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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS -GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CARACTERÍSTICAS DAS GESTANTES
INFECTADAS PELO HIV, DE ACORDO COM O MO MENTO DO
SEU DIAGNÓSTICO
Márcia Menezes Gomes da Silva
Orientador: Profª. Drª. Daniela R iva Knauth
Co-orientador: Profª. Drª.Jandyra Fachel
Porto Alegre, março de 2007.
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UNIVERSIDADE FEDERAL D O RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS -GRADUAÇÃO EM EPIDEMIOLOGIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CARACTERÍSTICAS DAS GESTANTES
INFECTADAS PELO HIV, DE ACORDO COM O
MOMENTO DO SEU DIAGNÓSTICO
Márcia Menezes Gomes da Silva
Orientador: Profª. Drª. Daniela R. Knauth
A apresentação desta dissertação é
exigência do Programa de Pós -
graduação em Medicina: Epidemiologia,
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, para obtenção do título de Mestre.
Porto Alegre, Brasil.
2007
ads:
BANCA EXAMINADORA
Dra. Nêmora Tregnamo Barcelos (Secretária Estadual de Saúde Rio Grande
Sul)
Dr. Jair Ferreira, Professor do Programa de Pós -graduação em Epidemiologia
Universidade Federal Rio Grande do Sul.
Dr. Ricardo Kuchenbecker (Hospital de Cnicas de Porto Alegre)
Suplente
Dra.Mary Clarisse Bozzetti, Professora do Programa de Pós -graduação em
Epidemiologia Universidade Federal Rio Grande do Sul.
“A vida é a arte dos encontros, embora haja
tantos desencontros pela vida. É preciso
encontrar as coisas certas da vida, para que
ela tenha sentido que se deseja. Assim a
escolha de uma profissão também é a arte de
um encontro. Porque uma vida só adquire
vida quando a gente empresta nossa vida
para o resto da vida”.
Vinicius de Moraes
AGRADECIMENTOS
À professora Daniela Riva Knauth, por ter me orientado no caminho da
pesquisa em epidemiologia.
À UFRGS através do Programa de Pós -Graduação em Epidemiologia da
Faculdade de Medicina, que oportunizou uma formação acadêmica de
qualidade.
Aos professores Jandyra Fachel em sua co -orientação, Sotero Mengue e
demais professores do Programa pelos ensinament os em epidemiologia e
estatística.
À Andréia Fachel Leal, Paula D’elia, Betânia Bohrer e demais colegas da
UFRGS pelo coleguismo e apoio na realização deste mestrado.
À Carmem Lúcia Oliveira da Silva, Marsal Lerner, Edmundo Cardoso
colegas de profissão e d úvidas.
À Rosana Fonseca, Breno Riegel, Régis Kreitchamann, Gisele Preussler
e funcionários dos serviços Infectologia HNSC, Fê mina e Serviço Especializado
DST/AIDS da Prefeitura de Porto Alegre pela acolhida em seus locais de
trabalho, facilitando a realização deste estudo.
Aos meus pais, Gilca e Fernando, aos meus irmãos, minhas cunhadas,
meus sobrinhos, aos afilhados Natália e Arthur, a Maria de Lurdes e a Laura
por todos serem a minha família que é a estrutura de amor e carinh o
fundamentais na minha exis tência.
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO ................................ ................................ ........................ 11
2 OBJETIVO ................................ ................................ ................................ .... 12
2.1 OBJETIVO GERAL................................ ................................ .................. 12
3 INTRODUÇÃO ................................ ................................ .............................. 13
4 REVISÃO DE LITERAT URA ................................ ................................ ........ 17
4.1 A HISTÓRIA DA AIDS................................ ................................ ............. 17
4.2 AIDS NO BRASIL ................................ ................................ .................... 20
4.3 FEMINILIZAÇÃO DA EPIDEMIA................................ ............................. 22
4.3.1 A mulher e a infecção pelo HIV ................................ .................... 22
4.3.1.1 Incidência de casos nas mulheres ................................ ............. 22
4.3.1.2 Fatores causais para infecção n a mulher ................................ .. 24
4.3.2 O significado da maternidade ................................ ...................... 27
4.3.3 Gestação na mulher portadora do HIV ................................ ........ 29
4.3.4 Pré-natal na gestante infectada pelo HIV ................................ .... 36
4.3.5 Transmissão vertical do HIV ................................ ........................ 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................ ................................ 44
ARTIGO ................................ ................................ ................................ ........... 50
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................ ................................ ............. 77
CONCLUSÕES................................ ................................ ................................ 78
ANEXOS ................................ ................................ ................................ .......... 80
a. Projeto de Pesquisa ................................ ................................ ............. 80
b. Aprovação Comitê da Ética e Pesquisa ................................ ............... 95
c. Questionário ................................ ................................ ......................... 97
ABREVIATURAS E SIGLAS
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Humana
AZT – Zidovudina
CD4 - Contagem plasmática linfócitos CD4
CD8 - Contagem plasmática linfócitos CD8
CDC - Center for Disease Control and Prevention
DST - Doença Sexualmente transmissível
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
LACEN - Laboratório Central de S aúde Pública
OMS - Organização Mundial de Saúde
PACTG - Pediatric AIDS Clinical Trial Group
PN-DST/AIDS - Programa Nacional de DST/AIDS
SINAN- Doenças de Notificação Compulsória Informações Diversas
SINASC - Sistema de Informações de Nascidos Vivos
SUS - Sistema Único de Saúde
TARV Terapêutica anti-retroviral
TMI - Transmissão Materno-Infantil
TV - Transmissão Vertical
UNAIDS The joint United Nations Programme on HIV/AIDS
RESUMO
Objetivo: Analisar fatores socioeconômicos, demográficos e as características
do pré-natal das gestantes infectada pelo HIV, de acordo com o momento do
seu diagnóstico.
Métodos: Realizou-se estudo transversal com 199 gestantes infectadas pelo
HIV que tiveram seu atendimento pré-natal em três centros públicos de
referência de Porto Alegre, no período de julho de 2005 a janeiro de 2006. O
questionário avaliou informações sócio -econômicas, demográficas e do pré -
natal. Durante a análise, elas foram divididas em 2 grupos: Grupo1 composto
de 135 gestantes (68%) que sabiam previamente a gestação o seu diagnóstico
para HIV e o Grupo 2 com 64 gestantes (32%) que conheceram o dia gnóstico
naquele pré-natal.
Resultados: A mediana de idade das gestantes foi 26 anos (variando 15 a 42
anos). Quanto à escolaridade, 59% (n=117) delas não chegaram a concluir o
ensino fundamental. 74% (n=147) não tinham nenhum tipo de renda. Em
termos conjugais, 81% (n=153) das gestantes possuíam um relacionamento
estável com o pai da criança e 66% (n=132) possuíam menos de 20 anos de
idade quando tiveram a primeira gestação . O número mediano de gestações
prévias foi 3 (variando de 1 a 13 gestações), e 37% (n=73) tiveram pelo menos
um aborto prévio. Comparando os grupos , observou-se que o início do pré -
natal no primeiro trimestre e o desejo de realizar ligadura tubária foi
significativamente mais freqüente no Grupo 1 do que no Grupo 2. p=0,005 e
p=0, 012, respectivamente .
Conclusões: Não houve diferenças estatisticamente significante entre os
grupos nos aspectos sócio-demográficos, todavia as gestantes que tinham o
seu diagnóstico para HIV prévio a gestação iniciaram mais precocemente seu
pré-natal e mais freqüentemente requisitavam a ligadura tubária.
Palavras Chave: HIV, AIDS, transmissão vertical, transmissão perinatal.
TABELAS
Tabela 1 - Variáveis avaliadas que não apresentaram valores estatisticamente
significantes em análise qui-quadrado/resíduo ajustado entre os dois
grupos : gestantes que sabiam previamente do diagnóstico HIV
(grupo 1) e as que souberam neste pré -natal (grupo 2)..................72
Tabela 2 - Variáveis avaliadas que apresentaram valores estatisticamen te
significantes em análise qui -quadrado/resíduo ajustado entre dois
grupos: gestantes que sabiam previamen te do diagnóstico HIV
(grupo 1) e as que souberam neste pré -natal (grupo
2).......................................................................... ............................ 73
LISTA DE FIGURAS
Gráfico 1 - Análise de correspondência entre o momento do diagnóstico
infectada pelo HIV e a data da primeira consulta no pré-
natal..................................... ................................................... ........74
Gráfico 2 - Análise de correspondência e ntre o momento do diagnóstico do HIV
e o desejo de realizar ligadura
tubária.............................................................. ...............................75
Gráfico 3 - Análise de correspondência e ntre o momento do diagnóstico do HIV
e o número de
gestações........................................................ ...............................76
11
1 APRESENTAÇÃO
Este trabalho consiste na dissertação de mestrado intitulada
“Características das gestantes infectadas pelo HIV, de acordo o momento do
seu diagnóstico, apresentada ao Programa de Pós -Graduação em
Epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande d o Sul. O trabalho é
apresentado em três partes, na ordem que segue:
Introdução, Revisão da Literatura e Objetivos.
Artigo(s)
Conclusões e Considerações Finais.
Documentos de apoio, incluindo o Projeto de Pesquisa, estão
apresentados nos anexos.
12
2 OBJETIVO
2.1 OBJETIVO GERAL
Descrever as características socioeconômicas, demográficas e do p -
natal das gestantes infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana em três
centros de referência em Porto Alegre, RS.
13
3 INTRODUÇÃO
Os primeiros relatos a respeito da patologia que veio a ser denominada
Síndrome Imunodeficiência Adquirida em Humanos (AIDS) foram realizados
em 1981 (CDC, 1981) sendo que dentre as inúmeras descobertas feitas,
provavelmente, a mais promissora foi a possibilidade de r edução da
transmissão materno infantil do HIV.
O primeiro protocolo de estudo realizado para tentar in terferir na
transmissão do HIV das gestantes para seus filhos através da administração de
anti-retrovirais foi o PACTG - Pediatric AIDS Clinical Trial Gro up 076 - em 1994
(CONNOR, 1994). Esse estudo, feito com gestantes infectadas, demonstrou
uma redução de cerca de 70% da transmissão da infecção dessas mulheres
para seus filhos.
Nesse mesmo ano, base ado nessas evidências, o CDC - Center for
Disease Control and Prevention - publicou a recomendação para o uso de
zidovudina pelas gestantes no segundo e no terceiro trimestre de gestação,
durante o parto e pela criança nas primeiras seis semanas de vida (CDC,
1994).
O Ministério da Saúde do Brasil, tendo em vis ta o crescimento da
epidemia na população feminina, publicou em 1995, uma norma específica
sobre prevenção da transmissão vertical, estabelecendo -a como uma das
prioridades do Programa Nacional de DST/AIDS.
14
As recomendações contidas nessa publicação foram efetivadas e
implementadas sendo i ncluídas nos manuais de recomendações para o
tratamento de adultos e crianças infectadas pelo HIV no ano de 1997(Portaria
Técnica Ministerial nº. 874/97) (BRASIL, 1997).
O meu interesse pelo assunto começou durante o perío do do programa
de residência médica em p ediatria no Hospital da Criança Conceição (GHC)
em 1997. As medidas de profilaxia para gestante e para recém -nascido eram
vistas com muito entusiasmo e dedicação pela maioria dos profissionais da
saúde, e, assim, os serviços da Ginecologia e Obstetrícia e o de Pediatria se
organizavam para novas rotinas e condutas.
Participar desse processo durante a formação dica e começar a
escrever de outra forma a história dessas famílias acometidas pela doença era
uma motivação com a qual os pediatras, em geral, depararam -se naquele
momento. Vários outros serviços de saúde pública em Porto Alegre e em todo
Brasil foram contaminados por essa iniciativa ( NOGUEIRA et al., 2001).
As demandas de novas rotinas para atendimento a essa população
infectada pelo HIV e organização dos serviços de saúde foram aumentando, e,
conjuntamente com Ministério da Saúde e Secretária do Estado, programas de
capacitação no atendimento médico e atendimento multidisciplinar a ess a
população foram sendo realizados no estado e no Brasil.
15
Os profissionais que iniciaram a atuação nessa área, num primeiro
momento, em um número muito reduzido, começaram precocemente a trocar
informações, vidas, ansiedades e, assim, foram detectando que os
problemas enfrentados eram semelhantes, independentes do serviço, da
cidade e do estado do nosso país.
Por outro lado, o difícil acesso aos serviços de saúde e aos exames
laboratoriais, assim co mo a falta de diagnóstico devido a inúmeros motivos que
impediam a obtenção d e um pré-natal mais completo (é importante destacar
que, entre eles, houve a dificuldade dos próprios médicos em solicitar o exame
para suas pacientes, pois não as viam como grupo de risco) tornavam a
realidade muito longe de uma situação ideal.
