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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO: CIÊNCIAS MÉDICAS
ESTUDO DA IDENTIFICAÇÃO DE HAPLÓTIPOS E A RELAÇÃO COM AS
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM PACIENTES COM ANEMIA FALCIFORME
MARIA APARECIDA LIMA DA SILVA
ORIENTADORA: Profa. Dra. Lúcia Mariano da Rocha Silla
CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. José Artur Bogo Chies
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
2006
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO: CIÊNCIAS MÉDICAS
ESTUDO DA IDENTIFICAÇÃO DE HAPLÓTIPOS E A RELAÇÃO COM AS
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM PACIENTES COM ANEMIA FALCIFORME
MARIA APARECIDA LIMA DA SILVA
ORIENTADORA: Profa. Dra. Lúcia Mariano da Rocha Silla
CO-ORIENTADOR: Prof. Dr. José Artur Bogo Chies
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
2006
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Silva, Maria Aparecida Lima
Estudo da Identificação de Haplótipos e a Relação com as
Manifestações Clínicas em Pacientes com Anemia Falciforme/105f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas.
Título em Inglês: Haplotypes identification study and its
relationship to
clinical course in sickle cell disease.
1. Hemoglobinopatias 2. Haplótipos 3. Anemia Falciforme 4.
Hemoglobina S
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação é o término de uma caminhada dolorosa e de muita luta
que me fez crescer através deste grande aprendizado. Em cada palavra, em cada
linha, está impressa a vontade da realização de um sonho, combustível que me
alimentou para eu chegasse ao fim do caminho.
Quero agradecer a todos aqueles que de uma forma ou de outra me
auxiliaram a chegar aqui, aliviando as dores desta caminhada.
A grande Força do Universo por me conduzir ao crescimento.
Ao maior tesouro que tenho nesta vida, meus irmãos: Isa, Vera, Sônia,
Noêmia, Flávio, Beto, sobrinhos, cunhado, cunhada, que me alimentaram com o
seu apoio e amor nos momentos de dificuldade. Sem falar do patrocínio.
As duas jóias mais preciosas deste tesouro, meu pai Andris Luis e minha
mãe Engracia, que me sustentaram com o seu amor incondicional e que me
ensinaram entre tantos, os sublimes valores da honestidade e respeito.
Ao Dr. Carlos Novaes, um amigo, um irmão, um pai que me trouxe conforto
nos momentos mais dolorosos com seus sábios conselhos.
Aos pacientes do ambulatório de Hemoglobinopatias do HCPA que
consentiram na coleta das amostras, tornando possível este trabalho.
Ao Dr.João Ricardo Friedrisch e Drª Christina Bittar por intermediar o
acesso aos pacientes.
A Drª Meide Urnau que auxiliou no levantamento dos dados clínicos junto
aos prontuários dos pacientes.
Aos colegas de pós-graduação pelo incentivo.
5
Aos amigos que me apoiaram, em especial à Iara Nunes sempre com o seu
alto astral.
Á Rosângela, que muito mais que amiga é uma irmã, que está sempre por
perto nos momentos difíceis.
Aos colegas do Laboratório de Cultura e Análise Molecular de Células
Hematopoiéticas: Valéria, Daniela, Rafael, Silvana, Amanda, Jóice, Vanessa,
Elvira e Cláudio pelo auxílio diverso.
Ao Imunopovo do laboratório de Imunogenética, que me apoiaram,
incentivaram e com quem muito aprendi.
Á equipe do Serviço de Hematologia e Transplante de Medula Óssea do
HCPA pelo incentivo e colaboração.
A Neusa Laydner, pela ajuda e pela paciência com o meu estresse.
À Associação dos Amigos da Hematologia do HCPA, pelos recursos
financeiros obtidos para aquisição de reagentes.
Ao meu co-orientador, Prof. Dr. José Artur Bogo Chies, que não hesitou em
auxiliar na padronização das técnicas, nos contagiando com a sua paixão pelo que
faz. Com a sua porta sempre aberta para nos receber com carinho e atenção nos
momentos de incertezas.
À minha orientadora, Profª. Dra. Lúcia Mariano da Rocha Silla, pelo carinho,
pela oportunidade, pela confiança e por acreditar no meu trabalho.
É na experiência da vida
Que o homen evolui.
Harver Spencer Leinz
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS ...............................................................................6
LISTA DE FIGURAS...........................................................................................8
LISTA DE TABELAS..........................................................................................9
INTRODUÇÃO .................................................................................................10
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA..........................................................................12
1.1 HEMOGLOBINA........................................................................................ 12
1.2 ONTOGENIA DAS HEMOGLOBINAS .......................................................... 13
1.3 GENÉTICA MOLECULAR DA HEMOGLOBINA ............................................ 14
1.4 HEMOGLOBINA S E A ANEMIA FALCIFORME ........................................... 16
1.4.1 A HISTÓRIA DA ANEMIA FALCIFORME................................ ................... 18
1.4.2 DADOS EPIDEMIOLÓGICOS DA ANEMIA FALCIFORME....... ................... 19
1.4.3 FISIOPATOLOGIA DA ANEMIA FALCIFORME .......................................... 20
1.4.4 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ANEMIA FALCIFORME.......................... 24
1.5 HAPLÓTIPOS DO AGRUPAMENTO
(CLUSTER) DO GENE BETA GLOBINA....................................................... 26
1.6 A ANEMIA FALCIFORME E OS HAPLÓTIPOS ............................................. 34
1.7 DIAGNÓSTICO DA ANEMIA FALCIFORME.................................................. 39
1.8 TRATAMENTO ........................................................................................... 43
1.9 PERFIL ECONÔMICO................................................................................. 46
2 JUSTIFICATIVA...........................................................................................47
3 OBJETIVOS.................................................................................................48
REFERÊNCIAS................................................................................................49
ARTIGO EM INGLÊS........................................................................................55
ARTIGO EM PORTUGUÊS............................................................. ..................76
ANEXOS..........................................................................................................98
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Hemoglobina Normal ...........................................................................12
Figura 2 – Localização dos genes nos cromossomos e tipos de hemoglobina.........14
Figura 3 – Troca de Aminoácidos que altera a hemoglobina ..................................17
Figura 4 – Distribuição mundial da anemia falciforme............................................18
Figura 5 – Polímero de HbS .................................................................................22
Figura 6 – Vaso-oclusão ......................................................................................23
Figura 7 – Úlcera de membros inferiores ..............................................................25
Figura 8 – Haplótipos HbS ...................................................................................27
Figura 9 – Distribuição dos haplótipos na África e Ásia .........................................28
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Principais síndromes falcêmicas relacionadas com suas
características laboratoriais........................................................... 41
Tabela 2 Alterações laboratoriais específicas na anemia falciforme............... 42
LISTA DE ABREVIATURAS
A – Adenina
AF – Anemia Falciforme
AVC – Acidente Vascular Cerebral
CAR – República da África Central
DNA – Ácido Desoxirribonucléico
Hb – Hemoglobina
Hb A – Hemoglobina tipo A
Hb F – Hemoglobina Fetal
Hb S – Hemoglobina Falciforme
HCPA – Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Hct – Hematócrito
HU - Hidroxiuréia
Kb – kilobase
MTD – Dose Máxima Tolerada
MSH – Estudo Multicêntrico da Hidroxiuréia
pb – pares de bases
PCR – Reação em cadeia da polimerase
T – Timina
TCTH – Transplante de Células Tronco Hematopoéticas
Th – Células T auxiliares
VCM – Volume Corpuscular Médio
INTRODUÇÃO
O termo anemia identifica o número reduzido de eritrócitos ou nível de
hemoglobina inferior ao normal. As causas que determinam esta condição podem
ser: destruição precoce dos eritrócitos, perdas de sangue ou a deficiência na
produção de eritrócitos. As desordens da hemoglobina que levam à deformidade
dos eritrócitos causam anemia através da sua destruição precoce.
Estima-se que aproximadamente 7% da população mundial seja portadora
de desordens na hemoglobina, e que 300.000 a 400.000 bebês nascem a cada
ano com formas graves dessas desordens. Embora essas condições ocorram com
maior freqüência em regiões tropicais, a migração de populações tem assegurado
que elas sejam hoje encontradas em muitos países. Algumas dessas desordens
hemoglobínicas hereditárias, se não tratadas, resultam em morte nos primeiros
anos de vida (WEATHERALL & CLEGG, 2001).
A anemia falciforme (AF) é uma doença hereditária cuja principal
característica é a deformidade que causa nos eritrócitos, os quais mudam da
forma normal arredondada para a forma de foice, quando em baixa tensão de
oxigênio, origem do nome falciforme. O defeito genético constitui-se basicamente
da substituição do aminoácido Ácido Glutâmico por uma Valina na posição 6 da
cadeia beta da hemoglobina. Essa é uma das alterações genéticas mais comuns
11
em todo o mundo, afetando indivíduos Afro-descendentes e populações
mediterrâneas (DUTRA, 2002).
As hemoglobinopatias constituem uma das principais e mais freqüentes
doenças genéticas que acometem seres humanos e, dentre elas, a AF é a forma
mais freqüente no Brasil. Apesar de sua prevalência ser maior em pessoas da
raça negra, estudos populacionais têm demonstrado a crescente presença de
Hemoglobina S (Hb S) em indivíduos caucasóides. Na infância, a AF tem sido
associada com alta morbidade e mortalidade devido a crises de infarto ósseo,
sepse bacteriana, seqüestração esplênica e síndrome torácica aguda, além de
efeitos deletérios no desenvolvimento fisiológico e intelectual do indivíduo (SILLA,
1999).
Sabe-se que na AF ocorre uma variabilidade na gravidade do quadro
clínico, que pode ser determinada por alguns fatores como o nível de hemoglobina
fetal, a co-herança com outras hemoglobinas anormais e a presença de
determinados haplótipos herdados de acordo com a origem étnica do paciente.
Apesar dos grandes avanços no entendimento da patologia molecular,
patofisiologia, controle e manejo das desordens hereditárias das hemoglobinas,
milhares de crianças com estas doenças morrem por falta de cuidados médicos
apropriados (WEATHERALL & CLEGG, 2001).
A identificação precoce da doença, bem como de seus determinantes de
gravidade clínica, pode contribuir para que o indivíduo com maior risco seja
acompanhado com mais presteza e vigor. Este trabalho visa verificar se os
haplótipos Hb S são indicadores de gravidade clinica em nosso meio.
12
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1 A HEMOGLOBINA
A hemoglobina é a principal proteína dos eritrócitos, sendo responsável pelo
transporte de oxigênio dos pulmões para os tecidos (OSÓRIO & ROBINSON, 1993). É uma
proteína de estrutura globular e quaternária composta por quatro cadeias polipeptídicas, ou
cadeias de globina, e um grupo prostético heme (um pigmento contendo ferro que se
combina com o oxigênio e confere à molécula sua capacidade de transportar oxigênio)
ligado a cada uma das cadeias de globina. Duas globinas alfa (alfa²) e duas beta (beta²)
compõem a hemoglobina A (Figura 1) e, de forma semelhante, combinações entre as
diferentes globinas determinam os seis tipos de hemoglobinas humanas produzidas nas
fases do desenvolvimento caracterizadas como embrionária, fetal e pós-nascimento
(NAOUM, 1997; THOMPSON & THOMPSON, 1991; PITOMBEIRA & NETO, 2003).
Figura 1 – Hemoglobina Normal
Fonte: Adaptado de: fig.cox.miami.edu/.../ chemistry/hemoglobin.jpg
Cadeia polipeptídica
Cadeia β
Cadeia α
Hemoglobina
Fe
Heme
13
1.2 ONTOGENIA DAS HEMOGLOBINAS
Durante o desenvolvimento intra-uterino, o oxigênio transportado pela
hemoglobina é fornecido pelo sangue materno através da placenta. Com o
nascimento, ocorrem grandes modificações respiratórias e o oxigênio passa a ser
captado nos pulmões diretamente do ar atmosférico. Dadas essas condições
respiratórias tão diferentes, explica-se a existência de tipos diferentes de
hemoglobinas, adequados aos períodos intra e extra-uterinos de vida (Figura 2)
(OSÓRIO & ROBINSON, 1993).
No início do desenvolvimento embrionário existem três hemoglobinas
resultantes da expressão dos genes embrionários de hemoglobina. Essas
hemoglobinas (Gower-1, Gower-2 e Portland) deixam de ser produzidas no início
do desenvolvimento fetal, e sua síntese não é mais reativada. A hemoglobina fetal
(Hb F), predomina durante a fase fetal, acompanhada de pequena quantidade de
hemoglobina do adulto (Hb A). Esta situação se inverte quando, próximo ao
nascimento, a síntese de Hb A é intensamente ativada, e a produção de Hb F vai
sendo progressivamente desativada. No momento do nascimento, a síntese de Hb
F ainda constitui cerca de 60% do total, mas a substituição continua e está quase
completa entre o terceiro e o sexto mês de vida. Em adultos normais, há
resquícios da produção de Hb F, correspondendo a menos de 1% do total de
hemoglobina (ZAGO et al, 2001a).
14
Figura 2 – Localização dos genes nos cromossomos e tipos de hemoglobina.
Fonte: Adaptado de: imiloa.wcc.havaii.edu/.../present/icture17/img022.jpg
1.3 GENÉTICA MOLECULAR DA HEMOGLOBINA
Existem pelo menos oito loci bem conhecidos comandando a síntese das
globinas: alfa 1(α
1
), alfa 2(α
2
), beta(β), delta(δ), gama A(γ
A
), gama G(γ
Ġ
),
épsilon(ε) e zeta(ζ) (Figura 2). Cada locus é responsável pela estrutura de um tipo
de cadeia polipeptídica. Um outro locus foi detectado, o do gene teta (θ), que seria
ativo no saco vitelino e no fígado fetal, mas seu produto ainda não foi identificado.
Os genes das globinas α e β fazem parte de famílias multigênicas, que são
agrupamentos de muitos genes, alguns deles não transcritos (OSÓRIO &
ROBINSON, 1993).
A síntese das globinas do grupo alfa inclui as globinas zeta e alfa, e é
obtida por um grupo de genes localizados no braço curto do cromossomo 16, na
região 16p13.3. Esse grupo de genes é constituído por dois genes alfa estruturais,
Adulto
Feto
Embrião
Nome
Fórmula
Hemo
g
lobina
Polipeptídicas
Subunidades
Produzidos no:
Cromossomo
Adulto
Embrião
Feto
Gene
15
separados um do outro por 3Kb, e denominados α¹ e α², que permanecem sendo
expressos durante toda a vida do indivíduo. Outros genes pertencentes a esse
complexo gênico são os genes zeta (ζ²) de expressão somente na fase
embrionária, três pseudogenes (Ψζ², Ψα², Ψα¹) e um gene com função ainda
não bem definida, o gene teta(θ) (Figura 2) (NAOUM, 1997).
Esse agrupamento de genes do grupo alfa engloba uma extensão de
aproximadamente 30Kb. O locus do gene zeta é o primeiro a funcionar durante as
primeiras cinco semanas da fase embrionária, e a primeira hemoglobina
sintetizada é a Hemoglobina Gower-1(ζ² ε²), seguida da hemoglobina Portland(ζ²
γ²). A partir da sexta semana de vida intra-uterina, a produção de globina zeta
decresce; ao mesmo tempo que são ativados os genes α¹ e α², que passam a
atuar durante o período fetal, e por toda a vida após o nascimento (ZAGO et al,
2001a).
A síntese das globinas tipo beta é mais heterogênea e abrangente do que a
do tipo alfa, pois envolve a produção das globinas beta, delta, gama e épsilon.
Esse grupo de genes está localizado no braço curto do cromossomo 11, em uma
região com mais de 60Kb, e é constituído por cinco genes estruturais (Figura 2)
(ZAGO et al, 2001a).
O gene ε é expresso na fase embrionária, enquanto os genes γ
A
(gama-
alanina) e γ
Ġ
(gama-glicina) são característicos do período fetal. Os genes δ e β
são atuantes a partir do período fetal e se expressam por toda a vida após o
nascimento. Pelo fato da espécie humana ser diplóide, podemos representar a
presença normal dos diferentes genes para um indivíduo da seguinte forma: β/β,
γ/γ, δ/δ e α
1
α
2
/α
1
α
2
(NAOUM,1997; PITOMBEIRA & NETO, 2003).
Anormalidades genéticas podem dar origem a variantes estruturais de
hemoglobina, e podem impedir a produção de uma cadeia polipeptídica, ou ambas.
