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MARIA IZABEL PEREIRA
CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DE POLISSACARÍDEOS DOS
FUNGOS LIQUENIZADOS
Heterodermia obscurata E Punctelia constantimontium
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Bioquímica e Biologia
Molecular, Setor de Ciências Biológicas,
Universidade Federal do Paraná, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Ciências (Bioquímica).
Orientador: Prof. Dr. Guilherme L. Sassaki
Co-orientador: Prof. Dr. Marcello Iacomini
Colaboradora: Dra. Elaine R. Carbonero
Curitiba
2007
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MARIA IZABEL PEREIRA
CARACTERIZAÇÃO ESTRUTURAL DE POLISSACARÍDEOS DOS
FUNGOS LIQUENIZADOS
Heterodermia obscurata E Punctelia constantimontium
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-
Graduação em Bioquímica e Biologia
Molecular, Setor de Ciências Biológicas,
Universidade Federal do Paraná, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre em Ciências (Bioquímica).
Orientador: Prof. Dr. Guilherme L. Sassaki
Co-orientador: Prof. Dr. Marcello Iacomini
Colaboradora: Dra. Elaine R. Carbonero
CURITIBA
2007
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ii
Em especial a Dra. Elaine R. Carbonero, que tanto me
ensinou e ajudou, permitindo que este trabalho se
realizasse.
iii
Aos meus pais, José Maria e Odete, e ao meu marido,
Junior, por serem o meu porto seguro. Amor, sempre...
iv
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um
novo começo, qualquer um pode começar agora e
fazer um novo fim.”
Francisco Xavier
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por todas as bençãos e por permitir a realização deste
trabalho.
Ao meu orientador Prof. Dr. Guilherme L. Sassaki e Co-orientador Prof. Dr.
Marcello Iacomini pelo apoio e incentivo à pesquisa científica.
Ao Prof. Philip A. J. Gorin, pelo exemplo de uma vida dedicada à pesquisa.
A Dra. Elaine R. Carbonero, por considerar um exemplo de pesquisadora, pela
pronta disponibilidade, pelos ensinamentos, ajuda, confiança, amizade e estímulo no
decorrer deste trabalho. “Se enxerguei mais longe foi porque me apoiei nos ombros de
gigantes.” Obrigada!
Aos meus pais José Maria e Odete, por serem sempre meu porto seguro e meu
exemplo de vida, aos meus irmãos, Ana Lúcia e Marcelo, e aos meus sobrinhos,
Raphael, Amanda e Beatriz, por estarem sempre perto, mesmo morando em cidades
diferentes, pela compreensão e carinho constantes, me trazendo alegrias e estímulo.
Ao meu marido Junior pelo carinho, amizade, paciência e compreensão da
minha ausência.
À Profa. Dra. Sionara Eliasaro (Departamento de Botânica – UFPR), pela coleta
e identificação dos fungos liquenizados estudados.
A “equipe de multirão de limpeza dos liquens”: Andrea, Dirce, Juliana,
Ricardo, Larissa, Elaine, sem vocês esta tarefa não seria tão divertida. (Eu ainda vou
pagar aquela pizza...)
Aos amigos de laboratório (247) Caroline Mellinger (pela força e palavra
sempre amiga), Maria Luiza, Lucimara, Andrea e “Cabelinho” (Posso usar sua
bancada?), pela acolhida, agradável convivência e amizade e por tornar os dias de
trabalho muito mais alegres.
Ao Ricardo, pela paciência, amizade e por estar sempre pronto a ajudar, a
Fernanda (Simas), Higor e Ana Helena, pela amizade formada.
Em especial a Dirce, Elaine e Andrea, que sempre estiveram dispostas a me
ajudar, pela paciência com as minhas dúvidas, pelo auxílio prestado em muitas etapas
vi
deste trabalho, pelo apoio, mas acima de tudo, pela amizade. Nunca vou esquecer
vocês.
A amiga-irmã Juliana, que esteve ao meu lado desde o começo (“par de vasos”,
“as meninas”, “irmãs siamesas”), por ouvir minhas reclamações, pelo apoio, e em
especial pela amizade que se formou nesse período. Espero que consigamos mantê-la...
A Mariana e Dayane pela amizade, apoio, conversas, risadas...
Ao Rodrigo Faria e a Graciele, pelas inúmeras conversas e ajudas desde o início
deste trabalho.
Aos amigos de turma (Marco Aurélio, Amanda, Viviane, Caroline, Heide,
Vanessa, Francine, Luciana e Juliana) pelos momentos de estudos, “sofrimento”,
conversas e alegria.
Aos colegas do laboratório E-1 e laboratório “anexos” pelos momentos de
convivência e colaboração, Marco (por favor, deixa que eu faço café pra você), Juliana
Cassolato...
Aos coordenadores do Curso de Pós-Graduação, Profa. Dra. Leda Satie
Chubatsu e Prof. Dr. Miguel Daniel Noseda, pelo empenho e dedicação prestados e ao
crescimento e reconhecimento deste curso.
Aos professores Dr. Guilherme L. Sassaki e Dr. Miguel Daniel Noseda, pela
disponibilidade para a realização das análises de RMN.
À Rosane e a Andréia, pela disponibilidade para a realização de inúmeras
análises de GC-MS e HPSEC-MALLS.
À Dona Marilza pela presença alegre e prestativa.
A todos os professores, pós-graduandos e funcionários do Departamento de
Bioquímica e Biologia Molecular – UFPR, pela colaboração e amizade.
Ao CNPQ, pela bolsa de Mestrado concedida durante o desenvolvimento desta
dissertação.
A Fundação Araucária – PRONEX-Carboidratos pelo suporte financeiro.
A todos que, de algum modo, contribuíram com a realização deste trabalho.
vii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS................................................................................................ ix
LISTA DE TABELAS ............................................................................................... xi
LISTA DE SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS............................................xii
RESUMO .................................................................................................................. xiii
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................1
1.1 FUNGOS LIQUENIZADOS .................................................................................1
1.2 APLICAÇÃO DOS FUNGOS LIQUENIZADOS..................................................4
1.3 PRINCIPAIS CONSTIUINTES QUÍMICOS DOS FUNGOS LIQUENIZADOS..5
1.3.1 Substâncias Liquênicas .......................................................................................5
1.3.2 Carboidratos de Fungos Liquenizados.................................................................6
1.3.2.1 Homopolissacarídeos de fungos liquenizados...................................................7
1.3.2.2 Heteropolissacarídeos de fungos liquenizados..................................................8
1.4 IMPORTÂNCIA DA CARACTERIZAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS
LIQUÊNICOS......................................................................................................13
1.4.1 Quimiotaxonomia ..............................................................................................13
1.4.2 Polissacarídeos com Atividades Biológicas........................................................15
1.5 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS FUNGOS LIQUENIZADOS
ESTUDADOS ......................................................................................................16
1.5.1 Heterodermia obscurata .................................................................................... 16
1.5.2 Punctelia constantimontium ..............................................................................16
2 OBJETIVOS ..........................................................................................................18
2.1 OBJETIVO GERAL .............................................................................................18
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................18
3 MATERIAL E MÉTODOS...................................................................................19
3.1 MATERIAL DE ESTUDO ...................................................................................19
3.2 OBTENÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS............................................................20
3.2.1 Extrações ...........................................................................................................20
3.2.1.1 Extração com Acetona ...................................................................................20
viii
3.2.1.2 Extração Etanólica .........................................................................................21
3.2.1.3 Extração Aquosa .............................................................................................21
3.2.1.4 Extração alcalina.............................................................................................21
3.3 FRACIONAMENTO DOS POLISSACARÍDEOS ...............................................22
3.3.1 Separação dos Polissacarídeos por Congelamento e Degelo...............................22
3.3.2 Purificação dos Polissacarídeos com Solução de Fehling ...................................22
3.4 ANÁLISE ESTRUTURAL DOS POLISSACARÍDEOS......................................23
3.4.1 Composição Monossacarídica............................................................................23
3.4.1.1 Hidrólise Ácida Total......................................................................................23
3.4.1.2 Redução e Acetilação dos Produtos de Hidrólise.............................................23
3.4.2 Metilação dos Polissacarídeos ...........................................................................24
3.4.3 Dosagem de ácidos urônicos dos heteropolissacarídeos .....................................25
3.4.4 Carboxi-redução do heteropolissacarídeo de P. constantimontium .....................25
3.4.5 Hidrólise Ácida Parcial ......................................................................................25
3.5 MÉTODOS ANALÍTICOS...................................................................................26
3.5.1 Cromatografia Gasosa Acoplada à Espectrometria de Massa (GC-MS)..............26
3.5.2 Cromatografia de exclusão estérica acoplada à detecção por índice de refração e
espalhamento de luz (HPSEC-MALLS)............................................................26
3.5.3 Ressonância Magnética Nuclear (RMN) ...........................................................27
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...........................................................................28
4.1 DESLIPIDIFICAÇÃO E EXTRAÇÃO ETANÓLICA .........................................28
4.2 EXTRAÇÕES AQUOSAS E ALCALINAS .........................................................30
4.3 FRACIONAMENTO DOS POLISSACARÍDEOS ...............................................31
4.4 POLISSACARÍDEOS DA FRAÇÃO PRECIPITADO CONGELAMENTO/
DEGELO .............................................................................................................31
4.5 POLISSACARÍDEOS DA FRAÇÃO PRECIPITADO DE FEHLING (PF)..........39
4.5.1 Polissacarídeo do Fungo Liquenizado Heterodermia obscurata .........................37
4.5.2 Polissacarídeo do Fungo Liquenizado Punctelia constantimontium....................48
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................59
REFERÊNCIAS ........................................................................................................61
ix
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Corte transversal de Canomaculina pilosa (Stiz.) Elix & Hale em eletromicrografia
de varredura (cedida pela Profa. Dra. Sionara Eliasaro, Departamento de Botânica-
UFPR). Aumento de 1000 x. .....................................................................................3
FIGURA 2 Principais estruturas observadas em galactomananas de fungos liquenizados ......12
FIGURA 3 Foto do fungo liquenizado Punctelia constantimontium (A) vista face superior (B)
vista face inferior.....................................................................................................19
FIGURA 4 Foto do fungo liquenizado Heterodermia obscurata ..............................................20
FIGURA 5 Fluxograma de extração e purificação dos polissacarídeos dos fungos liquenizados
Heterodermia obscurata e Punctelia constantimontium.........................................29
FIGURA 6 Espectros de RMN-
13
C das frações precipitado de congelamento e degelo (PW)
obtidas de Punctelia constantimontium (A) e Heterodermia obscurata (B)...........33
FIGURA 7 Espectro de RMN-
13
C da fração PPG/D obtida de Heterodermia obscurata (A) e
Punctelia constantimontium (B). ............................................................................34
FIGURA 8 Estrutura proposta para nigerana obtida por precipitado gelo/degelo H. obscurata e
P. constantimontium................................................................................................36
FIGURA 9 Espectro de RMN-
13
C das frões do precipitado de Fehling, PFK2 (A) PFK10 (B)
PFW (C), obtidas de Heterodermia obscurata, em D
2
O a 70ºC. ...........................39
FIGURA 10 Espectro 2D
1
H,
13
C HMQC da fração precipitado de Fehling (PFK2;
glucomanana) obtida de Heterodermia obscurata (D
2
O, 70ºC)..............................40
FIGURA 11 Região anomérica do espectro de HMQC acoplado da fração precipitado Fehling
(PFK2; glucomanana) obtida da Heterodermia obscurata (em D
2
O, 70ºC)...........41
FIGURA 12 Espectro de DEPT da fração precipitado de Fehling (PFK2; glucomanana) obtida
de Heterodermia obscurata, em D
2
O a 70ºC. .......................................................42
FIGURA 13 Espectros de RMN-
13
C das frações PFK2-HO (nativa) (A), PFK2-HP4 (B) e PFK2-
HP10 (C), em Me
2
SO-d
6
a 70ºC..............................................................................45
FIGURA 14 Espectro de RMN-
13
C-DEPT para HP10-HO, em Me
2
SO-d
6
a 70ºC..................... 46
FIGURA 15 – Estrutura proposta para glucomanana obtida do líquen H. obscurata.....................47
FIGURA 16 Espectro de RMN-
13
C das frões do precipitado de Fehling, PFK2 (A) PFK10 (B)
PFW (C), obtidas de Punctelia constantimontium, em D
2
O a 70ºC....................... 50
FIGURA 17 Espectro 2D
1
H,
13
C HMQC da fração precipitado de Fehling (PFK2;
galactoglucomanana) obtida de P. constantimontium (em D
2
O, 70ºC)...................51
FIGURA 18 Região anomérica do espectro de HMQC acoplado da fração precipitado Fehling
(PFK2; galactoglucomanana) obtida da P. constantimontium (em D
2
O, 80ºC)......52
x
FIGURA 19 Espectro de RMN-
13
C-DEPT da fração precipitado de Fehling (PFK2;
galactoglucomanana) obtida de Punctelia constantimontium em D
2
O a 70ºC........53
FIGURA 20 Espectro de RMN-
13
C das Frações PFK2-PC (nativa) (A), PFK2-HP4 (B) e PFK2-
HP6 (C) do fungo liquenizado P. constantimontium, em Me
2
SO-d
6
a 70ºC...........56
FIGURA 21 Espectro de RMN-
13
C-DEPT para HP4-PC, em Me
2
SO-d
6
a 70ºC. .......................57
FIGURA 22 Estrutura proposta para galactoglucomanana obtida do líquen
P. constantimontium ..............................................................................................58
xi
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Tipos de glucanas encontradas em fungos liquenizados ...........................................8
TABELA 2 – Tipos de heteropolissacarídeos encontrados em fungos liquenizados.....................13
TABELA 3 – Rendimento das frações obtidas das extrações dos fungos liquenizados H.
