribas (2001) em sua pesquisa, concluiu que a qualidade do meio no qual a criança está
inserida influencia no desenvolvimento da percepção auditiva. Corona et al (2005) também
encontraram que as crianças da escola privada apresentam uma evolução mais precoce na
habilidade de memória seqüencial auditiva. Porém, nos dados do estudo piloto desta pesquisa
(Tabela 3) não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas de pontuação
entre os sujeitos que freqüentam escola particular (classe média alta) e escola pública (classe
média baixa). E contrariando as pesquisas citadas acima, a média de pontuação dos sujeitos da
escola pública foi melhor do que a dos sujeitos da escola particular. Talvez um fator que tenha
influenciado na pontuação, seja o fato dos sujeitos da escola particular terem demorado menos
para responder as tarefas do teste, e por isto, terem analisado menos cada tarefa.
Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa de desempenho entre os
grupos etários. Mas ao observar a Tabela 4, é possível verificar que a média na pontuação
aumenta gradativamente do grupo 1 ao 8, exceto para o grupo 7, onde a média é um pouco
inferior em relação ao grupo anterior. Talvez a média de pontuação do grupo 7 tenha sido
influenciada pelo número pequeno de sujeitos que o compõem.
Apesar de não ter sido encontrada diferença significativa, os dados desta pesquisa
levam a concordar com outros autores que afirmam que há uma evolução na habilidade de
discriminação fonêmica com o aumento de idade. Rodrigues (op. cit.) constatou uma
modificação para melhor, acompanhando a idade cronológica, no desempenho na Prova de
Discriminação Auditiva. O autor salienta que este desempenho é diferente para os sexos na
mesma faixa etária, o que sugere uma diferença maturacional em momento de ocorrência e
intensidade.
Também Santos et al. (2004) verificaram que a habilidade de discriminação auditiva
melhora com o avanço da idade cronológica. Santos (2005) utilizando o Teste de Figuras para
Discriminação Auditiva (Mota, Keske-Soares & Vieira, 2000) em crianças com desvios
fonológicos evolutivos, observou uma correlação entre a idade dos sujeitos e a porcentagem
de acertos no teste.
90
Falando sobre o desenvolvimento do processamento auditivo como um todo, Pereira
(2004) também refere que este melhora com a idade, por causa da experienciação no meio
acústico. Northern & Downs (1989) dizem que o sistema auditivo da criança é plástico, e
pode sofrer modificações tanto por alterações anatômicas como por variações no estímulo.
Assim, justifica-se a melhora de pontuação dos sujeitos à medida que a idade cronológica
avança, tendo-se em vista a experienciação acústica e a maturação do sistema auditivo.
Pesquisas anteriores como as de Rodrigues (1981), Santos et al (2004) e Santos (op.
cit.), que procuraram verificar se a habilidade de discriminação auditiva era diferente para os
sexos não encontraram resultados que confirmassem esta hipótese. No entanto as três
pesquisas referenciadas, concluíram que de um modo geral o sexo feminino tem um melhor
desempenho, embora este não seja estatisticamente significativo. Verificou-se, nos dados
desta pesquisa (Tabela 5), se havia diferença significativa de pontuação no TFDF entre os
sexos. Como nas pesquisas citadas acima, também não foi encontrada esta diferença na
pontuação dos sexos masculino e feminino.
Serão discutidos a seguir os resultados alusivos ao número de erros por apresentações
do TFDF (Tabela 6). Das oito apresentações com maior incidência de erros, uma se opunha
pelo traço [+ soante] [-soante] (apresentação nº 2), duas se opunham pelo traço distintivo [+
voz] [- voz] (apresentações nº 12 e nº 15), uma pelo traço cor [+ ant] [-ant] (apresentação nº
19), uma pelos traços [dorsal] x [coronal] (apresentação nº 26) e outra pela estrutura silábica
CV x CVC (apresentação nº 39). Duas das apresentações com maior número de erros não se
opunham, pois eram compostas por palavras iguais, e não pares mínimos (apresentação nº 8 e
nº 34).
