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A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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Láyza Lourenço Machado Braga Quintão
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da
Escola de Enfermagem da Universidade Federal de
Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do
título de Mestre em Enfermagem.
Área de concentração: Enfermagem
Orientadora: Profª Drª Maria Édila Abreu Freitas
Belo Horizonte
Escola de Enfermagem da UFMG
2007
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A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem: Cuidar em Saúde e
Enfermagem/Saúde do Trabalhador
Dissertação intitulada “A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do
enfermeiro”, de autoria da mestranda Láyza Lourenço Machado Braga Quintão, aprovada
pela banca examinadora constituída pelas seguintes professoras:
______________________________________________________
Profª Drª Maria Édila Abreu Freitas - ENA/UFMG - Orientadora
______________________________________________________
Profª Drª Heloisa de Carvalho Torres - ENA/UFMG
______________________________________________________
rª -
______________________________________________________
Profª Drª Anézia Moreira Madeira - EMI/UFMG
- ENA/UFMG
-- – FAFICH/UFMG
____________________________________________________
Profª Drª Cláudia Maria de Mattos Penna
Coordenadora em exercício do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
EMI/UFMG
Belo Horizonte, 22 de junho de 2007
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A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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Av. Professor Alfredo Balena, 190 - Belo Horizonte, MG - 30130-100 - Brasil - Telefax: (031) 32489836
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Aos meus filhos, Lucas e Yasmin,
pelo carinho e amor incondicional, apesar da
minha grande ausência.
Ao Vinícius, meu marido,
por atravessar comigo um período de grande
transformação e instabilidade.
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Aos meus pais,
que mesmo eu não tendo trilhado o caminho por eles sonhado,
foram o alicerce para as minhas vivências.
À Professora Hilda Bara,
por ter sido Mestra, Professora e “Mãe”
Ao Professor Antônio Augusto,
por me apresentar novos horizontes na Administração.
Às Enfermeiras que participaram deste estudo,
pela disponibilidade e confiança.
À Alcinéia,
pelo cuidado e amizade.
Ao meu irmão Milton e à Andréia,
por serem presentes.
À Enfermeira Cristina,
pela receptividade.
À Líliam,
pelo carinho e profissionalismo.
Aos meus alunos da Faseh,
pela compreensão.
À Sandra,
por cuidar da minha casa e meus filhos.
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À Professora Doutora Maria Édila Abreu Freitas,
pelos ensinamentos profissionais, mas principalmente
pelo ensinamento de vida!
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RESUMO
LÁYZA, L. M. B. Q. A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do
enfermeiro. 2007. 122 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Escola de Enfermagem,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
Trata-se de um estudo fenomenológico, que emergiu das nossas vivências no contexto do
modelo hospitalocêntrico, como profissonais que vivenciaram a interface entre “sujeitos
cuidadores” e “sujeitos cuidados”, quando experenciamos um acidente automobilístico. Tal
situação suscitou em nós o desejo de compreendermos o significado de Gerência do Cuidado,
sob a ótica do enfermeiro que cuida, em razão da nossa vivência, onde nutrimos o sentimento
de ausência deste profissional em nosso processo cuidativo. Com a trajetória escolhida, foi
possível a nossa aproximação do fenômeno, o que nos possibilitou a descrição de sua
essência. Contamos com a participação de sete enfermeiras e, para garantir o sigilo dos
discursos, criamos pseudônimos utilizando as letras da palavra SENTIDO que corresponde ao
número de entrevistados. As entrevistas foram gravadas, para permitir-nos uma maior
apreensão das falas dos sujeitos. A questão norteadora, “Descreva para mim situações,
vivenciadas por você, que retratem a Gerência do Cuidado em Enfermagem”,
possibilitou-nos o encontro de 91 temas que, após convergências e divergências de sentido,
originaram dez grandes temas. Novas convergências e divergências foram realizadas sendo
estes convertidos em quatro grandes categorias: O cotidiano do cuidar; Jogo de cintura; Ser
presença na ausência; Gerenciamento da assistência de enfermagem. Os resultados
sinalizaram os aspectos influentes na gerência do cuidado, dentre eles o tempo em suas
interfaces, que, a nosso ver, possibilita reflexões geradoras de novos estudos.
Palavras-chave: gerência, cuidado, gerência do cuidado, significado.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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ABSTRACT
This is a phenomenological study which resulted from my experience in the context of a
hospital-centered model, as a “caregiver subject” who then became a “cared-for subject” as
the result of an automobile accident. This brought the wish to understand the meaning of care
management, from the point of view of the nurse who cares, because of the feeling of absence
of this professional in the care I was given. With the path chosen, it was possible to draw
close to the phenomenon, providing the description of its essence. Seven nurses participated
and, to keep the privacy of the discourse, we created pseudonyms using the letters of the word
“SENTIDO” (in English, meaning), which corresponds to the number of interviewees. The
interviews were recorded, which permitted a better grasp of the speech of the subjects. The
guiding issue – “Describe to me the situation you lived through, which portrays the
Management of Care giving in Nursing” – made it possible to find 91 themes which, after
examining overlapping and different meanings, raised ten major themes, and were divided
into 4 major categories: the daily routine of caring; flexibility; step into the gap; management
of nursing care. The result signaled the elements which influence the management of care,
including time in its different aspects, which suggests new studies.
Key-words: management, care, care management, meaning.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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LISTA DE SIGLAS
COFEN - Conselho Federal de Minas Gerais
CTI - Centro de Terapia Intensiva
ECG - Eletrocardiograma
PVC - Pressão Venosa Central
SCP - Sistema de Classificação de Pacientes
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
1.1 Gerência do cuidado: significado para o enfermeiro....................................................11
CAPÍTULO 2
2.1 Gerência........................................................................................................................17
2.2 Cuidado.........................................................................................................................22
2.3 Gerência do cuidado......................................................................................................27
CAPÍTULO 3
3.1 Fundamentação teórico metodológica..........................................................................34
3.2. Trajetória metodológica................................................................................................36
CAPÍTULO 4
4.1 Análise compreensiva: desvelando o fenômeno gerência do cuidado..........................41
4.1.1 O cotidiano do cuidar....................................................................................................41
4.1.2 Jogo de cintura..............................................................................................................53
4.1.3 Ser presença na ausência...............................................................................................63
4.1.4 Gerenciamento da assistência de enfermagem..............................................................67
CAPÍTULO 5
5.1 Iniciando a compreensão...............................................................................................76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................79
ANEXOS......................................................................................................................86
APÊNDICE..................................................................................................................90
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O mundo não é o que penso, mas o que vivo,
estou aberto ao mundo,
comunico-me indubitavelmente com ele,
mas não o possuo,
ele é inesgotável.
Merleau-Ponty
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1.1 Gerência do cuidado: significado para o enfermeiro
A escolha por realizar um estudo sobre a Gerência do Cuidado surge durante o
período da nossa graduação em enfermagem, a partir do momento que começamos a perceber
uma grande distância entre o discurso teórico e a prática profissional como acadêmica bolsista
do Hospital Universitário. A aprendizagem da enfermagem, do gerenciamento do cuidado, se
dava por meio das experiências vivenciadas por nós no contexto do modelo hospitalocêntrico,
centrado na doença. Após o término da graduação, mergulhamos em um repensar a despeito
da enfermagem e da Gerência do Cuidado.
Um ano após termos concluído a graduação em enfermagem, sofremos um acidente
automobilístico grave e vimo-nos como uma paciente politraumatizada, ocupando um leito de
hospital e vivenciando na pele a dor de ser cliente e profissional ao mesmo tempo. O ocorrido
foi um marco em nossa vida e levou-nos a reflexões profundas acerca da prática profissional
do enfermeiro no cenário hospitalar.
Em conseqüência, cinqüenta e cinco dias de internação hospitalar e cinco cirurgias de
grande porte. Durante dez dias permanecemos no hospital de uma cidade do interior do estado
de Minas Gerais, próximo ao local do acidente, onde foi prestado o primeiro atendimento.
Nesta época, trabalhávamos nesta instituição na organização do processo de trabalho da
equipe de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Essa situação trouxe-nos uma
mudança de foco: de “sujeito cuidador” para o “sujeito cuidado”. Reconhecemos este
momento como um dos mais significativos para o nosso crescimento pessoal e profissional.
Durante o período de tratamento e convalescença no hospital, deparamo-nos com uma
realidade que, a princípio, amedrontava tanto a nossa condição de enfermeira, quanto à de
cliente, mas que nos instigava na busca da compreensão desse vivido, principalmente no que
tangia à prática profissional, tendo o cuidado como essência. Após essa vivência como
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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cliente, pudemos perceber e certificar-nos da importância do ato de cuidar. Para Boff (2004),
tomar o cuidado à luz da existência humana significa explorar a relação sujeito-sujeito,
disponibilizando toda a capacidade de empatia, dedicação, compaixão, imprimindo à ação
uma centralidade da ordem do sentir.
Naquele momento encontrava-nos fragilizadas pelo acidente e desejávamos a presença
de um enfermeiro ao nosso lado para que pudéssemos falar das nossas angústias, medos,
sofrimentos e dúvidas. Nós não sabíamos o nosso prognóstico e temíamos perder os
movimentos. Aos vinte e três anos, o nosso ideal e sonhos eram ver a possibilidade de uma
enfermagem mais humanizada, em que o enfermeiro pudesse nos inquirir acerca do nosso
sono, bem-estar, pré-ocupar-se enfim com o nosso cuidado. Paradoxalmente a tudo que
aprendemos, presenciávamos a visita apressada do enfermeiro, sempre ocupado com os
afazeres burocráticos e com questões nem sempre relativas ao cliente.
Esse fato foi evidenciado em várias situações vividas na condição de cliente. Como
tal, não podíamos nos expressar verbalmente e precisávamos ser compreendidas por meio de
gestos, sorrisos, enrugamento da testa, o fechar ou o piscar dos olhos, acenos com a cabeça,
gemidos, entre outras expressões. Não obstante, nas visitas diárias, o enfermeiro inquiria-nos
sempre acerca do nosso estado, utilizando-se de questões que já traziam embutidas respostas
prontas e sempre positivas: “Está tudo bem?”, “Você dormiu bem?”. Talvez, a questão fosse:
“Como você passou a noite? Como está? Com o que você gostaria de se alimentar-se hoje?
Questões simples, mas significativas para alguém com dificuldades em expressar o seu sentir,
suas preferências, medos e ansiedades.
Para Ferraz (1995), na busca pelo sucesso profissional, temos a tendência em acreditar
que nós, enfermeiros, erramos o alvo do sucesso da profissão quando privilegiamos o assistir.
Miramos em um alvo ligado à ascensão, status, acreditando ser o apogeu profissional a prática
administrativa. Tal ação não assegura a prática assistencial e sua qualidade.
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Ainda na visão de Ferraz (1995), o cuidado de enfermagem está sendo tratado de
forma perversa, perante as atividades gerenciais desenvolvidas pelos enfermeiros. Estes têm
relegado, a segundo plano, o que é substancial e específico para a profissão, provocando um
esvaziamento e desqualificação do seu exercício profissional.
Conforme mencionamos anteriormente, na condição de cliente, o abandono, a
indiferença, a solidão eram sentimentos que permeavam a nossa existência. Essa postura
levava-nos a refletir sobre o fazer do enfermeiro: que sentido tinha para ele o cuidado? Estaria
atento à importância do gerenciamento do cuidado? Quais as habilidades e competências
seriam necessárias para gerenciar o processo cuidativo? Esses e muitos outros
questionamentos invadiram a nossa mente, dividida entre o ser cliente e a visão profissional,
que demandava compreensão e respostas, principalmente frente ao pouco tempo de prática
profissional.
Após a alta hospitalar fomos para casa de nossos pais, no interior de Minas Gerais.
Sentia-nos reflexivas, acompanhadas por todas essas inquietações, suscitadas nessa
experiência. Período de grande sofrimento pessoal, permeado pela dependência do outro, para
as mínimas necessidades, presentes na vida de qualquer pessoa.
Um ano, após alta médica, retomamos as nossas atividades como enfermeira, na
unidade de terapia intensiva, de um hospital de grande porte da rede privada da cidade de
Belo Horizonte. Fortalecidas pela experiência momentânea de cliente, começamos a dar corpo
a minha inquietação e firmamo-nos no propósito de problematizar essa prática do enfermeiro
a partir das nossas vivências, expressas nas questões: o que significa, para o enfermeiro, o
cuidado de enfermagem? A quem compete a gerência do cuidado de enfermagem? É possível
gerenciar o cuidado de enfermagem, distante do cliente?
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Após um período de seis meses, desenvolvendo nossas atividades no referido local,
fomos designadas para o setor de Pronto Socorro, sob alegação de que nossa postura
inquietante e questionadora suscitava movimentos desestabilizadores do processo de trabalho.
Neste ínterim, tem início uma mudança naquela estrutura organizacional e convidam-
nos para assumir a coordenação de enfermagem das Unidades de Internação.
Durante nossa experiência profissional, como coordenadora de unidade, pudemos
perceber que, apesar dos incentivos dirigidos à equipe de enfermeiros, para que exercessem o
seu papel de organizadores e gerentes do cuidado, as iniciativas nesse sentido eram tímidas.
Havia uma postura de inadequação diante de sua prática profissional e não uma atitude de
transformação; submetiam-se a ela tal como se apresentava, sem questionamentos. Para
Ferraz (1989, p. 5), podemos entender esse comportamento como “uma forma de recusa da
nossa própria liberdade, a liberdade de escolher, de se lançar no mundo-vida-da-
enfermagem”, implicando numa postura de conformismo, em uma experiência profissional
despida de ‘autenticidade’”.
A mesma autora acredita que os enfermeiros têm centrado seus atos em um fazer
desprovido de significado da ação de enfermagem, talvez por não compreendê-la. É preciso
que exista um resgate do “ser enfermeiro”, pautado na recuperação da “ação de pensar do
enfermeiro”. É necessário que esse profissional não se deixe rotinizar, não permita o
cerceamento do pensar, pois só através dele será possível um novo fazer.
À partir daí, foi despertada em nós a necessidade de compreender o significado que o
enfermeiro atribui à gerência do cuidado, no cotidiano hospitalar, indagando ao responsável
direto pelo cuidado prestado ao cliente, no contexto do processo cuidativo, uma vez que os
estudos existentes não focam essa nuança da visão gerencial do cuidado, buscando ouvir os
sujeitos enfermeiros que estão vivenciando essa prática. Que eles possam expressar as suas
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percepções, o sentido que eles atribuem ao fenômeno “Gerência do cuidado” em seu fazer
cotidiano.
Para contextualizar o fenômeno em estudo, buscamos sucintamente no discurso
teórico o referencial que embasa a gerência, o cuidado e a gerência do cuidado.
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O Universo total da ciência está construído sobre o mundo à medida
que ele é experienciado diretamente, e se desejarmos submeter
a própria ciência a um exame rigoroso e chegar a uma avaliação precisa
do seu significado e objetivos , necessitamos iniciar um reavimento
da experiência básica do mundo no qual a ciência é
uma expressão de segunda ordem.
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2.1 Gerência
A necessidade da função de gerência surge com as primeiras oficinas, na verdade,
aglomerações de pequenas unidades de produção, no início do capitalismo industrial, quando
um número significativo de trabalhadores é empregado por um único capitalista, que assume
essa função, a de gerente, em virtude de sua propriedade do capital. Nas suas relações de
troca, o capitalismo tinha como sua propriedade o tempo dos trabalhadores assalariados tanto
quanto a matéria-prima fornecida e os produtos saídos de sua oficina.
Em suas primeiras fases, o capitalismo industrial é caracterizado por um continuado
esforço por parte do capitalista em desconsiderar a diferença entre a força de trabalho e o
trabalho.
Com o surgimento da Gerência Científica, final do século XIX e início do século XX,
evidenciada pela formulação completa da Teoria da Gerência por Taylor, tem início a
organização dos processos de trabalho.
Nos Estados Unidos, esse movimento significou aplicar os métodos da ciência aos
problemas complexos e crescentes da organização do trabalho, visando ao controle. Para
Braverman (1981), o taylorismo pretendia ser uma ciência do trabalho dos outros, uma
resposta específica de como controlar o trabalho, até então alienado, uma vez que, para
Taylor, essa gerência descentralizada era inadequada para conseguir resultados, por fixar mais
tarefas do que interferir no modo de executá-las – chamando-a de gerência comum. Seus
administradores reconhecem a bagagem de conhecimento tradicional dos operários, mas essa
é de domínio da gerência. Aceitam que conhecimentos e destrezas associados garantiriam
maior e melhor produção, sendo seu papel o de induzir cada operário a utilizar, cada vez
melhor, seus esforços, conhecimento tradicional, imaginação e boa vontade. O objetivo de
Taylor era transferir a dinâmica do processo de trabalho dos trabalhadores para as mãos dos
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gerentes. Temos aqui o aspecto essencial da gerência científica – o controle. Este se torna uma
necessidade absoluta para o administrador, a partir do momento que tem a incumbência de
impor aos trabalhadores uma maneira rigorosa de execução do trabalho.
A gerência científica entende que não é recomendável deixar que os trabalhadores
tenham a iniciativa do trabalho, cerceando a criatividade, assim como não é aceitável que
esses possuam maior conhecimento que seus superiores hierárquicos.
Considerando essa concepção, Ferraz (1995, p. 25-26) afirma:
A gerência moderna, na sua intelectualização, espera que o trabalhador se
comporte sem pensar, sem compreender os raciocínios técnicos empregados
na linha de produção, criando a noção de tarefa. O papel do gerente consiste
em preparar as tarefas e sua execução, deixando explícito através de normas
e rotinas o que deve ser feito, como deve ser feito e o tempo gasto para
efetuá-las.
E ainda:
Toda essa dissociação do processo de trabalho coloca a sua concepção
inteiramente a cargo da gerência e surgem nas estruturas organizacionais os
departamentos de planejamento. A execução do trabalho torna-se desprovida
de intencionalidade do trabalhador, reduzindo-a a uma atividade muito mais
mecânica que criativa.
Para Fernandes et al. (2003), historicamente, os enfermeiros têm adotado princípios da
Escola Clássica da Administração para gerenciar seu trabalho, tendo em vista a estruturação e
organização do Serviço de Enfermagem nas Organizações de Saúde. Algumas características
como fragmentação de atividades, a impessoalidade nas relações, a centralização do poder e a
rígida hierarquia, ainda para estas autoras, são marcantes no cotidiano do trabalho da
enfermagem, evidenciando uma conduta gerencial autoritária.
Ao analisar a nossa prática profissional no contexto hospitalar, na tentativa de
compreender a visão gerencial que permeia o fazer do enfermeiro assistencial, vemos que a
inserção dos vários profissionais, na área de saúde, em especial nas instituições hospitalares,
constitui o resultado da influência de dois processos produtivos que se desenvolveram no
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mundo ocidental. De um lado, o desenvolvimento científico e tecnológico que marcou o
século XX e possibilitou o desenvolvimento de uma série de instrumentos técnicos cada vez
mais complexos e caros, daí a necessidade da existência de organizações cada vez mais
sofisticadas para sua compra e manutenção. Por outro lado, a mercantilização da prestação de
serviços, dando ênfase ao caráter empresarial na organização do trabalho. Concomitante a
esse processo instalou-se o desenvolvimento da rotina de burocratização da organização no
curso produtivo de várias profissões, dentre elas a enfermagem.
A enfermagem fora institucionalizada em 1858, na Inglaterra, quando do retorno de
Florence e “suas Enfermeiras” da guerra da Criméia, por uma necessidade social –
organização dos hospitais militares. A administração de hospitais, a formação de enfermeiros
e a educação em serviço foram para Florence a preocupação primordial de todo o seu
empreendimento na enfermagem (NIGHTINGALE, 1989).
As investigações sobre a reorganização do hospital são partes das transformações
sociais que ocorriam na Europa, primeiramente a preocupação com o soldado, que havia
recebido um alto investimento para a utilização do fuzil, por isso não poderia morrer, e depois
com a força de trabalho que era instrumento imprescindível para o modo de produção
capitalista que se instalava. A partir daí, há um novo olhar para o hospital e a necessidade de
organizar seu espaço para favorecer a cura. Aqui se explica a ida de Florence e oito
enfermeiras para trabalhar nos hospitais militares, durante a guerra da Criméia, em Scutari,
Turquia.
Sua primeira iniciativa foi organizar a infra-estrutura dos hospitais deixando
transparecer seu caráter de ordem e comando em tudo o que realizava – herança marcante e
muito presente na enfermagem atual.
Para Almeida et al. (1989), no desenvolvimento social da organização hospitalar, a
enfermagem elaborou seus instrumentos de trabalho em três direções: o cuidado ao doente por
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19
meio do sistema de técnicas; procedimentos administrativos na organização do espaço
terapêutico do doente e organização dos seus agentes por meio das técnicas disciplinares e da
hierarquia no micro poder hospitalar. Assim, as técnicas, a administração e a disciplina
constituíram-se em instrumentos de trabalho da enfermagem, na administração do cuidado.
Para Trevizan et al. (2006), a pós-modernidade afetou as ciências, a tecnologia, as
artes, o pensamento, o social e o individual. Assim, um novo ambiente e condição começaram
a ser configurados. Esse ambiente retrata a dominação eletrônica do cotidiano. Afirma que a
pós-modernidade, mesmo que ainda nebulosa para o nosso meio, está nas sociedades
desenvolvidas, vinculadas à Era da Informação que, juntamente com o conhecimento, são
fontes poderosas de geração de riqueza e transformação.
No Brasil, para os mesmos autores, é preciso que as fronteiras institucionais se tornem
mais porosas para permitir uma preparação e capacitação das organizações, estando contidos
aqui os hospitais bem como o comportamento gerencial do enfermeiro na prática clínica.
Fernandes et al. (2003) afirmam que, apesar de toda esta raiz histórica de
autoritarismo, centralização de decisões e impessoalidade nas relações, é observada a
introdução de novas abordagens gerenciais, em decorrência às intensas transformações que
estão ocorrendo na sociedade, impulsionando os enfermeiros gerentes a buscar alternativas
para organização do trabalho.
Spagnol (2005) diz que o enfermeiro, como coordenador de equipe, precisa ter
respaldo teórico e vivência prática para realizar a gerência da assistência, em parceria com sua
equipe, sendo capaz de identificar, analisar e conduzir as relações de trabalho de forma a não
refletir, negativamente, na assistência de enfermagem prestada aos clientes.
Assim, a mesma autora ainda afirma que a ação gerencial do enfermeiro nos serviços
de saúde contempla aspectos assistenciais, pedagógicos, técnico-administrativos e políticos,
além das relações interpessoais, com vistas a uma assistência integral, segura.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
20
Campos
1
, (citado por SPAGNOL, 2005, p. 126), diz:
“[...] a partir de novos conhecimentos e novas formas de agir, superar o ‘eixo
central de todas as escolas de administração que buscam diferentes maneiras
de reduzir sujeitos humanos à condição de instrumentos dóceis aos objetos
da empresa, transformando-os em insumos ou em objetos’”.
1
CAMPOS, G. W. S. Considerações sobre a arte e a ciência da mudança: revolução das coisas e reforma das
pessoas – o caso da saúde. In: CECÍLIO, L. C. O. (Org.) Inventando a mudança na saúde. São Paulo:
HUCITEC, 1997. p. 29-87.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
21
2.2 Cuidado
O “Cuidado”, traduzindo “care”, deriva do inglês antigo Carion e das palavras
góticas “kara e karan”. “Kara” como substantivo significa aflição, pesar e tristeza; como
verbo significa ter preocupação por, sentir inclinação ou preferência por, respeitar, considerar
no sentido de ligação, afeto amor e carinho (GAUT
2
citado por WALDOW, 1992).
Apesar de considerado aspecto inerente à prática da enfermagem, o cuidado tem sua
identificação pouco estudada, como a natureza, qualidade de suas práticas, sua origem e
padrões. Há muito pouco tempo tais estudos vêm sendo considerados importantes e
necessários para o futuro da profissão.
Waldow (1998, p. 20) suscita um questionamento para o qual acreditamos ainda não
termos resposta, apesar de esse contemplar o cerne do fazer do enfermeiro: “Até que ponto
conhecemos aquilo que fazemos – o cuidar – e que interpretações terá para aqueles que
recebem cuidado, para quem o realiza, enfim para a sociedade em geral?”.
Para Ferreira (1986), Figueiredo (1973) e Houaiss et al. (2003), o cuidar é pensar,
meditar, cogitar, atentar, ter-se por, empregar a atenção, causar inquietação. Fazer
preparativos, tratar (cuidar da saúde); ter cuidado consigo mesmo, com sua saúde, a aparência
ou apresentação, prevenir-se, considerar-se, interessar-se por, cuidar de ou em, preocupar-se
com, reparar, aplicar atenção, cuidar um ou de alguma coisa ou pessoa, dar que cuidar, dentre
vários outros significados. Cuidado significa: atenção, preocupação, desvelo, diligência, zelo,
responsabilidade, inquietação de espírito causado por algum mal que sucede ou se receia,
vigilância, incumbência, inquietação moral, solicitude, pensado, previsto, suposto.
2
GAUT, D. Development of a theoretically adequate description of caring. Western Journal of Nursing
Research, v. 5, n. 4, p. 313-324, 1983.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
22
Para Waldow (1992), o cuidar tem conotação de pré-ocupação, responsabilidade, uma
vez que implica na idéia de fazer a ação.
Heidegger (1981), filósofo, estudioso do cuidado assim o compreende como uma
forma primária de ser e estar no mundo. Esse filósofo descreve dois tipos de cuidado: um tipo
que envolve o fazer pelo outro, desencadeando um comportamento de dependência, e um
outro tipo, o cuidado autêntico que favorece a participação do outro, utilizando suas
potencialidades e capacidades, para vir a ser.
Waldow (1992) afirma que o enfoque do cuidado na enfermagem teve início na
década de 70, com a elaboração da Teoria do Cuidado Transcultural, por Leininger, sendo
identificado por ela os construtos do cuidado e conceituando-o como assistir o indivíduo nas
suas necessidades bio-psico-sócio-econômicas e espirituais, com respeito às suas
similaridades e diferenças de acordo com seus valores e crenças.
Leininger (1991) diferencia o conceito de cuidar/cuidado no sentido genérico do
sentido profissional. O Cuidado (substantivo) refere-se ao fenômeno abstrato e concreto,
estando relacionado aos atos de assistência, para ou por outros com o objetivo de melhorar a
condição ou modo de vida humana ou para se defrontar com a morte. O Cuidar (verbo) é
relativo às ações e atividades que objetivam o assistir, apoiar ou capacitar indivíduos ou
grupos que tenham necessidades de melhorar a condição ou modo de vida humana ou mesmo
para se defrontar com a morte.
Watson (1988) encara o cuidado como o atributo mais valioso que a enfermagem tem
a oferecer à humanidade, que envolve desejo e comprometimento com o cuidar,
conhecimento ações e conseqüências do cuidado.
Arruda et al. (1992) afirmam que o cuidar do ser humano faz parte do processo
universal da vida. E que cuidar é promover a saúde; enfatizando o caráter de paixão em e para
cuidar. Corroborando, Erdmann (1995) reafirma o cuidado na saúde como um processo de
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23
interação e associações sendo que essa atividade surge da criatividade, da sensibilidade frente
às trocas com o outro.
Para Heidegger (1981), cuidar/cuidado é uma condição existencial; o ser humano – ser
no mundo – é constituído por suas escolhas atitudinais pelo cuidado, isso porque o ser é
constituído por meio do cuidado.
Na tentativa de conceituar o termo “cuidado”, Morse et al. (1991) examinaram o
trabalho de vinte e três teóricos e identificaram cinco conceitos diferentes de cuidado. Dentre
eles, uns o tinham como uma “característica humana”, componente essencial do ser humano,
conforme enfoca Heidegger, inerente a todos os povos; outros o consideram um “imperativo
moral” relacionando à manutenção da dignidade e respeito. Também fora identificado como
“afeto”, descrito como emoção ou sentimento de compaixão, suscitando uma interação
interpessoal.
Tal análise, embora extremamente útil por revelar componentes do conceito de
cuidado, confirma também uma falta de compreensão no contexto da enfermagem, afirmando
ser o seu núcleo central.
Mckenna (1994) questiona se a concordância universal a respeito do que é cuidado
seria necessária ou se o cuidar, tal como a beleza, não estaria nos olhos de quem contempla.
Para Waldow (1998), pela sensibilidade inerente, a mulher, historicamente, tem sido
associada ao cuidar/cuidado, assim como algumas ocupações e profissões, no sentido de
incumbência, na área de saúde. Há quem diga que o cuidar/cuidado é uma atividade de
domínio exclusivo da enfermagem, o que não se faz verdade, uma vez que todos cuidam e são
cuidados em determinado momento. Há momentos em que esse cuidar/cuidado assume
funções e papéis bem mais específicos. Neste momento poderíamos pensá-lo como uma
atividade necessária para um profissional específico, no caso, o enfermeiro.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
24
Tradicionalmente, a enfermagem apresenta uma forma diferenciada para cuidar,
apesar da forma de ser pensada e praticada ainda muito pouco exploradas, principalmente na
ótica do próprio sujeito. Que significados emergiriam da prática do enfermeiro?
Waldow (1998) realiza um estudo com enfermeiros na tentativa de que essas
definições emergissem do próprio indivíduo. Obtém êxito, mas verifica alguns conceitos de
interpretação dúbia, o que suscita uma formação lacunar em relação ao próprio fazer do
enfermeiro. A autora afirma que atravessamos momentos de mudança e presenciamos uma
crise geral na sociedade, fato que levanta a discussão do cuidado. A enfermagem ao resgatá-
lo, em seu “sentido pleno, humanístico e artístico”, tem um grande momento para ampliação
de seu fazer e não deveria desperdiçá-lo.
Em 1994, a mesma autora afirma que é preciso rever o passado, na tentativa de
compreender a razão pela qual a prática do cuidar é alicerçada em uma relação pouco
simétrica e igualitária, mais afetiva e menos instrumental. Cuidar não é apenas tratar. Há a
necessidade de compreensão da relação enfermeiro-cliente como encontro que deverá ter
apenas virtudes terapêuticas. O cuidado é preciso ser entendido como algo científico, não
dando espaço para rotinas irresponsáveis, o fazer simplesmente sem uma atitude reflexiva que
avalie seu impacto sobre o outro. É preciso que se perceba seu caráter global na promoção da
vida, mais que isto, é preciso cuidar de forma a promover a vida, com atitudes refletidas tanto
de quem cuida, como de quem recebe o cuidado.
A lógica nightingaleana em que o exercício de serviços usuais da enfermagem,
entendidos como a parte operacional do seu fazer, ou seja, a prestação do cuidado direto, em
que tais tarefas deveriam ser desempenhadas por indivíduos de classe social menos
privilegiada e o “pensar” administrativo e administrativamente por indivíduos de classe social
privilegiada ainda é presente na enfermagem, mesmo passados mais de 140 anos desse
contexto histórico. É preciso repensar essa dicotomia entre o trabalho intelectual e manual e
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
25
suas implicações para a gerência em enfermagem, uma vez que é imprescindível que o
cuidado comporte ambos, além de estabelecer limites de competência de cada categoria que
atua na enfermagem, na verdade que seja cumprida a Lei 7.498/1986, que legisla sobre o
Exercício Profissional da Enfermagem (BRASIL, 2005).
Roach
3
, (citado por WALDOW, 1995), define competência como o estado de ter
conhecimento, julgamento, habilidades, energia, experiência e motivação necessárias para
responder adequadamente às demandas das responsabilidades profissionais, chamando a
atenção para a importância de competência associada à compaixão. Enquanto competência
sem compaixão pode ser brutal e desumana, compaixão sem competência uma intrusão se não
inexpressiva, prejudicial.