A partir da utilização de medidas profiláticas, ou, porque não dizer,
terapêuticas, na redução a níveis muito baixos de transmissão materno infantil
do HIV, as equipes de saúde que atendiam essas pessoas também tiveram
que repensar a maneira mais apropriada de lidar com as necessidades
reprodutivas das mulheres infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana .
Tais mulheres tornaram -se uma parcela grande d a população, principalmente,
as que se encontravam na faixa etária fértil.
O número de mulheres que engravidam e retornam a engravidar em
vigência da infecção pelo rus não é pequeno e os dados disponíveis ainda
não demonstram a total realidade, mas apenas uma estimativa de qual é a
população brasileira de gestantes portadoras do HIV (CAVALCANTE et al.,
2004; CHRISTOVAM et al., 2006; BRASIL, 2004).
16
Visto que a qualidade no atendimento a essas pacientes é fundamental
para a saúde do binômio mãe -bebê e para a prevenção da transmissão do HIV
dessa para o seu concepto, este estudo tem como objetivo principal conhecer e
descrever as características das ge stantes infectadas pelo vírus da
imunodeficiência humana , seus aspectos socioeconômicos e o pré -natal
realizado em três grandes centros públicos de referência em atendimento a
essa população em Porto Alegre.
17
4 REVISÃO DE LITERATURA
4.1 A HISTÓRIA DA AI DS
Os primeiros relatos da patologia que veio a ser denominada de
Síndrome de Imunodeficiência Adquirida em Humanos (AIDS) foram publicados
em 1981 (CDC, 1981), nos Estados Unidos, quando foram notificados ao
Center for Disease Control and Prevention (CDC), vários casos de pneumonia
por Pneumocystis carinii e de Sarcoma de Kaposi em homens que mantinham
relações sexuais com outros homens ( FAUCI, 2003).
Dois anos após foi identificado o vírus da imunodeficiência humana (HIV)
descrito, então, como um vírus pertencente à subfamília lentivírus dos
retrovírus humanos e sendo responsável pelas manifestações clínicas
relacionadas à AIDS (BARRE-SINOUSSI et al., 1983).
O HIV é um vírus RNA que apresenta uma enzima chamada
transcriptase reversa que realiza a transcrição do RNA viral em DNA e integra -
se ao genoma da célula do hospedeiro, passando a chamar -se provírus. O
DNA viral é copiado em RNA mensageiro e é transcrito em proteínas virais
ocorrendo, a montagem do vírus e posterior gemulação (RACHID, 2004).
As principais células que serão infectadas são aquelas que possuem a
molécula de CD4 em sua superfície que são, predominantemente, os linfócitos
CD4, os macrófagos e as células dendríticas. Na superfície do linfócito CD4
18
existem receptores do vírus que viabilizam a invasão celular do HIV (DYBUL,
CONNORS e FAUCI, 2005).
Em 1996, novas moléculas foram identificadas e descritas como os
receptores de quimiocinas, entre elas, CCR5, CXCR4 e CCR2 presentes na
superfície das células que também são fundamentais para a infecção celular.
O HIV é principalmente transmitido através das relações sexuais
desprotegidas com indivíduos portadores, por meio da transfusão de sangue e
derivados, seringa e agulhas infectadas e da gestante infectada p ara seu filho
durante gestação, parto e aleitamento (CDC, 1985; CONNOR, SPERLING e
GELBER, 1994; BRASIL, 2006c).
Com a descoberta e a prescrição de potentes esquemas de terapêutica
anti-retrovirais (FAUCI, 2003; RACHID, 2004; BRASIL, 200 6b; 2000c) na
prática clínica e o uso esquematizado de profilaxias para infecções
oportunistas, houve uma grande queda na letalidade e na morbidade das
pessoas infectadas e que haviam apresentado o desenvo lvimento da doença
pelo vírus da imunodeficiência humana , passando a ser encarada como
crônica.
As taxas de mortalidade no Brasil devido a AIDS, no início da cada de
90, eram cerca de 11 óbitos por 100 mil habitantes e, a partir ano 2000, essa
taxa se estabilizou em 6,4 óbitos ( MERSON e PIOT, 2005; BRASIL, 2005b).
19
A partir de 1998, em muitos centros da Europa, Estados Unidos e do
Brasil, as causas de óbitos em indivíduos portadores do HIV deixaram de ser
as infecções oportunistas e passaram a ser semelhantes às relatadas em
indivíduos da mesma faixa etária (RACHID, 2004; INÊS et al., 2006).
Assim, desde os primeiros casos descritos de AIDS no mundo, no início
dos anos oitenta, (CDC, 1981) houve muitas variações e diferentes padrões de
disseminação daquela que, inicialmente, foi descrita como a “Peste gay”.
Primeiramente a epidemia atingia, preferencialmente, homens que
faziam sexo com outros homens, brancos e de classe média ou alta que viviam
em grandes metrópoles (WHO, 1986 ) e, atualmente apresenta a tendência a
feminilização da doença.
Até o final de 2005 já houve o relato das mortes de 25 milhões de
pessoas decorrentes da AIDS sendo que até o final desse mesmo ano
uma estimativa de que oc orreram 4,9 milhões de novos casos no mundo de
infecção pelo HIV. 40 milhões de pessoas que vivem com a doença
mundialmente, e sabe-se que 95% dessa população encontra -se na África
Sub-saariana, no Leste Europeu e na Ásia ( PETER e LAMPTEY, 2006; CDC,
2006a; WHO, 2006b).
20
4.2 AIDS NO BRASIL
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimava que, em 2002, dos 6
milhões de pessoas que necessitavam de TARV - que viviam em países em
desenvolvimento -, somente 4% tinham acesso a essas medicações; sendo
que metade destes indivíduos que tinha acesso a TARV estava no Brasil
(BARCELOS, KUCHENBECK ER e FERREIRA, 2004).
Em virtude dos esforços - de entidades governamentais e não -
governamentais - este panorama de acesso à terapêutica anti-retroviral em
países em desenvolvimento para popul ação aumentou para 23% dos 4,6
milhões atuais que necessitam do tratamento anti -retroviral (WHO, 2006a;
WHO, 2006b).
O Brasil possui um programa nacional de tratamento de doenças
sexualmente transmissíveis e AIDS organizado nos três níveis (federal,
estadual e municipal) do Sistema Único de Saúde (SUS) com acesso universal
e gratuito às medicações anti -retrovirais e aos exames laboratoriais a toda
população (BRASIL, 2006a; 2006b; 2006c).
Segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde fo ram
notificados 433.067 casos confirmados de AIDS no período de 1980 a junho de
2006, e as taxas de nacionais de incidência passando de 0,4 casos em 1985
para 18 casos em 100.000 habitantes no ano de 2005 (BRASIL, 2005b).
21
Esta taxa foi a menor desde 2002, e no Brasil, mantém-se ainda
elevada, fundamentalmente, devido ao crescimento do mero de casos entre
as mulheres (BRASIL, 2005b; WHO, 2006b).
Atualmente, estima-se que aproximadamente 600 mil pessoas vivem
com a infecção pelo HIV, no Brasil. Esses númer os permanecem estáveis
desde o ano de 2000. As regiões brasileiras que apresentam os maiores
números de notificações são as regiões sul e a sudeste - nestas regiões a
incidência é, respectivamente, de 24 e 22 casos por 100.00 habitantes
(BRASIL, 2005b).
O sul e o sudeste - apesar de serem as regiões mais atingidas desde o
início da epidemia mostram um processo de estabiliza ção, iniciado em 2001.
O mesmo não tem sido visto em outras regiões no Brasil , onde as taxas de
incidência têm aumentado neste mesmo período (BRASIL, 2005b).
É importante ressaltar que, em nosso país, os dados relacionados à
incidência e à prevalência da infecção pelo HIV são de informações obtidas
através das fichas de notificação, onde, porém, são notificados os indivíduos
referentes aos casos de AIDS que desenvolveram a doença - ou com CD4 <
350 mm
3
e não os indivíduos assintomáticos sem imunossupressão (RACHID,
2004).
22
4.3 FEMINILIZAÇÃO DA EPIDEMIA
4.3.1 A mulher e a infecção pelo HIV
4.3.1.1 Incidência de casos nas mulheres
Ao final de 2006, dados da UNAIDS - Programa conjunto das nações
contra HIV/AIDS (WHO, 2006b) - estimaram que 39,5 milhões de pessoas
estavam infectados mundialmente, e dessas , mais de 17,7 milhões eram
mulheres. A maioria delas está em idade reprodutiva e perfa zem, assim, cerca
de 45 % da população mundial infectada pelo HIV.
O sexo masculino foi o mais afetado nos primórdios da epidemia
(BRASIL, 2005b). Todavia observou-se que o número de mulheres infectadas,
atualmente, ultrapassa a os homens, especialmente no s países em
desenvolvimento como, por exemplo, os da África onde para cada 10 homens
que vivem com HIV14 mulheres infecta das (WHO, 2006b). Nesses casos, a
grande maioria das mulheres vive em extrema pobreza devido ao baixo nível
socioeconômico e cultur al.
Na África Sub-saariana cerca de 59% da população infectada pelo HIV
são mulheres, especialmente as que se encontram na faixa etária abaixo dos
25 anos. Além de essas mulheres possuírem uma probabilidade maior de
serem infectadas do que os homens, prov avelmente, serão elas as cuidadoras
naturais das pessoas atingidas pela epidemia dentro do núcleo familiar (WHO,
2006b).
Dados do cenário nacional demonstraram que até o final de 2005,
aproximadamente, 32 % dos casos de AIDS correspondiam a mulheres , com
23
uma taxa de incidência que passou de 0,4 casos em 1987 para 14,2 casos por
100.000 habitantes em 2005 (BRASIL , 2005b).
No que tange as características de gênero da epidemia no Brasil, os
dados iniciais em 1985 mostravam que para cada caso novo de AIDS em
mulher, haviam cerca de 27 novos casos em homens. Em 1997, essa relação
passou a ser de 2:1 e foi se equiparando at é chegar, a partir de 2003, a valores
de 1,5: 1 (BRASIL, 2000b; BRASIL, 2005b).
Destacou-se que, para o sexo masculino, houve uma redução na
incidência de casos em todas as faixas etárias no período de 1995 a 2005. Isto
excetuando os homens em idade superior a 40 anos. Nas mulheres a situação
demonstrada foi o aumento em todas as faixas etárias neste mesmo período,
caracterizando a tendência da feminilização da epidemia (BRITO, CASTILHO e
SZWARCWALD, 2005; WHO, 2006b; FONSECA, SZWARCWALD e BASTOS,
2002; BRASIL, 2005b; BRITO et al., 2006).
O aumento da incidência de casos de AIDS nos indivíduos acima de 40
anos - em ambos os sexos - demonstra a tendência do envelhecimento como
também característica atual da epidemia no Brasil.
A incidência de casos de AIDS no período de 1996 a 2000 segundo
Ministério da Saúde, foi maior em mulheres na faixa etária de 13 a 30 anos,
excedendo a infecção em homens em cerca de oito a dez percento (BRASIL,
2000b).
Nas mulheres com mais de 30 anos o crescimento do número de casos
de AIDS está sendo observado desde o início da década de 90 ( BRASIL,
24
2005b). Este aumento na população feminina não se restringe apenas aos
países em desenvolvimento, como mostram os dados americanos, onde a
população feminina também faz parte da parcela que vem apresentando os
maiores índices de crescimento ( BENNETT, 2005; CDC, 2006a). Nos Estados
Unidos, em 1985, as mulheres representavam 7% do s casos novos de AIDS e,
em 2001, houve um aumento dessas taxas alcançando 26 % (COHN e CLARK,
2005).
4.3.1.2 Fatores causais para infecção na mulher
Diversos estudos têm atribuído causas tanto biológicas quanto
socioeconômicas para essa maior vulnerabilidade descrita na população
feminina detectada pelo crescente aumento nas taxas de incidência (BASTOS
e SZWARCWALD, 2000; COHN e CLARK, 2005; CHRISTOVAM et al., 2006;
VERMELHO, SILVA e COSTA, 2006).
Em relação às questões biológicas d o mecanismo de transmis são do
HIV, tem sido descrita a presença de elevada carga viral no sêmen comparada
a da secreção cervicovaginal e as peculiaridades do sistema reprodutor
feminino - isto devido a maior susceptibilidade ao trauma e maior superfície de
contato da mucosa vaginal (RACHID, 2004; COHN, CLARK, 2005).