obscurata e P. constantimontium. .........................................................................28
TABELA 4 – Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado gelo/degelo
obtidos a partir de extrações aquosas, alcalinas a 2% e 10% do fungo liquenizado
H. obscurata. ..........................................................................................................32
TABELA 5 – Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado gelo/degelo
obtidos a partir de extrações aquosas, alcalinas a 2% e 10% do fungo liquenizado
Punctelia constantimontium ...................................................................................32
TABELA 6 – Deslocamentos químicos de
13
C obtidos da α-D-glucana isolada de H. obscurata e
P. constantimontium................................................................................................35
TABELA 7 – Análise por metilação da glucana isolada na fração precipitado gelo/degelo PPG/D-
HO e PPG/D-PC......................................................................................................36
TABELA 8 – Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado de Fehling do
fungo liquenizado H. obscurata. ............................................................................37
TABELA 9 – Análise por metilação da frão precipitado de Fehling (PFK2; glucomanana)
obtida de Heterodermia obscurata e de suas subfrações obtidas por hidrólise
parcial......................................................................................................................43
TABELA 10 – Composição monossacarídica da Fração PFK2-HO e suas subfrações após
hidrólises ácidas parciais do fungo liquenizado Heterodermia obscurata............43
TABELA 11 – Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado de Fehling do
fungo liquenizado Punctelia constantimontium. .....................................................49
TABELA 12 – Análise por metilação da fração precipitado de Fehling (PFK2) obtida de Punctelia
constantimontium e de suas subfrações obtidas por hidrólise parcial. ....................54
TABELA 13 – Composição monossacarídica da fração precipitado Fehling (PFK2-PC;
galactoglucomanana) após hidrólises ácidas parciais do fungo liquenizado
Punctelia constantimontium....................................................................................55
xii
LISTA DE SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS
13
C
-
Carbono treze
BaCO
3
- Carbonato de bário
CH
3
I - Iodeto de metila
CHCl
3
- Clorofórmio
CuSO
4
- Sulfato de cobre
D
2
O - Óxido de deutério
DEPT - Distiortionless enhancement by polarization transfer
f - Furanosídico
Gal
-
Galactose
GC-MS - Cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa
Glc
-
Glucose
HMQC - Heteronuclear multiple quantum correlation spectroscopy
HOAc - Ácido acético
HPSEC-MALLS
- Cromatografia de exclusão estérica acoplada à detecção por
índice de refração e espalhamento de luz (HPSEC-
MALLS)
Hz - Hertz
IR
-
Índice de refração
J - Constante de acoplamento
kDa kilodaltons
KOH - Hidróxido de potássio
LS
-
Espalhamento de luz
M
-
Molar
Man
-
Manose
Me
2
SO - Dimetilsulfóxido
Me
2
SO-d
6
- Dimetilsulfóxido deuterado
MeOH - Metanol
NaB
2
H
4
- Boroidreto de sódio deuterado
NaBH
4
- Boroidreto de sódio
NaN
3
- Azida de sódio
NaNO
2
- Nitrito de sódio
NaOAc - Acetato de sódio
p - Piranosídico
p/v
-
Peso/volume
pH
Potencial hidrogeniônico
ppm
-
Partes por milhão
RMN - Ressonância Magnética Nuclear
rpm - Rotações por minuto
TFA - Ácido trifluoracético
v/v - Volume/volume
xiii
RESUMO
No presente trabalho foram estudadas as estruturas de polissacarídeos obtidos dos
fungos liquenizados Heterodermia obscurata e Punctelia constantimontium (algas do
gênero Trebouxia como fotobiontes). Estes, após deslipidificados, foram extraídos
com água e KOH a 2 e 10%, resultando em frações que foram submetidas aos
processos de purificação por congelamento/degelo e precipitação com solução de
Fehling. Os precipitados de congelamento/degelo (PPG/D) de ambos os fungos
liquenizados apresentaram α-D-glucana, e dados de metilação e RMN sugerem uma
estrutura contendo ligações glicosídicas alternadas (13) e (14), do tipo nigerana,
com relação molar de 1,07:1 para H. obscurata e 1,3:1 para P. constantimontium. O
precipitado de Fehling do fungo liquenizado H. obscurata apresentou manose e
glucose como componentes monossacarídicos e, por meio de análises de metilação e
RMN (
13
C, HMQC e HMQC-acoplado), esta estrutura consiste em uma glucomanana
altamente ramificada, com uma cadeia principal composta por unidades de α-D-Manp
ligadas-(16), sendo a maioria substituída em O-2, principalmente por unidades
terminais não redutoras de α-D-Glcp, α-D-Manp e, possivelmente, por cadeias laterais
constituídas por unidades de α-D-Manp 4-O-substituídas. A galactoglucomanana
isolada do precipitado de Fehling do fungo P. constantimontium contém manose,
galactose e glucose como componentes monossacarídicos neutros e 6% de ácidos
urônicos, os quais foram carboxirreduzidos e os resultados mostram que este ácido é
GlcAp. De acordo com os dados de metilação e RMN (
13
C, HMQC e HMQC-
acoplado), esta apresenta cadeia principal de unidades de α-D- Manp ligadas (16),
sendo parcialmente substituídas em O-2, e/ou O-2,4 por unidades de β-Galp, sendo
que as unidades de β-Galp encontram-se substituindo as unidades de α-Manp da
cadeia principal em O-4 e O-2, e não apenas em O-4, como geralmente observado em
liquens.
1 INTRODUÇÃO
1.1 FUNGOS LIQUENIZADOS
Fungos liquenizados são definidos como organismos simbióticos compostos por
um fungo, o micobionte, e um ou mais parceiros fotossintéticos, o fotobionte, que
pode ser uma alga verde ou uma cianobactéria (NASH III, 1996). Apesar dos fungos
liquenizados serem constituídos por dois ou mais organismos, seus nomes científicos
referem-se apenas ao fungo que participa da simbiose; a alga tem sua taxonomia
própria dentro dos grupos comuns de algas (PURVIS, 2000).
A natureza da simbiose liquênica é amplamente discutida. A maioria dos
pesquisadores refere-se a fungos liquenizados como um caso clássico de mutualismo,
onde todos os pares possuem vantagens na associação. Alternativamente, fungos
liquenizados são considerados como um exemplo de parasitismo controlado, uma vez
que os fungos parecem obter mais benefícios e o fotobionte crescer mais lentamente
no estado liquenizado do que no estado de vida livre (AHMADJIAN, 1993).
Os fungos, como organismos heterótrofos, desenvolveram várias estratégias
nutricionais para adquirir carbono fixado, sendo uma delas a liquenização, que
consiste da aquisição do carbono fixado de uma população de algas verdes e/ou
cianobactérias (HONEGGER, 1996). A transferência de metabólitos do fotobionte
para o micobionte depende do tipo de fotobionte que está envolvido na associação. Em
fungos liquenizados contendo cianobactérias, o carboidrato liberado e transferido para
o fungo é a glucose e nos organismos contendo algas verdes, o carboidrato liberado é
um poliol, podendo ser ribitol, eritritol ou sorbitol (ELIX, 1996). Além disso, as
cianobactérias produzem aminoácidos a partir de gás carbônico e nitrogênio, em
associação com a água e são capazes de fixar o nitrogênio atmosférico, contribuindo
para a fixação de nitrogênio no ecossistema. Dessa maneira, em cianoliquens o
micobionte ganha uma fonte de nitrogênio (AHMADJIAN, 1993; PURVIS, 2000).
2
Atualmente estima-se que o número de espécies de fungos liquenizados seja de
aproximadamente 17.000. A respeito do micobionte, cerca de 20% de todas as
espécies de fungos atualmente conhecidas são encontradas na natureza na forma
liquenizada, dentre os quais 98% são ascomicetos. Ao contrário, existem poucos
basidiomicetos e deuteromicetos (fungos imperfeitos) liquenizados (HONNEGER,
1991; NASH III, 1996).
Com relação aos fotobiontes, 40 gêneros de algas verdes e cianobactérias
foram descritos como fotobiontes liquênicos, e estes responsabilizam-se totalmente
pela fotossíntese (HONNEGER, 1996). Os cianobiontes mais comuns são espécies dos
gêneros Nostoc, Scytonema, Stigonema, Gloeocapsa, e Calothrix, em ordem de sua
freqüência e os fotobiontes de algas verdes incluem Trebouxia, Trentepohlia,
Coccomyxa, e Dictyochloropsis. O fotobionte mais comum é Trebouxia, sendo que
este ocorre em mais da metade de todos os fungos liquenizados conhecidos
(AHMADJIAN, 1993). Pode ocorrer também a presença de dois fotobiontes
associados a um único fungo, sendo uma alga verde o bionte primário e uma
cianobactéria o organismo secundário, o último encontrando-se nos cefalódios, regiões
de crescimento do talo liquênico (MARCELLI, 2006a).
Nessa associação ocorre a formação de uma estrutura específica, denominado
talo liquênico (Figura 1), morfologicamente diferente da estrutura adquirida pela alga
ou fungo quando em vida livre. A constituição do talo liquênico compreende algas
microscópicas semelhantes às mesmas espécies de vida livre e filamentos fúngicos
(hifas), desenvolvendo-se simbioticamente. Um tecido resistente periférico,
denominado córtex, protege as lulas dos fotobiontes do ressecamento e luz
excessiva, enquanto outro mais interno, chamado medula, é frouxamente entrelaçado,
facilitando as trocas gasosas (AHMADJIAN, 1993).
3
FIGURA 1 - Corte transversal de Canomaculina pilosa (Stiz.) Elix & Hale em eletromicrografia de
varredura (cedida pela Profa. Dra. Sionara Eliasaro, Departamento de Botânica- UFPR).
Aumento de 1000 x.
A aparência do talo do fungo liquenizado é determinada primeiramente pelo
micobionte, entretanto sabe-se que a influência do fotobionte na morfogênese é
importante, uma vez que somente após a simbiose o talo característico é desenvolvido
(BÜDEL; SCHEIDEGGER, 1996). De maneira geral, existem três tipos de talo
liquênico, podendo ser crostoso, folioso ou fruticoso, e estes variam muito em
aparência, existindo desde formas muito simples até estruturas morfológicas e
anatomicamente complexas. A maior parte dos talos liquênicos pode ser medida em
centímetros (1 até 30 cm), entretanto, existem talos adultos de poucos milímetros, que
crescem em frestas de troncos ou de rochas, assim como enormes formas foliosas, com
mais de um metro de diâmetro, ou longas barbas-de-velho de até quatro metros de
comprimento (MARCELLI, 2006a).
Quanto à coloração dos fungos liquenizados, nos portadores de algas verdes, a
maioria dos talos liquênicos tem coloração entre o branco e o cinza, com um toque de
verde fornecido pela clorofila. Nos cianoliquens, as cores variam entre o preto,
marrom e cinza-chumbo. Por outro lado, alguns fungos liquênicos produzem
Córtex
superior
Camada
algal
Medula
Córtex
inferior
4
substâncias coloridas, para defesa contra o excesso de iluminação que pode degradar a
clorofila. Neste caso, o talo ou parte dele pode adquirir cores como amarelo, laranja e
vermelho (MARCELLI, 2006a).
Os fungos liquenizados possuem distribuição cosmopolita, podendo ser
encontrados desde os trópicos até as regiões polares, onde são freqüentemente a
vegetação predominante, no interior de rochas e cascas de árvores, em todos os
substratos, climas, altitudes e latitudes (GORIN et al., 1993). Os fungos liquenizados
conseguem sobreviver em condições de vida muito adversas devido à sua capacidade
de dessecamento rápido, oferecendo resistência a condições ambientais extremas de
temperatura e luz (RAVEN, 1996).
Esses organismos são os melhores bioindicadores de poluição de uma região,
devido à sua extrema sensibilidade a SO
2
, NO
2
e ozônio e habilidade em absorver e
acumular metais pesados (AHMADJIAN, 1993).
1.2 APLICAÇÃO DOS FUNGOS LIQUENIZADOS
Os fungos liquenizados são pouco usados na alimentação humana, devido ao
seu baixo conteúdo protéico, seu sabor geralmente amargo e sua escassa produção de
biomassa (LEGAZ et al., 2006). Entretanto, a espécie Cetraria islandica pode ser
convertida em um tipo de farinha usada no preparo de mingau, Gyrophora esculenta
usada no preparo do popular “iwatake” dos japoneses e Lecanora esculenta, o maná,
utilizado como alimento pelo homem e animais nas estepes semi-áridas (GORIN et al.,
1993).
Lethariella cashmeriana e L. sernanderi são utilizadas na medicina tradicional
tibetana e chinesa, no preparo de chás medicinais, possuindo a propriedade de baixar a
pressão arterial e reduzir inflamações. Os fungos liquenizados também têm sido
empregados para a fabricação de bebidas alcoólicas, substituindo o lúpulo da cerveja
por Lobaria pulmonaria (LEGAZ et al., 2006).
5
Devido as suas cores, que variam do branco ao negro, vermelho, laranja,
marron, amarelo e verde, muitos foram utilizados como corantes, entretanto, hoje
possuem pequena importância econômica (RAVEN, 1996; ELIX, 1996).
Nos últimos dez anos, diversos metabólitos procedentes desses organismos
estão sendo utilizados na fabricação de produtos cosméticos, como protetores solares.
(LEGAZ et al., 2006). Também é utilizado na indústria de perfumes, sendo as espécies
Evernia prunastri e Pseudevernia furfuraceae usadas para preparar um extrato o qual é
empregado como fixador de alguns perfumes (HONDA; VILEGAS, 1998).