Para Waldow (1995), os modos de ser com o outro vão de relações de cuidado às de
não-cuidado, tornando-se este último para Roach a experiência mais evidente para as pessoas.
Waldow ainda afirma:
O cuidado direto, ou seja, os comportamentos e ações empreendidas junto à
clientela fazem-se prioritariamente pelas demais categorias de enfermagem –
técnicos e auxiliares de enfermagem. À enfermeira cumpre planejar e
coordenar as atividades de cuidar/cuidado. Contudo, mesmo a administração
do cuidado não se dá de forma desejada e as funções de gerenciamento de
unidade e administração de recursos humanos acabam, por vezes,
prevalecendo, ou sobrecarregando as atividades ao tentar compatibilizá-las
(1992, p. 23).
Ainda nos diz que, tanto no departamento de enfermagem, quanto no cliente e
organização de forma geral, a decisão de valorizar o “cuidar/cuidado” determina certo
impacto influenciando diretamente no resultado nessas áreas, uma vez que as idéias são
compartilhadas, as sugestões ouvidas e as decisões tomadas em conjunto, buscando atender às
diversas necessidades.
Para Waldow (1995, p. 26), com o passar do tempo o cuidado “tornou-se mecanizado,
fragmentado” dando a impressão de que os que cuidam e os que são cuidados perderam ou
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
26
esqueceram essa “habilidade ou qualidade”.
3 ROACH, S. M. S. The call to consciousness: a compassion in today’s health world. In: GAUT, D. A.;
LEININGER, M. M. (Ed.) Caring: the compassionate healer. New York: National League for Nursing,
1991. p. 7-17.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
27
2.3 Gerência do cuidado
Trevizan et al. (2002) ponderam que a gerência realizada pelo enfermeiro, no Brasil,
ainda é uma questão mesclada por desentendimentos e incompreensões que aumentam a
discussão acerca da dicotomia que se torna evidente entre o que se espera do enfermeiro,
pelos teóricos de enfermagem, e o que se verifica na sua prática diária, nas organizações de
saúde.
Ao se inserirem no processo de trabalho nas organizações, os enfermeiros se deparam
com as exigências de uma instituição pautada em normas e rotinas, regulamentos
burocráticos, hierarquia de autoridade que os moldam em uma determinada prática,
incapacitando-os para lidar com o novo, inesperado ou qualquer situação que não esteja
contemplada no esquema institucional (TREVIZAN et al., 2002).
Os mesmos autores entendem que a prática profissional do enfermeiro deve ser
pautada na função gerencial centrada na assistência ao paciente, compreendendo-o como
indivíduo único, que possui necessidades específicas. Assim, a gerência do cuidado de
enfermagem vai além da implementação das ordens médicas e das expectativas da
organização hospitalar, uma vez que todo o serviço administrativo é interdependente,
resultando em complementaridade e interrelação.
Para tal, é necessário que o enfermeiro tenha atitudes que o façam deixar a posição de
mero executor de tarefas, ditadas por outros, normas e regras para assumir a autodeterminação
do seu fazer, ajustando essa distância entre o gerenciar e o cuidar, transformando-o em
Gerência do cuidado.
Nesta perspectiva, Trevizan et al. (2002) ainda afirmam que a prática do enfermeiro é
criadora, determinante, uma vez que é essa prática que permite enfrentar novas necessidades e
situações. Assim, o enfermeiro estará cumprindo o que determina a Lei nº 7.498, de 25 de
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
28
junho de 1986, do Exercício Profissional da Enfermagem no Brasil (BRASIL, 2005, p. 23).
Que determina em seu artigo 11:
“O enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe
privativamente:
a) direção do órgão de enfermagem integrante da estrutura básica de
instituição de saúde, pública e privada, e chefia de serviço e de unidade de
enfermagem;
b) organização e direção dos serviços de enfermagem e de suas atividades
técnicas e auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;
c) planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos
serviços de assistência de enfermagem; [...];
j) prescrição da assistência de enfermagem, [...]”.
Ainda segundo Trevizan et al. (2002), no ambiente hospitalar o enfermeiro, talvez
mais que qualquer outro profissional de saúde, tem oportunidades freqüentes de facilitar,
promover e manifestar o respeito aos direitos dos pacientes. Enquanto líderes de equipe,
assumindo a liderança da assistência prestada ao paciente, os enfermeiros são a principal fonte
de contato pessoal, íntimo e contínuo com o paciente, não obstante o seu envolvimento com a
tecnologia e a burocracia hospitalar. São eles os responsáveis pela implementação do cuidado
a cada paciente.
A unidade integradora de pensamento e até de ação se faz quando aproximamos o
administrar e o assistir, pois ainda se percebe um vácuo entre o cuidar e o administrar que
quase não se tocam e que se configuram em eixos distintos e paralelos.
Nessa direção, Ferraz (2000) defende que a complexidade do mundo atual tem
permitido o vivenciar de momentos acadêmicos especiais que possibilitam o reconhecer do
valor de conhecimento intelectual, à medida que mergulhamos na diversidade dos
acontecimentos cotidianos, impulsionando-nos à busca de uma certa unidade integradora de
pensamento.
Para essa autora, a racionalidade já incorporada pelo hospital após a Revolução
Industrial e Científica e o enfermeiro formado nesta mesma lógica confirmam o modo de
gerenciar o cotidiano das unidades de internação hospitalares pelos enfermeiros, resumindo-se
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
29
em fazer cumprir normas e rotinas, cristalizadas ao longo do tempo, não permitindo que a
natureza humana do doente e dos profissionais de saúde fossem colocadas no centro do
processo gerencial.
A união destes dois eixos, gerenciar e assistir, tem-se constituído no processo de
cuidar gerenciando e gerenciar cuidando, conforme argumenta Ferraz (1995), em sua tese de
doutorado intitulada: “A transfiguração da administração em enfermagem – da gerência
científica à gerência sensível”.
Maffesoli (1995, 1998) descreve que, nos últimos três séculos e mais intensamente no
século XIX, deu-se o fortalecimento de um sistema filosófico, denominado positivismo,
funcionando como um campo imantado ao redor do qual todas as práticas se organizaram,
tendo como pressuposto a razão abstrata e a democracia representativa. Tais pressupostos
colocaram à margem a razão sensível e o direito de liberdade humana. Nesse contexto, Boff
(2004) afirma que a retomada do paradigma da modernidade leva à compreender os modos-
de-ser-no-mundo, os quais podem se dar pela lógica do modo-de-ser-trabalhado e do modo-
de-ser-cuidado. Ao término de um século em que o modo-de-ser-trabalho foi marcado pela
dominação destruindo as expressões do cuidar.
Ferraz (2000, p. 96), ao fazer menção “entre o modo-de-ser-trabalho e o modo-de-ser-
cuidado”, contextualiza a questão da gerência, assinalando que essa situação cria um novo
norte gerencial complexo, uma vez que exige o aprofundamento sobre a dinâmica do
processo produtivo hospitalar, a fim de colocar o cliente no centro das atenções da equipe
multidisciplinar, como “um-modo-de-ser-cuidado”. Isso implica em uma profunda mudança
da cultura organizacional e estabelece novas estruturas produtivas, cujo discernimento aponte
para a justa medida.
A mesma autora assinala que o modelo de produção do cuidado hospitalar, em virtude
da complexidade do ser-doente, exige um repensar do modelo clínico biomédico das ciências
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
30
experimentais. A complexidade da dinâmica organizacional do cuidado exige estilos
gerenciais não normativos, uma vez que esses não possuem saberes e instrumentação
operacional para acolher toda fluidez dessa dinâmica organizacional.
Argumenta que há um imperativo, para os enfermeiros na atualidade, de provocar uma
inversão da lógica da administração em enfermagem sustentada na Teoria Geral da
Administração. Inversão porque, ao longo desse século, o gerenciamento em enfermagem foi
marcado, principalmente, pela utilização de tecnologias de natureza dura. Preocupamo-nos em
cuidar da estrutura funcional das unidades de internação. Mudar essa lógica significa utilizar
tecnologia leve e dura, uma vez que essa acolhe de forma mais apropriada o saber específico
do enfermeiro.
Para a referida proposta é preciso, segundo a mesma autora, que se promova uma
redefinição do modelo organizacional do hospital, em termos do trabalho, com uma visão do
modelo clínico ampliado, tendo como base o cuidado, suscitando a necessidade de processo
de trabalho interdisciplinar. É preciso, para que isto ocorra, uma (re) estruturação das equipes
interdisciplinares, de modo a viabilizar uma ampliação do cuidado à saúde.
Nesse momento o gerenciamento do cuidado precisa do processo de produção de
relações e intervenções partilhadas para privilegiar o ser/estar doente internado e deixar
florescer as contradições da atenção hospitalar.
Ferraz (2000) nos diz que o enfermeiro, no exercício gerencial, propõe-se assumir uma
dinâmica produtiva, tanto na “inter-venção” quanto na “inter-ação”. Assim, precisamos
desenvolver um raciocínio gerencial que admita o paradoxo, estando relacionado ao orgânico,
segundo o pensamento maffesoliano. A autora afirma que “precisamos estar preparados para
conviver com o racional e o não racional” (p. 96).
Cecílio e Merhy (2003a) apresentam, como estratégia no sucesso da coordenação
lógica do cuidado, o papel quase “silencioso” da prática da enfermagem, garantindo todos os
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
31
insumos necessários ao cuidado: qualidade de hotelaria, encaminhamentos necessários,
diálogo com a família, condução do paciente por entre as áreas, resultando, todas estas
atividades, no cuidado.
Esses autores afirmam, ainda, que a gestão, a partir da integralidade do cuidado, tenta
dar conta destas complexas questões. Tem a pretensão de criar mecanismos que facilitem a
coordenação das práticas cotidianas do hospital de forma mais articulada, “leve”, com canais
de comunicação mais definidos, mais solidária, democrática, menos “ruidosa”, em particular a
coordenação da prática dos vários profissionais envolvidos no cuidado.
Merhy e Cecílio dizem que as linhas de produção do cuidado são centradas em
processos de trabalho marcados pela micropolítica do “trabalho vivo em ato”
4
. Já as linhas de
produção de insumos obedecem a outros arranjos de micropolítica, nos quais a dimensão do
“trabalho morto”
5
é mais presente (CECÍLIO; MERHY, 2003b; MERHY, 2002).
Considerando a lógica do trabalho vivo, do trabalho em ato que é consumido no
momento em que é produzido, necessitamos de formas mais participativas, mais
compartilhadas para desenvolvê-lo e como tal o trabalho em equipe é um modo recomendado
para se trabalhar tendo como foco a gerência do cuidado.
Para Trevizan et al. (2006), é necessário o estímulo ao trabalho em equipe para
desenvolver o trabalho humano que passa a compartilhar talento e conhecimento e que
conseqüentemente favorecerá a mudança do comportamento da organização refletindo na
assistência. Ainda para estes autores, o gerenciamento aliado a “práxis criadora” é a tarefa
mais importante que cabe ao enfermeiro.
4
O trabalho vivo em ato refere-se ao trabalho no momento em que este está sendo produzido (MERHY, 2002).
5
O trabalho morto refere-se ao trabalho já materializado, resultado de trabalho humano anteriormente produzido,
ou seja, , onde se expressa o trabalho vivo capturado (MERHY, 1997).
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
32
E, para dar conta da “práxis criadora” que engloba “aprender fazendo e fazer
aprendendo”, permeado pelo pensamento crítico, conforme nos orienta Waldow (1995), em
sua obra: “Maneiras de cuidar, maneiras de ensinar”; a seguir buscamos a fundamentação
teórico-metodológica que possibilite a compreensão do fenômeno, significado/sentido da
gerência do cuidado para os enfermeiros no cotidiano hospitalar.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
33
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3
Quando opero a redução fenomenológica [...] tento fazer
aparecer e explicitar em mim esta fonte pura de todas
as significações que em torno de mim constituem o mundo,
e que constituem meu eu empírico.
Merleau-Ponty
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
34
3.1 Fundamentação teórico metodológica
A práxis envolve o fazer reflexivo, o pensamento do fazer, indo além do fazer
mecanizado para mergulhar na práxis desses sujeitos enfermeiros, que vivenciam o cotidiano
da gerência do processo cuidativo.
Para tal, buscamos a abordagem fenomenológica que enfoca o sentido/significado,
numa relação dialética entre o sujeito e o mundo vivido.
A atuação na área de Gerenciamento do cuidado de Enfermagem tem sido meu
cotidiano profissional como docente na enfermagem. Nos últimos quatro anos, tenho
procurado estudar questões que se relacionam à gerência do cuidado, principalmente no que
tange ao significado que o enfermeiro imprime a esse fazer e à observação de sua prática, e
utilizar como referência os estudos de Barros et al. (1997), Cecílio e Merhy (2003a, b), Ferraz
(2000), Leopardi et al. (2001), McKenna (1994), Merhy (2002); Sadala (2000), Silva (1997),
Waldow (1992, 1995, 1998, 1999), dentre vários outros estudiosos.
Buscava uma abordagem teórica que possibilitasse ouvir o profissional enfermeiro em
seu fazer, recolocando-o no lugar de sujeito da ação. Que ele pudesse expor a sua percepção
acerca dessa vivência sobre “a gerência do cuidado”. O que possibilitou a exposição da sua
subjetividade, além de retomar o fenômeno e refletir acerca do irrefletido, considerando-os
como co-autores, parceiros na construção desse conhecimento.
A Fenomenologia é um movimento filosófico que surgiu no começo do século XX,
que deriva de duas expressões gregas: “phainomenon” (fenômeno) – que significa aquilo que
se mostra por si mesmo, o manifesto; e “Logus” – que tem o significado de discurso
esclarecedor. Assume, assim, a conotação de mostrar-se, desvelar-se. Inclui a possibilidade de
olhar as coisas como elas se manifestam (MARTINS; BICUDO, 1989).
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
35
Para Bicudo e Espósito (1994), a primeira atitude consiste em olhar o mundo sob novo
enfoque, interrogando toda a pré-compreensão que possamos ter desse mundo. Consiste em
aguçar a dúvida com relação à crença natural daquilo que se supõe existir, invalidando e
questionando todas as posições previamente assumidas em relação ao objeto.
Este autor, ao apresentar a redução proposta por Hurssel, enfatiza que o filósofo
propõe a redução do mundo objetivo, ou seja, do mundo em foco, de modo a lhe atribuir um
valor diferente. Isso permite observar desinteressadamente o objeto da experiência que é visto
como um fenômeno, diante do qual suspende-se temporariamente qualquer julgamento,
viabilizando o mostrar-se do fenômeno. Esse processo de redução do mundo natural ao
fenomênico é realizado pelo sujeito que dirigi-se para outro objeto intencional que não ele
mesmo. Recebe a denominação redução, por ser um processo que leva a origem do
significado do mundo experienciado. Fenomenológico porque nele há a descoberta do sujeito
(BICUDO; ESPÓSITO, 1994).
Merleau-Ponty (1994) discorda de Husserl no que toca à redução, porque este filósofo
trabalha com a percepção que se dá em uma corporeidade e esta não se reduz na existência, no
vivido do sujeito. Acrescenta ainda, que se trata de um domínio ambíguo, dialético, no qual
sujeitos perceptivos encarnados estão situados, e é nele que a experiência perceptual pode ser
redescoberta.
Bicudo e Espósito (1994) afirmam que o Campo Fenomenal descortina a importância
do “des-velar da percepção” não como uma associação de dados impostos do mundo externo
para o interno do homem, mas vinculado a aquilo que lhe é próprio e que se relaciona
dialeticamente com o mundo.
A fenomenologia é uma vertente que pretende abordar o fenômeno como aquilo que se
manifesta por si mesmo, não pretendendo parcializar ou explicar a partir de pré-conceitos,
crenças, suposições ou afirmações sobre o mesmo. Aborda-o diretamente, na busca de
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
36
descrevê-lo, captando sua essência. A utilização dessa metodologia nos conduz, segundo
Capalbo (1979), a abandonar uma visão dogmática e absoluta reconhecendo que tal percepção
é uma entre outras possíveis. Coloca em evidência o homem como um todo, ainda em uma
“ação descritiva, rigorosa, concreta que mostra e explicita o ser nele mesmo e se preocupa
com a essência do vivido” (p. 194).
A descrição tem o sentido de “des” “ex-crivere”, isto é, algo que é escrito
pra fora. Descrever algo envolve uma ação que é dirigida a alguém, onde se
espera que os sujeitos sejam capazes de ter acesso aos contextos e
comportamentos próprios da situação que estão vivendo; e portanto sejam
capazes de “descrever” aquilo que estão experienciando de forma mais
adequada, mais completa do que aquele que está interrogando (FERRAZ,
1989, p. 18).
A fenomenologia é uma filosofia segundo a qual o mundo está sempre “aí” antes da
reflexão, como uma presença inalienável e cujo esforço está em reencontrar esse contato
ingênuo com o mundo para lhe dar enfim um “status” filosófico. É a ambição de uma filosofia
que pretende ser uma “ciência exata”, mas é também uma exposição, do tempo e do mundo
“vividos”.
3.2 Trajetória metodológica
Conforme mencionamos anteriormente, este estudo se insere na pesquisa qualitativa
na abordagem fenomenológica.
E, para tal, delineamos um percurso, inserido nesse exercício de reflexão e “des” “ex-
crivere” e realizamos a busca do significado que o enfermeiro atribui à “Gerência do
Cuidado”, no contexto hospitalar.
Para este trabalho, num primeiro momento, elaboramos um projeto de pesquisa,
submetido à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas
Gerais (ANEXO A). Após aprovação, solicitamos permissão para o desenvolvimento da
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
37
pesquisa em um hospital de grande porte, da rede privada, da cidade de Belo Horizonte, na
pessoa da gerente de enfermagem (ANEXO B). Iniciamos a coleta de dados, utilizando a
entrevista aberta, coletando depoimentos dos enfermeiros assistenciais da unidade de
internação.
Para conduzir uma pesquisa nesta modalidade foi necessário definir uma região de
inquérito. Assim, selecionamos para esta pesquisa os enfermeiros que desenvolviam a
Gerência do Cuidado de Enfermagem, nas unidades de internação e que tinham no mínimo
seis meses de contrato no Hospital, considerando-se a sua inclusão como acadêmicos e no
exercício profissional.
A identidade dos sujeitos participantes da pesquisa será mantida em sigilo e, para
garantir esse aspecto, criamos pseudônimos utilizando a palavra SENTIDO, que totaliza sete
letras, conforme o número de enfermeiros dispostos a participar da nossa pesquisa.
Em segundo momento, após contactar com as enfermeiras, agendamos as entrevistas,
com o preenchimento da autorização e assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (ANEXO C), conforme preconizado pela Resolução 196/1996 do Conselho
Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
Para captar com maior fidedignidade as falas das enfermeiras, recorremos ao
gravador, previamente permitido pelos sujeitos participantes. Tal atitude liberou-nos para a
captação concomitante de expressões faciais, gestos, suspiros que são reveladores de
sentimentos e emoções.
Martins e Bicudo (1989) consideram que sempre que se desejar des-ocultar a visão
que uma pessoa tem sobre determinada situação, é preciso que se lance mão do recurso que a
entrevista fornece, apontando esta técnica como a melhor possibilidade de obter dados
relevantes sobre o mundo-vida do sujeito. Este recurso busca uma descrição direta da
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
38
experiência tal como ela é, sem realizar nenhuma deferência psicológica ou explicações
causais que o pesquisador dela possa fornecer.
Para nortear as entrevistas, utilizamos a seguinte questão orientadora: Descreva para
mim situações, vivenciadas por você, que retratem a Gerência do Cuidado em
Enfermagem”.
A essência do fenômeno foi buscada nas descrições, com o objetivo de evidenciar o
núcleo essencial, deixando de lado tudo que se mostrou variável e secundário.
“A descrição será tão melhor quanto mais facilitar o leitor ou ouvinte a
reconhecer o objeto descrito. O seu mérito principal não é sempre a exatidão
ou o relato de pormenores, mas é a capacidade de criar para o leitor [...] uma
reprodução tão clara, quanto possível, do mesmo” (MARTINS; BICUDO,
1989, p. 46).
Nesta modalidade de pesquisa qualitativa, o número de sujeitos a serem entrevistados
não é pré-definido, conforme menciona Freitas (1999), as entrevistas são suspensas quando
começa a repetição dos dados, dando sinais de saturação.
Boemer (1994) afirma que a fenomenologia tem seu critério na repetição, expressando
a essência do fenômeno. Daí, nessa abordagem, trabalharmos com um número reduzido de
sujeitos, uma vez que a partir de um certo número há a tendência de suscitarem significados
que se equivalem. Para Bicudo e Espósito (1994), somente o próprio pesquisador poderá
dizer-se satisfeito. É neste momento que o fenômeno se mostrará para ele.
Analisamos e interpretamos o conteúdo das entrevistas conforme sugere Martins e
Bicudo (1989), com a utilização dos quatro momentos metodológicos de análise. No primeiro,
após transcrição, realizamos leituras repetidas na busca de um sentido geral do que foi
descrito, sem emitir nenhum juízo ou interpretação; no segundo momento, novas leituras
foram realizadas na tentativa de apreensão de unidades de significado. Em um terceiro
momento, após a identificação das unidades de significado, elaboramos a transformação
dessas em unidades de significado transformada, passando da linguagem ingênua do sujeito
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
39
para uma linguagem articulada, preservando o sentido expresso pelos mesmos. Finalmente,
realizamos as convergências e as divergências de sentido, buscando des-velar a estrutura do
fenômeno (APÊNDICE A). Inicialmente, encontramos noventa e um temas, que após novas
convergências e divergências de sentido, deram origem a dez, que foram convertidos, pela
similaridade de sentido, em quatro grandes categorias: O cotidiano do cuidar; Jogo de cintura;
Ser presença na ausência; Gerenciamento da Assistência de enfermagem (APÊNDICE B).
As categorias, oriundas dessas fases, não foram resultantes de passos estanques, mas
de momentos de análise que se entrelaçaram por meio de idas e vindas, durante todo o
processo de análise do fenômeno.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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4
A experiência da percepção nos põe em presença do momento em que
se constituem para nós as coisas, as verdades, os bens; que a percepção
nos dá um logos em estado nascente, que nos ensina, fora de todo
dogmatismo, as verdadeiras condições da própria objetividade; que ela
nos recorda as tarefas do conhecimento e da ação.
Merleau-Ponty
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
41
4.1 Análise compreensiva: desvelando o fenômeno Gerência do Cuidado
Para realizar a análise e interpretação dos depoimentos das enfermeiras, sujeitos do
nosso estudo, recorremos a nossa vivência como enfermeira e docente, além de buscar
interlocução na fundamentação teórica acerca de gerência do cuidado, explicitada no Capítulo
2.
As descrições dos enfermeiros revelam o seu exercício profissional cotidiano,
traduzem como esse se descortina, seu significado, expressa anseios, inseguranças, frustrações
e esperança.
A seguir, apresentamos sequencialmente as categorias, onde explicitamos os
fragmentos, trechos dos depoimentos dos sujeitos enfermeiros e buscamos a compreensão
desse vivido.
4.1.1 O cotidiano do cuidar
A categoria referida explicita os recursos institucionais e aspectos outros necessários
para que seja possível a construção de um ambiente que fomente a gerência do cuidado.
Assim se manifesta a enfermeira “S”:
Vou fazer uma prescrição de enfermagem para esse paciente, vou orientar,
[...]. A gente tem que priorizar, não dá para fazer tudo, não dá para dar uma
assistência de qualidade como fiz, como teria para todo mundo. Então, o que
tem que fazer é orientar o funcionário, porque é o funcionário que vai cuidar
de 6. Então eu consigo passar meu conhecimento para todo mundo. No final,
de forma indireta, eu consigo.
A enfermeira “E” se expressa:
Você tem, que acreditar na equipe que você tem, se não acreditar [...] As
coisas [...] você não pode fazer, você não pode dar uma assistência do lado.
Então você tem que ter um bom entorno, uma boa equipe, pro’cê poder
cuidar. Eu acredito nisso. [...] Não sei se isso resolve tudo, mas também não
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
42
tem jeito de você ser uma enfermeira para dois, três num andar, não é a
realidade hoje.
A nossa prática profissional em hospitais nos autoriza a compreender as falas
anteriores. Para que consigamos desenvolver um trabalho de qualidade, temos que priorizar a
capacitação dos trabalhadores de enfermagem de nível médio, posto que são esses
trabalhadores que prestam o cuidado direto ao cliente. Outra preocupação é organizar um
ambiente cuidativo para os clientes externos como uma forma de potencializar o processo de
trabalho do enfermeiro. Recordamos que essa foi uma prática presente em nosso cotidiano
profissional quando o quantitativo de clientes sob nossa responsabilidade, diversas vezes,
excedia a nossa capacidade de prestar assistência e tornava-se necessário fortalecer sempre o
trabalho dos membros da equipe de enfermagem.
Pires (1999) afirma que o trabalho em saúde é um trabalho coletivo, executado por
vários profissionais de saúde ou trabalhadores treinados na realização de atividades que
garantam a manutenção da estrutura institucional.
Para efetivar a assistência com qualidade, por meio da equipe, é necessária a utilização
de estratégias diversas como comunicação efetiva, o conhecimento do quadro clínico a fim de
um posicionamento profissional claro e seguro diante de outros profissionais.
A enfermeira “N” argumenta:
É difícil de explicar, de falar mesmo. É fácil colocar os dados. Esta semana
eu avaliei uma ferida, estava sendo usada uma determinada cobertura [...] Os
técnicos estavam seguindo aquilo que o médico tinha falado. Então, eu
discuti com o médico, primeiro, o porquê ele estava usando aquilo e o que
eu achava. Então vamos supor: para mim isso é gerenciar o cuidado.
É perceptível nesta fala a importância da interlocução com outros profissionais da
equipe multiprofissional, em especial, o médico. Dá-nos a impressão de que a concordância
deste profissional é fundamental para a execução do cuidado necessário ao cliente, sendo que
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
43
a ausência do aval do profissional médico pode impedir a prestação do cuidado. Mas o fazem
com certo desconforto, pois desagrada a eles a impressão de estarem solicitando permissão.
Para Pires, (1999) os profissionais em saúde são parte do conjunto que resulta na
assistência a seres humanos que são totalidades complexas. As instituições assistenciais não
refletem sobre seu processo de trabalho: assistir em saúde. Não há planejamento ou uma
prática de participação da equipe no pensar e organizar o trabalho. Há perda da percepção de
diversos grupos profissionais, desintegração interdisciplinar de modo que não possibilitam
qualidade no conhecimento e na prática assistencial em saúde.
Acreditamos que as organizações de saúde precisam encorajar o trabalho em equipe,
suas especificidades e interfaces e não como um espaço para a luta de poder.
Referindo-se ainda ao processo de trabalho, a enfermeira “S” assinala:
Tem o setor de manutenção, [...] você acaba gerenciando também. A gente
detecta muita coisa, a gente está muito próximo de tudo.
A enfermeira “S” argumenta o envolvimento do profissional enfermeiro em setores de
apoio, o que às vezes se torna necessário, mas como elo de ligação entre os membros da
equipe de trabalho, encaminhando as questões e não assumindo áreas que não são de sua
competência. Agindo assim, ao assumir outras demandas, faz com que o cotidiano do cuidado
possa ser um fardo para as enfermeiras.
A enfermeira “O” nos traz, sob sua ótica, o diferencial entre o processo de trabalho
dentro e fora do Centro de Terapia Intensiva (CTI):
Então, venho de setor fechado e não vejo tanta diferença, mas aprendi muito,
aqui fora [Unidade de Internação], em humanidade. Como lidar com
situações. Eu aprendi mais a fazer gerência do cuidado, promover saúde pro
indivíduo, do que dentro do próprio setor fechado. Porque dá pra gerenciar o
cuidado num lugar fechado, porque tem só aquele indivíduo ali, talvez ele
nem tá conversando com você. É diferente você estar aqui fora, sentar,
conversar com a pessoa, ele contar a história dele inteira. Já fiquei duas
horas sentada conversando. Se está fazendo bem pra ele, porque não
conversar? Mesmo que você não seja da família, mas acaba se sentindo,
porque a permanência [paciente] é muito grande. Então a gente aprende
muito; aprendi muito.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
44
Em nossa experiência como cliente, pudemos constatar esta necessidade de
comunicação, tanto de falar como de ser ouvido, conforme nos relata a enfermeira “O”
quando faz menção a necessidade de troca que o cliente demonstra na unidade de internação
por estar consciente. Em nosso caso, na maioria das vezes, não buscávamos respostas, apenas
desejávamos ser compreendidas em relação as nossas ansiedades, dúvidas, enfim
demandávamos uma forma de participação, de integração no processo cuidativo.
Watson (1988), inspirada no pensamento heideggeriano, definiu o cuidado como ideal
moral de enfermagem, cuja finalidade é proteção, engrandecimento e preservação da
dignidade humana, é um modo de ser do homem. O cuidado é, para ela, um valor humano,
que envolve desejo e comprometimento com o cuidar, conhecimento, ações e conseqüências
do cuidado. Assim, podemos compreender a dimensão humana na gerência do cuidado.
Não obstante, Waldow (1995), em seu livro “Maneiras de cuidar, maneiras de
ensinar”, reconhece que este “fenômeno de cuidar/cuidado” é bastante estudado, mas ainda há
a necessidade de expandir e aprofundar esses estudos.
Isto faz com que compreendamos a administração em enfermagem, conforme nos
assinala Ferraz (2000), quando argumenta que há uma necessidade de inversão da lógica da
administração baseada apenas na gerência científica para uma administração pautada numa
visão mais sensível.
Waldow (1995) diz que o cuidar/cuidado autêntico em administração é aquele em que
as idéias são compartilhadas, sugestões ouvidas e as decisões tomadas pela equipe, visando
atender às necessidades do cliente.
Para ressaltar o aspecto assistencial da gerência do cuidado, a enfermeira “O”
explicita:
O Sr. M [...] eu o conheço desde o CTI, eu o acompanhei. Fez uma cirurgia,
ficou no CTI muito mal [...] desde lá eu o conheço [...] Lá eu comecei com a
gerência do cuidado, cuidando dele de forma mais direta, mas eu não tinha
pensado aqui fora, como ia ser [...] Foi embora pra casa e voltou novamente,
não com o problema do infarto, foi com o problema da drenagem. Aí ele
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
45
voltou para o andar [Unidade de internação] com a gente [...] Onde ele vai,
eu o acompanho. Então, o tempo inteiro a família me vê não só como
enfermeira. Viu a atenção que a gente dava, porque eu não estava cuidando
só da ferida. Sentava, conversava, contava história, tirava dúvida que ele
tinha, ansiedade, ficava mesmo conversando com a pessoa.
Esta descrição revela a importância dada pelo enfermeiro ao cuidado global, ou seja,
além do cuidado, focado apenas em procedimentos técnicos, buscar olhar o cliente em todo, o
seu ser-pessoa, criar um vínculo com o cliente, estabelecer um laço de afeto. Ademais, refere-
se a um aspecto importante, que é o reconhecimento da família, da sua prática profissional
diferenciada, mas desejada para a construção de um processo terapêutico na enfermagem.
Waldow (1995, 1998) afirma que, para realizar o cuidar/cuidado, temos que ter em
mente que a ciência não é totalmente neutra em relação aos valores humanos, é necessário
manter-se perto e sensível às emoções geradas pelas pessoas.
Em nossa experiência como cliente, por diversas vezes, nos sentimos usurpados desses
valores, enquanto as nossas emoções eram tidas como exacerbações frente à situação
vivenciada. Sentimos falta da proximidade, do afago, de ouvir histórias, do toque.