A apresentação 12 (queixo x queijo) foi a que teve o maior número de erros, numa
significativa parcela da amostra estudada (48,97%). Verificando sujeito por sujeito, constatou-
se que dos 24 sujeitos que erraram esta apresentação, 1 apontou a cartela B (duas vezes a
figura do queixo) e 23 apontaram para a cartela C, que continha duas vezes a figura
representativa da palavra queijo (vide Apêndice A). Acredita-se que um fator de muita
influência na ocorrência de tantos erros nesse par é originário da forma diferenciada de
pronúncia para ambas as palavras, que na linguagem formal são faladas com o /y/ e na
linguagem coloquial sem o /y/. Por isto, as crianças devem ter se confundido na hora de
perceber os fonemas que estavam sendo opostos e cometido tantos erros.
Cielo (2001) estabeleceu como critério de validade para que cada tarefa do seu
protocolo testada no estudo piloto fosse incluída no protocolo final de avaliação o fato de pelo
menos metade mais um dos sujeitos terem atingido escores iguais à metade do máximo de
91
pontuação (50%). Seguindo o exemplo desta autora, a apresentação nº 12 não será retirada do
TFDF, pois teve o acerto de mais de 50 % da amostra.
Também a apresentação nº 15 opõe-se pelo traço distintivo [+ voz] [- voz]. Para a
apresentação 15, a maioria dos sujeitos (15) apontou para a cartela B, contendo duas vezes a
figura preso, como sendo a correta. Supõe-se que os sujeitos têm uma tendência a perceber
melhor o fonema com o traço distintivo [+].
Na apresentação nº 34, 12 dos sujeitos que a erraram apontaram para a cartela A, que
continha as figuras careta e carreta e apenas 6 sujeitos apontaram para a cartela B, que
continha duas vezes a figura careta. Este erro deve ter ocorrido porque esta apresentação era
uma das que não usava par mínimo, e sim, repetia a palavra da tarefa. Provavelmente estes
sujeitos acharam que tinham que apontar para a cartela com as figuras diferentes, como
acontecia na maioria das tarefas do teste.
Nos erros da apresentação nº 39, 12 dos 16 sujeitos apontaram a cartela A como sendo
a correta, sendo que esta contém duas vezes a figura do banco. Nesta apresentação, o fato de
não haver desenho representando a palavra branco, deve ter influenciado nas respostas.
Na apresentação nº 19 ocorreram 15 erros. O par mínimo desta apresentação é sono x
sonho que opõe os traços cor [+ ant] e [- ant]. Nesta apresentação a influência maior não deve
ter sido uma suposta dificuldade em perceber a distinção entre os traços opostos, e sim, a
proximidade semântica das palavras escolhidas, bem como a semelhança das figuras
representativas destas palavras. Dos 15 sujeitos que erraram esta apresentação, 9 apontaram
para a cartela A, contendo duas vezes a figura sono e 6 apontaram para a cartela B, contendo
duas vezes a figura sonho. Esta “confusão” dos sujeitos evidencia a afirmação acima.
A apresentação nº 2, que opõe os traços distintivos [+ soante] [- soante], está entre as
apresentações com maior número de erros. Para esta apresentação, a maioria dos sujeitos (13)
que cometeram erros apontaram para a cartela B, que continha respectivamente, duas vezes a
figura mar. Talvez a escolha da palavra bar não tenha sido adequada para a faixa etária, ou
então, haja mais dificuldade por parte dos sujeitos estudados em discriminar o contraste destes
traços distintivos.
Dos 13 sujeitos que erraram a apresentação nº 8, 10 apontaram para a cartela A, que
representava as palavras cabelo e camelo, sendo que apenas 3 apontaram para a cartela B, que
continha duas vezes a figura camelo. Cabe aqui a mesma explicação usada para justificar os
erros da apresentação nº 34.
Analisando a Tabela 7 é possível observar que houve diferença estatisticamente
significativa no número de erros total entre os vários grupos etários. Nota-se que quanto
92
menor a idade, maior o número de erros no TFDF. De um modo geral, pode-se observar que
quanto maior a diferença de idade, ou a distância entre os grupos, maior é a diferença
estatística do número de erros. Isto reafirma que as habilidades auditivas, inclusive a
discriminação fonêmica, melhora com a idade (Rodrigues, 1981; Northern & Downs, 1989;
Santos et al, 2004; Pereira,2004; Santos, 2005), por causa da maturação e da experiência.
Chama a atenção o fato de que não foi encontrada diferença estatisticamente
significativa entre a pontuação nos diferentes grupos etários, mas esta foi encontrada quando
se comparou o número de erros entre os grupos etários. Supõe-se que este fato tenha ocorrido
porque no primeiro caso a análise estatística comparou as médias (Teste Kruskal-Wallis) e no
segundo, as proporções (Teste de Comparação de Proporções).