Na medicina, as espécies Lobaria pulmonaria e Cetraria islandica têm sido
descritas como medicamentos para a tuberculose pulmonar. A Usnea barbata no
tratamento de doenças da pele e a Usnea longissima como expectorante. Além disso,
antibióticos contra as bactérias Staphylococcus aureus e Bacillus subtilis, são também
encontrados nos liquens (GORIN et al., 1993).
Fungos liquenizados são usados como bioindicadores de poluição, devido à
capacidade de absorverem e acumularem metais pesados, ao fato de que muitas
espécies têm larga distribuição geográfica, e a constatação de que a morfologia não
varia de maneira marcante ao longo das estações (HONDA; VILEGAS, 1998).
Espécies contendo cianobactérias são de grande importância na fixação de nitrogênio
no solo (PURVIS, 2000).
1.3 PRINCIPAIS CONSTIUINTES QUÍMICOS DOS FUNGOS LIQUENIZADOS
Os principais constituintes químicos encontrados nos fungos liquenizados são
as substâncias liquênicas e os carboidratos (baixa e alta massa molar).
1.3.1 Substâncias Liquênicas
As substâncias liquênicas são produtos do metabolismo secundário do
micobionte, e são encontradas no córtex ou na medula, raramente em ambas as
camadas. A concentração pode variar de 0,1 a 10% em relação ao peso seco do talo
6
liquênico, embora em alguns casos a concentração possa ser superior (HONDA;
VILEGAS, 1998).
Os compostos provenientes do metabolismo secundário dos fungos liquenizados
são ácidos alifáticos, meta- e para-depsídeos, depsidonas, ésteres benzílicos,
dibenzofuranos, xantonas, antraquinonas, ácidos úsnicos, terpenos e derivados do
ácido pulvínico. Ainda que alguns desses compostos sejam também produzidos por
fungos de vida livre e por plantas superiores, a maior parte é considerada exclusiva de
fungos liquenizados (ELIX, 1996).
Até o momento, cerca de 700 dessas substâncias foram identificadas, sendo
esses organismos as entidades biológicas mais estudadas do ponto de vista da
produção de metabólitos secundários (MARCELLI, 2006a). Muitas delas vêm sendo
utilizadas com propósitos taxonômicos, devido a grande especificidade de ocorrência
nesses organismos (HONDA e VILEGAS, 1998).
1.3.2 Carboidratos de Fungos Liquenizados
Os carboidratos estão divididos em componentes de baixa e alta massa molar.
Entre os carboidratos de baixa massa molar encontram-se os monossacarídeos
redutores (pentoses, metilpentoses, hexoses e cetoses), polióis e os oligossacarídeos.
Componentes dos polióis incluem glicerol, eritritol, ribitol, arabinitol, manitol,
sorbitol, galactitol entre outros, e estão relacionados com a obtenção de energia
(GORIN et al., 1993).
Os carboidratos de alta massa molar são os polissacarídeos, sendo as α-
glucanas e β-glucanas (lineares ou com poucas substituições), galactomananas e
galactoglucomananas os mais freqüentes em fungos liquenizados (GORIN et al., 1993;
OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001).
Os primeiros estudos a respeito de polissacarídeos de fungos liquenizados
iniciaram em 1815 quando Berzelius extraiu de Cetraria islandica (“Iceland moss”)
uma glucana insolúvel em água fria, chamada liquenana [β-D-glucana (13) (14)]
7
na proporção de 3:7 (BERZELIUS
1
, citado por GORIN et al., 1993). Durante o
processo de purificação da liquenana foi observada a presença de uma outra glucana
solúvel em água. Utilizando-se de processos analíticos e quantitativos, o polissacarídeo
foi identificado como sendo uma α-D-glucana linear composta por ligações (13) e
(14) (3:2) sendo denominada isoliquenana (CHANDA et al., 1957).
A partir destes estudos com a Cetraria islandica, em que foram isolados os
polissacarídeos liquenana e isoliquenana, outros trabalhos foram realizados com o
objetivo de obtenção de polissacarídeos de diferentes espécies de fungos liquenizados.
Até 2001, aproximadamente 100 espécies de liquens foram investigadas quanto ao seu
conteúdo de polissacarídeos (OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001).
1.3.2.1 Homopolissacarídeos de fungos liquenizados
As glucanas são os principais homopolissacarídeos encontrados em fungos
liquenizados. A maioria apresenta uma estrutura linear com a presença de ligações
glicosídicas na sua configuração α ou β (IACOMINI et al., 2006), sendo estas
divididas segundo o tipo de ligação e a proporção molar. As principais glucanas
observadas em fungos liquenizados estão representadas na Tabela 1.
Outro homopolissacarídeo descrito é a xilana, e por ser encontrada em baixa
concentração, sugere-se que sua presença seja de responsabilidade do constituinte
fotobionte (CORRADI DA SILVA, 1992).
No basidiolíquen Dictyonema glabratum, o qual se encontra associado à alga
Scytonema sp. foi observado uma β-D-xilana linear ligada (14) e uma β-D-manana
contendo ligações do tipo (16) (CARBONERO et al., 2002a).
1
BERZELIUS, J.J. Versuche über die Mischung des Isländischen Mosses und Seine Anwendung als
Nahrungsmittel. J. Chem. Phys., v.7, p.317-353,1815.
8
TABELA 1 – Tipos de glucanas encontradas em fungos liquenizados
Tipos de glucanas Denominação Proporção
das ligações
Características estruturais
1:1
Linear; algumas possuem ligações (12)
Nigerana
1,2:1 Linear
3:1 Linear, distribuição irregular de ligações
3,8:1 Apresenta ramificação em O-2 (5%)
4:1 Linear
Isoliquenana
6:1
Possuem ligações (16)
2:3
Possuem ligações (16) (~ 6%)
α-D-Glucana (13), (14)
Acroscifana
2:5 Apresenta ramificação em O-3 (3%)
α-D-Glucana (14), (16)
Pululana 1:1 Linear
α-D-Glucana (13)
Pseudonigerana Linear
β-D-Glucana (13)
Laminarana Linear
β-D-Glucana (16)
Pustulana Podem apresentar grupamentos O-acetil
1:2 Linear
1:3 Linear
3:1 Linear
β-D-Glucana (13), (14)
Liquenana
3:7 Linear
β-D-Glucana (13), (16)
Apresentam cadeia principal formada por
unidades de β-D-Glcp (13), (16) ou
unidades de β-D-Glcp (13) ligadas;
Contém ramificação em O-6 (~ 20%)
1.3.2.2 Heteropolissacarídeos de fungos liquenizados
Os primeiros estudos a respeito de heteropolissacarídeos de fungos liquenizados
foram realizados em 1906, por ULANDER e TOLLENS
2
(citado por GORIN e
IACOMINI, 1984), quando detectaram manose, galactose e glucose no líquen Cetraria
islandica. Entretanto, os polissacarídeos de fungos liquenizados que contêm manose
foram somente descobertos em 1924 por KARRER & JOOS
3
(citado por GORIN e
IACOMINI, 1984), a partir de uma extração com água quente do líquen Cetraria
islandica após complexação com cobre via solução de Fehling. O precipitado obtido
2
ULANDER, A.; TOLLENS, B. Untersuchungen über die Kohlenhydrate der Flechten. Berichte der
deutschen chemischen Gesellschaft, v. 39, p. 401, 1906.
3
KARRER, J.; JOOS, B. Polysaccharide. XXX. Zur Kenntnis des Isolichenins. Hoppe Seyler’s Z.
Physiol. Chim., v. 141, p.311-315, 1924.
9
continha manose, galactose e glucose na proporção molar de 21:35:44, sugerindo uma
possível mistura entre uma galactomanana e liquenana ou galactoglucomanana.
A partir de 1984, os trabalhos de GORIN e IACOMINI (GORIN; IACOMINI,
1984, 1985; IACOMINI; SCHNEIDER; GORIN, 1985) representaram um grande
avanço no estudo dos heteropolissacarídeos de fungos liquenizados. Em 1984 estes
autores determinaram a estrutura das galactomananas obtidas por tratamento com
solução de Fehling dos extratos alcalinos da Cetraria islandica e Ramalina usnea. As
estruturas das galactomananas obtidas a partir destes liquens foram estruturalmente
diferentes. Análises químicas mostraram que ambas continham uma cadeia principal
de α-D-Manp ligados (16), entretanto, a molécula obtida de C. islandica mostrou-se
mais ramificada, com cadeias laterais de α-D-Galp e β-D-Galp ligadas em O-2 e O-4,
respectivamente, enquanto que a molécula obtida da R. usnea era menos ramificada,
com unidades de β-D-Galp ligados em O-4 às unidades de manose.
Estruturas similares foram obtidas a partir de Peltigera aphthosa, Parmelia
sulcata, Letharia vulpina, Stereocaulon paschale, Actinogyra muehlembergii e Usnea
sp., sendo a variação em relação ao grau e a seqüência que estas unidades eram ou não
substituídos nas posições O-2, O-4 e/ou O-2,4 por unidades de α-D-Manp e α-D-Galp,
β-D-Galp e β-D-Galf , respectivamente (GORIN e IACOMINI, 1985).
IACOMINI, SCHNEIDER e GORIN (1985) realizaram um estudo comparativo
entre galactomananas de três espécies do gênero Cladonia. Observou-se que C.
alpestris e C. confusa apresentavam galactomananas com cadeia principal α-D-Manp
ligado (16), sendo algumas 2-O-substituídas por unidades de α-D-Manp, 4-O-
substituídas por unidades de β-D-Galp, ou 2,4-di-O-substituídas por α-D-Manp e β-D-
Galp, respectivamente, sendo que C. amaurocraea apresenta uma galactomanana com
estrutura semelhante. A espécie C. alpestris mostrou uma galactomanana diferente,
contendo cadeia principal de α-D-Manp ligado (12) e substituída em O-6 por
unidades β-D-Galf .
No líquen Parmotrema cetratum foi obtida uma galactoglucomanana com
cadeia principal formada por unidades de α-D-Manp ligadas (16) e 2-O-substituídas
por unidades de α-D-Galp, 4-O-substituídas por unidades de β-D-Galp, ou 2,4-di-O-
10
substituídas por α-D-Galp e β-D-Galp, respectivamente (CORRADI DA SILVA;
GORIN; IACOMINI, 1993). CARBONERO et al., (2005a) estudaram várias espécies
dos gêneros Parmotrema e Rimelia, e todas apresentaram galactoglucomananas com
diferenças típicas de espécies, apresentando cadeia principal α-Manp-(16), sendo
não substituídas ou substituídas preferencialmente em O-2 e O-4 por terminais não
redutores de α-D-Galp e β-D-Galp, respectivamente. As galactoglucomananas de 13
espécies de Cladonia também foram estudadas, sendo as estruturas obtidas
constituídas por uma cadeia principal formada por unidades α-D-Manp-(16) ligadas
e o padrão de substituição da cadeia principal das mesmas apresentou variações de
acordo com a espécie (WORANOVICZ-BARREIRA, 1999d; WORANOVICZ-
BARREIRA et al., 1999c).
Galactomananas com cadeias laterais altamente complexas foram obtidas de
Lasallia pustulata, a qual apresenta uma cadeia principal formada por unidades de α-
Manp-(16), parcialmente substituídas por cadeias laterais, de diferentes tamanhos,
constituídas por unidades de α-Manp-(12) e Galf (PEREYRA et al., 2003).
Estruturas complexas (galactofuranomanana) também foi caracterizado no líquen
Umbilicaria mammulata (Trebouxia sp.), sendo esta formada por uma cadeia principal
de unidades de α-Manp-(16), sendo substituída em O-2, O-4 e O-2,4 por cadeias
laterais contendo unidades α-Manp e β-D-Galf (CARBONERO et al., 2006).
A partir de Leptogium azureum foi caracterizado uma galactomana, contendo
altos teores de manose, a qual contém uma cadeia principal α-D-Manp ligada (16),
altamente substituída em O-2 por terminais não redutores de α-D-Manp ou β-D-Galp.
As unidades de β-D-Galp substituem as unidades de α-D-Manp da cadeia principal em
O-2 e não em O-4, como geralmente observado (CARBONERO et al., 2003).
Estrutura similar, com alto nível de substituição e elevado teor de manose, foi
encontrado também para o cianolíquen Collema leptosporum (PRADO et al., 1999),
constituída de cadeia principal α-D-Manp (16) ligada, sendo substituída em O-2,4
por terminais não redutores de α-D-Manp e/ou β-D-Galp, respectivamente, sugerindo
que estas estruturas similares podem ser picas de fungos liquenizados da família
Collemataceae.
11
Diferente da maioria das galactomananas descritas, as quais contêm uma
cadeia principal formada por unidades de α-Manp-(16), no líquen Roccella
decipiens (CARBONERO et al., 2005b) foram isolados dois heteropolímeros contendo
cadeia principal formada por unidades α-Manp-(14), o qual encontra-se
parcialmente substituído em O-2 por cadeias laterais de unidades de β-Galf e α-Manp
2-O e 6-O- substituídas. Nestas estruturas, as unidades de galactose estão ligadas nas
extremidades das unidades de Manp das cadeias laterais, podendo estas estarem
presentes como β-Galf ou β-Galf 5-O-, 6-O- e 5,6-di-O- substituídas.
TEIXEIRA e colaboradores (1995) caracterizaram os heteropolissacarídeos de
23 espécies diferentes de fungos liquenizados os quais estão compreendidos em 13
gêneros. De acordo com os dados obtidos, os autores classificaram os liquens, de
acordo com o padrão observado para a região de C-1 dos espectros de RMN-
13
C, em 5
grupos diferentes, desta maneira, os autores sugerem que esses padrões possam ser
utilizados como uma possível base para quimiotaxonomia (TEIXEIRA; IACOMINI;
GORIN, 1995).