A grande maioria das anormalidades estruturais resulta de substituições isoladas
de aminoácidos como conseqüência de substituições de nucleotídeos únicos.
16
Variantes estruturais raras se originam da deleção de um nucleotídeo, o que
resulta em um desvio da fase de leitura no sentido descendente, com conseqüente
alteração da seqüência de aminoácidos ou, por outro lado, extensão da cadeia
polipeptídica porque o códon da terminação está alterado. Dependendo do tipo e
do local onde ocorre uma substituição de aminoácido em uma cadeia de globina,
esta poderá ou não alterar o comportamento da molécula de hemoglobina. Se a
anormalidade estrutural produz manifestações clínicas, o paciente apresenta uma
hemoglobinopatia. Mutações que alteram quantitativamente a síntese de uma das
cadeias da globina originam as síndromes talassêmicas (RAPAPPORT, 1990).
Há quase 600 variantes de hemoglobina já descritas, porém poucas estão
associadas a manifestações clínicas e alterações hematológicas. O melhor
exemplo é a hemoglobina S (OSÓRIO & ROBINSON, 1993).
1.4 HEMOGLOBINA S E A ANEMIA FALCIFORME
A AF envolve uma herança autossômica recessiva, caracterizada pela
presença da hemoglobina variante Hb S do gene da β-globina (INATI et al, 2003;
ASHLEY et al, 2000).
A hemoglobina falciforme Hb S é causada pela substituição de uma
adenina (A) por uma timina (T), no sexto códon do gene da β-globina
(GAGGTG), ocasionando a substituição do ácido glutâmico normal pela valina
na posição do sexto aminoácido da cadeia β-globina (Figura 3) (GONÇALVES et
al, 2003; MAGAÑA et al 2002; INATI et al, 2003; ASHLEY et al, 2000).
A Hb S (α
2
β
2
s
) polimeriza quando em baixa tensão de oxigênio (INATI et al,
2003; ASHLEY et al, 2000). Quando quantidades críticas de polímeros de Hb S
acumulam-se dentro dos eritrócitos falcizados, ocorre lesão celular (STEINBERG
& RODGERS, 2001).
17
Figura 3 – Troca de aminoácidos que altera a Hemoglobina
Fonte: Adaptado de: www.emedicine.com/.../24681132med2126-05.jpg
A AF, com ampla distribuição mundial (Figura 4), é causada pela
homozigose do alelo β
s
(SS), e a Hb S é a principal hemoglobina presente nos
eritrócitos anormais (GONÇALVES et al, 2003).
Indivíduos afetados que possuem uma cópia da hemoglobina variante Hb S
e uma cópia de outra variante do gene β-globina, como por exemplo, Hb C, são
heterozigotos compostos. Indivíduos portadores (traço falciforme) têm uma cópia
da Hb S e uma cópia do alelo normal (Hb AS). Indivíduos com o traço falciforme
parecem estar protegidos de infecção por malária (ASHLEY et al, 2000). O
mecanismo deste efeito protetor ainda está em debate, embora possíveis fatores
incluem: (a) uma falcização seletiva do eritrócito parasitado, resultando em sua
efetiva remoção pelo sistema reticulo-endotelial; (b) inibição do crescimento do
parasita devido à perda de potássio e baixo pH dos eritrócitos falcizados e (c)
aumento da aderência endotelial dos eritrócitos parasitados (SERJEANT, 2001).
Acredita-se que a alta freqüência da variante Hb S em determinadas populações
seja o resultado deste efeito protetor (ASHLEY et al, 2000; AIDOO et al, 2002).
Seqüência
de DNA
Seqüência
de aminoácidos
F
a
l
c
iz
Seqüência
de aminoácidos
Seqüência
de DNA
Mutante
Normal
18
A ocorrência da mutação da AF e a vantagem de sobrevivência conferida ao
indivíduo heterozigoto, determinam a distribuição primária do alelo falciforme na
África equatorial (SERJEANT, 2001).
Desordens hereditárias da estrutura da hemoglobina, atualmente não tem
cura em pacientes adultos. Transplante de medula óssea em crianças tem
mostrado ser uma possibilidade de cura para pacientes com AF (BALLAS, 2001).
Figura 4 – Distribuição Mundial da Anemia Falciforme
Fonte: Adaptado de: www.unc.edu/~/Viscrst/mystery/map.gif
1.4.1 A História da Anemia Falciforme
Esta doença surgiu nos países do centro-oeste africano, na India e no leste
da Ásia, de 50 a 100 mil anos, entre os períodos paleolítico e mesolítico
(PITOMBEIRA & NETO, 2003).
As primeiras observações científicas da doença das células falciformes
datam de aproximadamente um século. Herrick em 1910 observou a forma
anormal dos eritrócitos do sangue periférico de um estudante negro procedente da
Jamaica portador de um grave quadro anêmico acompanhado de icterícia,
América do
Norte
América
do Sul
Euro
p
a
Distribuição Geográfica da HbS no Mundo
19
complicações pulmonares e úlceras de membros inferiores (STUART & NIGEL,
2004).
O termo doença falciforme foi empregado pela primeira vez em 1922, por
Mason. Em 1927, Hahn e Gillespie demonstraram a dependência do fenômeno da
falcização com a tensão de oxigênio, atribuindo o defeito à hemoglobina, e não
somente ao eritrócito. Em 1935, Diggs e Bill notaram que algumas dessas células
se mantinham na forma falcizada, mesmo após a reoxigenação. Ham e Castle, um
ano depois, propuseram um papel para o eritrócito falcizado na fisiopatologia da
AF. Em 1949, Pauling e seus colaboradores demostraram a diferença entre o
eritrócito falcizado e o normal por meio da mobilidade eletroforética e atribuíram
esse fenômeno à mudança de carga da globina. Em 1956, Ingram, utilizando a
técnica de “fingerprint” (eletroforese bidimensional, associada à cromatografia),
demonstrou que a anormalidade química da Hb S era devida à substituição do
ácido glutâmico pela valina, na posição 6 da cadeia beta, produzindo a perda de
duas cargas negativas por molécula da hemoglobina (NAOUM, 1997).
1.4.2 Dados Epidemiológicos da Anemia Falciforme
Segundo a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 5% da
população mundial é portadora de genes de distúrbios da hemoglobina com algum
grau de repercussão clínica e, 50% destes tem o traço falciforme. Cerca de
370.000 homozigotos gravemente afetados ou heterozigotos compostos nascem a
cada ano (MAGAÑA et al, 2002).
Nos Estados Unidos e Jamaica, o pico de incidência de morte em crianças
afetadas parece ser entre 1-3 anos de idade, geralmente devido a infecções.
Dados dos Estados Unidos sugerem que, em adultos afetados, a média de idade
de morte é 42 anos para homens e 48 anos para mulheres (WEATHERALL &
CLEGG, 2001).
20
A AF afeta milhões de pessoas no mundo todo (Figura 4), e ocorre em 1 a
cada 500 nascimentos de afro-americanos e, em 1 a cada 1.000-4.000
nascimentos de hispano-americanos (GONÇALVES et al, 2003). Mais de 50.000
americanos são afetados pela doença, tornando-a uma das desordens genéticas
mais prevalentes nos Estados Unidos (ASHLEY et al, 2000).
No Brasil estima-se que existam cerca de quatro milhões de pessoas
portadoras do traço falciforme, ou hemoglobina S heterozigota, e perto de 30.000
com a forma grave, incluindo AF (SS), doença Hb SC, e interação entre Hb S e
talassemia beta (NAOUM, 1997). Estima-se ainda, que 5,0-6,0% da população é
portadora do gene da hemoglobina S, e ocorram 700 a 1000 novos cases de AF
por ano (LYRA et al, 2005). Entre afro-descendentes brasileiros, o traço falciforme
é encontrado em freqüências que variam de 6,9 a 15% (GONÇALVES et al, 2003).
O maior estudo de prevalência e distribuição de hemoglobinopatias
realizado no Brasil, analisou uma amostra de 55.217 indivíduos, em 40 cidades,
com idades entre um mês e 90 anos, provenientes de centros de saúde, escolas e
bancos de sangue. Neste estudo, 3,08% tinham hemoglobinas anormais. A
condição Hb AS foi a mais prevalente entre os indivíduos portadores destas
hemoglobinas anormais, com 60,95% e a freqüência de Hb SS na população total
foi de 0,04% (NAOUM et al, 1987).
Daudt et. al 2002 determinaram a freqüência das hemoglobinopatias entre 1615
recém-nascidos do HCPA, provenientes da cidade de Porto Alegre e região metropolitana,
submetidos à Triagem Neonatal para Distúrbios Metabólicos. A freqüência de bebês recém
nascidos portadores do alelo da AF foi estimada em 1,2% (DAUDT et al, 2002).
1.4.3 Fisiopatologia da Anemia Falciforme
A troca do ácido gutâmico pela valina que caracteriza a Hb S, cria uma instabilidade
que leva à polimerização da hemoglobina sob baixa tensão de oxigênio. Esse é o evento
primário indispensável na patogênese molecular da AF e depende da concentração intra-
21
eritrocitária das Hb S e Hb F, do grau de desoxigenação e do pH. A presença de
concentrações elevadas de Hb F diminui a polimerização intracelular da Hb S
(STUART & NIGEL, 2004; BUNN, 1997).
O polímero de Hb S (Figura 5) é uma fibra que se alinha com outras para
formar um feixe, alterando o eritrócito para uma forma clássica de foice. O
restabelecimento das condições físico-químicas adequadas devolve a solubilidade
da hemoglobina. Células irreversivelmente falcizadas são células densas que não
retornam à forma normal mesmo quando reoxigenadas, devido a dano irreversível
sobre a membrana (STUART & NIGEL, 2004).
Essas células que permanecem irreversivelmente falcizadas após episódios
repetidos de hipóxia e re-oxigenação são destruídas prematuramente, o que
caracteriza a AF como uma anemia hemolítica: aumento de bilirrubina indireta e
de reticulócitos em crises hemolíticas. Podem ocorrer crises aplásticas, por
exaustão da medula óssea, durante as quais há um agravamento da anemia,
diminuindo a quantidade de reticulócitos no sangue periférico (OSÓRIO e
ROBINSON, 1993).
A forma falcizada é originalmente a causa da obstrução da microcirculação,
resultando em crise vaso-oclusiva (STUART & NIGEL, 2004). A vaso-oclusão de
pequenos e algumas vezes de grandes vasos é a principal marca da AF,
contribuindo muito para sua morbidade e mortalidade (Figura 6) (ROSSE et al,
2000).
Além da presença de células rígidas e deformadas levando à obstrução
mecânica da micro-vasculatura, o eritrócito que contém Hb S expressa um
conjunto de moléculas que favorece a sua adesão ao endotélio vascular. A adesão
leucócito-endotelial com formação de agregados hetero-celulares (leucócitos e
células falcizadas), também contribui para a obstrução, resultando em hipóxia
local, aumento na formação de polímeros de Hb S e propagação da oclusão à
vasculatura adjacente (STUART & NIGEL, 2004).
22
Figura 5 – Polímero de HbS
Fonte: www.cmmr.uah.edu/protein/summary.html
A vaso-oclusão e a isquemia tecidual na AF envolvem não somente a
polimerização da Hb S, mas também interações entre os eritrócitos, endotélio,
plaquetas, leucócitos e fatores do plasma. A polimerização da Hb S é o mais
importante fator no ciclo da falcização e um aumento nos níveis de Hb fetal
diminui a polimerização intracelular da Hb S (VICHINSKI, 2002).
Os fenômenos vaso-oclusivos acontecem principalmente em órgãos com
circulação sinuosa, onde o fluxo de sangue é lento e a tensão de oxigênio e o pH
são baixos. A hipóxia decorrente da oclusão vascular gera infartos teciduais e
orgânicos e proporciona, principalmente, sintomatologia de dor ou danos teciduais
crônicos irreversíveis em alguns órgãos (NAOUM, 1997).
23
Figura 6 – Vaso-Oclusão
Fonte: www.emedicine.com/.../24681132med2126-05.jpg
A homeostase anormal de cátions também está envolvida no evento
patogênico (STUART & NAGEL, 2004). Os mais importantes contribuintes para a
desidratação das células falciforme são o co-transporte dos íons potássio-cloreto
e o efluxo de K+ ativado pelo Ca++ (Canal de Gardos) (BUNN, 1997).
As deformações celulares que alteram as trocas iônicas e afetam a
permeabilidade celular, têm como conseqüência lesões na membrana, o que
também contribui para encurtar a vida das células. Os eritrócitos falcizados são
rapidamente retirados da circulação, principalmente por macrófagos do sistema
monocítico-macrofágico com conseqüente hemólise precoce (NAOUM, 1997).
Fatores como mediadores inflamatórios que ativam as células endoteliais e,
portanto, acentuam a adesão das células, também desencadeiam episódios vaso-
oclusivos (ROSSE et al, 2000).
Moléculas pró-inflamatórias induzem a ativação do canal de Gardos, o qual
pode explicar a associação entre inflamação, vaso-oclusão, e hemólise
aumentada, algumas vezes vista durante quadros infecciosos (STUART & NIGEL,
Célula
Falcizada
Vasos
sangüíneos
Normal
24
2004). Durante estresse inflamatório, a adesão das células falciformes ao
endotélio pode aumentar como resultado do aumento de proteínas do plasma, bem
como devido ao aumento da expressão de moléculas de adesão do tipo integrinas
(BUNN, 1997).
A transmigração de neutrófilos pelas junções endoteliais também aumenta a
inflamação na microvasculatura. Recente atenção tem sido dada a desregulação
do tônus vasomotor pela perturbação em mediadores vasodilatadores como o
óxido nítrico (STUART & NIGEL, 2004).
Segundo Chies & Nardi, 2001 a AF deve ser considerada uma doença
inflamatória crônica, onde a gravidade das manifestações clinicas seriam
determinadas por um estado pró-inflamatório amplificado, contribuindo para os
episódios vaso-oclusivos, desempenhando assim, um importante papel na
patofisiologia da doença.
1.4.4 Manifestações Clínicas da Anemia Falciforme
Apesar de todos os indivíduos com AF terem a mesma mutação no DNA, a
severidade das manifestações clínicas e hematológicas é extremamente variável,
podendo ir de uma doença grave a uma condição quase assintomática detectada
apenas acidentalmente. Suas características hematológicas, bem como gravidade
clínica são influenciadas por variações nos níveis de hemoglobina fetal, presença
simultânea de alfa talassemia, deficiência na glucose-6-fosfato desidrogenase e
os haplótipos ligados ao grupamento do gene da β-globina (INATI et al, 2003;
MORENO et al, 2002). Sintomas clínicos mais leves têm sido descritos em
pacientes que apresentam α-2 talassemia e altos níveis de hemoglobina fetal (Hb
F), ligados à presença de haplótipos específicos (GONÇALVES et al, 2003).
A morbidade na AF surge de eventos vaso-oclusivos ou danos teciduais
resultantes da obstrução do fluxo sangüíneo. A oclusão, principalmente em
pequenos vasos, determina a grande maioria dos sinais e sintomas presentes no
25
quadro clínico dos pacientes com AF, tais como: crises álgicas, crises hemolíticas,
úlceras de membros inferiores (Figura 7), síndrome torácica aguda, seqüestro
esplênico, priapismo, necrose asséptica de fêmur, retinopatia, insuficiência renal
crônica, auto-esplenectomia, AVC, entre outros (ASHLEY et al, 2000;
PITOMBEIRA & NETO, 2003; STEINBERG, 2005).
Figura 7 - Úlcera de membros inferiores
Fonte: www.meddcan.uc.edu/.../phyabn/imag12.jpg
A co-herança da α-talassemia entre indivíduos com AF parece ter um efeito
protetor contra algumas complicações, tais como a síndrome torácica aguda,
anemia e isquemia. Entretanto, aumenta a suscetiblidade para outras
complicações como as crises álgicas (ASHLEY et al, 2000).
As manifestações clínicas em pacientes árabes são geralmente mais leves
que as manifestações clínicas em africanos, em parte devido à freqüente co-
herança de elevados níveis de Hb F, que inibe a polimerização da Hb S (INATI et
al, 2003).
Ambos aspectos clínico e laboratorial da AF são influenciados pela
concentração dos níveis de Hb F. Pacientes com níveis mais altos de Hb F
apresentam menos episódios álgicos e maior sobrevida (STEINBERG et al, 1997;
WARE et al, 2002).