Considera-se também que as mulheres mais jovens têm aparelho genital
“imaturo” e mantém relação com homens mais velhos que têm maior atividade
sexual e maior risco exposição sexual ao vírus ( BASTOS e SZWARCWALD,
2000).
25
Comprovadamente em cerca de 94% dos casos de infecção pelo HIV
na população feminina ocorram através da transmissão heterossexual do vírus
pelo parceiro (BRASIL, 2005b). Na África, continente de maior prevalência da
infecção pelo HIV decorrente da trans missão heterossexual, o fato dos
relacionamentos e as práticas sexuais serem incentivadas precocemente
colabora com está hipótese (WHO, 2006b).
Em nosso país, dados sobre a fecundidade da população geral feminina
demonstram que as taxas nas faixas etárias menores de 20 anos é 32% (WHO,
1986; BRASIL/IBGE, 2000) - esse período é considerado, segundo critérios da
OMS, adolescência (WHO, 2006a).
Em 1991 dados nacionais mostravam que, referentes a pessoas
infectadas pelo HIV o grau de escolaridade d iferia entre os neros. Estes
mostravam que 51% das mulheres com AIDS não tinham completado ensino
fundamental, comparado com 39% dos homens na mesma situação (BRASIL,
2000b). No ano de 2000 essa proporção tinha aumentado 67% nas mulheres e
60% nos homens respectivamente (BRASIL, 2000b).
Alguns estudos nacionais, como o estudo de uma coorte de meninas
nascidas em Pelotas, RS , que compararam a escolaridade dos grupos de
meninas com gestação na adolescência e sem gestação na adolescência,
demonstrou que entre as sem gestação, 76%, completavam no mínimo, 9 anos
de estudo comparadas às com gestação onde, apenas 28% completavam no
mínimo 9 anos de estudo (GONÇALVES e GIGANTE, 2006).
Esses resultados, no entanto, não são suficientes para avaliar o nível de
escolaridade como precedente ou conseqüente à gravidez na adolescência.
26
Entretanto como ambos os fatores estão ligados à maior vulnerabilidade à
infecção pelo HIV, esta parcela da população feminina se encontra muito
exposta, pois esses fatores se somam em ri sco de aquisição da doença
(AQUINO et al., 2003; GONÇALVES e GIGANTE, 2006).
Neste mesmo contexto, alguns estudos têm demonstrado que as
características socioeconômicas são associadas às condições que
vulnerabilizam a população feminina pertencente aos paí ses em
desenvolvimento (STEFANI, ARAÚJO e ROCHA, 2004). Em uma revisão sobre
as tendências da infecção na população feminina, foi ressaltada que, muitas
vezes, as mulheres deixam de exigir o uso preservativo para evitar violência
física e por serem economi camente dependentes de seus parceiros
(CAMPBELL, 1990; GIR et al., 2006).
Em um estudo em São Paulo com 586 mulheres infectadas
acompanhadas no serviço de atendimento a pacientes com HIV/AIDS entre
1997 a 2001, 61 delas, ou seja, 10,4% apresentaram -se grávidas naquele
período e a média da faixa etária era entre 20 a 29 anos, sendo a baixa
escolaridade e a ocupação como dona de casa eram as características da
maioria das mulheres estudadas (LANDRONI, 2004).
Um estudo realizado em Pelotas, RS, onde foram entr evistadas 340
mulheres HIV positivas que são acompanhadas pelo Serviço Atendimento
Especializado DST/AIDS, demonstrou que a renda familiar per capita delas era
menos de um salário mínimo em 88% dos casos e 51% não havia tido renda no
ultimo mês (SILVEIRA e SANTOS, 2005).
27
Assim, neste contexto nacional um grande número de pessoas,
principalmente mulheres, infectadas encontra -se numa situação de pobreza e
baixa educação (STEFANI, ARAÚJO e ROCHA, 2004).
Como estratégia de redução da disseminação da infecção pelo HIV, e
visando salientar a atenção da população feminina, o Ministério da Saúde,
através do Programa Nacional de DST/AIDS, iniciou com alertas educativos e
medidas de prevenção focalizada nessa população ( LEVINE e DUBLER, 1990;
AYRES et al, 1999; BRASIL, 2000b; 2000c). O uso do preservativo feminino, a
testagem para HIV durante o pré -natal, o teste rápido para HIV na maternidade
para as gestantes sem testagem no pré -natal e orientações sobre
planejamento familiar foram acrescentadas nas rotinas de aten dimento. Isto
com intuito de oferecer um melhor atendimento à saúde dessas mulheres e,
conseqüentemente, a diminuição do risco de transmissão do HIV para seus
filhos.
4.3.2 O significado da maternidade
No icio dos anos 90, os profissionais de saúde que atendiam as
usuárias de serviços especializados em AIDS -, principalmente ancorados nos
riscos de transmissão vertical do HIV - manifestavam sentimentos de
indignação ou, no mínimo, de incompreensão diante de uma mulher
soropositiva que manifesta sse o desejo de engravidar ou ainda que chegasse
grávida ao serviço (CAMPBELL, 1990; DIAS, 1999).
28
Tal silogismo que pressupõe o risco da transmissão vertical, parece não
ter papel determinante na trajetória reprodutiva das pessoas infectadas pelo
HIV (BASTOS e SZWARCWALD, 2000; SANTOS et al., 2002).
Em um estudo que verificava o significado de um filho para a mulher
portadora do HIV, demonstrou que a maternidade pode ser uma base de
suporte emocional e psicológico para elas lidarem com a doença ( ROMANELLI,
2006). Parece que para essas mulheres o desejo de ser mãe subjuga o fato de
estarem contaminadas. Isto nos instiga a pensar na dimensão individual desse
desejo (BRASIL, 2000a).
Pode-se analisar que talvez exista um significado simbólico que
perpassa a decisão das m ulheres portadoras do HIV por manter uma gestação:
como por exemplo, a possibilidade de sentir em-se plenamente saudáveis , pois
carregam uma vida em si.
O relato de muitas mulheres infectadas pelo HIV é que não desistiram de
lutar para viver porque tornaram-se mães. A responsabilidade pelas crianças,
se por um lado é um peso e uma exigência, por outro é a possibilidade de
poder cuidar de alguém, um vínculo afetivo, nculo que traz a mulher para o
real, concreto, conferindo sentido para seu viver (BRASIL, 20 00a).
Maternidade é um elemento definidor do feminino. Segundo o trabalho
desenvolvido pelo grupo “Fios da vida” (Tecendo feminino em tempos de Aids)
viver a maternidade é uma das principais realizações da mulher . O desejo e/ou
planejamento da mulher infec tada pelo HIV de ter ou não mais filhos também
fica sobre o olhar do outro, um outro externo e internalizado que é visto no
29
papel das equipes de saúde respons áveis por seu acompanhamento clí nico
(BRASIL, 2000a).
Além da gestação dess as mulheres estar assoc iada ao risco de
transmissão vertical, a gravidez e os filhos podem significar, para as pessoas
vivendo com HIV/AIDS, a oportunidade de afirmar o vínculo conjugal.
A gestação como uma forma de reforçar o envolvimento afetivo com o
companheiro, também é uma possibilidade de ganhar um novo status social no
grupo. Além disso, a maternidade se configura como uma das formas de
adquirir uma autonomia social, algo que não se restringe as mulheres
infectadas pelo HIV (KNAUTH, 1997a; GONÇALVES e GIGANTE, 2006).
Segundo Knauth (1997b), as mulheres, geralmente não consideram
seus parceiros culpados pela infecção. Em alguns casos ainda a
necessidade de manter o diagnóstico em segredo do parceiro, pois também há
o medo de per-lo (WHO, 1986; KNAUTH , 1997b; GIACOMOZZI e
CAMARGO, 2004).
4.3.3 Gestação na mulher portadora do HIV
Em uma publicação do CDC (1985) no início da epidemia recomendava -
se que a gestação em mulhe r sabidamente portadora do HIV deveria ser
postergada ou que sua interrupção deveria ser aventada. Outra publicação do
mesmo órgão, três anos após , ressaltava que as mulheres portadoras do HIV,
conscientes da doença, não deveriam desejar ter filhos (CDC, 1994).
30
Até o início da década de noventa, os estudos pioneiros que
investigaram as percepções e de cisões de mulheres infectadas pelo HIV em
relação a uma gestação, eram baseados em dados de uma época em que não
havia perspectivas da profilaxia da t ransmissão vertical (CONNOR et al., 1994).
Apesar da gravidez e da infecção pelo HIV serem condições descr itas
como imunossupressoras, grandes estudos multicentricos nos Estados Unidos
e na Europa não conseguiram comprovar que a gravidez acelera a replicação
viral ou a progressão para AIDS ( BESSINGER et al., 1998). Também, a
infecção materna pelo HIV não foi a ssociada a anomalias fetais, ao parto
prematuro, ao baixo peso ao nascer ou a outras anormalidades relacionadas,
especificamente à gravidez na presença da infecção pelo HIV ( MOFENSON et
al., 1999; CDC, 2006a).
O diagnóstico da infecção pelo HIV, no período pré-concepcional ou no
início da gestação, entretanto, possibilita um melhor controle da infecção
materna e melhores resultados na profilaxia da transmissão vertical (BRASIL,
2005a; GIANVECCHIO e GOLDBERG, 2005; CDC, 2006a). Assim, o controle
pré-concepcional do casal portador do HIV pressupõe a recuperação dos níveis
de linfócitos T-CD4+ (parâmetro de avaliação da imunidade) e a redução da
carga viral de HIV circulante para n íveis indetectáveis (abaixo de 5 0 cópias)
(BRASIL, 2005a).
Esses cuidados, acresc idos das técnicas de assistência preconizadas
para a concepção em casais portadores do HIV (sorodiscordantes ou
soroconcordantes) a prevenção da transmissão vertical durante toda a
gravidez, no parto e no pós -parto, incluindo a não amamentação, permitem qu e
31
a gestação ocorra em circunstâncias de risco reduzido para a mulher e para a
criança, promovendo melhores resultados maternos e pré -natais (BRASIL,
2005a).
O Brasil é referência mundial pelo seu programa de assistência ao
indivíduo com HIV/AIDS, sendo oferecido à gestante assistência ao pré -natal,
TARV, realização de exames laboratoriai s, via de parto de acordo com o
manual de recomendações para profilaxia transmissão vertical , baseado em
estudos nacionais e internacionais e o atendimento pediátrico especializado
além da formula láctea até 6 meses da criança devido à contra -indicação do
aleitamento materno (INÊS et al., 2006).
O uso da zidovudina está disponível a todas as gestantes infectada pelo
HIV e as seus filhos desde 1997 seguindo as normas de reco mendação do
tratamento da gestante infectada pelo HIV do Ministério da S de. A
zidovudina foi à primeira medicação utilizada para profilaxia da transmissão
vertical em monoterapia a partir 14ª semana gestação, no parto e pelo recém -
nascido até completar as seis semanas de vida (CONNOR et al., 1994).
Após esses estudos, vários outros, nesta mesma linha de pesquisa,
foram sendo realizados , com o objetivo de reduzir, ainda mais, as taxas de
transmissão vertical do HIV .
Muitos esforços têm sido dedicados a to rnar a terapêutica anti -retroviral
mais acessível, aos países em desenvolvimento, nos quais ela não se encontra
disponível para toda população (BRASIL, 1997; SHAFFER, 1999; Jackson et
al., 2003; MOFENSON, 2006).
32
Apesar deste conhecimento, ainda há dificul dade da rede pública de
saúde em prover diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV a todas
gestantes. Em certas regiões brasileiras, uma cobertura insuficiente dos
testes anti-HIV entre as mulheres que realizam o pré -natal. A esta dificuldade
soma-se o fato, do Ministério d a saúde estimar que o uso de zidovudina
injetável no momento d o parto é utilizado em menos de 60% das gestantes
infectadas pelo HIV (BRASIL, 2004; MONITORAIDS, 2004).
Dados sobre a realidade nacional apontam, segundo Ministério da
Saúde, que, anualmente , três milhões de mulheres dão a luz no Brasil e que
desse total de cerca 0,5% são gestantes portadoras do HIV (BRASIL, 2005a;
VERMELHO, SILVA e COSTA, 2006; BRITO et al., 2006; FRANÇA-JUNIOR,
2006). Até o ano de 2005, no Brasil, fora m notificadas 23.462 gestantes
portadoras do HIV/AIDS, sendo 2.322 identificadas no ano 2005 (BRASIL,
2005b). Na África, o continente que apresenta os maiores índices de
prevalência da infecção pelo HIV, cerca de 30% das gestantes encon tram-se
infectadas pelo HIV (WHO, 2006b).
Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, as taxas de prevalência
do HIV em gestantes têm sido acompanhadas desde setembro de 2001,
através da ficha de investigação da Gestante HIV positiva e a criança exposta
pela equipe de vigilância das doenças transmissíveis (EVDT) do município.
Segundo dados do serviço, nos anos 2002 e 2003, um percentual de 3 % dos
nascidos vivos foi exposto ao vírus durante gestação ou parto, com a média de
500 gestantes HIV positivas investigadas a cada ano (CHRISTOVAM et al.,
2006).
33
A gestante com sorologia positiva para o HIV e a criança exposta ao
risco transmissão vertical constituem -se em agravo de notificação compulsória,
a partir de portaria do Ministério da Saúde publicada no ano de 2000. (Portaria
nº. 993/GM, de 04/09/2000, Ministério da Saúde, DOU Seção 1 p.1)
estabelecidos pelo Ministério da Saúde - Portaria nº. 59/GM, de 28/01/2003, e
Portaria nº34/SVS, de 28/07/2005.
O preenchimento desta ficha de notificação é realizado pelos
profissionais dos serviços que atenderam estas gestantes no momento do pré -
natal e/ou parto e pelo serviço de infectologia pediátrica.
Desse modo, o pré-natal é uma oportunidade existente e necessária
para o diagnóstico dessas mulheres. A identificação dessa população co ntribui
para uma intervenção mais efetiva, o apenas no pré e peri -parto, mas
também no pós-parto dessas mulheres e, porque não dizer, de seus parceiros
(BRASIL, 2000b; 2000c; BRITO, CASTILHO e SZWARCWALD, 2001;
MONITORAIDS, 2004; STEFANI, ARAÚJO e ROCHA, 2004; GIR, 2006).
Um outro dado importante sobre o pré -natal das brasileiras, na
população, em geral, é que 50% das gestações não são planejadas (BRASIL,
2005a), e estes dados se reproduzem na população de mulheres infectadas,
segundo estudos específicos com esta população (DIAS, 1999; BRASIL,
2000a; ROMANELLI, 2006).
Visto que a maior parcela de mulheres infectadas, no Brasil encontra-se
em faixa etária fértil, algumas pesquisa s realizadas com essas mulheres
indicam que boa parcela das mesmas sabiam do se u diagnóstico antes de
34
engravidarem ou ficaram sabendo na vigência do pré -natal (BRASIL,2004;
KREITCHMANN, 2004b; SILVEIRA e SANTOS, 2005; ROMANELLI, 2006).
Uma pesquisa realizada com gestantes infectadas pelo HIV em um
hospital escola no interior de São Paulo, demonstrou que, com relação ao
motivo que as levou a realizar o teste sorológico de anti-HIV, 60% das
mulheres relataram como o motivo a gravidez (GIR et al., 2006). Em outros
dados referentes também a gestantes em acompanhamento verificou -se que
70% tiveram o diagnóstico de HIV positivo durante a gestação ou parto
(STEFANI, ARAÚJO e ROCHA, 2004).
Em um estudo realizado serviço de atendimento ao pré -natal de alto-
risco da Universidade Federal Minas Gerais , com 90 gestantes infectadas pelo
HIV, 38,9% tiveram diagnóstico da infecção HIV durante o atual pré -natal, e
61,1% se sabiam HIV. Dessas, que sabiam seu diagnóstico , 34,5% soube
em pré-natal anterior. Portanto, neste estudo, 60% tiveram seu diagnóstico
durante a propedêutica de um pré -natal (ROMANELLI, 2006).
Um estudo de coorte realizado em Porto Alegre de janeiro 1997 a 2 000
com 322 gestantes infectadas pelo HIV constatou que 57% destas mulheres
tiveram seu diagnóstico na gestação atual e 43% sabiam previamente da sua
condição de infectada s endo que dentre essas 26% usavam TARV
(KREITCHMANN, 2004a).
Outro estudo de caráter descritivo retrospectivo realizado no período
março de 2002 até final de janeiro de 2003 - com banco de dados dos SINASC,
SINAN e LACEN do Ceará - identificando grávidas infectadas pelo HIV que
tiveram filhos em maternidades públicas de 1999 a 2001 em Fortaleza,
35
verificou que 35,5%, das 138 gestantes estudadas se sabiam portadoras do
HIV antes da gestação (CAVALCANTE et al., 2004). Nesse estudo as mulheres
que conheciam sua soropositividade para HIV antes da gestação tiveram maior
probabilidade de serem submetidas a todas as etapas para prevenção da
transmissão vertical.
Todavia, de uma maneira em geral , as efetivas taxas de fecundidade
das mulheres portadoras do HIV o desconhecidas em nosso país
(CHRISTOVAM et al., 2006; ROMANELLI, 2006; BRITO et al., 2006;
VERMELHO, SILVA e COSTA, 2006).
Em relação às estratégias de planejamento familiar definitivo como, por
exemplo, a ligadura tubária na população de mulheres inf ectadas pelo HIV
Knauth et al (BARBOSA e KNAUTH, 2003; HOPKINS et al., 2005)
entrevistaram 60 gestantes infectadas pelo HIV em São Paulo e Porto Alegre e
verificaram que elas manifestaram o desejo de realizar cesárea em virtude da
redução das taxas de TV e da possibilidade de realização simultânea do
procedimento.
36
4.3.4 Pré-natal na Gestante infectada pelo HIV
A atenção aos cuidados de pré -natal é comprovadamente uma
importante ferramenta na qualidade da saúde feminina e de seu concepto. É
utilizado como um indicador de boa prática, assim como uma medida de
qualidade de cuidados clínicos e de saúde pública (HALPERN et al., 1998;
BRASIL, 2005a; SILVEIRA e SANTOS, 2005).
No Brasil, vem-se registrando o aumento do número de consultas de
pré-natal por mulher que realiza o parto no SUS, partindo de 1,2 consultas por
parto em 1995 para 5,1 consultas por parto em 2003 (SIA -Datasus; AIH-
Datasus, 2004 e BRASIL, 2005a).
A captação precoce das gestantes com realização da primeira consu lta
de pré-natal até 120 dias do início da gestação e a realização de, no mínimo,
seis consultas de pré -natal, sendo, preferencialmente, uma no primeiro
trimestre, duas no segundo trimestre e três no terceiro trimestre da gestação
são condutas comprovadas de uma boa qualidade de pré-natal conforme
orientações do manual técnico brasileiro (BRASIL, 2005a).
Alguns índices de avaliação da boa qualidade do pré -natal são descritos
na literatura com objetivo de quantificar essa avaliação - como o Índice de
Kessner, o APNCUI (Adequacy Prenatal Care Utilization Index ) ou Índice de
Kotelchuck e o índice de Kessner modificado (LEAL, 2004).
O Índice de Kessner, por exemplo, é um algoritmo baseado no trimestre
em que o cuidado pré -natal se inicia e no número de consultas, ajustado para a
37
idade gestacional, sendo definido por três categorias de utilização: p -natal
adequado, intermediário e inadequado (HALPERN et al., 1998).
A maioria das investigações se concentra no uso dos indicadores
quantitativos, através de informações sobre a idade gesta cional de início do
cuidado e o número de consultas de pré -natal, isoladas ou combinadas,
controladas ou não para a duração da gestação.
No caso da gestante portadora do HIV são bem descritas as taxas de
redução da transmissão vertical naquelas que iniciam precocemente as
consultas de pré-natal, e realizam o tratamento com ARV durante a gestação,
trabalho de parto e administração do xarope de zidovudina para o bebê durante
os 42 primeiros dias de vida (NAPRAVNIK et al., 2000; GIANVECCHIO e
GOLDBERG, 2005; BRAIL, 2006b; MARTÍNEZ et al, 2006).
Assim, como foi descrito em uma análise realizada de 2001 a 2003 -
pela equipe de vigilância das doenças transmissíveis (EVDT) de Porto Alegre -
com número de consultas no pré -natal das gestantes HIV positivas e os casos
de transmissão vertical, demonstrando que as gestantes que realizaram até 2
consultas apresentaram uma maior incidência de crianças infectadas pelo HIV
quando comparadas as que realizaram maior número de consultas no pré -natal
(WACHHOLZ, STELLA e CUNHA, 2006).
Apesar das medidas preventivas serem vigentes, no Bra sil, desde 1996,
e orientadas pelo manual de recomendações de tratamento da gestante
portadora do HIV do Ministério da Saúde, cerca de 30% das mulheres grávidas
portadoras do HIV chegam ao trabalho de parto sem saberem que estão
infectadas ou sem qualquer prevenção da transmissão vertical, embora a rede
38
pública ofereça diagnóstico e tratamento universal e gratuito a população
(MONITORAIDS, 2004; PAIVA, PUPO e BARBOZA, 2006).
4.3.5 Transmissão vertical do HIV
A transmissão vertical do HIV ocorre em cerca de 70% durante o
trabalho de parto e no parto propriamente dito. O restante ocorre intra-útero,
principalmente nas últimas semanas de gestação (BRASIL, 1997; HALPERN et
al., 1998; MONITORAIDS, 2004), havendo ainda o risco adicional de
transmissão pós-parto por meio do aleitamento materno (BRITO et al., 2006;
BRASIL, 2002).
A transmissão materno - infantil é um processo multifatorial influenciado
por fatores virais, imunológicos e clínicos na mãe e no infante. A carga viral
plasmática materna é o fator preditivo mais forte de risco da infecção fetal
(GARCIA et al., 1999; COHN e CLARK, 2005; MARTÍNEZ et al., 2006;
MOFENSON, 2006).
Também foi demonstrado que as gestantes infectadas em estado mais
avançado da doença com contagens de células CD4 mais baixas têm risco
maior de transmitir o HIV ( GARCIA et al., 1999).
A infecção primária pelo HIV durante a gestação ou na vigência do
aleitamento materno, associada a altos valores de contage m viral, também são
associados às altas taxas de transmissão materna do HIV ( MARTÍNEZ et al.,
2006). Nenhum limiar de valores de carga viral foi associado ao risco zero de
39
ocorrência da infecção fetal, ou seja, gestantes com RNA do HIV não
detectáveis no plasma já transmitiram o HIV perinatalmente.
Fatores obstétricos também estão associados ao aumento da
transmissão perinatal do HIV, por exemplo, corioamnionite, placenta prévia, o
parto prematuro e as intervenções invasivas como a amniocentese
(MOFENSON et al., 1999; BRASIL, 2006b).
O primeiro estudo realizado para tentar in terferir na transmissão do HIV
das gestantes para seus filhos através da administração de anti -retrovirais foi
Pediatric AIDS Clinical Trial Group (PACTG 076) em 1994 (CONNOR et al.,
1994), que, foi um estudo randomizado duplo -cego, que obteve como resultado
uma redução de 67,5% da transmissão do HIV no grupo de gestantes em uso
de zidovudina. Nele foram avaliadas 3 63 gestantes portadoras do HIV entre 14º
e 34º semana de gestação.
Posteriormente um estudo randomizado duplo-cego realizado no período
de 1997 a 2000 nos Estados Unidos, Europa, Brasil e Bahamas com 1270
gestantes portadoras do HIV, com uso da nevirapina pela s gestantes (n= 642)
versus placebo (n= 628) na dose 200 mg de nevir apina no momento parto e
2m/kg para recém-nascido nas primeiras 48 a 72 horas após nascimento. Foi
realizada a análise da transmissão vertical do HIV com o esquema contendo
nevirapina versus placebo associado três esquemas-com zidovudina
monoterapia, combinações sem inibidores protease e esquema com inibidores
protease.
Os resultados, porém, não foram tão satisfatórios e ainda se detectou a
ocorrência de rápido surgimento de resistência mutacional à nevirapina e
40
insuficiência hepática grave para gestantes com CD4 > 250 mm
3
(DORENBAUM et al., 2002).
A partir de 1994 uma nova classe de medicação anti -retroviral foi
descoberta - os inibidores de protease - e, em 1996, passando a fazer parte do
esquema tríplice, incluindo dois inibidores de transcriptase revers a e um
inibidor da protease utilizado pela gestante infectada pelo HIV.
Diversos estudos publicados após está data na literatura médica
confirmaram a redução da transmissão vertical do HIV para níveis entre zero e
2%, por meio de combinação de medidas de i ntervenções preventivas: o uso
de anti-retrovirais combinados, o parto por cirurgia cesariana eletiva, o uso de
quimioprofilaxia com o AZT na parturiente e no recém -nascido, e a não-
amamentação (MARTÍNEZ et al., 2006).