Estudos comparativos utilizando polissacarídeos também foram realizados com
os gêneros Cladina e Cladonia. Os autores verificaram a presença de
galactomanoglucanas semelhantes para a maioria das espécies de Cladonia (com
exceção da Cladonia furcata), com cadeia principal constituída de unidades de β-D-
Glcp (13) ligadas, sendo substituídas em O-2,6. As ramificações são constituídas
principalmente por β-D-Galf, β-D-Galp, β-D-Galf 6-O-substituídas, e unidades de α-D-
Manp 2-O, 4-O, 6-O e 2,3-di-O-substituídas. (WORANOVICZ-BARREIRA et al.,
1999b; WORANOVICZ-BARREIRA, 1999d). Estudos semelhantes foram realizados
para galactoglucomananas e galactomanoglucanas isoladas de três espécies do gênero
Cladina, dessa maneira, os autores sugerem que a química destes heteropolímeros
possam auxiliar na classificação de espécies dos gêneros Cladina e Cladonia
(CARBONERO et al., 2002b).
Em Tornabenia intricata foi isolado um heteropolissacarídeo contendo apenas
manose e glucose (glucomanana) formada por uma cadeia principal de α-Manp-
12
(16), parcialmente substituída em O-2 e O-4 por α-Manp, α-Manp 2-O- substituídas
e, com menores quantidades, α-Glcp (TEIXEIRA; IACOMINI; GORIN, 1992).
Além dos heteropolímeros descritos, no basidiolíquen Dictyonema glabratum
foi observado a presença de uma xilomanana com cadeia principal contendo unidades
de α-D-manopiranose ligadas (13), sendo 10% não substituída, 4-O- (10%) e 2,4-di-
O-substituída (10%) por unidades de β-D-xilopiranose (IACOMINI et al., 1987).
Recentemente foi observado um heteropolissacarídeo diferente, thamnolana, isolada
do Thamnolia subuliformis, sendo uma ramnogalactofuranana com cadeia principal
constituída por β-D-Galf-(13), com substituição em O-6, por diferentes tipos de
cadeias laterais (OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001).
Os heteropolissacarídeos descritos na literatura são mostrados, de maneira
geral, na Tabela 2. Nesta, pode ser observado os diferentes tipos de estruturas, sendo
as galactomananas e as galactoglucomananas as mais comumente encontradas. Estas
apresentam uma cadeia principal formada por unidades de α-Manp-(16),
substituídas, principalmente, em O-2, O-4 e/ou O-2,4 por unidades de α- ou β-Galp,
α-Manp, Glcp e, mais raramente, por β-Galf (Figura 2).
FIGURA 2 - Principais estruturas observadas em galactomananas de fungos liquenizados
α
-D-Manp
1
2
-α-D-Manp-(16)-
α
-D-Manp
1
2
-α-D-Manp-(16)-
4
1
β-D-Galp (β-D-Galf)
α
-D-Galp
1
2
-α-D-Manp-(16)-α-D-Manp-(16)-
4
1
β-D-Galp
β
-D-Galp
1
4
-α-D-Manp-(16)-
-α-D-Manp-(16)-
A B C
D E
13
TABELA 2 – Tipos de heteropolissacarídeos encontrados em fungos liquenizados
Heteropolissacarídeos
Composição
Monossacarídica
Cadeia principal Principais características estruturais
Galactomananas e/ou
Galactoglucomananas
Man:Gal:Glc
com proporções variáveis,
sendo Man e Gal sempre
em maior proporção
α-D-Manp (16)
Apresentam diferentes padrões de
substituição principalmente em O-2, O-4
e/ou O-2,4 por unidades de α- ou β-Galp
ou α-Manp ou Glcp, mais raramente por
β-Galf.
Glucomanana Man: Glc (93: 07)
α-D-Manp (16)
Substituída, principalmente, em O-2 por
cadeias lateriais de α-D-Manp e menor
proporção de α-D-Glcp
Galactofuranomananas
Man:Gal
com proporções variáveis
α-D-Manp (14)
Apresentam substituição principalmente
em O-2 e O-6 por unidades de α-Manp, e
diferentes padrões de substituição β-Galf.
Xilomanana
Gal:Rha:Glc:Xyl:Man:Fuc
(17:04:08:32:29:10)
α-D-Manp (13)
Não substituídas (10%) ou 4-O- (10%) e
2,4-di-O-substituídas (10%) por unidades
de β-D-Xylp
Galactomanoglucanas
Glc: Gal: Man
com proporções variáveis
β-D-Glcp (13)
Substituídas,principalmente, em O-2 e O-
6 sob diferentes modelos por unidades D-
Manp e D-Galp substituídas e ainda
unidades de D-Galf terminal não redutora
Arabinogalactomanogluc
ana
Ara:Gal:Man:Glc
12:34:40:14
β-D-Glcp (13)
Apresentam substituição em O-2 e O-6
por cadeias laterais altamente ramificadas
Ramnogalactofuranana
(Thamnolana)
Gal:Rha:Glc:Xyl:Man
40:31:13:10:06
β-D-Galf-(13)
Apresenta substituição em O-6 por
diferentes tipos de cadeias laterais
1.4 IMPORTÂNCIA DA CARACTERIZAÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS
LIQUÊNICOS
1.4.1 Quimiotaxonomia
A identificação de fungos liquenizados em gêneros e espécies baseia-se
tradicionalmente na análise e descrição de caracteres morfológicos do talo liquênico e
apotécios (NASH, 1996). Porém, a presença de metabólitos vem sendo utilizada como
um recurso adicional para caracterizar fungos liquenizados. A análise química para
14
fins taxonômicos, a quimiotaxonomia, faz uso de reações de coloração no talo, de
procedimentos de microcristalização e cromatografia, análise por fluorescência e
espectrometria de massa de metabólitos secundários (HONDA, N. K., 2006). Também
foi sugerido para essa finalidade o uso de dados de RMN de polissacarídeos
(TAKAHASHI et al., 1981; GORIN et al., 1993; TEIXEIRA; IACOMINI; GORIN,
1995). Dessa maneira, os avanços das técnicas de biologia molecular em conjunto com
a caracterização estrutural fina de macromoléculas, são uma importante ferramenta na
classificação taxonômica de fungos liquenizados, pois, na maioria das vezes, dados
relativos apenas à análise morfológica não elucidam a identificação de um dado
espécime (HONDA; VILEGAS, 1998).
O estudo de polissacarídeos, evidenciados por análises químicas e
espectroscópicas de RMN, auxiliam na taxonomia, uma vez que tanto as glucanas
quanto as galactomananas apresentam uma grande variedade de estruturas. Como as
estruturas destes polímeros mostram-se típicas, estas podem ser utilizadas como
ferramenta na identificação e na taxonomia de fungos liquenizados (GORIN et al.,
1993; TEIXEIRA; IACOMINI; GORIN, 1995; WORANOVICZ-BARREIRA et al.,
1999a,b,c; CARBONERO et al., 2001, 2002b; CARBONERO, 2005).
Os polissacarídeos obtidos dos diferentes fungos liquenizados apresentam um
padrão de distribuição. A pustulana é característica para a família Umbilicariaceae, a
liquenana é encontrado em Parmeliaceae, nigerana e pustulana são as glucanas
presentes em Cladoniaceae, enquanto que nigerana, laminarana e isoliquenana são
características em Ramalinaceae, sugerindo que as glucanas desempenham um
importante papel como marcadores taxonômicos para gênero e família. Da mesma
maneira, os heteropolissacarídeos também m sendo utilizados na classificação,
podendo, em alguns casos, diferenciar entre gêneros e até mesmo entre espécies
(OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001).
15
1.4.2 Polissacarídeos com Atividades Biológicas
Polissacarídeos de plantas e outras fontes naturais exercem atividade
antitumoral, imunomodulatória, anticoagulante, entre outras. Os estudos com as
atividades biológicas dos polissacarídeos de fungos liquenizados iniciaram-se no final
da década de 60 e vários trabalhosm mostrado que polissacarídeos de fungos
liquenizados possuem atividades biológicas similares e com menor toxicidade, sendo
estes cada vez mais usados na medicina (OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001;
ASSEF et al., 2002).
Vários estudos foram realizados com os polissacarídeos de fungos liquenizados
isolados pelo grupo de Química de Carboidratos de Liquens da UFPR. Foi investigada
a atividade antitumoral de uma α-D-glucana com ligações (13) e (14) com relação
molar (3:1) (isoliquenana) do líquen Ramalina celastri, sendo demonstrado a atividade
citotóxica in vitro desta glucana nativa e modificada quimicamente por sulfatação,
resultando na morte celular de células tumorais (HeLa) (LEÃO et al., 1997).
Continuando os estudos com esta mesma glucana in vivo, usando o tumor Sarcoma
180 (S-180), os resultados mostram que esta pode inibir o crescimento do tumor, além
de possuir atividade imunoestimulante sobre macrófagos, induzindo um aumento no
número de células e na ação fagocitária (ASSEF et al., 2002; STUELP-CAMPELO et
al., 2002).
Uma glucana β-(16) ligada isolada do quen Parmotrema mantiqueirense, e
uma galactoglucomanana, isolada do líquen Cladonia ibitipocae, foram sulfatadas e
mostraram atividades anticoagulante e antritrombótica, demonstrando que a
derivatização química de polissacarídeos, como a sulfatação, podem exibir tais
atividades (MARTINICHEN-HERRERO et al., 2005a, 2005b).
Dentre as 17.000 espécies de liquens, não mais que 100 foram estudados quanto
aos seus polissacarídeos (OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001). Como na
família Physciaceae apenas o líquen Tornabenia intricata foi estudado quanto ao seu
conteúdo em polissacarídeos, e a família Parmeliaceae necessita de mais estudos neste
aspecto, pois esta é muito extensa, e devido a muito dos polissacarídeos de liquens
16
serem únicos, possuindo atividade farmacológica e importância taxonômica, o
presente trabalho visa estudar os polissacarídeos dos liquens Heterodermia obscurata
(família Physciaceae) e Punctelia constantimontium (família Parmeliaceae) dando
continuidade aos trabalhos realizados pelo grupo de Química de Carboidratos de
Liquens da UFPR.
1.5 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS FUNGOS LIQUENIZADOS ESTUDADOS
Neste trabalho, foram estudadas 2 espécies de fungos liquenizados quanto aos
seus componentes polissacarídicos. Estes são Heterodermia obscurata e Punctelia
constantimontium.
1.5.1 Heterodermia obscurata
Este fungo liquenizado pertence à classe dos Ascomicetos, ordem Lecanorales,
subordem Lecanorineae, família Physciaceae (TEHLER, 1996), apresenta morfologia
do talo do tipo folioso e a alga verde Trebouxia como fotobionte. O gênero
Heterodermia consiste de aproximadamente 80 espécies, de distribuição tropical e
subtropical (COHEN; TOWERS, 1995), sendo cerca de 42 espécies de Heterodermia
citadas para o Brasil e 6 para o Paraná (MARCELLI, 2006b).
1.5.2 Punctelia constantimontium
Este fungo liquenizado pertence à classe dos Ascomicetos, ordem Lecanorales,
subordem Lecanorineae, família Parmeliaceae (TEHLER, 1996). É um gênero
facilmente reconhecido pela presença de pseudocifelas (pequenos poros) na superfície
superior, talo verde-acinzentado (atranorina no córtex), superfície inferior negra e
ausência de cílios (SPIELMANN, 2005).
17
São conhecidas atualmente cerca de 29 espécies de Punctelia, das quais 16 são
citadas para o Brasil e 7 para o Paraná (MARCELLI, 2006b), sendo a alga verde
Trebouxia sp. o fotobionte presente neste gênero.
18
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem por objetivo geral a análise estrutural dos
polissacarídeos presentes nos fungos liquenizados Heterodermia obscurata e Punctelia
constantimontium.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para o cumprimento do objetivo geral, têm-se como objetivos específicos:
a) Extrair e purificar os polissacarídeos dos fungos liquenizados Heterodermia
obscurata e Punctelia constantimontium;
b) Caracterizar estruturalmente os polissacarídeos obtidos, utilizando técnicas
químicas e analíticas de RMN e GC-MS.
19
20
FIGURA 4 – Foto do fungo liquenizado Heterodermia obscurata
3.2 OBTENÇÃO DOS POLISSACARÍDEOS
3.2.1 Extrações
Os talos liquênicos (Punctelia constantimontium e Heterodermia obscurata)
limpos, secos e moídos foram pesados e submetidos, separadamente, a quatro
processos de extração, como descrito a seguir:
3.2.1.1 Extração com Acetona
Os talos liquênicos foram primeiramente submetidos a sucessivas extrações
com acetona a 50ºC sob refluxo, por períodos de 6 horas (2 x). Após cada extração, os
extratos acetônicos foram filtrados ainda quentes e evaporados até secura em
temperatura ambiente, para que os rendimentos pudessem ser calculados. Os materiais
residuais foram submetidos ao próximo processo extrativo.
21
3.2.1.2 Extração Etanólica
Os resíduos liquênicos da extração anterior foram submetidos à extração com
etanol, sob refluxo, por 6 horas a 60°C (1 x), sendo filtrado após extração. Os extratos
foram reunidos e evaporados até secura em temperatura ambiente, para calcular o
rendimento.
3.2.1.3 Extração Aquosa
Os materiais residuais, resultantes da extração etanólica, foram submetidos à
extração aquosa, sob refluxo a 100ºC, por 6 horas (3x para H. obscurata e 4x para P.
constantimontium). Após cada etapa, o extrato aquoso foi filtrado a quente,
concentrado em rotaevaporador até pequeno volume e precipitado com etanol (3:1,
v/v), com a finalidade de separar as moléculas de alta massa molar (precipitado) dos
componentes de baixa massa molar (sobrenadante). Os precipitados etanólicos obtidos
foram dialisados em água corrente por 48 horas e liofilizados.