Para Waldow (1998), o cuidar/cuidado global promove a humanização e é ancorado
numa visão humanista. Ao pensar em um cuidado global, pensamos em sua integralidade.
Essa abordagem, para Cecílio e Merhy (2003a), implicaria em garantir, disponibilizar
todas as tecnologias de saúde disponíveis, até a criação de um ambiente confortável e seguro,
proporcionando um cuidado terapêutico.
Ao focar o período noturno, a enfermeira “I” argumenta que:
No período da noite eu tento agilizar a passagem de plantão, já confiro todo
mundo pra começar a corrida de leito cedo, pra ter oportunidade de
conversar com todos. Porque chega as 22 horas está todo mundo dormindo,
a maioria dos pacientes.
[...] Como a gente vem aqui à noite duas vezes, você sabe aquele paciente
que dorme mais tarde. Então você pode passar lá um pouco mais tarde. Às
vezes, o paciente acamado [...] comatoso, [...] que não vai tá interferindo.
Pode atrapalhar a pessoa que tá acompanhando, mas a gente não vai ser
tanto incômodo pro paciente, não vai ter que acordá-lo.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
46
As enfermeiras ressaltam a importância do conhecimento a respeito das condições do
cliente. Sua história, evolução, seu cotidiano, individualidade, suas peculiaridades são pontos
fundamentais para a criação e manutenção de um ambiente de cuidados terapêuticos.
A enfermeira “I” complementa fazendo alusão à qualidade da passagem de plantão
que, para ser efetiva, segundo a mesma, teria que informar as condições reais e gerais dos
clientes avaliados:
O cuidado [...] é [...] igual eu falei; saber se tem algum paciente mais grave
que você já tá orientado para saber onde pode te chamar, pode ter uma
urgência [...] Isso durante a noite te chamam pra várias intercorrências, pelo
menos te situa onde pode ter uma coisa mais grave e no período da noite
passar para ver [...] como é que tá o paciente, dar uma avaliada, é [...] a
corrida de leito. A gente não passa um plantão, pelo menos eu não me sinto
segura de passar o plantão sem ter avaliado o paciente.
Ao observarmos a passagem de plantão das enfermeiras, vimos que elas são o elo de
ligação da unidade, sua referência. A equipe de saúde, os serviços de apoio, todos têm no
enfermeiro o seu referencial.
Os sujeitos participantes fazem menção à passagem de plantão como um momento
importante para tomar conhecimento acerca das informações sobre o cliente para o
planejamento da assistência.
Podemos dizer que, pela descrição das enfermeiras e pela observação da sua realidade,
o gerenciamento do cuidado é feito de uma maneira desorganizada.
Gerência do cuidado para a enfermeira “D”:
[...] eu falo que falha a gerência do cuidado porque eu gosto de encaminhar a
pessoa. Eu passo para as meninas. Às vezes, o plantão é muito pesado de
manhã. Eu faço de tudo: encaminho direto para o médico [...] O que eu
consigo fazer à noite [...] o que não consigo, eu encaminho. Isso é gerência
do cuidado, faz parte [...] Hora do medicamento [...] você não consegue
gerenciar lá fora, você não sabe como é o cuidado em casa. [...] Vem a
intercorrência, sanamos a intercorrência e continuamos o controle dele [...].
Enfermeira “I”, em relação ao mesmo tema, argumenta:
É [...] à noite a gente tenta resolver todas as intercorrências do plantão, mas
a gente sabe que, às vezes, não dá pra resolver tudo, aquele negócio: a
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
47
enfermagem é uma continuidade. Então, assim, na medida do possível tudo
que dá pra gente resolver no plantão a gente resolve. À noite, igual eu falei,
o número de funcionários é menor, a gente tem que ter um jogo de cintura,
porque o pessoal da internação te liga, algum problema de copa eles te
chamam [...] você fica como referência. Então acaba que você não tem que
resolver só do seu andar; é do hospital inteiro.
A Enfermeira “T” completa:
Então, nós contornamos, até duas enfermeiras entraram nesta negociação e
ainda acarretou para o próximo plantão. Ainda ficou paciente para ser
internado [...] mas é continuidade do plantão mesmo. Então, eu acho que nós
gerenciamos, tentamos gerenciar.
A análise dessas três falas nos sugere que a continuidade do fazer na enfermagem tem
grande relevância no cuidado, sendo colocada como um dos aspectos significantes para a
gerência do cuidado. Essas falas fazem sentido com a literatura da área de administração em
enfermagem que aponta a passagem de plantão como um instrumento administrativo
fundamental para a organização do processo cuidativo.
A enfermeira “D” nos relata a importância do encaminhamento das questões referentes
ao cliente de um plantão para o outro, de uma unidade para a outra, possibilitando uma
continuidade, ressaltando o “continuum” como fundamental para um processo de trabalho em
equipe.
Mas, o que é continuidade no processo cuidativo em enfermagem?
Acreditamos que, como lidamos com um “objeto”, que é um constante vir-a-ser, esse
não é estático e como tal, podemos nos deparar com alterações na evolução do cliente no
momento da passagem de plantão, então cabe que a equipe que sucederá dê continuidade ao
fazer profissional sem esperar que este tenha uma terminalidade naquele momento em que
acontece o ato passagem de plantão.
Foi evidenciado por Ferraz (1989) que o enfermeiro, ao não se colocar no “entorno”
do cliente, tem dificuldades de obter informações acerca do quadro do mesmo e busca dados
para o seu relatório de final de turno com os trabalhadores de enfermagem de nível médio.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
48
Essa atitude, ao nosso ver é perigosa, porque pode, em determinadas situações, gerar registros
não fidedignos. Observamos, entretanto, que, no momento das intercorrências de maior
gravidade, esse profissional é solicitado, conforme prevê a Lei 7.498/1986, do Exercício
Profissional da Enfermagem, em seu Art. 11, alíneas “l” e “m”, acerca dos cuidados diretos de
enfermagem a “pacientes” graves com risco de vida e cuidados de enfermagem de maior
complexidade técnica (BRASIL, 2005).
A todo o momento, as enfermeiras se reportavam ao fato de sentirem-se incomodadas
com o distanciamento do cliente, que lhes é imposto pela rotina burocrática do setor, o que
acarreta em redução do tempo para o cuidado direto.
Abordando o que é possível realizar em seu plantão, a Enfermeira “O” nos diz:
Igual ontem, vi os pacientes 11°, vi três [pacientes] do 9º; saí daqui às 21
horas, porque eu fui pro CTI ajudar a minha colega. Eu não ia deixar a outra
pessoa na mão. Saí e falei assim: “Oh, tô te passando a bola, não posso ficar
mais aqui não”. Vi três [pacientes] e fiquei tentando resolver o que acontecia
com o restante. Quando eu falo que vi três, é que realmente eu entrei no
quarto, fiz o exame. Os outros foi para trocar uma fralda ou fazer uma
medicação. Não é o tempo que a gente senta, conversa um pouquinho com a
pessoa. Então, ontem, eu saí frustrada [risos]. Porque eu gosto de dar um
pouquinho de atenção.
Em todas as descrições as enfermeiras citam a importância da sua presença no cuidado
direto, da interlocução com os clientes, da necessidade de dar atenção, mas todas são
unânimes em levantar como fatores impeditivos a falta de tempo e a sobrecarga de tarefas
administrativas.
Percebemos que as enfermeiras, sujeitos do nosso estudo, referem-se ao tempo do
cuidado, não enquanto o tempo das batidas de um relógio, mas o tempo das batidas do
coração, conforme salienta Alves
6
, (citado por SILVA, 2004).
6
ALVES, R. O amor que acende a lua. Campinas: Spectrum/Papirus, 2000.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
49
A mesma autora, assim se manifesta em relação ao tempo:
“[...] talvez esteja na hora [falando em chronos!] de repensarmos
nossas prioridades. Definir prioridades entendendo que algumas
tarefas que temos de realizar não são selecionadas por nós, mas nos
são impostas. Isto é, não somos donas do nosso tempo. O problema é
que talvez estejamos usando mal o tempo que é nosso!” (SILVA,
2004, p.16).
E por falar em tempo que é nosso, os enfermeiros se referem às questões que
dificultam o seu processo de trabalho e consequentemente a gerência do cuidado, fazendo
menção ao número excessivo de clientes a cargo de cada profissional enfermeira. Esse
aspecto evidencia a necessidade de que tenhamos normas e protocolos que orientem a
distribuição de pessoal de enfermagem em relação aos clientes, mesmo porque existe a
Resolução nº 293/2004 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN, 2004), que estabelece
parâmetros para o dimensionamento do quadro de profissionais de enfermagem nas unidades
assistenciais das instituições de saúde e assemelhados. A ausência dessa orientação, baseada
na Resolução, dificulta a organização do processo de trabalho. Algumas enfermeiras relegam
o contato direto com o cliente em detrimento de afazeres técnico-burocráticos que poderiam
ser realizados, se houvesse trabalho em equipe e planejamento, por outros membros da
equipe, sob supervisão do enfermeiro. Outras valorizam sua participação eventual no cuidado,
mas expressam a dicotomia, o conflito e tensão existentes entre o gerenciamento do cuidado e
a sua execução. Esta última ficando a cargo, sobretudo, do auxiliar e técnico de enfermagem.
Conforme nos fala Ferraz (1989), o enfermeiro não está desenvolvendo as suas atividades
“entorno” do cliente.
As enfermeiras “T” e “S” abordam a questão do estar presente ao lado do cliente
prestando assistência direta e promovendo educação continuada, capacitação da equipe de
enfermagem, entretanto reconhecem a dicotomia entre o administrar e o assistir em seu local
de trabalho:
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
50
A enfermeira “T” relata:
Avaliar o paciente mais de uma vez no dia é difícil. Às vezes, você entra no
quarto uma vez só e passa o dia sem ir lá. Essa semana eu voltei do almoço,
entrei no quarto de um paciente que eu achei que ele poderia estar
precisando e ele estava entrando em insuficiência respiratória. Qual o
próximo passo? 1º - Pedir ao acompanhante para sair. 2º - Levar o carrinho
de parada, acionar o médico, chamar a fisioterapia para aspirar, tomar as
condutas necessárias. 3º - Aferir dados: pressão, pulso, checar respiração,
chamar o paciente mesmo, tentar conversar com ele.
Acrescenta a enfermeira “S”:
Por exemplo, uma imunoglobulina. Não é uma medicação tão comum. Você
vai chamar a equipe, falar a medicação é isso [...] Pra tentar transmitir
conhecimento e aí é [...] Aí você tenta porque não dá para fazer tudo. O que
eu tento fazer é ser mais presente lá no quarto do paciente, o perguntar o que
ele precisa, cuidar mais. A gente cuida à distância, mas é [...] explicar o
porque das coisas. Falta mais contato com o paciente.
Além disso, vemos que as enfermeiras trazem em suas falas certa frustração por não
conseguirem realizar ações que possam viabilizar o cuidado e referem-se, principalmente ao
tempo reduzido e ao quantitativo da equipe de enfermagem, conforme mencionamos
anteriormente.
A importância da comunicação com o cliente, no processo cuidativo e no
gerenciamento dos trabalhadores/cuidadores, também é abordada na descrição das
enfermeiras como fator que contribui de maneira primordial para a qualidade da assistência
prestada ao cliente.
Segundo Oriá et al. (2004), o termo comunicar provêm do latim communicare que
significa colocar em comum entendendo, etimologicamente, que comunicação é o
intercâmbio compreensivo de significação por meio de símbolos, havendo reciprocidade na
interpretação da mensagem verbal ou não-verbal.
Freire (1988, p. 65) afirma que
“[...] o mundo social e humano, não existiria como tal, se não fosse um
mundo de comunicabilidade, fora do qual é impossível dar-se o
conhecimento humano. A intersubjetividade ou a intercomunicação é a
característica primordial deste mundo cultural e histórico”.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
51
Assim, entendemos que a comunicação é um dos mais importantes aspectos do
cuidado de enfermagem que objetiva uma melhor assistência ao cliente que vivencia
ansiedade e estresse decorrentes do processo de hospitalização.
Portanto, a comunicação se faz essencial para o estabelecimento de uma relação entre
profissional, cliente e família, no que corrobora Saraiva (1999), ao referir que algumas teorias
afirmam que o processo comunicativo é a forma de estabelecer uma relação de ajuda ao
indivíduo e à família.
Tratando-se do relacionamento enfermeiro-cliente, o processo de comunicação precisa
ser eficiente para viabilizar uma assistência humanística e personalizada de acordo com suas
necessidades.
Em especial, a comunicação verbal e não-verbal, no gerenciamento do cuidado, tem
por finalidade a manutenção de orientações e informações fidedignas e atualizadas para
viabilizar uma assistência com qualidade, além de se fazer um meio para a prestação do
cuidado, pois, como diz Waldow (1995, 1998), o cuidado é relacional.
E, para explicitar o que a autora afirma, recorremos à fala da enfermeira “O” que relata
a importância da comunicação no dia a dia do seu cuidar:
Só que ele foi embora e voltou com essa alergia ao fio de sutura. Aí,
novamente, eu tive com ele no andar, só que foi andar diferente. Aí eu já
comecei a tratar, já tinha pneumonia anterior, tratava junto com a
fisioterapia, pegava e andava um pouquinho dentro do quarto. Explicava o
porquê não poderia ficar tanto tempo deitado, porque tinha que levantar,
fazia o acompanhamento. Só que depois ele voltou com essa alergia, teve
abscesso, tava bem maior, abriu e a gente vem acompanhando, cuidando da
ferida e fazendo mesmo orientação, não só do físico. Aqui os pacientes têm
muita carência com atenção. Mesmo que a família esteja lá 24 horas, pode
ser o filho, pode ser a esposa, o simples fato de estar sendo ouvido por outro.
O Sr. M tem necessidade de estar conversando.
Uma familiar, era 20:30 horas, ela foi lá me procurar: “Você tá indo
embora? Minha mãe está sentindo falta demais de você!” [A enfermeira fala]
Eu fiquei com ela dois dias só dentro do quarto. Um pouquinho só de
atenção que a gente dá [...] Isso pra mim conta muito.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
52
O ambiente cuidativo não se restringe apenas à técnica. Ele engloba o espaço físico no
qual o cliente está, bem como seus utensílios, mas vai além. Envolve troca, afeto,
compartilhamento. Abrange a família, que é parte do processo terapêutico e fator decisivo no
sucesso do tratamento.
Estas enfermeiras valorizam, além da criação de um ambiente terapêutico, o
conhecimento técnico científico, como uma ferramenta essencial para o gerenciamento do
cuidado.
Anteriormente, ainda nessa categoria, referimo-nos à questão do dimensionamento e
alocação de pessoal, mas aqui as enfermeiras, sujeitos do estudo, fazem menção à sobrecarga
de atividades burocráticas, administrativas e inespecíficas, as quais demandam tempo e
retiram- nas do processo cuidativo, o que depreendemos na fala da enfermeira “T”:
O mais difícil é receber o paciente. Avaliar e evoluir é o mais fácil. O mais
difícil é a equipe, é o gerenciamento da equipe. Eu acho que hoje, depois de
formada, a responsabilidade ficou maior, a equipe pra mim já é o hospital
que eu tenho que olhar, ainda mais que eu fico até às 9 horas. Então, todo
mundo vai embora às 5 horas. Então de 5 às 9 horas eu tô “informável”.
Apesar, que eu poderia ter programado antes essa sondagem, já ter uma
prescrição, ou já imaginar que aconteceria uma retenção de urina e quando
tivesse, não precisaria chamar o plantão pra prescrever sondagem. Seria uma
ação mais sensata, mais rápida.
Certificar material para se tiver alguma urgência, isso é função sua [...]
material funcionante [...] Gerenciar equipe: número de funcionários, cobrir,
deixar uma escala legal. Acho que isso tudo você pode fazer de uma maneira
que não atrapalhe o cuidado.
Na literatura, encontramos dados que assinalam a questão exposta pelos enfermeiros
que se referem à natureza das funções, como atividades administrativas, 62,5%; atividades
burocráticas, 77% e não burocráticas, 23%; assistência ao paciente, 19,2%; ensino e pesquisa,
3,8%; delegáveis, 6,8%; particulares, 7,6% (TREVIZAN, 1978).
Além da natureza das atividades no processo de trabalho hospitalar, a enfermeira “E
coloca-se preocupada e como uma “defensora do paciente”, compreendendo a sua posição
como uma forma de gerenciar o cuidado:
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
53
O risco em si ele existe, então você tem que perceber possíveis fatores que
vão acarretar numa piora para o paciente. Pode ser a família? Pode. Pode ser
medicação atrasada? Pode. Pode ser o técnico que não está com uma técnica
correta? Pode. Você tá ali para defender o paciente. Acho que o gerenciar é
isto. É você ser defensora do paciente.
Enfim, Cecílio e Merhy (2003a) argumentam que o cotidiano do cuidar é uma “síntese
de múltiplos cuidados”. O cuidado recebido/vivido pelo cliente é somatório de um grande
número de pequenos cuidados que vão se complementando, de forma consciente e negociada,
entre os cuidadores no ambiente hospitalar. Assim, o cuidado em saúde vai se compondo
numa complexa trama de atos, procedimentos, fluxos, rotinas, saberes, num processo
complementar, mas também de disputa.
Cecílio (2001) valoriza a integralidade do cuidado obtido em rede, na qual é possível
focalizar a integralidade, quando uma equipe possui uma boa articulação de suas práticas,
sabe escutar e atender da melhor forma possível às necessidades de saúde da sua clientela.
A seguir, a segunda categoria que aponta para a necessidade de articulação, de “jogo
de cintura” para o desenvolvimento da gerência do cuidado, teia de relações que se dão no
cotidiano.
4.1.2 Jogo de cintura
Este tema emergiu durante a entrevista com a enfermeira “T” e chamou muito a nossa
atenção porque essa possui pouco tempo de formada, dentre as demais colegas, e uma visão
singular do gerenciamento do cuidado.
Chamou de “jogo de cintura” a capacidade de lidar com situações diversas e adversas
de forma a não permitir ou minimizar ao máximo, o impacto destas situações sobre o cuidado
prestado ao cliente, como podemos ver na descrição da enfermeira “T”:
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
54
O paciente estava em jejum. Então, tem que ter esse jogo de cintura, que eu
acho que é gerenciamento também. É [...] internei em apartamentos
pacientes que seriam de enfermaria. Negociei com a família. Falei que assim
que surgisse uma vaga em enfermaria a gente transferiria, mas no momento
não tinha e era indicação de internação e a gente não conseguiu transferir
para nenhum outro hospital, nós ligamos antes tentando transferência e não
foi possível.
Essa enfermeira deixa claro que este “jogo de cintura” se pauta principalmente numa
capacidade de liderança, de tomada de decisão, não só em relação à equipe de enfermagem,
mas do plantão como um todo, incluindo aqui o cliente e sua família, tendo a comunicação e a
negociação como ferramentas essenciais.
Em nossa vivência deparamo-nos com este fazer que a princípio nos causou
insatisfação. Com o passar do tempo fomos percebendo que o “jogo de cintura” não nos
obriga a abrir mão do nosso referencial, apenas faz com que utilizemos artifícios e estratégias
sutis e perspicazes para a conquista do objetivo. É a capacidade de diminuir a área de conflito,
reduzindo suas repercussões, mas não os suprimindo.
Para Marquis e Huston (1999), problemas aparentemente intransponíveis como a falta
de recursos e a desmotivação têm sido e continuarão sendo questões enfrentadas pelos
enfermeiros/líderes.
Comungamos com a idéia de que a gerência do cuidado passa pelo empoderamento e
pela gerência compartilhada, com relações participativas.
Ninguém pode viver ilhado, isolado dos seus semelhantes. O exercício de
uma gestão de forma autoritária é resultado, sobretudo, da arrogância e
ignorância dos princípios que norteiam a administração inteligente e
participativa (SANTOS; MOREIRA, 2004, p. 7).
E, ao falarmos de gerência compartilhada, voltamo-nos para a importância do trabalho
em equipe e consequentemente do trabalho participativo e interdisciplinar e sem nos esquecer
que a enfermeira atua como coordenadora do processo cuidativo, gerenciando o cuidado.
Podemos perceber nos relatos a seguir:
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
55
Enfermeira “I” nos diz:
À noite é meio corrido também. A gente dá uma atenção aos funcionários
maior quando a gente começa, mas à medida que vai pegando a rotina, eles
também, às vezes, querem ficar mais independentes. Então, assim, na
medida do possível a gente vai dando assistência, vai vendo se tem alguma
coisa, mas é meio corrido também essa parte. Eu acho que o tempo, é igual
eu falei, o tempo é curto para chegar e avaliar [...].
Ressalta a enfermeira “S”:
Aqui eu tenho funcionário administrativo, de enfermagem, a camareira, da
limpeza, não tenho hierarquia com ela; ela tem o chefe dela. A copeira
pergunta se o paciente tal pode comer isso, aquilo, pode ligar a televisão do
paciente que chegou. Indiretamente eu sou responsável por estes
profissionais. Como eu estou ali e eles interferem diretamente na qualidade
do meu trabalho, você acaba gerenciando também. Então você é o elo entre
o profissional que está lá em baixo [comandando] e quem está efetivando
aqui [...].
Parece-nos, pela análise do discurso e observação da prática das enfermeiras, que a
consciência da necessidade do desenvolvimento do trabalho em equipe existe, mas podemos
perceber um grau de dificuldade em transformá-lo em atos, principalmente em virtude da
sobrecarga de tarefas.
Percebemos que as enfermeiras, conforme mencionou “S”, são o elo de ligação para a
equipe no atendimento ao cliente. Tem em suas mãos a coordenação do cuidado, envolvendo
o processo de trabalho de todos os membros da equipe de saúde.
Referindo-se ao trabalho em equipe, a Enfermeira “I” relata:
Eu acredito que gerência do cuidado, em primeiro ponto, é o trabalho em
equipe. Não tem jeito da enfermeira trabalhar sozinha. A primeira coisa é
gerenciar a equipe, é você orientar diário. Porque o conhecimento não é
embutido 100%.
A enfermeira “O” ressalta:
[...] as outras pessoas que estão trabalhando com você, tanto os outros
enfermeiros, quanto os outros profissionais, a equipe inteira de enfermagem,
de saúde. Você tem que estar interagindo com elas. Não é só observar o
técnico de enfermagem, o que ele está fazendo, é estar trabalhando junto
com ele, isso pra mim é gerência.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
56
Conforme assinalamos, anteriormente, a gerência do cuidado necessita de uma
proposta de trabalho coletivo, oriundo de um trabalho interdisciplinar, onde todos os saberes
são acolhidos e fomentados em prol da qualidade da assistência prestada.
Para Silva et al. (2002), trabalhar em equipe é possuir uma antevisão das demandas
possibilitando a elaboração de um processo de trabalho a ser realizado de forma cooperativa
por todos os profissionais envolvidos, mantendo suas visões próprias do cliente,
possibilitando prever e melhor forma de assistir a ele.
A enfermeira “O” descreve a influência do tipo de setor sobre a gerência do cuidado,
além de abordar a questão do aparecimento de situações de conflito, entre os profissionais da
saúde, em virtude do posicionamento individual, frente à prestação do cuidado:
Quando você começa a trabalhar no CTI [...] você consegue ver todo mundo,
porque não tem o corre-corre do dia-a-dia que tem aqui [unidade de
internação] no hospital, com presença de família por perto, com presença de
outras equipes. Na parte médica [...] tem hora que você tem que estar
engolindo seco o que o médico faz e tentar resolver com a família para não
deixar a família tão chateada.
Essas descrições parecem revelar uma disputa de poder, vivenciada em nosso
cotidiano, disputa pelo gerenciamento do cuidado. Percebemos que os profissionais,
enfermeiro e médico, criam um conflito diário pela coordenação do processo cuidativo, no
qual, em muitos casos, o enfermeiro se sente submetido à “vontade médica”, em detrimento
do seu conhecimento e do seu fazer.
Peduzzi (2001) nos diz que o trabalho em equipe ocorre no contexto das situações
objetivas de trabalho, tal como encontradas na atualidade, nas quais se mantêm relações
hierárquicas entre médicos e não-médicos e diferentes graus de subordinação, ao lado da
flexibilidade da divisão de trabalho e da autonomia técnica com interdependência.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
57
Entretanto, por não haver essa flexibilidade, vemos surgir o conflito, que é a luta ativa
de cada indivíduo pelo resultado desejado para si, impedindo aos outros de obterem resultado
favorável a eles, gerando hostilidade (LIKERT, 1980).
O conflito organizacional está ligado a mecanismos específicos que “permitem aos
grupos dominantes extrair dos grupos subordinados o esforço suficiente pelos valores de troca
convenientes” (REED, 1997, p.100).
“Na saúde, a hierarquia, com sobreposição de poder, se manifesta na maioria das
relações de trabalho – dos médicos em relação aos demais profissionais de saúde [...]”
(PIRES, 1999, p. 36).
Esta mesma autora afirma que a enfermagem é responsável pelo cuidado direto ao
cliente, em toda sua integralidade, envolvendo dois campos de atividades, os cuidados e
procedimentos assistenciais e o da administração da assistência de enfermagem.
De posse das contribuições da autora, constatamos que o enfermeiro se vê, por vezes,
transitar com dificuldade nesses dois campos. Vê-se pressionado pelas organizações com uma
demanda burocrática em detrimento do espaço do cuidado, do espaço assistencial, que
originalmente ele acreditou ser sua prática. Isso gera descompassos e sofrimento no processo
de trabalho, conforme salienta “T”:
Avaliar o paciente mais de uma vez no dia é difícil. Às vezes, você entra no
quarto uma vez só e passa o dia sem ir lá.
Ainda a enfermeira “T”:
Quando eu era acadêmica [...] quando estava apertado e eles sabiam que era
eu e a enfermeira [cita o nome da enfermeira], que por sorte era bem
enérgica. Tudo que eu sei, aprendi com ela [...] Eles faziam uma hora
mesmo e já voltavam pro posto. E o mesmo funcionário, em outra ocasião,
com outro enfermeiro, mesmo acadêmico [...] Às vezes o enfermeiro não
tem tanto pulso [...] eles abusam um pouquinho.
É também um exemplo de gerenciamento: você vê que tá apertado, prioriza
pra outro andar. O funcionário não é fixo pro andar do 7º, ele é funcionário
do hospital, ele vai ter que descer. Tem cirurgia de urgência no bloco, vai ter
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
58
que ajudar a limpar a sala. Então, é funcionário do hospital. Isso aí a gente
deixa bem claro pra eles. Sempre que tá precisando [...] Eu acho que é um
exemplo de gerenciamento. É estar colocando funcionário no andar que
precisa [...].
A distribuição de pessoal, auxiliares e técnicos de enfermagem, a alocação de recursos
humanos, é uma atribuição do Gerente do Cuidado, que para isso precisa estar ciente da
realidade assistencial do setor. O número de pacientes internados, sua origem e características
peculiares, necessidades afetadas, são pontos de extrema relevância para a alocação de
pessoal e servem de subsídio para tomada de decisão.
A enfermeira “T” descreve o seu plantão anterior:
O caso dessa madrugada que eu trabalhei é [...] O hospital tá cheio, tem
poucas vagas, os leitos que estavam vagos era reserva de bloco, por
exemplo. Então, enfermaria não tinha nenhuma vaga. O 6º andar que
comporta 24 pacientes, acho que tinha 23 e isolamento, não podia internar.
Aqui neste andar todos os leitos cheios e tinha apartamento que era reserva
de bloco e nós tivemos 9 pacientes que tinham indicação de internação no
Pronto Socorro, além dos tantos que foram dispensados. Fomos internando
na media do possível. Eu acho que é gerenciamento também de enfermagem,
porque eu não podia internar num apartamento que era uma reserva de bloco
e eu adiaria uma cirurgia amanhã.
Podemos perceber que a ampliação do número de leitos de internação do hospital, sem
haver concomitante aumento de leitos das unidades de terapia intensiva e semi-intensiva,
sobrecarrega a equipe de enfermagem, uma vez que aumenta significativamente o número de
pacientes graves nas unidades de internação.
A Resolução 293/2004 do COFEN (2004), já mencionada, enfoca, em sua
metodologia de cálculo de pessoal, o Sistema de Classificação de Pacientes (SCP), adequando
o cálculo de acordo com o nível de dependência de cuidados de enfermagem necessários aos
clientes.
A descrição abaixo retrata esta visão de forma muito singular, feita pela Enfermeira
“D”:
Saio do pronto socorro e começo a subir para os andares. No caso a gente
fica com dois andares, cada, enfermeira e acadêmica, são dois acadêmicos e
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
59
um enfermeiro, cada um fica com dois andares. O sistema de anotação que a
gente tem é a folhinha, que te orienta, onde a gente anota o diagnóstico, os
exames. Aí a gente passa visita em todos os quartos. À noite não dá pra fazer
exame, é de dia. Mas aí você passa perguntando: “Como é que você tá?”;
levanto o cobertor para ver como é que tá, olho as feridas e tal.
Para Peduzzi e Anselmi (2002), na esfera do gerenciamento do cuidado, estão a
evolução, exame físico diário do paciente e a prescrição de enfermagem, além da supervisão
dos auxiliares e técnicos de enfermagem. No gerenciamento da unidade, estão os
encaminhamentos de exames, aprazar a medicação prescrita pelo médico, solicitar medicação
à farmácia, providenciar transporte do paciente, contactar equipes de suporte, o que podemos
identificar como uma forma indireta de gerenciar o cuidado. Observamos, porém, a
impossibilidade da execução das atividades descritas em detrimento ao número reduzido de
enfermeiras, além do acúmulo de tarefas que lhes são atribuídas. Esse fato leva essas
profissionais a apresentar uma visão fragmentada do cliente, como podemos perceber na
descrição anterior da enfermeira “D”: “Como é que você tá?; levanto o cobertor para ver
como é que tá, olho as feridas e tal”.
A fala da enfermeira traduz a visão fragmentada do cliente em seu processo cuidativo
o que não se coaduna com a visão de gerenciamento do cuidado que se apóia em um
paradigma de integralidade.
A enfermeira “I” menciona a supervisão como forma de efetivar a gerência do
cuidado:
Depois você vai olhando a papeleta. Acho que é uma coisa importante da
gente tá conferindo, porque a gente evita muito erro de funcionário, erro de
medicação, nos andares que eu estou em contato. A gente divide dois
andares para o enfermeiro e dois andares para cada acadêmico [...] a gente já
tem essa rotina: faz corrida de leito, abre a folha de passagem de plantão,
evolui todos os pacientes e confere a papeleta [...] acho que isso é uma coisa
benéfica tanto pro paciente, quanto pro funcionário. Você ver o erro antes
que ele aconteça [...] uma medicação que colocou o horário errado, ou
esqueceu de colocar o horário [...] Eu acho que isso, apesar de que às vezes
nem sempre dá tempo da gente fazer essa conferência, acho que isso é
importante.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
60
É [...] tá olhando erro de funcionário [...] Eu tento assim, na medida do
possível, chamar a atenção na hora que a coisa acontece, tanto do lado
negativo, como do lado positivo. Eu tento [...] eu acho que a gente tem que
chamar a atenção na hora que a coisa tá acontecendo. É, acho que é mais
prático, acho que o funcionário não vai esquecer porque tá acontecendo ali,
na hora e acho também importante tá parabenizando alguma coisa de bom
que fez, na medida do possível é [...] sempre tá [...] alguma coisa que eles
possam fazer e tá ajudando a eles.
Nessas falas podemos suscitar a discussão sobre a competência do enfermeiro para o
gerenciamento do cuidado, na visão dos entrevistados. Como competência, Nascimento et al.
(2003) reconhecem que é um conjunto de produtos saberes ou capacidades a serem adquiridos
pelo trabalhador, agente parte do sistema. Consiste em dominar, com papéis e função
definidos, situações de trabalho.
