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Introdução
O pensamento levinasiano pode ser entendido co mo uma filosofia ética ou ainda como
uma “fenomenologia ética”. A preocupação central a que seu pens amento se refere está
ligada à relação i nter-humana, no sentido de r epensá-la e fornecer-lhe novo prisma
compreensivo. Levinas
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viveu um a ex periência muito traumática com a segunda guerra
mundial, foi mantido preso pelo regime nazist a, além de ter s eus pais e irmãos
executados. Pôde vivenciar de perto as atro cidades cometidas pela dita “razão
esclarecida” que se mos trou violenta e totalitária a o seu ext remo. Estas experiências, em
grande medida, são tensões formadoras do seu pensamento. Levinas quer, portanto,
romper com esta racionalidade construída ao longo da hi stória do pensamento ocidental
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Emmanuel Lévinas na sceu em 12 de Janeiro de 19 06 em Kovno – ou Kaunas, co mo tr aduzem os
portugueses – u ma cidade da Lituânia, país em q ue para Lévinas o judaísmo havia conhecido o
desenvolvimento espiritual mais elevado na Europ a Oriental. A ori gem j udia e burguesa marca rá
profundamente sua e xistência. Em Ko vno seu pai possuía uma li vraria e d esde p equeno Lévinas apr ende
o hebr aico e estuda o tal mud e a bíblia. Os autor es russos como Pouc hkine, Gogol, Ler montov e Tolstói o
envolvem, mas, sobr etudo Dosto iévski, no qual aprecia uma inquietude ética e metafísic a. Em 1914 , em
razão da Guerra, e migram po r ter ritórios russos, instalando -se, e m 1 916, como refugiad os em Kar khov,
Ucrânia, o nde po steriormente presenciam o s d esdobramentos d a Revolução B olchevique que ava nça
sobre toda aquela região, a nexando e m 1920 o território ucraniano à Rússia. Embor a a Revolução
Bolchevique atemoriza sse sua família d e cer ta co ndição burguesa, o jovem Lévinas a a companhava co m
alguma curiosidade. E m 1 923, mudam-se para Strasbourg, França, onde Lévinas c ursará filosofia. Cinco
anos mais tarde parte para Freiburg-im-Breisgau, onde ass iste aos cursos de Husserl e Heid egger. Em
1930 publica sua tese de doutorado do terceiro ciclo de estudos, sob o título Teoria da Intuição na
Fenomenologia de Husserl. Nos anos de 1 931 e 1932 p articipa dos Encontro s Filosóficos o rganizados por
Gabriel Ma rcel. De 1933 a 1939 oco rre o surgimento e a ascen são do nazismo, com Hitler tornando-se
chanceler na Alemanha, p romovendo a anexação e a invasão d e outros países. Lévinas, que havia se
naturalizado francês e m 1930 é mobilizado e m 1939 pelo serviço militar a fim de atuar co mo intérprete de
russo e ale mão no p eríodo da guerra. No ano seguinte é feito prisioneiro, permanecendo durante a guerra
em um ca mpo de cati veiro na Alemanha, co m trata mento diferenciado dos de mais judeus e m razão de sua
condição de oficial francês. Neste período quase toda sua fa mília que per manecera na Lituânia é
massacrada pe los nazistas. S ua esposa e filha escapa m da morte fica ndo escondidas e m um mosteiro e m
Orleans. No cativeiro Lévinas começa escr ever Da Existência ao Existente, q ue publicará e m 1947, ano
em que ta mbém publica, O tempo e o outro, q uatro conferências pr oferidas, ap ós a guerr a, no Co llège de
Philosophia f undado po r Je an Wahl. Em 19 57 r ealiza a primeira co nferência sobr e textos talmúdicos no
Colóquio de Intelectuais Judeus da França. E m 196 1 publica Totalidade e Infinito, sua tese d e d outorado
em Letras e é nomeado pro fessor na Un iversidade d e Poitiers. Dois a nos mais tarde publica Difícil
Liberdade - coletânea de ensaios sobr e o judaísmo. Em 1967 é nomeado professor naUni versidade de
Nanterre e em 197 3 é nomeado professorn a Sorbonne. No ano seguinte publica Outramente que ser ou
para além da Essência e, e m 1982, De Deus que vem à idéia.