Com o objetivo de reduzir a transmiss ão vertical, toda gestante infectada
pelo HIV deve ser medicada com medicações anti -retrovirais,
independentemente de seu estado imunológico ou virológico (BRASIL, 2006b;
CDC, 2006b; MOFENSON, 2006).
Em 1999 em um estudo de metanálise Europeu que comparou a
cesariana eletiva versus parto normal , referiu taxas de transmissão perinatal do
HIV-1 em mulheres submetidas à cesariana eletiva, respectivamente de 8,2%
nas mulheres sem uso de zidovudina e de 2% nas usuárias da medicação.
Outros trabalhos científicos relatam não haver maior incidência de
complicações puerperais e anestésicas após partos cesáreas em mulheres
41
soropositivas para HIV quando comparadas com as soronegativas
(BESSINGER, CLARK e KISSENGER; 1998; WHO, 2006b).
Embora exista evidência de que a op eração cesariana possa colaborar
para a redução da transmissão perinatal do HIV mesmo quando a carga viral é
menor que 1.000 cópias/ml, existem dúvidas, se nesta situação o benefício
adicional ultrapassaria os riscos de complicações para a mulher associado s a
este procedimento (BRITO et al., 2006).
Baseado em vários estudos sobre qual via de parto na gestante HIV se
mostra mais segura para redução transmissão vertical o manual de
recomendações de tratamento para gestante infectada pelo HIV (BRASIL,
2006b) orienta que: a via de parto deve seguir alguns critérios para sua
escolha: para a gestante com carga viral maior ou igual a 1.000 cópias/ml ou
desconhecida, recomenda -se parto por operação cesariana eletiva. Naquelas
gestantes com carga viral menor que 1.00 0 cópias/ml ou indetectável e com
mais de 34 semanas de gestação a via de parto recomendada é a vaginal. A
cesariana neste grupo de mulheres só se aplica quando houver indicação
obstétrica (CAVALCANTE et al., 2004).
Como conseqüência deste conjunto de medi das de redução-transmissão
as taxa de TV vem diminuindo nos últimos anos, no país, como um todo; de
16% em 1997, (CDC, 2006b) antes da introdução da terapia ARV, para 4% em
2002 (NOGUEIRA et al., 2001; BRITO et al., 2006; BRASIL, 2004).
Estudo realizado no Rio de Janeiro, em 2001 (NOGUEIRA et al, 2001),
mostrou uma redução da TV de 16 % para 3% entre as gestantes participantes
42
de um programa de intervenção que seguia recomendações preconizadas pelo
MS.
A análise da tendência temporal da TV por região brasi leira revela que
antes da introdução da terapia ARV, havia um crescimento anual dos casos em
todas as regiões, com taxas de variação média anual entre 5,9 e 31%.Em
todos estados da região Sul, as taxas foram superiores a 20% (BRITO et al.,
2006).
A análise da série temporal em relação ao número de casos observados
e esperados mostra uma redução dos casos de AIDS notificados para as
crianças nascidas, a partir de 1997, chegando a serem registrados 90% a
menos dos casos esperados para crianças nascidas em 20 01.
O número de casos notificados para as crianças nascidas em 2001, em
todo país, representou apenas 10,1% dos casos esperados. Ou seja, se fosse
mantida a mesma tendência no período inicial, de 1990 a 1996, no qual a taxa
de crescimento anual era, na méd ia 12%, seria esperado um total de 2.241
casos de Aids em crianças nascidas em 2001, no entanto, só foram notificados
226 casos.
A redução da Transmissão vertical desde o primeiro ano de observação
em 1996 foi de 1.091 casos para 530 em 2005 representando uma diminuição
de 51,5% dos casos (BRITO, 2006).
Nos países nos quais disponibilidade de ampla implementação
dessas intervenções obteve -se uma redução significativa da incidência de
casos de AIDS em crianças (CDC, 2006b).
43
Assim, conclui-se que as medidas de terapêutica profilática da gestante
HIV para redução da TV no Brasil têm alcançado êxito em sua implementação ,
e que essas medidas devem -se a todos os esforços conjuntos dos órgãos
governamentais, dos órgãos não -governamentais e das equipes de saúde q ue
prestam cuidados a essa população (PAIVA, PUPO e BARBOZA, 2006).
44
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50
ARTIGO
Características do pré-natal da gestante infectada pelo HIV, de
acordo com o momento do seu diagnóstico
Prenatal characteristics of HIV infected pregnant women
according to the time of diagnosis
Márcia Menezes Gomes da Silva
1
1
Mestranda em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia
Departamento de Medicina Social
Endereço para correspondência: mm[email protected]
A ser enviado a Revista de Saúde Pública.
51
Título: Características do pré -natal da gestante infectada pelo HIV, de
acordo com o momento do seu diagnóstico
Autora: Márcia Menezes Gomes da Silva
Silva, M.M.G.
Mestranda do Programa de Pós -Graduação em Epidemiologia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Co-autores:
Daniela Riva Knauth
Knauth, D.R
Doutorado em Etnologia e Antropologia Social.
Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, EHESS, França.
Professora do Programa de Pós -graduação em Epidemiologia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Jandyra Maria Guimarães Fachel
Fachel,J.M.G
Doutorado em Estatística.
London School Of Economics And Political Science University Of London,
LSE-UL, Inglaterra
Professora do Programa de Pós -graduação Epidemiológia
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
52
Regis Kreitchmann
Doutorando do Programa Pós -graduação em Ciências Médicas
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Endereço para contato:
Márcia Menezes Gomes da Silva
Av. Mariland 1485/ap.201
Bairro Mont Serrat
Porto Alegre, RS.
Fone: (51) 3737-0668/9329-0618
Pesquisa sem financiamento
Conflito interesse: nenhum
53
Declaração de participação no Trabalho
Declaro para os devidos fi ns que os autores abaixo participaram do trabalho
Características do pré -natal da gestante infectada pelo HIV, de acordo
com o momento do seu diagnóstico, realizando as respectivas atividades:
Autora principal:
Márcia Menezes Gomes da Silva
Elaboração do projeto pesquisa, coleta de dados, digitação dos dados, análise
dos dados e redação artigo.
Co-autores:
Daniela Riva Knauth
Orientação da autora na análise dos dados e redação artigo.
Jandyra Fachel
Co-orientação da autora na análise dos dados.
Regis Kreitchmann
Orientação autora na redação do artigo.
Assinatura da autora
principal:________________________________________
Porto Alegre, março de 2007.
54
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Breno Riegel Santos, do Serviço de Infectologia do Hospital
Nossa Senhora da Conceição, Dra. Rosana Fonseca, médica do Hospital
Femina e à Enfermeira Gisele Preussler do Serviço Atendimento Especializado
da Secretaria Municipal da Saúde de Porto Alegre.
55
RESUMO
Objetivo: Analisar fatores socioeconômicos, demogr áficos e as características
do p-natal das gestantes infectadas pelo HIV, de acordo com o momento do
seu diagnóstico.
Métodos: Realizou-se estudo transversal com 199 gestantes portadoras HIV
que realizaram seu atendimento pré -natal em três centros públi cos de
referência de Porto Alegre, no período de julho de 2005 a janeiro de 2006. O
questionário avaliou informações sócio -econômicas, demográficas e do pré -
natal. Durante a análise, elas foram divididas em 2 grupos: Grupo1 composto
de 135 gestantes (68%) que sabiam previamente a gestação o seu diagnóstico
para o HIV-1 e o Grupo 2 com 64 gestantes (32%) que conheceram o seu
diagnóstico naquele pré-natal.
Resultados: A mediana de idade das gestantes foi 26 anos (variando 15 a 42
anos) sendo que 59% (n=117) delas tinham curso fundamental incompleto ,
74% (n=147) não produziam nenhum tip o renda, 81% (n=153) das gestantes
possuíam vínculo de relacionamento está vel com o pai da criança e 66%
(n=132) possuíam menos de 20 anos de idade quando tiv eram a primeira
gestação. O número mediano de gestações prévias foi 3 (variando de 1 a 13
gestações), e 37% (n=73) tiveram pelo menos um aborto prév io. Comparando
os grupos, observou-se que o início do pré-natal no primeiro trimestre e o
desejo de realizar ligadura tubária foi significativamente mais freqüente no
Grupo 1 do que no Grupo 2. p=0,005 e p= 0, 012, respectivamente.
Conclusões: Não houve diferenças estatisticamente significante entre os
grupos nos aspectos sócio-demográficos, todavia as gestantes que tinham o
seu diagnóstico para o HIV prévio a gestação iniciaram mais precocemente seu
pré-natal e mais freqüentemente requisitavam a ligadura tubária.
Palavras Chave: HIV, AIDS, transmissão vertical, transmissão perinatal.
56
ABSTRACT
Objective: To analyze socio-economic, demographic and prenatal care
characteristics of HIV-1-infected pregnant women, according to the time of
diagnosis.
Methods: A cross-sectional study of 199 HIV -1-infected pregnant women w as
carried out. They had prenatal care in three reference public centers in Porto
Alegre-RS, from June 2005 to January 2006. The questionnaire assessed
socio-economic, demographic and prenatal information. During the analysis,
subjects were divided into 2 groups: Group 1- 135 pregnant women (68%) who
previously knew about their diagnosis for HIV -1 and group 2- 64 pregnant
women (32%) who obtained their diagnosis for HIV during that prenatal care.
Results: Median age of the women was 26 years old (ranging fr om 15 to 42
years old). 59% (n=117) had low level of education and 74% (n=147) had no
income. 81% (n=153) had a steady relationship with the child’s father. 66 %
(n=132) were under 20 years old when they had their first pregnancy. The
median number of previous pregnancies was 3 (ranging from 1 to 13). 37%
(n=73) had at least one previous abortion. We have observed that the beginning
of prenatal care in the first trimester and the request for female sterilization were
significantly more frequent in Group 1 when compared to Group 2. p=0.005 and
p=0.012, respectively.
Conclusions: There were no statistically significant differences between the
groups in terms of sociodemographic characteristics. However, the pregnant
women who previously knew about their HIV diagnosis start prenatal care
earlier and request female sterilization more frequently.
Key words: HIV, AIDS, vertical transmission, perinatal transmission
57
INTRODUÇÃO
Anualmente, três milhões de mulheres dão à luz no Brasil, e, desse total
aproximadamente 0,5% estão infectadas pelo HIV.
9, 6,11
Em Porto Alegre,
capital do Rio Grande do Sul, as taxas de prevalência do HIV em gestantes têm
sido acompanhadas, desde de 2001, pela equipe de vigilância das doenç as
transmissíveis (EVDT). Este acompanhame nto tem sido feito através da ficha
de investigação das gestantes HIV positiva e criança exposta. Segundo os
dados coletados pela EVDT, nos anos de 2002 e 2003, um per centual de 3%
dos recém nascidos foi exposto ao HIV durante a gestação e/ou parto. Nestes
dois anos obteve-se a média de 500 gestantes HIV po sitivas por ano no
município.
11
As regiões sul e a sudeste são as regiões que apresentam os maiores
números de notificações de casos de AIDS no país. As taxas de incidência são
respectivamente, de 24 e 22 casos por 100.00 habitantes.
5
Estas taxas de uma maneira geral permanecem elevadas ,
fundamentalmente, pelo crescente aument o dos casos de Aids em mulheres.
As mesmas demonstraram um aumento da incidência de 0,4 casos em 1987
para 14 casos por 100.000 h abitantes em 2005. Em virtude dessa tendência de
feminilização da epidemia estudos nacionais com gestantes HIV positivas têm
sido realizados. Estes estudos descrevem que 40 a 60% destas mulheres
58
engravidam cientes da sua sorologia para infecção pelo HIV an tes da gestação.
15,18
Nesta pesquisa foram descritos os dois momentos do acompanhamento
das gestantes HIV positivas nos serviços de pré -natal. Em um grupo a gestante
que inicia seu pré-natal ciente de sua sorologia antes da gestação e no
segundo grupo aquela que se sabe infectada no atual pré -natal. E assim
analisa a relação entre estes dois grupos e as diferenças entre as
características sócio-demográficas e do acompanhamento de pré -natal entre os
grupos.
O objetivo deste estudo foi ter acesso a estes ti pos de dados descritivos
da população de gestantes infectadas pelo vírus, dos serviços de saúde que
atendem a essas mulheres, e assim poder agregar um maior conhecimento das
características e necessidades comportamentais, afetivas e do planejamento
familiar dessas mulheres para que desta maneira, possam se adaptar e
corresponder às reais necessidades no trabalho com essa população.