26
Crianças com AF são particularmente mais suscetíveis a complicações
sérias tais como AVC, síndrome torácica aguda, anemia aplástica severa, crises
de seqüestro esplênico, infecção e falência múltipla dos órgãos (JENKINS, 2002).
Asplenia funcional em pacientes jovens, autoesplectomia em adultos e defeito na
opsonização, são os maiores fatores reconhecidos de predisposição a infecções
bacterianas em pacientes com AF (RAGHUPATHY et al, 2000).
Pessoas com AF apresentam retardo na puberdade em ambos os sexos, e
mulheres apresentam problemas reprodutivos (SALZANO & BORTOLINI, 2002).
1.5 HAPLÓTIPOS DO AGRUPAMENTO (CLUSTER) DO GENE BETA GLOBINA
É do conhecimento geral que indivíduos são geneticamente diferentes, e
que algumas das diferenças entre as pessoas representam alterações genéticas
patológicas. O locus β está localizado no cromossomo 11, em uma região que tem
sofrido uma série de transformações através do tempo. Usando uma série de
enzimas de restrição, que identifica alterações específicas do DNA, é possível
verificar a constituição das regiões adjacentes ao locus beta. Uma determinada
ordem de marcadores herdada em bloco, observada em um cromossomo particular
é denominada haplótipo. Haplótipos específicos são encontrados no cromossomo
portador do alelo β
S
(Figura 8) (SALZANO & BORTOLINI, 2002).
27
Figura 8 – Haplótipos HbS
Fonte: Naoum, 1997
Os haplótipos tem sido úteis marcadores para estudos antropológicos e
para a definição do fluxo do alelo β
S
em populações humanas. Em cada uma das
quatro regiões da África e uma da Ásia onde o alelo β
s
é altamente prevalente, o
alelo anormal está associado com um haplótipo diferente do agrupamento do gene
beta. Isso significaria que a mutação falciforme ocorreu pelo menos cinco vezes
durante a evolução humana (MAGAÑA et al, 2002; INATI et al, 2003). Essa
interpretação tem sido proposta, em contradição a uma explicação alternativa de
que a mutação da Hb S ocorreu uma vez na África e provavelmente uma vez na
Índia. Após sua extensão inicial na África, o alelo anormal fixou-se em diferentes
haplótipos pela conversão gênica sofrida pela seleção local da malária. Isto
explicaria a predominância de haplótipos distintos em diferentes regiões. Exceto
para a Índia e Arábia, a presença do alelo falciforme fora da África é conseqüência
da migração voluntária ou forçada (ZAGO et al, 1999).
Os haplótipos β
S
representam potencialmente diferentes origens étnicas e
geográficas; o haplótipo Benin (Ben) originado na costa oeste Africana, alcança o
norte da África (Argélia e Tunísia), oeste da Arábia e sul da Europa (Portugal,
28
Sicília e Grécia). O haplótipo Bantu foi originalmente identificado na República da
África Central (por essa razão, é algumas vezes conhecido como haplótipo CAR) e
após, em várias populações de dialeto Bantu, em regiões geográficas separadas
do sul da África. O haplótipo Senegal (Sen) originado no oeste da África Atlântica,
o Camarão (Cam) ao longo da costa oeste da África e o haplótipo Árabe-indiano
ocorre no sub-continente Indiano e a leste da península Arábe, sendo também
chamado haplótipo Indo-Árabe (Figura 9) (ZAGO et al, 1999; GONÇALVES et al,
2003; MAGAÑA et al, 2002; INATI et al, 2003).
Figura 9 - Distribuição dos haplótipos na África e Ásia
Fonte: Adaptado de: www.starmfront.org/.../african_haplotype.gif
Continente Africano
29
Do século XVI ao XIX, aproximadamente 10 milhões de escravos Africanos
foram trazidos da África para as Américas; deste total, aproximadamente 400.000
foram para os Estados Unidos e 3 milhões para o Brasil. Nos Estados Unidos e
Jamaica o haplótipo Benin é mais freqüente, seguido pelo CAR e Senegal em
proporções equivalentes, devido a um tráfico escravo originado principalmente na
costa oeste da África Central, nas regiões chamadas Costa Dourada, Golfo de
Benin e Golfo de Biafra, correspondendo a uma região que hoje se estende de
Gana ao Cabo Lopez no Gabão (ZAGO et al, 1999).
A doença vista nas Américas do Norte e Sul, no Caribe e no Reino Unido é
predominantemente de origem africana e a maior parte dos afetados é do
haplótipo Benin, embora o CAR seja mais freqüente no Brasil (ZAGO et al,1992).
Além disso, o alelo causador da AF também esta espalhado em volta do
Mediterrâneo, ocorrendo na Sicília, sudeste da Itália, norte da Grécia e costa sul
da Turquia, embora todos esses sejam do haplótipo Bantu (SERJEANT, 2001).
O haplótipo Camarão foi identificado em Guadalupe, Venezuela e Suriname,
com uma baixa freqüência (3%). Neste ponto está uma marcada diferença nas
freqüências relativas dos haplótipos CAR e Benin, se nós compararmos a América
Central, Venezuela e Suriname com o Brasil. Enquanto no grupo anterior de
nações, o haplótipo Benin é o mais freqüente, o contrário é verificado no Brasil,
onde o CAR é o mais prevalente. O haplótipo Senegal mostra uma distribuição um
pouco irregular na América Latina, com alta prevalência em Cuba, Guadalupe,
Venezuela e Nordeste do Brasil (SALZANO e BORTOLINI, 2002). Ainda em
relação ao haplótipo Camarão, este pode ser encontrado em 50% dos países
americanos. Na África sua distribuição está restrita à região Centro-Oeste, mais
especificamente ao grupo étnico Ethom de Camarão (BORTOLINI & SALZANO,
1999).
O Brasil, um grande país continental, tem uma interessante distribuição de
hemoglobinopatias, resultado do influxo de muitos grupos imigrantes diferentes e
30
do comércio escravo dos séculos XVIII e XIX (FIGUEIREDO et al, 1996). A
população brasileira tem origem étnica heterogênea e está desigualmente
distribuída neste país de dimensões continentais. Até o fim da 2ª Guerra Mundial o
Brasil recebeu quase cinco milhões de imigrantes europeus, que se fixaram
principalmente no Sul e Sudeste. Todos estes grupos raciais foram gradualmente
se miscigenando, embora as diferenças regionais sejam ainda notórias. Essa
característica da população brasileira tem conseqüências importantes para as
doenças hereditárias que estão associadas com etnia: suas freqüências são
diferentes em várias regiões do país, refletindo uma variedade de origens étnicas
com variável grau de miscigenação (ZAGO et al, 1999).
Segundo Salzano & Bortolini 2002, para o novo mundo, a mutação Hb S foi
introduzida na América principalmente pelo fluxo gênico dos Africanos, durante a
época da escravatura, e a caracterização dos haplótipos pode fornecer uma
indicação do local de origem desta migração forçada.
O primeiro estudo para determinação de haplótipos entre pacientes com AF
no Brasil foi realizado por Zago et al em 1992, e demonstrou que as freqüências
dos tipos mais comuns de haplótipos β
S
entre pacientes da raça negra, eram
diferentes daquelas observadas nos Estados Unidos, onde o haplótipo Benin é o
mais prevalente. Esta diversidade biológica seria a conseqüência de diferentes
padrões do comércio escravo para as Américas do Norte e do Sul. Neste estudo,
foram incluídos 37 pacientes homozigotos para a AF, regularmente acompanhados
em um hospital universitário do estado de São Paulo. Dos 74 cromossomos
estudados 66.2% eram do tipo CAR, 23% do tipo Benin e foi encontrado apenas
um cromossomo do tipo Senegal. Haplótipos atípicos foram encontrados em 9,5%
dos cromossomos estudados. As combinações genotípicas mais comuns
encontradas foram CAR/CAR (19 pacientes) e CAR/Benin (9 pacientes) (ZAGO et
al, 1992).
31
Em 1994, Costa et al compararam as freqüências dos haplótipos β
S
entre
73 pacientes com AF dos Estados de São Paulo e da Bahia. As amostras de São
Paulo apresentaram 61% de cromossomos do tipo CAR, 38% do tipo Benin e
apenas um haplótipo atípico. Entre as amostras da Bahia, 49% eram do tipo CAR
e 51% eram do tipo Benin. Este estudo demonstrou dois padrões distintos de
distribuição de haplótipos para os dois grupos de pacientes, que também diferem
das freqüências observadas nos Estados Unidos, Jamaica e África (COSTA et al,
1994). Nesse mesmo ano, também em São Paulo, Gonçalves et al determinaram
os haplótipos em 74 pacientes homozigotos para AF. Dos 148 cromossomos
estudados, 62,2% eram do tipo CAR, enquanto 33,8% eram do tipo Benin. Os
haplótipos atípicos foram encontrados com uma freqüência de 4% (GONÇALVES
et al, 1994).
Para comparar as características da AF no Brasil com outras localidades,
Figueiredo et al estudaram em 1996, os efeitos dos haplótipos
β
S
e da α-
talassemia sobre as características clínicas e hematológicas em 85 pacientes
homozigotos para AF do Hospital Universitário do Estado de Campinas
(UNICAMP) e do Hospital Universitário da Escola Paulista de Medicina. Dos 85
pacientes analisados, 50 eram do sexo feminino e 35 do sexo masculino. Suas
idades variaram entre 4 e 49 anos. As freqüências dos haplótipos encontradas
neste estudo foram: 36,5% CAR/CAR, 44,7% CAR/Benin, 11,7% Benin/Benin,
5,8% CAR/Atípico e 1,2% Benin/Atípico. Dos 170 cromossomos analisados
61,76% eram do tipo CAR, 34,71% do tipo Benin e 3,53% Atípicos (FIGUEIREDO
et al, 1996).
Os estudos citados acima parecem demonstrar a prevalência do haplótipo
CAR entre os pacientes com AF do estado de São Paulo.
Em 1996, Wagner et al estabeleceram a freqüência dos haplótipos β
S
em 27
pacientes (54 cromossomos) com anemia falciforme do Hospital de Clínicas de
32
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e encontraram 72% de cromossomos do tipo
Bantu, 17% do tipo Benin, 2% do tipo Senegal e aproximadamente 5% de
cromossomos Atípicos (WAGNER et al, 1996).
Pante-de-Sousa et al investigou em 1998 30 pacientes com AF do Centro de
Hematologia e Hemoterapia do Estado do Pará. A combinação de haplótipos
encontrada foi: 43% CAR/CAR, 47% CAR/Benin, 7% Benin/Benin e 3%
Senegal/Senegal. Essas freqüências não diferiram significativamente daquelas
observadas no Estado de São Paulo (PANTE-DE-SOUSA et al, 1998). Em 1999,
os mesmos autores analisaram os haplótipos do gene da beta globina em
indivíduos afro-descendentes de três comunidades da região Amazônica. Entre os
20 cromossomos β
S
estudados na amostra total, 60% tinham o haplótipo do tipo
CAR, 10% do tipo Benin e 30% do tipo Senegal. Este estudo evidenciou uma
maior freqüência do haplótipo Senegal e menor freqüência do haplótipo Benin
entre afro-descentes da região Amazônica comparada a outras regiões do Brasil
(PANTE-DE-SOUSA et al, 1999).
No Rio de Janeiro em 2001, Fleury estudou 74 pacientes com AF
acompanhados no Instituto de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti –
HEMORIO, de ambos os sexos, com idades variando entre 2 e 51 anos,
encontrando 63,6% CAR/Benin, 21,6% CAR/CAR, 12,2% Benin/Benin, 1,3%
CAR/Senegal e 1,3% Benin/Senegal. Dos 148 cromossomos analisados 54% eram
do tipo CAR, 44,6% do tipo Benin e 1,4% do tipo Senegal. A predominância do
haplótipo CAR parece estar de acordo com os outros estudos realizados no Brasil
(FLEURY, 2001).
Gonçalves et al., 2003, analisaram 80 pacientes AF recrutados na Fundação
Hemocentro da Bahia – HEMOBA e no Hospital Universitário Professor Edgar
Santos em Salvador, Bahia. A idade dos pacientes variou entre 1,6 e 51,5 anos,
sendo 40 do sexo masculino e 40 do sexo feminino. Neste estudo, as freqüências
dos haplótipos encontradas foram 21,24% CAR/CAR, 21,25% Benin/Benin, 46,25%
33
CAR/Benin, 7,5% CAR/Atípico, 1,25% Benin/Atípico, 1,25% Benin/Senegal e
1,25% Atípico/Atípico. Interessantemente, neste estudo os genótipos homozigotos
CAR e Benin foram encontrados em freqüências similares (GONÇALVES et al,
2003).
Recentemente, em 2005, Lyra et al estudaram 71 pacientes pediátricos,
sendo 31 de São Paulo e 40 de Salvador. A idade desses pacientes variou entre 3
e 18. Entre os pacientes de São Paulo, 15 pacientes do sexo masculino e 16 do
sexo feminino e, entre os pacientes de Salvador, 15 eram do sexo masculino e 25
do sexo feminino. Dos 126 cromossomos estudados nas duas cidades, a
distribuição dos haplótipos foi: Benin/CAR (54% Salvador x 40% São Paulo),
CAR/CAR (32% São Paulo x 20% Salvador) e os haplótipos atípicos foram mais
freqüentes em São Paulo (18% São Paulo x 6% Salvador). Neste estudo, o
cromossomo Benin predominou em Salvador e o CAR teve maior freqüência em
São Paulo (LYRA et al, 2005).
Estes dados revelam uma heterogeneidade dentro do país, com uma
proporção similar de haplótipos CAR e Benin na Bahia quando comparadas ao
Sudeste, e o haplótipo CAR é predominante em todas as outras regiões.
Finalmente o haplótipo Senegal está irrgularmente distribuído no Brasil, uma
conseqüência do pequeno tráfico de escravos provenientes de Senegambia
(Senegal, Gambia, Serra Leoa e Guiné). Apesar de moderadas variações em
relação à origem dos escravos que vieram para cada região geográfica do Brasil,
o haplótipo CAR predomina por todo o país, devido ao efeito miscigenante
introduzido pelo tráfico escravo interno e, mais recentemente, pela migração
interna (Zago et al, 1999).
A maioria dos cromossomos com o alelo β
S
tem um dos cinco haplótipos
comuns, embora em uma grande série de pacientes com AF há uma minoria de
cromossomos (~5%) associados com haplótipos menos comuns, geralmente
denominados haplótipos atípicos (ZAGO et al, 2001b).
34
Segundo Zago et al 2000, os haplótipos atípicos observados em associação
com o gene β
S
são gerados por diversos mecanismos genéticos: (a) mudança de
um nucleotídeo em um dos sítios polimórficos de restrição; (b) simples e duplo
Crossing-over entre dois haplótipos β
s
típicos, ou mais freqüentemente entre um
típico haplótipo β
s
e um haplótipo β
A
diferente; e (c) transferência não recíproca
de seqüência (conversão). Romana et al 2000, verificaram que 15 dos 20
diferentes haplótipos atípicos teriam se originado por recombinação (SALZANO &
BORTOLINI, 2002).
Um estudo envolvendo 244 pacientes com AF (156 brasileiros e 88 de
Benin) analisou 488 cromossomos, sendo que destes, 15 (3,1%) eram haplótipos
atípicos. A freqüência de haplótipos atípicos observada na amostra brasileira foi
de 3,9% e na amostra de Benin foi de 2,2%. O percentual de haplótipos atípicos
encontrados nas duas populações variou entre 5,3 e 7,0% (ZAGO et al, 2001b).
A natureza do comércio escravo praticado no continente Americano
desintegrou a estrutura familiar escrava, permitindo uma mistura entre pessoas de
diferentes grupos étnicos Africanos. A mistura com não Africanos ou populações
descendentes de não Africanos, pode ser estimada a uma razão de 1,3%, 2,5% e
3% por geração nos Estados Unidos, Brasil e Cuba, respectivamente. Este alto
grau de miscigenação pode ter favorecido o aparecimento de haplótipos atípicos
por recombinação (BORTOLINI & SALZANO, 1999).