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho, foi propor um teste que avaliasse a discriminação dos
fonemas da língua portuguesa, através de pares mínimos, escolhidos pelas oposições dos
fonemas em relação ao valor binário de cada traço distintivo e às combinações possíveis entre
93
os traços de lugar ([labial], [coronal], [dorsal]). Também buscou-se opor as diferentes
estruturas silábicas do português brasileiro. Para isto procurou-se que o teste abrangesse todos
os fonemas do português brasileiro, os utilizasse em palavras que pudessem ser facilmente
representadas por figuras e fizessem parte do vocabulário de crianças de 4:0 a 8:0, fosse de
fácil aplicação, podendo ser utilizado em qualquer local de trabalho dos fonoaudiólogos
(clínicas, escolas, postos de saúde, etc.) e que pudesse contribuir para o diagnóstico de
alterações fonoaudiológicas e para a pesquisa científica nesta área. Com base em tudo o que
foi exposto até aqui, de maneira reflexiva e crítica, chegou-se a algumas conclusões, que serão
expostas a seguir.
O objetivo geral desta pesquisa foi alcançado com êxito, uma vez que se propôs o
Teste de Figuras para Discriminação Fonêmica TFDF. No entanto, a partir do estudo piloto,
observou-se que este precisa sofrer algumas pequenas modificações. Este teste conseguiu
abranger todos os fonemas do português brasileiro, alguns mais representados (como /b/, /z/ e
/p/, que aparecem em 4, 4 e 5 exemplos respectivamente) e outros menos representados (como
/š/, /ž/, /´/, ñ/, /n/ e /R/ que aparecem em apenas um exemplo). Não foi possível balancear o
número de apresentações por oposição de traços distintivos e por fonemas porque se buscou
seguir fielmente os critérios de escolha das palavras, quais sejam: fazer parte do vocabulário
das crianças na faixa etária proposta, ser facilmente representável por figura e usar de duas
posições nas palavras (OI e OM). Nem sempre se encontraram palavras que atendessem a
estes critérios.
Em relação ao tamanho do teste, conclui-se que 40 apresentações é um número
adequado para a faixa etária a que se propõe a avaliar, pois não deixa o teste exaustivo ou
demasiadamente demorado (média de aplicação de 04:56 min / seg), o que pode ser observado
pelos comentários dos sujeitos na hora da aplicação do TFDF e pela ausência de sujeitos que
demonstraram fadiga.
Quanto às palavras escolhidas para o teste, entende-se que foram apropriadas para
compor o teste, pois faziam parte do vocabulário das crianças da faixa etária a que o teste se
propunha a avaliar.
Acredita-se que, de um modo geral, as figuras do teste conseguiram representar as
palavras dos pares mínimos de modo que não fizessem com que os sujeitos precisassem parar
à procura de acesso lexical da representação visual, interferindo assim no seu desempenho por
desviar a atenção da tarefa proposta e fossem atrativas aos sujeitos. Nota-se que a figura da
pata deve sofrer alteração, sendo retirada da figura o desenho do patinho, permanecendo
94
apenas o desenho da pata. A figura do ovo deve ser substituída por um desenho de um ovo
frito, com a casca quebrada ao lado.
O TFDF foi bem aceito pelos sujeitos testados, conseqüência de seu caráter lúdico e
informal, da presença de figuras, e da forma como é estruturado. O teste é de fácil aplicação,
não é demorado, não tem muitas exigências em relação ao ambiente de testagem, ou seja,
utiliza-se de pouco material. Entende-se por uma questão importante o fato de avaliar a
habilidade de discriminação fonêmica de uma maneira adequada, pois opõe os fonemas da
língua considerando sua menor unidade constitutiva, os traços distintivos. Esta oposição
ocorre em palavras, o que aproxima a habilidade de discriminação fonêmica necessária para a
realização das tarefas propostas pelo teste de uma situação mais real do processamento
lingüístico dinâmico da cadeia de fala.
Conclui-se que o TFDF, por todos os aspectos citados acima, possa ser amplamente
utilizado nos diversos ambientes de trabalho do fonoaudiólogo (clínicas, escolas, postos de
saúde, etc.), auxiliando este profissional no fechamento do diagnóstico das alterações
fonoaudiológicas e no delineamento da terapia. Igualmente, acredita-se que este será um
instrumento útil para as pesquisas científicas na área.