“O agente torna-se ator, o ator torna-se competência e esta se produz nas
situações de trabalho. [...] [O trabalhador] nutre-se de recursos internos e do
ambiente para recompor seu trabalho de forma sempre renovada (p. 449).
A competência do enfermeiro descrita por Waldow (1999) contempla todas as
instâncias do fazer do enfermeiro, seja como supervisor, executor ou co-executor no exercício
da gerência do cuidado. Mas vemos que, ao longo dos tempos, a prática tem sido na maioria
das vezes a de chefiar unidade, ser referencial administrativo, prever material e pessoal, fazer
escala de plantões, controlar medicação, supervisionar as atividades dos auxiliares e técnicos
de enfermagem, visitar os pacientes, atender às intercorrências. .
A enfermeira D descreve uma série de atividades, referindo-se ao plantão noturno:
Aí, começa a parte assistencial mesmo. A gente passa pelo Pronto Socorro,
eu passo em todas as salas pra ver qual diagnóstico, qual o paciente mais
grave. Aqui no pronto socorro de quinze em quinze dias é a enfermeira da
unidade. As intercorrências eles comunicam a gente pelo radinho. Quando a
gente acaba de pegar o plantão, ligar para os andares, avisando o bloco e a
hemodinâmica a gente passa lá para saber como é que tá. Se o auxiliar ou
técnico de enfermagem está lá, quais os médicos que estão. Quem tá na sala
hoje, quais os pacientes mais graves, questão de material, os respiradores,
[eletrocardiograma] ECG que é muito importante porque eles emprestam pra
gente.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
61
Principalmente no plantão noturno era essa a rotina verificada. A percepção era de que
o enfermeiro, ao se apresentar como responsável pelo plantão, absorvia toda a
responsabilidade em relação a todas as atividades que viessem a acontecer. Passava o plantão
esperando intercorrências a ser atendidas e problemas administrativos a ser resolvidos.
A enfermeira D argumenta:
Aí, eu acabo de passar visita e vou evoluir. Nessa evolução, não tem jeito de
ter gerência do cuidado? [...] acho que gerenciar é organizar, é distribuir [...]
é estar evoluindo sim, o que eu vi. A organização do quarto, a organização
do [...] não do paciente, mas o que não fizeram, o que está faltando pra ser
feito, eu acho que é isso.
Para Mishima (1995), o enfermeiro atribui ao gerenciamento do cuidado um caráter
predominantemente burocrático, mas este deve ir muito além da burocracia, pois tem por
finalidade a implantação, o monitoramento e a manutenção de condições adequadas para que
o modelo de atenção em saúde, preconizado na instituição, seja viabilizado com eficiência e
eficácia.
Lunardi et al. (1994) e Trevizan (1978) acreditam que o baixo percentual de atividades
assistenciais identificados no trabalho do enfermeiro, cerca de 19,2 e 17,65%,
respectivamente resulta no modo como o hospital está organizado, o que repercute no serviço
de enfermagem, mobilizando seu trabalho em direção as atividades não específicas. O que
corrobora com a descrição dos enfermeiros.
Esse afastamento do contato direto com o paciente, além de ser apreendido em seus
discursos, foi verificado por nós, durante a observação do seu cotidiano. Inúmeras vezes os
enfermeiros, quando conseguiam interagir com o cliente, eram solicitados, quase sempre, para
solucionar questões ou pendências administrativas.
Relata a enfermeira D:
À noite é muito difícil cumprir o protocolo de feridas, mas aí a gente
acompanha, se precisa trocar a gente pede pra chamar, analisa quais os
funcionários, mas eles sempre chamam, e ainda falo pro paciente: “Não
esquece de me chamar”.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
62
Aí passo visita, às vezes perguntam de alguma medicação que já tomaram.
Aí eu volto no quarto pra falar qual o horário. Aqui a gente olha a data do
equipo, do acesso também. Isso é gerência do cuidado.
Para Silva (1989), há uma fragmentação do objeto de trabalho na enfermagem
subdividida em cuidado direto e indireto. O primeiro quase que totalmente restrito às diversas
categorias dos demais profissionais supervisionados pelo enfermeiro. A ameaça de
descaracterização que envolve a profissão de enfermeiro advém de seu papel de governança e
não de seu papel de supervisor da assistência ao doente.
Esta fragmentação, administração-cuidado, tem determinação histórica, sendo
expressa pela divisão do trabalho executado em assistencial e administrativo, segundo
Leopardi et al. (1992).
A enfermeira “O” procura estabelecer um paralelo entre a assistência de enfermagem
no CTI e setores da Unidade de Internação:
Agora, quando você começa a trabalhar no CTI, que é ambiente fechado, ali
o CTI é de 10 pacientes, é de doze, mas você consegue ver todo mundo,
porque não tem o corre-corre do dia-a-dia que tem aqui no hospital, com
presença de família por perto, com presença de outros, de outras equipes,
não vê tanto. Na parte médica mesmo, isto é antiético estar falando, mas tem
hora que você tem que estar engolindo seco que o médico faz e tentar
resolver, por traz, com a família pra não deixar a família tão chateada.
Para essa enfermeira, o gerenciamento do cuidado é posto em segundo plano, na
Unidade de Internação, em detrimento de atividades burocráticas, complementares ou
auxiliares, na assistência. Na verdade, podemos inferir que existe uma dificuldade de
organização do processo de trabalho, em virtude da sobrecarga de tarefas e falta de
planejamento, realidade vivenciada por nós, em nosso processo de trabalho, ao longo dos
anos.
A enfermeira “E” inclui a família e os técnicos de enfermagem no processo cuidativo:
[...] Você tem que gerenciar família, você tem que gerenciar a relação entre
os técnicos. Você tem que orientar a família: “Olha, ele tá tendo uma crise”.
É muito pouco falado, dependendo do médico, então você tem que orientar a
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
63
família: “Olha, tá tendo um quadro assim, mas vamos esperar lá fora, se a
senhora quiser aguardar ali no sofá [...] Se você não fizer, a família fica ali e
participa. Até que ponto isso vai fazer bem ou mal, você é quem tem que
ver.
O enfermeiro deveria ser visto como o referencial no cuidado, tanto para o cliente e
família, quanto para a equipe multiprofissional. Ele é o elo entre o paciente e a assistência
multidisciplinar prestada. É ele o responsável pelo acolhimento em situações de sofrimento,
por vezes causado pela assistência, desempenho dos profissionais da equipe de saúde,
responsáveis pelo processo cuidativo.
A divisão do trabalho, gerando uma visão fragmentada do cliente e a redução do fazer
do técnico de enfermagem, ao âmbito exclusivo da realização de técnicas, é descrito pela
enfermeira “N”:
A técnica é do técnico. É mais fácil gerenciar o cuidado da enfermagem, mas
realizado pelo técnico. Às vezes o cuidado de enfermagem é realizado pelo
técnico, mas orientado pelo médico. É mais difícil de mudar. Cuidados com
medicamentos [...] Às vezes o paciente não tem acesso venoso. Então, você
tenta modificar para oral. Eu acredito que isso é gerenciar também. Você
está evitando dele passar, dele sofrer mais. O estresse de puncionar um
acesso.
4.1.3 Ser presença na ausência
Em virtude da sobrecarga de funções e tarefas impostas ao enfermeiro, além do
dimensionamento incompatível com a demanda assistencial das unidades, o enfermeiro vê-se
obrigado a lançar mão de estratégias que garantam sua presença, mesmo na ausência física.
A enfermeira “O”, assim se expressa:
Ele estava andando no corredor e disse: “Eu lembrei do que você falou
comigo” - da outra vez, da outra internação que ele teve pneumonia. Então,
aí eu vi que o que eu falei foi válido pras pessoas. Ontem eu fui lá vê-lo e ele
não deixou ninguém fazer o curativo, ninguém; “quero que ela veja como é
que tá”. Porque no dia anterior eu pedi a ele: “Na hora que o Sr. tomar banho
e abrir, deixa eu ver”. Aí, ficou o dia inteiro. Não deixou ninguém ver, hoje
a mesma coisa. Então eu vejo que isso aí, o pouco que a gente faz, a atenção
que a gente dá, “[...] você tá colocando coisa boa, isso não vai fazer mal pra
mim não?”. Respondo [enfermeira]: “De jeito nenhum”. Ele: “Ah, então tá.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
64
Então só você vai mexer aí”. Isso é ponto positivo. Tá confiando no que a
gente tá fazendo. Eu acho que é resultado do trabalho, do cuidado mesmo
que a gente tem.
Continuando ela afirma:
Você conseguir o carisma de uma pessoa é muito difícil, aumentar a auto-
estima dele é mais difícil ainda. Ele era uma pessoa muito deprimida. Acho
que um pouco de atenção que a gente dá, acho que é mais atenção mesmo.
Pra mim, de um só vale. Não precisa ser de todos não. Se você consegue a
confiança de uma pessoa, seja o paciente, seja a família já é importante,
facilita o seu trabalho.
Em nosso vivido como enfermeiros assistenciais, evidenciamos, muitas vezes, a
necessidade de “ser presença na ausência”. Para tal, utilizávamo-nos de dispositivos que
viabilizassem essa presença em termos de rotinas e orientações a serem disponibilizados
diante das necessidades apresentadas. Além disso, procurávamos ter nos nossos auxiliares e
técnicos de enfermagem uma extensão do fazer do enfermeiro, utilizando para isto o trabalho
participativo.
Trevisan (1987) afirma que a perspectiva de qualidade estimula o exercício da
criatividade na solução de situações inesperadas, viabiliza autonomia da manutenção da
prática sendo decorrentes do compromisso profissional e pessoal do enfermeiro com a
enfermagem e seu objeto de trabalho.
Ao contemplar o gerenciamento de enfermagem, Trevizan et al. (2006) faz-nos
compreender que, frente aos anseios de contemporaneidade, gerenciar a informação, o
conhecimento, o tempo passa a ser tarefa mais importante do indivíduo que exerce a gerência,
sendo necessário o desenvolvimento de novas habilidades e ampliação da visão para os
objetivos do serviço. Para tal, a valorização e a implementação de decisões, vindas da equipe,
se fazem imperativas desde que pautadas em propostas criadoras, permitindo ao profissional
enfrentar novas necessidades e novas situações.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
65
Verificamos que o “ser presença na ausência” para o enfermeiro é uma saída diante de
situações inesperadas, em que a solução precisa ser imediata.
Pudemos perceber nas descrições uma preocupação muito presente no sentido de
colocar o cliente no centro do processo cuidativo e ter no auxiliar e técnico de enfermagem
pessoas confiáveis para prestarem o cuidado, orientado pela gerência do cuidado de
enfermagem.
Ao se referir à necessidade de garantir qualidade na assistência, a enfermeira “S” diz:
[...] o uso adequado do material. Em que isso vai refletir no meu setor. Vai
fazer uma compra grande de jelco. Então eu peço uma amostra pra testar por
3 ou 4 dias. Olha: “o jelco está dando problema para puncionar uma veia. Eu
gasto 3 ou 4 jelcos, não é como o que a gente tá acostumado”. Então a gente
passa isso pra farmácia. “Assim o custo aumenta, a demanda fica um pouco
maior”. A gente tenta resolver o problema. Eu me sinto gerente de recursos
materiais. Uma coisa pequena, mas vai refletir no cuidado? Eu me sinto
gerente. Vai estar puncionando o paciente mais vezes, vai demorar e vai
piorar a qualidade da assistência para o outro paciente.
Os enfermeiros apresentam uma visão global da assistência. Enfatizam a necessidade
premente do processo de previsão e provisão de cuidados e materiais na prestação de uma
assistência de enfermagem de qualidade ao cliente.
Além disto, têm nos acadêmicos de enfermagem um outro modo de ser “presença na
ausência”, como nos relata a enfermeira “I”:
É igual eu falei, a gente tenta saber aonde tem paciente grave, quem tá
avaliando é o acadêmico, mas na medida do possível a gente passa nos
andares, conversa direto com os funcionários: “Tá precisando de alguma
coisa, tem alguma coisa que vocês querem me passar?” Mas geralmente isso
é mais tarde, por volta de meia noite. Nem sempre dá tempo de fazer isso
também não. Às vezes é só pelo telefone. Na hora que as meninas
[acadêmicas] vêm descansar: “Ficou alguma pendência nos seus andares,
alguma coisa que eu posso estar resolvendo?” [...] os funcionários chamam
bastante. Na medida do possível, eles passam para o acadêmico, a gente
cobra isso deles, para ter o acadêmico como referência. Eles têm uma maior
segurança de tá ligando pra gente. Mas a gente pede pra passar pro
acadêmico primeiro. E depois estar passando pra gente, que ele é o
responsável pelo andar também. A gente é o responsável geral, mas ele tá ali
respondendo também pelo andar.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
66
Os enfermeiros vêem nos acadêmicos sujeitos importantes no processo cuidativo,
apesar de demonstrarem certo cuidado na liberdade de ação dada aos mesmos, em virtude das
contingências assistenciais impostas. Mesmo que, indiretamente, procurem ser e dar suporte
técnico, administrativo e emocional ao grupo, fazem-se, na medida do possível, “presença na
ausência”.
Ao referirem-se ao plantão noturno, a enfermeira “T”, “S” e “E” dizem:
Enfermeira “T”:
À noite então, a [a enfermeira], que é a gerente deu um aval muito grande
pra gente. Então no hospital, quem responde pelo hospital, à noite, é o
enfermeiro, não é o médico, por exemplo, porque o médico não é
funcionário daqui, ele só presta serviço. Então, isso é claro pra eles.
Enfermeira “S”:
A gente “tá” num hospital particular, não recebe SUS. No final quem vai
estar vendo qual o material, o que vai economizar [...] é quem está aqui em
cima. Tem o gerente de almoxarifado, tem gerente de enfermagem, o gerente
médico, mas no final o meu trabalho vai refletir como um todo. Nós
trabalhamos com meta.
Enfermeira “E”:
Acho assim, que a enfermagem tem muito para crescer, mas tem esses
detalhes. Se nós não soubermos superar, a gerência vai acabar, ficando
estagnada [...] gerenciar é ter capacidade clínica [...] é ter conduta única,
padronizar.
O “ser presença na ausência”, para os enfermeiros, é visto como um subsídio para
potencializar o número reduzido desses profissionais, além de possibilitar a consecução de
alguns objetivos.
Acreditamos que tal fato se aplica como um recurso porque no qual se desenvolve o
cuidado de enfermagem, assistência ao cliente internado, temos que dispor da presença do
profissional enfermeiro. Então, ser presença na ausência é uma estratégia usada pelo
enfermeiro para o desenvolvimento de ações que visam à eficiência e eficácia do cuidado.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
67
Pudemos ver essa preocupação em pequenos detalhes, como nos telefonemas para
cada setor fazendo a identificação da referência do plantão, a passagem pelo setor para
verificar a necessidade de atuação direta do enfermeiro, dentre outros.
Os enfermeiros utilizam um relacionamento mais próximo à sua equipe para a
ausência imposta pela sobrecarga de funções e tarefas.
4.1.4 Gerenciamento da assistência de enfermagem
Para Waldow (1999), as definições encontradas nos dicionários acerca dos termos
cuidar/cuidado e assistir/assistência foram contempladas como sinônimos. Não obstante, na
mesma obra da autora, ela faz menção ao termo cuidar como uma ação dinâmica, pensada,
refletida e o cuidado expressa a conotação de responsabilidade e zelo. Dimensões oriundas
das ciências comportamentais e da filosofia.
O assistir e/ou assistência não necessariamente inclui o cuidar/cuidado. Ao prestar
assistência pode-se não estar cuidando no sentido pleno que envolva responsabilidade,
interesse, desvelo e afeto. Assistir não significa cuidar. Então, daí, podemos depreender que
gerenciar o cuidado deve envolver algo a mais que apenas gerenciar a assistência.
Relata a enfermeira “S”:
Aí, a gente pega a prescrição médica, uma coisa complicada. Você fica
conferindo o trabalho do médico, mas é [...] mais um controle. Por exemplo:
o paciente está com medicação de tanto em tanto tempo, você vai filtrar e
ver se a enfermagem não está fazendo errado, dar treinamento, vai orientar
todo dia.
No que tange à necessidade da conferência e checagem da prescrição médica, como
uma das atividades no gerenciamento do cuidado de enfermagem, para Miasso et al. (2006),
esse é um dos trabalhos de maior complexidade e responsabilidade da enfermagem e sua
execução dependerá da aplicação de vários princípios, além de processos desenvolvidos para
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
68
dificultar oportunidades de erros, servindo como auxílio ao profissional na busca de
minimizá-los.
Descrevendo sua prática, a enfermeira “O” insere a família no processo cuidativo, ao
dizer:
Acho que o que a gente faz é apagar incêndio, mas prestar assistência
mesmo ao paciente que está ali e à família [...] Porque é o tempo inteiro
quem fica com aquele paciente. Então, você acaba gerenciando o cuidado
integral, não só da família. Isto pra mim é a forma de gerenciar, é a forma de
lidar com esses tipos de situações e mostrar mesmo que você vai ter
momento pra cuidar do outro.
Relata ainda:
Teve situações demais com a família. A família num estresse assim,
horroroso, que esteve o tempo todo com aquele indivíduo no andar, a família
mais estressando que o próprio paciente, porque estão no direito deles
também. Um familiar seu, internado, você não vai exigir uma coisa melhor?
Então você tem que saber resolver situações com a família pra depois poder
estar passando para os seus funcionários como lidar com essas situações
mesmo.
Ao contemplar o gerenciamento do enfermeiro articulado à práxis criadora, Trevizan
et al. (2006) dizem que as metas e estratégias desse gerenciamento incluem a otimização dos
resultados, o desenvolvimento da consciência da interdependência e o envolvimento da
equipe em novos conhecimentos. Dentre esses novos conhecimentos podemos citar o cuidado
com a família.
Segundo Angelo (1999), a ênfase crescente na família tem resultado na mudança da
maneira como é percebida no contexto de saúde ultrapassando, sobretudo, as definições
utilitárias que se atribuíam à família, quando era vista unicamente como um bem para o
paciente, sua presença, às vezes, tolerada em especial em ambientes de assistência à saúde,
levando-se em conta seu papel na esfera afetiva da recuperação do familiar doente.
De acordo com Bousso e Angelo (2001), é essencial compreender a família como a
mais constante unidade de saúde para seus membros. Assim, a assistência à família, como
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
69
unidade de cuidado, implica em conhecer a forma de cada família cuidar e identificar as suas
forças, as suas dificuldades e os seus esforços para partilhar as responsabilidades. Com base
nas informações obtidas, os profissionais devem usar seus conhecimentos sobre cada família
para, junto dela, pensar e implementar a melhor assistência possível.
O trabalho em saúde para ser eficaz e resolutivo, de acordo com Campos (2002),
dependerá sempre de certo coeficiente de autonomia dos agentes responsáveis pelas ações
clínicas. Esse autor diz que a autonomia pressupõe liberdade, havendo necessidade de
responsabilizar-se pelos problemas dos outros, isso só aconteceria com interesse e
envolvimento dos agentes com certa tarefa.
Em seus discursos as enfermeiras fazem alusão à autonomia de que necessitam para
realizar a gerência do cuidado e enfatizam sua importância no respaldo para tomada de
decisão.
Ressalta a Enfermeira “E” o valor da autonomia no processo decisório:
[...] é ter autonomia dentro da Instituição. Se você não tiver autonomia, seu
trabalho [...] você não vai ter condições de tomar decisões. Você tem que ter
uma boa coordenação, para te dar uma autonomia.
Almeida (1984) diz que nem todos os enfermeiros estão aptos a tomar decisão, uma
vez que para tal são necessários conhecimento, confiança em si próprio e apoio das
lideranças.
Devemos entender como decisão, em nível administrativo, toda vez que se fizer
necessária a integração entre elaboração de normas e rotinas pelo enfermeiro. Para isso não
basta um cargo, é preciso conhecimento e habilidade para a aplicação de técnicas a fatos,
atingindo os objetivos.
Keith (1999) diz que o processo de globalização requer profissionais cada vez mais
capacitados, principalmente, do ponto de vista tecnológico e exige atributos e conhecimentos
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
70
dos trabalhadores para responder às demandas impostas pelas mudanças sociais e econômicas.
Nesse contexto, as interações pessoais acabam por assumir uma condição inferior, premissa
defendida por Witt e Almeida (2003) ao enfatizarem que, frente a nossa realidade, é
importante a discussão multiprofissional acerca do cuidado emocional, tanto do cliente,
quanto da família na busca da qualidade de vida.
Para Trevizan (1988), as enfermeiras desempenham um papel central, mas não aquele
que a enfermeira profissional dita. Análise sobre a ética convencional do gerenciamento de
enfermeiro apontou a preocupação, por parte da enfermagem brasileira, para o
estabelecimento de uma nova ética a fim de embasar a conduta gerencial desse profissional,
para haver mais sincronia com os valores profissionais de modo a relevar as prioridades do
cliente, tendo no planejamento uma ferramenta essencial.
Esse novo profissional está arredio ao excesso de burocratização em detrimento do
cuidado direto, conforme podemos identificar na descrição da enfermeira “O”:
Gerência para mim, eu acho que não é só você pegar papel, saber dar ordens,
porque dar ordens qualquer um pode dar, não precisa ser só o enfermeiro
não, e ficar fiscalizando o tempo todo o que o outro está escrevendo. Pra
mim é você estar prestando assistência mesmo, isto pra mim é gerência.
A enfermeira “S” nos diz da existência de protocolos como meio para a viabilização
do gerenciamento do cuidado:
Eu sou responsável pelo protocolo de feridas. Avaliar as feridas diariamente,
de prescrever coberturas, se evoluiu bem ou não, ou se está piorando.
A utilização do planejamento para o gerenciamento do cuidado, a partir de nossa
prática, traz para o enfermeiro uma visão mais global do contexto e ao mesmo tempo
minuciosa, o que possibilita ações específicas. O planejamento se torna uma ferramenta para o
gerenciamento do cuidado.
Para Trevizan et al. (2002), os enfermeiros, ao se inserirem no âmago de uma
organização, deparam-se com um trabalho baseado em condutas organizacionais
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
71
preestabelecidas, rotinizadas. Para eles a utilização de protocolos, a normatização da
assistência viabilizam um cuidado/assistência mais uniforme e isso propicia qualidade com
segurança.
Na viabilização do cuidado direto, é suscitada pelas enfermeiras a participação do
técnico de enfermagem apenas na execução da tarefa. A enfermeira “E” afirma:
O técnico ele faz, mas ele não pensa. Então assim, eu acho que a
enfermagem taí, o enfermeiro tem que pensar algumas coisas melhores,
porque senão, o mercado tá lotado de gente. Vai diferenciar o enfermeiro
que tem tanto [...].
Nessa fala, a enfermeira realiza uma cisão entre o pensar e o fazer conforme preconiza
o Taylorismo. Temos aqui a visão de que auxiliares e técnicos de enfermagem são meros
executores do cuidado e que não participam da concepção do processo de trabalho.
Thofehrn et al. (1999) ressaltam que a não-utilização do Processo de Enfermagem
pelos profissionais deve-se ao distanciamento muito grande entre o pensar e o fazer, entre
teoria e prática, não havendo uma preocupação maior com a qualidade e sim, com a demanda
do serviço.
Para Villa e Rossi (2002), o aspecto humano do cuidado de enfermagem é um dos
mais difíceis de ser implementado. A rotina faz com que os membros da equipe de
enfermagem se alienem, esqueçam de tocar, conversar e ouvir o ser humano que está à sua
frente.
Esquecemos, por vezes, de cuidar de quem cuida, de fortalecer o sentimento de equipe
entre enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem.
Nas últimas décadas, segundo Ribeiro e Pedrão (2002), vários trabalhos surgiram na
enfermagem que salientam a importância do relacionamento interpessoal na assistência ao
cliente. Apesar da competência técnica do enfermeiro, responsável pela gerência do serviço e
administração do pessoal, esse apresenta dificuldades em trabalhar as relações interpessoais
de sua equipe, como podemos perceber na descrição da enfermeira “S”:
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
72
[...] a gente tenta também promover uma interação maior entre funcionário
administrativo e de enfermagem. Por exemplo, o paciente tem uma
cintilografia. Tem vários cuidados, preparo e marcação do exame. Eu não
vou dar conta. A maioria do público é de pacientes cardiológicos. Os
funcionários da enfermagem se preocupam muito com o banho, com sonda,
o horário de medicação [...] com a interação entre eles a gente não quer só o
mecânico, é entender mesmo. Isso é difícil como funcionário mais antigo, os
mais novos não [...] Isso é gerência.
No gerenciamento do cuidado, o enfermeiro utiliza ferramentas diversas para garantir
uma equipe apta a realizar esse cuidado. Dentre elas podemos citar o treinamento, conforme
nos relata a enfermeira “S”:
É uma coisa indireta, mas é gerenciar. É treinamento intensivo, às vezes a
gente pára pra fazer treinamento individual ou em grupinho de dois.
Gerenciar, gerenciar é recursos humanos mesmo. Então [...] é seleção de
funcionários, é capacitação. Aqui a gente tem a capacitação, a reciclagem,
“tá” investindo em treinamento.
A educação permanente em saúde, incorporada como cotidiano do gerenciamento do
cuidado, é ponto chave nesse processo e nesse sentido Varella et al. (2007) ressaltam que os
serviços de saúde, por sua própria característica, apontam para a dimensão da importância dos
recursos humanos na explicação de sua qualidade e suficiência e constituem-se assim em fator
crítico.
Nesse processo, a motivação se faz fator determinante, como nos assinala a enfermeira
“I”:
Por exemplo, tirar um acesso central. Às vezes, eles ficam morrendo de
medo, mas “vem cá acompanhar comigo, você vai tirar, tal, eu vou te
acompanhar”. Eles acham que é uma coisa do outro mundo, fica tão assim
[...] Acho que na medida do possível, mostrar que você confia no trabalho
que ele tem, [...] eu acho que isso também [...].
Autores como Lima (1996) e Stoner e Freeman (1985) descrevem a motivação como o
impulso para a satisfação, sendo que esse último a conceitua como a causa que canaliza e
sustenta o comportamento das pessoas, não sendo a única influência no nível de desempenho
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
73
do indivíduo, pois outros dois fatores, quais sejam as capacidades do indivíduo e sua
compreensão dos comportamentos, são necessários para conseguir-se um ótimo desempenho.
Os enfermeiros utilizam a motivação como uma ferramenta na gerência do cuidado.
Nossa percepção é de que fazem por meio dela uma ligação permanente com a equipe,
conforme pensamento de Santos e Moreira (2004), quando afirmam que o bom administrador
deve estar imbuído de emoções positivas e contagiantes, abertos ao diálogo com a equipe, em
especial aos seus subordinados e atualizados para aplicar novas idéias e teorias, visando à
satisfação dos envolvidos na relação prestador de serviço/cliente.
Outro significado atribuído pelos enfermeiros à gerência do cuidado é “delegar”. E,
assim como a motivação, utilizam a delegação como ferramenta para viabilização dessa
gerência, conforme nos diz a enfermeira “T”:
Eu acho que esse negócio de delegar é bom, não reter as obrigações,
podendo ensinar, delegar [...] Então, aqui quem faz o eletro é o enfermeiro e
tem técnico de enfermagem que fica doido em cima de mim, me vendo fazer
o eletro e doido pra aprender. Aí fomos treinando, botei um em cada andar
que faz eletro. Então, na urgência, sei que posso contar com fulano, com
cicrano. “Faz o eletro pra mim correndo”; “Vai ajudando a ligar”. Então eles
se sentem úteis para fazer o eletro. Aí quando outros querem aprender, aí
muda porque: “Ah, porque não posso fazer?” podendo delegar, podendo
ensinar [...] aí eu assino embaixo, porque é o enfermeiro que tem que
assinar.
Em contraponto à fala da Enfermeira “T”, encontramos na literatura, a título de
elucidação, ações que são desenvolvidas pelo enfermeiro no cotidiano de trabalho da
enfermagem, dentre elas: atividades específicas: visitar pacientes, passar plantão, elaborar
escala, instalar isolamento, elaborar planejamento, relatório e preparar reuniões, solicitar carta
de advertência, organizar o ambiente terapêutico; atividades assistenciais: aplicar insulina,
realizar curativos, instalar pressão venosa central (PVC), ler PVC, trocar soros, vacinação,
colocar e trocar cateter nasal, admitir o paciente, planejar o processo cuidativo; atividades
inespecíficas: atender ao telefone, distribuir prontuários, conferir estoques, distribuir frascos
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
74
de exames, localizar médicos, ECG, aprazar prescrições médicas, solicitar consertos, autorizar
tickets de almoço, transcrição da prescrição médica (LUNARDI et al., 1994).
Dentre as atividades desenvolvidas, gastamos muito de nosso tempo em ações
inespecíficas, conforme relata a enfermeira “E”:
Então eu acho que o gerenciar [...] a lâmpada do quarto que o acompanhante
tá reclamando; “é você quem vai resolver?” “É, é você que vai resolver!
Como?” Tem maneiras de resolver. Tem o setor de manutenção, mas tudo
isso passa por você. Talvez poderia ser triado para outras pessoas para poder
pensar em cuidados melhores.
Nessas descrições a enfermeira “E” refere-se ao dilema das suas funções, que na
prática apresentam ambigüidade: gerenciamento do ambiente assistencial versus
gerenciamento do cuidado, o que por vezes provoca distanciamento entre o discurso teórico
do cuidar e as ações cotidianas da prática assistencial. O fato de os enfermeiros dedicarem
grande parte do seu tempo às atividades burocrático-administrativas e inespecíficas, acaba por
distanciá-los da assistência direta ao paciente.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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Na raiz de todas as nossas experiências e de todas as nossas reflexões,
encontramos pois um ser que se reconhece imediatamente porque é seu
saber de si e de todas as coisas, e porque conhece sua própria existência
não por constatação ou por um fato dado, ou por dedução a partir de
uma idéia de si mesmo, mas por um contato direto com ela.
Merleau-Ponty
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
76
5.1 INICIANDO A COMPREENSÃO...
Para a realização deste estudo recorremos à pesquisa qualitativa na abordagem
fenomenológica o que nos permitiu ouvir os sujeitos e estabelecer com eles uma relação
empática, numa interação sujeito pesquisador, sujeito pesquisado.
Assim, utilizando a questão norteadora: “Descreva para mim, situações vivenciadas
por você, que retratem o significado de gerência do cuidado em enfermagem”, desvelamos a
estrutura do fenômeno composto pelas categorias que se seguem: O cotidiano do cuidar; Jogo
de cintura; Ser presença na ausência; Gerenciamento da Assistência de enfermagem.
Em um estudo fenomenológico não cabe conclusão, mas reflexões que apontam
recomendações e possibilidades de estudos posteriores.
Os sujeitos participantes sinalizaram como aspectos impeditivos para uma gerência do
cuidado de qualidade, dentre eles: o tempo enquanto periodicidade presente, passado e futuro
(chronos) e o tempo do cuidado (Kairós), aquele que é permeado pelo laço e pelo afeto no
desempenho do fazer.
O cotidiano do cuidar aponta a questão do tempo, da sobrecarga de trabalho,
dimensionamento e alocação de pessoal e o enfermeiro como elo de ligação entre o cliente e a
equipe interdisciplinar, constituindo-se de fato em coordenador, gerente do processo
cuidativo.
Na categoria “Jogo de cintura”, vimos emergir o trabalho em equipe, a dicotomia entre
o cuidar e assistir e a mobilidade que a enfermeira tem que desenvolver para gerenciar a
equipe de trabalho. Observamos também o empoderamento da enfermeira e a necessidade de
uma gerência compartilhada para dar conta do trabalho em equipe.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
77
Gerenciar o cuidado para a enfermeira está intrinsecamente relacionado à capacidade
de realizar inúmeras tarefas e funções, percebendo, no desvio de sua função, um fator
interveniente na gerência do cuidado.
