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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS:
PEDIATRIA
A MANIPULAÇÃO DURANTE O PERÍODO
NEONATAL ALTERA A PREFERÊNCIA ALIMENTAR
E O PERFIL METABÓLICO DE RATOS NA VIDA
ADULTA
CARLA DA SILVA BENETTI
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Porto Alegre, Brasil, 2007
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MÉDICAS:
PEDIATRIA
A MANIPULAÇÃO DURANTE O PERÍODO
NEONATAL ALTERA A PREFERÊNCIA ALIMENTAR
E O PERFIL METABÓLICO DE RATOS NA VIDA
ADULTA
CARLA DA SILVA BENETTI
Orientador: Prof. Dr. Marcelo Zubaran Goldani
Co-orientadora: Profª. Drª. Carla Dalmaz
A apresentação desta dissertação é
exigência do Programa de Pós-
Graduação em Ciências Médicas:
Pediatria, da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, para obtenção do
título de Mestre.
Porto Alegre, Brasil, 2007
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Catalogação Biblioteca FAMED/HCPA
222
B465m Benetti, Carla da Silva
A manipulação durante o período neonatal altera a preferência
alimentar e o perfil metabólico de ratos na vida adulta / Carla da
Silva Benetti ; orient. Marcelo Zubaran Goldani ; co-orient. Carla
Dalmaz. – 2007.
72 f.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rio Grande
do Sul. Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em
Ciências Médicas: Pediatria. Porto Alegre, BR-RS, 2007.
1. Preferências alimentares 2. Animais recém-nascidos 3.
Modelos animais de doenças 4. Metabolismo 5. Ratos I. Goldani,
Marcelo Zubaran II. Dalmaz, Carla III. Título.
NLM: QT 235
AGRADECIMENTOS
Ao Marcelo, meu orientador, pela confiança, apoio, pela imensa motivação e
paciência, assim como pelos ensinamentos, oportunidades, pelo exemplo de profissionalismo
e pelo afeto, desde o princípio desta minha trajetória.
À Carla, minha co-orientadora, pelo acolhimento no laboratório 11, pela delicadeza,
sensibilidade e carinho, pela atenção e disponibilidade, sempre vibrando a cada novo achado e
incentivando novas idéias. Agradeço também pelo aprendizado e pelo exemplo de
profissionalismo.
Aos meus queridos colegas e amigos do laboratório 11 pela receptividade,
colaboração, companheirismo, alegria e amizade.
Aos meus pais, Sílvia e Carlos, e à minha irmã, Cátia, pelo amor, carinho, pela
compreensão nos momentos de estresse e pelo apoio na superação das dificuldades.
Ao Roger, pelo amor, estímulo, companheirismo e atenção, e pela compreensão nos
momentos em que estive ausente.
Aos queridos amigos Patrícia e André que foram fundamentais para a minha inserção
no laboratório 11, sempre depositando confiança e motivação sobre todas as idéias propostas,
incentivando a superar obstáculos, criando oportunidades, e compondo uma excelente
parceria de trabalho e um forte laço de amizade.
À professora Sandra Machado, pela injeção de estímulo, disponibilidade para discutir
idéias, pelo apoio, confiança e carinho.
À Universidade (UFRGS) e ao Programa de Pós-Graduação (PPGCM: Pediatria) pela
oportunidade.
Ao CNPq por viabilizar este trabalho.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................01
1.1 EVENTOS PRECOCES E ALTERAÇÃO DO PADRÃO SAÚDE-DOENÇA NA
VIDA ADULTA........................................................................................................................01
1.2 INTERAÇÃO MATERNO-INFANTIL...........................................................................02
1.3 ESTRESSE NEONATAL..................................................................................................03
1.4 EXPOSIÇÃO A GLICOCORTICÓIDES E PREFERÊNCIA ALIMENTAR............04
1.5 COMPORTAMENTO ALIMENTAR E ALTERAÇÕES METABÓLICAS..............07
1.6 SÍNDROME METABÓLICA ...........................................................................................08
2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................................10
3 OBJETIVOS..........................................................................................................................11
4 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................12
4.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS..........................................................................................12
4.2 CÁLCULO DO TAMANHO AMOSTRAL.....................................................................13
4.3 MODELO DE MANIPULAÇÃO NEONATAL..............................................................14
4.4 HABITUAÇÃO AO ALIMENTO NOVO .......................................................................14
4.5 EXPOSIÇÃO CRÔNICA AO ALIMENTO PALATÁVEL NA CAIXA-MORADIA....
....................................................................................................................................................15
4.6 COLETA DE SANGUE E DISSECÇÃO DA GORDURA ABDOMINAL..................15
4.7 ANÁLISES BIOQUÍMICAS.............................................................................................16
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................................................................................16
RESULTADOS (ARTIGO).....................................................................................................17
5 DISCUSSÃO..........................................................................................................................45
CONCLUSÃO...........................................................................................................................51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................53
LISTA DE ABREVIATURAS
ACTH: Hormônio adrenocorticotrófico
GCs: Glicocorticóides
HDL: High-density lipoprotein
HPA: Hipotálamo-pituitária-adrenal
RNA: Ácido ribonucléico
SNC
: Sistema nervoso central
RESUMO
Estudos prévios demonstraram que ratos manipulados no período neonatal apresentavam um
maior consumo de alimento doce na vida adulta, em comparação com ratos não manipulados,
quando esse alimento lhes é oferecido durante curtos períodos de tempo. O objetivo deste
trabalho foi avaliar os efeitos da manipulação neonatal sobre o padrão metabólico de animais
adultos expostos cronicamente a uma dieta hipercalórica e palatável (chocolate). Desta forma,
foram medidos o consumo de alimentos (ração padrão e chocolate), ganho de peso corporal,
depósito de gordura abdominal, peso das glândulas adrenais e parâmetros bioquímicos como
lipídios, glicose, insulina, e corticosterona plasmáticos em ratos adultos que foram expostos
ou não à manipulação neonatal (10 min/dia, nos 10 primeiros dias de vida). Ratos que foram
manipulados no período neonatal apresentaram uma ingestão de chocolate aumentada, porém
este consumo diminuiu com o passar do tempo, atingindo níveis semelhantes aos dos animais
não manipulados. Ratos machos manipulados apresentaram maior peso corporal, assim como
maior eficiência calórica e níveis de triglicerídeos diminuídos no plasma, independentemente
da dieta, enquanto que ratas fêmeas não manipuladas que receberam chocolate apresentaram
depósito de gordura abdominal aumentado. Também foi observado, nas ratas fêmeas, maior
depósito de gordura abdominal, níveis mais elevados de colesterol total e de glicose, bem
como níveis mais baixos de insulina, quando comparadas com ratos machos. O consumo de
chocolate reduziu o peso das glândulas adrenais tanto nos animais manipulados quanto nos
controles. Assim, esses achados sugerem que a manipulação neonatal induz um padrão
metabólico particular, o qual parece proteger os animais dos efeitos deletérios de uma dieta
hiperpalatável e hipercalórica, e ainda, a manipulação parece afetar diferentemente ratos
machos e fêmeas.
PALAVRAS CHAVE: manipulação neonatal, estresse neonatal, dieta palatável, padrão
metabólico.
SUMMARY
Previous studies have already observed that neonatal handled rats consume more sweet food
compared to non-handled ones in adult life, when this type of food is offered during short
intervals of time. The aim, in this study, was to assess the effects of neonatal handling on the
metabolic pattern of adult rats chronically exposed to a palatable diet (chocolate). We
measured the consumption of foods (standard lab chow and chocolate), body weight gain,
abdominal fat deposition, adrenal glands’ weight and biochemical measures such as plasma
lipids, glucose, insulin, and corticosterone in adult rats which had been exposed or not to
neonatal handling (10 min/day, 10 first days of life). An increased intake of chocolate in
handled rats was found, but this consumption decreases as the days passed by, reaching the
same levels as non-handled animals. Handled male animals presented higher body weight,
higher caloric efficiency and lower plasma triglycerides levels, independently of the diet,
while non-handled females rats receiving chocolate presented increased abdominal fat
deposition. Female rats also presented increased abdominal fat deposition, higher total
cholesterol and glucose levels as well as lower insulin in comparison to males. Interestingly,
chocolate consumption diminished adrenal glands’ weight in both groups. These findings
suggest that neonatal handling induces a particular metabolic pattern, which seems to protect
the animals against deleterious effects of a highly palatable, highly caloric diet, and also it
seems to differentially affect females and males.
KEY WORDS: neonatal handling, neonatal stress, palatable diet, metabolic pattern.
1 INTRODUÇÃO
1.1 EVENTOS PRECOCES E ALTERAÇÃO DO PADRÃO SAÚDE-DOENÇA NA
VIDA ADULTA
Desde a década de 70, estudos avaliando crescimento e desenvolvimento infantil vêm
despertando o interesse de pesquisadores, na busca de uma melhor compreensão do impacto
de um evento precoce sobre a morbidade mais tarde na vida, assim como dos mecanismos
envolvidos nessa relação causal.
Durante a vida fetal, órgãos e tecidos do corpo passam pelo chamado período crítico
do desenvolvimento (WIDDOWSON, MCCANCE, 1975). Assim, um estímulo ou insulto
manifestado neste período pode prejudicar a função de uma estrutura ou ajustar um sistema
fisiológico (BARKER et al., 1993; LUCAS, 1994; SINGHAL, LUCAS, 2004), e os efeitos de
um insulto precoce podem ser observados ao longo de toda a vida (LUCAS, 1991;
BENEDIKTSSON et al., 1993). Dessa forma surge, então, o conceito de “programação”, a
qual é definida como o resultado da evolução das respostas adaptativas, pelas quais o feto
altera sua fisiologia e estrutura, na expectativa de um ambiente futuro que ele encontrará após
o nascimento (BARKER, 1998; GLUCKMAN, HANSON, 2004).
Eventos ocorridos durante um período precoce do desenvolvimento programam
alterações nos parâmetros metabólico, fisiológico e estrutural (BARKER, 1995), e esses
efeitos produzidos apresentam-se de forma profunda e permanente na vida adulta, podendo,
ainda, afetar gerações seguintes (METCALFE, MONAGHAN, 2001).
Estudos realizados em humanos demonstram que eventos ocorridos durante a vida
fetal estão associados com a ocorrência de diabetes do tipo II (FORSEN et al., 2000),
diminuída sensibilidade à insulina (SOTO, MERICQ, 2005) e maior vulnerabilidade para o
desenvolvimento de obesidade abdominal (LAITINEN et al., 2004).
02
Outros autores abordam a influência de um ambiente uterino adverso sobre o aumento
da pressão arterial (LAW et al., 2002), dos níveis séricos de colesterol (DAVIES et al., 2004),
bem como do risco para o desenvolvimento de síndrome metabólica (KANAKA-
GANTENBEIN et al., 2003) e doença cardiovascular (ERIKSSON et al., 2001; SYDDALL et
al., 2005) na vida adulta. De forma semelhante, estudos envolvendo animais demonstram que
eventos precoces programam alterações no desenvolvimento endócrino-metabólico (LESAGE
et al., 2001), assim como na fisiologia cardiovascular (O'REGAN et al., 2004) na vida adulta.
Adicionalmente, a literatura aborda que um crescimento acelerado em períodos
cruciais do desenvolvimento pode ter importantes conseqüências adversas sobre a saúde,
incluindo alterações metabólicas persistentes (FEWTRELL et al., 2000; PARSONS et al.,
2001). Algumas evidências demonstram que indivíduos expostos a um ambiente uterino
adverso e que, posteriormente, apresentam um padrão de crescimento compensatório nos
primeiros anos de vida, têm um risco aumentado para o desenvolvimento de resistência à
insulina (ERIKSSON et al., 2002), diabetes tipo II (FORSEN et al., 2000), hipertensão
(BARKER et al., 2002), síndrome metabólica (FAGERBERG et al., 2004) e evento
cardiovascular (REMACLE et al., 2004) mais tarde na vida.