Salienta-se que, para que isto seja possível, é necessário padronizar o TFDF para a
população brasileira, para que se possa saber o que é esperado como desempenho normal para
a maioria da população brasileira na faixa etária dos 4:0 aos 8:0.
Sugere-se assim, para pesquisas futuras, que o TFDF seja aplicado em uma amostra
considerável da população brasileira e em diferentes regiões, devido às questões dialetais.
7 CONCLUSÃO
Após as reflexões feitas no Capítulo de Considerações Finais e análise dos resultados
desta pesquisa, conclui-se que:
¾ A versão do TFDF utilizada no estudo piloto desta pesquisa está adequada para ser
aplicada em uma amostra maior, a fim de padronizar seus resultados para a população
95
brasileira. Apenas deve sofrer alterações nas figuras que ilustram as palavras pata e
ovo.
¾ Houve diferença estatisticamente significativa no tempo necessário para aplicação do
TFDF entre as escolas, sendo este tempo maior para os sujeitos da escola pública.
¾ Não houve diferença significativa no tempo necessário para aplicação do TFDF,
quando a variável analisada foi o grupo etário.
¾ Não foi encontrada diferença significativa estatisticamente no desempenho
(pontuação) dos sujeitos no TFDF em relação às variáveis: escola, grupo etário e sexo.
¾ Encontrou-se diferença estatisticamente significativa quando se comparou o número
de erros total entre os grupos etários. De um modo geral, observou-se que com o
aumento da idade cronológica há uma redução no número de erros.
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103
APÊNDICE A - Cartelas de apresentação do TFDF
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
104
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
105
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
106
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
107
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
108
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
109
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
110
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
111
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
112
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
113
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007TFDF- Santos-Carvalho 2007
114
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
115
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
116
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
117
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
118
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
119
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
120
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
121
TFDF- Santos-Carvalho 2007TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
122
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
123
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
124
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
125
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
126
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
127
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
128
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
129
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
130
TFDF- Santos-Carvalho 2007TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
131
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
132
TFDF- Santos-Carvalho 2007TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
133
TFDF- Santos-Carvalho 2007TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
134
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
135
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
136
TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007 TFDF- Santos-Carvalho 2007
137
APÊNDICE B Protocolo de apresentação do TFDF
Itens de demonstração:
1- Mostre a cartela onde estão a boneca e a boneca.
2-Mostre a cartela onde estão o pão e o trem.
3-Mostre a cartela onde estão a comida e a corrida.
4-Mostre a cartela onde estão a lata e a lata.
Apresentações do TFDF:
1- Mostre a cartela onde estão a mala e a mala.
2- Mostre a cartela onde estão o mar e o bar.
3- Mostre a cartela onde estão o cabelo e o camelo
4- Mostre a cartela onde estão a mala e a bala.
5- Mostre a cartela onde estão a cara e a casa.
6- Mostre a cartela onde estão a praça e a prata.
7- Mostre a cartela onde estão a rosa e a roda.
8- Mostre a cartela onde estão o cabelo e o cabelo.
9- Mostre a cartela onde estão a filha e a pilha.
10- Mostre a cartela onde estão a bomba e a pomba.
11- Mostre a cartela onde estão a filha e a filha.
12- Mostre a cartela onde estão o queijo e o queixo.
13- Mostre a cartela onde estão o quadro e o quatro.
14- Mostre a cartela onde estão a faca e a vaca.
15- Mostre a cartela onde estão o preço e o preso.
16- Mostre a cartela onde estão a torta e a torta.
17- Mostre a cartela onde estão a velha e a vela.
18- Mostre a cartela onde estão o galo e o galho.
19- Mostre a cartela onde estão o sono e o sonho.
20- Mostre a cartela onde estão o quadro e o quadro.
21- Mostre a cartela onde estão a porta e a torta.
22- Mostre a cartela onde estão cavar e casar.
23- Mostre a cartela onde estão a pata e a pata.
138
24- Mostre a cartela onde estão a bola e a bola.
25- Mostre a cartela onde estão a carreta e a careta.
26- Mostre a cartela onde estão o dado e o gado.
27- Mostre a cartela onde estão o sapo e o saco.
28- Mostre a cartela onde estão a bola e a gola.