Com essa análise que aborda os momentos distintos (que chegam as
gestantes infectadas pelo HIV aos serviços de saúde), podemos fazer uma
reflexão sobre o atendimento individualizado destas mulheres conforme o seu
momento de vida. A infecção pelo HIV não se apresenta para as mulheres
como um motivo significativo de interrupção da trajetória reprodutiva, motivo
pelo qual aumenta a importância dos locais que atendem a essa população
possam detectar quais as estratégias eficazes de abordagem e viabilização de
métodos anti-conceptivos. Também ao planejamento familiar efetivo com
discussão entre as equipes de saúde e os usuários do servi ço sobre quais os
59
meios que mais se adaptam à realidade destas mulheres e de seus
companheiros.
MÉTODOS
Realizou-se um estudo transversal para analisar e descrever as
características socioeconômicas, demográficas e o pré-natal das gestantes
infectadas pelo HIV. As gestantes foram recrutadas em três serviços públicos
de referência em atendimento à população infectada pelo HIV em Porto Alegre,
RS.
O critério de seleção foi o fato de serem gestantes infectadas pelo HIV e
o de exclusão foi o de sere m portadoras de alguma enfermidade mental que
impossibilitasse responder às questões. Não foi controlada a idade gestacional
no momento da entrevista das gestantes.
Foi realizada uma amostra consecutiva de entrevistas individuais por
seis meses, no período de julh o de 2005 a janeiro de 2006 e obteve -se um total
de 199 gestantes. As entrevistas ocorreram durante a espera de seus
atendimentos nos ambulatórios.
O instrumento de coleta era composto por 57 perguntas divididas em
quatro blocos, durando em média 5 a 10 minutos.
60
Para a análise, a amostra foi dividida em dois grupos baseados no
momento de conhecim ento do status de portador a do HIV: Grupo 1 que foi
composto de 135 gestantes que sabiam previamente à gestação serem
portadoras do HIV; e Grupo 2, composto por 64 gestantes que descobriram o
diagnóstico durante o pré -natal atual e que foram referenciadas para estes
locais.
Os três locais escolhidos para realização do estudo são os responsáveis
pela maior fração de atendimento em gestantes HIV. Estes, em conjunto,
representam o atendimento de cerca de 60% das gestantes infectadas pelo
vírus em acompanhamento anual no município. D ois destes locais estão
inseridos em hospitais com assistência ao parto e um no centro de atendimento
da prefeitura de Porto Alegre que en caminha para assistência ao parto.
As gestantes foram convidadas a participar do estudo e foi aplicado um
termo de consentimento informado. O projeto foi aprovado pelos Comitês de
Ética em Pesquisa das instituições.
Para a elaboração do questionário foi u tilizado programa Sphinx e para
tratamento estatístico dos dados, foi usado programa SPSS-versão 12.
61
Foram realizados os testes de hipóteses qui -quadrado e resíduo
ajustado para verificação da associação entre a variável - momento do
conhecimento do status sorológico para o HIV - e as demais variáveis
socioeconômicas, demográficas e do pré -natal das gestantes infectadas pelo
HIV.
Utilizando o Programa nQuery Advisor V3.0, foi calculado o poder do
teste qui-quadrado a partir da amostra de 199 casos ob tidos a partir da
estratégia de coleta de dados por seis meses consecutivos nos 3 serviços
selecionados.
Nas análises entre os grupos que apresentaram significâ ncia estatística
(p< 0,05) foi aplicada à análise de correspondência. Análise de
Correspondência é uma técnica descritiva e ilustrativa que se limita a
produzirem gráficos a partir das tabelas de contingência a fim de dest acar a
distribuição proporcional das variáveis categóricas. Em outras palavras, a partir
dela, podemos demonstrar associação entre as variáveis em uma
representação gráfica bidimensional para variáveis categóricas com 3 ou mais
categorias ou unidimensional para variáveis categóricas. Quanto mais afastado
do centro está o ponto, mais ele se desvia da média, também se os dois pontos
estão próximos, eles são semelhantes quanto as variáveis representadas.
62
RESULTADOS
A amostra total contempla 199 gestantes infectadas pelo HIV. Sendo o
grupo 1 composto de 135 gestantes (68%) que sabiam previamente a gestação
seu diagnóstico infectadas pelo HIV e o grupo 2 com 64 gestantes (32%) que
souberam no pré-natal atual. Não houve recusa em participar do estudo.
A mediana da idade foi 26 anos (variando 15 a 42 anos). Em relação à
escolaridade, 59% delas possuíam ensino fundamental incompleto (men os 8
anos estudo) e 74% das mulheres não possuíam qualquer tipo de renda
financeira.
A mediana do número de gestações foram três (variando 1 a 13
gestações), e 15% (n=30) das mulheres entrevistadas estavam na sua primeira
gestação. A idade da primeira ges tação foi abaixo dos 20 anos, em 66%
(n=132) que, segundo OMS, é a faixa etária considerada como adolescência.
21
Do grupo que sabiam previamente estar infectadas pelo HIV (Grupo 1), a
descoberta da infecção, em 49% (n=66), foi realizada atra vés do pré-natal
anterior ao atual, 30% (n=41) através de adoecimento de um filho,
companheiro ou da própria mulher e, em 21 % (n=28) foi através da testagem
voluntária fora da gravidez. Desse grupo uma das mulheres foi infectada
através da transmissão vertical.
63
Do grupo que soube na gestação atual (Grupo 2) a totalidade dos casos
soube devido ao atendimento prestado em pré -natal 32% (n=64). Do total da
amostra (n=199), pode-se concluir que 65,3% (n=130) das mulheres tiveram
acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV devido ao atendimento prestado
em pré-natal.
Na tabela 1 estão demonstrados os dados socioeconômicos analisados
entre os dois grupos de gestantes que não apresentaram diferenças
estatisticamente significantes.
Em relação ao tipo de vínculo com o parceiro da gestação atual, 70,5%
(n=140) das entrevistadas moravam com o parceiro, 6,5% (n=13) referem este
como um namorado, 9,5% (n=19) estavam separadas e 13,5% (n=27) sem
companheiro.
A sorologia para infecção do HIV nos parceiros da amostra total, referida
indiretamente foi 40 % (n=79) positiva, 26% (n=52) negativa e 34% (n=68) não
haviam testado ou o sabiam da sorologia da parceira até o momento da
entrevista.
Na análise do grupo de mulheres que sabiam previamente seu
diagnóstico de infectadas pelo HIV , a sorologia referida por elas do pai da
criança foi 38% (n=51) positiva para HIV, 31% (n=42) negativa, 21% (n=28) não
haviam testado até momento da entrevista e, em 10% (n=14) o pai da criança
não estava ciente da sorologia da mulher até o momento da entrevista.
64
Em relação ao planejamento da gestação atual, no Grupo 1, 73% das
mulheres não haviam planejado a gravidez contra 61% do Grupo 2. Na análise
do grupo geral, 69% dessas mulheres não haviam planejado a gestação atual.
A tabela 2 apresenta as diferenças n as variáveis entre os dois grupos
que atingiram significância estatística com p<0,05 IC 95% e análise de resíduo
ajustado entre os grupos.
A data da primeira consulta do p -natal apresentada na análise de
correspondência do gráfico 1 - é a relacionada à primeira consulta no pré -natal
que foi, independentemente, de ter ocorrido no posto saúde ou no serviço de
referência.
O gráfico 1 demonstra que o fato das gestantes saberem antes da
gestação atual seu diagnóstico de infectadas pelo HIV ( grupo 1) está associado
ao início das consultas no primeiro trimestre da gestação.
Entre as gestantes que tiveram o diagnó stico de infectadas pelo HIV
antes da gestação atual, observa-se uma associação com o desejo de realizar
ligadura tubária, conforme pode ser visto no Gráfico 2.
No gráfico 3 é demonstrada a associação entre o número de gestações
e o momento do diagnóstico da infecção pelo HIV.
Em relação ao uso de medicações anti -retrovirais durante a atual
gestação, 77,4% (n=154) das mulheres da amostra faziam uso dess es
medicamentos. Dessas, 6% faziam uso de zidovudina (AZT) em monoterapia,
51,3% utilizavam terapêutica combinada com zidovudina, lamivudina e
nelfinavir, 11,6% estavam usando zidovudina, lamivudina e nevirapina e 8,5%
65
usavam outros esquem as de TARV em decorrência de estarem em uso de
tratamentos estabelecidos previamente à gestação e com históricos de
resistência viral às medicações usadas, habitualmente, na profilaxia da
transmissão vertical.
Referente à realização dos exames de acompanhamento imunológico ,
pode-se afirmar que 84% dessas mulheres haviam realizado pelo menos
uma contagem de CD4/CD8 e a de carga viral para HIV. Destaca -se que 21,6%
(n=43) das gestantes foram entrevistadas por ocasião de sua primeira consulta
no serviço de referência e isto foi independente do momento do diagnóstico.
66
DISCUSSÃO
A análise dos dados da pesquisa realizada com 199 gestantes
infectadas pelo HIV possibilitou delinear dois momentos distintos desta
condição: o primeiro no qual a gestante era ciente de sua condição de
infectada pelo HIV antes da gestação atual e o segundo, quando o
conhecimento do status sorológico se dá durante a gestação atual. Assim,
talvez possamos supor que as gestantes pertencentes ao segundo grupo daqui
a algum tempo se enquadrarão n o primeiro grupo. Os dados apresentados
refletem a realidade com a qual os serviços de saúde que atendem as
gestantes infectadas pelo HIV se deparam cotidianamente.
O maior percentual das gestantes portadoras do HIV que tiveram seu
acompanhamento nos centr os de referência em tratamento de DST/AIDS
investigados sabia antes da gestação seu diagnóstico de infectadas pelo vírus
(68%). Esse dado também aparece em outros trabalhos nacionais, apontando
para o fato de que a infecção pelo HIV não é percebida pelas m ulheres como
uma razão determinante para a interrupção da trajetória reprodutiva, motivo
pelo qual aumenta a impor tância dos serviços de assistência aos pacientes
HIV/AIDS no sentido de prevenção da transmissão vertica l.
2, 6, 15, 18,19
Existem poucos estu dos na literatura nacional e internacional que se
dedicam a investigar as possíveis especificidades das gestantes que mantém a
atividade reprodutiva após o diagnóstico da infecção pelo HIV. Neste sentido, o
presente estudo traz importantes contribuições a esta questão. Concluiu -se a
partir deste que, embora as características sócio -demográficas das gestantes
67
que tinham conhecimento do diagnóstico antes da gestação e daquelas que
o souberam durante a gestação sejam bastante semelhantes, elementos
distintos nos dois grupos que devem ser levados em consideração.
Nos dois grupos tratam -se fundamentalmente de mulheres com baixa
escolaridade, sem renda financeira.
3, 8, 11,18
Entretanto, chama atenção o
percentual expressivo de mulheres que têm a primeira g estação antes dos 20
anos de idade. Na amostra de gestantes infectadas pelo HIV estudadas, a taxa
de gestação na adolescência foi cerca de duas vezes maior do que os dados
da população feminina no geral, segundo dados do IBGE.
4
Em relação às especificidad es das mulheres que se sabem infectadas
pelo HIV antes da gestação, deve-se destacar que essas iniciam o
acompanhamento pré -natal no primeiro trimestre, o que possibilita melhores
resultados na redução da transmissão vertical.
9,11
Outro dado importante é que
este grupo manifesta um maior desejo de realização da laqueadura tubária,
dado este que deve ser levado em consideração pelos serviços de saúde no
atendimento a estas mulheres. Este dado vai ao encontro a outro estudo que
mostrou que, embora o conte xto interfira de forma decisiva na realização da
laqueadura, este é um método contraceptivo preferido pelas gestantes HIV
positivas.
2
Pode-se mesmo aventar a hipótese, a partir de outros estudos
sobre o tema
2
, de que a gestação pós -diagnóstico seja uma e stratégia
adotada pelas mulheres visando o acesso à laqueadura, visto as dificuldades
que as mulheres enfrentam para realizar esta cirurgia.
2
68
O estudo das gestantes infectadas pelo HIV confirma a importância dos
serviços de pré-natal no combate à epidemia da AIDS. A atenção ao pré-natal
em Porto Alegre e em outros serviços de saúde do país é a maneira pela qual a
maioria das mulheres em idade fértil tem acesso ao diagnóstico de sua
soropositividade para o HIV.
9, 20, 2,19
Além do diagnóstico da própria g estante, o
pré-natal pode ser um meio de trazer à tona o diagnóstico dos parceiros destas
mulheres e, assim, a necessidade destes também se submeterem ao
acompanhamento médico. O pré -natal pode servir ainda como estratégia para
qualificar o aconselhamento referente às medidas de prevenção a serem
adotadas pelo casal.