Já que eventos precoces têm efeitos determinantes sobre o padrão de saúde-doença na
vida adulta, dessa forma, caberia investigar a possibilidade desses eventos protegerem contra
alterações desse padrão, quando animais adultos são desafiados com uma exposição crônica a
uma dieta hipercalórica e hiperpalatável.
1.2 INTERAÇÃO MATERNO-INFANTIL
A relação materno-infantil desempenha um papel determinante em diversos aspectos
relacionados à saúde mental (NIEMI et al., 2004
a,b
), comportamento, incluindo
comportamento alimentar (WRIGHT et al., 2006
a
, BURDETTE et al., 2006) e metabolismo
(BURDETTE et al., 2006; WRIGHT et al., 2006
b
; FAITH et al., 2003). Em mamíferos, a mãe
03
representa o principal estímulo ambiental, assim como o mais importante provedor para o seu
descendente, de forma que determinadas variáveis associadas com a mãe correlacionam-se
com desfechos observados na criança mais tarde na vida (SAVINO et al., 2006). Além disso,
o cuidado materno exerce um efeito profundo, persistente, o qual pode, ainda, estender-se
entre gerações em animais (ZHANG et al., 2006; CHAMPAGNE et al., 2001) e humanos
(PRUESSNER et al., 2004).
Estudos experimentais abordando comportamento materno demonstram que filhotes
de mães mais cuidadoras, apresentam reduzida resposta a um estresse agudo quando adultos,
em razão da aumentada expressão de RNA mensageiro para receptores de glicocorticóides no
hipocampo (LIU et al., 1997), o que aumenta a retroalimentação negativa. Adicionalmente,
esses animais apresentam menor medo, maior exploração quando expostos a um ambiente
novo e menor latência para consumir um novo alimento (FRANCIS et al., 1999; CALDJI et
al., 1998). Dessa forma, o cuidado materno durante a infância parece ter um papel
fundamental na programação das respostas comportamentais e neuroendócrinas ao estresse na
vida adulta (CAMERON et al., 2005; LIU et al., 1997; CIRULLI et al., 2003).
Considerando a importância do cuidado materno no início da vida e suas implicações
subseqüentes, tem se observado um crescente incentivo à prática do contato precoce materno-
infantil nas maternidades, através da criação de Programas de Saúde Pública direcionados
para os benefícios gerados por essa interação. Efeitos do contato materno-infantil têm sido
demonstrados sobre a modulação do sistema motor do recém-nascido (FERBER,
MAKHOUL, 2004), desenvolvimento cognitivo e neurológico (CHARPAK et al., 2005;
FELDMAN, EIDELMAN, 2003), além de prepará-lo para o enfrentamento do ambiente
extra-uterino e seus estímulos.
1.3 ESTRESSE NEONATAL
Hans Selye, pioneiro na pesquisa sobre efeitos biológicos da exposição a um estímulo
estressor, introduziu o conceito de estresse em 1936. Conforme este pesquisador, “estresse” é
04
definido como uma resposta do organismo a um estressor, sendo o objetivo da resposta ao
estresse manter a estabilidade do sistema fisiológico, ou seja, a homeostase. Tal resposta
envolve a liberação de epinefrina pela medula adrenal e de glicocorticóides (GCs) pelo córtex
da adrenal. Segundo Goldstein and McEwen (2002), “estresse” refere-se à resposta causada
por uma sucessão de eventos que desafia a homeostase.
Define-se “estressor” como um desafio ao indivíduo, que perturba a homeostase e
requer uma resposta adaptativa ou, ainda, que pode ser interpretado equivocadamente como
ameaça e resultar em uma resposta comportamental ou hormonal (MCEWEN, 2002).
O período neonatal de um rato, constituído pelas duas primeiras semanas de vida,
corresponde ao período perinatal em humanos. Neste período, o desenvolvimento de várias
estruturas e sistemas, como o sistema nervoso central (SNC), ainda se faz presente.
Denominado de período hiporresponsivo ao estresse (SAPOLSKY, MEANEY, 1986), os
primeiros 15 dias após o nascimento são caracterizados por uma fase de diminuída resposta
adrenocortical ao estímulo estressor, na qual é observada uma realçada sensibilidade à
retroalimentação negativa dos glicocorticóides na hipófise (WALKER et al., 1986) e
diminuída responsividade ao ACTH na adrenal (YOSHIMURA et al., 2003).
Sendo este período na vida do rato um período crítico do desenvolvimento, a
submissão precoce a um estressor determina alterações neuroquímicas e comportamentais
identificáveis ao longo da vida. Além disso, outras experiências precoces, tais como a relação
mãe-filhote, interagem com fatores endógenos para determinar a resposta do organismo a um
estímulo estressor durante a vida adulta (PANAGIOTAROPOULOS et al., 2004). Dessa
forma, algumas abordagens experimentais foram desenvolvidas para estudar a relevante
interação mãe-filhote, assim como os efeitos de intervenções precoces sobre o comportamento
na vida adulta. Dentre elas está a manipulação neonatal, que será enfatizada neste trabalho.
O modelo de manipulação (LEVINE et al., 1967) é caracterizado por uma breve,
repetida e aparentemente inócua separação da mãe durante o período neonatal. Este protocolo
é conhecido por produzir um aumento no cuidado materno (BRANCHI et al., 2001; PRYCE
et al., 2001), e tal comportamento é observado no momento em que os filhotes retornam para
a caixa-moradia, após um curto período de separação.
05
Na vida adulta, animais submetidos à manipulação no período neonatal demonstram
menor medo, maior atividade e exploração quando expostos a um ambiente novo (LEVINE et
al., 1967) e a uma situação de perigo potencial, como quando exploram um ambiente
desconhecido na presença de um predador (PADOIN et al., 2001); esses animais também
apresentam diminuída reatividade ao estresse (LEVINE et al., 1967, ADER, GROTA, 1969;
PADOIN et al., 2001, PANAGIOTAROPOULOS et al., 2004), maior concentração de
receptores para glicocorticóides no hipocampo, que está relacionada com a exacerbação do
mecanismo de retroalimentação negativa dos GCs (MEANEY et al., 1989; ADER, GROTA,
1969), diminuição do padrão reprodutivo (PADOIN et al., 2001; GOMES et al., 2005) e
aumento no consumo de alimentos palatáveis (SILVEIRA et al., 2004).
A exposição crônica aos glicocorticóides está associada com a ocorrência de doenças
metabólicas tais como obesidade, hipertensão, hiperglicemia e alterações nos lipídios
sangüíneos, características clássicas da síndrome metabólica (BOULLU-CIOCCA et al.,
2005; BRUNNER et al., 2002; DUCLOS et al., 2005). Uma vez que os animais manipulados
apresentam diferente reatividade ao estresse, estando expostos a níveis mais baixos de GCs,
poderiam apresentar uma menor predisposição para essas doenças de origem metabólica, pois
esses animais seriam menos suscetíveis aos efeitos prejudiciais decorrentes da exposição a
elevados níveis de GCs.
1.4 EXPOSIÇÃO A GLICOCORTICÓIDES E PREFERÊNCIA ALIMENTAR
Aguda ou cronicamente, a exposição aos glicocorticóides ou a certos modelos de
estresse crônico está relacionada com um aumento no consumo de alimentos palatáveis em
ratos adultos (ELY et al., 1997; PECORARO et al., 2004; SILVEIRA et al., 2004), talvez
relacionado com uma alteração do estado de ansiedade destes animais (ELY et al., 1997). O
consumo de alimentos palatáveis reduz a resposta do eixo HPA, sendo uma resposta
adaptativa ao estresse (PECORARO et al., 2004). Assim, os glicocorticóides agem
06
estimulando a ingestão de alimentos com elevado valor energético e alterando os estoques de
gordura abdominal (PECORARO et al., 2005; DALLMAN et al., 2005). Da mesma forma,
em humanos, elevados níveis de GCs após estresse aumentam o consumo de alimentos
altamente calóricos e estão associados com o comportamento de comer compulsivo (EPEL et
al., 2001; FREEMAN, GIL, 2004). Alterações na atividade do eixo HPA estão relacionadas
com distúrbios alimentares como bulimia e anorexia nervosa (FICHTER et al., 1990; KAYE
et al., 1988).
A atividade do eixo HPA também pode ser influenciada pelo tipo de alimento
consumido. Uma dieta hipercalórica, rica em alimento doce e gordura, provoca uma redução
na resposta do eixo ao estresse (PECORARO et al., 2004), sugerindo um efeito metabólico-
periférico da dieta sobre o cérebro (DALLMAN et al., 2003). Entretanto, uma dieta contendo
alto teor de gordura realça os níveis de glicocorticóides basal e induzido por estresse,
possivelmente agindo como um fator estressor (TANNENBAUM et al., 1997; KAMARA et
al., 1998).
Animais submetidos a estresse no período neonatal, quando se utiliza a simples
manipulação do animal durante um curto período de tempo (10 minutos) também apresentam,
quando adultos, alterações na preferência alimentar (SILVEIRA et al., 2004). Assim, além de
apresentarem uma atividade diferencial do eixo HPA (LEVINE et al., 1967), esses animais
também mostram alteração no comportamento alimentar, aumentando o consumo de doce
quando este é oferecido durante breves períodos (3 minutos) em um outro ambiente fora da
caixa-moradia, por 6 dias consecutivos. Esse efeito é observado com o animal submetido à
restrição alimentar e também com o animal alimentado ad libitum (SILVEIRA et al., 2004). O
fato do animal ser exposto ao alimento doce de forma aguda influencia o seu comportamento
frente a este alimento, já que existe um maior interesse pela novidade, o qual é refletido no
alterado consumo do alimento palatável. No entanto, não está ainda determinado se esses
animais manipulados no período neonatal também apresentariam aumento do consumo se
houvesse uma oferta crônica de alimentos palatáveis.
07
1.5 COMPORTAMENTO ALIMENTAR E ALTERAÇÕES METABÓLICAS
A dieta pode afetar a saúde do organismo. Por exemplo, sabe-se que a ingestão
excessiva de alguns nutrientes da dieta está relacionada com maior risco para determinadas
doenças, como hipertensão e diabetes (GROSS et al. 2004, KROUSEL-WOOD et al., 2004).
Foi estabelecido que o consumo de ácidos graxos trans e de carboidratos simples está
associado com aumentado risco para doença coronariana (DYERBERG et al., 2004; LIU et
al., 2000
a
). O consumo de alimentos com alto índice glicêmico também contribui para um
aumento no risco de doença cardiovascular (BELL, SEARS, 2003) e alguns tipos de câncer
(TAVANI et al., 2006).
O fato de que diferentes dietas podem afetar a saúde também é observado quando se
considera um maior consumo de frutas e vegetais, combinado com um consumo reduzido de
gordura saturada, situação que produz efeito protetor contra a mortalidade por doença
coronariana (TUCKER et al., 2005). Outros trabalhos demonstram que somente uma maior
ingestão de frutas e vegetais reduz o risco de doença cardiovascular (LIU et al., 2000
b
). Além
disso, uma diminuição no consumo de carboidratos, principalmente complexos, melhora os
parâmetros sangüíneos característicos da síndrome metabólica (SHARMAN et al., 2004).
Os hábitos alimentares são estabelecidos no início da vida. Sabe-se que a alimentação
na infância é um fator determinante da dieta na vida adulta e desempenha um importante
papel na prevenção de doenças (MIKKILA et al., 2004). Escolhas dietéticas saudáveis na
infância, como uma dieta rica em vegetais, estão associadas com uma alimentação saudável
mais tarde na vida (MAYNARD et al., 2005) e com menor risco de evento cardiovascular
(NESS et al., 2005). Assim sendo, intervenções no início da infância capazes de levar a
alterações na preferência alimentar mais tarde na vida devem ser consideradas como
potenciais fatores modificadores da dieta do organismo, e o conhecimento de seus efeitos e
mecanismos nos permitirá ações preventivas e, quando necessário, um tratamento adequado
para esses indivíduos.