29- Mostre a cartela onde estão o cano e o pano.
30- Mostre a cartela onde estão o prato e o prato.
31- Mostre a cartela onde estão a espada e a escada.
32- Mostre a cartela onde estão a uva e a luva.
33- Mostre a cartela onde estão o ovo e o povo.
34- Mostre a cartela onde estão a carreta e a carreta.
35- Mostre a cartela onde estão o pote e o poste.
36- Mostre a cartela onde estão a pata e a pasta.
37- Mostre a cartela onde estão o pato e o prato.
38- Mostre a cartela onde estão o sapo e o sapo.
39- Mostre a cartela onde estão o banco e o branco.
40- Mostre a cartela onde estão o fio e o frio.
139
APÊNDICE C Protocolo de respostas do TFDF
Nome:_____________________________________________ Data:___/___/___
DN:___/___/___ Idade:_____ Hora início: ______ Hora de término:______
Examinador:_________________________________________
RESPOSTA
OPOSIÇÃO DE TRAÇO
DISTINTIVO/ ESTRUTURA
SILÁBICA
APRESENTAÇÃO –
PAR MÍNIMO
A B C
1- mala x mala
2-mar x bar
3- cabelo x camelo
[+/- soante]
4-mala x bala
[+/ - aproximante] 5-cara x casa
6- praça x prata
7-rosa x roda
8-cabelo x cabelo
[+/ - contínuo]
9-filha x pilha
10-bomba x pomba
11- filha x filha
12- queixo x queijo
13-quadro x quatro
14-faca x vaca
15- preço x preso
[+ / - voz]
16- torta x torta
17- vela x velha
18- galo x galho
19- sono x sonho
[coronal +/- anterior]
20- quadro x quadro
140
RESPOSTA
OPOSIÇÃO DE TRAÇO
DISTINTIVO/ ESTRUTURA
SILÁBICA
APRESENTAÇÃO –
PAR MÍNIMO
A B C
21-porta x torta
22- cavar x casar
23- pata x pata
[labial] x [coronal]
24- bola x bola
25- carreta x careta
[dorsal] x [coronal]
26- dado x gado
27-sapo x saco
28- bola x gola
29- cano x pano
30-prato x prato
[dorsal] x [labial]
31- escada x espada
32- uva x luva
33- ovo x povo
V x CV
34-carreta x carreta
35- pote x poste
CV x CVC
36-pata x pasta
37- pato x prato
38-sapo x sapo
39-banco x branco
CV x CCV
40- fio x frio
PONTUAÇÃO: ____ pontos
ANÁLISE QUALITATIVA: ________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________
141
APÊNDICE D Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE OTORRINO-FONOAUDIOLOGIA
MESTRADO EM DISTÚRBIOS DA COMUNICAÇÃO HUMANA
Senhores pais ou responsáveis
Venho através deste documento solicitar sua autorização para que seu (sua) filho(a)
possa participar do estudo piloto da pesquisa de Mestrado intitulada “Proposta de Instrumento
de Avaliação para Discriminação Auditiva”, que está sendo desenvolvida na Universidade
Federal de Santa Maria – UFSM, e é orientada pela professora Drª Helena Bolli Mota. Esta
pesquisa objetiva criar um teste que avalie a discriminação fonêmica que é a habilidade de
diferenciar dois sons.
O estudo piloto não oferece nenhum risco ao seu (sua) filho (a). Ele será realizado
apenas para verificar se o teste criado pela pesquisadora está adequado à idade e ao
vocabulário das crianças a que se propõe avaliar. Seu (sua) filho (a) apenas passará por uma
avaliação auditiva, que dirá se ele escuta bem ou não, e por uma avaliação da fala e da
linguagem, objetivando verificar se seu desenvolvimento está adequado nestes aspectos.
Depois participará do Teste de Discriminação Auditiva. Neste teste, seu (sua) filho (a) ouvirá
duas palavras, iguais ou diferentes, e deverá apontar para a figura que tenha o desenho das
palavras que ele (a) ouviu.
Após a realização da pesquisa, esta será publicada em meio acadêmico; mas os dados
pessoais das crianças participantes do estudo piloto não serão divulgados, garantindo assim, a
confidencialidade dos dados.