Com relação à “Presença na ausência”, vemos a referência da enfermeira à sua
ausência no cuidado direto, tendo esta a percepção de que o gerenciamento fica incompleto,
por gerenciar o cuidado à distância. Percebemos, entretanto, que essa é uma estratégia que
lança mão da educação em serviço e até mesmo do trabalho desenvolvido pelos acadêmicos
de enfermagem sob a supervisão da enfermeira.
Ainda, na categoria gerência da assistência, fica bem clara a diferença entre a gerência
da assistência e a gerência do cuidado e vemos que o cuidado se enquadra na ordem da
relação, desvelo, atenção, laço, afeto, revelando que, na gerência da assistência, não
necessariamente o cuidado está implícito.
Como um estudo preliminar sobre a gerência do cuidado em enfermagem, acreditamos
que avançamos, mas esse assunto carece de novas pesquisas que discutam a questão do tempo
e sua complexidade no processo cuidativo.
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A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
85
A
N
E
X
O
S
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
86
ANEXO A
Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
87
ANEXO B
Carta de Autorização da Organização em estudo
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
88
ANEXO C
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidado(a) a participar da pesquisa intitulada: “A Gerência em
enfermagem: significado para o enfermeiro”, que tem como objetivo compreender o
significado atribuído pelo enfermeiro, acerca da gerência em enfermagem. A realização deste
estudo poderá trazer subsídios que contribuam para a prática da enfermagem.
A pesquisa será realizada por mim, Láyza L. Machado B. Quintão, enfermeira,
professora da Faseh – Faculdade de Saúde e Ecologia Humana - e aluna do curso de Mestrado
da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais.
Sua adesão é voluntária, sendo sua colaboração essencial para o andamento da
pesquisa. A primeira etapa na observação da sua atividade diária, sendo esta registrada em um
caderno de notas. Posteriormente farei uma entrevista, individual, que será gravada, caso
autorize, respondendo a seguinte questão: “Descreva para mim situações, vivenciadas por
você, que retratem a Gerência do Cuidado em Enfermagem”.
Serão garantidos o anonimato, sigilo e privacidade das informações. Os resultados da
pesquisa serão utilizados, exclusivamente, para fins científicos.
Caso concorde em participar, poderá solicitar informações ou esclarecimentos sobre o
andamento da pesquisa, a qualquer momento, bem como desistir dela e não permitir a
utilização de seus dados, sem que haja nenhum prejuízo para você.
CONSENTIMENTO:
Eu, como entrevistada, afirmo que fui devidamente orientada sobre o objetivo e finalidade da
pesquisa, bem como da utilização dos dados exclusivamente para fins científicos e sua
divulgação posterior, sendo que meu nome será mantido em sigilo.
Nome do entrevistado (a): ______________________________________________________
Assinatura: _________________________________________________________________
Data: ___/___/___.
Pesquisadora: Láyza L. Machado B. Quintão
Endereço: Rua Ministro Orozimbo Nonato, 754, aptº 201. Bairro Dona Clara.
Belo Horizonte – MG. CEP: 31260100. Tel: 3441-3524 / 9734-6682
Assinatura: ____________________________________________ Data: ___/___/___.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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D
I
C
E
S
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
90
APÊNDICE A
# Entrevista “S”
“Gerenciar, gerenciar é recursos humanos mesmos. Então é... é seleção de funcionários, é capacitação. Aqui a
gente tem a capacitação, a reciclagem, “tá” investindo nisso, e ter treinamento”. /
1
É uma coisa indireta, mas é gerenciar. É treinamento intensivo. Às vezes a gente pára para fazer treinamento
individual ou em grupinho de dois. Tem esse... assim... Participa deste processo de acreditação, refletir... /
2
O cuidado... Indireto... No final isto tudo vai refletir no cuidado. Assim, você vai pensar: Seu funcionário está
apto a fazer o cuidado. Tudo isso é um cuidado indireto que você tem. /
A gente “tá” num hospital particular, não
recebe SUS. No final quem vai estar vendo qual o material, o que vai economizar: “Olha esse material está tendo
muita perda” é a gente, é quem está aqui em cima. Tem o gerente de almoxarifado, aqui é chamado assim, tem
gerente de enfermagem, gerente médico, mas no final o meu trabalho vai refletir como um todo, nós trabalhamos
com meta. Bimestralmente são lançados as metas, resultado econômico, resultado com o cliente. /
3
Eu participo,
tento ajudar em todos os setores. / Aqui, pra você ter uma noção, por exemplo, o uso adequado do material. Em
que isso vai refletir no meu setor. Vai fazer uma compra grande de jelco. Então eu peço uma amostra pra testar
de jelco. Então eu peço uma amostra para testar por 3 ou 4 dias. “Olha o jelco está dando problema para
puncionar uma veia. Eu gasto 3 ou 4 jelcos, não é como o que a gente tá acostumado”. Então a gente passa isso
pra farmácia. Assim o custo aumenta, a demanda fica um pouco maior. A gente tenta resolver o problema. Eu me
sinto gerente de recursos materiais. Uma coisa pequena, mas vai refletir no cuidado? Vai, aí eu me sinto gerente.
Vai estar puncionando o paciente mais vezes, vai demorar mais tempo para puncionar e vai piorar a qualidade da
assistência para o outro paciente.” /
4
__________________________________________________
PAUSA: A entrevistadora solicita que a entrevistada relate outras situações vivenciadas por ela, que retratem a
gerência em enfermagem para ela.
“Bom, é questão de planejamento do meu trabalho. O que eu vou fazer hoje? Aí você fala: “Olha, eu vou
trabalhar desse jeito”. /
5
Olha, a gente corre muito, não pára... Pro cuidado direto você faz um planejamento
mais ou menos, mas não é isso. Tem sobrecarga de trabalho, trabalho em volume alto e não tem muito tempo
para cuidar direito. /
6
Vou fazer uma prescrição de enfermagem para esse paciente vou orientar,... a gente tem
que priorizar não dá pra fazer tudo, não dá para dar uma assistência de qualidade como fiz, como teria pra todo
mundo. Então, o que tem que fazer, é orientar o funcionário, porque é o funcionário que vai cuidar de 6, aí ele
consegue. Então eu consigo passar meu conhecimento para todo mundo. No final, de forma indireta, eu consigo.
/
7
Não é a mesma coisa do enfermeiro ir lá fazer prescrição, fazer cuidado, avaliar o indivíduo no leito.
PAUSA: Depois de certo tempo de entrevista diz: “Que mais?”
Entrevistadora: “O que mais você faz, que considera ser gerência do cuidado?”
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
91
Olha, no meu andar / eu faço corrida de leito, no final eu vou priorizar. Eu tenho funcionário administrativo. Aí
eu passo para o funcionário da enfermagem o que eu quero. Então, eu vou fiscalizar... /
8
Por exemplo, detectei um erro: o paciente tá no leito e eu peguei o paciente em uma posição que não é a do pós-
operatório. Se eu não chamar o funcionário e não alertar: “olha o paciente tem que ficar nesta posição”, a coisa
não vai. Entende-se que a partir dali o funcionário com todo o paciente que chegar, ele vai tomar o cuidado que a
gente orientou. /
9
Aí, a gente pega a prescrição médica, uma coisa complicada. Você fica conferindo o trabalho
do médico, mas é... é... mais um controle. Por exemplo: o paciente está com medicação de tanto em tanto tempo,
você vai filtrar e ver se a enfermagem não está fazendo errado, dar treinamento, vai orientar todo dia. /
10
Por
exemplo, uma imunoglobulina. Não é uma medicação tão comum. Você vai chamar a equipe, falar a medicação
é isso... Pra tentar transmitir conhecimento e aí é... Aí você tenta porque não dá pra fazer tudo. / O que eu tento
fazer é ser mais presente lá no quarto do paciente, o perguntar o que ele precisa, cuidar mais. A gente cuida à
distância, mas é... explicar o porque das coisas. Falta mais contato com o paciente. /
11
A gente... fica com o
controle de tudo... /
12
PAUSA: A entrevistadora solicita à entrevistada que fale um pouco mais do treinamento relâmpago que faz com
o funcionário.
É... por exemplo... a gente tem o funcionário administrativo. Então ele fica com a parte de marcar o exame,
comunicar o médico, isso tudo. / A gente tenta também promover uma interação maior entre funcionário
administrativo e de enfermagem. Por exemplo, o paciente tem uma cintilografia. Tem vários cuidados, preparo e
marcação do exame. Eu não vou dar conta. A maioria do público é de pacientes cardiológicos.
Os funcionários da enfermagem se preocupam muito com o banho, com sonda, o horário de medicação... com a
interação entre eles a gente não quer só o mecânico, é entender mesmo. Isso é difícil com o funcionário mais
antigo, os mais novos não... Isso é gerência. /
13
Ele vai ser capaz de ver: se o paciente é enfartado, deve tomar
banho de leito. Então, ele consegue tomar a decisão por conta própria, ele fica um pouco mais independente.
Então só tende a melhorar a unidade, ele não precisa ficar perguntando. Então ele toma a decisão.
PAUSA...
Aqui eu tenho funcionário administrativo, de enfermagem, a camareira, da limpeza, não tenho hierarquia com
ela; ela tem o chefe dela, a copeira, mas ele me tem como referência. A copeira pergunta se o paciente tal pode
comer isso, aquilo, pode ligar a televisão do paciente que chegou. Indiretamente, não diretamente, eu sou
responsável por estes profissionais. Como eu estou ali e eles interferem diretamente na qualidade do meu
trabalho, você acaba gerenciando também. Então você é o elo entre o profissional que está lá em baixo
(comandando) e quem está efetivando aqui... /
14
Tem o setor de manutenção, chuveiro estas coisas...Você acaba
gerenciando também. A gente detecta muita coisa, a gente está muito próximo de tudo. /
15
PAUSA...
Eu sou responsável pelo protocolo de feridas. Avaliar as feridas diariamente, de prescrever coberturas, se
evoluiu bem ou não, ou se está piorando. /
16
Eu trabalho com o imprevisto, eu nunca sei como vai ser... /
17
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
92
# Entrevista S
Unidade de significado Unidade de significado transformada
1) Gerenciar, gerenciar é recursos humanos mesmo. Então
é... é seleção de funcionários, é capacitação. Aqui a gente
tem a capacitação, a reciclagem, “tá” investindo nisso, e ter
treinamento.
Argumenta que gerenciar é realizar seleção de
funcionários, investir na capacitação,
reciclagem e treinamento.
2) É uma coisa indireta, mas é gerenciar. É treinamento
intensivo. Às vezes a gente pára para fazer treinamento
individual ou em grupinho de dois. Tem esse... assim...
Participa deste processo de acreditação, refletir...
Afirma que gerenciar, às vezes, se dá
indiretamente, o treinamento em equipe,
individual ou em duplas faz parte da gerência
do cuidado.
3) A gente “tá” num hospital particular, não recebe SUS. No
final quem vai estar vendo qual o material, o que vai
economizar: “Olha esse material está tendo muita perda é a
gente, é quem está aqui em cima”. Tem o gerente de
almoxarifado, aqui é chamado assim, tem gerente de
enfermagem, gerente médico, mas no final o meu trabalho
vai refletir como um todo, nós trabalhamos com meta.
Bimestralmente são lançados as metas, resultado econômico,
resultado com o cliente.
Ressalta que todos os setores do hospital
possuem gerentes, mas é a gerência do
enfermeiro que terá reflexo no resultado final,
impactando as metas, os resultados
econômicos e a qualidade da assistência
prestada ao paciente.
4) Aqui, pra você ter uma noção, por exemplo, o uso
adequado do material. Em que isso vai refletir no meu setor.
Vai fazer uma compra grande de jelco. Então eu peço uma
amostra pra testar de jelco. Então eu peço uma amostra para
testar por 3 ou 4 dias. Olha “o jelco está dando problema
para puncionar uma veia. Eu gasto 3 ou 4 jelcos, não é como
o que a gente tá acostumado”. Então a gente passa isso pra
farmácia. “Assim o custo aumenta, a demanda fica um pouco
maior”. A gente tenta resolver o problema. Eu me sinto
gerente de recursos materiais. Uma coisa pequena, mas vai
refletir no cuidado? Vai, aí eu me sinto gerente. Vai estar
puncionando o paciente mais vezes, vai demorar mais tempo
para puncionar e vai piorar a qualidade da assistência para
o outro paciente.
Diz que gerenciar é garantir o uso do material
adequado, assim como sua utilização. É um
trabalho em parceria com a farmácia
objetivando a redução do custo – exercendo,
neste momento, um trabalho de gerência de
recursos materiais que refletirá na gerência do
cuidado – promovendo qualidade da
assistência prestada.
5) Bom, é questão de planejamento do meu trabalho. “O que
eu vou fazer hoje?” Aí você fala: “Olha, eu vou trabalhar
desse jeito”.
Ressalta que a utilização do planejamento para
o desenvolvimento das atividades diárias é
ferramenta essencial para a gerência do
cuidado.
6) Olha, a gente corre muito, não pára... Pro cuidado direto
você faz um planejamento mais ou menos, mas não é isso.
Tem sobrecarga de trabalho, trabalho em volume alto e não
tem muito tempo para cuidar direto.
Enfatiza que a sobrecarga de trabalho impedi
a realização do planejamento da assistência,
distanciando o enfermeiro do paciente.
7) Vou fazer uma prescrição de enfermagem para esse
paciente, vou orientar... A gente tem que priorizar não dá
pra fazer tudo, não dá para dar uma assistência de
qualidade como fiz, como teria pra todo mundo. Então, o que
tem que fazer, é orientar o funcionário, porque é o
funcionário que vai cuidar de 6, aí ele consegue. Então eu
consigo passar meu conhecimento para todo mundo. No
final, de forma indireta, eu consigo.
Argumenta que para realizar prescrição de
enfermagem é preciso priorizar, em
decorrência do acúmulo de tarefas. Assim, a
gerência se faz através da orientação aos
auxiliares e técnicos de enfermagem, que
executarão o cuidado.
8) Não é a mesma coisa do enfermeiro ir lá fazer prescrição,
fazer cuidado, avaliar o indivíduo no leito. Olha, no meu
andar eu faço corrida de leito, no final eu vou priorizar. Eu
tenho funcionário administrativo. Aí eu passo para o
funcionário da enfermagem o que eu quero. Então, eu vou
fiscalizar...
Realizar corrida de leito e prioriza a
assistência, delegando aos auxiliares, técnicos
de enfermagem e equipe administrativa o que
deve ser feito, supervisionando
posteriormente.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
93
9) Por exemplo, detectei um erro: o paciente tá no leito e eu
peguei o paciente em uma posição que não é a do pós-
operatório. Se eu não chamar o funcionário e não alertar:
“olha o paciente tem que ficar nesta posição”, a coisa não
vai. Entende-se que a partir dali o funcionário com todo o
paciente que chegar, ele vai tomar o cuidado que a gente
orientou.
Ressalta que gerenciar é detectar erros e
alertar auxiliares e técnicos de enfermagem
com treinamento, imediatamente após a
verificação da falha.
10) Aí, a gente pega a prescrição médica, uma coisa
complicada. Você fica conferindo o trabalho do médico, mas
é... é... mais um controle. Por exemplo: o paciente está com
medicação de tanto em tanto tempo, você vai filtrar e ver se
a enfermagem não está fazendo errado, dar treinamento, vai
orientar todo dia.
Argumenta que gerenciar é realizar a
conferência da prescrição médica e checar o
seu cumprimento pela equipe de enfermagem.
11) Por exemplo, uma imunoglobulina. Não é uma
medicação tão comum. Você vai chamar a equipe, falar a
medicação é isso... Pra tentar transmitir conhecimento e aí
é... Aí você tenta porque não dá pra fazer tudo. O que eu
tento fazer é ser mais presente lá no quarto do paciente, o
perguntar o que ele precisa, cuidar mais. A gente cuida à
distância, mas é... explicar o porque das coisas. Falta mais
contato com o paciente.
Afirma que gerenciar é prestar assistência ao
paciente, atendendo as necessidades básicas
afetadas, referidas pelo paciente e detectadas
pelo enfermeiro; é estar mais perto do
paciente fazendo com que o mesmo participe
do processo cuidativo.
13) ...a gente tenta também promover uma interação maior
entre funcionário administrativo e de enfermagem. Por
exemplo, o paciente tem uma cintilografia. Tem vários
cuidados, preparo e marcação do exame. Eu não vou dar
conta. A maioria do público é de pacientes cardiológicos.
Os funcionários da enfermagem se preocupam muito com o
banho, com sonda, o horário de medicação... com a
interação entre eles a gente não quer só o mecânico, é
entender mesmo. Isso é difícil com o funcionário mais antigo,
os mais novos não... Isso é gerência.
Argumenta que a equipe de enfermagem,
principalmente os mais antigos, preocupam-se
mais com as atividades e procedimentos
técnicos, em detrimento do relacionamento
intra-equipe.
14) Aqui eu tenho funcionário administrativo, de
enfermagem, a camareira, da limpeza, não tenho hierarquia
com ela; ela tem o chefe dela, a copeira, mas ele me tem
como referência. A copeira pergunta se o paciente tal pode
comer isso, aquilo, pode ligar a televisão do paciente que
chegou. Indiretamente, não diretamente, eu sou responsável
por estes profissionais. Como eu estou ali e eles interferem
diretamente na qualidade do meu trabalho, você acaba
gerenciando também. Então você é o elo entre o profissional
que está lá em baixo (comandando) e quem está efetivando
aqui...
12) A gente... fica com o controle de tudo...
Reconhece que como enfermeira atua como
elo de ligação e referência entre os vários
profissionais das diversas equipes de saúde e
áreas de suporte.
15) Tem o setor de manutenção, chuveiro estas coisas... Você
acaba gerenciando também. A gente detecta muita coisa, a
gente está muito próximo de tudo.
Afirma ser referência das equipes suporte
devido à proximidade operacional.
16) Eu sou responsável pelo protocolo de feridas. Avaliar as
feridas diariamente, de prescrever coberturas, se evoluiu
bem ou não, ou se está piorando.
Relata ser a responsável pela aplicação do
protocolo de feridas realizando avaliação
direta da sua evolução.
17) Eu trabalho com o imprevisto, eu nunca sei como vai
ser...
Afirma que gerenciar é trabalhar com o
imprevisto
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
94
# Entrevista “E”
“Eu acredito que gerência do cuidado, em primeiro ponto, é o trabalho em equipe. Não tem jeito da enfermeira
trabalhar sozinha. A primeira coisa é gerenciar a equipe, o que que é: é você não orientar diário. Porque o
conhecimento não é embutido 100%. Primeiro a equipe. /
1
Segundo é ter autonomia dentro da Instituição. Se
você não tiver autonomia, seu trabalho... você não vai ter condições de tomar decisões. Você tem que ter uma
boa coordenação, pra te dar uma autonomia. /
2
Gerenciar ambiente, tem que gerenciar o relacionamento da
enfermagem com os médicos, gerenciar o relacionamento da portaria com a enfermagem. Tudo faz parte direta
ou indiretamente. Isso impacta no meu trabalho porque precisa de tempo. Na verdade você tem pouco tempo
com o paciente diretamente. /
3
Você tem, que acreditar na equipe que você tem se não acreditar, né? As coisas...
você não pode fazer, você não pode dar uma assistência do lado. Então você tem que ter um bom entorno, uma
boa equipe, pro’cê poder cuidar. Eu acredito nisso. /
4
Não sei se isso resolve tudo, mas também não tem jeito de
você ser uma enfermeira para dois, três num andar, não é a realidade hoje. /
5
Então eu acho que o gerenciar... a
lâmpada do quarto que o acompanhante tá reclamando; é você quem vai resolver? É, é você que vai resolver!
Como? Tem maneiras de resolver. Tem o setor de manutenção, mas tudo isso passa por você. Talvez poderia ser
triado para outras pessoas para poder pensar em cuidados melhores, né? /
6
Porque o técnico ele faz, mas ele não
pensa. Então assim, eu acho que a enfermagem taí, o enfermeiro tem que pensar algumas coisas melhores,
porque se não, o mercado tá falando que tá lotado de gente. Vai diferenciar o hospital que tem tanto, o
enfermeiro que tem tanto... /
7
A entrevistadora pede para que a entrevistada relate situações recentes que tenha vivenciado em seus plantões
que retratem a sua gerência do cuidado.
Oh, /atualmente o hospital recebe pacientes muito graves e que ficam na unidade de internação. Talvez por não
terem indicação de CTI naquele momento ou o quadro agudo. Uma insuficiência respiratória no andar... você
não tem uma macro disponível, né? Você tem que vir na CME. Você não tem um médico ali, às vezes você tem
numa equipe médica, um médico, de plantão interessado e fica com você... Outras vezes não, ele vai lá, olha,
prescreve e volta mais tarde – o enfermeiro tem que ficar ali. /
8
Acho que o gerenciar é o que: indicar alguém
para pegar, né? Ou, às vezes até você mesma. Eu acho que o que a gente vivencia em gerência do cuidado, é
isso, do cuidado em si, né? Porque... é isso que vai fazer a diferença. Se você atender bem, o paciente sai bem. /
9
Não sei se o ambiente faz parte... faz. Você tem que gerenciar família, você tem que gerenciar a relação entre os
técnicos, né?
Entrevistadora questiona: “Gerenciar família como?”
Você tem que orientar a família: “Olha, ele tá tendo uma crise”. É muito pouco falado, dependendo do médico,
então você tem que orientar a família: “Olha, tá tendo um quadro assim, mas vamos esperar lá fora, se a senhora
quiser aguardar ali no sofá...” Se você não fizer, a família fica ali e participa. Até que ponto isso vai fazer bem ou
mal, você é que tem que ver. /
10
Às vezes o acompanhante é tão ansioso que o paciente fica mais. Você tem que
estar atento a tudo isso. Acho que isso é gerenciar. Gerenciar é você perceber possíveis fatores de risco,? /
11
O
risco em si ele existe, então você tem que perceber possíveis fatores que vão acarretar numa piora para o
paciente. Pode ser família? Pode. Pode ser medicação atrasada? Pode. Pode ser o técnico que não está com uma
técnica correta? Pode. Você tá ali para defender o paciente. Acho que o gerenciar é isto. É você ser defensora do
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
95
paciente. /
12
Infelizmente, você às vezes, fica como a chata, fica muito exposta perante a equipe, tanto de
técnicos, quanto de médicos, mas é o seu papel. Você tem que defender, o paciente tem que ter alguém ali que
não deixe com que as coisas, né? Ou que deixe que as coisas fluam... Depende do caminho. /
13
PAUSA. A entrevistadora questiona mais uma vez acerca de outras ações que a entrevistada relaciona com a
gerência do cuidado.
Certificar material, ver se tá tudo ok para se tiver alguma urgência, isso é função sua... material funcionante...
Gerenciar equipe: número de funcionários, cobrir, deixar uma escala legal. Acho que isso tudo você pode fazer
de uma maneira que não atrapalhe o cuidado. /
14
Por traz, não adianta cobrar do funcionário higienizar a boca do
paciente de 2/2 horas. Ele não tem condição; ele cuida de mais de seis, mais cinco quer dizer, então você tem que
dar condições para que ele trabalhe, isso é gerenciar o cuidado. /
15
Acho assim, que a enfermagem tem muito
para crescer, mas tem esses detalhes. Se nós não soubermos superar a gerência vai acabar, ficando estagnada...
gerenciar é ter capacidade clínica... é ter conduta única, padronizar. /
16
# Entrevista E
Unidade de significado Unidade de significado transformada
1) Eu acredito que gerência do cuidado, em primeiro
ponto, é o trabalho em equipe. Não tem jeito da
enfermeira trabalhar sozinha. A primeira coisa é
gerenciar a equipe, o que que é: é você não orientar
diário. Porque o conhecimento não é embutido 100%.
Primeiro a equipe.
Afirma que para gerenciar o cuidado é preciso
saber trabalhar em equipe, sendo este, um pré-
requisito essencial no exercício da gerência, sendo
a orientação a ferramenta principal na sua
viabilização.
2) Segundo é ter autonomia dentro da Instituição. Se você
não tiver autonomia, seu trabalho... você não vai ter
condições de tomar decisões. Você tem que ter uma boa
coordenação, pra te dar uma autonomia.
Ressalta que para gerenciar é necessário ter
autonomia administrativa dentro da Instituição,
garantida pela coordenação do serviço,
viabilizando assim, a tomada de decisão.
3) Gerenciar ambiente, tem que gerenciar o
relacionamento da enfermagem com os médicos,
gerenciar o relacionamento da portaria com a
enfermagem. Tudo faz parte direta ou indiretamente. Isso
impacta no meu trabalho porque precisa de tempo. Na
verdade você tem pouco tempo com o paciente
diretamente.
Argumenta que gerência em enfermagem inclui a
gerência do ambiente, por estar este ligado
diretamente ao tipo e qualidade da assistência
prestada. Apesar desta íntima relação, seria
necessária uma triagem destes problemas e o seu
encaminhamento direto aos respectivos setores
responsáveis.
4) Você tem, que acreditar na equipe que você tem se não
acreditar, né? As coisas... você não pode fazer, você não
pode dar uma assistência do lado. Então você tem que ter
um bom entorno, uma boa equipe, pro’cê poder cuidar. Eu
acredito nisso.
5) Não sei se isso resolve tudo, mas também não tem jeito
de você ser uma enfermeira para dois, três num andar,
não é a realidade hoje.
Afirma que é preciso acreditar na equipe que se
tem, confiar na sua capacidade de cuidar, uma vez
que só assim o enfermeiro pode prestar o cuidado,
indiretamente. O cuidado próximo ao paciente
torna-se inviável, em razão da defasagem no
dimensionamento de enfermeiros necessários à
assistência.
6) Então eu acho que o gerenciar... a lâmpada do quarto
que o acompanhante tá reclamand:; “é você quem vai
resolver?” “É, é você que vai resolver!” Como? Tem
maneiras de resolver. Tem o setor de manutenção, mas
tudo isso passa por você. Talvez poderia ser triado para
outras pessoas para poder pensar em cuidados melhores,
né?
Argumenta que a gerência em enfermagem inclui
a gerência do ambiente, por estar este ligado
diretamente ao tipo e qualidade da assistência
prestada. Apesar desta íntima relação, seria
necessária uma triagem destes problemas e o seu
encaminhamento direto aos respectivos setores
responsáveis.
7) Porque o técnico ele faz, mas ele não pensa. Então
assim, eu acho que a enfermagem taí, o enfermeiro tem
que pensar algumas coisas melhores, porque se não, o
mercado tá falando que tá lotado de gente. Vai diferenciar
Afirma que o técnico de enfermagem não pensa,
sendo necessária a presença do enfermeiro para
fazer isto por ele, ressaltando a dicotomia entre o
fazer e pensar presente na assistência. Argumenta
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
96
o hospital que tem tanto, o enfermeiro que tem tanto...
ainda que o quantitativo de pessoal e sua formação
irá reger a lei de oferta e procura no mercado.
8) Oh, atualmente o hospital recebe pacientes muito
graves e que ficam na unidade de internação. Talvez por
não terem indicação de CTI naquele momento ou o
quadro agudo. Uma insuficiência respiratória no andar...
você não tem uma macro disponível, né? Você tem que vir
na CME. Você não tem um médico ali, às vezes você tem
numa equipe médica, um médico, de plantão interessado e
fica com você... Outras vezes não, ele vai lá, olha,
prescreve e volta mais tarde – o enfermeiro tem que ficar
ali.
Aborda a questão de poucos recursos materiais e
baixa capacitação profissional nas unidades de
internação em detrimento dos CTI, sendo um fator
interveniente na gerência do cuidado.
9) Acho que o gerenciar é o que: indicar alguém para
pegar, né? Ou, às vezes até você mesma. Eu acho que o
que a gente vivencia em gerência do cuidado, é isso, do
cuidado em si, né? Porque... é isso que vai fazer a
diferença. Se você atender bem, o paciente sai bem.
Ressalta que gerência do cuidado é delegar
funções e atribuições na assistência, garantindo
qualidade na assistência prestada com conseqüente
satisfação do cliente.
10) Não sei se o ambiente faz parte... faz. Você tem que
gerenciar família, você tem que gerenciar a relação entre
os técnicos, né? Você tem que orientar a família:“Olha,
ele tá tendo uma crise”. É muito pouco falado,
dependendo do médico, então você tem que orientar a
família:“Olha, tá tendo um quadro assim, mas vamos
esperar lá fora, se a senhora quiser aguardar ali no
sofá...”. Se você não fizer, a família fica ali e participa.
Até que ponto isso vai fazer bem ou mal, você é que tem
que ver.
Garante que é preciso assumir a postura de elo
entre a família e a equipe multiprofissional que
atende o paciente, afim de garantir a esta família
informações e orientações que subsidiem uma
postura e atitudes de confiança frente às possíveis
e prováveis intervenções da equipe.
11) Às vezes o acompanhante é tão ansioso que o paciente
fica mais. Você tem que estar atento a tudo isso. Acho que
isso é gerenciar. Gerenciar é você perceber possíveis
fatores de risco, né?
12) O risco em si ele existe, então você tem que perceber
possíveis fatores que vão acarretar numa piora para o
paciente. Pode ser família? Pode. Pode ser medicação
atrasada? Pode. Pode ser o técnico que não está com uma
técnica correta? Pode. Você tá ali para defender o
paciente. Acho que o gerenciar é isto. É você ser
defensora do paciente.
14) Certificar material, ver se tá tudo ok para se tiver
alguma urgência, isso é função sua... material
funcionante... Gerenciar equipe: número de funcionários,
cobrir, deixar uma escala legal. Acho que isso tudo você
pode fazer de uma maneira que não atrapalhe o cuidado.
Ressalta que gerenciar a assistência de
enfermagem é assumir uma postura de
atendimento às necessidades básicas do paciente,
sendo a principal delas a segurança, através de
requisitos essenciais ao gerente: visão holística,
capacidade de previsão e provisão.
15) Por traz, não adianta cobrar do funcionário higienizar
a boca do paciente de 2/2 horas. Ele não tem condição;
ele cuida de mais de seis, mais cinco quer dizer, então
você tem que dar condições para que ele trabalhe, isso é
gerenciar o cuidado.
Afirma que a relação numérica entre auxiliares e
técnicos de enfermagem e destes com os pacientes
é inadequada, mas apesar disto, através da
gerência do cuidado o enfermeiro consegue
viabilizar a assistência.
16) Acho assim, que a enfermagem tem muito para
crescer, mas tem esses detalhes. Se nós não soubermos
superar, a gerência vai acabar, ficando estagnada...
gerenciar é ter capacidade clínica... é ter conduta única,
padronizar.
Afirma que a gerência do cuidado é a ferramenta
que poderá viabilizar o crescimento da
enfermagem, juntamente com a capacidade clínica
do enfermeiro e a padronização de suas condutas.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
97
# Entrevista N
É difícil de explicar, de falar mesmo. É fácil colocar os dados. Esta semana eu avaliei uma ferida, estava sendo
usada uma determinada cobertura e... é... os técnicos estavam seguindo aquilo que o médico tinha falado. Então,
eu discuti com o médico, primeiro, o porquê ele estava usando aquilo e o que eu achava sobre aquilo. Então
vamos supor: para mim isso é gerenciar o cuidado. /
1
É você estar avaliando, poder mudar, tanto que no hospital
é difícil. De acordo com a equipe é difícil você estar mudando prescrição médica. É mais comum no Centro, no
Posto de Saúde o enfermeiro ter mais autonomia, né? Nesta parte, a gente gerencia mais o cuidado eu acho, no
cuidado mesmo, sem interferir na conduta médica, cuidado mesmo. /
2
A técnica é do técnico. É mais fácil
gerenciar o cuidado da enfermagem, mas realizado pelo técnico. Às vezes o cuidado de enfermagem é realizado
pelo técnico, mas orientado pelo médico. É mais difícil de mudar. Cuidados com medicamentos... Às vezes o
paciente não tem acesso venoso. Então, você tenta modificar para oral. Eu acredito que isso é gerenciar também.