08
1.6 SÍNDROME METABÓLICA
A síndrome metabólica caracteriza-se por um conjunto de anormalidades metabólicas
sendo definida pela presença de pelo menos 3 dos seguintes componentes:
NCEP ATP III
Glicemia de jejum
Circunferência cintura
Triglicerídeos
HDL - colesterol
Hipertensão
110 mg/dl
102 cm (homens), 88 cm (mulheres)
150 mg/dl
< 40 mg/dl (homens), < 50 mg/dl (mulheres)
130/ 85 mmHg
NCEP ATP III: National Cholesterol Education Program Adult Treatment Panel III - 2001.
Uma série de distúrbios metabólicos freqüentemente observados em pacientes com
resistência à insulina e diabete do tipo 2 estão individualmente associados com risco
aumentado para doença coronariana (LARSEN et al., 2003). Desta forma, a síndrome
metabólica está relacionada com o desenvolvimento de diabete melito do tipo 2 e doença
cardiovascular (GROSS et al., 2004; MEERARANI et al., 2006). Por sua vez, o diabete do
tipo 2 tem sido associado com aumentado risco para morbi-mortalidade cardiovascular,
independentemente de outros fatores de risco (LARSEN et al., 2003; SMIT, ROMIJN, 2006).
Algumas abordagens têm demonstrado associação entre hiperinsulinemia, importante
componente da síndrome metabólica (LAMOUNIER-ZEPTER et al., 2006; LARSEN et al.,
2003), e aumento no risco para doença coronariana (HANLEY et al., 2002; DESPRES et al.,
1996). A resistência à insulina pode causar disfunção endotelial vascular, provocada por um
desequilíbrio entre vasodilatadores e vasoconstritores endoteliais, e hipertensão (POTENZA
et al., 2005). Além disso, esta disfunção pode determinar o desenvolvimento de aterosclerose
e como conseqüência, aumentar o risco de evento cardiovascular (HSUEH, QUINONES,
2003).
09
Alterações nas concentrações de lipídios plasmáticos também estão relacionadas com
maior risco cardiovascular, visto que níveis elevados de triglicerídios e diminuídos de HDL
contribuem para um estado pró-inflamatório, promovendo a formação de placas
ateroscleróticas e aumentando o risco de evento cardiovascular (MEERARANI et al., 2006).
Aumentos observados no índice colesterol total/HDL-c estão relacionados com a síndrome
metabólica e, conseqüentemente, com elevado risco cardiovascular (REAL et al., 2006).
Foi demonstrado que o acúmulo de gordura abdominal está independentemente
associado com síndrome metabólica (CARR et al., 2004; SALMENNIEMI et al., 2004), e
risco aumentado para diabete do tipo 2 e doença coronariana (DESPRES, 2006). Além disso,
o aumento da gordura abdominal está relacionado com diminuída sensibilidade à insulina,
sendo um importante determinante desta sensibilidade e função das células-beta pancreáticas
(UTZSCHNEIDER et al., 2004).
2 JUSTIFICATIVA
Eventos precoces ocorridos na fase de desenvolvimento e crescimento somático
podem influenciar o padrão de saúde e doença na idade adulta. Há fortes evidências
associando a ocorrência de experiências estressantes precoces com desempenho metabólico
precário em indivíduos adultos. Neste caso temos como exemplo, a associação da restrição de
crescimento intra-uterino com a obesidade e a hipercolesterolemia no adulto. Contudo, não há
na literatura evidências sobre intervenções precoces que confiram proteção contra desfechos
metabólicos inadequados. Portanto, este trabalho se propõe a estudar esta lacuna avaliando a
influência de uma possível intervenção protetora para alterações metabólicas em animais
submetidos a um evento nutricional de risco.
3 OBJETIVOS
Este trabalho teve como objetivo verificar os efeitos da manipulação neonatal sobre o
padrão metabólico de animais adultos expostos cronicamente a uma dieta hipercalórica e
palatável (chocolate). Assim, foi avaliado o consumo de alimentos, peso corporal e depósito
de gordura abdominal bem como níveis plasmáticos de glicose, insulina, lipídios e
corticosterona. A hipótese do presente trabalho era de que a manipulação neonatal esteja
associada com um padrão diferencial de alimentação e ganho de peso e, possivelmente, com
uma particular adaptação metabólica a este tipo de dieta.
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 ANIMAIS EXPERIMENTAIS
Ratas Wistar prenhes provenientes do Biotério do Instituto de Biociências da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), foram randomicamente selecionadas. As
ratas permaneceram, individualmente, em caixas-moradia, confeccionadas em Plexiglas
medindo 65 x 25 x 15 cm, com assoalho recoberto de maravalha, e foram mantidas em um
ambiente controlado: ciclo normal claro/escuro de 12 horas, temperatura de 22 + 2°C, limpeza
das caixas uma vez por semana, água e ração padrão ad libitum. Todas as ninhadas foram
padronizadas em oito filhotes nas primeiras 24hs após o nascimento e mantidas intactas,
exceto para os procedimentos de manipulação que foram realizados entre às 09:00hs e às
11:00hs.
Mais de uma ninhada foi submetida ao procedimento de manipulação no mesmo dia;
assim, neste período de 2 horas de procedimento estava incluído o tempo para: instalar a
incubadora, trazer as caixas-moradia do biotério para a sala de experimentos, habituar
brevemente as genitoras à nova sala, remover cuidadosamente os filhotes da ninhada, fazer a
manipulação em si, e em seguida, retornar os filhotes para a mãe e, novamente após um breve
período, retornar a caixa-moradia para o biotério. O pesquisador tinha o cuidado de trocar as
luvas entre a manipulação de cada ninhada, para evitar a dispersão de qualquer tipo de odor de
uma ninhada para outra.
O dia do nascimento foi considerado o dia 0 (zero). As ninhadas foram desmamadas e
separadas por sexo no dia 21 pós-natal. Foram utilizados no máximo dois filhotes do mesmo
sexo e da mesma ninhada para o mesmo grupo. Após o desmame, os animais foram mantidos
em torno de quatro a cinco por caixa. Os animais tinham livre acesso à ração padrão e água,
exceto durante o período de exposição à dieta palatável quando grupos específicos também
receberam chocolate na caixa-moradia.
13
A linha do tempo esquematizada abaixo demonstra a ordem em que os procedimentos
experimentais foram realizados, nos diferentes momentos da vida dos animais:
4.2 CÁLCULO DO TAMANHO AMOSTRAL
O número de animais utilizados foi estimado a partir de experimentos prévios
(SILVEIRA et al., 2004, 2006), nos quais ratos manipulados no período neonatal consomem
aproximadamente 60% mais alimento palatável que ratos controles. Considerando o desvio-
padrão de 0,6 gramas proveniente desses estudos, adotando um nível de significância de 5% e
um poder de 80%, foi determinado o número de caixas necessárias para avaliar o consumo.
Para as outras variáveis, foi estabelecida uma possível diferença de 20% entre os grupos,
estimando um desvio-padrão semelhante ao observado previamente (SILVEIRA et al., 2006),
adotando novamente um nível de significância de 5% e um poder de 80%. Assim, um total de
83 animais foi utilizado em diferentes experimentos, derivados de 25 ninhadas. Todos os
procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul – UFRGS, Brasil.
Dias de vida pós-natal
1 10 21 60 83 90 120
Manipulação
Neonatal
Desmame e
Sexagem
Habituação
ao chocolate
Randomização
Exposição
crônica ao
chocolate
Sacrifício
0
Nascimento
14
4.3 MODELO DE MANIPULAÇÃO NEONATAL
Grupo não-manipulado: Filhotes permaneceram com a mãe, sem manipulação
neonatal, até o desmame. A limpeza rotineira das caixas foi interrompida durante esse
período.
Grupo manipulado: Este procedimento foi realizado conforme anteriormente descrito
(SILVEIRA et al., 2004). A mãe foi gentilmente afastada para um lado da caixa-moradia e os
filhotes foram removidos do ninho e colocados dentro de uma caixa limpa forrada com papel
toalha. Então, a ninhada foi colocada em uma incubadora ajustada para manter uma
temperatura ambiente de 30-32°C (temperatura da água de 34
o
C), enquanto a genitora foi
mantida na caixa-moradia posicionada ao lado da incubadora. Após 10 minutos, os filhotes
retornaram para sua respectiva mãe. Este procedimento foi realizado do dia 1 ao dia 10 pós-
natal, em seguida, os filhotes foram mantidos com a mãe, sem manipulação, até o dia 21 pós-
natal.
4.4 HABITUAÇÃO AO ALIMENTO NOVO
A partir do dia 60 de vida, os ratos foram habituados a um novo ambiente contendo
um alimento novo. Neste experimento, os animais foram colocados em uma caixa retangular
medindo 40 x 15 x 20 cm, com partes inferior e laterais revestidas em madeira e parte
superior em vidro transparente. Uma porção de chocolate pesada previamente (chocolate ao
leite – Neugebauer®) foi colocada em uma das extremidades da caixa-corredor. Os animais
foram habituados a esse ambiente por 5 dias, durante 3 minutos cada dia, sob restrição
alimentar (recebendo em torno de 80% do consumo habitual). No 6º dia, os ratos foram
testados para o consumo de alimento palatável, após terem recebido ração padrão ad libitum
nas 24 horas prévias. Esses procedimentos foram realizados para verificar se os animais
comeriam chocolate da mesma forma que eles comumente ingerem outros tipos de alimentos
palatáveis (SILVEIRA et al., 2004), com e sem restrição alimentar. Após esse período de
15
habituação, os animais receberam ração padrão ad libitum. Todos os procedimentos seguintes
foram realizados com os animais em estado alimentado.
4.5 EXPOSIÇÃO CRÔNICA AO ALIMENTO PALATÁVEL NA CAIXA-MORADIA
No 83º dia de vida, todos os animais foram pesados e randomizados em diferentes
grupos do mesmo sexo, sendo colocados em números de 3 a 4 por caixa. Os grupos foram
subdivididos em 1) Não-manipulado + ração padrão, 2) Não-manipulado + chocolate + ração
padrão, 3) Manipulado + ração padrão e 4) Manipulado + chocolate + ração padrão. Uma
semana depois, grupos específicos começaram a receber chocolate ad libitum na caixa-
moradia. Durante 30 dias, porções previamente pesadas de chocolate e de ração padrão foram
oferecidas, e a quantidade restante foi medida diariamente para avaliar o consumo. Os animais
foram pesados uma vez por semana ao longo do período de exposição à dieta. Passados 30
dias de exposição à dieta palatável, os ratos foram sacrificados por decapitação após 6 horas
de jejum. O consumo de alimentos foi medido por caixa e então dividido pelo número de
animais em cada caixa para determinar o consumo médio por animal. Na análise estatística do
consumo de alimentos, n representa o número de caixas. A Tabela 1 (ver artigo) descreve a
composição nutricional das dietas usadas no estudo.
4.6 COLETA DE SANGUE E DISSECÇÃO DA GORDURA ABDOMINAL
O sangue do tronco foi coletado em tubos heparinizados para determinação de
insulina, glicose, colesterol total, HDL-colesterol, triglicerídios e corticosterona. Os tubos
foram centrifugados a 4ºC e o plasma foi separado e congelado a - 20ºC até o dia das análises.