________________________________________
Fonoaudióloga Beatriz dos Santos Carvalho – CRFa 8618
Telefone: (55) 3511 3510 ou (55) 8407 4043
142
Confirmo que, após ler as informações contidas neste documento e receber outras
informações da Fga. Beatriz dos Santos Carvalho, eu,
__________________________________
_______________________, portador de identidade nº ______________, autorizo meu
(minha) filho (a) __________________________________________, a participar desta
pesquisa de mestrado, estando ciente dos procedimentos a serem realizados, e da posterior
publicação dos dados respeitando a confidencialidade da identificação do (a) meu (minha)
filho (a).
___________________________________________
Assinatura do pai ou responsável
Santa Rosa, ___/___/___
143
APÊNDICE E — Questionário desempenho escolar do aluno
QUESTIONÁRIO - Desempenho Escolar Do Aluno
Aluno:__________________________________________________________________________________
Série:_____ Profª:____________________________ Escola:________________________________
1-O aluno em questão tem apresentado alguma dificuldade na compreensão dos conteúdos? Existe dificuldade de
aprendizagem?
Sim ( ) Não ( )
2-Este aluno apresenta alguma dificuldade motora?
Sim ( ) Não ( )
3-O aluno tem alguma patologia diagnosticada e conhecida por todos?
Sim ( ) Não ( ) Qual?_______________________________________________________
4-Você o julga capaz de comunicar-se bem?
Sim ( ) Não ( )
OBSERVAÇÕES:________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________
Santa Rosa, ___/___/200
Quadro 4 Questionário – Desempenho Escolar do Aluno
144
APÊNDICE F Alterações fonoaudiológicas encontradas nos sujeitos triados
Sujeito Desvio Fonético Desvio Fonológico Alteração de
Voz
Alteração de
Motricidade Oral
1 Língua interposta
entre os dentes na
articulação de /s/, /z/,
/d/ e /t/
Respiração bucal,
interposição de
língua, alterações
ortodônticas
3 Apag. Assist. de /l/ em OM e OI,
apag. ou subst. De /r/ por /l/ em
OM, CM e CF, red. EC
4 Subst. de /l/ por /w/
5 Red. EC com /l/ e /r/; subst. de /š/
por /s/ em OI e OM
Voz rouca
9 Subst. de /š/ por /s/ e /ž/ por /z/ em
OI e OM
11 Subst. assistemática de /š/ por /s/ e
/ž/ por /z/ em OI e OM
13 Alt. ortodônticas
14 Apag. assistemático de /r/ em OM
e CM; red. de EC com /l/ e /r/.
15 Subst. de /š/ por /s em OI e OM,
subst. assistemática de /r/ por /y/
em OM e CM
16 Interposição de
língua na articulação
de /s/, /z/, /t/ e /d/
Voz rouca
17 Subst. de /r/ por /y/ em CM, red. de
EC com /r/ e /l/
23 Alt. ortodônticas
26 Subst. de /l/ por /w/ em OI e OM,
red. EC com /l/ e /r/
27 Apag. Assistemático de /R/ em OI
e OM, red. EC com /l/
29 Subst de /r/ por /l/ em OM,
dessonorização assistemática de
oclusivas, red. EC com /l/ e /r/.
30 Alt. ortodônticas
31 Alt. ortodônticas
145
Sujeito Desvio Fonético Desvio Fonológico Alteração de
Voz
Alteração de
Motricidade Oral
32 Subst. EC com /l/ por EC com /r/
35 Interposição de
língua em /s/ e /z/
Interposição de
língua em repouso
36 Alt. ortodônticas
39 Apag. de /l/ em OI e OM, apag.
Assist. de /r/ em OM, red. EC com
/r/ e /l/
40 Voz nasal
42 Apag. Assist. de /r/ em CM Alt. ortodônticas
43 Interposição de
língua em /s/, /z/ e /t/
Interposição de
língua em repouso,
alt. ortodônticas
48 Respiração bucal,
interposição de
língua em repouso,
alt. ortodônticas
Legenda: apag.: apagamento; assist.: assistemático; subst.: substituição; alt.: alterações; red.:
redução; EC: encontro consonantal; OI: onset inicial; OM: onset medial; CM: coda medial;
CF: coda final.