1.6 A ANEMIA FALCIFORME E OS HAPLÓTIPOS
Nigel 1984 levantou a possibilidade que três diferentes padrões clínicos
podem estar associados com os três principais haplótipos. Assim, a AF poderia
ser tipo Senegalês, Benin ou CAR. Essa possibilidade torna a expressão clínica
da AF muito variável e seqüências polimórficas podem ocorrer dentro do cluster β,
que podem modular a expressão da doença. Existem evidências que o nível de
35
hemoglobina fetal determina, em parte, o nível de células densas em pacientes
com AF, por isso, a modulação da síntese da hemoglobina fetal pode ter um efeito
significativo no quadro clínico. Como cada haplótipo pode estar associado com
diferentes seqüências controladoras da expressão da hemoglobina fetal (NIGEL,
1984).
A severidade clínica ou fenótipo da anemia falciforme estaria relacionado
aos haplótipos β
S
, estando os haplótipos Senegal e Indo-Árabe associados a um
quadro clínico moderado, Bantu a um quadro clínico grave e, Benin e Camarão,
intermediário. Os haplótipos Senegal e Indo-Árabe apresentariam níveis mais
elevados de Hemoglobina fetal (Hb F), com uma média de 15-30%. Os níveis de
Hb F nos outros haplótipos ficariam abaixo de uma média de 5-15% (ADEKILE,
2005).
Alguns autores como Powars et al, 1990 e Ashley et al, 2000, entre outros,
concordam que a variabilidade da expressão clínica da AF não pode ser explicada
somente pela substituição da valina pelo ácido glutâmico na cadeia β
S
. A
severidade da expressão da AF poderia resultar de diversos polimorfismos do
cluster β
S
e sua interação com alfa talassemia. Dependendo da combinação do
haplótipo do gene β
S
e da posição do gene α, há uma divergência das
manifestações patofisiológicas da doença.
Na África, bem como nos Estados Unidos, pacientes falcêmicos com o
haplótipo CAR têm um risco aumentado em duas vezes de complicações e morte
quando comparados com pacientes de outros haplótipos (ASHLEY et al, 2000). Na
presença do haplótipo Senegales, a saúde geral do paciente é melhor; com o
CAR, é sempre pior, e com o Benin é intermediária. Pacientes homozigotos para o
haplótipo Senegal e alfa talassemia tem raramente crises falcêmica durante a sua
vida. Contrariamente, em pacientes com um haplótipo CAR e uma deleção no
36
gene α, a alfa talassemia diminui o grau de prejuízo aos tecidos, mas pode ocorrer
uma séria lesão óssea (POWARS et al, 1990).
Os haplótipos do agrupamento do gene β-globina podem estar associados
com aspectos clínicos especiais e hematológicos específicos da AF. Entretanto, o
possível papel dos haplótipos β
s
é controverso, visto que diferentes trabalhos
sugerem que os haplótipos tem pouca influência no quadro clínico e hematológico
da AF (FIGUEIREDO et al, 1996).
Para comparar as características da AF no Brasil com outros locais,
Figueiredo et al 1996, estudaram os efeitos dos haplótipos do cluster do gene β-
globina e alfa talassemia sobre os aspectos clínicos e hematológicos de 85
pacientes com AF no Brasil. Não foram encontradas diferenças nos valores da
concentração de hemoglobina entre os vários haplótipos, e nem no Volume
Corpuscular Médio (VCM). Entretanto houve uma diferença estatisticamente
significativa (p<0,05) nos níveis de Hb F entre os haplótipos CAR e Benin. Em
relação aos aspectos clínicos examinados (AVC, necrose asséptica, úlcera de
pernas, litíase biliar), não houve diferença estatística significativa entre os grupos.
Foi concluído que, no grupo estudado, os haplótipos do cluster do gene β
s
parecem não influenciar a concentração de hemoglobina ou as manifestações
clínicas selecionadas da AF. Não houve diferenças estatisticamente significativas
na freqüência das complicações clínicas entre pacientes com o haplótipo CAR e
pacientes com o haplótipo Benin. Outros relatos mostram que, com o alto nível de
hemoglobina fetal que ocorre em portadores de haplótipos Senegal e Arábia
Saudita, a hemólise é menor, e consequentemente há menos anemia. Nestes
relatos, o haplótipo CAR foi acompanhado por alta prevalência de úlceras nas
pernas, comparado ao haplótipo Benin homozigoto. Ainda, em outros estudos, os
níveis médios de hemoglobina fetal foram mais baixos no haplótipo CAR
homozigoto que no haplótipo Benin homozigoto, ou naqueles com haplótipos
CAR/Benin. Os baixos níveis de hemoglobina fetal em pacientes com o haplótipo
37
CAR mostram estarem associados com as características clínicas mais severas da
doença (FIGUEIREDO et al, 1996).
Um estudo realizado em 2001, com o objetivo de elucidar os fatores de
risco associados com AVC em crianças SS, avaliou a prevalência da alfa-
talassemia e a distribuição dos haplótipos β
s
entre 700 crianças no Hospital
Infantil de Michigan. Neste estudo, o AVC acometeu 6% das crianças, ocorrendo
mais freqüentemente em meninas e sendo mais prevalente entre pacientes
Benin/CAR. Além disso, os autores sugerem que haplótipos CAR e atípico podem
ser mais preditivos de gravidade da doença do que outros haplótipos. Para os
autores deste estudo, os dados sugerem que meninas neonatas com quatro ou
mais genes α cujo haplótipo β
s
é Benin/CAR ou atípico e, meninos com quatro
genes α em associação com o haplótipo CAR/CAR, parecem ter um maior risco
para AVC que outras combinações (SARNAIK & BALLAS, 2001).
Em um estudo onde foi avaliada a correlação entre as manifestações
clínicas em pacientes Libaneses com anemia falciforme e os haplótipos β
S
,
surpreendentemente, os níveis mais elevados de Hb F estavam associados aos
casos clínicos mais graves. Quando os valores de Hb F foram correlacionados às
crises de dor, os casos mais graves tinham valores elevados de Hb F (2).
No estudo realizado em 2005, Lyra et al avaliaram além da distribuição dos
haplótipos, os aspectos clínicos, hematológicos e moleculares de pacientes
pediátricos de São Paulo e Salvador. Pacientes com os genótipos CAR/Benin e
CAR/CAR apresentaram mais hospitalizações devido a vaso-oclusão em ambas as
cidades. Infecções foram associadas com Benin/CAR e Benin/Benin em Salvador e
Benin/CAR e CAR/CAR em São Paulo. AVC foi mais freqüente no genótipo
CAR/Benin em Salvador e CAR/CAR em São Paulo. Colelitíase foi associada com
o grupo atípico em Salvador e o genótipo CAR/CAR em São Paulo (LYRA et al,
2005).
38
Os estudos relatados acima demonstram que ainda existem controvérsias
quando relacionamos os haplótipos com as manifestações clínicas em pacientes
com AF, confirmando a necessidade de estudos complementares, bem como o
envolvimento de outras abordagens.
Todas as doenças humanas têm um fator genético de menor ou maior
influência. Além disso, o grau e a variabilidade do efeito pode ser modulado pelo
sexo e a origem étnica. A epistasia, interação entre dois ou mais genes de
diferentes loci (genes modificadores), é um tópico de interesse atual na genética.
Essa interação deve ter um efeito fenotípico como consequência: um gene
epistático pode amenizar ou reforçar a expressão de outro gene (WOLF et al,
2000).
A nível fenotípico, a AF é uma doença multigênica. Isto é clinicamente
evidente, pois cada paciente apresenta aproximadamente 3-5 das potenciais
complicações clássicas com significativas variações na intensidade das
manifestações. Além disso, genes pleiotrópicos (genes envolvidos em eventos
patofisiológicos secundários, cada um com potencial de modificação da gravidade
e das características da hemólise, reposição da medula, osteonecrose,
etc.).Assim, genes epistáticos modulam significativamente a patofisiologia da
doença em cada paciente em particular. Os eventos secundários são parte
importante do fenótipo e explicariam a intensa diferença entre os indivíduos na
severidade da doença (NIGEL, 2005).
Uma complicação em que efeitos epistáticos têm sido estudados é a
obstrução cerebrovascular, uma causa comum de morbidade e mortalidade na AF.
Aproximadamente 10% dos pacientes apresentam um AVC antes dos 20 anos de
idade, e outros 22% apresentam infarto silencioso detectado por Imagem por
Ressonância Magnética (MRI), que muitas vezes está acompanhado por
deficiências motoras e cognitivas. A variação fenotípica entre pacientes Hb SS
39
sugere uma influência de genes modificadores e/ou ambiental (DRISCOLL et al,
2003).
Na última década, um número de genes epistáticos e genes pleiotrópicos
tem sido definidos na AF, e muitos outros estão hoje na categoria de candidatos
potenciais. A tecnologia de expressão Microarray e o seqüenciamento prometem
acelarar o entendimento sobre a multigenicidade desta doença, com um conceito
individualizado (NIGEL, 2001a). O entendimento da influência dos genes
envolvidos na modulação da complexa patofisiologia da AF pode permitir a
predição do fenótipo do paciente e auxiliar no manejo das decisões terapêuticas
(NIGEL et al, 2001b).
Recentemente, alguns autores como Chies & Nardi, 2001, têm abordado a
AF como uma doença inflamatória crônica. A primeira indicação da existência de
uma condição inflamatória é a presença de leucocitose. De acordo com as
citocinas que produzem, as células T auxiliares (Th) podem ser divididas em dois
subgrupos: Th1 e Th2. As células Th1 agem principalmente na defesa mediada por
fagócitos contra infecções e são também relacionadas com inflamação, enquanto
que respostas Th2 estão envolvidas com reações alérgicas e supressão da
ativação de macrófagos. Pacientes propensos a uma maior resposta do tipo Th1
apresentam maior morbidade que aqueles propensos a Th2. Assim, a explicação
para a variabilidade clínica em pacientes com AF seria a tendência de cada
paciente a um nível de inflamação (CHIES & NARDI, 2001).
1.7 DIAGNÓSTICO DA ANEMIA FALCIFORME
O diagnóstico laboratorial das hemoglobinopatias falciformes é
relativamente simples. A eletroforese de Hb alcalina em acetato de celulose
continua sendo a metodologia básica para a qualificação de grande parte das
hemoglobinas mutantes. A existência de outras hemoglobinas mutantes que
40
podem imitar as características eletroforéticas da Hb S, obriga o uso de mais de
um método de análise, para assegurar a correta identificação. Métodos simples,
como o teste de falcização, a prova de solubilidade ou a eletroforese ácida em
ágar, podem ser utilizados para esse fim. Atualmente, a introdução de técnicas
alternativas, como a focalização isoelétrica e a cromatografia líquida de alta
performance têm permitido melhor análise das hemoglobinas variantes. Essas
técnicas devem ser aplicadas em conjunto com as informações da história e
exame físico, contagens automatizadas das células sangüíneas e análise do
esfregaço do sangue periférico. As contagens sangüíneas (Hb, HCT, VCM), bem
como os níveis de hemoglobinas (Hb S e Hb F), são muito variáveis dentro das
várias doenças que podem ser classificadas como doença falciforme (Hb SS,
HbSC, etc) (NAOUM, 1997).
Através da biologia molecular, utilizando a técnica de PCR (“Polymerase
Chain Reaction”), é possível multiplicar uma seqüência do DNA no qual se
encontra a mutação. Um diagnóstico baseado no genótipo pode ser estabelecido
usando-se a análise do DNA de alguma célula nucleada disponível como, por
exemplo, células de vilosidades coriônicas e de sangue periférico. Através de
células sangüíneas, o diagnóstico por DNA pode também ser aplicado para
triagem em sangue de cordão umbilical e para o diagnóstico de algumas
hemoglobinopatias S de difícil definição, especialmente na ausência de estudos
familiares (NAOUM, 1997).
41
Tabela 1
Principais síndromes falcêmicas relacionadas com suas
características laboratoriais
Síndrome
falcêmica
Hb g/dl
Média
(variação)
Htc %
Média
(variação)
VCM
fl
Hb S
%
Hb F
%
Hb A
%
SS 7,5
(7-9)
22
(18-30)
N 90-100 2-10 -
S/β
0
8,0
(7-10)
25
(20-35)
70-90 5-20 -
S/β
0
11,0
(9-11)
30
(25-40)
50-80 5-10 10-40
SD 11,0
(9-13)
30
N 40-50 0 Hb D;
30-40
SS/Tal.α
0
11,0
(9-11)
30
(25-40)
80-90 10-20 Hb H:
1 a 5%
SC 11,0
(9-13)
30
(25-40)
N 45-50 2-5 Hb C:
45-50
S/PHHF 12,0
(12-14)
35
(32-40)
N 60-80 15-30 -
AS 13,0
(12,16)
40
(38-50)
N 30-40 - 60-70
Fonte: NAOUM, P. C.; DOMINGOS, C.R.B. – Atualização de Técnicas para
Hemoglobinopatias Centro de Referência em hemoglobinopatias – UNESP – São José do
Rio Preto – SP – 1995.
A realização do hemograma, com especial atenção à morfologia
eritrocitária, contribui muito para se chegar a um resultado seguro. A tabela 2
mostra algumas alterações laboratoriais específicas para a AF (NAOUM, 1997).
42
Tabela 2
Alterações laboratoriais específicas na anemia falciforme
Concentração da Hb S: 90 a 100%
Dosagem de Hb Fetal: 2 a 10%
Tipo de anemia: Normocítica e normocrômica
Dosagem de Hb g/dl: 7-9
Reticulócitos: 5 a 30%
Leucócitos: Acima de 10 mil durante as crises.
Pode ocorrer desvio à esquerda
Plaquetas: Plaquetose, com formas anormais.
Fragilidade osmótica: Diminuída.
Fragilidade térmica e mecânica Aumentada.
Bilirrubina indireta: Elevada, acima de 5mg/dl.
Urobilinogênio urinário: Elevado.
Urobilinogênio fecal: Elevado.
Hematúria: Freqüente.
Ácido úrico sérico: Pode estar elevado.
Fosfatase alcalina sérica: Elevada nas crises.
Medula óssea: Hiperplasia das células eritróides.
Ferro sérico: Normal ou aumentado.
Fonte: NAOUM, 1997.
O diagnóstico precoce tem demonstrado significativo impacto na morbidade
e mortalidade dos pacientes, pois permite 1) introduzir precocemente os recém-
nascidos afetados em programas de assistência médica específica; 2) educar os
pais a identificar os primeiros sinais e sintomas das complicações de risco e como
proceder para procurar a intervenção médica apropriada; 3) iniciar precocemente
43
a profilaxia contra infecções pneumocócicas, uma das principais causas de
mortalidade nesses pacientes; 4) determinar o risco de outras complicações
graves como o AVC e instituir tratamento precoce correspondente; e 5) realizar
aconselhamento genético (SILLA, 1999).
1.8 TRATAMENTO
A expressão do fenótipo da AF varia amplamente entre diferentes
pacientes. O tratamento continua a ser primariamente de natureza paliativa,
sintomática e preventiva. Capacitação e educação são os maiores aspectos de um
apoio cuidadoso (BALLAS, 2002).
O tratamento sintomático inclui o controle da dor, transfusão de sangue e
tratamento da falência de órgãos. O tratamento da dor segue certos princípios que
incluem avaliação, individualização da terapia e utilização de analgésicos não
opióides e opióides para adequado alívio. A troca transfusional ou ex-sanguíneo
transfusão é indicada para pacientes com doença vascular grave, sobretudo
cerebral, garantindo um nível seguro de Hb A. A síndrome respiratória aguda é a
complicação clínica mais comum, e seu tratamento deve ser agressivo, incluindo
adequada ventilação, uso de múltiplos antibacterianos e simples transfusão de
sangue ou troca transfusional, dependendo de sua severidade (BALLAS, 2002).
A terapia preventiva inclui penicilina profilática em crianças, terapêutica
transfusional em pacientes com AVC, e hidroxiuréia em pacientes com freqüentes
episódios dolorosos ou complicações mais sérias (BALLAS, 2002).
A inibição da falcização tem incluído agentes anti-falcizantes como o
cianato e a hidroxiuréia. Estudos do cianato mostram, que este composto leva a
efetiva carbamilação das moléculas de Hb S e redução da falcização, mas não tem
efeito na freqüência das crises álgicas, além de poder apresentar potencialmente
sérios efeitos colaterais. A hidroxiuréia (HU) é um agente potencialmente menos
tóxico que aumenta os níveis de Hb F. Ambos os aspectos clínico e laboratorial da
44
anemia falciforme são influenciados pela concentração de Hb F. Pacientes com
níveis mais altos de Hb F apresentam menos episódios de dor e maior sobrevida
(SERJEANT, 2001).