16
As glândulas adrenais foram cuidadosamente dissecadas e pesadas. As duas maiores
porções da gordura abdominal (gonadal e retroperitoneal) foram dissecadas e pesadas
separadamente. Tanto as glândulas adrenais quanto os depósitos de gordura abdominal foram
pesados utilizando uma balança com precisão de 0,0001g.
4.7 ANÁLISES BIOQUÍMICAS
O plasma foi extraído com acetato de etila, e o extrato evaporado e dissolvido para
avaliação da corticosterona utilizando um kit ELISA (Cayman Chemical Co., Ann Arbor, MI,
EUA). Os níveis de insulina plasmática também foram mensurados utilizando ELISA (Alpco
Diagnostics, Mercodia AB, Uppsala, Suécia). A glicemia foi medida pelo método de glicose-
oxidase (BioSystems, Barcelona, Espanha). Os níveis de colesterol total e de triglicerídios
foram medidos com kits comerciais (Laborclin, Pinhais, PR, Brasil). O HDL–colesterol foi
mensurado usando um kit proveniente do laboratório Wiener, Rosário, Argentina.
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram expressos em média + erro padrão da média, e foram analisados por
ANOVA de duas vias, três vias, ou por ANOVA de medidas repetidas, seguidas pelo teste
post-hoc de Duncan, quando indicado. O nível de significância estabelecido foi de 5%. O
tamanho amostral foi calculado como descrito acima.
RESULTADOS
Artigo:
Could preference for palatable foods, in neonatally handled rats, alter metabolic pattern
in adult life? Artigo aceito para publicação na revista Pediatric Research.
Artigo 18
Artigo: A preferência por alimentos palatáveis, em ratos manipulados no período
neonatal, altera os padrões metabólicos na vida adulta?
RESUMO
Estudos prévios demonstram que ratos manipulados no período neonatal consomem mais
alimento doce na vida adulta comparados com ratos não manipulados. O objetivo do presente
estudo foi avaliar os efeitos da manipulação neonatal sobre o padrão metabólico de ratos
adultos expostos cronicamente a uma dieta hiperpalatável e hipercalórica (chocolate). Dessa
forma, foram medidos o consumo de alimentos (ração padrão e chocolate), ganho de peso
corporal, depósito de gordura abdominal bem como níveis de lipídios plasmáticos, glicemia,
insulinemia, e corticosterona de ratos adultos manipulados (10 min/dia, nos 10 primeiros dias
de vida) ou não manipulados no período neonatal. Animais manipulados apresentaram um
consumo aumentado de chocolate, porém esse consumo diminuiu com o passar do tempo de
exposição. Ratos machos manipulados exibiram maior peso corporal e maior eficiência
calórica, além de níveis mais baixos de triglicerídios plasmáticos. Fêmeas não manipuladas,
que foram expostas cronicamente à dieta hipercalórica, apresentaram depósito de gordura
abdominal aumentado quando comparadas com fêmeas manipuladas. Ratas fêmeas
demonstraram depósito de gordura abdominal aumentado, níveis mais elevados de colesterol
total e glicose no plasma, assim como níveis mais baixos de insulina em comparação com
ratos machos. O consumo de chocolate diminuiu o peso das glândulas adrenais tanto nos
animais manipulados quanto nos controles. Assim, essas observações sugerem que a
manipulação neonatal induz um padrão metabólico particular, e ainda, parece afetar
diferentemente ratos machos e fêmeas.
PALAVRAS CHAVE: manipulação neonatal, estresse neonatal, dieta palatável, padrão
metabólico.
ABREVIAÇÕES: HPA, eixo hipotálamo-pituitária-adrenal.
Artigo 19
INTRODUÇÃO
A interação materno-infantil tem uma importante influência sobre a programação do
padrão comportamental (1,2) e metabólico (2,3) dos descendentes que pode persistir durante a
vida adulta. Em mamíferos, a mãe é o principal estímulo ambiental e a fonte provedora para a
criança, sabe-se também que o cuidado materno tem um efeito profundo, permanente, que
pode estender-se entre gerações em animais (4,5) e humanos (6).
Algumas abordagens experimentais foram desenvolvidas para melhor estudar essa
interação. Uma dessas abordagens é a manipulação neonatal, que caracteriza-se por uma
breve, repetida e aparentemente inócua separação da mãe durante o período neonatal. A
manipulação neonatal modula o desenvolvimento do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal
(HPA) e está associada com diminuída reatividade ao estresse na vida adulta (7,8) e com
maior consumo de alimentos palatáveis (9).
Os glicocorticóides estão envolvidos no desenvolvimento de distúrbios alimentares
(10,11); eles também modulam a saliência para o consumo de um alimento palatável e
influenciam a distribuição de gordura abdominal (12). Além disso, uma exposição crônica aos
glicocorticóides está associada com características clássicas da síndrome metabólica
(13,14,15). Visto que a manipulação neonatal leva a uma função diferencial do eixo HPA e
também afeta o comportamento alimentar, possivelmente esses ratos poderiam exibir uma
adaptação especial quando expostos a um desafio em específico, neste caso, a exposição
crônica a uma dieta hiperpalatável.
Assim, o objetivo desse estudo foi verificar os efeitos da manipulação neonatal sobre o
padrão metabólico de ratos adultos expostos cronicamente a uma dieta hiperpalatável e
hipercalórica (chocolate). Para isso o consumo de alimentos, peso corporal e depósito de
gordura abdominal foram medidos. Níveis plasmáticos de glicose, insulina, lipídios e
corticosterona também foram analisados. Nossa hipótese era de que a manipulação neonatal
esteja associada com um padrão diferencial de alimentação e ganho de peso e, possivelmente,
com uma particular adaptação metabólica a este tipo de dieta.
PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
Animais experimentais:
Ratas Wistar prenhes provenientes do Biotério do Instituto de Biociências da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil), foram randomicamente selecionadas.
Em seguida, foram mantidas individualmente na caixa-moradia em um ambiente controlado,
com água e ração padrão ad libitum. Todas as ninhadas foram padronizadas em oito filhotes
Artigo 20
nas primeiras 24hs após o nascimento e mantidas intactas, exceto para os procedimentos de
manipulação que foram realizados entre às 09:00hs e às 11:00hs. O pesquisador tinha o
cuidado de trocar as luvas entre a manipulação de cada ninhada, para evitar a dispersão de
qualquer tipo de odor de uma ninhada para outra.
O dia do nascimento foi considerado o dia 0 (zero). As ninhadas foram desmamadas e
separadas por sexo no dia 21 pós-natal. Foram utilizados no máximo dois filhotes do mesmo
sexo e da mesma ninhada para o mesmo grupo. Após o desmame, os animais foram mantidos
em torno de quatro a cinco por caixa. Um total de 83 animais foi utilizado em diferentes
experimentos, derivados de 25 ninhadas. O número de animais utilizados foi estimado a partir
de experimentos prévios (9, 16), nos quais ratos manipulados no período neonatal consomem
aproximadamente 60% mais alimento palatável que ratos controles. Considerando o desvio-
padrão de 0,6 gramas proveniente desses estudos, adotando um nível de significância de 5% e
um poder de 80%, foi determinado o número de caixas necessárias para avaliar o consumo.
Para as outras variáveis, foi estabelecida uma possível diferença de 20% entre os grupos,
estimando um desvio-padrão semelhante ao observado previamente (16), adotando novamente
um nível de significância de 5% e um poder de 80%. Todos os procedimentos foram
aprovados pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS,
Brasil.
Modelo de Manipulação Neonatal:
Grupo não-manipulado: Filhotes permaneceram com a mãe, sem manipulação
neonatal, até o desmame. A limpeza rotineira das caixas foi interrompida durante esse
período.
Grupo manipulado: Este procedimento foi realizado conforme anteriormente descrito
(9). A mãe foi gentilmente afastada para um lado da caixa-moradia e os filhotes foram
removidos do ninho e colocados dentro de uma caixa limpa forrada com papel toalha. Então, a
ninhada foi colocada em uma incubadora ajustada para manter uma temperatura ambiente de
30-32°C (temperatura da água de 34
o
C). Após 10 minutos, os filhotes retornaram para suas
respectivas mães. Este procedimento foi realizado do dia 1 ao dia 10 pós-natal, em seguida, os
filhotes foram mantidos com a mãe, sem manipulação, até o dia 21 pós-natal.
Artigo 21
Habituação ao alimento novo:
A partir do dia 60 de vida, os ratos foram habituados a um novo ambiente contendo
um alimento novo. Uma porção de chocolate pesada previamente (chocolate ao leite –
Neugebauer®) foi colocada em uma das extremidades da caixa-corredor. Os animais foram
habituados a esse ambiente por 5 dias, durante 3 minutos cada dia, sob restrição alimentar
(recebendo em torno de 80% do consumo habitual). No 6º dia, os ratos foram testados para o
consumo de alimento palatável, após terem recebido ração padrão ad libitum nas 24 horas
prévias. Esses procedimentos foram realizados para verificar se os animais comeriam
chocolate da mesma forma que eles comumente ingerem outros tipos de alimentos palatáveis
(9), com e sem restrição alimentar. Após esse período de habituação, os animais receberam
ração padrão ad libitum.
Exposição crônica ao alimento palatável na caixa-moradia:
No 83º dia de vida, todos os animais foram pesados e randomizados em diferentes
grupos do mesmo sexo, sendo colocados em números de 3 a 4 por caixa. Os grupos foram
subdivididos em 1) Não-manipulado + ração padrão, 2) Não-manipulado + chocolate + ração
padrão, 3) Manipulado + ração padrão e 4) Manipulado + chocolate + ração padrão. Uma
semana depois, grupos específicos começaram a receber chocolate ad libitum na caixa-
moradia. Durante 30 dias, porções previamente pesadas de chocolate e de ração padrão foram
oferecidas, e a quantidade restante foi medida diariamente para avaliar o consumo. Os animais
foram pesados uma vez por semana ao longo do período de exposição à dieta. Passados 30
dias de exposição à dieta palatável, os ratos foram sacrificados por decapitação após 6 horas
de jejum. O consumo de alimentos foi medido por caixa e então dividido pelo número de
animais em cada caixa para determinar o consumo médio por animal. Na análise estatística do
consumo de alimentos, n representa o número de caixas. A Tabela 1 descreve a composição
nutricional das dietas usadas no estudo.
Coleta de sangue e dissecção da gordura abdominal:
O sangue do tronco foi coletado em tubos heparinizados para determinação de
insulina, glicose, colesterol total, HDL-colesterol, triglicerídios e corticosterona. O plasma foi
separado e congelado a - 20ºC até o dia das análises.
Artigo 22
As glândulas adrenais foram dissecadas e pesadas. As duas maiores porções da
gordura abdominal (gonadal e retroperitoneal) foram dissecadas. Tanto as glândulas adrenais
quanto os depósitos de gordura abdominal foram pesados utilizando uma balança com
precisão de 0,0001g.
Análises bioquímicas:
O plasma foi extraído com acetato de etila, e o extrato evaporado e dissolvido para
avaliação da corticosterona utilizando um kit ELISA (Cayman Chemical Co., Ann Arbor, MI,
EUA). Os níveis de insulina plasmática também foram mensurados utilizando ELISA (Alpco
Diagnostics, Mercodia AB, Uppsala, Suécia). A glicemia foi medida pelo método de glicose-
oxidase (BioSystems, Barcelona, Espanha). Os níveis de colesterol total e de triglicerídios
foram medidos com kits comerciais (Laborclin, Pinhais, PR, Brasil). O HDL–colesterol foi
mensurado usando um kit proveniente do laboratório Wiener, Rosário, Argentina.
Análise estatística:
Os dados foram expressos em média + erro padrão da média, e foram analisados por
ANOVA de duas vias, três vias, ou de medidas repetidas, seguidas pelo teste post-hoc de
Duncan, quando indicado. O nível de significância estabelecido foi de 5%. O tamanho
amostral foi calculado como descrito acima.