3.2.1.4 Extração alcalina
Os resíduos das extrações aquosas foram extraídos com soluções aquosas de
KOH a 2% (5x para H. obscurata e 6x para P. constantimontium) e 10% (2x para
22
3.3 FRACIONAMENTO DOS POLISSACARÍDEOS
Os polissacarídeos obtidos pelos processos de extrações aquosas e alcalinas a 2
e 10% foram purificados através de diversas técnicas, como de congelamento e degelo
(GORIN; IACOMINI, 1984) e tratamento com solução de Fehling (JONES;
STOODLEY, 1965). A purificação foi acompanhada pelo perfil de eluição obtido por
meio de análises de HPSEC-MALLS.
3.3.1 Separação dos Polissacarídeos por Congelamento e Degelo
As frações obtidas através das extrações aquosas e alcalinas foram submetidas,
separadamente, ao processo de purificação por congelamento e degelo (GORIN;
IACOMINI, 1984). Cada fração foi solubilizada em água destilada e submetida ao
processo de congelamento e posterior degelo à temperatura ambiente, centrifugação
(8500 rpm, 20 min, 25°C), resultando em frações solúveis (sobrenadante) e insolúveis
em água fria (precipitado). Este processo de purificação foi repetido diversas vezes, até
que os sobrenadantes aquosos não apresentassem mais precipitado.
3.3.2 Purificação dos Polissacarídeos com Solução de Fehling
Os sobrenadantes do processo de congelamento e descongelamento foram
submetidos à purificação com solução de Fehling (JONES; STOODLEY, 1965). Esta
solução é preparada a partir de outras duas (A e B), sendo a solução A composta por
tartarato de potássio e KOH, enquanto que a B consiste de sulfato de cobre.
À fração sobrenadante, que foi dissolvida em volume de água suficiente para
solubilizá-la, adicionou-se igual volume da solução de Fehling: A+B (1:1) e após
vigorosa agitação manual, o material foi mantido sob refrigeração por 12 horas.
Os precipitados e os sobrenadantes foram separados por centrifugação (9000
rpm, 15 min, 25°C), neutralizados com ácido acético (HOAc) e dialisados contra água
corrente (~ 48 horas). Após a diálise, ambos foram tratados com resina catiônica
23
(Dowex 50x8, forma Na
+
) com o objetivo de retirar o cobre, e novamente dialisados.
Em seguida, os materiais foram concentrados sob pressão reduzida, congelados e
liofilizados, e seus rendimentos calculados.
3.4 ANÁLISE ESTRUTURAL DOS POLISSACARÍDEOS
3.4.1 Composição Monossacarídica
A composição monossacarídica dos polissacarídeos foi realizada em GC-MS
após hidrólise, redução e acetilação. Os monossacarídeos foram identificados pelos
seus respectivos valores de tr (tempo de retenção) e perfis de fragmentação.
3.4.1.1 Hidrólise Ácida Total
Amostras de polissacarídeos de aproximadamente 1 mg foram tratadas com 1,0
ml de TFA (ácido trifluoroacético) 2 M, durante 8 horas a 100°C ou TFA 1 M a
100°C, overnight (12-15h). Após este tempo, o ácido foi eliminado das amostras
hidrolisadas por evaporação à secura, sendo em seguida, submetidas à redução e
acetilação.
3.4.1.2 Redução e Acetilação dos Produtos de Hidrólise
Os produtos de hidrólise foram reduzidos com NaBH
4
(boroidreto de dio) ou
NaB
2
H
4
(boroidreto de sódio deuterado) (WOLFROM; THOMPSON, 1963a) em
temperatura ambiente, pH 9-10, por 15 horas. Após este período, os materiais foram
neutralizados (pH 7,0) com resina catiônica (forma H
+
). A solução foi filtrada em
algodão e levada a secura em rotaevaporador. O ácido bórico formado foi eliminado na
forma de borato de trimetila, por meio de co-evaporação com metanol.
Os alditóis formados foram acetilados com anidrido acético e piridina (1:1, v/v),
overnight, à temperatura ambiente (WOLFROM; THOMPSON, 1963b). A reação foi
24
interrompida pela adição de gelo e os acetatos de alditóis formados foram extraídos
com clorofórmio. A piridina residual, ainda presente na fração clorofórmica, foi
removida por complexação com sulfato de cobre 5%. Após completa remoção da
piridina, o clorofórmio foi evaporado e os acetatos de alditol analisados por GC-MS
(Cromatografia Gasosa Acoplada à Espectrometria de Massa).
3.4.2 Metilação dos Polissacarídeos
As frações polissacarídicas que se mostraram puras foram metiladas pelo
método de CIUCANU e KEREK (1984) e/ou HAWORTH (1915).
No primeiro método, a amostra (2-5 mg) a ser analisada foi dissolvida (1%, p/v)
em dimetilsulfóxido (Me
2
SO), e após foi adicionado hidróxido de sódio (NaOH) seco
e triturado (4:1 NaOH:carboidrato). A solução foi mantida sob agitação e, então, foi
adicionado iodeto de metila (CH
3
I) na proporção recomendada
(CH
3
I/NaOH/carboidrato 1:200:50). Após 24 horas, a amostra foi neutralizada com
HOAc, dialisada exaustivamente contra água corrente, liofilizada e o processo foi
repetido novamente. Terminada a metilação por este método, foi realizada a extração
dos produtos per-O-metilados com CHCl
3
.
No segundo método, os polissacarídeos (10-20 mg) foram primeiramente
tratados com boroidreto de sódio (pH 9-10), dialisados contra água corrente e
liofilizados. Após foram solubilizados em 3 ml de uma solução de NaOH 40% (p/v),
mantidos sob agitação magnética constante e adicionados 0,5 ml de dimetilsulfato
(DMS), por 6 vezes. O material foi deixado sob agitação overnight, sendo o processo
repetido novamente.
Os polissacarídeos parcialmente O-metilados foram hidrolisados com H
2
SO
4
50% (v/v; 0,5 ml) por 1 hora a 0°C, seguido por diluição até 5,5% (v/v; adição de 4,0
ml de água destilada), sendo então mantido a 100°C por um período de 12-18 horas,
seguido por neutralização com BaCO
3
(SAEMAN et al., 1954). Em seguida, estes
materiais foram derivatizados de acordo com o item 3.4.1.2 e analisados por GC-MS.
25
3.4.3 Dosagem de ácidos urônicos dos heteropolissacarídeos
A dosagem de ácido urônico foi realizada pelo método colorimétrico descrito
por FILISETTI-COZZI e CARPITA (1991). Em 400 µl de amostra foram adicionados
40 µl de uma solução de ácido sulfâmico-sulfamato de potássio 4 M (pH 1,6), e 2,4 ml
de solução de tetraborato de sódio 75 mM,
em H
2
SO
4
concentrado. Após aquecimento
em banho com H
2
O fervente por 20 min, esta mistura foi resfriada e adicionados 80 µl
da solução de m-hidroxi-bifenil (Sigma) a 0,15% em NaOH 0,5% para a produção do
complexo colorido.
A coloração, estável até 1 hora após sua formação, foi lida em 525 nm. A
quantificação foi realizada com o auxílio de uma curva padrão de ácido glucurônico
(Sigma) dentro da sensibilidade do método (0,97 a 38,8 µg de ácido urônico).
3.4.4 Carboxi-redução do heteropolissacarídeo de P. constantimontium
O processo de carboxi-redução foi realizado segundo TAYLOR e CONRAD
(1972). O polissacarídeo (200 mg) foi dissolvido 3ml de tampão MES [ácido 2-(N-
morfolina)-etanosulfônico] (0,2 M) e a este se adicionou, pouco a pouco e sob
agitação, 385 mg de carbodiimida [ciclo-hexil-3-(2-morfolinoetil) carbodiimida]. A
mistura de reação ficou sob agitação por duas horas. Decorrido este tempo, o pH foi
ajustado para 7,0 pela adição de tampão TRIS/HCl (2 M, pH 7,0; 1 ml). A amostra foi
então reduzida com NaBH
4
ou NaB
2
H
4
até uma concentração final de 2 M, durante 16
h, e depois foi neutralizada com ácido acético (HOAc). Finalmente, o material foi
dialisado em membrana com limite de exclusão de 8 kDa durante 48 horas,
concentrado e liofilizado. O processo de carboxi-redução foi novamente realizado,
sendo posteriormente analisado por espectroscopia de RMN e metilação.
3.4.5 Hidrólise Ácida Parcial
A glucomanana e a galactoglucomanana (~ 100mg) obtidas do fungo
liquenizado H. obscurata e P. constantimontium, respectivamente, foram submetidas a
26
hidrólises ácidas parciais com H
2
SO
4
0,16 M, por 4, 6 e 10 h. Decorrido o tempo, as
soluções, separadamente, foram dialisadas em membranas com limite de exclusão de 2
kDa e então liofilizadas. Uma amostra (2mg) foi hidrolisada e seus monossacarídeos
analisados quanto aos seus derivados acetatos de alditol, por GC-MS. O restante foi
examinado por RMN-
13
C e metilação.
3.5 MÉTODOS ANALÍTICOS
3.5.1 Cromatografia Gasosa Acoplada à Espectrometria de Massa (GC-MS)
As análises cromatográficas em fase gasosa acoplada à espectrometria de massa
foram realizadas utilizando um cromatógrafo a gás VARIAN, modelo 3.300, acoplado
a um espectrômetro de massa de marca FINNIGAN MAT, modelo ITD 800, e Varian
Saturn 2000R, ambos equipados com colunas capilares de sílica fundida (30m x 0,25
mm d.i.) revestidas DB-225 e DB23. As injeções nas colunas foram feitas partindo-se
de 50°C (mantida por 1 minuto), seguindo-se um aumento gradual de 40°C.min
-1
, até
215°C (acetatos de alditóis parcialmente O-metilados), ou 220°C (acetatos de alditóis),
sendo mantida constante até o final da análise. lio ultra puro foi utilizado como gás
de arraste, a um fluxo de 1,0 ml.min
-1
.
3.5.2 Cromatografia de exclusão estérica acoplada à detecção por índice de refração e
espalhamento de luz (HPSEC-MALLS)
As amostras foram solubilizadas em solução de nitrito de sódio (0,1 mol·l
-1
contendo azida de sódio (NaN3) 0,2 g·l-
1
, para uma concentração final de 1 mg·ml
-1
,
sendo filtradas através de membrana de acetato de celulose com tamanho de poro
equivalente a 0,22 µm. Em seguida, as amostras foram aplicadas em cromatógrafo de
exclusão estérica de alta pressão (HPSEC) Waters equipado com detector de índice de
refração diferencial, modelo Waters 2410, e com detector de espalhamento de luz em
multiângulos Wyatt technology, modelo DAWN DSP-F. Foram utilizadas, em série, 4
colunas de gel permeação Waters com limites de exclusão de 1 x 10
6
, 4 x 10
5
, 8 x 10
4
,
27
5 x 10
3
. O eluente utilizado foi uma solução de nitrito de sódio (NaNO2) 0,1 mol·l
-1
contendo azida de sódio (NaN3) 0,2 g·l
-1
, com fluxo de 0,6 ml min
-1
, monitorado por
bomba peristáltica Waters 515.
3.5.3 Ressonância Magnética Nuclear (RMN)
As amostras de polissacarídeos foram solubilizadas em água deuterada (D
2
O)
ou dimetilsulfóxido deuterado (Me
2
SO-d
6
) e analisadas em tubos de quartzo de 20 cm
de comprimento por 5 mm de diâmetro interno. Os experimentos de
13
C e
1
H, mono e
bidimensionais foram realizados em um espectrômetro Bruker, modelo Advance DRX
400 MHz. A temperatura de cada análise foi estabelecida de acordo com a solubilidade
de cada amostra.
Os deslocamentos químicos das amostras solúveis em D
2
O foram expressos em
δ (ppm) relativos aos sinais de
13
C e
1
H da acetona em δ 30,20 e 2,22,
respectivamente, e aos sinais do Me
2
SO-d
6
em δ 39,70 (
13
C) e 2,40 (
1
H), para as
amostras solúveis no mesmo.
28
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na presente pesquisa foram estudadas duas espécies de fungos liquenizados,
Punctelia constantimontium e Heterodermia obscurata, quanto aos seus componentes
polissacarídicos.
Conforme descrito anteriormente na seção Material e Métodos, para cada
espécie de fungo liquenizado realizou-se os processos de extração e purificação, sendo
adotadas as siglas HO para H. obscurata e PC para P. constantimontium (Figura 5). Os
fungos liquenizados estudados foram deslipidificados e submetidos aos procedimentos
de extrações e purificações dos carboidratos de alta massa molar.
4.1 DESLIPIDIFICAÇÃO E EXTRAÇÃO ETANÓLICA
O talo liquênico dos fungos liquenizados Punctelia constantimontium (53,0 g) e
Heterodermia obscurata (30,3 g), após triturados, foram submetidos a extrações com
acetona (2 x). Os extratos acetônicos apresentaram um rendimento de 12,2% para o
fungo liquenizado H. obscurata e de 11,4% para P. constantimontium, como mostra a
tabela 3. Esses extratos foram reservados para avaliações posteriores.