146
APÊNDICE G Resultados gerais escola pública
Grupo
Etário
Sujeito Sexo Idade Tempo de
aplicação do
TFPF
Pontuação
TFPF
1 F 4.1 10:01 22
2 F 4.2 05:11 32
3 M 4.3 04:06 37
1
(4:1 a 4:6)
4 M 4.4 05:06 33
5 M 4.8 07:05 28
6 F 4.10 06:29 31
2
(4:7 a 5:0)
7 M 4.11 05:38 32
8 F 5.1 07:07 20
9 M 5.2 04:23 39
10 F 5.4 04:23 35
3
(5:1 a 5:6)
11 M 5.6 05:09 33
4
(5:7 a 6:0)
12 F 5.11 05:50 35
13 F 6.1 05:27 37
14 F 6.1 05:04 36
15 M 6.4 04:46 33
5
(6:1 a 6:6)
16 F 6.6 04:24 36
17 F 6.8 04:57 33
18 M 6.11 06:20 29
19 M 6.11 04:38 39
6
(6:7 a 7:0)
20 M 7.0 05:49 36
7
(7:1 a 7:6)
21 F 7.4 05:08 33
22 F 7.7 04:45 39
23 F 7.8 04:41 37
24 M 7.8 04:19 39
8
(7:7 a 8:0)
25 M 7.8 05:35 37
147
APÊNDICE H Resultados gerais escola particular
Grupo
Etário
Sujeitos Sexo Idade Tempo de aplicação do
TFPF
Pontuação
TFPF
26 M 4.3 04:34 38
27 F 4.5 08:11 14
1
(4:1 a 4:6)
28 M 4.6 06:55 26
29 M 4.9 05:52 26
30 F 4.10 04:43 36
2
(4:7 a 5:0)
31 M 4.11 07:26 35
32 M 5.2 02:13 34
33 M 5.4 03:56 38
34 F 5.4 04:09 35
3
(5:1 a 5:6)
35 M 5.5 05:10 28
36 M 5.7 05:16 26
37 F 5.9 03:58 37
38 F 5.10 05:01 36
4
(5:7 a 6:0)
39 M 5.11 04:34 33
40 M 6.1 03:13 37
41 F 6.2 04:57 38
42 M 6.4 04:42 33
5
(6:1 a 6:6)
43 M 6.5 04:15 28
44 F 6.8 04:55 39
45 M 6.10 04:40 40
6
(6:7 a 7:0)
46 F 6.11 03:47 34
47 F 7.1 04:04 38
7
(7:1 a 7:6)
48 M 7.2 04:30 32
8
(7:7 a 8:0)
49 M 7.11 04:29 33
148
APÊNDICE I Número de erros nas apresentações do TFDF por crianças de diferentes
grupos etários em escolas públicas
Nº Apresentação- Par
G 1
4:0 a
4:6
G 2
4:7 a
5:0
G 3
5:1 a
5:6
G 4
5:7 a
6:0
G 5
6:1 a
6:6
G 6
6:7 a
7:0
G 7
7:1 a
7:6
G 8
7:7 a
8:0
Total
1- mala x mala 1 1 0 0 0 0 0 0 2
2- mar x bar 1 0 0 0 2 2 0 0 5
3- cabelo x camelo 1 0 1 1 0 2 0 0 5
4-mala x bala 1 1 2 0 1 0 0 0 5
5- cara x casa 0 0 1 0 0 0 0 0 1
6- praça x prata 1 1 0 0 0 0 0 0 2
7-rosa x roda 0 0 1 0 0 0 0 0 1
8- cabelo x cabelo 3 1 1 0 3 0 1 0
9
9-filha x pilha 1 1 2 0 0 0 1 0 5
10-bomba x pomba 2 0 0 0 0 2 1 0 5
11- filha x filha 1 1 0 0 1 0 0 0 3
12- queixo x queijo
1 1 2 1 2 1 1 0
9
13- quadro x quatro 2 0 2 0 0 1 0 0 5
14-faca x vaca 0 0 0 0 0 0 0 0 0
15-preço x preso
2 2 2 0 0 2 0 1
9
16-torta x torta 0 0 0 0 0 0 0 0 0
17-vela x velha 0 1 1 1 0 0 0 0 3
18-galo x galho 1 2 0 0 0 0 0 0 3
19-sono x sonho
3 3 2 0 0 1 0 1
10
20-quadro x quadro 0 1 1 0 0 0 0 1 3
21-porta x torta 1 1 1 0 1 0 1 0 5
22-cavar x casar 0 1 1 0 0 1 0 1 4