RESULTADOS
Habituação ao chocolate (dias 1 a 5) e teste (dia 6)
Durante a habituação ao chocolate, foi observado um aumento no consumo com o
passar do tempo (ANOVA de medidas repetidas, P<0,001, n=22-25/grupo para machos e 15-
20/grupo para fêmeas). Foi demonstrado um efeito do grupo no qual animais manipulados no
período neonatal consumiram mais chocolate que animais não-manipulados (P=0,007).
Animais manipulados também exibiram aumentos mais relevantes no consumo com o passar
do tempo em comparação com não-manipulados (interação entre manipulação e tempo,
P=0,036), sem nenhuma interação entre gênero e tempo ou grupo. Na sessão de teste (dia 6),
ratos machos comeram mais que ratas fêmeas (ANOVA de duas vias, P=0,023), mas não
havia efeito do grupo nem interação. Esses resultados são apresentados na Figura 1.
Artigo 23
Consumo crônico de ração padrão e chocolate
A Figura 2 mostra o consumo das duas dietas durante o período de 30 dias. Foram
escolhidos arbitrariamente e analisados os consumos nos dias 1, 8, 15, 22 e 30 por uma
ANOVA de medidas repetidas, utilizando o consumo médio de cada caixa. Os grupos que
receberam chocolate diminuiram o consumo de ração padrão (Figura 2A e 2B; P=0,001, n=
3-4 caixas/grupo), e ratos machos consumiram mais ração padrão que ratas fêmeas (P<0,001).
Havia uma interação entre tempo e dieta (P=0,009) e tempo e gênero (P=0,008), porém
interações com o grupo não foram observadas.
Nas primeiras 24 horas de exposição ao chocolate, animais manipulados consumiram
mais chocolate em comparação com animais não-manipulados no período neonatal (ANOVA
de duas vias, P=0,044, n= 3-4 caixas/grupo), porém não havia efeito do gênero, nem
interação. Animais manipulados exibiram uma maior diminuição no consumo quando
comparados com animais não-manipulados (ANOVA de medidas repetidas, interação entre
tempo e grupo, P<0,001) embora todos os animais tenham demonstrado uma redução no
consumo com o passar do tempo (P<0,001). Ratas fêmeas apresentaram uma diminuição mais
discreta no consumo de chocolate (interação entre tempo e gênero, P=0,013), especialmente
as fêmeas não-manipuladas (interação entre tempo, grupo e gênero, P=0,021). Esses
resultados são apresentados nas Figuras 2C e 2D.
Preferência alimentar
Para estimar a preferência pelo chocolate sobre a ração padrão, as kilocalorias
derivadas do chocolate foram divididas pelo consumo calórico total. Todos os grupos
exibiram uma diminuição na preferência pelo chocolate com o passar do tempo (ANOVA de
medidas repetidas, P=0,005, n= 3-4 caixas/grupo), e não foram observadas interações (Tabela
2).
Ingestão calórica
Os grupos que receberam chocolate demonstraram uma maior ingestão calórica
comparada com a dos grupos que receberam somente ração padrão (ANOVA de três vias,
P<0,001, n= 3-4 caixas/grupo), adicionalmente, ratos machos exibiram um consumo calórico
aumentado (P<0,001), porém isso não é observado quando o consumo é expresso em
kilocalorias/gramas de peso corporal. A manipulação neonatal leva a um aumento da ingestão
Artigo 24
calórica total, entretanto, esse resultado quase alcançou significância estatística (P=0,055)
quando comparado com o de animais não-manipulados (Figura 3A).
Eficiência calórica
Para determinar o ganho de peso corporal como um resultado da ingestão calórica, o
ganho de peso em miligramas foi dividido pelo consumo calórico total no período de 30 dias.
Ratos machos exibiram uma maior eficiência calórica que ratas fêmeas (ANOVA de três vias,
P=0,003, n= 3-4 caixas/grupo), e não foram observados efeitos do grupo, da dieta, nem
interações. Entretanto, quando analisados machos e fêmeas separadamente, ratos machos
manipulados no período neonatal apresentaram uma eficiência calórica aumentada (P=0,050),
e não havia efeito da dieta, nem interações (Figura 3B).
Ganho de peso corporal
Animais que receberam chocolate (ANOVA de três vias, P=0,019, n= 3-4
caixas/grupo) e ratos machos (P<0,001) apresentaram os maiores ganhos de peso corporal
durante o período de 30 dias. Não havia efeito do grupo (P=0,066), nem interações (Figura
3C).
Conforme apresentado na Figura 4, havia um efeito do gênero sobre o peso corporal
(ANOVA de medidas repetidas, P<0,001, n= 11-13/grupo para machos e n= 7-11/grupo para
fêmeas), visto que ratos machos pesaram mais que ratas fêmeas. Enquanto todos os grupos
aumentaram o peso corporal com o passar do tempo (P<0,001), animais manipulados
(interação tempo e grupo, P=0,011), animais que foram expostos ao chocolate (interação
tempo e dieta, P=0,008) e ratos machos (interação tempo e gênero, P<0,001) exibiram os
maiores ganhos de peso. Foi observada uma interação entre tempo, grupo e gênero (P=0,012),
na qual ratos machos manipulados exibiram maior aumento no peso corporal com o passar do
tempo. Uma interação entre grupo e gênero quase alcançou significância estatística
(P=0,054).
Gordura abdominal
O depósito de gordura abdominal é expresso em relação ao peso corporal de cada
animal. Os grupos que consumiram chocolate apresentaram maiores depósitos de gordura
abdominal (ANOVA de três vias, P<0,001, n= 11-13/grupo para machos e 9-12/grupo para
Artigo 25
fêmeas), e esse depósito também apresentou-se maior em ratas fêmeas que em machos
(P=0,002). Uma interação marginalmente significativa entre dieta e gênero (P=0,07) foi
observada. Havia uma interação entre a manipulação neonatal, dieta e gênero (P= 0,05),
demonstrando que ratas fêmeas não-manipuladas expostas à dieta palatável tinham um
depósito de gordura abdominal aumentado, enquanto que ratas fêmeas manipuladas que
receberam chocolate não diferiram do grupo que recebeu ração padrão (Figura 5).
Glândulas adrenais
As medidas da razão peso das adrenais/peso corporal (dados não mostrados) como
também do peso das adrenais em valores absolutos foram realizadas (Figura 6). Em ambos os
casos, o consumo de chocolate levou a uma diminuição no peso das glândulas adrenais
(ANOVA de três vias, P<0,02, n= 11-13/grupo para machos e 7-11/grupo para fêmeas).
Ratos machos tinham uma menor razão peso das adrenais/peso corporal em comparação com
ratas fêmeas (P<0,001), e o mesmo resultado é observado quando expresso em valores
absolutos. Não foi observado efeito do grupo (P>0,1), nem interações.
Níveis de lipídios no plasma
Os resultados das medidas bioquímicas são apresentados na Tabela 3. Níveis mais
altos de colesterol total foram observados nas ratas fêmeas em comparação com ratos machos
(ANOVA de três vias, P<0,001, n= 11-13/grupo para machos e 7-11/grupo para fêmeas),
porém não havia efeito da dieta (P=0,467), grupo (P=0,070) ou interações. Nenhum efeito do
grupo (P=0,499), dieta (P=0,466) ou gênero (P=0,163) foi observado sobre os níveis de HDL-
colesterol. O consumo de chocolate aumentou os níveis de triglicerídios no plasma (P<0,001).
Havia uma interação entre grupo e gênero, demonstrando que ratos machos não-manipulados
tinham níveis mais altos de triglicerídios (P=0,024), e nenhum efeito isolado do grupo
(P=0,159) ou gênero (P=0,146) foi observado.
Níveis plasmáticos de glicose, insulina e corticosterona
Ratas fêmeas exibiram níveis mais altos de glicose no plasma comparados com os de
ratos machos (ANOVA de três vias, P<0,001, n= 6-7/grupo). Não foram demonstrados efeitos
da dieta (P=0,840), grupo (P=0,380) ou interações.
Artigo 26
Os níveis basais de corticosterona não foram afetados pela manipulação neonatal,
gênero ou dieta (P>0,05, n= 5-7/grupo), e não haviam interações entre esses fatores. Os níveis
de insulina plasmática, entretanto, foram mais baixos em ratas fêmeas que em ratos machos
(P=0,012, n= 6-7/grupo), e não foram demonstrados efeitos da manipulação neonatal, dieta ou
interações (P>0,05 para manipulação e dieta) (Tabela 4). Uma ANOVA de três vias
analisando a razão glicose/insulina, mostrou um efeito significativo do gênero (P=0,001), sem
qualquer efeito da manipulação, dieta ou interações (P>0,05). Adicionalmente, uma ANOVA
de três vias do HOMA-IR (Homeostasis Model Insulin Resistance Index), utilizado para
avaliar resistência à insulina, não mostrou efeito significativo do gênero, manipulação
neonatal, dieta ou interações (P>0,05; dados não apresentados).
DISCUSSÃO
No presente estudo, a manipulação neonatal foi associada com um consumo
aumentado de chocolate na vida adulta, quando esse alimento foi oferecido por curtos
períodos de tempo. Entretanto, quando expostos cronicamente ao chocolate, ratos machos
manipulados no período neonatal exibiram uma redução importante no consumo com o passar
do tempo, alcançando a quantidade consumida por ratos machos não-manipulados. Ratos
machos manipulados também apresentaram um aumento mais saliente no peso corporal,
maior eficiência calórica bem como níveis mais baixos de triglicerídios, sem nenhuma
alteração na gordura abdominal. Fêmeas não-manipuladas, que foram expostas cronicamente
ao chocolate na vida adulta, exibiram aumentado depósito de gordura abdominal em
comparação com fêmeas manipuladas no período neonatal. Ratas fêmeas demonstraram níveis
mais altos de colesterol total e glicose no plasma, assim como níveis mais baixos de insulina,
quando comparados com os de ratos machos. Os animais que receberam chocolate também
apresentaram uma redução no peso das glândulas adrenais.
Relatos prévios da literatura mostraram que sob restrição alimentar e durante curtos
períodos de exposição, animais manipulados consomem mais alimento palatável que animais
não-manipulados (9). Porém, quando expostos cronicamente a dietas enriquecidas com
solução doce ou gordura, nenhuma diferença no consumo foi observada entre animais
manipulados e não-manipulados no período neonatal (17). Pelo nosso conhecimento, o
presente estudo é a primeira investigação na qual animais manipulados e não-manipulados no
período neonatal são expostos cronicamente a uma dieta hiperpalatável, rica em açúcar como
Artigo 27
também em gordura, tal como chocolate. Durante a exposição crônica a esse tipo de dieta,
todos os animais demonstraram uma discreta diminuição no consumo de chocolate com o
passar do tempo de exposição. Essa diminuição era esperada nos animais controles, já que o
consumo aumentado de um alimento altamente calórico é conhecido por evocar respostas
fisiológicas para ajustar a ingestão calórica, quando marcadores moleculares relacionados
com o gasto energético e com o consumo de alimentos estão alterados (18). Ratos machos
manipulados exibiram uma redução mais saliente no consumo de chocolate ao longo da
primeira semana de tratamento, sugerindo uma diminuição na preferência pelo chocolate
nesses animais. Por fim animais manipulados bem como não-manipulados demonstraram
níveis semelhantes de consumo de chocolate. Estas mudanças no consumo de chocolate
podem refletir uma adaptação dos animais a esse tipo de dieta quando oferecida cronicamente.
Apesar dessa redução no consumo, todos os grupos ainda preferiam chocolate à ração padrão,
visto que mais de 50% das kilocalorias consumidas eram derivadas do chocolate, e a ingestão
calórica total estava aumentada nos animais que receberam chocolate.