A hidroxiuréia é uma terapia efetiva para adultos com AF. Em um Estudo
Multicêntrico da Hidroxiuréia (MSH) controlado, pacientes que recebiam a HU
tiveram uma taxa mais baixa de eventos dolorosos, síndrome respiratória aguda,
transfusões e hospitalizações comparadas com pacientes que receberam placebo.
A principal toxicidade observada neste estudo foi à depressão transiente de
leucócitos, plaquetas e concentração de hemoglobina (CHARACHE et al, 1995).
O Estudo Multicêntrico Fase I/II da HU em crianças com AF (HUG-KIDS),
planejado para determinar a dose máxima tolerada (MTD) da HU e tratar uma
coorte de 50 crianças gravemente afetadas por 1 ano, mostrou que a HU aumenta
significativamente a concentração de hemoglobina, o MCV, Hb F e o percentual de
células-F em relação aos valores pré-tratamento. Além disso, verificou-se que
pacientes pediátricos e adultos apresentaram toxicidade hematológica similar.
Nenhum efeito adverso sobre o crescimento foi observado durante o período de
tratamento (KINNEY et al, 1999).
Desde os primeiros resultados do MSH em pacientes adultos com AF, a HU
tem sido usada com sucesso em pacientes com crises dolorosas recorrentes e/ou
síndrome respiratória aguda. Além de seu efeito mielossupressor e da habilidade
para induzir a síntese de Hb F, a HU também tem mostrado reduzir a adesão dos
eritrócitos falcizados às células endoteliais e modular a ativação das mesmas e a
geração de óxido nítrico. O papel da HU em crianças muito jovens ainda requer
mais estudos, questões permanecem sem resposta a respeito da manutenção da
eficácia e segurança deste tratamento por longo tempo, especialmente em
crianças, as quais estão potencialmente expostas a HU por décadas. A inclusão
de pacientes no Registro Belga de Pacientes com Doença Falciforme tratados com
HU está em andamento, tendo sido aberto em 1993. Esse registro tem permitido a
45
reavaliação da eficácia e segurança da HU, especialmente em pacientes
pediátricos, e a avaliação da possível função na prevenção de AVC primário ou
recorrente. Esta experiência confirma até o momento, o benefício clínico do
tratamento com a HU, até mesmo em crianças muito jovens. A efetividade da HU
para prevenção primária ou secundária de AVC é possível, e deve continuar a ser
avaliada prospectivamente por meio de ensaios randomizados (GULBIS et al,
2005).
Pesquisas sobre o uso de terapias como inalação de óxido nítrico, L-
arginina, Ultra-sonografia Doppler Transcranial e o desenvolvimento de programas
de transfusão de sangue, estão levando a progressos na redução da morbidade e
mortalidade, melhorando a qualidade de vida de pacientes com AF (JENKINS,
2002).
Os componentes de um amplo cuidado incluem informações pais/paciente,
aconselhamento genético, serviço social, prevenção de infecções, recomendação
de dieta e suplementação, psicoterapia, cuidados médico (especialista renal e
outros), saúde da mãe e da criança, ortopedia e cirurgia geral, controle da dor,
fisioterapia, cuidados com os olhos e dentes, serviço de dependência de drogas e
enfermagem especializada em doenças falciformes. A cooperação das pessoas
afetadas é indispensável para um total cuidado. Os trabalhos em sociedade
envolvendo o hospital, o serviço comunitário de saúde e os agentes voluntários,
acentuam o sucesso da equipe multidisciplinar. O cuidado holístico melhora a
qualidade de vida das pessoas afetadas, reduz os números de hospitalizações e
comprometimentos. A morbidade é reduzida pela detecção prematura e tratamento
das complicações crônicas (OKPALA et al, 2002).
O diagnóstico neonatal é o melhor caminho para um tratamento prematuro
na prevenção de sérias doenças pneumocócicas, garantindo suficiente hidratação
e apropriada vigilância, bem como fornecimento de educação familiar. Muitos
progressos têm sido feitos na última década no tratamento prematuro de retinites,
46
litíases biliares, e necrose asséptica do quadril. É também importante garantir
exata prescrição para hidroxiuréia (BENGUE & CASTELLO, 2001).
Desordens hereditárias da hemoglobina atualmente não têm cura, em
pacientes adultos. O transplante de medula óssea tem mostrado ser uma
possibilidade de cura para crianças com AF (BALLAS, 2001).
Finalmente, a terapia gênica continua a ser investigada em nível de
modelos experimentais de camundongos transgênicos (BALLAS, 2002).
1.9 PERFIL ECONÔMICO
Sabe-se que populações pobres apresentam maiores taxas de mortalidade
por doenças em geral, principalmente aquelas infecto-contagiosas. A explicação
para tal fato é complexa e envolve diferentes aspectos. A dificuldade de adquirir
medicamentos e de apresentar condições de moradia adequadas, o acesso difícil
a serviços de saúde de qualidade, a deficiente compreensão acerca da prevenção,
diagnóstico das doenças e seus tratamentos, a falta de adesão às orientações
médicas, e talvez a presença de doenças com comportamento biológico mais
agressivo são as principais causas dessa associação (FISCHER, 2004). Como
citado anteriormente, pacientes portadores de anemia falciforme necessitam de
um amplo cuidado, o que evidentemente envolve condições econômicas que
permitam o seu acesso a terapia, alimentação, saneamento básico e cuidados
médicos adequados. A maioria dos pacientes atendidos no Centro de Atenção
Global para Pacientes Portadores de Anemia Falciforme e outras
hemoglobinopatias do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, são oriundos de Porto
Alegre, região metropolitana e cidades do interior do estado apresentando
diferentes perfis econômicos, o que pode ter importante influência no sucesso do
resultado terapêutico.
47
2 JUSTIFICATIVA
A AF é a doença monogênica mais comum no Brasil sendo considerada um
problema de saúde pública. A variabilidade clínica conferida pelos diferentes
haplótipos pode permitir que sejam detectados precocemente pacientes em risco
de desenvolver as complicações mais severas ou com risco elevado de
mortalidade precoce. Para tais pacientes, o Transplante de Células Tronco
Hematopoéticas (TCTH) poderia ser indicado.
O TCTH de medula óssea ou de cordão umbilical têm sido modalidade de
sucesso na terapia curativa em algumas crianças com AF. No entanto, a indicação
do TCTH deve ser muito criteriosa já que esta modalidade de tratamento se
acompanha de morbi-mortalidade considerável, sobretudo em indivíduos das
classes sociais D e E (Fischer, 2004). Considerando a relevância do trabalho de
Fischer, 2004 quanto a morbi-mortalidade que acompanha o TCTH, principalmente
em classes sócio-econômicas D e E, se torna fundamental a avaliação da
severidade do quadro clínico do paciente falcêmico frente aos riscos ou benefícios
dessa modalidade de tratamento.
A identificação precoce de determinantes de severidade do quadro clínico
da AF, pode contribuir para um manejo adequado da doença e conseqüente
aumento da sobrevida e melhor qualidade de vida do paciente falcêmico.
48
3 OBJETIVOS
3.1 Determinar a freqüência dos haplótipos do agrupamento do gene β-globina
em uma amostra de pacientes com anemia falciforme.
3.2 Relacionar a gravidade das manifestações clínicas dos pacientes com
anemia falciforme com os haplótipos encontrados e a casse sócio-
econômica.
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.
1
Laboratory of Hematopoietic Cell Culture and Molecular Analysis, Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
2
Laboratory of immunogenetics, Departamento de Genética, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
Corresponding author: Lúcia Mariano da Rocha Silla
Address: Ramiro Barcelos, 2350 room 2235 Porto Alegre – RS - Brazil.
ZIP CODE 90035-903
Phone/Facsimile: 55 51 21 01 83 17
Financial support: FIPE/Hospital de Clínicas de Porto Alegre; Associação
dos Amigos da Hematologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre -
HEMOAMIGOS – HCPA.
Short running title: A study of β
S
haplotypes in Porto Alegre
56
Abstract
Beta-globin gene haplotypes were analyzed in 75 sickle cell disease (SCD)
Brazilian patients who are assisted by the Global Attention Center for
Hemoglobinopathy Patients in Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS/Brazil) in
order to study the relationship between such haplotypes and SCD severity. The β
S
haplotype distribution found here (66%Bantu, 27% Benin and 7% others)
corroborates previously described frequencies in other Brazilian regions, that is, a
predominance of the Bantu haplotype, followed by Benin and others. The analysis
of polymorphic restriction sites (HindIII-γG, HindIII-γA and HincII-3’Ψβ) did not
identify any Senegal and Atypic haplotypes in the group of patients studied. When
the haplotypes were correlated with clinical parameters (disease severity, HbF
levels, cardiovascular complications), no significant associations were found. Most
of the patients in our sample belong to C (38,7%) and D (24%) social classes,
which have limited access to specialized care and present more severe clinical
manifestations.
Key words: hemoglobinopathy, sickle cell disease, β
S
haplotype,
hemoglobin S.
57
Introduction
Sickle cell disease (SCD) is caused by the substitution of an adenine (A) by
a thymine (T) in the sixth codon of the beta-globin gene, which causes the
substitution of glutamic acid by valine (1). The result of that mutation is the
production of hemoglobin S (HbS), which polymerizes under low oxygen tensions
(hypoxia) producing the characteristic sickle shape of erythrocytes, the main cause
of vaso-occlusion in SCD (2). This important pathophisiological aspect of SCD
triggers painful events and contributes largely for the morbidity and mortality of the
disease (3).
Hemoglobinopathies are among the most frequent human genetic diseases
and, amongst them, SCD is the most frequent form in Brazil. In spite of being more
frequent in Afro-derived populations, some studies have demonstrated that the
HbS frequency is rising in Euro-derived individuals. During childhood, SCD is
associated with high morbidity and mortality due to osteonecrosis, bacterial
infections, splenic failure and acute chest syndrome (ACS), as well as deleterious
effects in intelectual and phisiological development (4).
Although SCD is a monogenic disease, its phenotype is highly
heterogeneous. Many of the factors contributing to such heterogeneity are
genetically determined (β
S
haplotypes, alpha-thalassemia concomitance, HbF
levels), while others are of environmental or socio-economic nature (5, 6). Patients
that belong to lower social classes usually face difficulties to have a proper diet
and to follow treatment protocols.
According to Chies and Nardi (7), SCD is a chronic inflammatory disease,
where severe clinical manifestations are determined by an enhanced inflammatory
state, contributing to vaso-occlusive events and therefore playing an important role
in the pathophisiology of the disease.
58
A β
S
gene haplotype is defined as an association of restriction sites along
the group of beta-globin gene (8). These polymorphisms have provided important
anthropological data concerning the multiple origins of HbS (9). Currently,
evidences suggest that the β
S
mutation has had at least five independent origins
which correlate to different haplotypes: Senegal, Benin, Central Africa Republic
(CAR) or Bantu, Cameroon and Indian-Arabic (10, 11). Several studies suggest
that SCD clinical severity is correlated to β
S
haplotypes: Senegal and Indian-Arabic
haplotypes are associated to a mild clinical course, Bantu is associated to severe
clinical manifestations, while Benin and Cameroon present intermediary
phenotypes. Senegal and Indian-Arabic haplotypes present higher levels of fetal
hemoglobin (HbF), with average values of 15-30%. Other haplotypes show HbF
levels below average values of 5-15% (5). Powars et al. (12) suggest that the
Bantu haplotype is one of the main risk factors for the development of severe
clinical manifestations in SCD. Nevertheless, the possible influence of β
S
haplotypes in SCD severity is still a controversial issue, considering other studies
suggesting that β
S
haplotypes have little influence upon SCD clinical and
hematological pictures (9).
Millions of people are affected by SCD worldwide. In Brazil, a country with
great environmental and socio-economic diversity, it is estimated that 5,0-6,0% of
the population carries the HbS allele and that 700 to 1000 new cases of SCD occur
per year (13). Brazil is the biggest country in South America, with approximately
169 million people, according to the Brazilian Institute of Geography and Statistics
(IBGE) (14). It has had a great influx of African slaves and many different
immigrant groups (15). Until the end of World War II, for example, Brazil received
almost 5 million European immigrants, who settled mainly in the southeast and
south regions, forming an ethnically heterogenous population unevenly distributed
along this country of continental proportions (16).
59
A very useful tool that is employed to investigate the origins of American
Afro-derived populations is the analysis of DNA polymorphisms along the β-globin
gene, particularly those linked to the β
S
allele (17).
We have performed an analysis of such polymorphisms in a sample of SCD
Brazilian patients who are assisted by the Global Attention Center for
Hemoglobinopathy Patients in Hospital de Clínicas de Porto Alegre, following the
study of Wagner et al.(18) who determined the β
S
haplotypes in 27 SCD patients.
This study showed higher frequencies of the Bantu haplotype (72%), followed by
Benin (17%) and Senegal (2%), while approximately 5% of the chromosomes
presented atypical haplotypes. The authors did not study the relationship between
haplotypes and clinical course. Our study has increased the sample to determine
β
S
haplotypes in 75 patients and we have investigated the relationship between the
haplotypes found in this group and some clinical features of SCD (disease
severity, HbF levels), as well as demographic data and socio-economic profile.
Materials and Methods
A cross-sectional study was designed to evaluate the frequency of β
S
haplotypes in 75 SCD patients (39 male and 36 female individuals). After obtaining
informed consent, a blood sample was collected in Vacutainer
®
tubes with K
2
EDTA
(BD Diagnostics, Franklin Lakes, NJ, USA) and stored at 4°C until manipulation.
Genomic DNA was isolated from blood samples as previously described (19) and
stored at –20°C. The SS genotype was confirmed by PCR (20) and haplotypes
were determined by PCR-RFLP with the following enzymes: HindIII-γG, HindIII-γA
and HincII-3’Ψβ. Primers and PCR conditions were described by Sutton et al. (21).
60
Severity criteria definition
A severe clinical course was attributed to those patients presenting two or
more painful crisis per year (2) (22, 23). We have evaluated HbF levels, gender,
age, cardiovascular complications (cardiomegaly, vasculopathy, and
cerebrovascular accident - CVA) and socio-economic profile of SCD patients. All
evaluations considered the period before the patient went on hydroxyurea (HU)
treatment. Hydroxyurea is a cytotoxic drug used to treat SCD patients for its
property of inducing HbF synthesis (24), which significantly reduces the frequency
of vaso-occlusive episodes in most SCD patients.
Socio-economic profile
We have employed the Brazil Economic Classification Criterion (CCEB),
which is used in Brazil since 1996.
Statistical methods
Due to data assimetry, we used descriptive statistics, where quantitative
variables were described as median and percentile 25-75. Qualitative variables
were described as relative and absolute frequencies. Association between
qualitative variables was evaluated by Pearson's or exact Fisher's chi-square
tests. Comparisons between age or HbF levels with haplotypes and cardiac
complications was performed by Kruskal-Wallis and Mann-Whitney tests,
respectively. Significance level was 5% and the analysis were performed in the
SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) software, version 10.0.
61
Results
From the 75 patients analyzed, 36 (48%) were females and 39 (52%),
males. Age ranged from 2-62 years, with a median of 18, 5 (9,8-28,5). More than
60% of the patients (66, 7%) presented 2 or more painful crisis per year,
characteristic of a severe clinical course, and 44% of them presented some cardiac
complication. The socio-economic profille analysis revealed that of 38,7% of the
patients belong to class C and 24% to class D. Among the 150 β
S
chromosomes
analyzed, 66% were Bantu, 27% Benin and 7%, others. The main genotypic
combinations are showed in Table 1. We did not observe any significant
association when haplotypes were correlated to pain rate, cardiac complications,
gender, age or HbF levels, as showed in Table 2. The relationship between pain
rate and HbF levels is showed in Table 3. In our sample, older patients presented
higher incidences of cardiac complications when compared to younger individuals,
as expected (P=0,013) (Figure 2). There was a borderline association between
haplotypes and HbF levels, where atypical haplotypes presented lower HbF levels
when compared to the others (P=0,051) (Figure 1).
62
Table 1. β
S
haplotype distribution in SCD patients.
Haplotype N %
Bantu/Bantu 35 46,7
Bantu/Benin 22 29,3
Benin/Benin 7 9,3
Bantu/Others 6 8,0
Benin/Others 5 6,7
Total 75 100
n = number of individuals
Table 2. Sample characterization according to haplotypes.