Você está evitando de ele passar, dele sofrer mais. O estresse de puncionar um acesso. /
3
A entrevistadora solicita outros exemplos do seu dia-a-dia que caracterizem a gerência de enfermagem.
Avaliar o paciente mais de uma vez no dia, porque é um pouco mais difícil, né? Às vezes, você entra no quarto
uma vez só ou passa o dia sem ir lá. Essa semana eu voltei do almoço, entrei no quarto de um paciente que eu
achei que ele poderia estar precisando e ele estava entrando em insuficiência respiratória. Qual o próximo passo?
Pedir o acompanhante para sair. É levar o carrinho de parada, acionar o médico, chamar a fisioterapia para
aspirar, tomar as condutas necessárias. Aferir dados: pressão, pulso, checar respiração, chamar o paciente
mesmo, tentar conversar com ele. /
4
Em cada andar tem uma caixinha de exames com os pedidos. Eu olho os exames, eu olho quais os preparos
necessários para aquele exame. Por exemplo: o ultra-som do abdome é jejum. Então eu verifico se o paciente
está com bexiga cheia, está em jejum, qual que é o horário do ultra-som, é... Se tem algum exame para fazer
fora, por exemplo, que não faz aqui, ressonância. Vejo se está tudo acertado na clínica, se a ambulância está ok,
se está autorizado mesmo, né? Comunico com o paciente, confirmo com ele se ele realmente está em jejum, qual
é o preparo, se precisa de contraste ou não, que que vai acontecer com ele. /
5
Vou avaliar todos os pacientes fazendo o exame físico. /
6
A entrevistadora pergunta como é gerenciar com os funcionários.
Às vezes, quando vai chamar a atenção, ele... Ontem eu chamei a atenção de uma funcionária porque ela
esqueceu de fazer a passagem de plantão no caderno deles, de relatório. Mas ela respondeu: “Não fui eu que fiz,
não era eu a responsável”, Aí eu falei: “O trabalho não é de dupla, não é equipe?” “Ah, é!”
Às vezes eles enfrentam a gente.
/
6
A entrevistadora: “O que você faz que é gerência do cuidado? Você falou que chamou a atenção da sua
funcionária. Isso é gerenciamento do cuidado?
Silêncio...
A entrevistadora: “Mais alguma coisa?”
Coleta de informações. Por exemplo: uma pessoa tem alergia a iodo e vai fazer cirurgia. Geralmente é usado
degermante. Aí você tem que passar: “Não usar degermante porque é alérgica a iodo”.
7
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
98
# Entrevista N
Unidade de significado Unidade de significado transformada
1) É difícil de explicar, de falar mesmo. É fácil colocar os
dados. Esta semana eu avaliei uma ferida, estava sendo usada
uma determinada cobertura e... é... os técnicos estavam
seguindo aquilo que o médico tinha falado. Então, eu discuti
com o médico, primeiro, o porque ele estava usando aquilo e
o que eu achava sobre aquilo. Então vamos supor: para mim
isso é gerenciar o cuidado.
Afirma ser difícil explicar o significado de
gerência do cuidado, argumentando ser mais
fácil expor dados, como: avaliar ferida e
conduta dos técnicos. Trocar idéias com o
médico do tratamento da ferida, deixando
clara sua opinião.
2) É você estar avaliando, poder mudar, tanto que no hospital
é difícil. De acordo com a equipe é difícil você estar mudando
prescrição médica. É mais comum no Centro, no Posto de
Saúde o enfermeiro ter mais autonomia, né? Nesta parte, a
gente gerencia mais o cuidado eu acho, no cuidado mesmo,
sem interferir na conduta médica, cuidado mesmo.
Diz que gerência do cuidado é avaliar, mudar
conduta, mas afirma ser isto difícil no
hospital, em detrimento aos Centros e Postos
de Saúde, uma vez que nestes serviços o
enfermeiro possui mais autonomia,
gerenciando o cuidado, não interferindo na
conduta médica.
3) A técnica é do técnico. É mais fácil gerenciar o cuidado da
enfermagem, mas realizado pelo técnico. Às vezes o cuidado
de enfermagem é realizado pelo técnico, mas orientado pelo
médico. É mais difícil de mudar. Cuidados com
medicamentos... Às vezes o paciente não tem acesso venoso.
Então, você tenta modificar para oral. Eu acredito que isso é
gerenciar também. Você está evitando de ele passar, dele
sofrer mais. O estresse de puncionar um acesso.
Argumenta que gerência do cuidado é
gerenciar o cuidado realizado pelo técnico de
enfermagem, sendo mais difícil a gerência do
cuidado que é orientado pelo médico. Diz
que gerência do cuidado é evitar sofrimento e
estresse para o paciente.
4) Avaliar o paciente mais de uma vez no dia, porque é um
pouco mais difícil, né? Às vezes, você entra no quarto uma vez
só ou passa o dia sem ir lá. Essa semana eu voltei do almoço,
entrei no quarto de um paciente que eu achei que ele poderia
estar precisando e ele estava entrando em insuficiência
respiratória. Qual o próximo passo? Pedir o acompanhante
para sair. É levar o carrinho de parada, acionar o médico,
chamar a fisioterapia para aspirar, tomar as condutas
necessárias. Aferir dados: pressão, pulso, checar respiração,
chamar o paciente mesmo, tentar conversar com ele.
6) Vou avaliar todos os pacientes fazendo o exame físico.
Argumenta que gerência do cuidado é
realizar exame físico, avaliação do paciente
mais de uma vez ao dia, como um meio de
estar prevenindo maiores complicações.
Gerenciar todo o processo de atendimento da
intercorrência, acionando os outros
profissionais, além de realizar cuidados de
enfermagem específicos para a situação.
5) Em cada andar tem uma caixinha de exames com os
pedidos. Eu olho os exames, eu olho quais os preparos
necessários para aquele exame. Por exemplo: o ultra-som do
abdome é jejum. Então eu verifico se o paciente está com
bexiga cheia, está em jejum, qual que é o horário do ultra-
som, é... Se tem algum exame para fazer fora, por exemplo,
que não faz aqui, ressonância. Vejo se está tudo acertado na
clínica, se a ambulância está ok, se está autorizado mesmo,
né? Comunico com o paciente, confirmo com ele se ele
realmente está em jejum, qual é o preparo, se precisa de
contraste ou não, o que vai acontecer com ele...
Afirma que gerência do cuidado é estar
ciente dos exames prescritos para serem
realizados, seu preparo, a necessidade de
transporte para a sua realização, bem como
organização da parte administrativa para o
transporte e sua efetivação.
6) Às vezes, quando vai chamar a atenção, ele... Ontem eu
chamei a atenção de uma funcionária porque ela esqueceu de
fazer a passagem de plantão no caderno deles, de relatório.
Mas ela respondeu: “Não fui eu que fiz, não era eu a
responsável”. Aí eu falei: “O trabalho não é de dupla, não é
equipe?”, “Ah, é! Às vezes eles enfrentam a gente”.
Diz que gerência do cuidado é realizar
supervisão do cuidado, intervindo quando
necessário, motivando o trabalho em equipe,
estando preparado para possíveis
enfrentamentos.
7) Coleta de informações. Por exemplo: uma pessoa tem
alergia a iodo e vai fazer cirurgia. Geralmente é usado
degermante. Aí você tem que passar: “Não usar degermante
porque é alérgica a iodo”.
Argumenta que gerência do cuidado é a
coleta de informações.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
99
# Entrevista T
“Eu tive um caso agora. O paciente chegou do bloco com queixa de dor abdominal. Eu me deparo com o meu
funcionário, o do andar, funcionário da equipe de enfermagem, ligando para o plantão sem saber o que medicar,
o que fazer, não sabendo direito agir. Aí eu fui colher informações, avaliei o paciente e percebi que era uma
retenção urinária, poderia ser, ele veio de uma cirurgia que fez uma raquianestesia que pode dar uma dificuldade
de urinar mesmo
.
Comuniquei ao plantão, o plantão foi e avaliou, fez a prescrição – eles é que fazem a
prescrição de sondagem. Para mim isto é gerenciar a assistência de enfermagem. /
1
Apesar que agora eu tô
gerenciando meu tempo. Eu vim para a entrevista. Eu tive que arrumar alguém para passar a sonda. A acadêmica
que eu tô treinando está em experiência, não pode estar passando sozinha. Eu arrumei um outro enfermeiro para
poder estar passando a sonda. Então, eu acho que isso é gerenciar, mesmo estando de longe, fui, mais ou menos
coordenando a equipe pra que na hora que o próprio enfermeiro chegar pra passar a sonda, até porque não é do
andar e tudo, já esteja, mais ou menos preparado o material e o paciente não espere tanto. Então, é uma ação
pequena, mas eu acho que o gerenciamento é nessas pequenas ações. /
2
Apesar, que eu poderia ter programado
antes essa sondagem, já ter uma prescrição, ou já imaginar que aconteceria uma retenção e quando, se tivesse,
por exemplo, já não precisaria chamar o plantão pra prescrever sondagem, né? Seria uma ação mais sensata,
mais rápida. /
3
Situação de urgência e emergência acho que é mais isso. Uma parada, uma urgência, por exemplo.
È... eu fui chamada no 10º andar. Eu conhecia a paciente, apesar de pegar o plantão daqui, mas é uma coisa
muito rápida. É só pra não ficar sem o enfermeiro. O paciente fazendo crises convulsivas repetidas e evoluindo
com insuficiência respiratória, saturando 60%. Então, eu cheguei, avaliei o paciente, já pedi às funcionárias, uma
delas, para comunicar ao plantão e já fomos puxando o carrinho, ligando O
2
. /
4
Aí a gente vai delegando, porque
quanto mais pessoas trabalhando, menos o paciente sofre e... acabou tendo que entubar e aqui não tem aspirador
em todos os andares. Aí a gente vai, né? A gente anunciou o código 99. Então todo mundo aparece, mesmo não
sendo uma parada, mas era uma urgência, a gente anuncia, e aí já fui pensando. O desfibrilador tem no 11º andar,
então, a gente, mais ou menos, já sabe. Sabe que tem aspirador montado em cada expurgo, ou pelo menos nos
ímpares. Então eu falei: “Busca o do 9º”. Então a gente vai delegando. Então eu acho que isso, apesar de na
urgência, mas é um gerenciamento da assistência também. /
5
Na urgência a gente vê muita gente mandando,
muita gente, obedecendo, né? É aquele tumultuo. Tem que ter um para falar mesmo. Tinha cinco enfermeiras no
andar, cinco médicos, foi àquela situação em que chegou todo mundo, porque era durante o dia. Se fosse à noite
seria só eu mesma. Aí tem que ter uma pra ir delegando. Então, eu fiquei no maquinário, eletro, fui fazendo; liga
isso à tomada... A outra ficou na medicação, o médico pedia, ela ficou só no preparo da medicação. Então eu
acho que é isso também um gerenciamento, apesar de na urgência, tudo é muito rápido, mas foi um exemplo de
gerenciamento da assistência. /
6
A entrevistadora solicita que o entrevistado lembre momentos ou atividade que retratem o que é gerenciamento
para ela.
O caso dessa madrugada que eu trabalhei é... O hospital tá cheio, tem poucas vagas, os leitos que estavam vagos
era reserva de bloco, por exemplo. Então, enfermaria não tinha nenhuma vaga. O 6º andar que comporta 24
pacientes, acho que tinha 23 e isolamento, não podia internar. Aqui no 10º todos os leitos cheios e tinha
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
100
apartamento que era reserva de bloco e nós tivemos 9 pacientes que tinham indicação de internação no PS, além
dos tantos que foram dispensados. Fomos internando na medida do possível. Eu acho que é gerenciamento
também de enfermagem, porque eu não podia internar num apartamento que era uma reserva de bloco e eu
adiaria uma cirurgia amanhã. /
7
O paciente estava em jejum, né? Então, tem que ter esse jogo de cintura, que eu
acho que é gerenciamento também. É... internei em apartamentos pacientes que seriam enfermaria. Negociei com
a família. Falei que assim que surgisse uma vaga em enfermaria a gente transferiria, mas no momento não tinha e
era indicação de internação e a gente não conseguiu transferir para nenhum outro hospital, porque nós ligamos
antes tentando transferência e não foi possível. /
8
A partir do momento que está aqui dentro é mais difícil
conseguir uma outra vaga. Acabou que nós fomos adaptando e conseguimos internar 9 pacientes. Dois ainda
ficaram no PS, por não estarem tão graves agüentariam ficar lá, mas eram idosos. Ficaram até no dia seguinte
para ver se resolveria. Então, eu acho que foi também o planejamento do gerenciamento, até para não atrapalhar
o outro dia e, mesmo assim, a enfermeira do plantão, quando chegou às 7 horas encontrou a sala 8, que é de
urgência/emergência com os três leitos ocupados e o ideal é que o 8ª que é o primeiro leito, do carrinho de
parada, não estivesse ocupado, porque numa urgência também teria que usar aquele leito. /
9
Então, nós
contornamos, até duas enfermeiras entraram nesta negociação e ainda ficou é, uma coisa que, que acarretou para
o próximo plantão, né? Ainda ficou paciente para ser internado... mas é continuidade do plantão mesmo. Então,
eu acho que nós gerenciamos, tentamos gerenciar. /
10
Não foi da melhor maneira, eu e a enfermeira do CTI
também, era ela a responsável pelo PS, mas como lá estava cheio também eu estava revezando com ela, “Deixa
que eu fico um tempo aqui”. Porque nós é que respondemos também pelo PS à noite. Elas não têm muita noção
da rotina, da parte burocrática. A burocracia de internar, ligar para a Central de Leitos fica com a enfermeira da
noite, também, né? E aí, ela era responsável pelo PS, na escala, mas como eu ficava lá pra ela também, a gente
tava revezando e nós conseguimos internar 9 pacientes dos 12 que apareceram e 3 ainda ficaram. Acho que foi
um gerenciamento da assistência, né?
/11
É... o que mais...
A entrevistadora questiona acerca da existência de outras atividades que caracterizem o gerenciamento.
O mais difícil é receber o paciente. Avaliar e evoluir é o mais fácil. O mais difícil é a equipe, é o gerenciamento
da equipe. Eu acho que hoje, depois de formada, a responsabilidade ficou maior, a equipe pra mim já é o hospital
que eu tenho que olhar, ainda mais que eu fico até às 9 horas. Então, todo mundo vai embora às 5 horas. Então
de 5 às 9 horas eu tô “informável”. /
12
Vai chegando os enfermeiros, mas eles vão chegando e eu tento não
sobrecarregá-los tanto, para eles preocuparem com a passagem de plantão no andar onde eles estão. /
13
Então eu
fico com o PS, bloco, hemodinâmica e quando, até então eu era acadêmica, a visão de equipe pra mim era só os
dois funcionários do andar, dois do 7º, dois do 8º, eram quatro. Hoje, eu consigo ver uma turma maior, né? Então
é mais difícil! /
14
Igual ontem mesmo, todos os andares apertados, então eu tenho que ver: teve uma angiosplastia
de urgência. Nós acionamos o funcionário, ele veio. Foi feita a angioplastia de urgência. Depois ele ajudou no
PS, no CTI teve que dar esta assistência lá também. Então, gerenciar quem vai, quem fica, quem vai sair na
ambulância, acho que é... Vou tirar funcionário do 10º andar, tá apertado ou tem paciente que demanda mais
cuidado, quimioterápico. Então tem que deixar quem sabe mexer. Então, isso também eu acho que é
gerenciamento de enfermagem, né? Deixa eu ver que mais... Então voltando à equipe, então eu acho, eu vejo que
é uma turma bem, maior. /
15
Gerenciar é difícil. Quando se trabalha com ser humano, cada um tem uma
personalidade, um jeito... Então, não pode se deixar também tocar por isso, então é, eu sou de fácil
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
101
relacionamento com eles, sou bem aberta, tudo que tem pra falar e resolver aqui e ajudo demais no que tem pra
ser... /
16
Eu falo isso muito com eles: “O cliente ele tem razão, ele quer ser atendido na hora e a tempo, então não é isso:
“Eu sou a enfermeira, ele é o médico”. “Tá precisando de trocar a fralda, o técnico vai”. Então eu falo muito isso
com eles: precisou tem que ser atendido, independente de quem esteja no posto. Então tem que se saber a hora
também de delegar: “Você vai fazer isso...” Se deixar por conta também o negócio não anda, às vezes. Então, eu
acho que é isso: delegar, falar quem vai, quem fica. Acho que a gente tem que ser firme nesta hora, né? Eles
sabem que é o enfermeiro. Se deixar, ser muito boazinha, eles tomam conta. Então, eles sabem que a resposta
final é do enfermeiro. /
17
À noite então, a (nome da enfermeira), que é a gerente deu um aval muito grande pra
gente. Então no hospital, quem responde pelo hospital, à noite, é o enfermeiro, não é o médico por exemplo,
porque o médico não é funcionário daqui, ele só presta serviço. Então, isso é claro pra eles. /
18
Então uma
internação se vai pro CTI, se vai transferir pra outro CTI, eles perguntam até mesmo ao enfermeiro: perguntam
se tem vaga, mas eles pedem e escutam a opinião do enfermeiro, acho que isso é interessante. /
19
Deixa eu ver o
que mais... mas a equipe é a mais difícil de gerenciar e que eu acho que tem que ter mais habilidade, tem que ter
afinidade com o negócio pra andar a assistência mesmo. Pro paciente poder ser bem atendido, né? Eu acho que o
gerenciamento da equipe é o mais difícil. /
20
Eu acho que esse negócio de delegar é bom, não reter as obrigações, podendo ensinar, delegar... Então, aqui, por
exemplo, quem faz o eletro é o enfermeiro e tem técnico de enfermagem que fica doido encima de mim, me
vendo fazer o eletro e doido pra aprender. Aí fomos treinando, botei um em cada andar que faz eletro. Então, na
urgência, sei que posso contar com fulano, com cicrano. “Faz o eletro pra mim correndo”; “Vai ajudando a
ligar”. Então eles se sentem úteis para fazer o eletro. Aí quando outros querem aprender, aí muda porque: “Ah,
porque não posso fazer, né?” Podendo delegar, podendo ensinar... aí eu assino embaixo, porque é o enfermeiro
que tem que assinar. /
21
Então, passagem de uma sonda, a sonda naso, as vesicais, ainda por causa da técnica asséptica, a CCIH pede que
seja o enfermeiro, até pra... e diminuiu muito a infecção, mas a nasoentérica, nasogástrica eles mesmos, o mesmo
funcionário aqui, passa uma de dia e à noite não pode passar. Então já tem um ou outro que tá passando a sonda.
Eu “tando” do lado, eu respondo. Então, gerenciar eu acho que também é você ensinar, estar capacitando a ele e
assinando embaixo. Porque tudo o que ele faz, mesmo sendo deles, o enfermeiro assina também embaixo. Então,
entra medicamento... Então eu acho que é um exemplo de gerenciamento de enfermagem. /
22
Outro exemplo de
gerenciamento é que o funcionário, às vezes, tá fazendo horário de descanso, já passou de horário de descanso
dele. A uma hora a gente preserva. Então passou do horário de descanso, um andar tá apertado... Eu já cansei de
bater na porta, acordar o funcionário e falar para ajudar quem está apertado: “Tem uma fralda para trocar, me
ajuda numa passagem de sonda...” Alguma coisa ou emergência, não tem nem que ver, né? Então eles ficam
bravos, você vê que não gostam, não comentam nada porque sabem que eles estão errados, mas acaba que eles
cutucam o enfermeiro. /
23
Eu era até acadêmica, a enfermeira estava com duas acadêmicas no andar, quando
estava apertado e eles sabiam que era eu, por exemplo e a enfermeira, por sorte, com quem eu trabalhava, era
bem enérgica. Tudo que eu sei, aprendi com ela, e então... eles faziam uma hora mesmo e já voltavam pro posto,
sabe? Pra não ter... eles já iam acostumando. E o mesmo funcionário, em outra ocasião, com outro enfermeiro,
mesmo acadêmico...
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
102
Às vezes o enfermeiro desce o acadêmico, não tem tanto pulso... eles abusam um pouquinho, né? Então eles
sabendo que era o plantão nosso, por exemplo, eles já não deitavam... /
24
É também um exemplo de
gerenciamento: você vê que tá apertado, prioriza pra outro andar, ele não é fixo pro andar do 7º, ele é funcionário
do hospital. Ele vai ter que descer, tem cirurgia de urgência no bloco, vai ter que ajudar a limpar a sala, então é
funcionário do hospital. Isso aí a gente deixa bem claro pra eles. Então sempre que tá precisando... Eu acho que é
um exemplo de gerenciamento. É estar colocando funcionário no andar que precisa... /
25
# Entrevista T
Unidade de significado Unidade de significado transformada
1) Eu tive um caso agora. O paciente chegou do bloco com queixa
de dor abdominal. Eu me deparo com o meu funcionário, o do
andar, funcionário da equipe de enfermagem, ligando para o
plantão sem saber o que medicar, o que fazer, não sabendo direito
agir. Aí eu fui colher informações, avaliei o paciente e percebi que
era uma retenção urinária, poderia ser, ele veio de uma cirurgia
que fez uma raquianestesia que pode dar uma dificuldade de
urinar mesmo
.
Comuniquei ao plantão, o plantão foi e avaliou, fez
a prescrição – eles é que fazem a prescrição de sondagem. Para
mim isto é gerenciar a assistência de enfermagem.
Diz que gerência do cuidado é realizar
avaliação física do paciente, antes de
acionar o plantão médico, embasando a
sua conduta.
2) Apesar que agora eu tô gerenciando meu tempo. Eu vim para a
entrevista. Eu tive que arrumar alguém para passar a sonda. A
acadêmica que eu tô treinando está em experiência, não pode
estar passando sozinha. Eu arrumei um outro enfermeiro para
poder estar passando a sonda. Então, eu acho que isso é
gerenciar, mesmo estando de longe, fui, mais ou menos
coordenando a equipe pra que na hora que o próprio enfermeiro
chegar pra passar a sonda, até porque não é do andar e tudo, já
esteja, mais ou menos preparado o material e o paciente não
espere tanto. Então, é uma ação pequena, mas eu acho que o
gerenciamento é nessas pequenas ações.
Argumenta que gerência do cuidado é
gerenciar o tempo, além de garantir
assistência segura com pessoal apto ao
cuidado, não sendo necessária a
atuação direta, podendo-se utilizar a
previsão e provisão.
3) Apesar, que eu poderia ter programado antes essa sondagem,
já ter uma prescrição, ou já imaginar que aconteceria uma
retenção e quando, se tivesse, por exemplo, já não precisaria
chamar o plantão pra prescrever sondagem, né? Seria uma ação
mais sensata, mais rápida.
Diz que a gerência do cuidado é prever
as possíveis necessidades otimizando a
assistência.
4) Situação de urgência e emergência acho que é mais isso. Uma
parada, uma urgência, por exemplo. É... eu fui chamada no 10º
andar. Eu conhecia a paciente, apesar de pegar o plantão daqui,
mas é uma coisa muito rápida. É só pra não ficar sem o
enfermeiro. O paciente fazendo crises convulsivas repetidas e
evoluindo com insuficiência respiratória, saturando 60%. Então,
eu cheguei, avaliei o paciente, já pedi às funcionárias, uma delas,
para comunicar ao plantão e já fomos puxando o carrinho,
ligando O
2
.
Afirma que gerência do cuidado é
conhecer, mesmo que superficialmente
o cliente, garantindo a otimização da
assistência.
5) Aí a gente vai delegando, porque quanto mais pessoas
trabalhando, menos o paciente sofre e... acabou tendo que entubar
e aqui não tem aspirador em todos os andares. Aí a gente vai, né?
A gente anunciou o código 99. Então todo mundo aparece, mesmo
não sendo uma parada, mas era uma urgência, a gente anuncia, e
aí já fui pensando. O desfibrilador tem no 11º andar, então, a
gente, mais ou menos, já sabe. Sabe que tem aspirador montado
em cada expurgo, ou pelo menos nos ímpares. Então eu falei:
“Busca o do 9º ”. Então a gente vai delegando. Então eu acho que
isso, apesar de na urgência, mas é um gerenciamento da
Afirma que o número de pessoas
envolvidas na assistência pode reduzir
o sofrimento do paciente, agilizando ou
dificultando a assistência; que a
previsão, a liderança, a capacidade de
delegar são formas de gerenciamento
da assistência de enfermagem.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
103
assistência também.
6) Na urgência a gente vê muita gente mandando, muita gente,
obedecendo, né? É aquele tumultuo. Tem que ter um para falar
mesmo. Tinha cinco enfermeiras no andar, cinco médicos, foi
àquela situação em que chegou todo mundo, porque era durante o
dia. Se fosse à noite seria só eu mesma. Aí tem que ter uma pra ir
delegando. Então, eu fiquei no maquinário, eletro, fui fazendo;
liga isso à tomada... A outra ficou na medicação, o médico pedia,
ela ficou só no preparo da medicação. Então eu acho que é isso
também um gerenciamento, apesar de na urgência, tudo é muito
rápido, mas foi um exemplo de gerenciamento da assistência.
7) O caso dessa madrugada que eu trabalhei é... O hospital tá
cheio, tem poucas vagas, os leitos que estavam vagos era reserva
de bloco, por exemplo. Então, enfermaria não tinha nenhuma
vaga. O 6º andar que comporta 24 pacientes, acho que tinha 23 e
isolamento, não podia internar. Aqui no 10º todos os leitos cheios
e tinha apartamento que era reserva de bloco e nós tivemos 9
pacientes que tinham indicação de internação no PS, além dos
tantos que foram dispensados. Fomos internando na medida do
possível. Eu acho que é gerenciamento também de enfermagem,
porque eu não podia internar num apartamento que era uma
reserva de bloco e eu adiaria uma cirurgia amanhã.
Afirma que gerenciar o cuidado é
garantir atendimento às necessidades da
demanda espontânea, sempre que
possível, não colocando em risco e
garantindo a assistência de clientes já
admitidos.
8) O paciente estava em jejum, né? Então, tem que ter esse jogo
de cintura, que eu acho que é gerenciamento também. É... internei
em apartamentos pacientes que seriam enfermaria. Negociei com
a família. Falei que assim que surgisse uma vaga em enfermaria a
gente transferiria, mas no momento não tinha e era indicação de
internação e a gente não conseguiu transferir para nenhum outro
hospital, porque nós ligamos antes tentando transferência e não
foi possível.
9) A partir do momento que está aqui dentro é mais difícil
conseguir uma outra vaga. Acabou que nós fomos adaptando e
conseguimos internar 9 pacientes. Dois ainda ficaram no PS, por
não estarem tão graves agüentariam ficar lá, mas eram idosos.
Ficaram até no dia seguinte para ver se resolveria. Então, eu
acho que foi também o planejamento do gerenciamento, até para
não atrapalhar o outro dia e, mesmo assim, a enfermeira do
plantão, quando chegou às 7 horas encontrou a sala 8, que é de
urgência/emergência com os três leitos ocupados e o ideal é que o
8ª que é o primeiro leito, do carrinho de parada, não estivesse
ocupado, porque numa urgência também teria que usar aquele
leito.
Diz que gerência do cuidado é ter jogo
de cintura na prestação da assistência e
capacidade de adaptação.
10) Então, nós contornamos, até duas enfermeiras entraram nesta
negociação e ainda ficou é, uma coisa que, que acarretou para o
próximo plantão, né? Ainda ficou paciente para ser internado...
mas é continuidade do plantão mesmo. Então, eu acho que nós
gerenciamos, tentamos gerenciar.
Argumenta que gerência do cuidado é
dar continuidade ao plantão.
11) Não foi da melhor maneira, eu e a enfermeira do CTI também,
era ela a responsável pelo PS, mas como lá estava cheio também
eu estava revezando com ela.“Deixa que eu fico um tempo aqui”.
Porque nós é que respondemos também pelo PS à noite. Elas não
têm muita noção da rotina, da parte burocrática. A burocracia de
internar, ligar para a Central de Leitos fica com a enfermeira da
noite, também, né? E aí, ela era responsável pelo PS, na escala,
mas como eu ficava lá pra ela também, a gente tava revezando e
nós conseguimos internar 9 pacientes dos 12 que apareceram e 3
ainda ficaram. Acho que foi um gerenciamento da assistência, né?
13) Vai chegando os enfermeiros, mas eles vão chegando e eu
tento não sobrecarregá-los tanto, para eles preocuparem com a
passagem de plantão no andar onde eles estão.
Diz que gerenciar o cuidado é trabalhar
em equipe com o seu par
compreendendo suas limitações
operacionais e reconhecendo a
necessidade da sua atuação no
gerenciamento da assistência.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
104
12) O mais difícil é receber o paciente. Avaliar e evoluir é o mais
fácil. O mais difícil é a equipe, é o gerenciamento da equipe. Eu
acho que hoje, depois de formada, a responsabilidade ficou
maior, a equipe pra mim já é o hospital que eu tenho que olhar,
ainda mais que eu fico até às 9 horas. Então, todo mundo vai
embora às 5 horas. Então de 5 às 9 horas eu tô “informável”.
14) Então eu fico com o PS, bloco, hemodinâmica e quando, até
então eu era acadêmica, a visão de equipe pra mim era só os dois
funcionários do andar, dois do 7º, dois do 8º, eram quatro. Hoje,
eu consigo ver uma turma maior, né? Então é mais difícil!
Afirma que gerenciar o cuidado é,
avaliar e evoluir o paciente, além de
recebê-lo e gerenciar a equipe de
enfermagem, sendo hoje, os dois
últimos os mais difíceis, em razão da
transição de acadêmica para
enfermeira, ampliando sua visão de
equipe de andar para hospital.
15) Igual ontem mesmo, todos os andares apertados, então eu
tenho que ver: teve uma angioplastia de urgência. Nós acionamos
o funcionário, ele veio. Foi feita a angioplastia de urgência.
Depois ele ajudou no PS, no CTI teve que dar esta assistência lá
também. Então, gerenciar quem vai, quem fica, quem vai sair na
ambulância, acho que é... Vou tirar funcionário do 10º andar, tá
apertado ou tem paciente que demanda mais cuidado,
quimioterápico. Então tem que deixar quem sabe mexer. Então,
isso também eu acho que é gerenciamento de enfermagem, né?
Deixa eu ver que mais... Então voltando à equipe, então eu acho,
eu vejo que é uma turma bem, maior.
Afirma que gerenciar o cuidado é ter
capacidade de prever e prover a
adequação da escala de funcionários
utilizando-se dos mecanismos
institucionais e visão assistencial.
16) Gerenciar é difícil. Quando se trabalha com ser humano, cada
um tem uma personalidade, um jeito... Então, não pode se deixar
também tocar por isso, então é, eu sou de fácil relacionamento
com eles, sou bem aberta, tudo que tem pra falar e resolver aqui e
ajudo demais no que tem pra ser...
Afirma que gerência do cuidado é saber
trabalhar com recursos humanos, sendo
imparcial nas decisões estabelecendo
um relacionamento aberto e franco.