Todos os grupos apresentaram aumento no peso corporal ao longo do tempo;
entretanto o ganho de peso diferiu entre os grupos. Conforme esperado, ratos machos
ganharam mais peso corporal em comparação com ratas fêmeas, e os animais que receberam
chocolate também apresentaram uma maior ganho de peso, já que a ingestão calórica deles era
maior. Animais manipulados durante o período neonatal demonstraram um maior ganho de
peso com o passar do tempo, sendo esse efeito mais evidente em ratos machos. Essa foi uma
observação interessante, visto que a ingestão calórica total não diferiu entre os animais
manipulados e não-manipulados; portanto, o ganho de peso aumentado nos animais
manipulados provavelmente está relacionado com a eficiência calórica também aumentada
nesses animais. Este achado concorda com relatos prévios, avaliando camundongos machos,
em que a manipulação neonatal aumentou o peso corporal e a eficiência calórica desses
animais (19).
O consumo de chocolate aumentou o depósito de gordura abdominal, especialmente
nas ratas fêmeas. No entanto, a manipulação neonatal atenuou o aumento da gordura
abdominal em ratas fêmeas expostas ao chocolate. Outros estudos demonstraram que a
manipulação neonatal e o cuidado materno têm um papel importante no desenvolvimento da
função neuroendócrina, diminuindo a resposta do eixo HPA a um estresse agudo na vida
adulta (7,20). No presente estudo, foi demonstrado que a manipulação neonatal, a qual é
conhecida por aumentar o cuidado materno (21), modula o perfil metabólico dos animais que
são cronicamente expostos a uma dieta altamente palatável. Os animais manipulados ganham
Artigo 28
significativamente menos gordura abdominal que os não-manipulados quando expostos de
forma crônica ao chocolate.
Os mecanismos pelos quais a manipulação neonatal induz a esse efeito protetor sobre
o desenvolvimento do depósito de gordura abdominal são desconhecidos atualmente. Uma
possível linha de investigação envolve o papel dos glicocorticóides no desenvolvimento da
obesidade abdominal, já que esses hormônios têm ações diretas sobre o tecido adiposo (22).
Animais manipulados no período neonatal, que foram anteriormente demonstrados por ter um
mecanismo de retroalimentação negativa dos glicocorticóides mais eficiente (23,24),
poderiam responder diferentemente ao fluxo agudo de glicocorticóides que ocorre após uma
refeição (25). Além disso, a sensibilidade do tecido aos glicocorticóides poderia estar
envolvida nesse efeito. Porém, outros estudos são necessários para elucidar essas questões.
Outra possibilidade poderia ser uma alteração na regulação metabólica. Uma função
simpatoadrenal diferencial foi relatada em animais manipulados no período neonatal (17),
bem como um conteúdo de gordura abdominal aumentado nesses animais manipulados,
diferentemente dos achados do presente estudo e de observações prévias (16). Entretanto,
diferenças entre as espécies de animais e os protocolos de manipulação neonatal poderiam
influenciar essas inconsistências.
O peso das glândulas adrenais apresentou-se diminuído nos grupos que receberam
chocolate. Essa diminuição no peso das adrenais está de acordo com o conceito de “alimento
confortante” proposto por Dallman et al. (26), em que dietas altamente calóricas e palatáveis
podem diminuir a atividade do eixo HPA (26,27). No presente estudo não foram observadas
diferenças nos níveis basais de corticosterona entre os diferentes grupos.
As medidas bioquímicas indicaram que ratos machos manipulados durante o período
neonatal tinham níveis diminuídos de triglicerídios no plasma. Esse foi um achado
interessante, visto que a exposição à dieta hiperpalatável aumentou os níveis de triglicerídios
em todos os animais, exceto nos ratos machos manipulados cujos níveis de triglicerídios
foram semelhantes aos dos animais controles. O perfil metabólico exibido pelos ratos machos
manipulados que inclui maior peso corporal, sem alteração no depósito de gordura abdominal,
aumentada eficiência calórica e níveis diminuídos de triglicerídios no plasma, sugere uma
resposta metabólica particular desses animais no que diz respeito ao estoque e gasto de
energia, quando expostos cronicamente a uma dieta altamente palatável.
Os níveis plasmáticos de colesterol total estavam aumentados nas ratas fêmeas,
enquanto que a manipulação neonatal e a exposição à dieta não influenciaram essa medida.
Este achado está de acordo com outros relatos da literatura (28,29). Os níveis de HDL-
Artigo 29
colesterol e a razão colesterol total:HDL, que está relacionada com risco cardiovascular
aumentado, foram semelhantes entre os diferentes grupos. Por outro lado, 30 dias de
exposição ao chocolate foram suficientes para aumentar significativamente o depósito de
gordura abdominal nas ratas fêmeas não-manipuladas. Então, estudos futuros poderão
esclarecer de que maneira a manipulação neonatal poderia mediar o desenvolvimento de
fatores de risco para doença cardiovascular.
Ratas fêmeas apresentaram níveis aumentados de glicose no plasma comparados com
os de ratos machos. Por outro lado, os níveis de insulina eram mais baixos nas fêmeas. Esses
efeitos do gênero sobre a insulina foram observados em outros estudos utilizando ratos
(29,30), entretanto, as concentrações de glicose sangüínea freqüentemente tendem a ser
semelhantes entre machos e fêmeas (30,31). Estudos prévios mostraram efeitos permanentes
da manipulação no período pré-natal sobre a função do eixo HPA e fatores de risco
cardiovascular; e esses efeitos tendem a ser gênero-específicos (31,32). No presente estudo,
pode-se sugerir que o desfecho de uma manipulação pós-natal pode ter uma influência
gênero-específica sobre o perfil metabólico de animais expostos cronicamente a uma dieta
palatável.
Assim, pode-se concluir que animais adultos manipulados durante o período neonatal
demonstraram um consumo aumentado de alimento palatável quando expostos a esse tipo de
dieta durante curtos períodos de tempo. Essa diferença no consumo declinou quando os
animais foram cronicamente expostos à dieta hiperpalatável. Animais manipulados tinham
níveis mais baixos de triglicerídios, bem como aumentado peso corporal e eficiência calórica.
Além disso, a manipulação neonatal induziu à uma influência protetora gênero-específica
sobre o depósito de gordura abdominal das ratas fêmeas que foram expostas cronicamente ao
chocolate. Todas essas observações sugerem um padrão metabólico específico, relacionado
com estoque e gasto de energia, de animais manipulados durante o período neonatal, e os
efeitos da manipulação tenderam a ser gênero-dependentes.
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LEGENDAS PARA FIGURAS
Figura 1: Consumo agudo de chocolate em animais adultos manipulados e não-manipulados
no período neonatal. não-manipulado; manipulado. ANOVA de medidas repetidas
mostrou um efeito da manipulação durante a habituação ao chocolate (P=0,007). Dados são
expressos em média + E.P.M. (A) Consumo de chocolate durante a habituação em machos,
N= 22-25 animais/grupo. (B) Consumo de chocolate durante a habituação em fêmeas, N= 15-
20 animais/grupo. (C) Chocolate consumido na sessão de teste. Ratos machos consumiram
mais chocolate que ratas fêmeas (ANOVA de duas vias, P=0,023).
Figura 2: Consumo crônico de ração padrão e chocolate em animais adultos manipulados e
não-manipulados. Dados são expressos em média + E.P.M. (A) Consumo médio de ração
padrão em machos. (B) Consumo médio de ração padrão em fêmeas. NM_ração;
Artigo 33
NM_chocolate; Δ M_ração; M_chocolate. ANOVA de medidas repetidas mostrou um
efeito da dieta, gênero e interações entre tempo x dieta e tempo x gênero (P<0,01). (C)
Consumo médio de chocolate em machos. (D) Consumo médio de chocolate em fêmeas. N=
3-4 caixas/grupo. não-manipulado; manipulado. Machos manipulados exibiram uma
diminuição mais saliente no consumo de chocolate com o passar do tempo (ANOVA de
medidas repetidas, P=0,021).
Figura 3: Ingestão calórica total, eficiência calórica e ganho de peso corporal durante a
exposição crônica em animais manipulados e não-manipulados, machos e fêmeas. ração;
ração+chocolate. Dados são expressos em média + E.P.M. (A) Consumo calórico total. (B)
Eficiência calórica, calculada pela razão ganho de peso corporal/kcal consumidas. (C) Ganho
de peso corporal. N= 3-4 caixas/grupo. ANOVA de três vias mostrou maior ingestão calórica
(P<0,001) e ganho de peso corporal (P=0,019), nos grupos que receberam chocolate. Machos
manipulados exibiram uma eficiência calórica aumentada (P=0,050).
Figura 4: Peso corporal durante a exposição crônica ao chocolate em animais adultos
manipulados e não-manipulados. NM_ração; NM_chocolate; Δ M_ração;
M_chocolate. (A) Peso corporal médio em machos. N= 11-13 animais/grupo. (B) Peso
corporal médio em fêmeas. N= 7-11 animais/grupo. ANOVA de medidas repetidas mostrou
um efeito do gênero, dieta e interações entre tempo x grupo, tempo x gênero, tempo x dieta e
tempo x gênero x grupo (P<0,050).
Figura 5: Depósito de gordura abdominal, expresso em média + E.P.M. da razão gordura
abdominal/peso corporal. N= 11-13/grupo para machos e 9-12/grupo para fêmeas. ração;
ração+chocolate. ANOVA de três vias mostrou efeitos da dieta (P<0,001), gênero (P=0,002),
e uma interação entre grupo x dieta x gênero (P=0,05).
* Significativamente diferente dos outros grupos (Post-hoc de Duncan, P= 0,05).
Figura 6: Peso das glândulas adrenais, expresso em média + E.P.M. N= 11-13/grupo para
machos e 7-11/grupo para fêmeas. ração; ração+chocolate. ANOVA de três vias mostrou
um efeito da dieta (P<0,02), e do gênero (P<0,001).
Artigo 34
não-manipulado
manipulado
não-manipulado
manipulado
0
400
800
1200
1600
012345
dias de habituação
consumo de chocolate
(mg)
A
0
400
800
1200
1600
012345
dias de habituação
consumo de chocolate
(mg)
B
0
400
800
1200
1600
NM M NM M
machos fêmeas
chocolate consumido (mg)
C
Figura 1: Consumo agudo de chocolate em animais adultos manipulados e não-manipulados no
período neonatal. ANOVA de medidas repetidas mostrou um efeito da manipulação durante a
habituação ao chocolate (P=0,007). Dados são expressos em média + E.P.M. (A) Consumo de
chocolate durante a habituação em machos, N= 22-25 animais/grupo. (B) Consumo de chocolate
durante a habituação em fêmeas, N= 15-20 animais/grupo. (C) Chocolate consumido na sessão de
teste. Ratos machos consumiram mais chocolate que ratas fêmeas (ANOVA de duas vias,
P=0,023).
Artigo 35
NM_ração
NM_chocolate
M_ração
M_chocolate
NM_ração
NM_chocolate
M_ração
M_chocolate
Figura 2: Consumo crônico de ração padrão e chocolate em animais adultos
manipulados e não-manipulados. Dados são expressos em média + E.P.M. (A) Consumo
médio de ração padrão em machos. (B) Consumo médio de ração padrão em fêmeas.
ANOVA de medidas repetidas mostrou um efeito da dieta, gênero e interações entre
tempo x dieta e tempo x gênero (P<0,01). (C) Consumo médio de chocolate em machos.
(D) Consumo médio de chocolate em fêmeas. N= 3-4 caixas/grupo. Machos
manipulados exibiram uma diminuição mais saliente no consumo de chocolate com o
passar do tempo (ANOVA de medidas repetidas, P=0,021).