Haplotypes
Variables
Bantu/Bantu
(n=35)
Bantu/Benin
(n=22)
Benin/Benin
(n=7)
Others*
(n=11)
P
Pain rate – n (%)
1 **
9 (25,7) 10 (45,5) 2 (28,6) 4 (36,4)
2
26 (74,3) 12 (54,5) 5 (71,4) 7 (63,6) 0,478
HbF level – n (%)
2***
3 (9,7) 3 (15,8) 1 (14,3) 3 (27,3)
> 2 28 (90,3) 16 (84,2) 6 (85,7) 8 (72,7) 0,566
Cardiac complications – n (%)
Sim 13 (37,1) 10 (45,5) 4 (57,1) 6 (54,5)
Não 22 (62,9) 12 (54,5) 3 (42,9) 5 (45,5) 0,643
n= number of individuals
* Benin/others and Bantu/others
** pain episodes/year
*** g/dl
63
Table3. Pain rate and HbF levels
Hb F n(%) P
Pain rate
(painful crisis/year)
2g/dl > 2g/dl
1
3 (13) 20 (87)
2
7 (15,6) 38 (84,4) 1,000
n = number of individuals
Haplótipo
Outros tiposBen/BenBan/BanBan/Ben
Taxa de hemoglobina fetal (em mediana)
20
15
10
5
0
Figure 1: HbF levels and haplotypes
Complicações cardíacas
NãoSim
Idade na avaliação da hemoglobina fetal
70
60
50
40
30
20
10
0
Figure 2: Age and cardiac complications
P= 0,013
P=0,051
Age
Haplotype
HbF levels
(median)
Cardiac Complications
64
Discussion
The frequency of β
S
haplotypes was determined in 75 SCD Brazilian
patients who are assisted by the Global Attention Center for Hemoglobinopathy
Patients in Hospital de Clínicas de Porto Alegre through the analysis of
polymorphic restriction sites (HindIII-γG, HindIII-γA, HincII-3’Ψβ and HpaI-3’β). We
have also studied the correlation between the haplotypes found and the clinical
severity of the disease, HbF levels, cardia complications, age, gender and socio-
economic profile. In our sample of patients, there was a predominance of the
Bantu haplotype (66%), followed by Benin (27%) and others (7%). In 1996, Wagner
et al. (18) established the β
S
haplotype frequencies in 27 SCD patients from the
same hospital and found 72% of Bantu haplotypes, 17% of Benin, 2% of Senegal
and approximately 5% of atypical haplotypes. The authors did not study any
variable that could evaluate the correlation between haplotypes and disease
severity. In our study, where a greater number of patients was analyzed, we could
not find Senegal haplotypes. The analysis of only three polymorphic restriction
sites may have been unsufficient for us to determine Senegal or atypical
haplotypes among the group of other haplotypes that we have found.
Our data confirm the prevalence of the Bantu haplotype, followed by Benin,
observed by Wagner et al. (18) in the south region of Brazil, as well as data from
other Brazilian regions (25). At the same time, our data differ from North American
and Jamaican data, where Benin haplotypes are more commom among SCD
patients, which results from the preference of trafficking African slaves from
middle-east Africa to those regions during the British Atlantic slave trade (26). That
difference is observed due to the African ancestrally of our patients. The ethnic
origin of the Brazilian population is heterogenous and unevenly distributed.
65
Approximately 2,5-4,0 million Africans were brought as slaves to Brazil and
distributed in all regions of the country (27).
The gold exploitation in Minas Gerais, during the XVIII century, had a
fundamental importance in the development of the “charqueadas gaúchas”, which
were the source of meat to that region of the country. From that moment on,
slavery was more expressively instituted in Rio Grande do Sul (28).
The foundation of Rio Grande fortification, in 1737, transformed that region
into a great slave receptor center, participating also in the inter-region slave traffic.
African slaves were brought mainly from Rio de Janeiro, although there were some
coming from Bahia, Pernambuco and Santa Catarina. Those ports received slaves
coming mainly from Angola, Benguela and Congo, who belonged to the Bantu
linguistic group. Although the registry of slaves points to the nationality from the
port in which the individual was sent in Africa, we can affirm that most of them
came from the regions known today as Zaire and Angola. Consequently, the
gaucho slave was also coming from those African regions, at least in greater
proportions (28, 29). These historical registries seem to corroborate our data
concerning the prevalence of the Bantu haplotype among SCD patients from the
south region of Brazil.
Most of the chromosomes with the β
S
gene has one of the five commom
haplotypes, although in each series of SCD patients there is a small proportion of
chromosomes (5-10%) associated to less commom haplotypes, recognized as
atypical haplotyes (30). As previously stated, we did not identify among the 7% of
“other haplotypes” in our sample which ones could be atypical. Therefore we could
not establish whether the frequency of atypical haplotypes in our study is in
accordance to that found by Wagner et al. (18) or by studies in other Brazilian
regions (25).
The SCD patients studied here are either Afro-Brazilians or admixed
individuals. This classification was based in physical appearance (skin color).
66
Previous studies indicate that skin color and other phenotypical traits could be
poor predictors of genomic ancestrally (31). According to IBGE, in Brazil as a
whole, 53%, 6% and 38% of the persons are identified as White, Black, and Brown,
respectively. In Rio Grande do Sul (~10 million inhabitants), the numbers are
87.5%, 5%, 7%, respectively (14). According to Bortolini and Pena (32), about 148
million Brazilians present more than 10% of African nuclear genome ancestry, and
at least 89 millions of individuals have mtDNA lineages of African origin.
Those data demonstrate the extension of admixture in Brazil, characterizing
an unique genetic heterogeneity.
In the present study, 50 (66, 7%) patients presented a pain rate 2, which
characterizes a severe clinical course. Among them, 26 (74, 3%) presented the
Bantu/Bantu genotype, which does not indicate a greater morbity compared to
other haplotypes as reported by other studies (33).
As shown in Table 2, the frequency of pain rate 2 distributed among the
haplotypes was highly homogenous, suggesting the absence of relationship
between disease severity and the haplotypes found. The same trend is observed
when we compare haplotypes and HbF levels above 2%. Considering that our
group of patients belongs to a reference center for the attendance of SCD patients,
it would be expected a prevalence of individuals with a more severe clinical
course.
Although the evaluation of severity in SCD is defined by the number of
painful crisis per year, according to the literature, we believed it would be
interesting to evaluate also the frequency of other clinical manifestations, such as
priapism, ACS, CVA, osteonecrosis, leg ulcers, cardiopathy and severe anemia, in
order to investigate whether the severe clinical course defined by the pain rate
corresponds to a greater disease morbity.
In order to reinforce the analysis of disease severity we have evaluated the
incidence of cardiac complications, considering vasculopathy, CVA, and
67
cardiomegaly as one category of cardiac complications due to the low incidence of
such variables alone. Patients who are Bantu/other, Benin/other or Benin/Benin
seem to have more cardiac complications than the others, but that frequency did
not reach statistical significance (Table 2). As expected, we found a higher
frequency of cardiac complications among older patients (P=0,013) (Figure 2).
It is of commom knowledge that the HbF level is one of the main modulators
of the SCD clinical picture, both in children and adult patients. High HbF levels
have been associated to less vaso-occlusive events, less ACS episodes and
reduced mortality rate (24). We could not find any association between HbF levels
and number of painful crisis as showed in Table 3.
Interestingly, HbF levels are high in this group of patients, with a median of
4,73 (3,0-7,0). Twenty-eight (90.3%) Bantu/Bantu patients presented HbF levels
above 2%. A non-significant, but borderline, association indicated that Other
haplotypes present lower HbF levels when compared to the other haplotypes
(P=0,051). According to Steinberg et al. (23), HbF levels are extremely variable
among SCD patients. Gonçalves et al. (26) found a high concentration of HbF in
Bantu/Bantu individuals, who usually present average levels below 5% (34). In a
study conducted to evaluate the correlation between β
S
haplotypes and the clinical
course of SCD in Lebanon patients, higher levels of HbF were surprisingly
associated to more severe clinical cases: considering painful crisis, the more
severe cases had higher HbF levels (2).
Levels of HbF can be influenced by gender, age, number of α-globin gene
copies, β
S
haplotypes and the X-linked F locus, which regulates the production of
HbF-producing erythrocytes (F cells) (35).
Chang et al. (35) studied the F locus and demonstrated that it contributes to
40% of the total variation in HbF levels, while the β-globin gene haplotype was
associated to 14% of such variation. When the production of F cells was removed
68
from the analysis, approximately half of the variation could not be explained, which
demonstrates the need of more research.
The presence of elevated HbF levels in Bantu/Bantu patients, on the other
hand, could be explained by the variation in the regulatory sequence 5’ HS2 and
the 5’ flanking region of the γ-globin gene (36).
Recently, some authors such as Chies and Nardi (7) have approached SCD
as a chronic inflammatory disease, where the severity of the clinical picture would
be determined by an enhanced pro-inflammatory state, contributing to vaso-
occlusive events. The first indication of such inflammatory condition is the
presence of leukocytosis in SCD patients. Patients who are more prone to a Th1
immune response, which is related to inflammation, present more morbidity than
those who are Th2-prone, which involves alergic reactions and macrophage
suppression. Factors that activate endothelial cells, such as inflammatory
mediators, contribute to interactions between erythrocytes, endothelium,
leukocytes, platelets and plasma factors, which enhance adhesion and triggers
vaso-occlusive episodes (3, 37). Those inflammatory mediators induce the
activation of Gardos channels, which could help explain the association between
inflammation, vaso-occlusion and enhanced hemolysis, which is sometimes
observed in infeccious states (38).
Apart from the myelosupressive effect (represented by the reduction in
neutrophils) and the ability to induce HbF synthesis, HU seems to reduce the
adhesion between sickled erythrocytes and endothelial cells, modulating the
activation of the last ones (39). More studies suggest that neutrophil, monocyte
and reticulocyte reductions could also be important. Neutrophils of patients in
painful episodes seem to augment the adhesion of culture cells to endothelial
cells. Reducing blood neutrophils, HU could reduce the occurrence and severity of
vaso-occlusive events. The adhesion between sickled erythrocytes and endothelial
cells is reduced before a measurable rising in HbF levels occur, suggesting a
69
direct effect on the cell membrane or on the adhesive properties of endothelial
cells. Hydroxyurea could transform endothelial cells into a less atractive adhesion
site to sickled erythrocytes (3).
The variables considered in this study are relative to the period before the
treatment with HU, unfortunately we did not evaluate the pos-HU period. It would
be interesting to know whether these patients who presented high HbF levels and
severe clinical course have had any improvements with HU.
Chies et al. (40) observed that an SCD patient became asymptomatic after a
kidney transplant surgery. The authors speculate that it could be related to the
immunosupression imposed to the patient after the procedure. Considering our
data and the literature's we could hypotesise that, in the abscence of a full
functioning splen during childhood, the SCA patient develops an immune response
predominantly of the inflamatory type and its intensity is variable depending on the
degree of splen malfuction and antigen challenge. In that scenario, the patient
which is exposed to a variety of different antigens related to their pour enviroment
and lack of basic sanitarie conditions, as is the case of the pour patients, could
develop unpredictable clinical consequences. If that is true, the genotypical
influence of haplotype and/or of the level of fetal hemoglobin on the disease
course could be diminished.
Considering the socio-economic criteria analyzed the predominance of
patients from C and D social classes should be taken into account before an
indication of hematopoietic stem cell transplantation, because according to Fischer
(41), patients from those social classes present higher risks of morbi-mortality.
70
Conclusions
These data corroborate the prevalence of Bantu haplotypes among Afro-
Brazilians, which is consistent with the origins of African slaves brought to Brazil
during the slave trade. Our results did not show any relations between the
haplotypes found and the severity of SCD in this group of patients, including other
SCD severity markers, in order to evaluate that aspect. In our group of patients,
HbF levels did not correlate to disease severity. Immunosuppression could have an
additional effect to the high HbF levels in patients treated with HU.
Acknowledgements
We are thankful to Meide Daniele Urnau, Valéria Doliwa Wislocki, Jóice
Merzoni, Vanessa de Souza Valim and Rafael Teixeira de Souza for helping with
data and sample collection, and to Ceres Oliveira for helping with statistical
analysis. This study was funded by Fundo de Incentivo à Pesquisa do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (FIPE-HCPA), by Associação dos Amigos da Hematologia
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HEMOAMIGOS-HCPA) and by
Laboratório de Imunogenética (Departamento de Genética –UFRGS).
71
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29 Projeto Cultural: O Povo Negro no Sul. Associação Riograndense de
Imprensa. Pág 12.
30 Zago MA, Silva Jr WA, Dalle B, et al. Atypical β
S
Haplotypes are Generated
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31 Parra FC, Amado RC, Lambertucci JR, et al. Color and genomic ancestry in
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33 Bakanay SM, Dainer E, Clair B, et al. Mortality in sickle cell patients on
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S
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2004. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Rio Grande do Sul,
Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências
Médicas, 2004.
76
Estudo da Identificação de Haplótipo e a Relação com as Manifestações
Clínicas em Pacientes com Anemia Falciforme.
Silva, MAL
1
; Friedrisch, JR
1
; Bittar, CM
1
; Urnau, MD
1
; Chies, JAB
2
; Silla, LMR
1
.
1
Laboratório de Cultura e Análise Molecular de Células Hematopoéticas, Centro
de Pesquisas, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
2
Laboratório de Imunogenética, Departamento de Genética, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.
Autor para Correspondência: Lúcia Mariano da Rocha Silla
Endereço: Ramiro Barcelos, 2350 sala 2235 Porto Alegre – RS - Brasil.
CEP 90035-903
Fone Fax: 55 51 21 01 83 17
Fontes de Financiamento: FIPE/Hospital de Clínicas de Porto Alegre; Associação
dos Amigos da Hematologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre -
HEMOAMIGOS – HCPA.
Título Abreviado: Um estudo sobre Haplótipos β
S
em Porto Alegre
77
Resumo
Os haplótipos do agrupamento do gene da beta globina foram analisados
em 75 pacientes brasileiros com anemia falciforme atendidos no Centro de
Atenção Global a Pacientes Portadores de Hemoglobinopatias do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil, com o objetivo de avaliar
se existe correlação com a severidade da doença. A distribuição dos
cromossomos com os haplótipos ligados ao alelo β
S
(66% Bantu, 27% Benin e 7%
Outros) corroborou freqüências anteriormente relatadas em outras populações
brasileiras como uma maior proporção de cromossomos com o haplótipo Bantu,
seguido pelo Benin e Outros. A análise dos sítios polimórficos de restrição
utilizados (HindIII-γG, HindIII-γA e HincII-3’Ψβ) não nos permitiu identificar
cromossomos Senegal e Atípicos no grupo estudado. Quando correlacionados os
haplótipos com a gravidade da doença, níveis de Hb F e complicações cardíacas,
nenhuma associação estatisticamente significativa foi encontrada. As maiorias dos
estudados pertencem às classes sociais C (38,7%) e D (24%). Classes sociais
com acesso limitado a cuidados especializados, nas quais as manifestações da
doença são mais graves.
Palavras-chave: Hemoglobinopatias, Anemia falciforme, Haplótipos β
S
,
Hemoglobina S.
78
Introdução
A anemia falciforme é causada pela substituição de uma adenina (A) por
uma timina (T) no sexto códon do gene da β-globina, ocasionando a substituição
do ácido glutâmico pela valina (1). O resultado desta mutação é a produção da Hb
S, que polimeriza quando em baixa tensão de oxigênio e produz a forma
característica de foice dos eritrócitos, sendo esta a principal causa dos eventos
vaso-oclusivos da doença (2). Este importante aspecto patofisiológico da anemia
falciforme,é responsável por desencadear os episódios dolorosos e contribuir
muito para a morbidade e mortalidade da doença (3).
As hemoglobinopatias constituem uma das principais e mais freqüentes
doenças genéticas que acometem seres humanos e, dentre elas, a anemia
falciforme é a forma mais freqüente no Brasil. Apesar de sua prevalência ser maior
em pessoas da raça negra, estudos populacionais têm demonstrado a crescente
presença de hemoglobina S (Hb S) em indivíduos caucasóides. Na infância, a
anemia falciforme tem sido associada com alta morbidade e mortalidade devido a
crises de infarto ósseo, sepse bacteriana, sequestração esplênica e síndrome
torácica aguda, além de efeitos deletérios no desenvolvimento fisiológico e
intelectual (4).