17) Eu falo isso muito com eles: “O cliente ele tem razão, ele quer
ser atendido na hora e a tempo”, então não é isso: “Eu sou a
enfermeira, ele é o médico”. “Tá precisando de trocar a fralda, o
técnico vai”. Então eu falo muito isso com eles: precisou tem que
ser atendido, independente de quem esteja no posto. Então tem
que se saber a hora também de delegar: “Você vai fazer isso...”
Se deixar por conta também o negócio não anda, às vezes. Então,
eu acho que é isso: delegar, falar quem vai, quem fica. Acho que a
gente tem que ser firme nesta hora, né? Eles sabem que é o
enfermeiro. Se deixar, ser muito boazinha, eles tomam conta.
Então, eles sabem que a resposta final é do enfermeiro.
21) Eu acho que esse negócio de delegar é bom, não reter as
obrigações, podendo ensinar, delegar... Então, aqui, por exemplo,
quem faz o eletro é o enfermeiro e tem técnico de enfermagem que
fica doido encima de mim, me vendo fazer o eletro e doido pra
aprender. Aí fomos treinando, botei um em cada andar que faz
eletro. Então, na urgência, sei que posso contar com fulano, com
cicrano. “Faz o eletro pra mim correndo”; “Vai ajudando a
ligar”. Então eles se sentem úteis para fazer o eletro. Aí quando
outros querem aprender, aí muda porque: “Ah, porque não posso
fazer, né?”. Podendo delegar, podendo ensinar... aí eu assino
embaixo, porque é o enfermeiro que tem que assinar.
22) Então, passagem de uma sonda, a sonda naso, as vesicais,
ainda por causa da técnica asséptica, a CCIH pede que seja o
enfermeiro, até pra... e diminuiu muito a infecção, mas a
nasoentérica, nasogástrica eles mesmos, o mesmo funcionário
aqui, passa uma de dia e à noite não pode passar. Então já tem
um ou outro que tá passando a sonda. Eu “tando” do lado, eu
repondo. Então, gerenciar eu acho que também é você ensinar,
estar capacitando a ele e assinando embaixo. Porque tudo o que
ele faz, mesmo sendo deles, o enfermeiro assina também embaixo.
Então, entra medicamento... Então eu acho que é um exemplo de
gerenciamento de enfermagem.
Ressalta que gerência do cuidado é ter
a capacidade de estabelecer como foco
da equipe, de saúde, o cliente, deixando
claro que a relação é necessidade do
cliente-equipe de saúde e não
necessidade do cliente-profissional de
saúde. Enfatiza, ainda que, delegar,
estabelecendo supervisão direta ou
indireta, conforme a necessidade é uma
ferramenta para a otimização e
viabilização da assistência,
aprimoramento técnico e melhora da
auto-estima da equipe, além de uma
forma de se estabelecer hierarquia.
18) À noite então, a (nome da enfermeira), que é a gerente deu um Alega que gerenciar o cuidado é
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
105
aval muito grande pra gente. Então no hospital, quem responde
pelo hospital, à noite, é o enfermeiro, não é o médico por
exemplo, porque o médico não é funcionário daqui, ele só presta
serviço. Então, isso é claro pra eles.
19) Então uma internação se vai pro CTI, se vai transferir pra
outro CTI, eles perguntam até mesmo ao enfermeiro: perguntam
se tem vaga, mas eles pedem e escutam a opinião do enfermeiro,
acho que isso é interessante.
responder pelo hospital à noite, sendo
necessário um grande aval da gerência
do serviço para isto, além de postura
técnica-profissional.
24) Eu era até acadêmica, a enfermeira estava com duas
acadêmicas no andar, quando estava apertado e eles sabiam que
era eu, por exemplo e a enfermeira, por sorte, com quem eu
trabalhava, era bem enérgica. Tudo que eu sei, aprendi com ela, e
então... eles faziam uma hora mesmo e já voltavam pro posto,
sabe? Pra não ter... eles já iam acostumando. E o mesmo
funcionário, em outra ocasião, com outro enfermeiro, mesmo
acadêmico... Às vezes o enfermeiro desce o acadêmico, não tem
tanto pulso... eles abusam um pouquinho, né? Então eles sabendo
que era o plantão nosso, por exemplo, eles já não deitavam...
25) É também um exemplo de gerenciamento: você vê que tá
apertado, prioriza pra outro andar, ele não é fixo pro andar do 7º,
ele é funcionário do hospital. Ele vai ter que descer, tem cirurgia
de urgência no bloco, vai ter que ajudar a limpar a sala, então é
funcionário do hospital. Isso aí a gente deixa bem claro pra eles.
Então sempre que tá precisando... Eu acho que é um exemplo de
gerenciamento. É estar colocando funcionário no andar que
precisa...
Ressalta que gerência do cuidado é
realizar remanejamento de funcionários
de acordo com a necessidade do setor,
bem como seu recrutamento para
prestação da assistência.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
106
# Entrevista “I”
A gerência em si do plantão já envolve a gerência do cuidado. Eu cheguei aqui, a gente olha se os funcionários
estão presentes, se precisa remanejar alguém, se precisa pedir ajuda em outro setor, dependendo se tiver, né? O
hospital mais cheio, a gente costuma, a gente à noite tem o costume, a gente já direciona esta pessoa pro andar
que tá mais tumultuado, que tem mais paciente dependente. Eu acho que isso tudo ajuda o funcionário e
ajudando o funcionário, a gente tá ajudando o paciente, né? /
1
O cuidado... É... igual eu falei; saber se tem algum
paciente mais grave que você já tá orientado pra saber onde pode te chamar, pode ter uma urgência... Isso
durante a noite te chamam pra várias intercorrências, pelo menos te situa onde pode ter uma coisa mais grave e
no período da noite passar pra ver se... como é que tá o paciente, dar uma avaliada, é... corrida de leito eu acho
que é. A gente não passa um plantão, pelo menos eu não me sinto segura de passar o plantão sem ter avaliado o
paciente. /
2
Então, assim, no período da noite eu tento agilizar a passagem de plantão, já confiro todo mundo, se
tá todo mundo ok pra começar a corrida de leito cedo, pra ter oportunidade de conversar com todo mundo,
porque chega 22 horas já tá todo mundo dormindo, a maioria dos pacientes. /
3
Então assim, é... Como a gente vem aqui à noite duas vezes, você tendo a rotina de todo dia, às vezes você sabe
aquele paciente que dorme mais tarde, então você sabe que pode passar lá um pouco mais tarde. Às vezes, o
paciente acamado que não tem muito é mais, é... comatoso, você sabe que pode passar lá um pouco mais tarde
que não vai tá interferindo. Pode atrapalhar a pessoa que tá acompanhando, mas a gente não vai ser tanto
incômodo, não vai ter que acordá-lo, né? /
4
Então, assim, a primeira coisa que faço é tentar fazer a corrida de
leito, mas no meio tempo sempre tem alguma coisa. Checar alguma medicação que o funcionário tem dúvida,
algum exame que tem que fazer nesse meio tempo, um eletro... Estar orientando os pacientes sobre coleta de
exame, uma coisa assim de urgência. /
5
É acho assim, você avaliar à medida que vai fazendo a corrida de leito,
você avalia se teve uma piora de quadro do paciente, estar passando isso para o médico. Eu acho que é um
gerenciamento do cuidado... /
6
É... a gente à noite tem um pouco de dificuldade igual eu falei. Infelizmente a
gente fica um pouco na correria. E querendo ou não, o termo que o pessoal usa “apaga muito fogo”. Não dá
tempo de voltar e procurar o que você pode tá, tá melhorando a assistência. Acho que o tempo é muito corrido, a
gente fica assim, um tempo muito pequeno que é igual eu falei, é duas vezes, você não fica tanto no cotidiano
pra tá pegando alguma coisa de... sei lá, coisa mínima que possa estar dando algum problema e que você possa
melhorar. Eu acho que a noite é mais difícil. /
7
Você vai poder fazer isso com o funcionário. Às vezes, um
funcionário que tá relacionando bem um com o outro, isso você pode analisar. Agora, acho que coisas de rotina
mesmo é muito... só alguma coisa que se destaca muito que a gente pode tá... que a gente tem tempo de tá
analisando e tentando mudar, né? Sendo pontual e mudar. Acho que a gente fica mais com a parte de pessoas em
relação de trazer melhorias para o hospital. É... acompanhar os acadêmicos... /
8
À noite é meio corrido também.
A gente dá uma atenção maior quando a gente começa, mas à medida que vai pegando a rotina, eles também, às
vezes, querem ficar mais independentes. Então, assim, na medida do possível a gente vai dando assistência, vai
vendo se tem alguma coisa, mas é meio corrido também essa parte. Eu acho que o tempo, é igual eu falei, o
tempo é curto pra chegar e avaliar... /
9
Eu acho assim, a minha prioridade é essa: avaliar os pacientes. Porque assim, o seu plantão você vai tá passando
como que o paciente ficou durante a noite. Acho que a prioridade são as intercorrências com o paciente. /
10
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
107
Depois você vai olhando papeleta. Acho que é uma coisa importante da gente tá conferindo papeleta, porque a
gente evita muito erro de funcionário, erro de medicação, nos andares que eu estou em contato. A gente divide
dois andares para o enfermeiro e dois andares para cada acadêmico. Então, a gente já tem essa rotina: a gente faz
corrida de leito, abre a folha de passagem de plantão, evolui todos os pacientes e confere a papeleta. Então assim,
eu acho que isso é uma coisa benéfica tanto pro paciente, quanto pro funcionário. Você ver o erro antes que ele
aconteça. Às vezes, uma medicação colocou o horário errado, ou esqueceu de colocar o horário... Eu acho que
isso, apesar que às vezes nem sempre dá tempo da gente fazer essa conferência, acho que isso é importante. /
11
É... tá olhando erro de funcionário... Eu tento assim, na medida do possível, chamar a atenção na hora que a
coisa acontece, tanto do lado negativo, como do lado positivo. Eu tento... eu acho que a gente tem que chamar a
atenção na hora que a coisa tá acontecendo. É, acho que é mais prático, acho que o funcionário não vai esquecer
porque tá acontecendo ali, na hora e acho também importante tá parabenizando alguma coisa de bom que fez, na
medida do possível é... sempre tá... alguma coisa que eles possam fazer e tá ajudando a eles. /
12
Por exemplo,
tirar um acesso central. Às vezes, eles ficam morrendo de medo, mas “vem cá acompanhar comigo, você vai
tirar, tal, eu vou te acompanhar”. Eles acham que é uma coisa do outro mundo, fica tão assim... Acho que na
medida do possível, mostrar que você confia no trabalho que ele tem,... eu acho que isso também... /
13
A entrevistadora questiona como a enfermeira trabalha, como gerencia o cuidado, nos outros andares, que
também são de sua responsabilidade, não ficando neles.
É igual eu falei, a gente tenta saber aonde tem paciente grave, quem tá avaliando é o acadêmico, mas na medida
do possível a gente, eu tento passar nos andares, converso direto com os funcionários: “Tá precisando de alguma
coisa, tem alguma coisa que vocês querem me passar?” Mas geralmente isso é mais tarde, por volta de meia
noite. Nem sempre dá tempo de fazer isso também não. Às vezes é só pelo telefone, na hora que as meninas vêm
descansar: “Ficou alguma pendência nos seus andares, alguma coisa que eu posso estar resolvendo?” Então elas
me passam: “Teve intercorrência com tal, tal, tal paciente nesse período da noite...”
Então, assim, eu sempre olho com elas o que elas podem estar me passando e fora é... os funcionários chamam
bastante. Na medida do possível, eles passam para o acadêmico, a gente cobra isso deles, pra ter o acadêmico
como referência. Eles têm uma maior segurança de tá ligando pra gente. Mas a gente pede pra passar pro
acadêmico primeiro, né? E depois estar passando pra gente, que ele é o responsável pelo andar também. A gente
é o responsável geral, mas ele tá ali respondendo também pelo andar. /
14
É... durante a noite, costuma a gente
ser responsável também pela CME, bloco, mas geralmente esses andares não chamam muito. Pronto socorro a
gente divide com a enfermeira do CTI, mas ele chama mesmo pra passar uma sonda, é... quando tem um quadro
mais grave, uma parada que o paciente tem que ir para o CTI, então eles chamam a gente. /
15
É... à noite a gente
tenta resolver todas as intercorrências do plantão, mas a gente sabe que, às vezes, não dá pra resolver tudo,
aquele negócio: a enfermagem é uma continuidade. Então, assim, na medida do possível tudo que dá pra gente
resolver no plantão a gente resolve. À noite, igual eu falei, o número de funcionários é menor, a gente tem que
ter um jogo de cintura, porque o pessoal da internação te liga, algum problema de copa eles te chamam também,
então assim, você fica como referência. Então acaba que você não tem que resolver só do seu andar; é do
hospital inteiro. /
16
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
108
# Entrevista I
Unidade de significado Unidade de significado transformada
1) A gerência em si do plantão já envolve a gerência do cuidado.
Eu cheguei aqui, a gente olha se os funcionários estão presentes,
se precisa remanejar alguém, se precisa pedir ajuda em outro
setor, dependendo se tiver, né? O hospital mais cheio, a gente
costuma, a gente à noite tem o costume, a gente já direciona esta
pessoa pro andar que tá mais tumultuado, que tem mais paciente
dependente. Eu acho que isso tudo ajuda o funcionário e ajudando
o funcionário, a gente tá ajudando o paciente, né?.
Afirma que gerenciar o cuidado é
gerenciar o quantitativo de pessoal, sua
distribuição baseada na necessidade do
setor, auxiliando no desempenho do
funcionário, conseqüentemente
ajudando ao paciente.
2) O cuidado... É... igual eu falei; saber se tem algum paciente
mais grave que você já tá orientado pra saber onde pode te
chamar, pode ter uma urgência... Isso durante a noite te chamam
pra várias intercorrências, pelo menos te situa onde pode ter uma
coisa mais grave e no período da noite passar pra ver se... como é
que tá o paciente, dar uma avaliada, é... corrida de leito eu acho
que é. A gente não passa um plantão, pelo menos eu não me sinto
segura de passar o plantão sem ter avaliado o paciente.
10) Eu acho assim, a minha prioridade é essa: avaliar os
pacientes. Porque assim, o seu plantão você vai tá passando como
que o paciente ficou durante a noite. Acho que a prioridade são as
intercorrências com o paciente.
Diz que gerência do cuidado é conhecer
o quadro do cliente, através da corrida
de leito e da avaliação, para ter subsídio
na assistência em uma eventual
intercorrência, estando situado no
contexto, subsidiando a passagem de
plantão.
3) Então, assim, no período da noite eu tento agilizar a passagem
de plantão, já confiro todo mundo, se tá todo mundo ok pra
começar a corrida de leito cedo, pra ter oportunidade de
conversar com todo mundo, porque chega 22 horas já tá todo
mundo dormindo, a maioria dos pacientes.
4) Então assim, é... Como a gente vem aqui à noite duas vezes,
você tendo a rotina de todo dia, às vezes você sabe aquele
paciente que dorme mais tarde, então você sabe que pode passar
lá um pouco mais tarde. Às vezes, o paciente acamado que não
tem muito é mais, é... comatoso, você sabe que pode passar lá um
pouco mais tarde que não vai tá interferindo. Pode atrapalhar a
pessoa que tá acompanhando, mas a gente não vai ser tanto
incômodo, não vai ter que acordá-lo, né?
5) Então, assim, a primeira coisa que faço é tentar fazer a corrida
de leito, mas no meio tempo sempre tem alguma coisa, checar
alguma medicação que o funcionário tem dúvida, algum exame
que tem que fazer nesse meio tempo, um eletro... Estar orientando
os pacientes sobre coleta de exame, uma coisa assim de urgência.
6) É acho assim, você avaliar à medida que vai fazendo a corrida
de leito, você avalia se teve uma piora de quadro do paciente,
estar passando isso para o médico. Eu acho que é um
gerenciamento do cuidado...
Argumenta que gerência do cuidado é
realizar corrida de leito focada no
cliente, embasada num conhecimento
prévio destes, para fundamentar o
planejamento e efetivação das visitas,
correndo contra o tempo e
paralelamente a fatores diversos que
desviam do foco.
Diz que gerência do cuidado é realizar
avaliação clínica durante a corrida de
leito para fundamentar a passagem do
caso para o médico.
7) É... a gente à noite tem um pouco de dificuldade igual eu falei.
Infelizmente a gente fica um pouco na correria. E querendo ou
não, o termo que o pessoal usa “apaga muito fogo”. Não dá
tempo de voltar e procurar o que você pode tá, tá melhorando a
assistência. Acho que o tempo é muito corrido, a gente fica assim,
um tempo muito pequeno que é igual eu falei, é duas vezes, você
não fica tanto no cotidiano pra tá pegando alguma coisa de... sei
lá, coisa mínima que possa estar dando algum problema e que
você possa melhorar. Eu acho que a noite é mais difícil.
Alega que gerência do cuidado no
período noturno é um “apagar
incêndio” constante, em conseqüência
da falta de tempo, da não vivência do
cotidiano, gerando descontinuidade na
assistência.
8) Você vai poder fazer isso com o funcionário. Às vezes, um
funcionário que tá relacionando bem um com o outro, isso você
pode analisar. Agora, acho que coisas de rotina mesmo é muito...
só alguma coisa que se destaca muito que a gente pode tá... que a
gente tem tempo de tá analisando e tentando mudar, né? Sendo
pontual e mudar. Acho que a gente fica mais com a parte de
Afirma que a gerência do cuidado
implica no trabalho de melhoria do
relacionamento intra e extra equipe de
enfermagem, no que tange ao plantão
noturno, por ser mais pontual a
atuação; a promoção de sua
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
109
pessoas em relação de trazer melhorias para o hospital. É...
acompanhar os acadêmicos...
9) À noite é meio corrido também. A gente dá uma atenção maior
quando a gente começa, mas à medida que vai pegando a rotina,
eles também, às vezes, querem ficar mais independentes. Então,
assim, na medida do possível a gente vai dando assistência, vai
vendo se tem alguma coisa, mas é meio corrido também essa
parte. Eu acho que o tempo, é igual eu falei, o tempo é curto pra
chegar e avaliar...
independência na prestação da
assistência, além do trabalho de
acompanhamento dos acadêmicos de
enfermagem.
11) Depois você vai olhando papeleta. Acho que é uma coisa
importante da gente tá conferindo papeleta, porque a gente evita
muito erro de funcionário, erro de medicação, nos andares que eu
estou em contato. A gente divide dois andares para o enfermeiro e
dois andares para cada acadêmico. Então, a gente já tem essa
rotina: a gente faz corrida de leito, abre a folha de passagem de
plantão, evolui todos os pacientes e confere a papeleta. Então
assim, eu acho que isso é uma coisa benéfica tanto pro paciente,
quanto pro funcionário. Você ver o erro antes que ele aconteça.
Às vezes, uma medicação colocou o horário errado, ou esqueceu
de colocar o horário... Eu acho que isso, apesar que às vezes nem
sempre dá tempo da gente fazer essa conferência, acho que isso é
importante.
1) É... tá olhando erro de funcionário... Eu tento assim, na medida
do possível, chamar a atenção na hora que a coisa acontece, tanto
do lado negativo, como do lado positivo. Eu tento... eu acho que a
gente tem que chamar a atenção na hora que a coisa tá
acontecendo. É, acho que é mais prático, acho que o funcionário
não vai esquecer porque tá acontecendo ali, na hora e acho
também importante tá parabenizando alguma coisa de bom que
fez, na medida do possível é... sempre tá... alguma coisa que eles
possam fazer e tá ajudando a eles.
Afirma que gerência do cuidado é
realizar a conferência e checagem dos
impressos utilizados pela enfermagem,
bem como a revisão de suas anotações,
alegando ser benéfico para o
funcionário e cliente, minimizando e
impedindo possíveis erros, sendo muito
importante para a educação em serviço,
tanto no aperfeiçoamento, quanto no
reforço de atitudes e posturas
adequadas.
13) Por exemplo, tirar um acesso central. Às vezes, eles ficam
morrendo de medo, mas “vem cá acompanhar comigo, você vai
tirar, tal, eu vou te acompanhar”. Eles acham que é uma coisa do
outro mundo, fica tão assim... Acho que na medida do possível,
mostrar que você confia no trabalho que ele tem,... eu acho que
isso também...
Alega que gerência do cuidado é
acompanhar a equipe de enfermagem
nos procedimentos que lhe trazem
insegurança, utilizando-se destes
momentos para o aprimoramento da
equipe e demonstração de confiança.
14) É igual eu falei, a gente tenta saber aonde tem paciente grave,
quem tá avaliando é o acadêmico, mas na medida do possível a
gente, eu tento passar nos andares, converso direto com os
funcionários: “Tá precisando de alguma coisa, tem alguma coisa
que vocês querem me passar?” Mas geralmente isso é mais tarde,
por volta de meia noite. Nem sempre dá tempo de fazer isso
também não. Às vezes é só pelo telefone, na hora que as meninas
vêm descansar: “Ficou alguma pendência nos seus andares,
alguma coisa que eu posso estar resolvendo?” Então elas me
passam: “Teve intercorrência com tal, tal, tal paciente nesse
período da noite...” Então, assim, eu sempre olho com elas o que
elas podem estar me passando e fora é... os funcionários chamam
bastante. Na medida do possível, eles passam para o acadêmico, a
gente cobra isso deles, pra ter o acadêmico como referência. Eles
têm uma maior segurança de tá ligando pra gente. Mas a gente
pede pra passar pro acadêmico primeiro, né? E depois estar
passando pra gente, que ele é o responsável pelo andar também. A
gente é o responsável geral, mas ele tá ali respondendo também
pelo andar.
Diz que gerência do cuidado é dar
suporte aos acadêmicos, que assumiram
a assistência nos andares, através do
compartilhamento e suporte aos
problemas vivenciados por eles.
15) É... durante a noite, costuma a gente ser responsável também
pela CME, bloco, mas geralmente esses andares não chamam
muito. Pronto socorro a gente divide com a enfermeira do CTI,
mas ele chama mesmo pra passar uma sonda, é... quando tem um
Relata que gerenciar o cuidado é dar
suporte a setores de apoio, além de ser
apoio técnico em setores que se é co-
responsável.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
110
quadro mais grave, uma parada que o paciente tem que ir para o
CTI, então eles chamam a gente.
16) É... à noite a gente tenta resolver todas as intercorrências do
plantão, mas a gente sabe que, às vezes, não dá pra resolver tudo,
aquele negócio: a enfermagem é uma continuidade. Então, assim,
na medida do possível tudo que dá pra gente resolver no plantão a
gente resolve. À noite, igual eu falei, o número de funcionários é
menor, a gente tem que ter um jogo de cintura, porque o pessoal
da internação te liga, algum problema de copa eles te chamam
também, então assim, você fica como referência. Então acaba que
você não tem que resolver só do seu andar; é do hospital inteiro.
Ressalta que gerência do cuidado
implica na continuidade da assistência
pelos plantões que se seguem com uma
visão ampla do hospital
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
111
# Entrevista D
Eu considero gerência do cuidado não só a assistência, mas no caso tem essa parte administrativa que começa,
no meu plantão na checagem da prescrição pros funcionários, na folhinha que a gente tem, de checar quais os
funcionários que chegaram em cada andar. Então eu começo aí com a gerência do cuidado, ligando para todos os
andares para ver se os funcionários chegaram e aí se algum faltou a gente costuma mandar um funcionário do
andar mais tranqüilo para outro ou até mesmo um outro que vem de casa. Então começa aí.
Na hora que nós
conferimos o livro dos funcionários presentes, a gente abre o livro administrativo, liga para o PS, pronto socorro,
para saber se os funcionários chegaram, do bloco também a gente confere. A gerência do cuidado começa aí, do
funcionário. /
1
Aí, começa a parte assistencial mesmo. A gente passa pelo PS, eu passo em todas as salas pra ver
qual diagnóstico, qual o paciente mais grave. Aqui no pronto socorro a cada quinze dias é a enfermeira da
unidade, a cada quinze dias é a enfermeira do CTI. As intercorrências eles comunicam a gente pelo radinho, a
gente vai lá. Quando a gente acaba de pegar o plantão, ligar para os andares, avisando o bloco e a hemodinâmica
a gente passa lá pra saber como é que tá. Se o funcionário está lá, quais os médicos que estão. Quem tá na sala
hoje, quais os pacientes mais graves, questão de material, os respiradores, ECG que é muito importante porque
eles emprestam pra gente. /
2
Saio do pronto socorro e começo a subir para os andares. No caso a gente fica com
dois andares, cada enfermeiro e acadêmico, são dois acamicos e um enfermeiro, cada um fica dois andares. O
sistema de anotação que a gente tem é a folhinha, que te orienta, onde a gente anota o diagnóstico, os exames. Aí
a gente passa visita em todos os quartos. À noite não dá pra fazer exame, é de dia. Mas aí você passa
perguntando “Como é você tá?”; levanto o cobertor pra ver como é que tá, olha as feridas e tal. /
3
À noite é
muito difícil cumprir o protocolo de feridas, mas aí a gente acompanha, se precisa trocar a gente pede pra
chamar, analisa quais os funcionários, mas eles sempre chamam, e ainda falo pro paciente: “Não esquece de me
chamar”. /
4
Aí passo visita, às vezes perguntam de alguma medicação que já tomou, aí eu volto no quarto pra
falar qual o horário. Aqui a gente olha a data do equipo também, do acesso também. Isso é gerência do cuidado.
/
5
Aí, eu acabo de passar visita e vou evoluir. Nessa evolução não tem jeito de ter gerência, né? Do cuidado?...
Acho que gerenciar é organizar, é distribuir, é... é estar evoluindo sim, o que eu vi. A organização do quarto, a
organização do... não do paciente, mas o que não fizeram, o que está faltando pra ser feito, eu acho que é isso.
/6
É... no caso intercorrência, como eu gerencio: no caso, eu avalio o paciente, dependendo da intercorrência ligo
para o médico, passo o caso, de qual clínica que ele é: insuficiência respiratória... pressão... Aí o médico chega
no quarto, aí começa a gerência assistencial. Aí vai: o médico pede o material, aí a gente vai orientando, eu mais
as duas acadêmicas, o que cada um faz, o técnico de enfermagem... o que cada um... uma coisa... outra. É
importante organizar, porque na hora fica desesperado e... acaba, ainda mais à noite... que o que você aprendeu
não dá pra fazer... aí você quer pegar biombo, não tem ninguém pra fazer, você tem que fazer tudo, e... delega
algumas funções aí você atende as intercorrências que tiver no andar. Aí trabalha a intercorrência, ou vai pro
CTI, ou continua no andar, depende da... do decorrer da situação. /
7
O que eu considero que é gerência do
cuidado... eu trabalho em centro de saúde de dia e eu gosto muito de ficar lá... eu falo que falha a gerência do
cuidado porque eu gosto de encaminhar a pessoa. Eu passo para as meninas, aí às vezes o plantão é muito pesado
de manhã, aí acaba que o paciente perde... Eu faço de tudo: encaminho direto para o médico... O que eu consigo
fazer à noite... o que não eu encaminho. Eu acho que as pessoas não dão importância... Isso é gerência do
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
112
cuidado, eu acho, faz parte... hora do medicamento... você não consegue gerenciar lá fora, você não sabe como é
o cuidado em casa... Aqui vem a intercorrência, sanamos a intercorrência e continuamos o controle dele... /
8
Pra
gerenciar falta tempo...
# Entrevista D
Unidade de significado Unidade de significado transformada
1) Eu considero gerência do cuidado não só a assistência, mas no
caso tem essa parte administrativa que começa, no meu plantão
na checagem da prescrição pros funcionários, na folhinha que a
gente tem, de checar quais os funcionários que chegaram em cada
andar. Então eu começo aí com a gerência do cuidado, ligando
para todos os andares para ver se os funcionários chegaram e aí
se algum faltou a gente costuma mandar um funcionário do andar
mais tranqüilo para outro ou até mesmo um outro que vem de
casa. Então começa aí.
Na hora que nós conferimos o livro dos
funcionários presentes, a gente abre o livro administrativo, liga
para o PS, pronto socorro, para saber se os funcionários
chegaram, do bloco também a gente confere. A gerência do
cuidado começa aí, do funcionário.
Considera gerência do cuidado não só a
assistência direta ao cliente, mas a parte
administrativa começando pelo
funcionário, como a conferência do
quantitativo de auxiliares e técnicos de
enfermagem, remanejamento e ou
solicitação de plantão extra,
conferência dos registros, realização de
registros, checagem de prescrição.
2) Aí, começa a parte assistencial mesmo. A gente passa pelo PS,
eu passo em todas as salas pra ver qual diagnóstico, qual o
paciente mais grave. Aqui no pronto socorro a cada quinze dias é
a enfermeira da unidade, a cada quinze dias é a enfermeira do
CTI. As intercorrências eles comunicam a gente pelo radinho, a
gente vai lá. Quando a gente acaba de pegar o plantão, ligar para
os andares, avisando o bloco e a hemodinâmica a gente passa lá
pra saber como é que tá. Se o funcionário está lá, quais os
médicos que estão. Quem tá na sala hoje, quais os pacientes mais
graves, questão de material, os respiradores, ECG que é muito
importante porque eles emprestam pra gente.
Diz que gerência do cuidado é passar
visita nos clientes, verificando
diagnóstico médico, estabelecendo
graus de gravidade e atendendo aos
chamados de intercorrências, além de
comunicar a toda equipe a sua
responsabilidade pelo plantão e tomar
ciência da equipe de enfermagem,
setores pelos quais respondem, bem
como da equipe médica de plantão,
checando material disponível.
3) Saio do pronto socorro e começo a subir para os andares. No
caso a gente fica com dois andares, cada, enfermeira e
acadêmica, são dois acadêmicos e um enfermeiro, cada um fica
com dois andares. O sistema de anotação que a gente tem é a
folhinha, que te orienta, onde a gente anota o diagnóstico, os
exames. Aí a gente passa visita em todos os quartos. À noite não
dá pra fazer exame, é de dia. Mas aí você passa perguntando
“Como é você tá?”; levanto o cobertor pra ver como é que tá,
olha as feridas e tal.
Acredita que gerência do cuidado é
assumir o plantão, realizar anotações
pertinentes em impresso próprio, passar
visita em todos os quartos,
questionando o bem estar do cliente.
4) À noite é muito difícil cumprir o protocolo de feridas, mas aí a
gente acompanha, se precisa trocar a gente pede pra chamar,
analisa quais os funcionários, mas eles sempre chamam, e ainda
falo pro paciente: “Não esquece de me chamar”.
Diz que gerência do cuidado é realizar
acompanhamento do cliente para
verificar a necessidade de troca de
curativo, delegando a determinados
membros da equipe de enfermagem sua
troca, supervisionando.
5) Aí passo visita, às vezes perguntam de alguma medicação que
já tomou, aí eu volto no quarto pra falar qual o horário. Aqui a
gente olha a data do equipo também, do acesso também. Isso é
gerência do cuidado.
Afirma que gerência do cuidado é
visitar os clientes respondendo a seus
questionamentos e realizando outros
para checagem da assistência, além de
conferência de equipo e acesso.
6) Aí, eu acabo de passar visita e vou evoluir. Nessa evolução não
tem jeito de ter gerência, né? Do cuidado?... Acho que gerenciar é
organizar, é distribuir, é... é estar evoluindo sim, o que eu vi. A
organização do quarto, a organização do... não do paciente, mas
Afirma que gerência do cuidado é
organizar a unidade do paciente, a
assistência a ser prestada.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
113
o que não fizeram, o que está faltando pra ser feito, eu acho que é
isso.