Nesse sentido, conhecer as características sócio -demográficas das
gestantes infectadas pelo HIV, bem como os aspectos relacionados ao
acompanhamento de pré-natal, que essas mulheres recebem no s serviços de
referência, é de grande importância para que se possa aperfeiçoar os serviços
de assistência e as estratégias de abordagem dessa população.
Permanece ainda uma lacuna de conhecimento referente tanto às
gestantes infectadas que não realizaram o acompanhamento de pré-natal em
serviços de referência para o tratamento de DST/AIDS, bem como àquelas que
tiveram acesso ao diagnóstico por ocasião do uso de testes rápidos na
maternidade. Possivelmente as mulheres que participaram desse estudo fazem
parte do grupo de pessoas que tiveram a oportunidade de serem
conscientizadas da importância do acompanhamento pré -natal e das medidas
preventivas para redução transmissão materno -infantil do HIV realizadas
durante o mesmo.
14
69
Uma das limitações do presente estudo - em decorrência deste ter sido
realizado somente com a gestante foi que as análises das variáveis
referentes às caracte sticas do pai da criança, ficaram limitadas pelo fato
destas terem sido avaliadas a partir da referência da própria gestante. Neste
sentido, sugerimos que investigações futuras com gestantes infectadas pelo
HIV procurem analisar as variações do comportamento reprodutivo destas
mulheres ao longo do tempo e incluam o casal nesta análise. O estudo dessas
mulheres, de suas motivaçõe s e do desejo de, apesar de saberem -se
infectadas, engravidar, pode facilitar a compreensão da peculiaridade de suas
realidades e auxiliar o combate à epidemia da AIDS.
70
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72
TABELAS
Tabela 1 - Variáveis sócio-demográficas que não apresentaram diferença
estatisticamente significante entre os grupos de gestantes referentes ao momento do
seu diagnóstico para sorologia para infecção pelo HIV
Grupo 1
(n=135)
Sabia
previamente
Grupo 2
( n=64)
Soube gestação
atual
Toda amostra
(n=199)
Idade da primeira
gestação até 19 anos
68%
62%
66,3%
Não planejaram a
gestação atual
73%
61%
69%
Sem renda financeira
78%
67%
74,7%
Escolaridade mulher
-fundamental
incompleto
60%
54,7%
58,8%
73
Tabela 2 - Variáveis avaliadas que apresentaram valores estatisticamente
significantes em análise qui -quadrado/resíduo ajustado ent re dois grupos: gestantes
que sabiam previamente do diagnóstico HIV (grupo 1) e as que souberam neste pré -
natal (grupo 2)
Característica n* Resíduo p
Desejo Ligadura Tubária
*Sim
Grupo 1 76 2,5
Grupo 2 24 -2,5 0,012
*Não
Grupo 1 53 -2,5
Grupo 2 37 2,5
Sorologia HIV do pai
*Positiva
Grupo 1 51 -,8
Grupo 2 28 ,8 0,024
*Negativa
Grupo 1 43 2,7
Grupo 2 9 -2,7
*NS/NT
Grupo 1 41 -1,6
Grupo 2 27 1,6
Número Abortos
*Zero
Grupo 1 78 -2,4
Grupo 2 48 2,4 0,046
*Um
Grupo 1 40 1,4
Grupo 2 13 -1,4
*Dois ou mais
Grupo 1 17 1,7
Grupo 2 3 -1,7
Início pré-natal
*Primeiro Trimestre
Grupo 1 97 2,8
Grupo 2 33 -2,8 0,005
*Seg/terceiro Trimestre
Grupo 1 38 -2,8
Grupo 2 31 2,8
NS/NT Não sabe o diagnóstico da parceira/não testou
74
GRÁFICOS
Gráfico 1: Análise de correspondência entre o momento d o diagnóstico de HIV e a
data da primeira consulta no pré-natal
p=0,005
Data de inicio do Pré -Natal
Grupo 2
Grupo 1
1º trimestre
2º ou 3º trimestre
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
Grupo 2
Grupo 1
1º trimestre
2º ou 3º trimestre
75
Gráfico 2: Análise de correspondência entre o momento do diagnóstico de HIV e o
desejo de realizar ligadura tubária
p=0,012
Desejo de Ligadura Tubária
Grupo 2
Grupo 1
quer ligadura
não quer ligadura
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
Grupo 2
Grupo 1
Quer ligadura
Não quer ligadura
76
Gráfico 3: Análise de correspondência entre o momento do diagnóstico de HIV e o
número de gestações.
p=0,025
Número de gestações
Grupo 2
Grupo 1
até 2 gestas
> 3 gestas
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
0,2
0,4
0,6
Grupo 2
Grupo 1
até 2
>3 gestas
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos resultados observados , poderia ser questionado se est as
características se estendem a toda população de gestantes portad oras do HIV
ou apenas à parcela dessa população que realiza seu acompanhamento
médico em centros de referência em atendimento ao HIV/AIDS.
Tendo em vista este questionamento , a autora acredita que o grupo de
mulheres que fizeram parte deste estudo represente a população em g eral,
oriunda de atendimentos públicos de pré -natal do sistema único de saúde.
A análise estatística dos dados não demonstrou diferença nas
características dos dois grupos de gestantes (que sabiam previamente ou que
souberam na atual gestação) em relação a aspectos sócio-demográficos.
Estes dados foram também comparados a dados epidemiológicos da
população feminina não infectada pelo HIV. O resultado revelou que algumas
das características apontadas de mulheres infectadas são reproduzidas na
população feminina não infectada pertencente à mesma faixa de nível
socioeconômico.
Através dos resultados obtidos, observou -se que a problemática da
epidemia da AIDS na população feminina não se resume somente à infecção
em si pelo vírus, mas também a todo um contexto de situações que acometem
a população feminina de baixa renda, como por exemplo, a baixa escolaridade,
a dependência financeira do parceiro e elevadas taxas de gestação na
adolescência.
78
CONCLUSÕES
Neste estudo, observou-se que, atualmente, o conhecimento prévio à
gestação da sorologia para HIV, é visto em grande parcela das ge stantes
infectadas pelo HIV e está significativamente relacionado ao início precoce do
acompanhamento no atendimento de pré-natal. Como conseqüência, gerando
uma melhor qualidade neste, ao mesmo tempo em que possibilita maiores
índices de redução da transmissão vertical .
Também se observou que essas mulheres que sabem previamente seu
diagnóstico para HIV têm um maior desejo de realizar a ligadura tubária.
Até o presente momento existem poucos trabalhos na literatura nacional
e internacional que abordam as possíveis diferenças entre estes dois grupos de
gestantes - as que engravidam se sabendo HIV e aquela s que sabem na atual
gestação.
Com a análise desses tipos de dados descritivos que abordam os
momentos distintos (que chegam as gestantes infectadas pelo HIV aos
serviços de saúde), podemos fazer uma reflexão sobre o atendimento
individualizado destas mulheres conforme o seu momento de vid a. A infecção
pelo HIV não se apresenta para as mulheres como um motivo significativo de
interrupção da trajetória reprodutiva, motivo pelo qual aumenta a impor tância
dos serviços no sentido de prevenção da transmissão vertical.
79
Com acesso a estes tipos de dados descritivos da população de
gestantes infectadas pelo vírus, os serviços de saúde que atendem a essas
mulheres, poderão cada vez mais agregar um maior conhecimento das
características e necessidades comportamentais, afetivas e do plane jamento
familiar para que desta maneira, possam se adaptar e corresponder às reais
necessidades no trabalho com essa população.
Diante do exposto, é de extrema importância que novas pesquisas no
âmbito das políticas de saúde voltadas aos locais que atendem a essa
populão possam detectar quais as estratégias eficazes de abordagem e
viabilização de métodos anti -conceptivos. Também ao planejamento familiar
efetivo com discussão entre as equipes de saúde e os usuários do serviço
sobre quais os meios que mais se adapta m à realidade individual destas
mulheres e de seus companheiros.
Através dessas medidas, talvez seja possível trazer, para os serviços de
saúde, os parceiros destas mulheres que não possuem o conhecimen to de sua
sorologia para o HIV e, ainda, desenvolver estratégias de esclarecimento e
convencimento da importância das medidas de prevenção do casal.
80
ANEXOS
a. Projeto de Pesquisa
ANÁLISE DO PERFIL EP IDEMIOLÓGICO DAS GESTANTES
PORTADORAS DO HIV EM CENTROS DE REFERÊNCIA DE
PORTO ALEGRE
Mestranda: Márcia Menezes Gomes da Silva
Orientadora: Daniela Riva Knauth
Co-orientadora: Jandyra M.G. Fachel
Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia
Universidade Federal Rio Grande do Sul
Local realização: Serviço Assistência Especializada em Doenças
Sexualmente Transmissíveis e AIDS de Porto Alegre e Hospital Nossa Se nhora
da Conceição e Hospital Fê mina
81
JUSTIFICATIVA
Uma das questões emergentes em relação às mulheres portadoras do
hiv é a necessidade de organizar o atendimento de forma integra, para além do
manejo clínico da infecção e seus sintomas, incorporar, por exemplo, a sua
saúde reprodutiva e de sua família.
O desejo da maternidade aparece tanto entre as mulheres, quanto o de
paternidade entre os homens portadores do HIV, e segundo alguns est udos a
proporção de homens que querem ter filhos é o dobro da proporção encontrada
nas mulheres. Mas a paternidade segue uma área do viver desprezada quase
sempre pelas políticas e programas de saúde.
O contexto sócio-cultural que expôs o portador ao vírus não desaparece
depois que recebeu o diagnóstico. Homens e mulheres precisam de apoio para
lidar com desejos afetivos e sexuais ao mesmo tempo em que lidam com o fato
de serem portadores do HIV. Eles precisam de apoio para tomar decisões
conscientes sobre ter ou não filhos, juntos, como casal e família. Os
profissionais de saúde devem ser treinados e preparados para ter a atitude que
informem e apóiem as mulheres portadoras do HIV e suas escolhas.
Atualmente são implantados métodos para evitar que as crianç as se infectem
pelo HIV, mas não se aos pais e mães HIV + suficiente aporte para a
tomada de decisões conscientes e organizadas sobre novas gestações.
82
REVISÃO DA LITERATUR A
Na terceira década da AIDS importantes avanços em relação ao
conhecimento e tratamento desta doença, têm possibilitado a diminuição da
mortalidade, e um maior controle da infecção e melhoria na qualidade de vida
das pessoas infectadas pelo HIV.
Apesar destes avanços a doença tem se espalhado por diversas partes
do mundo, e dados ep idemiológicos globais apresentados em 2003 mostram
que o HIV infectou mais de 60 milhões de pessoas, sendo que cerca de um
terço destas pessoas já morreram em decorrência desta patologia.
23
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que atualmente 40,3
milhões de pessoas vivem com HIV/AIDS mundialmente, destas 17,5 milhões
são mulheres e 2,3 crianças com idade inferior a 15 anos. Em 2005 ocorreram
4,9 milhões de novos casos de HIV/AIDS, sendo 700.000 em crianças e 95%
destes novos casos se encontram Sub -Sahara África, Leste Europeu e Ásia.
23
Mundialmente a Pandemia HIV/AIDS não tem demonstrado sinais
desaceleração nas suas taxas de crescimento, apesar de todos os esforços e
estudos para controlá-la.
No Brasil, Segundo Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde até
junho de 2005 foram notificados 317.827 casos confirmados de AIDS e uma
estimativa de 600.000 infectados pelo HIV. Do número total de casos
confirmados de AIDS 118.520 são mulheres.
83
A transmissão heterossexual do HIV aparece como a principal forma
de contágio da doença na população feminina, perfazendo nas mulheres acima
de 13 anos 94% da forma de aquisição da mesma.
Os homens foram os mais afetados no início da epidemia, mas o
número de mulheres infectadas atualmente ultrapassa aos homens,
especialmente em paises em desenvolvimento nos quais as mulheres vivem
em extrema pobreza devido ao baixo nível socioeconômico e cultural, atingindo
na África cerca de 57% da população adulta afetada pelo HIV, principalmente
as mulheres com idade inferior 25 anos.
No inicio da epidemia eram relatadas variações na razão homem/mulher
de 28:1 em 1985, 2:1 em 1999, 1,7 :1 em 2002 , e nas faixas etárias de 13 a 19
anos houve inversão destes valores a partir de 1998.
Segundo Ministério da Saúde, no perí odo 1994-1998, observou-se um
percentual de crescimento de casos notificados da infecção em mulheres
brasileiras aproximadamente 10 vezes mais do que observado entre os
homens. Até setembro de 2000, quase 60% da população feminina
contaminada pelo HIV, encontrava-se na faixa etária entre 13 e 34 anos.