TABELA 3 - Rendimento das frações obtidas das extrações dos fungos liquenizados H. obscurata e
P. constantimontium.
Rendimento (em g%)
(1)
FRAÇÕES
H. obscurata P. constantimontium
Extrato acetônico
Extrato etanólico
Extrato aquoso
Extrato alcalino 2%
Extrato alcalino 10%
12,2
3,9
4,0
26,0
4,0
11,4
5,1
12,1
24,2
3,6
(1) Rendimento calculado com base no peso seco do fungo liquenizado (H. obscurata, 30,3g e P.
constantimontium,53,0 g).
29
FIGURA 5 – Fluxograma de extração e purificação dos polissacarídeos dos fungos liquenizados
Heterodermia obscurata e Punctelia constantimontium.
(1) Liquens: Heterodermia obscurata-HO (30,3g) e Punctelia constantimontium-PC (53,0g)
(2) Extração aquosa: 3 x para H. obscurata e 4 x para P. constantimontium
(3) Extração alcalina 2%: 5 x para H. obscurata e 6 x para P. constantimontium
30
Os materiais residuais foram posteriormente extraídos com etanol para obtenção
de carboidratos de baixa massa molar. Os rendimentos dessa extração foram de 3,9% e
5,1% para H. obscurata e P. constantimontium, respectivamente (Tabela 3).
Os extratos etanólicos obtidos foram acondicionados e reservados para
investigações posteriores.
4.2 EXTRAÇÕES AQUOSAS E ALCALINAS
O material deslipidificado foi submetido a sucessivas extrações aquosas e
alcalinas (solução aquosa de hidróxido de potássio a 2% e 10%) com a finalidade de
extrair os polissacarídeos. Primeiramente, foram realizadas extrações aquosas sob
refluxo em banho com água fervente (3 x para H. obscurata e 4 x para P.
constantimontium), sendo os polissacarídeos extraídos recuperados por precipitação
etanólica (3:1, v/v) e os precipitados etanólicos dialisados contra água corrente,
originando as frações W-HO e W-PC, para H. obscurata e P. constantimontium,
respectivamente (Figura 5).
Os materiais residuais (Resíduo III) obtidos após extrações aquosas foram
submetidos a extrações alcalinas com solução de KOH 2%, com adição de boroidreto
de sódio (NaBH
4
), sob refluxo em banho com água fervente, durante 6 horas (5 x para
H. obscurata e 6 x para P. constantimontium). O mesmo procedimento foi realizado
com solução aquosa de KOH a 10% durante 6 horas (2 x). Os extratos alcalinos a 2% e
10% (K2-HO, K2-PC, K10-HO e K10PC) obtidos foram, separadamente,
neutralizados com ácido acético glacial (HOAc), dialisados contra água corrente e
liofilizados.
Pode-se observar que em ambos os liquens, o maior rendimento obtido foi para
a extração alcalina a 2% (Tabela 3), sendo os rendimentos das extrações aquosas e
alcalinas (2% e 10%) de 4,0%, 26,0% e 4,0% para H. obscurata e 12,1%, 24,2% e
3,6% para P. constantimontium, respectivamente.
31
4.3 FRACIONAMENTO DOS POLISSACARÍDEOS
Os extratos obtidos, de ambos os fungos liquenizados, a partir das extrações
aquosas (W-HO e W-PC) e alcalinas a 2% (K2-HO, K2-PC) e 10% (K10-HO e K10-
PC) foram, separadamente, ressuspendidos em água, congelados e então
descongelados a temperatura ambiente (purificação por congelamento e degelo),
resultando em frações insolúveis (PW-HO, PW-PC, PK2-HO, PK2-PC, PK10-HO e
PK10PC) e solúveis em água fria (SW-HO, SW-PC, SK2-HO, SK2-PC, SK10-HO e
SK10PC) (Figura 5).
As frações sobrenadantes do processo de gelo/degelo foram submetidas ao
processo de purificação por precipitação com solução de Fehling (2 x), resultando na
formação de precipitados (PFW-HO, PFW-PC, PFK2-HO, PFK2-PC, PFK10-HO e
PFK10-PC) e sobrenadantes de Fehling (SFW-HO, SFW-PC, SFK2-HO, SFK2-PC,
SFK10-HO e SFK10PC) (Figura 5).
4.4 POLISSACARÍDEOS DA FRAÇÃO PRECIPITADO CONGELAMENTO/
DEGELO
As frações insolúveis em água fria, obtidas do processo de congelamento-
degelo (PW-HO, PW-PC, PK2-HO, PK2-PC, PK10-HO e PK10-PC) de ambos os
fungos liquenizados foram avaliadas quanto aos seus respectivos rendimentos e as suas
composições monossacarídicas. Estas apresentaram glucose como principal
componente monossacarídico (Tabelas 4 e 5), indicando a presença de glucanas
insolúveis em água fria nestas frações, porém provavelmente contaminadas com
polissacarídeos da fração solúvel em água fria.
32
TABELA 4 – Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado gelo/degelo obtidos
a partir de extrações aquosas, alcalinas a 2% e 10% do fungo liquenizado H. obscurata.
Monossacarídeos (mol%)
(2)
FRAÇÕES (g%)
(1)
Man Gal Glc
PW-HO 0,7 12,3 5,3 82,4
PK2-HO 5,3 15,3 8,4 76,3
PK10-HO 0,9 14,5 8,1 77,4
PPG/D-HO 0,6 1,4 1,2 97,4
(1) Rendimento em relação ao peso seco do fungo liquenizado (30,3g).
(2) Analisado em GC-MS após hidrólise ácida total, redução (NaBH
4
) e acetilação.
TABELA 5 Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado gelo/degelo obtidos
a partir de extrações aquosas, alcalinas a 2% e 10% do fungo liquenizado P.
constantimontium.
Monossacarídeos (mol%)
(2)
FRAÇÕES
(g%)
(1)
Man Gal Glc
PW-PC 2,4 5,9 5,6 88,3
PK2-PC 3,5 17,6 14,5 67,8
PK10-PC 1,5 15,5 12,4 72,1
PPG/D-PC 1,9 1,6 1,3 97,1
(1) Rendimento em relação ao peso seco do fungo liquenizado (53,0 g).
(2) Analisado em GC-MS após hidrólise ácida total, redução (NaBH
4
) e acetilação.
Os espectros de RMN-
13
C das frações PW obtidas para ambos os fungos
liquenizados, H. obscurata e P. constantimontium (Figura 6 A e B, respectivamente),
foram similares e apresentaram 11 sinais caracteristícos de uma α-glucana, alternada,
com ligações (13) e (14). Esta similaridade também pode ser observada para as
frações precipitados de gelo/degelo obtidas a partir de extrações alcalinas (PK2 e
PK10), desta maneira estas frações foram reunidas, resultando nas frações PG/D-HO e
PG/D-PC, para H. obscurata e P. constantimontium, respectivamente.
33
FIGURA 6 Espectros de RMN-
13
C das frações precipitado de congelamento e degelo (PW) obtidas
de Punctelia constantimontium (A) e Heterodermia obscurata (B).
Com a finalidade de eliminar possíveis contaminantes, as frações PG/D-HO e
PG/D-PC foram submetidas a mais um processo de purificação, que consistiu,
primeiramente, na solubilização das frações em KOH 2%, sob refluxo em banho com
água fervente por 2 horas, sendo estas neutralizadas e então tratadas com ácido acético
(HOAc) a 4%, sob refluxo a 80ºC por 30 minutos. Este processo resultou na formação
de frações insolúveis e solúveis em ácido acético, as quais foram neutralizadas e
dialisadas contra água corrente (~ 48 h). Após diálise, as frações solúveis em ácido
acético foram submetidas a um novo processo de congelamento e degelo, originando
frações solúveis (SPG/D-HO e SPG/D-PC) e insolúveis em água fria (PPG/D-HO e
PPG/D-PC) (Figura 5).
Como pode ser observado (Tabelas 4 e 5), este procedimento foi eficiente para a
obtenção de glucanas purificadas (PPG/D-HO e PPG/D-PC), pois o conteúdo de
34
glucose, após o tratamento, aumentou para ~ 97% para ambas frações, além de melhor
definição nos sinais observados no espectro de RMN-
13
C (Figura 7 A e B,
respectivamente ).
FIGURA 7 – Espectro de RMN-
13
C da fração PPG/D obtida de Heterodermia obscurata (A) e
Punctelia constantimontium (B).
Os espectros de RMN-
13
C foram comparados com os dados da literatura
(YOKOTA et al., 1979; WORANOVICZ-BARREIRA et al., 1999a; CARBONERO et
al., 2005c) e foi possível assinalar todos os carbonos (Tabela 6). O sinal na região de
carbono anomérico em δ 100,8 foi atribuído ao C-1 das unidades de α-Glcp 4-O-
substituídas enquanto que o sinal δ 99,8 corresponde ao C-1 das unidades de α-Glcp
3-O-substituídas, sendo confirmado pelos sinais em δ 79,5 e 82,8 referente ao C-4 e
C-3 das unidades de Glcp 4-O- e 3-O-substituídas, respectivamente. Os sinais em δ
72,4, 69,9 e 71,0 correspondem ao C-2, C-4 e C-5 das unidades 3-O-substituídas, e
35
com relação as unidades 4-O-substituídas, os sinais δ 71,1, 73,2 e 73,6 correspondem
ao C-2, C-3 e C-5, respectivamente. O sinal δ 60,9 refere-se ao C-6 não substituído das
unidades de Glcp 4-O-substituídas, e em δ 60,5 ao C-6 não substituído das unidades 3-
O-substituídas. A configuração α, bem como os sinais referentes às substituições em
O-3 e O-4 sugerem a presença de glucanas com ligações (13) e (14) nas frações
insolúveis em água fria obtidas a partir dos liquens estudados.
TABELA 6 Deslocamentos químicos de
13
C obtidos da α-D-glucana isolada de H. obscurata e P.
constantimontium.
α-D-Glcp
13
C
3-O-substituído 4-O-substituído
C-1 99,8 100,8
C-2 72,4 71,1
C-3 82,8 73,2
C-4 69,9 79,5
C-5 71,0 73,6
C-6 60,5 60,9
Os resultados de metilação (PPG/D-HO e PPG/D-PC) obtidos concordaram
com as análises espectroscópicas, sendo possível observar a presença de unidades de
glucose 3-O- (2,4,6-Me
3
Glc) e 4-O- substituídas (2,3,6-Me
3
Glc) (Tabela 7). Embora
os espectros de RMN-
13
C destas frações sejam similares, através dos dados de
metilação pode ser observado que a relação molar entre as ligações do tipo (13) e
(14) foi diferente entre os liquens estudados, sendo de 1,3:1 para P.
constantimontium e de 1,07:1 para H. obscurata.
36
TABELA 7 - Análise por metilação da glucana isolada na fração precipitado gelo/degelo PPG/D-HO e
PPG/D-PC
Proporção relativa (%)
Acetatos de alditóis
parcialmente
O-metilados
(1)
PPG/D-HO
H. obscurata
PPG/D-PC
P.constantimontium
Tipo de Ligação
(2)
2,3,4,6-Me
4
Glc
0,9
1,6
Glcp-(1
2,4,6-Me
3
Glc
51,4 56,5
3)-Glcp-(1
2,3,6-Me
3
Glc 47,7 41,9
4)-Glcp-(1
(1) Analisado em GC-MS após metilação, hidrólise ácida total, redução (NaB
2
H
4
) e acetilação.
(2) Baseado nos derivados acetilados parcialmente O-metilados.
De acordo com os dados obtidos, a fração insolúvel em água fria obtida a partir
dos liquens estudados, H. obscurata e P. constantimontium, consiste em uma α-D-
glucana contendo, alternadamente, ligações do tipo (13) e (14), numa relação
molar de 1,07:1 e 1,3:1, respectivamente, sendo denominadas de nigeranas (Figura 8).
FIGURA 8 Estrutura proposta para nigerana obtida por precipitado gelo/degelo H. obscurata e P.
constantimontium
As nigeranas com relação molar de 1:1 são polissacarídeos amplamente
conhecidos em fungos liquenizados, como na Família Cladoniaceae (WORANOVICZ-
BARREIRA et al., 1999a; CARBONERO et al., 2002b) e Ramalinaceae (STUELP et
al., 1999; CORDEIRO et al., 2003). Na família Parmeliaceae, a maioria das nigeranas
descritas também apresentam relação molar de 1:1, como àquelas dos gêneros
Parmotrema e Rimelia (CARBONERO et al., 2005c) e em algumas espécies de
[
3)-α
αα
α-D-Glcp-(1
4)-α
αα
α-D-Glcp-(1
3)-α
αα
α-D-Glcp-(1
4)-α
αα
α-D-Glcp-(1
]
n
37
Parmelia (OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001). Por outro lado, exceções,
como no líquen Letharia vulpina (família Parmeliaceae), onde a relação molar
encontrada foi de 1,2:1
(IACOMINI et al., 1988).
Com relação à nigerana com relação molar de 1,3:1 encontrada em P.
constantimontium, estrutura similar foi encontrada apenas para o quen da família
Parmeliaceae, Parmelia saxatilis (OLAFSDOTTIR; INGÓLFSDOTTIR, 2001).
4.5 POLISSACARÍDEOS DA FRAÇÃO PRECIPITADO DE FEHLING (PF)
4.5.1 Polissacarídeo do Fungo Liquenizado Heterodermia obscurata
Os precipitados de Fehling (PFW-HO, PFK2-HO e PFK10-HO) obtidos a partir
das extrações aquosas e alcalinas (KOH a 2% e 10%) de Heterodermia obscurata
mostraram-se similares, contendo manose e glucose como principais componentes
monossacarídicos (Tabela 8). Os espectros de RMN-
13
C dessas frações (PFK2-HO,
PFK10-HO e PFW-HO) também apresentaram-se similares (Figura 9 A, B e C,
respectivamente), indicando possuírem o mesmo heteropolissacarídeo. Devido ao
maior rendimento da fração PFK2-HO, as análises complementares foram realizadas
com esta fração, a qual apresentou perfil de eluição homogêneo quando analisada por
HPSEC-MALLS (Dado não mostrado).