Embora a Anemia falciforme seja uma doença monogênica, seu fenótipo é
altamente heterogêneo. Muitos dos fatores que contribuem para este
heterogeneidade são geneticamente determinados (haplótipos ligados ao alelo β
S
,
co-herança com alfa talassemia e níveis de Hb F), enquanto outros são de
natureza ambiental e até mesmo sócio-econômica (5,6). Pacientes que pertencem
a classes sociais mais baixas podem apresentar dificuldades no acesso a uma
alimentação adequada e na aderência aos protocolos de tratamento.
Segundo Chies e Nardi, a anemia falciforme deve ser considerada uma
doença inflamatória crônica, onde a gravidade das manifestações clínicas seriam
79
determinadas por um estado pró-inflamatório amplificado, contribuindo para os
episódios vaso-oclusivos, desempenhando assim, um importante papel da
patofisiologia da doença (7).
Um haplótipo do gene da globina β
S
é definido por uma associação de sítios
de clivagem reconhecidos por endonucleases de restrição, localizados ao longo do
agrupamento do gene da globina β
S
(8). Esse conjunto de polimorfismos ligados à
mutação β
S
têm fornecido importantes informações antropológicas a respeito da
origem múltipla da Hb S (9). Atualmente, existem evidências de que a mutação β
S
teve pelo menos cinco origens independentes relacionadas a diferentes haplótipos
β
S
: Senegal, Benin, República da África Central (CAR) ou Bantu, Camarões e
Indo-árabe (10,11). Segundo a literatura, a severidade clínica ou fenótipo da
anemia falciforme estaria relacionado aos haplótipos β
S
; estando os haplótipos
Senegal e Indo-Árabe associados a um quadro clínico moderado, Bantu a um
quadro clínico grave e, Benin e Camarão, intermediário. Os haplótipos Senegal e
Indo-Árabe apresentariam níveis mais elevados de Hemoglobina fetal (Hb F), com
uma média de 15-30%. Os níveis de Hb F nos outros haplótipos ficariam abaixo de
uma média de 5-15% (5). Powars et al (12) sugeriram que o haplótipo Bantu seria
um dos principais fatores de risco para uma forma clinicamente grave de anemia
falciforme. Entretanto, o possível papel dos haplótipos β
S
na determinação da
gravidade da doença é controverso, considerando que outros estudos sugerem
que os haplótipos têm pequena influência no quadro clínico e hematológico da
doença (9).
Milhões de pessoas são afetadas pela anemia falciforme em todo o mundo.
No Brasil, um país com grande diversidade ambiental e sócio-econômica, estima-
se que 5,0-6,0% da população seja portadora do alelo Hb S e que 700 a 1000
novos casos novos ocorram por ano (13). O Brasil, o maior país da América do
Sul, com aproximadamente 169 milhões de pessoas, de acordo com o Instituto
80
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (14), teve um grande influxo de
escravos da África e muitos grupos imigrantes diferentes (15). Por exemplo, até o
fim da 2ª Guerra Mundial, o Brasil recebeu quase 5 milhões de imigrantes
europeus, que se fixaram principalmente na região sul e sudeste formando uma
população de origem étnica heterogênea desigualmente distribuída neste país de
dimensões continentais (16).
Uma ferramenta muito útil que tem sido utilizada para investigar a origem
das populações Afro-descendentes nas Américas, é a análise de polimorfismos no
DNA ao longo do agrupamento do gene da β-globina, particularmente aqueles
ligados ao alelo β
S
(17).
Realizamos uma análise dos polimorfismos em uma população de doentes
atendidos no Centro de Atenção Global aos Pacientes com Anemia Falciforme do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, dando continuidade ao estudo de Wagner et
al que determinaram os haplótipos β
S
em 27 pacientes (54 cromossomos). Neste
estudo, o haplótipo Bantu foi o mais freqüente (72%), seguido do Benin (17%) e do
Senegal (2%) e aproximadamente 5% dos cromossomos analisados apresentaram
haplótipos Atípicos (18). Os autores não estudaram a correlação com o quadro
clínico dos pacientes. No nosso estudo, ampliamos a amostra para determinarmos
os haplótipos em 75 pacientes (150 cromossomos), e investigamos se neste
grupo, existe alguma correlação dos haplótipos encontrados com a severidade
clínica da doença, nível de Hb fetal, dados demográficos e o perfil sócio-
econômico.
81
Materiais e métodos
Desenhou-se um estudo transversal para avaliar a freqüência dos
haplótipos do alelo β
S
em 75 pacientes (39 do sexo masculino e 36 do sexo
feminino). Após a obtenção do termo de consentimento livre e esclarecido dos
pacientes ou de seus representantes legais, uma amostra do sangue periférico foi
coletada em tubos Vacutainer
®
BD com K
2
EDTA (BD Diagnósticos, Franklin Lakes,
NJ, USA) e estocadas a 4°C até a manipulação. O DNA genômico foi isolado dos
leucócitos do sangue periférico, como previamente descrito (19) sendo estocado a
–20°C. O genótico SS foi confirmado pela análise de seqüências amplificadas do
DNA (20), e os haplótipos foram determinados, por PCR-RFLP, através da
amplificação dos seguintes sítios polimórficos de restrição, seguido de digestão
com a enzima apropriada: HindIII-γG, HindIII-γA e HincII-3’Ψβ. Os primers e
condições utilizados foram descritos por Sutton et al (21).
Definição dos critérios de severidade
Um curso clínico severo foi atribuído aos pacientes que apresentaram dois
ou mais episódios dolorosos por ano (2) (22,23). Foram também avaliados níveis
de Hemoglobina fetal, sexo, idade, ocorrência de complicações cardiovasculares
(cardiomegalia, vasculopatia e Acidente Vascular Cerebral - AVC) e perfil sócio-
econômico dos pacientes. Todas as avaliações foram baseadas no período
anterior ao início do tratamento com a Hidroxiuréia (HU). A HU é uma droga
citotóxica utilizada no tratamento de pacientes com doença falciforme devido, se
acredita (24) a sua capacidade de indução de síntese de Hb F, o que diminui
significativamente, na maioria dos pacientes, a ocorrência de complicações vaso-
oclusivas.
82
Perfil sócio-econômico
Utilizamos o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB), critério
utilizado no Brasil desde 1996.
Métodos estatísticos
Inicialmente foi realizada a estatística descritiva, onde as variáveis
quantitativas foram descritas através de mediana e percentis 25-75 devido à
assimetria dos dados. A análise, das qualitativas foi descrita através de
freqüências absolutas e relativas. A associação entre as variáveis qualitativas foi
avaliada pelo Teste Qui-Quadrado de Pearson ou Exato de Fisher. A comparação
da idade e níveis de hemoglobina fetal com os haplótipos e complicações
cardíacas foi realizada através dos testes Kruskal-Wallis e Mann-Whitney,
respectivamente. O nível de significância adotado foi de 5% e as análises foram
realizadas no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão
10.0.
RESULTADOS
Dos 75 pacientes analisados, 36 (48%) eram do sexo feminino e 39 (52%)
do sexo masculino. As idades variaram entre 2-62 anos com mediana de 18,5 (9,8-
28,5). Mais da metade dos pacientes (66,7%), apresentavam 2 ou mais crises
álgicas por ano, caracterizando um curso clínico severo e 44% dos pacientes
apresentaram alguma complicação cardiovascular. Quanto ao perfil sócio-
econômico avaliado, 38,7% dos pacientes pertencem à classe C e 24% à classe D.
Entre os 150 cromossomos β
S
analisados, 66% eram Bantu, 27% Benin e 7%
Outros. As principais combinações genotípicas são mostradas na Tabela 1. Não
observamos nenhuma associação estatisticamente significativa quando
correlacionamos os haplótipos encontrados com a taxa de dor, complicações
cardíacas, sexo, idade e níveis de Hb F, como mostra a tabela 2. A relação entre a
83
taxa de dor e o nível de Hb F é mostrada na tabela 3. Na população estudada, os
pacientes mais velhos, como era esperado, apresentaram uma maior ocorrência
de complicações cardíacas em relação aos mais jovens (P=0,013) (Figura 2).
Houve uma associação não significativa, porém limítrofe entre os haplótipos e o
nível de Hb F, sendo que os haplótipos chamados Outros tinham menores níveis
de Hb F que os demais (P=0,051) (Figura 1).
Tabela 1. Freqüência da distribuição dos haplótipos β
S
na população estudada
Haplótipos N %
Bantu/Bantu 35 46,7
Bantu/Benin 22 29,3
Benin/Benin 7 9,3
Bantu/Outros 6 8,0
Benin/Outros 5 6,7
Total 75 100
n = números de indivíduos
84
Tabela 2 – Caracterização da amostra conforme o haplótipo
Haplótipos
Variáveis
Bantu/Bantu
(n=35)
Bantu/Benin
(n=22)
Benin/Benin
(n=7)
Outros*
(n=11)
P
Taxa de dor – n (%)
1**
9 (25,7) 10 (45,5) 2 (28,6) 4 (36,4)
2
26 (74,3) 12 (54,5) 5 (71,4) 7 (63,6) 0,478
Nível de Hb F – n (%)
2***
3 (9,7) 3 (15,8) 1 (14,3) 3 (27,3)
> 2 28 (90,3) 16 (84,2) 6 (85,7) 8 (72,7) 0,566
Complicações Cardíacas – n (%)
Sim 13 (37,1) 10 (45,5) 4 (57,1) 6 (54,5)
Não 22 (62,9) 12 (54,5) 3 (42,9) 5 (45,5) 0,643
n= número de indivíduos *Benin/Outros e Bantu/Outros
**episódios dolorosos/ano *** g/dl
Tabela 3 – Taxa de dor (p/ano) e o nível de Hb F
Hb F n(%) P
Taxa de dor
(crises p/ano)
2g/dl > 2g/dl
1
3 (13) 20 (87)
2
7 (15,6) 38 (84,4) 1,000
n = número de indivíduos
85
Haplótipo
Outros tiposBen/BenBan/BanBan/Ben
Taxa de hemoglobina fetal (em mediana)
20
15
10
5
0
Figura 1: Taxa de Hemoglobina Fetal e Haplótipo
Complicações cardíacas
NãoSim
Idade na avaliação da hemoglobina fetal
70
60
50
40
30
20
10
0
Figura 2: Idade e Complicações Cardíacas
DISCUSSÃO
A freqüência dos haplótipos β
S
foi determinada a partir de inferência
baseada em três sítios polimórficos de restrição (Hind III γG, Hind III γA e HincII 3’
Ψβ) em 75 pacientes (150 cromossomos) com anemia falciforme acompanhados
pelo Centro de Atenção Global aos pacientes Portadores de Hemoglobinopatias do
P= 0,051
P= 0,013
86
Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Também avaliamos a correlação entre os
haplótipos encontrados com a severidade clínica da doença, níveis de Hb fetal,
complicações cardíacas, idade, sexo e perfil sócio-econômico. Na amostra de
pacientes estudada, houve uma predominância de cromossomos com o haplótipo
Bantu (66%), seguido do Benin (27%) e Outros (7%). Em 1996, Wagner et al
estabeleceram a freqüência dos haplótipos β
S
em 27 pacientes (54 cromossomos)
com anemia falciforme do mesmo Hospital e encontraram 72% de cromossomos
do tipo Bantu, 17% do tipo Benin, 2% do tipo Senegal e aproximadamente 5% de
cromossomos Atípicos (18). Os autores não estudaram qualquer variável que
pudesse avaliar a existência de correlação dos haplótipos encontrados com a
gravidade clínica da doença. Em nosso estudo, onde um maior número de
pacientes foram analisados, não conseguimos identificar cromossomos com o
haplótipo Senegal. A análise de apenas três sítios polimórficos de restrição pode
ter sido insuficiente para que pudéssemos avaliar dentro do grupo que chamamos
de Outros, quais seriam cromossomos Atípicos ou possivelmente Senegal.
Nossos dados confirmam a prevalência do haplótipo Bantu seguido do
Benin encontrada por Wagner et al, na região Sul do Brasil, bem como os dados
encontrados em outras regiões do Brasil (25), mas diferem dos dados dos EUA e
Jamaica onde o Haplótipo do tipo Benin é mais comum entre os pacientes com
anemia falciforme, resultado da preferência pelo tráfico de Africanos do meio-
oeste para estas regiões durante o comércio escravo Atlântico Britânico (26). Esta
diferença observada é devido à ancestralidade africana de nossos pacientes. A
origem étnica da população brasileira é heterogênea e desigualmente distribuída.
Aproximadamente 2,5-4,0 milhões de Africanos foram trazidos como escravos para
o Brasil e distribuídos por todas as regiões do país (27).
A exploração do ouro em Minas Gerais, no século 18, teve importância
fundamental no desenvolvimento das charqueadas gaúchas, que se transformaram
87
na fonte abastecedora de carne para a região aurífera. A partir daí o escravismo
foi mais expressivamente implantado no Rio Grande do Sul (28).
A fundação do presídio (fortificação) de Rio Grande, em 1737, transformou
esta localidade em um grande centro receptor de escravos, fazendo parte também
do tráfico interprovincial. Vinham, em sua grande maioria, do Rio de janeiro,
embora houvesse um contingente oriundo da Bahia, Pernambuco e Santa
Catarina. Estes portos recebiam escravos em sua maioria oriundos de Angola,
Benguela e Congo, os quais pertenciam, portanto ao tronco lingüístico Bantu.
Embora os registros de escravos apontem a nacionalidade vinculada ao porto em
que o escravo era embarcado na África, podemos afirmar que, a maioria originava-
se das regiões onde hoje se localizam o Zaire e Angola. Consequentemente, o
escravo gaúcho, também, era procedente destas regiões da África, pelo menos em
maior número (28,29). Estes registros históricos parecem corroborar nossos dados
quanto a maior prevalência do haplótipo Bantu entre os pacientes com anemia
falciforme na região Sul do Brasil.
A maioria dos cromossomos com o gene β
S
possui um dos cinco tipos de
haplótipos comuns, embora em cada grande série de pacientes com anemia
falciforme há uma minoria de cromossomos (5-10%) associados com haplótipos
menos comuns, reconhecidos como atípicos (30). Como citado anteriormente, não
identificamos entre o percentual de 7% do que chamamos Outros haplótipos, quais
os que seriam Atípicos. Portanto, não pudemos estabelecer se a freqüência de
haplótipos atípicos de nosso estudo está de acordo com a encontrada por Wagner
et al e com as encontradas em outras regiões do Brasil (18,25).
Os pacientes analisados neste estudo são indivíduos Afro-Brasileiros ou
miscigenados. Esta classificação foi baseada na aparência física (cor da pele).
Estudos prévios indicam que a cor da pele e outros traços fenotípicos podem ser
pobres preditores de ancestralidade genômica (31). De acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Brasil, 53, 6 e 38% das pessoas
88
são classificadas como brancas, negras e pardas, respectivamente. No Rio
Grande do Sul (aproximadamente 10 milhões de habitantes), os números são 87,5,
5 e 7%, respectivamente (14). Segundo Bortolini e Pena, aproximadamente 148
milhões de Brasileiros apresentam mais que 10% de ancestralidade genômica
nuclear Africana e pelo menos 89 milhões de pessoas possuem linhagem de DNA
mitocondrial de origem Africana (32).
Estes dados demonstram a extensão da miscigenação na população
brasileira, caracterizando uma peculiar heterogeneidade genética.
No presente estudo, 50 (66,7%) pacientes apresentaram taxa de dor 2
crises por ano caracterizando um curso clínico grave. Destes, 26 (74,3%)
possuíam o genótipo Bantu/Bantu, o que não indica uma maior morbidade
comparado aos outros haplótipos como relatam outros estudos (33). Como
mostrado na tabela 2, a distribuição da freqüência da taxa de dor 2 entre os
haplótipos foi bastante homogênea, sugerindo ausência de relação entre a
gravidade do curso clínico da doença com os haplótipos encontrados. A mesma
homogeneidade pode ser observada quando analisamos os haplótipos com os
níveis de Hb F acima de 2%. Considerando que o grupo de pacientes estudados
pertence a um centro de referência para acompanhamento de pacientes com
anemia falciforme, seria esperada uma maior prevalência de pacientes com um
curso clínico de maior severidade.