As mulheres devido a características biológicas, culturais e sócio
econômicas têm cerca de 4 vezes sua chance aumentada em relação aos
homens em uma relação heterossexual desprotegida de contrair o HIV, assim a
infecção vem aumentado no grupo feminino. T ratando-se de um problema
alarmante, pois nesta faixa etária que apresenta a velocidade de aquisição
mais elevada trata-se das mulheres em idade reprodutiva e esse maior número
84
de mulheres em idade fértil nos permite prever que o número de crianças
expostas ao HIV só tende aumentar.
Anualmente três milhões de mulheres tem filho no Brasil, segundo um
estudo realizado com uma amostra representativa de parturientes de 15 a 49
anos de idade, em todas as regiões do País a taxa d e prevalência do HIV neste
momento era 0,49 % que corresponde a uma estimativa de cerca de 12.644
parturientes infectadas HIV ( www.aids.gov/data/pages ) gestante HIV e crianças
expostas.
E últimos dados (Bolet im Epidemiológico de AIDS – jul a set 2001.
Ministério da Saúde 2001) e estima-se hoje 0,5 a 1% prevalênc ia de gestantes
portadoras do HIV.
A transmissão da gestante portadora do HIV para seu concepto ocorre
em 75 % no período peri -parto, 25% intra-útero e se não houver o uso de
medicações anti-retrovirais na gestação e aumenta em 14 a 29% com a
amamentação.
10,16
O Primeiro Estudo realizado para in terferir na transmissão do HIV das
gestantes para seus filhos com administração de anti -retrovirais foi Pediatric
AIDS Clinical Trial Group 076 (PACTG 076) em 1994.
8
Foram avaliadas neste estudo 363 gestantes portadoras do HIV entre
14º e 34º semana de gestação, foi um estudo randomizado duplo -cego que
obteve como resultado uma redução de 67,5% da transmissão HIV no grupo de
gestantes em uso de Zidovudina.
85
No Brasil o uso rotineiro de zidovudina para gestante portadora do HIV
teve seu início em 1996 sendo incluído no manual de manejo da gestante HIV
positiva do Ministério da Saúde.
Foi traçado um panorama n acional da transmissão vertical do HIV
através de um estudo multicêntrico realizado em 63 centros de atendiment o
médico de 20 estados pela Sociedade Brasileira de Pediatria o qual avaliou a
transmissão materna do HIV entre 2000 a 2002.
18
A primeira análise deste trabalho demonstrou que houve uma redução
da transmissão de 8,6% para 3,8%, porém em relação à distribuição por
regiões Brasileiras, os dados não foram tão satisfatórios, pois as taxas variam
de 5,5% na região s ul para 12,3% no nordeste, demonstrando que a
assistência as gestantes portadoras do HIV se porta de maneira muito desigual
em nosso País.
Sabe-se que a maternidade é uma experiência importante do ponto de
vista social e psicológico para a grande maioria das mulheres e que seu desejo
reprodutivo foi desvalorizado e reprimido no contexto desta doença
(FERNANDEZ, 1994; SZEJER, 1997).
A gestação era desaconselhada em função do alto índice de
transmissibilidade da doença antes do uso rotineiro de zidovudina pela
gestante até 1994, pois os índices de trans missão vertical variavam de 12 a
42%
7
e a laqueadura tubária costumava ser sugerida às mulheres infectadas
pelo HIV.
86
Os profissionais da saúde justificavam seus sentimentos de indignação,
ou no mínimo incompreensão diante de uma mulher que sabidamente
portadora do HIV manifestava desejo de engravidar ou chegava grávida ao
serviço de saúde, em função da racionalidade cientifica que destacava o risco
da transmissão vertical do HIV.
1
Entretanto, com uso adequado dos anti -retrovirais pela mulher durante
gestação, trabalho de parto e parto, e imediatamente após nascimento para
bebê, pode-se reduzir a transmissão vertical do HIV para valores entre zero e
5%.
1,5
Os direitos reprodutivos e a maternidade das mulheres portadoras têm
sido foco de inúmeros debates e estudos, mas as intenções e direitos
reprodutivos dos homens portadores do HIV têm poucos registros na literatura.
22
Dentro da pequena literatura disponível encontram -se dados sobre o
desejo de homens portadores do HIV de terem filho maior que as mulheres , e
apesar da alta proporção (43%) de homens que disseram sentir vontade de ter
um filho e que tinham vida sexual ativa, seu conhecimento sobre transmissão
materno-infantil HIV era relativamente escasso. Além disso, os serviços de
saúde onde são atendidos não foram colocados como a fonte princ ipal de suas
informações sobre transmissão materno-infantil.
22,21
Segundo um estudo de coorte realizado em Porto Alegre de 1997 a
2000 com gestantes portadoras do HIV, demonstrou que 141 (38,8%) dos
parceiros destas mulheres eram portadores do HIV, o restante não havia relato
de seu status sorológico para o HIV.
14
87
Escolha ou acaso, o fato é que 18% das mulheres engravidam após
saberem de sua infecç ão pelo HIV.
2,4
Porém há outros estudos realizados no Brasil, como o de Fortaleza (CE)
que demonstrou em um estudo descritivo com 138 gestantes portadoras do
HIV que 35,5% se sabiam HIV antes da gestação. Alguns estudos mostram
que a infecção pelo HIV não diminui a vontade de ter filhos da mulher e que à
vontade de ter filhos do parceiro teve forte influência na escolha reprodutiva da
mulher por engravidar.
6
Segundo alguns autores, a g estação na portadora do HIV parece ter
pequeno efeito na progressão da infecção em mulheres portadoras do HIV
assintomática ou naquelas co m infecção recente, parecendo causar
progressão mais rápida em mulheres com infecção em estágios mais
avançados.
1. Como resultado adverso durante a gravid ez em mulheres
portadoras do HIV, tem-se observado:
Taxa aumentada de abortamento espontâneo precoce ;
Natimortos;
Parto prematuro;
Recém-nascido de baixo peso;
Ruptura prematura das membranas amnióticas;
Outras infecções de transmissão sexual ;
88
Pneumonia bacteriana; Infecção trato urinário;
E outras complicações infecciosas.
Sendo que as complicações clín icas dos pais também refletem no
acompanhamento médico das crianças ou são delegados a terceiros.
E outros estudos também mostram que algumas mulheres portadoras
do HIV mesmo tendo conhecimento de sua doença não realizam
acompanhamento de pré -natal adequado e uso anti-retrovirais para diminuir os
riscos transmissão materna infantil do HIV.
Assim este estudo visa reconhecer que fatores interagem no engravidar
pela mulher portadora HIV e do seu parceiro, para que se possa nos serviços
prestadores de assistência à saúde realizar conjuntamente equipe de saúde e
usuários tentar traçar planos de planejamento familiar individualizado para esta
população, abordando a escolha consciente de nova gestação ou não.
OBJETIVOS
OBJETIVO PRINCIPAL:
Descrever o perfil epid emiológico das gestantes portadoras do HIV.
OBJETIVOS SECUNDÁRIO S:
Descrever o parceiro
Tempo e tipo da relação entre o casal (vínculo)
Avaliar o momento e modo do diagnóstico HIV
89
Status sorológico dos filhos anteriores
Desejo de ligadura tubária
MÉTODOS
DESENHO DO ESTUDO:
Este é um estudo qualiquantitativo c om gestantes portadoras do HIV que
realizam seus acompanhamentos de Saúde no Serviço Assistência
Especializada em Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids de Porto
Alegre, Hospital Nossa Senhora Con ceição, setor Transmissão Materno -Infantil
do HIV e Hospital Femina.
CRITÉRIOS INCLUSÃO:
Gestante portadora do HIV
CRITÉRIOS EXCLUSÃO:
Presença de doença Psiquiátrica ou Neurológica.
LOGÍSTICA
Foram realizadas entrevistas individuais pela pesquisadora co m as
gestantes portadoras do HIV, que sabiam seu diagnóstico HIV e estavam em
acompanhamento de seu pré -natal nos três centros de referência em
tratamento em gestantes portadoras do vírus nos ambulatórios do Serviço
90
Assistência Especializada em DST/AIDS de Porto Alegre e no Hospital Nossa
Senhora da Conceição no Setor T ransmissão Materno-Infantil e Hospital
Fêmina.
As entrevistas com essas mulheres foram realizadas após suas
consultas no pré-natal dessas Instituições, através do instrumento
(questionário) elaborado pela mestranda com 57 perguntas com as mulheres
que se enquadram nos critérios de inclusão, preenchendo os critérios de
inclusão no estudo. Foram aplicados os termos de consentimento esclarecido
as mesmas, e aplicação do questionário descritivo.
O período de realização das entrevistas foi de 6 meses, uma amostra
consecutiva de todas pacientes que se enquadrarem no critério de inclusão e
consentirem em participar do estudo em questão.
ORÇAMENTO
Todos os custos inerentes ao Projeto de Pesqu isa serão
responsabilidades da Pesquisadora principal Márcia Menezes Gomes da Silva.
Não haverá nenhuma participação financeira da Prefe itura Municipal de Porto
Alegre (Secretária Municipal de Saúde) .
ANÁLISES DOS DADOS
Análise dos dados quantitativos ser á realizada através do Coeficiente
correlação Pearson e Regressão linear simples.
91
Analise dos dados qualitativos Distribuição Qui -quadrado.
Será realizado através do programa SPSS (Statistcal Package For The
Social Sciences)
ASPECTOS ÉTICOS
Foram avaliadas e aprovadas pelos Comitês de Ética do Grupo
Hospitalar Conceições (GEP) Nº. 033/05, SISNEP, Linha de Ensino e
Pesquisa/ Comitê de Ética em Pesquisa Hospital Materno Infantil Presidente
Vargas/Prefeitura Municipal de Porto Alegre Nº.19/05.
CRONOGRAMA
MAI
2006
JUN
2006
JUL
2006
AGO
2006
SET
2006
OUT
2006
NOV
2006
DEZ
2006
JAN
2007
FEV
2007
MAR
2007
Aplicação do
questionário
Análise dos
Dados
X
X
X
X
Redação da
tese de
Mestrado
X
X
X
X
X
X
Defesa de
tese
X
92
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from: http: //www.unaids.org. Accessed: Jan 20, 2006.
94
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Explicação da pesquisa : No Brasil, a infecção pelo HIV, está acometendo cada vez
mais as mulheres, principalmente na faixa etár ia 15 aos 35 anos, com isso, pode -se perceber o
aumento do número de casos de transmissão materno -infantil, que quer dizer transmissão da
mãe para seu filho durante a gestação.
Entretanto, com uso adequado de drogas anti -retrovirais (medicações para HIV) p ela
mãe durante gestação, trabalho de parto, parto e pelo recém -nascido após nascimento pode -se
reduzir a transmissão vertical (risco de passar o vírus para bebê) para valores entre zero e 5%.
Por esse motivo, gostaria de conversar com você.
Na possibilidade de nessa entrevista constatar algumas medidas de assistência
médica, uso de medicações, perfil cio -econômico e momento diagnóstico HIV, se vonão
desejar responder as questões não haverá nenhum problema.
Sua participação é inteiramente voluntária e se você escolher não participar,
assistência médica e hospitalar prestada a você e ao seu bebê não serão de forma alguma
prejudicadas.
Objetivos do estudo : Analisar os fatores que interagem na gestação nas mulheres
portadoras HIV conhecedora de seu status sorológico.
Procedimentos: Se você aceitar participar desta pesquisa, você responderá a um
questionário aplicado por um profissional de saúde. Todas as suas respostas serão
estritamente confidenciais e você não precisa responder a nenhuma pergunta que não deseje.
Confidencialidade: Todas as suas respostas serão estritamente confidenciais e você
não será identificada em nenhuma apresentação dos resultados da pesquisa. Para você possa
se sentir bem à vontade para responder as perguntas do questionário, antes de assinar este
documento, você deve esclarecer com o profissional de saúde qualquer vida que você tenha
em relação à pesquisa.
Benefícios para as participantes: Você estará ajudando os profissionais de saúde a
obterem informações que serão importantes p ara melhorar assistência prestada às mulheres e
seus filhos.
Esclarecimento vidas : Se você desejar conversar com alguém sobre este estudo,
você pode contatar com a responsável pela pesquisa Dra. Márcia M. Gomes da Silva (Médica
Pediatra - Mestranda UFGRS ), nos telefones: (51 -9808-5518/3388-5117). E-mail:
mmgs17@terra.com.br
Se você aceita participar estudo coloque seu nome e assine o consentimento
Data:
Nome: Assinatura:
95
b. Aprovação Comitê da Ética e Pesquisa
96
97
c. Questionário
98
99
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
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