0
5
10
15
20
25
30
0 102030
dias de tratamento
consumo médio de
ração/24hs (g)
A
0
5
10
15
20
0102030
dias de tratamento
consumo médio de
ração/24hs (g)
B
Artigo 36
C
0
5
10
15
20
0102030
dias de tratamento
consumo médio de
chocolate/24hs (g)
0
5
10
15
0102030
dias de tratamento
consumo médio de
chocolate/24hs (g)
D
não-manipulado
manipulado
não-manipulado
manipulado
Figura 2: Consumo crônico de ração padrão e chocolate em animais adultos manipulados
e não-manipulados. Dados são expressos em média +
E.P.M. (A) Consumo médio de
ração padrão em machos. (B) Consumo médio de ração padrão em fêmeas. ANOVA de
medidas repetidas mostrou um efeito da dieta, gênero e interações entre tempo x dieta e
tempo x gênero (P<0,01). (C) Consumo médio de chocolate em machos. (D) Consumo
médio de chocolate em fêmeas. N= 3-4 caixas/grupo. Machos manipulados exibiram uma
diminuição mais saliente no consumo de chocolate com o passar do tempo (ANOVA de
medidas repetidas, P=0,021).
Artigo 37
0
500
1000
1500
2000
2500
NMMNMM
machos fêmeas
consumo calórico total
A
0
5
10
15
20
25
30
NM M NM M
machos fêmeas
eficncia calórica (mg/kcal)
B
0
10
20
30
40
50
60
NM M NM M
machos fêmeas
ganho de peso corporal (g)
C
ração
ração+chocolate
ração
ração+chocolate
ração
ração+chocolate
Figura 3: Ingestão calórica total, eficiência calórica e ganho de peso corporal durante a
exposição crônica em animais manipulados e não-manipulados, machos e fêmeas. Dados
são expressos em média + E.P.M. (A) Consumo calórico total. (B) Eficiência calórica,
calculada pela razão ganho de peso corporal/kcal consumidas. (C) Ganho de peso corporal.
N= 3-4 caixas/grupo. ANOVA de três vias mostrou maior ingestão calórica (P<0,001) e
ganho de peso corporal (P=0,019), nos grupos que receberam chocolate. Machos
manipulados exibiram uma eficiência calórica aumentada (P=0,050).
Artigo 38
NM_ração
NM_chocolate
M_ração
M_chocolate
290
310
330
350
370
012345
semanas de tratamento
peso corporal (g)
A
200
205
210
215
220
225
230
235
012345
semanas de tratamento
peso corporal (g)
B
Figura 4: Peso corporal durante a exposição crônica ao chocolate em animais adultos
manipulados e não-manipulados. (A) Peso corporal médio em machos. N= 11-13
animais/grupo. (B) Peso corporal médio em fêmeas. N= 7-11 animais/grupo. ANOVA
de medidas repetidas mostrou um efeito do gênero, dieta e interações entre tempo x
grupo, tempo x gênero, tempo x dieta e tempo x gênero x grupo (P<0,050).
NM_ração
NM_chocolate
M_ração
M_chocolate
Artigo 39
*
0
10
20
30
40
NMMNMM
machos fêmeas
gordura abdominal (mg)/peso
corporal (g)
Figura 5: Depósito de gordura abdominal, expresso em média + E.P.M. da razão gordura
abdominal/peso corporal. N= 11-13/grupo para machos e 9-12/grupo para fêmeas. ANOVA
de três vias mostrou efeitos da dieta (P<0,001), gênero (P=0,002), e uma interação entre
grupo x dieta x gênero (P=0,05). * Significativamente diferente dos outros grupos (Post-hoc
de Duncan, P= 0,05).
ração
ração+chocolate
Artigo 40
0
10
20
30
40
50
60
NM M NM M
machos fêmeas
peso das glândulas adrenais (mg)
Figura 6: Peso das glândulas adrenais, expresso em média + E.P.M. N= 11-13/grupo para
machos e 7-11/grupo para fêmeas. ANOVA de três vias mostrou um efeito da dieta
(P<0,02), e do gênero (P<0,001).
ração
ração+chocolate
Artigo 41
Tabela 1. Composição de macronutrientes das dietas / 100g de alimento utilizado no estudo.
HC, carboidrato.
Alimentos Kcalorias HC (g) Proteína (g) Gordura (g) Fibra (g)
Ração padrão 290 56 22 4.5 4.92
Chocolate 544 64 4.4 30.4 0
Artigo 42
Tabela 2. Preferência pelo chocolate de animais manipulados e não-manipulados.
Gênero
Grupo
Dia 1 Dia 8 Dia 15 Dia 22 Dia 30
NM 0.72+0.08 0.71+0.01 0.66+0.06 0.70+0.08 0.68+0.05
Machos
M 0.87+0.03 0.69+0.04 0.70+0.04 0.69+0.02 0.67+0.05
NM 0.88+0.04 0.72+0.02 0.80+0.05 0.69+0.03 0.74+0.06Fêmeas
M 0.90+0.06 0.69+0.04 0.80+0.07 0.76+0.05 0.67+0.03
Dados são expressos em média +
erro padrão da média. N = 3-4 caixas/grupo. Preferência
pelo chocolate diminuiu com o passar do tempo (ANOVA de três vias, efeito do tempo,
P=0,005). NM, não-manipulado; M, manipulado.
Artigo 43
Tabela 3. Níveis de lipídios no plasma (mg/dL) de animais manipulados e não-manipulados
recebendo ração padrão com ou sem chocolate ad libitum.
Grupo CT HDL-C TG
Ração 43.4+2.5 26.3+2.9 118.1+16.6 NM
Ração+choco 42.4+1.5 26.6+4.4 196.1+25.7*
Ração 39.3+1.7 24.4+3.5 76.3+6.8
Machos
M
Ração+choco 39.8+
1.7 24.6+3.6 135.1+10.0
Ração 53.9+
3.7 31.0+3.7 78.9+10.1 NM
Ração+choco 48.3+2.9 30.1+5.2 131.1+8.8
Ração 47.2+5.1 24.0+5.2 101.2+8.8
Fêmeas
M
Ração+choco 47.8+2.1 33.0+4.2 133.2+27.8
Dados são expressos em média + erro padrão da média. N = 11-13/grupo para machos e 7-
11/grupo para fêmeas. CT, colesterol total; HDL-C, high-density lipoprotein cholesterol;
TG, triglicerídios. O consumo de chocolate aumentou os níveis de TG nos machos e nas
fêmeas (ANOVA de três vias, efeito da dieta, P<0,001). Nos ratos machos, a manipulação
neonatal diminuiu os níveis de TG (ANOVA de três vias, interação entre grupo e gênero,
P=0,024). Ratas fêmeas apresentaram níveis mais altos de colesterol total que ratos
machos (ANOVA de três vias, efeito do gênero, P<0,001).
* Significativamente diferente dos outros grupos (Post-hoc de Duncan, P< 0,05).
Artigo 44
Tabela 4. Níveis plasmáticos de glicose (mg/dL), insulina (μg/L) e corticosterona (ng/mL) de
animais manipulados e não-manipulados recebendo ração padrão com ou sem chocolate ad
libitum.
Grupo Glicose Insulina Corticosterona
Ração 130.59+6.3 1.86+0.3 136.04+38.6 NM
Ração+choco 126.22+4.7 1.85+0.2 170.67+32.8
Ração 139.25+6.4 1.74+0.4 182.4+47.7
Machos
M
Ração+choco 127.00+2.3 2.02+0.3 177.90+18.1
Ração 163.55+
4.7 1.14+0.4 260.06+42.9 NM
Ração+choco 169.34+
4.5 1.30+0.3 210.79+34.7
Ração 150.43+9.2 1.37+0.4 190.47+47.1
Fêmeas
M
Ração+choco 157.78+8.2 1.25+0.3 172.17+39.2
Dados são expressos em média + erro padrão da média. N = 6-7/grupo (glicose). N= 5-
7/grupo (corticosterona). N= 6-7/grupo (insulina). Ratas fêmeas apresentaram níveis mais
altos de glicose e níveis mais baixos de insulina que ratos machos (ANOVA de três vias,
efeito do gênero, P<0,001 para glicose e P=0,012 para insulina).
5 DISCUSSÃO
De acordo com os achados deste trabalho, discutidos no artigo, foi observado que a
manipulação no período neonatal está associada com um aumento no consumo de chocolate
na vida adulta, quando este alimento é oferecido durante curtos períodos de tempo, como na
habituação ao chocolate em um ambiente diferente da caixa-moradia. Estes resultados
concordam com outros relatos da literatura de aumento no consumo de alimentos palatáveis
em animais que sofreram manipulação neonatal, estando os mesmos em um ambiente distinto
ou na própria caixa-moradia (SILVEIRA et al., 2004, 2006). Resultados semelhantes também
foram observados em ratos manipulados durante 15 minutos nas primeiras 3 semanas de vida
(MCINTOSH et al., 1999). Períodos mais longos de separação materna parecem alterar o
comportamento alimentar, realçando a hiperfagia de rebote após um período de restrição
alimentar, especialmente emmeas (IWASAKI et al., 2000).
O consumo aumentado de alimentos palatáveis, em animais que sofreram manipulação
neonatal, foi anteriormente observado durante períodos reduzidos de tempo como 3 minutos
(SILVEIRA et al., 2004, 2005), 10 minutos (SILVEIRA et al., 2006) e 30 minutos de
exposição (MCINTOSH et al., 1999); entretanto, em períodos mais longos de exposição de
aproximadamente 7 semanas, esses animais parecem não apresentar alterações no consumo de
dietas enriquecidas em açúcar ou gordura (YOUNG, 2000). Desta forma, o presente trabalho
teve como objetivo avaliar os efeitos de uma exposição crônica, composta por um período de
30 dias, a uma dieta palatável, rica em açúcar e gordura (chocolate), em animais adultos que
foram submetidos à manipulação nos primeiros 10 dias após o nascimento. É importante
ressaltar que os animais tiveram livre acesso ao chocolate, mas igualmente lhes foi fornecida
ração padrão e água ad libitum.
Durante o período de exposição crônica em que o chocolate encontrou-se totalmente
disponível para consumo, uma saliente redução na ingestão de chocolate ao longo do tempo
foi observada nos ratos machos manipulados, alcançando os mesmos níveis de consumo dos
animais controles (não manipulados) após poucos dias; com base neste achado pode ser
sugerida uma diminuição na preferência pelo alimento palatável, em relação ao controles,
46
identificável durante a primeira semana de exposição. Estas mudanças no consumo de
chocolate, observadas em períodos longos versus curtos de exposição, podem refletir uma
adaptação dos animais a este tipo de dieta quando oferecida de maneira crônica. Mesmo
havendo uma redução na preferência pelo chocolate com o passar do tempo, os animais ainda
preferiram chocolate à ração, visto que mais de 50% das calorias ingeridas em todos os
grupos foram originadas do chocolate. Isto poderia estar relacionado com relatos prévios de
que as propriedades orosensoriais do chocolate e o desejo por uma satisfação sensorial são
suficientes para explicar a motivação para consumir chocolate (WEINGARTEN, ELSTON,
1990; MICHENER, ROZIN, 1994).
Todos os grupos experimentais apresentaram aumento no peso ao longo do tratamento,
o que é comum nesse tipo de animais. No entanto, o ganho de peso foi diferente entre os
grupos: machos ganharam mais peso em relação às fêmeas, o que era esperado.