Apesar da avaliação da gravidade do quadro clínico da anemia falciforme
ser realizada através do número de crises de dor por ano, como definido pela
literatura mundial, achamos que seria interessante também avaliar as freqüências
de complicações tais como priapismo, sídrome torácica aguda, necrose asséptica
da cabeça do fêmur, úlcera de perna, AVC, cardiopatia e anemia severa, e desta
maneira averiguar se a característica doença grave definida por duas ou mais
crises de dor por ano corresponde a uma maior morbidade da doença.
89
Para reforçarmos a análise de gravidade da doença, avaliamos a ocorrência
de complicações cardíacas onde agrupamos, devido à baixa incidência nesta
amostra vasculopatia, AVC e cardiomegalia como complicação cardio-vascular.
Pacientes Bantu/Outro, Benin/Outro e homozigotos para o haplótipo Benin
parecem ter maior freqüência de complicações cardiovasculares, mas sem
significância estatística (Tabela 2). Como era de se esperar, verificamos uma
maior ocorrência de complicações cardiovasculares entre os pacientes mais
velhos (P=0,013) (Figura 2).
É de conhecimento geral que o nível de Hb F é um dos mais importantes
modificadores da expressão clínica da anemia falciforme. O nível de Hb F
influencia as características clínicas em crianças e adultos. Um nível elevado de
Hb F tem sido associado significativamente a menor ocorrência de eventos vaso-
oclusivos dolorosos, episódios de síndrome torácica aguda e reduzida mortalidade
(24). Nós não encontramos associação entre os níveis de Hb F e número de crises
de dor neste estudo como mostra a Tabela 3.
Interessantes, são os níveis elevados de Hb F neste grupo de pacientes
com mediana de 4,73 (3,0-7,0). 28 (90.3%) pacientes com o genótipo Bantu/Bantu
apresentaram níveis de Hb F maiores que 2%. Uma associação não significativa,
porém limítrofe, indicou que os haplótipos que chamamos Outros apresentaram
um menor nível de Hb F comparado aos demais haplótipos (P=0,051) (Figura 1).
Segundo Steinberg et al 1997, os níveis de Hb fetal variam muito entre pacientes
com anemia falciforme (23). Gonçalves et al, encontraram em seu estudo uma
concentração elevada de Hb F entre indivíduos com o genótipo Bantu/Bantu, que
normalmente apresentam um valor médio abaixo de 5%(26, 34). Em um estudo
onde foi avaliada a correlação entre as manifestações clínicas em pacientes
Libaneses com anemia falciforme e os haplótipos β
S
, surpreendentemente, os
níveis mais elevados de Hb F estavam associados aos casos clínicos mais graves.
90
Quando os valores de Hb F foram correlacionados às crises de dor, os casos mais
graves tinham valores elevados de Hb F (2).
Sabe-se que os níveis de Hb F na anemia falciforme pode ser influenciado
pelo sexo, idade, número de genes da α-globina, haplótipos β
S
e pelo locus de
produção de células F ligado ao cromossomo X, que regula a produção de
eritrócitos contendo Hb F (células F) (35).
Chang et al avaliara o locus da produção de células F ligado ao
cromossomo X e demonstraram que este contribuiu com 40% da variação total dos
níveis de Hb F enquanto o haplótipo do gene β-globina foi associado com 14% da
variação de Hb F restante. Quando a produção de células F foi removida,
aproximadamente metade da variação dos níveis de Hb F permaneciam
inexplicáveis, demostrando a necessidade de mais estudos (35).
A presença de níveis de Hb F elevados no genótipo Bantu/Bantu, por outro
lado, pode ser explicada pela variação na seqüência de regiões regulatórias das
regiões 5’ HS2 e flanqueadora 5’ da expressão do gene γ-globina (36).
Recentemente, alguns autores como Chies e Nardi 2001, têm abordado a
anemia falciforme como uma doença inflamatória crônica, onde a gravidade do
quadro clínico seria determinada por um estado pró-inflamatório amplificado,
contribuindo para os episódios vaso-oclusivos. A primeira indicação da existência
de uma condição inflamatória é a presença de leucocitose. Pacientes propensos a
uma maior resposta imune do tipo Th1, relacionada com inflamação, apresentam
maior morbidade que aqueles Th2, envolvida com reações alérgicas e supressão
da ativação de macrófagos (7). Fatores como mediadores inflamatórios que ativam
as células endoteliais e, portanto, contribuem para interações entre os eritrócitos,
endotélio, plaquetas, leucócitos e fatores do plasma, acentuam a adesão
desencadeando episódios vaso-oclusivos (3,37). Esses mediadores inflamatórios
induzem a ativação do canal de Gardos, o qual pode explicar a associação entre
91
inflamação, vaso-oclusão e hemólise aumentada, algumas vezes vista durante
quadros infecciosos (38).
Além do efeito mielossupressor, representado pela diminuição de
neutrófilos, e da habilidade para induzir a síntese de hemoglobina fetal, a HU
parece reduzir a adesão entre os eritrócitos falcizados e as células endoteliais
modulando a ativação destas últimas (39). Mais estudos sugere que a redução nos
neutrófilos, monócitos e reticulócitos podem também ser importante. Os neutrófilos
de pacientes com episódios dolorosos parecem aumentar a aderência de células
em cultura às células endoteliais. Pela redução de neutrófilos no sangue, a HU
pode diminuir a ocorrência e a gravidade de eventos vaso-oclusivos. A adesão
entre as células endoteliais e os eritrócitos falcizados diminui antes que um
aumento mensurável nos níveis de Hb F ocorra, sugerindo um efeito direto sobre a
membrana celular ou sobre as propriedades adesivas das células endoteliais. A
HU pode tornar as células endoteliais um local menos atrativo para a aderência
dos eritrócitos falcizados (3).
As variáveis consideradas neste estudo são relativas ao período pré-
tratamento com a HU. Seria interessante sabermos se estes pacientes que
apresentam elevados níveis de Hb F e curso clínico grave tiveram alguma melhora
com a HU.
Chies et al observaram que uma paciente portadora de doença falciforme
tornou-se assintomática após ser submetida ao transplante renal. Os autores
especularam que este achado poderia ter relação com a imunossupressão mantida
nestes pacientes (40). Considerando os dados apresentados e a revisão da
literatura sugerimos que, talvez, e na ausência do baço, a imunidade do portador
de AF se desenvolva com o predomínio da resposta inflamatória. Tal resposta é
variável e leva a conseqüências imprevisíveis, sobretudo no indivíduo exposto a
uma enorme gama de agentes infecciosos como nos que convivem em ambientes
sem saneamento básico ou em condições precárias. Ainda, pode-se especular que
92
a magnitude da resposta inflamatória, dependendo do ambiente onde se encontra
o paciente, pode sobrepujar a influência do haplótipo e/ou nível da Hb fetal nas
características clínicas da doença.
Em relação aos critérios sócio-econômicos analisados, a predominância de
pacientes pertencentes às classes sociais C e D, deve ser considerada antes de
uma possível indicação para Transplante de Células Tronco Hematopoéticas, pois
segundo Fischer, pacientes pertencentes a estas classes sociais apresentam
maior risco de morbi-mortalidade (41).
CONCLUSÃO
Estes dados corroboram a prevalência de haplótipos Bantu entre Afro-
Brasileiros, consistentes com a origem dos escravos Africanos trazidos para o
Brasil durante o comércio escravo. Nossos resultados não evidenciaram qualquer
relação entre os haplótipos encontrados e a gravidade clínica da anemia
falciforme neste grupo de pacientes, indicando que mais pesquisas são
necessárias incluindo outros marcadores de severidade na anemia falciforme, com
o objetivo de análise deste aspecto.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Meide Daniele Urnau, Valéria Doliwa Wislocki, Jóice
Merzoni, Vanessa de Souza Valim e Rafael Teixeira de Souza pela ajuda na coleta
de dados e amostras. Á Ceres Oliveira pelo auxílio com as análises estatísticas.
Este trabalho recebeu o apoio do Fundo de Incentivo à Pesquisa do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre (FIPE-HCPA), da Associação dos Amigos da Hematologia
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HEMOAMIGOS-HCPA) e do Laboratório
de Imunogenética (Departamento de Genética –UFRGS).
93
REFERÊNCIAS
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Cellular and Genetic Modifiers. Seminars in Hematology 2001: 38:299-306.
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32 Bortolini MC, Pena SD, Pode a genética definir quem pode se beneficiar das
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33 Bakanay SM, Dainer E, Clair B, et al. Mortality in sickle cell patients on
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34 Powars DR. β
S
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hematologic features. Hematology/Oncology Clinics of North America
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35 Chang YP, Maier-Redelsperger M, Smith KD, et al. The relative importance of
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97
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transplant prevents vaso-oclusive crisis in a haemoglobin SC disease patient.
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41 Fischer GB. Relação entre morbi-mortalidade do transplante alogênico de
medula óssea e perfil econômico dos receptores. Porto Alegre – UFRGS,
2004. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Rio Grande do Sul,
Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências
Médicas, 2004.
A N E X O S
99
ANEXO A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
ESTUDO DA IDENTIFICAÇÃO DE HAPLÓTIPOS E A RELAÇÃO
COM MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS EM PACIENTES COM
ANEMIA FALCIFORME
Responsáveis: Dra. Lúcia Mariano da Rocha Silla
Maria Aparecida Lima da Silva
Consentimento Pós-Informação
O presente projeto de pesquisa tem como objetivo identificar a presença
de características herdadas de seus pais e antepassados, que possam nos
trazer conhecimentos sobre a anemia falciforme no estado do Rio Grande do
Sul. Descendentes dos povos africanos vieram de diferentes regiões da África e
nós sabemos que a doença se manifesta diferentemente de acordo com a
região de onde o paciente descende, sobretudo em termos de gravidade. Este
trabalho de pesquisa pretende estudar estas características no sentido de obter
informações sobre a doença e caracterizar a anemia falciforme de um grupo no
Sul do Brasil. A gravidade de cada caso será correlacionada com o grupo de
características herdadas, com vistas a avaliar o benefício potencial de um
programa de detecção dos portadores, seguido de aconselhamento genético e
diagnóstico pré-natal.
Os dados necessários para a realização do projeto serão obtidos através
de entrevistas com as famílias, análise dos prontuários e uma coleta de
aproximadamente duas colheres de sopa de sangue da veia. Este procedimento
provoca um desconforto semelhante ao de uma coleta de sangue para exames
100
de rotina, ou seja, a dor da picada da agulha e um pequeno hematoma (cor
roxa) na pele.
O material coletado será utilizado para caracterização de haplótipos e
suas variações, para fins de pesquisa de polimorfismos (características
herdadas de seus pais e antepassados), sendo garantido o anonimato das
informações obtidas, reservando ao paciente ou familiares acesso as mesmas.
Pelo presente Consentimento Pós-informação, declaro que fui informado,
de forma clara e detalhada, sobre o presente Projeto de Pesquisa. Os
pesquisadores responsáveis pelo projeto são a Dra. Lúcia Mariano da Rocha
Silla e a bióloga Maria Aparecida Lima da Silva ( tel.3316 83 17 ou 99 65 06
06).
Fui igualmente informado da garantia de receber resposta ou
esclarecimento sobre a pesquisa a ser realizada, da liberdade de não participar
do estudo, da segurança, do anonimato e do caracter confidencial das
informações.
Autorizo o armazenamento do material coletado (DNA) para pesquisas
futuras referentes a caracterização de haplótipos e suas possíveis variações
polimórficas:
( ) S I M ( ) N Ã O
Data: ________________________________________________________
Nome do responsável legal:_______________________________________
Assinatura do responsável legal:___________________________________
Pesquisador responsável:_________________________________________
101
ANEXO B
PROTOCOLO DE EXTRAÇÃO DE DNA
1. Transferir 5ml de sangue com EDTA, para um tubo de centrífuga de 15ml
2. Adicionar 5 ml de tampão TKM 1 (10 mM Tris HCl pH7,6, 10 mM KCl,
10 mM MgCl
2
, 2mM EDTA).
2. Adicionar 125ul de Nonidet P-40 (NP-40 Sigma). Misturar bem por
inversão várias vezes.
3. Centrifugar a 2200 rpm por 10 min a temperatura ambiente.
4. Descartar o sobrenadante cuidadosamente. Os núcleos celulares estão
aderidos nas paredes do tubo.
5. Lavar o precipitado com 5ml de TKM 1.
6. Centrifugar a 2200 rpm por 10 min a temperatura ambiente.
7. Descartar o sobrenadante cuidadosamente.
8. Ressuspender o precipitado em 800ul de TKM 2 ( 10 mM Tris HCl pH 7,6,
10mM KCl, 10 mM MgCl
2
, 2mM EDTA, 0,4M NaCl).
9. Adiconar 10ul de SDS 10%. Misturar por pipetação por várias vezes.
10. Incubar por 10 min a 55°C.
11. Adiconar 300ul de NaCl 6M. Misturar bem.
12. Centrifugar a 12000 rpm por 5 min.
13. Transferir o sobrenadante para outro tubo com aproximadamente 2ml de
etanol absoluto (em temperatura ambiente) e descartar o precipitado de
proteínas. Inverter o tubo várias vezes até o DNA precipitar.
14. Retirar o DNA precipitado com pipeta pasteur de vidro e colocar em
eppendorf contendo 1 ml de etanol 70% gelado.
15. Centrifugar a 12000 rpm por 5 min a 4°C.
102
16. Desprezar o sobrenadante. Deixar o eppendorf enborcado sobre o papel
toalha para evaporar todo o álcool.
17. Ressuspender em 300ul de água estéril e estocar em freezer.
103
ANEXO C
104
ANEXO D
PESQUISA DE CLASSE ECONÔMICA
Pesquisa de Classe Econômica – de acordo
com IBGE
Posse de itens
(marque a quantidade de itens que você
possui)
1. Televisão em cores.
( ) Não tem ( )Três
( ) Uma ( )Quatro
( ) Duas ( ) mais de quatro
2. Banheiro
( ) Não tem ( x ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
3. Máquina de Lavar
( ) Não tem ( ) Três
( ) Uma ( ) Quatro
( ) Duas ( ) mais de quatro
4. Empregada mensalista
( ) Não tem ( ) Três
( ) Uma ( ) Quatro
( ) Duas ( ) mais de quatro
5. Rádio
( ) Não tem ( ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
6. Automóvel
( ) Não tem ( ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
7. Aspirador de
( ) Não tem ( ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
8. Videocassete e/ou DVD
( ) Não tem ( ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
9. Geladeira
( ) Não tem ( ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
10. Geladeira de duas partes
( ) Não tem ( ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
11. Freezer ( ou geladeira duplex)
( ) Não tem ( ) Três
( ) Um ( ) Quatro
( ) Dois ( ) mais de quatro
Grau de Instrução do Chefe de família
( ) Analfabeto / primário incompleto
( ) Primário completo/ ginásio incompleto
( ) Ginásio completo/ colegial incompleto
( ) Colegial completo / superior incompleto
( ) superior completo
105
Antigo Anterior Novo
Primário 1° grau até 4°
série
Ensino
Fundamental até
4° série
Ginásio 1° grau da 4° até
8° série
Ensino
Fundamental da
4° até 8° série
Colegial 2° grau Ensino Médio
Superior Superior Superior
Classificação de classe por pontos e renda familiar
Classe Pontos Renda Familiar
A1 30 a 34 pontos 7.793
A2 25 a 29 pontos 4.648
B1 21 a 24 pontos 2.804
B2 17 a 20 pontos 1.669
C 11 a 16 pontos 927
D 6 a 10 pontos 424
E 0 a 5 pontos 207
SISTEMA DE PONTOS
TEM
Posse de Itens Não tem 1 2 3 4 ou
+
Televisão em cores 0 2 3 4 5
Rádio 0 1 2 3 4
Banheiro 0 2 3 4 4
Automóvel 0 2 4 5 5
Empregada mensalista 0 2 4 4 4
Aspirador de pó 0 1 1 1 1
Máquina de Lavar 0 1 1 1 1
Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2
Geladeira 0 2 2 2 2
Freezer ( aparelho
independente ou parte da
geladeira duplex)
0 1 1 1 1
Grau de Instrução do Chefe de família
Analfabeto / Primário incompleto 0
Primário completo/ Ginasial incompleto 1
Ginasial completo/ Colegial incompleto 2
Colegial completo/Superior incompleto 3
Superior completo 5
CORTES DO CRITÉRIO BRASIL
Classe PONTOS TOTAL BRASIL (%)
A1 30-34 1
A2 25-29 5
B1 21-24 9
B2 17-20 14
C 11-16 36
D 6 – 10 31
E 0 - 5 4
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
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Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
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Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
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