23-pata x pata 1 0 0 0 2 1 0 1 5
24-bola x bola 0 0 0 0 2 0 0 0 2
25-carreta x careta 0 2 1 0 1 1 0 0 5
26-dado x gado
1 0 1 1 1 2 0 0
6
27-sapo x saco 0 0 1 1 0 1 0 0 3
28-bola x gola 1 0 0 0 0 0 0 0 1
29-cano x pano 1 0 0 0 0 0 0 0 1
30-prato x prato 0 1 0 0 0 0 0 0 1
31-escada x espada 1 0 0 0 0 0 0 0 1
32-uva x luva 1 1 0 0 0 0 1 0 3
33-ovo x povo 1 0 3 0 1 0 0 0 5
34-carreta x carreta 2 2 3 0 0 0 0 1
8
35-pote x poste 1 1 1 0 1 0 0 1 5
36- pata x pasta 1 0 1 0 0 0 0 0 2
37-pato x prato 0 1 0 0 1 0 0 0 2
38-sapo x sapo 1 2 0 0 0 0 1 0 4
39-banco x branco
2 1 2 0 1 3 0 1
10
40-fio x frio 0 0 1 0 0 3 0 0 4
TOTAL 36 29 34 5 20 23 7 8 162
149
APÊNDICE J Número de erros nas apresentações do TFDF por crianças de diferentes
grupos etários em escolas particulares
Nº Apresentação- Par
G 1
4:0 a
4:6
G 2
4:7 a
5:0
G 3
5:1 a
5:6
G 4
5:7 a
6:0
G 5
6:1 a
6:6
G 6
6:7 a
7:0
G 7
7:1 a
7:6
G 8
7:7 a
8:0
Total
1- mala x mala 0 0 0 0 0 0 0 0 0
2- mar x bar
2 0 2 2 2 0 1 1
10
3- cabelo x camelo 1 0 2 1 1 0 1 0 6
4-mala x bala 0 1 1 1 0 0 0 0 3
5- cara x casa 2 1 0 0 0 0 0 0 3
6- praça x prata 1 1 0 0 0 0 0 0 2
7-rosa x roda 1 1 1 1 0 0 0 0 4
8- cabelo x cabelo 1 1 0 1 1 0 0 0 4
9-filha x pilha 1 0 0 1 2 0 0 0 4
10-bomba x pomba 1 1 0 2 0 0 0 0 4
11- filha x filha 0 1 0 0 0 0 0 0 1
12- queixo x queijo
2 2 4 2 4 0 1 0
15
13- quadro x quatro 2 0 0 1 0 0 0 0 3
14-faca x vaca 1 0 1 1 0 0 1 0 4
15-preço x preso
2 1 2 1 2 1 0 0
9
16-torta x torta 1 0 0 1 0 0 0 0 2
17-vela x velha 1 0 0 2 0 1 0 1 5
18-galo x galho 1 0 0 1 0 0 0 0 2
19-sono x sonho 0 2 1 1 1 0 0 0 5
20-quadro x quadro 1 0 1 1 1 1 0 1
6
21-porta x torta 1 0 0 0 1 0 1 1 4
22-cavar x casar 2 0 0 0 0 1 0 0 3
23-pata x pata 1 1 0 0 0 0 1 0 3
24-bola x bola 0 0 0 0 0 0 0 0 0
25-carreta x careta 1 0 0 1 1 0 0 0 3
26-dado x gado
1 1 0 2 1 0 1 0
6
27-sapo x saco 1 0 1 1 0 0 0 0 3
28-bola x gola 1 0 1 0 0 0 1 0 3
29-cano x pano 1 0 0 0 2 0 1 0 4
30-prato x prato 1 0 2 0 0 0 0 0 3
31-escada x espada 1 0 1 0 1 0 0 0 3
32-uva x luva 1 1 0 0 0 1 0 1 4
33-ovo x povo 1 1 0 0 0 0 0 0 2
34-carreta x carreta 1 2 1 0 1 1 1 1
8
35-pote x poste 1 1 1 2 0 0 0 0 5
36- pata x pasta 1 0 0 1 1 0 0 1 4
37-pato x prato 0 0 0 0 1 0 0 0 1
38-sapo x sapo 1 1 1 0 0 1 0 0 4
39-banco x branco
0 3 2 0 1 0 0 0
6
40-fio x frio 2 0 0 1 0 0 0 0 3
TOTAL 40 23 25 28 24 7 10 7 164
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