pela senhora de engenho em doce, em vinho, em licor, em remédio. Da
castanha ela não tardou a fazer “todas as conservas doces que
costumavam fazer com as amêndoas, o que tem graça, na suavidade e
no sabor”. (...) Do sumo “de bom cheiro e saboroso” do caju, o vinho
adocicado que se tornou o vinho oficial das casas-grandes: quase
símbolo de sua hospitalidade. (...) O mesmo que com o caju, a banana e
o cará se terá dado com o jenipapo, com o araçá, com o mamão, com a
goiaba, o maracujá, com o marmelo, (...) frutas que misturadas com mel
de engenho, com açúcar, com canela, com cravo, com castanha,
tornaram-se doce de calda, conserva, sabongo, marmelada, geléia,
enriquecendo de uma variedade de sabores novos e tropicais a
sobremesa das casas-grandes de engenho e dos sobrados burgueses.
O que mais sobressai na relação de Dôra com o Comandante é a vazão que ela dá
ao seu poder de sedução. A relação, narrada de forma quase impessoal, quando do
casamento com Laurindo, ganha um tom passional e de realização, quando se reporta ao
Comandante. Dôra sente que, finalmente, pode se realizar como mulher.
O poder de sedução de Dôra é explicitado no romance, quando ela, recém-
chegada ao Rio de Janeiro, conhece o carnaval. Em meio a uma festa historicamente
profana e sensual, Dôra entra num jogo sedutor, insinuando-se, apenas pelo jogo, para
alguns foliões. Esse jogo perigoso é percebido por Estrela, que a previne de que é
arriscado fazer isso com homens da cepa do Comandante. Ela, no entanto, só se dá conta
do risco que tinha corrido mais tarde, ao chegar em casa, quando o Comandante a
esbofeteia - única vez em que ele a agride e apenas a título de exemplo - e a avisa para
nunca mais voltar a se insinuar para outro homem:
Eu que também tinha bebericado os meus chopes, achei aquilo um
colosso, continuei de frente, puxando o Comandante pelo braço e
provocando: - Olha aquele ali, botando olho mau em nós! O
Comandante ia adiante, abalroava o sujeito, deixava ver o revólver e
dizia abusado: - Achou ruim? Eu soltava uma risada. Ninguém reagia,
ele era maior do que todo o mundo, e forte, e armado - e doido. Nunca
tinha me divertido tanto, não ligava aos beliscões que Estrela me dava
por detrás, me sentia cada vez mais atrevida ao lado do meu capanga.
(...) E então, outro conhecido do Carleto que já antes falara conosco