TABELA 8 – Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado de Fehling do fungo
liquenizado H. obscurata.
Monossacarídeos (mol%)
(2)
Frações
Rendimento
(g%)
(1)
Man Gal Glc
PFW-HO
0,6 77,5 6,0 16,5
PFK2-HO
8,2 81,7
-
18,3
PFK10-HO
0,2 76,2 5,8 18,0
(1) Rendimento em relação ao peso seco do líquen (30,3g).
(2) Analisado em GC-MS após hidrólise ácida total, redução e acetilação.
38
Os espectros de RMN-
13
C (Figura 9) e HMQC (Figura 10) desta fração
apresentaram sinais na região anomérica que correspondem aos C-1/H-1 das unidades
de α-D-Manp ligadas-(14) e terminais não redutores de α-D-Manp (δ 102,0/5,09),
terminal não redutor de α-D-Glcp (δ 100,1/5,32) e de unidades de α-D-Manp da cadeia
principal 2,6-di-O-substituída (δ98,7;98,5;98,4/5,12) (TEIXEIRA; IACOMINI;
GORIN, 1992). Observa-se, na análise de HMQC (Figura 10), que os valores de H-1
das unidades de manose e glucose possuem sinais anoméricos em campo baixo,
caracterizando ligações do tipo α.
As configurações glicosídicas foram confirmadas pelos valores de constante de
acoplamento J
C-1,H-1
observadas no espectro de HMQC acoplado (Figura 11). As
unidades de Manp ligadas-(14) e terminais não redutores de D-Manp (δ 102,0), as
unidades terminais não redutoras de Glcp (δ 100,1), além das unidades de manose da
cadeia principal 2,6-di-O-substituídas (δ 98,7;98,5;98,4) apresentam configuração do
tipo α em virtude do valor J
C-1,H-1
= 174,3 Hz para o primeiro sinal e 173,8 Hz para os
demais sinais observados (PERLIN; CASU, 1969).
Outros sinais também puderam ser atribuídos e assinalados de acordo com
alguns descritos e caracterizados por outros autores (TEIXEIRA; IACOMINI;
GORIN, 1992), como àqueles em δ 78,7, 78,5, 78,3 e 78,1 correspondentes ao C-2 das
unidades de α-Manp 2,6-di-O-substituídas, bem como o correspondente ao C-4 das
unidades de α-Manp 4-O-substituídas (δ 75,7) (Figura 9).
39
FIGURA 9 – Espectro de RMN-
13
C das frações do precipitado de Fehling, PFK2 (A) PFK10 (B) PFW
(C), obtidas de Heterodermia obscurata, em D
2
O a 70ºC.
40
FIGURA 10 Espectro 2D
1
H,
13
C HMQC da fração precipitado de Fehling (PFK2; glucomanana)
obtida de Heterodermia obscurata (D
2
O, 70ºC).
41
FIGURA 11 – Região anomérica do espectro de HMQC acoplado da fração precipitado Fehling
(PFK2; glucomanana) obtida da Heterodermia obscurata (em D
2
O, 70ºC).
O sinal de
13
C em δ 66,0 refere-se ao C-6 substituído das unidades de Manp
2,6-O-substituídas e os sinais δ 61,2 e 60,8 ao C-6 não substituído dos terminais não
redutores de Manp, Glcp e unidades de manose 4-O-substituídas. Esses resultados
foram confirmados por DEPT (Figura 12) através da inversão dos respectivos sinais.
42
FIGURA 12 Espectro de DEPT da fração precipitado de Fehling (PFK2; glucomanana) obtida de
Heterodermia obscurata, em D
2
O a 70ºC.
A análise de metilação confirmou os resultados apresentados pelos espectros de
RMN, a qual, baseada nos acetatos de alditóis parcialmente O-metilados (Tabela 9),
indicou uma estrutura polissacarídica bastante ramificada, contendo unidades de Manp
(18,2%) e Glcp (19,8%) como terminais não redutores. Além disso, também foram
observados os derivados 3,4-Me
2
Man (42,4%) e 2,3,4-Me
3
Man (3,8%)
correspondentes as unidades da cadeia principal, a qual é constituída por unidades de
α-Manp (16) ligadas, sendo a maioria substituídas em O-2. Unidades de α-Manp-
(14) também foram observadas, devido à presença do derivado 2,3,6-Me
3
Man
(12,7%), possivelmente fazendo parte da cadeia lateral.
43
TABELA 9 - Análise por metilação da fração precipitado de Fehling (PFK2; glucomanana) obtida de
Heterodermia obscurata e de suas subfrações obtidas por hidrólise parcial.
(1) Analisado em GC-MS após metilação, hidrólise ácida total, redução (NaB
2
H
4
) e acetilação.
(2) Baseado nos derivados acetilados parcialmente O-metilados.
Com a finalidade de verificar a cadeia principal deste polissacarídeo, o mesmo
foi submetido à hidrólise ácida parcial, de acordo com a metodologia descrita na seção
Material e Métodos, item 3.4.5. Os materiais resistentes às hidrólises ácidas parciais,
após diálises em membrana com limite de exclusão de 2 kDa, foram denominadas
PFK2-HP4, PFK2-HP6 e PFK2-HP10 referentes aos tempos de hidrólise de 4, 6 e 10
horas, respectivamente. Estas frações foram analisadas quanto à sua composição
monossacarídica (Tabela 10), e pode ser observado um aumento significativo da
quantidade de manose, bem como redução no percentual de glucose.
TABELA 10 Composição Monossacarídica da Fração PFK2-HO e suas subfrações após hidrólises
ácidas parciais do fungo liquenizado Heterodermia obscurata.
Monossacarídeos (mol%)
(1)
FRAÇÕES
Man Glc
PFK2-HO
81,7 18,3
PFK2-HP4
94,7 5,3
PFK2-HP6
95,2 4,8
PFK2-HP10
95,7 4,3
(1) Analisado em GC-MS após hidrólise ácida total, redução e acetilação.
Fração (mol %)
Acetatos de alditóis
parcialmente O-
metilados
(1)
PFK2 PFK2-HP4 PFK2-HP6
PFK2-
HP10
Tipo de ligação
(2)
2,3,4,6-Me
4
Man 18,2 21,0 24,2
26,7
Manp-(1
2,3,4,6-Me
4
Glc 19,8 4,8 2,9
1,9
Glcp-(1
3,4,6-Me
3
Man 1,9 2,3 2,2
2,7
2)-Manp-(1
2,3,6-Me
3
Man 12,7 2,6 2,1
1,2
4)-Manp-(1
2,3,4-Me
3
Man 3,8 28,6 29,3
43,5
6)-Manp-(1
2,3-Me
2
Man 1,2 0,9 1,3
1,0
4,6)-Manp-(1
3,4-Me
2
Man 42,4 39,8 37,8
22,9
2,6)-Manp-(1
44
Análises de metilação das frações PFK2-HP4, PFK2-HP6 e PFK2-HP10
(Tabela 9), mostraram um aumento do derivado 2,3,4-Me
3
Man, sugerindo uma cadeia
principal constituída de unidades de manose (16)- ligadas. Além disso, também foi
observado um decréscimo dos derivados 3,4-Me
2
Manp (o qual tornou-se o derivado
2,3,4-Me
3
Man da cadeia principal) e 2,3,4,6-Me
4
Glcp, indicando a remoção das
unidades terminais não redutoras de glucose, as quais possivelmente possam estar
substituindo as unidades de manose da cadeia principal em O-2.
Os espectros de RMN-
13
C destas frações, PFK2-HP4 e PFK2-HP10 (Figura 13
B e C, respectivamente), apresentaram sinais de C-1 correspondentes aos terminais
não redutores de α-D-Manp (δ 102,0), unidades de α-D-Manp da cadeia principal 6-O
(δ 99,7) e 2,6-di-O-substituída (δ 98,5) (TEIXEIRA; IACOMINI; GORIN, 1992).
Também pode ser observado nestes espectros, a ausência dos sinais em δ 100,1
e 75,7 atribuído ao C-1 dos terminais não redutores de α-D-Glcp e ao C-4 das unidades
de Manp 4-O-substituídas, respectivamente, bem como a presença do sinal de C-1 (δ
99,7) das unidades de Manp (16) ligadas, referentes a cadeia principal, e a redução
da intensidade dos sinais de C-2 substituídos (δ 78,6 e 78,4) das unidades de α-D-
Manp a medida que aumenta o tempo de hidrólise. O sinal δ 94,2 corresponde aos
terminais redutores de manose.
Estes dados estão de acordo com aqueles obtidos por análises de metilação
(Tabela 9), onde foi possível observar a remoção das unidades de glucose e das
unidades de manose 4-O-substituídas, além do aumento do percentual do derivado
correspondente as unidades da cadeia principal (2,3,4-Me3Man).
45
FIGURA 13 – Espectros de RMN-
13
C das frações PFK2-HO (nativa) (A), PFK2-HP4 (B) e PFK2-
HP10 (C), em Me
2
SO-d
6
a 70ºC.
46
Os sinais de
13
C em δ 66,3, 66,0 e 65,6 referem-se ao C-6 substituído de α-D-
Manp da cadeia principal e o sinal δ 61,2 ao C-6 não substituído dos terminais não
redutores de Manp, Glcp e unidades de manose 4-O-substituídas. Esses dados foram
confirmados através da inversão dos respectivos sinais no experimento DEPT (Figura
14).
FIGURA 14– Espectro de RMN-
13
C-DEPT para HP10-HO, em Me
2
SO-d
6
a 70ºC.
A partir dos dados obtidos, as frações precipitados de Fehling (PFW-HO,
PFK2-HO e PFK10-HO) mostram resultados consistentes que sugerem uma
glucomanana altamente ramificada, com uma cadeia principal composta por unidades
de α-D-Manp ligadas-(16), sendo a maioria substituídas em O-2, principalmente,
por unidades terminais não redutoras de α-D-Glcp, α-D-Manp e, possivelmente, por
cadeias laterais constituídas por unidades de α-D-Manp 4-O-substituídas (Figura 15).
47
FIGURA 15 – Estrutura proposta para glucomanana obtida do líquen H. obscurata.
A B
α-D-Manp
1
2
-α-D-Manp-(16)- α-D-Manp-(16)-
C α-D-Glcp
1
2
-α-D-Manp-(16)-
Com relação aos heteropolissacarídeos presentes em fungos liquenizados, a
maioria destes consistem em galactomananas, galactoglucomananas e/ou
galactomanoglucanas, sendo estas compostas por significantes percentuais de
galactose, além de manose e glucose.
Relatos anteriores de estrutura similar (glucomanana) à encontrada no presente
estudo foi descrita apenas para o fungo liquenizado Tornabenia intricata (TEIXEIRA;
IACOMINI; GORIN, 1992) a qual pertence à mesma família (Physciaceae), porém
esta apresenta diferenças na sua estrutura. A glucomanana de T. intricata possui menor
percentual de glucose (T. intricata: 7% e H. obscurata: 18,3%), além de unidades de
Manp 2,4-di-O-substituídas (14%), as quais não foram observadas em H. obscurata.
Avaliando os resultados obtidos, observou-se que a glucomanana é um
polissacarídeo típico da família Physciaceae, desta forma, os dados obtidos reforçam a
utilização de polissacarídeos como uma ferramenta adicional para a quimiotaxônomia,
porém, estudos adicionais com fungos liquenizados desta mesma família deverão ser
realizados.
48
4.5.2 Polissacarídeo do Fungo Liquenizado Punctelia constantimontium
Os sobrenadantes de gelo/degelo obtidos a partir das extrações aquosas e
alcalinas (KOH a 2% e 10%) foram submetidos ao processo de purificação por
precipitação com solução de Fehling (Figura 5), originando as frações precipitados
(PFW-PC, PFK2-PC e PFK10-PC) e sobrenadantes de Fehling (SFW-PC, SFK2-PC e
SFK10-PC). Como podemos observar na Tabela 11, os precipitados de Fehling (PFW-
PC, PFK2-PC e PFK10-PC) mostraram-se similares, apresentando manose, galactose e
glucose como componentes monossacarídicos. A fração PFK2-PC apresentou além
dos monossacarídeos neutros, 6% ácidos urônicos, determinadas por método
colorimétrico (FILISETTI-COZZI; CARPITA, 1991).
Devido à presença desses grupamentos ácidos, a fração PFK2-PC foi submetida
ao processo de carboxi-redução pelo método de TAYLOR e CONRAD (1972),
resultando na fração CRPFK2-PC. Esta foi analisada em GC-MS (Tabela 11), e
conclui-se que o ácido urônico é o glucurônico, pois na fração PFK2-PC obteve-se
4,4% de glucose, e após este sofrer carboxirredução (CRPFK2-PC), a porcentagem de
glucose aumentou para 8,9%. Além dessa evidência no aumento nos teores de glucose,
foi observado os fragmentos com relação m/z 219 e 147 devido a presença de 2
núcleos de deutério em C-6, na fração que, após carboxiredução, foi reduzida com
NaB
2
H
4
.
Os espectros de RMN-
13
C da frações precipitados de Fehling das extrações
aquosas e alcalinas 2 e 10% (PFK2-PC, PFK10-PC e PFW-PC) mostraram-se
similares (Figura 16 A, B e C, respectivamente), indicando possuírem o mesmo
heteropolissacarídeo. Devido ao maior rendimento apresentado pela fração PFK2-PC
(Tabela 11), a qual apresentou-se homogênea quando analisada por HPSEC-MALLS
(dado não mostrado), esta foi submetida aos demais processos de caracterização
estrutural.