Adicionalmente, os animais que receberam chocolate ganharam mais peso, e sua ingestão
calórica foi maior. Foi observado também que os animais manipulados no período neonatal,
quando adultos, apresentaram um maior ganho de peso corporal em relação aos controles, e
este efeito destacou-se especialmente nos machos. Esta observação foi bem interessante já que
o consumo calórico total não diferiu entre os animais manipulados e controles; dessa forma, o
maior ganho de peso corporal naqueles que sofreram manipulação neonatal, principalmente
nos machos, provavelmente esteja relacionado à maior eficiência calórica desses animais,
podendo-se pensar em um efeito da manipulação neonatal induzindo alterações permanentes
na resposta metabólica. Estes achados estão de acordo com relatos recentes de manipulação
neonatal em camundongos machos, onde se observa que os animais manipulados, quando
adultos, apresentam peso corporal aumentado e maior eficiência calórica em relação aos
controles (LOIZZO et al., 2006).
O consumo de chocolate aumentou o depósito de gordura abdominal e esse aumento
foi mais expressivo nas fêmeas. Por outro lado, a intervenção durante o período neonatal
atenuou o aumento da gordura abdominal após exposição à dieta palatável, sendo este efeito
mais evidente nas fêmeas. Outros estudos têm demonstrado que tanto a manipulação neonatal
quanto o cuidado materno, desempenham um papel importante no desenvolvimento da função
neuroendócrina, levando a uma redução na resposta do eixo HPA ao estresse (LEVINE et al.,
1967; LIU et al., 1997). Conforme o presente trabalho, a manipulação neonatal, a qual é
conhecida por acentuar o cuidado maternal (BRANCHI et al., 2001; PRYCE et al., 2001),
47
pode ser pensada por afetar o perfil metabólico quando esses animais são expostos
cronicamente a uma dieta altamente palatável, de forma a protegê-los contra os efeitos
deletérios desta alimentação hipercalórica, pelo menos no que se refere ao depósito de
gordura abdominal.
Embora os mecanismos envolvidos neste efeito protetor da manipulação neonatal
ainda sejam desconhecidos, algumas possibilidades podem ser destacadas. Sabe-se que após
uma refeição ocorre uma rápida secreção de glicocorticóides (FOLLENIUS et al., 1982), e
sabe-se, além disso, que os esteróides estão envolvidos no acúmulo de gordura abdominal
(DALLMAN et al., 2002; LA FLEUR et al., 2004). Adicionalmente, um aumento nos níveis
de GCs no tecido adiposo em um modelo transgênico de camundongos machos foi sugerido
como um mecanismo envolvido na obesidade abdominal (MASUZAKI et al., 2001). Dessa
forma, neste trabalho, os animais manipulados no período neonatal, que são conhecidos por
apresentarem um mecanismo de retroalimentação negativa mais eficiente (MEANEY et al.,
1989; ADER, GROTA, 1969), poderiam responder diferentemente a uma exposição aguda
aos GCs decorrente de uma refeição. Até mesmo a sensibilidade do tecido adiposo para os
GCs poderia estar envolvida nesta proteção, porém isto não foi avaliado no presente trabalho.
No entanto, até o momento atual, estas observações não conseguem explicar os efeitos sexo-
específicos identificados em relação ao depósito de gordura abdominal. Portanto, estudos
adicionais serão necessários para elucidar tais questões.
Outra explicação possível para o efeito protetor da manipulação neonatal observado
neste trabalho, atenuando o acúmulo de gordura abdominal após um período de exposição
crônica ao chocolate, seria uma alteração na regulação metabólica desses animais. Relatos
prévios mostram que a manipulação no início da vida exerce efeitos divergentes sobre a
função simpato-adrenal de machos adultos, diminuindo a atividade do sistema nervoso
simpático e aumentando a função medular adrenal (YOUNG, 2000), bem como determina um
maior depósito de gordura abdominal nesses animais, o que difere dos achados deste trabalho
e de observações anteriores (SILVEIRA et al., 2006). Porém, tais inconsistências nos achados
podem ser devido à influência de diferenças metodológicas no procedimento de manipulação
neonatal e na espécie dos animais testados.
Os animais que receberam chocolate demonstraram uma diminuição no peso das
glândulas adrenais, contudo nenhum efeito da manipulação foi observado e não havia
diferença nos níveis de corticosterona basal. Este reduzido peso das adrenais está de acordo
48
com a proposta desenvolvida por Dallman et al. (2003), os quais sugerem a expressão
comfort food”, demonstrando que dietas altamente palatáveis e calóricas reduzem a atividade
do eixo HPA (PECORARO et al., 2004; DALLMAN et al., 2004, 2003). Sabe-se que, em
situações de estresse, níveis elevados de GCs agem estimulando o consumo de alimentos
palatáveis e tem sido proposto que esses níveis elevados de GCs, combinados com níveis
também elevados de insulina, aumentam os estoques de energia abdominal, de onde seriam
emitidos sinais que atuariam sobre o cérebro para exacerbar o mecanismo de retroalimentação
negativa dos glicocorticóides (DALLMAN et al., 2004).
Embora no presente trabalho nenhum efeito da intervenção neonatal sobre os níveis
basais de corticosterona tenha sido observado, existem relatos de níveis basais elevados de
corticosterona em camundongos adultos manipulados no período neonatal (LOIZZO et al.,
2006), no entanto, o procedimento de manipulação, diferentemente da metodologia abordada
neste trabalho, é acompanhado de injeção de solução salina, o que induz um maior estresse no
animal. Além disso, diferenças espécie-específicas devem ser consideradas. Assim, é possível
que os animais expostos cronicamente ao chocolate, embora apresentassem níveis de
corticosterona normais, tenham uma maior sensibilidade à ação de retroalimentação negativa
dos GCs, como demonstrado em estudos anteriores (MEANEY et al., 1989; ADER, GROTA,
1969) e poderiam, então, apresentar uma reduzida resposta quando expostos a uma situação
de estresse. Estudos posteriores serão necessários para averiguar essa hipótese.
As análises bioquímicas realizadas neste trabalho indicaram que o procedimento de
manipulação neonatal altera o metabolismo dos lipídios sangüíneos, levando a uma redução
nos níveis de triglicerídeos plasmáticos em animais machos. Esta observação é bastante
relevante, pois a exposição à dieta altamente palatável induziu um aumento na trigliceridemia,
porém ratos machos manipulados que receberam chocolate apresentaram níveis de
triglicerídeos mais baixos em comparação aos dos animais controles que também receberam
chocolate. Este efeito da manipulação neonatal observado no presente trabalho não foi
demonstrado por outros autores, os quais relatam níveis elevados de triglicerídeos em
camundongos machos manipulados (LOIZZO et al., 2006); entretanto, tal discordância nos
achados possivelmente seja explicada pela diferença entre as abordagens metodológicas, visto
que os autores anteriormente citados utilizam um procedimento de manipulação neonatal
doloroso, além do fato de serem utilizadas outras espécies de animais. Assim, considerando as
seguintes observações, referentes aos ratos machos manipulados, deste trabalho: peso corporal
49
e eficiência calórica aumentados, inalterado depósito de gordura abdominal, e diminuídos
níveis de triglicerídeos plasmáticos, pode-se pensar que a reunião desses achados sugere uma
resposta metabólica particular, no que se refere ao estoque e gasto de energia, que pode ser
observada quando os animais são submetidos à uma dieta padrão, assim como quando animais
machos manipulados são expostos cronicamente à uma dieta altamente calórica e palatável.
Dentre os outros indicadores bioquímicos avaliados, os níveis de colesterol total no
plasma estavam aumentados nas fêmeas, porém nenhum efeito da manipulação ou da dieta foi
demonstrado. Esta alteração nos níveis de colesterol identificada especialmente nas ratas
fêmeas concorda com outros relatos da literatura (NEVALA et al., 2000; SLOTKIN et al.,
2005), tratando-se então de uma característica sexo-específica desses animais. Além disso, os
níveis de HDL-colesterol e a relação colesterol total/HDL não foram diferentes entre os
grupos, sugerindo que, pelo menos neste período de tempo estabelecido para a exposição
crônica, os animais que receberam a dieta palatável não demonstraram alterações desses
parâmetros, as quais estariam relacionadas com possível risco cardiovascular. Por outro lado,
30 dias de exposição ao chocolate foram suficientes para causar um aumento no depósito de
gordura abdominal dos animais, e esta alteração está associada, de maneira independente, com
aumento no risco para síndrome metabólica e evento coronariano (CARR et al., 2004;
DESPRES, 2006). Nesse sentido, pensa-se na necessidade de estudos adicionais, a fim de
avaliar outras medidas indicativas de risco cardiovascular, visando contribuir para os
resultados deste trabalho.
Em relação à glicemia, foi observado que as ratas fêmeas apresentavam níveis
plasmáticos mais elevados em comparação com os machos; ao contrário, níveis de insulina
estavam diminuídos nas fêmeas. Estes efeitos do gênero sobre a insulinemia foram
previamente observados em outros estudos com ratos (COATMELLEC-TAGLIONI et al.,
2003, SLOTKIN et al., 2005; SUGDEN et al., 2002), enquanto que os níveis de glicose no
plasma são comumente observados serem semelhantes entre machos e fêmeas (SUGDEN et
al., 2002; O’Regan et al., 2004). Em algumas abordagens de manipulação durante o período
perinatal, efeitos permanentes sobre a função do eixo HPA, assim como sobre determinados
fatores de risco cardiovascular foram observados serem gênero-específicos (O`REGAN et al.,
2004; LIU et al., 2001), no entanto, esses achados originam-se de estudos utilizando
intervenções pré-natais. Dessa forma, no presente trabalho, pode-se sugerir que os efeitos
50
provocados por uma intervenção pós-natal envolvendo o perfil metabólico podem também
apresentar diferenças particulares entre os sexos.
CONCLUSÃO
A manipulação neonatal aumenta o consumo de alimento palatável na vida adulta
quando este tipo de alimento é oferecido durante curtos períodos de tempo; diferentemente, o
mesmo efeito não é observado no momento em que esses animais são expostos cronicamente
ao chocolate. No que diz respeito aos parâmetros bioquímicos, níveis mais baixos de
triglicerídeos plasmáticos foram induzidos pela manipulação neonatal, bem como aumento no
peso corporal e eficiência calórica. Além disso, após a exposição crônica à dieta palatável,
ratas fêmeas manipuladas apresentaram reduzida gordura abdominal quando comparadas com
fêmeas controles. A reunião desses resultados sugere um padrão metabólico peculiar
relacionado com o gasto e estoque de energia, especialmente nos animais manipulados
durante o período neonatal. Esses resultados, transportados para humanos, também sugerem
uma redução no risco para síndrome metabólica. Uma vez que esses efeitos apresentam-se de
maneira gênero-específica, pode ser sugerido que animais machos e fêmeas submetidos à
manipulação neonatal são distintamente afetados.
Experiências precoces, mesmo que aparentemente inócuas, são capazes de determinar
efeitos particulares sobre a preferência alimentar e o perfil metabólico observáveis em
estágios mais avançados da vida. Tratando-se aqui de uma dieta onde os alimentos
encontram-se amplamente disponíveis, pensa-se que esta preferência alimentar poderia
direcionar as escolhas para determinados alimentos, o que possivelmente contribuiria para o
desenvolvimento de distúrbios alimentares e, por conseguinte, alterações no padrão de saúde-
doença. Assim, o melhor entendimento dos mecanismos pelos quais a manipulação neonatal
pode alterar a preferência alimentar permitiria a tomada de ações preventivas ou terapêuticas
52
adequadas. No que se refere às particularidades do perfil metabólico, a manipulação nos
primeiros 10 dias de vida parece influenciar, de modo a minimizar os potenciais efeitos
deletérios do consumo crônico de uma dieta altamente calórica e palatável mais tarde na vida.
Por esta razão, seria fundamental conhecer melhor os mecanismos envolvidos nesta ação
protetora desempenhada pela manipulação, e assim, melhor compreender o impacto desse
efeito protetor sobre a saúde a longo prazo. Estes esclarecimentos também poderiam
contribuir para a otimização e a valorização dos programas de incentivo ao contato materno-
infantil nas instituições de atenção a esta população em especial.
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