7) É... no caso intercorrência, como eu gerencio: no caso, eu
avalio o paciente, dependendo da intercorrência ligo para o
médico, passo o caso, de qual clínica que ele é: insuficiência
respiratória... pressão... Aí o médico chega no quarto, aí começa
a gerência assistencial. Aí vai: o médico pede o material, aí a
gente vai orientando, eu mais as duas acadêmicas, o que cada um
faz, o técnico de enfermagem... o que cada um... uma coisa...
outra. É importante organizar, porque na hora fica desesperado
e... acaba, ainda mais à noite... que o que você aprendeu não dá
pra fazer... aí você quer pegar biombo, não tem ninguém pra
fazer, você tem que fazer tudo, e... delega algumas funções aí você
atende as intercorrências que tiver no andar. Aí trabalha a
intercorrência, ou vai pro CTI, ou continua no andar, depende
da... do decorrer da situação.
Considera que gerência do cuidado é
atuar em intercorrências através da
avaliação do cliente e passagem do
quadro para o plantão médico,
solicitando sua presença; organização
do ambiente e provisão de material para
o atendimento, delegando tarefas.
8) ...eu falo que falha a gerência do cuidado porque eu gosto de
encaminhar a pessoa. Eu passo para as meninas, aí às vezes o
plantão é muito pesado de manhã, aí acaba que o paciente
perde... Eu faço de tudo: encaminho direto para o médico... O que
eu consigo fazer à noite... o que não eu encaminho. Eu acho que
as pessoas não dão importância... Isso é gerência do cuidado, eu
acho, faz parte... hora do medicamento... você não consegue
gerenciar lá fora, você não sabe como é o cuidado em casa... Aqui
vem a intercorrência, sanamos a intercorrência e continuamos o
controle dele...
Diz que gerência do cuidado é realizar
encaminhamento do cliente, das
necessidades que precisam ser supridas.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
114
# Entrevista O
Gerência para mim eu acho que não é só você pegar papel, saber dar ordens, porque dar ordens qualquer um
pode dar, não precisa ser só o enfermeiro não, e ficar fiscalizando o tempo todo o que o outro está escrevendo.
Pra mim é você estar prestando assistência mesmo, isto pra mim é gerência. Acho que o que a gente faz é
apagar incêndio, mas prestar assistência mesmo ao paciente que está ali e à família... Porque é o tempo inteiro
quem fica com aquele paciente. Então, você acaba gerenciando o cuidado integral, não só da família. Isto pra
mim é a forma de gerenciar, é a forma de lidar com esses tipos de situações e mostrar mesmo que você vai ter
momento pra cuidar do outro,?
Infelizmente, hoje, a gente vive num mundo que é só de papel, infelizmente. Você ter que... é uma coisa pra tá te
respaldando, você escrever, relatar o que está fazendo, isso vai te respaldar profissionalmente. Mas e frente ao
outro? Será que a gente escreve realmente o que a gente lê ou o que a gente faz? A forma de agir, de cuidar?
Então pra mim, a gerência é o cuidado em si, tá?
Os outros, as outras pessoas que estão trabalhando com você,
tanto os outros enfermeiros, quanto os outros profissionais, a equipe inteira de enfermagem, de saúde. Você tem
que estar interagindo com elas, né? Não é só observar o técnico de enfermagem, o que ele está fazendo, é estar
trabalhando junto com ele, isso pra mim é gerência. /
4
Vou pedir pra ele fazer uma coisa que ele não sabe fazer?
Essa pessoa não sabe a forma como você está pensando. A forma como a gente pensa é o que eu sei. “Ah, fulano
de tal, faz isso”. Aí ele vai e faz totalmente diferente, porque ele aprendeu aquilo ali. Aí eu vou lá, falo que
fulano de tal não está fazendo certo, não trabalhando certo, mas não falo como ele está agindo, como é o trabalho
do dia-a-dia. Porque dois funcionários com dois pacientes, tranqüilo; mas, dois funcionários com doze pacientes
pesados, como ele tá agindo pra cada situação? Então até nisso você tem saber gerenciar, é o cuidado mesmo. /
5
Você estar gerenciando é o cuidado em si. Poder estar ensinando ao funcionário, que é da sua equipe mesmo,
que você está trabalhando com ele, como as coisas poderiam estar sendo feitas pra estar melhorando a situação
do indivíduo, do paciente ou da família que está internado.
Situações que eu já vivi aqui, foi no... assim, no andar em si. Tem pouco tempo, porque eu ficava mais em CTI.
No andar eu ficava mais fazendo férias, né? Isso depois que eu formei
. /6
Então situações que eu vivi aqui
mesmo são mais relacionadas à alguns atendimentos de urgência, que já teve. Você chega naquele momento e vê
todo mundo mais perdido que tudo, tanto médico, até o auxiliar e técnico, tá? Mas, se você souber dar orientação
de como deve ser feito, tudo vai tranqüilo. /
7
Teve situações demais com a família. A família num estresse
assim, horroroso, que esteve o tempo todo com aquele indivíduo no andar, a família mais estressando que o
próprio paciente, porque estão no direito deles também, né? Um familiar seu, internado, você não vai exigir uma
coisa melhor? Então você tem que saber resolver situações com a família pra depois, né, poder estar passando
para os seus funcionários como lidar com essas situações mesmo. /
8
E... eu fico... eu fico... sinceramente eu fico
injuriada quando saio daqui e não consigo resolver tudo. Porque tudo o que que é? Não é só assistência, porque o
hospital cobra, cobra muito o burocrático. Então, as pessoas te cobram uma coisa, esquecem que você já teve as
coisas anteriores, os cuidados anteriores. Porque se a gente for olhar o que o seu superior, alguma outra
enfermeira, outra pessoa te fala que não seja para sua construção ou mesmo muita coisa para sua construção
mesmo eu saio frustrada, saio mesmo. /
9
Agora, quando você começa a trabalhar no CTI, que é ambiente
fechado, ali o CTI é de 10 pacientes, é de doze, mas você consegue ver todo mundo, porque não tem o corre-
corre do dia-a-dia que tem aqui no hospital, com presença de família por perto, com presença de outros, de
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
115
outras equipes, não vê tanto. Na parte médica mesmo, isto é antiético estar falando, mas tem hora que você tem
que estar engolindo seco o que o médico faz e tentar resolver, por traz, com a família para não deixar a família
tão chateada, né? Estão, desestabilizada, o que acontece muitas vezes aqui. Em pouco tempo a gente vê várias
situações. /
10
Então, venho de setor fechado e não vejo tanta diferença assim, mas aprendi muito, aqui fora, em
humanidade. Como lidar com situações. Eu aprendi mais em unidade a fazer gerência do cuidado, promover
saúde pro indivíduo, do que dentro do próprio setor fechado. Porque dá pra gerenciar o cuidado num lugar
fechado, porque tem só aquele indivíduo ali, talvez ele nem tá conversando com você, né? É diferente você estar
aqui fora, sentar, conversar com a pessoa, ele contar a história dele inteira; já fiquei duas horas sentada
conversando. Se está fazendo bem pra ele, porque não conversar? Mesmo que que você não seja da família, mas
acaba se sentindo, porque a permanência é muito grande. Então a gente aprende muito; aprendi muito. /
11
Apesar
de gostar das outras áreas, a gente aprende a cada dia mais. Então essa forma de gerência entra nisso aí. /
12
Papel, pra mim, felizmente, não vejo muita... como é que eu posso falar... não vejo que entra muito em gerência
do cuidado não; o papel em si, não
. /13
Entrevistadora: “Você lembra de alguma situação que você vivenciou com o cliente que retrata bem essa
gerência do cuidado?
Ontem... foi ontem com o Sr. M, o da ferida, o como consegui lidar com a situação, porque você tinha me dado
algumas orientações acerca da ferida.
O Sr. M
começou, ele veio de uma cirurgia cardíaca, teve parada cardíaca, eu o conheço desde o CTI, eu o
acompanhei desde o CTI. Fez uma cirurgia, ficou no CTI muito mal. É... eu estava lá, ainda, como enfermeira.
Desde lá eu conheço o Sr M... então desde lá eu comecei com a gerência do cuidado, cuidado dele de forma mais
direta, mas eu não tinha pensado aqui fora não, como ia ser. Depois o Sr. M saiu, foi embora pra casa e voltou,
novamente, já não foi com o problema do infarto, foi problema da drenagem. Aí ele voltou para o andar com a
gente. Pegou infecção de multirresistente. Ficou um bom tempo em tratamento no andar. Então ele subiu pra
mim. Onde ele vai, eu acompanho ele. Então, o tempo inteiro a família me vê não só como enfermeira. Viu a
atenção que a gente dava, porque eu não estava cuidando só da ferida. Sentava, conversava, contava história,
tirava dúvida que ele tinha, ansiedade, ficava mesmo conversando com a pessoa. /
14
Só que ele foi embora e
voltou com essa alergia ao fio. Aí, novamente, eu tive com ele no andar, só que foi andar diferente. Aí eu
comecei a tratar, já tinha pneumonia anterior, tratava junto com a fisioterapia dele, pegava e andava um
pouquinho dentro do quarto, explicava o porquê não poderia ficar tanto tempo deitado, porque tinha que
levantar, fazia o acompanhamento mesmo da pessoa. Só que depois ele voltou com essa alergia, teve abscesso,
tava bem maior, abriu e a gente vem acompanhando, cuidando da ferida dele e fazendo mesmo orientação, não
só do físico da pessoa. Aqui os pacientes têm muita carência com atenção. Mesmo que a família esteja lá 24
horas, pode ser o filho, pode ser a esposa, o simples fato de estar sendo ouvido por outro. Tem necessidade que
eu sinto no Sr. M, por exemplo, ele tem necessidade de estar conversando. /
15
Ele estava andando no corredor e
disse: “Eu lembrei do que você falou comigo”- da outra vez, da outra internação que ele teve pneumonia. Então,
aí que eu vi que o que eu falei foi válido pras pessoas. Ontem eu fui lá vê-lo e ele não deixou ninguém fazer o
curativo, ninguém. “E quero que fulana” – falou meu nome – “faça; quero que ela veja como é que tá”. Porque
no dia anterior eu pedi a ele: “Na hora que o Sr. tomar banho e abrir, deixa eu ver”. Aí ficou o dia inteiro,
anteontem, pra eu ver a ferida. Não deixou ninguém, hoje a mesma coisa. Então eu vejo que isso aí, o pouco que
a gente faz, a atenção que a gente dá, “ ...você tá colocando coisa boa, isso não vai fazer mal pra mim não?”.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
116
Respondo: “De jeito nenhum”. Ele: “Ah, então tá. Então só você vai mexer aí”. Isso é ponto positivo. Tá
confiando no que a gente tá fazendo. Eu acho que é resultado do trabalho, do cuidado mesmo que a gente tem. /
16
Você conseguir o carisma de uma pessoa é muito difícil, aumentar a auto-estima dele é mais difícil ainda e ele
era uma pessoa muito deprimida. Acho que um pouco de atenção que a gente dá, acho que é mais atenção e
mesmo. Pra mim, de um só vale. Não precisa ser de todos não. Se você consegue a confiança de uma pessoa,
seja o paciente, seja a família já é importante, facilita o seu trabalho. /
17
Igual ontem, por exemplo, vi o 11° e vi
três do 9º. Saí daqui às 21 horas, porque eu fui pro CTI ajudar a minha colega lá. Eu não ia deixar a outra pessoa
na mão. Saí e falei assim: “Oh, tô te passando a bola, não posso ficar mais aqui não”. Vi três e fiquei tentando
resolver o que acontecia com o restante. Quando eu falo que vi três, é que realmente eu entrei no quarto, fiz o
exame. Os outros mesmo foi mais para trocar uma fralda ou fazer uma medicação. Não é o tempo que a gente
senta, conversa. Um pouquinho com a pessoa... Então ontem eu saí frustrada (risos). Porque eu gosto de dar um
pouquinho de atenção. /
18
Uma familiar mesmo, era 20:30 horas, ela foi lá me procurar: “Você tá indo embora?
Minha mãe está sentindo falta demais de você!” Eu fiquei com ela dois dias só dentro do quarto. Um pouquinho
só de atenção que a gente dá... né? Isso pra mim conta muito
. /19
# Entrevista O
Unidade de significado Unidade de significado transformada
1) Gerência para mim, eu acho que não é só você pegar
papel, saber dar ordens, porque dar ordens qualquer um
pode dar, não precisa ser só o enfermeiro não, e ficar
fiscalizando o tempo todo o que o outro está escrevendo. Pra
mim é você estar prestando assistência mesmo, isto pra mim
é gerência.
13) Papel, pra mim, felizmente, não vejo muita... como é que
eu posso falar... não vejo que entra muito em gerência do
cuidado não; o papel em si, não.
Acredita que gerência do cuidado não seja
trabalhar só com papéis, dar ordens ou ficar
fiscalizando o outro. Qualquer um pode fazer
isso. Gerenciar é prestar assistência mesmo.
2) Acho que o que a gente faz é apagar incêndio, mas
prestar assistência mesmo ao paciente que está ali e à
família... Porque é o tempo inteiro quem fica com aquele
paciente. Então, você acaba gerenciando o cuidado integral,
não só da família. Isto pra mim é a forma de gerenciar, é a
forma de lidar com esses tipos de situações e mostrar mesmo
que você vai ter momento pra cuidar do outro, né?
3) Infelizmente, hoje, a gente vive num mundo que é só de
papel, infelizmente. Você ter que... é uma coisa pra tá te
respaldando, você escrever, relatar o que está fazendo, isso
vai te respaldar profissionalmente. Mas e frente ao outro?
Será que a gente escreve realmente o que a gente lê ou o que
a gente faz? A forma de agir, de cuidar? Então pra mim, a
gerência é o cuidado em si, tá?
Afirma que gerenciar o cuidado não é “apagar
incêndio”, mas prestar assistência ao paciente e
à sua família, prestando cuidado integral,
mostrando que haverá momento para você
cuidar do outro, tendo o registro como meio e
o como fim.
4) Os outros, as outras pessoas que estão trabalhando com
você, tanto os outros enfermeiros, quanto os outros
profissionais, a equipe inteira de enfermagem, de saúde.
Você tem que estar interagindo com elas, né? Não é só
observar o técnico de enfermagem, o que ele está fazendo, é
estar trabalhando junto com ele, isso pra mim é gerência.
Diz que gerência do cuidado é interagir com os
outros profissionais, tanto intra como inter
equipes, trabalhando junto com a equipe de
enfermagem.
5) Vou pedir pra ele fazer uma coisa que ele não sabe fazer?
Essa pessoa não sabe a forma como você está pensando. A
forma como a gente pensa é o que eu sei. “Ah, fulano de tal,
faz isso”. Aí ele vai e faz totalmente diferente, porque ele
aprendeu aquilo ali. Aí eu vou lá, falo que fulano de tal não
Ressalta que gerência do cuidado é avaliar o
outro dentro do contexto, conhecendo-o,
levando em consideração o dimensionamento de
pessoal.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
117
está fazendo certo, não trabalhando certo, mas não falo
como ele está agindo, como é o trabalho do dia-a-dia.
Porque dois funcionários com dois pacientes, tranqüilo;
mas, dois funcionários com doze pacientes pesados, como
ele tá agindo pra cada situação? Então até nisso você tem
saber gerenciar, é o cuidado mesmo.
6) Você estar gerenciando é o cuidado em si. Poder estar
ensinando ao funcionário, que é da sua equipe mesmo, que
você está trabalhando com ele, como as coisas poderiam
estar sendo feitas pra estar melhorando a situação do
indivíduo, do paciente ou da família que está internado.
Situações que eu já vivi aqui, foi no... assim, no andar em si.
Tem pouco tempo, porque eu ficava mais em CTI. No andar
eu ficava mais fazendo férias, né? Isso depois que eu formei.
Diz que gerência do cuidado é realizar
treinamento em serviço, utilizando as situações
vivenciadas para o aprendizado.
7) Então situações que eu vivi aqui mesmo são mais
relacionadas à alguns atendimentos de urgência, que já
teve. Você chega naquele momento e vê todo mundo mais
perdido que tudo, tanto médico, até o auxiliar e técnico, tá?
Mas, se você souber dar orientação de como deve ser feito,
tudo vai tranqüilo.
Afirma que gerência do cuidado é orientar
quanto ao que fazer e como em situações
específicas.
8) Teve situações demais com a família. A família num
estresse assim, horroroso, que esteve o tempo todo com
aquele indivíduo no andar, a família mais estressando que o
próprio paciente, porque estão no direito deles também, né?
Um familiar seu, internado, você não vai exigir uma coisa
melhor? Então você tem que saber resolver situações com a
família pra depois, né, poder estar passando para os seus
funcionários como lidar com essas situações mesmo.
Afirma que gerência do cuidado é saber assistir
à família, entendo-a como parte de todo o
contexto, além de instrumentalizar auxiliares e
técnicos de enfermagem para lidar com
situações que envolvam familiares.
9) E... eu fico ... eu fico... sinceramente eu fico injuriada
quando saio daqui e não consigo resolver tudo. Porque tudo
o que que é? Não é só assistência, porque o hospital cobra,
cobra muito o burocrático. Então, as pessoas te cobram uma
coisa, esquecem que você já teve as coisas anteriores, os
cuidados anteriores. Porque se a gente for olhar o que o seu
superior, alguma outra enfermeira, outra pessoa te fala que
não seja para sua construção ou mesmo muita coisa para
sua construção mesmo eu saio frustrada, saio mesmo.
Alega que gerência do cuidado é conseguir sair
do plantão tendo resolvido tanto a parte
burocrática, quanto a assistencial, ambas sob
uma grande pressão administrativa e de pares.
Diz ainda que o não conseguir executar tudo,
gera frustração.
10) Agora, quando você começa a trabalhar no CTI, que é
ambiente fechado, ali o CTI é de 10 pacientes, é de doze,
mas você consegue ver todo mundo, porque não tem o corre-
corre do dia-a-dia que tem aqui no hospital, com presença
de família por perto, com presença de outros, de outras
equipes, não vê tanto. Na parte médica mesmo, isto é
antiético estar falando, mas tem hora que você tem que estar
engolindo seco o que o médico faz e tentar resolver, por
traz, com a família para não deixar a família tão chateada,
né? Estão, desestabilizada, o que acontece muitas vezes
aqui. Em pouco tempo a gente vê várias situações.
Afirma que gerência do cuidado é um corre-
corre diário, com a presença de familiares, outra
equipe, sendo muitas vezes necessário que o
enfermeiro “engula seco” diante do fazer
médico para atender ao cliente e sua família,
mantendo a satisfação.
11) Então, venho de setor fechado e não vejo tanta diferença
assim, mas aprendi muito, aqui fora, em humanidade. Como
lidar com situações. Eu aprendi mais em unidade a fazer
gerência do cuidado, promover saúde pro indivíduo, do que
dentro do próprio setor fechado. Porque dá pra gerenciar o
cuidado num lugar fechado, porque tem só aquele indivíduo
ali, talvez ele nem tá conversando com você, né? É diferente
você estar aqui fora, sentar, conversar com a pessoa, ele
contar a história dele inteira; já fiquei duas horas sentada
conversando. Se está fazendo bem pra ele, porque não
conversar? Mesmo que que você não seja da família, mas
acaba se sentindo, porque a permanência é muito grande.
Diz que gerência do cuidado é ter humanidade,
saber lidar com as diversas situações,
promovendo saúde para o cliente, afirmando ser
bem diferente realizá-la em setor fechado e
aberto, principalmente pelo tipo de
relacionamento estabelecido neste último com o
cliente e sua família.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
118
Então a gente aprende muito; aprendi muito.
12) Apesar de gostar das outras áreas, a gente aprende a
cada dia mais. Então essa forma de gerência entra nisso aí.
14) O Sr. M... eu o conheço desde o CTI, eu o acompanhei
desde o CTI. Fez uma cirurgia, ficou no CTI muito mal...
Desde lá eu conheço o Sr. M... então desde lá eu comecei
com a gerência do cuidado, cuidado dele de forma mais
direta, mas eu não tinha pensado aqui fora não, como ia
ser... foi embora pra casa e voltou, novamente, já não foi
com o problema do infarto, foi problema da drenagem. Aí
ele voltou para o andar com a gente... Onde ele vai, eu
acompanho ele. Então, o tempo inteiro a família me vê não
só como enfermeira. Viu a atenção que a gente dava, porque
eu não estava cuidando só da ferida. Sentava, conversava,
contava história, tirava dúvida que ele tinha, ansiedade,
ficava mesmo conversando com a pessoa.
Afirma que gerência do cuidado é prestar
cuidado de forma mais direta, pensando nas
necessidades futuras do cliente, provendo o
necessário para sua efetivação; é ser mais que
enfermeira, é ser toda e vê-lo como um todo.
15) Só que ele foi embora e voltou com essa alergia ao fio.
Aí, novamente, eu tive com ele no andar, só que foi andar
diferente. Aí eu já comecei a tratar, já tinha pneumonia
anterior, tratava junto com a fisioterapia dele, pegava e
andava um pouquinho dentro do quarto, explicava o porquê
não poderia ficar tanto tempo deitado, porque tinha que
levantar, fazia o acompanhamento mesmo da pessoa. Só que
depois ele voltou com essa alergia, teve abscesso, tava bem
maior, abriu e a gente vem acompanhando, cuidando da
ferida dele e fazendo mesmo orientação, não só do físico da
pessoa. Aqui os pacientes têm muita carência com atenção.
Mesmo que a família esteja lá 24 horas, pode ser o filho,
pode ser a esposa, o simples fato de estar sendo ouvido por
outro. Tem necessidade que eu sinto no Sr. M, por exemplo,
ele tem necessidade de estar conversando.
Afirma que gerência do cuidado é trabalhar
junto com as demais equipes; é conscientizar o
cliente acerca da terapia, acompanhando-o de
perto; é realizar o cuidado do indivíduo como
todo e não partes, tendo como ponto de partida
as suas necessidades.
16) Ele estava andando no corredor e disse: “Eu lembrei do
que você falou comigo”- da outra vez, da outra internação
que ele teve pneumonia. Então, aí que eu vi que o que eu
falei foi válido pras pessoas. Ontem eu fui lá vê-lo e ele não
deixou ninguém fazer o curativo, ninguém. “E quero que
fulana” – falou meu nome – “faça; quero que ela veja como
é que tá”. Porque no dia anterior eu pedi a ele: “Na hora
que o Sr. tomar banho e abrir, deixa eu ver”. Aí ficou o dia
inteiro, anteontem, pra eu ver a ferida. Não deixou ninguém,
hoje a mesma coisa. Então eu vejo que isso aí, o pouco que a
gente faz, a atenção que a gente dá, “ ...você tá colocando
coisa boa, isso não vai fazer mal pra mim não?”. Respondo:
“De jeito nenhum”. Ele: “Ah, então tá. Então só você vai
mexer aí”. Isso é ponto positivo. Tá confiando no que a
gente tá fazendo. Eu acho que é resultado do trabalho, do
cuidado mesmo que a gente tem.
17) Você conseguir o carisma de uma pessoa é muito difícil,
aumentar a auto-estima dele é mais difícil ainda e ele era
uma pessoa muito deprimida. Acho que um pouco de
atenção que a gente dá, acho que é mais atenção e mesmo.
Pra mim, de um só vale. Não precisa ser de todos não. Se
você consegue a confiança de uma pessoa, seja o paciente,
seja a família já é importante, facilita o seu trabalho.
Alega que gerência do cuidado é ensinar o
cuidado ao cliente, conscientizando-o a cerca da
necessidade do tratamento trabalhando sua auto-
estima; é fazer-se presença, mesmo na ausência;
é estabelecer confiança na relação enfermeiro-
cliente-família através do cuidado que se
realiza, sendo reconhecido pelo seu fazer.
18) Igual ontem, por exemplo, vi o 11° e vi três do 9º. Saí
daqui às 21 horas, porque eu fui pro CTI ajudar a minha
colega lá. Eu não ia deixar a outra pessoa na mão. Saí e
falei assim: “Oh, tô te passando a bola, não posso ficar mais
aqui não”. Vi três e fiquei tentando resolver o que acontecia
com o restante. Quando eu falo que vi três, é que realmente
Afirma que gerência do cuidado é auxiliar ao
colega quando necessário; em detrimento do
tempo, é passar visita, com exame físico, nos
cliente em que isso for possível, conversar com
eles, dar-lhes atenção.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
119
eu entrei no quarto, fiz o exame. Os outros mesmo foram
mais para trocar uma fralda ou fazer uma medicação. Não é
o tempo que a gente senta, conversa. Um pouquinho com a
pessoa... Então ontem eu saí frustrada (risos). Porque eu
gosto de dar um pouquinho de atenção.
19) Uma familiar mesmo, era 20:30 horas, ela foi lá me
procurar: “Você tá indo embora? Minha mãe está sentindo
falta demais de você!” Eu fiquei com ela dois dias só dentro
do quarto. Um pouquinho só de atenção que a gente dá...
né? Isso pra mim conta muito.
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
120
APÊNDICE B (continua)
1. Gerência de recursos humanos
2. Treinamento da equipe
3. Gerência do cuidado gera resultados
4. Gerência de recursos materiais
5. Planejamento
6. Sobrecarga de trabalho
7. Orientação à equipe
8. Delegação de tarefas
9. Supervisão de tarefas
10. Supervisão
11. Orientação
12. Referência para as equipes
13. Processo cuidativo
14. Relacionamento intra pessoal
15. Vínculo inter equipe
16. Implementação de protocolos
17. Imprevisto
18. Trabalho em equipe
19. Relacionamento inter-equipe
20. Dimensionamento de pessoal
21. Autonomia
22. Gerência de ambiente
23. Prestação de cuidados
24. Elo entre equipe e família
25. “O técnico ele faz, mas ele não pensa”
26. Atendimento às necessidades básicas
27. Conhecimento científico
28. Independência profissional
29. Uniformização de conduta
30. Realização de técnicas
31. Gerência de recursos materiais
32. Supervisão de cuidados
33. Motivação da equipe
PROCESSO DE REDUÇÃO
TEMAS
34. Gerência de recursos humanos
35. Supervisão de cuidados
36. Motivação da equipe
37. Gerência de recursos humanos
38. Conhecimento técnico científico
39. Tomada de decisão
40. Previsão e provisão de recursos
41. Previsão de necessidades do cliente
42. Conhecimento da evolução do cliente
43. Previsão de recursos
44. Liderança
45. Organização do atendimento
46. Gerência da demanda de atendimento
47. Manejo e adaptação
48. Dimensionamento de vagas
49. Continuidade
50. Processo cuidativo
51. Otimização da assistência
52. Reciclagem
53. Capacitação da equipe
54. Gerenciar o hospital
55. Postura técnica-profissional
56. Corrida de leito
57. Tempo reduzido
58. Interferência de fatores diversos
59. Avaliação clínica
60. “Apagar incêndio”
61. Descontinuidade da assistência
62. Relacionamento inter-intra equipe e pessoal
63. Promoção de independência da assistência para
a equipe de enfermagem
64. Educação em serviço
65. Suporte técnico
66. Prestação de cuidados à família
67. Relacionamento inter-intra equipe
68. Utilização da Metodologia da Assistência
69. Resolutividade burocrática e assistencial
70. Pressão administrativa
71. Frustração
72. “Engolir seco”
73. Atendimento às necessidades básicas da família
74. Humanidade
75. “Jogo de cintura”
76. Promoção de saúde
77. Relacionamento família paciente
78. “Ser toda”
79. Visão holística
80. Promoção do auto cuidado
81. “Ser presença na ausência”
82. Relacionamento de confiança com cliente e
família
83. Realização do cuidado
84. Priorização de necessidades
85. Fazer-se referência
86. Registros escritos
87. Checagem
88. Conferência
89. Trabalho inter equipe
90. Organização ambiental
91. Encaminhamento
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
121
(continua)
EDUCAÇÃO EM SERVIÇO
1. Gerência de recursos humanos
1. Treinamento da equipe
1. Orientação à equipe
1. Delegação de tarefas
1. Orientação
1. Referência para as equipes
1. Implementação de protocolos
1. Autonomia
1. “O técnico ele faz, mas ele não pensa”
1. Independência profissional
1. Motivação da equipe
1. Gerência de recursos humanos
1. Liderança
1. Reciclagem
1. Capacitação da equipe
1. Gerenciar o hospital
1. Promoção de independência da assistência
para a equipe de enfermagem
1. Educação em serviço
1. Dimensionamento de pessoal
1. Gerência da demanda de atendimento
1. Dimensionamento de vagas
GERÊNCIA DE RECURSOS MATERIAIS
2. Gerência do enfermeiro gera resultados
2. Gerência de recursos materiais
SOBRECARGA DE TRABALHO
3. Sobrecarga de trabalho
3. Supervisão de tarefas
3. Supervisão
3. Corrida de leito
3. Tempo reduzido
3. Registros escritos
3. Checagem
3. Conferência
CONVERGÊNCIA DE SENTIDOS
PROCESSO CUIDATIVO
4. Planejamento
4. Processo cuidativo
4. Prestação de cuidados
4. Imprevisto
4. Atendimento às necessidades básicas
4. Realização de técnicas
4. Supervisão de cuidados
4. Planejamento como ferramenta essencial
na gerência do cuidado
4. Conhecimento da evolução do cliente
4. Organização do atendimento
4. Continuidade
4. Processo cuidativo
4. Otimização da assistência
4. Avaliação clínica
4. Atendimento às necessidades básicas da
família
4. Promoção do auto cuidado
4. Suporte técnico
4. Prestação de cuidados à família
4. Utilização da Metodologia da Assistência
4. Promoção de saúde
4. Realização do cuidado
4. Priorização de necessidades
4. Encaminhamento
RELACIONAMENTO PESSOAL, INTER E
INTRA EQUIPE
5. Relacionamento intra pessoal
5. Vínculo inter equipe
5. Trabalho em equipe
5. Relacionamento inter-equipe
5. Relacionamento inter-intra equipe e
pessoal
5. Trabalho inter equipe
GERENCIAMENTO DO AMBIENTE
6. Gerência de ambiente
6. Organização ambiental
ELO ENTRE EQUIPES
7. Relacionamento de confiança com cliente e
família
7. Relacionamento família paciente
7. Elo entre equipe e família
CONHECIMENTO TÉCNICO CIENTÍFICO
8. Conhecimento científico
8. Conhecimento técnico científico
8. Postura técnica-profissional
8. Resolutividade burocrática e assistencial
“JOGO DE CINTURA
9. Uniformização de conduta
9. Tomada de decisão
9. Manejo e adaptação
9. Interferência de fatores diversos
9. “Apagar incêndio”
9. Descontinuidade da assistência
9. Frustração
9. “Engolir seco”
9. “Jogo de cintura”
“SER PRESENÇA NA AUSÊNCIA
10. Previsão e provisão de recursos
10. Previsão de necessidades do cliente
10. “Ser toda
10. Visão holística
10. “Ser presença na ausência”
10. Fazer-se referência
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
122
(conclusão)
UNIDADES TEMÁTICAS
1. Processo cuidativo
2. Sobrecarga de tarefa
3. Relacionamento pessoal, inter e intra equipe
4. Elo entre equipes
5. “Jogo de cintura”
6. “Ser presença na ausência”
7. Educação em serviço
8. Gerência de recursos materiais
9. Gerenciamento do ambiente
10. Conhecimento técnico científico
APÓS NOVA CONVERGÊNCIA DE
SENTIDO
1. Processo cuidativo
2. Sobrecarga de tarefa
2. Relacionamento pessoal, inter e intra equipe
2. Elo entre equipes
2. “Jogo de cintura”
3. “Ser presença na ausência”
4. Educação em serviço
4. Gerência de recursos materiais
4. Gerenciamento do ambiente
4. Conhecimento técnico científico
CATEGORIAS ABERTAS
1. Processo cuidativo
2. “Jogo de cintura”
3. “Ser presença na ausência”
4. Gerenciamento da Assistência de
enfermagem
A gerência do cuidado em enfermagem: a compreensão do enfermeiro
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