49
TABELA 11 Composição monossacarídica e rendimento das frações precipitado de Fehling do
fungo liquenizado Punctelia constantimontium.
Monossacarídeos (mol%)
(2)
FRAÇÕES
Rendimento
(g%)
(1)
Man Gal Glc
Ácido urônico
(3)
( % )
PFW-PC 2,7 58,5 35,6 5,9 nd
PFK2-PC 8,7 48,5 47,1 4,4 6
CRPFK2-PC - 47,6 43,5 8,9 -
PFK10-PC 0,5 55,6 37,0 7,4 nd
(1) Rendimento em relação ao peso seco do líquen (53,0 g).
(2) Analisado em GC-MS após hidrólise ácida total, redução e acetilação.
(3) Determinado pelo método colorimétrico FILIZETTI-COZZI e CARPITA (1991)
(nd) não determinado
Os espectros de RMN-
13
C (Figura 16 A, B e C) e HMQC (Figura 17) da fração
PFK2 apresentou sinais na região anomérica que correspondem aos C-1/H-1 referentes
a terminais não redutores de β-D-Galp-(14)-α-D-Manp (δ 104,4/4,63), β-D-Galp-
(12)-α-D-Manp (δ 102,9/4,47), e de unidades de α-D-Manp da cadeia principal 6-O-
(δ 101,2/5,21), 2,6-di-O- (δ 100,3/5,00) e 2,4,6-tri-O-substituídas (δ 98,3/5,19)
(GORIN; IACOMINI, 1984, 1985; TEIXEIRA; IACOMINI; GORIN, 1995;
CARBONERO et al., 2005a) .
As configurações glicosídicas (α e β) foram determinadas pelos deslocamentos
de
1
H (HMQC: Figura 17) e constantes de acoplamento (J
C1,H1
) observadas no
espectro de HMQC acoplado (Figura 18). Os terminais não redutores de Galp
apresentam configuração do tipo β em virtude dos sinais de H-1 em campo alto em δ
4,63 (104,4) e δ 4,47 (102,9), os quais estão de acordo com os valores J
C-1,H-1
de 164,0
e 163,8 Hz, respectivamente. Os sinais de H-1 em campo baixo a δ 5,21 (101,2, J
C-1,H-1
= 173,3), 5,00 (100.3, J
C-1,H-1
= 172,0 Hz) e 5,19 (98,3;
J
C-1,H-1
= 174,5 Hz) indicam
que as unidades de Manp apresentam configuração glicosídica do tipo α, de acordo os
valores de J
C-1,H-1
obtidos (PERLIN; CASU, 1969).
50
FIGURA 16 Espectro de RMN-
13
51
FIGURA 17 Espectro 2D
1
H,
13
C HMQC da fração precipitado de Fehling (PFK2;
galactoglucomanana) obtida de P. constantimontium (em D
2
O, 70ºC)
52
FIGURA 18 – Região anomérica do espectro de HMQC acoplado da fração precipitado Fehling
(PFK2; galactoglucomanana) obtida da P. constantimontium (em D
2
O, 80ºC).
53
Os sinais de
13
C em δ 66,2 e 65,8 correspondem ao C-6 substituídos das
unidades de α-Manp-(16) ligadas, enquanto que os sinais em δ 61,2 e 61,0 são
referentes, principalmente, aos grupos –CH
2
não substituídos das unidades terminais
não redutoras de Galp. Estes assinalamentos foram confirmados pela inversão dos
referidos sinais no experimento DEPT (Figura 19).
FIGURA 19 Espectro de RMN-
13
C-DEPT da fração precipitado de Fehling (PFK2;
galactoglucomanana) obtida de Punctelia constantimontium em D
2
O a 70ºC.
A complexidade da estrutura, observada no espectro de RMN-
13
C (Figura 16)
foi confirmada pela análise de metilação, devido à presença de vários derivados
parcialmente O-metilados. Conforme pode ser observado (Tabela 12), esta fração
mostrou-se altamente ramificada, contendo consideráveis proporções de unidades
terminais não redutores de Galp, além de pequenas porcentagens de Manp e Glcp.
Também foram observados os derivados 2,3,4-Me
3
Man, 3,4-Me
2
Man e 3-MeMan,
correspondentes às unidades da cadeia principal a qual é constituída por unidades de α-
Manp-(16), substituídas em O-2 ou disubstituídas em O-2,4, além de unidades não
substituídas. Substituições em O-3, O-4 e O-6 foram observadas para as unidades de
Galp. As unidades de Glcp apresentaram-se como terminais não redutores e 3-O-
substituídas.
54
TABELA 12 - Análise por metilação da fração precipitado de Fehling (PFK2) obtida de Punctelia
constantimontium e de suas subfrações obtidas por hidrólise parcial.
Fração (mol %) Acetatos de alditóis
parcialmente O-
metilados
(1)
PFK2 PFK2-HP4 PFK2-HP6
PFK2-
HP10
Tipo de ligação
(2)
2,3,4,6-Me
4
Man 0,8 3,9 4,9 6,1
Manp-(1
2,3,4,6-Me
4
Glc 0,8 0,8 0,8 0,3
Glcp-(1
2,3,4,6-Me
4
Gal 28,9 16,4 10,4 4,1
Galp-(1
2,4,6-Me
3
Glc 2,1 - - -
3)-Glcp-(1
2,4,6-Me
3
Gal 0,4 1,7 3,1 3,1
3)-Galp-(1
2,3,6-Me
3
Gal 4,2 1,1 1,4 3,4
4)-Galp-(1
2,3,4-Me
3
Man 26,1 52,6 56,7 65,5
6)-Manp-(1
2,3,4-Me
3
Gal 0,7 0,6 0,8 -
6)-Galp-(1
3,6-Me
2
Man 0,5 0,4 0,4 -
2,4)-Manp-(1
3,4-Me
2
Man 16,9 16,6 16,0 13,6
2,6)-Manp-(1
3-MeMan 18,5 5,9 5,5 3,9
2,4,6)-Manp-(1
(1) Analisado em GC-MS após metilação, hidrólise ácida total, redução (NaB
2
H
4
) e acetilação.
(2) Baseado nos derivados acetilados parcialmente O-metilados.
Com o objetivo de elucidar a estrutura deste polímero, esta fração foi submetida
a hidrólises ácidas parciais (H
2
SO
4
0,16 M, 100ºC, por 4, 6 e 10 h), e após foram
dialisadas em membrana com limite de exclusão de 2 kDa, sendo denominadas PFK2-
HP4, PFK2-HP6 e PFK2-HP10, de acordo com o tempo de hidrólise de 4, 6 e 10
horas, respectivamente. Após hidrólise parcial, estas apresentaram, quando analisadas
por GC-MS, um aumento dos teores de manose e uma diminuição de galactose (Tabela
13).
55
TABELA 13 Composição monossacarídica da fração precipitado Fehling (PFK2-PC;
galactoglucomanana) após hidrólises ácidas parciais do fungo liquenizado
Punctelia constantimontium.
Monossacarídeos (mol%)
(1)
FRAÇÕES
Man Gal Glc
PFK2-PC
48,5 47,1 4,4
PFK2-HP4
78,0 17,1 4,9
PFK2-HP6
80,7 15,3 4,0
PFK2-HP10
83,6 11,6 4,7
(1) Analisado em GC-MS após hidrólise ácida total, redução e acetilação.
Por meio das análises de metilação das frações PFK2-HP4, PFK2-HP6 e PFK2-
HP10 (Tabela 12) pode ser verificado que a hidrólise ácida parcial foi eficiente na
remoção das unidades de Galp devido à diminuição do derivado 2,3,4,6-Me
4
Galp.
Além disso, um aumento de 2,3,4-Me
3
Man juntamente com um decréscimo de 3-
MeMan reforça a idéia de que a cadeia principal seja constituída por unidades de α-D-
Man ligadas (16), podendo apresentar, principalmente, substituições em O-2 ou O-
2,4.
As análises espectroscópicas concordaram com os derivados parcialmente O-
metilados (Tabela 12). O espectro de RMN-
13
C das frações PFK2-HP4 e PFK2-HP6
(Figura 20 B e C, respectivamente) contém sinais na região anomérica correspondentes
aos C-1 dos terminais não redutores de β-D-Galp-(14)-α-D-Manp (δ 103,4) e β-D-
Galp-(12)-α-D-Manp (δ 101,2) e de unidades de α-D-Manp da cadeia principal 6-O-
(δ 99,5) e 2,6-di-O-substituída (δ 98,4). Além disso, apresenta sinais referente aos
terminais redutores de manose (δ 94,2 e 93,8).
56
FIGURA 20 – Espectro de RMN-
13
C das Frações PFK2-PC (nativa) (A) PFK2-HP4 (B) e PFK2-HP6
(C) do fungo liquenizado P. constantimontium, em Me
2
SO-d
6
a 70ºC.
57
Os sinais de
13
C em δ 66,0 referem-se ao C-6 substituído das unidades de
Manp-(16) ligadas, enquanto os sinais em δ 61,2 são atribuídos, principalmente, aos
grupos –CH
2
não substituídos das unidades terminais não redutoras de Galp. Estes
assinalamentos foram confirmados por DEPT (Figura 21) por meio da inversão dos
respectivos sinais no experimento.
FIGURA 21– Espectro de RMN-
13
C-DEPT para HP4-PC, em Me
2
SO-d
6
a 70ºC.
De acordo com os dados apresentados, a fração precipitado de Fehling (PFK2)
corresponde a uma galactoglucomanana, constituída por uma cadeia principal de
unidades de α-D-manopiranose ligadas (16), sendo parcialmente substituídas em O-
2, e/ou O-2,4 por unidades de β-Galp (Figura 22), sendo confirmadas pelos sinas em δ
104,4 e 102,9 e por suas constantes de acoplamento características de configuração do
tipo β, J
C-1,H-1
= 164,0 e 163,8 Hz, respectivamente.
58
FIGURA 22 – Estrutura proposta para galactoglucomanana obtida do líquen P. constantimontium
Comparando estes dados com àqueles obtidos de Rimelia spp. e Parmotrema
spp. (CARBONERO et al., 2005a), verificou-se que o heteropolissacarideo isolado
apresenta um maior grau de ramificação, possuindo maior teor de unidades de manose
2,6-di-O-substituídas. Além disso, em P. constantimontium foi observado que as
unidades de β-Galp encontram-se substituindo as unidades de α-Manp da cadeia
principal em O-4 e O-2, e não apenas em O-4, como geralmente observado. O mesmo
padrão de substituição foi descrito para o gênero Leptogium, com a diferença de que
neste líquen as unidades β-Galp substituem as unidades de α-Manp da cadeia principal
somente em O-2, e não em O-2 e O-2,4 como observado no líquen em estudo
(CARBONERO et al., 2003).
Este polissacarídeo também apresenta 6% de ácido glucurônico, concordando
com os dados obtidos por TEIXEIRA (1993), onde o autor relata que os liquens E.
prunastri, Parmotrema araucaria, Usnea meridionalis e Usnea sp., todos pertencentes
a mesma família do líquen P. constantimontium, Parmeliaceae, apresentavam uma
concentração de 8,4% de ácido glucurônico.
A B
β-D-Galp
1
2
-α-D-Manp-(16)- α-D-Manp-(16)-
C β-D-Galp
1
2
-α-D-Manp-(16)-
4
1
β-D-Galp
59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos a partir das extrações aquosas e alcalinas a 2 e 10% dos
fungos liquenizados Heterodermia obscurata e Punctelia constantimontium sugerem
as seguintes estruturas:
a) Uma α-D-glucana contendo, alternadamente, ligações do tipo (13) e (14),
numa relação molar de 1,07:1 para H. obscurata e 1,3:1 para P.
constantimontium, sendo denominadas nigeranas.
b) Uma glucomanana altamente ramificada encontrada no líquen H. obscurata,
com cadeia principal composta por unidades de α-D-Manp ligadas-(16),
sendo a maioria substituída em O-2, por unidades terminais não redutoras de α-
D-Glcp, α-D-Manp e, possivelmente, por cadeias laterais constituídas por
unidades de α-D-Manp 4-O-substituídas. A maioria dos heteropolissacarídeos
presentes em fungos liquenizados consiste em galactomananas,
galactoglucomananas e/ou galactomanoglucanas, sendo que estrutura similar à
encontrada no presente estudo foi descrita apenas para o fungo liquenizado
Tornabenia intricata (TEIXEIRA; IACOMINI; GORIN, 1992), a qual pertence
à mesma família (Physciaceae).
c) Uma galactoglucomanana (P. constantimontium), apresentando uma cadeia
principal de unidades de α-D-manopiranose ligadas (16), sendo parcialmente
substituídas em O-2, e/ou O-2,4 por unidades de β-Galp. Foi observado que as
unidades de β-Galp encontram-se substituindo as unidades de α-Manp da cadeia
principal em O-4 e O-2, e não apenas em O-4, como geralmente observado.
Este polissacarídeo apresenta ainda 6% de GlcAp, da mesma maneira que os
liquens E. prunastri, Parmotrema araucaria, Usnea meridionalis e Usnea sp.,
todos pertencentes a mesma família (Parmeliaceae), apresentam uma
concentração de 8,4% de ácido glucurônico.
60
De acordo com os dados obtidos, observa-se que as nigeranas aparentemente
representam uma estrutura comum nos gêneros Punctelia e Heterodermia (com
diferença nas suas relações molares). Com relação aos polissacarídeos isolados da
Fração Precipitado de Fehling dos dois liquens estudados, glucomanana e
galactoglucomanana, estes podem auxiliar a caracterizar os membros desses gêneros.
61
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